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BUSCANDO A ALEGRIA NA SALA DE AULA

Irene Liesemberg Souto Maior

RESUMO: O presente artigo busca refletir sobre a freqüente insatisfação observada


nas salas de aula e sobre o que é possível fazer para reverter esse quadro. Ele
apresenta uma análise da realidade vivida pelo Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, Município de Marialva – PR, no ano de
2008, considerando que a situação não é muito diferente na maioria das escolas
públicas. O texto faz referência a vários autores que discutem o tema falando da
alegria que a escola pode e deve proporcionar aos seus alunos, como Georges
Snyders, Paulo Freire, Moacir Gadotti e Paulo Roberto Padilha. A aplicação de
questionários e uma série de reuniões com pais, alunos, professores, Equipe
Pedagógica e Direção possibilitaram o diagnóstico e a discussão de possíveis
ações. O trabalho desenvolvido contribuiu para a sensibilização do grupo e
possibilitou a identificação de alguns problemas simples de serem resolvidos, no
entanto, outros exigirão o compromisso de todos para que resultados sejam
alcançados a médio e longo prazos. Para que a escola tão sonhada seja uma
realidade, o discurso anti-escolar deverá dar lugar a propósitos de melhoria.

PALAVRAS CHAVE: Insatisfação. Satisfação. Alegria. Sala de aula.

ABSTRACT: This article aims to reflect about the dissatisfaction often observed in
classrooms and about what can be done to reverse this situation. It presents an
analysis of the reality experienced by the Primary School of State College Pedro
Viriato Parigot de Souza, City of Marialva - PR, in the year 2008, whereas the
situation is not very different in most public schools. The text makes reference to
several authors who discuss the theme saying about the joy that school can and
should provide to its students, as Georges Snyders, Paulo Freire, Moacir Gadotti and
Paulo Roberto Padilha. The application of questionnaires and a series of meetings
with parents, students, teachers, Educational Team and Direction allowed the
diagnosis and the discussion of possible actions. The work contributed to the
awareness of the group and allowed the identification of some simple problems to be
solved, however, others require the commitment of all so that results are achieved in
the medium and long term. In order to the so dreamed school become a reality, the
anti-school speech should lead to proposals for improvement.

KEY WORDS: Dissatisfaction. Satisfaction. Joy. Classroom.

Introdução

O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa desenvolvida durante


o Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, uma política pública de
formação continuada e de valorização dos professores da rede pública de ensino do
Estado do Paraná.
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Tendo como objeto de estudo a insatisfação na sala de aula e sob a


orientação da Profª Drª Regina Taam, o trabalho foi iniciado com a leitura de vários
autores que falam da alegria que a escola pode e deve proporcionar aos seus
alunos, especialmente de Georges Snyders, Paulo Freire, Moacir Gadotti e Paulo
Roberto Padilha. As leituras e os cursos oferecidos pela Universidade Estadual de
Maringá no ano de 2007 forneceram subsídios para a análise da situação vivida pelo
Ensino Fundamental do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, no
Município de Marialva – PR. Os encontros com pais, alunos, professores, Equipe
Pedagógica e Direção tiveram como principais objetivos o levantamento de fatores
geradores de insatisfação na escola e a definição de possíveis ações a serem
implementadas no intuito de reverter a situação. Para tanto, a temática foi discutida
com os diferentes grupos envolvidos e questionários foram também aplicados,
fornecendo importantes dados para análise.

Qual é a alegria necessária?

Olhando para a sala de aula, a desatenção, o excesso de conversa, a falta de


envolvimento, o desrespeito e até mesmo as agressões dos alunos durante o
desenvolvimento das atividades podem ser consideradas como atitudes reveladoras
de sua insatisfação. Pesquisas têm constatado também que o interesse e o prazer
em aprender, demonstrados pelas crianças, diminuem consideravelmente na medida
em que avançam nas séries escolares (CALDAS e HÜBNER, 2000).
As avaliações realizadas pelo Ministério da Educação – MEC (ENADE –
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes; ENEM – Exame Nacional do
Ensino Médio; Prova Brasil; ANEB – Avaliação Nacional da Educação Básica e PISA
– Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por sua vez, apontam altos
índices de fracasso escolar, evidenciando problemas que podem estar relacionados
ao desprazer e desinteresse de alunos em sala de aula. O que tem contribuído para
que essa situação se instale? Os conteúdos não são significativos? As atividades
não são interessantes? Os recursos não são suficientes? Qual tem sido a qualidade
dos relacionamentos? O professor está preparado? Quais são suas condições de
trabalho? Diante da situação que se apresenta, o que pode ser feito? É possível
transformá-la? Por onde começar?
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Para que ações sejam implementadas e efetivamente contribuam para a


reversão desse quadro, é fundamental investigar primeiro a realidade na qual a
escola está inserida e acreditar que é possível transformá-la.
Georges Snyders (1917 - ) é um autor que insistentemente fala da alegria que
a escola pode e deve proporcionar aos seus alunos. Mas qual o seu conceito de
alegria? Como o trabalho escolar pode produzi-la? Mesmo identificando pontos
positivos na Educação Tradicional e na Educação Nova, Snyders apresenta sua
crítica a essas pedagogias e propõe uma pedagogia de esquerda que, segundo ele,
pode resgatar a alegria na escola.
Snyders (1988) defende uma educação que possibilite ao indivíduo atuar na
sociedade de forma a modificá-la, inserindo sua proposta pedagógica na luta de
classes e na luta contra o sistema capitalista. Para ele, é fundamental que o aluno
domine os conhecimentos que lhe permitam participar dessas lutas. Ser feliz implica
ter projetos, acreditar neles e saber como agir.
O autor afirma que a alegria na escola não pode estar atrelada ao
espontaneísmo ou à satisfação dos desejos imediatos dos alunos, pois isto poderia
comprometer sua preparação para agir no mundo. Mesmo reconhecendo a
importância de “métodos agradáveis” e “relações simpáticas entre professores e
alunos”, Snyders (1988) aponta a “renovação dos conteúdos culturais” como fonte
primeira de alegria. Mas acrescenta que, se a escolaridade obrigatória para crianças
e jovens deve propiciar intensa satisfação cultural, seus interesses e necessidades
não podem ser desprezados. A escola tem feito isso? De que forma? Considerando
a falta de perspectiva no mundo do trabalho, verificamos que nossos alunos não
vêem sentido em aprender conteúdos. Como levar em conta os interesses dos
alunos e, ao mesmo tempo, garantir-lhes o domínio do conhecimento sistematizado?
É importante lembrar que o processo de humanização implica fazer o aluno ir além
de sua vivência.
Moacir Gadotti (1998), Paulo Freire (2004) e Paulo Roberto Padilha (2003)
são alguns dos educadores brasileiros que fazem referência a Snyders,
concordando com a idéia de que a escola deva ser um local de alegria. No entanto,
discutem alguns outros aspectos não menos importantes.
Paulo Freire afirma que a alegria é uma das qualidades indispensáveis que
precisam ser discutidas e criadas quando a opção político-pedagógica é democrática
ou progressista, pois esta prática não se faz somente com ciência e técnica.
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É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes


como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade,
gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade
à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação
com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática
pedagógico-progressista (2004, p. 120).

A alegria deve fazer parte do clima ou atmosfera do espaço


pedagógico, mas crianças e jovens precisam saber que estudar é um “ato sério” no
qual a alegria não pode ser confundida com a “alegria fácil do não-fazer”. A alegria
está relacionada à esperança (ou certeza) de que se pode aprender, produzir e
resistir aos obstáculos.

É falso também tomar como inconciliáveis seriedade docente e


alegria, como se a alegria fosse inimiga da rigoridade. Pelo
contrário, quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha
busca e na minha docência, tanto mais alegre me sinto e
esperançoso também. A alegria não chega apenas no encontro do
achado mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender
não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria
(FREIRE, 2004, p. 142).

Em conversa com Gadotti, Freire acrescenta que “a amorosidade, a


afetividade, não enfraquecem em nada, primeiro, a seriedade de estudar e produzir;
segundo, não obstaculizam em nada a responsabilidade política e social” (GADOTTI,
1988, p. 4). Ele insiste em dizer que viver a prática educativa com afetividade e
alegria não exclui a necessidade de formação científica séria e de clareza política,
pois só é capaz de transformar o mundo aquele que é capaz de sonhar e lutar. As
classes menos favorecidas precisam ter um nível de enfrentamento muito grande e,
quanto menor o número de oportunidades, maior a necessidade do prazer, do gosto
de estudar e aprender, preparando-se para a luta.
Mesmo reconhecendo a necessidade de renovar os conteúdos culturais,
Padilha (2003) lembra que o prazer em estar na escola exige que ela esteja bonita e
bem cuidada. Ele propõe também a realização de festas populares, festivais de
música, teatro, mutirões, encontros e cursos demandados pela comunidade, uma
vez que essas atividades podem gerar processos altamente pedagógicos. A escola
que realmente quer alcançar resultados não pode limitar seu trabalho aos alunos,
por isso eventos devem ser organizados envolvendo toda a comunidade e
objetivando a elevação de seu nível cultural. É importante estar atento às
necessidades locais, mas sempre estabelecendo relações entre o global e o
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particular. Concordando com Snyders (1997), ele diz que todos devem vivenciar as
alegrias da vida cotidiana para que, na somatória das diferentes culturas, possam
reinventar sua própria expressão cultural e ir além do elementar. Assim, mais do que
espaços transmissores, reprodutivos e ensinantes, “as festas contribuem com a
criação de novos espaços relacionais, criativos e aprendentes” (PADILHA, 2003,
p.87).
Vale lembrar aqui a experiência de Makarenko: na Colônia Gorki e Comuna
Dzerjinski, o teatro, que despertava grande interesse em seus educandos, foi
utilizado também para aproximar a comunidade. Esse autor fala ainda sobre a
importância de se constituir um grupo coeso. Nas palavras de Makarenko (1987b, p.
192), “o coletivo infantil deve necessariamente crescer e enriquecer, vislumbrar à
sua frente um amanhã melhor e lutar por ele num jubiloso esforço comum, num
sonho alegre e obstinado”. Cada um deve saber que faz parte do grupo e tem de
encarar o outro “como o seu companheiro mais chegado e principal amigo, tem a
obrigação de respeitá-lo, defendê-lo, ajudá-lo em tudo se ele precisar de ajuda, e
corrigi-lo se ele errar” (1986, p. 128). O referido autor explica ainda que devemos
partir das alegrias mais simples e instituir gradualmente outras mais significativas,
alargando as perspectivas do grupo de modo que ele avance da “satisfação primitiva
com qualquer pedaço de pão-de-mel até o mais profundo senso de dever” (p. 177).
O grupo deve ser levado a compreender que

a vida não é uma festa permanente. As festas acontecem de vez em


quando, o que existe mais é o trabalho, o ser humano tem toda sorte
de preocupações, responsabilidades, assim vivem todos os que
trabalham. E numa vida assim há mais alegria e sentido do que na
tua festa. [...] O labor e a vida de trabalho também são alegrias
(MAKARENKO, 1986, p. 215).

Gadotti (2000), por sua vez, destaca que o caráter permanente da educação –
exigência da sociedade atual que nos leva a passar a vida toda estudando – faz com
que a felicidade na escola não seja “uma questão de opção metodológica ou
ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela” (p. 9). Ele ressalta ainda que,
para Snyders, o educador necessário, nesse momento, é aquele que consegue
realizar, na prática, a unidade dialética entre o cognitivo e o afetivo. Se, por um lado,
não há nada no pensamento que não tenha surgido das primeiras sensibilidades,
por outro, um novo conteúdo é dado às sensibilidades pela luz da razão. A esse
respeito, Taam (2004) esclarece que a afetividade não pode ser entendida como
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sinônimo de carinho, pois ela envolve tudo o que nos afeta, sejam pessoas ou
coisas, produzindo sentimentos e emoções. A emoção é a expressão orgânica da
afetividade (é corporal, visível e tem efeito de contágio) e o sentimento é a
afetividade filtrada pela razão. Se a alegria é uma emoção que sinaliza equilíbrio e
bem-estar, ela é condição para que a pessoa se disponha a fazer algo para mudar
sua realidade e o meio social em que vive. Somente pessoas felizes são confiantes
e têm esperança. Para equilibrar as emoções (expressões orgânicas da afetividade),
precisamos fazer uso da razão e do movimento. Segundo Henry Wallon (1879-
1962), “a razão é o antídoto da emoção”. Assim, é importante que o professor se
habitue a indagar ao aluno não só o que ele entendeu, mas também o que sentiu ao
ler determinado texto, ao tentar resolver um problema, ao saber de um fato histórico
ou fenômeno natural, ou seja, o professor deve se dar conta de que a receptividade
do conteúdo resulta na produção de idéias, sentimentos e emoções.
Como a sensibilidade (capacidade de recepção do mundo) é a porta de
entrada para o conhecimento, a escola deve garantir um espaço para músicas,
poesias, danças, filmes e até mesmo para uma boa conversa. Tais atividades
influenciam nos estados e disposições psíquicas porque agem diretamente sobre o
aparelho do equilíbrio, os canais semicirculares e o labirinto, podendo produzir um
efeito calmante sobre a emoção (TAAM, 2004). Se afeto e cognição caminham
juntos, o educador não pode preocupar-se apenas com a apropriação dos
conteúdos. Sem negar a ciência e a razão, é importante cuidar da emoção fazendo
da sala de aula um ambiente acolhedor. Isso requer interação com a pessoa, exige
conhecê-la, respeitá-la, acolhê-la e ajudá-la a ser tudo o que é capaz de ser,
levando-a a superar seus limites e dificuldades. Se a aceitação do outro, com todas
as suas circunstâncias, é fundamental no trabalho pedagógico, igualmente
importante é fazer com que cada um realize suas potencialidades.
As pessoas são afetadas por aquilo que o outro diz e faz, e a forma como isso
acontece também conta. Segundo Vasconcellos (1996), as circunstâncias dão
sentido às palavras, aos gestos e aos silêncios. Portanto, é importante estar alerta
ao tom de voz, às expressões e aos gestos utilizados para que estes não sejam
fatores geradores de conflitos entrópicos, que desgastam os relacionamentos, o que
não ocorre quando os conflitos elevam o patamar da compreensão mútua e de
determinado assunto, objeto da discussão. Para Leite (1983, p. 237),
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o professor vence ou é derrotado na profissão não apenas pelo seu


saber maior ou menor, mas principalmente pela sua capacidade de
lidar com os alunos e ser aceito por eles. A criança é feliz ou infeliz
na medida em que seja aceita pelos colegas e consiga entender-se
com eles.

Mesmo que boas relações não garantam o sucesso no processo de ensino-


aprendizagem, elas podem facilitá-lo.
Para aprender, é preciso que, além da afetividade (emoções e sentimentos),
estejam mobilizadas a vontade, a atenção e a memória. Assim, instigar a curiosidade
é uma das melhores maneiras de despertar a criança e o jovem para o saber. Muitos
professores têm encontrado dificuldades para conseguir isso; os conteúdos nem
sempre são interessantes e a metodologia utilizada muitas vezes não atrai o aluno.
Isso não significa que as aulas devam ser um “show de luzes e som”, mas se tudo o
que agrada ensina mais eficientemente, é importante fazer uso das tecnologias da
comunicação que têm grande poder de sedução e encantamento.
A essa altura, é importante lembrar que diversos são os fatores que
contribuem para que professores estejam também insatisfeitos, como sua formação
deficitária, a falta de tempo para o estudo, para planejamento e troca de
experiências, o excesso de alunos em sala de aula, a falta de estrutura física e de
recursos materiais, os baixos salários e, por que não, a falta de compromisso por
parte de muitos (do poder público, de pais, colegas de trabalho e dos próprios
alunos). Por mais que se esforcem, muitos não vêem sentido no trabalho que
realizam e isso tem a ver também com uma sociedade que não valoriza o
conhecimento tal como deveria. Os resultados não dependem somente da atuação
do professor, mas é fundamental que ele assuma sua parcela de responsabilidade e
exija o mesmo dos demais envolvidos no processo.
Diante do exposto, é importante pensar em como isso pode se concretizar na
escola de forma a garantir a alegria possível nesse momento. O processo deve ser
iniciado pela seleção de conteúdos que realmente possam contribuir para a
compreensão e atuação na realidade vivida, abrindo espaço para conteúdos trazidos
pelos alunos e buscando a melhor forma de trabalhá-los. De acordo com Snyders
(1997), a renovação dos conteúdos possibilita também a renovação dos métodos e
relações, pois quando a escola propõe temas de estudo que ajudam os alunos a
superar sua incertezas e angústias, o autoritarismo pode dar lugar a atitudes de
cooperação. “Se os conteúdos a alcançar se inscrevem no prolongamento de aquilo
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que os alunos esperam, então o mestre deixa de ser o inimigo e já nem é um ser
exterior” (SNYDERS, 1978, p. 313). Os alunos somente terão acesso a conteúdos
verdadeiros se estes estiverem em continuidade com sua própria experiência. É
necessário também que haja uma ruptura, ou seja, que ultrapassem a experiência
inicial, pois “as necessidades não são inerentes ao indivíduo. A produção material da
sociedade é que determina os hábitos, gostos e necessidades. Por isso a educação
não pode limitar-se aos desejos manifestos” (p. 320), mas, partindo deles, deve ir
além.
As críticas à escola são tão freqüentes e tão intensas que, muitas vezes,
geram pessimismo e desânimo, pois dão a impressão de que nada pode ser feito.
Embora as mudanças na Educação exijam ações muito mais amplas, “a constatação
do desencantamento deve mobilizar para uma renovação urgente das práticas
escolares” (CALDAS e HÜBNER, 2000), pois o discurso anti-escolar deve dar lugar
a propósitos de melhoria.
Nas palavras de Snyders, em entrevista à professora Lourdes Stamato de
Camillis (2006, p. 164):

a maior parte das crianças em situação de fracasso são as de


classe popular e elas precisam ter prazer em estudar; do contrário,
desistirão, abandonarão a Escola, se puderem. Se não puderem,
continuarão, mas não aprenderão muito. Quanto mais os alunos
enfrentam dificuldades - de ordem física e econômica - mais a
Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria
não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam
ter o estímulo do prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles
que sofrem mais fora da Escola. Sei que é um pouco utópico, mas
de vez em quando é necessário sonhar.

A grande maioria dos alunos das classes populares freqüenta a escola


pública durante sua escolaridade básica, portanto, é fundamental que essa escola
seja capaz de proporcionar-lhes prazer, prazer de conquistas, prazer que prepare-os
para a luta.

Analisando a realidade do Colégio Parigot

A pesquisa desenvolvida no Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza,


cujo objetivo era refletir sobre a freqüente insatisfação observada nas salas de aula
e discutir possíveis formas de contribuir para a reversão desse quadro, exigiu uma
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série de encontros com pais, alunos e professores. Em uma Reunião Pedagógica


que contou com a participação da Direção, Equipe Pedagógica e professores do
Ensino Fundamental, a proposta de trabalho foi apresentada (tema, justificativa,
objetivos e ações previstas) e a temática foi discutida com base no texto “A
insatisfação dos alunos na sala de aula – algumas reflexões” (Material Didático
produzido no PDE). Além disso, foram aplicados questionários aos professores.
Tratava-se de uma reunião já prevista em calendário e todos os que atuam nesse
nível de ensino foram convocados, no entanto, muitos não compareceram e nem
todos os participantes responderam ao questionário. Isso levantou alguns
questionamentos: por que a participação foi tão pequena? Por falta de tempo?
Desinteresse? Por não acreditarem que mudanças possam acontecer? Por
insegurança? Descompromisso? Qual o verdadeiro motivo? Ao longo dos anos, a
vivência escolar tem revelado que alguns pensam, sentem e agem assim.
Encontramos, por exemplo, aqueles que participam das reuniões somente quando
estas são agendadas nos dias em que teriam aulas.
A maioria dos que compareceram foi bastante receptiva, embora
manifestando sua angústia por constantes cobranças e pela falta de colaboração de
muitos pais e alunos. A contradição aparece quando os próprios professores que
não se envolvem em todas as atividades importantes da escola reclamam da falta de
compromisso dos pais.
Considerando a dificuldade de aplicar, em reunião, os questionários aos pais,
eles foram enviados para serem respondidos em casa. Em anexo, receberam um
informativo apresentando a proposta de trabalho e destacando a importância de
todos participarem. Dos 130 questionários enviados, 81 retornaram à escola (62%),
sendo o resultado considerado satisfatório.
Diante da inviabilidade de, naquele momento, trabalhar com todos os alunos,
a temática foi discutida com quatro turmas de 7ª e 8ª séries e nelas foram também
aplicados os questionários. As turmas foram escolhidas com base no depoimento de
alguns professores e levando em conta também que a maior parte desses alunos
continuará na escola nos próximos anos. Segundo os professores, essas turmas
apresentam muitos problemas e, nas aulas em que esse trabalho realizado, foi
possível vivenciar o que eles têm dito: esses adolescentes têm uma enorme
dificuldade de ouvir e, quando terminam suas atividades e esperam pelos colegas,
também não se controlam. Enquanto têm algo para escrever, permanecem em
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silêncio ou falam baixo, possibilitando um ambiente favorável à concentração, mas


durante uma discussão, muitos não param para ouvir. As conversas paralelas se
multiplicam ao ponto de, muitas vezes, impossibilitar o aprofundamento do tema.
Como os questionários contavam basicamente com questões abertas, as
respostas foram muito variadas, dificultando a tabulação dos dados. Para uma
mesma questão, surgiram, em média, 30 respostas diferentes, mas levando em
conta a importância de todos os segmentos poderem manifestar livremente seu
pensamento, foi extremamente válido adotar esse instrumento. As respostas mais
freqüentes foram visualizadas por meio de gráficos, mas todas foram contempladas
na apresentação dos resultados, possibilitando sua análise e discussão.
Por meio de slides (esquemas, gráficos e tabelas), os dados foram
apresentados e discutidos com os grupos envolvidos a fim de que cada um pudesse
refletir sobre possíveis ações a serem implementadas e sobre sua parcela de
responsabilidade.

Notas atribuídas pelos alunos


7ª 7ª 8ª 8ª
série A série B série A série B

Relacionamento entre professores e alunos 6,7 6,4 7,4 6,8


Relacionamento entre os colegas de classe 7,5 7,9 8,5 7,9
Formas de avaliação 7,8 7,1 8,2 7,2
Atividades extra-classe 8,3 8,0 7,8 8,6
Limpeza da escola 7,9 8,5 7,7 7,4
Merenda escolar 6,7 6,8 7,3 7,2
Atendimento na Biblioteca 8,2 6,6 8,1 6,7
Atendimento pela Equipe Pedagógica 8,8 9,0 8,5 8,1
Atendimento pela Direção 8,8 9,1 9,0 8,3

Notas mais altas


Notas mais baixas

A tabela acima mostra as médias das notas atribuídas pelos alunos nos
quesitos apresentados, revelando que o nível de insatisfação não é tão alto quanto
se imaginava, pois a grande maioria (80%) ficou acima de 7,0. As médias mais altas
se concentraram no atendimento da Equipe Pedagógica e Direção, ficando as
médias mais baixas para o relacionamento entre professores e alunos, o que indica
a necessidade de uma intervenção nessa área. Como a merenda escolar e o
atendimento na Biblioteca também apresentaram algumas médias baixas, é
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importante que a escola procure identificar quais são realmente os problemas e


procure solucioná-los, buscando melhorar a qualidade desses serviços.
Ao serem interrogados sobre o que mais lhes dá satisfação na escola, 46
alunos (35%) responderam que é o relacionamento com os amigos, sendo esta a
resposta mais freqüente e que coincidiu com a percepção dos professores. Isso
revela que as atividades em grupo podem ser mais prazerosas e devem ser
oportunizadas aos alunos com freqüência. Por outro lado, muitos apontaram que, na
sala de aula, a maior satisfação tem sido o estudo (21%) e o trabalho desenvolvido
pelos professores (20%), indicando que valorizam a escola. Muitos deles
destacaram o empenho e a competência de seus mestres, surpreendendo-os.
Certamente, o resultado deixou os professores satisfeitos, o que terá um reflexo
sobre a prática deles.
As notas atribuídas pelos pais também revelaram um ótimo nível de
satisfação com o trabalho desenvolvido pela escola, especialmente pela qualidade
do atendimento que vêm recebendo. Quanto às atividades extra-classe, as
respostas indicaram que sua freqüência e variedade deveriam ser maiores. Mesmo
não sendo um grande problema, os conteúdos precisam ser constantemente
revistos, uma vez que as notas para este quesito figuraram entre as menores.

Notas atribuídas pelos pais para o trabalho realizado


10

7
conteúdos trabalhados
6
atividades em sala de aula
Notas

5
tarefas solicitadas

4 atividades extra-classe

formas de avaliação
3

relacionamento entre alunos e


2 professores
atendimento aos pais
1

Como as notas atribuídas por pais e alunos aos relacionamentos em sala de


aula demonstraram que este é um dos maiores problemas, cada segmento procurou
identificar o que precisa ser feito para melhorar essa situação. Muitos alunos
reconheceram que professores estressados, mal-humorados, sermões e
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reclamações são conseqüências de seu próprio comportamento em sala de aula.


Por outro lado, os professores constataram que ignorar o aluno deixando de
responder às suas indagações, generalizar reclamando com quem não tem culpa,
julgar antes de saber exatamente o que aconteceu, dispensar um tratamento
pessoal diferenciado e ironizar ou debochar dele são algumas das atitudes que mais
incomodam aos adolescentes. Mesmo que não sejam freqüentes e nem partam de
todos os professores, basta que um deles aja assim para que a insatisfação se
instale ou se acentue. Se o professor costuma responder com ironia, o aluno pode
não se desenvolver por medo de errar. É importante levar em conta também que,
muitas vezes, uma resposta agressiva é apenas uma forma de desabafo; assim, a
sensibilidade maior deve ser do professor que tem consciência disso. Mesmo que a
vontade seja de retrucar, a melhor reação é responder com delicadeza porque tende
a desarmar o agressor.
Levando em conta que pessoas satisfeitas relacionam-se melhor, o apoio dos
pais, melhores condições de trabalho e mais capacitação também são aspectos a
serem observados para que os professores sintam-se mais satisfeitos na escola.
Esta capacitação deve incluir estudos sobre as características dos adolescentes, a
importância da afetividade em sala de aula e o uso de novas metodologias.
Mesmo que o nível de insatisfação não seja alto, as respostas a outras
questões revelaram que ela existe. O gráfico abaixo apresenta as respostas mais
freqüentes dos alunos sobre a forma como demonstram sua insatisfação na sala de
aula.

Como você demonstra sua insatisfação dentro da sala de aula?

30
Fico quieto/não participo

Fico bravo/nervoso/mal-humorado
25
Fico conversando

Reclamo com o professor


20
Não faço as atividades
Número de respostas

Não presto atenção


15
Fico triste

Mando ficarem quietos/peço para


estudarem
10
Bagunçando

Procuro resolver
5
Fico desanimado/não participo

De nenhum jeito
0
13

As percepções de pais e professores sobre a insatisfação na sala de aula


coincidiram, em grande medida, com as respostas dos próprios alunos. Como
muitas dessas atitudes podem comprometer o rendimento escolar, é fundamental
considerar suas causas e desenvolver ações que possam contribuir para que os
alunos estejam mais satisfeitos. Vale ressaltar que, após análise e discussão, estes
concluíram que muitas vezes suas atitudes não contribuem em nada para que os
problemas sejam resolvidos, pelo contrário, agravam a situação. Desse modo, a
reflexão contribuiu para que alguns deles repensassem seu modo de agir.
Os gráficos abaixo mostram as respostas mais freqüentes sobre os motivos
de insatisfação. Os alunos se surpreenderam ao verem que a maior parte delas tem
a ver com suas próprias atitudes na escola (brigas, muita conversa, pessoas
intrometidas/chatas/exibidas, falta de educação/desrespeito dos alunos,
xingamentos/provocações e a sujeira que eles mesmos fazem).
O que o(a) deixa mais insatisfeito(a) na escola?

14

12

10
Númeroderespostas

As brigas
8

Pessoas intrometidas/chatas/folgadas/exibidas

6 A falta de educação/desrespeito dos alunos

A sujeira
4
Deboche/xingamentos/provocações

A quadra sem cobertura


2

A necessidade de reforma/pintura

O que o(a) deixa mais insatisfeito(a) na sala de aula?

12

10

8
Número de respostas

A bagunça/muita conversa
6
Xingamentos, deboches, apelidos

Alguns professores chatos/estressados


4

Quando tem que escrever muito

2
Conversas durante a explicação

Quando professores implicam/brigam comigo


0
14

Quanto às medidas mais urgentes a serem tomadas para que fiquem mais
satisfeitos com a escola, as duas respostas mais freqüentes dos pais e dos alunos
foram a necessidade de reforma/pintura e a conclusão da quadra. Isso confirma a
posição defendida por Paulo Roberto Padilha quando diz que o fato de a escola
estar bonita também contribui para que a alegria esteja presente nela. Felizmente e,
graças ao empenho da Direção, isso foi resolvido. A luta vinha de longa data, mas
finalmente, neste ano e após a realização da pesquisa, a quadra foi coberta (com
verba do governo estadual) e a pintura externa foi concluída (por meio de
promoções e doações). Ainda há muito que fazer, mas isso coincidiu com os anseios
manifestos.
Os alunos mencionaram ainda a importância de incluir atividades diferentes
dentro e fora da sala de aula, a necessidade de melhorar o humor de alguns
professores e de melhorar o relacionamento entre eles próprios, acabando com as
brigas e adotando “medidas mais severas com quem apronta”. Muitos reconheceram
que o comportamento em sala de aula não está bom e se mostraram insatisfeitos
com a falta de sanções adequadas. Alguns alunos e pais solicitaram que os
“bagunceiros e folgados sejam retirados da escola”, um aluno sugeriu “puxão de
orelha” e uma mãe chegou a falar em “trabalho braçal” como penalidade. Após
esclarecimentos sobre a legislação que impede tais medidas, vários pais se
mostraram indignados com a falta de alternativas. Isso indica que a discussão
precisa ser retomada, preferivelmente em uma reunião que conte com a participação
de representantes do Conselho Tutelar e do poder judiciário, além de professores,
pais e alunos, lembrando que a questão do mau-humor docente deve ser incluída na
pauta de discussões.
A escola tem sido levada a acolher a todos, indistintamente, sem que estes
recebam qualquer outro tipo de apoio capaz de promover sua verdadeira inclusão
social. Alguns alunos freqüentam a escola porque são obrigados, mas não se
sentem parte do grupo (freqüentam a série que não condiz com sua faixa etária, por
exemplo). Todos precisam estar bem integrados à sua comunidade, mas freqüentar
a escola, por si só, não garante sua promoção como cidadão. A quantidade de
analfabetos funcionais é expressão cabal deste fato. Segundo dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD, desenvolvida pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, em 2007, o analfabetismo funcional
atingiu 21,7% da população. Pode uma pessoa que não desenvolveu a habilidade de
15

interpretação de textos e a capacidade de fazer as operações matemáticas lutar e


usufruir plenamente de seus direitos como cidadã?
A esse respeito, professores têm se mostrado também insatisfeitos, pois as
cobranças têm recaído sobre eles e essa tarefa não é só da escola. A própria
Constituição Federal aponta, em seu Art.6º, como direitos sociais “a educação, a
saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Estas são as
condições necessárias ao “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” - finalidade da educação
apresentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96)
como um dever da família e do Estado. A LDB deixa claro ainda, em seu Art. 1º, que
a educação “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais”. Portanto, não cabe somente à escola educar.
Recentemente a mídia divulgou a história de Ubirajara Gomes da Silva, de
Recife, Pernambuco que, mesmo morando nas ruas há 12 anos, foi aprovado em um
concurso do Banco do Brasil e convocado para assumir o cargo de escriturário com
salário inicial de R$ 942,90, mais gratificação de 25%. Onde ia, carregava uma pasta
cheia de velhas apostilas e provas de concursos anteriores; estudava em praças e
em bibliotecas, lia vários jornais diariamente, clássicos da literatura e livros técnicos.
Ele também costumava acessar a internet em bibliotecas públicas e lan-houses,
deixando muitas vezes de comer para poder fazer isso. Esta história, no entanto,
não pode ser usada para dizer que todas as adversidades podem ser vencidas com
coragem e determinação ou que com trabalho árduo pode-se chegar aonde quiser.
Na verdade, ela revela a omissão do Estado, o descaso com a Educação, a
produção da ignorância e a desigualdade de condições. Mesmo tendo sido um
exemplo de superação, não se pode esquecer de que é muito maior o número dos
que, em condições desfavoráveis, abandonam a escola e permanecem na
marginalidade.
Quando os alunos sugeriram medidas para que se sintam mais satisfeitos
com a escola, muitos deles mencionaram a realização de atividades diferentes,
sendo esta também a percepção dos professores. Sabendo do seu gosto por
músicas, teatro e dança, e reconhecendo que estes podem contribuir para o
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equilíbrio das emoções, todos devem se empenhar para que isso realmente
aconteça durante o ano letivo. A experiência tem demonstrado que atividades dessa
natureza tendem a aproximar alunos e professores, criando um vínculo afetivo
maior. É importante lembrar ainda que muitas delas devem ser estendidas aos pais
a fim de promover uma maior integração e de elevar também seu nível cultural.
Contudo, após discussão, os alunos concluíram que “atividades diferentes” são
necessárias, mas não dá pra acontecer todos os dias. Tudo o que foge da rotina
tende a atrair a atenção e não há quem não goste de novas experiências, mas assim
como a alimentação diária, as roupas que vestem e os ambientes que freqüentam
costumam ser os mesmos, também não há como participar de uma aula diferente
sempre.
É preciso levar em conta ainda que a realização de festivais de músicas,
poesias, danças, teatro, campeonatos e atividades similares requerem um tempo
grande para sua organização e podem comprometer o desenvolvimento dos
conteúdos programáticos, sem falar dos recursos que demandam. Muitas escolas
não contam sequer com espaço físico adequado para a realização dessas
atividades. Todas essas dificuldades, no entanto, devem ser encaradas como
desafios a fim de que sonhos possam se concretizar. Não sendo um impedimento,
convém lembrar que o domínio dos conhecimentos é condição necessária para que
os alunos atuem na sociedade de forma a modificá-la, ou seja, só assim poderão
participar das lutas contra o sistema capitalista e por uma sociedade mais justa e
igualitária. Diante do impasse, o que fazer? Uma alternativa seria uma escola de
tempo integral, na qual os alunos pudessem realizar todas essas atividades sem
comprometer o trabalho em sala de aula. A LDB traz, em seu Art. 34:

A jornada no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas


de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente
ampliado o período de permanência na escola. [...] § 2º O ensino
fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a
critério dos sistemas de ensino.

O Plano Nacional de Educação – PNE, instituído pela Lei nº 10.172, de 9 de


janeiro de 2001, com duração de dez anos, também estabelece, dentre seus trinta
objetivos e metas para o ensino fundamental:

21. Ampliar progressivamente a jornada escolar visando expandir a


escola de tempo integral, que abranja um período de pelo menos
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sete horas diárias, com previsão de professores e funcionários em


número suficiente.
22. Prover, nas escolas de tempo integral, preferencialmente para
as crianças das famílias de menor renda, no mínimo duas refeições,
apoio às tarefas escolares, a prática de esportes e atividades
artísticas, nos moldes do Programa de Renda Mínima Associado a
Ações Sócio-educativas.

Cientes dos anseios e necessidades da população, muitos candidatos


anunciaram as escolas de tempo integral na recente campanha eleitoral, revelando
um consenso em relação a isso. No Brasil, elas não são ainda comuns, mas outras
possibilidades começam a surgir e precisam ser valorizadas. O Programa Viva a
Escola, por exemplo, anunciado pela Secretária da Educação, Yvelise Arco-Verde.
Segundo a secretária, todos os colégios da rede pública estadual vão oferecer, a
partir do próximo ano, atividades complementares no contraturno das aulas. Esse
programa assume como política pública as Atividades Pedagógicas de
Complementação Curricular e tem como um de seus objetivos viabilizar o acesso,
permanência e participação dos educandos em atividades de seu interesse,
possibilitando-lhes uma maior interação com colegas, professores e comunidade. As
escolas poderão inscrever atividades em quatro núcleos de conhecimento:
Expressivo-Corporal: esportes, brinquedos e brincadeiras, ginásticas, lutas, jogos,
teatro e danças; Científico-Cultural: história e memória, cultura regional, atividades
literárias, artes visuais, músicas, investigação científica, divulgação científica e
mídias; Integração Comunidade e Escola: Fórum de Estudo e Discussões e curso
preparatório para o vestibular; Apoio à Aprendizagem: Sala de Apoio à
Aprendizagem, Ciclo Básico de Alfabetização, Sala de Recursos e Sala de Apoio da
Educação Escolar Indígena. Os professores com propostas aprovadas terão quatro
horas-aula para desenvolver as atividades mais uma hora-atividade. Mesmo que o
programa não atenda a todas as necessidades da escola, é importante reconhecer
que poderá trazer contribuições significativas se se tornar permanente.
Retomando a discussão dos conteúdos, os alunos mencionaram a
necessidade de que sejam interessantes; pais e professores reconhecem esse
anseio, mas é possível ensinar somente aquilo que desperta o seu interesse?
Considerando que a finalidade da educação é o preparo para o exercício da
cidadania e a qualificação para o trabalho, sem falar na diversidade de interesses
individuais, é possível trabalhar somente o que atrai os alunos? De acordo com
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Snyders (1978), a renovação dos conteúdos deve acontecer, mas a escola precisa
dar conta de prepará-los para agir no mundo. Mesmo considerando seus interesses,
ela deve ir além de seus desejos imediatos, ou seja, deve buscar formas de ampliá-
los.
Para o aluno, interessa aquilo que está relacionado ao que é vivido por ele, no
seu cotidiano. Falar daquilo que o aluno vive, das suas circunstâncias, é o que torna
os conteúdos significativos. Quando os alunos percebem que existe uma relação
entre o conteúdo e sua vida cotidiana, suas necessidades, problemas e interesses,
cria-se um clima de predisposição favorável à aprendizagem (GASPARIN, 2003).
Por isso, o professor deve iniciar o seu trabalho investigando a prática social
imediata dos alunos a respeito do conteúdo curricular proposto, ou seja, o que
sabem, sentem, vivem em relação ao tema. Assim, a realidade vivida passa a ser o
ponto de partida para a construção do conhecimento escolar, que deve ter uma
finalidade social, ou seja, para que, em fases posteriores, o aluno faça uso dele em
sua vida. Na perspectiva histórico-crítica, o retorno à Prática Social deve ser o ponto
de chegada do processo pedagógico (prática – teoria – prática).
Diante das reclamações sobre as carteiras ruins, de sentarem onde o
professor manda, dos chicletes que precisam ser retirados do chão e dos
professores que reclamam muito, os alunos perceberam que as soluções dependem
principalmente de suas próprias ações. Alguns professores, por sua vez, foram
alertados sobre a preguiça de escrever no quadro (quando ditam todo o conteúdo ou
pedem para algum aluno registrar as atividades no quadro), sobre a falta de
planejamento das aulas e sobre a necessidade de maior incentivo à leitura. Isso
revela que os alunos estão atentos à prática desenvolvida pelos educadores.
Quando alguns alunos solicitaram atividades e provas fáceis, aulas vagas,
maior tempo de intervalo, mais passeios, menos atividades escritas, menos tarefas,
menos conteúdos e que os livros fiquem na escola, após discussão, muitos deles
reconheceram que seu objetivo não tem sido a aprendizagem, confundindo o papel
da escola com sua necessidade de lazer, que precisa ser discutida e valorizada.
No momento em que foram desafiados a se colocar no lugar dos mestres, um
terço dos alunos não conseguiu fazê-lo, pois responderam de acordo com o que eles
mesmos esperam da escola. Disseram, por exemplo, que se fossem professores, as
medidas mais urgentes para se sentirem mais satisfeitos com a profissão, seriam
“atividades diferentes dentro e fora da sala” e os “professores terem mais calma e
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compreensão com as dificuldades dos alunos, sendo mais gentis e bem-


humorados”. Isso revela a necessidade de serem desenvolvidas atividades em que
os discentes “vistam a pele” dos professores. A apresentação de peças teatrais e a
organização de juris simulados com a inversão de papéis (alunos como professores
e estes representando os alunos) são algumas sugestões a serem consideradas.
Quanto à contribuição dos pais para que os alunos se sintam satisfeitos com
a escola, a grande maioria de pais (92%) e alunos (93%) respondeu que essa ajuda
acontece porque eles incentivam o estudo, auxiliam nas tarefas, compram o material
necessário e não deixam faltar às aulas. Apenas 22 alunos (17%) mencionaram que
é por meio da participação em reuniões e um número muito menor de pais (7%) deu
essa resposta, confirmando que não tem sido fácil contar com sua presença nas
atividades escolares. Após análise e discussão, os pais puderam perceber o que
podem fazer e ainda não estão fazendo. Reconheceram também a importância de
se unirem aos professores na luta por melhores condições de ensino e
aprendizagem.

Considerações finais

A pesquisa possibilitou a identificação de alguns problemas que necessitam


de intervenção, alguns deles simples de serem resolvidos e outros bastante
complexos, pois demandam tempo para estudo, capacitação e recursos.
Se o nível de insatisfação dos alunos não se mostrou tão alto quanto se
imaginava, é provável que estejam faltando momentos para que estes possam
expressar melhor seus anseios, sentimentos e emoções, ou que não estejam
sabendo como fazê-lo. Assim, para que seus sentimentos se manifestem de uma
maneira mais equilibrada, é importante propor atividades nas quais eles façam uso
da razão e do movimento.
Os resultados da pesquisa revelaram também que a forma como se
comportam na escola não pode ser necessariamente compreendida como uma
insatisfação por estar ali, ou seja, pode estar sendo desencadeada por outros
fatores externos. É provável que os professores estejam com dificuldades de
compreender as atitudes desses adolescentes e os seus motivos. Por isso, mais
encontros de capacitação precisam ser oferecidos para que, ao longo do ano, os
professores possam discutir aquilo que têm vivenciado em sala de aula e possam
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buscar também saídas. A parceria com os pais precisa se estabelecer de uma


maneira mais efetiva e melhores condições precisam ser garantidas pelo poder
público.
O trabalho desenvolvido possibilitou a sensibilização do grupo, mas
resultados somente serão alcançados a médio e longo prazos e exigirão o
compromisso de todos os envolvidos.

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