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E CONHECIMENTO
Unidade 1
Elementos para uma Epistemologia da Biologia
Sumário
I. Introdução
V. Conclusão
VI. Referências
#M4U1 I. Introdução
A epistemologia é uma área da Filosofia que nos permite refletir e questionar
sobre o conhecimento. Ao longo da história, perguntas simples e até óbvias
sempre foram feitas: o que é o conhecimento? É possível o conhecimento?
Quais são o fundamento e os processos do conhecimento? Como o ser huma-
no adquire conhecimento?
Para muitos autores, o saber é mais amplo que a ciência, pois, enquanto a ci-
ência é um conjunto de aquisições intelectuais sistematizadas e organizadas
passíveis de serem ensinadas pedagogicamente, o saber é um conjunto de
conhecimentos, incorporados de forma sistematizada ou informal, prática ou
teórica por uma pessoa numa dada cultura. Nesse sentido, entendemos por
epistemologia, um estudo metódico e reflexivo do saber e de seus produtos in-
telectuais e pode ser dividida em: epistemologia particular (relativa aos saberes
especulativos – filosófico e religioso ou científicos), epistemologia específica
(considera uma disciplina intelectualmente constituída), epistemologia interna
(consiste na análise crítica de um conhecimento para fundamentá-lo) e a epis-
temologia derivada (análise apenas da natureza do conhecimento sem intervir
nele).
Saiba mais...
Gaston Bachelard
(1884-1962), filó- Enquanto estudo reflexivo, a epistemologia consiste numa área da Filosofia,
sofo e poeta fran- autônoma da ciência, em constante construção, com um amplo campo de pesquisa,
cês que estudou a sendo caracterizada pela flexibilidade e dinamicidade. Etimologicamente, define-se
filosofia da ciência.
Foi influenciado como o discurso sobre a ciência.
pela Teoria da Re-
Vale ressaltar, que a epistemologia sempre esteve relacionada ao progresso
latividade de Albert
Einstein, dentro científico chegando ao seu ápice no início do século XX. A história da epistemologia
do contexto da tem muito em comum com a história da Biologia, com alguns destacados biólogos
revolução científica contribuindo para a construção de uma epistemologia contemporânea, ainda pouco
no início do séc.
XX. Partindo des- conhecida. É nessa perspectiva que surge a psicologia das ciências com uma abrangen-
ses pressupostos, te área de pesquisa, visando elucidar as influências do inconsciente sobre o pensamen-
ele formulou suas to lógico da pesquisa científica através da articulação das etapas do conhecimento que
proposições para a
filosofia das ciên-
vão desde a infância até a fase adulta. Outros utilizam a teoria da evolução biológica
cias: a historicida- para propor modelos de desenvolvimento das ciências numa perspectiva histórica,
de da epistemolo- crítica e ética.
gia e a relatividade
do objeto. Da epistemologia histórica de Bachelard e do falseacionismo popperiano à
epistemologia histórico crítica
Quando analisamos as principais contribuições da epistemologia, encontramos
uma corrente proposta por Bachelard, chamada de epistemologia histórica. Todo o
pensamento de Bachelard é baseado numa reflexão sobre as filosofias que estão implí-
citas nas práticas científicas, construindo uma epistemologia concebida como a pró-
pria história da ciência. Contrário a proliferação e consolidação de dogmas científicos,
Bachelard discordava veementemente da corrente positivista de Comte, que reduzia o
papel da filosofia a uma mera formadora de sínteses vulgares e morais, fazendo surgir
uma epistemologia como produto da ciência capaz de se auto-criticar. Para ele, o co-
Saiba mais...
nhecimento não é contemplativo, mas sim operativo, pois é pela ação que a ciência se
torna eficaz. No seu entender o progresso da ciência ocorre através de rupturas com o Karl Popper
(1902-1994) foi
senso comum, realizadas pela comunidade científica a fim de não se tornar totalitária. filósofo da ciên-
cia, considerado
A epistemologia de Bachelard é caracterizada pela polêmica, tendo como prin- por muitos como
cípio as contradições e transtornos presentes na história das ciências com o intuito o filósofo mais in-
de reformular o saber científico e reformar as noções filosóficas. Outro nome de des- fluente do séc. XX.
Popper rejeitou o
taque na epistemologia histórica é Thomas Kuhn, um polêmico historiador da ciência.
empirismo clássi-
Já a Filosofia das Ciências, ou epistemologia de Popper se preocupa com o co e a observação
indutiva da ciência
grau de confiança que devemos depositar numa teoria científica a partir de nossas e argumentava que
experiências. Para ele o conhecimento deve passar pelo crivo da falseabilidade e não uma teoria deveria
da verificabilidade. Para Popper, uma teoria pode ser falseada e, então, refutada para ser falseada por fa-
tos e observações
dar início a outra teoria, mas, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas e, entre até se encontrar
essas, muitos cientistas, uma teoria não pode ser confirmada como verdadeira. De uma teoria para
acordo com Popper, o que é uma teoria científica hoje, após passar pelo processo de explicar o fenôme-
no em análise.
falseabilidade, torna-se uma mera hipótese especulativa, tal como a teoria de Einstein
fez com a teoria de Newton. Para Japiassu:
Atividade Complementar 2
Distribua tarefas com seus colegas a respeito dos pensadores relacionados e fa-
çam uma pesquisa em livros de Filosofia sobre a biografia de Comte, Bachelard,
Popper e Kuhn, dando destaque para suas teorias a fim de compreender melhor
suas idéias.
Saiba mais...
Como você já sabe, Piaget construiu uma teoria de desenvolvimento conhecida como Psi-
cologia Genética que propõe fases para o desenvolvimento cognitivo, moral e afetivo da
criança. Analogamente, junto com Garcia, propõe que a ciência também se desenvolveu
por fases, em que se podia fazer análises de diferentes níveis de complexidade: primeiro,
tanto a criança como a ciência realizam análise centradas nas características dos objetos
(análise intra-objetal), depois podem faze análise interobjetias (relações entre objetos) e
por fim, análises transobjetais (relações entre relações).
Resumindo o que vimos até aqui, podemos dizer que existem, no mínimo, três
grandes correntes epistemológicas contemporâneas que explicam a atividade
científica através das relações entre teoria e experiência, razão e fatos. São elas:
a epistemologia lógica, que visa um estudo apurado das atividades científicas e
uma pesquisa metódica; a epistemologia genética, que parte de uma psicologia
da inteligência baseada no estruturalismo genético e construtivista; e a episte-
mologia histórico-crítica, a qual analisa as teorias de uma forma crítica, numa
perspectiva histórica.
A seguir, convidamos você para uma reflexão sobre o desenvolvimento das ci-
ências, especialmente da história da Biologia, buscando compreender melhor o desen-
volvimento do conhecimento científico de nossa área.
Ciência aristotélica-escolástica
O desenvolvimento da Ciência e a preocupação com a Educação para a Ciência
apóiam-se em idéias que remontam à Grécia antiga. A idéia de saber ou conheci-
mento foi definida por Platão e desenvolvida por Aristóteles, constituindo a base da
formulação de um conhecimento, sobre a qual se erigiu a ciência grega e ocidental e
permaneceu quase intocada até o fim da Idade Média, no século XVI. Foram os gregos
que desvincularam o saber prático ou conhecimento empírico (tecknê) do saber teórico: Saiba mais...
a episteme (ciência) dos gregos era do tipo theoretike, ou seja, “um tipo de saber adquiri-
Aristóteles (384
do pelos ‘olhos do espírito’ e que ia além de meros fenômenos empíricos” (MATALLO a.C.322 a.C.),
JR., 1988, p. 13). Até hoje, temos problemas para relacionar teoria com prática, espe- filósofo grego
cialmente na formação de professores. discípulo de Platão,
foi grande influen-
Para os gregos, “a ciência era aquela atividade humana que buscava a essência ciador do pensa-
ou a verdade última das coisas que se encontrava muito longe da realidade concreta, mento ocidental
e contribuiu em
empírica, sensitiva” (GOERGEN, 1998). Para Aristóteles, a finalidade da ciência con- diversas áreas do
sistia em fornecer ao homem conhecimento verdadeiro, eterno, imutável, demons- conhecimento,
trável e que influencia três esferas: na vida prática, onde orienta a arte na direção entre elas, zoologia
e história natural.
da técnica, a ciência é auxiliar dos homens para dominar o mundo, curar doenças e Ele foi considerado
resolver problemas; na vida teórica esse considerado o de maior valor, pois é a dimen- o fundador da zoo-
são contemplativa do saber que todo homem aspira, possui o caráter dedutivo das logia, por ter feito
a primeira divisão
demonstrações e finalmente no domínio ético, a ciência representa o esclarecimento
do Reino Animal.
da ação moral, conduz à ação iluminada pelas virtudes teóricas, contribui para que o
homem decida com prudência, ou seja, tenha disposição para decidir de acordo com o
bem e segundo a justiça (valores), baseado na razão. (MOSER, 1992, p. 734).
Ciência Moderna
Fatos como o renascimento/ humanismo, as grandes navegações, as novas des-
cobertas e invenções, a reforma protestante e o surgimento dos Estados Nacionais
a partir do século XVI conduziram ao nascimento das ciências experimentais, nas
quais a autoridade da Igreja é questionada. “Invertia-se também o caminho para se
alcançar o conhecimento: não mais nas profundezas da divindade, mas no íntimo da
natureza passariam a ser procuradas as forças que unem o mundo” e o critério para o
verdadeiro conhecimento, de ora em diante, passaria a ser “a capacidade de dominar
a natureza e colocá-la a serviço do homem” (GOERGEN, 1998, p.8).
A Revolução Industrial iniciada no século XVIII rompeu com a dicotomia ciên-
cia x técnica, teoria e prática: a técnica (até então artesanal), ao interagir com a ciência
experimental, transformou-se na Tecnologia – estudo científico da técnica e impul-
sionou o desenvolvimento da Ciência moderna. Desvendar as leis naturais através
de experimentos e expressá-las claramente em símbolos formais (lógico-matemáticos)
passaram a ser o ideal de cientistas/ filósofos.
E muitos se converteram à Ciência como a uma nova religião, não “apenas para
terem um novo método de conhecimento e investigação”. Mas, porque acreditavam
que “o progresso da Ciência traria consigo a expansão da felicidade. E da bondade,
é claro. O corpo tinha razões para se alegrar. Finalmente a dor seria conquistada e o
prazer reinaria, supremo” (ALVES, 1988, p. 27-30). As principais características do
que alguns chamam de mito da racionalidade absoluta que predominou na Ciência
Moderna são:
“[...] postula que seja lá o que for ciência, é objetiva; considera que
esta objetividade é exemplificada pelo cientista neutro que registra
os fatos sobre a natureza através da observação e da experimen-
tação; entende o conhecimento científico como o resultado de uma
amalgamação destes fatos em generalizações que se assemelham a
leis” (EYSENCK; KEANE, 1994, p. 7-8).
Já que não era possível estudar cientificamente problemas do tipo “Por que exis-
te vida?” ou mesmo “O que é a vida?” (problemas filosóficos), os primeiros biólogos
se apoiavam em trabalhos de campo para observação dos seres vivos e descrição de
padrões que pudessem representar o grupo de seres estudados (análise intra-objetal,
segundo Piaget). Ao fazermos perguntas do tipo como?, podemos fixar nossa obser-
vação no processo, ao invés de tentar estabelecer as causas dos fenômenos. Podemos
descrever como os fenômenos biológicos vão se transformando com o tempo.
A tentativa de unificação da Biologia tem levado a uma maior aceitação da te-
oria da evolução que se tornou explicativa de muitos fenômenos descritos de forma
processual, permitindo propor relações de causa e efeito também para fenômenos bio-
lógicos.
Surge “um novo conceito de verdade que tem como elemento central não a
fixidez, mas o movimento discursivo em direção à verdade.”. Esta não mais é vista
como “ponto fixo a ser atingido, mas como um processo, um confronto de argumentos
(Habermas) enquanto tensão e luta entre verdades (Santos)” (GOERGEN, 1998, p. 19).
A retórica volta a ser valorizada, onde a força dos argumentos adquire o sentido de
“processo de constituição da verdade”. (GOERGEN, 1998, p. 20).
Segundo Habermas, a argumentação não se esgota no processo lógico do dis-
curso, mas inclui a horizontalidade dialógica do comunicativo, de modo que a dimen-
são lógica e dialógica “definem, e devem definir, dia a dia mais, o proceder científico.
E por isso, [...] estas duas características devem tornar-se, também, dimensões básicas
da formação do cientista” (GOERGEN, 1998, p. 21).
Para concluir, esse pensador introduz por meio desse paradigma “o critério
político-comunicativo da discutibilidade como critério essencial da cientificidade”, de
modo que “do plano lógico a ciência passa também para o plano histórico que inclui
conquistas, recuos e revisões” (GOERGEN, 1998, p. 25).
Atividade Complementar 3
É preciso destacar que Darwin, embora tenha escrito sobre a variação e quisesse
explicá-la, não desenvolveu uma teoria de herança, tendo se utilizado dos modelos
explicativos compatíveis com o desenvolvimento do seu tempo. A explicação propos-
ta por Darwin, segundo Michael Rose (2000, p. 47), combinava herança miscível, ou
das misturas, com a herança dos caracteres adquiridos, uma vez que a primeira não
explicava a variação e se tornava um obstáculo para a evolução. Como Darwin não
conseguiu provar sua teoria da herança, ele mesmo veio a rejeitá-la (ROSE, 2000).
A impossibilidade de associar a Evolução a uma teoria de herança que a sus-
tentasse teve desdobramentos que marcaram as Ciências Biológicas. Provine (1998)
afirma que, ao morrer em 1882, Darwin já havia convencido todos os biólogos sobre Saiba mais...
a ocorrência da evolução orgânica, embora isso não pudesse ser afirmado acerca do
Michael Rose
mecanismo evolutivo. O autor estima que, ao final do século XIX, a maioria dos biólo- (2000, p. 47)
gos ainda acreditava em algum mecanismo intencional de evolução, e as razões para afirma que Da-
se rejeitar a seleção natural como o mecanismo principal da evolução eram a falta de rwin propôs uma
teoria complexa,
comprovações empíricas aliada à franca aversão que advinha em aceitar um mecanis-
na qual o mate-
mo evolutivo ao acaso. rial da herança
se constituiria de
Sem o apoio de conhecimentos genéticos, a teoria evolutiva apresentava muita diversas “gêmulas”
fragilidade. Os conhecimentos produzidos sobre a evolução chegaram ao século XX ou “partículas de
ainda considerados como uma especulação ou metafísica, porque estavam, como afir- hereditariedade”.
Essas gêmulas
ma Keller (2002, p. 13), contaminados por idéias contraditórias do próprio Darwin, não estariam fixas
como gêmulas e suas unidades de pangênesis. Para Smocovitis (1996), todos os ramos em uma parte do
das Ciências Biológicas que não possuíam tradições experimentalistas, principalmente corpo, mas seriam
móveis e recolhe-
aqueles herdeiros da História Natural, recebiam um julgamento semelhante. Assim,
riam informações
colocavam-se, de um lado, os ramos da Biologia notadamente experimentais como a sobre diferentes
Genética e a Fisiologia e, de outro lado, as não experimentais, não quantificáveis, situações que ocor-
com poucas evidências empíricas, como a História Natural e a Evolução. reriam no corpo.
No momento da
Por essas razões, os esforços para a unificação concentraram-se em tornar a Evo- concepção, essas
gêmulas migrariam
lução uma Ciência positiva, em consonância com as idéias do Positivismo Lógico.
para as gônadas e
Como já dissemos anteriormente, passaram a ser valorizados e empregados méto- entrariam nos ga-
dos experimentais rigorosos, baseados em evidências empíricas e com resultados metas, levando tais
generalizáveis em termos matemáticos, capazes de eliminar os aspectos metafísicos informações para a
próxima geração.
desses estudos. Essa nova perspectiva ganhou força com a redescoberta dos estudos
de Gregor Mendel e, nesse contexto, a criação do termo Genética passou a designar
um novo ramo que já no início do século XX alcançou bastante prestígio, oferecendo
uma contribuição fundamental para os estudos evolutivos. Embora tenham se pas-
sado 34 anos até que a herança descontínua mendeliana fosse aceita, Michael Rose
(2000) destaca que esse novo ramo das Ciências Biológicas, a princípio sob liderança
inglesa, desenvolveu-se com uma rapidez sem precedentes ainda que marcado por
controvérsias.
Saiba mais...
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Ernst Mayr (1998, p. 949) afirma que o Equilíbrio de Hardy e Weinberg é um dos muitos
exemplos que mostram que uma lei, um princípio ou uma generalização foram ignorados
quando apresentados pela primeira vez por virem expressos em palavras, em vez de na
forma de equações matemáticas”. Segundo esse autor, William Castle, professor de Sewall
Wright, havia demonstrado em 1903 que “a composição genotípica de uma população per-
manecia constante quando cessava a seleção”, mas “esse fato foi ignorado até que Hardy
e Weinberg lhes forneceram uma fórmula matemática” (p. 949).
Modelo de DNA
Segundo Marandino, Selles e Ferreira (2008), o prêmio Nobel que esses dois
cientistas receberam em 1962, junto com Maurice Wilkins, deu mais evidência à Bio-
logia Molecular e, com o rápido desenvolvimento desta área, muitos caminhos foram
abertos para consolidar a nova Biologia, ainda sem terem sido completamente resolvi-
dos muitos dos conflitos relativos à sua unificação. Nesse contexto, a Teoria Evolutiva,
com as revolucionárias contribuições das pesquisas biomoleculares, pôde provocar
releituras em todos os ramos das Ciências Biológicas. Assim, a idéia de síntese foi, na
verdade, se fortalecendo não como uma ruptura e desaparecimento de alguns ramos,
mas sim como uma possibilidade de reinterpretar os processos a partir do referen-
cial evolutivo moderno. Nos anos 1970, as palavras de Dobzhansky, nada em Biologia
faz sentido se não for à luz da evolução, tornaram-se emblemáticas para entender o
quanto a evolução passou a ser a teoria reorganizadora das explicações do mundo
vivo, ainda que persistissem divergências quanto aos mecanismos evolutivos e quan-
to às diferentes visões de mundo de muitos evolucionistas, conhecidas inclusive pelo
próprio Dobzhansky em seu célebre artigo.
Embora a Biologia Molecular tenha, sem dúvida, fortalecido o novo campo da
Genética Molecular e, com isso, ampliado o entendimento tanto dos mecanismos mi-
cro quanto macroevolutivos, não é possível creditar a essa área um papel absoluto. A
Citologia e outras áreas das Ciências Biológicas também se fortaleceram com a ressig-
nificação evolutiva e, por sua vez, contribuíram para a modernização dessa ciência. A
Ecologia é um desses ramos que ganhou destaque. Embora tenha herdado as tradições
dos trabalhos de campo da História Natural, ampliou-me cada vez mais ao passar a
incorporar metodologias experimentais mais modernas e destacou-se no estudo dos
impactos ambientais. E o mesmo pode ser dito dos demais ramos (desde a Paleon-
tologia aos diversos campos da Fisiologia), os quais ampliaram suas possibilidades
metodológicas utilizando recursos tecnológicos mais sofisticados. A modernização
e a consolidação das Ciências Biológicas frente ao conjunto das chamadas Ciências
Naturais, alimentadas grandemente pelo prestígio das pesquisas biomoleculares, ga-
nharam enorme impulso com a Engenharia Genética, que se acelerou a partir dos anos
1980. (MARANDINO, SELLES e FERREIRA, 2008).
Na última década do século XX e nos primeiros anos deste novo século, o qua-
dro mundial diferia muito daquele que havia servido de cenário para o sonho de unifi-
cação das Ciências Biológicas. Mais de cinqüenta anos se passaram sem que nenhuma
guerra de proporções mundiais tivesse ocorrido, embora antigos e novos problemas
globais continuassem colocando muitos desafios. As questões ambientais agravaram-
se e o surgimento de uma consciência mundial em relação ao futuro da Terra, envol-
vendo questões de ordem social e ética, vem desafiando a comunidade científica a
alargar as fronteiras dos conhecimentos biológicos de forma a se transformarem em
uma produção coesa, não alienada de seu tempo.’
frontar com “a ‘resposta [...] lúcida e inteligente’ de uma criança que havia aprendido
The Science of Common Things, o diretor expressou sua admiração pelos ‘talentos do
menino’ [...]”, mas, fez uma advertência que repercutiu na política curricular para a
área: de que
[...] ‘seria uma situação nociva e perversa, esta de uma sociedade em que pesso-
as relativamente desprovidas das benesses da natureza fossem, quanto à capacidade
intelectual geralmente superiores aos que socialmente estão acima delas (GOODSON,
1995, p. 123).
O estudo de caso sobre The Science of Common Things mostra que uns vinte anos
mais tarde a matéria de ciências voltou ao currículo escolar da Grã-Bretanha, mas ago-
ra num formato bem diferente:
a incorporação da matéria como disciplina escolar de status elevado nos níveis ‘O’ e
‘A’. Ao mesmo tempo, na década de 1970, vieram à tona preocupações em relação ao
alcance do sucesso da biologia (GOODSON, 1995, p. 122).
Atividade Complementar 4
Pesquise nos PCNs de Ciências Naturais de 5ª. a 8ª. Séries do Ensino Funda-
mental e no PCN da área Matemática, ]Ciências da Natureza e suas Tecnologias
do Ensino Médio, o conceito de ciências, em que eles se apóiam e relacione com
pressupostos epistemológicos aqui discutidos, verificando a que corrente eles
se vinculam, quais os pensadores que mais influenciaram essas idéias, etc.
#M4U1 V. Conclusão
Para concluir essa Unidade sobre a Epistemologia e a História da Biologia, po-
deríamos nos perguntar: O que é Biologia? Alguns livros didáticos trazem uma
resposta inadequada, que muitas vezes repetimos apressadamente. Se você
pensou em responder que a Biologia é a ciência da vida, como esses livros pro-
Essa não é uma pergunta fácil de responder e, posto dessa forma, é um proble-
ma que não pode ser respondido no âmbito da ciência, mas se caracteriza mais como
problema filosófico ou religioso. Podemos dar respostas baseadas em nossas crenças
religiosas ou espiritualistas, como, por exemplo: Vida é dom de Deus. Ou respostas fi-
losóficas existencialistas: vida é existência. A ciência Biologia é mais adequadamente
definida como ciência que estuda os seres vivos e as relações que eles estabelecem
entre si e com o seu meio. Vimos nessa Unidade que essa ciência, como qualquer
outra, não se desenvolveu progressivamente, mas que houve muitas rupturas, con-
frontos de teorias contraditórias, embates com outras áreas de conhecimento humano.
A tentativa de unificar a ciência Biologia é recente e ainda não foi solucionada,
existindo áreas com métodos de estudo muito diferentes, tradições diversas tentando
compreender diferentes objetos de estudo e dando explicações sobre a diversidade de
seres vivos de modos distintos. Cada área da Biologia acrescenta dados, teorias ou mo-
delos explicativos em diferentes níveis de organização, com complexidade crescente:
o nível de organismos, como no caso da Anatomia; o nível de populações e comuni-
dades, como no caso da Genética e/ ou Ecologia de Populações; ou ainda, no nível de
maior complexidade, que é o ecossistema, como no caso da Ecologia Geral.
ALVES, R. A morte paga mais. In: ______. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo:
Cortez: Ed. Ass., 1988.
EYSENCK, M.; KEANE. Psicologia cognitiva. Manual Introdutório. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
PIAGET, J.; GARCIA, R. Psicogênese e história da ciência. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
PROVINE, W. B. The origins of the oretical population genetcs. Chicago: Chicago Univer-
sity Press, 1980.