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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
O Estatuto da Criança e do
Adolescente e os Direitos
Fundamentais
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 07
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
Apresentação
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE O ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
1. ORIGEM
Em sua origem, a legislação menorista brasileira, num primeiro
momento, ficou vinculada à parte do direito que trata da família (no Códi-
go Civil – regras relativas à capacidade civil, poder familiar), ou sob a
perspectiva de natureza penal (Código Criminal e Penal), quando tratava
da questão da inimputabilidade e, ainda, a leis esparsas de natureza assis-
tencial. A codificação da legislação na área do menor ocorreu em 1927,
com o Código Mello Matos – Decreto nº. 17.943-A, que também represen-
tava o primeiro Código de Menores da América Latina. Posteriormente,
uma nova legislação, o Código de Menores de 1979 – Lei nº. 6697 de 10 de
outubro de 1979 –, disciplinou a questão do menor e adotou o princípio da
situação irregular, surgindo daí a figura do “menor em situação irregular”.
Diante da nova postura advinda da Constituição Federal de 1988, o
Código de Menores, então vigente, entrou em conflito com a lei maior, não
só em relação ao princípio, mas também em relação aos direitos funda-
mentais consagrados, surgindo assim a necessidade de sua alteração.
Como bem esclarece VERONESE (1997, p. 47):
Apesar de toda a inovação no que tange à assistência, prote-
ção, atendimento e defesa dos direitos da criança e do adolescente,
constantes na Constituição Federal, estes não poderiam se efetivar
se não regulamentados em lei ordinária. Se assim não fosse, a Cons-
tituição nada mais seria do que uma bela, mas ineficaz carta de in-
tenções. Portanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº.
8.069 de 13 de julho de 1990 surgiu com a difícil e nobre tarefa de
viabilizar os citados direitos.
Em decorrência das novas normas constitucionais, que preconiza-
vam um novo paradigma em relação à criança e ao adolescente, tornou-se
imperativa a elaboração de um instrumento legal para garantir a efetivação
dos direitos fundamentais da população infanto-juvenil. Nascia, assim, o
Estatuto da Criança e do Adolescente.
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2. DESIGNAÇÃO E CARACTERÍSTICAS.
Já na própria escolha do legislador para designar a lei, verifica-se a
nova concepção no tratamento das questões relativas à criança e ao ado-
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Posteriormente, seguiram-se as regras mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça
da Infância e da Juventude - Regras de Beijing - Res. 40/33 de 29 de novembro de 1985; as Diretrizes
das Nações Unidas para a prevenção da delinqüência juvenil - Diretrizes de Riad, de 1º de março de
1988; e a Convenção sobre o Direito da Criança, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas
em 20 de novembro de 1989 e aprovada pelo Congresso Nacional Brasileiro em 14 de setembro de
1990.
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lescente. Como se sabe, Estatuto refere-se a uma lei especial de uma cole-
tividade ou corporação, como por exemplo, de um setor do funcionalismo
público, ou de um clube. Preferindo denominar o texto legal como Estatu-
to, e não Código, - como era chamada anteriormente a lei menorista (Códi-
go de Menores) – o legislador procurou afastar-se da conotação de penali-
dade e do estigma criminal e marginalizante que existia em relação aos
menores, tornando clara a nova perspectiva, com destaque para os seus
direitos fundamentais.
Além disso, passou a utilizar a expressão ‘crianças e adolescentes’,
introduzida pela Constituição Federal (art. 227), em lugar de ‘menores’,
termo que possuía conotação discriminatória, por expressar algo pequeno,
parcela desprivilegiada da população (de menor), sentido incompatível com
as disposições contidas na nova lei que preconizava a criança e o adoles-
cente com seres que merecem um tratamento diferenciado. Estabeleceu-se,
então, que se entende por criança a pessoa até 12 anos de idade incomple-
tos e, adolescente, aquele entre 12 e 18 anos de idade (ECA, art. 2º).
Vale lembrar que a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos
da Criança estabelece, em seu artigo 1º., que se considera como criança
todo ser humano com menos de dezoito anos de idade. A lei brasileira foi
fiel a esse parâmetro, mas dividiu a faixa etária em dois grupos que deno-
minou crianças e adolescentes. Ainda que não exista um critério biológico
ou psicológico para tal distinção, ela se impôs por uma questão de política
legislativa, em razão das conseqüências oriundas da prática de ato infraci-
onal por criança e adolescente (medidas protetivas e socioeducativas)2.
A alteração mais importante e significativa da nova legislação re-
fere-se à base doutrinária, ou seja, passou-se do direito tutelar do menor
(menor em situação irregular - objeto das medidas judiciais) para o da pro-
teção integral (crianças e adolescentes como sujeitos de direitos).
A nova legislação apresenta, ainda, como características, a
municipalização das ações em favor da criança e do adolescente, com a efeti-
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Aliás, esse critério etário vem sendo adotado com freqüência pelo legislador, como por exemplo, ao
fixar a idade de 16 a 18 anos para a maioridade civil relativa (C. Civil, art. 4, I); de 16 anos para
exercer o direito de votar (CF, art. 14, II, “c” ) e para adquirir a capacidade núbil (C. Civil, art.
1517); 18 anos para a maioridade penal e a capacidade civil plena (C. Civil, art. 5º) e para se
candidatar ao cargo de vereador (CF., art. 14, Parágrafo 3º, VI, “d”).
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4. ESTRUTURA
O fundamento primário do Estatuto da Criança e do Adolescente é a
Constituição Federal, que ditou a sua estrutura. Com efeito, no seu artigo
227, ficou estabelecido à criança e ao adolescente, com absoluta priorida-
de, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissi-
onalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
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Código Civil, artigo 1634.
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5. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Muitos princípios adotados pela nova legislação encontram sua ori-
gem na Constituição Federal, na Convenção sobre o Direito da Criança e
nas Regras de Beijing. Assim, adotando a classificação de Rita Maxera
(MENDES e COSTA, 1995, p. 74/75), temos os seguintes princípios:
PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: baseia-se no princípio da respon-
sabilidade social do Estado e na obrigação de assistência para o processo
de ressocialização, de onde se deriva a proibição de penas cruéis e degra-
dantes. Encontra referência no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos
artigos 15, 16, 17, 18 e 126.
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Capítulo I do Estatuto da Criança e do Adolescente.
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6. INTERPRETAÇÃO
A regra básica para interpretação do Estatuto da Criança e do Ado-
lescente encontra-se no artigo 6º, no qual o fim social a que a lei se dirige,
as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos
e a condição peculiar de criança e adolescente como pessoas em desenvol-
vimento refletem a preocupação do legislador em garantir atenção especial
a essa parcela da comunidade.
A proteção dos interesses das crianças e dos adolescentes prevalece
sobre qualquer outro bem ou interesse juridicamente tutelado. O legislador
constituinte fez a opção pela população infanto-juvenil, conferindo-lhe
prioridade absoluta, o que significa que os direitos que lhes foram conferi-
dos têm primazia sobre os demais, quando em conflito.
Também deve ser levado em consideração o posicionamento da cri-
ança e do adolescente frente a uma situação jurídica, na qual tenha especial
interesse. Nesses casos, o ECA estabelece a necessidade de se ouvir a cri-
ança ou o adolescente e o respeito à sua manifestação. Nas hipóteses de
colocação em família substituta (ECA, artigo 28, parágrafo 1º e 45, pará-
grafo 2º e 111, V) a opinião da criança ou do adolescente é de suma rele-
vância porque está em jogo o seu próprio destino. Assim também deve ser
interpretado o Estatuto, segundo a manifestação de vontade da criança e do
adolescente.
Esta interpretação tem por fundamento o fim social e a exigência do
bem comum5, acrescidos da situação peculiar da criança e do adolescente
como pessoas em desenvolvimento.
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Artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil.
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CAPÍTULO II
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
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Artigo 1º.
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Titulo II da Constituição Federal.
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CAPÍTULO III
O DIREITO À VIDA E À SAÚDE
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Entendendo como promoção a educação em saúde, bons padrões de alimentação e nutrição, adoção
de estilos de vida saudáveis, uso adequado e desenvolvimento de aptidões e capacidades,
aconselhamentos específicos, como os de cunho genético e sexual.
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Como proteção, a vigilância epidemiológica, vacinações, saneamento básico, vigilância sanitária,
exames médicos e odontológicos periódicos, entre outros.
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Recuperação da saúde, abrangendo diagnóstico e tratamento de doenças, acidentes e danos de
toda natureza, limitação da invalidez e reabilitação.
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Que se traduz pelas ações concretas do poder público para fazer valer o que está descrito na lei em
relação ao direito à saúde, em face da realidade vivenciada por crianças e adolescentes. É a ponte
que liga a lei à situação concreta.
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ECA - Artigos 13 e 56, I.
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CAPÍTULO IV
O DIREITO À LIBERDADE,
AO RESPEITO E À DIGNIDADE
1. DIREITO À LIBERDADE
O direito à liberdade, preconizado no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente, não significa a ausência de limites às crianças e aos adolescentes.
Na verdade, conforme assevera PEREIRA (1996, p. 74), “transmitir ao
jovem a idéia ou sentimento de liberdade não é incentivá-lo a romper com
os limites que a própria vida e os adultos lhe impõem, mas é conscientizá-
lo das razões desses limites e dar-lhe alternativas de opções conscientes
diante deles.”
Daí resulta que o direito em questão engloba a liberdade religiosa e
política, de locomoção, de pensamento, de expressão, de informação e de
participação, apresentando-se como elementos da cidadania infanto-juve-
nil. Diz expressamente a lei:
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
rios, ressalvadas as restrições legais;
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II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Essa liberdade tem como destinatários tanto a criança e o adolescen-
te, bem como os pais, responsáveis e a comunidade em geral. Em relação à
criança e ao adolescente, o direito à liberdade pode ser exercido, desde que
não contradiga uma obrigação que lhe é imposta. Assim, o direito de fre-
qüentar os espaços e logradouros públicos apresenta-se inviável quando é
exercitado em horário escolar ou em horário noturno inadequado para o
padrão familiar. Da mesma forma, a liberdade de opinião e de expressão
não pode ser interpretada de forma tão elástica a ponto de incorrer em
desrespeito ou ofensa verbal.
O direito à liberdade, assegurado a crianças e adolescentes, afirma
SILVA (in CURY, Munir et ali, 1992, p. 66) “se volta especialmente contra
constrangimentos de autoridades públicas e de terceiros, mas também con-
tra os pais e responsáveis que, porventura imponham à criança ou ao ado-
lescente um constrangimento abusivo que possa ser caracterizado como
uma situação cruel, opressiva ou de violência ou, mesmo, de cárcere priva-
do, o que pode até dar margem ao exercício do direito de buscar refúgio e
auxílio, previsto no inciso VII.”
Foi necessário consignar expressamente esse direito, uma vez que o
passado assim recomendava, quando existiam reformatórios, internatos e
abrigos, onde a internação de crianças e adolescentes era a regra geral a ser
aplicada, com manifesta privação da liberdade.
A título exemplificativo, o Estatuto estabelece algumas situações
que devem ser consideradas no âmbito do direito à liberdade. São elas: o
direito de ir e vir nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressal-
vadas as restrições legais, como no caso da limitação da idade para deter-
minados espetáculos públicos (art. 75); opinião e expressão, com a oitiva
da criança ou do adolescente nas questões que lhe são pertinentes, tais
como colocação em família substituta (ECA, art. 28, §1º, 45, § 2º, 111, V;
161, § 2º, e 168); crença e culto religioso, estabelecendo expressamente a
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assistência religiosa ao internado (ECA, art. 94, XII e 124, XIV); brincar,
praticar esportes e divertir-se, sempre respeitando sua condição de pessoa
em desenvolvimento (ECA, art. 71); participar da vida familiar, comunitá-
ria (ECA, art. 19, 92, I, V, VII e IX e 100); participar da vida política, na
forma da lei, como no caso dos grêmios ou entidades estudantis (ECA, art.
53, IV); buscar refúgio, auxílio e orientação, como forma de garantir sua
integridade física e psíquica.
Como expressão máxima desse direito e diante do cometimento de
um ato infracional, constata-se que a criança não pode ser privada de sua
liberdade e o adolescente, somente na hipótese de flagrância ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária.
O direito à liberdade sofre as limitações naturais decorrentes do exer-
cício do poder familiar, bem como das regras impostas pela legislação em
geral e também do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente.
São exemplos de limitações previstas no ECA: classificação para
acesso às diversões e espetáculos públicos (art. 75); proibição de entrada e
permanência em locais que explorem jogos de bilhar, sinuca ou congêneres
(art. 80); autorização para viajar (art. 83) e ainda, quanto à competência da
autoridade judiciária em autorizar ou disciplinar a entrada, permanência
ou participação de criança e adolescente em eventos (artigo 149, I e II).
Outra forma de limitação ao direito à liberdade consiste nos regulamen-
tos escolares, aos quais o aluno (criança ou adolescente) deve se sujeitar, como
por exemplo, quando se trata de horário, uniforme, uso de celular, etc.
O Estatuto ainda estabelece, em relação ao adolescente infrator, a
medida socioeducativa de liberdade assistida. Como a própria designação
esclarece, nessa situação o adolescente terá algumas restrições ao seu di-
reito à liberdade, sendo que deverá ser assistido por um orientador. As
medidas de semiliberdade e internação, por sua vez, restringem ainda mais
a liberdade do adolescente infrator.
2. DIREITO AO RESPEITO
Quanto ao direito ao respeito, o Estatuto da Criança e do Adolescen-
te, repetindo o padrão referente ao direito à liberdade, estabeleceu que:
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abran-
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da imagem (ECA, art. 241). Essa proibição tem por objetivo preservar a
imagem, a dignidade e a identidade da criança e do adolescente, evitando
que sua exposição venha a marcá-los de forma negativa, comprometendo a
sua recuperação.
Compõem o direito ao respeito, a integridade física, psíquica e moral.
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3. DIREITO À DIGNIDADE
O direito à dignidade é tratado no artigo 18 do ECA e resume-se ao
tratamento respeitoso que deve ser dispensado a crianças e adolescentes. O
dispositivo legal impõe essa obrigação a todos, indistintamente, e não so-
mente aos pais ou responsáveis. Diz a lei:
Art. 18. É dever de todos zelar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Na verdade, a lei detalha o que já está previsto no artigo 5º., ou seja,
de que nenhuma criança ou adolescente deve ser objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Quando a criança e o adolescente estiverem sob a autoridade, guar-
da ou vigilânca de determinada pessoa (pai, responsável, padrasto ou ma-
drasta, professor, dirigente de entidade de abrigo ou unidade escolar, etc.),
o fato de submetê-los a vexame ou constrangimento constitui crime espe-
cífico, definido no artigo 232 do ECA:
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida-
de, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Segundo o Dicionário Aurélio, vexame é tudo aquilo que causa ver-
gonha, afronta, ultraje; constranger é obrigar pela força, coagir, tolher a
liberdade; desumano refere-se a tratamento bárbaro, cruel, bestial;
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aterrorizante é um ato que causa terror, pavoroso, violento, que faz medo e
usa força bruta. A criança e o adolescente devem ser postos a salvo desses
tratamentos, como forma de respeito à sua dignidade.
Como forma de garantir a efetivação desse respeito, prevê o ECA13 a
proibição de se transportar adolescente, a quem se atribua autoria de ato
infracional, em compartimento fechado de veículo policial.
É ainda o direito à dignidade que deve ser levado em consideração
quanto às questões relativas à imprensa e à divulgação de atos judiciais,
administrativos ou policiais, envolvendo criança e adolescente. A liberda-
de de imprensa encontra, no direito à dignidade, a limitação necessária
para colocar a criança e o adolescente a salvo de qualquer tratamento desu-
mano, vexatório ou constrangedor14.
Como assevera Pereira (1996, p. 91), a “trilogia da liberdade-respei-
to-dignidade, como cerne da proteção integral, representa um novo
direcionamento no Direito Brasileiro quanto à proteção da infanto-adoles-
cência”, elevando as crianças e os adolescentes à condição de cidadãos.
13
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua
dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
14
Nesse sentido: Tribunal de Justiça de São Paulo: Apelação n. 12211-0 – Sorocaba-SP. Relator
Odyr Porto, 21/02/91. JTJ – 132/412.
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CAPÍTULO V
DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR
1. DISPOSIÇÕES GERAIS
Como decorrência da regra estabelecida no artigo 227 da Constitui-
ção Federal, impõe-se garantir como direito da criança e do adolescente a
convivência familiar e comunitária, o que significa, como regra geral, que
toda criança ou adolescente devem ser criados e educados no seio de sua
família biológica, ou seja, naquela ligada a eles pelos laços de consangüini-
dade. Como exceção, podem criar-se e educar-se em família substituta naci-
onal, como medida de proteção, nas modalidades de guarda, tutela e adoção,
tendo como característica principal a inexistência de vínculo biológico entre
pai e filho. Excepcionalmente, fugindo à regra geral e à sua exceção, a crian-
ça ou o adolescente podem ainda ser criados em família substituta estrangei-
ra (ECA, art. 31), mas somente na modalidade de adoção.
Diz a lei:
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e
educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família subs-
tituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambien-
te livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpe-
centes.
O objetivo da criação e educação da criança e do adolescente no seio
de sua família (biológica ou substitua) é afastar a possibilidade de sua co-
locação em abrigos ou internatos, privando-os da convivência familiar, in-
dispensável para o seu regular desenvolvimento. Esse novo paradigma acar-
reta a mudança de postura dos abrigos existentes, que devem promover a
convivência familiar e comunitária, sem a segregação ou o isolamento do
abrigado.
A família deve apresentar condições para o desenvolvimento sadio
da criança e do adolescente, num ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes (ECA, art.19), ou da hipótese de
maus-tratos, opressão, ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável
(ECA, art. 130). Deve ser afastada toda situação que se mostre incompatí-
vel com o desenvolvimento digno, sadio e respeitoso da criança e do ado-
lescente e que não lhe ofereça um ambiente familiar adequado.
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Código Civil de 1916.
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Foram derrogados os artigos 337 e 1605, § 2º do Código Civil de 1916, que implicavam em
restrição ao direito sucessório do filho adotivo.
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risco detectada. O poder familiar deixou de ter relação direta com a situa-
ção econômica dos pais, não sendo motivo exclusivo para sua perda ou
suspensão17.
Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu-se o procedi-
mento contraditório, para se decretar, judicialmente, a perda, ou suspensão
do poder familiar, conferindo legitimidade ativa ao Ministério Público, ou
a quem tenha interesse para dar início ao processo. Os interessados na
adoção ou tutela da criança ou do adolescente qualificam-se como legiti-
mados ativos para o processo de destituição.
17
Cf. Julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo: “Estado de miserabilidade não pode ser razão
para impor a perda do direito de ter o filho sob responsabilidade. A perda do pátrio poder só se
permite quando os pais descumpram, injustificadamente, seus deveres e obrigações por desídia,
emulação e indignidade, tanto é assim, que o artigo 23 do ECA dispõe que a falta, ou carência de
recursos materiais, não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do pátrio poder“.
(Apelação Cível, n.º 19.192. Relator: Des. Ney Almada. 28.07.94).
18
A Lei n.º 8.560, de 29 de dezembro de 1992, ao regular a investigação de paternidade dos filhos
havidos fora do casamento, estabeleceu que o reconhecimento dos filhos pode ocorrer nas hipóteses
já estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, acrescentando outras duas situações:
a) escrito particular, a ser arquivado no cartório; b) manifestação expressa e direta, perante o
juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Por fim, o Código Civil sintetizou a matéria (art. 1609), estabelecendo que o reconhecimento dos
filhos havidos fora do casamento poderá ser feito: a) no registro de nascimento; b) por escritura
pública; c) escrito particular a ser arquivado em cartório; d) testamento, ainda que incidentalmente
manifestado; e) manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não
haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
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a) termo de nascimento;
b) testamento;
c) escritura pública;
d) outro documento público.
Quanto à colocação em FAMÍLIA SUBSTITUTA, deve ser seguido
o que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 101, VIII),
tratando-se de medida de proteção à criança e ao adolescente que pode ser
efetivada somente através de GUARDA, TUTELA ou ADOÇÃO, com a
observação dos seguintes princípios:
a. A colocação independe da situação jurídica da criança e do adolescente,
ou seja, pode estar sob o poder familiar regular dos genitores, ou em
situação de risco pessoal e social, como nas hipóteses do artigo 98 do
ECA (art. 28), em situação regular ou irregular, como definia o Código
de Menores revogado.
b. A criança e o adolescente, sempre que possível, devem ser ouvidos e ter
sua opinião considerada (ECA, art. 28, § 1º). Conforme assevera Luiz
Paulo Santos Aoki (CURY, Munyr et alii, 1992, p. 112), “a criança e o
adolescente deverão sempre ser ouvidos, não se referindo esta possibili-
dade a atributo pertinente ao Juízo, ou à ocasião processual, mas à con-
dição de a criança, ou adolescente, manifestar-se a respeito de ato que
vai, diretamente, influenciá-lo dali em diante”. O juiz levará em consi-
deração o posicionamento da criança e do adolescente, frente ao lar subs-
tituto, com atenção a sua idade e desenvolvimento psicológico, não fi-
cando vinculado à vontade expressada. Trata-se de assegurar o direito
previsto no artigo 16, II, do ECA, quanto à liberdade de opinião e ex-
pressão. Quando for o caso de adoção de adolescente, esta regra é obri-
gatória (ECA, art. 45, § 2º. – C.C. art. 1621).
c. Observação do grau de parentesco e a relação de afinidade ou de
afetividade entre a criança ou o adolescente e os requerentes do pedido
de colocação em família substituta (ECA, art. 28, § 1º). O objetivo dessa
regra é minorar as conseqüências da medida em relação ao adotado, ser-
vindo como princípio para se buscar a família ideal, no caso de existirem
várias interessadas.
d. Oferecer à criança e ao adolescente ambiente familiar adequado, devendo,
ainda, o interessado não apresentar nenhuma incompatibilidade com a medi-
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
3. A GUARDA
Entre as relações decorrentes do poder familiar, está aquela relativa
ao direito dos pais de ter os filhos sob sua companhia e guarda (art. 1634,
II do Código Civil) que é exercitado tanto pelo pai como pela mãe, como
um dos deveres decorrentes do casamento19, não importando a relação exis-
tente entre eles (casamento ou união estável). No caso de ocorrer a dissolu-
ção da sociedade ou do vínculo conjugal pela separação judicial ou divór-
cio, o Código Civil20 estabeleceu regras pertinentes à guarda e proteção
dos filhos.
A par desse regramento, tratou o ECA de regulamentar outras hipó-
teses envolvendo a guarda de crianças e adolescentes (art. 33 a 35). No
Estatuto, ela não implica a suspensão ou destituição do poder familiar e,
19
Art. 1566, IV do Código Civil e art. 226, parágrafo 5º da CF.
20
Artigos 1583 a 1590.
47
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
21
ECA - art. 35.
48
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
4. TUTELA
Tendo por base os artigos 1728 a 1766 do Código Civil22, o ECA,
nos artigos 36 a 38, define a tutela como uma forma de colocação de crian-
ça ou adolescente em família substituta, visando substituir o poder familiar
em razão do falecimento dos pais ou de suspensão ou destituição do poder
familiar, conferindo a uma terceira pessoa capaz o direito de reger a pessoa
e administrar os bens de um incapaz. Confere ainda o direito de represen-
tação, assumindo uma abrangência maior do que a guarda. Exemplo típico
deste instituto é quando irmãos ou avós assumem os cuidados de crianças
ou adolescentes em razão do falecimento dos pais.
Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, portanto, o instituto da
tutela é uma forma de colocação em família substituta e deve ser aplicada
pelo Juízo da Infância e da Juventude aos menores que tenham até dezoito
anos de idade incompletos e, que se encontrem em situação de risco pesso-
al ou social, configurando dever de guarda (art. 36), o que implica, para o
tutor, assumir a assistência material, moral e educacional do tutelado.
5. DA ADOÇÃO
Representando uma ruptura com a cultura da adoção, sob a qual
ocorria uma “subvalorização da filiação adotiva frente à descendência de
sangue; o sigilo da filiação adotiva como proteção contra o preconceito, ou
como forma de evitar interferências negativas da família biológica; a prio-
ridade para famílias do tipo tradicional de candidatos à adoção, em detri-
mento de pessoas solteiras, divorciadas, viúvas, ou pessoas acima de qua-
renta anos de idade e que poderiam se dispor a adotar criança de difícil
colocação, e a condenação da mãe que entrega seu filho para adoção, sem
levar em conta a situação de exclusão social e a história de vida destas
mulheres” (FERREIRA e CARVALHO, 2000, p. 23), o Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente tratou de disciplinar a adoção com a magnitude que
ela merece, traçando novas regras que buscam dar cumprimento ao princí-
pio da proteção integral.
22
Código Civil - Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela: I - com o falecimento dos pais, ou
sendo estes julgados ausentes; II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.
49
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
23
Nesta última hipótese, é necessário: a) fazer a prova de que antes da separação já se havia iniciado
um estágio de convivência com o menor e b) declararem a qual dos dois adotantes caberá a guarda
do adotando, fixando, desde logo, o regime de visita (ECA, art. 42, §4º).
50
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
24
Acima dos 18 anos, a adoção far-se-á nos termos do Código Civil, através de processo judicial (art.
1623, § único).
51
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
25
Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado civil. § 1º Não
podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
52
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
26
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças
e adolescentes em condições de serem adotados e outro, de pessoas interessadas na adoção. § 1º O
deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o
Ministério Público.§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos
legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 29.
54
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
55
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
CAPÍTULO VI
O DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA,
AO ESPORTE E AO LAZER
27
CF. – artigos - 6, 205 a 214 e 227.
28
Estes objetivos estão previstos no art. 53 do ECA, que repetiu o estabelecido na Constituição
Federal (art. 205). A LDB também segue o mesmo enunciado (art. 2º).
56
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
29
Verifica-se que, nesse sentido, a cidadania está intimamente ligada ao aspecto legal, em especial
com as leis que buscam garantir a efetividade dos direitos civis, políticos e sociais.
57
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
30
A Lei n. 11.700 de 13 de junho de 2008 alterou a LDB (Lei 9.394/96) para acrescentar no artigo 4º
o inciso X referente a: vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais
próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de idade.
58
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
31
ECA - artigo 54 – É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental,
obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II -
progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV -
atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis
mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI
- oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII -
atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua
oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público
recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
responsável, pela freqüência à escola. Quanto à garantia de creche, a Constituição Federal alterou
o ECA para estabelecer como dever do Estado a educação infantil, em creche e pré-escola às crianças
até cinco anos de idade (redação do artigo 207 de acordo com a Emenda Constitucional nº 53/06).
59
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
32
O dever dos pais em relação à educação dos filhos está previsto no artigo 1634, I do Código Civil e
artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
60
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
33
Art. 245 – Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que
tenha conhecimento envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
adolescente. Pena: multa de 3 a 20 salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.
34
Estabelece a LDB quanto a freqüência mínima do aluno: Art. 24, VI – o controle de freqüência
fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema
de ensino, exigida a freqüência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
aprovação.
61
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
62
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
CAPÍTULO VII
O DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO
E À PROTEÇÃO AO TRABALHO
35
Artigos 7º XXX e XXXIII e 227 “caput” e § 3º da Constituição Federal bem como da Convenção nº
138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
36
Diz o ECA - Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial,
sem prejuízo do disposto nesta Lei. A legislação especial é a CLT. Com as regras previstas nos art.
402 a 410.
37
Artigo 2º. – O Decreto n. 4.134 de 15 de fevereiro de 2002 promulgou a convenção no Brasil.
38
A redação do artigo 60 do ECA não foi atualizada em relação à Constituição Federal, quanto à
idade de 16 anos para o trabalho.
63
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
39
CF. - artigo 7, XXXIII.
64
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
4. APRENDIZAGEM
Aprendizagem, na definição do Estatuto (art. 62), é a formação téc-
nico- profissional ministrada segundo as diretrizes e bases das leis da edu-
cação em vigor. Visa permitir que o adolescente aprenda uma profissão.
Segundo Oris de Oliveira41, formação técnico-profissional é aquela “que
se utiliza de processos adequados para que determinadas pessoas possam
adquirir os conhecimentos teóricos e práticos que as habilitem ao exercí-
cio competente de atividades especializadas que existem em uma socieda-
de em decorrência da divisão do trabalho”. Esta aprendizagem pode ocor-
rer na escola (LDBE, artigos 39 a 42) ou na empresa (ex. SENAI, SENAC).
Tem como principal característica a ausência de vínculo empregatício
(ECA, art. 65) e deve obedecer aos princípios estabelecidos no artigo 63
do ECA, quanto à:
40
Art. 28 da Lei nº 9394/96.
41
Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, Coord. Cury, Amaral e Silva e Mendez, 1ª
Edição, São Paulo, Malheiros Editores, 1992, p. 186.
65
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
42
ECA e o Trabalho Infantil, Antonio Carlos Gomes da Costa, São Paulo, Ed. Ltr., 1994, p.32
66
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
5. TRABALHO EDUCATIVO
De acordo com legislação em vigor, além da modalidade de trabalho
do adolescente como empregado, como aprendiz, e no trabalho familiar,
também está previsto o trabalho educativo.
67
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
43
ECA - artigo 68, §1º.
68
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
CAPÍTULO VIII
AS OBRIGAÇÕES
69
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
44
Código Civil – artigo 1634.
70
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
71
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
CAPÍTULO IX
DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
2. FAMÍLIA
À família submete-se a criança em um processo de socialização, com
um aprendizado constante. É em seu âmbito que se transmitem os valores e
45
ECA - Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao
adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação
de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI -
internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
46
ECA - Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente
poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou
responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento
temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e
ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação
e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocação em família
substituta.
73
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
47
Diferente da família nuclear burguesa, calcada na monogamia e no trabalho doméstico da mulher, e
da família patriarcal, caracterizada por uma hierarquia vertical, centrada no matrimônio.
75
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
3. ESCOLA
A escola, que não limita seu papel apenas à transmissão de conheci-
mentos, constitui fator relevante no processo de reconhecimento de direi-
tos e obrigações e de interiorização dos valores sociais, pois impõe aos
alunos padrões de comportamento e os obriga a conviver, aprendendo que
devem respeito a si mesmos e ao outro. E essa ação se desenvolve não só
por meio de aprovações ou sanções, mas também pelo conteúdo dos ensi-
namentos e pelos exemplos levados à sala de aula.
Na verdade, ao traçar como objetivos da educação o pleno desenvol-
vimento da criança e do adolescente e o seu preparo para o exercício da
cidadania, a lei deixou implicitamente consignado que para se alcançar
esses objetivos, é necessário o desenvolvimento de ações que contemplem
o reconhecimento e a garantia dos direitos e das obrigações dos alunos.
Diante dessas considerações, não há como negar o relevante papel
da escola na responsabilidade pela garantia dos direitos fundamentais da
criança e do adolescente. Não é por outra razão que foram introduzidos nos
currículos escolares os temas transversais da educação objetivando favo-
recer a compreensão desses direitos fundamentais e obrigações.
O ECA deixou expressamente consignada esta responsabilidade:
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino funda-
mental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, es-
gotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência.
76
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
48
CF. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização,
com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as
atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade.
CF. - Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos
do orçamento da seguridade social, previstos no artigo 195, além de outras fontes, e organizadas
nas seguintes diretrizes: I - descentralização político administrativa, cabendo a coordenação e as
normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas
estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social. II – participação
da população, por meio de organizações representativas na formulação das políticas e no controle
das ações em todos os níveis. CF. - Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
49
CF. arts. 227, § 7º e 204.
79
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
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O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
serem desenvolvidas. É certo que essa função deve seguir o que foi traçado
pela legislação referente a essa parcela da população, sob pena de ser nor-
ma inválida.
Caráter controlador:
Segundo Pereira (1996, p. 593) “ser controlador das ações em todos
os níveis representa a possibilidade do Conselho de Direitos atuar de for-
ma ampla, uma vez fixadas as diretrizes governamentais. Este órgão deve
fiscalizar o direcionamento das políticas públicas, tomando, como
referencial os princípios fixados no artigo 4º do ECA.
O Conselho Municipal não é órgão executor e, no papel de
controlador, é sua competência levar ao Ministério Público toda e qualquer
irregularidade encontrada na execução dos projetos ou no atendimento das
diretrizes fixadas.
O Conselho de Direitos tem como objetivos e atribuições o acompa-
nhamento, a avaliação, o controle e a deliberação das ações públicas na
área da infância e da juventude visando assegurar a existência e a efetivi-
dade de políticas direcionadas à população infanto-juvenil.
Nesse sentido, o objetivo principal do Conselho é garantir que todas as
crianças e adolescentes sejam reconhecidos e respeitados como sujeitos de direi-
tos e de deveres e como pessoas em condições especiais de desenvolvimento.
Para que este objetivo seja atingido, torna-se indispensável que os
conselheiros conheçam a realidade de seu território e elaborem um plano
de ação, propondo estudos e pesquisas para dar subsídios às políticas pú-
blicas na área infanto-juvenil. É necessário também que o Conselho se
integre a outros órgãos executores de políticas públicas e demais Conse-
lhos como o da Saúde na discussão, por exemplo, a respeito de temas como
gravidez na adolescência.
Na efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescen-
te, devem ainda os membros do Conselho acompanhar e participar da ela-
boração, aprovação e execução do Plano Plurianual e da lei orçamentária,
bem como do processo de elaboração da legislação municipal relacionada
à infância e à juventude; gerir o Fundo Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente, definindo a destinação dos recursos; promover e apoiar
campanhas educativas relacionadas à infância e à juventude; registrar as
ONGs e os programas de atendimento à criança e ao adolescente; deliberar
sobre o processo de escolha dos Conselheiros Tutelares, etc.
81
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
5. CONSELHO TUTELAR
Outro órgão que prevê a participação da comunidade é o Conselho
Tutelar. Como afirma ZAGAGLIA (1999, p. 01), o conselho tutelar é uma
expressão da sociedade politicamente organizada, através de seus esco-
lhidos, que possibilita a efetividade social dos direitos fundamentais, os
quais se dispõem à estruturação de uma sociedade participativa e demo-
crática.
Com a criação do CONSELHO TUTELAR, o ECA confere à socie-
dade papel fundamental na garantia dos direitos das crianças e dos adoles-
centes, que não dependem mais apenas da intervenção do poder judiciário
para tê-los assegurados.
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumpri-
mento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.
Verifica-se que a sua missão é zelar pelo cumprimento dos direitos
das crianças e dos adolescentes, sendo um dos operadores da política de
atendimento. O Conselho Tutelar deve ser criado por lei e cada município
deve ter no mínimo um conselho, composto por cinco membros (nem mais
e nem menos) cuja atuação se restringe á área municipal.
O processo de escolha do conselheiro tutelar é estabelecido em lei
municipal, sob responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, com a fiscalização do Ministério Público. A
comunidade local é responsável pela escolha dos conselheiros50.
50
ECA - Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco
membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução.
ECA - Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em
lei municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público.
82
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
83
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
51
ECA – art. 101, I a VII.
52
ECA - art. 129, I a VII;
84
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
6. MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público brasileiro foi integralmente reformulado a par-
tir da atual Constituição Federal que, no artigo 127, definiu-o como “insti-
tuição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbin-
do-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis”.
Esse perfil constitucional apresenta o Ministério Público como “fis-
cal da lei e defensor dos interesses sociais”, com o dever de zelar pela
concretização da ordem social, da cidadania e da dignidade da pessoa hu-
mana, que são fundamentos do Estado Democrático de Direito.
Na área da infância e da juventude, a atuação do Promotor de Justiça
foi devidamente estabelecida53 como defensor intransigente dos direitos da
criança e do adolescente. Estabelece a lei, entre as atribuições do Promotor:
Art. 201 – Compete ao Ministério Público:
.......
VIII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais asse-
gurados à crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e ex-
trajudiciais cabíveis.
Tendo sido o ECA estrategicamente estruturado como meio para a
materialização dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, não
se pode olvidar que a inserção do Ministério Público no texto legal ocorreu
de modo intencional, definindo-o como um dos responsáveis pela sua con-
cretização. O Promotor de Justiça deixou de ser um mero fiscalizador da
53
ECA - artigos 200 a 205.
85
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
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CAPÍTULO X
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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54
Tais direitos estão previstos na Constituição Federal, artigo 227, § 3º, IV que estabelece que o
direito a proteção especial abrangerá, ente outros, os seguintes aspectos: IV - garantia de pleno e
formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa
técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V - obediência
aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade.
89
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
90
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
55
Lei Áurea, de 13 de maio de 1988, assinada pela Princesa Isabel, na qual era declarada extinta a
escravidão; a proclamada por Euzébio de Queiroz, ministro do Império, que em 1850 tornou proibido
o tráfico de escravos; ou a proclamada em 1871, atribuída ao Visconde do Rio Branco, denominada
Lei do Ventre Livre, declarando livres todas as crianças que viessem a nascer de pais escravos e,
ainda, a de 1885, obtida pelo ministério de José Antonio Saraiva que declarava livres os escravos
maiores de 60 anos, denominada Lei dos Sexagenários.
56
Lei nº 4.12 de 27 de agosto de 1962 que alterou o Código Civil para garantir direitos e regulamentar
a situação jurídica da mulher casada.
91
O Estatuto da Criança e do Adolescente e os Direitos Fundamentais
3. O DESAFIO
A existência de um texto legal que reconhece a criança e o adoles-
cente como sujeitos de direitos, por si só não mudará a realidade. Essa lei
tem que “pegar”, ou seja, ser efetivamente aplicada em todos os seus ter-
mos, para aí sim, poder se alterar a situação das crianças e dos adolescen-
tes no que diz respeito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à convivência familiar, à liberdade, ao respeito e à dignidade. Em
síntese, para garantir a cidadania dessa parcela da comunidade, há necessi-
dade de fazer da lei uma realidade.
O desafio encontra-se aí, ou seja, na efetivação ou concretização do
ECA. Pois se temos uma boa legislação, bem redigida e avançada, ela não
surtirá nenhum efeito, porém, se não for implementada em sua íntegra, o
que requer o compromisso de todos: família, sociedade e poder público.
Do contrário, continuaremos a criticá-la de maneira equivocada, pois
da mesma forma que não se pode criticar um remédio que não fez efeito em
relação à determinada enfermidade, sem tomá-lo, não há como criticar o
ECA sem implantá-lo. E, passados vários anos do início de sua vigência,
verifica-se, em muitos municípios, que a lei ainda não está sendo obedeci-
da. Aí reside o desafio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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