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A MOTIVAÇÃO
Sempre senti uma acentuada curiosidade em saber como se iniciou a vinda dos
primeiros imigrantes italianos, principalmente para São João del Rei, na
encantadora Várzea do Marçal, onde meus avós paternos se instalaram. Aos
poucos fui reunindo fragmentos esparsos dessa aventura da emigração italiana e
pude reunir as peças desse quebra-cabeças na década de 80, escrevendo “Raízes
Italianas em São João del Rei”. Não se trata de um extenso documentário, mas
sim a associação organizada, passo a passo, dos primeiros momentos da instalação
do Núcleo Colonial de São João del Rei.
“Raízes Italianas em São João del Rei” foi publicado em 1988, como parte das
festividades comemorativas do 1º Centenário Comemorativo da Instalação do
Núcleo Colonial em São João del Rei. O evento ocorreu na tradicional Cantina do
Ítalo, que patrocinou a festa do lançamento. Com saudade lembramos a ajuda
inestimável do inesquecível Jucelino da Costa Filho, na busca de dados.
"A nosso ver se aquilata o valor de uma obra, não pelo número de páginas mas sim
pelo seu conteúdo, pela sua essência e pela sua condição de transmitir com
segurança e clareza o tema focado. Isto o autor muito bem o fez. Sua condição de
pesquisador, somada à emoção de ordem familiar, pelas suas origens, pelo lado
paterno oriundas dos primitivos colonos italianos, sem dúvida muito influíram para
o cabal desempenho do trabalho proposto.” E mais adiante:
DEDICATÓRIA DO TRABALHO
Dedicatória:
2007
AOS LEITORES
Pelo fato de ter sua edição esgotada apresentamos, nas páginas seguintes, uma
coletânea de trechos do livro “Raízes Italianas em São João del Rei”.
A locomotiva, partindo mansamente da “briosa e fiel” São João del Rei, atravessa
paisagens bucólicas e pitorescas, deslizando sobre os trilhos em direção à
Estação do Sítio (hoje Antônio Carlos), localizada bem à sombra da Serra da
Mantiqueira.
Os tempos estavam mudando. Por todo o florescente Vale do Rio das Mortes
nascera um firme desejo de expandir a lavoura e de instalar novas indústrias.
Somente abrandava este desejo a perspectiva da falta da mão-de-obra, uma vez
que as campanhas abolicionistas já acendiam, nos corações escravos, a justa
chama da liberdade.
Foram espalhando-se pelo Brasil, notadamente para São Paulo, Espírito Santo, Rio
Grande do Sul e Santa Catarina mas, atraídos por uma propaganda bem conduzida,
começam aos poucos a vir para Minas Gerais.
No Vale do Rio das Mortes, entretanto, o processo de sua fixação somente foi
efetivamente iniciado com a fundação do Núcleo Colonial de São João del Rei,
instalado pelo Dr. Armênio de Figueiredo na vasta e alegre Várzea do Marçal.
E este fato memorável modificou profundamente a vida da pacata São João del
Rei. Ao lado das modinhas e lundus surge a cançoneta; ao lado do aguardente
surge o vinho; ao lado do arroz com feijão surge a polenta e contrastando com o
bronzeado e a graça das brasileiras surge a alvura e beleza das italianas...
O número de pessoas que viviam em dificuldades era tão grande que a um anúncio
requisitando mil trabalhadores para a ferrovia da Alta-Itália responderam nada
menos que 58 mil candidatos! Esse fato foi transcrito no Correio Paulistano de 3
de janeiro de 1880.
A necessidade de emigração tornou-se vital, merecendo de um escritor da época a
seguinte afirmação:
“A emigração, para a Itália, é uma necessidade. Precisamos que
partam de 200 a 300 mil indivíduos por ano para que possam encontrar trabalho
os que ficam”.
Acrescente-se ainda que, além dos produtos do norte da Itália, também a mão-
de-obra disponível deixou de ser absorvida pelo poderoso mercado austríaco. O
clima de incerteza, os temores da guerra criados pela possibilidade de novos
conflitos com a Áustria e a pobreza colocaram principalmente venetos, lombardos
e trentinos em situação demasiadamente aflitiva e numa posição em que a maior
segurança adviria da opção pela saída do solo pátrio.
E partem para a América, descrita pelos países que desejam acolhê-los como
sendo a “terra da promissão”.
Entre os núcleos coloniais criados pelo Governo encontra-se o de São João Del
Rei, instalado na Várzea do Marçal e na ex-fazenda de José Theodoro, que
foram, como veremos adiante, também denominados por Bolonha e Ferrara,
respectivamente, devido à origem dos italianos que os formaram.
Após 107 anos que os fatos aqui narrados aconteceram, não podemos esquecer
que os nomes e as personalidades marcantes desses homens, indelevelmente se
liga a todos eles.
Contava São João Del Rei, nesta época distante, com cerca de 1600 casas de um
só pavimento, distribuídas em 33 ruas e 10 praças. Entre essas casas haviam 80
sobrados, alguns dos quais de notável beleza. Entre outros, sobressaíam os
seguintes edifícios públicos: o teatro, o prédio nacional da extinta Intendência e
Fundição de Ouro, o sólido edifício do Paço Municipal com a cadeia instalada no
seu pavimento inferior e a Santa Casa de Misericórdia. Dedicados à religião
católica contavam-se onze igrejas, entre as quais a admirável Matriz de Nossa
Senhora do Pilar, a de Nossa Senhora das Mercês, a de Nossa Senhora do Carmo
e a de S. Francisco de Assis.
É na pitoresca São João del Rei que, aos 8 de março de 1888, chega o Dr.
Armênio, nomeado aos 10 de fevereiro, para ocupar o cargo de Engenheiro Chefe
da Comissão de Medição de Terras. As finalidades da Comissão foram
claramente explicitadas por ele em ofício de 22 de março, encaminhado ao
Presidente da Província:
“(...) comunico a V. Exª que a Comissão à meu cargo tem por fim: não
só a medição e demarcação de lotes para o estabelecimento de um núcleo colonial
em terras adquiridas pelo Estado, como também a discriminação de terras
devolutas pertencentes ao Estado, das do domínio particular(...)”. (grafia atual)
Os Primeiros Trabalhos
Percorrendo as terras situadas à margem direita do rio das Mortes, Dr. Armênio
distribuiu o serviço a ser feito em três turmas: coube à primeira, chefiado por
ele, o levantamento do perímetro de toda a região; à segunda, chefiada pelo
Engenheiro Coelho, coube o levantamento das estradas, caminhos, pequenos
cursos d´água e outros detalhes; à terceira coube a confecção da planta do rio
das Mortes e Carandaí, chefiada pelo Agrimensor Zanith.
Os trabalhos desenvolveram-se com presteza e dentro das expectativas, pois aos
30 de abril o Engenheiro Chefe comunicava que já havia organizado a planta da
área e estudado a melhor forma de dividir os lotes, optando pelas
“(...) Agora constando aos abaixo assinados, habitantes desta mesma Cidade, que o
Governo Imperial trata de estabelecer um núcleo colonial nas confluências dos
rios das Mortes e Carandaí, medida esta de subido alcance para esta Cidade, e
existindo a maior parte desse terreno sem habitação alguma, e sendo certo que
ele limita-se com a Fazenda do Marçal comprada pelo Governo, os abaixo
assinados, sucessores legítimos daqueles concessionários, e que sobremaneira
desejam o engrandecimento e prosperidade deste lugar, vêm respeitosamente
suplicar a V. Ex.ª que se digne, em seu nome, ofertar ao Governo de S. M.
Imperial o referido terreno, nas margens do rio das Mortes, para nele se
estender o projetado núcleo colonial (...)”. (grafia atual).
Não encontramos as plantas das casas, mas inferimos, pela lista de materiais, que
no projeto indicado pelo Engenheiro Chefe, a área de construção ficaria no
entorno de 40 metros quadrados.
Apesar de não terem sido encaminhados ao núcleo colonial, como veremos adiante,
deram início ao movimento imigratório para a região, à partir de fins de
outubro de 1888.
Ressalta ainda que se a autorização para a execução dos reparos fosse dada, por
telegrama, teria condições de prepará-las até o dia 10 de dezembro.
Em fins de novembro (dia 28) Dr. Armênio comunica à Inspetoria Geral que
somente naquela data havia recebido o telegrama avisando-o para que se
preparasse par receber as primeiras 90 famílias, para serem instaladas no
núcleo colonial.
Se basearmos nas declarações do Sr. Carlos Preda, cidadão italiano que há muitos
anos vivia em São João del Rei, veremos que o fluxo imigratório para a região já
havia se iniciado em fins de outubro, como anteriormente mencionamos. Cita
que esses primeiros imigrantes foram trazidos por fazendeiros de Bom Sucesso
para o trabalho na lavoura.
Nesta data o Coronel Severiano de Rezende havia sido nomeado, pelo Dr.
Diogo de Vasconcelos, para ser o Diretor da Hospedaria Provincial de São João
del Rei. Para isto ele havia alugado, em 15 de novembro, no Largo do Carmo, o
mais vasto prédio que possuía a cidade. Além de vasto, arejado e limpo, tinha boas
acomodações e facilmente alojaria 250 imigrantes. Anteriormente conhecido
como Solar da Baronesa logo passou a ser chamado de Hospedaria.
A Hospedaria, no Largo do Carmo
Para Juiz de Fora seguiu então o Sr. Carlos Preda, nomeado Intérprete e Auxiliar
na Hospedaria, para receber instruções precisas, voltando, no dia 28 de
novembro, com 63 imigrantes venetos e ferrarenses.
informa ao Inspetor Geral que, por precaução, havia providenciado com o Sr.
Severiano de Rezende, agasalho e alimentação no dia da chegada dos imigrantes
destinados ao núcleo colonial. Mencionou que havia acertado inclusive o preço da
diária, ou seja, 800 réis por adulto e 400 réis por menor.
Para crianças com idade entre 3 a 12 anos era fornecida uma dieta básica para
cada duas crianças. Para as de idade inferior a 3 anos não havia o fornecimento da
dieta.
Festa da Chegada
E sufocados por aquele torvelinho de emoções, deixavam que dos olhos cansados,
diante da jovialidade e estupefação de quase todos, brotassem algumas furtivas
lágrimas.
Para o Dr. Francisco de Paula Moreira Mourão, médico do núcleo colonial, foram
dadas instruções para a instalação de uma enfermaria, possibilitando assim, um
melhor atendimento aos doentes.
Outras levas de colonos foram chegando sucessivamente e o Engenheiro Chefe,
aos 18 de dezembro, ou seja, uma quinzena após a chegada dos primeiros
colonos, informa que já se achavam instalados, em 6 casas provisórias na
Várzea do Marçal 371 colonos e na ex-fazenda de José Theodoro, mais 186
colonos. Neste mesmo relato designa o Engenheiro Auxiliar, Dr. Coelho, para
fazer a
Não sabemos ao certo o número de lotes que foram distribuídos na Colônia mas,
pelo relato do Dr. Armênio, presumimos que tenham sido no entorno de 180.
Também em outro documento importante, o Livro Auxiliar da Colônia, são
relacionados 135 lotes na Várzea do Marçal e 39 lotes na ex-fazenda de José
Theodoro.
À primeira vista pode parecer um número pequeno, mas é bom lembrar que,
naquela época, implicou no aumento de 10% da população da cidade, em menos
de um mês!
E já no dia 20 de dezembro o Dr. Armênio informa que somente poderia
acomodar mais 6 famílias,
“(...) porquanto neste núcleo não posso estabelecer mais imigrantes (...)”.
Alguns Transtornos
Vida na Colônia
Apesar do esforço e dedicação do Dr. Armênio conclui-se, pelos seus relatos, que
o colono teve que resignar-se em ver os seus primeiros sonhos esvanecerem-se,
perdendo o primitivo encanto e colorido. E isto se deve ao fato dos entraves
administrativos terem sido muitos, aliados à morosidade, uma característica
marcante nos serviços ligados à imigração. Não havia uma conscientização da sua
importância e, como conseqüência, o Governo não se preparara convenientemente
para um empreendimento de tal envergadura.
Como vimos o seu pedido não foi atendido. Ele então direcionou os colonos, à
partir de fins de dezembro, para a construção de suas casas, medida
corretíssima e humanitária, uma vez que eles se encontravam em casas
provisórias, em condições precárias de higiene e conforto. Acertou-se então com
o Governo, através da Inspetoria Geral, a remessa de todo o madeirame, ao passo
que os colonos seriam responsáveis pelos trabalhos de execução dos alicerces das
casas e da fabricação dos adobes.
E em fins de janeiro de 1889 as fundações das primeiras 50 casas já
estavam prontas! A madeira para cobri-las, entretanto, não havia chegado.
Apesar disto os trabalhos de fabricação dos adobes e a abertura das estradas do
núcleo continuaram a ser executados no mesmo ritmo.
Podemos ainda avaliar, daí para frente, a dura luta que os colonos enfrentaram.
Ressalte-se ainda que, no limiar do alvorecer da República, não deveria haver por
parte do Governo tanto empenho no cumprimento de obrigações assumidas pelo
Império. Mas os imigrantes estavam acostumados ao sofrimento e retemperaram
nele as suas forças. Valeram-se da sua garra e do seu espírito indomável e
finalmente venceram!
As suas casas simples, de piso de chão batido, foram enfim cobertas. Começaram
as plantações e a colheita de maçãs, pêssegos, laranjas, peras, uvas, milho, batata
e hortaliças, que eram vendidos pelas italianas, em seus pesados balaios
dependurados em “derlas”. Depois foram usadas as charretes que levavam a
produção excedente até os locais de venda em São João del Rei. Nos fornos de
cupim, do lado de fora da casa, assavam os seus pães, reacendendo em suas almas
a certeza de dias melhores.
“Os primeiros colonos que receberam seus lotes, segundo os registros que
encontramos, são os seguintes: