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ESTRUTURA TRIÁDICA DE MENSAGEM

Se partirmos do pressuposto que “Portugal é um ente”, Mensagem é a história de um


ser desde o seu nascimento, a sua realização no mundo e até à sua morte. Para Pessoa,
Portugal é um organismo, sujeito ao nascimento e à morte:
 Brasão trata da formação de Portugal e do seu crescimento;
 Mar Português trata da expansão plena de Portugal, da sua missão e acção no
mundo, cujo apogeu foram os Descobrimentos, para terminar na paralização, ou
morte;
 O Encoberto trata do encobrimento resultante da morte e da antecipação profética da
sua ressureição: um acontecimento grandioso que parece ao poeta pertencer ao
destino português.
Nesta perspectiva, poderemos perceber por que razão Pessoa afirma que o poema é
herético, aos olhos do Cristianismo de Roma: Portugal é identificado com Cristo, por
analogia ou por símbolo.

A primeira parte da Mensagem mostra os heróis deste poema épico. Ao intitular


esta primeira parte de Brasão, Pessoa soube intuir um dos significados etimológicos da
palavra “brasão” – o espírito, o princípio da individualização, a qualidade particular e única
que caracteriza um determinado indivíduo, família ou nação. Assim, cada uma das cores e
figuras que estão representadas num brasão são símbolos ou cifras de outras realidades, que
poderão ser lidas por aqueles que conhecem esta linguagem secreta.
Pessoa, ao estabelecer a relação entre os elementos do brasão português e as
personalidades que ele considera nucleares na nossa história, está a procurar mostrar certas
qualidades inerentes ao carácter português, através das suas manifestações históricas – cada
uma das dezassete personalidades representa um determinado tipo anímico/psicológico dos
portugueses de então. No entanto as diferenças entre as várias personalidades são
ultrapassadas por aquilo que as une, ou seja, pelo que deram de si para que Portugal se
cumprisse, quer seguindo o seu natural destino, quer contrariando-o e sacrificando-se pela
nação.

Antes de proceder à descrição destas diversas personalidades, o poeta situa os


campos do brasão: os castelos e as quinas.
O dos Castelos – o primeiro poema situa geograficamente o épico, com a descrição mítica
da Europa como uma deusa, da qual Portugal é o rosto com que fita o ocidente, futuro do
passado, ou seja, a direcção que tomarão os descobrimentos.
O da Quinas – o segundo poema trata do destino.

As dezassete personalidades da nossa história, que desfilarão a seguir, podem ser


associadas segundo quatro tipos humanos, psicológicos, a que se acrescenta um de outra
índole, mítica.
1- a mãe: D.Teresa e D.Filipa de Lencastre - os dois poemas destacam as qualidades de
mãe; Pessoa fala destas mulheres como se falasse da Virgem.
2- o herói natural, que encarna espontaneamente, porque há sintonia natural entre o que ele
é e Portugal, a missão da pátria: Viriato, O Conde D. Henrique, D. Afonso Henriques, D.
Dinis, D. João o Primeiro, Nun’Álvares Pereira, Infante D. Henrique, D. João o Segundo e
Afonso de Albuquerque – a acção de cada um destes heróis é a acção de Deus através dele,
havendo, por isso, uma tripla identificação: Deus-Portugal-Herói.
3- o herói pelo sacrifício de si, aquele que se vence a si mesmo, oferecendo a sua vida pela
nação: D. Duarte, Rei de Portugal, D. Pedro, Regente de Portugal, D. João, Infante de
Portugal – não estando talhados para a missão que lhes era exigida, souberam sacrificar-se e
colocar a sua alma à altura de Portugal.
4- o louco, aquele que tem a alma maior que o destino da nação: D. Sebastião, Rei de
Portugal – não há censura por parte do poeta nesta desmesura, mas a apologia da grandeza
e da heroicidade que vieram a dar origem ao sebastianismo, como se esse excesso de alma
ficasse providencialmente guardado como uma semente para o futuro.
5- o herói mítico, a lenda: Ulisses – a primeira personagem descrita, porque tudo
começa com uma lenda ou mito, os motores da História.

Curiosamente, Mensagem começa com um mito e termina com outro: começa com o
mito de Ulisses, desce à História, para depois subsumir-se novamente no mito O Desejado –
que traz a transmutação de um D. Sebastião, rei e homem, num D. Sebastião que traz a
Eucaristia Nova. E se o mito é, para Pessoa, o que move a história, então, ao terminar com o
mito sebastianista, o poeta está claramente a procurar um movimento orientador do futuro de
Portugal.

A segunda parte da Mensagem, intitulada Mar Português, indica os principais


momentos e elementos da acção, apenas concentrada nos Descobrimentos, revelados na
epígrafe Possessio maris.
A obra das descobertas é essencialmente símbolo de outras descobertas – o império da
cultura – pelo que cada um dos elementos é um símbolo.
O Infante – o primeiro poema, é como uma semente do que se seguirá: Pessoa antecipa o
desfecho épico ao afirmar que os portugueses deram o mundo ao mundo, o seu império
dissolveu-se, mas ainda não se cumpriu Portugal.
Horizonte – o primeiro elemento das descobertas, o fascínio do desconhecido.
Padrão – outro elemento que assinala não só o terreno conhecido do desconhecido, mas a
obra humana, a demanda de o porto sempre por achar – é o poeta a apontar na direcção do
novo império, o quinto.
O Mostrengo – um dos obstáculos-símbolo.
Ocidente – insiste-se na ideia de que os descobrimentos são mais do que obra humana.
Mar Português – marca o auge do épico.
A última nau – o sonho glorioso do que virá.
Prece – terminada a aventura, o poeta pede o espírito que reacenda a chama dos
portugueses.

A terceira parte da Mensagem situa-se posteriormente ao desastre de Alcácer Quibir


(1578) – o primeiro de três factores de decadência de Portugal (1820, implementação de um
sistema monárquico estrangeirado, e 1910, implantação da República) – e, por isso, trata do
encobrimento gradual de Portugal, pelo que esta última parte se chama O Encoberto.
O poeta começa por referir os Símbolos do Encoberto: D. Sebastião, um ideal; O
Quinto Império, um império que não possa mais ser destruído; O Desejado, uma espécie de
Messias, à margem de qualquer religião em particular, capaz de reunir todas as religiões; As
Ilhas Afortunadas, uma terra sem ter lugar, o mito universal da ilha paradisíaca, a alma de
cada português que se identifique com o desejado; O Encoberto, o último símbolo que
exprime o rosa-crucianismo de Pessoa – uma rosa no centro de uma cruz, sendo a cruz os
quatro impérios do passado e a rosa o Cristo, o Quinto Império.
Depois, Os Avisos, lançados por três profetas: Bandarra, António Vieira, um
Terceiro, o próprio poeta, uma síntese dos outros dois profetas do Quinto Império, que,
perante a situação dramática de Portugal, interpela o Messias d modo a suscitar o seu
regresso.
Finalmente, Os Tempos, os cinco ciclos ou momentos desde o encobrimento de D.
Sebastião, ou Portugal: a Noite – escuridão resultante do encobrimento; a Tormenta, a que
se segue a Calma; a Antemanhã – que ainda não é uma aurora esplendorosa; e Nevoeiro – o
último tempo que mostra, simultaneamente, a consciência que Pessoa tinha do estado em
que se encontrava Portugal e a esperança num despertar da alma portuguesa.

Texto adaptado do Prólogo de “Mensagem”, Porto Editora

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