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Doi: 10.5212/Emancipacao.v.12i1.

0010

Pressupostos para a intervenção profissional1 em


Serviço Social

Preconditions for professional intervention in


Social Service

Teresa Kleba Lisboa*


Edaléa Maria Ribeiro**

Resumo: Este ensaio apresenta alguns pressupostos teórico-metodológicos


para a intervenção profissional em serviço social, sinalizando os diferentes
campos de atuação e demarcando o espaço sócio institucional como um espaço
conflitivo, onde perpassam correlações de forças, e que ao mesmo tempo é
pleno de possibilidades. Discute a importância de o profissional apropriar-se do
objeto de intervenção que constitui o cotidiano da sua prática, elencando alguns
procedimentos metodológicos, enfatizando a importância da interdisciplinaridade
na análise e encaminhamento das diferentes situações sociais e conclui que teoria
e prática intercalam-se em constante movimento dialético, sendo indissociáveis
para um exercício profissional sério e competente.
Palavras-chave: Formação profissional. Intervenção profissional. Serviço Social.

Abstract: This paper presents some theoretical and methodological propositions


for professional intervention in social service, indicating the different fields of
social and marking the institutional space as a contentious area, where permeate
correlations of forces, and at the same time is full of possibilities. Discusses the
importance of the professional ownership of the object of intervention which is
the everyday practice, listing some methodological procedures, emphasizing the
importance of interdisciplinary analysis and routing of different social situations and
concludes that theory and practice interleave in constant dialectical movement,
being inextricably linked to a serious and competent professional intervention.
Keywords: Professional training. Professional intervention. Social Service.

Recebido em: 02/008/2012. Aceito em: 25/09/2012.

1
Entendemos que não há unanimidade junto à categoria de profissionais em relação às concepções sobre “intervenção profissional”,
“exercício profissional” ou “prática profissional”. Compreendendo a polêmica em torno dessas expressões, optamos neste trabalho utilizá-
-las como sinônimo, sem entrar no debate das mesmas já que não é isto que se propõe no presente artigo.
*
Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do Departamento de Serviço Social e do
Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil. E-mail: tkleba@gmail.com
**
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professora do Departamento de Serviço So-
cial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: edalearibeiro@gmail.com

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Teresa Kleba LISBOA; Edaléa Maria RIBEIRO

Introdução empresas, instituições filantrópicas, associações,


cooperativas, fundações e outras.
O exercício profissional, em qualquer
A maioria destas Instituições tem seus
espaço sócio ocupacional pressupõe “compre-
objetivos e finalidades definidos (público alvo,
ender a realidade no seu movimento, captar
critérios de seleção, oferta de serviços, pro-
nela possibilidades de ação, priorizar, planejar,
gramas, projetos), integram uma determinada
executar e avaliar, num movimento permanente
conjuntura socioeconômica e estão inseridas
continuo e conjunto (...)” (Vasconcelos, 2003, p.
em redes que envolvem alianças políticas. De
416), articulando-se com outros profissionais,
forma geral, a intervenção profissional nesses
adotando uma postura política favorável aos
espaços explicita situações sociais que afetam as
usuários, estabelecendo redes para configurar
condições materiais da população, em particular
uma força social em busca de uma sociedade
os setores mais empobrecidos. A prestação de
justa e igualitária.
serviços sócio-assistenciais é uma das ações
Considerando essa afirmação, pretende-
interventivas, seguida de ações de gerência e
mos neste ensaio, apresentar alguns pressupos-
planejamento, administrativas, de mobilização e
tos para a intervenção profissional em Serviço
organização social, de assessoria e consultoria
Social, a partir de nossa experiência enquanto
entre outras.
docentes de uma das disciplinas que enfoca
Elencamos a seguir, algumas das princi-
“Processos de Trabalho e Serviço Social” no
pais atividades desenvolvidas, atualmente, pelos
Curso de Serviço Social da UFSC, trazendo para
profissionais de serviço social, com base em
o debate elementos que perpassam o cotidiano
nossa experiência profissional e de docência:
de prática nos mais diversos campos de estágio
• Prestação de serviços sócios assisten-
bem como das instituições que contratam assis-
ciais em instituições públicas como Prefeituras
tentes sociais a partir de uma inquietação sobre
Municipais (através de seus diferentes Progra-
a produção incipiente acerca do tema, face o
mas), Hospitais, Postos de Saúde, Tribunais de
caráter interventivo da profissão.
Justiça, Fóruns e Juizados; Empresas; Organi-
No encaminhamento de nossas reflexões
zações sem fins lucrativos de caráter público,
partimos do pressuposto que o espaço privilegia-
Instituições Filantrópicas, Culturais, de apoio
do da intervenção profissional é o cotidiano das
ou defesa a determinados grupos de pessoas
instituições; é ali que se descortina o “mundo da
entre outras.
vida”, que por sua vez demanda uma determi-
• Ações de administração, gerência e pla-
nada compreensão de realidade e onde teoria e
nejamento, participação na elaboração dos Pla-
prática são indissociáveis. Nesse sentido, para
nos Plurianuais, das propostas orçamentárias,
efeitos didático-pedagógicos destacaremos al-
da elaboração de Programas e Projetos, tanto
guns elementos que consideramos importantes
em Instituições públicas como privadas;
no exercício profissional, ousando dialogar para
• Ações de Assessoria e/ou Consultoria
além das verdades únicas e entendendo que
junto a Instituições públicas ou privadas, Empre-
a compreensão da realidade pode e deve ser
sas, Movimentos Sociais, Conselhos de Direito,
analisada na perspectiva do pluralismo teórico
Fóruns, Conferências de Políticas Públicas entre
metodológico.
outros.
• Ações Sócio-educativas – tanto em Insti-
Campos de atuação e atribuições da
tuições públicas como privadas, junto a Escolas,
profissão
Colégios, Educandários, Organizações Não
As inúmeras Instituições que contratam Governamentais entre outras.
assistentes sociais formam um vasto campo Estas atividades são orientadas por di-
de possibilidades (espaços) para o exercício versas competências que circunscrevem o exer-
profissional e possuem ingerência em diferentes cício da profissão, conforme o artigo 5° da Lei
âmbitos territoriais: municipal, estadual ou fede- 8.662/93, bem como pelas atribuições privativas
ral. Em relação ao formato jurídico podem ser do Serviço Social, a saber: coordenar, elaborar,
de caráter público, tanto na esfera do executivo executar, supervisionar e avaliar estudos, pes-
como do judiciário, ou de caráter privado como: quisas, planos, programas e projetos na área de

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Pressupostos para a intervenção profissional em Serviço Social

Serviço Social; planejar, organizar e administrar político, jurídico, religioso; definem prioridades
programas e projetos em Unidade de Serviço e expressam correlação de forças; por esse
Social; prestar assessoria e consultoria a órgãos motivo, são acima de tudo, entidades políticas
da administração pública direta e indireta, em- (WEISSAUPHT, 1988).
presas privadas e outras entidades, em matéria É comum vermos análises que transfor-
de Serviço Social; realizar vistorias, perícias técni- mam as instituições em inimigas das transfor-
cas, laudos periciais, informações e pareceres mações sociais, que ressaltam o seu papel de
sobre matéria de Serviço Social; treinar, avaliar e controle e guardiã das normas e valores, crista-
supervisionar diretamente estagiários de Serviço lizando seus papéis e incitando ao preconceito,
Social; coordenar seminários, encontros, con- numa visão althusseriana que marcou a profissão
gressos e eventos assemelhados sobre assuntos em tempos idos. São os espaços privilegiados
de Serviço Social; dirigir serviços técnicos de Ser- do cotidiano de intervenção, junto as Instituições,
viço Social em entidades públicas ou privadas. que devem ser valorizados como bem aponta
a análise de Heller, (1991, citada por SAWAIA,
O espaço institucional como locus de 1998, p. 103):
possibilidades o cotidiano é o lugar do espontâneo, do há-
Toda prática profissional é desenvolvida bito, do desempenho automático dos papéis,
da rotina, mas é ao mesmo tempo um lugar
junto a uma Instituição, que por sua vez está
onde a pessoa humana participa por inteiro,
inserida em uma dada realidade, cuja dinâmica onde coloca em funcionamento todos os seus
é orientada por normas, regras, valores, princí- sentimentos, paixões, ideias e ideais. É onde
pios morais, disputas políticas e ideológicas que apreende o mundo e nele se objetiva de for-
repercutem e consolidam a estrutura dessas ma única, dentro das possibilidades ofereci-
instituições. das por esse mundo. Portanto, é o lugar onde
Esta estrutura envolve um conjunto de su- a pessoa humana vive a sua particularidade,
jeitos concretos, submetidos a uma determinada mas também é onde pode superá-lo em dire-
hierarquia (organograma), que também seguem ção a humanidade.
essas regras, normas e parâmetros de atuação. Na maioria das instituições, o atendimento
Este formato estrutural evidencia que o cotidiano dos usuários e a execução das políticas sociais
das instituições é permeado pela correlação de estão sob a responsabilidade direta e imediata
forças que envolvem, de um lado, a direção da dos assistentes sociais que operam na prática.
instituição: gestores, executivos, administra- Se, de um lado, os profissionais contratados de-
dores, os que delegam as funções e exercem vem seguir normas contratuais, regulamentações
poderes; e de outro, os trabalhadores, empre- específicas que por vezes limitam suas funções,
gados que tanto podem ser os profissionais, por outro, aqui se configuram as oportunidades
funcionários qualificados ou não, contratados e possibilidades para que os mesmos materiali-
para a execução e prestação dos serviços, bem zem o projeto ético-político da nossa profissão,
como os usuários que recorrem à mesma em considerando a realidade posta que de acordo
busca dos serviços oferecidos. com Bravo “ressalta a construção de uma nova
Ao ser contratada (o) por uma Instituição, a ordem social, com igualdade, justiça social, uni-
(o) assistente social deverá inteirar-se de todos versalização do acesso à políticas sociais [...]”
esses aspectos que envolverão o seu cotidiano (2009, p. 401).
profissional compreendendo que a sua prática Apesar de nos confrontarmos, frequen-
será marcada por interesses distintos, muitas ve- temente, com a nossa “autonomia relativa” no
zes antagônicos, face aos objetivos da Instituição espaço profissional, é exatamente nele que se
e os objetivos dos usuários que a ela recorrem. configuram as possibilidades de sermos proposi-
A ampla maioria das Instituições que con- tivos e criativos, planejando, discutindo, analisan-
tratam assistentes sociais integra processos do e executando programas e projetos. É neste
de organização e legitimação social e, para “espaço do possível” que podemos efetivar uma
além do processo produtivo exercem “poderes” intervenção crítica sustentada pelas particulari-
dades teórico-metodológicas da nossa profissão.

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Teresa Kleba LISBOA; Edaléa Maria RIBEIRO

A clareza profissional acerca do “Código de sentações sociais que além da singularidade,


Ética” que orienta a profissão bem como a Lei expressam determinações sociais complexas”.
que a regulamenta são elementos fundamentais Ao atender e acolher os usuários – geral-
para garantir uma intervenção competente teóri- mente fragilizados, excluídos de algum direito,
ca, técnica e politicamente, contribuindo para que carente de necessidades básicas ou para além
o profissional não confunda objetivos da Institui- delas, o assistente social intervém na perspec-
ção com objetivos da profissão. Daí inclusive, a tiva de fortalecimento, inclusão, garantia de
importância de identificarmos claramente o ob- direito e de resgate da cidadania desse sujeito.
jeto de nossa intervenção nos distintos espaços Recuperar sua condição de cidadão pressupõe
sócio-institucionais. potencializar o exercício profissional, articulando
o individual ao coletivo; todas as pessoas que
Apropriação do objeto de intervenção recorrem ao serviço social (usuários) convivem
em um determinado espaço geográfico e devem
Ao se inserir no mercado de trabalho o sentir-se incluídas, ter sua dignidade de cidadãos
profissional de Serviço Social deve apropriar-se reconhecida na sociedade em que vivem e na
do objeto que constitui o cotidiano de sua prá- comunidade onde habitam. Priorizar o trabalho
tica. Discussões sobre o objeto de intervenção coletivo, com ações a partir dos locais onde ha-
das (os) Assistentes Sociais têm sido feitas ao bitam os usuários, através de encontros entre
longo da história da profissão2, e as diretrizes os moradores, assembléias, processos de grupo
curriculares no contexto da maioria das Escolas é uma importante perspectiva metodológica no
de Serviço Social, no Brasil, definem a “questão processo interventivo da profissão. É aqui, tam-
social” nas suas diferentes expressões, como bém, que se abrem as possibilidades para um
sendo o objeto do Serviço Social. Concordamos trabalho que contemple a dimensão do controle
com Ianni (2004) quando este afirma que social pelos cidadãos, em relação ao Estado.
a questão social expressa disparidades eco- Faleiros que nos convida a “reprocessar
nômicas, políticas e culturais das classes o objeto de intervenção” (2001, p. 23), quando
sociais, mediatizadas por relações de gêne- afirma que “tanto a sociedade como a profissão
ro, características étnico-raciais, e formações são construídas na dinâmica das relações so-
regionais, colocando em causa as relações ciais implicando lutas de poder, saber” (2001, p.
entre amplos segmentos da sociedade civil 25). Seguindo este entendimento, o objeto de
e o poder estatal. Envolve, simultaneamen- intervenção do Serviço Social materializa-se na
te, uma luta aberta e surda pela cidadania situação que envolve os sujeitos atendidos pela
(IANNI, 2004, p.103). Instituição, a partir dos serviços por ela ofereci-
dos, como por exemplo: crianças em situação
Nesta perspectiva, o profissional de Serviço
de risco social, adolescentes em conflito com a
Social, ao se apropriar do objeto de intervenção, lei, idosos em situação de violação dos direitos,
deve estar atento às dimensões que envolvem famílias em situação de vulnerabilidade social,
relações de classe, gênero, raça/etnia, geração, mulheres em situação de violência, população
bem como incluir na análise do exercício de suas reivindicando moradia entre tantas outras.
práticas, as dimensões culturais, as convicções Nesta perspectiva, todo objeto de interven-
religiosas e éticas dos usuários, assim como os ção do Serviço Social deve ser entendido em um
componentes afetivos e emocionais, pois como contexto de entrecruzamento de conceitos que
afirma Sawaia (1998, p. 105) “as relações sociais nos permita entender como as expressões da
não são apenas cognitivas ou sociais, elas têm questão social se materializam em determinada
carga afetiva, bem como os sentimentos não realidade, considerando que estas são media-
são somente pulsões naturais [...]; são repre- tizadas também por relações de gênero, raça/
etnia, geracional entre outras. Os usuários que
recorrem a uma Instituição procurando serviços
2
A Revista Temporalis N° 03, Brasília, publicada pela ABEPSS, sociais, além de serem trabalhadores empobre-
2004 enfoca a “questão social” como objeto do Serviço Social cidos, constituem-se em sujeitos cuja identidade
trazendo as concepções de Iamamotto, Yazbek, Pereira e Neto;
por sua vez, FALEIROS, discute o objeto do Serviço Social em
perpassa as questões de raça/etnia, de gênero,
seu livro: Estratégias em Serviço Social. São Paulo, Cortez, 2001. geração, entre outras.

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Pressupostos para a intervenção profissional em Serviço Social

Outro elemento importante que perpassa Procedimentos Metodológicos para a


o cotidiano de intervenção profissional do Ser- intervenção profissional
viço Social é a correlação de forças a que está
Para que as (os) assistentes sociais te-
submetido na estrutura hierárquica da Instituição
nham a possibilidade de intervir na direção dos
(geralmente a um gerente, diretor, supervisor,
interesses dos usuários – priorizando o res-
quando não pela primeira dama do município).
gate destes como sujeitos de direitos sociais,
Esta correlação de forças envolve questões de
o trabalho profissional exige procedimentos
poder, definição de prioridades para o encami-
metodológicos claros e objetivos. Com base na
nhamento e resolução das demandas que ali
nossa experiência de docentes que interagem
chegam e que repercute na escassez (ou não)
com profissionais no exercício cotidiano da pro-
de recursos, decorrente de disputas políticas
fissão bem como com estudantes nos campos
em torno das definições de prioridades. Não há
de estágio em Serviço Social, elencamos alguns
como o profissional de serviço social desconside-
procedimentos que consideramos importantes
rar este elemento no seu exercício profissional,
para a intervenção profissional3 :
já que este fator tem impacto direto na sua ação.
Mas é importante assinalar o que afirma a) Definição do objeto de intervenção profis-
Baptista (1998, p. 113): sional considerando os objetivos4, finali-
dades e critérios de atendimento de cada
Se por um lado, a instituição tem o monopólio
do objeto e dos recursos institucionais, se é
Instituição; esse procedimento requer
ela que define o significado objetivo do papel um profundo conhecimento por parte do
do profissional e a expectativa que existe em profissional de Serviço Social acerca da
relação a ele, por outro lado, é o modo parti- Instituição que o contratou: sua estrutura
cular, subjetivo, como o profissional elabora a burocrática, formato jurídico (leis, normas,
sua situação, estabelecendo sua própria or- regras que a conduzem), estrutura hierár-
dem de relevâncias que vai dar sentido a seu quica (correlação de forças), direção polí-
trabalho. tica (ou religiosa, no caso das Instituições
Para além dessa forma hierárquica de Filantrópicas), entre outros.
poder, outra forma de conceber essas relações b) Identificação das necessidades dos usuá-
de força é a partir do entendimento de Michel rios que pode ser conhecida e construída
Foucault (1987), para o qual o exercício do poder através de levantamento sócio econômico,
sempre ocorre entre sujeitos que são capazes entrevistas, visitas domiciliares, fichas,
de resistir, em muitas e variadas direções como prontuários, documentação institucional,
se fosse uma rede. No espaço institucional estudos já efetuados propondo, sempre
geralmente ocorrem relações que perpassam que possível, com os usuários, um plano
os “micropoderes”, ou seja, relações laterais e de ação que possibilite a resolutividade
verticais que circulam entre colegas e equipe de das demandas na perspectiva dos direitos
trabalho e conforme Foucault (1987) é importante e da cidadania;
percebermos os efeitos dessas relações como c) Utilização de instrumentos e técnicas
estratégias, táticas, técnicas e funcionamentos, durante o processo de intervenção tais
que por sua vez são resistidas, contestadas e como acolhimento, escuta social qualifi-
respondidas. cada, observação participante, entrevista,
Portanto, nossa intervenção profissional levantamento socioeconômico, visita domi-
deve ser entendida de forma estratégica, no esta- ciliar, trabalho com grupos, informação e
belecimento constante de redes de relações den-
tro do espaço sócio institucional caracterizado
por uma “multiplicidade de pontos de resistência”. 3
Para a construção desses procedimentos, tivemos como parâ-
metro as sugestões de Ana Maria de Vasconcelos (2003) e as
propostas de Teresa Zamanillo e Lourdes Gaitán (1991).

4
É importante destacar que os objetivos da Instituição geralmente
são distintos dos objetivos da profissão. Daí a necessidade de
clareza na identificação tanto do objetivo como do objeto.

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documentação (conhecimentos de infor- encaminhamento dos usuários para os lu-


mática, elaboração de relatórios técnicos, gares onde estes efetivamente possam ter
levantamento das redes sócio assisten- seus direitos garantidos com a eficiência
ciais, cartilhas informativas) entre outros; e a qualidade que um atendimento profis-
é a partir das formas de comunicação (oral sional competente e comprometido requer.
e escrita) no espaço das instituições que o h) Democratização de informações e conheci-
profissional de serviço social poderá criar, mentos necessários e fundamentais tendo
construir e utilizar diferentes instrumentos. em vista o controle social e a participação
d) Compreensão da realidade social mais cultural e política, o que exige a transforma-
ampla e local (leitura de conjuntura) to- ção das condições de subalternidade cul-
mando como referência a Constituição Fe- tural e política dos sujeitos que acessam,
deral, a Lei Orgânica do Município, a Lei processam e trabalham estas informações,
de Diretrizes Orçamentária, análise das sejam assistentes sociais, usuários, corpo
Políticas Municipais o Código de Ética Profis- técnico ou outros;
sional, a Lei de Regulamentação da Pro- i) Participação nos mecanismos de controle
fissão, não só tornando-os públicos para os social assegurados pela Constituição Fe-
usuários atendidos, mas transformando-os deral – os Conselhos de Direitos e de Po-
em instrumentos de defesa e objeto de rei- líticas – em cada área específica de atua-
vindicação e luta. Esse conhecimento re- ção (saúde, idoso, criança e adolescente,
quer apropriação prévia por parte do pro- assistência social, educação, direitos das
fissional de serviço social contratado, para mulheres, da juventude, dos portadores de
entender o processo de correlação de for- deficiência, meio ambiente entre outros),
ças em que está inserido e o grau de con- nos seus vários níveis de gestão: munici-
trole social exercido seja pelo Estado ou pal, estadual e federal. Reconhecimento
pela Sociedade Civil na sua relação com da importância da participação de repre-
o Estado. sentantes dos profissionais e dos usuários
e) Organização e planejamento do trabalho nos Conselhos e Fóruns, fomentando a
profissional, com base em estudos e pes- articulação entre estas instâncias, incen-
quisas que deem visibilidade às necessi- tivando a participação em Conferências
dades e interesses dos segmentos com de Políticas Públicas, contribuindo para a
os quais está trabalhando; conhecimento realização sistemática do controle social.
sobre as políticas sociais a qual a insti-
tuição está vinculada (habitação, saúde, A complexidade das situações que se apre-
assistência social, criança e adolescente, sentam no cotidiano de prática profissional nos
idoso, mulheres entre outras); campos de atuação das (dos) assistentes sociais
demonstra a multidimensionalidade das formas
f) Levantamento de recursos humanos, mate-
contemporâneas de exploração, desigualdade,
riais e financeiros que a Instituição dispõe
opressão e de luta social a que os sujeitos com
para a resolução das necessidades e das
os quais trabalhamos estão submetidos. Daí a
demandas trazidas pelos usuários; conhe-
importância de uma perspectiva interdisciplinar
cimento sobre as diferentes fontes de re-
no exercício profissional.
cursos disponíveis e possíveis de serem
acessados e/ou conquistados e das infor-
Abertura para a Interdisciplinaridade
mações necessárias a este processo e os
recursos; A amplitude de expressões da questão so-
g) Intervenção centrada na perspectiva de cial que se apresentam no cotidiano de interven-
redes: ter conhecimento das redes sócio ção do serviço social nos faz entender que uma
assistenciais existentes no Município, profissão sozinha não dá conta de assumir os
Estado ou Federação (exemplo: CADúni- encaminhamentos e soluções para as diferentes
co), no sentido de articular com colegas situações sociais, ou seja, faz-se cada vez mais
profissionais da mesma área o correto necessário o diálogo com diferentes disciplinas.

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Pressupostos para a intervenção profissional em Serviço Social

Para Leis (2006, p. 106) a interdisciplina- Temos constatado que no Serviço Social
ridade “deve ser entendida como o conjunto de contemporâneo, há uma dificuldade estrutural
princípios facilitadores do diálogo entre as disci- em relação à diferentes formas de abordar o real,
plinas, de forma a permitir restabelecer um visão ou seja, ainda encontramos forte resistência no
do todo e revelar a complexidade deste todo e meio acadêmico, a uma abertura para interdisci-
das inúmeras teias de relações presentes”. plinaridade, que por sua vez, requer um diálogo
Apesar da dimensão e da especificidade de com teorias contemporâneas.
sua proposta profissional, o serviço social é uma Entre os principais obstáculos para a prá-
profissão que ao produzir conhecimento insere- tica interdisciplinar, Vasconcelos (2007), aponta
-se no contexto das “ciências sociais aplicadas” a confusão entre pluralismo e ecletismo teórico.
e a originalidade do conhecimento construído, Para o autor, ecletismo é
necessariamente articula-se com as disciplinas
que integram as Ciências Humanas. a conciliação, e o uso simultâneo, linear e
Neste sentido, afirma Vasconcelos: “o indiscriminado de teorias e pontos de vista
teóricos e éticos diversos sem considerar as
serviço social constitui um campo aplicado de
diferenças e incompatibilidades na origem
conhecimento tipicamente interdisciplinar, com
histórica, na base conceitual e epistemoló-
fortes contribuições da sociologia, economia, gica, e nas implicações éticas, ideológica
ciência política, filosofia, antropologia, psicologia e políticas de cada um dos pontos de vista
entre outros” (VASCONCELOS, 2007, p. 16). (VASCONCELOS, 2007, p. 108).
As múltiplas expressões da questão social
que se apresentam no cotidiano de intervenção Para explicar o pluralismo, Vasconcelos
profissional requerem, portanto, um conhecimen- (2007) retoma de Coutinho (1991) o postulado
to critico que que “não há ciência que esgote o real, pois ela
é sempre aproximativa”. Pluralismo, para Cou-
seja capaz de considerar e fazer interagir es- tinho, é a abertura para o diferente, de respeito
tas diversas epistemologias, campos de sa-
pela posição alheia. Coutinho ainda nos chama a
ber e paradigmas particulares, sem cair nas
conhecidas estratégias de julgar e reduzir as
atenção pelo fato de que “a produção de verdade
diversas perspectivas por meio de uma me- nas ciências sociais é sempre atravessada por
tateoria ou narrativa onipotente o suficiente valores e concepções de mundo, que são obje-
para imperializar todos os demais campos, tivados ao serem compartilhados intersubjetiva-
que chamamos de ´imperialismo epistemoló- mente por conjuntos substantivos de pessoas”
gico´ (VASCONCELOS, 2007, p. 13). (Coutinho, 1991, citado por VASCONCELOS,
2007, p. 109).
O imperialismo epistemológico, para Vas-
É importante, pois, sabermos distinguir
concelos (2007) é quando uma teoria considera-
entre ecletismo e pluralismo contribuindo para
-se onipotente a tal ponto de capturar a essência
novos parâmetros na construção de conhecimen-
de todos os sentidos implícitos na história e dos
to nos abrindo para o diálogo com os diferentes
fenômenos culturais e subjetivos, reduzindo
modos de pensar e respeitando as diferentes
toda a complexidade da vida social e humana à
verdades sem achar que uma única é a verda-
dinâmica da esfera da produção, acumulação e
deira e onipotente.
das classes sociais.
Se concordarmos com a premissa de que
As constantes mudanças que afetam a rea-
nenhuma profissão é absoluta, assim como não
lidade contemporânea exigem do Serviço Social
o é nenhum conhecimento, concordamos com
uma postura de abertura para as interfaces com
a epistemologia do saber social e político. Neste Rodrigues (1998, p. 156) quando afirma que:
sentido, pensamos a interdisciplinaridade, acima sob o prisma da interdisciplinaridade pode-se
de tudo como uma postura profissional que, con- revelar uma alternativa para transpor as fron-
forme Rodrigues (1998, p. 156), “permite se pôr teiras instituídas pelas profissões, superar en-
a transitar o ‘espaço da diferença’ com sentido dogenias, deixar de falar só com os mesmos,
de busca, de desvelamento da pluralidade de e, quem sabe, diluir as vaidades pessoais que
ângulos que um determinado objeto investigado o exercício acadêmico insiste em fomentar.
é capaz de proporcionar (...)”.

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Nesse sentido, optamos em apresentar dialogar com distintas construções teóricas que
esse artigo com uma linguagem de fácil acesso acompanham, refletem e analisam as transfor-
com intuito de contribuir para possíveis reflexões mações da realidade social, como afirma Baptista
no âmbito acadêmico, desconstruindo a rigidez (1998, p. 119):
dos parâmetros científicos adotados para publi-
A construção do saber do profissional de ser-
cações, com base na metáfora dos pescadores,
viço social, tendo como horizonte a interven-
de Rubem Alves (2009). Dialogando com os ção, realiza um tríplice movimento: de crítica,
“que moram nos templos da ciência”, este autor de construção de um conhecimento novo e de
nos convida a refletir sobre “o que é científico”. uma nova síntese no plano do conhecimento
Narra que um colega aposentado com todas as e da ação, em um movimento que vai do par-
credenciais e titulações decepcionou-se, porque ticular para o universal e retoma ao particular
apresentou uma compilação sobre o que apren- em outro patamar, desenhando um movimen-
deu durante toda a sua vida para ser publicado, to em espiral de relação ação/conhecimento,
mas uma “confraria” de cientistas alegou que de pontos de situação/pontos de lançamento.
aquilo não era científico. Para estes, só seria Para ilustrar esse movimento dialético em
reconhecido como ciência se fosse “pego com as forma de espiral refletimos com as (os) estu-
redes dos pescadores da confraria”, se falasse dantes sobre as diferentes etapas da trajetória
na mesma linguagem, se utilizasse os mesmos profissional iniciando com o surgimento da pro-
regulamentos, se seguisse a mesma linha de fissão no Brasil, nos anos de 1930, inserida na
pensamento e aceitasse como única verdade, a sociedade capitalista nascente e as respostas
verdade da confraria. teórico-metodológicas construídas para a inter-
Portanto, deixamos claro, neste ensaio venção profissional daquela época.
que, no cotidiano de nossas práticas profissio- Temos um contexto social, econômico e
nais, além dos peixes destinados às redes de político de mudança: é o capital industrial nas-
uma determinada confraria, encontramos sabiás, cente que domina a política brasileira, um país
flores, convivemos com pessoas, vivenciamos ainda eminentemente rural. O Estado de Bem
conflitos, relações e afetos e entendemos que Estar Social estrutura-se vagarosamente com o
junto ao espaço das Instituições, os profissionais surgimento das primeiras políticas sociais volta-
de serviço social se inserem em uma realidade das, principalmente, para as nascentes classes
que, para ser analisada, requer uma perspectiva trabalhadoras urbanas. A compreensão da pro-
interdisciplinar. fissão neste período era de que os “problemas”
sociais eram fruto do desajuste dos sujeitos, ou
A teoria e a prática intercalando-se num seja, das disfunções que a sociedade vivia. As
movimento dialético respostas da profissão eram a de adaptação dos
Ao explicarmos os procedimentos teórico- sujeitos ao novo contexto social.
-metodológicos da nossa profissão para os Avançando na espiral do tempo, a década
acadêmicos de Serviço Social, costumamos de 1960 traz um novo contexto social, econômico
representá-los com uma figura de linguagem, e político: grande efervescência política; movi-
ou seja, através do desenho de uma espiral, que mentos sociais no campo e na cidade; o povo
segue uma linha horizontal e intercala na parte exigindo respostas à grave situação social; cres-
superior de cada curva (da espiral) a palavra cente industrialização e urbanização. Problemas
teoria (reflexão), e na parte inferior de cada de moradia, infra-estrutura urbana, condições de
curva a palavra ação (intervenção). Com essa trabalho, e outros.
forma de representação queremos demonstrar Seguindo a ideia de movimento em espiral,
que teoria e prática intercalam-se, articulam-se e o serviço social procura, enquanto profissão, dar
imbricam-se em um constante movimento dialéti- respostas a esta nova realidade; vivemos o movi-
co, no acompanhamento das transformações da mento de reconceituação, que resultou em uma
realidade, no desenvolvimento socioeconômico, nova compreensão da profissão acerca desta
histórico, político e cultural de cada sociedade. realidade. Surge um serviço social engajado e
Por conseguinte, a profissão é desafiada a militante, comprometido com as lutas políticas

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Pressupostos para a intervenção profissional em Serviço Social

do povo. Complexifica-se o contexto social e a é exatamente isto – novo contexto, que exige
profissão exige respostas a este novo contexto. novas leituras que vão implicar em novas res-
Já na década de 1990 surge uma nova postas, mais complexas, mais abrangentes,
realidade, o processo de globalização a partir mais amplas. Portanto, não há como estagnar
do ideário neoliberal, o desmonte do Estado de no tempo, agarrar-se a verdades como se estas
Bem Estar Social, novos sujeitos sociais em cena fossem imutáveis, porque a realidade social
demandando questões ligadas a movimentos tampouco o é.
específicos (socioculturais) trazendo para o bojo A nossa intenção neste ensaio, em trazer
as lutas contra a discriminação, opressão e vio- para a reflexão a metáfora do movimento em es-
lência como é o caso da situação dos negros, dos piral é sobretudo marcar a importância da indis-
indígenas, dos homossexuais, as questões de sociabilidade entre teoria e prática no processo
gênero que envolvem os direitos reprodutivos, a de intervenção em serviço social, concordando
violência contra mulheres, o abuso sexual contra com Odária Battini (1994) quando afirma que é
crianças e adolescentes, homofobia entre outras. necessário superar a “falsa dicotomia” entre a
As “velhas” desigualdades se intensificam: atitude investigativa e a formação profissional.
o inchaço das grandes cidades repercutindo Para corroborar essa perspectiva, Battini traz
em falta de moradia, desemprego em grande uma citação de Nobuco Kameyama, que já se
escala decorrente da reestruturação no mundo manifestava em 1985, sobre a impossibilidade
do trabalho. São exigidas da profissão novas dessa separação:
leituras acerca desta realidade já multifacetada e
A teoria e a prática constituem, portanto as-
complexa. Uma delas, ainda polêmica no serviço
pectos inseparáveis do conhecimento e devem
social é a necessidade de compreender que para ser consideradas na sua unidade levando em
além das desigualdades de classe, também se conta que toda a teoria não só se nutre da prá-
articulam no cotidiano de atendimento profissio- tica social e histórica como também representa
nal, desigualdades de gênero, de raça/etnia, de uma força transformadora que indica à prática
gerações entre outras. os caminhos da transformação (KAMEYAMA,
Chegamos ao ano de 2012 com uma rea- 1985, citado por BATTINI, 1994, p. 143).
lidade bem diferente daquela do início de nossa
Abrir-se para um diálogo plural com as
profissão (demarcada no inicio da espiral), que
diferentes perspectivas teóricas que também
por sua vez exige um profissional atento às cons-
trazem uma analise sobre as mudanças que a
tantes transformações, que possa acompanhar
realidade contemporânea vem apontando é o
o desenvolvimento tecnológico incorporando
que sugerimos para os colegas de profissão.
novos instrumentos de ação como as tecnolo-
Lançar diferentes olhares sobre a construção do
gias da informação; que possa inteirar-se da
conhecimento em serviço social e abrir-se para
problemática dos desastres ambientais exigindo
as teorias contemporâneas rompendo com as
da profissão a aproximação com esta discussão;
fronteiras interdisciplinares possibilitando enten-
que possa abrir-se para a compreensão do que
der a complexidade dos fenômenos sociais, que
seja interculturalidade, conflitos religiosos, étni-
tem se apresentado de forma multidimensional
cos, entre outros.
nas diferentes formas contemporâneas de opres-
Este contexto exige respostas de uma
são e lutas sociais engendradas e discutidas, por
profissão marcadamente interventiva e requer
exemplo, nos últimos Fóruns Sociais Mundiais.
aprofundamento e consolidação de referen-
Fredric Jameson (1988), importante teóri-
cias teóricas para o embasamento da prática.
co crítico contemporâneo, coloca como desafio
Concordamos que atualmente, o compromisso
epistemológico para a construção do conheci-
ético-político com as classes empobrecidas (ex-
mento:
cluídas dos direitos mínimos) se materializa no
Código de Ética, e as exigências de uma sólida Fazer um inventário de diversas estruturas de
formação profissional é condição sine qua non limitação vividas pelos vários grupos sociais
para um exercício competente. marginalizados, oprimidos e dominados (...)
Entretanto, lacunas ainda persistem e o tão plenamente como as classes trabalha-
movimento dialético representado pela espiral doras – com a diferença que cada forma de

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Teresa Kleba LISBOA; Edaléa Maria RIBEIRO

privação é reconhecida como produzindo sua as instituições, as classes sociais, as relações de


própria e particular epistemologia, sua própria poder estão permeadas de subjetividade. Que no
visão a partir de baixo, e sua própria reivindi- processo de mediação entre o individuo e a es-
cação por verdades específicas (JAMESON, trutura social, entre o usuário e a instituição pos-
1988, p. 77, citado por VASCONCELOS, 2007,
samos refletir com Sawaia (1998, p. 101): “me-
p. 13)
diação não é apenas passagem no outro, mas
A complexidade dos fenômenos sociais é a introdução do outro em si. É conseguir que
requer, portanto, que a (o) profissional de serviço eu me torne o outro de mim mesmo”.
social tenha clareza do referencial teórico que Acreditamos que as e os acadêmicos em
orienta o seu exercício profissional num movi- processo de formação, considerando os pressu-
mento constante de construção e reconstrução postos acima apresentados, bem como nossas
de conceitos ou paradigmas de análise sobre colegas profissionais de serviço social, ao acom-
a leitura da realidade. É preciso compreender panhar as transformações no mundo do trabalho,
que as teorias são provisórias; é preciso colocá- abrir-se-ão para as interfaces da questão social
-las em movimento, visualizando-as mais como que se materializam nas relações de gênero,
pressupostos do que categorias rígidas, fixas e raça/etnia e gerações. Que no cotidiano de suas
imutáveis. práticas possam contribuir para a explicitação
É fundamental que o profissional de ser- das demandas dos usuários transformando-as
viço social reconheça a importância da teoria, em políticas sociais que vão se engendrando na
porém, que a mesma não seja utilizada como esfera do Estado e se desdobrando nas organi-
um “cavalo de força”, uma vez que as teorias zações públicas e privadas, e dar concretude a
são formulações que servem para nortear refle- ação interventiva, participando na formulação,
xões, estabilizam provisoriamente determinadas implementação e execução dessas políticas.
interpretações, porém, são fluídas, modificam- Reafirmamos a importância da formação
-se, atualizam-se acompanhando o movimento profissional que gere assistentes sociais críti-
dialético da própria realidade. cos e inovadores diante da complexidade dos
Essa nova postura investigativa requer do fenômenos sociais abrindo-se aos processos
profissional de serviço social uma abertura para de organização dos sujeitos na esfera individual
um diálogo plural e democrático na perspectiva e coletiva reinventando a cultura política numa
da interdisciplinaridade. perspectiva justa e igualitária, mas também ético
e humanizadora da vida.
Reflexões conclusivas
Os desafios em relação a intervenção pro- Referências
fissional estão postos e são muitos, para uma ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência – o
profissão que tem crescido por sua competência dilema da educação. São Paulo: Loyola, 20ª. Edi-
e valor nas esferas sociais e políticas. Deixamos ção, 2009.
aqui, algumas reflexões no sentido de contribuir BAPTISTA, Myriam Veras. A ação profissional no co-
para uma formação profissional que permita ao tidiano. In: MARTINELLI, Maria Lúcia, RODRIGUES,
assistente social ter sempre em mente a com- Maria Lucia, MUCHAIL, Salma Tannus (Orgs). O uno
preensão do movimento em espiral da dinâmica e o múltiplo nas relações entre as áreas de saber.
estrutural e conjuntural da realidade socioeco- 2ª ed. São Paulo: Cortez Editora & EDUC, 1998.
nômica, política e cultural em constante mudança,
BATTINI, Odária. Atitude investigativa e formação
quer seja na dimensão nacional, nos recortes
profissional: a falsa dicotomia. In: Serviço Social e
regionais ou municipais. Sociedade 45. São Paulo: Cortez, 1994, p.137-141.
Defendemos nesse ensaio, que o afeto,
a abertura para as diferenças, as emoções que BRAVO, Maria Inês Souza. O trabalho do Assistente
afloram no dia-a-dia da prática profissional, as Social nas instâncias públicas e democráticas. In:
carências e as necessidades dos sujeitos que CFESS/ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais
vem ao nosso encontro no cotidiano de atendi- e competências profissionais. Brasília: CFESS/
ABEPSS, 2009, p.394-410.
mento são questões sócio-políticas, assim como

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