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Cristologia: de cima ou de baixo?

*
— PROF. DR. J. GALOT. S. J.
CHRISTOLOGY: FROM ABOVE OR FROM BELOW?
These two expressions mean two opposlte trends in
the development of protestant Christology. Explaining the
most characteristic ãoctrines, mainly Barth and Pannen-
berg, we have to distinguish the two methodological pro-
blems involved.
The first one relates to the knowledge of Christology:
Do we have to start from the statement of faith or from
a historical research? The answer is complex. Christology
makes historical researches on Jesus, but these researches
are based on faith.
The second problem implies a vertical diréction. Do
we have to get down from God to man, or get up from
mau to God? Christology starts from the man in Jesus
Christ inasmuch as His divinity shows forth through His
huma.n life, but, on the other hanã, we have to look at
Jesus as the Son that existeã before He became man.

"Cristologia de cima", "cris- Para compreender melhor o


tologia de baixo": as duas vi- problema, considerá-lo-emos tal
sões cristológicas revelam um como ele se colocou na teologia
problema essencial de método. protestante alemã. Retratando
Deve-se, na elaboração da cris- brevemente o debate que carac-
tologia, proceder a partir de terizou o desenvolvimento des-
Deus ou a partir do homem? sa teologia, poderemos enten-
Deve-se fazer repousar a cristo- der mais concretamente o sen-
logia sobre um dogma de fé, ou tido das duas tendências que se
afrontam e das opções que se
deve-se construí-la sobre a base impõem para o método cristo-
da história? lógico.
(•) Os originais em francês do presente gorlana. Dentre suas publicações mais
artigo foram enviados à Redação pelo recentes, podem ser enumeradas: Etre
autor e foram traduzidos para o por- né de Dleu (1969), La personne du
tuguês pelo Prof. P. Benno Brod, S. J. Christ (1969), Vlsage nouveau du prê-
J. Galot nasceu em Ougrée (Llège), tre (1970), La consclence de Jesus
Bélgica, a 31-8-1919. Ordenou-se sa- (1971), Vers une nouvelle chrlstologle
cerdote em 1949. Doutor em teologia (1971), Le mystère de Tespérance
pela Universidade Gregorlana (1953). (1973). Assinalemos também Orações
Foi professor de teologia dogmática Eucarístlcas recentemente traduzidas
no Colégio St. Albert de Lovalna até ao espanhol sob o titulo de Eucaris-
1969, e desde 1968 é professor de teo- tia mistério y vida, Editorial Verbo
logia dogmática na Universidade Gre- Divino, Estella, Navarra, 1972.

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I. As duas vias cristológicas nos ele pensou de sua morte. Deve-
teólogos protestantes se admitir uma grande diferen-
ça entre esse Jesus histórico e
a. Cristologia de cima o Cristo do querigma. O Cristo
querigmático não deve procurar
Martin Káhler é considerado justificações na história, e ape-
como o protagonista da cristo- nas devemos conservar sua in-
logia de cima (1). Em 1892, terpretação existencial, a qual
esse teólogo reagiu contra o nos fornece representações do
movimento teológico que se de- apocalipse judeu e do mito
dicava unicamente à investiga- gnóstico de redenção. Segundo
ção da vida de Jesus, modelo da esta interpretação, não se pode
vida cristã, e que se limitava a falar em noções essencialistas
ver em Cristo o homem. Ele de natureza divina, de natureza
afirma o princípio de que a teo- humana, de sua união na única
logia se funda essencialmente pessoa do Verbo; nem há inter-
sobre a pregação da comunida- venção objetiva de Deus no
de, e que o Cristo real é idêntico mundo dos homens, nem mani-
ao Cristo pregado. A realidade festação sensível de pessoa di-
de Cristo se patenteia em sua vina. A única coisa que conta é
influência pessoal, que consiste a existência autêntica na fé, fé
na fé de seus discípulos. Esta fé na salvação notificada por
não pode depender de pesquisas Deus em Cristo.
científicas sobre a vida de Je- Na visão bultmanniana, Je-
sus. sus portanto não é Deus nem
Em época mais recente, R. Filho de Deus. De que maneira
Bultmann é muitas vezes con- uma tal cristologia continua a
siderado como um representan- ser "de cima", quando ela colo-
te da "cristologia de cima" (2). ca o Cristo num nível notavel-
Contudo, só num sentido bem mente inferior àquele em que a
particular se lhe pode aplicar a tradição cristã o colocou? A
expressão (3). De fato, a cristo- afirmação poderia parecer pa-
logia, uma vez demitisada por radoxal; ela se explica pelo va-
esse autor, fica reduzida a pou- lor atribuído ao querigma inde-
ca coisa. Para ele, o Jesus his- pendentemente da história, co-
tórico não é um Jesus messiâ- mo também à interpelação de
nico. O homem Jesus pregou a Deus na fé: a palavra da men-
salvação e foi crucificado, mas sagem nos encontra como Pala-
nada podemos saber de sua vra de Deus, e não podemos
consciência, e, em particular, levantar a questão de seu fun-
não podemos conhecer o que damento histórico.
L'Interprétation du Nouveau Testa-
(1) Der sogenannte historische Jesus und ment, Paris 1955; Histolre et eschato-
der geschlchtliche, bibllsche Chrlstus, logie, Neuchâtel 1959; Foi et com-
Lelpzig 1928. préhenslon, Paris 1969-70; A. MALET,
(2) Cf. B. SLENCZKA, Geschlchtlichkeit La pensée de Rudolf Bultmann, Ge-
und Personsein Jesu Christl, Gõttln- nebra 1962; L. MALEVEZ, Le message
gen 1967, p. 312. chrétien et le mythe, Bruxelas 1954;
(3) Cf. R. BULTMANN, Theologie des Hlstoire du salut et Phllosophle, Pa-
Neuen Testaments, Tübingen 1953; ris 1971.

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Em si, deveríamos antes dizer Órgão, e lhe recusa uma verda-
"teologia de cima". A impor- deira função reveladora. Rejei-
tância do homem Jesus não ta formalmente o monofisismo.
vem do fato de que ele teria mas considera por exemplo a
merecido a salvação, mas sim- essência do homem Jesus como
plesmente do fato de que a cruz sendo constituída pela realida-
exprime o julgamento de Deus, de divina, na qual a realidade
a condenação do pecado, e nos humana está compreendida.
esclarece sobre nossa condição H. Bouillard chama a aten-
de pecadores. É Deus que faz ção para essa tendência "divi-
tudo; só ele é o autor de nossa nizante": "A aparente absorção
redenção, e só ele nos interpela. da realidade humana de Cristo
A pessoa do Cristo histórico não na sua realidade divina, a apa-
nos interessa; apenas a mensa- rente exterioridade da primei-
gem que Deus faz chegar até ra, considerada como simples
nós através dele diz respeito ao órgão, figura ou habitação da
nosso destino. Trata-se, portan- segunda, são, a nosso ver, em
to, antes, de "teologia" do que contextos diferentes, o resulta-
de "cristologia". do de uma mesma orientação
K. Barth, ao contrário, ofe- geral, a saber, aquela que ten-
rece o exemplo de uma verda- de a reduzir a parte humana na
deira "cristologia de cima". Ele pessoa, como também na ação,
faz repousar toda a teologia so- do Verbo incarnado. Tomemos
bre a Palavra de Deus, e subli- este texto bem característico:
nha, assim, seu caráter dogmá- "É o Verbo que fala, que age,
tico. Reage contra a concepção que conquista a vitória, revela,
dominante de uma teologia reconcilia. Portanto, o Verbo
cujo fundamento e objeto fosse incarnado, é verdade... o Ver-
a fé cristã. Ele observa que a bo na carne e pela carne, —
Palavra de Deus não se baseia mas o Verbo, e não a carne"
sobre a fé, mas que esta é res- (5).
posta à Palavra (4). Contudo, o próprio Barth
Por outro lado, ele reconhece sentiu a insuficiência de sua
em Jesus o Filho de Deus, ver- concepção de Incarnação, e
dadeiro Deus e verdadeiro ho- opera uma mudança. Numa
mem, uma só pessoa em duas conferência de 1956 sobre a
naturezas, segundo a afirma- humanidade de Deus, ele fala
ção do concilio de Calcedônia. de "mudança de orientação".
Entretanto, insiste de tal ma- Explica nesta conferência como
neira no sujeito divino da En- há uns quarenta anos, ele ti-
carnação que a humanidade > nha reagido contra o protestan-
Jesus parece ficar desvaloriza- tismo liberal, afirmando com
da. Qualifica a esta de tempo, força o Deus transcendente,
de habitação, de veste ou de "Totalmente outro" em relação
ao homem. No protestantismo
(4) Cf. H. BODILLARD, Karl Barth, Pa-
ris 1957, I, pp. 121-122; Cf. K. BABTH, (5) KARL BARTH, II, p. 122; Cf. K.
Die chrístliche Dogmatik in Entworf, BARTH, Kirchllche Dogmatik, 1, 2,
Munique 1927, pp. 84-90. Zurique 1938, p. 149.

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liberal, pensar em Deus era precisamente o verdadeiro Deus
pensar no homem religioso: do homem, e, como verdadeiro
religião antropocêntrica, onde homem, o fiel companheiro de
"o homem era demasiadamente Deus; ele é, ao mesmo tempo, o
enaltecido com prejuízo para Senhor que se abaixa até co-
Deus" (6). Barth tinha querido mungar com o homem, e o ser-
operar uma reviravolta, mos- vo elevado até a comunhão com
trando que o tema central da Deus" (11).
Bíblia era a divindade de Deus; Esta correção introduzida
"essa correção não poderia ser por Barth ao seu anterior pen-
questionada" (7). Não obstan- samento tem a vantagem de
te, acrescenta ele, "por melho- mostrar a busca de equilíbrio
res que tenham sido as nossas numa "cristologia de cima" que
intenções, e por mais certo que tinha sido elaborada como rea-
tudo isso possa ter sido, tudo ção contra uma cristologia de-
foi dito de uma maneira um masiado exclusivamente antro-
tanto dura e desumana, e em pocêntrica.
parte, inclusive, de uma manei- Mais outros teólogos foram
ra um pouco herética" (8). colocados entre os que defen-
Com efeito, "a humanidade de diam a "cristologia de cima"
Deus tinha-nos escorregado do (12): E. Brunner, cuja teologia
centro para a periferia" (9). dialética se aproxima da de
"Uma divindade que não ti- Barth (13); F. Buri, que alia a
vesse humanidade, quando ela cristologia especulativa de prin-
nos atinge, seria um falso deus" cípio à teologia bultmanniana
(10). Em Cristo não há nem o do querigma (14); H. Vogel
homem abstrato, auto-sofredor, (15).
nem o Deus abstrato, separado
do homem e, de alguma ma- b. Criisfologia de baixo
neira desumano. "Em Jesus
Cristo o homem não está fecha- A cristologia "de baixo" se
do para o alto, e Deus, por sua desenvolveu principalmente em
vez, também não está fechado oposição à tese radical de Bult-
para baixo. Nele, uma só histó- mann, que desligava do Jesus
ria se desenvolve, um só diálogo histórico o querigma e a exis-
acontece, nos quais Deus e o tência na fé.
homem estão juntos, na reali- Essa cristologia se caracteri-
dade da aliança concluída, za por uma volta ao Jesus da
mantida e realizada por ambos. história (16). Ela afirma que é
Em sua pessoa, Jesus Cristo é possível alcançar, através do
(6) L'huinanlté de Dleu, Genebra 1956, serva entretanto que em sua Dogma-
p. 10. tik (II, Zurlque-Stuttgart 1960, p.
(7) IMd., p. 13. 257) Brunner parece seguir a via "de
(8) Ibld., p. 15. baixo".
(9) IWd., p. 7. (14) Dogmatik ais Selbstverstãndnis des
(10) Ibid., p. 28. chrlstlichen Glaubens, II, Bem-TU-
(11) Ibld., pp. 21-22. bingen 1962.
(12) Cf. SLENCZKA, Geschlchtlichkeit, p. (15) Christologie, Munique 1949; Gott in
312. Chrlsto, Berlln 1952.
(13) Der Mlttler, Zurique 1947. SLENCZKA (16) Cf. SLENCZKA, Geschlchtlichkeit, p.
(Geschlchtlichkeit, p. 312, n.» 18) ob- 311.

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testemunho neotestamentário, para nós, ou, ao contrário, não
a figura histórica de Cristo e falar desse passado senão em
que, teologicamente, esta figu- segundo lugar e somente à luz
ra deve ser posta como funda- daquilo que sobre isso fala hoje
mento da fé no Filho de Deus. a pregação. Em outras pala-
"A respeito de Jesus nada se vras, isto significa perguntar se
pode enunciar, na perspectiva a cristologia deve começar por
cristológica, que não esteja Jesus mesmo ou pelo querigma
fundado sobre o próprio Jesus da comunidade" (20).
histórico e que não se limite a Para Pannenberg, o Jesus
exprimir aquilo que é o Jesus histórico é o ponto de partida.
histórico", escreve G. Ebeling "A tarefa da cristologia é fun-
(17). "O cristianismo existe e damentar na história de Jesus
cai pela ligação que tem ou não o verdadeiro conhecimento de
com sua origem- histórica de sua significação, a qual se pode
outrora. Isto significa, antes de resumir nestas palavras: Deus
mais nada, que o cristianismo é se revelou neste homem" (21).
uma grandeza histórica" (18). Todas as afirmações do cristia-
Conservaremos, como a, mais nismo primitivo nasceram des-
característica das cristologias ta história, como também as
de baixo, a de W. Pannenberg teses cristológicas formuladas
(19). De fato, é neste autor que mais tarde na Igreja; essas te-
a revelação do Jesus histórico é ses devem ser verificadas à luz
a mais desenvolvida. da história de Jesus.
Pannenberg coloca clara- A cristologia de cima parte
mente o problema: "O objeto da da divindade de Jesus e tem
cristologia é, em primeiro lu- por centro a idéia da Incarna-
gar, o Jesus de outrora ou o ção. A cristologia de baixo sobe
Jesus presente hoje? Claro, os do homem histórico, Jesus, até
dois não se excluem necessaria- o reconhecimento de sua divin-
mente. O Jesus pregado hoje dade, e só em último lugar che-
não é um outro, diferente da- ga à idéia da Incarnação.
quele que viveu um dia na Pa- A cristologia de cima foi, na
lestina e foi crucificado sob Igreja antiga, a via mais fre-
Pilatos, e o inverso também é qüentemente seguida, mas Pan-
verdade. Há entretanto uma nenberg se recusa a seguir esta
gl^ande diferença entre estes via. E invoca três motivos (22):
dois métodos possíveis: procu-
rar compreender a pregação já 1.pressupõe
Uma cristologia de cima
a divindade de
atual que nos diz, a partir do Jesus. Ora, a principal tarefa
que aconteceu outrora, quem e da cristologia é justamente
Jesus e o que ele representa de expor as razões que levam aa
BENDTORFF, U. WILCKENS, Offen-
(17) G. EBELING, Wort und Glaube, Tü- barung ais Geschichte, Gôttlngen
bingen 1960, p. 311. 1965.
(18) Ibld., p. 13. (20) Esquisse d'une christologie, trad. fr.
(19) Grundzüge der Christologie, Güters- de Grundzüge der Christologie, Paris
loh 1964; Grundfragen systematlscher 1971, pp. 15-16.
Theologie, Gôttlngen 1967; W. PAN- (21) Ibid., p. 26.
NENBERG, R. BENDTORPP, T. (22) Ibld., pp. 32-33.

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reconhecer essa divindade. Tais fornecer a base de uma cristo-
razões as achamos na manifes- logia.
tação histórica de Jesus. Em compensação, a ressur-
2. Uma cristologia que par- reição fornece este fundamen-
te da divindade do Verbo e que to: ela é a revelação definitiva
vê problemas apenas na união de Deus em Jesus. Com efeito,
de Deus e do homem em Jesus, é só no fim da história que
dificilmente chega a reconhe- Deus pode aparecer em sua di-
cer a importância capital que vindade, isto é, como aquele
está nos traços particulares do que faz tudo, que. tem poder
homem histórico Jesus de Na- sobre todas as coisas. Ora, a
zaré, e, de maneira especial, nas ressurreição significa que, para
suas relações com o judaísmo Jesus, o fim de todas as coisas
contemporâneo. já veio, e por conseguinte que
3. Uma cristologia de cima Deus mesmo se revela nele com
deveria se colocar no ponto de sua glória, de uma maneira
vista do próprio Deus para se- insuperável (23).
guir o caminho do Filho de A revelação de Deus por si
Deus ao mundo. Ora, de fato mesmo implica a identidade do
nós pensamos sempre a partir Revelador e do Revelado: Deus
de uma situação humana his- é, ao mesmo tempo, sujeito e
toricamente determinada. O objeto da 'Revelação. "Falar de
ponto de partida deve, portan- uma revelação de Deus por si
to, ser a interrogação sobre o mesmo no acontecimento de
homem Jesus. Cristo significa, portanto, que
Pannenberg se distingue de o acontecimento de Cristo, —
outros partidários da cristolo- que Jesus — é o ser do próprio
gia de baixo pela importância Deus" (24).
decisiva que ele atribui à Res- A unidade de Jesus com
surreição de Jesus. Esses outros Deus, enquanto ela se relaciona
teólogos baseiam a unidade de com o ser eterno de Deus, é an-
Jesus com Deus sobre a reivin- terior à carreira terrestre de
dicação de autoridade conti'-' Jesus. Daí vem a idéia da pre-
em sua pregação e em sua ação. existência de Jesus, que expri-
Pannenberg não rejeita essa me a plena pertença de Jesus
reivindicação, pois Jesus decla- ao Deus eterno, e que guarda
rou e mostrou que Deus agia esse valor objetivo, mesmo se a
nele; ele se apresentou como representação da preexistência
juiz escatológico. Mas aos olhos é mítica (25).
de Pannenberg, a pretenção do "Na medida em que a repre-
Jesus pré-pascal está ligada à sentação da Incarnação se se-
verificação futura da mensa- para da teologia veterotesta-
gem pela ressurreição; ela tem mentária e judaica da história,
apenas um caráter proléptico, ela se torna um simples mito,
e, sozinha, ela não bastará para o mito de um ser divino que
desce do céu e para ele volta"
(23) Ibld., p. 76.
(25) Ibld., p. 183.
(24) Ibid., p. 156.
142
(26). Quando se fala de Incar- lho, senão pelo reconhecimento
nação de Deus em Jesus Cristo, de Jesus como revelação de
trata-se de afirmações últimas Deus (28).
da teologia, que decorrem ne- Pannenberg não considera a
cessariamente da idéia da reve- cristologia de baixo como uma
lação escatológica de Deus em inovação (29). Ele não conside-
Jesus. Elas não se justificam ra Schleiermacher como um
senão como expressão, aliás precursor, porque para este, a
inevitável, dessa revelação; por unidade de Jesus com Deus era
si mesmas, elas não teriam sen- afirmada apenas no sentido da
tido e seriam mitológicas. consciência de Deus em Jesus.
A unidade de Jesus com Deus Mas no século XIX, A. Ritschl
ainda deve ser precisada. Jesus pode ser considerado como o
se compreendeu a si mesmo co- primeiro que construiu sua
mo alguém que estava face a cristologia a partir do homem
face ao Deus que ele chamava histórico Jesus. Foi seguido
seu Pai, e do qual ele mesmo se neste caminho por sua escola
distinguia. "Se a história de até W. Herrmann, e hoje podem
Jesus e sua pessoa pertencem ser citados, entre outros, W.
ao ser de Deus, à sua divindade, Elert, P. Althaus, F. Çrogarten.
a distinção que Jesus manteve Mas o que distingue Pan-
entre ele mesmo e o Pai perten- nenberg, é o radicalismo com
ce também à divindade de
Deus" (27). Portanto, é neces- quem éto
ele enuncia e aplica seu
do. Ele coloca o princípio
sário afirmar a distinção do de que
Pai e do Filho em Deus mesmo. deve sertodo o conteúdo da fé
verificado e demons-
A cristologia do Logos, ao trado historicamente, ao menos
contrário, não está fundada so- nos limites de certeza que um-a
bre o Jesus histórico; ela resul- prova de história jjode atingir;
ta da filosofia grega. As tenta- fazendo valer esse princípio,
tivas de renovação desta cris- Pannenberg se esforça para
tologia pela teologia da Palavra mostrar que, no Jesus da histó-
de Deus, com Brunner e Barth, ria, possuímos a prova de sua
não conferem à Palavra o sen- divindade e mais particular-
tido que o termo Logos tinha mente de sua filiação divina.
na Igreja antiga, pois o termo
Palavra não designa uma hi-
póstase particular e autônoma II. essenciais
As opções metodológicas
em cristologia
ao lado de Deus Pai. O ponto
de partida da cristologia deve
ser, hoje, em lugar do conceito A. Os dois problemas
de Logos, a idéia de Revelação. de método
Não se pode perceber a unidade
de Jesus com o ser de Deus, com No debate entre cristologia
a distinção entre o Pai e o Fi- de cima e cristologia de baixo.

(26) Ibld., p. 191. (28) Ibld., pp. 195-206.


(27) Ibld., p. 194. (29) Ibld., pp. 34-35.
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dois problemas metodológicos B. Cristo da fé e Cristo
mereceriam ser distinguidos histórico
com clareza, pois eles tendem a
se misturar. O primeiro diz res- Conhecimento de fé ou co-
peito ao gênero de conhecimen- nhecimento histórico? Qual dos
to que se deve admitir como dois conhecimentos tem a pri-
base da cristologia: deve-se fun- mazia em cristologia?
damentar a cristologia sobre a A resposta é complexa. Obje-
afirmação da fé e sobre a men- tivamente, a cristologia se de-
sagem da pregação, olhando-as dica ao reconhecimento do Je-
como essencialmente superiores sus da história, e a própria fé
e irredutíveis a toda demons- em Cristo não é a fé num Cristo
tração histórica, ou deve-se abstrato, mas no Salvador que
procurar seu fundamento no nasceu, viveu e morreu na Pa-
Jesus da história? O segundo lestina, onde ele manifestou em
problema diz respeito à realida- seguida a vitória de sua ressur-
de considerada: é necessário reição. Os partidários da cris-
partir da divindade de Cristo tologia de baixo afirmam, cora
para encontrar sua humanida- razão, que o cristianismo é uma
de, ou deve-se subir de sua hu- religião histórica. O cristão crê
manidade para a divindade? Os em Cristo como em alguém que
dois problemas estão em cone- pertence à história humana, e
xão, pois quando se toma a fé ele não pode se interessar por
como fundamento da cristolo- pesquisas cristológicas senão
gia, se é levado a olhar antes de quando estas procuram alcan-
tudo do lado de Deus, objeto çar, do melhor modo possível, a
principal da fé, e a tomar como Jesus tal como ele viveu con-
ponto de partida a divindade de cretamente, e quando essas
Cristo, ou áo menos a divindade pesquisas procuram mostrar
que se revela em Jesus. Quando, não somente o que ele é agora
ao contrário, se opta pelo fun- para a vida cristã, mas o que
damento histórico, se é normal- ele foi quando de sua existên-
mente levado a partir da huma- cia histórica.
nidade de Cristo para chegar à
sua divindade. Contudo, os dois Contudo, parece ser difícil
problemas continuam distin- contestar que subjetivamente,
tos: a fé tem como objeto tanto no espírito daquele que se con-
a humanidade como a divinda- sagra a essa pesquisa, a cristo-
de de Cristo, e a gente pode logia tenha seu ponto de parti-
considerar primeiro o homem da na fé em Cristo. Com efeito,
Jesus, antes de se chegar ao que é a fé que suscita o esforço da
ele tem de divino. Portanto, é investigação. Quem estuda com
necessário enfrentar sucessiva- mais intensidade a verdade
mente os dois problemas, o pri- histórica contida nos evange-
meiro dos quais diz respeito ao lhos não são os historiadores,
sujeito que conhece e o segundo mas os exegetas e os teólogos.
ao objeto a ser conhecido. Não se toma a Jesus por objeto
de pesquisas históricas como se

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toma os outros personagens da infalíveis dos concílios, não
história. O interesse do Jesus simplesmente como fórmulas
histórico provém daqviilo que isoladas, mas como aspectos
ele significa para a fé. E a fé que entram necessariamente
não deve ser aqui considerada numa visão global da pessoa e
como uma atitude que fosse o da obra de Jesus.
resultado de uma pesquisa his- Entre os protestantes, o pon-
tórica; ela é, antes, o princípio to de partida da cristologia c
dessa pesquisa. São os crentes muitas vezes, mais reduzido,
que se entregam à pesquisa, le- segundo a medida da fé admi-
vados por uma fé que deseja tida pelas pessoas individual
ter mais clareza. Sem dúvida, mente. O questionamento d
acontece também que pessoas certezas tradicionais pôde favo-
sem fé se interessam pela his recer neles a pesquisa exegéti-
tória de Jesus, mas esse in ca. Esse questionamento per-
resse é de natureza religiosa, e mitiu igualmente uma varieda-
parece indicar que para eles s de maior de opiniões na elabo-
coloca, de longe ou de perto ração doutrinai da cristologia.
algum problema de fé. Por parte dos teólogos cató-
Disso já temos que concluir licos, a possessão de uma dou-
que o método em cristologia trina tradicional mais firme e
não poderá pressupor uma mais completa pôde, ao contrá-
prioridade da pesquisa em rela- rio, tornar mais lento o esforço
ção à fé. Não se poderá proceder de pesquisa. É de lamentar que
como se a fé devesse resultar da a investigação exegética e dou-
investigação levada segundo as trinai não tenha sido mais
leis da história, nem- como se a intensa, pois a aceitação da
imagem dogmática de Cristo tradição não deveria ter por
fosse fornecida em primeiro efeito uma passividade maior,
lugar por sua visão histórica. mas, antes, deveria dar ao con-
O que vem em primeiro lugar teúdo da fé uma riqueza que
é um dado de fé. normalmente favorecesse um
aprofundamento mais amplo
Essa fé não é simplesmente da doutrina, com uma notável
uma fé individual. É a fé da diversificação dos pontos de
Igreja. E por dimensão eclesiai vista.
da fé deve-se entender não so-
mente o fato de que aquele que O exemplo de Pannenberg
crê pertence à Igreja, mas o mostra que, longe de desenco-
fato de que o conteúdo de sua rajar a investigação, a adesão
fé é o da comunidade cristã. Na às proposições essenciais da fé
Igreja católica, o ponto de par- tradicional pode estimular a
tida da cristologia é fornecido pesquisa histórica. De fato, ela
por tudo aquilo que constitui a pede um esforço mais amplo de
fé em Cristo no estágio de de- pesquisa.
senvolvimento a que ela chegou Entretanto, o problema do
até hoje. Dessa fé fazem parte método revela aqui toda a sua
especialmente as declarações acuidade. Pode-se tomar como

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objetivo a verificação histórica pesquisa histórica feita sobre
completa da fé em Cristo, ou: os escritos neo-testamentários
uma demonstração, pela histó- lhe traga, por si mesma, uma
ria, do fundamento da crença certeza igual à da sua fé.
na filiação divina de Jesus? A fé possui uma certeza supe-
Acusou-se a Pannenberg o ter rior porque ela adere à palavra
elaborado uma cristologia por de Deus, a uma revelação que,
demais ambiciosa, "o ter queri- mesmo se realizando na histó-
do provar demais, e o ter cedido ria, ultrapassa a história pela
demais ao desejo de evidência verdade que ela propõe. Na afir-
pessoal" (30). mação de que o Filho de Deus se
Não há dúvida de que a in- incarnou há uma realidade que
vestigação histórica é necessá- vai além de todas as constata-
ria, mas não parece que se ções históricas, ainda que ela
possa falar, em sentido próprio, se manifeste na vida histórica
nem de verificação nem de de- de Jesus. Em si mesma, tal
monstração das afirmações de afirmação jamais poderá ser
fé pela história. Uma verifica- objeto de uma verificação ou de
ção suporia que tudo aquilo que uma demonstração, se estas se
é afirmado pela fé seria acessí- limitarem estritamente às leis
vel, sob todos os aspectos, à da história.
pesquisa histórica e deveria Por outra parte, a fé exige a
encontrar nesta o fundamento investigação histórica, porque
de sua verdade. Uma demons- ela deseja esclarecer seu pró-
tração implicaria numa prova prio objeto. A fé em Cristo —
elaborada segundo o método já o lembramos — é uma fé no
histórico. Isso exigiria que a Jesus histórico. Não se pode
investigação histórica teria que separar^ como o propôs Bult-
decidir, em última instância, a mann, o Cristo da pregação e o
respeito do objeto da fé, e que Jesus histórico; esvaziando a fé
o grau de certeza da fé seria de quase todo o seu conteúdo
aquele que as conclusões da histórico, tira-se-lhe a substân-
história podem fornecer. cia; ela é destruída. Diferente-
Ora, a fé comporta uma cer- mente
se
das outras religiões, que
baseiam em mitos, o cristia-
teza mais forte que a da ciência
histórica. Pannenberg acha que nismo repousa sobre um acon-
o conhecimento histórico pode, tecimento de salvação que se
no máximo, atingir uma proba- ção significahistória.
realizou na A Incarna-
bilidade muito grande. Mas a pessoalmente que Deus entrou
fé é uma adesão certa, adesão humanidade. na história da
essa que qualquer probabilida-
de, por mais elevada que fosse, Bultmann conservou de Cris-
não poderia jamais satisfazer. to só aquilo que cabia em sua
Quem crê em Jesus Filho de anáUse existencial, isto é, ele
Deus não pode esperar que a quis reduzi-lo à experiência hu-
(30) I. BERTEN, BuUetln de christologie losophlques et Théologlques, 54
protestante, Reviie des Sciences Phl- (1970), p. 163.

146
mana assim como ele a concebe. história destrói toda a pseudo-
A seus olhos o acontecimento história. Ele mostra, por con-
da salvação não se produz senão traste, a ficção das representa-
na experiência subjetiva de ca- ções míticas. É por esta razão
da um; a salvação é anunciada que o cristianismo não absor-
por Cristo, mas não realizada veu as religiões pagas, mas as
objetivamente por ele: "É a eliminou. A história não se po-
teologia do solitário, observa K. de nutrir de mitos; ela os ex-
Barth, que reflete sobre si mes- clui. A Incarnação indica, sem
mo (neste caso, sobre sua au- dúvida, aquilo que os mitos
tenticidade ou sua inautentici- comportavam de verdade es-
dade), se exprime a si mesmo e condida; mas só ela é detentora
explica afinal de contas sim- da verdade histórica da inter-
plesmente o qué o indivíduo venção de Deus no mundo para
crente é" (31). Ora, o Cristo o salvar.
quer salvar o homem de seu Ao não aceitar que o Verbo
subjetivismo; Verbo feito carne, se tenha feito carne, Bultmann,
ele se impõe objetivamente à ao contrário de desmitizar, vol-
fé. Ele faz com que esta fé não tou a um mito mais subtil,
seja pura relação interior a "mito antropocêntrico", diz
Deus, e que ela se concentre Barth (32), mito não de imagi-
sobre a revelação histórica de nação popular e primitiva, mas
Deus em sua pessoa. de "gnose" filosófica, mito da
A entrada do Filho de Deus mensagem existencial, e que é
na história humana é. que ope- a sua representação subjetiva
ra a verdadeira desmitização. O do divino e de suas relações
mito não designa toda repre- conosco.
sentação da divindade e de suas Se a teologia quer continuar
relações com os homens, mas a obra de desmitização feita por
especifica uma representação Cristo, então ela deve fazer um
que é devida ao pensamento e esforço incessante para expri-
à imaginação humanos. O mito mir melhor o que foi o Jesus da
pode fazer aparecer traços au- história, o que ele disse e fez. A
tênticos de Deus e de sua obra fé inspira esse esforço de alcan-
de salvação, mas ele se situa çar a objetividade histórica. .A
fora da história, e não pode primeira vista, poder-se-ia pen-
exprimir a manifestação autên- sar que ela inclinasse a pesqui-
tica de Deus neste mundo, sua sa na direção das visões subje-
intervenção em nossa história tivas, mas em realidade ela visa
para nos salvar. Tal manifes- a objetividade, porque ela con-
tação autêntica acontece na sidera essa objetividade como
Incarnação. Assim, é o Cristo implicada na sinceridade de
que livra a humanidade de seu sua adesão. Aquele que crê em
aprisionamento mitológico. Cristo aspira a descobrir a
O engajamento pessoal do figura real, objetiva, de Jesus.
Filho de Deus na realidade da
(31) L'humanité de Dleu, p. 39. (32) L'huinanlté de Dleu, p. 40.

147
Precisemos ainda mais o forem os esforços feitos para
sentido dessa orientação da fé conseguir fazer abstração de
para a pesquisa liistórica. A fé suas próprias convicções de fé,
implica primeiramente uma a investigação será necessaria-
predisposição à investigação mente influenciada por um
cristológica: tal predisposição modo de pensar pessoal. Além
inclui um interesse intelectual disso, isso seria tirar à pesquisa
mais específico pela pesquisa e a base que ela deve ter e que
uma aceitação de seus resulta- lhe é útil; pois a melhor garan-
dos. Além disso, a fé dá uma tia de objetividade será sempre
pré-inteligência da investiga- a disposição de fé, enquanto ela
ção, esclarecendo os objetivos implica numa abertura total à
que se tem em vista na pesquisa verdade, e enquanto ela deseja
exegética e histórica, e garan- uma investigação feita segundo
tindo uma linha geral de pen- as normas das ciências exegéti-
samento que permitirá captar cas e históricas. A fé tem a
o sentido e o valor dos elemen- obrigação de respeitar, por ho-
tos estudados (33). Essa pré- nestidade e sinceridade, a auto-
inteligência não é um pre-con- nomia da exegese e da história.
ceito, pois ela não predetermina Se fosse preciso dizer a razão
de forma alguma aquilo que se última desse princípio, dever-
deverá colher da investigação, se-ia observar que a fé em Cris-
nem inclina a pesquisa em al- to implica numa fé em Deus
guma direção que fosse contrá-
ria à objetividade científica do que
ta.
é adesão à verdade absolu-
Essa adesão consiste num
estudo. apego a tudo o que reflete aque-
Esse papel positivo da fé em la verdade no mundo, a tudo o
Cristo na investigação cristoló- que é participação finita do
gica faz compreender que a verdadeiro infinito. A fé impli-
gente não poderia imaginar um ca numa preocupação primor-
método ideal, que consistiria, dial de alcançar a verdade em
para o exegeta ou para o teólo- toda a parte onde ela puder se
go, em fazer abstração de sua encontrar. A fé deve assegurar,
fé no seu trabalho de pesquisa. na investigação histórica, as
Não se pode pretender uma es- melhores condições de chegar
pécie de dúvida universal como ao verdadeiro, conformando-se
procedimento metodológico pa- às exigências científicas que
ra melhor garantir a objetivida- permitirão a justeza das con-
de. Querer absorver o estudo dos clusões.
textos com uma "tabula rasa"
na inteligência, só poderia ser de Seumhouve uma onda em favor
Cristo visto "de baixo",
uma ilusão, pois, sejam quais isso foi justamente para evitar
(33) A pré-intellgêncla de que aqui fala- pré-compreensão é constituída por
mos não se Identifica absolutamente uma antropologia existencial e é an-
com a pré-compreens&o exigida por terior ao acolhimento da palavra de
Bultmann para a admissão e a Inter- Deus. Aqui falamos de uma pré-lnte-
pretação da mensagem cristã (ver a ligêncla que é devida à fé no que diz
esse respeito: MALEVEZ, Histolre du respeito à Investigação exegética e
salut et Phllosophle, pp. 9-49). Tal histórica.

148
uma intromissão indevida das da fé, nem certezas idênticas às
convicções dogmáticas na in- da fé. Sob este ponto de vista,
vestigação histórica. Partindo o método cristológico não pode
"de cima", não se pode deter- consistir nem numa dogmati-
minar o que deve ser o Jesus zação da história, nem numa
histórico. Assim, por exemplo historicização do dogma.
a fé no Cristo ressuscitado não O que é que pode, então, a fé
poderá ser, do ponto de vista esperar da pesquisa histórica,
histórico, um motivo para ad- se não pode receber dela nem
mitir ou para sublinhar a ve- verificação nem demonstração?
racidade dos relatos evangélicos A fé pede à pesquisa de esclare-
que se referem à descoberta do cer com mais precisão o Cristo
túmulo vazio. Tal veracidade em que ela crê. A investigação
não pode ser estabelecida senão histórica e exegética permite à
em virtude das razões que a fé sair de uma visão demasia-
análise exegética dos testemu- damente global de seu objeto,
nhos fornece. Compreende-se e discernir, inclusive com um
a oposição a qualquer tenj;ativa bom número de detalhes, a fi
de introduzir na história um gura histórica de Jesus.
Cristo "de cima". Semelhante Além disso, essa investigação
tentativa não pode estar con- faz compreender melhor ao
forme à orientação fundamen- crente por que ele crê: a inves-
tal da fé, que implica essencial- tigação esclarece não somente
mente no respeito pela verdade o objeto da fé mas também seus
e no uso do método histórico motivos. Ela seria incapaz — já
para estabelecer os íatos da o dissemos — de estabelecer o
história. fundamento decisivo da fé, mas
Se, portanto, por "cristologia pode mostrar que na ordem do
de cima" se entendesse uma conhecimento histórico há sóli-
cristologia onde a fé ditasse as das razões para admitir a exis-
cpnclusões da pesquisa históri- tência e a obra de Jesus assim
ca, tal procedimento não pode- como a Igreja as professa em
ria ser admitido como sério sua fé.
(34). A fé não pode ter a pre- Graças à pesquisa histórica,
tensão de se substituir à histó- a fé pode, portanto, aprofundar
ria, nem de mandar sobre a seus conhecimentos de Jesus e
ciência histórica, como também captar mais lucidamente por
a história não pode fornecer que adere a ele.
conclusões que façam as vezes
getlsch, Frlburgo 1972). Pode-se con-
(34) Apesar de ter sido apresentada como testar essa dedução da cristologia a
uma cristologia "de baixo", a cristo- partir de um fundamento antropoló-
logia transcendental de K. Bahner gico, pois a economia da Incarnação
segue também o caminho da dedu- não é necessariamente exigida para a
ção, de modo a determinar, a partir salvação do homem, e ela ultrapas-
de uma definição do homem e de sou consideravelmente a esperança
sua esperança, a estrutura essencial judaica. O método cristológico não
da cristologia, para constatar em se- pode consistir em estabelecer uma
guida que a concepção do Salvador representação de Cristo Independente
absoluto assim elaborada, se verifica da consideração dos evangelhos, de-
historicamente em Jesus de Nazaré terminando o mínimo para que tal
(K. BAHNEE — W. THÜSING, representação possa se verificar na
Christologie — systematisch und exe- figura histórica de Jesus.

149
C. o Cristo Deus e o Cristo tamente por uma iluminação
homem interior que nos faça aderir ao
Filho de Deus. Ela se produz no
Após termos procurado escla- homem Jesus, e tudo que pode-
recer as relações entre a fé e a mos saber do Filho de Deus, nos
pesquisa histórica, nos encon- é dado pelas palavras, pelos
tramos diante de um segundo gestos e acontecimentos da
problema: deve a cristologia existência humana de Jesus de
partir da divindade ou da hu- Nazaré. Por conseguinte, sem-
manidade? Deve ela tomar uma pre continua sendo ele a figura
direção descendente, indo de humana que nós devemos pers-
Deus ao homem, ou uma dire- crutar para descobrir a identi-
ção ascendente, subindo do ho- dade do Salvador.
mem a Deus? Isto não significa que nós só
possamos conhecer de Jesus
A cristologia a partir de baixo. aquilo que é humano. De fato,
mesmo sendo homem, Jesus
A tendência favorável à cris- ultrapassa o humano e mani-
tologia de baixo é o resultado de festa uma transcendência divi-
uma reação contra o fato de se na. É porém sempre através do
ter enfocado, de maneira dema- humano'que Jesus revela o que
siado exclusiva, a divindade de é superior ao humano.
Cristo. Assim como não se pode Se nos voltamos para a ori-
admitir uma invasão da pesqui- gem da cristologia, com o fim
sa histórica por princípios dog- de explicar a formação da fé na
matizantes, assim também não divindade de Cristo, é então
se pode tolerar que a divindade indispensável basear-nos sobre
de Jesus açambarque sua hu- Jesus^ homem. A investigação
manidade. É preciso, portanto, cristológica parte necessaria-
reconhecer a legitimidade dessa mente da humanidade de Jesus.
reação, como também a neces- Sob este ponto de vista, há
sidade, sentida pelos cristãos e uma prioridade do humano em
pelos teólogos atuais, de encon- cristologia. Tal prioridade não
trar em Cristo alguém que seja deve, por outro lado, ser com-
integralmente homem, seme- preendida como se fosse preciso
lhante a nós em tudo, menos primeiramente reconhecer em
no pecado. Uma das mais ur- Jesus o puramente humano,
gentes tarefas da cristologia um homem completamente
contemporânea consiste em igual aos outros, e só em segui-
sublinhar todos os aspectos e da tentar discernir nesse ho-
todas as implicações de uma mem uma manifestação de
existência humana de Cristo. Deus. Não há uma primeira
A cristologia de baixo tem fase na qual a gente se limita-
razão de ressaltar que é na ria ao Cristo homem, e uma
humanidade de Cristo que se segunda, em que nos esforça-
ríamos para subir ao Cristo
revela sua divindade. A revela- Deus. Com efeito, todo o huma-
ção não nos é endereçada dire-
150
no em Jesus é revelação do di- não saber o dia e a hora do fim
vino (35), e deve ser abordado do mundo (Mc 13, 32; Mt 24,
nesta perspectiva. 36), não podemos decretar de
A existência de homem, vivi- antemão que essa ignorância
da integralmente por Jesus, não seja real e que ela apenas
forma um todo que não se pode signifique uma recusa de co-
separar de sua identidade divi- municar a informação. Mesmo
na nem da intenção de revelar através desses limites Jesus
essa identidade. Quando dize- revelou o Deus que ele era, re-
mos que sua existência é seme- velou o Pai cuja imagem ele
lhante à nossa, não o dizemos constituía, na qualidade de Fi-
para excluir sua dimensão lho.
transcendental. Não podemos Aqui aparece um princípio
querer torná-la mais banal, fimdamental capaz de desfazer
mais pobre, mais "insignifican- muitas orientações errôneas em
te", negligenciando, na análise cristologia: o humano, com to-
de suas atitudes humanas, o dos os seus limites, não se opõe
mistério de sua pessoa divina. ao divino; ele está em harmo-
Isso seria privá-la de seu valor nia profunda com ele, ao ponto
de revelação. O Cristo é homem, de poder revelá-lo, sem cessar
mas um homem que exprime de ser humano. Este princípio
Deus, que revela Deus. se funda sobre a semelhança
Por outra parte, tampouco se impressa pelo Criador em sua
pode substituir o humano pelo criatura, de acordo com o relato
divino em Jesus, pois tal subs- do Gênesis: "Deus criou o ho-
tituição não somente não seria mem à sua imagem..." (1, 27).
conforme à verdade da Incar- Se tal semelhança existe, e se
nação, mas impediria a revela- existe de uma maneira toda
ção autêntica do Filho de Deus. especial — pois é afirmada uni-
Assim, atribuir a Jesus uma camente em relação ao homem,
ciência humana ilimitada, sem na narração bíblica — então o
sombra e sem ignorância — ser humano é capaz de repre-
coisas que a visão beatífica sentar Deus.
implicaria — seria, na realida- Desse princípio decorrem
de, colocá-lo em um nível divi- duas conseqüências. A primeira
no de conhecimento e arrancá- é esta: para colocar em desta-
lo às condições habituais do que o homem integral que exis-
espírito humano peregrino nes- te em Jesus, não é necessário
ta terra. Trata-se de aceitar to- contestar ou velar sua divinda-
dos os limites que são inerentes de. A tendência de alguns teó-
à natureza humana. Em espe- logos contemporâneos de não
cial, se trata de admitir plena- mais afirmar que Jesus é Deus,
mente o testemunho dos textos para melhor fazer ver como ele
evangélicos a respeito desses é homem, não se justifica de
limites; quando Jesus declara maneira alguma. A segunda
por Barth, ao menos antes de sua
(35) É essa a função reveladora do huma- conversão doutrinai. E por Bultmann
no em Jesus que ficou desconhecida ela é ainda menos reconhecida.

151
conseqüência é o contrário da não poderíamos dizer que ela
primeira: para destacar a di- resume nem que totaliza essa
vindade de Cristo, não se pode revelação, ainda que seja o su-
restringir sua liumanidade, premo cumprimento, a apoteo-
nem empurrar para a sombra se dela. Há uma revelação que
as limitações e imperfeições que como acabamos de sublinhar,
fazem necessariamente parte acontece na vida terrestre de
de uma vida humana. Jesus, ou, de maneira mais pre-
Portanto, tudo o que é huma- cisa, em sua condição de "ser-
no em Jesus pode nos introdu- vo", com o "despojamento",
zir na revelação de Deus. Talvez com a "kênosis" que essa con-
se pergunte como a ignorância, dição implica. Tal revelação
tão diametralmente oposta à conserva seu valor próprio;
perfeição do conhecimento di- aquela revelação que se opera
vino, possa contribuir positiva- de um modo glorioso na ressur-
mente para a revelação de reição, não substitui nem tor-
Deus. Ora, se é evidente que na vã a que se efetuou de um
ela não reflete diretamente a modo kenótico.
sabedoria divina, não se pode Nesta perspectiva, poder-se-ia
esquecer que ela indica a soU- dizer que a cristologia de Pan-
dariedade do Filho de Deus com nenberg não é suficientemente
a condição humana, e, por con- "de baixo". Ela é de baixo ape-
seguinte, a profundidade do nas no sentido de se apoiar na
amor divino que levou até o humanidade de Jesus; entre-
extremo essa solidariedade. O tanto, ela considera essa huma-
mesmo acontece com o sofri- nidade em seu estado mais
mento e a morte, que, por si elevado, o estado glorioso da
mesmos, contrastam com a fe- ressurreição. Neste estado. Cris-
licidade e a imortalidade divi- to não mais tem uma existência
nas, mas que revelam tanto igual à nossa: ele mostra que
mais vivamente, por causa des- pertence a um outro mundo,
se contraste, a grandeza do pois, segundo os relatos evan-
amor divino. gélicos, não mais aparece senão
esporadicamente no meio de
Esta consideração dos limites seus discípulos e em condições
e das imperfeições da existên- diferentes das da vida terrestre.
cia humana como expressões Já é um estado "de cima". N
da revelação de Deus, nos pre- se pode desconhecer a impor-
serva da tendência de olhar, de tância decisiva desse estado,
maneira demasiadamente ex- mas ele não nos oferece a pri-
clusiva, a ressurreição de Cristo meira revelação de Cristo.
como manifestação de sua di-
vindade. É verdade que a res- Uma cristologia que quer
surreição constitui uma revela- legitimamente partir de baixo
ção fulgurante da vida divina deve considerar a vida terrestre
em Jesus; neste sentido, Pan- de Jesus tal como a podemos
nenberg tem razão de ver nela conhecer através dos textos
uma revelação definitiva. Mas evangélicos. Essa vida compor-

152
ta a revelação da identidade do das palavras e dos gestos do
Filho de Deus e coloca o proble- Jesus terrestre. Como aconteci-
ma essencial da opção de fé mento da salvação, a ressurrei-
tanto aos adversários como aos ção é o fruto da morte e de todo
discípulos. Tudo o que é huma- o processo que conduziu a essa
no em Cristo se torna meio de morte; ela reenvia, por conse-
expressão e de cumprimento guinte, tanto em seu valor re-
para aquele que é Revelador e dentor como em seu valor reve-
Salvador. A recusa de Jesus de lador, ao desenvolvimento da
fazer prodígios é justamente o missão pública de Cristo. Há
sinal de uma revelação e de um ponto de partida ao qual
uma redenção que se reaUzam não se pode fugir: o nível mais
dentro de uma existência hu- baixo da vida de Cristo que é o
mana de condições ordinárias. nível da vida humana ordiná-
O estudo de tal existência con- ria, e que desce até o abaixa-
tinua, portanto, primordial. mento da paixão.
Ela permite captar, em se-
guida, o sentido da ressurrei- A Cristologia a partir de cima.
ção; permite seguir o itinerário
pelo qual Jesus chegou à sua Se a investigação cristológica
elevação gloriosa. É verdade deve se ligar ao homem Jesus,
que essa elevação joga, retros- ela não pode, contudo, desco-
pectivamente, uma luz sobre nhecer uma perspectiva com-
tudo aquilo que a precedeu, co- plementar, que implica num
mo também é verdade que foi à ponto de partida de cima e num
luz da Ressurreição e do Pente- movimento descendente. A ilu-
costes que a Comunidade pri- minação recíproca da vida ter-
mitiva compreendeu e interpre- restre e da ressurreição, que
tou a vida terrestre de Jesus. É acabamos de sublinhar, já for-
no interior da fé em Cristo nece um exemplo dos dois mo-
ressuscitado que se opera o vimentos que se entrecruzam,
conhecimento de toda a sua o ascendente e o descendente.
existência humana. Mas da Outros aspectos da cristologia
condição gloriosa do Salvador apresentam um duplo movi-
ressuscitado não se poderá de- mento análogo.
duzir o que foi Jesus: a humil-
dade da condição terrestre con- Foi a fé judaica em Deus que
tinua sendo um fato inicial que precedeu historicamente a fé
deve ser considerado "de bai- cristã em Jesus. No judaísmo,
xo", segundo o testemunho a revelação essencial foi a de
evangélico. um único Deus. A manifestação
de Deus em sua aliança com o
A ressurreição coloca em ple- povo judeu preparou a vinda
na luz aquilo que tinha sido de Cristo. Segundo esse quadro,
revelado anteriormente de ma- o caminhar do Antigo Testa-
neira mais obscura, mais enig- mento para o Novo desce de
mática. Ela exige, portanto, Deus ao homem Jesus. Para a
uma consideração mais atenta obra da salvação, o estrito mo-
153
noteísmo judeu 119.0 fornece sias e lhe atribui a qualidade
senão um único ponto de parti- de filho. Fundamental é, por-
da, que é Deus mesmo. tanto, que o movimento que
Entretanto, mesmo na orien- anuncia a vinda de Cristo é de
tação veterotestamentária em direção descendente.
direção a Cristo, pode-se distin- Quando a gente se aproxima
guir uma dupla via, a ascen- do Novo Testamento, se vê que
dente e a descendente. A via essa direção descendente se
ascendente consiste na atribui- impõe na reflexão sobre a ori-
ção de nomes divinos (SI 44, 7; gem de Jesus. Pelo fato de Je-
Is 9, 5; Jer 23, 6) e de filiação sus se ter revelado como Filho
divina (SI 2, 7; 109, 3) ao rei de Deus, devemo-nos necessa-
messiânico, de tal maneira que riamente interrogar sobre o
o Messias tende a entrar num trajeto, da existência divina à
círculo divino. É a elevação de existência humana, que a vin-
um homem que se aproxima de da do Filho do homem supõe. A
Deus. A via descendente se afir- investigação cristológica é for-
ma na personificação da sabe- çosamente levada a considerar
doria divina, que vem em mis- o ato pelo qual o Filho de Deus
são para junto dos homens preexistente entrou na huma-
(Prov 1-9; Ecli 24; Sab 6-8; Bar nidade. É o que faz João já no
3, 9-4, 4) e no anúncio da vinda prólogo do seu Evangelho, ao
do Filho do homem, persona- começar evocando a existência
gem celeste que aparece nas eterna do Verbo, para afirmar
nuvens e recebe o poder supre- que o Verbo se fez carne e ha-
mo (Dan 7, 13-14). Não nos po- bitou entre nós (36). O hino
demos demorar nas particula- cristológico da Epístola aos Fi-
ridades dessas duas vias; sub- lipenses (2, 6-11) também con-
linhamos simplesmente um mo- sidera,o movimento descenden-
vimento que parte do homem te, que vem desde a condição
para alcançar a Deus e um ou- divina até a condição de servo,
tro que parte de Deus para al- antes de sublinhar a elevação
cançar o homem. Nenhum dos do Cristo glorioso até o nível
dois movimentos chega plena- divino. Uma cristologia que se
mente a seu termo antes da restringisse a um movimento
vinda de Cristo, mas ambos de- que vai de baixo para cima fi-
vem ser tomados em considera- caria fundamentalmente in-
ção para compreendermos o completa.
sentido desta vinda. Devemos,
aliás, acrescentar que mesmo o O mistério mais profundo
movimento que vai do homem que a cristologia não pode dei-
a Deus aparece como suscitado xar de explorar reside no pró-
por Deus mesmo, pois é Deus prio ato da Incarnação: trata-
que dá um nome divino ao Mes- se de retroceder até a iniciativa
e à intenção divinas, que orde-
(36) N&o há necessidade de evitar a teo- dlvlndade de Jesus não se poderia
logia do Logos, como o quis fazer exprimir pelo conceito de Logos, no
Pannenberg (Esquisse d'une Christo- sentido que ele tem no Prólogo de
logie, pp. 203-206); não se vê por que a São João.

154
naram a caminhada do Filho de sua divindade na ressurrei-
de Deus que se lançou na aven- ção são apenas o ponto de par-
tura de uma vida humana. To- tida para a inteligência que
do o sentido da economia da procura compreender a origem
salvação está engajada nesta primeira do Salvador: elas con-
exploração, e compreendem-se vidam a estudar o que significa
as ásperas discussões que se a vinda do Filho do homem. A
produziram entre escolas teoló- teologia continua a ser levada
gicas a respeito do motivo da a concentrar toda a luz de que
Incarnação. Está igualmente dispõe sobre o que aconteceu na
posta em causa toda a metafí- Incarnação, sobre a passagem
sica de Deus e de suas relações do Filho de Deus de sua exis-
com o homem: o movimento tência eterna à existência tem-
descendente manifesta um di- poral. É somente no que aí
namismo propriamente divino aconteceu que pode aparecer,
e conduz a teologia a se desem- com toda a sua força, o amor
baraçar de concepções dema- divino que trouxe a salvação à
siadamente imobilistas de humanidade. O amor do ho-
Deus.
A direção descendente, em mem Jesus pelos homens é a
cristologia, continua Sendo, te de sua vidamais
característica emocionan-
portanto, fundamental. Sob o esse amor não recebe todo oMas
terrestre.
seu
ponto de vista da pesquisa bí- valor senão quando se vê nele
blica, ela é primordial em razão a expressão e a revelação do
da revelação que Deus fez de si amor divino, especialmente do
mesmo ao povo judeu: o ho-
mem Jesus não surge em um amor do Pai que se comporta
meio humano qualquer, mas no mo Jesusdossepecadores
diante assim co-
seio do povo que fez aliança eles. O amorcomportou
de Deus
indo até
que, pelo
com o verdadeiro Deus; ele se Cristo, desce até os homens,
apresenta como o fruto e o colocando-se ao nível deles,
cumprimento das promessas constitui o esse^cial da mensa-
divinas de salvação. gem, e a gente não o pode per-
Sob o ponto de vista da teo- ceber a não ser num movimen-
logia especulativa, não se pode
penetrar na verdadeira profun- to descendente. Somente esse
deza do mistério de Cristo se- movimento pode fazer-nos cap-
não quando se vê nele o Verbo tar o sentido do movimento
feito carne. As declarações de ascendente que lhe segue, o da
Jesus sobre sua identidade de divinização do ser humano em
Filho de Deus e a manifestação Cristo.

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