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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO

LEANDRO LUIZ MAGALHÃES THOMAZ

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

FICHAMENTO DO TEXTO “A MÍDIA E O LUGAR DA HISTÓRIA”


DE ANA PAULA GOULART RIBEIRO

Rio de Janeiro
2019
No artigo “A mídia e o lugar da história”, Ana Paula Goulart introduz o texto
desconstruindo o senso comum de que a história estuda simplesmente os fatos
ocorridos no passado. Em contraposição a esse conceito, a autora aborda a
história como uma ciência dedicada a estudar não todos os fatos anteriormente
ocorridos, mas apenas os fatos históricos.
A fim de elucidar o conceito, Goulart argumenta que qualquer manifestação da
vida social do homem pode ser um fato histórico, mas atenta para a
importância da valoração do adjetivo histórico. “César atravessou o Rubicão no
ano 49 a.C., e isto foi um fato histórico. Antes dele, porém, milhares de
pessoas já haviam atravessado o mesmo rio e, depois, outras tantas também o
fizeram. Por que, então, não são essas travessias consideradas do mesmo
modo que a de César? O que faz com que, entre todos os fatos já ocorridos, só
a alguns se atribua a qualificação de históricos?” (p. 63).
Para solucionar sua própria questão, a autora explica: o que parecia uma
simples travessia de um rio por uma tropa militar ganha a proporção de fato
histórico quando está ligado a outros acontecimentos, sejam anteriores,
posteriores ou contemporâneos. O ocorrido também deve estar inserido dentro
de um contexto social, temporal e histórico para que adquira o valor da
adjetivação. “Nenhum fato é em essência histórico, porque nenhum traz
consigo um sentido já dado.” (p. 64).
Tendo em vista esse argumento, Goulart afirma que o conhecimento histórico
jamais pode superar a dimensão subjetiva. O conceito de Schaff que o
conhecimento é limitado quando reduzido a um ato cognitivo é citado e
utilizado como base argumentativa. O conhecimento, por sua vez, é visto
como um processo prático, onde o sujeito desempenha um papel ativo.
Já o homem, como um ser histórico, não consegue se livrar dos
condicionamentos socioculturais.
A história, enquanto prática científica, também é uma prática discursiva. Ou
seja, está relacionada a um sujeito detentor de subjetividades individuais, e que
mais que isso, se posiciona de forma sócio-historica. “O historiador (como
qualquer enunciador) é um homem de seu tempo e, por isso, dialoga com
certos "textos" e não com outros. No seu discurso estão presentes algumas
vozes, organizadas ("orquestradas") de determinada maneira, por meio da qual
certos efeitos de sentido são produzidos e ofertados” (p. 69)
Delineando ainda mais a participação desse sujeito ativo, Goulart traz a
definição de operação história feita por Michel de Certeau. Para ele, a
operação de construção dos sentidos históricos deriva da combinação de
lugares sociais e práticas científicas. Isto é, toda pesquisa historiográfica parte
de um lugar de produção socioeconômico, político e cultural. Certeau
dimensiona esse lugar a partir da subjetividade e da instituição do saber.
Explicando a ideia do autor, Ana Paula Goulart resume: “A produção
historiográfica sempre é configurada pelo sistema em que a pesquisa é
elaborada. Esta – realizada na universidade, ou em qualquer centro de
pesquisa – se organiza necessariamente em torno de equipes, de instituições
de financiamento, de proximidades políticas e de alguns "líderes" (os 3
Utilizamos, por isso, a palavra mediação entre aspas. O discurso não é um
intermediário entre os acontecimentos e os indivíduos sociais; não é uma
instituição secundária em relação a uma realidade. 66 orientadores, chamados,
por Certeau, de a "intelligentsia acadêmica").”
No processo de produção científica, o historiador usa de um objeto material
(fontes) para construir seu objeto teórico: os fatos históricos. Este se
caracteriza como o fazer histórico, também definido como uma prática. O
cientista histórico manipula as matérias significantes, as transforma em fontes,
e tem como resultado final os fatos históricos. A forma como o historiador
busca suas fontes, no arquivo ou na internet, também implica diferenças no
processo da produção historiográfica. “Todos esses fatores referentes aos
lugares sociais e às práticas dos historiadores devem ser considerados quando
se trata de definir as operações construtoras dos fatos históricos.” (p. 66).
A autora retoma a introdução da discussão do que é história para trazer à tona
outras duas questões: o que seria passado e como seríamos capazes de
delimitar as suas fronteiras. O presente, por seu lado, é definido pela operação
histórica como atualidade. Ou seja, o atual só ganha forma quando se distingue
do passado, noção a qual relaciona certa distância, que não é puramente
cronológica. Tal distância só é possível devido à noção de mudança, de
transformação.
A história, para a autora, deve ser definida como “a ciência que estuda o
processo de transformação da realidade social”. A partir da noção de mudança,
a história consegue demarcar as fronteiras entre o passado e o presente. A
distinção entre passado, presente, e futuro, portanto, é maleável, pois depende
da subjetividade que carrega a noção de mudança em cada contexto histórico-
social. “O tempo não é uma substância independente, mas uma forma de
existência da matéria vinculada à mudança. E a forma pela qual se percebe a
mudança, ou a ela se atribuem significados, determina a maneira de percepção
da temporalidade.” (p. 67).
Três níveis de temporalidade histórica segundo Braudel são apresentados:
longa, média e curta duração. Para entender o tempo histórico como
heterogêneo, o artigo explicita a ligação com a superação da concepção
metafísica do tempo. A memória, por sua vez, não é colocada como exclusiva
da história, mas como um instrumento de poder. “O seu processo de
estruturação (...) é um dos mais sensíveis às disputas e aos confrontos dos
diferentes grupos sociais.” (p. 68)
A partir desse conceito, a autora postula duas formas de estruturação da
memória coletiva: a oficial, que seleciona e ordena fatos segundo critérios
(também de poder), e em oposição a essa, existem várias memórias coletivas
subterrâneas, que em grupos de menor prestígio carregam visões e tradições
ignoradas pela visão das classes dominantes. Embora se oponham, a autora
deixa claro que essas visões coexistem sem um limite bem definido entre elas.
“A história sempre teve um papel central no trabalho de constituição e de
formalização da memória social.” (p. 69). Para justificar essa afirmação, a
autora cita exemplos de quando a História manteve certa cumplicidade com o
discurso do poder. Um deles é o compromisso de elaborar e fortificar a
representação dos Estados recém-unificados na Europa moderna. A partir do
século XIX que, então, a história reduziu os contatos com o mundo do poder, e
a partir do XX, alguns de seus estudiosos buscaram caminhos mais
autônomos. Para a autora, a disciplina perdeu esse papel central na construção
da memória oficial devido à inserção de novas tecnologias de comunicação nas
sociedades industriais. “A mídia é o principal lugar de memória e/ou de história
das sociedades contemporâneas” (p. 69).
Na contemporaneidade, os fatos históricos passaram a resultar principalmente
das operações linguísticas e translinguísticas da mídia. Os meios de
comunicação passaram a ocupar uma posição institucional, isto é, detentora do
direito de ditar um consenso do que a sociedade aceita como verdadeiro em
relação à realidade. A história foi reduzida ao que é transmitido nos meios de
comunicação de massa. Esses meios sim teriam o poder de disseminar o que é
ou não histórico.
Tal fenômeno é possível também pela disseminação do mito da neutralidade e
da imparcialidade que surgiu com a ideia do jornalismo informativo. No Brasil, o
conceito de objetividade se consolidou na década de 1950, com a introdução
do modelo norte-americano de jornalismo.
Com o surgimento das grandes empresas jornalísticas, o estilo da imprensa foi
padronizado e racionalizado através dos chamados manuais de redação. “O
desenvolvimento técnico do jornalismo buscou no "espírito científico" o cuidado
com os fatos. As regras de redação supostamente retiravam do jornalismo
noticioso qualquer caráter emotivo e participante. Para garantir a
impessoalidade, impôs-lhe um estilo direto, sem o uso de metáforas.” (p. 70)
Dadas essas transformações, o fato jornalístico passa então a se assemelhar
ao fato histórico como ele foi definido pela historiografia positivista. “Localizado
em um tempo e um espaço determinados, o fato é marcado pela unicidade. O
acontecimento único revela-se, então, como o fator da transformação social,
como o motor da história.” (p. 71)
Não é comum no jornalismo alterações de dados factuais como nomes, datas
do acontecimento, mas não significa que a informação constrói o mesmo
universo de entendimento em diferentes veículos. A ancoragem factual não é
transparente, pois é baseada na credibilidade do emissor.
Se o jornalismo vem a exercer papel crucial na produção da ideia de história, a
mídia é elevada ao patamar de porta-voz oficial dos fatos históricos e da
transformação social. “Os meios de comunicação, não à toa, têm sido cada vez
mais utilizados em pesquisas históricas, principalmente naquelas cujos recortes
temporais enfocam o Século XX. (p. 72). A fim de exemplificar a sua afirmação,
a autora traz fragmentos de livros didáticos que usam os jornais para
ilustração, citação e/ou fonte.
A autora faz um contraponto ao mito da objetividade, afirmando que “nenhum
registro é ingênuo ou descomprometido.”, ou seja, toda informação pressupõe
uma tomada de posição dos sujeitos sociais.
Aprofundando a questão do jornal como fonte histórica, Goulart aponta para
uma transformação na metade do Século XX: “A superação da noção
positivista de história possibilitou um alargamento da concepção de fonte. Se
antes eram considerados válidos apenas os documentos escritos que o
historiador pudesse, através da crítica interna e externa, certificar-se da sua
autenticidade ou da sua sinceridade e exatidão, agora, qualquer documento –
falso ou verdadeiro, sincero ou não – é passível de tornar-se uma fonte
histórica.” (p. 74)
Isso gera uma mudança também na visão dos historiadores sobre o fato: hoje
eles admitem que o fato não é um simples elemento objetivo, e sim um produto
de práticas sociais. “Os historiadores sabem que a apreensão do Real pela
mídia pressupõe ação transformadora da linguagem.” (p. 75)
“Sem linguagem não existe produção, relações sociais, luta de classes. Para
que estas se constituam socialmente, faz-se necessária a constituição
concomitante dos seres e das suas identidades; é preciso a constituição do
sentido, da significação.” (p. 75)
Para a autora, falar da construção do real no discurso é uma forma de destacar
a inexistência de uma realidade prévia a algum tipo de enunciação linguística.
Ao ser realizado, o fato já carrega linguagem e consigo uma série de
significações. Como forma de reiteração, a autora volta a dar destaque aos
meios de comunicação sendo utilizados como fonte de pesquisas dos
historiadores.
Dado o destaque, a autora coloca algumas propostas de estudiosos da história,
como a do francês Jacques Le Goff, que se entende por reconhecer todo
documento (testemunho histórico) como um monumento (ato de poder).
“A fonte histórica, portanto, alargada para além dos limites dos textos
tradicionais, deve ser tratada como um documento/monumento, o que,
segundo Le Goff, exige com urgência a elaboração de uma "nova erudição",
capaz de transferir esse documento/monumento do campo da memória para o
da ciência histórica.” (p. 77)
Para elaborar essa nova erudição, a autora acredita que o campo da história
precisa recorrer à interdisciplinaridade, dando importância para outros campos,
como por exemplo, a semiologia.
A distinção entre a grande e a pequena imprensa é colocada em questão pela
autora, na qual ela parafraseia Veron para atentar que “muitos dos jornais ditos
alternativos são algumas vezes propriedade dos mesmos grupos que
produzem os jornais "burgueses".” (p. 78)
Encerrando o artigo, a autora encarrega a semiologia de algumas questões
sobre como melhor compreender o discurso jornalístico. “Como se atribui
sentido aos fatos? Através de quais operações se constrói uma ideia de história
no discurso jornalístico? Quais as diferenças relativas aos veículos? Estas são
algumas das perguntas que o historiador deve ter em mente ao se arriscar na
fascinante aventura que é ler a história através dos jornais. E para respondê-
las, a semiologia, sem dúvida, poderia ser-lhe de grande valia.”

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