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Sustentam os impetrantes que o seu retorno às funções militares está amparado pelos
artigos 3º, § 1º, a, III, 121, § 2º, e 137, I, da Lei n. 6880/80, além do artigo 142, §, 3º, X, da CF/88,
sendo, portanto, aplicável em seu favor o disposto no art. 2º, § 1º, da Portaria n. 1.347/2015, em sua
redação original.
Neste ponto, entendem que as alterações trazidas pela Portaria n.º 995, de 19/08/2016, por
serem ilegais, não alcançam seu pedido administrativo, realizado antes da edição do referido
diploma.
Aduzem que: “mutatis mutandis, extrai-se do art. 121, § 2º, da Lei n. 6880/80, que a
reinclusão é um instituto similar à recondução prevista na Lei n. 8.112/90, pois, em sua essência,
autoriza o retorno do agente público ao cargo anteriormente ocupado, caso não tenha sido habilitado
para a investidura definitiva no novo cargo inacumulável com o primeiro” (fl. 15 eSTJ).
Consideram, nesse prisma, ser possível sua reinclusão no quadro ativo do Exército, uma vez
que não obtiveram estabilidade em cargo público civil permanente (desistência do estágio
probatório).
Por fim, alegam que “os despachos decisórios não atendem ao interesse público, pois
inviabilizam a reinclusão de dois oficiais de carreira, com ampla experiência profissional – após
vultosos investimentos despendidos pela União, no longo curso de formação, bem como na
constante capacitação e treinamento militar -, como forma de represália, pelo simples fato de terem
almejado galgar novos cargos públicos” (fl. 24 e-STJ).
3 A autoridade apontada como coatora prestou informações às fls. 216/223 e-STJ. Os autos
foram, em seguida, remetidos a esta Procuradoria Geral da República, para parecer.
Razão assiste aos impetrantes, pois o fundamento que embasou a edição da Portaria nº
995/2016, que excluiu dos oficiais o direito de reinclusão, por suposta ausência de autorização legal,
não é veraz, o que, por sua vez, também contamina a decisão tomada nos despachos decisórios n.º
154/2016 e 155/2016, ora guerreados. Isso porque o artigo 3º, § 1º, a, III, da Lei n. 6.880/80 é
cristalino ao prever o instituto da reinclusão para os militares, quando assim estabelece:
A) na ativa: (...)
Art. 121. (...) § 2º A praça com estabilidade assegurada, quando licenciada para fins de
matrícula em Estabelecimento de Ensino de Formação ou Preparatório de outra Força Singular ou
Auxiliar, caso não conclua o curso onde foi matriculada, poderá ser reincluída na Força de origem,
mediante requerimento ao respectivo Ministro.
E tal direito se estende aos oficiais a partir da interpretação sistêmica do disposto no art.
134, § 3º da Lei nº 6.880/80, cuja redação, de aplicação indistinta a praças e oficiais, assim
preleciona:
Art. 134. Os militares começam a contar tempo de serviço nas Forças Armadas a partir da
data de seu ingresso em qualquer organização militar da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica.
(...)
Art. 137. Anos de serviço é a expressão que designa o tempo de efetivo serviço a que se
refere o artigo anterior, com os seguintes acréscimos:
Portanto, ao que se pode ver, a motivação empregada na Portaria nº 995/2016, para minar o
direito de reinclusão decorrente da inabilitação voluntária em estágio probatório, é de todo
equivocada, pois editada à revelia dos dispositivos legais atinentes às formas de reingresso de
militares na corporação, razão pela qual deve incidir em favor dos impetrantes o disposto do art. 2º,
§ 1º, da Portaria 1.347/2015, em especial, porque o teor deste dispositivo era plenamente válido ao
tempo em que os seus requerimentos individuais foram apresentados ao Comando do Exército.
“No que toca aos cargos da União submetidos a regime especial ou estatuto próprio, importa
recordar que a Lei nº 8.112/90 a eles se aplica de forma subsidiária, ou seja, deverá incidir no que
não for conflitante com a legislação especial que rege o cargo, vez que se trata de lei de caráter
geral. Desse modo, se o estatuto de determinado cargo federal não prevê o instituto da recondução,
deverá ser aplicada a regra geral da recondução prevista no Estatuto dos Servidores Públicos Civis
da União”.
Assim, deve ser declarada a ilegalidade dos despachos decisórios n. 154/2016 e 155/2016
e, por conseguinte, seus efeitos, com a consequente determinação da reinclusão definitiva dos
autores nas fileiras do Exército Brasileiro.
SANDRA CUREAU
Subprocuradora-Geral da República