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UNIDADE I de Portugal e, com a guerra da

Reconquista, foi disseminada pelo resto


ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA
do país.
1.1– Introdução
Normalmente, a história da língua se
Apresentar o conteúdo gramatical de divide em três fases:
Língua Portuguesa V – história da língua
– sem uma ancoragem, na realidade, • Pré-histórica – das origens da língua
seria, até certo ponto, uma atitude até o século IX, data dos primeiros
irresponsável. documentos latino-portugueses;

O nosso objetivo é ilustrar as • Proto-histórica – do século IX ao


transformações da língua através de século XII. Época em que aparecem
um enfoque diacrônico, não apenas por textos redigidos em latim bárbaro,
meio de exemplos isolados, mas geralmente de natureza forense, com
apoiado por textos de épocas em que inserções de palavras da língua falada.
se verificaram os fenômenos No final desse período, floresce em
analisados. Assim, apresentamos, Portugal e Galícia a poesia
sempre que possível, os casos trovadoresca.
estudados em passagens escritas onde • Histórica – subdivide-se em Arcaica e
eles ocorrem. Moderna.
Valorizamos também o entendimento Arcaica – do século XII ao século XVI –
do texto, a sua compreensão como fase caracterizada por transformações
meio de se chegar à sua estrutura no léxico, na fonética, na morfologia,
(plano sincrônico), bem como à língua na sintaxe. Moderna – do século XVI
encarada como processo em suas até o século atual – a língua adquire um
múltiplas possibilidades de padrão que chega até os nossos dias,
transformação (plano diacrônico). com poucas mudanças profundas.
É possível estudar a língua sob duas
1.2 – Fases da Língua
perspectivas históricas – a interna e a
externa. Línguas Românicas 1

A externa é a história da cultura e da São aquelas que derivam do latim. As


sociedade e sua influência na língua. A principais são: • Português • Espanhol
interna trata das transformações • Italiano • Francês
fonéticas, morfológicas, sintáticas e
O latim era a língua oficial do Império
semânticas.
Romano e, com as conquistas
A seguir, iremos examinar as duas realizadas, era imposta aos povos
subjugados.
A nossa língua origina-se do galego-
português, inicialmente falada no norte
Com o passar do tempo e em contato Palavras de Origem
com culturas e povos diversos, foi se
• Árabe: Muitas delas começam com al,
transformando em línguas diferentes,
que é o artigo árabe aglutinado à
embora guardem uma certa
palavra: álcool, alfazema, alface,
similaridade entre si:
alcachofra, alfândega, algema, azeite,
Observe: arroz; xarope, tarefa, tarifa, algarismo,
Latim Latim Português Espa- Italiano Francês
enxaqueca.
Clássico Vulgar nholl

Equus caballus cavalo caballo cavallo cheval


Iter viaticum viagem viaje viaggio voyage • Ibérica: Baía, balsa, barro, bezerro,
Os bucca boca boca bocca bouche
Ignis focus fogo fuego fuoco feu cama, esquerdo, garra, manto, sapo.

• Céltica: Bico, cabana, caminho,


Outras denominações: camisa, carpinteiro, carro, cerveja,
Neolatinas, Novilatinas ou Latinas. duna, gato, gordo, lança, peça.

• Grega: Bolsa, cara, corda, calma, anjo,


bispo, bíblia.
A origem das línguas neolatinas está
no latim vulgar, a língua falada, e não • Germânica: Agasalho, barão, banco,
na língua escrita ou literária (latim banho, brasa, guerra, lata, roupa, sopa.
clássico).
A Reconquista
Antes do domínio romano, vários povos
habitaram a Península Ibérica: os Até mais ou menos o ano 1000, os
próprios iberos, depois gregos e árabes dominam a península.
fenícios.
Os árabes (muçulmanos) e os cristãos
Mais tarde, vieram os celtas, povo de vão se enfrentar em inúmeras batalhas,
origem germânica. Da fusão desses até que aqueles sejam vencidos e
povos, surgem os celtiberos, que foram expulsos por estes. É o período
finalmente dominados pelos romanos. chamado Reconquista, que só termina
efetivamente com a tomada do reino
A língua do povo dominado constitui- de Granada pelos reis católicos (1492).
se em substrato da língua do Mas é no século XII que nasce o reino
dominador. independente de Portugal.
Outro domínio que se observou após os
Galego-Português
romanos foi o de povos bárbaros
(vândalos, suevos e visigodos) a partir A nossa língua surge no norte de
do século V. Mais tarde – século VIII – Portugal e na Galícia, região
os árabes invadem a península e a politicamente ligada à Espanha. Os
língua árabe passa a ser utilizada junto primeiros textos escritos aparecem no
com o romanço. século XIII.
Testamento (1193) de nosso padre, e de nossa madre, en
esta maneira: que Rodrigo Sanches
In Christi nomine. Amen. Eu Eluira
ficar por sa partiçon na quinta do Couto
Sanchiz offeyro o meu corpo áás
de Viiturio, e na quinta do Padroadigo
virtudes de Sam Saluador do
dessa Eygreyga en todolos us
moensteyro de Vayram, e offeyro co,
herdamentus do Couto, e de fora do
no meu corpo todo o herdamento que
Couto: Vasco Sanchiz ficar por sa
eu ey en Centegãus e as tres quartas do
partiçon na Onrra Dulveira, e no
padroadigo d’essa eygleyga e todo hu
Padroadigo dessa Eygreyga, en todolos
herdamento de Crexemil, assi us das
herdamentos Dolveira, e en nu casal de
sestas como todo u outro herdamento:
Carapezus de Vluar, e en noutro casal
que u aia u moensteyro de Vayram por
en Agiar, que chamam Quintaa: Meen
en saecula saeculorum. Amen.
Sanchiz ficar por sa partiçon na Onrra
Fecta karta mense Septembri era da Carapezus, e nus outros
MCCXXXI. herdamentos , e nas duas partes do
Padroadigo dessa Eygreyga; e no
Menendus Sanchiz testes. Stephanos Padroadigo da Eygreyga de Treysemil, e
Suariz testes. Vermúú Ordoniz testes. na Onrra e no herdamento de
Sancho Diaz testes. Gonsaluus Dias Darguiffe, e no herdamento de
testes. Lavorados, e no Padroadigo dessa
Eygreyga; Elvira Sanchez ficar por sa
Ego Gonsaluus Petri presbyter notauit.
(apud LEITE DE VASCONCELOS. Os Textos Arcaicos. 14-15) partiçon nos herdamentos de
Centegaus, e nas três quartas do
Observe: Tanto a invocação quanto o
Padroadigo dessa Eygreyga, e no
desfecho é ainda em latim.
herdamento de Treyxemil, assi us das
Grafia: - sestas, como noutro herdamento. Estas
confusão entre u e v: Eluira = Elvira; partições, e divisões fazemos antre nos,
- a semivogal i é grafada com y: que vallam por em secula seculorum
offeyro = ofereço; amen. Facta Karta mensse Marcii, Era
- crase: com a dobrado e acento MCCXXX. Vaasco Suariz testis – Vermuu
grave: áás = às;
Ordoniz testis – Meen Fanrripas testis –
- representação fonética: Sanchis =
Sanches. Gunsalvu Vermuiz testis – Gil Dias testis
– Dom Minon testis – Martim Pariz
testis – Dom Minon testis – Martim
Periz testis – Dom Stephani Suariz testis
Auto de Partilha (1192) – Ego Johanes Menendi Presbiter
notavit.
In Christi nomine amen. Hec est notitia
de partiçon, e de devison, que fazemos (apud RIBEIRO, João Pedro. Dissertações Cronológicas e
Críticas. vol. I, pp. 284-285).
entre nos dos erdamentus, e dus
Coutos, e das Onrras, e dous Os textos acima são considerados os
Padruadigos das Eygreygas, que forum primeiros escritos em língua
portuguesa. Na verdade, são traduções escárnio e maldizer (poesia de cunho
feitas do latim para o galego-português satírico).
quase cem anos depois, já no final do
Muitas palavras de origem provençal
século XIII (TEYSSIER, 2001: 126).
entram para a língua nessa época:
Os primeiros textos escritos em galego- alegre, anel, jogral, rouxinol, viagem.
português são Notícia de Torto (1214-
A seguir, exemplos da poesia
1216) e o Testamento de D. Afonso II,
trovadoresca. Para entendê-las melhor,
datado com segurança (1214). O
faça a leitura consultando o vocabulário
primeiro é reproduzido a seguir:
e as informações que vêm após.
Notícia de Torto
No primeiro exemplo, a palavra amigo
... E d’auer que ouerũ de seu pater nu deve ser entendida como amado.
[n] qua li ĩde derũ parte. Deo Dũ
Observe, entre outras, as formas
Gõcauo a Laurẽco Fernãdiz e Martĩ
verbais vejades, possades, vivede, dos
Gõcaluiz XII casaes por arras de sua
verbos ver, poder e viver.
auóó, e filarũ-li illos inde VI casales cũ
torto. E podedes saber como mando Dũ Cantiga D’Amigo (D. Dinis) -
Gõcauo a sua morte: e XVI casales de
Veracin que fructarũ e que li nunqua Non poss’eu, meu amigo,
ide derũ quinnõs; e de VII e médio com vossa soidade1
viver, bem vo-lo digo,
casaes antre Goina e Bastuzio unde li
e por esto morade2,
nunqua derũ quinõ; e de tres ĩ Tefuosa amigo, u mi possades3
unde li nunqua ar derũ nada; e Ilos ĩ falar e me vejades.
Figeerecdo unnde nũqua li derũ quinõ; Non poss’, u vos non vejo,
e Ilos ĩ Tamal ũde li ñ ar derũ quinõ; e viver, bem o creede4,
da senara de Coina ũde li ñ ar derũ tan muito5 vos desejo,
e por esto6 vivede,
quinõ; e de uno casal de Coina que
amigo, u mi possades
leuarũ ĩde III anos o fructo cũ torto. E
falar e me vejades.
por istes tortos que li fecerũ tem qua
seu plazo quebrãtado, e qua li o deuẽ Naci em forte ponto7:
por sanar... (apud LEITE DE VANCONCELOS. Os Textos e, amigo, partide
Arcaicos. pp. 15-16.) o meu gran mal sen conto,
e por esto guaride8,
Na mesma época, a poesia lírica da amigo, u mi possades
península também se manifesta através falar e mi vejades.
do galego-português. É a poesia
trovadoresca, compilada nos - Guarrei9, ben o creades,
Cancioneiros. Eram cantigas de amor senhor, u me mandades10.
(em que o homem expressa a sua
1 soidade: saudade. Leia-se soi-i-da-
“coita” de amor), cantigas de amigo (a
de.
voz é feminina) e as cantigas de 2 morade: moral.
3 u mi possades: onde me possais. Como morreu quen amou tal
4 creede: crede. dona que lhe nunca fez bem
5 tan muito: tanto. Compare-se com o e quen a uiu leuar a quen
inglês so much. a nõ ualia, nen a ual,
6 esto: isto Ay, mha senhor, assi moyr’eu!
7 em forte ponto: em má hora, em dia
aziago.
(apud LINS, Álvaro & HOLANDA, Sérgio Buarque de.
8 guaride: guari (= “morai”). Roteiro Literário Do Brasil e de Portugal. Rio, 1955, página
9 Guarrei: Guarirei (= “morarei”). 16).
10 mandades: mandais.

1 Como morreu quen nunca bem /


ouve da ren que mais amou: como
(apud LINS, Álvaro & HOLANDA, Sérgio Buarque de. morreu aquele que nunca obteve o
Roteiro Literário do Brasil e de Portugal. Rio, 1955, página
12)
bem-querer da pessoa a quem mais
amou.
Ren (forma alterada do acusativo rem,
de res) = “coisa” e também “pessoa”.
Na cantiga de amor a seguir a palavra Neste último sentido, que é o da
senhor (senhora) ainda era uniforme, palavra no trecho acima, empregou-a,
isto é, servia para o gênero masculino por exemplo, Camões:
e para o gênero feminino. “Transforma-se o amador na cousa
amada”.
Note também a forma como o minha É de uso atual e corrente a palavra
era representado: mha. Val significa objeto na mesma acepção: objeto
amado (= “pessoa amada”).
vale; ledo significa feliz, alegre.
2 por en: por isso.
Cantiga D’Amor (Paio Soares de 3 mha senhor: minha senhora, minha
amada. Os substantivos em -or eram,
Taveirós)
em geral, invariáveis em gênero na
Como morreu quen nunca bem língua antiga. Entretanto, da forma
ouve da ren que mais amou1 senhora, como observa Augusto
e quen viu quanto receou Magne (A Demanda do Santo Graal, III,
d’ela e foi morto por en2, 365), há exemplos, embora raros
Ay, mha senhor3, assi moyr’eu!4 raros, nos próprios cancioneiros.
4 moyr’eu: moiro eu, morro eu. Moiro
Como morreu quen foy amar5 ou mouro, moira ou moura: formas
quen lhe nunca quis bem fazer6, que sobrevivem um pouco ao período
e de que[n] lhe fez Deos ueer7 arcaico da língua: “Mas moura enfim
de que foy morto com pesar8, nas mãos das brutas gentes” (Camões,
Ay, mha senhor, assi moyr’eu! Os Lusíadas).
5 quen foy amar: quem se aventurou a
Com’ome que ensadeçeu, amar. Observa-se ainda hoje esse
senhor, co gran pesar que uiu, emprego, talvez sobretudo na
e nõ foy ledo, nen dormiu linguagem popular: Ele foi insultar o
depois, mha senhor, assi moyr’eu! outro, e saiu-se mal.
6 ben fazer: fazer bem (= “querer bem, Observação: Antes de fazer a atividade
amar”). a seguir, leia, com atenção, na Unidade
7 ueer = veer: ver. Vedere > veer > ver. II, a parte sobre Metaplasmos.
Quanto ao u pelo v, note-se adiante,
também, uiu, leuar, ualia, ual. 1. Na passagem de fea para feia que
8 de que foy morto com pesar: Neste metaplasmo ocorre?
verso, subentenda-se antes do de a
palavra cousa. 2. Ha mais dois casos na mesma
estrofe. Indique-os.
No exemplo abaixo, trobar significa
cantar. 3. Se (primeiro verso da segunda
estrofe) equivale a que conjunção?
Cantiga de Escárnio e Maldizer
Ai dona fea! fostes-vos queixar 4. Havedes > haveis (segundo verso,
porque vos nunca louv’ en meu trobar segunda estrofe) é um metaplasmo
mais ora1 quero fazer un cantar chamado: __________________.
en que vos loarei tôda via2
e vêdes como vos quero loar: 5. Na terceira estrofe, a posição do
dona fea, velha e sandia3! pronome não é comum atualmente.
Aponte os casos e indique a ordem
Ai dona fea! se Deus me perdon!
atual.
e pois havedes tan gran coraçon
que vos eu loe en esta razon,
vos quero já loar tôda via;
Os Novos Rumos da Língua
e vêdes qual será a loaçon4:
A escola literária galego-portuguesa, da
dona fea, velha e sandia!
qual os poemas acima fazem parte,
Dona fea, nunca vos eu loei termina por volta de 1350.
en meu trobar, pero muito trobei;
Separados politicamente Portugal e
mais ora já un bon cantar farei
en que vos loarei tôda via; Galícia, a língua começa a traçar
e direi-vos como vos loarei: trajetórias diferenciadas. O
dona fea, velha e sandia! deslocamento do centro de poder do
Norte para o Sul, ora Lisboa, ora
Coimbra, também contribuiu para fixar
1 – mas agora
a norma da língua que conhecemos
2 – sempre, inteiramente
3 – louca hoje.
4 – louvor
(SPINA, Segismundo. Presença da 1.3 - Características do Português
Literatura Portuguesa: era medieval. Arcaico
p.56)
Vocabulário: Mudança na forma das
palavras fremosa (formosa)
Tarefa avaliativa (sobre a Cantiga
e também no sentido – fazenda
de Escárnio)
(façanha).
• Fonética Hiatos que se transformam Fernão Lopes, narra/descreve a vida do
em crase: maa > má; seer > ser; e rei imprimindo vivacidade ao relato.
ditongo: meo > meio; feo > feio.
Retrato de D. Pedro
• Morfologia Nomes terminados em -
nte, -or, -ês eram uniformes: a infante, Êste Rei D. Pedro era muito gago, e foi
mha senhor, lingoa português; sempre grande caçador e monteiro1,
em sendo infante e depois que foi rei,
Flexionavam no plural: ourives: trazendo grande casa2 de caçadores e
ouriveses; simples: simpleses; moços de monte, e de aves, e cães, de
tôdas as maneiras que para tais jogos
Gênero diferente: fim, planeta, mar, eram pertencentes3.
cometa (femininos); tribo, coragem,
linguagem (masculinos); Êle era muito viandeiro4, sem ser
comedor mais que outro homem; que
Particípio passado em UDO: perdudo, suas salas5 eram de praça6 em
conhoçudo, escondudo (permanece em todos os lugares por onde andava,
conteúdo). fartas de vianda, em grande
abastança.
• Sintaxe Pronome reto em função de
objeto: “E o senhor disse que Êle foi grande criador7 de fidalgos de
linhagem, porque naquele tempo não
enforcariam ell” (Coutinho, 1971);
se costumava ser “vassalo”, senão
Verbos de movimento seguidos de EM: filho, e neto, ou bisneto de fidalgo de
linhagem; e por usança haviam então a
“Veerom da Gallia Gótica em
quantia que ora chamam maravedis8,
Espanha.”(idem, ibidem); dar-se no berço, logo que o filho do
fidalgo nascia, e a outro nenhum não.
Pleonasmos: “oje em este dia”, boas
bondades;
Êste Rei acrescentou muito nas
quantias dos fidalgos, depois da morte
Períodos muito extensos;
de el-Rei seu padre; ca, não
Pontuação escassa; embargando9 que el-Rei D. Afonso
fôsse comprido de ardimento10 e
Colocação mais livre de palavras na muitas bondades, tachavam-no,
frase; porém, de ser escasso, e de
apertamento de grandeza11. E el-Rei
Predomínio da ordem inversa. D. Pedro era em dar mui ledo; e tanto,
que muitas vêzes dizia que lhe
O texto a seguir é um perfil do rei D. afrouxassem a cinta, que então
Pedro, filho de D. Afonso. É de usavam não mui apertada, para que se
natureza histórica, mas devido à lhe alargasse o corpo, para mais
maestria como foi produzido, passou a espaçosamente poder dar, dizendo
que o dia que o rei não dava, não
ser considerado um documento de
devia ser havido por rei
valor literário.
Era ainda de bom desembargo12 aos
que lhe requeriam bem e mercê; e tal danos e fazer justiça
ordenança tinha nisto, que nenhum 14- trabalhava-se: esforçava-se
era detido e sua casa por cousa que 15- gastadas: prejudicadas
lhe requeresse. 16- por azo: por causa
17- 17- Escritura: Bíblia
Amava muito fazer justiça com direito.
E, assim como quem faz correição13, (SPINA, Segismundo. Presença da
andava pelo Reino; e, visitada uma Literatura Portuguesa I – era medieval.
parte, não lhe esquecia de ir ver a São Paulo: Difusão Européia do Livro,
outra; em guisa que poucas vêzes 1971.)
acabava um mês em cada lugar da
estada.
Tarefa avaliativa
Foi muito mantenedor de suas leis, e
grande executor das sentenças 1. A abordagem histórica da época
julgadas; e trabalhava-se14 quanto girava em torno de um reinado: o rei
podia das gentes não serem era a figura central, a partir da qual os
gastadas15 por azo16 de demandas e fatos eram descritos, a chamada
prolongados pleitos. abordagem regiocêntrica. Indique, no
texto, pistas dessa abordagem.
E se a Escritura17 afirma que, por o Rei
2. A maioria das palavras numeradas e
não fazer justiça, vêm as tempestades e
depois definidas é de arcaísmos ou
tribulações. palavras que assumiram outros
1- monteiro: caçador de monte significados. As definições são tiradas
2- grande casa: grande de um livro de mais ou menos 40 anos
quantidade atrás e já não são tão precisas para
3- pertencentes: próprios traduzir os seus significados atuais.
4- viandeiro: apreciador de Escreva, ao lado de cada definição, a
carnes
palavra que você usaria para defini-la.
5- salas: banquetes
6- de praça: franqueados a todos Salas (5) banquetes -
7- criador: protetor ___________________. De praça (6) –
8- maravedis: soldo dado pelos franqueada a todos -
reis aos fidalgos que o serviam ________________. Criador (7) –
9- não embargando: não protetor - ___________________.
obstante Maravedis (8) – soldo dado pelos reis
10- comprido de ardimento: bem
aos fidalgos que o serviam - __
dotado de coragem, de
intrepidez _________________. Não embargando
11- apertamento de grandeza: (9) – não obstante -
mesquinhez ________________. Comprido de
12- de bom desembargo: rápido, ardimento - bem dotado de coragem -
expedito no despacho ___________. Apertamento de
13- correição: visita do corregedor grandeza (11) – mesquinhez -
à comarca, para emendar os
______________. Bom desembargo
(12) – rápido, expedito no despacho - edição crítica, em que se respeita a
____________. grafia original, na época, vacilante,
imprecisa, confusa. Observe:
3. Observe o uso do verbo haver no
último parágrafo e dê a acepção com Vijnda = vinda Sahiu = saiu Arreçeber
que foi utilizado: Houve amigas - = a receber (a recebê-los) Maão = mão
_________________. Houve filhos - Contreelle = contra ele Quamdo =
________________. Houve nome - quando Amdavom = andavam
________________. Nenhuum = nenhum Çebola = cebola
Himdo = indo
4. Para a interpretação de um texto, é
preciso estar atento ao contexto 19
histórico e cultural da época, pois isso
Algumas palavras sofreram as
evita conclusões equivocadas. Observe,
transformações conhecidas como
no quarto parágrafo, o emprego do
metaplasmos:
verbo “dar”, que no sentido vulgar
atual, levaria a uma interpretação Tragidos = trazidos: sonorização Alvoro
desastrosa. Que palavra ou expressão = Álvaro: assimilação (regressiva) Feas =
você usaria para evitá-la? feias: epêntese Rostro = rosto:
dissimilação
5. No sexto parágrafo, que palavra
pode substituir direito? De como foram mortos Álvaro
Gonçalves e Pero Coelho
6. Indique um equivalente atual para
A Purtugal22 forom23 tragidos24
“gentes” (sétimo parágrafo). Alvoro25 Gomçallvez e Pero Coelho, e
chegarom a Samtarem omde elRei
7. No último parágrafo, dormiu e pariu,
Dom Pedro era 26, e el Rei com prazer
hoje, seriam substituídas porque a de sua vijinda, porem mal magoado
natureza formal do texto o exige. Que por que Diego Lopez fugira, os sahiu
termos você usaria? Dormiu Pariu fora arreçeber27, e sanha cruel sem
piedade lhos fez per sua maão meter a
8. Reescreva o trecho a seguir, tendo tormento28, queremdo que lhe
em vista a sintaxe e o padrão atual: “E confessassem quaaes forom na morte
mandou-o el-Rei criar, enquanto foi de Dona Enes culpados, e que era o
pequeno, a Lourenço Martins da Praça, que seu padre trautava contreelle,
quamdo amdavom29 desavijndos por
um dos honrados cidadãos dessa
aazo da morte della; e nenhuum delles
cidade, que morava junto com a igreja respomdeo a taaes preguntas cousa
catedral, onde chamam a Praça dos que a elRei prouvesse; e elRei com
Canos; e depois o deu, que o criasse, a queixume dizem que deu huum açoute
D. Nuno Freire de Andrade, Mestre da no rostro30 a Pero Coelho, e elle se
Cavalaria e da Ordem de Cristo.” soltou emtom comtra elRei em
desonestas e feas pallavras,
O trecho a seguir faz parte da crônica chamamdo-lhe treedor31, fé periuro,
acima, embora seja reprodução de uma algoz e carneçeiro32 dos homeens; e
elRei dizemdo que lhe trouxessem última forma é a que persiste,
çebolla pêra o coelho, emfadousse desnasalada – andava –, no plural
delles e mandouhos matar. A maneira como no singular. 30 rostro (do lat.
de sua morte, seemdo dita pello rostru-): rosto. Esta última forma
meudo, seria muj estranha e crua de constitui um caso de dissimilação
comtar, ca mandou tirar o coraçom eliminatória. 31 treedor: traidor 32
pellos peitos a Pero Coelho, e a Álvoro carneçeiro: carniceiro. 33 todo: tudo
Gomçallvez pellas espadoas; e quaaes isso 34 avudo: havido, tido. Os verbos
palavras ouve, e aquel que lho tirava em –er tinham outrora o part. Em –
que tal officio avia pouco em costume, udo ou –eúdo: havudo, sabudo,
seeria bem doorida cousa douvir, temudo, teúdo. Desse velho uso ficou
emfim mandouhos queimar; e todo33 a expressão teúda e manteúda, e o
feito ante os paaços omde el pousava, adj. manteúdo, usado em regiões do
de guisa que comendo oolhava Brasil em relação ao cavalo forte, de
quamto mandava fazer. Muito perdeo boa aparência. 35 muj [mui] muito:
elRei de sua boa fama por tal escambo muitíssimo
como este, o qual foi avudo34 em
Purtugal e em Castella por muj grande
mal, dizemdo todollos boons que o Exemplo de lirismo, o poema a seguir é
ouviam, que os Reis erravom muj de uma fase posterior ao
muito35 himdo comtra suas verdades, Trovadorismo. É a época em que a
pois que estes cavalleiros estavom poesia se dissocia da música, o
sobre segurança acoutados em seus
trovador dá lugar ao poeta, e a poesia
reinos.
adquire maior musicalidade e ritmo.
(LUIS, Alvaro & HOLANDA, Sérgio
Cantiga Sua Partindo-se (João Ruiz de
Buarque de. Antologia – Roteiro
Castelo Branco)
Literário de Brasil e de Portugal. Rio,
Senhora, partem tão tristes
1943, cap. XXI, pp. 84-85)
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes,
outros nenhuns por ninguém.
22Purtugal: Portugal 23forom: foram.
A desinência verbal om (=”am”), do
Tão tristes, tão saudosos,
português antigo, acusa-se ainda hoje
tão doentes da partida,
na pronúncia popular: eles fôro,
tão cansados, tão chorosos,
dissero, fizero, etc., forma em que
da morte mais desejosos
apenas se verificou a desnasalização.
em mil vezes que da vida.
V. nota 29. 24tragidos: trazidos.
25Alvoro: Álvaro. Caso de assimilação
Partem tão tristes os tristes,
regressiva. 26era: estava. 27 os sahiu
tão fora d’esperar bem,
fora arreçeber: saiu fora a recebê-los.
que nunca tão tristes vistes
Observar, além da colocação do
outros nenhuns por ninguém.
pronome, a energia do pleonasmo saiu
fora. 28 tromento: tormento.
(SPINA, Segismundo. Presença da
Matátese ainda hoje observada na
Literatura Portuguesa I – era medieval.
pronúncia popular. 29 amdavam:
São Paulo: Difusão Européia do Livro,
andavam. Na pronúncia do povo esta
1971, p. 128)
gustaríanos deternos nesta noción
inaugurada por Freud e retomada por
Tarefa avaliativa Lacan. Para Freud a sublimación é
unha forma de satisfacción das
1. A palavra olhos só ocorre uma vez. pulsións parciais sem haber represión,
Já os termos que se referem ao estado porque se dá un desvío no circuíto
do poeta se repetem, intensificando o pulsional em canto ó seu ranço.
que ele sente. Indique o local das ¿Como se compreende isto? Para
elipses (supressões) de olhos: Lacan trátase de dúas cousas:
primeira, nom se debe confundi-la
Conforme exposto acima, o português noción de branco coa de sublimación.
se separou do galego ainda na Idade Se Freud nos ensinou que non pode
Média. Haber represión sen retorno do
reprimido, cabe indagar aquí de que
Até o século XIX, o galego foi apenas represión se trata. Para darse conta da
uma língua falada. A partir daí, foi sublimación, o que entra en escena
non son as represións secundárias, ata
codificada em gramáticas e atualmente
porque estas xa son efectos dunha
é não só a língua oficial da Galícia como Represión Orixinal. É a entrada do
também a língua oficial do ensino. significante na vida o que promova a
acción da primeira represión. Alá, nun
A língua galega, além de veículo da anaco de carne viva, onde se presupón
cultura, é também possuidora de uma unha substancia goante, algunha
rica literatura contemporânea e não cousa deste gozo é arrancada para que
perdeu os vínculos com a nossa língua, o significante se instale. Alá, onde
pois há o Núcleo de Estudos Galegos, nada había, pasa a existir algunha
da UFF (Universidade Federal cousa. E a primeira represión incide
xustamente sobre este nada. É este
Fluminense), responsável pelo
baleiro o que insiste no retorno do
intercâmbio entre as duas línguas. reprimido e que de novo será
reprimido para ser esquecido. Cando
A título de ilustração, segue uma
un suxeito se identifica
passagem escrita em galego atual. imaxinariamente cun obxecto,
Descontadas as diferenças de natureza idealizándoo, o que é reprimido é
ortográfica: x pelo j: xa (primeira linha), xustamente este baleiro que só pode
resultado do ensurdecimento: /j/ comparecer baixo a forma de falta
(sonora) passa a /x/ (surda), a simbólica. Desta idealización brota
unha paixón que eleva o obxecto á
pontuação e a acentuação, o galego e o
categoría de Ben. Noi hai amor-paixón
português atualmente guardam entre si
sen a ilusión fálica de encontro coa
uma incrível semelhança: Felicidade. Na sublimación non se dá a
represión deste nada que antecede – o
O artifício da morte na versión erótica
aparecemento de toda vida, xa que el
do amor Cortés reaparece baixo a forma dun baleiro
que ten que ser contornado. É nese
A Función de Sublimación.
sentido no que se fala de sublimación
Xá nos referimos é función de
do amor cortés. A Dama, en canto
sublimación do amor Cortés, pero
obxecto imposible, é elevada á mas não percebemos as modificações.
categoría de sublime para ser Todavia, quando observamos um
nomeada polo significante co valor de período da língua bem distante no
Cousa (Das Ding). Só pola via do
tempo, as mudanças ficam patentes. As
significante é como se pode nomear,
transformações mais visíveis são de
non o que falta, senón a existencia da
propia falta. Se a través da palabra se natureza fonética, morfológica,
apunta a unha falta sen poder sintática e semântica e, entre essas, as
significala, logo, entre a nomeación e a mais estudadas são as fonéticas.
aparición do ebxecto instaurase unha
separación. A Cousa como significante Fonética Histórica Tem por objetivo
é efecto da existencia da linguaxe e a levantar, analisar e classificar todas as
Cousa como obxecto pertence ó mudanças observadas na pronúncia das
rexistro do real e, como tal, está máis palavras, tomando por base duas ou
alá da linguaxe. A sublimación non ten
mais épocas distanciadas no tempo.
outra función que permitir ó home
referirse à Cousa, isto é, colocalo entre As mudanças se distribuem entre
o real e o significante. O que
aquelas de natureza vocálica
permanece no centro deste intervalo é
(vocalismo) e as de natureza
un vacio.
O obxecto amado no amor cortés, ó consonantal (consonantismo).
contrario do romantismo, non é
2.1 - Vocalismo
abordado para o casamento, senón
para situar un desexo ó nivel da O português herdou do latim as vogais
mirada da Cousa. Por isto Lacan di que
a, é, ê, i, ó, ô, u. Ditongos – do latim
a Cousa pola súa estructura só pode
ser representada por Outra Xousa. A para o português: ae pretônico > i:
Outra Coua é a Cousa. A Cousa non se aequale > igual ae tônico > e: caelu >
busca, atópase, pero está claro, dinos céu oe > ê: foedu > feo > feio au > ou:
Lacan, no Seminario VII, esta busca só auru > ouro Ditongos românicos: ai >
pode ser feita polas vías do ei (lacte) - laite > leite au > ou (pauco)
significante, cando o home se volve un
- pouco ui > u (fructu) – fruito > fruto
verdadeiro artesán do significante.
Neste sentido, a Cousa é a Dama que Hiatos
os poetas atoparon para trobar.
A tendência à eliminação de hiatos é
(Actas da II Xornadas. UFF de Cultura uma característica que o português
Galega) herdou do latim vulgar. Pode ser:

1. Transformação de vogal que forma


UNIDADE II hiato em semivogal, depois, em som
palatal: vinea > vinia > vinha.
FONÉTICA HISTÓRICA
2. Ditongação (epêntese do i): cea >
A língua sofre mudanças contínuas,
ceia.
embora seja difícil observá-las. É um
paradoxo – nós modificamos a língua, 3.Crase: dolore > dolor > door > dor.
2.2 - Consonantismo Tônica. O caso a seguir é de
deslocamento do acento tônico:
As mudanças ou alterações que se
mulíere > muliére > mulher Cáthedra
observam nos fonemas consonantais
> cathédra > cadeira
podem ser no início, no meio ou no
final das palavras. Tais mudanças 2.4 - Metaplasmos
podem ser de trocas de fonemas,
Em sua evolução histórica, as palavras
acréscimo, supressão ou mudança de
podem sofrer transformações que
sílaba.
recebem o nome genérico de
Ex.: citu > cedo mediu > meio metaplasmos. Dividem-se em:
mare > mar Todos os casos de
1. Metaplasmos por Permuta
alterações vocálicas e consonantais
serão detalhados na seção sobre troca de um fonema por outro:
metaplasmos.
1.1. Sonorização – substituição de um
2.3 - Leis Fonéticas fonema surdo por um sonoro
homorgânico:
Algumas transformações estão sujeitas
a certos princípios regulares em dada p > b: lupu > lobo
época e sob determinadas situações. t > d: citu > cedo
Entre eles, os mais comuns são as c > g: acutu > agudo
chamadas Leis Fonéticas, que são: f > v: profectu > proveito

1. Lei do Menor Esforço – tendência


a simplificar, reduzir e facilitar a
1.2.Vocalização – substituição de um
pronúncia de certos fonemas: dolore >
fonema consonantal por um vocálico:
door > dor;
as consoantes b, c, l, n, p, do grupos bs,
2. Lei da Persistência da ct, lc, lp, gn, pt passam a i ou u em
português:
Consoante Inicial – talvez, por ser
melhor percebida por estar no início: Latim Português
persona > pessoa > pessoa; Facto feito
alteru outro
3. Lei da Persistência da Sílaba falce fouce foice
Tônica – a sílaba tônica, por ser a de palpare poupar
maior relevo, é poupada das conceptu conceito
absentia ausência
transformações: legale > leal.
regno reino
As leis acima não são aplicáveis a todos Cap(i)tale caudal
os casos, não são absolutas, pois
algumas palavras sofrem 1.3. Consonantização – fonema
transformações que contrariam, por vocálico passa a consonantal: i e u
exemplo, a Lei da Persistência da Sílaba
transformam-se, respectivamente, em 1.5.1. Progressiva – o fonema
j e v: ieiunu > jejum uagare > vagar dissimilador vem antes do dissimilado:
prora > proa 1.5.2. Regressiva – o
1.4. Assimilação – substituição por um
fonema dissimilador vem depois do
fonema igual ou semelhante ao que o
dissimilado: horologiu > rologio >
segue ou ao que o antecede: inregular
relógio
> irregular. A assimilação é:
1.6. Nasalização – transformação de
Vocálica – quando o fonema assimilado
um fonema oral em nasal: mihi > mim
é uma vogal: Novac(u)la >
sic > si > sim
navalha
1.7. Desnasalização – transformação
Consonantal: quando o fonema
de um fonema nasal em oral: luna > lua
assimilado é uma consoante:
Persona > pessoa > pessoa 23 23

Pode ser: 1.8. Apofonia – troca de uma vogal por


outra, na sílaba inicial de uma palavra,
1.4.l. Total – quando o fonema
quando um sufixo é acrescentado: in +
assimilado é igual ao assimilador:
amigo = inimigo per + factum = perfeito
Saeta > seeta > seta
1.9. Metafonia – modificação do som
1.4.2. Parcial – quando há semelhança
de uma vogal por influência exercida
entre fonema assimilado e assimilador:
por outra: tepidu > tíbio debita > dívida
tauru > touro
2. Metaplasmos por Aumento
1.4.3. Progressiva – o fonema
assimilador vem antes do assimilado: 2.1. Prótese – acréscimo de fonema no
nostru > nosto > nosso início da palavra: stare > estar nanu >
anão
1.4.4. Regressiva – o fonema
assimilador vem depois do assimilado: 2.2. Epêntese – aumento de fonema no
persicu > pêssego interior da palavra: area > areia stella >
estrela
1.5. Dissimilação – queda ou
transformação de um fonema quando 2.3. Paragoge – aumento de fonema no
já existe fonema igual ou semelhante final da palavra: ante > antes
na palavra:
2.4. Anaptixe (ou suarabácti) –
calamellu > caramelo (transformação); desmonte de um grupo consonantal
cribru > crivo (queda) pela interposição de uma vogal: blatta
> barata
A dissimilação ocorre com vogal:
temoroso > temeroso ou com 3. Metaplasmos por Subtração
consoante: raru > ralo. Ela é:
3.1. Aférese – perda de fonema no 1. Identifique os metaplasmos
início da palavra: Episcopu > bispo abaixo:

3.2. Síncope – perda de fonema no 1.1- persona > pessoa > pessoa
interior da palavra – médio > meio. 1.2- spiritu > espírito
1.3- masto > mastro
3.3. Haplologia – supressão de uma 1.4- aratru > arado
sílaba por haver outra igual ou uma 1.5- Hieronymu > Jerônimo
semelhante: semimínima > semínima 1.6- Silvana > Silivana
bondadoso > bondoso 1.7- octo > oito
1.8- attonitu > tonto
3.4. Apócope – queda de um fonema 1.9- in + barba > imberbe
no fim da palavra: servum > servo 1.10- veritate > verdade
1.11- idodolatria > idolatria
regale > real
1.12- feci > fiz
3.5. Crase – fusão de dois fonemas 1.13- ipse > isse > esse
1.14- amare > amar
vocálicos iguais e contíguos: videre >
1.15- colore > coor > cor
veer > ver pede > pee > pé 1.16- mac(u)la > mancha
1.17- de + intro > dentro
3.6. Sinalefa – queda de um fonema no
1.18- semper > sempre
fim de uma palavra quando ela se junta 1.19- benção > bênção
a outra: de + este = deste 1.20- mulíere > mulher

4.Metaplasmos por
Transformação UNIDADE III

Deslocamento de um fonema ou A LÍNGUA PORTUGUESA A


acento tônico de uma sílaba para outra. PARTIR DO SÉCULO XVI
Pode ser:
3.1 - Considerações
4.1. Metátese – deslocamento de
A partir do século XVI, o português vai
fonema: pro > por; inter > entre.
adquirindo uma feição mais previsível,
4.2. Hiperbibasmo – deslocamento de regular, menos sujeita a flutuações.
acento tônico de uma sílaba para outra.
Vários fatores contribuíram:
Pode ser:
O Renascimento, que trouxe uma
4.2.1. Sístole – deslocamento para a
atitude mais lógica em relação à língua:
sílaba anterior: pantánu > pântano
predomínio da subordinação, no lugar
4.2.2. Diástole – deslocamento do da coordenação. Também o resgate
acento tônico para a sílaba posterior: etimológico de palavras e a retomada
júdice > juiz íntegru > intégru > inteiro da cultura clássica greco-romana
vieram influenciar a língua,
Tarefa avaliativa particularmente a escrita:
Como decorrência desse gosto da (estrutura trimembre), a arquitetura da
cultura clássica , nasce o desejo de frase, o jogo de palavras.
disciplinar e aprimorar a língua
Sermão da Primeira Dominga da
portuguesa, numa tentativa de afeiçoá-
Quaresma
la à mãe latina. Surgem assim as
Três foram as tentações, com que o
primeiras gramáticas e os primeiros demônio hoje acometeu a Cristo: na
dicionários (SPINA: 1987: 14). primeira ofereceu, na segunda
aconselhou, na terceira pediu. Na
A publicação de gramáticas veio primeira ofereceu: Dic ut lapides isti
referendar um desejo de codificar a panes fiant, que fisesse das pedras
língua numa modalidade de prestígio. pão. Na segunda aconselhou: Mitte te
Assim, a língua passa a ter um deorsum: que se deitasse daquela
referencial a partir de regras fonético- torre abaixo. Na terceira pediu:
Sicadens adoraveris me, que caído o
fonológicas, sintáticas e morfológicas.
adorasse. Vede que ofertas, vede que
A preocupação com a forma de conselhos, vede que petições! Oferece
pedras, aconselha precipícios, pede
representação gráfica que se observa
caídas. E com isso ser assim, estas são
nas ortografias que surgem na época as ofertas que nós aceitamos, estes os
completa, ao lado das gramáticas, a conselhos que seguimos, estas as
dupla responsável pela regulamentação petições que concedemos.
da língua.
De todas estas tentações do demônio
O sistema de impressão inventado por escolhi só uma para tratar, porque
Gutemberg está na base dessas vitais para vencer e convencer três
iniciativas, isto é, as gramáticas e as tentações é pouco tempo para hora. E
ortografias, pois a crescente publicação quantas vezes para ser vencido delas
basta um instante! A que escolhidas
de livros veio revelar uma língua escrita
três, não foi a primeira, nem a
cheia de hesitações gramaticais na segunda, senão a terceira e última;
sintaxe, na concordância, na porque ela é a mais universal, ela é a
morfologia, na grafia. O público leitor, mais poderosa, e ela é a mais própria
logicamente, cobrava uma escrita mais desta terra em que estamos. Não
coerente e menos sujeita a surpresas. debalde a reservou o demônio para o
último encontro, como a lança de que
Todos os fatores citados acima mais se fiava; mas hoje lha havemos
contribuíram e fixaram uma língua de quebrar nos olhos.
escrita que vai prevalecer até os nossos (SPINA, S. –
Padre A. Vieira)
dias, com poucas mudanças. A sintaxe
portuguesa atingiu um ponto de maior
rigor e precisão a partir do século XVI. O resgate etimológico de que falamos
Antes era frouxa, repetitiva e anteriormente é o que alguns autores
imprecisa. O texto a seguir é do Padre denominam de latinização da língua.
Antonio Vieira, século XVII. Note a
cadência, a subdivisão em partes iguais
Spina (1987: 10) observa que - Léxicos: asinha (depressa), ca
“...debruçados na leitura dos modelos (porque), samicas (talvez).
clássicos, sobretudo latinos, os
escritores portugueses foram
A partir do Século XVI, o contato com
naturalmente levados a introduzir na
outros povos, devido às descobertas
língua inúmeros latinismos,
marítimas, vai acrescentar novas
aportuguesando as formas importadas
contribuições ao léxico português.
e refazendo as formas arcaicas.”
Palavras de origem asiática:
Sousa da Silveira (apud SPINA, 1987) • Chinês: chá, tufão.
cita exemplos extraídos de Os Lusíadas: • Japonês: biombo, quimono, samurai.
• Sânscrito: açúcar, gengibre.
- Gráficos: precepto (preceito) nunqua
(nunca)
- Fonéticos: defensa (defesa) insula O contato com os outros países
(ilha) europeus trouxe uma quantidade
- Morfológicos: superlativos eruditos apreciável de palavras:
em –érrimo, ílimo: aspérrimo,
humílimo. • Francês: chapéu, maré, assembléia,
- Léxicos: flama (chama), procela, bilhete, chefe, dama, jóia.
plaga, sumo, canoro, etéreo, áureo, • Inglês: bar, bife, futebol, clube, júri,
lácteo, pudico, diáfano. lanche.
A partir da Segunda Guerra Mundial, a
quantidade de palavras acrescidas à
A par de todas as mudanças operadas língua é imensa, a maioria da área da
na língua, escritores do século XVI e ciência e da informática.
XVII reproduziram em suas obras a • Italiano: aquarela, camarim, cenário,
linguagem simples e viva da época. Foi maestro, serenata.
o caso de Gil Vicente e o próprio • Espanhol: bolero, castanhola,
Camões, entre outros. É uma quadrilha, cavalheiro, rebelde,
tiracolo.
linguagem que refletia a fala popular,
Aqui no Brasil, as contribuições vieram
conhecida pelos seus arcaísmos, que das línguas africanas trazidas pelos
são maioria nos exemplos a seguir: escravos: Bangu, Guandu, muamba,
batuque, moleque, macumba,
- Fonéticos: crecer, nacer, fuito, marimbondo.
geolho, giolho, honrrado, marteiro. E das línguas indígenas: Guanabara,
- Fonético-morfológicos: sento (sinto), Iracema, Ubirajara, gambá, jibóia,
dezia, vevia, vistida, poer. maracanã, piranha, sabiá.
- Morfológicos: praneta, guia, fim
(femininos); aqueste, aquesta, aquisto
(este, esta, isto). O texto a seguir é para você ler e fazer
- Sintáticos: emprego do indefinido uma reflexão a respeito da língua,
homem com o valor de “uma pessoa”:
tendo em vista que a língua está em
“...ou por segredos que homem não
conhece”. constante transformação e muitos dos
casos que as gramáticas históricas dão
como fatos passados continuam a contexto acaba por confundir o
acontecer nos dias de hoje. leitor/pesquisador. Seria essa a
maneira de apresentação diacrônica
Texto Complementar um compromisso exclusivo com a
gramática histórica; uma desatenção ou
Gramática Histórica: O Passado no
um esquecimento deliberado?
Presente Antonio Carlos Siqueira de
Andrade Esse trabalho sugere que a gramática
histórica e gramática sincrônica devem
A lingüística sincrônica se ocupará das
relações lógicas e psicológicas que ter um ponto de intersecção por conta
dos casos que são co-ocorrentes,
unem os termos coexistentes e que
formam sistema, tais como são sincrônica e diacronicamente.
percebidos pela consciência coletiva. Se as gramáticas atuais expõem um
A lingüística diacrônica estudará, ao conteúdo normativo e um conteúdo
descritivo, não há por que ignorar
contrário, as relações que unem termos
alguns fatos da língua presentes, atuais
sucessivos não percebidos por uma
mesma consciência coletiva e que e legítimos e que caberiam
perfeitamente na parte destinada à
substituem uns aos outros sem formar
sistema entre si (Saussure, 1995: 116). descrição da língua, porquanto autores
de formação mais conservadora já
Desde Saussure, esses estudos estão admitindo a variação lingüística,
ganharam autonomia e constituíram seja diatópica, diastrática ou diafásica.
partes estanques do estudo da língua.
Os casos examinados são: metátese,
Não há, portanto, como confundi-los. E
o estudioso iniciante que consultar ditongação/monotongação e
assimilação.
gramáticas históricas pode chegar à
conclusão de que todos os casos de I – Metátese
alterações fonéticas, entre outras, são
fatos gramaticais confinados a uma Silveira Bueno (1955) em seu livro A
dada época passada, uma mudança formação histórica da língua
acabada e que não se repete na portuguesa conceitua metátese como a
atualidade. Mais certeza terá se mudança de dois sons na mesma
consultar as gramáticas dedicadas à palavra, definição que não esclarece
sincronia da língua: nelas nada nada, apesar de os exemplos serem
encontrará a respeito, o que só muito claros:
reforçará a sua convicção de que são
fermoso > fremoso; satisfeito >
mudanças gramaticais historicamente
sastifeito; prateleira > parteleira (p.
conclusas.
106)
Nos raríssimos casos em que se faz
menção a um uso atual, o próprio
No livro Novo Manual de Língua já completadas em um ciclo histórico
Portuguesa, com os subtítulos Curso que começa no Latim.
complementar e grammatica histórica,
Do texto de Silveira Bueno, os
da Editora Alves, 1926, autoria não
exemplos sastifeito e parteleira podem
impressa, consta a seguinte explicação:
ser ouvidos hoje em variantes de pouco
Metathese – É a transposição de um prestígio social.
phonema dentro da mesma syllaba: pro
O mesmo ocorre com os exemplos do
> por, preguntar = perguntar, purcissão
segundo livro citado: preguntar,
= procissão, partelêra = prateleira.
purcissão, partelêra, do livro de Serafim
(p.43)
da Silva Neto, largato e dromir; do livro
Serafim da Silva Neto em Introdução ao de Said Ali, trocer e graganta.
estudo da língua portuguesa no Brasil
As gramáticas sincrônicas não deveriam
dá os exemplos largato e dromir na fala
ignorar essa realidade, mesmo que
vulgar do brasileiro (1986: 27), embora
fosse através de suas preconceituosas
seja um capítulo sobre as
classificações ou prescrições.
características da fala brasileira e não
de transformações históricas em II – Ditongo OU
particular. Já à pág. 221 do seu História
da Língua Portuguesa, o autor Said Ali observa que comparado aos
exemplifica com palude > padule e ditongos ae, oe do latim clássico, o
outros diacrônicos. ditongo au teve mais vitalidade,
embora havendo sempre a tendência,
Said Ali (1965: 46) assinala que em em certas regiões, de transformá-lo em
português antigo era freqüente a ou e simplificá-lo em o, constituindo
metátese de r, “procurando este som a um caso de monotongação. Os
contigüidade de outra consoante...”. Os exemplos: Latim auru-, Português
exemplos: trocer (torcer), graganta ouro; latim pauco, português pouco.
(garganta) competra > compreta (op.cit., p.24)
(completa). Na pág. 25, afirma que a
metátese é responsável pela formação Machado (1967: 56) informa que o
de ditongo: contrairo (contrariu) Latim Vulgar espalhou pela România o
primeiro < primairo (primariu). ditongo au. Mais tarde, na Hispânia e
na Gália, passou para ou e depois o
Coutinho (1971: 149), depois de afirmar (au>ou>o).
que “Metátese é a transposição de
fonema, que se pode verificar na O português seguiu essa tendência e
mesma sílaba ou entre sílabas”, dá em seus dialetos meridionais diz-se
exemplos como semper > sempre, tôro, moro. Nos territórios galécios não
enter > entre, primariu > primairo > houve monotongação, mantendo-se o
primeiro e outros, todos de mudanças ou.
Lausberg (1974: 146) diz que o ditongo Rocha Lima, ao discorrer sobre o
latino au manteve-se em latim vulgar e assunto aqui focalizado (ditongo ou),
em português passou a o limita-se a exemplificação acrescenta
(monotongação). uma observação de caráter prescritivo
mais adiante: os ditongos ai, ei, ou
Silveira Bueno (op.cit., p.80) ao falar do
devem manter a sua integridade na
ditongo ou indica a sua origem
pronúncia cultivada – sem exageros na
românica, com transformação natural
pronúncia do i e u e sem omissão:
em taurum/touro; laurum/louro e já
caixa, queijo, ouro. É bom que se diga:
devia estar monotongado em o, como
essa observação consta da parte
em castelhano e português popular do
destinada à ortoepia (p. 78).
Brasil: tôro, lôro, ôro.
Cunha e Cintra observam que na
Para Serafim da Silva Neto, o latim,
pronúncia normal de Portugal e Brasil
depois da fase arcaica, ficou reduzido a
já não aparece o ditongo [ow], que se
três ditongos: au, ae e oe, o primeiro
mantém vivo em falares regionais do
era o mais freqüente e, em certas
Norte de Portugal e no galego.
regiões da Itália, com a sobreposição
Contudo, no português do Rio de
do latim aos falares itálicos, au se
Janeiro e de algumas regiões do Brasil o
reduziu a o. Com a expansão romana,
l final absoluto ou em final de sílaba se
essa redução se espalhou pelo Império
vocaliza, constituindo os ditongos [ow]
(Hist. Da L. Port., p.97).
gol, soltar e [ ⊃w] sol, molde.
Coutinho (op.cit., p.109) confirma a
Sintetizando:
passagem do Latim au para o Português
ou: thesauru > tesouro, tauru > touro, Rocha Lima só admite o que a norma
auro > ouro; também a redução a o já preconiza: a pronúncia ou.
se verificava na “língua da plebe”, na
Bechara idem, embora admita a
época do Império, passando
existência do monotongo na
igualmente para o português: oric(u)la
modalidade distensa.
por aurícula > orelha.
Cunha & Cintra são descritivos e
Portanto, todos os autores
coerentes, completando o assunto com
reconhecem a monotongação em
uma valiosa contribuição: o caso do l
época pretérita do português. Dos
que vai recuperar o ditongo ow / ⊃w.
assuntos aqui analisados, a referência a
ditongos foi a única encontrada nas Assim, o caso do ditongo - monotongo
gramáticas atuais (sincrônicas). As é o único que gramáticas históricas e
gramáticas utilizadas foram as de gramáticas sincrônicas apresentam, o
Cunha & Cintra, Bechara e Rocha Lima. que nos fornece uma conclusão: é um
Isso nos dá uma base de comparação. fato comum na língua, diacrônica ou
sincronicamente.
III – Assimilação “assimilação é aproximação ou perfeita
identidade de dois fonemas, resultante
No capítulo que trata das causas da
da influência que um exerce sobre o
dialetação do latim vulgar, Rodolfo Ilari
outro”. Em todos os casos em que são
(1992: 137) destina uma parte às
divididas as espécies de assimilação, os
mudanças fonéticas devidas ao
exemplos são de formas latinas que
entorno. Foram elas estudadas pelos
sofreram o processo ao passar para o
neogramáticos sob o nome geral de
português.
Fonética Histórica e se explicam pelo
ambiente em que figuram os sons no Nas definições acima, a preocupação
corpo da palavra e, por resultarem parece ser a de relatar um processo de
principalmente de fatores transformação concluído e
articulatórios, são mais ou menos característico da época remota, o que é
espontâneas: em línguas e épocas comum nesse tipo de livro: são obras
muito diferentes, podemos encontrar de caráter eminentemente diacrônico.
mudanças fonéticas semelhantes. O De qualquer maneira, alguns
caso mais freqüente é a assimilação dicionários de lingüística e gramática
(assemelhação). nada acrescentariam, pois o enfoque é
o mesmo.
No Novo Manual de Língua Portuguesa
(op. cit., p.37) a assimilação tem uma A assimilação a ser tratada aqui,
definição etimológica e abrangente: sincronicamente, tem suas origens
documentadas por Menendez Pidal na
assimilação (de ad + similare); ou
região da Antiga Osca, na Itália; passou
atração (de ad + thrahere); ou
para o Espanhol e Português. Trata-se
alliteração (de ad + littera); - é a
de mb > mm > m e nd > n (Machado,
substituição intravocabular de um som
op. cit., p.59).
consonantal, mais raro vocal, por outro
diferente e igual o: Ditongo ou: sou, A visão de Silveira Bueno (op. cit.) não
estouro, besouro, ou seja, só admite o coincide totalmente porque exclui o
que preconiza a norma. Bechara caso de mb a m:
também apresenta o ditongo /ow/ com
A assimilação de mb a mm e posterior
exemplos: vou, roubo estouro (p. 68). A
simplificação das geminadas é
essa apresentação de cunho aparente
fenômeno antes próprio do castelhano
descritivo, do som vizinho que
que do galego – português, pois, se
assimilou, attraiu, identificou o
podem citar exemplos: amos, ...,
primeiro. I - / -ps - / - um > i - / - ss- / - o
tamem, imora, por ambos. ..., tambem,
I - / - n + r - / - egularis > i - / - rr - / -
embora. No Brasil, na fala rústica, é
egular
mais comum a assimilação do grupo nd
Lausberg é bem objetivo: assimilação é a nn e posterior simplificação das
ajustamento de sons contíguos (op. cit., geminadas: comeno, andano, dizeno,
p.98). Para Coutinho (op. cit.; p. 143), viveno por comendo, andando,
dizendo, vivendo / quano por quando. • A velocidade de enunciação é fator
Menendez Pidal oferece uns exemplos determinante para que a assimilação
do latim: “a fronte amobus careat ocorra.
oculis”, em vez de ambobus (p. 87).
• A consoante oclusiva bilabial sonora
Certamente o ilustre estudioso Silveira /b/ é assimilada pela consoante de
Bueno ficaria surpreso se casos de transição /m/, de também, que passa a
assimilação de mb a m e nd a n fossem ter realização plena como nasal bilabial
constatados na fala de pessoas que não sonora /m/.
são “rústicas”, mas “letradas” para usar
• A oclusiva linguodental sonora /d/ é
de um termo de sua época.
assimilada pela consoante de transição
Em 1990, o autor do presente trabalho /n/, que passa a ter realização plena
(Andrade, 1991) analisou entrevistas como nasal linguodental sonora /d/.
orais com informantes de grau
Preferimos acreditar que foi um
universitário gravadas em fita, oriundas
descuido das gramáticas sincrônicas
do Projeto NURC (Norma Urbana
não terem acatado os casos de
Culta). Das seis entrevistas, a metade
metátese e assimilação nas suas seções
pertencia à elocução formal e a outra, à
destinadas à descrição da língua,
informal. Segue o resultado:
contemplando apenas o caso do
Elocução formal Elocução informal ditongo/monotongo, pois seus autores
Inquérito 251 Inquérito 12
Ocorrência de ND 47 Ocorrência de ND 17
atualmente têm uma visão mais nítida
Ocorrência MB 7 Ocorrência MB 38 da diferença entre descrição e norma.
Assimilação de ND 3 Assimilação de ND 5
Assimilação de MB 5 Assimilação de MB 38
Inquérito 341 Inquérito 224 Se os casos aqui estudados se repetem,
Ocorrência de ND 28 Ocorrência de ND 30
Ocorrência MB 1 Ocorrência MB 25 é porque seguem tendências
Assimilação de ND nada Assimilação de ND 1 lingüísticas exclusivas da língua, ou
Assimilação de MB nada Assimilação de MB 18
Inquérito 364 Inquérito 333 seja, fatores estruturais que vão
Ocorrência de ND 47 Ocorrência de ND 43
Ocorrência MB 3 Ocorrência MB 7 favorecer seu aparecimento. Por isso, a
Assimilação de ND 1 Assimilação de ND 7
Assimilação de MB nada Assimilação de MB 5
norma gramatical não teve força
Total Total suficiente para mudar uma inclinação
ND 4 ND 13
MB 5 MB 28 natural do falante de língua
portuguesa. E as gramáticas históricas
deveriam considerar os processos que
Assim,
se repetem na última fase de sua
• A assimilação ocorre na linguagem evolução, pois a história de uma língua
utilizada pelos falantes cultos da língua é a soma de todos os seus estágios. O
portuguesa. modo como as gramáticas sincrônicas e
diacrônicas se apresentam na
• A assimilação ocorre com mais atualidade requer um esforço de
freqüência na elocução informal. leitura, de saber ler nas entrelinhas.
Enfim, é uma aventura interessante a Sociedade de língua portuguesa, 1967.
polarização de duas épocas, de duas __________. Novo manual de língua
concepções de estudo e da descoberta portuguesa: gramática histórica. São
Paulo: Alves, 1926.
de fatos tão comuns a ambos os
SAID ALI, M. Gramática histórica da
extremos. Nessa época da tecnologia,
língua portuguesa. São Paulo:
os estudos medievais despertam tanta Melhoramentos, 1965.
paixão, o que é sensato do ponto de SAUSSURE, Ferdinand de. Princípios de
vista intelectual. Seria interessante que Lingüística geral. São Paulo: Cultrix,
aqueles que se ocupam da descrição da 1995.
língua começassem a construção de SILVA NETO, Serafim da. História da
língua portuguesa. Rio de Janeiro:
uma ponte entre o português medieval
Presença, 1979.
e o português moderno. ___________. Introdução ao estudo da
língua portuguesa no Brasil. Rio de
Bibliografia (Leitura Complementar)
Janeiro: Presença, 1986.
ANDRADE, Antonio Carlos S.
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Glossário
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Janeiro: Ficab, 1991.
Diacrônico – diz respeito à língua
BECHARA, Evanildo. Moderna
encarada como processo, sujeita a
gramática portuguesa. Rio de Janeiro:
transformações imperativas ao longo
Lucerna, 1999.
do tempo.
BUENO, Francisco da Silveira. A
Latim vulgar – latim falado.
formação histórica da língua
Romanço – dialeto originado do latim
portuguesa. Rio de Janeiro:
vulgar.
Acadêmica, 1955. CAMARA JR., J.
Sincrônico – é a perspectiva que
Mattoso. História e estrutura da língua
entende a língua como um sistema.
portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão,
Substrato – marcas de hábitos
1985.
lingüísticos anteriores na língua que
COUTINHO, Ismael de Lima.
passam a utilizar.
Gramática histórica. Rio de Janeiro:
Padrão, 1971.
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