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Curso OAB

a
1 FASE XXIX

DIREITO CIVIL
Parte Geral
Prof ª. Maitê Damé
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

1. Direito Civil e Constituição


Apesar de o Direito Civil ser ramo do direito privado, em razão de ter utilidade
particular, deve ser interpretado a luz das normas constitucionais. Os ramos do Direito
não podem ser interpretados de forma isolada e estanque. Há, nesse sentido, a chamada
constitucionalização do direito privado ou do direito civil. Este processo refere-se a
aplicação das normas constitucionais na interpretação do direito privado.
Então, se houver a interpretação das leis civis de acordo com a Constituição e os
direitos fundamentais haverá a possibilidade da permanente evolução do Direito Civil,
adaptando-se, dessa maneira, à evolução da sociedade.
No direito brasileiro, este processo ocorreu, especialmente, a partir da Constituição
Federal de 1988, quando as normas garantidoras de direitos e garantias fundamentais
passaram a ser aplicados e respeitados no âmbito civil. Com isto, o direito civil está,
permanentemente sob a tutela constitucional e os direitos fundamentais, que já eram
respeitados por parte do Estado, passam a ser, também, no âmbito privado, nas relações
entre particulares. Exemplo disto são os direitos fundamentais da igualdade, liberdade,
dignidade, devido processo legal, etc.

2. Divisão da Parte Geral


O Código Civil divide a parte geral em três partes. A teoria das pessoas, que
trabalha com os sujeitos de direitos (pessoas naturais e jurídicas); a teoria dos bens, que
se destina a estudar os objetos de direitos; e a teoria dos fatos, que são os eventos que
criam, modificam, conservam, transferem ou extinguem direitos (negócios jurídicos, atos
jurídicos – lícitos e ilícitos, prescrição e decadência, prova).
Existe, portanto, uma lógica de estudo. 1) estudam-se as pessoas; 2) estudam-se os
bens, que são os objetos dos direitos; 3) estuda-se os fatos jurídicos, ou seja, o meio pelo
qual nascem, modificam-se e extinguem-se os direitos.
3. Pessoas Naturais
A função do Direito é regular a sociedade e esta última é formada de pessoas. A
todo direito, corresponde um sujeito, que é, então, o titular.
É nesse sentido o art. 1.º, CC: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil”.
Somente as pessoas podem ser sujeitos de Direito, sejam elas naturais ou jurídicas.
Animais e coisas são objetos do Direito, mas não podem ser sujeitos dele.
A questão, agora, é saber a partir de quando a pessoa pode ser considerada sujeito
de Direito, ou seja, basta que uma pessoa nasça para que seja assim considerada e,
dessa forma, adquira personalidade.

3.1. Personalidade/ Aquisição da personalidade jurídica


Personalidade jurídica é a “aptidão genérica para titularizar direitos e contrair
obrigações, ou, em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito”1. A

1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte geral. 18.ed.
v.1. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 132.
partir do momento em que o sujeito tem personalidade, que ele se torna sujeito de direito,
podendo praticar atos e negócios jurídicos.
O art. 2.º, CC afirma que a personalidade civil começa com o nascimento com vida,
mas traz a ressalva de que a lei protege os direitos do nascituro desde a concepção:

Art. 2.º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

Dessa maneira, o marco inicial da personalidade é o nascimento com vida. O


nascimento ocorre quando a criança é separada do ventre materno, seja por parto
natural, seja por cesárea. O importante é que a unidade biológica seja desfeita, de forma
que mãe e filho sejam dois corpos, cada um com uma vida biológica e orgânica própria.
Mas como saber se houve nascimento com vida? Basta que a criança tenha
respirado. Se respirou, viveu, mesmo que tenha morrido em seguida. Neste caso, lavra-se
o assento de nascimento e o de óbito (art. 53, § 2.º, LRP).
Qual o motivo de toda essa importância dada ao nascimento com vida, a saber se a
criança respirou ou não? Traga-se um exemplo para clarificar.
Ex.: casal João e Maria, casados pelo regime da separação de bens. João falece e
Maria está grávida. Se o filho de Maria e João nascer com vida, respirar, tornar-se-á
herdeiro do patrimônio junto com Maria. Assim, se ele falecer em seguida, Maria receberá
todo o patrimônio, pois é herdeira do filho. Contudo, se a criança não tiver respirado, o
patrimônio de João será transmitido a Maria e aos pais de João.
Como é feita a constatação do nascimento com vida? Através de um exame
chamado docimasia hidrostática de Galeno, que se baseia no princípio de que se o feto
respirou, inflou de ar seus pulmões. Assim, retirando-se os pulmões do feto que veio a
falecer, colocando-se em um recipiente com água, se tiver havido respiração, o pulmão
flutuará. Caso não tenha havido respiração, o pulmão, não tendo recebido ar, estando
com as paredes alveolares unidas, afundará. Atualmente já existem outras formas de
verificar a respiração, pois é possível, através de exame microscópio de fragmentos do
pulmão verificar se possui bolhas de ar ou não.
3.1.1. Nascituro
Nascituro é aquele que está por nascer, ou seja, aquele que está se desenvolvendo
no ventre materno, que foi concebido, mas não nasceu ainda.
O art. 2.º, CC protege os direitos do nascituro desde sua concepção.
Ao nascituro são reconhecidos certos direitos, desde que reconhecida sua
personalidade e, posteriormente, sua capacidade. Sendo assim, possui capacidade
reduzida.
Mas o art. 2.º, CC também protege os direitos do natimorto, ou seja, aquele que não
chegou a nascer com vida (não chegou a respirar). Nesse aspecto, o enunciado 1 das
Jornadas de Direito Civil prevê que há a proteção do nome, da imagem e da sepultura:

A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne


aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.

3.2. Capacidade de fato e Capacidade de direito


As pessoas naturais possuem dois tipos de capacidade: capacidade de direito e
capacidade de fato.
Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e
obrigações. Dessa forma, passa a ter a capacidade de direito, ou seja, a aptidão que as
pessoas têm, conferida pelo ordenamento jurídico, para serem titulares de uma situação
jurídica.
Assim, toda pessoa tem capacidade de direito. Contudo, nem todos podem exercer
seus direitos pessoalmente, pois pode faltar a consciência para o exercício de atos de
natureza privada, em razão de determinadas limitações (orgânicas – idade, p.ex. – ou
psicológicas – viciados em tóxicos). Estes detêm apenas a capacidade de direito.
Aqueles que puderem atuar pessoalmente no exercício de seus direitos terão, além
da capacidade de direito, a capacidade de fato.
Assim, aqueles que tiverem as duas capacidades – de fato e de direito – terão a
capacidade civil plena.
Contudo, capacidade é diferente de legitimidade/legitimação. Muitas vezes, uma
pessoa capaz não é legitimada a praticar determinados atos.
Ex.: art. 1521, IV, CC – dois irmãos, ainda que capazes, não poderão casar entre si,
pois não há legitimação. Se não for respeitado esse impedimento, haverá nulidade do
matrimônio.
Ex.: art. 1.647, I – atos de alienação, praticados por pessoa casada. Há a
necessidade de autorização do cônjuge. Se não for respeitada essa legitimação e a
alienação for feita sem a autorização do cônjuge, o negócio será anulável, dentro do
prazo de 2 anos, a contar do fim da sociedade conjugal (art. 1.649, CC).

3.3. Incapacidades
As pessoas que não possuem a capacidade de fato têm capacidade limitada e são
chamadas de incapazes. Não existe incapacidade de direito, já que, conforme o art. 2.º,
CC todos que nascem com vida adquirem a capacidade de direito (mas não a de fato).
Dessa maneira, as incapacidades são restrições impostas às pessoas, em condições
peculiares, que necessitam, em razão dessa condição, de proteção especial.
Deve-se destacar que o Estatuto da pessoa com deficiência, lei 13.246/2015, alterou
significativamente a teoria das incapacidades.
3.3.1. Pessoas Absolutamente Incapazes
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida
civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

A incapacidade absoluta impede que a pessoa exerça por si só o direito. Dessa


forma, o ato só poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz.
O absolutamente incapaz possui direito. Porém, não pode exercê-lo por si próprio.
São as pessoas que não tem aptidão para praticarem, sozinhas ou por si próprias, os atos
da vida civil. Significa dizer que possuem capacidade de direito, mas não possuem a
capacidade de fato ou exercício.
Nestes casos, o ato jurídico é praticado por outra pessoa (o representante legal), em
nome do incapaz. Trata-se da REPRESENTAÇÃO. Dessa maneira, o ato é praticado pelo
incapaz, representado pelo pai ou responsável legal.
Ex.: Fulano de tal, menor absolutamente incapaz, representado por seus pais,
Beltrano e Beltrana de Tal.
A inobservância dessa regra gera a nulidade do ato, nos termos do art. 166, I, CC.
Como já mencionado, o Estatuto da pessoa com deficiência alterou a teoria das
incapacidades. Atualmente, não há outra hipótese de incapacidade absoluta que não seja
em razão da idade (menor de 16 anos). Antes dessa alteração, as pessoas com
deficiência eram absolutamente incapazes. Agora, não são. As pessoas com deficiência
são, via de regra, plenamente capazes de exercer atos da vida civil. Não há mais,
portanto, interdição absoluta. Poderá ocorrer alguma situação de incapacidade relativa
(art. 4.º, CC).
O art. 6.º do Estatuto da pessoa com deficiência (lei 13.146/2015) determina que a
deficiência não afeta a plena capacidade para gestão do plano familiar e existencial do
indivíduo:
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Além disto, às pessoas com deficiência é permitida a adoção da tomada de decisão
apoiada ou o estabelecimento da curatela, conforme art. 84 do Estatuto da pessoa com
deficiência.
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela,
conforme a lei.
§ 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de
decisão apoiada.
§ 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e
durará o menor tempo possível.
§ 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua
administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

A tomada de decisão apoiada está prevista, também, no art. 1.783-A, CC. Trata-se
de um processo pelo qual o deficiente pode escolher duas pessoas idôneas e de sua
confiança para auxiliar nas decisões de atos da vida civil.

3.3.2. Pessoas Relativamente Incapazes


Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação
especial.

A incapacidade relativa permite que o incapaz realize o ato, desde que esteja
assistido pelo representante legal. Nesses casos, o próprio indivíduo, relativamente
incapaz, pratica o ato, sendo assistido pelo representante legal. Trata-se da
ASSISTÊNCIA.

Maiores de 16 anos e menores de 18 anos.


Aqueles indivíduos que estejam entre os 16 e os 18 anos de vida podem praticar
atos da vida civil, mas assistidos pelos representantes legais, sob pena de ser anulado o
ato.
Caso seja praticado o ato, poderá ser anulado (art. 171, I, CC), desde que a ação
seja proposta no prazo de 4 anos a contar do momento em que cessar a incapacidade
(art. 178, CC).
Contudo, existem atos que podem ser praticados pelo relativamente incapaz,
mesmo sem a assistência do seu representante legal, como p. ex., ser testemunha (art.
228, I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento (art. 1.860, § único), casar (art. 1.517,
CC – necessita de autorização dos genitores).
Havendo conflito de interesses entre o pai/representante legal e o relativamente
incapaz, o juiz deverá nomear curador especial (art. 1.692, CC).
Deve-se observar que o objetivo do Código Civil é estabelecer uma proteção
diferenciada para os maiores de 16 e menores de 18 anos.
Dessa forma, caso o relativamente incapaz pratique um ato ocultando sua idade,
não poderá invocar a idade para eximir-se de obrigação, pois o Código não protege a má-
fé. Nesse sentido é a disposição do art. 180, CC:
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de
uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido
pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

Se, contudo, não houver malícia por parte do relativamente incapaz, o ato será
anulável, nos termos do art. 171, I, CC:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;

Mas essa incapacidade, por se tratar de exceção pessoal, só pode ser arguida pelo
próprio incapaz ou pelo representante legal. Nesses termos, o art. 105, CC:
Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela
outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se,
neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.

Deve-se observar que esse ato pode ser convalidado:


Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de
terceiro.
Ébrios habituais e viciados em tóxicos
Aqueles que sejam viciados em álcool ou tóxicos serão considerados relativamente
incapazes. Situações de uso de tóxicos ou álcool que seja habitual e reduza a capacidade
de discernimento. Os que forem usuários eventuais e que, temporariamente não puderem
exprimir sua vontade, serão enquadrados o inciso III, do mesmo dispositivo.
Deverá haver um processo de interdição relativa, com a instituição da curatela,
analisando se é caso de incapacidade ou não. Neste caso, o processo de interdição e
curatela está disposto no CPC/2015, no art. 747 e seguintes.
Especificamente, o art. 753, § 2.º, CPC/2015 dispõe que a perícia a ser realizada no
processo de interdição, definirá a extensão da mesma, ou seja, para quais atos o
interditado estará impedido.

Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a


vontade
Aqui enquadram-se todas as pessoas que não possam exprimir sua vontade, seja
por situação permanente ou transitória. Nesse quadro estão os surdos-mudos, desde que
não tenham recebido educação adequada e permaneçam isolados. Se tiverem recebido
educação e puderem, por qualquer forma, exprimir sua vontade, serão capazes.
Também se encaixam os portadores de mal de Alzheimer.
Em todos os casos, necessária a interdição, conforme já mencionado.
Alguns, mais desavisados, podem questionar: e os portadores de síndrome de
down, são enquadrados como? Em razão do Estatuto da pessoa com deficiência que,
sabiamente, alterou a teoria das incapacidades, estes indivíduos – até por questões de
desenvolvimento e estímulo – são, via de regra, plenamente capazes. Eventualmente,
pode ser caso de tomada de decisão apoiada ou, então, enquadrados como relativamente
incapazes por força do inciso III, do art. 4.º, CC. Contudo, é situação excepcional. A regra
é a capacidade plena.

Pródigos.
Pródigo é aquele que dissipa seu patrimônio desvairadamente, aquele que gasta
imoderadamente, colocando seu patrimônio em risco. Contudo, o pródigo só passará a
ser considerado relativamente incapaz com a sentença de interdição que lhe qualifique
como tal.
A justificativa da interdição do pródigo é o fato de que está permanentemente em
risco de se submeter a miséria, colocando todo seu patrimônio fora. Sua interdição refere-
se tão somente quanto a atos de disposição e oneração do patrimônio. Pode administrar
seu patrimônio, mas não poderá praticar atos que venham a desfalca-lo. Os demais atos
(votar, ser jurado, testemunha, etc) poderá praticar.

Situação dos índios


O art. 4.º, no seu § único traz a normatização com relação aos índios, deixando para
lei especial a apreciação. O Estatuto do Índio (lei 6.001/73), deixa a responsabilidade,
quanto a sua proteção, a cargo da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A Lei 6.001/73
(Estatuto do Índio) considera que o índio que não estiver integrado ficará sob tutela,
reputando-se nulos todos os atos praticados por eles sem a devida assistência do órgão
responsável (art. 8.º). Contudo, se o índio demonstrar discernimento, aliado à inexistência
de prejuízo pelo ato praticado, será considerado plenamente capaz para os atos da vida
civil.
Sabe-se que os índios estão constantemente sendo integrados na sociedade
brasileira, de forma que não há mais justificativa para que sejam considerados incapazes.
Assim, os índios somente poderão ser considerados incapazes quando restar
comprovado que não são civilizados e que não possuam discernimento sobre os atos a
serem praticados.

3.4. Modos de suprimento das incapacidades (representação e


assistência)
A incapacidade absoluta é suprida através da representação pelos pais ou
representantes legais. Se o absolutamente incapaz praticar atos sem a devida
representação o ato será nulo. Dessa forma, no caso da representação, é o representante
quem pratica o ato, no interesse do incapaz.
A representação (legal ou voluntária) está disciplinada nos arts. 115 a 120 do CC.
Contudo, deve-se ter em mente que existem dois tipos de representação diferentes: a
representação legal e a representação voluntária (aquela que ocorre através de mandato
– procuração) – art. 115, CC. A representação voluntária – mandato – será tratada nos
negócios jurídicos.
O suprimento da incapacidade relativa, por sua vez, se dá pela assistência, ou seja,
o relativamente incapaz pratica o ato jurídico em conjunto com o assistente, sob pena de
nulidade.

3.5. Cessação da incapacidade


A incapacidade cessa quando desaparecem os motivos que a determinam. Quando
a causa da incapacidade é a idade, desaparece pela maioridade ou pela emancipação.

3.5.1. Maioridade
Nos termos do art. 5.º, CC, a incapacidade cessa aos 18 anos, quando a pessoa
passa a estar habilitada para praticar todos os atos da vida civil. A menoridade cessa,
dessa forma, no primeiro momento do dia em que o indivíduo perfaz os 18 anos, ou seja,
se o nascimento ocorreu em 29 de fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade no
dia 1.º de março. Ex.: nasceu em 05/10. Completa a maioridade em 05/10.
O critério é etário e não há diferença entre o homem e a mulher. Contudo, essa
capacidade civil não pode ser confundida com a capacidade eleitoral ou a capacidade
para o casamento, previstas em dispositivos especiais, nem mesmo com a maioridade
penal.
Com a maioridade, os jovens passam a responder civilmente pelos danos causados
a terceiros, ficando autorizados a praticar todos os atos da vida civil, sem a necessidade
de assistência de seu representante legal.

3.5.2. Emancipação
Mas a capacidade plena também pode ser antecipada, em razão da autorização dos
representantes legais do menor ou do juiz ou, ainda, pela ocorrência de fato que a lei
atribui força para tanto. Trata-se dos casos de emancipação.
A emancipação é, portanto, uma forma de aquisição da capacidade civil antes da
idade legal. É a antecipação da aquisição da capacidade de fato (exercício da capacidade
civil por si próprio).
Nos termos do art. 5.º, § único, a incapacidade cessará:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença
do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos
tenha economia própria.

Deve-se observar que se trata de aquisição de capacidade para fins civis. Mas o
indivíduo não deixa de ser menor, ou seja, segue sendo aplicado o Estatuto da Criança e
do Adolescente. Nesse sentido, o enunciado 530 da Jornada de Direito Civil:
A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Sendo assim, mesmo emancipado, não pode retirar carteira de motorista, ou entrar
em locais proibidos ou, então, ingerir bebida alcóolica.
A emancipação, uma vez realizada, é definitiva, irretratável e irrevogável, salvo por
ocorrência de vício de vontade (todos os negócios jurídicos ou atos praticados podem ser
anulados em razão de vício de vontade). Neste sentido, o enunciado 397 das Jornadas de
Direito Civil:
A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à
desconstituição por vício de vontade.

Pela redação do § único do art. 5.º, CC, a emancipação, conforme a causa ou


origem, pode ser de três espécies: voluntária, judicial e legal.
a) Emancipação voluntária: Ocorre pela concessão dos pais, quando estes, em conjunto
(ou, um deles, na falta do outro), concedem, mediante escritura pública,
independentemente de homologação judicial, a emancipação para o filho que tenha
completado 16 anos. A emancipação é ato irrevogável, de forma que os pais não podem,
a posteriori, arrependerem-se de ter emancipado o filho. Contudo, respondem pelos
danos causados pelo filho que emanciparam. Deve ser registrada no Cartório do Registro
Civil, nos termos do art. 107, § 1.º, Lei 6.015/73.
b) Emancipação judicial: A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, nos
casos em que o menor está sob tutela, sendo ouvido o tutor, se o menor contar com 16
anos completos. Pode ser, também, nos casos em que um dos genitores concordar e o
outro não com a emancipação. Deve ser registrada no Cartório do Registro Civil, nos
termos do art. 107, § 1.º, Lei 6.015/73. No caso de incapacidade relativa declarada por
decisão judicial (aplicável aos ébrios habituais, pródigos, etc.), bem como nos casos de
incapacidade superveniente (ou não afastada) pela maioridade, a retomada da
capacidade dar-se-á apenas mediante nova decisão judicial. Até tal reconhecimento, será
realizada nomeação de responsável (curador, para maiores; tutor, para menores) pela
assistência ou representação do incapaz (relativo ou absoluto).
c) Emancipação legal: A emancipação legal é aquela que advém da disposição legal.
Trata-se dos casos previstos nos incisos II, III, IV e V, CC, ou seja, em razão de
casamento, emprego público, constituição de empresa ou colação de grau em curso
superior. Dispensa o registro no Cartório de Registro Civil, produzindo efeitos
independentemente desse registro.

CASAMENTO: O homem e a mulher podem casar a partir dos 16 anos de


idade, desde que autorizados pelos pais ou representantes legais, nos termos do art.
1.517, CC. Dessa forma, caso haja o casamento de menor de 18 anos, adquire, este
indivíduo, a capacidade civil plena, pois não faria sentido que, após casados, os
cônjuges permanecessem sob o poder familiar, já que constituíram um novo núcleo
familiar. Também deve-se considerar que há uma situação excepcional em que é
permitido o casamento de menores de 16 anos, que é a hipótese do art. 1.520, CC,
desde que autorizado judicialmente. Dessa maneira, não se deve desconsiderar que
há, uma situação excepcionalíssima de aquisição da maioridade, via emancipação
legal, em razão de casamento em caso de gravidez. Nesses casos, mesmo que haja
a dissolução do casamento pelo divórcio, o emancipado não retorna a situação
anterior de incapacidade civil. No caso de anulação ou nulidade do casamento, caso
tenha sido contraído de boa-fé (casamento putativo), persiste a maioridade. Se tiver
sido contraído de má-fé, retorna a situação de incapacidade (anulação retroage a
data da celebração e é como se o casamento jamais tivesse existido).

EXERCÍCIO DE EMPREGO PÚBLICO EFETIVO: Havendo a nomeação de


caráter efetivo em cargo ou emprego público efetivo (independentemente se
celetista ou estatutário, desde que não seja cargo em comissão), o agente adquire
plena capacidade civil, emancipando-se. Contudo, essa disposição está esvaziada
de conteúdo, já que é difícil algum cargo ou emprego público efetivo antes dos 18
anos de idade.

COLAÇÃO DE GRAU EM CURSO SUPERIOR: Essa hipótese também é


bastante rara de ocorrer, pois o próprio período de estudo anterior (1.º e 2.º grau) é
extenso. Normalmente, quando o estudante cola grau, já é maior de idade.

ESTABELECIMENTO CIVIL OU COMERCIAL, OU EMPREGO QUE O


MENOR TENHA ECONOMIA PRÓPRIA: Trata-se, também, de uma hipótese
remota, pois é difícil que alguém com 16 anos estabelecer-se comercialmente.
3.6. Personalidade/Extinção da personalidade/Morte
O art. 6.º, CC define que a extinção da personalidade natural se dá com a morte,
presumindo-se esta quanto aos ausentes, quando autorizada a abertura da sucessão
definitiva. O art. 7.º, CC, por sua vez, estabelece os casos de declaração da morte sem
decretação da ausência:
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado
até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.

A morte divide-se, portanto em (o aprofundamento dessas situações será feito no


direito sucessório):
3.1. Registro Civil - Pessoa natural:
Registro Civil é o local onde se encontra a história da vida de uma pessoa. É a
perpetuação de seus dados pessoais. Trata-se de anotação feita por pessoa autorizada
(Registrador Civil) de dados pessoais e fatos jurídicos de maior relevância na vida de
alguém. Sua função é dar autenticidade, segurança, eficácia e publicidade a tais dados.
O Registro Civil está disciplinado no Código Civil e na Lei dos Registros Públicos. O
art. 9.º, CC determina os atos que serão registrados no Registro Público:
Art. 9o Serão registrados em registro público:
I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.

Por sua vez, o art. 10, CC trata das averbações em registros públicos:
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o
divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;
II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;

Averbação é anotação feita à margem do registro para informar sobre alguma


alteração ocorrida no estado jurídico do registrado. Nesse sentido, o casamento é
registrado e o divórcio, averbado.

Todo nascimento deve ser levado a registro no local onde ocorreu o parto ou no
lugar da residência dos pais, no prazo de 15 dias ou, no prazo de até 3 meses quando o
local do parto ou da residência for distante mais de 30 km da sede do cartório.
Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a
registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais,
dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os
lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório.
§ 1º Quando for diverso o lugar da residência dos pais, observar-se-á a ordem
contida nos itens 1º e 2º do art. 52.
§ 2º Os índios, enquanto não integrados, não estão obrigados a inscrição do
nascimento. Este poderá ser feito em livro próprio do órgão federal de assistência
aos índios.
§ 3º Os menores de vinte e um (21) anos e maiores de dezoito (18) anos poderão,
pessoalmente e isentos de multa, requerer o registro de seu nascimento.
§ 4° É facultado aos nascidos anteriormente à obrigatoriedade do registro civil
requerer, isentos de multa, a inscrição de seu nascimento.
§ 5º Aos brasileiros nascidos no estrangeiro se aplicará o disposto neste artigo,
ressalvadas as prescrições legais relativas aos consulados.
O registro de nascimento do indivíduo compete, pela ordem legal (art. 52, LRP):
Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento:
1o) o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto no § 2o
do art. 54;
2º) no caso de falta ou de impedimento de um dos indicados no item 1o, outro
indicado, que terá o prazo para declaração prorrogado por 45 (quarenta e cinco)
dias;
3º) no impedimento de ambos, o parente mais próximo, sendo maior achando-se
presente;
4º) em falta ou impedimento do parente referido no número anterior os
administradores de hospitais ou os médicos e parteiras, que tiverem assistido o
parto;
5º) pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora da residência da mãe;
6º) finalmente, as pessoas (VETADO) encarregadas da guarda do menor.
§ 1° Quando o oficial tiver motivo para duvidar da declaração, poderá ir à casa do
recém-nascido verificar a sua existência, ou exigir a atestação do médico ou
parteira que tiver assistido o parto, ou o testemunho de duas pessoas que não
forem os pais e tiverem visto o recém-nascido.
§ 2º Tratando-se de registro fora do prazo legal o oficial, em caso de dúvida,
poderá requerer ao Juiz as providências que forem cabíveis para esclarecimento
do fato.

Deve-se observar que a Lei nº 13.484, de 2017 prevê, uma alteração no art. 54 da
lei dos registros públicos, no que diz respeito ao local da naturalidade do indivíduo, que
será o município do nascimento ou o de residência de sua genitora:
§ 4º A naturalidade poderá ser do Município em que ocorreu o nascimento ou do
Município de residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que
localizado em território nacional, e a opção caberá ao declarante no ato de registro
do nascimento.

3.2. Direitos da personalidade


Ao lado dos direitos patrimoniais, existem direitos, não menos importantes, que
estão fora do comércio e encontram-se inseridos na personalidade do indivíduo. Os
direitos da personalidade, também chamados de liberdades públicas têm proteção
especial por parte do Estado. São tutelados tanto pelo Direito Público, como também, pelo
Direito Privado. São direitos inerentes e ligados à pessoa humana e a sua dignidade, de
forma perpétua e permanente. Dentre estes direitos destacam-se a vida, liberdade, nome,
próprio corpo, imagem e honra.
O enunciado 274 das Jornadas de Direito Civil prevê que:
Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código
Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no
art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em
caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se
aplicar a técnica da ponderação.
Pode-se dizer que são direitos da personalidade: vida e integridade físico-psíquica,
nome da pessoa (natural ou jurídica), imagem (imagem-retrato e imagem-atributo), honra
(subjetiva e objetiva) e intimidade. Essa proteção dos direitos da personalidade encontra-
se, tanto no Código Civil, como, também, na Constituição Federal de 1988, que prevê, no
seu art. 5. º, X:
“X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.

O Código Civil destinou um capítulo especial para a proteção dos direitos da


personalidade – art. 11 a art. 21, CC. Esse rol, contudo, é exemplificativo, conforme
dispõe o enunciado 274 das Jornadas de Direito Civil.
Esses direitos tratam-se, portanto, de direitos que “têm por objeto os atributos
físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais” (GAGLIANO e
PAMPLONA FILHO, p. 184).

3.2.1. Natureza
Quanto a natureza jurídica desses direitos, a maior parte da doutrina entende que,
por se tratarem de direitos inatos ao ser humano, cabe ao Estado apenas reconhecê-los e
sancioná-los no âmbito do direito positivo, de forma que o indivíduo possa proteger tais
direitos contra arbítrios do poder público ou de particulares.
No caso do Brasil, esses direitos, além de serem protegidos no âmbito do Direito
Civil, também tem uma proteção constitucional, conforme visto (art. 5.º, X, CF), o que lhes
confere um status diferenciado – direito subjetivo (possibilidade de exigir respeito) +
direito objetivo (vinculação a todos, dever de não infringir).

3.2.2. Titularidade
Os direitos da personalidade são próprios dos seres humanos. Contudo, como já
discutido, também protege o nascituro que, embora não tenha personalidade jurídica,
detém proteção, desde a concepção, dos seus direitos da personalidade (art. 2.º, CC).
Não se pode excluir, contudo, as pessoas jurídicas desta proteção, pois, nos termos
do art. 52, CC, aplica-se “às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade”. Dessa forma, as pessoas jurídicas também têm a faculdade de exigir
respeito e proteção quanto à sua imagem (intimidade, vida privada e honra, não é
possível em razão das particularidades de tais direitos), podendo ser requerida
indenização pela violação a tal direito. Este entendimento consubstancia-se na redação
da súmula 227 do STJ, que diz que: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
Tenham cuidado com o enunciado 268 das Jornadas de Direito Civil, que diz que não
pode a pessoa jurídica ser titular de direitos da personalidade. Este enunciado contraria o
que determina a súmula 227 do STJ. Esta súmula é que poderá ser cobrada no Exame da
OAB, por ser a posição majoritária.

3.2.3. Características
Os direitos da personalidade são ligados à pessoa humana, representando seus
direitos íntimos e fundamentais. São qualidades que se agregam ao homem e, portanto,
intransmissíveis e irrenunciáveis. O art. 11, CC traz algumas das características dos
direitos da personalidade: Contudo, existem outras características:
• Inato: inerente, pertencente desde o nascimento.
• Absolutos: os autores falam que os direitos da personalidade são absolutos,
sendo uma forma de materialização da oponibilidade erga omnes.
Apesar dessa característica, deve-se ressaltar que os direitos da
personalidade podem ser restringidos, dependendo da situação.
Os enunciados das Jornadas de Direito Civil dispõe sobre essa possibilidade
de relativização ou limitação voluntária dos direitos da personalidade.
Enunciado n.º 4: “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”.
Significa dizer, portanto, que em cada caso concreto deverá ser feito um
sopesamento a fim de verificar se é ou não necessária a relativização do
direito da personalidade.
Ex.: biografias não autorizadas. Podem ser publicadas, embora sem
autorização, referente a pessoas públicas. Relativização dos direitos da
personalidade em nome a vedação da censura.
Enunciado n.º 139: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações,
ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos
com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos
bons costumes”.
Ex.: proteção da intimidade e vida privada é relativizada quando há uma
exposição desse direito. Top less em praia pública – relativização da
intimidade.
Ex.: art. 15, CC. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de
vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Um paciente, a beira da
morte, necessita de cirurgia. A intervenção trará alto risco, gerando dúvidas
se o médico deve ou não realizar o procedimento. Isso gera uma série de
discussões, pois há resoluções do Conselho Federal de Medicina que
autorizam o médico a suspender o tratamento de pacientes terminais, de
doenças incuráveis quando assim for de sua vontade (ortotanásia). Contudo,
decisões judiciais já foram contrárias a essa prática.
Há, ainda, o Enunciado 528, das Jornadas de Direito Civil, que autoriza o
chamado testamento vital ou biológico, que nada mais é do que uma
autorização para a prática da suspensão do tratamento médico:
“É válida a declaração de vontade expressa em documento autêntico,
também chamado "testamento vital", em que a pessoa estabelece
disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que
deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade”.
De igual modo, há, também a situação de paciente que, em razão de sua
crença religiosa, não permita submissão a tratamento médico. No caso de
este paciente estar sob risco real e iminente de morte, pode ser dispensada a
autorização para a realização de cirurgia. Significa dizer, então que, nestes
casos, o médico pode salvar a vida, mesmo sem a autorização do paciente ou
familiar. Trata-se de um conflito entre o direito a vida e o direito a liberdade
religiosa. Deve-se utilizar a técnica da ponderação, neste caso. Há quem diga
que, pela ponderação, deve prevalecer a vida. Outros dirão que a vontade do
paciente deve ser respeitada. Neste sentido, o enunciado 403 das Jornadas
de Direito Civil:
“O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI,
da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a
tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de
morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os
seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo
representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e
informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa
do declarante.”
• Generalidade: são outorgados a todas as pessoas, pelo simples fato de
existirem.
• Extrapatrimonialidade: ausência de conteúdo patrimonial direto, ou seja, os
direitos, em si, não possuem valor patrimonial, ainda que, havendo lesão,
possa haver indenização pecuniária (mas, neste caso, em razão do dano
causado).
• Indisponibilidade: significa que tais direitos não podem, por vontade do
indivíduo, mudar de titular. Abrange tanto a intransmissibilidade
(impossibilidade de modificação de titular gratuita ou onerosa, ou seja, não é
possível ceder tal direito a outrem), como a inalienabilidade (não podem ser
alienados), a inacessibilidade (não podem ser objeto de cessão), e a
intransacionabilidade (não podem sofrer transação ou compromisso de
arbitragem). É permitida, contudo, a cessão de uso da imagem, por exemplo,
(famoso que autoriza a utilização de sua imagem em outdoors). Isso significa
que há uma parcela dos direitos da personalidade, que se relaciona a direitos
patrimoniais, que pode ser passível de disposição (direitos de imagem,
direitos autorais, cessão de partes do corpo para fins científicos ou altruísticos
– art. 14, CC).
• Irrenunciabilidade: trata-se da impossibilidade voluntária do abandono, de
abdicar, de forma que ninguém pode renunciar direitos da personalidade.
Exemplo: contrato de namoro. Este contrato é nulo, pois seria uma forma de
pessoas que vivem em união estável renunciarem aos direitos dela
decorrentes. A união estável envolve direitos existenciais de personalidade.
Ademais, é uma espécie de fraude a lei imperativa, o que conduz a nulidade
absoluta do documento firmado (art. 166, VI, CC).
Outro exemplo seriam os reality shows (Big Brother Brasil), onde o
participante renuncia a qualquer direito de buscar indenização por danos
morais em decorrência da exibição de sua imagem. Tal contrato também é
nulo, pois não é possível a renúncia a direitos da personalidade, a teor dos
arts. 11 e 166, VI, CC. Nestes casos é possível, inclusive, que se utilize das
medidas previstas no art. 12, CC para fazer cessar a exibição das imagens
que violem a moral do participante.
• Imprescritibilidade: não se extinguem pelo não uso, de forma que não há
prazo para o seu exercício. Salienta-se que esta imprescritibilidade é quanto
ao direito em si, não quanto ao exercício do direito de reparação quanto a
dano moral pela violação do direito da personalidade (honra, p.ex.).
O exercício do direito a reparação de danos se sujeita a prazos prescricionais
– 3 anos, no caso, nos termos do art. 206, § 3.º, V, CC.
Contudo, existem decisões do STJ que reconhecem a imprescritibilidade do
pleito de reparação de danos: “É pacífico o entendimento no Superior
Tribunal de Justiça segundo o qual as ações de indenização por danos
morais e materiais decorrentes de atos de violência ocorridos durante o
Regime Militar são consideradas imprescritíveis, independentemente dos
legitimados ad causam.”
“Como é cediço, a prescritibilidade é a regra, só havendo falar em
imprescritibilidade em hipóteses excepcionalíssimas, como no tocante às
ações referentes ao estado das pessoas. Somente alguns direitos subjetivos,
observada sua envergadura e especial proteção, não estão sujeitos a prazos
prescricionais, como na hipótese de ações declaratórias de nulidades
absolutas, pretensões relativas a direitos da personalidade e ao patrimônio
público”. (EDcl no AgRg no REsp 1229068/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 16/10/2015)
• Impenhorabilidade: em razão de serem inerentes à pessoa e dela
inseparáveis, não podem ser penhoráveis, pois a função da penhora é a
venda judicial para satisfação de um crédito. Contudo, esta indisponibilidade é
quanto ao direito em si (vedação da penhora do direito à imagem), mas não
se refere a penhora dos direitos patrimoniais resultantes do exercício deste
direito (a cessão de uso da imagem gera um ressarcimento patrimonial e,
este, pode ser penhorado). O art. 832, CPC/2015 determina que estão a salvo
da execução os bens que a lei considere impenhoráveis ou inalienáveis.
Neste caso, enquadram-se os direitos da personalidade.
• Vitaliciedade: são adquiridos no momento da concepção e acompanham a
pessoa até sua morte, ainda que alguns desses direitos sejam resguardados
mesmo após a morte da pessoa (honra, memória, direito de autor, p. ex.). Ex.:
não é porque o Chico Anísio faleceu que sua imagem caiu no domínio
público. Há o direito de indenização pelo uso indevido da imagem do
humorista. Neste sentido, o art. 12 define que a legitimação para requerer a
indenização é do cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta
(filho, neto, pais, avós) ou colateral até quarto grau (primos).

3.2.4. Classificação
Apesar de haver um rol de direitos da personalidade previsto no Código Civil, este
rol não é taxativo (enunciado 274, Jornada de Direito Civil). São direitos inatos ao ser
humano, qualidades que se agregam ao homem. O texto protege a vida, nome
integridade físico-psíquica, honra, imagem, intimidade e produção intelectual. Contudo,
não tutela questões de liberdade sexual, por exemplo. A proteção quanto aos direitos da
personalidade divide-se em:
a) CORPO – Vida e integridade física (corpo vivo, cadáver, voz).
b) MENTE – integridade psíquica e criações intelectuais (liberdade, criações
intelectuais, privacidade, segredo).
c) ESPÍRITO – integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal).
3.2.5. Proteção dos direitos da personalidade
A proteção aos direitos da personalidade está prevista tanto na Constituição Federal
quanto no Código Civil.
Considerando que visa resguardar a dignidade humana através de medidas
judiciais, esta proteção pode ser: preventiva ou tutela inibitória; repressiva ou tutela
reparatória.
PREVENTIVA – objetivando suspender atos que ameacem ofender a integridade do
indivíduo
REPRESSIVA ou TUTELA REPARATÓRIA – ação indenizatória, que visa uma
reparação patrimonial pelo dano causado. A reparação pode ser por DANO MORAL,
quando a agressão for contra um direito da personalidade e não houver conteúdo
econômico dessa lesão. Poderá ser, também por DANO MATERIAL, quando houver
perda ou prejuízo por lesão a bem patrimonial. Esses danos podem ser danos
emergentes (o que a pessoa perdeu) e lucros cessantes (o que a pessoa deixou de
ganhar). A jurisprudência do STJ vem admitindo a possibilidade cumulação de danos
materiais, morais e, ainda, danos estéticos, conforme súmula 387, STJ: “é lícita a
cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

3.2.6. Direito à vida


Sem a vida, não há nenhum outro direito à pessoa jurídica. Esse direito é protegido
desde a concepção, de forma que é vedado o aborto. O direito à vida compreende tanto o
manter-se vivo, quanto o viver de forma digna. Dessa forma, alimentos transgênicos estão
relacionados ao direito à vida, pois violam o direito à saúde (diretamente relacionado com
a vida).

Aborto: interrupção criminosa da vida em formação. É crime previsto nos arts. 124 a
227, CP. Contudo, há a exclusão do crime em diferentes hipóteses:
Aborto terapêutico – não houver outro meio de salvar a vida da Mãe. Art. 128,I, CP
Aborto sentimental (ético) – consentido pela gestante, quando a gravidez resultar de
estupro. Art. 128,II, CP
Aborto de feto anencefálico – feto que, comprovadamente, não possui atividade
cerebral – decisão do STF na ADPF 54 (2012).
Aborto dentro do primeiro trimestre de gestação – “... 3. Em segundo lugar, é preciso
conferir interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código
Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a
interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A
criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade. 4. A criminalização é incompatível com os
seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não
pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada; a autonomia da
mulher, que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade
física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os
efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto,
a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa
matéria”. (HC 124306, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 09/08/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017).

Fertilização in vitro: nos casos de fertilização in vitro, mesmo havendo o descarte


dos embriões que tenham sido fecundados, o STF decidiu, no julgamento da Lei de
Biossegurança (ADI 3510), que não há aborto neste caso, pois não houve a gravidez
ainda, sendo, portanto, permitida a realização de pesquisa em células tronco
embrionárias.

Eutanásia: configura eutanásia a suspensão do tratamento ordinário a que está


submetido o paciente ou a interrupção da alimentação do paciente, mesmo que por via
intravenosa, a fim de provocar a morte por inanição. Também configura a eutanásia a
suspensão do auxílio externo para respiração.
Com isso, em razão da proteção de uma vida digna, há a discussão sobre a questão
do fim da vida através da eutanásia (proibida no Brasil). Ex.: filme “A menina de ouro”. No
exemplo do filme, haveria uma vida digna após o acidente?
Portanto, mesmo que a eutanásia seja praticada com o consentimento do paciente é
contrária ao ordenamento jurídico, por ferir o direito à vida.
Ortotanásia = eutanásia passiva – suspensão de medicamentos – morte digna.
Distanásia = prorrogar a vida com medicamentos.

3.2.7. Direito ao próprio corpo – integridade física


Os arts. 13 a 15, CC tratam do direito ao próprio corpo. Prevê o art. 13 do CC a
proteção a integridade física do indivíduo:
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar
os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante,
na forma estabelecida em lei especial.

Este artigo refere-se a possíveis mutilações a que os indivíduos possam se


submeter. Autoriza, contudo a realização de um transplante. Mas a doação só é permitida
de partes duplas do corpo (rins) ou regeneráveis (fígado) ou tecidos (medula, pele), desde
que não prejudique, nem mutile o doador.
O § único do art. 13, CC permite, contudo, a realização de transplantes de partes do
corpo humano, conforme disposição em lei especial. A lei que rege os transplantes é a
9.434/97, com as alterações da lei 10.211/01. Referidas leis permitem a retirada de partes
do corpo (tecidos, órgãos e partes do corpo vivo), desde que gratuitamente e desde que
não representem risco para a sua integridade física e mental. O enunciado 532 das
Jornadas de Direito Civil é claro nesse sentido:
É permitida a disposição gratuita do próprio corpo com objetivos exclusivamente
científicos, nos termos dos arts. 11 e 13 do Código Civil.

Pode haver, também, cessão de direitos de uso de material biológico, para fins de
pesquisa, nos termos do enunciado 401 das Jornadas de Direito Civil:
Não contraria os bons costumes a cessão gratuita de direitos de uso de material
biológico para fins de pesquisa científica, desde que a manifestação de vontade
tenha sido livre, esclarecida e puder ser revogada a qualquer tempo, conforme as
normas éticas que regem a pesquisa científica e o respeito aos direitos
fundamentais.

Não se enquadra, nesta situação, conforme diversas decisões judiciais, os casos de


transexualidade. Muito se discutiu sobre a cirurgia de adequação sexual, se seria
mutiladora ou não. Restou pacificado pela jurisprudência que não se trata de mutilação,
mas sim de uma adequação da realidade biológica à realidade psicológica, já que o
contrário não é possível, eis que o transexual não aceita. O Conselho Federal de
Medicina, através de resolução, considera lícita a intervenção cirúrgica.
Nesse sentido, o enunciado 276, das Jornadas de Direito Civil:
O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência
médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os
procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a
consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.

O corpo é a expressão da individualidade da pessoa, sendo, em razão disso,


inalienável, tanto em vida, quanto após a morte.

O art. 14, por sua vez, dispõe sobre a disposição post mortem do próprio corpo:
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do
próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer
tempo.

Para tanto, é preciso que seja diagnosticada a morte encefálica. Assim, se o


indivíduo pretende ser doador, deverá deixar declaração escrita. Se nada dispuser a
respeito, a família deverá anuir expressamente para que seja feita a doação. Nesse
sentido, o enunciado 277 das Jornadas de Direito Civil:
O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio
corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que
a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade
dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à
hipótese de silêncio do potencial doador.

Não poderá haver remoção de órgãos de pessoa não identificada.


Após a retirada dos órgãos o corpo deve ser recomposto e entregue à família para
que realize o sepultamento.
É VEDADA A COMERCIALIZAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO CORPO HUMANO.
Permite-se, apenas, o transplante gratuito. Art. 199, § 4.º, CF:
§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de
órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e
tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus
derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.
Segundo o art. 15, CC, ninguém pode ser obrigado a submeter-se a tratamento
médico ou cirúrgico que importe risco de vida.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

Não significa que tratamentos de risco sejam vedados, mas o indivíduo deve estar
ciente, antes de se submeter a tal tratamento, dos riscos dele provenientes. Cabe,
portanto, ao médico, informar ao paciente, devendo registrar tal fato por escrito, para
evitar responsabilidades futuras.
O doente pode, portanto, negar-se a tratamento de risco. Nesse aspecto, o
enunciado 403 das Jornadas de Direito Civil prevê:
O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da
Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento
médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do
tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a)
capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b)
manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga
respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.

Também o enunciado 533 das Jornadas de Direito Civil dispõe:


O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos
concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja
imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de
procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos.

Caso esteja impossibilitado de decidir, caberá a seu representante legal. A


autorização, caso o paciente não tenha condições de fornecê-la deve ser requerida a
qualquer parente maior, em linha reta ou colateral até 2.º grau (irmão) ou cônjuge.
Se, contudo, não houver tempo hábil para consultar o paciente ou o representante
legal, o médico tem o dever de realizar o tratamento (ex. emergência de parada cardíaca).

3.2.8. Direito ao nome


A proteção ao nome é prevista nos arts. 16 a 19, CC. O art. 16 prevê:
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.

Nome é a designação jurídica pela qual a pessoa é conhecida no mundo. Assim,


envolve o sentido completo do termo  nome + sobrenome. Esse elemento serve para
individualizar a pessoa, tanto durante a vida, quanto durante a morte, passando a integrar
a personalidade do indivíduo (tanto que é protegido o nome enquanto direito da
personalidade).
O nome é um código identificador de cada pessoa. É uma designação pela qual a
pessoa identifica-se na família e na sociedade. É uma característica marcante da
personalidade, sendo inalienável e imprescritível da individualidade da pessoa. Dessa
forma, todo ser humano deve portar um nome.
Dessa forma, nome é o nome completo. Ex.: Maitê Damé Teixeira Lemos. Constitui-
se de prenome e sobrenome. Ex:
Maitê – prenome (nome próprio)
Damé Teixeira Lemos – sobrenome, apelido familiar, nome de família (nome).

No Brasil, os pais podem escolher livremente o prenome dos filhos, desde que não o
exponham ao ridículo. Ex.: FACEBOOKSSON.
Nesse sentido, o § único, do art. 55 da Lei dos Registros Públicos dispõe que:
Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao
ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do
oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer
emolumentos, à decisão do Juiz competente.

O sobrenome (ou nome) é o sinal identificativo da origem da pessoa, de forma a


indicar sua filiação. Trata-se de uma característica da família, transmissível por sucessão.
É o apelido familiar. O prenome pode ser escolhido. O sobrenome é herdado dos pais.
NÃO HÁ UMA ORDEM OBRIGATÓRIA DE APOSIÇÃO DOS SOBRENOMES. Via
de regra, em razão dos costumes, se utiliza, primeiro o último sobrenome da Mãe e,
depois, o último sobrenome do Pai. Contudo, não há lei que disponha nesse sentido.
Dessa maneira, é possível que se faça requerimento ao registrador de forma diferente.
Exemplo: Vinicius Damé Teixeira Lemos. Também poderia ser: Vinicius Lemos Damé
Teixeira.
Nesse sentido, a Lei dos Registros Públicos, assim como a Consolidação Normativa
Notarial e Registral determinam que, se não for indicado o sobrenome pelos pais, o
registrador lançará o sobrenome do pai e, na sua falta, o da mãe. Contudo, isto não se
justifica em razão da igualdade constitucional.
ALCUNHA – apelido depreciativo, normalmente relacionado com a característica
física ou moral. Ex.: o bandido “Seco”.
COGNOME – designação dada a alguém em razão de uma característica especial.
Ex.: Tiradentes.
EPÍTETO – designação qualificativa. Ex.: Dom Pedro, o Justiceiro.
HIPOCORÍSTICO – diminuitivo do nome, usado na intimidade familiar, normalmente.
Ex.: João (Joãozinho), Sebastião (Tião), José (Zé ou Zezinho), etc.
AGNOME – sinal distintivo de pessoas que, em uma mesma família, possuem o
mesmo nome. Trata-se das expressões Júnior, Filho, Neto, Sobrinho, Segundo, etc. Ex.:
Roberto Carlos Braga e Roberto Carlos Braga Segundo (filho do cantor).
AXIÔNIMO – forma de tratamento, como p. ex., Vossa Santidade, Conde,
Comendador, etc., que passam a integrar o nome para todos os efeitos.

O nome, enquanto característica pessoal e individual de cada pessoa, via de regra,


é imutável. Contudo, é admissível sua alteração em alguns casos, quando houver motivo
relevante: erro gráfico, expor o portador ao ridículo. Dessa forma, não é qualquer capricho
pessoal que autoriza a modificação do nome.
Aquele que completar a maioridade civil (18 anos ou emancipação) poderá, no prazo
de 1 ano, alterar, de forma administrativa (art. 56, LRP), seu nome (completo), desde que
não prejudique os apelidos de família. Assim, alguém registrado apenas com o
sobrenome do Pai poderá incluir o da Mãe, por exemplo.
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil,
poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada
pela imprensa.

Depois de passado esse prazo de 1 ano a alteração poderá ser feita mas, neste
caso, dependerá de ordem judicial, nos termos do art. 57, LRP.
O art. 57 da Lei dos Registros Públicas autoriza a alteração quando houver evidente
erro gráfico, a alteração poderá ser feita, nos termos do art. 57, Lei dos Registros
Públicos, através do procedimento previsto no art. 110, da mesma Lei:
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente,
após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que
estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração
pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.

Art. 110. Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação
imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo
oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante
petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador,
independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação
conclusiva do Ministério Público.
§ 1o Recebido o requerimento instruído com os documentos que comprovem
o erro, o oficial submetê-lo-á ao órgão do Ministério Público que o despachará em
5 (cinco) dias.
§ 2o Quando a prova depender de dados existentes no próprio cartório,
poderá o oficial certificá-lo nos autos.
§ 3o Entendendo o órgão do Ministério Público que o pedido exige maior
indagação, requererá ao juiz a distribuição dos autos a um dos cartórios da
circunscrição, caso em que se processará a retificação, com assistência de
advogado, observado o rito sumaríssimo.
§ 4o Deferido o pedido, o oficial averbará a retificação à margem do registro,
mencionando o número do protocolo e a data da sentença e seu trânsito em
julgado, quando for o caso.

Quando a mudança for necessária em razão de expor seu portador ao ridículo,


assim como outras alterações, dependerá de procedimento judicial de retificação de
nome, nos termos do art. 109, LRP:
Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no
Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos
ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do
Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em
cartório.
§ 1° Se qualquer interessado ou o órgão do Ministério Público impugnar o
pedido, o Juiz determinará a produção da prova, dentro do prazo de dez dias e
ouvidos, sucessivamente, em três dias, os interessados e o órgão do Ministério
Público, decidirá em cinco dias.
§ 2° Se não houver impugnação ou necessidade de mais provas, o Juiz
decidirá no prazo de cinco dias.
§ 3º Da decisão do Juiz, caberá o recurso de apelação com ambos os efeitos.
§ 4º Julgado procedente o pedido, o Juiz ordenará que se expeça mandado
para que seja lavrado, restaurado e retificado o assentamento, indicando, com
precisão, os fatos ou circunstâncias que devam ser retificados, e em que sentido,
ou os que devam ser objeto do novo assentamento.
§ 5º Se houver de ser cumprido em jurisdição diversa, o mandado será
remetido, por ofício, ao Juiz sob cuja jurisdição estiver o cartório do Registro Civil
e, com o seu "cumpra-se", executar-se-á.
§ 6º As retificações serão feitas à margem do registro, com as indicações
necessárias, ou, quando for o caso, com a trasladação do mandado, que ficará
arquivado. Se não houver espaço, far-se-á o transporte do assento, com as
remissões à margem do registro original.

Esta hipótese serve para os casos de pessoas do sexo masculino registradas com
nome feminino. Ex.: Arlete, Salete, etc.
Também é possível a alteração do prenome registral pelo prenome de uso. Essa
autorização está contida no art. 58 da Lei dos Registros Públicos:
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por
apelidos públicos notórios.
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de
fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime,
por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público.

Isto porque, a função da imutabilidade do prenome é pelo fato de que a pessoa é


conhecida por aquele signo distintivo. Contudo, se a notoriedade é em razão de outro
prenome, este é que passa a ser imutável. Ex.: Pelé = Edson Arantes do Nascimento. A
notoriedade do prenome Pelé é muito maior do que Arantes. Neste caso, é possível que,
caso ele tenha interesse, faça requerimento para alterar o prenome para “Pelé Arantes do
Nascimento” ou “Zezé de Camargo” = Welson David de Camargo.
Também há a possibilidade de alteração em razão da situação de transexual
operado, quando o registro civil passa a não corresponder com a realidade física, não
correspondendo, portanto, a verdade. Nesse sentido, essa alteração tem sido autorizada,
tanto do registro do nome, quanto do sexo. Deve-se observar que a ADI 4275, julgada em
março de 2018 autorizou a alteração do prenome dos transexuais, independentemente de
alteração do sexo e de autorização judicial:
... julgou procedente a ação para dar à lei dos registros interpretação conforme a
Constituição Federal e pactos internacionais que tratam dos direitos fundamentais,
a fim de reconhecer aos transgêneros que desejarem o direito à alteração de
nome e gênero no assento de registro civil, independentemente da cirurgia. Para
ela, são desnecessários a autorização judicial e os requisitos propostos.
(http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=371085)

Também pode haver a mudança do prenome em razão de adoção. Segundo o ECA,


no seu art. 47, § 5.º, a sentença que define a adoção poderá autorizar, a requerimento do
adotante, a alteração do prenome do adotado.

É possível, também, acrescentar os apelidos notórios, sem que prejudique o


prenome. Ex.; Lula: Luiz Inácio “Lula” da Silva.
Também se pode acrescentar ouro nome para solucionar problemas de homonímia.
Ex.: existência de 500 Maria da Silva. É possível que se acrescente Maria “de Fátima” da
Silva.
O acréscimo de outros nomes (sobrenomes) poderá ocorrer também em casos de
casamento (art. 1.565, § 1.º, CC prevê que qualquer dos nubentes poderá assumir o
sobrenome do outro). No caso da união estável a inclusão do nome do outro só é
autorizada quando um deles tiver impedimento para casar, nos termos do art. 57, § 2.º,
CC.
Também o reconhecimento de paternidade é motivo para a alteração do nome do
indivíduo, a fim de acrescentar o patronímico paterno.
Com relação ao registro dos filhos fora do matrimônio, os arts. 59 e 60 da Lei dos
Registros Públicos dispõe:
Art. 59. Quando se tratar de filho ilegítimo, não será declarado o nome do pai sem
que este expressamente o autorize e compareça, por si ou por procurador
especial, para, reconhecendo-o, assinar, ou não sabendo ou não podendo,
mandar assinar a seu rogo o respectivo assento com duas testemunhas.

Art. 60. O registro conterá o nome do pai ou da mãe, ainda que ilegítimos, quando
qualquer deles for o declarante.

Trata-se de forma de reconhecimento de filiação. A regra é que os filhos havidos


durante a relação matrimonial tem a paternidade presumida (art. 1.597, CC).
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a
convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal,
por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,
decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido.

Nestes casos, para que haja o registro dos filhos, basta que compareça a mulher
portando a certidão de casamento. Neste caso, o filho será registrado como filho do casal.
Contudo, se o filho não for advindo de relação matrimonial, dependerá da presença do pai
para que faça o registro, quando, então, estará reconhecendo voluntariamente o filho.

O nome tem uma importância tanto pública quanto individual. A importância


pública do nome se dá em razão de que o Estado tem interesse na identificação correta e
precisa dos indivíduos, determinado, assim, que seja procedido seu registro (nos termos
da Lei dos Registros Públicos), vedando sua alteração (somente em casos excepcionais é
admitida). A importância individual está no direito ao nome, que cada indivíduo tenha
direito a portar um signo identificador e, mais do que isto, de exigir o respeito e proteção a
este signo identificador, podendo reprimir abuso por parte de terceiros. A proteção ao
nome é feita através de ações (dano moral, p.ex.). Através dessas ações podem ser
exigidos, por exemplo, que seja divulgado o nome verdadeiro: ex.: sai uma foto publicada
no jornal, de dois amigos (João e Carlos). Logo em seguida a descrição: Joãozinho e sua
namorada. Cabe, neste caso, uma ação para contestar o nome publicado, exigindo a
retificação, a fim de que conste o nome correto.
Nesse sentido, os arts. 17 e 18, CC preveem:
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações
ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.

Havendo violação ao direito ao nome é cabível a reparação por danos. Ex.: Luciano
Huck entrou com processo de indenização por danos contra um empreendimento
imobiliário que, para vender maior número de imóveis, veiculou que seria um atrativo o
fato de que Huck seria um dos moradores.
Nesse sentido, há a súmula 403, STJ que determina que “Independe de prova do
prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais”.
Os responsáveis pelo ressarcimento serão tanto o autor da publicação quanto o
veículo de divulgação. É o que prevê a súmula 221, STJ: “São civilmente responsáveis
pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do
escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”.

Além disso, também não se pode esquecer que há a utilização dos chamados
pseudônimos, ou seja, nomes figurativos ou codinomes, nomes fictícios que servem para
identificar o autor do escrito, normalmente artistas. Ex.: Fafá de Belém (Maria de Fátima
Palha de Figueiredo); Cazuza (Agenor de Miranda Araújo Neto); Lima Duarte (Ariclenes
Venâncio Martins); Xuxa (Maria da Graça Meneguel). Esses pseudônimos, quando
usados licitamente, gozam da mesma proteção que se dá ao nome (art. 19, CC):
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome.

Assim, o mau uso do pseudônimo de alguém também gera o dever de indenizar.

3.2.9. Proteção à palavra e à imagem


O art. 20, CC faz a previsão da proteção à palavra e à imagem:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra,
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se
lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

O enunciado 275 das Jornadas de Direito Civil incluiu o companheiro também como
legitimado:
O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo
único, do Código Civil também compreende o companheiro.

Trata-se da tutela da voz, também protegida pelo art. 5.º, XXVIII, a, CF. Neste caso
se enquadra o caso de Galvão Bueno, por exemplo.
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da
imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

A pessoa que tiver sua imagem ou voz utilizadas de forma indevida, sem
autorização, poderá acionar a justiça para impedir o uso e, ainda, receber indenização
pelo uso indevido.
Contudo, o STJ julgou a ADIn 4815, que dá ao art. 20, CC interpretação conforme a
Constituição. Nesta ação, foi autorizada a publicação das “biografias não autorizadas”, ou
seja, a possibilidade de publicação de obras biográficas literárias ou audiovisuais,
independentemente do consentimento do biografado. O Presidente do STF a época
(Ricardo Lewandowski) afirmou que “não é possível que haja censura ou se exija
autorização prévia para a produção e publicação de biografias”, de forma que “a censura
prévia está afastada, com plena liberdade de expressão artística, científica, histórica e
literária, desde que não se ofendam os direitos constitucionais dos biografados”.
Trata-se de uma forma de limitação dos direitos da personalidade, que acaba
ocorrendo através da ponderação ou aplicação do princípio da proporcionalidade. Nesse
sentido é a redação do enunciado 279 das Jornadas de Direito Civil:
Trata-se de uma forma de limitação dos direitos da personalidade, que acaba
ocorrendo através da ponderação ou aplicação do princípio da proporcionalidade.

a) Proteção à intimidade
O art. 5.º, X, da CF prevê:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

De início, é preciso que se diferencie privacidade e intimidade, pois são diferentes.


Contudo, a linha divisória é muito tênue, quase imperceptível.
Privacidade ou vida privada = comportamentos e acontecimentos atinentes aos
relacionamentos pessoais em geral, relações comerciais e profissionais que o indivíduo
não deseja que se espalhem ao conhecimento público. Se refere àquilo que a pessoa
deseja excluir do conhecimento pelos outros. É o controle das informações sobre si
mesmo. É o direito do indivíduo não ter seus assuntos pessoais e profissionais expostos a
terceiros.
Intimidade = conversações, episódios mais íntimos, envolvendo relações familiares
e amizades mais próximas. A intimidade, como atributo da personalidade, é a vida
familiar, pessoal, a vida interior da pessoa; é aquela vivida entre quatro paredes, em sua
residência, incluindo-se na esfera mais íntima.

Deve-se destacar que há interesse público sobre acontecimentos que ocorram com
determinadas pessoas, por serem públicas. É o que acontece com as celebridades,
artistas, quando fatos relativos a sua privacidade são expostos para o público, para
satisfazer o interesse geral. Assim, existem fatos da privacidade de alguém que, levados
a público, podem ser tidos como admissíveis ou como abusivos, tudo dependendo da
maneira como o indivíduo que está sendo exposto vive.
Os direitos fundamentais, como vimos, podem ser objeto de restrições, no limite da
dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, é possível que alguém, por ocasião da
morte de um ente querido, dê entrevista a respeito. Ex.: caso da morte de Rafael
Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães. O caso teve maior publicização em razão
da mãe do rapaz ser pessoa pública. A atriz limitou sua intimidade e expôs o caso para a
imprensa, dando entrevistas e falando sobre a dor da perda do filho.
Nesse sentido, é de se verificar até que ponto houve a autorização para a
publicação da imagem da pessoa, invadindo sua intimidade. Por isso, deve-se levar em
conta a forma como a pessoa leva a vida, ou seja, seu modo de agir. Como exemplo, tem-
se o fato de uma mulher, fazendo “top-less” ser fotografada em uma praia pública. O seu
agir está a expor sua intimidade. Dessa forma, não há como querer impedir a publicação
de uma foto na qual ela apareça.
Nesse sentido é o julgado do STJ:
DIREITO CIVIL. DIREITO DE IMAGEM. TOPLESS PRATICADO EM CENÁRIO
PÚBLICO.
Não se pode cometer o delírio de, em nome do direito de privacidade, estabelecer-
se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de
qualquer veiculação atinente a sua imagem.
Se a demandante expõe sua imagem em cenário público, não é ilícita ou indevida
sua reprodução pela imprensa, uma vez que a proteção à privacidade encontra
limite na própria exposição realizada.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 595600/SC, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 18/03/2004)

Contudo, a questão do interesse público não deve ser confundida com o interesse
do público. Isso porque, por óbvio, a revelação de algum hábito sexual heterodoxo de um
político não possui o mesmo coeficiente de interesse relevante que teria o noticiário de
igual comportamento praticado por um cidadão comum. Assim, não deve-se confundir o
interesse público com o interesse do público, de maneira a expor a vida de pessoas
pública apenas para satisfazer as curiosidades do público, sem qualquer relevância
pública.
Dessa forma, deve haver uma ponderação entre o interesse público da notícia e a
privacidade do indivíduo, a fim de verificar qual dos dois direitos fundamentais será mais
importante se proteger no caso concreto.
Isso não quer dizer que todo homem público, por assim o ser, terá seu direito à
privacidade sempre preterido em razão do interesse público. Pelo contrário, ele possui
igual proteção desse direito, como se sujeito comum fosse. Contudo, existem casos, que
sua conduta, em razão da exposição pública, gera o interesse público, de maneira que
possa haver a limitação do seu direito à intimidade.
E mais, para que haja a exposição da privacidade do homem público, deve haver o
interesse público, no sentido de constituir um elemento útil a que o indivíduo que vai
receber a informação se oriente melhor na sociedade em que vive, ou seja, não basta só
o interesse do público, mas o interesse público, a utilidade da informação veiculada. Não
se inclui, portanto, os hábitos sexuais ou alimentares do homem público, pois isso em
nada traz utilidade da informação para a sociedade.
O mesmo ocorre com quem deixou de ser homem público e volta ao anonimato.
Essa pessoa deve ser “deixada de lado”, de maneira a ser respeitada sua intimidade e
sua vida privada, pois deixou de ser de interesse público. Também no mesmo sentido é a
proteção daqueles que deixam a penitenciária e precisam se reajustar à sociedade. Eles
possuem o direito de não ter expostos os motivos que o levaram à prisão, pois já
cumpriram com sua pena e, agora, tem o direito de recomeçar, de maneira a não terem
sua vida privada exposta novamente. Esta é a tutela do chamado “direito ao
esquecimento”, conforme previsão dos enunciados abaixo:
Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da
informação inclui o direito ao esquecimento.
Enunciado 576: O direito ao esquecimento pode ser assegurado por tutela judicial
inibitória.

Verifica-se, pois, que cabe se utilizar de tutela inibitória para evitar a lesão e
reparação de danos para a vítima, a fim de reparar o dano sofrido.
O direito ao esquecimento deve ser reconhecido, portanto, como direito da
personalidade.
Na verdade, como resumo, para verificação da proteção à intimidade e à vida
privada, em conflito com o direito à liberdade de informação, deve-se levar em conta o
princípio da proporcionalidade e suas máximas (necessidade, adequação e
proporcionalidade em sentido estrito). Trata-se da utilização da técnica de ponderação
que se encontra tipificada no Código de Processo Civil. Essa técnica, embora possa
sofrer críticas é utilizada pelo STJ:
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS DECORRENTES DA REALIZAÇÃO DE EXAME DE HIV NÃO
SOLICITADO, POR MEIO DO QUAL O PACIENTE OBTEVE A INFORMAÇÃO DE
SER SOROPOSITIVO - VIOLAÇÃO AO DIREITO À INTIMIDADE - NÃO
OCORRÊNCIA - INFORMAÇÃO CORRETA E SIGILOSA SOBRE SEU ESTADO
DE SAÚDE - FATO QUE PROPORCIONA AO PACIENTE A PROTEÇÃO A UM
DIREITO MAIOR, SOB O ENFOQUE INDIVIDUAL E PÚBLICO - RECURSO
ESPECIAL IMPROVIDO.
I - O direito à intimidade, não é absoluto, aliás, como todo e qualquer direito
individual. Na verdade, é de se admitir, excepcionalmente, a tangibilidade ao
direito à intimidade, em hipóteses em que esta se revele necessária à preservação
de um direito maior, seja sob o prisma individual, seja sob o enfoque do interesse
público. Tal exame, é certo, não prescinde, em hipótese alguma, da adoção do
princípio da dignidade da pessoa humana, como princípio basilar e norteador do
Estado Democrático de Direito, e da razoabilidade, como critério axiológico;
II - Sob o prisma individual, o direito de o indivíduo não saber que é portador do
vírus HIV (caso se entenda que este seja um direito seu, decorrente da sua
intimidade), sucumbe, é suplantado por um direito maior, qual seja, o direito à
vida, o direito à vida com mais saúde, o direito à vida mais longeva e saudável;
III - Mesmo que o indivíduo não tenha interesse ou não queira ter conhecimento
sobre a enfermidade que lhe acomete (seja qual for a razão), a informação correta
e sigilosa sobre seu estado de saúde dada pelo Hospital ou Laboratório, ainda que
de forma involuntária, tal como ocorrera na hipótese dos autos, não tem o condão
de afrontar sua intimidade, na medida em que lhe proporciona a proteção a um
direito maior;
IV - Não se afigura permitido, tão-pouco razoável que o indivíduo, com o
desiderato inequívoco de resguardar sua saúde, após recorrer ao seu médico, que
lhe determinou a realização de uma série de exames, vir à juízo aduzir justamente
que tinha o direito de não saber que é portador de determinada doença, ainda que
o conhecimento desta tenha se dado de forma involuntária. Tal proceder
aproxima-se, em muito, da defesa em juízo da própria torpeza, não merecendo,
por isso, guarida do Poder Judiciário;
V - No caso dos autos, o exame efetuado pelo Hospital não contém equívoco, o
que permite concluir que o abalo psíquico suportado pelo ora recorrente não
decorre da conduta do Hospital, mas sim do fato de o recorrente ser portador do
vírus HIV, no que o Hospital-recorrido, é certo, não possui qualquer
responsabilidade;
VI - Sob o enfoque do interesse público, assinala-se que a opção de o paciente se
submeter ou não a um tratamento de combate ao vírus HIV, que, ressalte-se,
somente se tornou possível e, certamente, mais eficaz graças ao conhecimento da
doença, dado por ato involuntário do Hospital, é de seu exclusivo arbítrio.
Entretanto, o comportamento destinado a omitir-se sobre o conhecimento da
doença, que, em última análise, gera condutas igualmente omissivas quanto à
prevenção e disseminação do vírus HIV, vai de encontro aos anseios sociais;
VII - Num momento em que o Poder Público, por meio de exaustivas campanhas
de saúde, incentiva a feitura do exame anti HIV como uma das principais formas
de prevenção e controle da disseminação do vírus HIV, tem-se que o comando
emanado desta augusta Corte, de repercussão e abrangência nacional, no sentido
de que o cidadão teria o direito subjetivo de não saber que é soropositivo,
configuraria indevida sobreposição de um direito individual (que, em si não se
sustenta, tal como demonstrado) sobre o interesse público, o que, data maxima
venia, não se afigura escorreito;
VII - Recurso Especial improvido.
(REsp 1195995/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro
MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 06/04/2011)

3.3. Morte Real e Ausência


A morte decreta o fim da personalidade jurídica. Ausente, nos termos do art. 22 do
CC é aquele que desaparece de seu domicílio sem deixar notícias. Os arts. 22 a 39 serão
trabalhados no direito sucessório, assim como a questão do fim da personalidade, que se
opera com a morte.

4. Pessoas Jurídicas
As pessoas jurídicas são o resultado da associação humana, ou seja, a criação da
pessoa jurídica se dá por um ser humano, mas não há confusão entre a pessoa jurídica e
a pessoa física. A existência e o patrimônio são distintos. Em razão disso, o direito passou
a reger essas entidades e conceder personalidade jurídica, de forma a viabilizar sua
atuação funcional e realização de seus objetivos.

4.1 Pressupostos existenciais


Para a existência da pessoa jurídica, necessária a configuração de três
pressupostos:

4.1.1 Vontade humana criadora: a manifestação da vontade dos indivíduos que


compõe a pessoa jurídica é indispensável para sua existência. Não há como se
compreender a formação de uma pessoa jurídica por determinação estatal, por
exemplo.

4.1.2 Observância das condições legais para a instituição: devem ser cumpridas as
exigências legais para que a pessoa jurídica passe a existir e ser dotada de
personalidade jurídica. Assim, há a necessidade de que os atos constitutivos da
pessoa jurídica (estatuto social ou contrato social) sejam registrados no registro
peculiar (registro das pessoas jurídicas). Dependendo do tipo de atividade, há,
também, a necessidade de autorização do governo para o funcionamento (ex.:
companhias de seguro).

4.1.3 Licitude do objeto: o objeto da pessoa jurídica (a atividade a ser desenvolvida)


deve ser lícito e não ser proibido pelo sistema jurídico, ou seja, não é possível uma
pessoa jurídica criada para comercialização de drogas ilícitas.

4.2 Surgimento da pessoa jurídica – início da personalidade


A pessoa jurídica, por sua vez, surge por obra humana (atos bilaterais – criação por
contrato ou unilaterais – criação por testamento) e com a inscrição dos atos constitutivos
no registro competente. É nesse sentido a determinação do art. 45, CC:
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário,
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas
as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da
publicação de sua inscrição no registro.

Dessa forma, o registro da pessoa jurídica tem caráter constitutivo, atribuindo-lhe


personalidade. Referido registro deverá ser feito no registro civil das pessoas jurídicas ou
na junta comercial (para as sociedades mercantis).

O registro deverá declarar, nos termos do art. 46, CC:


Art. 46. O registro declarará:
I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando
houver;
II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;
IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;
V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
sociais;
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio,
nesse caso.

A pessoa jurídica só surge no momento do seu registro. Antes disso, não se fala em
pessoa jurídica enquanto sujeito de direito. Assim, antes de realizado o registro civil da
pessoa jurídica, só se pode falar em sociedade irregular ou de fato, que é a pessoa
jurídica desprovida de personalidade jurídica, mas com capacidade para se obrigar
perante terceiros. A disciplina desse tipo societário é trazida pelo livro referente ao Direito
de Empresa, no Código Civil, no art. 986, CC:
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade,
exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas,
subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade
simples.

Assim, se a sociedade é irregular, a responsabilidade dos sócios é ilimitada e


subsidiária, ou seja, só após de exaurir os bens da empresa é que o sócio poderá ser
demandado (art. 989, CC + art. 1.024, CC):
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que
contratou pela sociedade.

Assim, existe o benefício de ordem (executar primeiro os bens da sociedade para,


depois, os do sócio), mas não para o sócio que contratou pela sociedade (sócio
representante).
Uma questão se impõe: uma sociedade foi criada em 01/06/2011, mas só foi
registrada em 03/04/2012. Durante este período realizou negócios jurídicos. Como ficará
esta situação? Durante o período em que não houve o registro a sociedade é irregular e,
com isso, há a responsabilidade ilimitada dos sócios. Após o registro, passará a existir a
personalidade jurídica da sociedade e, em razão disso, será diferida da personalidade de
seus sócios.
Contudo, a constituição irregular da sociedade/pessoa jurídica não é justificativa
para que os contratantes se neguem a pagar o valor devido à pessoa jurídica.

4.3 Extinção das pessoas jurídicas – fim da personalidade


A dissolução da pessoa jurídica poderá ocorrer de forma convencional,
administrativa ou judicial.
Convencional: os integrantes da pessoa jurídica deliberam e resolvem colocar fim
nas suas atividades. Deve respeitar o estatuto social ou contrato social.
Administrativa: há a dissolução administrativa quando houver a cassação da
autorização de funcionamento que possa ser exigida para determinadas sociedades
funcionarem.
Judicial: o juiz, por sentença, determina sua extinção, a requerimento de qualquer
dos sócios.
O art. 51, CC, define a forma de dissolução da pessoa jurídica:
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização
para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de
sua dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber,
às demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da
pessoa jurídica.

A “morte” da pessoa jurídica só ocorre com a liquidação. Havendo dissolução da


sociedade, o patrimônio que sobrar após a liquidação, pagamento de eventuais débitos,
etc, deverá ser partilhado entre os sócios, conforme a participação de cada um, exceto no
caso das associações, conforme determina o art. 61,CC. Após a liquidação poderá haver
o cancelamento do registro da pessoa jurídica (correspondendo ao registro do óbito na
pessoa natural).

4.4 Classificação ou categorias das pessoas jurídicas


O art. 40, CC afirma existirem pessoas jurídicas de direito público (interno ou
externo) e de direito privado.
São pessoas jurídicas de direito público interno a União, Estados, Distrito Federal,
Territórios, Municípios, autarquias e demais entidades de caráter público.
São pessoas jurídicas de direito público externo as organizações internacionais
(ONU, OIT, etc) e a Santa Sé ou outras entidades congêneres.
Para o direito civil interessam apenas as associações, sociedades e fundações.

a) Associações
Nos termos do art. 53, CC, as associações são entidades, formadas pela união de
indivíduos, que tem como objetivo fim não econômico. Não são, portanto, empresas.
Não visam lucro. Podem ter lucro, mas não podem ter fins lucrativos. Seus lucros devem
ser revertidos para a própria associação. O que não há, neste caso é a partilha de
dividendos advindos da sociedade. A receita obtida serve para reverter em benefício da
própria associação, visando a melhoria das atividades.
Não existem direitos e obrigações recíprocos entre a associação e os associados
(art. 53, §único, CC). Dessa forma, o associado constitui-se de uma individualidade, com
seu patrimônio, direitos e obrigações próprios e, a associação, outra individualidade, com
seus bens, obrigações e direitos, sem que haja reciprocidade.
Sua criação se dá através de estatuto, nos termos do art. 54, CC, que faz a previsão
do que é necessário conter no estatuto das associações, no mínimo:
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a
dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

A aquisição da personalidade pela associação só ocorre quando, após elaborado o


estatuto este for registrado.
O art. 55, CC afirma que os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto
poderá instituir categorias com vantagens especiais como, por exemplo, as categorias de
“sócio”, “sócio-proprietário”, “sócio torcedor”, enfim.
O art. 56, CC determina que salvo disposição expressa no estatuto, a qualidade de
associado é intransmissível.
A exclusão só pode ocorrer nos termos previstos no estatuto, sendo assegurado o
contraditório e a ampla defesa (art. 57, CC).
A Assembleia Geral é o órgão máximo da associação, ainda que, no geral, o
estatuto autorize a composição de um Conselho Administrativo (Diretoria) e do
Conselho Fiscal. Compete à Assembleia Geral destituir os administradores e alterar o
estatuto (art. 59, CC). A Assembleia com esse fim deve ser convocada especialmente
para tanto, conforme o quórum estabelecido no estatuto. Há a garantia de convocação da
Assembleia Geral por 1/5 dos associados (art. 60, CC), não podendo o estatuto
estabelecer quórum maior.
Ninguém é obrigado a manter-se preso à associação, de forma que o associado
pode, a qualquer tempo, desligar-se da corporação. Nestes termos, o art. 5.º, XX, CF.
Mas o direito de retirado não exime o associado das obrigações assumidas.
No caso de dissolução da sociedade, o patrimônio líquido deverá ser transferido
para outra entidade sem fins lucrativos, estabelecida no estatuto (art. 61). Caso não haja
previsão no estatuto, caberá aos associados deliberarem uma entidade, de fins
semelhantes ou idênticos para a qual será destinado o patrimônio.
b) Sociedades
O Código Civil de 2002 revogou a parte inicial do Código Comercial, passando,
dessa forma, a disciplinar a matéria relativa ao direito societário. No Direito Civil trabalha-
se apenas com noções gerais a respeito do direito societário, já que existe matéria
específica com este fim.
De qualquer forma, sociedade pode ser conceituada como sendo uma agregação de
pessoas com mesmos objetivos e fins econômicos – pretende ganhar dinheiro. Ex.:
floricultura, empresa de ônibus, etc.
O objetivo da sociedade é exercer uma atividade econômica e partilhar os lucros.
Constitui-se via contrato social, através da união de duas ou mais pessoas, nos termos do
art. 981, CC:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se
obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais
negócios determinados.

As sociedades podem ser empresárias ou simples. Empresárias, que são as que


exploram empresa, desenvolvem atividade econômica de circulação de bens ou serviços.
Empresário, por sua vez, é aquela pessoa que desenvolve profissionalmente a atividade
econômica organizada (art. 966, CC). Simples são as que exploram atividades
econômicas específicas. (art. 982, CC). As sociedades simples foram introduzidas pelo
novo Código Civil em substituição às sociedades civis, abrangendo aquelas sociedades
que não exercem atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 982), isto é,
atividades não empresariais ou atividade de empresário rural. Ex.: sociedade de
advogados.
A sociedade só adquire personalidade com o registro de seus atos constitutivos no
Registro Público de Empresas Mercantis – Junta Comercial dos Estados (se empresária)
ou no Registro Civil das Pessoas Jurídicas 9se não empresárias).

c) Fundações
As fundações são patrimônios personalizados, pois não são compostas, não
resultam da união de pessoas, mas sim da afetação de um patrimônio. A finalidade da
fundação está determinada na lei, não podendo ser criadas fundações para fins diferentes
daqueles previstos no art. 62, CC:
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina,
e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de:
I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos;
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;
IX – atividades religiosas;

Para a criação da fundação, o instituidor determina que seu patrimônio (e os frutos


dele) seja empregado na concretização dos fins por ele escolhidos (dentre o rol do
parágrafo único do art. 62, CC. O instituidor via testamento ou escritura pública, afeta seu
patrimônio, definindo o fim para o qual se destina.
Para a criação de uma fundação devem ser seguidas algumas etapas:
1) Afetação de bens livres por meio de ato de dotação patrimonial: deve ser
destacada uma parcela do patrimônio pessoal do instituidor, composta por bens
móveis e/ou imóveis.
2) Instituição por escritura pública ou testamento: não é possível por escrito
particular, apenas nestas formas.
3) Elaboração dos estatutos: o próprio instituidor pode elaborar o estatuto da
fundação (forma direta) ou determinar que alguém o faça.
4) Aprovação dos estatutos: o MP tem o dever de aprovar os estatutos da fundação,
com recurso ao juiz, em caso de discordância.
5) Realização do registro civil: deve ser feito o registro dos atos constitutivos no
Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Se os bens destinados forem insuficientes para constituir a fundação, se nada dispor
o instituidor, serão incorporados em outra fundação que tenha fim igual ou semelhante
(art. 63, CC).
Com relação ao estatuto social da fundação, poderá ser alterado, desde que o art.
67, CC seja observado:
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a
fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45
(quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar,
poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.

Não havendo aprovação unânime, o art. 68, CC prevê que os administradores da


fundação deverão submeter o estatuto ao MP, sendo dado vista a parte vencida para
impugnação.
Caso houver desvirtuamento da finalidade da função ou, caso o prazo da existência
tenha se expirado, define o art. 69, CC que o MP promoverá a extinção da fundação e seu
patrimônio será incorporado em outra fundação com fim semelhante ou igual, designada
pelo juiz, salvo se houver disposição contrário no ato constitutivo.
Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação,
ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer
interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo
disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação,
designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

A extinção da fundação também faz cessar a personalidade jurídica da fundação,


necessitando a liquidação do passivo e do ativo, quando, só então, o restante do
patrimônio poderá ser destinado a outra fundação com fim igual ou semelhante.

d) Organizações religiosas
Organizações religiosas são os agrupamentos de pessoas, cujo propósito é o culto
da fé, possuindo doutrina e rituais próprios. Enquadram-se Igrejas, seitas, confrarias ou
irmandades. Visam a manifestação da espiritualidade humana. É livre a criação de
organizações religiosas, por força do art. 44, § 1.º, CC, bem como do art. 19, I, da CF.
e) Partidos políticos
Partidos políticos são associações de pessoas, unidas por uma ideologia ou
interesses comuns, que, organizadas estavelmente, influenciam a opinião popular e a
orientação política do país 2.
É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, tendo como
limitações a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos
fundamentais da pessoa humana.
O art. 17, CF, prevê, ainda, alguns preceitos que devem ser observados:
• Caráter nacional: aquele que tiver repercussão no Brasil inteiro, não sendo
possível partido que atue em apenas uma região. Serve para evitar que
interesses de grupos minoritários e que não representem toda a sociedade
venham a ter legitimidade.
• Proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros ou de subordinação a estes: controle financeiro que
se embasa na soberania nacional – evita que o Brasil fique subordinado a
capital estrangeiro.
• Prestação de contas à Justiça Eleitoral: trata-se de regra que, contudo,
sabe-se não é cumprido, pois, se fosse, não haveria “caixas dois” ou
“recursos não contabilizados”.
• Funcionamento parlamentar de acordo com a lei: a lei é que define os
critérios aferidores do status de nacional.

Autonomia dos partidos políticos – os partidos possuem autonomia para definir


sobre sua organização interna, estatuto, forma de escolha dos candidatos, critérios de
filiação, etc., devendo, contudo, obedecer às normas de fidelidade e disciplina partidárias.
Assim, o Estado não pode intervir nos partidos políticos que, devem estar de acordo com
as diretrizes legais.
Registro partidário – os partidos só adquirem personalidade jurídica depois de
efetuarem o registro de seus estatutos na forma da lei civil e no TSE (art. 17, § 2.º, CF).

2 BULOS, Uadi Lâmmego. Curso de direito constitucional. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 882.
f) Empresas individuais de responsabilidade limitada
São pessoas jurídicas constituídas por apenas uma pessoa. Essa modalidade de
pessoa jurídica possui responsabilidade limitada ao capital integralizado (art. 980-A, CC).

4.5 Capacidade e representação da pessoa jurídica


A personalidade jurídica da pessoa jurídica é adquirida com o registro dos atos
constitutivos.
Deve-se considerar, ainda, o art. 52, CC estabelece que, no que couber, serão
estendidos às pessoas jurídicas os direitos da personalidade das pessoas naturais
(integridade moral, imagem, segredo, etc).
A capacidade da pessoa jurídica é especial, de forma que seu campo de atuação
está delimitado no contrato social, estatuto ou na própria lei. Não pode, portanto, praticar
negócios jurídicos que extrapolem sua finalidade social.
Além disso, para o exercício da capacidade, por não ser pessoa física, a pessoa
jurídica demanda a existência de órgãos de representação. Assim, são as pessoas físicas
que compõe o órgão de representação ou conselho deliberativo que irão atuar em nome
da pessoa jurídica. Nesse sentido:
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos
limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.

Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão


pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo
diverso.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se
refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro,
dolo, simulação ou fraude.

Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento


de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador provisório.

4.6 Responsabilidade civil e penal das pessoas jurídicas


O exercício das atividades da pessoa jurídica está sujeito, como em qualquer
atividade humana, ao cometimento de atos ilícitos. No que se refere às atividades
empresariais, essa possibilidade torna-se aumentada, pelo fato de que seu objetivo é o
lucro. Esse crescimento da criminalidade empresarial vem sendo relacionado ao
surgimento das grandes sociedades multinacionais. Além disso, a maior parte dos ilícitos
ocorre no âmbito econômico e ambiental. A penalização, contudo, será no âmbito da
imposição de multas e penas restritivas de direitos (art. 21, Lei 9.605/98).
Todos os atos ilícitos praticados pelos representantes legais da pessoa jurídica, esta
última responderá, com seu patrimônio.
Com relação a responsabilidade civil, independentemente da natureza da pessoa
jurídica (direito público ou privado), haverá a responsabilidade de cumprimento da
obrigação contraída, respondendo, a pessoa jurídica, pelo inadimplemento contratual, nos
termos do art. 389, CC.

4.7 Desconsideração da personalidade jurídica


A pessoa física e a jurídica são separadas. Possuem patrimônios e
responsabilidades separados. Contudo, podem haver casos de desvio de finalidade
(atividades realizadas por meio da pessoa jurídica não são relacionadas com a atividade-
fim dela, visando beneficiar seus integrantes) ou de confusão patrimonial (não se
consegue distinguir o patrimônio particular e o patrimônio da pessoa jurídica).
Para essas situações, ou seja, para os casos de desvio de finalidade e confusão
patrimonial, o sistema jurídico, em razão da potencial lesividade das ações, criou a
possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica.
O objetivo da teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard
doctrine) é coibir a fraude, sem que, com isso, o instituto da autonomia da pessoa jurídica
seja comprometido. Significa dizer que a desconsideração da personalidade jurídica não
coloca em xeque a personalidade jurídica da empresa, mas tão somente, em certos
casos, visando, coibir fraudes ou abuso de poder, desconsidera a personalidade jurídica
da empresa, para atingir o patrimônio pessoal dos sócios.
A previsão da desconsideração da personalidade jurídica está no art. 50, CC 3:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou

3
A redação originária do art. 50 do Código Civil é: “Em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica”.
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Medida
Provisória nº 881, de 2019)
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa
da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos
ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre
os patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de
2019)
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa; (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o
de valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Medida Provisória nº
881, de 2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela
Medida Provisória nº 881, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela
Medida Provisória nº 881, de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que
trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa
jurídica. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
(Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019)

Essa doutrina visa, em certos casos, desconsiderar a personalidade jurídica, a fim


de atingir o patrimônio pessoal dos sócios, reconhecendo sua responsabilidade.
Não se trata de declarar nula a personalidade, mas sim de tornar a personalidade
jurídica ineficaz em certos casos. Assim, desconsiderando-se a personalidade jurídica das
empresas, nos casos concretos, pode-se evitar o abuso de direito ou as fraudes
praticadas por meio de pessoas jurídicas. Contudo, a desconsideração não importa em
desfazimento do ato constitutivo da empresa, não o invalida, nem mesmo importa na
dissolução da empresa. Significa dizer que a desconsideração se aplica exclusivamente
ao caso em julgamento, permanecendo a autonomia patrimonial para todo o restante dos
negócios (ineficácia episódica).
Existem teorias sobre a desconsideração da personalidade jurídica: teoria maior
(objetiva e subjetiva), teoria menor e teoria inversa.
A teoria objetiva dispensa a intenção de lesar, aplicando-se nos casos de confusão
patrimonial, por má administração, mesmo que não haja necessária intenção de fraudar.
Significa dizer que, se a sociedade paga dívidas do sócio ou se o sócio recebe créditos da
sociedade ou, ainda, se existem bens do sócio registrados em nome da empresa ou vice-
versa; nestes casos, há confusão patrimonial, indicativa de intuito fraudulento. Assim, a
formulação objetiva facilita a prova em juízo do intuito fraudulento, já que, muitas vezes, o
pressuposto subjetivo (intuito fraudulento) é quase que impossível de ser demonstrado.
A teoria subjetiva exige o pressuposto intenção de lesar, aplicando-se nos casos
de desvio de finalidade. Neste caso há a intenção de fraudar os credores.
A teoria menor aceita a desconsideração em outros casos, além dos de abuso da
personalidade jurídica da pessoa jurídica. É a utilizada pelo CDC, por exemplo (art. 28,
CDC).
A teoria inversa serve para os casos em que se busca responsabilizar a pessoa
jurídica por obrigações de seus sócios, nas situações em que ele abusa da pessoa
jurídica, transferindo bens, visando ocultá-los. Assim, essa desconsideração inversa visa
coibir a fraude do desvio de bens, quando o sócio desvia patrimônio particular para a
empresa na qual detém o controle absoluto. Dessa forma, seus credores pessoais não
podem executar tais bens por dívidas da pessoa física. Os casos mais típicos de
desconsideração inversa são os de família (alimentos e partilha de bens do casal). Se um
dos cônjuges adquire bens de maior valor e os registra em nome da pessoa jurídica, estes
bens não são partilhados.

4.8 Grupos despersonalizados ou entes de capacidade reduzida


Existem entidades que não podem ser consideradas pessoas jurídicas por lhe
faltarem requisitos para subjetivação. São entres que se formam independentemente da
vontade dos seus membros, sem que exista o affectio societatis.
São sujeitos de direitos, de forma que gozem de personalidade, embora não possam
ser classificados como pessoas jurídicas, nem como pessoas naturais. Possuem a
capacidade de direito reduzida, se comparado com outras categorias. Possuem
capacidade de atuar em juízo.
Dentre os grupos despersonalizados, pode-se destacar:
a) Família: o agrupamento familiar, constituído pelo conjunto de pessoas que a
compõe (Mãe, Pai e filhos, p.ex.) e a massa comum de bens, não possui
personalidade jurídica. Não há responsabilidade da família por eventuais
débitos, mas só de seus membros.
b) Massa falida: trata-se do acervo de bens deixados pelo falido após a sentença
declaratória de falência. A massa falida exerce os direitos do falido, podendo
agir, inclusive, contra ele. É representada pelo síndico.
c) Herança jacente e vacante: art. 1.819 a 1.823, CC: conjunto de bens deixados
pelo de cujus enquanto não entregues para o sucessor devidamente habilitado.
Quando abre-se a sucessão (com a morte do indivíduo), sem que deixe
testamento conhecido ou herdeiros conhecidos, diz-se que a herança é jacente.
É um acervo de bens administrado por um curador até a habilitação dos
herdeiros. A herança é considerada vacante após a declaração de jacência,
arrecadação e praticadas todas as exigências legais, caso não apareçam
herdeiros.
d) Espólio: complexo de direitos e obrigações do falecido (bens de toda a
natureza). Surge com a abertura da sucessão (morte), sendo representada pelo
administrador provisório até a nomeação do inventariante. Após o julgamento da
partilha desaparece o espólio, sendo substituído pelo herdeiro a quem coube o
direito ou a coisa.
e) Condomínio: duas pessoas são co-proprietárias de um mesmo bem. Cada co-
proprietário tem direito sobre o todo e cada uma das partes. É administrado pelo
síndico, que é eleito e age em nome dos condôminos. O condomínio é registrado
e possui CNPJ. Não é pessoa jurídica, mas possui personalidade, podendo
atuar, efetuar contratos.

5. Domicílio
Domicílio tem a ver com morada, residência, local onde se localiza. Pode ser civil
(local de residência) ou político (local de votação). Os arts. 70 a 78 tratam do domicílio,
tanto da pessoa natural, quanto da pessoa jurídica.
5.1 Domicílio da pessoa natural
Domicílio é o lugar onde a pessoa natural estabelece sua residência com ânimo
definitivo, bem como o centro de suas atividades. Como o Direito vive de obrigações, para
que se possa dar cumprimento às obrigações é necessário que as pessoas tenham um
local no qual possam ser encontradas. Trata-se do domicílio civil das pessoas naturais.
O domicílio tem uma importância ímpar no direito brasileiro, pois é a partir dele que
se definem as competências para a proposição das ações (o foro comum é o do domicílio
do réu – art. 46, CPC/2015; o domicílio do autor da herança é o competente para o
inventário e a partilha – art. 48, CPC/2015, etc).
Mas, afinal, o que pode ser considerado domicílio da pessoa natural? O lugar onde
ela estabelece sua residência de modo definitivo ou o centro da sua atividade laboral.
Segundo Gagliano e Pamplona Filho (p. 291), o domicílio da pessoa natural é “o
lugar onde estabelece residência com ânimo definitivo, convertendo-o, em regra, em
centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade profissional”.
Nesse sentido, os arts. 70 e 72, CC definem o domicílio da pessoa natural:
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo.
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à
profissão, o lugar onde esta é exercida.

Então, DOMICÍLIO ≠ MORADA ≠ RESIDÊNCIA.


MORADA = lugar onde a pessoa se estabelece provisoriamente. Ex.; aluno
contemplado com uma bolsa de estudos no exterior. Permanece lá por 6 meses ou 1 ano.
Trata-se de morada e não de domicílio.
RESIDÊNCIA = há uma estabilidade maior, sendo considerado como local onde ela
se estabelece habitualmente. Ex.: sujeito que mora em uma cidade, sendo ali encontrado
habitualmente. É a residência do indivíduo.
DOMICÍLIO = é mais complexo. Abrange a noção de residência (e, por
consequência, de morada), adicionando o propósito de ali permanecer com âmbito
definitivo.

Assim, para que se configure o domicílio, necessária a presença de dois elementos:


o objetivo (residência) e o subjetivo (ânimo definitivo, de fixar-se permanentemente). É a
conjunção desses elementos que forma o domicílio.
Nesse sentido, a residência é um dos elementos do domicílio, mas não é o reflexo
dele. Residência indica a radicação do indivíduo em determinado lugar. O domicílio, por
sua vez, estabelece uma situação jurídica.

Uma mesma pessoa pode ter um só domicílio, mas mais de uma residência
(domiciliada em Santa Cruz do Sul, mas com casa na praia), mas também pode ter mais
de um domicílio. Dessa forma, o Direito Civil admite a pluralidade de domicílios, quando
o indivíduo tenha diversas residências, vivendo nelas de forma alternada (art. 71, CC):
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Ou, ainda, prevê o § único do art. 72 que havendo diversos locais de trabalho,
também haverá a pluralidade de domicílios:
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um
deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Ex.: João mora com a família em Santa Cruz do Sul. Tem escritório profissional em
Santa Cruz, Venâncio e Rio Pardo, comparecendo neles em dias alternados. Qualquer
um desses locais será considerado domicílio de João, podendo ser citado em qualquer
deles (art. 46, § 1.º, CPC/2015).
Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis
será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer
deles.

Se, contudo, a pessoa não tem residência habitual, será considerado seu domicílio o
local onde for encontrada (art. 73, CC). Ex.: ciganos, viajantes.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência
habitual, o lugar onde for encontrada.

As pessoas podem mudar de domicílio e, para tanto, não basta alterar o endereço,
mas deve haver a intenção manifesta de mudar – art. 74, CC
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta
de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações
não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

5.2 Domicílio das pessoas jurídicas


O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é a sua sede, que está indicada no
ato constitutivo. Trata-se do domicílio especial da pessoa jurídica. Não havendo tal
fixação, será domicílio da pessoa jurídica onde funcionarem as diretorias ou
administrações. Caso a pessoa jurídica possua filiais em diferentes localidades, cada um
deles será o domicílio da pessoa jurídica, para os atos nele praticados (art. 75, IV e § 1.º,
CC).
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto
ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes,
cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por
domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma
das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela
corresponder.

Nesse sentido, o STF sumulou (súmula 363), a questão do domicílio da pessoa


jurídica: “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência
ou do estabelecimento em que se praticou o ato”.
Se a administração for no exterior, o domicílio será o lugar do estabelecimento
situado no Brasil (§ 2.º).

5.3 Espécies de domicílio


O domicílio é classificado em voluntário e necessário.
O domicílio voluntário divide-se em: geral e de eleição.
O domicílio voluntário é aquele que depende da vontade exclusiva do interessado
(local onde se escolhe para ser a residência com ânimo definitivo).
O domicílio geral é o relativamente aos atos praticados pela pessoa em geral.
O domicílio de eleição é o derivado de contrato (art. 78, CC) – foro de eleição
escolhido pelas partes para propor ações relativas a obrigações (art. 62, CPC/2015).
CC, Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio
onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da


função é inderrogável por convenção das partes.

O domicílio necessário divide-se em: de origem e legal.


O primeiro domicílio das pessoas – domicílio de origem – é o de seus pais, à
época do seu nascimento.
O domicílio necessário ou legal é o decorrente de determinação normativa, como,
por exemplo, o domicílio do servidor público (art. 76, CC):
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o
marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o
do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do
militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a
que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Por fim, há o domicílio do agente diplomático do Brasil. Havendo citação do


agente diplomático no exterior, se alegar a extraterritorialidade, deverá indicar seu
domicílio no Brasil. Em não indicando, poderá ser acionado tanto no Distrito Federal,
quanto no último lugar onde teve domicílio no Brasil.

6. Bens Jurídicos
Bem é tudo aquilo que possa corresponder às solicitações de nossos desejos.
Assim, na relação jurídica, o bem é o objeto sobre o qual desenvolve-se o poder de
fruição da pessoa.
Assim, bem jurídico, segundo Gagliano e Pamplona Filho (p. 301) podem ser
conceituados como “toda a utilidade física ou ideal, que seja objeto de um direito
subjetivo”.
Dessa forma, todo bem econômico é jurídico, mas nem todo bem jurídico é
econômico (personalidade – direito à imagem, por exemplo). Isto porque, existem bens
jurídicos que não podem ser avaliados pecuniariamente.

6.1 Bem x coisa


Não há consenso na doutrina para diferenciar coisas e bens. Para alguns, coisas
são gêneros e bens, espécies. Para outros, bens são gênero e coisas, espécie. Para
outros, ainda, tratam-se de sinônimos, havendo coincidência na significação.
Entende-se, com base em Gagliano e Pamplona Filho (p. 304) que coisas são os
bens corpóreos, materiais e, portanto, suscetíveis de valoração econômica. Ex.: casa,
carro. Os bens, por sua vez, são tanto os objetos corpóreos e materiais (coisas) quanto
os ideais e imateriais, de forma a justificar que a liberdade, a honra, a imagem, a vida de
alguém possa ser considerado como bem jurídico (ainda que não seja uma coisa).

6.2 Patrimônio jurídico


Patrimônio é o conjunto de bens, dívidas e obrigações pertencentes a um titular, ou
seja, o complexo de relações jurídicas de uma pessoa que tenham valor econômico.
Ficam, dessa forma, excluídos os chamados “direitos extrapatrimoniais”, ou seja, aqueles
que, por não terem valor pecuniário, não podem ser cedidos.
A ideia de patrimônio envolve toda a gama de relações jurídicas, ou seja, tanto os
direitos, quanto as obrigações (crédito e débito).

6.3 Classificação dos bens jurídicos


A classificação dos bens jurídicos é feita a partir de critérios de importância. O
Código Civil de 2002 traz uma classificação diferente da que existia no CC/1916. Dessa
forma, o bem de família, por exemplo, foi deslocado da Parte Geral, para a parte relativa
ao direito de família.

6.3.1 Dos Bens Considerados em si mesmos – art. 79 a 91, CC

a) CORPÓREOS E INCORPÓREOS
Embora esta classificação não esteja prevista, é de grande utilidade. Dessa forma,
existem bens com existência material (corpóreos), quando são perceptíveis aos nossos
sentidos – bens móveis (livros, joias) e imóveis (terrenos, casas). Existem outros bens –
os incorpóreos – que são bens abstratos, não tangíveis, de forma que possuem apenas
existência jurídicas, mas não corpórea (física) – ex.: os direitos sobre o produto do
intelecto (direitos autorais), que possuem valor econômico, mas não são palpáveis.
A diferença mais marcante entre eles, enquanto relações jurídicas, é que, no caso
dos primeiros – corpóreos – a transmissão se dá via compra e venda e, no caso dos
segundos – incorpóreos – através da cessão.

b) BENS MÓVEIS E IMÓVEIS


BENS IMÓVEIS são aqueles que não podem ser transportados de um lugar para
outro, sem que sua substância se altere. Ex.: terreno urbano. Há a necessidade de uma
solenidade para sua transmissão/tradição (contrato), que se perfectibiliza com o registro.
BENS MÓVEIS são passíveis de deslocamento, quebra, fratura. Ex.: livros,
computador. Há, ainda, os bens que possuem movimento próprio. Neste caso, ainda que
se enquadrem na classificação de bens móveis, são chamados de semoventes (animais
– bovinos, equinos, ovinos, caprinos, etc). Não há necessidade de solenidade para sua
transferência, bastando a tradição.

Imóveis Móveis
TRANSMISSÃO Escritura pública – art. 108 + registro – Tradição – art. 1.226
art. 1227
AQUISIÇÃO Acessão, usucapião e direito hereditário – Usucapião, ocupação, achado de tesouro,
arts. 1.238 a 1.244, 1.248 e 1.784 especificação, confusão, etc – arts. 1.260
a 1.274
ALIENAÇÃO/ Anuência do cônjuge, exceto no regime Independem de autorização/anuência.
HIPOTECA de Separação Absoluta (convencional) –
art. 1.647, I
USUCAPIÃO Prazos mais dilatados – de 5 a 15 anos. Prazos mais exíguos – 3 e 5 anos.
Art. 183, 191, CF; arts. 1.238 a 1.242, Art. 1.260 e 1.261, CC
CC.
GARANTIA Hipoteca – art. 1.473 Penhor – art. 1.431
EMPRÉSTIMO/ Concessão de superfície – art. 1.369 Apenas contrato de mútuo – art. 586
CONCESSÃO
TRIBUTÁRIO ITBI ou ITCMD ICM – Imposto sobre circulação de
mercadorias – produtos industrializados
DIREITO PENAL Não são objeto de furto ou roubo São objeto de furto ou roubo.
Os BENS IMÓVEIS classificam-se em:

• Imóveis por sua própria natureza – art. 79, CC, 1.ª parte + art. 2.229, CC
A rigor, apenas o solo, com sua superfície, subsolo e espaço aéreo é imóvel por
natureza, pois o que a ele adere será imóvel, mas por acessão.

• Imóveis por acessão natural, artificial ou industrial – art. 79, CC, 2.ª
parte, CC
Acessão significa aderência a outra coisa.
Trata-se da hipótese em que árvores e todas as adjacências naturais se integrarem
ao solo, como pedras, fontes, cursos de água, que corram naturalmente.
Deve-se considerar, contudo, que, quando as árvores são plantadas para corte
(acácia e eucalipto, por exemplo) são consideradas móveis por antecipação e
independem, para alienação, de outorga uxória ou marital.
Há também a possibilidade de formação de ilhas, quando a natureza faz acréscimos
ao solo, de forma que insto se incorpora ao patrimônio do proprietário (art. 1.248, CC), de
forma que predomina a ideia de que o acessório segue o principal.
Além disso, o homem pode fazer com que móveis (materiais de construção,
sementes) se integrem ao solo, dando origem às acessões artificiais ou industriais. São
acessões artificiais porque dependem do trabalho humano. Ainda assim, integram o
patrimônio do proprietário, pois presume-se que toda plantação existente sobre o terreno
foi feita pelo proprietário (art. 1.253, CC).
O art. 81 ainda faz a previsão de que as edificações, ainda que separadas do solo,
mas considerando sua unidade, se forem removidas para outro local, conservam o caráter
de imóveis (ex.: chalé/casa pré-fabricada, que pode ser transportada de um terreno para
outro).

• Imóveis por determinação legal – art. 80, CC


Os direitos reais sobre imóveis (garantia, penhor, hipoteca, servidão, usufruto, etc) e
as ações que os asseguram, assim como o direito à sucessão aberta são considerados
bens imóveis por determinação legal.
Em ambas as situações previstas no art. 80 se tratam de bens imateriais (direitos,
apenas), que a lei lhe atribui condição de imóveis em razão de terem um caráter especial.
Dessa maneira, quando se trata de direitos reais, se houver qualquer transação
quanto a usufruto, p. ex., exige o registro competente – art. 1.227, CC, assim como a
autorização do cônjuge (art. 1.747, I, CC).
Quanto ao direito à sucessão aberta, ainda que os bens deixados pelo de cujus
sejam todos móveis (carros, tratores, caminhões, p.ex.), a sucessão em si, é considerada
bem imóvel. Isto porque, em primeiro lugar, o direito à sucessão é a ela como um todo e
não quanto a determinado (ou determinados) bem. Somente depois de realizada a
partilha é se fala em bens individualizados. Antes dela, a herança é um todo unitário.
Nesse sentido, renúncia à herança ou cessão de direitos hereditários deve ser feita
através de escritura pública, não admitindo a forma particular.

Classificação dos BENS MÓVEIS:

Os arts. 82 a 84, CC trazem a referência sobre os bens móveis.

• Móveis por sua própria natureza – art. 82, CC


Aqueles que podem ser transportados, através da força alheia, de um lugar para
outro sem que se altere sua substância – livro, carteira, bolsa, etc.
Aqui inclui-se a casa pré-fabricada antes de ser incorporada a algum terreno
(enquanto esteja a venda). Após ser assentada sobre o terreno, passará a ser imóvel.
Também são considerados móveis os materiais de construção, enquanto não forem
empregados na construção, enquanto estiverem a venda. Contudo, ainda que retirados da
construção, se houver a pretensão de reempregá-los, serão considerados como imóveis –
ex.: retirada de telhas para reforma das tesouras/madeiramento interno do telhado.

• Semoventes – art. 82, CC


Aqueles que se movimentam de forma própria – animais.
• Móveis por antecipação
São aqueles que, embora incorporados ao solo, não são considerados imóveis por
se destinarem a retirada, como, por exemplo, o caso das árvores destinadas a corte (mato
de acácia e eucalipto).

• Móveis por determinação legal – art. 83, CC


São bens imateriais que acabam por adquirir essa qualidade jurídica em razão da
lei. Podem ser cedidos independentemente de outorga uxória ou marital.
Neste caso incluem-se o fundo de comércio, quotas e ações de sociedades, direitos
do autor, créditos em geral.

c) BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS


Esta classificação está prevista no art. 85 do CC.
BENS FUNGÍVEIS são os que podem ser substituídos por outros de mesma
espécie, qualidade e quantidade. É uma classificação de bens móveis. Ex.: sofá, carteira,
soja, dinheiro, gêneros alimentícios.
BENS INFUNGÍVEIS são aqueles que em razão de sua natureza são insubstituíveis.
Ex.: quadro de um pintor famoso, escultura famosa, etc.
Normalmente a fungibilidade resulta da natureza do bem, que pode ser substituído
por outra de mesma espécie, quantidade e qualidade. Mas isto não é regra. A
fungibilidade também pode advir da vontade das partes, que poderão tornar um bem
fungível em infungível.
Ex.: o dinheiro é um bem fungível, mas pode se tornar infungível para um
colecionador.
Ex.: um boi é fungível, mas, emprestado ao vizinho para a lavoura, passa a ser
infungível, devendo ser devolvido, sem ser substituído por outro.
A importância da diferenciação entre bens fungíveis e infungíveis ocorre em razão
dos contratos de mútuo e comodato. O mútuo é o contrato para empréstimo de bens
fungíveis. O comodato, por sua vez, de bens infungíveis.
Empréstimo de dinheiro – mútuo – art. 586, CC – mútuo para a construção da casa
própria, p.ex. – Caixa Federal.
Empréstimo de aparelho de celular – comodato – art. 579, CC.

d) BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS


O art. 86 traz a diferenciação dos bens consumíveis e dos inconsumíveis.
BENS CONSUMÍVEIS são aqueles bens móveis cujo uso importa na destruição
imediata da coisa. Se destrói no primeiro uso. Ex.: alimentos.
BENS INCONSUMÍVEIS são aqueles que suportam o uso continuado, sem prejuízo
do perecimento natural e progressivo. Ex.: automóvel, roupa. (há o desgaste natural, mas
não a destruição no primeiro uso).
Interessante é a situação dos livros. Se estiverem nas prateleiras de uma livraria –
para serem vendidos – serão bens consumíveis. Já, se estiverem nas prateleiras de uma
biblioteca – apenas para serem usados, lidos e devolvidos – serão inconsumíveis.
Existem determinados direitos que não podem recair sobre bens consumíveis. É o
caso do usufruto (direito de uso), pois, neste caso, com o uso, haveria o perecimento do
objeto e o próprio usufruto desapareceria.

e) BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS


BENS DIVISÍVEIS são aqueles que podem ser fracionados, sem alteração na sua
substância, diminuição de valor ou prejuízo do uso, nos termos do art. 87, CC. Podem,
portanto, ser partidos em porções reais e distintas, formando, cada uma delas, um todo
perfeito.
BENS INDIVISÍVEIS são aqueles que não podem ser fracionados, sob pena de se
perder sua substância e ter seu uso alterado. Ex.: relógio. Se for desmanchado, suas
partes existirão, mas não mais como um relógio.
Assim, podem ser indivisíveis:
- por sua natureza: os que não podem fracionar sem alteração na sua substancia,
diminuição de valor ou prejuízo do uso. Ex.: o animal, o relógio, um quadro, um brilhante.
- por determinação legal: a lei impede o fracionamento – servidões prediais (art.
1.386, CC), hipoteca (art. 1.421), direito dos coerdeiros quanto à propriedade e posse da
herança, até a partilha (art. 1.791).
- por vontade das partes: o acordo entre as partes torna indivisa a coisa, por prazo
não maior que 5 anos, suscetível de prorrogação posterior (art. 1.320, § 1.º).

Se o bem for divisível, o proprietário pode alienar a terceiro, sem dar preferência aos
demais comunheiros. Se, contudo, o bem for indivisível, deverá dar preferência aos
comunheiros.
Ex.: área de terras em condomínio – deve dar preferência aos demais.
Ex.: apartamento em um edifício – não precisa dar preferência aos demais.

f) BENS SINGULARES E COLETIVOS


BENS SINGULARES são coisas consideradas em sua individualidade,
representadas por uma unidade autônoma e, por isto, distinta das outras. Podem ser
simples, quando os componentes (partes) estão ligadas naturalmente (cavalo, árvore) ou
compostas, quando as partes são ligadas em razão da ação humana (avião, relógio). Art.
89, CC
BENS COLETIVOS são os compostos de várias coisas singulares, mas
considerados em conjunto, como um todo homogêneo. Ex.: floresta, biblioteca.
Compreende a universalidade de fato, quando o agrupamento se dá pela vontade da
pessoa (rebanho ou biblioteca) – art. 90, CC – e a universalidade de direito, quando o
agrupamento se dá pela lei (herança, massa falida) – art. 91.

6.3.2 Dos Bens reciprocamente considerados


Leva em conta o liame jurídico entre o bem jurídico principal e o acessório.
Art. 92, CC.
a) Bem principal
É o que possui autonomia estrutural, que existe por si próprio, de forma autônoma.
Ex.: solo.

b) Bens acessórios
Pressupõe a existência do principal. Não existe por si próprio. Ex.: árvore (só existe
se houver o solo onde foi plantada).
A regra é o que a natureza do principal é a mesma do acessório. Ex.: se o principal é
imóvel (solo), o acessório também será (árvore). O acessório sempre segue o principal
em seu destino. Ex.: se for extinta a obrigação principal, a cláusula penal (acessória)
também o será. O proprietário do principal também o é do acessório.

Os bens acessórios classificam-se em: frutos, produtos, rendimentos e benfeitorias.

FRUTOS – são utilidades que a coisa principal produz periodicamente, cuja


percepção (uso) não diminui a sua substância. Nascem e renascem da coisa, sem
acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte. Ex.: soja, maçã, terneiro, juros, aluguel.
Se o uso/percepção inutilizar a coisa principal, não há que se falar em frutos.
Caracterizam-se pela a) periodicidade; b) inalterabilidade da substância da coisa
principal; c) separabilidade desta.
A percepção dos frutos é importante, especialmente, quanto aos direitos reais, pois
o possuidor de boa fé (aquele que detém a posse de algo de boa fé) tem direito aos frutos
colhidos e percebidos, devendo restituir os pendentes ao tempo em que cessar a boa fé.
Os frutos podem ser:
Naturais: gerados pelo bem principal, sem a necessidade da intervenção humana
direta. Decorrem do desenvolvimento orgânico vegetal ou animal. Ex.: laranja, soja, crias
de um rebanho
Industriais: são decorrentes da atividade humana, surgem em razão da atuação ou
indústria do homem sobre a natureza. Ex.: produção de uma fábrica.
Civis: rendimentos produzidos pela coisa em virtude de sua utilização por outra
pessoa que não seja o proprietário. Ex.: juros ou aluguel.
Os frutos ainda podem ser: colhidos ou percebidos (se já foram retirados da coisa,
mais ainda existentes); pendentes (ainda estão ligados à coisa); percipiendos (deveriam
ter sido colhidos e não o foram); estantes (já destacados, mas que estão armazenados
para a venda); consumidos (não mais existem).

PRODUTOS – são utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade,


porque não se reproduzem periodicamente. Ex.: pedras e metais que são extraídos das
pedreiras e minas. O que diferencia frutos e produtos é a alterabilidade da substância
principal.

RENDIMENTOS – tratam-se dos frutos civis. Ex.: aluguéis e juros.

PERTENÇAS – são coisas acessórias que se destinam a conservar ou facilitar o uso


das coisas principais, sem que delas sejam parte integrante. Ex: máquinas utilizadas na
fábrica, implementos agrícolas, aparelhos de ar condicionado. Art. 93, CC.

BENFEITORIAS – são obras artificiais, realizadas pelo homem, na estrutura da


coisa principal – já existente – com o propósito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-
la. Ex.: cercas, açudes, galpões, etc. Art. 96, CC.
São necessárias as benfeitorias realizadas para evitar um estrago iminente ou
deterioração da coisa principal (reparos realizados na viga; troca do telhado). São úteis
aquelas realizadas com o objetivo de facilitar a utilização da coisa (abertura de uma nova
entrada para servir de garagem para a casa). São voluptuárias aquelas feitas para o
mero prazer, sem aumento da utilidade da coisa (decoração do jardim). Art. 96, CC.
O problema das benfeitorias é que sua natureza não é de fácil percepção. Uma
piscina pode ser uma benfeitoria voluptuária em uma mansão; útil em uma escola ou
necessária em uma escola de natação.
O possuidor de boa-fé pode levantar as benfeitorias voluptuárias (se houver
condições, sem diminuir a coisa principal), e de ser indenizado pelas úteis e necessárias.
Arts. 1.219 e 1.220, CC.

6.3.3 Dos Bens Públicos e Particulares


Referem-se a titularidade do domínio.
São PARTICULARES os bens que são da iniciativa privada, cuja disciplina interessa
ao direito civil.
São PÚBLICOS são os pertencentes à União, Estados ou Municípios (art. 98, CC).
- Bens de uso comum do povo: bens públicos cuja utilização não se submete a
qualquer tipo de discriminação. São inalienáveis. O povo só tem direito de usar, mas não
tem seu domínio. Ex.: praias, ruas, estradas, praças.
- Bens de uso especial: bens públicos cuja fruição, por título especial, e na forma da
lei é atribuída a determinada pessoa. Normalmente destinam-se a prestação/execução de
serviços públicos (repartições públicas, secretarias, escolas, etc). São utilizados
exclusivamente pelo Poder Público.
- Bens dominicais: constituem-se do patrimônio das pessoas jurídicas de direito
público, como objeto de direito pessoal ou real de cada entidade. O Poder Público é o
proprietário. Ex.: terras devolutas, estradas de ferro, fazendas pertencentes ao Estado,
etc. Caso não estejam afetados a finalidade pública, poderão ser alienados (compra e
venda, por exemplo).

6.3.4 Das Coisas que estão fora do comércio


Os bens que estão fora do comércio são todos aqueles que não podem ser
vendidos, trocados, doados, alugados, ou seja, que não podem ser objeto de relações
jurídicas. Nesse sentido, estão fora do comércio:
a) por serem naturalmente inapropriáveis, a luz solar, o ar atmosférico, a água
do mar, etc.
b) aqueles que a lei prevê como inalienáveis: bens públicos de uso comum e
especial, bens de incapazes, bens das fundações, bem de família, bens
tombados, terras ocupadas pelos indígenas, etc.
c) aqueles indisponíveis pela vontade humana: deixados em testamento ou
doados, com cláusula de inalienabilidade (arts. 1.848, 1.911).
d) os valores e direitos da personalidade – honra, liberdade, vida, órgãos do
corpo humano, etc.

6.3.5 Do Bem de Família


O direito à moradia é um direito fundamental social, garantido constitucionalmente,
através do art. 6.º, CF. A instituição de bem de família visa afetar bens para o destino
especial de abrigar a família, protegendo-os. Depois de instituído, o bem torna-se
impenhorável por dívidas posteriores a sua constituição, salvo as relativas aos impostos
devidos pelo próprio prédio (IPTU e ITR, p.ex.).
Tem por objetivo assegurar um lar à família, pondo-a ao abrigo de penhoras por
débitos posteriores a sua instituição, salvo os que provierem de tributos relativos ao
próprio prédio ou de despesas condominiais (IPTU, ITR, etc).

A. Espécies:
Existem duas espécies de bem de família: voluntário (decorre da vontade do
instituidor, devendo obedecer certos requisitos) e o legal (independe da vontade do
instituidor, de forma que a lei torna impenhorável o imóvel simplesmente pelo fato de o
devedor residir nele).

a) Convencional/voluntário:
A instituição do bem de família voluntário pode ser feita pelo proprietário ou pela
entidade familiar (art. 1.711, CC). Uma vez que seja instituído um imóvel como bem de
família, não responde mais por dívidas futuras (mas responde pelas pretéritas), pois a
impenhorabilidade não possui efeito retroativo (1.715, CC).
O bem de família poderá ser instituído pelos cônjuges, companheiros, integrante-
chefe da família monoparental ou por terceiro, por ato inter vivos ou causa mortis
(testamento), desde que ambos os cônjuges beneficiados ou membros da família
contemplada aceitem expressamente a liberalidade (art. 1.711, parágrafo único). Deve
haver o assento no Registro de imóveis (art. 1.714), para que tenha oponibilidade erga
omnes.
O bem de família pode constituir de prédio urbano ou rural, bem como seus
pertenças (mobília), que a família destina para ser o abrigo ou domicílio familiar (art.
1.712).
Existem limites à instituição do bem de família: só pode usar 1/3 do patrimônio
líquido do instituidor, existente ao tempo da instituição. Dessa forma, o proprietário, para
poder instituir o bem de família, deve ter, no mínimo 3 imóveis (art. 1.711). Trata-se de
uma medida legal protetiva dos credores, ante a possibilidade de má-fé do instituidor.
Além disto, apenas pessoas mais abastadas podem se utilizar deste instrumento,
tornando-o de pouco uso.
Essa isenção dura enquanto viverem os cônjuges (ou companheiros) ou enquanto
os filhos forem menores de idade. Somente depois de finda a cláusula é que o bem ficará
sujeito ao pagamento dos credores e o prédio será levado a inventário. Ademais, deve ser
lembrado que o bem não fica isento de responsabilidade quanto aos débitos de
condomínio e IPTU, por exemplo.

REQUISITOS:
- institui-se por Escritura Pública.
- não ultrapassar 1/3 do patrimônio.
- constitui-se por registro no Cartório de Registro de Imóveis.
- se na família existirem menores ou incapazes (interditos) não pode ser eliminada a
cláusula que institui o bem de família, salvo se houver sub-rogação (art. 1.719).
Só pode haver alienação do prédio no qual foi instituído o bem de família se houver
a concordância do interessado (instituidor ou filhos menores) e ouvido o MP (art. 1.717).
No caso de falecerem os cônjuges e deixarem filhos menores, o tutor é que será
responsável por gerir o bem de família. Se houver necessidade de vendê-lo, poderá fazê-
lo desde que com autorização judicial e ouvido o MP.
Se restar comprovada a impossibilidade de manter o bem de família, como por
exemplo, para pagar despesas com UTI, poderá haver requerimento ao juiz que extinga o
bem de família, ouvido o MP e o interessado (instituidor ou filhos menores). Neste caso
poderá haver a sub-rogação de outro bem no lugar, quando ficará gravado como bem de
família ou o produto da venda será depositado judicialmente, sendo o valor liberado para
o pagamento da UTI, por exemplo (art. 1.719).
A administração do bem de família caberá a ambos os cônjuges, em igualdade de
condições (art. 1.720). Se ambos os cônjuges falecerem, a administração passa ao filho
mais velho ou ao seu tutor, se menor.
A cláusula de bem de família só poderá ser levantada por mandado judicial.
Só haverá a partilha quando for eliminada a cláusula que o institui, pela morte dos
cônjuges e maioridade de todos os filhos, por exemplo.
b) Legal:
A lei 8.009/90 institui o bem de família legal, impedindo a penhora do único bem
imóvel rural ou urbano da família, destinado a moradia permanente, excluindo casas na
praia ou casas de campo. Tais bens não responderão pelos débitos contraídos pela
entidade familiar. Contudo, se o devedor oferecer este bem à penhora, não poderá,
depois, pleitear a exclusão.
O bem de família legal não responde por qualquer tipo de dívida (civil, comercial,
fiscal, previdenciária, ou qualquer natureza) (art. 1.º, lei 8.009/90), podendo ser oposta a
impenhorabilidade em qualquer tempo ou grau de jurisdição. A lei 13.144/2015, alterou o
art. 3.º, III da lei 8.009/90, de forma que pode ocorrer a penhora do bem de família para
pagamento de débito alimentar, resguardado o direito do coproprietário.
Para que essa impenhorabilidade seja reconhecida, o único imóvel do devedor deve
estar sendo habitado por ele e sua família. PODE ESTAR LOCADO, mas a renda deve
reverter para a subsistência da família:

Súmula 486, STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que


esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida
para a subsistência ou a moradia da sua família.

O fato de o devedor possuir mais bens não impede que seja declarada a
impenhorabilidade sobre o imóvel de residência da família.
A execução da dívida alimentar afasta a impenhorabilidade do bem de família.
Cuidar que a vaga de garagem, que possui matrícula própria, pode ser penhorada!
Súmula 449 - A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não
constitui bem de família para efeito de penhora. (Súmula 449, CORTE ESPECIAL, julgado
em 02/06/2010, DJe 21/06/2010)
Lembrar, também, da súmula 549 - É válida a penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação.(Súmula 549, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
14/10/2015, DJe 19/10/2015)
7. FATOS JURÍDICOS

As relações jurídicas são baseadas em fatos, atos e negócios jurídicos. Sendo


assim, necessário, para que se compreenda o direito civil como um todo, a compreensão
e diferenciação desses conceitos.
Fato é um acontecimento. É qualquer ocorrência que interesse ou não ao direito.
Existem fatos que não importam ao meio jurídico. A chuva, por exemplo. Trata-se de um
fato que ocorre e segue ocorrendo seguidamente, mas que não possui qualquer efeito
jurídico. Não importa para o direito.
Existem também atos ou ações humanas, que são comportamentos e condutas,
como, por exemplo o vestir-se, o alimentar-se, etc., que também não importam para o
direito.
Interessam para o direito todos aqueles fatos que produzam efeitos.

Só se considera fato jurídico aquele acontecimento que produz efeitos jurídicos. Daí
chamarmos de fatos jurídicos em sentido amplo.

a. Conceito de fatos jurídicos em sentido amplo


Sendo assim, considera-se como fato jurídico todo acontecimento ou evento que
de forma direta ou indireta acarrete efeitos jurídicos.

Considera-se fato jurídico em sentido amplo todo acontecimento, natural ou


humano, que gere efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de obrigações no
âmbito do direito 4. Estes são relevantes para o campo do direito. Então, o fato, para ser
jurídico, deve passar por um juízo de valoração, ou seja, deve provocar a aquisição, perda
ou modificação de um direito.

b. Efeitos aquisitivos, modificativos, conservativos e extintivos do fato


jurídico
Antes de se verificar a classificação dos fatos jurídicos em sentido amplo,
considerando que sua conceituação leva em conta atos ou ações que geram efeitos
constitutivos, modificativos ou extintivos de obrigações das relações jurídicas, necessária
a compreensão destes efeitos de criação, modificação, conservação e extinção.

i. Aquisição de direitos
Adquire-se direitos quando há sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do
titular.
A forma de aquisição de direitos pode ser:

4GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1. 18.ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 368.
a) Originária: não há qualquer interferência de anterior titular. Ex.: art. 1.251 –
avulsão (quando uma porção de terras se solta de um terreno e une-se a outro,
por ação natural).
b) Derivada: quando há interferência do titular anterior, que transfere o direito.
Nestes casos, o direito é adquirido nas mesmas condições que o antecessor
possuía. Estabelece-se uma relação entre sucessor e sucedido. A transferência
ocorre com todos os vícios e ônus que existem. Ex.: contrato de compra e venda.

A aquisição pode, ainda, envolver contraprestação ou não:


a) Gratuita: só o adquirente obtém vantagem. Ex.: sucessão hereditária.
b) Onerosa: quando o adquirente efetua uma contraprestação ao outro contratante.
Ex.: compra e venda, locação.

No que se refere à extensão, a aquisição pode ser:


a) A título singular: ocorre no tocante a bens determinados. Ex.: legado, compra e
venda de imóvel.
b) A título universal: quando o sucessor sucede na totalidade dos direitos. Ex.:
herdeiro, que recebe do falecido a herança como um todo unitário e indivisível
(sucede em direitos e deveres).

A aquisição de direitos pode ser:


a) Atual: direito subjetivo já formado e incorporado ao patrimônio do titular e
possível de ser exercido.
b) Futuro: ainda não se constituiu. Pode ser deferido, quando a aquisição depende
apenas da vontade do sujeito (ex.: registro da compra e venda) ou não deferido,
quando a aquisição depender de fatos ou condições falíveis (ex.: doação que
dependa do casamento do donatário ou de produção em uma safra).

Existem situações em que há expectativa de que o direito seja adquirido. Nestas


situações, chama-se de expectativa de direito, que consiste na mera possibilidade de se
adquirir um direito. Ex.: os filhos têm expectativa de sucederem aos pais quando de seu
óbito. Enquanto os pais forem vivos os filhos não possuem qualquer direito.
Contudo, quando já está parcialmente cumprido, ou seja, quando o interesse do
titular não está completo, têm-se o direito eventual, pois não foram realizados todos os
elementos básicos exigidos pela norma. Trata-se de um direito concebido, mas ainda não
concretizado, pois depende, para efetivação, do interesse do adquirente. Ex.: aceitação
de proposta de compra e venda ou exercício do direito de preferência.
Há, ainda, o direito condicional, que é aquele que se completa ou perfectibiliza se
ocorrer fato ou acontecimento futuro e incerto. Ex.: cessão de direitos autorais se o livro
chegar à 10.ª edição.
Venosa 5 destaca a diferença entre direito eventual e direito condicional:
Tanto nos direitos eventuais como nos condicionais existe subordinação a evento
futuro e incerto. Há numerosas coincidências nessas duas categorias. Os direitos
eventuais, contudo, trazem elemento futuro e incerto inerente e essencial ao
próprio negócio jurídico, enquanto nos direitos condicionais o fato dito condicional
é externo ao ato. Nem todo elemento futuro e incerto deve ser considerado
condição. O negócio jurídico eventual é negócio jurídico ainda incompleto que
necessita que algo ocorra para completar-se. É de índole interna. Quem vende,
por exemplo, coisa que ainda não tem, depende de obtê-la para poder transmiti-la.
Nos direitos condicionais o direito já se perfez. Apenas se agregou um elemento
externo, uma condição, para ser exercido, uma vez que sua existência jurídica
depende desse elemento condicional. A condição aposta a um direito é acessório.

ii. Modificação de direitos


As relações jurídicas podem ser modificadas, tanto no conteúdo ou no objeto, em
razão da manifestação da vontade das partes.
A modificação dos direitos pode ser:
a) Objetiva: quanto ao objeto.
a. Qualitativa: quando o conteúdo do direito se converte em outra espécie,
sem aumentar ou diminuir as faculdades do sujeito. Ex.: credor de dívida
em dinheiro que aceita receber objeto em pagamento.
b. Quantitativa: quando há a modificação do objeto, que aumenta ou diminui
de volume ou extensão, sem alterar a qualidade do direito. Ex.: quando há

5 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 12.ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 341.
a aquisição de 30 hectares de terras, através de escritura pública e, na
medição, verifica-se existir apenas 28 hectares.
b) Subjetiva: quanto aos titulares. Ex.: assunção de dívida (João assume dívida do
filho Pedro, responsabilizando-se em seu lugar). Alguns direitos (os de
personalidade, p. ex.) não admitem modificação subjetiva, como, por exemplo, os
relativos ao direito de família.

iii. Conservação de direitos


Os atos jurídicos podem ser destinados ao resguardo ou defesa de direitos, caso
sejam ameaçados por quem quer que seja. Nestes casos, o titular do direito pode
necessitar tomar providências preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais.
As medidas podem ser classificadas da seguinte forma:
a) Atos de conservação: praticados pelo titular para evitar o perecimento, turbação
ou esbulho. ex.: tutela de urgência de arresto (art. 301, CPC/2015).
b) Atos de defesa do direito lesado: ajuizamento de ações cognitivas ou
executivas, quando houver violação a direito.

iv. Extinção de direitos


Os direitos também podem extinguir-se. São razão de extinção o perecimento do
objeto, a alienação, a renúncia, o abandono, o falecimento do titular do direito
personalíssimo, etc.
As causas de extinção podem ser:
a) Subjetivas: quando o direito é personalíssimo e morre o titular.
b) Objetivas: quando perece o objeto sobre o qual recaem.
A extinção pode ocorrer por fatos humanos ou forças da natureza.

c. Classificação dos fatos jurídicos em sentido amplo


O fatos jurídicos em sentido amplo dividem-se em:
a) Fato jurídico em sentido estrito ou Fatos naturais (também denominados de
fatos jurídicos em sentido estrito) – independem da atuação humana. Também
podem ser chamados de fato jurídico em stricto sensu. Ocorre pela simples
manifestação da natureza e produzem efeitos jurídicos com o objetivo de criação,
alteração ou extinção de direitos e deveres. Subdividem-se em:
a. Ordinários – trata-se de evento natural, previsível e comum de ocorrer.
Sofre influência do elemento tempo. Ex.: nascimento, morte, maioridade,
decurso do tempo, etc.
b. Extraordinários – evento decorrente da natureza. Ex.: caso fortuito e
força maior: tempestade, raio, terremoto, etc. O caso fortuito e a força
maior são fatos cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
b) Fatos humanos (também denominados de atos jurídicos em sentido amplo) –
decorrem da atividade humana. Dividem-se em:
a. Lícitos – atos humanos que a lei autoriza a praticar. Produzem efeitos
jurídicos voluntários. Dividem-se em:
i. Ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito: o efeito da
manifestação da vontade está predeterminado na lei. Não exige
vontade qualificada, mas simples intenção. Ex.: notificação, que
constitui em mora o devedor; reconhecimento de filho; tradição;
percepção dos frutos; intimação; fixação de domicílio; pagamento
de uma obrigação; etc.
ii. Negócio jurídico: deve haver uma vontade qualificada, sem vício,
ou seja, a ação humana objetiva um fim permitido na lei. Diante de
uma composição de vontade das partes, estabelecendo a
existência de efeitos, cria-se um instituto jurídico próprio, visando a
regulação dos direitos e deveres. O negócio jurídico “constitui o
principal exercício da autonomia privada, da liberdade negocial” 6.
Ex.: contrato de compra e venda, testamento.
b. Ilícitos – atos praticados em desacordo com o ordenamento jurídico.
Produzem efeitos jurídicos involuntários. Criam deveres e obrigações (ao
invés de direitos). Ex.: dever de reparar o dano. Art. 186, CC.

6TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. v.1. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
339.
8. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
Fato jurídico em sentido estrito é o acontecimento da natureza ou natural que gere
efeitos jurídicos. Nem todos os fatos naturais serão considerados fatos jurídicos em
sentido estrito. Apenas os que gerarem efeitos jurídicos. Ex.: uma tempestade. Via de
regra, não é fato jurídico. Contudo, será um caso ela cause danos ao imóvel de alguém
que tenha seguro. Nestes casos, a tempestade deixa de ser um fato natural para ser um
fato jurídico, visto que gera uma relação obrigacional entre o proprietário do imóvel e a
seguradora (que terá de indenizar os danos cobertos pelo seguro).

Os fatos jurídicos em sentido estrito podem ser:


a) Ordinários: fatos de ocorrência comum: nascimento, morte, decurso do tempo.
b) Extraordinários: são imprevisíveis: terremoto, enchente.

9. ATO- FATO JURÍDICO


Os atos-fatos jurídicos são uma categoria especial e que possui características
inconfundíveis. Não existe previsão legal para esta categoria, mas não se pode deixar de
reconhecer sua existência e efeitos jurídicos.
É uma categoria intermediária, porque está entre o fato da natureza e a ação
humana.
A categoria do ato-fato refere-se a aquele comportamento que, embora derive do
homem, é desprovido de vontade consciente em face do resultado jurídico produzido.
Trata-se de um fato jurídico qualificado pela atuação humana 7, pois a atuação é
substância deste fato jurídico. Contudo, não importa para a norma se existiu ou não a
intenção da prática da conduta.
Importa a consequência do ato, o fato resultante, sem se levar em consideração a
vontade de praticá-lo. O efeito pode não ser o buscado pelo agente, mas decorre de
conduta e é previsto pela lei. A vontade está presente, mas o direito a desconsidera e
apenas atribui juridicidade ao fato resultante – existe ação humana, mas é valorado o
resultado prático.
Ex.: pessoa que encontra um tesouro. A lei, neste caso, determina que caberá
àquele que encontrou o tesouro, a metade dele (art. 1.264, CC).
Para ficar mais claro, utilize-se o exemplo da união estável. Trata-se de um ato-fato
jurídico. Não importa a vontade das partes, pois o fato humano é que gera importância
jurídica e social. Significa dizer que o fato de viverem juntos, de forma pública, contínua,
duradoura e com o intuito de constituir família basta para a qualificação da união estável.
Não importa se o casal quer ou se não quer o reconhecimento ou a configuração da
união. Basta que estejam presentes os requisitos legais.
Outro exemplo, utilizado pela doutrina é a compra e venda feita por crianças. Se
uma criança compra um chocolate em um boteco, ela não tem a vontade direcionada a
contratar formalmente. Não pode ser considerado um negócio jurídico porque falta o
elemento da capacidade do agente. Assim, melhor enquadrar como um ato-fato jurídico,
aceito socialmente.
O enunciado 138 do CJF dispõe que: “A vontade dos absolutamente incapazes, na
hipótese do inc. I do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações
existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para
tanto”.

7GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1. 18.ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 375.
Os atos-fatos jurídico podem ser classificados em:
a) Atos reais: denominados de atos materiais. Decorrem de certos acontecimentos
em que importa o fato resultante, independentemente da existência ou não de
vontade de obtê-lo. Ex.: a criança que descobre um tesouro enterrado adquire a
propriedade, independentemente de intencionar achá-lo.
b) Atos-fatos indenizativos: casos de indenização sem que haja ilicitude, ou seja,
as situações em que um ato humano, não contrário ao direito, cause prejuízo a
outrem e o dever de indenizar. Ex.: casos de estado de necessidade – para
salvar uma pessoa de um incêndio, alguém quebra a porta da casa onde está a
pessoa.
c) Atos-fatos caducificantes: situações que, independentemente do ato humano,
trazem efeito que seja a extinção de determinado direito e, com isto, da
pretensão, da ação e da exceção decorrente. Ex.: prescrição e decadência.

10. ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO


No ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação da vontade está previsto
na lei, não havendo escolha da categoria jurídica. A ação humana baseia-se na intenção.

Talvez o melhor exemplo para explicar o ato jurídico em sentido estrito é o


reconhecimento do filho. Isto porque não há escolha da “modalidade” de filiação ou dos
direitos daí decorrentes. O fato do reconhecimento surgem efeitos legais: direito de usar o
nome do pai, dever de prestar alimentos, direitos sucessórios, dever de apoio moral, etc.
Os efeitos não dependem da vontade daquele que reconhece, mas sim da própria lei.
Ex.: uma criança torna-se proprietário dos peixes pelo fato de pescar (instituto da
ocupação), de forma que a incapacidade não torna nulo o ato.
Ex.: fixação de domicílio (quando a pessoa fixa residência em determinado local
estabelece seu domicílio, independentemente de emitir manifestação de vontade neste
sentido).
O ato jurídico em sentido estrito trata-se de um simples comportamento humano
voluntário e consciente, cujo efeitos estão previamente determinados na lei. Vale dizer, no
ato em sentido estrito não existe autonomia privada e liberdade na escolha dos efeitos
jurídicos produzidos, ou seja, o ato em sentido estrito é uma simples ação humana
prevista em lei.
Trata-se, pois, de “simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que
determina a produção de efeitos legalmente previstos” 8.
No ato jurídico em sentido estrito o agente não tem a liberdade de escolha na
determinação dos efeitos resultantes do seu comportamento. Deve haver a manifestação
da vontade, mas ela não é qualificada. Ex.: confissão de dívida.
Os efeitos jurídicos derivados da praticado do ato não têm como determinar os
efeitos, porque este vem determinado em lei, uma vez que os atos jurídicos em sentido
estrito são desprovidos em escolha dos efeitos. Ex.: a percepção de um fruto, a caça, a
pesca, o reconhecimento de filho, a fixação do domicílio voluntário.
Estão previstos no art. 185, CC: Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios
jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior.
Classificam-se em:
a) Atos materiais (reais): simples atuação humana, baseada em uma vontade
consciente, tendente a produzir efeitos jurídicos previstos em lei 9. Embora haja
vontade, ela não é voltada ao alcance dos efeitos. Eles se produzem

8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1. 18.ed.

São Paulo: Saraiva, 2016, p. 377


9 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1. 18.ed.

São Paulo: Saraiva, 2016, p. 379.


independentemente do “querer produzi-los”. Ex.: ocupação, percepção de frutos,
fixação de domicílio, etc.
b) Participações: trata-se de ato de comunicação, dirigidos a alguém e sem
conteúdo de negócio. Ex.: notificação, oposição, aviso, intimação.

11. NEGÓCIO JURÍDICO


O negócio jurídico envolve uma declaração de vontade que objetiva a produção de
certos efeitos jurídicos admitidos pela lei.

Trata-se de uma declaração de vontade, emitida segundo o ditame da autonomia


privada, nos limites da função social e da boa-fé objetiva, pela qual a parte autodisciplina
os efeitos jurídicos que escolheu, ou seja, quando se celebra um negócio sempre há uma
margem de autonomia privada e liberdade na escolha dos possíveis efeitos jurídicos.
Caso contrário, não existe negócio jurídico. Exemplos: contrato, testamento, etc.
Pode-se dizer que o negócio jurídico é uma manifestação de vontade unilateral ou
bilateral, ou seja, um ato jurídico pelo qual uma ou mais pessoas, em virtude de uma
declaração de vontade, instauram uma relação jurídica, cujos efeitos, quanto a elas e às
demais, se subordina à vontade declarada, nos limites consentidos pela lei.
O negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas possuem para realizar
seus interesses, sendo relevante para a concepção de contrato. O estudo dos negócios
jurídicos também é um estudo sobre os contratos, envolvendo os elementos, vícios, casos
de nulidade e anulação 10. Também é um negócio jurídico o casamento, o testamento.

10 TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. v.1. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p. 342.
a. Teorias explicativas do negócio jurídico
O direito brasileiro adota a teoria voluntarista, conforme se verifica do art. 112 CC:
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Significa dizer que vale mais a intenção das partes ou a vontade real dirigida a
determinado fim permitido em lei.
Contudo, existe, também a teoria objetivista ou da declaração, segundo a qual a
vontade declarada é essencial para o negócio jurídico, ou seja, o negócio jurídico é o
meio para a produção de efeitos jurídicos.

VOLUNTARISTA OU TEORIA DA TEORIA DA DECLARAÇÃO


VONTADE
Para esta teoria, o núcleo essencial Para esta teoria, o núcleo essencial
do negócio jurídico seria a vontade do negócio não seria a intenção do
interna ou a intenção do declarante. declarante, mas sim, própria
vontade externa ou declarada.

Não há razão prática para a diferenciação entre vontade interna (intenção) e vontade
declarada, pois negócio jurídico seria a “declaração de vontade, emitida em obediência
aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir
efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente” 11.

b. Classificação do negócio jurídico


Quanto ao número de declarantes:
a) Unilaterais: apenas a manifestação da vontade de uma pessoa (testamento,
renúncia, etc)
a. Receptícios: a declaração de vontade deve se tornar conhecida do
destinatário para produzir efeitos. Ex.: revogação de mandato.
b. Não receptícios: o conhecimento, por parte de outras pessoas, é
irrelevante. Ex.: testamento, confissão de dívida.

11GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 389.
b) Bilaterais: manifestação de vontade de duas partes, formadoras do consenso
(compra e venda, locação, prestação de serviços, etc).
a. Bilaterais simples: somente uma das partes percebe vantagem e a outra
detém o ônus. Ex.: doação, comodato.
b. Sinalagmático: há a reciprocidade de direitos e obrigações, ou seja,
existem ônus e vantagens recíprocos. Ex.: locação, compra e venda.
c) Plurilaterais: envolvem mais de duas partes, quando, então, as deliberações
não decorrem de um intercâmbio de declarações convergentes, mas sim, por
decisões de maioria (contrato de uma sociedade, etc).

Quanto ao exercício de direitos:


a) Negócios de disposição: autorizam o exercício de amplos direitos, inclusive a
alienação. Geralmente, negócios translativos. Ex.: doação.
b) Negócios de administração: autorizam apenas a administração e uso do
objeto. Ex.: comodato.

Quanto às vantagens patrimoniais:


a) Gratuitos: atos de liberalidade, onde apenas uma das partes é beneficiada. Não
há contraprestação. Ex.: doação pura (sem encargo), testamento.
b) Onerosos: ambas as partes recebem benefícios e sacrifícios patrimoniais. Ex.:
empreitada, compra e venda, etc.
a. Comutativos: há um equilíbrio subjetivo entre as prestações pactuadas,
de forma que as vantagens equivalem-se entre si (locação, p. ex.)
b. Aleatórios: a prestação de uma das partes está condicionada a um
acontecimento exterior, não havendo equilíbrio subjetivo. Ex.: compra e
venda de coisa futura (safra de soja, p. ex. – pode não colher ou colher
pouco, etc, mas o preço ajustado deve ser pago).
c) Neutro: destituídos de atribuição patrimonial específica. Ex.: instituição do bem
de família, imposição das cláusulas de inalienabilidade ou impenhorabilidade –
não é nem gratuito, nem oneroso.
d) Bifrontes: negócios que tanto podem ser gratuitos, quanto onerosos. Tudo
depende da intenção das partes. Ex.: contrato de depósito (geralmente gratuito,
podendo ser oneroso).

Quanto à forma:
a) Formais ou solenes: exigem a observância de formas legais para
aperfeiçoamento. Ex.: casamento e testamento.
b) Não formais ou forma livre: a forma é livre, sem interferência legal. Podem ser
até verbais. Ex.: doação de um móvel. Trata-se da regra geral (art. 107, CC).

Quanto ao momento da produção de efeitos:


a) Inter vivos: produzem efeitos desde logo, estando as partes ainda em vida. Ex.:
compra e venda.
b) Causa mortis: os efeitos serão produzidos após a morte do declarante. Ex.:
testamento.

Quanto à existência:
a) Principais: existem por si mesmos (compra e venda), não dependendo de
qualquer outro para que tenham existência e validade. Ex.: contrato de locação.
b) Acessórios: a existência pressupõe a do principal. Ex.: contrato de fiança que se
relaciona com o contrato principal (financiamento, locação).

Quanto ao conteúdo:
a) Patrimoniais: relacionados com bens ou direitos aferíveis pecuniariamente
(negócios reais, obrigacionais, etc).
b) Extrapatrimoniais: referentes a direitos sem conteúdo econômico (direitos de
família, personalidade, etc).

Quanto às condições pessoais dos negociantes:


a) Impessoais: não dependem de qualquer condição especial dos envolvidos. A
obrigação pode ser cumprida por qualquer pessoa. Ex.: compra e venda.
b) Personalíssimos ou intuito personae: dependem da condição pessoal de um dos
negociantes, onde apenas a própria pessoa pode cumprir com o contrato. Ex.:
fiança, contratação de um pintor famoso.

Quanto à eficácia do negócio jurídico:


a) Constitutivos: eficácia opera-se ex nunc, ou seja, a partir do momento da
celebração. Ex.: compra e venda
b) Declaratórios: os efeitos retroagem ao momento da ocorrência fática a que se
vincula a declaração de vontade. Ex.: reconhecimento de paternidade  retroage
ao nascimento.

c. Interpretação do negócio jurídico


Muitas vezes o contrato necessita de interpretação, em razão de uma redação
obscura e ambígua. Interpretar é dar sentido para a declaração de vontade, ou seja,
busca-se a real vontade das partes. Em razão disto, a regra da interpretação é a transcrita
no art. 112, CC:
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Significa dizer que a noção de que a manifestação da vontade é o elemento mais


importante na interpretação dos negócios jurídicos, inclusive, sendo superior à forma.
Ex.: um cliente, em uma barraca de pastel, faz o seguinte pedido: “três queijos, para
levar, por favor”. A atendente providencia um pastel com 3 queijos e entrega o pedido.
ESTA ERA A INTENÇÃO? Ou seriam 3 pasteis de queijo????
Leva-se em conta, então, a boa-fé objetiva na interpretação de qualquer negócio
jurídico (art. 113, CC). Deve-se presumir que os contratantes agiram de boa-fé. A má-fé
deve ser provada. Além disto, o enunciado 409 das Jornadas de Direito Civil determina
que:
Enunciado 409. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados não só
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração, mas também de acordo
com as práticas habitualmente adotadas entre as partes.
Ex.: arrendamento de pastagem para engorda do gado. Precisa-se verificar o que é
costumeiro e usual no lugar – contrato (geralmente) verbal, por 100 dias.
Além disto, prescreve o art. 114, CC que os negócios benéficos e a renúncia devem
ser interpretados estritamente. Benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma
liberalidade: doação, por exemplo.

d. Planos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico


O negócio jurídico deve ser analisado sob três planos: existência, validade e eficácia
(tricotomia existência-validade-eficácia ou “escala Ponteana”)
a) Existência: o negócio jurídico, para ser considerado como tal, deve cumprir
certos requisitos mínimos. Os elementos estruturais estão presentes. São o
suporte fático do negócio jurídico. Existem apenas substantivos, s/em qualquer
qualificação. Esses substantivos são: partes (ou agentes), vontade, objeto e
forma. Na falta de algum desses elementos estruturais ou pressupostos, o
negócio é inexistente.
b) Validade: o fato de existir, não significa que seja considerado perfeito, ou seja,
com condições legais para produzir efeitos. Uma vez que o negócio seja
existente, deve-se analisar se está perfeito ou se contém algum vício ou defeito
inviabilizante. Os requisitos devem estar presentes. Na escala da validade, os
substantivos são qualificados, ou seja, ganham adjetivos, ou seja: partes ou
agentes capazes; vontade livre e não viciada; objeto lícito, possível, determinado
ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104, CC).
c) Eficácia: o fato de existir e ser válido não significa que esteja apto a produzir
efeitos imediatos, pois a produção de efeitos pode estar limitada por elementos
acidentais. O negócio pode produzir efeitos só a partir do momento em que for
implementada uma condição. São os efeitos gerados entre as partes e em
ralação a terceiros.
Chama-se de Escala Ponteana e pode ser representada através de degraus, onde o
plano da existência representa o primeiro degrau, o plano da validade, o segundo e, o
plano da eficácia, o terceiro degrau da Escala Ponteana.
Pela representação do esquema, percebe-se que, para que um negócio jurídico seja
válido, precisa existir. Para que produza efeitos, precisa ser válido. Contudo, nem sempre
isto ocorre, pois pode ocorrer de um negócio ser existente, inválido e eficaz. Então, antes
de se analisar cada um dos planos, deve-se destacar que um negócio jurídico pode ser:
a) existente, válido e eficaz. Ex.: casamento - capazes, sem impedimentos, realizado
por autoridade competente.
b) existente, válido e ineficaz. Ex.: testamento de pessoa capaz, formalmente legal,
antes da morte do testador. Ex.: contrato celebrado sob condição suspensiva e que não
esteja, ainda, gerando efeitos jurídicos e práticos.
c) existente, inválido e eficaz. Ex.: casamento putativo - negócio jurídico anulável,
antes da decretação da anulabilidade. Da celebração até a anulação produz todos os
efeitos.
d) existente, inválido e ineficaz. Ex.: doação feita pessoalmente por pessoas
absolutamente incapazes (menor de 16 anos).
e) existente e eficaz. Ex.: nascimento com vida, pintura, dano causado a bem alheio.
f) inexistente. Neste caso, não se analisa os demais planos, pois todos dependem
da existência do negócio jurídico. Ex.: casamento celebrado sem a manifestação da
vontade.
e. Plano da existência do negócio jurídico
O negócio jurídico, para que seja válido e eficaz, precisa existir. Para tanto, alguns
requisitos (ou elementos essenciais ou elementos constitutivos) precisam estar presentes.
Se não estiverem, o negócio não existe e, portanto, sequer se questiona ser válido e
eficaz.
Mas quais seriam, então, os elementos constitutivos ou essenciais dos negócios
jurídicos? Sãos os seguintes: a) agente emissor da vontade; b) manifestação de vontade;
c) objeto; d) forma.

i. Agente emissor da vontade


Para que exista um negócio jurídico deve haver um agente, ou seja, um sujeito. Sem
ele, não há ato, mas tão somente um fato jurídico em sentido estrito. A participação do
sujeito é indispensável para a configuração/existência do negócio jurídico.

ii. Manifestação (ou declaração) da vontade


A vontade é pressuposto do negócio jurídico. Esta vontade deve ser exteriorizada
para que o negócio exista.
A vontade é um elemento subjetivo, que se configura através de uma declaração.
Princípio da autonomia da vontade. Em razão deste princípio, as pessoas têm
liberdade de celebrar negócios jurídicos de acordo com a lei. Contudo, esse princípio tem
limitações em razão da supremacia da ordem pública, ou seja, situações em que, em
nome da ordem pública e do interesse social, o Estado interfere na manifestação da
vontade da pessoa, especialmente para evitar que o indivíduo seja economicamente
oprimido pelo mais forte.
Princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda). Segundo este
princípio, uma vez manifestada a vontade, esta torna-se de obrigatório cumprimento e faz
lei entre as partes. Trata-se de uma forma de estabelecer segurança aos negócios. A este
princípio (pacta sunt servanda) opõe-se o princípio da revisão dos contratos ou da
onerosidade excessiva, que se baseiam na cláusula rebus sic stantibus e na teoria da
imprevisão. Estes princípios autorizam o Judiciário a revisar contratos em casos
extraordinários e em razão da ocorrência de fatos imprevisíveis.
A manifestação da vontade pode ser: tácita, expressa ou presumida.
a) Expressa. A manifestação expressa é a manifestada através da palavra falada
ou escrita ou, ainda, através de gestos, sinais ou mímicas. Significa dizer que é
manifestada de forma expressa, possibilitando o conhecimento imediato da
intenção do agente. Ex.: contratos verbais ou expressos, emissão de título de
crédito, etc.
b) Tácita. Verifica-se pelo comportamento do agente, ou seja, deduz-se da conduta
do indivíduo sua intenção. Ex.: aceitação da herança através de uma cessão de
direitos hereditários. Contudo, nos contratos, a manifestação tácita só é admitida
quando a lei não exigir forma expressa.
c) Presumida. É estabelecida pela lei. Quando a lei deduz a manifestação através
de certos comportamentos do agente. Ex.: aceitação presumida da herança (a lei
determina que, caso o herdeiro não se manifeste dentro de certo tempo – 30 dias
– entender-se-á pela aceitação da herança).

As declarações de vontade devem ser receptícias, ou seja, as que se dirigem a


uma pessoa determinada, com o objetivo de levar ao conhecimento do agente a intenção
do declarante, sob pena de ineficácia. Só tem eficácia se o outro tiver conhecimento. Ex.:
revogação de mandato. Declarações não receptícias são as que se efetivam
independentemente do conhecimento do destinatário. Ex.: promessa de recompensa,
revogação do testamento, etc.
Silêncio como manifestação da vontade. Via de regra, quem cala, não diz coisa
nenhuma. O silêncio nada significa, por ausência de manifestação da vontade.
Excepcionalmente, admite-se o silêncio como manifestação da vontade (art. 111, CC): “o
silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for
necessária a declaração de vontade expressa”. Assim, admite-se o silêncio como
manifestação da vontade quando a lei autorizar. Ex.: doação, quando o doador fixa prazo
para o donatário se manifestar. Caso não se manifesta dentro do prazo, entende-se pela
aceitação (art. 539, CC).
Reserva mental. Situações em que um dos declarantes oculta sua verdadeira
intenção, ou seja, quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Trata-se de uma
enganação ao outro contratante. Se o outro declarante, no entanto, não souber da
reserva, o ato subsiste e produz efeitos que o declarante não desejava. Art. 110, CC: “a
manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de
não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. A reserva
mental desconhecida do outro contratante não importa para o direito, pois a vontade
produzirá todos os efeitos. Ex.: promessa de emprestar dinheiro a amigo que pretende se
matar em razão de dívidas.

iii. Objeto
Todo negócio pressupõe a existência de um objeto.
Se o contrato é de mútuo, o objeto deve ser coisa fungível (coisa que pode ser
substituída por outra). Se for contrato de comodato, a coisa deve ser infungível (não pode
ser substituída). Para a constituição de uma hipoteca, deve ser um imóvel a garantia.

iv. Forma
Forma é o meio pelo qual a declaração de vontade é exteriorizada, ou seja, se oral,
escrita, silêncio, sinais, etc. A vontade sempre deve ser manifestada de alguma forma.
Não se deve confundir a forma (elemento existencial) com a forma legalmente
prescrita (pressuposto de validade). Ex.: João compra 30ha de terras de Pedro. Paga a
quantia e recebe de Pedro um recibo. Não fazem escritura pública de compra e venda.
Neste caso, apesar de não ser válido o negócio jurídico por não se revestir da formalidade
legal, é necessário reconhecer que o ato negocial de compra e venda existiu, pois Pedro,
inclusive, passou recibo. Neste caso temos os elementos existenciais: manifestação da
vontade (vender e comprar), agentes (sujeitos de direitos), objeto (bem imóvel) e forma
(escrita).

f. Plano da validade do negócio jurídico


Uma vez que o plano da existência esteja completo, deve-se verificar o plano da
validade. Os pressupostos de validade (ou a inexistência deles) conduz às causas de
nulidade e anulabilidade.
O art. 104, CC prevê os requisitos ou pressupostos de validade dos negócios
jurídicos: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma
prescrita ou não defesa em lei.
Gagliano e Pamplona Filho 12 adicionam um quarto pressuposto, que é a
manifestação de vontade livre e de boa-fé. Além disto, defendem que o agente emissor da
vontade deve ser capaz e legitimado para o negócio. Afirmam que sabendo-se os
elementos constitutivos do negócio jurídico, basta qualificá-los para que se saiba os
pressupostos de validade. Pois bem, passa-se a análise de cada um deles.

i. Manifestação da vontade livre e de boa-fé


A manifestação da vontade deve ser livre e de boa-fé (não impregnada de malícia).
Os vícios do negócio jurídico atacam a liberdade de manifestação da vontade ou a boa-fé,
de forma que o ordenamento jurídico tende a reagir, anulando ou declarando nulos tais
negócios. (Os defeitos dos negócios jurídicos serão tratados adiante).
Para que a manifestação da vontade seja válida, dois princípios surgem: a
autonomia da vontade e a boa-fé.
Princípio da autonomia da vontade. Trata-se da liberdade negocial, que, contudo,
não é plena, pois sofre limitações da lei, da moral e da ordem pública.
Princípio da boa-fé. Trata-se de princípio ético formador da vontade negocial válida.
Assim, se uma das partes conseguiu a manifestação da vontade da outra através da
coação, há a violação deste princípio. A boa-fé deve ser tanto a subjetiva (estado
psicológico, subjetivo do indivíduo), quanto a objetiva (que as partes comportem-se
segundo um padrão ético objetivo de confiança recíproca).

ii. Agente emissor da vontade capaz e legitimado para o negócio


O agente emissor da vontade deve ser capaz e detentor de legitimidade para o
negócio.
Agente capaz = pessoa física/natural plenamente capaz para prática dos atos da
vida civil.

12GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 406.
São absolutamente incapazes os menores de 16 anos (art. 3.º, CC, com redação
dada pelo Estatuto da pessoa portadora de deficiência).
Art. 3.º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida
civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

São relativamente incapazes:


Art. 4.º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos.

Os absolutamente incapazes devem ser representados e os relativamente


incapazes, assistidos. Contudo, há negócios que o relativamente incapaz pode celebrar:
fazer testamento, aceitar mandato e ser testemunha. O negócio celebrado pelo
absolutamente incapaz sem a devida representação é nulo (art. 166, I, CC). O negócio
celebrado pelo relativamente incapaz sem a devida assistência é anulável (art. 171, I,
CC).
Além da capacidade, o agente deve ser legitimado. Assim, embora plenamente
capaz, não podem dois irmãos contraírem matrimônio entre si. Também não podem
suceder aquele que tiver sido excluído da sucessão. A pessoa maior e casada também
não pode vender imóvel sem a outorga conjugal. Tudo isto indica a falta de legitimidade
destas pessoas.
Este agente emissor da vontade, capaz e legitimado, pode praticar o ato por si
próprio ou através de representante. O Código Civil estabelece um capítulo próprio para a
representação, o que será abordado mais adiante. Pode, nestes casos, ocorrer o
chamado autocontrato, situações em que o representante (procurador) celebra negócio
consigo mesmo. Ex.: João outorga procuração para Carlos, para que este venda o bem X
a quem quer que seja. Neste caso, se a procuração prever expressamente (art. 117, CC),
pode Carlos vender o bem X para si próprio. Assinará a escritura como comprador e como
representante do vendedor.

iii. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável


Objeto lícito é aquele que não é proibido pelo direito e pela moral. Ex.: contrato de
prestação de serviços advocatícios. É ilícito, contudo, um contrato de prestação de
serviços para o cometimento de um crime. Também é ilícito o contrato de prestação de
serviços sexuais, com a cobrança judicial pelo inadimplemento da prestação pecuniária,
em razão da imoralidade do objeto. Também é ilícito a compra e venda de uma praça
(bem de uso comum do povo).
Objeto fisicamente possível é aquele naturalmente possível de se realizar. Significa
dizer que o objeto é impossível quando o contrato visa a compra e venda de um imóvel na
lua.
Objeto determinável ou determinado, ou seja, deve haver a descrição mínima do
objeto, individualizações que permitam caracterizar o objeto. Ex.: compra e venda do bem
x (determinado) ou compra e venda de x soja (determinável).

iv. Forma adequada


Por fim, o negócio deve ser revestido da forma prescrita ou não proibida pela lei. Via
de regra, os negócios não dependem de forma especial, de forma que o direito brasileiro
adota a liberdade da forma (art. 107, CC). Contudo, existem situações em que a lei prevê
a forma e, para a validade do negócio, esta deverá ser obedecida.
Ex. 13: o humilde camponês, por meio de uma compra e venda, adquire alguns
hectares de terras do vizinho e, sem saber que a aquisição da propriedade imobiliária
exige a lavratura da escritura de compra e venda e o registro imobiliário, aceita, apenas, a
documentação do ato em recibo simples, firmado pelo vendedor. Neste caso, não se
discute que o negócio existe (elemento constitutivo presente), mas não será válido o
negócio, por não respeitar a forma prevista na lei (art. 108 c/c art. 166, CC).

g. Plano da eficácia do negócio jurídico


Analisados os planos da existência e da validade, necessário se faz considerar
sobre a eficácia do negócio jurídico.

13GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 418.
Eficácia é a potencialidade, ou seja, a capacidade dos negócios jurídicos gerarem
efeitos.
É eficaz o negócio jurídico quando repercute juridicamente no plano social, ou seja,
se não depender de nenhum acontecimento futuro para ser exigível. Ex.: compra e venda.
Uma vez celebrada e registrada, produz efeitos.
Este acontecimento futuro é tratado pela doutrina como “elementos acidentais do
negócio jurídico”, que são: condição, termo e modo ou encargo. Nestas situações, a
produção de efeitos do negócio só se perfectibiliza com a ocorrência do elemento
acidental.

i. Condição
É um elemento acidental que consiste em um evento futuro e incerto, por meio do
qual subordina-se ou resolve a produção de efeitos jurídicos.
Ex.: indivíduo que se obriga a doar o imóvel X para João quando ele se casar. O
casamento, no caso, é uma condição acessória suspensiva.
Ex.: indivíduo que adquire o usufruto do bem X, para auferir renda, até que cole grau
no ensino superior. No momento da colação, extingue-se o usufruto, tratando-se, neste
caso, de uma condição resolutiva.
A condição é caracterizada pela incerteza e futuridade. Art. 121, CC.
a) Incerteza
Se o fato que subordina a vontade for certo, estaremos diante de um termo. A
condição é sempre incerta.
A incerteza é com relação a própria ocorrência do fato e não com relação ao tempo
de sua ocorrência. A morte, neste sentido, é sempre certa. O que não se sabe é quando
irá acontecer. Trata-se, portanto, de um termo incerto.
b) Futuridade
Acontecimento já ocorrido não pode caracterizar condição. A condição deve ser
futura. Ex.: prometo doar 10mil reais se meu bilhete de loteria for premiado.
As condições podem ser suspensivas ou resolutivas.
a) Condição suspensiva
Subordina a produção de efeitos (aquisição de direitos) à ocorrência de fato futuro e
incerto (art. 125, CC). Enquanto elas não se verificarem, não produz efeitos o negócio
jurídico.
Ex.: doarei um terreno a João se ele formar-se em Direito.
b) Condição resolutiva
Neste caso, enquanto não se realizar a condição vigorará o negócio jurídico. Assim
que se operar a condição ocorrerá a conclusão do negócio extinguindo-se o direito (art.
127, CC).
Ex.: enquanto João cursar a faculdade de Direito poderá utilizar o valor dos alugueis
do imóvel X para custear suas despesas. Com a conclusão do curso, extingue-se o direito
de uso dos alugueis.
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o
direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada
ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia
quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição
pendente e conforme aos ditames de boa-fé.

O art. 128 refere-se a negócios continuados. Ex.: concedo o usufruto sobre imóvel a
João enquanto cursar Direito, beneficiando-se de toda a renda proveniente da venda de
gado até a colação de grau. Neste caso, se João tiver pactuado venda de gado a terceiro
e, neste meio tempo, tiver colado grau, a condição resolutiva não prejudicará a venda já
pactuada. Deverá ser concluída e João receberá o dinheiro do pagamento.
As condições podem ser positivas (verificação de um fato – auferir renda até
colação de grau) ou negativas (inocorrência de um fato – empréstimo da casa até que a
enchente deixe de assolar sua cidade).
As condições devem ser lícitas, pois as ilícitas invalidam o negócio jurídico,
eivando-o de nulidade absoluta (art. 123, II e 166, VII, CC).
O art. 122, CC repudia as condições perplexas (incompreensíveis ou contraditórias –
são aquelas que privam de efeitos o negócio jurídico. Ex.: empresto o imóvel, desde que
você não more e não o alugue) e as puramente potestativas (são as que derivam do
arbítrio de uma das partes. Ex.: se eu quiser, caso seja do meu interesse, etc).
No que diz respeito à possibilidade, as condições devem ser física e juridicamente
possíveis. São ilícitas as condições fisicamente impossíveis, que são aquelas
irrealizáveis, em razão de exigência de esforço sobrenatural. Ex.: dar a volta no Beira Rio
em 2 segundos (impossível! O Beira Rio é Giganteeeeee). Se a condição fisicamente
impossível tiver natureza suspensiva, invalida o negócio (nulidade absoluta). Se tiver
natureza resolutiva, será reputada inexistente. Também são ilícitas as condições
juridicamente impossíveis, pois contrariam o direito (ex.: doação condicionada à
alienação de bem de uso comum do povo – praça). Neste caso, existindo uma condição
dessa natureza, será inválido o negócio jurídico.

ii. Termo
O termo é o “acontecimento futuro e certo que subordina o início ou o término da
eficácia jurídica de determinado ato negocial” 14. As características, são, então, a certeza e
a futuridade.
O termo pode ser inicial ou final. Ex.: contrato de arrendamento que se inicia em 05
de janeiro de 2017. Trata-se do termo inicial da produção de efeitos do contrato. Antes
desta data, não produz efeitos. Ex.: arrendamento com término em 05 de janeiro de 2017.
Até esta data produz efeitos. A partir dela, não mais.
Mesmo quando se tem termo inicial, apesar da exigibilidade do negócio ser só a
partir da data acordada, já há a aquisição de direitos (art. 131, CC). A exigibilidade está
suspensa até a ocorrência do termo inicial, mas os direitos e deveres decorrentes do ato
são adquiridos de imediato. No exemplo do contrato de arrendamento, cujo termo inicial é
05 de janeiro de 2017, desde logo estão as partes ligadas pelo vínculo contratual.
Contudo, a exigibilidade das obrigações definidas no contrato só serão exigíveis a partir
de 05 de janeiro de 2017. Mas, se o arrendatário, por exemplo, quiser efetuar o
pagamento pactuado antes desta data, não há impedimento. Contudo, o que não pode é
o arrendante/arrendador exigir tal pagamento antes do termo inicial previsto.
O termo pode ser certo ou incerto. Será certo quando a data estiver estipulada (05
de janeiro de 2017). Será incerto quando, apesar de ser certa a ocorrência, não se puder
precisar a data (quando João morrer).

14GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 489.
O período de tempo entre o termo inicial e o final é denominado de prazo (art. 132,
CC). O prazo é contado excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o dia do vencimento.
Ex.: contrato de 30 dias 15. Termo inicial: 24/08/2016. O prazo será = 23/08/2016.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo
até o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou
no imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Quando no negócio jurídico não houver a fixação de prazo, entende-se exigíveis de


imediato (art. 134, CC).
O termo classifica-se em:
a) Convencional: fixado pelas partes.
b) Legal: determinado pela lei.
c) De graça: fixado por decisão judicial (prazo determinado pelo juiz para que o
devedor de boa-fé cumpra sua obrigação

iii. Modo ou encargo


O encargo é uma determinação acessória ao negócio jurídico principal, que impõe
um dever ou ônus ao beneficiário, que deverá cumpri-lo em prol de uma liberalidade
maior. Trata-se de uma espécie de restrição imposta ao beneficiário no momento da
liberalidade, ou um “peso atrelado a uma vantagem” 16. Ex.: doação de um terreno com o
encargo de cuidar do doador.
O encargo não suspende a aquisição ou o exercício do direito, salvo se o encargo
for condição suspensiva (art. 136, CC).
Identifica-se o encargo pelas expressões “com a obrigação de”, “com o encargo de”,
“para que”.
Se o encargo não for cumprido, não há a invalidação do negócio jurídico. O que
ocorre é que poderá ser cobrado judicialmente este encargo ou, então, poderá ser

15A contagem de prazos processuais é diferente. Verificar art. 219, CPC/2015.


16GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 493.
revogado o negócio, como no caso da doação (art. 562, CC) ou do legado (art. 1.938,
CC).
O encargo ilícito ou impossível é considerado como não escrito (art. 137, CC). Ex.:
doação que estabelecesse como encargo uma viagem turística a Saturno. Por ser
impossível o encargo, entende-se como não escrito. Contudo, se o encargo ilícito ou
impossível for motivo determinante da liberalidade, torna o negócio jurídico inválido. Ex.:
doação de um valioso imóvel com a condição de que o donatário utilize-o para implantar
nele uma casa de prostituição (encargo ilícito). Neste caso, inválido todo o negócio
jurídico.

h. Representação
A manifestação da vontade pode se dar por si próprio ou por representante. O
Código Civil disciplina a representação nos arts. 115 a 120. Assim, a manifestação da
vontade através da representação produz todos os efeitos.
Se o negócio jurídico é praticado por representação, quem o pratica é o
representante, que o faz em nome do representado.
Assim, representação é a atuação jurídica em nome de outra pessoa, que pode
ocorrer em razão da vontade ou da lei.

i. Espécies de representação
A representação pode ser legal (pais, tutores, curadores, administradores, síndicos)
ou convencional/voluntária (em razão de mandato).
a) Legal: trata-se de um múnus. O representante exerce uma atividade obrigatória,
determinada pela lei. Se institui em razão da necessidade de se atribuir a alguém
a função de cuidar dos interesses de pessoas incapazes. Supre a falta de
capacidade do representado. Tem caráter personalíssimo. Não pode ser
delegado seu exercício. Não pode ser revogada pelo representado. Também
pode ocorrer em caso de pessoas capazes: sindicatos, para a celebração de
acordos coletivos; síndico de condomínio; inventariante, etc.
b) Voluntária: trata-se de uma espécie de cooperação, em que alguém nomeia
outrem como seu representante, a fim de atuar em seu nome. Se perfectibiliza
através de acordo de vontades, representado pela procuração, que é instrumento
do mandato – art. 653. Através dela, uma pessoa investe outra de poderes para
agir em seu nome. Pode ser revogada a qualquer tempo pelo representado. A
procuração deve ser feita por instrumento público ou particular, assinado pelo
mandante (art. 654).

ii. Espécies de representantes


O representante deve ter capacidade de fato para praticar atos em nome do
representado. O maior de 16 anos pode ser mandatário, mas o mandante só pode
reclamar contra menor na medida do seu enriquecimento (art. 666, CC).
Representante legal é o que decorre da lei. Pais que administram os interesses dos
filhos menores de idade, por exemplo (art. 115, CC).
Representante judicial é o nomeado pelo juiz para representar no processo. Ex.:
inventariante.
Representante convencional é o que recebe mandato, com poderes para atuar em
nome de outrem. Ex.: advogado, procurador para compra e venda, etc.

iii. Regras da representação


O mandato leva à substituição de uma pessoa por outra na realização de negócios
jurídicos. Nestes casos, o que for assumido pelo representante deve ser cumprido pelo
representado (arts. 116 e 675, CC). Ex.: se João outorgou procuração para Carlos vender
o imóvel “X” e este o fez, João deverá cumprir com o contrato de compra e venda. Pode
ocorrer, contudo, que, se o mandatário não observar as instruções do mandante (quanto
ao preço, por exemplo), o mandante terá direito a ação cobrando as perdas e danos.
Assim, o representante deve provar às pessoas com quem contrata, sua qualidade e
extensão de seus poderes, sob pena de responder pelos atos que praticar excedendo tais
poderes (art. 118, CC).
a) Os efeitos do negócio jurídico praticado pelo representante se produzem entre o
representado e a outra parte.
b) O representante é estranho ao negócio jurídico.
c) O representante deve assumir obrigações dentro dos limites permitidos pelo
mandato.
d) Quem deve cumprir com as obrigações é o representado (salvo se o
representante assumiu responsabilidades não autorizadas pelo mandato).
e) Se o representante praticou negócio em conflito de interesses com o
representado e o terceiro com quem negociou sabia de tal fato, há prazo de 180
dias para anulação do negócio (art. 119, CC). Se, contudo, estiver de boa-fé o
terceiro, não haverá anulação.

iv. Autocontratação
Pode ocorrer situações em que o representante seja a outra parte no negócio
jurídico. A isto chama-se de autocontratação. Para que isto seja lícito e possível, deverá
haver a previsão no mandato desta cláusula (mandato em causa própria). Ex.: “podendo
alienar tal bem a terceiro ou a si próprio”.
Neste sentido, o art. 117, CC, determina que a autocontratação deve estar prevista
no instrumento de mandato.

i. Defeitos do negócio jurídico


A manifestação da vontade, nos negócios jurídicos deve ser livre e de boa-fé. Os
negócios jurídicos podem, contudo, sofrer com vícios de consentimento, ou seja, aqueles
que impedem que a vontade seja manifestada de forma pura e de boa fé. Estes vícios
atingem o segundo degrau da Escala Ponteana, ou seja, o plano da validade, pois
maculam a manifestação da vontade. E, ainda, com vícios sociais, que são a simulação e
a fraude contra credores.
Vícios de consentimento: erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo.
Vícios sociais: simulação e fraude contra credores.

i. Erro ou ignorância
O erro é uma falsa representação da realidade. Trata-se de um engano fático, ou
uma falsa noção sobre a pessoa, objeto do negócio ou a um direito. Significa dizer que o
agente atua de modo que não seria sua vontade, se conhecesse a verdade. Ex.: Homem
que reconhece o filho da esposa, acreditando ser seu (se soubesse que o filho não era
seu, não o reconheceria).
Erro e ignorância são coisas distintas, mas levam à anulabilidade do negócio
jurídico.
Erro = ideia falsa da realidade.
Ignorância = total desconhecimento da realidade.
Para que o erro seja passível de anulação, deve ser essencial (substancial) e
escusável (perdoável).
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência
normal, em face das circunstâncias do negócio.

Essencial é o erro que incide sobre a essência ou substância do ato praticado. Se tal
erro não estivesse presente, o ato não seria realizado. Ex.: colecionador que,
pretendendo comprar uma peça de marfim, compra uma de material sintético.
Contudo, o enunciado 12 do CJF determina que:
Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o
dispositivo adota o princípio da confiança.

Neste aspecto, o art. 139, CC enumera as hipóteses de erro substancial:


Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma
das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único
ou principal do negócio jurídico.

Tanto no erro quanto na ignorância, a pessoa engana-se sozinha, de forma que o


erro pode incidir, então, sobre:
a) A natureza do negócio = art. 139, I, CC. Ocorre quando se troca a natureza do
negócio, trocando-se uma causa jurídica por outra. Ex.: comodato com doação.
b) A identidade da pessoa = art. 139, II, CC. O que diz respeito a qualidade ou
características de determinada pessoa. Ex.: erro essencial sobre a pessoa do
outro cônjuge (arts. 1.556 e 1.557, CC).
c) A identidade do objeto = art. 139, I, CC. Quando se declara querer comprar o
cavalo “X” e acaba levando o cavalo “y”, sem querer.
d) A essência do objeto = art. 139, I, CC. Erro sobre as propriedades essenciais
do objeto. Erro quanto a qualidade. Ex.: compra um anel, imaginando ser de
ouro, não sabendo que se trata de cobre. Ex.: comprar bijuteria ao invés de ouro.
Ex.: comprar um modelo intermediário achando tratar-se de um luxuoso.
Neste aspecto, no que diz respeito ao erro quanto a essência do objeto, tem-se
decisão do STJ que envolve a possibilidade de anulação de negócio jurídico de
compra e venda de veículo automotor onde a parte adquire carro de modelo
intermediário pensando tratar-se de modelo luxuoso.
Processo civil. Direito do consumidor. Aquisição de veículo automotor. Alegação
do consumidor de que comprou determinado modelo, pensando ser o mais
luxuoso, e de posterior constatação de que se tratava do modelo intermediário.
Ação proposta um ano após a aquisição. Decadência. Desnecessidade de se
aguardar o término do prazo de garantia. Alegado inadimplemento do dever de
informação, pelo vendedor, que se insere no âmbito do contrato de compra e
venda.
- O início da contagem do prazo de decadência para a reclamação de vícios do
produto (art. 26 do CDC) se dá após o encerramento da garantia contratual.
Precedentes.
- A postergação do início da contagem desse prazo, contudo, justifica-se pela
possibilidade, contratualmente estabelecida, de que seja sanado o defeito
apresentado durante a garantia.
- Na hipótese em que o consumidor não adquire bem propriamente defeituoso,
mas alega ter se enganado quanto ao objeto adquirido, comprando o automóvel
intermediário em vez do mais luxuoso, não há, necessariamente, qualquer defeito
a ser corrigido durante o prazo de garantia. A decadência para pleitear a
devolução da mercadoria, a troca do produto ou o abatimento do preço, portanto,
conta-se, sendo aparente a diferença entre os modelos, da data da compra.
- A inversão do ônus da prova pressupõe hipossuficiência (técnica, jurídica ou
econômica) ou verossimilhança das alegações feitas pelo consumidor. Os
costumes comerciais indicam que a parte interessada na aquisição de um
automóvel de luxo costuma buscar, ao menos, as informações quanto aos
modelos existentes. A prática também indica que todos os modelos disponíveis,
notadamente os mais caros, sejam apresentados ao comprador. Não há, portanto,
verossimilhança na alegação de que a concessionária omitiu do consumidor a
informação sobre o modelo luxuoso. Também não há hipossuficiência do
consumidor uma vez que: (i) não é economicamente fraca a parte que adquire
automóvel de luxo; (ii) não há desequilíbrio técnico ou jurídico se o comprador
adquire o automóvel pelo convênio mantido entre a montadora e Associação de
Magistrados. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp 1021261/RS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe
06/05/2010)

O erro deve, ainda, ser escusável, ou seja, perdoável, dentro do que se espera do
homem médio. Assim, não se admite erro daquele que agiu com acentuado grau de
displicência e negligência. Ex.: a compra de uma joia falsa, pelo homem médio, é um erro
escusável. Contudo, por um especialista, não é.
Também pode ocorrer nos casos de registro de nascimento, no qual o pai é induzido
a erro pela Mãe da criança e acaba registrando filho que não é seu.
Admite-se, ainda, o erro de direito, desde que não traduza oposição ou recusa à
aplicação da lei, o que não se confunde com ignorância da lei. Ex.: alguém que contratou
a importação de determinado produto, sem saber que foi, recentemente, proibida por
decreto a entrada de tal produto no país. Neste caso, deve-se admitir o erro de direito e
permitir a anulação do contrato.
O art. 140, CC trata do falso motivo, o que, em regra, não invalida o negócio.
Motivo é de ordem pessoal: bom preço, boa localização, presentear alguém. Assim tem-
se o exemplo do pai que compra veículo para presentear a filha que está de aniversário.
Contudo, ao chegar na data, o pai se dá conta de que, em verdade, é o filho quem está de
aniversário. Esse erro não é capaz de anular o negócio de compra e venda do veículo.
Deve-se destacar que o erro deve ser substancial, pois o erro acidental não pode
ser objeto de anulabilidade do negócio jurídico. O erro, neste caso, pode ser suprido pelas
circunstâncias. Nestes casos, convalece o ato.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração
de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Também é erro acidental convalidável, o caso de a pessoa a quem a manifestação


de vontade se dirige, se oferecer para executá-la de acordo com a vontade real. Assim,
toma-se como exemplo a pessoa que pensa ter comprado o lote 4, da quadra X, quando,
em verdade, está comprando o lote 4, da quadra Y. Se o vendedor vier a entregar-lhe o
lote 4, da quadra X, não haverá invalidade do negócio jurídico.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a
quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na
conformidade da vontade real do manifestante.

Erro ≠ vício redibitório.


O erro atinge a vontade da pessoa, que se engana sozinha. O vício redibitório
atinge o objeto do contrato, onde a pessoa toma conhecimento do vício após a celebração
do negócio.
Erro Vício redibitório
Equivocada representação da realidade Atinge o objeto do negócio jurídico, ao
ou opinião não verdadeira sobre o passo que a coisa negociada é entregue,
negócio, objeto ou pessoa com quem se mas com algum vício ou defeito oculto
efetiva. que lhe diminua o valor.
Ex.: pretendia comprar o cavalo X, mas Ex.: comprou o cavalo X, mas, ao chegar
acabou, por erro de objeto, levando para em casa, verificou que o mesmo estava
casa o cavalo Y com a mão machucada gravemente.
Estão no plano da validade Estão no plano da eficácia

O prazo para buscar a anulação do negócio jurídico eivado de erro é de 4 nos, a


contar da celebração do negócio, nos termos do art. 178, II, CC.

ii. Dolo
O dolo é erro provocado por terceiro e não pelo sujeito enganado. Trata-se de um
artifício malicioso pelo qual uma das partes, visando prejudicar o outro, induz-lhe a
celebração de negócio jurídico. Ex.: vender caneta de cobre como se fosse de ouro.
Neste caso, caberá anulação do negócio.
Trata-se de dolo essencial, onde “uma das partes do negócio utiliza artifícios
maliciosos, para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente, visando a
obter vantagem, geralmente com vistas ao enriquecimento sem causa”17. É a arma do
estelionatário.
Este dolo é maligno, ou seja, visa enganar o outro. É diferente do dolus bonus, onde
alguém realça demais as vantagens e qualidades do produto, induzindo o outro a
contratar.
O dolo deve ser provado por quem alega, independendo de prova de efetivo prejuízo
para sua caracterização, ou seja, basta que indivíduo tenha sido induzido a efetuar
negócio jurídico.

17 TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. v.1. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p. 391.
Não é só o dolo do negociante que gera a anulabilidade. O dolo de terceiro
também tem o condão de anular o negócio jurídico. Nesse sentido, o art. 148, CC prevê
que:
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso
contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as
perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Neste sentido, se o terceiro, a quem beneficia o negócio jurídico tinha conhecimento,


haverá dolo essencial e anulará o negócio. Não havendo conhecimento, o dolo é
acidental, respondendo, então, o terceiro, por perdas e danos da parte a quem ludibriou.

No dolo de terceiro, se Tinha ciência... ... o negócio é anulável


a parte a quem Não tinha ciência... ... o negócio não é
aproveite dele anulável, mas o lesado
pode pedir perdas e
danos ao autor do dolo.

O art. 149, CC trata do dolo do representante da parte, de forma que o dolo do


representante legal obriga o representado a responder civilmente até a importância do
proveito que teve. Se o dolo for do representante convencional, caberá a ambos
(representante e representado) a obrigatoriedade de devolver aquilo que indevidamente
receberam e, ainda, responderão solidariamente por perdas e danos. Se o representante
atuou extrapolando os poderes do mandato, neste caso, a responsabilidade será apenas
sua.

Por fim, cabe classificar o dolo. Quanto à extensão, o dolo pode ser:
a) Principal – essencial, determinante ou causal – ataca a causa do negócio em si.
Invalida o negócio. O negócio, sem a presença do dolo, não seria praticado.
b) Acidental – não invalida o negócio, mas só dá direito a eventual perdas e danos
a favor do prejudicado. Nestes casos, o negócio seria praticado do mesmo jeito,
havendo ou não a presença do dolo. Art. 146, CC. Ex.: os promitentes
compradores afirmam que a promitente compradora entrará na posse do imóvel
dentro de 30 dias, mesmo sabedores de que o atual inquilino só desocupará o
imóvel dentro de 60 dias.
Neste sentido, Tartuce 18 traz o seguinte quadro comparativo:

DOLO – responsabilidade civil DOLO – vício do negócio


Não está relacionado com um Está relacionado com um negócio
negócio jurídico, não gerando jurídico, sendo a única causa da
qualquer anulabilidade. sua celebração (dolo essencial).
Se eventualmente atingir um Sendo o dolo essencial ao ato,
negócio, gera somente o dever de causará a sua anulabilidade, nos
pagar perdas e danos, devendo termos do art. 171, II, CC, desde
ser tratado como dolo acidental que proposta ação no prazo de 4
(art. 146, CC). anos da celebração do negócio,
pelo interessado (art. 178, CC).
Plano da eficácia Plano da validade

Quanto ao conteúdo, o dolo pode ser:


a) Dolus bonus (dolo bom) – é o dolo tolerável. Trata-se de exageros do
comerciante ou vendedor sobre o produto a ser vendido, mas sem a finalidade de
prejudicar o comprador. O negócio não é passível de anulação. Ex.: compra e
venda de um carro. Dizer que o carro é o melhor da categoria, que faz 17 km/L,
quando, em verdade, faz 13 a 14km/L. Todavia, se o vendedor se utilizar de
artifícios de má-fé para enganar o consumidor o dolo se transforma em mau e
poderá haver a anulação.
b) Dolus malus (dolo mau) – trata-se de ações malignas que visam enganar ao
consumidor, trazendo-lhe prejuízo. Ex.: compra e venda de veículo. Dizer que o
veículo nunca foi batido, quando sabe que foi. Dizer que o veículo faz 15km/L,
quando faz, em verdade, 7km/L.

Quanto à conduta das partes, o dolo pode ser:


a) Dolo positivo (ou comissivo) – dolo praticado por ação. Ex.: publicidade
enganosa por ação. Vendo carro completo: ar condicionado, direção hidráulica,
pneus zero. Após a aquisição o comprador verifica que não tem ar condicionado
e os pneus estão carecas.

18 TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. v.1. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p. 392.
b) Dolo negativo (ou omissivo) – praticado por omissão. Ex.: venda de
apartamento decorado, em que não se revela ao comprador que os móveis são
feitos sob medida, induzindo-o a erro. Art. 147, CC. O prejudicado deve provar
que se soubesse não celebraria o negócio.
c) Dolo recíproco (ou bilateral) – ambas as partes agem dolosamente, um
tentando prejudicar o outro. Via de regra, há compensação dos dolos, não
havendo a anulação do negócio jurídico.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.

iii. Coação
A coação é uma pressão física ou moral exercida sobre o negociante, obrigando-o a
assumir uma obrigação que não quer.
Coator – quem coage
Coacto, coagido ou paciente – quem sofre a coação.
Segundo o art. 151, CC, para que a coação seja capaz de invalidar o negócio
jurídico, deverá ser relevante, fundada em temor de dano iminente e considerável ao
paciente, seus familiares ou seus bens.
Classifica-se a coação em:
a) Coação física – constrangimento corporal capaz de retirar totalmente o
consentimento da pessoa. Em razão disto, é causa de nulidade. Ex.: venda
celebrada a pessoa hipnotizada. São de pouca aplicabilidade prática!!!
b) Coação moral ou psicológica – esta é a mais utilizada. Quando alguém obriga
outrem a realizar negócio jurídico sob a ameaça fundada de dano a si próprio,
sua família ou seus bens. Gera a anulabilidade do ato. Art. 151, CC.

A análise da coação deve ocorrer caso a caso, pois a idade, sexo e condição do
paciente influencia na configuração ou não desde defeito do negócio jurídico. Art. 152,
CC.
O prazo para pleitear a anulação é de 4 aos, a contar de quando cessar a coação
(art. 178, I, CC).
O art. 154, CC prevê que a coação praticada por terceiro também gera a
anulabilidade do negócio jurídico, se o beneficiado pela coação dela tinha conhecimento.
Permanece válido, se o beneficiado não tinha conhecimento da coação (art. 155, CC).
O art. 153, CC, por sua vez, prevê situações que não configuram coação:
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito,
nem o simples temor reverencial.

Assim, não constitui coação:


a) A ameaça relacionada com o exercício regular de um direito reconhecido. Ex.:
ameaça de protesto de um título em cartório.
b) Mero temor reverencial ou receio de desagradar de pessoa queria ou a quem se
deve obediência. Ex.: casar-se com alguém com medo de desapontar seu pai.

iv. Estado de perigo


O estado de perigo configura-se “quando o agente, diante de situação de perigo
conhecido pela outra parte, emite declaração de vontade para salvaguardar direito seu, ou
de pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa” 19.
O negociante, temeroso por sua vida ou de alguém próximo a si, efetua o negócio,
mediante uma prestação exorbitante. Está presente, neste caso, a onerosidade excessiva
(elemento objetivo). Ex.: João tem sua família sequestrada. De resgate, pedem o valor de
R$10.000,00. Sabendo da situação, Carlos propõe-se a comprar um valioso anel que
João possui pelos R$10.000,00. Contudo, tal anel vale R$50.000,00. Temeroso pela
situação de sua família, João celebra o negócio.
Para que esteja presente o defeito, a outra parte deve ter conhecimento da situação
de risco que atinge o primeiro (elemento subjetivo).
Sendo assim, a coação é diferente do estado de perigo, pois:

ESTADO DE PERIGO = situação de perigo conhecida da outra parte


(elemento subjetivo) + onerosidade excessiva (elemento objetivo).

19GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 442.
Trata-se de ato anulável (art. 171, II + art. 178, II, CC), que pode ser pleiteada em 4
anos a contar da celebração.
O negócio jurídico pode ser mantido, no caso do estado de perigo, desde que possa
ser revisado pelo juiz. Art. 156 + art. 157, CC. É o que dispõe o enunciado 148 do
CJF/STJ (Conselho da Justiça Federal e Superior Tribunal de Justiça): “Ao ‘estado de
perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2.º do art. 157”.

v. Lesão
A lesão está prevista no art. 157 e pode ser conceituada como sendo “o prejuízo
resultante da desproporção existente entre as prestações de um determinado negócio
jurídico, em face do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um
dos declarantes”.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

Sendo assim, lesão é:


LESÃO = premente necessidade ou inexperiência (elemento subjetivo) +
onerosidade excessiva (elemento objetivo).

a) Necessidade premente = precisar de algo, que leva a inevitável celebração do


negócio prejudicial (aquisição da casa própria x financiamento habitacional,
necessidade de dinheiro x financiamento bancário, etc).
b) Inexperiência = pode ser econômica, financeira, política, social ou técnica, no
momento da intepretação, constituindo a hipossuficiência do consumidor.
Neste aspecto o enunciado 410, CJF/STJ: A inexperiência a que se refere o art.
157 não deve necessariamente significar imaturidade ou desconhecimento em
relação à prática de negócios jurídicos em geral, podendo ocorrer também quando
o lesado, ainda que estipule contratos costumeiramente, não tenha conhecimento
específico sobre o negócio em causa.
Destaca-se, ainda, que a base estrutural do vício é o fato de que essa onerosidade
excessiva atinge a vontade, enquanto elemento subjetivo.
Segundo o § 2.º do art. 157, não haverá anulação do negócio se as partes fizerem
acerto e houver um aumento da prestação ou diminuição do preço, conforme o caso de
onerosidade excessiva.

vi. Fraude contra credores


Fraude contra credores é um vício social que se configura na “atuação maliciosa do
devedor, em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-se, ou dispõe de
maneira gratuita ou onerosa o seu patrimônio, para afastar a possibilidade de
responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à
transmissão” 20.
Exemplo: João, na iminência do vencimento de uma dívida que não terá condições
de pagar, vende a Maria imóvel de seu patrimônio. Maria sabe deste estado de
insolvência.
Configura-se, assim, o vício social que pode levar à anulação do negócio jurídico
(art. 158, CC), desde que proposta ação anulatória, pelo credor, no prazo de 4 anos a
contar da celebração do negócio fraudulento (art. 178, II, CC). Esta ação é denominada
de ação revocatória ou ação pauliana. Somente os credores que já o eram no momento
da disposição fraudulenta terão legitimidade para propor a ação pauliana (art. 158, § 2.º,
CC). No polo passivo devem figurar o devedor fraudulento e o terceiro que haja atuado de
má-fé (art. 161, CC).
Os fundamentos da ação pauliana são:
a) Negócios de transmissão gratuita de bens – art. 158, CC (doação);
b) Remissão de dívidas – art. 158, CC (devedor insolvente perdoa dívida de
terceiro);
c) Contratos onerosos do devedor insolvente:
a. Quando a insolvência for notória

20 TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. v.1. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p. 406.
b. Quando houver motivo para ser conhecida do outro contratante (a pessoa
que adquire o bem do devedor é um parente próximo, que deveria
presumir o seu estado de insolvência);
d) Antecipação de pagamento feita a um dos credores em detrimento dos demais –
art. 162, CC (neste caso, a ação é proposta também contra o beneficiário do
pagamento da dívida não vencida, que deverá repor aquilo que recebeu);
e) Outorga de garantia de dívida dada a um dos credores, em detrimento dos
demais – art. 163, CC (presunção de fraude. Caso da constituição de hipoteca
sobre bem do devedor insolvente, em benefício de um dos credores).
Anulado o negócio fraudulento, a vantagem resultante reverterá em proveito do
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores (art. 165, CC).
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos
preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará
somente na anulação da preferência ajustada.

Na fraude contra credores há um elemento objetivo, ou seja, a atuação prejudicial do


devedor e de terceiro, bem como um elemento subjetivo, ou seja, a vontade, a intenção
de prejudicar os credores.

FRAUDE CONTRA CREDORES = intenção de prejudicar credores (elemento


subjetivo) + atuação em prejuízo aos credores (elemento objetivo).

Para que possa haver a anulação, deve haver a colusão, ou seja, atuação
fraudulenta entre aquele que dispõe do bem e quem adquire, além do prejuízo causado
ao credor. Não havendo tais requisitos, não há que se falar em anulação.
Quando houver disposição gratuita de bens ou remissão de dívidas, há a dispensa
do elemento subjetivo (art. 158, CC). Assim:

Disposição onerosa de bens com Conluio fraudulento + evento danoso


intuito de fraude
Disposição gratuita de bens ou Basta o evento danoso
remissão de dívida
Deve-se destacar que a fraude contra credores é diferente da fraude à execução. A
fraude à execução está prevista no art. 792, CPC/2015:

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:


I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão
reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no
respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de
execução, na forma do art. 828;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro
ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude;
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor
ação capaz de reduzi-lo à insolvência;
V - nos demais casos expressos em lei.
§ 1o A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.
§ 2o No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem
o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante
a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local
onde se encontra o bem.
§ 3o Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à
execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende
desconsiderar.
§ 4o Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro
adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15
(quinze) dias.

O momento de ocorrência de ambas é diferente. Na fraude contra credores o


devedor aliena bens antecipadamente, em detrimento de seus credores, antes que estes
ingressem com qualquer ação. Na fraude à execução já há ação e, neste caso, o devedor
atua fraudulentamente e aliena bens, fraudando os credores e a execução. Embora fale-
se em fraude à execução, deve-se destacar que o ato ilícito ocorre mesmo quando a
alienação de patrimônio ocorre após ajuizamento e citação de ação ordinária que visa
gerar o título executivo judicial.

FRAUDE À EXECUÇÃO FRAUDE A CREDORES


Instituto de direito processual Instituto de direito material
O executado já citado em ação de O devedor tem várias obrigações
execução ou condenatória aliena assumidas perante credores e aliena
bens. Ainda, aliena bem constrito, de forma gratuita ou onerosa seus
com o registro da demanda ou de bens, visando prejudicar tais
hipoteca judiciária na matrícula do credores.
imóvel, nos termos do art. 792,
CPC/2015.
Má-fé presumida Ônus da prova do credor
Interesse do credor e do Estado, Interesse somente do credor, como
sendo considerados atos atentatórios particular prejudicado
à dignidade da Justiça (art. 774, I,
CPC/2015)
Atos declarados ineficazes Atos anuláveis
Declarável incidentalmente Objeto de ação anulatória, autônoma
e específica
Tipifica ilícito penal (CP, art. 179) Interesse puramente particular

vii. Simulação
Simulação é uma declaração enganosa, que vida produzir efeito diverso daquele
indicado. Segundo Gagliano e Pamplona Filho 21, “na simulação celebra-se um negócio
jurídico que tem aparência normal, mas que, na verdade, não pretende atingir o efeito que
juridicamente deveria produzir”.
Não é vício de vontade, mas sim um vício social.
Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada e a vontade interna, ou
seja, uma discrepância entre a vontade real e a declarada, entre a essência e a
aparência. As duas partes negociantes estão mancomunadas e objetivam iludir a
terceiros.
A simulação pode ser:
a) Absoluta: o negócio forma-se a partir de uma declaração de vontade ou
confissão de dívidas emitida para não gerar efeito jurídico algum. É criada uma
situação jurídica irreal, lesiva ao interesse de terceiro.
Ex.: para livrar bens da partilha imposta pelo regime, um dos cônjuge simula
negócio com amigo, contraindo falsa dívida, visando transferir bens para efetivar
o pagamento e prejudicar o outro cônjuge.
Neste caso, o negócio foi praticado para não produzir qualquer efeito. É,
portanto, uma simulação.
b) Relativa: também chamada de dissimulação. Há uma emissão de declaração
volitiva ou confissão falsa visando encobrir ato de natureza diversa, cujos efeitos
são proibidos por lei. Também ocorre quando a declaração de vontade é emitida
aparentando conferir direitos a uma pessoa, mas transferindo-os, em verdade,

21GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 445.
para terceiro, não integrante da relação jurídica. Aqui, diferente da simulação
absoluta, as partes pretendem atingir o resultado ou efeitos jurídicos concretos,
embora vedados por lei.
Ex.: homem casado que pretende doar bem à concubina. Como a lei veda essa
doação, o homem simula uma compra e venda que, em seu bojo, encobre o ato
que efetivamente se quer praticar: doação de bem à concubina.
Ex.: na mesma situação, o homem transfere a um terceiro o bem, que, em
seguida, doa o mesmo à concubina do homem casado.
Ex.: quando as partes de um negócio pós-datam ou antedatam documento,
objetivando situá-lo cronologicamente em período de tempo diverso do qual
realmente foi celebrado.

A simulação gera a nulidade do negócio praticado. Sendo simulação absoluta, é nulo


todo o ato. Caso seja simulação relativa, será nulo o negócio, mas subsistirá o que se
dissimulou se for válido na substância e na forma.
Ex.: um proprietário cede um imóvel a outrem celebrando contrato de comodato.
Contudo, por detrás dos panos é cobrado aluguel. O comodato, neste caso é inválido,
mas a locação é válida, desde que não ofenda a lei ou direitos de terceiros.
Ex.: alguém que faz contrato de prestação de serviços pelo CC. Contudo, estão
previstos todos os requisitos de contrato de trabalho regido pela CLT. Neste caso, será
nulo o contrato de prestação de servidos, mas válido o contrato regido pela CLT.
É o que prevê o art. 167, CC:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.

A alegação da simulação pode ser feita por terceiro, alheio ao negócio e, também,
pelos próprios negociantes, um contra o outro. Neste aspecto o enunciado 294, CJF/STJ:
“Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por
uma das partes contra a outra”. Não há necessidade de ação específica para a nulidade
do negócio simulado. Pode haver o reconhecimento incidental e de ofício pelo juiz em
demanda que tenha outro objeto.
A simulação pode ocorrer em três hipóteses, previstas no art. 167, § 1.º, CC. Trata-
se de rol exemplificativo, podendo ocorrer outros casos de simulação, sempre que houver
uma disparidade entre a vontade manifestada e a oculta.
a) De negócios jurídicos que visem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas
daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem (simulação subjetiva);
b) De negócios jurídicos que contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira (simulação objetiva);
c) De negócios jurídicos cujos instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-
datados (simulação objetiva).

É inoponível a terceiros de boa-fé os negócios jurídicos simulados.


§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.

Para encerrar, deve-se considerar a questão da reserva mental, que está prevista
no art. 110, CC e quando ilícita e conhecida do destinatário é vício social capaz de gerar a
nulidade do negócio jurídico. A reserva mental constitui-se de situações em que um dos
declarantes oculta sua verdadeira intenção, ou seja, quando não quer um efeito jurídico
que declara querer. Trata-se de uma enganação ao outro contratante. Se o outro
negociante souber da reserva mental, o negócio é nulo. Se o outro declarante, no entanto,
não souber da reserva, o ato subsiste e produz efeitos que o declarante não desejava.
- se a outra parte não tem conhecimento da reserva mental  negócio válido.
- se a outra parte sabe da reserva metal  negócio nulo, pois similar à simulação.
Exemplos de reserva mental:
a) Declaração de uma obra literária que anuncia que o produto da venda de seus
livros será destinado a uma instituição de caridade, quando, em verdade, não
pretende nada dito. Seu único objetivo é aumentar a venda dos livros. Caso os
compradores tenham conhecimento da reserva, a venda pode ser nulificada.
b) Declaração do testador que, com o objetivo de prejudicar herdeiro, faz disposição
em benefício de quem se diz devedor, o que não é verdade.
c) Homem que, visando relação sexual com uma mulher, promete toma-la como
esposa.
j. Invalidade do negócio jurídico
A expressão invalidade é utilizada para definir o negócio que não produz os efeitos
desejados pelas partes envolvidas. A invalidade do negócio jurídico abrange: a) a
inexistência do negócio; b) a nulidade absoluta (negócio nulo); a nulidade relativa ou
anulabilidade (negócio anulável).
O art. 183, CC prevê que a invalidade do instrumento não induz a invalidade do
negócio jurídico celebrado, desde que possa ser provada a celebração do mesmo por
outra forma. Ex.: contrato preliminar não pode ser anulado, se puder ser provado pelas
testemunhas (a forma é dispensada nos contratos preliminares – art. 462, CC).
Além disto, a invalidação de parte de um negócio jurídico não impede a validade da
outra parte, se esta for separável (art. 184, CC). Ocorrerá, neste caso, a redução do
negócio jurídico para a parte válida. Ex.: negócio jurídico cuja multa ou cláusula penal
tenha sido celebrada com lesão (art. 157, CC). Neste caso, somente a multa é anulável,
permanecendo o restante como válido.

i. Inexistência do negócio jurídico


Negócio inexistente é aquele que não produz efeitos porque lhe faltam requisitos
mínimos, no plano da existência, ou seja, partes, vontade, objeto e forma.
Não há, nestes casos, necessidade de uma declaração judicial, pois o ato
inexistente é um nada jurídico. Eventualmente, pode ser necessária a propositura de uma
ação para a declaração de inexistência de um negócio celebrado (ex., um casamento).
Nestes casos, aplicam-se as regras previstas para a nulidade absoluta.

ii. Nulidade
Nulidade é a sanção imposta pela lei aos negócios jurídicos, através da privação de
efeitos jurídicos, em razão de desobediência à prescrição da norma jurídica. Trata-se da
consequência imposta aos negócios jurídicos quando não estiverem preenchidos os
requisitos básicos para a existência válida do negócio.
A nulidade pode ser: absoluta (trata-se da nulidade propriamente dita) ou relativa
(trata-se das questões de anulabilidade do negócio). Neste tópico será tratada a nulidade
absoluta. A nulidade relativa será abordada em tópico próprio.
Na nulidade, o negócio não produz efeitos pois faltam a ele os requisitos de validade
previstos no art. 104, CC. Há uma ofensa às normas de ordem pública, sendo o negócio
absolutamente inválido.
O art. 166, CC estabelece as hipóteses de nulidade:
a) Negócio celebrado por absolutamente incapaz, sem representação (art. 3.º, CC);
b) Objeto ilícito, impossível, indeterminado ou indeterminável.
c) Motivo determinante do negócio for ilícito (intenção das partes). O objeto em si
não é ilícito, mas houve conluio entre as partes para alcançar fim ilegítimo ou
criminoso (ex.: venda de automóvel para utilizar num sequestro; aluguel de casa
para abertura de uma casa de prostituição – a venda e o aluguel não são ilícitos,
mas o motivo determinante dela sim).
d) Quando o negócio não obedecer a forma prevista na lei ou alguma solenidade
exigida não for obedecida (incisos IV e V). Ex.: compra e venda de imóvel de
valor superior a 30 salários mínimos celebrado por escritura particular (art. 108,
CC) (salário de 880,00 = R$26.400,00).
e) Negócio que tiver como objetivo fraudar a lei imperativa. Ex.: retrovenda cujo
objetivo é dar aparência de legalidade a um contrato de mútuo em que foram
cobrados juros abusivos. “Trata-se de manobra engendrada pelo fraudador para
violar dispositivo expresso de lei, objetivando esquivar-se de obrigação legal ou
obter proveito ilícito. As legislações fiscal e trabalhista costumeiramente são
atingidas por esta espécie de fraude, realizada sob diferentes formas” 22.
f) Quando a lei expressamente o declarar nulo ou proibir a prática, sem cominar
sanção. Ex.: vedação de doação de todos os bens sem reserva de mínimo para
sobrevivência do doador (art. 548, CC). Ex.: é nulo o contrato que tenha por
objeto herança de pessoa viva.

22GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: parte geral. v.1.
18.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 463.
Além dessas hipóteses, também é nulo o negócio simulado, subsistindo, apenas o
que se dissimulou (art. 167, CC).
Também é nulo o negócio jurídico viciado em razão de coação física, em razão da
ausência de vontade livre e de boa-fé.

Procedimento da nulidade. Para a declaração da nulidade, necessária a


proposição de ação declaratória de nulidade. Esta ação é imprescritível, por envolver
preceitos de ordem pública (art. 169, CC).

Efeitos da nulidade. Em razão de envolverem preceitos de ordem pública e


interesse de todos, podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério
Público (quando lhe couber intervir) (art. 168, CC).
As nulidades devem ser pronunciados pelo juiz, quando conhecer do negócio ou de
seus efeitos – declarada de ofício (art. 168, § único).
O art. 169, CC prevê que a nulidade não pode ser confirmada pelas partes, nem
convalesce em razão do decurso do tempo (imprescritibilidade da ação declaratória de
nulidade).
Via de regra, a nulidade liquida totalmente o negócio jurídico. Contudo, prevê o art.
170, CC que, se o negócio jurídico contiver requisitos de outro, subsiste o negócio quando
o fim a que visavam as partes permitir supor que teriam querido este outro negócio se
soubessem da nulidade. Assim, poderá o juiz fazer a conversão a este novo negócio, sem
decretar a nulidade. Ex.: compra e venda de imóvel de valor superior a 30 salários
mínimos celebrado por escritura particular. É nulo o negócio. Contudo, pode ser
convertido em compromisso de compra e venda (que pode ser feito por escrito particular).
Para que isto ocorra, o negócio nulo deve conter todos os requisitos do negócio a ser
convertido.
A sentença que declara a nulidade tem efeitos erga omnes (contra todos). Os efeitos
declaratórios têm efeitos ex tunc, ou seja, retroagem ao momento da celebração do
negócio. Contudo, os interesses de terceiros de boa-fé devem ser preservados. Neste
sentido, o enunciado 537, CFJ/STJ, determina: “A previsão contida no art. 169 não
impossibilita que, excepcionalmente, negócios jurídicos nulos produzam efeitos a serem
reservados quando justificados por interesses merecedores de tutela”. Ex.: casamento
entre irmãos. Produz todos os efeitos até a declaração de nulidade. Os efeitos retroagem
à data da celebração, sendo o casamento considerado como se jamais tivesse existido.
Contudo, os efeitos são aproveitados às partes que estiverem de boa-fé.

iii. Anulabilidade
A nulidade relativa ou anulabilidade envolve preceitos de ordem privada, de
interesse das partes.
As hipóteses de anulabilidade constam no art. 171, CC:
a) Negócio celebrado por relativamente incapaz, sem a devida assistência (art. 4.º,
CC);
b) Existência de vício no negócio jurídico: erro, dolo, coação moral ou psicológica,
lesão, estado de perigo ou fraude a credores.
c) Casos especificados pela lei como de anulabilidade. Ex.: venda de imóvel exige
outorga conjugal (art. 1.647 e 1.649). Se não houver tal outorga, o negócio
jurídico celebrado é anulável.
Procedimento da anulabilidade. Para que um negócio seja anulado, deve haver a
propositura de ação anulatória. Esta ação tem natureza constitutiva negativa, o que
significa dizer que possui prazos decadenciais, os quais estão previstos nos arts. 178 e
179, CC:
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do
negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em
que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer
prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da
conclusão do ato.

No caso da coação, o prazo de 4 anos inicia do momento em que cessa a coação.


Nas situações de erro, dolo, fraude a credores, estado de perigo ou lesão, o prazo
de 4 anos inicia da celebração do negócio jurídico.
Nos atos praticados por incapazes, os 4 anos iniciam no momento em que cessar a
incapacidade.
Quando não houver prazo especificado na legislação, o prazo para pleitear a
anulação é de 2 anos, a contar da conclusão do negócio.
Estes prazos, previstos nos arts. 178 e 179 valem para as partes celebrantes.
Quanto a terceiros interessados (ou prejudicados) com o negócio celebrado, a contagem
do prazo inicia-se da sua ciência. É a previsão do enunciado 538, CJF/STJ: “No que diz
respeito a terceiros eventualmente prejudicados, o prazo decadencial de que trata o art.
179 do Código Civil não se conta da celebração do negócio jurídico, mas da ciência que
dele tiveram”.
Neste sentido a decisão do STJ:

Direito civil. Agravo no recurso especial. Ação pauliana. Prazo Decadencial. Termo
inicial. Registro Imobiliário. - A decadência é causa extintiva de direito pelo seu
não exercício no prazo estipulado em lei, cujo termo inicial deve coincidir com o
conhecimento do fato gerador do direito a ser pleiteado. - O termo inicial do prazo
decadencial de quatro anos para propositura da ação pauliana é o da data do
registro do título aquisitivo no Cartório Imobiliário, ocasião em que o ato registrado
passa a ter validade contra terceiros. Precedentes. Agravo no recurso especial
não provido. (AgRg no REsp 743.890/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 20/09/2005, DJ 03/10/2005, p. 250)

Direito civil. Agravo no recurso especial. Ação pauliana. Prazo Decadencial. Termo
inicial. Registro Imobiliário. - A decadência é causa extintiva de direito pelo seu
não exercício no prazo estipulado em lei, cujo termo inicial deve coincidir com o
conhecimento do fato gerador do direito a ser pleiteado. - O termo inicial do prazo
decadencial de quatro anos para propositura da ação pauliana é o da data do
registro do título aquisitivo no Cartório Imobiliário, ocasião em que o ato registrado
passa a ter validade contra terceiros. Precedentes. Agravo no recurso especial
não provido. (AgRg no REsp 743.890/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 20/09/2005, DJ 03/10/2005, p. 250)

Efeitos da anulabilidade. A anulabilidade não pode ser reconhecida de ofício pelo


juiz. Deve ser alegada pelo interessado, através da ação de anulação (arts 177 e 178,
CC). Também não cabe ao Ministério Público propor a ação.
O art. 172, CC prevê que o negócio jurídico anulável pode ser confirmado
(convalidado) pelas partes, salvo o direito de terceiro. Trata-se da valorização a boa-fé. A
convalidação deve conter uma confirmação expressa do negócio jurídico, com
manifestação expressa da vontade (art. 173, CC). Se o negócio já tiver sido cumprido em
parte pelo devedor, mesmo ciente do vício, há a dispensa da convalidação expressa (art.
174, CC). Neste caso, trata-se de uma convalidação tácita. O art. 175, CC prevê que uma
vez tendo sido confirmado o negócio, não há mais como revogar o negócio, não cabendo
qualquer requerimento de anulação posterior.
O art. 176, CC prevê que: “quando a anulabilidade do ato resultar da falta de
autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente”. Assim, o negócio
celebrado por menor púbere (16 a 18 anos) pode ser validado se houver autorização do
pai ou tutor posteriormente.
O menor púbere (16 a 18 anos) não pode se valer da própria torpeza, beneficiando-
se de ato malicioso. Assim, não cabe a alegação da idade, para eximir-se da obrigação,
quando, na celebração do negócio, omitiu a informação de ser relativamente incapaz.
Neste caso, reputa-se válido o negócio (art. 180, CC).
Além disto, o art. 181, CC prevê que “Ninguém pode reclamar o que, por uma
obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a
importância paga”. Em razão da vedação do enriquecimento sem causa, permite-se que,
havendo prova de que o menor se beneficiou, a pessoa reveja o dinheiro pago.
A sentença anulatória produz efeitos inter partes. Os efeitos são ex nunc (não
retroagem), ou seja, só produz efeitos a sentença a partir do seu trânsito em julgado (art.
177, CC). Contudo, há o desfazimento do negócio, voltando ao estado anterior. Ex.:
casamento anulável (volta ao status de solteiro).
Nulidade e anulabilidade. Quadro comparativo.
Negócio nulo (ordem pública) Negócio anulável (ordem privada)
• Negócio celebrado por • Negócio celebrado por
absolutamente incapaz, sem a relativamente incapaz, sem a
devida representação (art. 3.º, devida assistência (art. 4.º,
CC) CC)
• Objeto ilícito, impossível, • Quando houver vício
indeterminado ou acometendo o negócio
indeterminável jurídico: erro, dolo, coação
• Motivo a ambas as partes for moral/psicológica, estado de
ilícito perigo, lesão e fraude contra
• Desrespeito à forma ou credores
preterida alguma solenidade • Lei prevê a anulabilidade
• Objetivo do negócio de fraude
à lei imperativa
• Lei prevê a nulidade absoluta
(nulidade textual) ou proibir o
ato sem cominar sanção
(nulidade virtual)
• Negócio simulado, incluída a
reserva mental
• Presença de coação física
• Nulidade absoluta (nulidade) • Nulidade relativa
• Ação declaratória de nulidade (anulabilidade)
– imprescritível • Ação anulatória, com previsão
• Não pode ser suprida nem de prazos decadenciais
sanada, inclusive pelo juiz. • Pode ser suprida, sanada,
Exceção: conversão do inclusive pelas partes
negócio jurídico (art. 170, CC) (convalidação livre)
• Ministério Público pode intervir • Ministério Público não pode
na ação de nulidade absoluta. intervir na ação anulatória
• Cabe decretação de ofício pelo • Não cabe decretação de ofício
juiz. pelo juiz.
• Sentença da ação declaratória • Sentença da ação anulatória
tem efeitos erga omnes tem efeitos inter partes (entre
(contra todos). as partes).
• Sentença tem efeitos ex tunc - • Sentença da ação anulatória
retroativos tem efeitos ex nunc – não
retroagem

k. Prova do negócio jurídico


Uma vez que o negócio jurídico tenha sido aperfeiçoado, pode necessitar, por algum
motivo, de prova. A prova é, então, o meio empregado para demonstrar e comprovar a
existência de negócios jurídicos.
Via de regra, a prova encontra-se no terceiro degrau da escala ponteana, ou seja, no
plano da eficácia, pois mantém relação com as consequências do negócio.
As provas são tratadas tanto pelo Código Civil quanto pelo Código de Processo Civil.

i. Meios de prova previstos no Código Civil


O art. 212, CC prevê as formas de provas (salvo casos em que a lei prever forma
especial): confissão, documento, testemunha, presunção e perícia.
Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser
provado mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.

Esse rol é exemplificativo, pois existindo outras formas, elas não serão excluídas.
Neste aspecto, o art. 369, CPC/2015, dispõe:
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a
verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz.

Sendo assim, cabe, por exemplo, provas obtidas através de meio eletrônico. A prova
digital, obtida pela internet, não pode ser classificada como documento. Os Enunciados
297 e 298, CJF/STJ já previam:
297 – Art. 212. O documento eletrônico tem valor probante, desde que seja apto a
conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria,
independentemente da tecnologia empregada.

298 – Arts. 212 e 225. Os arquivos eletrônicos incluem -se no conceito de


“reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas”, do art. 225 do Código Civil, aos
quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova documental.

O CPC/2015 prevê a possibilidade de utilização desse meio de prova. O art. 422 faz
essa previsão.
Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a
fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das
coisas representadas, se a sua conformidade com o documento original não for
impugnada por aquele contra quem foi produzida.
§ 1o As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de computadores fazem
prova das imagens que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser apresentada a
respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perícia.
§ 2o Se se tratar de fotografia publicada em jornal ou revista, será exigido um
exemplar original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outra parte.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo à forma impressa de mensagem eletrônica.

Outros dispositivos, também do CPC/2015 fazem a previsão da possibilidade de


utilização dos meios eletrônicos como prova:
Art. 439. A utilização de documentos eletrônicos no processo convencional
dependerá de sua conversão à forma impressa e da verificação de sua
autenticidade, na forma da lei.
Art. 440. O juiz apreciará o valor probante do documento eletrônico não
convertido, assegurado às partes o acesso ao seu teor.
Art. 441. Serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e conservados com
a observância da legislação específica.
As publicações em redes sociais também vêm sendo admitidas como meio de prova.
A partir daí, necessário que se analise cada um dos meios de prova contidos no art. 212,
CC: confissão, documento, testemunha, presunção e perícia.

Confissão.
A confissão é uma declaração feita por alguém, contra quem se pretende provar fato
ou negócio jurídico. Neste aspecto é a previsão do art. 389, CPC/2015:
Art. 389. Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite a verdade
de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário.

Assim, a confissão é ato pelo qual a parte, espontaneamente ou não, judicial ou


extrajudicialmente, admite a verdade de um fato contrário ao seu interesse e favorável ao
adversário.
A confissão também pode ser tácita ou expressa. Expressa é quando há
manifestação. Tácita é a confissão quando há o silêncio. Ex.: os fatos contidos na inicial e
não contestados serão presumidos como verdadeiros (art. 341, CPC/2015) (Art. 341.
Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato
constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas).
A confissão não tem eficácia se provém de alguém que não tem capacidade de
dispor do direito a que se referem os fatos confessados (art. 213, CC; 392, § 1.º,
CPC/2015).
Também não é eficaz a confissão feita por absolutamente incapaz.
Não servem de prova a confissão de fatos relativos a direitos indisponíveis. Ex.: Art.
1.600. Não basta o adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção
legal da paternidade.
A confissão pode ser feita por mandatário (representante) (art. 213, § único). Assim,
a confissão é ato não personalíssimo e impessoal. Contudo, sua eficácia limita-se aos
poderes da representação. Os poderes para tanto devem ser especiais, ou seja, deve
contar no instrumento de mandato os poderes para confessar.
A confissão é irrevogável e irretratável. Contudo, poderá ser anulada se for
produzida com base em erro ou coação (art. 214, CC; art. 393, CPC/2015).
Documentos.
Representam um fato, destinando-se a conservá-lo para prová-lo no futuro.
Os documentos podem ser: públicos e particulares.
Particulares – feitos mediante atividade privada, ou seja, documentos firmados por
particulares. Ex.: cartas, telegramas.
Públicos – documentos elaborados por autoridade pública no exercício de suas
funções. Ex.: escritura pública, certidões, traslados, etc.
O art. 215, CC dispõe que a escritura púbica é documento dotado de fé pública.
Assim, não cabe provar com testemunhas contra a escritura, pois ela é documento
fidedigno, em razão da fé púbica do tabelião.
O art. 215, § 1.º, CC estabelece os requisitos que devem constar na escritura
pública:
§ 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve
conter:
I - data e local de sua realização;
II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam
comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;
III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes
e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens
do casamento, nome do outro cônjuge e filiação;
IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;
V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à
legitimidade do ato;
VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes,
ou de que todos a leram;
VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião
ou seu substituto legal, encerrando o ato.

Se esses requisitos não forem observados pelo Tabelião de Notas, fará com que a
escritura pública seja nula.
A escritura pode ser lavrada em qualquer Tabelionato de Notas do território nacional.
Não é obrigatório lavrar a escritura no local onde se reside ou onde está localizado o
imóvel. Contudo, o registro imobiliário deve ser feito no local onde está localizado o bem.
Segundo o art. 108, CC, só se exige escritura pública para lavratura de atos de disposição
de imóveis acima de 30 salários mínimos.
O § 2.º do art. 215, CC prevê que se algum comparecente não puder ou não souber
escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo. O ato, ainda assim, será
válido.
A escritura é redigida em língua nacional (§ 3.º). Se não o for, será nula.
(§ 4.º) Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião
não entender o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para
servir de intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do
tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes.
(§ 5.º) Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder
identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que
o conheçam e atestem sua identidade. Sendo assim, primeiro o Tabelião deve identificar
os comparecentes documentalmente (documento com foto).
Assim, quando a lei exigir instrumento público, nenhuma outra prova, por mais
especial que seja, pode substituir sua falta (art. 406, CPC/2015).

O documento deve ser exibido, como prova, no formato original. Contudo, também
servirão de prova, as certidões judiciais. Art. 216, CC:
Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer
peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do
escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas,
assim como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados.

Também servem de prova os traslados e certidões do tabelião. Art. 217, CC:


Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por
tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas
notas.

Neste mesmo sentido é o art. 425, CPC/2015:


Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:
I - as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do protocolo das audiências
ou de outro livro a cargo do escrivão ou do chefe de secretaria, se extraídas por
ele ou sob sua vigilância e por ele subscritas;
II - os traslados e as certidões extraídas por oficial público de instrumentos ou
documentos lançados em suas notas;
III - as reproduções dos documentos públicos, desde que autenticadas por oficial
público ou conferidas em cartório com os respectivos originais;
IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas
autênticas pelo advogado, sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for
impugnada a autenticidade;
V - os extratos digitais de bancos de dados públicos e privados, desde que
atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem
com o que consta na origem;
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular,
quando juntadas aos autos pelos órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo
Ministério Público e seus auxiliares, pela Defensoria Pública e seus auxiliares,
pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados,
ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração.
§ 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI deverão
ser preservados pelo seu detentor até o final do prazo para propositura de ação
rescisória.
§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou de documento
relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar seu depósito em
cartório ou secretaria.

Certidão é reprodução do que se encontra expresso em livro ou documento.


Traslado é cópia do que está lançado no livro ou nos autos.

Ainda sobre documentos, o art. 219 dispõe:


Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se
verdadeiras em relação aos signatários.
Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais
ou com a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não eximem os
interessados em sua veracidade do ônus de prová-las.

Significa dizer que os documentos assinados, públicos ou particulares, tem eficácia


(são verdadeiros) entre as partes que neles lançaram suas assinaturas (art. 408,
CPC/2015). Trata-se de presunção relativa, podendo ser afastada por outro meio de
prova. Ex.: cartão ponto no direito do trabalho faz prova da jornada de trabalho. Cabe,
contudo, ao trabalhador fazer prova, por outros meios da existência de horas extras não
registradas e não pagas.
Declarações enunciativa – qualificação das partes, por exemplo.
Existem situações que a lei determina que o cônjuge outorgue anuência ao outro,
para que possa celebrar negócio jurídico (ex.: art. 1.647, CC). Nestes casos, o art. 220
dispõe que:
Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato,
provar-se-á do mesmo modo que este, e constará, sempre que se possa, do
próprio instrumento.

Assim, só por instrumento público poderá ser a procuração outorgada pelos


cônjuges, um ao outro, para a outorga marital, para a venda de bens imóveis, essencial a
validade da escritura pública.

Com relação aos instrumentos particulares, o art. 221, CC dispõe que:


Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por
quem esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova as
obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os
da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro
público.
Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir-se pelas outras de
caráter legal.

Diferente do instrumento público, o particular não tem força probante absoluta. O


que consta em instrumento particular pode ser provado de outra forma (testemunhas, por
exemplo). O instrumento particular gera efeitos apenas entre as partes que o firmaram.
Para valer contra terceiros, deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos.

O art. 222, CC trata do telegrama, prevendo que quando houver contestação de sua
autenticidade, a prova poderá ser feita mediante conferencia com o original assinado.
Art. 222. O telegrama, quando lhe for contestada a autenticidade, faz prova
mediante conferência com o original assinado.

Com relação ao correio eletrônico (e-mail), o Enunciado 18, CJF/STJ, dispõe:


A "quitação regular" referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação
dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de "comunicação a distância",
assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos
jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus
representantes.

A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá como


prova da declaração de vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser exibido o
original (art. 223, CC). Trata-se das cópias autenticadas.

O art. 225 dispõe:


Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos
e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou
de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não
lhes impugnar a exatidão.

Em termos de fotografia digital, publicada na internet, deve-se comprovar sua


veracidade através de sua autenticação eletrônica ou através de perícia que lhe prove a
veracidade. Em se tratando de foto publicada em jornal, deve ser apresentado exemplar
do jornal para efetivar a prova. Art. 422, CPC/2015.
Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a
fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das
coisas representadas, se a sua conformidade com o documento original não for
impugnada por aquele contra quem foi produzida.
§ 1o As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de computadores fazem
prova das imagens que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser apresentada a
respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perícia.
§ 2o Se se tratar de fotografia publicada em jornal ou revista, será exigido um
exemplar original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outra parte.
§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo à forma impressa de mensagem eletrônica.

Por fim, o art. 226, determina:


Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as
pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício
extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios.
Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos
em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos
especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos
lançamentos.

Não se trata de prova absoluta, pois pode ser afastada a presunção de veracidade,
através da comprovação da falsidade, por perícia técnica.

Testemunhas.
Testemunhas são pessoas chamadas a depor sobre determinados fatos, visando a
comprovação ou elucidação dos mesmos. As testemunhas podem ser:
Judiciárias. Aquelas convocadas para depor em juízo.
Instrumentárias. São as que se pronunciam extrajudicialmente, sobre determinado
documento.
A prova testemunhal é sempre admissível, desde que a lei não exija prova de modo
diverso (art. 442, CPC/2015).
As pessoas que depuserem em juízo como testemunhas deverão prestar
compromisso de dizer a verdade. Caso não digam a verdade, poderão incorrer no crime
de falso testemunho. O juiz esclarece isto às testemunhas e, se aceitarem, estarão
compromissadas com o juízo.
Contudo, não podem ser testemunhas (art. 228, CC + art. 447, CPC/2015):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado);
III - (Revogado);
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro
grau de alguma das partes, por consanguinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições
com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia
assistiva.

Tecnologia assistiva – recursos ou sistemas computadorizados especiais, capazes


de contemplar a acessibilidade, uso de roupas adaptadas, enfim, tudo o que possa
auxiliar a pessoa com deficiência, promovendo sua inclusão social.
O art. 447, CPC/2015 dispõe que qualquer pessoa pode ser testemunha, salvo as
incapazes, impedidas ou suspeitas, definindo quem são elas:
Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as
incapazes, impedidas ou suspeitas.
§ 1o São incapazes:
I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em que
ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não
está habilitado a transmitir as percepções;
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;
IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.
§ 2o São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o
colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao
estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute
necessária ao julgamento do mérito;
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da
pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as
partes.
§ 3o São suspeitos:
I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;
II - o que tiver interesse no litígio.
§ 4o Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas
menores, impedidas ou suspeitas.
§ 5o Os depoimentos referidos no § 4o serão prestados independentemente de
compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer.

Pode, excepcionalmente o juiz permitir o depoimento de pessoas incapazes,


impedidas ou suspeitas. Contudo, serão ouvidas como informantes do juízo e não como
testemunhas. Neste caso, não prestarão compromisso de dizer a verdade.
Por fim, ninguém será obrigado a depor sobre fato – art. 448, CPC/2015:
Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre fatos:
I - que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge ou companheiro e
aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau;
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.

Trata-se do sigilo profissional e proteção aos interesses pessoais da testemunha.

Presunção.
É a dedução de um fato conhecido para demonstrar outro desconhecido.
Consequência que tem como ponto de partida um fato conhecido para chegar ao
ignorado.
Exemplo de presunção: como é conhecido o fato de que o credor só entrega o título
(promissória) ao devedor com o pagamento, presume-se que se o devedor está de posse
da promissória, houve pagamento.
As presunções podem ser: legais (decorrentes da lei. Ex.: presunção de
paternidade) ou comuns (que se baseiam no que ordinariamente ocorre, na experiência
da vida. Ex.: presume-se que as dívidas do marido sejam contraídas em benefício da
família).
Neste aspecto, deve-se destacar os arts. 231 e 232, CC:
Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não
poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que
se pretendia obter com o exame.

Situação mais comum é nos casos de investigações de paternidade em que o


suposto pai nega-se a fazer o exame de DNA. Neste caso, cabe a presunção de
paternidade, não sendo mais necessária a prova da paternidade através do exame, em
razão da recusa. No mesmo sentido é a previsão da súmula 301, STJ:
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA
induz presunção juris tantum de paternidade.”

Trata-se de uma presunção relativa, pois pode ser afastada através da realização
posterior do exame de DNA.
Aliás, as presunções podem ser: absolutas (que não admitem prova em contrário.
Ex.: vulnerabilidade do consumidor) ou relativas (que admitem prova em contrário. Ex.:
presunção de paternidade).
Perícias.
Perícia é o exame ou vistoria.
Exame é a apreciação de alguma coisa, por peritos, para auxiliar o juiz a formar sua
convicção. Ex.: exame grafotécnico, exame de sangue
Vistoria é uma perícia restrita à inspeção ocular. É diligencia frequente nas ações
imobiliárias, possessórias ou demarcatórias.
Também é prova pericial a avaliação, ou seja, atribuição de valor de mercado a
algum bem.

12. ATO ILÍCITO


O ato jurídico em sentido amplo é toda ação humana lícita que crie, modifique ou
extinga direitos e obrigações. Contudo, nem todo ato jurídico é lícito, pois é possível que a
pessoa atue em contrariedade ao direito, violando normas jurídicas e causando prejuízo a
alguém. Nestas situações, tem-se os atos ilícitos. Assim, ato ilícito é todo ato praticado
com infração ao dever legal de não lesar a outra pessoa.

São elementos componentes do ato ilícito:


a) Ação humana (positiva ou negativa)
b) Contrariedade ao direito ou ilicitude (violação de dever jurídico preexistente)
c) Prejuízo (material ou moral)
O ato ilícito é um só, mas pode atingir várias esferas do direito: civil, administrativo e
penal. Ex.: um homem atravessa o sinal vermelho, bate de carro em outra pessoa,
causando prejuízos financeiros (danos ao veículo) e danos físicos na pessoa que está no
carro. Neste caso, as três esferas foram violadas. Haverá multa de trânsito, por passar o
sinal vermelho; indenização por danos materiais, por ter estragado o carro; e privação da
liberdade, em razão do crime cometido.
O ato ilícito é, portanto, um ato consciente e voluntário do ser humano que
transgride dever jurídico.
Neste aspecto é a previsão do art. 186, CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Sendo assim, havendo o dano, causado pelo ato ilícito, haverá a responsabilidade.
Mas para que exista a responsabilidade, deve haver a presença de três elementos:
a) Fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência;
b) Ocorrência de um dano patrimonial ou moral;
c) Nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente.

Quanto a responsabilidade civil, observar o conteúdo trabalhado diretamente na


disciplina.

a. Abuso de direito
O art. 187, CC reconhece a teoria do abuso de direito:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

O abuso de direito são situações em que alguém abusa de seu direito e prejudica
outrem. Não há que se provar a culpa para que surja o dever de indenizar os danos
causados.
b. Causas excludentes de ilicitude
O direito prevê como causas de exclusão da ilicitude o exercício regular do direito, a
legítima defesa e o estado de necessidade.
Neste sentido, prevê o art. 188, CC:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de
remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.

Assim, a legítima defesa constitui-se de reação proporcional a uma injusta agressão,


atual ou iminente, utilizando-se moderadamente dos meios de defesa postos à disposição
do ofendido. Se os meios forem desnecessários ou imoderados pode caracterizar o
excesso, proibido pelo direito. Se o ato foi praticado contra o próprio agressor, e em
legítima defesa, não há que se falar em responsabilidade civil pelos danos causados.
Contudo, se terceira pessoa tiver sido atingida, por engano, haverá o dever de reparar o
dano, mas existirá, também, o direito de ação regressiva contra o agressor (art. 930, §
único, CC).
O exercício regular do direito significa que se alguém, no uso normal de um direito
lesar outrem, não terá qualquer responsabilidade pelo dano, por não ser um procedimento
ilícito.
O inciso II, do art. 188, CC, trata do estado de necessidade e prevê que se alguém,
para remover perigo iminente destruir alguma coisa alheia ou agredir a outrem, deverá
indenizar o outro, cabendo ação regressiva contra o verdadeiro agressor (arts. 929 e 930,
CC). O estado de necessidade consiste, então, em situação de agressão a um direito
alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover
perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de
atuação. Só será legítimo o estado de necessidade quando as circunstâncias o torarem
absolutamente necessário.
Estado de necessidade e legítima defesa são distintos, pois no primeiro, o agente
não reage a uma situação injusta, mas age ara subtrair um direito seu ou de outrem de
uma situação de perigo concreto. Ex.: alguém que desvia o carro do bebê, para não
atropelá-lo, mas atinge o muro da casa, causando danos materiais. Agiu em estado de
necessidade. Terá o dever de indenizar os prejuízos materiais causados, embora não seja
ato ilícito.
Sendo assim, em situações excepcionais, os atos lícitos poderão impor a obrigação
de indenizar. Ex.: art. 1.285, CC.

13. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA


O exercício de um direito não pode ficar pendente, indefinidamente, no tempo. O
titular do direito deve exercê-lo dentro do prazo.
Sendo assim, com base na certeza e na segurança da ordem jurídica, surge a
matéria da prescrição e da decadência, pois não é razoável que sejam estabelecidas
relações jurídicas perpétuas, capazes de obrigar sem limitação temporal.

a. O tempo como fato jurídico


O tempo não para e é, justamente, os efeitos jurídicos do decurso do tempo, que
trata a prescrição e a decadência.
O tempo é um fato jurídico natural e traz repercussões no nascimento, exercício e
extinção de direitos.
O decurso de tempo pode ser fato gerador de aquisição de direitos. Ex.: usucapião,
onde a posse mansa e pacífica por certo período de tempo possibilita a aquisição da
propriedade de imóvel.
O tempo tem força modificativa. Ex.: situação das capacidades. Alguém com 15
anos é incapaz, mas com o decurso do tempo deixará de sê-lo.
O tempo também pode determinar a morte de certos direitos ou pretensões
decorrentes de sua violação, que é o caso da prescrição e da decadência.
b. Prescrição
A prescrição é a perda da pretensão de reparação do direito violado, em razão da
inércia do titular, dentro do prazo previsto pela lei. Neste aspecto, o art. 189, CC,
determina:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Assim, se o titular permanecer inerte, a pena será a perda da pretensão judicial de


cobrança que teria.
A prescrição, é, com isto, um benefício para o devedor, pela regra de que o direito
não socorre àqueles que dormem.
A prescrição pode ser:
a) Extintiva: é a perda da pretensão.
b) Aquisitiva: relativa ao direito das coisas – usucapião.
c) Intercorrente: quando o autor de processo já iniciado permanece inerte, de
forma continuada e ininterrupta, durante lapso temporal suficiente para a perda
da pretensão. Interrompida a prescrição o prazo voltará a fluir do último ato do
processo que a interrompeu.

A prescrição extintiva é um fato jurídico stricto sensu, relacionado ao decurso do


tempo e, portanto, a fatos naturais.
Na prescrição, o que ocorre é a extinção da pretensão. O direito, contudo,
permanece incólume, mas sem a proteção jurídica para solucioná-lo.

Pretensões imprescritíveis
Apesar de a prescrição ser a regra, existem pretensões que são imprescritíveis
(exceção):
a) Que protegem os direitos da personalidade: vida, honra, liberdade, integridade
física ou moral, imagem, nome, obras literárias, artísticas ou científicas.
b) As que se prendam ao estado das pessoas: filiação (prescreve, contudo, a ação
de petição de herança – 10 anos a contar do óbito), qualidade de cidadania
(interdição), condição conjugal (separação, divórcio)
c) As de exercício facultativo ou potestativo: não existe direito violado, como as
destinadas a extinguir o condomínio (ação de divisão – Art. 1.320, CC), pedir a
meação no muro do vizinho;
d) As referentes a bens públicos de qualquer natureza;
e) As que protegem o direito de propriedade, que é perpétuo;
f) As pretensões de reaver bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito,
penhor ou mandato.
g) As destinadas a anular inscrição do nome empresarial feita com violação de lei
ou contrato (Art. 1.167, CC).
h) Pretensões de ressarcimento do erário por danos decorrentes de atos de
improbidade administrativa (segundo o STJ)

Prescrição e institutos afins


Alguns institutos, por também sofrerem a ação do tempo, são semelhantes à
prescrição, mas com ela não se confundem:
Preclusão – perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no tempo
certo. Ex.: não juntou documentos com a inicial, precluiu o prazo para juntar.
Perempção – também de natureza processual, consiste na perda do direito de ação
pelo autor contumaz, que tenha dado causa a três arquivamentos sucessivos. Passa a
poder alegar o direito apenas como matéria de defesa (não pode ingressar com nova
ação).

Disposições gerais sobre prescrição


A prescrição é a perda ou extinção da pretensão, por relacionar-se com um direito
subjetivo.
Os arts. 205 e 206, CC tratam dos prazos de prescrição.
O prazo de prescrição inicia sua contagem, segundo o enunciado 14 do CJF/STJ, do
surgimento da pretensão – violação do direito subjetivo:

Enunciado 14: Art. 189: 1) O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento
da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz
respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do
direito absoluto ou da obrigação de não fazer.
Assim, no caso de uma dívida, a prescrição começa a correr no momento em que
não há o pagamento (vencimento + inadimplemento). No caso de um ato ilícito, inicia a
prescrição com a ocorrência do evento danoso.
Em havendo uma condição ou prazo, a contagem da prescrição inicia com a
implementação
Mas para que se configure a prescrição, necessária a presença de três elementos:
a) Existência de uma pretensão exercitável;
b) Inércia do titular pelo seu não exercício;
c) Decurso de tempo fixado em lei.

O art. 190 estabelece que a exceção prescreve no mesmo prazo em que a


pretensão. A exceção é a alegação de uma pretensão como defesa.

Renúncia da prescrição.
Art. 191 – não cabe renúncia prévia da prescrição. Só é cabível quando já
consumada a prescrição. Assim, são dois os requisitos para a validade da renúncia à
prescrição: a) que já tenha sido consumada; b) que não prejudique terceiros (credores
que poderão ser prejudicados com a renúncia da prescrição).
A renúncia pode ser:
a) Expressa – manifestação taxativa, inequívoca, escrita ou verbal, por parte do
devedor, de que não pretende se utilizar da prescrição.
b) Tácita – art. 191, CC, é a que se presume de fatos do interessado, incompatíveis
com a prescrição. Ex.: uma vez consumada a prescrição, ato de reconhecimento
da dívida por parte do devedor, como, por exemplo, o pagamento parcial da
dívida ou composição visando a solução futura do débito.
Sendo assim, mesmo havendo dívida prescrita, não há óbice ao fato de o devedor
quitar tal dívida. Contudo, o art. 882, CC determina que não cabe repetição do indébito
quando feito pagamento para quitar dívida prescrita.
Prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo entre as partes
Art. 192 – os prazos prescricionais não podem ser alterados por acordo entre as
partes.

Prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição


Art. 193 – a parte a quem aproveite a prescrição pode ser alegada em qualquer fase
ou estado da causa, em primeira ou segunda instância, ou seja, em qualquer fase do
processo de conhecimento (mesmo que não tenha sido alegada em contestação).
Não cabe alegar prescrição em fase de cumprimento de sentença, salvo a
superveniente, ou seja, aquela que surja após a sentença.
Se a prescrição não foi arguida na primeira ou segunda instância, não cabe sua
alegação perante os Tribunais Superiores (STJ ou STF), por falta de prequestionamento.

Prescrição pode ser alegada pela parte a quem aproveita


Art. 193 – A alegação da prescrição não cabe apenas ao devedor, mas a quem
possa interessar seu reconhecimento. Ex.: credores do devedor (ou prescribente)
insolvente.
Também pode alegar a prescrição o representante do Ministério Público.

A prescrição pode ser suprida de ofício pelo juiz.


Com a revogação do art. 194, CC, verifica-se da possibilidade de que o juiz, de
ofício, reconheça a prescrição, até mesmo em razão da celeridade processual. Contudo, o
reconhecimento, de ofício, pelo juiz, da prescrição, não retira a possibilidade de renúncia
da prescrição por parte do devedor (enunciado 295, CJF/STJ).

Cabe ação contra os representantes que deram causa à prescrição


Art. 195 – Segundo o art. 195, CC, os relativamente incapazes e as pessoas
jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa
à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. Cabe, portanto, indenização pelos
prejuízos sofridos. Ex.: tutelado tem direito a receber indenização do tutor que tiver lhe
causado prejuízo em razão da prescrição.
Prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o sucessor
Art. 196 – Uma vez que se inicie a correr a prescrição, segue a contagem contra o
herdeiro, de forma que o sucessor terá apenas o prazo faltante para exercer a pretensão,
quando do óbito do autor da herança. Tanto o prazo contra, como o a favor do sucessor
não inicia nova contagem (prossegue, mesmo com o óbito).

Causas que impedem ou suspendem a prescrição


Os arts. 197 a 201, CC tratam das causas que impedem ou suspendem a
prescrição, de acordo com o momento em que surgem.
Quando se fala em suspensão da prescrição, se trata de situações em que o prazo
iniciou a contagem e, por algum fato previsto em lei, há a suspensão. Cessada a causa de
suspensão, o prazo volta a correr de onde tinha parado, ou seja, apenas pelo tempo
restante.
Não corre prescrição (suspende ou impede):
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
Aqui incluem-se, não só os cônjuges, durante o matrimônio, mas também os
conviventes, durante a união estável (enunciado 296, CJF/STJ).

II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;


O poder familiar cessa quando o filho completar 18 anos.

III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou


curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:


I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Quanto a situação dos arts. 197, II e art. 198, I, CC, deve-se destacar a questão dos
alimentos. Em se tratando de suspensão ou impedimento de início da contagem do prazo
prescricional, deve-se considerar que, no caso de alguém com 17 anos não corre
prescrição, podendo cobrar todo o débito alimentar (de 1999 até 2014, por exemplo).
Contudo, mesmo que complete 18 anos, só a partir dali é que começa a correr o prazo
prescricional de 2 anos. Significa dizer que até os 20 anos cabe cobrar todo o período
devido.

Relativamente incapazes Corre contra ou a favor


PRESCRIÇÃO Absolutamente incapazes Se contra: a prescrição não corre
Se a favor: a prescrição corre

Aqui, cabe mencionar a situação do art. 198, II, enquadrando-se os representantes


diplomáticos do Brasil junto aos países estrangeiros, os agentes consulares brasileiros no
exterior, os que estiverem a serviço do governo federal, estadual ou municipal, para
estudos técnicos em países estrangeiros, militar em missão de paz fora do Brasil, etc.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

Nas duas primeiras situações, o direito ainda não se tornou exigível, não sendo
possível, portanto, falar-se em prescrição. Se terceiro propor ação de evicção, a
prescrição só corre após o desfecho final.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

No caso de reparação civil, só inicia a contagem do prazo quando houver sentença


penal condenatória definitiva.
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só
aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.
A prescrição é benefício pessoal e só aproveita as pessoas mencionadas, mesmo
em caso de solidariedade. Para que a suspensão da prescrição que favoreça um dos
credores solidários beneficie aos demais, a obrigação deve ser indivisível.
Ex.: a obrigação de entrega de animal é indivisível. Se forem três credores de
devedor comum. Um dos credores é absolutamente incapaz. Contra ele não corre
prescrição. Como a obrigação é indivisível, beneficia a todos a prescrição. neste caso, só
iniciaria o prazo de contagem a partir do momento em que fizesse 16 anos.
Ex.: obrigação de pagar importância em dinheiro. Se forem três credores de devedor
comum. Um dos credores é absolutamente incapaz. Contra ele não corre prescrição.
Como a obrigação é divisível, não haverá benefício aos demais.

Causas que interrompem a prescrição


A interrupção depende de um comportamento ativo do credor. Diferentemente da
suspensão, que decorre de fatos previstos em lei, a interrupção demanda um ato de
exercício ou proteção do direito. Nestes casos, extingue o tempo já decorrido, que volta a
correr por inteiro (diferente da suspensão, quando o prazo volta a fluir pelo tempo
restante).
O efeito da interrupção é instantâneo, pois, segundo o art. 202, § único, CC, a
prescrição interrompida começa a correr da data do ato que a interrompeu.
Contudo, a interrupção só pode ocorrer uma vez (art. 202, CC)
As causas que interrompem a prescrição são:
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-
se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;

Esse despacho deve ser seguido da citação válida. Uma vez operada a citação, a
interrupção retroage a data da propositura da ação (art. 240, § 1.º, CPC/2015). Com isto,
mesmo que a citação demore, não haverá a prescrição.
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;

Estes dois incisos tratam de protesto (judicial e cambiário).


IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso
de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

A notificação extrajudicial, feita pelo Cartório de Títulos e Documentos não é capaz


de interromper a prescrição.
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.

Ex.: pagamento parcial da dívida, envio de carta reconhecendo a dívida, etc.


A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado (art. 203, CC)
Os efeitos da prescrição são pessoais. O efeito da interrupção da prescrição por um
credor não aproveita aos demais, assim como aquela promovida contra um devedor ou
seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados (art. 204, CC). Esta regra, contudo,
admite exceção: a interrupção por um dos credores solidários aproveita aos demais.

Prazos prescricionais
Os prazos prescricionais podem ser:
a) Ordinários: quando não houver prazo especial, o prazo prescricional é de 10
anos, tanto para ações reais, quanto para pessoais (art. 205, CC).
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo
menor.

b) Especiais: são prazos mais exíguos, previstos especificiamente no art. 206, CC


e podem ser de 1, 2, 3, 4 ou 5 anos.
Art. 206. Prescreve:
§ 1o Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo
no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele,
contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é
citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado,
ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros
e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da
assembléia que aprovar o laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação
da sociedade.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da
data em que se vencerem.
§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou
vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias,
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,
correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou
do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade
anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço
referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou
assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação
das contas.
§ 5o Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público
ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,
curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos
serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

c. Decadência
Decadência é a perda do direito potestativo pela inércia de seu titular no período
determinado pela lei. O objeto são os direitos potestativos de qualquer espécie,
disponíveis ou indisponíveis, direitos que conferem ao titular o poder de influir ou
determinar mudanças na esfera jurídica de outrem, por ato unilateral, sem que haja dever
correspondente, apenas uma sujeição.
Na decadência o prazo começa a correr no momento em que o direito nasce. O
prazo prescricional, por sua vez, inicia no momento em que há a violação do direito.
A decadência pode resultar e lei, do testamento ou do contrato. A prescrição deriva
apenas da lei.
Os prazos de prescrição são taxativos (apenas as hipóteses dos arts. 205 e 206,
CC). Os demais prazos são decadenciais.
Na decadência há a perda de um direito previsto em lei. A lei estabelece que
determinado ato deva ser exercido dentro de um prazo determinado. Em não o sendo,
não mais poderá efetivar-se, pois seu titular decaiu do direito. A decadência é o não
exercício de um direito potestativo dentro do prazo. Ex.: direito de pleitear a anulação de
um negócio jurídico (prazo de 180 dias a contar da celebração).
A decadência pode ser legal ou convencional. No caso da decadência convencional,
estabelece o art. 211, CC, que a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau
de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. O juiz deve, de ofício, reconhecer a
decadência, quando for legal (art. 210, CC).
Em princípio, os prazos decadenciais são fatais e peremptórios, o que significa dizer
que não se aplica à decadência as situações de interrupção e suspensão da prescrição
(art. 207, CC) (salvo disposição em contrário).
Aplica-se à decadência as situações dos arts. 195 e 198, I, CC (art. 208, CC), que
dizem respeito a incapazes. Assim, não flui o prazo de decadência contra absolutamente
incapazes, sendo uma exceção ao disposto no art. 207.
Segundo o art. 209, CC, a decadência legal é irrenunciável. Isto ocorre em razão do
interesse geral. Contudo, os prazos decadenciais convencionais podem ser renunciados.

Prazos de decadência
Os prazos decadenciais estão previstos em locais esparsos na legislação. Tem-se
como alguns exemplos:
- 30 dias: para o comprador propor ação em que pretenda rescindir o contrato e
reaver o preço pago pela coisa móvel (art. 445, CC)
- 60 dias: para o exercício do direito de preferência, caso inexista prazo estipulado,
na coisa imóvel, contado da data em que o comprador tiver notificado o vendedor (art.
516, CC).
- 180 dias: para o exercício do direito de preferência do condômino a quem não
tenha sido dado tal direito e o imóvel tenha sido vendido a terceiro.
- 1 ano: para revogação da doação por ingratidão ou diante da inexecução do
encargo.
- 1 ano e 1 dia: para desfazer janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio,
em face do vizinho. Prazo conta-se da conclusão da obra (art. 1.302, CC).
- 3 anos: anulação de casamento celebrado com erro essencial quanto à pessoa do
outro, contado da data da celebração
- 4 anos: para anular negócio jurídico celebrado com vício do consentimento
- 5 anos: para impugnar a validade de testamento, contado da data do seu registro.
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