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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:

o caso do MINED (2013-2014).

EPÍGRAFE

“Uma acção feita por dever tem o seu valor moral, não no
objectivo de ser alcançado por ela, mas na sentença de
ajustamento com o qual e sobre o qual ela é decidida: isto
depende, então, não na realização do objecto da acção, mas
somente no princípio de vontade de ajustamento com o qual,
independente de todos os objectos da faculdade de desejo, a
acção tem sido orientada1”.

DEDICATÓRIA

1
Immanuel Kant, citado por Chandler (2001: 179).
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Aos meus sobrinhos e sobrinhas que procuram conhecer e aprender da ciência.

AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, aos meus pais – Jordão Tsope e Marta Chirrindze – que desde tenra idade me
transmitiram a responsabilidade de renunciar às imposições;

ii
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Em segundo lugar, ao Mestre Tomás Heródoto Fuel por assumir a supervisão do presente
trabalho que não só me transformou, como também me fez sentir o valor de uma transformação
que apenas os mestres e a ciência proporcionam;
Em terceiro lugar, agradeço ao tio – Geraldo Tsope – por me ter mapeado o caminho da ciência,
mostrando que ela ilumina não só as regiões sombreadas da mente, como também as
esclarecidas;
Em quarto lugar, agradeço aos meus irmãos – Armindo, Arnaldo, Cacilda, Cremildo, Dulce e
Zito – pelo apoio abnegado e incondicional desde que me conheço como homem;
Em quinto lugar, agradeço aos meus sobrinhos pelo facto de, ainda que me admirem, nunca me
terem imitado e, por isso mesmo, nunca terem deixado de ser meus verdadeiros ídolos;
Em sexto lugar, agradeço a Dário Francisco, Roberto C. Maló, Esmeralda Manga, Mário Jacinto,
A. Zandamela, N. Madjiga, F. Marrengula, Fátima Mufume, Nércia F. Salomão, J. P. Cossa, A.
Tsamuele, V. J. Nhampalela, Leonel Xerinda, Margarida Tembe, Marcelino Nhantumbo, Artur
Chichava, Cloves Maguengue, Onofre Muianga e Benson Banze, pela invenção e reinvenção de
ensinamentos que, fora ou dentro do contexto de fraternidades, reflectem-se na minha acção;
Em sétimo lugar, agradeço à turma do curso da Administração Pública do período laboral, de
2011 a 2014, pela aprovação da minha existência na partilha de momentos caracterizados pelo
empenho e desempenho na busca de compreensão da Administração Pública como ciência;
Em oitavo lugar, agradeço de forma veemente a todos docentes do Departamento de Ciência
Política e Administração Pública, aos servidores públicos do MINED e aos da Assembleia da
República, juntamente com os que, directa ou indirectamente deram o seu apoio para a realização
deste trabalho;

A vocês todos, tecelões do HUMANISMO, aplausos!

Sigla/acrónimo Significado

AfriMAP Africa Governance Monitoring and Advocacy Project

AR Assembleia da República

BCBM Biblioteca Central Brazão Mazula

iii
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

BM Biblioteca Mediateca

CIP Centro de Integridade Pública

CRM Constituição da República de Moçambique

CTA Confederações das Associações Económicas

DM Diploma Ministerial

EGFAE Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado

FRELIMO Frente da Libertação de Moçambique

GCCC Gabinete Central de Combate à Corrupção

ISRI Instituto Superior de Administração Pública

LPP Lei da Probidade Pública

MARP Mecanismo Africano de Revisão de Pares

MINEDH Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano

OCDE Organizações de Cooperação para o Desenvolvimento Económico

PP Probidade Pública

PQG Plano Quinquenal do Governo

SIGEDAP Sistema Geral de Desempenho na Administração Pública

Lista de esquema, tabelas e organigramas


1o esquema: Modelo comportamental de tomada de decisões

2o esquema: Modelo de administração de estratégias

3o esquema: Organigrama do MINED

iv
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Lista de gráficos

1o gráfico: Nível de conhecimento da LPP no MINED

2o gráfico: Percepções dos servidores sobre a ética e deontologia profissional no MINED

v
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Lista de tabelas

1a tabela: Instrumentos institucionais da Administração Pública em Moçambique

2a tabela: Vantagens e desvantagens dos códigos de ética

3a tabela: Amostra dos servidores públicos entrevistados no MINED

4a tabela: Relação entre FOFA e a LPP no MINED

5a tabela: Plano Estratégico do MINED

6a tabela: Relação entre a LPP e os regulamentos internos do MINED

vi
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

7a tabela: Treinamento dos líderes do MINED

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

vii
i
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

RESUMO
O presente trabalho analisa a estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação
da Lei de Probidade Pública: o caso do MINED (2013-2014). Desde 1975, a Administração
Pública, em Moçambique, em todos os períodos (1975-1990; 1990-2004; 2004 até ao período
que se segue) tem formulado princípios, deveres éticos e deontologia profissional cujo objectivo
é o de regular o comportamento dos servidores públicos. Foi dentro deste percurso que se
aprovou a LPP para assegurar a moralidade, a transparência, a imparcialidade e legalidade na
função pública. Porém, os servidores afectos ao Ministério da Educação e Desenvolvimento
Humano (MINED) não aplicam esta Lei no exercício das suas funções, reconhecendo como
instrumentos de garantia da disciplina, o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado
(EGFAE)2, o Sistema Geral de Desempenho na Administração Pública (SIGEDAP) 3 e os
regulamentos internos das unidades orgânicas que compõem esta organização. Mesmo quando há
situações de violação desta Lei, eles pensam que não houve o cumprimento dos instrumentos
acima referidos, fazendo sempre escapar a noção de que a aplicação desta Lei recai sobre si e
confessando que a mesma não é para ser aplicada no MINED. Estas conclusões foram possíveis
não só com recurso à quinquilharia metodológica que consistiu no uso combinado dos métodos e
técnicas de pesquisa qualitativa, quantitativa, abordagem indutiva, pesquisa bibliográfica,
entrevista semiestruturada, como também à teoria da dependência do percurso. Com vista a
solucionar os problemas retro recomendamos (i) a distribuir a LPP em função da quantidade dos
servidores públicos que cada unidade orgânica comporta; (ii) a fiscalizar do cumprimento da LPP
a nível de todo o Ministério; (iii) a alargar debates sobre a LPP para os servidores públicos de
todos os níveis hierárquicos e, (iv), treinar todos os servidores em matéria de ética e intensificar
o mesmo ao nível dos líderes.
Palavras-chave: Administração Pública, Estratégia, Lei da Probidade Pública.

2
Lei nº 14/2009, de 17 de Março.
3
Decreto nº 55/2009, de 12 de Outubro.

ix
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

ABSTRACT
The following dissertation analyzes the strategies carried out by the Mozambican public sector in
order to ensure compliance with the civil service trade union rights in the case of MINEDH
(2013-2014). Since the time when Mozambique achieved its independence in 1975, the Public
Administration at all periods (1975/1990, 1990/2004, 2004 to the following period) formulates
principles, ethical duties and professional ethics aimed at regulating the behavior of civil
servants. It was within this context where the civil service trade union rights, was enacted to
ensure morality, transparency, impartiality and legality in the civil service. However, the
MINEDH civil servants do not apply this public service trade union rights in the exercise of their
functions, having the EGFAE (Law number 14/2009 March 17), SIGEDAP (Decree number
55/2009 October 14) and internal regulations as an instrument for the guarantee of discipline in
the basic units that make up this organization. Even when there are situations where this civil
service trade union rights is violated, this organization’s civil servants believe that there was no
compliance with the above mentioned instruments, ignoring the fact that the application of this
civil service trade union rights concerns them, declaring that it is not to come into effect in
MINEDH. These findings were made possible not only through the use of various methodologies
which consisted of the integration of qualitative and quantitative research, inductive approach,
bibliographical research, semi-structured interviews, but also from the path dependence theory.
Therefore, for these identified problems, we recommend the following (i) distributing the public
service trade union rights according to the number of civil servants who each organizational unit
carries; (ii) the enforcement of the public probity law at the level of the Ministry; (iii) extension
of the discussions on the civil service trade union rights for all civil servants and, finally (iv)
training all civil servants on ethics issues and strengthen them for the leaders.

Keywords: Public Administration, strategy, public service trade union rights.

x
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

ÍNDICE
EPÍGRAFE.....................................................................................................................................................................i
DEDICATÓRIA...........................................................................................................................................................ii
AGRADECIMENTOS................................................................................................................................................iii
Lista de esquema, tabelas e organigramas......................................................................................................................v
RESUMO....................................................................................................................................................................viii
ABSTRACT..................................................................................................................................................................ix
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................1
1.1.Contextualização..................................................................................................................................................2
1.2.Delimitação do tema.............................................................................................................................................6
1.3.Problema da pesquisa...........................................................................................................................................7
1.4.Hipóteses:.............................................................................................................................................................9
1.4.Objectivos da pesquisa.....................................................................................................................................9
1.4.1.Geral..............................................................................................................................................................9
1.4.2. Específicos.................................................................................................................................................10
1.5.Justificativa e relevância da pesquisa.................................................................................................................11
CAPÍTULO UM: QUADRO CONCEPTUAL.........................................................................................................13
1.Definições de conceitos.............................................................................................................................................13
1.1.Ética administrativa............................................................................................................................................13
1.3.Estratégia............................................................................................................................................................15
1.4.Revisão da literatura...........................................................................................................................................16
1.4.1.Administração Pública................................................................................................................................16
1.4.2.Probidade pública e ética versus improbidade pública...............................................................................17
1.4.3.O princípio da probidade pública e o da ética.............................................................................................17
1.4.4.Improbidade Pública...................................................................................................................................18
1.4.5.Ética e deontologia profissional..................................................................................................................19
1.4.7.Concepções sobre a ética administrativa.....................................................................................................23
1.4.8.Probidade administrativa.............................................................................................................................27
1.4.9.Administração das estratégias..............................................................................................................................28
CAPÍTULO DOIS: METODOLOGIA E TEORIA DE BASE...............................................................................33
1. Metodologia..........................................................................................................................................................33
1.1.Quanto aos tipos de pesquisa..............................................................................................................................33
1.2.Método de abordagem....................................................................................................................................33
1.3.Método de procedimento...............................................................................................................................34
1.4.Técnicas de recolha de dados.........................................................................................................................34
1.4.1.Pesquisa bibliográfica.................................................................................................................................34

xi
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.4.2. Pesquisa documental..................................................................................................................................35


1.4.3.Entrevista semiestruturada..........................................................................................................................35
1.4.5.Inquérito por questionário...........................................................................................................................35
1.4.6.População e amostra....................................................................................................................................36
2.3.Limitações do estudo..........................................................................................................................................36
2.4.Teoria de base.....................................................................................................................................................38
CAPÍTULO TRÊS: APRESENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO.............................................................................39
1. O MINED.............................................................................................................................................................39
12.Organigrama........................................................................................................................................................41
1.3.Relação entre a LPP e os regulamentos internos do MINED.............................................................................42
1. ESTRATÉGIA DO MINED PARA GARANTIR A APLICAÇÃO DA LPP.....................................................44
1.1. Divulgação da LPP............................................................................................................................................44
1.2.Génese e características do Seminário...............................................................................................................45
1.3.Fiscalização do cumprimento da LPP no MINED.............................................................................................46
1.4. Distribuição da LPP...........................................................................................................................................47
1.5.Grupo de discussão da LPP................................................................................................................................49
CAPÍTULO V: A LPP NO MINED...........................................................................................................................50
1. Nível de (des) conhecimento da LPP pelos servidores do MINED.....................................................................50
1.1.Relevância da aplicação da LPP no MINED......................................................................................................51
1.2.Níveis de (des) conhecimento das exigências da LPP no MINEDH..................................................................52
CAPÍTULO VI: PERCEPÇÕES DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO MINED SOBRE A ÉTICA E
DEONTOLOGIA PROFISSIONAL.........................................................................................................................53
CAPÍTULO VII: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES....................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................................58

xii
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1. INTRODUÇÃO
Em Moçambique, nos últimos anos o cenário laboral na função pública caracteriza-se pela
corrupção, acumulação de cargos, conflitos de interesse, ilegalidade, enriquecimento ilícito,
envolvendo parte dos servidores públicos. Como medida tomada para reverter esta situação, o
governo aprovou a Lei n.o 16/2012, de 14 de Agosto – Lei da Probidade Pública – que consagra
princípios e deveres éticos aplicáveis à Administração Pública.

Como forma de inspeccionar o grau da eficácia da estratégia do sector público para garantir a sua
aplicação, tendo como base a teoria neo-institucionalista combinando as pesquisas qualitativa e
quantitativa, o presente estudo objectiva responder à pergunta “até que ponto a estratégia
adoptada pelo MINED garantiram a aplicação da Lei da Probidade Pública no período
compreendido entre 2013 e 2014?”. E, com esta questão, o estudo propõe uma abordagem
cognitiva da estratégia adoptada pelo MINED para garantir a aplicação da Lei de Probidade
Pública que, por um lado, critica os tratamentos não-cognitivistas de questões práticas e, por
outro, responde à questão sobre como é possível fundamentar as normas morais nesta
organização4.

Esta questão justifica-se pelo facto de o estudo abarcar, não a produção de estratégia justificada,
mas o exame da validade de estratégia considerada, na organização referida, cujas exigências
normativas devem ser aceites por todos servidores, isto é, por servidores de diferentes credos e,
inclusive, pelos não crentes5.

Este estudo está dividido em seis capítulos interligados que propõem as formas de abordar o
objecto da pesquisa. Assim, o primeiro elenca o quadro conceptual, define e discute os principais
conceitos usados; o segundo, que apresenta a metodologia e teoria de base, traz a ferramenta
metodológica e teórica adoptadas, que nos permitiram analisar o contexto estudado; o terceiro
apresenta a organização objecto do estudo; o quarto e o quinto analisam os dados recolhidos; e, o
sexto apresenta a conclusão e as recomendações feitas com base nos problemas identificados
sobre a estratégia.

4
Cf. Habermas (1989c).
5
Cf. Habermas (2009), citado por Pizzi (2011) & Lima (2011).
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.1.Contextualização
No período imediatamente pós-independência, a actuação da Administração Pública, em
Moçambique, põe-nos diante não apenas de estruturas de princípios diferentes, como também de
especificidades diferentes do meio político em que cada Administração Pública é adoptada 6 e
aplicada. Assim, assistiu-se e desenvolveu-se três principais períodos de consolidação da
probidade pública na Administração Pública:

 Administração Pública (1975 -1990)


Durante este período, a probidade pública é estabelecida e ganha espaço na legislação de forma
coercitiva, abrangente e tinha também em vista permitir o alcance dos objectivos do governo da
FRELIMO. A este respeito, o artigo 36 da CRM/1975 refere que:

“Todos os cidadãos da República Popular de Moçambique têm o dever de respeitar a


Constituição e as leis. […] O Estado punirá severamente todos os actos de traição,
subversão, sabotagem e, em geral, os actos praticados contra os objectivos da
FRELIMO e contra a ordem popular revolucionária”.

Assim, com incidências específicas para a função pública, além de “disciplinar as relações
laborais7”, por meio da probidade pública, os dirigentes do governo da FRELIMO almejavam
reestruturar e substituir o aparelho burocrático dos colonos que, tal como disse Machel (1980),
era caracterizado por:

“ Falta de direcção […], o burocratismo instalado como método de trabalho; a rotina


como modo de vida, a rotina como um valor a preservar; a promoção da incompetência;
o desleixo, o desinteresse, considerados como algo normal; a falta de sentido de
organização; a indisciplina, o roubo, o alcoolismo, a falta de pontualidade; o
desperdício, o esbanjamento, a destruição, a falta de higiene e limpeza; a falta de
cortesia, corrupção, suborno, (…), a corrupção material, moral e ideológica, a busca do
suborno, as cunhas, o nepotismo (…) 8”

Assim, começaram a desenvolver-se paulatinamente normas 9 que regulam aspectos do princípio


de probidade pública, para pautarem a conduta dos servidores públicos alargando-se, assim,
paralelamente o apelo ao seu cumprimento, por parte destes10.

6
Cf. Mazula (1995: 124).
7
Cf. Levieque (2011:46).
8
Machel, citado por Santos (2010).
9
Veja pagina 19/20.
10
Veja a página 4.

2
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

O desenrolar do contexto em que se fundamenta a probidade pública teve contribuições de


factores externos. Matsinhe (2006) e Chambote (2009), enunciam a explicação deste processo do
seguinte modo:

“O início da guerra dos 16 anos mergulhou o país entrou em profundas crises cuja
solução, a partir do segundo quinquénio da década de 80, era a adesão do governo da
FRELIMO às instituições financeiras, para o reajustamento estrutural. Estas
instituições, começando a ocupar posições centrais no discurso da governação
supranacional sobre o que precisa ser feito, e como fazê-lo, esses elementos inserem um
código do consenso declarado numa lógica linear: accountability, transparência,
participação, descentralização e respeito a lei, invocadas para a definição, ambos, de
meios e fins”.

Por sua vez, este contexto reforçava não só o significado da probidade pública e a forma pela
qual esta devia ser entendida e cumprida pelos servidores públicos moçambicanos, como
também que os mesmos fossem conscientes da sua utilidade pública face à nova realidade. Por
esta razão, o então governo da FRELIMO aprovou a Lei n. º 1/79, de 11 de Junho, que consagra a
matéria sobre o desvio de fundo do Estado.

 Administração Pública (1990-2004)


Entre os anos 1990 e 2004, a probidade pública ocupava um espaço maior ao nível do
funcionamento da Administração Pública. Este facto é claramente referido n.º 2, do artigo 112 da
CRM/1990, nos termos que se seguem: a “lei determina a forma, organização e competências no
âmbito da Administração Pública”.

Com base no acima exposto, iniciava a criação de programas que concebem princípios de ética,
transparência, integridade e moralidade para orientarem os servidores públicos moçambicanos na
sua actuação. Isto é reforçado por Ilan et al (2008), e ainda Green (2008), citado por Chambote
(2009), quando afirmam que em Moçambique,

“ O controlo da corrupção e o papel das instituições de supervisão e fiscalização


(oversight) ganharam maior relevância a partir da primeira metade de 2000, altura em
que o volume de apelos para que o governo pusesse em prática políticas e acções
tendentes a aumentar transparência na gestão do bem público e reduzir os níveis de
corrupção subiu de tom. E neste período, […] não há governo, agências de negócios e
de desenvolvimento que não invocam pobreza, empodeiramento, parceria, boa

3
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

governação ou corrupção nos seus discursos mascarando interesses económicos ou


estruturas desiguais de relações de poder11”.

Portanto, o governo dinamizou a aprovação da legislação 12 que foca a probidade pública e


concorre para reforçar a ética e atitude contra a corrupção por parte dos servidores no sector
público e nas relações deste com o sector privado e a sociedade civil13.

 Administração Pública (2004 a actualidade)


Em 2004, entra em vigor a CRM/2004 que consagra os princípios que informam e orientam a
Administração Pública, dos quais a de probidade pública que assume uma posição específica
para os servidores públicos. Neste período, como marco inicial para o reforço de legislação que
vela pela conduta ética na função pública, aprovou-se a lei n.º 6/2004, de 17 de Junho que
introduz mecanismos complementares de Combate à Corrupção.

A lei supracitada tornou-se um dos maiores instrumentos de garantia de transparência pública,


porém enquanto a mesma projectava a lógica do funcionamento das organizações públicas
moçambicanas, o índice de conflitos de interesses, a corrupção, a acumulação de vários cargos
por parte dos servidores públicos14 renovavam a sua dinâmica. Este ambiente veio testemunhar o
lado “obscuro” da lei referida, precedentemente previsto pelo MARP (2010: 264), nos seguintes
termos:

“ O combate à corrupção em Moçambique requer um sistema que crie um ambiente


favorável em que as agências e instituições anti-corrupção, o sector privado e as
organizações da sociedade civil, incluindo os órgãos de informação e as organizações
baseadas na comunidade, possam desempenhar as suas respectivas funções eficaz e
eficientemente”.

11
Green (2008), citado por Chambote (2009).
12
Como é o caso da seguinte legislação: Lei n º 4/90, de 26 de Setembro, sobre Normas de Conduta, Direitos e
deveres dos Dirigentes Superiores do Estado; Lei n º 21/92, de 31 de Dezembro, sobre Direitos e Deveres do
Presidente da República em exercício de suas funções; Lei n º 7/98, de 15 de Junho sobre Normas de Conduta
aplicáveis aos titulares de cargos governativos; Resolução n º 10/97, de 20 de Julho sobre Normas Éticas e
Deontológicas do Funcionário Público; Decreto nº 55/2000, de 27 de Dezembro que regulamenta a Lei n º 4/90, de 26
de Setembro; Decreto nº 48/2000, de 12 de Dezembro, que Regulamenta a Lei n º 7/98, de 15 de Junho; Decreto n º
30/2001, de 15, de Outubro, aprova as normas de funcionamento dos serviços da Administração Pública; Estratégia
da Reforma do Sector Público; Lei n º 8/2002, de 5 de Fevereiro, aprova a alteração de alguns artigos no código
penal.
13
Cf. CIRESP (2001-2011:31).
14
Como é o caso de Eduardo Mulémbwè, Edson Macuácua, Izidora Faztudo, Virgília Matabele, mencionados pelo
CIP (2012); Mateus Katupha, Manuel Tomé, Teodoro Waty e Casimiro Uate, mencionados pelo jornal mediateca.
9.09.2015; Margarida Talapa, Luciano de Castro, Alfredo Gamito, mencionados pelo jornal O país. 16. 11. 2012.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Então, a cooperação e colaboração havida entre o Governo e intervenientes da sociedade civil


culminou com a instituição de novas exigências. Destas, destaca-se a pressão feita pelo Centro de
Integridade Publica (CIP)15 ao Governo cujo corolário foi a aprovação da Lei n. º 16/12, de 14 de
Agosto – Lei da Probidade Publica – que estabelece a “responsabilização dos servidores públicos
perante os cidadãos ou perante a Lei16”, para “reduzir a grande incidência da corrupção que é
atribuído aos funcionários e gestores públicos moçambicanos17”.

Ainda dentro deste período, antes da elaboração da Lei supracitada, o governo aprovou o Decreto
nº 22/2005, de 27 de Junho, que regulamenta a lei que introduz mecanismos complementares de
combate à corrupção e, paralelamente a esta, aprovou também no mesmo ano, o Decreto n º
28/2005, de 23 de Agosto. Este decreto versa sobre o Estatuto do Gestor Público e consagra os
deveres de probidade pública para os gestores públicos no exercício das suas funções.
Portanto, a partir de 2004 até hoje, assiste-se ao desenvolvimento de debates em torno do
princípio de probidade pública com orientações para identificar e resolver questões que, ainda
que de âmbito prático e específico, não se dissociam do âmbito teórico dos servidores da função
pública moçambicana.
Assim, todo o contexto acima referido, moldado e movido pelo ímpeto da legalidade, é reflexo
das reformas encetadas a partir da década de 80, porque, como propõe o MARP (2010:100), o
país começa a fazer esforços visíveis para se tornar parte dos principais acordos internacionais
através da assinatura, ratificação e adopção de regras internacionais relativas à democracia e à
boa governação política18.

15
CIP (2012).
16
Cf. MARP (2010:265).
17
Idem.
18
Cf. MARP (2010:100).

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o caso do MINED (2013-2014).

1.2.Delimitação do tema
A Lei da Probidade Pública consagra vários princípios e deveres éticos, cujo objectivo é o de
pautarem, de forma variada, a conduta dos servidores públicos do sector público moçambicano.
Porém, a nós interessa a análise da estratégia adoptada pelo MINED para garantir o cumprimento
do dever de legalidade19, que por si, justifica o facto de esta – MINED – não ser uma organização
ética de categoria especial, de modo que se poderia argumentar que existem certas metas vitais
ou culturais que a colocassem fora da ordem ética geral20. A este propósito, a Lei da Probidade
Pública refere que:

“ Na sua actuação, o servidor público deve observar estritamente a Constituição e a lei.


No exercício das suas funções, o servidor público executa, com legalidade, as missões e
tarefas definidas superiormente, no respeito da lei e das ordens legítimas dos superiores
hierárquicos21”.

Portanto, o objectivo deste dever é o de não apenas opor e evitar a instauração de situações de
imoralidade pública que podem culminar com a prática contra as quais a LPP se dirige, mas
também de ser conhecida e reconhecimento como instrumento regulador, de forma inclusiva, a
actuação dos servidores públicos.

Assim, o mesmo – o dever de legalidade – mostra as práticas que a Lei referida defende, contra
as quais a mesma se dirige, que são plasmadas no segundo princípio. Portanto, a análise da
estratégia adoptada para garantir o cumprimento do dever e do princípio, permite-nos
compreender três pontos essenciais que são: (i) o sentido da validade deontológica das normas e
juízos morais que pode ser apreendido em analogia com o conhecimento 22; (ii) a medida em que
a estratégia adoptada para garantir a aplicação da Lei em análise foram válidas 23 e, finalmente;
(iii) os mecanismos básicos para a orientação do comportamento dos servidores desta
organização no ambiente do seu trabalho, quando confrontados com a Lei24.

19
Cap. I, Secção I, art.º 8, n.º 1 e 2.
20
Cf. Hegel, citado por Moreira (2012).
21
O dever de legalidade.
22
Cf. Habermas (2004).
23
Veja a introdução na pag. 3.
24
Cf. O’Kelly & e Dubnick (2012). Estes autores avançam este debate em matéria sobre a ética pública.

6
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.3.Problema da pesquisa
A relevância da probidade pública situa-se na provisão da acção ética e legal aos servidores
públicos na sua actuação. Nas palavras de Barbosa (2010),

“Quando se exige a probidade pública significa que não basta a legalidade formal,
restrita, da actuação administrativa, com observância da lei, é preciso também a
observância de princípios éticos, de lealdade, de boa-fé, de regras que assegurem a boa
administração e a disciplina interna da Administração Pública”.

Portanto, podemos dizer que a probidade pública permite o exercício de boas práticas sem as
quais não seria possível evitar danos susceptíveis de arruinar o crescimento socioeconómico.
Este ponto é retomado por Dropa (2003), para quem:

“ […], Em contextos de ausência de probidade pública, entre os actos que configuram,


estão aqueles que importem em enriquecimento ilícito, no recebimento de qualquer
vantagem económica, directa ou indirecta, em super facturamento, em lesão aos cofres
públicos, pela prática de qualquer acção ou omissão, dolosa ou culposa, que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições.”

Partilhando esta posição, Macedo (2010), também crê que a falta deste princípio é caracterizada,
sucintamente, pela violação de princípios da moralidade, impessoalidade e economicidade por
servidores públicos no exercício das suas funções, conforme previsto por Lei.

Em Moçambique, a CRM/2004, no número 2 do art.º 249, estabelece que os órgãos da


Administração Pública obedecem à Constituição e à Lei e respeitam na sua actuação os
princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça. A Lei n.º 16/12 de 14 de Agosto,
Lei de Probidade Pública também acolhe estes princípios e mostra ainda que no exercício das
suas funções, o servidor público deve pautar por certos deveres e princípios éticos25.

Defendendo os mesmos princípios que orientam a conduta dos servidores públicos, Lock (2001),
citado por Awortwi (2010: 774), enfatiza que em Moçambique, como em outros países de África,
os valores seguidos no domínio da função pública estão claramente inscritos nos códigos da
deontologia profissional da Administração Pública: imparcialidade, integridade, serviço ao

25
Trata-se de Princípio de não discriminação e Igualdade; Legalidade; Lealdade; Probidade pública; Supremacia do
interesse Público; Eficiência; Responsabilidade; Objectividade; Justiça; Respeito pelo Património público; Reserva e
discrição; Decoro e respeito perante o público; Conhecimento das proibições e regimes especiais aplicáveis; Escusa
de participação em actos que incorram num conflito de interesse; declaração de património; Parcimónia;
Competência.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

público, incompatibilidade, dedicação e transparência. Certamente, a multiplicação destes


princípios, associados aos textos, reformas e técnicas, não são, sem efeito na construção de uma
cultura administrativa26. No referente aos seus objectivos, os mesmos propõem-se a assegurar,
segundo o MARP (2010: 499), a responsabilização, eficiência e eficácia dos servidores públicos
e reduzirem o índice de corrupção.

Não obstante a existência deste quadro normativo concebido para regular o comportamento dos
servidores públicos, na função pública moçambicana nota-se a crescente falta de consciência da
qual resulta a violação dos princípios instituídos na Lei da Probidade Pública por parte dos
servidores públicos. Este ponto é também desenvolvido pelo MARP (2010), da seguinte forma:

“Em Moçambique, embora existam algumas Leis e regulamentos no papel que facultam
um quadro de boa governação, foram criados poucos mecanismos de controlo ou estes
não são efectivamente implementados para garantir que estes funcionem de forma
honesta, transparente e de acordo com as regras de Estado de Direito”.

Ainda sobre esta problemática, Mosse e Cortez (2006), sublinham que mesmo com a falta de
cumprimento de regras de conduta e boa postura moral, os servidores públicos não se sentem
desconfortáveis quando tomam atitudes que, em princípio, afectariam a sua credibilidade e
respeitabilidade e que isso revela um desmoronamento ético no sector público. Esta constatação
alinha-se, a título exemplificativo, ao jornal @verdade, quando reportou o caso da violação da
Lei pelo ex-presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, com a recepção de
uma viatura sob os auspícios da CTA27.

Dentro do mesmo prisma, os meios de comunicação social 28 revelam que desde a sua aprovação,
verifica-se uma reacção ao cumprimento da LPP pelos servidores públicos, o que resulta em
comportamentos que entram em contradição com as boas práticas da Administração Pública.
Senão vejamos o seguinte:

“ [...], apesar de entrada em vigor da Lei de Probidade Pública, continua a registar-se


uma "resistência" por parte de servidores públicos em implementar este instrumento
legal que visa normar a sua conduta ética. [...], alguns destes servidores vieram já a
público afirmar que não estão abrangidos pela lei, alegando que começaram a exercer

26
Cf. Darbon (2010: 10).
27
Veja o Jornal @verdade 28.09.2014
28
Os meios de comunicação que usamos para efectivar este trabalho são os Jornais.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

tais funções ou cargos antes da sua aprovação e que as leis não têm efeitos
retroactivos29”.

Esta reacção ao cumprimento da LPP é extensiva aos servidores do MINED 30. Em razão disto,
um inquérito de opinião realizado com servidores públicos, agregados familiares e empresas
constatou que mais de 60% dos servidores públicos consideravam a corrupção no MINED como
muito grave, e a maioria dos agregados familiares e empresas consideravam-na grave ou muito
grave31. Portanto, diante desta problemática identificada para a nossa pesquisa, orientamo-nos
pela seguinte inquietação: até que ponto a estratégia adoptada pelo MINED garantiu a aplicação
da LPP, no período compreendido entre 2013 e 2014?

1.4.Hipóteses:
H1: A estratégia adoptada pelo MINED garantiu a aplicação da LPP, pois os servidores desta
organização encaram-na como um instrumento regulador da sua conduta no local de trabalho;

H2: A estratégia adoptada pelo MINED garantiu a aplicação parcial desta Lei, pois a mesma
ainda é pouco reconhecida como instrumento regulador da sua conduta no local do trabalho por
parte dos mesmos.

1.4.Objectivos da pesquisa
Para o trabalho a que nos propomos realizar, constituem objectivos, os seguintes:

1.4.1.Geral
Analisar a estratégia adoptada pelo MINED para garantir a aplicação da LPP, no período
compreendido entre 2013 e 2014.

1.4.2. Específicos
 Identificar os princípios que regulam a conduta dos servidores públicos no contexto de
instrumentos legais em Moçambique;
 Compreender a estratégia adoptada pelo MINED para garantir a aplicação da LPP;

29
Ver Jornal Notícias Mediateca. Emissão da Manhã, de 14 de Dezembro de 2012.
30
Cf. AfriMAP
31
Cf. UTRESP (2005), citado por AfriMAP (202:105).

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

 Verificar o nível de conhecimento da Lei pelos servidores desta organização e indicar os


constrangimentos resultantes da sua implementação;
 Buscar as percepções dos servidores do MINED sobre a ética e deontologia profissional.

1.5.Justificativa e relevância da pesquisa


A escolha da análise da estratégia adoptada pelo MINED para garantir a aplicação da LPP – Lei
nº 16/2012, de 14 de Agosto – reveste-se de maior relevância na actualidade, devido ao facto de a
Lei da Probidade Pública estar a criar controvérsias nos servidores públicos que resistem
observá-la no exercício das suas funções nas organizações públicas moçambicanas alegando que
a mesma não os abrange32. Sendo que o sector da educação é abrangido pela Lei 33 supracitada, a
reacção ao seu cumprimento é um aspecto que desperta atenção e curiosidade, daí a razão para

32
Veja pág. 9.
33
A Lei da Probidade Pública, à luz do capítulo I, secção I, art .º 2, nº 1, preconiza que esta Lei aplica-se a todo o
servidor público. Este, é definido ao abrigo do art. º 3, nº 1, da mesma Lei, como sendo a pessoa que exerce mandato,
cargo, emprego ou função em entidade pública, em virtude de eleição, de nomeação, de contratação ou de qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, ainda que de modo transitório ou sem remuneração. E ainda no mesmo artigo,
nº 2, esta Lei diz que entende-se o sinónimo de servidor público os termos funcionário, agente do Estado, empregado
público, agente municipal ou qualquer outro termo similar, que se utilize para referir-se à pessoa que cumpre
funções em entidade pública.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

que esta análise fosse efectuada neste Ministério, para vermos como os mesmos lidam com as
estratégias adoptadas no exercício das suas funções.

A escolha deste espaço deve-se ainda ao facto de esta organização ter sido denunciada por
académicos34 como um dos focos de concentração de índices de corrupção, o que abre espaço
para estudarmos a medida em que a estratégia adoptada garantiu a aplicação da Lei.

Escolhemos o período compreendido entre 2013 e 2014 para o início da realização do nosso
estudo porque foi neste em que a LPP entrou em vigor, o que reflectia o esforço do Governo
moçambicano no referente ao reforço de moralidade pública e respeito pelo património público,
por parte do servidor público35. Portanto, sendo que a Administração Pública baseia-se na
aplicação das normas jurídicas, das quais a LPP constitui parte integrante daquelas cujo fim é o
de regular a conduta dos servidores do sector público moçambicano, esta pesquisa é útil em duas
dimensões interligadas, designadamente:
a. Dimensão científica:
Tendo como pano de fundo o suporte teórico de material consultado, esta pesquisa procura
por um lado, analisar e compreender as estratégias adoptadas pelo MINED para garantir o
cumprimento da Lei referida, por parte dos servidores; e, por outro lado, serve de
instrumento que vai permitir adquirir conhecimento e alargar a visão científica sobre os
fenómenos ético-profissionais que se inserem não só no MINED, como também noutras
organizações do sector público moçambicano.
b. Dimensão social:
Esta pesquisa visa propor soluções para a problemática – de reacção ao cumprimento da LPP
– que as organizações públicas apresentam, interpretada por académicos e reportada pelos
meios de comunicação social. Importa reiterar que, tais soluções, quando aplicadas de forma
prática, podem fazer com que os servidores do MINED saibam que a Lei os abrange e que é
instrumento regulador da sua conduta, no pleno exercício das suas funções.

34
Mosse e Cortez (2006) dizem que “ […] os actores que interagem no sector da Educação têm, de uma ou de outra
forma, um pé na corrupção”.
35
Lei da Probidade Pública, Capítulo I, secção I, artigo 1.

11
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

CAPÍTULO UM: QUADRO CONCEPTUAL

1.Definições de conceitos
O nosso trabalho de pesquisa é constituído pelos seguintes três conceitos: ética administrativa,
probidade administrativa e estratégia, que serão sequencialmente definidos neste capítulo.

1.1.Ética administrativa
A ética administrativa, na óptica de Caupers (2002), é o processo pelo qual se clarifica aquilo que
é certo e aquilo que é errado e se age de acordo com o que é certo.

Serrano (2010), por seu turno, define ética administrativa como sendo uma ética aplicada, e, em
concreto, uma ética profissional que surge paralelamente a um conjunto de éticas, a saber, ética
das organizações, que indica os requisitos para alcançar os fins das determinadas profissionais.

Ainda, dentro destas definições de ética administrativa, Santos (2010), frisa que esta é a ciência
que estuda a conduta dos indivíduos perante o próprio ser e perante os outros.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Para Stukart (2013), a ética administrativa é a ciência cujo objectivo é o exame teórico das
acções humanas para conseguir uma vida satisfatória e a perfeição integral do homem e é nisso
que consiste a felicidade.

Segundo Arruda et al (2009), a ética administrativa é a parte da filosofia que estuda a moralidade
dos actos dos indivíduos, enquanto livres e ordenados a seu fim último, nas organizações
públicas.

Defendido por Maximiano (2006:414), ética é a disciplina/campo de conhecimento que trata da


definição e avaliação do comportamento dos funcionários nas organizações.

Das definições acima apresentadas, usamos a definição de Arruda et al (2009) porque queremos
perceber até que ponto a estratégia usadas pelo MINED asseguraram a aplicação da LPP que, por
si, reflecte a parte moral dos servidores públicos no exercício das suas acções.

1.2.Probidade administrativa

A probidade administrativa, diz Serrano (2010), é o dever constitucionalmente integrado na


conduta do administrador público como elemento necessário à legitimidade dos seus actos.

Por sua vez, Carlos (1999) define a probidade administrativa como princípio administrativo que
consiste na honradez, integridade de carácter, honestidade e pudor.

Segundo Silveira (2011), a probidade administrativa significa dotar os funcionários de honradez


e integridade na realização das suas condutas. De acordo com a mesma autora, esta integra a
ciência do dever ser, marcada na esfera da Administração Pública, pela orientação de como deve
ser o comportamento do administrador público e de seus subordinados. Por outras palavras, o
dever de probidade administrativa decorre do dever da moralidade. Com isso, podemos afirmar
que a probidade administrativa tem como função instrumentalizar a moralidade administrativa,
(idem).

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Segundo Ferracini (1999), a probidade evidência circunstâncias concretas da aplicação da


moralidade, encerrando, desse jeito, o direito natural, que é o poder moral nascido das exigências
racionais da natureza humana.

Portanto, a improbidade administrativa é o contrário da probidade. Para Silveira (2011), esta


conceitua-se como a conduta inadequada de qualquer agente público, e até mesmo de terceiros,
servidor público ou não, que pratiquem actos lesivos ao erário, ou que resultem em
enriquecimento ilícito, ou que simplesmente atentem contra os princípios constitucionais da
Administração Pública.

Assim, segundo a mesma autora, a improbidade revelaria uma qualidade humana que não atende
ao bem comum, agindo desonestamente, com incidência e falta de carácter, tornando-se um acto
tido como amoral, (idem).

Então, a improbidade pode ser representada por condutas ilegais, corruptas e nocivas de
determinado agente público, que, no exercício de sua actividade, dolosa ou culposamente,
ajudado ou não por terceiros, ofendem os princípios constitucionais da Administração Pública,
trazendo prejuízo para toda a sociedade, (idem).

Em jeito de conclusão, de acordo com esta autora, podemos ver que a improbidade
administrativa constitui violação ao princípio constitucional da probidade administrativa, ou seja,
ao princípio que obriga o agente público a actuar sempre com honestidade na gestão dos coisa
pública, tendo como consequência a quebra de dois deveres fundamentais: lealdade e eficiência
funcional mínima.

1.3.Estratégia
A estratégia é, para Lopes (2002), a arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução
de objectivos específicos.

Segundo Wright et al (2010: 24), por estratégia designa os planos da alta administração para
alcançar resultados consistentes com a missão e os objectivos gerais da organização.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Para Bulgacov et al (2007: 9), a estratégia é o estabelecimento de um padrão de comportamento


em relação às acções ou decisões tomadas pela organização.

Mintzberg (2008: 34), apresentando duas definições, a estratégia é:


a. Um plano – uma direcção, um guia ou curso de acção para o futuro, um caminho para ir
daqui até ali, etc;
b. Também é um padrão, por outras palavras, é a consistência em comportamento ao longo
do tempo.

Na óptica de Olsenm, West e Tse (1998) citados por Baptista (2003: 29), estratégia é um meio de
pensar, que inclui muitas actividades que devem ser encaradas em conjunto num processo
sinergético para atingir os resultados esperados.
Nestas definições, a última é que é aplicável ao nosso caso de estudo, pois queremos analisar as
actividades levadas a cabo pelo MINED para que garantisse a aplicação da LPP entre 2013 –
2014, por parte dos servidores.

1.4.Revisão da literatura

Nesta fase, o material consultado possibilitou-nos discutir os conceitos usados nesta pesquisa,
obedecendo a seguinte ordem: Administração Pública, probidade pública e ética versus
improbidade pública, ética e deontologia profissional, ética na Administração Pública,
concepções sobre ética administrativa, probidade administrativa e administração das estratégias.

1.4.1.Administração Pública

Na arena científica, ainda não existe consenso sobre uma definição única do conceito de
Administração Pública, e que a preocupação actual dos académicos se centra na mais
recomendável. Esta concepção pode ser retida da enciclopédia das ciências sociais escrita por
Kuper e Kuper (1996), quando afirmam o seguinte:

15
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

“Dado que o número de definições alternativas de público não é nem pequeno, não é
surpreendente que o campo de Administração Pública sofre problemas identitários. Um
texto empírico contemporâneo condensa os vários significados da administração pública
em apenas três: primeiro, a actividade dos servidores públicos; segundo, a estrutura do
governo executivo; e, terceiro, o estudo sistemático das duas primeiras”.

Estes significados podem ser desenvolvidos dentro da definição apresentada por Matias-Pereira
(2009), segundo a qual a:

“Administração Pública, em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para


consecução dos objectivos do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções
necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho
perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele
assumidos em benefício da colectividade. Administração Pública é, pois, todo
aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando a
satisfação das necessidades colectivas. A Administração não pratica actos de governo;
pratica, tão-somente, actos de execução, com maior ou menor autonomia funcional,
segundo competências do órgão e de seus agentes”.

Portanto, dos sentidos acima referidos, retemos a Administração Pública em acepção


operacional, isto é, como desempenho legal, porque nela existe uma grande quantidade de
actividades envolvidas na materialização de LPP, elaborada e aprovada pela AR 36, sem as quais,
pouco ou nada poderia acontecer com a mesma37.

1.4.2.Probidade pública e ética versus improbidade pública

A probidade pública e a improbidade são conceitos contraditórios, mas complementares na


medida em que a definição de um dos dois suscita e revela preocupação pelo outro, relegando
uma coexistência mútua, circunscrevendo-se no mesmo campo. Assim, visto que parte dos
autores que definem e discutem esses conceitos apoiam-se na legislação dos seus países, nós
também discutimo-los em função da Lei – Lei de Probidade Pública – vigente em Moçambique,
da seguinte forma:

1.4.3.O princípio da probidade pública e o da ética

A aplicação do princípio da probidade pública e o da ética mostra que ambos são princípios que
clamam por moralidade, cujo “fim último” é o de as organizações públicas prosseguirem o
36
Cf. Peters e Pierre (2005:2).
37
Idem.

16
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

interesse público. Por isso, a Lei de Probidade Pública nº16/12, de 14 de Agosto, une-os e
aproxima os seus significados, integrando a sua aplicação. À luz do art.º 6 da Lei retro, o servidor
público, além dos deveres gerais contidos na Constituição, e sem prejuízo do que dispuser na
legislação específica, pauta a sua actuação pelos seguintes deveres e princípios éticos: “ […]
probidade pública [...] ”.

Do que acima ficou exposto, percebe-se que a Lei supracitada concebe o princípio da probidade
pública como parte da ética. Ainda que não o defina, a mesma considera-o como princípio
normativo consagrado na Constituição e pela legislação ordinária, respectivamente. No art. º 9,
esta Lei, sobre a probidade pública preconiza

“ O servidor público observa os valores de boa administração e honestidade no


desempenho da sua função, não podendo solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro,
directa ou indirectamente, quaisquer presentes, empréstimos, facilidades ou quaisquer
ofertas que possam pôr em causa a liberdade da sua acção, a independência do seu juízo
e a credibilidade e autoridade da Administração Pública, dos seus órgãos e serviços”.

Portanto, a adopção de estratégia para salvaguarda e manter íntegros estes princípios justifica o
compromisso ético do MINED na provisão de serviços educacionais para a sociedade
moçambicana.

1.4.4.Improbidade Pública
A Lei de Probidade Pública – n.º 16/12, de 14 de Agosto – não define a improbidade,
apresentando apenas aspectos que, por um lado, ilustram-na e, por outro, permitem perceber
situações e circunstâncias que a determinam e a circunscrevem. Ao abrigo do art. º 40, nº 2, a Lei
frisa que improbidade pública significa o benefício ganho pelos particulares para a satisfação dos
seus próprios fins, em prejuízo da colectividade:
“ a) Receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra
vantagem económica, directa ou indirecta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou de presente de quem tenha interesse, directo ou indirecto, que possa ser
atingido ou amparado por acção ou omissão decorrente das atribuições do servidor
público; b) obter vantagem económica, directa ou indirecta, para facilitar a aquisição, a
permuta ou a locação de um bem móvel, ou a contratação de serviços pela entidade
pública por preço superior ao valor de mercado; c) obter vantagem económica, directa
ou indirecta, para facilitar a alienação, a permuta ou a locação de bem público ou o
fornecimento de serviço pela entidade pública por preço inferior ao valor do mercado;
d) utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material
de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de entidade pública, bem como o

17
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por entidade


pública (…) ”.
Por conseguinte, só distantes de práticas destes actos através da observância da LPP, é que os
servidores do MINED podem ser “ íntegros, honestos, bondosos e legítimos 38” na sua actuação.
Por isso, a adopção da estratégia por parte desta organização pública significa inserção dos
servidores a esta conduta.

1.4.5.Ética e deontologia profissional39

As reflexões sobre a ética são multidisciplinares, transversais e são seculares e foram realizadas
em diferentes áreas de conhecimento40 como orientadoras das acções humanas41 e indicam
sempre os caminhos básicos que devem assumir 42. Em todos os períodos, ela implica a existência
de normas universais e permanentes e é a base do bem comum a que todos, incluindo os
governantes, se devem submeter e subordinar e cria um ambiente propício a um mais cuidado e
atento desempenho dos indivíduos43.

Segmentada e apropriada aos contextos laborais, a ética passa também a ser designada por
“deontologia profissional44”, cujo objectivo é o de mobilizar razão já existente de interesse
privado para o agente para motivar o comportamento que maximiza a satisfação 45 da sociedade.
Por isso, a aceitação de uma ética racional, como ética das virtudes, que visa a realização de
todas as potencialidades humanas, não se pode ficar pela enunciação dos valores e fins da
Administração Pública46, em que aquele agente se encontra a exercer as suas funções. Pelo
contrário, é preciso que a mesma seja a base da sua actuação porque, “ela propõe direitos e
38
Cf. Carlos (1999) e Serrano (2010).
39
Chandler (2001:179) define a deontologia profissional como ética de dever ou princípio.
40
Cf. Quilambo (2015:xii) no prefácio do livro de Mazula, “ a universidade na lupa de três olhos: ética,
investigação e paz”. Maputo: imprensa universitária.
41
Hubbard (2007:5) chama atenção para o facto de que um indivíduo por mais criminoso que seja, ele tentará, de
uma forma ou de outra, tornar-se ético.
42
Sá (2014:21). Este autor, fazendo a menção alguns dos pioneiros da ética científica, destaca Thomas Hobbes, René
Descartes, Baruch Espinosa, John Locke, Gottfried Wilhelm Leibniz, David Hume, Immanuel Kant, Jeremy
Betham, Giovanni Vidari e Albert Eistein.
43
Aristóteles, citado por Moreira (2002).
44
Cf. Betham citado por Chandler (2001:179/80). De acordo com o último, o cunho da palavra deontologia deve-se
ao primeiro.
45
Cf. idem.
46
Idem.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

deveres comummente morais que os indivíduos devem obrigatoriamente cumprir,


independentemente dos benefícios que obtenham47”. O objectivo primário desta, é o de
monopolizar e encerrar a “codificação de todas as regras de conduta que tratam da organização
como um todo, onde há ordens comunicadas por escrito porque se os servidores públicos a
reconhecem como vinculantes, eles a obedecerão e exercerão eticamente as suas funções 48”. Para
o gozo e defesa da ética e deontologia profissional, a Administração Pública moçambicana tem
os seus próprios instrumentos institucionais, que são:

Tabela 1: instrumentos institucionais da Administração Pública moçambicana

Ano de aprovação Designação da legislação Âmbito de aplicação

Leis

Lei no 4/90, de 26 de Setembro; Normas de conduta, Direitos e


Deveres dos dirigentes superiores do
Estado.

1975 – 1990 Lei no 21/92, de 31 de Dezembro Direitos e Deveres do Presidente da


República em exercício das suas
funções

Lei no 7/98, de 15 de Junho Normas de conduta aplicáveis aos


titulares de cargos governativos

Decretos

Decreto no 16/79, de 21 de Outubro Normas de trabalho e disciplina do


aparelho do Estado

47
Cf. Carapetos & Fonseca (2012) & Nunes (2004:67).
48
Weber, citado por Veras (2009), Hobbes citado por Marinoff (2011) & Leisinger & Schnitt (2011: 22).

19
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Decreto no 55/2000, de 27 de Regulamenta o decreto 5/92


Dezembro

1990 – 2004 Decreto no48/2000, de 12 de Regulamenta a lei no 7/98


Dezembro

Decreto no 30/2001, de 15 de Aprova as normas de funcionamento


Outubro dos serviços da Administração
Pública

Resolução

Resolução no 10/97, de 20 de Julho Normas éticas e deontológicas do


funcionário público

Leis

Lei no 14/2009, de 17 de Março Estatuto Geral dos Funcionários e


Agentes do Estado

Lei no 6/2004, de 17 de Junho Introduz mecanismos


complementares de combate à
corrupção
2004 até o período que se segue
Lei no 30/2009, de 29 de Setembro Estatuto do deputado

Lei no 16/201, de 14 de Agosto Lei da Probidade Pública

Decretos

Decreto no 19/2005, de 22 de Junho Procedimento de Fiscalização


tributária

Decreto 22/2005, de 22 de Junho Regulamenta a lei no 6/2004

Decreto no 28/2005, de 29 de Agosto Estatuto do Gestor Público

20
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Decreto 55/2009, de 12 de Outubro Sistema de Desempenho na


Administração Pública

1.4.6.Ética na Administração Pública

Discutir a ética na Administração Pública implica mobilizar o significado do conceito da ética no


geral, para aplicá-lo a um caso particular e específico, o que constitui uma tarefa não menos
laboriosa. Assim sendo, a ética administrativa deriva, ao que apontam O’Kelly e Dubnick (2012),
de combinação de preocupações instrumentais e normativas e são fundamentais para moldar os
servidores públicos e, em certa medida, como pessoas com moral dentro de seus papéis.

De acordo com Santos e Mazzei (2010), o funcionamento das organizações na base de ética
permite a produção de melhores resultados. Esta posição é fundamentada por Cosenza e
Chamovitz (2007), autores que acreditam que a ética organizacional, termo mais restrito
que o de ética no seu sentido mais amplo, trata especificamente, nos dias actuais, da
relação das empresas públicas, privadas ou mistas – comportamento interactivo – com
todos os demais segmentos que estão no seu campo de acção: colaboradores, clientes,
público, concorrentes, comunidade, etc. Para eles, a ética organizacional é norteada por
princípios jurídicos, de natureza legal, e por princípios de boa convivência, de natureza
social, em conformidade com os valores da organização, que dizem respeito à
responsabilidade individual de seus integrantes e aos valores sociais que dizem respeito à
cultura social em que a empresa está inserida.

Alinhados a este ponto, Júnior e Souza (2010), sublinham que a ética organizacional é
reformulada a partir de uma ética cívica, isto é, são incorporados valores morais que a
sociedade deseja ver realizado pelas organizações.

Serrano (2010: 22), traz os seguintes objectivos da ética administrativa: (i). Diagnosticar os
principais problemas e dilemas éticos constatados na Administração Pública; (ii). Caracterizar e
definir as hipóteses, as variáveis e os indicadores possíveis que incidem no mundo da

21
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Administração Pública; (iii). Sugerir conclusões para a possível resolução da actual problemática
que deriva da falta de moralidade na Administração Pública.

J. A. Schumpeter, citado por Moreira (2002), enfatiza que a ética, livre e responsável intercâmbio
de atitudes, vai guiar os sujeitos mostrando-lhes como melhor poderão alcançar os seus
objectivos em livre cooperação. Arruda et al (2009), reforçam a discussão de ética dizendo que
esta não detém no conhecimento da verdade em si, mas em sua aplicação na conduta livre do
homem, fornecendo-lhe as normas necessárias para o recto agir. Daí que Caupers (2002) diz que
a ética implica o uso da razão para determinar o curso adequado de cada acção humana e é, na
sua óptica, a especial natureza da Administração Pública, vocacionada para a prossecução do
interesse público, que faz com que os comportamentos administrativos num contexto ético, isto
é, com referencia a valores, e não com base em razões e argumentos de exclusiva natureza
técnica. Portanto, para terminar esta discussão, a ética regula e dirige os servidores, dizendo
como devem exercer as suas funções, porque ela é tão inata a eles que mesmo quando esta
descarrila, eles procuram sempre superar a sua própria falta de ética49.

1.4.7.Concepções sobre a ética administrativa


A esta concepção está subjacente a lógica da corrente de racionalidade da organização científica
e burocrática do trabalho50 para determinar situações de actuação dos servidores nas organizações
públicas. Como Caupers (2002) menciona, ela apresenta as seguintes principais concepções com
relevância na actividade administrativa pública:

a. O relativismo ético assenta na ideia de que não existem regras e padrões universais de
conduta, sendo indispensável ponderar os diferentes contextos; o que é louvável hoje,
num certo país, pode ser condenável amanhã, ou noutro local;
b. O utilitarismo51 ético sustenta que uma decisão é certa se, comparada com outras
possíveis, resulta no maior benefício ou menor prejuízo para o maior número de pessoas;

49
Cf. Santos (2010) e Hubbard (2007:4).
50
Cf. Levieque (2011:262).
51
Nota do autor: Os pioneiros do utilitarismo são, de acordo com Chandler (2001:179), Jeremy Bentham e John
Stuart Mill.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

c. A deontologia52 ética, ao contrário, defende que a distinção entre o certo e o errado se


deve estabelecer em função de princípios e não depender das consequências previsíveis
da decisão.

Destas concepções éticas usadas na Administração Pública, a que melhor se encaixa no nosso
trabalho é a última – a deontologia – pois como dizem Oliveira e Rocha (2010), esta procura
converter os valores éticos em princípios de actuação. Princípios estes que se encontram na Lei
de Probidade Pública, cuja estratégia adoptada para a sua aplicação é o objecto de análise desta
pesquisa.

Esta concepção deontológica alinha-se aos seguintes maiores elementos da conduta


Administrativa Pública, conforme a menção de Radhika (2012):

a. A construção política da qual os gestores públicos fazem parte;


b. Um quadro legal;
c. Os gestores e servidores públicos que são responsáveis pela provisão de serviços
públicos;
d. Os cidadãos e utentes dos serviços públicos que são parte da sociedade civil.

Por sua vez, estes elementos visam assegurar uma Administração Pública que se orienta pelos
seguintes pilares básicos53: a. imparcialidade; b. legalidade; c. integridade; d. transparência; e.
eficiência; f. responsabilidade; g. justiça.

Portanto, para que estes princípios sejam observados pelos servidores dentro do MINED, os
mesmos devem ser instituídos em códigos de conduta com a finalidade de, como destacam
Sobrinho et al (2010), serem conhecidos, compreendidos e devidamente aplicados.

Arruda et al (2009), dizem que a implantação de programas de ética nas organizações públicas
deve obedecer ao seguinte:

a. Liderança ética e comprometimento da alta administração;


b. Declaração de valores e crenças;

52
Nota do autor: Para o papel do servidor público como um instrumento imparcial, desinteressado e benevolente
como maximiza valores comuns como dignidade humana ou segurança nacional, (idem: 179/81).
53
OCDE (2009), citado por Oliveira e Rocha (2010).

23
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

c. Elaboração e implantação de um código de ética;


d. Criação de um comité de ética;
e. Treinamento em ética;
f. Comunicação envolvendo a ética no trabalho;
g. Auditoria ética;
h. A ética na avaliação do desempenho;
i. Relatórios sobre as violações éticas.

Gilman (2005) e Sobrinho et al (2010), sublinham que estes códigos ou programas de ética
capturam com frequência uma visão de excelência, daquilo com que os indivíduos e sociedade
deviam se preocupar e do que eles podem alcançar e geram um padrão ético do serviço público
que deve reflectir, assim, em seus valores, princípios, ideais e regras, a necessidade de honrar a
confiança depositada no Estado pela sociedade.

Por estas razões, Sullivan e Segers (2007:309), frisam que estes códigos de ética enquadram-se
dentro de ética aplicada que está preocupada com as formas com que as normas ou padrões de
comportamento podem ser aplicados a situações actuais, para clarificar a questões éticas
envolvidas e para sugerir padrões e modos de racionalizar que deviam ser adequadas para
resolvê-los.

Para complementar esta posição, Thompson (2006), preconiza que estes princípios morais
especificam os direitos e deveres que os servidores deviam respeitar quando agem de forma que
afectem seriamente o bem-estar de outros e sociedade, e as condições que as políticas e práticas
colectivas deviam satisfazer quando elas afectam de igual modo o bem-estar dos cidadãos e da
sociedade. Estas reflexões são particularmente retomadas por Sá (2014: 134), para quem os
códigos de ética são instrumento regulador das relações de valor que existem entre o ideal moral
traçado e os diversos campos da conduta humana podem quando reunidas. Tal conjunto racional,
com o propósito de estabelecer linhas ideais éticas, já é uma aplicação desta ciência que se
consubstancia em uma peça magna, como se uma lei fosse entre partes pertencentes a
agrupamentos sociais, (idem). Portanto, alinhando a estes pontos, as (des) vantagens dos códigos
de ética são:

Tabela 2: vantagens e desvantagens dos códigos de ética

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Vantagens Desvantagens
Fornecer critérios ou directrizes par que as pessoas
descubram formas éticas de se conduzir Implantar um código de ética encomendado e
Garantir igualdade na forma de encaminhar questões engavetado;
específicas;
Estimular o comprometimento de todos os Atribuir ao código de ética “efeito pacote”;
colaboradores na organização;
Aumentar a integração entre os funcionários na Ocorrer inconsistência e incoerência entre o que está
organização; disposto no código de ética e o que se vive na
Proteger interesses públicos e de profissionais que organização.
contribuam para a organização;
Agregar valor à imagem da organização.

Fonte: Arruda et tal (2009).

A validade ou não dessas vantagens e desvantagens dos códigos de ética nas organizações do
sector público reflecte o tipo de estratégia usada, por um lado; por outro, estes códigos de ética
dependem destas. Portanto, a discussão sobre a concepção ética na Administração Pública, leva-
nos a crermos que a ética tem as suas exigências próprias. De acordo com Caupers (2010), estas
exigências éticas projectam-se em várias ideias, tendo todas elas como pano de fundo os
conflitos de interesses cujo instrumento privilegiado para enfrentá-los é a ética.

Na leitura deste autor, os conflitos de interesses na Administração Pública formam-se da seguinte


forma: (i). Conflitos entre o interesse público que se encontra confiado à organização que o
titular do órgão administrativo ou agente integra e os interesses privados do próprio, da sua
família ou dos seus amigos; (ii). Conflitos entre o interesse público cuja prossecução se encontra
a cargo da organização pública a que o titular do órgão ou agente pertence e os interesses
específicos do partido político a que ele aderiu.

Por isso, Santos e Mazzei (2010), entendem que somente o estudo e a análise da ética e da
conduta humana proporcionam ao indivíduo saber a razão de ser das normas morais,
possibilitando o compromisso e a responsabilidade com as normas, dando-lhe uma visão crítica
com relação ao código de sua sociedade, fazendo-o também capaz de compreender melhor os
códigos de outras culturas. Outro ponto, é que ética permite que os gestores tomem decisões
justas. Assim, o modelo comportamental a seguir ilustra a tomada de decisões éticas nas
organizações:

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Esquema 1: modelo comportamental de tomada de decisões


Influências

Individuais

Decisão Processo

Situação Sensibilidade Comportamento Comportamento


Julgamento
Ética Ético Ético Ético
Ética
Fonte: Wittmer
(2001).
Influências
Ambientais

Na análise do significado do modelo acima exposto, Wittmer (1996), citado por Wittmer (2001),
frisa que este concebe a tomada de decisão ética como uma função dos processos de decisão
cognitiva de um funcionário, como influenciado por vários atributos individuais – tais como
auto-estima, idade, ou género – e vários factores ambientais – tais como reinforcements
organizacionais, cultura organizacional, ou padrões profissionais. Assim, podemos afirmar que
no MINED, a actuação destes servidores públicos de forma objectiva, depende do tipo de
estratégias que a mesma organização adopta para “distanciá-los” das suas convicções pessoais
ilegais e aproximá-los à eticidade e legalidade.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.4.8.Probidade administrativa
Com o princípio de probidade administrativa, apontam Filho (2007) e Couto (2010), que há
consistência no dever de o funcionário servir à Administração com honestidade, procedendo no
exercício das suas funções sem aproveitar os poderes ou facilidades delas decorrentes em
proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer e que impõe a eles uma actuação em
conformidade com os princípios éticos, que não transgridam o senso moral da sociedade.

Cademartoril (2004), reitera que com a probidade administrativa, coloca-se como elemento
central do qual a probidade, ou seja, a honestidade no trato da coisa pública é uma das suas
decorrências, tendo como feixes de irradiação, os deveres dos agentes públicos, de lealdade às
instituições, o zelo e a dedicação às atribuições do cargo, a fiel observação às normas legais e,
como refere Túlio (2012), impõe ao agente público a observância de um comportamento ético,
definido a partir de ética pública em construção. Em razão disto, Crivellaro (s/d), destaca que
este princípio norteia a conduta do administrador no sentido de que, embora se paute na
legalidade, terá que ser obrigatoriamente uma conduta de acordo com os ditames éticos e morais
presentes actualmente numa sociedade.

Por isso, para que haja clareza do que se espera do funcionário público, Ruthenburg (2013),
Barbosa (2013) e Sobrinho et al (2010), dizem que é preciso que a lei tenha previsto actos de
improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública e que
cuide da conduta violadora da ética pública, isto é, do comportamento ético que se espera do
agente público; bem como das condutas que não são permitidas.

E, na mesma percepção, Silveira (2012), sintetiza que deve haver a tutela que censure o
enriquecimento ilícito no exercício de cargos, funções e empregos públicos, como também aos
actos causadores de prejuízos ao erário e atentatórios aos princípios da administração pública.
Porque, como sublinha Júnior (2009), a imoralidade pública viola o princípio constitucional que
direcciona o agente público aos deveres de probidade, honestidade, lealdade às instituições,
prestação de contas, eficiência, economicidade, entre outros.

Pois, como frisa Belomonte (2011), não mais se concebe que o indivíduo tome posse do cargo
público e dele se apodere como uma propriedade particular, da qual pode tirar todos os proveitos

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

possíveis, inclusive o do exercício do poder pelo poder e o da barganha de vantagens que possam
traduzir-se em aumento do seu património ou de seus familiares. Daí a necessidade da adopção
da estratégia por parte da MINED para consolidar a monitoria do comportamento dos servidores
públicos.

1.4.9.Administração das estratégias


Na visão de Wright et al (2010:24), administração ou gestão estratégica é um termo mais amplo
que abrange não somente a administração dos estágios já identificados, mas também os estágios
iniciais de determinação da missão e os objectivos da organização no contexto de seus ambientes
externo e interno. Por esta razão, Nicolau (2001) afirma que certas estratégias planeadas não
chegam a ser ou só são parcialmente implementadas e certas orientações de decisões
organizacionais não resultam de plano previamente estabelecido ou ocorrem apesar do plano.
Deste modo, de acordo Wright et al (2010:24), a gestão estratégica pode ser vista como uma
série de passos em que a alta administração deve realizar as seguintes tarefas:
a. Analisar oportunidades e ameaças ou limitações que existem no ambiente externo;
b. Analisar os pontos fortes e fracos de seu ambiente interno;
c. Estabelecer a missão organizacional e os objectivos gerais;
d. Formular estratégias que permitam à organização combinar os pontos fortes e fracos da
organização com as oportunidades e ameaças do ambiente;
e. Implementar as estratégias;
f. Realizar actividades de controlo estratégico para assegurar que os objectivos gerais da
organização sejam atingidos.
Estas tarefas é que permitirão que a organização – o MINED – alcance o sucesso 54, que é a
aplicação da Lei da Probidade Pública. Portanto, como um processo racional, a estratégia,
apresenta-se da seguinte forma:

54
Cf. Reis (2000:21).

28
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Esquema 2: modelo de administração estratégica

29
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Fonte: Bulgacov et al (2007:27).


Segundo Nicolau (2001), neste caso, é dado especial relevo à análise objectiva do meio
envolvente e dos recursos e capacidades internas, cujo confronto resultarão as estratégias

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

possíveis. Esta prospectiva, como frisa Martins (1983), é para ela essencial já que as decisões
estratégicas, por terem consequências políticas e visarem longos prazos, não podem ser
facilmente modificadas e podem condicionar o futuro da organização. Os objectivos destas
estratégias explicam-se55:

a. A formulação estratégica aumenta a capacidade da organização para prevenir problemas.


b. As decisões estratégicas tomadas em grupo são, provavelmente, as melhores de entre as
alternativas possíveis. O processo da estratégia origina as melhores decisões porque a
interacção de grupo gera uma grande variedade de estratégias e porque as previsões
baseadas em perspectivas especializadas dos membros do grupo melhoram a avaliação
das opções.
c. O envolvimento de todos os servidores na formulação estratégia melhora o seu
consentimento da relação cumprimento da Lei/exercício das funções, aumentando assim
a sua motivação.
d. Lacunas e sobreposições de actividades entre servidores e grupos suavizam-se porque a
participação na formulação estratégica clarifica a delimitação de tarefas.
e. Qualquer mudança numa organização origina resistências que são reduzidas pela
participação dos servidores e grupos na formulação estratégica.

A vantagem da administração das estratégias resume-se em três pontos que, de acordo com
Wright et al (2010: 24), são: Pode-se encarar três pontos de vantagem: desenvolvimento da
estratégia; colocar a estratégia em acção; e controle estratégico (modificar ou a estratégia, ou sua
implementação, para assegurar que os resultados desejados sejam alcançados). Assim, isto é
possível no seguinte modelo de FOFA:

Tabela 3: relação entre FOFA e a situação da LPP no MINED

55
Cr. Reis (2000: 20).

31
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

FOFA Situação do MINED

Força Início de distribuição, circulação e debates sobre a Lei da Probidade Pública no


MINED;
Conhecimento dos conteúdos da LPP por parte dos servidores participantes nos grupos
de debates.
Oportunidade Abrangendo o MINED, a fiscalização da aplicação e ou violação da Lei da Probidade
Pública pode fazer com que os servidores públicos desta organização sintam-se
obrigados a usá-la como instrumento regulador da sua conduta.
Fraqueza Restrição de debates sobre a Lei de Probidade Pública ao grupo de chefes de uma parte
de unidades orgânicas, o que faz com que uma parte dos servidores dos escalões
inferiores pensem que esta não se aplica ao MINED.
Ameaças Possibilidade de perpetuação de índice de corrupção, acumulação de cargos, conflitos d
interesse, enriquecimento ilícito, ilegalidade por uma parte dos servidores públicos do
MINED.

CAPÍTULO DOIS: METODOLOGIA E TEORIA DE BASE


Este capítulo divide-se em duas partes: a primeira define a metodologia – tipos de pesquisa,
método de abordagem, método de procedimento, técnicas de recolha de dados, entrevista semi-
estruturada, inquérito por questionário, população e amostra e limitação do estudo – e a segunda,
a teoria de análise – neo-institucionalista – que usamos para efectivar esta pesquisa.

1. Metodologia

1.1.Quanto aos tipos de pesquisa


Quanto aos tipos de pesquisas, usamos a pesquisa qualitativa e a quantitativa. Para Rodrigues
(2007), a primeira consiste na interpretação dos fenómenos e atribuição dos significados. A
relevância deste tipo de pesquisa deve-se ao facto de, como apontam Marconi e Lakatos (2003),
o pesquisador manter contacto directo com o ambiente e o objecto de estudo em questão,
necessitando de um trabalho mais intensivo do campo.

A segunda, a pesquisa quantitativa, na definição de Rodrigues (2007), traduz em números as


opiniões e informações para serem analisadas e classificadas. Pradanov e Freitas (2013) frisam
que a importância deste tipo de pesquisa, reside na possibilidade de o pesquisador fazer um
tratamento objectivo, matemático e estatístico.

32
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Portanto, analisar as percepções dos 91 servidores públicos entrevistados no MINED sobre a


LPP significa integrar estes tipos de pesquisa para a consolidação do estudo, revestindo-o de
fundamentalidade e pertinência.

1.2.Método de abordagem
O método de abordagem empregue nesta pesquisa é o indutivo. Definido por Gil (2008), este
parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de colecta de
dados particulares. Este método é relevante, segundo o mesmo autor, porque a generalização não
deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a partir de observação de casos concretos
suficientemente confirmadores dessa realidade. Por outras palavras, feita esta pesquisa no
MINED e constatado que os servidores públicos desta organização não aplicam a LPP no
exercício das suas funções, o mesmo pode se dizer de outros servidores do sector público
moçambicano.

1.3.Método de procedimento
O método de procedimento usado para a elaboração desta pesquisa é o monográfico. Na
definição de Gil (2008), este é o estudo de um caso em profundidade e pode ser considerado
representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. A sua vantagem, como
referem Marconi e Lakatos (2000), consiste em respeitar a totalidade solidária dos grupos, ao
estudar, em primeiro lugar, a vida do grupo na sua unidade concreta, evitando, portanto, a
prematura dissociação de seus elementos.

O estudo aprofundado da estratégia adoptada pelo MINED como organização pública,


conversando com os servidores públicos desta, constitui uma vantagem para a percepção de
ocorrência dos mesmos fenómenos no ambiente ético laboral que se vive noutras organizações
do sector público moçambicano.

1.4.Técnicas de recolha de dados


As técnicas de recolha de dados usadas compreendem a pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental, entrevista semiestruturada e inquérito por questionário.

33
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.4.1.Pesquisa bibliográfica
Nesta técnica pesquisa, o tratamento do tema em análise, como nota Gil (2002), é possível com
base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Em
conformidade com esta definição, para a nossa pesquisa, consultamos o material que discute o
tema em análise nas bibliotecas e outras instituições académicas do ensino superior em
Moçambique – BCBM, MB, BN, ISRI, ISAP – o que nos permitiu alargar a percepção sobre o
tema de pesquisa. Sem excepção à regra no que respeita a apresentação de vantagens desta
técnica, Gil (2008), reitera que a mesma permite ao investigador a cobertura de uma gama de
fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar directamente.

1.4.2. Pesquisa documental


A pesquisa documental é mais uma técnica de pesquisa no desenvolvimento das técnicas
metodológicas usadas para esta pesquisa. Nela, como defendem Marconi e Lakatos (2000), a
fonte de colecta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo as fontes
primárias cujas vantagens podem ser as seguintes: a. Os documentos constituem fonte rica e
estável de dados; b. Não exige contacto directo com os sujeitos da pesquisa; c. Exige apenas a
disponibilidade de tempo.

Portanto, no âmbito da realização desta pesquisa, os livros, os artigos científicos, a legislação


moçambicana, os programas adoptados, os jornais e os sites da internet que avançam as análises
sobre as práticas dos servidores públicos na função pública, é que serviram-nos de base para
melhor abordarmos e perceber o tema da pesquisa.

1.4.3.Entrevista semiestruturada
Quanto ao tipo de entrevistas, usamos a entrevista semiestruturada. Definida por Quivy e
Campenhoudt (1992), é aquela a qual se recorre mais em investigação social visto que permite
analisar o sentido que os autores dão às suas práticas e aos acontecimentos aos quais se vêem
confrontados. Neste caso, queremos analisar, de forma aberta e livre, o sentido que os servidores
públicos do MINED atribuem não apenas às estratégias aplicadas para que se observe a LPP no
desempenho das funções incumbidas, como também à própria LPP.

34
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.4.5.Inquérito por questionário


O inquérito por questionário, tal como referem Quivy e Campenhoudt (1992), consiste em
colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de
perguntas relativas à sua situação social, profissional ou familiar, às suas opiniões, à sua atitude
em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expectativas, ao seu nível de
conhecimento ou de consciência de um acontecimento ou de um problema, ou ainda sobre
qualquer outro ponto que interesse os investigadores.

Portanto, todos os servidores do MINED inquiridos sobre as estratégias usadas para a garantia do
cumprimento da LPP, expressaram a sua diversidade, chegando até a falarem de contextos
distintos do MINED e das preocupações que a LPP traz para toda a sociedade moçambicana.

1.4.6.População e amostra
A análise da estratégia adoptada para garantir o cumprimento da LPP, foi feita no MINED, órgão
central. Do ponto de vista quantitativo e qualitativo, este órgão comporta servidores públicos que
são possíveis de ser esquematizados na tabela da seguinte maneira:

Tabela 4: servidores do MINED

Província Funcionários % Fun Agentes do Estado % Total de Total Total


(Maputo) H/M de H de M
De
Masc. Fem. Masc. Fem. Ag.
do
Órgão Est.
Central

Ano 2013 444 291 100% 2 0 0% 737 446 291

Ano 2014 ------------------------------------------------------------------------------------------------ 56

Fonte: cf. MINED (2015).

Destes, entrevistamos 91, que correspondem a uma percentagem total de 12 % dos servidores
públicos desta organização.

56
Não houve novos ingressos para esta organização de 2013 a 2014, de acordo com os dados fornecidos na mesma.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

2.3.Limitações do estudo
A realização desta pesquisa ocorreu dentro de várias dificuldades dentre os quais só nos é
possível destacar os seguintes:

 Morosidade de autorização para a realização da pesquisa, o que fez com o que os


servidores desta organização pensassem que o pesquisador não merecesse a devida
atenção por estar frequentemente consigo;
 Devolução e preenchimentos parciais dos inquéritos, o que não permitiu a obtenção de
toda informação desejada;
 Rejeição das entrevistas da maior parte dos directores das unidades orgânicas alegando a
falta de tempo;
 Rejeição das entrevistas por parte dos servidores alegando a falta de conhecimento do
tema de pesquisa, o que repercutiu na perda paulatina de informação necessária e útil
para a pesquisa;
 Rejeição consensual dos servidores desta organização para identificarem os seus nomes
no momento das entrevistas, o que não garantiu totalmente a legitimidade da informação
obtida.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

2.4.Teoria de base
A teoria de análise empregue nesta pesquisa é a neo-institucionalista que resulta da junção de
duas vertentes: a do institucionalismo histórico e a da dependência de percurso/path dependence.
Portanto, como estas vertentes são categorias de instituição, a definição desta permite-nos
compreender o seu significado. Segundo North (1990), a instituição são regras de um certo jogo
que determinam o que os jogadores podem ou não podem fazer.

Portanto, fazendo uma ligação entre as definições, o institucionalismo histórico é, conforme


referem Hall e Taylor (2003), procedimentos, protocolos, normas e convenções oficiais e
oficiosas inerentes à estrutura organizacional da comunidade política ou da economia política.
Concebido desta forma, segundo estes autores, estas concepções estendem-se das regras de uma
ordem legal ou dos procedimentos habituais de funcionamento de uma organização até às
convenções que governam o comportamento dos funcionários ou as relações entre bancos e
organizações do sector público. Porém, como esta vertente aplica-se a um contexto, o que
reflecte limitações quando se aplica à variedade de contextos, os seus defensores desenvolveram
a dependência de percurso/path dependence, cujo significado, para Hall e Taylor (2003), é o de
que as forças são modificadas pelas propriedades de contexto local, propriedades herdadas do
passado. Outros insistem no modo pelo qual as políticas adoptadas no passado condicionam as
políticas ulteriores, ao encorajarem as forças sociais a se organizar segundo certas orientações de
preferências a outras, a adoptar identidades particulares, ou a desenvolver interesses em políticas
cujo abandono envolveria um risco no desempenho das suas funções nas organizações públicas,
(Idem).

No MINED, a falta de observância da LPP no exercício das funções por parte dos servidores
justifica-se pelo facto de que estes pensam que a mesma aplica-se às situações de corrupção e a
acumulação de cargos. Esta noção é constante mesmo em situação de violação desta Lei.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

CAPÍTULO TRÊS: APRESENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO


Neste capítulo fazemos uma breve apresentação do MINED, que constitui o objecto de estudo
deste trabalho.

1. O MINED
O Ministério da Educação e Desenvolvimento – MINED – é o órgão central do aparelho do
Estado que, segundo os princípios, objectivos e tarefas definidas pelo Governo, planifica,
coordena, dirige e desenvolve actividades no âmbito da educação, contribuindo para a elevação
da consciência patriótica, o reforço da unidade nacional da moçambicanidade57.

Desde o ano da independência de Moçambique em 1975, a concepção da nacionalização da


educação situa-se entre reestruturações sob cinco diferentes tipos de designações, criadas de
forma subsequente, em função de legislação específica, a saber:

a. Direcções Provinciais de Educação e Cultura – 1977 a 1988: aprovado pela portaria nº


365/77, de 04 de Outubro;
b. Estatuto das Direcções Provinciais de Educação – 1988 a 2005, aprovado pelo Diploma
Ministerial nº 76/88;

c. Ministério da Educação e Cultura (MEC) – 2005 a 2010: criado pelo Decreto


presidencial n.º13/05, de 4 de Fevereiro.

d. Ministério da Educação (MINED)58 – 2010 a 2015: criado pelo Diploma Presidencial n.º
1/2010, de 15 de Janeiro;

e. Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) – 2015 até outros


períodos futuros: criado pelo Decreto presidencial n.º 1/2015 de 16 de Janeiro de 2015,
boletim da república n.º 005, i série, de 16 de Janeiro de 2015.

Em todas estas metamorfoses dinâmicas, o desempenho do papel crucial desta organização na


provisão dos serviços educativos “para todos”, quer-se ajustar às demandas sociais de
57
Estatuto Orgânico do Ministério da Educação (MINED), Cap. I, art. 1.
58
A legislação usada nesta pesquisa é referente aos anos em que esta organização era ainda MINED.

38
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Moçambique, para o reforço de mudanças em várias esferas. Estas directrizes são interligadas,
segundo o PEE (2012-2016:17), aos seguintes pilares básicos:
Tabela 5: Plano Estratégico da Educação.
1º Pilar Visão
Pressuposto A educação como um direito, bem como um dever de todos os cidadãos: um instrumento para a
afirmação e integração do indivíduo na vida social, económica e política, indispensável para o
desenvolvimento do país e para o combate à pobreza.
2º Pilar Missão
Pressuposto A criação de um Sistema Educativo justo, inclusivo, eficaz e eficiente em termos de gestão, um
Sistema onde os alunos obtenham as habilidades, competências e comportamentos requeridos
para atingirem o objectivo principal da Educação, como reflectindo na visão de longo prazo.

Por outras palavras, tanto a visão, como a missão, transmitem os objectivos do SNE 59 e são
agrupados da seguinte forma:

a. A educação é direito e dever de todos os funcionários;


b. O Estado no quadro da lei permite a participação de outras entidades, incluindo comunitárias,
cooperativas, empresariais, e privadas no processo educativo;
c. O Estado organiza e promove o ensino como, como parte integrante do processo educativo, nos
termos definidos na Constituição da República;
d. O ensino público é laico.

Portanto, estes pilares só podem ser operacionalizados diante de exigência de responsabilidade


ética dos servidores, no exercício das suas funções. Aliás, Hubbard (2007:237), escreve que:

“ A ética existe principalmente para efectivar o direito à educação. Este não pode haver a menos
que a ética esteja em vigor. Quando o direito à educação sai fora, ética pode voltar a efectivar a
aplicação deste (e espera se que o faça) ”.

Sendo assim, a adopção de estratégia para a aplicação da LPP é defesa de garantia deste direito.

59
Lei n.º 6 /92, de 6 de Maio.

39
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

12.Organigrama
Internamente, o MINED, órgão central, está estruturado da seguinte forma:

Esquema 3: organigrama do MINED

Fonte: MINED (2015).

Em todas estas unidades orgânicas, existem regulamentos próprios que tratam de assuntos
relacionados com a disciplina e ética dos servidores.

40
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1.3.Relação entre a LPP e os regulamentos internos do MINED


Existe uma relação simbiótica, sinergética e consolidada entre a LPP e os regulamentos internos
das unidades orgânicas do MINED, no que respeite aos princípios e deveres ético-morais
aplicáveis na actuação dos servidores. Como se estes regulamentos fossem fragmentos da LPP
em cada Departamento, a mesma assume aspecto de “um sistema integrado e integrante para os
objectivos que formalmente se propõem60” alcançar, que compreendem as boas práticas. Esta
situação ilustra-se na tabela se que segue:

Tabela 6: relação entre a LPP e os regulamentos internos do MINED

Unidades orgânicas
e sua localização Competências Lei da Probidade Pública
Cap. I, art. 5:
d) Zelar pelo cumprimento das leis, regulamentos e demais
DINES – Direcção instruções superiores;
Nacional de Ensino g) Garantir a elaboração e implementação do regulamento
Secundário interno da direcção.
Cap. I, art. 3:
b) Conceber e elaborar propostas de regulamentos e normas
de organização e funcionamento das instituições de ensino
Pré-primário e Primário;
c) Propor normas e regulamentos orientadores sobre o
DNEP – Direcção sistema de avaliação e gestão educacional para as instituições
Nacional de Ensino do ensino Pré-primário e Primário e zelar pelo seu Cap. I, secção II, art. 6:
Primário cumprimento
O servidor público, além dos deveres
Cap. I, art. 5:
DINET – Direcção b) Propor projectos de leis, regulamentos e normas de gerais contidos na Constituição, e sem
Nacional de Educação organização e funcionamento das instituições de ensino; prejuízo do que dispuser legislação
Técnico Profissional e C) Propor normas e regulamentos orientadores sobre o específica, pauta a sua actuação pelos
Vocacional sistema de avaliação; seguintes deveres e princípios éticos:
Cap. I, art. 3: b) Legalidade;
c) Garantir uma interpretação e aplicação uniforme da C) Lealdade;
legislação respeitante à educação e legislação conexa, assim f) Eficiência;
como realizar a sua divulgação junto dos órgãos do g) Responsabilidade;
Ministério da Educação;
h) Objectividade;
GJ – Gabinete Jurídico g) Compilar a legislação aplicável ao sector da educação
Cap. I, art. Alíneas d) elaborar, divulgar e controlar o
i) Justiça;
cumprimento das normas e metodologias gerais do sistema de q) Competência
planificação sectorial da educação; e) Realizar estudos e
DIPLAC – Direcção de elaborar normas sobre a natureza, tipo e dimensão dos
Planificação e estabelecimentos de ensino, bem como controlar a sua
Cooperação aplicação;
DAF – Direcção de Cap. I, art. 3: Cap. I, secção II, art. 21:
Administração e a) Coordenar e controlar a gestão e correcta utilização dos - Dever de parcimónia
Finanças recursos materiais e financeiros do Ministério da Educação, No exercício das suas funções o
em conformidade com a legislação aplicável; servidor público deve agir com
e) Dirigir e fazer cumprir as normas sobre a gestão dos

60
Cf. Issá (2013: 17). Grifo do autor.

41
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

equilíbrio, ponderação, moderação,


recursos materiais e financeiros do sector; h) Zelar pela cautela e precaução na utilização dos
observância e cumprimento dos regulamentos. recursos à sua disposição
Cap. I, art. 3:
b) Realizar missões inspectivas em todos os órgãos e
instituições Públicas e Privadas de Educação com base na
legislação e nas decisões do Ministério da Educação;
Cap. II, subsecção II, art. 50:
d) Verificar o cumprimento dos programas de ensino e das
normas estabelecidas para a direcção e realização do processo - Comissões de Ética Pública
educativo; b) Estabelecer regras, procedimentos e
e) Fiscalizar as actividades educativas no domínio disciplinar, mecanismos que tenham em vista
administrativo, material e financeiro; prevenir ou impedir eventuais
f) Investigar, por informação, petição ou denúncia, conflitos de interesses;
presumíveis violações da legalidade, irregularidades e c) Avaliar e fiscalizar a ocorrência de
desvios no processo de direcção e realização da actividade situações que configurem conflito de
educativa e propor medidas correctivas; interesses e determinar medidas
i) Recomendar a promoção de acções de responsabilidade
disciplinar, civil ou criminal, sempre que se justifique;
apropriadas para a sua prevenção e
k) Verificar o cumprimento dos programas e das normas eliminação, incluindo a apresentação
reguladoras do funcionamento dos órgãos, serviços e de queixas ou participação criminal
instituições do ensino junto ao Ministério Público;
l) Propor a suspensão de funções dos funcionários e agentes f) Receber e dar mandamento às
de Estado indiciados, quando houver fortes evidencias de sua denúncias públicas relativas a
culpabilidade em infracções passíveis de aplicação das penas situações de conflito de interesses,
IG – Inspecção Geral de demissão ou expulsão. devendo deliberá-las ou remete-las
Cap. I, art. 3: aos órgãos competentes para
a) Assegurar o cumprimento do EGFAE e demais legislação
aplicável aos funcionários e agentes de Estado;
promover procedimento disciplinar ou
g) Organizar, controlar e manter actualizado o e-SIP do criminal;
sector, de acordo com as orientações e normas definidas pelos h) Divulgar e promover os princípios
órgãos competentes; e deveres éticos do servidor público
DRH – Direcção de l) Instruir processos disciplinares aos funcionários e agentes
Recursos Humanos de Estado
Cap. I, art. 3: Cap. I, secção II, art. 6:
DNFP – Direcção j) Elaborar propostas de regulamentos e normas de O servidor público, além dos deveres
Nacional de Formação organização e funcionamento das instituições de formação de gerais contidos na Constituição, e sem
de Professores professores
prejuízo do que dispuser legislação
DINAEA – Direcção Cap. I, art. 3: específica, pauta a sua actuação pelos
Nacional de c) Conceber e elaborar projectos, regulamentos e normas de seguintes deveres e princípios éticos:
Alfabetização e organização e funcionamento dos centros de alfabetização e b) Legalidade;
Educação de Adultos educação de Adultos, incluindo no curso nocturno q) Competência
Fonte: o autor

No entanto, um aspecto notável durante as entrevistas, é que uma parte dos servidores desta
organização só sabe da existência destes regulamentos e não dos seus conteúdos, limitando-se
apenas ao facto de posse de consciência do perigo de violação destes instrumentos legais 61.
Portanto, esta situação transferiu-se para o ambiente da aplicação da LPP62.

61
Conclusões tiradas a partir de entrevistas efectuadas em vários Departamentos.
62
Veja a análise dos dados.

42
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

CAPÍTULO QUATRO: ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo inicia a parte prática do trabalho, apresentando a estratégia – divulgação,


fiscalização, distribuição e grupo de discussão da LPP – utilizadas pelo MINED para garantir o
cumprimento da LPP por parte dos servidores públicos desta organização.

1. ESTRATÉGIA DO MINED PARA GARANTIR A APLICAÇÃO DA LPP


1.1. Divulgação da LPP
A submissão, discussão, votação, aprovação, divulgação e vigência da Lei de Probidade Pública
em Moçambique são fases distintas, em períodos distintos e formalmente feitos a partir de 2012,
pelo Governo e pela comunicação social, iniciando vigilâncias da prática dos actos que a mesma,
visa combater. Aliada às matérias sobre os fenómenos da corrupção e acumulação de cargos, esta
situação é que veio reforçar uma visão dicotómica sobre a aplicabilidade da Lei, o que, paulatina
e parcialmente ofuscou a noção de que a mesma Lei visa orientar a conduta ética dos servidores
públicos. Ainda assim, não é menos relevante afirmar que este momento de interpretações
reflectia a pertinência da sua aplicação diante de assunção de controvérsias às denúncias da sua
violação.

Um dos factores que revelam a falta de auto-referência e exclusão da abrangência pela Lei, é o
facto de o período da sua aplicação nunca ter sido consensual, pelo menos conscientemente,
variando de organização pública para organização pública e, até dentro destas, variando de
unidade orgânica para unidade orgânica e, dentro desta, de repatriação para repartição. No uso de
pesquisa indutiva, encontramos estas evidências empíricas partindo do MINED. Nesta
organização, para uma parte dos servidores, o período de aplicação da Lei começa tardiamente,
dentro de violações, mostrando as fragilidades da primeira estratégia 63, isto é, a divulgação da
própria Lei. No Departamento Nacional do Ensino Primário – DNEP –, uma servidora notou
que:

“O MINEDH começou a implementar a Lei da Probidade Pública no ano de 2014,


porém ainda não temos aqui nenhum resultado. Quem melhor sabe falar neste assunto é

63
A LPP, no Cap. V, secção I, art. 90, preconiza que os servidores públicos devem observá-la no exercício das suas
funções três meses depois da sua aprovação.

43
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

a minha chefe que, do momento, encontra-se ausente”.

À semelhança desta servidora, os outros categorizaram as situações às quais se aplica a Lei,


revelando de formas implícitas que nos seus Departamentos e repartições ainda não houve a
divulgação da mesma, quanto menos que deve ser aplicada a todos, fomentando uma visão
monótona sobre a aplicação da Lei. Este é o caso: “nós não estamos propensos a incorrer a
improbidade. Pela natureza das nossas actividades, significa que nós não estamos propensos a
aplicação da Lei de Probidade Pública64”.

Esta posição mostra que a falta de uniformidade de divulgação da LPP no MINED e a falta de
interesse pela informação sobre esta Lei, por parte dos servidores desta organização, determina e
comporta informação sobre o tipo de contextos aos quais a Lei se aplica, ou seja, ela é entendida
como instrumento que apenas visa colmatar de actos de imoralidades e não orientadora dos
servidores que agem moralmente.

1.2.Génese e características do Seminário


A realização de Seminário para a mobilização da consciência dos servidores do MINED sobre a
pertinência da aplicação da LPP, não é um fenómeno frequente e condensa-se na indeterminação
da sua repetição, abrindo espaço que fecha a transparência do seu conhecimento pelos servidores
desta organização. Disto, herda-se a noção de aplicabilidade apenas aos casos de corrupção:

“Disponibilizado a própria Lei para permitir que os funcionários a conheçam, nós


tivemos aqui um Seminário feito a dois anos atrás pelo conselho coordenador, onde se
abordou sobre a LPP e houve uma palestra a margem do Conselho Coordenador. Quanto
à publicitação da própria LPP, temos um plano anti-corrupção que é também uma das
formas de inviabilizar o incumprimento da LPP. Felizmente ainda não tivemos casos de
violação da Lei”.

Portanto, estas palavras são fragmentáveis e ligam-se de diversas formas, criando e reforçando a
crença de muitos servidores, segundo a qual:

“Nós não estamos ligados à Lei da Probidade Pública. Aqui não tem havido debates.
Todos os outros meus colegas podem confessar o mesmo, ou seja, que não há debates
sobre a Lei. Uma coisa que lhe garanto é a existência de Comissão. Eu tenho a Lei mas
como, já não me recordo e, se a tenho, é porque uso-a na escola 65”

64
Salvador, Direcção Nacional do Ensino Secundário (DINES).
65
Anónima, 6o andar, Gabinete do Ministro.

44
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Assim, a composição deste Seminário, feita na base de líderes de algumas unidades orgânicas
que, não criando a “fuga” dos conteúdos oralmente abordados sobre a Lei da Probidade Pública,
criaram dúvidas sobre a importância de aplicação de uma Lei de probidade pública, no
Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano.

1.3.Fiscalização do cumprimento da LPP no MINED


A institucionalização de Lei da Probidade Pública como bússola dos servidores da função
pública moçambicana começa na Assembleia da República. Aqui é onde criou-se uma Comissão
Central da Ética Pública (CCEP66) que é um órgão composto por nove figuras iminentes, dos
quais três designados pelo governo (Adriano Silvestre Senvano – presidente; Elsa Afai e Evaristo
Mário67), três pela Assembleia da República (Carlos Machile, Sinai Jossefa Nhatitima e André
Madjabiri68) e, finalmente, três pelos Conselhos Superiores das Magistraturas 69 (Jamisse Taimo,
Rafael Sebastião e Denisse Normomede). Estas figuras, velam pelo desenvolvimento de
actividades de fiscalização de aplicação da Lei de Probidade Pública tanto interna, como também
externamente70.

Este órgão, para além de comportar uma estrutura71 que é o tipo ideal legalmente instituído, por
vezes delega e confere este poder às organizações do sector público 72 reproduzindo-se
continuamente nas instituições subordinadas ou sob tutela do Estado, em pequenas ou grandes
parcelas, conforme os imperativos de contextos. Este é o motivo pelo qual, a nível do MINED,
Órgão Central (OC) e local, a fiscalização do cumprimento da LPP é

“ […] Feita pelo secretário permanente que é um funcionário público que coordena o
processo de implementação do plano anti-corrupção. De tempo a tempo, este tem feito

66
Esta Comissão é criada pela própria LPP no Cap. II, subsecção II, art. 50, n.º 1, em 2012.
67
Este renunciou de ser membro por incompatibilidades e actualmente encontra-se a exercer funcoes de magistratura
do tribunal administrativo de gaza.
68
Este renunciou pelo facto de ter sido eleito para deputado da bancada parlamentar do Movimento Democratico de
Moçambique.
69
Cf. LPP no Cap. II, subsecção II, art. 50, n.º 2.
70
As actividades são definidas pela LPP, no Cap. II, Subsecção II, art. 50, n.º 1, alíneas a,...i.
71
Quanto à sua composição, estruturação e proveniência, no MINEDH esta Comissão está da seguinte forma: dr.
Cassamo – Direcção Nacional do Ensino Secundário (DINES); dra. Jorgete – presidente: proveniência?; Seuane
Júnior – Direcção de Administração e Finanças (DAF).
72
Cf. LPP, Cap. II, subsecção II, art. 51, n.º 1,2 e 3.

45
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

uma monitoria de implementação deste plano que é o de todo o Ministério e que integra
as componentes de cada uma das unidades orgânicas73”.

Porém, excepto este líder, nenhum dos servidores entrevistado desta organização confirmou
conhecer este secretário, nem as funções que ele desempenha, associando a sua existência à
invenção. E, para falarem da realidade vivida dentro do MINED, fora da lei e acção deste
secretário, os servidores da Direcção dos Recursos Humanos – DRH – afirmaram que:

“No ano de 2012, houve aqui "escândalo financeiro" que levou alguns dos nossos
colegas a serem demitidos e, alguns deles, foram submetidos a um processo disciplinar e
outros foram para a prisão por incompetências no exercício das suas funções”.

Para estes servidores, a ocorrências destes factos não é submetida dentro de contexto da violação
da Lei de Probidade Pública como instrumento de regulação da sua conduta, mas sim do EGFAE,
SIGEDAP e regulamentos internos. Dentro da mesma Direcção – DRH –, uma servidora disse
que:

“Nós usamos o EGFAE, sobre a Lei da Probidade Pública não posso dizer nada. Não
temos essa lei aqui no MINED. E para além disso, usamos o SIGEDAP que, do
momento, é um instrumento que nos traz desvantagens porque não há objectividade, nem
seriedade e se fosse para submetê-la à classificação numa escala de zero (0) a dez (10),
daria quatro valores e meio (4,5) ”.

Estas palavras por si só são suficientes para perceber não só como estes servidores olham para o
funcionamento interno do MINED, como também os mesmos olham para si mesmos em relação
ao funcionamento interno deste, quando tida em conta a legalidade.

1.4. Distribuição da LPP


Para que os servidores públicos do MINED leiam e conheçam “integralmente 74” a LPP, esta é
distribuída para cada unidade orgânica e repartições – (quantidade aleatória 75). Nas palavras do
nosso entrevistado, da Direcção Nacional de Alfabetização e educação de Adultos – DNAEA –,“
a LPP é distribuída em cada direcção para ser lida e conhecida por todos nós funcionários do
MINED”.

73
Director do Departamento Nacional de Educação e Alfabetização de Adultos.
74
Director da DNEAA.
75
Geralmente 1 exemplar para cada Departamento, nas palavras do Salvador, do 2o andar, DINES.

46
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Porém, a distribuição desta Lei não consegue abranger todas as unidades orgânicas e as suas
repartições, respectivamente, o que leva alguns servidores a pensarem que esta não se aplica ao
MINED. Dois servidores, um dos quais proveniente do Departamento de Tecnologias e
Informação e Comunicação – DTIC – e outro, da Direcção de Programas Especiais – DIPE
afirmaram o facto de que não se aplica a LPP nas suas unidades orgânicas. O primeiro – DTIC –
disse: “ nem sei, nem sei. Nós não operacionalizamos a Lei da Probidade Pública” e o segundo: “
nós não trabalhamos com a Lei da Probidade Pública”.

Estas palavras não só acompanham a pausa ou ausência da circulação da LPP nas suas unidades
orgânicas e repartições, como também a nível do MINED, fazendo a inspecção e representarem o
papel da figura do secretário permanente referido pelo Director 76 da DINAEA, nas suas
actividades e não inactividade, conforme o caso. Noutras unidades orgânicas e repartições,
mesmo quando esta Lei é distribuída, os servidores não a lêem, por isso, colocam dúvidas sobre
a sua importância: “eu não sei se a Lei da Probidade Pública é relevante por não ter percebido
bem a sua essência77”.

Às vezes, dentro destas unidades orgânicas e subdivisões, a única Lei disponível para mais de 7
servidores78 e, noutras, só para os líderes, esta e é levada por estes para suas residências,
deixando os subordinados sem a mesma e, em razão disto, os vários servidores entrevistados não
tinham a LPP e, mesmo os que nos mostraram, confessavam a sua posse por motivos de
curiosidades ou por exigências feitas fora do MINED.

Portanto, estes constrangimentos revelam a distribuição da LPP como estratégia «forte» para
garantir que a mesma seja conhecida por poucos, e muito «fraca» quando para ser conhecida por
todos os servidores.

1.5.Grupo de discussão da LPP


No MINED, para discutir-se a LPP, criou-se um grupo composto por líderes provenientes de
diferentes unidades orgânicas, mas representantes de todas unidades orgânicas e dos servidores
76
Veja a pag. 45.
77
- Anónimo, 51 anos de idade, efectivo a partir de 1998, licenciado, DNEP.
78
Veja pag 43.

47
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

dos escalões inferiores. Os últimos, por sua vez, esperam receber os debates e envio de “alguma
informação ou documentos79”, porém não são informados nada sobre os conteúdos discutidos,
como se apenas fosse “assunto dos líderes”. Um servidor do Departamento Nacional de
Educação e Alfabetização de Adultos – DNEAA – mostrando-se preocupado com esta questão
disse:

“ Os grupos que discutem a Lei da Probidade Pública não nos dizem nada sobre o que
se discute. Não sabemos quantos são, quem devem participar desses grupos. Não
sabemos nada sobre os mesmos. A única coisa que sabemos é que os grupos de discussão
existem e nada mais do que isso”.

Mesmo quando estes chefes regressam às suas unidades orgânicas e repartições, não informam
nada aos seus subordinados, por isso, na sua ausência, não se fala dos assuntos lá discutidos,
disseminando a reputação de serem os únicos detentores dos conteúdos da Lei. Uma outra
servidora, da DNEP, sentindo que na verdade, quem sabe e deve falar sobre estes grupos é a
chefe, disse que:

“ A nossa chefe, como membro do grupo de debates sobre a Lei da Probidade Pública, é
a pessoa indicada para falar da Lei […], eu não tenho informação e nem sei nada sobre
a mesma”.

Portanto, este grupo de discussão da LPP, expande de si para si e entre si a percepção sobre a
matéria discutida que é fechada para os servidores que não fazem parte do mesmo.

CAPÍTULO V: A LPP NO MINED

79
Direcção Nacional da Educação e Alfabetização de Adultos DNEAA).

48
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1. Nível de (des) conhecimento da LPP pelos servidores do MINED


A aplicação da Lei da Probidade Pública – LPP – no Ministério da Educação e Desenvolvimento
Humano – MINED – reflecte-se nos níveis em que a mesma é (des) conhecida pelos servidores
públicos desta organização. A figura que se segue mostra a existência da divisão desigual e
grande dos servidores entre os que afirmaram conhecer a LPP e os que afirmaram que não a
conhecem, ocupando a maior percentagem os primeiros (87%) e, a menor, os últimos (13%).

Gráfico 1: nível de conhecimento da LPP pelos servidores do MINED

Não conhecem a Lei

Fonte: o autor (2015)

Embora a maior parte dos servidores afirmaram que conhecem a LPP, relativamente aos que não
a conhecem, importa reiterar que a maior parte dos primeiros não têm a consciência de que esta
Lei deve ser aplicada nesta organização. Uma servidora da DNEAA, afirmou que “ o MINED
não trabalha com a Lei da Probidade Pública”.

Para além de evidenciar que estes servidores, quando se expressam, não se vêem como
servidores públicos abrangidos pela LPP, estes também não têm um público especificamente
definido ao qual a aplicação da mesma recai, vacilando entre o cidadão comum. A respeito deste
facto, dois servidores da Direcção Nacional do Ensino Secundário – DINES – reforçaram que:

“ A Lei da Probidade Pública chama a atenção ao cidadão para a observância da Lei e


da boa conduta como servidor público. Convida-lhe a pautar por transparência na sua
actuação ao serviço do interesse público80”.

Ou ainda, a mesma visa:

“ […] Educar as pessoas a dar valor o trabalho e que seja com muita perfeição e dar
lugar os que não tem emprego porque os país tem muito quadro que não espaço para
exercer as suas funções devido a acumulação de pastas/chefias 81”.
80
Anónimo, 53 anos de idade, efectivo a partir de 1998 e licenciado. DNES
81
Anónimo, 37 anos de idade, efectivo a partir de 2005, licenciado.

49
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

Porém, mesmo quando alguns destes conhecem o público-alvo da LPP, é apenas


superficialmente, no referente às exigências da mesma. Uma servidora do DINES afirmou que “
a Lei abrange aos que acumulam cargos em várias instituições públicas82”.

Desta forma, estes servidores olham para a Lei da Probidade Pública como instrumento de
prevenção contra a conduta dos que fazem mal e não para orientar a dos que fazem e devem
fazer o bem. Portanto, sendo que a percentagem dos servidores públicos que se constatou que
conhecem a LPP no MINED ocupa maior índice no gráfico acima apresentado, não é menos
relevante afirmar que a problemática da atracção e difusão da confusão sobre o âmbito e objecto
da aplicação desta LPP tornam-se cada vez mais preocupantes nesta parcela. Esta posição
explica-se pelo facto de que os servidores que não conhecem a LPP e que ocupam a menor
parcela no gráfico, mostraram-se firmes nas suas convicções de que realmente não a conhecem:
“nunca ouvi falar dessa lei83. Tente dirigir-se ao gabinete jurídico84”.

1.1.Relevância da aplicação da LPP no MINED


No MINED, a relevância da aplicação da LPP é interpretada pelos servidores públicos referindo-
se aos objectivos correctos da mesma, porém ressalvando-se sempre o facto de os mesmos
abrirem espaço para pensar-se em servidores públicos imaginários e não identificados.

Assim, estes servidores, mesmo quando afirmam que a aplicação da LPP é relevante, estes não
esgotam nem restringem a expansão da diversidade de pensar-se sobre a mesma e são apenas
uma parte dos que a interpretam. Isto reflecte-se na resistência de partilha de opiniões sobre a (ir)
relevância da aplicação desta Lei. Enquanto alguns que acreditavam que “ o funcionário deve
aceitar um horário do trabalho para dar acesso aos demais que estão a procura do emprego 85”,
outros acreditavam que a relevância da aplicação da LPP deve-se aos facto de a mesma “ajudar
na distribuição e gestão das tarefas86”.

As convicções destes servidores e as estratégias adoptadas no MINED são mutuamente falíveis e


erróneas e, ainda que de forma não pensada, os primeiros, quando entrevistados, fazem
82
Anónima.
83
Departamento de fiscalização.
84
Departamento de Administração e finanças.
85
Anónima, 48 anos de idade, efectiva a partir de 1987, licenciada. Ensino Primário.
86
Anónima, 48 anos de idade, efectiva a partir de 1987, licenciada. Ensino Primário.

50
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

interpretação da fragilidade das estratégias adoptadas. Uma servidora do DRH, disse que “a Lei é
oportuna, embora não se faça cumprir87”.

1.2.Níveis de (des) conhecimento das exigências da LPP no MINEDH


Se a LPP é um instrumento de garantia da disciplina exigida dos servidores públicos do sector
público moçambicano e, especificamente, do MINED, estes ainda consideram-se de
indisciplinados. Nenhum dos nossos entrevistados mostrou-se inteiramente conhecedor das
exigências deste instrumento, e as respostas dadas às perguntas sobre o que se exige da aplicação
desta Lei foram especulativas, erróneas, adivinhadas, duvidosas e contingenciais, mas sempre
iguais nas suas diferenças desviando-se até do contexto para só mostrarem o lado em que esta
Lei “desencontra as expectativas88” socioculturais e profissionais, criando advocacias não
fundamentadas: “ esta Lei é irrelevante porque prejudica mais os escalões inferiores e contraria
os hábitos de algumas regiões. Exemplo oferta de alguns presentes pelos populares89”.

Sendo assim, o reforço e renúncia das contradições notáveis na invenção do conteúdo da LPP
sobre a sua aplicação a outras organizações públicas e servidores públicos imaginários e não
identificáveis invocam bases sólidas sobre a permeabilidade do MINED à redefinição das
estratégia que se podem adoptar para garantir o cumprimento da LPP. E, nalgum momento, os
servidores públicos desta organização mostram uma relação de desconhecimento comum e
consensual sobre as formas de trocas de noções sobre o contexto em que se pode aplicar a Lei da
Probidade Pública.

CAPÍTULO VI: PERCEPÇÕES DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO


MINED SOBRE A ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL
A LPP entra para a função pública moçambicana num momento em que a aplicação de
instrumentos que “tradicionalmente” regulavam a conduta dos servidores públicos, parecia, mais
do que realmente era, “dispersa, por vezes incoerente entre si e ambígua 90”. Porém, a aprovação
da Lei da Probidade Pública não consegue substituir o EGFAE – Lei nº 14/2009, de 17 de Março
87
Anónima, 49 anos de idade, efectiva a partir de 1986, licenciada
88
Lopes (2004).
89
Anónimo, 55 anos de idade, efectivo a partir de 1992, licenciado.
90
Cf. Issá (2013:17).

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

–,o SIGEDAP – Decreto no 55/2009, de 12 de Outubro – e os regulamentos internos que ainda


constituem os maiores instrumentos da ética e deontologia profissional no MINED. Os
servidores inqueridos, desempenhando as suas funções em diferentes unidades orgânicas e
repartições em diferentes níveis hierárquicos, mostraram-se firmes no conhecimento destes
instrumentos reguladores das suas condutas. Mas mesmo assim, estes servidores confessaram
que o exercício da conduta ética não reflecte as exigências estipuladas nestes instrumentos legais,
mas sim da vontade livre destes. Uma funcionária do Direcção dos Recursos Humanos – DRH –
disse que:

“ […], Quando um dos nossos colegas desvia-se de conduta ética, eu chamo atenção se
for fora da instituição porque mesmo estando naquela margem ainda pertence ao
Ministério, mas agora se eu apanho num bairro ali, vou olhar e vai depender da situação
que ele vai reagir. Se dá, eu aproximo, caso não, eu deixo. Tem autoridade ali, tem a
população. Hoje em dia eu posso tirar a imagem porque há pessoas que quando estão
aqui comportam-se bem e quando estão lá fora comportam mal” ou seja “ […] aqui no
MINEDH tem sempre havido grupos de consciencialização em matérias de ética, mas os
nossos colegas parece que não entendem nada do que se diz nestes grupos.”

Portanto, esta conduta per si fragiliza e revela fragilidade dos instrumentos acima referidos, bem
como das interpretações que os seus violadores projectam em buscas de preferências que se
contrapõem aos instrumentos legais. Por outro lado, a mesma está em concordâncias com o tipo
de acções levadas a cabo para manter-se a conduta ética, que em nada faz para melhorar e
substituir o status quo.

A tabela a seguir permite fazer uma leitura da camada dos servidores públicos que o MINED
deseja desenvolver para progredirem eticamente.

Tabela 7: treinamento dos líderes do MINED

Comportamento dos membros da equipa Acções a desenvolver


Princípios Desejáveis Estranhos
 Capacidade de
influenciar
 Saber ouvir
 Indicação prévia  Autoritarismo
do líder  Egoísmo  Treinamento
Liderança  Aberturas a  Sob estimação
críticas e  Desprezo
autocríticas
 Comunicativo

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

 Promover a
confiança

Fonte: MINED (2015)

Portanto, o MINED preocupa-se mais com os líderes. Porém, estes ainda não conseguem mostrar
a conduta ética para os servidores dos escalões inferiores desta organização. Na Direcção de
programas especiais (DIPE)91 e na Direcção Nacional de Ensino Primário (DINEP), as formas de
críticas são escritas e coladas nas paredes. Assim, gráfico que se segue ilustra situações de
concordâncias e discordâncias sobre o ambiente vivido nesta organização.

Gráfico 2: percepção dos servidores sobre a ética e deontologia profissional

Fonte: o autor (2015).

Assim sendo, no MINED nota-se um desencontro de preocupações: enquanto o MINED


preocupa-se com os treinamentos éticos dos líderes, os servidores dos escalões inferiores desta
organização preocupam-se com a crise de conduta ética destes líderes.

91
“Meu Deus! Dê-me sabedoria para entender o meu chefe, Porque se me der forças eu bato nele”.

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

CAPÍTULO VII: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES


A questão de fundo para a realização deste trabalho de pesquisa foi a de averiguarmos até que
ponto a estratégia adoptada pelo MINED garantiu cumprimento da LPP (2013-2014). Vimos que
a Lei da Probidade Pública consagra princípios e deveres de ética e deontologia profissional que
orientam a conduta dos servidores públicos. No MINED, a estratégia adoptada para garantir o
cumprimento desta Lei é a divulgação, fiscalização, distribuição e grupos de discussão. Do que
obtivemos com a recolha dos dados, concluímos que nesta organização, os servidores públicos
não usam esta Lei no exercício das suas funções e para manter-se a disciplina, substituem esta
Lei pelo EGFAE – Lei no14/2009, de 17 de Março –, SIGEDAP – Decreto nº 55/2009, de 12 de
Outubro – e regulamentos internos das unidades orgânicas.
Através das respostas dadas às perguntadas colocadas sobre a estratégia adoptada pelo MINED e
preenchimento dos inquéritos por questionário, respectivamente, notamos que, por um lado,
nesta organização, a LPP não é aplicada por vários motivos que partem da estratégia que é mais
orientada ao conhecimento por parte dos líderes e, por outro, embora esta organização invista
mais no treinamento dos líderes em matéria de ética, os servidores dos escalões inferiores
resistem à partilha de opiniões sobre a moralidade dos primeiros.

Sendo assim, estas ilações confirmam a segunda hipótese, ou seja a estratégia adoptada pelo
MINED não garantiu a aplicação desta Lei, pois ela ainda não é reconhecida como instrumento
regulador da conduta dos servidores no local do trabalho e, em razão dos problemas encontrados
na adopção da estratégia desta organização, recomendamos o seguinte:

 Distribuir a LPP em função da quantidade dos servidores públicos que cada unidade
orgânica comporta – todos devem recebê-la e lê-la obrigatoriamente;
 Fiscalizar do cumprimento da LPP a nível de todo o Ministério;
 Estender aos debates sobre a LPP para os funcionários de todos os níveis hierárquicos e,
finalmente,
 Treinar todos os servidores em matéria de ética e intensificar o mesmo ao nível dos
líderes.

55
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

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2. Jornal MEDIATECA. Violação de Lei de probidade Pública em Moçambique. 5. 06.
2015;
3. Jornal O PAÍS. Lei da Probidade Pública já esta em vigor, quinta-feira, 16 de
Novembro de 2012;
4. Jornal SAVANA. Lei da Probidade Pública vigora há uma semana, mas a imoralidade
continua. 23 de Novembro de 2012;
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Novembro de 2012.

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 LEGISLAÇÃO:

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

1. Constituição da República de Moçambique (1975);


2. ___________________________________(1990);
3. ___________________________________(2004);
4. Moçambique. Lei n.º4/90, de 26 de Setembro, sobre Normas de Conduta, Direitos e
deveres dos Dirigentes Superiores do Estado;
5. ___________Lei n.º 21/92, de 31 de Dezembro, sobre Direitos e Deveres do Presidente
da República em exercício de suas funções;
6. ___________Lei n.º 7/98, de 15 de Junho sobre Normas de Conduta aplicáveis aos
titulares de cargos governativos;
7. ___________Lei n.º4/90, de 26 de Setembro;
8. ___________Lei n.º 8/2002, de 5 de Fevereiro, aprova a alteração de alguns artigos no
código penal;
9. ___________Lei n.º6/2004, de 17 de Junho que introduz mecanismos complementares de
Combate à Corrupção;
10. __________Lei n.º 14/2009, de 17 de Março, Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
e Estado;
11. __________Lei n.º 30/2009, de 29 de Setembro, estatuto do deputado

Decretos:

1. Moçambique. Decreto n.º 16/79, de 21 de Outubro, Normas de trabalho e disciplina do


aparelho do estado;

2. __________Decreto n.º 5/92, de 27 de Fevereiro, que regulamenta a lei n.º 4/90;

3. __________Decreto n.º 55/2000, de 27 de Dezembro que regulamenta o decreto 5/92;


4. __________Decreto n.º 48/2000, de 12 de Dezembro, que regulamenta a lei n.º 7/98;
5. __________Decreto n.º 30/2001, de 15, de Outubro, aprova as normas de funcionamento
dos serviços da administração pública;
6. __________Decreto n.º 19/2005, de 22 de Junho, do procedimento de fiscalização
tributária;
7. __________Decreto 22/2005, de 22 de Junho, que regulamenta a lei n.º 6/2004;
8. __________Decreto n.º 28/2005, de 29 de Agosto, sobre o estatuto do gestor público;
9. __________Decreto n.º 55/2009, de 12 de Outubro, Sistema de Desempenho na
Administração Pública.

Resolução

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

12. Mocambique. Resolução n.º 10/97, de 20 de Julho sobre Normas Éticas e Deontológicas
do Funcionário Público.

 PROGRAMAS:

1. MARP (2010). República de Moçambique: relatório de revisão do país. África do sul:


midrand;
2. Plano Estratégico da Educação (2012-2016);
3. CIRESP (2001-2011). Estratégia Global da Reforma do Sector Público. Maputo.

APÊNDICES

62
Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


Inquérito para recolha de dados no Ministério da Educação
Nota: Este inquérito só deve ser respondido pelos servidores públicos que prestam
serviços ao MINED durante o período 2013-2014

Descrição do proponente
Vínculo: efectivo/contratado_______________________________________
Nível de escolaridade_____________________________________________
Órgão_________________________________________________________
Sexo__________________________________________________________
Idade_________________________________________________________
Ano de ingresso________________________________________________
1. O senhor (a) já ouviu falar sobre a Lei da Probidade Pública? SIM (__) NÃO (__)
2. Na sua optica, qual é a relevancia de termos a Lei da Probidade Pública? Não há
relevancia (__) Há relevância (__) Não sei (__)
3. Todas as opcoes desta questao devem ser justificadas
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
4. O que é que se requer à luz da Lei da Probidade Pública?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
5. Para si, há ética na avaliação de desempenho? SIM (__) NÃO (__)
6. Na sua óptica, há comunicação envolvendo a ética no trabalho? SIM (__) NÃO (__)
7. Para si, há liderança ética e comprometimento da alta direcção? SIM (__) NÃO (__)

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Análise da estratégia do sector público moçambicano para garantir a aplicação da Lei da Probidade Pública:
o caso do MINED (2013-2014).

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


Guia de entrevista para a recolha de dados no Ministério da Educação

Questões
1. A Lei da Probidade Pública visa assegurar a não discriminação e igualdade; legalidade,
lealidade; probidade pública; supremacia do interesse público; eficiencia;
responsabilidade; objectividade; justiça; respeito pelo património público; reserva e
descricao; decorro e respeito perante o público; conhecimento das proibições e regimes
especiais aplicáveis; escusa de participação em actos que incoram em conflitos de
interesse; declaracao do património; parcimónia; competência; etc.
a) De que forma o MINED garante a aplicação desta Lei a nível do orgao Central?
b) Prevista pela Lei supracitada, a criação de uma Comissão de ética a nivel desta
organização, sera que a mesma já foi criada?
c) Quais são as actividades desempenhadas pela mesma para fazer-se cumprir a Lei da
Probidade Pública?
d) Quais são os resultados pela aplicação desta Lei?

64

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