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JEREMIAS GONÇALVES

DECLARAÇÃO DE FIDELIDADE AOS PRINCÍPIOS,


DOUTRINAS E PRÁTICAS BATISTAS

Dourados/MS
2019
JEREMIAS GONÇALVES

DECLARAÇÃO DE FIDELIDADE AOS PRINCÍPIOS,


DOUTRINAS E PRÁTICAS BATISTAS

Declaração exigida pela CBB -


Convenção Batista Brasileira, referente a
compromisso prévio com a OPBB –
Ordem de Pastores Batistas do Brasil
como requisito de oficialização de
candidato ao ministério pastoral Batista,
contendo compromissos ministeriais,
abordagens de temas teológicos,
eclesiológicos e éticos.

Dourados/MS
2019
SUMÁRIO

1. EXPERIÊNCIA DE CONVERSÃO E CHAMADO MINISTERIAL .................................. 6


2. CONVICÇÃO PESSOAL SOBRE TEOLOGIA BÍBLICA .................................................. 8
2.1 TEOLOGIA .......................................................................................................................... 8
2.2 DEUS .................................................................................................................................... 8
2.2.1 Atributos Naturais ............................................................................................................. 9
2.2.2 Atributos morais ................................................................................................................ 9
2.2.3 A obra de Deus ................................................................................................................ 10
2.3 CRISTOLOGIA ................................................................................................................. 10
2.3.1 A natureza humana de Cristo .......................................................................................... 10
2.3.2 A natureza divina de Cristo ............................................................................................. 10
2.3.3 União hipostática de Jesus ............................................................................................... 11
2.3.4 A obra de Cristo............................................................................................................... 11
2.4 ESPÍRITO SANTO ............................................................................................................ 12
2.4.1 A deidade do Espírito Santo ............................................................................................ 12
2.4.2 O Espírito Santo como pessoa ......................................................................................... 12
2.4.3 A obra do Espírito Santo no ser humano ......................................................................... 12
2.5 TRINDADE ........................................................................................................................ 13
2.6 BIBLIOLOGIA .................................................................................................................. 13
2.6.1 Revelação ........................................................................................................................ 14
2.6.2 Inspiração ........................................................................................................................ 15
2.6.3 Iluminação ....................................................................................................................... 16
2.6.4 Inerrância ......................................................................................................................... 16
2.7 ANTROPOLOGIA ............................................................................................................. 17
2.7.1 Morte ............................................................................................................................... 18
2.8 HAMARTIOLOGIA .......................................................................................................... 18
2.9 ANGEOLOGIA .................................................................................................................. 19
2.9.1 Anjos................................................................................................................................ 19
2.9.2 Demônios ......................................................................................................................... 20
2.9.3 Satanás ............................................................................................................................. 20
2.10 SOTERIOLOGIA ............................................................................................................. 20
2.10.1 Graça.............................................................................................................................. 21
2.10.2 Arrependimento e fé ...................................................................................................... 21
2.10.3 Regeneração .................................................................................................................. 21
2.10.4 Justificação .................................................................................................................... 22
2.10.5 Adoção ........................................................................................................................... 22
2.10.6 Santificação ................................................................................................................... 23
2.10.7 Glorificação ................................................................................................................... 23
2.10.8 Eleição ........................................................................................................................... 23
2.10.9 Perseverança dos Santos ................................................................................................ 24
2.11 REINO DE DEUS ............................................................................................................ 25
2.12 ESCATOLOGIA .............................................................................................................. 25
2.12.1 Segunda Vinda de Cristo ............................................................................................... 25
2.12.2 Arrebatamento da Igreja ................................................................................................ 26
2.12.3 Juizo Final ..................................................................................................................... 27
2.12.4 Céu ................................................................................................................................. 27
2.12.5 Inferno ........................................................................................................................... 27
2.12.6 Milênio .......................................................................................................................... 28
2.12.7 Anticristo ....................................................................................................................... 28
3. CONHECIMENTO E CONVICÇÃO SOBRE ECLESIOLOGIA ...................................... 29
3.1 IGREJA UNIVERSAL ....................................................................................................... 29
3.2 IGREJA LOCAL ................................................................................................................ 29
3.3 ORGANISMO E ORGANIZAÇÃO .................................................................................. 29
3.4 IGREJA BATISTA ............................................................................................................ 30
3.4.1 A origem dos batistas ...................................................................................................... 30
3.4.2 Funções da Igreja ............................................................................................................. 31
3.4.3 Oficiais da Igreja ............................................................................................................. 31
3.4.4 O governo da Igreja ......................................................................................................... 31
3.4.5 Ordenanças da Igreja ....................................................................................................... 32
3.4.5.1 Batismo ......................................................................................................................... 32
3.4.5.2 Ceia do Senhor ............................................................................................................. 32
3.4.6 Responsabilidade Denominacional.................................................................................. 33
3.4.7 Membresia ....................................................................................................................... 34
3.4.7.1 Deveres e direitos ......................................................................................................... 34
3.4.7.2 Formas de entrada e saída............................................................................................. 34
3.4.7.3 Disciplina ...................................................................................................................... 34
4. POSICIONAMENTO SOBRE A VIDA E ÉTICA PASTORAL ........................................ 35
4.1 O MINISTÉRIO PASTORAL ........................................................................................... 35
4.1.1 Quem é o pastor ............................................................................................................... 35
4.1.2 Para quê um pastor .......................................................................................................... 35
4.1.3 O caráter e o comportamento do pastor ........................................................................... 35
4.1.4 O pastor e sua vida devocional ........................................................................................ 35
4.1.5 O pastor e seu ministério local ........................................................................................ 36
4.1.6 O pastor e seu envolvimento denominacional ................................................................. 36
4.1.7 O pastor e os desafios sociais contemporâneos ............................................................... 36
4.2 O PASTOR E SEUS RELACIONAMENTOS .................................................................. 36
4.2.1 O pastor e sua família ...................................................................................................... 36
4.2.2 O pastor e os pastores ...................................................................................................... 37
4.3 O PASTOR E A SOCIEDADE .......................................................................................... 37
4.3.1 O pastor e a política ......................................................................................................... 37
4.3.2 O pastor e as instituições “secretas” ................................................................................ 37
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 37
6

1. EXPERIÊNCIA DE CONVERSÃO E CHAMADO MINISTERIAL

Tive o privilégio de nascer em um lar cristão. Meus avós paternos, meus pais, alguns
tios e primos, todos eram membros da Primeira Igreja Batista em Mundo Novo/MS. Assim,
toda a minha infância, adolescência e maior parte da juventude foi num contexto familiar
pautado nos ensinamentos bíblicos. Desde muito criança, participava dos cultos dominicais,
cultos nos lares, classes de EBD, apresentações de teatros e coral infantil.
Toda essa vivência eclesiástica foi forjando em meu coração o amor por Jesus. Cada
versículo memorizado nas gincanas e cada canção aprendida no coral infantil foi germinando
em meu coração como uma semente espiritual.
Não me recordo o dia e o mês exatos, mas sei que foi em meados de 1991 que
entreguei a minha vida para Jesus. Era pra ser mais um culto de domingo, como tantos outros
que já participara anteriormente. Mas naquela noite, o pastor Adonias Moreira Júnior pregou
uma mensagem falando sobre a salvação em Jesus. Aos 11 anos de idade, diante daquela
palavra tão esclarecedora, compreendi que era um pecador e que precisava render a minha
vida para Jesus, tendo-o como o meu Salvador e o meu Senhor. No dia 31 de dezembro do
mesmo ano, desci às aguas do batismo confirmando publicamente a minha aliança com
Cristo.
Após o batismo, continuei minha caminhada com Cristo, sempre buscando aprender
mais sobre Deus. Porém, o excesso de timidez impedia um envolvimento maior na obra de
Deus. Acredito que o ápice da timidez ocorreu no período da adolescência, a tal ponto de não
querer mais participar do coral da igreja ou de qualquer atividade que exigiria estar à frente de
um público.
A timidez permaneceu por todo o período da adolescência. Concomitantemente, foi
um período de desejar “conhecer o mundo”, muito em razão de amigos que não eram cristãos.
Mas pela graça de Deus, ainda que tenha vivido períodos de esfriamento espiritual, jamais me
afastei dos caminhos do Senhor.
No ano de 1999, eu já estava com 19 anos e a PIB de Mundo Novo passou por um
período de divergências doutrinárias entre diferentes grupos da igreja. Infelizmente, esse
período culminou com a saída do pastor e uma grande parcela da membresia. Dentre os
membros que saíram, vários deles ocupavam cargos de liderança, tais como, professores de
7

EBD, líderes de adolescentes e jovens, integrantes do louvor, membros do corpo diaconal,


entre outros. Dessa forma, a igreja ficou com uma grande defasagem de líderes.
Ao olhar para a igreja, eu notava que não havia pessoas suficientes para comporem os
cargos, dirigir cultos, pregar, etc. O meu coração ficava dilacerado ao ver a igreja que eu tanto
amava passando por uma situação tão difícil. E num domingo, após o culto eu venci a timidez
e me ofereci para dirigir o culto de terça-feira, que seria na casa dos meus avós. Naquela
semana eu dirigi o culto. Não demorou muito eu dirigi um culto numa quarta-feira e depois
num domingo. Aos poucos fui vencendo a timidez e me ofereci para pregar numa quarta-feira,
depois me convidaram para pregar num domingo e desde então, nunca mais parei de pregar.
Nos anos seguintes, o meu envolvimento com os ministérios da igreja foi muito
intenso. Atuei em diversas áreas da igreja: professor de adolescentes na EBD, secretário de
EBD, diretor de EBD, vice-presidente dos jovens, tesoureiro dos jovens, líder dos jovens e
adolescentes, promotor de missões, secretário da igreja, integrante do conselho fiscal da
igreja, tesoureiro da igreja, vice-presidente da igreja e presidente da igreja.
O meu chamado não ocorreu de uma forma repentina, mas foi brotando naturalmente
no período entre 1999 e 2002. Em cada mensagem que eu ouvia, em cada livro que eu lia, em
cada atividade que eu realizava, o meu coração foi se apaixonando pela possibilidade de ser
usado por Deus como um pastor. E no final de 2002, eu tomei a decisão de ir para o
seminário, porém, naquele período a limitação financeira foi um impedimento. Mas pela graça
de Deus, em 2004 me tornei um aluno do Ana Wollerman, concluindo o curso no final do ano
de 2008.
No seminário conheci a Kassiane, minha esposa fiel, linda, companheira, parceira,
amiga e incentivadora do meu ministério. Nos casamos em fevereiro de 2008 e em junho de
2015, Deus nos presenteou com o nosso filho Gustavo Asafe.
Durante o período de seminário, cooperei como seminarista na PIB de Mundo Novo
no período de meados de 2004 a meados de 2005. Após esse período, cooperei como
seminarista durante 1 ano na Igreja Batista Centenário em Dourados. Em agosto de 2006,
passei a congregar na Igreja Batista Boas Novas Cachoeirinha, a qual é uma congregação da
Igreja Batista Boas Novas em Dourados. Tive a alegria de auxiliar a pastora Débora Quiles
até junho de 2009 e depois auxiliamos o pastor Valdinei Tomazelli até outubro de 2013,
ocasião em que o pastor Valdinei deixou o pastoreio da igreja para se juntar à equipe pastoral
da Igreja Batista Boas Novas no 4º Plano. Com a saída do pastor Valdinei, assumimos a
liderança da igreja e ali permanecemos até a data presente.
8

2. CONVICÇÃO PESSOAL SOBRE TEOLOGIA BÍBLICA

2.1 TEOLOGIA
O termo “teologia” advém da palavra teós (Deus) juntamente com a palavra logia
(ciência). Sendo assim, em nosso contexto judaico-cristão podemos conceituar a teologia
como sendo a busca da sistematização da reflexão profunda acerca de Deus, suas
manifestações e implicações práticas na vida do ser humano. Seu objetivo é proporcionar ao
ser humano uma organização racional do conhecimento acerca da revelação de Deus, de
maneira que as atitudes da humanidade reflitam os propósitos divinos estabelecidos para a
relação entre os seres humanos, bem como a relação com o próprio Deus.
A teologia pode ser construída a partir da observação da criação de Deus, como afirma
Paulo: “Porque os atributos invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua divindade,
claramente se reconhecem, desde a criação do mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que Deus fez. Por isso, os seres humanos são indesculpáveis” (Romanos 1.20)1. Entretanto, a
principal fonte para a aquisição do conhecimento teológico é a Bíblia Sagrada, a qual se
constitui como a Palavra de Deus.
Deste modo, os pressupostos posteriormente abordados e discutidos foram construídos
a partir de uma vivência e análise das Sagradas Escrituras. São pressupostos teológicos e
doutrinários fundamentados naquilo que a Bíblia revela acerca da relação entre Deus e o
homem, bem como suas devidas implicações.

2.2 DEUS
O autor de Hebreus nos afirma que “...é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe...” (Hebreus 11.6). Crer que Ele é o verdadeiro Deus (1 João 5.20) é
o ponto de partida fundamental para a formulação de uma doutrina acerca de Deus.
É sabido que o ser humano é incapaz de conceituar Deus de modo absoluto, uma vez
que só sabemos aquilo que o próprio Deus nos revelou. Embora sejamos seres limitados e
finitos, podemos fazer algumas reflexões acerca de Deus, pautando sempre na Bíblia Sagrada.

1
As citações bíblicas transcritas e mencionadas no texto referem-se a Tradução de João Ferreira de Almeida –
Nova Almeida Atualizada, exceto quando for mencionada a tradução utilizada.
9

Partindo do pressuposto da fé, na qual cremos na existência de Deus, entendemos que


ele é um ser pessoal. Ainda que sejam usadas linguagens antropopática e antropomórfica, a
Bíblia relata que Deus se relaciona com o ser humano, conforme o relato da criação e tantos
outros textos bíblicos. Deus possui vontade (Salmo 40.8; Romanos 12.2) e é um ser que pensa
(Salmo 40.5; Jeremias 29.11). Portanto, Deus não é uma energia cósmica, mas é um ser
pessoal. Entretanto, afirmar que Deus é um ser pessoal não implica em afirmar que ele está
limitado a matéria concreta, tal qual o ser humano.
A Palavra de Deus nos ensina que Deus é espírito (João 4.24), portanto não é um ser
com limites físico, geográfico ou temporal. Teologicamente, usamos os conceitos da
imanência e transcendência divina para explicar a sua relação atemporal com o universo. A
imanência é a presença ativa de Deus dentro da criação e da história da humanidade (Jó 12.10;
Atos 17.25-28; Colossenses 1.17). Esse atributo possibilita a Deus usar pessoas e recursos
naturais para alcançar seus propósitos (João 15.16). Por outro lado, a transcendência diz
respeito à ação de Deus além da natureza (Isaías 55.8-9; Jeremias 23.23-24). Deus é
infinitamente superior à Sua criação e dela não depende.
Os atributos de Deus são Naturais e Morais. Os naturais dizem respeito à Sua natureza
e os morais dizem respeito ao Seu caráter:

2.2.1 Atributos Naturais


Deus em sua natureza é onipresente (Salmo 139.7-10); é onisciente (Mateus 6.8) e é
onipotente (Mateus 19.26). Deus também é eterno (Isaías 44.6; Judas 25); é imutável (Salmo
102.27; Tiago 1.17) e possui unidade, existindo e se manifestando nos diferentes modos de
sua existência.

2.2.2 Atributos morais


No que diz respeito aos aspectos morais, baseado nos relatos bíblicos podemos afirmar
que Deus é santo (Levítico 20.26; Josué 24.19); é justo (Jeremias 11.20; João 17.25); é fiel
(Deuteronômio 7.9; I Pedro 4.19); é bondoso (Salmo 25.8; Romanos 2.2-4); é paciente
(Números 14.18; II Pedro 3.9); é misericordioso (Miquéias 7.18; Efésios 2.4); é verdadeiro
(João 17.3) e Deus é amoroso (Isaías 63.8-9; João 3.16; 1 João 4.8).
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2.2.3 A obra de Deus


A obra de Deus consiste na criação, sustentação e direção de todo o universo. A Bíblia
é categórica ao afirmar não somente no Gênesis, mas também em outros textos a obra
criadora de Deus (Gênesis 1.2-22; Salmo 19.1; Marcos 10.6; Romanos 1.20). Paulo afirma
que Deus “chama à existência as coisas que não existem” (Romanos 4.17), possibilitando
uma interpretação de que Deus não criou o universo de uma matéria-prima pré-existente, mas
que a sua criação foi a partir do “nada”. Importante salientar que Deus não simplesmente
criou o universo e o deixou seguir sua própria história, mas ele faz parte dessa história,
intervindo e sustentando (1 Samuel 2.6-8; Salmo 66.9; Mateus 5.45; Atos 17.24-28) o
universo. No discurso de Paulo aos filósofos atenienses encontramos essa realidade criadora e
sustentadora de Deus (Atos 17.24-28).

2.3 CRISTOLOGIA
Cristo manifestou-se como homem (Lucas 24.39). Em Jesus, temos a encarnação do
próprio Deus, conforme afirma Paulo aos Colossenses “Porque nele habita corporalmente
toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.9) e aos Filipenses:

“...mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que
deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a
forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em
figura humana”. (Filipenses 2.6-7)

2.3.1 A natureza humana de Cristo


Embora tenhamos em Cristo características peculiares à natureza humana, tais como a
fome (Marcos 11.12), a sede (João 19.28), o cansaço (João 4.6), o choro (João 11.35), a
humanidade de Cristo difere da humanidade dos demais homens. Pautamos essa verdade na
afirmação bíblica de que Cristo foi concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem
(Lucas 1.34-35). De igual modo, mesmo existindo em forma humana Cristo em momento
algum cometeu um pecado (2 Coríntios 5.21; Hebreus 4.15).

2.3.2 A natureza divina de Cristo


Apesar das comprovações bíblicas da humanidade de Cristo, encontramos também o
aspecto divino. Paulo nos ensina que “em Cristo, como ser humano, está presente toda a
natureza de Deus” (Colossenses 2.9). Assim, é possível observar a manifestação dos atributos
11

de Deus em Jesus, tais como, a onipotência (Mateus 14.19-20; Lucas 8.22-25; João 6.39-40) e
a onisciência (Mateus 9.4, 12.25; Marcos 2.6-8; Lucas 6.8; João 1.48, 4.18, 6.64). Vimos
também Jesus perdoando pecados (Marcos 2.5; Lucas 7.48), sendo esta uma prerrogativa
divina.
Além das próprias palavras de Cristo, requerendo para si a deidade (João 8.58, 10.30),
temos as afirmativas dos autores bíblicos que corroboram essa doutrina (Isaías 9.6; João 1.1;
Romanos 9.5; Colossenses 2.8-9) e os sinais realizados por Jesus, possíveis apenas para Deus,
tais como as ressurreições da filha de Jairo (Marcos 5.39-42), do filho da viúva de Naim
(Lucas 7.11-12) e de Lázaro (João 11.31-44).

2.3.3 União hipostática de Jesus


A divindade de Jesus de modo algum aniquilou ou prejudicou a sua humanidade; nem
tão pouco esta causou detrimento àquela. A dificuldade de compreender Cristo como sendo
plenamente humano e plenamente divino gerou diversos entendimentos equivocados, tais
como, o docetismo, apolinarismo, eutiquianismo, ebionismo, adocionismo, arianismo,
nestorianismo. Jesus não era um Deus e um homem reunidos em uma só pessoa, mas era uma
pessoa tanto Deus quanto homem, de modo que essa união das duas naturezas é substancial
(união hipostática). As duas naturezas não se fundem, não se alteram, não se dividem e
compõem uma só pessoa.

2.3.4 A obra de Cristo


Cumprindo o propósito divino para a redenção humana, Cristo suporta a morte,
ressuscita ao terceiro dia e retorna aos céus, proporcionando ao ser humano pecador a
possibilidade da reconciliação com Deus (Romanos 5.6-11). Sendo assim, entendemos que
Deus se fez homem para trazer salvação à humanidade (João 3.16). Cristo é o único que pode
religar o ser humano a Deus, pois ele é o mediador (1 Timóteo 2.5) e fora de Cristo não há
salvação (João 14.6; Atos 4.12).
Cristo nos deixa o paradigma do verdadeiro ser humano. Deus se torna humano para
demonstrar aos seres humanos o que realmente é a humanidade. Na vida de Cristo,
encontramos o exemplo de uma vida de dedicação e entrega incondicional à vontade de Deus
(Mateus 26.42) e serviço ao próximo (Mateus 20.27-28).
12

2.4 ESPÍRITO SANTO


2.4.1 A deidade do Espírito Santo
A premissa inicial para a elaboração de uma doutrina acerca do Espírito Santo é a sua
qualidade divina, conforme afirma a Declaração Doutrinária da CBB - Convenção Batista
Brasileira: “O Espírito Santo, um em essência com o Pai e com o Filho, é pessoa divina”
(João 15.26,27; Atos 5.1-4).
A deidade do Espírito Santo pode ser comprovada, haja vista que a Bíblia nos ensina
que ele possui atributos divinos, tais como a eternidade (Hebreus 9.14) e a onisciência (1
Coríntios 2.10,11).

2.4.2 O Espírito Santo como pessoa


Sendo um ser pessoal, o Espírito Santo possui vontade própria (1 Coríntios 12.11), se
entristece (Efésios 4.30), intercede (Romanos 8.26), clama (Gálatas 4.6), dá testemunho (João
15.26), ensina (João 14.26), consola (João 14.16-17), guia (João 16.13; Mateus 4.1; Romanos
8.14).

2.4.3 A obra do Espírito Santo no ser humano


Na vida do ser humano, o Espírito Santo age antes daquele assumir a salvação
outorgado por Cristo, convencendo o homem do pecado (João 16.8). Posteriormente sua ação
prossegue no processo de regeneração (Tito 3.4-7), norteando os cristãos no alcance da
verdade (João 16.13), ensinando e recordando os ensinamentos de Cristo (João 14.26),
capacitando com dons para a edificação do Corpo de Cristo (Romanos 12.6-8; 1 coríntios
12.8-10,28-30; Efésios 4.11-12; 1 Pedro 4.11), vocacionando e constituindo obreiros (Atos
20.28), assistindo o ser humano em suas fraquezas e intercedendo (Romanos 8.26),
produzindo o fruto de uma nova vida, sendo manifesta pelo amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5.22-
23). O Espírito Santo sela o cristão para o dia da redenção (Efésios 4.30), enche-o de
esperança e poder (Romanos 15.13). Importante frisar que o Espírito Santo habita na vida do
homem (1 Coríntios 3.16, 2 Timóteo 1.14), quando este crê na obra salvífica de Cristo
(Romanos 8.9).
A atuação do Espírito Santo no Antigo Testamento ocorre de maneira que este atuava
na vida de uma pessoa ocasionalmente, cumprindo um propósito específico. Exemplos dessa
manifestação do Espírito Santo encontramos em Gideão (Juízes 6.34), em Saul (1 Samuel
13

10.10) e em Davi (1 Samuel 16.13). Por sua vez, o Novo Testamento afirma que o Espírito
Santo habita permanentemente em nós (1 Coríntios 3.16-17; 1 Coríntios 6.18-20).
A vida e a obra de Jesus são profundamente marcadas pela atuação do Espírito Santo,
perpassando do nascimento (Mateus 1.18), batismo (Marcos 1.10) ao ministério (Lucas 4.1).
Jesus promete a vinda do Espírito Santo no papel de consolador (João 14.6), sendo que este
glorifica a Jesus (João 16.14).
Acerca do Espírito Santo a Declaração Doutrinária da CBB afirma ainda que “Sua
plenitude e seu fruto na vida do crente constituem condições para a vida cristã vitoriosa e
testemunhante”. Assim, cremos na atuação divina do Espírito Santo no homem, afim de que
este caminhe conforme preceituado por Deus.

2.5 TRINDADE
Através da doutrina da trindade afirmamos que cremos num Deus único
(Deuteronômio 6.4). Entretanto, em Deus há uma tripla distinção, que se manifesta e age em
unidade. Deus é um em substância (ousia) e existe em três pessoas (hypostaseis) inseparáveis,
harmônicas e em perfeita unidade.
Embora as Escrituras Sagradas não utilizem o termo trindade, podemos encontrar a
presença do Pai, do Filho e do Espírito no batismo de Jesus (Marcos 1.9-11), na
recomendação da Grande Comissão (Mateus 28.19), na bênção final do apóstolo Paulo (2
Coríntios 13.13), na obra de redenção (Hebreus 9.13-14), na saudação de Pedro (1 Pedro 1.2),
na exortação de Judas (Judas 20-21).
A doutrina da trindade aponta um paradigma para as relações da vida social humana,
onde se faz necessário uma vida de interdependência e mutualidade. Assim como o Pai, o
Filho e o Espírito agem harmonicamente, de igual modo deveriam ser as ações humanas, em
suas relações com o próximo e com a própria trindade, expressando sempre o amor e a
comunhão.

2.6 BIBLIOLOGIA
A Bíblia, conforme a Declaração Doutrinária da CBB, “é a palavra de Deus em
linguagem humana”. Sua mensagem não possui o escopo de fornecer dados arqueológicos ou
detalhes de fatos históricos, ou qualquer outro tipo de ciência, mas seu grande objetivo é
revelar os propósitos divinos, possibilitando a salvação, edificando os cristãos e promovendo
a glória de Deus (Romanos 15.4-6).
14

As Escrituras Sagradas constituem-se como a Palavra de Deus, tendo em vista que é


um conjunto de escritos de 66 livros, redigido por aproximadamente 40 pessoas inspiradas
pelo Espírito Santo, num período aproximado de 1500 anos, sendo escrita originalmente nas
línguas hebraica, aramaica e grega. A Bíblia Sagrada está dividida em 2 blocos, sendo o
primeiro denominado de Antigo Testamento e o segundo bloco recebe o nome de Novo
Testamento. O tempo cronológico que divide esses dois blocos é chamado de Período
Interbíblico ou Intertestamentário, ou ainda Período dos 400 anos de Silêncio, haja vista que
nesse período não houve a revelação divina e a inspiração de um livro para compor o Cânon
Sagrado.
O Antigo Testamento é composto de 39 livros, divididos em 5 seções:
Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio;
Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras,
Neemias e Ester;
Livros Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares;
Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel;
Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
O Novo Testamento é composto de 27 livros, divididos em 5 seções:
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João;
Livro Histórico: Atos Dos Apóstolos;
Cartas de Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon;
Cartas Gerais: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas;
Profético: Apocalipse.

2.6.1 Revelação
Deus só poderia ser conhecido à medida que se revelasse ao homem. Assim, a ideia de
revelação é “retirar o véu” para que o ser finito, o homem, pudesse relacionar-se com o Ser
Infinito, Deus.
Há 2 tipos de revelação: a revelação geral e a revelação especial.
A revelação geral ou universal se dá por meio da criação, do ser humano e da história.
Esta revelação não exige uma ação sobrenatural para que o homem possa perceber a
existência de Deus, pois o próprio meio aponta para o Criador, conforme diz em Salmos 19.1:
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“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”; e
Romanos 1.20: “Porque os atributos invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua
divindade, claramente se reconhecem, desde a criação do mundo, sendo percebidos por meio
das coisas que Deus fez.”
A revelação especial acontece na pessoa de Jesus Cristo. Ao olhar para os milagres
realizados por Jesus, suas palavras e ensino proferido, o seu caráter, as suas ações, a sua morte
e a sua ressurreição, vimos claramente a revelação especial de Deus. Jesus vem para revelar
quem é o Pai, ao ponto dele dizer que “o Filho nada pode fazer por si mesmo, senão somente
aquilo que vê o Pai fazer; porque tudo o que este fizer, o Filho também faz” (João 5.19).
Portanto, no conteúdo bíblico há revelação dos atributos de Deus, bem como Sua
Vontade e seus desígnios. A Bíblia diz: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso
Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e aos nossos filhos, para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29.29). Assim, Deus quer que o
homem o conheça e tenha uma conduta pautada nos valores por Ele estabelecidos. Porém, a
revelação de Deus é para que o homem o conheça e com Ele tenha comunhão e
relacionamento.

2.6.2 Inspiração
Os autores bíblicos foram inspirados por Deus. Não obstante, Deus tenha usado
autores humanos, cada qual com seu estilo de linguagem e sua personalidade peculiares, os
conceitos registrados na Bíblia foram inspirados pelo próprio Deus, conforme nos diz Paulo
em 2 Timóteo 3.16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça”, no qual a palavra grega utilizada é
theopneustos, cujo sentido literal é “soprado por Deus”. Deus soprou para dentro dos autores
a sua revelação, ou seja, o autor recebeu uma capacitação especial para transcrever a
revelação recebida de Deus.
O Antigo Testamento recebeu o reconhecimento de Jesus e dos apóstolos testificando-
o como sendo a verdadeira e inspirada Palavra de Deus. Pedro é enfático ao afirmar que
nenhuma profecia da Escritura é fruto de um entendimento particular, mas é oriunda de
homens que “falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.19-21). Os
próprios profetas introduziam suas mensagens utilizando a expressão “Assim diz o Senhor...”
(Isaías 7.7; Jeremias 2.2; Ezequiel 3.11; Amós 1.3,6,9,11,13; Obadias 1.1; Miquéias 3.5;
Naum 1.12; Ageu 1.7; Zacarias 1.14). Podemos citar ainda, textos como o de Êxodo 24.4, o
16

qual diz que Moisés escreveu as palavras do Senhor e Isaías 59.21, no qual Deus afirma que
colocou as palavras na boca do profeta.
Quanto à autoridade do Novo Testamento como sendo a Palavra de Deus, o apóstolo
Paulo afirma que o seu conhecimento acerca de Deus, portanto o seu discurso, não é fruto de
uma racionalização humana, mas é inspiração do Espírito Santo:

No entanto, transmitimos sabedoria entre os que são maduros. Não, porém, a


sabedoria deste mundo, nem a dos poderosos desta época, que são reduzidos a nada.
Pelo contrário, transmitimos a sabedoria de Deus em mistério, a sabedoria que
estava oculta e que Deus predeterminou desde a eternidade para a nossa glória. (1
Coríntios 2.6-7)

O Apóstolo Pedro corrobora a inspiração divina da Bíblia ao afirmar que “a profecia


nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.21 - Versão ACF).

2.6.3 Iluminação
Escrevendo aos Efésios, Paulo diz que “Deus derramou abundantemente sobre nós em
toda a sabedoria e entendimento” (Efésios 1.8) e pedia para Deus iluminasse os olhos do
coração dos efésios (Efésios 1.18). Portanto, a iluminação é a capacitação divina que
recebemos para compreender, crer e praticar as verdades da Palavra de Deus, conforme disse
Jesus: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a
vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse” (João 14.26).

2.6.4 Inerrância
A Bíblia não é um livro científico ou histórico. A Bíblia é a revelação de Deus,
portanto, ela é a Palavra de Deus. Conforme a Declaração Doutrinária da CBB, a finalidade
da Bíblia é revelar os propósitos de Deus, levar os pecadores à salvação, edificar os crentes e
promover a glória de Deus. Deus planejou e possibilitou que a Bíblia fosse escrita e
perpassasse as gerações afim de que nela o ser humano encontrasse a revelação de Deus, o
ensino, a correção e a habilitação para a obra de Deus.
Podemos crer na Bíblia como a Palavra de Deus, uma vez que ao longo da história da
humanidade, milhões de pessoas em todas as partes do mundo tiveram uma verdadeira
transformação de vida, após o contato com as palavras contidas nesse livro. Infere-se que um
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livro humano jamais alcançaria proporções tão gigantescas e pontuais, como a Bíblia promove
na vida do ser humano em particular e em sociedades inteiras.
Uma vez que a Bíblia é a revelação de Deus, bem como sua vontade em relação à
vivência humana, ela se apresenta como elemento norteador para as doutrinas e práticas no
âmbito religioso e secular. Para o cristão ela é a autoridade única que rege as práticas
humanas e embasa a crença. É a voz do próprio Deus falando conosco. Portanto, cremos na
inerrância da Bíblia.

2.7 ANTROPOLOGIA
A doutrina acerca do homem principia na afirmativa de que este fora criado por Deus.
O livro de Gênesis apresenta dois relatos da criação do homem. O primeiro, em 1.26-28, fala
da decisão de se criar o homem à imagem e semelhança de Deus, seguida da ação criadora
com um propósito definido que é o de frutificar, multiplicar e dominar a terra. O segundo está
em 2.7 e narra o modo como Deus fez o homem, formando-o a partir do pó da terra. Nota-se
que o texto bíblico enfatiza a ação direta de Deus na formação do homem, reconhecendo-o
como a mais sublime de todas as criaturas, a quem amou profundamente. Portanto, a
humanidade não é fruto do acaso, mas é projeto de Deus.
O ser humano é finito e limitado, cujo destino é morrer fisicamente. A Bíblia expressa
essa condição da fragilidade humanidade usando algumas vezes o termo “pó” (Gênesis 3.19;
Salmo 103.13-14; Eclesiastes 12.7). Sendo assim, é evidenciado que o ser humano é
constituído de matéria física. Entretanto, além da dimensão corpórea, o ser humano possui
uma dimensão espiritual (1 Coríntios 15.45; Tiago 2.26). O espírito corresponde à nossa
autoconsciência e à nossa capacidade de relacionamento com Deus (Romanos 8.16).
O ser humano é uma criação essencialmente boa (Salmo 8.5), uma vez que foi criado à
imagem e semelhança de Deus. Com isso, o homem é dotado de capacidade de discernimento,
de domínio sobre sua própria personalidade, de aptidão para o trabalho e de habilidade
criativa. O Salmo 8 é um poema de louvor a Deus pela existência humana como presente
divino. Entretanto, embora a humanidade em si seja boa, todos os seres humanos, estão num
estado de distanciamento em relação a Deus (Romanos 3.23). Esse afastamento
costumeiramente denominamos como pecado.
A humanidade deve ser detentora de dignidade e valor, uma vez que foi criada à
imagem divina, amada por Deus e resgatada em Cristo. Portanto, é necessário propagar uma
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visão do homem que sustente os valores do respeito pela vida humana e pelos direitos
humanos básicos enquanto reconhece as limitações humanas e suas tendências ao mal.

2.7.1 Morte
A Declaração Doutrinária da CBB afirma que “Todos os homens são marcados pela
finitude, de vez que, em consequência do pecado, a morte se estende a todos”. Assim, em
razão da sua finitude e limitação, a Bíblia nos ensina que a morte biológica será uma realidade
na vida de todo ser humano: “a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram”
(Romanos 5.12).
Na morte biológica, a esfera espiritual (espírito) do homem é separada da esfera
material (corpo). O corpo se tornará pó e o espírito voltará para Deus (Eclesiastes 12.7).
Portanto, a morte não significa o fim da existência, mas é a transição para a existência em
outra dimensão.
Aqueles que morrem em Cristo estão com Deus, pois o autor de Eclesiastes argumenta
que com a morte, o espírito volta para Deus (Eclesiastes 12.7). Em Lucas 23.43, Jesus diz ao
ladrão da cruz: “hoje você estará comigo no paraíso”. Em Filipenses 1.23, Paulo fala sobre a
possibilidade de morrer e estar com Cristo.
Por outro lado, baseado em Lucas 16.19-31, entendemos que aqueles que morrem sem
a fé em Cristo estão separados de Deus; em plena consciência e em profundo estado de
sofrimento. Ainda que não tenham enfrentado o juízo final ainda, a punição divina inicia-se
imediatamente após a morte (2 Pedro 2.9).

2.8 HAMARTIOLOGIA
A humanidade criada à imagem e semelhança de Deus, desfrutava de um perfeito
relacionamento com Deus (Gênesis 2.15; Eclesiastes 7.29). Entretanto, houve uma
predisposição humana em contrariar a vontade de Deus (Romanos 5.12), desde então, o
pecado passou a fazer parte da realidade humana. Nesse sentido, pecado não é somente uma
atitude má que cometemos, mas uma inclinação interior (Efésios 2.1-3), uma disposição de
fazer o que é mau (Romanos 7.14-15), um estado mal de nossa alma, uma distorção em nossa
condição espiritual.
Diante disso, entendo que o ser humano tem a sua vida permeada desde o nascimento
por uma tendência em desobedecer a Deus (pecar). Paulo é enfático ao afirmar que “...uma só
transgressão resultou na condenação de todos os homens...” (Romanos 5.18 – NVI). A
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manifestação dessa pecaminosidade ocorre logo que o ser humano atinge o uso da razão e a
capacidade de agir, atingindo a toda a humanidade (1 João 1.8). Dessa maneira, o pecado
afeta o modo de pensar e agir do ser humano, alterando, não em sua totalidade, mas em parte,
a sua relação consigo mesmo, com o próximo e principalmente com Deus.
Os efeitos dessa deturpação da humanidade são diversos, entre eles, a mudança radical
no relacionamento com Deus (Isaías 59.2); a maldade nas relações humanas (Gênesis 4.8); a
perda da liberdade (Romanos 6.20-21) e a morte espiritual (Ezequiel 18.4; Romanos 5.12).

2.9 ANGEOLOGIA
2.9.1 Anjos
Acerca dos anjos, a Bíblia os descrevem como sendo seres criados por Deus (Neemias
9.6; Salmos 148.2-5; Colossenses 1.16). Embora sejam seres espirituais (Hebreus 1.14), estes
não possuem características divinas, tais como a onipresença (Lucas 2.8-9), onisciência
(Mateus 24.36) ou a onipotência (Daniel 10.12-13). Contudo, possuem algumas
características que os tornam superiores ao ser humano (Hebreus 2.5-7), tendo maior força e
poder (II Pedro 2.11) e sendo dotados de inteligência (Daniel 10.14), emoções (Jó 38.7; Lucas
15.10) e vontade (Isaías 14.13-14; Judas 6).
A Palavra de Deus demonstra que não possuem corpos físicos, mas em algumas
situações podem aparecer na forma corpórea (Gênesis 18.1-8,22; 19.1-3; Hebreus 13.2; João
20.11-14). Há alguns relatos em que são descritos como sendo seres alados (Êxodo 25.20;
Isaías 6.2, Zacarias 9.6). A afirmação de Jesus de que os anjos não se casam (Mateus 22.30)
nos sugere que são seres assexuados.
Sobre a função dos anjos, temos vários relatos bíblicos em que os anjos desempenham
variadas finalidades: em Gênesis 3.24 tinham a incumbência de guardar a árvore da vida, no
jardim do Éden; em 1 Reis 19.5-7 um anjo supre a necessidade de alimento de Elias; em 2
Reis 19.35 um anjo coloca à morte 185 mil assírios que invadiram Israel; em Isaías 6.2-3 os
anjos louvam ao Senhor; em Daniel 8.16, um anjo surge como um mensageiro, assim como
em Lucas 1.11-20; em Lucas 22.41-43 um anjo fortalecia a Jesus; em Atos 5.19 um anjo
liberta os apóstolos da prisão; e em Hebreus 1.13-14 os anjos são descritos como enviados
que servem os salvos em Cristo Jesus.
Podemos enxergar na Bíblia alguns tipos distintos de anjos: arcanjo (Judas 9; 1
Tessalonicenses 4.16); serafins (Isaías 6.2-3); querubins (Êxodo 25.18-22; Salmo 99.1). E
embora não seja possível quantificar o número de anjos, podemos concluir que são muitos,
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uma vez que a Bíblia utiliza expressões como “milhares de milhares o serviam, e milhões de
milhões estavam diante dele” (Daniel 7.10). Entretanto, a Palavra de Deus nos afirma que um
terço dos anjos se rebelaram contra Deus (Apocalipse 9.1; Apocalipse 12.3-9).

2.9.2 Demônios
Se por um lado, a Bíblia menciona a existência dos anjos que são mensageiros a
serviço de Deus, as Escrituras também revelam a existência dos espíritos malignos, tanto no
Antigo Testamento (Levítico 17.7; Deuteronômio 32.17; Salmos 106.37) quanto no Novo
Testamento (Marcos 5.12; Lucas 11.15; Romanos 8.38; 1 Coríntios 10.20; Tiago 2.19).
Os demônios se opõem a Deus, disseminando heresias na igreja (1 Timóteo 4.1),
causando enfermidades na humanidade (Mateus 12.22; Marcos 9.25; Lucas 13.11),
influenciando negativamente autoridades governamentais (Apocalipse 16.14), lutando contra
os servos de Deus (Efésios 6.12), entre outras práticas malignas. Contudo, Jesus concede aos
seus discípulos autoridade e poder contra o mal (Mateus 10.8; Marcos 16.17).

2.9.3 Satanás
A Bíblia fala de um ser espiritual criado por Deus em sabedoria e formosura, mas que
em razão do seu orgulho e ambições ilícitas rebelou-se contra Deus, perdendo sua posição
angelical (Isaías 14.12-15; Ezequiel 28.17-18). A este, a Bíblia o chama de Satanás (Romanos
16.20), Diabo (Tiago 4.7), deus deste século (2 Coríntios 4.4), Maligno (1 João 5.18-19),
Belzebu (Mateus 12.27), entre outros nomes.
Com relação a Deus, Satanás o calunia (Gênesis 3.4,5). Com relação ao povo de Deus,
Satanás acusa (Apocalipse 12.10), impede o avanço da obra de Deus (1 Tessalonicenses 2.18),
induz a uma conduta pecaminosa (João 13.2; Atos 5.3). Com relação aos incrédulos, Satanás
cega a mente para que não compreendam o Evangelho (2 Coríntios 4.3-4). Há muitas outras
ações de Satanás, contudo, o seu poder é limitado àquilo que é permissão de Deus (1 João
5.18).

2.10 SOTERIOLOGIA
Uma verdade exaustivamente explanada no texto bíblico é: Deus salva os homens dos
seus pecados. Desde Gênesis até Apocalipse, desde a cena trágica do Éden até a visão gloriosa
da Nova Jerusalém, percebe-se a poderosa mão de Deus, estendida em socorro do homem,
para libertá-lo do pecado.
21

No Antigo Testamento há diversas referências a Deus como libertador e salvador do


seu povo. Em algumas destas, o livramento divino é material, porém, vimos citações em que o
sentido da salvação é espiritual. Davi dizia: “Lava-me completamente da minha iniquidade e
purifica-me do meu pecado” e “Restitui-me a alegria da tua salvação” (Salmos 55.2,12). Pela
boca de Isaías, Deus disse: “Voltem-se para mim e sejam salvos, vocês, todos os confins da
terra; porque eu sou Deus, e não há outro” (Isaías 45.22). O Novo Testamento, de forma
mais explícita na revelação especial em Cristo Jesus, abordará amplamente sobre a salvação,
destacando a graça, a regeneração, a justificação, a adoção e a santificação.

2.10.1 Graça
Paulo escrevendo aos cristãos da igreja em Éfeso diz: “Porque pela graça vocês são
salvos” (1 Pedro 2.8). A graça é a ação de Deus objetivando resgatar o homem de seu estado
de pecado. É o favor imerecido e é por meio dela que somos salmos.
Paulo diz a Tito: “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos”
(Tito 2.11). Assim, todas as pessoas são capazes de crer para serem salvas, pois Deus
derramou a sua graça igualmente a todos.

2.10.2 Arrependimento e fé
A obra salvadora é de Deus e somente Dele. O homem não pode salvar-se a si mesmo.
Entretanto, em sua soberania Deus não invalida a responsabilidade e liberdade do ser humano.
Ao ser alvo da graça redentora de Deus, o homem precisa responder com arrependimento e fé.
Jesus falou sobre arrependimento no início da carreira ministerial (Mateus 3.1-2). O
arrependimento foi frisado na pregação de Pedro (Atos 2.38) e nas pregações de Paulo (Atos
17.30). Assim, fica evidente que o mérito da salvação pertence a Deus, mas há a necessidade
do homem experimentar a convicção do pecado e o reconhecimento diante de Deus,
assumindo um compromisso de mudança de rumo.
Contudo, apenas o arrependimento em si não isentará o homem do domínio do pecado.
Este precisa ter fé em Cristo Jesus, crendo que ele é o Filho de Deus, para que assim, seja
salvo (Romanos 10.9).

2.10.3 Regeneração
A partir do arrependimento e da fé, o Espírito Santo opera na vida do cristão a
regeneração. A regeneração é o processo pelo qual, espiritualmente falando, Deus refaz o
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homem, quando este arrepende-se dos seus pecados e crê em Jesus como o seu Salvador e
Senhor. É o novo nascimento do homem, o qual não é na carne, mas é um nascimento do
Espírito (João 3.5-6).
No texto de Tito 3.4-7, Paulo diz:

Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por
todos, ele nos salvou, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua
misericórdia. Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito
Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo
a esperança da vida eterna.

Interessante observar a presença da Trindade no processo, em que Deus manifesta o


seu amor e misericórdia por todos, sendo que somos lavados e regenerados pelo Espírito
Santo, o qual é derramado sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso salvador.
A Bíblia destaca ainda que a regeneração gera em nós as práticas de justiça (1 João
2.29), a aversão pelo pecado (1 João 3.9), o amor pelos nossos irmãos (1 João 4.7), a
capacidade de vencer o mundo (1 João 5.4) e a proteção de Deus contra o Maligno (1 João
5.18). Não significa que estaremos completamente imunes ao pecado (1 João 1.8), mas que
teremos uma nova disposição em viver em santidade, haja vista que é na regeneração que
somos batizados (1 Coríntios 12.13) e selados (Efésios 1.13) com o Espírito Santo.

2.10.4 Justificação
A justificação é o ato de Deus isentando o pecador arrependido da pena divina
merecida (Romanos 5.18-19). É Cristo assumindo a dívida do homem (2 Coríntios 5.21), afim
de que este tenha paz com Deus (Romanos 5.1). Portanto, é obra de Deus e não do homem,
conforme ensina o apóstolo Paulo: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É
Deus quem os justifica” (Romanos 8.33).

2.10.5 Adoção
Por meio da fé em Cristo, o cristão é adotado por Deus (João 1.12). Essa adoção
espiritual nos coloca na condição de relacionar-se com Deus na perspectiva da paternidade e
da filiação. Assim, nos tornamos participantes da família de Deus (Efésios 2.19-22; 1 João
3.1-2), tendo o privilégio de dirigir-se a Deus como Pai (Mateus 6.9) e sendo considerado
herdeiro de Deus e coerdeiro com Cristo (Romanos 8.17; Gálatas 4.6-7).
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2.10.6 Santificação
Uma vez regenerado pelo Espírito Santo, justificado em Cristo e adotado por Deus, o
Pai declara o pecador livre de toda condenação do pecado (Romanos 8.1) e apto para andar
em santidade (2 Coríntios 7.1; 1 Tessalonicenses 4.7; 1 Pedro 1.15).
A santificação está relacionada com o novo modo de vida do convertido, em que este
buscará uma vida de consagração e obediência a Deus. A santificação não é apenas uma
mudança de conduta, mas é a ação de Deus na integralidade do ser humano, agindo no seu
espírito, na sua alma e no seu corpo (1 Tessalonicenses 5.23). É uma obra contínua de Deus
na vida do homem enquanto este estiver na terra (Filipenses 1.6).

2.10.7 Glorificação
A glorificação é o estágio final da salvação. É quando o crente desfrutará de todas as
promessas relacionadas com a vida eterna concedida por Cristo (2 Timóteo 4.7-8), recebendo
a transformação do corpo corruptível em corpo incorruptível (1 Coríntios 15.38-50).

2.10.8 Eleição
A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira expõe que “Eleição é a
escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por
qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça.” Tal afirmação está em consonância
com o texto bíblico em que Paulo diz:

Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e
irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para ele, para sermos adotados
como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade,
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.
(Efésios 1.4-6)

Duas correntes teológicas dominam a teologia protestante a respeito da obra redentora:


o calvinismo, que considera a predestinação como um ato da soberania de Deus em conceder
a salvação sem qualquer merecimento, apenas como resultado da sua vontade divina; e o
arminianismo, que entende que o homem possui o livre arbítrio para arrepender-se e ter fé,
afim de que assim seja regenerado, justificado e adotado como filho de Deus.
Entendemos que Deus realiza um convite desejando que todos sejam salvos, conforme
diz Paulo em 1 Timóteo 2.4: “nosso Salvador, que deseja que todos sejam salvos”. Pedro
corrobora dizendo que Deus é paciente “não querendo que ninguém pereça, mas que todos
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cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3.9). Todavia, todos são livres para aceitar ou não o
convite de Deus.
João diz que Jesus “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1.11).
No versículo seguinte, João diz que aqueles que receberam a Jesus, a estes foi lhes “dado o
poder de serem feitos filhos de Deus”. Assim, podemos entender que Jesus vem para todos,
mas o homem tem o livre arbítrio para não recebe-lo (Mateus 22.2-5; Atos 7.51; Atos 13.46;
Romanos 2.5; Hebreus 12.25; Apocalipse 3.20). Mas, aos que se arrependem de seus pecados
e têm fé em Jesus, Deus concede a salvação (João 3.16) e os adota como filhos (João 1.12).
Quando Pedro discursa acerca dos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1
Pedro 1.2), compreendemos que antes da fundação do mundo Deus anteviu quais seriam as
pessoas que o aceitariam Cristo como Salvador e Senhor, assim, a estes o Senhor elegeu para
a salvação. Sobre isso, Paulo diz:

Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Romanos 8.29-
30)

2.10.9 Perseverança dos Santos


Em Romanos 8.29, Paulo destaca que pela sua presciência Deus conheceu,
predestinou, chamou, justificou e glorificou. Assim, cremos que Deus opera de uma forma
integral na vida dos salvos, de modo que este irá perseverar em sua fé. Ele não somente
proporciona ao homem o meio da salvação, mas concede a este o querer apropriar-se da
salvação (Filipenses 2.13).
Em Jeremias 32.40, Deus diz: “Farei com eles uma aliança eterna, segundo a qual
não deixarei de lhes fazer o bem; porei o meu temor no coração deles, para que nunca se
afastem de mim.” Neste verso, é possível destacar a eternidade da aliança feita por Deus. Ou
seja, não é uma aliança temporária, mas permanente. E para que o homem cumpra sua parte
na aliança e ela seja eterna, o próprio Deus colocará o temor no coração do homem, afim de
que este persevere no seu chamado para a salvação.
Em Ezequiel 11.19-20, Deus afirma que daria um novo coração, afim de que seu povo
andasse nos seus estatutos, guardasse e executasse seu juízo. Em Mateus 18.12-13, Jesus
ilustra sobre a ovelha que estava perdida e foi reencontrada pelo pastor. Destes versículos,
apreendemos a certeza de que o homem que teve uma experiência genuína com Deus, poderá
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vivenciar um período de distanciamento da presença de Deus, mas certamente retornará.


Aquele que recebeu a adoção Pai poderá afastar-se de casa, mas regressará para o seu lar
(Lucas 15.11-24).
No “item VI – Eleição”, da Declaração Doutrinária da CBB, os pontos 3, 4 e 5
afirmam acerca do princípio da perseverança dos santos:

3 - A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados


pelo poder de Deus; 4 - Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o
crente do amor de Deus em Cristo Jesus; 5 - O novo nascimento, o perdão, a
justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo
asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação;

2.11 REINO DE DEUS


João batista dizia: “Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mateus
3.2). Posteriormente Jesus também disse: “Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos
Céus” (Mateus 4.17). Assim, Jesus Cristo e seu precursor anunciaram a mensagem acerca do
Reino dos Céus ou Reino de Deus. E para ilustrar o Reino de Deus, Jesus utilizou algumas
parábolas (Mateus 13): a parábola dos solos; a parábola do joio plantado no meio do trigo; a
parábola do grão de mostarda; a parábola do fermento; a parábola do tesouro escondido; a
parábola da pérola de grande valor e a parábola da rede lançada ao mar.
Deste modo, Jesus não se referia a um reino que seria no futuro ou na eternidade.
Reino de Deus é toda a esfera de domínio divino desde a era presente até a eternidade. Em
Mateus 12.28, Jesus afirma que a expulsão de um demônio era uma marca de que o Reino de
Deus havia chegado. Porém, a manifestação plena do Reino de Deus não se dará nesta terra,
mas quando Jesus buscar os seus para governar com ele para sempre (Apocalipse 22.5).
A entrada no Reino de Deus se dá através do arrependimento e da fé (Marcos 1.15).
Portanto, uma conduta imoral é incompatível com a vida no reino (1 Coríntios 6.9-10), mas
esta é caracterizada pela justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Romanos 14.17).

2.12 ESCATOLOGIA
2.12.1 Segunda Vinda de Cristo
Em Mateus 16.27, o próprio Jesus declara: “Porque o Filho do Homem há de vir na
glória de seu Pai, com os seus anjos.” Além desse texto, Jesus declara sobre a sua volta em
Mateus 24, 25 e 26; Lucas 18.12-15; João 14.3-28. Os apóstolos de Jesus falaram acerca da
sua vinda (1 Coríntios 1.7; Filipenses 3.20; 1 Tessalonicenses 4.16; Tito 2.13; Tiago 5.7; 2
26

Pedro 3.10; 1 João 2.28). De forma muito explícita, o autor de Hebreus diz: “assim também
Cristo, tendo-se oferecido uma vez por todas para tirar os pecados de muitos, aparecerá
segunda vez, não para tirar pecados, mas para salvar aqueles que esperam por ele” (Hebreus
9.28).
Não é possível datar este evento, uma vez que o próprio Jesus afirmou que somente o
Pai sabe a hora e o dia da segunda vinda (Marcos 13.32). Porém, a Bíblia nos fornece algumas
características de como será a segunda vinda: Jesus voltará de forma repentina, tal como um
ladrão invade uma casa para realizar um roubo (1 Tessalonicenses 5.2; 2 Pedro 3.10); a
segunda vinda de Jesus será gloriosa, vindo como um rei (Mateus 25.31), sendo acompanhado
por um exército de anjos (Mateus 16.27), marcada pela ressurreição dos mortos (1
Tessalonicenses 4.16) e tendo Cristo sendo admirado por todos os que creem (2
Tessalonicenses 1.10); e será visível a todos (Mateus 24.27; Lucas 17.24).
A Bíblia descreve alguns fatos que antecederão a segunda vinda de Jesus: guerras,
terremotos, perseguição religiosa, violência exacerbada, apostasia o surgimento de muitos
falsos cristos e falsos profetas (Marcos 13).
Embora Cristo não tenha deixado uma época de retorno (Mateus 24.42), é sabido que
na ocasião do seu retorno haverá grande alegria para uns e tristeza para outros (Mateus 25.31-
46). Para nós, a Igreja de Cristo, fica a grande expectativa de que “...seremos arrebatados [...]
para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I
Tessalonicenses 4.17).

2.12.2 Arrebatamento da Igreja


Na ocasião da segunda vinda de Jesus, a Bíblia nos ensina que os mortos em Cristo
ressuscitarão e os vivos em Cristo terão os seus corpos glorificados. Assim, a igreja de Jesus
será arrebatada para encontrar-se com Jesus nas nuvens (1 Coríntios 15.51-52; 1
Tessalonicenses 4.15-17).
Considerando algumas características apresentadas nos textos bíblicos, tais como a
vinda de Jesus como um rei, acompanhado de anjos, a ressurreição dos mortos, a glorificação
dos corpos dos vivos, os fortes sons de trombeta e a referência de Jesus à sua vinda como um
relâmpago, compreendemos que o arrebatamento da igreja não será secreto, mas visível a
todas as pessoas.
27

2.12.3 Juizo Final


Em diversas passagens a Bíblia relata acerca do julgamento que Deus fará retribuindo
ou punindo a conduta do ser humano (Mateus 25.31-46; Romanos 2.3; 1 João 2.28; Judas
6,14,15; Apocalipse 20.11-15). De forma muito explícita, Paulo diz: “Porque é necessário
que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo
o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2 Coríntios 5.10). Pregando aos atenienes,
Paulo diz: “Porque Deus estabeleceu um dia em que julgará o mundo com justiça, por meio
de um homem que escolheu. E deu certeza disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”
(Atos 17.31). Assim, compreende-se que acontecerá após a morte e ressurreição, pela ocasião
da segunda vinda de Cristo e todos os homens serão julgados.

2.12.4 Céu
O céu é o lugar real da habitação do Pai (Colossenses 3.1) e Filho à sua direita. É o
lugar em que os anjos glorificam e honram a Deus continuamente (Apocalipse 4.1-9). A
riqueza e a glória estão presentes no céu (Apocalipse 21.18-21).
Mas o céu também é o lugar destinado para todos os que tiveram suas vidas
transformadas pelo Evangelho de Jesus (Apocalipse 7.13-14). É onde vamos contemplar Deus
face a face (Apocalipse 22.3-4), vivendo eternamente numa condição perfeita, sem morte,
sem luto, sem pranto, sem dor (Apocalipse 21.4) e adorando genuinamente a Deus
(Apocalipse 19.6-7).

2.12.5 Inferno
O inferno foi preparado para o Diabo e seus anjos (Mateus 25.41). Porém, alguns
versículos elencam uma série de grupos de pessoas que também terão o inferno como seu
destino. Apocalipse 21.8, diz que os covardes, incrédulos, abomináveis, assassinos, imorais,
feiticeiros, idólatras e os mentirosos serão lançados no “lago que está queimando com fogo e
enxofre”, inferindo-se assim acerca do inferno. Paulo também elenca grupos de pessoas que
não herdarão o reino de Deus, ou seja, serão destinados ao inferno. Esses grupos são formados
pelos indivíduos que praticam imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria,
feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras,
orgias e coisas semelhantes a estas (Gálatas 5.19-21). Em 1 Coríntios 6.9-10, Paulo elenca
outros que serão destinados ao inferno: imorais, idólatras, adúlteros, afeminados,
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homossexuais, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Assim, o inferno será o


destino de todos aqueles que negaram a salvação em Cristo.
O inferno é um lugar de trevas e de destruição (Mateus 8.12), em que as pessoas
estarão definitivamente separadas do amor de Deus (2 Tessalonicenses 1.9), sendo
atormentadas por toda a eternidade (Mateus 25.46).

2.12.6 Milênio
Em Apocalipse 20.1-10 há uma referência a um período de mil anos, em que Satanás é
preso e impedido de enganar as nações. Acerca deste versículo, há diferentes linhas
interpretativas com suas várias segmentações: o pré-milenismo defende que a segunda vinda
de Cristo será antes de um período literal de mil anos; o pós-milenismo argumenta que a
segunda vinda de Cristo será após um período literal de mil anos e; o amilenismo crê que o
milênio já está em curso, porém, os mil anos são simbólicos e não literais.
Embora todas as teorias tenham seu arcabouço teológico, compreendemos que a
referência ao milênio deva ser compreendida a partir do simbolismo e não de sua literalidade.
Assim, não cremos em um período literal de mil anos.

2.12.7 Anticristo
A Bíblia fala do Anticristo em 2 Tessalonicenses 2.1-6 nomeando-o de “homem da
iniquidade, o filho da perdição” e destacando que este “se opõe e se levanta contra tudo o que
se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus,
apresentando-se como se fosse o próprio Deus”.
O Anticristo também é citado em 1 João 2.18,22; 1 João 4.2-3 e; 2 João 7. Desses
textos, extraímos algumas características do Anticristo: mentiroso; nega o Pai e o Filho e nega
a encarnação de Cristo. Embora o texto de Apocalipse 13 não cite a expressão “Anticristo”, as
características descritas revelam que se trata do mesmo personagem citado por Paulo e João.
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3. CONHECIMENTO E CONVICÇÃO SOBRE ECLESIOLOGIA

A Bíblia apresenta a igreja usando alguns símbolos: edifício (1 Coríntios 3.10-11;


Efésios 2.20-22); lavoura (1 Coríntios 3.6-9); noiva e Esposa (Efésios 5.22-33); corpo (1
Coríntios 12.12-27); casa (1 Timóteo 3.14-16) e coluna (1 Timóteo 3.15); rebanho (Atos
20.28; 1 Pedro 5.2); luz e sal (Mateus 5.13-16).

3.1 IGREJA UNIVERSAL


A Declaração Doutrinária da CBB aborda acerca da igreja universal como sendo “a
reunião universal dos remidos de todos os tempos, estabelecida por Jesus Cristo e sobre ele
edificada, constituindo-se no corpo espiritual do Senhor, do qual ele mesmo é a cabeça”.
Portanto, cremos que o fundamento dessa igreja que perpassa todas as épocas e localidades é
o próprio Senhor Jesus (Mateus 16.3-19). Ele é a pedra angular (1 Pedro 2.4-8) da igreja
universal (Efésios 3.10; 5.23-24,27,29,32; Colossenses 1.18,24; 1 Timóteo 3.15; Hebreus
12.22).

3.2 IGREJA LOCAL


Se por um aspecto a igreja é universal, por outro lado, compreendemos que a igreja
universal é constituída por igrejas locais. A igreja local é uma congregação de pessoas
regeneradas e batizadas após profissão de fé. É nesse sentido que a palavra “igreja” é
empregada no maior número de vezes nos livros do Novo Testamento (Atos 8.1; 9.31; 11.26;
14.23; 15.41; 16.1; 16.4; Romanos 16.5,16; 1 Coríntios 1.2; 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; 16.9; 2
Coríntios 8.1,19-23; 12.13; Gálatas 1.2,22; Colossenses 4.15-16; 1 Tessalonicenses 1.1; 2
Tessalonicenses 1.1,4; Filemom 1.2; Apocalipse 1.11). Tais congregações são constituídas
por livre vontade dessas pessoas com finalidade de prestarem culto a Deus, observarem as
ordenanças de Jesus, meditarem nos ensinamentos da Bíblia para a edificação mútua e para a
propagação do evangelho.

3.3 ORGANISMO E ORGANIZAÇÃO


Uma das metáforas utilizadas para descrever a igreja é o corpo humano. Quando a
Bíblia se utiliza de tal analogia, notamos a intencionalidade em demonstrar a vivacidade da
30

igreja. Ela não é estática, inerte. A igreja é viva. É um organismo que pela sua essência
espiritual gera vida.
Contudo, esse organismo vivo requer organização. Paulo escrevendo a Tito diz: “Foi
por esta causa que deixei você em Creta: para que pusesse em ordem as coisas restantes,
bem como, em cada cidade, constituísse presbíteros...” (Tito 1.5). Portanto, a igreja enquanto
organização requer a adoção de controles, regulamentos, normativas e demais subsídios que
proporcionem o perfeito funcionamento da instituição, bem como, a observação das leis
vigentes no país no que diz respeito à sua responsabilidade fiscal, questões trabalhistas,
informações contábeis, responsabilidade social, etc.

3.4 IGREJA BATISTA


3.4.1 A origem dos batistas
A Igreja Batista é uma denominação cristã presente em centenas de países, cuja
história tem início no século XVII. Conforme declarado no portal eletrônico da Convenção
Batista Brasileira: “com o nome de Batista existimos desde 1612, quando Thomas Helwys de
volta da Holanda, onde se refugiara da perseguição do Rei James I da Inglaterra, organizou
com os que voltaram com ele, uma igreja em Spitalfields arredores de Londres”. A partir
desta igreja local, diversas outras igrejas locais se espalharam pelo território da Inglaterra, e
posteriormente, em centenas de países.
No Brasil, a primeira Igreja Batista foi organizada em 1871, na cidade de Santa
Bárbara d’Oeste. Esta igreja era formada por imigrantes norte-americanos, os quais
estabeleceram-se na cidade. Em 1879, os imigrantes norte-americanos organizaram a Segunda
Igreja Batista na cidade de Americana.
A primeira Igreja Batista voltada para a evangelização do povo brasileiro foi
organizada em 15 de outubro de 1882, na cidade de Salvador. Os membros fundadores desta
igreja foram os missionários William Buck Bagby, Ana Luther Bagby, Zacarias Taylor,
Katarin Taylor e o ex-sacercote católico Antonio Teixeira de Albuquerque.
Após 25 anos de implantação do trabalho missionário batista em solo brasileiro, os
batistas alcançaram o número de 83 igrejas, com aproximadamente 4.200 membros. Assim,
Arthur Beriah Deter, Zacharias Taylor e Salomão Ginsburg lideraram o processo de
organização de uma convenção que reuniria todas as igrejas batistas em solo brasileiro. Em 22
de junho de 1907, na cidade de Salvador, organizou-se a Convenção Batista Brasileira.
31

3.4.2 Funções da Igreja


Em relação a Deus, a igreja tem a missão de adorá-lo e glorificá-lo em toda parte (João
4.23; Efésios 1.11,12). Em relação a si mesma, a igreja tem a missão de edificação, cuidado
uns dos os outros e promovendo o seu próprio crescimento qualitativo e quantitativo
(Hebreus 4.15,16). Em relação ao mundo, a igreja tem a missão de pregar o Evangelho ao
perdido e fazer discípulos (Mateus 28.18-20; Atos 1.8).

3.4.3 Oficiais da Igreja


A Bíblia apresenta dois oficiais para o trabalho da igreja, os quais são consagrados
para o exercício dos cargos: pastores, também entendidos no Novo Testamento como anciãos,
presbíteros ou bispos; e diáconos, que significa servo.
Ao pastor está a incumbência de ser fiel ao chamado que lhe é atribuído pelo próprio
Deus. Suas tarefas primordiais são cuidar das ovelhas do Senhor Jesus Cristo (João 10.1-16;
Hebreus 13.20-21; 1 Pedro 2.25; 5.4) e ministrar a Palavra de Deus, tendo Jesus como modelo
do pastor ideal (João 10.11). De acordo com 1 Timóteo 3.1-7, o pastor deve ser irrepreensível,
esposo de uma só mulher, moderado, sensato, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não
dado ao vinho, nem violento, porém cordial, inimigo de conflitos, não avarento, que governe
bem a própria casa, que não seja recém-convertido e que tenha bom testemunho dos de fora
A Bíblia descreve a atuação dos diáconos na igreja neotestamentária (Atos 6.1-4;
Filipenses 1.1; I Timóteo 3.8-13). A estes, cabe a tarefa de servir a Deus e à sua igreja
mediante as necessidades que esta venha apresentar. O exercício do ministério diaconal requer
os seguintes requisitos: ser respeitável, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não
gananciosos, que conserva o mistério da fé com a consciência limpa, irrepreensível, marido de
uma só mulher e que governe bem os seus filhos e a própria casa.

3.4.4 O governo da Igreja


As igrejas apostólicas geriam as suas próprias questões, não havendo autoridade
externa que as governasse. No Novo Testamento, a própria congregação escolhia seus oficiais
(Atos 6.1-6), recebia membros (Romanos 14.1-2; 2 Coríntios 2.5-11), excluía membros (1
Coríntios 5.1-13) e resolvia questões de disciplina (Mateus 18.15-17; 1 Coríntios 6.1-8).
Portanto, as decisões das igrejas locais devem primeiramente expressar a vontade de Deus:
“Pareceu bem ao Espírito santo e nós” (Atos 15.28). Assim, as decisões da igreja também
32

devem ser uma expressão da vontade da congregação: “Então os apóstolos, e os presbíteros,


com toda a igreja, decidiram” (Atos 15.22).
Assim, como batistas, não praticamos governo episcopal ou presbiterial e sim, o
governo que é congregacional e democrático. Entendemos que cada igreja local é autônoma
quanto às questões administrativas e congregacional quanto ao seu governo interno. Acerca
disso, a nossa Declaração Doutrinária afirma que “não há nenhum poder que possa
constranger a igreja local, a não ser a vontade de Deus, manifestada através de seu Santo
Espírito.” Dessa forma, cada membro de uma igreja batista tem poder de escolha,
considerações e voto nas decisões que a igreja precisa tomar em assembleia, respeitando a
decisão da maioria.

3.4.5 Ordenanças da Igreja


Chamamos de ordenanças os ritos e cerimônias que foram prescritas pelo Senhor
Jesus. Embora o termo “ordenança” não esteja presente na Bíblia, compreendemos que tais
cerimônias são símbolos de importantes doutrinas cristãs, sendo elas, o batismo e a ceia do
Senhor.

3.4.5.1 Batismo
O batismo é o ato de imergir, mergulhar o batizando em água e levantá-lo em seguida.
Embora, determinados grupos cristãos utilizem outras formas de praticar o batismo, tais como
a aspersão e a efusão, cremos que o modo bíblico de realizar esta cerimônia é através da
imersão completa do batizando, pois o ato de mergulhar simboliza a morte, sepultamento e
ressurreição em Cristo (Romanos 6.4).
O batismo não é uma mera sugestão de uma cerimônia, mas uma ordem de Cristo:
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E
eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28.19-20).

3.4.5.2 Ceia do Senhor


A ceia foi instituída e ordenada por Jesus Cristo (Mateus 26.26-29; Marcos 14.22-25;
Lucas 22.27-30) e corroborada por Paulo (1 Coríntios 11.22-26).
Como batistas, entendemos que a ceia é uma cerimônia em que a igreja se reúne para
comemorar e proclamar a morte de Jesus Cristo, utilizando-se do pão como símbolo do corpo
33

e o vinho simbolizando o sangue de Jesus. Assim, a interpretação que fazemos acerca da ceia
do Senhor é que esta é um memorial, ou seja, é uma cerimônia em que trazemos à memória a
lembrança de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”.
Dessa forma, não cremos na transubstanciação, em que os seus defensores alegam
que o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue literal de Jesus, após serem
abençoados pelo sacerdote católico romano. De igual modo, não cremos na
consubstanciação, em que seus defensores afirmam que Cristo, no momento em que a ceia
do Senhor está sendo ministrada, Jesus se faz presente de uma forma misteriosa e milagrosa,
no pão e no vinho, embora não haja alteração nos elementos. E também não cremos na visão
da presença mística de Jesus na ceia, em que seus defensores alegam que o participante da
ceia recebe benefícios espirituais.
No que diz respeito ao modo de observar a ceia, creio que esta deva ser servida a todos
os cristãos que assumiram um compromisso com Jesus, foram batizados, estão integrados e
em comunhão com sua igreja local e com Deus (ceia livre). Além do posicionamento da ceia
livre, há outros posicionamentos distintos: a ceia ultra restrita, em que apenas os membros da
igreja local podem participar; a ceia restrita, em que apenas os membros da denominação
podem participar e a ceia aberta, em que todas as pessoas, independentemente de seu vínculo
religioso podem participar.

3.4.6 Responsabilidade Denominacional


A Declaração Doutrinária da CBB afirma que “Os Batistas caracterizam-se também
pela intensa e ativa cooperação entre suas Igrejas.” Deste modo, a unidade dos batistas
ocorre não por uma coerção denominacional, mas por um sentimento de coesão, afim de
realizar missões e evangelismo, propiciar a educação teológica bíblica e fundamentada nos
princípios batistas, bem como ações no âmbito social e de beneficência.
A cooperação denominacional ocorre dentro das esferas regionais, estaduais,
nacionais e mundiais. Assim, em nossa realidade local, as igrejas batistas do sul do Mato
Grosso do Sul estão associadas à ASSIBAS – Associação das Igrejas Batistas do Sul do Mato
Grosso do Sul, à CBSM – Convenção Batista Sul Mato-grossense, à CBB – Convenção
Batista Brasileira, a qual é filiada à Aliança Batista Mundial.
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3.4.7 Membresia
3.4.7.1 Deveres e direitos
Uma igreja batista local é formada de pessoas regeneradas e biblicamente batizadas,
implicando no cumprimento de deveres para com a igreja local, bem como o gozo de
privilégios. Conforme o modelo de estatuto proposto pela CBB, aos membros recai a
responsabilidade de:

I – manter uma conduta compatível com os princípios éticos, morais e espirituais de


acordo com os ensinos da Bíblia Sagrada; II – exercitar os dons e talentos de que são
dotados, e contribuir com dízimos e ofertas, para que a Igreja atinja seus objetivos e
cumpra sua missão; III – exercer, com zelo e dedicação, os cargos para os quais
forem eleitos; IV – observar o presente Estatuto e zelar pelo seu cumprimento.

No que diz respeito aos direitos de um membro de uma igreja batista, o modelo de
estatuto proposto pela CBB sugere as seguintes prerrogativas:

I – participar das atividades da Igreja; II – participar da Assembléia Geral, com


direito ao uso da palavra ao exercício do voto; III – participar dos cultos,
celebrações, eventos e demais atividades promovidas pela Igreja; IV – votar e ser
votado para quaisquer cargos ou funções, observada a maioridade civil, quando se
tratar de eleição da Diretoria e Conselho Fiscal da Igreja; V – receber assistência
espiritual.

3.4.7.2 Formas de entrada e saída


A admissão de uma pessoa no rol de membros de uma igreja batista ocorre mediante o
batismo, a solicitação de transferência de outra igreja batista, aclamação ou reconciliação.
Deixará de compor o rol de membros de uma igreja batista, a pessoa que solicitar a
transferência para outra igreja batista, falecer ou ser desligado da membresia, em razão de
ausência sistemática de cultos e demais atividades da igreja local, defender e professar
doutrinas ou práticas que contrariem a Palavra de Deus, manter práticas incompatíveis com a
doutrina bíblica ou a pedido do membro.

3.4.7.3 Disciplina
A igreja é formada por pessoas regeneradas, contudo, passíveis de cometer erros e
ferir princípios estabelecidos por Deus. Assim, no ambiente eclesiástico é necessário a prática
da disciplina afim de “nos tornarmos participantes da santidade de Deus” (Hebreus 12.10).
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A disciplina começa no processo do ensino, em que cada membro compreende através


da instrução bíblica, afim de formar o caráter de Cristo no discípulo (Hebreus 3.13).
Nomeamos essa disciplina de formativa. Contudo, quando o membro de uma igreja batista
comete um desvio de conduta e peca contra Deus, é necessária uma disciplina corretiva, em
que a igreja o exortará (2 Tessalonicenses 3.14-15), de modo que este compreenda seu erro,
arrependa-se do seu pecado e reconduza as suas práticas. No caso em que uma pessoa recebe
a disciplina formativa e a disciplina corretiva e, ainda assim permanece na prática do pecado,
então a igreja precisará utilizar a disciplina cirúrgica, que é o desligamento do rol de membros
da igreja (1 Coríntios 5.3-5).

4. POSICIONAMENTO SOBRE A VIDA E ÉTICA PASTORAL

4.1 O MINISTÉRIO PASTORAL


4.1.1 Quem é o pastor
O pastor é a pessoa vocacionada por Deus, afim de exercer um chamado de apascentar
e pastorear as ovelhas de Jesus (João 21.15-17).

4.1.2 Para quê um pastor


Cabe ao pastor exortar, admoestar e ensinar (1 Timóteo 3.2; 4.2; 4.13; 6.17; Tito 2.15;
3.10), dedicando sua vida em favor das suas ovelhas (João 10.1-18).

4.1.3 O caráter e o comportamento do pastor


De acordo com Paulo, o pastor deve ser uma pessoa irrepreensível, esposo de uma só
mulher, moderado, sensato, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, nem
violento, cordial, inimigo de conflitos, não avarento, que governe bem a própria casa, que não
seja recém-convertido e que tenha bom testemunho dos de fora (1 Timóteo 3.1-7).

4.1.4 O pastor e sua vida devocional


O pastor de esmerar-se em seu processo de santificação, buscando sistematicamente o
relacionamento e intimidade com Deus através de práticas devocionais, tais como oração,
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jejum, meditação na Bíblia e louvor a Deus. De igual modo, o pastor deve empenhar-se nos
estudos da Palavra de Deus, afim de obter edificação pessoal, bem como, subsídios para
ensinar a membresia da igreja.

4.1.5 O pastor e seu ministério local


A Bíblia diz: “Darei a vocês pastores segundo o meu coração, que os apascentem com
conhecimento e com inteligência” (Jeremias 3.15). Assim, o pastor deve ter comprometimento
em pastorear com conhecimento e inteligência, jamais cumprindo o seu ministério
relaxadamente (Jeremias 48.10).

4.1.6 O pastor e seu envolvimento denominacional


No que diz respeito à denominação batista, o pastor deverá ter uma conduta de
cooperação, haja vista que este é um dos pilares denominacionais. Assim, o pastor deverá
envolver-se efetivamente com as organizações denominacionais, bem como, apoiar as ações
conjuntas das igrejas batistas.
No que diz respeito às demais denominações, o pastor poderá envolver-se em ações
conjuntas com denominações diversas, desde que não interfira no seu compromisso com a
igreja local e não fira princípios éticos e cristãos.

4.1.7 O pastor e os desafios sociais contemporâneos


No que tange aos desafios atuais, como divórcio, aborto, homossexualidade, ideologia
de gênero e tantos outros, a posição de um pastor sempre deverá ser pautada na Palavra de
Deus.

4.2 O PASTOR E SEUS RELACIONAMENTOS


4.2.1 O pastor e sua família
Na orientação acerca da conduta de um pastor em 1 Timóteo 3.1-7, Paulo menciona o
cuidado que o pastor deve empreender com a sua família. Assim, as atividades ministeriais
não devem cooperar para uma postura de ausência do pastor no que diz respeito ao seu papel
de esposo e pai.
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4.2.2 O pastor e os pastores


A relação com outros pastores sempre deverá ser de respeito e mutualidade. Tomando
os devidos cuidados, afim de não ser invasivo, o pastor precisa atuar no sentido de cooperar
com colegas ministeriais, os quais possam enfrentar eventuais problemas.

4.3 O PASTOR E A SOCIEDADE


4.3.1 O pastor e a política
A Declaração Doutrinária da CBB diz que “A Igreja e o Estado devem estar separados
por serem diferentes em sua natureza, objetivos e funções”. Dessa forma, o pastor não deve
utilizar-se da sua posição ministerial para obter vantagens num pleito eleitoral, tão pouco,
induzir a membresia a optar por determinado candidato ou partido. Ao pastor cabe a
orientação, afim de que os integrantes da igreja local portem-se como cidadãos íntegros e
comprometidos com a lisura e a honestidade, inclusive nas questões políticas.

4.3.2 O pastor e as instituições “secretas”


O pastor não deve estar vinculado a instituições das quais não se tem transparência,
bem como instituições que possam causar escândalo perante a igreja local ou ainda, incorrer
em práticas pecaminosas.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BÍBLIA SAGRADA. João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel (ACF) Online. Versão gratuita
online, sem notas remissivas. Disponível no link https://www.bibliaonline.com.br/acf/

BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional [traduzida pela comissão da Sociedade


Bíblica Internacional]. São Paulo: Editora Vida, 2000.

BÍBLIA SAGRADA. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no


Brasil. Edição Revista e Atualizada no Brasil, 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri:
Sociedade Bíblia do Brasil, 2017.
38

DARGAN, E.C. As doutrinas da nossa fé: breve compêndio sobre as Doutrinas Batistas. Trad.
W. E. Entzminger. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1971.

Em que creem os batistas – Documentos batistas. Rio de Janeiro: JUERP, 2001.

FERREIRA, S. Ebenézer. Manual da Igreja e do Obreiro. Rio de Janeiro: Juerp, 1993.

GRENZ, Stanley J. Dicionário de Teologia. São Paulo: Editora Vida, 2002.


Portal Batista. Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. Disponível em:
http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=22. Acesso em 15 de
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Portal Batista. Quem somos como Batistas. Disponível em:


http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=24. Acesso em 15 de
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SILVEIRA, Irenio Chaves. 2 Uma nova Criatura em Cristo: a afirmação da fé Um estudo da


Declaração da CBB. Rio de Janeiro: JUERP, 2002.

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