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brasileira
RESUMO:
RESUMEN:
1
Doutora em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais/BR. Professora Adjunta da Universidade
Federal do Pará na Faculdade de Artes Visuais, curso de Museologia.
2
Lei Federal Brasileira no. 11.904/2009, regulamentada pelo Decreto de Lei Federal 8.124/2013
científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a
serviço da sociedade e de seu desenvolvimento”3.
A Usina hidrelétrica de Belo Monte, foi construída no Rio Xingu, e abrange uma
área de influência direta do impacto que envolve cinco municípios dessa região:
Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. É
considerada a terceira maior hidrelétrica do mundo, cujo dois primeiros assentos
se referem às usinas hidrelétricas de Três Gargantas na China e Itaipu,
binacional na fronteira brasileira com o Paraguai.
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BRASIL. Lei 11904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras providências.
Brasília- F, jan 2009. Parágrafo 1º.
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Equipe técnica da empresa Scientia Consultoria Científica, composta por Arquitetos, Historiadores,
Antropólogos, Sociólogos, Licenciados em Arte e Museólogo
grupos sociais. Nessas reuniões, denominadas de oficinas participativas,
realizadas em cada município, os líderes comunitários, organizadores de
procissões, brincantes de folias, moradores antigos, apontavam e definiam o que
de fato eles consideravam seu maior patrimônio, suas manifestações culturais e
suas tradições que estavam em processo de desaparecimento com as
mudanças de vários ciclos econômicos. Dentre os mais citados estão o ciclo da
borracha, a construção da rodovia transamazônica e a construção da
hidrelétrica, como ciclos marcantes na vida social, econômica e cultural. Essas
identificações foram sendo registradas em vídeos, fotos, coleta de documentos,
que gerou um acervo de bem culturais dessa região, destinado a compor a Casa
de Memória.
As pessoas dessa região precisavam falar. Precisavam ser ouvidas. Esses ciclos
econômicos se estabeleceram de fora para dentro, de cima para baixo. A forte
migração impulsionada por esses movimentos gerou uma região multicultural
com uma riqueza invisibilizada por sistemas institucionalizados de cultura.
Ali se percebia claramente uma zona de contato, que de acordo com o conceito
de Mary Louise Pratt,5 “é a copresença espacial e temporal dos sujeitos
anteriormente isolados por disjunturas geográficas e históricas (...) cuja
trajetórias agora se cruzam” e que deve ser compreendida muito mais do ponto
de vista relacional, interativa do que dentro de uma visão unilateral ou falsa
impressão de imparcialidade desenhada em um contexto que enfatiza o modelo
de civilização institucionalizadas e subestima as outras culturas enraizadas e
construídas espontaneamente.
5
PRATT, Mary Louise. Os olhos do Império: relatos de viagem e transculturação. Tradução Jézio
Hernani Bonfim Gutierre. Bauru, SP: EDUSC, 1999, pp.11-38
6
RUBIALES, Ricardo. Mediación y Museos: notas de museos e interaciones humanas. (2009). [ebook]
Mexico: Ricardo Rubiales. Disponível em: http://educacionenmuseos.com/wordpress/rr/ Acesso em 04
de agosto de 2018
do museu e os usuários deve ser uma interação de qualidade, aonde se presume
a intencionalidade e a reciprocidade para compreensão das expectativas e
necessidades do público. Eles desejavam, antes de mais nada, um espaço para
as apresentações de suas danças, aliás, dois: um aberto denominado “terreiro”
e um fechado como um teatro. Depois foi surgindo outras necessidades: uma
sala para cursos diversos, uma sala para inclusão digital. A equipe técnica se
perguntava: onde irá ficar todo esse acervo coletado? Quando a questão foi
posta, a resposta veio na simplicidade de uma palavra sábia: “para as nossas
coisas, tem que ter um lugarzinho!” Definindo o que deveria ser aquele espaço:
um espaço para aquela comunidade, pensado por eles e que atendesse os seus
anseios.
Este é um ponto de partida para qualquer ação cultural. Não se trata de importar
modelos já estabelecidos de uma determinada região, é pensar em estratégias
singulares para cada nova ação. Fugir do mito binário de escolha entre um ou
outro, e avançar nos processos de alteridade, estabelecendo assim mais
práticas de análise do que de síntese. Escutar as diversas falas, provocar a
experiência e construir um significado, esse era o caminho! Investindo nessa
linha de ação, as expectativas eram muito boas. Um novo espaço, uma nova
proposta construtiva.
Memória, que é uma faculdade da alma, imaterial, para utilizar o termo que
clássicos Aristóteles, Agostinho e Aquino utilizavam. E séculos mais tarde
definida por Baumgarten como a disposição natural para reconhecer e se
lembrar dos perceptos reproduzidos.7 Tomando o termo a partir do pensamento
7
KIRCHOF, Edgar. Estética e Semiótica: de Baumgarten e Kant a Umberto Eco. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2003.
bergsoniano, a memória representativa é a continuidade da pessoa, a realidade
fundamental, a consciência de duração pura. Define o ser essencial de cada
pessoa e a torna diferente de todas as demais, conservando o seu passado e o
atualiza no presente, confirmando sua história e tradição. Guardar, armazenar,
recuperar informações, fatos imagens presenciadas e até mesmo àquelas
relatadas por terceiros, são as atividades da memória individual, que por
envolver terceiros, também é coletiva e compartilhada.
Pensando nessa ação social do museu, definimos três eixos que norteariam toda
a concepção conceitual de planejamento do espaço: a vocação institucional,
identificação do território patrimonial e a delimitação do repertório patrimonial.
Garantir o
Identidade e Interagir o
acesso e o
Altamira Fortalecer diversidade passado com o
direito à
Sociedade
cultural regional presente
memória
Manter viva a
Preservar / Diversidade Registrar /
Anapu Difundir cultural regional Expor
memória Sociedade
cultural
Promovendo Manter a
Brasil Preservar / Cultura Regional
ações memória Para todos
Novo Promover da Transxingu
educativas regional viva
A Terra é suporte da vida, alicerce da floresta que cobre esta região, chão de
sonhos, conquistas e lutas. Sonhos trazidos por muitos, de vários lugares, e hoje
habitam as margens da estrada. A terra que prometeu e agora conta a história
de homens e mulheres que seguiram pela estrada da vida, demarcando a história
e a memória de um povo. A estrada e suas terras barrentas dão continuidade ao
rio de águas esverdeadas, e nesse momento de transição, o verde da floresta
está por todos os lados, seja na água, seja na terra. A estrada torna-se uma
extensão do rio, que leva para muitos lugares já conhecidos ou não.
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As classes multisseriadas é uma organização de ensino no qual o professor que ministra conteúdos de
diversas séries para alunos de diferentes idades em uma única sala de aula.
As dinâmicas que se estabelecerão na Casa de Memória são imprevisíveis.
Nossa ação não irá além de provocar a apreensão de um ponto de vista, também
percebido nas relações estabelecidas no diálogo com os partícipes locais. Mas
a intenção de deixar um caminho aberto para a captação de novos pontos de
vistas, através de novas entrevistas a serem produzidas no estúdio que integra
o espaço museológico, evidencia a proposta de estabelecer relações de
reciprocidade de escuta e diálogo permanente com àqueles que de fato vivem e
experimentam no seu cotidiano os acontecimentos que se desdobram nessa
região.
Nesse ponto o próprio Rio Xingu se encarrega de nos dar as principais lições: os
contornos de obstáculos, que tornam o seu curso d’agua sinuoso não significam
9
SOUZA, Ana Maria Martins de. A mediação como princípio educacional: bases teóricas das
abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2003, p. 49.
a covardia, a fuga do embate. Significam antes de tudo a intencionalidade de
manter o fluxo, a reciprocidade de trocar de direção, a transcendência de ir para
além do aqui e agora e o significado transmitido de geração a geração da
necessidade de permanecer e resistir na memória. Esse talvez seja o ponto de
partida para se promover uma ação cultural.
REFERÊNCIAS
SOUZA, Ana Maria Martins de. A mediação como princípio educacional: bases
teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora SENAC São
Paulo, 2003.