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Maio 2008
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Versão
Introduzindo hidrologia
Introdução
O estudo da Hidrologia e conceitos fundamentais do ciclo
hidrológico.
A Hidrologia pode ser tanto uma ciência como um ramo da engenharia e tem
muitos aspectos em comum com a meteorologia, geologia, geografia, agronomia,
engenharia ambiental e a ecologia. A Hidrologia utiliza como base os conhecimentos
de hidráulica, física e estatística.
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H I D R O L O G I A
A limnologia pode ser definida como o estudo ecológico de todas as massas de água
continentais, incluindo lagos, lagunas estuários, represas, águas subterrâneas, águas
temporárias, banhados e rios (Esteves, 1988). Apesar disso, a maior parte dos estudos
de limnologia está focalizada em lagos. A hidrologia, por outro lado,
tradicionalmente está mais ligada ao estudo dos rios. Entretanto, os conceitos
abordados neste texto aplicam-se tanto a rios como a lagos, e, no caso das análises
estatísticas, podem ser aplicadas à vazão como a outras variáveis, como o nível de
lagos ou banhados, por exemplo.
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H I D R O L O G I A
Tabela 1. 1: Os dez países maiores produtores de energia hidrelétrica do mundo e a importância relativa da hidreletricidade na
energia total produzida (Gleick, 2000).
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H I D R O L O G I A
água é consumida, e grande parte retorna aos rios. Por este motivo, também as usinas
termelétricas são construídas junto à fontes abundantes e confiáveis de água, e são
necessários estudos hidrológicos para avaliar a sua disponibilidade.
A água
A água é uma substância com características incomuns. É a substância mais presente
na superfície do planeta Terra, cobrindo mais de 70% do globo. O corpo humano é
composto por água mais ou menos na mesma proporção. Já um tomate é composto
por mais de 90 % de água, assim como muitos outros alimentos. Todas as formas de
vida necessitam da água para sobreviver. A água é a única substância na Terra
naturalmente presente nas formas líquida, sólida e gasosa. A mesma quantidade de
água está presente na Terra atualmente como no tempo em que os dinossauros
habitavam o planeta, há milhões de anos atrás. A busca de vida em outros planetas
está fortemente relacionada a busca de indícios da presença de água.
Comparada com outros líquidos a água também apresenta uma tensão superficial
relativamente alta. Esta tensão superficial é responsável pela organização da chuva na
forma de gotas e pela ascensão capilar da água nos solos.
No Brasil a geração de energia elétrica é apenas um dos usos da água, mas sua
importância é muito grande, chegando a influenciar fortemente as estimativas do
valor associado á água.
A hidrosfera
O termo hidrosfera refere-se a toda a água do mundo, que é estimada em
aproximadamente 1,4 quilômetros cúbicos. Cerca de 97 % da água do mundo está
nos oceanos. Dos 3% restantes, a metade (1,5% do total) está armazenada na forma
de geleiras ou bancadas de gelo nas calotas polares. A água doce de rios, lagos e
aqüíferos (reservatórios de água no subsolo) corresponde a menos de 1% do total.
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H I D R O L O G I A
Em valores totais a água doce existente na Terra e a água que atinge a superfície dos
continentes na forma de chuva é suficiente para atender todas as necessidades
humanas. Entretanto, grandes problemas surgem com a grande variabilidade
temporal e espacial da disponibilidade de água. A América do Sul é, de longe, o
continente com a maior disponibilidade de água, porém a precipitação que atinge
nosso continente é altamente variável, apresentando na Amazônia altíssimas taxas de
precipitação enquanto o deserto de Atacama é conhecido como o lugar mais seco do
mundo.
O ciclo hidrológico
O ciclo hidrológico é o conceito central da hidrologia. O ciclo hidrológico está
ilustrado na Figura 1. 1. A energia do sol resulta no aquecimento do ar, do solo e da
água superficial e resulta na evaporação da água e no movimento das massas de ar. O
vapor de ar é transportado pelo ar e pode condensar no ar formando nuvens. Em
circunstâncias específicas o vapor do ar condensado nas nuvens pode voltar à
superfície da Terra na forma de precipitação. A evaporação dos oceanos é a maior
fonte de vapor para a atmosfera e para a posterior precipitação, mas a evaporação de
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H I D R O L O G I A
água dos solos, dos rios e lagos e a transpiração da vegetação também contribuem. A
precipitação que atinge a superfície pode infiltrar no solo ou escoar por sobre o solo
até atingir um curso d’água. A água que infiltra umedece o solo, alimenta os
aqüíferos e cria o fluxo de água subterrânea.
A água também sofre alterações de qualidade ao longo das diferentes fases do ciclo
hidrológico. A água salgada do mar é transformada em água doce pelo processo de
evaporação. A água doce que infiltra no solo dissolve os sais aí encontrados e a água
que escoa pelos rios carrega estes sais para os oceanos, bem como um grande número
de outras substâncias dissolvidas e em suspensão.
A energia que
movimenta o ciclo
hidrológico é
fornecida pelo sol. Figura 1. 1: O ciclo hidrológico.
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2
Capítulo
D E S I G N C U S T O M I Z A T I O N
Bacia hidrográfica e
balanço hídrico
Uma bacia hidrográfica pode ser dividida em sub-bacias e cada uma das sub-bacias
pode ser considerada uma bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica pode ser considerada como um sistema físico sujeito a entradas
de água (eventos de precipitação) que gera saídas de água (escoamento e
evapotranspiração). A bacia hidrográfica transforma uma entrada concentrada no
tempo (precipitação) em uma saída relativamente distribuída na tempo (escoamento).
• Área
• Declividade
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H I D R O L O G I A
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H I D R O L O G I A
dV
= P− E −Q
dt
∆V
= P−E−Q
∆t
Figura 2. 2: Relevo de uma bacia hidrográfica e as entradas e saídas de água: P é a precipitação; ET é a evapotranspiração e Rs é o
escoamento (adaptado de Hornberger et al., 1998).
P = E+Q
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Q
C=
P
Tabela 2. 1: Características de balanço hídrico das grandes regiões hidrográficas do Brasil (valores em mm correspondem às laminas
médias precipitadas, escoadas e evaporadas ao longo de um ano).
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H I D R O L O G I A
A tabela mostra que a evapotranspiração tende a ser maior nas bacias mais próximas
do Equador. Observa-se também que a disponibilidade de água (vazão em mm por
ano) é menor na bacia do rio São Francisco e na bacia Atlântico Leste (1) que inclui
as regiões mais secas da região Nordeste do Brasil.
Exemplos
1) Qual seria a vazão de saída de uma bacia completamente impermeável, com
área de 60km2, sob uma chuva constante à taxa de 10 mm.hora-1?
A vazão média de 340 m3.s-1 em uma bacia de 15.000 km2 corresponde ao escoamento anual
de uma lâmina dada por:
ou
3 ,6 ⋅ 24 ⋅ 365
Q( mm / ano ) = Q( m 3 .s −1 )
A( km 2 )
3,6 ⋅ 24 ⋅ 365
Q( mm / ano ) = 340 ⋅ ≅ 715 mm.ano −1
15000
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Exercícios
1) Uma bacia de 100 km2 recebe 1300 mm de chuva anualmente. Qual é o
volume de chuva (em m3) que atinge a bacia por ano?
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3
Capítulo
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Precipitação
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Chuvas frontais
As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar, de
diferente temperatura e umidade. Na frente de contato entre as duas massas o ar mais
quente (mais leve e, normalmente, mais úmido) é empurrado para cima, onde atinge
temperaturas mais baixas, resultando na condensação do vapor. As massas de ar que
formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de extensão e movimentam
se de forma relativamente lenta, conseqüentemente as chuvas frontais caracterizam-se
pela longa duração e por atingirem grandes extensões. No Brasil as chuvas frontais
são muito freqüentes na região Sul, atingindo também as regiões Sudeste, Centro
Oeste e, por vezes, o Nordeste.
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H I D R O L O G I A
Chuvas orográficas
As chuvas orográficas ocorrem em regiões em que um grande obstáculo do relevo,
como uma cordilheira ou serra muito alta, impede a passagem de ventos quentes e
úmidos, que sopram do mar, obrigando o ar a subir. Em maiores altitudes a
umidade do ar se condensa, formando nuvens junto aos picos da serra, onde chove
com muita freqüência. As chuvas orográficas ocorrem em muitas regiões do Mundo,
e no Brasil são especialmente importantes ao longo da Serra do Mar.
Chuvas convectivas
As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar, relativamente
pequenas, que estão em contato direto com a superfície quente dos continentes e
oceanos. O aquecimento do ar pode resultar na sua subida para níveis mais altos da
atmosfera onde as baixas temperaturas condensam o vapor, formando nuvens. Este
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Medição da chuva
A chuva é medida utilizando instrumentos chamados pluviômetros que nada mais
são do que recipientes para coletar a água precipitada com algumas dimensões
padronizadas. O pluviômetro mais utilizado no Brasil tem uma forma cilíndrica
com uma área superior de captação da chuva de 400 cm2, de modo que um volume
de 40 ml de água acumulado no pluviômetro corresponda a 1 mm de chuva. O
pluviômetro é instalado a uma altura padrão de 1,50 m do solo (figura XXXX) e a
uma certa distância de casas, árvores e outros obstáculos que podem interferir na
quantidade de chuva captada.
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torno do eixo, a cuba cheia esvazia e a cuba vazia começa a receber água. Cada
movimento das cubas basculantes equivale a uma lâmina precipitada (por exemplo
0,25 mm), e o aparelho registra o número de movimentos e o tempo em que ocorre
cada movimento.
No Brasil são poucos os radares para uso meteorológico, com a exceção do Estado de
São Paulo em que existem alguns em operação. Em alguns países, como os EUA, a
Inglaterra e a Alemanha, já existe uma cobertura completa com sensores de radar
para estimativa de chuva.
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A altura é a espessura média da lâmina de água que cobriria a região atingida se esta
região fosse plana e impermeável. A unidade de medição da altura de chuva é o
milímetro de chuva. Um milímetro de chuva corresponde a 1 litro de água
distribuído em um metro quadrado.
A variável utilizada na hidrologia para avaliar eventos extremos como chuvas muito
intensas é o tempo de retorno (TR), dado em anos. O tempo de retorno é uma
estimativa do tempo em que um evento é igualado ou superado, em média. Por
exemplo, uma chuva com intensidade equivalente ao tempo de retorno de 10 anos é
igualada ou superada somente uma vez a cada dez anos, em média. Esta última
ressalva “em média” implica que podem, eventualmente, ocorrer duas chuvas de TR
10 anos em dois anos subseqüentes.
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Tabela 3. 1: Freqüência de ocorrência de chuvas diárias de diferentes alturas em um posto pluviométrico no interior do Paraná ao
longo de um período de, aproximadamente, 23 anos.
Bloco Freqüência
P = zero 5597
P < 10 mm 1464
10 < P < 20 mm 459
20 < P < 30 mm 289
30 < P < 40 mm 177
40 < P < 50 mm 111
50 < P < 60 mm 66
60 < P < 70 mm 38
70 < P < 80 mm 28
80 < P < 90 mm 20
90 < P < 100 mm 8
100 < P < 110 mm 7
110 < P < 120 mm 2
120 < P < 130 mm 5
130 < P < 140 mm 2
140 < P < 150 mm 1
150 < P < 160 mm 1
160 < P < 170 mm 1
170 < P < 180 mm 2
180 < P < 190 mm 1
190 < P < 200 mm 0
P > 200 mm 0
Total 8279
1
TR =
Pr obabilidade
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H I D R O L O G I A
Figura 3. 5: Variabilidade sazonal da chuva em Porto Alegre e Cuiabá, representada pelas chuvas médias mensais no período de
1961 a 1990.
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O cálculo da chuva média em uma bacia pode ser realizado utilizando o método da
média aritmética; das Isoietas; dos polígonos de Thiessen ou através de interpolação
em Sistemas de Informação Geográfica (SIGs).
EXEMPLO
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Figura 3. 7: Mapa da bacia com chuvas nos postos pluviométricos para o exemplo 2.
EXEMPLO
Utilizando o método dos polígonos de Thiessen o primeiro passo é traçar linhas que unem os
postos pluviométricos mais próximos. A seguir é determinado o ponto médio em cada uma
destas linhas e traçada uma linha perpendicular. A interceptação das linhas médias entre si e
com os limites da bacia vão definir a área de influência de cada um dos postos. A seqüência é
apresentada na próxima página.
Pm = 120x0,15+70x0,40+50x0,30+75x0,05+82x0,10 = 73 mm.
Se fosse utilizado o método da média aritmética haveria apenas dois postos no interior da
bacia, com uma média de 60 mm. Se fosse calculada uma média incluindo os postos que estão
fora da bacia chegaríamos a 79,5 mm.
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Chuvas anuais
A chuva média anual é uma das variáveis mais importantes na definição do clima de
uma região, bem como sua variabilidade sazonal. O total de chuva precipitado ao
longo de um ano influencia fortemente a vegetação existente numa bacia e as
atividades humanas que podem ser exercidas na região.
Na região de Porto Alegre, por exemplo, chove aproximadamente 1300 mm por ano,
em média. Em muitas regiões da Amazônia chove mais do que 2000 mm por ano,
enquanto na região do Semi-Árido do Nordeste há áreas com menos de 600 mm de
chuva por ano.
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H I D R O L O G I A
Figura 3. 9: Histograma de frequencia de chuvas anuais no posto 02045005, no município de Lamounier (MG).
EXEMPLO
A faixa de chuva entre a média menos duas vezes o desvio padrão e a média mais duas vezes o
desvio padrão inclui 95% dos anos em média, e 2,5 % dos anos tem precipitação inferior à
média menos duas vezes o desvio padrão, enquanto 2,5% tem precipitação superior à média
mais duas vezes o desvio padrão, o que corresponde a 5 anos a cada 200, em média. Assim, a
chuva anual que é superada ou igualada apenas 5 vezes a cada 200 anos é:
Chuvas máximas
As chuvas intensas são as causas das cheias e as cheias são causas de grandes prejuízos
quando os rios transbordam e inundam casas, ruas, estradas, escolas, podendo
destruir plantações, edifícios, pontes etc. e interrompendo o tráfego. As cheias
também podem trazer sérios prejuízos à saúde pública ao disseminar doenças de
veiculação hídrica.
Por estes motivos existe o interesse pelo conhecimento detalhado de chuvas máximas
no projeto de estruturas hidráulicas como bueiros, pontes, canais e vertedores.
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A Figura 3. 10 apresenta uma curva IDF obtida a partir da análise dos dados de um
pluviógrafo que esteve localizado no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Cada
uma das linhas representa um Tempo de Retorno; no eixo horizontal estão as
durações e no eixo vertical estão as intensidades. Observa-se que quanto menor a
duração maior a intensidade da chuva. Da mesma forma, quanto maior o Tempo de
Retorno, maior a intensidade da chuva. Por exemplo, a chuva de 1 hora de duração
com tempo de retorno de 20 anos tem uma intensidade de 60 mm.hora-1.
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Figura 3. 10: Curva IDF para a cidade de Porto Alegre, com base nos dados coletados pelo pluviógrafo do DMAE localizado no
Parque da Redenção, publicada pelo DMAE em 1972 (adaptado de Tucci, 1993).
Evidentemente as curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Assim, a curva IDF
de Porto Alegre vale para a região próxima a esta cidade. Infelizmente não existem
séries de dados de pluviógrafos longas em todas as cidades, assim, muitas vezes, é
necessário considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região
do entorno. No Brasil existem estudos de chuvas intensas com curvas IDF para a
maioria das capitais dos Estados e para algumas cidades do interior, apenas.
Tabela 3. 2: Chuvas mais intensas já registradas no Mundo (adaptado de Ward e Trimble, 2003).
Exercícios
1) Qual é a diferença entre um pluviômetro e um pluviógrafo?
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4
Capítulo
H I D R O L O G I A
Composição do solo
A água infiltrada no solo preenche os poros originalmente ocupados pelo ar. Assim,
o solo é uma mistura de materiais
sólidos, líquidos e gasosos. Na mistura
também encontram-se muitos
organismos vivos (bactérias, fungos,
raízes, insetos, vermes) e matéria
orgânica, especialmente nas camadas
superiores, mais próximas da
superfície. A Figura 4. 1 apresenta a
proporção das partes mineral, água, ar
e matéria orgância tipicamente
encontradas na camada superficial do
solo (horizonte A). Aproximadamente
50% do solo é composto de material
sólido, enquanto o restante são poros
que podem ser ocupados por água ou
pelo ar. O conteúdo de ar e de água é
Figura 4. 1: Composição típica do solo (Lepsch, 2004).
variável.
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H I D R O L O G I A
Geralmente, os solos são formados por misturas de materiais das diferentes classes. As
características do solo e a forma com que a água se movimenta e é armazenada no
solo dependem do tipo de partículas encontradas na sua composição. Cinco tipos de
textura de solo são definidas com base na proporção de materiais de diferentes
diâmetros, conforme a Figura 4. 2.
Tabela 4. 1: Classificação das partículas que compõe o solo de acordo com o diâmetro.
diâmetro Classe
(mm)
0,0002 a 0,002 Argila
0,002 a 0,02 Silte
0,02 a 0,2 Areia fina
0,2 a 2,0 Areia grossa
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Figura 4. 2: Os cinco tipos de textura do solo, de acordo com a proporção de argila, areia e silte (Lepsch, 2004).
Água no solo
Quando um solo tem seus poros completamente ocupados por água, diz se que está
saturado. Ao contrário, quando está completamente seco, seus poros estão
completamente ocupados por ar. É desta forma que normalmente é medido o grau
de umidade do solo. Uma amostra de solo é coletada e pesada na condição de
umidade encontrada no campo. A seguir esta amostra é seca em um forno a 105 oC
por 24 horas para que toda a umidade seja retirada e a amostra é pesada novamente.
A umidade do solo é calculada a partir da diferença de peso encontrada.
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Reflectometry). Este método está baseado na relação entre a umidade do solo e a sua
constante dielétrica. Duas placas metálicas são inseridas no solo e é medido o tempo
de transmissão de um pulso eletromagnético através do solo, entre o par de placas. A
vantagem deste método é que não é necessário destruir a amostra de solo para medir
Saturação: condição em que todos os
a sua umidade, e o monitoramento pode
poros estão ocupados por água ser contínuo.
A curva de retenção de água no solo é diferente para diferentes texturas de solo. Solos
argilosos tendem a ter maior conteúdo de umidade na condição de saturação e de
capacidade de campo, o
que é positivo para as
plantas. Mas, da mesma
forma, apresentam
maior umidade no
ponto de murcha.
Observa-se na curva
relativa à argila que a
umidade do solo
argiloso no ponto de
murcha permanente é de
quase 20%, o que
significa que nesta
Figura 4. 3: Curva de retenção de água no solo (Ward e Trimble, 2004) condição ainda há
muita água no solo,
entretanto esta água está tão fortemente ligada às partículas de argila que as plantas
não conseguem retirá-la do solo, e morrem.
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H I D R O L O G I A
∆V = P − Q − G − ET
∂h
q=K⋅ e
∂x
∂h
Q = K ⋅ A⋅
∂x
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Uma chuva que atinge um solo inicialmente seco será inicialmente absorvida quase
totalmente pelo solo, enquanto o solo apresenta muitos poros vazios (com ar). À
medida que os poros vão sendo preenchidos, a infiltração tende a diminuir, estando
limitada pela capacidade do solo de transferir a água para as camadas mais profundas
(percolação). Esta capacidade é dada pela condutividade hidráulica. A partir deste
limite, quando o solo está próximo da saturação, a capacidade de infiltração
permanece constante e aproximadamente igual à condutividade hidráulica.
f = fc + ( fo − fc ) ⋅ e − βt
Figura 4. 4: Curvas de infiltração de acordo com a equação de Horton, para solos argilosos e arenosos.
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Figura 4. 5: Medição de infiltração utilizando o infiltrômetro de anéis concêntricos, e esquema do fluxo de água no solo.
Exercícios
1) Qual é o efeito esperado do pisoteamento do solo pelo gado sobre a
capacidade de infiltração?
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5
Capítulo
H I D R O L O G I A
Evapotranspiração
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H I D R O L O G I A
1. que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente de
evaporação – esta energia (calor) pode ser recebida por radiação ou por
convecção (transferência de calor do ar para a água)
Além disso, quanto maior a energia recebida pela água líquida, tanto maior é a taxa
de evaporação. Da mesma forma, quanto mais baixa a concentração de vapor no ar
acima da superfície, maior a taxa de evaporação.
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H I D R O L O G I A
w
UR = 100 ⋅ em % (5.2)
ws
A umidade relativa também pode ser expressa em termos de pressão parcial de vapor.
De acordo com lei de Dalton cada gás que compõe uma mistura exerce uma pressão
parcial, independente da pressão dos outros gases, igual à pressão que exerceria se
fosse o único gás a ocupar o volume. No ponto de saturação a pressão parcial do
vapor corresponde à pressão de saturação do vapor no ar, e a equação 5.2 pode ser
reescrita como:
e
UR = 100 ⋅ em % (5.3)
es
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H I D R O L O G I A
Radiação solar
A quantidade de energia solar que atinge a Terra no topo da atmosfera está na faixa
das ondas curtas. Na atmosfera e na superfície terrestre a radiação solar é refletida e
sofre transformações, de acordo com a Figura 5. 2.
Parte da energia incidente é refletida pelo ar e pelas nuvens (26%) e parte é absorvida
pela poeira, pelo ar e pelas nuvens (19%). Parte da energia que chega a superfície é
refletida de volta para o espaço ainda sob a forma de ondas curtas (4% do total de
enegia incidente no topo da atmosfera).
A energia absorvida pela terra e pelos oceanos contribui para o aquecimento destas
superfícies que emitem radiação de ondas longas. Além disso, o aquecimento das
superfícies contribuem para o aquecimento do ar que está em contato, gerando o
fluxo de calor sensível (ar quente), e o fluxo de calor latente (evaporação).
Finalmente, a energia absorvida pelo ar, pelas nuvens e a energia dos fluxos de calor
latente e sensível retorna ao espaço na forma de radiação de onda longa, fechando o
balanço de energia.
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ondas ondas
incidente
Radiação Solar
curtas longas
Espaço
100
6 20 4 6 38 26
Atmosfera
ar a
Emitida pelas
pe fletid
nuvens
lo
re
ns
ve
pe letida
nu
Absorvida pelo Emitida pelo
las
ar e poeira 16 vapor de H2O
ref
e CO2
rfície
upe s
Absorvida pelas Absorvida pelo
pela
nuvens vapor de H2O
Fluxo de calor
tida
e CO2
latente
refle
3 15
Fluxo de calor
sensível
Absorvida na
Emitida pela
superfície
superfície
51 21 7 23
Superfície (Terra + Oceanos)
Temperatura
A quantidade de vapor de água que o ar pode conter varia com a temperatura. Ar
mais quente pode conter mais vapor, portanto o ar mais quente favorece a
evaporação.
Umidade do ar
Quanto menor a umidade do ar, mais fácil é o fluxo de vapor da superfície que está
evaporando. O efeito é semelhante ao da temperatura. Se o ar da atmosfera próxima
à superfície estiver com umidade relativa próxima a 100% a evaporação diminui
porque o ar já está praticamente saturado de vapor.
Velocidade do vento
O vento é uma variável importante no processo de evaporação porque remove o ar
úmido diretamente do contato da superfície que está evaporando ou transpirando. O
processo de fluxo de vapor na atmosfera próxima à superfície ocorre por difusão, isto
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Medição de evaporação
A evaporação é medida de forma semelhante à precipitação, utilizando unidades de
mm para caracterizar a lâmina evaporada ao longo de um determinado intervalo de
tempo. As formas mais comuns de medir a evaporação são o Tanque Classe A e o
Evaporímetro de Piche.
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Transpiração
A transpiração é a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o transporte da
água através das plantas até as folhas e a passagem da água para a atmosfera através
dos estômatos da folha.
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Medição da evapotranspiração
A medição da evapotranspiração é relativamente mais complicada do que a medição
da evaporação. Existem dois métodos principais de medição de evapotranspiração: os
lisímetros e as medições micrometeorológicas.
E = P - Qs – Qb - ∆V (5.4)
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A umidade do ar também tem um valor médio (q) e uma flutuação em torno deste
valor médio (q’). O valor de q’ positivo significa ar com umidade ligeiramente
superior à média q, enquanto o valor q’ negativo significa umidade ligeiramente
inferior à média. Se num instante qualquer tanto w’ como q’ são positivos então ar
mais úmido do que a média está sendo afastado da superfície, e se w’ e q’ são, ao
mesmo tempo, negativos, então ar mais seco do que o normal está sendo trazido
para próximo da superfície.
De fato, esta correlação entre as variáveis umidade e velocidade vertical ocorre e pode
ser medida para estimar a evapotranspiração. São necessários para isto sensores de
resposta muito rápida para medir a velocidade do ar e sua umidade, e um
processador capaz de integrar os fluxos w’.q’ ao longo do tempo.
E=P–Q (5.5)
EXEMPLO
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H I D R O L O G I A
A evapotranspiração pode ser calculada por balanço hídrico da bacia desprezando a variação
do armazenamento na bacia E = 1600 – 700 = 900 mm.
Equação de Thornthwaite
Uma equação muito utilizada para a estimativa da evapotranspiração potencial
quando se dispõe de poucos dados é a equação de Thornthwaite. Esta equação serve
para calcular a evapotranspiração em intervalo de tempo mensal, a partir de dados de
temperatura.
a
⎡10 ⋅ T ⎤
E = 16 ⋅ ⎢
⎣ I ⎥⎦
EXEMPLO
Mês Temperatur
a
Janeiro 24,6
Fevereiro 24,8
Março 23,0
Abril 20,0
Maio 16,8
Junho 14,4
Julho 14,6
49
H I D R O L O G I A
Agosto 15,3
Setembro 16,5
Outubro 17,5
Novembro 21,4
Dezembro 25,5
O primeiro passo é o cálculo do coeficiente I a partir das temperaturas médias mensais obtidas
da tabela. O valor de I é 96. A partir de I é possível obter a = 2,1. Com estes coeficientes, a
evapotranspiração potencial é:
2 ,1
⎡10 ⋅ 16,5 ⎤
E = 16 ⋅ ⎢ =53,1 mm/mês
⎣ 96 ⎥⎦
Equação de Penman-Monteith
As equações para cálculo da evapotranspiração são do tipo empírico ou de base física.
A principal equação de evapotranspiração de base física é a equação de Penman-
Monteith (equação 5.6).
⎜ ∆ ⋅ (R L − G ) + ρ A ⋅ c p ⋅ (e s − e d ) ⎟
⎛ ⎞
⎜ ra ⎟ 1
E=⎜ ⎟⋅ (5.6)
⎜ ∆ + γ ⋅
⎛ rs ⎞
⎜⎜1 + ⎟⎟ ⎟ λ ⋅ ρW
⎜ ⎟
⎝ ⎝ ra ⎠ ⎠
50
H I D R O L O G I A
PA
ρ A = 3,486 ⋅ (5.8)
275 + T
4098 ⋅ e s
∆= (5.9)
(237,3 + T )2
⎛ 17,27 ⋅ T ⎞
e s = 0,6108 ⋅ exp⎜ ⎟ (5.10)
⎝ 237,3 + T ⎠
UR
ed = es ⋅ (5.11)
100
PA
γ = 0,0016286 ⋅ (5.12)
λ
Há uma analogia de parte da equação 5.6 com um circuito elétrico, em que o fluxo
evaporativo é a corrente, a diferença de potencial é o déficit de pressão de vapor no ar
(pressão de saturação do vapor menos pressão parcial real: es-ed) e a resistência é uma
combinação de resistência superficial e resistência aerodinâmica. A resistência
superficial é a combinação, para o conjunto da vegetação, da resistência estomática
das folhas. Mudanças na temperatura do ar e velocidade do vento vão afetar a
resistência aerodinâmica. Mudanças na umidade do solo são enfrentadas pelas
plantas com mudanças na transpiração, que afetam a resistência estomática ou
superficial.
O valor de E, calculado pela B.1, é convertido para as unidades de lâmina diária pela
equação a seguir.
E a = E ⋅ fc (5.13)
51
H I D R O L O G I A
R L = SSUP ⋅ (1 − α ) (5.14)
24
N= ⋅ ωs (5.15)
π
⎛ 2⋅π ⎞
δ = 0,4093 ⋅ sin ⎜ ⋅ J − 1,405 ⎟ (5.17)
⎝ 365 ⎠
52
H I D R O L O G I A
ρW ⋅ λ
S TOP = 15,392 ⋅ ⋅ d r ⋅ (ωs ⋅ sen ϕ ⋅ sen δ + cos ϕ ⋅ cos δ ⋅ sen ωs ) (5.18)
1000
⎛ 2⋅π ⎞
d r = 1 + 0,033 ⋅ cos⎜ ⋅ J⎟ (5.19)
⎝ 365 ⎠
⎛ n⎞
SSUP = ⎜ a s + b s ⋅ ⎟ ⋅ S TOP (5.20)
⎝ N⎠
onde N [horas] é a insolação máxima possível numa latitude em certa época do ano;
n [horas] é a insolação medida; STOP [MJ.m-2.dia-1] é a radiação no topo da atmosfera;
SSUP [MJ.m-2.dia-1] é a radiação na superfície terrestre; as [-] é a fração da radiação que
atinge a superfície em dias encobertos (quando n=0); e as + bs [-] é a fração da
radiação que atinge a superfície em dias sem nuvens (n=N).
Quando não existem dados locais medidos que permitam estimativas mais precisas,
são recomendados os valores de 0,25 e 0,50, respectivamente, para os parâmetros as e
bs (Shuttleworth, 1993).
Uma parte da radiação que atinge a superfície terrestre (SSUP) é refletida, conforme já
descrito. A maior parte da energia irradiada pelo sol está na faixa de ondas curtas, de
0,3 a 3 µm. O balanço de energia, porém, também inclui uma pequena parcela de
radiação de ondas longas, de 3 a 100 µm.
53
H I D R O L O G I A
L n = f ⋅ ε ⋅ σ ⋅ (T + 273,2)
4
(5.21)
onde Ln [MJ.m-2.dia-1] é a radiação líquida de ondas longas que deixa a superfície; f [-]
é um fator de correção devido à cobertura de nuvens; T [ºC] é a temperatura média
do ar a 2 m do solo; [-] é a emissividade da superfície; [MJ.m-2.ºK-4.dia-1] é uma
constante (σ=4,903.10-9 MJ.m-2.ºK-4.dia-1).
n
f = 0,1 + 0,9 ⋅ (5.23)
N
54
H I D R O L O G I A
94
ra = para h > 10 metros
u m ,10
⎛ ⎛ 10 ⎞ ⎞
⎜ ln⎜ ⎟ ⎟
⎜ ⎜⎝ z 0 ⎟⎠ ⎟
u m ,10 = u m, 2 ⋅ ⎜ ⎟
⎜ ln⎛⎜ 2 ⎞⎟ ⎟
⎜ ⎜z ⎟⎟
⎝ ⎝ 0 ⎠⎠
55
H I D R O L O G I A
Durante períodos de estiagem mais longos, a umidade do solo vai sendo retirada por
evapotranspiração e, à medida que o solo vai perdendo umidade, a evapotranspiração
diminui. A redução da evapotranspiração não ocorre imediatamente. Para valores de
umidade do solo entre a capacidade de campo e um limite, que vai de 50 a 80 % da
capacidade de campo, a evapotranspiração não é afetada pela umidade do solo. A
partir deste limite a evapotranspiração é diminuída, atingindo o mínimo –
normalmente zero – no ponto de murcha permanente. Neste ponto a resistência
superficial atinge valores altíssimos (teoricamente deve tender ao infinito).
Evaporação em reservatórios
A evaporação da água de reservatórios é de especial interesse para a engenharia,
porque afeta o rendimento de reservatórios para abastecimento, irrigação e geração de
energia. Reservatórios são criados para regularizar a vazão dos rios, aumentando a
disponibilidade de água e de energia nos períodos de escassez. A criação de um
reservatório, entretanto, cria uma vasta superfície líquida que disponibiliza água para
evaporação, o que pode ser considerado uma perda de água e de energia.
Elago = Etanque . Ft
56
H I D R O L O G I A
Exercícios
1) Um rio cuja vazão média é de 34 m3.s-1 foi represado por uma barragem para
geração de energia elétrica. A área superficial do lago criado é de 5000
hectares. Considerando que a evaporação direta do lago corresponde a 970
mm por ano, qual é a nova vazão média a jusante da barragem?
57
6
Capítulo
H I D R O L O G I A
Escoamento
V azão é o volume de água que passa por uma determinada seção de um rio
dividido por um intervalo de tempo. Assim, se o volume é dado em litros, e
o tempo é medido em segundos, a vazão pode ser expressa em unidades de
litros por segundo (l.s-1). No caso de vazão de rios, entretanto, é mais usual
expressar a vazão em metros cúbicos por segundo (m3.s-1), sendo que 1 m3.s-1
corresponde a 1000 l.s-1 (litros por segundo).
Durante as chuvas intensas, a maior parte da vazão que passa por um rio é a água da
própria chuva que não consegue penetrar no solo e escoa imediatamente, atingindo
os cursos d’água e aumentando a vazão. É desta forma que são formados os picos de
vazão e as cheias ou enchentes. O escoamento rápido que ocorre em conseqüência
direta das chuvas é chamado de escoamento superficial (figura 6.1).
58
H I D R O L O G I A
pico
Escoamento
ão
ascenç
Superficial
recessão
Escoamento subterrâneo
Figura 6. 1: Hidrograma de um rio como resposta a um evento de chuva: durante e imediatamente após a chuva
predomina o escoamento superficial, enquanto durante a estiagem predomina o escoamento subterrâneo.
59
H I D R O L O G I A
De acordo com este método, a lâmina escoada durante uma chuva é dada por:
Q=
(P − Ia )2 quando P > Ia e Q = 0 quando P ≤ Ia
(P − Ia + S )
25400
S= − 254
CN
60
H I D R O L O G I A
Condição A B C D
Florestas 41 63 74 80
Campos 65 75 83 85
Plantações 62 74 82 87
Zonas comerciais 89 92 94 95
Zonas industriais 81 88 91 93
Zonas 77 85 90 92
residenciais
(adaptado de Tucci et al., 1993)
EXEMPLO
A bacia tem solos do tipo B e está coberta por florestas. Conforme a tabela anterior o valor do
parâmetro CN é 63 para esta combinação. A partir deste valor de CN obtém-se o valor de S:
25400
S= − 254 = 149,2 mm
CN
A partir do valor de S obtém-se o valor de Ia = 29,8. Como P > Ia, o escoamento superficial é
dado por:
Q=
(P − Ia )2 = 8,5 mm.
(P − Ia + S )
Portanto, a chuva de 70 mm provoca um escoamento de 8,5 mm.
61
H I D R O L O G I A
62
H I D R O L O G I A
Figura 6. 2: Hidrograma do rio dos Bois, em Goiás, de 1990 a 1993, com respostas às chuvas de verão e recessões durante
os meses de inverno.
Q( t ) = Q0 ⋅ e k
onde t é o tempo; Q0 é a vazão num instante t0; Q(t) é a vazão num instante t (por
exemplo: t dias após t0); e é a base dos logaritmos naturais; e k é uma constante (em
unidades de t).
(a) (b)
Figura 6. 3: a) Hidrograma do rio dos Bois (GO) durante os meses de estiagem de 1991; b) o mesmo hidrograma
representado em escala logarítmica e aproximado por uma linha reta
63
H I D R O L O G I A
− ∆t
k=
⎛ Q(t + ∆t ) ⎞
ln⎜ ⎟
⎜ Q ⎟
⎝ (t ) ⎠
EXEMPLO
2) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medições de vazão,
com quatro dias de intervalo entre si, conforme a tabela abaixo. Qual seria a
vazão esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que
não ocorre nenhum evento de chuva neste período?
Data Vazão
14/agosto 60.1
15/agosto -
16/agosto -
17/agosto -
18/agosto 57.6
Espera-se que o comportamento do hidrograma na recessão seja bem representado por uma
Durante as estiagens a vazão de curva exponencial decrescente. A constante k pode ser
um rio diminui ao longo do tempo estimada considerando os dois valores de vazão
de acordo com uma função conhecidos (60,1 e 57,6), separados por 4 dias.
exponencial decrescente.
−4
k= ≅ 94
⎛ 57,6 ⎞
ln⎜ ⎟
⎝ 60,1 ⎠
Portanto, a constante k tem valor de 94 dias. A vazão no dia 31 de agosto pode ser estimada a
partir da vazão do dia 18, considerando a diminuição que ocorre ao longo dos 13 dias que
separam estas duas datas:
−13
64
H I D R O L O G I A
∆V
= G − E −Q
∆t
dV
= −Q
dt
V
Q= ou V = Q⋅k
k
onde V é o volume de água armazenado pelo aqüífero (m3); Q é a vazão que passa
pelo rio durante a estiagem, que é equivalente à descarga do aqüífero (m3.s-1); e k é
uma constate com unidades de tempo (s).
dQ
k =Q
dt
65
H I D R O L O G I A
−t −t
Q(t ) = c ⋅ e k
ou Q(t ) = Q0 ⋅ e k
u= h
n
66
H I D R O L O G I A
A Figura 6. apresenta uma seção transversal do canal, supondo que o canal tem a
forma retangular. A profundidade de escoamento é y e a largura do canal é B.
P = B + 2y
67
H I D R O L O G I A
A
Rh =
P
Das equações anteriores se deduz que quanto maior o nível da água y, maior a
velocidade média da água no canal.
A vazão em um canal pode ser calculada pelo produto da velocidade média vezes a
área de escoamento, ou seja:
2
R 3 ⋅S
1
2
Q = u ⋅ A = A⋅ h
n
EXEMPLO
A=
(B + B + 2 ⋅ m ⋅ y ) ⋅ y
2
68
H I D R O L O G I A
P = B + 2 ⋅ y 2 + (m ⋅ y )
2
(1,3) ⋅ (0.00025)
2
R 3 ⋅S
1 2 1
2 3 2
Q = A⋅ h = 18 ⋅ = 16,9 m3.s-1
n 0,020
Medição de vazão
A medição de vazão em cursos d’água é realizada, normalmente, de forma indireta, a
partir da medição de velocidade ou de nível. Os instrumentos mais comuns para
medição de velocidade de água em rios são os molinetes, que são pequenos hélices
que giram impulsionados pela passagem da água. Em situações de medições
expeditas, ou de grande carência de recursos, as medições de velocidade podem ser
feitas utilizando flutuadores, com resultados muito menos precisos.
69
H I D R O L O G I A
Para obter uma boa estimativa da velocidade média é necessário medir em várias
verticais, e em vários pontos ao longo das verticais, de acordo com as figuras 6.4 e
6.5. A tabela 6.3, adaptada de Santos et al. (2001), apresenta o número de pontos de
medição em uma vertical de acordo com a profundidade do rio e a tabela 6.4
apresenta o número de verticais recomendado para medições de vazão de acordo
com a largura do rio.
A tabela 6.3 mostra que são recomendados muitas medições na vertical, porém,
freqüentemente, as medições são feitas com apenas dois pontos na vertical, mesmo
em rios com profundidade maior que 1,20 m.
70
H I D R O L O G I A
Tabela 6..3: Número e posição de pontos de medição na vertical recomendados de acordo com a profundidade do rio (Santos et al.
2001).
Tabela 6. 4: Distância recomendada entre verticais, de acordo com a largura do rio (Santos et al., 2001).
71
H I D R O L O G I A
Figura 6. 6: Exemplo de medição de vazão em uma seção de um rio, com a indicação das verticais, distâncias (d) e profundidades
(p) – os pontos indicam as posições em que é medida a velocidade no caso de utilizar apenas dois pontos por vertical.
Figura 6. 7: Detalhe da área da seção do rio para a qual é válida a velocidade média da vertical de número 2.
A área de uma sub-seção, como apresentada na figura 6.7 é calculada pela equação
abaixo:
72
H I D R O L O G I A
⎛ (d + d i +1 ) (d i −1 + d i ) ⎞ ⎛ (d − d i −1 ) ⎞
Ai = pi ⋅ ⎜ i − ⎟ = p i ⋅ ⎜ i +1 ⎟
⎝ 2 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
⎛ (d − d 1 ) ⎞
A2 = p 2 ⋅ ⎜ 3 ⎟
⎝ 2 ⎠
As pequenas áreas próximas às margens que não são consideradas nas sub-seções da
primeira nem da última vertical (figura 6.8) não são consideradas no cálculo da
vazão. Assim, a vazão total do rio é dada por:
N
Q = ∑ vi ⋅ Ai
i =1
Figura 6. 8: As áreas sombreadas junto às margens não são consideradas na integração da vazão.
EXEMPLO
73
H I D R O L O G I A
Vertical 1 2 3 4 5
Vertical 1 2 3 4 5 Total
A vazão total é de 23,16 m3.s-1. Este valor pode ser arredondado para 23,2 m3.s-1 porque
normalmente os erros das medições de velocidade, distância e profundidade não justificam
tanta precisão.
A velocidade média é igual à vazão total dividida pela área total, ou seja,
23 ,16
v= = 0 ,62
37 ,13
A curva-chave
O ciclo hidrológico é um processo dinâmico, governado por processos bastante
aleatórios, como a precipitação. Para caracterizar o comportamento hidrológico de
um curso d’água ou de uma bacia não basta dispor de uma medição de vazão, mas
sim de uma série de medições. É desejável que esta série estenda-se por, pelo menos,
alguns anos, e é necessário que o intervalo de tempo entre medições seja adequado
para acompanhar os principais processos que ocorrem na bacia, isto é, permitam
74
H I D R O L O G I A
A curva chave é uma equação ajustada aos dados de medição de vazão. Normalmente
são utilizadas equações do tipo potência, como a equação a seguir:
Q = a ⋅ (h − h 0 )b
75
H I D R O L O G I A
A figura 6.10 apresenta uma equação do tipo acima ajustada aos dados do rio do
Sono.
Figura 6. 10: Equação do tipo potência ajustada aos dados de medição de vazão do rio do Sono de 1992 a 2002.
A curva chave de uma seção de rio pode se alterar com o tempo, especialmente em
rios de leito arenoso. Modificações artificiais, como aterros e pontes, também podem
modificar a curva chave. Por isto é necessário realizar medições de vazão regulares,
mesmo após a definição da curva.
Em trechos de rios próximos à foz, junto ao mar, lago ou outro rio, a relação entre
cota e vazão pode não ser unívoca, isto é, a mesma vazão pode ocorrer para cotas
diferentes, e cotas iguais podem apresentar vazões diferentes. Nestes casos o
escoamento no rio está sob controle de jusante. O nível do rio, lago ou oceano,
localizado a jusante, controla a vazão do rio e não é possível definir uma única curva-
chave. Este problema pode ser superado gerando uma família de curvas-chave, através
da combinação da vazão, da cota local e da cota de jusante (Santos et al., 2001). É
claro que esta alternativa é bastante trabalhosa e deve ser evitada, dando-se preferência
à instalação de postos fluviométricos em locais livres da influência da maré, ou do
nível de jusante.
76
H I D R O L O G I A
Vertedores e calhas
Em cursos d’água de menor porte é possível construir estruturas no leito do rio que
facilitam a medição de vazão. Este é o caso das calhas Parshal e dos vertedores de
soleira delgada.
Figura 6. 11: Vertedor triangular para medição de vazão em pequenos cursos d’água.
Um vertedor triangular de soleira delgada com ângulo de 90º (figura 6.11), por
exemplo, tem uma relação entre cota e vazão dada por:
Q = 1,42 ⋅ h 2 ,5
Esta relação pode ser utilizada diretamente, embora na maioria dos casos seja
desejável a verificação em laboratório.
77
H I D R O L O G I A
A Calha Parshal é um trecho curto de canal com geometria de fundo e paredes que
acelera a velocidade da água e cria uma passagem por escoamento crítico. A medição
de nível é feita a montante da passagem pelo regime crítico, e pode ser relacionada
diretamente à vazão. As calhas Parshal são dimensionadas com diferentes tamanhos,
de forma a permitir a medição em diferentes faixas de vazão.
A principal vantagem das calhas e dos vertedores é que existe uma relação direta e
conhecida, ou facilmente calibrável, entre a vazão e a cota. A calha ou o vertedor tem
a desvantagem do custo relativamente alto de instalação. Além disso, durante eventos
extremos estas estruturas podem ser danificadas ou, até mesmo, inutilizadas.
Figura 6. 13: Calha Parshall para medição de vazão em pequenos córregos ou canais.
78
H I D R O L O G I A
Suponha que é necessário estimar a vazão média em um local sem dados localizado
no rio Camaquã, denominado ponto A. A área de drenagem no ponto A é de 1700
km2. Dados de um posto fluviométrico localizado no mesmo rio, no ponto B, cuja
área de drenagem é de 1000 km2 indicam uma vazão média de 200 m3.s-1. A vazão
média no ponto A pode ser estimada por
AA
Q A = QB ⋅
AB
Esta forma de estimativa pode ser aplicada também para estimar vazões mínimas,
como a Q90 e a Q95. Obviamente, este método tem muitas limitações e não pode ser
usado quando a bacia for muito heterogênea quanto às características de relevo,
clima, solo e geologia. Para estimar vazões máximas em locais sem dados este método
tende a superestimar as vazões quando a área de drenagem do ponto sem dados é
maior do que a área de drenagem do ponto com dados.
79
H I D R O L O G I A
Qref = a ⋅ A b
onde a e b são constantes para uma região hidrológica homogênea, isto é, que tem
aproximadamente as mesmas características geológicas e climáticas.
Exercícios
1) Como se origina o escoamento superficial em uma bacia durante as chuvas?
3) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medições de vazão,
conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto
do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva neste
período?
Vazão
data (m3.s-1)
14/ago 60.4
15/ago -
16/ago -
17/ago -
18/ago -
19/ago 51.7
4) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas seis medições de vazão,
conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto
do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva neste
80
H I D R O L O G I A
Data vazão
14/ago 123.1
15/ago 116.2
16/ago 109.6
17/ago 103.2
18/ago 97.3
19/ago 91.8
5) O que é a curva-chave?
81
H I D R O L O G I A
0,80 7,9
0,90 9,3
1,90 12,5
1,85 11,8
2,01 14,5
0,45 1,1
0,70 6,0
82
7
Capítulo
Hidrologia Estatística
A média
A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações
registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de
uma bacia.
n
∑x i
x= i =1
A vazão média específica é a vazão média dividida pela área de drenagem da bacia.
As vazões médias mensais representam o valor médio da vazão para cada mês do
ano, e são importantes para analisar a sazonalidade de um rio. A Figura 7. 1
apresenta um gráfico das vazões médias mensais do rio Cuiabá na seção da cidade de
Cuiabá, com base nos dados de 1967 a 1999.
H I D R O L O G I A
Figura 7. 1: Vazões medias mensais do rio Cuiabá em Cuiabá (dados de 1967 a 1999).
Observa-se nesta figura que há uma sazonalidade marcada, com estiagem no inverno
e vazões altas no verão. As maiores vazões mensais médias ocorrem em Fevereiro e as
menores em Agosto, o que é conseqüência direta da sazonalidade das chuvas, que
ocorrem de forma concentrada no período de verão.
A mediana
A mediana é o valor que é superado em 50% dos pontos da amostra. A média e a
mediana podem ter valores relativamente próximos, porém não iguais.
n −1
Mediana = x p com p = + 1 se n for ímpar;
2
x p + x p +1
e Mediana = se n for par.
2
O desvio padrão
O desvio padrão é uma medida de dispersão dos valores de uma amostra em torno
da média. O desvio padrão é dado por:
84
H I D R O L O G I A
∑ (x )
n
2
i −x
s= i =1
n −1
A curva de permanência
A elaboração da curva de permanência é uma das análises estatísticas mais simples e
mais importantes na hidrologia. A curva de permanência auxilia na análise dos dados
de vazão com relação a perguntas como as destacadas a seguir.
A curva de permanência expressa a relação entre a vazão e a freqüência com que esta
vazão é superada ou igualada. A curva de permanência pode ser elaborada a partir de
dados diários ou dados mensais de vazão.
85
H I D R O L O G I A
Figura 7. 2: Hidrograma de vazões diárias do rio Taquari em Muçum (RS) e a curva de permanência correspondente.
Figura 7. 3: Curva de permanência do rio Taquari em Muçum com eixo das vazões logarítmico para dar destaque à faixa de vazões
mais baixas.
86
H I D R O L O G I A
EXEMPLO
Figura 7. 4: Curva de permanência do rio Descoberto, em Santo Antônio do Descoberto (GO), para o exemplo 1.
Qmax = 0 ,2 ⋅ 7 = 1,4 m 3 ⋅ s −1
Como o empreendedor solicitou 2,5 m3.s-,1 não é possível atender sua solicitação.
87
H I D R O L O G I A
O rio Cuiabá apresenta maior variabilidade das vazões, que se alternam rapidamente
entre situações de baixa e de alta vazão, enquanto o rio Taquari permanece mais
tempo com vazões próximas da média. Esta diferença ocorre basicamente porque a
geologia da bacia do rio Taquari favorece mais a infiltração da água no solo, e esta
água chega ao rio apenas após um longo período em que fica armazenada no
subsolo. A vazão do rio Taquari é naturalmente regularizada pelos aqüíferos
existentes na bacia, enquanto que na bacia do rio Cuiabá este efeito não é tão
importante.
Figura 7. 5: Comparação entre as curvas de permanência dos rios Taquari (MS) e Cuiabá (MT).
88
H I D R O L O G I A
Figura 7. 6: Curvas de permanência de vazão afluente e efluente do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG).
Séries temporais
A vazão de um rio é uma variável que se modifica de forma contínua no tempo, e
pode ser representada em um hidrograma, que é o gráfico que relaciona os valores de
vazão com o tempo, como na figura 7.7.
As séries discretas que são obtidas a partir da observação de alguns anos de dados de
vazão são tratadas como amostras do comportamento de um rio ou de uma bacia. A
89
H I D R O L O G I A
Figura 7. 7: As vazões variam continuamente no tempo (linha) mas a partir dos dados de vazão é possível gerar séries temporais
discretas, como as médias, máximas (triângulos) e mínimas (círculos) anuais (adaptado de Dingman, 2002).
90
H I D R O L O G I A
Tabela 7. 2: Valores das séries temporais discretas de vazões médias, mínimas e máximas anuais relativos à figura anterior.
Ano Vazão média anual Vazão mínima anual Vazão máxima anual
1990 95 57 132
1991 93 69 126
1992 72 48 100
1993 86 60 113
1994 56 29 80
1995 73 53 88
1996 96 68 132
91
H I D R O L O G I A
Tabela 7.2: Tempo de retorno adotado para diferentes estruturas, de acordo com o
risco associado.
Estrutura TR (anos)
Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10
Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100
Pontes 50 a 100
Diques de proteção de cidades 50 a 200
Drenagem pluvial 2 a 10
Grandes barragens (vertedor) 10.000
Pequenas barragens 100
O risco também pode estar relacionado a situações de vazões mínimas. Por exemplo,
considere uma cidade que utilize a água de um rio para abastecimento da população.
Dependendo do tamanho da população e das características do rio, existe um sério
risco de que, num ano qualquer, ocorram alguns dias em que a vazão do rio é
inferior à vazão necessária para abastecer a população.
1
TR = (7.1)
P
92
H I D R O L O G I A
Para contornar este problema é comum supor que os dados hidrológicos sejam
aleatórios e que sigam uma determinada distribuição de probabilidade analítica,
como a distribuição normal, por exemplo. Esta metodologia analítica permite
explorar melhor as amostras relativamente pequenas de dados hidrológicos, como se
descreve na seqüência deste capítulo.
1 ⎡ 1 ⎛x−µ ⎞
2
⎤
f x (x ) = ⋅ exp ⎢− ⋅ ⎜⎜ x
⎟⎟ ⎥ (7.2)
2 ⋅π ⋅σ x ⎢⎣ 2 ⎝ σ x ⎠ ⎥⎦
93
H I D R O L O G I A
1 ⎡ z2 ⎤
f z (z ) = ⋅ exp ⎢− ⎥ (7.3)
2 ⋅π ⎣ 2⎦
onde z é uma variável aleatória com média zero e desvio padrão igual a 1.
O gráfico desta última é apresentado na figura 7.9. A área total sob a curva é igual a
1. A área hachurada representa a probabilidade de ocorrência de um valor maior do
que z (figura de cima) ou menor do que z (figura de baixo).
A área sob a curva pode ser calculada por integração analítica, mas resulta numa série
infinita. Por este motivo, as aplicações práticas são mais comuns na forma de tabelas
que relacionam o valor de z com a probabilidade de ocorrer um valor maior do que
z ou menor do que z. Existem, também, tabelas que fornecem valores da área entre 0
e z, ou de –z a z.
94
H I D R O L O G I A
Figura 7. 9: Gráfico da distribuição normal (na figura superior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de
ocorrer um valor maior do que z; e na figura inferior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um
valor menor do que z).
Uma variável aleatória x com média µx e desvio padrão σx pode ser transformada em
uma variável aleatória z, com média zero e desvio padrão igual a 1 pela
transformação abaixo:
x − µx
z= (7.4)
σx
Considere, por exemplo, a chuva anual em um determinado local. Anos com chuva
próxima da média são relativamente freqüentes, enquanto anos muito chuvosos ou
muito secos são menos freqüentes. Em muitos locais as chuvas anuais seguem,
aproximadamente uma distribuição normal, como mostra a figura 7.10.
95
H I D R O L O G I A
EXEMPLOS
Considerando que a média e o desvio padrão da amostra disponível sejam boas aproximações
da média e do desvio padrão da população, pode se estimar o valor da variável reduzida z
para o valor de 2000 mm:
x − µx x − x 2000 − 1433
z= ≅ = = 1,896
σx s 299
96
H I D R O L O G I A
Isto significa que, em média, um ano a cada 35 apresenta chuva total superior a 2000 mm
neste local.
x − µx x − x 550 − 1433
z= ≅ = = −2,95
σx s 299
Vazões máximas
Selecionando apenas as vazões máximas de cada ano em um determinado local, é
obtida a série de vazões máximas deste local e é possível realizar análises estatísticas
relacionando vazão com probabilidade. As séries de vazões disponíveis na maior
parte dos locais (postos fluviométricos) são relativamente curtas, não superando
algumas dezenas de anos.
m
P= (7.5)
N +1
97
H I D R O L O G I A
Figura 7. 11: Série de vazões do rio Cuiabá em Cuiabá, de 1984 ao final de 1991,
evidenciando a vazão máxima de cada ano.
Ano Q máx
1984 1796.8
1985 1492.0
1986 1565.0
1987 1812.0
1988 2218.0
1989 2190.0
1990 1445.0
1991 1747.0
98
H I D R O L O G I A
Para superar este problema existem outras distribuições de probabilidade que são,
normalmente, utilizadas para a análise de vazões máximas. A mais simples destas
distribuições é a denominada log-normal. Nesta distribuição a suposição é que os
logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal.
99
H I D R O L O G I A
EXEMPLOS
Este exemplo apresenta uma situação muito comum na análise de dados hidrológicos: as falhas.
As falhas são períodos em que não houve observação. As falhas são desconsideradas na análise,
assim o tamanho da amostra é N=48. Utilizando logaritmos de base decimal, a média dos
logaritmos das vazoes máximas é 2,831 e o desvio padrão é 0,206. Para o tempo de retorno de
100 anos a probabilidade de excedência é igual a 0,01. Na tabela B, ao final do capítulo,
pode-se obter o valor de z correspondente (z=2,326). A vazão máxima de TR=100 anos é
obtida por:
100
H I D R O L O G I A
x−x
z≅
s
x − 2,831
2,326 ≅
0,206
Q = 10 3,31 = 2041
Este procedimento pode ser repetido para outros valores de TR, e o resultado pode ser
apresentado na forma de um gráfico, relacionando vazão com tempo de retorno, como na
figura 7.13. Nesta figura fica claro, também, que a suposição de uma distribuição log-normal é
muito mais adequada do que a suposição de uma distribuição normal.
Figura 7.13: Vazões máximas do rio Guaporé em Linha Colombo. Comparação entre o ajuste
e as probabilidades empíricas (pontos), supondo distribuição normal (linha pontilhada) e
distribuição log-normal (linha contínua).
101
H I D R O L O G I A
Vazões mínimas
A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo
fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência
de vazões iguais ou menores do que um determinado limite.
102
H I D R O L O G I A
1997 198
1998 320.6
1999 101.2
2000 118.2
2001 213
TR Vazão
ano ordem probabilidade empírico mínima
1988 1 0.04 23.0 70
1985 2 0.09 11.5 77.5
1986 3 0.13 7.7 77.5
1999 4 0.17 5.8 101.2
1982 5 0.22 4.6 111.4
1991 6 0.26 3.8 111.4
2000 7 0.30 3.3 118.2
1996 8 0.35 2.9 121.6
1981 9 0.39 2.6 128.6
1995 10 0.43 2.3 130.4
1984 11 0.48 2.1 158.2
1987 12 0.52 1.9 166
1994 13 0.57 1.8 172
1993 14 0.61 1.6 196
1997 15 0.65 1.5 198
1980 16 0.70 1.4 202
1992 17 0.74 1.4 204.2
2001 18 0.78 1.3 213
1989 19 0.83 1.2 219.6
1990 20 0.87 1.2 221.8
1983 21 0.91 1.1 269
1998 22 0.96 1.0 320.6
Média = 163
Desvio padrão = 65.2
Q = Q − SQ ⋅ K
103
H I D R O L O G I A
Tempo
de
retorno K Q
2 0 163.1
5 0.842 108.2
10 1.282 79.5
50 2.054 29.2
100 2.326 11.5
Na figura abaixo vê-se que o ajuste da distribuição normal não é muito bom para estes
dados. A vazão mínima com tempo de retorno de 5 anos é estimada em 108 m3/s.
350
300
.
250
Vazão mínima (m3/s)
200
150
100
50
0
1.0 10.0 100.0
Tempo de retorno (anos)
104
H I D R O L O G I A
C ⋅i ⋅ A
Q= (7.6)
3,6
Zonas C
Centro da cidade densamente construído 0,70 a 0,95
Partes adjacentes ao centro com menor densidade 0,60 a 0,70
Áreas residenciais com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60
Áreas residenciais com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50
Subúrbios com alguma edificação 0,10 a 0,25
105
H I D R O L O G I A
O tempo de retorno pode ser obtido por tabelas, como a tabela 7.7, que relacionam o
tipo de estrutura com o TR normalmente adotado.
Estrutura TR (anos)
Pontes 50 a 100
Drenagem pluvial 2 a 10
A distribuição binomial
A distribuição de probabilidades binomial é adequada para avaliar o número (x) de
ocorrências de um dado evento em N tentativas.
As seguintes condições devem existir para que seja válida a distribuição binomial: 1)
são realizadas N tentativas; 2) em cada tentativa o evento pode ocorrer ou não, sendo
que a probabilidade de que o evento ocorra é dada por P enquanto a probabilidade
106
H I D R O L O G I A
N!
⋅ P x ⋅ (1 − P )
N −x
Px ( X = x) = (7.7)
x!⋅( N − x )!
EXEMPLOS
107
H I D R O L O G I A
Neste caso x =2 e N=2. A probabilidade de ocorrer a cheia num ano qualquer é de 10%, ou
1/10. A probabilidade de ocorrer exatamente 2 cheias em 2 anos pode ser calculada pela
equação 7.7.
2 2−2 2
2! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞ ⎛1⎞
Px ( X = 2) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟ = ⎜ ⎟ = 0,01
2!⋅(2 − 2 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠
Este problema poderia ser resolvido somando a probabilidade de ocorrência de 1 única vazão
com estas características ao longo dos 5 anos com a probabilidade de ocorrência de 2 vazões, e
assim por diante para 3, 4 e 5 casos. Porém, neste caso, a melhor forma de resolver o problema
é pensar qual é a probabilidade de que não ocorra nenhuma vazão igual ou superior ao longo
dos 5 anos, que poderá ser chamada de P(x=0). A probabilidade de que ocorra pelo menos uma
cheia será dada por 1-P(x=0). Sendo assim, calculamos primeiramente a probabilidade com x
=0 e N=5.
0 5− 0
5! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞
Px ( X = 0) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟
0!⋅(5 − 0 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠
5
⎛9⎞
Px ( X = 0) = 1 ⋅ ⎜ ⎟ = 0,59
⎝ 10 ⎠
Portanto, a probabilidade de não ocorrer nenhuma vazão igual ou superior a vazão com
TR=10 anos ao longo de 5 anos é de 59%. Isto significa que a probabilidade de ocorrer pelo
menos uma vazão assim é de 41%.
108
H I D R O L O G I A
Z Probabilidade
0.0 0.5000
0.1 0.4602
0.2 0.4207
0.3 0.3821
0.4 0.3446
0.5 0.3085
0.6 0.2743
0.7 0.2420
0.8 0.2119
0.9 0.1841
1.0 0.1587
1.1 0.1357
1.2 0.1151
1.3 0.0968
1.4 0.0808
1.5 0.0668
1.6 0.0548
1.7 0.0446
1.8 0.0359
1.9 0.0287
2.0 0.0228
2.1 0.0179
2.2 0.0139
2.3 0.0107
2.4 0.0082
2.5 0.0062
2.6 0.0047
2.7 0.0035
2.8 0.0026
2.9 0.0019
3.0 0.0013
109
H I D R O L O G I A
Exercícios
1) Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um
local na bacia do rio Uruguai é de 1800 mm e o desvio padrão é de 350 mm.
Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal,
qual é a chuva anual de um ano muito seco, com tempo de retorno de 10
anos?
5) É correto afirmar que a vazão Q90 é sempre inferior a Q95 em qualquer ponto
de qualquer rio? E o inverso?
6) É correto dizer que a vazão Q95 é igual à soma das vazões Q40 e Q55?
Explique.
8) Estime a vazão máxima de projeto para um galeria de drenagem sob uma rua
numa área comercial de Porto Alegre, densamente construída, cuja bacia tem
área de 35 hectares, comprimento de talvegue de 2 km e diferença de altitude
ao longo do talvegue de 17 m.
110
H I D R O L O G I A
111
8
Capítulo
H I D R O L O G I A
Regularização de vazão
112
Vertedores
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar
o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica,
abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a
passagem de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.
Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de
vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a
jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a
erosão excessiva.
Figura 8. 1: As barragens Norris (Clinch River, Tenessee, EUA) e Itaipu (Rio Paraná, Brasil-Paraguai).
113
onde Q é a vazão do vertedor (m3.s-1); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura
da lâmina de água sobre a soleira (m); e C é um coeficiente com valores entre 1,4 e
1,8. É importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da
água.
Figura 8. 3: Curva de vazão do vertedor da usina Corumbá III nas situações de comportas completamente ou parcialmente abertas.
114
H I D R O L O G I A
Descarregadores de fundo
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de
reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. A equação
de vazão de um descarregador de fundo é semelhante à equação de vazão de um
orifício, apresentada abaixo:
Q = C ⋅ A⋅ 2 ⋅ g ⋅ h
115
H I D R O L O G I A
116
H I D R O L O G I A
Volume útil
A diferença entre o volume máximo de um reservatório e o volume morto é o
volume útil, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para
regularização de vazão.
Nível meta
Na operação normal de um reservatório costumam ser utilizadas referências de nível
de água que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de geração energia e de
segurança da barragem. O nível meta é tal que se o nível da água é superior ao nível
meta, deve ser aumentada o vertimento de vazão, para reduzir o nível da água no
reservatório, que deverá retornar ao nível meta.
Curva guia
A curva guia é semelhante ao nível meta, porém indica um nível da água no
reservatório variável ao longo do ano, que serve de base para a tomada de decisão na
operação. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso normal da
água, quando o nível da água está acima do nível indicado pela curva guia, e o
racionamento, quando o nível da água está abaixo da curva guia.
Volume de espera
O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde à parcela do
volume útil destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera é variável ao
longo do ano e é definido pelo volume do reservatório entre o nível da água máximo
operacional e o nível meta.
117
H I D R O L O G I A
Uma usina reversível é utilizada para gerar energia durante o período em que ocorre
o pico da demanda no sistema elétrico, utilizando água previamente bombeada para
um reservatório temporário, aproveitando o excesso de oferta de energia nos períodos
que não coincidem com o pico de demanda.
118
H I D R O L O G I A
Quanto à altura de queda da água (H) as centrais hidrelétricas podem ser classificadas
em:
∂S
= I −Q
∂t
St +∆t − St
= I −Q
∆t
119
H I D R O L O G I A
Como tanto St+∆t e Qt+∆t são funções não lineares de ht+∆t , a equação de balanço pode
ser resolvida utilizando a técnica iterativa de Newton-Raphson, ou o método de
bissecção, a cada intervalo de tempo.
120
H I D R O L O G I A
2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t
Uma tabela da relação entre Qt+∆t e 2.(St+∆t )/∆t pode ser gerada a partir da relação
cota – área – volume do reservatório e através da relação entre a cota e a vazão, por
exemplo para uma equação de vertedor.
EXEMPLO
115 1900
120 2000
121 2008
122 2038
123 2102
124 2208
125 2362
126 2569
127 2834
128 3163
129 3560
121
H I D R O L O G I A
130 4029
0 0
1 350
2 720
3 940
4 1090
5 1060
6 930
7 750
8 580
9 470
10 380
11 310
12 270
13 220
14 200
15 180
16 150
17 120
18 100
19 80
20 70
O primeiro passo da solução é criar uma tabela relacionando a vazão de saída com a cota.
Considerando um vertedor livre, com coeficiente C = 1,5 e soleira na cota 120 m, a relação é
dada pela tabela que segue:
Tabela A
H (m) Q (m3/s)
120 0.0
121 37.5
122 106.1
123 194.9
124 300.0
125 419.3
126 551.1
127 694.5
128 848.5
129 1012.5
130 1185.9
122
H I D R O L O G I A
Esta tabela pode ser combinada à tabela cota – volume, acrescentando uma coluna com o valor
do termo 2.(St+∆t )/∆t , considerando o intervalo de tempo igual a 1 hora:
Tabela B
a) calcular It + It+∆t
b) com o resultado do passo (a) e com base no valor de 2.(St)/∆t - Qt para o intervalo
anterior, calcular 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t pela equação
2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t
c) obter o valor de Qt+∆t pela tabela B, a partir da interpolação com o valor conhecido
de 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t calculado no passo (b)
⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞ ⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞
⎜ − Qt + ∆t ⎟ = ⎜ + Qt + ∆t ⎟ − 2(Qt + ∆t )
⎝ ∆t ⎠ ⎝ ∆t ⎠
123
H I D R O L O G I A
124
H I D R O L O G I A
Dimensionamento de um reservatório
O dimensionamento de um reservatório pode ser realizado com base na equação:
sujeita às restrições 0 < St+∆t < Vmax; onde Vmax é o volume útil do reservatório.
Neste caso as entradas são as vazões afluentes estimadas para o local em que se deseja
construir o reservatório e as saídas são incluem a demanda de água e as perdas.
S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt
c) Em um mês qualquer, se St+∆t for menor que zero, a demanda Dt deve ser
reduzida até que St+∆t seja igual a zero, e é computada uma falha de
antendimento.
125
H I D R O L O G I A
EXEMPLO
S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt
com It dado pela tabela acima; Et igual a zero e Qt igual a zero, exceto quando é necessário
verter.
126
H I D R O L O G I A
A demanda de 55 m3.s-1 é igual a 143 hm3 por mês. No primeiro mês observa-se que sobra
água. No segundo mês a demanda é maior do que a vazão de entrada e o volume no
reservatório começa a diminuir. O volume no início do terceiro mês é dado por
S t + ∆t = 500 + 52 − 143 = 409 e assim por diante.
No início do mês de agosto o volume calculado é negativo, o que rompe a restrição, portanto o
reservatório não é capaz de regularizar a vazão de 55 m3.s-1.
Em uma planilha eletrônica ou uma calculadora científica é fácil repetir o cálculo até
que o volume atenda a vazão regularizada desejada.
Da mesma forma é fácil determinar em uma planilha eletrônica qual é a maior vazão
que pode ser regularizada com um dado volume de reservatório.
Teoricamente, a máxima vazão que pode ser regularizada é a vazão média do rio no
local em que está a barragem. Este valor máximo é impossível de ser atingido porque
a criação do reservatório aumenta a perda de água por evaporação.
127
H I D R O L O G I A
Figura 8. 4: Relação entre o volume do reservatório e a vazão regularizada em uma bacia cuja vazão média é 25,4 m3.s-1, sem
considerar a evaporação do reservatório.
Operação de reservatórios
Restrições de operação:
128
H I D R O L O G I A
Figura 8. 5: Reservatório R operando com restrição de vazão que pode ser liberada para jusante, para evitar a inundação na cidade
C.
Apesar destes impactos, a população muitas vezes vê com bons olhos a construção de
uma usina hidrelétrica na área de seu município. Isto ocorre porque existe uma
compensação financeira obrigatória, em que parte dos rendimentos auferidos na
geração de energia elétrica são pagos ao município, de acordo com o tamanho da
área inundada e com a potência da usina. Entre os impactos ambientais importantes
das usinas hidrelétricas encontram-se impactos sociais; impactos sobre a flora e a
fauna do local inundado; impactos sobre a fauna do rio a jusante; impactos sobre o
sistema de transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.
Impactos sociais
Os impactos sociais mais evidentes da implantação de uma usina hidrelétrica
decorrem da remoção das pessoas que habitam a área inundada pelo reservatório. Os
impactos deste tipo iniciam mesmo antes da construção da obra em si, já que a
perspectiva da inundação futura reprime ou não incentiva o investimento no local.
Esta situação pode se estender por vários anos, em função de indefinições sobre a
construção ou não da obra. Durante este período as localidades sujeitas a inundação
experimentam um estado de estagnação.
129
H I D R O L O G I A
Finalmente, quando a obra inicia e a inundação da área habitada passa a ser certa,
surgem dúvidas e discussões sobre o valor da indenização. Embora o valor comercial
da terra possa ser estimado de forma razoável, o apego dos habitantes à terra também
é devido a um valor afetivo, por questões históricas, que é intangível, ou seja,
dificilmente quantificável. Nesta situação é comum o surgimento de especulações e
de confrontos de cunho político.
Entre os impactos sociais também podem ser incluídos impactos culturais, como a
perda, provavelmente para sempre, de sítios arqueológicos, ou eventualmente de
lugares sagrados para culturas indígenas.
A vegetação inundada não apenas é extinta, como também pode provocar sérios
problemas de qualidade de água no lago, durante a sua decomposição. Isto ocorre
porque o oxigênio dissolvido (OD) na água é consumido durante o processo de
decomposição, e a concentração de OD é reduzida para níveis inferiores ao limite
para a sobrevivência dos peixes. Assim, o processo de enchimento pode resultar
numa grande mortandade de peixes e outras espécies aquáticas ou que dependem dos
peixes para sobreviver, como as aves.
130
H I D R O L O G I A
Exercícios
1) Qual é a perda de energia na usina de Sobradinho devida à evaporação direta
do lago? Considere que a altura de queda H = 27,2 m; a eficiência e = 0,90; e
que uma evaporação de 10 mm por dia ocorre sobre a área da superfície do
lago, que corresponde a 4200 km2.
131
H I D R O L O G I A
Out 102
Nov 128
Dez 73
Mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Vazão 98 45 32 27 24 20 19 18 17 14 78 130
(m3/s)
Evaporação 100 110 120 130 140 135 130 120 110 105 100 100
tanque
classe A
(mm/mês)
132
9
Capítulo
H I D R O L O G I A
Qualidade da água
QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A
CF =
QR + Q A
133
H I D R O L O G I A
EXEMPLO
1) Uma cidade coleta todo o esgoto cloacal, mas não tem estação de tratamento.
Assim, a vazão de esgoto de 0,5 m3.s-1 com uma concentração de 50 mg.l-1 de
Nitrogênio Total é lançada em um rio com uma vazão de 23 m3.s-1 e com
uma concentração de 1 mg.l-1 de Nitrogênio Total. Considerando mistura
completa qual é a concentração final no rio a jusante da entrada do esgoto.
QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A 23 ⋅ 1 + 0,5 ⋅ 50
CF = ou seja C F = = 2,04
QR + Q A 23,5
m 3 ⋅ mg Kg
WF = QF ⋅ C F = 23,5 ⋅ 2,04 = 23,5 ⋅ 2,04 = 48Kg .s −1
s ⋅l s
Temperatura
A temperatura é uma das características mais importantes da água de um rio. A
temperatura exerce um efeito sobre as reações químicas e a atividade biológica na
água. A velocidade das reações químicas duplica para cada 10º. C de aumento de
temperatura da água. A temperatura também controla a concentração máxima de
oxigênio dissolvido na água (Benetti e Bidone, 1993).
Oxigênio Dissolvido
O Oxigênio Dissolvido (OD) é necessário para manter as condições de vida dos seres
que vivem na água, e, portanto, é um parâmetro importante na análise da poluição
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H I D R O L O G I A
pH
O pH expressa o grau de acidez ou alcalinidade da água, em valores de 0 a 14, sendo
que valores inferiores a 7 indicam águas ácidas e valores superiores a 7 indicam águas
alcalinas (Benetti e Bidone, 1993).
DBO
A água dos rios e de esgotos cloacais e industriais contém matéria orgânica. Esta
matéria orgânica é decomposta por microorganismos que, em geral, consomem
oxigênio no processo de decomposição. A DBO, ou Demanda Bioquímica de
Oxigênio, representa o consumo potencial de oxigênio para decompor a matéria
orgânica existente na água.
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Fósforo Total
Ortofosfato
Carbono orgânico total
DBO
DQO
Dureza
Cor
Condutividade
Sólidos Suspensos Totais
Ferro
Alumínio
Níquel
Cobre
Cromo
Chumbo
Mercúrio
Exercícios
1) Uma usina termoelétrica será instalada às margens do rio Azul, em um local
em que a curva de permanência é apresentada na figura abaixo. A
temperatura da água do rio é de 17oC e uma vazão água utilizada para
resfriamento, de 1,3 m3.s-1 será lançada pela usina termelétrica, com
temperatura de 43 oC. Qual será a temperatura final do rio a jusante do
lançamento considerando mistura completa? Considere como referência a
Q95.
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10
Capítulo
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D E S I G N C U S T O M I Z A T I O N
Essa escassez tem acentuado os conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como:
abastecimento da população, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca,
indústria, navegação, geração de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de
ecossistemas, entre outros.
Esses Sistemas são fruto da criação de modelos de gestão que abrigam entidades
gerenciais organizadas em torno da Bacia Hidrográfica como unidade ideal de
planejamento, gestão e intervenção. No âmbito da União foi aprovada a Lei
9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema
Nacional de Gestão de Recursos Hídricos e, mais recentemente, a Lei 9.984/00 criou
a Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como atribuição implementar os
instrumentos da política nacional. No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, a
Constituição Estadual de 1989 e a Lei 10.350/94 estabeleceram a gestão das águas sob
seu domínio.
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Os demais órgãos estatais que integram o sistema são: Obras Públicas e Saneamento,
com a vice-presidência do CRH; Agricultura e Abastecimento; Coordenação e
Planejamento; Saúde; Energia, Minas e Comunicações; Ciência e Tecnologia;
Transportes; Casa Civil; e Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos
Internacionais.
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Fazem parte do CGBH pessoas que têm diferentes interesses com relação ao bem
água: os usuários (são as pessoas que têm interesse “utilitário-econômico-social”); a
população (tem interesses difusos, vinculados ao desenvolvimento sócio-econômico,
aspectos culturais ou políticos e proteção ambiental); o poder público (detentor do
domínio das águas).
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Instrumentos de Planejamento
Enquadramento
O enquadramento as águas brasileiras em classes de uso foi estabelecido pela
Resolução nº 020/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Assim,
para as águas doces foram definidas cinco classes: especial e de 1 a 4. Para as águas
salobras e salinas foram definidas duas classes: 5 e 6; e 7 e 8, respectivamente. Uma
vez que estabelece o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido em um
determinado segmento de um corpo de água, ao longo do tempo, o enquadramento
é considerado um instrumento de planejamento do meio ambiente.
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Instrumentos de Gestão
A Outorga de Uso
A outorga consiste no “consentimento, concessão, aprovação” do direito de uso da
água. Ela representa um instrumento, através do qual o Poder Público autoriza,
concede ou ainda permite ao usuário fazer o uso deste bem público. É através deste
que o Estado exerce, efetivamente, o domínio das águas preconizado pela
Constituição Federal. É através da outorga que é regulando o compartilhamento
entre os diversos usuários, visto que o principal objetivo da outorga é assegurar o
controle qualitativo e quantitativo dos usos da água.
A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, em seu artigo 29, explica que qualquer
empreendimento ou atividade que alterar as condições quantitativas e/ou qualitativas
das águas, superficiais ou subterrâneas, tendo como base o Plano Estadual de
Recursos Hídricos e os Planos de Bacia Hidrográfica, dependerá de outorga. Caberá
ao Departamento de Recursos Hídricos a emissão de outorga para os usos que
alterem as condições quantitativas das águas.
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De forma geral, estão sujeitos à outorga os seguintes usos dos recursos hídricos:
A cobrança pelo uso da água fica sujeita à outorga, pois não pode haver cobrança de
atividades e obras clandestinas ou cujos usos não tenham sido outorgados. A
utilização a cobrança é uma forma de aplicação do princípio usuário-poluidor-
pagador, uma vez que o poluidor, deve assumir os custos de poluição.
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