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O SUICIDA DO TREM

Eu nunca me esquecerei de que um dia havia lido num jornal acerca de um suicídio terrível, que
me impactou: um homem jogou-se sobre a linha férrea, sob os vagões da locomotiva e foi
triturado. E o jornal, com todo o estardalhaço, contava a tragédia, dizendo que aquele era um pai
de dez filhos, um operário modesto. Aquilo me impressionou tanto que resolvi orar por esse
homem.
Tenho uma cadernetinha para anotar nomes de pessoas necessitadas. Eu vou orando por
elas e, de vez em quando, digo: se este aqui já evoluiu, vou dar o seu lugar para outro;
não posso fazer mais.
Assim, coloquei-lhe o nome na minha caderneta de Preces Especiais - as preces que faço pela
madrugada. Da minha janela eu vejo uma estrela e acompanho o seu ciclo; então, fico orando,
olhando para ela, conversando. Somos muito amigos, já faz muitos anos. Ela é paciente, sempre
aparece no mesmo lugar e desaparece no outro.
Comecei a orar por esse homem desconhecido. Fazia a minha prece, intercedia, dava uma de
advogado, e dizia: Meu Jesus, quem se mata (como dizia minha mãe) "não está com o juízo no
lugar". Vai ver que ele nem quis se matar; foram as circunstâncias. Orava e pedia, dedicando-lhe
mais de cinco minutos (e eu tenho uma fila bem grande), mas esse era especial. Passaram-se
quase quinze anos e eu orando por ele diariamente, onde quer que estivesse.
Um dia, eu tive um problema que me fez sofrer muito. Nessa noite cheguei à janela para
conversar com a minha estrela e não pude orar. Não estava em condições de interceder pelos
outros. Encontrava-me com uma grande vontade de chorar; mas, sou muito difícil de fazê-lo por
fora, aprendi a chorar por dentro. Fico aflito, experimento a dor, e as lágrimas não saem. (Eu
tenho uma grande inveja de quem chora aquelas lágrimas enormes, volumosas, que não consigo
verter).
Daí a pouco a emoção foi-me tomando e, quando me dei conta, chorava. Nesse ínterim, entrou
um Espírito e me perguntou: - Por que você está chorando?
- Ah! Meu irmão - respondi - hoje estou com muita vontade de chorar, porque sofro um problema
grave e, como não tenho a quem me queixar, porquanto eu vivo para consolar os outros, não
lhes posso contar os meus sofrimentos. Além do mais, não tenho esse direito; aprendi a não
reclamar e não me estou queixando. O Espírito retrucou:
- Divaldo, e seu eu lhe pedir para que você não chore, o que é que você fará?
- Hoje nem me peça. Porque é o único dia que eu consegui fazê-lo. Deixe-me chorar!
- Não faça isto - pediu. - Se você chorar eu também chorarei muito.
- Mas por que você vai chorar? - perguntei-lhe.
- Porque eu gosto muito de você. Eu amo muito a você e amo por amor.
Como é natural, fiquei muito contente com o que ele me dizia.
- Você me inspira muita ternura - prosseguiu - e o amo por gratidão.
Há muitos anos eu me joguei embaixo das rodas de um trem. E não há como definir a sensação
da eterna tragédia. Eu ouvia o trem apitar, via-o crescer ao meu encontro e sentia-lhe as rodas
me triturando, sem terminar nunca e sem nunca morrer. Quando acabava de passar, quando eu
ia respirar, escutava o apito e começava tudo outra vez, eternamente.
Até que um dia escutei alguém chamar pelo meu nome. Fê-lo com tanto amor, que aquilo me
aliviou por um segundo, pois o sofrimento logo voltou. Mais tarde, novamente, ouvi alguém
chamar por mim. Passei a ter interregnos em que alguém me chamava, eu conseguia respirar,
para aguentar aquele morrer que nunca morria e não sei lhe dizer o tempo que passou.
Transcorreu muito tempo mesmo, até o momento em que deixei de ouvir o apito do trem, para
escutar a pessoa que me chamava. Dei-me conta, então, que a morte não me matara e que
alguém pedia a Deus por mim. Lembrei-me de Deus, de minha mãe, que já havia morrido.
Comecei a refletir que eu não tinha o direito de ter feito aquilo, passei a ouvir alguém dizendo:
"Ele não fez por mal. Ele não quis matar-se." Até que um dia esta força foi tão grande que me
atraiu; aí eu vi você nesta janela, chamando por mim.
- Eu perguntei - continuou o Espírito - quem é? Quem está pedindo a Deus por mim, com tanto
carinho, com tanta misericórdia? Mamãe surgiu e esclareceu-me:
- É uma alma que ora pelos desgraçados.
- Comovi-me, chorei muito e a partir daí passei a vir aqui, sempre que você me chamava pelo
nome. (Note que eu nunca o vira, face às diferenças vibratórias.)
- Quando adquiri a consciência total - prosseguiu ele - já se haviam passado mais de catorze
anos. Lembrei-me de minha família e fui à minha casa. Encontrei a esposa blasfemando,
injuriando-me: "- Aquele desgraçado desertou, reduzindo-nos a mais terrível miséria. A minha
filha é hoje uma perdida, porque não teve comida e nem paz e foi-se vender para tê-los. Meu
filho é um bandido, porque teve um pai egoísta, que se matou para não enfrentar a
responsabilidade. Deixando-nos, ele nos reduziu a esse estado".
- Senti-lhe o ódio terrível. Depois, fui atraído à minha filha, num destes lugares miseráveis, onde
ela estava exposta como mercadoria. Fui visitar meu filho na cadeia.
- Divaldo - falou-me emocionado - aí eu comecei a somar às "dores físicas" a dor moral, dos
danos que o meu suicídio trouxe. Porque o suicida não responde só pelo gesto, pelo ato da
autodestruição, mas, também, por toda uma onda de efeitos que decorrem do seu ato
insensato, sendo tudo isto lançado a seu débito na Lei de Responsabilidades.
Além de você, mais ninguém orava, ninguém tinha dó de mim, só você, um estranho. Então hoje,
que você está sofrendo, eu lhe venho pedir: em nome de todos nós, os infelizes, não sofra!
Porque se você entristecer, o que será de nós, os que somos permanentemente tristes? Se você
agora chora, que será de nós, que estamos aprendendo a sorrir com a sua alegria? Você não
tem o direito de sofrer, pelo menos por nós, e por amor a nós, não sofra mais.
Aproximou-se, me deu um abraço, encostou a cabeça no meu ombro e chorou demoradamente.
Doridamente, ele chorou. Igualmente emocionado, falei-lhe: - Perdoe-me, mas eu não esperava
comovê-lo.
- São lágrimas de felicidade. Pela primeira vez, eu sou feliz, porque agora eu me posso reabilitar.
Estou aprendendo a consolar alguém. E a primeira pessoa a quem eu consolo é você.
(Suely Caldas Schubert \ Relato do Divaldo Franco)

CONSEQUÊNCIAS DE UM SUICÍDIO

Na noite de 24 para 25 de Maio de 2008 manifestou-se psicofonicamente um amigo suicida que


nos contou sua história e seus sofrimentos. Disse-nos sua identidade que, por razões óbvias,
não revelamos. Antes de se manifestar psicofonicamente, este companheiro espiritual gemia de
sofrimento...
Doutrinador: Podeis dizer o que sentis?
Espírito: ...O meu corpo... Está todo partido.
Doutrinador: Como aconteceu isso amigo?
Espírito: Deitei-me debaixo de um comboio. Fiquei todo estraçalhado.
Doutrinador: Caíste sem querer?
Espírito: Não. Atirei-me no desespero.
Doutrinador: Olha, vamos rogar a Deus nosso Pai e a Jesus Nosso Mestre, a ajuda.
Espírito: Não tenho feito outra coisa... Já me disseram. Estive muito tempo louco. Já me
disseram que estou um bocadinho melhor. Mas as dores ainda são muitas.
E vim aqui hoje ouvir as vossas lições e servir... Servir de exemplo, ao mesmo tempo em que
venho recuperar forças aqui. Já me explicaram... Venho buscar entrar noutro corpo para
receber... Poder reconstruir o meu corpo e servir de exemplo... Para que nenhum de vós faça o
mesmo um dia algo de semelhante àquilo que eu fiz, porque ninguém tem o direito de tirar a
própria vida e sofre-se muito, muito mais do que antes desse ato, quando julgávamos que a vida
era uma escuridão, que não havia saída.
Sofre-se muito... Muito... Não tem comparação com o sofrimento que se experimenta depois
durante muitos e muitos anos... Muitos e muitos anos. Eu não sei explicar, mas o corpo que já
não temos continua conosco no nosso íntimo. Sentimos cada músculo, cada osso estraçalhado,
tudo como se fossemos vivos. Pior, porque destruímos tudo o que tínhamos... E isso é justo,
segundo percebi.
Não há outra maneira de recuperar senão o tempo e a mudança dos pensamentos. Não
sabemos por que, só mudam com muito sofrimento e depois de muito tempo passado. Ainda me
dói muito, muito, muito e já lá vai muito tempo...
Doutrinador: Recordas-te há quantos anos, querido irmão?
Espírito: Vai fazer 100 anos. Só agora, há pouco é que fui socorrido. Embora sem o saber tenha
sido sempre ajudado por Deus, que nunca me abandonou, e por outros seus enviados que eu
nunca vi, mas que ficavam pertos. Eu só via o meu corpo.
Enlouquecido de dor como se ainda fosse vivo e de desespero pelo que tinha feito revivendo a
toda e hora o ato que cometi.
Uma vez e outra me via atirando para debaixo do comboio e via o meu corpo sendo todo
desfeito. Julgando que ia encontrar o esquecimento, encontrei a loucura e a dor que ninguém
pode explicar senão vivendo... Ai...
Doutrinador: Rogamos a Deus, meu amigo, ajuda para ti. E neste momento estais sendo
auxiliado por mensageiros de Jesus, Nosso Mestre.
Espírito: Estou, estou. Eu bem sinto um alívio muito grande às minhas imensas dores. Só mais
uns tempos me ajudarão a recuperar, embora eu tenha boa vontade. São coisas muito
demoradas...
Doutrinador: Mas vais conseguir amigo... Vais conseguir.
Espírito: Neste lado da vida, onde julgamos que se encontram os mortos, temos todo o tempo do
mundo, porque aqui não há tempo e nós, com a ajuda de todos e com a esperança e fé em Deus
vamos conseguindo.
Este é mais um socorro que recebi hoje, um grande alívio para as minhas dores.
Doutrinador: E sabes amigo, como vieste aqui ter, quem aqui te trouxe?
Espírito: Trouxe-me um auxiliar. Daqueles anjos que nos recolhem da lama, sem pedir nada em
troca. Que nos acolhem e tratam da nossa loucura com medicamentos que eu não sei descrever,
mas que são uma espécie dos medicamentos que na atualidade chamam homeopáticos... E
muita oração em locais semelhantes a hospitais, insonorizados, higienizados, onde não entram
vírus, semelhantes a pensamentos destrutivos.
Doutrinador: Muito bem, querido amigo. Temos a certeza que irás recuperar... Estamos
solidários contigo...
Espírito: Sobretudo por muito má que a vida vos pareça, por maiores que sejam os golpes,
afastai-vos dos pensamentos de destruição do maior bem que recebemos que é a nossa vida,
embora a nós não nos pertença. Só Deus pode decidir quando ela acaba. Ninguém tem o direito
de fazê-lo antes, porque receberá sempre as consequências. Não que Deus nos castigue. Nós é
que nos castigamos com esses atos de rebeldia, de orgulho e de insensatez.
Doutrinador: Tens razão, amigo. Certamente situações da tua última existência te levaram
a esse ato desesperado...
Espírito: Mas que nunca seria justificado, porque atentei contra as Leis Divinas.
Doutrinador: Mas este tratamento e outros que irás receber irão ajudar a recuperar, a
refletir sobre tua existência, sobre tua vida, sobre o futuro. E tenho a certeza que irás
recuperar numa próxima existência, no plano físico.
Espírito: Com mais lutas ainda para mostrar que aprendi a lição e espero bem aprender!
Doutrinador: Todos nós temos sempre mais lutas...
Espírito: Mas é este ato um dos mais graves que a Humanidade pode cometer. Agora tão em
voga, pois no meu tempo era condenado por todos, embora sancionado quando se tratava de
lavar a honra das famílias.
Agora, por qualquer coisa se quer acabar com a vida, não dando importância às Leis de Deus,
que estão fora de moda e nas quais já poucos acreditam e grandes desilusões sofrem deste lado
e muito sofrimento os espera.
Daí que eu queira trabalhar quando recuperar, junto dos que permanecem vivos na Terra. Vivos
de corpo, mas ainda não tendo nascido para a verdadeira vida, ignorantes como crianças que
ainda não aprenderam. É esse o meu desejo depois de curar-me. Divulgar por todos aquilo por
que passei, para que registrem e evitem o ato de matar aquilo que Deus criou.
Doutrinador: Olha querido amigo. Ainda te lembras de teu nome, de tua família, de tua
cidade?
Espírito: Eu era A.B. e vivi em Braga. Vai fazer cem anos, embora tenha perdido um pouco essa
noção do tempo, da sua contagem. É algo que me dizem os amigos que me rodeiam.
Doutrinador: Querido amigo, estamos solidários contigo. Estes momentos em que estás
aqui conosco, certamente são boas terapias para o teu espírito. O nosso médico, que é
Jesus, o médico das almas vai curar-te a ti e a nós todos através de mensageiros seus.
Mas a reflexão que fizeste mostra bem como estás consciente de toda a tua situação. Nós,
aqui no plano físico, lemos relatos circunstanciados de amigos que estão na
espiritualidade, que cometeram na última existência o ato do suicídio e relataram tudo o
que viveram, o que sofreram, por que padeceram. E depois o reerguimento. Que é o que
sucederá contigo. A fé em Deus Nosso Pai na Bondade Infinita e Jesus nosso Mestre...
Espírito: Que tudo perdoa...
Doutrinador: Irão-te ajudar. Sei que não estás sozinho aqui. Provavelmente outros amigos
como tu...
Espírito: Nunca estive sozinho embora eu julgasse que sim. E ninguém está sozinho. Por mais
que não o veja não o ouça não o sinta... Ninguém está sozinho.
Doutrinador: Mas digo eu. Provavelmente outros amigos na tua situação...
Espírito: Há alguns sim. Alguns estão aqui presentes. Por que nunca se desperdiça uma
oportunidade que seja para auxílio a todos que o necessitam. Nunca se desperdiça estas
oportunidades num só ser, porque muitos são os aflitos.
Doutrinador: A todos os companheiros presentes o nosso abraço e rogamos a Deus muita
luz para todos.
Espírito: Um pedido apenas. Ficai uns minutos pedindo muita luz sobre este ambiente, porque
ela ainda é necessária para alguns amigos que estão neste ambiente sem consciência da
situação em que se encontram... E dispensai mais palavras pelo orientador dos trabalhos que
transmite o seu pedido de desculpas por achar que nada mais há a dizer... E que todo o trabalho
deve ser dirigido ao auxilio de todos os que aqui se encontram.
Mil obrigados. Eternamente serei reconhecido. Talvez um dia vos possa pagar... Aquilo que me
acabastes de fazer. Que Deus vos auxilie a todos e vos proteja com bons pensamentos.
Doutrinador: Obrigado, querido amigo. Que Deus esteja contigo. Um grande abraço. Da nossa
parte vamos continuar em concentração, mentalizando muita luz, durante 10, 15 minutos... O
tempo necessário.
(Manuel - Núcleo Espírita ‘Amigo Amen’ - Santa Maria - Portugal)

SUICÍDIO E AUTOCASTIGO

Suicídio, não pense nisso


Nem mesmo por brincadeira.
Um ato desses resulta
Na dor de uma vida inteira.

Por paixão, Quím afogou-se


Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.

Matou-se com tiro certo


A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê nem anda.

Pôs fogo nas próprias vestes


Dona Cesária da Estiva.
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.

Suicidou-se a formicida
Maricota da Trindade.
Voltou... Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.

Enforcou-se o Colombiano
Para mostrar rebeldia.
De volta, trouxe a doença
Chamada paraplegia.

Queimou-se com gasolina


Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.

Tolera com paciência


Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.
(Cornélio Pires)
Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é
profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma
estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em
punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas
dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta
o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las.
Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência
humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além
disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das
coisas. Daí a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos
planos superiores – a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da
superfície – e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no
mergulho material da existência.
O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das
águas, renunciando ao seu dever de vencerias pela força dos seus braços e o poder da sua
coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispõem.
A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do espírito. Quem
abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e
sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será
concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior.
Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos
concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma ação
real, o da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou
físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no
autocastigo não somos abandonados por Deus que vela por nós em nossa consciência.
(Irmão Saulo - Textos retirados do livro “Astronautas do Além”, de Francisco Cândido
Xavier e J. Herculano Pires - Espíritos diversos).

SUICÍDIO
“O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos.”
(Vicent Van Gogh)

Esse é um tema difícil, muito pouco abordado em minha opinião. O que pode levar alguém a
atentar contra sua própria vida?
Evidente que cada pessoa é um universo, mas existem alguns estudos e estatísticas a respeito
sobre as quais poderemos refletir. Um ponto inicial, sobre o qual se tem quase uma unanimidade
(quase, porque eu não concordo totalmente), é que o suicídio é resultado de uma perturbação
psíquica, ou seja, a pessoa não está de posse de sua razão. Será?
Partindo-se do ponto de vista que temos um instinto natural de preservação da vida, essa teoria
é válida, mas e se pensarmos sob o ângulo de quem está desesperado, angustiado e não vê
saída? Nesse caso, temos a maioria das pessoas que cometem esses atos. Nessa hora é
importante entender que todos os estudos sobre o tema*, demonstram que essa é uma decisão
trabalhada internamente por longo tempo. É raro o caso de decidir repentinamente tirar a própria
vida, é sempre resultado de um processo. E a razão dessa demora é justamente esse conflito
entre a percepção da pessoa de sua situação e o instinto de sobreviver, afinal habitamos um
corpo que luta para manter-se vivo.
Durante esse conflito, que pode levar meses ou várias semanas, a pessoa normalmente dá
muitas pistas aos amigos e familiares, chegando até a dizer explicitamente que pensa na
possibilidade. Nessa hora, normalmente, as pessoas próximas não acreditam que isso
acontecerá e não atentam aos sinais.
Nesse ponto é fundamental entender que, das pessoas que cometem suicídio (ou tentam), 80%
estão atravessando uma crise depressiva. Portanto, para melhor entendimento, recomendo a
leitura do artigo anterior chamado “depressão, o grande vazio”. Em minha opinião, o que faz a
pessoa optar pelo suicídio na verdade é um fator temporário. A angústia e a tristeza profunda
que se experimenta nessas horas trazem a quem está sofrendo a percepção de que isso nunca
acabará. E sempre acaba, mais rapidamente ou não, de acordo com os recursos que se busca
para o enfrentamento da depressão. Mesmo a medicação, que não promove a cura na sua base,
apenas atenua os sintomas, pode trazer uma sensação de melhora em algumas semanas. O
problema é que, quem está passado por isso imaginar seus próximos 20 ou 30 anos com esse
sofrimento, nesse caso a morte termina sendo mesmo um alívio. Para alguns terapeutas, uma
fuga ou mesmo uma transferência da culpa pelos seus problemas para a família, amigos ou
sociedade, como um revide ou mensagem ao seu ambiente.
Poderemos ir um pouco mais a fundo e pensarmos, por exemplo, que nos campos de
concentração da 2ª guerra, onde as condições eram sub-humanas tanto no aspecto de
condições materiais oferecidas como psicológicas, os índices de suicídios eram baixos, assim
como nos países mais ricos, onde o próprio estado oferece uma série de comodidades, os
índices são altíssimos. Por quê?
A resposta confirma que a questão não é de “ambiente”, mas de conflito interno. Penso que na
sua raiz mais profunda, o suicídio esteja intimamente ligado à tensão entre o que realmente
somos e queremos viver e aquilo que vivemos no dia a dia. Na percepção da pessoa que jamais
conseguirá por em prática seus desejos, suas aspirações que, na sua ideia, lhe faria feliz.
Nossa enfermidade essencial é a dualidade! Isso faz com sempre estejamos entre o “certo” e o
“errado” que sempre são conceitos ou normas vinda de fora, impostas pela cultura vigente, que
pensa o ser humano como massa de manobra, nunca respeitando a individualidade. A busca da
“unidade”, conquista evolutiva final, é o fim desse pensamento antagônico que nos coloca,
muitas vezes, diante da seguinte questão: Meu desejo não é “certo”, o que quero para mim, para
os outros é “errado”, ou todos se colocariam contra mim, etc.
Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke em seu brilhante livro “A doença como caminho” define
essa questão de forma contundente: “Parece-nos muito importante que o homem aprenda a
aceitar sua culpa, sem se deixar oprimir pelo peso da mesma. A culpa humana tem natureza
metafísica, e não é provocada diretamente pelas ações dos homens….A tentativa de fugir do
pecado fazendo o bem nos leva a ser desonestos. …O caminho para atingir a unidade, ao
contrário, exige mais do que simplesmente fugir ou olhar para o lado. Exige que nos tornemos
mais conscientes da dualidade que existe em todas as coisas, sem ter medo de passar pelos
conflitos inerentes a natureza humana. O desafio não é redimirmo-nos dos conflitos, mas
permitindo-nos vivências. Portanto, é necessário estar sempre questionando nosso sistema de
valores fossilizado, e reconhecer que o segredo do mal está, em última análise, no fato de que
ele nem sequer existe.”(pg. 52)
Muito mais do que uma alteração na química cerebral, a depressão que leva a pensar que
morrer é uma solução para esse conflito mostra que todo problema está sempre na natureza
humana que busca a felicidade e chega à conclusão de que ela não é possível. Quando a
pessoa perde a capacidade de acreditar, não há porque continuar. Nem todos, ou quase
ninguém, tem as condições de buscar um auxílio que tenha uma visão evolutiva da existência.
Nossa medicina é somática apenas, ou seja, trata o corpo como algo completo por si só,
esquecendo os fatores evolutivos que afetam as emoções e assim por diante. Como disse certa
vez Roberto Crema: “Cuidar somente do corpo não diferencia o médico do veterinário”.
A maioria das pessoas fica abandonada a essa visão estreita, a uma psicologia que não
contempla a evolução, buscando somente a adaptação, a uma maneira de viver doente,
estudando um ser que não se conhece, quando deveria encaminhá-lo a seu potencial evolutivo,
ajudando-o a “tornar-se” o que É, como dizia Nietzsche.
Nas últimas décadas, o número de suicídios tem aumentado em mais de 40% e continua
crescendo. A cultura que vivemos fomenta a ansiedade, tornando as pessoas cada vez mais
angustiadas pelo medo de não conseguirem atingir o patamar de felicidade vendido pela mídia,
representado pela aquisição de bens materiais, de relacionamentos afetivos ou corpos
hollywoodianos. Os números mostram que a classe média é a mais atingida, ou seja, depois de
já ter conquistado o que se exige a felicidade não está presente. E agora? Alcoolismo, drogas,
compulsões e depressão, por consequência, é o caminho natural. Pensar seriamente em morrer
chega a ser lógico, afinal, a ideia sobre a qual toda a vida foi estruturada foi descoberta como
sendo uma grande mentira.
Sentimo-nos culpados por querer ser quem somos, e se isso não está dentro da “cartilha”, dos
mandamentos ou da moda, vem a culpa de se sentir inadequado, não compreendido ou taxado
como louco ou doente por não aceitar as normas do rebanho e de seus condutores, mais
doentes ou simplesmente mais espertos que suas ovelhas. Essa culpa, que com o tempo vai
afetando a química do corpo, já que nosso metabolismo acompanha nossa imaginação e
pensamentos.
A depressão, que causa mais de 80% dos suicídios, deveria ser tratada simplesmente pelo
conceito de que a pessoa não está no seu “rumo” e que a mudança precisa ser feita. Mas não é
assim, ela é medicada, anestesiada no seu sintoma que deveria ser ouvido e compreendido
como a necessidade de mudar. Mantê-la assim triste por estar distante de si mesma e sem
saída, em minha opinião, é a causa da maior parte dos suicídios, ou você já soube de alguém
realizado, contente ou que faz o que gosta que tenha se matado?
Os números mostram que a idade média das pessoas que buscam o suicídio está entre os 15 e
44 anos, ou seja, na busca de identidade da adolescência e a “meia” idade, onde já percebemos
que tudo que nos foi vendido e pelo que lutamos a vida toda não trouxe o resultado esperado.
Estima-se que se suicidem, em média, 2000 pessoas por dia no mundo, sendo que todas as
estatísticas não contemplam as tentativas frustradas nem os casos considerados “acidente”
pelas autoridades. Na verdade, os números são bem maiores! Alguns estudos chegam a citar
1.000.000 (um milhão) de suicídios anuais.
Já se chegou à conclusão de que a mídia deve evitar divulgar casos de suicídios, já que eles
podem incentivar quem ainda está em dúvida a buscar essa saída. Os números do mercado
farmacêutico de remédios para depressão e ansiedade geram bilhões de dólares anuais,
movimentando em muito a indústria da saúde, e isso pode explicar porque se fala tão pouco do
assunto e as autoridades não fazem do suicídio um caso de saúde pública. O que se considera
aceitável, pelos números da Organização Mundial da Saúde, são 4 suicídios anuais para cada
cem mil habitantes.
A saída é evolutiva, via a busca pelo autoconhecimento e a realização pessoal, de
vivenciar o que se é, e se para isso precisar enfrentar as dificuldades e obstáculos que o
ato de estar vivo traz, que se faça! Mas e a coragem de enfrentar inclusive paradigmas
religiosos, que na sua maioria, não aceita que se seja “diferente” ou dessa cultura que trata o ser
humano só como uma máquina que produz, onde está?
Não existe e nunca existiu algum caminho que seja ruim ou errado. Tudo é “uno” e a divisão é
diabólica. Não pode existir um padrão para pessoas, todas diferentes entre si.
Em Shinjinmei, o mais antigo texto do Zen Budismo, diz o seu versículo 22: “Se restar em nós a
mais leve ideia de certo e errado, então nosso espírito se perderá na confusão”.
A busca da paz interior (felicidade) está em averiguar o que, para cada um é certo e respeitar a
ética mínima do limite do outro. Cada um no seu caminho, na sua estrada!
Por mais que as religiões façam do suicídio um pecado duramente punido, nem mais isso está
impedindo cada vez mais os números de aumentarem. Precisamos mudar a abordagem, a
maneira de entender o ser humano ou os números não pararão de crescer.
*Estudos fartamente disponíveis na internet. Como todos, os estudos estatísticos referem-se à
maioria ou a média dos casos. Lembrando que a exceção justifica a regra.

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