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o Pensamento Nacionalista
na América Latina e a
Reivindicação da Identidade Econômica
(1920-1940)
Eduardo Dcvés Valdés
Introdução
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os fatalistas,
os jornalistas venais, que aceitam dádivas dos invasores,
os que desejam catequizar pelos pastores evangelistas,
os imitadores insensatos dos modernos costumes da
sociedade norte-americana ...
os mestres e professores que não ensinam às crianças o
amor à pátria e à raça ... e que não inculcam o desprezo aos invasores
Ianques,·
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"Erijamos em dogma", nos diz, "a unidade racial dos hispanos; às vezes
o dogma consolida uma verdade ainda latente. Cuidemos para que, ao crescer
assim nosso patriotismo, também se enriqueça com a colaboração das raças que
nos ajudaram a civilizar este continente. O não estar fechado, mas aberto,
distingue nosso nacionalismo e lhe dá o direito de vencer. Somente será legítimo
um nacionalismo tão generoso e vivo que para os estranhos seja libertação, e para
nós um crescimento" (Vasconcelos, 1937: 89). Deste modo, faz-se fortemente
ético o nacionalismo de Vasconcelos.
Vasconcelos convoca ainda para a extinção dos partidos conservadores e
liberais, a fim de que tenhamos "um só, grande, partido nacionalista". Dentro de
tal partido, comum a todos os ibero-americanos, terão que se definir as tendências
de objetivo econômico, sem dúvida inadiáveis, e as reorientações da ordem
espirirual Cp. 1 19). Neste sentido, o "nacionalismo renovado" é um bolivarismo
que ganhou identidade desde que Alamán "lhe deu conteúdo econômico, as
alfândegas, e conteúdo racial-religioso com a culrura espanhola como base" Cp.
35-36).
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russa que ninguém entende. A estes vícios pretende antepor-se o APRA com sua
teoria do Estado antiimperialista (p. 111).
A Revolução mexicana é outra das questões que lhe permitem colocar o
tema do imperialismo/antiimperialismo. A Revolução mexicana é um experiên
cia indo-americana que mostra caminhos e revela critérios. Particularmente
importante é o tema do Estado antiimperialista, teoria que, de acordo com a
postura de Haya de la Torre, se estrutura a partir da experiência mexicana. Isto
mostra que a revolução antifeudal e antiimperialista triunfante não pode, tam
pouco, utilizar o velho aparato do Estado para fazê-lo servir a seus propósitos (p.
116). Deve transformar-se em Estado de defesa que oponha ao sistema capitalista,
que determina o imperialismo, um novo sistema de economia cientificamente
planejada e um mecanismo como o de um estado de guerra, em que o uso da
liberdade econômica deve ser limitado para que não seja exercido em benefício
do imperialismo (p. 117).
O tema é, então, a nova organização econômica: "organização científica
de um sistema cooperativo nacionalizado e adoção de uma estrutura política de
democracia funcional baseada na categoria de trabalho" (p. 120). Isto é particu
larmente importante, pois Haya quer destacar com ênfase que um movimento
antiimperialista não supõe uma ação regressiva na ordem econômica, ou um mero
espírito lírico movido por um ideal gasoso de liberdade nacional. A luta antiim
perialista implica a consecução da liberdade como alavanca do progresso (p.
131-132).
O problema da coexistência de tempos históricos diversos, pois na
Indo-América sobrevivem os três estados que Engels tomou da divisão de
Morgan: selvageria, barbárie e civilização, é outra questão que Haya de la Torre
destaca (p. 151). E isto, não apenas em um sentido estritamente cultural, mas
também economicamente, pois "dois tipos de economia, duas velocidades, duas
intensidades econômicas atuam na vida social indo-americana: aquele que faz
parte dos grandes capitalismos, sujeito a um ritmo mais intenso, cuja origem e
comando nos é estranho, e o que constitui nosso tempo mais lento e incipiente
de desenvolvimento nacional, em consonância com nossa própria linha tradi
cional de evolução". Isto funciona como tese e antítese que supõem uma "síntese
de equilíbrio e liberdade dentro de um plano de nova economia indo-americana,
não afastada da evolução econômico-social mundial, mas capaz de deter para
sempre a sujeição e a opressão do imperialismo" (p. 163).
Alguns anos depois, de uma fOlma diferente, menos direta, ou mais
elaborada, outro autor dedicou um extraordinário livro ao tema do imperialismo.
Fernando Ortiz, que se ocupou de antropologia criminal, direito penal, sociolo
gia, etnografia e folclore, publicou em 1940 Contrapumeo cubano dei tabaco y dei
azlÍcar (Confronto cubano entre o tabaco e o açúcar). Nesta obra, a história
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regulação das forças sociais em função de um objetivo comunitário" (p. 89). Esta
posição mais teórica se hannonizava em Oliveira Vianna com sua inspiração na
ruralidade e, sobretudo, na região de Minas Gerais. "A alma mineira seria,
segundo ele, feita do 'bom metal antigo, o metal da nossa antiga simplicidade
patriarcal'" (p. 92).
Oliveira Vianna se coloca a partir da busca do específico, e não das leis
gerais. Opõe-se a Spencer, a Darwin, a Ratzel, a Haeckel e inclusive, de certa
fonDa, a Sílvio Romero, a Fausto Cardoso e a todos os comtianos brasileiros. De
acordo com o que ele mesmo assinala, o caminho mais sábio seria tomar nosso
povo como ponto de partida e estudar a gênese e as leis de sua própria evolução,
com o fim, ao menos, de "conhecermos a nós mesmos" (Vianna, 1923: 29).
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uma civilização que nada tinha a ver com os valores que haviam definido a 'alma
brasileira'. Uma civilização inteiramente baseada na imitação de padrões
europeus, copiavam os padrões econômicos com o capitalismo, os padrôes políti
cos, com o parlamentarismo no império e o federalismo na república, e os padrões
culturais com o culto às línguas e aos autores estrangeiros. Nossos letrados
conheciam o grego e o latim, a história da língua e os clássicos, de Sófocles a
Racine, mas ignoravam completamente a realidade nacional" (Salgado, 1936: 59).
Isto posto, este conjunto de elementos negativos se acumulam, se agre
gam em um círculo vicioso para Salgado.
A grande escravidão do capitalismo internacional, a situação deprimente
frente ao estrangeiro, o cosmopolitismo que nos "amesquinha", as lutas internas
que ensangüentam o país, a propaganda comunista que desprestigia a bandeira,
os esforços separatistas que debilitam a nação, a miséria em que vivem as
populações sertanejas, o comodismo burguês, entre outros fatores, vão levando,
ao fim de tantas tormentas e desesperanças a "essa coisa que os povos adquirem
com suor, com sangue, com tragédia: o dom da palavra". O Brasil alcançou esta
capacidade, chegou a ter voz, uma voz que se expressa em uma revolução que é
"movimento de cultura e espírito" (p. 45-46).
O movimento integralista vai promover a defesa dos princípios espiri
tuais, como a igualdade, a justiça e a piedade (p. 62). "Produzir-se-á uma
revolução espiritual. A vitória final da concepção espiritualista da existência
acarretará a fundação de uma quarta civilização, inteiramente distinta das três
anteriores. A humanidade integralista, caracterizada pela idéia de síntese" (p. 63).
O nacionalismo de Plínio Salgado deve ser compreendido em um con
texto mais amplo, no qual a defesa dos interesses da nação brasileira, fundada em
laços de sangue (o caboclo), se hallIlonizava perfeitamente com a construção de
uma ordem universal.
No Brasil, a especificidade que marcava nossa via em direção à quarta
civilização era dada pelo fato de que permanecia latente, enraizado no sangue do
povo, todo um substrato espiritualista e democrático que vinha dos tempos
coloniais (p. 64).
Porém, esta alma estava adOImecida e necessitava de um movimento
revolucionário que viesse despertá-Ia, para que a compaixão e a fraternidade
passassem a reinar no país. Trata-se de uma restauração do conjunto de princípios
que havia comandado o país durante todo o período colonial.
Identificando o nacional com o popular, e dando a este o sentido de uma
totalidade homogênea, Plinio Salgado vai atribuir grande valor às sociedades
organizadas na forma de nação. A quarta civilização representa um verdadeiro
recomeço da história, com a vitória total e definitiva da concepção espiritualista
da existência (p. 65).
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4. Nacionalismo e revisionismo
não-história. O boliviano Federico Avila, que propõe para seu pais a necessidade
de uma ideologia pr6pria, adaptada a seu ambiente e a seus costumes, destaca que
"mal se inicia a busca de tal 'ideologia própria', se descobre a necessidade de
avaliar primeiramente o passado boliviano. Mas este, com um notório desprezo
pela realidade, mesmo no pouco que havia sido estudado, se havia 'criado' de
acordo com as necessidades político-sociais do momento" (citado por G6mez
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a) 7raços ccmnuns
O nacionalismo, como outros tantos momentos ou figuras da história das
idéias na América Latina, foi mais um clima intelecmal que uma tendência, ou
escola de pensamento. O nacionalismo, ou o continentalismo, foi-se impondo
como um contexto dentro do qual de desenvolviam outras idéias.
Deste modo, por cima das posições mais de esquerda ou de direita, mais
leigas ou católicas, mais moderadas ou extremas, foi-se coincidindo em determi
nados postulados nacionalistas, tais como:
- insistência no próprio contra o invasor, sobremdo o
anglo-saxão, o germânico ou o russo. O próprio, segundo cada caso, é o
indígena autóctone e/ou a tradição ibérica e/ou o campesino;
- a crítica ao modelo político liberal, algumas vezes no
campo político e, quase sempre, no econômico;
- a crítica ao liberalismo (como livre-carnbismo), o afã
protecionista, o forte sentimento antiimperialista;
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b) Teorização
Este nacionalismo ou, antes, continentalismo, se constituiu teori
camente recorrendo a um conjunto de elementos, alguns emanados do seio do
pensamento latino-americano, como o arielismo e o indigenismo, e outros
trazidos de fora: a teoria leninista do imperialismo, o conservantismo francês, as
idéias do espaço vital de Ratzel, a decadência do Ocidente de Spengler.
Constitui-se deste modo um corpo teórico de ideário nitidamente iden
titário cuja função principal é a defesa e reivindicação do próprio, como economia
principalmente, mas, ainda além, como maneira de ser: no cultural, no político e,
inclusive, no geo-étnico. Pensou-se o nacionalismo como reivindicação do ameri
cano, latino-americano, frente a um mundo velho, ou imperialista que, apoiado
em valores falsos ou caducos, cederia lugar a um novo, em que se expressariam as
diferenças, as novas culturas, aquelas que haviam sido subordinadas.
Por outro lado, houve uma série de idéias filosóficas que contribuíram
para este movimento, ou que foram recuperadas para a afirmação de um nacio
nalismo, ou latino-americanismo. Certas filosofias européias, assinalou Leopoldo
Zea seguindo Samuel Ramos, iriam fornecer o instrumental que justificaria a
preocupação com uma filosofia do nacional. "Serão importantes, neste senúdo,
o pensamento e a obra do filósofo espanhol José Ortega y Gasset, que difundiu
na América espanhola correntes da filosofia que iriam dar as bases teóricas para
o nacionalismo filosófico. O perspectivismo e o vitalismo filosóficos, derivados
dessas correntes filosóficas européias, iriam justificar as orientações que os
latino-americanos já vinham dando a seu pensamento" (Zea, 1976: 438-439).
Assim, a historicidade da filosofia a que se referia Ortega y Gasset, permitia
imaginar uma filosofia latino-americana conseqüente com uma maneira particu
lar, bem como conseqüente com um desenvolvimento histórico também peculiar.
Keyserling, por seu lado, ao ligar o ser humano à terra, motivou um telurismo
que também permitia lançar uma literatura, uma arte e um pensamento con
seqüentes.
Em alguns autores, como José Oliveira Vianna ou Plínio Salgado, fun
dem-se nacionalismo e iberismo. Richard Morse, e Luís Werneck Vianna
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c) Modelos econômicos
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listas como uma leitura da economia incaica. Outro exemplo é a proposta de uma
alternativa de pequena propriedade (refolllla agrária) para as grandes pro
priedades que se iam estabelecendo com formas de trabalho e propriedade
norte-americanas. Um terceiro exemplo é a reivindicação de relações humanas
baseadas, não no estritamente comercial e contratual, mas em laços mais afetivos,
vindo, sobretudo, do tradicionalismo que se opunha à democracia (ou a certa
democracia) e à economia monetarista. Um quarto exemplo é a redefrnição do
papel do Estado em sociedades ou economias diferentes (e antagônicas) das dos
países fortes, lugares onde o Estado deveria assumir um papel defensor, coorde
nador ou impulsionador de determinados aspectos do processo econômico.
d) Projeções
O nacionalismo, ou o continentalismo, elaborou uma série de reflexões
teóricas e propostas de política econômica, social e cultural conseqüentes. Algu
mas dessas reflexões irão sustentar as visões da CEPA L, do industrialismo e das
teorias de desenvolvimento das décadas posteriores, ainda que se mude o pólo de
gravitação do identitário para o modernizador.
Uma questão chave que caracterizou o nacionalismo que floresceu nas
décadas de 30 e 40 é que ele não chegou a se constituir em teoria do desen
volvimento. Elaborou uma série de categorias, ou contribuiu para sua elaboração,
que apontavam nesta direção, mas não alcançou tal status. Foi mais uma proposta
de defesa que de construção econômica. Pode-se assinalar, inclusive, que o
nacionalismo foi mais construtivo no campo cultural que no econômico. Aí sim,
representou uma alternativa, gerou uma criatividade importante associando-se
ao indigenismo e ao afro-americanismo.
Outro aspecto em que o nacionalismo contribuiu para constituição do
futuro, especialmente o de raiz católica, foi a medida em que articulou o que é
cristão com os problemas sócio-econômicos. Deu início, deste modo, ao social
cristianismo que, inicialmente inspirado em idéias como a crise da sociedade
contemporânea, como a necessidade de restaurar os valores, a caridade com os
pobres etc., foi-se direcionando, especialmente no Chile e, logo, na Venezuela e
outros países, para as teorias do desenvolvimento. Isto foi possível quando seu
doutrinarismo ideologizado se modificou ao impregnar-se com fatores mais
técnicos e pragmáticos oriundos das teorias econômicas e sociais, especialmente
do cepalismo.
Este mesmo cepalismo acolheu, inclusive sem se aperceber disso, uma
série de idéias em torno do industrialismo, ou da deterioração nos telmos de
troca, que foram elaboradas em um contexto do pensamento nacionalista-conti
nentalista. Idéias de Scalabrini, Ortíz, de Vasconcelos, ou dos illuãos Irazusta,
vão nesta direção. O mexicano, pouco depois da crise econômica mundial,
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assinalou, em meados da década de 30, que "o decoro está hoje em não pagar [as
dívidas com países como a Inglaterral. Pois pagar sem condições equivale a
embarcar em um navio que naufraga e é ignorar deliberadamente a má partida
que nos estão fazendo jogar os credores. Não baixou a qualidade do nosso trigo,
nem do açúcar, nem do algodão, mas, contudo, nossos bons e leais produtos nos
são pagos com uma moeda arbitrária e desleal" (Vasconcelos, 1937: 200-201). O
grupo conduzido pelos irmãos l!:azusta, por seu lado, pleiteava em 1942, entre
outras coisas, "o fomento às indústrias necessárias à nossa autonomia econômica,
principalmente as indispensáveis à defesa nacional e as que utilizem matéria
prima do país" (citado por Buchrucker, 1987: 158). Quando essas medidas, e
'
outras, passam a ser fundamentadas mais no crescimento econômico que na
defesa da autonomia etc., elas podem sustentar e constituir-se em uma teoria do
desenvolvimento.
ARAUJO, Ricardo Benzaquem de. 1988. GÓMEZ MARTÍNEZ, José Luis. 1985.
Totalitarismo e revolução: o integralismo "Guillermo Francovich: faceta de su
de Plínio Salgado. Rio de Janeiro, Jorge pensamiento y un apéndice
Zahar. bibliográfico", Revista lberoamericana,
vaI. 52, nO 134, janeiro-março.
BUCHRUCKER, Christian. 1987.
Nacionalismo y peronismo. Buenos
1988. Bolivia, un pueblo en busca de su
Aires, Editorial Sudamericana.
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