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Coletânea de Farmácia Hospitalar

DIRETORIA

CONSELHEIROS FEDERAIS

Rossana Santos Freitas Spiguel (AC) João Samuel de Morais Meira (PB)
José Gildo da Silva (AL) Bráulio César de Sousa (PE)
Marcos Aurélio Ferreira da Silva (AM) Osvaldo Bonfim de Carvalho (PI)
Carlos André Oeiras Sena (AP) Elena Lúcia Sales Sousa (PI)
Altamiro José dos Santos (BA) Valmir de Santi (PR)
Luis Cláudio Mapurunga da Frota (CE) Alex Sandro Rodrigues Baiense (RJ)
Forland Oliveira Silva (DF) Lenira da Silva Costa (RN)
Gedayas Medeiros Pedro (ES) Lérida Maria dos Santos Vieira (RO)
Sueza Abadia de Souza Oliveira (GO) Erlandson Uchôa Lacerda (RR)
Fernando Luis Bacelar de Carvalho Lobato (MA) Josué Schostack (RS)
Gerson Antônio Pianetti (MG) Paulo Roberto Boff (SC)
Ângela Cristina Rodrigues da Cunha Castro Lopes (MS) Vanilda Oliveira Aguiar (SE)
José Ricardo Arnaut Amadio (MT) Marcelo Polacow Bisson (SP)
Walter da Silva Jorge João (PA) Amilson Álvares (TO)

Organização:
GRUPO DE TRABALHO SOBRE FARMÁCIA HOSPITALAR DO CFF

Dr. Josué Schostack (RS) - Coordenador

Dra. Iara Maria Franzen Aydos (RS)


Dr. José Ferreira Marcos (SP)
Dr. Luiz Fernando Rodrigues Mendonça (PA)
Dra. Maria José Sartório (ES)
Dra. Renata Madalena Zaccara Nunes (PB)
Dra. Teófila Margarida Monteiro Silva (MA)

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Coletânea de Farmácia Hospitalar

SUMÁRIO

PREFÁCIO.............................................................................................................................04
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: COMO IMPLANTAR .................................................................05
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: PROCESSOS INVESTIGATIVOS EM FARMACOVIGILÂNCIA .................16
FARMÁCIA CLÍNICA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA .............................................................24
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: INTERFACES ADMINISTRATIVAS E CLÍNICAS ....................................26
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: DA PRODUÇÃO A ADMINISTRAÇÃO .................................................44
AUDITORIA: FERRAMENTA DE GESTÃO PELA QUALIDADE NO CONTEXTO DA FARMÁCIA HOSPITALAR .......52
ERROS DE MEDICAÇÃO ...........................................................................................................60
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA ...........................................78
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE ..........................................92
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) ........................ 101
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR .............................................. 110
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES ............................................................. 122
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO ................................................................ 134
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR .............................................................................. 143
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA ................................................................................ 153
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR ...................................................................... 171
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA ..................................... 191

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Coletânea de Farmácia Hospitalar

O Grupo de Trabalho sobre Farmácia Hospitalar do Conselho Federal de Farmácia, apro-


veita a oportunidade de realização do
I Congresso de Ciências Farmacêuticas, promovido pelo Conselho Federal de Farmácia,
para reeditar uma coletânea de artigos de colegas farmacêuticos hospitalares, brasileiros, que
refletem a necessidade do dia-a-dia da Farmácia Hospitalar. Essa publicação foi idealizada por
farmacêuticos que nos antecederam no Grupo de Trabalho.
Nesses últimos 30 anos, a Farmácia Hospitalar evoluiu e deixou de ser uma aérea de
suprimentos de medicamentos e materiais médico-hospitalares, para ser um serviço voltado
à segurança do paciente, buscando de todas as formas o uso racional do medicamento e dos
produtos para saúde no ambiente hospitalar. A evolução chega ao modelo do farmacêutico em
atividades clínicas e sua participação efetiva na equipe multiprofissional de saúde, atuando, de
forma sistemática, em toda a sua área do conhecimento, com foco no paciente onde quer que
seja sua função dentro da farmácia ou fora dela.
Com um agradecimento especial a estes colegas farmacêuticos hospitalares, estamos
possibilitando o acesso a estas informações, de forma organizada, e vendo a utilidade deste
conhecimento ser multiplicado, o que pode servir de base ao melhor trabalho do farmacêutico
do setor.
Como Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Farmácia Hospitalar, junto com
meus pares, fico extremamente satisfeito com esta oportunidade de replicar o conheci-
mento em prol do avanço desse importante segmento da Farmácia. Esta é nossa fun-
ção, bem como a do Conselho Federal de Farmácia, que promove e estimula a capaci-
tação do profissional, como mola propulsora da profissão farmacêutica.

Farmacêutico Josué Schostack


Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Farmácia Hospitalar
do Conselho Federal de Farmácia

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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar


PAULO SÉRGIO DOURADO ARRAIS
EUGENIE DESIRÈE RABELO NÉRI
TATIANA AMÂNCIO CAMPOS
ANA GRAZIELA DA SILVA PEREIRA
MILENA PONTES PORTELA
NATHÁLIA MARTINS BESERRA

01 O QUE É FARMACOVIGILÂNCIA?
Os efeitos nocivos do uso de medicamentos covigilância, pois concentram casos de Reações
são conhecidos, desde tempos remotos. O reco- Adversas a Medicamentos (RAM) como causa de
nhecimento por parte de pesquisadores, médicos e internação ou de seu prolongamento. Além do
autoridades sanitárias das limitações dos ensaios mais, facilitam a obtenção de informações, regis-
clínicos, principalmente, da fase III, estimulou, tro e análise dos eventos adversos, já que existe
no passado, a busca de métodos que permitissem acesso ao paciente, à prescrição e ao prontuário,
a identificação de reações adversas raras, graves possibilitando a implementação de medidas de
ou fatais, na pós-comercialização (ARRAIS; FON- intervenção, ao ser detectada uma RAM. A pro-
TELES; COELHO, 2005). Surge a farmacovigilância. moção do uso seguro dos medicamentos deve ser
De acordo com a Organização Mundial da Saúde uma parte integrante da prática clínica.
(OMS), farmacovigilância é “a ciência e as atividades No Brasil, existe a proposta da Agência Nacio-
relacionadas à detecção, avaliação, compreensão e nal de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trabalha
prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro com uma rede de “hospitais sentinelas”, onde são
possível problema relacionado a medicamentos” desenvolvidas atividades na área da farmacovigilân-
(WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2002). cia, tecnovigilância, hemovigilância e vigilância de
Em muitos países, a farmacovigilância apa- saneantes. A idéia é que sejam identificados proble-
rece, na forma de sistemas nacionais, onde parti- mas que comprometam a qualidade e a segurança
cipam todos ou parte dos profissionais de saúde, dos vários produtos utilizados, na instituição, se-
ou mesmo o próprio paciente. Segundo Arrais e guido do envio às autoridades sanitárias dos relatos
Coelho (2000), a criação de um sistema de farma- desses problemas sob a forma de notificação e, as-
covigilância possibilita, entre outras coisas, co- sim, contribuir com as ações regulatórias da Anvisa.
nhecer o perfil de reações adversas (notadamente O envolvimento dos profissionais de saúde
as graves) dos medicamentos usados na terapêu- com os princípios da farmacovigilância tem gran-
tica, tornando possível aos profissionais da área de impacto na qualidade da assistência, tanto nos
da saúde, especialmente ao médico, utilizar me- aspectos relacionados à prescrição, influindo di-
lhor o arsenal farmacológico disponível e prevenir retamente na prática médica, quanto na dispensa-
muitas reações adversas, além de estimular uma ção e no uso de medicamentos (AGÊNCIA NACIO-
maior preocupação com o ensino da farmacolo- NAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA, 2008b).
gia clínica e da farmacoepidemiologia, subsidiar Independente do modelo proposto, o objetivo
as ações da vigilância sanitária e realizar estudos do presente artigo é despertar os farmacêuticos
para testar hipóteses surgidas com base nas noti- hospitalares para a necessidade de implementa-
ficações voluntárias. rem programas de farmacovigilância em suas ins-
Os hospitais constituem um local privilegiado tituições. E, para tanto, são apresentadas algu-
para o desenvolvimento de programas de farma- mas idéias de como proceder.

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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

02 ESTABELECENDO UM PROGRAMA DE
FARMACOVIGILÂNCIA NA INSTITUIÇÃO
O farmacêutico hospitalar desenvolve ati- ma de um farmacêutico para cada 250 leitos (SO-
vidades que favorecem a sua participação ativa CIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR
nos programas de farmacovigilância, podendo, in- - SBRAFH, 2007). Além do farmacêutico, o serviço
clusive, apresentar-se como responsável pela sua poderá contar com a participação de acadêmicos
implementação na instituição. A equipe pode ser de Farmácia.
formada por farmacêuticos, médicos, enfermeiros Quanto à estrutura, a Sbrafh recomenda que se
e bolsistas. Um comitê assessor com especialistas tenha, no mínimo, uma área de 6m2. Nessa área,
de várias áreas pode ser necessário para auxiliar a serão organizados os arquivos, livros para consulta,
avaliação e interpretação dos casos suspeitos. computador com impressora e mesa de apoio. Uma
A estrutura interna de operação de um serviço linha telefônica é importante para os contatos.
de farmacovigilância é simples e pouco onerosa. No quadro 1, pode-se observar as etapas do
Segundo a Sociedade Brasileira de Farmácia Hos- desenvolvimento de um programa de farmacovigi-
pitalar, é recomendável a adoção da relação míni- lância hospitalar.

Quadro 1. Etapas do desenvolvimento de um programa de farmacovigilância hospitalar.

1. Preparar projeto específico e apresentar aos profissionais de saúde da instituição e diretoria.


2. Realizar contatos com as autoridades de saúde e com grupos que trabalham em clínica, farmacologia,
toxicologia e farmacoepidemiologia.
3. Desenhar ficha de notificação.
4. Produzir material impresso para informar aos profissionais de saúde sobre as definições, objetivos e me-
todologia a serem empregados.
5. Criar o centro de farmacovigilância com equipe técnica, centro de documentação e equipamentos.
6. Promover a capacitação do pessoal do centro sobre a metodologia da OMS.
7. Criar um banco de dados para armazenar as informações.
8. Sensibilizar os profissionais de saúde e programar a distribuição das fichas de notificação.
9. Organizar equipe para busca ativa de casos.
10. Formar um comitê assessor multidisciplinar.

Para que o farmacêutico possa implementar as mais freqüentes, e ser capaz de investigar a
um programa de farmacovigilância hospitalar, ocorrência de reações ainda não descritas; fami-
além da capacitação específica no manejo das liarizar-se com as interações medicamentosas, sa-
terminologias do Programa Internacional de Far- ber interpretá-las e aconselhar na prevenção das
macovigilância da Organização Mundial da Saúde, mesmas e realizar anamnese farmacológica, onde
é necessário que ele esteja preparado para moni- constem dados sobre medicamentos atualmente
torar as RAM; avaliar seu significado clínico; re- em uso, tratamento anterior e automedicação, e
conhecer quando um paciente experimentou uma informações sobre hábitos sociais e/ou outros há-
reação; ser capaz de, quando possível, antecipar o bitos relevantes, junto ao paciente.
aparecimento da reação adversa, e seguir medidas Em segundo lugar, vem a escolha do méto-
preventivas (ARRAIS; FONTELES; COELHO, 2005). do de farmacovigilância a ser implementado no
Portanto, é de fundamental importância: hospital.
conhecer os fatores que predispõem o indivíduo Dentre os métodos utilizados em farmacovi-
às reações adversas; familiarizar-se, através da gilância para a identificação de reações adversas,
literatura científica, com as reações adversas a destaca-se a notificação espontânea ou voluntá-
medicamento(s), com a finalidade de reconhecer ria de casos suspeitos.

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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

A notificação espontânea é o método mais chimento de um formulário básico que deve


empregado pelos países que compõem o Progra- conter espaço para informações sobre (UMC/
ma Internacional de Farmacovigilância da Orga- WHO, 2000):
nização Mundial da Saúde. Portanto, é o que se • Identificação do paciente e do notificador, in-
recomenda para a implantação em serviços de formações estas que são totalmente confiden-
saúde o qual teceremos maiores considerações. Os ciais;
interessados em conhecer outros métodos podem • fármaco (s) suspeito (s) (nome comercial e
consultar o trabalho publicado por Arrais, Fonte- genérico, laboratório, via de administração
les e Coelho (2005). dose, data do inicio e fim do tratamento, indi-
O método da notificação espontânea con- cação do uso);
siste na coleta sistemática e avaliação das • outros fármacos utilizados (incluindo autome-
reações não desejadas que podem aparecer dicação);
após o uso dos medicamentos em seres hu- • natureza, localização, características e gravi-
manos, encaminhadas pelos profissionais de dade dos sintomas da reação adversa suspeita,
saúde, sendo o mesmo de caráter confidencial. início e tempo da duração da reação e,
As notificações são feitas através do preen- • outros dados relevantes: fatores de risco.

03 O QUE NOTIFICAR?
Toda a suspeita de RAM deve ser notifi- congênita e incapacidade persistente ou per-
cada, em especial quando se trata de reações manente – e reações não descritas na bula (An-
graves – óbito, risco de morte, hospitalização, visa, 2008a).
prolongamento da hospitalização, anomalia

04 QUEM PODE NOTIFICAR?


O sucesso de um programa de notificação es- de notificação, panfletos (Figura 3), boletim.);
pontânea depende da participação ativa de todos participação em sessões clínicas; apresentação
os profissionais de saúde. Conseqüentemente, to- de experiências nacionais e internacionais; orga-
dos podem participar na formação de uma equipe nizações de murais informativos; distribuição de
multiprofissional que venha a gerenciar um pro- cartazes alusivos ao sistema; discussão aberta de
grama de farmacovigilância. casos suspeitos; apresentação de resultados do
A disponibilização dos formulários de notifi- próprio sistema; e cartas-resposta para os casos
cação, em locais de fácil acesso e visibilidade, notificados.
bem como a reposição constante, são muito im- No trabalho de Dainese (2005), são des-
portantes para se garantir uma participação efeti- critas outras estratégias de sensibilização:
va de todos os profissionais. ênfase na educação de residentes e jovens
Apesar de a notificação ser voluntária, é ne- médicos, além dos próprios graduandos de
cessário que o farmacêutico trabalhe a conscien- Medicina; introdução de links eletrônicos para
tização dos profissionais da saúde com relação às facilitar o relato pela Internet; adequado fe-
reações adversas e seus riscos. Portanto, a sen- edback aos relatores, por meio de comunica-
sibilização é uma das atividades a serem exerci- ções personalizadas ou boletins periódicos.
das, de forma contínua e exaustiva, e pode ser As instituições que possuem centros/servi-
feita, entre outras, através de conversas diretas ços de informações sobre medicamentos pode-
com os profissionais da saúde; realização de pa- rão contribuir, de forma mais consistente, para
lestras; organização de oficinas; distribuição de a implementação do programa na instituição
material informativo (folheto informativo sobre (ARRAIS; FONTELES; COELHO, 2005; NISHIYA-
a metodologia a ser empregada etc., formulário MA; BONETTI; BÖHM, 2002).

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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

05 O PAPEL DO FARMACÊUTICO
Estando diante de casos suspeitos, o far- outras referências bibliográficas que tenham
macêutico pode utilizar as perguntas-chave de- descrito esta reação ou algum quadro similar?;
senvolvidas por Laporte e Capellà (1993), para • o paciente melhora, depois da retirada do tra-
avaliar a probabilidade de que haja uma relação tamento?;
causal entre o uso do fármaco e o surgimento do • a reação reaparece no caso de ter havido re-
acontecimento clínico: petição do tratamento?;
• o paciente estava tomando o fármaco, antes • em exposições anteriores ao mesmo medica-
de produzir-se a reação?; mento ou a outros similares, produziram-se
• a seqüência temporal entre a exposição ao episódios iguais ou semelhantes ao atual?; e
fármaco suspeito e o aparecimento da reação • outros dados importantes são: determinação
é lógica ou biologicamente plausível/; dos níveis plasmáticos do medicamento, re-
• existem outros fatores, ademais do medica- confirmação do diagnóstico inicial que mo-
mento suspeito, que possam ter causado o tivou a administração do fármaco suspeito,
acontecimento adverso/; realização de provas diagnosticas específicas,
• as propriedades farmacológicas do medica- avaliação da possibilidade de interações far-
mento podem explicar a reação? Existem macológicas, etc.

06 A BUSCA ATIVA DE CASOS E A NOTIFICAÇÃO


DE QUEIXAS TÉCNICAS
A adesão dos profissionais de saúde à noti- O processo da busca ativa de casos pode ser
ficação espontânea de casos suspeitos de RAM, direcionado a pacientes ambulatoriais ou interna-
às vezes, é muito baixa, o que favorece a sub- dos, selecionados, por meio de critérios pré-defi-
notificação. Por vários motivos: dificuldade em nidos.
reconhecer que o quadro clínico que se apresenta Outra área de interesse da farmacovigilância
possa ser uma reação adversa ao medicamento é da identificação de queixas técnicas. A queixa
prescrito; o fato de prescritores acreditarem no técnica ou desvio de qualidade foi conceituado
sistema de aprovação e regulamentação de me- por Arrais e colaboradores (1999) como qualquer
dicamentos como sendo seguros; sentimentos de problema relacionado com a qualidade do produ-
culpa por acreditarem que o tratamento proposto to medicamentoso, como, por exemplo, a falta de
causou a reação adversa a medicamento; medo eficácia terapêutica, presença de corpo estranho,
de parecerem ignorantes quanto às reações já co- dificuldades na reconstituição, diluição, alteração
nhecidas; falta de tempo e dificuldade para inter- ou adulteração evidente (mudança das caracterís-
pretação dos termos usados em farmacovigilância ticas organolépticas: cor, odor, ou sabor) do pro-
(POLIMENI et al., apud FREITAS; ROMANO-LIEBER, duto (ARRAIS et al., 1999).
2007). No quadro 1, pode-se observar as diferenças
Para se contrapor a este fato, várias institui- existentes entre o sistema de busca ativa e de
ções têm trabalhado com a busca ativa de casos notificação voluntária.
que consiste na coleta de informações através de Para que se possa trabalhar a queixa técnica,
visitas nas enfermarias, entrevistas com médicos, é de fundamental importância que o profissional
enfermeiras, fisioterapeutas, revisão de prontu- da saúde saiba o nome do produto (comercial ou
ários e acompanhamento do paciente. A busca genérico), o laboratório produtor, a data de fabri-
pode ser realizada no serviço de farmácia do hos- cação e validade, assim como o número do lote. A
pital, durante o processo de dispensação da dose ausência destas informações inviabilizará a ava-
individualizada e/ou unitária, nas clínicas médi- liação e encaminhamento dos casos. No quadro 2,
cas ou postos de enfermagem; no ambulatório e são apresentadas as estratégias de investigação
na emergência. de queixas técnicas.

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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

Quadro 1. Diferenças existentes entre o sistema de busca ativa e de notificação voluntária.

BUSCA ATIVA DE RAM NOTIFICAÇÃO ESPONTÂNEA

* Busca de “pistas” em prescrições e relatos nos * Profissional suspeita de RAM ou falha do medica-
prontuários; mento;
* Confirmação ou não da hipótese de suspeita de re- * Preenche a ficha de notificação;
ação adversa a medicamento-RAM; * Encaminha a ficha de notificação para o Setor de
* Caso confirmado em dados do prontuário, a notifi- Farmacovigiância.
cação é elaborada pela equipe da Farmacovigilância

Quadro 2. Estratégias a seguir na investigação de queixas técnicas.

1. Criar formulário específico para notificação com as seguintes informações: nome do produto (comercial ou
genérico), o laboratório produtor, a data de fabricação e validade, número do lote e descrição do problema.
2. preencher o formulário em casos suspeitos;
3. Investigar na farmácia e em todos os setores do Hospital a existência do produto;
4. Observar a característica de produtos com o mesmo lote e validade do produto investigado;
5. Fazer registro fotográfico.
6. Caso necessário, proceda o recolhimento do produto investigado, coloque-o devidamente identificado na
área de quarentena, enquanto se procede a investigação da notificação.

Nas situações em que houver suspeita na qua- Figura 1: Fluxo de análise dos casos em
lidade do produto, a vigilância sanitária deverá Farmacovigilância e feedback ao
ser acionada. Os farmacêuticos, também, pode- notificador e paciente.
rão fazer contatos com outros serviços de far-
mácia de instituições hospitalares para sondar
NOTIFICAÇÃO
a existência de igual problema, encorajando o ESPONTÂNEA
BUSCA ATIVA
colega a notificar o caso e iniciar a monitori-
zação do produto internamente (ARRAIS; FON-
TELES; COELHO, 2005). Esta atividade pode ser
PESQUISA
fortalecida principalmente entre os hospitais da
rede sentinela.
As notificações resultantes da busca ativa e ANÁLISE DO CASO
notificação espontânea devem seguir o fluxo (fi-
gura 1), sendo analisadas e, caso necessitem, de-
CODIFICAÇÃO E LANÇAMENTO EM
vem ter os dados complementados em entrevista BANCO DE DADOS
direta com o notificador, contato com paciente
ou acompanhante e informações registradas nos
CARTA RESPOSTA
prontuários. Em alguns casos, instala-se a neces- PARA O NOTIFICADOR

sidade de acompanhar o paciente, registrando a


evolução e o desfecho da reação.
Nesse processo, o registro fotográfico se cons-
titui em material informativo adicional importan- RAM

te, principalmente para ações didáticas junto à


equipe de saúde. O registro fotográfico somente
poderá ser realizado com a autorização escrita do CARTÃO DO PACIENTE
paciente ou responsável legal do mesmo.

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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

Após a coleta de informações complementares, O relatório da avaliação do caso e as codifi-


deve-se proceder a revisão bibliográfica do caso; cações deverão ser anexadas à ficha e os dados
aplicar a classificação da Organização Mundial da lançados em banco de dados, previamente prepa-
Saúde, para avaliar a relação de causalidade (im- rados e testados para análise estatística.
putabilidade) entre medicamento(s) e reação(ões) O notificador deverá receber uma carta-resposta
adversa(s) e a classificação do caso conforme a contendo o relato da análise realizada. Retorno se-
gravidade; aplicar a metodologia WHO-ATC (World melhante pode ser fornecido ao paciente, através
Health Organization-Anatomical and Therapeutical de um cartão de reação (figura 2), contendo o me-
Chemical Classification, 1997 – WHO, 1997a) e dicamento suspeito de ter causado (ou que causou)
WHO-ADR (World Health Organization-Adverse Drug a reação adversa, evitando dessa forma uma nova
Reaction Terminology,1997 – WHO, 1997b) para exposição do paciente ao mesmo medicamento.
codificar, respectivamente, o (s) medicamento(s) A notificação das reações poderá ser encaminha-
e a reação(ões) adversa(s); e para as doenças uti- da para o Centro de Farmacovigilância Local ou para
lizar a Classificação Estatística Internacional de a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
Doenças e Problemas Relacionados à Sáude / CID por meio eletrônico, pelo site http://www.anvisa.
– 10 (OMS, 1996). gov.br/servicos/form/farmaco/index_prof.htm.

Figura 2: Modelo de cartão utilizado para informar ao paciente


o medicamento envolvido na suspeita ou causador da RAM.

Figura 3: Modelo de panfleto utilizado para divulgar as ações de farmacovigilância no


Hospital (distribuído juntamente com os comprovantes de pagamentos dos funcionários).

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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

07 SERVIÇO DE FARMÁCIA: PARCEIRO NA DETECÇÃO DE RAM


O serviço de farmácia, através das prescrições – Pacientes que estejam tomando medicamen-
médicas recebidas no serviço e avaliadas pelos tos utilizados no tratamento de alergias e
farmacêuticos, pode estabelecer um sistema de hipersensibilidades: anti-histamínicos, corti-
alerta permanente para a detecção de reações ad- cóides, adrenalina.
versas a medicamentos. – Pacientes que estejam tomando medicamen-
São indicadores de casos suspeitos: a suspen- tos utilizados para problemas de náuseas e
são brusca de um medicamento; a substituição de vômitos (anti-eméticos), constipação (laxan-
um medicamento por outro; a súbita diminuição tes), ou dispepsia (antiácidos).
da dose; e a prescrição de anti-histamínico ou – Interação medicamento-medicamento ou me-
corticóide. dicamento-alimento.
Na preparação da dose unitária, o farmacêutico Três princípios devem servir como guia na es-
e equipe podem seguir os passos abaixo para con- truturação do sistema de farmacovigilância: en-
cretizar a notificação da reação ou evento suspei- volvimento, explicação e clareza de objetivos.
to (ARRAIS; FONTELES; COELHO, 2005): Ressalta-se que um processo razoável não é obri-
De posse da prescrição médica, verificar aten- gatoriamente uma decisão de consenso, nem um
tamente o esquema terapêutico de cada paciente, exercício de democracia. Ele persegue as melhores
tentando identificar: idéias, tendo surgido de um ou de muitos.
– pacientes de maior risco para reação: idosos, Um processo razoável constrói confiança e
gestantes, crianças, pacientes com patolo- comprometimento. Estes, por sua vez, produzem
gias concomitante, pacientes com insufici- cooperação voluntária e esta alavanca a perfor-
ência renal ou hepática, pacientes polimedi- mance, levando as pessoas além do seu dever, por
cados, pacientes com problemas genéticos. meio da divisão de conhecimentos e da sua criati-
– pacientes que estejam tomando medicamen- vidade (KIM; MAUBORGNE, 1997). Estes princípios
tos de alto risco, como os que possuem mar- podem e devem ser aplicados quando da introdu-
gem terapêutica estreita, ou seja, a dose te- ção ou reforço do tópico farmacovigilância, seja
rapêutica próxima da dose tóxica (digoxina, pelas agências regulatórias, pela indústria ou pela
aminofilina, fenitoína, aminoglicosídeos). academia (TALBOT; NILSSON, 1998).
– pacientes em uso prolongado de corticóides. Os métodos e processos na área da farmacovi-
– pacientes que tiveram seu medicamento subs- gilância hospitalar não se esgotam com esta pu-
tituído por outro, ou nos quais houve altera- blicação. Outras alternativas podem ser identifi-
ção da dose ou suspensão. cadas na busca de artigos na literatura científica.

08 DEFININDO ALGUNS TERMOS EM


FARMACOVIGILÂNCIA (ANVISA, 2008c)
ALERTA RÁPIDO: alerta que deve ser feito de ma- mações sobre a segurança de um medicamento e
neira urgente para iniciar um procedimento de reco- que são amplamente divulgados.
lhimento de um medicamento ou outro.
ANATOMICAL THERAPEUTIC CHEMICAL CLASSIFI-
ALERTA RESTRITO: alerta que contém informa- CATION (ATC): classificação química, terapêutica
ções sobre a segurança de um medicamento e que e anatômica. É uma classificação de medicamen-
é direcionado para grupos específicos de usuários tos desenvolvida em Oslo, na Noruega, pelo Centro
ou instituições, devido a peculiaridades de uso ou Colaborador da OMS para Metodologias Estatísticas
administração de determinados medicamentos. de Medicamentos, o qual também foi responsável
pelo desenvolvimento das Doses Diárias Definidas
ALERTA DE SEGURANÇA: alerta que contém infor- (COBERT; BIRON 2002 apud ANVISA, 2008c).

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FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: classificação utiliza- EVENTO ADVERSO: é um resultado adverso que


da por diversos países para qualificar o risco a ocorre durante ou após o uso clínico de um medi-
que uma população está exposta, dependendo da camento (STROM 2000 apud ANVISA, 2008c).
classe terapêutica, tipo de desvio de qualidade,
patologia e população exposta ao risco com o uso EVENTOS ADVERSOS: qualquer ocorrência médica
desse medicamento. não desejável, que pode estar presente, durante
um tratamento com um produto farmacêutico,
CONFIDENCIALIDADE: É a manutenção da priva- sem necessariamente possuir uma relação causal
cidade dos pacientes, profissionais de saúde e ins- com o tratamento. Todo evento adverso pode ser
tituições, incluindo identidades pessoais e todas considerado como uma suspeita de reação adversa
as informações médicas pessoais. a um medicamento (COBERT; BIRON 2002 apud
ANVISA, 2008c).
DETENTOR DO REGISTRO DO MEDICAMENTO: em-
presa, pessoa ou organização que requereu e rece- EVENTO ADVERSO GRAVE: Efeito nocivo que ocor-
beu a permissão de uma Agência Reguladora, para ra na vigência de um tratamento medicamentoso
a comercialização de um produto farmacêutico que ameace a vida, resulte em morte, em incapa-
(COBERT; BIRON 2002 apud ANVISA, 2008c). cidade significante ou permanente, em anomalia
congênita, em hospitalização ou prolongue uma
EFEITO EXTRÍNSECO: expressão utilizada para de- hospitalização já existente.
signar aquelas reações adversas não relacionadas
ao princípio ativo do medicamento, mas relacio- EVENTO ADVERSO INESPERADO: É qualquer ex-
nadas a causas diversas como excipientes, con- periência nociva que não esteja descrita na bula
taminações, materiais defeituosos, problemas de do medicamento, incluindo eventos que possam
produção, embalagem, estocagem ou preparações ser sintomaticamente e fisiopatologicamente re-
inapropriadas (COBERT; BIRON 2002 apud ANVI- lacionados a um evento descrito na bula, mas
SA, 2008c). que diferem desse evento pelo grau de severi-
dade e especificidade. Além disso, é considera-
EMPRESA DETENTORA DO REGISTRO DO MEDICA- do inesperado o evento adverso cuja natureza,
MENTO: empresa que requereu e recebeu a per- severidade ou desfecho é inconsistente com a
missão de uma Agência Reguladora, para a comer- informação contida na bula.
cialização de um produto farmacêutico (COBERT;
BIRON 2002 apud ANVISA, 2008c). FARMACOEPIDEMIOLOGIA: é o estudo do uso
e dos efeitos dos medicamentos em um grande
ENSAIOS CLÍNICOS: qualquer pesquisa que, indi- número de pessoas (STROM 2000 apud ANVISA,
vidual ou coletivamente, envolva o ser humano, 2008c).
de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou
partes dele, incluindo o manejo de informações FARMACOEPIDEMIOLOGIA: é a aplicação dos
ou materiais (BRASIL, PORTARIA MS Nº 3.916 métodos clássicos e clínicos da epidemiologia,
1998 apud ANVISA, 2008c). bem como as tecnologias da moderna comuni-
cação da farmacologia clínica e farmacoterapia.
ESTRATÉGIA DE RECOLHIMENTO: estratégia de- Ela representa a última fase de avaliação do de-
finida pelo detentor do registro do medicamento senvolvimento de um medicamento e é absoluta-
para a ação de recolhimento de um medicamento mente essencial para completar o conhecimento
do mercado. de um novo produto para garantir a efetividade,
segurança, racionalidade e o uso custo-efetivo
ESTUDOS FASE IV: termo regulatório aplicado a (COBERT; BIRON 2002 apud ANVISA, 2008c).
estudos fármacoepidemiológicos que são realiza-
dos, após a aprovação da comercialização de um FARMACOVIGILÂNCIA: ciência relativa à detec-
medicamento (COBERT; BIRON 2002 apud ANVISA, ção, avaliação, compreensão e prevenção dos
2008c). efeitos adversos ou quaisquer problemas rela-

12
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

cionados a medicamentos (THE IMPORTANCE OF PRODUTO FARMACÊUTICO: formulação galênica


PHARMACOVIGILANCE 2002 apud ANVISA, 2008c). que possui princípios-ativos e excipientes que
pode ser um produto de marca ou um produto
MEDICAMENTO: substância química utilizada para genérico (COBERT; BIRON 2002 apud ANVISA,
modificar a função de um organismo biológico por 2008c).
razões médicas e, que são administrados na for-
ma de um produto farmacêutico (COBERT; BIRON QUEIXA TÉCNICA: notificação feita pelo profis-
2002 apud ANVISA, 2008c). sional de saúde quando observado um afastamen-
to dos parâmetros de qualidade exigidos para a
MEDICAMENTO: produto farmacêutico, tecnica- comercialização ou aprovação no processo de re-
mente obtido ou elaborado, com finalidade pro- gistro de um produto farmacêutico.
filática, curativa, paliativa ou para fins diagnós-
ticos (BRASIL LEI MS N° 5991/73 apud ANVISA, REAÇÃO ADVERSA A MEDICAMENTOS: é uma re-
2008c). ação nociva e não-intencional a um medicamen-
to, que normalmente ocorre em doses usadas no
MEDICAMENTO BANIDO: refere-se a suspensão homem. Nesta descrição, a questão importante é
da autorização de comercialização de um medica- que é uma reação do paciente, na qual fatores in-
mento, por uma Agência Reguladora, relacionada dividuais podem desempenhar papel importante,
a questões de segurança (COBERT; BIRON 2002 e que o fenômeno é nocivo (uma reação terapêu-
apud ANVISA, 2008c). tica inesperada, por exemplo, pode ser um efei-
to colateral, mas não uma reação adversa) (OMS
MEDICAMENTO BIOLÓGICO: produto farmacêutico, 2002 apud ANVISA, 2008c).
de origem biológica, tecnicamente obtido ou ela-
borado, com finalidade profilática, curativa, palia- RECOLHIMENTO: suspensão da comercialização
tiva ou para fins de diagnóstico (BRASIL, RESOLU- e uso de produtos terapêuticos, relacionados
ÇÃO RE N° 80 2002 apud ANVISA, 2008c). a defeitos de qualidade, segurança ou eficácia
destes produtos (UNIFORM RECALL PROCEDURE
MONITORIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS: pode ser FOR THERAPEUTIC GOODS 2001 apud ANVISA,
utilizado como sinônimo de farmacovigilância ou 2008c).
vigilância de medicamentos (COBERT; BIRON 2002
apud ANVISA, 2008c). RECOLHIMENTO: suspensão da distribuição ou
uma ação de correção do produto comercializado,
NOTIFICAÇÃO DE RECOLHIMENTO: notificação podendo incluir bulas ou materiais promocionais,
oficial feita pela ANVISA, ao detentor do re- ou outras que, o FDA considere estarem violando
gistro do medicamento, para que se inicie o as leis administradas por ele, e contra as quais
procedimento de recolhimento de um produto a Agência Americana deve iniciar uma ação le-
farmacêutico. gal (INVESTIGATIONS OPERATIONS MANUAL 1994
apud ANVISA, 2008c).
NOTIFICAÇÃO DE SEGUIMENTO: Notificação de
acompanhamento de uma suspeita de reação RECOLHIMENTO PARA CORREÇÃO DE PRODUTO:
adversa previamente notificada contendo dados reparo, modificação, ajuste ou reembalagem de
adicionais, clínicos ou de exames complementa- produtos terapêuticos por razões relacionadas a
res, a fim de melhor elucidar a relação de causa- deficiências na qualidade, segurança ou eficá-
lidade entre o efeito descrito e o medicamento cia dos produtos (UNIFORM RECALL PROCEDURE
suspeito. FOR THERAPEUTIC GOODS 2001 apud ANVISA,
2008c).
PROBLEMAS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS:
qualquer afastamento dos parâmetros de confor- RISCO: probabilidade que um evento particular
midade e no ciclo do medicamento que possam possa ocorrer a um indivíduo (COBERT; BIRON,
trazer risco ao usuário. 2002 apud ANVISA, 2008c).

13
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

RISCO: probabilidade de um indivíduo desenvol- documentada de modo incompleto, sendo neces-


ver um resultado (doença ou outro desfecho clíni- sário mais de uma notificação, dependendo da
co), em certo período de tempo. (PEREIRA 1995 severidade do evento e da qualidade da informa-
apud ANVISA, 2008c). ção. É necessário estabelecer a força de associa-
ção, importância clínica (severidade e impacto
SINAL: conjunto de notificações sobre uma pos- de saúde pública) e o potencial para a adoção de
sível relação causal entre um evento adverso a medidas preventivas (COBERT; BIRON 2002 apud
um medicamento, até então desconhecida ou ANVISA, 2008c).

09 PRESSUPOSTOS LEGAIS DA FARMACOVIGILÂNCIA


NO BRASIL (ANVISA, 2008)
Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976 art. 79
Decreto nº 79.094, de 5 de janeiro de 1977 139
Tratam da notificação dos acidentes ou reações nocivas causados por medicamentos ao órgão de vigilância
sanitária competente

Portaria MS nº 577, de 20 de dezembro de 1978


Estabelece que deve “comunicar-lhe a adoção de qualquer medida limitativa ou proibitiva do emprego de um
medicamento que tenha efeitos prejudiciais graves, adotada em conseqüência de avaliação nacional”.

Portaria MS nº 3.916, de 30 de outubro de 1998


Inclui a farmacovigilância no desenvolvimento das ações prioritárias, com o objetivo de promover o uso
racional de medicamentos

Resolução nº 328, de 22 de julho de 1999 tópico Responsabilidades e Atribuições (6.2f)


Dispõe que o farmacêutico deve “participar de estudos de farmacovigilância com base em análises de reações
adversas e interações medicamentosas, informando à autoridade sanitária local”.

10 REFERÊNCIAS
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15
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar

FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR:
Processos investigativos em farmacovigilância
HELAINE CARNEIRO CAPUCHO, MSC.

Farmacovigilância, segundo a Organização um serviço formalizado, pois esses profissionais


Mundial de Saúde (OMS), é a “ciência relativa à estão constantemente atendendo a solicitações
detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos dos profissionais de saúde acerca de problemas
efeitos adversos ou quaisquer problemas relacio- com medicamentos, como alterações de coloração,
nados a medicamentos”. Ao definir esse conceito, dificuldades de reconstituição de pós-liofilizados,
no ano de 2002, a OMS ampliou o escopo da far- reações adversas apresentadas pelos pacientes, fal-
macovigilância, contemplando “quaisquer proble- ta de efeito terapêutico.
mas relacionados a medicamentos”, como queixas Entretanto, muitos hospitais do Brasil ainda
técnicas, erros de medicação e interações medica- não possuem serviços formalizados de farmacovi-
mentosas. gilância. Atualmente, a maioria desses serviços é
A Política Nacional de Medicamentos (Brasil, encontrada em hospitais ligados à Rede Brasilei-
1998), divulgada pelo Governo Federal brasileiro, ra de Hospitais Sentinela da Agência Nacional de
em abril de 1999, afirmava que as ações de farma- Vigilância Sentinela (Anvisa) e em hospitais que
covigilância, além de tratar de eventos adversos e participam de algum programa de certificação de
queixa técnica a medicamentos, deviam ser utili- qualidade.
zadas também para assegurar o seu uso racional, As instituições certificadoras, como a Organi-
reorientando procedimentos relativos a registro, zação Nacional de Acreditação (ONA), Joint Comis-
forma de comercialização, prescrição e dispensa- sion International (JCI) e o Compromisso com a
ção de produtos. Qualidade Hospitalar (CQH) têm contemplado, em
Os serviços de farmacovigilância, dentre ou- seus manuais, a implantação de programas de de-
tras atividades, recebem notificações de efeitos tecção e prevenção de eventos adversos aos medi-
adversos a medicamentos, feitas pelos diferen- camentos.
tes usuários destes produtos, e têm o papel de Além desses hospitais, os hospitais de ensino
analisar essas notificações e disparar ações com também têm implantado serviços de farmacovigi-
o intuito de prevenir, eliminar ou, pelo menos, lância, devido à publicação da Portaria Interminis-
minimizar riscos de danos à saúde dos pacien- terial MEC/MS nº 1.005, de 27 de maio de 2004,
tes e dos profissionais. que determinou como pré-requisito obrigatório
Efeitos adversos com medicamentos acon- para certificação deste tipo de hospital que os
tecem freqüentemente com pacientes hospita- mesmos possuam esses serviços, os quais são fun-
lizados. A ocorrência desses efeitos, em hos- damentais para auxiliar na promoção da segurança
pitais, pode levar a um aumento do tempo de dos pacientes.
internação e de custos (VAN DEN BENT et al., No Brasil, os dados são limitados, mas um es-
1999). Assim, a detecção precoce e o diagnósti- tudo feito em um hospital de nível terciário, em
co de efeitos adversos a medicamentos tornam 1999, mostrou que reações adversas a medica-
a farmacovigilância um importante instrumento mentos (RAM) foram causa de 6,6% das admissões
para a saúde pública. hospitalares (PFAFFEENBACH et al., 2002). Outro
Cotidianamente, os farmacêuticos hospitalares estudo, realizado em um hospital universitário
brasileiros desenvolvem ações de farmacovigilân- brasileiro, concluiu que as reações adversas a me-
cia, mesmo que tais ações não estejam ligadas a dicamentos são um grande problema para os hos-

16
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância

pitais do País e que são necessárias medidas para avaliando o ciclo da Assistência Farmacêutica em
minimizá-las, como treinamentos dos profissionais, cada hospital, identificando pontos críticos que
para detectar e prevenir as RAM, e desenvolvimen- possam influenciar na qualidade, segurança e efi-
to de protocolos, para a detecção e tratamento das cácia dos medicamentos, como procedimentos lo-
reações mais graves. gísticos inadequados, erros de prescrição, dispen-
Os autores estimam que essas medidas pos- sação, preparo e administração dos mesmos.
sam minimizar o sofrimento dos pacientes, redu- Uma ferramenta utilizada para identificar fa-
zir o tempo de internação e os custos hospitala- lhas potenciais no processo investigativo, avaliar
res (CARMARGO et al., 2006). Portanto, a criação os riscos da ocorrência de cada falha e propor me-
de serviços notificadores de eventos adversos aos lhorias para o processo de investigação de efeitos
medicamentos em hospitais, não apenas no Brasil, adversos aos medicamentos é a chamada Análise
mas em nível mundial, é fundamental para o êxito do Efeito e Modo de Falhas (FMEA). Essa análise
de sistemas nacionais de farmacovigilância. permite a determinação de um fluxograma para in-
As notificações de suspeitas de efeitos adver- vestigação de cada tipo de notificação, a fim de
sos a medicamentos devem ser analisadas e, de- facilitar o processo investigativo.
pendendo do tipo de notificação, deve haver uma A partir da identificação dessas falhas e do
investigação para apurar a causalidade do evento. uso da ferramenta FMEA, o Serviço de Geren-
Entretanto, falhas no processo investigativo com- ciamento de Risco do Hospital das Clínicas da
prometem a conclusão dos casos e as ações de Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Uni-
melhoria contínua, pois vários são os fatores que versidade de São Paulo (HCFMRP-USP) elaborou
podem favorecer a ocorrência de efeitos adversos fluxogramas de investigação de queixas técni-
aos medicamentos. cas, suspeitas de reação adversa a medicamentos
A identificação e análise das falhas potenciais e de inefetividade terapêutica, que serão apre-
no processo investigativo devem ser realizadas sentados neste artigo.

01 NOTIFICAÇÕES DE QUEIXAS TÉCNICAS


SOBRE MEDICAMENTOS
A queixa técnica é uma notificação feita pelo cas são as mais simples de ser avaliadas, já que,
profissional de saúde, quando observado um afas- na maioria das vezes, são perceptíveis a olho nu.
tamento dos parâmetros de qualidade exigidos São exemplos comuns de queixas técnicas: falta
para a comercialização ou aprovação no processo de rótulo, falta de unidades do medicamento em
de registro de um produto farmacêutico, ou seja, suas embalagens primárias ou secundárias, falta
quando se suspeita de qualquer desvio de qualida- de informações nos rótulos, presença de corpo es-
de (Anvisa, 2008). tranho, dificuldade para reconstituição de medica-
No HCFMRP-USP, é considerada notificação de mentos, alterações de coloração, de viscosidade e
queixa técnica aquela em que o desvio de qualidade de conteúdo.
não lesou o paciente. Isso não quer dizer que uma Entretanto, há desvios de qualidade de medica-
queixa técnica não possa provocar danos aos pacien- mentos que podem ocorrer por falhas de processo,
tes, mas, sim, que ela foi detectada, antes disso. como contaminação por técnica de preparo inade-
Assim, caso o serviço receba uma notificação de quada, alteração de coloração por mau armazena-
alteração de coloração de um determinado medica- mento do produto, precipitação por reconstituição
mento que provocou reação alérgica no paciente, do produto com diluente inadequado. Para a detec-
a notificação passa a ser tratada como notificação ção de problemas de processos, nenhuma pergun-
de reação adversa a medicamento, já que causou ta-chave pode ser negligenciada. Nesse sentido, a
dano ao paciente. utilização de um fluxograma padronizado poderá
Geralmente, as notificações de queixas técni- auxiliar na investigação (Figura 1).

17
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar

Para facilitar o estabelecimento de um plano Caso sejam tomadas decisões importantes,


de ação, as queixas técnicas podem ser classi- como a interdição de um ou mais lotes do pro-
ficadas em graves e não graves. Consideram-se duto, suspensão ou reprovação da marca, ou mes-
queixas técnicas graves aquelas que podem cau- mo identificação de problemas em processos ins-
sar danos diretos aos pacientes, como presença titucionais, as mesmas devem ser publicadas, em
de corpo estranho, suspeita de contaminação e forma de alertas, que devem ser encaminhados a
alterações de coloração. Queixas técnicas não todas as unidades envolvidas no processo de Assis-
graves são aquelas que não podem causar danos tência Farmacêutica na instituição.
diretos aos pacientes, como a falta de comprimi- Caso tenham ocorrido falhas em processos,
do em um blíster. como o armazenamento incorreto de um determi-
Essa diferenciação, durante a investiga- nado medicamento, o serviço de farmacovigilância
ção, determina se alguma ação imediata deve deverá realizar ação educativa para sanar as falhas,
ser tomada para evitar a ocorrência de reações como treinamento e publicação de informes.
adversas ou inefetividade terapêutica, como Cabe ressaltar que a diferença entre um alerta
a suspensão do uso do medicamento, através e um informe é a urgência com que ele deve ser
da interdição cautelar, até que seja concluída publicado. Conceitua-se alerta a informação sobre
a investigação. Outra ação a ser tomada pode a segurança de um medicamento referente a deter-
ser a solicitação de análise do referido medica- minado evento grave, que necessita de divulgação
mento em laboratórios referenciados, como os rápida e ampla. O informe, por sua vez, é concei-
credenciados à Rede Brasileira de Laboratórios tuado como a informação sobre medicamento rela-
Analíticos em Saúde (Reblas). cionada a evento que necessita divulgação ampla,
Além disso, caso o problema com o produto porém não urgente (Anvisa, 2008).
notificado seja recorrente, ou seja, tenha ocorrido Após finalização da investigação, a equipe de
por diversas vezes, pode-se optar pela suspensão farmacovigilância deve encaminhar uma resposta
ou reprovação da marca do “medicamento-proble- ao notificador, como uma carta de agradecimento,
ma”, a fim de impedir nova aquisição do mesmo, na qual deve constar as ações tomadas e o agrade-
na instituição. cimento pelo ato importante que é a notificação.

02 NOTIFICAÇÕES DE REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS


Reação Adversa a Medicamento (RAM) é qual- Outro fator que deve ser analisado é a cau-
quer resposta a um fármaco que seja prejudicial, salidade do evento, ou seja, a probabilidade de
não intencional, e que ocorra nas doses normal- o evento adverso ter sido causado por determi-
mente utilizadas em seres humanos para profilaxia, nado medicamento. A causalidade da notifica-
diagnóstico e tratamento de doenças, ou para a ção de reação adversa pode ser avaliada com a
modificação de uma função fisiológica (EDWARDS aplicação de algoritmos desenvolvidos para essa
& BIRIELL, 1994). finalidade e, dependendo da consistência da hi-
Para iniciar a investigação de RAM, o pro- pótese, da gravidade da RAM observada, do vo-
fissional deve considerar fatores como a qua- lume de notificações e do número potencial de
lidade da documentação (dados e diagnósticos pessoas afetadas, são tomadas as decisões e as
corretos), a relevância da notificação (reações medidas cabíveis (COELHO, 1999).
graves e não descritas devem ter prioridade O algoritmo mais comumente utilizado para a
de investigação), e a codificação da RAM e do determinação da causalidade de um evento adverso
medicamento suspeito (seleção da terminolo- é o algoritmo de Naranjo e colaboradores (1981),
gia das reações adversas da OMS – WHO-ART composto por dez perguntas, cujas respostas são
– e uso da classificação Anatômica-Terapêu- objetivas, com duas opções (sim ou não), e tem
tica-Química – ATC, respectivamente) (DIAS, a finalidade de buscar informações sobre as RAM,
2008). conforme demonstrado na tabela 1.

18
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância

Para cada resposta, são atribuídos pontos, sen- notificações à Anvisa. Aquela reação definida
do que, através da somatória dos mesmos (score), como possível, condicional ou duvidosa, tam-
torna-se possível classificar as RAM em categorias bém, necessitará de ações de estímulo para ob-
de probabilidade: definida, provável, possível, condi- tenção de maior número de notificações, como
cional ou duvidosa (Tabela 2). divulgação de alertas, a fim de que seja forta-
Nos casos de RAM, também, deverão ser ob- lecida a hipótese.
servados alguns fatores para que seja descar- A divulgação de alertas é uma medida que pode
tada a hipótese de problemas em processos de fortalecer o que se denomina, em Farmacovigi-
utilização do medicamento como sendo a prin- lância, de sinal, que é o conjunto de notificações
cipal causa da reação. Para tanto, devem ser sobre uma possível relação causal entre um even-
feitas algumas perguntas, como demonstrado to adverso e um medicamento (MEYBOOM et al.,
na Figura 2. 1997). Caso haja novas notificações, esses casos
Após a realização das perguntas e da deter- deverão ser analisados, conforme já foi discutido,
minação, se a reação tem causalidade definida anteriormente.
ou provável, tal reação deverá ter prioridade de Como ocorrem para as notificações de queixas
ações imediatas como a interdição de um ou técnicas, os notificadores deverão receber carta de
mais lotes, a divulgação de alertas e o envio de agradecimento pela sua notificação.

03 NOTIFICAÇÕES DE SUSPEITA DE
INEFETIVIDADE TERAPÊUTICA
Suspeitas de inefetividade terapêutica (SIT) com materiais médico-hospitalares, com soluções
ocorrem quando medicamentos não apresentam os diluentes, além da forma com que o mesmo foi
efeitos que se esperam deles (Anvisa, 2008). Por- transportado, armazenado nas diversas etapas até
tanto, a inefetividade pode ocorrer por redução ou a administração ao paciente.
por ausência do efeito esperado. Isso pode ocorrer Esses parâmetros devem ser analisados, durante
por problemas com a qualidade do medicamento, a investigação, para que seja estabelecida a causa
interações medicamentosas, uso inadequado, resis- da inefetividade, buscando resposta à pergunta: o
tência ou tolerância do paciente ao medicamento problema é no produto ou no processo? Os passos
(Meyboom et al., 2000). para a investigação de SIT podem ser observados
Alguns autores têm discutido sobre a pro- na figura 3.
porção que a inefetividade terapêutica vem Analisados todos esses parâmetros e, descarta-
alcançando entre as notifi cações de eventos das essas possibilidades, o profissional pode pros-
adversos com medicamentos. Tal fato ocorre, seguir com a investigação, questionando, então, o
tanto em países em desenvolvimento, como fabricante do medicamento. Na prática, há casos
nos desenvolvidos (FIGUERAS et al., 2002). No em que não se consegue comprovar a inefetividade
HCFMRP-USP, as notifi cações de suspeita de do medicamento, já que, muitas vezes, os laudos
inefetividade terapêutica, também, aumenta- de controle de qualidade demonstram que o teor de
ram, nos últimos anos, e, por isso, são separa- princípio ativo está dentro dos parâmetros estabe-
das das notificações de reações adversas. lecidos, oficialmente.
As notificações de suspeitas de inefetividade Infelizmente, esse problema está acima das pos-
terapêutica são as mais complexas de ser investi- sibilidades de os farmacêuticos hospitalares compro-
gadas, pois, como já citado, diversos são os fatores varem, competindo à Anvisa tal análise e, por isso,
que podem influenciar a efetividade de um medi- as notificações desses casos devem ser encaminha-
camento: a indicação incorreta, a posologia ina- das para essa entidade.
dequada, a via de administração errada, a existên- Ao final de todo o processo investigativo de
cia de interações medicamentosas, de interações SIT, os notificadores deverão receber carta de agra-
medicamento-alimento, de incompatibilidades decimento pela sua notificação.

19
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar

04 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A determinação e a padronização do fluxogra- alidade, desenvolver seus próprios fluxogramas de
ma são importantes para definir como devem ser investigação.
realizadas as investigações, facilitando o processo Um processo investigativo realizado com quali-
investigativo, reduzindo o seu tempo, tornando-o dade é fundamental para a tomada de decisões em
mais completo e confiável. farmacovigilância, fomentando ações corretivas e
Os farmacêuticos hospitalares que atuam na preventivas, promovendo assim, a segurança dos
farmacovigilância podem, de acordo com cada re- pacientes.

05 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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20
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância

Figura 1 - Fluxograma de Investigação de Notificações de Queixas Técnicas,


desenvolvido e utilizado pelo Gerenciamento de Riscos do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

21
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância Coletânea de Farmácia Hospitalar

Figura 2 - Fluxograma de investigação de notificações de suspeita de reações adversas a


medicamentos, desenvolvido e utilizado pelo Gerenciamento de Riscos do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

22
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Processos investigativos em farmacovigilância

Figura 3 - Fluxograma de investigação de notificações de suspeita de inefetividade


terapêutica, desenvolvido e utilizado pelo Gerenciamento de Riscos do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Tabela 1 - Algoritmo de Naranjo et al. (1981), utilizado para


determinação da causalidade de Reações Adversas a Medicamentos.
Questões Sim Não Desconhecido Soma Scores
1. Existem notificações conclusivas sobre esta reação? +1 0 0
2. A reação apareceu após a administração do fármaco? +2 -1 0
3. A reação melhorou quando o fármaco foi suspenso? +1 0 0
4. A reação reapareceu quando da sua re-administração? + 2 -1 0
5. Existem causas alternativas (até mesmo outro fármaco)? - 1 +2 0
6. A reação reaparece com a introdução de um placebo? - 1 +1 0
7. A Concentração plasmática está em nível tóxico? +1 0 0
8. A reação aumentou com dose maior ou reduziu com dose menor? +1 0 0
9. O paciente já experimentou semelhante reação anteriormente
+1 0 0
com medicamentos de mesmo fármaco?
10. A reação foi confirmada por qualquer evidência objetiva? +1 0 0
Total

Tabela 2 - Somatório de scores proposto por Naranjo et al. (1981) – resultado da utilização
do Algoritmo, a fim de determinar a causalidade de Reações Adversas a Medicamentos.
Somatório dos Scores Classes de causalidade
9 ou + Definida
5a8 Provável
1a4 Possível
0 ou - Duvidosa

23
Farmácia Clínica na Unidade de Terapia Intensiva Coletânea de Farmácia Hospitalar

FARMÁCIA CLÍNICA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA


RAQUEL QUEIROZ DE ARAÚJO
SILVANA MARIA DE ALMEIDA

A farmácia clínica teve sua expansão, a par- clínicos e reduzindo custos associados à terapia
tir da década de 60 e, durante estes últimos 40 medicamentosa.
anos, houve grande desenvolvimento na atribui- Para que este trabalho tenha êxito, é necessá-
ção da Farmácia e do farmacêutico clínico. Hoje, rio que o farmacêutico clínico se inteire, inicial-
a farmácia clínica pode ser definida como área da mente, da anamnese e da hipótese diagnóstica,
Farmácia que envolve a ciência e a prática do uso informações estas recolhidas do próprio prontuá-
racional de medicamentos, objetivando um efeito rio do paciente em visitas à beira do leito junto
terapêutico máximo, com mínimos efeitos inde- com a equipe que compõe a unidade de terapia
sejáveis. intensiva e nas reuniões científicas.
O envolvimento do farmacêutico clínico em Dada à complexidade dos casos no ambiente
todo este processo foi, cada vez mais, necessário da terapia intensiva, como pacientes nefropatas,
para acompanhar a evolução diária do paciente, transplantados, idosos e etc. e à necessidade de
contribuindo, assim, para que o medicamento seja cuidados com monitoramento intensivos, obser-
utilizado, da forma segura e adequada. vam-se prescrições extensas de medicamentos,
Por muito tempo, os médicos foram responsá- combinação de drogas potencialmente inapro-
veis pela prescrição; os farmacêuticos, pela dis- priadas e tempo prolongado de hospitalização
pensação, e os enfermeiros, pela administração que representam maior possibilidade de desen-
do medicamento ao paciente. Cada um destes pro- volvimento de eventos adversos, justificando-se,
fissionais prestando sua assistência, de maneira assim, a presença de um profissional farmacêutico
segmentada, de forma que, se um falhasse, todo o atualizado, qualificado e treinado.
processo estaria comprometido. Com este pensamento e com todas as dúvi-
Hoje, sabemos que, com trabalho em equi- das, principalmente, a de “como começar”, uma
pe, educação e treinamento, o farmacêutico é força tarefa do Departamento de Farmácia Clínica
capaz de formar um elo entre o médico e o e Farmacologia da Sociedade Americana de Tera-
enfermeiro, ter visão geral de todo o processo pia Intensiva e do Colégio Americano de Farmá-
- da prescrição até a administração do medi- cia Clínica publicou, na Critical Care Medicine de
camento – e, desta forma, agregar segurança 2000, qual seria o papel do farmacêutico nestas
ao paciente no uso do medicamento. O produ- unidades e o que eles consideram atividades fun-
to final dessa integração será, naturalmente, damentais, desejáveis e ótimas dentro da terapia
o aprendizado recíproco, pois o trabalho em intensiva.
equipe pressupõe uma troca permanente de in- A Sociedade Européia de Farmácia Clínica,
formações e experiências. criada, em 1979, também, publicou a necessidade
Muito se discute sobre a evolução e impacto do serviço de farmácia clínica enfatizando os ní-
da atuação do farmacêutico na unidade de terapia veis de ação desta atividade, que podemos trans-
intensiva, participando da visita multidisciplinar por para dentro do ambiente de terapia intensiva,
à beira do leito, colaborando com o médico para analisando o uso de medicamentos em três níveis:
uma prescrição segura e racional, participando antes, durante e depois da prescrição.
do processo de padronização e dispensação de Daí em diante, podemos citar vários trabalhos
medicamentos, provendo informações técnicas à que reforçam a atuação da farmácia clínica como
equipe, participando ativamente em protocolos um trabalho eficaz e necessário: humanístico (por

24
Coletânea de Farmácia Hospitalar Farmácia Clínica na Unidade de Terapia Intensiva

exemplo, a qualidade de vida e a satisfação), clí- fissionais compatíveis; apoio do corpo adminis-
nico (por exemplo, o melhor controle e manejo de trativo tanto da farmácia quanto do hospital; ter
doenças crônicas) e econômico (por exemplo, a uma relação de medicamentos e comissão de far-
redução de custos). mácia e terapêutica atuante e educação técnica
O gasto com medicamento, na Unidade de Te- na área e suporte técnico adequado.
rapia Intensiva, pode chegar a 38% do total em Além disso, também, há necessidade de ou-
um hospital. O acompanhamento que o farmacêu- tras ferramentas para o desenvolvimento do tra-
tico faz, por meio de trabalhos de farmacoecono- balho, como sistemas informatizados e banco de
mia, contribui para a redução e otimização destes dados eletrônicos que permitem ao farmacêutico
gastos na terapia medicamentosa. Montazeri and melhor tratamento da prescrição médica no que
Cook, 1994, caracterizaram os tipos de interven- concerne às interações medicamentosas e eventos
ção farmacêutica, na Unidade de Terapia Inten- adversos, permitindo ao farmacêutico intervir e
siva, em um período de três meses, onde foram prevenir a ocorrências, antes da administração do
observadas 575 intervenções que representaram medicamento, agregando maior segurança à pres-
uma economia de 10.000 dólares canadenses. crição médica e ao paciente.
Outros trabalhos mostram que dentre 398 in- Apesar de sabermos que não dispomos de
tervenções farmacêuticas, na UTI, houve adesão todas as condições e ferramentas necessárias
médica em até 99% dos casos. Quanto à questão para a implementação e desenvolvimento da
da dieta e especificamente em pacientes que pos- farmácia clínica na grande maioria dos hospi-
suem sondas enterais (60% dos pacientes na Uni- tais, no Brasil, sabemos que muito se faz, na
dade de Terapia Intensiva), o farmacêutico tem prática.
participação e responsabilidade quanto à identifi- É, diante deste quadro e sabendo da impor-
cação de medicamentos associados à obstrução da tância deste profissional, que esperamos agregar
sonda, interações com a dieta além de problemas forças junto à Associação de Medicina Intensi-
de absorção. va Brasileira (AMIB), somarmos o conhecimento
Diante de todo este quadro, associado ao fato na nossa área, definir os princípios básicos para
de se ter uma unidade de corpo clínico fechado, quem está iniciando e fortalecer a prática da far-
a UTI traduz-se em um excelente local para atu- mácia clínica, no Brasil.
ação do farmacêutico clínico. A grande questão Esperamos contar com os farmacêuticos que
do desenvolvimento da farmácia clínica não é por atuam, ou desejam atuar, nesta área, participando
onde começar, como já dito anteriormente, mas, da Associação. Ainda lembramos o “14° Congres-
sim, como começar, pois sabemos da necessidade so da AMIB”, que será realizado, em novembro de
de alguns pré-requisitos de caráter administrati- 2009, na cidade de São Paulo, no qual teremos
vos fundamentais como, por exemplo: obter uma temas voltados para a nossa área.
farmácia hospitalar estruturada e com processos
seguros e bem definidos, além do número de pro- Maiores informações: www.amib.com.br

25
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces


administrativas e clínicas
CINTHYA CAVALCANTE DE ANDRADE

01 INTRODUÇÃO
O farmacêutico vem ampliando a sua área de A Anvisa publicou, em 21 de Setembro de
atuação, no universo da oncologia, desde a dé- 2004, a Resolução 220/04, estabelecendo uma
cada de 90, quando o Conselho Federal de Far- legislação de âmbito nacional, regulamentando o
mácia estabeleceu como privativa deste profissio- funcionamento dos serviços de terapia antineo-
nal a manipulação de medicamentos citotóxicos, plásica e instituindo a equipe multidisciplinar em
através da Resolução 288/96. Este foi o primeiro terapia antineoplásica (EMTA).
grande passo para que o farmacêutico assumisse Podemos citar, aqui. também, a Portaria
o espaço na área. 3535/98, do Ministério da Saúde, que determina
Houve, então, o fortalecimento da classe, em que todo serviço de alta complexidade no trata-
virtude da criação da Sociedade Brasileira de Far- mento do câncer, cadastrado pelo Sistema Único
macêuticos em Oncologia (Sobrafo), que veio a dar de Saúde (SUS), deve contar com um farmacêuti-
suporte técnico-científico a estes profissionais. co, no caso de manipulação de quimioterápicos.

02 O FARMACÊUTICO HOSPITALAR NO
UNIVERSO DA ONCOLOGIA
Em oncologia, o farmacêutico é o princi- 2. Auditorias internas
pal instrumento para a qualidade da farmaco- O farmacêutico, também, é o responsável por
terapia. Suas atribuições excedem a simples realizar auditorias internas, no que diz respeito
dispensação da prescrição médica, ou ainda a à estrutura da área de preparo de quimioterapia,
manipulação propriamente dita. Sua atuação é estocagem de medicamentos e manutenção pre-
importante em várias etapas da terapia anti- ventiva de equipamentos, de acordo com as ne-
neoplásica, a saber: cessidades operacionais e normas estabelecidas
pela legislação vigente.
1. Seleção e padronização de
medicamentos e materiais 3. Informação sobre medicamentos
O farmacêutico, ao conhecer efetivamente os O farmacêutico assume a função de avaliar a
protocolos terapêuticos e de suporte na terapia bibliografia, veiculando informação isenta e se-
antineoplásica, tem a responsabilidade na seleção gura, de fontes confiáveis, contribuindo para o
de produtos que atendam as exigências legais, na aprimoramento da qualidade das condutas de
averiguação do cumprimento das boas práticas de prescrição e terapêuticas.
fabricação pelo fornecedor, na avaliação técnica O farmacêutico atua no processo de comu-
e na notificação de queixas técnicas aos órgãos nicação, fornecendo aos membros da equipe
reguladores. multidisciplinar informações sobre farmacoci-

26
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

nética, farmacodinâmica, doses usuais, formas e em concomitância com outros tratamentos de


e vias de administração, doses máximas, toxi- suporte.
cidade acumulativa, incompatibilidades físicas Neste contexto, a participação deste pro-
e químicas com outras drogas e estabilidade de fissional, na área da farmacovigilância, tem
medicamentos. colaborado muito com a detecção e identifi-
Em virtude dos avanços tecnológicos e da cação de reações adversas, de fatores de risco
descoberta de novas terapias, é disponibiliza- para o desenvolvimento destas, além de ele
do aos pacientes um amplo espectro de opções propor medidas de intervenção e prevenção,
terapêuticas empregadas na prevenção e mini- visto que as reações adversas a medicamentos
mização dos principais sintomas que ocorrem, são algumas das causas de internação, oneran-
após a quimioterapia. Diante do exposto, as do os custos da instituição.
orientações farmacêuticas são imprescindíveis
para que se obtenha o melhor resultado dentro
da posologia prescrita e do protocolo terapêu-
tico proposto.

4. Manipulação dos agentes antineoplásicos


No que diz respeito ao preparo dos medica-
mentos antineoplásicos, este deve ser realizado
com técnica asséptica, em ambiente com infra-
-estrutura apropriada, segundo as normas locais
e padrões internacionais, e procedimentos pré-es-
tabelecidos sob responsabilidade do farmacêuti-
co. A ação desse profissional nessa etapa da tera- Em oncologia, o farmacêutico é o principal
pia antineoplásica é fundamental para diminuir os instrumento para a qualidade da farmacoterapia.
riscos associados ao manejo desses medicamentos Suas atribuições excedem a simples dispensação
além de prevenir erros como seleção errônea do da prescrição médica, ou ainda a manipulação
diluente. propriamente dita. Sua atuação é importante em
O controle de qualidade deve ser contínuo e várias etapas da terapia antineoplásica, a saber:
diário numa central de manipulação de quimiote-
rapia. Nessa etapa, podem ser identificadas não 1. Seleção e padronização de
conformidades no preparo dos medicamentos, medicamentos e materiais
sendo indicativo de necessidade de notificação de O farmacêutico, ao conhecer efetivamente os
queixa técnica ou desvio de qualidade, momento protocolos terapêuticos e de suporte na terapia
que é de fundamental importância na atuação do antineoplásica, tem a responsabilidade na seleção
farmacêutico. de produtos que atendam as exigências legais, na
averiguação do cumprimento das boas práticas de
5. Farmacovigilância fabricação pelo fornecedor, na avaliação técnica
O farmacêutico, por ser parte importante na e na notificação de queixas técnicas aos órgãos
equipe multidisciplinar na terapia antineoplá- reguladores.
sica, deve acompanhar a visita médica, discus-
sões de casos clínicos, podendo esta aproxima- 2. Auditorias internas
ção, influenciar de forma positiva, o perfil de O farmacêutico, também, é o responsável por
prescrição. realizar auditorias internas, no que diz respeito
Em se tratando de terapia antineoplásica, os à estrutura da área de preparo de quimioterapia,
pacientes são candidatos ao desenvolvimento estocagem de medicamentos e manutenção pre-
de potenciais reações adversas, devido à poli- ventiva de equipamentos, de acordo com as ne-
quimioterapia, margem terapêutica estreita dos cessidades operacionais e normas estabelecidas
medicamentos em uso, tratamento prolongado pela legislação vigente.

27
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

3. Informação sobre medicamentos casos clínicos, podendo esta aproximação, in-


O farmacêutico assume a função de avaliar a fluenciar de forma positiva, o perfil de prescrição.
bibliografia, veiculando informação isenta e se- Em se tratando de terapia antineoplásica, os
pacientes são candidatos ao desenvolvimento de
gura, de fontes confiáveis, contribuindo para o
potenciais reações adversas, devido à poliquimio-
aprimoramento da qualidade das condutas de
terapia, margem terapêutica estreita dos medica-
prescrição e terapêuticas.
mentos em uso, tratamento prolongado e em con-
O farmacêutico atua no processo de comu-
comitância com outros tratamentos de suporte.
nicação, fornecendo aos membros da equipe
Neste contexto, a participação deste profissio-
multidisciplinar informações sobre farmacoci-
nal, na área da farmacovigilância, tem colaborado
nética, farmacodinâmica, doses usuais, formas
muito com a detecção e identificação de reações
e vias de administração, doses máximas, toxi-
adversas, de fatores de risco para o desenvolvi-
cidade acumulativa, incompatibilidades físicas
mento destas, além de ele propor medidas de in-
e químicas com outras drogas e estabilidade de
tervenção e prevenção, visto que as reações ad-
medicamentos.
versas a medicamentos são algumas das causas de
Em virtude dos avanços tecnológicos e da des-
internação, onerando os custos da instituição.
coberta de novas terapias, é disponibilizado aos
pacientes um amplo espectro de opções terapêu-
6. Educação continuada e participação em
ticas empregadas na prevenção e minimização dos comissões institucionais
principais sintomas que ocorrem, após a quimio-
terapia. Diante do exposto, as orientações farma- Com o avanço de novas tecnologias e o de-
cêuticas são imprescindíveis para que se obtenha senvolvimento de medicamentos cada vez mais
o melhor resultado dentro da posologia prescrita específicos, o farmacêutico vê-se com o compro-
e do protocolo terapêutico proposto. misso de buscar atualização. Essa preocupação
decorre das exigências que o mercado de trabalho
4. Manipulação dos agentes antineoplásicos determina. Vale ressaltar que o mercado não se
preocupa apenas com a formação técnica do pro-
No que diz respeito ao preparo dos medica- fissional, mas também com o desenvolvimento de
mentos antineoplásicos, este deve ser realizado competências comportamentais. O farmacêutico
com técnica asséptica, em ambiente com infra- tem a seu favor artigos disponíveis na Internet,
-estrutura apropriada, segundo as normas locais congressos, literatura científica, cursos, entre ou-
e padrões internacionais, e procedimentos pré-es- tros. É importante que se alie experiência prática
tabelecidos sob responsabilidade do farmacêuti- à teoria, não se esquecendo de integrar pesquisa,
co. A ação desse profissional nessa etapa da tera- assistência e ensino.
pia antineoplásica é fundamental para diminuir os No tocante ao trabalho em equipe multipro-
riscos associados ao manejo desses medicamentos fissional, a participação do farmacêutico é funda-
além de prevenir erros como seleção errônea do mental para a adequada dinâmica dos hospitais.
diluente. São comissões onde o farmacêutico que atua
O controle de qualidade deve ser contínuo e em oncologia deve participar:
diário numa central de manipulação de quimiote-
rapia. Nessa etapa, podem ser identificadas não Comissão de Controle de Infecção
conformidades no preparo dos medicamentos, Hospitalar (CCIH)
sendo indicativo de necessidade de notificação de
Promove ações para o uso racional de antibió-
queixa técnica ou desvio de qualidade, momento
ticos, através de:
que é de fundamental importância na atuação do a. Revisão da padronização do elenco de an-
farmacêutico. tibióticos.
b. Elaboração de protocolos clínicos para tra-
5. Farmacovigilância tamento de infecções.
O farmacêutico, por ser parte importante na c. Elaboração de relatórios com o perfil de
equipe multidisciplinar na terapia antineoplásica, utilização, demanda e custos dos trata-
deve acompanhar a visita médica, discussões de mentos.

28
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar

d. Monitoramento de pacientes em uso de Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT)


antimicrobianos, através das fichas de O farmacêutico deve atuar, de forma dinâ-
controle. mica, nesta Comissão, pois a padronização de
e. Definir critérios para seleção e aqui- medicamentos de uma instituição sofre interfe-
sição de desinfetantes, antissépticos, rências de vários fatores ligados à pesquisa de
saneantes, produtos para saúde e medi- novos fármacos, política de aquisição de medi-
camentos. camentos e incorporação de novas tecnologias,
além da pressão da indústria. Essa pressão tem
Comitê de Ética e Pesquisa Clínica (CEP) crescido muito e transformado a colaboração
Neste comitê, a participação do farmacêu- do farmacêutico em indispensável, no que se
tico é de fundamental importância, pois en- refere à busca de evidências, análise de custo e
volve a avaliação de pesquisa clínica e apro- qualificação de fornecedores.
vação de inclusão de projetos de pesquisa na Deve-se ressaltar que a atuação do farma-
instituição. O farmacêutico emite parecer de cêutico é imprescindível, ao realizar acom-
projetos submetidos ao CEP, com base na le- panhamento do uso destes produtos, avaliar
gislação vigente, determinada pelo Conselho estudos clínicos realizados, executar análise
Nacional de Saúde (CNS 196/96) e nas dire- de amostras utilizando parâmetros farmaco-
trizes do CONEP (Comitê Nacional de Ensino e técnicos, além de verificar se o laboratório
Pesquisa). cumpre todas as exigências legais com base
na regulamentação vigente.

03 ATIVIDADES EXERCIDAS PELO FARMACÊUTICO


NO CAMPO DA ONCOLOGIA
• Manualização dos procedimentos técnicos; • Ensino e educação permanente para o corpo
• Aquisição e avaliação técnica dos medicamentos, técnico (farmacêuticos) e de apoio (auxiliares);
insumos farmacêuticos e produtos para saúde; • Educação continuada;
• Normatização dos procedimentos de recebimen- • Participação em comissões (Farmácia e Tera-
to, transporte, armazenamento e conservação pêutica, Infecção Hospitalar, Biossegurança,
dos medicamentos, insumos e produtos para CEP, Comitê de qualidade, Acreditação, entre
saúde; outras);
• Análise da prescrição médica, cálculo de doses, • Participação na equipe multiprofissional de as-
escolha dos diluentes e embalagens adequadas; sistência ao paciente oncológico;
• Preparo dos medicamentos, contemplando to- • Atuação em pesquisa básica e clínica;
das as etapas do processo; • Preparo de radiofármacos;
• Gerenciamento e manejo dos resíduos de risco; • Atenção farmacêutica em oncologia;
• Organização da área física, equipamentos de • Farmácia clínica em oncologia;
proteção individual e coletiva, bem como equi- • Farmacotécnica de medicamentos especiais
pamentos; para oncologia;
• Procedimentos, registro e notificação de aci- • Farmacovigilância;
dentes ambientais e pessoais; • Cuidados paliativos em pacientes oncológicos;
• Estabelecimento do plano de garantia e contro- • Participação na clínica da dor, acompanhando o
le de qualidade uso racional de opióides;
• Estabelecimento de técnicas de biossegurança, • Assistência domiciliar (home care) ao paciente
identificando os momentos e situações de risco; oncológico;
• Registro de horas de manipulação, exposições • Gestão empresarial e marketing;
agudas e crônicas; • Consultoria;

29
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR: Como implantar Coletânea de Farmácia Hospitalar

04 ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO


A oncologia desenvolve-se, de forma muito di- medicamento, alertando sobre os prováveis efei-
nâmica, e o farmacêutico é desafiado a manter-se tos colaterais e interações medicamentosas ou
informado sobre as novas terapias. Conhecer em alimentares, alertando para não usar nenhum me-
detalhes os aspectos farmacológicos dos medica- dicamento, se estiver grávida ou amamentando,
mentos em uso é essencial para o desenvolvimen- a menos que tenha expressa orientação médica,
to de uma adequada assistência farmacêutica. Por e sobretudo seguir as orientações médicas sobre
meio da assistência farmacêutica, o farmacêutico o horário de administração e as restrições na ali-
torna-se co-responsável pela qualidade de vida do mentação, porque alguns alimentos modificam os
paciente. efeitos dos medicamentos.
A definição de atenção farmacêutica mais di- O farmacêutico deve, também, informar o pa-
fundida, em nosso meio, é a de Linda Strand e ciente se o medicamento que ele vai usar causa
Charles Hapler (EUA), de 1990, que diz: “Atenção dependência física ou psíquica, informar os pe-
farmacêutica é a provisão responsável do trata- rigos da automedicação e de tratamentos alter-
mento farmacológico com o propósito de alcançar nativos não comprovados cientificamente, den-
resultados terapêuticos concretos que melhorem tre outras orientações. O farmacêutico deve ser
a qualidade de vida dos pacientes”. Já a OMS, em capaz de fornecer, também, recomendações para
1993, definiu atenção farmacêutica como sendo minimizar os efeitos secundários da terapia, bem
o “conjunto de atitudes, comportamentos, com- como determinar os medicamentos que podem
promissos, inquietações, valores éticos, funções, interferir na eficácia do tratamento. Para tanto,
conhecimentos, responsabilidades e destrezas do deve-se definir um plano de atenção farmacêutica
farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com que contemple os seguintes aspectos:
o objetivo de alcançar resultados terapêuticos de- O farmacêutico deve estar atento para que,
finidos voltados para a saúde e qualidade de vida ao longo do tratamento, as reações adversas
do paciente”. aos medicamentos sejam as mínimas possí-
Com base nessas definições, a necessidade de veis. Essas reações devem ser devidamente
desenvolver atenção farmacêutica passou a ser a registradas e notificadas.
tônica, em se tratando de paciente oncológico. Estabelecer uma boa relação farmacêutico-
Esta, também, é uma atividade realizada pelo far- -paciente é fundamental para o sucesso do
macêutico, imediatamente no início do ciclo de tratamento;
quimioterapia ou hormonioterapia e, ainda, no Coletar, sintetizar e analisar as informações
transcorrer da terapia de suporte ou no controle relevantes sobre o paciente;
dos sintomas dos pacientes em cuidados paliativos. Listar e classificar os problemas relatados
O foco da atenção farmacêutica para o pacien- pelo paciente e identificados na anamnese;
te oncológico está no aconselhamento e monito- Estabelecer o resultado farmacoterapêutico
ramento da terapia farmacológica. O aconselha- desejado para cada problema relacionado
mento do paciente em regime de quimioterapia com o medicamento;
deve ser precedido de todas as informações ne- Disponibilizar informações sobre as alterna-
cessárias para garantir a adesão ao tratamento, tivas terapêuticas disponíveis;
além de desenvolver a confiança entre o paciente Eleger, juntamente com o médico, a melhor
e o farmacêutico. Essas informações devem ser re- solução farmacoterapêutica e individualizar
passadas preferencialmente em material informa- o regime posológico;
tivo, de caráter educativo e através de orientação Desenvolver um plano sistemático de moni-
direta ao paciente e ao cuidador. torização terapêutica;
O monitoramento da terapêutica é feito, atra- Realizar seguimento do paciente para medir
vés do acompanhamento detalhado do tratamento o resultado.
do paciente. O farmacêutico deve exercer assis- A terapia farmacológica deverá ser adequada
tência, auxiliando o(a) paciente quanto ao modo ao estilo de vida de cada paciente, respeitan-
de usar e quanto ao armazenamento correto do do suas limitações, hábitos, sua motivação para

30
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

cumprir o plano terapêutico, tendo como obje- -se, portanto, de uma conquista fomentada pela
tivo maior, garantir a adesão ao tratamento e cumplicidade desenvolvida entre farmacêutico e
melhorar a qualidade de vida do paciente. Trata- paciente.

05. ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO MÉDICA PELO FARMACÊUTICO


Este é o momento de maior interferência e in- Nome do paciente, número do prontuário e
teração do farmacêutico com o prescritor, princi- data de consulta;
palmente, pela possibilidade de atuar em caráter Peso, altura, superfície corporal, idade e
preventivo e ainda corretivo. Nesta interação, o sexo;
objetivo do farmacêutico não é exercitar o diag- Resultados de avaliações laboratoriais (ci-
nóstico, ou intervir na conduta terapêutica, mas tar exemplo);
garantir a segurança, a provisão, o acesso e a qua-
Estadiamento da doença;
lidade destes medicamentos aos pacientes em te-
Protocolo recomendado;
rapia oncológica.
Os agentes antineoplásicos possuem janela Dosagem a ser administrada por intervalo
terapêutica estreita, razão pela qual o menor erro de tempo;
na análise da prescrição ou manipulação pode Vias de administração;
causar sérios danos ao paciente. Plano terapêutico;
Cada serviço possui um perfil particular e pa- Nome do médico, assinatura e carimbo com
drão de prescrição, mas existem informações bási- número de registro no conselho de classe.
cas que devem estar disponíveis para que o farma- Por ser de fundamental importância a avalia-
cêutico possa fazer a avaliação e preparo seguro ção da prescrição antes do preparo, a equipe de
de cada dose. farmacêuticos do Instituto do Câncer do Ceará
As prescrições médicas devem contemplar no (ICC), estabeleceu a seguinte rotina, visando mi-
mínimo as seguintes informações: nimizar os erros de preparo e dispensação:

1 Checagem do nome do paciente, número do prontuário e número do atendimento do mesmo, para


evitar erros de preparo e de dispensação para outro paciente;
2 Avaliação do protocolo prescrito, verificando se está de acordo com o padronizado. O ideal é que os
medicamentos não sejam prescritos por siglas, para evitar confusões no preparo.
3 Checagem dos diluentes, verificando se há incompatibilidade físico-química com os citostáticos.
4 Verificação de dose, posologia e interação dos medicamentos de suporte (antieméticos, corticóides,
estumulantes de crescimento de colônias, hidratação, etc)
5 Checagem do cálculo da dose prescrita, baseado na superfície corporal do paciente e se está de acor-
do as doses definidas no protocolo do paciente. Os valores de superfície corpórea devem ser sempre
os mais recentes, pois permitem o cálculo adequado e conferência correta das doses.
6 Via e velocidade administração dos medicamentos.
7 Esquemas de infusão da quimioterapia e posologia: se estão de acordo com o que é preconizado no
protocolo
8 Verificação da duração dos ciclos, número apropriado das doses e os dias de terapia.

Caso haja não conformidades na avaliação da de condutas relevantes, relacionadas á prescrição


prescrição pelo farmacêutico, o médico prescri- médica. Contudo, não devemos esquecer que a
tor é contactado para que sejam feitas as devidas prescrição é a principal ferramenta do farmacêu-
correções. tico, e a avaliação minuciosa da mesma deve ser
Uma das grandes vantagens do trabalho em uma constante, no intuito de garantir o tratamen-
equipe, especialmente na EMTA, é que o farma- to seguro para o paciente.
cêutico realiza as intervenções necessárias, além Deve-se salientar, ainda, que, além da análi-
de propor melhorias nos processos e padronização se da prescrição, o farmacêutico deve monitorar

31
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

todas as etapas que envolvem a manipulação pro- A cultura da prevenção de erros deve ser disse-
priamente dita, tais como: a aquisição, o armaze- minada com toda a equipe, desde o prescritor até
namento, o preparo, a dispensação, o transporte o pessoal de enfermagem que realiza a adminis-
e a administração do medicamento ao paciente. tração do medicamento.

06 O FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO E A PESQUISA CLÍNICA


sa. Esse documento deve conter a descrição com-
pleta da pesquisa, com exposição clara de seus
objetivos.
A participação do farmacêutico na pesqui-
sa clínica se dá em diversas etapas, todas re-
lacionadas ao controle dos medicamentos sob
investigação clínica, seu recebimento, armaze-
namento, bem com a dispensação. É necessário
garantir que o medicamento em estudo chegue
ao paciente sujeito de pesquisa e, para isso, é
necessário que a rastreabilidade em todos os
eventos envolvendo o medicamento seja relata-
da e protocolada, desde a entrada do produto,
manipulação, registro de lote, número de pro-
tocolo, coleta de frasco vazios.
O farmacêutico pode atuar na pesquisa clínica,
também, como monitor, dando suporte ao investi-
gador sobre o acompanhamento dos pacientes, já
que o seguimento farmacoterapêutico é de respon-
sabilidade deste, durante todas as etapas do es-
tudo, da inclusão de sujeitos, exames de imagem,
laboratoriais e visitas de follow-up com a equipe.
Pesquisa clínica, ensaio clínico ou estudo Em ensaios onde são feitas coletas de sangue
clínico são os vários termos utilizados para de- dos pacientes para determinar a concentração do
signar um processo de investigação científica medicamento (biodisponibilidade/bioequivalên-
envolvendo seres humanos. Como resultado desse cia), é necessário amparo da legislação vigente,
processo, os assim chamados pesquisadores clíni- a execução de práticas de acordo com as Boas
cos (investigadores clínicos) poderão obter novo Práticas Clínicas e, neste momento, o farmacêu-
conhecimento científico sobre os medicamentos, tico garante a veracidade, confidencialidade, qua-
procedimentos ou métodos de abordagem de pro- lidade e confiabilidade dos resultados, além do
blemas que afetam a saúde do ser humano. bem-estar do paciente em estudo. O farmacêutico
A execução de uma pesquisa clínica está base- somente deve participar de ensaios clínicos que
ada no rígido cumprimento das regras contidas em foram aprovados pelo órgão regulador e pelo CEP
um documento denominado Protocolo de Pesqui- da instituição.

07 FARMACOECONOMIA APLICADA À ONCOLOGIA


Os custos com as terapias vêm aumentando, com menor toxicidade, mas sobretudo com custo
dia a dia, em virtude da incorporação de novas muitas vezes inacessível. Paralelos a isso, outros
tecnologias. O mercado vem oferecendo medica- fatores que oneram as terapias contra o câncer
mentos ditos “específicos”, mais “inteligentes”, são “novos medicamentos”, com efeitos seme-

32
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

lhantes aos de outros já consagrados e utilizadas jáveis e pode agravar a doença e comprometer a
na prática clínica, entretanto com custos muito saúde financeira do hospital.
diferentes, sendo em geral mais caros que aqueles O farmacêutico precisa se conscientizar de
mais antigos. que a farmácia é uma unidade de negócio e que,
A farmacoeconomia é a ferramenta utilizada desta forma, ele também é visto como um empre-
como ponto de definição entre o que é melhor, endedor dentro da unidade hospitalar.
tomando como base a relação custo- benefício, Com a aplicação dos princípios farmacoeconô-
oferecendo subsídios para as escolhas, mediante micos no cotidiano da farmácia e, em especial,
a necessidade de cada paciente. Vale ressaltar que na área de oncologia, estamos eliminando des-
a farmacoeconomia, além de otimizar os recursos perdícios, sendo ágeis, competitivos e envolvidos
financeiros, não leva em conta apenas os aspectos no custo do tratamento. A atuação, nessa área
econômicos de uma terapia, mas acima de tudo, o do conhecimento, gera a valorização do farma-
sucesso dela, contribuindo para uma melhor qua- cêutico dentro do hospital. Com recursos finitos,
lidade de vida do paciente. temos que cooperar para que as melhores escolhas
O uso irracional de medicamentos, sem co- sejam realizadas e as patologias possam ser tra-
nhecimento, informação, orientação e sem pla- tadas com a tecnologia mais custo-efetivamente
nejamento, aumenta os riscos de reações indese- disponível.

08 A PRÁTICA CLÍNICA E A MONITORIZAÇÃO


DO PACIENTE ONCOLÓGICO
Na área assistencial, cada vez mais, se observa Enfim, é um conceito de prática profissional
a necessidade da existência do farmacêutico com em que o paciente é o mais importante benefi-
visão e experiência clínica, atuando junto aos ciado das ações do farmacêutico. O exercício pro-
pacientes no manuseio das reações adversas do fissional do farmacêutico passa, hoje, pela con-
tratamento, na toxidade das drogas, com terapias cepção clínica de sua atividade, sua integração e
de suporte, além das terapias complementares di- colaboração com o restante da equipe de saúde e
recionadas ao câncer. o cuidado direto com o paciente. A variabilidade
A atuação clínica do farmacêutico em onco- enorme de patologias unida à ampla disponibili-
logia consiste na provisão responsável da farma- dade terapêutica oferece múltiplas possibilidades
coterapia com o propósito de alcançar resultados de abordagem e resolução de problemas relacio-
concretos que melhorem a qualidade de vida do nados á terapêutica.
paciente. Busca encontrar e resolver de maneira O paciente oncológico, em especial, é diferen-
sistematizada e documentada todos os problemas ciado, pela complexidade da terapêutica, além da
relacionados com os medicamentos que apareçam gravidade da doença, visto que, hoje, o câncer é
no transcorrer do tratamento do paciente. Além uma doença crônica que, dependendo do acom-
disso, compreende a realização do acompanha- panhamento, o paciente pode vir a ter uma maior
mento farmacológico do paciente com dois obje- sobrevida e melhor qualidade de vida.
tivos principais: Neste momento, a presença do farmacêutico
• Responsabilizar-se pelo paciente para agrega confiança e desenvolve uma relação que
que haja sucesso da terapia proposta vem beneficiar o paciente quanto à adesão ao
pelo médico; tratamento. Em muitas situações, o paciente com
• Estar atento para que ao longo do tra- câncer é acompanhado de dúvidas, incertezas, te-
tamento as reações adversas aos medi- mores que, muitas vezes, o levam a abandonar o
camentos sejam as mínimas possíveis, tratamento, sem mesmo tê-lo iniciado.
e no caso de surgirem, que se possa Muitas ações podem ser desenvolvidas com o
resolvê-las ou minimizá-las, prevenir e objetivo de melhorar o resultado da terapia e da
corrigir. qualidade de vida deste paciente, principalmente

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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

no que diz respeito ao surgimento de reações para que o paciente não sinta nenhuma dificulda-
adversas causadas pela própria quimioterapia, e de adicional no tratamento.
como manuseá-las. Descrevemos, a seguir, os problemas mais
Citamos, aqui, algumas das orientações forne- frequentes, decorrentes de quimioterapia e que,
cidas aos pacientes que devem ser acompanhados muitas vezes, incapacitam e aumentam o sofri-
bem de perto pelo farmacêutico. Esta orientação mento do paciente, não só no aspecto fisiológi-
deve ser clara, precisa e mais simples possível, co, mas também psicossocial.

TERAPIA DE SUPORTE

Manejo da náuseas e vômitos

Náuseas e vômitos são vistos pelos pacientes como efeitos adversos assustadores e particularmente de-
sagradáveis da terapia citostática. Sua severidade pode até mesmo levar ao término prematuro da terapia.
Portanto é pertinente prover uma terapia anti-emética eficiente.

As intervenções farmacêuticas para a condução de ajustes posológicos devem ser guiadas pelos seguintes
parâmetros:
• Potencial emetogênico da terapia citotóxica, avaliando cada medicamento prescrito no protocolo;
• Fatores de riscos individuais dos pacientes;
• Diferentes fases da náusea e êmese ( agudos, tardios, antecipatórios);
• Aspectos farmacoeconômicos, avaliando o melhor protocolo, baseado em evidência e resposta do
paciente;

O suporte para a implementação das intervenções terapêuticas selecionadas deve ser:


• Cooperação entre paciente, médico, farmacêutico e outros profissionais;
• Medidas de adesão ao tratamento;
• Medidas profiláticas adicionais.

Manejo da Dor

A maioria dos pacientes com tumores apresenta dor durante o curso de sua doença, muitas vezes, devido á
compressão de raízes nervosas.

A causa, o tipo e a intensidade da dor pode ser diferente. A dor necessita ter diagnóstico precoce e a terapia
imediata e apropriada, incluindo todas as diferentes opções de tratamento. É importante incluir o manejo da
dor no plano de cuidado do paciente, e isso deve incluir opções farmacoterapêuticas bem como alternativas de
tratamento preconizados na literatura (baseadas em evidências). Também deve-se disponibilizar alternativas
terapêuticas não farmacológicas.

Alopécia

Alopécia pode ser um efeito adverso sério para alguns pacientes tratados com terapia citostática. Embora
opções de tratamento ainda sejam limitadas, a preocupação com a alopécia e seus aspectos devem ser conside-
rados no plano de cuidado e comentados na atenção ao paciente. Por ser uma reação que identifica o problema
do paciente, ele muitas vezes adia ou se recusa a iniciar o tratamento para que ninguém saiba que ele tem
câncer.

Nesse cenário a atuação multidisciplinar de farmacêuticos, médicos e psicólogos poderá ter excelentes
resultados sobre a adesão.

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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

Mucosite

Inflamação da mucosa – mucosite – pode ser observada em vários locais.A mucosite é uma das reações
adversas mais freqüentes e debilitantes, pois em muito compromete o perfil nutricional do paciente.

Lesões na mucosa podem ser muito dolorosas e reduzir significativamente a qualidade devida dos pacientes
com câncer. É uma das responsabilidades do farmacêutico dar recomendações aos pacientes sobre profilaxia da
mucosite e seu tratamento.

Manejo da diarréia

A diarréia é uma séria complicação da terapia do câncer. Alguns citostáticos em particular, bem como a
radioterapia podem causar diarréia como efeito adverso.

Processos imunológicos, infecciosos e do próprio câncer também podem causar diarréia e precisam ser
incluídos na avaliação diagnóstica.

Diarréia não tratada pode levar à fraqueza, desequilíbrio eletrolítico e desidratação, podendo comprometer
drasticamente a resposta ao tratamento quimioterápico.

Terapia Nutricional

Quase todos os pacientes oncológicos sofrem de perda de peso extrema. Isto não somente leva a uma piora
das condições gerais do paciente, mas a caquexia também causa uma maior intolerância à terapia e um risco
aumentado de desenvolvimento de efeitos adversos.

O farmacêutico deve também prover, junto ao médico e outros membros da equipe de saúde, diretrizes sobre
como o paciente pode se beneficiar de mudanças na dieta.

09 MANIPULAÇÃO SEGURA DE AGENTES CITOSTÁTICOS


A manipulação segura dos agentes citostáti- com sistema de filtro, fluxo laminar, de preferên-
cos não se resume ao uso de uma técnica ade- cia com exaustão externa e proteção total. A área
quada e a utilização de uma cabine de segurança deve ser de acesso restrito a pessoal treinado e
biológica,mas compreende a correta utilização das em local isolado.
informações inerentes aos medicamentos utiliza- São consideradas regras básicas para um pre-
dos e sua adequação as condições terapêuticas. paro seguro de citostáticos:
Ressalta-se que, além do ato de preparo dos • Todo agente quimioterápico deve ser prepa-
medicamentos, deve-se considerar toda a cadeia rado por profissional especificamente trei-
de processos, desde o armazenamento, recebi- nado para tal procedimento;
mento, transporte, manipulação propriamente
• A área de preparo deve ser isolada para
dita, a dispensação, a administração, geração e
evitar interrupções, minimizar riscos de
descarte de resíduos de produtos e medidas em
acidentes e de contaminações. Deve estar
caso de derramamento e extravasamento.
situada em área restrita a fim de evitar fluxo
de pessoas;
Cuidados na Preparação e na Administração
dos Agentes Antineoplásicos • Alimentar-se, beber, fumar, e aplicar cosmé-
ticos são procedimentos totalmente proibi-
Todos os agentes quimioterápicos devem ser dos, durante a preparação dos agentes qui-
preparados por profissionais qualificados e treina- mioterápicos;
dos especificamente para tal procedimento. Uso • A superfície de trabalho deve ser coberta
de capelas de segurança biológica de classe II com material absorvente para diminuir o

35
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

risco de contaminação. A superfície de tra- • Utilizar dispositivo desaerolisante;


balho absorvente deve ser eliminada diaria- • No frasco contendo o preparado deve ser
mente com cuidados especiais e se possível afixada informação sobre o produto, se ve-
adicionar neutralizantes para os medica- sicante ou não e cuidados essenciais no
mentos que apresentam maior toxicidade e manuseio;
que foram derramados acidentalmente sobre • O pessoal que transporta os medicamen-
a superfície absorvente. tos até o local de aplicação deve receber
• A técnica de preparo deve ser rigorosamente treinamento especial em como intervir em
asséptica; caso de acidente. Containeres especiais
• As recomendações do fabricante do me- devem servir para o transporte dos me-
dicamento quanto à compatibilidade de dicamentos. Estes containeres devem ser
soluções, a compatibilidade com outros térmicos para evitar variações extremas de
medicamentos, a estabilidade e sensibi- temperatura, que podem inativar os medi-
lidade a luz devem ser rigorosamente se- camentos e devem ser, também, à prova
guidas; de choque, principalmente, se os produtos
forem transportadas para serem adminis-
• A concentração final (mg/ml) contida
trados em outro hospital ou ambulatório
na prescrição tem de ser rigorosamente
de quimioterapia.
seguida;
• As pessoas que transportam os medicamen-
• As luvas devem ser trocadas sempre que tos devem trazer junto com elas os materiais
houver contaminação com quimioterápico, necessários, caso ocorra algum acidente,
como extravasamento ou respingos e sem- durante o percurso, como luvas protetoras,
pre que mudar de ciclo por paciente. aventais, gorros, mascaras, protetores para
• Avental longo, totalmente fechado na parte olhos, plásticos absorventes. Para tanto,
da frente e de preferência impermeabiliza- deve ser constituído kit pela farmácia.
do, deve ser usado durante todo procedi- • Substâncias neutralizadoras, como bicarbo-
mento; nato de sódio e álcool a 70% para limpeza
• Gorro, máscara impermeável (carvão ativa- da área afetada, devem fazer parte do kit de
do) e óculos de proteção devem ser usados derramamento, bem como tabela contendo
sempre que em atividade. produto e neutralizante.

10 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EM TERAPIA


ANTINEOPLÁSICA (EMTA)
A multidisciplinaridade, hoje, em oncologia é Assistente social e
fator condicionante da qualidade da assistência, Fisioterapeuta
pois como fruto do trabalho harmonioso e inte-
grado obtém-se uma melhor qualidade de vida dos Em particular, citamos as atribuições privati-
pacientes oncológicos. A Equipe Multidisciplinar vas do farmacêutico, em concordância com a Re-
em Terapia Antineoplásica (EMTA) deve ser com- solução 288/96 do Conselho Federal de Farmácia:
posta pelos seguintes profissionais: Selecionar, adquirir, armazenar e padronizar
Médico oncologista os componentes necessários ao preparo dos
Médico hematologista antineoplásicos;
Cirurgião oncológico Avaliar os componentes presentes na pres-
Enfermeiro crição médica ,quanto á quantidade, quali-
Farmacêutico dade, compatibilidade, estabilidade e suas
Nutricionista interações;
Psicólogo Proceder à formulação dos antineoplásicos

36
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

segundo a prescrição médica, em concor- neoplásicos após o preparo até a adminis-


dância com o preconizado em literatura; tração;
Manipular drogas antineoplásicas em am- Assegurar destino seguro para os resíduos de
bientes e condições assépticas, e obedecen- antineoplásicos;
do a critérios internacionais de segurança; Compor a equipe multidisciplinar nas visitas
Orientar, supervisionar e estabelecer rotinas aos pacientes submetidos a tratamento com
nos procediemntos de manipulação e prepa- antineoplásicos;
ração dos antineoplásicos; Participar das reuniões, discussões de casos
Determinar o prazo de validade para cada clínicos e atividades didáticas e científicas
unidade de antineoplásico de acordo com as da equipe multidisciplinar;
condições de preaparo e características da Participar, desenvolver, elaborar pesquisas
substância; de antineoplásicos, não só na área de saúde,
Assegurar o controle de qualidade dos anti- bem como na área industrial.

11 BIOSSEGURANÇA EM ONCOLOGIA
Avaliação de risco, normas de trabalho e orientação
A – Área física: Equipamentos de proteção coletiva EPC
A área destinada à Central de Manipulação de – Capela de fluxo laminar classe II, tipo B2
Quimioterápicos (CMQ) e Sala de Administração (apresenta fluxo unidirecional vertical,
de Medicamentos (SAM) deverá ser planejada, 100% de exaustão externa do ar e 0% de
buscando atender as características de cada ins- recirculação interna do ar );
tituição e proporcionando segurança ao trabalha- – Lava olhos (pode ser substituído por solu-
dor, ao paciente e seus cuidadores. A CMQ deve ção fisiológica a 0,9%);
ser centralizada, com acesso restrito ao pessoal – Coletor rígido para resíduos (caracterizado
responsável pela manipulação. Nesta área, de- pela NT de 21/09/99).
verão ser proibidas ações, como: beber, comer e
aplicação de cosméticos. Equipamentos de proteção individual EPI
A SAM deve ser uma área na qual o paciente se
sinta confortavelmente instalado, sem perder sua • Vestimenta (macacão ou avental) confec-
privacidade. Deve ser de fácil acesso, contando cionado em material impermeável, fechado
entradas e saídas ágeis para situações de emer- na frente, com mangas longas e punhos
gência. elásticos.
• Botas plásticas com solado antiderrapante
B – Equipamentos: ou propés de plástico
• Óculos de proteção panorâmico;
• Respirador com filtro classe P3 (alta eficiên-
cia);
• Luvas de látex isentas de talco (powder free);

Controles de exposição dos profissionais

A exposição dos profissionais envolvidos nas


diversas fases da terapia antineoplásica pode ser
controlada efetivamente com a correta utilização
dos equipamentos e EPIs disponíveis.
Periodicamente os profissionais deverão ser
submetidos a avaliações médicas, sendo o resul-

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FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

tado das mesmas registradas na ficha individual particular a urina, devem ser consideradas mate-
do funcionário. riais de risco e, para isto, deverão ser manuseados
Tomando-se as providências abaixo relaciona- com luvas protetoras.
das, a exposição aos antineoplásicos será minimi-
zada: Exposição crônica
– A capela de fluxo laminar deverá ser ligada Os danos da exposição crônica poderão ser
com 30 minutos de antecedência e deixada mensurados em função da toxicidade inerente de
ligada 30 minutos após o término do servi- um determinado agente quimioterápico versus a
ço; extensão de exposição a este agente.
– A capela deverá ser submetida à desinfec- O monitoramento médico é extremamente im-
ção com álcool 70%, antes e após o término portante, aconselhando-se a realização de exa-
da manipulação; mes médicos periódicos, a cada seis meses, com
atenção para os sistemas hematopoiético, hepá-
– A manutenção preventiva da capela deve
tico, renal, pele e sistema nervoso central. De-
ser periódica, sendo efetuada a troca dos
verão ser realizados exames nas seguintes situa-
filtros HEPA por técnicos habilitados, sem-
ções: admissão; retorno ao trabalho, após 30 dias
pre que necessário. A manutenção preven-
de licença médica; transferência de outro setor
tiva deve ser realizada sempre que a capela
para área de manipulação e vice-versa; demissão.
for trocada de lugar ou na observância de
Com relação aos indicadores, tem-se detecta-
quaisquer problemas.
do níveis mensuráveis de agentes quimioterápicos
– Utilizar adequadamente todos os EPIs obri- no ar e nas superfícies, quando capelas de fluxo
gatórios; laminar não são utilizadas no preparo de quimio-
– Trocar as luvas de látex a cada hora de tra- terápicos. Ainda mesmo quando este monitora-
balho e sempre que se fizer necessário; mento é realizado dentro da capela, fica eviden-
– Manter kit de emergência em local de fácil ciada esta exposição quando detecta-se saturação
acesso; destes agentes nos filtros HEPA.
Existem relatos de mutagenicidade urinária em
– O pessoal que cuida dos pacientes em tra-
profissionais que manipulam agentes quimioterá-
tamento com quimioterapia deve adotar
picos, porém estes mesmos níveis têm diminuição
precauções de barreira (luvas descartáveis,
total, quando estes profissionais são afastados da
óculos de proteção, avental impermeável);
exposição rotineira e vice-versa.
– Os profissionais da equipe de limpeza de- A evidência de tióteres urinários (metabólitos
vem calçar luvas de látex e avental ao ma- conjugados à glutationa de agentes alquilantes)
nusear os sacos de lixo, tomando cuidado podem ser utilizados como indicadores de expo-
para observar vazamentos e gotejamentos. sição, uma vez que manipuladores de antineoplá-
Além disso, devem sempre manusear sacos sico, demonstraram aumento de tiótere urinários
e coletores de pérfuro-cortantes afastados em comparação com grupos de controle.
do corpo. Com relação à mutagenicidade/alterações cro-
Basicamente a exposição aos antineoplásicos mossômicas, alguns estudos têm evidenciado es-
pode ser entendida como aguda ou crônica: tes efeitos como advindos desta exposição.
Através de marcadores de danos, tem-se ob-
Exposição aguda servado troca de cromátides irmãs, alterações
Na ocorrência de acidentes que contaminem estruturais do núcleo celular e micronúcleos de
EPIs, estes devem ser removidos imediatamente linfócitos de sangue periférico. Estes resultados
e descartados. Quando da contaminação de pele podem não ser tão esclarecedores quando even-
e mucosas, deve-se proceder a lavagem, com tualmente se observa aumento em um ou mais
água e sabão neutro e, no caso de contaminação marcadores, em diferentes situações.
dos olhos, utilizar lava-olhos (ou soro fisiológico Talvez essa dificuldade de quantificar estes
0,9%) por 15 minutos. efeitos da exposição e essas alterações de resul-
As excretas dos pacientes em tratamento, em tados de absorção resultam de diferentes inten-

38
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

sidades de exposição dentro de um mesmo grupo, • Retirada do ar da seringa e ajuste da dose;


principalmente, quando se avalia o uso de EPIs e • Exposição acidental;
técnica de trabalho. • Recebimento dos medicamentos;
Os efeitos sobre a reprodução têm sido bem • Transporte interno e externo;
documentados, havendo resultados estatistica- • Estoque;
mente significantes de ocorrências de abortos es- • Limpeza e desinfecção de ampolas e fras-
pontâneos e teratogenicidade, quando se compara cos-ampola;
grupos expostos e não expostos. Diante das ocor- • Identificação, rotulagem, embalagem e dis-
rências, é notório salientar que mulheres grávidas tribuição do produto acabado;
e nutrizes devem ser informadas dos riscos e afas- • Procedimentos de segregação, acondiciona-
tadas da atividade da manipulação e administra- mento, identificação, registro, transporte,
ção de agentes quimioterápicos. armazenamento e destino final dos resíduos
Outros sintomas eventuais relatados por gru- de risco
pos expostos em áreas não ventiladas são: sen- • Procedimentos em acidentes;
sação de cabeça leve, vertigem, náusea, dor de • Manuseio de medicamentos orais e tópicos;
cabeça e reação alérgica. • Limpeza e desinfecção das áreas e equipa-
Para o profissional manipulador, há momentos mentos de trabalho.
de grande exposição ocupacional, valendo citar os Para evitar que estes momentos se transfor-
seguintes: mem em acidentes, o farmacêutico deverá elabo-
• Quebra e reconstituição de ampolas; rar procedimentos operacionais padrões que de-
• Punção, reconstituição e aspiração de frascos- terminem o fluxo de trabalho, da execução das
-ampola (introdução e retirada da agulha); atividades, além de prever um plano de contin-
• Transferência do medicamento de um para gência no caso de acidentes durante o processo
outro envase; de manipulação.

12 MANEJO DOS RESÍDUOS EM ONCOLOGIA


Na maioria dos países, os resíduos citostáticos fusoras, geralmente devem ser descartadas como
devem, por lei, ser descartados como lixo perigo- lixo perigoso.
so por incineração. Infelizmente não se dispõe Antes do descarte em recipientes especiais,
de maiores detalhes quanto ao grau de contami- os resíduos altamente contaminados com medica-
nação, ou o que exatamente se deve considerar mentos citostáticos devem ser selados em sacos
como resíduos de agentes citostáticos. A maioria plásticos, ou podem, ainda, ser inativados por re-
das diretrizes recomenda a diferenciação entre ações químicas. As soluções restantes dos frascos
resíduos contaminados com traços e contamina- não podem simplesmente ser descarregadas na
dos em massa. (OSHA- Occupational Safety and rede de esgotos.
Health Authority e ASHP – American Society of
Eliminação dos Resíduos da Quimioterapia
Hospital Pharmacists)
Enquanto os resíduos contaminados com tra- • Todos os restos de quimioterápicos devem
ços (luvas, frascos de infusão vazios) podem ser ser tratados com cuidados especiais que
descartados juntamente com lixo doméstico, os eliminem toda e qualquer possibilidade
resíduos contaminados em massa (seringas ou de contaminação do pessoal responsável
frascos de infusão parcialmente vazios) reque- pela limpeza do ambulatório de quimiote-
rem tratamento especial, normalmente, incine- rapia.
ração em alta temperatura, ou seja, acima de • A eliminação deve ser feita em contai-
1000°C. neres e sacos especiais de cor diferentes
Os citostáticos de alta concentração, por com o logotipo que indica perigo, mate-
exemplo, soluções não diluídas ou seringas per- rial de risco.

39
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

• As secreções corporais dos pacientes em re- serviço.


gime hospitalar que recebem ou receberam • As agulhas devem ser descartadas em ma-
quimioterapia prévia 48 horas antes ou que terial apropriado e provido de destruidor de
ainda estão recebendo em infusão contí- ponta.
nua, devem ser isoladas em containeres es- • Seringas, frascos de soro, equipos e todos
peciais, marcadas com logotipo de material os demais materiais que tiverem contato
de risco, e eliminadas da mesma forma que com os quimioterápicos devem ser neutrali-
os restos de soluções de quimioterapia. zados pelo serviço de limpeza urbana ou in-
• A companhia de limpeza urbana deve ser cinerados antes de sua eliminação em local
notificada que existe coleta de lixo com ma- apropriado. Estes resíduos não devem ser
terial hospitalar e informada sobre os tipos eliminados juntamente com o lixo comum,
de produtos que são eliminados por aquele mas sim em locais predeterminados.

13 CONDUTAS NOS ACIDENTES COM CITOSTÁTICOS


Acidentes com derramamento de Em geral os acidentes são de dois tipos: pe-
citostáticos e seu tratamento quenos (menores de 5ml) e grandes derramamen-
tos (maiores de 5ml). Para controlar este tipo de
Estes acidentes quase sempre resultam de acidente, fora ou dentro da cabine de sugurança
derramamentos ou quebras que devem ser re- biológica, será necessário uso de paramentação
latados à CIPA local e tratados imediatamen- adequada, além do respirador (PFF2) em caso de
te por profissional treinado, sendo que a área derramamentos de pós.
deve ser identificada e isolada, para evitar
possíveis contaminações.

Ficha de notificação de acidentes


com antineoplásicos

Respirador PFF2 com e sem válvula

NOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES COM CITOSTÁTICOS.


O derramamento deverá ser contido e limpo
DERRAMAMENTO EXTRAVASAMENTO

Não houve contaminação de pessoas.


com gaze absorvente, no caso de pequenos der-
Acidentado:
Houve contaminação de pessoas.
ramamentos, e com chumaços ou folhas absor-
Nome Data de Nascimento Sexo

1. masculino 2. feminino
ventes, nos grandes derramamentos. No caso de
derramamento de pós, deverá ser limpo com gaze
End.: (Rua, AV.; Nº) Bairro Fone

Complemento CEP Município UF

úmida. A seguir a área deverá ser lavada por três


vezes com água e sabão neutro. Secar e manter a
Acidente:
Data do acidente Hora Dep. / Enfermaria

Atividade

Reconstituição Infusão Transporte outro________________________________________________________


área ventilada.
Nome da droga Partes do corpo contaminado
Se houver fragmentos de vidro, estes deverão
Forma da droga:

Produto original líquido Produto original em pó Produto reconstituído Material contaminado


ser recolhidos com pás e colocados em recipiente
Soro com citostático

Breve descrição do acidente:


Excreta de paciente Outro ______________________________________________________
para pérfurocortantes.
_______________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________ Tanto o recipiente para pérfurocortantes, como
as gases utilizadas deverão ser colocadas em sacos
Descrição da lesão:

Medidas adotadas:
_______________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________
plásticos apropriados para estes resíduos.
Na ocorrência de contaminação do filtro HEPA,
_______________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________

Médico contatado:

Preenchido por:
a capela deverá ser desativada, vedada com plás-
FAVOR ENVIAR A NOTIFICAÇÃO À CIPA.
tico, até que técnicos especializados possam tro-
cá-los e realizar nova validação da cabine.

40
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

Daí a importância de se manter à mão kits de ção de citostáticos. A Sociedade Americana de


emergência, corretamente rotulados, tanto nas Farmacêuticos Hospitalares (ASHP), recomenda
áreas de preparo, como nas áreas de administra- que os kits contenham:

1 capote impermeável descartável


1 par de óculos de proteção
1 touca descartável
1 par de propés impermeáveis descartáveis
1 respirador para agentes classe PFF2
2 pares de luvas de procedimentos
1 pá plástica descartável
1 vassourinha plástica descartável
1 embalagem com sabão neutro líquido
3 compressas absorventes
1 ampola de água para injeção (250 mL)
1 ampola de NaCl 0,9% (250 mL)
2 sacos plásticos brancos (NBR/ABNT) identificados com o símbolo de resíduo de risco

14 QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES EM ONCOLOGIA


O farmacêutico é o profissional respon- processo é de fundamental importância para
sável pela aquisição de medicamentos den- garantir a qualidade dos medicamentos e da
tro das instituições hospitalares e, cada vez terapêutica.
mais, se faz necessária a sua participação na Alguns requisitos de caráter obrigatório de-
seleção e qualificação de fornecedores, quer vem ser solicitados ao fornecedor no momento
sejam eles fabricantes ou distribuidores. Este da padronização do seu produto.

Modelo de ficha de avaliação de produtos

SERVIÇO DE FARMÁCIA
CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS

FICHA DE AVALIAÇÃO DE PRODUTO

NOME:
APRESENTAÇÃO: MARCA: FABRICANTE:
DATA DA AVALIAÇÃO:
NÚMERO DE AMOSTRAS:
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO FARMÁCIA

I. CERTIFICADO DE ANÁLISE

Lab.REBLADO

Apresentação

Rótulo/Embalagem

Volume declarado

Volume extraível

Cor/Aspecto

Tempo de reconstituição

OVERFILL

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

II. DOCUMENTAÇÃO

Certificado de Boas Práticas

Autorização de funcionamento federal (DOU)

Certificado de Regularidade Técnica

Atestado de capacidade técnica/parecer outros profissionais

PARECER TÉCNICO FINAL – CFT HC/ICC

Aprovado
Não aprovado
Aprovado com restrições
Observações:

41
FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas Coletânea de Farmácia Hospitalar

Documentos legais da empresa: Principais pontos avaliados:


Autorização de Funcionamento Anvisa (Diá- Avaliação prática:
rio Oficial da União-DOU); Aspectos regulatórios
Autorização de Funcionamento Especial Aspectos técnicos
Anvisa (DOU) para produtos constantes na – Registro do produto na Anvisa;
Portaria 344/98; – Nome, marca, Denominação Comum Bra-
Alvará Sanitário Estadual; sileira;
Certificado de Boas Práticas de Fabricação / – Empresa (nº autorização/processo);
Distribuição da Anvisa; – Concentração e apresentação;
Certificado de Regularidade Técnica – CRF; – Local de fabricação;
Contrato Social da empresa; – Data de validade do registro – RDC
134/03;
Relatório de Inspeção da Anvisa-VISA.
– Estabilidade do produto.
– Critérios para fabricação, armazenamen-
Documentos legais: to, expedição e transporte.
Importação de produtos
Dentre as principais não conformidades en-
Relação de fornecedores de produtos; contradas na avaliação de fornecedores para qua-
Relatório de Qualificação das empresas for- lificação, encontramos:
necedoras; Presença de partículas estranhas;
Produto de referência no exterior. Falta de informações nos rótulos;
Rótulo com pouca adesividade ao material
Documentos diversos de embalagem primário;
Troca de rótulo;
Relação de distribuidores autorizados; Troca de conteúdo;
Relação de empresas de transporte quali- Fissuras, rachaduras e bolhas no material de
ficadas; acondicionamento primário;
Relação de médicos que utilizam os produtos e Falhas no fechamento (comprometimento da
hospitais de referência para os quais fornece; hermeticidade da embalagem);
Relação de estabelecimentos de saúde usuá- Precipitação;
rios dos produtos. Dificuldades para solubilização;
Dificuldades para homogeneização;
Formação de gases;
Após avaliação criteriosa destes documentos,
Alteração pelo calor;
o farmacêutico deve proceder a análise farmaco- Alteração pela luz.
técnica do produto, que é de ordem prática, ava-
Todas estas não conformidades, avaliadas pelo
liando todas as condições do produto, suas carac-
farmacêutico no ato da submissão de produtos
terísticas físicas, comparando-as com o laudo de
para padronização, são critérios de reprovação ou
análise do lote avaliado. ainda exclusão de produtos já padronizados.

15 TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO DA EQUIPE


Treinamento, educação continuada • Legislação sanitária;
e especialização profissional • Manuseio seguro de substâncias perigosas;
• Saúde ocupacional;
O objetivo do treinamento, da educação conti- • Prevenção de acidentes e medidas de con-
nuada e especialização profissional é prover conhe- trole;
cimento teórico e habilidades práticas á equipe. • Condutas em emergências;
Durante os treinamentos, deve-se abordar con- • Descarte de material contaminado;
teúdo de caráter teórico, envolvendo: • Medicamentos e apresentações;

42
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACÊUTICO EM ONCOLOGIA: Interfaces administrativas e clínicas

• Estabilidade e incompatibilidades; • Farmácia clínica;


• Trabalho em área asséptica; • Garantia de Qualidade;
• Farmacologia e efeitos das drogas; • Equipamentos de proteção individual.

16 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
www.anvisa.gov.br Manual de manuseio de drogas citsotáticas
w.w.w.ashp.org (ASHP – USA) – Novartis Oncologia
www.fda.gov (FDA) Manual de Oncologia – José Renan Q.
www.cancer.org Guimarães
(American Cancer Society) Manual para Comitês de Ética em Pesquisa
www.IARC.fr Clínica – MS
www.asco.org (ASCO) Enfermagem em terapêutica oncológica
www.riscobiologico.org – Bonassa
www.sobrafo.com.br www.cff.org.br
Farmacêuticos em oncologia – uma nova
realidade

43
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar

NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL:


da produção a administração
MARCELO GASTALDI
ADRIANA GOMES SIQUELI
ANTONIO CARLOS REIS E SILVA
DENISE DE S. G. SILVEIRA

01 HISTÓRICO
Dada a necessidade de se fornecer alimentos cipalmente, quando as condições mencionadas
para pacientes com dificuldade de ingestão pelas estão associadas, ou podem evoluir para um es-
vias fisiológicas, foram feitas, ao longo da His- tado de desnutrição.
tória, várias tentativas desta complementação. A nutrição parenteral total (NPT) consiste em:
Houve tentativas de se infundir alimentos prepa-
rados por via retal, a infusão de alimentos por via Solução ou emulsão composta basicamente de
parenteral (em especial, com leite materno ou de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e
vaca). Porém todas estas tentativas apresentaram minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em
alguma forma de complicação, ou mostraram-se recipiente de vidro ou plástico, destinada a admi-
inviáveis. nistração intravenosa em pacientes desnutridos ou
não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domici-
Através da utilização de aminoácidos cris-
liar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos,
talinos, os primeiros estudos bem-sucedidos de órgãos ou sistemas (Portaria-272 – abril 98).
infusão de uma alimentação artificial parenteral
foram desenvolvidos por Dudrick e col, somente
na década de 1960, o que nos indica o quanto Principais indicações
esta prática tem se desenvolvido, nos últimos
a. No adulto: em situações pré-operatórias,
tempos.
em doentes portadores de desnutrição,
No Brasil, a Portaria 272/98 regulamenta a Te-
com doenças obstrutivas no trato gas-
rapia de Nutrição Parenteral (TNP). Esta Portaria
trointestinal alto, complicações pós-
estabelece a necessidade da atividade em equipe,
-cirúrgicas, lesões múltiplas, queimaduras
definindo responsabilidades, âmbitos de atuação
e as Boas Práticas em TNP. Recomendamos sua graves, moléstias inflamatórias intestinas
detalhada leitura, para que se cumpram os itens (ex.: Síndrome de Crohn, síndrome do in-
exigidos por ela. testino curto etc.).
A nutrição parenteral é necessária nos casos b. Na Criança/recém nascido: prematuros de
em que a alimentação oral normal não é possível, baixo peso, má formação congênita do tra-
quando a absorção de nutrientes é incompleta, to gastrointestinal, diarréia crônica inten-
quando a alimentação oral é indesejável e, prin- sa etc.

44
Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração

02 PRINCIPAIS COMPONENTES
Composição da solução
Uma NPT típica para adulto, pode ser representada pela formulação abaixo:

a Solução de Aminoácidos Totais 10% 300 – 600 ml


b Solução de Glicose 50% 300 – 600 ml
c Cloreto de Sódio 20 % 10 – 20 ml
d Cloreto de Potássio 19,1% 5 – 10ml
e Fosfato de potássio 5 – 10 ml
f Gluconato de Cálcio 5 – 10 ml
g Sulfato de Magnésio 5 – 10 ml
h Solução Multivitamínica 10 ml
i Solução de Oligoelementos 5 ml
j Solução de Lipídios 20% TCL/TCM 100 – 200 ml

Fonte de Nitrogênio ser facilmente encontrada e ser barata. Porém ela


é um dos principais agentes que elevam a osmo-
Na alimentação tradicional, o Nitrogênio é for-
laridade da solução, pois, para se infundir a ne-
necido, a partir de fontes protéicas (carnes, soja
cessidade diária calórica para um paciente, temos
etc.). Na TNP, ele é fornecido, através de uma
de empregar soluções de elevada concentração
mistura de aminoácidos (AA) colocados em so-
(50 – 70%), a fim de se evitar um excesso de vo-
lução. As soluções de aminoácidos podem variar,
lume hídrico das soluções de baixa concentração
de acordo com o produtor, tanto em variedade
provocaria.
quanto em teor. Podem ser encontrados, no mer-
No quadro abaixo temos uma noção da rela-
cado, soluções de 13 a 20 aminoácidos diferentes
ção: volume X densidade calórica X osmolaridade:
e concentrações que podem variar de 7% a 15%
de concentração de AA.
Estas soluções combinam AA não essenciais e glicose kcal/l mOsm/l
AA essências (50-60%/50-40%), livres de amônia 5% 170 252
e evitando-se dipeptídeos. Existem soluções es- 10% 340 505
pecíficas de AA para patologias específicas, tais 20% 680 1010
como solução para hepatopatas, nefropatas etc. 30% 1020 1515
40% 1360 2020
Fontes calóricas 50% 1700 2525
60% 2040 3030
São empregados: 70% 2380 3535

I) Soluções de glicose:
As soluções contendo glicose são uma exce- II) Emulsões lipídicas (EL):
lente opção, por ser uma fonte calórica pronta A utilização de EL, por ser pouco hipertônica
para utilização (independe de prévia metaboliza- e possuir elevada densidade calórica (9 Kcal/g de
ção) e é a única que pode ser utilizada de forma lipídio), proporciona uma NPT de menor volume e
exclusiva. As soluções de glicose possuem uma menor osmolaridade, se comparada a uma que uti-
densidade calórica de cerca de 3,4 Kcal/g de gli- liza exclusivamente glicose como fonte calórica.
cose monohidratada. Além disso, ao se adicionar triglicérides de ca-
Outra vantagem da solução de glicose é a de deia longa e triglicérides de cadeia média (TCL e

45
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar

TCM) na NPT, colabora-se para evitar a carência para manter íntegros os processos fisiológicos
de ácidos graxos essências (ácidos linoleico, lino- intra e extracelulares. Abaixo uma indicação de
lênico e aracdônico) e de todas as complicações recomendação de eletrólitos.
bioquímicas decorrentes desta ausência.
As soluções encontradas no mercado variam Sugestão para administração
entre 10% a 20%. Além das emulsões a base de de eletrólitos em crianças
óleo de soja (mais comuns), temos disponíveis, ELETRÓLITOS NECESSIDADES BASAIS
também, emulsões de óleo de peixe, óleo de oliva Sódio 2 a 4 mEq/Kg
e mistura destes. Potássio 2 a 3 mEq/Kg
Atualmente, além do aporte calórico, a uti- Cloro 2 a 3 mEq/Kg
lização de óleo de fontes diferentes, possibilita Magnésio 0,3 a 2 mEq/Kg
colaborar na modulação da resposta inflamatória Cálcio 0,5 a 2 mEq/Kg
e imunológica, podendo aumentá-la ou diminuí-la Fósforo 0,5 a 2 mEq/Kg
de acordo com o produto ou combinação empre-
gada. Recomenda-se a consulta a tabelas apropria-
das, tais como da American Medical Association
Eletrólitos, vitaminas e oligoelementos (AMA) para cada faixa etária e patologia associa-
A adição dos eletrólitos, vitaminas e oligoe- da, para certificar-se da necessidade de que cada
lementos devem atender as necessidades diárias paciente possa ter.

03 ANÁLISE CRÍTICA DA PRESCRIÇÃO


Antes de se iniciar o processo de manipula- obteremos um número que, dependendo da solu-
ção da NPT, é recomendável que se proceda a uma ção, pode atingir a 30 ou 40 itens diferentes.
análise quanto à suficiência qualitativa, quanti- Quando da necessidade de se adicionar um
tativa e compatibilidade entre os elementos da novo item na NPT, deve-se estudar a compatibi-
formulação. lidade deste para com a NPT e a estabilidade da
NPT para com este medicamento. Algumas ve-
Nesta análise, devemos observar se:
zes, os princípios ativos são compatíveis entre
a. Todos os itens prescritos são os requeridos si, porém, podem não o ser com os adjuvantes
pelo paciente, farmacotécnicos de suas soluções. Assim, reco-
b. Se a dosagem dos produtos solicitados é a menda-se evitar a aditivação de produtos a NPT,
recomendada ao quadro clínico, salvo aqueles que já foram previamente estuda-
c. Se existe compatibilidade físico-química dos e tem sua compatibilidade assegurada.
entre os elementos da formulação e entre Deve-se ter em mente que o regime de infusão
os elementos da formulação e os medica- de uma NPT ocorre, de forma homogênea, nas 24
mentos que o paciente está utilizando, horas do dia. Adicionar produtos que sejam com-
patíveis com a NPT, mas possam necessitar de va-
d. Se a formulação é estável e
riação na velocidade de infusão, ao longo do dia,
e. Se a via de administração solicitada supor- prejudica a infusão da NPT. Pois, ao se aumentar a
ta a osmolaridade da solução e velocidade velocidade de infusão do medicamento aditivado,
de infusão. aumenta-se a infusão de todos os elementos da
NPT e vice-versa.
Interações Se tivermos que interromper a infusão do
medicamento adicionado a NPT, teremos que
Uma nutrição parenteral é uma solução com-
suspender toda a infusão daquela NPT e substi-
posta de múltiplas especialidades farmacêuticas.
tuí-la por outra isenta do produto. Lembramos,
Se somarmos os diversos princípios ativos e adju-
ainda, que as aditivações a NPT só devem ser
vantes farmacotécnicos que compõem a solução,
realizadas, após a análise técnica pelo farma-

46
Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração

cêutico e nas mesmas condições assépticas nas 2. Quanto à composição da solução


quais ela foi preparada. Portanto, não podem 2.1. Sistema glicídico, binário ou “dois em
ser feitas aditivações nos postos de enfer- um”
magem.
Este sistema é composto por duas solu-
Segundo a Portaria 272, a NPT é considerada
ções de grande volume:
inviolável, não cabendo, após a preparação, ne-
Solução de aminoácidos, fonte de nitrogê-
nhuma aditivação fora da farmácia.
nio e,
Solução de glicose, como fonte de ener-
Tipos de NPT
gia.
As NPT podem ser classificadas das seguintes
maneiras, dentre outras: 2.2. Sistema lipídico, ternário ou “três em um”.
1. Quanto à via de administração: Este sistema é composto, por três solu-
ções de grande volume:
1.1. NPT periférica:
Solução de aminoácidos, fonte de nitrogê-
Este tipo caracteriza-se pela baixa osmo- nio,
laridade (menos do que 900 mOsm/L) das Solução de glicose, como fonte de energia
soluções, o que possibilita a infusão por e,
veia periférica. Esta NPT é normalmente Solução de lipídios, como fonte energéti-
empregada na fase inicial da TNP, até que ca e de ácidos graxos essenciais.
se estabeleça um acesso central, ou em
pacientes de curto tempo de terapia.
1.2. NPT central: Osmolaridade da solução de NPT
Este tipo caracteriza-se pela elevada os- Parâmetro que avalia a via de infusão reco-
molaridade (maior do que 900 mOsm/L). mendável a administração da nutrição parenteral.
Sua administração em veia periférica pode O limite para via de administração periférica é até
provocar flebite, devendo ser infundida 900 mOsm/L, acima disto, recomenda-se a via de
em veia central de grosso calibre (normal- administração central, a fim de se prevenir o sur-
mente veia cava superior). gimento de flebites no paciente.

Osmolaridade (mOsm/L) = [(Aa g)x 11 + (Glic.g)x 5.5 + (Lip.g) x 0,3 (Cátions mEq)] x1000
Volume final da NP em mililitros

Aa g = quantidade de aminoácidos expresso em na solução proveniente da união do íon cálcio,


gramas proveniente do gluconato de cálcio e o íon fosfa-
Glic.g = quantidade de glicose expresso em gramas to, proveniente do fosfato de potássio ou sódio.
Lip.g = quantidade de lipídio expresso em gramas Em função disto, torna-se importante monito-
Cátions mEq = somatória em mEq da quantidade rar a concentração final destes elementos na so-
de cálcio, magnésio, sódio e potássio. lução de NPT. Existem alguns critérios que podem
ser utilizados para prevenir o aparecimento deste
Precipitação de cálcio e fósforo precipitado, conforme fórmulas abaixo.
Dada a necessidade da quantidade a ser ofer- Parâmetros que avaliam a possibilidade de
tada de cálcio e fósforo e, em especial, em neo- formação de precipitados insolúveis em soluções
natos, a pequena quantidade de solvente presente com a presença de fosfato inorgânico e gluconato
na NPT, há o risco de surgimento de precipitado de cálcio.

A) Limite Recomendável: [ P ] x [ Ca ] < 250 mEq/L

47
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar

Cálculo: [Ca] mEq/L x [Fosfato de Potássio] (mEq/L) < 250

B) Cálcio (mMol/L) x Fosfato (mMol/L) < 75

Recomendações para prevenir o problema da


Intervalo recomendável: de 400 a 700 mMol/L
precipitação, avaliar cuidadosamente os fatores
abaixo. Cálculo: CAN = (a + 64 x b + 729 x c) x 1000
concentração de Ca/P Volume Total
pH e tempo de infusão
temperatura ambiente a – concentração de cátions monovalentes em
Ca como cloreto mMol/L
Solução de aa < 2,5% b – concentração de cátions divalentes em
Outra possibilidade para impedir a formação mMol/L
de precipitado é utilizar-se de outra fonte de fós- c – concentração de cátions trivalentes em
foro. Ao invés de se oferecer o fósforo na forma mMol/L
de fosfato de sódio ou potássio (“fósforo inorgâ-
nico”), pode-se fazê-lo através do glicerofosfato Concentração de Cátions Divalentes
de sódio (“fósforo orgânico”) (Ca e Mg):

Parâmetro que avalia a possibilidade de se-


Ruptura da emulsão lipídica paração de fases das Dietas Parenterais contendo
emulsão lipídica (soluções 3:1).
Nas soluções 3 em 1 ou sistema lipídico, de- Limite recomendável: 16mEq/L
vemos ter uma especial atenção quanto a pos-
sibilidade de ruptura da estabilidade da emulsão Cálculo:
lipídica. É certo que não devemos injetar soluções (Magnésio em mEq + Cálcio em mEq) x 1000
oleosas pela via intravenosa, dado o risco de for- Volume Total
mação de um trombo ou embolo gorduroso (lipídi-
co), que poderia trazer sérias consequências para Destacamos que a segunda fórmula, por ser
o paciente. mais resumida, é a quem tem sido mais emprega-
Graças ao desenvolvimento da farmacotéc- da na prática diária, porém, não leva em conside-
nica, atualmente, através de artefatos farma- ração a ação exercida pelos demais cátions pre-
cotécnicos, é possível se criar uma solução sentes na solução. Portanto, é possível que uma
que seja fisiologicamente compatível com a determinada solução submetida a uma avaliação
infusão intravenosa. Porém, estas soluções seja considerada satisfatória e ao ser submetida
são sensíveis e requerem um cuidado especial a primeira não o seja. Portanto, recomendamos a
ao serem manipuladas e aditivadas, dado o ris- primeira como equação padrão.
co de ruptura desta emulsão ou a formação de
Fatores que podem desestabilizar uma solução
micelas gordurosas maiores, que não rompem
de lipídeos:
a emulsão, mas, podem ocasionar o trombo li-
pídico. FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR
Tem-se utilizado de duas equações para avaliar A ESTABILIDADE DA E.L.
o risco desta instabilidade. São elas:
CONCENTRAÇÃO FINAL DE AMINOÁCIDO
CAN – Número Crítico de Agregação CONCENTRAÇÃO FINAL DE GLICOSE
CONCENTRAÇÃO FINAL DE LIPÍDEOS
(Fórmula segundo Shultz-Hard): PROPORÇÃO ENTRE MACRONUTRIENTES
CONCENTRAÇÃO DE ELETRÓLITOS
Parâmetro que avalia a possibilidade de se- ORDEM DE ADIÇÃO
PH FINAL DA MISTURA
paração de fases das dietas parenterais contendo VOLUME FINAL DA MISTURA
emulsão lipídica (soluções 3:1). TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO

48
Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração

O que fazer frente a um problema destes? • Alterar a taxa hídrica, aumentando o sol-
vente, através de:
Podemos sugerir ao prescritor, algumas das
opções abaixo. Alterar a concentração de aminoácidos,
• Rever a distribuição e concentração de íons aumentando-a;
e corrigi-la; Alterar a concentração de glicose,
• Dividir a solução em duas etapas, separando • Administrar a Emulsão Lipídica em sepa-
os íons divalentes; rado.

04 CUIDADOS NO PREPARO
A NPT deve ser manipulada em sala limpa As amostras de contra referência devem ficar
classe ISO 7, em cabines de fluxo laminar classe armazenadas por pelo menos 7 dias após o prepa-
ISO 5, com pressão positiva. Deve possuir uma ro da solução.
antecâmara para desinfecção e paramentação de
vestuário próprio e adequado, que não libere par- Tabelas ISO
tículas e esteja esterilizado.
A prévia desinfecção que deve ocorrer da parte
externa das embalagens primárias dos produtos
que serão utilizados para a manipulação (quando
possível) deve ser realizada em área adjacente a
da manipulação. Esta área deve ser classificada
(classe ISO 8), possuir comunicação com a área
de manipulação através de caixa de passagem
com dupla porta, intertravada e possuir pressão
menor do que a sala de manipulação e maior que
a área externa.
Todas as áreas devem ser precedidas de uma
antecâmara com igual classe de controle à sala
a qual dará acesso e possuir pressão menor que
ela. Recomenda-se pelo menos 20 trocas de ar por
hora e que a sala possua cerca de 5 m²/por cabi-
ne.
Todos os produtos utilizados na NPT devem
ter registro no Ministério da Saúde. Sua utiliza-
ção deve ser precedida de um cadastramento do
laboratório produtor e cada remessa dos produtos
deve vir acompanhada dos laudos de controle de
qualidade do lote entregue. Todos os funcionários
devem ser treinados para as funções que poderão
exercer e este treinamento ser registrado, a fim de
poder evidenciar esta ação.
As manutenções preventivas e corretivas de-
vem ser registradas e os ensaios periódicos defi-
nidos e cumpridos, conforme cronograma pré-es-
tabelecido. Segundo a ISO 14.644, as contagens
de partículas devem ocorrer, a cada seis meses,
para ambientes iguais ou menores que a classe
ISO 5, e a cada 12 meses, para ambientes iguais
ou maiores que a classe ISO 6.

49
NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração Coletânea de Farmácia Hospitalar

Cabines de fluxo laminar


São equipamentos destinados a promover uma
atmosfera de ar, com menor quantidade de partí-
culas, do que a atmosfera a sua volta. Isto se dá
pela passagem do ar, através de filtros HEPA (Fil-
tros de alta eficiência com a capacidade de reter
99,97 % das partículas maiores de 0,3 micrôme-
tros de diâmetro) forçado por ventiladores. Este ar
pode chegar até a superfície da bancada da cabine
de forma horizontal ou vertical a ela.
O tipo de cabine recomendada para a manipula-
ção de NPT é indiferente quanto ao direcionamento
do ar (vertical ou horizontal). As técnicas de tra-
balho é que são diferentes em cada caso. Porém a
classificação deve ser ISO 5. Validação dos manipuladores
Lembramos que deve existir um plano de ma-
nutenção preventiva dos equipamentos, e eles A validação dos manipuladores pode ser
devem ser certificados, periodicamente (pelo me- feita, através de um processo de enchimento
nos, a cada seis meses). simulado (media fill). Neste processo, simula-
-se a manipulação de uma bolsa de nutrição
parenteral. Porém, ao invés de se utilizarem
os componentes normais da NPT, utiliza-se
meio de cultura. Após a manipulação, estas
bolsas são encaminhadas para o controle de
qualidade e não pode haver crescimento de
microorganismos.
Este enchimento simulado é feito na fase
inicial de trabalho dos operadores e repetido pe-
riodicamente (a cada 6/12 meses), a fim de se
avaliar se as técnicas ensinadas no treinamento
continuam sendo aplicadas e garantem um produ-
to final estéril.

05 CUIDADOS NO TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO


Segundo a portaria 272/98, o transporte deve ser O Armazenamento que antecede a adminis-
feito sob condições validadas, que garantam a inte- tração da nutrição parenteral deve ser feito
gridade físico-química e de esterilidade do produto. em refrigerador exclusivo para medicamentos
A temperatura de transporte não deve exceder 20°C. e sua temperatura deve estar entre + 2°C a
O tempo de transporte não deve exceder 12 horas. +8°C.

06 CUIDADOS NA ADMINISTRAÇÃO
Assim que recebida da farmácia, a enferma- de cada frasco de NPT não deve ser superior a 24
gem, se não for utilizar imediatamente, deve horas.
armazenar a NPT em refrigerador próprio para Deve-se manter um gotejamento rigoroso,
medicamentos. A NPT não deve ficar exposta a conforme plano de infusão. De acordo com a Por-
iluminação direta ou fontes de calor. A infusão taria 272, a infusão deve ocorrer, em via própria,

50
Coletânea de Farmácia Hospitalar NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL: da produção a administração

exclusiva para esta finalidade. Quando isto não for • Suspenda, temporariamente, a infusão da
possível, a Comissão de Terapia Nutricional deve NPT;
ser acionada, a fim de orientar sobre possíveis in- • Faça uma “limpeza” da linha a ser utilizada,
terações ou outros problemas que possam vir a com solução fisiológica ou glicosada;
ocorrer. • Administre a medicação;
É comum, na ausência de uma via exclusiva, a • Faça uma nova limpeza da linha e
utilização de equipos de duas vias, para se infun- • Reinicie a parenteral.
dir concomitante a NPT e outras soluções endove- Lembre-se de:
nosas. 1) Recalcular o gotejamento da solução, aumen-
Tal prática não evita a mistura de medicamen- tando-a. Em função da(s) interrupção(ões) da
tos com a NPT. Segundo Trissel, vários medicamen- infusão de NPT para a administração de ou-
tos são incompatíveis, mesmo com este breve con- tros medicamentos, ocorrerá uma diminuição
tato. Portanto, em se utilizando de equipo duas no número de horas diária de infusão da NPT,
vias, um estudo de estabilidade deve preceder a ocasionando uma diminuição da infusão do vo-
infusão, a fim de garantir a qualidade da terapia lume prescrito;
farmacológica e nutricional. 2) Recalcule a velocidade de infusão de glicose
Mas, e se não soubermos ou não tivermos in- e a velocidade de infusão de lipídios. Se es-
formações sobre a compatibilidade dos medica- tiverem fora das faixas recomendadas, faça a
mentos e da NPT, o que fazer? correção.

07 BIBLIOGRAFIA
ABNT NBR ISO 14644-2:2006, Salas limpas e General Chapter <1116>: Microbiological evalu-
ambientes controlados associados – Parte 2: ation of clean rooms and other controlled en-
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200. p.134]
cias, nos quais as preparações estéreis obtidas
ASPEN – American Society of Parenteral and En-
de misturas são preparadas, estocadas e dispen-
teral Nutrition – Guide Lines.
sadas.

51
AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar

AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade


no contexto da farmácia hospitalar
ELAINE LAZZARONI

01 AUDITORIA E A GESTÃO PELA QUALIDADE


Para o Ministério da Saúde, a auditoria consis- A auditoria, como ferramenta de gestão
te no exame sistemático e independente dos fatos pela qualidade nos serviços de saúde, visa a
obtidos, através da observação, medição, ensaio prover o auditado e sua gerência de uma opor-
ou outras técnicas apropriadas de uma atividade, tunidade de melhoria dos processos sob sua
elemento ou sistema, para verificar a adequação responsabilidade. Tem como objetivo determi-
aos requisitos preconizados pelas leis e normas nar a conformidade dos elementos de um siste-
vigentes, e determinar se as ações de saúde e seus ma ou serviço aos padrões/ normas/ requisitos
resultados estão de acordo com as disposições estabelecidos pela organização, ou seja, veri-
planejadas. Através da análise e verificação ope- ficar se o sistema está funcionando conforme
rativa, avalia-se a qualidade dos processos, siste- o previsto: observar se os processos norma-
mas e serviços e a necessidade de melhoria ou de tizados têm seus procedimentos obedecidos,
ação preventiva/ corretiva. (BRASIL, 1998a) verificar se o pessoal está adequadamente
Outra definição considera auditoria uma ativi- treinado, avaliar se as não-conformidades são
dade formal, documentada, planejada, organizada identificadas e corrigidas e se estas correções
e executada por pessoal habilitado, que não pos- ocorrem com rapidez, eficácia e eficiência de
sua responsabilidade direta na execução do servi- forma a garantir o cumprimento das metas pro-
ço em avaliação e que, se utilizando de método postas pela organização. (BRASIL, 1998a)
de coleta de informações baseado em evidências A auditoria também é ferramenta útil para
objetivas e imparciais, fornece subsídios para ve- a produção de informações necessárias para
rificação da eficácia do Sistema da Qualidade da subsidiar o planejamento de ações que con-
Organização. (VIANA, 2003) tribuam para o aperfeiçoamento contínuo do
sistema. Com a sistematização da auditoria, os
dados históricos coletados poderão ser utili-
A P zados na análise da evolução da organização
Definir Meta dentro da gestão da qualidade e na avaliação
das ações de melhoria, cujo objetivo é a eli-
Ação:
Corretiva minação definitiva das causas das não-confor-
Preventiva
Melhoria
Definir Método
midades detectadas em seu sistema gerencial.
(VIANA, 2003)
Educar e
Em suma, a auditoria, como ferramenta de
Checar
METAS
Treinar gestão da qualidade, permite ao auditado refle-
X
RESULTADOS
tir objetivamente, com base em dados e não em
Executar
impressões pessoais, a respeito do quanto as suas
Coletar
Dados
práticas de gestão observam os conceitos e os
C D princípios da gestão pela qualidade. Visa a mos-
trar e a orientar os auditados, através da observa-
Figura 1: Ciclo do PDCA Fonte: (CANOSSA, 2009) ção dos pontos fortes e fracos, no planejamento

52
Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar

e na implantação de ações de melhoria das não- “agir” na cultura organizacional, conforme pre-
-conformidades encontradas no seu sistema ge- visto no ciclo PDCA, esquematizado na figura 1.
rencial e, desta forma, provocar a incorporação (CANOSSA, 2009)
de práticas sistemáticas do binômio “avaliar” e

02 O PROCESSO DE AUDITORIA
De acordo com seus objetivos (Quadro 1), a previamente definidos, delineando o perfil da as-
auditoria pode ser classificada como contábil, sistência à saúde e seus controles. Já a auditoria
operacional, de gestão, da tecnologia da infor- operativa é realizada, através do exame direto dos
mação, ambiental e de qualidade (VIANA, 2003). fatos, obtidos por meio da observação, medição,
Podem ser auditorias internas, quando executada ensaio ou outras técnicas apropriadas, cujo obje-
pela própria organização, ou externas, quando tivo é verificar o atendimento aos requisitos le-
realizada sobre responsabilidade de uma empresa gais/ normativos que regulamentam os sistemas e
auditora independente (Quadro 1) (VIANA, 2003). suas atividades. (BRASIL, 1998a)
De acordo com a programação (Quadro 1), as
auditorias podem ser classificadas em inicial, de Quanto aos objetivos Contábil
acompanhamento (ou follow-up), periódica ou de Operacional
reavaliação. (VIANA, 2003) De gestão
Da Tecnologia da informação
Quanto ao tipo as auditorias (Quadro 1), po-
Ambiental
dem ser definidas como analítica ou operativa. A De qualidade
auditoria analítica se caracteriza como um con- Quanto a realização Interna
junto de procedimentos especializados, baseados Externa
na análise de relatórios, processos e documen- Quanto a programação Inicial
tos, cuja finalidade é avaliar se os serviços e os De acompanhamento (follow-up)
sistemas de saúde atendem às normas e padrões Periódica ou de reavaliação

03 A AUDITORIA E A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA


Qualquer etapa, de qualquer processo sendo passando por calibrações em equipamentos de la-
parte integrante de qualquer sistema, em qual- boratórios analíticos até as condutas adotadas por
quer tipo de organização, é passível de ser au- uma instituição hospitalar para o fracionamento
ditada. A assistência farmacêutica, por sua pró- de medicamentos sólidos orais dentro do sistema
pria definição, é multissetorial e mutilfacetada e de distribuição de medicamentos, só para citar al-
exige do farmacêutico capacidade para interagir guns exemplos, são passíveis de auditoria.
com atores distintos nos mais diversos campos de
Seleção
atuação, a fim de garantir uso de medicamentos
seguros, eficazes e de qualidade (BRASIL,1998b). Utilização:
Prescrição, Programação
Para a aplicação da auditoria, a assistência Dispensação
e Uso Gerenciamento
farmacêutica pode ser compreendida no conjunto Financiamento
de suas ações ou em cada uma de suas etapas Recursos Humanos
Sistemas de
constitutivas, conforme apresentado na Figura 2. Informações
Controle e Avaliação
(MARIN, 2003) Distribuição Aquisição
De qualquer ponto de observação, todos os
processos envolvidos poderão ser alvo de audito-
Armazenamento
ria. Neste contexto, desde os processos relacio-
nados com a definição de políticas públicas de Figura 2: Ciclo da Assistência Farmacêutica
medicamentos em qualquer esfera governamental, Fonte: (MARIN, 2003)

53
AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar

Resolução nº 508/2009 http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/Res508_09.pdf

Já cientes desta possibilidade de atuação, incluindo, aqui, o faturamento de medicamentos


hoje, vários farmacêuticos participam e atuam e demais produtos para saúde, tais como órteses
em auditorias, realizadas tanto em organizações e próteses.
públicas quanto privadas, em equipes multipro- É importante citar experiências inovadoras de
fissionais com os mais diversos objetivos. Este auditoria farmacêutica na rede privada de saúde.
campo de atuação profissional foi recentemen- No Estado do Ceará, uma equipe de farmacêuti-
te regulamentado pelo Conselho Federal de Far- cos auditores, de operadora de plano de saúda da
mácia, através da Resolução nº 508/2009, que cidade de Fortaleza, foi responsável pela criação
dispõe sobre as atribuições do farmacêutico em de indicadores e estratégias de uso racional de
auditorias (CFF, 2009). antimicrobianos nas unidades de terapia intensiva
Na área da saúde, os farmacêuticos têm atu- dos hospitais credenciados por àquela operadora,
ado principalmente em equipes de auditoria com como também racionalizou os custos associados
escopo em avaliação da qualidade de serviços ao faturamento de tratamentos quimioterápicos,
(prêmios de qualidade e acreditação hospitalar) dentre outras ações de normatização e controle
e em faturamento de procedimentos hospitalares, (Campos e Reis, 2009).

04 AUDITORIA E AVALIAÇÃO, EM FARMÁCIA HOSPITALAR


Considerando os componentes técnicos, paciente e seus familiares, do profissional de
científicos e operativos que formam o conjunto saúde e dos gestores do sistema. Dada esta va-
das ações relacionadas à assistência farmacêu- riedade de perspectivas, a qualidade em saúde
tica hospitalar, a auditoria pode ser utilizada deve abranger alguns atributos, tais como a
como ferramenta para a verificação do cumpri- aceitabilidade, a acessibilidade, a adequação, a
mento aos requisitos normativos ou legais exi- confiabilidade, a continuidade, o desempenho,
gidos para a execução destas ações ou para a a efetividade, a eficácia, a eficiência, a equida-
avaliação da qualidade dos serviços farmacêuti- de, a oportunidade, a participação dos pacien-
cos prestados. tes e seus familiares, a confidencialidade e a
A avaliação pressupõe julgar o valor de al- segurança (MARIN, 2003).
guma coisa. No entanto, é importante salientar A qualidade da assistência farmacêutica
que avaliação não é um instrumento de aplica- hospitalar está diretamente relacionada com a
ção, após a ocorrência de um fato ou o término capacidade da organização em garantir o uso
de uma atividade. Pelo contrário, a avaliação de medicamentos seguros, eficazes e de qua-
precisa ser entendida como um processo, que lidade. O objetivo é reduzir os danos causados
para ser realizado requer a utilização de instru- aos pacientes em conseqüência de sua terapia
mentos, sendo a auditoria um dos instrumentos medicamentosa.
recomendados. (MALIK, 1996) O termo segurança do paciente, muito em
De acordo com Avedis Donabedian, autor voga por conta dos manuais de acreditação hos-
clássico da avaliação da qualidade em saúde, “a pitalar e amplamente discutido pela Organiza-
qualidade da atenção médica consiste na apli- ção Mundial de Saúde, tem sido definido como
cação da ciência e da tecnologia médicas de “redução, a um mínimo aceitável, do risco de
uma maneira que renda o máximo de benefícios dano desnecessário ao paciente associado ao
para a saúde sem isto aumentar os seus riscos” cuidado de saúde”, sendo esta uma das princi-
(MARIN, 2003). pais metas dentro das organizações hospitala-
De acordo com este mesmo autor, para ava- res (WHO, 2009).
liar a qualidade da saúde, também, é necessá- O medicamento, como tecnologia de saúde,
rio considerar os diversos pontos de vista do insere obrigatoriamente as atividades relacio-

54
Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar

nadas à farmácia hospitalar na rota das audito- cumentação sanitária exigida pela legislação
rias, realizadas tanto para o acompanhamento vigente para a regularidade do serviço farma-
da execução das atividades, conforme as nor- cêutico.
matizações e legislações, quanto para avaliação O enfoque em processo significa avaliar toda
da qualidade da assistência farmacêutica hospi- a série de atividades que ocorrem entre profis-
talar. sionais e pacientes, as quais geralmente resul-
A auditoria em farmácia hospitalar, como tam em registros escritos, a partir dos quais
ferramenta de acompanhamento ou de avalia- poderão ser avaliados. (MARIN, 2003)
ção, deve ser construída, de acordo com os en- O auditor sob este enfoque irá verificar, na
foques clássicos para avaliação da qualidade em farmácia hospitalar, por exemplo, se os pro-
saúde: estrutura, processo e resultado. (MALIK, cedimentos escritos para manipulação de me-
1996; MARIN, 2003) dicamentos quimioterápicos injetáveis estão
O enfoque em estrutura significa que o pla- sendo seguidos, se os registros de controle de
nejamento para a realização de uma auditoria temperatura ambiente são realizados de forma
em farmácia hospitalar deverá considerar as ca- sistemática, se os recursos humanos treinados
racterísticas relativamente estáveis do sistema, para dispensação ambulatorial de medicamen-
os instrumentos e os recursos humanos, físicos tos executam as atividades conforme estabele-
ou financeiros necessários para execução das cido e se as programações para aquisição de
atividades (MARIN, 2003). medicamentos são cumpridas.
Como exemplo da aplicação deste enfoque, Já o enfoque em resultado visa a verificar se
o auditor irá avaliar os aspectos relacionados à estão sendo atingidos os objetivos propostos,
organização física dos espaços, à existência de se os resultados relacionados à melhoria do es-
equipamentos e procedimentos escritos neces- tado de saúde do paciente estão sendo obtidos.
sários para adequada execução das atividades, à Ainda que este enfoque seja o mais direto para
análise quantitativa e qualitativa dos recursos medir a qualidade da assistência farmacêutica
humanos existentes, à existência de organiza- prestada, a mensuração dos resultados desta
ção administrativa do serviço, entre outros. assistência não é fácil de estabelecer e de rea-
Dentro do serviço farmacêutico hospitalar, lizar (MARIN, 2003).
o auditor com enfoque em estrutura irá avaliar, Como exemplo deste enfoque em auditorias
por exemplo, as condições físicas das áreas de em farmácia hospitalar, o auditor poderá veri-
armazenamento, distribuição, manipulação e ficar os resultados dos programas de farmaco-
dispensação de medicamentos, a existência de vigilância, de tecnovigilância e de prevenção
termo-higrômetros devidamente calibrados nas de erros de medicação, o percentual de medica-
áreas com temperatura controlada, a existên- mentos vencidos na instituição, os resultados
cia de programa para manutenção preventiva de da atenção farmacêutica e da farmácia clínica
equipamentos, a quantidade de farmacêuticos e o percentual de medicamentos programados e
lotados no serviço e a existência de toda do- não adquiridos pela instituição.

05 CONDUÇÃO DA AUDITORIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR


Para o acompanhamento ou avaliação das ati- pelo auditor durante a execução da auditoria.
vidades diretamente ou indiretamente relaciona- Este documento denomina-se lista de verifi-
das à farmácia hospitalar, a utilização da audito- cação, ou check-list, onde estarão relacionados
ria com ferramenta requer a sistematização de sua todos os pontos a serem observados pelo auditor.
execução. Esta sistematização deverá estar orga- (VIANA, 2003) A Figura 3 apresenta modelo para
nizada em um documento formal, a ser utilizado elaboração da lista de verificação.

55
AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar

DATA: _____/_____/_____
LISTA DE VERIFICAÇÃO
DA AUDITORIA FOLHA: _______/_______

PROCESSO A SER AVALIADO:


DATA DE REALIZAÇÃO DA AUDITORIA: _______/_______/_______
UNIDADE ORGANIZACIONAL AUDITADA:
LEGENDA: N/A – não se aplica
OBS – observação

Nº ITENS A VERIFICAR SIM NÃO N/A OBS.

01

02

03

04

05

Figura 3: Modelo de lista de verificação. Adaptado de Viana (2003).

A lista de verificação é elaborada em conjunto O esquema apresentado na figura 2 pode ser


pela equipe de auditores, com base nas normati- adaptado para assistência farmacêutica hospi-
zações de qualidade adotadas pela instituição em talar e, assim, ser utilizado com o objetivo de
conformidade com padrões, guias ou manuais, como organizar a condução da auditoria em serviços
também com base no arcabouço legal vigente. farmacêuticos hospitalares. Inclusive, sendo
A organização de auditorias em farmácia útil tanto para auditorias de processos pontu-
hospitalar é fortemente baseada na legislação ais como, por exemplo, a aquisição de medi-
sanitária brasileira. Deste arcabouço legal, é ex- camentos, quanto para auditorias com escopo
traída a maioria dos pontos de observação a se- na avaliação do serviço farmacêutico de forma
rem seguidos pelos auditores dentro dos serviços sistêmica.
farmacêuticos hospitalares. Apesar de estarem Seguem abaixo (quadros 2 e 3) alguns exem-
limitadas por enfoque de estrutura ou processo, plos dos pontos observados pelos auditores na
as normas sanitárias fornecem grande parte do execução de auditorias em farmácia hospitalar,
material necessário para avaliação da qualidade conforme os componentes da assistência farma-
da assistência farmacêutica prestada. cêutica hospitalar.

Comissão de Farmácia e Terapêutica, sua rotina de funcionamento e sua agenda de reuniões


Seleção de
Lista/ relação de medicamentos padronizados e sua codificação
Medicamentos
Rotina de solicitação de inclusão/ exclusão de medicamentos

Método adotado para estimativa das necessidades


Programação de
Procedimento operacional padrão para processo de programação
Medicamentos
Indicadores de processo (p. ex. % medicamentos programados X não utilizados)

Cadastro de fornecedores
Procedimento operacional padrão para a etapa de compras (elaboração do pedido,
Aquisição de levantamento de preços, autorizações, editais públicos, etc.)
Medicamentos Documentação sanitária solicitada para avaliação de produtos e empresas e parecer técnico
Avaliação do desempenho de fornecedores
Indicadores de processo (p. ex. % medicamentos programados X adquiridos)

Quadro 2: Exemplos de aspectos, envolvendo seleção, programação e aquisição de medicamentos,


avaliados em auditoria de farmácia hospitalar.

56
Coletânea de Farmácia Hospitalar AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar

Estrutura física da área de armazenamento de


medicamentos
Boas Práticas de Estocagem de Medicamentos
Procedimento operacional padrão para as etapas de recebimento, estocagem, distribuição,
transporte interno
Armazenamento e limpeza
de medicamentos
Controles de acesso e de saída de material
Capacitação para combate a princípio de incêndio
Inventário físico X contábil
Relatórios de movimentação de material e
Prestação de Contas

Caracterização do sistema de distribuição


Estrutura física da área de distribuição de
medicamentos
Organização dos recursos humanos disponíveis
Rotinas de atendimento das solicitações de
Distribuição de
medicamentos
medicamentos
Procedimento operacional padrão para o fracionamento
de medicamentos (orais sólidos e líquidos)
Procedimento operacional padrão para a manipulação
de medicamentos estéreis, incluindo quimioterápicos e nutrição parenteral
Rotinas de validação de área limpa para manipulação
de produtos estéreis

Estrutura física da área de dispensação ambulatorial


de medicamentos
Dispensação Capacitação dos recursos humanos em atividade
ambulatorial de
Boas Práticas de Dispensação de Medicamentos
medicamentos
Atenção Farmacêutica
Indicadores de processo (p. ex. % receitas atendidas X não atendidas)

Quadro 3: Exemplos de aspectos, envolvendo armazenamento, distribuição e dispensação de medicamentos,


avaliados em auditoria de farmácia hospitalar.

06 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A auditoria é uma ferramenta, um instrumento nados à ética e ao compromisso profissional,
capaz de municiar o gerente de informações que acaba por conciliar os atributos básicos para o
servirão de base para uma avaliação de determi- exercício da auditoria.
nado processo/ atividade conduzido sob sua res- No caso da farmácia hospitalar, o uso da au-
ponsabilidade. A necessidade de avaliação surge ditoria permite ao farmacêutico gestor não só
com a preocupação em verificar se o que se pla- verificar o cumprimento de determinada rotina,
nejou está sendo cumprido e se o produto final como também avaliar a qualidade da assistência
atende às expectativas. farmacêutica prestada pelo serviço que gerencia,
O farmacêutico, que conjuga tanto os co- através da análise da adequação de cada um dos
nhecimentos técnicos e administrativos neces- componentes desta assistência às normas preco-
sários ao gerenciamento da assistência farma- nizadas. Para tal uso, é necessário entender que a
cêutica hospitalar quanto os aspectos relacio- auditoria é um procedimento formal, baseado na

57
AUDITORIA: ferramenta de gestão pela qualidade no contexto da farmácia hospitalar Coletânea de Farmácia Hospitalar

análise sistemática de fatos e documentos, e que liação da qualidade de organizações hospitala-


deverá ser realizada por profissional capacitado. res, o farmacêutico acompanhará esta tendência
Na medida em que a farmácia hospitalar tem e despertará para esta importante possibilidade
sua participação consolidada no cenário de ava- de atuação profissional.

07 ALGUNS CONCEITOS (CFF, 2009)


Ações corretivas: Ações implementadas para da organização auditada em atender ao requisito
eliminar as causas de uma não-conformidade, de do padrão ou à norma como um todo.
um defeito ou de outra situação indesejável exis- Norma: Aquilo que se estabelece como base
tente, a fim de prevenir sua repetição. ou medida para a realização ou a avaliação de um
Acreditação: Procedimento de avaliação produto, processo ou serviço; princípio, preceito,
integral da qualidade, que procura abranger os regra ou lei.
aspectos de estrutura, processos e resultados. É Organização: Combinação de esforços indivi-
voluntário, confidencial, periódico, baseado em duais que tem por finalidade realizar propósitos
padrões previamente conhecidos e executado por coletivos. São empresas, associações, órgãos do
uma entidade independente do estabelecimento governo ou qualquer entidade pública ou privada,
avaliado. compostas de estrutura física, tecnológica e pes-
Avaliação: Exame sistemático do grau em que soas.
um produto, processo ou serviço atende aos re- Padrão: Documento aprovado por uma insti-
quisitos especificados. tuição reconhecida que provê, pelo uso comum e
Consultoria: Atividade profissional de diag- repetitivo, regras, diretrizes ou características de
nóstico e formulação de soluções acerca de um produtos, processos ou serviços.
assunto ou especialidade; o profissional desta Qualidade: Propriedade, atributo ou condição
área é chamado de consultor. SCRN. das coisas ou das pessoas, capaz de distingui-las
Controle: Consiste no monitoramento de pro- das outras e de lhes determinar a natureza, grau
cessos (normas e eventos), com o objetivo de ve- de perfeição, de precisão e de conformidade a cer-
rificar a conformidade aos padrões estabelecidos to padrão.
e de detectar situações de alarme que requeiram Resolubilidade: É a exigência de que, quan-
uma avaliação detalhada e profunda. do um indivíduo busca o atendimento ou quando
Glosa: Supressão total ou parcial de uma surge um problema de impacto coletivo sobre a
quantia averbada em um escrito ou em uma saúde, o serviço correspondente esteja capacitado
conta. para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua
Não conformidade: Ausência ou incapacidade competência.

08 REFERÊNCIAS
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59
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

ERROS DE MEDICAÇÃO
TÂNIA AZEVEDO ANACLETO
MÁRIO BORGES ROSA
HESSEM MIRANDA NEIVA
MARIA AUXILIADORA PARREIRAS MARTINS

01 INTRODUÇÃO
Os eventos adversos relacionados a medi- mortes nos Estados Unidos 6. Os eventos adver-
camentos podem levar a importantes agravos à sos mais freqüentes relacionados aos medica-
saúde dos pacientes, com relevantes repercussões mentos foram registrados no Harvard Medical
econômicas e sociais1. Dentre eles, os erros de Practice Study II, sendo uma parte considerá-
medicação são ocorrências comuns e podem assu- vel deles evitável 5.
mir dimensões clinicamente significativas e impor Em 1999, o Institute of Medicine dos Esta-
custos relevantes ao sistema de saúde. Conforme dos Unidos com a publicação To Err Is Human:
Barber et al3, os erros de prescrição são os mais Building a Safer Health System aumentou os
sérios dentre os que ocorrem na utilização de me- níveis de conhecimento e conscientização so-
dicamentos. bre os eventos adversos e acelerou as inicia-
Nos últimos anos, o aumento considerável tivas governamentais para prevenção destes6.
de estudos relacionados à segurança do pa- Em 2007 o Instituto em outra importante pu-
ciente e erros de medicação levou a um maior blicação sobre erros de medica ção, declarou
conhecimento sobre o assunto, confirmando que o nível e as conseqüências desses eventos
sua importância como um problema mundial são inaceitáveis. Essa publicação concluiu após
de saúde pública. Em consonância com este análise de vários trabalhos publicados sobre er-
preocupante quadro, a Organização Mundial ros de medicação, que cada paciente internado
de Saúde lançou em 2004 o programa Aliança nos hospitais americanos está sujeito a um erro
Mundial para a Segurança do Paciente. Trata- de medicação por dia. Outra importante cons-
-se de um programa permanente que conclama tatação é que quando as incidências de erros
todos os países membros a tomarem medi- de medicação são sistematicamente medidas,
das para assegurar a qualidade da assistên- são encontrados níveis inaceitavelmente altos
cia prestada nas unidades de saúde de todo o e muitas vezes inesperados. Além disso, ressal-
mundo 3. ta que cada etapa do processo de utilização de
Os estudos Harvard Medical Practice Study medicamentos – prescrição, dispensação, ad-
I e II, marcantes e pioneiros na área de segu- ministração, monitoramento – é caracterizada
rança do paciente, mostraram que os eventos por vários e sérios problemas relacionados à
adversos relacionados à assistência são co- segurança e necessitam de melhores e maiores
muns e inesperadamente altos em hospitais estudos para evidenciar as falhas e determinar
norte-americanos, acarretando danos perma- ações de prevenção7.
nentes e mortes 4,5. A partir desses dois estu- A discussão e o interesse sobre erros de medi-
dos, estimou-se que cerca de 98.000 norte- cação são crescentes no Brasil, e já existe número
-americanos morrem por ano devido a erros considerável de publicações que vem demonstran-
associados à assistência à saúde, sendo estes do a importante dimensão dos eventos adversos
considerados uma das principais causas de nas instituições brasileiras.

60
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

02 ESTUDO DOS ERROS HUMANOS


O estudo dos erros humanos é recente e o sis- o sistema e torná-lo mais seguro do que mudar
tema de saúde está bastante atrasado na aplica- as condições humanas. Quando ocorre um erro
ção desse novo saber, a ciência da segurança, que procura-se conhecer e estudar as causas em todos
possui alguns modelos de excelência, tais como os seus detalhes e não apenas saber quem foi e
a aviação e as companhias geradoras de energia aplicar punições 12,13.
nuclear 8,9. Não obstante esse atraso, a formação O tipo de relação que a sociedade e a área da
dos profissionais que lidam com vidas humanas saúde estabelecem com os erros e com aqueles
é fortemente marcada pela busca da infalibilida- que erram é relevante, pois este é um dos maiores
de. Inicia-se aí a extrema dificuldade de médicos, obstáculos ao conhecimento e prevenção desses
enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais eventos. Como conseguir dados fidedignos e em
lidarem com o erro humano nas organizações de número significativo sobre erros, se quase sem-
saúde10,11.. pre a primeira pergunta é “quem foi?”, seguida
Segundo Reason12, a visão e a análise sobre os então de medidas disciplinares? É preciso que o
erros humanos podem ser feitos de duas maneiras: foco sistêmico seja adotado pela área de saúde,
a abordagem pessoal e a sistêmica. Estes dois ti- construindo sistemas mais seguros, planejados,
pos de abordagem são praticamente antagônicos de forma a levar em conta as limitações humanas
e influenciam, diretamente, no entendimento das 12,14,15
.
causas e conseqüências dos erros humanos. O sis- Dentre as principais iniciativas para melhorar
tema de saúde, em geral, adota, a abordagem in- a segurança do sistema de utilização de medica-
dividual na análise e na tomada de decisão sobre mentos nas instituições de saúde está o estabe-
os erros. lecimento de um compromisso institucional de
As medidas corretivas provenientes da abor- criar uma cultura de segurança, promovendo a
dagem pessoal significam, quase sempre, medidas notificação de erros em um ambiente não puniti-
disciplinares como reprimendas orais ou escritas, vo16.
suspensões, punições e até demissão. O indiví- Geralmente a maioria dos erros que acontecem
duo, quando comete um erro em um ambiente re- tem origem sistêmica, entretanto um número re-
gido por estas normas, tenha vergonha, medo e duzido de erros é provocado por comportamento
frustração, entre outros sentimentos negativos. A de risco. Desta maneira, nem todos os erros po-
mensagem passada é: “coisas erradas acontecem dem ser classificados como sistêmicos, aqueles
com pessoas ruins” 12. que tem como causa um comportamento de risco,
A visão sistêmica dos erros considera que os devem ser abordados de forma diferente, poden-
homens são falíveis e que todas as organizações, do inclusive serem tomadas medidas punitivas
incluindo aquelas de excelência em segurança, ou retirada do funcionário da função exercida.
irão conviver com uma certa taxa de erros. Esta Portanto, é preciso entender que um ambiente
abordagem destaca que os erros são conseqüên- não punitivo, não significa a tolerância a ações
cias e não causas, dando assim grande impor- intencionais de risco, de profissionais que não
tância a segurança dos sistemas. A abordagem seguem as regras de segurança de forma proposi-
sistêmica tem como norma que é melhor mudar tal e/ou reincidente10.

61
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

03 CONCEITOS E TERMINOLOGIAS
Um dos obstáculos encontrados para o estudo classificar as reações ou sintomas provocados por
e prevenção de erros de medicação é a falta de erros na utilização do medicamento, sendo um de-
padronização e a multiplicidade da terminologia les a utilização de doses não usais para o homem.
utilizada para classificá-los. Esta situação preju- Várias outras definições foram publicadas no sen-
dica a comparação entre os estudos sobre o tema tido de diferenciar a reação adversa e o erro de
e retarda o conhecimento epidemiológico sobre medicação, sendo uma delas, descrita a seguir:
este importante assunto17. Qualquer resposta nociva ou indesejada ao
A Organização Mundial da Saúde está buscan- medicamento, que ocorre na dose normalmente
do uma taxonomia internacional para erros de usada para profilaxia, diagnóstico ou tratamento
medicação, contudo esta ainda não foi concluí- ou tratamento de doença, ou para modificação de
da e publicada18. E importante ressaltar que não função fisiológica, mas não devido a um erro de
e possível prever se estas definições que estão medicação21.
sendo preparadas serão adequadas para pesqui-
sadores, profissionais de saúde, agências regula- • Eventos adversos relacionados a
doras governamentais, indústria farmacêutica e medicamentos
outros. Isto porque as exigências conceituais de São considerados como qualquer dano ou in-
cada área muitas vezes são diferentes e talvez júria causado ao paciente pela intervenção mé-
não seja conseguida uma padronização univer- dica relacionada aos medicamentos. A American
sal que seja adequada a todos. Por exemplo, as Society of Healthy-System Pharmacists define-os
exigências de terminologia usadas na pesquisa como qualquer injúria ou dano, advindo de me-
de erros de medicação geralmente são bem mais dicamentos, provocados pelo uso ou falta do uso
detalhadas do que aquelas requeridas para regis- quando necessário22. A presença do dano é, por-
tro destes eventos para os órgãos de vigilância tanto, condição necessária para a caracterização
sanitária19. do evento adverso1,14,22,23.
O fato da inexistência de taxonomia univer- Outra definição utilizada em alguns estudos é:
sal e o uso de diversos delineamentos diferentes Qualquer dano provocado por iatrogenia relaciona-
para pesquisa, não diminui a importância dos pro- da a medicamento. Estão incluídos neste conceito
blemas provocados pelos medicamentos (reações os erros de medicação e as reações adversas24.
adversas e erros de medicação) no mundo todo.
Esta situação de confusão conceitual também não • Erro de medicação
impede que os profissionais de saúde, busquem Qualquer evento evitável que, de fato ou po-
implantar medidas visando prevenir dentro estes tencialmente, pode levar ao uso inadequado de
eventos, trabalhando assim de forma mais segura. medicamento. Esse conceito implica que o uso
O ISMP Brasil lista a seguir, algumas defini- inadequado pode ou não lesar o paciente, e não
ções que são adotadas pela Organização Mundial importa se o medicamento se encontra sob o con-
da Saúde, EUA, Inglaterra e Espanha, entretanto trole de profissionais de saúde, do paciente ou
ressaltamos novamente que existem outros tipos do consumidor. O erro pode estar relacionado à
de definições e o consenso sobre conceitos sobre prática profissional, produtos usados na área de
erros de medicação ainda não foi alcançado. saúde, procedimentos, problemas de comunica-
ção, incluindo prescrição, rótulos, embalagens,
CONCEITOS nomes, preparação, dispensação, distribuição,
administração, educação, monitoramento e uso
• Reação adversa a medicamento de medicamentos22,25.
Resposta nociva a uma droga, não intencional,
que ocorre nas doses usais para profilaxia, tera- • Diferenças entre erros de medicação
pêutica, tratamento ou para modificação de fun- e reações adversas
ção fisiológica20. Uma dos problemas em relação Os eventos adversos preveníveis e poten-
a este conceito de 1972, é que não havia como ciais relacionados a medicamentos são produ-

62
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

zidos por erros de medicação, e a possibilidade escrita na prescrição médica e o atendimento des-
de prevenção é uma das diferenças marcantes sa ordem28.
entre as reações adversas e os erros de medi- - São erros cometidos por funcionários da far-
cação. A reação adversa a medicamento é con- mácia (farmacêuticos, inclusive) quando realizam
siderada como um evento inevitável, ainda que a dispensação de medicamentos para as unidades
se conheça a sua possibilidade de ocorrência, de internação10.
e os erros de medicação são, por definição, - Erro de dispensação é definido como o desvio
preveníveis26. de uma prescrição médica escrita ou oral, incluin-
do modificações escritas feitas pelo farmacêuti-
• Erro de prescrição co após contato com o prescritor ou cumprindo
Erro de prescrição com significado clínico é normas ou protocolos preestabelecidos. E ainda
definido como um erro de decisão ou de redação, considerado erro de dispensação qualquer desvio
não intencional, que pode reduzir a probabilidade do que é estabelecido pelos órgãos regulatórios
do tratamento ser efetivo ou aumentar o risco de ou normas que afetam a dispensação29.
lesão no paciente, quando comparado com as pra-
ticas clínicas estabelecidas e aceitas27. • Erro de administração:
Qualquer desvio no preparo e administração de
• Erro de dispensação medicamentos mediante prescrição médica, não
São apresentadas três definições. Entretanto, observância das recomendações ou guias do hos-
é preciso ressaltar que estas definições não abor- pital ou das instruções técnicas do fabricante do
dam a possibilidade da prescrição médica estar er- produto. Considera ainda que não houve erro se
rada e o atendimento de uma prescrição incorreta o medicamento foi administrado de forma correta
é também considerado erro de dispensação. mesmo se a técnica utilizada contrarie a prescri-
- Definido como a discrepância entre a ordem ção médica ou os procedimentos do hospital30.

04 CLASSIFICAÇÃO DE ERROS DE MEDICAÇÃO


Em 1998 o National Coordinating Council for notificação de incidentes ocorridos após a re-
Medication Error Reporting and Prevention – alização da primeira versão, b. sugestões feitas
NCCMERP publicou uma taxonomia de erros de por profissionais de saúde na primeira versão,
medicação, classificando-os em diferentes tipos c.experiência gerada a partir da análise dos erros
e subtipos25. Em 2001 essa mesma instituição ocorridos nos hospitais espanhóis e notificados
publicou uma atualização, identificando nove ao ISMP Espanha.
categorias de erro em função da gravidade, con- É importante ressaltar que esta classificação
siderando se houve ou não danos ao paciente, dos erros não cria categorias excludentes. Uma
qual a duração e a extensão deste dano e se foi mesma ocorrência pode ser classificada em mais
necessária alguma intervenção31. Essa atualiza- de um tipo ou subtipo, devendo-se ter o cuidado
ção serviu de base para uma investigação no para que o mesmo não seja computado mais de
Brasil, demonstrando boa adequação à nossa re- uma vez em uma avaliação epidemiológica. Além
alidade32. disso, tem que ser considerado que a notificação
Posteriormente, em 2002 um grupo de farma- de erros no Brasil é incipiente e não há informa-
cêuticos hospitalares espanhóis, com a permissão ções suficientes que suportem uma classificação
da United States Pharmacopeia – USP e sob coor- adequada à realidade brasileira. Entretanto, acre-
denação do Institute for Safe Medication Practi- dita-se que a classificação espanhola pode con-
ces – ISMP da Espanha, elaborou uma adaptação tribuir para a organização e aprimoramento das
dessa classificação e em 2008 publicou a atuali- informações colhidas por instituições de saúde
zação (Quadro 2)33. brasileira que já trabalham com foco na segurança
Essa classificação foi feita considerando: a. dos pacientes e prevenção de erros.
outras classificações utilizadas por sistemas de Entretanto, é importante ressaltar que desde

63
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

2005, a World Health Organization’s World Allian- cionadas ao ICPS podem ser encontradas no site
ce for Patient Safety tem trabalhando no Project da WHO (http://www.who.int/patientsafety/ta-
to Develop an International Classification for Pa- xonomy/publications/en/index.html)18.
tient Safety (ICPS). O grupo de trabalho conta O quadro 1 apresenta um segmento da classi-
com especialistas internacionais de diversas áreas ficação espanhola, referente aos tipos de erros.
relacionadas à saúde, à informática, à legislação, Para mais detalhes sugere-se consulta direta a
aos pacientes/consumidores. As publicações rela- publicação que contém a classificação completa.

Quadro 1: Tipos de erros de medicação


1. Medicamento errado
1.1 Prescrição inadequada do medicamento
1.1.1 medicamento não indicado/ não apropriado para o diagnóstico que se pretende tratar
1.1.2 história prévia de alergia ou reação adversa similar
1.1.3 medicamento inadequado para o paciente por causa da idade, situação clínica, etc
1.1.4 medicamento contra-indicado
1.1.5 interação medicamento-medicamento
1.1.6 interação medicamento-alimento
1.1.7 duplicidade terapêutica
1.1.8 medicamento desnecessário
1.2 Transcrição/ dispensação/ administração de um medicamento diferente do prescrito
2. Omissão de dose ou do medicamento
2.1 falta de prescrição de um medicamento necessário
2.2 omissão na transcrição
2.3 omissão na dispensação
2.4 omissão na administração
3. Dose errada
3.1 dose maior
3.2 dose menor
3.3 dose extra
4. Freqüência de administração errada
5. Forma farmacêutica errada
6. Erro de preparo, manipulação e/ou acondicionamento
7. Técnica de administração errada
8. Via de administração errada
9. Velocidade de administração errada
10. Horário errado de administração
11. Paciente errado
12. Duração do tratamento errada
12.1 duração maior
12.2 duração menor
13. Monitorização insuficiente do tratamento
13.1 falta de revisão clínica
13.2 falta de controles analíticos
14. Medicamento deteriorado
15. Falta de adesão do paciente
16. Outros tipos
17. Não se aplica
Fonte: OTERO et al., 2008.

64
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

05 CAUSAS DOS ERROS DE MEDICAÇÃO


A análise dos erros, ocorridos nos Estados crição e demais informações sobre medicamentos,
Unidos e reportados à instituições como o FDA para evitar erros de interpretação;
(MedWatch Program) e USP-ISMP (Medication Er-
rors Reporting Errors), mostra que as causas dos 4. Rotulagem, embalagem e nome
erros são multifatoriais e muitos deles envolvem dos medicamentos
circunstâncias similares. Dentre as principais cau- Para facilitar a adequada identificação e uso
sas estão: falta de conhecimento sobre os medi- dos medicamentos, fabricantes, agências regu-
camentos, falta de informação sobre os pacientes, latórias, organizações de saúde e especialmente
violação de regras, deslizes e lapsos de memó- as farmácias devem assegurar que todos os me-
ria, erros de transcrição, falhas na interação com dicamentos tenham rótulos claros, identificações
outros serviços, falhas na conferência das doses, diferenciadas para medicamentos com nomes e
problemas relacionados à bombas e dispositivos pronúncia semelhantes;
de infusão de medicamentos, inadequado moni-
toramento do paciente, problemas no armazena- 5. Dispensação, armazenamento e
mento e dispensação, erros de preparo e falta de padronização dos medicamentos
padronização dos medicamentos10. Muitos erros podem ser prevenidos com a
O ISMP identificou 10 elementos chave que tem redução da disponibilidade dos medicamentos
grande influência no sistema de utilização de medi- (como por exemplo, nos postos de enfermagem),
camentos. As causas dos erros de medicação podem restringindo o acesso a medicamentos potencial-
estar diretamente relacionadas aos pontos fracos e mente perigosos e utilizando sistemas de dis-
às falhas nestes 10 elementos chave, são eles10: pensação que disponibilizem o medicamento no
momento do uso. O uso de soluções injetáveis
1. Informação relacionada ao paciente prontas para uso e com concentrações padroni-
Para orientar a terapêutica adequada ao pa- zadas contribuem na prevenção dos erros;
ciente, os profissionais de saúde necessitam de
prontamente ter as informações demográficas 6. Aquisição, uso e monitoramento de disposi-
(idade, peso) e clínicas (histórico de alergias, tivos para administração dos medicamentos
gravidez) relacionadas ao paciente, além dos O design de alguns dispositivos e bombas uti-
dados de monitoramento (exames laboratoriais, lizados para administração (infusão) dos medica-
sinais vitais) dos medicamentos utilizados e da mentos pode facilitar a ocorrência de erros. Como
evolução da doença; por exemplo, bombas de infusão com fluxo livre
para administração de medicamentos intraveno-
2. Informação relacionada ao medicamento sos, conexões de tubos e cateteres compatíveis
Para minimizar o risco de erros, os profissio- para administração de medicamentos intraveno-
nais de saúde devem ter acesso (rápido) à infor- sos e dietas;
mação atualizada sobre os medicamentos através
de textos de referência, protocolos, sistemas in- 7. Fatores ambientais
formatizados com informação dos medicamentos, Fatores ambientais como baixa luminosidade,
além de registro da administração dos medica- espaços de trabalho desorganizados, barulho, dis-
mentos e perfil dos pacientes e atividade clínica trações e interrupções, carga de trabalho excessiva
regular dos farmacêuticos; podem contribuir para aumentar a taxa de erros;

3. Comunicação relacionada aos medicamentos 8. Educação e competência dos profissionais


As falhas de comunicação são causas impor- Embora a educação dos profissionais isolada-
tantes de erros de medicação. As organizações mente não seja suficiente para redução dos erros,
de saúde devem promover a redução das barreiras tem um papel importante quando associada às
de comunicação entre os profissionais de saúde, diversas estratégias adotadas pelas instituições
como por exemplo, padronizando formas de pres- para prevenção de erros. As mais efetivas ativi-

65
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

dades educativas são aquelas relacionadas aos 10. Gerenciamento de risco e processos de
novos medicamentos, medicamentos potencial- qualidade
mente perigosos e estratégias de prevenção; As organizações de saúde, incluindo farmá-
cias comunitárias e farmácias com atendimento
9. Educação do paciente virtual necessitam de sistemas para identificar,
O paciente pode ter um papel vital na preven- relatar, analisar e reduzir os riscos de erros de
ção de erros, se receber informação sobre os medi- medicação. A cultura de segurança não puniti-
camentos que utiliza e for encorajado a perguntar va deve ser cultivadas para encorajar a sincera
e a buscar respostas satisfatórias relacionadas a divulgação de erros e oportunidades de erros,
seu tratamento. Pacientes que conhecem os no- estimular a discussão produtiva e identificar
mes e as doses de seus medicamentos, a razão de efetivas soluções para os problemas do sistema.
estar usando cada um deles, e como devem ser Estratégias de controle são necessárias para a
tomados, estão em uma excelente posição para qualidade dos sistemas de utilização de medica-
ajudar a reduzir a chance de ocorrência de erros; mentos, simples redundância como duplos che-
Os profissionais de saúde devem não só ensi- ck de medicamentos potencialmente perigosos
nar os pacientes a se protegerem dos erros de me- e regras para uso de informações passadas por
dicação, como também a buscar deles a promoção telefone podem detectar e interceptar erros an-
da melhoria da qualidade dos serviços; tes que atinjam e lesem os pacientes.

06 ERROS DE DISPENSAÇÃO
As farmácias têm como sua principal função a A comparação entre as taxas de erros de ad-
dispensação dos medicamentos de acordo com ministração e os sistemas de dispensação de me-
a prescrição médica, nas quantidades e especi- dicamentos registradas em estudos realizados,
ficações solicitadas, de forma segura e no prazo entre 1967 e 2005, em diversos países da Europa,
requerido, promovendo o uso seguro e correto de mostram que os erros de administração aumentam
medicamentos32. Assim, sua organização e sua conforme o sistema de dispensação adotado no
prática devem prevenir que erros de dispensação Hospital. Estes erros são maiores quando o sistema
aconteçam e por criarem oportunidades de erros é coletivo ou individualizado e diminuem gradati-
de administração, possam atingir os pacientes. vamente na dose unitária manual e na dose uni-
Falhas na dispensação significam o rompimen- tária informatizada e automatizada35. Portanto, a
to de um dos últimos elos na segurança do uso dos implantação de sistemas seguros, organizados e
medicamentos. Mesmo considerando, que grande eficazes é fundamental para minimizar a ocorrência
parte não cause danos aos pacientes, os erros de de erros de medicação nas instituições de saúde.
dispensação, demonstram fragilidade no processo No Brasil, a pesquisa sobre os erros de dispen-
de trabalho e indicam, em uma relação direta, ris- sação vem crescendo nos últimos anos, entretan-
cos maiores de ocorrência de acidentes graves34. to ainda são poucas publicações. Em um estudo
As taxas de erros de dispensação registradas pioneiro realizado em uma farmácia hospitalar de
nas publicações internacionais são muito distin- Belo Horizonte, em 2003, registrou-se uma taxa
tas e estas diferenças estão associadas às varia- de 34%32. Em um hospital de Salvador, em pes-
das metodologias adotadas e aos diferentes siste- quisa realizada em 2004, 20% dos medicamentos
mas de dispensação utilizados, além das medidas foram dispensados com erro e após a conferência
de redução de erros de medicação implementadas realizada por um farmacêutico registrou-se uma
nestes países. Desta forma, são encontradas taxas redução de 31% nos erros6. Em 2005, a pesquisa
que variam entre 1 e 12,5% em países da Europa, de erros de dispensação realizada em um hospital
nos EUA e no Canadá, sendo as taxas mais baixas pediátrico do Espírito Santo detectou 11,5%36.
registradas naquelas farmácias com sistemas se- Os erros de dispensação podem ser classifica-
guros de distribuição de medicamentos e proces- dos em erros de conteúdo, erros de rotulagem e
sos de trabalho eficientes10,29,35. erros de documentação29,37,38.

66
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

1. Erros de conteúdo: são aqueles referen- 2. Erros de rotulagem: são os erros re-
tes ao conteúdo da dispensação, ou seja, relacio- lacionados aos rótulos dos medicamentos dis-
nados aos medicamentos que estão prescritos e pensados que podem gerar dúvidas no momen-
serão dispensados. to da dispensação e/ou administração, erros
1.1. Medicamento errado de grafia nos rótulos e tamanho de letras que
1.1.1. Medicamento dispensado errado: pres- impedem a leitura, a identificação ou podem
crito um medicamento e dispensado outro, pode levar ao uso incorreto do medicamento. São
estar associado a medicamentos com nome ou considerados os rótulos do próprio produto, as
pronúncia similares, podendo provocar a troca do etiquetas impressas na farmácia e utilizadas
momento da dispensação. na identificação dos medicamentos, das mistu-
1.1.2. Medicamento não prescrito e dispensa- ras intravenosas e da nutrição parenteral pre-
do: a prescrição médica não contém aquele item paradas na farmácia. Podem ser classificados
e algum medicamento é dispensado. em: nome do paciente errado, nome do medi-
1.2. Medicamento dispensado com a con- camento errado, concentração errada do medi-
centração errada: o medicamento é dispensado camento, forma farmacêutica errada, quanti-
em concentração diferente (maior ou menor) da- dade errada, data errada, orientações erradas
quela prescrita. relacionadas ao uso ou armazenamento.
1.3. Medicamento dispensado com a forma 3. Erros de documentação: são os erros re-
farmacêutica errada: a prescrição solicita o me- lacionados à documentação de registro do proces-
dicamento com uma determinada forma farmacêu- so de dispensação, como por exemplo, a ausência
tica e a farmácia dispensa outra, podendo induzir ou registro incorreto da dispensação de medica-
erros de administração mentos controlados, falta de data na prescrição,
1.4. Dose excessiva: o medicamento é dis- falta de assinatura do prescritor ou do dispensa-
pensado em maior quantidade que aquela pres- dor, dentre outros.
crita, ou seja, uma ou mais doses (unidades) são São muitos os fatores, hoje conhecidos, como
dispensadas além da quantidade solicitada na determinantes da ocorrência dos erros de dispen-
prescrição. sação. O diagnóstico e conhecimento sobre eles
1.5. Omissão de dose: o medicamento é pres- permitem a elaboração de procedimentos opera-
crito, mas nenhuma dose (unidade) é dispensada cionais para o desenvolvimento de práticas segu-
ou o número de doses dispensadas é menor que o ras de dispensação.
prescrito. Neste sentido, a utilização de indicadores
1.6. Medicamento dispensado com des- de erros de dispensação é imprescindível para
vio de qualidade: consideram-se desvios de possibilitar o conhecimento das falhas no sis-
qualidade os problemas detectados a partir de tema de dispensação utilizado e nos processos
observação visual (comprimidos manchados, de trabalho, permitindo o monitoramento dos
com fissuras ou desintegrados, suspensões resultados e o estabelecimento da melhoria
com problemas de homogeneidade, soluções contínua dos serviços prestados aos pacientes
com presença de partículas), medicamentos e à equipe de saúde, objetivando a redução e
armazenados fora da temperatura adequada, prevenção dos erros.
com danos na embalagem que comprometam a Basicamente, dois indicadores podem ser uti-
qualidade e aqueles dispensados com prazo de lizados. A escolha destes e a periodicidade da
validade vencido coleta podem ser definidas de acordo com a capa-
1.7. Medicamentos prescritos sem horário, cidade operacional de cada farmácia para coletar
quantidade, concentração ou forma farmacêu- os dados. Entretanto, é fundamental que sejam
tica e dispensados: neste tipo de erro a prescri- coletados continuamente e seus resultados moni-
ção não contém as informações que a farmácia torados no sentido de aprimorar os processos de
necessita para identificar o medicamento e dis- trabalho, auxiliando no planejamento das mudan-
pensá-lo corretamente, sendo a prescrição dedu- ças necessárias39.
zida e o medicamento dispensado.

67
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

Exemplo de Indicadores dos medicamentos, sobrecarga de trabalho, estru-


de erros de dispensação tura da área de trabalho, distrações e interrup-
ções, uso de fontes de informação incorretas e de-
1. nº prescrições com erros: satualizadas e falta de conhecimento e educação
nº prescrições atendidas com erro do paciente sobre os medicamentos que utiliza10.
nº prescrições atendidas
Os sistemas seguros se baseiam na introdução
2. nº medicamentos dispensados com erros:
nº medicamentos dispensados com erro
de diferentes tipos de medidas direcionadas não
nº total de medicamentos dispensados só a prevenir os erros, mas também a torná-los
visíveis, detectando e interceptando-os antes que
atinjam os pacientes16.
A causa mais comum dos erros de dispensação Alguns procedimentos, apresentados no Qua-
está relacionada aos sistemas de dispensação de dro 2, para armazenamento e dispensação de me-
medicamentos, entretanto muitas são as causas e dicamentos foram desenvolvidos visando a pre-
os fatores que possibilitam a ocorrência destes. venção de erros nas farmácias hospitalares e são
Podem ser resumidos em: falhas de comunicação, considerados fundamentais para promoção de uma
problemas relacionados à rotulagem e embalagem dispensação segura7,10.

Quadro 2 – Procedimentos seguros para armazenamento e dispensação de medicamentos

1. Armazenar em local seguro e diferenciado os medicamentos potencialmente perigosos, que podem causar
erros desastrosos, utilizando identificação e sinais de alerta;

2. Desenvolver e implantar procedimentos meticulosos para armazenamento dos medicamentos;

3. Reduzir distrações, projetar ambientes seguros para dispensação e manter um fluxo ótimo de trabalho;

4. Usar lembretes para prevenir trocas de medicamentos com nome e pronúncia similares, tais como rótulos
diferenciados, notas no computador ou no local da dispensação;

5. Manter a prescrição e a medicação dispensada juntas durante todo o processo de dispensação;

6. Comparar o conteúdo da dispensação com as informações da prescrição;

7. Comparar o conteúdo da dispensação com a informação do rótulo e a prescrição;

8. Realizar a conferência final da prescrição com o resultado da dispensação. Sempre que possível utilizar a
automação, código de barras por exemplo;

9. Proibir a dispensação através de ordens verbais e sem prescrição ou restrição deste tipo de dispensação
apenas em situações de emergência;

10. Educar e aconselhar o paciente sobre os medicamentos que utiliza

07 MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE PERIGOSOS


Alguns medicamentos apresentam maior como Medicamentos Potencialmente Perigosos
potencial de provocar lesão grave nos pacien- – MPP’s11.
tes quando ocorre falha em seu processo de Essa definição não indica que os erros com
utilização. Tais medicamentos foram denomi- esses medicamentos sejam mais frequentes, mas
nados High-Alert Medications pelo Institute que sua ocorrência pode provocar lesões perma-
for Safe Medication Practices – ISMP 40, sen- nentes ou fatais 10. Essa característica torna os
do, posteriormente, definidos em português MPP’s medicamentos de alto risco, os quais me-

68
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

recem atenção especial durante o planejamento hospitais. Portanto, a introdução de medidas de


de medidas de prevenção e redução dos erros de prevenção em hospitais deve abranger as múlti-
medicação. No Quadro 3, estão relacionados os plas etapas que compõem a cadeia de uso de me-
principais MPP’s, conforme lista atualizada do dicamentos, a saber 10:
ISMP de 200840.
EMBALAGEM IDENTIFICAÇÃO
As consequências clínicas dos erros de medi-
cação com MPP no âmbito hospitalar podem ser
ARMAZENAMENTO PRESCRIÇÃO DISPENSAÇÃO
mais significativas do que em nível ambulatorial,
considerando-se a complexidade e a agressivida-
PREPARAÇÃO ADMINISTRAÇÃO
de dos procedimentos terapêuticos adotados em

Quadro 3 – Medicamentos potencialmente perigosos

Classes Terapêuticas

Agonistas adrenérgicos intravenosos (ex. epinefrina, fenilefrina, norepinefrina)


Anestésicos gerais, inalatórios e intravenosos (ex. propofol, cetamina)
Antagonistas adrenérgicos intravenosos (ex. propranolol, metoprolol)
Antiarrítmicos intravenosos (ex. lidocaína, amiodarona)
Antitrombóticos (anticoagulantes)
− Varfarina
− Heparinas não-fracionada e de baixo peso molecular (ex. enoxaparina, dalteparina)
− Fator de coagulação Xa
− tombolíticos (ex. alteplase, tenecteplase)
− Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (ex. eptifibatide, tirofibana)
Bloqueadores neuromusculares (ex. suxametônio, rocurônio, vecurônio)
Contrastes radiológicos intravenosos
Hipoglicemiantes de uso oral
Inotrópicos intravenosos (ex. digoxina)
Medicamentos administrados por via epidural ou intratecal
Medicamentos na forma lipossomal (ex. anfotericina B lipossomal)
Analgésicos opióides intravenosos, transdérmicos, e de uso oral (incluindo líquidos concentrados e formula-
ções de liberação imediata ou prolongada)
Quimioterápicos de uso parenteral e oral
Sedativos moderados de uso oral em crianças (ex. hidrato de cloral)
Sedativos moderados intravenosos (ex. midazolam)
Solução cardioplégica
Soluções de diálise peritoneal e hemodiálise
Soluções de nutrição parenteral total

Medicamentos Específicos

Água estéril injetável, para inalação e irrigação em embalagens de 100 mL ou volume superior
Cloreto de potássio concentrado injetável
Cloreto de sódio hipertônico injetável (concentração maior que 0.9%)
Fosfato de potássio injetável
Glicose hipertônica (concentração maior ou igual a 20%)
Insulina subcutânea e intravenosa
Lidocaína intravenosa
Metotrexato de uso oral (uso não oncológico)
Nitroprussiato de sódio injetável
Oxitocina intravenosa
Prometazina intravenosa
Sulfato de magnésio injetável
Tintura de ópio

69
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

O uso de medicamentos é um processo mul- 3. Fornecer e melhorar o acesso à informação


tidisciplinar e, portanto, o desenvolvimento e a • Investir no treinamento dos profissionais de
implantação de programas de prevenção de er- saúde envolvidos na cadeia de utilização de medi-
ros devem proporcionar a interação de todos os camentos;
profissionais envolvidos, incluindo os pacientes. • Divulgar a lista de MPP’s disponíveis na ins-
Todas as práticas adotadas para melhorar a se- tituição;
gurança de uso dos MPP’s devem se apoiar em • Fornecer informações técnicas sobre os me-
princípios básicos de segurança que visem mini- dicamentos, tais como as doses máximas permiti-
mizar a possibilidade de ocorrência de erros, bem das dos MPP’s;
como suas conseqüências. Tais práticas consistem • Adotar rotinas de orientação de pacientes
fundamentalmente na simplificação e padroniza- para melhorar a segurança dos tratamentos imple-
ção de procedimentos e têm especial utilidade na mentados.
prevenção de erros envolvendo MPP’s. De acordo
com normas adaptadas do programa do governo 4. Revisar continuamente a padronização de
espanhol para promoção de práticas seguras no MPP
uso de medicamentos de alto risco41, destacam-se • Revisar continuamente as especialidades de
as seguintes recomendações: MPP’s incluídas na padronização hospitalar para
evitar erros decorrentes da semelhança de nomes,
1. Introduzir barreiras que minimizem a pos- rótulos e embalagens;
sibilidade de ocorrência dos erros • Aplicar medidas corretivas ao identificar
• Empregar seringas especiais para adminis- situações de risco, tais como retirar o medi-
tração de soluções orais com conexões que não se camento da padronização ou substituí-lo por
adaptem em sistemas de administração intraveno- outra especialidade, armazená-lo em local di-
sos para evitar a troca da via de administração; ferente do habitual ou, ainda, usar etiquetas
• Recolher ampolas de cloreto de potássio de alerta.
concentrado dos estoques das unidades de inter-
nação para evitar administração intravenosa aci- 5. Reduzir o número de alternativas
dental e identificar as ampolas com etiquetas de terapêuticas
alerta, ressaltando que o medicamento pode ser • Reduzir o número de apresentações farma-
fatal se injetado sem diluir. cêuticas dos MPP’s na padronização ou em uma
determinada unidade assistencial. Pode-se, por
2. Adotar protocolos e padronizar a comunica- exemplo, ao invés de disponibilizar midazolam,
ção sobre os tratamentos solução injetável, em ampolas de 5mg, 15mg e
• Elaborar protocolos claros e detalhados para 50mg, padronizar apenas uma ou duas apresen-
utilização dos MPP’s, uniformizando os processos tações preferindo, quando possível, as de menor
e reduzindo sua complexidade e variabilidade no concentração.
sistema; • Limitar o número de apresentações e con-
• Difundir normas de prescrição, com reco- centrações disponíveis, particularmente para he-
mendações específicas para se evitar o uso de parina, morfina e insulina.
abreviaturas e prescrições ambíguas;
• Adotar protocolos especialmente em qui- 6. Centralizar os processos considerados de
mioterapia, considerando que os esquemas de maior risco de erros
tratamento são complexos e se modificam com • Centralizar o preparo de misturas intraveno-
freqüência, facilitando a ocorrência de erros; sas contendo MPP na farmácia hospitalar uma vez
• Proporcionar a padronização dos medica- que o preparo desses medicamentos pela enferma-
mentos e doses que serão utilizadas, reduzindo gem nas unidades assistenciais pode ocorrer com
a dependência da memorização e permitindo a maior número de interrupções, erros de cálculo
execução segura de procedimentos com os quais de doses e falta de padronização nas técnicas de
funcionários inexperientes ou recém admitidos no preparo.
serviço ainda não estejam familiarizados.

70
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

7. Usar procedimentos de dupla conferência disciplinar de cuidado ao paciente e execução das


dos medicamentos seguintes ações:
• Identificar os processos de maior risco no • Incluir o farmacêutico nas visitas clínicas;
hospital e empregar a dupla conferência indepen- • Proporcionar rotinas de orientação dos pa-
dente, na qual um profissional revisa o trabalho cientes sobre os tratamentos implementados, vi-
realizado por outro. Embora todos os profissio- sando prevenir os erros de medicação;
nais estejam susceptíveis a cometer erros, é baixa • Viabilizar o contato com farmacêuticos du-
a probabilidade de que duas pessoas cometam o rante 24 horas para solucionar dúvidas em relação
mesmo erro com o mesmo medicamento e o mes- a medicamentos.
mo paciente; A inclusão de procedimentos especiais e pro-
• Limitar a dupla conferência às etapas tocolos escritos poderá prevenir parte considerá-
mais propensas a erros, das quais se destacam vel dos erros com medicamentos de alto risco10.
a programação das bombas de infusão, confe- Entretanto, pesquisas devem ser feitas em hos-
rência das doses em pacientes pediátricos e pitais brasileiros para verificar o real impacto da
idosos, preparo e dispensação e administração implantação de protocolos no uso dos MPP’s e na
de medicamentos quimioterápicos, administra- prevenção de eventos relacionados a esses medi-
ção em unidades de terapia intensiva, dentre camentos em nossa realidade.
outros; A implantação da prescrição eletrônica pode
• Empregar o uso de código de barras que per- ter forte impacto nos erros de prescrição, embora
mite a dupla conferência automática, auxiliando seu custo elevado possa ser considerado impe-
na prevenção de erros de dispensação e adminis- ditivo por parte dos hospitais brasileiros. Reco-
tração de medicamentos. menda-se a adoção de prescrição pré-digitada ou
editada para evitar ao máximo as prescrições es-
8. Incorporar alertas automáticos nos siste- critas à mão26. Entretanto, há necessidade da ela-
mas informatizados boração cuidadosa das prescrições pré-digitadas
• Implantar a prescrição eletrônica como me- ou utilização de editores de texto para prescrição,
dida de prevenção de erros. no sentido de evitar o aparecimento de novos ti-
• Disponibilizar bases de informações inte- pos de erros ou a simples transposição de antigos
gradas nos programas de prescrição e dispensação problemas para um novo modo de prescrever.
para alertar sobre situações de risco no momento Em pesquisa realizada em hospital público de
da prescrição e dispensação; Minas Gerais, em 4.026 prescrições com medica-
• Incluir, por exemplo, limites de dose, inte- mentos potencialmente perigosos em 2001, houve
rações medicamentosas e histórico de alergia do predomínio da prescrição escrita à mão (45,7%).
paciente. Em 47,0% das prescrições escritas à mão, mistas
e pré-digitadas ocorreram erros no nome do pa-
9. Monitorar o desempenho das estratégias de ciente, em 33,7% houve dificuldades na identifi-
prevenção de erros cação do prescritor e 19,3% estavam pouco legí-
• Analisar o resultado das medidas de preven- veis ou ilegíveis. No total de 7.148 medicamentos
ção por meio de dados objetivos representados de alto risco prescritos, foram observados 3.177
por indicadores medidos ao longo da execução erros, sendo mais freqüente a omissão de infor-
dos processos. mação (86,5%). Os erros se concentraram princi-
• Identificar pontos críticos do processo palmente nos medicamentos heparina, fentanil e
e direcionar os programas de prevenção. Den- midazolam; e os setores de tratamento intensivo
tre os indicadores para monitorar os erros de e a neurologia apresentaram maior número de er-
dispensação, podem ser adotados o número de ros por prescrição. Observou-se o uso intensivo e
prescrições com erros e o número de medica- sem padronização de abreviaturas. Quando com-
mentos dispensados com erros. putados todos os tipos de erros, verificou-se 3,3
por prescrição. A prescrição pré-digitada apresen-
Aspden et al7 ressaltam, ainda, a importância tou menor chance de erros do que as mistas ou
da integração do farmacêutico na equipe multi- escritas à mão11,26.

71
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

Os resultados encontrados neste estudo, e a seu controle. Todavia, todo conhecimento dessa
comparação com estudos internacionais eviden- natureza, quando produzido em ambiente diverso,
ciam que os erros de medicação envolvendo os implica a necessidade de adaptação à realidade
MPP’s tendem a apresentar padrões definidos, fato cultural onde se objetiva intervir e ao perfil dos
importante para a tomada de decisões dirigidas ao problemas detectados em cada instituição11,26.

08 RECONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS
A reconciliação de medicamentos é descrita as discrepâncias nas ordens médicas são identifi-
como um processo para obtenção de uma lista cadas, os médicos assistentes são informados e,
completa, precisa e atualizada dos medicamentos se necessário, as prescrições são corrigidas e do-
que cada paciente utiliza em casa (incluindo nome, cumentadas42.
dosagem, freqüência e via de administração), e O processo inclui dupla checagem dos medica-
comparada com as prescrições médicas feitas na mentos utilizados, entrevista com paciente, com
admissão, transferência, consultas ambulatoriais a família ou com seus cuidadores, comparação
com outros médicos e alta hospitalar. Essa lista das ordens médicas e a discussão de casos com a
é usada para aperfeiçoar a utilização dos medica- equipe clínica45,46. Os pacientes ou responsáveis,
mentos, pelos pacientes, em todos os pontos de têm um papel fundamental nesse processo, forne-
transição e tem como principal objetivo, diminuir cendo informações para a elaboração da lista de
a ocorrência de erros de medicação quando o pa- medicamentos utilizados. Para realizar esta confe-
ciente muda de nível de assistência à saúde7. rência é necessário informar ao paciente, família
As seguintes circunstâncias são consideradas e/ou cuidadores sobre o procedimento e obter a
mudança de nível de assistência: autorização para realizá-lo44.
• internação hospitalar; O Institute for Healtcare Improvent (IHI)42,
• transferência dentro do hospital para outro recomenda que a reconciliação de medicamentos
setor, clínica ou para outra unidade hospitalar; seja realizada em três etapas:
• alta hospitalar; 1. Verificação: consiste na coleta e elabora-
• retorno ao atendimento ambulatorial42. ção da lista de medicamentos que o paciente
Existem ainda, situações em que o paciente utiliza antes da sua admissão, transferência ou
não muda de nível de assistência, mas é atendi- alta hospitalar;
do por vários médicos, que prescrevem diversos 2. Confirmação: é a etapa que visa assegurar
medicamentos, sem haver uma reconciliação en- que os medicamentos e as dosagens prescritas são
tre eles. Muitas vezes, nestes casos, é oportuno, apropriadas para o paciente;
necessário e esperado que a reconciliação fosse 3. Reconciliação: consiste na identificação das
feita na farmácia comunitária, onde ocorre a dis- discrepâncias entre os medicamentos prescritos
pensação dos medicamentos prescritos. em cada nível de atenção à saúde ou em cada
Estudos têm demonstrado que o processo de ponto de transição, na documentação das comu-
reconciliação de medicamentos tem grande im- nicações feitas ao prescritor e na correção das
pacto na prevenção de eventos adversos relacio- prescrições junto com o médico.
nados a medicamentos, sendo eficiente na redu- Entretanto, Ketchum et al43, recomenda vários
ção das discrepâncias encontradas entre as pres- passos para implantação da reconciliação de me-
crições hospitalares e os medicamentos utilizados dicamentos com ênfase na organização de equipe
em casa, promovendo assim a redução dos erros multidisciplinar para desenvolvimento e avaliação
de medicação em cerca de 70%.7,43 da reconciliação de medicamentos, incluindo en-
Ketchum et al (2005) sugere um formulário fermeiros, farmacêuticos e médicos (Quadro 4).
para reconciliação de medicamentos de pacientes A reconciliação de medicamentos é uma im-
internados, conforme Figura 1. 43 portante ferramenta que sistematiza procedimen-
A proposta da reconciliação é evitar ou mini- tos que buscam compatibilizar a terapêutica dos
mizar erros de transcrição, omissão, duplicidade pacientes que passam pelos pontos de transição
terapêutica e interações medicamentosas. Quando durante à assistência.

72
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

Figura 1 - Modelo de Lista de Reconciliação de medicamentos casa, admissão/alta

Responsável pela informação:_________________________________________________________________________

Paciente Familia Prescrição Médico Farmacêutico Prontuário Outros:

Medicamentos utilizados em
casa de uso contínuo Dose – via de Continua no Continua
Freqüência Última dose
(Inclusive não prescritos e administração hospital na alta
fitoterápicos)

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não

Sim Não Suspenso Sim Não


Preenchido por: Data: Hora: Médico:
Alta
Data: Hora: Registro: medicamentos
revisados com o
Data: Hora: Transcrito por: paciente

Prescrição da alta hospitalar para ser preenchido pela farmácia Sem nova medicação

Via de
Nova prescrição Dose Freqüência Quantidade Observações
administração

Data Nome Telefone:

Substitution permitted Dispense as written

Assinatura__________________________________________________ Assinatura__________________________________________________

Fonte: Ketchum, K por Paul Health Center, Bridgeton, Missouri

Assim, a Joint Commission for Accreditation a reconciliação de medicamentos permanece no


of Healthcare Organizations (JCAHO), maior agên- “National Patient Safety Goals” para 2009, ates-
cia de acreditação em saúde dos Estados Unidos tando a importância que esta atividade tem para
que atua em mais de 40 países, reconheceu a a segurança do paciente47.
necessidade de desenvolver protocolos para ela- No Brasil, os estudos sobre a implantação da
boração de listas completas de medicamentos de reconciliação de medicamentos nos serviços de
uso corrente, adquiridos com ou sem prescrição saúde ainda são incipientes e precisam ser incre-
médica, colocando a reconciliação de medicamen- mentados para possibilitar a adequação deste im-
tos na lista dos objetivos nacionais de segurança portante processo, que contribui para prevenção
do paciente para a acreditação de hospitais nos de erros de medicação, à realidade das institui-
EUA em 2006. É importante destacar ainda que ções brasileiras.

73
ERROS DE MEDICAÇÃO Coletânea de Farmácia Hospitalar

Quadro 4 – Etapas para implantação da reconciliação de medicamentos

1. Organização de equipe multidisciplinar para desenvolvimento e avaliação da reconciliação de medicamentos,


que poderá incluir um farmacêutico, um médico e um enfermeiro.

2. Padronização de instrumentos utilizados, como a elaboração de questionário para obtenção de informações


dos medicamentos usados pelos pacientes nos pontos de transição;

3. Definição de profissionais específicos para conciliar os medicamentos dos pacientes na admissão, transferên-
cias e alta hospitalar, com tempo suficiente para realizar tal processo, visando assegurar a exatidão da lista
de medicamentos utilizados;

4. Verificação minuciosa do histórico de utilização dos medicamentos, conferindo-os, conversando com pacien-
tes e familiares, revendo os registros provenientes da admissão e checando as informações com os médicos,
os farmacêuticos e os enfermeiros.

5. Elaboração das listas dos medicamentos utilizados em casa, pelo paciente de modo que claro objetivo e pa-
dronizado;

6. Reconciliação dos medicamentos em todos os pontos de transição do paciente, incluindo mudanças de leito,
admissão, transferências entre unidades de internação e alta hospitalar;

7. Fornecer treinamento aos enfermeiros, farmacêuticos e médicos em reconciliação de medicamentos;

8. Compartilhar os dados da avaliação da reconciliação de medicamentos com toda a equipe.

09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Errar é humano, logo não existem sistemas li- do traz benefícios consideráveis a toda a popu-
vres de erros12. Entretanto, é possível desenhar lação, entretanto os problemas relacionados a
sistemas mais seguros que os atuais, que con- este uso, tem trazido prejuízos consideráveis a
sigam evitar eventos adversos aos pacientes, a sociedade, sendo hoje considerado um problema
exemplo de outros setores de risco, como na avia- de saúde pública mundial.
ção e nas indústrias químicas e nucleares10. Estes É um grande desafio prevenir erros de me-
sistemas se baseiam na introdução de diferentes dicação, pois é um assunto que poucos gostam
tipos de medidas direcionadas não só a prevenir, de lidar ou falar e o tipo de abordagem é de
como também em tornar os erros visíveis, ou seja, forma geral, dirigido a punição de indivíduos e
detectá-los e interceptá-los a tempo de impedir não contribui para resolver o problema. Mudar
que atinjam o paciente. Além disso, é preciso in- este quadro e situação é um desafio a todos
troduzir medidas que reduzam as possíveis conse- que trabalham na área da saúde, pois não se
qüências dos erros, caso falhem as medidas ante- pode mais conviver com taxas inaceitavelmen-
riores e os erros atinjam os pacientes. te altas de erros que ocorrem na assistência ao
A utilização de medicamentos em todo o mun- paciente.

10 SITES DE INTERESSE
• Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medi- • Instituto para el Uso Seguro de los Medicamen-
camentos – ISMP Brasil tos Espanha
www.ismp-brasil.org www.ismp-espana.org
• Institute for Safe Medication Practices EUA • The International Medication Safety Network
www.ismp.org www.intmedsafe.net
• Institute for Safe Medication Practices Canadá • World Health Organization
www.ismp-canada.org www.who.int/patientsafety/en

74
Coletânea de Farmácia Hospitalar ERROS DE MEDICAÇÃO

• National Coordinating Council for Medication www.npsa.nhs.uk


Error Reporting and Prevention • Food and drug administration
www.nccmerp.org http://www.fda.gov
• Institute for Healthcare Improvement • American Society of Health-System Pharmacists
www.ihi.org www.ashp.org
• The Joint Commission • The National Patient Safety Foundation
www.jcaho.org www.npsf.org
• The Joint Commission International • The Josie King Foundation
www.jointcommissioninternational.org www.josieking.org
• Consórcio Brasileiro de Acreditação • ConsumerMedSafety – Help Prevent Medication
www.cbacred.org.br Errors
• National Patient Safety Agency www.consumermedsafety.org

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77
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO


DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA
MELHORAR A FARMACOTERAPIA
CARLOS CEZAR FLORES VIDOTTI
EMÍLIA VITÓRIA DA SILVA
ROGÉRIO HOEFLER

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final da leitura deste texto, o farmacêuti- 4. Distinguir os tipos de fontes de informação
co deverá: sobre medicamentos, com suas vantagens e
limitações, e listar exemplos utilizados em
1. Reconhecer a necessidade de informação in- CIM.
dependente para promover o uso racional dos 5. Entender os princípios de avaliação crítica da
medicamentos. qualidade de informação sobre medicamentos.
2. Identificar benefícios de um Centro de Infor- 6. Identificar os passos a serem seguidos para
mação sobre Medicamentos (CIM) hospitalar, responder a um questionamento de usuário
histórico e conceitos. do serviço, justificando-os.
3. Caracterizar a estruturação de um CIM em 7. Compreender a importância de programa
termos de comprometimento institucional, de garantia de qualidade e relacionar pa-
formação do farmacêutico, infra-estrutura e râmetros e atividades a serem acompa-
atividades desenvolvidas. nhados.

01 INTRODUÇÃO
O desequilíbrio no binômio benefício-risco ocorreram quatro vezes mais durante a in-
está presente no cotidiano da farmacoterapia ternação.2 As RAM foram responsáveis por
hospitalar, incluindo reações adversas a medica- 4% da ocupação hospitalar e 0,15% das
mentos e interações medicamentosas, que causam mortes; 70% seriam evitáveis e teriam um
significativa morbimortalidade, diminuem a quali- custo anual para o sistema de saúde inglês
dade de vida, apresentam aumento relevante nos da ordem de 466 milhões de libras esterli-
custos da saúde e, portanto, é problema de grande nas (cerca de R$1,27 bilhões).3
dimensão em hospitais. Estudos, alguns ambien- As interações medicamento-medicamento
tados em hospitais brasileiros, têm descrito, por tiveram potencial de ocorrer em 37% dos
exemplo, que: pacientes internados e, em 12% dos ca-
As reações adversas a medicamentos (RAM) sos, foram consideradas graves (p.ex., que
foram responsáveis por, ou contribuíram podem provocar morte). Estas interações
para, 6,6% das internações hospitalares1 e estão fortemente associadas à duplicação

78
Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

do tempo de permanência no hospital e ao quase compulsiva na prescrição médica, evitando a


aumento do custo da internação.4 análise objetiva e científica que se requer na con-
Os erros de medicação foram identificados sideração das alternativas de tratamento.9
em 44% das prescrições de medicamentos Por isso, medidas devem ser adotadas para
de alto risco (principalmente heparina, melhorar a farmacoterapia. A disponibilidade,
fentanila e midazolam) e, em média, ocor- acessibilidade e uso de informação independente
reram 3,3 erros por prescrição.5 sobre medicamentos, em formato apropriado e re-
A Organização Mundial da Saúde reconhece levante para a prática clínica atual, estão entre
que os Centros de Informação sobre Medicamen- essas medidas, o que é fundamental para o uso
tos (CIM) estão entre as atividades efetivas para racional e efetivo de medicamentos. No contexto
promover o uso racional de medicamentos.6,7 Um brasileiro, a Política Nacional de Medicamentos e a
medicamento deve ser acompanhado de informa- Política Nacional de Assistência Farmacêutica pre-
ção apropriada. A qualidade desta é tão impor- veem a revisão permanente da Relação Nacional de
tante quanto a qualidade do produto farmacêutico Medicamentos Essenciais e a publicação do Formu-
pois, assim como a promoção dos medicamentos, lário Terapêutico Nacional como estratégias para a
pode influenciar em grande medida a forma em promoção do uso racional de medicamentos.10
que os mesmos são utilizados. O monitoramento e Por essas razões, neste texto serão aborda-
o controle destas atividades são partes essenciais dos os objetivos, funções e estruturação dos Cen-
de uma política nacional de medicamentos.8 tros de Informação sobre Medicamentos em hos-
A necessidade de serviços de informação so- pitais, os quais apóiam as práticas clínicas dos
bre medicamentos é mais evidente quando se con- profissionais da saúde relativas à farmacoterapia.
sidera que a documentação que frequentemente A aplicação dos princípios aqui apresentados irá
está ao alcance dos profissionais da saúde é aque- variar conforme a localização, pessoas, recursos
la proporcionada pela indústria farmacêutica e, e políticas institucionais. Para serem efetivos, os
portanto, com alto componente publicitário e co- CIM devem estar integrados aos serviços clínicos
mercial. Além disso, a entrega de amostras grátis e adequadamente estruturados em termos de ca-
para os médicos, as quais geralmente acompanham pacitação do pessoal, instalações e recursos fi-
a publicidade dos medicamentos, influi de forma nanceiros e materiais.

02 BREVE HISTÓRICO DE CIM HOSPITALARES, DESEMPENHO


ECONÔMICO, TERAPÊUTICO E ACREDITAÇÃO
O primeiro CIM, no mundo, foi implantado estejam em farmácias comunitárias ou hospitala-
em um hospital, em 1962, no Centro Médico da res, de modo informal.12 Nos EUA, os farmacêu-
Universidade de Kentucky, nos EUA.11 O sucesso da ticos são os profissionais que mais atuam nos
experiência resultou na abertura de novos CIM pe- Centros de Informação sobre Medicamentos,14 o
los EUA e, depois, em outros países.12,13 Nos EUA, que também se observa no Brasil,16 uma vez que,
em 2004, 57 CIM hospitalares responderam a um como categoria profissional, são eles que têm a
levantamento.14 No Brasil, o primeiro CIM foi ins- formação mais abrangente sobre medicamentos.12
talado no Hospital Onofre Lopes, da Universidade O CIM é uma alternativa para facilitar o aces-
Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. Atual- so e a disponibilidade da informação, diminuindo
mente, há vários CIM no Brasil, instalados princi- os custos hospitalares pela racionalização do uso
palmente em universidades e hospitais.15 Não há dos medicamentos, por exemplo, por evitar o pro-
dados atuais sobre a quantidade de CIM no Brasil; longamento de internações devido a RAM e erros
estima-se cerca de 20. No sítio do CFF, www.cff. de medicação. Estudo norte-americano concluiu
org.br, em “Cebrim” e “Outros CIM”, consta rela- que a redução de custos pelo uso de informação
ção de alguns CIM brasileiros. apropriada, provida por CIM hospitalar e utilizada
Tradicionalmente, os farmacêuticos são dis- pelos profissionais, supera os custos de manuten-
seminadores de informação sobre medicamentos, ção do CIM, de 3 a 13 vezes.17

79
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

A equipe de saúde e os pacientes de um hos- de atuação da assistência farmacêutica hospitalar


pital devem contar com informação objetiva e in- que constam no Manual Brasileiro de Acreditação
dependente sobre medicamentos, o que pode ser de Organizações Prestadoras de Serviços de Saú-
feito por um Centro de Informação sobre Medica- de, adotado pela Anvisa, por meio da Resolução
mentos.18 Em estudo realizado na Noruega, 100% RDC nº93/2006.
dos médicos opinaram que os CIM forneceram in- Fatores causadores de problemas na farmaco-
formação de alta qualidade sobre medicamentos terapia em hospital incluem: sistemas deficientes
utilizados durante a gravidez e, em 92% dos casos, de distribuição e de administração de medicamen-
essa informação teve impacto clínico positivo.19 tos; aplicação inadequada da informação do produ-
O uso da informação sobre medicamentos em to no que se refere à sua preparação e administra-
hospitais é bastante alto, podendo ser estima- ção; informação inadequada do médico prescritor;
do pela quantidade de consultas recebidas pelo falta de conhecimento sobre as características
Cebrim/CFF – um CIM não hospitalar – que, em farmacocinéticas dos medicamentos; pressão mer-
2009, foi de cerca de 27%. As consultas foram, cadológica da indústria farmacêutica, que leva à
principalmente, sobre interações medicamentosas seleção inadequada de medicamentos; ausência
e reações adversas a medicamentos, com cerca de ou atuação não efetiva da Comissão de Farmácia
14% e 12%, respectivamente. Esse tipo de ques- e Terapêutica.20,21,22 Nestes casos, o CIM tem papel
tionamento pode ter relação, também, com a ava- fundamental para melhorar a terapêutica e, conse-
liação hospitalar já que estas são duas das áreas quentemente, o cuidado de saúde do paciente.

03 ESTRUTURAÇÃO DE UM CIM HOSPITALAR


Centro de Informação sobre Medicamentos atividade é de cerca de 35% e, em segundo lugar,
(CIM) é o local que reúne, analisa, avalia e for- com 14% do tempo dedicado, está a participação
nece informação sobre medicamentos, visando o em Comissões de Farmácia e Terapêutica.14
seu uso racional.16 Principalmente, o CIM apoia A estruturação de um CIM deve contemplar
a prática clínica de profissionais da saúde na te- dois aspectos essenciais: (a) contar com um far-
rapêutica medicamentosa de um paciente espe- macêutico especialista em informação sobre me-
cífico. Para isso, deve prover informações claras, dicamentos, com treinamento, experiência clínica
precisas, imparciais, em tempo hábil e aplicáveis e as competências e habilidades descritas no Qua-
sobre medicamentos, de modo a promover seu uso dro 2, destacando aquela relativa a seleção, utili-
racional.23 Para alcançar este objetivo, utiliza in- zação e avaliação crítica da literatura, e participa-
formação técnico-científica objetiva, atualizada ção nas Comissões de Farmácia e Terapêutica;24,25
e pertinente, devidamente processada e avaliada e (b) ter bibliografia sobre medicamentos, reco-
criticamente.24 nhecida internacionalmente, e a mais atualizada
As atividades praticadas em um CIM estão possível.25 Deve-se notar, entretanto, que a ma-
relacionadas no Quadro 1. É importante notar que turidade do Centro só poderá ser alcançada com
a primeira atividade, responder perguntas, é a trabalho multiprofissional efetivo e a execução de
principal delas, ou seja, a maior parte do tem- atividades de garantia de qualidade (v. seção es-
po é dedicada à mesma. Por exemplo, nos EUA, pecífica, adiante), em benefício do paciente.
considerando 68 CIM, o tempo dedicado a esta

Quadro 1 – Atividades de um Centro de Informação sobre Medicamentos


Responder perguntas relacionadas ao uso de medicamentos (informação reativa).
Participação efetiva em comissões, tais como de Farmácia & Terapêutica e de Infecção Hospitalar.
Publicação de material educativo / informativo, como boletins, alertas, colunas em jornais, etc.
Educação: estágio, cursos sobre temas específicos da farmacoterapia.
Revisão do uso de medicamentos.
Atividades de pesquisa sobre o uso de medicamentos.
Coordenação de programas de farmacovigilância.

Fonte: Vidotti et al., 2000b

80
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EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

Quadro 2 – Habilidades do farmacêutico especialista em informação sobre medicamentos

Habilidade e competência para a seleção, utilização e avaliação crítica da literatura.


Habilidade e competência para apresentação da máxima informação relevante com um mínimo de
documentação de suporte.
Conhecimento de disponibilidade de literatura, assim como de bibliotecas, centros de documentação, etc.
Capacidade para comunicar-se sobre farmacoterapia nas formas verbal e escrita.
Destreza no processamento eletrônico dos dados.
Habilidade e competência para participar em Comissão de Farmácia e Terapêutica.

Fonte: adaptado de Vidotti et al., 2000b

Requisitos para a implantação de um Cen- 3. Equipamento e mobiliário: microcompu-


tro de Informação sobre Medicamentos in- tador, impressora, telefone, fax, acesso
cluem:11,16,18,23,24,25 à Internet, fotocopiadora (ou acesso),
1. Pessoal: pelo menos um farmacêutico com mobiliário de escritório (mesas, cadeiras,
treinamento específico. É recomendável armários, estantes, arquivos, etc.).
que este profissional tenha as habilidades 4. Bibliografia: as fontes de informação
descritas no Quadro 2; indicadas para o funcionamento de um
2. Área física: deve estar de acordo com as CIM estão descritas na seção “Fontes
atividades propostas. Sugere-se uma área de informação sobre medicamentos”, a
mínima de cerca de 30 m2; seguir, nos Quadros 3, 4 e 5.

Quadro 3 – Fontes terciárias de informação sobre medicamentos utilizáveis em CIM


TÍTULO CLASSIFICAÇÃO
ASHP – AHFS Drug Information
British National Formulary (BNF)
Dorland’s Medical Dictionary
Farmacologia Clínica
Essencial
Formulário Terapêutico Nacional (FTN)
Martindale – The Extra Pharmacopoeia
Medicina Interna
Trissel – Handbook on Injectable Drugs
Briggs – Drugs in Pregnancy and Lactation
Drug Facts and Comparisons
Farmacologia
Aronson – Meyler’s side efects of drugs Recomendada
Stockley – Drug Interactions ou Tatro – Drug Interaction Facts
Remington – A Ciência e a Prática da Farmácia
Rowe – Handbook of Pharmaceutical Excipients
Farmacopéia Brasileira
Guia de especialidades farmacêuticas Útil
The Merck Index

Ordem decrescente de importância: essencial, recomendada, útil.


Fonte: Elaborado pelos autores

81
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EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

Quadro 4 – Fontes primárias de informação sobre medicamentos utilizáveis em CIM

American Journal of Health-System Pharmacists


British Medical Journal
Journal of American Medical Association
New England Journal of Medicine
The Lancet

Fonte: Elaborado pelos autores

Quadro 5 – Exemplos de sítios onde encontrar informação sobre medicamentos

Formulário Terapêutico Nacional 2008


http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/paginacartilha/iniciar.html
Boletim Farmacoterapêutica
www.cff.org.br/
Formulário Modelo da Organização Mundial da Saúde
http://mednet3.who.int/EMLib/modelFormulary/modelFormulary.asp
MedlinePlus – Drug Information – EUA
www.nlm.nih.gov/medlineplus/druginformation.html
Ficha de Novidade Terapêutica do Cadime – Espanha
www.easp.es/web/cadime/index.asp?idSub=303&idSec=303&idCab=303
Australian Prescriber
http://www.australianprescriber.com
Radar – Austrália
www.nps.org.au/health_professionals/publications/nps_radar
Prescrire – França
http://english.prescrire.org/ (mediante assinatura)
Livro eletrônico “Fundamentos Farmacológicos Clínicos dos Medicamentos de Uso Corrente”
www.anvisa.gov.br/farmacovigilancia/trabalhos/index.htm
BIREME – Biblioteca Regional de Medicina (acesso ao Medline, Lilacs, Scielo, etc)
www.bireme.br
Fármacos (Boletín electrónico latinoamericano)
www.lanic.utexas.edu/project/farmacos
Acesso a artigos científicos, protocolos e diretrizes:
www.pubmedcentral.nih.gov
www.tripdatabase.com
Biblioteca Cochrane, Scielo e Portal de Evidências, via Bireme: www.bireme.br
www.projetodiretrizes.org.br

Fonte: elaborado pelos autores

5. Financiamento: são necessários recursos Medicamentos (SIM) são, às vezes, usados como
financeiros para, pelo menos, o pagamen- se fossem sinônimos, embora existam diferenças.
to do salário do farmacêutico, aquisição A literatura sugere que CIM deve denotar o local fí-
e renovação das instalações e das fontes sico, e SIM a atividade desenvolvida neste local.26
bibliográficas e despesas de custeio. Entretanto, é convencionada uma hierarquia onde
Um aspecto imprescindível dentro da con- os Centros têm uma abrangência maior (por exem-
cepção filosófica de um CIM é sua independência. plo, um país, um estado, uma região), e os Servi-
Como existe a possibilidade de suas informações, ços são institucionais, por exemplo, atendendo à
baseadas em evidências científicas, contrariarem demanda de um hospital.15,25,26 Enfatiza-se, porém,
interesses comerciais, a sua previsão orçamentá- que mais importante que sua designação, Centro
ria deve levar em conta de que não é aconselhável ou Serviço, são as atividades desenvolvidas.25
subsídios, diretos ou indiretos, de empresas far- Além desses aspectos gerais, reconheci-
macêuticas. dos internacionalmente, os farmacêuticos que
Os termos Centro de Informação sobre Me- atuam em CIM no Brasil deveriam, também, se
dicamentos (CIM) e Serviço de Informação sobre ocupar com a promoção do serviço, o ensino e a

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EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

busca de parcerias. No nosso País, a promoção é CIM não são ensinados para os estudantes de
recomendável pois poucos profissionais da saú- profissões da saúde e, infelizmente, nem mes-
de têm consciência da existência e dos serviços mo para os de farmácia. Finalmente, a busca de
providos pelos CIM e menos ainda incorporaram parcerias é necessária para difusão e fortaleci-
o uso do serviço na sua prática. O ensino é es- mento dos serviços, em ambiente com pouco
sencial para que esse quadro possa ser modifi- desenvolvimento dos serviços clínicos providos
cado. De modo geral, os serviços providos pelos pelos farmacêuticos.27

04 FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS


Um dos maiores desafios dos profissionais da fontes de informação sobre medicamen-
saúde, no apoio às suas práticas, é o acesso e o uso tos. Como exemplos, podemos citar os ar-
de informação apropriada e independente sobre tigos científicos publicados no Journal of
medicamentos, sobretudo, considerando a facilida- American Medical Association (JAMA). O
de de acesso à informação promocional da indús- Quadro 4 cita algumas fontes primárias.
tria farmacêutica. No Brasil, o problema é mais gra- As fontes secundárias consistem em ser-
ve, pois a informação, em geral, é de difícil acesso viços de indexação e resumo da literatura
porque a aquisição e a manutenção da mesma têm primária e servem como orientadores na
custo elevado. Com o avanço da internet, este qua- busca destas últimas. O Medline (Index
dro tem mudado. Porém, grande parcela da infor- Medicus on-line) é um exemplo e é uma
mação gratuita e de boa qualidade disponível está das fontes secundárias mais utilizadas em
escrita na língua inglesa. Em português, a principal CIM. Pode ser acessado, gratuitamente,
exceção, atualmente, é o Formulário Terapêutico por meio do sítio da Biblioteca Regional
Nacional (FTN), porém limitado aos fármacos da de Medicina (Bireme), www.bireme.br.
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Re- As fontes terciárias apresentam informa-
name). ção documentada no formato condensado.
Os aspectos mais importantes na escolha de São livros-texto (p.ex., Goodman e Gilman:
uma fonte de informação sobre medicamentos As Bases Farmacológicas da Terapêutica),
são: imparcialidade, padrão científico, atualiza- livros de monografias (p.ex., o American
ção, língua e custo. Como muitas fontes utilizadas Hospital Formulary Service – AHFS Drug
são internacionais, principalmente em inglês, o Information) e bases de dados eletrôni-
farmacêutico que atua em CIM deve ter capacida- cas (p.ex., o Drugdex®/Micromedex). Além
de para leitura e interpretação de textos escritos destas, os artigos de revisão e meta-análise
nessa língua, pelo menos. Os demais aspectos, ci- também são considerados literatura terciá-
tados anteriormente, serão detalhados na seção ria. Exemplos de fontes terciárias utilizadas
de avaliação crítica da literatura. em CIM estão listados no Quadro 3.
As fontes de informação podem ser classi- Analisando esses três tipos de fontes biblio-
ficadas em primárias, secundárias e terciárias, gráficas, as primárias têm a vantagem de serem
como a seguir:15,23,26 mais atualizadas pois são onde, de modo geral,
As fontes primárias (ou literatura primá- surge o conhecimento. Porém requerem leitura
ria) – são constituídas por artigos cientí- mais cuidadosa e crítica e são publicadas em gran-
ficos que relatam, principalmente, ensaios de quantidade – 1.800 entradas diárias, no Medli-
clínicos randomizados, estudos de coorte, ne (v. seção 5), o que dificulta a seleção, aquisi-
estudos de caso-controle, referentes a pes- ção, leitura e utilização da informação. Por outro
quisas publicados em revistas biomédicas, lado, as fontes terciárias são mais condensadas,
ou seja, onde geralmente surge pela pri- apresentando, em geral, informações de consenso
meira vez na literatura qualquer informa- e são em número muito menor. Não obstante, tem
ção científica nova. Por isto, são utilizadas a desvantagem de não serem constantemente atu-
para a fundamentação de outros tipos de alizadas, pois sua periodicidade varia, em média,

83
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

de dois a cinco anos. Por isso, é recomendável que estará disponibilizado na página da PIS/FIP, em
o CIM tenha disponibilidade de fontes terciárias www.fip.org.
essenciais e acesso a fontes secundárias que per- A classificação das fontes em primárias, se-
mitam busca na literatura primária e solicitação de cundárias e terciárias tem caráter didático, não
cópias de artigos originais, quando necessário. sendo estática. Existem algumas fontes que são
A quantidade de revistas com acesso gratui- híbridas, pois apresentam, ao mesmo tempo, ca-
to ao conteúdo integral de artigos tem crescido. racterísticas de mais de um tipo de fonte biblio-
Isso representa um salto imenso na quantidade de gráfica. Por exemplo, o Iowa Drug Information
informação acessível. Até então, e ainda hoje, o System – IDIS apresenta artigos selecionados na
principal acesso é via Medline, que inclui apenas íntegra e possui índices de localização dos mes-
informação bibliográfica e os resumos, apesar de mos, sendo considerado uma fonte secundária e
seus números grandiosos: 16 milhões de publica- primária. O Martindale traz monografias de medi-
ções indexadas. Atualmente, além dos textos inte- camentos e cita artigos sobre os mesmos, sendo
grais, incluindo gráficos e figuras, há também os considerado uma fonte terciária e secundária.
hiperlinks. Ainda é prevalente o modelo de paga- O Quadro 3 discrimina as fontes bibliográfi-
mento por acesso aos artigos integrais, mas têm cas terciárias que devem estar disponíveis em um
surgido, desde 2003, iniciativas do modelo “Acesso Centro de Informação sobre Medicamentos, classi-
Livre” (Open Access) a publicações científicas. Em ficadas de acordo com o seu grau de importância,
2004, foi criado o PubMedCentral (PMC, www.pub- em ordem decrescente: essenciais, recomendadas
medcentral.gov), por iniciativa da National Library e úteis. No Quadro 4 estão listadas algumas revis-
of Medicine (NLM), EUA. Desde 2005, o National tas (fontes primárias) que poderiam ser utilizadas
Institutes of Health – NIH, EUA, tem exigido que pelo CIM.
as publicações resultantes de pesquisas parcial ou Adicionalmente a esta classificação, existem
totalmente financiadas pelo mesmo sejam disponi- as chamadas fontes alternativas, das quais são
bilizadas nesse sítio. Seis meses depois, havia mais exemplos a Internet, organizações profissionais,
de 430.000 artigos integrais disponíveis gratuita- agências regulatórias, agências de avaliação de tec-
mente. O modelo de acesso livre a publicações cien- nologias em saúde, boletins independentes sobre
tíficas é utilizado, na América Latina, pelo Scielo, medicamentos, indústrias farmacêuticas e centros
www.scielo.org, no qual, até 2008, havia mais de de informação toxicológica e de medicamentos.26
170 mil artigos gratuitos.28,29 Com o crescimento exponencial da Internet, as fon-
Outras fontes gratuitas relativas à informação tes alternativas ganham dimensão, sendo que no
sobre medicamentos podem ser encontradas no Quadro 5 constam algumas sugestões de sítios.
sítio do Pharmabridge, projeto da Federação Far- Uma das bases de dados mais difundida mun-
macêutica Internacional – FIP, em http://www.fip. dialmente, que contém monografias extensas so-
org/pharmabridge_free. Está em construção uma bre medicamentos, é o Drugdex® (Micromedex).
lista de fontes recomendadas para CIM, incluindo Ela é acessível por meio da Internet, mediante
fontes gratuitas, também no âmbito da FIP, pelo assinatura. No Brasil, as universidades públicas
Grupo de Trabalho Acesso a Informação sobre têm acesso gratuito ao mesmo por meio do sítio
Medicamentos (Access to Medicines Information da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Working Group), da Seção de Informação em Far- Nível Superior – CAPES, em http://www.periodi-
mácia (Pharmacy Information Section – PIS), que cos.capes.gov.br/.

05 AVALIAÇÃO CRÍTICA DA QUALIDADE DA


INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
Para muitos farmacêuticos, é necessário de- mostram deficiência na melhora do cuidado ao
senvolver habilidades em avaliação crítica o que paciente e, talvez, causem dano. Porém, a ava-
o ajudaria no discernimento de quais medicamen- liação crítica da qualidade da informação que
tos representam avanços terapêuticos e quais se publica sobre medicamentos é um impera-

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EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

tivo dentre as habilidades do profissional que contraditórios que são atribuídos, na maioria das
trabalha em um CIM. vezes, a diferenças metodológicas, definições,
A literatura biomédica cresce a taxas expo- etc., o que é entendido como uma limitação para
nenciais e tem passado por revolução na forma a extrapolação dos resultados encontrados para a
de acesso e integração das informações prove- prática, ou seja, podem não ter aplicação clínica.12
nientes de várias fontes. Nos últimos 20 anos, Além disso, quando se soma o interesse co-
a quantidade de artigos indexados no Medline mercial aos problemas metodológicos, aumenta a
(a base de dados pesquisada por meio do Pub- necessidade da avaliação crítica como, por exem-
med) cresce a uma taxa média anual de cerca plo, na farta promoção de medicamentos, pela
de 3,1%. Em 2006, havia mais de 16 milhões indústria farmacêutica, com exemplos claros de
de publicações indexadas, das quais mais de alteração da informação sobre o medicamento,
três milhões tinham sido publicadas nos cinco notadamente das reações adversas e contraindica-
anos anteriores. Em 2005, houve mais de 1800 ções, enfatizando apenas aspectos positivos dos
registros diários e um total e 666.029 regis- medicamentos e dando pouco ou nenhum desta-
tros no ano. Cresce também as possibilidades que aos negativos.31
de ligações (hiperlink) entre documentos, o que As habilidades para busca, análise e julga-
aumenta enormemente a quantidade de infor- mento das evidências capazes de dar fundamento
mação a que se tem acesso.28 científico às decisões clínicas são essenciais para
Infelizmente, esse crescimento é acompa- os profissionais da saúde. Porém, em especial,
nhado por uma ampla variação da qualidade das para os farmacêuticos que atuam em CIM. Estes
evidências científicas disponibilizadas e, con- devem ser capazes de discriminar, dentre as infor-
sequentemente, no trabalho do profissional da mações disponíveis, quais são as que representam
saúde. Em geral, aceita-se que os editores das as mais sólidas evidências científicas e, destas, as
revistas nacionais e, muito especialmente, dos que são passíveis de serem incorporadas à prática.
periódicos estrangeiros, foram capazes de separar Em uma primeira abordagem aos artigos cien-
o joio do trigo, só permitindo a divulgação de ar- tíficos, dever-se-ia fazer perguntas tais como:23,30
tigos baseados em sólidas evidências científicas. O artigo foi publicado em revista que adota
Entretanto, revisões realizadas nas últimas déca- a revisão por pares?
das contradizem o exposto acima. Constatou-se Quem é (são) e qual a filiação do(s)
em tais estudos que cerca da metade dos artigos autor(es)?
publicados em revistas de renome utilizaram mé- As informações do resumo e da conclusão
todos estatísticos inadequados. Se, à inadequação são úteis para você? Se não for, passe para
dos testes quantitativos, acrescentarmos outras o próximo artigo.
fontes de inconsistências e imprecisões a que As conclusões são (bem) fundamentadas
estão sujeitos os estudos epidemiológicos, tais nos resultados e são aplicáveis? Verifique a
como o seu desenho, definição da amostra, es- seção “Materiais e Métodos”. Você só pode
colha de indicadores e instrumentos, poderemos aceitar a validade da conclusão se conhe-
concluir que todo e qualquer artigo, independente cer e aceitar o método da pesquisa.
do periódico ou idioma em que esteja publicado, Quem financiou o estudo? Pode existir um
deve ser lido criticamente.30 possível conflito de interesses?
Algumas razões que ajudam a explicar os Verifique as “referências”. Se você conhece
problemas frequentes com a qualidade da infor- o assunto, provavelmente poderá julgar se
mação são, por exemplo: publicar somente aspec- foram incluídas as referências fundamen-
tos positivos; pressão para publicar; exagerar os tais na área. Caso contrário, cuidado com
resultados encontrados; fragmentar os resultados, o artigo.
publicando-os em várias revistas; descrever in- Questões do tipo “o estudo foi bem de-
completamente os métodos e/ou resultados e, o senhado?”, “os dados são estatisticamente
que é menos comum, fraude científica. significativos?” e “os desfechos avaliados
Ao analisar artigos científicos, é comum o são clinicamente relevantes?”, demandam
profissional encontrar resultados conflitantes ou um conhecimento mais profundo e, para

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IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

isto, deve ser feito uma capacitação es- outras pessoas (p.ex., família e amigos), litera-
pecífica, em curso de avaliação crítica da tura médica, imprensa leiga e da Internet. Estes
literatura científica (v. a seguir). pacientes podem procurar o farmacêutico para es-
Quando as informações forem providas pelo clarecer a informação que obtiveram.26
fabricante, devem ser feitas outras perguntas, que A avaliação crítica da literatura é uma ma-
incluem, por exemplo:23 téria complexa, repleta de «considerandos» e
A informação foi aprovada pelo órgão go- «armadilhas» e extensamente abordada na lite-
vernamental competente? ratura.26,30 Os primeiros passos da avaliação críti-
Foram fornecidas referências da literatura ca da literatura foram apresentados anteriormen-
médica ou estas estão disponíveis? te, mas são insuficientes para a atuação no CIM.
A publicidade do medicamento parece ex- No sítio da Universidade Federal de São Paulo
cessivamente positiva? – Unifesp, onde está instalado o Centro Cochrane
São feitas comparações de custo? do Brasil, é disponibilizado curso gratuito on-li-
A necessidade de escolher entre essa varie- ne sobre revisão sistemática e meta-análise:
dade de resultados incompletos ou conflitantes www.virtual.epm.br/cursos/metanalise e
pode causar confusão entre os profissionais da www.centrocochranedobrasil.org.br. Nos cur-
saúde em relação à farmacoterapia ótima para sos de epidemiologia clínica, geralmente, o tema
uma doença específica em um paciente.12 é abordado e, mais recentemente e mais profun-
O farmacêutico também está enfrentando um damente, nos cursos de revisão sistemática e
aumento na quantidade de pacientes que se edu- meta-análise, decorrentes do “boom” da medici-
cam sobre farmacoterapia por meio da consulta a na ou condutas baseadas em evidências.

06 A UTILIZAÇÃO E PRODUÇÃO DA INFORMAÇÃO


SOBRE MEDICAMENTOS PELO CIM
A informação sobre medicamentos é essen- da de ativa) – neste grupo de atividades,
cial para o desenvolvimento dos instrumentos a iniciativa da comunicação é do farma-
imprescindíveis para utilização racional desses cêutico do CIM, o qual analisa que tipo de
produtos. Dentre estes, podemos citar, formulá- informação pode necessitar seus possíveis
rios, guias de tratamento padronizados e informa- usuários (p.ex., farmacêuticos, médicos,
ção para consumidores, os quais só poderão ser enfermeiros, pacientes) e encontra uma
desenvolvidos com informação confiável. Os CIM via de comunicação para suprir as necessi-
têm papel importante na elaboração desses ins- dades. Também estão incluídas aqui as ati-
trumentos, que está no escopo de suas atividades. vidades colaborativas, como participação
As atividades típicas de um CIM, relacionadas em Comissão de Farmácia e Terapêutica. O
no Quadro 1, podem ser divididas em dois grandes grupo de atividades proativas, geralmente,
grupos, de acordo com a forma de atuação dos provê mais visibilidade e causa maior im-
profissionais do CIM em relação às mesmas:16,23,26 pacto junto aos usuários.
Responder questionamentos (também de-
nominada informação reativa ou passiva)
– serviço oferecido em resposta à pergunta 6.1. Respondendo questionamentos
de um solicitante. O farmacêutico do CIM
espera, passivamente, que o interessado Típica e filosoficamente, responder a ques-
lhe faça a pergunta. Desencadear a comu- tionamentos é um serviço gratuito oferecido pe-
nicação é iniciativa do solicitante. Esta é los CIM aos profissionais da saúde. Quando um
considerada a principal atividade de um usuário formula uma questão para o CIM, o re-
CIM; cebimento da pergunta, sua análise, elaboração
Informação proativa (também denomina- da resposta, comunicação ao solicitante e o ar-

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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

quivamento estão representados na Figura 1, especialista em informação sobre medicamentos


com destaque para o momento-chave, onde o deverá ser utilizada neste momento para fornecer
farmacêutico do CIM compreende a real neces- a informação mais atual de forma objetiva e ágil.
sidade de informação do solicitante. Na resposta Os CIM podem ser consultados por telefone,
a questionamentos feitos por usuários do CIM, pessoalmente, fax, correspondência, correio ele-
levando-se em conta as vantagens e limitações trônico, ou formulário na Internet. Além de for-
das fontes de informação sobre medicamentos, mular o questionamento, é necessário que o usuá-
sugere-se que a busca de dados obedeça a se- rio identifique-se e forneça seu endereço, número
guinte sequência de fontes: terciárias, secundá- de telefone, etc., a fim de estabelecer uma via de
rias e primárias. As fontes terciárias são as mais comunicação que será utilizada na resposta, se
utilizadas por vários fatores, tais como: dispo- esta não for imediata, ou caso um novo contato
nibilidade, facilidade de manuseio, agilidade seja necessário. Quando estiver envolvido um pa-
no uso, objetividade, variedade de informação; ciente, é de grande importância o fornecimento
contudo podem estar desatualizadas. Dependen- de dados relativos ao mesmo, como gênero, ida-
do da complexidade e da natureza da pergunta, de, peso, doença(s) de base e medicamento(s) em
p.ex. em novidades terapêuticas, será necessário uso, de tal forma que a resposta seja adequada às
a utilização das fontes secundárias e primárias. necessidades e características particulares daque-
A avaliação crítica da literatura pelo farmacêutico la pessoa.

INFORMAÇÃO REATIVA (Responder perguntas)


FLUXOGRAMA

Dados circunstanciais de uma solicitação de informação


Envolvimento ou não de paciente
Doenças diagnosticadas no paciente
Medicamentos utilizados pelo paciente
Dados clínicos, incluindo laboratoriais
Urgência requerida
Fontes previamente consultadas
Contexto no qual surgiu a dúvida

“Por que a informação está sendo solicitada?”

Figura 1 – Fluxo de pergunta e resposta a uma questão


Fonte: Elaborada pelos autores com base em Malone, 2006

87
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

A título de exemplo, abaixo constam algumas proativa é a publicação de um boletim. Seu papel
categorias de perguntas respondidas pelos CIM: básico é a disseminação de informação imparcial,
Identificação de fármacos e medicamen- científica e avaliada sobre o uso de medicamen-
tos nacionais e estrangeiros, emprega- tos, seja de novidades terapêuticas, novos usos,
dos na clínica; sua disponibilidade e/ alertas sobre reações adversas, publicar perguntas
ou equivalência no mercado nacional e e respostas fornecidas na informação reativa que
internacional; possam ter interesse geral, entre outras. O bole-
Mecanismo de ação, usos clínicos, eficácia, tim é importante veículo de divulgação do CIM;
reações adversas e toxicidade; por isso mesmo deve ter qualidade, periodicidade
Posologia, duração e uso correto dos medi- (pelo menos 4 por ano) e ser bem difundido.23 No
camentos, em especial para pacientes pe- contexto do Cebrim/CFF, algumas das consultas
diátricos, idosos, diabéticos, cardiopatas, provenientes de hospitais sugeriram a necessida-
nefropatas, etc; de de esclarecimentos técnicos sobre as melhores
Liberação, absorção, distribuição, bio- práticas correntes em determinados aspectos e
transformação e excreção; foram desencadeadoras da elaboração de artigos
Uso de medicamentos durante a gravidez e publicados no boletim Farmacoterapêutica, aces-
a lactação; sível por meio do sítio do CFF, www.cff.org.br,
Conservação dos medicamentos, principal- como: partição de comprimidos (boletim 4-5 de
mente quando se requer condições espe- 2007), administração de medicamentos por sonda
ciais; (boletim 3-4, de 2009), estabilidade (várias edi-
Compatibilidade de misturas parenterais. ções), etc. A International Society of Drug Bulle-
Perguntas ao Cebrim/CFF podem ser enca- tins (ISDB) publicou, em 2005, em parceria com
minhadas por meio do formulário de perguntas a Organização Mundial da Saúde (OMS), o manual
on-line, em www.cff.org.br, em “Cebrim”. “Starting or Strengthening a Drug Bulletin” (Ini-
ciando ou Fortalecendo um Boletim sobre Medica-
6.2. Informação proativa mentos), disponível em http://www.isdbweb.org/
documents/uploads/manual_full_text.pdf
A produção de informação em um CIM obe- Ainda que responder a questionamentos seja
dece procedimento que abrange desde a pesquisa a principal atividade de um CIM, outras atividades
em fontes bibliográficas para responder pergun- expandem as suas áreas de atuação, como infor-
tas até a escolha dos temas a serem abordados mar aos usuários sobre novos usos ou restrições
em boletins, formulários, revisão de uso de me- de um medicamento ou sobre novos fármacos. Por
dicamentos, farmacovigilância, etc. As respostas isso, a informação proativa pode ser aquela que
a questionamentos deverão ser utilizadas como cause maior impacto ou reconhecimento do ser-
“termômetro”, mostrando quais as principais viço junto à comunidade, seja de profissionais da
dúvidas dos solicitantes do serviço que poderão saúde ou pacientes.
servir de orientação para a elaboração de ma- Em síntese, existe estreita relação entre as
terial informativo escrito – artigos, boletins, atividades praticadas no CIM e somente a expe-
folders, etc. – ou sugestão para programas de riência acumulada poderá determinar o equilíbrio
aprendizado permanente. das mesmas, ou seja, quais serão executadas e
Um aspecto de destaque dentro da atividade quanto tempo será dedicado a cada uma delas.

7. GARANTIA DE QUALIDADE
Garantir a qualidade dos serviços providos Na literatura, são encontrados muitos exemplos
é uma tarefa fundamental. É útil garantir que de indicadores de garantia de qualidade em
o desempenho do serviço de informação sobre CIM.15,16,18,26,32 Estes devem priorizar atividades
medicamentos seja continuamente monitorado e chave, como a quantidade de questões respondidas
comparado com um padrão de boa qualidade.27 por ano, proporção de questões respondidas em até

88
Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

24 horas, satisfação do usuário com as respostas As atividades do CIM devem ser cuidadosa-
providas, capacidade de editar um boletim e sua mente documentadas. Formulários padrão ou sis-
frequência, participação em comissões (p.ex., temas eletrônicos podem facilitar o registro de
Comissão de Farmácia e Terapêutica – CFT), perguntas. Um sistema eficiente de recuperação é
atualização das fontes de informação, atualização essencial para localizar questões anteriores, mo-
do farmacêutico que atua no CIM e a quantidade nitorar a quantidade de trabalho e categorizar os
de atividades desenvolvidas. tipos de questões recebidas. Este pode, também,
A Figura 2 mostra, na sua parte inferior, os facilitar a execução de programas de garantia de
aspectos de qualidade dos serviços do CIM rela- qualidade pela análise de solicitações selecio-
tivos a resposta a questionamentos. No esque- nadas e por prazos não cumpridos. O sistema de
ma apresentado, somente serviços de qualidade registro das questões deve garantir segurança,
poderão levar à credibilidade junto aos usuários, arquivamento de longo prazo e assegurar a confi-
com o consequente prestígio do qual decorrerá a dencialidade dos solicitantes.18
consolidação do CIM. Os CIM têm a responsabilidade de prover o
mais alto padrão possível de serviço. Isto inclui
a avaliação dos profissionais, revisão regular das
solicitações feitas e das respostas providas e revi-
são periódica dos recursos e procedimentos. Este
processo deve, continuamente, identificar melho-
ras potenciais, documentar os progressos até a
implementação e avaliação das mudanças institu-
ídas, a posteriori.18
Um processo de revisão por pares pode ser
aplicado a perguntas selecionadas. Quando pos-
sível, o processo de revisão por pares deve in-
cluir os comentários de um ou mais especialistas
externos, e.g., um farmacêutico especialista em
informação sobre medicamentos ou farmacologis-
ta clínico. Usuários podem ser selecionados ran-
domicamente para obtenção da opinião sobre os
serviços providos e/ou da resposta recebida, por
meio de roteiro de questões previamente elabora-
das, o que pode ser feito por telefone ou remessa
de perguntas por correio eletrônico.18
A qualidade dos serviços providos foi verifi-
cada junto aos usuários dos CIM, no Brasil,33 Ín-
dia34 e Sudão.35 No Brasil, a resposta foi completa
para 87% dos respondentes e 99% tem a intenção
de usar o serviço novamente. Na Índia, 95% acre-
ditam ter recebido a resposta apropriada e 100%
Figura 2 – Fundamentos da consolidação do Centro de
usam o CIM regularmente. No Sudão, 90% clas-
Informação sobre Medicamentos sificaram o serviço como bom a excelente e 95%
Fonte: Vidotti, 1999 afirmaram a intenção de continuar a usar o centro.

89
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS Coletânea de Farmácia Hospitalar
EM HOSPITAL COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A FARMACOTERAPIA

08 LIÇÕES APRENDIDAS
1. Os CIM provêem informação independente e atualização de fontes de informação sobre
sobre o uso clínico de medicamentos, pro- medicamentos, equipamentos e mobiliário.
movendo o uso racional desses produtos. 5. A principal atividade do CIM é responder per-
2. Os CIM ajudam a melhorar a terapêutica farma- guntas sobre o uso de medicamentos.
cológica e são custo-efetivos. 6. Publicação de boletim e participação em Co-
3. O farmacêutico que atua no CIM deve ter capa- missão de Farmácia e Terapêutica são outras
citação específica. atividades importantes.
4. A estruturação do CIM requer comprometi- 7. Execução de programa de garantia de quali-
mento institucional com sua instalação, de- dade é essencial para avaliação e aperfeiçoa-
senvolvimento e manutenção, incluindo re- mento dos serviços.
cursos para pagamento de salários, aquisição

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Coletânea de Farmácia Hospitalar IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
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91
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar

GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA


HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE
HELENA MÁRCIA DE OLIVEIRA MORAES BERNARDINO
ILENIR LEÃO TUMA
EUGENIE DESIRRÉ RABELO NÉRI

01 INTRODUÇÃO
As pessoas são os principais recursos das diretrizes da política de recursos humanos da or-
organizações. A gestão de pessoas é uma área ganização.
contingencial e situacional, que depende, dentre Para a excelência dos serviços prestados e o
outras variáveis, da cultura de cada organização. cumprimento da sua missão, a farmácia hospitalar
Muitos foram os mo- precisa contar com profissionais em número sufi-
mentos pelos quais a gestão ciente e perfil adequado ao desempenho de suas
de pessoas passou no mun- funções.
do, desde o mecanicismo,
passando pela reengenha-
ria, chegando atualmente na era da globalização
dos negócios e crescente concorrência mundial. O
cenário atual tem como palavras de ordem: pro-
dutividade, qualidade e competitividade e, nesse
contexto, as pessoas são consideradas como van-
tagens competitivas dentro das organizações, aí
inseridos os hospitais e como subsistema a farmá-
cia hospitalar. As pessoas deixam de ser o recurso
organizacional mais importante para se tornarem
os parceiros principais do negócio, conferindo-lhe O grau de instrução dos colaboradores que
dinâmica, vigor e inteligência1. comporão o quadro de pessoal da farmácia hospi-
O desenvolvimento de uma cultura huma- talar deve ser compatível com a complexidade das
nística e o posicionamento interdisciplinar do funções, que lhes são delegadas e estes devem ser
farmacêutico hospitalar se faz necessário para o capacitados e treinados de acordo com programas
bom desempenho profissional, face à articulação e previamente elaborados. Treinamentos periódicos,
integração da farmácia hospitalar com os demais por meio de programa de educação continuada,
serviços e unidades clínicas. Desenvolver habilida- são necessários para a otimização de processos.
des e usar da empatia para ser capaz de entender e Estabelecer parcerias com o setor de Recur-
motivar pessoas e grupos é fundamental nas rela- sos Humanos do hospital contribui para a melho-
ções interpessoais e para a eficácia dos resultados ria da qualidade e eficácia dos programas de trei-
na gestão de pessoas. namento e educação continuada.
Na função de gerente de recursos humanos, O número de auxiliares que, sob a supervisão
o farmacêutico chefe da farmácia hospitalar deve do farmacêutico, executarão o trabalho operacio-
definir o perfil dos profissionais que atuarão no nal, dependerá da disponibilidade de recursos fi-
apoio operacional, bem como os critérios de se- nanceiros, do grau de automatização dos serviços
leção e avaliação de desempenho, respeitando as e da informatização da unidade.

92
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE

A elaboração, implementação, acompanha-


A Sociedade Brasileira de Farmácia
Hospitalar (Sbrafh) recomenda mento e avaliação do PPRA poderão ser feitas
pelo Serviço Especializado em Engenharia de Se-
Para as atividades básicas de dispensação para gurança e em Medicina do Trabalho ou por pessoa
pacientes internados e logística de suprimen- ou equipe de pessoas que, a critério do empre-
tos, como parâmetros mínimos para recursos gador, sejam capazes de desenvolver o disposto
humanos: 01 farmacêutico para cada 50 leitos, desta NR.
01 auxiliar de farmácia para cada 10 leitos e 01
almoxarife para cada 50 leitos2. Na organização que possui terapia antine-
oplásica deve constar no PPRA a descrição dos
riscos inerentes às atividades de recebimento, ar-
Buscar o desenvolvimento e o envolvimen- mazenamento, preparo, distribuição, administra-
to dos colaboradores, no aspecto individual e de ção dos medicamentos e das drogas de risco. Para
equipe, é primordial para o sucesso da farmácia efeito da NR 32 consideram-se medicamentos e
hospitalar, expresso pela melhoria de resultados drogas de risco aquelas que possam causar geno-
revertidos ao paciente e à instituição e na satis- toxicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
fação dos clientes internos e externos. toxicidade séria e seletiva sobre órgãos e siste-
O gestor do serviço de farmácia hospitalar mas. O PPRA é parte integrante do conjunto mais
precisa estar preparado para novos e constantes amplo das iniciativas da empresa no campo da
desafios. Persistência e perseverança são atitudes preservação da saúde e da integridade dos traba-
necessárias para promover mudanças de paradig- lhadores, devendo estar articulado com o disposto
mas e atitudes. nas demais NR, em especial com o Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO
1.2 Aspectos da legislação previsto na NR- 07 e as Comissões Internas de
Prevenção de Acidentes de Trabalho (CIPA), pre-
A organização é responsável por implemen- vista na NR 05.
tar medidas de proteção e segurança à saúde do A Norma Regulamentadora – NR 07 estabe-
trabalhador. As diretrizes estão estabelecidas em lece a obrigatoriedade de elaboração e imple-
Norma Regulatória NR 32 aplicada a todos os ser- mentação, por parte de todos os empregadores
viços de saúde3. e instituições que admitam trabalhadores como
A Norma Regulamentadora – NR-09 estabe- empregados, do Programa de Controle Médico de
lece a obrigatoriedade da elaboração e imple- Saúde Ocupacional – PCMSO, com o objetivo de
mentação, por parte de todos os empregadores e promoção e preservação da saúde do conjunto
instituições, do Programa de Prevenção de Riscos dos seus trabalhadores. Esta NR estabelece os
Ambientais – PPRA que, para os serviços de saúde, parâmetros mínimos e as diretrizes gerais a se-
deve conter a identificação dos riscos biológicos rem observados na execução do PCMSO, podendo
mais prováveis, em função da localização geográ- os mesmos ser ampliados mediante negociação
fica e da característica do serviço de saúde e seus coletiva de trabalho. O PCMSO deve incluir, en-
setores. tre outros, a realização obrigatória dos exames
As ações do PPRA devem ser desenvolvidas médicos: admissional, periódico, de retorno ao
no âmbito de cada unidade da empresa, sob a trabalho, de mudança de função e demissional6.
responsabilidade do empregador com a participa- A todo trabalhador dos serviços de saúde
ção dos trabalhadores, sendo sua abrangência e deve ser fornecido, gratuitamente, programa de
profundidade, dependentes das características dos imunização ativa contra tétano, difteria, hepatite
riscos e das necessidades de controle4. B e os estabelecidos no PCMSO. Sempre que hou-
O conhecimento e a percepção que os traba- ver vacinas eficazes contra outros agentes bioló-
lhadores têm do processo de trabalho e dos riscos gicos a que os trabalhadores estão ou poderão
ambientais presentes, incluindo os dados consig- estar expostos, o empregador deve fornecê-las
nados no Mapa de Riscos, previsto na NR-5, deve- gratuitamente. O empregador deve fazer o contro-
rão ser considerados para fins de planejamento e le da eficácia da vacinação sempre que for reco-
execução do PPRA em todas as suas fases5. mendado pelo Ministério da Saúde e seus órgãos e

93
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar

providenciar, se necessário, seu reforço. A vacina- a empresa e para o trabalhador7.


ção deve ser registrada no prontuário clínico indi- Analisar um cargo significa detalhar quais
vidual do trabalhador, previsto na NR-07. Deve ser conhecimentos, habilidades e atitudes são exi-
fornecido ao trabalhador comprovante das vacinas gidas dos seus ocupantes, de forma a poder
recebidas. desempenhá-lo adequadamente. A descrição do
cargo focaliza o conteúdo dele – o que o ocupan-
1.3 Sistemas de trabalho te faz, quando, como e porque faz – e a análise
do cargo procura determinar quais os requisitos
1.3.1 Organização da força de trabalho e estru- físicos e mentais que o ocupante deve possuir,
tura de cargos as responsabilidades e as condições nas quais o
trabalho deve ser feito. Geralmente a análise e
A estrutura de cargos é um recurso importan- descrição do cargo são as bases do sistema de
te para melhorar o desempenho dos colaboradores. administração de salários8.
As organizações criam em seu organograma uma
estrutura de cargos, que os define e hierarquiza. 1.3.2 Recrutamento, seleção e contratação
Para a compreensão da estrutura de cargos,
faz-se necessário conhecer conceito de cargo, ta-
refas e funções. Segundo Cunha (2004) a tarefa
existe como um conjunto de elementos que requer
o esforço humano para determinado fim. Quando
tarefas suficientes se acumulam para justificar o
emprego de um trabalhador, surge a função. As-
sim a função é um agregado de deveres, tarefas e
responsabilidades que requerem o serviço de um
indivíduo. Deste modo, as funções que são seme-
lhantes em sua natureza e requisitos são chama-
das de cargo. Portanto, cargo pode ser definido
como um grupo de funções idênticas na sua maio-
ria ou em todos os aspectos mais importantes das Todas as empresas, independente de suas
tarefas que as compõe7. características, necessitam, em algum momento,
Descrever um cargo significa relacionar o que realizar recrutamento, seleção e contratação.
o ocupante faz, como ele faz, sob quais condi- Recrutamento pode ser entendido como o
ções e porque ele faz. A descrição do cargo é um convite, por meio de diversos veículos de mídia,
retrato simplificado do conteúdo e das principais para que as pessoas participem de um processo
responsabilidades do cargo. seletivo. A seleção constitui-se na escolha, den-
A estrutura de cargos pode influenciar posi- tre aqueles que atenderam ao convite, aquele com
tivamente a motivação, o desempenho e a satis- maior chance de se ajustar ao cargo e desempe-
fação com o trabalho dos que os ocupam8. nhá-lo adequadamente. É em essência um processo
A busca por um modelo de cargo que produza de comparação entre os requisitos do cargo a ser
no ocupante do mesmo motivação, elevado de- preenchido e o perfil dos candidatos recrutados9.
sempenho, alta satisfação com o trabalho, poucas Por meio de recrutamento e seleção, quando
faltas, e baixa rotatividade, é objetivo incessan- bem conduzido, as empresas conseguem agregar
te da área de gestão de pessoas. Diversos mo- pessoas competentes aos seus quadros e, como
delos foram testados, desde o da especialização conseqüência direta, melhoram a qualidade dos
do trabalho (Taylor), em que as atividades foram serviços prestados e a imagem da empresa peran-
bastante segmentadas, passando pelo modelo de te a sociedade10.
enriquecimento do cargo, em que foi ampliado o A atividade de recrutamento e seleção deve,
escopo da tarefa (horizontal e verticalmente), até preferencialmente, ser realizada por um psicólogo
o modelo de valorização das características do organizacional, juntamente com o farmacêutico
trabalho, na busca por melhores resultados para responsável pela área para a qual está sendo reali-

94
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE

zada a seleção. Quando realizada de forma eficien- As responsabilidades e competências dos


te, agrega qualidade, porém se deficiente, pode profissionais e do pessoal de apoio (farmacêuti-
gerar alta rotatividade de funcionários, aumento cos, auxiliares de farmácia, almoxarifes, secretá-
desnecessário dos custos de recrutamento e seleção ria, estagiários) devem estar claramente defini-
e comprometimento do ambiente de trabalho10. das, de forma a serem compreendidas pelas pes-
Como técnicas de seleção cita-se: entrevis- soas no seu ambiente de trabalho.
tas; prova ou teste de conhecimento ou capacida- As qualificações e experiências anteriores
de na área; testes psicométricos; testes de perso- dos candidatos, suas habilidades, competências e
nalidade; técnicas de simulação. disposição em contribuir para o cumprimento da
Para aumentar o sucesso missão da farmácia, devem também ser conside-
de um processo seletivo, um radas no processo de seleção.
candidato deverá ser avaliado Para a contratação do funcionário apresen-
com base em competências tam-se dois aspectos fundamentais: o contrato
técnicas e aspectos comporta- formal que é assinado com relação ao cargo a ser
mentais, tais como: postura ética, criatividade em ocupado e o contrato psicológico que estabelece
lidar com as situações do dia-a-dia e iniciativa10. o que a organização e o individuo esperam reali-
A cada dia, os aspectos comportamentais es- zar e ganhar com o novo relacionamento11.
tão se tornando mais relevantes no processo sele-
tivo das empresas. 1.3.3 Integração dos novos membros
No processo de recrutamento e seleção de-
vem ser assegurados os aspectos éticos e que per- Após recrutar, selecionar e admitir o funcio-
mitam condições de igualdade de avaliação entre nário, o mesmo deve ser integrado à empresa,
os candidatos. preferencialmente passando por um treinamento
Classifica-se o recrutamento em interno e introdutório, momento em que recebe orienta-
externo, e é função e responsabilidade da gestão ções a respeito de sua função e toma ciência das
estratégica de pessoas. normas e procedimentos do serviço.
O recrutamento interno considera empre- Devem ser apresentados ao mesmo a missão,
gados atuais para promoções ou transferências. visão e valores da farmácia hospitalar, metas para
Representa uma oportunidade de ascensão fun- o período, programas desenvolvidos (qualidade e
cional, com repercussão na motivação e redução segurança, dentre outros), sistema informatizado
da evasão de pessoal e deve ser realizado antes (caso o mesmo necessite utilizá-lo) e proceder a
de se optar pelo recrutamento externo. O recruta- apresentação formal ao responsável pela área que o
mento externo consiste na busca de profissional está recebendo e às pessoas que compõe a equipe.
disponível no mercado. Amplia as possibilidades
de escolha e pode agregar novos talentos à equi- 1.3.4 Gerenciamento e avaliação do desempenho
pe. Ao final do processo seletivo a empresa deve
informar aos candidatos não selecionados sua si- O indivíduo é avaliado e analisado para
tuação em comparação ao candidato selecionado, efeitos de admissão, demissão, promoção, au-
como forma de contribuição. mento salarial, dentre outros. Constituem ob-
A utilização da descrição de cargos no pro-
jetivos para sustentação da implantação de um
cesso de recrutamento e seleção é uma ferramen-
sistema de avaliação: manter a motivação e o
ta importante.
comprometimento, estimular a eficácia na co-
municação interna, ajustar os objetivos com as
Descrição de Cargos – Deve conter:
metas da organização e identificar as necessi-
• Nome do cargo; dades de treinamento e desenvolvimento12. Ao
• Superior imediato;
olharmos as pessoas por sua capacidade de en-
• Atribuições;
• Requisitos mínimos; trega, temos uma perspectiva mais adequada
• Escolaridade; para avaliá-las, para orientar o desenvolvimento
• Qualificações; delas e para estabelecer recompensas. O termo
• Requisitos desejáveis.
“entrega” se remete ao conceito de competência

95
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar

estabelecido por Fleury, e refere-se ao indivíduo portamento (que pode ser medido pela avaliação
que sabe agir de maneira responsável e ser reco- 360°)13.
nhecido por isso12. A avaliação de desempenho é uma ferramenta
Uma das questões mais difíceis na gestão de que permite medir a maneira pela qual cada fun-
pessoas é definir e avaliar o desempenho. cionário está desempenhando seu papel dentro da
organização e o quanto está ou não cumprindo as
funções do cargo que ocupa. A avaliação levanta
dados, traça um mapeamento dos resultados apre-
sentados pelos funcionários, tendo como foco o
levantamento dos pontos fortes e pontos a serem
melhorados, estabelecendo um plano de ação que
Dutra define desempenho como o conjunto favoreça a qualidade dos serviços prestados.
de entrega e de resultados de uma determinada O gerenciamento do desempenho das pessoas
pessoa para a empresa ou negócio. Ao avaliarmos na organização e consequentemente da farmácia
o desempenho de um indivíduo nos tornamos ap- hospitalar deve ser realizado por meio de instru-
tos a verificar que ele se divide em três dimensões mentos estruturados, que permitam autoavaliação
que interagem entre si: desenvolvimento (defini- e avaliação pela equipe.
do como a capacidade do indivíduo em lidar com As formas de avaliação do desempenho, ins-
situações cada vez mais complexas), esforço (li- trumentos e programas de desenvolvimento, re-
gado à motivação e às condições favoráveis ofe- muneração e incentivos serão abordados na 2ª
recidas pela empresa ou pelo mercado) e o com- parte deste encarte.

2. QUALIDADE DE VIDA
2.1 Saúde ocupacional, segurança e ergonomia lo-esqueléticos relacionados ao trabalho, projeto
de posto de trabalho, segurança e saúde.
A saúde • Ergonomia cognitiva – refere-se aos pro-
ocupacional está cessos mentais tais como percepção, memória,
relacionada com raciocínio e resposta motora conforme afetem as
as condições interações entre seres humanos e outros elemen-
ambientais de tos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem
trabalho que as- o estudo da carga mental de trabalho, tomada de
segurem a saúde decisão, desempenho especializado, interação
física e mental e com as condições de saúde e homem computador, stress e treinamento con-
bem-estar das pessoas. A ergonomia no trabalho forme esses se relacionem a projetos envolvendo
é definida pela Associação Internacional de Ergo- seres humanos e sistemas.
nomia como uma disciplina científica relacionada • Ergonomia organizacional – concernente à
ao entendimento das interações entre os seres hu- otimização dos sistemas sóciotécnicos, incluindo
manos e outros elementos ou sistemas, e à apli- suas estruturas organizacionais, políticas e de
cação de teorias, princípios, dados e métodos a processos.
projetos, a fim de otimizar o bem estar humano e Os tópicos relevantes incluem comunicações,
o desempenho global do sistema17. projeto de trabalho, organização temporal do tra-
De maneira geral, seus domínios são: balho, trabalho em grupo, projeto participativo,
• Ergonomia física – está relacionada com novos paradigmas do trabalho, trabalho coope-
as características da anatomia humana, antropo- rativo, cultura organizacional, organizações em
metria, fisiologia e biomecânica em sua relação à rede, tele-trabalho e gestão da qualidade.
atividade física. Os tópicos relevantes incluem o Trata-se de uma disciplina orientada para
estudo da postura no trabalho, manuseio de mate- uma abordagem sistêmica de todos os aspectos
riais, movimentos repetitivos, distúrbios múscu- da atividade humana. Para dar conta da amplitude

96
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE

dessa dimensão e poder intervir nas atividades do dores, pois o foco de satisfação das necessidades
trabalho, é preciso contar com os ergonomistas, muda continuamente, assim como o objeto de
(profissionais capacitados) que têm uma aborda- motivação. A motivação é o fator chave para o
gem holística de todo o campo de ação da disci- alcance dos objetivos propostos pela organiza-
plina, tanto em seus aspectos físicos e cogniti- ção. Nenhum indivíduo desmotivado envolve-se
vos, como sociais, organizacionais e ambientais17. plenamente em direção ao abarcamento destes
objetivos.
2.2 Bem estar, satisfação e motivação A teoria da equidade parte do pressuposto
de que as pessoas querem ser tratadas de maneira
Uma grande preocupação das organizações é justa em relação às demais; e se acreditam que
a questão da motivação no trabalho. Desta forma, seu tratamento é desigual, adotam ações para re-
a busca de explicações para a motivação do traba- duzir essa disparidade8.
lhador em relação ao seu trabalho tem sido tema A teoria da expectativa sustenta que as pes-
constante em várias pesquisas efetuadas por cien- soas se motivam a trabalhar para alcançar um
tistas do comportamento humano. O fenômeno objetivo que desejam e que acreditam ter uma
motivacional pode ser entendido, genericamente, possibilidade razoável de alcançar. Os componen-
como sendo uma fonte de energia interna que di- tes gerais do modelo são esforço e resultados,
reciona ou canaliza o comportamento do indiví- descritos sob a ótica da combinação entre os ele-
duo na busca de determinados objetivos e ainda mentos: expectativa de esforço e desempenho e
como um conjunto de forças que leva as pessoas a expectativa de desempenho e resultado.
se engajar numa atividade em vez de outra. “Para gerar motivação, o gestor terá de des-
Este estado interno que energiza o compor- cobrir quais recompensas cada funcionário quer,
tamento está diretamente relacionado com as quão valiosas essas recompensas são para cada
necessidades de cada pessoa, necessidades estas um, medir as várias expectativas e, finalmente,
que variam de indivíduo para indivíduo, em razão ajustar as relações entre esses fatores8”.
das diferenças individuais inerentes ao próprio ser Ainda sobre a teoria da expectativa, esta
humano. Daí a dificuldade de se estudar e compre- oferece linhas mestras à atuação cotidiana dos
ender o homem e sua interação com o seu traba- gestores, tais como:
lho. As organizações no âmbito geral são susten- 1. Determine que resultados primordiais cada
tadas por uma gama de recursos, dentre os quais é funcionário almeja;
conveniente destacar a importância dos recursos 2. Decida que níveis de desempenho são ne-
humanos. Afinal, é o único recurso insubstituível. cessários para alcançar as metas organizacionais;
No entanto, para que as pessoas possam exercer 3. Assegure-se de que os níveis desejados de
o máximo da sua eficiência nas organizações, é desempenho são possíveis;
necessário que estejam bem motivadas18 4. Relacione os resultados desejados com o
desempenho almejado;
5. Analise a situação para determinar expec-
tativas conflitantes;
6. Assegure-se de que as recompensas sejam
boas;
7. Assegure-se de que, no geral, o siste-
ma seja equânime para todos. A motivação pelo
aprendizado, outro componente chave da motiva-
ção dos funcionários, responsável por um ritmo
permanente de mudanças no comportamento ou
A motivação não é estática. As pessoas não no potencial de comportamento, resulta da expe-
costumam ficar motivadas por muito tempo pelo riência direta ou indireta8.
mesmo fator motivacional. É por este motivo que Para transformar o potencial de motivação
as organizações devem estar em constante ava- em melhora de desempenho, os gestores preci-
liação do grau de motivação dos seus colabora- sam entender vários procedimentos operacionais,

97
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar

sistemas e métodos, para aplicarem as teorias da as contribuições que o funcionário dá à empresa


motivação como ferramenta. Ao se tentar empre- correspondem aos incentivos oferecidos por ela8.
ender pesquisa no campo da motivação no traba- A satisfação ou insatisfação no trabalho re-
lho é que se constata, na prática, a vastidão e a flete a medida da gratificação e da plenitude de
complexidade que o assunto encerra. alguém no mesmo. Pesquisas revelam que fatores
Na verdade, quaisquer comentários conclu- pessoais, como necessidades e aspirações, junto
sivos simplistas, decorrentes de generalizações com fatores de grupo e organizacionais, como
fáceis, podem não passar de meras especulações, relacionamento com colegas e supervisores, con-
não resistindo de modo algum a uma crítica mais dições de trabalho, políticas de trabalho e remu-
rigorosa. No entanto, as pessoas no ambiente de neração determinam a satisfação no trabalho.
trabalho não agem somente por causa dos seus “Sempre que uma organização avalia ou jul-
impulsos interiores, das necessidades não aten- ga o comportamento de seus funcionários deve
didas ou devido a aplicações de recompensas e certificar-se de levar em conta também as cir-
punições. Em lugar disso, as pessoas devem ser cunstâncias em que o comportamento se ma-
vistas como indivíduos pensantes cujas crenças, nifesta. Levar em consideração as diferenças
percepções e estimativas de probabilidade in- individuais e as contribuições dos funcionários,
fluenciam fortemente seus comportamentos. relacionando-as aos incentivos e aos contextos, é
Daí conclui-se que o tema Motivação no Tra- um grande desafio para as organizações que pro-
balho não se trata apenas de aglomerações teó- curam estabelecer contratos psicológicos eficazes
ricas; trata-se da real necessidade de manter as e adequar, da melhor maneira possível, pessoas a
pessoas em contínuo estado de contentamento, cargos8”.
para expandir suas habilidades e competências de
forma que o seu ambiente laboral não se torne um 2.3 Melhoria da qualidade de vida
local de sofrimento psíquico.
É importante para todos os gestores compre- A construção da qualidade de vida no tra-
ender o indivíduo nas organizações. balho é um exercício de mudança permanente de
Um recurso básico para facilitar essa compre- hábitos, exige paciência e persistência.
ensão é o contrato psicológico, conjunto de expec- A qualidade de vida no trabalho (QVT) refe-
tativas que as pessoas têm em relação à sua con- re-se à preocupação com o bem-estar geral e a
tribuição com a empresa e ao retorno que terão8. saúde dos trabalhadores no desempenho de suas
O contrato psicológico é originado a partir tarefas, conceito desenvolvido por Louis Davis na
de uma série de expectativas subjetivas, as quais década de 1970.
estão ligadas intrinsecamente às necessidades Atualmente o conceito de QVT envolve tanto
do indivíduo e às necessidades da organização. os aspectos físicos e ambientais, como os aspec-
Governam a relação básica entre funcionários e tos psicológicos do local de trabalho. A QVT repre-
organizações. Quando o contrato é violado, os senta o grau em que os membros da organização
empregados podem apresentar queda em seu são capazes de satisfazer suas necessidades pes-
comprometimento para com a organização e con- soais por meio do seu trabalho.
sequente aumento nas intenções de abandono/
demissão e outras formas de desafeto.
Cada pessoa numa organização é essencial-
mente diferente de todas as outras. Para serem
bem-sucedidos, os gestores precisam reconhecer
a existência dessas diferenças e tentar entender
como elas interferem no comportamento.8
É importante entender e administrar a ade-
quação cargo/pessoa para que os contratos psico-
lógicos sejam eficazes. Esta é uma tarefa difícil, Chiavenato (2004), apresenta 3 modelos de
em razão das diferenças individuais. QVT, o modelo de Nadler e Lawlerm e o modelo
A adequação cargo/pessoa existe quando de Hackman e Oldhan e de Walton. No modelo de

98
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE

Walton existem oito fatores que afetam a QVT, a usar os recursos necessários. O “querer fazer” é
saber: compensação justa e adequada, condições uma questão volitiva que depende da satisfa-
de saúde e segurança no trabalho, utilização e ção, da percepção que o funcionário tem sobre
desenvolvimento de capacidades, oportunidade a empresa e da cultura organizacional; logo o
de crescimento e segurança, integração social na “querer fazer” está associado ao clima organi-
organização, garantias constitucionais, trabalho e zacional, que muitas vezes é onde encontramos
espaço total de vida e relevância social da vida no as causas da má qualidade dos serviços19.
trabalho14. O clima organizacional, embora abstrato,
pode ser avaliado por meio do contato direto dos
2.4 Clima organizacional gestores com seus subordinados, entrevista de
desligamento, ombudsman, programas de suges-
Nos conceitos de vários autores sobre cli- tão, “café da manhã com o presidente” e pesquisa
ma organizacional, podem ser encontradas três de clima.
palavras-chave: satisfação, percepção e cultura. A estratégia de avaliação de clima por meio
“O clima é o indicador do grau de satisfação de pesquisa permite à empresa conhecer de forma
dos membros de uma empresa em relação a dife- concreta o seu clima organizacional, identificando
rentes aspectos da cultura ou realidade aparente tanto os problemas reais no campo das relações de
da organização, tais como políticas de RH, mo- trabalho, como os potenciais.
delo de gestão, missão da empresa, processo de A pesquisa de clima revela o grau de sa-
comunicação, valorização profissional e identifi- tisfação dos funcionários, aponta tendências de
cação da empresa”, segundo Roberto Coda citado comportamento e predisposição para apoiar ou
por Ricardo Luz19. rejeitar projetos a serem desenvolvidos; permitin-
O clima organizacional tem impacto sobre do intervenções, por meio de adoção de políti-
a qualidade dos serviços prestados. Para um cas na gestão de pessoas ou seu aprimoramento.
funcionário prestar um bom serviço é preciso Já a utilização de indicadores de alerta sobre a
que ele saiba, que possa e queira fazê-lo. O qualidade do clima organizacional aponta a rota-
“saber fazer” é uma questão de conhecimento, tividade de pessoal, absenteísmo, conflitos inter-
habilidades e atitudes; logo, uma questão de pessoais e interdepartamentais, desperdícios de
capacitação e desenvolvimento para o trabalho. materiais e queixas no serviço de saúde, apenas
O “poder fazer” é uma questão de ter e poder presumem sobre o clima organizacional19.

REFERÊNCIAS
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humano das organizações. 8ª edição. São grama de Controle Médico de Saúde Ocupa-
Paulo: Atlas; 2004. cional-PCMSO.Diario oficial da União de 08 de
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3. Brasil. Ministério do trabalho. NR nº 32 de 11 soas em administração hospitalar. Rio de
de novembro de 2005. Diário oficial da União Janeiro: Qualitymark; 2004. Capítulo 3, p.
de 16 de novembro de 2005. 51-64.
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oficial da União de 06 de julho de 1978. Ática; 2006, p. 488.
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missão Interna de Prevenção de Acidentes. as em administração hospitalar. Rio de Ja-
Diario oficial da União de 24 de fevereiro de neiro: Qualitymark; 2004. Capítulo 5, Parte
1999. I. p. 97-119.

99
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE Coletânea de Farmácia Hospitalar

10. Beertelli, S. B. Gestão de Pessoa em adminis- 15. Oliveira V, In Bertelli SB. Gestão de pessoas
tração hospitalar. Rio de Janeiro: Qualityma- em administração hospitalar. Rio de Janeiro:
rk; 2004. p. 252. Qualitymark; 2004. Capítulo 5, parte II, p.
11. Cavichiolli AT, Melo RN, In Bertelli SB. Gestão 121-128.
de pessoas em administração hospitalar. Rio 16. Bom sucesso, E. de P. Relações interpessoais
de Janeiro : Qualitymark; 2004. Capítulo 4, p. e qualidade de vida no trabalho. Rio de Janei-
65-87. ro: Qualitymark; 2002. p. 200
12. Fleury MT, Apud Dutra JS. Org. Gestão por 17. Associação Brasileira de Ergonomia http://
competências. São Paulo: Gente; 6ª edição, www.abergo.org.br/ em 16/05/2010
2001. p. 25-43. 18. Nalik AM, e cols. Gestão de recursos humanos.
13. Dutra JS. Org. Gestão por competências. São Coleção. Saúde e Cidadania. São Paulo: Facul-
Paulo: Gente; 6ª edição, 2001. p. 130 dade de Saúde Pública da Universidade de São
14. Chiavenato I, Gestão de pessoas e o novo pa- Paulo; 1998.
pel dos recursos humanos nas organizações. 19. Luz R. Gestão do clima organizacional, Rio de
2ª edição. São Paulo: Elsevier. 2004. Janeiro: Qualitymark; 2003. p.11

100
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)

GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR


E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)
HELENA MÁRCIA DE OLIVEIRA MORAES BERNARDINO
JOCIMAR BERNARDINO
ILENIR LEÃO TUMA
EUGENIE DESIRÈE RABELO NÉRI

01 INTRODUÇÃO
“O contexto da gestão de pessoas é forma- A Gestão de Pessoas é contingencial e situ-
do por pessoas e organizações. As pessoas passam acional, pois depende de vários aspectos, como
boa parte de suas vidas trabalhando dentro de or- a cultura que existe em cada organização, da
ganizações, e estas dependem daquelas para poder estrutura organizacional adotada, das caracterís-
funcionar e alcançar sucesso. Separar o trabalho da ticas do contexto ambiental, do negócio da or-
existência das pessoas é muito difícil, senão qua- ganização, da tecnologia utilizada, dos processos
se impossível, diante da importância e do impacto internos e de uma infinidade de outras variáveis
que o trabalho nelas provoca. Assim, as pessoas importantes.1 Aí, inserido os hospitais e como
dependem das organizações nas quais trabalham subsistema a farmácia hospitalar, independente
para atingir seus objetivos pessoais. Com toda do porte ou do sistema público ou privado, políti-
certeza, as organizações jamais existiriam sem as cas de gestão de pessoas devem ser adotadas para
pessoas, que lhes dão vida, dinâmica, energia, in- o sucesso da organização.
teligência, criatividade e racionalidade”.1 O manual de gestão de pessoas segunda
As organizações bem-sucedidas deram-se conta parte tem o objetivo de apresentar conceitos
de que as pessoas constituem parte integrante do e formulários de utilização prática no dia a
capital intelectual e tratam seus funcionários como dia da farmácia hospitalar e serviços de saúde
parceiros do negócio e fornecedores de competências para avaliação de desempenho, capacitação e
e não mais como simples empregados contratados.1 desenvolvimento.

02 DESCRIÇÃO DE CARGOS
A maneira como as pessoas trabalham nas variam conforme o cargo, nível hierárquico e
organizações depende basicamente de como área de atuação.
seu trabalho foi planejado, modelado e organi- A descrição de cargos constitui a maneira
zado, ou seja, de como foi feita a distribuição como cada cargo é estruturado, incluindo o nome
das tarefas. do cargo, superior imediato, atribuições, requisi-
Para a organização, o cargo constitui a base tos mínimos, escolaridade, qualificações e requi-
da aplicação das pessoas nas tarefas organizacio- sitos desejados.
nais. Para a pessoa, o cargo constitui uma das A descrição de cargos é uma ferramenta impor-
maiores fontes de expectativas e de motivação na tante para o processo de recrutamento e seleção,
organização. análise e adequação de função e para o planejamen-
Cada cargo exige competências para que to de cargos e salários. No quadro 1 são apresenta-
seja bem desempenhado. Essas competências das instruções para elaborar descrição de cargo.

101
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar

Quadro 1: Instruções para elaborar descrição de cargo.

INSTRUÇÕES PARA ELABORAR


DESCRIÇÃO DE CARGO

Crie um formulário para descrição de cargos contendo os tópicos mencio-


nados nessas instruções.

Nome do Cargo: Mencione o título pelo qual o cargo é conhecido na empresa.


Superior imediato: Descreva o nome do cargo superior imediato conforme estrutura hierárquica.
Atribuições: Descreva o conjunto de tarefas ou atribuições que o ocupante deverá desempenhar (qual é o conte-
údo do cargo).
Para redação das atribuições do cargo deve-se utilizar verbos que indicam realização de atividades, como por
exemplo: executar, manter, organizar, preparar, receber, elaborar, apoiar, apresentar, consultar, contatar, controlar,
especificar, informar, reportar, rever, verificar.
Requisitos mínimos: São as habilidades mínimas necessárias para o desempenho da função.
Escolaridade: É o grau de instrução mínimo exigido para o cargo.
Qualificações: É o conjunto de competências e habilidades do ocupante do cargo.
Requisitos desejáveis: São competências e habilidades desejáveis para o desempenho da função.

03 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
A avaliação de desem- atividades para conhecer melhor suas potenciali-
penho é uma apreciação dades.
sistemática do desempe-
nho de cada pessoa, em 3.1 Formas de avaliação de desempenho
função das atividades que
ela desempenha, das metas • Avaliação por objetivo – apreciação do
e resultados a serem alcan- comportamento do avaliado quanto ao cum-
çados e do seu potencial de desenvolvimento.1 primento de metas, avaliação do potencial.
Os objetivos principais da avaliação de de- • Avaliação direta – realizada pelo líder di-
sempenho são: reto, que tem todo compromisso de avaliar o seu
• fazer análise de performance do profissional; subordinado direto.
• Auto-avaliação – Possibilita a participação
• fornecer subsídios para a área de Recursos
ativa do avaliado. A principal vantagem desta mo-
Humanos;
dalidade é que possibilita ao orientador fornecer
• promover feedback comportamental para
feedback, reforçando os pontos fortes e os pas-
colaborador e liderança;
síveis de serem melhorados. A desvantagem é no
• identificar e corrigir atitudes que compro- caso do colaborador possuir um perfil de superva-
metam o desempenho profissional; lorização de si e solicitar sua autopromoção.
• estimular o desenvolvimento de novas po- • Avaliação conjunta –
tencialidades; realizada uma análise con-
• promover mudança comportamental indivi- junta entre o avaliador e o
dual e de equipe.1-2 avaliado. É uma experiência
Todas as pessoas precisam de feedback a res- rica, permite a oportunida-
peito de seu desempenho. A organização também de de troca, transparência,
precisa saber como as pessoas desempenham suas clareza e objetividade.

102
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)

O quadro 2 traz uma sugestão de formulário avalia o colaborador e o colaborador se auto-ava-


para avaliação direta ou conjunta. Na avaliação di- lia. Na segunda etapa chamada de entrevista devo-
reta, a liderança avalia o colaborador. Na avaliação lutiva, liderança e colaborador analisam respostas
conjunta, composta por duas etapas, a liderança e resultados até chegarem a um consenso.

Quadro 2: Sugestão de formulário para avaliação direta ou conjunta.

Nome do colaborador Cargo

Área: Chefia Imediata: Data da Entrevista

O acompanhamento de pessoal é realizado em duas etapas:


1ª Etapa: preenchimento do formulário: liderança e/ou coordenador devem responder (individualmente)
este formulário, tendo como base o desempenho apresentado;
2ª Etapa: Entrevista devolutiva, nesta etapa, Liderança e Colaborador analisam as respostas e
resultados até chegarem a um consenso.

ESSA AVALIAÇÃO DEVERÁ SER ENTREGUE AO RH ATÉ _____/_____/_____

1ª Etapa

Desempenho Apresentado

Características
ABAIXO DO
CARACTERÍSTICAS ÓTIMO BOM REGULAR
ESPERADO

Capacidade para assimilar instruções

Comprometimento com o trabalho

Qualidade do Trabalho

Ritmo/Agilidade no Trabalho

Pontualidade e Assiduidade

Relacionamento com liderança e colegas

Apresentação Pessoal

Atendimento (cliente interno e externo)

Flexibilidade (Capacidade para se adaptar e


contribuir com mudanças)

Observações/comentários e pontos a desenvolver:

103
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar

Quadro 3: Avaliação da liderança.

Nome do colaborador Cargo

Área: Chefia Imediata: Data da Entrevista

FORMULÁRIO DO COLABORADOR
O Acompanhamento da Liderança é feito em duas etapas
1ª Etapa: preenchimento do formulário: colaborador deve preencher (individualmente) este formulário,
tendo como base o desempenho apresentado;
2ª Etapa: Nesta etapa, Liderança e RH analisam as respostas e resultados até chegarem a um
consenso.

ESSA AVALIAÇÃO DEVERÁ SER ENTREGUE AO LIDER ATÉ _____/_____/_____

VISÃO DA EMPRESA

1. Ao chegar, como foi recebido em sua área de trabalho?


_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

2. Recebeu orientações para a execução do seu trabalho? Foram suficientes?


_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

3. Recebeu treinamento nos processos e sistema(s) informatizado(s) aplicáveis a sua área?


Considera-se capacitado para executar os procedimentos?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

4. Recebeu treinamento de integração (Apresentação: Recursos Humanos, Departamento de


Pessoal, Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho)?
Como avalia o conteúdo e aplicabilidade do mesmo?
ótimo bom regular abaixo do esperado
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

5. Apresentou algum tipo de dificuldade para a função? Em caso positivo, foram tomadas ações
que possibilitaram a superação das dificuldades e a promoção do seu desenvolvimento?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

Fonte: adaptado – Gestão de Pessoas Unimed Belo Horizonte 2010

• Avaliação 180º – é uma metodologia de sões estipuladas. Neste tipo de avaliação (em
gestão de desempenho em que as pessoas que rede), o funcionário é avaliado pelo gestor ime-
interagem com o colaborador, em função da diato, pares e clientes internos (a quem presta
execução de seu trabalho, formam um comitê serviços).
com a finalidade de emitir uma apreciação e • Avaliação 360º – é um processo democráti-
avaliação sobre sua performance, nas dimen- co e participativo e consiste em uma avaliação re-

104
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)

alizada pelo funcionário, seu superior imediato (ou seus resultados.1 Apresentamos na Quadro 3 su-
dois pares, quando não há hierarquia), dois clien- gestão de formulário para avaliação da liderança.
tes internos, dois clientes externos (pode ser su- A definição de competência sustenta-se no
primido) e dois subordinados diretos. É de extrema conjunto de conhecimentos, habilidades e atitu-
importância que sejam preservados na aplicação: des que o indivíduo apresenta e deve ser feita a
clareza das informações, total confidencialidade, partir da missão da organização.
esclarecimento de todas as dúvidas e acompanha- O ponto alto do processo de avaliação do
mento da realização do processo. Recomenda-se desempenho é o feedback, que consiste em re-
que essa avaliação seja conduzida por pessoa que velar a percepção do avaliador
não faça parte do quadro da farmácia hospitalar e como uma ferramenta de de-
que tenha formação na área de Recursos Humanos.3 senvolvimento essencial no ge-
A avaliação 360° é uma importante ferra- renciamento das pessoas e do
menta de aprendizagem e desenvolvimento, que desempenho. É visto como um
encerra em si muitos benefícios. Permite que os aprimoramento da performance
participantes obtenham um feedback de qualidade individual, bom andamento dos
sobre suas competências e desempenho e as com- trabalhos e da melhoria do clima
pare com a sua auto-avaliação, oferecendo exce- organizacional. O feedback deve
lentes oportunidades de aumentar a percepção e ser dado de forma construtiva,
a consciência, melhorar a comunicação, identifi- encorajando a pessoa à melho-
car as necessidades de aprendizagem e desenvol- ria, valorizando seus pontos fortes e reforçando
vimento, organizar atividades de aprendizagem seu potencial e sua capacidade. O diálogo deve
em função de prioridades, reforçar a confiança, ser franco e aberto para promover no receptor a
motivar e reavaliar, oferecendo desenvolvimento aceitação da crítica e provocar a mudança que se
individual com foco no trabalho em equipe.3 deseja alcançar. Deve propiciar aos colaboradores
Atualmente é uma das formas mais eficientes um acompanhamento de suas potencialidades, ha-
de avaliação de desempenho, pois avalia o profis- bilidades e promover um maior comprometimento
sional sob vários aspectos do seu desempenho na com a organização, otimizando seu desempenho.
organização. “A implantação de um sistema de avaliação
Para a realização dessa avaliação devem ser de desempenho é um processo que atende à or-
estabelecidos objetivos claros, criando plano de ganização, aos gestores e aos colaboradores, pois
desenvolvimento pessoal e organizacional.3 integra um modelo de gestão de pessoas e de
A “avaliação para cima” constitui uma faceta trabalho, participação nos resultados, desenvol-
específica da avaliação 360º. Ao contrário da ava- vimento e treinamento de pessoal, promoções e
liação do colaborador pela liderança, a “avaliação processo de desligamento”1.
para cima” é o outro lado da moeda e permite que A eficácia do sistema de avaliação de de-
a equipe avalie sua liderança, como ele proporcio- sempenho, para que se constitua em um fator
nou os meios e recursos para a equipe alcançar os impulsionador do sucesso na gestão da farmácia
seus objetivos e como a liderança poderia incre- hospitalar, está alicerçada no comprometimento
mentar a eficácia da equipe e ajudar a melhorar os da direção e na competência da implementação.

04 REMUNERAÇÃO, RECONHECIMENTO E INCENTIVO


Remuneração por competências é a forma de com as exigências do cargo, mas com as qualifica-
remuneração relacionada com o grau de informa- ções de quem desempenha as tarefas3.
ção e nível de capacitação de cada funcionário. Cunha (2004) refere que as empresas enten-
O sistema premia certas habilidades técnicas ou dem por competência os vários atributos como:
comportamentais do funcionário. O foco principal capacidade técnica, personalidade, criatividade,
passa a ser a pessoa e não mais o cargo. Isso inovação e conhecimento. Para Fleury (Fleury apud
significa que a remuneração não está relacionada Dutra, 2001), competência é saber agir de maneira

105
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar

responsável. Implica em mobilizar, integrar, trans- lidades diversas. O novo conceito resgata as di-
ferir conhecimentos, recursos e habilidades, que ferenças: as pessoas ganham pelo que sabem e
agreguem valor econômico à organização e valor pela colaboração no sucesso da empresa. É uma
social ao indivíduo. 3-4 maneira de remunerar pela contribuição pessoal
Na remuneração por competência, os funcio- de cada funcionário à organização e incentivar
nários que ocupam o mesmo cargo podem receber a participação e o envolvimento das pessoas na
salários diferentes, conforme a competência de condução da empresa. Para implementar essa me-
cada um. Essa forma de remuneração surgiu da todologia, Cunha (2004) sugere três passos des-
necessidade de diferenciar empregos com habi- critos no quadro 4.

Quadro 4: Passos para implementar a remuneração por competência.

PASSOS PARA IMPLEMENTAR A REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIA (CUNHA, 2004)

1. Estabelecer de forma conjunta (gerente e funcionários) quais as competências necessárias para o trabalho,
pontos fortes e fracos;
2. Programação conjunta de treinamento;
3. Remuneração personalizada.4

Apesar do art. 461 da CLT vetar diferenças salariais para funções iguais, a remuneração por com-
petência pode ser feita sob a forma de gratificação anual e por participação nos lucros e resultados.3

05 CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
5.1 Identificação e compatibilidade (evidências de trabalhos ineficientes, questioná-
de necessidades rios, solicitação, entrevistas com supervisores e
gerentes, reuniões de departamentos, avaliação
O hospital, por ser uma organização basea- dos funcionários (testes de conhecimento), modi-
da no conhecimento, deve ter na capacitação e ficações do trabalho, entrevistas de desligamento
desenvolvimento os pilares da qualidade da as- (possibilita identificar deficiências da organiza-
sistência. Para tanto, deve instituir programas ção), análise de cargos, relatórios periódicos da
sistemáticos que atendam as necessidades iden- empresa ou de produção.
tificadas e dê resposta aos anseios dos clientes, Após identificar as necessidades deverá ser
cooperando para a excelência do processo assis- elaborada a programação de treinamento, plane-
tencial. jamento e execução do treinamento. A realização
As necessidades de capacitação e desenvol- do treinamento deve ser seguida por avaliação de
vimento devem ser levantadas, contando com a resultados. Esta se constitui no maior desafio da
participação direta dos funcionários envolvidos. área de treinamento. Apresentamos, no quadro 5,
O levantamento das necessidades de treina- sugestão de formulário para avaliação de eficácia
mento deve ser iniciado por uma análise organi- de treinamento.
zacional, em que se procura conhecer o compor- São adotados como instrumentos de avalia-
tamento da organização, se analisa os recursos ção: questionários de expectativas, análise de ha-
humanos disponíveis para as atividades atuais e bilidades e tarefas, testes de habilidades padro-
metas futuras (quantidade e perfis adequados ao nizadas, questionários padronizados de atitudes,
desempenho de cada tarefa, de modo eficaz) e estudo de clima organizacional, dentre outros.6
seus processos.5 A participação nos treinamentos deverá ser
Os meios para levantamento de necessida- registrada em formulário padronizado. Ao final do
des de treinamento são: avaliação de desempe- treinamento, deve ser elaborado relatório contendo
nho (desempenhos insatisfatórios), observação programa, material didático fornecido, avaliações

106
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)

e listas de freqüência, de forma a subsidiar avalia- desenvolvidas, de forma a atender suas necessida-
ções posteriores. As pessoas que compõem a orga- des e as da organização, e integradas à cultura da
nização devem ser permanentemente capacitadas e excelência.

Quadro 5: Formulário para avaliação de eficácia de treinamento.

107
GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II) Coletânea de Farmácia Hospitalar

5.2 Programas de capacitação e um lugar em que o aprendizado não se dissocia


desenvolvimento dos desejos de crescimento individual e da neces-
sidade de crescimento da própria organização. O
As pessoas são elementos estratégicos dos êxito das empresas deve acompanhar e propiciar
serviços de saúde e a chave do sucesso e da qua- o progresso de cada um dos seus colaboradores,
lidade da assistência. Nesse contexto, o processo beneficiando-se dele.4
de capacitação e desenvolvimento assume papel As habilidades e conhecimentos recém adqui-
relevante, pois passa a ter a missão de ensinar o ridos devem ser avaliados em relação à sua utili-
indivíduo a pensar, reelaborar seu significado e dade na execução do trabalho e à sua eficácia no
aprender a fazer autocrítica. apoio à consecução das estratégias da organização.
A força de trabalho deve ser desenvolvida
utilizando-se de métodos de orientação, aconse- 5.3 Gestão do desenvolvimento e da
lhamento e desenvolvimento de carreira. carreira por competência
Deste modo, o treinamento está diretamente
ligado ao processo produtivo, pois reúne infor- As organizações estão cada vez mais pres-
mações e métodos para se produzir mais e tornar sionadas a investir no desenvolvimento humano,
a produção mais ágil. Já o desenvolvimento está pois perceberam a necessidade de estimular e
ligado ao processo de competência. O processo de apoiar o contínuo desenvolvimento das pessoas
desenvolvimento é inerente ao de treinamento, como forma de galgar espaço no mercado cada
porém o contrário não é verdadeiro. vez mais competitivo. Paralelamente, as pessoas
O treinamento está sendo visto como fator se dão conta de que aperfeiçoar-se naquilo que
motivacional pelas empresas e, principalmente nos fazem se tornou condição fundamental para sua
serviços de saúde, onde a efervescência tecnológi- inserção e manutenção no mercado de trabalho.
ca é marcante; tendo correlação entre competência Um grande desafio é orientar esse desenvol-
e otimização dos resultados.7 vimento em um ambiente volátil; para tanto, po-
O treinamento é uma atividade cíclica8 e de-se lançar mão de plano de carreira. Esse plano
deve ser realizado em quatro etapas: deve ser construído por empresa e pessoa, sendo
• 1º levantar necessidades de treinamento; a carreira comparada a uma estrada em permanen-
• 2º programar o treinamento para atingir te construção. Deve ser transparente, permeado
as necessidades; pela honestidade de intenções, sentimento de
• 3º implantar e executar e segurança e clareza nas regras,
• 4º avaliar os resultados. de forma a permitir à pessoa e à
A distribuição adequada do saber é caminho empresa, o delineamento do ca-
privilegiado para o desenvolvimento de todas as minho rumo ao desenvolvimento
pessoas envolvidas, tornando o local de trabalho e crescimento de ambos.

6. CULTURA DA EXCELÊNCIA
A geração do sucesso (cultura da excelência) Os objetivos humanos e organizacionais
está fundamentada, segundo Oliveira (2004), no devem caminhar juntos, para que a necessidade
desenvolvimento das pessoas para a obtenção do de modificar-se aflore espontaneamente, o fun-
desenvolavimento organizacional, treinando, desa- cionário assuma uma atitude proativa e madura,
fiando e estimulando colaboradores a desenvolve- contribuindo para a reestruturação das bases da
rem seus potenciais no trabalho e na vida pessoal. organização.
Os hospitais devem possuir gestores que realizem O objetivo da empresa deve ser transfor-
juntamente com seus funcionários, o planejamento mar todas as pessoas em talentos, mantendo-
e viabilização das metas organizacionais e pessoais.6 -as estimuladas e entusiasmadas, buscando
O desenvolvimento pessoal deve ser focado o aprimoramento pessoal e o crescimento da
no desenvolvimento das potencialidades. equipe como um todo. 6

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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE PESSOAS NA FARMÁCIA HOSPITALAR E SERVIÇOS DE SAÚDE (PARTE II)

7. REFERÊNCIAS
1. Chiavenato I, Gestão de pessoas e o novo pa- tão de pessoas em administração hospitalar.
pel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro : Qualitymark; 2004. Capítulo
2ª edição. São Paulo: Elsevier. 2004 p. 4-5- 4, p. 65-87.
6-7-188-189-224-225-228 6. Oliveira V, In Bertelli SB. Gestão de pessoas
2. Unimed Belo Horizonte:Gestão de pessoas:um emadministraçãohospitalar.RiodeJaneiro:Qua-
novo conceito. 20103. litymark; 2004. Capítulo 5, parte II, p. 121-128.
3. Dutra JS. Org. Gestão por competências. São 7. Bom sucesso, E. de P. Relações interpessoais
Paulo: Gente; 6ª edição, 2001. p. 130 e qualidade de vida no trabalho. Rio de Ja-
4. Cunha JR, In Bertelli SB. Gestão de pessoas neiro: Qualitymark; 2002. p. 200
em administração hospitalar. Rio de Janeiro 8. Beertelli, S. B. Gestão de Pessoa em adminis-
: Qualitymark; 2004. Capítulo 3, p. 51-64. tração hospitalar. Rio de Janeiro: Qualityma-
5. Cavichiolli AT, Melo RN, In Bertelli SB. Ges- rk; 2004. p. 252.

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RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS
NA FARMÁCIA HOSPITALAR
NILSON GONÇALVES MALTA

01 INTRODUÇÃO
Segundo estudos da Associação Americana Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saú-
de Hospitais e outro conduzido por David Philips, de) relatou que 39% dos erros ocorrem no ato da
ambos demonstrados pelo o IOM a em seu relatório prescrição, 12% na transcrição do pedido médi-
To Err is Human, 1999, anualmente, de 44.000 a co, 11% na dispensação e 38% na administração
98.000 pessoas morrem devido a erros médicos dos medicamentos3. Ainda que estes dados não
e cerca de 7.000 unicamente por erros de medi- sejam especificamente da realidade nacional, são
cação, dentro ou fora de hospitais. Levantou-se de vital importância como parâmetros para ações
ainda que 2% das admissões de um hospital eram de melhorias.
sujeitas a eventos adversos a medicamentos pre- Os dados demonstrados anteriormente são
veníveis, elevando o tempo de internação em 4,6 relativamente recentes, contudo, a preocupa-
dias com um custo adicional de 4.700 dólares por ção é bem antiga. Já entre as décadas de 1950
admissão1. e 1960, nos Estados Unidos, foi desenvolvido o
Em estatística do CDC b, neste mesmo rela- Sistema de Distribuição de Medicamentos por
tório, concluía-se que mais pessoas morriam por Dose Unitária (SDMDU) como um meio para se
erros médicos do que por acidentes automobilís- reduzir os números assustadores das estatísticas
ticos. Embora dez anos tenham se passado, estes daquela época. O SDMDU é o sistema pelo qual
dados alarmam e nos põem em atenção em rela- a farmácia dispensa os medicamentos na forma
ção à qualidade do serviço prestado em âmbito a qual se encontra pronto para uso, de acordo
nacional. Os custos decorrentes dos erros seguiam com a dose prescrita pelo médico, sem neces-
em estimativa entre 17 e 29 bilhões de dólares sidade de nova manipulação posterior4. Mesmo
americanos anuais. Os erros de medicação em re- sendo reconhecido como o sistema mais seguro
latório mais recente do IOM contavam, em 2006, de dispensação desenvolvido, até o momento, os
com uma estimativa anual de 400.000 eventos indicadores ainda demonstram que temos muitos
adversos a medicamentos, com consequente custo pontos frágeis no processo e que merecem toda
de 3,5 bilhões de dólares anuais2. nossa atenção. Mas, e agora, se já adotamos o
Em estudo a respeito das origens possíveis melhor método de dispensação, o que nos falta
dos erros de medicação, a ASHP (Associação realizar?

a
O Institute of Medicine (IOM) é uma organização norte-americana, sem fins lucrativos, não governamental, uma das Academias Nacionais dos
Estados Unidos e, desde 1970 parte da Academia Nacional de Ciências daquele mesmo país (www.iom.edu)
b
CDC – Centers for Desease Control and Prevention é a principal agência Americana de prevenção e promoção de saúde pública (www.cdc.gov).

110
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR

02 QUALIDADE E SEGURANÇA NO USO DE MEDICAMENTOS


2.1. Por onde começar? que atendemos diariamente. Desta maneira, a
partir da discussão a respeito da segurança no
Avaliando-se todo o ciclo de utilização do processo de uso do medicamento, o IOM reco-
medicamento e os dados já mencionados da ASHP, menda a informatização e a automação como
percebemos a possibilidade de atuação em ao me- meios para se evitar erros e efeitos adversos5,
nos três pontos: prescrição médica, dispensação em síntese, um mecanismo amplamente dis-
e administração do medicamento. Como o nosso ponível e eficiente como fonte de segurança.
foco é a farmácia, vamos, então, ver o que po- E se na minha instituição ainda não consigo
demos fazer pela dispensação. E, a partir deste realizar a Dose Unitária? É possível aprimorar
raciocínio que desenvolveremos juntos, como a segurança? A resposta é SIM.
atingiremos diretamente a segurança no processo
de administração de medicamentos. 2.3. Acreditações de qualidade
Importante: Toda a discussão que propomos
está aliada a uma forte recomendação de que o Tendo em vista a disseminação da cultura
hospital parta do princípio de possuir um sistema de qualidade e segurança em nossos hospitais,
de prescrição eletrônica. começamos a ver um número cada vez maior
de instituições que buscam nas acreditações e
2.2. Informatização e automação certificações, meios para se diferenciarem neste
mercado. Reforçando a questão de que o sistema
O conceito de qualidade da Dose Unitária pode e deve ser melhorado, as entidades certifi-
é inquestionável. Entretanto temos que ana- cadoras cobrem diversos aspectos de segurança.
lisar que há pontos frágeis. Diante de tantos Uma das mais importantes em âmbito internacio-
avanços tecnológicos na nossa sociedade, te- nal é a Joint Commission International c e expõe
mos a obrigação de adotar todos os meios ca- a rastreabilidade de medicamentos como norma
bíveis e disponíveis para salvaguardar as vidas (Standard) a ser seguida:

Standard Joint Commission MM.05.01.17 (MMU.3.3 da JCI)


Medicamentos dispensados pela organização são recuperados, por razões de segurança, quando recolhidos
ou descontinuados pelo fabricante ou pelo órgão governamental fiscalizador.

Não somente a Joint Commission, mas Dentro deste panorama, a rastreabilida-


também a Organização Nacional de Acreditação de de medicamentos também já entrou no
(ONA) d, já presente em mais de 130 instituições, mérito de normatizações da Agência Nacional
no País, a Accreditation Canada e e a ISO f também de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi motivo
são entidades certificadoras bastante recorridas e de consulta pública e de legislação pela An-
que suportam o conceito de rastreabilidade como visa 6, 7, 8, 9, as quais serão comentadas, mais
meio de segurança. adiante.

c
A Joint Commission Iternational (JCI) é a divisão internacional da Joint Commission Resources que trabalha com organizações de saúde,
ministérios da saúde e organizações globais em mais de 80 países desde 1994. Com foco na segurança do cuidado ao paciente, atua através
da provisão de serviços de certificação e acreditação. (www.jointcommissioninternational.org). No Brasil atua conjuntamente ao Consórcio
Brasileiro de Acreditação (CBA) (www.cbacred.org.br).
d ONA- A Organização Nacional de Acreditação é uma organização não governamental com abrangência de atuação nacional, que tem por
objetivo geral, promover a implantação de um processo permanente e de certificação dos serviços de saúde (www.ona.org.br).
e A Accreditation Canada, antigamente conhecida como Canadian Council on Health Services Accreditation, é uma organização independente
sem fins lucrativos, avalia serviços de saúde no Canadá e internacionalmente (www.accreditation.ca).
f ISO 9000 – Grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão de qualidade para organizações em geral, qualquer que seja o seu
tipo ou tamanho. A organização que significa International Organization for Standardization teve origem na Suíça em 1947 e está presente
em 161 países. No Brasil as normas ISO são agrupadas na séria de normas ABNT NBR ISO 9000:2000. (www.iso.org).

111
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

03 RASTREABILIDADE – UTILIZANDO UMA


FERRAMENTA DE AUTOMAÇÃO PARA
SEGURANÇA NO USO DE MEDICAMENTOS
3.1. Rastreabilidade - Conceituação e to, lote e validade no formato humano-legível g.
barreiras para sua implantação A situação torna-se ainda mais crítica quando
tratamos especificamente dos medicamentos em
A rastreabilidade trata da identificação da formas farmacêuticas sólidas (ex. comprimidos,
origem do produto desde as matérias-primas uti- cápsulas, drágeas, etc.)10. Para que se tenha esta
lizadas, processo de produção, distribuição no informação em cada unidade de consumo, é ne-
mercado, até o consumo. No âmbito hospitalar, cessário realizar o recorte de blísteres ou remoção
com um foco mais peculiar, é a capacidade do do medicamento de sua embalagem original e re-
hospital em monitorar o recebimento, distribui- -embalá-los com as informações completas neces-
ção, dispensação e administração mantendo-se sárias. Colocamos aqui em destaque a necessidade
o controle sobre lote e validade dos medicamen- de observância da RDC 67/2007 da Anvisa11
tos nestes processos.
Nestas circunstâncias fica implícita a neces- 3.2. A solução doméstica oferece risco
sidade de os medicamentos serem controlados por
lote em todos os momentos de sua distribuição Em síntese, temos, aí, outro ponto de risco.
dentro da organização. Isto é, ter lote e validade A atividade de re-etiquetagem é um passo críti-
identificados e registrados em sistema em todos co, de elevado custo de mão-de-obra e em que
os passos do processo. No entanto, não existe via- envolvemos a possibilidade de inserção de infor-
bilidade de se realizar tal atividade se os medica- mações incompletas, incorretas ou trocadas. Para
mentos entregues pelos fabricantes não possuem se evitar tais enganos, a adoção de políticas de
os requisitos mínimos para tal tipo de controle. prevenção de erros e controle de qualidade pós-
Atualmente quase a totalidade dos fornecedores -etiquetagem é recomendada12.
não disponibiliza medicamentos em embalagens Adicionalmente, ainda existe a possibilida-
identificadas adequadamente para atenção a esta de de erro no recebimento de medicamentos na
necessidade. Quando da existência do código de entrada do estoque no hospital. Neste momento,
barras, este informa somente de qual produto se havendo controle de lote na distribuição interna
trata (código EAN 13 – Fig 1) e normalmente em dos produtos, as informações de lote e validade
sua embalagem secundária. Em se tratando de devem ser digitadas no sistema. Com isto, incor-
dispensação hospitalar, é imperativo que a iden- re-se no risco de erro de cópia de informações
tificação completa seja realizada na embalagem comprometendo a capacidade de rastreabilidade
primária. dos dados durante o período de utilização do me-
Para se contornar o dicamento.
problema e atender esta de- Não sendo bastante os problemas já lis-
manda, a alternativa adotada tados, deve-se ter atenção à qualidade de im-
pelos hospitais está na re-eti- pressão das etiquetas, pois códigos mal impres-
quetagem (re-identificação) Fig 1 – Código EAN 13 sos não podem ser lidos e toda a cadeia fica
dos medicamentos em todos os tipos de apresen- comprometida. Portanto, é imprescindível um
tação e formas farmacêuticas com a impressão de programa eficaz de manutenção preventiva nas
código de barras contendo os dados de produto e impressoras, aquisição de etiquetas e filme de
lote, ou produto, lote e validade (algumas empre- impressão adequados, de modo que não borrem
sas também podem optar por inserir número de no manuseio ou no uso de líquidos utilizados
série), além das informações completas do produ- nos processos de assepsia.

g
Formato humano-legível – impressão em números e/ou letras.

112
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR

rência de medicamentos antes da dispensação


e 29,9% como forma de controle de inventá-
rio 5, revelando a falta da identificação adequa-
da por parte da indústria 13. Com o código bi-
dimensional de conteúdo variável os hospitais
deixam de ter a necessidade de re-etiquetagem
e passam a ter o processo de recebimento com
Fig 2 – Sólidos orais re-embalados e ampolas re-etiquetadas. maior segurança.
No momento da leitura do código, o sistema
À parte das considerações de risco para o pa- importa automaticamente os dados de lote e vali-
ciente, em relação aos sólidos orais, não podemos dade e elimina a possibilidade de erro no registro
deixar de mencionar o lixo gerado no processo. Na destes dados no sistema de gestão de estoques da
farmácia hospitalar, cartucho, bula e blíster são empresa. Zellmer14, tendo em vista o levantamen-
descartados para que o medicamento seja acondi- to realizado do atual status da farmácia hospitalar
cionado em embalagem adequada ao processo da pela American Society of Health-System Pharma-
dose unitária. cists (ASHP)15, vê como meio de segurança e re-
dução de custos, a necessidade da adequação da
3.3. A solução ideal indústria para o fornecimento de medicamentos
pré-embalados em doses individualizadas já com
Dada a condição de in- código de barras. Isto vem em consonância com
segurança já discutida, a GS1 os estudos do grupo da GS1 Brasil.
Brasil h, por meio da formação Este código tem
de um grupo de trabalho com tamanho apropriado
ações direcionadas para o se- para embalagens de
tor da saúde (ver http://www. tamanhos diminutos
gs1.org/healthcare/), estuda Fig. 3 – Código DataMatrix (ex. pequenas ampolas
e identificação indivi- Estacado
Fig. 4 – Código GS1 DataBar TM

meios para fomentar a adoção de um novo for- Omnidirecional


mato de codificação pela indústria farmacêutica dual de comprimidos e
que atenda às necessidades do ramo. Formado por cápsulas nos blísteres), com a possibilidade de
membros da GS1, representantes de hospitais pú- armazenagem de até 55 caracteres em uma im-
blicos e privados, fornecedores de tecnologia e pressão de somente 2 a 3 mm2. Códigos de di-
indústria farmacêutica, o grupo propõe a adoção mensões maiores possuem até 2.335 caracteres
do formato bidimensional DataMatrix (Fig.3) de alfanuméricos. Este padrão permite a leitura fiel
código de barras. Neste formato de maior capa- do conteúdo do código mesmo que tenha até
cidade, pode-se inserir dados variáveis como lote 30% de dano na sua superfície de impressão. Um
e validade no seu conteúdo de informações. A algoritmo calcula os erros e realiza automatica-
partir destas ações, a indústria deve se preparar mente a correção dos dados.
para inserir o novo código em suas embalagens Em estudos anteriores, outro padrão havia
primárias, enquanto os hospitais adequam seus sido proposto, o código bidimensional GS1 Da-
sistemas para a recepção destes produtos. Inte- taBar™ (antigamente RSS – Reduced Space Sim-
ressante observar que o problema de identificação bology) (Fig 4). Porém, apesar de também poder
é mundial. ser impresso em espaços pequenos, o código não
Nos Estados Unidos, somente 24% dos apresenta as mesmas características de capacida-
hospitais utilizam códigos de barras na confe- de e versatilidade.

h
GS1 – Global Standards é uma organização mundial dedicada ao desenvolvimento e implantação de padrões globais e soluções que melhorem
a eficiência e visibilidade da cadeia de suprimentos em todas as áreas industriais. Entre suas atividades está a normatização do uso de códigos
de barras. Antigamente a organização era conhecida pelo nome EAN (www.gs1.org). Os códigos de barras da GS1 são conhecidos como Sistema
GS1. O Sistema GS1 é um conjunto de padrões que permite o gerenciamento eficiente de cadeias de abastecimento globais e multindustriais
através da identificação inequívoca de produtos, unidades de despacho, ativos, localidades e serviços, facilitando o processo de comércio
eletrônico incluindo completa rastreabilidade. No Brasil o sistema GS1 (Padrão internacional EAN) foi definido como padrão de identificação
nacional de produtos de acordo com o decreto n° 90.595 de 29 de novembro de 1984. (www.gs1br.org).

113
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Fig. 5 – Código GS1-128

Identificador de Aplicação (AI) Estrutura da informação

(01) – GTIN-14 – Global Trade Item Number ou


Número Global de Item Comercial – identificação do 14 dígitos (fixo)
produto.

(10) – Lote. Até 20 caracteres alfanuméricos (variável)

(17) – Data de validade no formato AAMMDD, onde DD


6 dígitos (fixo)
pode ser 00, se o dia não estiver definido.

A estrutura de conteúdo do DataMatrix e do bastante reduzidos, o seu


DataBar para o setor saúde deve seguir o mes- uso é de grande valor para
mo padrão de conteúdo do padrão GS1-128. O identificação de medica-
GS1-128 (Fig. 5) tem apresentação linear como mentos em doses unitárias
o EAN13, porém, com conteúdo de dados variá- ou na sua menor unidade
vel (ex. lote e validade) e tamanho de impressão de consumo. Atualmente já
muito grande. A particularidade se encontra na existem empresas atentas à
forma de apresentação de seu conteúdo, através questão de segurança e que
de identificadores de aplicação (AI), modo como fornecem medicamentos em
os dados são classificados. Estes AI’s, na forma ampolas (Fig 6) e frascos-
humano-legível (letras e números) são números -ampola já identificados
entre parênteses que dão significado aos números com este padrão. São em-
subseqüentes. Os AI’s podem ter de 2 a 4 caracte- presas que, participando do Fig. 6 – Ampolas com
res. A seguir alguns poucos exemplos de AI’s, uma grupo de trabalho de saúde DataMatrix
vez que existem aproximadamente 100: na GS1 Brasil juntamente representantes de hos-
Os AI’s acima são os mínimos recomendados pitais, aderiram voluntariamente ao padrão. Por
para a identificação de produtos na área da saú- outro lado, um desafio bastante grande para a
de. Contudo, não são obrigatoriamente os únicos indústria farmacêutica nacional é a aplicação do
que podem ser utilizados. Para alguns itens médi- código nos blísteres de sólidos orais (Fig.7). Pre-
cos recomenda-se ainda o AI 21, número de série. tende-se que, uma vez
De acordo com a necessidade específica dos fa- fracionado (através de
bricantes, outros AI’s podem ser utilizados. Para blísteres picotados),
consulta a estes dados, recomenda-se a leitura de todas as unidades pos-
material técnico especializado, disponível atra- suam a identificação
vés da própria GS1 Brasil. completa requerida
para rastreabilidade,
Importante: a tabela de AI’s pode ser acrescida de sem a necessidade re-
novos identificadores, porém, alterações não são -embalagem nos hos-
previstas para aqueles já definidos. pitais que realizam o Fig. 7 – Código 2D em blister
processo de dispensação por Dose Unitária. Esta
O código GS1 DataMatrix vem sendo adota- solução ainda não está disponível no Brasil.
do em diversos produtos da área da saúde. Dada Também, materiais médicos (instrumen-
a sua característica de impressão em tamanhos tal cirúrgico como pinças cirúrgicas, tesouras,

114
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR

etc.,) vêm sendo gravados com a identificação


a laser em sua superfície metálica (Fig.8) com
a finalidade de se controlar a evasão de unida-
des, tempo de utilização em Centro Cirúrgico
e processamento de reesterilizações nas Cen-
trais de Materiais e Esterilização. Para tal, o
Fig. 8 – DataMatrix gravado a laser
AI (21), número de série, é gravado em cada
item, de maneira a individualizá-lo. No contro-
le de dispensação, devolução e esterilização, Em outros materiais médicos a identificação
realiza-se o rastreamento do produto, com a já é aplicada e tem os mesmos resultados propó-
condição de se verificar todos os passos do sitos de rastreabilidade na utilização. Ainda há
processo e, eventualmente, o momento em que outras iniciativas relacionadas a controle de leitos
este se perdeu. e enxovais.

4. O CÓDIGO DATAMATRIX16
Além dos AI’s e das informações a eles Importante:
vinculadas, o GS1 DataMatrix usa uma com- Como o GS1 128, o GS1 DataMatrix permite
binação especial de caracteres em sua estru- concatenar (encadear juntamente e em sequência)
tura para que seja corretamente identificado diversos Identificadores de Aplicação (AI) e os seus
pelo leitor. Esta combinação é chamada Fun- dados num único símbolo. Quando os dados do AI
ção 1 e serve para diferenciar o símbolo GS1 são de comprimento fixo, o AI seguinte e os respec-
DataMatrix de outros símbolos DataMatrix tivos dados são imediatamente concatenados após
ECC 200. os dados do AI anterior, sem o uso do caractere se-
O Símbolo Caractere Função 1 (FNC1) parador de campo. Quando os dados do AI não são
pode ser traduzido de duas formas distintas: de comprimento fixo, terão de ser seguidos pelo se-
• Caractere de Início (ASCII 232) i parador de campo sempre que for concatenado com
• Separador de Campo (ASCII 29: <GS>) mais AI’s. O FNC1 separador de campo é o caractere
Quando usado como parte inicial do GS1 Da- alfanumérico correspondente ao valor 29 na tabela
taMatrix, usa-se ASCII 232: ]d2. ASCII (ou Separador de Grupo <GS>) como já explici-
Atenção: Para outras simbologias, o caracte- tado anteriormente. Não é necessário um separador
re inicial FNC1 é outro. FNC1 depois do último AI e respectivo dado, inde-
Quando usado como separador de campo, pendente de o campo ser ou não de comprimento
usa-se o ASCII 29 : <GS> variável. A seguir alguns exemplos:

Condições específicas:
• Os dados 1, 2 e 3 são representados pelos Identificadores de Aplicação AI 1, AI 2 e AI 3;
• O AI 1 é de comprimento fixo;
• Os AI 2 e 3 contêm dados de comprimento variável;
• FNC1 é usado para representar o Símbolo Caractere de Função 1.

Concatenação de Dados 1 e 2:
FNC1 AI 1 Dado 1 (comprimento fixo) AI 2 Dado 2 (comprimento variável);

Concatenação de Dados 2 e 3:
FNC1 AI 2 Dado 2 (comprimento variável) <GS> AI 3 Dado 3 (comprimento variável);

i
A tabela de caracteres ASCII é comumente parte do manual de configuração que acompanha os leitores.

115
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Concatenação de Dados 1, 2 e 3:
FNC1 AI 1 Dado 1 (comprimento fixo) AI 2 Dado 2 (comprimento variável) <GS> AI 3
Dado 3 (comprimento variável)

Quando vários Identificadores de Aplicação GS1 tem de ser concatenados e apenas um deles é de
comprimento variável, é recomendado aos fornecedores a colocar este último no fim da sequência. Isto
otimiza o tamanho do símbolo evitando o uso de um caractere separador.
Em termos mais práticos, temos a seguir um exemplo de codificação:

Os dados de impressão codificados no GS1 DataMatrix são


FNC101034531200000111708050810ABCD1234FNC14109501101020917

Os dados transmitidos para o software de aplicação (gestão logística) consideram que o FNC1 inicial
é o Identificador de Simbologia ]d2, considerando os restantes FNC1, quando usados como caracteres
separadores, como sendo o caractere Separador de Grupo <GS>. O exemplo decodificado acima, habilitada
a transmissão dos caracteres FNC1, teria como resultado:

]d2 01034531200000111708050810ABCD1234<GS>4109501101020917

Os dados capturados são então passados para o software de gestão logística desta forma:

]d2 01034531200000111708050810ABCD1234~4109501101020917

(No exemplo acima o separador de campo <GS> é transmitido como o caractere “~”).

Mais detalhadamente, teríamos:

AI (01) 03453120000011 – GTIN


AI (17) 080508 – AAMMDD = 08/05/2008 – Data de validade
AI (10) ABCD1234 – Lote
AI (410) 9501101020917 – Expedir para – Entregar a, Código de Localização GS1 (GLN)

05 ADEQUAÇÃO TECNOLÓGICA
5.1 Tipos de Leitores HHP (www.handheldproduct.com.br),
Honeywell (www.honeywellaidc.com.br).
Para a leitura dos códigos
lineares, a tecnologia é bastan- Para quem deseja mo-
te acessível e não requer grande bilidade, ainda existem os
investimento. Já para os códi- PDA’s (Personal Digital As-
gos bidimensionais necessita-se Fig. 9 – Leitor sitant), equipamentos por-
Honeywell 4820i
de um investimento um pouco táteis, nos quais se pode
Fig. 10 – Leitores Motorola
maior, mas não é de grande importância frente trabalhar com sistemas in-
os gastos e riscos trabalho de re-etiquetagem. terligados por redes Wi-Fi® ou por radiofreqüên-
Existem leitoras deste padrão ao custo máximo cia. Neste caso os custos são mais elevados, che-
unitário de 500 dólares. gando a 1.500 dólares. Entretanto, para o fun-
Algumas marcas no mercado: cionamento adequado, além de necessitarem da
Motorola (www.motorola.com), instalação do programa de controle de estoque e

116
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR

dispensação, exige ainda infra-estrutura adequa- Deve-se ter este cuidado para não se avaliar in-
da de antenas e servidores, elevando o custo do corretamente o equipamento.
projeto. Algumas marcas: HHP, Motorola.
Para se tomar a decisão de qual produto e 5.2 Configurações dos Leitores
marca que irá atender às suas necessidades, exis-
tem dois fatores-base com impacto direto e im- Leitores e PDAs podem ser facilmente “pro-
portante na qualidade: gramados” para ativar ou não determinadas capa-
1. O software para o processamento de ima- cidades. Frequentemente, o manual de instruções
gem e decodificação do fabricante permite ajustar as características do
2. Os sensores e a óptica leitor, tais como:
Dada a tecnologia de leitura através da cap- • As simbologias que são passíveis de leitura;
tura de imagem, uma das maneiras utilizadas • O protocolo de comunicação (exemplo,
pelos fabricantes para demonstrar a sensibilida- utilizando identificadores de simbologia);
de de leitura dos diversos códigos, é através um Com relação a este segundo aspecto mencio-
gráfico demonstrado a seguir. Nele podemos ver nado acima, os fabricantes devem fornecer carac-
a relação entre a distância do leitor o tamanho terísticas específicas para lidar com os caracteres
do código impresso. Este tipo de avaliação é de não imprimíveis, como por exemplo: o Separador
extrema importância a fim de se avaliar a melhor de Grupo, que é essencial para decodificar mensa-
tecnologia frente ao padrão de códigos utilizados gens contendo dados de comprimento variável.
no seu ramo de trabalho. Embora não tenha de ser necessariamente as-
Outro aspecto de fundamental atenção é a sim, normalmente o scanner não contém qualquer
avaliação da qualidade de impressão do código, tipo de “inteligência”. O leitor somente transfere
a qual depende diretamente do papel (base da os dados e caracteres FNC1 (“]d2” e <GS>) para o
impressão) e da impressão propriamente dita. Sistema de Informação para tratamento posterior.

Fig 11 – Relação profundidade X tamanho do código14.

5.3 Adequação de softwares No processo de leitura do código do medi-


camento, o sistema deve reconhecer o caracte-
Em função dos argumentos já expostos no re FNC1, os AIs relevantes para o seu processo e
detalhamento do padrão de leitura, os softwares gravá-lo. Num exemplo mais básico, deve entender
adotados na logística interna dos hospitais tam- que o GTIN14 (AI 01) lido é correspondente ao um
bém precisam ser adequados à recuperação das produto do seu cadastro interno. Deve, por conse-
informações do código. guinte, gravar as informações de lote e validade

117
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

para realizar a completa identificação do medica- não é. A GS1 oferece suporte bastante detalhado
mento na sua cadeia interna. para que se entenda a adequação necessária.
O tema, apesar de aparentemente complexo, Acesse: www.gs1br.org

6. CHECAGEM À BEIRA DO LEITO -


ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
No tópico 2 deste artigo comentamos que a Muito se tem discutido e publicado a respei-
solução proposta para a dispensação teria impac- to da automação deste processo e o objetivo prin-
to direto sobre a administração de medicamentos, cipal é atingir os conhecidos 5 certos: paciente
uma das etapas mais críticas e sensíveis e erro certo, medicamento certo, via certa, horário certo
como demonstrado na estatística da ASHP. De fato e dose certa. Desenvolvido o enfoque neste as-
outra tendência nos hospitais é a implantação de sunto, o número 5 já foi ampliado e agora se fala
sistemas eletrônicos de checagem à beira do lei- em 918, onde percebemos que o processo automa-
to, para o qual a farmácia possui papel fundamen- tizado permite que a maior parte deles possa ser
tal na sua escolha, desenvolvimento e implanta- coberta com a implantação da tecnologia: A che-
ção17. Neste processo, a equipe de enfermagem lê cagem eletrônica permite paciente certo, medi-
o código de barras do medicamento dispensado camento certo, dose certa, horário certo, registro
pela farmácia, confirmando a administração do certo (documentação), direito de recusa e justi-
medicamento. Na inexistência de código de barras ficativa correta. O direito de conhecimento (edu-
na embalagem primária do produto, este processo cação do paciente) e via certa ainda permanecem
torna-se inviável. inerentes ao processo do profissional envolvido.

Por fim, cercamos todo caminho do medica- O sistema de checagem é encontrado mais
mento, onde a utilização do código de barras se comumente na literatura com dois nomes: Barco-
expõe como um método eficaz de segurança na de-assisted Medication Administration (BCMA) ou
administração de medicamentos. Bedside point-of-care (BPOC).

07 IMPLANTANDO BARREIRAS PARA SE EVITAR ERROS


Segundo James Reason 19, os erros não são vam aos erros. A simples proposta do uso de
privilégio de poucos. Mesmo os profissionais código de barras torna o uso de medicamen-
mais capacitados estão sujeitos a falhas. Por tos mais seguro, delegando à tecnologia um
diversas vezes são as circunstâncias que le- processo que é enormemente sujeito a falha

118
Coletânea de Farmácia Hospitalar RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR

quando limitado a procedimentos e controles


administrativos.
Na medida do possível, deve-se estudar a im-
plantação de barreiras no maior número de etapas
do processo quanto possível. O modelo do queijo
suíço de Reason deixa muito claro quando as falhas
momentaneamente se alinham e erros potenciais
tornam-se reais (Fig 12). Fig 12 – Modelo do Queijo Suiço de Reason

08 LEGISLAÇÃO
Paralelamente às necessidades aqui descritas identificação deve estar disposta na embalagem
da atividade hospitalar, preocupada com a cons- primária. A lei não atinge as necessidades de se-
tante prática de falsificação de medicamentos as- gurança da rastreabilidade hospitalar, porém, de-
sim como o roubo de carga, a Anvisa preparou monstra um avanço importante para a segurança
legislação específica para controle do setor. Em de toda a população que utiliza medicamentos em
14 janeiro de 2009 foi publicada a lei 11.903 que farmácias e drogarias.
determinava a criação de sistema de rastreamento Em 14 de janeiro de 2010, foi publicada a
de medicamentos desde a produção até o consu- instrução normativa número 1, em que se detalha,
mo por meio eletrônico. de maneira específica, o mecanismo de controle e
Posteriormente, foi publicada a RDC 59, em rastreamento dos medicamentos. Determina-se o
25 de novembro de 2009, dispondo sobre a im- uso do GS1 DataMatrix como ferramenta, o qual
plantação do Sistema Nacional de Controle de Me- deve possuir conteúdo mínimo de informações,
dicamentos e os mecanismos para rastreamento dentre as quais GTIN, lote, validade e IUM (identi-
de medicamentos por meio eletrônico. Na reso- ficador único de medicamento – seguindo padrão
lução, explicita-se que os medicamentos deverão de serialização da GS1), o qual está diretamente
ser identificados com o código DataMatrix em vinculado ao registro do produto na Anvisa e CNPJ
sua embalagem secundária. Na ausência desta, a da empresa receptora.

9. RESULTADOS ALCANÇADOS COM A IMPLANTAÇÃO


DA RASTREABILIDADE COM O USO DE CÓDIGOS
DE BARRAS BIDIMENSIONAIS 20
De maneira breve, citamos os benefícios ras- • Histórico do lote do medicamento desde o rece-
treabilidade com uso dos códigos de barras bidi- bimento ao momento em que é utilizado pelos
mensionais. Tem-se em mente que o processo é pacientes (RASTREABILIDADE intra-hospitalar);
mais seguro a partir do GS1 DataMatrix previamente • Histórico do item, da fabricação até o seu con-
impresso no rótulo da embalagem primária do pro- sumo (RASTREABILIDADE extra-hospitalar);
duto farmacêutico (menor unidade de consumo). • Garantia da dispensação de medicamentos em
condição de uso, havendo bloqueio de dispensa-
• Agilidade no processo de dispensação, com a ção de lotes interditados ou vencidos via sistema;
baixa de estoque on-line • Histórico do lote enviado para cada setor;
• Conferência do item dispensado de acordo com • Agilidade na localização de produtos interdita-
o prescrito; dos para recall.

119
RASTREABILIDADE DE MEDICAMENTOS NA FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

• Checagem eletrônica da administração do me- • Importante ferramenta para a obtenção de cer-


dicamento à beira do leito, de acordo com a tificações de qualidade hospitalar.
prescrição médica e assegurando o controle so-
bre 7 dos 9 certos propostos.

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para se obter melhores resultados em um como já foi exposto. Cabe ainda ressaltar que,
projeto de implantação da utilização do GS1 Data- frente os custos gerados pelo erro e o tempo de
Matrix, recomendo procurar a GS1 Brasil e o grupo mão-de-obra gasto com tarefas que não agregam
de trabalho do setor Saúde. Até aqui, todas as valor e só oferecem mais riscos, são fatores que
iniciativas em relação à identificação com o uso facilmente demonstram o rápido retorno do in-
deste novo padrão surgiram por meio destes gru- vestimento.
pos de estudo, sendo alinhados com movimentos Adicionalmente, atenção à legislação é o
globais de padronização para rastreabilidade. ponto focal do momento. Com o andamento
Por diversas vezes os responsáveis pelas far- deste projeto em nível nacional, aguardamos
mácias hospitalares encontram diversos empeci- elevar a assistência de saúde a um nível supe-
lhos que impedem o desenvolvimento de projetos rior na qualidade, no que se refere a produtos
de rastreabilidade e não é incomum o motivo ser autênticos e de origem legal e aguardar para
financeiro ou falta de apoio da direção. Entre- que dentro de mais algum tempo, possamos ter
tanto, vale ressaltar que existem soluções que uma regulamentação para as embalagens primá-
se adaptam a diversos tamanhos de orçamento rias baseadas na identificação GS1 DataMatrix.

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121
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

FARMÁCIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES


SOLANGE CECILIA CAVALCANTE DANTAS

01 INTRODUÇÃO
Ao estudar sobre a competência do trabalho A farmácia hospitalar é atualmente uma
farmacêutico no desempenho de atividade hospi- unidade do hospital que tem, dentre outros
talar, podemos observar a importância deste pro- objetivos (1), garantir o uso seguro e racional
fissional, em todo o mundo, e, à semelhança de dos medicamentos prescritos e (2) responder
outros países, onde o profissional farmacêutico à demanda de medicamentos dos pacientes
encontra-se desempenhando atividades ainda não hospitalizados. (SIMONETTI et al., 2009).
desenvolvidas, no Brasil, a profissão passou pelos A assistência farmacêutica hospitalar consti-
mesmos desafios que ora enfrentamos (KUHNER, tui-se como um sistema complexo e relevante no
OLIVEIRA, 2010). âmbito da gestão de sistemas e serviços de saúde,
não somente por contemplar um dos insumos bá-
sicos para cuidados aos pacientes, como também
pelos altos custos envolvidos.
A complexidade das terapias medica-
mentosas e as evidências dos resultados das
intervenções farmacêuticas na melhoria dos
regimes terapêuticos e na redução dos cus-
tos assistenciais reforçam a importância de
uma assistência farmacêutica de qualidade. A
farmácia tem participação estratégica na ela-
boração de uma política de uso racional de
medicamentos visando melhorar e garantir a
qualidade da farmacoterapia e reduzir os cus-
tos para o estabelecimento, já que a polite-
rapia além de onerar os custos com cuidados
ao paciente, ocasiona elevação da morbi-mor-
talidade decorrente do uso inapropriado dos
Como o paciente é o real beneficiário das medicamentos.
ações do farmacêutico, a assistência farmacêuti- O papel do farmacêutico dentro do con-
ca deve ser um complexo de atitudes, comporta- texto hospitalar deixou de ser apenas adminis-
mentos, compromissos, valores éticos, funções, trativo na programação de medicamentos e or-
conhecimentos e responsabilidades. O conceito ganização de recursos financeiros. A tendência
de assistência farmacêutica foi introduzido por atual é que a prática farmacêutica direcione-se
Hepler, ao descrevê-la como um processo coope- para o paciente, tendo o medicamento como
rativo para provisão responsável da farmacote- instrumento e não mais como fim. Desta for-
rapia, com o propósito de conseguir resultados ma, promove suporte técnico junto à equipe
ótimos que melhorem a qualidade de vida do de saúde, na análise de prescrição, monito-
paciente considerado individualmente (KUHNER, rização do tratamento e do quadro clínico do
OLIVEIRA, 2010). paciente, durante a sua internação.

122
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

02 HISTÓRICO DA FARMÁCIA HOSPITALAR


A Farmácia Hospitalar data da época de É relevante destacar o Professor José Sylvio
gregos, romanos, árabes, e é certo que, na Idade Cimino, que dirigiu o Serviço de Farmácia do Hos-
Média, a medicina e a farmácia desenvolviam-se, pital das Clínicas da Universidade de São Paulo,
de forma paralela, sob a responsabilidade de re- como um dos baluartes da farmácia hospitalar bra-
ligiosos dos conventos, nas boticas e nos hortos sileira, cujo trabalho contribuiu efetivamente para
de plantas medicinais (BRASIL, 1994). o desenvolvimento da assistência farmacêutica
Historicamente, no Brasil Colônia, havia bo- hospitalar. Em 1973 publicou a primeira obra cien-
tica, onde os medicamentos eram preparados e tífica na área; o livro Iniciação à Farmácia Hospi-
comercializados, num amontoado de prateleiras talar. (GOMES; REIS, 2000; NOVAES et al.; 2009)
com balanças e cálices. Nessa ocasião já se co- De forma pioneira, em 1975, a Universida-
nhecia a botica pública, o de hospitais militares de Federal de Minas Gerais inclui no currículo do
e civis (Santas Casas) e a botica dos colégios dos curso de Farmácia a disciplina de Farmácia Hospi-
Jesuítas. No século XIX, a botica denominou-se talar, tornando-se realidade em diversas univer-
farmácia e assumiu grande importância nos hospi- sidades brasileiras, inclusive com a implantação
tais da época, já que fornecia todo o medicamen- de cursos de pós-graduação em Farmácia Hospi-
to para o tratamento dos pacientes. talar, lato sensu e stricto sensu, primeiramente,
Sua função era dispensar as especialidades na Universidade Federal do Rio de Janeiro. (GO-
farmacêuticas necessárias e disponíveis no mer- MES; REIS, 2000; NOVAES et al.; 2009)
cado, até de manipular remédios, através da pre- Em 2005, através da Medida Provisória nº
paração de receitas magistrais com a utilização 238, Art. 12, “fica instituída a residência em área
de drogas importadas e produtos de seu herbário, profissional da saúde definida como modalidade
tanto para os indivíduos hospitalizados quanto de ensino de pós-graduação lato sensu, voltada
para aqueles que se encontrava em tratamento para a educação em serviço e destinada às cate-
ambulatorial (SIMONETTI et al., 2009). gorias profissionais que integram a área de saúde,
Nas décadas de 20 e 30 do século XX, os executada a médica”, o que inclui o farmacêutico
avanços em engenharia química estabeleceram hospitalar (SBRAFH, 2007)
as bases da moderna indústria farmacêutica; a A Sociedade de Farmácia Hospitalar e Ser-
expansão da produção de remédios determinou o viços de Saúde (SBRAFH) tem contribuído inten-
tratamento para doenças até então sem expecta- samente para o desenvolvimento da produção
tivas de cura; como a úlcera péptica e o câncer, e técnico-científica nas áreas de assistência farma-
possibilitou o tratamento ambulatorial de outras cêutica hospitalar, além de estar normatizando,
patologias. (SIMONETTI et al., 2009). criando conceitos e padrões mínimos para o seg-
Nesse cenário, as farmácias das unidades hos- mento (GOMES; REIS, 2000, MAIA NETO, 2005).
pitalares, antes manipuladoras ativas de medica- Neste milênio, o enfoque da farmácia hos-
mentos, se transformaram em grandes depositários pitalar passa a ser clínico-assistencial, deven-
passivos desses fármacos. Na década de 40 do sé- do atuar em todas as fases da terapia medica-
culo XX e com o crescimento dos hospitais, a far- mentosa, cuidando, em cada momento, de sua
mácia hospitalar também cresceu de importância, adequada utilização nos planos assistenciais,
tornando-se um serviço imprescindível ao funcio- econômicos, de ensino e de pesquisa. (GOMES;
namento da estrutura organizacional hospitalar. REIS, 2000).

03 CONCEITOS DE FARMÁCIA HOSPITALAR


Para a farmácia hospitalar, um sistema re- Nogueira (1961) define a farmácia hospitalar
levante no contexto dos hospitais, e tendo em ”como uma atividade que adquiriu especial signifi-
vista sua importância, foram elaborados, através cado, em face de ser fator de alta cooperação no
do tempo, vários conceitos: perfeito equilíbrio do orçamento hospitalar, con-

123
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

tribuindo de modo decisivo no custo do leito /dia. preende a ”seleção de medicamentos, a aquisição
Esta definição se reporta ao período que a farmácia e o controle dos medicamentos selecionados e o
havia se transformado numa farmácia industrial. estabelecimento de um sistema racional de distri-
Segundo Cimino (1973) e Maia Neto (2005), buição que assegure que o medicamento prescrito
a farmácia hospitalar é considerada como uma chegue ao paciente na dose correta. Para tal é
unidade técnica aparelhada para prover as clíni- vital a implantação de um sistema de informações
cas e demais serviços, dos medicamentos e produ- sobre medicamentos que permita otimizar a pres-
tos afins de que necessita para seu funcionamento crição” (MAIA NETO, 2005).
normal. Outros conceitos oficiais estão contidos nos
Santich e Galli (1995) conceituam de modo documentos da Organização Pan Americana de
geral o que vem a ser Assistência Farmacêutica e Saúde, dos Ministérios da Saúde e da Educação,
que pode perfeitamente ser inferido para farmácia além do conceito documentado pela Sociedade
hospitalar. Entre diversos conceitos Santich des- Brasileira de Farmácia Hospitalar (1997) de que a
taca o de Mikeal et, al (1975), que a define como farmácia hospitalar é uma unidade clínica, admi-
”O cuidado que um determinado paciente deve re- nistrativa e econômica, dirigida por farmacêutico,
ceber ou recebe, e que assegura o uso racional dos ligada hierarquicamente à direção do hospital e
medicamentos” ainda cita o conceito de Hepler & integrada funcionalmente com as demais unida-
Strand (1990) como um dos mais citados na atua- des administrativas e de assistência ao paciente
lidade que estaria representado ”pelo componente (MAIA NETO, 2005).
da prática farmacêutica que permite a interação A atuação da farmácia hospitalar se preocu-
do farmacêutico com o paciente com o propósito pa com os resultados da assistência prestada ao
de atender as necessidades do paciente relaciona- paciente e não apenas com a provisão de produ-
das com medicamentos . tos e serviços. Como unidade clínica, o foco de
Segundo o Programa Regional de Medicamen- sua atenção deve estar no paciente e nas suas ne-
tos Essenciais da Organização Pan-Americana de cessidades e no medicamento, como instrumento
Saúde (OPAS, 1987), a farmácia hospitalar com- (GOMES; REIS, 2000).

04 OBJETIVOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR


São vários os objetivos da farmácia hospi- magistrais e/ou oficinais de produtos
talar. Porém, deve-se observar atentamente o al- não estéreis, destinados a atender ne-
cance dos mesmos com eficiência e eficácia na cessidades específicas dos pacientes;
assistência ao paciente e integração as demais 6. Implantar sistema de farmacovigilância
atividades desenvolvidas no ambiente hospitalar para identificação e prevenção de reações
(GOMES; REIS, 2000; MAIA NETO, 2005, STORPIR- adversas aos medicamentos;
TIS, et al.; 2008): 7. Atuar na Comissão de Controle de Infecção
1. Participar ativamente da seleção de me- Hospitalar subsidiando as decisões políti-
dicamentos necessários ao perfil assisten- cas e técnicas relacionadas, em especial, à
cial do hospital realizada pela Comissão seleção, à aquisição, ao controle de anti-
de Farmácia e Terapêutica; microbianos, germicidas e saneantes;
2. Efetuar o planejamento, aquisição, armaze- 8. Participar da Comissão de Terapia Nutri-
namento, distribuição e controle dos medi- cional, atuando em visitas de avaliação
camentos e produtos para saúde; nutricional e prestando informações re-
3. Implementar ações que contribuam para lacionadas a compatibilidades, a estabi-
o uso seguro e racional de medicamentos; lidade e ao custo das formulações;
4. Estabelecer um sistema eficaz, eficiente e 9. Contribuir com suporte técnico operacional
seguro de distribuição de medicamentos e nos ensaios clínicos com medicamentos;
produtos para saúde; 10. Adequar-se à realidade política, social,
5. Desenvolver e/o manipular formulas econômica, financeira e cultural da ins-

124
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

tituição, observando os preceitos éticos 13. Desenvolver atividades de ensino e edu-


e morais da profissão farmacêutica da cação permanente.
instituição; Para alcançar seus objetivos a farmácia hos-
11. Desenvolver pesquisas e trabalhos pró- pitalar deve possuir um sistema eficiente de in-
prios ou em colaboração com profissio- formações e dispor de um sistema de controle e
nais de outros serviços; acompanhamento de custos (GOMES; REIS, 2000;
12. Realizar seguimento farmacoterapêutico MAIA NETO, 2005).
de pacientes internados e ambulatoriais,
implementando o desenvolvimento da
farmácia clínica;

COMPONENTE OBJETIVO DA FARMÁCIA HOSPITALAR

Gerenciamento Prover estrutura organizacional e infra-estrutura que viabilizem as ações da Farmácia

Seleção de Definir os medicamentos necessários para suprir as necessidades do hospital, segundo


Medicamentos critérios de eficácia e segurança. Seguidos por qualidade, comodidade posológica e
custo.

Programação Definir especificações técnicas e quantidade dos medicamentos a serem adquiridos,


tendo e vista o estoque, os recursos e prazos disponíveis.

Aquisição Suprir a demanda do hospital, tendo em vista a qualidade e o custo.

Armazenamento Assegurar a qualidade dos produtos em estoque e fornecer informações sobre as


movimentações realizadas.

Distribuição Fornecer medicamentos em condições adequadas e tempestivas com garantia de


qualidade do processo

Informação Disponibilizar informações independentes, objetivas e apropriadas sobre medicamentos


e seu uso racional a pacientes, profissionais de saúde e gestores

Seguimento Acompanhar o uso de medicamentos prescrito a cada paciente individualmente,


farmacoterapêutico assegurando o uso racional.

Farmacotécnica Elaborar preparações magistrais e oficinais, disponíveis no mercado, e/ou fracionar


especialidades farmacêuticas para atender às necessidades dos pacientes, resguardando
a qualidade.

Ensino e pesquisa Formar recursos humanos para a farmácia e para a assistência farmacêutica. Produzir
informação e conhecimento que subsidiem o aprimoramento das condutas e práticas
vigentes

05 FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DA FARMÁCIA HOSPITALAR


Conforme as definições do Conselho Federal clínica e, portanto, todas as suas ações devem ser
de Farmácia, a partir da Resolução nº 300 (1997), orientadas ao paciente. Isso significa que a farmácia
“a farmácia é uma unidade clínica de assistência além de fornecer medicamentos deve acompanhar
técnico-administrativa, dirigida por profissional far- sua correta utilização e seus efeitos. (CFF, 1997)
macêutico, integrada funcionalmente e hierarquica- A SBRAFH reconhece seis grandes grupos
mente às atividades hospitalares” Sendo importan- de atribuições essenciais da Farmácia Hospitalar
te ressaltar que a Farmácia deve ser uma unidade (SBRAFH, 2007)

125
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

1. Gestão – deve estar focada em prestar as- 4. Otimização da terapia medicamentosa


sistência farmacêutica e, para que isso ocorra, de- – visa aumentar a efetividade da intervenção te-
verá possuir uma estrutura organizacional onde a rapêutica, promovendo o uso racional e garantido
missão, valores e visão de futuros devem estar es- a qualidade da farmacoterapia, devendo ser reali-
tabelecidos, devendo a Farmácia estar inserida no zado com o apoio da diretoria clínica e a colabo-
organograma institucional. Formular, implementar ração da comissão de farmácia terapêutica. O uso
e acompanhar o planejamento estratégico, esta- racional de medicamentos consiste em obter o
belecendo critérios (indicadores) para avaliação efeito terapêutico adequado à situação clínica do
do desempenho do serviço. Elaborar e revisar o paciente utilizando o menor número de fármacos,
Manual de Procedimentos e Procedimentos Ope- durante o período mais curto e com o menor custo
racionais Diversos. Acompanhar o desempenho possível.
financeiro/orçamentário. Participar das comissões O farmacêutico deve selecionar os pacientes
de formulação de políticas e procedimentos rela- que necessitam de monitoramento, como os que
cionados à assistência farmacêutica como: Comis- têm baixa adesão ao tratamento, em uso de me-
são de Farmácia e Terapêutica, Comissão de Con- dicamentos potencialmente perigosos, em uso de
trole de Infecção Hospitalar, Comissão de Ética, medicamentos com maior potencial de produzir
Comissão de Suporte Nutricional e Comissão de efeitos adversos, de alto custo, crianças e idosos.
Gerenciamento de Resíduos de Saúde, Comissão (GOMES; REIS, 2000; SBRAFH, 2007)
de Avaliação de Tecnologias, Comissão de Riscos
Hospitalares, dentre outros. (SBRAFH, 2007) 5. Informação sobre medicamentos e pro-
dutos para a saúde
2. Desenvolvimento de infra-estrutura –
deve garantir a base material necessária à atuação
eficiente do farmacêutico na Farmácia hospitalar,
e isso inclui a disponibilidade de equipamentos e
instalações adequadas ao gerenciamento (logísti-
ca de suprimento) de medicamentos, saneantes e
produtos para a saúde, manipulação de produtos
estéreis e não-estéreis. É necessária ainda a im-
plantação de um sistema de gestão informatiza-
do, a disponibilidade de recursos para informação
e comunicação, salas para a prática de atividades
farmacêuticas. (SBRAFH, 2007)

3. Preparo, distribuição, dispensação e A farmácia é responsável por prover à equi-


controle de medicamentos e produtos para a pe de saúde e pacientes de informações técni-
saúde – a implantação de um sistema racional de co-científicas sobre eficácia, segurança, qualida-
distribuição deverá ser priorizado pelo farmacêu- de e custos dos medicamentos e produtos para
tico e pela instituição, deforma a buscar proces- a saúde. Para elaboração de informações seguras
sos que promovam maior segurança ao paciente. e atualizadas, a farmácia hospitalar deve dispor
A definição de normas e procedimentos re- de fonte de informações primárias, secundárias,
lacionados ao sistema de distribuição deve ser terciárias, isentas e atualizadas.
realizada com a participação de representantes É de relevância a participação do farmacêu-
da equipe de enfermagem, dos médicos e da tico no suporte de informações às comissões de
comissão de farmácia e terapêutica. As pres- farmácia e terapêuticas, licitações, controle de
crições de medicamentos devem ser analisadas infecção hospitalar, terapia nutricional, geren-
pelo farmacêutico antes de serem dispensadas, ciamento de riscos e de resíduos e avaliação de
As duvidas devem ser resolvidas com o pres- tecnologias, devendo primar pela utilização de
critor e as decisões tomadas serem registradas. informações baseadas em evidências.. Além das
(GOMES; REIS, 2000; SBRAFH, 2007) informações demandadas (informações passivas),

126
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

a farmácia hospitalar deve elaborar e divulgar as recomendações dos Conselhos Profissionais,


guias, boletins informativos sobre o uso de medi- da SBRAFH e demais associações de classe. A
camentos. (GOMES; REIS, 2000; SBRAFH, 2007). Farmácia pode, ainda, promover, participar e
apoiar pesquisas inseridas em seu âmbito de
6. Ensino, educação permanente e pesqui- atuação, visando à produção de informações
sa – a farmácia hospitalar deverá promover par- que subsidiem o aprimoramento das práticas, o
ticipar e apoiar ações de educação permanente, uso racional de medicamentos e demais produ-
ensino e pesquisa nas suas atividades administra- tos para a saúde, contribuindo com a melhoria
tivas, técnicas e clínicas, com a participação de da qualidade da assistência farmacêutica. As
farmacêuticos, demais profissionais e estudantes. atividades de ensino, educação continuada e
A formação, capacitação e qualificação dos recur- pesquisa devem buscar atender as necessidades
sos humanos deverão ser contínuas, em quantida- da sociedade por ela assistida e da população
de e qualidade suficientes para o correto desen- em geral, favorecendo a harmonização entre as
volvimento da assistência farmacêutica. políticas das áreas da educação e de saúde, le-
Estas atividades deverão basear-se nas re- vando a formação de profissionais com perfil e
comendações elencadas pelas diretrizes curricu- competência compatíveis com estas necessida-
lares para o ensino de graduação em Farmácia, e des. (SBRAFH, 2007).

06 INFECÇÕES HOSPITALARES NO BRASIL – BREVE HISTÓRICO


As infecções hospitalares na década de 60 e As causas foram buscadas por todos os la-
as demandas por controle nesse período já mos- dos: deficiência de recursos humanos e materiais,
travam as tendências de sua evolução na década baixos salários, sucateamento das instalações e
seguinte. Embora com repercussão ainda restrita dos equipamentos, planta física inadequada, pro-
ao meio hospitalar, elas ampliam-se com relação blemas de limpeza, abuso no uso de antibióticos,
década de 50, mostrando a sua relação com o superlotação, pacientes debilitados, etc. Em últi-
aumento das demandas por assistência médica e ma instância, as críticas centraram “fogo” na Pre-
as internações hospitalares. Para tentar resolver vidência Social, com reclamações sobre o repasse
as péssimas condições sanitárias na prestação e insuficiente de verbas ou a falta de critérios para
produção de serviços nos diversos setores, a Se- o credenciamento dos hospitais.
cretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS),
lidada ao Ministério da Saúde, estabeleceu varias
ações como o Decreto 77.052/76 dispondo sobre
a fiscalização sanitária das condições de exercício
de profissões e ocupações técnicas diretamente
relacionadas com a saúde.
O Ministério da Previdência e Assistência So-
cial (MPAS) solicitou a criação de CCIHs, porém
somente nos seus hospitais próprios, e assim, foi
implantado, no Hospital Ernesto Dorneles, no Rio
Grande do Sul em 1963, a primeira CCIH do Bra-
sil. Porém, somente nos anos 70 foram criadas as
primeiras comissões multidiciplinares em hospitais A primeira ação governamental efetiva para o
públicos e privados, principalmente os ligados as controle das IH foi a Portaria 196 de 24 de junho
escolas médicas. de 1983, determinando que “todos os hospitais
As ocorrências de infecções hospitalares sim- do país deverão manter Comissões de Controle de
plesmente “explodiram” na mídia na década de 80. Infecção Hospitalar (CCIH), independentemente
Ao aumento das demandas dos profissionais da área da natureza da entidade mantenedora”. Ela forne-
hospitalar juntaram-se as denúncias da clientela. ceu também as orientações para a organização do

127
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

processo de trabalho dessa comissão, caracteri- Em 1998, foi editada pelo Ministério da Saú-
zando os seus agentes e suas atividades. de a Portaria 2.616, que revoga a Portaria 930/92
Em 1985, passou a incentivar a reestrutura- e reafirmando a importância e ampliando as atri-
ção das farmácias hospitalares, promovendo cur- buições da CCIH. São também definidas as compe-
sos de especialização. Em 1992 foi publicada a tências da direção da instituição de saúde e das
Portaria nº 930, visando maior profissionalização coordenações nacional, estaduais e municipais,
na prática do controle de infecção, nessa portaria nas ações de controle das infecções hospitalar e
o Ministério da Saúde determinou a criação em cria o Programa de Controle de Infecção (PCIH)
todos os hospitais do País, os Serviços de Con- onde determina que o farmacêutico tem que pro-
trole de Infecção Hospitalar (SCIH) e manteve a mover o uso racional de antimicrobianos, matérias
exigência das CCIH. O SCIH é um grupo executivo médico-hospitalares e deve definir com a Comissão
responsável pelas ações com vistas à redução da de Farmácia e Terapêutica, políticas voltadas para
incidência e da gravidade das infecções hospita- estes insumos, cooperando com os setores de trei-
lares, enquanto que a CCIH é uma comissão mul- namento. Propõe também indicadores para uso de
tidisciplinar. antimicrobianos que tem relação com a Farmácia.

07 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR


As atividades de uma comissão de controle As infecções nosocomiais notificadas são
de infecção hospitalar são múltiplas e de na- aquelas relacionadas à hospitalização de um
turezas diversas. Todas as atividades têm como paciente ou aos procedimentos diagnósticos,
principal objetivo a redução nas taxas de infecção terapêuticos e invasivos praticados. Neste
e na morbidade e mortalidades (STORPIRTIS, et âmbito estão inseridas as transmissões cru-
al.;2008) zadas de infecções ocorridas pelas mãos dos
Dentre as atribuições da CCIH, destacam-se membros da equipe ou por artigos ou medica-
a notificação e quantificação do tipo de infecção mentos contaminados. Portanto, cada cuidado
(comunitária ou nosocomial), padronização de prestado, direta ou indiretamente, ao pacien-
antimicrobianos e protocolos profiláticos e tera- te deve ser avaliado quanto ao potencial de
pêuticos que se adéqüem ao perfil de atendimen- transmissão de infecções, devendo o planeja-
to do hospital, padronização de soluções germici- mento desta atividade, levar em conta o ris-
das a serem utilizadas bem como treinamento da co e contar com uma padronização adequada.
equipe de limpeza, estabelecimento de formulário (CAVALLINI; BISSON, 2002).
de prescrição de antimicrobianos com justificativa No contexto do uso racional de antimicro-
de seu emprego e previsão de tratamento e visitas bianos, faz-se necessária a adoção de diver-
clínicas que garantam a política de uso de antimi- sas estratégias para reduzir a emergência de
crobianos. (CAVALLINI; BISSON, 2002). cepas bacterianas multiresistentes (ANVISA,
2007). Essas estratégias perpassam essencial-
mente o trabalho multidisciplinar e educati-
vo, neles estando inserido o farmacêutico. O
farmacêutico atua em parceria com médicos e
enfermeiros na CCIH (Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar) e em Programas de Con-
trole de Infecções Hospitalares (PCIH) (BRA-
SIL, 1998). O PCIH é definido com o um con-
junto de ações, desenvolvidas deliberada e de
forma sistemática, com o objetivo de reduzir,
ao máximo possível, a incidência e a gravi-
dade das infecções nosocomiais. (CAVALLINI;
BISSON, 2002).

128
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

08 A FARMÁCIA E O CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES


tes antimicrobianos necessários a terapêutica e
higienização hospitalar. Responde pelo armaze-
namento e garante a qualidade destes produtos,
bem como de todos os demais grupos terapêu-
ticos em uso no hospital. Através da farmácia,
pode-se garantir o acesso racional e monitorar a
utilização dos antimicrobianos e a utilização de
saneantes e germicidas nos diversos setores do
hospital. (USBERCO, et al.; 2000).
O controle das infecções hospitalares é
uma atividade essencialmente multidisciplinar.
Para conhecê-las, analisá-las e fazer o seu con-
trole, é necessário que os diversos segmentos
do hospital, como a farmácia, a enfermagem, o
corpo clínico e o laboratório de microbiologia,
Um hospital que conta com um serviço de exerçam as funções que lhe cabem nesta ativi-
farmácia bem estruturado, técnica e adminis- dade (GOMES; REIS, 2000).
trativamente, tem assegurada sua qualidade, Segundo a American Society of Health – Sys-
economia e autonomia no que se refere aos tem Pharmacists (ASHP) as responsabilidades do
medicamentos e produtos para saúde. Deve farmacêutico nas ações de controle de infecções
contar com profissionais competentes que, in- hospitalares incluem: redução da transmissão das
seridos na equipe multidisciplinar, visam as- infecções, promoção do uso racional de antimi-
sistir a toda a comunidade hospitalar no que crobianos e educação continuada para profissio-
se refere aos medicamentos, insumos e produ- nais da saúde e pacientes. (GOMES; REIS, 2000,
tos para a saúde. Portanto, o papel do serviço STORPIRTIS, et al.;2008).
de farmácia, hoje, vai muito além da simples Atualmente, no Brasil, seguimos essas re-
dispensação de produtos, caracterizando-se comendações, a Sociedade Brasileira de Farmá-
por isso como importante área de apoio para cia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH),
o controle de infecção hospitalar. (USBERCO, na revisão dos padrões mínimos para a farmá-
et al.; 2000). cia hospitalar, coloca nas atribuições essen-
Dentro de uma estrutura hospitalar, a farmá- ciais da farmácia a participação do farmacêu-
cia é quem adquire e/ou prepara todos os agen- tico nas CCIH.

09 PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NA COMISSÃO


DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
O farmacêutico hospitalar durante muitos Dentre as atribuições do farmacêutico na
anos ficou esquecido dentro das farmácias, distan- CCIH e no PCIH destacam-se aquelas relacionadas
te dos outros profissionais da saúde e dos pacien- diretamente ao uso racional de antimicrobianos,
tes. Entretanto, este quadro vem se modificando. germicidas e produtos para a saúde. A participa-
Com as mudanças nos sistemas de distribuição de ção do farmacêutico, juntamente com os demais
medicamentos, sabe-se quanto e de que maneira membros da CCIH, na definição de uma política
os antimicrobianos estão sendo utilizados, per- de seleção e utilização de antimicrobianos reali-
mitindo criar mecanismos capazes de auxiliar no zada em conjunto com a Comissão de Farmácia e
controle rotineiro de seu uso em hospitais. (STOR- Terapêutica (CFT) resulta no aprofundamento da
PIRTIS, et al.;2008). participação da CCIH nos processos decisórios,

129
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

auxiliando a administração a dimensionar as prio- do cálculo do percentual de pacientes que utiliza-


ridades de investimento para o aprimoramento ram esses medicamentos e da freqüência relativa
da qualidade da assistência prestada (CAVALLINI; do emprego de cada principio ativo. O cálculo da
BISSON, 2002) e conseqüentemente corrobora Dose Diária Definida (Defined Daily Dose - DDD) é
para o uso racional dos antimicrobianos (GOMES; um indicador da utilização desses medicamentos
REIS; 2000). e que auxilia na determinação do consumo real
Pelos programas de farmácia clínica, o farma- por unidades de internação, permitindo estabe-
cêutico pode também participar da elaboração de lecer o perfil de utilização e serve como subsidio
protocolos clínicos para a profilaxia antibiótica e para que a SCIH/CCIH possa revisar a política de
para o uso terapêutico em infecções bacterianas, antimicrobianos existente e avaliar sua aceitação
sempre levando em consideração os dados farma- e cumprimento. (CAVALLINI; BISSON, 2002).
coeconômicos disponíveis. Deve trabalhar tam- A restrição de uso de antimicrobianos é um
bém, em parceria com a equipe multiprofissional, método mais utilizado para o controle das prescri-
na orientação e prevenção da infecção hospitalar, ções e deve ser realizado através do preenchimento
por meio de treinamento com as diferentes equi- de formulários para sua liberação, e, monitorados e
pes hospitalares. (CAVALLINI; BISSON, 2002) auditados pelo farmacêutico. Para a farmácia, es-
Existem três pontos fundamentais que preci- ses formulários são importantes, por possibilitar
sam ser lembrados no controle dos antimicrobia- levantamentos rápidos sobre o uso dessa classe de
nos: 1) qualidade assistencial aos pacientes, em medicamentos. Porém, as fichas de restrição de-
que se deve saber que somente é necessário o uso vem ser vistas como complementares dentro de um
dessa classe de medicamentos quando houver um programa de racionalização de antimicrobianos,
diagnóstico de infecção; 2) reduzir a pressão se- e, a avaliação da qualidade de prescrição é uma
letiva de antimicrobianos específicos para que se oportunidade de realizar educação em serviço e de
possa diminuir a seleção de microorganismos re- atuação do farmacêutico clínico.
sistentes; 3) diminuir os custos hospitalares que Também, é de responsabilidade do farmacêu-
direta ou indiretamente estão ligados ao uso de tico a identificação e notificação de reações ad-
antimicrobianos. versas e acompanhamento da devolução das doses
Sob a ótica do uso racional de antimicrobia- não administradas de antimicrobianos. Essas ati-
no, as atribuições do farmacêutico na CCIH envol- vidades cooperam para a identificação de falhas
vem atividades como: o controle da dispensação de registros em prontuários, omissão de informa-
de antimicrobianos através das Fichas de Anti- ção das evoluções dos prontuários, falhas no cum-
microbianos (ATB), o controle do tempo de uso primento do tratamento por omissão de doses, e
de ATB, de acordo com a previsão do tratamento falhas no preenchimento do próprio formulário de
e participação ativa nas visitas clínicas da insti- devolução. (USBERCO, et al.; 2000).
tuição. A participação nas visitas clínicas pressu- O farmacêutico desenvolve sua práxis no con-
põe conhecimento sobre os tipos e quantitativo trole de infecção hospitalar, em geral com ações
de estoque de antibióticos, de forma a garantir o relacionadas à segurança do paciente, ações con-
tratamento de todos os pacientes em uso de ATB, forme relata a 57ª Reunião da Organização Mundial
oferecendo opções de tratamento de acordo com o de Saúde que propõe uma aliança mundial pela se-
espectro de ação dos fármacos, além de informa- gurança do paciente, colocando em primeiro lugar
ções sobre questões farmacocinéticas, farmacodi- a temática do controle das infecções hospitalares
nâmicas, análise da diluição, posologia e via de (WHO, 2005).
administração. O fornecimento destas informações Promover o uso racional de antimicrobianos,
pode ocorrer através da elaboração e divulgação preservando essa classe terapêutica, é o único
de tabelas sobre reconstituição, compatibilidade caminho para evitar que a resistência bacteriana
e estabilidade de drogas antimicrobianas para uso deixe sem alternativas terapêuticas toda a socie-
pela equipe de enfermagem das unidades do hos- dade, principalmente, quando confrontada com o
pital. (GOMES; REIS; 2000). escasso surgimento de produtos novos no mercado
Sugere-se, também, que o farmacêutico deve com vantagens clinicamente comprovadas (RIBEI-
dimensionar o consumo de antibióticos, por meio RO FILHO, 2000).

130
Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

primento de programas efetivos de melhoria de


seu uso, junto aos responsáveis diretos: médicos,
farmacêuticos, enfermeiros e administradores.
A contenção da resistência bacteriana so-
mente será alcançada mediante o uso racio-
nal de antimicrobianos em medicina humana e
não-humana com a colaboração de prescritores,
dispensadores, pacientes, governos, sociedades
profissionais, indústria farmacêutica e de outros
setores industriais que se utilizam das proprieda-
des antimicrobianas como agricultura e pecuária.
(WANNMACHER, 2004).
OMS - Save lives: clean your hands.
Fonte: http://www.who.int/gpsc/5may/background/5moments/en/index.html Assim, as tendências atuais para um progra-
ma de racionalização de antimicrobianos incluem
Dados atuais obtidos pela Rede Nacional de a elaboração de guias com usos profiláticos e te-
Monitoramento da Resistência Microbiana em Ser- rapêuticos mais racionais, visando à maioria das
viços de Saúde - Rede RM, que conta com mais situações clínicas previstas na prática, com a par-
de 100 hospitais sentinelas colaboradores, em ticipação mais ativa dos serviços. É importante,
seus primeiros resultados de sensibilidade aos além do planejamento e laboração dos guias, que
antimicrobianos, já apontam para o aumento da a monitorização seja realizada.
resistência bacteriana de diversas cepas (ANVISA, A farmácia hospitalar que possui laboratório
2007), o que nos alerta para a necessidade de de farmacotécnica e central de misturas intrave-
evitar o uso indiscriminado de antimicrobianos. nosas pode, ainda, estabelecer normas e rotinas
O uso inapropriado dos antimicrobianos, nos dos procedimentos para prevenção e controle da
hospitais, é preocupante, pois ocasiona consequ- contaminação de produtos farmacêuticos manipu-
ências graves, exigindo o desenvolvimento e cum- lados e dispensados.

10 ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO NO
CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
Segundo Gomes e Reis (2000) e Storpirtis, et • Fornecer informações para subsidiar a po-
al.; (2008) a farmácia é um dos pilares que susten- lítica de uso racional de antimicrobianos;
tam as ações de controle de infecções hospitalares • Elaborar rotinas para dispensação de anti-
em todos os seus níveis: planejamento, operacio- microbianos;
nal e educativo, é são atribuições do farmacêutico • Participar do programa de monitorização
para que este controle seja efetivo e eficaz: terapêutica de antimicrobianos;
• Participar das reuniões da Comissão de • Elaborar relatórios periódicos sobre o con-
Controle de Infecção Hospitalar; sumo, custo e a freqüência de uso de anti-
• Participar da elaboração de protocolos de microbianos;
tratamentos com antimicrobianos; • Fornecer informações a respeito de inte-
• Participar da revisão da padronização de rações, incompatibilidades físico-químicas
antimicrobianos; e interferência laboratorial de medicamen-
• Estabelecer intercâmbio entre Comissão de tos, principalmente dos antimicrobianos;
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), • Participar de investigação de casos sus-
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT), peitos de contaminação por soluções pa-
Comissão de Suporte Nutricional e Comis- renterais e outros;
são de Padronização de Material Médico • Estabelecer políticas internas na farmá-
hospitalar; cia abrangendo procedimentos e progra-

131
FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Coletânea de Farmácia Hospitalar

mas para evitar a contaminação de medi- mento de projetos de pesquisa em contro-


camentos produzidos e dispensados; le de infecção hospitalar;
• Estimular o uso de embalagens em dose • Participar de programas de farmacoepide-
única para produtos estéreis; miológia, principalmente aquelas relacio-
• Trabalhar em conjunto com o laboratório nadas a estudos de utilização de medica-
de microbiologia; mentos e farmacovigilância;
• Participar da padronização dos germicidas • Participar de investigação epidemiológica
e saneantes; e emitir pareceres sobre pro- dos surtos ou suspeita de surtos;
dutos recentemente lançados; • Desenvolver atividades de capacitação e
• Aconselhar nos critérios para aquisição atualização de recursos humanos e orien-
de anti-sépticos, desinfetantes, esteri- tação de pacientes.
lizantes, medicamentos e produtos para
a saúde; Com a participação efetiva do farmacêutico
• Supervisionar a manipulação dos an- nos programas de controle de infecção hospitalar
ti-sépticos, desinfetantes e esterilizan- estaremos caminhando para fortalecer o trabalho
tes fornecendo informações e orienta- em equipe multiprofissional e também para dimi-
ções sobre os produtos para os setores nuir a disseminação de resistência bacteriana e
que os utilizam; promover o uso adequado de antimicrobianos, vi-
• Participar da elaboração e do desenvolvi- sando à melhor assistência ao paciente internado.

REFERÊNCIAS
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(ANVISA). Rede de Hospitais Sentinelas. Perfil de 6431, de 06 de janeiro de 1997 - Institui a
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talar - um enfoque em sistemas de saúde, São
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Coletânea de Farmácia Hospitalar FARMACIA E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES

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133
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar

ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO


LÍLIAN CALADO CAVALCANTE MONTANO
ALESSANDRA VIEIRA SILVA
GEORGE WASHINGTON BEZERRA DA CUNHA

01 INTRODUÇÃO
A grande discussão nos dias atuais é con- ato anestésico-cirúrgico até a globalidade do
seguir, dentro dos hospitais, que a gestão da processo de trabalho realizado neste setor.
saúde seja realizada com qualidade, eficácia, Para estes autores as “tentativas de mensu-
eficiência e aplicação correta dos recursos, rar os resultados da qualidade vem aumentan-
minimizando as perdas. Isto se torna particu- do significamente e com certeza continuarão
larmente importante, quando os assuntos são à medida que forem documentados os valores
medicamentos e produtos para saúde de uso dos programas e serviços prestados em centros
especial devido ao seu custo e grande utiliza- cirúrgicos”.
ção. A possibilidade de se visualizar em “kits” Além dos médicos, atuam, no centro ci-
o material direcionado ao ato cirúrgico, além rúrgico, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
de facilitar o acesso vai permitir o usuário ter farmacêuticos, auxiliares de farmácia e técni-
o conhecimento exato das disponibilidades co-administrativos, dentre outros que respon-
econômicas e institucionais. dem pelos processos de trabalho desenvolvi-
De acordo com Mastrantonio e Graziano dos no setor. No cotidiano fica evidente que as
(2002, p.333) “a unidade de centro cirúrgico relações interprofissionais são hierarquizadas,
é uma área geradora de receita para os hospi- assimétricas e caracterizadas por dinamismo
tais” e em razão disso, o desenvolvimento de decorrente da necessidade de um trabalho em
programas que garantam a qualidade “é uma equipe.
necessidade em termos de eficiência e uma O centro cirúrgico é uma organização
obrigação do ponto de vista ético e moral”. complexa, formado por várias partes que se re-
Estudos indicam que o índice de ocupação lacionam para além de um layout arquitetôni-
de salas cirúrgicas nos hospitais de países de- co, equipamentos e aparelhagem sofisticada.
senvolvidos gira em torno de 85%, em compa- O relacionamento dessas partes é importante,
ração com os 53% de ocupação detectado em tendo em vista que o seu funcionamento só
instituições de saúde pública do Brasil, prin- ocorre de forma adequada quando os critérios
cipalmente aquelas com caráter de ensino e destas relações estiverem bem definidos, ou
pesquisa (GATTO, 1998). seja, integrados.
Mastrantonio e Graziano (2002, p.333) Contudo, a farmácia em centro cirúrgico
mencionam ainda que o caminho para se al- aparece dentro desta organização buscando
cançar o equilíbrio entre eficiência e eficácia um trabalho em equipe com todos os profissio-
em um centro cirúrgico obriga os gestores a nais envolvidos no centro cirúrgico se respon-
conhecer detalhadamente a realidade, desde sabilizando em trazer qualidade na logística do
questões relacionadas ao desenvolvimento do insumo certo na hora certa e na área certa.

134
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO

02 GESTÃO DO CENTRO CIRÚRGICO


Segundo Bernardino, de um sistema eficaz para
H.M.O.M. et al (2009), as obter resultados e manter
pessoas são os principais sustentabilidade. Um sis-
recursos das organizações. tema de liderança promo-
A gestão de pessoas é uma ve lealdade e o trabalho
área contingencial e situa- em equipe baseados nos
cional, que depende, dentre valores e na busca dos
outras variáveis, da cultura propósitos comuns. Apóia
de cada organização. a iniciativa, a criativida-
O desenvolvimento de uma cultura huma- de e a gestão de risco, subordina a organização
nística e o posicionamento interdisciplinar do ao seu propósito e função e evita cadeias de
farmacêutico hospitalar se faz necessário para comando que obrigam a longos caminhos para
o bom desempenho profissional, face à articula- a tomada de decisão.
ção e integração da farmácia hospitalar com os Para a excelência dos serviços prestados e
demais serviços e unidades clínicas. Desenvolver o cumprimento da sua missão, a farmácia hos-
habilidades e usar da empatia para ser capaz de pitalar precisa contar com os profissionais em
entender e motivar pessoas e grupos é funda- número suficiente e perfil adequado ao desem-
mental nas relações interpessoais e para a eficá- penho de suas funções. (BERNARDINO, 2009)
cia dos resultados na gestão de pessoas. A organização do quadro de colaboradores
No centro cirúrgico, existem diferentes cate- da farmácia do centro cirúrgico deve obedecer
gorias profissionais atuantes e relações hierárqui- os “Padrões mínimos para farmácia hospitalar e
cas com suas respectivas coordenações interagin- serviços de saúde” elaborado pela Sociedade Bra-
do entre si em busca de um projeto assistencial e sileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde
gerencial comum a área. (Sbrafh), 2007.
O colaborador de qualquer categoria profissio- Segundo Bernardino et al (2009), o grau
nal necessita conhecer as normas do processo de de instrução dos colaboradores que comporão o
trabalho e funcionamento, quem define quais os quadro de pessoal da farmácia cirúrgica deve ser
objetivos, metas, fluxos e toda a dinâmica do setor. compatível com a complexidade das atividades
O desenvolvimento da liderança se torna que lhe são delegadas e estes devem ser capa-
essencial para que seus colaboradores cami- citados e treinados de acordo com os programas
nhem lado a lado e busquem também a exce- previamente elaborados pela Educação Continua-
lência do atendimento. Segundo Pinto, B. V et da do serviço.
al (2009), liderança se define como um sistema Buscar o envolvimento da equipe para a ex-
cuja a finalidade é mobilizar as pessoas para celência do atendimento da farmácia do centro ci-
cumprir a missão e realizar a visão da organi- rúrgico é um processo contínuo e que se expressa
zação. Os autores consideram que para que a pelos resultados revertidos ao paciente e toda a
organização produza bens ou serviços necessita equipe multiprofissional dentro do centro cirúrgico.

• 1 Farmacêutico por turno


Farmácia em Centro Cirúrgico
• 1 Auxiliar de farmácia para 4 salas de cirurgia por turno.

03 ROTINAS OPERACIONAIS
A programação cirúrgica é feita pelo coorde- intervenção cirúrgica, com a identificação dos
nador médico, que recebe das unidades de inter- pacientes e os tipos de procedimentos a serem
nação, 48h antes da cirurgia, a solicitação para realizados. A programação é discutida pelo coor-

135
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar

denador cirúrgico e coordenador da anestesio- Período diurno:


logia. Após a confirmação pela enfermagem, a • reposição dos materiais e medicamentos,
farmácia do centro cirúrgico recebe a demanda • conferência e montagem dos kits
de materiais a serem providenciados para os dispensados,
procedimentos. • realização dos pedidos diários e semanais,
O atendimento pela farmácia do centro cirúr-
• organização dos estoques,
gico é realizado com kits para facilitar o processo
• verificação da validade;
de débito em conta e movimentação dos materiais
Período noturno:
no controle do estoque. Os kits podem ser dividi-
dos em adulto, infantil e também em se tratando • débito de materiais e medicamentos na
de fios, serem classificados de acordo com o pro- conta do paciente,
cedimento. • montagem dos carros cirúrgicos de acordo
Como a farmácia do centro cirúrgico funciona com o procedimento e paciente,
24 horas, a distribuição de tarefas entre os auxilia-
• inventário físico diário do psicofármaco,
res de farmácia é realizada da seguinte forma:
• abastecimento de “soros” nas estufas e ge-
ladeiras.

Figura 1: modelo de Procedimento Operacional Padrão (POP).

136
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO

Já o farmacêutico confere as digitações rem desempenhadas pelos profissionais da área a


realizadas para o paciente no dia posterior ao fim de proporcionar uniformização dos processos
procedimento, verificando o débito dos materiais com conseqüente melhoria na assistência pres-
especiais, principalmente quanto a importância tada ao paciente cirúrgico e a equipe multipro-
dos lotes/séries dos materiais implantáveis (pró- fissional. O manual de rotinas e procedimentos
tese, marca-passo e enxerto) para se obter a ras- tem como objetivo informar, disseminar, manter
treabilidade. Após a conferência, o farmacêutico as informações, sanar as dúvidas em qualquer das
solicita reposição desses materiais utilizados e etapas do processo, a fim de garantir a qualida-
encaminha essas notas de débito ao faturamento de. Este manual deve ser revisado periodicamen-
processar a conta do paciente. te. Ao lado, modelo de Procedimento Operacional
Para que haja uma melhoria nos processos, Padrão (POP) – figura 1.
o gestor elabora e padroniza as atividades a se-

04 ATIVIDADES DO FARMACÊUTICO
• Monitoramento de estoque de medicamen-
tos, materiais especiais e convencionais ob-
servando pontos críticos de abastecimento
cobrando dos setores responsáveis parecer
sobre reposição, quando necessária solicita-
ção de empréstimos de materiais de outros
setores;
• Busca de soluções contínuas na melhoria
nos processos;
• Participação no sistema de gerenciamento
de riscos, através da elaboração das notifi-
cações referente a medicamentos e demais
produtos para saúde;

A complexidade do centro cirúrgico exige do


farmacêutico a previsão e o gerenciamento de me-
dicamentos e materiais, indispensáveis para a re-
alização de procedimentos anestésicos-cirúrgicos.
Na inter-relação farmácia, compras e suprimentos
pode ocorrer uma falta de sintonia e conseqüente
repercussão na assistência ao paciente. Na atua-
ção em centro cirúrgico, o farmacêutico se dedica
também a questões administrativas e burocráti-
cas, ficando responsável por organizar, prover,
acompanhar e deixar disponíveis os materiais
para as cirurgias programadas.
Dentro deste contexto, a missão do farma-
cêutico é promover e incentivar a qualidade téc-
nica do atendimento a partir de entendimento
entre os profissionais, estabelecendo estratégias
de avaliação e controle do processo, resgatando o
profissionalismo e valorizando o trabalho. Abaixo,
relacionam-se algumas atividades desempenhadas
pelo farmacêutico:

137
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar

• Identificação e treinamento de profissio- • Identificar talentos e habilidades na


nais que têm potencial para o desempenho equipe incentivando seu desenvolvi-
de tarefas específicas; mento.
• Foco em resultados: trabalho contínuo; É de responsabilidade do farmacêutico, de-
• Trabalhar em equipe de forma colaborativa senvolver um serviço abrangente e de alta quali-
e integrada, cultivando o bom relaciona- dade, coordenado adequadamente para atender as
mento e adquirindo credibilidade; necessidades das equipes médicas e enfermagem
• Elaboração/atualização dos Procedimentos do Centro Cirúrgico com intuito de propiciar a me-
Operacionais Padrão (POP); lhor assistência ao paciente.

05 FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES NA
FARMÁCIA EM CENTRO CIRÚRGICO

138
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO

06 FÁRMACO E TECNOVIGILÂNCIA
A ocorrência crescente de casos documenta- A interação do farmacêutico com as
dos de eventos adversos no cuidado à saúde tem equipes de médicos e enfermagem passa a
provocado um debate sobre a segurança do pa- ser maior pela participação do profissional
ciente em âmbito internacional. na prática do gerenciamento de risco e pelo
Os hospitais são espaços que visam a propor- fato de que o médico passa a agregar novas
cionar à população assistência médica sanitária, referências à avaliação do tratamento a ser
utilizando-se de recursos humanos e insumos. prescrito e do material a ser utilizado. Os en-
O envolvimento dos profissionais de saúde fermeiros aprendem a relacionar eventos da
com os princípios da Farmacovigilância e Tecno- prática de cuidados com os possíveis riscos
vigilância tem grande impacto na qualidade da decorrentes do uso de medicamentos e mate-
Assistência prestada ao paciente que está sendo riais. Abaixo, modelos das fichas utilizadas na
submetido a procedimentos cirúrgicos. Segundo prática de notificação (Figuras 2 e 3).
Anvisa, os temas são definidos:
• A farmacovigilância é uma atividade que
permite, durante a etapa de uso comer-
cial em larga escala, uma observação da
segurança real do medicamento e assim,
detectar efeitos adversos não previstos nas
etapas previas ao seu lançamento no mer-
cado. A farmacovigilância nos auxilia assim
a ter medicamentos mais seguros no merca-
do, detectando precocemente reações ad-
versas (indesejáveis) conhecidas, mau uso
dos mesmos e interações medicamentosas,
assim como seus aumentos de frequência,
além de identificar fatores de risco.
• Tecnovigilância é o sistema de vigilância de
eventos adversos e queixas técnicas de pro-
dutos para a saúde na fase de pós-comer-
cialização, com vistas a recomendar a ado-
ção de medidas que garantam a proteção e
a promoção da saúde da população. Visa a
segurança sanitária de produtos para saúde
pós-comercialização (equipamentos, mate-
riais, artigos médico-hospitalares, implantes,
produtos para diagnóstico de uso “in-vitro”),
através de estudos, análise e investigações a Figura 2. Impresso para notificação de produtos
partir das notificações recebidas. com desvio de qualidade ou não conformidade.

139
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar

Figura 3. Impresso para notificação de produto que causou dano à saúde do usuário ou do profissional.

07 RELACIONAMENTO MÉDICO X
FARMACÊUTICO X ENFERMEIRO
Dentro do centro cirúrgico, os principais quanto às ações dos profissionais, favorecendo o
agentes da assistência hospitalar são os grupos de relacionamento entre estes, contribuindo, assim,
médico e enfermeiros, sendo considerados os gru- com o desempenho visando o cuidado integral do
pos de maior representatividade para os serviços paciente.
da saúde devido às distintas funções que exercem. Todos os participantes envolvidos na assis-
O médico encarrega-se do procedimento cirúrgico tência prestada ao paciente cirúrgico devem falar
do paciente e ao enfermeiro cabe a execução dos a mesma linguagem, voltados para um objeti-
cuidados complementares. vo comum, dessa maneira as informações serão
O papel do farmacêutico aparece para que se adequadamente transmitidas e entendidas (OLM,
tenha além da provisão de medicamentos e ma- 1987).
teriais específicos, contato direto com ambas as Para que as relações de um bom trabalho em
equipes para o aperfeiçoamento das atividades equipe sejam realizadas, são necessários alguns
desempenhadas pelos profissionais da Farmácia requisitos: autoconhecimento e relacionamento
em centro cirúrgico, agregando qualidade na as- do grupo, e os objetivos comuns de trabalho.
sistência prestada. Por outro lado, podemos citar dois obstácu-
A existência de um ambiente agradável que los que podem interferir nas relações interprofis-
inclui uma assistência também humanizada, em sionais: distorção da comunicação e desequilíbrio
que se busque não somente o bem-estar do pa- emocional.
ciente, mas também dos profissionais de saúde Em uma análise que une médico-farmacêuti-
que nele atuam, é necessária. Portanto, o Centro co-enfermeiro na assistência prestada ao pacien-
Cirúrgico precisa criar um ambiente que satisfa- te cirúrgico, podemos destacar no quadro ao lado
ça tanto às demandas de cuidado do paciente, (Quadro 1).

140
Coletânea de Farmácia Hospitalar ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO

Quadro 1: Sistema Assistencial em Centro Cirúrgico

Um relacionamento favorável entre os pro- também pode estimular um ambiente de cuidado


fissionais atuantes no centro cirúrgico, além de harmônico para o paciente.
ser essencial para o bom andamento da cirurgia,

08 PLANEJAMENTO
O planejamento anual é realizado pelo gestor A realização de um planejamento anual pro-
da área, num processo gerencial que formula obje- move a motivação da equipe levando a uma ex-
tivos para a seleção de planos de ação na sua exe- celência no atendimento e alcançando melhores
cução, levando em conta as condições da empresa resultados na assistência farmacêutica prestada
e sua evolução esperada. Ele permite ao farma- ao paciente cirúrgico.
cêutico identificar os problemas, propor melhorias Maria Gomes (2009, p. 69) alerta que se de-
através de elaboração de projetos e praticando as vem considerar possíveis intercorrências nos pro-
atividades de liderança dentro do processo contí- cessos de trabalho na área da saúde, porém essas
nuo de mudanças e aperfeiçoamento profissional. organizações não podem trabalhar na base da im-
Abaixo listamos alguns ítens necessários provisação, sendo necessário o planejamento com
para o desenvolvimento do planejamento anual e margem de segurança.
acompanhamento das atividades a serem desem- De acordo com Chiavenato (2000, p.195),
penhadas pela área. “o planejamento é um processo que começa com
1) Objetivo: melhoria proposta objetivos e define os planos para alcançá-los”, e
2) Responsável: gestor da área que para um instrumento gerencial mostra o que
3) Indicador: dados coletados rotineira- deve ser feito, quando, como e em que seqüência
mente, padronizados e que permitem a se deve fazer.
comparação dentro e/ou fora do serviço. Torna-se importante ressaltar que estes pro-
4) Meta: o que pretende alcançar cessos é um conjunto de operações sucessivas que
5) Prazo: determinação de data final proporcionam um resultado definido, o produto.
6) Plano de ação: planejamento de todas as (Deus, 2009, p.4) Considerando que o produto do
ações necessárias para atingir os resulta- centro cirúrgico é a “prestação de cuidados, em
dos esperados caráter eletivo ou emergencial, suas atividades
7) Equipe: quem desempenhará as atividades são complexas e os processos necessários na pro-
8) Prazo: data para implantação das ativida- dução do resultado sejam desenvolvidos de modo
des do plano de ação harmonioso, sincronizado e eficiente, com vistas
9) Ações: descrição das atividades a serem à segurança dos recursos humanos atuantes e do
desenvolvidas para o alcance do objetivo. paciente”. (SILVA, 1997, p.21)

141
ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CENTRO CIRÚRGICO Coletânea de Farmácia Hospitalar

09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda é um pouco recente, a participação efetiva Isto posto, que atividades essenciais ficariam nas
do farmacêutico no processo de atendimento dentro mãos do farmacêutico em centro cirúrgico?
do centro cirúrgico. Apesar de utilizar alguns medica- 1. Elaboração da política de medicamentos.
mentos específicos, anestésicos em sua maioria, a área 2. Estabelecimento de padrões aceitáveis para a
cirúrgica necessita de produtos para saúde, e estes tem reposição de materiais.
uma ligação umbilical com a área de suprimentos, res-
3. Otimização do relacionamento com cirurgi-
ponsável pelo abastecimento e aquisição dos mesmos.
ões, anestesistas, enfermeiros e outros profis-
Alguns hospitais já conseguiram organizar uma
sionais envolvidos no processo.
área de logística que possua dupla coordenação (técnica
e operacional) e que cuida de forma integrada da provi- 4. Disponibilização de informações fármaco-ci-
são, abastecimento, distribuição, aquisição e controle. rúrgicas à equipe multidisciplinar.
Assim é que o farmacêutico assume as funções 5. Gerenciamento de conflitos envolvendo fal-
de gestor, embasado em instrumentos administrativos tas de medicamentos e materiais convencio-
e consegue estabelecer diálogo utilizando evidências nais e especiais.
fármaco-clínicas e cirúrgicas, para manter atualizado o Fica como lembrete aos novos profissionais
planejamento elaborado em conjunto com os gestores que pretendem atuar em centro cirúrgico, que o
de Suprimentos, reduzindo a ruptura de estoque tão modus faciendi é: faça segundo a arte, conforme
indesejável. manda a receita!

10 REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da NOVAES, MRCG; SOUZA, NNR et al. Guia de Boas
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I Congreso Mundial sobre el envasado de medi- teriais em Centro Cirúrgico após implementa-
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pág. 13, maio-2000 Brasileira de Enfermagem, vol 63, nov/dez 2010

DEUS, A.D. Oficina de Planejamento do HC/ SILVA, M.d’A. A. et al.Enfermagem na Unidade


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Cirúrgico de um hospital universitário de Belo emergência (UE). Fortaleza, CE, Brasil, 2006.
Horizonte – Minas Gerais. Minas Gerais, 2009 SILVA, D.C.; ALVIM, N.A.T. Ambiente do Centro
MASTRANTONIO, M.A.; GRAZIANO,K.U. Propos- Cirúrgico e os elementos que o integram: im-
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142
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR


MARIA LUCIA RODRIGUES
ILENIR LEÃO TUMA

01 INTRODUÇÃO
O conceito de qualidade na área de prestação gestão cujo alvo é a melhoria contínua de todas
de assistência à saúde foi descrito como: “Conse- as atividades hospitalares.
guir os maiores benefícios, com os menores riscos A qualidade é um processo que pode ser men-
possíveis para o paciente, dados alguns recursos” surado, o que permite comparações entre hospi-
pelo Dr. A. Donabedian. tais, prática que propicia a melhoria contínua da
No Brasil, esforços do Ministério da Saú- qualidade. Mas promover esta mudança para um
de, da Agência Nacional de Vigilância Sanitá- trabalho contínuo, com qualidade, demanda esfor-
ria (Anvisa), do Departamento de Assistência ço, constância e tenacidade, já que a modificação
Farmacêutica (DAF), da Sociedade Brasileira dos padrões culturais é uma das atividades que
de Farmácia Hospitalar (Sbrafh) e de outros implicam maior dificuldade.
segmentos da área de saúde buscam assegurar Neste contexto, as iniciativas relativas aos
a implementação e o monitoramento de políti- processos de certificação no Brasil foram vistas
cas, leis e recomendações que propiciem o uso com bastante otimismo, por possibilitarem o de-
seguro de todas as tecnologias e insumos uti- senvolvimento dos processos com mais qualidade,
lizados na prestação de assistência a pacien- seguindo-se uma cartilha pré-estabelecida de pa-
tes nas instituições de saúde, preocupando-se drões considerados aceitáveis para o atendimento
com todas as fases da cadeia de uso destes do paciente com segurança.
insumos, desde a sua produção até o seu uso
em pacientes.
No entanto, verifica-se um enorme dis-
tanciamento entre estas iniciativas e a reali-
dade prática vivenciada nos hospitais, sobre-
tudo quando se considera todas as regiões do
país. Há focos de excelência voltados de forma
consistente para a segurança dos pacientes e
inúmeros serviços nos quais tal preocupação é
muito pouco considerada.
Não há desenvolvimento da qualidade, se
todo o pessoal do hospital não estiver motiva-
do, já que a qualidade não depende de alguns
dos trabalhadores, mas de todos. É importante
lembrar que o processo de gestão pela qualida-
de pode ser utilizado como um mecanismo de
motivação e comprometimento dos funcionários Nos últimos anos, as organizações de saú-
ou colaboradores da instituição, pois qualidade de despertaram sua atenção para aspectos e
depende muito mais das pessoas e de seus va- oportunidades de economia resultantes de me-
lores do que dos processos, técnicas e instru- lhores processos na gestão do trabalho. Estas
mentos. É, portanto, uma ferramenta global de buscas representam o desafio para o declínio

143
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

do alto custo dos serviços de saúde e o incre- hospitalar de pacientes pressupõe produtos e
mento de sua qualidade. Têm como objetivo serviços decorrentes das atividades dos pro-
compreender as melhores práticas de gerência fissionais. Segundo a Associação Médica Bra-
e os mecanismos de desenvolvimento de uma sileira, são realizados 3.870 procedimentos
cultura organizacional que privilegiem as ne- diferentes nos hospitais, decorrentes de uma
cessidades e expectativas de seus atores, es- assistência para terapia de 2.870 diagnósticos
pecialmente o consumidor final dos serviços possíveis.
de saúde. Atualmente, nos hospitais, os termos gestão
A implementação de programas de quali- pela qualidade, controle de processos, certifica-
dade tem um papel fundamental na racionali- ção, acreditação e satisfação do cliente são bas-
zação e padronização de insumos e de recursos tante utilizados e guardam entre si grande seme-
humanos, considerando-se que o atendimento lhança.

02 HISTÓRICO
A acreditação hospitalar, no Brasil, vem sen- As iniciativas seguiram esta sequência:
do discutida, desde 1990, no âmbito do Ministério 1991 – CQH – Programa de Controle de Qualida-
da Saúde. Várias iniciativas podem ser destacadas de Hospitalar que possui o apoio da Associação
dentro de um movimento precursor de avaliação Paulista de Medicina e PNGS – Prêmio Nacional
dos serviços de saúde com algum instrumento de Gestão em Saúde;
constituído por padrões, como o Programa de
1999 – CBA – Consórcio Brasileiro de Acredita-
Avaliação e Certificação de Qualidade em Serviços
ção, agência credenciada a realizar a auditoria
de Saúde, no Rio de Janeiro; o Instituto de Ad-
pela metodologia da Joint Commission Interna-
ministração Hospitalar, no Rio Grande do Sul, e o
tional (JCI);
Instituto Brasileiro de Acreditação Hospitalar, em
São Paulo, dentre outros. 1999 – ONA – Organização Nacional de Acredi-
O Ministério da Saúde definiu, então, a ne- tação que surge para ser a metodologia nacional
cessidade de criação de uma ferramenta nacional e adequada à realidade brasileira das institui-
para a avaliação e certificação de serviços de saú- ções de saúde;
de, instituindo uma comissão nacional de espe- 2008 – CCHSA – Canadian Council on Health
cialistas para desenvolver o modelo brasileiro de Services Accreditation, canadense, e NIAHO –
acreditação, que elaborou a primeira versão do National Integrated Accreditation for Healthca-
Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. re Organizations, norueguesa.

03 DEFINIÇÕES
CERTIFICAÇÃO serviços de assistência à saúde, a cultura da qua-
É um conjunto de atividades desenvolvidas lidade. É realizado por entidade separada e distin-
por um organismo independente com o objetivo ta da organização de saúde e normalmente não
de atestar publicamente, por escrito, que deter- governamental, que avalia a organização de saúde
minado produto, processo ou serviço está em con- para determinar se ela apresenta uma série de exi-
formidade com os requisitos especificados. Estes gências projetadas para melhorar a qualidade da
requisitos podem ser nacionais, estrangeiros ou assistência. Tem caráter educativo voltado para a
internacionais. melhoria contínua, sem a finalidade de fiscaliza-
ção ou controle oficial.
ACREDITAÇÃO A acreditação de organizações de saúde se
É um processo de certificação voluntária que apresenta como uma forma de qualificar a compe-
visa introduzir nas instituições prestadoras de tência dos serviços, e não como uma mera certi-

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Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

ficação (apesar de esta última ser uma opção de Selo ou certificado – é fornecido quando a
um programa de qualidade). Trata-se de um meca- organização dos recursos e atividades evidencia
nismo comprometido com a elevação do nível de um processo cujo resultado final é uma assistên-
qualidade dos Serviços de Saúde. cia à saúde de qualidade.

04 O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO
Num hospital, os clientes internos – o dire- pela união de tarefas de forma ordenada, plane-
tor, os pacientes e acompanhantes, os chefes dos jada, com o foco em metas bem estabelecidas e
serviços, o corpo de enfermagem, o gerente de onde o produto de uma estação de trabalho serve
compras, os médicos, o pessoal da manutenção, de insumo para a seguinte e assim sucessivamen-
o de limpeza e todos os demais que interagem te. Por isso, os estudos que tratam da avaliação
com o processo de trabalho, constituem parte do da qualidade de serviços de saúde, conduzidos
sistema onde são realizados processos de traba- especialmente pelo Dr. Avedis Donabedian, en-
lho que são definidos como uma cadeia de for- tendem que seu marco conceitual está na relação
necedores e clientes, com um conjunto formado entre estrutura, processo e resultado.

• Características da assistência relacionadas aos recursos físicos, humanos, materiais,


ESTRUTURA
tecnológicos, financeiros, organizacionais e de segurança

• Aspectos técnicos das atividades envolvidas, as normas e procedimentos operacionais,


PROCESSO
o sistema de monitoramento e controle, recursos de informação e a capacitação

• Produto final da assistência prestada, o acesso aos serviços, a resolutividade, o impacto


RESULTADO
na saúde da população e o nível de satisfação dos usuários

Os processos de acreditação, portanto, levam Melhorar a administração dos sistemas de


em conta esta estrutura para desenvolver as au- informação;
ditorias e avaliar o desempenho e a segurança na Incentivar a preocupação com ambiente
prestação de assistência aos pacientes. seguro.
Os principais objetivos do processo podem
Muitos autores estabelecem como benefícios
ser resumidos como:
diretos do processo de acreditação:
Avaliar e estimular a melhoria da es-
Maior qualidade da assistência;
trutura organizacional e processos por
Segurança para pacientes e profissionais;
meio de padrões;
Construção de equipe e melhoria contínua;
Fornecer avaliação independente e objeti-
Instrumento com boa utilização para o ge-
va do processo;
renciamento;
Revisar e analisar sistemática e retrospecti-
Critérios e objetivos definidos para a reali-
vamente os cuidados fornecidos ao paciente
dade brasileira;
e seus resultados, visando sua segurança;
Confiança do paciente na instituição;
Estimular o desenvolvimento de diretrizes
Ganho na qualidade dos processos;
e normas clínicas;
Credibilidade junto à população;
Ter caráter multidisciplinar e ser voluntário;
Trabalho seguro e eficiente;
Estimular a economia de recursos por in-
Diferenciação com fontes pagadoras;
centivar atividades padronizadas e contro-
Gerenciamento por indicadores.
ladas, que aumentam a segurança e possi-
bilitam o acompanhamento dos custos;

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CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

05 METODOLOGIAS DE ACREDITAÇÃO EM SERVIÇOS DE SAÚDE


Atualmente no Brasil existem algumas orga- Canadian Council on Health Services
nizações desenvolvendo processos de acreditação Accreditation – CCHSA (canadense)
hospitalar distintos, com métodos próprios e sis-
temática de avaliação semelhante.

As certificações nacionais:

Organização Nacional de Acreditação (ONA)

National Integrated Accreditation


for Healthcare Organizations - NIAHO
(norueguesa)

Programa de Controle da Qualidade Hospi-


talar (CQH) e Prêmio Nacional de Gestão Atualmente a quantidade de hospitais com
em Saúde (PNGS) certificado de acreditação por estas instituições
é o demonstrado no quadro abaixo:

Organização Número de hospitais acreditados

ONA 150

CQH 18

A certificação internacional e as estrangeiras: JCI 15

CCHSA 10
Joint Commission International – JCI
(internacional) NIAHO 02

06 CERTIFICAÇÃO DAS FARMÁCIAS HOSPITALARES


Segundo conceito aprovado pelo Conselho uma farmacoterapia racional e a obtenção de re-
Nacional de Saúde, a Política Nacional de Assis- sultados definidos e mensuráveis, voltados para
tência Farmacêutica “é um modelo de prática a melhoria da qualidade de vida. Esta interação
farmacêutica desenvolvida no contexto da assis- também deve envolver as concepções dos seus su-
tência farmacêutica e compreende atitudes, va- jeitos, respeitadas as suas especificidades bio psi-
lores éticos, comportamentos, habilidades, com- co sociais, sob a ótica da integralidade das ações
promissos e co-responsabilidades na prevenção de saúde”.
de doenças, promoção e recuperação da saúde, de A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospi-
forma integrada à equipe de saúde. É a interação talar (Sbrafh) define a farmácia hospitalar como
direta do farmacêutico com o usuário, visando a “unidade clínica, administrativa e econômica, di-

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Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

rigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente 1. Adotar uma cultura de segurança focada
à direção do hospital e integrada funcionalmente na melhoria do processo;
às demais unidades administrativas e de assistên- 2. Padronizar a prescrição médica e, se pos-
cia ao paciente”. sível, torná-la eletrônica;
Conseguir a adequação das farmácias hospi- 3. Padronizar procedimentos, como horários
talares, bem como da atuação dos profissionais de administração, limites de doses, enva-
farmacêuticos segundo este conceito tem sido um samento, etiquetação e armazenamento;
desafio para todas as estruturas, governamentais 4. Padronizar os equipos de infusão;
ou não, envolvidas na atividade. 5. Atribuir ao Serviço de Farmácia a prepa-
No entanto, a assistência farmacêutica hos- ração dos medicamentos;
pitalar hoje no Brasil compreende, em um expres- 6. Instituir protocolos de utilização e pro-
sivo número de casos, um número considerável cedimentos especiais para o manejo dos
de processos e está completamente inserida no medicamentos de alto risco;
contexto da atenção à saúde dentro dos hospitais. 7. Assegurar a disponibilidade continuada
Ela responde por inúmeros padrões da maioria dos da assistência farmacêutica;
manuais de acreditação, por estar diretamente re- 8. Incorporar o farmacêutico clínico na
lacionada a aspectos da segurança do paciente. equipe assistencial;
A segurança do paciente é definida como 9. Garantir acessibilidade às informações
a redução, a um mínimo aceitável, do risco de mais relevantes sobre o paciente e sobre
dano desnecessário ao paciente, associado ao os medicamentos nas unidades assisten-
cuidado de saúde. ciais;
A qualidade da assistência farmacêutica está 10. Educar os pacientes sobre o seu tratamento;
diretamente relacionada com a capacidade da or- 11. Estabelecer um sistema de distribuição
ganização em garantir a eficiência das atividades de medicamentos em dose unitária;
logísticas tradicionais e com o desenvolvimento 12. Implementar novas tecnologias que per-
de ações assistenciais e técnico-científicas que mitam melhorar os processos de dispen-
contribuam para a qualidade e racionalidade do sação e administração de medicamentos.
processo de utilização de medicamentos e de ou- Neste sentido, a adequação das farmácias
tros produtos para a saúde e para a humanização hospitalares ao que é exigido nos padrões de acre-
da atenção ao usuário. O objetivo é reduzir os ditação torna-se um caminho dos mais promisso-
danos causados aos pacientes em conseqüência res para a melhoria da atividade profissional e do
de sua terapia medicamentosa, o que envolve cumprimento da legislação.
também materiais, equipamentos, instrumentais Recentemente houve a publicação de legisla-
e sistemas de aplicação médica. ção federal (Portaria no 4.283, de 30 de dezembro
Podemos dizer que outro objetivo encontra- de 2010, do Ministério da Saúde) que define dire-
do, aqui, é a diminuição da cultura do desperdí- trizes e estratégias para a organização, o fortaleci-
cio existente em muitas instituições hospitalares. mento e o aprimoramento das ações e serviços de
Esta cultura se estende aos materiais de consumo, farmácia no âmbito dos hospitais, o que fortalece
fios cirúrgicos, cateteres e outros itens. A inexis- as iniciativas dos gestores das áreas na adequação
tência de protocolos, procedimentos operacionais de seus serviços ao preconizado em todas as ativi-
padrão, informação e informatização, padroniza- dades, que estão resumidas no diagrama abaixo:
ção de medicamentos e produtos para a saúde e
o desconhecimento dos custos contribui para a
falta de qualidade.
Organizações internacionais com experiência
no desenvolvimento de melhorias de segurança
para o uso de medicamentos recomendam medi-
das gerais que podem ser adotadas com foco na
prevenção dos eventos adversos evitáveis e, con-
sequentemente, na melhoria do indicador de pro-
blemas relacionados a medicamentos. São elas:

147
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

07 COMO A FARMÁCIA HOSPITALAR PODE SE ADEQUAR?


A perspectiva para os serviços de farmácia as envolvidas com o abastecimento e com o cui-
hospitalar, no Brasil, atualmente, é a introdução dado terapêutico às exigências de um processo de
e, em alguns casos, a consolidação da farmácia acreditação por si só é um ganho e um trabalho
clínica. Ela tem sido cada vez mais apreciada pe- que vai ao encontro das premissas estabelecidas
las equipes multidisciplinares dos hospitais que nos objetivos dos profissionais envolvidos. É, por-
a desenvolvem, por ter trazido uma realidade de tanto, um caminho recheado de desafios, mas que
valor inquestionável: a minimização dos erros de se apresenta extremamente pertinente por conta
medicação, o aumento da segurança das prescri- da confluência com os objetivos maiores da assis-
ções de medicamentos, a diminuição dos custos tência de qualidade.
da terapia medicamentosa e a possibilidade de, Cada um dos institutos acreditadores se-
em virtude destas ações, haver a diminuição do gue seus padrões, normas e métodos de avalia-
tempo de internação do paciente e de menores ção próprios. No entanto, para contribuir com o
riscos em sua assistência. profissional farmacêutico que queira se adequar
De acordo com Hepler e Strand a aten- a padrões de excelência de qualidade, indepen-
ção farmacêutica é o fornecimento da terapia dentemente do tipo de selo que seu hospital vá
medicamentosa de maneira responsável com requerer (ou já tenha requerido), apresentamos
o propósito de atingir o resultado desejado, nos quadros seguintes uma relação de exigências
promovendo a melhora na qualidade de vida que podem ser consideradas obrigatórias para a
dos pacientes. maioria das acreditadoras.
A farmácia clínica compreende, além disto, O atendimento destas exigências levará tan-
as atividades voltadas para maximizar os efeitos to as farmácias como todos os outros setores do
da terapêutica, minimizar os riscos e os custos do hospital envolvidos com os processos de logística
tratamento do paciente. e abastecimento, a cumprirem a legislação, aten-
Para as duas situações ou formas de atuação derem aos padrões de acreditação e desenvolve-
profissional, a necessidade de adequação das áre- rem seu papel com qualidade.

Área Requisito

Responsabilidade profissional Responsável técnico e equipe comprovadamente habilitados


Alvará de funcionamento válido
Autorizações legais específicas disponíveis

Existência e atuação da Comissão de Farmácia e Terapêutica – estatuto,


Seleção de Medicamentos
objetivos e metas, agenda, registro de atas de reuniões
Critérios de seleção definidos
Normas de uso de medicamentos
Definição de norma para substituição de medicamentos pelo farmacêutico
Relação de medicamentos padronizados e sua descrição clara
Rotina de inclusão/exclusão de medicamentos
Ampla divulgação da lista de padronizados à equipe multidisciplinar
Opção pelo menor número possível de apresentações (concentrações) do
mesmo medicamento
Ações de educação continuada para melhoria da qualidade da prescrição
médica
Nome genérico disponível para a equipe
Monitoramento da adequação da padronização e dos não padronizados
prescritos
Monitoramento do uso racional de medicamentos

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Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

Recebimento Área física apropriada segundo legislação


Rotina de inspeção dos produtos recebidos
Sistemática de identificação, correção e registro de não conformidades
Área específica para produtos não conformes

Método adotado para estimativa de necessidades – política de estoque


Programação de Produtos
estabelecida
Compatibilização com os recursos financeiros disponíveis
Cadastro de produtos atualizado
Catálogo de especificação técnica de produtos
Descrição do processo de programação
Sistemática de monitoramento das entregas
Gerenciamento de contratos de serviços

Abastecimento e Critérios pré-estabelecidos para a seleção, qualificação e contratação de


Aquisição de Produtos fornecedores
Cadastro comercial de fornecedores atualizado, com documentação sanitária
disponível e atualizada
Sistemática de avaliação de desempenho de fornecedores, com critérios de
exclusão definidos
Descrição do processo de compra (elaboração do pedido, levantamento de
preços, editais, autorizações)
Garantia de abastecimento dos insumos padronizados
Processo monitorado para produtos em teste
Processo claro e acessível a todos para aquisição de produtos não disponíveis
em estoque, em qualquer dia e horário
Disponibilidade imediata de antídotos
Funcionamento de unidade abastecedora 24hs por dia

Armazenamento Adequação à legislação


Boas práticas de armazenamento
Descritivo do processo de recebimento, estocagem, distribuição, transporte
interno e limpeza
Processo de controle de sanitização e desinfestação
Registros de temperatura e umidade monitorados
Controle de acesso – segurança, e de saída de produtos
Capacitação para combate a incêndio
Local específico para produtos especiais: rejeitados ou a serem devolvidos,
inflamáveis, de alta vigilância, citostáticos, termolábeis, amostras-grátis e
doações, radiofármacos, órteses e próteses, matérias-primas e drogas em
investigação clínica
Identificação/endereçamento de produtos
Inventário físico x contábil
Revisão de prazo de validade sistematizada e registrada
Plano de gerenciamento de resíduos estabelecido
Sub estoques controlados
Validade de frascos multi dose depois de abertos estabelecida e visível no frasco
Atendimento da legislação quanto à guarda, registros, controle e descarte de
medicamentos sujeitos a controle especial (Portaria 344 MS)
Rotina para produtos de procedência externa (trazidos por outros)
Rastreabilidade de produtos com sistemática definida para recolhimento dos mesmos

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CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Distribuição Caracterização do sistema de distribuição


Atendimento à legislação
Rotina de abastecimento das unidades móveis de transporte de pacientes críticos
Garantia de conferência de transcrição de solicitações
Monitoramento de itens em falta para abastecimento das unidades requisitantes
Processo de encaminhamento e monitoramento de queixas técnicas
Identificação correta do paciente e lastro com a prescrição médica
Método de disponibilização de medicamentos para administração das doses
indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado
Método de devolução sistematizado em nome do paciente
Garantia de fornecimento imediato de medicamentos de emergência
Definição e cumprimento do tempo para envio de medicamentos de início imediato
Garantia de conferência de transcrição de prescrição

Atenção farmacêutica
Avaliação técnica da prescrição médica antes da dispensação, com verificação de:
forma farmacêutica, pertinência da droga, dose, freqüência, via de administração,
incompatibilidade química, duplicidade terapêutica, alergias, interações,
conciliação medicamentosa, critérios da instituição para o uso, peso e outros
dados do paciente, contra-indicações, duração da terapia
Intervenção farmacêutica e registro sistemático das atividades, mensuração e
avaliação de resultados
Plano formal de seguimento farmacoterapêutico
Monitoramento de interações entre medicamentos
Participação em planejamento multidisciplinar para estruturação de plano terapêutico
Sistemática de farmacovigilância passiva e ativa
Reconciliação medicamentosa
Monitoramento de antimicrobianos
Monitoramento de interações entre medicamentos e alimentos e com nutrição enteral
Orientação a pacientes e familiares sobre medicamentos
Definições para ordem verbal, siglas e abreviaturas, legibilidade, acesso à lista de
profissionais autorizados a prescrever
Participação ativa em equipes multidisciplinares e obrigatoriamente na
Comissão de Farmácia e Terapêutica – CFT, Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar – CCIH, Equipe Multidisciplinar em Terapia Nutricional
– EMTN e Equipe Multidisciplinar em Terapia Antineoplásica – EMTA
Orientação em ambulatório: adesão, orientações sobre o tratamento
medicamentoso, análise de resultados
Sistemática de anotação oficial de intervenções farmacêuticas em prontuário
Evidência de monitoramento do efeito de medicamentos de maior toxicidade
Sistemática de farmacovigilância ativa e passiva com demonstrativos
Definição e prática de mecanismos de informação para pacientes ambulatoriais
Desenvolvimento de estudos de utilização de medicamentos com aplicação prática
Demonstrativos farmacoeconômicos
Orientação para boas práticas de administração de medicamentos

150
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

Manipulação Atendimento à legislação específica


Requisitos estruturais da área física
Qualificação de fornecedores de insumos (produtos e equipamentos)
Descrição do processo de fracionamento de medicamentos (orais sólidos, líquidos
e outros)
Procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização
Validação de competência técnica do manipulador, do procedimento e da área
física (área limpa, quando aplicável)
Manutenção, calibração e validação de equipamentos
Treinamento e capacitação específicos de manipuladores
Registros e controle de qualidade conforme exigência específica
Gerenciamento de resíduos
Registros para rastreabilidade do processo
Citostáticos:
Avaliação técnica da prescrição antes da manipulação
Registro do paciente e sessão de manipulação
Uso de equipamentos de proteção individual para manipulação e administração
Controle de exposição dos profissionais
Condutas definidas para acidentes com citostáticos
Cuidados de transporte e entrega
Comprovação de participação e atuação da Equipe Multidisciplinar em Terapia
Antineoplásica
Monitoramento e orientação do paciente e registros
Nutrição Parenteral:
Avaliação técnica da prescrição antes da manipulação
Registro do paciente e sessão de manipulação
Inspeções no processo
Confirmação de estabilidade e compatibilidade
Cuidados de transporte e entrega
Comprovação de participação e atuação da Equipe Multidisciplinar de Terapia
Nutricional
Monitoramento do paciente e registros

Sistemas de Informação Planos de contingência para atendimentos


Política que preserve a confidencialidade
Padronização de dados (abreviações, siglas, códigos) e definição de itens de uma
prescrição aceitável
Centro de Informações sobre Medicamentos com bibliografia mínima e registro de
dados solicitados e fornecidos
Rastreabilidade da informação e dos produtos
Painel de indicadores como instrumento de melhoria

Recursos Humanos Organograma da área atualizado


Dimensionamento de pessoal dentro de parâmetros mínimos estabelecidos (ex. Sbrafh)
Descrição de cargos
Procedimentos para recrutamento e seleção
Registro de responsabilidades e competências de cada cargo
Treinamento admissional e capacitação em serviço registrados
Avaliação de desempenho periódica
Complitude de prontuário funcional
Instrumento de avaliação de clima organizacional

151
CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Ensino e Pesquisa Atendimento à legislação


Preceptores qualificados para todos os alunos
Credenciamento formal das atividades de ensino
Plano de educação e capacitação definidos
Avaliação dos programas de ensino
Literatura mínima suficiente
Licenciamentos e certificações formais
Capacitação para pesquisa clínica
Controle de drogas segundo critérios legais
Protocolos aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Farmacovigilância das drogas em teste

Gerenciamento de riscos
Mecanismo de monitoramento de erros e erros potenciais nos principais processos
de uso de medicamentos
Monitoramento de reações adversas a medicamentos
Garantia de abastecimento de itens dos carros de emergência
Monitoramento de medicamentos considerados de alto risco
Testes em produtos com acompanhamento
Garantia de não utilização de produtos vencidos
Manutenção de processo de rastreabilidade de produtos
Gerenciamento de substâncias (ex. citostáticos) e resíduos tóxicos
Monitoramento do efeito de novos medicamentos
Métodos de contingência para abastecimento extraordinário
Mapeamento e controle dos riscos ocupacionais
Garantia de não utilização de produtos com desvio de qualidade
Sistemática que evite abuso de substância lícita pela equipe no local de trabalho
Monitoramento de reação adversa a medicamento
Instruções e treinamento de segurança do trabalhador. Mapas de risco
Sistemática de notificação e gerenciamento de eventos sentinela

Para todas as áreas acima, deve ser obser- Boas Práticas de Armazenamento de Produ-
vado ainda o cumprimento do que segue: docu- tos: devem ser observadas em todas as unidades
mentação, normas e procedimentos: registrados e em que eles existirem, não só em farmácias e al-
atualizados para avaliação, treinamento, controle moxarifados, atendendo a legislação pertinente.
e acompanhamento dos processos. Planos de Contingência: identificação de
Utilização de Indicadores: para registro, processos, ações, definição de forma de moni-
tratamento e acompanhamento de não con- toramento, divulgação, responsáveis, momento
formidades, com demonstração de ações cor- de retorno ao estado normal das operações, em
retivas. situações anormais.

08 INDICADORES
Um indicador é um guia que possibilita moni- que permitam o monitoramento do meio ambien-
torar e avaliar a produção, a qualidade do trabalho te, da estrutura, dos processos e dos resultados
e a gestão. É ainda um direcionador da atenção das áreas, auxiliando na tomada de decisão para a
para resultados específicos, normalmente pré-de- melhoria contínua, possibilitando análise das ten-
finidos em planejamento prévio. dências e comparações com referenciais internos
Utilizam-se indicadores para criar parâmetros e externos.

152
Coletânea de Farmácia Hospitalar CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

Como eles são fundamentais para consolidar para o processo de acreditação, podem auxiliar
e demonstrar as ações estabelecidas no cumpri- na gestão das unidades. Definir por poucos indi-
mento desta série de exigências sugerimos, para cadores, mas que eles sejam objetivos, de baixo
as áreas citadas neste texto, a definição e de- custo, simples e com dados de fácil coleta é a
monstração de alguns indicadores que, além de melhor forma de utilizar esta ferramenta. Alguns
ajudarem a monitorar as adequações propostas exemplos:

Processos da assistência
Indicadores
farmacêutica

Recebimento % de erros na nota fiscal, por fornecedor


Número de notificações de penalizações emitidas
Aquisição – Fornecedores Novos produtos testados com menor preço
Taxa de não conformidades na entrega
Economia gerada por preços negociados
Valor de compra de itens A da Curva ABC
Giro de estoque
Compras de urgência
Padronização Índice de medicamentos não padronizados prescritos
% de adesão à padronização
Abastecimento Taxa de erros de inventário
Taxa de medicamentos em falta
Valor de produtos perdidos por vencimento
Índice de não atendimento a unidades clínicas
Educação continuada Número de horas/homem de treinamento
Treinamentos técnicos realizados
Farmacovigilância Notificações de reações adversas a medicamentos
Notificações de desvios técnicos de qualidade
Interações medicamentosas identificadas
Dispensação Número de itens dispensados
Número de kits cirúrgicos preparados
Valor dos medicamentos dispensados
Índice de devoluções
% de erros de dispensação
Índice de devoluções
Atenção Farmacêutica Índice de erros e erros potenciais
Pacientes orientados
% de prescrições avaliadas pelo farmacêutico
Número de intervenções farmacêuticas realizadas
Taxa de não aderência à recomendação de adequação da prescrição de
antimicrobianos
Informações sobre medicamentos solicitadas/fornecidas
Número de pacientes com acompanhamento farmacoterapêutico

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CERTIFICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

09 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao levarmos em conta que as principais fica evidente que o preparo e a adequação da
características da atenção farmacêutica estão farmácia hospitalar a padrões de qualidade
relacionadas à dispensação do medicamento requeridos pelas acreditadoras são a possibi-
– da forma mais apropriada possível; ao for- lidade de concretização dos planos da maioria
necimento de informações que assegurem o dos profissionais que atuam em nosso país.
uso racional de medicamentos e à orientação Desafio grande para muitos, concretização
ao paciente com o propósito de auxiliar no de sonhos para alguns, e ganho de qualidade
resultado positivo de sua qualidade de vida, para todos.

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tomo1_cap2-14.pdf. acesso em 22.03.2011
Qualidade em Saúde e indicadores como ferra-
menta de Gestão. Yendis Editora Ltda 2009

11. SITES DE INTERESSE


• Agência Nacional de Vigilância Sanitária / www.anvisa.gov.br /
• American Cancer Society / www.cancer.org /
• American Society of Health-System Pharmacists / www.ashp.org /
• Biblioteca Regional de Medicina / www.bireme.br /
• Conselho Federal de Farmácia / www.cff.org.br /
• Food and Drug Administration / www.fda.gov /
• Institute for Safety Medication Practice / www.ismp.org e www.ismp-brasil.org /
• International Pharmaceutical Federation / www.fip.org /
• Organização Mundial de Saúde / www.who.org /
• Organização Pan Americana da Saúde / www.opas.org.br /
• Projeto Risco biológico / www.riscobiologico.org /
• Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia / www.sobrafo.com.br /
• Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde / www.sbrafh.org.br /

155
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA


DRA. SONIA LUCENA CIPRIANO
DR. RICARDO PARANHOS PIRES MOREIRA
DR. GEORGE WASHINGTON BEZERRA DA CUNHA
DRA. ANDRÉA CÁSSIA PEREIRA SFORSIN
DRA. VANUSA BARBOSA PINTO

01 INTRODUÇÃO
A constante inovação tecnológica na mais importantes do ciclo da Assistência Farma-
área da saúde, a introdução de novos produ- cêutica (3), sendo este contínuo, multidisciplinar
tos farmacêuticos, bem como a influência da e participativo que deve se desenvolver baseado
propaganda sobre a prescrição médica, torna na eficácia, segurança, qualidade e no impacto
a seleção de novas tecnologias um processo econômico.
imprescindível nas instituições hospitalares.
Este procedimento tem por objetivo otimizar a
eficiência administrativa e a eficácia terapêu-
tica, além de contribuir para a racionalidade
na prescrição e na utilização das novas tecno-
logias. Neste contexto, o medicamento se con-
figura como um dos insumos mais importantes
dessa intensa incorporação tecnológica, o qual
necessita de constantes avaliações para garan-
tir a sua melhor utilização (1).

Assim, é indispensável ao gestor da saú-


de utilizar ferramentas que possam orientá-lo
para a tomada de decisão dos medicamentos
que farão parte do elenco padronizado em sua
instituição. Desta forma, a criação de uma Co-
missão de Farmácia e Terapêutica (CFT) é uma
excelente estratégia, adotada em diversos paí-
ses desenvolvidos, estabelecendo-se como im-
A seleção dos medicamentos que farão parte portante instrumento, para que o gestor possa
do acervo medicamentoso nos sistemas de saúde tomar melhores decisões baseado em diretrizes
é componente fundamental da Política Nacional estabelecidas.
de Assistência Farmacêutica, a qual possui como Para auxiliar na criação de uma CFT, é funda-
eixos norteadores a garantia de acesso e o uso mental a elaboração de regimento interno, onde
racional dos mesmos (2). Além disso, este pro- conste: composição, atribuições e responsabilida-
cesso é a etapa inicial e provavelmente uma das des, duração de mandato dos membros, critérios

156
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

e controle na participação, avaliação e funciona- atuação em saúde, com o objetivo de oferecer


mento geral. a melhor informação disponível para a tomada
O papel da CFT ultrapassa as fronteiras da de decisão (5).
seleção e padronização, abrangendo a educa-
ção permanente da equipe da saúde e a pro-
moção do uso racional de medicamentos (4).
Por isso, recomenda-se que as instituições da
saúde constituam Comissões de Farmácia e Te-
rapêutica.
Desta forma, os medicamentos serão sele-
cionados por sua relevância em saúde pública,
evidências de eficácia, segurança e custo-efe-
tividade favorável comparativamente. As de-
cisões para a padronização de medicamentos
devem ser pautadas nos princípios da Medicina
Baseada em Evidências, que utiliza as ferra-
mentas da Epidemiologia Clínica, da Estatísti-
ca, da Metodologia Científica e da Informática
para trabalhar a pesquisa, o conhecimento e a

02 OBJETIVOS
A Comissão de Farmácia e Tera- Comum Brasileira (DCB) ou, na sua au-
pêutica é uma instância colegiada, de sência, Denominação Comum Interna-
caráter consultivo e deliberativo, que cional (DCI);
tem por objetivo selecionar medica- f) informações suficientes quan-
mentos a serem utilizados no sistema to às características farmacotécnicas,
da saúde nos três níveis de atenção. farmacocinéticas e farmacodinâmicas;
Além disso, a CFT assessora a direto- g) preço de aquisição, armaze-
ria clínica, na formulação de diretrizes namento, distribuição e controle;
para seleção, padronização, prescrição, aquisição, h) menor custo do tratamento/dia e custo
distribuição e uso de medicamentos dentro das total do tratamento, resguardando segurança,
instituições da saúde. Com essa finalidade, uma eficácia, efetividade e qualidade de vida;
CFT deve adotar critérios para seleção e padroni- i) concentração, forma farmacêutica, es-
zação dos medicamentos/produtos farmacêuticos, quema posológico e apresentação, conside-
como: rando a comodidade para a ministração aos
a) registro no país em conformidade com a pacientes, faixa etária, facilidade para cálculo
legislação sanitária; de dose a ser ministrada e de fracionamento
b) necessidade segundo aspectos clínicos e ou multiplicação de doses, bem como perfil de
epidemiológicos; estabilidade mais adequado às condições de
c) valor terapêutico comprovado, com base armazenamento e uso.
na melhor evidência científica em seres humanos, Para auxiliar na execução das atividades, a
destacando segurança, eficácia e efetividade, com CFT pode compor grupos técnicos de trabalho,
algoritmo de escolha (fluxograma) de tratamento sempre que se fizer necessário. Estes grupos téc-
definido; nicos podem ser criados a critério da CFT ou quan-
d) composição com única substância ativa, do solicitado pelo diretor clínico da instituição e
admitindo-se, apenas em casos especiais, asso- submetidos ao plenário que define o prazo para
ciações em doses fixas; cumprimento dos trabalhos e aprovação de sua
e) o princípio ativo conforme Denominação composição (6).

157
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

03 COMPOSIÇÃO
A composição da Comissão de Farmácia e Te- Os membros executivos e suplentes da CFT
rapêutica possui característica multiprofissional e devem ser designados pelo diretor clínico, o
depende da disponibilidade dos recursos humanos qual promove as indicações de Presidente e de
existentes na instituição (7). Contudo, a CFT pode Vice-Presidente.
contar com assessores “ad hoc”, que são profis-
sionais pertencentes ou não à Instituição, com a
finalidade de fornecer subsídios para emissão de
parecer técnico e tomada de decisão.

Adicionalmente, cada representante deve


contar com um suplente para substituí-lo em
seus impedimentos, os quais participarão das
sessões do Plenário, com direito a voto nos
O critério de participação deve estar vincula- impedimentos dos Membros Titulares por mo-
do à competência técnica, contando com repre- tivo de afastamentos legais, férias, licenças
sentantes da saúde, com conhecimento farmaco- ou ausências justificadas, não perdendo a
lógico, terapêutico, clínica médica e de economia continuidade dos trabalhos a serem realiza-
em saúde. Dessa forma, recomenda-se a compo- dos. Para melhor andamento das atividades,
sição baseada em um núcleo central executivo e esta Comissão deve contar com uma secretária
flexibilidade para incorporar grupos técnicos de para apoio administrativo.
apoio de acordo com os assuntos a serem aborda- É fundamental que a CFT esteja formalmente
dos, sendo necessário que sejam dispensados nos instituída por meio de documento legal, sendo
horários da Comissão, das outras obrigações nas elaborado regimento que normatize seu funciona-
Unidades em que prestam serviço. mento.
Para compor o núcleo técnico executivo, os Os membros executivos e os suplentes in-
membros e suplentes da CFT devem constar no ca- tegrantes da CFT devem declarar os potenciais
dastro de profissionais com vínculo institucional, conflitos de interesse. Além disso, durante os
os quais são submetidos ao diretor clínico. É im- trabalhos qualquer situação, que configure possí-
portante contar com representantes, com autono- vel conflito de interesse, deve ser declarada pelo
mia de decisão, das seguintes áreas: membro, que se absterá de participar da atividade
específica.
• Diretoria Clínica Ao término do mandato ou quando solici-
• Administração tado, pode ser fornecido aos membros da CFT
• Serviço de Farmácia uma declaração de participação para fins de
• Serviço de Enfermagem currículo.
• Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH)
• Especialidades Médicas

158
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

04 COMPETÊNCIAS
Compete à Comissão de Farmácia e Terapêutica riscos e farmacovigilância (queixas técni-
as ações de assessoramento farmacoterapêutico, cas, reações adversas ao medicamento e
investigação científica e educação permanente. erros de medicação).

c) Ações educativas
• Desenvolvimento e apoio às ações de pro-
moção do uso racional de medicamentos;
• Colaboração e participação em atividades de
educação permanente da equipe da saúde;
• Elaboração e divulgação de instrumentos
educativos, utilizando os meios de comu-
nicação;
a) Assessoramento farmacoterapêutico • Incentivo e realização de campanhas para
• Seleção e padronização dos medicamentos; práticas seguras do uso do medicamento.
• Elaboração e atualização do Guia Farmaco-
terapêutico; Neste contexto, a CFT desempenha papel con-
• Definição de diretrizes para o uso racional sultivo, científico e educativo, propondo na ins-
dos medicamentos; tituição, as boas práticas de prescrição, dispen-
• Elaboração de normas para prescrição, dis- sação, ministração e controle de medicamentos,
pensação e uso de medicamentos; além de analisar estudos de utilização dos medica-
• Avaliação para incorporação de novas tec- mentos padronizados, com foco no uso racional.
nologias; A CFT possui o papel de avaliar a adequação de
• Promoção e elaboração de Protocolos Clí- cada medicamento e produto farmacêutico cons-
nicos de tratamento. tantes do Guia Farmacoterapêutico, bem como a
conveniência da inclusão ou exclusão dos medica-
b) Investigação científica mentos, em razão de novas evidências científicas
• Promoção de estudos de utilização de me- disponíveis sobre eficácia, efetividade e segurança
dicamentos e de farmacoeconomia para do medicamento.
analisar o perfil farmacoepidemiológico e Outro ponto consiste na atualização a cada
de impacto econômico dos medicamentos dois anos do Guia Farmacoterapêutico, seguindo
nas instituições da saúde; as recomendações da OMS e do Decreto nº 7.508,
• Atividades voltadas ao gerenciamento de de 28 de junho de 2011.

05 ATRIBUIÇÕES
5.1 Atribuições do Presidente • emitir pronunciamento da CFT quanto às
questões relativas a medicamentos;
Ao Presidente da CFT incumbe dirigir, coorde- • promover a convocação das reuniões;
nar e supervisionar as atividades da Comissão e, • tomar parte nas discussões e votações e,
especificamente: quando for o caso, exercer direito do voto
• constituir Grupos Técnicos de Trabalho e de desempate;
de Apoio; • designar membros executivos da CFT para
• representar a CFT em suas relações internas emissão de pareceres técnicos, realização
e externas; de estudos e levantamentos necessários à
• instalar a Comissão e presidir suas reuni- consecução dos objetivos da Comissão;
ões; • aprovar “ad referendum”, nos casos de ma-
nifesta urgência.

159
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

5.2 Atribuições dos Membros 5.3 Atribuições da Secretária


executivos e suplentes
• acompanhar as reuniões do Colegiado;
• zelar pelo pleno desenvolvimento das atri- • assistir ao Presidente e aos representantes
buições da CFT; da CFT;
• analisar e relatar nos prazos estabelecidos, • oferecer condições técnico-administrati-
as matérias que lhes forem atribuídas pelo vas para o cumprimento das competên-
Presidente; cias da CFT;
• comparecer às reuniões, proferir voto ou • dar encaminhamento formal às delibera-
pareceres; ções do Colegiado e preparar o expediente;
• requerer votação de matéria em regime de • manter controle dos prazos legais e regi-
urgência; mentais referentes aos processos que de-
• desempenhar atribuições que lhes forem vam ser examinados nas reuniões da Co-
estipuladas pelo Presidente; missão;
• apresentar proposições sobre as questões • providenciar o cumprimento das diligên-
atinentes à Comissão; cias determinadas;
• coordenar os grupos técnicos de trabalho e • proceder à organização dos temas da or-
apoio. dem do dia das reuniões, obedecidos os
critérios de prioridade determinados;
• enviar aos representantes da CFT cópia
das atas aprovadas, pautas das reuniões,
deliberações e outros documentos que lhe
forem solicitados;
• lavrar e assinar as atas de reuniões;
• providenciar, por determinação do Presi-
dente, a convocação das sessões ordiná-
rias ou extraordinárias;
• providenciar arquivo de documentos perti-
nentes;
• elaborar relatório anual das atividades da
Comissão.

06 FUNCIONAMENTO
6.1 Estrutura das reuniões Esta Comissão deve reunir-se, ordinariamen-
te, conforme cronograma e, extraordinariamente,
quando convocada pelo Presidente ou solicitada
pela maioria de seus membros executivos. É ne-
cessária a definição de um local para viabilizar o
seu funcionamento.
De forma sistemática, as sessões da CFT são
iniciadas com a presença da maioria simples dos
seus membros (“quorum”). Não havendo “quo-
rum” a reunião será suspensa.
As reuniões podem seguir este roteiro:
• verificação da presença do Presidente e, em
caso de sua ausência, abertura dos traba-
lhos pelo Vice-Presidente;

160
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

• verificação de presença dos membros e Após a apresentação e leitura do parecer,


existência de “quorum”; o Presidente ou o Vice-Presidente submete à
• aprovação e assinatura da ata da reunião discussão, dando a palavra aos membros que a
anterior; solicitarem.
• leitura e despacho do expediente; O membro que não se considerar esclareci-
• apresentação de assuntos por convidados do quanto à matéria em exame, pode solicitar
externos; vistas do expediente, propor diligências ou
• leitura da Ordem do Dia, seguida por dis- adiamento da discussão e da votação. Após
cussão e votação; entrar em pauta, recomenda-se que seja es-
• encaminhamento das deliberações para Di- tabelecido um prazo para reapresentação da
retoria Clínica; matéria para votação.
• organização da pauta da próxima reunião;
• encerramento dos trabalhos. 6.2 Definição dos documentos
Em caso de urgência da discussão de um de-
terminado assunto, a CFT, por voto da maioria, Considerando as informações técni-
pode alterar a pauta da reunião, e a Ordem do Dia cas-científicas utilizadas na análise de altera-
deve ser comunicada antecipadamente a todos os ção da padronização, é importante que a CFT
membros executivos. estabeleça formulários-padrão com os requisi-
De preferência, as questões devem ser decidi- tos necessários para o processamento da soli-
das por consenso. Contudo, se durante a discus- citação, a exemplo do modelo (Anexo 1). Este
são verificar-se a impossibilidade de consenso, e pedido pode ser realizado pelos profissionais
esgotados argumentos com bases em evidências da equipe da saúde: médicos, farmacêuticos,
científicas, o Presidente tem o direito ao voto de enfermeiros e odontólogos.
desempate. Além disso, o Presidente e os mem- Outro documento necessário para análise e
bros da Comissão podem solicitar o reexame de tomada de decisão na CFT, é a elaboração do Pro-
qualquer decisão exarada na reunião anterior, jus- tocolo de Tratamento da Doença, com definição
tificando possível ilegalidade, inadequação técni- dos critérios de inclusão e exclusão, algoritmo de
ca ou de outra natureza. escolha e monitorização do tratamento, conforme
modelo proposto (Anexo 2).
Recomenda-se que os documentos definidos
pela CFT sejam amplamente divulgados na insti-
tuição, de fácil acesso e com fluxograma estabe-
lecido e difundido para todos os envolvidos no
processo.
A elaboração do parecer técnico pelo membro
designado da CFT pode seguir um roteiro como
apoio para efetuar a análise da solicitação de pa-
dronização (Anexo 3).

161
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

07 AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES


Com o objetivo de monitorar o funcionamento da CFT, sugere-se elaborar indicadores de desempe-
nho, tais como:

Indicador Fórmula

nº de reuniões realizadas no período


Taxa de reuniões realizadas x 100
n° reuniões programadas no período

nº de itens incluídos no período


Taxa de itens incluídos x 100
nº de itens padronizados

nº de itens excluídos no período


Taxa de itens excluídos x 100
nº de itens padronizados

Anualmente, deve-se elaborar um relatório de incluindo os boletins e publicações elaborados, e


desempenho de atividades executadas pela CFT, os resultados dos indicadores.

08 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Comissão de Farmácia e Terapêutica regula- Farmácia ou de Farmacologia, ou qualquer que
mentada de acordo com as orientações da OMS é seja a denominação, contribui para educação per-
de fundamental importância para que a gestão da manente dos profissionais envolvidos no ciclo do
saúde seja realizada com maior segurança, quali- medicamento, conseguindo de forma objetiva uma
dade e efetividade. significativa racionalização no uso do arsenal far-
Nos dias atuais a CFT passou ter papel essen- macoterapêutico.
cial na melhoria contínua dos serviços da saúde, Consequentemente, a equipe da saúde passa
devido ao seu importante desempenho na mitiga- a ter um referencial por meio do estabelecimento
ção dos riscos envolvidos no processo de seleção de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas,
e padronização de medicamentos, avaliando desde propiciando o melhor acesso a farmacoterapia ba-
o impacto farmacoeconômico da incorporação de seada em evidências, e estabelecendo o equilíbrio
novas tecnologias até a promoção do uso racional entre a demanda e os recursos, proporcionando ao
dos medicamentos. paciente um atendimento com qualidade e segu-
A Comissão de Farmácia e Terapêutica, de rança.

09 LEGISLAÇÕES PERTINENTES
• Portaria MEC nº 35 de 14 de janeiro de 1986. • Resolução CFF nº 449 de 24 de outubro de
Determina a criação de Comissão de Padroniza- 2006. Dispõe sobre as atribuições do farma-
ção nos Hospitais de ensino; cêutico na Comissão de Farmácia e Terapêu-
tica;
• Portaria MS nº 2616 de 12 de maio de 1998.
Programa de Controle das Infecções Hospita- • Resolução MS/ANVISA nº 96 de 17 de dezem-
lares – Anexo I – Competências – Define em bro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publi-
cooperação com a Comissão de Farmácia e Te- cidade, informação e outras práticas cujo obje-
rapêutica política de utilização de ATM, germi- tivo seja a divulgação ou promoção comercial
cidas e MMH para a instituição; de medicamentos;

162
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

• Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº dispor sobre a assistência farmacêutica e a in-


338, de 6 de maio de 2004, que estabelece a corporação de tecnologia em saúde no âmbito
Política Nacional de Assistência Farmacêutica, do Sistema Único de Saúde – SUS.
definindo como um de seus eixos estratégicos
(art.2º, I), a garantia de acesso e equidade às • Decreto nº 7.508 de 28 de junho de 2011. Re-
ações de saúde, incluindo a Assistência Farma- gulamenta a Lei 8.080, de 19 de setembro de
cêutica. 1990, para dispor sobre a organização do Sis-
tema único de Saúde – SUS, o planejamento
• Lei nº 12.401 de 28 de abril de 2011. Altera a da saúde, a assistência à saúde e a articulação
lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para interfederativa, e dá outras providências.

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) Marques DC, Zucchi P. Comissões farmaco- rapeutics committee. Am J Hosp Pharm.
terapêuticas no Brasil: aquém das diretrizes 1992;49(8): 2008–9.
internacionais. Rev Panam Salud Publica.
2006;19(1):58-63. 5) Evidence-based Medicine Working Group. Evi-
dence-based Medicine. A new approach to the
2) Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº teaching of medicine. JAMA 1992;268:2429-5.
338, de 6 de maio de 2004, que estabelece
a Política Nacional de Assistência Farmacêu- 6) Lewis RP, Moore TD. P & T Committee pers-
tica, definindo como um de seus eixos es- pectives: achieving an effective committee
tratégicos (art.2º, I), a garantia de acesso through reorganization: the Ohio State Uni-
e equidade às ações de saúde, incluindo a versity Hospital’s experience. Hosp. Formul.
Assistência Farmacêutica. 1991;26(2):120–30.

3) Marin N, Luiza VL, Osório de Castro CG, Ma- 7) Bagozzi RP, Ascione FJ, Mannebach MA. In-
chado dos Santos S. Seleção de Medicamen- ter-role relationships in hospital based Phar-
tos. In: Assistência farmacêutica para geren- macy and Therapeutics Committee decision
tes municipais. Rio de Janeiro: Organização making. J Health Psychol. 2005;10(1):45–64.
Pan-Americana da Saúde/Organização Mun-
dial da Saúde; 2003. 8) Guia Farmacoterapêutico HC 2008 – 2010. Ci-
priano, S. L., Junior, J. O. C. A., Cunha, G. W.
4) American Society of Hospital Pharmacists. B. et al. 4ª ed. Ed. Artes Médicas. São Paulo,
ASHP statement on the pharmacy and the- 2008.

163
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

ANEXO I – Modelo de Formulário de Solicitação de Alteração


na Padronização de Medicamentos
(Adaptado do Guia Farmacoterapêutico HC 2008-2010)

164
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

165
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

ANEXO II – Modelo de Protocolo de Tratamento


(Adaptado do Guia Farmacoterapêutico HC 2008-2010)

166
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

167
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

168
Coletânea de Farmácia Hospitalar COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA

ANEXO III – Modelo de Roteiro de Análise e Parecer Técnico


(Adaptado do Guia Farmacoterapêutico HC 2008-2010)

169
COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA Coletânea de Farmácia Hospitalar

ANEXO IV – Modelo de Fluxograma de alteração na Padronização de Medicamentos


(Adaptado do Guia Farmacoterapêutico HC 2008-2010)

170
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR


ANDRÉA CASSIA PEREIRA SFORSIN
FABIO SENA DE SOUZA
MARISTELA BARROS DE SOUSA
NEUSSANA KELLEN DE ARAÚJO MEDEIROS TORREÃO
PAULO FREDERICO GALEMBECK
RENATA FERREIRA

01 INTRODUÇÃO
No ciclo da assistência farmacêutica, a aqui- • Garantir que a entrega seja feita de manei-
sição de medicamentos é uma das principais ati- ra correta;
vidades, visto que o mesmo é um insumo funda- • E, desenvolver e manter boas relações com
mental de suporte às ações de saúde. Uma boa os fornecedores 25.
aquisição de medicamentos deve considerar pri- Para alcançar tais objetivos é fundamental o
meiro o que comprar (seleção); quando e quanto inter-relacionamento da equipe farmacêutica com
comprar (programação); e como comprar. O mo- a área administrativa do hospital, sendo estabe-
nitoramento e a avaliação dos processos são fun- lecido um fluxo dinâmico de troca de informações
damentais para aprimorar a gestão e intervir nos com os setores de suprimentos e financeiro, onde
problemas 7. destacamos algumas atividades que são favore-
A Gestão da aquisição – a conhecida função cidas se desempenhadas em consenso por estas
de compras – assume papel estratégico nos ne- áreas:
gócios de hoje em face do volume de recursos, • Negociação das melhores condições de
principalmente financeiros envolvidos, deixando compra;
cada vez mais para trás a visão preconceituosa • Seleção e qualificação de fornecedores;
de que era uma atividade burocrática e repetitiva, • Administração do pedido de compra (como
um centro de despesas e não um centro de geren- estoque máximo, ponto de ressuprimento).
ciamento de recursos 17. A gestão de compras vem Comprar e prover medicamentos são fato-
ganhando espaço e evidência no contexto das or- res primordiais na atividade hospitalar, as pes-
ganizações, já que não basta apenas comprar, é soas envolvidas neste processo desempenham,
preciso comprar bem. direta ou indiretamente, papel fundamental na
Na gestão das compras de medicamentos prestação da assistência ao paciente e devem
além do aspecto financeiro, a preocupação realizá-lo de maneira à melhor atender os in-
com a qualidade deve estar sempre presen- teresses tanto dos pacientes quanto da insti-
te, visto que os serviços da saúde, em nosso tuição. Para isso elas precisam conhecer muito
caso especifico as farmácias hospitalares, têm bem os mecanismos do processo, sendo treina-
a responsabilidade de ofertar uma assistência das e capacitadas para tanto.
farmacoterapêutica adequada as necessidades Verificamos que a gestão de compras é uma
dos pacientes. atividade que deve ser realizada de forma profis-
Para realizar esta atividade, é necessário es- sional, pautada no conhecimento técnico, desta
tabelecer quatro objetivos principais: forma este encarte espera contribuir na capacita-
• Obter produtos e serviços na quantidade ção da equipe farmacêutica, abordando os princi-
certa; pais conceitos e processos envolvidos na execu-
• Com qualidade e a um menor custo; ção desta atividade.

171
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

02 SELECÃO E PADRONIZACÃO – O QUE COMPRAR


As técnicas de normalização são essenciais 2.2 DEFINIÇÃO DO ELENCO
para um efetivo planejamento e controle dos me-
dicamentos utilizados nos hospitais. Compreende A listagem de medicamentos selecionados
as etapas de seleção, especificação, classificação deve ser constantemente reavaliada, apontando:
e codificação de produtos. • Itens em desuso, que devem ser excluídos
O resultado da ação de normalização é a con- ou substituídos;
solidação dos dados de especificação, identifica- • Inclusão de itens com elevados níveis de
ção e codificação de medicamentos e posterior eficácia clínica, importantes para preven-
divulgação à Equipe de Saúde. ção, tratamento ou diagnóstico do pacien-
te assistido pela Instituição;
2.1 SELEÇÃO E PADRONIZAÇÃO DE • Correta utilização dos itens dispostos por
meio do estabelecimento de protocolos e/
MEDICAMENTOS
ou procedimentos operacionais padrão.
Normalmente, os hospitais elaboram guias
com essas informações, denominados Guias Far-
macoterapêuticos 26.

2.3 ESPECIFICAÇÃO

A especificação consiste na determinação, com


exatidão, daquilo que se tem normatizado, fazendo
uma descrição objetiva que deve conter detalhes
que possam distinguir uma apresentação de outra 26.
A especificação de um medicamento deve
incluir: dosagem, forma farmacêutica, volume e/
ou peso e nomenclatura do fármaco segundo a
Denominação Comum Brasileira – DCB, cuja ter-
A seleção de medicamentos é um proces- minologia empregada na sua descrição deve ser
so dinâmico, contínuo, multidisciplinar e par- entendida por usuários e fornecedores 22.
ticipativo. Selecionar medicamentos tem como Todas as características que definem o produto a
objetivo, escolher dentre todos os itens forne- ser adquirido devem ser descritas de forma explícita.
cidos pelo mercado, adotando critérios de eficá- Segue abaixo um exemplo de descritivo para aquisi-
cia, segurança, qualidade e custo, propiciando ção de solução fisiológica em sistema fechado:
condições para o uso seguro e racional de me-
dicamentos, àqueles que são necessários para a Solução fisiológica a 0,9%, 500 ml, estéril, atóxica e apirogêni-
ca, acondicionada em recipiente de material maleável (bolsa
utilização na Instituição 22. ou frasco plástico), transparente e atóxico. O volume total da
Para implementar a seleção de medicamentos solução deve escoar sem necessidade de entrada de ar, sem
faz-se necessário a instalação de uma Comissão utilização de respiro e com gotejamento constante para ga-
rantir o sistema fechado em qualquer condição. A escala de
de Farmácia e Terapêutica, que é uma equipe mul- graduação deve ser no recipiente, por processo de moldagem
tidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, ou impressão. O recipiente deve possuir sítio de adição de
medicamentos com elastômero que garanta a estanqueidade
farmacêuticos, administradores e demais profis- (autovendável), e via para conexão de equipo dotada de dia-
sionais envolvidos. A seleção de antimicrobianos fragma ou mecanismo similar. O produto deve ser identificado
e germicidas deve ser realizada com a participa- adequadamente, ostentando em seu rótulo a seguinte frase:
“sistema fechado”. O recipiente plástico cheio com solução pa-
ção da Comissão de Controle de Infecção Hospita- renteral pode se necessário, conservar-se também dentro de
lar -CCIH 22,26. uma embalagem protetora externa, hermeticamente fechada,
A padronização facilita os processos de aqui- e não deve perder mais de 2,5% da massa ao ano a 28º c e a 65%
de umidade relativa.
sição, armazenamento, distribuição e gerencia-
mento do estoque, pois racionaliza a quantidade Fonte: Adaptado do descritivo técnico do Sistema de Adminis-
de itens. tração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.

172
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

2.4 CLASSIFICAÇÃO 2.5 CODIFICAÇÃO

Classificar um medicamento é agrupá-lo Codificar significa simbolizar todo o con-


elegendo critérios para a sua posterior codi- teúdo de informações necessárias por meio de
ficação, facilita a distinção de produtos que números e/ou letras com base na classifica-
tem maior probabilidade de serem confundi- ção obtida do medicamento, de forma clara e
dos, ou que são extremamente semelhantes concisa evitando interpretações duvidosas ou
em relação ao nome, colocando-os em seu res- confusas 22.
pectivo local. A ordenação do estoque pode Os sistemas de codificação podem ser dividi-
seguir diferentes modos: dos em alfabético, alfanumérico e numérico. Esse
• Por ordem alfabética; arranjo pode gerar significados diversos, porém
• Por forma farmacêutica; mantendo uma relação onde um código nunca te-
• Pela Curva ABC de consumo ou valor. nha mais que um item e um item não tenha mais
A classificação é de extrema importância como que um código 26.
forma de acompanhamento de estoque, auxiliando De acordo com a necessidade da Instituição,
o armazenamento e o emprego de sistemas infor- pode ser dividido em subgrupos e subclasses. Atu-
matizados. Muitas vezes os controles são realiza- almente a codificação tem sido feita por sistemas
dos por grupos de medicamentos, possibilitando informatizados que apontam esses dados automa-
inclusive, a substituição de um produto pelo outro, ticamente 26.
quando há falha no reabastecimento 26.

3. PROGRAMAÇÃO DE COMPRA – QUANDO


E QUANTO COMPRAR
Para a definição da periodicidade das com- 15 dias, para os itens B, estoques de no máximo
pras, deve se considerar a modalidade de com- 1 mês, e para os itens C aceitam-se estoques de
pra adotada, a disponibilidade e a capacidade até 60 dias 19. Desta forma uma boa gestão de
do fornecedor, a definição dos níveis de esto- estoque é fundamental no processo de aquisição
que, a capacidade de armazenamento do ser- de medicamentos.
viço e os recursos orçamentários e financeiros
disponíveis 7. A programação de compras pode 3.1 GESTÃO DE ESTOQUE
ser mensal, bimestral, trimestral, quadrimes-
tral ou anual, conforme diretrizes administra- A análise dos estoques se deve a uma obser-
tivas de cada instituição. vação ininterrupta das variações sofridas pelos
É necessário conhecer o processo adminis- mesmos num período de tempo, bem como das
trativo da instituição para decidir qual será o suas causas e efeitos. A partir do estudo da de-
momento da compra. Nos casos de instituições manda é possível, com certo grau de confiabili-
públicas deve-se levar em consideração a ne- dade, detectar a tendência futura e prever o seu
cessidade de obedecer às normas estabelecidas desempenho provável 14.
na Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993, que Um sistema eficiente de gestão de estoque
torna o tempo de aquisição mais prolongado permite identificar em tempo oportuno: histórico
devido aos trâmites burocráticos estabelecidos da movimentação dos estoques (entradas e saí-
pela licitação. das), níveis de estoque (mínimo, máximo, ponto
Nas instituições privadas, dependendo da sua de ressuprimento), dados do consumo, demanda
complexidade existem diferentes graus de con- atendida e não atendida de cada produto utiliza-
trole do processo de compra, geralmente para os do, entre outras informações que possam ser úteis
itens de curva A têm-se estoques mínimos em 7 e no processo de compra 27.

173
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Para tal devem ser seguidos alguns requisitos que tem sob seu cálculo também, o estoque de
imprescindíveis para esta atividade: segurança que deve ser mantido 14.
• Manter constantemente atualizado o custo
de cada produto; 3.2 GESTÃO DA DEMANDA
• Estabelecer políticas de cobertura (estoque
de segurança, mínimo e máximo) para cada O termo “gestão da demanda” pode começar a
produto, dependendo do fator mais crítico ser discutido por meio da definição da palavra de-
para cada item; manda que segundo Proud, significa necessidade
• Manter o controle para reduzir ou evitar es- para um produto ou componente particular.
toques de medicamentos em desuso; A gestão da demanda pode ser representa-
• Manter controle permanente sobre a dispo- da por macroatividades, conforme descrito a
nibilidade do estoque para suprir as faltas seguir:
rapidamente; • Prever a demanda: é a função que se pre-
• Determinar o custo de falta de cada pro- ocupa em predizer o consumo dos medica-
duto; mentos de forma que a aquisição possa ser
• Realizar inventários físicos periódicos para nas quantidades apropriadas;
conferi-lo com os dados do controle de es- • Comunicar-se com o cliente: essa atividade
toques; é responsável por colher e analisar as in-
• Manter sistemas de informações inte- formações do mercado, para estimar novas
grados para acesso e consulta imediata solicitações;
da quantidade disponível de cada mate- • Priorizar e alocar: é satisfazer toda a de-
rial em estoque. manda, em caso de estoque insuficiente
O desafio do gestor de estoque é saber temos que informar e decidir qual pa-
quando e quanto ressuprir de cada material e ciente deverá ser atendido e qual terá
quanto devem manter em estoque de seguran- condições de esperar ou ter seu medica-
ça. Com o crescente número de itens com di- mento substituido;
ferentes padrões de demanda e características • Planejar nível de serviços aos clientes:
específicas, a complexidade na administração consiste em disponibilizar o medicamento
de materiais aumenta devido à necessidade de ao paciente;
um controle diferenciado. • Planejar e distribuir: as atividades de dis-
Para uma boa gerência de estoque é necessá- tribuição são planejadas a partir dos perío-
rio definir o ponto de ressuprimento e o estoque dos de envio do medicamento para as uni-
de segurança: dades, das solicitações de ressuprimento
• Ponto de Ressuprimento – É um parâmetro de estoques e da capacidade de estocagem.
de alerta no dimensionamento de estoques.
É um nível de estoque que ao ser atingido 3.2.1 Tipos de demanda
sinaliza o momento de se fazer uma nova
compra, evitando posterior ruptura do es- Existem vários tipos de demanda, desta forma
toque 22. é importante conhecermos as demandas existen-
• Estoque de Segurança – É a quantidade tes e realizar a análise para identificar em qual
de cada item que deve ser mantida como delas os medicamentos disponíveis na Instituição
reserva para garantir a continuidade do se enquadram:
atendimento em caso de ocorrência não • Permanente: para produtos com vida longa,
prevista como: elevação brusca no con- requer ressuprimento periódico;
sumo e atraso no suprimento. O estoque • Sazonal: a sazonalidade pode ser definida
de segurança evita ruptura do atendi- como o conjunto dos movimentos ou flu-
mento 22. tuações com período igual ou inferior a
Assim ao se planejar, deve-se considerar o um ano, sistemáticos, mas não necessaria-
ponto de ressuprimento como dado auxiliar, visto mente regulares, que ocorrem numa série
que caracteriza o ponto de partida da compra e temporal. A sazonalidade é o resultado de

174
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

causas naturais, econômicas, sociais e ins- Método fácil de ser implementado, mas pos-
titucionais; sui limitações na prática;
• Irregular: depende de outros fatores (taxas Exige grande quantidade de dados históricos;
de câmbio, promoção e propaganda); Todos os valores históricos, antigos e re-
• Em desuso: ocorre quando a demanda do centes, têm a mesma influência no cálculo da
produto acaba ou um novo produto ocupa média;
o seu lugar; Assume a hipótese de que as condições que
• Derivada: ligada a outro produto, pode au- determinaram o consumo no passado se manterão
mentar ou diminuir. inalterados no futuro;
Picos em períodos anteriores, causados
3.2.2 Métodos de controle da por comportamento atípico do mercado in-
previsão da demanda fluenciam muito nos cálculos, distorcendo as
médias calculadas.
A maioria dos modelos de previsão de deman-
da está vinculada a séries temporais. Essa técnica 2. Previsões Baseadas nas Médias Móveis Ponde-
consiste em analisar o comportamento da variável radas:
temporal e então projetar novos valores para o
futuro. CM = (C1 x 0,2) +(C2 x 0,3) +(C3 x 0,5)
As informações básicas que permitem decidir 1,0
quais serão as dimensões e distribuição no tempo
da demanda de medicamentos podem ser classifi- Neste método atribuem-se PESOS (ou fa-
cadas em duas categorias: tores de importância) diferentes em cada pe-
• Técnicas qualitativas: Estas técnicas de- ríodo;
pendem exclusivamente da expertise do(s) A somatória dos pesos no período definido
previsor (es), sendo geralmente mais caras (semanal, mensal, trimestral, semestral, anual,
e trabalhosas que os métodos quantitati- etc...) deve ser igual a 100%;
vos de previsão. São ideais para situações A somatória poderá ser diferente de 100%
onde não há séries históricas disponíveis quando se altera o período.
e/ou o julgamento humano é necessário,
sendo desenvolvidas através de pesquisas 3. Regressão Linear ou Método dos Mínimos
de opinião, painéis e reuniões de especia- Quadrados:
listas, onde considera-se:
1. Evolução do consumo no passado; Somatória XY = aEx + bEx2
2. Variáveis cuja evolução está ligada dire-
tamente ao consumo; Equação da linha reta y = a + bx
3. Influência do marketing farmacêutico.
• Técnicas quantitativas: Utilizam dados his- Algumas vezes estamos interessados não
tóricos de consumo como base para deter- apenas se existem associação entre duas vari-
minação de padrões que podem se repetir áveis quantitativas x e y, mas temos também
no futuro busca relacionar o consumo (va-
uma hipótese a respeito de uma provável rela-
riável dependente) com outros fatores (va-
ção de causa e efeito entre variáveis. Deseja-
riáveis independentes). A demanda de um
mos saber se y “depende” de x.
medicamento pode ser calculada por meio
Na forma de regressão mais comumente
dos métodos descritos a seguir:
utilizada, a regressão linear tem a hipótese
de que o valor de y depende do valor de x
1. Previsões Baseadas em Médias Móveis:
e expressamos matematicamente esta relação
por meio de uma equação, assumindo que a
CM = Consumo médio
associação entre x e y é linear, ou seja, des-
CM = C1+C2+C3+...+Cn
crita adequadamente por uma reta.
n

175
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

3.4 MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO é baseada no teorema do economista Wilfredo


DE MATERIAIS Pareto, desenvolvido logo após a Segunda Guerra
Mundial, no século XIX, num estudo sobre a renda
Para auxilio na tomada de decisão e alocação e riqueza, ele observou uma pequena parcela da
de recursos os profissionais que gerenciam unida- população (20%), que concentrava a maior parte
des hospitalares devem implementar sistemas de da riqueza (80%) 13.
gerenciamento de custos, este fato é importante A curva ABC é um método de classificação
para a área da saúde, quando se visa à contenção de informações, para que se separem os itens de
de gastos sem a perda da qualidade do serviço maior importância ou impacto, os quais são nor-
prestado. malmente em menor número, para se estabelecer
A presença de grandes estoques de alguns formas de gestão apropriada à importância de
materiais e a escassez de outros, dentro de cada medicamento em relação ao valor total dos
um hospital, é talvez um dos pontos que mais estoques 20.
afligem os profissionais envolvidos com o pro- Trata-se de classificação estatística de mate-
cesso gerencial. riais, baseada no princípio de Pareto, em que se
O método de classificação de materiais segun- considera a importância dos materiais, baseada
do a curva ABC é uma das estratégias aplicadas nas quantidades utilizadas e no seu valor.
para o controle de gastos com estoque. Uma gran- Na avaliação dos resultados da curva ABC,
de variedade de itens no estoque aumenta a com- percebe-se o giro dos itens no estoque, o nível da
plexidade do gerenciamento, criando a necessidade lucratividade e o grau de representação no fatu-
de classificá-los com multicritérios, que podem ser: ramento da organização. Os recursos financeiros
análise XYZ, tempo de ressuprimento, avaliação da investidos na aquisição do estoque poderão ser
demanda 23. definidos pela análise e aplicação correta dos da-
A maioria dos modelos para gestão de esto- dos fornecidos com a curva ABC 20.
que é para gerenciamento de um item, mas na A análise dos recursos financeiros alocados
prática dos hospitais lidamos com centenas de em cada produto vai demonstrar que um pequeno
itens. Desta forma, devemos utilizar um modelo número de itens é responsável pelo comprometi-
multiitem por três razões: mento de um grande volume de recursos despen-
• A agregação dos itens em grupos permite didos com materiais 28.
uma economia de tempo que pode ser ca- Segundo este procedimento, os materiais de
nalizado para o tratamento dos itens mais consumo podem ser divididos em três classes,
importantes; considerando as variações devido à complexidade
• Mesmo que os modelos tradicionais propo- dos serviços oferecidos:
nham soluções para cada item, uma análise • Classe A: Abriga o grupo de itens mais im-
ainda deverá ser feita e, no caso de muitos portantes que correspondem a um pequeno
itens, essa análise se torna demorada para número de medicamentos, cerca de 20% dos
ser feita individualmente; itens, que representa cerca de 80% do valor
• Itens utilizados em grupos funcionais são total do estoque;
afetados, simultaneamente, pelas mesmas • Classe B: Representa um grupo de itens em
restrições. situação e valores intermediários entre a
A definição do momento da compra depende classe A e C, sendo 15% do total de itens
do modelo adotado para a renovação dos esto- em estoque e consomem 15% dos recursos;
ques. Pode-se comprar quando o estoque chega ao • Classe C: Agrupa cerca de 70% dos itens,
ponto considerado mínimo ou aguarda-se o perí- cuja importância em valor é pequena, repre-
odo preestabelecido pela administração para que sentando cerca de 20% do valor do estoque.
seja feita a avaliação dos estoques. Naturalmente os critérios de gerenciamento
aplicados para os itens A são diferentes dos de-
3.4.1 Curva ABC mais. Para esses itens o gestor deve estabelecer
como meta 1,28.
A classificação pela Curva ABC ou 80-20, 1. Redução dos prazos de abastecimento;

176
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

2. Redução dos estoques; 1. Relacionar os itens (a), quantidade consu-


3. Redução dos estoques de reserva; mida no período (b) e o valor unitário (c);
4. Pedidos de compra; 2. Para a definição do custo total (d), multi-
5. Estabelecimento de protocolos de utiliza- plicar a quantidade consumida pelo valor
ção; unitário (b *c = d);
6. Busca por melhores fornecedores; 3. Ordenar os itens com os valores superiores
7. Obtenção dos melhores preços. na parte superior da coluna (e);
Os itens alocados na classe C pode-se traba- 4. Determinar o percentual gasto com cada
lhar com maiores prazos de abastecimentos, au- item (f);
mentar os estoques de reserva e o controle pode 5. Calcular o percentual acumulado(g);
ser mais flexível 1,28. 6. Definem-se os itens ABC (h);
A seguir exemplificamos as etapas para cons-
3.4.2 Construção da Curva ABC trução da curva ABC e o aspecto da curva para
os itens.
Para a construção da curva ABC de consumo
podemos seguir as etapas descritas ao lado:

Quadro 1 - Curva ABC de consumo


Item Consumo Valor Unitário Valor Total Ordem % % Acumulado Classe
(a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h)
1 250 R$ 120,00 R$ 30.000,00 1º 46,7 46,7 A
5 170 R$ 54,00 R$ 9.180,00 2º 14,3 61,0 A
2 342 R$ 26,80 R$ 9.165,60 3º 14,3 75,3 A
4 87 R$ 57,90 R$ 5.037,30 4º 7,8 83,1 B
3 25 R$ 158,90 R$ 3.972,50 5º 6,2 89,3 B
10 15 R$ 245,60 R$ 3.684,00 6º 5,7 95,0 C
6 38 R$ 35,20 R$ 1.337,60 7º 2,1 97,1 C
9 120 R$ 10,64 R$ 1.276,80 8º 2,0 99,1 C
8 312 R$ 1,65 R$ 514,80 9º 0,8 99,9 C
7 210 R$ 0,25 R$ 52,50 10º 0,1 100,0 C
Valor
R$ 64.221,10 - 100 - -
Total

Figura 1 – Aspecto da Curva ABC 3.4.3 análise de criticidade – XYZ

Pode-se segmentar os itens em estoque ba-


seado no critério do impacto resultante da falta,
agregando mais informações para as rotinas de
planejamento, reposição e gerenciamento. Este
processo envolverá um criterioso julgamento téc-
nico, conforme quadro 2.

177
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Quadro 2 – Classificação dos Itens pela XYZ

Baixa Criticidade
− Faltas não acarretam paralisações, nem riscos à segurança do paciente; elevada
CLASSE X
possibilidade de usar materiais equivalentes;
− Grande facilidade de obtenção.

Criticidade Média
− Faltas podem provocar paradas e colocar em risco as pessoas, o ambiente e o
CLASSE Y
patrimônio da organização;
− Podem ser substituídos por outros com relativa facilidade.

Máxima Criticidade
− Imprescindíveis;
− Faltas podem provocar paradas e colocar em risco a segurança do paciente e a
CLASSE Z
organização;
− Não podem ser substituídos por outros equivalentes ou seus equivalentes são difíceis de
obter.

3.5 PROGRAMAÇÃO • Demanda: É baseada no estudo das varia-


ções sofridas pelos estoques, suas causas e
A programação representa uma atividade efeitos num período de tempo, para prever
chave, que tem por objetivo a garantia da dis- sua tendência futura;
ponibilidade dos medicamentos previamente sele- • Recursos Financeiros: a limitação dos re-
cionados nas quantidades adequadas e no tempo cursos financeiros, cada vez mais escassos,
oportuno para atender às necessidades de uma tem transformado as programações em um
população-alvo, considerando-se um determinado processo eminentemente administrativo,
período de tempo 27. que acabam sendo realizadas em função
Na execução da programação, para que a dos recursos financeiros disponíveis e não
estimativa reflita a real necessidade, a dispo- das reais necessidades da população;
nibilidade e a utilização de dados referentes • Variações Sazonais: As variações sazonais
aos produtos a serem adquiridos são de gran- têm grande importância quando se reali-
de valor. A programação inadequada impacta za uma programação, pois dependendo do
diretamente sobre o abastecimento e o acesso período do ano, diversos medicamentos
ao medicamento, bem como sobre o nível de sofrem variações no consumo e isso pode
perdas de produtos 27. causar uma quebra de previsão;
• Padronização de medicamentos: a progra-
3.5.1 Fatores que influenciam a mação deve ser fundamentada na Padroniza-
programação ção de Medicamentos, uma vez que o corpo
clínico da instituição vai desenvolver seus
Antes de prover devem-se prever todos os fa- trabalhos baseado nela;
tores que possam implicar numa falha de planeja- • Item de aquisição critica: deve-se levar
mento. Alguns aspectos ficam difíceis de corrigir em consideração o grau de dificuldade de
depois que o erro acontece 14,15,27: aquisição de alguns produtos, por exemplo,
• Área física da farmácia: Dependendo do vo- itens importados;
lume de compras a serem feitas, deve-se • Ponto de ressuprimento: é um dado auxiliar
atentar ao fato de não se adquirir o que que deve ser levado em consideração no
não se pode estocar por falta de espaço momento da programação, uma vez que, é
físico; o ponto que determina o início da compra.

178
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

3.5.2 Etapas envolvidas no processo da programação

Quadro 3 – Etapas do processo de programação

Etapa i – definir a equipe de trabalho:


Envolver os diversos setores/responsáveis da rede de saúde que tenham interface com a Assistência Farmacêutica e,
mais especificamente, com a decisão de consumo de medicamentos, de maneira a agregar valor ao processo.

Etapa ii – estabelecer normas e procedimentos


Definir:
• metodologia de trabalho
• atribuições, responsabilidades e prazos
• instrumentos apropriados (planilhas, formulários, instrumentos de avaliação)
• periodicidade e métodos

Etapa iii – levantar dados e informações necessárias ao processo


Essa etapa depende do método a empregar, e pode envolver, dentre as informações necessárias, as seguin-
tes:
• consumo histórico de cada produto
• demanda real (atendida, não atendida)
• oferta e demanda por serviços de saúde
• estoque existente (inventário)
• infra-estrutura da equipe de Assistência Farmacêutica (área física, equipamentos, materiais e recursos
humanos)
• protocolos terapêuticos existentes
• custo unitário aproximado de cada tratamento
• disponibilidade orçamentária e financeira

Etapa iv – elaborar programação


• listar os medicamentos necessários de acordo com a seleção estabelecida
• quantificar os medicamentos em função da necessidade real
• detalhar as especificações para a compra
• calcular o custo da programação
• definir o cronograma de aquisição e recebimento dos produtos e as modalidades a serem utilizadas
• compatibilizar as necessidades locais considerando os limites financeiros previstos para efetuar a aqui-
sição e as prioridades definidas pela política de saúde local

Etapa v – acompanhar e avaliar


• definir mecanismos de controle para acompanhamento e intervenções necessárias

Fonte 15

3.5.3 Elaboração da programação 3. Para calcular a necessidade real (f) deve-se


multiplicar a coluna (e) pela quantidade
Para elaboração da programação podemos se- de meses do período de aquisição (neste
guir as etapas descritas abaixo: exemplo 5 meses) e subtrair a quantidade
1. Relacionar os itens (b) com a devida codi- existente em estoque (g), mais a quanti-
ficação (a), valor unitário (c) e o consumo dade em compras (h) = [(e*5)-(g+h)].
médio mensal (d); 4. Calcular o custo estimado (total) de cada
2. Para a definição do consumo real (e), consi- item ( i) = (h*c).
derar a demanda reprimida (não atendida);

179
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Quadro 4 – Exemplo de uma planilha de programação

Preço Consumo Consumo Necessidade Estoque Quantidade em


Item Descrição Valor (R$)
Unitário Médio mensal Real Real existente compras
(a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i)
dipirona 1
1117137/6 g/2ml amp. 0,19 34496 38000 90758 63242 36000 17.244,02
2ml
dimeticona
1111140/9 0,41 8025 10000 23383 26617 0 9.587,03
75mg/ml
meropenem
1.000mg
1127445/3 28,9 3190 2600 10888 1687 425 314.663,20
– frasco/
ampola

04 AQUISIÇÃO – COMO COMPRAR


Comprar e prover medicamentos são primor- “A licitação destina-se a garantir a ob-
diais na atividade hospitalar, as pessoas envol- servância do princípio constitucional da
vidas neste processo desempenham, direta ou isonomia, a seleção da proposta mais
indiretamente, papel fundamental na prestação vantajosa para a administração e a pro-
da assistência ao paciente e devem realizá-lo de moção do desenvolvimento nacional sus-
maneira a melhor atender os interesses tanto dos tentável e será processada e julgada em
pacientes quanto da instituição. Para isso elas estrita conformidade com os princípios
precisam conhecer muito bem os mecanismos do básicos da legalidade, da impessoalida-
processo, sendo treinadas e capacitadas. de, da moralidade, da igualdade, da pu-
Os hospitais realizam suas aquisições de ma- blicidade, da probidade administrativa,
neiras diferentes, sendo que as de administração da vinculação ao instrumento convoca-
privada estabelecem suas diretrizes com foco nas tório, do julgamento objetivo e dos que
necessidades, adequando-se a sua capacidade, e lhes são correlatos. (Redação dada pela
os hospitais geridos pela administração pública Lei nº 12.349, de 2010)”)
definem as formas de aquisição a fim atender as
normas e leis vigentes. Pode-se, contudo, dizer que a licitação
apoia-se em um tripé: isonomia, proposta mais
4.1 AQUISIÇÕES EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS vantajosa e legalidade. Portanto, ela busca asse-
gurar que a proposta mais vantajosa seja obtida
O processo de compra de medicamentos no dando condições de igualdade aos participantes,
setor público é complexo, envolve um conjunto baseando-se na lei como parâmetro para moldar
de exigências legais e administrativas que devem as regras do certame licitatório.
ser cumpridas. As normas que regulam os proces- Essa lei define também as modalidades de li-
sos de aquisição nos hospitais públicos são as es- citação, sendo que as utilizadas para aquisição de
tabelecidas pelas leis: medicamento são:
• Nº 8666 de 06 de junho de 1993 – que • Concorrência;
institui normas para licitação; • Pregão (Presencial e Eletrônico)
• Nº 10520 de 17 de julho de 2002 – que ins- • Convite.
titui a modalidade de licitação denominada As modalidades irão se diferenciar tanto nos
Pregão valores para as quais podem ser utilizadas, quan-
Da lei n.º 8666/93 destacamos o seu artigo to à necessidade de documentos, complexidade do
3º que traz os seguintes dizeres: processo e tempo total de realização.

180
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

O texto da lei define também as modalidades • Bula atualizada do medicamento;


tomada de preço, concurso e leilão que não são • Número do registro do produto licitado
relevantes para as aquisições aqui estudadas. concedido pela ANVISA, estando este ven-
Há ainda, na legislação circunstâncias espe- cido, a licitante deverá anexar cópia auten-
ciais que permitem à organização realizar aquisi- ticada da solicitação de sua revalidação:
ções sem licitação, são elas: • Certificado de Boas Práticas de Fabricação
DISPENSA DE LICITAÇÃO: Destacamos casos emitido pela ANVISA. No caso de produto
em que o valor não ultrapasse os limites estabele- importado pode-se apresentar Certificado
cidos pela legislação; casos emergenciais, onde a de Boas Práticas e Controle emitido pela
aquisição deve ser da quantidade necessária para autoridade sanitária do país de origem,
atender a demanda momentânea, em caso de lici- acompanhado de tradução para a língua
tações não finalizadas com sucesso. portuguesa, feita por tradutor juramentado.
INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO: Quando o O papel do farmacêutico na licitação é certifi-
medicamento só possa ser adquirido de forne- car que o produto ofertado atenda as características
cedor exclusivo. Onde a exclusividade deverá ser descritas no edital, analisar a documentação envia-
comprovada através de carta emitida por órgão de da e as amostras quando for o caso. Após essa aná-
registro do comércio local. lise é emitido um parecer técnico, onde as propos-
Em ambas as situações, a formalidade proces- tas são classificadas ou não para participar da etapa
sual deve ser mantida e o ato de dispensa ou de de lances, onde ocorrerá disputa entre as empresas
inexigibilidade da licitação, devidamente funda- classificadas e a vencedora será a que oferecer o
mentado. menor preço.
O processo licitatório, por todas essas carac-
4.1.1 Edital terísticas descritas, é moroso o que muitas vezes
dificulta à instituição realizar aquisições com a
O edital é o instrumento que estabelece todas agilidade necessária.
as condições para a realização da licitação. Na
aquisição de medicamentos, ele divulga as espe- 4.1.2 Sistema de registro de preços
cificações detalhadas do item que a ser adquirido,
requer os documentos necessários para comprovar O Sistema de Registro de Preços foi inserido
que o medicamento ofertado atende as normas es- na Lei de Licitação para agilizar as contratações
tabelecidas para sua fabricação e comercialização, e ganhou destaque como sistema inovador para
solicita amostras, define vigência do contrato, compras pela administração pública, nele a insti-
prazos de pagamento, condições de entrega. tuição por meio do Pregão ou Concorrência firma
Citamos como exemplo o edital do Hospital com o fornecedor um preço a ser pago pelo pro-
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Uni- duto ofertado pelo período de um ano, por uma
versidade de São Paulo, que solicita aos licitan- quantidade estimada e as compras são realizadas
tes a apresentação dos seguintes documentos: conforme a necessidade da instituição.

Quadro 5 – Modalidades de Licitação

Modalidade Valor RP Edital Tempo


Concorrência Sem limite Sim Sim 30 a 45 dias para recebimento das propostas.
Mínimo 08 dias úteis de exposição do edital; 03 dias corridos após
Pregão Sem limite Sim Sim
realização do pregão para apresentação de recurso.
07 dias corridos de exposição do edital e lançamento de proposta; 02 dias
para emissão de parecer técnico; 02 dias para apresentar recurso;
Convite BEC Até R$ 80.000,00 Não Sim
07 dias corridos para emissão de nota de empenho; até 15 dias para
entrega.
Dispensa de
Até R$ 8.000,00 Não Não Tempo necessário para receber a resposta de no mínimo 03 cotações.
Licitação
Inexigibilidade
Sem limite Não Não Sem prazos legais.
de Licitação
Fonte: 15

181
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Este dispositivo é uma ferramenta bastante 4.1.3 Aquisições em instituições privadas


útil para aquisições de medicamentos, pois as
compras são realizadas periodicamente e com alta Em hospitais privados a aquisição pode ser fei-
freqüência, uma vez que: ta por meio de pesquisas de preço, contrato de for-
• A natureza da atividade apresenta relevan- necimento com fornecedores previamente selecio-
te imprevisibilidade no consumo e exige, nado ou adotando normas particulares estabelecida
em muitos casos, celeridade na realização pela instituição para assegurar competitividade e
da aquisição; transparência nas negociações.
• O custo de armazenamento é bastante rele- Como requisitos básicos para realização de
vante para as instituições e o aumento da uma compra que seja vantajosa para a instituição,
freqüência propicia a redução do volume de pode-se citar:
estoque. • Cadastro prévio dos Fornecedores;
O processo evita a repetição de procedimen- • Numero mínimo de cotação;
tos licitatórios com o custo que lhes é inerente, • Definição dos prazos de entrega e paga-
ou seja, supre a multiplicidade de licitações con- mento;
tínuas e seguidas obtendo-se desta forma maior • Conhecimento dos preços praticados no
agilidade nos processos de aquisição. mercado.

5. SELEÇÃO DE FORNECEDORES – ONDE COMPRAR


Com a diversidade de fornecedores de medica- em outros múltiplos fornecedores (ocasião mais
mentos, faz-se necessária uma busca das melho- vantajosa para o comprador) 27.
res opções para o fornecimento de medicamentos Diversas ferramentas são utilizadas para efe-
que atendam os critérios de qualidade, bem como tuar a seleção de seus fornecedores, o departa-
prazo de entrega satisfatório a preços acessíveis. mento de compras deve ter o suporte fundamental
Deve- se também levar em consideração se o for- do farmacêutico, para identificar através de catá-
necedor tem uma estrutura adequada para atender logos, revistas e sites especializados, como tam-
a solicitação, para habilidade técnica para produ- bém obter informações junto a outros hospitais
zir, fornecer a matéria-prima ou item, deve estar (Benchmarking) e representantes comerciais (in-
bem descrita no edital ou em documento que des- dústria e distribuidoras de medicamento), quais
creva as condições de compra dos fornecedores. são os potenciais fornecedores que atendam os
Outras características que devem ser levadas requisitos técnicos e administrativos para compra
em consideração são os serviços pós-venda (sis- dos medicamentos.
tema de suporte), a localização do fornecedor que
seja preferencialmente próximo do comprador, 5.1 CADASTRO DE FORNECEDORES
esta consideração, na medida do possível, leva a
redução de tempo de entrega evitando a falta do A análise cadastral permite selecionar os for-
medicamento, principalmente para aqueles itens necedores com melhores condições para atender
de alto consumo e rotatividade. às necessidades quanto aos requisitos necessários
Sendo assim criar um vínculo de confiabilida- para a compra.
de é fundamental, outro questionamento quando O cadastro ideal requer uma contínua revi-
da escolha do fornecedor, é avaliar a reputação e são e atualização, devido à diversidade de labo-
solidez no mercado farmacêutico, isto para que o ratórios fabricantes e distribuidores existente
fornecimento seja devidamente garantido dentro no mercado, estas informações tornam-se es-
dos prazos firmados 6. tratégicas e asseguram uma maior confiabilida-
No processo de seleção de fornecedores, de nas negociações, alertando inclusive quanto
ocorrem diversas situações onde se apresentam a possíveis impedimentos regulatórios para a
um único fornecedor (por razões de patente, es- compra.
pecificações técnicas, tipo de matéria prima) e As informações fundamentais da empresa de-

182
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

vem estar bem descritas, sistematizadas e acessí- 5.3 AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO


veis, sendo importante citarmos: DE FORNECEDORES:
• Nome do fornecedor (jurídico e fantasia);
• Endereço completo (telefones, cidade, A avaliação de fornecedores possibilita veri-
cep); ficar a capacidade de um determinado fornecedor
• CNPJ; de prover insumos e serviços, dentro dos requisi-
• Nacionalidade da empresa; tos exigidos de qualidade 3.
• Instituição financeira (bancos que pos- O comportamento do fornecedor deve ser
suem conta); avaliado, e ser acompanhado o seu desempenho
• Endereço eletrônico (setor de compras, li- durante a fase da realização da compra, do recebi-
citação e dos representantes); mento e da utilização dos medicamentos e demais
• Lista de itens/produtos que trabalham. produtos adquiridos.
A disponibilidade do fornecedor em resolver
5.2 SELEÇÃO DE FORNECEDORES problemas na pós-venda, relacionados aos pro-
dutos por ele comercializados, como um sistema
A seleção e qualificação dos fornecedores são de notificação de farmacovigilância, relacionando
primordiais para manutenção da parceria com o queixas técnicas para resolver problemas de des-
cliente, o processo de qualificação técnica têm vios da qualidade.
início na elaboração do edital de licitação, no O monitoramento do progresso de qualquer
qual os medicamentos e insumos farmacêuticos gestão deve ser baseado em instrumentos de
são especificados e são determinadas as exigên- aferição denominados indicadores 8, embora seja
cias para que os fornecedores participem dos pro- difícil estabelecer uma definição com ampla acei-
cessos 8. tação de um bom fornecedor, há vários atributos
que podem ser considerados desejáveis e que ser-
virão para permitir uma avaliação do seu desem-
penho, que estão listados no quadro a seguir 5:

Quadro 6 – Itens de verificação do ato do recebimento.

Itens avaliados
01 Nota fiscal Destinatário e valores corretos.
02 Quantidade De acordo com o solicitado.
03 Marca/ Fabricante De acordo com o comprado.
04 Especificação do produto De acordo com a padronização.
05 Embalagem Integra e identificadas.
06 Rotulagem Integra e legíveis.
07 Prazo entrega De acordo com o edital.
08 Validade Produto De acordo com o edital, mínimo de 12 meses.
09 Laudo Técnico Atestando a qualidade do produto.
10 Horário entrega Estabelecido pela Instituição.

Os indicadores de desempenhos sugeridos para acompanhamento são 2:

Taxa de produtos entregues = N° de produtos entregue fora do prazo x 100


fora do prazo N° total de produtos comprados
Taxa de ocorrências = N° de não-conformidades no recebimento x 100
no recebimento N° de produtos comprados

183
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Atributos como simplicidade, inteligente, ras- cedores de Medicamentos e Insumos farmacêuti-


treabilidade, estabilidade, especificidade, sensi- cos 24 no qual poderá conter:
bilidade, validade, objetividade e baixo custo de • Forma de Cadastro de Materiais e Medica-
obtenção devem ser considerados para construção mentos;
dos indicadores 8. • Processo Licitatório ou por ordem de
compra;
5.4 VISITAS TÉCNICAS • Processos relacionados ao recebimento,
com aplicação de formulário contendo os
Têm como objetivo detectar precocemente itens de verificação estabelecidos pela ins-
os problemas e assim prevenir futuros constran- tituição no ato do recebimento, conforme
gimentos com fornecedores que não estão em exemplificado no anexo 1;
adequadas condições, por meio de aplicação de • Processo referente ao comunicado aos for-
formulários apropriados que deve ser aplicado por necedores de solicitação de entrega imedia-
profissional qualificado. ta, por meio de documento formal, citado
Um fornecedor pode em um primeiro momen- no anexo 2 e também da Notificação de Pro-
to não atingir os requisitos para a Instituição, cedimento Administrativo de Penalização,
mas com o feed-back destas visitas o mesmo po- anexo 3, nos casos de não cumprimento dos
derá readequar seus processos para atendimento prazos de entrega.
do cliente e posteriormente readequar-se e parti- Para divulgação do guia pode-se recorrer
cipar do processo de compra. à estratégia de Encontro de Fornecedores, que
trata da interação entre o fornecedor e a insti-
5.5 GUIA DE BOAS PRÁTICAS DE tuição com o objetivo de estreitar a comunica-
FORNECEDORES ção; como vantagens esta aproximação fortale-
ce o comprometimento e confiança no processo
A sensibilização e a participação de todos os de compra.
atores envolvidos é fundamental para garantir a Nestes encontros os fornecedores poderão
adequação e o cumprimento das Boas Práticas, esclarecer eventuais dúvidas, sugerir melhorias,
desta forma deve-se promover uma parceria entre conhecer a instituição entender seus processos e
a Instituição e seus fornecedores. todos os setores envolvidos nesta gestão, como
Para isto existem diversas estratégias como a também ocorre a oportunidade de captar e desen-
elaboração de um Guia de Boas Práticas de Forne- volver novos fornecedores.

06 REQUISITOS E FATORES IMPORTANTES


RELACIONADOS AO PROCESSO DE AQUISIÇÃO
6.1 RECURSOS HUMANOS • Líder;
• Gerente;
No ano de 1997, a Organização Mundial da • Atualizado permanentemente;
Saúde, divulgou uma documentação sobre quali- • Educador.
dades gerais que o farmacêutico deve possuir (The Considerando as características acima citadas
role of the pharmacist in the health care system destacamos que para atuar na área de gestão de
– O papel do farmacêutico no sistema de atenção compras os profissionais farmacêuticos, precisam
à saúde) Estas qualidades, em número total de 7, estar bem informados e atualizados, além de te-
deu o nome ao profissional 7 estrelas, são elas: rem boa comunicação, facilidade para trabalhar
• Prestador de serviços farmacêuticos em em equipe e um aguçado poder de negociação.
uma equipe de saúde; O farmacêutico está diretamente envolvido em
• Capaz de tomar decisões; toda a cadeia logística do medicamento. E espe-
• Comunicador; cificamente na etapa da aquisição, ele deve estar

184
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

preparado para assumir a condução das atividades • Sistemas de telecomunicações Manuais e


técnicas, como padronização, especificação, pare- Procedimentos relacionados com a correta
cer técnico, visita técnica e qualificação de for- operação do sistema e com o fluxo das in-
necedores, analise de histórico de consumo e das formações por ele tratadas;
variações sazonais. Auxiliando também nas ativi- • Gestão de dados e informações: Bancos de
dades de caráter administrativo, como programa- Dados ou repositórios das informações que
ção e planejamento, definição da modalidade de são tratadas pelo sistema;
compra, habilitação de fornecedores e gestão de • Recursos Humanos: Recursos Humanos (pe-
estoque. Portanto precisamos contar com profis- opleware) habilitados a usarem o sistema
sionais altamente capacitados no gerenciamento de maneira eficiente e segura.
das aquisições, para garantir a viabilidade das de- Assim o uso bem planejado de Tecnologia da
mais etapas do ciclo da assistência farmacêutica. Informação dará suporte aos processos envolvi-
dos na gestão de compra, propiciando a busca de
6.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO vantagem competitiva e apoio à tomada de deci-
são gerencial. Estes benefícios agregados vêm de
No atual cenário das organizações, um dos encontro às necessidades de acesso e organização
bens mais valioso é a informação. Esta nova re- das informações para se atingir uma gestão de
alidade exige uma reorganização intensa nas compras eficiente.
instituições, assim a utilização da Tecnologia da
Informação (TI) assume importância vital, apre- 6.3 MONITORAMENTO – INDICADORES
sentando-se como um instrumento capaz de propi-
ciar a competitividade necessária à sobrevivência A modernização da Farmácia Hospitalar quan-
e crescimento das organizações. A administração to aos aspectos de gestão, passa pelas mudanças
dos recursos de materiais, humanos e financeiros de paradigmas, decorrentes das novas necessida-
pode ser realizada com mais rapidez e precisão des dos clientes e da sociedade. A dinâmica dos
com a utilização da Tecnologia da Informação 11. processos de trabalho para obtenção de melhores
Para entendermos como o uso das ferramentas resultados exige a incorporação do uso de ferra-
de tecnologia de informação podem nos auxiliar mentas de qualidade, que se tornaram estratégias
na gestão de compras é importante entendermos para a melhoria do desempenho da gestão da Far-
seu conceito e abrangência. O termo Tecnologia mácia Hospitalar 9.
da Informação serve para designar o conjunto de Assim a utilização de indicadores consti-
recursos tecnológicos e computacionais para ge- tui um instrumento gerencial fundamental para
ração e uso da informação. A TI está fundamenta- acompanhamento dos processos.
da nos seguintes componentes 21: Os indicadores são elementos essenciais
• Hardware e seus dispositivos periféricos: para a elaboração do planejamento e o con-
Materiais Tecnológicos (hardware) itens de trole dos processos das organizações, sendo
hardware que compõem a chamada “Tecno- os indicadores da qualidade associados ao
logia da Informação”, como computadores, julgamento dso cliente e os indicadores de
redes de computadores e dispositivos auxi- desempenho associados às características do
liares como periféricos itens de comunica- produto e do processo 9.
ção de dados etc.; Como indicadores de desempenho dos pro-
• Software e seus recursos: Programas de Com- cessos relacionados à gestão de compras, alem
putador (software) inter-relacionados entre dos indicadores já citados para o acompanha-
si e entre os bancos de dados que eles tra- mento de desempenho de fornecedores, pode-
tam, compondo assim um “Sistema”; mos exemplificar:

Indicador Fórmula
Valor total das compras efetivadas x 100
Volume de compra
Valor total previsto para compra
Número de requisições atendidas no prazo
Pontualidade do atendimento das requisições de compra x 100
Número total de requisições realizadas

185
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

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Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

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187
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Anexo1 – Formulário de Não-Conformidade no Recebimento do Material

Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.

188
Coletânea de Farmácia Hospitalar GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR

Anexo 2 – Formulário de solicitação de entrega imediata

Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.

189
GESTÃO DE COMPRAS EM FARMÁCIA HOSPITALAR Coletânea de Farmácia Hospitalar

Anexo 3 – Formulário de notificação de procedimentos administrativos

Fonte: Adaptado do fluxo de comunicação com fornecedores do Sistema de Administração de Materiais do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.

190
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS


PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
FARMACÊUTICO GUILHERME REZENDE DE SOUZA PINTO

01 INTRODUÇÃO
A gestão dos materiais médico-hospitalares usados pelos pacientes internados e ambulato-
ou produtos para saúde, como são muitas vezes riais do hospital...”
chamados, tem sido alvo de grande discussão. Por Paralelo a isso, nos deparamos com a impor-
representar um conjunto de itens de grande im- tância dos produtos para a saúde nos hospitais,
portância para as instituições hospitalares, quer aonde representam, junto com os medicamentos,
seja por aspectos econômico-financeiros, quer 28,2% de toda a despesa da instituição (La Forgia
seja por aspectos técnicos – incorporação tecno- & Couttolec, 2009). Se considerarmos outros as-
lógica, gestão de riscos assistenciais – ou mesmo pectos, como o seu emprego nas ações de promo-
aspectos de qualidade – infecção hospitalar e pro- ção e prevenção à saúde, veremos a diversidade de
cessos de certificação – a sua gestão tornou-se assuntos suscitados, como a questão das infecções
uma questão multidisciplinar. hospitalares, considerando que muitos deles são
O Conselho Federal de Farmácia (CFF), através empregados em procedimentos invasivos aos quais
da sua resolução nº 492, de 26/11/2008, que re- o paciente é submetido.
gulamenta o exercício profissional nos serviços de Considerando o cenário da saúde suplementar,
farmácia hospitalar, define que é competência do onde atuam as operadoras privadas de planos de
farmacêutico “assumir a coordenação técnica nas saúde (OPS), os produtos para saúde têm uma im-
ações relacionadas à padronização, programação, portância ainda mais estratégica, pois representam
seleção e aquisição de medicamentos, insumos, uma parcela importante das suas despesas – por
matérias-primas, produtos para saúde e sanean- volta de 23% – e correspondem ao tipo de remu-
tes, buscando a qualidade e a otimização da tera- neração onde há a maior pressão por reajustes. A
pia medicamentosa.” falta de regulação de preços por parte do governo,
Recentemente, através da publicação da Re- associada à pressão pela incorporação tecnológica
solução nº 549, de 25/08/2011, o CFF regulamen- de novos produtos – tanto por parte da equipe mé-
tou as atribuições do farmacêutico no exercício da dica, quanto pelos fornecedores – sem o suporte
gestão de produtos para a saúde, o que ampliou o na literatura que a justifique, são um importante
seu campo de atuação e, ao mesmo tempo, conso- fator para a adoção de medidas de regulação. Ao
lidou uma atividade já desempenhada por ele há farmacêutico hospitalar cabe conhecer as regras de
algum tempo e que era alvo do questionamento regulação, aplicadas à sua instituição, bem como
por outras profissões. acompanhar as discussões sobre incorporação tec-
De forma semelhante, a Sociedade Brasileira nológica, tanto no âmbito da esfera federal (Bole-
de Farmácia Hospitalar (Sbrafh), através de sua tim Brasileiro de Avaliação de Tecnologia de Saú-
publicação Padrões Mínimos para Farmácia Hos- de – BRATS/ANVISA), quanto àquela que envolve
pitalar e Serviços de Saúde, recomenda que “A a equipe multidisciplinar de sua instituição, por
Farmácia Hospitalar é responsável pelo armaze- meio da Comissão de Farmácia e Terapêutica.
namento, distribuição, dispensação e controle de Entendendo que a farmácia hospitalar é a
todos os medicamentos e produtos para a saúde unidade supridora da instituição, respondendo

191
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

pela gestão adequada e resolutiva com produtos em centros cirúrgicos, unidades de internação in-
farmacêuticos, os gestores dos hospitais têm atri- tensiva e semi-intensiva de pronto-atendimento.
buído a ela a responsabilidade de gerir também Estes dois grupos seguem a classificação ado-
os produtos para saúde. Outro fator que também tada em nossa prática de trabalho. Considerando
corrobora com isso é o perfil operativo do farma- a ausência de uma metodologia para sua classifi-
cêutico, que é capaz de desempenhar múltiplas cação, aos moldes do que já existe para os me-
atividades, exercendo um importante elo junto às dicamentos com a classificação ATC (Anatomical
equipes multidisciplinares que atuam na institui- Therapeutical Chemical Classification da Organi-
ção. Cabe destacar também o papel cada vez mais zação Mundial de Saúde), optamos por classificar
assistencial da equipe de enfermagem, que faz os produtos para saúde da seguinte forma:
com que esse grupo profissional não queira mais 1. Suturas cirúrgicas
exercer a gestão dos produtos para saúde, o que 2. Tubos, Sondas e Drenos
vinha, até então, sendo feito por eles na maioria 3. Dispositivos de infusão e pérfuro-cortantes
das instituições hospitalares. 4. Coberturas (curativos)
5. Materiais a base de látex
Neste contexto, o farmacêutico hospitalar
6. Materiais têxteis
vem enfrentado a dificuldade de ter de assumir
7. Bolsas e coletores
a gestão dos produtos para saúde sem, entretan-
8. Órteses
to, ter o conhecimento básico que permita a ele,
9. Próteses
com segurança, exercer o seu correto controle e a
10. Materiais especiais
dispensação, assegurando assim a otimização da Esta classificação foi criada considerando a
terapia medicamentosa ou mesmo intervencionis- aplicação do material, segundo suas característi-
ta que é dispensada ao paciente. cas funcionais ou então de acordo com as suas
O objetivo desta publicação é trazer aos co- características de composição, buscando uma ma-
legas farmacêuticos, de forma despretensiosa, o neira lógica e prática de melhor ordenar os di-
conhecimento de dois importantes grupos de pro- versos tipos de itens, facilitando o trabalho de
dutos para saúde, utilizados no cotidiano dos hos- armazenamento, dispensação, familiarização e
pitais e que compõem a rotina básica de dispen- treinamento das equipes que compõem o serviço
sação pelo serviço de farmácia hospitalar. Como de farmácia hospitalar.
o material didático sobre este assunto é escasso, Considerando que essa metodologia foi ampla-
o presente manual foi produzido a partir da bi- mente difundida em nossa instituição, a partir do
bliografia disponível e da experiência prática, em formulário farmacoterapêutico – relação de padroni-
reuniões de comissão de padronização, farmácia e zação – conseguimos uma boa adesão de todos os
terapêutica, incorporação tecnológica, controle de profissionais que lidam com os produtos para saúde,
infecção hospitalar e acompanhamento de proce- que passaram a adotar a classificação para suas bus-
dimentos realizados pelos profissionais de saúde cas e pedidos de incorporação de novos itens.

02 CONCEITO
Os produtos para saúde compreendem aos de itens que podem ser enquadrados dentro desta
equipamentos, aparelhos, materiais, artigos ou definição, os produtos para saúde compreendem:
sistemas de uso ou aplicação médica, odonto- 1. Materiais e artigos descartáveis.
lógica ou laboratorial, destinados à prevenção, 2. Materiais e artigos implantáveis.
diagnóstico, tratamento, reabilitação ou anti- 3. Equipamentos de diagnóstico.
concepção e que não utiliza meio farmacológico, 4. Equipamentos de terapia.
imunológico ou metabólico para realizar a sua 5. Equipamentos de apoio médico-hospitalar.
principal função em seres humanos, podendo, en- 6. Materiaiseartigosdeapoiomédico-hospitalar.
tretanto ser auxiliado em suas funções por tais 7. Equipamentos, materiais e artigos de edu-
meios. cação física, embelezamento ou correção estética.
Assim exposto e, considerando a amplitude 8. Produtos para diagnóstico de uso in-vitro.

192
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

03 LEGISLAÇÃO
Ao colega, que queira buscar mais embasa- 9. Portaria GM nº 939 de 18/11/2008 – MT
mento na legislação vigente a cerca desta maté- 10. Portaria nº 4.283, de 30/12/2010 – MS
ria, recomendo a leitura das seguintes leis, decre- 11. RDC nº 59, de 27/06/2000 – ANVISA
tos e resoluções: 12. RDC nº 185, de 22/10/2001 – ANVISA
1. Lei nº 5.991 de 17/12/1973 – MS 13. RDC nº 206, de 17/11/2006 – ANVISA
2. Lei nº 6.360 de 23/09/1976 – MS 14. RDC nº 156, de 11/08/2006 – ANVISA
3. Lei nº 8.080 de 19/09/1990 – MS 15. RE nº 2.605, de 11/08/2006 – ANVISA
4. Lei nº 9.656 de 03/06/1998 16. RE nº 2.606, de 11/08/2006 – ANVISA
5. Lei nº 9.961 de 28/01/2000 17. Norma Regulamentadora (NR) nº 32, de
6. Lei nº 12.401 de 28/04/2011 – MS 11/11/2005 – MT
7. Decreto nº 79.094, de 05/01/1977 – ANVISA 18. Resolução nº 549, de 25/08/2011 – CFF
8. Portaria GM nº 485, de 11/11/2005 – Mi-
nistério do Trabalho

04 MATERIAIS
1. SUTURAS CIRÚRGICAS tuações de traumas ou após incisões cirúrgicas,
onde sua presença é vital para manter as bordas
Desde aproxima- da ferida ou incisão, em aposição até que o teci-
damente 2.000 A.C. do desenvolva força suficiente para sustentá-las.
existem referências Quando isso ocorre, podemos dizer que ocorreu a
evidenciando o uso cicatrização. Caso a incisão, após ser submetida à
de barbantes e ten- sutura, venha a se abrir, ou seja, se as bordas se
dões de animais para separarem durante a fase de cicatrização, dizemos
suturar. Através do que ocorreu a deiscência do tecido.
séculos, uma grande Ao usarmos o termo sutura cirúrgica, consi-
variedade de mate- derando a atual realidade, estamos abordando os
riais tem sido usados dois componentes imprescindíveis para o ato de
na confecção de fios suturar: fio e agulha de sutura. A seguir abordare-
para procedimentos mos estes dois componentes mais detalhadamente.
cirúrgicos, tais como: seda, linho, algodão, cri-
na de cavalo, tendões de animais e intestinos. a.1. FIO DE SUTURA
Contudo, alguns destes ainda são utilizados hoje
em dia. A evolução dos materiais de sutura nos Em geral, é desejável que o fio de sutura apre-
trouxe para um ponto de refinamento que inclui o sente algumas características que são responsáveis
desenvolvimento de suturas e fios especiais para pelo sucesso no processo de cicatrização. São elas:
tipos específicos de procedimentos. Sendo assim,
1. Resistência à tração e torção.
eliminou-se algumas das dificuldades encontradas
no passado pelos cirurgiões e, também, dimi- Essa característica é muito importante,
nuiu-se substancialmente o potencial de infecção pois durante a passagem do fio pelos te-
pós-operatória. cidos, no ato da sutura, o cirurgião exer-
Sutura é o nome que se dá a todo material ce a tração – força para que o fio deslize
usado para unir tecidos e mantê-los coaptados, pelos tecidos – e torção – força para a
em posição normal, até a sua cicatrização. realização e fixação do nó – motivo pelo
As suturas são aplicadas na pele, órgãos, va- qual é imprescindível que o fio apresen-
sos sanguíneos e outros tecidos internos, em si- te boa resistência.

193
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

2. Força tênsil adequada ao tempo de cicatri- 5. Esterilidade e conservação adequadas.


zação dos diferentes tecidos onde for aplicada.
Considerando que uma parte dos fios
A força tênsil corresponde à resistên- de sutura é de origem biológica, é im-
cia do fio à degradação ao qual é sub- portante que sejam submetidos a um
metido. Essa força está, naturalmen- processo rigoroso de esterilização, bem
te, relacionada às características do como de conservação, evitando assim
fio, tais como a sua composição, bem complicações na etapa de cicatrização.
como à sua forma de construção – que Naturalmente esses cuidados também
serão abordados à frente. Quanto maior se aplicam às demais suturas de origem
a força tênsil do fio, maior é a sua capa- sintética.
cidade de manter os tecidos unidos por
6. Encastoamento adequado à agulha.
mais tempo. Essa característica é aplicá-
vel somente aos fios absorvíveis. O encastoamento consiste na fixação
do fio à agulha de sutura. Na realida-
3. Flexibilidade. de atual, onde as suturas cirúrgicas já
Outra característica muito importante, vêm encastoadas, ou soldadas eletro-
considerando que quanto mais flexível nicamente aos fios, é importante que
for o fio, maior a facilidade de manipu- essa junção apresente boa resistên-
lação, favorecendo assim a técnica do cia, evitando a perda do fio e, con-
cirurgião. sequentemente, o comprometimento
do ato de suturar, caso venham a se
4. Baixa reação tecidual – hipoalergênicos. soltar quando submetidos à tração e
A baixa reação tissular corresponde à torção exercidas pelo cirurgião e pe-
menor sensibilização dos tecidos sutura- los tecidos.
dos, de maneira que a resposta inflama-
tória seja pequena ou moderada e, dessa Os fios de sutura são classificados de acordo
forma, não comprometa a cicatrização com a sua característica (comportamento), com-
desses tecidos. posição, construção e diâmetro.

A. Classificação dos fios de sutura de acordo com a sua característica


(comportamento):

1. Suturas Cirúrgicas Absorvíveis: Os fios de sutura absorvíveis podem ser de


origem animal ou sintético. As suturas de ori-
São aquelas passíveis de fragmentação e gem animal são, na sua maioria, obtidas a partir
absorção ou digestão pelas enzimas tissulares. da mucosa intestinal de bovinos e ovinos, de
Elas são aplicadas no fechamento interno, o que onde são extraídas as fibras de colágeno que
representa uma grande vantagem, pois por ser compõem o fio. Esse tipo de fio recebe o nome
absorvida, o risco de rejeição é, praticamente, de catgut. Já as suturas de origem sintética,
inexistente, uma vez que não restará nenhum são produzidas a partir de polímeros do ácido
corpo estranho, no interior do paciente, após a poliglicólico ou ácido polilático – variando a
completa absorção do fio. Além desse fator, ou- composição e o nome de fabricante para fabri-
tro importante é o fato do paciente não neces- cante.
sitar retornar ao serviço onde foi atendido para A partir dessas duas origens, são encontrados
remoção do fio. no mercado os seguintes tipos de fios de sutura:

194
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

Tabela 1 – Classificação dos tipos de fio de sutura absorvíveis e suas principais características.

ORIGEM TIPO CARACTERÍSTICAS INDICAÇÃO ABSORÇÃO

BIOLÓGICA CAT-GUT SIMPLES Colágeno purificado. É fornecido Ponto subcutâneo 70 DIAS


embebido em solução de álcool e ligadura de vasos
isopropílico, que funciona sanguíneos
como conservante e impede o
ressecamento do fio. Trata-se de
um fio torcido

BIOLÓGICA CAT-GUT CROMADO Colágeno purificado, que recebe Intestino, bexiga, 90 DIAS
a adição de sais de cromo, para peritônio, ligadura de
retardar o processo e absorção. vasos sanguíneos mais
Também vem embebido em calibrosos e profundos
solução de álcool isopropílico.
Trata-se de um fio torcido

SINTÉTICA POLIGLACTINA Polímero sintético, obtido a partir Peritônio, músculos, 56 a 70


do ácido poliglicólico. Trata-se de aponeurose2, ponto DIAS
um fio trançado. subcutâneo e
laqueadura vascular

SINTÉTICA POLIGLECAPRONE Polímero sintético, obtido a Oftalmologia, plástica, 90 a 120


partir do ácido poliglicólico e fechamento de pele DIAS
associado com um copolímero (ponto subcutâneo),
-caprolactona. Trata-se de um fio urologia, trato
monofilamentar. gastrointestinal,
boca, ginecologia e
peritônio

SINTÉTICA POLIDIOXANONA Polímero sintético, composto Por ser absorvido 180 DIAS
do poliéster poli-p-dioxanona. muito lentamente,
Trata-se de um fio pode ser usado
monofilamentar. em tecidos muito
exigidos, como no
músculo cardíaco.
Indicado para
cardiopediatria, pois
evita a estenose na
linha de sutura com
o crescimento da
criança.

Os fios absorvíveis podem ser pigmentados que os fios utilizados em fechamento, através de
(recebem coloração artificial que varia de fabri- pontos subcutâneos, não possuem pigmento uma
cante para fabricante) ou incolores. A pigmenta- vez que podem ficar retidos sob a pele, após a
ção tem por finalidade auxiliar o cirurgião na vi- absorção completa do fio, formando o chamado
sualização do fio, durante a sutura. Cabe destacar “efeito tatuagem”.

2
Aponeuroses: terminações ou origens musculares, em forma de leque. Possuem cor esbranquiçada ou amarelada. São finas e delgadas, porém muito resistentes. Como um
invólucro ao redor dos músculos, as aponeuroses criam resistência e aderem à superfície da região do osso em que o músculo se prende. o músculo nunca se une com o
osso, mas sempre por meio de tecidos conjuntivos. São formadas por tecido conjuntivo fibroso e têm a característica de, tal como os tendões, serem pouco irrigadas.

195
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

. Suturas Cirúrgicas Não-absorvíveis: sutura que permaneça íntegra por um longo perí-
odo de tempo, a fim de que a cicatrização ocorra
São aquelas que não sofrem a ação degrada- adequadamente. Nesse caso, ao longo do tempo, o
tiva das enzimas tissulares, ou seja, não são pas- fio sofrerá um processo de encapsulamento.
síveis de digestão ou absorção pelos diferentes
tecidos onde são aplicadas. Em geral, são empre-
gadas nos pontos de fechamento externo (figura
2) – pele – sendo removidas após a cicatrização
completa do tecido.

Figura 3 – Fixação de válvula cardíaca ao músculo cardíaco


Figura 2 – Fechamento externo com fio não-absorvível.
por meio de fio não-absorvível.

Esse tipo de sutura também é empregada em As suturas cirúrgicas não-absorvíveis, dispo-


pontos (nós) internos, onde a necessidade da re- níveis no mercado, possuem várias constituições,
sistência do fio é imprescindível para o processo conforme demonstrado na tabela 2, entretanto
de cicatrização do tecido. Como exemplo, temos as observa-se um grande crescimento nos fios sinté-
válvulas cardíacas no coração (figura 3) e os vasos ticos, em decorrência da sua baixa reação tissular,
sanguíneos, cujo movimento rítmico requer uma resistência, segurança e versatilidade de uso.

Tabela 2 – Classificação dos tipos de fio de sutura não-absorvíveis e suas principais características.

ORIGEM TIPO CARACTERÍSTICAS INDICAÇÃO

BIOLÓGICA SEDA Obtido a partir do fio original produzido pelo bicho da Fechamento de parede, cirurgias
seda, que posteriormente é trançado, siliconizado e tingido oftalmológicas, gastrointestinais,
(ANIMAL) de preto. Trata-se de fio muito resistente, que permite torácicas e ortopédicas
um nó seguro. O revestimento de silicone facilita o seu
deslizamento pelos tecidos

BIOLÓGICA ALGODÃO Obtido a partir do fio original de algodão vegetal (30%), Cirurgia odontológica; amarração
que é torcido juntamente com fio de poliéster (70%) e de paredes e estruturas em geral no
(VEGETAL) pigmentado de azul, podendo ser também incolor. Este per-operatório. Pode ser utilizado para
fio também recebe um tratamento (enceramento) em sua sutura da musculatura nos casos flácidos
superfície para facilitar o deslizamento pelos tecidos de abdominoplastia

SINTÉTICA NYLON Obtido a partir da poliamida, trata-se de um fio Indicado para fechamento de paredes
monofilamentar incolor, que recebe pigmentação preta ou (incluindo pele) e na cirurgia vascular
azul. Tem como característica a facilidade de deslizar pelos
tecidos, a baixa reação tissular e a firmeza do nó.

SINTÉTICA POLIÉSTER Obtido a partir do tereftalato de polietileno (poliéster), Indicado para cirurgia vascular,
que pode receber uma pigmentação verde. Trata-se cardiovascular e ortopédica
de um fio trançado que pode ser revestido com um
polímero (polibutilato), que aumenta significativamente
as características de flexibilidade, deslizamento e
anti-trombogenicidade

SINTÉTICA POLIPROPILENO Obtido a partir da extrusão de um polímero de polipropileno, Indicado para cirurgia vascular e
que recebe a pigmentação azul. Trata-se de um fio cardiovascular
monofilamentar, extremamente flexível e bem tolerado pelos
tecidos.

MINERAL AÇO INOX Obtido a partir da liga de aço inox 316L. Trata-se de um Indicado para cirurgia cardiovascular
fio monofilamentar, com excepcional resistência e ótima (fechamento do esterno) e
biocompatibilidade buco-maxilo-facial (BMF)

196
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

B. Classificação dos fios de sutura quanto à sua construção:

A construção do fio cirúrgico pode ser de três Trata-se de um conjunto de filamentos


tipos, conforme demonstrado na figura 4: de um mesmo fio, trançados entre si,
com o objetivo de conferir maior resis-
• Monofilamentar
tência ao conjunto. Trata-se da confor-
Caracteriza-se por facilitar o desliza- mação que confere maior resistência à
mento do fio pelo tecido que está sendo sutura, porém desliza com um pouco
suturado. Essa característica é desejá- mais de dificuldade e ocorre a adesão de
vel, pois auxilia na técnica do cirurgião, matéria orgânica à medida que o fio vai
reduz o trauma no tecido e minimiza a sendo passado pelos tecidos.
adesão de matéria orgânica ao fio.
• Torcido
Caracteriza-se pela junção de muitos fi-
lamentos de um mesmo fio, que são en-
tão torcidos em um mesmo eixo, com o
objetivo de conferir maior resistência ao
conjunto.
• Trançado
Figura 4 – Tipos de construção do fio cirúrgico.

C. Classificação do fio de sutura quanto ao diâmetro:

O diâmetro dos fios cirúrgicos segue clas- Existe uma pequena diferença entre os diâ-
sificação internacional, estabelecida pela metros dos um mesmo tamanho, que é decorrente
Farmacopéia Americana (U.S.P. – United Sta- da característica (comportamento) do fio de su-
tes Pharmacopeia), conforme demonstrado no tura. Esta diferença é decorrente da técnica de
quadro a seguir. produção de cada um.

Tabela 3 – Designação USP para os tamanhos (diâmetros) de fios cirúrgicos e a correspondência em milímetros.
Diâmetro (em mm) Diâmetro (em mm)
Diâmetro (em mm)
para Suturas para Suturas
Designação U.S.P. para Suturas
Absorvíveis de Origem Absorvíveis de Origem
Não-absorvíveis
Biológica Sintética
10-0 0,02 0,02 0,02
9-0 0,03 0,03 0,03
8-0 0,05 0,04 0,04
7-0 0,07 0,05 0,05
6-0 0,10 0,10 0,10
5-0 0,15 0,10 0,10
4-0 0,20 0,15 0,15
3-0 0,30 0,20 0,20
2-0 0,35 0,30 0,30
0 0,40 0,35 0,35
1 0,50 0,40 0,40
2 0,60 0,50 0,50
3 0,70 0,60 0,60
4 0,80 0,60 0,60
5 0,70 0,70

197
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

Assim, o fio 10-0 corresponde àquele de me-


nor diâmetro, sendo amplamente empregado em
cirurgias oftalmológicas e neurológicas, enquan-
to o fio 5 corresponde àquele de maior diâmetro,
sendo empregado em cirurgias ortopédicas – por
exemplo, na reconstrução do ligamento cruzado
anterior (LCA) – e cardíacas – por exemplo, no
fechamento do esterno pós revascularização do Figura 6 – Fotografia de uma agulha de sutura, com destaque
para o olhal, que compõe o seu fundo, onde é feito o encas-
miocárdio (Ponto de Safena). toamento do fio.

a.2. AGULHA DE SUTURA Como o desenvolvimento tecnológico, os fios


passaram a vir montados nas agulhas, dando então
Associado ao fio de sutura é preciso conside- origem às suturas cirúrgicas pré-montadas. Nesse
rar também a agulha empregada no ato de sutu- caso, a agulha obedece integralmente ao diâmetro
rar. A escolha da agulha para a cirurgia deve levar do fio que nela vem encastoado, sendo este último
em consideração fatores como: uma continuação do seu corpo e fundo.
• Os requisitos específicos da técnica cirúr- Na ilustração a seguir (figura 7) são demons-
gica para o procedimento em que será em- tradas as partes que compõem a agulha de sutura.
pregada;
• A natureza do tecido a ser suturado;
• O acesso (tamanho da incisão) à área a ser
operada e suturada;
• Preferência técnica de cada cirurgião.

Figura 7 – Partes que compõe uma agulha de sutura.

De acordo com as partes que compõem a agu-


lha de sutura, ela é classificada em:

1. Quanto à ponta
Existem três tipos básicos de ponta de agu-
lha, conforme demonstrado na figura 8:
Figura 5 – Fotografia de uma agulha de sutura.
i. Cilíndrica: indicada para penetração su-
No passado, os fios e agulhas eram ad- ave nos tecidos, causando um mínimo de
quiridos separadamente, sendo montados no trauma. São indicadas para suturar teci-
momento de suturar o tecido. As agulhas, dos delicados e friáveis. Este tipo de agu-
então usadas, apresentavam uma abertura na lha é também chamado de atraumática.
parte final (fundo da agulha) que recebia o ii. Triangular: indicada para penetração em
nome de olhal (figura 6). Através dessa aber- tecidos que ofereçam maior resistência.
tura o fio era encastoado para, em seguida, Trata-se de agulha cortante e é também
ter início a sutura dos tecidos. Esse tipo de chamada de traumática ou cortante.
agulha era também chamado de traumática, iii. Espatulada: indicada para cirurgias no
pois como o olhal possuía um diâmetro maior segmento oftálmico anterior, pois apre-
que o restante da agulha, quando essa parte senta uma ótima penetração no tecido
passava pelo tecido, causava-lhe um trauma corneal e escleral, causando um míni-
maior, uma vez que aumentava o orifício para mo de trauma. Trata-se de uma agulha
passagem do fio. cortante.

198
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

ma que não é possível adotá-las no cotidiano


da instituição. Nas embalagens dos envelopes e
caixas das suturas cirúrgicas, as informações des-
critas nesse capítulo, são didaticamente descri-
tas pelos fabricantes, facilitando a identificação
Figura 8 – Tipos de ponta de agulha de sutura.
de seus componentes. A figura 10 corresponde
à ilustração esquemática da embalagem de uma
sutura cirúrgica.

Figura 9 – Tipos de curvatura de agulha de sutura.

2. Quanto à curvatura
A escolha da curvatura da agulha está di- Figura 10 – Ilustração esquemática da embalagem (envelope)
de uma sutura cirúrgica.
retamente relacionada à acessibilidade ao
tecido a ser suturado, de forma que quanto Recomendamos a adoção da descrição genéri-
menor for o acesso para suturar, maior de- ca para os fios de sutura, tanto no formulário de
verá ser a curvatura da agulha. Na figura 9 padronização, quanto na identificação dos locais
estão representadas as principais curvatu- de armazenamento e treinamento da equipe, de
ras utilizadas. forma a evitar o direcionamento a marcas ou fa-
bricantes específicos.
3. Quanto ao comprimento
O comprimento da agulha também tem rela- 2. TUBOS, DRENOS E SONDAS
ção direta com o tipo de tecido a ser sutura-
do, bem como o acesso a esse tecido. Assim São dispositivos usados de forma rotineira no
sendo, fios de pequeno diâmetro, para su- preparo pré-operatório de pacientes, no seu cuida-
turar tecidos delicados e de acesso restrito, do pós-operatório e, às vezes, no trans-operatório.
virão acompanhados de uma agulha delica- Na prática hospitalar, muitas vezes os termos
da e de tamanho (comprimento) pequeno. tubo, cateter, sonda e dreno se confundem e são
tomados como sinônimos.
O conhecimento das variáveis para as suturas Neste tópico abordaremos os dispositivos mé-
cirúrgicas, aqui apresentadas, auxiliará o colega dicos utilizados para:
farmacêutico nas discussões de revisão da padro- • Assistência ventilatória.
nização. Juntamente com o conhecimento das es- Por definição, drenos são materiais colocados
pecialidades cirúrgicas do seu hospital, munido de no interior de uma ferida ou cavidade, visando
catálogos dos diversos fabricantes, hoje disponí- permitir a saída de fluidos ou ar que estão ou
veis no mercado brasileiro, será possível propor as podem estar ali presentes, evitando o acúmulo de
melhores combinações de fio e agulha de sutura líquido em espaços potenciais e removendo cole-
para emprego em sua instituição. ções3 diversas, permitindo a retirada de secreções
Os diversos fabricantes adotam uma codifi- normais ou patológicas de cavidades naturais, vís-
cação própria para cada uma das combinações ceras, locais de cirurgia, além de orientar trajetos
de fio e agulha de sutura que produzem, de for- fistulosos4.

3
Coleção: acúmulo de secreção excretada pelas células que margeiam uma determinada cavidade, que pode ser natural ou artificial. Em geral essa secreção fica acumulada
na cavidade, sendo necessária a sua remoção – drenagem.
4
Fístula: lesão que se caracteriza por um trajeto anormal, congênito ou adquirido (cirúrgico), que estabelece comunicação do interior com a superfície do corpo, permitindo
o escoamento de líquido fisiológico ou patológico.

199
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

Estes dispositivos são também utilizados para ritantes. Podem ser confeccionados junta-
a remoção de secreções como seromas5, hemato- mente com materiais radiopacos. Caracteri-
mas, secreções do trato digestivo, linfa, pus e ma- zam-se também por serem mais rígidos que
terial necrótico de regiões onde não seja possível o látex e apresentarem múltiplas fenestra-
a exposição e limpeza repetidas. ções7, permitindo a saída do líquido por
Ainda, os dispositivos tubulares que são in- gravidade ou sucção.
troduzidos em canal do organismo, natural ou
não, para reconhecer-lhe o estado, extrair ou in-
troduzir algum tipo de matéria, são chamados de
sondas, enquanto que aqueles que são inseridos
no corpo, por meio percutâneo6, para retirar lí-
quidos, introduzir sangue, soro, medicamentos e
efetuar investigações diagnósticas, são chamados
de cateter.
Antes de detalharmos os materiais, do ponto
de vista da sua utilização, faz-se necessário escla-
recer alguns aspectos, no que diz respeito à sua Figura 11 – Prótese mamária confeccionada em silicone.
constituição e calibre (diâmetro), que têm influ-
ência direta no processo de escolha que precede a Silicone: trata-se de um composto quimi-
realização do procedimento. camente inerte, inodoro, insípido e incolor,
resistente à decomposição pelo calor, água
1. Quanto à Composição do ou agentes oxidantes. Podem ser sinteti-
Dispositivo Médico: zados em uma grande variedade de formas
com inúmeras aplicações. Na medicina são
Látex (borracha): trata-se do composto empregados como materiais básicos na
mais antigo empregado na fabricação dos confecção de dispositivos médicos (figura
dispositivos médicos. Apresenta uma gran- 11), exatamente pela sua alta resistência
de vantagem que é a sua maleabilidade, o – estima-se que sua vida útil é de, no míni-
que reduz a chance de lesão das estruturas mo 10 anos –, ótima flexibilidade e inércia
internas. Um inconveniente importante é o (biocompatibilidade), tornando-o um pro-
fato de a sua superfície irregular facilitar duto versátil e permitindo o seu uso pro-
a colonização bacteriana e, consequente- longado.
mente, a infecção peri-dreno. Além disso,
estimulam precocemente a formação de fi-
Teflon®: trata-se de uma marca regis-
brina, sendo obstruídos mais precocemente
trada da empresa norte-americana Du-
que aqueles de polietileno. Cabe destacar
Pont, que corresponde ao polímero Po-
também a impossibilidade do seu uso em
litetrafluoretileno (PTFE), sendo similar
pacientes que reconhecida alergia ao látex,
ao polietileno, onde os átomos de hi-
o que têm ocorrido com mais freqüência
drogênio estão substituídos por flúor.
nos dias atuais.
A principal virtude e tratar-se de uma
Polietileno: trata-se de um polímero de substância praticamente inerte. Isto se
adição, produzido a partir do etileno, que deve, basicamente, à proteção dos áto-
permite a obtenção de tubos macios, flexí- mos de flúor sobre a cadeia carbônica.
veis e quimicamente resistentes, emprega- Esta carência de reatividade permite que
dos na terapia endovenosa e em cateteres sua toxicidade seja praticamente nula,
para uso prolongado, por serem pouco ir- sendo também o material com o mais

5 Seroma: coleção de líquido celular, produzido (exsudado) caracteristicamente em processos inflamatórios, que se acumula dentro de tecidos ou órgãos
6 Percutâneo: passagem, através da pele, de uma agulha de punção, guia e cateter.
7 Fenestra: abertura ou janela presente em diversos tipos de dispositivos médicos.

200
Coletânea de Farmácia Hospitalar SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA

baixo coeficiente de atrito conhecido. 2. Quanto ao Calibre:


Outra qualidade característica é sua
impermeabilidade mantendo, portanto, Corresponde ao diâmetro, que pode ser inter-
suas qualidades em ambientes úmidos. no ou externo, do dispositivo médico. As unida-
Por estas características especiais, além des de medida mais comuns são as escalas French
da baixa aderência e ótima biocompati- (Fr) ou Charrière (Ch) e Gauge (G).
bilidade, ele é usado em diversos tipos
Unidade French (Fr) ou Charrière (Ch): es-
de dispositivos médicos.
tabelecida pelo francês Joseph Charrière8, e
Vialon®: trata-se de uma marca re- corresponde a 0,33 mm. Desta forma: 1 Fr =
gistrada da empresa norte-americana 0,33 mm – Ex.: uma sonda nasogástrica nº
Becton-Dickinson, que corresponde a 12, corresponde ao calibre (diâmetro)
um biomaterial, composto de poliureta- de 12 Fr ou 4,0 mm. A maioria das sondas e
no, menos antigênico e trombogênico drenos adota essa unidade de medida para
que os demais já citados. Possui gran- seu diâmetro.
de flexibilidade e uma micro-superfície
Unidade Gauge (G): esta unidade de medida
ultra-lisa, que reduz as chances de irri-
de diâmetro é muito empregada para agu-
tação das paredes dos vasos, o que re-
lhas e cateteres. A correspondência em mi-
duz a incidência de flebite e, por con-
límetros do tamanho Gauge é demonstrada
seguinte, de maiores complicações na
na tabela a seguir. Contrariamente à escala
terapia venosa. Desta forma, permite
French, na numeração Gauge, quanto maior
um maior tempo de permanência do dis-
o número, menor é o diâmetro nominal do
positivo médico no interior dos vasos
dispositivo médico.
do paciente.

Tabela 4 – Medidas dos Dispositivos Médicos em Gauge.

Número Gauge Diâmetro Externo (mm) Diâmetro Interno (mm)


10 3.404 2.692
12 2.769 2.159
14 2.108 1.600
16 1.651 1.194
18 1.270 0.838
20 0.9081 0.603
22 0.7176 0.413
24 0.5652 0.311
26 0.4636 0.260
28 0.3620 0.184
30 0.3112 0.159

A. Dispositivos empregados na Assistência Ventilatória:

Os dispositivos médicos empregados na assis- c. Permitir a ventilação com pressão positiva.


tência ventilatória têm por objetivo principal: d. Facilitar a aspiração de secreções da tra-
quéia e dos brônquios.
a. Manter as vias aéreas pérvias.
b. Proteger as vias aéreas, isolando-as do
aparelho digestivo.

201
SUTURAS CIRÚRGICAS E DISPOSITIVOS PARA ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA Coletânea de Farmácia Hospitalar

Neste tópico iremos estudar os seguintes dis- rato, atóxico, transparente, não-inflamável, liso
positivos: nas faces interna e externa, resistente a ponto de
não se deformar durante a intubação, não ocluir
1. Tubos endotraqueais com e sem balão,
quando dobrado ou torcido, amoldável à anatomia
simples e aramados.
da via aérea e não-reativo a lubrificantes e agen-
2 Tubos endobronquiais direito e esquerdo.
3. ânulas de traqueostomia com e sem balão. tes anestésicos.
4 Sondas de aspiração traqueal com válvula. Os critérios da in-
tubação traqueal va-
1. Tubos Endotraqueais: riam de acordo com a
equipe médica, sendo
Os tubos endotraqueais mais utilizados são utilizada na terapia
classificados em comuns (simples), com e sem intensiva para per-
balonete (balão), e aramados, com e sem balão mitir a ventilação de
(balonete). pacientes em/ou na
Os tubos endotraqueais confeccionados em iminência de insufi-
borracha – látex – (figura 12) já foram muito uti- ciência respiratória
lizados, pois permitiam a reutilização por meio da e a limpeza das vias Figura 13 – Intubação traqueal
autoclavação a vapor. Entretanto apresentavam aéreas na presença de secreções abundantes. Já
várias desvantagens quando comparados aos uti- na anestesia é indicada de acordo com o local,
lizados atualmente, que são confeccionados em a duração e a técnica anestésica empregada. Em
cloreto de polivinila (PVC): geral, nas cirurgias realizadas na cabeça, pesco-
• Balonete de alta pressão – exerce grande ço, cavidade torácica e abdominal e em grandes
pressão nas paredes da traquéia. cirurgias dos membros, o paciente é intubado. A
• Necessidade de limpeza e esterilização. figura 13 ilustra a passagem do TET, por meio do
• Porosidade e fissuras que dificultam a lim- laringoscópio.
peza e favorecem o acúmulo de secreções. O TET comum possui o formato de um arco
• Facilidade de acotovelamento, fechando o (figura 14) e, na extremidade que fica posicionada
fluxo de ar durante a ventilação mecânica. na traquéia, tem um bisel – que é a abertura do
• Reações alérgicas do paciente ao látex. tubo – e um orifício lateral, cuja função é assegu-
rar a assistência ventilatória no caso de obstrução
do bisel por secreções ou pelo fato dele estar em
contato com a parede da traquéia.
Na extensão lateral do TET são impressas vá-
rias informações importantes como: se é indicado
para uso ORAL/NASAL, conforme seu tipo; diâme-
tro interno (DI ou ID, em milímetros); distância
em centímetros, desde a sua extremidade (bisel),
a cada dois cm. Também pode vir gravado o di-
âmetro externo que, neste caso, segue a escala
francesa (French) já mencionada anteriormente.
Figura 12 – Tubo endotraqueal simples com Na extremidade que se conecta ao circuito do
balonete confeccionado látex
respirador (ventilador mecânico) ou do aparelho
Outro ponto de destaque é o fato de, hoje, de anestesia, encaixa-se o conector, que deve
a aquisição de um tubo novo, em PVC, ser mais adaptar-se firmemente ao tubo.
barata que o seu reprocessamento, considerando Ao longo do TET deve haver um filete (mar-
que estes podem ser reesterilizados em óxido de cação) radiopaco9 para facilitar a sua localização
etileno. através de radiografias.
O tubo endotraqueal (TET) ideal é aquele ba- O balonete (ou cuff) tem por finalidade selar

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Radiopaco: objetos ou estruturas radiopacas são aquelas em que os raios-x não conseguem atravessá-las. Nas radiografias, correspondem às estruturas brancas, pois as
estruturas escuras são as radiolúcidas. São substâncias impermeáveis às formas de energia radiante – ex.: bário, iodo, chumbo e tungstênio.

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Figura 14 – Tubo endotraqueal comum (simples) com balonete (balão).

a traquéia em volta do tubo, para impedir que excesso de pressão, sobre à traquéia. De forma
vaze o gás (oxigênio, ar medicinal, óxido nitroso contrária, a baixa pressão pode resultar numa
ou anestésico inalatório), durante a ventilação vedação inadequada do balonete, permitindo o
com pressão positiva, ou que penetre líquido nos vazamento dos gases empregados na ventilação
pulmões proveniente da boca, vias aéreas supe- mecânica e, consequentemente, levando à defici-
riores ou via digestiva. ência no processo de assistência ventilatória.
O TET também possuiu um balonete-piloto, Considerando os esclarecimentos feitos a cer-
em cuja ponta existe uma válvula por meio da ca do balonete, cabe aqui destacar que o uso de
qual se adapta uma seringa, contendo gás ou lí- TET simples sem balonete está indicado para ne-
quido, para que o balonete seja inflado. Por pal- onatologia ou pediatria, uma vez que a traquéia
pação do balão-piloto é possível ter uma noção da desses pacientes é muito mais sensível à pressão
pressão dentro do balonete. exercida, no caso, pelo balonete.
Os balonetes podem ser classificados em de
alta e baixa pressão. Conforme já mencionado, os
TET confeccionados em látex possuíam balone-
tes de alta pressão, que comportavam pequeno
volume de ar e exerciam grande pressão na pare-
de da traquéia. Já os balonetes dos TET em PVC
comportam um volume maior, selando a traquéia
com pressões mais baixas, sendo então considera-
dos como balonetes de baixa pressão. A pressão
alta do balonete provoca isquemia da parede da
traquéia, aumentando a incidência de lesões. Em
geral o volume de ar ou líquido injetado no ba-
lonete deve ser apenas o suficiente para evitar Figura 15 – Efeito sobre a traquéia do balonete
inflado em excesso.
vazamentos, geralmente em torno de 20 cm H2O.
A pressão que o balonete exerce sobre as Apesar de não ser objetivo deste manual, é
paredes da traquéia precisa ser controlada, uma importante destacar que a intubação com TET em
vez que em excesso poderá causar lesões irrever- neonatologia e pediatria, tanto para fins anesté-
síveis sobre ela, como a necrose – decorrente da sicos (cirurgia), como nas situações de urgência
dificuldade de circulação no tecido adjacente ao e emergência, vem sendo questionada, conside-
balonete – ou mesmo o rompimento da traquéia. rando as alternativas disponíveis para a assistên-
Na figura 15 é ilustrado o efeito do balonete, com cia ventilatória. Esses pacientes possuem várias

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questões, do ponto de vista anatômico e fisio-


lógico, que precisam ser consideradas no ato da fibra ótica até a ponta da lâmina. Estes apresen-
intubação. tam as vantagens de maior facilidade para desin-
Os tubos endotraqueais aramados ou re- fecção e de ser necessária apenas uma lâmpada
forçados são feitos com uma espiral reforçada de para todas as lâminas.
náilon ou metal recoberta, interna e externamen-
te, com borracha, látex, PVC ou silicone. A espiral
reforçada confere resistência à compressão e ao
acotovelamento, permitindo que os tubos sejam
angulados para ficar fora do campo de cirurgia.
Desta forma, é possível dobrar o tubo, sem que
ocorra o fechamento (colabamento) do fluxo ven-
tilatório, conforme demonstrado na figura 16.

Figura 18 – Laringoscópio de fibra óptica.

2. Tubos Endobronquiais:

O tubo endobronquial, ou tubo de dupla-luz,


consiste em dois tubos colados ao lado um do
outro (figura 19). Um dos tubos é mais curto
Figura 16 – Tubo endotraquel aramado com balonete
para a extremidade distal abrir-se na traquéia, e
um prolonga-se para alojar-se dentro de um dos
Para concluir o assunto dos tubos endotra- brônquios.
queais, é importante destacarmos o uso de uma
ferramenta imprescindível à sua aplicação, que é
o laringoscópio. Trata-se de um acessório, com-
posto de um cabo e lâmina, conforme demons-
trado na figura 17. O modelo ainda mais usado
utiliza pilhas no cabo e lâmpada na lâmina. Ao
encaixar-se a lâmina no cabo, a energia elétrica é
conduzida para um contato elétrico no soquete da
lâmpada.

Figura 19 – Tubo endobronquial esquerdo

Sua finalidade é isolar um pulmão do outro,


permitindo que um seja ventilado, enquanto
o outro permanece em repouso – é a chamada
intubação seletiva. Estes tubos são encontrados
nos tamanhos 35, 37, 39 e 41 Fr, sendo os dois
Figura 17 – Simulação de uso do laringoscópio e fotografia do primeiros usados em mulheres e os dois últimos
acessório, com destaque para a lâmpada existente na lâmina.
em homens.
Existem outros modelos, mais recentes, que Este tipo de tubo é indicado, quase que ex-
são os de fibra óptica (figura 18), onde a lâmpada clusivamente, para cirurgias de tórax. Entretanto,
é colocada no próprio cabo. A luz é conduzida por também podem ser empregados em bronco-espi-

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rometria10, toracoscopia11, ventilação seletiva ou


diferencial de um pulmão e lavagem pulmonar.

3. Cânulas de Traqueostomia:

A traqueostomia é um procedimento cirúrgi-


co, de urgência ou eletivo, através do qual é feita
uma abertura entre os anéis da traquéia por onde
é introduzida a cânula de traqueostomia. Esta
abertura pode ser feita em vários níveis, sendo
Figura 21 – Cânula de traqueostomia descartável,
a ideal aquela entre o segundo e o terceiro anéis simples, com balão.
traqueais, após tracionamento do istmo12 tireoi-
diano. Esta abertura entre o meio ambiente e a
traquéia é chamada de estoma, e geralmente é
indolor.

Figura 20 – Paciente traqueostomizado e ilustração mostran-


do o posicionamento da cânula de traqueostomia. Figura 22 – 1. Cânula descartável com balão. 2. Cânula des-
cartável sem balão. 3. Cânula descartável, sistema macho-fê-
A traqueostomia pode ser temporária ou per- mea, sem fenestra, com balão. 4. Cânula de metal, sistema
manente, dependendo de sua finalidade. Em geral, macho-fêmea, sem fenestra. 5. Cânula de metal, sistema ma-
cho-fêmea, com fenestra.
as indicações básicas para este procedimento são:
a. Quando da obstrução das vias aéreas supe- a. Cânula de traqueostomia descartável:
riores; • Com balão (ou cuff)
b. Controle das secreções; • Sem balão
c. Suporte ventilatório mecânico nas falên- • Sistema macho-fêmea:
cias respiratórias. i. Com fenestra
Por fim, é importante enfatizar que a traque- • Com balão
ostomia é de grande importância na prevenção da • Sem balão
estenose13 traqueal, que ocorre em pacientes com ii. Sem fenestra
intubação prolongada. • Com balão
Na figura 21 são mostradas as partes impor- • Sem balão
tantes de uma cânula de traqueostomia descartá- b. Cânula de traqueostomia de metal:
vel simples com balão. • Sistema macho-fêmea sem balão
As cânulas de traqueostomia podem ser clas- i. Com fenestra
sificadas nos seguintes tipos: ii. Sem fenestra

10
Bronco-espirometria: trata-se de um teste da funcionalidade pulmonar, onde é avaliada a quantidade (volume) e/ou velocidade de ar que pode ser inalada ou exalada
por um dos pulmões. Trata-se de uma importante ferramenta de diagnóstico, empregada para avaliar a condição pulmonar nos casos de asma, fibrose pulmonar, fibrose
cística e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
11
Toracoscopia: é um procedimento médico envolvendo a inspeção interna da cavidade pleural. Pode ser feito sob anestesia geral ou sedação com anestesia local. Uma
grande variedade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos pode ser feita por meio desta técnica.
12
Istmo: consiste numa constrição conectando duas partes maiores de um órgão ou a outra estrutura anatômica. Também compreendido como uma passagem estreita,
conectando duas cavidades maiores. No caso da tireóide, consiste na parte central da glândula, que une os dois lobos laterais.

13 Estenose: consiste no fechamento, ou estreitamento, de uma estrutura tubular ou de qualquer canal ou orifício.

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As cânulas de traqueostomia descartáveis são dos pulmões no sentido na boca, fazendo vibrar
construídas em PVC e as permanentes, ou lavá- as cordas vocais e, dessa forma, permitindo ao
veis, em metal cromado ou aço inox. Similar aos paciente a articulação da fala.
tubos endotraqueais, a numeração dos tamanhos
(diâmetro) segue a escala em milímetros. Tam- 4. Sonda de Aspiração Traqueal:
bém, da mesma forma que os TET, as cânulas po-
dem conter ou não o balonete, cuja finalidade é a A aspiração traqueal consiste num procedi-
mesma dos primeiros, já descrita anteriormente. mento invasivo a ser realizado quando constata-
Outra variável da cânula de traqueostomia é da a presença de secreção e a incapacidade do
aquela que contempla o sistema macho-fêmea, ou paciente de eliminá-la por meio da tosse. Esse
cânula de três peças, como também é chamada. procedimento é realizado, rotineiramente, nos
Neste tipo de dispositivo, uma cânula de diâmetro pacientes submetidos à ventilação mecânica, por
levemente inferior – chamada de macho – é posi- meio de um tubo endotraqueal, cânula de traque-
cionada no interior da cânula externa – chamada ostomia ou outro dispositivo similar. Por se tratar
de fêmea. Além destas duas cânulas (vide figura de um procedimento invasivo, esse tipo de inter-
22), existe também um guia, ou mandril, que é venção precisa ser feita com critérios, tais como
colocado no interior da cânula interna, no mo- periodicidade e técnica asséptica, uma vez que a
mento da sua introdução no estoma, para evitar a aspiração desnecessária irrita as vias aéreas e es-
sua obstrução com matéria orgânica do paciente, timula a formação de mais secreção. A avaliação
tais como sangue, secreção e tecidos. da necessidade de aspiração pode ser constatada
Esse tipo de cânula, em três peças, pode ser por meio de auscultação.
confeccionado em metal ou PVC, sendo que, nes-
sa última, existe a possibilidade da existência do
balonete.

Figura 24 – Sonda de aspiração traqueal com válvula digital e


simulação de aspiração da cavidade oral de paciente.

Figura 23 – Cânula de traqueostomia, em


metal, sistema macho-fêmea (três peças). Figura 25 – Ilustração da aspiração traqueal através da cânula
de traqueostomia.
A finalidade da existência das duas cânulas
(interna e externa) é para que a interna, onde Utilizando-se uma sonda de aspiração descartá-
ficam aderidas as secreções do paciente, possa ser vel, confeccionada em PVC, ligada a uma bomba de
retirada para realização do processo de higieniza- vácuo, o profissional introduz a cânula no interior do
ção. Após a sua retirada, a cânula externa perma- tubo endotraqueal ou da cânula de traqueostomia,
nece no local, assegurando a via para a continui- bem como na cavidade nasal e orofaríngea, para re-
dade da assistência ventilatória. Após a limpeza, tirar a secreção que ali se encontra aderida.
a cânula interna é recolocada e o conjunto volta A sonda de aspiração deve possuir uma vál-
a ter as duas peças. vula digital para permitir o controle da pressão
Por fim, o outro aspecto relevante nesse tipo do vácuo, conforme demonstrado na figura 25,
de cânula é a presença da fenestra, que consiste proveniente da bomba de aspiração. Além disso,
numa abertura – tanto na cânula interna quanto a sonda deve possuir três orifícios (no mínimo)
na externa – cuja finalidade é a passagem do ar na extremidade distal, dispostos lateralmente e

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na ponta, por onde a secreção será aspirada. Re- As cânulas de aspiração traqueal são disponi-
comenda-se que o diâmetro externo da sonda não bilizadas em embalagem individual, estéreis, com
exceda 1/3 do diâmetro interno do tubo endotra- diâmetro que varia de 04 a 24 Fr e comprimento
queal ou da cânula de traqueostomia, para evitar de 50 cm (figura 24).
danos ou mesmo dificuldades na sua introdução.

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