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Karina Dal Sasso Mendes1, Bartira de Aguiar Roza2, Sayonara de Fátima Faria Barbosa3, Janine Schirmer4,
Cristina Maria Galvão5
1
Doutora em Ciências. Enfermeira Especialista do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, Brasil. E-mail: dalsasso@eerp.usp.br
2
Doutora em Ciências. Professora Adjunto da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
São Paulo, Brasil. E-mail: bartira.roza@unifesp.br
3
Doutora em Ciências. Professora Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. E-mail: sayonara.
barbosa@uol.com.br
4
Doutora em Enfermagem Materna e Infantil. Professora Titular e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem da UNIFESP. São Paulo, Brasil. E-mail: schirmer.janine@unifesp.br
5
Doutora em Enfermagem Fundamental. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola
de EERP/USP. São Paulo, Brasil. E-mail: crisgalv@eerp.usp.br
RESUMO: No Brasil, mais de 30.000 pacientes aguardam em fila de espera para a realização de transplantes de órgãos. A complexidade
desta modalidade terapêutica exige preparo especializado e constante da equipe de profissionais de saúde envolvidos no cuidado
do paciente. No cotidiano da prática, o enfermeiro é desafiado a prover assistência com qualidade aos pacientes e familiares. Frente
à necessidade de definir o papel do enfermeiro no processo de doação e transplantes e a relevância de divulgação desta área de
atuação, elaborou-se a presente revisão narrativa que teve como objetivo tecer considerações sobre o papel e as responsabilidades do
enfermeiro que atua em programa de transplantes de órgãos e tecidos. Os textos encontrados foram lidos, organizados e sintetizados
em cinco categorias temáticas, a saber: definição do papel do enfermeiro no transplante, diferença entre o enfermeiro clínico e o
enfermeiro coordenador de transplante, aspectos legais e éticos, pesquisa e informação e educação em transplantes. Conclui-se que o
enfermeiro deve ter conhecimento dos princípios de boas práticas e ter recursos disponíveis para avaliar o mérito, riscos e questões
sociais relacionadas aos transplantes.
DESCRITORES: Transplante de órgãos. Papel do profissional de enfermagem. Cuidados de enfermagem.
ABSTRACT: In Brazil, more than 30,000 patients are awaiting organ transplantation. The complexity of this therapeutic treatment
requires specialized training and constant involvement from health care providers involved in care for these patients. In everyday
practice, nurses are challenged to provide high-quality care to patients and families. In view of the need to define the nurse’s role in
the donation and transplantation process and the importance of disclosure in this field, we elaborated the present narrative review to
discuss the role and responsibilities of the nurse working in an organ and tissue transplantation program. The literature found was
read, summarized and organized into five thematic categories, namely: definition of the nurse’s role in transplantation, the difference
between the nurse practitioner and coordinator, legal and ethical aspects; research and information on transplant nursing and education
on transplantation. It is concluded that the nurse needs knowledge about the principles of good practices and have resources available
to assess the merits, risks and social issues related to transplantation.
DESCRIPTORS: Organ transplantation. Nurse’s role. Nursing care.
RESUMEN: En Brasil más de 30.000 pacientes están esperando en fila para la realización de trasplantes de órganos. La complejidad
de esta modalidad terapéutica requiere una formación especializada y un equipo permanente de profesionales de salud familiarizados
con la atención y el cuidado de los pacientes. En la práctica todos los días, las enfermeras tienen el reto de brindar atención de
calidad a los pacientes y familias. Frente a la necesidad de definir el papel de la enfermera en el proceso de donación y trasplante y la
importancia de la divulgación en este campo, se ha elaborado esta revisión narrativa destinado a hacer consideraciones sobre el papel
y las responsabilidades de la enfermera que trabaja en el programa de trasplante órganos y tejidos. Los textos encontrados fueron
leídos, resumidos y organizados en cinco categorías temáticas, a saber: la definición del papel de las enfermeras en el trasplante, la
diferencia entre la enfermera de la clínica y el coordinador de trasplantes en enfermería, aspectos éticos y legales, la investigación y
la información y la educación en los trasplantes. Se concluye que la enfermera debe tener conocimiento de los principios de buenas
prácticas y disponer de recursos para evaluar los méritos, los riesgos y los problemas sociales relacionados con el trasplante.
DESCRIPTORES: Trasplante de órganos. Rol de la enfermera. Atención de enfermería.
(livros-textos da área dos transplantes), materiais cionado para o transplante, em doenças infecciosas
da Associação Brasileira de Transplantes de Ór- e em implicações psicológicas do cuidado no que
gãos (ABTO) e da International Transplant Nurses se refere à morbidade e mortalidade enfrentados
Society (ITNS), bem como artigos encontrados em por esta clientela.5,14-15
bases de dados latino e americanas, além da legis- Na comunidade, os enfermeiros que atuam
lação vigente, para alcançar o objetivo proposto em transplante também promovem suporte e edu-
neste estudo. Os textos encontrados foram lidos, cação para a doação de órgãos. Esses profissionais
organizados e sintetizados em cinco categorias devem prestar o cuidado baseado em evidências
temáticas, a saber: (1) definição do papel do en- durante todas as fases do processo de transplante,
fermeiro no transplante, (2) o enfermeiro clínico com o escopo de otimizar a saúde, a habilidade
e o enfermeiro coordenador de transplante, (3) funcional e a qualidade de vida de indivíduos de
aspectos legais e éticos, (4) pesquisa e informação todas as idades. O cuidado baseado em evidências
e (5) educação em transplantes. visa a integração da pesquisa com a prática clínica
do enfermeiro nos transplantes, com o intuito de
Definição do papel do enfermeiro no trans- aprofundar conhecimentos para o aprimoramento
plante da prática profissional, contribuindo para a quali-
dade do cuidado prestado16-17
A provisão de cuidado colaborativo como Os elementos-chave para a atuação dos
membro de equipe multidisciplinar de espe- enfermeiros incluem: a educação de pacientes; a
cialistas é um dos papéis dos enfermeiros nos implementação de intervenções que mantenham
programas de transplantes. Assim, esses profis- ou melhorem a saúde fisiológica, psicológica e
sionais são constantemente desafiados a prover social; o uso de intervenções que facilitem e pro-
cuidado de qualidade aos pacientes submetidos movam mudanças de comportamento e adesão ao
a transplantes, porém a realidade dos serviços tratamento em relação às complexas e prolongadas
mostra limitação nos recursos humanos, materiais terapias; bem como, dar suporte aos pacientes e
e mesmo financeiros.1,5,12 familiares no planejamento, implementação e ava-
O enfermeiro que atua em transplante presta liação do cuidado; e promover sistemas de apoio
cuidado especializado na proteção, promoção e que visem os melhores resultados dos transplantes
reabilitação da saúde de candidatos, receptores de órgãos.14-15,18
e seus familiares, bem como, de doadores vivos O papel do enfermeiro também engloba es-
e seus familiares ao longo do ciclo vital. Tal cui- tratégias para a melhoria dos sistemas em que o
dado inclui prevenção, detecção, tratamento e cuidado em transplante é realizado. Para tanto, se
reabilitação dos pacientes com problemas de saúde faz necessário o controle de qualidade do cuidado
relacionados às doenças prévias ao transplante de ministrado, colaboração entre os profissionais en-
órgãos ou comorbidades associadas ao tratamento volvidos, implementação de estratégias voltadas
pós-transplante.1,7 para a educação em saúde, realização de pesquisas
O Conselho Federal de Enfermagem pre- oriundas de problemas vivenciados na prática
coniza ao enfermeiro responsável pelo processo clínica, e a organização e registro relacionados ao
de doação de órgãos o planejamento, execução, cuidado prestado.14-15,17
coordenação, supervisão e avaliação dos procedi- A enfermagem que atua nos transplantes de
mentos de enfermagem prestados ao doador, bem órgãos deve orientar suas ações para a educação
como, planejar e implementar ações que visem a em saúde, segurança do paciente e eficácia dos
otimização de doação e captação de órgãos e teci- cuidados.1,19
dos para fins de transplantes. Ao enfermeiro res-
ponsável pelo cuidado a candidatos e receptores
de transplantes incumbe aplicar a sistematização O enfermeiro clínico e o enfermeiro coorde-
da assistência de enfermagem, em todas as fases nador de transplante
do processo de transplante de órgãos e tecidos ao Em relação à atuação do enfermeiro, na
receptor e família, que inclui o acompanhamento prática profissional brasileira, destacam-se o en-
pré e pós-transplante (ambulatorial) e transplante fermeiro clínico e o coordenador de transplante.
(intra-hospitalar).13 O primeiro é responsável por promover os cui-
Frente ao exposto, o enfermeiro necessita de dados de enfermagem a candidatos e receptores,
conhecimento em imunologia e farmacologia dire- aos doadores de órgãos vivos e falecidos, e seus
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imunossupressores, a partir dos níveis sanguíneos Outro fator importante se refere à necessi-
dos medicamentos, sem necessitar de autorização dade de certificações para qualificar a prática de
prévia da equipe médica. enfermagem. Para os transplantes de órgãos, a
No cenário brasileiro, os enfermeiros coor- certificação poderia garantir que os enfermeiros
denadores de transplantes podem desenvolver apresentem competência, corpo de conhecimento e
ainda o cuidado com pacientes hospitalizados e habilidades que promovam cuidado de qualidade
ambulatoriais, entretanto, via de regra, apenas para candidatos, receptores e doadores de órgãos
um profissional exerce as funções de coordenação. para transplantes. No Brasil não há certificação
Já na realidade internacional, em programas de voltada para os transplantes. Nos Estados Unidos
transplante com grande volume de pacientes, se da América, a American Board for Transplant Cer-
faz necessário o trabalho de dois ou mais enfer- tification regulamenta a atuação de enfermeiros
meiros para coordenar candidatos e receptores coordenadores de transplante, enfermeiros clínicos
com qualidade e eficiência. Vale ressaltar que e coordenadores de procura de órgãos.1 Assim,
independente do campo de prática do enfermeiro, acredita-se que a implementação de certificação
é importante que o coordenador de transplante para os enfermeiros brasileiros implicará na for-
garanta a continuidade do cuidado nesta complexa mação de profissionais qualificados para atuarem
modalidade terapêutica.14,21-22 no processo de doação e transplante, com vistas
ao aumento do número de doadores e ao melhor
Além de todo conhecimento já mencionado
cuidado a candidatos e receptores de órgãos.
anteriormente no que se refere à atuação do enfer-
meiro clínico ou coordenador, dada à complexi- Os enfermeiros devem estar cientes e sistema-
dade que envolve todo o processo, as dimensões tizar padrões relacionados à proteção de informa-
ética, cultural, religiosa, familiar, jurídica, dentre ções de saúde de doadores, candidatos e receptores
outras relacionadas às atitudes deste profissional de transplante. Neste sentido, seguir as exigências
são de extrema importância e valor. É preciso de documentações em nível local, estadual e federal,
sensibilidade, empatia e humanidade para com- e mesmo de organizações profissionais (como por
preender e lidar de forma adequada com os con- exemplo, Associação Brasileira de Transplantes
flitos e o sofrimento humano gerado pelo processo de Órgãos), é uma das questões legais que os en-
doação-transplante. Quer seja a angústia da perda fermeiros devem lidar no dia-a-dia de sua atuação
de um ente querido em morte encefálica ou o so- profissional. Registrar, documentar e arquivar
frimento do candidato ou receptor de transplante todo cuidado ministrado relacionado ao processo
que passa por complicações as quais determinam doação/transplante, melhora a comunicação entre
o final da vida.4,21,23 os profissionais da saúde, promove a continuidade
do cuidado, protege o paciente de danos, reduz os
riscos de litígio, promove a avaliação e melhorias no
Aspectos legais e éticos cuidado. Além disso, o registro deve englobar todas
Em 2004, o Conselho Federal de Enfermagem as fases do processo de transplante, desde a doação
normatizou a atuação do enfermeiro na captação até a alta hospitalar do receptor de transplante.
e transplante de órgãos e tecidos, definindo como Vale ressaltar que as portarias do Ministério
exigência a necessidade de aplicar a sistematização da Saúde nº 1.262/2006 e 2.600/2009 se referem
da assistência de enfermagem (SAE). Além disso, ao regulamento técnico para estabelecer as atri-
deve cumprir as exigências estabelecidas pelo buições, deveres e indicadores de eficiência e do
Sistema Nacional de Transplantes (SNT) para potencial de doação de órgãos e tecidos relativos às
garantir esta forma de tratamento no âmbito do Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos
Sistema Único de Saúde.13 e Tecidos para Transplante (CIHDOTT). Refere-se
Nesse sentido, vale ressaltar a importância também ao regulamento técnico do Sistema Na-
de se promover padrões de cuidados de enferma- cional de Transplantes e inclui o enfermeiro como
gem para a assistência nos transplantes de órgãos. membro das equipes especializadas que atuam na
O propósito desta padronização é a melhoria dos doação e no transplante de órgãos do Brasil.24-25
resultados para os pacientes. Os padrões de cuida- A atuação do enfermeiro nos transplantes
do de enfermagem podem ser estabelecidos pela em todos os aspectos de sua prática, pautada na
prática usual, por precedentes legais, guidelines/ ética e na legislação é fundamental para preservar
diretrizes clínicas ou protocolos idealizados por a autonomia, dignidade e os direitos de todos os
instituições ou associações profissionais.7 atores envolvidos neste processo.26-27
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Embora a doação represente uma conduta so- de órgãos, incluiu a publicação de 30 artigos, no
cial moralmente boa, alguns aspectos levam a acre- período de 1997 a 2007. O estudo identificou maior
ditar que a doação ainda precisa ser incorporada produção de pesquisas na temática dos transplan-
à moral comum, de acordo com estudo publicado tes, principalmente renal e hepático, desenvolvido
por autores brasileiros, entre eles: o descrédito no por enfermeiros assistenciais ligados aos centros
funcionamento e estrutura do sistema de saúde e transplantadores da região Sudeste do país, local
da alocação de recursos, na relação de confiança que aglomera os programas maiores do Brasil. O
entre profissional da saúde e paciente, no acesso estudo não buscou as teses e dissertações sobre o
equânime e justo, na confidencialidade doador/ tema.5 Assim, realizou-se busca na Base de Teses
receptor, no consentimento livre e esclarecido, no e Dissertações em Enfermagem, na Teses e Dis-
respeito à autonomia, na defesa da vida e no caráter sertações da ABEn (CEPEn) e nos Programas de
inovador e recente desta modalidade de tratamento, Pós-Graduação na Biblioteca Virtual em Saúde
ainda em construção.27 Tais fatores repercutem de (BVS), em julho de 2012, na qual se identificou
modo negativo no número de doadores de órgãos a produção de três dissertações na temática de
disponíveis, quando se analisa a demanda de can- “doação de órgãos” e 24 teses e dissertações na
didatos em filas de espera para transplantes. temática de “transplantes”, indicando uma par-
Para atuar na complexa terapêutica dos ticipação crescente dos enfermeiros brasileiros na
transplantes de órgãos, os enfermeiros devem condução de pesquisas.
incorporar e tomar atitudes junto às equipes de Frente ao exposto, é importante que o en-
transplante, pautados nos princípios éticos da fermeiro desenvolva competência no domínio da
autonomia, não maleficência, beneficência e justi- pesquisa, o que implica em atitudes tais como: uti-
ça. No que se refere à doação de órgãos e tecidos lização da melhor evidência disponível, incluindo
para transplante vale ressaltar que este processo resultados de pesquisas para guiar as decisões na
está diretamente relacionado aos valores morais, prática clínica; participação em atividades de pes-
éticos e religiosos das pessoas, pois faz com que quisa; análise e interpretação crítica da pesquisa
os indivíduos pensem na noção de finitude e na para aplicação prática; utilização dos resultados
relação com o corpo, após a morte.28 de pesquisa no desenvolvimento de políticas,
Diante dos dilemas éticos advindos dos procedimentos e padrões de prática no cuidado
transplantes de órgãos, em muitas situações o ao paciente. Outras atitudes direcionadas para a
enfermeiro pode se beneficiar de uma consulta condução de pesquisas incluem: a participação no
ética pública, a qual pode envolver provedores do desenvolvimento e implementação de protocolos
cuidado em saúde, médicos e membros da famí- de pesquisa; participação na coleta de dados para
lia do paciente. O intuito desta consulta seria no a pesquisa em enfermagem, e o estabelecimento de
sentido de contribuir para a tomada de decisões proteção dos seres humanos quando forem objetos
relacionadas ao tratamento.7 de pesquisa. Em suma, o enfermeiro no processo
de doação e transplante deve não apenas utilizar os
resultados de pesquisa de forma crítica, mas tam-
Pesquisa e informação em transplantes bém participar do processo de desenvolvimento
A pesquisa é considerada a geração de novas de novos estudos.1,17
informações, nas quais os enfermeiros nos trans- As pesquisas realizadas por enfermeiros po-
plantes podem utilizar os resultados de pesquisa dem assumir diferentes abordagens, envolvendo
para transferir evidências para sua prática clínica.17 pacientes e/ou famílias ou profissionais. O foco
Embora de modo geral seja mais reconhecida a ne- pode ser direcionado para a compreensão de um
cessidade do enfermeiro possuir experiência clínica fenômeno, ou para o desenvolvimento de estudos
no cuidado a estes pacientes, não pode ser ignorada clínicos. Independentemente da pesquisa a ser re-
a necessidade de condução de pesquisas, as quais alizada, os enfermeiros no transplante devem con-
possam aprimorar o cuidado, propiciar melhores siderar como parte de seu processo de educação
resultados, e auxiliar na abordagem e acompanha- continuada, a incorporação e o desenvolvimento
mento de doadores, candidatos e receptores de de habilidades para a condução de pesquisa. Tais
transplantes, bem como, seus familiares. habilidades englobam o conhecimento de abor-
Estudo bibliográfico realizado em 2010, o dagens metodológicas, o desenvolvimento de
qual identificou e caracterizou a produção cien- habilidades para a coleta e interpretação de dados,
tífica de enfermagem em doação e transplantes culminando com a publicação dos resultados evi-
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Transplante de órgãos e tecidos: responsabilidades do enfermeiro - 951 -
denciados. Isso torna visível a importância de seu o desejo de doar ou não órgãos para transplantes,
trabalho para a melhoria do cuidado aos pacientes e principalmente, desmistificar o conceito de morte
no processo de doação e transplante. encefálica para a população leiga.7-8,18
No hospital, o enfermeiro direciona estraté-
Educação em transplantes gias de ensino-aprendizagem para candidatos e
receptores com vistas ao aumento de habilidades
A educação do enfermeiro nos transplantes para promover o autocuidado no domicílio, além
envolve três vertentes distintas, a educação de si de preparar os pacientes durante os períodos pré,
mesmo, a educação de outros provedores do cui- intra e pós-operatório do transplante. O ensino
dado em saúde e a educação do público em geral. neste contexto pode ocorrer em meio as diferen-
Para ensinar outras pessoas, os enfermeiros devem tes dificuldades, uma vez que muitos pacientes
continuamente atualizar o seu conhecimento, ha- se apresentam debilitados para participarem de
bilidades e atitudes, especialmente nesta área rica programas educativos. Nestes casos, os familia-
em constantes mudanças e desafios.7 res se beneficiam das ações educativas propostas
As oportunidades relacionadas ao ensino e pelos enfermeiros. Vale ressaltar que o conteúdo
aprendizagem para enfermeiros incluem cursos do ensino depende do órgão a ser transplantado,
formais, afiliações a organizações profissionais, das habilidades do paciente e das políticas de cada
participação em conferências, revisão de artigos programa de transplante.
para revistas científicas e troca de informações
com outros profissionais da área relacionadas aos
transplantes. A educação continuada, associada
CONSIDERAÇÕES FINAIS
com a prática clínica, permite que os enfermeiros Os enfermeiros que atuam no cuidado de
progridam de um profissional aprendiz para enfermagem no transplante de órgão e tecidos
um profissional especialista, envolvendo-se em requerem abrangência de conhecimento cientí-
processos complexos de tomada de decisão nos fico. As competências clínicas necessárias vão
transplantes.7-8,18 além daquelas obtidas durante a graduação em
Os enfermeiros também têm a responsabili- enfermagem. Elas incluem avaliação e gestão do
dade de educar outros provedores do cuidado em doador falecido, do receptor de transplante, do
saúde, particularmente novos enfermeiros, técni- potencial doador ou do doador vivo, ensino e
cos e auxiliares de enfermagem recém-admitidos aconselhamento de receptores de transplante e
como membros da equipe de transplante, bem doador vivo relacionado à gestão do autocuidado,
como, estudantes de graduação em enfermagem, vida saudável e preparo para morte pacífica na
sobre o processo de doação e transplante. Vale iminência da mesma.
ressaltar que devido ao crescimento do número de O desenvolvimento de competências para
receptores de órgãos na população geral, somado atender às necessidades de pacientes, familiares e
ao aumento da longevidade, esses profissionais comunidades no âmbito fisiológico, patofisiológico
devem educar também provedores da saúde e psicossocial é essencial, e incluem habilidades de
que não estejam envolvidos com os transplantes auxiliar no envelhecimento e no fim da vida. O pre-
diretamente, mas que podem prover cuidados a paro na aquisição de competências é fundamental,
receptores em outras especialidades no cenário dentre essas, destaca-se a avaliação que consiste
hospitalar, ou em serviços de atendimento à saúde o alicerce da prática do enfermeiro que atua em
primários e secundários.7-8,18 transplante, como por exemplo, a capacidade
A importância da educação do público em deste profissional avaliar rejeição ou infecção em
geral é uma importante atribuição dos enfermeiros. receptores de transplantes. Além do preparo para
A recusa familiar para a doação de órgãos ainda a tomada de decisão direcionada para o cuidado
é fator que contribui para a não efetivação do po- de enfermagem, o enfermeiro deve ter atuação
tencial doador, apesar do crescimento na taxa de multiprofissional e multidisciplinar.
doação de órgãos em todo o país. Desse modo, os O enfermeiro desempenha papel crucial no
enfermeiros podem facilitar a doação de órgãos por estabelecimento de um programa de transplante
meio da educação do público relacionada aos bene- de sucesso. É membro vital da equipe que tem
fícios e procedimentos necessários para o processo objetivo precípuo de prestar cuidado de qualidade
de doação de órgãos, da importância de incentivar a pacientes e familiares, por meio da utilização de
os indivíduos a verbalizarem para seus familiares recursos tecnológicos, logísticos e humanos, para o
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25. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 2.600/2009. enfermagem. São Paulo (SP): COREN-SP; 2009.
Brasília 2009; aprova o regulamento técnico do 27. Roza BA, Schirmer J. Bioethics as a tool for
Sistema Nacional de Transplantes. 2009 [acesso 2011 the practice of organ and tissue donation. The
Mar 01]. Disponível em: http://www.saude.mt.gov. Newsletter of the International Association of
br/upload/documento/99/portaria-2600-aprova- Bioethics. 2008 Mar;20:7-13.
o-regulamento-tecnico-do-sistema-nacional-de-
28. Roza BA, Garcia VD, Barbosa SFF, Mendes KDS,
transplante-%5B99-251010-SES-MT%5D.pdf
Schirmer J. Doação de órgãos e tecidos: relação com
26. Conselho Regional de Enfermagem (COREN- o corpo em nossa sociedade. Acta Paul Enferm. 2010
SP). Principais legislações para o exercício da Mai-Jun;23(3):417-22.