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Cidadania
1 MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. p.
63/64.
2 PORTO, Walter Costa. Cidadania e classe social. Brasília: Senado Federal, 2002, p. 7.
política (e eleitoral), sufrágio universal, etc. Tais direitos incorporam-se à tradição liberal
e passam a ser chamados de direitos individuais exercidos coletivamente.
3 GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-Estados na Antiguidade Clássica. In: PINSKY, Jaime &
PINSKY, Carla Passaneze. (org.) História da Cidadania, São Paulo: Ed Contexto, 2003. p.29.
4 PORTO, Walter Costa, em sentido diverso ao apresentado por Guarinello, na apresentação do
livro Leituras sobre a cidadania, nos fala: “naquele Império em que, como já se disse, a história
dos povos antigos confluiu, como num grande estuário, ponto de partida para toda a história
moderna”. A Cidadania na Grécia e em Roma. Volume II, Brasília: Senado Federal, 2002, p.
7.
Formadas por proprietários de terras, já que foi o desenvolvimento da
propriedade privada da terra que deu origem às cidades-estados. Nos primórdios,
cidadania se confundia com laços de sangue, passados de geração a geração. Com o passar
do tempo, operou-se uma redistribuição do poder político. Aceitou-se o ingresso de
estrangeiros na categoria de cidadão, abolindo-se a escravidão por dividas. Mais do que
indicar uma reformulação na concepção de cidadania, essa ideia revelava os reflexos de
transformação estruturais. Além da ampliação do quadro de cidadãos, as polis gregas
presenciaram o deslocamento do controle político jurídico. Nesse contexto, a aristocracia
cedeu espaço a favor das Assembleias e dos conselhos com participação popular. No
entanto, havia ainda critérios de distinção social, por meios dos quais se limitava o acesso
às Magistraturas mais altas, polarizando o poder político. Apesar dessas mudanças,
fatores de ordem social e política continuavam associando o termo cidadania ao exercício
da participação política.5
Mais isso não é tudo, as comunidades formavam-se de maneiras distintas e,
segundo Guarinello, “é difícil encontrar um princípio universal”.6 Muitas comunidades
estavam abertas para estrangeiros e eram compostas por colonos vindos de várias cidades-
estados.7 A participação política era direta e exercida por um corpo de cidadãos, mais ou
menos amplo, que representavam a si mesmos.8 Porém essa ‘democracia’ trazia consigo
uma cidadania tímida principalmente no que se refere ao efetivo das decisões. Muitos
cidadãos eram diferenciados (não-cidadãos: mulheres, escravos e os estrangeiros),
cercados por restrições econômicas e valores ligados à família, permaneciam alienados e
tolhidos na expansão de atos políticos9. Com a expansão do Império Romano, tornou-se
5 CARDOSO, Ciro Flamarion. A Cidade Estado Antiga. São Paulo: Ática, 1985, p. 29.
6 Guarinello, op. cit., p. 34.
7 “No norte da África, na Sicília, nas costas da Itália, surgiram cidades cujos habitantes provinham
10 Segundo Guarinello, “um dos pontos centrais do conflito girou em torno da distribuição das terras conquistadas na Itália. As riquezas trazidas com
a expansão não beneficiaram por igual os cidadãos de Roma”. Guarinello, op. cit., p. 43
11 “Tratou-se de um processo crucial: a cidadania deixou de representar a comunidade dos habitantes de um território circunscrito, para englobar
os senhores de um império, fossem ricos ou pobres, habitassem em Roma, na Itália, ou nos territórios conquistados”. GUARINELLO, ibidem,
p. 43
12 “O Principado inaugurou uma nova era, na qual a cidadania mudou mais uma vez, de caráter. Com o desaparecimento da participação política,
o especo público restringiu-se. Os novos pólos do poder passaram a ser o imperador, símbolo da unidade do Império, e o exército, esteio de
sua dominação. Ser cidadão romano permaneceu ainda como um privilégio, mas as formas de obter tal distinção se diversificaram: podia ser
por hereditariedade, alforria ou concessão, individual ou coletiva, aos súditos do imperador. Ao mesmo tempo em que permanecia como fonte
de privilégios, a cidadania legava-se a vínculos pessoais e não mais públicos como os que uniam ex-senhores e seus libertos ou o próprio
imperador e seus súditos. Público e privado passaram a confundir-se no seio da própria definição de cidadão”. GUARINELLO, ibidem, p.
44
13 Guarinello,
op. cit., p. 45
14 ibidem, p. 45
15 “Para nós resta uma imagem que nos diz respeito: a cidadania implica sentimento comunitário, processos de inclusão de uma população, um
conjunto de direitos civis, políticos e econômicos(...).Todo o cidadão é membro de uma comunidade, como quer que esta se organize, e esse
pertencimento, que é fonte de obrigações, permite-lhe também reivindicar direitos, buscar alterar as relações no interior da comunidade, tentar
redefinir seus princípios, sua identidade simbólica, redistribuir os bens comunitários”. Ibidem, p. 46
ajuda aos membros mais necessitados)16. Mesmo assim seus movimentos eram
incipientes se comparados com hoje em dia.
A Grécia era mais fechada a participação, apesar de todo o cenário dos grandes
debates em praça pública que habitam nosso imaginário17. Em Roma, a maior
contribuição à cidadania se dava no sufrágio, onde a participação era mais abrangente.
Do processo eletivo participavam também os pobres e os libertos, com o preceito do voto
por grupo.18 Nesse universo a cidadania era um privilégio, pois trazia consigo “facilidades
legais e fiscais importantes”.19 O resultado desse arcabouço institucional era de uma
estrutura aristocrática, disfarçada em República, na qual vigoravam os interesses do grupo
de patrícios, em detrimento de outras camadas politicamente irrelevantes. Entre estas
foram crescendo as manifestações de descontentamento dos grupos enriquecidos com o
comércio. Assim, podemos concluir que a essência política da concepção de cidadania na
realidade greco-romana revestia-se de uma discrepância entre Democracia real e ideal. A
igualdade de direitos políticos, de fato, não era praticada.
Eduardo Hoornaert, no seu artigo “As Comunidades Cristãs dos Primeiros
Séculos”20, faz uma análise da importância do cristianismo para a concepção de
cidadania, afirmando, que não foi exatamente sua ligação com o Império Romano, mas
sim as ações da Igreja Católica no campo social e humanitário, fazendo, no início de sua
trajetória, uma opção pelos pobres, estrangeiros, enfim, os excluídos, assim considerada
as especificidades da época, que consolidou o apoio popular em curto espaço de tempo.21
16 COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro. Rio de Janeiro: Trabalhistas, 1991. p. 18.
17 Para Croizet, a “Constituição Ateniense é democrática até ao extremo, até ao paradoxo: em duas palavras, o povo exerce diretamente a soberania,
e os magistrados são, as mais das vezes, designados pelo sorteio. Por outro lado, comporta restrições à igualdade, mais teóricas do que
práticas, é certo, porém curiosas”. CROIZET, apud in FIGUEIREDO, Jesuíno Amazonas. A. Cidadania na Grécia
e em Roma In: Leituras sobre a Cidadania. Vol.
II. Brasília, Senado Federal, 2002, p.9.
18 FUNARI, Pedro Paulo: Cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime & PINSKY, Carla Passaneze. (org.)
IbIdem, p. 94
Com o passar da história, a Igreja Católica, transforma esse apoio, em poder político22,
avanços jurídicos23, e prestígio cultural24.
No Renascimento, período segundo Carlos Zeron25 , compreendido entre os
séculos XIV e XVI, para entender a cidadania, temos de partir de uma compreensão ampla
do termo, por um lado, “concebendo-o nas suas dimensões sociais, políticas e culturais”
e, por outro lado, “considerar igualmente a concepção clássica de cidadania,26 baseada no
Direito Romano, que partia do pressuposto que “direito era algo como um patrimônio que
se possuía”.27 Assim, com essa compreensão do direito, constituiu-se com fontes dos
direitos do homem, as coisas, a liberdade, a cidade e a família.
Para Zeron, a ideia moderna de cidadania começou a ser esboçada no
Renascimento, fazendo uma alusão particular a Florença, no norte da Itália, pela “adoção
e manutenção de ‘formas republicanas’ de governo”, ou seja, alternância de poder em que
participavam milhares de cidadãos. Os chanceleres florentinos, em seus debates,
recuperaram “as distinções sociais romanas antigas entre os que tinham e não tinham
direitos políticos e, no elogio e defesa do governo de sua cidade, estendem o direito de
cidadania a uma parte expressiva da sua população” No entanto, segue o autor,
historiografia recente, mostra que o governo florentino foi dominado por uma elite restrita
a algumas famílias e centenas de indivíduos, operando uma seleção implacável daqueles
que tinham direitos políticos.
Na Idade Média, a unidade do ocidente, para alguns historiadores era religiosa e
cultural, não política. “O Sacro Império e o papado dão impressão de unidade durante
muito tempo, mas desde 1300 essa unidade se desfaz em diversidade política”. Porém, no
limiar do século XVI, segundo estudos de Zeron, a ideia de um império político universal,
22 Para Berman, a civilização chamada ocidental, durante muitos séculos, era identificada simplesmente como os povos da cristandade ocidental,
manifestando, entre os séculos XI e XV, lealdade comum à autoridade da Igreja de Roma. BERMAN, Harold.
La formación de la
tradición jurídica de occidente.México: Ed. Fondo de Cultura Economica,1996, p. 10.
23 Berman esclarece que a Reforma Gregoriana – “Querela da Investidura” (1075-1122), deu margem ao sistema jurídico ocidental moderno, o
“novo direito canônico” (ius novum) da Igreja Católica Romana e, com o tempos , também a novos sistemas jurídicos seculares. Idem. p. 11.
24 É de domínio público, inclusive amplamente mostrado em todas as artes, principalmente cinema, que todo o conhecimento científico/social, até
então alcançado, era monopólio da Igreja de Roma. E alguns “ungidos”.
25 ZERON, Carlos. História da Cidadania - A Cidadania em Florença e Salamanca. In: PINSKY, Jaime & PINSKY, Carla
Passaneze. (org.) História da Cidadania. São Paulo: Ed Contexto, 2003. op. cit., p. 97.
26 A noção clássica de cidadania foi, para Zeron, foi a recuperada e reivindicada pelos homens renascentistas. Ibidem, p. 97.
27 Zeron. Ibidem, p. 97-105
já era contestada.28 Ao se referir a Salamanca, o autor cita o dominicano Francisco de
Vitória29, como um dos mais veementes opositores desse império.30
A Idade Média foi, em termos sociais, econômicos e políticos, um período de
transformações e adaptações a uma nova ordem organizacional da sociedade. Assim,
durante o processo de formação do feudalismo. Num primeiro período, que se sucedeu à
queda do Império Romano (séc. V d.C.), houve uma perda no significado de cidadania,
tal como concebido e transmitido da Antiguidade. A sociedade passou a se organizar com
base nos ideais de fidelidade afastando-se da participação política. Na Idade Média as
questões políticas cederam espaço, principalmente, às questões religiosas, surgindo um
tipo peculiar de organização social (nobreza, clero e camponeses). Os Camponeses
subordinavam-se à nobreza, responsável pela redenção de todos. Nesse quadro de
dependência, não se pensava a possibilidade de consulta ao povo, nem diretamente, nem
por seus eleitos.31 Esse tipo de poder se juntou ao judiciário, fazendo distinção social e
de status, gerando uma justiça diferenciada, impedindo a julgamento entre “iguais”, pelo
menos às camadas menos favorecidas da sociedade.32
Visualizando o contexto medieval, podemos dizer que a noção de direitos
políticos e cidadania tornou-se frágil demais, se comparada às necessidades materiais e
espirituais impostas pela ruralizarão da economia e pela cristianização da sociedade. Por
outro lado, o final desse período registrou profundas alterações sociais, produto da
crescente urbanização.
Este quadro só começou a se reverter no Renascimento e com a formação dos
Estados-nação. Essa fase, conhecida como Baixa Idade Média, foi responsável por
ressurgir da idéia de um Estado centralizado e, por consequência, da noção clássica de
cidadania ligada à concessão de direitos políticos. Iniciava-se, assim, uma nova relação
entre política, economia e sociedade com o nascente capitalismo. A burguesia mercantil
se fortaleceu, e começou a almejar os mesmo direitos destinados aos estamentos
privilegiados.
28 O rei como senhor no seu reino, foi a máxima desse período. Ibidem, p. 105.
29 Um dos maiores opositores da “teoria do poder universal, tanto dos imperadores quanto dos papas, foi o dominicano Francisco de Vitória”. Fez
seus estudos e lecionou em Sorbone, França, sofrendo influências dos humanistas. Vitória, lecionou na Universidade de Salamanca (1526-
1546). “Nas suas aulas na Universidade de Salamanca, Vitória condenou as duas formas de poder universal, o imperialismo e a teocracia, a
partir da idéia do direito natural. Nem guelfo nem gibelino, ele advogou antes o direito das gentes”. Zeron, op. cit., p. 106.
30 Para Zeron, “a noção de direito natural desenvolvida pelos herdeiros quinhentistas do pensamento escolástico (a segunda escolástica) como
base de sua reflexão sobre o Estado supõe de certa forma a de individuo, pois a apropriação desse direito é indivisível na medida em que os
direitos do homem seriam anteriores a qualquer tipo de organização social e política”. Ibidem, p. 110.
31 BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1982. p. 450.
32 Ibidem, p. 405.
O Renascimento teria sido um período de transição “entre duas concepções
políticas diferentes, que convencionamos chamar medieval e moderna”. 33 Para Zeron,
mesmo não tendo sido Florença, o “berço da democracia moderna”, o foi do
mercantilismo. As únicas classes que progrediam nesse período são as ligadas “às
atividades comerciais e financeiras”.34
Numa época dominada pela religião, e pelo conflito religioso, quando negar a
crença em Deus era crime e punha em risco a vida da pessoa, Hobbes apareceu
ousadamente com uma filosofia de completo materialismo.35 A visão política
fundamental de Hobbes é que o que as populações mais temem – mais ainda que a
ditadura mais ferrenha – é o caos social, e que elas se submeterão a qualquer tirania em
preferência a isso36.
O processo de formação do Estados-nação conheceu às mudanças nos quadros
sócio-políticos e a consolidação da burguesia como classe atuante, tanto política quanto
econômica. Mesmo assim, a centralização promovida pelo absolutismo monárquico
manteve o caráter hierárquico do poder e as características da Idade Média. Esse período
foi transitório. Foi o período das revoluções sociais, das transformações políticas e
econômicas, das criações artísticas, do desenvolvimento das ciências, da disseminação do
conhecimento, da busca da liberdade de pensamento e da igualdade entre indivíduos e do
nascimento do ideal de liberdade. O aparecimento dessas novas ideias foi instigado pelo
desenvolvimento do Capitalismo e pelas reformas religiosas do século XV. Estas
plantaram novas visões sobre a espiritualidade, entre as quais a prática da redenção, a
qual valorizava o trabalho, em detrimento da caridade e da liberdade para interpretar as
escrituras.
Nessa nova realidade, a burguesia lutava para conseguir o poder. Apesar de sua
proeminência econômica e do apoio recebido do mercantilismo, essa camada não havia
se afirmado politicamente. Dessa forma, passou a contar com as formulações de um novo
grupo de intelectuais, disposto a contestar os valores e os atos do clero e da nobreza. Para
37 Rousseau introduziu na corrente filosófica ocidental três ideias revolucionarias. A primeira é que a civilização não é uma coisa boa. A segunda é
que devemos exigir que tudo em nossas vidas, quer privada ou pública, atenda às exigências, não da razão, mas do sentimento e dos instintos
naturais. A terceira é que uma sociedade humana é um ser coletivo com uma vontade própria que é diferente da soma das vontades de seus
membros individuais, e que o cidadão deve se subordinar inteiramente a essa “vontade geral”. A filosofia política de Rousseau teve enorme
influência. Forneceu grande volume de combustível emocional e intelectual aos movimentos que culminaram na Revolução Francesa. E oferecia
uma concepção de democracia fundamentalmente diferente da de Locke. O núcleo da ideia de democracia de Rousseau é a imposição
compulsória da vontade geral, enquanto o núcleo do modelo de Locke é a proteção e a preservação da liberdade individual. Ambos são muito
diferentes, alias, são potencialmente opostos. Ver obra de MAGEE, Bryan. História da Filosofia., São Paulo: Ed. Loyola, 1999. p. 129.
38 Ibidem, p. 102.
39 Locke tem sido descrito como a primeira mente moderna. Acreditava que todos os seres humanos têm potencial para desenvolver-se e que a
representação de seus direitos e liberdades é o único propósito legítimo do governo. Essa visão trazia uma hostilidade a todas as formas de
governo que falhassem em seguir tais critérios. Ele insistia no bom senso, em não levar as coisas ao extremo, em considerar plenamente todos
os fatos óbvios de uma questão. Sua mensagem básica pode ser expressa assim: “Não siga irrefletidamente as autoridades, sejam elas
intelectuais, políticas ou religiosas. Tampouco as tradições ou convenções sociais”. Todos esses aspectos da filosofia de Locke se entrelaçaram
e criaram a base de um modo reconhecidamente anglo-saxão de ver as coisas – base sobre a qual o pensamento filosófico se desenvolveu
nos países de língua inglesa. Além disso, tiveram enorme influência no mundo de língua francesa e alemã. Historia da Filosofia. op. cit., p. 109.
pertencia. A sociedade capitalista do século XIX tratou os direitos políticos como
subproduto dos direitos civis.40
Segundo Marshall, a cidadania moderna surgiu à medida que os privilégios
hereditários das sociedades tradicionais eram destituídos e crescia o ideal de igualdade e
liberdade. Este movimento, que se verificou primeiramente na Europa, acabou se
espalhando por outros continentes tornando-se um ideal quase mundial. Marshall dividiu
a concepção de cidadania em três elementos; a cidadania civil, a política e a social que se
desenvolveram de forma e em períodos distintos. A cidadania civil foi, segundo o autor,
a que primeiramente se desenvolveu e se refere aos direitos básicos à vida, ao ir e vir, ao
pensamento e à fé, à propriedade, etc. A cidadania política, assunto central desta
dissertação, desenvolveu-se posteriormente à civil, e refere-se aos direitos e deveres
frente ao voto, e ao exercício do poder político. A cidadania social desenvolveu-se, apesar
de algumas ações isoladas e restritas dentro do direito do trabalho e de previdência,
basicamente no século XX.41
Se, no tempo feudal não havia o acesso de todos às mesmas condições de vida,
aos mesmos direitos e deveres, havia, entretanto, uma responsabilidade mútua entre os
diferentes segmentos da sociedade e cada setor sabia seus limites, possibilidades e
responsabilidades frente aos outros. A sociedade moderna retirou, ao implementar a livre
escolha dos cidadãos e a igualdade de possibilidade de acesso aos direitos e deveres
sociais, civis e políticos, da estrutura a hierarquia e a proteção que esta implicava. No
entanto, Marshall, lembra que a igualdade ao direito de acesso, não significa o acesso em
si, ou seja, o direito à propriedade não significa a posse da propriedade. Deste modo,
apesar das leis igualitárias, ou por causa delas, a livre negociação e atuação dos indivíduos
acabaram despertando outras desigualdades na vida prática e que, não sendo mais
associadas a um destino herdado, remetia ao sucesso ou não da capacidade individual.42
40 MARSHALL, Thomas Humprey. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967, p. 63-70.
41 Ibidem, p. 64.
42 Marshall, op. cit., p. 67.
Cidadania Política
43 COGGIOLA, Osvaldo. Autodeterminação Nacional. In: PINSKY, Jaime & PINSKY, Carla
Passaneze. (org.) História da Cidadania.São Paulo: Ed Contexto, 2003. op. cit., p. 314-18.
44 O acordo de Bretton Woods foi assinado por cerca de quarenta nações e procurava