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UMA NOVA REGIONALIZAÇÃO

PARA PENSAR O BRASIL?*

Bertha Becker

A questão central desse Seminário é: porque a temática da nova


regionalização e a retomada da preocupação com a região? Em
meu entender, este fato decorre hoje de pelo menos duas razões:
• a primeira é a reestruturação do território brasileiro nas últimas
duas décadas, com a conformação de ilhas dinâmicas em
diferentes partes do país, que alteram as regiões
convencionais
• a segunda razão, no meu entender, está relacionada ao
resgate do papel do Estado e do planejamento territorial.
Antes de tratar destas razões, contudo, gostaria de fazer duas
ressalvas à apresentação deste Seminário. A primeira ressalva
refere-se à menção a uma “tímida” desconcentração industrial a
partir do Sudeste; a segunda à afirmação de que a descentralização
industrial foi uma meta perseguida sem sucesso pelo Estado
brasileiro. As razões apontadas acima para explicar a retomada da
preocupação com a regionalização, são respostas a essas ressalvas.
Fundamentarei, assim, minha exposição na discussão sobre as
duas razões citadas seguida da análise de um exemplo, no caso a
Amazônia brasileira.

A reestruturação do território nas duas últimas décadas e


as regiões
Na verdade, as ilhas industriais que emergiram no território
brasileiro foram objeto de um amplo debate teórico, na década de

* Conferência de Abertura do Seminário Brasil Século XXI, por uma nova regionalização?
realizada no Auditório do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense.

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90, ligado à questão do impacto do modelo de integração competitiva


na divisão territorial do trabalho. À forma como o Brasil se inseriu
na globalização, bem como o impacto desse processo no território
nacional. São inúmeros os trabalhos da década de 90, porém os
geógrafos pouco participaram. A maioria dos autores concluiu que
as mudanças estruturais associadas a esse modelo de integração
competitiva, à crise do Estado e à exposição das empresas nacionais
à concorrência estrangeira, favoreceram a concentração espacial, e
não a dispersão.
Campolina Diniz do C E D E P L A R 1 , mostra que houve uma
reconcentração de forma muito mais ampliada partindo do Sudeste
em direção ao Sul. Mas, a maioria dos estudos concluiu que, de fato
este modelo favoreceu a concentração espacial das atividades
econômicas e a redução dos níveis de articulação inter-regionais da
estrutura produtiva, provocando, inclusive, a reversão do processo
de desconcentração que havia caracterizado as décadas de 1970 e
80. Teria acontecido, assim, exatamente o oposto: houve uma
reconcentração e uma reversão do processo de desconcentração.
Para a maioria dos autores, mas não para todos.
Outros autores, ao analisarem a instalação das plantas industriais
em locais selecionados, a entenderam como um processo para
assegurar a competitividade das empresas internacionais no
mercado mundial a partir de forte seletividade. Então, não teria
havido o esgotamento da desconcentração, mas uma
desconcentração seletiva, em função dessa escolha locacional. E,
essa desconcentração seletiva é que teria gerado ilhas de dinamismo
no território nacional. Inclusive os setores mais intensivos em mão–
de-obra ou no uso de recursos naturais estariam se localizando na
periferia, enquanto os setores mais avançados em tecnologia
estariam se concentrando no Sudeste.
Um fato importante ligado a essas ilhas industriais é a diminuição
da subordinação destas áreas ao pólo do Sudeste porque elas
estariam diretamente relacionadas ao mercado global, à
globalização, às firmas internacionais, em uma relação local-global
escapando da influência do Sudeste.
Isto é, estaria havendo uma despolarização econômica, mas com
o risco de fragmentação nacional. Neste sentido temos o trabalho
“Desconcentração Econômica e Fragmentacão da Economia
Nacional”2, do Carlos Américo Pacheco, que foi secretário executivo
do Ministério de Ciência e Tecnologia no governo de Fernando
Henrique Cardoso, onde na idéia de fragmentação da economia
nacional estava quase que implícita a fragmentação da sociedade e

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do território nacionais. No entanto, não me parece ser isto o que


ocorre – como veremos mais adiante.
A segunda ressalva é a questão do reduzido sucesso da política
estatal no sentido de promover a desconcentração. Aqui questiono
se essa desconcentração também não se deve às políticas de
descentralização do Estado nas décadas anteriores. Na verdade,
elas influíram decisivamente como, por exemplo, na criação dos
distritos industriais. Em outras palavras, a desconcentração não
decorreu apenas das estratégias das empresas multinacionais;
houve uma política estatal que favoreceu a desconcentração
industrial no território nacional. Feitas as ressalvas em relação ao
texto de apresentação do Seminário, quero fazer ressalvas ao próprio
debate sobre a fragmentação do território e da economia nacional.
O que sobressai desse debate é que houve um reconhecimento
geral de que as macro-regiões, unidades básicas de intervenção
em décadas anteriores, deixaram de ser as unidades representativas
e operacionais para promover o desenvolvimento. Ademais, acredito
que as explicações teóricas sobre o deslocamento das atividades
podem ser ampliadas de acordo com todos os argumentos que foram
apresentados nesse debate.
O primeiro ponto que eu gostaria de chamar a atenção para a
nossa discussão de hoje, é o rompimento da estrutura clássica
centro-periferia sob a nova divisão territorial do trabalho. As
periferias não são mais apenas consumidoras de produtos industriais
e exportadoras de recursos; elas também têm produção industrial
de produtos que são, inclusive, consumidos pelos centros. E, por
sua vez, nos centros estão em curso processos de desindustrialização
e de crescimento de bolsões de pobreza. Significa que o esquema
clássico centro-periferia, em que a periferia só exportava recursos
e absorvia produtos industrializados, modas e mídia “caiu por terra”.
Está aí uma questão para discussão.
Antes de prosseguir, quero fazer também ressalvas ao emprego
do termo fragmentação, também utilizei há alguns anos, quando,
com o fim da guerra fria, com a globalização, emergiram, como
disse Harvey, múltiplas vozes, múltiplas sociedades, múltiplas
reivindicações. Parecia uma eclosão do local em um momento em
que se rompeu aquela dualidade do mundo contemporâneo. Mas, a
reflexão que devemos fazer, que a Geografia, e outros campos do
conhecimento devem fazer, é quais as novas relações que estão
sob essa aparente fragmentação. O termo fragmentação não é
adequado porque sugere uma ruptura. Na verdade não houve
ruptura, mas uma reestruturação com novas relações, uma

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recomposição, em que algumas áreas declinam e outras surgem,


em um processo dinâmico de reestruturação territorial. Inclusive,
como já demonstrado por Henri Lefebvre há muito tempo, e já
sabíamos, o capitalismo se mantém através da diferenciação
espacial: a toda hora ele se reconstitui para extrair mais excedentes,
mais-valia, de certas regiões.
Há, assim, um processo dinâmico de reestruturação das regiões
tradicionais e a formação de novas regiões, sub-regiões, em uma
outra escala geográfica, que não as macro-regiões, que eram, como
já assinalei, até recentemente, as grandes unidades de intervenção
e de identificação.
Persistem as relações entre as novas e velhas regiões, mas, há
que implementar novas formas de analisar estas relações. Isto é
relações inter-regionais persistem sob novas formas. Antigamente
só eram considerados os aspectos referentes ao comércio inter-
regional, mas hoje em dia essa relação é insuficiente, tendo em
vista as relações on-line, as relações pessoais, a influência de fatores
externos e internos. Há que se considerar, ainda, a potencialidade
dos territórios, em termos de potencial humano e natural, de cultura
e iniciativa política e de acesso às redes de comunicação e
informação. Além disso, há que registrar, por exemplo, a influência
das redes políticas. Há, então, uma série de relações não explícitas
e não visíveis, às vezes, mas que são fundamentais, inclusive para
caracterizar os territórios. No caso do Brasil, inclusive, deve ser
considerado o papel das novas igrejas, um fator extremamente
importante na caracterização e na configuração de novas regiões
que crescem.
Outro ponto importante a criticar no debate da década de 90 é a
omissão das cidades. Falava-se das regiões, da reconcentração ou
desconcentração, mas ninguém articulava a questão regional com
as cidades. Não se pode tratar de região e regionalização sem levar
em conta as cidades.
A outra omissão relevante é a da nova escala continental: o
Mercosul. O debate, também, não levou em conta, essa tendência
extremamente importante, que, inclusive, retoma a importância
das metrópoles brasileiras porque as metrópoles terão um papel
fundamental na formação do Mercosul. O urbano também tem que
ser valorizado nessa análise, não só no debate como na análise.

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O resgate do papel do Estado


A segunda razão do porque do resgate da regionalização e da
região, no meu entender, deve-se ao resgate do papel do Estado. E
ao se tentar resgatar o papel do Estado, necessariamente se resgata
a região. Porque as regiões, e isso é o mais importante, são
expressões espaciais e territoriais concretas do Estado-Nação, são
constituídas pela apropriação de parcelas do espaço por arranjos
específicos de atores que conformam sociedades locais, que são a
expressão social das regiões.
De acordo com Dulong3, as regiões são constituídas por arranjos
de frações de classes não monopolistas e adquirem uma certa
identidade do ponto de vista da estrutura econômica, do ponto de
vista cultural, do ponto de vista político. As regiões possuem uma
finalidade política própria. Elas são elementos do próprio Estado,
que não é uma entidade abstrata. Enquanto parte do Estado,
enquanto expressão espacializada de interesses políticos específicos,
as regiões dialogam com o Estado, pressionam, relativizam o poder
homogeneizador e dominante do Estado, o que lhes confere um
papel fundamental.
Essas regiões resultam de uma relação dialética entre decisões
tecnocráticas e práticas do poder, de um lado, e práticas sociais e
demandas coletivas, processos coletivos, de outro lado. É nesse
processo que se formam as regiões. Em alguns momentos, em
alguns lugares, os adensamentos, as sociedades locais surgem e o
Estado as legitima. Um exemplo seria, talvez, o caso da Europa.
Em outros lugares, em outros momentos, é o Estado que atua
primeiro, e depois se forja a região: os interesses políticos dos quais
a região é uma expressão digerem a decisão tecnocrática e dão
margem ao surgimento das sociedades locais que se apropriam da
região. As sociedades locais relativizam o papel das decisões
tecnocráticas do poder. O Estado tem que dialogar com as suas
regiões, com os interesses políticos específicos espacializados e
regionalizados, que são ele mesmo, em última análise, e negociar
formas diferenciadas para poder agir.
Eis a resposta do por que a retomada da regionalização e da
região. Do ponto de vista teórico, é o resgate do papel do Estado,
que na prática influiu também no aparecimento das ilhas dinâmicas
na periferia.
Não por acaso o Ministério da Integração hoje desenvolve a
chamada Política Nacional de Desenvolvimento Regional. A diferença
é que não se quer mais uma política ligada ao ministério, mas sim

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uma política integrada, que tem por objetivo a identificação do que


ele denomina meso-regiões. Não quero usar esse termo, prefiro
falar das sub-regiões, que emergiram no país ou estão em formação.
A idéia é de que estas sub-regiões sejam complementares, e
constituam o fundamento da política e do planejamento de acordo
com um projeto nacional. Há, contudo, que discutir se há, e se
houve, um projeto nacional.
Creio que embora não explícito, houve um projeto nacional no
passado recente e hoje em dia estamos diante de um novo governo
cujo projeto é a retomada do desenvolvimento, mas com
compromisso social e ambiental. Essa é a diferença. Porque antes
havia um projeto desenvolvimentista, mas sem menor preocupação
social e ambiental. E hoje se quer retomar o desenvolvimento, nesse
sentido é desenvolvimentista, mas com o compromisso social e
ambiental. E a política nacional, o planejamento tem que estar
ligados às grandes diretrizes do projeto nacional.
Agora vou falar um pouco, e dar um exemplo do que expus até
aqui em relação à Amazônia.

Um exemplo - a Amazônia
No caso da Amazônia, a intervenção do Estado, do poder estatal
autoritário, tecnocrático foi fundamental na criação das regiões. A
Amazônia Legal foi uma criação geopolítica do governo federal para
implementar o controle do território, com o argumento de propiciar
o desenvolvimento regional. Tal intervenção, todavia, de
desenvolvimento não teve nada, mas foi a primeira intervenção
governamental que criou realmente uma região. Uma região que
não correspondia só à região norte, ao bioma florestal; foram
incorporados a esta região o estado do Mato Grosso e parte dos
estados do Maranhão e o chamado norte do estado de Goiás, que
posteriormente tornou-se o estado de Tocantins.
As rodovias implementadas no período Kubitsheck, 1958-60
foram elementos espaciais fundamentais no recontorno da região,
como se foram duas grandes pinças em torno da Hiléia: a Belém-
Brasília e a Brasília-Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco. Estas rodovias,
como é notório, foram fundamentais no processo de ocupação da
região e formação da fronteira econômica e demográfica nacional
ao longo desse grande arco em torno da Hiléia. Mas, foi com o
Programa de Integração Nacional de 1970 que, o Estado passou a
tomar conta, controlar e ocupar a região.

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Mas como o Estado fez isso? Impôs sobre a região uma malha
programada constituída de redes de integração, redes transversais,
porque as outras já existiam: Transamazônica, Perimetral Norte,
rede energética, rede ferroviária, enfim todos os tipos de rede;
principalmente as redes de telecomunicações, estudadas por Leila
Dias, que tiveram um papel fundamental na conectividade da região
com os espaços externos à ela. Porque internamente a Amazônia
continuou bastante desarticulada, o que contribuiu para acentuar
suas relações externas. Incentivos fiscais e créditos induziram
empresas e fazendeiros a ocupar a região, e vários mecanismos se
encarregaram de induzir a imigração para ocupar o território e criar
uma força de trabalho regional.
A outra política importante desse Programa de Integração
Nacional foi a superposição de territórios federais sobre territórios
estaduais, como os pólos de desenvolvimento que marcaram a
Amazônia: o Pólo Amazônia, implantado a partir de 1974; a
incorporação em 1977 do recém-criado estado do Mato Grosso do
Sul, ampliando a escala da Amazônia Legal; o Programa Grande
Carajás e outros de exploração mineral; o Projeto Calha Norte.
Grandes projetos e programas que asseguravam a presença da
União na região, e que aí deixaram marcas profundas.
O que houve, então, com a construção geopolítica da Amazônia
Legal? A Amazônia Legal se diferenciou entre a Amazônia Oriental,
que era a área de expansão da fronteira e a Amazônia Ocidental,
mais preservada, longe das estradas, uma divisão nova ligada às
políticas implementadas na região. Na década de 90 a resistência
das populações locais, - tradicionais mais imigrantes - desencadeada
com a expropriação de suas terras e da sua identidade gerou um
movimento fantástico na Amazônia de organização da sociedade
civil como nunca antes verificado na sua História.
A resistência social, o esgotamento do nacional
desenvolvimentismo com a crise do Estado, e a pressão ambientalista
internacional e nacional, introduziram novas marcas na região e
reconfigurações da Amazônia Legal. Nessa perspectiva destacam-
se a demarcação das terras indígenas, a criação de unidades de
conservação, e os projetos comunitários formando-se uma nova
malha ambiental e sócio-ambiental na Amazônia. As massas
florestais passaram a ter novos recortes e projetos em seu interior.
É extremamente importante considerar neste contexto que os novos
atores, que são as populações ditas tradicionais e pequenos
produtores que passaram a ter voz ativa na região, os índios, os
ribeirinhos, os seringueiros com Chico Mendes, foram apoiados por

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um novo ator global extremamente importante, que é a cooperação


internacional.
Enquanto no período anterior do Estado autoritário, da ocupação
da Amazônia, o capital internacional financiou a ocupação, das
estradas e tudo o mais, na década de 90 tornou-se parceiro das
populações tradicionais, dos pequenos produtores. A cooperação
internacional ocupou o espaço deixado pela enorme retração dos
investimentos produtivos na Amazônia, como, aliás, no resto do
Brasil.
Mas, há ainda um novo ator ao qual, em geral, se dá pouca
atenção, mas é preciso levar em conta, que são os governos
estaduais. Os governos estaduais passaram a ter uma importância
maior dentro da região, com a crise do Estado, da União, inclusive
com estratégias diferenciadas que eu quero destacar.
Podemos distinguir, grosso modo, três grandes modelos ou
estratégias de desenvolvimento dos estados amazônicos.
O primeiro, é o modelo extensivo em área que é característico
dos estados do Pará, do Mato Grosso, do Tocantins, do Maranhão,
além dos estados de Roraima e Rondônia, que adorariam
implementar este modelo, mas têm grande parte do território
demarcado em terras indígenas e unidades de conservação, neles
predomina a agropecuária, a soja, o dendê e outros produtos, mas
sempre na base do modelo extensivo de apropriação de terras e de
produção.
O outro modelo oposto é o do Estado do Amazonas, que é o
modelo da concentração industrial em Manaus, e que de certa
maneira preservou o meio ambiente. As florestas foram preservadas
devido a essa concentração industrial. Houve, todavia, apesar de
muitas inovações grandes problemas em razão dessa brutal
concentração em Manaus em relação ao restante do Estado do
Amazonas. Dos dois milhões e meio de habitantes do estado, um
milhão e meio encontra-se em Manaus, enquanto o outro milhão
ficou largado à própria sorte. Houve uma proteção ambiental, mas
uma desproteção social no estado do Amazonas. Porém, há que se
reconhecer que este é um modelo que protege o meio ambiente.
Enfim, o terceiro modelo se fundamenta no uso conservacionista
da floresta, que no Acre é chamado de florestania, que é um nome
lindo criado para se contrapor à cidadania. No Acre e no Amapá a
questão social, os direitos sociais, estão vinculados ao uso
conservacionista da floresta. São dois estados que enveredaram
no, assim chamado neo-extrativismo, que é um extrativismo mais

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moderno, mais rentável. Aliás, este, é um dos grandes desafios


que se colocam para os geógrafos e os planejadores: Como
desenvolver e atribuir rentabilidade a esse modelo tradicional do
extrativismo?
Há, assim, novos atores com novas estratégias, como a Amazônia
foi mudando, como foi reconstruída, inicialmente através da
intervenção do Estado e, a seguir, das relações que se estabeleceram
com as populações regionais. Essa combinação de ações resultou
em uma nova geografia amazônica, que exige novas escalas de
ação e uma nova política regional. Pois aquelas áreas que foram
criadas devido às intervenções do Estado, os pólos, os projetos de
colonização da União, os projetos do governo federal em Rondônia
e na Transamazônica, geraram sub-regiões e uma malha sócio-
política.
Na Transamazônica, que foi gerada com o projeto de colonização,
é impressionante o nível de organização da sociedade civil,
constituída predominantemente por pequenos produtores familiares.
Criou-se aí um projeto de colonização que foi digerido pela sociedade
e se transformou numa sub-região fortíssima.
Conversei uma tarde inteira com os líderes locais sobre o que
eles precisam, quais são as demandas, sobre a necessidade de
negociar com todos os envolvidos no processo de desenvolvimento.
Eles têm clareza do que querem, resistindo à construção da
hidrelétrica de Belomonte, na medida em que suas necessidades
são outras: vicinais, armazenamento, títulos para suas terras,
essenciais à produção familiar.
A Amazônia mudou, portanto, e apresenta hoje uma rica
diversidade regional, com novos atores, novos e diferentes interesses
e demandas. Cabe ao Estado reconhecer essa complexificação e a
existência de especificidades locais, se quiser contribuir para o
desenvolvimento da região no âmbito de um projeto nacional. Nas
pesquisas de campo, todas as categorias de atores sociais, sem
exceção, apontaram como medida mais importante para solucionar
conflitos e promover o desenvolvimento, a presença do Estado. Há,
portanto que resgatar o seu papel, pois que o Estado de Direito
ainda é a maior garantia que a sociedade pode ter para a democracia.
Hoje, o Estado está fundamentando seu planejamento plurianual
2004/2007 (PPA) e o próprio plano da Amazônia (PAS-Plano da
Amazônia Sustentável), em que um dos elementos centrais é o
reconhecimento da diversidade regional em múltiplas escalas. O
reconhecimento da diversidade e da necessidade de dialogar por
parte do Estado é algo novo e extremamente positivo.

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O Plano Amazônia Sustentável (PAS) em meu entender é um


plano bastante avançado, mas que tem chocado os ambientalistas.
No primeiro parágrafo do Plano da Amazônia afirma-se que o meio
ambiente não é um obstáculo ao desenvolvimento. Isto constitui
uma grande mudança em relação à década anterior. Outra afirmativa
diversa à visão prevalecente até agora é de que as estradas não
são as culpadas pelos impactos negativos, que dependem da forma
como são estabelecidas, sendo assim, resultantes ou da omissão
do Estado ou da indução equivocada do Estado.
Este Plano (PAS) estabelece cinco grandes eixos estratégicos:
primeiro produção sustentável com tecnologias avançadas,
segundo gestão ambiental e ordenamento do território, terceiro
novo padrão de financiamento, quarto inclusão social e quinto
infra-estrutura para o desenvolvimento. Há, inclusive, uma tendência
do governo atual de resgatar grandes projetos na Amazônia: estão
aí o Complexo do Madeira, Belomonte, a Cuiabá–Santarém.
Já temos dez anos de denúncia de processos de impacto, está
na hora de darmos um passo à frente e contribuir no sentido de
tentar compatibilizar desenvolvimento com a sustentabilidade social
e ambiental. Precisamos das estradas, da infraestrutura; todos os
atores sociais amazônicos necessitam de vicinais e de energia para
melhorar suas condições de vida. Porém, como realizar tal
compatibilização? Este é o grande desafio que se coloca.
Para tanto, é necessário, de início, ampliar o conhecimento sobre
a região. Há uma nova geografia amazônica e cabem algumas
observações a respeito. Uma novidade é que o Plano da Amazônia
é destinado à região norte, não contempla o estado do Mato Grosso.
Outra é a interpretação que proponho através de algumas hipóteses.
A primeira hipótese, altamente polêmica, é que a Amazônia
não é mais a grande fronteira nacional de expansão econômica e
demográfica. As frentes de expansão ainda existem, mas estão
localizadas ao longo de alguns eixos de estradas da região. Não há
mais aquele afluxo migratório nacional de povoamento em torno da
hiléia que caracterizou os anos 70. Ademais a migração não é mais
nacional, é uma migração intra-regional, exceto no estado do Mato
Grosso. E, as frentes são comandadas também e sobretudo por
interesses intra-regionais, da própria região, não só do Sudeste ou
de outros estados.
Há, então, uma mudança qualitativa e quantitativa na fronteira.
Não é mais a fronteira de âmbito nacional, embora as frentes
localizadas persistam e estejam tendo um recrudescimento enorme

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nesse início de século XXI, por causa da soja e, também por causa
das incertezas da economia. A terra pode ter voltado a ser um ativo
importante para o investimento de dinheiro neste momento de
incertezas e crise da economia.
Distingo três grandes macro-regiões na nova geografia
amazônica.
A primeira, é a macro-região de povoamento consolidado.
Corresponde ao que se denomina vulgarmente de “arco do fogo”
ou “arco do desmatamento”, grande arco onde se expandiu a
fronteira desde a década de 70, envolvendo a Amazônia extremo
oriental, Belém, sudeste e leste do Pará até Tocantins, Mato Grosso
e Rondônia. Essa denominação é uma falácia, porque no estado de
Mato Grosso encontra-se a agricultura tecnificada da soja, a
agroindústria, com produtividade maior do que a que dos Estados
Unidos. Ademais, no próprio leste e sudeste do Pará está havendo
uma grande modernização da pecuária e o indicador mais
importante, a reforma de pastagens, mostra uma tendência à
intensificação. Além disso, o complexo mineral de Carajás deixou
de ser um enclave, e os royalties são investidos em municípios de
seu entorno para o desenvolvimento local. Essas mudanças devem
ser registradas. O “arco do fogo”, é hoje uma área de povoamento
consolidado, que já faz parte do tecido produtivo nacional não lhe
cabendo mais, portanto, esta designação. Parece-me mais
apropriado, como um reconhecimento das mudanças que ocorreram,
adotar o termo “arco do povoamento consolidado”.
A Amazônia Central é a segunda macro-região, antigamente
chamada de Amazônia Oriental, compreende o restante do estado
do Pará, até a rodovia Porto Velho-Manaus. Esta é a região mais
vulnerável, porque aí se encontram as grandes frentes de expansão.
A mais antiga é a Cuiabá–Santarém, é uma frente completamente
diferente das outras, porque é a expansão da velha colonização do
Mato Grosso. Nesta antiga frente, os pequenos produtores, que
migraram, hoje são pecuaristas médios, e estão aguardando o
asfaltamento da rodovia, a realizar-se em breve, em razão da atual
parceria dos governos dos estados do Mato Grosso e Amazonas,
entre Blairo Maggi e Eduardo Braga, porque a Cuiabá-Santarém é
um eixo central e seu asfaltamento melhorará as condições de custo
da exportação da soja e dos produtos da Zona Franca de Manaus
para o Sudeste
Há uma frente nova, que é denominada de “Terra do Meio”, um
nome lindo. “Terra do Meio” porque é um miolo de terra cercado
por terras indígenas, e pertencente à União. Nela está havendo

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uma expansão violenta a partir de São Félix do Xingu com muitos


conflitos entre fazendeiros. Trata-se de algo novo: a guerra não é
mais entre fazendeiro e posseiro como nas frentes antigas, agora a
guerra é entre os poderosos. É fazendeiro grande contra fazendeiro
médio – como é o caso desse que foi assassinado com seus
empregados recentemente.
São fazendeiros do Pará, - por isso estou falando de interesses
regionais, - do Tocantins e do Goiás, e dizem que há, inclusive,
lavagem de dinheiro envolvida nessa frente.
A outra frente novíssima é uma frente imensa no sul do estado
do Amazonas: Humaitá, Lábrea. Nesta área se encontram
companhias de colonização, fazendeiros que vêm do norte do Mato
Grosso e, uma coisa nova, fazendeiros do estado de São Paulo, do
Pontal do Paranapanema que estão sendo expulsos pelas ocupações
do MST4. Antigamente os fazendeiros expulsavam os posseiros,
agora são expulsos pelo MST que sabe quem tem e quem não tem
título de terra. Esse processo já ocorreu há muitos anos em
Rondônia, onde as fazendas sem título de propriedade eram
invadidas. Os fazendeiros paulistas, então, estão vendendo suas
“fazendinhas” de 2.000 ha sem título, e se apropriando de 40.000
ha no sul do estado do Amazonas. Essa frente nova, complexa,
com diversos atores está transformando de forma acelerada o sul
do Amazonas, e coloca em questão a reflexão sobre que ações
podemos tomar para fazer face à essa situação.
O maior problema, não é nem esta concentração e diversidade
de atores, mas a enorme grilagem e apropriação das terras pelas
madeireiras, que estão comprando imensas extensões de terras
via satélite. Ao longo da estrada é possível fazer um certo controle,
uma regularização fundiária, no entanto essa apropriação “virtual”
é muito mais complexa.
Uma possível solução estaria na criação de uma força-tarefa
para controle das apropriações para além de 100 Km do eixo da
estrada. Esta solução foi incorporada pela ADA (Agência de
Desenvolvimento da Amazônia). A força-tarefa incluiria o IBAMA
(Instituto Brasileiro de Amparo ao Meio Ambiente), o INCRA
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a polícia
federal, as forças armadas, o SIPAM5, que tem um importante
sistema de informação e de controle, e a cooperação
internacional,que teve um papel fundamental na demarcação das
terras indígenas com um trabalho muito bem feito. Estabelecendo
as regras do jogo, podemos contar com a parceria entre a
cooperação internacional e estes agentes em uma força-tarefa para

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o controle das áreas além da estrada enquanto não for possível


estabelecer uma negociação.
A Amazônia Central é a região mais vulnerável por dispor de
uma grande extensão de massas florestais e de terras indígenas.
As frentes estão localizadas exatamente onde, em 1999, já havíamos
estabelecido a divisão entre Amazônia Oriental e Ocidental. Esta
proposta de macro-regionalização, vai constar do Plano da Amazônia
Sustentável (PAS) porque é necessário conhecer o território para
definir as políticas adequadas às diferentes situações regionais. Não
adianta elaborar uma política homogênea para uma região
extremamente heterogênea; a política a ser traçada tem que ter
princípios gerais e diretrizes baseados nas metas do projeto nacional
mas adequados à diferenciação regional. Esse é o esquema.
A Amazônia Ocidental é a área mais preservada, porém, como
já foi assinalado, o sul desta região está sendo ocupado
aceleradamente. Esta é uma área, no meu entender, de grande
potencial do ponto de vista de uma produção sustentável e do
aproveitamento da biodiversidade, o que é urgente para o Brasil. A
sociedade brasileira teria que fazer pressão neste sentido. Estamos
deixando a oportunidade da biodiversidade passar.
Outro ponto a ser considerado é que essa nova geografia exige
novas escalas. Já existem regiões, sub-regiões, consolidadas ou
em consolidação na Amazônia, e estou trabalhando agora
justamente na sub-regionalização. Por exemplo, no grande arco do
povoamento consolidado, antes denominado de “arco do fogo”, do
desmatamento, há grandes contrastes e diferenças. Nesta parte
encontram-se o arco da embocadura que abrange Belém, São Luis,
uma área com maior densidade de atividades econômicas e de
povoamento; os núcleos de modernização do leste e sudeste do
Pará, o corredor do Araguaia-Tocantins; no Mato Grosso encontra-
se a frente que sustenta a expansão em direção ao Amazonas, para
Cuiabá-Santarém e toda agroindústria da soja; em Rondônia domina
a agropecuária e o sistema agro-florestal, que é uma combinação
do extrativismo com agricultura. Na região vulnerável da Amazônia
Central, na área das frentes, há várias categorias de espaço, e
agora também as frentes, e se destaca a sub-região da
Transamazônica que, como já falei, estende-se de Repartimento
até Itaituba. Algo novo no planalto de Santarém é a presença da
Cargil, uma multinacional, que está terceirizando os pequenos
produtores de arroz como produtores de soja; a empresa não compra
e não se apropria de terras, atuando através da terceirização. A
soja do planalto de Santarém está até atravessando o rio e
penetrando na calha norte do rio Amazonas.

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Bertha Becker

Na região da Amazônia Ocidental, a mais preservada, identificam-


se: a) uma fronteira de integração representada por Roraima
mediante a transmissão de energia da hidrelétrica de Guri uma
estrada pavimentada que articula o Brasil com a Venezuela; b) a
região étnica do Alto Rio Negro, caracterizada pela presença da
população e cultura indígena, cujo nome deve ser mantido por
constituir a força da região; c) Manaus e seu entorno, onde se
desenvolve uma hortifruticultura comercial bastante dinâmica, um
enclave, com indução do crescimento dos núcleos urbanos à sua
volta; d) deve-se destacar, também as várzeas do Solimões, bem
como a florestania do Acre, que compõem duas outras sub-regiões.
Em outras palavras, há, atualmente, na Amazônia várias sub-
regiões, cujo estudo e análise encontram-se em curso (sobre as
quais estão sendo preparados mapas esquemáticos) e amplos
espaços que ainda não possuem sub-regiões delineadas. As que
foram aqui citadas são as que se encontram mais configuradas, e
deverão ser consideradas na elaboração da nova política de
desenvolvimento regional.
Outra escala, que não pode ser esquecida, é a escala da
Amazônia Transnacional, a Amazônia Sul-Americana. Não é mais
possível refletir e estudar a Amazônia somente em termos brasileiros.
É necessário pensar em termos continentais. Primeiro, porque
corresponde a um capital natural com uma escala dentre as maiores
do mundo. É lícito que se façam projetos conjuntos para o
aproveitamento dessa potencialidade, da biodiversidade da água,
o chamado “ouro azul” do século XXI, e que de acordo com muitos
autores substituirá o petróleo como recurso escasso básico podendo
gerar guerras. A Amazônia possui a maior concentração de água
doce do mundo detalhe, que não pode ser esquecido...
Por outro lado, é extremamente importante a integração
continental para conquistar projeção coletiva no cenário político
mundial e não se prestar à submissão, não apenas a pressão política
das grandes potências mas ao domínio do poder econômico também.
A integração continental fortalecerá a capacidade de fazer
barganhas, inclusive em relação à ALCA6; e a integração da Amazônia
Sul-Americana vai fazer parte e fortalecer o Mercosul, constituindo
um contraponto à ALCA.
E finalmente, mas não menos importante, é o fato de ter que
defender o território e as fronteiras brasileiras das convulsões
externas, como é ocaso do narcotráfico e das FARC7 da Colômbia, a
instabilidade do Presidente Chaves na Venezuela, a crise da
Argentina. Mas o problema maior é a presença militar crescente

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Uma nova regionalização para pensar o Brasil

dos Estados Unidos desde a Costa Rica, América Central, Curaçau,


Panamá, Colômbia até o sul, Equador, Chile, Peru, Bolívia, onde se
implantam localidades de operação avançada – para não se chamar
de bases. E, somente o território brasileiro não as possui porque
reage, (a não ser a questão de Alcântara). A incidência da
globalização aqui, se faz pela cooperação internacional e não pela
presença militar. Faz-se necessária, então, uma estratégia para as
fronteiras, inclusive devido ao fato das fronteiras políticas hoje,
estarem sendo reativadas na Amazônia. Até recentemente
consideradas fronteiras mortas, agora assumem um destaque muito
maior em face destas ocorrências e da necessidade da integração
para fortalecer o Mercosul.
Também a integração continental demanda reflexão e
contribuição dos pesquisadores no sentido de encontrar soluções
para realizá-la, pois que não será possível realizar uma integração
à base de infraestrutura – já prevista – geradora de impactos sociais
e ambientais, já bem conhecidos.
Parece, então, que o desafio, hoje, é compatibilizar crescimento
econômico com compromisso social e ambiental; as cartas estão
dadas e é necessário enfrentar este desafio, particularmente a
questão da infra-estrutura.
Considero três elementos fundamentais para tal compatibilização.
O primeiro é a negociação. Negociação que implica em uma
ampliação da participação, porque este termo da participação já
cansou um pouco, e tem que envolver todos os atores, e não
somente os pequenos. Estes, é óbvio, são fundamentais quanto a
sua inclusão social, mas há de se negociar também com fazendeiro,
com madeireira, na medida do possível. Daí a importância do
zoneamento ecológico-econômico (ZEE), o qual, acredito, não foi
devidamente compreendido pela sociedade brasileira. O ZEE é
especificamente, um instrumento de negociação.
No caso das frentes de expansão das madeireiras, a negociação
é difícil, e há que recorrer à força da lei com a força tarefa.
Um segundo elemento fundamental para esta compatibilização
é justamente a regionalização, a valorização das diferenças e políticas
adequadas às diferentes situações. Claro que, norteada por
princípios gerais; não se trata de lidar com a sub-região
isoladamente, mas sim do respeito às características de cada uma,
inclusive ao seu ritmo, e de fortalecer na política os elementos
necessários à dinamização de cada uma, como partes de um
conjunto, num contexto que alguns economistas chamam de
competitividade sistêmica.

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Bertha Becker

O terceiro ponto reporta-se à idéia de uma revolução científico-


tecnológica para a Amazônia. Penso que a Amazônia somente se
desenvolverá com a “high tech” mesmo.
O Brasil já fez três grandes revoluções tecnológicas; realizou
uma para a exploração do petróleo na plataforma continental, que
é uma inovação brasileira extremamente importante; uma outra foi
a revolução tecnológica para a mata atlântica, transformando a cana-
de-açúcar em combustível, revolução tecnológica muito conhecida
no exterior e pouco valorizada no Brasil; a terceira revolução
tecnológica foi feita para o cerrado, ocupado pelo gado “pé-duro”
até a década de 70, e hoje é uma área de grande produtividade de
soja, de uma agroindústria avançada e que vem sustentando grande
parte da balança comercial brasileira. É lícito plantar a soja no
cerrado tomando mais cuidado, evitando a erosão e a poluição de
rios mas foi uma revolução tecnológica fantástica. O problema a
impedir, é a expansão da soja em áreas florestais. Hoje, está na
hora de implementar uma quarta revolução tecnológica para o bioma
da floresta amazônica, baseada na biodiversidade e na biotecnologia.
E não só para permanecer presa à pesquisa nos laboratórios, mas
sim destinada a vários níveis de utilização. A questão dos fármacos
é fundamental; avançamos muito em Manaus, onde já existe a
construção de um pólo cosmético na base de óleos vegetais e um
pólo de extratos, em que Coca-Cola e Pepsi-Cola são os grandes
compradores. Há dados revelando que os extratos já respondem
por 1/3 das exportações da Zona Franca de Manaus. Representa a
primeira grande mudança no modelo da Zona Franca estabelecido
há quarenta anos voltado para a produção de eletro-eletrônicos,
seguido da indústria de duas rodas (motos e bicicletas) e que agora
está se voltando para a biodiversidade e biotecnologia, ainda que
modestamente.
Repito, a sociedade deve pressionar pela questão da
biotecnologia, e para avançar em direção à produção de fármacos.
Gastamos milhões com remédios enquanto a biodiversidade é
distribuída ou permanece sem aproveitamento. E também
pressionar para ligar a biotecnologia à produção de produtos não
madeireiros, no seio da floresta, formando cadeias produtivas, e
mesmo produtos madeireiros, porque as florestas e a biodiversidade
são a grande base da riqueza regional.
Rumo, então, à revolução tecnológica para o bioma florestal
amazônico.
o0o

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Uma nova regionalização para pensar o Brasil

Notas e Referências Bibliográficas


1 CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da
Universidade Federal de Minas Gerais.
2 PACHECO, C.A. 1996. “Desconcentração Econômica e Fragmentação da
Economia Nacional” in Economia e Sociedade. Campinas: Unicamp. v.6,
p.113 - 140.
3 DULONG, R. “A crise da relação Estado/sociedade local vista através da
política regional” in POULANTZAS, N. (org.). 1977. O Estado em Crise.
Rio de Janeiro: Graal.
4 MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - Brasil.
5 SIPAM - Sistema de Proteção da Amazônia..
6 ALCA - Área de Livre Comércio das Américas..
7 FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia..

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