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CURSO DE ECOLOGIA DE CAMPO

VOLUME 2

Apoio: Roberto de Moraes Lima Silveira


Thiago Junqueira Izzo

Editora: O.N.F. Brasil

Programa de Pós-Graduação em Ecologia


e Conservação da Biodiversidade

Cuiabá, 2015
Curso de Ecologia de Campo: Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conserva-
ção da Biodiversidade - Volume 2 Sumário
Organizadores: Silveira, Roberto de Moraes Lima | Izzo, Thiago Junqueira.
Editora: O.N.F. Brasil Agradecimentos______________________8 Influência de fatores ambientais na estrutura
de comunidade da fauna aquática em poças
Fotografias: Thiago Foresti | Roberto de Moraes Lima Silveira
Sobre a área de estudo_________________9 naturais marginais a um igarapé________60
Projeto Gráfico: Attilio Zolin | Forest Comunicação
Estratégias reprodutivas diferentes mudam Riqueza e abundância de “rola bosta” (cole-
ao longo de um gradiente de cobertura de optera: scarabaeinae) em ambiente de flores-
dossel de um igarapé?________________16 ta e pasto em uma localidade na amazônia
meridional _________________________64
Diferentes tipos de borda influenciam na
composição de coleópteros carpófilos em Tococa coronata benth (melastomataceae) e
uma mata nativa?____________________20 suas relações com a cota maxima de inunda-
ção em um rio na amazônia meridional___69
Categorias tróficas de assembléias de peixes
em um igarapé na amazônia___________24 A proximidade da mata e a insolação influen-
ciam a herbivoria em rebrotamentos de Teca
Efeito da distância da mata sobre o cresci- __________________________________ 72
mento de teca (tectona grandis) em uma
área de reflorestamento_______________30 Frequencia de visitação em flores de Croton
Glandulosus (Euphorbiacea) ___________76
Efeito do estrato de forrageamento e do item
alimentar sobre a riqueza e co-ocorrência de Eficiência do reflorestamento com
espécies de formigas em uma área de floresta teca na resiliência da mirmecofau-
amazônica _________________________34 na________________________________ 80

Efeitos da proximidade da mata nativa sobre Riqueza relativa e similaridade no uso de


a taxa de decomposição da serrapilheira de recursos por formigas de remanescentes da
tectona grandis l.F. (Verbenaceae)_______39 floresta amazônica e reflorestamento de Ta-
Bebuia SP. Gomes ex. Dc. (Bignoniaceae)__85
Estrutura da ictiofauna ao longo de um gra-
diente de perturbação ambiental em um iga- Formação de grupo, uma estratégia do ‘Jejú’
rapé na bacia amazônica______________44 (Hoplerythrinus Unitaeniatus) (Characiforme
- Erythrinidae) na respiração aérea em um
Existe seleção de micro-habitat pelo cama- trecho de um igarapé represado________88
rão macrobrachium amazonicum (decapo-
da , palaemonidae) em um igarapé da bacia Mesoartrópodes associados a troncos caídos
amazônica?_________________________49 em decomposição em áreas de floresta om-
brófila densa e reflorestamento de Teca (Tec-
A riqueza e a área de cobertura do solo de tona Grandis) _______________________92
plantas nativas podem ser beneficiadas pelo
pastejo do gado sobre a brachiaria sp. ?__53

5
A presença de gado em áreas de refloresta-
mento misto influencia a riqueza de artrópo- Prefácio
des?_______________________________96

E
Comportamento de captura de girinos de ste é segundo livro da série Curso de Ecologia em Campo dos estudantes da UFMT
Phyllomedusa Vaillanti (Anura: Hylidae) por Campi de Cuiabá e Sinop, iniciada em 2007. Dele participam professores da UFMT e
Belostoma SP. (Hemiptera: Belostomati- outras instituições Amazônia e de 19estudantes. Durante 3 semanas foram ministra-
dae)______________________________100 dos cursos teóricos e estudos de campo nos diferentes ecossistemas da Fazenda São Nicolau
(Cotriguaçu – MT) sede do Projeto Poço de Carbono, uma iniciativa da Peugeot PSA em par-
Efeito do pastejo por gado bovino sobre a cerias com a ONF-Brasil e PRONATURA.
heterogeneidade de habitats _________104
Um produto do 16° curso de campoé este novo volume com 28Resumos Expandidos das
pesquisas realizadas pelos alunos e professores.
Relação entre variáveis ambientais e a herpe-
A temática dessas pesquisas contemplou nove trabalhos realizados na área da mata nativa,
tofauna de áreas de mata nativa, mata ciliar e
nove nas áreas dos reflorestamentos e dez nos ambientes aquáticos.
reflorestamento de Tectona Grandis____108
O grande mérito desse curso é proporcionar aos alunos de graduação uma oportunidade de
aplicar na prática o que aprendem na teoria, num sistema da mais estreita interação entre
Seleção de micro-habitats de repouso de
professor-aluno, durante as três semanas que passam juntos estudando e trabalhandono
Nannorhamdia SP. em um igarapé da bacia
campo.
amazônica ________________________112
É importante também citar que essa excelente oportunidade só foi possível, além do enga-
jamento exemplar dos professores, ao apoio que receberam da UFMT, Peugeot PSA, Fazenda
Influência do pulso de inundação sobre duas
São Nicolau, ONF-Brasil, FAPEMAT, CNPq e SEMA - MT.
espécies simpátricas do gênero de Tococa
Aubl. (Melastomataceae) ocorrentes em um Em suma, podemos afirmar que os cursos de Ecologia em Campo, ministrados pela UFMT na
trecho do Rio Juruena________________117 Fazenda São Nicolau já se tornaram uma tradição acadêmica.
Dessa forma o Comitê Científico-Técnico do Projeto Poço de Carbono parabeniza os inte-
Efeito do pastejo bovino sobre abundância grantes do curso pelos resultados alcançados e agradece a todos aqueles que contribuíram
de lagartos em duas áreas de pastagens mis- para que mais esta edição do Curso de Ecologia em Campo cumprisse seus objetivos.
tas com reflorestamento na amazônia meri- Que esta excelente iniciativa sirva de estímulo a outras instituições públicas e privadas, por
dional____________________________120 este Brasil afora!
Brasília, 23.03.2015
Respostas comportamentais de girino rhi-
nella marina (anura: bufonidae) e seu pre-
Comitê Técnico-Científico do Projeto Poço de Carbono
dador (hemiptera: belostomatidae) em am-
bientes claros e escuros______________123

Resposta comportamental de Vanellus Chi-


lensis (aves: Charadriidae) a diferentes níveis
de ameaça à prole___________________126

Efciência de captura de Scarabaeinae com o


uso de diferentes tipos de excrementos hu-
manos em armadilhas de queda_______131

6
Agradecimentos Sobre a Área de Estudo

E O
ste livro não teria sido possível sem o dedicado empenho de um grande número de Poço de Carbono Peugeot-ONFBrasil é uma iniciativa idealizada pela fabricante de
pessoas. Curiosamente entre os que protagonizam em primeiro plano esse volume, automóveis francesa Peugeot e realizada em parceria com a ONFBrasil. A ONFBra-
estão os maiores beneficiários do seu conteúdo, isto é os estudantes do curso de sil é a representação brasileira da ONF (Ofice National des Fôrets) uma empresa
Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de estatal francesa cujo domínio é o manejo florestal. O Projeto do Poço de Carbono começou
Mato Grosso (UFMT). em 1999 com a aquisição da Fazenda Ariel, rebatizada de Fazenda São Nicolau que desde
então sedia essa inciativa que ao longo dos anos agregou muitas instituições brasileiras e
Tal como uma rede de conexões interinstitucionais, profissionais e humanas onde o apoio
hoje é considerada plenamente franco-brasileira.
gerado por um proporciona condições para outros que por sua vez reforçam o primeiro
percebemos que toda a sociedade é quem realmente ganha com um produto como este. A Fazenda São Nicolau, localizada no município de Cotriguaçu (MT) é uma propriedade de
Esse livro é a compilação dos trabalhos realizados durante a disciplina de Ecologia de Cam- 10.000 hectares distribuídos em 7.000 hectares de Floresta Amazônica, 1.700 hectares de
po do curso de Pós-Graduação previamente citado onde a própria existência desse curso se pastagens que foram substituídos por reflorestamentos e o restante composto por áreas de
deve ao esforço incomensurável dos professores da UFMT em manter a excelência do mes- preservação permanente e capoeiras de regeneração natural (Figura 1).
mo. Não apenas manter, mas aumentar a qualidade do curso que recentemente alcançou
o conceito 5 pela CAPES. Não menos importante é o esforço colocado pelos professores de
outras instituições que ao serem convidados para doar mais de uma semana de seu tempo,
aceitaram prestigiar o curso e engrandecer os ensinamentos que os estudantes receberam.
Outro componente essencial do qual esse volume pôde se beneficiar foi o apoio sempre
presente de instituições de apoio à pesquisa entre elas CNPq, CAPES e FAPEMAT que vem há
muitos anos apoiando este curso de Pós-Graduação seja através de bolsas para os estudan-
tes, professores e outras formas de apoio financeiro.
Finalmente, mas não menos importante foi o apoio da Peugeot e da ONFBrasil que não
apenas criaram as fantásticas condições ambientais do Poço de Carbono Peugeot-ONFBrasil
que sediou essa disciplina, mas também vêm reservando todos os anos uma parte de seus
recursos para apoiar diretamente a execução da disciplina na forma de passagens, combus-
tível, veículos, instalações, energia, alimentação e principalmente recursos humanos. O cor-
po de profissionais desde os que estão no escritório da ONFBrasil até aqueles que vivem na
Fazenda São Nicolau (sede do Poço de carbono) são uma fonte de inspiração, dedicados de
todo o coração à uma causa que na verdade é de todos nós, gerar informações que apoiem
o combate ao aquecimento global.
A todos e cada um de vocês o nosso MUITO OBRIGADO!

Prof. Dr. Victor Lemes Landeiro


Coordenador do Programa de Pós Graduação em
Ecologia e Conservação da Biodiversidade
Figura 1- Distribuição dos tipos de ambientes da Fazenda São Nicolau no momento da aquisição desta pela Peu-
geot.

A área a ser reflorestada foi então dividida em “talhões” a partir das estradas usadas para
acessar os diversos piquetes formados na época em que a Fazenda ainda criava gado (Figura
2).
O replantio foi feito gradualmente, sempre nos meses de Dezembro a Fevereiro, com início
em 1999/2000 e término em 2003/2004 (Figura 3). Mais de 50 espécies de árvores foram
testadas, sendo 48 espécies nativas da região plantadas a partir de sementes recolhidas na
área e duas espécies exóticas (teca e jamelão) (Tabela 1).

1999 1999 + 2000

1999 + 2000 + 2001 1999 + 2000


+ 2001 + 2002

1999 + 2000 Figura 3 - Distribuição dos plantios por


+ 2001 + 2002 talhões ao longo dos anos
+ 2003

O plantio por talhão foi extremamente variado, tanto em relação ao número de espécies
plantadas, quanto à composição de espécies plantadas e ao espaçamento utilizado. Esses
dados estão disponíveis no volume “Fichário dos Plantios da Fazenda São Nicolau”.
Figura 2- A Fazenda São Nicolau, foi dividida em talhões numerados que representam subparcelas das áreas a se-
Ainda na área de estudo disponível estão ambientes como pastos limpos mantidos como
rem reflorestadas dividas pelas estradas feitas para o transporte de mudas.
áreas testemunho dentro da Fazenda, áreas sob regeneração florestal natural (pastos aban-
donados) e áreas de Mata Nativa, sendo uma composição florestal amazônica com presença
acentuada de palmeiras e a mata ciliar do Rio Juruena.
O plantio por talhão foi extremamente variado, tanto em relação ao número de espécies
plantadas, quanto à composição de espécies plantadas e ao espaçamento utilizado. Esses
dados estão disponíveis no volume “Fichário dos Plantios da Fazenda São Nicolau”.
Ainda na área de estudo disponível estão ambientes como pastos limpos mantidos como
áreas testemunho dentro da Fazenda, áreas sob regeneração florestal natural (pastos aban-
donados) e áreas de Mata Nativa, sendo uma composição florestal amazônica com presença
acentuada de palmeiras e a mata ciliar do Rio Juruena.

Tabela 1- Espécies plantadas na Fazenda


Equipe docente e discente

Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ecologia em 2009


Prof. Dr. Jerry Penha
Professor responsável pela Disciplina “Ecologia de Campo”
Prof. Dr. Thiago Junqueira Izzo

Professores convidados
Prof. Dr. Christiano Verola - Universidade Federal de Mato Grosso
Prof. Dr. Domingos Rodrigues - Universidade Federal de Mato Grosso
Prof. Dr. Fernando Vaz-de-Melo - Universidade Federal de Mato Grosso
Prof. Dr. Jansen Zuanon - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Prof. Dr. Julio Toledo - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Profa. Dra. Lucélia Nobre - Universidade Federal de Mato Grosso
Profa. Dra. Lucia Mateus - Universidade Federal de Mato Grosso
Prof. Dr. Rafael Soares Arruda - Universidade Federal de Mato Grosso
Prof. Dr. Ricardo Ildefonso Campos - Universidade Federal de Viçosa
Prof. Dr. Roberto Silveira - Universidade Federal de Mato Grosso

Alunos
Abilio José de Ferraz de Moraes
Adarilda Petini Benelli
Amanda Ferraz de Miranda
Carla Lopes Velasquez
Daniela da Silva Monteiro
Hugo Borhezan Mozele
Jhany Martins Dos Santos
João Alves de Lima Filho
Jocieli de Oliveira
Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva
Marilene Conceição Surubim Leite
Milene Garbim Gaiotti
Miquéias Ferrão da Silva Junior
Ricardo Eduardo Vicente
Tiago José Domingos
Silvana Cristina Hammerer de Medeiros
ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS A distribuição de peixes pode mudar de acor- zônico. Esta fazenda tem um histórico de local.
DIFERENTES MUDAM AO do com o os diferentes ambientes presentes no desmatamento para pastagem e a alguns
igarapé, permitindo a ocupação de locais onde anos vem sendo reflorestada como parte de Resultados
LONGO DE UM GRADIENTE DE as condições abióticas e interações biológicas um projeto de reflorestamento. Os trechos amostrados apresentaram uma
COBERTURA DE DOSSEL DE UM podem variar amplamente. Dessa forma, em de- O igarapé foi amostrado em quatro áreas profundidade média de 0,15 m, variando en-
IGARAPÉ? terminadas condições, pode-se encontrar peixes seguindo um gradiente decrescente de pre- tre 0,02 m e 0,54 m, e a largura, com uma mé-
com diferentes estratégias reprodutivas. Algu- servação da vegetação da margem do curso dia de 2,58 m, variando entre 1,42 m e 3,59
Silvana Cristina Hammerer de Medeiros 1, Marilene Lei- mas estratégias reprodutivas conhecidas para d’água. Foram avaliados quatro trechos do m. Como já era previsto, a menor cobertura
te2, Daniela Monteiro2 e Ricardo Eduardo Vicente peixes tropicais estão de acordo com alguns igarapé: um inserido em uma área de flores- dossel foi registrada no pasto e o substrato
atributos de ciclo de vida que incluem padrões ta; outro com apenas mata ciliar conservada;
Orientador: Prof. Dr. Jansen Zuanon3 mais dominante ao longo do igarapé foi à
de fecundidade, cuidado parental e estabilidade outro trecho marcado por transição entre
1 Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Uni- areia (Tab.1).
populacional (Winemiller,1989). Entre as cate- mata ciliar conservada e área de pastagem
versidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Gran-
gorias de estratégia de reprodução, há a classifi- e por fim um trecho inserido numa região de
de, Mato Grosso do Sul, Brasil. Tabela 1: Valores médios das variáveis abióticas ao lon-
cação em três grupos: equilíbrio – que refere-se pastagem de gado.
2 Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conserva- a aquelas espécies que se reproduzem poucas go do gradiente decrescente de preservação vegetal de
ção da Biodiversidade, Instituto de Biociências, Universi- Coleta de dados um igarapé na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, Mato
vezes, são indivíduos grandes e iteróparos; opor-
dade Federal de Mato Grosso. tunistas – que geralmente são indivíduos peque-
Cada área era composta de cinco parcelas de Grosso.
3 Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática, Ins- nos que se reproduzem mais de duas vezes ao
10 metros de comprimento, com intervalos
Floresta Mata ciliar Transição Pasto
tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, ano e são semelparos; e sazonais – que são espé-
de 50 metros entre cada uma. Em cada par- Largura (m) 3,8 2,36 1,81 2,42

cies que dependem de eventos sazonais como


cela foi aferido a profundidade nas extremi- Profundidade (m) 0,17 0,09 1,1 0,64
CP 478, 69083-970 Manaus, Amazonas, Brasil.
período seco e chuvoso (Winemiller,1989).
dades e no centro em três locais da parcela: Cobertura dossel (%) 68,6 73,8 66 3,4
Substrato dominate Liteira Areia Areia Areia
Introdução nas margens e no centro, totalizando nove
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi
medidas de profundidade, as quais foram

O
analisar se a distribuição de peixes com dife-
s igarapés, rios Amazônicos de pe- transformadas em um valor médio. Registra- A riqueza de espécies de equilíbrio foi maior
rentes estratégias reprodutivas pode variar de
quena ordem (Silva, 2006), possuem mos a largura no igarapé nas extremidades na mata ciliar e diminuiu em direção à área
acordo com as mudanças ocorridas na estrutura
pouca produtividade primária devi- e no centro e os valores transformados em de pasto, porém foi menor na área de flores-
de um igarapé. Sendo as características do am-
do à baixa quantidade de luz que atinge a uma medida média de largura. Fizemos tam- ta (Fig.1). Já a riqueza de espécies oportunis-
biente fator determinante para a permanência e
superfície da água, dependendo da vegeta- bém o registro fotográfico da cobertura do tas apresentou um crescimento contínuo em
coexistência das espécies nos microhabitats, es-
ção das margens como fonte de nutrientes, dossel, no centro de cada parcela. Para medir direção ao trecho de pasto (Fig.2).
peramos que a distribuição dos peixes com dife-
os quais são incorporados ao sistema pelas a porcentagem de cobertura do dossel, as
rentes estratégias reprodutivas mude como res-
águas das chuvas e queda de folhas e galhos imagens foram transformadas em padrão de
posta ao gradiente de perturbação. Assim sendo,
(Sioli, 1956; Walker, 1987, 1990 apud Silva, preto e branco e quadriculadas para somató-
em ambientes menos complexos, sujeitos a mo-
2006). A despeito da baixa produção pri- ria da porcentagem de cobertura.
dificação em sua estrutura devido a ação antro-
mária, esses pequenos riachos abrigam um A captura dos peixes foi realizada por dois co-
pica, há maior quantidade de espécies com es-
grande número de espécies de peixes (Saul, letores com peneiras (malha 5 mm) durante
tratégia reprodutiva oportunista; enquanto que
1975 apud Anjos 2005) que pertencem a di- 10 minutos por toda a extensão da parcela.
em ambientes mais complexos, há mais espécies
versas ordens. Isso pode ocorrer devido à he- Todos os indivíduos coletados foram fixados
de equilíbrio. Em ambientes à jusante, há maior
terogeneidade de microhabitats decorrente para posterior identificação. A classificação
possibilidade de se encontrar espécies sazonais,
da maior interface com ambientes terrestres das espécies foi feita de acordo com as cate-
devido à influência de outros corpos d’água. Figura 1: Número de espécies de peixes considerados de
(Sabino & Zuanon, 1998). Nessa relação entre gorias estratégias reprodutivas baseada em
equilíbrio (segundo classificação de Winmiller, 1989) ao
organismos aquáticos e ambientes terres- Winemiller (1989).
Materiais e métodos longo do gradiente decrescente de preservação vegetal
tres, reflexos das condições externas podem Análise de dados de um igarapé na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu,
ser observados na distribuição desses orga- Área de estudo
Analisamos a riqueza e abundância de espé- Mato Grosso.
nismos. Como exemplo, há as alterações na Este estudo foi realizado no mês de outubro, cies de cada categoria reprodutiva por cada
vegetação, que interferem na entrada de luz em um igarapé da Fazenda São Nicolau, si- um dos ambientes. As características do ria-
e na produtividade, modificando dessa for- tuada no município de Cotriguaçu, Mato cho foram usadas para melhor caracterizar o
ma a composição dos organismos presentes. Grosso, região que pertence ao bioma Ama-

16 17
consideradas oportunistas segundo classificação de tes, estão submetidos às condições abióticas
Referências
Winmiller, 1989) o longo do gradiente decrescente de da interface entre pasto e floresta, portanto,
preservação vegetal de um igarapé na Fazenda São Ni- apresentam maior diversidade de habitats. BEGON, M.; TOWNSEND, R. C. e HARPER L.
colau, Cotriguaçu, Mato Grosso. Desta forma, a teoria da heterogeneidade J. Ecologia de indivíduos a ecossistemas. 4ª
espacial pode explicar o padrão encontrado, edição. Editora Artmed, 2008.
Discussão haja vista que, a heterogeneidade reflete a
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Fragmen-
O ambiente de floresta apresentou uma variedade de oportunidades que o ambien-
tação de ecossistemas. Brasília – DF, 2003.
pequena quantidade de espécies classifica- te proporciona para as diferentes espécies,
por isso, é capaz de promover um aumento SABINO, J. & ZUANON, J. 1998. A stream fish
das como de equilíbrio, este valor, foi maior
Figura 2: Número de espécies de peixes consideradas na riqueza em espécies (Begon, 2008). assemblage in central amazonia: distribu-
quando analisado o ambiente de mata ciliar
oportunistas (segundo classificação de Winmiller, 1989) tion, activity patterns and feeding behavior.
e a partir deste houve uma diminuição da ri- Muitas espécies só podem utilizar os mes-
ao longo do gradiente decrescente de preservação vege- Ichthyology Explorer Freshwaters. 8: 201-
queza em direção ao pasto. Esse decréscimo mos recursos disponíveis em um ambiente
tal de um igarapé na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, 210.
no numero de espécies, após o ambiente de caso respondam de forma diferente a essas
Mato Grosso. mata ciliar, pode ser explicado pelo conceito condições, então cada uma pode ser compe- SILVA, L. F. Estrutura de comunidade de inse-
Espécies de equilíbrio foram mais abundan- de que nos ambientes aquáticos os organis- titivamente superior em ambientes distintos tos aquáticos em igarapés na Amazônia Cen-
tes no ambiente de transição e menores na mos possuem uma íntima, obrigatória e re- (Begon, 2008). O modo como a distribuição tral, com diferentes graus de preservação da
floresta (Fig.3), mas em espécies oportunis- cíproca relação com o meio circundante. A de espécies respondeu aos ambientes de- cobertura vegetal e apresentação da chave
tas, a maior abundancia ocorreu no ambien- composição natural da água e do sedimen- monstra essas diferenças na utilização dos de identificação de chaves para gêneros de
te de pasto, sendo a floresta o ambiente me- to leva a alterações profundas na biota (Mi- habitats. Como exemplo disso, a abundância larvas da ordem Odonata. Dissertação (Mes-
nos abundante (Fig.4). nistério do Meio Ambiente, 2003), poden- de indivíduos de espécies de equilíbrio teve trado) - Instituto Nacional de Pesquisas Ama-
do inclusive ocorrer perda de espécies por um crescente aumento em direção ao gra- zônicas. Manaus 2006.
alteração do habitat. Isso pode ter ocorrido diente menos preservado com uma quebra VANNOTE, R.L.; MINSHALL, G.W.; CUMMINS,
com as espécies que demoram mais para se de padrão no ambiente de pasto. O contrá- K.W.; Sedell, J.R. & Cushimg, C.E. 1980. The
reproduzir, pois a instabilidade no trecho de rio ocorreu com as espécies oportunistas, river continuum concept. Canadian Journal
pastagem como ausência de mata ciliar para demonstrando uma maior eficiência destas Fish Aquatic Science. 37: 130 137.
retenção dos sedimentos trazida pela lixivia- últimas na exploração dos recursos disponí- WINEMILLER, K.O. 1989. Patterns of variation
ção, menor disponibilidade de microhabi- veis em habitats com maior grau de pertur- in life history among South American fishes
tats, pode ter beneficiado as espécies mais bação. in seasonal environments. Oecologia 81:225-
oportunistas. Concluímos que a distribuição de peixes 241
A hipótese do rio contínuo (Vannote et al. com diferentes estratégias reprodutivas ANJOS, M.B. 2005. Estrutura de comunida-
1980) afirma que a cobertura vegetal nas ca- pode variar de acordo com as mudanças des de peixes de igarapés de terra firme na
Figura 3: Número de indivíduos de espécies de peixes
beceiras dos rios reduz a contribuição autóc- ocorridas na estrutura dos igarapés. Em am- Amazônia Central: composição, distribuição
considerados de equilíbrio (segundo classificação de
tone, devido a pouca quantidade de luz que bientes mais modificados por ações antró- e características tróficas. Dissertação de Mes-
Winmiller, 1989) ao longo do gradiente decrescente de
entra no ambiente, limitando a produção picas, houve maior quantidade de espécies trado. INPA/UFAM.
preservação vegetal de um igarapé na Fazenda São Ni-
primária. Isso pode limitar a distribuição de e indivíduos oportunistas e as espécies de
colau, Cotriguaçu, MatoGrosso.
espécies que necessitam de grande quanti- equilíbrio foram mais freqüentes na área de
dade de energia para reprodução, como é o mata e de transição. Provavelmente maiores
caso das espécies oportunistas que se repro- quantidades de réplicas seriam necessárias
duzem mais vezes durante o ano em relação para conseguirmos responder melhor às
às espécies de equilíbrio (Winemiller, 1989). questões propostas neste estudo. Além dis-
Por isso, esperava-se que no trecho de mata so, uma classificação mais refinada das ca-
houvesse maior riqueza e abundância de es- tegorias de estratégias reprodutivas talvez
pécies de equilíbrio. Porém, a maior riqueza pudesse informar mais sobre a distribuição
e abundância de espécies de equilíbrio se desses organismos.
concentraram respectivamente na mata ci-
Figura 4: Número de indivíduos de espécies de peixes liar e na área de transição. Ambos os ambien-

18 19
DIFERENTES TIPOS DE BORDA sos, sendo a ordem Coleoptera a que con- ros.
INFLUENCIAM NA COMPOSIÇÃO tribui em maior número para essa grande Análise de dados
diversidade. Alguns coleópteros possuem
DE COLEÓPTEROS CARPÓFILOS Para avaliar se existe relação entre a riqueza
uma alimentação diversificada. Em geral, são
EM UMA MATA NATIVA? sapófragos, alimentando-se de tecidos de
de espécies e a distância (m) realizamos um
modelo de regressão linear. Para analisar a
plantas em decomposição, porém, muitas composição da abundância de espécies nos
Hugo Mozerle1, Amanda Ferraz2, Marilene Leite2 & Mi- espécies alimentam-se de frutos em decom- diferentes tipos de borda, foi realizado um
lene Gaiotti2 posição (Lawrence, 1999), sendo denomina- NMDS, empregando a distância de Bray-cur-
Orientador: Fernando Vaz-de-Mello
dos de carpófilos. tis.
1Discente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia
Devido a importância desses animais na ma-
e Conservação, Universidade Federal do Mato Grosso do
nutenção da biodiversidade e a acelerada Resultados
Sul, Campo Grande- MS.
perda de biomassa arbórea com a fragmen-
tação de habitats, este trabalho teve como Foram coletadas 21 espécies, pertencentes
2 Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecolo- a 11 famílias, sendo que a família nitidulidae
objetivo analisar se existe efeito de borda na
gia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Fe- foi a mais abundante, seguida por Histeridae
riqueza de espécies de coleópteros carpófi-
deral de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/ (Tabela 1). Quanto ao número de espécies
los e se a composição dessas espécies varia
n°, CEP: 78060-900, Cuiabá – MT. existentes ao longo do gradiente de efeito
nos diferentes tipos de borda (pasto e rio)
em duas áreas de mata nativa. de borda, não houve diferença, na borda de
Introdução pasto (p = 0,58) nem na borda do rio (p =
Materiais e métodos 0,17) (Figura 1). A abundância das espécies

F
ragmentos florestais são áreas de vege- entre os dois tipos de borda da mata nativa, Figura 1- Riqueza das espécies em função da distância
tação natural interrompida por barreiras Coleta de dados não diferiu, havendo praticamente a presen- da borda natural (rio) e antropizada (pasto), localizadas
antrópicas ou naturais, capazes de dimi- O estudo foi realizado em duas áreas de ça das mesmas espécies em ambos os pon- na fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
nuir, o fluxo de animais, pólen ou sementes mata nativa, localizadas na fazenda São Ni- tos da mata (p = 0,24; Figura 2).
(Benedetti & Zani Filho, 1993). A transição colau, Cotriguaçu, MT. Uma área se encontra
entre ambientes adjacentes em áreas de na margem do rio Juruena, possuindo bor-
fragmentação pode ser nítida ou gradual e da natural e a segunda se encontra em uma
ser caracterizada por condições abióticas e área de pastagem, possuindo borda antropi-
bióticas, coletivamente chamada de efeito zada (pasto).
de borda (Murcia, 1995). A intensidade e di- A armadilha utilizada é a descrita por Vaz-
reção de efeitos de borda nos níveis popu- -de- Mello & Louzada (1997). Cada armadilha
lacionais dos organismos podem ser extre- consta de uma garrafa plástica de 2 L com
mamente variados entre as espécies (Heliöla três janelas laterais de 8 x 8 cm, situadas a
et al., 2001). Efeitos de borda causados pela uma altura de 18 cm de sua base. Dentro da
fragmentação florestal são conhecidos por garrafa foi colocada isca (banana em decom-
Figura 2- Composição das espécies entre os dois tipos de
afetar a abundância e diversidade de insetos, posição com açúcar mascavo), utilizada para
borda, natural (Rio) e antropizada (Pasto), localizadas
e podem influenciar direta ou indiretamente atrair os insetos carpófilos. Na mata nativa
na fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
a ordem das interações e funcionalidade do com a borda influenciada pelo pasto, foram
ecossistema (Didham et al., 1996). instaladas nove armadilhas. E na mata com Discussão
Os insetos contribuem de forma positiva borda de rio foram instalados cinco armadi-
com a manutenção da diversidade das flo- lhas. Nos dois locais as armadilhas foram ins- No gradiente de ambas as matas não houve
restas tropicais, pois atuam em processos taladas em alturas regulares com o auxílio de uma mudança considerável no número de
importantes como polinização, predação um fio de nylon. As armadilhas foram dispos- espécies. Isso pode ter ocorrido porque os
de sementes, herbivoria e decomposição de tas de zero a 280 m da borda, permanecendo insetos herbívoros podem ser beneficiados
matéria orgânica (Didham et al,. 1996). Eles por três dias no local. Após esse período elas pela grande quantidade de plantas heliófilas
são os organismos mais abundantes e diver- foram vistoriadas para a retirada dos besou- (planta que têm preferência por locais bem

20 21
iluminados) ou devido ao microclima exis- BENEDETTI, V.; ZANI FILHO, J. 1993. Metodo-
tente na borda (Antonini et al., 2003). Já que logia para caracterização de fragmentos flo-
para insetos que vivem no dossel pode ser restais em projetos agro-silviculturais. In: VII
que a borda seja uma continuação do dos- CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO. Curiti-
sel, não interferindo assim na disposição das ba, PR. Anais... Curitiba: SBS/SBEF 2: 400-401.
espécies ao longo do gradiente de efeito de
borda. DIDHAM, RK; J GHAZOUL; NE STORK & AJ
Nossos resultados evidenciam que, devido DAVIS. 1996. Insects in fragmented forests: a
aos fragmentos pertencerem à mesma for- functional approach. Trends in Ecology and
mação florestal, porém com bordas diferen- Evolution 11:255- 260.
tes, estes não apresentam heterogeneidade
na distribuição da riqueza e composição
GONÇALVES, T. T. 2003. Distribuição de Co-
de espécies de besouros. Porém, Gonçalves
leópteros Carpófilos (Insecta: Coleoptera)
(2003), observou que existe heterogeneida-
no dossel de fragmentos florestais de mata
de na distribuição e composição de espécies
atlântica. Monografia - Departamento de Ci-
de coleópteras. Indicando que existem efei-
ências Florestais - Universidade Federal de
tos da forma, grau de regeneração, área e
Lavras.
microclima particulares em cada fragmento
sobre a abundância das espécies. Mas já se
sabe que diferentes espécies podem respon- HEIOLA, J.; KOIVULA, M.; NIEMELA, J. 2001.
der de forma neutra, positiva ou negativa- Distribution of carabid beetles (Coleoptera,
mente ao efeito de borda (Murcia, 1995). Carabidae) across a boreal forest-clearcut
Com esse trabalho foi possível visualizar que ecotone. Conserv. Biol. 15: 370- 377.
para estes locais específicos da mata nativa,
parece não ocorrer um efeito de borda no LAWRENCE, J. F.; HASTINGS, A. M.; DALLWITZ,
número de espécies encontradas. E quanto M. J.; PAINE, T. A.; ZURCHER, E. J. 1999. ‘Beetles
à composição da abundância das espécies of the World: A Key and Information System
encontradas nos diferentes tipos de bordas for Families and Subfamilies.’ CD-ROM, Ver-
também não houve diferença. Porém, ape- sion 1.0 for MS-Windows. (CSIRO Publishing:
nas com mais estudos será possível com- Melbourne.).
preender melhor o efeito de borda sobre as
comunidades naturais de besouros em pai-
sagens fragmentadas.
MURCIA, C. 1995. Edge effects in fragmented
forests: implications for conservation. Trends
Referências bibliográficas in Ecology and Evolution, 10: 58-62.

ANTONINI, Y.; ACCACIO, G.M.; BRANT, A.; CA- VAZ-DE-MELLO, F.Z. & LOUZADA, J.N.C. 1997.
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TO, M.T.; THOMAZINI, A.P.B.W.; THOMAZINI, Scarabaeidae (Coleoptera ,Scarabaeidae), e
M.J. 2003. Insetos. In: Rombaldi, D.M. e Oli- dados sobre sua ocorrência em floresta tro-
veira, D.A.S. (orgs.). Fragmentação de ecos- pical do Brasil. Acta Zoológica Mexicana. 72:
sistemas: causas, efeitos sobre a diversidade 55 – 61.
e recomendações de políticas públicas. Bra-
sília: MMA. 510p

22
CATEGORIAS TRÓFICAS DE AS- são linear na predominância dos recursos onde o igarapé passa por área de pastagem tronco, liteira e rocha. A largura do igarapé
SEMBLÉIAS DE PEIXES EM UM alimentares utilizados pelos peixes (Lowe- (jusante). Havendo também entre os últimos foi obtida em cada transecto e a profundida-
-McConnell, 1999). Os riachos sombreados trechos, regiões de transição da composição de obtida em cada ponto do transecto onde
IGARAPÉ NA AMAZÔNIA, FAZEN-
de cabeceira dependem primariamente de da vegetação. o substrato foi caracterizado.
DA SÃO NICOLAU, MATO GROSSO alimentos alóctones, sendo os peixes prin- Coleta de dados Análise de dados
cipalmente generalistas. As especializações Para a coleta dos peixes foram estabelecidos Para comparar a riqueza e biomassa entre
Jocieli de Oliveira¹, Amanda Ferraz¹, Abílio de Moraes¹, alimentares parecem crescer em importân-
20 trechos de dez metros distribuídos em os ambientes de floresta, mata ciliar, transi-
Miquéias Silva Junior¹ cia a medida que os riachos vão se tornando quatro áreas do igarapé, que correspondem ção e pasto, foi realizada Análise de Variância
1 Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecolo- menos sombreados (Zaret & Rand, 1971).
aos ambientes de floresta, mata ciliar, transi- (ANOVA). Para comparar a abundância das
gia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Fe- Devido às espécies de peixes com ção e pastagem, sendo os trechos separados espécies foi realizada Análise de Variância
deral de Mato Grosso diferentes hábitos alimentares mudarem ao uns dos outros por espaços de 50 metros. As Multivariada (MANOVA), sendo que a abun-
Orientadora: Dra. Lucélia Nobre Carvalho longo de um gradiente, hipotetizamos que coletas foram realizadas no sentido jusan- dância dos peixes nos diferentes ambientes
Projeto Orientado mais espécies de peixes generalistas (onívo- te-montante até o final do último trecho, a foi reduzida por Análise de Coordenadas
ros) sejam encontradas em áreas mais con- coleta foi ativa utilizando-se três peneiras Principais (PCoA).
Introdução servadas do igarapé, onde a maior parte da (malha 1 mm) durante um período de dez

A
entrada de recursos é alóctone, enquanto minutos em cada trecho do igarapé. Os pei- Resultados
bacia Amazônica é formada por que peixes especialistas (perifitívoros e de-
xes coletados foram anestesiados com eu-
uma diversidade de corpos d’água, tritívoros) sejam encontrados em áreas mais Foram coletados 1.210 indivíduos, sendo
genol, fixados em formol e acondicionados
que compreende grandes rios, la- abertas do igarapé, onde a maior parte dos 6% em ambiente de floresta, 10% em mata
em recipientes distintos correspondendo a
gos e inúmeros pequenos riachos, consti- recursos se diferem podendo ser autóctones ciliar, 39% em transição e 45% em ambiente
cada trecho amostrado. Em laboratório os
tuindo uma das redes hídricas mais densas ou alóctones. Assim, este estudo tem como de pasto, pertencentes a 37 espécies (Anexo
peixes foram identificados e pesados em ba-
do mundo (Junk, 1983). Os igarapés são objetivo comparar a distribuição de peixes 1). O número de espécies variou pouco entre
lança de precisão para obter a biomassa. As
corpos d’água de pequeno porte que em com diferentes hábitos alimentares ao longo os ambientes (F3,16 = 3,029; P = 0,06) (Fig.
categorias tróficas da assembléia de peixes
sua maioria, são pobres em nutrientes e as de um igarapé de segunda ordem que apre- 1), enquanto que os dois eixos da PCoA que
foram categorizadas de acordo com (Carva-
árvores que se fecham sobre os mesmos im- senta ambientes conservados e degradados. captaram 44% da variabilidade dos dados,
lho, 2008) sendo classificados em sete cate-
pedem que a luz atinja a superfície da água mostraram que a abundância variou entre
gorias: Carnívoros, detritívoros, insetívoros
(Walker, 1995). Materiais e métodos os ambientes (Pillai Trace = 0,662; F6,32 =
autóctones, insetívoros generalistas, invertí-
O estudo da estrutura trófica de peixes em 2,640 ; P = 0.034), sendo Hemigrammus mar-
Área de estudo voros, onívoros e perifitívoros.
igarapés pode determinar dados importan- ginatus a espécie mais abundante em todos
Este estudo foi realizado em um igarapé de Para caracterizar o ambiente foram medidas os ambientes. A biomassa não apresentou
tes sobre o ambiente e a estrutura da assem- algumas variáveis ambientais, tais como co-
bléia de peixes estabelecida (Barreto & Ara- segunda ordem, inserido no bioma Amazô- variações entre os ambientes amostrados
nico localizado na Fazenda São Nicolau, (09˚ bertura do dossel, largura do igarapé, pro- (F3,16 = 1,781; P = 0,191) (Fig. 2).
nha, 2006). A teoria do rio contínuo propõe fundidade e substrato presente. A cobertu-
que a distribuição das espécies acompanha 50’ 56,2” S, 58° 15’ 41.2” W), Município de Co-
triguaçú, Mato Grosso. Esta fazenda tem um ra do dossel foi obtida através da análise de
os gradientes abióticos, principalmente em imagens do dossel, onde as fotos do dossel
função do processamento de matéria orgâ- histórico de desmatamento para pastagem e
á alguns anos vem sendo reflorestada com foram obtidas no centro de cada trecho do
nica e por meio de diferentes padrões trófi- igarapé, para após serem convertidas para
cos ao longo do gradiente longitudinal (da plantios monoespecíficos de Teca (Tectona
grandis) em pequena parte, e mistos com imagem preta e branca, quadriculadas no
cabeceira até a foz) (Vanote et al. 1980). Con- programa Corel Draw e assim estimar a por-
tudo, padrões observados na foz, onde há espécies nativas na maior parte da fazenda,
como parte de um projeto de reflorestamen- centagem de cobertura do dossel.
pouca cobertura da vegetação sobre o igara-
to. Os tipos de substratos foram determina-
pé, pode estar presente em igarapés de pri-
O igarapé amostrado apresenta trechos com dos a partir de sondagens em três transec-
meiras ordens devido impactos gerados por
diferentes condições ambientais, havendo tos transversais (início, meio e fim de cada
ações antrópicas, alterando esses ambientes
trechos na zona de preservação da floresta trecho) tomando-se três medidas em cada
e refletindo na modificação da assembléia
nativa (montante), trechos onde uma pe- transecto, totalizando nove pontos por tran-
de peixes.
quena faixa de mata ciliar é preservada e secto. Os substratos foram classificados em
Em rios e riachos tropicais há uma suces- seis categorias: areia, sedimento, cascalho,

24 25
Fig. 1 – Número de espécies de peixes nos ambientes São Nicolau, Cotriguaçú, MT. Peri = perifitívoros, inaut = prevê que as populações de organismos
Discussão
amostrados, em um igarapé na Fazenda São Nicolau, insetívoros autóctones, carn = carnívoros, detr = detrití- aquáticos se ajustam a essas variações (Va-
Cotriguaçú, MT. voros, inger = insetívoros geralistas, invert = invertívoros Embora o número de espécies de peixes note et al. 1980).
e oniv = onívoros. entre os ambientes amostrados tenham Em relação à biomassa das categorias trófi-
Quanto à biomassa das categorias apresentado pouca variação, nota-se que o cas não foi encontrado o que esperávamos
tróficas, os peixes carnívoros apresentaram ambiente de floresta apresenta menor nú- em relação à região de pasto. A maior bio-
maior biomassa nos ambientes de flores- mero de espécies quando comparada com massa esperada nesse local era a de perifi-
ta, transição e pastagem, enquanto que na as demais. De acordo com Araujo-Lima et tívoros, que são animais que se alimentam
mata ciliar a maior biomassa encontrada foi al (1995) a baixa diversidade é esperada em de algas, alimento abundante em áreas de-
dos perifitívoros (Figura 4). regiões de cabeceira, pois estas apresentam gradas devido à grande incidência de luz. E,
pouca quantidade de nutrientes, impossibi- segundo Carvalho (2008), a maior abertura
litando a manutenção de populações muito do dossel nessa região permite a entrada de
diversas e limitando o número de indivíduos. luz no sistema, e consequentemente deve-
A diferença na abundância dos peixes pode ria resultar num aumento da produtividade
refletir as variações das características dos primária autóctone como o aumento da pro-
ambientes amostrados, como observado dução de algas. Deste modo, espera-se um
no ambiente de pasto onde o igarapé apre- aumento na biomassa de perifitívoros em
Fig. 2 – Biomassa dos peixes nos ambientes amostrados, senta profundidade média intermediária em regiões mais degradadas do igarapé. Porém,
em um igarapé na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú, MT. relação aos demais ambientes, embora a ao contrário do que o esperado, a biomassa
dominância do substrato de areia possa re- dos perifitívoros foi maior na região de mata
sultar de processos erosivos e assoreamento. ciliar.
Os peixes classificados em sete categorias
tróficas estiveram presentes em todos os Fig. 4 - Biomassa das categorias tróficas nos ambientes Contudo, o menor percentual da cobertura Deste modo, concluiu-se que os hábitos ali-
ambientes (Anexo 1). Os peixes insetívoros amostrados em de um igarapé, na Fazenda São Nicolau, vegetal pode favorecer a produtividade pri- mentares dos peixes não mudaram conside-
autóctones apresentaram maior número de Cotriguaçú, MT. Peri = perifitívoros, inaut = insetívoros mária e conseqüentemente sustentar maior ravelmente entre os ambientes em diferen-
indivíduos em todos os ambientes, seguidos autóctones, carn = carnívoros, detr = detritívoros, inger abundância de peixes. tes estados de conservação. Possivelmente
por peixes carnívoros. Enquanto que peixes = insetívoros gerais, invert = invertívoros e oniv = oní- Embora a abundância das espécies tenham devido estas variações não representarem
classificados como detritívoros, insetívoros voros. apresentado variações, a biomassa dos pei- grandes barreiras que possam favorecer a
generalistas e onívoros apresentaram pouco xes não variou entre os ambientes, podendo ocupação diferenciada de peixes genera-
indivíduos em cada ambiente (Fig. 3). Os pei- estar relacionado com a maior quantidade listas e especialistas como previsto na teo-
A largura média do igarapé foi maior no am-
xes perifitívoros e invertívoros, apresentaram de peixes pequenos no ambiente de pasto, ria do rio contínuo. Sugerindo que estudos
biente de floresta, a profundidade média
diferenças no número de indivíduos entre os enquanto que a menor abundância de pei- abordando hábitos alimentares de peixes
maior no ambiente de mata de transição e
ambientes, sendo representados por menos xes no ambiente de floresta estejam relacio- em igarapés, compreendam distintas ordens
a cobertura vegetal maior no ambiente de
indivíduos no ambiente de floresta. nados a peixes maiores. (1ª , 2ª e 3ª ondens), afim de se obter uma
mata ciliar. Os substratos predominantes fo-
A presença das sete categorias tróficas em maior amplitude de variações no ambiente.
ram areia e liteira (Tab.1).
todos os ambientes pode indicar que as dis-
Variáveis Ambientes ponibilidades de recursos autóctones e alóc-
Floresta Mata ciliar Transição Pasto tones apresentaram poucas variações entre Referências bibliográficas
Largura Média (m) 3,8 2,36 1,81 2,42 os ambientes. Onde, peixes especialistas tais
Profundidade Média (m) 0,17 0,09 1,1 0,64 ARAÚJO-LIMA, C.A.R.M.; AGOSTINHO, A.A;
como carnívoros e insetívoros autóctones
Cobertura vegetal (%) 68,6 73,8 66 3,4 FEBRÉ, N.N. 1995. Trophic aspects of fish
Substrato dominante Liteira Areia Areia Areia esperados em maior número de espécies
communities in brazilian Rivers and reser-
Tab. 1 – Largura média, profundidade média, porcen- em ambientes de pasto, apresentaram maior
voirs. In: TUNDISI, T.M.; TUNDIN, G.; BICUSO,
tagem de cobertura vegetal e substrato dominante dos número de espécies em todos os ambientes.
C.E.M. (eds). Limnology in Brazil. ABC/SBL.
diferentes ambientes amostrados em um igarapé, na Deste modo, os diferentes estados de con-
Rio de Janeiro. 105-136.
Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú, MT. servação deste igarapé não são comparáveis
Fig. 3 – Número de espécies por categorias tróficas nos as variações no ambiente (montante-jusan-
ambientes amostrados em de um igarapé, na Fazenda te) sugeridas pela teoria do rio contínuo que BARRETO, A.P. & ARANHA, J.M.R. 2006. Ali-

26 27
mentação de quatro espécies de Characifor-
mes de um riacho da Floresta Atlântica, Gua- Anexos
raqueçaba, Paraná, Brasil. Revista Brasileira Anexo 1 – Composição, abundância e cate-
de Zoologia. 23(3): 779-788. goria trófica dos peixes coletados nos am-
bientes amostrados em de um igarapé, na
CARVALHO, L. N. 2008. História natural de Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú, MT.
peixes de igarapés amazônicos: utilizando a
abordagem do conceito do rio contínuo. Ins-
tituto de Ciências Biológicas. Manaus. AM. Ambientes
Espécies Categoria Trófica
INPA/UFAM. 156p. Floresta Mata ciliar Transição Pasto
Microglanis cf. poecilus 2 4 Carnívoro
Pimelodella sp. 2 3 Carnívoro
LOWE-MCCONNELL, R. H. 1999. Estudos Eco-
Ituglanis sp.2 3 6 Insetívoro autócne
lógicos de Comunidades de Peixes Tropicais. Rinelocaria sp. 1 5 Perifitívoro
Edusp. São Paulo. 366 pp. Characidium sp. 4 7 3 Insetívoro autócne
Ituglanis sp.1 2 4 1 Insetívoro autócne
JUNK, W.J. As águas da região amazônica. In: Synbranchus sp. 1 1 2 Carnívoro
Salati, E.; Shubart, H.O.R.; Junk, W.J.; Olivei- Brachyhypopomus sp.1 6 2 4 1 Insetívoro autócne
ra, A.E. (Eds.). Amazônia: Desenvolvimento, Hemigrammus marginatus 29 16 122 154 Carnívoro
integração e ecologia. CNPq/Ed. Brasiliense, Hyphessobrycon melazonatus 8 12 58 75 Insetívoro generalista
Brasília. 1983. 327p. Hypostomus carinatus 1 4 4 3 Detritívoro
Knodus sp.1 10 15 12 22 Insetívoro autócne
Nannohandia stictonotus 1 3 10 5 Invertívoro
VANNOTE, R.L.; MINSHALL, G.W.; CUMMINS, Odontostilbe sp. 2 70 76 Onívoro
K.W.; SEDELL, J.R. & CUSHING, C.E. 1980. The Hoplias malabaricus 2 1 2 Carnívoro
river continuum concept. Canadian Journal Rhamdella sp. 1 Carnívoro
of Fisheries and Aquatic Sciences. 37:130- Ancistrus sp.2 3 Perifitívoro
137. Astyanax.maximus 2 Onívoro
Corydoras Aeneus 1 Insetívoro autócne
Corydoras cf. polistictus 2 Insetívoro autócne
WALKER, I. 1995. Amazonian streams and
Moenkhausia oligolepis 7 6 1 Invertívoro
small rivers. In: Limnology in Brazil (Eds J.G.
Knodus sp.2 3 41 111 Insetívoro autócne
Tundisi, C.E.M. Bicudo, T. Matsumura-Tundi-
Creagrutus sp. 2 4 9 Insetívoro autócne
si), Brazilian Academy of Sciences, Brazilian
Crenicichla sp. 3 4 2 Carnívoro
Limnological Society, Rio de Janeiro, Brazil. Farllowella sp. 2 10 14 Perifitívoro
167-193. Paratocinclus sp. 6 5 5 Perifitívoro
Phenacorhamdia sp. 3 5 5 Invertívoro
ZARET, T.M. & RAND, A.S. 1971. Competition Rineloricaria sp. 10 4 3 Perifitívoro
Prochilodusnigricans sp. 1 Detritívoro
in tropical stream fishes: support for the
Moenkhausiacotinho sp. 1 3 Invertívoro
competitive exclusion principle. Ecology, 52,
Aequidens sp. 1 1 Carnívoro
336-342.
Pamphorichthys scalpridens 9 15 Perifitívoro
Jupiabazonata sp. 3 1 Onívoro
Phenacogaster sp. 17 9 Insetívoro autócne
Erythrinus erythrinus 4 1 Carnívoro
Hyphessobrycon sp. 67 21 Insetívoro generalista
Brachihypopomus sp.2 1 Insetívoro autócne
Total 74 127 469 540

28 29
EFEITO DA DISTÂNCIA DA MATA 2007). este de Mato Grosso, que desenvolve proje- DAP através da fórmula CAP/∏. E a área basal
SOBRE O CRESCIMENTO DE Na Amazônia, a destruição das florestas, to de reflorestamento para seqüestro de car- foi calculada usando a fórmula ∏*(DAP/2)².
bono sobre área de pastagem. Este último valor foi dividido por 1000 para
TECA (Tectona grandis) EM UMA através do corte raso, cria fragmentos flo-
transformar em área basal por hectare. Reali-
Informações sobre o reflorestamento
ÁREA DE REFLORESTAMENTO restais de diversos tamanhos. Tais remanes-
zamos um teste de normalidade KS (Kolmo-
NA FAZENDA SÃO NICOLAU, centes florestais estão geralmente entre O reflorestamento estudado é composto por
pastagens, campos agrícolas e florestas se- monocultura de Teca. A Teca (Tectona gran- gorov Smirnov), seguido de uma regressão
COTRIGUAÇU, MT cundárias, mais conhecidas localmente por dis L.f.) é uma espécie arbórea da família Ver- linear simples das variáveis (média do DAP,
capoeiras (LOVEJOY et al., 1986). A transi- benaceae que apresenta alto valor comer- área basal e número de indivíduos de Teca),
Abílio de Moraes, Carla Lopes Velasquez, Daniela da Sil- ção abrupta entre o fragmento de floresta cial. Esta espécie ocorre naturalmente no em função da distância da borda.
va Monteiro, Jhany Martins Dos Santos e a área manejada expõe as bordas do frag- centro e sul da Índia, em Myanmar, no norte
Resultados
Orientador: Júlio de Toledo mento a condições microclimáticas distintas da Tailândia e em Laos. As folhas são coriáce-
1Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia
e geram mudanças, ao longo do tempo, na as e medem de 30 a 60 cm de comprimen- Houve relação entre o DAP dos indivíduos
e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal
estrutura da vegetação. O conjunto dessas to por 20 a 35 cm de largura. As flores são arbóreos e a distância da mata (p<0,001,
de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°,
alterações é denominado “efeito de borda” pequenas, de coloração branco-amarelada e r2=0,6, Fig.1), bem como entre a área basal
CEP: 78060-900, Cuiabá – MT.
(MARTIUS, et al. 2004). Alguns estudos rea- se dispõem em panículas de até 40 x 35 cm. e a distância da mata (p<0,001, r2=0,5, Fig.2),
lizados na Amazônia Central encontraram Quando adulta, a árvore atinge entre 25 a 35 demonstrando que as Tecas crescem mais
Projeto Orientado
variações decorrentes do efeito de borda m (raramente acima de 45 m) de altura e di- quando estão próximas da mata. Porém, não
em escala microclimática, ocorrendo à redu- âmetro (DAP) de 100 cm ou mais. Seu tron- houve relação entre o número de árvores e
Introdução
ção da umidade do ar, da umidade do solo co é reto e revestido por uma casca espessa, distância da mata (Fig.3).

A
s florestas tropicais possuem micro- e aumento da temperatura. Essas variações resistente ao fogo. Perde as folhas durante
-clima no sub-bosque muito caracte- também podem causar o aumento na taxa a estação seca, pois trata-se de uma caduci-
rístico. Ele é estruturado pela modifi- de mortalidade e queda de árvores na borda fólia (INPEF, 2003). No Brasil, os plantios de
cação sofrida na luz que penetra através da do fragmento (MARTIUS, et al. 2004). Teca iniciaram-se no final da década de 60,
cobertura das árvores, pela estabilidade da Entretanto, este efeito de borda parece não na região do município de Cáceres – Mato
temperatura do ar e solo e pela elevada umi- afetar a margem de um reflorestamento que Grosso, onde as condições climáticas e o solo
dade do ar (BEGON, 2007). Segundo Whatley está localizado ao lado da floresta natural. Ao são semelhantes às dos países de origem da
& Whatley (1982), parte da radiação solar que observar esta área manejada, é possível per- espécie (TSUKAMOTO FILHO et.al., 2003).
chega ao dossel da floresta é refletida, parte ceber que ela se beneficia da proximidade Hoje as plantações de Teca estão espalhadas
é absorvida pelas copas e, posteriormente, com a floresta, possivelmente pela influência por todos os estados devido ao sucesso de
transmitida para o interior da floresta na for- que o micro-clima florestal exerce neste am- adaptação da planta.
ma de ondas longas e, finalmente, uma úl- biente. Por estas razões este trabalho teve Coleta de Dados
tima parte penetra diretamente na floresta. como objetivo avaliar se existe uma relação Estabelecemos 17 parcelas de 10x20 m, sen-
A temperatura do solo também é um fator entre a distância da mata e o crescimento do cinco exatamente na borda do reflores-
importante, pois controla a atividade micro- (diâmetro) das árvores no reflorestamento tamento (a mais próxima da mata), quatro à
biológica e os processos envolvidos na movi- de Teca (Tectona grandis L.f.). Além disso, 100 m da primeira, outras quatro a 200 m da
mentação dos nutrientes. Estudos demons- buscamos saber se a densidade (número de primeira parcela e quatro à 400 m da primei- Fig.1- Relação entre a média de DAP das Tecas (Tectona
tram que sob o manto protetor da zona dos indivíduos) de Teca está relacionada com a ra. Cada parcela foi medida com trena e de- grandis L.f.) de um reflorestamento, e a distância que
fustes, o micro-clima do solo florestal é es- distância em que se encontram da floresta. marcada com barbante. Aferimos a circun- elas se localizam da floresta natural, na fazenda São Ni-
sencialmente diferente do micro-clima de ferência à altura do peito (1,30 m acima do colau, Cotriguaçú, Mato Grosso.
um solo nú, fora da floresta (GEIGER, 1980). Materiais e métodos solo) em todos os indivíduos arbóreos loca-
De forma geral, o solo florestal é mais quen- lizados dentro da parcela, e posteriormente,
te no inverno e mais fresco no verão quando Área de Estudo
transformamos os dados em DAP (diâmetro
comparado ao solo descoberto. Além disso, O estudo foi conduzido em uma área de re-
a altura do peito).
a temperatura e umidade do ar são elevadas, florestamento com Teca próximo a uma área
de floresta Amazônica nativa, na Fazenda Análises Estatísticas
devido à estabilidade na retenção de água,
evaporação e transpiração (BEGON et al., São Nicolau, situada em Cotriguaçu, a noro- Os dados de CAP foram transformados em

30 31
perderem grande quantidade de água pelos tudos Florestais. ipef@ipef.br . Disponível em
estômatos abertos. Sendo assim, a energia 08/10/2009.
agregada pela alta taxa de fotossíntese pode LOVEJOY, T. E., R. 0. BIERREGAARD, JR., A. B.
ser alocada para o desenvolvimento e cresci- RYLANDS, J. R. MALCOLM, C. E. QUINTELA, L.
mento das plantas (BEGON et. al., 2007; VÁZ- H. HARPER, K. S. BROWN, JR., A. H. POWELL,
QUEZ-YANES & OROZCO-SEGOVIA, 1993). G. V. N. POWELL, H. O. R. SCHUBART, & M. B.
A densidade de Teca não teve relação com HAYS. 1986. Edge and other effects of iso-
a distância da mata, entretanto podemos lation on Amazon forest fragments. Pages
notar uma maior variação no número de ar- 257-285 in M. E. Soule, editor. Conservation
vores dentro das parcelas próximas à borda. biology: the science of scarcity and diversity.
Este fato corrobora a observação feita in loco Sinauer, Sunderland, Massachusetts, USA.
de falhas nas fileiras de plantio nesses locais,
provavelmente devido à morte de algumas MARTIUS , C., HÖFER, H., GARCIA, M. V.B.,
Fig.2- Relação entre a área basal das Tecas (Tectona mudas de Teca. Isto pode ter ocorrido por
grandis) de um reflorestamento, e a distância que elas se diversos fatores, como a possível competi- RÖMBKE, J., FÖRSTER B., HANAGARTH, W.
localizam da floresta natural, na fazenda São Nicolau, ção por luz, nutrientes e água (BEGON et. al., 2004. Microclimate in agroforestry systems
Cotriguaçú, Mato Grosso. in central Amazonia: does canopyclosure
2007), entre as arvores de Teca e as plantas matter to soil organisms? Agroforestry Sys-
da mata próxima. Porém, neste estudo não tems 60: 291–304. Kluwer Academic.
foram coletados dados para validarmos esta
afirmação.
TSUKAMOTO FILHO, A.A., SILVA, M. L., COU-
Conclusão TO, L., MÜLLER, M. D. 2003. Análise econô-
mica de um plantio de Teca. Revista Árvore,
As árvores de reflorestamento de Teca pos- Viçosa-MG, v.27, n.4, p.487-494.
suem um melhor desempenho no cresci-
mento quando estão próximas à área de
VÁZQUEZ-YANES, C., OROZCO-SEGOVIA, A.
mata nativa. Este fator deve ser levado em
1993. Eco-Fisiologia de la germinación de ar-
consideração em novos estudos sobre mé-
boles en bosques húmedos tropicales. Res-
todos e eficiência de reflorestamentos, de-
puestas Ecofisiológicas de plantas de Ecos-
vendo ser avaliado também quais fatores do
sistemas Tropicales. A. Azócar ed. CIELAT.
Fig.3- Relação entre a densidade das Tecas (Tectona micro-clima da mata influenciam no cresci-
Universidad de Los Andes, Mérida. Venezue-
grandis) de um reflorestamento, e a distância que elas se mento e desenvolvimento das árvores de re-
la. pp.51-61.
localizam da floresta natural, na fazenda São Nicolau, florestamento.
Cotriguaçú, Mato Grosso.
Referências bibliográficas WHATLEY, J. M., WHATLEY, F. R. A luz e a vida
das plantas. São Paulo: EPU/EDUSP, 1982.
BEGON, M.,TOWSEND, C.R., HARPER, J.L., 103p. Publishers. Printed in the Netherlands.
Discussão 2007. Ecologia: de Indivíduos a Ecossiste-
Conforme o esperado, as árvores de Teca mas. Artmed. 4 edição.
que estavam mais próximas da área de mata
tiveram DAP e área basal maiores do que GEIGER, L. Manual de microclimatologia:
aquelas que estavam distantes. Isto pode es- O clima da camada de ar junto ao solo. 4.
tar ocorrendo devido à influência de alguns ed. Lisboa: Fundação Calouste Gublenkian,
fatores referentes ao micro-clima da floresta, 1980. 637p.
na área de reflorestamento. Em ambientes
úmidos, as plantas podem fazer fotossín-
INPEF. Instituto Nacional de Pesquisas e Es-
tese por mais horas do dia, sem o risco de

32 33
EFEITO DO ESTRATO DE a assembléia de formigas em uma área de ve-
FORRAGEAMENTO E DO ITEM getação natural, observando o padrão de co-
-ocorrência para dois tipos de itens alimenta-
ALIMENTAR SOBRE A RIQUEZA
res em diferentes estratos de vegetação.
E CO-OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES
DE FORMIGAS EM UMA ÁREA DE Materiais e métodos
FLORESTA AMAZÔNICA-MT
O estudo foi conduzido em uma área de ve-
getação natural na porção centro sul da Ama-
João Alves de Lima Filho; Jocieli de Oliveira; Tiago José zônia meridional, na fazenda São Lourenço,
Domingos; Ricardo Eduardo Vicente município de Cotrigaçu-MT. Para a coleta do
Orientador: Thiago Junqueira Izzo material biológico foram utilizados dois tipos
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conserva- de iscas (mel e sardinha) que representam re-
ção da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato cursos naturalmente disponíveis no habitat
Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°, CEP: 78060- (carboidratos e proteínas, respectivamente).
900, Cuiabá – MT. As iscas foram dispostas em blocos distantes
20 metros um do outro, em um transecto de
Introdução 400 metros ao longo da vegetação. Em cada

O
bloco foi classificado dois estratos, um ao ní-
conceito de nicho é complexo,
vel do solo, e o segundo a aproximadamente
e causa discussões entre ecólo-
a um metro e meio do solo, onde em cada
gos há décadas. Entre as diversas
um destes estratos era depositado os dois ti-
denominações, a de maior aceitação é que
pos de iscas de coleta.
nicho representa as interações entre tole-
rância e a necessidade de uma determinada As iscas foram revisadas duas vezes durante
espécie (Begon et. al., 2007).A ligação entre um período de duas horas, onde eram cole-
nicho e espécies é tratada de forma integra- tados cinco indivíduos de cada possível es-
da, como uma fina malha de interações bió- pécie. Em laboratório, os exemplares foram
ticas e abióticas na comunidade que reflete identificados ao menor nível taxonômico
na distribuição das espécies. Determinados possível e armazenados em frasco do tipo
grupos de organismos respondem de diver- “Eppendorf”.
sas maneiras frente a essa malha. As formigas Tratamento estatístico
são um bom exemplo dessa situação. Pois é Os dados foram analisados por meio de Aná-
um grupo abundante e diverso nas áreas de lise de variância fatorial, utilizando o número
vegetação ocorrendo desde o dossel até na de espécies como variável resposta, e blocos,
serrapilheira com uma complexa estrutura iscas e estratos como variável dependente,
social (Stork & lackburn 1993, Tobin 1994, pelo seguinte modelo:
Kaspari 1996, Davidson 1997). Riqueza~blocos+iscas+estratos*iscas
Dessa forma, a estruturação desta comuni- Modelos nulos foram aplicados com base o
dade de organismo torna-se um interessante índice C de co-ocorrência de espécies com
objeto de estudo para o entendimento de base na matriz de presença e ausência, atra-
uso do nicho, principalmente a que se refere vés da seguinte formula:
ao nicho espacial, onde assembléias podem
formar um padrão diferenciado de co-exis-
tência determinados pela disponibilidade de
recurso e condições do habitat (estratos). As-
sim, este trabalho tem como objetivo estudar

34
Onde: de mel e sardinha nos estratos de solo e vegetação em
uma área de vegetação nativa na fazenda São Louren- Resultados
Ci é o número de espécies existente no local
ço-MT.
Pi é a proporção de espécies em cada tipo de A maior riqueza de espécies no estrato de
isca e estrato solo pode estar relacionada com a estrutura
Lci é o par de espécies que ocupam determi- A relação das espécies de formigas entre os da comunidade. Neste estudo, a maior parte
nado estrato e tipo de isca tipos de iscas nos diferentes estratos apre- dos gêneros identificados foram de indiví-
sentou um padrão aleatório de co-ocorrên- duos predadores, atraídos por iscas de sar-
Este índice varia de 0 a 1 onde 0 demonstra
cia, não exibindo um efeito de competição dinhas, e em uma situação análoga, a maior
que todas as espécies estão co-ocorrêndo,
ou co-existência bem definido. Isso significa disponibilidade de proteínas (objeto funda-
ou seja, padrão agregado da comunidade, e
que as espécies estão dispostas ao acaso na mental da predação) se concentra no solo,
1, quando todas espécies estão se divergindo
utilização destes itens alimentares dentro por isso é esperado que ocorra uma maior
com relação ao nicho, demonstrando com-
dos blocos de amostragem (fig.4). riqueza de espécie neste estrato.
petição.
Figura 1: riqueza média de gêneros encontrada no es- Partição de nicho é um importante meca-
A análise dos modelos nulos funciona com-
trato de solo (s) e vegetação (v) em uma área de vegeta- nismo para a estruturação das comunidades
parando o índice C, descrito pela fórmula aci-
ção nativa na fazenda São Lourenço-MT. naturais (M. Albrecht & N.J. Gotelli 2000). Mas
ma, com a média dos índices C aleatorizados
Em relação a comparação entre os tipos de geralmente a visualização deste mecanismo
5.000 vezes pelo Software Ecosim. Assim, é
iscas, observamos que a riqueza média não não é tão evidente, sendo necessárias técni-
possível observar padrões de co-ocorrência,
diferiu. Embora, mesmo no estrato arbóreo e cas que possam identificar com maior clare-
seguindo o pressuposto de que valores de
no estrato de solo a isca de sardinha obteve za esses processos. Os modelos nulos fazem
índice C menores do que a média dos índices
uma maior visita de gêneros de formigas (Fig uma boa distinção entre o padrão observado
gerados pelo aleatorizador de modelos cor-
2 e 3). e o processo ou processos que possam ter
responde a um padrão agregado das espé-
gerado esse padrão, sendo uma importante
cies, enquanto que valores maiores demons-
Figura 4: distribuição das freqüências do índice c alea- ferramenta para a análise de partição de ni-
tram padrão segregado das espécies por
torizado multiplicados por 100, onde o valor do índice cho (Gotelli & Graves, 1996). Dessa forma, o
determinados hábitat ou recursos. Quando
c=5,66, demonstrado pela flecha, não esteve rela- padrão de agregação das espécies em blo-
os valores de índice C são iguais aos aleatori-
cionado com o padrão de agregação esperado, com cos de amostragem, indica a existência de
zados, concluímos que não existe padrão de
p=0,7222. mecanismos que minimizam a competição
co-ocorrência das espécies, sendo uma distri-
Quando analisado em uma escala maior (en- intra-específica entre as assembléias de for-
buição ao acaso no ambiente.
tre blocos), foi observado um padrão de co- migas. Enquanto o padrão aleatório de co-o-
Resultados ocorrência agregado, demonstrando que as corrência observado em uma escala menor
espécies co-existem no habitat (fig. 5). não define um comportamento de partição
Foram identificados 10 gêneros de Formi- de nicho trófico dentro da assembléia.
cidae, nos vinte blocos de amostragem. Os Em micro-escala é esperado que haja um pa-
Figura 2: número médio de gêneros coletados com iscas
predadores foi o grupo trófico que obteve o drão segregado da assembléia de formigas
de mel e sardinha em uma área de vegetação nativa na
maior número de gêneros (n=7), seguido por (presença de competição), porque a compe-
fazenda São Lourenço-MT.
nectarivos, com três gêneros identificados. tição nestes hábitats pode ser mais intensa,
Neste trabalho a riqueza média de gênero pois geralmente o recurso é limitado e a co-
de formigas foi maior no estrato solo que na -exitência das espécies torna-se restrita. Em
vegetação (fig. 1). macro-escala, geralmente é atribuído a pre-
ferência de determinadas espécies por deter-
minadas temperaturas, umidade e viabilida-
de alimentar do habitat (Talbot 1946; Lynch
Figura 5: Distribuição das médias dos índices C aleato-
et. al., 1980).
rizado e o índice C observado, demonstrado pela flecha
(C=58,38), com p=0,003.
Figura 3: número médio de gêneros coletados com iscas

36 37
Conclusão
m2 scale: disturbance dynamics in three Neo- EFEITOS DA PROXIMIDADE rados pelas plantas (Olson, 1963). Isso pode
tropical forests. Oecologia 107: 265–273. DA MATA NATIVA SOBRE A explicar a baixa resiliência desse sistema a
De acordo com os resultados acima, conclu- perturbações ambientais, especialmente à
TAXA DE DECOMPOSIÇÃO DA
ímos que a assembléia de formiga possui perda de cobertura vegetal. Assim, a tentati-
SERRAPILHEIRA DE TECTONA va de transformá-la em um sistema agro-flo-
maior número de espécies no solo do que
no estrato arbóreo. Onde os padrões de co-
GRANDIS L.F. (VERBENACEAE) restal convencional é geralmente fracassada
-ocorrência são agregados em blocos de (Martius et al., 2004a).
amostragem, e em micro escala (iscas), são Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva, Silvana Cristina Acreditamos que estandes de monocultura
distribuídos aleatoriamente. Dessa forma, é Hammerer de Medeiros, Adarilda Petini Benelli, Mi- próximos de áreas florestais podem estar
possível inferir que as assembléias de formi- quéias Ferrão da Silva Junior sujeitas a um “efeito de borda positivo”, uma
gas possuem mecanismos que minimizam a Orientação: Prof. Dr. José Julio Toledo vez que as variações microclimáticas nesses
competição intra-especifica por determina- 1Programa de Pós-Graduação e Ecologia e Conservação estandes podem ser menos intensas, favo-
dos recursos disponíveis no habitat, embora da Biodiversidade – Universidade Federal de Mato Gros- recendo o estabelecimento de organismos
sejam necessárias análises mais aprofunda- so, 2Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal – que promovem a decomposição da matéria
das sobre disponibilidade de recurso relacio- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul orgânica, melhorando a fertilidade do solo.
nadas a intensidade de competição. Com o objetivo de avaliar se esse efeito de
Autor para correspondência: leidelaura@gmail.com
Introdução borda positivo sobre a taxa de decomposi-
Referências bibliográficas

O
ção da serrapilheira de Tectona grandis L.f.,
s organismos que vivem associa- realizamos este estudo em uma área de re-
ALBRECHT M. GOTELLI J. N. 2000. Spatial and dos ao solo, tais como algumas florestamento próxima a uma área de mata
temporal niche partitioning in grassland ants. espécies de bactérias, fungos e nativa. Para testar a nossa hipótese, utiliza-
Oecologia 126:134–141p. alguns artrópodes são fundamentais no pro- mos como instrumento a biomassa da serra-
BEGON, M., TOWNSEND, C. R. & HARPER, J.L., cesso de decomposição e formação de ma- pilheira, uma vez que ela pode ser um indica-
2007, Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. téria orgânica no solo, desempenhando um tivo da taxa de decomposição (Olson, 1963).
4a ed. Ed. Artmed, Rio de Janeiro, 752p. papel crucial na manutenção da fertilidade
DAVIDSON, D. W. 1997. The role of resource do solo e no crescimento das plantas (Kur- Materiais e métodos
imbalances in the evolutionary ecology of zatkowski et al., 2004). As áreas de borda de
tropical arboreal ants. Biol. J. Linn. Soc. 61: monoculturas estão sujeitos a maior intensi- Área de Estudo
153–181. dade de luz, temperatura e umidade do que Realizamos o estudo no final da estação seca
áreas florestadas, apresentando assim me- de 2009, na Fazenda São Nicolau, Amazônia
GOTELLI, N., GRAVES, G.R. 1996, Null models
nor estabilidade microclimática (Martius et Legal, Estado de Mato Grosso, município de
in ecology, smlthsonlan institution press
al., 2004b). Conseqüentemente, organismos Cotriguaçu. Selecionamos uma área de reflo-
washington and London 368p. adaptados a viver numa certa faixa de tem- restamento de Tectona grandis, conhecida
LYNCH J.F., BALINSKY E.C., VAIL S.G., 1980. Fo- peratura, umidade e intensidade luminosa, popularmente como Teca, que faz fronteira
raging patterns in three sympatric forest ant podem ser eliminados nesse tipo de sistema com uma área de mata nativa. Esse reflores-
species, Prenolepis imparis, Paratechina me- (Primack e Rodrigues, 2001). tamento tem idade de plantio de sete anos
landeri and Aphaenogaster rudis (Hymenop- e espaçamento de 3x2 metros. A Teca é uma
Em florestas tropicais, como a floresta Ama-
tera: Formicidae) in Anne Arundel County, planta originária das zonas úmidas do sub-
zônica, onde os solos são altamente instá-
Maryland. Ecol Entomol 5:353–371. continente Indico e Sudeste Asiático e atual-
veis e pobres em nutrientes, a serrapilheira
TALBOT M., 1946. Daily fluctuations in above contribui com cerca da metade, ou mais, da mente é cultivada em quase todo o mundo
ground activity of three species of ants. Eco- energia e carbono liberados no solo (Olson, tropical. No Brasil, foi introduzida há 80 anos
logy 27:65–70 1963). Apesar de haver uma alta produção, e o Estado de Mata Grosso possui as maio-
STORK, N.E., & T. M. BLACKBURN. 1993. Abun- o estoque dessa matéria orgânica morta no res áreas plantadas, cerca de 50 mil hectares
dance, body size, and biomass of arthropods solo é baixo, pois a taxa de decomposição (EMBRAPA, 2004).
in tropical forest. Oikos 67: 483–489. da serrapilheira é muito acelerada, sendo os Coleta de Dados
KASPARI, M. 1996. Litter ant patchiness at the nutrientes resultantes rapidamente incorpo- Realizamos a coletada da serrapilheira em

38 39
oito linhas de amostragem, sendo cada linha podes. Por meio de catação manual, triamos aranha registrada na linha 1, que pesava 7,
Figura 3. Porcentagem da cobertura de dossel dos pon-
a uma distância diferente da borda do reflo- os artrópodes durante 10 minutos e, em se- 58g, a linha de amostragem 8 passou a ter
tos de amostragem em relação à distância metros da
restamento. Para tal, utilizamos quadrados guida, os quantificamos e pesamos em uma o maior valor de biomassa de artrópodes
borda do reflorestamento de Tectona grandis L.f..
de madeira de 50x50cm, dispostos em forma balança de precisão 0,001g. Para aferirmos Com relação à biomassa da serrapilheira, (0,24g/0,25m2).
de um tabuleiro de xadrez, sendo três pon- a biomassa, pesamos a serrapilheira ainda a média entre os pontos amostrados foi Embora não tenhamos encontrado relação
tos de amostragem em cada linha, totalizan- úmida e então a levamos para estufa por 209,75g/0,25m2 (±71,89). Registramos a entre o número e biomassa de artrópodes
do 24 pontos amostrados (Fig. 2). Quando se uma hora e meia, e posteriormente, aferimos menor biomassa (151,13g/0,25m2 ± 33,74) e a distância da borda do reflorestamento
trata de fragmentação de habitat, existe um o seu peso seco. na linha de amostragem 3 (a 39m) e a maior (p= 0,162 e p= 0,471, respectivamente), mas
consenso de que o efeito de borda é mais in- Análise de dados biomassa (281,167133g/0,25m2 ±128,084) houve relação positiva entre o número de
tenso próximo a ele e, conforme aumenta a Realizamos uma correlação de Spearman na linha 1 (9m de distância da borda do re- artrópodes e a biomassa da serrapilheira (p=
distância, o efeito vai se diluindo (Primack e para avaliar a relação entre a distância da florestamento). Não encontramos nenhuma 0,009) (Fig. 5). Já para a biomassa de artró-
Rodrigues, 2001). Para representar bem esse borda e a porcentagem da cobertura de dos- relação entre a biomassa da serrapilheira e a podes não foi observada relação (F= 0,709,
efeito, dispomos nossas linhas de amostra- sel do reflorestamento, bem como a relação distância da borda do reflorestamento (Spe- p= 0,421) (Fig. 6). Esse resultado pode ser
gem a 9, 24, 39 e 69 metros de distância da entre a distância da borda do reflorestamen- arman r= - 0,185, p>0,05; fig.4). devido ao fato de termos retirado das aná-
borda do reflorestamento (linhas 1, 2, 3 e 4, to e a biomassa da serrapilheira de Teca. Para lises a biomassa da aranha que não condizia
respectivamente), e aumentamos essas dis- avaliarmos a relação entre a biomassa da ser- com a biomassa dos outros indivíduos (<
tâncias conforme adentrávamos no reflores- rapilheira e o número e biomassa dos artró- 1g/0,25m2).
tamento, linhas a 99, 159, 279 e 399 metros podes realizamos uma análise de regressão
de distância da borda (linhas 5, 6, 7 e 8, res- linear simples. Para todas as análises utiliza-
pectivamente). mos o pacote estatístico Systat® versão 12.
Resultados
A porcentagem média da cobertura de
dossel do reflorestamento entre os pontos
amostrados foi 86,15% (±5,95), sendo o me-
nor valor (81,79% ±11,05) registrado na linha
de amostragem 8 (a 399m da borda do reflo-
restamento), e o maior valor (91,05% ±1,41)
na linha 3 (a 39m da borda do reflorestamen- Figura 4. Biomassa da serrapilheira de T. grandis
to). Não encontramos relação entre a por- (g/0,25m2) em relação à distância da borda do reflores-
centagem da cobertura de dossel e a distân- tamento.
cia da borda do reflorestamento (Spearman Figura 5. Número de artrópodes (ind./0,25m2) em rela-
Figura 2. Esquema das linhas e pontos de amostragem r = -0,585, p>0,05; fig. 3).
da serrapilheira no reflorestamento de Tectona grandis.
Coletamos um total de 166 indivíduos de ar- ção à biomassa da serrapilheira de T. grandis (g/0,25m2).
trópodes em todos os pontos amostrados. O
número médio foi de 13,83 indivíduos/0,25
Em cada ponto de amostragem fotografa- m2 (±8,63), sendo o menor valor (5 indivídu-
mos a cobertura do dossel com uma câmera os) registrado na linha de amostragem 8 (a
digital (Sony DSC W110) posicionada sobre 399m) e o maior valor (25 indivíduos) regis-
o solo e virada para cima. Levamos as fotos trado na linha 1 (a 9m). A biomassa total dos
para o programa Power Point, onde foram artrópodes para os pontos de amostragem
transformadas em figuras contendo somen- foi 8,70g, com média de 0,73g/0,25m2 (±2,
te preto e branco. A cobertura do dossel foi a 16). A linha 1 (a 9m) apresentou o maior valor
porcentagem de pixels pretos na figura. de biomassa (3,827 g/0,25m2 ±5,31) e a linha
Acondicionamos a serrapilheira em sacos de 7 (a 279m de distância da borda do reflores-
papel craft etiquetados e com um extrator tamento) o menor valor (0,01g/0,25m2). En-
Winkler, peneiramos para separar os artró- tretanto, ao retirarmos a biomassa de uma

40 41
Figura 6. Biomassa de artrópodes (g/0,25m2) em relação maior área de ocupação para esses organis- sition rates in rainforest and agroforestry si-
à biomassa da serrapilheira de T. grandis (g/0,25m2). mos. Como não houve uma relação entre a tes in central Amazonia. Nutrient Cycling in
biomassa da serrapilheira de Teca e a distân- Agroecosystems. 68: 137–154.
Discussão cia da borda do reflorestamento, os artrópo-
des estavam distribuídos em “manchas” de KURZATKOWSKI, D.; MARTIUS, C.; HÖFER, H.;
Ocorreu pequena variação na porcentagem
serrapilheira presentes no reflorestamento, GARCIA, M.; FÖRSTER, B.; BECK, L. e VLEK, P.
de cobertura de dossel e na biomassa da
o que pode explicar a falta de uma relação 2004. Litter decomposition, microbial bio-
serrapilheira de T. grandis entre as linhas de
entre o número e biomassa dos artrópodes e mass and activity of soil organisms in three
amostragem. Este resultado pode ser expli-
a distância da borda do reflorestamento. Ou- agroforestry sites in central Amazonia. Nu-
cado pelo fato de a área de estudo se tratar
tro fator que pode ter influenciado a falta de trient Cycling in Agroecosystems. 69: 257–
de um reflorestamento, onde o solo pode
relação é forma com que esses indivíduos fo- 267.
ser considerado relativamente homogêneo.
ram triados, uma vez que a catação manual
Além disso, todas as plantas de Teca presen-
pode subestimar o número e, conseqüente-
tes nessa área receberam o mesmo tipo de OLSON, J. S. 1963. Energy storage and the
mente, a biomassa dos artrópodes, já que ela
adubação padrão antes do plantio, foram balance of producers an decomposers in
depende da habilidade do catador detectar
plantadas no mesmo período de tempo e ecological systems. Ecology. 44(2): 322-331.
os indivíduos.
sujeitas ao mesmo tipo de desbaste.
A partir deste trabalho podemos concluir
Apesar da variação na biomassa da serrapi-
que a taxa de decomposição da serrapilheira PRIMACK, R. P. e RODRIGUES, E. 2001. Biolo-
lheira ter sido pequena, as linhas de amos-
de T. grandis não é influenciada pela proxi- gia da Conservação. Ed. Planta.
tragem mais próximas da mata nativa apre-
midade com a mata nativa, mas sugerimos
sentaram os maiores valores de biomassa
a necessidade de se conhecer os compostos RICKLEFS, R. E. e MILLER, G. L. 1999. Ecolgy.
da serrapilheira, com exceção da linha 3 que
químicos das folhas dessa planta, uma vez 4rd ed. ISBN 0-7167-2829-X. 822p
apresentou o menor valor. Esses resultados
que esse pode ser um fator relevante para o
foram contrários às nossas expectativas,
estabelecimento e sucesso dos organismos
uma vez que esperávamos encontrar me- ZHANG, Q. e ZAK, J. C. 1995. Effects of gap
que auxiliam no processo de decomposição
nor valor de biomassa da serrapilheira nas size on litter decomposition and microbial
da serrapilheira. Mas podemos sugerir que
linhas de amostragem próximas da mata na- activity in a subtropical forest. Ecology. 76(7):
área de mata nativa exerça um efeito produ-
tiva. Isto porque nessas áreas, a mata pode 2196-2204.
tivo na produtividade de T. grandis.
funcionar como um sistema “tampão”, redu-
zindo as variações drásticas no microclima Agradecimentos – Agradecemos a orienta-
a que os estandes de mono culturas estão ção e colaboração do prof. Dr. José Julio To-
sujeitos. Assim, mantendo as condições de ledo para a realização deste trabalho, e ao
temperatura, umidade e pH do solo ideais prof. Dr. Thiago Junqueira Izzo pelo auxílio
para o estabelecimento dos organismos que nas análises estatísticas.
auxiliam no processo de decomposição da
serrapilheira (Zang e Zak, 1995; Martius et al., Referências bibliográficas
2004a; Martius et al., 2004b; Kurzatkowski et MARTIUS, C.; HÖFER, H.; GARCIA, M. V. B.;
al., 2004). Por outro lado, essas mesmas con- RÖMBKE, J.; FÖRSTER, B. e HANAGARTH, W.
dições também podem favorecer a produ- 2004a. Microclimate in agroforestry systems
tividade, o que pode ter resultado em uma in central Amazonia: does canopy closure
maior produção de serrapilheira. matter to soil organisms? Agroforestry Sys-
A relação positiva entre o número de artrópo- tems. 60: 291–304.
des e a biomassa da serrapilheira já era espe-
rado, pois fazendo uma analogia à teoria de
MARTIUS, C.; HÖFER, H.; GARCIA, M. V. B.;
MacAtur e Wilson, 1967 apud Ricklefs e Mil-
RÖMBKE, J.; FÖRSTER, B. e HANAGARTH, W.
ler (1999), sobre a relação espécie-área, uma
2004b. Litter fall, litter stocks and decompo-
maior biomassa de serrapilheira representa

42 43
ESTRUTURA DA ICTIOFAUNA diferenciadas entre os locais preservados e ficados ao menor nível taxonômico possível. partir da tabela de presença e ausência po-
AO LONGO DE UM GRADIENTE locais perturbados (ALLAN 1997, GORDON Análise de dados de-se observar um padrão de substituição
et al.1995). das espécies ao longo do gradiente de co-
DE PERTURBAÇÃO AMBIENTAL Para demonstrar o padrão de variação da ic-
Dessa forma, a predominância de determi- bertura de dossel (Fig. 3), porém o mesmo
EM UM IGARAPÉ NA BACIA tiofauna ao longo do gradiente de perturba-
não ocorreu tão claramente para o gradiente
nados tipos de substrato (e.g. argila) junta- ção ambiental, as amostras foram ordenadas
AMAZÔNICA mente com dados de cobertura do dossel de porcentagem de argila (Fig. 4).
por meio da matriz de presença e ausência
em pequenos corpos d’água, podem oca- das espécies de acordo com o percentual de
João Alves de Lima Filho, Hugo Borhezan Mozele, Leide sionar modificações na estrutura da comuni- abertura de dossel e freqüência da ocorrên-
Laura Almeida Ribeiro de Paiva, Carla Lopes Velasquez dade ao longo do gradiente de perturbação cia de argila no substrato.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conserva- ambiental. Assim, este trabalho teve como
ção da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato objetivo avaliar se a estrutura da comunida- Resultados
Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°, CEP: 78060- de de peixes ao longo de um gradiente de
900, Cuiabá – MT. perturbação ambiental representado pelo Foram coletados um total de 1009 indivídu-
os, pertencentes à 31 espécies, sendo He-
Orientadores: Lucélia Nobre de Carvalho, Jansen Zua- percentual de argila dentro do corpo d’água
e área de cobertura vegetal em torno do iga- migrammus marginatus a mais abundante,
non.
rapé. seguido de Odontostilbe sp. (Fig.2).
Introdução
Materiais e métodos

G
radientes ambientais geralmente são
encontrados na natureza de forma Área de Estudo
acentuada, onde as mudanças na es- As coletas foram realizadas ao longo de um
trutura do local tornam-se fatores limitantes gradiente de perturbação ambiental em
Fig.3- Distribuições das espécies de peixes ao longo do
para o estabelecimento de algumas espécies um córrego (S 09˚ 51.416’, W 058° 15.407’)
gradiente de cobertura de dossel na Fazenda São Nico-
(BEGON et al., 1997). na Fazenda São Nicolau, Nova Cotriguaçú,
lau-MT.
Mato Grosso. Este córrego foi selecionado
Em ambientes aquáticos determinadas con-
por apresentar à montante uma área mais
centrações de substratos, velocidade do Fig.2- Curva de dominância para as espécies de pei-
preservada (mata ciliar) e à jusante uma área
fluxo de água, e alterações nos parâmetros xes coletados em um córrego da fazenda São Nicolau.
mais perturbada (pastagem).
limnológicos representam um gradiente de Hemigrammus marginatus (Hem), Knoduss sp2 (Kn2),
condições ambientais que direciona a com- A temperatura média da água foi de 25,11 Odontostilbe sp. (Odo), Hyphessobrycon melazonatus
posição das assembléias de peixes, por meio (˚C) variando de 24,9 a 25,5 (˚C), o pH médio (Hyp), Hyphessobrycon sp3 (Hy3), Nannorhamdia sp.
das tolerâncias e preferências das espécies foi de 8,32 com mínimo de 8,2 e máximo de (Nan), Farllowella sp. (Far), Knoduss sp1 (Kn1), Phanpho-
por determinadas características (CASTRO, 8,4 e a condutividade elétrica da água foi de richthys sp. (Pha), Phenocogaster sp. (Phe), Creagru-
1999). 38,88 (µS/cm3) variando de 36 a 42 (µS/cm3). tus sp. (Cre), Hypostomus sp. (Hyo), Paratocinclus sp.
Perturbações ambientais provocam mudan- Coletas de dados (Par), Rineloricaria sp. (Rin), Brachihypopmus sp. (Bra),
ças bruscas em um curto prazo de tempo, A área de amostragem (aproximadamente Moenkhausia oligolepsi (Moo), Erythrinus erythrinus
fazendo com que algumas espécies desa- 1km de extensão) foi dividida em 10 trechos, (Ery), Phenacorhamdia sp. (Phn), Jupiaba sp. (Jup), Mo-
pareçam e outras se estabeleçam no local. tendo cada um deles 10m de comprimento. enkhausia cotinho (Moc), Characidiun (Cha), Hoplias
Em longo prazo, a perturbação provoca um Em cada trecho foram tomadas nove medi- malabaricus (Hop), Aequidens sp. (Aeq), Ituglanis (Itu),
gradiente de mudanças nas condições am- das de substrato, sendo que para as análises Synbranchus sp. (Syn), Prochilodus nigricans (Por).
bientais do corpo d’água, fazendo com que foi utilizada apenas porcentagem de argila.
as espécies se alternam em uma complexa Para a coleta de peixes, foram utilizadas pe- O percentual de argila não influenciou a ri- Fig.4- Distribuições das espécies de peixes ao longo do
estrutura biológica. Algumas características neiras (malha 1mm) e o esforço amostral foi queza de espécies. Da mesma forma que o gradiente de freqüência de argila na Fazenda São Nico-
ambientais, principalmente geomorfológi- padronizado em 3 coletores durante 10 mi- observado na relação com a argila, a diver- lau-MT.
cas, podem ser preditoras de perturbações nutos. Os indivíduos coletados foram anes- sidade de espécies e a riqueza não variarão
ambientais, fazendo com que as comuni- tesiados com eugenol, fixados com formol a com o aumento da cobertura de dossel.
dades icticas sejam estruturadas de forma 10% e em laboratório foram triados e identi- Com relação à ordenação das amostras, a

44 45
Concluímos que a abertura de dossel foi a
variável que teve maior influência sobre a ri- SILVA, E. F. Diversidade, similaridade e estru-
Discussão queza e abundância das espécies de peixes. tura trófica da ictiofauna em dois ambientes
Córregos são ambientes lóticos, caracteri- E por isso, a preservação da mata ciliar se no baixo Rio das Mortes, na Planície do Bana-
zados por fluxo forte e unidirecional. Como torna muito importante em ações que bus- nal-MT. 2007. 52f. Dissertação (Mestrado em
são sistemas abertos com fluxo contínuo da quem a manutenção ou mesmo a resiliência Ecologia) – Universidade Federal do Mato
cabeceira a foz, algumas de suas caracterís- da diversidade de ictiofauna. Grosso, Cuiabá, 2007.
ticas se modificam ao longo de seu curso, as
quais, por sua vez, exercem forte influência Referências bibliográficas
UIEDA, V. S.; CASTRO, R. M. C. Coleta e fixa-
sobre a composição da comunidade (SHAF- ALLAN, J. D. Stream ecology: structure and ção de peixes de riacho. In: CARAMACHI, E.
FER, 1985; UIEDA & CASTRO, 1999). Quando function of running waters. London: Cha- P.; MAZZONI, R.; PERES-NETO, P. R. Ecologia
ocorre uma perturbação ambiental, o pro- pman & Hall, 1997. 388p. de peixes de riacho. Oecologia Brasiliensis.
cesso de modificação da estrutura do corpo (eds.). Rio de Janeiro: UFRJ, v.6, 1999. p.01-22.
d’água se altera rapidamente, exigindo das
espécies uma pré-adaptação a ambientes ANGERMEIER,P.L., & J. R. KARR. Fish commu-
recém formados. Geralmente, espécies ge- nities along environmental gradients in a
neralistas tendem a se beneficiar nestes no- system of tropical streams, 1984.p. 39–58.
vos ambientes, consumindo novos recursos In: Evolutionary Ecology of Neotropical
disponíveis nestes ambientes. Freshwater Fishes.T. M. Zaret (ed.). Dr. W.
Junk Publishers, The Hague, Netherlands.
Assim como observado neste estudo, o pa-
drão da comunidade tende a apresentar al-
terações de acordo com a composição de BUSSING, W. A., & M. I. LO ´ PEZ. Distribucio
seu substrato ao longo de seu curso (BUS- ´n y aspectos ecologicos de los peces de las
SING & LOPEZ, 1977; ANGERMEIER & KARR, cuencas hidrograficas de Arenal, Bebede-
1984). A maior presença de argila pode ter ro y Tempisque, Costa Rica. Rev. Biol. Trop.
relação com a retirada da vegetação margi- 1977.25:13–37p.
nal, pois quanto à perturbação na vegetação
marginal, maior a concentração de sedimen- GOULDING, M.; CARVALHO, M. L.; FERREIRA,
to carreado para o leito do corpo d’água pelo E. G. Rio Negro, rich life in poor water. Ne-
processo de lixiviação, ocasionando uma therlands: SPB, Academic Publishing, 1988.
modificação na estrutura geomorfológica 200p.
do córrego e assim modificando a estrutura
da comunidade de peixes.
GOULDING, M. The fishes and the florest. Ca-
A cobertura de dossel representa uma im-
lifornia: University of California Press. 1980.
portante ferramenta para a análise de estru-
280p.
tura de comunidade de peixes, pois quanto
maior incidência de luz solar, maior a produ-
ção primaria no rio, o que pode aumentar GORDON, N. D.; McMAHON, T. A.; FINLAY-
a riqueza e abundância de herbívoros, mu- SON, B. L. Stream hydrology: an introduction
dando a composição da comunidade. Neste for ecologists. Chichester: John Wiley & Sons,
trabalho foi observado que a comunidade 1995. 523p.
apresentou uma forte relação ao gradiente
de cobertura de dossel. SCHÄFFER, A. Fundamentos de ecologia e
biogeografia de águas continentais. Porto
Conclusão Alegre: Universidade federal do Rio Grande
do Sul, 1985. 532p.

46 47
EXISTE SELEÇÃO DE MICRO- que indivíduos maiores ocorrem em habitats
HABITAT PELO CAMARÃO mais escuros, profundos e com matéria orgâ-
nica em decomposição.
M A C R O B R A C H I U M
Nosso objetivo neste trabalho foi determi-
AMAZONICUM (DECAPODA ,
nar se diferentes estádios ontogenéticos de
PALAEMONIDAE) EM UM IGARAPÉ Macrobrachium amazonicum ocorrem em
DA BACIA AMAZÔNICA? diferentes estratos de um igarapé da bacia
amazônica, analisando como a cobertura de
Tiago José Domingos, Jocieli de Oliveira, João Alves de dossel, profundidade do igarapé e porcenta-
Lima Filho e Ricardo Eduardo Vicente gem de folhas no substrato (tratado adiante
Orientador: Jansen Zuanon como serrapilheira) afetam a abundância e o
tamanho de indivíduos.

Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conserva- Materiais e métodos


ção da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato
Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°, CEP: 78060- Foram realizadas coletas em 10 pontos de
900, Cuiabá – MT. um igarapé localizado entre os talhões 2 e
11C da Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú -
Introdução MT. Os pontos estavam distantes 15 metros

E
e, em cada um, um trecho de 10 metros foi
cossistemas de água doce favorecem fechado nas extremidades com auxílio de re-
uma grande diversidade de organis- des de espera (2,5m de largura, 1m de altura
mos, pois oferecem habitats com di- e malha de 10 mm). Dentro dos trechos, a co-
ferentes condições ambientais (Rambaldi & leta de camarões foi realizada com a utiliza-
Oliveira, 2003). As condições ambientais de- ção de peneiras (malhas de 10mm) durante
terminam a distribuição e abundância dos 10 minutos.
organismos e influenciam a história de vida
Foram medidas as variáveis ‘cobertura de
das espécies ao criar habitats variados nos
dossel’, ‘profundidade do igarapé’ e ‘serrapi-
quais uma espécie pode ser favorecida ou
lheira’ em nove pontos de cada trecho de co-
desfavorecida (Begon, 2006).
leta, sendo três perto de cada rede, e três no
O camarão Macrobrachium amazonicum meio do trecho. Os valores médios das variá-
(Heller, 1862) é uma espécie de água doce de veis foram utilizados para as análises estatís-
ampla distribuição nos rios da Bacia Amazô- ticas. Todos os indivíduos coletados foram fi-
nica, ocorrendo desde lagos de várzea a iga- xados com álcool 70%, contados e medidos.
rapés de terra firme (Moreira & Collart,1993; Para avaliar as relações entre cobertura de
Collart, 1988). Nas populações de Macro- dossel, profundidade do igarapé e número
brachium amazonicum há recrutamento de de indivíduos, foi utilizada uma análise de
jovens mais de uma vez ao ano (Silva et al, Regressão Linear Múltipla (modelo da re-
2007). Portanto, em uma população podem gressão: Número de Indivíduos = a + Cober-
ser encontrados indivíduos jovens e adultos. tura de Dossel + Profundidade do igarapé).
Ao longo de seu crescimento, adultos de M. Para avaliar a relação entre porcentagem de
amazonicum adquirem pigmentação, indo serrapilheira e o tamanho dos indivíduos de
de larvas translúcidas á adultos de cor preta. M. amazonicum, foi utilizada uma análise de
Devido a esta variação ontogenética, hipote- Regressão Linear.
tizamos que indivíduos menores de Macro-
brachium amazonicum devem ocorrer em Resultados
habitats claros, rasos e arenosos, enquanto

49
O número de indivíduos de M. amazonicum Houve relação entre a porcentagem de ser- cum, que exige uma combinação das duas invertebrados como larvas de ephemerop-
no igarapé foi explicado em 58% pelo mo- rapilheira no substrato e o tamanho dos indi- variáveis para selecionar seu microhabitat. tera (Moulton et al, 2004). A pigmentação
delo da Regressão Múltipla, envolvendo o víduos no igarapé (r²=0,41 ; p=0,0047, Fig.2). A influência da cobertura de dossel sobre o escura que M. amazonicus adquire ao longo
efeito das variáveis ‘Cobertura de Dossel’ e Esta relação é positiva (Tamanho dos Indiví- número de indivíduos é explicada pelo fato de seu crescimento pode lhe auxiliar no for-
‘Profundidade do igarapé’ juntas (R²=0,583 duos = 23,05x + 0,345*Serrapilheira), indi- de indivíduos menores ainda não possuí- rageio em áreas mais escuras, já que larvas
;p= 0,048 , Número de Indivíduos = 109,72 cando que indivíduos maiores de M. ama- rem pigmentação. Desta forma, sua aparên- de invertebrados vivem na serrapilheira no
- 0,435*Dossel – 0,5*Profundidade). No en- zonicum são encontrados em locais onde o cia translúcida favorece sua sobrevivência fundo dos ambientes aquáticos e podem se
tanto, ao serem analisadas separadamente, fundo do igarapé é coberto por folhas. em locais mais claros, onde a cobertura de esconder rapidamente na presença de pre-
nenhuma das variáveis foi capaz de explicar dossel é menor. Dessa maneira, indivíduos dadores (Gonzalez & Graça, 2003; Graça et al,
a variação no número de indivíduos encon- menores, que são maioria na população, se 2001; Cole & Weigmann, 1983).
trados no trecho de igarapé (Fig.1). localizam em locais menos iluminados para De fato, M. amazonicum seleciona habitat
evitar serem detectados por predadores. Os em um igarapé da bacia amazônica, exigin-
indivíduos adultos se posicionam fora destes do determinadas combinações de caracte-
habitats claros. rísticas ambientais como luminosidade e
Outra explicação para a maior abundância profundidade do igarapé, para determinar
de indivíduos em locais mais claros está re- seu local de ocorrência. Esta seleção apre-
lacionada à produtividade primária. Em am- senta variação ontogenética, onde indivídu-
bientes lóticos, é comum que o nível de oxi- os mais jovens habitam locais onde que fa-
gênio dissolvido seja maior em águas mais voreçam seu desenvolvimento, e indivíduos
rasas (Domitrovic, 2002). Portanto, como adultos habitam locais onde possam forra-
Fig.2. Relação entre cobertura de serrapilheira no subs- parte da dieta dos camarões jovens é com- gear de maneira mais efetiva.
trato e tamanho corporal dos indivíduos de M. amazo- posta por algas (Moreira & Collart,2003; Sil-
nicus no igarapé do camarão Macrobrachium amazoni- veira & Moulton,2000), isto pode explicar sua Referências bibliográficas
cum encontrados em trecho de igarapé na Fazenda São preferência por tais ambientes. Macrobra- BEGON,M; TOWNSEND, CR; HARPER,JL.2006.
Nicolau, Cotriguaçú – MT. chium amazonicum seleciona seu micro-ha- Ecology: from individuals to ecosystems. 4th
bitat e esta seleção é modificada ao longo do Edition. Blackwell Publishing, Malden,MA,U-
Não houve relação entre número de indi- crescimento dos indivíduos. SA.
víduos e porcentagem de serrapilheira no Ambientes mais rasos favorecem indivíduos
substrato. Também não houve relação en- da mesma maneira que a cobertura de dos-
COLE, RA & WEIGMANN, DL. 1983. Rela-
tre tamanho corporal e cobertura de dossel, sel, pois os predadores de M. amazonicum
tionships among zoobenthos, sediments,
nem entre tamanho corporal e profundida- são organismos de maior tamanho e ocu-
and organic matter in littoral zones of wes-
de. pam partes mais profundas do igarapé para
tern Lake Erie and Saginaw Bay. J.Great Lakes
não serem percebidos pelas suas presas.
Res. 9 (4), pg 568-581. International Associa-
Discussão Alternativamente, a temperatura da água é
tion of Great Lakes Research.
maior nos ambientes mais rasos, sendo um
Foi possível perceber que M. amazonicum fator que favorece o desenvolvimento de
seleciona microhabitat, ocorrendo em maior invertebrados de água doce. Portanto, é es- COLLART,OO. 1988. Aspectos Ecológicos do
número em locais rasos e mais luminosos, perado que jovens prefiram viver em locais Camarão Macrobrachium amazonicum (Hel-
mas sofrendo mudança ontogenética, pois mais claros e quentes (Gonzalez & Graça, ler,1862) no baixo Tocantins (PA-Brasil). Me-
ao crescer escolhe locais do igarapé com 2003). moria, , Tomo XLVIII. Sociedad de Ciencias
mais serrapilheira no fundo. A cobertura de Naturales La Salle.
A relação positiva entre porcentagem de
dossel e a profundidade do igarapé influen-
Fig.1. Relações parciais entre o número de indivíduos de serrapilheira e o tamanho dos indivíduos
ciam o número de indivíduos apenas de
Macrobrachium amazonicum e cobertura de dossel (a) , pode ocorrer porque os camarões do gê- DOMITROVIC, YZ. 2002. Structure and varia-
maneira conjunta, no entanto, apenas con-
e profundidade do igarapé (b), em um trecho de igarapé nero Macrobrachium modificam seu habito tion of the Paraguay River phytoplankton in
dições ótimas de uma variável isolada não é
na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú – MT. alimentar à medida que crescem, podendo, two periods of its hydrological cycle.Hidro-
suficiente para a ocorrência de M. amazoni-
quando adultos, se alimentar de pequenos biologia, 472, pg.177-196. Kluwer Academic

50 51
Publishers. Netherlands. A RIQUEZA E A ÁREA DE zidas e permitindo assim o estabelecimento
COBERTURA DO SOLO DE de outras espécies. A partir deste panorama,
o objetivo deste trabalho foi avaliar a influ-
GONZALEZ, JM & GRAÇA,MAS.2003.Conver- PLANTAS NATIVAS PODEM SER
ência da pastagem do gado sobre a Bracha-
sion of leaf litter to secondary production by BENEFICIADAS PELO PASTEJO DO ria sp. na riqueza e cobertura de plantas na-
a shredding caddis-fly. Freshwater Biology GADO SOBRE A BRACHIARIA SP. ?
48, pg.1578-1592. Blackwell Publishing. tivas em processo de regeneração natural de
dois tipos de ambientes, um com a presença
Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva 1.; Carla Lopes Ve- do gado e outro sem a presença do gado.
GRAÇA,MAS; CRESSA,C; GESSNER, MO; FEIO, lasquez1; João Alves de Lima Filho1 e Hugo Borhezan
MJ; CALLIES, KA; BARRIOS, C. 2001. Food qua- Mozele2.
Materiais e métodos
lity, feeding preferences, survival and grow- Orientador: prof. Dr. Roberto de Moraes L. Silveira Área de estudo
th of shredders from temperate and tropical O estudo foi realizado na fazenda São Nico-
1Programa de Pós-Graduação e Ecologia e Conservação
streams. Freshwater Biology 46, pg.947-957. lau, localizada na Amazônia Legal, Estado de
da Biodiversidade – Universidade Federal de Mato Gros-
Blackwell Publishing. Mato Grosso, município de Cotriguaçu. Essa
so, 2Ecologia e Conservação – Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul fazenda tem um histórico de desmatamento
MOREIRA, LC & COLLART,OO. 1993. Migra- ocorrido entre os anos de 1974 e 1998, para
ção vertical nictemeral das larvas de Macro- Introdução construção de uma pista de aviação e plan-
tio de pastagem. Entretanto, desde 1999, é

E
brachium amazonicum num lago de várzea
na Amazônia Central, Ilha do Careiro,Brasil. spécies exóticas são aquelas que desenvolvido o Projeto de Reflorestamento
Amazoniana, XII (3/4), pg 385-398. ocorrem fora do seu habitat natural para Seqüestro de Carbono - Peugeot/ON-
em conseqüência de atividades hu- F-Brasil, que teve como objetivos principais
manas (Primack, 2004; Wonham, 2006). Exis- reflorestar 2.000 ha da fazenda para estoque
MOULTON, TP; SOUZA, ML; SILVEIRA, RML; tem algumas espécies exóticas que, além de de carbono, além de promover a biodiversi-
KRSULOVIC, FAM.2004. Effects of epheme- se estabelecer, passam a ser consideradas dade com o plantio de espécies nativas. Até
ropterans and shrimps on periphyton and invasivas, uma vez que aumentam muito em o momento o projeto já recuperou cerda de
sediments in a coastal stream (Atlantic fo- abundância a ponto de excluir espécies na- 13 toneladas de carbono e o reflorestamen-
rest, Rio de Janeiro, Brazil). J. N. Am. Benthol. tivas (Primack, 2004). Uma das espécies exó- to está terminado, sendo feito o replantio
Soc., 23 (4), pg 868-881. ticas encontradas no Brasil é a Brachiaria sp., apenas em áreas onde este foi bem.
uma gramínea originária da África (Duarte et Coleta de dados
RAMBALDI, DM & OLIVEIRA,DAS (orgs). 2003. al., 2000). Esta espécie foi introduzida no país As coletas foram realizadas em duas áreas
Fragmentação de ecossistemas: Causas, efei- para formação de pasto, por apresentar uma de reflorestamento misto, uma onde há o
tos sobre a biodiversidade e recomendações grande produção de sementes, um grande pastejo do gado sobre Braciaria sp. e outra
de políticas públicas. Ministério do Meio Am- crescimento vegetativo, além de suportar numa área de reflorestamento onde não há
biente/Secretaria de Biodiversidade e Flores- variações no regime hidrológico (Mason et o pastejo do gado, sendo que ambas pos-
tas, Brasília. al., 2008). Assim, uma vez estabelecida, pode suem a mesma idade de plantio (sete anos) e
ter efeitos negativos sobre espécies de plan- o mesmo tipo de espaçamento (6x3), tendo
SILVA,MCN; FREDOU,FL;FILHO,JSR.2007. Es- tas nativas, como a redução na produtivida- como divisa uma estrada (fig. 1).
tudo do crescimento do camarão Macrobra- de e até mesmo a morte dessas plantas (Silva Em cada reflorestamento, foram delimitadas
chium amazonicum (heller,1862) da ilha de e Firmino, 2008). quatro áreas amostrais utilizando parcelas de
Combú, Belém, estado do Pará. Amazônia: Janzen (1970) apud Ricklefs e Miler, (1999), 4x10 m, tendo distâncias da borda d reflores-
Ciência e Desenvolvimento, Belém,v.2,n.4. propôs a “Hipótese da Pressão de Pastagem”, tamento de 50, 60, 210 e 310m, respectiva-
na qual os herbívoros podem promover a mente. As parcelas foram sempre dispostas
SILVEIRA,RML & MOULTON, TP.2000. Mo-
alta diversidade de espécies de florestas tro- perpendicularmente a borda do refloresta-
delling the food web of a stream in Atlantic
picais, pois se alimentam de flores, sementes mento. Em cada área, todas as plantas en-
Forest. Acta Limnol. Bras., 12, pg 63-71.
e plântulas de espécies abundantes de for- contradas foram separadas em morfo-espé-
ma tão eficiente que controlam o seu cres- cies. Com o auxílio de um paquímetro digital
cimento, mantendo suas densidades redu- foi aferidas suas circunferências basais para

52 53
estimar a cobertura das plantas em cada re-
florestamento.
Foi calculada a área individual de cobertura
de solo para cada morfo-espécie, tomando
como base a área do círculo, onde:
A= πr2
e posteriormente, a área total de cobertu-
ra de cada morfo-espécie. Para obter a área
total de cobertura do solo em cada unidade
amostral, somamos a cobertura total das
morfo-espécies registradas. Após isso calcu-
lamos a porcentagem de área de cobertura
das plantas para cada reflorestamento.
Análise dos dados
Um Teste t foi utilizado para avaliar
as diferenças na riqueza, abundância e área
basal total das plantas entre as duas áreas
amostradas. Foi feita uma ordenação direta
para avaliar a composição das espécies ao
longo do gradiente de distância da borda do
reflorestamento.

Tabela 1. Número e abundância de morfo-espécies registradas nas áreas com e sem o pastejo do gado (azul - arbus-
tivas com sementes muito pequenas, vermelho - lianas).
Com relação ao número de morfo-espécies, não houve diferença entre as áreas amostradas (p= 0,71) (fig. 2).

Figura 1. Localização das áreas de coleta na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT. A área de cima é um refloresta-
mento misto contendo principalmente Figueira branca (Ficus máxima) e a de baixo Figueira bola (Ficus sp.).

54 55
Figura3. Distribuição de morfo-espécies na área de re-
Resultados florestamento com o pastejo do gado sobre Brachiaria
Foi registrado um total de 36 morfo-espécies sp. ao longo do gradiente de distância (m) da borda do
que foram nominadas com números de 1 a reflorestamento.
36. Dessas, apenas duas ocorreram em am- A abundância das morfo-espécies diferiu en-
bas as áreas (a morfo-espécie 1 e a morfo-es- tre as áreas de amostragem (p=0, 045), sen-
pécie 36), sendo 22 morfo-espécies registra- do maior na área onde há o pastejo do gado
das apenas na área onde há pastejo do gado e menor na área onde não há o pastejo (fig.
sobre a Brachiaria sp. e 11 morfo-espécies na 4).
área onde não há pastejo do gado (tabela 1).

Figura 4. Abundância das morfo-espécies registradas na


área de reflorestamento com o pastejo do gado sobre
Figura 2. Número de morfo-espécies encontradas na Brachiaria sp. e na área sem o pastejo do gado.
área onde há o pastejo do gado sobre B. umidicola e na
área sem o pastejo do gado. Com relação porcentagem da área basal de
regeneração das plantas, houve uma dife-
Na área onde havia o pastejo do gado foi rença entre os locais de amostragem (p= 0,
possível observar uma substituição na com- 052), sendo maior na área sem o pastedo do
posição das morfo-espécies ao longo do gado (fig. 5).
gradiente de distância da borda do reflores-
tamento com relação à estrada (fig. 3).

57
ra do solo comparativamente às outras mor-
Figura 5. Porcentagem de cobertura do solo das plantas ticos causados pelo capim braquiarão (Bra-
fo-espécies registradas no reflorestamento
nos reflorestamentos com e sem o pastejo do gado. caria brizantha) no desenvolvimento inicial
sem gado. da palmeira de de babaçu (Orbignya spp.).
A partir deste trabalho, podemos sugerir que Revista verde. 3(4) 1-7.
Discussão
o pastejo do gado sobre Brachiaria sp. pode
O número de morfo-espécies registradas no favorecer o estabelecimento e crescimento WONHAM, M. 2006. Species Invasions. In:
reflorestamento com o pastejo do gado so- de algumas espécies nativas. Entretanto, não Groom, M. J.; Meffe, G. K.; Carroll, C. R. Prin-
bre Brachiaria sp. e no reflorestamento sem podemos dizer até que ponto a presença do ciples of conservation biology. 3rd ed. ISBN
o pastejo do gado foram relativamente pró- gado é benéfica para a diversidade de es- 0-87893-518-5. 293-319 pp.
ximos, o que provavelmente explica a falta pécies nativas, uma vez que este estudo foi
de diferença na riqueza de morfo-espécies realizado em apenas uma região e refletem
entre eles, o que sugere que apesar de Bra- o que está acontecendo no tempo atual. Se-
chiaria sp. ser uma espécie invasiva, existem ria necessário um estudo em longo prazo e
espécies que conseguem se estabelecer comparando o efeito da presença do gado
mesmo quando esta é dominante. Entretan- em regiões diferentes.
to, este é um padrão observado “hoje”, o que
não significa que a dominância Brachiaria sp. Agradecimentos - Agradecemos à orienta-
possa não ter um efeito negativo para a di- ção e colaboração do Prof. Dr. Roberto M. L
versidade de espécies de plantas nativas. Silveira para a realização deste trabalho.
A diferença na composição das plantas en-
tre o reflorestamento onde existe o pastejo
do gado sobre a Brachiaria sp. e o refloresta- Referências bibliográficas
mento sem o pastejo do gado pode ser expli-
cada por suas formas de vida. Na área onde CAMPANELLO, P. I.; GARIBALDI, J. F.; GATTI,
o crescimento de Brachiaria sp. é controlado M. G. e GOLDSTEIN, G. 2007. Lianas in a sub-
pelo gado, predominaram formas arbusti- tropical Atlantic Forest: host preference and
vas com sementes muito pequenas, o que tree growth. Forest Ecology and Manage-
pode dificultar o seu estabelecimento onde ment. 242: 250-259.
Brachiaria sp. cresce muito e forma uma ca-
mada espessa sobre o solo. Por outro lado, DUARTE, M. C.; CATARINO, L. e ROMEIRAS, M.
as plantas predominantes no reflorestamen- M. 2000. Aspectos fitogeográficos das gramí-
to onde não há o pastejo do gado contro- neas na Guiné-Bissau. Portugalie Acta Biol.
lando o crescimento de Brachiaria sp. foram 19: 429-442.
espécies de lianas. Essas são conhecidas por
serem trepadeiras capazes de ultrapassar a MANSON, R. A. B.; COOKE, J.; MOLES, A. T. e
camada formada pela Brachiaria sp. até en- LEISHMAN, M. R. 2008. Reproductive output
contrar condições de luz favoráveis para seu of invasive versus native plants. Global Ecol.
crescimento (Campanello et al., 2007). Biogeogr. 17: 633-640.
A área de reflorestamento sem o pastejo do
gado sobre Bachiaria sp. apresentou uma PRIMACK, R. B. 2004. A primer of conserva-
porcentagem de área de cobertura do solo tion biology. 3rd ed. ISBN 0-87893-728-5.
maior do que a área de reflorestamento com 320 p.
gado. Isso pode ser devido ao fato de ter ha-
vido uma maior ocorrência de babaçu (mor- RICKLEFS, R. E. e MILLER, G. L. 1999. Ecolgy.
fo-espécie 36) nesse reflorestamento. Embo- 4rd ed. ISBN 0-7167-2829-X. 822p.
ra essa planta tenha sido registrada apenas
três vezes, ela possui maior área de cobertu- SILVA, A. C. e FIRMO, D. 2008. Efeitos alelopá-

58 59
INFLUÊNCIA DE FATORES como invertebrados aquáticos, anfíbios e = 0,020, p = 0,714, figura 1d), mas, apresen-
AMBIENTAIS NA ESTRUTURA peixes, que as utilizam de diversas maneiras tou uma leve relação quando analisada com
(Wilbur, 1997). Este trabalho teve como ob- a profundidade das poças (r2 = 0,1387, p =
DE COMUNIDADE DA FAUNA
jetivo avaliar o efeito da cobertura de dossel, 0,324, Figura 1b).
AQUÁTICA EM POÇAS NATURAIS proximidade da borda da mata nativa, tama-
MARGINAIS A UM IGARAPÉ nho da área e profundidade das poças natu-
rais sobre a comunidade lá encontrada.
Amanda Ferraz¹; Abílio Moraes¹; Jocieli Oliveira¹ e Mi-
quéias Silva - Jr.¹ Materiais e métodos
1 Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecolo- Coleta de dados
gia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Fe-
Realizamos as coletas em nove poças na-
deral de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/
turais próximas a um igarapé localizado na
n°, CEP: 78060-900, Cuiabá – MT.
Fazenda São Nicolau (09º 51’ 16.9” S e 58º
Orientadora: Lucia Aparecida de Fatima Mateus 14’57.7” W), Cotriguaçu, MT. Utilizamos pe-
Projeto Orientado neira e puçá triangular com abertura de ma-
lha de 1 mm para coleta da fauna aquática.
Introdução Os indivíduos foram coletados durante 15

U
minutos em cada poça por dois coletores.
ma das medidas mais simples e
Em seguida os organismos coletados foram
reveladoras da estrutura de uma
transferidos para potes plásticos contendo
comunidade é o núero de espécies
solução de álcool 70% e transportados até
que ela inclui (Morin, 1999). A estrutura de
o laboratório da Fazenda São Nicolau, onde
comunidades compreende maneiras pelas
triamos o material, agrupamos em morfo-ti-
quais os membros da comunidade se rela-
pos e identificamos nos menores níveis taxo-
cionam e interagem uns com os outros, bem
nômicos possíveis.
como as propriedades que emergem dessas
interações, como estrutura trófica, riqueza Medimos o comprimento e largura da poça,
de espécies, abundância relativa e estabili- para caçulo da área, e profundidade. Fize-
Figura 1. Valores do número de espécis relacionada com
dade de comunidades (Pianka, 1973). Sendo mos uma foto do dossel no centro de cada
as variáveis analizadas em poças naturais marginais a
que ela pode também ser determinada por poça, para porcentagem da cobertura. As
um igarapé, em uma área de floresta, fazenda São Nico-
características ambientais locais (Gascon, fotos foram transformadas em preto e bran-
lau, Contriguaçu, MT.
1995). co e quadriculadas no CorelDraw 12. Pos-
teriormente foi realizada a contagem dos
Em sistemas tropicais, assim como a Flores- quadrados escuros para que fosse calculada A análise direta de gradiente que leva em
ta Amazônica, poças são formadas durante a porcentagem de cobertura vegetal. Para a conta a abundância, sugere que há substitui-
a estação chuvosa e a maioria é temporária análise de dados realizamos regressão linear ção dessas espécies ao longo do gradiente
(Corti et al., 1997). Poças temporárias, ape- simples e ordenação direta através da análi- de cobertura vegetal (Figura 2). Assim como
sar de relativamente pequenas, apresentam se de gradientes (cobertura de dossel e pro- em relação a profundidade (Figura 3).
certa complexidade estrutural, determinada, fundidade).
por exemplo, pelo acúmulo de folhiço e pre-
Figura 2. Ordenação direta da abundância das espécies/
sença de raízes, bem como pelas variáveis Resultados morfoespécies da comunidade no gradiente de cobertu-
físicas, como umidade, temperatura, salini-
ra do dossel nas poças amostradas marginais a um iga-
dade, intensidade de luz e tamanho da área O número de espécies não apresentou ne-
rapé, localizado na fazenda São Nicolau, Contriguaçu,
(Wilbur, 1997; Ricklefs, 2003). nhuma tendência quando analisada com a
MT. As barras representam a abundância das espécies.
Devido à alta complexidade que as poças distância da borda (r2 = 0,001, p = 0,927, Fi-
temporárias possuem, essas podem ser gura 1a), tamanho das poças (r2 = 0,010, p
ocupadas por vários grupos de organismos, = 0,801, Figura 1c) e cobertura de dossel (r2

60 61
portantes na organização das comunidades. bian species. Copeia, 1999: 1-12.
A baixa relação da riqueza de espécies com
as variáveis ambientais podem refletir a WILBUR, H.M. 1997. Experimental ecology of
complexidade das forças que estruturam as food webs: complex systems in temporary
comunidades. Para uma melhor compreen- ponds. Ecology 78: 2279-2302.
são sugerimos estudos mais minuciosos que
abordem além de fatores abióticos, os fato-
res bióticos como interações intra e interes-
pecíficas bem como a individualidade bioló-
gica de cada espécie.

Referências bibliográficas
CORTI, D.; KOHLER, S.L. & SPARKS, R.E. 1997.
Effects of hydroperiod and predation on
Figura 3. Ordenação direta da abundância das espécies/ a Mississippi River floodplain invertebrate
morfoespécies da comunidade no gradiente de profun- community. Oecologia. 109, 154–165.
didade das poças amostradas marginais a um igarapé,
localizado na fazenda São Nicolau, Contriguaçu, MT. As
ETERIVICK, P. C. & SAZIMA, I. 2000. Structure
barras representam a abundância das espécies. of an anuran community in a montane me-
adow in southeastern Brazil: effects of sea-
Discussão sonality, habitat, and predation. Amphibia-
-Reptilia. 21:439-461.
A cobertura vegetal é descrita como um for-
te componente estruturador de comunida- GASCON, C. 1995. Tropical larval anurans fit-
des devido aos efeitos do recurso luz sobre ness in the absence of direct effects of pre-
o ambiente (Werner & Glennemeir, 1999; dation
Halverson et al, 2003). Embora não tenha and competition. Ecology. 76:2222-2229.
sido encontrada uma relação entre a rique-
za e o gradiente de cobertura vegetal houve HALVERSON, M. A., SKELLY, D. K., KIESECKER,
maior abundância de algumas espécies em J. M. & FREIDENBURG, L. K. 2003. Forest me-
determinados tipos de poças. Os girinos, por diated light regime linked to amphibian
exemplo, foram encontrados na sua maioria distribution and performance. Oecologia,
em ambientes com maior percentual de co- 134:360-364.
bertura vegetal. Isso demonstra que diante
MORIN, P. J. 1999. Community ecology. Bla-
da grande diferença filogenética encontra-
ckwell Science. 424 p.
da nas poças, não deve haver um padrão de
ocorrência para todas as espécies.
Observamos um padrão na ordenação da PIANKA, E. R. 1973. The structure of lizard
abundância das espécies em relação à pro- communities. Annual Review of Ecology and
fundidade das poças. Certas espécies de ver- Sistematics. 4:53-74.
tebrados como os girinos, estão relaciona-
das com as poças mais profundas. Algumas RICKLEFS, R. E. 2003. A economia da nature-
espécies de invertebrados apresentaram-se za. Editora Guanabara Koogan S.A. 503 p.
restritas as poças rasas. De acordo com Eteri- WERNER, E. E. & GLENNEMEIER, K. S. 1999.
vick & Sazima (2000) o tamanho e a profun- Influence of forest canopy cover on the bre-
didade das poças realmente são fatores im- eding pond distributions of several amphi-

62 63
RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DE abundância de Scarabaeinae em alguns bio- Figura 1 - Figura esquemática do posicionamento das numero de indivíduos (p=o,oo1) (Figura 3).
“ROLA BOSTA” (COLEOPTERA: mas (Halffter & Mathews, 1966). A coprofa- armadilhas pitifalls com suas devidas distâncias, na Fa-
gia é um fator fundamental da biologia de zenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
SCARABAEINAE) EM AMBIENTE
Scarabaeinae e determina as características
DE FLORESTA E PASTO EM UMA de seu comportamento (Halffter & Mathews, Para investigar se a riqueza e abundância
LOCALIDADE NA AMAZÔNIA 1966). O objetivo do nosso trabalho foi in- diferiam entre as áreas e para investigar se
MERIDIONAL ventariar as espécies de Scarabaeinae e suas havia preferência por uma das fezes nós uti-
abundancias em ambiente de floresta e pas- lizamos uma ANOVA de medidas repetidas.
Miquéias Ferrão da Silva Junior1,3, Adarilda Petine Be- tagem, e descobrir se existe preferência en-
nelli1, Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva 1 e Silvana tre dois tipos de fezes (humana e bovina). Resultados
Cristina Hammerer de Medeiros 2 Área de estudo Figura 2 Riqueza média de Scarabaeinae em floresta e
Um total de 295 indivíduos distribuídos em
Orientador: Fernando Zagury Vaz-de-Mello A área de estudo compreendeu uma área de pastagem e suas médias em fezes humanas e fezes bovi-
18 espécies foi encontrado no presente estu-
1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conser- floresta e uma área de pastagem, na Amazô- nas na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
do. Das 18 espécies, 15 ocorreram na floresta
vação da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato nia Meridional, localizada na Fazenda São Ni-
e apenas três espécies ocorreram na pasta-
Grosso,UFMT. colau, município de Cotriguaçu, Mato Gros-
gem. A espécie mais abundante foi Canthon
so.
2 Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, aff. Simulans seguida por Onthophagus
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS. Materiais e métodos onorei e Canthidium sp.1 respectivamente
Para a coleta de dados utilizamos cinco con- (Tabela 1).
Introdução juntos de armadilhas (pitfall) em cada uma

A
das duas áreas (pastagem e floresta). Cada
agricultura e a pecuária exercem conjunto de armadilha continha dois pitfalls,
forte pressão sobre as florestas um contendo fezes humanas e outra conten-
como ecossistemas abertos, cau- do fezes de boi (Bos taurus). As armadilhas
sando perda da biodiversidade (Fiszon et al., com diferentes fezes eram distante um me- Figura 3 Abundância de Scarabaeinae em floresta e pas-
2003). tro entre si. À distância de um conjunto para tagem com suas abundâncias em fezes humanas e fezes
Besouros Rola-bosta têm sido usados como o outro dentro do mesmo tipo de vegetação bovinas na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
bioindicadores de qualidade de hábitat de- era de 50 metros, a distância entre os conjun-
vido à sensibilidade às mudanças ambien- tos de pitfalls da floresta para os conjuntos Discussão
tais (Durães et al., 2005). Rola bostas formam de pitfalls da pastagem era de 200 metros.
Extinções locais podem ser causadas por
um importante componente da insectofau- As armadilhas ficaram abertas por três horas
mecanismos como a perda de habitats (Bier-
na de florestas tropicais, contribuindo com no período da manhã (Figura 1).
regaard et al.2001). No caso em que ambien-
algumas funções chaves, como dispersão
tes naturais são transformados em pasta-
secundária de semente, reciclagem de nu-
gens, este novo habitat foi completamente
triente, controle de parasitas de vertebrados
diferente quanto a temperatura, umidade
(Gardner et al., 2008; Vaz-de-Melo, 2000).Os
cobertura da vegetação (Martins, 2001). Isto
Scarabaeinae que têm estreita relação com
explica o baixo numero de espécies na pas-
florestas tropicais são fortemente afetados
Existe uma diferença significante no nume- tagem, comparado com o numero de espé-
pelas diferenças na estrutura da vegetação
ro de espécies entre a área de pastagem e a cies capturadas na floresta. Outro fator que
(Gardner et al., 2008). As diferenças micro-
área de floresta (p=o,oo3), um maior numero corrobora com os dados de riqueza aqui
climáticas podem explicar a variação na ri-
de espécies teve preferência por fezes huma- apresentados é fato de que o alimento da
queza e na abundância das espécies devido,
nas (p=0,000) (Figura 2). Houve diferença na grande parte dos Scarabaeinae é produzido
por exemplo, à intolerância fisiológica à alta
abundância de indivíduos entre a pastagem por organismos fortemente afetados pelo
temperatura ou a ambientes secos com alta
e a floresta (p=0,036), ocorrendo mais indiví- desmatamento, como primatas e outros ma-
insolação (Gardner et al., 2008).
duos dentro da floresta. Foi observada uma míferos de médio e grande porte e pássaros
A disponibilidade de recurso alimentar (ex- (Antonini et al. 2003).
preferência por fezes humanas baseada no
cremento) pode determinar a presença e a

64 65
Segundo Antonine et al,(2003) uma maior
Referências bibliográficas
abundancia de indivíduos na pastagem,
pode ser explicada pela redução na riqueza ANTONINI, Y.; ACCACIO, G. M.; BRANT, A.;
e abundância (predadores e parasitóides) CABRAL, B. C.; FONTENELLE, J. C. R.; NASCI-
de inimigos naturais. Isto parece verdadeiro MENTO, M. T.; THOMAZINE, A. P. B. W. & THO-
para nosso estudo, visto que a abundância MAZINI. 2003, Insentos. In. : D. M. RAMBALDI
de Canthon aff. Simulans na pastagem foi a e D. A. S. OLIVEIRA (orgs.), Fragmentação de
maior entre todas as espécies coletadas no Ecossitemas: Causas, Efeitos sobre a bio-
estudo (214 indivíduos). Enquanto que na diversidade e recomendações de políticas
floresta a espécie mais abundante foi Ontho- publicas. Ministério do Meio Ambiente. pp.
phagus onorei com apenas 21 indivíduos. 239-273.
Para os resultados de preferência de fezes
esperávamos encontrar um maior nume- BIERREGAARD, R. O.; GASCON, C.; LOVEJOY,
ro de indivíduos na pastagem escolhendo T. E. & MESQUITA,C. G. 2001. Lessons from
as armadilhas com fezes de bovinos, já que Amazonia: The Ecology and conservation of
este tipo de fezes é o mais encontrado nas a fragmented Forest. Yale University Press.
pastagens ocupadas pelos bovinos. Diferen- 470p.
temente do esperado, os indivíduos na pas-
tagem preferiram as armadilhas com fezes
humanas. Além da preferência propriamen- DURÃES, R.; MARTINS, W.P. & VAZ-DE-MELLO,
te dita, a vermifugação dos bovinos da Fa- F.Z. 2005, Dung Beetle (Coleoptera: Scara-
zenda São Nicolau por IVOMEC® pode estar baeidae) Assemblages across a Natural Fo-
influenciando a utilização das fezes bovinas, rest-Cerrado Ecotone in Minas Gerais, Brazil.
visto que o vermífugo impede que a maioria Neotropical Entomology, vol. 34, n° 5, pp.
dos Scarabaeinae utilize as fezes (comunica- 721-731.
ção pessoal Vaz-de-Melllo).
Concluimos que o desmatamento, principal- FISZON, J. T.; MARCHIORO, N. P. X.; BRITEZ,
mente para fins agropecuárias esta influen- R. M.; CABRAL, D.C.; CAMELEY, N. C.; CANA-
ciando (direta e indiretamente) de forma VESI, V.; CASTELLA, P. R.; CASTRO, E. B. V.;
negativa a ocorrência de Scarabaeinae na JUNIOR, L. C.; CUNHA, M. B. S.; FIGUEIREDO,
região da Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu E. O.; FRANKE, I. L.; GOMES, H.; GOMES, L. J.;
(MT). Assim, nossos resultados corroboram HREISEMNOU, V. H. V.; LANDAU, E. C.;LIMA,
com os vários trabalhos que avaliam o efeito S. M. F.;LOPES, A. T. L.; NETO, E. M.; MELLO,
do desmatamento sobre a biodiversidade. A. N.; OLIVEIRA, L. C.; ONO, K. Y.; PEREIRA, N.
W. V.; RODIRGUES, A. S.; RODRIGUES, A. A. F.;
RUIZ, C. R.; SANTOS, F. L. G. L.; SMITH, W. S.
& SOUZA, C. R. 2003, Causas antrópicas. in:
D. M. Rambaldi & D. A. S. OLIVEIRA (orgs.),
Fragmentação de Ecossitemas: Causas, Efei-
tos sobre a biodiversidade e recomendações
de políticas publicas. Ministério do Meio Am-
biente. pp. 65-99.

GARDNER, T.A.; HERNÁNDEZ, M.I.M.; BAR-


LOW, J. & PERES, C.A. 2008, Understanding
the biodiversity consequences of habitat

66
change: the value of secondary and plan- TOCOCA CORONATA BENTH Além da defesa contra herbívoros, algumas
tation forests for neotropical dung Beetles. (MELASTOMATACEAE) E SUAS plantas podem obter nutrientes através dos
Journal of Applied Ecology Vol. 45, pp. 883– restos orgânicos deixados pelas formigas
RELAÇÕES COM A COTA MAXIMA
893. dentro das domáceas (Janzen, 1974).
DE INUNDAÇÃO EM UM RIO NA
Este estudo teve como objetivo: (1) analisar
AMAZÔNIA MERIDIONAL a influência do pulso máximo de inundação
MARTINS, M.V. 2001,Drosophilid Fruit-Fly
Guilds in Forest Fragments. In R. O.Bierre- do rio sobre a distribuição espacial de Toco-
gaard,C.Gascon, T. E. Lovejoy and R. C. G. Miquéias Ferrão da SILVA-JR1,2 ca coronata; (2) a influência da cota máxima
Mesquita (eds), Lessons from Amazonia: The Orientador: Thiago Junqueira Izzo de inundação do rio na produção da primei-
Ecology and conservation of a fragmented ra domácea; (3) o investimento de carbono
Forest. pp.175-186. em folhas abaixo e acima da cota maxima de
1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conser-
inundação.
vação da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato
VAZ-DE-MELO, F.Z. 2000, Estado atual de co- Grosso – UFMT Área de estudo
nhecimento dos Scarabaeidae s. str. (Cole- 2Autor para correspondência: miqueias_jr@hotmail. O estudo foi realizado na mata ciliar da mar-
optera: Scarabaeoidae) do Brasil. In: Martín- com gem esquerda do Rio Juruena, na Fazenda
-Piera, F.; Morrone, JJ. & Melic, A. (Eds.). Hacia São Nicolau (S 09˚ 51”, W 058° 15”), localizada
um Proyecto CYTED para el Inventario y Es- na Amazônia Meridional na região noroes-
timación de la Diversidad Entomológica em Introdução te do estado de Mato Grosso, no município
Iberoamérica: PrIBES. Vol. 1, pp. 183-195. de Cotriguaçu (Figura 1). O clima é tropical

M
irmercófitas são plantas que quente e úmido, com temperatura média
apresentam uma estreita relação anual de 24̊ C e a precipitação média anual
HALFFTER, G. & FAVILA, M.E. 1993, The Sca-
com formigas. O desenvolvimen- é de 2300mm. A umidade é bastante elevada
rabaeinae (Insecta: Coleoptera) an Animal
to de estruturas ocas, conhecidas como do- e oscila entorno de 80 a 85% (Brasil, 1980).
Group for Analysing, Inventorying and Moni-
máceas, proporcionam moradia para estas
toring Biodiversity in Tropical Rainforest and
formigas que em contra partida, oferecem
Modified Landscapes. Biology International,
proteção contra herbívoros a planta (Izzo &
Vol. 27, pp. 15-21.
Vasconcelos, 2002). Segundo Beattie (1985)
as domáceas podem variar quanto ao for-
HALFFTER, G. & MATTHEWS, E.G. 1966, The mato (arredondado, alongado e amorfo) e
natural history of dung beetles of the subfa- a localização na planta (folhas, pecíolo, raiz
mily Scarabaeinae. Folia entomologica mexi- e tronco). Algumas mirmecófitas geralmen-
cana, Vol. 12-14, pp.1-312. te ocorrem próximas a cursos d’água, neste
caso estão sujeitas a maiores amplitudes
na variação abiótica do ambiente (Benson, Figura 1 - Mapa da Fazenda São Nicolau, município de
1985). A cota máxima de inundação pode ser Cotriguaçu, MT. As setas indicam o local de estudo.
um fator que determine a distribuição espa-
cial destas mimercófitas, separando a região Materiais e métodos
de ocorrência das espécies que não supor-
tam as condições impostas pelo aumento do Para a coleta de dados, um trecho de 2.000
nível da água. metros de extensão por 40 metros de largu-
ra de mata ciliar foi percorrido a procura de
A herbivoria é um fator que altera a capacida-
Tococa coronata. De cada indivíduo encon-
de ótima de desenvolvimento do indivíduo
trado foi medido as seguintes variáveis: (1)
vegetal (Beattie, 1985). Assim, a proteção
altura total; (2) altura da primeira domácea
proporciona maiores investimentos para o
quando presente; (3) distância da margem
crescimento e conseqüente desenvolvimen-
do rio; (4) altura da base do indivíduo em re-
to e reprodução da planta (Yu et al., 2001).

68 69
lação à cota atual; e (5) biomassa de três fo- inundação do Rio Juruena, Cotriguaçu, MT inundação. O surgimento desta domácea
lhas integras e suas domáceas e do peso de Houve uma diferença no peso entre as fo- antes da planta ultrapassar a cota de inunda- Agradeçimentos
uma área conhecida de cada uma das folhas. lhas que ocorrem abaixo da cota maxima ção seria um dispêndio desnecessario de 8% Agradeço a Thiago Junqueira Izzo, Silvana
Na análise dos dados, foi feito Qui-Quadrado de inundação e as folhas que ocorrem aci- de energia que poderia estar sendo destina- Hammerer, Leide Laura Paiva e Adarilda Pe-
para determinar se as plants apresentavam ma (T2=2,921 p>0,02), onde as folhas que da a crescimento vertical, já que as colônias tine-Benelli pela ajuda na coleta dos dados.
mais frequentemente domáceas a partir da ocorrem acima da cota são mais pesadas do de formigas que iriam habitar essa domácea A Thiago Junqueira Izzo pela imensa ajuda
cota máxima. Para determinar se a alocação que as folhas que ocorrem abaixo (Figura 3). abaixo da cota não resistiriam a inundação. nas analises estatisticas e pela ajuda no en-
de carbono entre folhas de plantas abaixo da O peso seco da doécea representou 8% do As folhas submersas também estariam sujei- tendimento dos padrões aqui observados. A
cota e acima da cota foi realizado um teste peso seco total da folha. tas a herbivoria por peixes raspadores e ain- Rafael S. Arruda e Thiago Junqueira Izzo pela
t. A porcentagem de energia empregada na da sofrer um bloqueio/redução de suas ati- leitura e sugestões do manuscrito. Agradeço
produção da domácea foi feita a partir da vidades metabolicas, podendo até mesmo a CAPES pela bolsa de estudo.
média do peso das domácias em relação ao perder algumas folhas.
peso da folha. As folhas abaixo da cota de inundação são Referências bibliográficas
proporcionalmente mais leves que as folhas
Resultados que se encontram acima da cota, isto é, a BEATTIE, A.J. 1985. The evolutionary ecology
planta gasta menos carbono/energia na for- of ant-plant mutualisms. Cambridge univer-
Os indivíduos de Tococa coronata na área sity press. 145p
mação destas folhas. Esta tática energética
de estudo tiveram uma altura média de
permite que a planta direcione a maior parte
133,9cm. Todos os 35 indivíduos analisados
de suas energias para o crescimento vertical BEGON, M.; TOWNSEND, C.R. & HARPER, J.L.
de Tococa coronata ocorreram dentro da
da planta, como uma medida de superar a 2006. Ecologia de indivíduos a ecossistemas.
área inundável em época de cheia. Das 35
cota de inundação. Seria um gasto desne- Ed. Armed. 740p
plantas apenas duas ocorreram a 13 metros
cessário para a planta investir em uma folha
de distancia da margem. Todas as outras 33
resistente e que logo estaria submersa e com
plantas ocorreram dentro de um limite máxi- BENSON, W.W. 1985. Amozon ant-plants. In
Figura 3 - Peso seco em gramas por 25cm2 de área foliar suas atividades metabólicas reduzidas e/ou
mo de 4,26 metros de distancia da. Key environments in Amazonia, ed. G.TR.
de Tococa coronata em relação a cota máxima de inun- bloqueadas.
O surgimento da primeira domacea ocorreu Prance and E.T. Lovejoy. 239-266.
dação do Rio Juruena, Fazenda São Nicolau Cotriguçu, Quando as folhas ultrapassam a cota então
mais frequentemente a partir do limite má-
MT. recebem uma proteção dupla, a formação de
ximo da cota (T2=4 p<0.04), Em quase todos BRASIl. 1980. Ministério das Minas e Energia.
domáceas que poderão ser colonizadas por
os casos, a primeira domácea aparece a par- Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL. Rio
Discussão formigas mirmecofitas e ainda um ganho
tir do momento em que o ápice da planta ul- de Janeiro: MMESG. 460p.
na resistência e tamanho da folha contra os
trapassa a cota máxima do rio (Figura 2). Tococa coronata mostrou estar associada a herbivoros que conseguem driblar a prote-
cota maxima de inundação do rio, ocorrendo çao consedida pelas formigas. Corroborando IZZO, T.J. & VASCONCELOS, H.L. 2002. Chea-
sempre dentro do limite da cota e em locais com o conceito de demanda conflitante de ting the cheater: domatia loss minimizes the
próximos a margem do rio. Esta preferência (Begon et al.(2007) que recursos destinados effects of ant castration in an Amazonian an-
pode estar associado a alguns fatores como para uma atividade tornam-se indisponíveis t-plant. Plant animal interactions. 133: 200-
a forma como suas sementes são dispersas, para outras atividades. 205
capacidade de ocupação do habitat e/ou
Desta forma é possvel afirmar que tanto a
ainda a necessidade de alta luminosidade
ocorrência de Tococa coronata como o surgi- JANZEN, D.H. 1974. Epiphityc myrmephytes
para a realizaçao de fotossíntese, visto que
mento das primeiras domacias e o aumento in Sarawark: mutualism through the feeding
há nítida diferença na luminosidade entre a
na resistência da folha esta associada a cota of plants by ants.Biotropica 6:237-259.
margem e o interior da planta
maxima de inundação do rio. Uma hipótese
Essa seleção de habitat induz a necessidade é de que isso é possível devido a sua plas-
de um rápido crescimento. Para isso a plan- ticidade gênica, porém estudos focados na YU, D.W.; WILSON H.B. & PIERCE, N.E. 2001.
ta, retém o surgimento da primeira domacia expressão gênica desta espécie precisam ser An empirical model of species coexistence in
Figura 2 - Numero de indivíduos de Tococa corona- para que esta apareça quando suas folhas realizados para testar esta hipótese. a spatially structured environment. Ecology.
ta com domáceas acima e abaixo da cota máxima de apicais já estiverem fora da cota maxima de 82:1761-1771.

70 71
A PROXIMIDADE DA MATA E tropicais (Coley et. al, 1985). de cinco minutos. Os indivíduos coletados noptera) como sugadores (Auchenorryncha,
A INSOLAÇÃO INFLUENCIAM Sabendo que as florestas tropicais possuem foram acondicionados em microtúbulos de Curculionidae - Coleoptera). Houve também
grande abundância e riqueza de insetos her- plástico (1,5 ml), contendo etanol a 70% para a ocorrência de predadores como aranhas
A HERBIVORIA EM e algumas formigas generalistas (Borror e
bívoros (Begon et. al, 2007) , é esperado que fixação. Os insetos coletados foram identifi-
REBROTAMENTOS DE TECA cados até o menor nível taxonômico possí- DeLong,1988; Borror e White, 1970; White,
estas exerçam influência sobre os refloresta-
NA FAZENDA SÃO NICOLAU, mentos em seu entorno, aumentando a ca- vel utilizando chaves entomológicas (Borror 1983). As relações entre riqueza e densidade
COTRIGUAÇU, MT pacidade de resiliência dos artrópodes em e White, 1970; Borror et.al, 1988) e com o total de artrópodes não foram correlaciona-
geral. E por isso, neste trabalho buscamos auxílio do prof. Dr. Thiago Junqueira Izzo da dos.
Carla Lopes Velasquez, Hugo Borhezan Mozele, João Al- testar se a proximidade da mata nativa e a in- Universidade Federal de Mato Grosso. De modo geral, rebrotamentos mais exposto
ves de Lima Filho, Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva cidência de luz têm influência sobre a quan- Posteriormente foi realizada a medição da ao sol e próximos a mata tiveram maior her-
Orientador: Prof. Domingos de Jesus Rodrigues. tidade de área predada por herbívoros. Bem altura do brotamento, contagem das folhas, bivoria (ANCOVA, p=0,01).
como se a riqueza e abundância de insetos e escolha aleatória de cinco destas para me-
Introdução herbívoros variam em relação a distância da dição da largura e comprimento. Em cada

A
mata e iluminação local (locais ensolarados folha selecionada foi aferida a área foliar
s florestas tropicais são, em sua e sombreados). consumida utilizando um plástico milimetra-
maioria, ambientes com grande do, fotografia e o programa Paint do pacote
cobertura vegetal, e com a aber- Materiais e métodos Windows 97, contabilizando o número de in-
tura de clareiras as sementes têm a opor- tersecções e multiplicando este número por
tunidade de germinar e crescer (Begon et. Área de estudo 0,25cm². A área foliar total foi calculada para
al, 2007; Vázquez-Yanes e Orozco-Segovia, Nosso estudo foi realizado na Fazenda São comparação com a área foliar consumida.
1993). Tendo grande disponibilidade de luz, Nicolau, Cotriguaçu, Mato Grosso, em uma Sua forma foi considerada como elíptica e
as plantas tendem a investir mais em cresci- área de reflorestamento de Teca (Tectona por isso foi utilizada a expressão ∏r1r2, sen-
mento e menos em defesas, além de dispo- grandis L. (Verbenaceae). Foi escolhido um do que “r1” representa o raio maior e “r2” o
nibilizar maior quantidade de açúcares em trecho de 500 metros, iniciando a nove me- raio menor.
suas folhas e ramos (Strong et. al, 1984). Este, tros de distância da mata nativa, seguindo A relação entre herbivoria e a distância da
entre outros fatores influenciam na escolha sempre a borda da estrada. mata, com locais sombreados e ensolarados
das plantas (sob sol ou sombra) que serão Características da planta foram analisados por meio de análise de co-
utilizados para alimentação, maturação dos As folhas de T. grandis podem ter disposição variância (ANCOVA), representada pelo mo-
ovos e como hábitat de diversos insetos oposta a verticilar em grupos de três, são co- delo:
(Edward e Wratten, 1981). riáceas e medem de 30 a 60 cm de compri- Herbivoria~constante+distância da bor-
Muitos insetos são de suma importância na mento por 20 a 35 cm de largura. Os limbos da+local(sombra, sol)
produção de colheitas agrícolas por presta- são largos e elípticos, glabros na face supe-
rem serviços de polinização. Entretanto, os rior e tomentosos na face inferior. As folhas
RESULTADOS
herbívoros podem causar danos enormes amplas tornam a árvore sombreante desde a
em sistemas agroflorestais por serem capa- fase juvenil (INPEF, 2003). Foram coletados 112 indivíduos (artrópo-
zes de se alimentar de praticamente todas Coleta de dados des), sendo estes pertencentes a oito ordens.
as estruturas da planta, sejam elas seiva, flor, Foram escolhidos dez rebrotamentos de Destas, quatro foram identificadas ao nível
folha, fruto, madeira ou semente (Borror, Teca (unidade amostral), sendo cinco em de família e somente Formicidae foi identifi-
Tabela 1: Abundância e freqüência dos taxa de artrópo-
1988). Em média, mais de 10% de toda a pro- área ensolarada e cinco em área sombreada. cada ao nível de gênero e alguns ao nível de
des encontrados sobre rebrotamentos de Teca em locais
dução das plantas em comunidades naturais Os rebrotamentos selecionados continham espécie. Nas áreas ensolaradas a quantida-
ensolarados e sombreados, na fazenda São Nicolau, Co-
é consumida por insetos. Destes, Vespidae, um mínimo de cinco folhas e distância de 50 de de indivíduos coletados (57) foi maior do
triguaçu, MT.A herbivoria esteve relacionada à distância
Coleoptera, Orthoptera, Thysanoptera, Lepi- metros entre eles, alternando entre ensola- que em áreas sombreadas (44 ind.) ( Tabela
da mata (F= 12,27, p=0,013). Essa relação manteve-se
doptera e Diptera se alimentam principal- rado e sombreado. 1). Dos artrópodes coletados, uma grande
estável (F=11,98, p= 0,013), com a inserção da variá-
mente de plantas (Edward e Wratten, 1981). maioria foi de insetos herbívoros, sejam eles
Nestes rebrotamentos, primeiramente foi re- vel Ambiente no modelo preditor (Herbivoria~distân-
Isto resulta em um consumo pelos insetos de mastigadores (larvas de Lepidóptera, Ortop-
alizada a coleta dos insetos por de busca ati- cia+ambiente).
0,0003 a 0,8% só de área foliar em florestas tera, alguns Coleoptera, Formicidae e Thysa-
va (pinça e pincel), com um esforço amostral

72 73
Os rebrotamentos de teca mais distantes de que plantas que recebem maior incidên-
da mata estavam em locais ensolarados, a cia de luz seriam as mais predadas. Vários Referências bibliográficas
herbivoria foi menor, porém quando distan- estudos demonstram que isto pode ser con- BERNAYS, E.A. e CHAPMAN, R.F. 1994. Houst-
tes da mata e em locais sombreados a área sequência do maior investimento da planta -plant selection by phytophagous
de folha consumida se manteve constante em crescimento, o que resultaria em menor
insects. ed.Contemporary Topics in Ento-
(Fig.1). investimento de energia em desenvolvimen-
mology 2. Chapman & Hall. United
to de defesas químicas e físicas (Bernays e
Chapman, 1994; Ricklefs e Miller, 1999). Kingdom.
A maior riqueza e abundância de insetos BORROR, D. J. e DELONG, D. M. 1988. Estudos
herbívoros ocorreram nas plantas em que dos Insetos. Edgard Blüncher LTDA.
houve maior área foliar consumida (plantas São Paulo.
de locais ensolarados). Isto demonstra que BORROR, D. J. e WHITE, R. E. 1970. A field gui-
por mais que exista grande diversidade de de to Insects – America north of
grupos funcionais entre os insetos herbívo- Mexico - Peterson Field Guides. Houghton
ros (que se alimentam de seiva, de nectares Mifflin.
florais, dos frutos, de sementes e de folhas)
COLEY, P. D., BRYANT, J. P. e CHAPIN III, F. S..
(Strong et. al, 1984; Borror e DeLong,1988;
1985. Resource availability and plant
Borror e White, 1970; White, 1983), os que
antiherbivore defense. Science, 230:
Houve diferença entre a riqueza de insetos foram coletados sobre os rebrotamentos es-
pp895(5).
herbívoros entre os ambientes ensolarados tavam atuando principalmente no consumo
e sombreados (teste T, p=0,02) (Tabela 1, das folhas de teca e que provavelmente seja EDWARDS, P.J., WRATTEN, S.D. 1981. Ecologia
Fig.2). esta a parte com maior quantidade ou quali- das interações entre insetos e
dade de nutrientes da planta. plantas. Coleção de temas de Biologia. São
Os rebrotamentos que estavam em locais Paulo: EPU.vol. 27.
sombreados apresentaram maior riqueza INPEF. Instituto Nacional de Pesquisas e Es-
e abundancia de insetos herbívoros,bem tudos Florestais. ipef@ipef.br .
como em área foliar consumida. Isto pode disponível em 08/10/2009.
ocorrer devido ao fato de que plantas que
STRONG, D.R., LAWTON, H., SOUTHWOOD,
crescem em ambientes mais sombreados
Sir R. 1984. Insects on Plants –
tendem a produzir um nível maior de alcalói-
des. Esta substancia tem um profundo efeito Community Patterns and Mechanisms.
nos herbívoros e pode diminuir a área foliar Harvard University Press. Cambridge,
consumida nas plantas de sombra (Bernays e Massachusetts. pp1-20.
Chapman, 1994). RICKLEFS, R.E. e MILLER, G. L. 1999. Ecology.
Freeman. 4th ed. USA.
Conclusão VÁZQUEZ-YANES, C., OROZCO-SEGOVIA, A.
Discussão 1993. Eco-Fisiologia de la germinación
Concluímos que as teorias testadas realmen-
As plantas de locais ensolarados próximos à te demonstram o que ocorre no ambiente e de arboles en bosques húmedos tropica-
mata tiveram maior área foliar consumida, que se aplicam em áreas de reflorestamento. les. Respuestas Ecofisiológicas de
o que confirma a teoria de que a mata na- E consideramos que em futuros estudos se- plantas de Ecossistemas Tropicales. A. Azó-
tiva serve como fonte de insetos herbívoros ria importante analisar se existem diferenças car ed. CIELAT. Universidad de Los
e que por mais que eles possam consumir a nos nutrientes disponíveis nas folhas entre Andes, Mérida. Venezuela. pp.51-61.
vegetação das áreas de reflorestamento, eles locais ensolaradas e sombreados, bem como WHITE, R. E. 1983. A field guide to the Beetles
tendem a não se distanciar da sua área de se plantas (Teca) em áreas ensolaradas pro- of North America - Peterson Field
origem. E também houve a confirmação da a duzem realmente mais defesas (químicas e
Guides. Houghton Mifflin.
físicas) que as de área sombreadas.

74 75
FREQUENCIA DE VISITAÇÃO linizador (CHOONHOVEN, 2005). Não foi observada nenhuma visitação a flor Fenologia Floral
Flor Flor
EM FLORES DE CROTON Este trabalho teve como objetivo, analisar feminina ao longo de todo o dia. Botão masculino (%)
masculina (%) feminina (%)
Fruto (%)

GLANDULOSUS (EUPHORBIACEA) o número de visitações em flores de Crotos Adensamento 1


Adensamento 2
83,3
89,4
14
8,8
1,1
0,9
1,6
0,9
glandulosos, quantificar o número de flores Adensamento 3 83,4 15,4 0,3 0,9
Total 85,4 12,7 0,8 1,1
disponíveis e avaliar o comportamento dos
Marilene Conceição Surubim Leite, Amanda Ferraz de
visitantes florais. Tab. 1 – Número de botões florais, flores masculinas,
Miranda, Hugo Borhezan Mozele, Milene Garbim Gaiotti
femininas e fruto por adensamento de Croton glandu-
Orientador: Christiano Verola Materiais e métodos losus na trilha de acesso a “prainha” a margem do rio
O estudo foi realizado em um grupo de C. Juruena, Cotirguaçu – MT.
Introdução
glandulosus. situado na trilha de acesso a

P
lantas angiospermas possuem uma “prainha” na margem do Rio Juruena, loca- Fig 1 – Freqüência de visitas de cada abelha nos nectá-
Discussão
grande diversificação de tipos de flo- lizado na Fazendo São Nicolau, Contigraçu, rios extra-florais ao longo do período de observação de Observamos que várias espécies de abelhas
res. Existem famílias e gêneros tanto MT. O trabalho foi dividido em duas etapas. A C. glandulosus na trilha de acesso a “prainha” a mar- visitam Cróton glandulosus, isso indica uma
unissexuais quanto bissexuais, e também primeira foi a observação dos visitantes flo- gem do rio Juruena, Cotirguaçu – MT. grande disponibilidade de recursos por parte
formas intermediárias entre flor bissexual e rais, realizada no período de 08:00 às 15:00 da planta, o que a classifica segundo NICKO-
unissexual não existindo órgãos recíprocos, horas, divididas em sessões de 30 minutos LAS E OLLERTON (2006) como sendo uma
portanto, são flores bissexuais, mas com com um intervalo de 10 minutos cada. Essa planta generalista. Segundo os mesmos au-
funcionamento unissexual (ENDRESS, 1994). metodologia aplicada é denominada de tores os nectários têm papel fisiológico para
Essa diversificação e especialização têm evo- “observação focal”, onde um ramo do indiví- as plantas eliminando os supérfluos que são
luído em resposta a um único elemento visí- duo foi escolhidos, e observados os tipos e a compostos por água e vários tipos de açúcar
vel do ambiente os polinizadores (NICKOLAS quantidade de visitantes florais, em que foi e aminoácidos, com isso ela desenvolve um
E OLLERTON, 2006). A família Euphorbiacea anotada a quantidade de vezes que cada in- papel secundário na ecologia. Isso explica o
inclui diversas espécies de interesse econô- divíduo visitou a flor. Como não foi possível grande número de visitação observada nos
mico. A maioria das espécies dessa família identificar as espécies de abelhas visitantes, nectários extra-florais.
possui flores apétalas e são polinizadas por cada uma delas foi morfotipada recebendo
O maior número de visitações das abelhas 1
insetos. Na espécie Crotos glandulosos, as um número que foi do 1 ao 4. Porém neste Fig 2 – Freqüência de visitas de cada abelha nos nectá-
e 2 nos nectários extra-florais podem indicar
flores podem se apresentar separadas espa- trabalho irei chamá-las de abelha 1, 2, 3 e 4. rios da flor masculina ao longo do período de observa-
que estas espécies de abelhas não são as efe-
cialmente dentro dos indivíduos, sendo uma Na segunda etapa houve a coleta de 9 indiví- ção de C. glandulosus na trilha de acesso a “prainha” a
tivas polinizadoras. Porém segundo NICKO-
flor feminina e um racemo com várias flores duos do arbusto estudado, pertences a três margem do rio Juruena, Cotirguaçu – MT.
LAS e OLLETON, 2006 a delimitação entre
masculinas (SOUZA E LORENZI, 2008). grupos de C. glandulosus, para quantificar o
nectário vegetativo e de polinização ainda
Existe uma hipótese baseado em evidência número de flores masculinas e femininas dis-
não é conclusiva, o termo utilizado recente-
de experimentos, que planta e polinizador ponível por inflorescência e por indivíduo.
mente é reprodutivo e não reprodutivo in-
dependem um do outro, que existe um in- dependente de ela estar na flor ou fora dela.
trínseco conflito entre as partes em que cada Resultados
Portanto é difícil concluir que as abelhas que
um está sob exploração do outro. Para forçar As abelhas 1 e 2 estiveram em visitação a visitaram mais vezes os nectários extra-flo-
o polinizador a voltar varias vezes, a flor pro- planta ao longo de todo o dia. Entretanto o rais, poucas vezes o nectário da flor masculi-
duz quantidade suficiente de néctar como número de visitações da abelha 1 foi duas na e nenhuma vez a flor feminina não são as
forma atrativa e de recompensa final. Segun- vezes maior nos nectários extra-florais, en- polinizadoras efetivas, pode ter sido devido
do a teoria do forrageamento ótimo, deve se quanto a abelha 2 visitou sete vezes mais os ao pouco período de observação que não
conseguir o Maximo de alimento gastando o mesmos nectários. A abelha 3 visitou igual- contribuiu para a finalização deste estudo.
mínimo e de tempo, isso significa visitar uma mente os nectários da flor masculina e o nec- A flor masculina foi 98% mais abundante, O néctar constitui um importante recurso
flor que oferece maior quantidade néctar é tário extra floral. A abelha 4 esteve presente sendo 85% em forma de botão e 12% com as de alimento para os insetos, muitos coletam
mais eficiente do que visitar flores de dife- nos nectários da flor masculina até as duas anteras expostas. A flor feminina represen- uma grande quantidade, por isso, as flores
rentes espécies. Esses conflitos de interesse da tarde depois desse horário ela passou a tou apenas 0,8% do total, enquanto o fruto que produzem néctar produzem pólen que
entre plantas e polinizador tem sido a força visitar os nectários extra-florais (Fig - 1 e 2). 1,1% (Tab. 1). facilitam a aderência no inseto vetor, como
que moldou as relações atuais de planta-po-

76 77
as abelhas que possuem na tíbia “pêlos” de-
nominados de ancinhos (CHOONHOVEN, SOUZA, V.C e LORENZI, H..Botânica Sistemá-
2005). Esse processo pode ser observado tica. 2ª edição - 2008. Istituto Planetarum de
apenas na abelha 4, sendo que a mesma foi Estudos da Flora LTDA – Nova Odessa – SP
a única a visitar com maior intensidade a flor – Brasil.
masculina, deixando de fazê-la apenas no
período da tarde provavelmente devido o
esgotamento da flor nesse dia.
A espécie C. glandulosus não enfrenta pro-
blemas de disponibilidade de pólen, pois
possuem flores tipo espiga que se abrem
no sentido da base para ponta, processo
que ocorre aos pouco, disponibilizando cer-
ta quantidade por dia. Esse processo pôde
ser evidenciado com o grande número de
botões florais e flores masculinas contabi-
lizados em cada adensamento de C. gln-
dulosus (Tab.1). Esse alto investimento em
flores masculinas pode estar ocorrendo por
competição entre as plantas pelos mesmos
polinizadores. (RATHCKE 1983; WASER, 1983;
ADDICOTT, 1985 APUD CUSHMAN & ADSI-
COTT, 1989), essa superprodução maximiza a
fecundação, como foi observada pelo maior
número de frutos em relação à flor (Tab.1).

Referências bibliográficas

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aphids. Oecologia 79: 315 – 321, 1989.

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versity Press, 1994.

NICKOLAS, M. W.e OLLERTON, J..Plant-Polli-


nator Interactions. The University of Chicago
Press, Ltda., London, 2006. p.156

78
EFICIÊNCIA DO utilizadas bioindicadores na detecção de im- e entre elas, a teca. Amostramos uma área Taxa Locais
REFLORESTAMENTO COM pactos ambientais (Lassau e Hochulli, 2004), de pastagem, uma área de reflorestamento Espécies Pasto Teca Mata
pela grande diversidade de espécies existen- de Teca com 10 anos e uma área de floresta Solenopsis sp1 X
TECA NA RESILIÊNCIA DA
tes e por responderem à alterações ambien- Amazônica nativa. Pheidole sp1 X X
MIRMECOFAUNA NA FAZENDA tais de modo similar a outros taxa (Alonso, Camponotus crassus X
Coleta de dados
SÃO NICOLAU, COTRIGUAÇU, MT. 2000). Um dos principais fatores responsá- Camponotus myrmebrachys X
Em cada área estabelecemos um transec-
veis para a estruturação das comunidades to de 400 m, onde marcamos um ponto de
Parathrechina sp1 X
Abilio José de Ferraz de Moraes, Carla Lopes Velasquez, de formigas é a competição (Höldobler e amostragem a cada 20 m. Para cada ponto
Solenopsis sp3 X
Daniela da Silva Monteiro, Jhany Martins Dos Santos Wilson, 1990). Dessa forma, avaliar a co-ocor- colocamos uma isca com sardinha para co-
Solenopsis sp4 X

Orientador: Ricardo I. Campos rência de espécies constitui fator importante leta de formigas atraídas pelas iscas. Após
Trachymyrmex sp1 X
na avaliação dessas comunidades. Odontomachus sp1 X
30 min, revisamos as amostras e coletamos
Pheidole sp3 X
Introdução Diante disso, é importante avaliar a eficiên- as formigas. Posteriormente esperamos 15
Pheidole sp4 X

A
cia dos reflorestamentos, levando em consi- min e retornamos em cada ponto coletando
floresta Amazônica possui grande deração a riqueza, composição e interações
Pheidole sp5 X
os exemplares das espécies que não foram
diversidade de grupos taxonômi- através da co-ocorrência das espécies. Nosso
Brachmyrmex sp1 X X
observadas anteriormente. Os exemplares Solenopsis diplorhoptum X
cos (Kress et al. 1998). Entretanto, objetivo com este estudo é analisar se o re- foram fixados em álcool, ainda em campo e Solenopsis sp5 X
parte desta floresta está inserida na região florestamento de teca permite a resiliência levados para laboratório para identificação. Ectatomma sp1 X
conhecida como “arco do desmatamento”, da fauna de formigas de uma área de Flo-
que está sendo convertida em monocultura Análise de dados Pachicondyla sp1 X
resta Amazônica que possui um histórico
de grãos ou em pastagens com fins agro- Analisamos a riqueza média entre as áreas Camponotus sp1 X
de uso de pastagem. E avaliando essa efici- Camponotus sp2
pastoris (Ferreira et al. 1999; Locklin 2001). por meio de uma Análise de Variância. Para X
ência, esperamos que: (a) o reflorestamento Camponotus sp3 X
Contudo, visando a restauração da diversi- comparação da composição de espécies en-
por teca tenha mais espécies do que a pasta- Parathrechina sp2 X
dade, medidas têm sido tomadas para mini- tre as áreas, fizemos uma ordenação indireta
gem, porém, possua riqueza menor do que a Parathrechina sp3 X
mizar os impactos oriundos do uso de terra com MDS, usando o índice de Sorensen em
floresta nativa; (b) que o reflorestamento por Parathrechina sp4 X
e para recuperar as áreas já degradadas. En- duas soluções. Ambas as análises foram fei-
teca permita o reaparecimento de espécies Wasmannia sp1 X
tre estas medidas, existem as propostas de tas usando o programa Sytat12.
de hábitos florestais, causando maior simila- Crematogaster sp1 X
restauração do ambiente por comunidade ridade da fauna desta com a floresta nativa; A investigação de interações entre as es-
Crematogaster sp2 X
semelhante à que existia anteriormente (Gri- e que (c) existe no reflorestamento por teca pécies, foi feita através de modelos nulos
Crematogaster sp3 X
si, 2000). Este processo envolve medidas re- o mesmo padrão de co-ocorrência de espé- (EcoSim 700), com índice de co-ocorrência Crematogaster sp4 X
lacionadas ao restabelecimento das funções cies que na floresta nativa, enquanto que da matriz (índice C). Esse índice realiza a de- Crematogaster sp5 X
da área, como a capacidade de sequestro de para a área de pastagem não há padrão de tecção de pares de espécies que não co-o- Tapinoma sp1 X
carbono, manutenção da estrutura trófica influência mútua negativa entre espécies de correm frequentemente (Rodríguez-Fernán- Pheidole sp6 X
e biodiversidade. Para realizar restauração formigas. dez et al. 2006). Os dados das matrizes por Pheidole sp7 X
com sucesso, é importante compreender os área foram aleatorizados 5.000 vezes para a Pheidole sp8 X
mecanismos de estruturação das comunida- Materiais e métodos construção de uma distribuição de valores Pheidole sp9 X
des naturais, onde a métrica mais frequente de índice C aleatorizados, com a qual o valor Pheidole sp10 X
é o número de espécies. Área de estudos observado foi comparado. Pheidole sp11 X
A diversidade da região Amazônica tam- Conduzimos este estudo na Fazenda São Ni- Pheidole sp12 X
bém se estende à fauna de formigas, que é colau, situada em Cotriguaçu, a noroeste de
Resultados Pheidole sp13 X
especialmente abundante nessas florestas. Mato Grosso. Esta fazenda apresenta áreas No total, coletamos 41 espécies, sendo qua-
Pheidole sp14 X
Juntamente com as térmitas, representam nativas, área de reflorestamento e de pas- tro no pasto, 14 no reflorestamento e 29 na
Pheidole sp2 X X X
três quartos da biomassa da fauna de solo tagem. As áreas da fazenda, como exceção mata nativa. Apenas duas espécies ocorre-
Solenopsis sp2 X X X
(Fittkau e Klinge, 1973), e executam um im- da mata nativa, têm um histórico de derru- Total de espécies por local 4 14 29
ram nos três locais e entre a área de pasto e Tab.1. Tabela de co-ocorrência de formigas em três áre-
portante papel na manutenção da estrutu- bada para uso como pastagem. Atualmente de Teca, e entre Teca e mata, houve apenas as de amostragem – pasto, reflorestamento de teca e
ra e funcionamento de outros ecossistemas nestas áreas é desenvolvido reflorestamen- uma espécie co-ocorrendo (Tab.1). mata nativa na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
(Hölldobler & Wilson 1990). As formigas são to para seqüestro de carbono. O refloresta-
mento é realizado com diferentes espécies

80 81
Comparamos os valores de índice C obser- apresentou padrão de influência mútua ne- E. 1999. Identificação de áreas prioritárias
5
4,5 vados para cada área, com a distribuição de gativa entre espécies de formigas. O baixo para a Conservação da Biodiversidade atra-
Número médio de espécies

4
3,5 frequência de índices C dos dados aleatori- número de espécies coexistindo nesse hábi- vés da Representatividade das Unidades de
3
2,5 zados. Como esperado, para dados de pasto tat possivelmente explica esse resultado. Há Conservação e Tipos de Vegetação nas Ecor-
2
1,5
observamos um padrão aleatório de co-o- o crescimento de um corpo de evidências regiões da Amazônia Brasileira. Ações Priori-
1
0,5
corrência entre as espécies. Para os dados que relaciona a co-ocorrência das espécies tárias para a Conservação da Biodiversidade
0
Pasto Teca Mata nativa
do reflorestamento e para a mata nativa, ao com a complexidade de habitats (Andersen da Amazônia. PROGRAMA NACIONAL DA DI-
Áreas
contrário do esperado, encontramos tam- 1986; Ribas et al. 2003). Assim, em um am- VERSIDADE BIOLÓGICA, PROBIO. Ministério
Fig.1. Número médio de espécies de formigas coletadas bém um padrão aleatório. biente de menor complexidade como o pas- do Meio Ambiente.
nas três áreas de amostragem – pasto, reflorestamento to, não deve realmente haver uma estrutura
de teca e mata nativa na Fazenda São Nicolau, Cotri- Discussão demarcada principalmente interações com- FITTKAU, E.J. e KLINGE, H. On biomass and
guaçu, MT. petitivas. Na teca, porém, esperávamos um trophic structure of the Central Amazonian
Observamos que no reflorestamento por
resgate de interações de competição estru- rain forest ecosystem. Biotropica, 5: 2 – 14,
teca há um ganho de espécies em relação à
turando a comunidade, como era esperado 1973.
Houve diferença na composição de espécies pastagem, porém menor do que a floresta
também para o ambiente de mata. Todavia,
entre as áreas. E ao contrário do que espe- nativa. A complexidade da área de reflores-
nem na mata nativa, nem no reflorestamen-
rávamos, observamos pouca similaridade na tamento é obviamente superior à de pas- FOWLER,H.G.; FORTI,L.. C.; BRANDÃO, C. R. F.;
to observamos o padrão segregado. É possí-
ocorrência de espécies entre a mata nativa tagem, disponibilizando mais espaços para DELABIE, J. H. C. &
vel que a área de reflorestamento estudada
e o reflorestamento (apenas uma morfoes- nidificação e maior variedade de recursos. O HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E.O.1990 The
ainda seja recente para resgatar um padrão
pécie foi similar). Na ordenação é possível arranjo das espécies de formigas dentro das Ants. Cambridge, Belknap/Harvard Universi-
segregado. E a mata nativa amostrada tem
observar agrupamentos distintos das áreas comunidades é influenciado pela distribui- ty Press, 732p.
um histórico de retirada de árvores e é pró-
(Fig.2). ção dos recursos a serem explorados (Fowler
ximo à uma estrada. Logo, o reflorestamento
et al. 1991). Esse fato sustenta o resultado já
1 de teca amostrado não apresenta estrutura GRISI, B. M. 2000. Glossário de ecologia e ci-
obtido por outros autores (ver Oliveira et al.
de comunidade semelhante à esperada na ências ambientais. João Pessoa: UFPB/ INEP).
1995), de que ambientes mais complexos es-
mata nativa. Todavia, algumas restrições me-
truturalmente podem manter maior diversi- LOCKLIN, C. C. (prep.). 2001. Terrestrial Eco-
G R U P O todológicas podem ter influenciado sobre
dade. A riqueza de espécies de formigas em region. Mato Grosso Seasonal Forest (NT
9 nossos resultados, como amostragem com
0 área de reflorestamento, em comparação 0140). WWF Full Report, unreviewed docu-
8 apenas um tipo de isca e em apenas um pe-
com a de pastagem, revela a eficiência desse ment presented. URL: http://www.wolrdwil-
7 ríodo do dia.
ambiente para abrigar um número maior de dlif.org./wildworld/profiles/terrestrial/nt/
E IX O 2

6
espécies, que 5 certamente apresentam ne- Referências bibliográficas nt0140_full.html.
-1 cessidades mais 4 restritas do que as presen-
tes Gna pastagem.
R U P O 3 Esse dado indica aumento ALONSO, L.E., 2000. Ants as Indicators of Di- MAGURRAN, A.E. Ecological Diversity and
da 1diversidade2 por resgate de espécies no versity. In: AGOSTI, D.; MAJER, J.D..; ALONSO, Its Measurement – Ecological communities,
reflorestamento.
4 1 L.E. & SCHULTZ, T.R. Ants, standard methods Diversity, Mathematical models. University
8
Apesar 0
da riqueza de espécies no refloresta- for measuring and monitoring biodiversity. Press, Cambridge.1958.
-2
-2 -1 0 1 2 mento ser superior a do pasto, a composição 1. ed., Smithsonian Institution Press, Washin-
E IX O 1 de espécies presentes no reflorestamento gton 6: 80-88.
RODRÍGUEZ-FERNÁNDEZ, J.I.; CARVALHO, C.
não foi similar à da mata. É possível que o
J.B.e MOURA, M.O.2006 Estrutura de assem-
reflorestamento esteja oferecendo recursos ANDERSEN, A.N. 1986. Patterns of ant bléias de Muscidae (Díptera) no Paraná: uma
e condições favoráveis à maior número de community organization in mesic south-e- análise por modelos nulos. Revista Brasileira
espécies. Porém, a estrutura deste reflores- astern Australia. Australia Jornal of Ecol. 11: de Entomologia. 50 (1):93-100.
Fig.2. Similaridade em duas soluções de MDS, repre-
tamento talvez seja ainda muito distinta da 87–97.
sentando a comunidade de formigas em três áreas de
mata nativa, oferecendo meios de compor-
tar espécies com necessidades diferentes OLIVEIRA, M.A.;DELLA LUCIA, T.M.C.; ARAÚ-
amostragem: pasto, teca e mata nativa (floresta), na Fa- FERREIRA, L.V.; SÁ, R.L.; BUSCHBACHER, R.; JO, M.S. e CRUZ,A.P. 1995. A fauna de formi-
zenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
das espécies que habitam a mata.
BATMANIAN, G.; SILVA, J. M. C. e MORETTI, gas em povoamento de Eucalipto e mata na-
Como esperado, a área de pastagem não

82 83
tiva no estado do Amapá. Acta Amazônica. RIQUEZA RELATIVA E (Alonso, 2000). A mirmecofauna tem grande
25(1/2): 117-126. SIMILARIDADE NO USO DE relevância nos ambientes naturais, execu-
tando importante papel na manutenção da
RECURSOS POR FORMIGAS
estrutura e funcionamento de ecossistemas
RIBAS, C. R.; SCHOEREDER, J.H.; PIC, M.; SOA- DE REMANESCENTES DA (Hölldobler e Wilson 1990). Especialmente
RES, S. M. 2003. Tree heterogeneity, resource FLORESTA AMAZÔNICA
availability, and larger scale processes regu- no bioma amazônico, onde juntamente com
lating arboreal ant species richness. Aust.
E REFLORESTAMENTO DE as térmitas, as formigas representam três
Ecol. 28: 305–314. TABEBUIA SP. GOMES EX. DC. quartos em biomassa da fauna de solo (Fit-
w
(BIGNONIACEAE) tkau e Klinge, 1973). Representam também
um grupo chave visando ações e áreas para a
VASCONCELOS, H. L. 1991. Ecologia nutricio- conservação biológica da Amazônia (Overal,
nal de formigas. p: 131-223. In: PANIZZI, A. R. Marilene Conceição Surubim Leite, Ricardo Eduardo Vi-
2001).
& PARRA, J. R. P. Ecologia nutricional de inse- cente, Daniela da Silva Monteiro, Silvana Hammerer de
Medeiros Dada a importância ecossistêmica do gru-
tos e suas implicações no manejo de pragas.
po, é interessante determinar se (a) há dife-
São Paulo, Ed. Manole Ltda. Orientadores: Dr. Roberto de Moraes Silveira
rença na riqueza relativa de formigas entre
remanescentes da floresta Amazônica e de
Introdução reflorestamento de Tabebuia sp.; (b) há mais

A
mbientes ricos em espécies, como a espécies generalistas ou especialistas nesses
Amazônia, vêm sofrendo degrada- dois ambientes. A hipótese proposta para a
ção em todas as escalas, afetando primeira questão é de que existe diferença
negativamente a biodiversidade. A preocu- na riqueza de formigas entre os dois am-
pação com a rápida perda da biodiversida- bientes, sendo o remanescente mais rico em
de tem intensificado a necessidade de se formigas devido a maior disponibilidade de
compreender a estrutura das comunidades recursos (Castro et al., 1989), abrigos e sítios
(Magurran e Henderson, 2003). Adquirindo de nidificação (Carrol e Janzen 1973). Espera-
conhecimento sobre a dinâmica desses am- mos ainda que o renanescente exista maior
bientes é possível estabelecer estratégias quantidade de espécies de formigas espe-
para conservação e avaliar a sua eficiência. cialistas, enquanto que no reflorestamen-
Assim, medidas têm sido tomadas visando to haja mais generalistas. O que leva a uma
entender o funcionamento dos ambientes maior similaridade no uso dos recursos no
para então minimizar os impactos por meio reflorestamento que no remanescente.
de técnicas como, por exemplo, recuperação
de áreas degradadas. Materiais e métodos
As formigas respondem efetivamente as al- Área de estudo
terações do ambiente, por isso, são usadas Este estudo foi realizado na Fazenda São Ni-
como bioindicadores na detecção de inú- colau, situada no município de Cotriguaçu,
meros impactos (ver Lassau e Hochuli, 2004), Mato Grosso, em uma área de refloresta-
consequentemente, são ótimas para avaliar mento de Tabebuia sp. e uma área de rema-
respostas biológicas decorrentes de alte- nescente da floresta Amazônica. A área de
rações ambientais, uma vez que a riqueza reflorestamento apresenta variabilidade no
e composição de espécies são fortemente arranjo vegetacional, havendo partes com
influenciadas por mudanças na comple- predominância de gramíneas, outras com
xidade do ambiente (Leal, 2003). Mas são espécies arbustivas e também arbóreas. Os
especialmente importantes e representati- indivíduos de Tabebuia sp. no refloresta-
vas como bioindicadores por responderem mento são distribuídos a uma distância de
a mudanças de modo similar a outros taxa 2x3 metros. Na mata nativa havia grande

84 85
quantidade das pioneiras embaúbas (Cecro- Fig.1. Riqueza relativa de espécies de formigas em área de recursos, diferentes áreas de nidificação FITTKAU, E.J.; KLINGE, H., 1973. On biomass
pia sp.) e babaçus (Orbignya speciosa) (LO- de mata nativa e de reflorestamento de Ipê (Tabebuia e interação com outros organismos. A rela- and trophic structure of the Central Amazo-
RENZI, 2002). sp.) em três amostras pareadas na Fazenda São Nicolau, ção positiva entre diversidade das comuni- nian rain forest ecosystem. Biotropica, 5: 2 –
Coleta de dados Cotriguaçu, MT. dades de formigas e complexidade estrutu- 14.
Foram realizados três conjuntos de amostras Não houve diferença na especificidade por ral dos ambientes já foi observada, mesmo
parte das espécies de formigas na utilização quando comparando áreas com diferentes HÖLLDOBLER, B. e WILSON, E.O., 1990. The
pareadas (uma no remanescente e outra no Ants. Cambridge, Belknap/Harvard Universi-
reflorestamento) a cada 100 metros. Cada das iscas entre as áreas (P=0,69 t=-0,46), in- tipos de vegetação (Leal, 2002). A riqueza e
dicando que muitas espécies similares foram a diversidade de espécies devem aumentar ty Press, 732p.
amostra era composta por quatro pares de
iscas (sardinha e mel), distantes 15 metros coletadas em ambas as iscas, tanto no reflo- em ambientes mais complexos, pois, nesses,
LASSAU, S.A. e HOCHULI, D.F. 2004. Effects of
entre si, formando um quadrado. Cada par restamento, quanto na mata nativa. a oferta de nichos para as espécies é maior
habitat complexity on ant assemblages. Eco-
tinha dois metros de distância entre si. Os (Pianka, 1994).
graphy. 27: 157-164.
conjuntos de amostras foram colocados a Não houve diferença na especificidade por
20 metros de distância da borda de ambas parte das espécies de formigas na utilização LEAL, I.R. 2002. Diversidade de formigas no
as áreas. das iscas entre as áreas. Esse resultado pode estado de Pernambuco, p.483-492. In J.M.
Depositamos as iscas em folhas de papel to- ser consequência de uma maior disponibi- Silva & M. Tabarelli (eds.), Atlas da biodiversi-
alha, colocados diretamente sobre o solo e lidade de recursos no reflorestamento ou dade de Pernambuco. Editora da Universida-
recolhidas após um intervalo de tempo que consequência da amostragem próximas à de Federal de Pernambuco, Recife.
variou entre 30 minutos e 1 hora. Os papéis borda. É possível que em direção ao centro
da mata nativa se encontre mais espécies es- LEAL, I.R. Dispersão de sementes por formi-
toalha recolhidos foram colocados em potes
pecialistas, restritas à esse ambiente. gas na caatinga, p.435-460. In: I.R. Leal, M. Ta-
plásticos para posterior triagem dos espé-
A riqueza e a similaridade no uso dos recur- barelli & J.M. Silva (eds.). Ecologia e conser-
cimes. Em seguida o material coletado foi
sos por espécies de formigas não indicaram vação da caatinga. Editora da Universidade
morfotipado.
Fig.2. Similaridade (Jaccard) entre as amostras de for- diferenças entre a área remanescente de Federal de Pernambuco, Recife, 2003. 802p.
Análise de dados
migas atraídas por dois tipos de iscas (mel e sardinha) floresta Amazônica e de reflorestamento de
Para testar a diferença de riqueza relativa de LORENZI, H., 2002. Árvores Brasileiras. Manu-
entre a área de mata nativa e de reflorestamento na Fa- Tabebuia sp. Este resultado indica que o re-
formigas, e a similaridade na utilização dos al de identificação de plantas arbóreas nati-
zenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT. florestamento de ipê amostrado apresenta
recursos, foi feito teste t pareado. A simila- vas do Brasil. Vol.2. 2º Ed. São Paulo.
estrutura e condições favoráveis ao estabe-
ridade no uso dos recursos (mel e sardinha) Discussão lecimento da fauna de formigas. MAGURRAN, A.E. & HENDERSON, P.A., 2003.
entre a área de mata nativa e de refloresta-
O fato da riqueza relativa de espécies na Explaining the excess of rare species in natu-
mento foi medida usando índice de simila- Referências bibliográficas
mata nativa não ter sido tão grande quanto ral species abundance distributions. Nature.
ridade de Jaccard e os valores foram poste-
no reflorestamento, não corroborou com a Vol.42.
riormente submetidos ao teste t.
hipótese proposta de que haveria um núme- ALONSO, L.E., 2000. Ants as Indicators of Di-
versity. In: AGOSTI, D.; MAJER, J.D..; ALONSO, PIANKA, E. 1994. Evolutionary ecology. 5th
Resultados ro maior de espécies na mata pela maior dis-
ed, New York, Harper Collins College Pu-
ponibilidade de recursos nesses ambientes. L.E. & SCHULTZ, T.R. Ants, standard methods
A riqueza relativa de espécies na mata nati- Todavia, a semelhança no número de espé- for measuring and monitoring biodiversity. blishers, 484p.
va não foi tão grande quanto no refloresta- cies em ambas as áreas, pode indicar condi- 1. ed., Smithsonian Institution Press, Washin-
OVERAL, W.L. 2001. O peso dos invertebra-
mento nos conjuntos pareados de amostras ções similares entre estes ambientes. Houve gton 6: 80-88.
dos na balança de conservação biológica da
(P=0,095 t=3,0) (Fig.1). um número de espécies além do esperado
CARROL, C. R; JANZEN, D. H, 1973. Ecology of Amazônia. In: Biodiversidade na Amazônia
no reflorestamento, que pode estar permi- Brasileira: avaliação e ações prioritárias para
14
foraging ants. Ann. Rev. Ecol. Syst., n.4, p.231-
tindo a resiliência de espécies da mata. Este
Número de espécies por amostra

12
257. a conservação, uso sustentável e repartição
10 fato pode ser justificado pelo incremento na de benefícios/ organizadores. Ribeiro, J.P. et
8 qualidade estrutural desse reflorestamento. CASTRO, A. G; QUEIROZ, M. V. B; ARAÚJO, L. al. Editora Estação Liberdade. Instituto So-
6 Esta área já apresenta certa variabilidade na M., 1989. Estrutura e diversidade de comu- cioambiental. São Paulo.
4 composição da vegetação – há presença de nidades de formigas em pomar de citrus.
2 gramíneas, arbustos e até mesmo árvores Anais. Sociedade Entomológica do Brasil,
0
1 2
nativas, promovendo maior disponibilidade n.18, p.229-246.
Áreas

86 87
FORMAÇÃO DE GRUPO, respiração aérea de modo que se benefi- divíduos, qualificação dos comportamen- vamos que a ocorrência de respiração aérea
UMA ESTRATÉGIA DO ciam na defesa contra pressão de predado- tos que seriam amostrados e padronização em grupo é três vezes maior que a solitária,
res. Adicionalmente acreditamos que haja de metodologia entre os observadores, 2) isso evidencia a formação de grupos (Fig.1).
‘JEJÚ’ (HOPLERYTHRINUS
mudança nesse comportamento ao longo amostragem de sequência – em que se ob-
UNITAENIATUS) (CHARACIFORME do dia em horários de maior insolação, pois serva a sequência de um comportamento
- ERYTHRINIDAE) NA RESPIRAÇÃO provavelmente estão correlacionados com dividindo em etapas. Fizemos 13 seções de
250

AÉREA EM UM TRECHO DE UM

Número de respiração aérea


a deplessão de oxigênio dissolvido. Como 10 minutos, com intervalos de no mínimo 5 200

IGARAPÉ REPRESADO em ambientes lênticos pode haver hipóxia, minutos entre elas e divididas em duas fases, 150
a respiração acessória torna-se importante, 10 no período da manhã e 3 no período da
Silvana Cristina Hammerer de Medeiros 1, Marilene Lei-
tornando os indivíduos nessas condições tarde totalizando 130 minutos de observa- 100

te2, Daniela Monteiro2 e Ricardo Eduardo Vicente


particularmente vulneráveis à predação. In- ção ao longo do dia. 50
divíduos que sincronizam sua respiração aé- Nas observações de respiração contamos o
Orientadora Dr. Lucélia Carvalho

N
rea podem subir à superfície num intervalo número de indivíduos que respiravam jun-
0
Sozinho Grupo
a relação predador-presa, a pres- de tempo menor, enquanto os indivíduos tos, cronometramos a duração do tempo
são exercida pelos predadores solitários gastam maior tempo na observa- gasto desde o primeiro até o ultimo indiví-
pode acarretar em desenvolvimen- ção de possíveis predadores, aumentando o Fig.1. Número de eventos de respiração aérea em grupo
duo do grupo a respirar, e marcamos o inter-
to de estratégias de defesas variadas. Um intervalo na respiração aérea. Neste trabalho e solitários de Hoplerythrinus unitaeniatus em um tre-
valo de tempo entre cada evento de respira-
exemplo é o efeito de diluição, onde um gru- pretendemos responder às seguintes per- cho de um igarapé represado na Fazenda São Nicolau,
ção do grupo. Consideramos os eventos de
po de potenciais presas se reúne provisória guntas: (a). Há sincronia na respiração aérea Cotriguacú – MT.
respiração realizado em grupo num deter-
ou permanentemente, esse comportamento pelo Hoplerythrinus unitaeniatus? (b). Caso minado intervalo de tempo como um even-
diminui a probabilidade de morte por parte haja, este comportamento pode diferenciar A proporção de indivíduos respirando sozi-
to sincronizado. Indivíduos respirando sozi-
das presas (ALCOCK, 2001). Outra estratégia ao longo do dia e entre grupos e indivíduos nhos foi menor às 10:30h e teve um aumento
nhos foram contabilizados individualmente.
utilizada por grupos de animais é o efeito de solitários? (c). Existe uma relação entre o nú- à partir das 11:10h com um leve decréscimo
confusão, realizado para confundir o preda- Análise de dados
mero de indivíduos de um evento e o inter- as 16:19h (Fig.2). Os eventos de respirações
dor. Outras estratégias compreendem defe- Para analisar se há sincronia no comporta-
valo de tempo para o próximo? em grupo não variaram ao longo do dia. A
sas químicas e morfológicas que diminuem mento de respiração aérea, somamos todos
maior quantidade de eventos de respiração
o risco de injúria em um encontro com o pre- Materiais e métodos os eventos de respiração aérea em grupo e
em grupo foi às 10:30h (Fig.2). Não encon-
dador (BEGON, et al. 2007). todos onde havia apenas um indivíduo ao
tramos diferença na distribuição de eventos
Área de estudos longo do dia para comparação por inspeção
A espécie Hoplerythrinus unitaeniatus, po- solitários e em grupo (s=0,43), bem como re-
Este estudo foi realizado na Fazenda São Ni- gráfica. Para avaliar se a sincronia mudava ao
pularmente conhecida como “Jejú”, é um lação positiva entre o número de indivíduos
colau, situada no município de Cotriguaçu, longo do dia, fizemos a distribuição da pro-
peixe carnívoro, com preferência por am- de um evento respiratório e o intervalo de
Mato Grosso. A observação foi feita em um porção da frequência entre respiração aérea
bientes lênticos (DOMINGOS, 2008). Esta es- tempo para o próximo (r=0,01).
trecho de represa natural medindo aproxi- por indivíduos solitários e em grupo. A for-
pécie apresenta respiração aérea facultativa,
madamente 4 metros de lagura de um igara- ma da distribuição de eventos de grupos e
e é comum em regiões tropicais. O órgão 100

pé. A vegetação de entorno do trecho amos- solitários foi comparada utilizando o teste 90

da respiração acessória é a bexiga natató- 80

não paramétrico Kolmogorov-Smirnov no

Eventos de tomada de ar (%)


ria, bastante vascularizada e adaptada para trado é composto em sua maior parte por 70

programa estatístico Systat. Para analisar se


60

esta função (KRAMER, 1978). A necessidade Buritis (Mauritia flexuosa) e por vegetação 50

arbustiva. A água apresentava a cor marrom existe relação entre o número de indivíduos 40

de respiração aérea por esses peixes pode 30

clara permitindo a entrada de luminosidade. de um evento e o intervalo de tempo para o 20

aumentar a chance de serem predados por 10

Coleta de dados próximo, utilizamos correlação de Spearman 0

aves, visto que, para isso eles precisam ir 09:20 09:35 10:00 10:30 10:45 11:10 16:06 16:19 16:33

no programa estatístico BioStat 2009. Horário

constantemente a superfície da água, se ex- As observações de respiração aérea de H.


Fig.2. Número de eventos de respiração aérea de indi-
pondo a ataques de aves aquáticas piscívo- unitaeniatus foram realizadas em duplas de
víduos solitários (cinza) e em grupo (preto) distribuídos
ras. observadores utilizando as seguintes técni-
Resultados ao longo do dia em um trecho do igarapé represado na
A nossa hipótese é de que existem indi- cas: 1) técnicas de todas as ocorrências (ou
Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu - MT.
víduos de jejú vivendo nesse ambiente e ad libitum) - que foi realizado no início da Através da comparação de respiração aérea
usam o efeito de diluição sincronizando a observação para familiarização com os in- por indivíduos solitários e em grupo, obser-

88 89
curto não o expondo por muito tempo ao
Discussão
ar atmosférico, portanto, esse é um o fator
O número de eventos de respiração aérea fisiológico necessário a sua sobrevivência,
realizados em grupo demonstra um com- não havendo variação entre os intervalos de
portamento que pode estar ligado à estra- tempo de respirar em grupo ou sozinho, em-
tégias conhecidas na literatura como efeito bora ESTEVES e HOLETON, (1978) apud MA-
de diluição, que diminui a probabilidade de RIANO et, al (2009) afirmam que os mesmos
um indivíduo do grupo ser predado. Outro consigam sobreviver até 24 horas em meio
efeito causado por esse comportamento é o aéreo.
efeito de confusão que dificulta a habilida- O tempo de observação foi suficiente para
de de possíveis predadores (ALCOCK, 2001), concluir que existe formação de grupos em
por exemplo, das aves piscivoras, confundin- H. unitaeniatus. Os intervalos de tempo dos
do-as e dificultando sua concentração. Esse eventos de respiração aérea em grupo ou so-
efeito pode ter contribuído para a formação zinho não variaram estatisticamente estan-
desses grupos, reforçando a coesão e dimi- do condicionada a necessidade fisiológica
nuindo os riscos individuais. dos mesmos.
Segundo KRAMER, (1978) e JUCA CHAGAS,
(2004) apud MARIANO et, al (2009) durante Resultados
severa hipóxia e anóxia, o oxigênio é absor-
vido via bexiga natatória, o que permite a so- ALCOOK, J. 2001. Animal Behavior – na evo-
brevivência do jeju no período de estiagem. lutionary approach. 7ºed. Massachusetts.
Essa adaptação fisiológica pode ter contri- p.204-205.
buído para a manutenção da quantidade de BEGON, M., TOWNSEND, C.R., HARPER,
eventos de respiração ao longo do dia, visto J.L.,2007. Ecologia: de indivíduos a Ecossiste-
que, os mesmos não responderam aos pi- mas. Artmed. 4º Ed., p.83.
cos de insolação e a provável diminuição do
oxigênio dissolvido. Esse mesmo comporta- DOMINGOS, T.J. 2008. Pantanal Norte: Estu-
mento foi observado nos eventos de respi- dos integrados com vistas à conservação;
ração individual, o que corrobora com essa efeito da densidade e do tamanho na dieta
afirmação. do ciclídeo Cichlasoma dimerus em áreas sa-
As características do ambiente, como a dis- zonalmente alagáveis do rio Cuiabá, Panta-
ponibilidade de oxigênio, temperatura e pH, nal. Relatório Final PIBC/VIC.
restringem a ocorrência de muitas espécies MARIANO, V. S. OBA, E. T. SANTOS, L. R. B. FER-
nesses locais. O pH pode atuar diretamen- NANDES, M. N. Respostas fisiológicas do jeju
te pela perturbação da osmorregulação, da (Hoplerythrinus unitaeniatus) exposto ao ar
atividade enzimática ou das trocas gasosas atmosférico. Rev. Bras. Saúde Prod. An., v. 10,
através das superfícies respiratórias (BEGON, n. 1, p. 210-223, jan/mar, 2009.
2007). Da mesma forma, se o indivíduo ficar
exposto ao ar atmosférico por muito tempo KRAMER, D.L., 1978, Ventilation of the respi-
poderá ocorrer várias alterações fisiológi- ratory gas bladder in Hoplerithrynus unita-
cas, como demonstrado por MARIANO et, eniatus (Pisces, Characoidei, Erythrinidae),
al (2009), sendo estas alterações resultado Can. J. Zool., V. 56, p. 931-938.
de respostas fisiológicas ao estresse. O jeju
RICKEFS, R. E.,2003. A economia da natureza.
estudado demonstra necessidade de res-
Editora Guanabara 5ª edição.
piração aérea, por estar em um igarapé re-
presado, mas o tempo de respiração é muito

90
M E S O A R T R Ó P O D E S Logo, modificações do habitat podem alte- do tronco em contato com o solo e termina-
ASSOCIADOS A TRONCOS rar drasticamente a composição da comu- vam pela desintegração do tronco, come- 16

nidade de artrópodes, pois alguns grupos çando pela retirada da casca, utilização de
CAÍDOS EM DECOMPOSIÇÃO EM
como os diplópodes, são particularmente facão para quebra do cerne e abertura das
ÁREAS DE FLORESTA OMBRÓFILA sensíveis a elevadas temperaturas e baixa galerias formadas pelos detritívoros. Todos 12
DENSA E REFLORESTAMENTO

N° de espécies
umidade (Coleman et al., 2004). Portanto, os mesoartrópodes encontrados foram cole-
DE TECA (Tectona grandis) NA estes organismos podem ser os primeiros a tados e fixados em álcool 80%, e levados ao
FAZENDA SÃO NICOLAU, MATO desaparecerem em áreas de reflorestamento laboratório para identificação. 8

GROSSO monoespecíficos, onde o maior espaçamen- A similaridade dos mesoartrópodes entre as


to entre as árvores pode gerar uma maior áreas foi calculada pelo Índice de Jaccard e 4
penetração de luminosidade, diminuindo a para testar o efeito do volume do tronco e
Jocieli de Oliveira, Ricardo Eduardo Vicente, Tiago José
umidade e elevando a temperatura local. das áreas de mata nativa e reflorestamento
Domingos e João Alves de Lima Filho
Considerando os mesoartrópodes (artrópo- sobre o número de espécies de mesoartró- 0
Orientador: Dr. Fernando Vaz de Mello des > 2 mm) associados aos troncos caídos Mata Nativa Reflorestamento de Teca

em decomposição, hipotetizamos que áreas Introdução Ambiente


Introdução com mata nativa apresentam diferenças na

O
Fig. 1 – Número de espécies de mesoartrópodes encon-
s artrópodes são organismos que composição e maior riqueza dos artrópodes podes, foi realizada Análise de Covariância
trados em troncos caídos na mata nativa e refloresta-
desempenham funções funda- em relação à mata de reflorestamento por (ANCOVA).
mento de Teca, na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú –
mentais nos ecossistemas terres- teca (Tectona grandis), devido esta última
MT.
tres, por estarem envolvidos em diversos representar um ambiente menos complexo, Resultados
processos, dentre os principais a decompo- com menor disponibilidade de micro-ha-
Foram encontradas 71 espécies de mesoar- 16
sição e a ciclagem de nutrientes, (Antonini et bitats favoráveis a comunidade de mesoar-
trópodes, sendo 54 exclusivamente registra-
al., 2003, Marques et al., 2006). A decompo- trópodes. Este estudo teve como objetivo
das para mata nativa, 14 na área de reflores- 12
comparar a composição e riqueza de meso-

N° de espécies
sição é um importante processo de desinte- tamento e apenas três ocorreram em ambas AMBIENTE
gração gradual da matéria orgânica morta, artrópodes em troncos caídos em decompo- Mata Nativa
áreas (Tab. 1 - anexo), havendo baixa simila- 8
que implica na liberação de energia e a mi- sição nas áreas de mata nativa e refloresta- Reflorestamento de Teca

ridade dos mesoartrópodes entre as áreas


neralização de nutrientes químicos, trans- mento por teca (Tectona grandis).
(J=0,04). Das 71 espécies de artrópodes en- 4
formando compostos orgânicos em inorgâ- contradas, 31 são consideradas detritívoras
nicos e disponibilizando-os aos produtores Materiais e métodos
e 6 micetófagos, sendo que as 6 espécies de 0
0
primários (Townsend et al., 2006). Foram realizadas coletas em áreas de Re- micetófagos e 21 espécies de detritívoros
5000 10000 15000
Volume do tronco (cm³)
20000

A ação fragmentadora dos artrópodes de- florestamento por teca (Tectona grandis) e (67%) ocorreram em área de floresta; 13 es-
Fig. 2 – Relação entre o volume de troncos caídos e a
tritívoros desempenha um papel-chave nos Mata Nativa da Fazenda São Nicolau, Cotri- pécies de detritívoros ocorreram em área de
riqueza de mesoartrópodes em uma área de mata na-
ambientes terrestres favorecendo a decom- gaçú – MT. As áreas de monocultura de teca teca, das quais três também ocorreram na
tiva e de reflorestamento de teca (Tectona grandis) na
posição de matéria morta, beneficiando o foram os talhões 24 (a e b) e 58, localizados área de floresta.
Fazenda São Nicolau, Cotriguaçú – MT.
estabelecimento de organismos decompo- ao sul e oeste da área de Mata Nativa, res- Foram encontrados maior número de espé-
sitores por meio das perfurações na casca pectivamente. Nas áreas de coleta, foram cies de mesoartrópodes em troncos caídos Discussão
externa do caule aumentando a colonização procurados troncos em decomposição para da mata nativa que em troncos caídos do
fúngica da madeira morta mediante o trans- a coleta de mesoartrópodes. Um total de 16 reflorestamento de teca (p=0,003) (Fig. 1), A baixa similaridade dos mesoartrópodes
porte dos fungos (Begon et al., 2007). troncos foi utilizado, sendo nove na mata na- Em ambos os casos, o volume do tronco não entre as áreas reflete a diferença de habi-
Artrópodes associados a troncos caídos tiva e sete no reflorestamento por teca. influenciou na riqueza (p=0,63), assim como tats em relação às necessidades fisiológicas
além de favorecem a decomposição, con- Em cada tronco foram obtidas medidas do a relação entre a riqueza e volume não foi e ecológicas de cada espécie. O número de
trolam populações quando predadores ocu- diâmetro e comprimento, para obtenção influenciada pelo tipo de local (p=0,19) (Fig. espécies encontradas na área de refloresta-
pam estes microhabitats, que podem variar do volume de cada tronco. Após as medidas 02). mento de teca (Tectona grandis) pode refle-
de acordo com a integridade funcional das foi realizada busca ativa pelos artrópodes tir a homogeneidade do ambiente, devido
florestas em decorrência de diferenças na durante 20 minutos. As buscas se iniciavam ser uma monocultura que favorece o esta-
complexidade ambiental entre ambas. pela superfície, seguiam pela região inferior belecimento de poucas espécies. Já o maior

92 93
número de espécies de mesoartrópodes em ZINI, M. J., 2003, Insetos. In: RAMBALDI, D.M.
Anexos
floresta de mata nativa, principalmente os & OLIVEIRA, D.A.S. (orgs.). Fragmentação de
insetos (78% dos artrópodes encontrados) ecossistemas: causas, efeitos sobre a biodi- Tab. 1 – Composição de mesoartrópodes associados aos troncos em decomposição em áreas de mata nativa e re-
pode estar relacionado à diversidade vege- versidade e recomendações de políticas pú- florestamento de Teca. a- número de troncos ocupados por mesoartrópodes na mata nativa; b- número de troncos
ocupados por mesoartrópodes na área de reflorestamento de Teca; c- D=detritívoro; M=micetófago; P=predador;
tal deste ambiente, pois de acordo com Cas- blicas. Brasília: MMA. 510 p. H=herbívoro; Pa=parasita.
tillo & Lobo (2004), a heterogeneidade quí-
Hábito alimentar
mica e morfológica das árvores tropicais que BEGON, M., TOWNSEND, C. R. & HARPER, J.L.,
Espécies Mata a Reflorestamento b c

Não identificado 1 (Acari) 3 - Pa


pode afetar a diversidade de insetos. Outro 2007, Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Não identificado 1 (Blattodea - ninfa) 3 - D

fator que pode ter influenciado na diferen- 4a ed. Ed. Artmed, Rio de Janeiro, 752p.
Não identificado 1 (Diplopoda)
Não identificado 2 (Acari)
3
3
-
-
D
Pa

ça da riqueza e composição entre as áreas, Não identificado 2 (Diplopoda)


Não identificado 4 (Diplopoda)
3
3
-
-
D
D
pode ser devido as florestas de mata nativa Não identificado (Coleoptera Erotylidae) 2 - M

apresentarem maior umidade em relação CASTILLO, M.L. & LOBO, J.M., 2004, A compa- Não identificado (Hemiptera sp1)
Não identificado 3 (Diplopoda)
2
2
-
-
H
D

às áreas de reflorestamento, favorecendo o rison of Passalidae (Coleoptera, Lamellicor- Ptichopus sp. (Coleoptera Passalidae) 2 - D
Crematogaster sp.1 (Hymenoptera Formicidae) 1 - G

estabelecimento de maior número de espé- nia) diversity and community structure be- Cyphomyrmex (Hymenoptera Formicidae) 1 - M
Hypoponera sp.(Formicidae) 1 - P
cies detritívoras e micetófagas, como obser- tween primary and secondary tropical forest Não identificada (Coleoptera Tenebrionidae - larva) 1 - D

vado neste trabalho, pois a umidade auxilia in Los Tuxtlas, Veracruz, Mexico. Biodiversity Não identificado 1 (Araneae)
Não identificado 2 (Araneae)
1
1
-
-
P
P

no estabelecimento dos fungos, protege os and Conservation 13: 1257–1269. Não identificado (Coleoptera Elateridae - larva) 1 - P
Não identificado (Coleoptera Melolontidae - larva) 1 - D

organismos contra dissecação, assim como Não identificado (Coleoptera Phalacridae)


Não identificado (Collembola Entomobryomorpha)
1
1
-
-
M
D
favorece o processo de decomposição dos COLEMAN, D.C.; CROSSLEY, D.A. & HENDRIX, Não identificado (Dermaptera) 1 - D/P
Não identificado 1 (Blattodea ) 1 - D
troncos caídos. P.F., Fundamentals of Soil Ecology. 2ªed. 205 Não identificado 1 (Chilopoda Scolopendromorpha) 1 - P
Não identificado 1 (Coleoptera Endomychidae) 1 - M
A relação espécie-área, um pressuposto da pp. San Diego, CA, USA: Academic Press, Não identificado 1 (Coleoptera Staphylinidae) 1 - P/M
Não identificado 1 (Coleoptera Tenebrionidae) 1 - D
Teoria de Biogeografia de Ilhas, prevê que 2004. Não identificado 1 (Collembola) 1 - D

áreas maiores comportam um maior núme- Não identificado 1 (Hymenoptera Formicidae Ponerinae)
Não identificado 1 (Hymenoptera Formicidae)
1
1
-
-
P
G

ro de espécies (Fahrig, 2003, Gascon et al., FAHRIG, L., 2003, Effects of habitat fragmen-
Não identificado 1 (Opiliones)
Não identificado 1 (Scorpiones)
1
1
-
-
P
P
2001 ). Porém, não encontramos uma rela- tation on biodiversity. Annu. Rev. Ecol. Evol.
Não identificado 10 (Diplopoda) 1 - D
Não identificado 2 (Blattodea) 1 - D
ção significativa entre a riqueza e o volume Syst. 34: 487-515. Não identificado 2 (Coleoptera Endomychidae) 1 - M
Não identificado 2 (Coleoptera Erotylidae) 1 - M
do tronco, pois o número de indivíduos por Não identificado 2 (Formicidae) 1 - G

tronco pode estar mais relacionado à dispo- Não identificado 3 (Araneae)


Não identificado 3 (Blattodea)
1
1
-
-
P
D
nibilidade de recursos e variações microcli- GASCON, C., LOVEJOY, T.E., MESQUITA, R. Não identificado 4 (Araneae) 1 - P

máticas locais. (eds.), 2001, Lessons from Amazonia: The Não identificado 4 (Formicidae)
Não identificado 5 (Araneae)
1
1
-
-
G
P
ecology and conservation of fragmented fo- Não identificado 6 (Araneae) 1 - P
Assim, concluiu-se que a riqueza e compo- Não identificado 7 (Araneae) 1 - P
rest. Yale University Press, New Haven, Con- Não identificado 8 (Araneae) 1 - P
sição diferiram entre as áreas, mas, que essa Pachycondyla sp.2 (Formicidae) 1 - P
necticut, and London, United Kingdom, 478.
variação não foi influenciada pelo volume Pachycondyla sp1 (Hymenoptera Formicidae)
Passalus sp.1 (Coleoptera Passalidae)
1
1
-
-
P
D

do tronco, podendo estar relacionada com Pertinax sp (Coleoptera Passalidae)


Pheidole sp.1 (Formicidae)
1
1
-
-
D
P
outras características do microhabitat não MARQUES, M. I., ADIS, J., G. SANTOS, B. & BAT- Pheidole sp.2 (Formicidae) 1 - P
Pheidole sp.4 (Formicidae) 1 - P
abordadas neste estudo, deste modo, suge- TIROLA, L. D., 2006, Terrestrial arthropods Pheidole sp.5 (Formicidae) 1 - P

rimos que trabalhos posteriores investiguem from tree canopies in the Pantanal of Mato Strumigenys sp. (Formicidae)
Wasmannia sp.1 (Hymenoptera Formicidae)
1
1
-
-
P
P

a relação com as características do microha- Grosso, Brazil. Revista Brasileira de Entomo- Não identificado (Isoptera) 4 1 D
Não identificado 5 (Diplopoda) 1 2 D
bitat tais como a diferença da umidade entre logia 50(2): 257-267. Não identificado 8 (Diplopoda) 1 1 D
Não identificado 1 (Myriapoda) - 2 D
os ambientes e o estado de decomposição Não identificado (Coleoptera Limexylonidae - larva) - 1 D/P
Não identificado (Scorpiones) - 1 P
do tronco. TOWNSEND, C.R., BEGON, M. & HARPER, J. L., Não identificado 1 (Coleoptera Carabidae) - 1 P
Não identificado 2 (Coleoptera Carabidae) - 1 P
2006, Fundamentos de Ecologia. 2a ed. Ed. Não identificado 2 (Coleoptera Tenebrionidae - Larva) - 1 D
Referências bibliográficas Artmed, Rio de Janeiro, 592p.
Não identificado 2 (Coleoptera Tenebrionidae) - 1 D
Não identificado 3 (Coleoptera Tenebrionidae - larva) - 1 D
Não identificado 3 (Coleoptera Tenebrionidae) - 1 D
ANTONINI, Y., ACCACIO, G. M.; BRANT, A., CA- Não identificado 4 (Coleoptera Tenebrionidae - larva) - 1 D
Não identificado 6 (Diplopoda) - 1 D
BRAL, B. C., FONTENELLE, J. C. R., NASCIMEN- Não identificado 7 (Diplopoda) - 1 D

TO, M. T., THOMAZINI, A. P. B. W. & THOMA- Não identificado 9 (Diplopoda)


Pheidole sp.3 (Formicidae)
-
-
1
1
D
P

94 95
A PRESENÇA DE GADO EM ÁREAS da vegetação (Barbosa & Fernandes, 2003). tivariada (MANOVA). Para estas análises foi T axa Com gado Sem gado

DE REFLORESTAMENTO MISTO Conhecendo-se o efeito do pastejo sobre a utilizado o software Systat.. Aranae sp. 10

INFLUENCIA A RIQUEZA DE riqueza vegetal e da gama de relações dos Aranae sp. 7


artrópodes com a vegetação, provavelmen- Resultados
ARTRÓPODES? Aranae sp. 8
te o pastejo por gado em áreas de pastagem Identificamos 45 espécies de artrópodes Aranae sp. 9
com reflorestamento pode influenciar o nú- coletadas nos dois ambientes, sendo 23 na Blattodea sp. 1
Ricardo Eduardo Vicente, Silvana Cristina Hammerer de mero de espécies, composição e abundância
área com gado e 28 na área sem gado. Não Membracidae sp. 1
Medeiros, Marilene Conceição Surubim Leite, Daniela da de artrópodes esperando que este seja dife-
encontramos diferença na riqueza média de Auchenorryncha sp. 7
Silva Monteiro rente entre os tipos de ambientes. espécies de artrópodes entre as áreas (t= Auchenorryncha sp. 8
Orientadores: Roberto M. Silveira1 e Thiago Junqueira
-0.6109, df = 4, p=0,5743; Figura 1). Coleoptera sp. 1
Izzo1 Materiais e métodos
Encontramos maior abundância de artrópo- Coleoptera sp. 2
1 Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conserva-
Área de estudo des em áreas sem gado, (Pillai Trace=0.679, Coleoptera sp. 3
ção da Biodiversidade, Instituto de Biociências, Univer-
Realizamos este estudo na Fazenda São Ni- F2,7=2,412, p=0,019). Também houve di- Meloidae sp. 1
sidade Federal de Mato Grosso.Cuiabá, Mato Grosso,
colau, situada no município de Cotriguaçu, ferença quanto a composição de espécies Meloidae sp. 2
Brasil.
Mato Grosso. Para tanto foram amostrados (Pillai Trace=0.752, F2, 7=10.634, p=0,008; Cephalotes clypeatus Fabricius
2 Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Uni- Tabela 1).
10 áreas de pastagem em recuperação flo- Orthoptera sp. 2
versidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Gran-
restal, onde foi realizado um reflorestamen- Orthoptera sp. 3
de, Mato Grosso do Sul, Brasil.
to misto, composto por espécies nativas com Aranae sp. 1
predominância de figueiras (Ficus sp.). Des-
Introdução Auchenorryncha sp. 1
sas dez áreas, cinco apresentam pastejo por

E
Auchenorryncha sp. 6
spécies exóticas são aquelas que gado e cinco não.
Formicidae sp. 1
ocorrem fora do seu habitat natural. Coleta de dados Hymenoptera sp. 1
Algumas podem aumentar muito As áreas se encontravam distribuídas de for- Heteroptera sp. 1
em abundância a ponto de excluir espécies ma perpendicular, sendo as áreas com paste- Heteroptera sp. 3
nativas (Primack & Rodrigues, 2004). No caso jo por gado dispostas em frente a sem paste- Apidae sp. 1
de plantas, esse efeito pode ser amenizado jo. Estabelecemos cinco transectos de 200m
Anthicidae sp. 1
ou revertido pelo pastejo por herbívoros. O divididos em três pontos: aos 50m, aos 100m
Aranae sp. 2
pastejo pode promover coexistência de es- e aos 150m. Em cada um amostramos dois
pécies diminuindo a densidade de espécies Aranae sp. 3
pontos aleatórios, sendo um feito em área Figura 1 – Número médio de espécies de artrópodes em
competitivamente superiores que domina- que possui gado e outro em área sem pas- áreas de reflorestamento de espécies nativas com pre-
Aranae sp. 4

riam o sistema (exclusão competitiva) (Be- tejo de gado, mantendo uma distância fixa dominância de Ficus sp. na Fazenda São Nicolau, Cotri- Aranae sp. 5
gon et al., 2007). de 100m entre os tratamentos por transec- guaçu – MT. Aranae sp. 6

to. Em cada ponto, realizamos a coleta da Auchenorryncha sp. 2


Os artrópodes terrestres são organismos im-
portantes desempenhando funções funda- artropodofauna em um quadrante de apro- Tabela 1 – Lista de espécies de artrópodes em áreas de
Auchenorryncha sp. 3

mentais nos ecossistemas naturais. Alguns ximadamente 15m², com esforço amostral reflorestamento de espécies nativas com predominân-
Auchenorryncha sp. 4

destes agem como polinizadores, herbívo- de dois coletores realizando varredura com cia de Ficus sp. na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu –
Auchenorryncha sp. 5
ros, decompositores, ou ainda predando os puçá sobre a vegetação durante 3 minutos. MT. Curculionidae sp. 1
herbívoros, mantendo relações mutualísti- Análise de dados Camponotus sp. 1
cas ou antagonistas com a vegetação (Lucci- Para determinar se existe diferença quanto Cephalotes sp. 1
-Freitas et al., 2006; Romero & Vasconcellos- ao número de espécies de artrópodes entre Pseudomyrmex sp. 1
-Neto, 2005; Moulder & Reichle, 1972). Pela os tipos de ambientes foi realizado um tes- Orthoptera sp. 1
grande adaptação e diversificação do grupo te-t pareado. Para avaliar se existe diferen- Muscidae sp. 1
de forma a ocupar diversos nichos, os artró- ça quanto à abundância de artrópodes e a Muscidae sp. 2
podes podem responder a mudanças na di- composição de espécies entre os ambientes Muscidae sp. 3
versidade de outros grupos, principalmente realizamos uma Análise de variância mul- Heteroptera sp. 2
T enebrionidae sp. 1

96 97
BEGON. M.; TOWNSEND, C.R. & HARPER, J.L.. Monogr. 42:473-498. 1972.
Discussão
Ecology: From individuals to ecosystems.
Esperava-se que o pastejo por gado influen- Blackwell plublishing, 2007. PRIMACK, R.B. & RODRIGUES, E.. Biologia da
ciasse a riqueza de espécies de artrópodes conservação. Ed. Planta, Londrina: 2004.
por acreditar que o pastejo promove uma BELSKY, A. J., & D. M. BLUMENTHAL. Effects
maior diversidade de plantas reduzindo a of livestock grazing on stand dynamics and
ROMERO, G.Q. & VASCONCELLOS-NETO, J..
pressão exercida por uma espécie vegetal soils in upland forests of the interior west.
Flowering phenology, seed set and arthro-
dominante ou dispersando sementes (Jan- Conservation Biology 11:315–327. 1997.
pod guilds in Trichogoniopsis adenantha
zen, 1997, Griscom et al., 2009; Begon et al.,
(DC) (Asteraceae) in south-east Brazil. Rev.
2007). Porém, o resultado observado não de-
FLEISCHNER, T. L. Ecological costs of livesto- Bras. Bot., v.28, n.1, p.171-178, jan.-mar. 2005.
monstra diferença quanto à riqueza de artró-
ck grazing in western North America. Con-
podes entre as áreas com gado e sem gado.
servation Biology 8:629–644. 1994. ZIMMERMAN, B.L. & BIERREGAARD-JR., R.O..
Primariamente, isso poderia ocorrer em con-
sequência de uma baixa taxa de pastejo, que Relevance of the equilibrium theory of island
poderia não influenciar a dinâmica da rique- GASCON, C.; BIERREGAARD-JR., R.O.; LAU- biogeography and species-area relations to
za de espécies vegetais, e em consequência RANCE, W.F.; MERONA, J.R.. Deforestation conservation with a case from Amazonia. J.
a dos artrópodes. Outra possibilidade seria and fragmentation in the Amazon. In: BIER- Biog. 13:133-43.
que o efeito positivo do pastejo poderia REGAARD-JR., R.O.; GASCON, C.; LOVEJOY,
estar sendo amortecido por efeitos negati- T.E.; MESQUITA, R. (eds.). Lesson from Ama- Systat de SYSTAT Software, Inc. Versão 11.
vos (Fleischmer, 1994; Belsky & Blumethal, zonia: The ecology and conservation of frag- Ver: http://www.systat.com
1917). Por exemplo, tanto o pastejo quanto mented forest. Yale University Press, New
o pisoteio por gado pode danificar ou im- Haven, Connecticut, and London, United
pedir o desenvolvimento das plântulas que Kingdom, 478. 2001.
poderiam vir a se estabelecer nestes locais.
Além disso, a compactação do solo pode afe- GRISCOM, H.P.; GRISCOM, B.W. & ASHTON,
tar diretamente componentes da fauna que M.S.. Forest Regeneration from Pasture in the
constroem ninhos ou possuem exigências Dry Tropics of Panama: Effects of Cattle, Exo-
quanto à estrutura edáfica para reprodução, tic Grass, and Forested Riparia. Restoration
alimentação ou refúgio. Ecology v.17, n.1, pp. 117–126. 2009.
Tanto a composição de espécies de artrópo-
des quanto à abundância destes variou en-
JANZEN, D.H.. Florestas tropicais secas: O
tre os locais. Essa diferença pode estar rela-
mais ameaçado dos grandes ecossistemas
cionada à intensidade dos efeitos positivos
tropicais. In: WILSON, E.O.(ed). Biodiversida-
e negativos do pastejo por gado ou a outros
de. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1997.
fatores ambientais relacionados à ecologia
de paisagem, em detrimento das diferentes
exigências biológicas de cada espécie (Zim- LUCCI-FREITAS, A. V.; FRANCINI, R. B. &
merman & Bierregaard, 1986; Gascon et al., BROWN-JR, K. S.. Insetos como indicadores
2001). ambientais. In: CULLEN-JR., L. et al. Métodos
de estudos em biologia da conservação &
Referências bibliográficas manejo de vida silvestre. Universidade Fede-
ral do Paraná: Curitiba, 2006.
BARBOSA, L.P. & FERNANDES, W.D.. Bait re-
moval ants (Hymenoptera: Formicidae) in
managed and unmanaged Eucalyptus uro- MOULDER, B.C. & REICHLE, D.E.. Significance
phylla S.T. BLAKE fields. Braz. J. Ecol. 8: 61-63. of spider predation in the energy dynamics
2003. of forest-floor arthropod communities. Ecol.

98 99
COMPORTAMENTO DE CAPTURA ra: Belostomatidae) em tentativas de captura
Resultados
Figura 2. Duração das tentativas individuais de captu-

DE GIRINOS DE PHYLLOMEDUSA de sua presa Phyllomedusa vaillanti (Anura: ra realizadas por Belostoma sp. entre 1- sozinho e 2- em
Hylidae), avaliando se: 1) O tempo entre as O tempo de duração das tentativas de cap- dupla.
VAILLANTI (ANURA: HYLIDAE)
tentativas de captura de um indivíduo solitá- tura realizado por Belostoma sp. sozinho
POR BELOSTOMA SP. (HEMIPTERA: rio e de uma dupla são diferentes; 2) O tem- no aquário foi maior (15 segundos) que em O número de tentativas individuais de cap-
BELOSTOMATIDAE) po entre as tentativas de captura individual dupla (10,6 segundos) (t=2,41; gl=24,99; turas realizadas por Belostoma sp. variou
é diferente quando sozinho ou em dupla; e p=0,02). Quando sozinho o predador (Be- entre os tratamentos. Os indivíduos de Be-
Adarilda Petini Benelli, Jhany Martins Dos Santos, Mile- 3) O número de tentativas de captura é dife- lostoma sp.) permanecia por mais tempo lostoma sp. realizam mais tentativas de indi-
ne Garbim Gaiotti, Tiago José Domingos rente quando os indivíduos estão sozinhos e realizando a atividade de tentar capturar as viduais no tratamento com dois indivíduos
Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia em dupla. presas (Figura 1). (Figura 3).
e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal
de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°,
Materiais e métodos
CEP: 78060-900, Cuiabá – MT. Coletamos girinos de P. vaillanti e baratas
Orientadora: Profª Dra. Lúcia Aparecida Mateus d’água do gênero Belostoma (predador de
girinos) em igarapés localizados na Fazenda
Introdução São Nicolau ONF- Brasil, município de Co-
triguaçu, estado de Mato Grosso. Todos os
Os predadores são bem adaptados para per-
indivíduos foram coletados com puçá e pe-
seguir, capturar e comer determinados tipos
neira de arame e, em seguida, armazenados
de presas, mas consomem tempo e energia
em sacos plásticos contendo água coletada
com essa atividade. Essa energia gasta é re-
no mesmo local em que foram encontrados.
posta através do consumo de uma a várias
Em bandejas, colocamos 500 ml dessa água
presas, dependendo de seu tamanho e de
e cada uma continha 10 indivíduos de P.
sua presa (Townsend et al., 2006; Ricklefs,
vaillanti sendo expostos a dois tratamentos:
2003). Em ambientes naturais essa interação
o primeiro com um indivíduo de Belostoma
pode ser observada em processos mais ou
sp. e o segundo com dois indivíduos de Be- Figura 1. Tempo despedido em tentativas de captura re-
menos regulares e contínuos, dependendo Figura 3. Número de tentativas individuais de captura
lostoma sp. alizadas pelos indivíduos de Belostoma sp. em aquários
das condições e dos recursos que esses am- realizadas por Belostoma sp. entre os tratamentos 1- so-
bientes propiciem a ambos, predador e pre- Cada grupo de girinos ficou exposto ao pre- quando 1- sozinho e 2- em dupla.
zinho e 2- em dupla.
sa (Ricklefs, 2003). dador por uma hora. Em cada tratamento, Não houve diferença no tempo de tentati-
foram cronometrados os tempos de tentati- va individual de captura realizadas por Be- Discussão
Segundo Schoener (1991), para tornar a pre- vas de captura realizados por Belostoma sp. lostoma sp. entre os tratamentos (t=-0,005;
dação mais eficiente, predadores podem Para o tratamento com dois indivíduos, fo- Quando solitários no experimento, os indi-
gl=36,5; p=0,99) (Figura 2).
utilizar estratégias tais como não perseguir ram discriminadas as tentativas de capturas víduos de Belostoma sp. realizam tentativas
suas presas, mas aguardar sua aproximação realizadas por um ou dois indivíduos. Para o de captura em número menor, comportan-
(senta-espera). Outra estratégia é forragear presente estudo, consideramos “tentativa de do-se como predadores “senta-espera”. Tal
em grupos, pois isto pode aumentar a chan- captura” como sendo a atividade de movi- comportamento é comum de predadores
ce de captura e possibilitar a predação de mentação de Belostoma sp. em direção à in- em riachos com muita presa (Townsend et
presas maiores. Dentre os predadores que divíduos de Phyllomedusa vaillanti seguida al., 2006). Apesar de forrageadores não ne-
podem forragear em grupos para capturar de contato físico. cessariamente cooperarem entre si na perse-
presas maiores, estão as baratas aquáticas guição de presas, ao fazer isso eles podem
Foi utilizado o Teste t de Student para deter-
do gênero Belostoma. Estas baratas são ca- obter informação de localização de alimento
minar se o tempo de tentativa de captura de
pazes de se alimentar desde anfíbios em de- (Alcock, 2001). Portanto, o aumento do nú-
um indivíduo solitário e de uma dupla é dife-
senvolvimento até pequenos peixes (Swart mero de tentativas de captura quando em
rente, e se o tempo de tentativa de captura
& Taylor, 2004; Vamosi, 2002). duplas ocorreu devido à um comportamen-
individual é diferente quando sozinhos ou
Objetivamos com este trabalho observar o em dupla. to oportunista. Assim, se observa claramen-
comportamento de Belostoma sp. (Hemipte- te uma mudança de comportamento de Be-

100 101
lostoma sp. quando sozinhos ou em dupla. e Patrícia Mousinho. ISBN 85-277-0798-5.
Esta mudança de comportamento já foi ob-
servada em outros experimentos de preda- SCHOENER, TW. Theory of Feeding Strate-
ção de Belostoma sp. (Swart & Taylor, 2004), gies. Annual Review of Ecology and Syste-
o que sugere que não é um comportamento matics, 1991, volume 2, pp. 369-404.
ocasional. Como o padrão de contato entre
um predador e sua pressão sobre a presa são
SWART CC & TAYLOR RC. Behavioral Interac-
críticos sobre sua taxa de consumo (Town-
tions Between the Giant Water Bug (Belosto-
send et al., 2006), sugerimos que Belostoma
ma lutarium) and tadpoles of Bufo woodhou-
sp. pode modificar seu forrageio para mini-
sii. Southeastern Naturalist, 2004, volume 3,
mizar a perda energética.
número 1, pp. 13-24
Presas também podem mudar de compor-
tamento em situações que sofrem predação
(Begon et al., 2007), assim, sugerimos que TOWNSEND, CR; BEGON, M & HARPER, JL.
trabalhos futuros sobre comportamentos 2006. Fundamentos em Ecologia. 2ª ed. Por-
semelhantes não se atenham apenas à ob- to Alegre: Artmed. 592p. Tradução Gilson Ru-
tenção de dados de comportamento do pre- dinei Pires Nogueira, Gislene Maria da Silva
dador, mas também da presa. Ganade, Júlio César Bicca-Marques, Paulo
Luiz de Oliveira e Sandra Maria Hartz. ISBN
85-363-0602-5.
Conclusão
VAMOSI, SM. Predation sharpens the adap-
Os indivíduos de Belostoma sp. podem mo- tive peaks: survival trade-offs in a sympatric
dificar seu comportamento de captura de sticklebacks. Ann. Zool. Fennici, 2002, volu-
presas comportando-se de maneira sorratei- me 39, pp. 237-248.
ra, aguardando a presa ou, quando sozinhos,
agressivamente oportunistas.

Referências bibliográficas

ALCOCK, J. 2001. Animal Behavior. 7ª. ed.


Massachusetts: Sinauer Associates Inc. ISBN
0-87893-011-6.

BEGON, M.; TOWNSEND, CR. & HARPER, JL.


2007. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas.
4ª. Ed. Tradução Adriano Sanches Melo, Júlio
César Bicca-Marques, Paulo Luiz de Oliveira
& Sandra Maria Hartz. Porto Alegre: Artmed.
752p. ISBN 978-85-363-0884-5.

RICKLEFS, RE. 2003. A Economia da Natureza.


5ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara-Koo-
gan. 503p. Tradução Pedro P. de Lima-e-Silva

102
EFEITO DO PASTEJO POR de muitas espécies em diversos ambientes divisões por centímetros. O facão era solto a solo exposto” e “Cobertura de Dossel”, en-
GADO BOVINO SOBRE A (Groom et al., 2006). Dentre as atividades 1,5m de altura, com o gume voltado para o quanto “Porcentagem de Matéria Verde” foi a
humanas que afetam a Floresta Amazônica, solo, e a profundidade da lâmina que pene- variável que mais contribuiu para o PC2 (Ta-
HETEROGENEIDADE DE HABITATS
destacam-se a introdução de espécies exóti- trava no solo foi utilizada como medida de bela 1).
NA FAZENDA SÃO NICOLAU, cas e a pecuária (Sinnot et al., 2007), que são compactação de solo.
COTRIGUAÇU, MATO GROSSO atividades causadoras de perda de habitat As categorias que utilizamos para avaliar os PC1 PC2
(Groom et al., 2006; Primack, 2004). Entre as níveis de cobertura de solo foram definidas Solo 0,777 -0,46
Adarilda Petini Benelli, Jhany Martins Dos Santos, Mile- espécies introduzidas e amplamente difun- da seguinte forma: 1. Consideramos como
didas no país estão as gramíneas do gênero
Cobertura de
ne Garbim Gaiotti, Tiago José Domingos “Cobertura por Brachiaria sp.” o percentual 0,735 0,577
Brachiaria, oriundas da África (Duarte, 2000), Dossel
Orientador :Thiago Junqueira Izzo em que só havia esse vegetal, desconside-
e utilizadas na pecuária para formação de rando todas as outras plantas; 2. Como “Co- Madeira 0,687 0,571
Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia
pastagens. bertura por vegetação exceto Brachiaria sp. Altura do Folhiço -0,64 0,428
e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal
de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°, Sabendo que modificações do micro-habi- (Matéria Verde)”, consideramos todo o per- Matéria Verde 0,16 -0,744
CEP: 78060-900, Cuiabá – MT. tat podem ser produzidas pela redução da centual em que ocorriam quaisquer plantas Matéria Seca 0,423 -0,162
cobertura da vegetação (Viana et al., 2006), que não fossem a Brachiaria sp., já conside- Umidade 0,05 0,047
Introdução este trabalho objetivou avaliar se a hetero- rada na categoria 1; 3. Como “Cobertura por Tabela 1. Loadings das variáveis nos componentes prin-
geneidade ambiental é afetada pela pasta- Matéria Seca” consideramos o percentual de

A
cipais gerados, apresentando a contribuição relativa de
mbientes com maior heterogenei- gem em áreas com Brachiaria sp. na Amazô- folhiço cobrindo o solo; 4. Como “Cobertu- cada variável para a geração dos componentes prin-
dade espacial acomodam diver- nia Meridional. ra por Madeira”, consideramos o percentual cipais da Análise dos Componentes Principais feita à
sidade maior de espécies (Rosen- da presença de troncos, galhos ou raízes na partir dos valores observados das variáveis ambientais
zweig, 1996), pois possuem maior variedade Materiais e métodos amostra; e 5. Consideramos como “Solo nu” analisadas.
de microhabitats, amplitude de microclimas, onde não havia qualquer tipo de cobertura.
locais para fuga de predadores e o espec- A coleta de dados foi realizada em duas áre- Para avaliar se há diferença na ordenação
tro de recursos é mais extenso (Begon et al, as de pasto com predominância de Brachia- das áreas com relação às variáveis ambien-
2006). A heterogeneidade ambiental se re- ria sp. na Fazenda São Nicolau, município de tais, foi feita uma Análise dos Componentes
fere à distribuição descontínua dos fatores Cotriguaçu – MT. Uma destas áreas era pas- Principais. Os dois primeiros eixos foram uti-
abióticos e bióticos ao longo do espaço, e tal tejada por gado e outra não. Em cada área lizados para testar a hipótese utilizando uma
variação é dependente da escala de estudo. foram amostrados oito pontos distantes en- Mancova.
Em escala local, a heterogeneidade ambien- tre si 150m e a distância mínima entre as áre-
tal está associada com a variação espacial de as com gado e sem gado foi 200m. Em cada Resultados
microhabitats adequados para a germinação ponto, um quadrado de 75x75cm foi utiliza-
e o estabelecimento de espécies vegetais e do como unidade amostral, sendo esse, divi- Os dados de “Cobertura do solo por Brachia-
conseqüente chegada de elementos da fau- dido em 100 sub-quadrantes de 7,5 x 7,5cm. ria sp.” e “Compactação do Solo” ficaram ex-
na. Com isso, supõe-se que a distribuição de Dentro desse quadrado foram medidas as cluídos desta análise por não apresentarem
espécies tropicais esteja relacionada com a seguintes variáveis ambientais: altura do fo- distribuição normal. Figura 1. Relação entre as áreas com gado (vermelho) e
heterogeneidade dos fatores ambientais e lhiço, cobertura de dossel, porcentagem de Os dois primeiros componentes principais sem gado (azul), e os componentes principais gerados
que esta possa ser avaliada em termos de solo nu e de solo coberto por Brachiaria sp., formados explicam 55% da variação dos da- pela Análise dos Componentes Principais à partir dos
descritores ecológicos podendo ser medida por vegetação (exceto Brachiaria sp.), por dos (PC1 = 31,8% ; PC2= 23,3%) (Figura 1). Os valores observados das variáveis ambientais analisadas
de forma quantitativa e/ou qualitativa (Ros- matéria seca e por madeira. A contagem do componentes principais PC1 e PC2 dividiram nas áreas de estudo com e sem pastejo por gado, na Fa-
seto & Santos, 2007). número de sub-quadrantes contendo cada as áreas com gado e sem gado (Pillai-Trace, zenda São Nicolau, Cotriguaçú – MT.
variável estudada traz um percentual de co- p=0,056), permitindo observar que as áreas
Modificações do habitat afetam a proba- bertura para cada. Amostras de solo foram
bilidade de ocorrência e manutenção das retiradas e secas para quantificação da umi- realmente apresentam heterogeneidades
A cobertura de solo por Brachiaria sp. não
espécies, que podem apresentar respostas dade, que foi feita através da relação entre o distintas, relacionadas às variáveis utilizadas
diferiu entre as áreas (p=0,24)(Fig.2), assim
específicas à modificação ocorrida no am- peso das amostras antes e após a secagem. para a análise.
como a compactação do solo (p=0,12)(Fig.3).
biente (Viana et al, 2006). Dessa forma, as ati- A compactação de solo foi medida utilizan- As variáveis que mais contribuíram para a
vidades humanas podem provocar extinção do um facão cuja lâmina foi marcada com formação do PC1 foram “Porcentagem de

104 105
mente da Brachiaria sp. Apesar de áreas com space and time. 2ª ed. Cambridge Universi- TABARELLI, M. & GASCON, C. 2005. Lições
gado possuírem um nível maior de compac- ty Press: Cambridge, United Kingdom. ISBN da pesquisa sobre fragmentação: aperfeiço-
tação do solo, que poderia ser prejudicial ao 0-521-49952-6. ando políticas e diretrizes de manejo para a
desenvolvimento de plântulas, essas áreas conservação da biodiversidade. Megadiver-
possuem níveis menores de solo coberto por GROOM, MJ.; MEFFE, GK. & CARROL, CR. sidade, vol.1, n1.
Brachiaria sp., sendo este um fator mais im- 2006. Principles of Conservation Biology. 3a
portante para a recomposição da vegetação ed. Sinauer Associates: Sunderland, MA, USA. VIANA, BF.; MELO, AMC. & DRUMMOND, PD.
natural. ISBN 0-87893-518-5. Variação na estrutura de habitat afetando a
O gado pasteja principalmente Brachiaria composição de abelhas e vespas solitárias
sp., o que permite uma mudança no ecos-
OLDEN, JD; POFF, NL; DOUGLAS, MR; DOU- em remanescentes florestais urbanos de
sistema, de uma monocultura nas áreas sem
GLAS, ME; FAUSCH, KD.2004. Ecological and Mata Atlântica no Nordeste do Brasil. Sitien-
gado a uma condição mais natural nas áreas
evolutionary consequences of biotic homo- tibus Série Ciências Biológicas, 2006, volume
com gado. Isto se dá porque Brachiaria sp. é
genization. Trends in Ecology and Evolution 6, n° 4, pp. 282-295.
uma espécie exótica, cujo crescimento deve
19, pg 18-24.
ser controlado (Tabarelli & Gascon, 2005) e
Figura 2. Cobertura de solo por Brachiaria sp. nas áreas
assim como outras espécies exóticas, substi-
de estudo com e sem pastejo por gado, na Fazenda São
tui as espécies nativas na paisagem (Olden PRIMACK, RB. 2001. Biologia da Conservação.
Nicolau, Cotriguaçú – MT.
et al., 2004). Como o pastejo pelo gado afe- 9a ed. Londrina: Editora Planta. 328p. ISBN
ta variáveis ambientais diretamente, a curto 85-902002-1-3.
(“Porcentagem de Matéria Verde” e “Porcen-
tagem de Solo Exposto”) ou longo prazo PRIMACK, RB. 2004. A primer of Conservation
(“Cobertura de Dossel”), áreas com gado e Biology. 3a ed. Sinauer Associates: Sunder-
sem gado são diferentes com relação à hete- land, MA, USA. ISBN 0-87893-728-5.
rogeneidade ambiental.
Foi observado que a heterogeneidade am-
ROSSETO, V. & SANTOS, FAM. A Heterogenei-
biental pode ser capaz de modificar o efeito
dade Ambiental de Três Fisionomias
do gado sobre as plantas nativas (Sampaio
& Guarino, 2007), portanto, sugerimos que Florestais em um Fragmento em Campinas
futuros estudos, nas áreas aqui estudadas, (SP). Revista Brasileira de Biociências, jul.
procurem analisar quais são as reais relações 2007, volume 5, supl. 1, p. 408-410.
gado-ambiente reflorestado e sua influência
na estruturação desse espaço, visando co- SAMPAIO, MB & GUARINO, ESG. 2007. Efeitos
nhecer a composição de fauna e flora desses do pastoreio de bovinos na estrutura popu-
ambientes. Entendemos que esses estudos lacional de plantas em fragmentos de flores-
Figura 3. Profundidade do solo (Compactação) medida possam auxiliar no manejo de áreas flores- ta ombrófila mista. Revista Árvore, v.31, n.6,
nas áreas de estudo com e sem pastejo por gado, na Fa- tais (naturais ou reflorestadas) próximas às pg 1035-1046, Viçosa-MG.
zenda São Nicolau, Cotriguaçú – MT. áreas de criação de gado.
SINNOT, FA.; SANTOS, JDM.; RODRIGUES, LT.;
Referências bibliográficas
Discussão BUENO, MV.; SILVA, RM. & CRUZ, JAW. Ava-
BEGON, M.; TOWNSEND, CR. & HARPER, JL. liação da Heterogeneidade Ambiental em
O controle de espécies exóticas pode ser re- 2006. Ecology: from individuals to ecosys- duas Regiões Fitoecológicas do Extremo Sul
alizado através da inserção de um organis- tems. 4a ed. Blackwell Publishing. Mal- do Brasil. Anais do VIII Congresso de Ecologia
mo que a consuma (Begon et al., 2006), e o den,MA,USA. ISBN 978-1-4051-1117-1. do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Ca-
gado demonstrou ser um bom controlador xambu – MG.
do crescimento da vegetação herbácea (Pri-
ROSENZWEIG, ML. 1996. Species diversity in
mack, 2001) nas áreas estudadas, principal-

106 107
RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS a colonizar sucessivamente o mesmo habi- roeste do Mato Grosso. Localizada na Ama- nativa; quatro espécies de anuros e apenas
AMBIENTAIS E A HERPETOFAUNA tat é, a priori, bem reduzido (Ernst & Rödel, zônia mato-grossense, a fazenda possui ex- uma espécies de réptil no reflorestamento
2005), condicionado aos fatores ambientais tensa área de floresta ombrófila (cerca de de Teca. A riqueza da herpetofauna não di-
DE ÁREAS DE MATA NATIVA, MATA
que atuam selecionando essas espécies (Sil- 12.000 hectares) dividida em mata nativa e feriu entre os ambientes (F=1.727) p=0.25),
CILIAR E REFLORESTAMENTO DE vano et al., 2003). Nos ambientes alterados a mata ciliar às margens do rio Juruena e área portanto, as variáveis não influenciaram a
TECTONA GRANDIS variação na composição do folhiço pode ofe- de pastagem com reflorestamento (aproxi- presença das espécies (Figura 1). Não houve
recer condições ideais ao desenvolvimento madamente 8.000 hectares) com diversas relação entre a riqueza de espécies e a altura
Tiago José Domingos, Milene Garbim Gaiotti, Jhany de várias espécies e totalmente inadequa- espécies, entre elas a Teca (Tectona grandis do folhiço nos três ambientes (Figura 2).
Martins Dos Santos, Adarilda Petini Benelli dos para outras. Dessa forma, o ambiente L.f.). Realizamos as coletas nas três fitofisio-
Orientador: Prof. Dr. Domingos J. Rodrigues pode propiciar o aumento ou a redução na nomias: mata ciliar, mata nativa e refloresta-
abundância e riqueza da herpetofauna, pois mento de Teca.
1Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia
algumas espécies de anuros podem se tor- Coleta de Dados
e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal
nar mais abundantes em habitats alterados, Para cada fitofisionomia estabelecemos três
de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°,
enquanto os lagartos parecem ser mais sen- pontos para coleta com uma distância míni-
CEP: 78060-900, Cuiabá – MT.
síveis a essas mesmas alterações ambientais ma de 500m entre elas. Cada amostragem
Introdução (Silvano et al., 2003). Portanto, o padrão de foi realizada dentro de um quadrado de 5m
distribuição espacial dos animais reflete cla-

A
x 5m, onde medimos a altura do folhiço em
estrutura da vegetação, o solo e a ramente a disponibilidade e a distribuição três pontos dentro de cada quadrado, uma
camada de folhiço (detritos orgâ- dos recursos relacionados com os requeri- vez a cada 1,5m, registrando a média entre
nicos principalmente de origem mentos fisiológicos dos organismos (Ernst & eles. Determinamos o percentual de cober-
vegetal que recobrem a superfície do solo), Rödel, 2005), propiciando, no caso dos anu- tura do dossel registrando-o por meio de
influenciam a distribuição de diversos orga- ros e dos lagartos, adotar diferentes padrões fotografias, a partir do centro do quadrado.
nismos como plantas de sub-bosque, peixes de distribuição espacial entre as espécies, Em seguida, quatro coletores realizaram a
de igarapé, insetos, aves e também na distri- facilitando a coexistência de diversas po- busca ativa da herpetofauna dentro do qua- Figura 1. Riqueza de espécies entre os três ambientes
buição da herpetofauna - anfíbios e répteis pulações em uma mesma área nos diversos drado, com esforço amostral de 20 min. de amostrados da Fazenda São Nicolau, Município de Co-
(Ernst & Rödel, 2005; Menin, 2005), particu- microhabitats, cuja disponibilidade está re- coleta. Uma vez encontrados, os indivíduos triguaçu-MT.
larmente no folhiço. As comunidades encon- lacionada à complexidade estrutural do ha- foram identificados e contabilizados. Além Os resultados obtidos indicaram não haver
tradas em áreas da Amazônia e da América bitat e à diversidade de ambientes encontra- do quadrado, para cada ponto foi feito um relação de nenhuma das variáveis com a
Central possuem um grande número de es- dos num ecossistema (Silvano et al., 2003). transecto de 20m. Este transecto serviu para presença de Adenomera sp. e de C. amazo-
pécies, pois o folhiço constitui um ambiente Considerando que o ambiente pode funcio- complementar os dados de ocorrência das nicus nas três fitofisionomias. A influência da
onde diversas espécies de anfíbios e répteis nar como um filtro restringindo a distribui- espécies de anfíbios e répteis (Ernst & Rödel altura do folhiço não foi relacionada com a
podem atingir altas densidades (Guimarães, ção das espécies, objetivamos com este tra- 2005). presença de Adenomera sp. (p=0.26; Figura
2004). balho analisar se a riqueza da herpetofauna 3) nem a cobertura de dossel (p=0.43; Figu-
Para avaliar se a riqueza da herpetofauna va-
Como regra geral, as espécies animais ou ve- varia em função da altura do folhiço e cober- ria entre os ambientes fizemos uma ANOVA. ra 4). Não houve relação entre a presença de
getais não ocorrem em áreas que superam tura de dossel em três tipos de ambientes: Para avaliar se a ocorrência de Adenomera e C. amazonicus e a altura do folhiço (p=0.27;
seus limites fisiológicos, mas toleram certo mata nativa, mata ciliar e reflorestamento Coleodactylus amazonicus está relacionada Figura 5) ou a cobertura de dossel (p=0.30)
grau de impacto e têm capacidade de per- de Teca (Tectona grandis L.f.) e, das espécies às variáveis ambientais realizamos uma re- (Figura 6).
sistir se a paisagem não for completamente analisadas, avaliar se a ocorrência de Adeno- gressão logística simples.
alterada. Podem, inclusive, expandir sua dis- mera sp. (Anura: Leptodactylidae) e Coleo-
tribuição para os ambientes no entorno, en- dactylus amazonicus (Anderson, 1918), está Resultados
tre eles, os sistemas agroflorestais (Silvano et relacionada a estas variáveis.
al., 2003). Por limitações fisiológicas próprias Coletamos cinco espécies de anuros e seis
a cada espécie, a comunidade que habita de- Materiais e métodos espécies de répteis nas três fitofisionomias.
terminado ambiente necessariamente esta- Área de Estudo Três espécies de anuros e cinco de répteis
rá apta a viver nele. Devido a essas restrições foram coletadas na mata ciliar; três espécies
Conduzimos o presente estudo na Fazenda de anuros e apenas uma de réptil na mata
fisiológicas, o número de espécies potenciais
São Nicolau, situada em Cotriguaçu, a no-

108 109
-MT. vendo igarapés e estradas entre elas, pode RODRIGUES, DJ. Influência de fatores bióti-
Figura 6. Ocorrência de Coleodactylus amazonicus em indicar que a ação compensatória realmen- cos e abióticos na distribuição temporal es-
função da cobertura do dossel nos três ambientes amos- te ocorre, havendo dispersão similar dessas pacial de girinos de comunidades de poças
trados da Fazenda São Nicolau, Município de Cotrigua- espécies entre as áreas. O presente estudo temporárias em 64 km² de floresta de Ter-
çu-MT. mostrou que espécies que não dependem ra firme na Amazônia Central [Tese]. INPA/
de corpos d’água para sua reprodução, UFAM, Manaus – AM. 109p. Doutorado em
Discussão como é o caso de Adenomera sp., apresen- Ciências Biológicas, área de concentração
tam uma distribuição muito mais ampla. Em em Ecologia.
As três áreas apresentaram riqueza de la- nosso estudo, Adenomera sp. ocorreu na
gartos e anuros similar. Não há relação en- maioria das amostras realizadas. Em termos
tre altura da camada de folhiço e cobertura SILVANO, DL.; COLLI, GR.; DIZO, MBO.; PIMEN-
de conservação, sugerimos que espécies TA, BVS. & WIEDERHECKER, HC. Anfíbios e
do dossel e a riqueza de espécies. Tampou- com reprodução terrestre e baixa fecundi-
co, observamos influência das variáveis so- Répteis – Capítulo 7, pp. 183-199. In: RAM-
dade, aparentemente são menos afetadas BALDI, DM. & OLIVEIRA, DAS. (Orgs.) Frag-
Figura 3. Ocorrência de Adenomera sp. em função da bre a ocorrência de Adenomera sp. e de C. por modificações de habitat do que espécies
altura do folhiço nos três ambientes amostrados da Fa- amazonicus nas três áreas. Este resultado mentação de Ecossistemas: Causas, efeitos
com baixa fecundidade que se reproduzem sobre a biodiversidade e recomendações de
zenda São Nicolau, Município de Cotriguaçu-MT. não corrobora Menin (2005) que considera em riachos. No entanto, a maioria das espé-
a camada de folhiço uma variável que pode políticas públicas. Brasília: MMA/SBF. 510p.
Figura 4. Ocorrência de Adenomera sp. em função da cies aqui estudadas mostrou uma relação
afetar a distribuição de comunidades herpe- ISBN 85-87166-48-4.
cobertura de dossel nos três ambientes amostrados da com áreas próximas aos corpos d’água (ma-
Fazenda São Nicolau, Município de Cotriguaçu-MT. tofaunísticas, sendo amplamente estudada tas ciliares, por exemplo), o que indica que
em trabalhos realizados com esses animais modificações estruturais podem afetar essas
em comunidades tropicais. Entendemos que espécies, apesar do modo reprodutivo que
possa estar ocorrendo uma ação compensa- independe de corpos d’água e que permite
tória entre as áreas, de forma que a mata na- que ocorram em diversidades de habitats.
tiva esteja contribuindo para a composição
de espécies na área de reflorestamento de Referências bibliográficas
Teca (Tectona grandis), por estas encontra-
rem ali condições favoráveis. Sendo a área de ERNST, R. & RÖDEL, M-O. 2005. Anthropoge-
reflorestamento um ambiente relativamente nically induced changes of predictability in
novo (cerca de 10 anos, apenas), presumivel- tropical anuran assemblages. Ecology, No-
mente não apresenta condições ambientais vember 2005, Vol. 86, n° 11, pp. 3111-3118.
ideais para o estabelecimento da herpeto-
fauna. No entanto, pelo fato de apresentar GUIMARÃES, FWS. 2004. Distribuição de es-
maior nível de formação de folhiço devido pécies da herpetofauna de liteira na Amazô-
ao tamanho das folhas, o ambiente de reflo- nia central: influência de fatores ambientais
restamento de Teca pode tornar-se um espa- em uma meso-escala espacial [Dissertação].
ço interessante para as espécies, oferecendo INPA/UFAM, Manaus-AM. 72p. Mestrado em
diversidade de microhabitats, pois a estrutu- Ciências Biológicas, área de concentração de
ra e a altura do folhiço podem determinar a Ecologia.
composição e a abundância das espécies de
anuros a ele associados (Guimarães, 2004;
Menin, 2005). Isso demonstra que os am- MENIN, M. 2005. Padrões de distribuição e
bientes alterados podem ser importantes na abundância de anuros em 64 km2 de flores-
conservação da biodiversidade, mas não são ta de terra-firme na Amazônia Central [Tese].
melhores para esse fim que as paisagens na- Manaus: INPA/UFAM. 115p. Doutorado em
Figura 5. Ocorrência de Coleodactylus amazonicus em turais preservadas (Silvano et al., 2003). Ciências Biológicas, área de concentração
função da altura do folhiço nos três ambientes amostra- em Ecologia.
O fato de registrarmos espécies em comum
dos da Fazenda São Nicolau, Município de Cotriguaçu-
para as três áreas analisadas, mesmo ha-

110 111
SELEÇÃO DE MICRO-HABITATS DE na origem e diversificação das assembléias roeste de Mato Grosso. Esta fazenda possui substrato coletado foi depositado sobre um
REPOUSO DE NANNORHAMDIA de peixes psamófilos na ictiofauna de água uma grande reserva de Floresta Amazônica saco plástico e ali procurávamos os indivídu-
doce da América do Sul (Zuanon, 2006). A natural e grandes áreas de reflorestamento, os de Nannorhamdia.
SP. EM UM IGARAPÉ
composição específica pouco variável das além de ser composta por diversos córregos Para determinar a relação entre as variáveis
DA BACIA AMAZÔNICA, MT, comunidades psamófilas e a distribuição de pequeno porte (igarapés) e algumas re- explanatórias (profundidade, velocidade do
BRASIL geográfica ampla de suas espécies (embora presas naturais. Realizamos este estudo em fluxo d’água e porcentagem de liteira) com
pontual) são devido à estabilidade e à baixa um Igarapé localizado no Talhão 7D num a variável resposta, presença/ausência dos
Tiago José Domingos, Milene Garbim Gaiotti, Jhany complexidade deste hábitat especializado trecho de 150m entre S09° 51.446’ W058° indivíduos de Nannorhamdia, foi utilizado
Martins Dos Santos, Adarilda Petini Benelli (Zuanon, 2006). 15.401’ e S09° 51.430’ W058° 15.434’. Este Iga- uma Regressão Logística, no software R.
Dentre o grupo de peixes psamófilos, encon- rapé possui cerca de 1,5m de largura, che-
Orientador: Prof. Dr. Jansen Zuanon
tra-se o gênero Nannorhamdia, com animais gando a 2,0m em alguns pontos. A água é Resultados
1Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia transparente, com fundo coberto por areia,
de tamanho bem reduzido (cerca de 30mm)
e Conservação da Biodiversidade, Universidade Federal e distribuição heterogênea de folhiço e sedi- Dos 30 pontos amostrados, a espécie ocor-
e muito ágeis no deslocamento em hábi-
de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/n°, mentos argilosos. A profundidade varia de 3 reu em sete. Dentre as três variáveis analisa-
tat arenoso, enterrando-se rapidamente no
CEP: 78060-900, Cuiabá – MT. a 38cm nos pontos amostrados. Este córrego das, a presença de Nannorhamdia esta rela-
substrato para fugir da predação. Realizam
possui grande sombreamento pela mata ci- cionada com a velocidade do fluxo d’ água
Introdução forrageamento à noite e o repouso diurno,
liar em suas margens. (rho=23,345; p=0,03) (figuras 1,2 e 3).
enterrando-se na superfície do substrato

N
a maioria das escalas espaciais, os arenoso dos igarapés (Zuanon et al., 2006). Coleta e analise dos dados
habitats são como paisagens com- Considerando a pouca informação existente Para localização de Nannorhamdia e coleta
postas de um mosaico de manchas sobre assembléias de peixes psamófilos, es- da variáveis de interesse foram determina-
interconectadas que diferem em caracterís- pecialmente sobre o gênero Nannorhamdia dos 30 pontos de amostragem ao longo de
ticas relevantes para os organismos que os (Zuanon et al., 2006), e a ocorrência de indi- um trecho de 150m do igarapé. Os pontos
habitam (Forman & Godron, 1986). Estudos víduos deste gênero em riachos na região de coleta foram delimitados com medidas
sobre o uso de habitats em riachos descre- Amazônica, faz-se necessário conhecer os de 0,5m × 1,0m, e 5m de distância entre
vem características das áreas ocupadas por micro-habitas destes peixes, para previsões eles, em direção a nascente do igarapé. De-
peixes, e seus resultados tem sido frequente- de ocupação e conservação dessas espécies. terminamos os locais dos pontos de coleta
mente utilizados em temas centrais na pes- Como estes indivíduos sempre foram encon- sequencialmente em margem direita, centro
quisa ecológica da ictiofauna (Ricón, 1999). trados associadas a bancos de areia (Zuanon e margem esquerda (10 quadrados em cada
Quando trata-se de identificar micro-habi- et al., 2006), esperamos que eles selecionem local), para evitar a superamostragem de al-
tats em córregos, na maioria dos casos, são nestes locais, micro-habitats com condições guma das margens, ou do meio do Igarapé.
reconhecidas quatro variáveis como as mais especificas para seu período de repouso. Para as variáveis profundidade e fluxo da Figura 1. Relação da velocidade d’água sobre a ocorrên-
relevantes: profundidade e velocidade da Com isso, hipotetizamos que o habitat de água, usamos a média de três medições por cia de Nannorhamdia, em um igarapé na Fazenda São
água, composição do substrato do leito e co- repouso de Nannorhamdia sempre ocorre- ponto amostral. Medimos a profundidade Nicolau - MT.
bertura (Greenberg & Stiles, 1993). rá em ambientes rasos, composto por areia, com uma régua e para a velocidade do fluxo
Dentre os grupos de peixes que selecionam pouca liteira e correnteza moderada. Para d’ água (m/s), utilizamos um objeto flutuante
habitats específicos estão os peixes psamó- testar esta hipótese medimos essas variáveis e observamos o tempo que este levava para
filos, que são considerados um grupo com em vários pontos de um igarapé da bacia percorrer o comprimento do quadrado. Me-
muitas espécies raras ou endêmicas, sempre Amazônica, e relacionamos as características dimos a porcentagem de liteira visualmente.
associadas ao substrato arenoso de corpos com a presença ou ausência de Nannorham- Uma vez determinadas essas áreas e regis-
d’água, o que indica a sua dependência des- dia. tradas as variáveis de interesse, utilizamos
se tipo de ambiente (Zuanon et al., 2006). A um puçá triangular cuja base possuía a mes-
pré-existência de hábitos bentônicos, pe- Materiais e métodos
ma largura do quadrado (0,5m), para a coleta
queno tamanho e a ampla distribuição de Área de estudo de Nannorhamdia. Determinamos sempre o
rios com leitos arenosos, principalmente nas mesmo coletor que enterrava o puça cerca
Conduzimos o presente estudo na Fazenda
bacias dos rios Amazonas e Orenoco, possi- de 4cm no substrato e empurrava por toda
São Nicolau, situada em Cotriguaçu, a no-
velmente tiveram um papel preponderante área do ponto amostral. Em seguida todo

112 113
Discussão
Dentre as variáveis que foram medidas neste
estudo, somente a velocidade da água apre-
sentou relação estreita com a ocorrência de
Nannorhamdia. De acordo com Greenberg e
Stiles (1993), a velocidade é amplamente co-
nhecida como um dos parâmetros-chave do
habitat, porque, quando os indivíduos habi-
tam correntezas, precisam nadar contra ela
para manter sua posição e isto exige um alto
custo metabólico. Por isso a velocidade da
correnteza deve fornecer alguma vantagem
compensatória para a espécie que habita es-
Figura 2. Relação da profudidade d’água sobre a ocor-
tes locais. Em alguns casos, os peixes que se
rência de Nannorhamdia, em um igarapé na Fazenda
alimentam na correnteza, encontram mais
São Nicolau - MT.
presas por unidade de tempo (Greenberg &
Stiles, 1993). Então, concluímos que veloci-
dade do fluxo de água favorece a criação de
micro habitats de repouso para Nannorham-
dia, pois age carreando os sedimentos finos
e a maior parte da liteira, deixando o micro
habitat com maior quantidade de areia dis-
ponível. A areia clara, com poucos sedimen-
tos finos e liteira, são importantes micro
habitas para estes peixes, pois, este grupo
possui espécies translúcidas, características
consideradas vantajosas para evasão de pre-
dadores já que ficam camuflados quando se
escondem na areia para repousar (Zuanon
et al. 2006).
Figura 3. Relação da porcentagem de liteira sobre a A profundidade não teve relação com a
ocorrência de Nannorhamdia, em um igarapé na Fazen- ocorrência de Nannorhamdia. No entanto,
da São Nicolau - MT. mesmo com a profundidade variando de 3 a
38 cm nos pontos amostrados, observamos
Apesar da profundidade não estar relacio- que este grupo não ocorre em profundida-
nada com a ocorrência de Nannorhamdia, des superiores a 15 cm, o que demonstra
foi observado que estes indivíduos não são que os micro habitats destes indivíduos es-
encontrados em profundidades superiores a tão associados aos ambientes mais rasos. A
15 cm. Da mesma forma os indivíduos ocor- ausência de Nannorhamdia nestes ambien-
reram apenas em locais com até 20% de li- tes mais profundos, pode estar relacionada
teira. A velocidade do fluxo d’água influencia ao conjunto de outras características que
na presença da espécie, a qual ocorre quase estão associadas a estes locais, como areia
que obrigatoriamente em velocidades aci- composta com muitos sedimentos finos,
ma de 0.20 m/s. pouca correnteza e conseqüente deposição
de liteira no substrato. Além disso, quanto

114
maior a profundidade, maior espaço para INFLUÊNCIA DO PULSO DE Algumas plantas mirmecófitas ocorrem pró-
abrigar peixes maiores, possíveis predadores INUNDAÇÃO SOBRE DUAS ximas a cursos d’água. E, neste caso, estão
de Nannorhamdia. sujeitas à maiores amplitudes na variação
ESPÉCIES SIMPÁTRICAS
abiótica do ambiente (Benson, 1985). A cota
Conclusão DO GÊNERO DE TOCOCA máxima de inundação pode ser um fator que
Aubl. (MELASTOMATACEAE) determine a distribuição espacial destas mi-
Embora a profundidade e quantidade de li- OCORRENTES EM UM TRECHO mercófitas, separando a região de ocorrência
teira não apresentem relação direta com a
DO RIO JURUENA das espécies que não suportam as condições
presença de Nannorhamdia, a velocidade da
impostas pelo aumento do nível da água.
correnteza foi importante. Isto demonstra
Silvana Cristina Hammerer de Medeiros3, Adarilda Peti-
Desta forma este estudo teve como objetivo
que este grupo seleciona micro habitats com
ni Benelli2, Leide Laura Almeida Ribeiro de Paiva2, Mi-
avaliar se a cota máxima do pulso de inun-
certas características pertinentes as suas ne-
quéias Ferrão da Silva Junior
dação influencia a distribuição espacial e a
cessidades. Dentre estas características, foi
altura da primeira domácea produzida em
constante a presença de Nannorhamdia em Orientador: Dr. Thiago Junqueira Izzo
duas espécies simpátricas do gênero Tococa.
locais arenosos e límpidos, que favorecem 1Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Uni-
sua rápida locomoção e camuflagem para versidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS. Materiais e métodos
fuga de predadores. 2Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conser-
vação da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato
O estudo foi realizado no mês de outubro,
Referências bibliográficas final da época da vazante, na margem do
Grosso, UFMT.
rio Juruena, fazenda São Nicolau, município
FORMAN, RTT. & GODRON, M. 1986. Lands-
Introdução de Cotriguaçu, Mato Grosso, em um trecho
cape ecology. John Wiley & Sons, New York.
de 500 metros de distância onde Tococa co-
619p. Mirmecófitas são plantas que apresentam ronata Benth. e Tococa cf. bullifera Mart. &
uma estreita relação com formigas. O desen- Schrank ex DC. co-ocorreram. O trecho foi
GREENBERG, LE. & STILES, RA. A descripti- volvimento de estruturas ocas, conhecidas percorrido e todos os indivíduos das duas
ve and experimental study of microhabitat como domáceas, proporcionam moradia espécies foram marcados.
use by young-of-the-year benthie stream para estas formigas que em contra partida, De cada indivíduo das duas espécies de To-
fisches. Ecology of Freshwater Fishes, 1993, oferecem proteção a planta (Izzo & Vascon- coca medimos as seguintes variáveis: (1) al-
volume 2, pp. 40-49. celos, 2002). Segundo Beattie (1985) as do- tura total; (2) altura da primeira domácea;
máceas podem variar quanto ao formato (3) distância da margem do rio; (4) altura da
RICÓN, PA. Uso do micro-hábitat em peixes (arredondado, alongado e amorfo) e a loca- base do indivíduo em relação à cota atual;
de riachos: métodos e perspectivas. Ecologia lização na planta (folhas, pecíolo, raiz e tron- (5) altura da cota máxima atingida pelo rio
de Peixes de Riachos. Série Oecologia Brasi- co). Juruena na última cheia; e (6) biomassa das
liensis, 1999, volume VI, pp. 23-90. A herbivoria e/ou a competição por recur- três primeiras folhas integras e das domáce-
sos, são fatores que alteram a capacidade as separadamente.
ZUANON, J; BOCKMAN, FA. & SAZIMA, I. A ótima de desenvolvimento do indivíduo ve- Para as análises estatísticas utilizamos o tes-
remarkable sand-dwelling fish assembla- getal. Assim, a proteção proporciona maio- te t na relação das espécies com a altura da
ge from central Amazonia, with comments res investimentos para o crescimento e con- cota e a altura da primeira domácea. Quanto
on the evolution of psammophily in South seqüente desenvolvimento de domáceas a altura da cota da primeira domácea e sua
American freshwater fishes. Neotropical Ich- (Yu et al., 2001). Acreditava-se que a única ocorrência foi feita uma regressão logística.
tiology, 2006, volume 4, n°. 1, pp. 107-118. troca de benefícios estava na relação mora-
dia-proteção, mas estudos apontaram que Resultados
algumas plantas, incluindo espécies do gê-
nero Tococa Aubl. (Melastomataceae), além A cota máxima observada foi de 1,60 metros
da proteção, podem obter nutrientes através acima do nível atual do rio, sendo que os in-
dos restos orgânicos deixados pelas formi- divíduos de Tococa. cf. bullifera só ocorriam
gas dentro das domáceas (Janzen, 1974). acima da cota máxima (T=????; p<0,0001),

116 117
os indivíduos avaliados variaram de 1,58 dação (p=0,02), dos 12 indivíduos avaliados, Todos os indivíduos observados de T. coro- BEATTIE, AJ. 1985. The evolutionary ecology
metros a 2,47 metros acima do nível atu- sete não apresentaram as domáceas (Fig. 2). nata apresentavam domáceas quando sua of ant-plant mutualisms. Cambridge univer-
al da água (Fig. 1A). O desenvolvimento da T. cf. bullifera apresentou uma biomassa mé- altura ultrapassava o valor máximo da cota, sity press. 145p.
primeira domácea indica claramente a sepa- dia da domácea de 36,7% do peso total por isso pode ser explicado pelo investimento
ração espacial existente entre as duas espé- folha e T. coronata de 6,5%. em crescimento primário. Superar a altura BEGON, M, TOWNSEND, CR. & HARPER, JL.
cies (p<0,0001), pois Tococa cf. bullifera de- do pulso de inundação é mais seguro para 2006. Ecologia de indivíduos a ecossistemas.
senvolveu domáceas próximas do solo com sua sobrevivência em épocas de cheia, uma Ed. Artmed. 740p.
uma média de 30,5 cm de altura e T. corona- vez que investir no desenvolvimento de do-
ta, quando havia a presença de domácias, máceas significa alocação de energia des-
estas estavam em média a 152 cm de altura necessária, pois as colônias de formigas não BENSON, WW. 1985. Amozon ant-plants. In:
em relação ao solo (Fig. 1B). resistiriam à inundação. Adicionalmente, o Key environments in Amazonia, ed. G.TR.
conceito de demanda conflitante aponta Prance and E.T. Lovejoy. 239-266.
que os recursos destinados para uma ativi-
dade tornam-se indisponíveis para outras IZZO, TJ. & VASCONCELOS, HL. 2002. Chea-
atividades (Begon et al., 2007). Logo, apre- ting the cheater: domatia loss minimizes the
sentar um compromisso na alocação dos re- effects of ant castration in an Amazonian an-
cursos para crescimento rápido e produção t-plant. Plant animal interactions. 2002, volu-
de domáceas, ao mesmo tempo, não é possí- me 133, pp. 200-205
vel. Por este motivo T. coronata deve investir
primordialmente em crescimento primário.
OLIVEIRA, AA., DALY, DC., VINCENTINI, A. &
Tococa cf. bullifera por estar em área livre de COHN-HAFT, M. 2001. Florestas sobre areias:
inundação está muito mais vulnerável à her- Campinaranas e Igapós. Florestas do rio Ne-
bivoria. Sendo assim, pode-se dizer que a de- gro. 179-220
Figura 2: Presença da domácea de Tococa coronata manda de recurso deveria ser alocada para a
Benth. em relação à altura da cota máxima do pulso de produção de domáceas maiores e mais re-
inundação do rio Juruena, município Cotrigraçu, Mato sistentes. Conseqüentemente, maior nume- YU, DW., WILSON HB. & PIERCE, NE. 2001. An
Grosso. Seta = cota máxima observada. ro de formigas por colônia poderia habitar empirical model of species coexistence in a
e oferecer proteção ao indivíduo. Por outro spatially structured environment. Ecology,
Discussão lado, T. coronata, com uma menor biomas- 2001, volume 82, pp. 1761-1771.
sa de domáceas, provavelmente demons-
A separação espacial das duas espécies de tra uma menor suscetibilidade à herbivoria.
Tococa parece ser influenciada pela cota má- Desta forma é possível afirmar que mesmo
xima do rio. Segundo Oliveira & Daly (2001), filogeneticamente próximas, as respostas de
o longo período que as plantas ficam sub- ambas espécies, quanto a tolerância à inun-
mersas provoca estresse pela falta de oxi- dação e quanto a prioridade de alocação de
gênio, por isso, a condição anóxica pode recursos para crescimento e/ou produção de
definir a distribuição da vegetação em áreas domáceas, é muito diferente. A tolerância de
sujeitas à inundação. Mecanismos de escape T. coronata à condições de anóxia pode ser
como adaptações fisiológicas, metabólicas, explicada pela sua plasticidade fenotípica,
Figura 1: (A) Altura da ocorrência dos indivíduos de anatômicas ecológicas e morfológicas per-
proporcionando a sua ocorrência em áreas
Tococa coronata Benth. e Tococa cf. bullifera Mart. & mitem a sobrevivência vegetal em ambien-
sujeitas à inundação, enquanto T. cf. bullifera
Schrank ex DC. em relação ao nível atual do rio Juruena, tes alagáveis (Oliveira & Daly, 2001). Portanto
provavelmente não tolera as mesmas condi-
Cotrigraçu, Mato Grosso e (B) altura da primeira domá- acredita-se que T. cf. bullifera não apresenta
ções de alagamento, ocorrendo sempre aci-
cea de cada espécie em relação ao solo. tolerância às condições impostas pelo alaga- ma da cota.
Os indivíduos de T. coronata apresentaram mento. Mas por outro lado, T. coronata apre-
domáceas só quando suas folhas estavam senta capacidade de suportar um ambiente Referências bibliográficas
acima do nível máximo do pulso de inun- anóxico.

118 119
EFEITO DO PASTEJO BOVINO da diversidade original das biotas (Tabarelli didade da liteira. Mabuya nigropunctata e a profundidade da serrapi-

SOBRE ABUNDÂNCIA DE e Gascon, 2005). Nosso trabalho teve o ob- lheira nas áreas de reflorestamento com pastagem na
jetivo de inventariar as espécies de lagartos Resultados Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
LAGARTOS EM DUAS ÁREAS
e suas abundâncias nas duas áreas e analisar
DE PASTAGENS MISTAS COM se o pastejo pelo gado bovino tem influên-
Encontramos um total de cinco espécies de Discussão
REFLORESTAMENTO NA cia sobre a abundância dos lagartos mais co-
lagarto (Tabela 10. A família com o maior
AMAZÔNIA MERIDIONAL numero de espécies foi Teiidae, com dois O baixo número de espécies capturadas no
muns no trabalho.
representantes. Ameiva ameiva é o lagarto trabalho se explica pelo fato de que a maio-
mais abundante, seguido por Mabuya nigro- ria das espécies florestais de lagartos são
Miquéias Ferrão da Silva Junior2, Abilio José de Ferraz
Materiais e métodos
punctata e Kentropyx sp. (Figura 1). Destas, vulneráveis ao desmatamento por serem
de Moraes1, Amanda Ferraz de Miranda1, Jocieli de Oli- Área de estudo Mabuya nigropunctata foi influenciada pela incapazes de suportar as altas temperaturas
veira1 profundidade da liteira (R2=0.88 p<0.003) das formações abertas (Rodrigues, 2005),
Nossa área de estudo se encontra na Ama-
Orientador: Thigo Izzo zônia Meridional e compreendeu dois tipos (Figura 2). não podendo assim ocupar ambientes de-
1Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conser- de reflorestamento misto com predominân- gradados. A área sem o pastejo do gado
vação da Biodiversidade, Universidade Federal de Mato cia de figueira, plantados sobre pastagem de Espécie Pastagem com Gado Pastagem sem Gado bovino apresentou mais espécies do que a
Grosso,UFMT. Brachiaria sp.: uma área com influência do
Ameiva ameiva (Lennaeus,1758)
Mabuya nigropunctata Andersson,1918
X
X
x
x
área com o pastejo, pois essas áreas tendem
pastejo pelo gado bovino e outra sem pas- Kentropyx sp. X x a ser mais úmidas do que áreas com pastejo
Prionodactylus sp. - x
Introdução tejo. Ambas as áreas localizadas na Fazenda Gonatodes hasemani Griffin,1917 - x e mais abrigos contra predadores.

A
Total de Espécies 3 5
São Nicolau (S 09˚ 51”, W 058° 15”), municí- Todas as cinco espécies de lagartos captu-
expansão da agricultura e da pe- TABELA 1: Espécies de lagartos registradas para as áreas
pio de Cotriguaçu, Mato Grosso. A Fazenda radas nas coletas são consideradas genera-
cuária exerce forte pressão sobre de reflorestamento com pastagem na Fazenda São Ni-
se encontra localizada na margem esquerda listas em relação à ocupação do ambiente,
a floresta e ecossistemas abertos, colau, Cotriguaçu, MT.
do Rio Juruena, afluente do Rio Tapajós. O podendo ocupar desde florestas primarias
causando perda da biodiversidade (Fiszon,
clima é tropical quente e úmido, a umidade até áreas bem degradadas dependendo da
2003). Em 2003, as áreas desmatadas co-
relativa do ar é de 80 a 85%. espécie (Avilla-Pires, 1995). Ameiva ameiva
briam 16% do bioma Amazônia e eram mais
Materiais e métodos foi a espécie mais abundante no trabalho,
expressivas no arco do desmatamento no
o que era esperado, já que é uma espécie
leste do Pará, norte do Mato Grosso e em Amostramos seis transectos de 100 metros,
extremamente generalista, associada tanto
Rondônia (Ferreira et al., 2005). Essas altas sendo três sobre influência do gado e três
a área de florestas como áreas abertas. Po-
taxas de desmatamento acarretam conse- sem influencia, distantes entre si 300 metros.
dendo ocorrer inclusive nas cidades (Vitt et
qüências severas para a diversidade na flora Para o registro dos lagartos utilizamos procu-
al.,2008), ao contrario das outras espécies
e fauna da região. ra limitada por tempo (PLT), onde duas pes-
(Avilla-Pires, 1995).
soas percorreram os transectos procurando
A Amazônia abriga a maioria dos lagartos Figura 1 - Abundância das espécies de lagartos em con-
A abundância de Mabuya nigropunctata
ativamente os lagartos por 30 minutos.
(109 espécies) (Rodrigues, 2003) que ocor- sórcio de pasto e reflorestamento, na presença (barra
está relacionada à profundidade da liteira,
rem no Brasil. Eles dependem de pequenos A profundidade da liteira foi tomada como escura) e ausência de pastejo (barra clara) na Fazenda
onde o número de indivíduos aumenta con-
invertebrados para sua alimentação e de medida para o pastejo. Áreas pastejadas te- São Nicolau, Cotriguaçu, MT.
forme a profundidade da liteira aumenta.
sombra para manter suas temperaturas cor- riam pouca serrapilheira enquanto áreas sem
Outros fatores podem estar por trás da vari-
póreas moderadas (Avila-Pires et al., 2007). pastejo apresentariam mais serrapilheira. As
ável profundidade da liteira, como cobertura
Os efeitos da degradação e fragmentação do medidas foram tomadas com régua milimé-
do dossel, número de arvores, disponibilida-
habitat sobre os lagartos são variados (Silva- trica em três pontos ao longo de cada tran-
de de abrigo e disponibilidade de presas. Os
no et al., 2005). Espécies florestais são mais secto, obtendo-se três alturas para obtenção
quatro indivíduos de M. nigropunctata fo-
vulneráveis por serem incapazes de suportar da média de cada transecto.
ram encontrados forrageando sobre troncos
as altas temperaturas das formações abertas Para analisar se a profundidade da liteira in- caídos e sobre a serrapilheira, o que já era
por muito tempo (Rodrigues, 2005). fluência a abundância de lagartos nas áre- conhecido para a espécie (Avilla-Pires, 2005).
À medida que as extinções causadas pela de- as com e sem a influência do pastejo, nós Estes dados corroboram com a relação en-
gradação dos habitats cessam, as paisagens fizemos uma regressão linear para as três contrada entre profundidade da liteira e a
dominadas pelo homem tendem a reter espécies mais abundantes utilizando dados abundância da espécie.
uma amostra empobrecida e tendenciosa logaritimizados de abundância e de profun- Figura 2- Relação entre o numero de indivíduos de Ameiva ameiva e Kentropyx sp. provavel-

120 121
mente não mostraram ser influenciadas pela VESI, V.; CASTELLA, P. R.; CASTRO, E.B.V.; JU- RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS Este trabalho teve como objetivo testar as
profundidade da serrapilheira por serem NIOR, L.C.; CUNHA, M.B.S.; FIGUEIREDO, B.O.; DE GIRINO RHINELLA MARINA hipóteses que os predadores Belastomati-
mais generalistas que M. nigropunctata ocu- FRANKE, I.L.; GOMES, H.; GOMES, L.J.; HREI- deos popularmente conhecidos como ba-
(ANURA: BUFONIDAE) E SEU
pando todo o ambiente. Gonatodes hase- SEMNOU, V.H.V.; LANDAU, E.C.; LIMA, S.M.F.; ratas d’água em ambiente claro apresentam
mani por apresentar algumas similaridades LOPES, A.T.L.; NETO, E.M.; OLIVEIRA, L.C.;
PREDADOR (HEMIPTERA: maior número de investidas de captura,
quanto a hábitos de vida (Avilla-pires, 1995), ONO, K.Y.; PEREIRA, N.W.V.; RODRIGUES, A.S.; BELOSTOMATIDAE) EM menor tempo da primeira investida na pre-
pode ser influenciado pela profundidade da RODRIGUES, A.A.F.; RUIZ, C.R.; SANTOS, L.F. AMBIENTES CLAROS E ESCUROS dação de girinos e um maior tempo de ati-
serrapilhera, porém devido ao baixo número G.L.; SMITH, W.S.; SOUZA, C.R. 2003. Causas vidade de forrageio em relação a ambiente
de indivíduos a espécie não pode ser avalia- Antrópicas. In: Rambaldi, D.M. e Oliveira, D. Abilio José de Ferraz de Moraes1, Amanda Ferraz de escuro. A tentativa da captura da presa foi
da. O baixo número de indivíduos desta es- A. S. (orgs.). Fragmentação de ecossistemas: Miranda1, Jocieli de Oliveira1, Miquéias Ferrão da Silva considerada como investida, sendo consi-
pécie na amostra pode ser conseqüência da causas, efeitos sobre a biodiversidade e re- Junior1 derada quando o predador se locomovia em
difícil visualização da espécie no substrato comendações de políticas públicas. Brasília: direção a presa e obtinha contato físico.
Orientador: Dr. Domingos de Jesus Rodrigues²
em que ela habita. MMA. 510 p.
Concluímos que algumas espécies de la-
¹Mestrado em Ecologia e Biologia da Conservação da Materiais e métodos
Universidade Federal de Mato Grosso
gartos, como M. nigropunctata,são influen- RODRIGUES, M.T. 2005. Conservação dos O estudo foi realizado na Fazenda São Nico-
²Docente da Universidade Federal de Mato Grosso cam-
ciadas positivamente pela ausência de pas- répteis brasileiros: os desafios para um país lau (9º 51’ 16.9” S; 58º 14’57.7” W), Município
pus Sinop
tagem da Brachiaria. Porém, nem todas as megadiverso. Megadiversidade. Vol. 1(1):87- de Cotriguaçu, MT. As coletas dos indivídu-
espécies de lagartos de uma comunidade 94. Introdução os de girinos de Rhinella marina e baratas
que consegue se estabelecer em ambientes

A
d’água (Belostomatidae) foram realizadas
antropizados têm suas abundâncias influen- s formas pela quais as presas evi- em córregos e poças naturais que se encon-
SILVANO, D.L.; COLLI, G.R.; DIXO, M.B. de O.;
ciadas pela profundidade da serrapilheira. tam serem comidas são tão diver- tram ao lado da estrada de acesso a sede da
PIMENTA, B.V.S. e WIEDERHECKER. 2003. An-
Sugerimos um estudo com um maior tempo sas quanto às táticas de caça de Fazenda. Os indivíduos foram colocados em
fíbios e répteis. In: RAMBALDI, D.M. e OLIVEI-
de coleta, visto que alguns padrões podem seus predadores. Esconder, escapar e defen- sacos plásticos contendo água da poça e
RA, D. A. S. (orgs.). Fragmentação de ecossis-
estar camuflados sobre o baixo número de der-se ativamente podem ser todas efetivas, transportados até o laboratório da Fazenda
temas: causas, efeitos sobre a biodiversidade
indivíduos coletados e até mesmo sobre a dependendo das circunstâncias particulares São Nicolau, onde o experimento foi realiza-
e recomendações de políticas públicas. Bra-
variação da temperatura ao longo do dia. de uma relação predador-presa (Ricklefs, do.
sília:MMA. 510 p.
2003). Em particular, a necessidade de evitar Separamos dez baratas d´agua de tamanho
Referências bibliográficas predadores freqüentemente afetará o com-
TABARELLI, M. & GASCON, C. 2005. Lições semelhante (em torno de 0,5 cm de compri-
AVILA-PIRES, T.C.S. 1995. Lizards of Brazilian portamento de forrageio de um animal (Be- mento) e dez girinos que se encontravam
da pesquisa sobre fragmentação: aperfeiço- gon et al, 2007).
Amazonia (Reptilia: Squamata). Zoologische ando políticas e diretrizes de manejo para a no estágio de desenvolvimento 31 (Gosner,
Verhandelingen. vol. 299. Leiden. conservação da biodiversidade. Megadiver- A estratégia de forrageio é uma parte inte- 1960). Utilizamos dez placas de petri (diâme-
sidade. vol.1(1):181-188. gral de um padrão de comportamento geral tro= 8,7 cm e profundidade= 1,5 cm), sendo
AVILLA-PIRES, T.C.S.; HOODMOED, M.S. e do animal. A estratégia é bastante influencia- cinco réplicas para o tratamento claro (placa
VITT, L.J. 2007.Herpetofauna da Amazônia. da pelas pressões seletivas que favorecem de petri transparente) e cinco para o escuro
VITT, L.; MAGNUSSON, W.E.; PIRES, T.C.A. e a maximização da eficiência do forrageio e (placa de petri preta).
In: Nascimento, L.B e Oliveira, M.E. (edt). Her- LIMA, A.P. 2008. Guia de Lagartos da Reserva
petologia no Brasil II. Sociedade Brasileira de também pode ser influenciada por outras Adicionamos nas placas 50 ml de água da
Adolpho Ducke, Amazônia Central. Manaus: demandas (Begon et al, 2007). Anuros são
Herpetologia. 354p. poça, onde os girinos foram aclimatados por
Áttema Desing Editorial. 175p. predados por vários tipos de organismos e cinco minutos antes do início do experimen-
a comunidade de girinos é relacionada com to. A duração das observações em laborató-
FERRARI, L.V.; VENTICINQUE, E. e ALMEIDA, a estrutura da comunidade de predadores rio foram de 30 minutos onde registramos
S. 2005. O desmatamento na Amazonia e a (Duellman e Trueb, 1994; Hero et al, 1998). o tempo da introdução da barata até a pri-
importância das áreas protegidas. Estudos Adicionalmente, eles exibem uma diversida- meira investida., Registramos o número de
Avançados. Vol. 19(53):157-166. de de estratégias defesa, nas quais podem investidas por minuto, o tempo de atividade
incluir, características ecológicas, morfológi- de busca e se ocorreu sucesso de captura.
FISZON, J.T.; MARCHIORO, N.P.X.; BRITEZ, cas, fisiológicas ou comportamentais (Tole- Realizamos análise paramétrica e não pa-
R.M.; CABRAL, D. C.; CAMELY, N. C.; CANA- do e Jared, 1995). ramétrica relacionando o tempo da primeira

122 123
investida, número de investidas por minuto tamos uma diferença no comportamento
e tempo de atividade de busca (Teste T e das presas que se movimentaram menos no RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. Edi-
Kruskal-Wallis). tratamento claro, aparentemente procuran- tora Guanabara Koogan S.A., 2003. 503 p.
do evitar o contato com o predador. TOLEDO, L. F. Predation of juvenile and adult
Resultados O tempo de busca dos predadores não dife- anurans by invertebrates: current knowled-
As baratas d’água apresentaram o tempo riu entre os dois tratamentos, demonstrando ge and perspectives. Herpetological Review.
médio de primeira investida no tratamento a plasticidade de comportamento de preda- 36(4): 395-400. 2005.
escuro aproximadamente 11 vezes menor, ção que os Belastomatides possuem. Esta
que o tratamento claro (Figura 1; p=0,03) semelhança pode estar relacionada com res- TOLEDO, R. & JARED, R. C. Cutaneos granular
onde o número médio de investidas (Figu- postas funcionais das espécies que leva em glands and amphibian venoms. Comparative
ra 2; p=0,2) por minuto e tempo de busca consideração as condições do ambiente e Biochemistry and Phisiology. A: Comparative
(Figura 3; p=0,80) não diferiu entre os tra- quantidade de presas (Holling, 1959; Vélez, physiology, Inglaterra, 111(1): 1-29. 1995.
tamentos. Ocorreu um sucesso de captura 2007).
apenas no tratamento claro. Figura 2. Número de investidas por minuto que as bara- Os resultados apontam para dois caminhos
tas d´agua efetuaram sobre girinos de Rhinella marina distintos, sendo um voltado para o com-
durante 30 minutos de experimento. portamento do predador e o outro para o
comportamento da presa. Um estudo mais
detalhado e mais próximo das condições re-
ais pode revelar quais fatores ambientais es-
tarão realmente influenciando esta relação
predador-presa.

Referências bibliográficas
BEGON, M.; TOWNSEND, C. R. & HARPER, J. L.
Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Edi-
tora Artmed. 2007. 752 p.

DUELLMAN, W. E.; Trueb, L.Biology of amphi-


bians. The Johns Hopkins University Press,
Figura 1. Tempos da primeira investida do predador (ba-
Baltmore, USA. 1994. 670pp.
rata d´agua) ao girino (Rhinella marina) nas placas de Figura 3. Tempo de busca dos indivíduos de barata d´a-
petri transparente (Claro) e nas placas pretas (Escuro). gua na busca do girino de R. marina nos tratamentos GOSNER, K. L. . A simplified table for staging
claro e escuro. anuran embryos and larvae with notes on
identification. Herpetologica, vol. 16, p. 183-
Discussão 190.1960.

De fato, algumas espécies, quando impossi-


bilitadas de se esconder como os indivíduos HOLLING, C.S. Some characteristics of simple
do tratamento claro, freqüentemente ado- types of predation and parasitism. Canadian
tam medidas protetoras, evitando o comba- entomologist, 91: 385-398. 1959.
te físico, pois poucos tipos de presas podem
enfrentar seus predadores (Ricklefs, 2003). POMBAL JR. J. P. Notas sobre predação em
Porém, condições de ambos os ambientes uma taxocenose de anfíbios anuros no su-
não influenciaram o comportamento dos deste do Brasil. Revista Brasileira de Zoolo-
predadores. Embora não contabilizado, no- gia. 24(3): 841-843. 2007.

124 125
RESPOSTA COMPORTAMENTAL com o período anual (Costa, 1999). No pe-
DE VANELLUS CHILENSIS (AVES: ríodo não reprodutivo, os grupos variam
de quatro a oitenta aves, mas no período
CHARADRIIDAE) A DIFERENTES
reprodutivo, os quero-queros apresentam a
NÍVEIS DE AMEAÇA À PROLE monogamia e a poligamia como sistemas de
acasalamento e como forma de agrupamen-
Milene Garbim Gaiotti1, Amanda Ferraz de Miranda1, to (Sick, 1997). O ambiente ocupado pelos
Hugo Borhezan Mozele2 quero-queros deixa-os vulneráveis à preda-
1 Discentes do Programa de Pós-Graduação em Ecolo- ção. Logo eles possuem habilidades que os
gia e Conservação da Biodiversidade, Universidade Fe- levam a detectar e reagir aos predadores. O
deral de Mato Grosso – Av. Fernando Correa da Costa, s/ tipo de resposta utilizado por V. chilensis é
n°, CEP: 78060-900, Cuiabá – MT. determinado pelo perigo que o predador re-
2 Discente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia
presenta (Elliot, 1985).
e Conservação, Universidade Federal do Mato Grosso do Baseando se nessas informações este tra-
Sul, Campo Grande- MS. balho teve como objetivo analisar se existe
um padrão no comportamento de defesa de
Introdução Vanellus chilensis de acordo com a distância

C
que o predador se encontra da prole, sendo
omportamento pode ser entendido esta um ninhego, filhote ou ninho apenas
como tudo aquilo que um animal é com ovos.
capaz de fazer (Del-Claro, 2004), in-
cluindo defesa de território, comportamento Materiais e métodos
bastante observado em aves (Tomaz e Alves,
2009). Existem diversas hipóteses sobre as Este estudo foi realizado em duas áreas
funções do comportamento territorial das abertas com a presença de algumas árvores,
aves tais como: evitar epidemias, assegurar plantas arbustivas e predominância de gra-
a sincronização entre o período reprodutivo mínea, na fazenda São Nicolau, Contriguaçu-
de machos e fêmeas, evitar cópulas extra- MT. Observamos dois grupos de quero-que-
-par por parte das fêmeas, proteger o par ro utilizando dois métodos de observação:
reprodutor e os filhotes de interferências sequência – observando a sequência de
externas, estimular a dispersão dos filho- comportamento do indivíduo e ela pode ser
tes, reduzir a predação e assegurar um local dividida em fases; e animal focal – utilizado
adequado para nidificação (Allen 1934, Di- para grupos, quando é possível identificar
ckinson 1997). As espécies que apresentam cada um dos membros do grupo (Del-Claro,
um comportamento de defesa contra preda- 2004).
dores normalmente se atentam em distrair, Dois casais foram observados, um dos casais
confundir ou atacar fisicamente um inimigo, possuía um ajudante de ninho (filhote da
através de vocalizações fortes ou conspícuos última ninhada que auxilia no cuidado da
displays visuais (Deppe et al. 2003). próxima ninhada), sendo este também ob-
Uma das espécies que apresenta esse tipo de servado. O primeiro casal (mais o ajudante)
comportamento é o quero-quero, Vanellus possuía uma ninhada em duas fases de vida:
chilensis, que habita campos, margens de dois ninhegos (filhotes que acabaram de
rios, brejos, mangues, restingas e áreas aber- eclodir dos ovos, e ainda ficam no ninho) e
tas, tolerando locais sob pressão antrópica um jovem (filhote que já saiu do ninho, mas
(Antas, 2004). Trata-se de uma ave gregária ainda depende dos adultos), já o segundo
cujo grupo varia em tamanho de acordo casal possuía apenas três ovos. O período
de amostragem teve a duração de 6 horas e

126
meia, distribuídas em seis seções para cada Figura 1: Frequência de ocorrência dos comportamen- dades do ninho, pode ser explicado por ser
casal, com intervalos de dez minutos entre tos de defesa observados de adultos de Vanellus chilen- de grande gasto energético (devido ao posi-
elas. sis, para cada tipo de prole (ninhego, jovem e ovo), ob- cionamento do animal, e vocalizações cons-
Para observar se o comportamento de de- servados na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu- MT. tantes), pois um comportamento extremo é
fesa dos adultos mudava à medida que um tomado apenas quando a ameaça é alta.
possível predador se aproxima da prole, o A fêmea do segundo casal, que possuía ape- O estágio de desenvolvimento dos filhotes
observador percorria um trecho de 50m em nas ovos, foi observada ovipondo instantes exige consideráveis demandas de energia,
direção a prole (ovo, ninhego ou jovem), e antes do início das observações. Levando que por sua vez é determinado pelo padrão
a cada reação comportamental dos adultos em consideração o gasto energético de uma de eclosão, taxa de crescimento, tamanho da
era marcado o tipo de comportamento e a postura de ovos, os dados também foram ninhada e custos regulatórios (Martin, 1987).
Figura 3: Comportamentos de defesa da prole por adul-
distância que o observador se encontrava da analisados sem contabilizar o comporta- Uma ninhada onde os filhotes já eclodiram
tos de Vanellus chilensis em resposta a distância do pos-
prole. Os comportamentos analisados foram mento dessa fêmea, pois poderiam influen- significa que os pais já investiram um cuida-
sível predador com relação à prole para os três estágios
determinados a priori, e ordenados do me- ciar nos resultados. Foi observado que com do parental maior, com maior gasto energé-
de vida da ninhada (Ninhego, Jovem e ovo), observados
nos para o mais agressivo, sendo eles: vocali- a exclusão do comportamento da fêmea tico, do que uma prole onde existem apenas
na Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu- MT.
zação, distração, vigilância, vocalização com ovopositora a defesa da prole com ovos ovos (Ricklefs, 1990). Isso pode explicar a
distração, vocalização com aproximação, apresentou uma resposta mais rápida à pre- reposta mais rápida dos adultos que defen-
aproximação e display. O comportamento sença do possível predador (Figura 2). diam os ninhegos e jovem, além disso a taxa
classificado como display, é um comporta- de sobrevivência pós eclosão é mais alta do
mento característico da espécie, onde o V. que dos ovos (Ricklefs, 2000).
chilensis toma uma postura abaixada e ex- O comportamento de defesa de ninho não
põe seus esporões localizados na asa (Sick, se resume apenas em movimentos físicos do
1997), este comportamento é conhecido por animal, mas também incluem os compor-
ser uma das principais formas de afastar o tamentos sonoros, que apesar de também
predador (Mitchell & Thompson, 1986). serem fáceis de escutar, as características do
canto para cada resposta às ameaças, podem
Resultados ser distintas para cada tipo de estimulo ex-
Figura 4: Comportamentos de defesa da prole por adul- terno (Palestis, 2005). Assim, estudos sobre a
Os adultos de V. chilensis começaram a res-
tos de Vanellus chilensis, com exceção da fêmea ovopo- vocalização de defesa de Vanellus chilensis
ponder à presença do possível predador em Figura 2: Frequência de ocorrência dos comportamen-
sitora, em resposta a distância do possível predador ao ninho, devem ser realizados para comple-
uma distância média de 38,77m. O compor- tos de defesa observados de adultos de Vanellus chilen-
com relação em três estágios de vida da ninhada (ninhe- mentar o estudo destes comportamentos da
tamento mais frequente apresentado por sis, com exceção da fêmea ovopositora, para cada tipo
go, jovem e ovo), observados na Fazenda São Nicolau, espécie.
eles a essa distância foi o de vocalização de prole (ninhego, jovem e ovo), ), observados na Fazen-
Cotriguaçu- MT.
(55,2%). Na medida em que o observador se da São Nicolau, Cotriguaçu- MT.
Referências bibliográficas
aproximava da prole o comportamento de
Discussão
defesa de V. chilensis se tornava mais agres- ALLEN, A.A. 1934. Sex rhythm in the ruffed
Com relação à mudança dos comportamen-
sivo, sendo o comportamento de display A reprodução inclui riscos e representa um grouse (Bonasa umbellus Linn.) and other
tos de defesa de adultos de V. chilensis em
realizado mais frequentemente a distâncias investimento que geralmente afeta o repro- birds. The Auk, 51: 180-199.
resposta à distância em que o possível pre-
curtas da prole (Figura 1). dutor (Ricklefs, 1990). Indivíduos em deter-
dador se encontra da ninhada, pode-se ob-
servar que a resposta dos adultos que cuida- minada idade e sexo defrontam-se com uma ANTAS, P. T. Z. 2004. Pantanal - Guia de Aves.
vam dos jovens e ninhegos era mais rápida, série de escolhas (como por exemplo, defen- Rio de Janeiro: SESC, Departamento Nacio-
ou seja, em maiores distâncias do predador der ou abandonar o ninho) (Williams, 1966). nal.
com relação à prole. Sendo o comportamen- Vanellus chilensis, como foi observado, opta
COSTA, L. C. M. (1999). Análise do comporta-
to de display realizado apenas em pequenas por defender o ninho diante de uma amea-
mentoagonístico de Vanellus chilensis (Mo-
distâncias do ninho, e não observado para os ça externa, apresentando diferentes tipos de
lina, 1782) (Charadriiformes, Charadriidae).
casais com ovos (Figura 3 e 4). comportamento para isso. O fato do com-
Tese de doutorado, Universidade Federal do
portamento de display, considerado o mais
Paraná, Curitiba, PR.
agressivo, ter sido observado nas proximi-

128 129
evolutionary optimization, and the diversi- EFCIÊNCIA DE CAPTURA DE de Scarabaeinae reflete especialização na
COSTA, L. C. M. 2002. O Comportamento fication of avian life histories. Condor 102: SCARABAEINAE COM O USO evolução destes invertebrados (Halffter &
Interespecífico de Defesa do Quero-quero, 9-22. DE DIFERENTES TIPOS DE Matthews, 1966).
Vanellus chilensis (Molina, 1782) (Charadrii- Muitas espécies de diferentes grupos mos-
EXCREMENTOS HUMANOS EM
formes, Charadriidae). Revista de Etologia. SICK, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: tram certas preferências quando comparado
4(2):95-108.
ARMADILHAS DE QUEDA excremento humano e bovino. Nas florestas
Nova Fronteira. 1997.
DEL-CLARO, K. 2004. Comportamento ani- das Américas o excremento humano é atrati-
mal: Uma introdução a ecologia comporta- TOMAZ, V. C. & ALVES, M. A. (2009). Compor- Abilio José de Ferraz de Moraes1, Carla Lopes Velas- vo a muitos Scarabaeide (Nichols et al, 2008).
mental. Editora Livraria Conceito. Júndiaí, SP. tamento Territorial Em Aves: Regulação Po- quez1, Daniela da Silva Monteiro1, Jhany Martins Dos Porém, pouco se sabe se o tipo de dieta exer-
Santos1 ce efeito no excremento e consequentemen-
pulacional, Custos E Benefícios. Oecol. Bras.,
Orientador: Fernado Vaz de Mello² te na captura desses animais. O objetivo des-
DEPPE, C., HOLT, D. TEWKSBURY, J. BROBERG, 13(1): 132-140.
L. PETERSEN, J. & WOOD, K. 2003. Effect of ¹Discentes do curso de Mestrado em Ecologia e Biologia te trabalho foi determinar se existe diferença
da Conservação da Diversidade na eficiência de captura de Scarabaeinae
Northern Pygmy-owl (Glaucidium gnoma) WILLIAMS, G. C. (1966). Natural selection, the
com o uso de excrementos humanos com
eyespots on avian mobbing. Auk. 120:765- cost of reproduction and a refinement of La- ²Dr. docente da Universidade Federal de Mato Grosso
dieta diferenciada (vegetariano e onívoro).
771. ck’s principle. American Naturalist. 916 (100): Nossa hipótese é que as armadilhas com ex-
DICKINSON, J.L. 1997. Male detention affects 687- 690. Introdução cremento humano com dieta onívora cap-

O
extra-pair copulation frequency and pair s besouros “rola bosta” (termo turem maior variedade de espécies do que
behavior in western bluebirds. Animal Beha- utilizado para descrever os Sca- armadilhas com excremento humano com
viour, 53: 561-571. rabeinae coprófagos), fornecem dieta vegetariana.
exemplos de como os organismos perce-
ELLIOT, R. D. (1985) The effects of predation bem e respondem as mudanças ambientais, Materiais e métodos
risk and group size on the anti-predator mesmo em escala reduzida. São extrema-
Área de Estudos
responses of nesting lapwings Vanellus va- mente importantes como decompositores,
nellus. Behaviour. 92(1-2), 168-187. inimigos naturais de pragas coprobiontes e Conduzimos o presente estudo na Fazenda
indicadores de biodiversidade (Duraes et al, São Nicolau, situada em Cotriguaçú, a no-
2005; Vaz de Mello, 2000). Sua eficiência na roeste de Mato Grosso, que desenvolve um
MARTIN, T. E. (1987). Food as a limit breeding
remoção de excrementos, cadáveres e frutos projeto de reflorestamento para seqüestro
birds: a life history perspective. Annual Re-
decompostos coloca este grupo de insetos de carbono sobre área de pastagem. Todos
view of Ecology and Sytematics. 18: 453- 487.
como componentes fundamentais na manu- os pontos de coleta foram instalados em
tenção de ecossistemas (Halffter e Mattheus, mata nativa que circunda os talhões de re-
MITCHELL, R. W. & THOMPSON, N. S. (1986). 1966). A presença e abundância de excre- florestamento da fazenda.
Deception, perspectives on human and no- mento são fatores que podem determinar Coleta de Dados
nhuman deceit. State University of New York a presença e abundância destes animais em Instalamos 15 armadilhas de queda, dispos-
Press, Albany. 388p. certos ambientes. Os campos e pastos, por tas em blocos de três, distribuídas em cin-
exemplo, possuem grande abundância des- co réplicas, separadas por 50 m entre si, no
PALESTIS, B. G. (2005). Nesting Stage and tes animais que exercem um papel impor- interior da floresta nativa. Cada armadilha
Nest Defense by Common Terns. Waterbirds tante na ciclagem de nutrientes (Halffter & foi projetada com um pote plástico de 1 li-
28(1): 87-94. Matthews, 1966). tro que foi enterrado a altura do solo. Nes-
Os “rola bosta” tem uma ampla distribuição te recipiente foi adicionado água misturada
RICKLEFS, R. E. (1990). The economy of na- e são diversos e abundantes tanto em ecos- com detergente e sal, sendo que o primeiro
ture: a textbook in basic ecology. New York, sistemas tropicais, quanto temperados. As é usado para diminuir a tensão superficial e
Chiron Press. 470p. florestas tropicais são muito ricas em espé- o segundo serve para garantir a integridade
cies e contém grande variedade morfológica dos espécimes. Sobre este pote, na região
e ecológica de Scarabaeinae (Nichols et al. central, foi colocado um copo plástico de 50
RICKLEFS, R. E. (2000). Density dependence,
2007). A coprofagia na maioria das espécies ml transpassado por um arame para firmá-lo

130 131
no pote. Dentro do copo foram adicionadas 1966). A similaridade de abundância e rique-
excrementos, que funcionam como a isca Espécies Oniv Onib Veg za entre os excrementos utilizados pode ser
para atrair os besouros. Diconthomius sp1 1 0 0 explicada pelo baixo número de espécies es-
Para cada réplica colocamos três armadi- Oxysternum conspicilatum 1 0 0 tenofágicas (preferência por determinados
lhas com diferentes iscas para os “rola-bos- Canthidium sp5 1 0 0 tipos de excremento) entre os Scarabaeinae.
tas”. Utilizamos excrementos de indivíduos Euristernum atrocericus 3 1 0
humanos, cujas dietas alimentares se dife- Onthofagus digitifer Conclusão
0 1 0
rem nas seguintes categorias: dieta restrita Concluímos que apesar dos besouros rola-
Eurysternus vastiorum 0 2 0
a vegetais (vegetariano), dieta onívora que -bosta não apresentarem preferência por
Canthon aff. semiopacus 0 1 1
inclui somente um tipo de carne (branca) excremento de vegetarianos ou onívoros, o
e dieta onívora sem restrições, inclusive de Dichotomius aff. globulos 0 0 1
excremento humano é uma eficiente isca em
carne vermelha. Todos os doadores estavam Canthidium sp4 0 0 1
armadilhas de queda.
submetidos a uma dieta similar (quanto aos Hansreia s p 1 0 1
itens comuns de dieta), há uma semana. Scybaloconthon sp1 1 0 1 Referências
Análise de dados Dichotomus sp 1 0 2 Figura 2 – Similaridade na composição de “rola bosta”,
DURÃES, R; MARTINS, W. P; VAZ DE MELO,
Utilizamos uma análise de variância (ANOVA) Phanaeus chacomelas 8 11 8 representada em duas soluções de MDS, coletados com
três diferentes iscas de excrementos (onib= dieta onívo- F.Z. 2005. Dung Beetle (Coleóptera: Scara-
relacionando os dados de riqueza e abun- Canton aff. subhyalinus 5 11 1
ra com carne branca, oniv = dieta onívora com carne daeidae) Assemblages across a Natural Fo-
dância dos besouros com os tipos de iscas. Canthidium sp1 33 17 30
vermelha e veg = dieta vegetariana) em mata nativa, na rest-Cerrado Ecotone in Minas Gerais, Brazil.
Realizamos uma ordenação MDS com duas Ontophagus onorei 11 25 10
Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT. Neotropical Entomology 34(5):731.
soluções, utilizando a distância de Bray-Cur- Ontophagus haematopus 14 30 3
tis para representar graficamente a similari- Oxysternnon macleayi 4 1 11
dade entre os grupos humanos com dieta Discussão HALFFTER, G., MATTHEWS, E.G.1966. The Na-
Total 9 5 7
diferenciada. tural History of Dung Beetles of the Subfa-
Tabela 1 – Abundância de espécies de Scarabaeinae Não detectamos nenhuma espécie em um
mily Scarabaeinae, 308 pp.
atraídas por excrementos de onívoro que inclui carne único tipo de excremento com mais de um
Resultados
vermelha, onívoro que inclui carne branca e vegetaria- indivíduo. Isso não nos permite inferir a pre-
Coletamos 254 indivíduos distribuídos em no em uma área de floresta nativa, na Fazenda São Nico ferência das espécies por um determinado MILLER, a. E. RODRIGEZ; NICHOLS, R. L. 1961.
13 gêneros e 18 espécies da subfamília Sca- excremento. O gênero Canthidium, repre- The fat helmith eggs and protozoan cysts in
rabaeinae. As espécies mais abundantes fo- sentado pela espécie mais abundante neste human feces ingested by dunge beetle (Co-
ram Canthidium sp1, Ontophagus onorei e trabalho, é comum na região tropical (Schif- leoptera: Scarabaeidae), Am. J. Trop. Med.
Ontophagus haematopus, ambas com 80, fler et al, 2003). Era esperada especificidade Hygge (5): 748-754.
47 e 46 respectivamente. Os excrementos de no uso dos excrementos pelos besouros, to-
vegetariano, onívoro (carne branca) e onívo- davia, certas características na constituição NICHOLS, E; SPACTOR, S; LOUZADA, J; LAR-
ro (carne vermelha) atraíram 70, 100 e 84 in- fecal humana podem ser mantidas apesar de SEN, T; AMEZQUITA, S; FAVILA, M. E. 2008.
divíduos respectivamente (Tabela 1). dietas diferentes. Ecological function and ecosystem services
Não houve diferença na composição de es- tSegundo Miller et al. (1961), a massa fecal provided by Scarabaeinae dung beetles.
pécies atraídas por cada isca (F= 0,46; p=0,6; de humanos apresenta de 10 a 25% de bac- Biological Conservation. doi:10.1016/j.bio-
Fig. 1). Não ocorreu separação entre os gru- térias e estes números não diferem da consti- con.2008.04.011.
pos representando a composição de “rola tuição da massa fecal de animais herbívoros.
bosta” em iscas de excremento humano com A microbiota fecal quando comparada entre
SHIFFLER, G. VAZ DE MELLO, F. Z; AZEVEDO,
dieta diferenciada (Fig 2). humanos não deve variar consideravelmen-
C.O.2003 Scarabaeidae s.tr. (Coleóptera) do
te, independentemente da dieta. Esse fato
Figura 1 - Abundância de indivíduos de “rola bosta” nas Delta do Rio Doce e Vale do Suruaca no Mu-
explica a ausência de agrupamentos na aná-
diferentes iscas de excrementos (onib= dieta onívora nicípio de Linhares, Estado do Espírito Santo,
lise de similaridade.
com carne branca, oniv = dieta onívora com carne ver- Brasil. Revista bras. Zoociências, Juiz de Fora
melha e veg = dieta vegetariana) em mata nativa, na A maioria das espécies da subfamília estu- V. 5 Nº 2 Dez. p. 205-211.
Fazenda São Nicolau, Cotriguaçu, MT. dada são eurifágicas (Halffter & Matthews,

132 133
VAZ DE MELLO, F. Z. 2000 Estado atual de co-
nhecimento dos Scarabaeidae S. STR. (Cole-
óptera: Scarabaeoidea) do Brasil.

134

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