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Inclusão e perspectivas de desenvolvimento da microempresa e empresa de

pequeno porte no processo de compras governamentais na esfera federal


Inclusion and prospects for development of micro and small businesses in the
government procurement process at federal level
L’inclusion et perspectives de développement des micro et petites entreprises
dans le processus d’achat du gouvernement au niveau fédéral
Inclusión y perspectivas para el desarrollo de micro y pequeñas empresas en el proceso
de compras gubernamentales a escala federal
Marcos André da Silva Cunha*
(admmasc@gmail.com)
Cleonice Alexandre Le Bourlegat*
(rf25@ucdb.br)

Recebido em 12/12/2015; revisado e aprovado 25/03/2016; aceito em 15/04/2016


DOI: http://dx.doi.org/10.20435/1984-042X-2016-v.17-n.3(05)

Resumo: Este artigo aponta como as Micro e Pequenas Empresas estão sendo incluídas e apresentam
perspectivas de usufruírem da oportunidade de ampliar sua participação em processos de licitação
para compras públicas federais, por meio do Pregão Eletrônico, na vigência da Lei Complementar
n. 123/2006 e da aprovação da nova Lei Complementar n. 147/2014. Considera-se que o avanço
das políticas públicas de inclusão das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte nas compras
governamentais tem sido fundamental para a sustentabilidade delas e para o Desenvolvimento
Local.
Palavras-chave: direito administrativo; compras governamentais; sustentabilidade.
Abstract: This article indicates how the Micro and Small Enterprises are being included and present
perspectives from enjoying the opportunity to expand their participation in bidding processes for
federal public procurement through the Electronic Trading, in the presence of Complementary
Law n. 123/2006 and the approval of the new Complementary Law n. 147/2014. It is considere that
the advancement of public policies for the inclusion of Micro and Small Businesses in government
procurement has been key to its sustainability and local development.
Key words: administrative law; government procurement; sustainability.
Résumé: Cet article indique comment les micro et petites entreprises sont inclus et présentent des
perspectives de profiter de la possibilité d’élargir leur participation aux processus d’appel d’offres
pour les marchés publics du gouvernement fédéral, par le biais du commerce électronique, en
présence de Loi complémentaire n. 123/2006 et l’approbation de la nouvelle loi complémentaire n.
147/2014. On considère que la promotion des politiques publiques pour l’inclusion des micros et
petites entreprises dans les marchés publics ont été la clé de sa durabilité et le développement local.
Mots-clés: droit administratif; les marches publics; durabilite.
Resumen: En este artículo señala cómo están siendo incluidas las micro y pequeñas empresas y
presentar perspectivas de disfrutar de la oportunidad de ampliar su participación en los procesos
de licitación para la contratación pública federal através del Electrónico de Negociación en pre-
sencia de la Ley Complementaria n. 123/2006 y la aprobación de la nueva Ley complementaria n.
147/2014. Se considera que el avance de las políticas públicas para la inclusión de micro y pequeñas
empresas en la contratación pública han sido clave para su sostenibilidad y el desarrollo local.
Palabras clave: derecho administrativo; compras del sector público; sostenibilidad.

* Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.

INTERAÇÕES, Campo Grande, MS, v. 17, n. 3, p. 410-421, jul./set. 2016.


Inclusão e perspectivas de desenvolvimento da microempresa e empresa de 411
pequeno porte no processo de compras governamentais na esfera federal

1 INTRODUÇÃO Na segunda seção, a preocupação


é esclarecer o uso do poder de compras
O presente artigo tem como objetivo como política de desenvolvimento das
apresentar e discutir, mediante contribui- micro e pequenas empresas, apontando as
ções do Direito Administrativo, como as proposições jurídicas que as beneficiam,
Microempresas e Empresas de Pequeno suas origens nas décadas de 80 e 90 do
Porte estão sendo incluídas e como século passado, assim como os avanços
apresentam perspectivas de usufruir da na virada do Milênio e as conquistas da
oportunidade de ampliar sua participação Lei Complementar n. 123/2006 na sua
em processos de licitação para compras inclusão em processos licitatórios gover-
públicas na esfera federal por meio do namentais.
Pregão Eletrônico, na vigência da Lei A terceira e última sessão discute as
Complementar n. 123/2006 alterada pela novas perspectivas de participação das
Lei Complementar n. 147/2014. Microempresas e Empresas de Pequeno
Nas compras governamentais de Porte nas compras governamentais, por
bens e serviços, as contratações da meio das contratações públicas susten-
Administração Pública, conforme bem táveis e com a aprovação da nova Lei
se definiu na Constituição Federal, só po- Complementar n. 147/2014. E por fim, são
dem ser efetuadas por meio de Processo colocadas as conclusões finais a respeito
Licitatório, no qual se deve resguardar do que foi apresentado e discutido.
igualdade de condições a todos os concor-
rentes (BRASIL, 1988, Art. 37, Inc. XXI). 2 LICITAÇÃO E PREGÃO ELETRÔNICO
Em nível federal, o Pregão Eletrônico NAS COMPRAS GOVERNAMENTAIS
tem-se mostrado como a principal modali-
dade utilizada, por trazer maior economia As compras governamentais vêm
ao erário público e maior transparência às sendo discutidas por um conjunto de
transações do gênero. autores, em função não só do poder de
Por outro lado, o poder de consumo influência que elas exercem na atividade
em bens e serviços pelo Estado vem sendo econômica, como na indução de diversas
pensado como um importante indutor de formas de políticas públicas, por meio
políticas de desenvolvimento, desde que os de compras estratégicas. O Instituto de
procedimentos utilizados para as compras Economia Aplicada (IPEA) (SQUEFF,
governamentais sejam bem conduzidos. 2014) define compras públicas como
O interesse específico neste arti- sendo o “processo por meio do qual o
go é correlacionar o poder de compras governo busca obter serviços, materiais e
governamentais com a inclusão das equipamentos necessários ao seu funcio-
Microempresas e Empresas de Pequeno namento em conformidade com as leis e
Porte como fornecedores, colocadas em pé normas em vigor”.
de igualdade e de forma simplificada fren- As compras públicas, além de garan-
te a empresas de porte mais amplo, à luz tir o suprimento de bens e serviços para o
dos princípios do Direito Administrativo, funcionamento do Estado, podem servir
com a finalidade de atender necessidades como forma de aumentar a demanda,
coletivas de interesse público. estimular a economia, gerar mais empre-
O desenvolvimento deste artigo foi gos para os setores marginais, proteger
estruturado em três seções. Na primeira, empresas nacionais ou micro e pequenos
procurou-se apresentar em que consiste empreendimentos, diminuir disparidades
e como funciona a Licitação e o Pregão regionais, induzir a produção sustentável,
Eletrônico no processo de compras go- fomentar tecnologia, influir na inovação,
vernamentais. entre outros.

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2.1 Licitação gamento, mantidas as condições


efetivas da proposta, nos termos
A licitação é o procedimento admi- da lei, o qual somente permitirá
nistrativo constitucional utilizado pelos as exigências de qualificação téc-
órgãos públicos na realização das compras nica e econômica indispensáveis
governamentais. De acordo com o que foi à garantia do cumprimento das
estabelecido no artigo 22, XXVII da atual obrigações. (BRASIL, 1988).
Constituição Federal, o procedimento ad- No entanto, além daqueles princí-
ministrativo, exceto raras exceções indica- pios previstos na Constituição, segundo
das na Lei 8.666/93 (artigos 17, I e II, 24, 25 Meirelles (1998), outros foram acrescenta-
e 24 IX), é exigido para os entes públicos dos ao Processo Licitatório, no momento
da Administração Direta (União, Estados de sua regulamentação pela Lei 8.666/93
Membros, Distrito Federal e Municípios) e suas alterações, tais como: procedimento
e da Administração Indireta (Autarquias, formal (vincula-se às exigências legais),
Empresas Públicas, Sociedades de igualdade entre licitantes, publicidade,
Economia Mista e Fundações Públicas), sigilo das propostas, vinculação ao edital,
para qualquer tipo de negócio a contratar. julgamento objetivo, adjudicação com-
Na concepção de Gasparini (2006, p. 23), pulsória (não pode ser repassado a outra
licitação consiste no: empresa) e probidade administrativa
[...] procedimento administrativo (conduta honesta e leal do administrador
através do qual a pessoa a isso público).
juridicamente obrigada seleciona, Essa Lei também serviu para disci-
em razão de critérios objetivos plinar os procedimentos a serem adotados
previamente estabelecidos, de in- pela Administração Pública nas contra-
teressados que tenham atendido à tações de serviços e compras ao longo de
sua convocação, a proposta mais
um processo licitatório, prevendo, ainda,
vantajosa para o contrato ou ato
de seu interesse.
casos de sua desnecessidade.
A finalidade foi tornar o procedi-
Ainda que existam autores que alu- mento licitatório mais transparente e pos-
dam sobre a origem do processo licitatório sibilitar à entidade escolha da proposta
no governo brasileiro desde 1860, foi so- mais vantajosa aos seus interesses, além
mente a partir de 1988 que esse processo de propiciar aos interessados igual opor-
se tornou constitucional, quando com tunidade de participação no certame. Visa
princípios estabelecidos: ainda garantir à Administração o fiel cum-
Art. 37. A administração pública primento dos contratos firmados consigo,
direta e indireta de qualquer dos estabelecendo exigências de qualificação
Poderes da União, dos Estados, técnica e econômica, previstas no artigo
do Distrito Federal e dos Municí- 37, inciso XXI da Constituição Federal.
pios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, mo- 2.2 Pregão Eletrônico
ralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
O Pregão, como mais uma modali-
XXI - ressalvados os casos especi-
ficados na legislação, as obras, ser- dade de licitação, surgiu somente em 1997,
viços, compras e alienações serão portanto depois da Lei 8.666/93. De acor-
contratados mediante processo do com Scarpinella (2002), teria emergido
de licitação publica que assegure na Lei Geral de Comunicações que criou
igualdade de condições a todos os a Anatel, sendo posteriormente estendido
concorrentes com cláusulas que ao restante da Administração Pública. O
estabeleçam obrigações de pa- Ministério do Planejamento define o pre-

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gão como a modalidade de licitação para portes, inclusive as Micro e Pequenas


aquisição de bens e serviços comuns em Empresas.
que a disputa pelo fornecimento é feita em
sessão pública, por meio de propostas e 2.3 Pregão Eletrônico praticado no
lances, para classificação e habilitação do portal de compras do Governo Federal
licitante com a proposta de menor preço. – Comprasnet
O Pregão na forma presencial trans-
corre em sessão pública, ocasião em que O Portal de Compras do Governo
ocorre a entrega de envelopes de proposta Federal- Comprasnet, gerenciado pelo
e de habilitação, seguida da oferta de lan- Ministério do Planejamento, Orçamento
ces verbais pelos candidatos, em acordo e Gestão, tem funcionado como a pla-
ao disposto na Lei n. 10.520/ 2002. taforma para operar processos eletrôni-
Já o Pregão no formato eletrônico cos de aquisições, como também para
como procedimento licitatório foi pre- disponibilizar informações relativas às
visto no § 1º do art. 2º da Lei n. 10.520, licitações e contratações, promovidas
de 17 de julho de 2002, regulamentado pela Administração Pública Federal
pelo Decreto n. 5.450, de 31 de maio de direta, autárquica e fundacional. Nesse
2005, com vigência a partir de 1º de julho portal, podem ser realizadas todas as
de 2005 e pelo Decreto n. 3.555, de 08 de modalidades de licitações previstas
agosto de 2000. A diferença do Pregão na Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993
Eletrônico é que, nesse processo, o forne- (convites, tomadas de preço e concor-
cedor encaminha sua proposta de preços rência), assim como os pregões e as co-
por meio da Internet. Realiza-se esse pro- tações eletrônicas. Ainda se incluem as
cedimento na data e horário previstos em Intenções de Registro de Preços (IRP) e os
edital, quando se dá a abertura da sessão. contratos sob o Regime Diferenciado de
A etapa competitiva de oferta de lances e Contratações Públicas (RDC). Os fornece-
o resultado ocorrem por meio eletrônico. dores fazem acesso a diversos serviços no
De acordo com o Decreto n. 5.450/05, art. referido portal, entre eles a inscrição no
4º , a exigência de uso do pregão, prefe- Sistema de Cadastramento Unificado de
rencialmente o eletrônico, ocorre para: Fornecedores (Sicaf), informações sobre
[...] entes públicos ou privados, os editais e a participação nos Pregões
nas contratações de bens e ser- Eletrônicos.
viços comuns, realizadas em
decorrência de transferências vo- 2.3.1 Funcionamento do Pregão Eletrônico
luntárias de recursos públicos da
União, decorrentes de convênios O Pregão Eletrônico possui uma
ou instrumentos congêneres, ou fase preparatória e outra externa. A fase
consórcios públicos.
preparatória constitui-se das atividades
O Pregão (presencial e eletrônico) de elaboração do termo de referência pelo
apresentou para a Administração Pública órgão requisitante e aprovação pela au-
uma forma de aperfeiçoamento do regime toridade competente da apresentação de
de licitações. Nessa modalidade, não se justificativa da contratação, da elaboração
impõe limite de valor para contratações, do edital e exigências de habilitação, das
e o preço pode cair em função dos lances, sanções aplicáveis e da designação do
sendo feito com maior transparência e pregoeiro e sua equipe de apoio.
agilidade. Além de reduzir despesas e Para participar de Pregão Eletrônico
desburocratizar o processo, ampliam-se nos Órgãos Públicos Federais, a Pessoa
as oportunidades de participação de um Jurídica ou Pessoa Física cadastrada
conjunto maior de empresas e de vários no Sistema de Cadastramento de

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Fornecedores – Sicaf se responsabiliza já era previsto na Constituição.


formalmente pelas transações efetuadas O meio eletrônico permitia comprar
em seu nome; mediante recepção da cha- mais rápido e melhor, pelo menor custo
ve de identificação e da senha de acesso possível. No entanto, ao longo do tempo,
intransferível, a pessoa credenciada pode foi se verificando que o uso dessas fer-
acompanhar as operações no sistema ramentas de licitação, exatamente pelos
eletrônico. seus métodos transparentes e ágeis e com
A fase externa do pregão eletrônico igualdade de acesso a todos os partici-
tem início com a publicação de aviso do pantes interessados em ser fornecedor,
edital. Os meios de divulgação variam de poderia direcionar políticas públicas de
acordo com os valores estimados para sua interesse nacional, especialmente aque-
contratação. las de natureza inclusiva, sustentável e
A sessão pública do Pregão Eletrô- inovadora. O uso do poder de compras
nico é aberta na Internet por comando do governamentais poderia, nesse sentido,
pregoeiro que deve coordená-la. Ele faz focalizar segmentos estratégicos e rele-
isso mediante utilização do seu certificado vantes para esse fim. Assim, de simples
digital e senha, na hora prevista no edital. atividade-meio a Licitação por meio do
Os participantes credenciados também Pregão Eletrônico foi se transformando
acessam a sessão pública, por meio de sua em atividade-fim, de relevante interesse
chave de identificação e senha, na hora coletivo.
determinada. A partir de então, são en- A inclusão de Micro e Empresas
caminhados os lances sucessivos sempre de Pequeno Porte passou a fazer parte
inferiores ao último ofertado. A digitação de uma das finalidades das Compras
do valor da proposta aparece num campo governamentais pelo sistema de Pregão
apropriado do sistema, sendo esse valor Eletrônico. Baseado em princípios e
do lance por ele registrado. exigências legais, para esse segmento
Após o encerramento da etapa com- econômico empresarial da sociedade bra-
petitiva, o pregoeiro pode encaminhar, sileira passou-se a criar alguns benefícios
pelo sistema eletrônico, uma contrapro- específicos.
posta ao licitante que tenha apresentado Para isso contribuíram a Lei do
lance mais vantajoso, embora sem nego- Estatuto da Microempresa de 1984, a
ciar condições diferentes daquelas previs- Constituição Federal de 1988, a Lei do
tas no edital. Constatado o atendimento SIMPLES de 1996 e suas posteriores
às exigências fixadas no edital, inclusive o modificações, mas principalmente a Lei
de habilitação, o licitante de melhor preço Complementar n. 123 de 2006 e suas
nas condições exigidas será declarado modificações, que atribuem tratamento
vencedor. diferenciado, simplificado e favorecido
para essas empresas.
3 O USO DO PODER DE
COMPRAS COMO POLÍTICA DE 3.1 Proposições Jurídicas que beneficiam
DESENVOLVIMENTO DA MICRO E as Micro e Pequenas Empresas
PEQUENA EMPRESA
A Lei Complementar n. 123/06,
O uso de ferramentas eletrônicas considerada a proposição jurídica mais
para efeito de compras públicas foi con- importante na diferenciação e favoreci-
siderado no início, apenas uma atividade- mento da Microempresa (ME) e Empresa
-meio, entendido como busca de maior de Pequeno Porte (EPP) para sua ma-
eficiência nos processos licitatórios. O nutenção no mercado, teve origem no
princípio da eficiência, como princípio, contexto dado pelo final da década de 70

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e décadas de 80 e 90. Mas o movimento 7.256/84, com a finalidade de ampliar os


do setor produtivo, que caracterizou a benefícios às pequenas empresas. Nela se
virada do novo Milênio, exerceu impor- facultava apenas ao microempresário ele-
tante contribuição na sua elaboração e ger o regime que melhor lhes aprouvesse.
aprovação, para atribuir a esse segmento Já os pequenos empresários pode-
um tratamento jurídico diferenciado. riam optar apenas pela Lei n. 8.864/94.
De acordo com Mota Jr. (2007), a Lei n.
3.1.1 Origens das proposições jurídicas 9.841, de 5 de outubro de 1999, que criou
que beneficiam a Microempresa e a o Estatuto da Microempresa e da Empresa
Empresa de Pequeno Porte na década de Pequeno Porte, dirimiu e unificou es-
de 80 e 90 do século XX sas questões, além de revogar as Leis n.
7.256/84 e 8.864/94 em seu art. 43.
A Lei n. 7.256/84 foi a primeira a ser Ainda nos anos 90 desse século, a
aprovada no sentido de estabelecer normas Lei n. 9.317/96, que dispunha sobre o
integrantes do Estatuto da Microempresa, regime tributário das Microempresas e
relativas ao tratamento diferenciado e das Empresas de Pequeno Porte, aca-
simplificado para fins de desenvolvimento bou por instituir o Sistema Integrado de
desse segmento empresarial. Pagamento de Impostos e Contribuições
A referida lei foi criada num mo- das Microempresas e das Empresas de
mento em que as multinacionais dotadas Pequeno Porte (SIMPLES) e dando outras
de grandes avanços tecnológicos se im- providências.
punham num mercado oligopolizado de Essa Lei Tributária foi alterada pela
nível internacional, num mundo que já se Lei n. 9.732/98 e pela Lei n. 9.779/99,
mostrava organizado em rede. que tratou de hipóteses de exclusão do
Nesse contexto, o segmento que SIMPLES e outras matérias de ordem
se mostrava mais vulnerável era o da tributária. Prosseguindo no trabalho
Microempresa e Empresa de Pequeno de criação de normas específicas, o le-
Porte. Verificava-se, no entanto, que esse gislador brasileiro preferiu se dedicar
segmento mais vulnerável da economia à parte tributária, das quais temos as
brasileira, além de ser produtivo, não só Leis n. 10.034/00; 10.637/02; 10.964/04
exercia papel relevante na economia local e 11.051/04, sendo todas essas leis com
como importante função social por ser foco no SIMPLES.
grande geradora de empregos, fazendo-
-se necessário criar incentivos para sua 3.1.2 Avanços normativos que
manutenção e desenvolvimento conforme beneficiam a Microempresa e a Empresa
Mota Jr. (2007). de Pequeno Porte no Novo Milênio
Desse modo, pode-se entender a
aprovação da Lei n. 7.256, de 27 de no- O Novo Milênio foi contemplado
vembro de 1984, ainda sob a égide da com mais avanços normativos que be-
Constituição de 1967, durante o gover- neficiam a Microempresa e a Empresa
no dos militares. Chamada de Estatuto de Pequeno Porte, especialmente após
da Microempresa, lei essa que atribuiu a mobilização liderada pelo Serviço
tratamento diferenciado, simplificado e Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas
favorecido, seja nos campos administrati- Empresas (SEBRAE).
vo, tributário, previdenciário e trabalhista, Em realidade, verificara que o
como no campo creditício e de desenvol- Estatuto Federal da Microempresa e
vimento empresarial. Empresa de Pequeno Porte, criado por lei
Em 28 de março de 1994, foi promul- ordinária federal estava limitado somente
gada a Lei n. 8.864, sem revogar a Lei n. à esfera federal, portanto não tinha poder

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legislativo sobre os Estados e Municípios, aprovado pela Câmara dos Deputados


o que comprometia o apoio. com algumas emendas, como Projeto
O Código Civil de 2002 estabeleceu de Lei Complementar n. 123/2004, em
na Teoria da Empresa, em seu art. 970, seguida pelo Senado como Projeto de Lei
que a lei deve assegurar “tratamento Complementar n. 100/2006, sendo pos-
favorecido, diferenciado e simplificado teriormente sancionado pelo Presidente
ao empresário rural e ao pequeno empre- da República como Lei Complementar
sário, quanto à inscrição e aos efeitos daí n. 123/2006, publicada no dia seguin-
decorrentes”. te. Somente o capítulo tributário da lei
A Emenda Constitucional n. 42/2003, (Simples Nacional) passou a vigorar em
publicada no último dia desse ano, pro- julho de 2007.
pôs mudanças significativas no Sistema No mesmo ano, houve aprovação da
Tributário Nacional. De acordo com o Lei 11.598/2007, que estabeleceu diretri-
art. 146, III, alínea “d” da CF, caberia à lei zes e procedimentos para a simplificação
complementar fixar normas gerais sobre e integração do processo de registro e
a “definição de tratamento diferenciado e legalização de empresários e de pessoas
favorecido para as Microempresas e para jurídicas. Ela criou a Rede Nacional para a
as Empresas de Pequeno Porte, inclusive Simplificação do Registro e da Legalização
regimes especiais ou simplificados”. de Empresas e Negócios (REDESIM).
Essas mudanças incidiriam no caso A Lei Complementar n. 123/06
do imposto de ICMS, das contribuições a contribuiu para regulamentar o trata-
cargo do empregador, da empresa e enti- mento diferenciado às Microempresas
dade a ela equiparada, e da contribuição e Empresas de Pequeno Porte, previsto
referente ao PIS/Pasep. Mas essa Emenda como princípio no artigo 170, inciso IX da
previu, nesse mesmo artigo, que uma lei Constituição Federal, bem como para dar
complementar poderia instituir um regi- efetividade a outro comando inserido no
me único de arrecadação dos impostos e artigo 179 da mesma Carta Magna. Foram
contribuições da União, dos Estados, do criados dois benefícios por meio dessa
Distrito Federal e dos Municípios. Lei: (1) regularização fiscal exigida apenas
Diante dessa proposta na Emenda para fins de contrato; (2) preferência no
Constitucional, em 2005, sob a liderança desempate.
do Sebrae, foi organizado o movimento Em relação ao primeiro, nas licitações
da “Frente Empresarial pela Lei Geral públicas, a comprovação de regularidade
da Micro e Pequena Empresa”, com o fiscal das microempresas e empresas de
objetivo de promover o engajamento pequeno porte somente será exigida para
das entidades de representação do setor efeito de assinatura do contrato. No que
produtivo no processo de elaboração e tange ao segundo benefício, ele também
aprovação dessa Lei Complementar. tem proteção constitucional. O artigo 5º,
caput, da Constituição Federal estabelece
3.1.3 Conquista das Microempresas e que “todos são iguais perante a lei”.
Empresas de Pequeno Porte pela Lei O inciso XXI do artigo 37 dessa Carta
Complementar n. 123/2006 e sua inclusão Magna também confirma “igualdade de
nas licitações eletrônicas das Compras condições a todos os concorrentes”. Da
Governamentais na esfera Federal mesma forma, o artigo 3º da Lei 8.666/93
impõe que a igualdade de tratamento
Vários Projetos de Lei Complementar entre os licitantes precisa ser observada
surgiram para regulamentar a matéria, em face do principio do “tratamento favo-
mas, em 2006, o projeto de Lei Geral recido”, insculpido nos artigos 170, inciso
aceito pelo movimento acabou sendo IX, e 179 da Constituição Federal.

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Como lei benéfica ao micro e peque- administrativos: a) prazo especial para


no empresário, por facilitar a participação comprovação de regularidade fiscal,
em processos licitatórios, ela também próprio da fase da habilitação do proce-
cumpre função social e beneficia o mer- dimento licitatório; b) empate ficto com a
cado local, além de manter empregos e proposta da empresa de maior porte, isso
gerar renda para a região. Contribui para se o valor da proposta da Microempresa
manter o micro e pequeno em igualdade ou Empresa de Pequeno Porte for até
de competitividade com o grande em- 10% superior ao daquela, ou de até 5% na
presário. Portanto todas as empresas de modalidade pregão; c) emissão de cédula
Pequeno Porte (EPP) ou Microempresas de crédito micro empresarial pela micro
(ME) têm presença mais assegurada no ou pequena empresa que, sendo titular
vencimento dos certames, seja por meio de direito a crédito empenhado e liqui-
do critério de desempate, ou da preferên- dado, não o receba em pagamento pela
cia de contratação para as microempresas Administração em até trinta dias, conta-
e empresas de pequeno porte. dos da data da liquidação; e d) concessão
O enquadramento como Microem- de tratamento diferenciado e simplificado
presas ou Empresa de Pequeno Porte está por meio do qual as pequenas e micro
previsto no artigo 3o da Lei Complementar empresas podem disputar licitações des-
123/2006. Ela busca suporte no Código tinadas exclusivamente a elas.
Civil para o conceito de empresário e Por meio desse decreto, entende-se
na Constituição para o tratamento dife- que a Microempresa ou Empresa de
renciado de acordo com o artigo 966 do Pequeno Porte que for mais bem classifi-
Código Civil. cada pode apresentar proposta de preço
Art. 966. Considera-se empresário inferior àquela considerada vencedora do
quem exerce profissionalmente certame, situação em que será adjudicado
atividade econômica organizada em seu favor o objeto licitado.
para a produção ou a circulação No ato do Pregão, em caso de ser a
de bens ou de serviços. empresa Microempresa ou Empresa de
Parágrafo único. Não se consi- Pequeno Porte a ganhadora do certame e
dera empresário quem exerce alguma certidão esteja vencida, de acordo
profissão intelectual, de natureza com a Lei Complementar n. 123/2006 e
científica, literária ou artística, no prazo de até dois dias úteis, ela pode
ainda com o concurso de auxilia-
providenciar as certidões negativas.
res ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir
Ainda, se as microempresas ou empresas
elemento de empresa. de pequeno porte no decorrer do contrato
firmado com a Administração Pública se
Destaque deve ser dado aqui tam- desenquadrarem desse tipo de empresa,
bém ao Decreto 6204/2007, que regula- não ocorrerá nenhuma mudança no con-
mentou o tratamento favorecido, dife- trato já firmado anteriormente. Conforme
renciado e simplificado para as microem- Fazzio Jr. (2008):
presas e empresas de pequeno porte nas
O enquadramento de firma co-
contratações públicas de bens, serviços
mercial ou individual ou de pes-
e obras, no âmbito da Administração
soa jurídica em microempresa ou
Pública Federal. empresa de pequeno porte, bem
De acordo com Pereira Jr. e Dotti como o seu desenquadramento,
(2008), foram previstos quatro ins- não implicará alteração, denúncia
trumentos para ampliar as oportuni- ou qualquer restrição em relação
dades de acesso da Microempresas e a contratos por elas anteriormente
Empresas de Pequeno Porte aos contratos firmados.

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4 MICROEMPRESAS E EMPRESAS dos oficial de aquisições de produtos


DE PEQUENO PORTE E AS NOVAS (Comprasnet).
PERSPECTIVAS DE PARTICIPAÇÃO Foi possível constatar que as
NAS COMPRAS GOVERNAMENTAIS Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte já representavam 54% do total de
Diante da potencialidade do poder cadastros e responderam por 26% do
de consumo do Estado para induzir no- montante negociado, e que chegaram
vos padrões de oferta de bens e serviços, a angariar mais de 15 bilhões de reais
o Comprasnet, entre 2010 e 2013, passou em cada período pesquisado. Assim, as
a adotar critérios de sustentabilidade Microempresas e Empresas de Pequeno
no ato das compras feitas pelos órgãos Porte já detinham o dobro de representa-
públicos da instância Federal. Faz isso, tividade e mobilizaram 58% do total de
exigindo em suas contratações, que os recursos negociados.
bens e serviços adquiridos estejam dentro No entanto verificou também que
desses padrões. Num outro viés, a nova a inserção das compras públicas susten-
Lei Complementar n. 147/2014 apresenta táveis realizadas pelos órgãos de admi-
perspectivas de atribuir maior efetividade nistração pública federal ainda é muito
à inclusão da Microempresa e Empresa de pequena. Representava apenas 1,40% dos
Pequeno Porte nesse processo de compras certames. No entanto a evolução desse
governamentais. processo vinha avançando de forma rá-
pida. Em termos de recursos negociados,
4.1 Contratações públicas sustentáveis havia dobrado e já significava 68% no
volume de licitações realizadas (SILVA,
A compra de produtos passa a levar 2014).
em conta não só critérios econômicos e so-
ciais, estes já realizados com a inclusão das 4.2 Perspectivas para as Microempresas
Microempresas e Empresas de Pequeno e Empresas de Pequeno Porte em
Porte, mas também critérios ambientais. compras governamentais pela nova Lei
Para esse fim, o Governo Federal Complementar
propôs o Programa de Contratações
Públicas Sustentáveis, iniciado em 2010. Novas modificações legais ocor-
Esse programa foi ampliado e se forta- reram na busca de melhorias da Lei
leceu após a aprovação do Decreto no Geral da Micro e Pequena Empresa
7.746, de junho de 2012. Ele estabelece (Lei Complementar n. 123/2006). Em
que órgãos e entidades da Administração agosto de 2014, a Lei Complementar n.
Pública Federal direta, autárquica e fun- 147/2014 alterou alguns dispositivos da
dacional podem adquirir bens e contratar Lei Complementar n. 123/2006 e dispôs
serviços e obras, utilizando-se dos crité- sobre o Simples Nacional.
rios e práticas de sustentabilidade, desde Têm sido consideradas por vários
que justificados e estabelecidos no edital autores um grande avanço ao desenvol-
da contratação ou compra. vimento da Microempresa e Empresa de
Um estudo sobre a eficácia das com- Pequeno Porte em nível nacional, por sua
pras públicas sustentáveis pelo governo efetividade. Estas passaram mais a efeti-
federal foi realizado por Silva (2014) na vamente usufruir das vantagens competi-
UFMS. Para esse fim, foram analisadas tivas pertinentes ao campo das licitações.
as aquisições de produtos com critérios No artigo 47 da Lei Complementar
sustentáveis e o perfil de empresas que n. 123/2006, o tratamento diferenciado e
fornecem produtos sustentáveis para simplificado nas contratações públicas,
o Governo Federal, no banco de da- seja da União, Estados ou Municípios,

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Inclusão e perspectivas de desenvolvimento da microempresa e empresa de 419
pequeno porte no processo de compras governamentais na esfera federal

seria concedido, “se previsto e regula- Porte nos processos licitatórios no âmbito
mentado na legislação de cada um desses dos Estados e Municípios.
entes”. Na Lei Complementar anterior, a
Portanto não eram efetivamente Microempresa e a Empresa de Pequeno
aplicáveis. Na nova Lei Complementar de Porte só poderiam participar de licitações
2014, esse último texto foi extraído, além cujas contratações não excedessem oitenta
de se acrescentar um novo na forma de mil reais e o valor licitado não podia exce-
parágrafo único. der a vinte e cinco por cento em cada ano
Com as alterações apresentadas pela civil. A nova Lei Complementar retirou
lei Complementar n. 147/2014 (BRASIL, essa última exigência dos vinte e cinco
2014), foi excluído do texto do artigo 47 por cento de limite quantitativo anual.
a disposição “desde que previsto e regu- Ela exigia um planejamento diário muito
lamentado na legislação do respectivo difícil de ser estabelecido pela ME e EPP.
ente” e ainda foi incluída nova orientação Na nova Lei, o estabelecimento de
junto ao parágrafo único que garante sua “cota de até 25% (vinte e cinco por cento)
aplicação em outras instâncias, além da do objeto para a contratação de microem-
Federal. Conforme transcrevemos abaixo: presas e empresas de pequeno porte, em
Art. 47. Nas contratações públicas certames para aquisição de bens e serviços
da administração direta e indi- de natureza divisível” (BRASIL, 2014)
reta, autárquica e fundacional, também tornou-se obrigatório. Além dis-
federal, estadual e municipal, so, foi acrescentada à referida Lei a priori-
deverá ser concedido tratamento dade que pode ser dada à Microempresa
diferenciado e simplificado para e Empresa de Pequeno Porte sediada no
as microempresas e empresas local e região até dez por cento do melhor
de pequeno porte objetivando a preço válido.
promoção do desenvolvimento A Lei Complementar n. 147/2014 dá
econômico e social no âmbito
autorização para que empresas prestado-
municipal e regional, a amplia-
ção da eficiência das políticas
ras de serviços intelectuais, de natureza
públicas e o incentivo à inovação técnica ou científica, optem pelo Simples
tecnológica. Nacional a partir de 2015.
Parágrafo único. No que diz Também podem optar pelo Simples
respeito às compras públicas, Nacional as empresas de produção e
enquanto não sobrevier legislação comércio atacadista de refrigerantes,
estadual, municipal ou regula- fisioterapia, corretagem de seguros e
mento específico de cada órgão serviços advocatícios constituídas após a
mais favorável à microempresa regulamentação da Lei Complementar n.
e empresa de pequeno porte, 147/2014.
aplica-se a legislação federal.
Microempresas e Empresas de
(BRASIL, 2014)
Pequeno Porte com débitos ou pendências
Também na Lei Complementar an- tributárias poderão ser baixadas perante
terior, não existia obrigatoriedade desses os respectivos órgãos de registro, desde
entes em conceder tratamento diferen- que haja responsabilização solidária dos
ciado e simplificado à Microempresa empresários, titulares, sócios e dos admi-
e Empresa de Pequeno Porte. O termo nistradores no período da ocorrência dos
”poderá” foi substituído no texto por respectivos fatos geradores.
“deverá”, garantindo essa obrigatorie-
dade. Desse modo, esperam-se novas
perspectivas de ampliação da participação
da Microempresa e Empresa de Pequeno

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420 Marcos André da Silva Cunha; Cleonice Alexandre Le Bourlegat

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS fundamental para lhes abrir o mercado de


licitações do Governo Federal e lhes possi-
Se as ferramentas eletrônicas do bilitou vantagens nunca antes concedidas.
Pregão tornaram o Processo Licitatório A Lei n. 8.666/93 e a Lei Complemen-
das compras governamentais mais trans- tar n. 123/2006, alterada pela Lei
parente e ágil, possibilitaram ainda Complementar n. 147/2014, por seu
igualdade de acesso a todos os portes em- turno, contribuíram para dotar de maior
presariais, por outro lado, o potencial de transparência os gastos com o dinheiro
compras governamentais tem permitido público com menor custo na aquisição de
direcionar políticas públicas de interesse materiais e serviços, além de maior par-
nacional, de natureza inclusiva, sustentá- ticipação das Microempresas e Empresas
vel e inovadora. de Pequeno Porte nas licitações. Pautada
Num outro viés, o segmento eco- em princípios constitucionais, proporcio-
nômico da Microempresa e Empresa de nou maior isonomia entre os empresários.
Pequeno Porte tem-se mostrado estraté- Desse modo, mesmo que tenha iniciado
gico e relevante, quando visto de forma suas atividades recentemente, um empre-
diferenciada como integrante do conjunto sário consegue concorrer com empresário
de fornecedores, em processos licitatórios já estabelecido há mais tempo no mercado.
do governo. Se a Lei n. 8.666/93 e Lei Comple-
Antes de existir a modalidade do mentar n. 123/2006 já tinham trazido
pregão, um processo de compras governa- fortes contribuições ao desenvolvimento
mentais podia durar facilmente em torno econômico e social do país, com políticas
de quatro meses. Ao tornar o processo federais de natureza inclusiva e susten-
de compras mais transparente e ágil, o tável de micro e pequenas empresas, a
Pregão Eletrônico abriu o leque de par- nova Lei Complementar n. 147/2014 tem
ticipação empresarial para todo o país. se apresentado como uma proposição
Empresas de qualquer porte e localidade, jurídica com maiores perspectivas de
que não a de seu domicílio, podem partici- avanços nas práticas do uso do poder de
par on-line, via internet, sem a necessidade compras governamentais para incremen-
de se deslocar até o órgão licitante e em tar esse processo. Essa lei tenta garantir
igualdade de condições. maior efetividade às políticas de desen-
A dimensão jurídica representada volvimento desse segmento econômico
pelas proposições normativas que se as- de importante função social, expandindo
sociam a essas dimensões tecnológicas, as práticas utilizadas da instância Federal
econômicas e políticas, como se pôde para a estadual e municipal.
apreciar neste estudo, vem contribuindo Entende-se que o governo já esboçou
para ampliar essas possibilidades impul- uma política estratégica ambiental, ao
sionando processos de desenvolvimento incentivar os órgãos públicos a efetuarem
socioeconômico e ambiental no país. compras governamentais sustentáveis. No
A Lei Complementar n. 123/2006 entanto, se não houver o devido rigor por
alterada pela Lei Complementar n. parte do próprio governo em sua aplicação,
147/2014, que instituiu o Estatuto das acabará sendo apenas mais uma legislação
Micro e Pequenas Empresas, foi de suma que nasce morta. Nesse sentido, precisam
importância para os benefícios conquis- ser mais valorizados os grupos de trabalho
tados por esse segmento econômico. A permanentes inter e intragovernamentais
Microempresa e a Empresa de Pequeno capazes de atribuir maior solidez à aplica-
Porte não tinham tido, até então, a opor- bilidade da legislação, tornando a compra
tunidade de concorrer de igual para igual de determinados itens obrigatória dentro
com as grandes empresas. Essa Lei foi das normatizações de sustentabilidade.

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Inclusão e perspectivas de desenvolvimento da microempresa e empresa de 421
pequeno porte no processo de compras governamentais na esfera federal

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União, Seção 1, de 1º de junho de 2005. públicas, segundo as cláusulas gerais e os
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janeiro de 2002, e 8.666, de 21 de junho de pdf>.

Sobre os autores:
Marcos André da Silva Cunha: Mestrando em Desenvolvimento Local pela Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), Especialista em Gestão Empreendedora de Negócios pela
Universidade da Grande Dourados (Unigran), Administrador, Bacharel em Direito,
Servidor Público Federal da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
lotado na CGM/PRAD.. E-mail: admmasc@gmail.com
Cleonice Alexandre Le Bourlegat: Professora no Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande,
MS. E-mail: rf25@ucdb.br

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