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Bertha Becker
* Conferência de Abertura do Seminário Brasil Século XXI, por uma nova regionalização?
realizada no Auditório do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense.
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Um exemplo - a Amazônia
No caso da Amazônia, a intervenção do Estado, do poder estatal
autoritário, tecnocrático foi fundamental na criação das regiões. A
Amazônia Legal foi uma criação geopolítica do governo federal para
implementar o controle do território, com o argumento de propiciar
o desenvolvimento regional. Tal intervenção, todavia, de
desenvolvimento não teve nada, mas foi a primeira intervenção
governamental que criou realmente uma região. Uma região que
não correspondia só à região norte, ao bioma florestal; foram
incorporados a esta região o estado do Mato Grosso e parte dos
estados do Maranhão e o chamado norte do estado de Goiás, que
posteriormente tornou-se o estado de Tocantins.
As rodovias implementadas no período Kubitsheck, 1958-60
foram elementos espaciais fundamentais no recontorno da região,
como se foram duas grandes pinças em torno da Hiléia: a Belém-
Brasília e a Brasília-Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco. Estas rodovias,
como é notório, foram fundamentais no processo de ocupação da
região e formação da fronteira econômica e demográfica nacional
ao longo desse grande arco em torno da Hiléia. Mas, foi com o
Programa de Integração Nacional de 1970 que, o Estado passou a
tomar conta, controlar e ocupar a região.
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Mas como o Estado fez isso? Impôs sobre a região uma malha
programada constituída de redes de integração, redes transversais,
porque as outras já existiam: Transamazônica, Perimetral Norte,
rede energética, rede ferroviária, enfim todos os tipos de rede;
principalmente as redes de telecomunicações, estudadas por Leila
Dias, que tiveram um papel fundamental na conectividade da região
com os espaços externos à ela. Porque internamente a Amazônia
continuou bastante desarticulada, o que contribuiu para acentuar
suas relações externas. Incentivos fiscais e créditos induziram
empresas e fazendeiros a ocupar a região, e vários mecanismos se
encarregaram de induzir a imigração para ocupar o território e criar
uma força de trabalho regional.
A outra política importante desse Programa de Integração
Nacional foi a superposição de territórios federais sobre territórios
estaduais, como os pólos de desenvolvimento que marcaram a
Amazônia: o Pólo Amazônia, implantado a partir de 1974; a
incorporação em 1977 do recém-criado estado do Mato Grosso do
Sul, ampliando a escala da Amazônia Legal; o Programa Grande
Carajás e outros de exploração mineral; o Projeto Calha Norte.
Grandes projetos e programas que asseguravam a presença da
União na região, e que aí deixaram marcas profundas.
O que houve, então, com a construção geopolítica da Amazônia
Legal? A Amazônia Legal se diferenciou entre a Amazônia Oriental,
que era a área de expansão da fronteira e a Amazônia Ocidental,
mais preservada, longe das estradas, uma divisão nova ligada às
políticas implementadas na região. Na década de 90 a resistência
das populações locais, - tradicionais mais imigrantes - desencadeada
com a expropriação de suas terras e da sua identidade gerou um
movimento fantástico na Amazônia de organização da sociedade
civil como nunca antes verificado na sua História.
A resistência social, o esgotamento do nacional
desenvolvimentismo com a crise do Estado, e a pressão ambientalista
internacional e nacional, introduziram novas marcas na região e
reconfigurações da Amazônia Legal. Nessa perspectiva destacam-
se a demarcação das terras indígenas, a criação de unidades de
conservação, e os projetos comunitários formando-se uma nova
malha ambiental e sócio-ambiental na Amazônia. As massas
florestais passaram a ter novos recortes e projetos em seu interior.
É extremamente importante considerar neste contexto que os novos
atores, que são as populações ditas tradicionais e pequenos
produtores que passaram a ter voz ativa na região, os índios, os
ribeirinhos, os seringueiros com Chico Mendes, foram apoiados por
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nesse início de século XXI, por causa da soja e, também por causa
das incertezas da economia. A terra pode ter voltado a ser um ativo
importante para o investimento de dinheiro neste momento de
incertezas e crise da economia.
Distingo três grandes macro-regiões na nova geografia
amazônica.
A primeira, é a macro-região de povoamento consolidado.
Corresponde ao que se denomina vulgarmente de “arco do fogo”
ou “arco do desmatamento”, grande arco onde se expandiu a
fronteira desde a década de 70, envolvendo a Amazônia extremo
oriental, Belém, sudeste e leste do Pará até Tocantins, Mato Grosso
e Rondônia. Essa denominação é uma falácia, porque no estado de
Mato Grosso encontra-se a agricultura tecnificada da soja, a
agroindústria, com produtividade maior do que a que dos Estados
Unidos. Ademais, no próprio leste e sudeste do Pará está havendo
uma grande modernização da pecuária e o indicador mais
importante, a reforma de pastagens, mostra uma tendência à
intensificação. Além disso, o complexo mineral de Carajás deixou
de ser um enclave, e os royalties são investidos em municípios de
seu entorno para o desenvolvimento local. Essas mudanças devem
ser registradas. O “arco do fogo”, é hoje uma área de povoamento
consolidado, que já faz parte do tecido produtivo nacional não lhe
cabendo mais, portanto, esta designação. Parece-me mais
apropriado, como um reconhecimento das mudanças que ocorreram,
adotar o termo “arco do povoamento consolidado”.
A Amazônia Central é a segunda macro-região, antigamente
chamada de Amazônia Oriental, compreende o restante do estado
do Pará, até a rodovia Porto Velho-Manaus. Esta é a região mais
vulnerável, porque aí se encontram as grandes frentes de expansão.
A mais antiga é a Cuiabá–Santarém, é uma frente completamente
diferente das outras, porque é a expansão da velha colonização do
Mato Grosso. Nesta antiga frente, os pequenos produtores, que
migraram, hoje são pecuaristas médios, e estão aguardando o
asfaltamento da rodovia, a realizar-se em breve, em razão da atual
parceria dos governos dos estados do Mato Grosso e Amazonas,
entre Blairo Maggi e Eduardo Braga, porque a Cuiabá-Santarém é
um eixo central e seu asfaltamento melhorará as condições de custo
da exportação da soja e dos produtos da Zona Franca de Manaus
para o Sudeste
Há uma frente nova, que é denominada de “Terra do Meio”, um
nome lindo. “Terra do Meio” porque é um miolo de terra cercado
por terras indígenas, e pertencente à União. Nela está havendo
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