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(IM)POSSIBILIDADE DO ESCLARECIMENTO
Resumo
O lema “educação para todos” tem sido evocado pelos quatro cantos do país, colocando a
educação escolar em posição estratégica para a conquista dos objetivos traçados em busca do
desenvolvimento econômico. Porém, a formação na escola básica é suficiente para permitir a
possibilidade do esclarecimento do professor e de seus alunos nas escolas, mediante as atuais
políticas educacionais? A cultura dominante, mercantilizada, confunde, sutilmente, seus
consumidores ao divulgar uma propaganda falsa que atenta contra a autêntica formação dos
indivíduos. Estes, não conseguem perceber que estão sendo “enganados” por algo que é
imediatamente incompreensível a um olhar completamente desatento, ou melhor, por um
pensamento que já não consegue perceber o que os produtos culturais conseguem ocultar com
notável êxito. Tudo indica, porém que na contemporaneidade o espaço escolar, local em que
poderia se desenvolver consciências antagônicas aos ideais dominantes, ao ser
paulatinamente, mercantilizado por forças políticas que se orientam pela doutrina neoliberal
de regulação econômica, esteja impedido de realizar um processo formativo que caminhe em
direção à emancipação. A educação atual, mesmo estando danificada, mesmo colaborando
para a permanência do estado de menoridade social pode contribuir para a constituição de um
espírito emancipado? Propostas de semiformação dos indivíduos não permitem que as massas
sejam “desinfeitiçadas”. Encantar e enfeitiçar têm sido a incumbência da indústria cultural.
Introdução
O lema “educação para todos” é evocado pelos quatro cantos do país, colocando a
educação escolar em posição estratégica para a conquista dos objetivos traçados em busca do
desenvolvimento econômico. Contraditoriamente a essa imagem amplamente socializada, as
políticas educacionais são direcionadas para a isenção da responsabilidade do estado perante
as instituições sociais, entre elas a escola. Assim, o estado brasileiro se coaduna com as
diretrizes dos organismos financeiros internacionais, como o Banco Mundial e o FMI,
interessados em números que indiquem, mesmo que de maneira fraudulenta, a melhoria da
educação, em troca de empréstimos financeiros.
Seguindo as determinações destes organismos, as políticas educacionais adotadas se
concentram em aumentar o número de crianças nas escolas e, principalmente em diminuir os
índices de reprovação e evasão escolar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDB 9394/96, objetivando atingir os ditames destas agências, permite ampla flexibilidade
quanto à organização dos sistemas de ensino para se adequarem a diversidade do país e dos
alunos, entre elas: promoção automática, correção de fluxo, ciclos de aprendizagem,
recuperação paralela, promoção parcial.
A formação de professores para atuar na educação básica, também foi alvo de
mudanças no contexto neoliberal. Neste âmbito, a contradição também se faz presente, pois a
legislação exige que os professores possuam curso de Licenciatura. Estes cursos, a partir
dessa legislação, não são ofertados apenas pelas instituições universitárias, mas em múltiplos
espaços. Pereira (2000, p. 73) diz que
Visando refletir sobre este questionamento, o presente texto será embasado pelas
contribuições teóricas que advém da Escola de Frankfurt, ou seja, da Teoria Crítica,
principalmente as considerações de Theodor Adorno e Max Hockheimer. Conceitos como
indústria cultural, semiformação, alienação, emancipação e esclarecimento serão
fundamentais para dar suporte as reflexões aqui realizadas.
Este exercício dedica-se a difícil tarefa de não deixar que o pensamento adormeça e
enrijeça completamente, pois “... uma verdadeira práxis revolucionária depende da
intransigência da teoria em face da inconsciência com que a sociedade deixa que o
pensamento se enrijeça...” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 51).
O termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez por Adorno e Horkheimer
na obra Dialética do esclarecimento (1985). A intenção destes autores ao criar este conceito
era estabelecer uma oposição ao termo cultura de massas, que no capitalismo tardio, havia
tido seu aspecto descaracterizado, ou seja, esta cultura de massas já não mantinha
correspondência com o seu conceito; uma cultura surgida espontaneamente das massas.
Sendo assim, a indústria cultural substituiu a cultura advinda especificamente das
massas pelos significados elaborados pela classe dominante, a burguesia. Em outras palavras,
a consciência de classe se perde, mas mantêm-se as diferenças entre as classes no seu sentido
objetivo, entre aqueles que detêm os meios de produção e aqueles que vendem sua força de
trabalho. Adorno (1994, p. 65) diz que nos países capitalistas dominantes, não se possa falar
de uma consciência de classe não refuta per se, ao contrário da opinião comum, a existência
de classes: a classe é definida pela posição quanto aos meios de produção, e não pela
consciência de seus membros. Os trabalhadores, por meio da indústria cultural, passaram a ser
cada vez mais integrados na sociedade burguesa e em sua visão de mundo.
Dito isto, a manipulação dos indivíduos pela manipulação dos sentidos, significados e
da cultura constitui um poder de opressão da classe dominante sobre a classe dominada. A tão
deplorada falta de maturidade das massas é apenas o reflexo do fato de que os homens
continuam não sendo senhores autônomos de sua vida, tal como no mito, sua vida lhes corre
como destino (ADORNO, 1994, p. 67).
A cultura dominante, mercantilizada, confunde, sutilmente, seus consumidores ao
divulgar uma propaganda falsa que atenta contra a autêntica formação dos indivíduos. Estes,
não conseguem perceber que estão sendo “enganados” por algo que é imediatamente
incompreensível a um olhar completamente desatento, ou melhor, por um pensamento que já
não consegue perceber o que os produtos culturais conseguem ocultar com notável êxito.
Este adormecimento das consciências é favorável à dominação social imposta à classe
trabalhadora, que na atualidade, é cada vez mais excluída da possibilidade de sólida formação,
o que contribui para que as elites dirigentes consigam dominar e controlar, com mais
facilidade, os grupos sociais com potencial subversivo. Em nosso tempo é perfeitamente fácil
perceber que a burguesia industrial tem expandido profundamente sua dominação. Esta, por
sua vez, é facilitada pela intensa integração econômica, política e cultural favorecida pelo
processo de reestruturação produtiva, a globalização.
Neste período, em que as fronteiras geopolíticas estão se desfazendo, em detrimento
de maior acúmulo de capital, vivemos a fase da sociedade global, portanto mais do que nunca,
neste contexto, é necessário que os significados que os indivíduos elaboram sejam
equivalentes. Adorno e Horkheimer (1978) definem sociedade no seu mais importante
sentido, como uma espécie de contextura formada entre todos os homens e na qual uns
dependem dos outros, sem exceção, na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade
das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio,
uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em
grande parte, pela sua participação no contexto geral.
O projeto neoliberal de desenvolvimento baseado na globalização e assumido pela
burguesia nos dias atuais, leva em seu entendimento que a sociedade passa a ser uma grande
máquina e que os indivíduos são as suas engrenagens. Estes precisam ser padronizados e estar
intrinsecamente articulados, prontos para satisfazer as necessidades da máquina. Portanto,
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voltaram contra aqueles seu ódio e sua fúria agressiva. É necessário contrapor-se a
uma tal ausência de consciência, é preciso evitar que as pessoas golpeiem para os
lados sem refletir a respeito de si próprias. A educação tem sentido unicamente
como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica (ADORNO, 1995, pp. 119 –
122)
Neste sentido, a escola passa a ser o local em que a verdadeira consciência deve ser
elaborada, é na escola que deveria ser realizado o processo de esclarecimento dos indivíduos,
de superação da alienação. O processo dialético que possibilita o esclarecimento só se
confirma por meio do pensamento que investiga minuciosamente a realidade. A configuração
alienada que a vida assume exige do pensamento uma análise rigorosa acerca do objeto que se
quer saber mais.
Quem quiser saber a verdade acerca da vida imediata tem que investigar sua
configuração alienada, investigar os poderes objetivos que determinam a existência
individual até o mais recôndito nela. Se falarmos de modo imediato sobre o que é
imediato, vamos nos comportar quase como aqueles romancistas que cobrem suas
marionetes de ornamentos baratos, revestindo-as de imitações dos sentimentos de
antigamente e fazem agir as pessoas, que nada mais são do que engrenagens da
maquinaria, como se estas ainda conseguissem agir como sujeitos e como se algo
dependesse de sua ação. O olhar lançado à vida transformou-se em ideologia, que
tenta nos iludir escondendo o fato de que não há mais vida (ADORNO, 1993, p. 7)
Tudo indica, porém que na contemporaneidade o espaço escolar, local em que poderia
se desenvolver consciências antagônicas aos ideais dominantes, ao ser paulatinamente,
mercantilizado por forças políticas que se orientam pela doutrina neoliberal de regulação
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W. Mínima Moralia: reflexões a partir da vida danificada. São Paulo:
Editora Ática. 1993.
ADORNO, T.W. Capitalismo tardio ou sociedade industrial? In: COHN, G. (org) Theodor
W. Adorno. São Paulo: Ática. 1994 (Grandes cientistas sociais. 54)
BRASIL, MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 – Lei 9.394/96.