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OS CUSTOS DE TRANSAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO DERIVADO DE LICITAÇÃO:

UMA INCIDÊNCIA DA TEORIA DA IMPREVISÃO

TRANSACTION COSTS IN ADMINISTRATIVE CONTRACTS DERIVED FROM BIDDING:


IMPLICATIONS OF THE THEORY OF UNPREDICTABILITY

Ronaldo Coelho Lamarão *

RESUMO: O presente artigo pretende investigar os custos de transação dos contratos administrativos
derivados de licitação e entender as razões da Administração Pública, supostamente, pagar um valor
mais elevado pelos produtos e serviços que contrata através de licitação. Para tanto, percorrer-se-á
algumas características dos contratos administrativos, assim como serão abordados alguns conceitos
basilares de economia, para buscar desenvolver uma visão global das causas desse verdadeiro
desperdício.

Palavras-chave: Administração Pública, Custos de Transação, licitação, contratos administrativos,


Nova Economia Institucional, Teoria da Imprevisão, Teoria do Contrato Incompleto e Instituições.

ABSTRACT: This article investigates the transaction costs of administrative contracts derived from
bidding and understand the reasons why Public Administration supposedly pay a higher price for goods
and services through competitive bidding. To this end, we will go along some characteristics of
administrative contracts, as well discuss some basic concepts of Economics, trying to develop an
overview of the real causes of this waste.

Keywords: Public Administration, Transaction Costs, Bidding, Administrative Contracts, New


Institutional Economics, Theory of Unpredictability, Incomplete Contract Theory and Institutions.

*Advogado, sócio do escritório Lamarão e Associados Advogados. Especialista em Direito Público (licitações e contratos
administrativos), Consumidor e Responsabilidade Civil. Palestrante e na área de licitações, professor Universitário e de
cursos de pós-graduação; Mestrando em Direito, pela Universidade Gama Filho – UGF/RJ, Especialista em Direito
Processual Civil, Direito Público e Tributário, com complementação em docência superior, todos pela Universidade Cândido
Mendes-AVM; MBA em Análise Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Ex-membro da
Comissão Permanente de Licitação da Academia Brasileira de Ciências.

Revista Direito em (Dis)Curso, Londrina, v. 4, n. 2, p.11-21, ago./dez. 2011 11


Os custos de transação do contrato administrativo derivado de licitação

INTRODUÇÃO objetivo1. Esta característica (objetividade)


Após da realização da disputa entre as determina que tudo na licitação, inclusive o
sociedades empresárias interessadas em contrato, deve ser claro e transparente,
prestar determinado serviço ou vender certo estabelecendo que não poderão existir critérios
produto à Administração Pública, e depois de inteiramente subjetivos, ou seja, critérios que
decididos eventuais recursos, cabe ao deixem o contratado à mercê do julgamento
vencedor assinar contrato com o Poder exclusivo e discricionário do agente público.
Público. Mas nem sempre o ganhador assinará Outra característica dos contratos
um contrato. Este instrumento poderá ser administrativos regidos pela lei de licitações é
substituído por outros instrumentos hábeis, tais que devem ter a duração máxima de sessenta
como carta-contrato, nota de empenho de meses (cinco anos), podendo, em casos
despesa, autorização de compra ou ordem de excepcionais, serem prorrogados por mais
execução de serviço. O contrato apenas é doze meses.2 É justamente essa característica
essencial, segundo o art. 62 da lei n ° a diferença que se quer buscar entre um
8.666/93, em se tratando de concorrência, contrato de natureza continuada, v. g.
tomada de preços, dispensas e vigilância, limpeza, informática etc., e um
inexigibilidades, desde que os preços estejam contrato de concessão de serviço público, por
compreendidos dentro dos limites destas duas exemplo telefonia, transportes, iluminação
modalidades de licitação. pública, exploração de rodovias, portos, entre
Como o objetivo do presente trabalho é outros.3
estudar os custos de transação dos contratos O contrato de concessão, em geral,
administrativos derivados de licitação, assim pressupõe um período mais longo de duração,
como suas renovações ou alterações, os como quinze ou vinte anos. A lei de
demais instrumentos acima grifados não serão concessões (lei n° 8.987/95), ao contrário da
objeto do nosso trabalho. Desta forma, com a lei n° 8.666/93, não fixa um prazo máximo para
definição do foco, basta selecionar um modelo as concessões públicas, deixando tal
de contrato a ser estudado. Como o tema
escolhido é a Teoria da Imprevisão e seus
reflexos nos custos de transação, mister torna-
se escolher uma espécie de contrato para ser 1 Art.. 3o A licitação destina-se a garantir a observância

analisado. Sendo assim, devido à sua do princípio constitucional da isonomia, a seleção da


proposta mais vantajosa para a administração e a
característica contínua, de longo prazo, o promoção do desenvolvimento nacional sustentável e
melhor contrato a ser estudado é o de será processada e julgada em estrita conformidade com
concessão de serviços públicos. Contudo, os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade,
antes de adentramos no tema, será necessário da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
desenvolver algumas noções basilares sobre probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são
os contratos administrativos na lei geral de correlatos. (Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010).
licitações. 2 Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei

ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos


ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DOS orçamentários, exceto quanto aos relativos: II - à
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS prestação de serviços a serem executados de forma
contínua, que poderão ter a sua duração prorrogada por
A lei de licitações determina que os iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção de
contratos da Administração Pública devem ser preços e condições mais vantajosas para a
regidos por cláusulas claras e precisas, as administração, limitada a sessenta meses; § 4o Em
quais definam os direitos, obrigações e caráter excepcional, devidamente justificado e mediante
responsabilidades das partes envolvidas. Isto autorização da autoridade superior, o prazo de que trata
o inciso II do caput deste artigo poderá ser prorrogado
nada mais é do que o uma transmutação, para por até doze meses.
a seara contratual, do princípio do julgamento 3 Na atualidade, principalmente os contratos de portos e

rodovias, vêm sendo modelados mais como PPPs do


que concessões de serviço público.

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circunstância a critério do edital.4 Isto se dá por A elaboração de um contrato que se


uma razão muito simples: somente o Poder predispõe a viger por tão longo período de
Concedente tem a possibilidade de, no caso tempo deve adotar uma série de medidas que
concreto, determinar a duração do contrato, de permitam sua adequação à realidade daqui a
acordo com as suas necessidades. Se a lei, um certo período de tempo, tais como
desde logo, estipulasse um prazo máximo de cláusulas de escape.
duração dos contratos, acabaria por engessar, Para que se possa entender melhor
muitas das vezes, o serviço público, podendo esses mecanismos e sua relação com os
ter reflexos negativos na política tarifária. custos de transação decorrentes das
Com a velocidade da informação, o incertezas futuras – v.g. o interesse público
dinamismo da economia e da sociedade, pode se alterar daqui a certo tempo e
estabelecer um contrato com duração muito influenciar os custos - no momento da
longa, como os de concessão, é uma tarefa renovação ou na aplicação dos mecanismos
tanto quanto complicada, que exige uma que visam o equilíbrio contratual, indispensável
especialização, uma expertise muito grande do enfrentarmos questões a respeito da Teoria
corpo técnico que o elabora. Esta qualificação Econômica do Contrato e sobre a Nova
costumava ser vista, com maior frequência, na Economia Institucional. Assim, abordaremos
esfera privada, enquanto que na pública, questões como a Moral Hazard, custos de
raríssimas eram as pessoas que detinham o transação, Teoria do Contrato Incompleto e
conhecimento técnico necessário. Isso hold up.
ocasionava, via de regra, um desequilíbrio
muito grande a favor daquele mais preparado A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL
(o setor privado)5. Entretanto, esse quadro não A chamada Nova Economia
é mais o mesmo, existindo, hoje, no setor Institucional (NEI) começou a ganhar corpo nos
público, profissionais e equipes altamente anos de 1930, por meio dos pensamentos de
qualificadas, como são os casos dos corpos Coase, Simon, Commons e Hayek. Como não
técnicos das Agências Reguladoras, fenômeno é objetivo do presente trabalho esmiuçar a obra
que teve início no Brasil no ano de 19966. de cada um desses autores, apenas citaremos
algumas contribuições mais relevantes.
4 Art. 18. O edital de licitação será elaborado pelo poder
Coase, sem sombra de dúvidas, foi o
concedente, observados, no que couber, os critérios e as principal expoente da Nova Economia
normas gerais da legislação própria sobre licitações e Institucional. Ele foi quem primeiro explicou a
contratos e conterá, especialmente: I - o objeto, metas e gênese da firma (atualmente denominada de
prazo da concessão. sociedade empresária), que até então era vista
5 Na nota de rodapé nº 15 o leitor terá a possibilidade de

verificar esse desequilíbrio, pois reconhecidos,


somente como uma transformadora de matéria
incidentalmente, pelo Tribunal de Contas de União. prima. Foi ele quem passou a mensurar
6 As primeiras Agências Reguladoras, marco da aspectos, até então ignorados, como
especialização do setor público, surgiram, no Brasil, na relacionamento com clientes e fornecedores,
década de 90. Em 1996 foi criada a Aneel (Agência relacionando mercado e firma (Farina e
Nacional de Energia Elétrica), no ano de 1997 foi criada
a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em
Azevedo, 1997, p. 35).
1998 foi criada a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Coase observou que as negociações
hoje conhecida como Agência Nacional do Petróleo, Gás não eram isentas de custos e isto não poderia
Natural e Biocombustível). Porém, no início do século ser ignorado, pois influenciavam o preço final
XX, já existiam entidades com função reguladoras: Di do produto ou serviço. Então, questões como
Pietro (2011, p. 479) “no período de 1930-1945, o
Comissariado de Alimentação Pública (1918), o Instituto
direito de propriedade, direitos autorais,
de Defesa Permanente do Café (1923), o Instituo do deveriam ser levados em consideração no
Açúcar e do Álcool (1933), o Instituto Nacional do Mate momento da celebração de um negócio. É o
(1938), o Instituto Nacional do Pinho (1941), o Instituto chamado custo de transação. Este, nas
Nacional do Sal (1940), todos esses institutos instituídos palavras de Ursula Dias Peres, é “a busca da
como autarquias econômicas, com a finalidade de
regular a produção e o comércio”.
maximização de resultados eficientes, a partir
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do comportamento dos indivíduos dentro de A racionalidade limitada está ligada ao


uma organização e da forma como esses são homem. Já a incerteza – do que pode vir a
coordenados” (PERES, 2007, p. 16). acontecer – está vinculada ao ambiente em
Por sua vez, Coase subdividiu a teoria que se processa a transação. “Todavia, há uma
em duas: custo das coletas das informações e relação entre esses dois conceitos, visto que
custo de negociação e estabelecimento de um quanto mais limitada for a racionalidade maior
contrato (Farina e Azevedo, 1997, p. 55). será a incerteza que se vigora em um
Assim, por exemplo, ao se colocar um imóvel à ambiente” (Azevedo apud Santos, p. 08).
venda, antes da assinatura da escritura A racionalidade limitada do homem
(transação), existirão outros custos com a pode ocasionar uma série de complicações
coleta de informações sobre o bem; necessitar- interligadas, como é o caso do hold up
se-á gastar valores com certidões estaduais, (oportunismo), da Moral Hazard7 (risco moral:
municipais e federais, cartórios de distribuição, pode ser dividida em hidden information e
entre outros. Será, também, necessário hidden action – informação oculta e ação
computar-se o custo com a negociação oculta8). A hidden information ocorre quando
(pagamento de um advogado) e o custo do determinada informação é monopolizada por
estabelecimento do contrato (da escritura). uma das partes, o que impossibilita que o
Transportando o exemplo acima para o contrato seja equilibrado para todas as partes
contrato de concessão, antes de declarado o envolvidas, pois determinada parte ao dispor
vencedor, ambas as partes (Poder concedente de uma informação privilegiada, pode usá-la (e
e o cessionário) terão despesas com a com certeza o fará) para obter proveito, em
transação. O Estado (latu sensu) gastará seus regra financeiro, sobre os demais. Por sua vez,
recursos com a divulgação do edital, a a hidden action ocorre quando um parte lança
capacitação do seu corpo técnico que mão de uma ação escusa para se locupletar de
elaborará tanto o contrato como o edital etc.. algo, em detrimento dos demais. Essas
Do outro lado, o licitante gastará, por exemplo, características corroboram com a afirmação de
com a autenticação dos documentos (em que todo contrato é incompleto.
certos casos), certidões, transporte, estadia Este nada mais é do que o
(caso a disputa não ocorra próximo a sede de reconhecimento da racionalidade limitada.
seu estabelecimento) e advogados. Sendo assim, se a razão é limitada, qualquer
Simon (Farina e Azevedo, 1997, p. 43) contrato jamais será totalmente completo, pois,
observou que, apesar de o homem ser como dito acima, não é possível prever-se
racional, essa racionalidade é limitada, pois é todos os acontecimentos futuros. Todavia, as
impossível, por mais racional que seja uma
determinada decisão, prever todos os
acontecimentos que futuramente poderão
7 “Se refere à possibilidade de que um agente econômico
advir. Se ao homem é impossível prever todos
mude seu comportamento de acordo com os diferentes
os acontecimentos, por certo, os contratos, em contextos nos quais ocorre uma transação econômica. O
razão da mesma lógica, por mais completos risco moral é relacionado à informação assimétrica, uma
que sejam, não serão capazes de antever situação na qual uma parte na transação possui mais
todos os eventos. informações que a outra. Um caso especial de risco
Num contrato de concessão, em que o moral é chamado problema agente-principal, onde uma
parte, chamado de agente, age no interesse da outra
seu prazo de duração é bastante extenso (15, parte, chamada de principal. O agente pode ter um
20 anos ou mais), o exercício de se tentar incentivo ou tendência de agir inapropriadamente do
elaborar um contrato completo torna-se, quase ponto de vista do principal, se os interesses do agente e
impossível, haja vista os inúmeros do principal não estiverem alinhados. O agente
acontecimentos que poderão influir nas normalmente tem mais informações sobre suas ações ou
intenções do que o principal, porque o principal
condições do contrato, como, v. g. mudanças normalmente não pode monitorar perfeitamente o
no cenário econômico internacional ou agente”: fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Risco_moral,
nacional. acessado em 24/10/11, às 18:00.
8 Tradução do autor.

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questões tratadas nesse parágrafo serão mais que autorizam e habilitam a ação social.
bem exploradas mais a frente. Conferem direitos, responsabilidades,
privilégios, deveres, licenças e mandados.
INSTITUIÇÕES Nessa perspectiva, a base de legitimação
As instituições são uns dos alicerces organizacional é a conformidade às exigências
da Nova Economia Institucional. Não há que se legais”.
confundir instituição, no contexto da NEI , como Por sua vez, o sistema normativo pode
sinônimo de associação ou organização. ser explicado como sendo uma base de valores
Segundo North (Farina, apud North, 1997, p. morais (Santos, p. 3): “A concepção normativa
58): “Instituições são restrições (normas) ressalta a base moral para a configuração da
constituídas pelos seres humanos, que legitimidade. Enfatiza as obrigações morais
estruturam a intenção social, econômica e que podem conter ações que se distanciam
política. Elas consistem em restrições informais das exigências legais (exemplo exigências de
(sanções, tabus, costumes, tradições e códigos um departamento) (SCOTT, 1995). Nesta
de conduta) e regras formais (constituições, concepção, os valores e as normas são
leis e direitos de propriedade)”. incorporados ao cotidiano tornando-se uma
Parafraseando, mais uma vez, North, obrigação ou comportamentos moralmente
pode-se explicar Instituições com um conceito governados devido ao seu uso cotidiano e
muito simples: são as “regras do jogo” (Farina, repetitivo”.
apud North, 1997, p. 59), independentemente Por fim, o sistema cognitivo pode ser
do contexto que se encontram, seja ele político, caracterizado pelo (Santos, p. 3):
econômico, jurídico, etc.. Essa regra do jogo “compartilhamento da realidade, no qual se
(instituições) deve ser analisada sob dois utiliza aspectos simbólicos das ações,
prismas distintos, um macro e outro micro. resultantes das interpretações e conseqüentes
Exemplificando, imagine-se que seja utilizada representações que os indivíduos fazem do
uma instituição jurídica, neste ponto ela pode ambiente (FONSECA, 2003)”.
abranger um nível macro, como uma lei de Por meio das instituições, chega-se a
abrangência nacional ou de nível micro, uma mais dois desdobramentos da Nova Economia
portaria que apenas vincule um departamento Institucional, a outras duas teorias: o Ambiente
da administração pública. Institucional e Instituições de Governança.
As instituições, por serem um conjunto Aquele estabelece a relação entre as
de regras diminuem a incerteza do mercado, instituições e o desenvolvimento econômico,
pois, seguindo-as, tende-se a chegar a um examinando o papel de alguns elementos
resultado esperado. Num contrato de institucionais sobre o resultado econômico
concessão de serviço público, por força da lei global. Tem como ponto de partida o Trade off
n° 8.987/95, sabe-se que, no julgamento da (equilíbrio) entre a especialização e os custos
proposta, o critério mais importante é o preço de transação. Os ganhos advindos de uma
da tarifa ofertado pelo licitante. Isso (a regra) crescente especialização, gerados pelo
reduz a insegurança quanto ao processo de aprimoramento do desempenho do trabalho,
contratação, o que dá mais tranqüilidade aos são reduzidos ou eliminados pelos custos de
licitantes, pois podem antever, com maiores transação, que aumentam com a
chances, a viabilidade ou não de um futuro especialização. O papel das instituições seria
contrato. conciliar esse movimento, impedindo o
As instituições podem ser divididas em crescimento dos custos de transação à medida
três sistemas distintos, o regulativo, o que cresce a especialização.
normativo e o cognitivo. O primeiro pode ser A teoria das Instituições de
entendido como o sistema que (Santos, p. 3): Governança, em breve síntese, estuda as
“estabelece valores, normas e objetivos que transações com um enfoque microanalítico,
assumem a forma de imposições que limitam o tomando as regras gerais de uma sociedade e
comportamento social, ao mesmo tempo em tem como objetivo, assim como a outra teoria,
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Os custos de transação do contrato administrativo derivado de licitação

reduzir os custos de transação. Melhor lei ao restringir o local e o vernáculo, pode


explicando, são mecanismos criados por acabar restringindo, também, uma solução
determinados agentes (por agentes pode-se mais técnica sobre determinado assunto.
entender empresas, Estado, associações etc.) Aliado a essa fragilidade, encontra-se a
para melhor lidar com os custos de transação, desqualificação do corpo técnico do Estado.
ou seja, são estratégias voltadas a redução dos Esse despreparo era algo muito comum até há
custos de transação e neste aspecto, cada alguns anos mas que, felizmente, vem sendo
agente elabora o seu mecanismo, não revertido. Hoje, o corpo técnico das Agências
existindo um certo e outro errado. Reguladoras é composto, em sua grande parte,
por profissionais da mais elevada competência,
A Fragilidade das Instituições Jurídicas mas, ainda, em números insuficiente em
Agora que se sabe o que é uma determinados setores.10 Entretanto, nem
instituição (conjunto de regras) iremos analisar sempre foi assim, o que acabava por favorecer
a instituição jurídica da concessão. Por meio de os concessionários, que dispunham de
uma busca na legislação pertinente observa-se recursos e de um quadro técnico mais capaz, o
se o regulamento das concessões pode ser que lhe garantia vantagem nas renegociações.
considerado frágil. Será que a legislação pátria
Uma constatação básica salta aos (instituições em sentido macro) garantem uma
olhos ao se observar a lei de concessões: a margem segura, por intermédio das cláusulas
ultima alteração por ela sofrida fora no ano de de escape, de (re)negociação? Será que os
2005, ou seja, há mais de sete anos. Como as mecanismos institucionais são suficientes para
relações econômicas modernas são bastante diminuir os custos de transação? Não
dinâmicas, quase instantâneas, na sociedade ousaremos responder tais quesitos, mas
globalizada contemporânea uma defasagem buscaremos deixar dados para que o próprio
institucional deste nível pode acabar por leitor chegue à sua conclusão.
esvaziar, aos poucos, o instituto, o que vai Imagine-se a seguinte situação: o
influir nos custos de transação, pois, Poder Concedente, em uma renegociação
lembremos, quanto maior a incerteza, maiores contratual, utilizando-se das cláusulas de
os gastos. escape, repactua determinada condição que
Nessa alteração fora introduzido o art. acabe se revelando desvantajosa para a
23-A , uma das poucas, se não a única,
9 sociedade. Entretanto, ao fundamentar a sua
cláusula de escape, que permite a decisão o faz, exatamente, lançando mão,
renegociação do contrato, utilizando, inclusive, genericamente, do princípio da Supremacia do
a arbitragem, desde que previsto no ato Interesse Público. Esta decisão gera um custo,
convocatório e no contrato. Todavia, apesar da custo este para a Administração Pública e para
boa vontade e do intuito de desburocratizar e os administrados. A presente hipótese geral
despolitizar as decisões, ela peca em outro serve apenas para se refletir quanto à questão
ponto. O final deste artigo determina que a da fragilidade das instituições e como isto pode
renegociação deverá ser feita no Brasil e em interferir nos custos de transação.
vernáculo português. Ocorre que dependendo
da matéria, poderá existir um tribunal arbitral
mais expert em determinado assunto no
10 O Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e
Eficiência Energética (SPE), informou ao Tribunal de
estrangeiro e que, provavelmente utilizará a Contas da União-TCU, em 2008, acórdão nº 2211/2008
língua inglesa (ou outra língua). Desta forma, a – Plenário, que ainda não possuía um corpo técnico
especializado no setor elétrico. No mesmo sentido,
acórdão 112/2002 – Segunda Câmara; Acórdão
9 Art. 23-A. O contrato de concessão poderá prever o 435/2004 - Segunda Câmara; Acórdão 489/2008 -
emprego de mecanismos privados para resolução de Plenário. O mesmo tribunal, em 2009, evidencia a
disputas decorrentes ou relacionadas ao contrato, necessidade da Agência Reguladora possuir um corpo
inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil e em técnico especializado, com independência política, para
língua portuguesa, nos termos da Lei no 9.307, de 23 de que possam ser tomadas decisões imparciais e
setembro de 1996. equilibradas (acórdão nº 1543/2009 – Plenário).

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Ronaldo Coelho Lamarão

desejam um contrato mais completo, pois estão


TEORIA DO CONTRATO INCOMPLETO dando preferência à segurança e não ao custo
Na elaboração de um contrato, nem de transação. Por óbvio, ao se responder
sempre são observados os níveis de previsão e negativamente, está se optando por um
explicitação de todos os aspectos que uma contrato menos completo, mas que privilegiará
estipulação mais completa poderia abarcar, tais a redução dos custos de transação, por meio
como: a explicitação mais exaustiva do objeto, de negociações futuras, quando e se as
as possíveis contingências capazes de contendas surgirem.
interferir na onerosidade do contrato, a A doutrina especializada aponta outros
definição dos standards de cumprimento, cinco fatores que podem tornar os contratos
descumprimento e cumprimento defeituoso incompletos (Neves, 2002, p. 2). “O contrato
(Araújo, 2007, p. 148). Um contrato mais pode ser vago ou ter ambigüidade em palavras.
completo seria aquele capaz de prever estas e Algumas das partes inadvertidamente falham
outras contingências, que afetam a sua em algum aspecto. Os custos de produção e
onerosidade. Contudo, a busca do contrato documento superam os custos de resolução de
mais completo pode esbarrar numa problemas futuros. Presença de informação
ponderação de custo-benefício, pois quanto assimétrica, ou seja, uma das partes detém,
mais completo for o contrato, menor a margem mais informação que a outra. Preferência de
de negociação das partes. uma das empresas em sair do relacionamento”.
A elaboração e a execução de um Ocorre que a questão de se optar por
contrato tende a ser mais dispendiosa quanto um contrato completo ou incompleto não
mais extensos são os riscos que se pretende deságua, tão somente, nos custos de
cobrir. Um contrato mais incompleto aproximar- transação. Outras questões são igualmente
se-á do mercado, seja na flexibilidade seja na importantes nessa escolha. A eleição do
exposição dos riscos. Um contrato mais modelo errado pode dar ensejo ao holdup
completo perderá essa flexibilidade, mas (oportunismo), pois uma das partes, detendo
poderá ganhar a em erradicação ou cobertura informação privilegiada, pode utilizá-la em seu
dos riscos (Araújo, 2007, p. 149). favor, prejudicando a outra parte. Merece
Percebe-se que no momento da destaque que o oportunismo pode ser
elaboração de um contrato as partes estão praticado por ambas os lados, ou seja, tanto
diante de um dilema: ou fazem um contrato pelo particular quanto pelo Poder Concedente.
mais completo, prevendo os eventuais O Tribunal de Contas da União, em algumas
problemas futuros, que diminuirá seus riscos, oportunidades, já identificou essa questão. 11
mas perderá na flexibilidade de negociação ou A solução para o holdup é a
optam por um contrato mais amplo, menos elaboração de contratos minimalistas, com um
completo, mas que privilegiará as negociações preço fixo e o menor número possível de
vindouras.
Para resolver esse dilema, (Araújo,
11 Acórdãos 1756 e 1757, ambos de 2004 - Plenário “A
2007, p. 150) propôs duas perguntas que
proliferação de entidades reguladoras independentes
servirão de base para se decidir se o que se ocorreu como resposta histórica à necessidade de
busca é uma espécie ou outra de contrato. “- proteção contra o excessivo arbítrio e oportunismo dos
Valerá à pena começar a desenvolver esforços governos. A evolução dessas entidades traz consigo o
de estipulação contratual quando ainda é mais controle, para restringir comportamentos arbitrários e
barato recorrer, sem essa estipulação ao caprichosos por parte do regulador, como este que se
pretende corrigir”. Acórdão 2379/2008 – Plenário “j) o
mercado? - Valerá à pena continuar a TCU não pode se furtar de fiscalizar o procedimento de
desenvolver esforços de estipulação contratual revisão tarifária da Eletropaulo pelos seguintes motivos:
quando passou a ser mais barato estipular uma os riscos aos quais estão submetidos os procedimentos
solução integrada e passar a agir dentro dela?” regulatórios, haja vista que sempre existe a possibilidade
Ao responder “sim” para ambas de ocorrer assimetrias de informação, comportamentos
oportunistas ("gaming"), capturas regulatórias e
questões, as partes estão dizendo que monitoramentos imperfeitos”.
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Os custos de transação do contrato administrativo derivado de licitação

estipulações, pois quanto maior a simplicidade, incontinências futuras, não importando o seu
menos abundantes as armadilhas. Porém, esse objeto, se é uma concessão de serviço público
inacabamento para ser eficiente requer um (lei n° 8.987/95), se patrocinada (lei n°
investimento vultoso em informação, que acaba 11.079/04), se administrativa (lei n° 11.079/04),
por ser desproporcionado, mas que pode ser ou de obra pública (lei n° 8.987/95 c.c lei n°
solucionado com a estipulação de cláusulas ad 11.079/04). Assim, surgem mecanismos de
hoc, ou seja, cláusulas que possam ser compensação, as chamadas “cláusulas de
flexíveis quando determinada situação ocorrer escape”, que têm a finalidade, precípua, de
(Araújo, 2007, p. 153). reequilibrar, financeira e economicamente o
Ser um contrato incompleto não contrato. A lei de concessão, traz alguns
significa, necessariamente, uma falha em sua dispositivos nesse sentido, como o art. 9°, §
elaboração. Muito pelo contrário, pode ser uma 2°13; o art. 23, IV14 e o art. 23-A15.
tática para a redução dos custos de transação. Partindo-se do pressuposto de que
Entretanto, para se optar por esse modelo nenhum contrato é completo e existindo um
contratual deve-se realizar uma ponderação de período de tempo tão longo como inato aos
custos marginais: informação, negociação etc. contratos de concessão, surgem incertezas
e benefícios marginais tais como: redução de que se refletem nos custos de transação.
holdup (oportunismo) e redução da Nesse desiderato, com tantas possibilidades e
necessidade de renegociação (Araújo, 2007, p. salvaguardas, renegociações, oportunismo,
161). instituições desatualizadas, entre outras
ocorrências, o custo de se negociar com o
A TEORIA DO CONTRATO INCOMPLETO E Poder Público se eleva, é o que se chama
OS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS popularmente de “Custo da Administração”, ou
DERIVADOS DE LICITAÇÃO seja, boa parte do que é vendido para ela, seja
Agora que já foram traçadas algumas produto ou serviço é com um preço superior ao
linhas iniciais a respeito da Teoria do Contrato praticado no mercado16. Em se aumentado
Incompleto, que é uma consequência do
reconhecimento da racionalidade limitada do 13 A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo
homem, a qual tem seus pontos positivos e preço da proposta vencedora da licitação e preservada
negativos, partir-se-á para uma análise, com os pelas regras de revisão previstas nesta lei, no edital e no
fundamentos já apresentados, dos contratos contrato. § 2º Os contratos poderão prever mecanismos
administrativos derivados de licitação, de revisão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio
econômico-financeiro.
elegendo-se o contrato de concessão. 14 Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de
Nas palavras de (Di Pietro, 2010, p. concessão as relativas: IV - ao preço do serviço e aos
293) concessão, em sentido amplo, pode ser critérios e procedimentos para o reajuste e a revisão das
definido como: “o contrato administrativo pelo tarifas.
15 Art. 23-A. O contrato de concessão poderá prever o
qual a Administração confere ao particular a
emprego de mecanismos privados para resolução de
execução remunerada de serviço público, de disputas decorrentes ou relacionadas ao contrato,
obra pública, ou de serviço de que a inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil e em
Administração Pública seja usuária direta ou língua portuguesa, nos termos da Lei no 9.307, de 23 de
indireta, ou lhe cede o uso de bem público, setembro de 1996.
16 “SP investiga superfaturamento em compras de
para que o explore pelo prazo e nas condições
presídios. Material para penitenciárias de Campinas e
regulamentares e contratuais”. Sorocaba custou quatro vezes mais caro do que para
Num contrato de concessão12 de dez, outras regiões do estado. Gasto foi de 1,6 milhão de
quinze ou vinte anos, por mais que se queira, reais”. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/sp-investiga-
obviamente torna-se impossível prever todas superfaturamento-em-compras-de-presidios). Acessado
em 09/11/11, às 17:20h. No mesmo sentido “Os
hospitais universitários, mantidos pelo Ministério da
12 A lei n° 9.074/95 chega a conceder prazo de, até, 35 Educação (MEC), compraram, ao longo de 2010,
(trinta e cinco) anos, prorrogáveis por mais 20 (vinte) insumos e medicamentos com valores superfaturados
anos, em se tratando de concessão para geração de em quase 1.400%”.
energia elétrica. (http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/

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esse custo, como não há outra alternativa: a em uma empresa. Para começar, o setor
conta acaba sendo paga por toda a sociedade. público esbarra, de plano, no princípio
constitucional da legalidade, ou seja, ao
CUSTO DE TRANSAÇÃO PARA O SETOR administrador só é possível fazer o que a lei
PÚBLICO determina. Apesar de, modernamente, não
Ursula Peres, ao tratar sobre o tema, existir mais esse legalismo formal, pois à lei é
destaca vários fatores que interferem no custo impossível antever todas as situações, o
de transação para o governo, tais como os administrador público ainda continua atrelado à
relacionados à “criação, execução, lei, até mesmo por força da constituição, sendo
monitoramento e avaliação de políticas pouco crível que implementará mudanças sem
públicas”. Segundo a autora, ainda deve ser a devida autorização, que pode se dar por meio
levado em consideração as aspirações, muitas de lei, decreto e portaria.
vezes egoísticas, dos agentes envolvidos, Assim, a Administração Pública (Poder
como por exemplo reeleição, permanência em Executivo) torna-se dependente de si própria
seus cargos, poder, entre outros, que torna ou do Poder Legislativo, não havendo meios de
ainda mais incerta a negociação (Peres, 2007, um Poder compelir o outro a agir. Lógico que
p. 21). por intermédio do jogo político, essa questão
Sem descer a minúcias e para poderia ser superada. Outro entrave é a falta
esclarecer mais o leitor, citaremos mais alguns ou escassez de uma fiscalização direta.
custos de transação relacionados ao setor Sabemos que existem os órgãos de controle,
público. A descontinuidade das políticas tais como os tribunais de contas, sejam eles da
públicas é um outro custo que deve ser levado União, Estado e Municípios (onde existam).
em consideração, “visto que não é possível Porém, determinar que um único órgão fique
garantir-se à sociedade civil a durabilidade dos responsável pelas contas dos demais pode
benefícios de uma política pública” (Peres, gerar uma certa ineficiência, caso ele não seja
2007, p. 22), o custo de monitoramento da dotado de uma estrutura adequada ao tamanho
burocracia, a edição de leis imprecisas e de sua responsabilidade.
demasiadamente vagas, entre outros. Várias empresas adotam a figura do
Já foram ventiladas, algumas vezes, supervisor, que também existe no setor
tantos nas mídias impressas quanto televisivas, público, como, por exemplo o fiscal de um
que a Administração Pública deveria ter a contrato. Entretanto, nas empresas privadas a
eficiência e os métodos da iniciativa privada, função de supervisão costuma ser
pois isso aumentaria a eficiência do setor recompensada com um percentual da
público. Concorda-se com essa assertiva, lucratividade. Isto é um estímulo para que o
porém, por óbvio, as mudanças não são tão supervisor não permita que a produção caia, e,
simples de se implementar quanto poderia ser com isso, diminua-se os lucros. Se não
houvesse essa retribuição pecuniária, qual o
incentivo que determinado empregado teria,
2011/01/31/interna_politica,235098/superfaturamento- por exemplo, de supervisionar a produção de
de-1-380-em-medicamentos-nos-hospitais-
universitarios.shtml). Acessado em 09/11/11, às 17:23h.
uma fábrica? No início, desenvolveria sua
“Estado do Rio comprou medicamentos até 143% mais função corretamente, mas com o passar do
carosA Secretaria estadual de Saúde, em 2009, tempo, seu ânimo e empenho diminuiriam, por
dispensou licitação em compras de medicamentos e falta de estímulo. Segundo algumas vozes, o
material médico-hospitalar que somam R$ 81 milhões. O mesmo acontece no setor público17.
montante equivale a 13,7% do total (R$ 591 milhões)
destinado para a compra desses insumos no ano
passado. No caso de alguns produtos, o governo pagou 17 Em artigo publicado no 30º encontro (2006) da
até 143% a mais por unidade, se os valores forem ANPAD, “Mudança Organizacional no Setor Público: um
comparados com os preços pagos por outros estados”. estudo sobre o impacto das mudanças instituídas pelo
(http://extra.globo.com/noticias/rio/estado-do-rio- Governo do estado de Minas. Gerais numa instituição
comprou-medicamentos-ate-143-mais-caros- pública estadual” tal referência é levantada
369155.html). Acessado em 09/11/11, às 17:23h. (http://www.anpad.org.br/enanpad/2006/dwn/enanpad20
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Os custos de transação do contrato administrativo derivado de licitação

Determinado servidor empossado em cargo de mesmo tende ser obtido mais rápido. Para que
supervisão, pode, no início de suas atividades, não haja o problema do sentimento de
desempenhar seu papel de forma satisfatória, desvalorização, em razão de não ser possível
mas, possivelmente, com o passar dos anos, a comensurar qual servidor trabalhou mais,
mesmice de sua função tornará seu rendimento mister, além da figura do supervisor, incentivar-
insatisfatório. se esses agentes. Este incentivo, não
Alchian e Demsetz (Donei, p. 47/48) necessariamente precisaria ser pecuniário,
trouxeram grande contribuição ao problema do como uma gratificação; poderia ser concedido
desempenho nas empresas, conhecimento um dia de folga, uma promoção, a inscrição em
esse que pode ser transmudado para o setor um curso de aperfeiçoamento, entre outros.
público. Eles, ao associarem a questão dos A maior eficiência da Administração,
direitos de propriedade à gênese da firma atingida por meio do incentivo e treinamento de
estabeleceram quatro proposições: a) em uma seus servidores, culminaria, por todo o estudo
firma é possível captar os ganhos gerados pela desenvolvido, uma diminuição dos custos de
organização cooperativa. Assim, o produção produção no setor público.
cooperativa, o trabalho em equipe (team
production) gera um aumento na produção; b) CONCLUSÃO
a team production pode ocasionar um Anualmente o Brasil perde bilhões20 de
desestímulo à produção, pois através dela não reais por conta de sua ineficiência estatal e
é possível mensurar, com precisão, a todo esse cenário de incertezas a respeito das
participação de cada membro da equipe; c) a políticas públicas. A máquina estatal, em geral,
terceira proposição é um desdobramento da é ineficiente se comparada à iniciativa privada
anterior. Se a team production desagua em um
desinteresse, imprescindível a figura de uma a implementação de medidas de segurança pública que
supervisão para que a produção não diminua e, diminuam efetivamente os índices de criminalidade, etc.
por final, como não é possível a figura do 20 Gastos levam contas públicas ao pior resultado em 18

supervisor do supervisor, é necessário garantir- anos: Mau desempenho do INSS foi o que mais pesou
para o rombo em maio. A situação das contas públicas
lhe ganhos extras advindos da produção. Neste se deteriorou drasticamente em maio. O superávit
desiderato, quanto maior a produção, maior a primário - economia para pagar juros da dívida - de todo
sua comissão. o setor público despencou de R$ 19,7 bilhões em abril
Tratando a Administração Pública para R$ 1,4 bilhão no mês passado. O pior desempenho
como uma empresa, com as técnicas corretas foi da União, que teve déficit de R$ 1,431 bilhão, o maior
em 18 anos para o mês. O principal responsável pelo
de administração de empresas, acredita-se que rombo foi a Previdência. Os números gerais só não
é possível aumentar a produção do setor foram piores porque os estados e as empresas estatais
público, alcançando-se, desta maneira, o fizeram a sua parte e pouparam. Segundo especialistas,
princípio constitucional da eficiência18, se não o crescimento da economia e a elevação da receita com
vejamos: estimulando-se o trabalho em equipe impostos estão compensando boa parte dos aumentos
de gastos e, só por isso, o quadro fiscal não aparenta
para se alcançar determinado resultado19, o ser tão grave. "A atual política fiscal estimula o
crescimento a curto prazo, mas o inibirá a médio e longo.
06-apsa-0492.pdf) acesso 26/12/11, às 20:00h. Nelson Mais gastos correntes e de pessoal induzem a mais
Marconi também identifica o problema do desestímulo ao juros e câmbio valorizado", alertou o economista Roberto
servidor público em atigo intitulado Uma Breve Padovani. Jornal O Globo de 30/06/2010, p. 1 e 25.
Comparação entre os mercados de trabalho no setor Folha de São Paulo,mesma data: Burocracia custa R$
público e privado, Revista do Serviço Público, ano 48, nº 46 bilhões anuais ao país, afirma a Fiesp. O custo anual
1, jan-mar de 1997, p. 139. da burocracia para as empresas brasileiras, calculado
18 Art. 37 - A administração pública direta e indireta de pela Fiesp (federação das indústrias paulistas), é de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito aproximadamente R$ 46,3 bilhões, relata Fernando
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de Canzian. Boa parte do gasto se destina a demandas
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e tributárias dos governos federais, estaduais e
eficiência e, também, ao seguinte: (Alterado pela EC municipais. Para a Fiesp, o PIB per capita do país
19/98). poderia crescer 17% com simplificações. p.1 e B1.
19 Este resultado pode ser a diminuição de processos na (http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=2777
justiça, a construção de hospitais, a reforma de escolas, 0). Acessado em 24/08/11, às 15:50h.

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e não possui meios técnicos, na sua grande de Minas Gerais numa instituição pública
parte, de incentivo e apoio aos seus agentes. estadual. Salvador: ANPAD, 2006.
Esse quadro gera para o particular, ao DI PITRO, Maria Sylvia Zenella. Direito
contratar com a Administração Pública, além Administrativo. 24.ed. São Paulo: Atlas, 2011.
de um quadro óbvio de desconfiança, um meio FARINA, Elizabeth M. Mercier Querido;
propicio ao oportunismo, pois, muitas das AZEVEDO, Paulo Furquim de;
vezes, está mais bem preparado que o próprio SAES, Maria Sylvia M. Competitividade:
Estado. Mercado, Estado e Organizações. São Paulo:
Singular, 1997.
Deve haver um diálogo técnico entre MARCONI, Nelson. Uma Breve Comparação
os Poderes da República, em suas três entre os mercados de trabalho no setor público
esferas, mas, em especial, entre o Executivo e e privado. Revista do Serviço Público, ano 48,
o Legislativo, visando a melhoria da n.1, jan./mar. 1997.
qualidade21 de nossas leis (instituições) e NEVES, M. F. Um Modelo Para Construir ou
essas, criando mecanismos de fomento e Revisar Contratos em Redes de Empresas
incentivo ao funcionalismo, possibilitando, (networks). Revista de Economia e
desta maneira, um aprimoramento do quadro Administração, São Paulo, v.1, n.2, 2002.
funcional, visando à tão falada eficiência e, PERES, Ursula Dias. Custos de Transação e
consequentemente, diminuindo os custos de Estrutura de Governança no Setor Público.
transação, que, em última análise, favorecerá RBGN, São Paulo, v. 9 n. 24, maio/ago. 2007.
os administrados. SIMÕES, Selma Regina. A Nova Economia
Institucional. Disponível em:
<http://d.yimg.com/kq/groups/16643321/270946
REFERÊNCIAS 459/name/A+nova+economia+institucional.pdf.
ARAÚJO, Fernando. Teoria Econômica do Acesso em: 10 dez. 2011.
Contrato. Coimbra: Almedina, 2007.
CHAVES, Rosan Costa; MARQUES, Antônio
Luiz. Mudança Organizacional no Setor
Público: um estudo sobre o impacto das Artigo recebido em: 06.01.2012.
mudanças instituídas pelo Governo do estado Avaliado em: 22.11.2012.
Aceito para publicação em: 23.11.2012.

21 Entendemos por lei de qualidade aquela que é

elaborada por um corpo técnico especializado e que se


traduzam em resultados positivos, que alcem a sua
finalidade. Por exemplo, a lei nº 12.462/11, que criou o
Regime Diferenciado de Contratação, estabelece em seu
art. 1º, § 1º, que o RDC tem por objetivo ampliar a
eficiência nas contratações públicas, promover a troca
de experiência e tecnologia, incentivar a inovação
tecnologia e assegurar tratamento isonômico entre os
licitantes. Para alcançar tais fins, criou, dentre outros
mecanismos, o previsto no art. 6º, segundo qual o
orçamento realizado pela Administração somente será
tornado público após o encerramento da licitação. Assim,
se os objetivos forem alcançados por esse ou outros
mecanismos nela previstos, a lei será de qualidade.
Sobre o assunto, ver Nota Técnica nº 08 de 2011 da
Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da
Câmara dos Deputados, disponível em
(http://www2.camara.gov.br/atividade-
legislativa/orcamentobrasil/orcamentouniao/estudos/201
1/nt08.pdf) .
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