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C E N T R O DE INVESTIGAÇÃO E DIVULGAÇÃO

Publicações CID
Textos clássicos do pensamento humano/4

Coordenadores:
Arcângelo K. Buzzi
Leonardo Boff

FICHA CATALOGRAFICA
(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do
Sindicato Nacional dos Editores de Litros, RJ)

Hammürabi, Rei da Babilônia.


H192c O Cddigo de Hammürabi, intrjtíução, tradu-
ção e comentários de E. Bouzon. Pètrópolis, Vo-
zes, 1976.
116p. 21cm. (Textos clássicos de pensamento
humano, i).

Traduzido do original cuneiforme.


Bibliografia.

1. Direito — Babilônia. I. Título. II. Série.

CDD — 340.58
340.093502
76-0123 CDÜ — 34(354)
O CÓDIGO
de Hammurabi
Introdtição, tradução
(do original cuneiforme)
e comentários de

E. Bouzon
3» EDIÇÃO

V VOZES;
PETRÓPOLIS
1980
© destâ tradução, 1976
Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luís, 100
25.600 Petrópolis, RJ
Brasil

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Sumário

Apresentação 7

Introdução: Hammurabi, seu tempo e sua obra 9

1. A Babilônia no início do século X I X a.C. 9

2. Hammurabi e a sua legislação 12

3. A sociedade babilônica na época de Hammurabi 15

1. Prólogo 19

2. As leis 25

3. Epílogo 109

Bibliografia 115
li.

r
Apresentação

A . TRADUÇÃO do «Código de Hammurabi» aqui apresen-


tada se baseia na cópia da célebre esteia cuneiforme, que se
encontra hoje no museu do Louvre, publicada per E. Berg-
mann (Codex Hammurabi, Roma 1953). Foi, também, ado-
tada a numeração dos parágrafos e das colunas da edição de
Bergmann, que, aliás, é a mesma de V. Scheil, o primeiro edi-
tor da esteia. Na. presente edição o número das colunas ê
registrado em algarismos romanos na margem esquerda dò
texto; os números arábicos indicam as linhas da respectiva
coluna. A numeração de Scheil é, sem dúvida, inexata, já que
ele supunha, na parte rasurada da esteia, a perda de apenas
cinco colunas, e hoje se scfbe que foram perdidas sete colu-
nas. Mas esta divisão de Scheil é, apesar de sua inexatidão,
clara e comumente seguida pelos especialistas. Mesmo porque
a tentativa de uma nova divisão da matéria levaria apenas a
uma certa probabilidade, por não ser possível uma reconstru-
ção completa das sete colunas perdidas. Na tradução dos pa-
rágrafos raspados da esteia do Louvre foi aproveitada á re-
construção do texto feita por G. R. Driver e J. C. Miles,
baseada em tábuas cuneiformes com duplicatas ao texto da
esteia, que a arqueologia encontrou em diversos lugares da
Babilônia. Nesta parte foi conservada a disposição da maté-
ria e a numeração alfabética de Driver e Miles.
A presente tradução portuguesa do «Código de Hummu-
rabi» procurou, quanto possível, ser fiel ao texto original,
respeitando as locuções típicas e o sabor semita da língua
acádica. Quando a inteligibilidade do texto exigiu uma tra-
dução vernácula mais livre, foram introduzidas notas, ao pé
da página, com o texto acádico e sua tradução literal. As
palavras em parênteses foram introduzidas pelo tradutor para
facilitar a compreensão; palavras entre colchetes indicam re-
40
construção do texto original para completar lacunas ou luga-
res destruídos da esteia. Os comentários aos parágrafos legais
limitaram-se, quase exclusivamente, a explicações filológicas
ou de caráter histórico, que pudessem contribuir para uma
melhor compreensão do parágrafo e colocação deste em seu
contexto vital.
Aos amigos, que me incentivaram constantemente a levar
à frente a publicação desta obra e me ajudaram no trabalho
árduo da revisão dos manuscritos, os meus sinceros agrade-
cimentos. Um agradecimento especial cabe, aqui, ao advogado
e amigo Dr. Domingos Bernardo G. da Silva e Sá por sua
valiosa contribuição na discussão de temas de direito com-
parado e da terminologia jurídica.
Rio, março de 1975.

E. Bouzon

40
INTRODUÇÃO

Hammurabi, seu tempo


e sua obra

1. A Babilônia no início do século X I X a.C. 1

No início do segundo milênio da era pré-cristã a Ba-


bilônia assistiu a uma nova invasão de hordas semi-
tas ocidentais, os amorreus que se estabeleceram às
margens do Eufrates, a 20 km a sudoeste da cidade de
Kish. As populações sumério-acádicas das regiões cir-
cunvizmFãs"est~avarn por demais fracas para poder re-
sistir a esta nova invasão. A região ocupada por esses
semitas chamava-se, provavelmente, Babilla 3, que foi
logo interpretado pelos novos habitantes como Bâb-
ilim = «Porta de Deus». O xeque desse novo grupo,
Sumuabum, não aceitou a soberania de Isin e de Larsa
e começou a estender seu raio de ação tomando as
cidades de Kazallu e de Dilbat- e a fortificar Babel. 4
Mas foi propriamente Sumulailu (1816-1781 a.C.), seu
sucessor, que, com suas vitórias sobre os vizinhos e
com a construção do «Grande Muro» da cidade, conso-
lidou definitivamente Babel. 5 Na parte religiosa, ape-.
sar de ser Marduk o deus principal desse, novo grupo,

1. Cf. H. SchmSkel, Geechichte des o Iten V orderasrien, p. 106ss; D. O.


Edzard, Die altbabylonisehe Zeit, em Die Altorientalischen Reiehe I, fischer
Weltgeschichte. 2, p. 165-205. v
2. Cf. J.-R. Kupper, Les nômades en Mésopotamie ou tempu deu rota
de Mari, Paris 1957.
8. Este nome já aparece nos documentos de Lagai no. período chamado
Ur III (aproximadamente 2050-1950 a.C.). Cf. A. Pohl, em Orientalía NS
25(1956), p. 105. Cf. tb. D. O. Edzard, Das Reich der III. Dynastie von
Ur und seine Nachfolgrestaaten, em Die Altorientaliachen Jteiehe, I, Fischer
Weltgeschichte, 2, p. 129ss.
4. Cf. A. Ungrnad, art. "Dateniisten", em Keallexikon der Aòsyríologie,
vol. II, p. 175, n« 1-13, Deve-se notar aqui que os reis das antigas dinas-
tias sumárias e babilônicas costumavam denominar os seus anos de governo
por meio de um acontecimento marcante do ano.
5. Cf. Reallexikon, II, p. 175, n" 17, 19, 27, 34, <1-43.
40
a tradição suméria é aceita e continuada. As atividades
bélicas e políticas de Sumulailu constituem as, bases
para a continuação de sua dinastia, que durante cerca
de trezentos anos dominou a região. Seu filho Sabum
(1780-1767 a.C) foi, provavelmente, o construtor da
Esagila, o célebre templo de Babel dedicado a Mar-
duk. fi Seu filho. Awilsin (1766-1749 a.C.) e seu neto
Sinmuballit (1748-1729 a.C.) continuam a obra de con-
solidação do reino. 7 Mas foi o filho de Sinmuballit, o
grande Hammurabi (1728-1686 a.C.), que levou a obra
começada por Sumuaburn ao seu apogeu.
Hammurabi começou modestamente e conseguiu
manter-se, graças à sua tenacidade e grande habili-
dade política, sabendo aproveitar, do melhor modo pos-
sível, o jogo de pactos e alianças com os grandes reis
contemporâneos e rivais, Rinsin de Larsa, èamáiadad
de Assur e Zimrilim de Mari. Uma de suas primeiras
preocupações foi a implantação do direito e da ordem
no país s , fundamento da unidade interna do reino. No
sétimo ano de seu reinado, conseguiu dominar ísin e
Uruk 9 e outras regiões da parte oriental do Tigris. 10
Com grande paciência, autodòmínio e muito-tato polí-
tico, vai construindo por meio de suas vitórias e cqn-
quistas, peça por peça, seu vasto içnpériò. Para o 3117
ano de seu reinado a fórmula do ano anuncia: «Com
confiança em Ánun e Enlil, que marcham à frente de
seu exército, venceu, com a grande força que os gran-
des deuses lhe deram, o país; de Emutbal e seu rei
R i m s i n . . . e colocou sob seu <|omínio Suméria e Aca-
de». " A morte inesperada de ãamáiadad libertou
Hammurabi da pressão de Assur e lhe deu mais liber-
dade de ação. Agora Hamrrçurabi podia voltar toda a
sua atenção para o seu antigo aliado Zimrilim de
Mari. No ano 33' de seu Afinado conseguiu subjugar

6. Cf. Reallexikon, II, p. 176, n» 60.


7. O fato que o filho e o neto de Sumulailum já sejam portadores de
nomes tipicamente acádicos mostra como os novos habitantes assimilaram
rapidamente a cultura acádica:
8. Na fórmula do segundo ano lê-se: "Ele restabeleceu o direito no pais".
Cf. A. Ungnad, art. "Datenlisten", em Reallexikon der Assyriologie, II,
p. 178, n» 104.
í). Cf. Reallexikon, II, p. 178, n» 100.
10. Cf. Reallexikon, II, l>. 178, n« 112, 113.
11. Cf. Reallexikon, II, p. 180, n» 133.
Zimrilim e fazer dele um vassalo seu. 12 E dois anos
mais tarde, em uma tentativa de revolta, Hammurabi
destrói a cidade-reino de Mari. 1:1 Assim, Hammurabi
conseguiu novamente, depois dos dias do rei sumériõ
êulgi (2046-1998 a.C.), reunir a Mesopotâmia desde
o Golfo Pérsico até o Deserto da Síria sob um só cetr<£.
A grande glória de Hammurabi não éi apenas a de
ser um rei vitorioso no campo de batalha, i Ele foi tam-
bém um exímio administrador público. Seus trabalhos
de regulagem do curso do rio Eufrates e a construção
de canais para a irrigação incrementaram grandemen-
te a produção agrícola. Em sua política externa com
os vencidos Hammurabi preocupou-se, sempre, em re-
construir as cidades conquistadas e em adornar rica-
mente seus templos com tronos para os deuses, está-
tuas e preciosos emblemas, tentando adquirir, deste
modo, a confiança dos povos subjugados ao novo rei
•e senhor. Mas o que mais caracterizou Hammurabi e
fez dele talvez a maior figura de monarca do Oriente
antigo foi ; o seu sentido de justiça. Sua imensa cor-
respondência com os governadores de província, espe-
cialmente com Siniddinam 14 de Sippar e com Samaè-
hasir 15, demonstra um esforço enorme e uma vonta-
de incansável e insubornável de fazer reinar a justiça
em seu reino. Ele mesmo fazia questão de ser a últi-
ma instância nos casos de justiça e qualquer cidadão
tinha o direito de recorrer ao rei. Na tentativa de
criar um estado de direito, empreendeu a grande re-
forma jurídica, de que ó célebre «Código de Hammu-
rabi» é um testemunho eloqüente. Esta obra deu-lhe
um nome imperecível na história universal. Hammu-
rabi morria em 1686 deixando a seu filho e sucessor
Samsuiluna uma gloriosa mas, ao mesmo tempo, difí-
cil herança.

12. Cf. Bealtexikon, IX. p. 180, n« 135.


13. Cf. Reallexikon, II. p. 181, n ' 137. A . Unguad traduz a fórmula do 35?
ano: " A u f Geheiss Anua und Enlils vernichtete er die Mauer vou Mari und
die Mauer von Malprü". Cf. tb. H. Schmókel, Gesrhichte dea alten Vor-
derasien, p. 85-93.
14. Cf. A. Ungnad, Babylonische Briefe o « s der Zeit der Hammurabi-
Dynastie, V A B 6, Leipzig 1914.
15. Cf. F. Thureau-Dangrin, Lettreu de Hatn-murahi a Samashasir, Paria
11124.

11
Infelizmente Samsuiluna (1685-1648 a.C.) e seus su-
cessores não foram capazes de continuar a obra de
Hammurabi. Em 1531 a.C., o rei hitita Mursili I sa-
queou e incendiou a capital Babel. 10 O último descen-
dente de Hammurabi, Samsuditana (1561-1531 a.C.),
parece ter morrido durante o ataque hitita contra
Babel. Mursili, contudo, não ocupou Babel; logo após a
conquista regressou à sua pátria. O vácuo deixado foi,
logo, preenchido pela invasão das hordas cassitas. 17

2. Hammurabi e a sua legislação 18

O texto do «Código de Hammurabi» foi conservado,


em sua quase totalidade, em uma esteia de diorito ne-
gro com 2,25 m de altura, encontrada pela expedição
arqueológica francesa de J. de Morgan nas escavações
da acrópole da capital elamita, Susa, durante o invei*-
no de 1901-1902 (dezembro-janeiro). 39 Essa esteia foi
levada para o museu do Louvre, onde se encontra
atualmente. Na parte superior da esteia vê-se escul-
pido, em baixo-relevo, a imagem do rei, de pé e em
atitude reverente com a mão direita levantada, diante
de uma divindade, provavelmente o deus sol Sama§ 20,
que, sentado em seu trono, entrega ao rei as insígnias
do poder real e o encarrega de estabelecer a justiça
no país. A inscrição consta de cinqüenta e uma colu-
nas escritas com sinais cuneiformes da época babilô-
nica antiga. Na parte inferior da esteia, sete colunas,
aproximadamente, foram raspadas, perdendo-se, deste
modo, de 35 a 40 artigos legais. Acredita-se que os
próprios elamitas, que sob o comando do rei Shu-

16. Cf. H. Schmõkel, Geachichte dea o-ltcn Vordera&ien, p. 114.


17. Cf. H. Schmõkel, Geachichte des alten Vorderaaien, p. 171ss, E. Cassin.
Babylonien unter den Kaasiten und das mittlere assyrische Reich, em Die
altorientaliachen Reiche, II, Fiacher Weltgeachichte, 3, p. 9-70.
18. Para uma introdução mais completa ao "Código de Hummurabi", cf.
G. B. Driver-J. C. Miles, The Babylonian Lawa, vol. I. p. 1-53. Para uma
visão geral sobre o direito cuneiforme em geral, cf. V. Koroáec. KeilBchrif-
trecht, em Handbuch der Orientaliatik, I, vol. suplementar III, Orienta-
liaches Recht, p. 94-219.
19. A antiga localidade de Susa está situada no Iran. cerca de 260 km
ao norte do atual porto petrolífero de Abadan..
20. Koroáec, em op. cit., p. 95, pensa tratar-se do deus Marduk. Assim
também interpreta C. J. Gadd, Ideaa oi Divine Rule in the Ancient E-ast,
Londres 1948, p. 90s.
truknahhunte invadiram a Babilônia pelo ano 1155 a.C.
e carregaram a esteia como presa de guerra para
Susa 21, tenham raspado essas colunas. A divisão atual
em 282 parágrafos foi feita por Vincent Scheil, seu
primeiro estudioso e editor, que em 1902 conseguiu
identificá-la e traduzi-la em poucos meses de tra-
balho. 22
O «Código de Hammurabi» não é o corpo legal mais
antigo do Oriente Antigo. Muito antes dele, já Uru-
kagina de Lagaá, no terceiro milênio da era pré-cristã,
tentara uma reforma legal e estabelecera algumas leis
e preceitos. 23 A língua suméria conhece ainda um ou-
tro «código» anterior ao de Hammurabi, o «Código de
Lipit-Istar de'Isin (1875-1865 a.C.). 2 1 Em 1953 o su-
meriólogo Samuel N. Kramer identificou um documen-
to legal sumário mais antigo ainda 25 , da época da ter-
ceira dinastia de Ur 2G , que ele traduziu e publicou no
ano seguinte. 27 Trata-se de uma coleção de leis do
rei Ur-Nammu (aprox. 2050-2032 a.C.). Em língua
acádica o «código» mais antigo, até hoje conhecido,
é o do rei Bilalama de ESnunna 2S, que reinou no sé-
culo X I X a.C.
Embora o nome «código», dado pelo seu primeiro
editor, seja comumente aceito, a obra legal de Ham-
murabi não pode ser chamada «codificação» no sen-
tido moderno do termo. A palavra «código», em seu
sentido estrito, indica o resultado de uma coleção com-
pleta de todo o direito vigente ou pelo menos de uma

21. Cf. W. Hinz, Da a Reich Elam, Stuttgart 1964, p. 104.


22. A publicação da transcrição e tradução de V . Scheil foi feita em
Mémoirea de la déUgation en Perue, vol. X, Paris 1908.
23. Cf. F. Thureau-Dangrin, Sumeriach-Akkadieche Kdnigainaehriften (VAB
I ) , Leipzig 1907, p. 43-69; M. Lambert, Les "reformes" d'Urukagina, Bevue
d'aasvriolog\e 60(1956), p. 169-181.
24. Cf. JY. E. Steele, The Code of Lipit-Ishtar. American Journal oi
ArchaeoTogy 62(1948), p. 425-480. S. N. Kramer apresenta uma tradução
inglesa em Ancient Near Eaatern Texts relating to the Old Teatament,
Princeton 1955, p. 169-161.
25. Trata-se da tábua w 3191 da coleção de Nippur. É uma tábua pe- •
quena de argila seca ao sol, medindo 20 x 10 cm. Cf. S. N. Kramer, Die
Geschichte beginnt mit Sumer, p. 50.
26. Cf. H. Schmõkel, Geschichte des Alten Vorderasien, p. 52ss.
27. Cf. S. N. Kramer. Ur-Namrtu Law Code, -with Appendix by A. Fal-
kenstein, Orientalia NS 23(1954), 40-51. Cf. tb. E. Szlechter, Le Code d" Ur-
Nammu. Revue d'aaayriologie 49(1955), 169-177.
28. Cf. A. Goetze, The Lama of Eahnunna, New Haven 1956; E. Szle-
chter, t e s Loie d'ÈSmmna, Paria 1964; M. San Nicolò, Rechtsgeschichtli-
ches zum Gesetz des Bilalama von Eánunna, Orientalia NS 18(1949), 258-
262.

13
parte dele. Esta não foi, certamente, a intenção da
obra de Hammürabi. Nota-se que alguns pontos da
vida cotidiana não são tratados por Hammürabi, em-
bora a praxe do dia-a-dia nos tribunais babilônicos
conhecesse regras e leis que regulavam esses pontos
omitidos por Hammürabi. À obra legal de Hammürabi
tem um caráter bem marcante de reforma legal. Di-
rige-se contra os abusos de seu tempo. Por isso, reto-
ma apenas algumas tradições legais antigas comple-
tando-as, tornando, às. vezes, mais rigorosas algumas
penas, abolindo abusos, falsas interpretações, etc. 2 3
A obra de Hammürabi foi, sem dúvida, uma tentativa
gigantesca de reformar e unificar o direito no seu
reino.
O «Código de Hammürabi» apresenta uma estrutura
literária análoga à do «Código de Lipit-Istar» com
sua divisão tripartida em prólogo, corpo legal e epí-
logo. No prólogo, escrito no <$Jaleto próprio do gênero
épico, Hammürabi a p r e s e n t a ^ como o soberano cha-
mado pelos grandes deuses A 0 p n , Enlil, Samas e Mar-
duk para fazer a justiça (iodaram) brilhar sobre o
país. 30 O epílogo, escrito iguplmente em estilo épico,
fala da finalidade da obra Hammürabi: «(Estas
são) as prescrições de justiça, que Hammürabi, o rei
forte, estabeleceu e que fez Q país tomar um cami-
nho seguro e uma direção 31 Acentua, também,

o grande alcance social de obra, quando escreve:


«Para que o forte não oprima o fraco, para fazer jus-
tiça ao órfão e à viúva, para proclamar o direito do
p a í s . . . » 02 O prólogo termina com o pedido de bên-
çãos para todos que respeitarem as prescrições da
esteia e a maldição dos deuses para quem tentar abo-
li-las. O corpo legal pode ser dividido, em linhas ge-
rais, nos seguintes assuntos:
1. Leis para punir possíveis delitos praticados du-
rante um processo judicial (§§ 1-5).

29. Para uma exposição mais aprofundada da natureza jurídica da legis-


lação de' Hammürabi, cf. o art. "Keilschriítrecht" de V . Koroèec, em Hand-
b-uch der Orientalietik, X, vol. suplementar III, p. 49-219. Cf. tb. H. Pet-
schow, art. "Gesetze", em Reaüexikon der Assvriologie, vol. III, p. 256-271».
30. Cf. Prólogo, ool. I. 27-29.
31. Cf. Epílogo, col. XLVIÍ. 1-8.
32. Cf. Epílogo, col. XLVII, 60-72.
2. Leis que regulam o direito patrimonial (§§ 6-
126).
3. Leis que regulam o direito de família e as he-
ranças (§§ 127-195).
4. Leis para punir lesões corporais (§§ 196-214).
5. Leis que regulam os direitos e obrigações de clas-
ses especiais:
a) Médicos (§§ 215-223). b) Veterinários (§§ 224-
225). c) Barbeiros (§§ 226-227). d) Pedreiros
( § § 228-233). e) Barqueiros (§§ 234-240).
6. Leis que regulam preços e salários (§§ 241-277).
7. Leis adicionais que regulam a posse de escravos
(§§ 278-282).

3. A sociedade babilônica na época de Hammurabi

A estrutura da antiga sociedade nas diversas cidades-


estados da Mesopotâmia do tempo dos E N S í 33 sumérios
era baseada em um sistema de centralização tipo so-
cial-teocrático. O templo do 'deus principal da cidade
era o centro de toda a administração; o ENSÍ era,
simplesmente, o representante da divindade. 34 O tem-
plo, como centro do governo e da administração, rece-
bia todo produto dos campos e do comércio, para, em
seguida, distribuí-lo entre os habitantes. 35 A institui-
ção da realeza conservou, em si, a estrutura teocrá-
tica. 3 0 O L U G A L = «rei» 37, tanto na sociedade su-
mária como na semita, considerou-se, sempre, como
um «chamado» pela divindade para governar o país.
Na realidade, contudo, com o passai' dos anos, o pa-
lácio foi se tornando, aos poucos, o centro administra-

33. Sobre a figura para nóa não muito clara do ENSÍ, cf. D. O. Edzard,
art. "Herrscher", era Reallexikon der Asayriologie, IV, p. 337-338; H. Frank-
fort, Kingahip and the Gode, Chicago 1948, p. 221ss.
34. Cf. A. L. Oppenheim, Ancient Mesopotamia, Chicago 1864, p. 74ss;
H. Schmõkel, Kulturgeachichte d es Alten Orient, Stuttgart 1961, p. 85BS.
35. Cf. R. Harris, Organisation and Administralion ot, the Cloíater in
Ancient Babylonia, Journal oi Economie and Social History of the Orient
6(1963), 121-157; W . Bollig-, art. "Gesellschaft", em Reallexiktm der Assy-
riologie, III, p. 234, § 2.
36. Cf. H, Frankfort, op. cit., p. 2J5ss. Aliás, no início da chamada
"Lista suméria dos reis" pode-ae ver claramente esta mentalidade. Cf. trad.
ingl. em A N E T 265: "When Kingship waa lowered from h e a v e n . . . "
37. O 3umeriograma LUGAL significa "liomem grande".

15
tivo e político do país. Era o.lugar das grandes deci-
sões, a última instância a que o cidadão podia apelar.
No tempo de Hammurabi, principalmente, esse centra-
lismo atingiu o seu auge. Hammurabi criou um siste-
ma completo de governadores e altos funcionários que
lhe permitiu um controle absoluto sobre todas as es-
feras da vida pública do país 3 8 , como aliás se pode
d-eduzir da inúmera correspondência do rei com seus
funcionários e de outros documentos da época. Ja
A sociedade babilônica no tempo de Hammurabi es-
tava dividida em três classes sociais. O homem livre,
em posse de todos os direitos de cidadão, era chamado
awllum. 10 Dessa camada social eram recrutados os
funcionários, os escribas, os sacerdotes. A essa classe
pertenciam também os profissionais independentes, os
comerciantes, os camponeses e grande parte dos sol-
dados. 11 Naturalmente, havia dentro da classe dos
awllum toda uma gama de diferenças sociais desde os
influentes governadores, altos funcionários, ricos co-
merciantes até os pequenos camponeses ligados a uma
obrigação feudal. A partir da época de Hammurabi
aparece na sociedade babilônica uma classe intermé-
dia entre os awllum e os escravos. Os membros desta
classe são denominados no «Código de Hammurabi»
muskênum. 42 Não se conhece, ao certo, a verdadeira
função dessa class« na estrutura da sociedade babi-
lônica. No tempo de Hammurabi formava, sem dúvi-
da, a grande massa da população. Agrupava, prova-
velmente, os pequenos arrendatários, os soldados mais
simples, pastores, escravos libertos, etc. Muitos de-
les ganhavam a vida alugando-se como trabalhador

38. Cf. H. Schmòkel, Kulturgeachichte, p. 94-97; D. O. Edzard. Die altba-


bylonische Zeit, em Die Altorientaliachen Reiche [, Fischer Weltgeachichte,
p. 193-202.
39. Cf. A . Ungnad, Babylonische Briefe aus der Zeit der Hammurabi-
Dvnaatie, V A B 6. Leipzig 1914, p. 3-64; F. Thureau-Dangin, Lettrea de
Hammurabi à Samaihaair, Paris 1924; G. E. Driver, Lettera of the First
Dynaaty, The Oriental Institute of Chicago 3(1924), I, w 1-31.
40. O termo acádico awilum significa em si "homem". Cf. W. von So-
den, Akkadiachea HandiCôrterbuch, vol. I, p. 90a.
41. Cf. W. Rollig. art. "Gesellschaft", em Reallexikon der Assyriologic,
vol. III, p. 235; H. Schmòkel, Kulturgeachichte dea Alten Orient, p. 38-46.
42. No "Código de Hammurabi" aparece, em geral, o sumeriograma
MAS.EN.GAG. O nome muJkênum entrou na língua etiópica e árabe com
o significado de "pobre". O termo italiano "meschino", o francês "mes-
quin" e o português "mesquinho" sofreram, sem dúvida, por meio do
árabe, influência do acádicO muikênum.

Ifí
jornaleiro. 13 Em sua reforma legal Hammurabi preo-
cupa-se, também, com a situação dessa classe e pro-
cura defender os seus direitos especialmente em rela-
ção ao salário que lhe é devido.
A camada ínfima da sociedade babilônica era for-
mada pelos escravos. Em geral, a sorte dos escravos
dependia, em grande parte, do sentido humanitário
dos senhores. Mas os escravos tinham na lei uma certa
proteção. E a reforma de Hammurabi preocupou-se
também com os direitos dos escravos. Hammurabi de-
termina o limite máximo do tempo de serviço para
aqueles que por dívidas eram obrigados à escravidão. 41
A um escravo, a reforma de Hammurabi dava o di-
reito d-e esposar a filha de um homem livre, e os fi-
lhos deste casamento eram considerados livres. 43 Ham-
murabi determina, outrossim, como proceder a divisão
da herança em tais matrimônios. 16 A legislação de
Hammurabi admitia uma certa diferença entre os vá-
rios tipos de escravos. A escrava que gerava filhos em
lugar da esposa principal, por exemplo, gozava na so-
ciedade babilônica de uma situação privilegiada aceita
e protegida pela reforma de Hammurabi. 47 Os mais
infelizes entre os escravos eram, sem dúvida, os pri-
sioneiros de guerra trazidos para a Babilônia. 48
A família era a unidade menor da sociedade e re-
presentava um papel central, como cerne da estrutu-
tura social babilônica. Vigorava o sistema patriarcal.
Embora a poligamia fosse permitida, o matrimônio
ex-a, de certo modo, monogãmico; só uma mulher po-
dia ter o título e os direitos plenos da esposa. 49 No
esforço de reforma de Hammurabi vê-se, claramente,
uma grande preocupação do legislador em salvaguar-

43. Cf. H. Schmôkel, Kulturgesckickte dea A.O., p. 42s.


44. Cf. acima, § 117.
45. Cf. acima, § 175.
46. Cf. acima, S 176.
47. Cf. acima. § 146-147.
48. Se um mercador babilôçico encontrasse, durante sua expedição comer-
cial, um escravo babilõnico, devia redimi-lo. A legislação de Hammurabi
determina a ordem das pessoas obrigadas a reembolsar o mercador pelo preço
do resgate: cf, § 32.
49. Havia algumas exceções, onde era permitido uma segunda esposa:
cf. § 141; 145; 148. O homem podia ter outras concubinas, mas só a sua
primeira mulher tinha o atatus de esposa. Cf. H. Schmôkel, Kulturgeachiehte
des Alten Orient, p. 29ss; A. L. Oppenheim, Ancient Meaopotamia, p. 77.

17
dar os direitos da esposa contra a arbitrariedade do
marido e dos filhos. Geralmente era o pai que esco-
lhia a esposa para o seu filho e pagava o terhatum,
isto é: a quantia exigida pelo pai da noiva como com-
pensação pela perda da filha. As famílias mais ricas
a juntavam ao terhatum um presente nupcial comple-
mentar chamado em acádico biblum. Saindo da casa
de seu pai, a esposa levava consigo um dote — deno-
minado em acádico seriktum — que permanecia du-
rante o matrimônio propriedade da esposa e depois de
sua morte era dado aos filhos ou" voltava à casa de
seu pai, caso essa esposa morresse sem deixar filhos.
Após as formalidades do pagamento do terhatum era
redigido o contrato matrimonial, considerado na re-
forma de Hammurabi como «conditio sine qua non»
para a validade do matrimônio. 50 A Babilônia conhe-
cia, também, o costume da filiação adotiva. Os pro-
blemas ligados a tal costume são largamente trata-
dos na legislação de Hammurabi. 51
No tempo de Hammurabi o comércio era, sem dú-
vida, supervisionado e regulamentado pelo palácio. Mas
as transações comerciais estavam, de fato, nas mãos
do tamkãrüm. 52 As diversas mercadorias eram trans-
portadas por via marítima pelo Eufrates ou em cara-
vanas e atingiam as localidades mais distantes do mun-
do então conhecido. Com o grande desenvolvimento da
vida comercial na época de Hammurabi, o tamkãrüm
se tornou mais uma espécie de banqueiro que finan-
ciava a expedição comercial por meio de uma socieda-
de (tappütum) ou enviava um agente seu (samallüm)
com capital para as diversas transações ou com mer-
cadorias para vender. 53 Os lucros ou prejuízos eram
divididos após a viagem de acordo com o contrato fei-
to antes da partida. O pequeno comércio varejista era
explorado pela taberneira, que vendia não apenas bebi-
das, mas tudo o que era necessário para o dia-a-dia.

50. Cf. | 128.


El. Cf. § 185-193. Cf. tb. M. David, art. "Adoption", em Reallexikon der
Assuriologie, I, p. 37-39.
52. Cf. ~W. F. Leemans, art. "Handel", em Reallexikon der Assyriologie
IV, p. 76ss.
53. Cf. § 88-107. Aqui Hammurabi preocupa-se, especialmente, com o peri-
go de fraude quer por parte do tamkarum como por parte do Samallüm.
1. Prólogo

CoL I Quando o sublime Anum rei dos A n u n n a k i ( e )


E n l i l o senhor do céu e da terra, aquele que deter-
mina o destino do país, assinalaram a Marduk \ filho
primogênito de Ea 5, a dignidade de Enlil 8 sobre to-
10 dos os homens, (quando) eles o glorificaram entre os
Igigi 7 , (quando) eles pronunciaram o nome 8 sublime
de Babel,J (e) a fizeram poderosa no universo, (quan-

1. a Anum — cujo sumeriograma A N pode também significar "céu" ou


"deus" em geral — é a divindade suprema do Panteão sumério, aceito tb.
como tal pelos povos semitas —• acádicos, babilônios e assírios — que se
estabeleceram na Mesopotâmia (cf. D. O. Edzard, art. " A N " , em Worter-
buch der Mythologie, vol. I, p. 40; E , Dhorme, Lea Religiona de Babylonie
et d'Asayrie, Paris 1949, p. 22-26; 45-48).
2. d Anunnaki: inicialmente uma expressão coletiva para designar todos
os deuses, mais tarde, em contraposição aos Igigu, passou a designar ape-
nas os deuses da terra (cf. D. O. Edzard, art. "Anunna", em Worterbuch
der Mj/tholoffie, I, p. 42).
3. "'Enlil: o sumeriograma EN.Ll-L significa "Senhor do vento". É pra-
ticamente o "chefe executivo" do Panteão sumério. Seu templo principal
ficava na cidade de Nippur (cf. F. Notscher, em Reallexikon der Aaayrio-
logie, vol. XI, p. 382-387; D. O. Edzard, Wortb. der Mythologie, I, p. 59-61).
4. "VMarduk: era o deus nacional de Babel. A menção mais antiga deste
deus encontra-se aqui no prólogo do Código de Hammürabi. A ascensão
de Marduk a deus nacional deu-se com a hegemonia de Babel sob a dinas-
tia de Hammürabi. O poema babiiônico da criação "Enuma elií" foi com-
posto como justificativa teológica desta supremacia de Marduk (cf. D. O.
Edzard, art. "Marduk", em Wõrtb. der, Mythologie, I, p. 96; E. Dhorme,
Leu Religiona, p. 139-150; 168-170).
5. d Ea, também chamado Enki, é o deus da' sabedoria e da magia. Ea
erã o senhor do Abzu, isto é: das águas doces. Era considerado o pai de
Marduk (cf. E. Ebeling, art. " E n k i " , em Reallexikon der Aaayriologie, II,
p. 374-379; D. O. Edzard, art. "Enki", em Wõrtb. der Mythologie, I, p. 66).
6. A expressão acádica ellilutum indicava a dignidade e ao mesmo tempo
as funções de Enlil.
7. d Igigi: era uma designação babilõnica coletiva para indicar os grandes
deuses do céu (cf. D. O. Edzard, Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 80^
E. Dhorme, Lea Religions de Babylonie et d'Ãéayrie, p. 45-47).
8. Quando os deuses pronunciavam o nome dé alguma coisa, eles a cria-
vam. Uma coisa sem nome pertencia ao caos, Cr a inexistente para a men-
talidade sumério-babilôniea. Cf. G. Contenau, IAL Magie chez lea Aaayriena
et lea Babyloniena, Paris 1947, p. 127-185.
9. A cidade Babel — aqui expressa pelo sumeriograma K A . DINGIR. ít A
= "porta de deus" — era a capital do reino de Hammürabi (cf. E. XJnger,
art. "Babylon", em Reallexikon der Aaayriologie, vol. I, p. 330-369; A. I/.
Oppenfaeim, Áncient Meaopotamia, Chicago 1964, p. 109-125; A . Moortgat,
Geachichte Vorderaaiena bis zum Hetteniamita, München 1950, p. 297-300).

19
do) estabeleceram para ele (Marduk) em seu meio
20 uma realeza eterna, cujos fundamentos são firmes co-
mo o céu e a terra, naquele dia Anum e Enlil pronun-
ciaram o meu nome, para alegrar os homens, Hammu-
30 rabi, o príncipe piedoso, temente a deus, para fazer
surgir justiça na terra, para eliminar o mau e o per-
verso, para que o forte não oprima o fraco, para, como
o sol, levantar-se sobre os cabeças-pretas 10 e iluminar
40 o país.
Eu (sou) Hammurabi, o pastor, chamado por Enlil,
50 aquele que acumula opulência e prosperidade, aquele
que realiza todas as coisas para Nippur, D U R . A N .
60 K l u , guarda piedoso de É . K U R 12, o rei eficiente que
restaurou Eridu 1 J em seu lugar, aquele que purifica
II o culto de É . A B Z T J " , conquistador(?) dos quatro
cantos da terra, aquele que magnífica o nome de Ba-
bel, que alegra o coração de Marduk, seu senhor, que
10 todos os dias está a serviço da É . S A G . I L A 1 3 , descen-
dência real 1 6 , que Sin 1 7 criou, aquele que faz próspera
a cidade de Ur, humilde suplicante, que traz abun-
20 dância para É . K I á . N U . G Á L 1 S , o rei inteligente, obe-
diente a samas 1 9 , o forte, aquele que fortificou os

10. A expressão salmãt qaqqadim — «qui expressa pelo sumeriogriima


S A G . G I , — cuja tradução literal é "cabeça-preta", . era uma expressão
idiomática da língua sumiria para designar " h o m e m " em gera) e mais
especialmente o povo sumério. Cf. H. Schmôkel, Das Land Sunier, Stuttgart
1955, p. 43ss; A. Deimel, Sumerixchex Lexikon. II parte. vol. I. Roma
1»28, 1). 307, n? 115. 239.
11. D U R . A N . K X = " p o n t o de j u n ç ã o do céu e da terra" era originaria-
mente o nome da Ziqqurat, isto é : da torre em degraus do templo de Enlil
em Nippur. Mais tarde o título tornou-se p o r metonímia uni epiteto da
cidade de Nippur ( c f . A . Deimel, Sumerisches Lexikon, parte H , W 108,16).
12. E . K U R = "casa da montanha" era o nome do templo de Enlil na
cidade de Nippur.
.13. Eridu era uma antiga cidade suméria, cerca de 11 km a sudoeste
de U r ( c f . E. Unger, art. " E r i d u " , em Reallexikon der Asevriologie, vol.
II, p. 464-470).
14. É . A B Z U era o nome sumério do templo do deus E a na cidade de
Eridu (cf. E. Unger, art. " E r i d u " , em Reallexikon der Aeavriólogie, vol.
II. i 9, p. 469).
15. É . S A G . I L A = " a casa cuja cabeça emerge" era o nome do c o m -
plexo de edifícios que formava o templo do deus Marduk em Babel. £ pos-
sível que o nome £ . S A G , I L A venha da Ziqqurat que era de uma altura
considerável. Esta Ziqqurat influenciou, provavelmente, o relato bíblico da
torre de Babel (cf. Gên 11,1-9). Cf. E. Unger, art. "Babylon", em Reallexi-
kon der Assyriologie, vol. I, § 97, p . 353-859.
16. Literalmente z5r íarrutim significa "semente de realeza" e indica que
Hammurabi era de linhagem real e não um usurpador.
17. Sin era o nome acádico do deus lunar sumério Nanna. considerado
filho de Enlil e cujo centro de culto era a cidade de Ur (cf. D. O. Edzard,
Wdrterbuch der Mythologie, art. "Mòndgott". vol. I, p. 101-103).
18. É . K I á . N U . G Á L era o nome do templo de Sin em Ur (cf. E. Ebelling,
Reallexikon der tlxai/riulof/ie, vol. 11. p. 322).
líl. ftamas era o llome semiticu tio deus *olnr, aqui expresso pelo sumc-
riograma d U T U , nome dessa divindade na religião suméria. Sendo o deus
fundamentos de Sippar 20 , aquele que cobriu de verde
á capela 21 de A j j a 2 2 , aquele que traçou o plano do
30 templo É . B A B B A R 2 3 , que é como a habitação dos
céus, o herói, aquele que poupou Larsa 2 1 , aquele que
renovou a É . B A B B A R para êamas, seu aliado, o se-
AO nhor que fez . (a cidade de) Uruk 2 5 reviver, que su-
priu seu povo com a água da abundância, que levantou
a cabeça de E a n n a q u e amontoou riquezas para
Anum e Inanna, proteção do país, aquele que reuniu
50 os dispersos de Isin 27, aquele que encheu de abundân-
cia o.templo É . G Á L . M A H 2 8 , dragão 29 dos reis, ir-
mão querido ( ? ) de Zababa 30 , aquele que estabeleceu
60 solidamente a cidade de Kis 3 1 , aquele que cercou de

da luz era considerado o juiz e o protetor do direito (cf. E. Dhorme,


Lea Religiona de Babylonie et d'Aaayrie, p. 60-67; 86-89; D. O. Edzard,
art. "Sonnengott", Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 126s).
20. Sippar era uma cidade ao norte da Babilônia, onde havia o célebre
santuário de ãamaá É BABBAR. Hammurabi se gloriava de ter renovado
a c i d a d e - d e Sippar (cf. E. Sollberger-J. R, Kupper, Inscriptiona royalea
xumèriennea et akkadiennea, Paris 1971, p. 213-214, IVC6e, C 6 f ) .
21. O termo acádico gegunnü — derivado da língua suméria — indicava
provavelmente o pequeno santuário situado no alto da Ziqqurat, isto é: da
torre em degraus (cf. W . von Soden, Akkadiachea Handwõrterbuch, vol. I,
p. 284, sub voce; A . Finet, Le Code de Hammurapi, p. 34).
22. A deusa A j j a era a esposa do deus solar babilônico ãamaá. Seu nome
já é testemunhado em época pré-sargônica e pode ser considerada uma das
divindades semitas mais antigas da Mesopotâmia (cf. E. Ebelling, art.
" A . A . " , em ReaUexikon der Asayriologie, vol. I, p. l s ) .
23. É . B A B B A R = "casa brilhante" era o nome do templo de SamaS em
Sippar ( c f . E. Ebelling, art. "Ebabbara", em ReaUexikon der Aaayriologie,
vol. IX, p. 263).
24. Larsa, situada ao sul da Babilônia, era um outro centro do culto de
àamaS. O templo de Larsa chamava-se também É . B A B B A R . Hammurabi
capturou Larsa no 31? ano de seu reinado, derrotando o rei Rimsin ( A .
Ungnad, art. "Datenlisten", em Reallexikon der Aaayriologie, vol. II, p. 180,
n? 133). E m uma inscrição Hammurabi se apresenta como o construtor
do templd É . B A B B A R de Larsa (cf. Inacriytions royalea..., p. 212, I V C 6 a ) .
25. Uruk era uma antiga e importante cidade do sul da Babilônia —
hoje chamada W a r k a — , nomeada no A T como Erech (cf. Gên 10,10).
Hammurabi celebra a conquista de Uruk no sétimo ano de seu reinado
(cf. A . Ungnad, "Datenlisten", em ReaUexikon der Aaayriologie, vol. II,
p. 178, n? 109). Uruk era na época suméria o centro do culto de Anum
e Inanna.
26. É . A N . N A = "casa do céu" era o nome do templo principal de Uruk,
onde eram cultuados A n u m è Inanna. A deusa Inanna, conhecida entre
os semitas como Istar, era considerada a deusa do amor e da vida sexual
e também como a deusa da guerra (cf. D. O. Edzard, art. "Inanna", em
Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 81-89).
27. Isin, situada ao sul de Nippur, era uma cidade-reino que floresceu n o
segundo milênio a.C. ( c f . H. Schmõkel, Geachichte dea Alten Vorderaaien,
Leiden 1957, p. 73ss). Hammurabi celebra a conquista de Isin no sétimo
ano de seu reinado (cf. A . Ungnad, "Datenlisten", ReaUexikon, vol. II,
p. 178, n9 109). Hammurabi refere-se aqui no prólogo aos habitantes de
Isin, que tinham sido dispersados após a vitória de Rimsin sobre Isin
(cf. A . Ungnad, "Datenlisten", Reallexikon, vol. II, p. 163, n? 231).

28. É . G A L . M Á U era o templo de Ninisin em Isin (cf. E. Ebelling, «rt.


"Egalmah", em Reallexikon, vol. II, p. 277).
29. O termo USUMGAL — ."dragão", era um título real.
30. Zababa era o deus principal da cidade de Kis. Era um deus guer-
reiro (cf. D. O. Edzard, art. "Zababa'', Wortb. der Mythologie, yol. I, p. 138).
31. Kii estava situada a nordeste de Babel,

21
brilho É . M E . T E . U R . S A G 3 2 , ' aquele que executou
com exatidão os grandes ritos de Inanna, aquele que
cuida do templo H U R . S A G . K A L A M . M A 33, rede 34
70 para o inimigo, a quem Erra, seu companheiro, fez
III alcançar seu desejo, aquele que fez Kutha 35 eminente,
que presenteia ricamente todas as coisas a Meslam 36,
touro indomável que escorneia os inimigos, favorito
10 de Tutu 37, aquele que traz alegria à cidade de Bor-
sippa 3S, o piedoso que não negligencia Ezida, deus dos
reis, aquele que conhece a sabedoria, aquele que au-
20 mettta as terras de cultura de Dilbat 3a , aquele que
enche os celeiros de Ninurta 10 o poderoso, o senhor,
cujos ornamentos são o cetro e a coroa, a quem a sá-,
30 bia Mama 11 fez perfeito, aquele que fixa os planos
de Kes l2, aquele que multiplica os alimentos puros para
N i n t u ( e u sou) o prudente, o perfeito, aquele que
UO procura pastagens e lugares de água para Lagas 44 e
Girsujr>, aquele que oferece imponentes oblações a
Eninnu aquele que prende os inimigos, o protegido
50 de Telitum 4T, aquele que realizou os oráculos de Za-
balam 4S , aquele que alegra o coração de IStar, (eu

3!í. É . M E . T E . U R . S A G era o templo de Zababa em Kiá.


33. HUR.SAG.KAI.AM.MA = "montanha (Io pais era o templo de Inan-
na ém Kià: Aqui Inanna era conhecida como esposa de Zababa.
3 4 . 0 termo saparum = "rede", era um Instrumento bélico sumerio o
servia para envolver o Inimigo.
35. Kutha, cidade situada ao norte de Babel no lugar da hodierna Tell-
Ibrahim, era dedicada ao deus Nergal.
36. Mes-lam era o nome do templo de Erra e Nergal em Kutha. Erra
era o deus da peste e da guerra (cf. D. O. Edzard, art. "Erra", em
Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 63). Erra era muitas vezes identi-
ficado com Nergal .(cf. D. O. Edzard, art. "Nergal", em Worterbuch der
Mythologie, vol. I, p. 109).
37. Tutu era um epíteto de Marduk. Aqui, porém, é empregado como
epiteto de Nabü, filho de Marduk.
38. A cidade de Borsippa estava ao sul de Babel. Aqui estava o célebre
santuário, dedicado ao deus Nabü, È . Z I . D A . "
39. Dilbàt estava situada ao sul de Borsippa, hoje Dulnim.
40. Ninurta era um deus guerreiro e ao mesmo tempo um deus da ve-
getação e da fertilidade (cf. E. Dhorme, -Les. Tleligicma de Babylonie et
d'Asayrie, p. 102-109).
41. Mama era uma das numerosas deusas-mães do Panteão babilânico (cf.
D. O. Edzard, art. "Muttergottinen", em Wiirterb. der Mytholoqie, vol. I.
P. 103).
42. A localização exata de Keà nos é desconhecida.
43. Nintu era uma outra designação da divindade-mãe.
44. LagaS, situada na hodierna Tello, era uma cidade-reino da Babilônia
meridional. Floresceu na época suméria, especialmente durante o reinado de
Gudea (aprox. 2050-2000 a.C.).
45. Girsu, localizada a noroeste de Lagaé, dependia desta. ;
46. Ê . N I N . N U o templo de Ningirsu, deus principal de Lagas.
47. Telitum era um epiteto da deusa Iitar.
48. Zabalam, situada na Babilônia central, provavelmente no local da
atual Ibzaih, era um centro de culto a Iítar com seu templo £ . Z I . K A L A M .
Em uma inscrição de Hammurabi lê-se: "Hammurabi, rei forte, rei da

22
sou) o príncipe puro, cujas orações Adad 4 9 conhece,
60 aquele que tranqüiliza o coração de Adad, o guerreiro,
em Bit-Kar-kara 50 , aquele que sempre mantém às pro-
priedades em Eudgálgal 51 , (eu sou) o rei que* dá a
vida à cidade de Adab 52, que cuida do templo Emah,
70 senhor dos reis, combatente sem rival, aquele que
IV presenteia a vida à cidade de Maskan-sãpir 53 , que
providencia abundância para Meslam, o prudente ad-
10 ministrador, aquele que atingiu a fonte da sabedoria,
aquele que protegeu o povo de Malgum 5 4 da catás-
trofe, aquele que solidamente estabeleceu sua morada
em prosperidade, aquele que para sempre estabeleceu
20 oferendas puras para Ea e Damgàlnunna 55, que mag-
nificaram a sua realeza.
(Eu sou) o primeiro dos reis, aquele que subjugou
as regiões do Eufrates sob as ordens de Dagan 66, seu
30 criador, aquele que poupou os povos de Mari e Tu-
tul 5T , (eu sou) o príncipe piedoso, que alegra a face
de Tispak 5S , aquele que estabeleceu oferendas puras
para Ninazu co , aquele que salvou SPUS homens da

Babilônia, rei <los quatro cantos, construtor da Ê . Z I . K A L A M . M A , o templo


ilc IStar de Zabalam" (cf. E. Sollberger-J. R. Kupper, hiacriptiona royalea
xitiitérie-nveit et akkadienne», p. 212, 1 VCfic). .
•I». Adad era o deus habilônico da tempestade.
50. Bit-Karkara era uma cidade da Babilônia. meridional nas proximidades
de Ur, mas sua localização exata é desconhecida.
r» 1. É . U D . G A L . G A L é o nome do templo de Adad em Bit-Karlcara.
52. Adah era uma cidade da Babilônia central a sudeste de Nlppur, n a
localidade da hodierna Bismãjã. E r a um centro de culto da deusa MAIJ o u
N I N . M A H com seu templo Í . M A H .
53. Maskan-áapir era uma cidade dependente de Larsa. Sua localização
exata é desconhecida. Ficava, provavelmente,. perto de Adab. Pelo n o m e
ile seu templo Meslam pode-se concluir tratar-se de um centro de cu'to
do deus Nergal. A leitura sãpir do sumeriograma S A B R A é confirmada
pelos textos de Mari (cf. A R M II, 72,5). '
.VI. A localização da cidade Malgum nos é desconhecida. A lista de datas
do reinado de Hammurabi menciona duas vezes ações militares do rei c o n -
tra a cidade, no décimo ano e no 35? ano (cf. A . Ungnad, art. "Daten.-
liMten", em Tteallexikon II, 179. 181). • _
ú». Damgalnúnna era o nome sumério de Damkina, esposa de E a (cf.
I). O. Edzard, art. "Damgalnúnna", em Worterb. der Mythologie, Yol. II,

• • ."16. Dagãn, no A T conhecido como Dagon, era o deus semita ocidental


do grão, cultuado nas regiões de Mari e Terqa ( c f . D, O. Edzard, ,art.
" D a g a n " , em Wiirterhitch der Mythologie, vol. I, p.. 40; H . Schmijkel, a r t
" D a g a n " , em Keallerikon der An.iyriologie, vol. II, p. 99). ^ ' .
.">7. Mari hoje Tell-Hariri — era uma eidade-relno situada as m a r -
gens do Eufrates. Esta cidade-reino atingiu seu apogeu durante o reinada
lie Zimrilim (aprox. J 717-1695 a.C.). Em 1695 a.C. esta cidade-reino í ó i
destruída por Hamniurábi. Tuttul era uma cidade situada às margens do
Eufrates. _ . . . .
58. Tièpak era o deus principal da cidade de Esnunna na região do
rio Dijala. A origem desta divindade é desconhecida, mas foi recebida,
durante o período habilônico antigo no Panteão acádico (cf. D. O. Edzard,
art. "TiÃpak", no WSrterbveh der Mythologie, vol. I., p. 130). _
.'.). Ninazu. deus da medicina — o sumeriograma N J N . A Z U significa
"sènhor-médico" — , era adorado também em ESnunna (cf. D . O; íjdzard,

23
UO desgraça, aquele que estabeleceu seus fundamentos nc
meio de Babel em paz, pastor dos povos, aqüele cujas
obras agradam a Istar, aquele que estabeleceu Istaj
50 na Eulmas 60 no meio da praça de Acade, aquele qut
faz a verdade aparecer, aquele que dirige os povos
60 aquele que conduziu sua boa protetora para ASsur.
aquele que silencia os gritadores, o rei que proclamo!
em Nínive 61 as ordens de Iátar no Emesmes.
(Eu sou) o piedoso, aquele que fervorosamente su-;
plica aos grandes deuses, o descendente de Sumu-la-
70 ilu 62, o poderoso herdeiro de Sin-muballit 63 , sementí
Y eterna de realeza, rei forte, o sol de Babel, aquel«.
que faz surgir a luz para o país de Sumer e Acade
10 o rei que traz à obediência os quatro cantos da terra,
o protegido de Istar.
Quando o deus Marduk encarregou-me de fazer jus-
tiça aos povos, de ensinar o bom caminho ao país.
20 eu estabeleci a verdade e o direito na linguagem dc
país, eu promovi o bem-estar do povo. Naquele dia:

nrt. "Ninazu", em Wórttrburh der Mutholoitic, vol. I, i>. 110). O texto ' (
aqui provavelmente à proteção e asilo que os habitantes de Efaunn
contraram em Babel após uma catástrofe natural. ^
60. É . U L . M A S era o templo <la deusa Istar na antiga cidade tle A
fundada por Sariíon I, que reinou nos anos 23.",0-2.300 a.C. aproximadam^.
«1. Nínive, situada na marifem esquerda do Tigres, foi a última ca
do reino assírio. É . M E S . M E S era o templo de Istar em Nínive.
fi2. O rei Sumu-la-ilu <1816-17X1 a.C.) foi o fundador da dinastia <
Babel tcf. H. Schmükel, Gcschichte de* altev Vorderaxien, p. 106ss).
63. SinmuballiJ. bisneto de Sumulailu, era o pai de Hammurabi (cf.
Schmõlrl Gesrhicht? deu alten Vorderaxirn. p. lOfiss).

24.
2. A s leis

§ 1. Se u m awllum a c u s o u 1 um (outro) awllum e


lançou sobre ele (suspeita de) morte mas não pôde
30 c o m p r o v a r : o seu acusador será morto.

Na sociedade babilônica o awllum era o homem livre, o cida-


dão em pleno uso de seus direitos (cf. W. ROLLIG, art. "Gesell-
schaft", em Reallexikon der Assyriologie, III, p. 233-230, Ber-
lim 1966). Um paralelo interessante a esta lei babilônica en-
contramos na legislação bíblica <lo Deuteronômia (cf, Dt
l<),16ss).

§ 2 Se um a w l l u m lançou contra um (outro) a w l l u m


( u m a acusação de) feitiçaria mas não pôde compro-
v a r : aquele contra quem foi lançada (a acusação de)
40 feitiçaria irá ao rio e mergulhará no rio. Se o rio o
dominar, seu acusador tomará para si sua casa. Se
o rio purificar aquele awllum e ele sair ileso: aquele
.50 que lançou sobre ele (a acusação de) feitiçaria será
m o r t o e o que mergulhou no rio tomará para si a
casa de seu acusador.

Este parágrafo trata de uma acusação de feitiçaria. A magia


negra era temida, pois o homem do Oriente antigo atribuía-lhe
forças capazes de prejudicar suas vítimas (cf. A. L. OPPEN-
HEIM, Ancient Mesopotamia, Chicago 1964, p. 206-227; D. G.
CONTENAU, La Magie chez les Assyriens et les Babyloniens,
Paris 1947; E. DHORME, Les Religions de Babylonie et d'Assy-,
rie, Paris 1949, p. 259-271). No caso proposto aqui os indícios
apresentados não eram comprovantes. O caso devia, pois, ser

1. O termo acádico ubburum é um termo técnico na praxe judicial e


significa "acusar oficialmente", "mover um processo contra alguém" (cf. na
legislação de Hammurabi os §§ 126, 131).

25
Este § está em aparente contradição com o § 6. Contudo este
•parágrafo parece querer abrir uma exceção pa/ra alguns obje-
tos de propriedade do templo 01.1 do palácio, que podiam ser
compensados (cf. G . R . DRIVER-J. C . MILES, The Babylonian
Laws, vol. I, p. 81s). Na segunda parte do artigo é tratado o
caso em que a pessoa lesada é um muSkênum, isto é: um ci-
dadão intermediário entre o awltum e o escravo.

* # *

70 § 9 Se um awllum, de quem se extraviou um objeto,


VII encontrou seu objeto perdido nas mãos de um (outro)
awllum e o awllum em cujas mãos foi encontrado o
objeto perdido declarou: «um vendedor mo vendeu, eu
10 o comprei diante de testemunhas»; (se) o dono do
objeto perdido por sua vez declarou: «eu trarei tes-
temunhas que conhecem o meu objeto perdido»; (se)
o comprador trouxe o vendedor que lhe vendeu ,(o
20 objeto) e as testemunhas diante das quais comprou
. e o dono do objeto perdido trouxe ás testemunhas que
conhecem seu objeto perdido: os juizes examinarão as
30 palavras deles; as testemunhas diante das quais a
compra foi efetuada e as testemunhas que conhecem
o objeto perdido declararão seu conhecimento diante
da divindade. (Neste caso) o vendedor é ladrão, ele
hO . será morto. O dono do objeto perdido tomará seu
objeto perdido e o comprador tomará na casa do ven-
dedor a prata que havia pesado. ••

50 § 10 Se o comprador não trouxe o vendedor que lhe


vendeu (o objeto) e as testemunhas diante das quais
comprou e o dono do objeto perdido trouxe as tes-
temunhas que conhecem seu ohjeto perdido: o com-
prador é um ladrão, ele será morto; o dono do objeto
60 perdido tomará seu objeto perdido.

§ 11 Se o dono do objeto perdido não trouxe as tes-


temunhas que conhecem seu objeto perdido: ele é um
VIII mentiroso, levantou uma falsa denúncia; ele será morto.

4. A expressão acádica KÜ.BABBAR iê-qú-lu: " a :prata que pesou" indi-


ca o costume babilônico de efetuar o pagamento de objetos comprados com
o valor correspondente em prata, que era pesada diánte do vendedor. Este
ura um dos meios correntes <le pagamento em uma sociedade que não co-
nhecia o uso do dinheiro.
26
§ 1 2 S e o vendedor j á m o r r e u 3 , o comprador tomará
10 ' da casa do vendedor até cinco vezes o valor da coisa
reclamada nesse processo.

§ 1 3 S e as t e s t e m u n h a s desse awllum não estão per-


to®, os juizes conceder-lhe-ão um prazo de seis m e s e s ;
20 se no sexto m ê s ele não trouxer suas t e s t e m u n h a s :
esse awllum é um mentiroso, ele carregará a pena des-
se processo.

O complexo de leis §§ 9-13 forma em si uma unidade, todos os


parágrafos traiam de um mesmo caso com diversas possibi-
lidades. O caso é exposto no § 9, as diversas variações são
tratadas separadamente nos parágrafos seguintes. Este com-
plexo apresenta um exemplo interessante do processo de reda-
ção dos diversos artigos do Código. A ordem mais lógica, como
nota Finet, seria, sem dúvida, § 9, 10, 12, 11, 13 (cf. L c Coclc
de Hamnraxapi, p. 49). O % 13 refere-se tanto às testemunhas
do comprador (cf. § 9, 10) como às do dono do objeto perdido
(cf. § 9, 11).
# * *

§ 14 Se um a w l l u m roubou o filho menor de um (ou-


t r o ) a w l l u m : ele será morto.

O crime de kidnapping de um menor (sehrum) incapaz de ser-


viço feudal e de casamento — -nas leis assiríacas o sehrum
indicava uma criança de dez anos para baixo — era consi-
derado um crime capital. Na legislação bíblica a pena capital
era aplicada a qualquer tipo de kidnapping (cf. Êx 21,18; Dt
- 24,7). É provável que primitivamente a proibição do Decálogo
"Não roubarás" se referisse ao roubo de pessoas (cf. A. ALT,
Das Verbot des Diebstahls im Dekalog, em Kleine Schriften
zur Geschichte des Volkes Israel, vol. 1, p. 333-340).

* * *

30 § 15 Se um a w l l u m f e z sair pela porta (da cidade)


u m escravo ou u m a escrava do palácio ou u m escravo
ou u m a escrava de um m u s k ê n u m : ele será morto.

Este parágrafo abrange, sem dúvida, qualquer tipo de escra-


vo, desde o escravo do palácio até o escravo do proprietário

27
5. A expressúo acádica a-na si-ím-tim it-ta-la-ak: "foi para o destino"
indica uma morte natural. r v y
6. Literalmente a expressão acádica Xum-ma a-wi-lum su-ú si-bu-su Ia
qir-bu significa: "Se esse awTIum, suas testemunhas não estão perto".
resolvido por meio de um ordálio, uvia espécie de julgamento
divino. O sumeriograma 1D = "rio" aparece no texto prece-
dido do prefixo indicativo dos nomes divinos DINGIR. O rio
provavelmente o Eufrates — considerado como uma divin-
dade devia resolver a questão.

* * *

§ 3 Se u m a w l l u m apresentou-se em um processo com


60 um testemunho f a l s o 2 e não pôde comprovar o que
d i s s e : se esse processo é u m processo c a p i t a l 3 esse
awílum será morto.

A legislação bíblica apresenta um bom paralelo a este pará-


grafo (cf. Êx 20,1fí; 23,1-3; Dt 19,16-19).

§ 4 Se se apresentou com um testemunho (falso em


VI causa) de grão ou de p r a t a : ele carregará a pena des-
se processo.

Este parágrafo apresenta uma alternativa ao § 3. Não se trata


mais de um processo onde a vida do acusado está em jogo,
mas de compensação de danos por meio de grão ou de prata.
Neste caso quem apresentou um testemunho falso deve arcar
com a pena que teria sido imposta ao acusado.
i
* * *

§ 5 Se um juiz j u l g o u uma causa, deu u m a sentença


10 e mandou exarar um documento selado e depois alte-
rou o seu j u l g a m e n t o : comprovarão contra esse juiz
a alteração do j u l g a m e n t o feito e ele pagará até doze
20 vezes a quantia que estava em questão nesse proces-
s o ; além disso fá-lo-ão levantar-se de seu trono de
30 j u i z na assembléia e não tornará a sentar-se com os
juizes em um processo.

O parágrafo em questão trata, sem dúvida, de um caso de


venalidade judicial. Depois das três etapas do processo — o
processo propriamente dito, a sentença e o documento selado
— o juiz altera o julgamento. A dificuldade na interpretação

2. A expressão ii-bu-ut Sa-ar-ra-tim significa literalmente: "testemunho


de mentira".
3. Literalmente temos di-in na-pi-iá-tim: "processo de vida", isto é: um
processo onde a vida do acusado está em jogo.
28
do texto está justamente na expressão dinam eníim: "alterar
o julgamento".
Esta mesma expressão significa no § 52 "quebrar um contra-
to". Aqui o sentido não é claro. Como podia um juiz alterar
um julgamento feito, principalmente na praxe judicial babi-
lônica onde parece certa a participação de vários juizes em
um processo? Para maiores elucidações cf. G. E. DBIVEK-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, Oxford 1960, vol. I, p. 68-79.

* * *

§ 6 Se um awllum roubou bens de um deus ou do palá-


cio : esse a w l l u m será m o r t o ; além disso aquele que
UO tomou de sua m ã o o objeto roubado será morto.

O sumeriogramu NÍG.GA indica qualquer bem móvel. O pará-


grafo em questão prevê o caso de roubo de bens móveis de
um templo ou do palácio. A pena de morte prevista recai tanto
sobre o ladrão como também sobre aquele que receber um obje-
to roubado do templo ou do palácio.

§ 7 Se um awllum comprou ou recebeu em custódia


prata ou ouro, escravo ou escrava, boi ou ovelha, asno
ou qualquer outra coisa da mão do filho de um (ou-
50 tro) awllum ou do escravo de um (outro) awllum sem
t e s t e m u n h a nem contrato: esse awllum é um ladrão,
ele será morto.

Em relação ao objeto comprado ou consignado em custódia a


extensão da lei aqui formulada é universal. Todo homem livre
(awllum) que comprar ou receber algo em custódia deve preo-
cupar-se em realizar a transação comercial diante de teste-
munhas e obter um documento comprobatório. A transação co-
mercial feita sem a observação desses itens é considerada ile-
gal e o awllum tratado como um ladrão e submetido à pena
de morte. A pessoa do vendedor ou daquele que entregou o
objeto em custódia não importa. A lei enumera aqui os dois
extremos da sociedade babilônica: o awllum e o escravo.

§ 8 Se u m awllum roubou um boi ou uma ovelha ou


60 um asno ou um porco ou uma barca: se é de um deus
ou do palácio deverá pagar até trinta vezes m a i s ; se
é de um muskênum restituirá até dez vezes mais. Se
o ladrão não tem com que restituir, será morto.
29
socialmente mais fraco, o muskênum. Citando os dois extre-
mos, a legislação inclui também o escravo de um awilum. O
sumeriograma KÁ.GAL — correspondente do termo acádico
abullum — indica aqui provavelmente a porta da cidade. Al-
guns intérpretes julgam, porém, tratar-se da porta do palá-
cio real (cf. G. K. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. 106).

* * *

§ 16 Se um awilum escondeu em sua casa um escravo


40 ou uma escrava fugitivos do palácio ou de um muskê-
num e a convite do arauto não fez sair: o dono dessa
casa será n\orto.

Este parágrafo continua o antecedente. A pena capital recai


não só sobre quem facilitar a fuga de um escravo, mas tam-
bém sobre quem esconder em sua casa um escravo fugitivo
e não o apresentar quando o arauto anunciar na cidade a fuga
e conclamar os cidadãos a entregar os escravos fugitivos.

* * *

50 § 17 Se um awilum prendeu no campo um escravo ou


escrava fugitivos e o reconduziu ao seu dono: o dono
do escravo dar-lhe-á dois siclos de prata.

O termo acádico Sêrum significa, em si, a campanha, o campo


aberto. Este parágrafo determina a quantia do prêmio a ser
pago a quem prendesse um escravo ou uma escrava fugitivos
em campo aberto e os reconduzisse a seu proprietário. A me-
dida de peso babilônica, o siclo, correspondia a um pouco mais
de 8 gramas.
A legislação biblica do Deuteronômio proibia a entrega de um
escravo fugitivo que procurasse refúgio na casa de um israe-
lita (cf. Dt 23,16-17).

* # *

60 § 18 Se esse escravo não quis declarar o nome de seu


proprietário: ele o levará ao palácio, sua questão será
esclarecida e ele será reconduzido ao seu senhor.

Este parágrafo continua o antecedente. No caso dé dúvidas


sobre a identidade do proprietário do escravo e o escravo não
quiser revelar o nome de seu dono, o caso deverá ser resol-
vido pela instância última, o palácio.
70 § 19 Se ele reteve esse escravo era sua casa e depois
IX o escravo f o i preso em sua m ã o : esse awllum será
morto.

Este parágrafo desenvolve uma outra .possibilidade do § 18.


O escravo capturado não declara o nome de seu dono, e seu
capturador não o leva imediatamente ao palácio. Neste caso
o capturador corre o risco de incorrer em pena de morte, caso
o escravo for encontrado e preso na casa desse awllum.

* # *

§ 20 S e o escravo f u g i u da mão daquele que o captu-


10 r o u : esse awllum pronunciará para o dono do escravo
um juramento (em nome) de deus e será livre.

Um awilum que capturar um escravo fugitivo é responsável


diante da lei babilônica pela restituição desse escravo d seu
proprietário. Se contudo o escravo capturado conseguir esca-
par das mãos de seu. capturador, este deverá pronunciar na
presença do dono do escravo um juramento diante da divin-
dade proclamando sua inocência e declarando não ter agido
negligentemente.
* * *

20 § 21 S e um awilum abriu uma brecha em uma casa:


matá-lo-âo diante dessa brecha e o levantarão.

Eate parágrafo trata de roubo à propriedade alheia. A fina-


lidade da brecha feita no muro da casa ê, sem dúvida, para
roubar (compare Êx 22,2-3). As casas na Babilônia eram cons-
truídas com tijolos secos ao sol; era muito fácil abrir neles
uma brecha (cf. a menção a tal costume em um provérbio
bilíngüe no texto K 42077 publicado por Lambert).
No caso tratado neste parágrafo a pena capital devia ser apli-
cada "in loco". Além disso o corpo do ladrão devia ser sus-
pendido diante do buraco para servir de lição. Esta parece a
interpretação mais provável; mas o significado do verbo halãlu
aqui não é claro (cf. W. von SODEN, Akkadisches Handworter-
buch, sub v. halãlu, vol. I, p. 309; cf. tb. G. R. DRIVER-J. C .
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 108s).
* * #

§ 2 2 Se um a,wllum cometeu um assalto e f o i preso: .


esse awllum será morto.

7. Cf. W . G. Lambert, Babylonian Wisdom Literature, Oxford 1960, p.


235, linhas 19-21. Lambert traduz: 19-20: A hungrry man breaks into a
building of kiin-fired bricka. 21-22: "Would you plaee a lump of clay in
the hond of him who throTvs ?

31
Conforme o (significado da raiz acádica habãtum, este pará-
grafo não se refere a qualquer roubo, mas exclusivamente a
um roubo onde é empregada a violência, isto é: a assaltos à
mão armada (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handwõrter-
buch, vol. I, sub. v. habãtum, p. 303; cf. tb. G. R. DRIVER-J.
. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 109s).

* # *

HO § 23 Se o assaltante não f o i preso, o awílum assaltado


declarará diante do deus todos os seus objetos perdi-
UO dos; a cidade e o governador, em c u j a terra e distrito
foi cometido o assalto, o compensarão por todos os
objetos perdidos.

Este parágrafo estabelece uma outra alternativa do parágrafo


22. Como proceder se o assaltante não for preso? A vítima
do assalto deverá fazer uma declaração oficial diante da di-
vindade da cidade (este é o sentido da raiz acádica "burrum"
aqui empregada) mencionando sob juramento tudo o que per-
deu. O governador do lugar onde o assalto foi praticado deve
então compensar o prejuízo da vítima (cf. G. R. DRIVER-J, C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. J, p. 109).

* * *

§ 24 Se foi u m a vida (o que se p e r d e u ) , a cidade e


50 o governador pesarão u m a m i n a de prata para sua
família.8 i

Este. parágrafo trata de uma terceira alternativa: a morte


da vítima do assalto. Neste caso a família da vítima deverá
ser indenizada pela cidade onde o crime foi perpetrado. O
preço estipulado na lei é uma mina de prata, o que corres-
ponde a 60 siclos ou cerca de 500 gramas.
Para casos de assassinato a lei bíblica do Deuteronômio prevê
um rito especial de expiação, onde os anciãos da cidade mais
próxima deverão declarar sua inocência (cf. Dt 21,1-9).

. * * *

§ 25 Se pegou f o g o na casa de u m awílum e um (ou-


tro) awílum, que veio para a p a g á ( - l o ) , colocou seus
olhos sobre um b e m móvel do dono da casa e pegou
60 um b e m móvel do dono da c a s a : esse awílum será
lançado no f o g o .

8. Literalmente: a-na ni-si-5u = para sua gente.

32
O termo acádico numãtum indica um bem móvel qualquer (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. II, p. 803
sub voce). Este parágrafo apresenta um caso especial de rou-
bo e encerra o tema "roubo" tratado no conjunto de artigos
21-25.

# * *

§ 26 Se um redüm ou um bã'irum, cuja ida a uma


X expedição militar do rei tinha sido ordenada, não par-
tiu mas contratou um substituto e (o) enviou em seu
lugar: esse redüm ou esse bã'irum será m o r t o ; seu
10 denunciante receberá a sua casa.

O termo bâ'irum, aqui expresso pelo sumeriograma SU.KU«,


significa normalmente "pescador". Neste parágrafo, porém, e
nos demais parágrafos do CH, indica uma classe de soldados.
Tanto o bã'i/rum como o redüm são títulos militares cujos sig-
nificados exatos nos são, hoje, desconhecidos. O redúm 6 o
bffirum recebiam do rei o usufruto de um terreno da coroa,
mas eles tinham a obrigação de participar pessoalmente dos
empreendimentos militares do rei. A lei previa a pena capital
para qualquer fuga a essa obrigação. A lei ordenava, também,
que, nos casos de punição, a casa do condenado fosse dada cm
seu "munaggirum". A maior pwrte dos intérpretes traduz o
termo munaggirum por "alugado" relacionando o termo em
questão com a raiz agãrum: "alugar". Neste caso, aquele que
tinha sido contratado para substituir devia receber a casa do
condenado. Mas o termo munaggirum é provavelmente um par-
ticípio D da raiz verbal nagárum: "denunciar" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. II, p. 672). Isto
justifica nossa interpretação, que a casa do soldado omisso e
condenado devia ser dada a quem o denunciara. Para maiores
elucidações sobre o redúm e o bffirum, cf. A. FINET, Le Code
de Hammurapi, p. 14, 52; G . R . DRIVER-J. C. MILES, The Ba-
bylonian Laws, vol. I, p. 111 ss.

* * *

§ 27 Se um redüm ou um bã'irum, que foi feito pri-


sioneiro em uma fortificação do rei e cujo campo ou
20 pomar foi, depois disso, dado a um outro e este assu-
miu o seu serviço, se voltou e chegou à sua cidade:
devolver-lhe-ão o seu campo ou o seu pomar e ele
reassumirá o seu serviço.

O sentido deste parágrafo não é totalmente claro, já que o


significado exato de dois termos aqui empregados permanece
incerto. O termo "dannatum" parece designar uma fortifica•

33
ção, um lugar fortificado (cf. W. von SODEN, Akkadischea
Handworterbuch, vol. I, p. 160). Mais difícil, ainda, é a inter-
pretação dá forma, "tu-úr-ru", provavelmente um, stativum D
da raiz verbal târum. A tradução "foi feito prisioneiro" é,
apenas, aproximada.

* # +

30 § 28 Se um redüm ou um bã'irum, que foi feito pri-


sioneiro em uma fortificação do rei, tem um filho 9
que possa assumir o serviço: dar-lhe-ão o campo e o
hO pomar e ele assumirá o serviço de seu pai.

§ 29 Se seu filho é menor e não pode assumir o ser-


viço de seu pai: será dada uma terça parte do campo
50 e do pomar à sua mãe e sua mãe criá-lo-á.

Os parágrafos 27-29 tratam de diversas alternativas do caso de


um soldado que caiu prisioneiro do inimigo. Se não tiver her-
deiro, seu campo e pomar recebidos como feudos por seu ser-
vido no exército do rei serão dados a um terceiro que assu-
mirá, ao mesmo tempo, as obrigações feudais. Se tiver um
filho maior de idade, este substituirá seu pai no usufruto e
nas obrigações do feudo. Caso o filho seja ainda pequeno, sua
mãe receberá um terço do campo e do1 pomar para que possa
com os seus proventos cria/r o seu filho.

* # *

§ 30 Se um redüm ou um bã'irum abandonou seu cam-


po, seu pomar e sua casa por causa de seu serviço 10
60 e se afastou; depois dele um outro tomou seu campo,
seu pomar e sua casa e durante três anos assumiu
seu serviço; se (o primeiro) retornou é exigiu seu
XI campo, seu pomar e sua casa: não lhe serão devolvi-
dos, aquele que (os) tomou e assumiu seu serviço con-
tinuará a fazê-lo.

9. A tradução literal seria: "Se um redüm ou l>H'irum, que foi feito


prisioneiro em uma fortificação do rei, seu filho puder assumir o s e r v i ç o . . . "
10. A expressão Rcá.diçn i-na pa-ni il-ki-im. literalmente "em face do
serviço", indica aqui a causa da fuga: o peso e os inconvenientes do ser-
viço devido.
§ 31 Se ele ausentou-se apenas por um ano e retor-
10 n o u : seu campo, seu pomar e sua casa ser-lhe-ão de-
volvidos e ele assumirá seu serviço.

Os parágrafos 30-31 tratam de duas alternativas de um mes-


mo caso: a fuga de um soldado por causa dé suas obrigações
feudais. Se o afastamento se estende por um período de três
anos, o militar perde totalmente seu direito ao usufruto do
feudo. Se seu afastamento foi apenas de um ano, ele pudera
reassumir seu feudo. É provável que os três anos do § 30
indiquem um período de mais de dois anos completos, neste
caso o § 31 se estenderia a um período menor de dois anos
(cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I,
p. 119).
* * *

§ 3 2 Se um mercador resgatou um redüm ou um


bã'irum, que f o r a feito prisioneiro em uma expedi-
20 ção do rei e o f e z retornar à sua cidade: se ele tem
em sua casa com que resgatar-se, resgatará a si mes-
m o ; se não tem em sua casa com que resgatar-se,
será resgatado pelo templo do deus de sua cidade; se
30 no templo do deus de sua cidade não há com que res-
gatá-lo, o palácio deverá resgatá-lo; m a s seu campo,
seu pomar ou sua casa não serão dados para resgatá-lo.

Um prisioneiro de guerra reduzido à escravidão podia ser


comprado por um mercador (sumeriograma DAM .GÃR) e com
uma caravana desse mercador chegar à sua cidade natal. Neste
caso, o prisioneiro feito escravo devia ser resgatado. O % 32
estabelece a ordem do resgate. A última instância está reser-
vada ao palácio. Este artigo é histórica e politicamente muito
instrutivo; ele nos mostra claramente como na época de Ham-
murabi o templo perde o seu poder centralizador, o palácio é
aqui considerado como o centro de todo o poder. Na corres-
pondência de Hammurabi encontra-se um ótimo exemplo para
elucidar este parágrafo. Em uma carta, Hammurabi ordena a
dois funcionários seus que paguem 10 siclos de prata do te-
souro do templo de Sin em Adab para resgatar um tal Ima-
ninúm capturado pelos inimigos (cf. A. UNGNAD, Babylonische
Briefe aus der Zeit der Hammurapi-Dynastie, Vorderasiatische
Bibliotek, vol. VI, p. 13U).

* * *

U0 § 33 Se um capitão ( ? ) ou um tenente convocou um


E R I M nishatim ou aceitou para uma expedição mili-

35
tar do rei ura mercenário como substituto e o condu-
50 ziu: esse capitão ou esse tenente será morto.

Os dois títulos militares são expressos aqui pelos sumeriogra-


mas LÚ.PA.PA e NU .BANDA. Referem-se, sem dúvida, a
dois oficiais superiores. Possivelmente corresponde LÚ.PA.PA
ao acádico dêkúm: "capitão"(?), enquanto que NU .BANDA
indica o laputtúm: "tenente". O significado da expressão ERIM
(sab) ni-is-ha^tim nos é desconhecido, refere-se provavelmente
a desertores (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch,
vol. II, p. 794b; cf. tb. A. FINEÍT, Le Code de Hammurapi,
p. 55).

* * *

§ 34 Se um capitão ( ? ) ou um tenente tomou um


objeto de um redüm, oprimiu um redüm, alugou um
redüm, entregou um redüm em um processo a um
60 poderoso, tomou um presente que o rei deu ao r e d ü m :
esse capitão ou esse tenente será morto.

A finalidade deste parágrafo ê proteger o redúm, um soldado


de patente inferior, de possíveis arbitrariedades de seus supe-
riores. Os arquivos reais de Mari, da época de Hammurabi,
conhecem um juramento imposto aos oficiais para impedir que
estes confisquem seus soldados ou lhes impeçam a participa*
ção nos despojos de guerra (cf. Archives royales de Mari,
vol. II, 13, 14-17).

§ 35 Se um awllum comprou, da mão de um redüm,


70 gado bovino ou gado ovino que o rei deu ao r e d ü m :
XII ele perderá sua prata.

Um presente real em gado bovino ou ovino feito a um redúm


era considerado como bem inalienável, quem tentasse comprar
um tal bem perdia sua prata.

* * *

§ 36 Campo, pomar ou casa de um redüm, de um


bã'irum ou de alguém obrigado a tributo não poderão
ser vendidos.

10 § 37 Se um awllum comprou o campo, o pomar ou a


casa de um redüm, de um bã'irum ou de alguém obri-

36
gado a t r i b u t o : sua tábua será quebrada, ele perderá
20 sua prata e o campo, pomar ou casa retornarão ao
seu dono.

Os §§ 36-37 estabelecem a inalienabilida.de dos bens imóveis


de um redüm, bffirum ou de um nãéi biltim, isto é: uma pes-
soa obrigada a pagar tributo do usufruto de sua propriedade.
Essas pessoas não eram, "pleno jure", 03 proprietários dos
bens em questão, mas apenas usufruíam de seus frutos. O ver-
dadeiro dono era o palácio. Por isso o contrato formulado na
tábua de argila era inválido, a tábua devia ser quebrada e
como castigo o awilum perdia sua prata.

# * *

§ 38 U m redüm, um bã'irum ou alguém obrigado a


tributo não poderá legar à sua esposa ou filha um cam-
po, pomar ou casa de seu serviço nem (os) dará para
30 ( p a g a r ) u m a obrigação.

Conforme o § 28, o filho herdeiro, maior de idade, podia her-


dar o usufnito do feudo, obrigando-se, com isto, a assumir
também as obrigações ligadas a esse feudo. A esposa ou uma
filha que não podiam assumir as obrigações do serviço, como,
por exemplo: a participação nas campanhas militares do rei,
não podiam receber como legado o feudo. Não sendo "pleno
jure" propriedade do usufrutuário, esses bens não podiam ser
alienados para pagar dívidas contraídas.

* * *

§ 39 U m campo, pomar ou casa que ele compra ou


adquire poderá legar à sua esposa ou filha ou dar
para pagar u m a sua obrigação.

Este § 39 limita claramente o âmbito da inalienabilidade dos


bens de um redúm, bã'irum ou pessoa obrigada a tributo. Ape-
nas os bens recebidos como feudo, para usufruto, eram ina-
lienáveis. Seus bens imóveis comprados ou recebidos em he-
rança pertenciam-lhe "pleno jure" e por isso podia dispor de-
les como desejasse. ,

§ 4 0 A (sacerdotisa) nadítum, o mercador, ou um


40 outro feudatário ( ? ) poderá vender seu campo, po-
m a r ou c a s a ; o comprador deverá assumir o serviço
ligado ao campo, pomar ou casa que comprou.

37
O significado da expressão acádica ilkum ahúm não é clara:
um, feudatário estrangeiro(?), um outro feudatário(?).
Uma comparação entre os parágrafos anteriores e o § 40 mos-
tra claramente que a legislação babilônica distinguia pelo me-
nos dois tipos de feudatários. Um primeiro grupo era for-
mado pelos soldados redúm e bã'irum e pelo feudatário obri-
gado a tributo. Estes não podiam alienar seus bens feudais
(cf. §§ 36-39; U). Um segundo grupo era formado pela sa-
cerdotisa naditum, pelo mercador (sumeriograma DAM. GÃR)
e pelo ilkum ahúm. Estes podiam vender seus bens feudais;
contudo com a "conditio sine qua non" de que o novo proprie-
tário assumisse as obrigações feudais ligadas ao usufruto des-
ses bens.

50 § 41 Se um awilum trocou um campo, um pomar ou


uma casa com um redüm, um bã'irum ou com alguém
obrigado a tributo e pagou (ainda) uma s o b r e t a x a :
o redüm, o bâ'irum ou o obrigado a tributo retornará
a seu campo, seu pomar ou sua casa e levará consigo
60 a sobretaxa que lhe fora dada.

Este parágrafo parece deslocado; ele pertence em si ao com-


plexo §§ 36-39.
O termo acádico niplãtum indica um pagamento adicional dado
para completar o valor de um objeto trocado por outro de
menor valor. Por isso traduzimos aqui niplãtum por "sobretaxa".
i

§ 42 Se um awílum arrendou um campo para cultivá-


lo e não produziu grão no campo: comprovarão con-
XIII tra ele que não trabalhou o campo convenientemente
e ele dará. ao proprietário do campo grão correspon-
dente (à produção) de seu vizinho.

A expressão acádica eqlam ãipram epêsum significa provavel-


mente "trabalhar o campo convenientemente", "conforme as
regras". Portanto toda preocupação do magistrado é compro-
var que o arrendador não produziu nada porque não traba-
lhou o campo convenientemente ou não empenhou o esforço
necessário.
* * *

§ 43 Se ele não cultivou o campo e deixou-o baldio:


10 dará ao proprietário do campo o grão correspondente
(à produção) de seu vizinho, além disso surribará e

n n
deslterroará o campo que ele deixou baldio e o devol-
verá ao proprietário do campo.

Enquanto o § 42 tratava do caso do cultivador incompetente,


este parágrafo pune o locatário negligente. A pena é a ikesma:
pagar em grão o correspondente à produção do campo 'do vi-
zinho. Mas, além da multa prevista, o locatário negligente de-
via entregar ao proprietário o campo trabalhado para o culti-
vo. A expressão acádica eqlam majâri maffãsum indica apro-
ximadamente o nosso "surribar". O terreno deixado baldio de-
via ser trabalhado em profundidade para afofar a terra endu-
recida e eliminar as ervas daninhas.

* * *

§ 44 Se um awllum arrendou um campo baldio por


20 três anos para arroteá-lo, mas negligenciou e não o
arroteou: no quarto ano surribará, cavará e dester-
30 roará o campo e o devolverá ao proprietário do cam-
po, além disso medirá 10 G U R de grão por cada B U R
(de terreno).

Um terreno baldio alugado por três anos devia, dentro desse


período, ser cultivado e produzir •frutos. No caso de negligên-
cia comprovada do arrendatário, este devia, entrega/r no quarto
ano ao dono o terreno preparado para a plantação. Além dis-
so era imposta uma multa de 10 GUR de grão para cada BUR
de terreno arrendado. O GUR — medida de capacidade babi-
lônica — correspondia no período habilônico antigo a SOO qa,
isto é: cerca de 800 litros. A unidade babilônica de superfície
BUR correspondia mais ou menos a 6 hectares, isto é: 60.000 m*.
Portanto o wrrendador negligente devia pagar cerca de 6001
de grão por cada hectare de terreno.

* # *

§ 45 Se um awllum arrendou seu campo a um agri-


ão cultor e ( j á ) recebeu a renda de seu campo e depois
(disso) A d a d inundou o campo ou a torrente carre-
g o u : o prejuízo será do agricultor. *

Adad — aqui expresso pelo sumeriograma DINGIRJM — é o


deus do temporal. O termo bibbulum: "torrente" refere-se pro-
vavelmente à massa d!água proveniente do rompimento de uma
das barreiras dos canais usados na irrigação do solo (cf. W.
von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 125, sub
voce).

39
§ 46 Se ele (ainda) não recebeu a renda de seu cam-
po, quer tenha arrendado o campo pela metade, quer
50 pela terça parte (da p r o d u ç ã o ) : o agricultor e o dono
do campo dividirão o grão, que foi produzido no cam-
po, na proporção fixada.

Este parágrafo apresenta uma outra alternativa ao antece-


dente. Se a renda prevista no contrato para o dono do campo
ainda não foi paga, em caso de inundação ou de outra catás-
trofe natural, o dono do campo e o agricultor, que o arrendou,
dividirão proporcionalmente o que restou, de. acordo com o
teor de sen contrato.

* * *

§ 47 Se o agricultor, p o r q u e n ã o tirou o seu investi-


60 m e n t o no ano anterior, d i s s e : « E u q u e r o c u l t i v a r o
campo»: o proprietário do c a m p o não o impedirá, seu
agricultor c u l t i v a r á seu c a m p o e n a c o l h e i t a ele l e v a -
70 r á o grão c o n f o r m e o seu c o n t r a t o .

Este parágrafo deve, provavelmente, ser considerado como con-


tinuação do tema abordado no § 46. Em conseqüência de um
temporal ou outro desastre natural, o locatário do campo não
conseguiu o suficiente para cobrir suas despesas. Contudo o
contrato de arrendamento era de um ano apenas. Nestes casos
o agricultor podia exigir do dono do campo prorrogação do
contrato. ,
* » *

XIV § 48 Se um awllum tem sobre si uma dívida e A d a d


inundou seu campo, ou a torrente carregou, ou por
falta de água não cresceu grão no c a m p o : naquele
10 ano ele não dará grão a seu credor, ele umedecerá sua
tábua e não pagará os juros daquele ano.

Os contratos babilônieos eram redigidos em tábuas de argila,


geralmente, secas ao sol. Se a superfície escrita era molhada
o texto tornava-se ilegível e assim o contrato era anulado.

* * *

§ 49 Se um awilum tomou emprestado prata a um


mercador e deu (como g a r a n t i a ) ao mercador um cam-
po preparado para o grão ou para o sésamo e disse-
lhe: «cultiva o campo, grão ou sésamo que f o r produ-
zido recolhe e leva c o n t i g o » : se um agricultor produ-

40
ziu no campo grão ou sésamo, no tempo da colheita o
proprietário do campo tomará o grão ou o sésamo que
foi produzido no campo e dará ao mercador grão cor-
40 respondente à (quantidade de) prata, que ele tomou
emprestada, com seus juros e (além disso) dará' ao
mercador os gastos do cultivo.

A expressão e-si-ip ta-ba-al: "recolhe e leva contigo" é muito


freqüente nos contratos da época babilônica antiga. Era um
termo técnico para exprimir um tipo de contrato que era usa-
do quando o devedor não tinha garantias de poder pagar sua.-*
dividas. O campo do devedor era dado como garantia e o cre-
dor podia tirar dali o valor emprestado. Com a reforma de
Hammurabi a força da expressão foi atenuada em favor d<>
devedor. Embora o mercador tenha recebido o campo em um
contrato "esip tabal" como garantia de sua prata emprestada,
contudo a legislação de Hammurabi determina que a colheita
deve ser feita pelo jyroi>rietário que, com os proventos do cam-
po, deverá pagar, com juros, sua dívira e os gastos que n mer-
cador teve com o cultivo do campo (cf. G. E. DKIVF.K-J. C.
. MILES, Tlie Babylonian Laws, vol. I, p. 1.Í5-JS0).

'% .+• t-

§ 50 Se entregou um campo plantado com grão ou um


campo plantado com sésamo, o que for produzido no
50 campo, o dono do campo tomará e restituirá ao mer-
cador a prata com seus juros.

Este parágrafo continua a casuística do anterior. Se. o campo


dado corno garantia já estava semeado, não era necessário
indenizar o mercado pelo cultivo do campo. Nestes casos o
devedor pagava apenas o correspondente à prata emprestada
e os juros.

§ 51 Se ele não tem prata para restituir: dará ao mer-


60 cador [grão] ou sésamo no valor de sua prata, que
ele tomou do mercador, e de seus juros de acordo
com a regulamentação do rei. ^
A expressão simdat s arrim: "regulamentação do rei" indica
os decretos e disposições reais que fixavam o curso dos gêne-
ros de primeira necessidade, e especialmente do grão e da
prata, que eram também meios correntes de pagamento na
sociedade babilônica (cf. § 108). A assiriologia conhece, lioje,
uma série desses decretos. Assim, por exemplo: o rei Ma-
niStusu de Acade 2686-2672 a.C.) fixa o preço de 1 GUR
(cerca de SOO l) de grão em 1 siclo (cerca de 8 g) de prata
(cf. V. SCHEIL, Mémoires de LA délégation en Perse, Paris
1902, vol. II, 7 II 4-7).
* * *

XV § 52 Se o agricultor não produziu grão ou sésamo no


campo, ele não poderá mudar seu contrato.
O sentido deste parágrafo não é claro; o sujeito que não deve
mudar o contrato não é aqui declarado. Provavelmente o §
52 deve ser relacionado com o § 49. Trata-se de um contrato
"esip tabal". O agricultor é contratado pelo credor para tra-
balhar o campo. Se esse agricultor não produzir o suficiente
para cobrir o empréstimo, ou não produzir nada, a perda
será do credor. Ele não poderá mudar o teor do contrato ou
exigir um outro tipo de pagamento (cf. G. R. DRIVER-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 14Ss).

10 § 53 Se um awllum foi negligente na fortificação do


dique de seu campo e (de fato) não fortificou o di-
que de seu campo e abriu-se em seu dique um rombo
e as águas carregaram um terreno irrigado: o awllum
em cujo dique se abriu o rombo indenizará pelo grão
20 que se perdeu.

O termo acádico ugarum — aqui expresso pelo sumeriograma


A.GÃR — que traduzimos aproximadamente como "área ir-
rigada", "terreno irrigado", designa um terreno situado à mar-
gem dos canais que serviam para a irrigação. O ugarum era,
provavelmente, um terreno com uma leve depressão, por isso
facilmente irrigável, protegido contra possíveis inundações por
meio de diques. Cada proprietário de terreno nessa região mar-
ginal era responsável pelo dique que protegia seu campo. Em
caso de comprovada negligência, a responsabilidade era exchi-
sivaménte do proprietário; ele estava obrigado a indenizar seus
vizinhos pelos prejuízos causados (cf. G. R. DRIVERRJ. C. MILES,
The Babylonian Laws, vol. I, p. 150-154).

§ 54 Se ele não pode indenizar o grão: venderão a ele


e a seus bens e os moradores dos terrenos irrigados,
30 cujo grão a água carregou, dividirão.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. Ele pres-


creve o modo de agir com o causador da inundação no caso

42
em que este não possua os meios suficientes para indenizar
os prejuízos causados.

§ 55 Se um awilum abriu seu canal para a irrigação,


f o i negligente e as águas carregaram o campo de seu
v i z i n h o : ele medirá o grão correspondente ao de seu
vizinho.

Este parágrafo parece ter em vista uma possível alternativa


do § 53: Se a água não invadir todo o ugarum, mas apenas
inundar o campo do vizinho. Neste caso a compensação deve
ser proporcional; a medida dessa compensação é o campo do
o litro vizinho.

§ 5 6 Se um awilum abriu a água e a água carregou


40 os trabalhos do campo de seu vizinho: ele medirá para
cada B U R de campo 10 G U R de grão.

Este parágrafo continua, sem dúvida, a casuística, do ante-


rior. Responde à questão como proceder se a água não inva-
diu um campo plantado e florescente, mas destruiu os traba-
lhos de preparação para a semeadura e carregou as sementes.
Nestes casos a pena é claramente determinada: 10 GUR de
grão por cada BUR de campo, isto é: cerca de 500 litros de
grão por cada hectare de terra (cf. para o valor das medidas
babilônicas o comentário ao § 4i).

* * *

50 § 5 7 Se um pastor não entrou em acordo com o pro-


prietário de um campo para apascentar as ovelhas com
a erva e, sem permissão do proprietário do campo,
apascentou as ovelhas no c a m p o : o proprietário do
campo f a r á a colheita de seu campo, além disso o pas-
tor, que sem permissão do proprietário do campo apas-
60 centou ae ovelhas no campo, pagará ao proprietário
do campo por cada B U R 2 0 G U R de grão.

Este parágrafo supõe um costume ainda hoje vigente nos cam-


pos da Palestina, Síria e Iraque. Depois da colheita até à ger-
minação da próxima seara, os rebanhos de ovelhas e carneiros
são levados para os campos, onde se alimentam com os restos
da colheita e com a erva. Mas é, naturalmente, necessária a
permissão do proprietário do campo. A legislação do tempo

43
de Hammurabi previa uma multa bastante pesada para im-
pedir os abusos; o dobro da multa prevista no § 56: cerca
de 1000 litros de grão para cada hectare de terreno.
* * *

§ 58 Se, depois que as ovelhas subiram das terras ir-


70 rigadas e o sinal de f i m de período foi afixado à porta
da cidade, um pastor conduziu as ovelhas para o c a m -
po e apascentou o rebanho no c a m p o : o pastor con-
servará o campo onde apascentou e na colheita m e -
XVI dirá para o dono do campo 6 0 G U R de grão para
cada B U R .

A dificuldade na interpretação deste artigo está na frase ka-


an-nu ga-ma-ar-tim i-na KÁ.GAL it-ta-'a-la-lu. O termo kannu
é semanticamente polivante. Uma raiz kannu I significa "va-
so", "vasilhame", daí a interpretação de W. von Soden, que
os kannu gamartim seriam os "Trankbottiche" dos animais,
isto é: os vasilhames que serviam para dar de beber aos ani-
mais (cf. Akkadisches Handwih-terbuch, vol. I, p. SU, sub voce
"alãlum" II). Mas existe também um kannu II que designa
uma "tira de pano", uma "fita", e podia servir de sinal para
escravos, lutadores, etc. Desta raiz e da significação de
gamartu = "totality", ou "termination", o The Assyrian Dictio-
nary o f - the Oriental Institute of the University of Chicago
tira sua interpretação e traduz: "... and after the sheep have
come up (to the city) from the commons (where they pasture
freely), and the ribbons(?) indicating the termination (of the
period of free pasturing in the commons) have been hung up
in the city gate..." (cf. vol. G, p. 24b sub voce "gamartu").
Nossa tradução segue esta última interpretação.
Embora a tradução da segunda condição do artigo seja in-
certa, o sentido geral do artigo parece claro. O pastor que
fora do período permitido para levar as ovelhas aos terrenos
irrigados (cf. no § 53 o comentário ao termo "ugarum")
apascentar suas ovelhas nesses lugares terá que assumir o
trabalho no campo onde suas ovelhas pastaram e no tempo da
colheita deverá pagar ao dono do campo 60 GUR de grão por
cada BUR de terreno, isto é: aproximadamente 3000 litros de
grão por cada hectare de terreno.

* * *

§ 59 Se um a w l l u m , sem permissão do proprietário


do pomar, cortou madeira no pomar de um (outro)
a w l l u m : pagará meia mina de prata.

Uma mina eqüivalia aproximadamente a um pouco mais de


500 g. A pena imposta é pois cerca de 250 g de prata. Uma

44
r
multa pesada, se se considera que um cscravo valia apenas
um terço de mina (cf. § 214; 252). O rigor da pena é, con-
tudo, compreensível considerando-se a escassez de macieira na
Babilônia. Nesta mesma linha encontra-se na legislação bíbli-
ca do Dcutcronômio a proibição expressa de destruir árvores
frutíferas cm uma cidade conquistada (cf. Dt 20,10-20).

* * *

10 § GO Se um awílum deu a um arboricultor um campo


para plantar um pomar e ele plantou o pomar: du-
rante quatro anos ele fará crescer o pomar, no quinto
20 ano o dono do pomar e o arboricultor dividirão (os
frutos) em partes iguais, o dono do pomar escolherá
sua parte e tomará para si.

Um período de A anos de resguardo para as árvores frutí-


feras é previsto também na legislação bíblica (cf. Lev 19,
23-25).
A legislação de Hammurabi dá ao dono do campo o direito
de escolher por primeiro a parte que desejar, taticamente a
melhor parte ( § 61).

* * *

§ 61 Se o arboricultor não terminou de plantar o cam-


30 po e deixou uma parte não cultivada: colocarão a par-
te não cultivada entre a sua parte.

Este parágrafo continua a problemática do anterior. O arbo-


ricultor, dentro do prazo previsto, não terminou o cultivo de
todo o terreno, mas deixou uma parte niditum, isto é: não
plantada. Na hora da divisão dos frutos do pomar, a parte
não cultivada caberá ao arboricultor.

* * *

§ 62 Se ele não plantou em pomar o campo que lhe


foi dado, se era terra trabalhada, o arboricultor me-
dirá para o dono do campo a renda do terreno pelos
1*0 anos que negligenciou conforme (a renda) de seu vizi-
nho, além disso trabalhará o campo e o restituirá ao
dono do campo.

A lei supõe que o terreno confiado ao arboricultor era um


abéinnum — aqui expresso pelo sumeriograma AB .SfN —, ou
seja: uma terra já trabalhada e preparada para o cultivo.
Neste caso o arborieultor negligente deverá, pagar pelos anos
que perdeu uma renda proporcional à renda do campo do vi-
zinho e o campo deverá ser devolvido a seu proprietário como
foi recebido, isto é: trabalhado e preparado para o plantio.

# * sít

50 § 63 Se era um terreno baldio: ele trabalhará o cam-


po e o entregará ao dono do campo; além disso, me-
dirá por cada B U R 10 G U R de grão por um ano.

Este parágrafo menciona uma outra possibilidade que com-


pleta o anterior. Aqui o terreno confiado ao arborieultor não
é um abSinnum (cf. § 62), isto ê: uma terra preparada para
a plantação, mas sim um nidútum — aqui expresso pelo su-
meriograma KANKAL — ou seja: um terreno baldio, ainda
não trabalhado. A pena prevista para o arborieultor negli-
gente, neste caso, é entregar o campo trabalhado e além disso
pagar ao proprietário do campo uma quantia de 10 GUR de
grão por cada BUR de terreno ao ano, o que corresponde a
cerca de 5001 por hectare. Relacionando-se este parágrafo
com o § 60, o arborieultor deverá pagar a partir do quarto ano.

* * *

60 § 64 Se um awllum deu o seu pomar a um arborieul-


tor para fazê-lo f r u t i f i c a r : enquanto o arborieultor re-
tiver o pomar, dará ao dono do pomar dois terços (da
70 produção), um terço ele tomará para si.

Neste parágrafo é previsto um pomar já, plantado; o contrato


com o arborieultor ê a-na ru-ku-bi-im, isto é: para fecundar
artificialmente as árvores. Os babilônios costumavam fecundar
artificialmente as tamareiras (cf. G. R . DRIVER-J. C. MILES,
The Babylonian La ws, vol. I, p. 163).

* •(! *

§ 65 Se o arborieultor não fez frutificar o pomar e


XVII diminuiu o rendimento: o arborieultor [medirá] a ren-
da do pomar conforme a de seu vizinho.

No caso negativo (cf. § 64), isto é: se o arborieultor não


fecundar as árvores e com isso diminuir a produção, ele de-
verá pagar como multa ao proprietário do pomar kirma i-te-
éu, ou seja, uma quantia proporcional à produção do pomar
de seu vizinho.

46
§ A 1 1 Se um awllum tomou prata de um mercador
e seu mercador exigiu dele o pagamento e ele não
tem nada para pagar e deu ao mercador o seu po-
mar depois da fecundação e disse-íhe; «Toma por tua
prata tantas tâmaras quantas o pomar produzir». Este
mercador não poderá concordar; o dono do pomar to-
mará as tâmaras que o pomar produzir e pagará ao
mercador ia prata e seus juros conforme sua tábua
e as restantes tâmaras que o pomar produzir o dono
do pomar tomará para si.

Ao contrário de um campo de grão ou de sésamo (cf. § 4$)


um poma/r depois da fecundação das árvores não pode ser
objeto de um contrato esip tabal.

* * #

construir uma casa e seu vi-


zinho... 12

§ C . . . ele não lhe dará como preço. Se ele deu grão,


prata ou um bem móvel por uma casa ligada a servi-
ço, que (é) a casa de seu vizinho que ele quer com-
prar: ele perderá tudo o que deu, a casa retornará a
seu proprietário. Se essa casa não for ligada a ser-
viço, ele poderá comprá- ( l a ) ; ele dará por essa. casa
grão, prata ou um bem móvel.

A primeira parte do parágrafo está incompleta. Na segunda


parte trata-se de uma É il-ki-im> isto é: uma casa ligada a uma
obrigação feudal. O texto do artigo não declara erpressamente
quem é o proprietário dessa É il-ki-im. A sacerdotisa naditum,
o mercador (DAM .GÂR) e o ilkum afiüm podiam alienar seus
bens ligados a serviço (cf. § 40). Para o redüm, bffirum ou
nãSi bütim vale a proibição do § 37. Na correspondência dc
Hammurabi encontramos menção a diversos operários e traba-
lhadores do palácio, que recebiam também bens ou benefícios
ligados a obrigações (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Baby-
lonian Laws, vol. I, p. 165, onde o autor apresenta vários exem-
plos testemunhados nas cartas de Hammurabi). ^

11. Sete colunas (cot. XVII-XXIII) . da célebre esteia de Hammurabi, en-


contrada em Susa e conservada, hoje, no museu do Louvre, foram raspadaa
e eão ilegíveis. Os parágrafos perdidos podem, em parte, ser restaurados
pelas duplicatas encontradas em outros lugares. Seguimos aqui a ordem
e as siglas de G. R. Driver-J. C. Miles, The Babyloniam Lawa, vol. II,
p. 34-43.
12. O restante deste parágrafo foi perdido e não foi até agora po3aível
reconstruí-lo a partir de variantes ou de duplicatas.

47
§ D Se um a w l l u m construir sobre o [terreno baldio]
[de seu v i z i n h o ] , s e m permissão de [seu v i z i n h o ] :
ele perderá a casa [que c o n s t r u i u ] e [o terreno baldio
voltará] a [seu proprietário].

Nossa tradução segue a reconstrução do texto feita por DRIVER-


MILES (cf. The Babylonian Laws, vol. II, p. 34). No texto con-
servado temos ni-[di-it i-te-Su], portanto, do sinal cuneiforme
"ni" ê reconstruída a palavra niditxim, que designa um terreno
não cultivado, baldio.
* * *

§ E [Sè um awllum alugou u m a casa a um outro awl-


lum por um a n o ] e o locatário deu ao proprietário [da
casa] toda p r a t a do aluguel de um a n o ; (se) o pro-
prietário da casa disse ao locatário para sair antes
de terminar o p r a z o : o proprietário da casa, porque
fez [sair] de sua casa o locatário antes de terminar o
prazo, perderá a prata que o locatário [lhe] dera.

DRIVERrMiLES rcconstrocm o início do parágrafo aproximadar


mente de acordo com o conteúdo geral do artigo (cf. The Ba-
bylonian Laws, vol. II, p. 36).

* * *

§ H disse: fortalece a tua p a s s a g e m ( ? ) , de


tua casa podem passar (à m i n h a ) ; ao dono do terre-
no baldio: trabalha o teu terreno baldio, do teu ter-
reno baldio podem abrir -uma brecha em minha c a s a ;
(se) ele d e c l a r o u . . . pela passagem ( ? ) . . .

O texto deste parágrafo apresenta-se em estado bem lacunar;


uma reconstriição do texto, ainda que só aproximada, é pra-
ticamente impossível. O termo acádico na-ba-al-ka-at-ka é, em
geral, traduzido por "tua casa em ruínas". Contudo este signi-
ficado não parece confirmado por outros textos babilônicos.
Em seu Akkadisches Handworterbuch, W. von SODEN registra
o significado "Überschreitung" ou também "Übersteigleiter" (cf.
vol. It, p. 694b). A tradução "passagem" é aproximada. Na
tradução do Código de Hammurabi mais recente, a de
Finet, o texto ê reconstruído e traduzido do seguinte modo:
"[Si te voiain d'une maison effondrée ou d'une friche a dit
au propriétaire de la maison effondrée] "répare ton effon-
drement, de ta maison on peut grimper [chez moí\"; (ou s'U
a dit) ay, propriétaire de la friche "occupe-toi de ta friche,
tde~\ ta friche on peut percer (le mur de) ma maison"; (s'J
il a donné [cct avertissenient, ce qui a été per-] du à cause
de Veffondrement [O;Í À cause de la friche, le propriétaire de
la maison effondrée ou de la friche devra (le) compenser]"
(cf. Le Çode de Hamnrurapi, p. 69). Esta tradução fundada
em uma reconstrução bastante hipotética do texto dificilmente
corresponde ao teor original do parágrafo.

* * *

§ L Se um m e r c a d o r emprestou grão com juros: ele


tomará por 1 GUR de grão .. . como juros. Se ele
emprestou p r a t a com j u r o s : ele t o m a r á por um siclo
de p r a t a c o m o j u r o s 1/6 de siclo e seis grãos.

A preocupação do legislador neste parágrafo é evitar a usura


nos empréstimos. Aliás os textos babilônicos desta época nos
mostram como era difícil de extirpar o costume de emprestar
com. usura. Infelizmente não foi conservada no texto a quantia
estipulada com juros no empréstimo de grão. No caso da prata
o mercador podia cobrar de juros ao ano por um siclo (cerca
de 8 g) de prata: 1/6 de siclo e mais 6 grãos. A medida de
peso "grão" (sumério SE, acádico uttetum) eqüivalia a 1/180
de siclo, portanto cerca de 0,05 g. No caso de empréstimo de
prata, portanto, o limite máximo de juros permitido pela lei
era 20%.

* * #

§ M S e u m a w i l u m , que t e m u m a dívida, não t e m p r a t a


para restituir, m a s tem g r ã o : o mercador tomará co-
m o j u r o s o correspondente em g r ã o de acordo com as
prescrições do rei. S e o mercador exigiu como juros
m a i s do q u e . . . por 1 G U R de g r ã o ou 1 / 6 de siclo
e 6 grãos [por um siclo de p r a t a ] perderá tudo o que
emprestou.

Este parágrafo pode, com a ajuda do § L, ser satisfatoriar


mente reconstruído. Ele trata da pena a infligir aos usurários.

. * * #

§ N Se um mercador [emprestou] a j u r o s -.grão [ou


p r a t a ] e ( s e ) recebeu os j u r o s ... do g r ã o e da p r a t a
e (se) ..., o g r ã o ou a prata...

O estado lacmiar do texto e a falta de duplicatas ou de "jointfi"


vão permitem uma reconstrução satisfatória do artigo,

40
§ O [Se um mercador emprestou a juros grãos ou
prata e não recebeu o capital, m a s recebeu os juros do
grão ou da p r a t a ] , e ou não descontou o grão [ou a
prata] que recebeu e não redigiu uma nova tábua ou
adicionou os juros ao capital: esse mercador resti-
tuirá em dobro todo grão ou prata que tomou.

O estado imperfeito de conservação do texto dificulta sua in-


terpretação. Seguindo a reconstrução de DRIVER-MILES, O pará-
grafo parece tratar de dois delitos punidos com a mesma pena.
Uma descrição mais pormenorizada dos delitos é, contudo, mera
conjectura (cf. a explicação de G. R . DRIVER-J. C. MILES, em
The Babylonian Laws, vol. I, p. 178-180). DRIVER-MILES se-
guindo a reconstrução proposta traduzem: "[// a merchant
has given com or silver on loan (and) has not taken the
capital but takes the interest for no much com (or) silver
(as he has lent), whether he has then not caused so much
com (or silver)1 as he has received to be deducted and has
not written a supplementary tablet or has then added the
increments to the capital sum, that merchant must double so
much com (or silver) as he has taken and give (it) back"
(cf. The Babylonian Laws, vol. II, p. Al, § O).
* * *

§ P Se um mercador emprestou a juros grão ou prata


e (se) quando emprestou a juros ele deu a prata e m
peso pequeno ou o grão em um sütum pequeno e quan-
do o recebeu ele quis receber a prata em peso [gran-
de] ou o grão [em um sütum g r a n d e ] : [esse merca-
dor] perderá [tudo o que tiver emprestado].
V

O sütum (sumeriograma GISBÁN) era uma medida babilónica


e correspondia a 10 qa, ou seja: 10 litros.
Os babilônios não conheciam um sistema standard de pesos e
medidas, O mesmo peso variava de cidade para cidade, assim
o GUR da Babilônia valia 300 qa enquanto que em Mari valia
apenas 120 qa. Na mesma cidade podia haver um sistema du-
plo de pesos; por exemplo: o siclo leve e o siclo pesado, etc,
(cf. G . R . DRIVER-J. C . MILES, The Babybonian Laws, vol. I,
p. 180-184).
Este parágrafo alude provavelmente a essa possibilidade de
duplicidade de ?;esos e não tanto a «ma falsificação de medidas.

§ Q Se um [mercador] emprestou a juros [grão oü


prata] sem testemunhas [nem contrato] : ele perderá
tudo [o que] tiver emprestado.
Reconstrução do texto conforme G. R. DUIYER-J. C. MILES,
The Babylonian Laws, vol. II, p. 40.

* * *

§ It Se um awilum recebeu grão ou prata de um mer-


cador e não tem grão ou prata para restituir, m a s
tem bens m ó v e i s : qualquer coisa que tiver em sua
m ã o ele poderá dar ao mercador diante de testemu-
nhas cada vez que trouxer (um o b j e t o ) ; o mercador
não poderá opor-sc, ele deverá aceitar.

Um empréstimo dc (jrão ou r/e prata podia ser pago também


com bens móveis (este é o significado do termo acádico biSum).
A presença de testemunhas é exigida não só para julgar a
equivalência do valor, mas principalmente para garantir o de-
vedor de futuras exigências de seu credor. A lei romana nestes
casos seria: "aliud pro alio invito creditori solvi non potest"
(Justiniano, Dig. XII, i 2 I).

* * *

§ U S e um awllum deu a um (outro) awllum prata


para u m a sociedade: eles dividirão proporcionalmente
diante da divindade lucro ou perda que sobrevier.

O termo acádico tapputum: "sociedade" exprime aqui qualquer


tipo de empreendimento conjunto, uma espécie de societas unius
rei. Na série babilônica "ana ittiSu", publicada por Landsber-
ger (Die Serie ana ittisu, Materialen zum sumevischen Lexi-
kon, Roma 1937, vol. I, 75,9-77,33) é tratado um caso análogo;
os lucros devem ser declarados diante de Samas, o deus Sol,
deus da justiça. A expressão mithariS significa "proporcional-
mente" — e não em partes iguais —, isto é: pro raia, de
acordo com a contribuição de capital de cada sócio.

* * * .

§ V S e um mercador deu a um comissionado prata


para vender ou comerciar e o enviou em uma viagem
de negócios: o comissionado negociará durante a via-
g e m de negócios que lhe f o i confiada. Se lá onde foi
XXIV teve lucro: anotará o lucro de toda a prata que ele
tomou, contará os seus dias e reembolsará o seu
mercador.

Nos §§ V-107 aparece um novo personagem da vida comer-


cial da Babilônia, o samallüm (sumeriograma SAMÁN.LA)

51
ou seja, O comissionado, um pequeno comerciante que recebia
de um mercador praia, grão, etc., para vender e comerciar nas
diversas cidades da Babilônia. Estes parágrafos regulam o
. relacionamento entre o mercador e seu comissionado.
A tradução da parte central do § V é apenas aproximada, o
texto está, em parte, bastante mutilado. Seguimos aqui a re-
construção ~ qUe parece bastante provável — de Finet (cf.
Le Code de Hammurapi, p. 72): SAMÁN.LÁ i-na KASKAL
i-p-qi-du-hm i-ma-ak-ka^ar: "... le commis, au cours de la
mission qui foi a étê confiée, commercera(?)..."
A expressão ut-mi-Su i-ma-an-nu-ú: "ele contará seus dias"
significa, provavelmente, qul o comissionado devia descontar
as suas despesas, que naturalmente dependiam do tempo que
durava a viagem de negócios.

* * *

10 § 101 Se lá onde foi, não t e v e l u c r o : o "comissionado


dará ao mercador o dobro da p r a t a que recebeu.

Este parágrafo parece mostrar que o lucro esperado pelo mer-


cador era de 100%. No caso não parece ter havido negligênr
cia por parte do comissionado, por isso a conclusão de DRIVER-
MILES: "The section thus secures to the tamkãrum at least a
profit of 100 per cent., and it may perhaps be inferred that
the tamkàrun's share of the profits will normally have been
about 50 per eent.; there is therefore a poena duplex as in
several other section" (cf. T h e Babylonian Laws, vol. I, p.
190), não parece provável.

* * *

§ 102 Se um mercador deu a u m c o m i s s i o n a d o prata


como capital de trabalho e aonde ele f o i s o f r e u pre-
20 juízo: ele restituirá ao mercador o capital.

A expressão acádica, não muito comum nos documentos babi-


lônicos, Kt/.BABBAR a-na toad-mi-iq-tim expressa, provavel-
mente, um empréstimo sem juros, a título de ajuda. Por isso,
em caso de prejuízo, o comissionado devolverá ao mercador
apenas o montante em prata recebido "a-na ta-ad-mi-iq-tim .
}V. von Soden traduz: Wenn der Kaufmann dem Gehüfen.
Silber ais Arbeitskapital gibt..." (cf. Grandriss der Akkadi-
schen Grammatik, Roma 1952, p. ISA, 5).
* * *

§ 103 Se durante a v i a g e m de negócios um inimigo


o fez entregar alguma c o i s a q u e c a r r e g a v a : o comis-
30 sionado pronunciará o j u r a m e n t o de deus e s a i r á livre.

62
Em caso de assalto durante a expedição comercial, o comis-
sionado não. estava obrigado a restituir os bens perdidos. Mas,
nestes casos, o comissionado assaltado devia tomar sobre si
um juramento solene feito diante da divindade da cidade,

* # *

§ 1 0 4 S e um mercador deu a um comissionado grão,


lã, óleo ou qualquer bem móvel para vender: o comis-
ÍO sionado anotará a prata e dará ao m e r c a d o r ; o comis-
sionado levará uma tábua selada (com a relação) da
prata que deu ao • mercador.

No fim da expedição comercial, ao fazer as contai com o


mercador, o comissionado deverá exigir do mercador uma tá-
bua selada com o sigilo do mercador, onde será relacionada
exatamente toda a prata que pagou ao mercador. .

* stc *

§ 1 0 5 Se o comissionado foi negligente e não levou a


50 tábua selada (com a relação) da prata que deu ao m e r -
c a d o r : a prata sem documento selado não será colo-
cada na contagem.

A falta do documento selado mencionado no § 104 prejudica o


comissionado. Ele não poderá comprovar o pagamento feito,

ífc * *

§ 106 Se um comissionado recebeu prata de um m e r -


60 cador e contestou seu mercador: esse mercador diante
de deus e de testemunhas comprovorá que o comissio-
nado recebeu prata e o comissionado dará ao merca-
dor até 3 vezes mais toda a prata que recebeu.

• A expressão acádica via-har i-lim ú Si-bi pode ser traduzida


também "diante de deus ou de testemunhas", indicando talvez
a alternativa que o mercador tinha para comprovar a vera-
cidade de sua afirmação:, o ordálio ou o apelo a testemunhas
que presenciaram a entrega da prata ao comissionado. O co-
missionado nega provavelmente a autenticidade do documento
selado que comprova sua dívida junto ao mercador.

* * *

§ 1 0 7 Se u m mercador deu crédito a um comissiona-


do e o comissionado restituiu ao mercador tudo que
X X V o mercador lhe dera, mas o mercador contestou tudo
o que o comissionado lhe deu: esse comissionado com-
provará diante de deus e de testemunhas contra o mer-
cador, e o mercador dará ao comissionado até seis
10 vezes mais tudo o que recebeu, porque contestou seu
comissionado.

No caso de má-fé por parte do mercador a pena imposta é


o dobro da imposta ao comissionado (cf. § 106). Nota-se aqui
uma dimensão de proteção ao mais fraco característica da
legislação de Hammurabi. A dificuldade na interpretação deste
parágrafo é determinar o significado exato do termo i-qí-ip-
ma, da raiz verbal qiãpum: "confiar", que foi aqui traduzido
aproximadamente por "dar crédito", no sentido de "adiantar
um capital a alguém" (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The
Babylonian Laws, vol. I, p. 19físs).

§ 108 Se uma taberneira não recebeu grão como pa-


gamento da cerveja, (mas) recebeu prata em um peso
20 grande ou diminuiu o equivalente de cerveja em rela-
ção ao equivalente de grão: comprovarão (isto) con-
tra a taberneira e a lançarão na água.

O termo acádico sãbitum (sumeriograma Mi.KA&. TIN .NA)


que W . von SODEN traduz por "Schankwirtin", isto é: taber-
neira (cf. Akkadisches Handworterbuch, vol. 11, p. 1000a),
indica a proprietária de um pequeno negócio onde se vendiam
não apenas bebidas, mas outros alimentos e pequenos objetos.
O parágrafo parece referir-se a dois possíveis delitos da taber-
neira: ela não aceita grão como pagamento da cerveja, mas
exige o pagamento em prata e usa um peso maior do que o
corrente (cf. § 51; § M). Ela fornece uma quantidade menor
de cerveja do que o correspondente ao crirso normal do grão
recebido em pagamento. O lançamento na água não significa
aqui um ordálio, mas a execução de uma sentença: morte
por afogamentó.

§ 109 Se uma taberneira, em cuja casa se reuniram


30 malfeitores, não prendeu esses malfeitores e não os
conduziu ao palácio: essa taberneira será morta.

O termo sarru — da raiz sarâru: "enganar", "mentir" — sig-


nifica literalmente mentiroso", "trapaceiro". Mas este pará-
grafo visa não um simples mentiroso, mas o conspirador. Já

54
o rigor da pena mostra tratar-se de um perigo público (cf.
como ilustração Jos 2,1-11).

§ 110 Se uma nadltum ou uma entum, que não mora


AO em UM convento, abriu uma taberna ou entrou na
taberna para (beber) cerveja: queimarão essa mulher.

Este parágrafo espelha a baixa reputação que as tabernas


tinham no tempo de Hammurabi.
A naditum (sumeriograma LUKTJR) e a entum (sumeriogra-
ma NIN .DINGIR) são duas espécies de sacerdotisas.
O sentido da expressão É KAS .TIN.NA ip-te-te: "abrir uma
taberna", não significa certamente "tomar-se proprietária de
uma taberna", mas apenas "abrir a porta de uma taberna".

§ 111 Se uma taberneira deu a crédito um jarro de


cerveja: na colheita ela tomará 5 BÁN de grão.

O sumeriograma KAS .Ü .SA .KA.DÜ corresponde ao acádico


pihu e significava no período babilônico antigo simplesmente
um "jarro de cerveja" (cf. W. von SODKN, Akkadisches Hand-
wôrterbuch, vol. II, p. 862b). A medida de capacidade BÁN
— acádico sütum — correspondia a 10 qa (1 qa = cerca de
um litro).

50 § 112 Se um awllum está em viagem de negócio 13 e


deu prata, ouro, pedras ou outro bem móvel de sua
mão e os consignou a um (outro) awllum para o trans-
porte e esse awllum não entregou o que devia ser
60 transportado no lugar para onde devia ser transpor-
tado, mas tomou para si: o dono do que devia ser
transportado comprovará contra esse awllum a res-
peito de tudo que devia ser transportado e ele não
entregou; esse awllum pagará ao dono do que devia
70 ser transportado até cinco vezes mais do que lhe foi
entregue.
O termo harrãnu indica aqui provavelmente uma "viagem de
negócio" (contra a interpretação de A. FINET, Le Code de

13. j-na 5ar-rn-nim wa-.si-ib-ma: literalmente "mora em uma viagem de


negócios .

55
Hammurapi, p. 76). Um awllum parte para uma viagem co-
mercial e encarrega um outro awllum do transporte dos obje-
tos que deverão ser vendidos nessa viagem. Mas o "transpor-
tador" se apodera indevidamente dos bens a ele consignados.

* * *

XXVI § 113 Se um awllum tem (exigências de) grão ou de


prata sobre um (outro) awllum e, sem consentimento
do dono do grão, tomou grão do celeiro ou da eira:
comprovarão contra esse awllum a respeito do grão
tomado do celeiro ou da eira sem o consentimento do
10 dono do grão e ele restituirá todo o grão que tomou
e perderá tudo que emprestou.

A expressão acádica e-li a-wi-lim SE ú KÜ.BABBAR i-su


significa literalmente "ter sobre um awllum grão ou prata";
o sujeito da frase é o credor que tem direito a grão ou prata
que ele emprestou a um concidadão. A finalidade deste pará-
grafo é, sem dúvida, proteger os devedores. Um credor não
tem o direito — sob pena de perder tudo que emprestou —
de reembolsar-se, por conta própria, no celeiro ou na eira de
' seu devedor, sem a expressa licença deste.

* * *

20 § 114 Se um awllum não tem (exigências de) grão


ou prata sobre um (outro) awilum^ e tomou sua ga-
rantia: por cada garantia ele pesará 1/3 de uma mi-
na de prata.

O termo acádico nipútum indica aqui um ser vivo — homem


ou animal — que serve de garantia de pagamento de uma
divida ou da realização de um compromisso, etc.... (cf. §
116; 241. Cf., também, W. von SODEN, Akkadisches Hánd-
wõrterbuch, vol. II, p. 792b). O credor podia ser reembolsado
com o trabalho do nipútum, mas este continuava propriedade
do devedor e devia ser devolvido logo que a dívida tivesse
sido paga.
No caso de um credor tomar um nipútum de alguém que já
tivesse pago sua dívida, devia pagar ao proprietário do ni-
pútum uma multa de l/S de mina. A mina eqüivalia a cerca
de 500 gramas.

* * *

§ 115 Se um awllum tem (exigências de) grão ou de


30 prata sobre um (outro) awllum e tomou sua garan-

56
tia e a garantia morreu de morte natural 11 na casa
de seu credor: este caso não terá processo.

No caso de morte natural do nipútum durante seu serviço


na casa do credor, o dono desse nipútum não poderá proces-
sar o credor.
* * *

§ 116 Se a garantia morreu na casa de seu credor por


UO pancada ou mau trato: o dono da garantia compro-
vará (isto) contra seu mercador. Se (a garantia) foi
o filho do awllum, matarão seu filho; se foi um es-
. >0 cravo do awílum, ele pesará 1/3 de mina de prata;
r

além disso perderá tudo que tiver emprestado.

Este parágrafo prevê o caso de morte do nipútum por pan-


cadaria ou mau trato do credor. A pena será diversa de acordo
com a pessoa que serviu de nipútum. O devedor deverá, con-
tudo, comprovar oficialmente que a "causa mortis" foi real-
mente a brutalidade do credor. A morte de um filho de awl-
lum exige a aplicação da lei de talião. A morte de um escravo
pode ser compensada com uma multa em prata (cf. também
os parágrafos 214 e 252).

* * *

§ 117 Se uma dívida pesa 13 sobre um awllum e ele


vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou entre-
60 gou-se em serviço pela dívida: trabalharão durante
três anos na casa de seu comprador ou daquele que
os tem em sujeição; no quarto ano será feita sua
libertação.

Alguns termos deste parágrafo não são claros; isto dificulta


sua interpretação. O termo e'iltum pode significar tanto "dí-
vida" como "a obrigação resultante de uma dívida" (cf. W.
von SODEN, Akkadisches Handwõrtei-buch, vol. I, p. 191b). A
forma verbal it-ta-an-di-in foi interpretada acima como um
perfeito da forma N da raiz nadánum e traduzida como um
passivo "entregar-se", isto é: se o awílum entrega-se a si mes-
mo em serviço. Mas a forma ortograficamente igual it-ta-an-
di-in pode, também, ser um pretérito Gtn; então a tradução
seria: "ou (os) entrega em serviço...". Tratar-se-ia então de

H. i-na si-nia-ti-Sa im-tu-ut: literalmente "morreu .««icundo seu destino".


13. Literalmente: íum-ma a-ui-lan) e-(ji-il-tum is-ba-sú-ma: "Se um awi-
lum, uma divida o a p a n h o u . . . "

57
duas possíveis modalidades: ou vender á esposa, filho ou filha,
ou entregá-los em serviço pela dívida. •
A expressão a-na ki-iã-Sa-artim, da raiz kasãSum = "sujeitar",
indica provavelmente um "Schuldsklavendienst" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 492b). Daí a
tradução aproximada de "serviço pela dívida".
O tempo máximo de serviço ou de escravidão por causa de
uma dívida é de três anos, no quarto ano deverão novamente
receber a liberdade (cf. Êx 21,2-11; Dt 15,12-18). .

* # #

70 § 118 Se um escravo ou escrava f o i dado em serviço


pela dívida e o mercador o conduziu para fora (do
p a í s ) : ele poderá vendê-lo, não haverá reivindicação.

O sentido deste parágrafo é discutido e depende da interpre-


tação da forma verbal ú-Se-te-eq, um pretérito S da raiz ver-
bal etêqum. Driver-Miles traduzem "shall let (the pericd of
redemption) expire... ('The Babylonian Laws, vol. II, p. 49)
e Finet: "il laisse ... dépasser (le délai...)". ('Le Code de
Hammurapi, p. 79); portanto em um sentido de deixar pas-
sar um prazo. W. von SODEN apresenta, porém, vários luga-
res em textos babilônicos onde a forma S de etêqum significa
claramente "(über Land) senden, überführen" (cf. Akkadi-
sches Handwõrterbuch, vol. I, p. 262). Este significado, parece
caber melhor dentro do contexto.

§ 119 Se uma dívida p e s a 1 0 sobre um awilum e ele


vendeu a sua escrava, que lhe gerou filhos: o dono
K X V I I da escrava poderá pesar a prata (correspondente à)
que o mercador pesou e redimir sua escrava.

O parágrafo considera o caso de uma escrava vendida para


pagar uma dívida de seu dono. Se essa escrava gerou filhos
ao awilum endividado, este terá sempre, sem limite de tempo,
o direito de resgatá-la.

§ 120 Se um awilum armazenou seu grão na casa de


um (outro) awilum e houve perda no silo, ou porque
10 o dono da casa abriu o celeiro e tomou grão ou por-

te, Literalmente: sum-ma a-wi-Iam e-|)i-il -tum isj-ba-sú-ma: "S<; \i m RWÍ-


lum, uma divida o apanhou. .

58
que contestou completamente ( a quantidade de) grão
que foi armazenado em sua casa: o proprietário do
grão declarará oficialmente diante da divindade (a
quantidade de) seu grão e o dono da casa dará ao
20 proprietário do grão o dobro 17 do que tomou.

O conjunto de parágrafos 120-126 regula juridicamente os


casos de depósito de bens móveis. Um paralelo interessante
encontra-se na legislação bíblica do livro do Êxodo (cf. Êx
. 22,6-9).
0 § 120 soluciona o caso de perda de grão depositado por um
awilum na casa de um concidadão. A perda pode ser ocasio-
nada ou porque o dono do celeiro tira o que ali foi depositado
ou porque nega simplesmente ter recebido grão em depósito.

sfc H»

§ 121 Se um awllum armazenou grão na casa de um


30 (outro) a w l l u m : ciará por ano como taxa de armaze-
nagem por uiri G U R de grão 5 qa de grão.

A taxa anual máxima de armazenagem permitida pela lei é,


pois, S qa (cerca de 5 litros) de grão por uma estocagem dè
1 GUR (— SOO qa, cerca de 300 litros) de grão; cerca de
1,67%.

§ 122 Se um awllum quer dar em custódia a um


(outro) awllum prata, ouro ou qualquer outro b e m :
mostrará a testemunhas tudo o que quer entregar,
AO redigirá um contrato e (então) dará em custódia.

Este parágrafo prescreve como agir juridicamente antes de


depositar algo junto a um concidadão. Somente um depósito
feito diante de testemunhas e do qual existe um documento
oficial está protegido pela lei.

§ 123 Se ele deu em custódia sem testemunhas e sem


contrato e onde ele deu (em custódia) contestaram
50 (o f a t o ) : esse caso não terá reivindicação.

Este parágrafo apresenta possíveis conseqüências jurídicas de


um depósito feito sem as precauções legais indicadas no § 122:

17. Em ac&dico: uè-ta-§a-na-ma ... i-na-ad-di-in, literalmente: "dobrará


. . . e dará".

59
se quem recebeu o depósito negar o fato, o depositante não
poderá recorrer a um processo.

* * *

§ 124 Se um awllum deu em custódia a um (outro)


awllum, diante de testemunhas, prata, ouro ou qual-
60 quer outro bem e este contestou (o f a t o ) : compro-
varão (isto) contra esse awilum e ele dará o dobro 1S
de tudo que contestou.
Este parágrafo parece em desacordo com o § 122. Aqui é
apresentado um caso de contestação a um depósito feito diante
de testemunhas, mas sem menção à redação de um contrato,
e contudo o depositante goza da proteção legal (cf. a discus-
são da problemática deste parágrafo em G. R. DRIVER-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 237-239). Será o §
124 resto de uma legislação antiga e os parágrafos 122-123
com a exigência do contrato uma inovação de Hammurabi?

* * *

§ 125 Se um awllum deu em custódia qualquer coisa


sua e lá onde depositou, desapareceu, quer por uma
70 brecha quer por uma escalada do muro ( ? ) , qualquer
coisa sua juntamente com qualquer coisa do dono da
casa: o dono da casa, porque foi negligente, deverá
substituir tudo que lhe foi dado em custódia e desa-
pareceu e restituir ao dono dos bens; o dono da casa
XXVIII procurará sua propriedade perdida e a retomará do
ladrão.

A compreensão deste parágrafo depende em parte da interpre-


tação das duas expressões acádicas i-na pi-il-Si-im e i-na na-
ba-al-ka-at-tim. O termo pilSum: "buraco", "brecha", indica,
sem dúvida, a brecha feita pelo ladrão no muro de tijolos se-
cos ao sol de uma casa (cf. § 21). Já o significado de nabal-
kattum — também encontrado no parágrafo H — é menos
claro. W . von SODEN propõe para este lugar do Código a tra-
dução "Überschreitung von Grevsmauern" (cf. Akkadisches
Handwõrterbuch, vol. II, p. 094b), que cabe perfeitamente no
contexto do parágrafo. O objeto depositado pode, pois, ter de-
saparecido quer por uma brecha feita por um ladrão no muro
da casa quer em uma escalada do ladrão pelo muro da casa.

18. Em acádico uá-ta-áa-na-ma ... i-na-ad-di-in, literalmente: "dobrará


. . . e dará".
§ 126 Se um awllum, (embora) não tenha desapare-
cido coisa alguma sua, declarou: algo meu desapare-
ceu e culpou o seu distrito: seu distrito comprovará
diante da divindade contra ele que nada seu desapa-
receu e ele pagará ao seu distrito o dobro 19 daquilo
que reclamou.
O termo bãbtum — significado original "porta" — indica
não só o distrito, quarteirão geográfico, mas também o con-
selho administrativo desse distrito. O sentido deste parágrafo
parece bem claro. Um cidadão acusa falsamente a perda de
um bem seu e responsabiliza a administração de seu distrito
pela pseudoperda do objeto. O funcionário responsável deverá
comprovar diante do deus da cidade a inconsistência da acusa-
ção. Como pena pela falsa acusação, o awilum deverá pagar
à caixa da administração rf# distrito o dobro do que reclamou.

* * *

§ 127 Se um awllum estendeu o dedo contra uma


èntum ou contra a esposa de um (outro) awllum e
não comprovou: arrastarão esse awllum diante dos
juizes e raspar-lhe-ão a metade de sua (cabeça).
O sentido da prótase deste parágrafo é claro: um awilum
levanta uma falsa acusação contra uma sacerdotisa cntum
(cf. § 110) ou contra a esposa de um outro awilum. A. FINET
traduz a primeira frase da apódose "cette personne on la
flagellera" <*Le Code de Hammurapi, p. 83). Ele interpreta,
pois, a forma i-na-ad-du-ú-Su como presente de um verbo nadü,
forma secundária de natü = "bater", "flagelar". O castigo da
flagelação — comum nas leis assírias (cf. G. CARDASCIA, Les
Lois assyriennes, Paris 1969, A § 18, 19, 21, 44) — é bastante
raro na legislação de Hammurabi (só em § 202). Deve-se an-
tes tomar o verbo nadü em sua acepção normal de "jogar",
"lançar" e, com a preposição mahar, "arrastar diante de" (cf.
W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 706).
O primeiro passo seria, neste caso, arrastar o acusador diante
dos juizes. A pena prevista é expressa pela frase mu-ut-ta-sú
ú-gal-la-bu. O sentido do verbo galâbu na forma D é "raspar",
"barbearO termo muttatum significa em si "metade" (cf.
W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 689b) ;
aqui trata-se, provavelmente, da metade da cabeleira. Isto era,
sem. dúvida, um sinal de infâmia. Também os escravos eram
caracterizados na Babilônia por um corte especial dos cabelos
(cf. §§ 226-227).

19. Em acádico ui-ta-Sa-na-ma ... i-na-ad-di-in, literalmente: "dobrará


. . . e dará".

61
40 § 128 Se um awllum tomou uma esposa e não redigiu
o seu contrato: essa mulher não é sua esposa.

Para o legislador do § 128 o elemento jurídico essencial do


matrimônio babilônico ê o contrato escrito (acádico: riksãtum).
> * * *

§ 129 Se a esposa de um awllum foi surpreendida dor-


mindo com um outro h o m e m : eles os amarrarão e os
50 jogarão n'água. Se o esposo perdoa 2 0 sua ^esposa, o rei
(também) perdoará 2 0 o seu servo.

Se os adúlteros forem presos em flagrante a pena c o afoga-


viento. Mas a lei de Hammurabi prevê uma possibilidade de
anistia: o perdão do marido. Nas leis assírias a mesma pos-
sibilidade de anistia é expressa pela formulação: "O adúltero
será tratado como o marido tratar sua esposa" (cf. G. CAR-
DASCÍA, Les Leis assyriennes, p. 118, A § IA). Na legislação
bíblica a pena de morte é considerada irreversível (cf. Dt
22,22).
* * *

§ 130 Se um awllum amarrou a esposa de um (outro)


60 awllum, que (ainda) não conheceu homem e mora na
casa de seu pai, e dormiu e m seu seio e (se) o sur-
preenderam: esse awllum será morto, m a s essa m u -
lher será posta em liberdade. ,

O caso previsto neste parágrafo, como claramente demonstra


o verbo acádico usado kabãlu: "amarrar", "imobilizar", ê de
violentação de uma mulher casada. O stütus dessa "esposa" é
especial. Ela é esposa porque um contrato matrimonial já foi
redigido (cf. § 128), contudo ela é ainda virgem (este é o
sentido da expressão: zi-ka-ra-am la i-du-ú-ma: "não conheceu
homem") e habita a casa de seu pai. Um paralelo interessante
a este parágrafo ê a legislação bíblica de Dt 22,23-27.

* # *

§ 131 Se a esposa de um awllum, seu marido a


70 acusou - 1 , m a s ela não f o i surpreendida com um outro
h o m e m : ela pronunciará o juramento de deus e vol-
tará para a sua casa.

iu. Km iK-ádicn: ú-l>a-lfi-nl. literalmente: "deixa viver .


i'l. Tradução literal .da formulação acáilica sum-mn a-Síirftt a-wi-t.m
mu-.^à ú-ut>-tii-ir-si-nia. . .

62
Este parágrafo apresenta o caso de uma esposa acusada de
' adultério por seu próprio marido. Não há flagrante nem é
mencionado o nome do amante. Mas na falta de provas, é
previsto pela lei um juramento diante do deus da cidade. Sub-
metendo-se a este juramento religioso, a esposa comprova sua
inocência e pode voltar para casa. A expressão arna É-Sa :
"para a sua casa" indica provavelmente a casa paterna, dessa
mulher (cf. § 142),
* * *

§ 1 3 2 S e contra a esposa de um awllum foi levantado


80 o dedo por causa de um outro h o m e m m a s ela não
XXIX foi surpreendida dormindo com um outro h o m e m : pa-
r a seu esposo ela m e r g u l h a r á no rio.

Como no parágrafo antecedente, a esposa é acusada sem pro-


vas convincentes. O acusador aqui não é o esposo, mas um
concidadão. Para comprovar ao esposo sua inocência, ela de-
verá submeter-se a um ordálio. O sumeriograma ÍD = rio —
precedido do determinativo de nomes divinos DINGIR — mos-
tra que o rio (provavelmente o Eufrates) é aqui considerado
como uma divindade. O deus Rio, como juiz divino, demons-
trará ao esposo a inocência de sua esposa. Um caso análogo
de ordálio encontra-se também no Antigo Testamento (cf.
Núm 5,11-31).
* * *

§ 1 3 3 S e u m awllum a f a s t o u - s e secretamente e em sua


10 casa há o que c o m e r : [sua esposa g u a r d a ] r á [a sua
casa e cuidará de s i ] m e è m a . [ E l a não entrará na
casa de u m o u t r o ] . [ S e ] çssa mulher não cuidou de
20 si m e s m a e entrou na ca|a de u m outro ( h o m e m ) ,
comprovarão (isto) contra; essa mulher e a lançarão
n'água. I

O texto da primeira parte do parágrafo está bastante dani-


ficado. Uma reconstrução a partir da segunda parte corespon-
de provavelmente ao texto original. A nossa tradução segue a
reconstrução textual de A. FINET (cf. Le Code de Hammurapi,
p. 86). Os §§ 133-135 usam a forma verbal iS-Sa-li-il, forma N
de uma raiz salãlum. É. conhecida uma raiz éll que, em com-
binação com o substantivo sallatu, significa "levar como, presa".
Mas W . von SODEN, estudando a forma isSalil, postula a exis-
tência de um Salãlum II com o significado de "sich davon

22. Em acáiiico: Sum-ma ng-sa-at n-wi-lim aS-sum zi-lia-i-l-tm sa-ni-im


ú-hn-nu-um e-li-Sa it-ta-ri-i$-ma. literalmente: "Se a esposa de um
lnm, por causa de um outro homem foi levantado o dedo contra e l a . . .

63
schleichen" (?) (cf. Orièntalia 20, 263-264; Grundriss der Akka-
dischen Grammatik, p. 136, § 101 g). Daí nossa tradução
"afastar-se secretamente".

* * *

§ 134 Se um a w l l u m a f a s t o u - s e secretamente e em
30 sua casa não há o que c o m e r : sua esposa poderá en-
trar na casa de u m outro. E s s a mulher não t e m culpa.

Na legislação assíria os motivos da ausência são claramente


determinados: negócios particulares ou missão pública. No caso
de negócios particulares, se o marido não tivesse deixado o
sustento ou a mulher não tivesse filhos maiores que a pudes-
sem sustentar, a esposa devia esperar cinco anos. Depois de
cinco anos, ela era livre de contrair um novo matrimônio e
seu primeiro marido, ao voltar, não podia impugnar esse se-
gundo matrimônio. Mas um matrimônio contraído antes dos
cinco anos legais podia ser impugnado pelo primeiro marido. No
caso de afastamento em cumprimento de uma missão pública,
a mulher devia esperar mesmo que a ausência se prolongasse
além dos cinco anos. Neste caso ela era, certamente, susten-
tada pelo Estado (cf. G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes,
Paria 1969, A § 36 e comentário p. 184-191).

* * *

§ 135 Se um a w l l u m a f a s t o u - s e secretamente e em sua


40 casa não há o que comer e antes de sua volta sua es-
posa entrou na casa de um outro e gerou f i l h o s ; de-
pois disto seu marido voltou e chegou à sua cidade:
50 essa mulher voltará para o seu primeiro m a r i d o ; os
filhos seguirão seu pai.

O termo acádico hãwirum — derivado de uma raiz hiãrum:


"escolher", "eleger" (cf. W . von SoDEN, Akkadisches Hand-
worterbuch, vol. I, p. 342b) designa aqui o primeiro marido.
O teor da lei é claro: O primeiro marido voltando à sua cida-
de poderá reclamar a sua esposa, mas não tem direito algum
sobre os filhes gerados no segundo matrimônio.

* # *

§ 136 S e um a w l l u m abandonou sua cidade e fugiu,


60 ( e ) depois de sua s a í d a 2 3 sua esposa entrou na casa

28. Em acádico: wa-nr-ki-§u, literalmente: "depois dele".

64
de um o u t r o ; se este awllum voltou e quer retomar
, sua e s p o s a : a esposa do fugitivo não retornará a seu
7CL esposo, porque ele desprezou a sua cidade e f u g i u .

Este parágrafo continua e completa a casuística do complexo


133-135. Lá falava de um iSSalil: "afastar-se secretamente",
nem maiores determinações do motivo do afastamento. O §
136 determina que se a ausência é culposa, isto é: se ela sig-
fica uma fuga à responsabilidadè de cidadão, a esposa desse
! fugitivo é livre do vínculo matrimonial. Seu primeiro marido
não poderá impugnar seu segundo matrimônio.

* * *

80 § 137 Se um awllum decidiu repudiar uma sugétum,


! que lhe gerou filhos, ou uma nadltum., que lhe obteve
f i l h o s : devolverão a essa mulher o seu dote e dar-
1 lhe-ão a m e t a d e do campo, do pomar e dos bens mó-
J XXX veis e ela educará os seus filhos. Depois que tiver
' . educado os seus filhos, de tudo o que foi deixado para
1 seus filhos, dar-lhe-ão a parte correspondente & de um
I 10 herdeiro e o homem de seu coração poderá tomá-la
como esposa.

A sugétum e a nadltum pertenciam a duas classes diferentes


de sacerdotisas babilônicas. No caso da sugétum é usado o
verbo walãdum: "gerar", "dar à luz"; para a nadltum é em-
• pregado o verdo rasú: "ter", "obter", "receber". De fato, a
sacerdotisa sugétum podia casar e gerar filhos, enquanto que
a nadltum podia casar, mas não lhe era permitido gerar filhos
pessoalmente. "Seus" filhos eram gerados por uma escrava (cf.
§ 14.4, 146).
j * * *

j § 138 S e um awllum quer abandonar sua primeira es-


,! 20 posa, que não lhe gerou f i l h o s : dar-lhe-á a prata cor-
j respondente ao terhatum e restituir-lhe-á o dote que
I trouxe da casa de seu pai; (então) poderá abandoná-la.
1 V
A finalidade deste § é proteger a mulher repudiada. Trata-se
| de uma hlrtum, isto é: da primeira esposa, que não conseguiu
gerar filhos a seu marido. Para poder abandoná-la, ele deverá
indenizá-la. Como indenização a lei prevê o pagamento em pra-
; ta do correspondente ao valor do terhatum, isto é: do preço
| que o pai do noivo pagou ao pai da noiva. Além disso a
i hlrtum repudiada levará consigo o dote que trouxe da casa
de seu pai.

65
i
§ 139 Se não há t e r h a t u m : dar-lhe-á uma mina de
prata como indenização de repúdio.

Uma mina de prata — cerca de 500 gramas — era uma inde-


nização bastante elevada. Um casamento sem • terhatum acon-
tecia, provavelmente, quando a esposa era uma estrangeira
raptada ou trazida como presa, de guerra. Para evitar arbi-
trariedades contra a estrangeira, a lei impunha uma indeni-
zação bastante elevada que substituía, no caso, a falta de
terhatum e de dote.
* * *

30 § 140 Se é um m u ã k ê n u m : dar-lhe-á um terço de u m a


mina de prata.

Este parágrafo continua a casuística do precedente. Trata-se


como no § 139 de um casamento sem terhatum; o marido que
requer o divórcio não ê um awilum mas um muSkênum,. al-
guém socialmente inferior ao awilum.

# # *

§ 141 Sé a esposa de um awilum, que mora na casa


40 do awilum, decidiu ir embora e criou para si um pe-
cúlio, dilapidou sua casa, negligenciou seu m a r i d o :
comprovarão (isto) contra ela. Se seu marido decla-
rou que deseja repudiá-la, ele poderá repudiá-la. Ele
50 não lhe dará coisa alguma, nem para s u a , v i a g e m , nem
como indenização de separação. Se seu marido decla-
rou que não deseja repudiá-la, seu marido poderá to-
m a r uma outra mulher e aquela (primeira) mulher
morará como uma escrava n a casa de seu marido.

A expressão acádica si-ki-il-tam i-sà-ak-ki-il, da raiz sakãlum:


"adquirir ocultamente" (cf. W . von SODEN, Akkadisches Hand-
wõrterbuch, vol. II, p. 1010b) indica que a esposa formava
para si ocultamente um capital tirado dos bens de seu ma-
rido. Este parágrafo trata de um caso onde o marido pode
repudiar sua esposa sem obrigação alguma de indenização.
Contudo é necessária uma comprovação oficial dos delitos da
esposa.
# * *

60 § 1 4 2 Se uma mulher tomou aversão a seu esposo e


disse-lhe: « T u não terás relações c o m i g o » 2 4 : seu caso

24. Em acádico: ú-ul ta-ah-Jja-ZK-an-ni, literalmente: "tu não me tornaria".

66
será examinado e m seu distrito. S e ela f o r irrepreen-
70 sível e não tiver f a l t a e o seu esposo f o r um saidor
XXXI e a tiver humilhado m u i t o : essa mulher não t e m cul-
pa, ela t o m a r á seu dote e irá para a casa de seu pai.

Este parágrafo prevê o caso em que uma esposá toma tal


aversão a seu marido que lhe nega o direito a relações matri-
moniais. As causas dessa aversão devem ser examinadas pelos
juizes de seu distrito administrativo. Em relação à esposa é
constatado que ela é na-as-raz-at, isto é: "ela se conserva em
ordem" e hi-ti-tam la i-Su: "ela não tem falta"; seu marido,
ao contrário, é um wc^-çí, literalmente: "um saidor", isto é:
ele sai constantemente de casa à procura de outras mulheres
e deste modo negligencia sua esposa completamente. Neste caso
a recusa de relações matrimoniais não é culposa, ela pode
abandonar seu marido e levar consigo o seu dote.

* * *

§ 1 4 3 Se ela não é irrepreensível, m a s é u m a saidora,


dilapida s u a casa e desonra seu m a r i d o : j o g a r ã o essa
10 mulher n'água.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. Caso a


mulher que negou relações matrimoniais a seu marido não
seja julgada irrepreensível pelos juizes do distrito, antes eles
constatarem que ela ê uma wa-si-a-at, isto é: "uma saidora",
vive constantemente fora de casa, nas ruas, correndo o perigo
de ser considerada uma prostituta ou mesmo de cometer adul-
tério, negligenciando deste modo seus deveres familiares e sua
casa. Neste caso a mulher deve ser declarada culpada. A pena
prevista é o afògamento (cf. § 129 a mesma pena para o caso
de adultério flagrante).

§ 1 4 4 Se u m a w l l u m tomou uma nadltum por esposa


e essa n a d l t u m deu a seu esposo uma. escrava e esta
lhe gerou f i l h o s ; (se) esse awllum decidiu t o m a r por
20 esposa u m a s u g è t u m : eles não permitirão (isto) a
esse a w i l u m , ele não poderá t o m a r por esposa a
êugêtum.

§ 1 4 5 Se u m awilum tomou por esposa uma nadltum


30 e esta não lhe conseguiu filhos e (se) ele decidiu t o -
m a r como esposa u m a ã u g ê t u m : esse awilum poderá
t o m a r a á u g ê t u m como esposa e introduzi-la em sua

67
40 . casa. E s s a sugétum não será, (contudo), igualada à
naditum.

Os parágrafos 14A-U5 mostram a superioridade da sacerdo-


tisa naditum em relação à Sugêtum. A naditum não podia, por
lei, [gerar pessoalmente filhos a seu marido, mas ela podia
suprir por meio de uma escrava sua a necessidade de descen-
dência de seu marido. Só no caso de falta de descendência
era permitido ao marido da naditum esposar uma sacerdotisa
de classe inferior, a sugétum. Mas, mesmo neste caso, ela não
podia ser colocada em pé de igualdade com a naditum (cf.
também § 137 com o comentário).

* * *

§ 146 Se um awilum tomou por esposa u m a naditum


e esta deu uma escrava a seu marido e ela gerou f i -
50 lhos e m a i s tarde essa escrava quis igualar-se à sua
s e n h o r a : por causa dos filhos que gerou, sua senhora
não a venderá, ( m a s ) colocar-lhe-á a m a r c a de escravo
e a contará com os escravos.

O termo acádico abbuttum indica provavelmente um corte típi-


co de cabelo que era característico dos escravos (cf. §§ 226-
227). A escrava que gerava filhos em lugar da naditum estava,
certamente, dispensada de trazer esta marca de sua condição
social (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. SOSs).
* * * i

60 § 147 Se não gerou filhos: sua senhora vendê-la-á.

O parágrafo 147 continua a casuística do antecedente. Uma


escrava que gerou filhos em lugar da esposa naditum não
poderá ser vendida, mesmo que se rebele contra sua senhora.
Neste caso perderá todos, os seus privilégios e será consi-
derada como uma simples escrava. Se, porém, ainda não gerou
filhos em lugar da naditum, poderá ser vendida por sua senhora.

§ 148 S e um a w l l u m t o m o u u m a esposa e esta f o i


.70 . . a c o m e t i d a da doença la'bum e ( s e ) ele decidiu espo-
s a r u m a o u t r a : ele poderá esposar, m a s não poderá
repudiar a sua esposa, que a doença l a ' b u m acometeu.
80 E l a m o r a r á n a casa que construíram e ele a susten-
tará enquanto ela viver.

A doença la'bum era uma espécie de febre contagiosa (cf.


W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 5Mb;

68
R. LABAT, Traité akkadien de diagnostics et pronostics mé-
dicaux, Leiden 1951, XXVII). Não se conhecem maiores deta-
lhes sobre essa doença. Este artigo se enquadra perfeitamente
dentro da linha de reforma de Hammurabi com sua preocupa-
ção pelos fracos e desprotegidos.

* * *

XXXII § 1 4 9 S e essa mulher não concordou e m morar na


casa de seu m a r i d o : ele devolver-lhe-á o dote que
t r o u x e da casa de seu pai e ela irá embora.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. A esposa


gravemente enferma, acometida da doença la'bum, não poderá
ser repudiada por seu marido. Mas, se ela não quiser conti-
nuar a morar na casa de seu marido com a nova esposa deste,
ela terá o direito de voltar à sua casa paterna. Neste caso o
marido está obrigado a devolver-lhe integralmente o seu Se-
rihtum, isto é: o dote que trouxe da casa paterna.

10 § 1 5 0 Se um awílum deu de presente à sua esposa um


campo, um pomar, uma casa ou um bem móvel e dei-
xou-lhe u m a tábua selada: depois (da m o r t e ) de seu
esposo os seus filhos não poderão fazer reivindicação
20 contra ela. A m ã e poderá dar sua herança ao filho
que ama, m a s não poderá dar a um estranho.

Este parágrafo regulamenta casos — não tão raros — em que


a esposa, durante a vida do marido, recebe bens imóveis ou
móveis de seu marido. Se estes presentes foram fixados em um
documento selado, os filhos, após a morte do pai, não podem
exigir a devolução dos mesmos. Eles não pertencem ao bloco
da herança, que deve ser repartido entre os herdeiros. Sua mãe
pode dispor deles e dá-los a seu filho preferido. Só não pode
alienar esses bens.

§ 1 5 1 Se u m a mulher, que habita na casa de um awí-


lum, obrigou seu marido a redigir uma tábua para
30 que o credor de seu marido não a possa responsabi-
l i z a r 2 5 ; se esse awílum, antes de tomar essa mulher
AO como esposa, tinha sobre si u m a dívida: seu credor

25. Em Rcádico a?-!um be-el j)u-bu-ul-im ... Ia ça-ba-tí-sa, literalmente:


"jinra que o credor... não a prenda".

69
não poderá responsabilizar 2n sua esposa e se essa m u -
lher, antes de entrar na casa do awllum, tinha sobre
50 si uma dívida: seu credor não poderá responsabili-
zar 26 seu marido.

§ 152 Se, depois que a mulher entrou na casa do awl-


lum, recaiu sobre eles uma dívida: ambos deverão
$0 pagar ao mercador.

0 sentido dos §§ 151-152 — ainda que considerados conjunta-


mente — não ê completamente claro. A problemática do pará-
grafo gira em torno de um hubullum, isto é: uma divida one-
rada com juros (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handworter-
buch, vol. I, p. 351b: "verzinsliche Schuld"). A questão é sa-
ber se o documento selado do § 151 isenta um parceiro da res-
ponsabilidade das dívidas pessoais do outro parceiro apenas no
caso de dívidas contraídas antes da coabitação ou de qualquer
dívida pessoal de um dos parceiros contraída antes ou depois
da coabitação (cf. G. R . DRIVER-J. Ç. MILES, T h e Babylonian
Laws, vol. I, p. 230-233). Neste segundo caso a expressão acá-
dica e-li-su-nu: "sobre eles" do § 152 indicaria que ambos são
responsáveis se a dívida é contraída pelou dois. Uma variante
textual lê, em. vez de. e-li-Su-nu: "sobre eles", e-li mu-ti-ãa:
"sobre seu marido". Esta variante é, sem dúvida, uma glosa
explicativa; mas ela mostra provavelmente como o redator da
glosa compreendia e interpretava a lei: a isenção de respon-
sabilidade da esposa vale — caso ela possua um documento
selado — apenas para as dívidas contraídas por seu marido
antes da coabitação. Após a coabitação ambos serão respon-
sáveis. A legislação assíria determina que, se a mulher já
recebeu o seu nudunnú: "presente nupcial", ela suportará o
peso e a responsabilidade das dívidas, faltas e penas de seu
marido (cf. A § 32 — G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes,
p. m).
* # *

§ 153 Se a esposa de um awllum, por causa de um


outro homem, mandou m a t a r seu m a r i d o : essa mulher
será e m p a l a d a . 2 7

A legislação de Hammurabi prescreve a pena de morte por


empalação a uma esposa que por causa de um amante pro-
curar a morte de seu marido. A lei não declara que tipo de

•>{\. Em ncádio l.e-el |ju-l>u-ul-li-5u/3a ••• ú-ul i-ja-ba-tu. literalmente:


••síu c r e d o r . . . não poderá prender". ... ,
27. Em ncádico i-na • sa-Si-Si-im i-Sa-ak-ka-nu-si. literalmente: eles n colo-
carão em estacas".

70
morte liqüida o marido. Não é dito, outrossim, se a esposa
culpada devia ser morta antes da empalagão. . Provavelmente a
mulher era; antes, morta e depois empãlada (cf. § 21 — cf.
também a legislação bíblica em Dt 21,22-23). A legislação as-
síria previa a pena de empalação somente para uma mulher
que praticou voluntariamente um aborto (cf. G. CARDASCIA,
Les Lois assyriennes, p. 244, A § 53).

70 § 1 5 4 Se um awllum teve relações 2 3 com sua filha:


eles f a r ã o esse awllum sair da cidade.

O verbo lamãdum: "conhecer", "experimentar" é usado aqui


eufèmisticamente para expressar relações sexuais. A lei babi-
lônica prescreve a pena de banimento para casos de incesto
com a própria filha. A pena de banimento incluía natural-
mente o desligamento de sua família, a perda de seus bens e
propriedades, bem como a perda dos direitos de cidadão. Nada
é dito sobre a sorte da filha. Mas, provavelmente, é pressu-
posto que a filha, sob a dominação do pai, não é um agente
livre e por isso não é considerada culpada. As leis bíblicas
não falam deste caso específico de incesto (cf. Lev 18,6-18;
20,10-21; Dt 27,20ss).

§ 1 5 5 S e um awllum escolheu uma noiva para seu f i -


lho e seu filho teve relações 29 com ela e depois ele
80 (o a w l l u m ) dormiu em seu seio e o surpreenderam:
XXXIII eles amarrarão esse awllum e o jogarão n'água.

§ 156 Se um awllum escolheu u m a noiva para seu


filho e seu filho não teve relações 3 0 com ela e ele
10 m e s m o dormiu em seu seio: ele pesará para ela meia
m i n a de prata e restituir-lhe-á tudo o que tiver tra-
zido da casa de seu p a i ; o marido de seii coração po-
,derá tomá-la como esposa.

Os §§ 155-156 tratam do caso de incesto do pai com a "noiva"


(acádico kullâtum, aqui expresso pelo sumeriograma Ê.GI*.A)
escolhida para seu filho. Se o filho já tiver consumado o ma-
trimônio com essa mulher, o pai será tratado e punido como
um adúltero (cf. §§ 129-133). O % 156 prevê, porém, o caso

"lli. Km acádico sum-ma a-wT-íum DUMU.Mf-sú il-ta-ma-ad, literalmente:


"Se um auHum conheceu sua f i l h a " . . .
251. Em acádico DUMU-su il-ma-si, literalmente: "e seu filho a conheceu".
30. Em acádico DUMlT-su la. il-ma-sí-ma, literalmente: " . . . e seu filho
não a conheceu".

71
de um matrimônio ainda não consumado. Neste caso o pai que
dormiu com a noiva de seu filho é obrigado a pagar a essa
mulher meia mina (cerca de 250 g) de prata como indeniza-
ção pela violação e restituir-lhe integralmente o seu dote. De-
pois disso essa mulher é livre. Ela pode ser esposada por
quem lhe agradar.
* * *

§ 157 Se um awilum, depois (da morte) de seu pai,


20 dormiu no seio de sua mãe: eles queimarão a ambos.

A relação incestuosa do filho com sua mãe é punida com a


cremação (cf. no § 110 a mesma pena aplicada a uma nadi-
tum ou a uma êntum que freqüente uma tabema). A legis-
lação bíblica do livro Levítico prevê a pena de cremação para
o homem que casar ao mesmo tempo com uma mulher e a
mãe desta (cf. Lev 20,14) ou para a filha de um sacerdote
que se entregar à prostituição (cf. Lev 21,9). E. SMITH vê
na pena de cremação uma espécie de sacrifício destinado a
remover a mácula que caiu sobre o país e a tribo (cf. Lectu-
ves on the religion of the Semites, p. 417-419).

* * *

§ 158 Se um awilum, depois (da morte) de seu pai,


foi surpreendido no seio de sua esposa principal ( ? ) ,
30 que gerou filhos: esse awilum será expulso da casa
paterna.
r
O termo acádico rabltum indica, provavelmente, a esposa prin-
cipal de seu pai. Alguns intérpretes vêem aqui um erro textual
e corrigem o texto em murabbitum: "madrasta", "mãe de cria-
. ção". Uma comparação com a legislação assíria ajuda a com-
preensão deste artigo. Na lei assíria é permitido ao filho her-
deiro tomar como esposa, depois da morte do pai, uma esposa
secundária (acádico: urkittu) do falecido pai (cf. G. CARDAS-
CIA, Les Lois assyviennes, § A 4I>, p. 226ss). O background
social desta lei é, sem dúvida, o costume semita que permitia
ao herdeiro tomar para si também as concubinas de seu pai.
Mas a lei limitava esse direito, excluindo a mãe ("§ 157) e a
rabitum: "esposa principal"(?) (§ 158). Para uma discussão
mais detalhada sobre a problemática deste artigo cf. G. R.
DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 320-322.
Cf. também a discussão sobre o termo hirtum no comentário
ao § 170.
•-!•• * *

§ 159 Se um awilum, que já enviou para a casa de seu


sogro o presente nupcial e já pagou o terhatum, dei-

72
xou-se atrair por ama outra mulher e disse a seu so-
jf.0 g r o : « N ã o tomarei tua filha como esposa»: o pai da
filha levará consigo tudo o que lhe tiver sido trazido.

A forma verbal up-ta-al-li-is é provavelmente um Dt da raiz


palãsu que W . von SODEN traduz por "sicli ablenken lassen"
(Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 81 A). R. BOKGER lê
ub-ta-al-li-is, portanto uma forma Dt da raiz balãsu = "glotz-
ãugig schielen", "ausschauen" (cf. Babylonisch-Assyvische Le-
sestücke, cad. II, p. 29; cad. I, glossário L). O sentido geral do
artigo é, contudo, claro. Trata-se de um awilum que já iniciou
o "processo matrimonial" enviando ao sogro o terhatum (cf.
§ 138 -f- comentário) e um presente nupcial e depois sente-se
atraído por uma outra mulher e não quer mais casar com a
primeira. Além do terhatum, uma família socialmente bem
situada mandava também para a casa da noiva um biblurn,
isto é: um presente nupcial que consistia principalmente em
provisões para a festa do casamento (cf. também a legislação
assíria em G. CARDASCIA, Les Lois assyviennes, S A "0, p.
lGiss).

50 § 160 Se um awllum .enviou o presente nupcial à casa


do sogro e pagou o terhatum e o pai da filha disse:
« N ã o te darei minha f i l h a » : ele restituirá o dobro : ! 1
de tudo quanto lhe tiver sido trazido.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente e prevê


uma outra possibilidade. O pai da noiva, depois de ter rece-
bido o biblum e o terhatum, resolve por qualquer motivo im-
pedir o matrimônio. Neste caso a lei o obriga a uma indeniza-
ção que corresponderá ao dobro daquilo que recebeu.

60 § 161 Se um awllum enviou o presente nupcial para


a casa de seu sogro e pagou o terhatum e (então) seu
amigo o difamou e seu sogro disse ao esposo"'-: «Não
70 tomarás minha filha como esposa»: ele restituirá o
dobro 33 de tudo que lhe foi trazido e seu amigo não
poderá tomar sua mulher como esposa.

A expressão be-el as-sa-tim mostra claramente que após o pa-


gamento do terhatum a jovem era considerada esposa. Contudo

31. Em acádico uíS-ta-sa-an-na-ma ú-ta-ar, literalmente: "dobrará e res-


tituirá".
32. Em acádico be-el a5-5a-tim, literalmente: "senhor da mulher".
33. Em acádico u5-ta-sa-an-na-ma ú-ta-ar, literalmente: "dobrará e
devolverá".
antes da consumação o matrimônio não era considerado como
completo (cf. § 15$; 156). Os parágrafos 159-161 parecem pres-
supor um awílum que não depende de sua família. Em outros
casos a noiva era escolhida pelo pai do noivo (cf. §§ 155-156)
que pagava também o terhatum. Como nó % 160 o sogro de-
verá restituir o dobro de tudo que recebeu. Mas o amigo que
difamou o noivo não poderá casar com essa mulher. Este ar-
tigo tem um profundo alcance psicológico e protege o cidadão
contra ciúmes ou ambição de seus concidadãos.

80
§ 162 Se um awllum tomou uma mulher como esposa
e ela lhe gerou filhos e (depois) essa mulher m o r -
XXXIV reu 3 1 : seu pai não poderá reclamar o dote, seu dote é
de seus filhos.

O dote (acádico Seriktum) que a mulher trazia da casa Ae


seu pai continuava, mesmo durante o matrimônio, posse exclu-
siva da esposa e passava automaticamente para seus filhos
após a morte desta.

§ 16.1 Se um awílum tomou uma esposa e ela não lhe


10 deu f i l h o s 3 0 e (depois) essa mulher m o r r e u 3 0 ; se
seu sogro lhe devolveu o t e r h a t u m que esse awllum
enviara para a casa de seu s o g r o : seu marido não po-
20 derá reclamar o dote dessa mulher. Seu dote é da
casa de seu pai.

§ 1 6 4 Se seu sogro não lhe devolveu o t e r h a t u m : ele


deduzirá do seu dote o correspondente ao seu ter-
30 h a t u m e restituirá o (resto de) seu dote à casa de
seu pai.

Os parágrafos 163-104 tratam do caso de uma esposa que mor-


reu sem deixar filhos a seu marido. O dote deve ser devolvido
à casa paterna da esposa, mas o sogro deve restituir, tam-
bém, o terhatum pago pela noiva. No caso da não restituição
do terhatúm o genro poderá reter do dote de sua esposa morta
apenas o correspondente ao terhatum pago. Hammürabi com

34. Em acádico Mí ii-i a-na Si-im-tlm it-ta-ia-ak, literalmente: " . . . essa


mulher foi para o destino..."
35. Em acádico DUMU.MES la ú-sar-5i-?u, literalmente: " . . . e não
lhe fez ter f i l h o s . . . "
36. Em acádico Mf si-i a-na si-im-tim it-ta-la-ak, literalmente: " . . . essa
mulher foi para o destino..."

74
esta disposição vai certamente de encontro a abusos de sua
época (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. 345a).
# • «ti

§ 165 Se um awilum deu de presente a seu herdeiro,


que lhe a g r a d a 3 7 , um campo, um pomar ou u m a casa
e escreveu-lhe u m documento selado, depois que o pai
40 m o r r e r 3 S , quando os irmãos repartirem: ela tomará
o presente que o pai lhe d e u ; além disso repartirão os
50 bens da casa paterna em partes iguais.

Este parágrafo prevê o caso de um filho que goza da predi-


leção de seu pai e recebe deste um presente devidamente do-
cumentado em, uma tábua selada com o sigilo de seu pai.
Depois da morte do pai, este presente não poderá ser incluído
no acervo de bens a ser dividido entre os herdeiros. Esse filho
predileto conservará a posse do presente paterno e além disso
participará da herança na mesma proporção dos outros irmãos.

§ 166 Se um awllum escolheu 311 esposas para os f i -


lhos que teve e para seu filho mais novo não escolheu
60 uma e s p o s a ; depois que o pai m o r r e r q u a n d o os
irmãos dividirem (a herança), dos bens da casa pa-
terna eles colocarão à disposição de s e u , irmão mais
70 novo, além de sua parte, prata correspondente ao
t e r h a t u m e possibilitar-lhe-ão tomar uma esposa.

O termo acádico Sehrum: "pequeno" pode indicar tanto o filho


mais novo como também um filho menor de idade. A legisla-
ção assíria determinava a idade de 10 anos para o filho tor-
nar-se sujeito de um contrato matrimonial (cf. § A 43 em
G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 211ss). O filho sehrum,
ainda solteiro, recebia, além de «na parte normal na herança,
o KÜ.BABBAR ter-ha-tim, isto é: "a prata do terhatum".
Este costume é abundantemente testemunhado nos documentos
jurídicos desta época (cf. M. SCHORR, Urkunden des altbaby-
lonischen Zivil- und Prqzessrechts, VaB 5, Leipzig 191:1,
t07, 5-9).

37. Em acádico S:\ i-in-su tuah-ru, literalmente: "que corresponde n seu


olho". .. r•
38. Em acádico a-na Si-im-tim it-ta-al-ku. literalmente: . . . foi par» o
lU 3». ,n Em' acádico Sum-mn a-wT-Ium a-na DUMU.MES sa ir-Tai-ú aS-Sa-tim
i-l}u-u7. literalmente: "Se um awllum tomou esposas para os filhos que

^ i o . " Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


" . . . depois que o pai foi para o destino".

75
§ 167 Se um. awílum tomou uma esposa, ela lhe gerou
80 filhos, e (depois) essa mulher morreu 4 1 e (se) após
a sua morte 1 3 ele tomou uma outra mulher e ela (lhe)
XXXY gerou filhos: depois que o pai morrer, os filhos não
repartirão conforme as mães, mas tomará cada um
do dote de sua mãe 4 3 ; os bens da casa paterna, eles
(os) repartirão em partes iguais.

A casuística cio parágrafo parece, em si, bastante clara. Um


homem casado duas vezes, que teve filhos das duas mulheres,
morre. Como dividir legalmente a sua herança? A formulação
da apódose do artigo é, porém, sintaticamente complicada e
obscura. O sentido é, sem dúvida, que os filhos não deverão
adicionar os dotes das duas mães ao acervo de bens da casa
paterna, mas o dote de cada mãe deverá ser dividido apenas
entre seus próprios filhos (cf. § 162). Os bens da cãsa pater-
na, por sua vez, serão divididos em partes iguais entre todos
os filhos (cf. G. R. DRIVER-j. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. $4 ?s).
* * *

10 § 168 Se um awílum resolveu deserdar seu filho e


disse aos juizes: «Eu quero deserdar meu filho»: os
juizes deverão examinar a questão. Se o filho não
cometeu uma falta (suficientemente) grave para ser
20 deserdado: o pai não poderá deserdar seu filho.

A expressão acádica nasãhum ina aplutim é um termo técnico


da linguagem jurídica e significa "deserdar".

* * *

§ 169 Se ele cometeu contra seu pai uma falta (su-


30 ficientemente) grave para ser deserdado: por uma
vez eles o perdoarão. Se, pela segunda vez, ele come-
teu uma falta grave: o pai poderá deserdar seu filho.

Os parágrafos 168-169 regulamentam o modo de proceder jurí-


dico de um pai que quer deserdar seu filho. O processo deverá
ter um caráter oficial, os juizes deverão examinar os motivos
do pai. O único motivo válido é a reincidência em uma falta
grave. A lei não determina o tipo de falta.

41. Em acádico a-na Si-im-tim it-ta-la-ak, literalmente: "foi para o


destino..."
42. Em acádico wa-ar-ki-§a. literalmente: "depois dela",
43. Em acádico DUMU.ME5 a-na um-ma-tim ú-ul i-zu-uz-zu Se-rl-lk-ti
um-ma-ti-èu-nu i-li-qú-ma, literalmente: "em relação às mães eles não repar-
tirão, eles tomarão o dote de suas mães".

76
§ 170 Se a primeira esposa de um awllum lhe gerou
40 filhos e a sua escrava (também) lhe gerou filhos;
(se) o pai, durante a sua vida, disse aos filhos que
a escrava lhe gerou: « V ó s sois meus filhos» e os con-
tou com os filhos da primeira esposa: depois que o
50 pai morrer 4Í , os filhos da primeira esposa e os filhos
da escrava dividirão em partes iguais os bens da casa
paterna; m a s o herdeiro, filho da primeira esposa, es-
colherá entre as partes e tomará.

O termo acádico liirtum significa uma "ebenbürtige Gattin"


(cf. W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p.
348a), isto é: uma esposa que pertence à mesma camada so-
cial do esposo; e ê, por isso, sua primeira esposa ou sua esposa
principal. Na legislação babilônica os filhos de uma escrava
podiam participar da herança, se seu pai os reconhecesse ofi-
cialmente durante sua vida. Mas o aplum: "herdeiro" — aqui
em sentido coletivo: os filhos da hlrtum — poderá escolher
primeiro a parte que lhe agradar. Na legislação assíria os
filhos de uma concubina (esirtum) podiam participar da he-
rança de seu pai, se essa concubina tiver sido declarada es-
posa diante de testemunha e seguindo um processo determi-
nado. Os filhos de uma esirtum não legitimada só poderiam
participar da herança, se a esposa legítima não tivesse filhos
(cf. G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 207, § A 41).

* * *

60 § 171 Mas se o pai, durante sua vida, não disse aos


filhos que a escrava lhe gerou: « V ó s sois meus fi-
lhos» : depois que o pai morrer 45, os filhos da escrava
70 não dividirão os bens da casa paterna com os filhos
da primeira esposa. Será realizada a libertação da
escrava e de seus filhos. Os filhos da primeira esposa
não poderão reivindicar os filhos da escrava para a
80 escravidão. A primeira esposa tomará consigo seu dote
e o presente nupcial que o esposo lhe deu e registrou
em uma tábua. Ela morará na casa de seu marido e
XXXVI enquanto viver usufruirá. N ã o poderá vender, sua he-
rança é de seus filhos.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente e regula


os casos onde os filhos da escrava não foram declarados her-

44. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na Si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


'depois que o pai foi para o destino"-
45. Em acádico va-ar-ka a bu-um a-na Si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depoÍ3 que o pai foi para o destino".

77
deiros. Na segunda parte ê declarada a parte da hlrtum na
distribuição da herança.
* * *

§ 172 Se seu marido não lhe deu um presente nupeial:


10 devolver-lhe-ão seu dote integralmente e ela tomará
dos bens da casa de seu esposo a parte correspon-
dente a de um herdeiro. Se seus filhos a maltrata-
do rem para fazê-la sair de casa: os juizes examinarão
sua questão e colocarão a culpa sobre os filhos; essa
mulher não sairá da casa de seu marido. Se essa mu-
30 lher resolveu sair 1 8 : deixará para seus filhos o pre-
sente nupeial que seu marido lhe deu e levará consi-
go o dote da casa de seu pai e o esposo que lhe agra-
do d a r " poderá tomá-la como esposa.

§ 173 Se essa mulher, lá onde entrou, gerou filhos a


seu segundo esposo, (se) depois essa mulher mor-
reu : os filhos do primeiro e do segundo marido 18 di-
50 vidirão o seu dote.

§ 174 Se não gerou filhos a seu segundo marido: os


filhos de seu primeiro marido levarão seu dote.

Os parágrafos 172-174- continuam o tema da segunda parte do


§ 171 e regulamentam a situação da, viúva, seus direitos e
obrigações. No caso de um segundo matrimônio dessa mulher,
a lei regulamenta então a divisão do seriktum, isto é: do
dote que essa, mulher trouxe da casa de seu pai, entre seus
filhos.
* * *

§ 175 Se um escravo do palácio ou um escravo de


60 um muskênum tomou como esposa a filha de um awl-
lum e ela lhe gerou filhos: o senhor do escravo não
poderá reivindicar para a escravidão os filhos da fi-
lha do awllum.

Os dois extremos "escravo do palácio" a "escravo de um


muskênum" são usados para indicar justamente qualquer tipo

4fi. Em ncâdico a-na wa-si-im Píi-ni-Sa is-ta-ka-íin, literalmente: "colocou


sua face para sàii-".
47. Em acádico mu-ut li-ili-lii-sii: " o esposo de seu coração".
48. Em acádico DUMU.MEs mah-ru-tum ú wa-ar-ku-tum, literalmente: "03
filhos anteriores u posteriores".

78
de escravo. Um escravo pode contrair matrimônio com a filha
de um awllum. Os filhos deste matrimônio são livres, o dono
do escravo não tem direito algum sobre eles. Na lei eles são
considerados DUMU .MES DUMU.MI a-wl-lim: "filhos da fi-
lha do awllum.
* * #

70 § 176 Ou, se um escravo do palácio ou um escravo de


um muskênum tomou por esposa a filha de um awl-
lum e, quando ele a esposou, ela entrou na casa do es-
cravo do palácio ou do escravo de um muskênum com
um dote da casa de seu pai e (se) depois que eles
80 se uniram, formaram um lar e adquiriram bens mó-
veis e depois (disto) o escravo do palácio ou o es-
cravo de um muskênum morreu 4 9 : a filha do awllum
W tomará consigo seu dote; mas tudo o que seu esposo
XXXVII e ela tiverem adquirido, desde que se uniram, será
dividido em duas partes, uma metade tomará o dono
do escravo e a outra metade tomará a filha do awl-
lum para seus filhos.

10 § 176B Se a filha do awílum não tinha dote: dividirão


em duas partes tudo o que seu marido e ela adqui-
riram depois que se uniram, uma metade o dono do
20 escravo tomará, a outra metade a filha do awllum
tomará para seus filhos.

O parágrafo 176 regula a divisão da herança de um escravo


casado com a filha de um awllum (cf. § 175). O êeriktum,
isto é: o dote trazido da casa do pai da noiva, é intocável.
Ele permanece propriedade da mulher e passa depois a seus
filhos ou, caso não haja filhos, volta à casa paterna da filha
do awllum. Os bens adquiridos durante a vida matrimonial
devem ser divididos em duas partes iguais. Uma parte per-
tence ao dono do escravo, a outra parte pertence à esposa e
aos filhos do casal.
* * *

§ 177 Se uma viúva, cujos filhos são pequenos, deci-


30 diu 50 entrar na casa de um outro, não poderá entrar •
sem a permissão dos juizes. Quando ela for entrar
na casa de um outro, os juizes examinarão a situa-

49. Em acádico a-na Si-im-tim it-ta-la-ak, literalmente: " f o i para o destino".


50. Em acádico a-na . . . e-ri-bi-im pa-ni-Sa ii-ta-ka-an, literalmente: "colo-
car sua face para e n t r a r . . . "

79
4O ção cia casa do seu primeiro marido e confiarão a casa
de seu primeiro marido ao seu segundo marido e à
mulher e lhes farão redigir uma tábua. Eles guardarão
a casa, criarão os filhos pequenos e não venderão os
50 objetos. O comprador que comprar os objetos dos fi-
lhos de uma viúva perderá a sua prata; os bens vol-
60 tarão ao seu proprietário.

Este parágrafo tem uma profunda dimensão social de prote-


ção aos mais fracos. Está totalmente dentro da lirika de re-
forma e repressão de abusos a que se propusera Hammurabi
(cf. o prólogo col. I, 30-50). A atenção do legislador está cen-
trada sobre os filhos menores de uma viúva. Esta viúva não
poderá esposar uma segunda vez sem licença expressa e ofi-
cial dos juizes. Antes de conceder a permissão para as segun-
das núpcias, os juizes deverão fazer um inventário dos bens
do jjrimeiro marido. O segundo marido juntamente com a viú-
va serão encarregados pelos juizes de administrar os bens do
primeiro marido. Mas ao receber os bens deverão redigir uma
tábua selada. Esses bens deverão ser administrados no inte-
resse dos herdeiros. A alienação de qualquer desses bens é
ilegal, o comprador perderá o seu dinheiro.

* * *

§ 178 Se (houver) uma entum, uma nadltum ou uma


M 1 ZI.
I K . R U . UM, cujo pai lhe deu um dote, escreveu-
70 lhe uma tábua, mas na tábua que lhe redigiu não
escreveu que ela pode dar sua herança lá onde lhe
agradar não lhe dando, assim, o poder de total dispo-
80 nibilidade 51 : depois que o pai morrer seus irmãos
tomarão seu campo e seu pomar e lhe darão alimen-
tos, óleo e roupas correspondentes ao valor de sua par-
te e agradarão o seu coração. Se, porém, seus irmãos
não lhe deram alimentos, óleo e roupas corresponden-
do tes ao valor de sua parte e não alegraram o seu co-
XXXVIIIração: ela poderá entregar seu campo e seu pomar ao
agricultor que lhe agradar; seu agricultor a susten-
tará, ela alimentar-se-á, enquanto viver, do campo
10 e do pomar ou de quanto seu pai lhe tiver dado,

ül. Em acádico ma-la ii-ilj-lii-sa la ú-sa-am-si-si, literalmente: "não a fez


alcançar de acordo com o seu coração".
52. Em acátlico wa-ar-ka a-l>u-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".

80
m a s ela não poderá vender nem dar a outro como he-
r a n ç a ; sua herança pertence a seus irmãos.

Este parágrafo menciona três tipos femininos de pessoal cúlti-


co. A entum (sumeriograma NIN .DINGIR) era considerada
como a sacerdotisa suprema de um templo. Devia permanecer
celibatária (cf. J. RENGER, "Untersuchungen zum Prietertum
in der altbabylonischcn Zeit, em Zeitschríft f ü r Assyriologie
und verwandte Gebiete 58(1967) p. 134-144). A naditum (su-
meriograma LUKUR) pertencia também a uma classe supe-
rior de sacerdotisas e vivia, em geral, em comunidade no ga-
gúm, isto é: uma espécie de convento (cf. J. RENGER, ibid.
p. 149-176). O matrimônio de uma naditum é regulamentado
nos §§ 187; 144-147. O sentido do sumeriograma WtZI.lK.-
RU.UM não é claro (sekretum? cf. W. von SODEN, Akkadi-
scheii Handwõrterbuch, vol. II, p. 1036a). É, provavelmente,
a denominação de uma classe saccrdotal feminina (cf. J. REN-
GER, ibid. p. 188).
* * *

20 § 1 7 9 Se ( h o u v e r ) uma entum, uma naditum ou uma


MIZ I . I K . R U . U M , cujo pai lhe deu um dote, escreveu-
lhe u m documento selado e na tábua que lhe redigiu
30 escreveu que ela pode dar sua herança lá onde lhe
agradar, dando-lhe, assim, o poder de total disponibi-
40 lidade 5 3 : depois que o pai morrer 54 ela poderá dar sua
herança lá onde lhe agradar, seus irmãos não poderão
reivindicá-la.

Os §§ 178-179 regulam a administração ou a disponibilidade


de um seriktum, isto é: um dote, presenteado por um pai à
sua fühn que pertence a uma das três classes sacerdotais
mencionadas. A disponibilidade completa sobre o dote só é pos-
sível, se constar explicitamente a permissão paterna de dis-
ponibilidade completa no documento selado redigido pelo pai
ao dar o dote à sua filha. Na falta de tal cláusula os irmãos
da sacerdotisa deverão sustentcu-la com o correspondente ao
valor do dote, que conforme o § 178 pode constar de uni cam-
po, um pomar ou qualquer outro bem. Se os irmãos não cuida-
rem de sua irmã, esta poderá arrendar o seu campo ou po-
mar a um camponês que com a renda do campo ou pomar a
sustentará. Mas o dote, neste caso, continua propriedade de
seus irmãos.

53. Em acádico ma-la li-ib-bi-sa u5-tam-si-*i, literalmente: "ele a frt


alcançar de acordo com o seu coração".
54. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".

81
§ 180 Se um pai não deu um dote à sua filha, na-
ditum de um convento ou M I Z I . I K . R U . U M : depois que
50 o pai morrer 55, ela terá nos bens da casa paterna uma
parte como a de um herdeiro; enquanto ela viver, ela
usufruirá, mas a herança é de seus irmãos.

60 § 181 Se um pai consagrou (sua filha) como naditum,


qadistum ou kulmasítum à divindade e não lhe deu
um dote: depois que o pai morrer513, ela receberá dos
70 bens da casa paterna um terço de sua parte na he-
rança; enquanto viver, ela usufruirá, mas sua heran-
ça é de seus irmãos.

Etimologicamente qadiétum (sumeriograma NU.GIG) significa


"consagrada". Era uma classe de mulheres consagradas à di-
vindade, mas, em geral, independentes do templo e não obri-
gadas ao celibato. Não está comprovada sua relação com o
culto da prostituição sagrada (cf. J. RENGER, Untersuchungen
zum Priestertum in der àltbabylonischen Zeit, ZA 58(1967), p.
179-184). A kulmaSitum (sumeriograma NU.MAS) é uma ou-
tra classe feminina de pessoas cúlticas provavelmente rela-
cionadas com a prostituição sagrada (cf. J. RENGER, ibid., p.
185-187). A naditum aqui mencionada estava, provavelmente,
desligada da vida no gagúm, pois para a naditum que vivia
no gagúm já foi legislado no § 180.

* * * ,

§ 182 Se um pai não deu à sua filha, naditum do deus


80 Marduk de Babel, um dote e não lhe escreveu um do-
cumento selado: depois que o pai morrer 57 , dos bens
da casa paterna ela dividirá, juntamente com seus
90 irmãos, um terço de sua parte na herança; mas não
assumirá obrigação de serviço. Uma naditum de Mar-
X X X I X duk poderá dar sua herança lá onde lhe agradar.

Uma naditum (cf. § 178) de Marduk, deus principal da cidade


de Babel, gozava de privilégios especiais. Se durante a vida
de seu pai não tiver recebido um dote (Seriktum), com o res-
pectivo documento selado, participará da divisão da herança,

55. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na èi-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


"depois que o pai foi para o destino".
56. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na 5i-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".
57. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na 51-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois qua o pai foi para o destino".

82
recebendo um terço de sua -parte de herdeiro normal. Mas não
•poderá receber nenhuma parte ligada a uma obrigação de ser-
viço (cf. § 40). Além disso, uma naditum de Marduk é livre
de dispor de sua herança como quiser (compare com os §§
180-181).
* * *

§ 1 8 3 Se um pai deu à sua filha s u g é t u m um dote,


entregou-a a um marido e escreveu-lhe um documen-
10 to selado: depois que o pai m o r r e r 6 8 , ela não parti-
cipará da divisão dos bens da casa paterna.

A Sugétum pertencia a uma classe sacerdotal feminina, infe-


rior à naditum, sem obrigação de celibato e sem ligação es-
treita com o templo (cf. J. RENGER, Untersuchungen zum Prie-
stertum in der altbabylonischen Zeit, ZA 58(1967), p. 176-179).

* * *

§ 1 8 4 Se um pai não deu de presente um dote à sua


20 filha áugctum (e) não a entregou a um m a r i d o : de-
pois que o pai morrer 50 , seus irmãos dar-lhe-ão u m
dote proporcional aos bens da casa paterna e a entre-
go garão a u m marido.

§ 1 8 5 Se u m awllum adotou u m a criança desde o seu


nascimento e a criou: essa criança adotada não po-
derá ser reclamada.

R. BORGEK vê no termo mú = água uma alusão ao liquido


amnióticò que envolve o feto no seio materno (cf. Handbuch
der Keilschrift Literatur, I, p. 30). O sentido da expressão é,
pois, aproximadamente "desde o seio materno" ou "desde o
seu nascimento", e indica uma adoção feita logo após o nas-
cimento da criança. A legislação de Hammurabi determinava
que uma criança adotada como bebê não podia ser depois
reclamada por seus pais.

* * *

40 § 186 Se um awllum adotou uma criança e, depois que


a adotou, ela continuou a reclamar por seu pai ou sua

58. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na Si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


"depois que o pai foi para o destino".
53. Em acádico -wa-ar-ka a-bu-um a-na §i-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".
60. Em acádico i-na nie-e-su, literalmente: "em sua água".

83
mãe: essa criança adotada deverá Voltar à casa de
seu pai.

Este parágrafo continua a casuística do anterior. Uma criança


adotada, já mais crescida, que, ainda depois da adoção, pro-
curar insistentemente seus pais, deverá ser devolvida à casa
de seus pais.
* * *

50 § 187 O filho (adotivo) de um gerseqqüm funcionário


do palácio ou o filho (adotivo) de u m a M I Z I . I K . R U . -
U M não poderá ser reclamado.

Embora seja usado no texto da lei apenas o sumeriograma


DUMU — filho, contudo, pelo contexto, pode-se concluir tra-
tar-se de tim filho adotivo (cf. §§ 192-193).
O gerseqqüm (sumeriograma GiR.Si.GA) era um funcioná-
rio do palácio (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handworter-
buch, vol. I, p. 285b). Não há provas suficientes na literatura
babilônica de que o gerseqqüm fosse um eunuco a serviço da
prostituição cúltica (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Baby-
lonian Laws, vol. II, p. 245, onde é citada a teoria de Lands-
berger sobre a possibilidade de considerar-se o gerseqqüm como
eunuco).
* * *

§ 188 g e um artesão tomou um filho como filho de


criação e lhe ensinou o seu ofício 0 1 : ele não poderá
ser reclamado.
i
No texto não é dito que o artesão tomou a criança a-na ma-
ru-tim, isto é: em filiação, mas a-na tar-bi-tim, isto é: como
filho de criação. O termo técnico para indicar a adoção é a-na
ma-ru-tim. Contudo o teor da lei parece claro: o artesão só
terá direito a esse "filho", se lhe ensinar o seu ofício.

* * *

60 § 189 S e ele não lhe ensinou o seu o f í c i o 6 2 : esse filho


de criação voltará à casa de seu pai.

70 § 1 9 0 Se um awílum não incluiu entre seus filhos uma


criança que ele adotou e criou: esse filho de criação
voltará para a casa de seu pai.

SI. Em acádico Si-pi-ir qa-ti-Su uá-ta-hi-sú, literalmente: "ele lhe ensinou


o trabalho <le aua mão".
62. Em acádico Si-pi-ir qa-ti-Su la uâ-ta-hi-su, literalmente: "ele não lhe
ensinou o trabalho de sua mão".

84
Este -parágrafo mostra mais uma vez a preocupação de jus-
tiça social da reforma de Hammürabi. O filho adotivo deve
gozar dos mesmos direitos dos filhos naturais. Este artigo
supõe, naturalmente, que os pais do adotado vivem e são co-
nhecidos. Um contrato de adoção pode ser rescindido no coso
em que o adotado seja prejudicado em seus direitos como filho.

* * *

§ 191 Se um awllum, que adotou uma criança e a


80 criou, constituiu um lar, em seguida teve filhos e re-
solveu despedir o filho de criação 6 3 : esse filho não
partirá de mãos vazias, seu pai de criação deverá dar-
lhe de seus bens móveis um terço de sua parte na
90 herança e ele pai*tirá. Ele não lhe dará nada de seu
carílpo, pomar ou casa.

A prótase do artigo é, siiitaticamente, um tanto obscura (cf.


a nota abaixo), contudo o sentido geral é claro. O acusativo
se-eh-ra-am — retomado na construção infinitiva pela expres-
são a-na tar-bi-tim — é regido pelo verbo nasãhum. Trata-se,
provavelmente, de um celibatário que adotara uma criança e,
tendo depois casado e gerado filhos, deseja despedir o filho
adotivo. A legislação de Hammürabi determina que o filho ado-
tivo não pode ser mandado embora sem uma indenização. 0
montante da indenização é fixado em um terço da parte da
herança que caberia ao filho adotivo em bens móveis da casa
do pai adotivo. Bens imóveis como campo, pomar ou casa não
podem ser alienados.
* * *

§ 192 Se o filho (adotivo) de um gerseqqüm ou o


XL filho (adotivo) de uma M Í Z I . I K . R U . U M disse a seu
pai que o cria ou à sua mãe que o cria: «Tu não és
meu pai, tu não és minha m ã e » : cortarão sua língua.

Sobre o gerseqqüm cf. § 187, sobre a M1ZI .IK .RU .UM cf.
§ 178.
* * *

10 § 193 Se o filho (adotivo) de um gerseqqüm ou ò fi-


lho (adotivo) de uma M , Z I . I K . R U . T J M descobriu a -

63. Em acádico sum-ma a-wT-lum çe-eb-ra-am sa a-na» ma-ru-ti-su il-qu-


su-ma ú-ra-ab-bu-ú-Su Ê-sú i-pu-us xva-ar-ka DUMU. MES ir-ta-Si-ma a-na
tar-bi-tim na-sa-lji-im pa-nam iS-ta-ka-an, literalmente: "Se um awllum. uma
criança que a tomou para sua filiação e a criou, constituiu sua casa, depois
gerou filhos e colocou a face para afastar o filho de c r i a ç ã o . . . '

85
casa de seu pai, desprezou seu pai que o cria ou sua
20 mãe que o cria e partiu para a câsa de seu p a i : ar-
rancarão o seu olho.

O rigor das penas aplicadas nos § § 1,92-193 ao filho adotivo


que rescinde a relação de adoção com um gerseqqüm parece
fornecer um argumento positivo em favor da tese de Lands-
berger que considera o gerseqqüm como um eunuco (cf. § 178).
A sacerdotisa MÍZI .IK.RU .UM parece também ter vivido ce-
lib atar lamente, já que ela — e não se fala de seu marido —
pessoalmente adota um filho. Nestes casos especiais, o filho
adotivo, renegando seu pai adotivo ou mãe adotiva, causar-
Ihes-iãi uma ofensa grave.
» * * *

§ 194 Se um awllum entregou seu filho a uma a m a


e esse filho morreu nas mãos da a m a ; ( s e ) a a m a
.30 sem (o conhecimento) de seu pai ou de sua m ã e al-ei-
t o u 6 4 um outro f i l h o : comprovarão (isto) contra ela
e, porque sem (o conhecimento) de seu pai ou de sua
UO mãe aleitou ^ um outro filho, cortarão o seu seio.

O sentido do parágrafo não ê totalmente claro. A pena im-


posta é bem precisa: decepar um dos seios da ama culpada.
Mais difícil, a partir do teor do artigo, ê saber em que con-
siste a culpa dessa ama. Provavelmente ela deveria ter adver-
tido os pais da segunda criança, antes de aceitar a função
de ama, da morte de uma criança coiifiada a seus cuidados.
A. FINET apresenta uma interpretação diferente: "C'est pour
avoir tenté de dissimuler la mort du nourrisson, en lui en
substituant subrepticement un autre, que la nourrice est. châ-
tié-e" (cf. Le Code de Hammurapi, p. 110).

jft ífí jfe

§ 195 Se um filho bateu em seu pai: cortarão a sua


mão.

Os §§ 195-214 tratam de lesões corporais punidas segundo o


princípio de talião ou por compensação financeira. No § 195 a
lesão corporal contra o próprio pai é punida com a amputação
da mão, isto é: do órgão agressor. A lei bíblica pune a mesma
falta com a pena de morte (cf. Êx 21,15).

64. Em acádico DUMU Sa-ni-a-am ir-ta-ka-ás, literalmente: "ligou (a seu


seio) um outro filho".
65. Em acádico . . . DUMU Ka-ni-a-am ir-ku-su. literalmente: " p o r -
que . . . ligou (a seu seio) um outro filho".

86
.§ 1 9 6 S e u m awilum destruiu o olho de um (outro)
a w l l u m 6 6 : destruirão o seu olho.

A expressão DUMU a-wl-lim: "filho de awilum" indica, aqui,


alguém que pertence à classe dos awilum. A lei determina
que, se o agressor e o agredido pertencerem à mesma classe
social, seja aplicada a pena de talião: "olho por olho" (cf.
tb. ÍTx 21,23-25; Lev 24,19-20; Dt 19,21).

50 § 197 S e quebrou o osso de u m awllum: quebrarão


o seu osso.

§ 198 S e destruiu o olho de um muskênum ou quebrou


o osso de um m u s k ê n u m : pesará 1 mina de prata.

Se o agressor for um awilum, mas o agredido for um muSkê-


num, isto é: alguém que pertença a uma classe social inferior,
então não se aplica a pena de talião, mas é determinada uma
compensação financeira: 1 mina (cerca de 500 gramas) de prata.

* # *

60 § 199 Se destruiu o olho do escravo de um awllum


ou quebrou o osso do escravo de um a w l l u m : , pesará
a m e t a d e de seu preço.

A compensação ê menor ainda se o agredido for um escravo.


Pelo olho ou pelo osso do escravo, o awilum agressor deve
pagar a metade do preço que o dono pagou pelo seu escravo.
* * *

§ 2 0 0 Se um awilum arrancou um dente de um awl-


70 lum igual a ele: arrancarão o seu dente.

A expressão acádica me-eh-ri-Su significa literalmente "seu


igual", "seu equivalente" e indica, provavelmente, uma pessoa
da mesma posição social ou da mesma idade (cf. "W. von So-
DEN, Akkadisches Handworterbuch, vol. II, p. 640b; G. R.
DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 409).

§ 2 0 1 Se ele arrancou o dente de um m u á k ê n u m : pa-


gará 1 / 3 de u m a mina de prata.

Gfi. Em aíSdico DÜMÚ a-wT-lim, literalmente: «'filho de u m . Rwllum,"»

87
No caso de um muskênum a perda do dente pode ser com-
pensada com uma indenização de 1/3 de mina, ou seja: cerca
de 165 gramas de prata.
# * *

§ 2 0 2 Se um a w l l u m agrediu a f a c e de um awllum
que lhe é s u p e r i o r : será golpeado 6 0 (vezes) diante
80 da assembléia com um chicote (de couro) de boi.

A. Finet interpreta a expressão acádica ia e-li-su ra^bu-ú,


literalmente: "que é maior do que ele", em uma linha de ida-
de. O sentido seria "qui est plus âgé" (cf. Le Code de Ham-
murapi, p. 111). Mas esta interpretação não pode ser consi-
derada exclusiva, a expressão usada pode referir-se também
a uma classificação social dentro da classe dos awilum (cf.
tb. §§ 200 e 203).

§ 2 0 3 Se o filho de um awTlum agrediu a face de (ou-


t r o ) filho de um a w l l u m , que é igual a ele: pesará
u m a mina de prata.

Aqui a casuística é diferente da do parágrafo anterior. O awi-


lum agredido é classificado Jci-ma Su-a-ti: "como ele", isto é:
da mesma posição social ou da mesma idade. A pena imposta
corresponde a cerca de 500 gramas de prata.

90 § 2 0 4 S e um muákênum agrediu a face de (outro)


m u S k ê n u m : pesará 10 siclos de prata.

A pena imposta corresponde a cerca de 80 gramas de prata.

* * *

XLI § 205 S e o escravo de um awllum agrediu a face do


filho de um a w l l u m : cortarão a sua orelha.

A pena imposta ao escravo parece estabelecer uma espécie de


compromisso entre a honra do awilum agredido e os interesses
do awilum, dono do escravo. Decepar o órgão agressor; a mão
diminuiria substancialmente o valor do escravo.

* *• *

§ 2 0 6 Se um awllum agrediu em uma briga um (ou-


tro) awllum e lhe infligiu um f e r i m e n t o : esse awllum

88
10 deverá j u r a r : « N ã o o agredi deliberadamente»; além
disso deverá pagar o m é d i c o . 6 7

Na formulação a-wi-lum Su-ú i-na i-du-ú la am-ha-su %-tnm-ma,


literalmente: "ele jurará: eu não o agredi, enquanto eu sabia",
a partícula i-na é uma conjunção temporal (cf. "W. von SODEN,
Grondriss der Akkadischen Grammatik, p. 222, § 170b). A pro-
posição temporal indica, nesta sentença, uma simultaneidade
de. ação com a principal.

* * *

§ 2 0 7 Se ele morreu por causa de sua pancada: de-


verá j u r a r e, se foi o filho de um awilum, pesará a
m e t a d e de u m a mina de prata.

A primeira frase da apódose i-tam-ma-ma: "ele jurará" é


usada aqui elipticamente e deve ser compreendida: "ele jura-
rá que não o feriu deliberadamente". Mas no caso de morte
do awilum ferido, além do juramento, o awilum agressor de-
verá indenizar a família do morto com meia mina (cerca de
250 g) de prata.

20 § 208 S e foi o filho de um muskênum: pesará 1/3


de uma mina de prata.

A casuística do parágrafo antecedente é estendida aqui ao


muSkênum. A indenização imposta, se a vítima for um muskê-
num, é de cerca de 165 g de prata.

§ 209 Se um awilum agrediu a filha de um awilum


30 e a f e z expelir o ( f r u t o ) de seu s e i o " 8 : pesará 10
siclos de prata pelo ( f r u t o ) de seu seio.

§ 210 Se essa mulher morreu: matarão a sua filha.

Este § continua a casuística do antecedente. No caso de morte


da mulher ferida, não o agressor, mas a filha, deste será con-
denada à morte. A lei bíblica distingue duas possibilidades:
Se a mulher perder o seu feto, o agressor deverá pagar uma
multa imposta pelo marido. Se, porém, a mulher morrer, ou

67. Em acádico ix A . Z U i-ip-pa-al, literalmente: "e ele responderá ao


médico".
68. Em acádico 5a li-ib-bi-iSa, literalmente: "o de seu coração".
houver danou sérios, será aplicada a pena de talião (cf, Êx
. 21,22-25). A legislação assíria diferencia conforme o status da
vítima. Se ela for Uma mãrat awllim: "filha de um awllum",
o agressor deverá pagar uma multa de 2 talentos e 30 minas
de estanlio, um castigo de 50 golpes de bastão e um mês de *|
trabalhos forçados para o rei. A lei silencia o tipo de pena, !
no caso de morte dessa mulher. Se a vítima for uma aãSat Ij
awllim: "esposa de um awllum", ê aplicada a lei de talião, no |
caso de mçrte dessa mulher. A pena aplicada, .pela morte do 1
feto não 4 clara, devido ao estado lacunar do texto (cf. G. J
CABDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 136, 239 § A 21 e A 50).
Mas, se é conhecido que por alguma deficiência física essa |
mulher não pode conceber, então o agressor pagará pela mor- í|
te do feto\2 minas de. estanho (cf. ibid., § A 51). Note-se que J
uma mãrat awilhn podia ser também esposa de um escravo |
(cf. §§ 175-176). I
i

40 § 211 Se pela agressão fez a filha de um muskênum


expelir o (fruto) de seu seio: pesará 5 siclos de prata.

§ 212 Se essa mulher morreu: ele pesará meia mina


de prata.

No caso de um awllum agredir a filha de um muèkênum, não


há aplicação da pena de talião. Se o feto morrer será imposta
uma multa de 5 siclos (cerca de 40 g) de prata. Se a mulher
morrer, 1/2 mina (cerca de 250 g) de prata.

§ 213 Se agrediu a . escrava de um awllum e lhe fez


50 expelir o (fruto) de seu seio: pesará 2 siclos de prata.

§ 214 Se essa escrava morreu: pesará 1 / 3 de uma


mina de prata.

Se a vítima for uma escrava, a indenização imposta é menor


ainda. Se a escrava, em conseqüência da pancada recebida,
perder a criança, o awllum agressor deverá pagar ao dono
da escrava 2 siclos (cerca de 16 g) de prata. Se a pancada
causar a morte dessa escrava, o agressor deverá pagar ao
dono dela uma indenização de 1/3 de mina, isto é: cerca de
165 g de prata. Esta quantia correspondia ao preço de um
bom escravo no tempo de Hammurabi (cf. P. GARELLI, Le
Proche-Orient asiatique, p. 278&).

90
§ 2 1 5 Se um médico f e z em um awílum uma incisão
difícil com u m a f a c a de bronze e curou o awílum ou
60 ( s e ) abriu a n a k k a p t u m de um awílum com u m a f a c a
de bronze e curou o olho do a w í l u m : ele t o m a r á 1 0
siclos de prata.

O termo nakkaptum indica, provavelmente, o arco acima da


sobrancelha (cf. W . von SODÈN, Akkadisches Hándwõrterbuch,
vol. II, p. 722a: "Augenhrauenbogen", "Schlãfe").

70 § 2 1 6 S e foi o filho de um m u s k ê n u m : tomará 5. si-


clos de prata.

§ 217 Se f o i o escravo de u m a w í l u m : o dono do es-


cravo dará ao médico 2 siclos de prata.

Os parágrafos 215-217 regulamentam os honorários de um


médico, no caso cie uma intervenção cirúrgica difícil, que res-
tabeleceu a saúde do paciente. Os honorários variam de acordo
com a classe social do paciente. Um awílum deverá pagar 10
siclos (cerca de 80 g) de prata; um muèkênum 5 siclos (cerca
de AO g) de prata; um escravo 2 siclos (cerca de 10 g) de prata.

* * *

§ 218 Se u m médico f e z em um awílum uma incisão


difícil com uma f a c a de bronze e causou a m o r t e do
awílum ou abriu a nakkaptum de um awílum com
30 uma f a c a de bronze e destruiu o olho do a w í l u m : eles
cortarão a sua mão.

Se o médico não tiver sucesso em sua intervenção cirúrgica


e o paciente morrer ou ficar cego e esse paciente for um
awílum, neste caso será aplicada contra o órgão considerado
culpado, a mão do médico, a pena de talião. Esta era, sem
dúvida, uma maneira drástica de evitar outras intervenções
desastrosas desse médico.

§ 2 1 9 S e um médico f e z uma incisão difícil com u m a


f a c a de bronze no escravo de um muskênum e causou
a s u a m o r t e : ele deverá restituir u m escravo como o
escravo ( m o r t o ) .

91
A expressão acááica IR ki-ma IR: "escravo como escravo" in-
dica que o escravo restituido deve ter o mesmo valor do es-
cravo morto.

90 § 220 Se ele abriu a sua nakkaptum com uma faca


de bronze e destruiu o seu olho: ele pesará a metade
de seu preço.

Os §§ 219-220 referindo-se ao escravo de uni mn&kênum que-


bram a simetria com os §§ 215-217. Aqui houve provavelmente
a contaminação de 2 parágrafos diferentes consagrados res-
pectivamente ao muSkênum e ao escravo de um awllum (cf.
A . FINET, Le Code de Hammurapi, p. 141, nota 2).

§ 221 Se um médico restabeleceu o osso quebrado de


XLII um awílum ou curou um músculo doente: o paciente 1,5
dará ao médico 5 siclos de prata.

10 § 222 Se foi o filho de uni muSkênum: dará 3 siclos


de prata.

§ 223 Se foi o escravo de um awllum: o dono do es-


cravo dará 2 siclos de prata.

Em uma intervenção mais simples, os honorários estabelecidos


pela lei são também menores. Se o paciente for um awílum
5 siclos (cerca de AO gramas) de prata; se for um muSkênum
3 s-iclos (cerca de 24 g) de prata; no caso de um escravo, os
honorários permanecem os mesmos, 2 siclos (cerca de 16 g)
de prata.

§ 224 Se um médico de boi ou de jumento fez uma


20 incisão profunda em um boi ou em um jumento e
curou-o: o dono do boi ou do jumento dará ao médico
como seus honorários 1 / 6 (de siclo?) de prata.

§ 225 Se ele fez uma incisão difícil em um boi ou ju-


30 mento e causou a morte (do animal): dará ao dono
do boi ou do jumento 1 / 5 de seu preço.

63. Em acádico he-el zí-im-mi-im, literalmente: "o dono do ferimento".

92
Os §§ 224-225 determinam os honorários de um veterinário no
caso de uma intervenção cirúrgica difícil e também a respon-
sabilidade desse veterinário no caso de morte do animal em
conseqüência da operação.

slc * *

§ 226 Se u m barbeiro, sem (a permissão do) dono do


escravo raspou a marca de um escravo que não lhe
pertence: cortarão a m ã o desse barbeiro.

O gallãbum: "barbeiro" (sumerio grama SU.I) parecc ter tido


uma função especial em relação à marcação dos escravos. O
termo acádico abbuttum indica um corte especial de cabelo
que servia de sinal distintivo da classe dos escravos (cf. W.
von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. I, p. 5b; G. E.
DIUVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 421-425).

* * *

§ 2 2 7 Se u m awilum coagiu ( ? ) um barbeiro e ele


raspou a m a r c a de um escravo que não lhe pertence:
m a t a r ã o esse awilum e o suspenderão em sua p o r t a ;
o barbeiro deverá j u r a r : « E u não raspei deliberada-
m e n t e » e será livre.

A interpretação deste parágrafo depende, em grande parte,


do significado da raiz verbal dâsu na primeira frase da pró-
tase do parágrafo. W . von SODEN registra o significado de
dâsu como "drangsalieren", "bedràngen" (Akkadisches Hand-
wôrterbuch, vol. I, p. 165a), que a tradução acima seguiu tra-
duzindo por "coagir". Mas o The Assyrian Dictionary of the
Oriental Institute of the University of Chicago registra um
outro significado de "to dupe", "to cheat" para o qual conhe-
ce um outro testemunho textual além do Código de Hammu-
rabi (cf. vol. "d", p. 11S). Este significado é. seguido por
FINET, que traduz: "Si quelqu'un a dupé un barbier..." (cf-.
Le Code de Hammurapi, p. 115).

* * *

§ 228 Se um pedreiro edificou uma casa para um a w i -


lum e lha t e r m i n o u : ele lhe dará como honorários por
cada sar de casa 2 siclos de prata.

Este parágrafo estabelece os honorários a serem pagos a um


itinnum (sumeriograma SITIM), isto é: o pedreiro ou mestre-
de-obras, pela construção de uma casa. Por cada sar (cerca

93
de 35 m-) 'de casa construída clc deverá receber 2 siclos (cer-
ca de 16 y) de prata.
* * *

§ 229 Se um pedreiro edificou uma casa para um awl-


lum, mas não fortificou o seu trabalho e a casa, que
70 construiu, caiu e matou o dono da casa: esse pedreiro
será morto.

No período babilônico antigo, isto é: no tempo dc Hammurabi,


as casas eram geralmente construídas com tijolos secos ao
sol e a argaviassa usada era em geral o betume existente nessa
região. Tais construções eram naturalmente frágeis. Falta de
cuidado ou de perícia do construtor podia deixar a obra de tal
modo fraca, que caía pouco tempo depois de terminada. Para
evitar abusos e imprudências, a lei é bem severa na punição
de construtores incompetentes ou, negligentes. Os §§ 229-231
estabelecem as penas para casos de vítimas humanas.

* * *

§ 230 Se causou a morte do filho do dono da casa:


matarão o filho desse pedreiro.

§ 231 Se causou a morte de um escravo do dono da


80 casa: ele dará ao dono da casa um escravo equi-
valente. 70
<

§ 232 Se causou a perda de bens móveis: compen-


sará tudo que fez perder. Além disso, porque não
fortificou a casa que construiu e ela caiu, deverá re-
90 construir a casa que caiu com seus próprios recursos.

No caso de perdas meramente materiais, o construtor deverá


compensar equivalentemente o proprietário prejudicado. Em
todos os casos, deverá sempre reedificar a casa caída com
seus próprios bens.
* * *

§ 233 Se uni pedreiro construiu uma casa para um


awllum e não executou o trabalho adequadamente e
XLIII o muro ruiu: esse pedreiro fortificará o muro às suas
custas. 71

TO. Em acádico IR ki-ma IR, literalmente: "um escravo como o escravo •


71. Em acádico i-na KÜ.BABBAR ra-ma-ni-Su..., literalmente: "por meio
de sua própria p r a t a . . . "
• § 2 3 4 S e u m barqueiro c a l a f è t o u 7 2 um barco de 6 0
G U R para um a w l l u m : ele lhe dará 2 siclos de p r a t a
como seus honorários.

O termo numérico MÁ. LAH*, cm acádico malãhum, traduzido


aqui por "barqueiro" pode designar tanto o que dirige um
barco como também o construtor de barcos, ou o calafetador.
A operação final na construção de um barco era justamente
o trabalho de calafetar com betume as junções da madeira
para torná-lo impermeável (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The
Babylonian Laws, vol. I, p. 427-429; J. BOTTÉRO, art. "bateau",
em Dictionnaire archéologique des techniques, vol. I, p. 132-
134, Paris 1963).
Um barco de 60 GUR, 69 X 300 = 18.000 litros corresponde a
uma capacidade de cerca de 18 toneladas. Esta era a tonelagem
corrente na navegação fluvial da Babilônia. O preço estabe-
lecido como salário do barqueiro por seu trabalho de calafe-
tagem é 2 siclos, isto é: ccrca dc 16 gramas de prata.

* # *

10 § 2 3 5 Se um barqueiro calafètou um barco para um


a w l l u m e não executou o seu trabalho com seriedade
e naquele m e s m o ano esse navio se' inclinou ou deu
20 defeito 7 3 : o barqueiro desmontará esse barco com seus
próprios recursos, reforçá-lo-á e entregará o barco re-
forçado ao dono do barco.

Este parágrafo determina a pena a sér imposta a um bar-


queiro que não calafètou acuradamente o barco que lhe foi
entregue, de modo que naquele mesmo ano ainda o barco dei-
xou entrar água ou demonstrou" qualquer outro defeito.

* # *

30 § 2 3 6 Se um awllum alugou seu barco a üm barqueiro


e o barqueiro f o i negligente e afundou ou perdeu o
barco: o barqueiro restituirá um barco ao proprietá-
rio do barco.

UO § 2 3 7 S e u m awllum f r e t o u um barqueiro e um barco '


e carregou-o com grão, lã, óleo, t â m a r a s ou qualquer

72. Em acádico si:m-ma MA. LAH„ «'«MA . . . . ip-hi, literalmente: "Se um


barqueiro fechar um b a r c o . . . " "
73. Em acádico hi-[i-tam ir-ta-si, literalmente: "recebeu defeito". Não nos
parece gramaticalmente certa a tradução de Finet: " . . . il assumera la
f a u t e . . . (cf. Le Code de liam mu rapi, p. 118).

95
outra carga e esse barqueiro foi negligente e afundou
50 o barco ou perdeu sua carga 7 4 : o barqueiro pagará
o barco que afundou e tudo o que se perdeu de sua
carga. 74

O barqueiro contratado para um determinado transporte c'


responsável pelo barco e pela carga. O preço de locarão de
barcos é estabelecido nos §§ 275-276. O salário de um barquei-
ro c determinado no § 239.

* * *

§ 238 Se um barqueiro afundou o barco de um awí-


60 lum, mas conseguiu erguê-lo: pagará em prata a me-
tade de seu preço.

Este parágrafo continua a casuística dos §§ 236-237. Se o bar-


queiro conseguir trazer o barco novamente à superfície, de-
verá então pagar apenas a metade de seu valor.

* * *

§ 239 Se um awílum contratou um barqueiro: dar-


lhe-á 6 [GUR de grão] por ano.

Infelizmente o texto é lacunar e pode-se ler com certeza ape-


nas o número 6; as duas palavras SE.GUR: "GUR de grão"
são uma reconstrução de Scheil. É igualmente possível que
o salário fosse 6 siclos de prata (cf. G. R. DRIYES-J. C. MILES,
The Babylonian Laws, vol. I, p. 435).

* * *

70 § 240 Se um barco que sobe a corrente colidiu com


um barco que desce a corrente e afundou-o: o pro-
prietário, cujo barco foi ao fundo, declarará solene-
mente diante da divindade tudo o que se perdeu em
seu barco e o (proprietário) do barco que sobe a cor-
rente, que afundou o barco que desce a corrente, com-
80 pensá-lo-á por seu barco e por tudo o que se perdeu.

O G,i>MÁ Sa ma-hi-ir-tim designa o barco que navega em di-


reção contrária à correnteza do rio (cf. W. von SODK.N, Ákkadi-
sches Handworterbuch, vol. II, p. 583a: "stromanf fahrendea

7-1. Em Hcútlico èa li-ib-bi-ia, literalmente: "o que está no seu interior".

96
• (Rudcr-)Schiff") c o Vi*MÁ Sa mu-uq-qé-el-pi-tim indica u
barco que navega na direção da correnteza do rio (cf. W. von
S O D E N , ibid., p. (174 b : "flussabwürts fali rendes (Segel-)Schiff" ).
Em caso de colisão entre dois barcos a culpa recaia sobre o
barqueiro que dirigia o barco na direção contrária à corrente.
Este barco era o menos veloz e por liso podia ner mais facil-
mente controlado e dirigido.
* * *

§ 241 Se um awílum tomou um boi como garantia:


pesará 1 / 3 de uma mina de prata.

O termo nipütu: "garantia" refere-se a pessoas ou animais


tomados como garantia de pagamento de uma dívida. Os §§
114-116 regulavam os casos de pessoas tomadas como garantia
de pagamento. O § 241 mostra mais uma vez o caráter decidi-
damente social da reforma legal de Hammurabi. Um boi, ani-
mal indispensável para o trabalho no campo, não podia ser-
vir de nipütu. A violação desta lei é jninidà com uma multa
de 1/3 de mina de prata, isto é: cerca de 165 g de prata. A
preocupação de Hammurabi na observação desta lei aparece
também em sua correspondência (cf. A. UNGNAD, Babylonische
Briefe aus der Zeit der Hammurapi-Dynastie, 4, 26-29).

* * *

§ 2 4 2 + 2 4 3 Se um awílum alugou um boi por um ano:


ele dará ao seu dono como aluguel por um boi de
90 trás (na parelha) 4 G U R de grão (e) como aluguel
por um boi de frente (na parelha) 3 G U R de grão.

O sumeriograma GUD .DA .ÜR .RA (acádico alap warkatim, cf.


W. von SODEN, Akkadisches Handwórterbuch, vol. I, p. 38b:
"letztes Rind des Viergespanns") indicava o boi atrelado na
última fila da parelha. Ele devia ser um boi bem treinado,
daí seu preço de 4 GUR, cerca de 1.200 litros, de grão. O su-
meriograma GUD .ÁB .MURUB .SAG indicava o boi atrelado na
frente, que podia ser um boi jovem, sem especial treinamento,
seu aluguel era, por isso, menor: cerca de 900 litros de grão
ao ano (cf. G. DossiN, UArticle 242/243 du Code de Hammu-
rapi, em Revue d'Assyriologie 30(1933), p. 97-102; A. SALO-
NEN, Agricultura Mesopotâmica, Helsinki 1968, p. S76-S96).

* * *

XLIV § 2 4 4 Se um awílum alugou um boi ou um jumento


e (se) um leão o matou em campo aberto: (a perda
será) de seu proprietário. 15

75. Em acádico a-na be-li-Su-ma. literalmente: "para «eu dono".

97
A existência de leões no tempo de Hammurabi é testemunhada
também nos textos de Mari (cf. ARM I, 118, 14; G. DOSSIN,
Documents de Mari, em Syria 48(1971), p. 1-19). Este pará-
grafo determina que sé um animal alugado for devorado por
um leão em campo aberto, a perda é exclusivamente de seu
proprietário; quem alugou o animal não está obrigado a com-
pensar a perda.
* * *

§ 245 Se um awilum alugou um boi e por. negligência


10 ou por pancadaria causou a sua morte: indenizará o
proprietário do boi com um boi equivalente. 76

Se o animal alugado morrer por falta de cuidado ou por mal-


trato do locador, este é obrigado pela lei a indenizar o dono
do animal morto com um outro boi.

* * *

§ 246 Se um awilum alugou um boi e quebrou sua


20 pata ou portou o tendão de seu pescoço: indenizará
o proprietário do boi com um boi equivalente. 77

No caso de o locatário inutilizar o animal completamente, de-


verá também indenizar com um GU* ki-ma GU*, isto é: com
um boi equivalente.
* * *

§ 247 Se um awilum alugou um boi e destruiu o seu


olho: ele dará eni prata ao dono do boi a metade de
seu preço.

§ 248 Se um awilum alugou um boi e rompeu o seu


30 chifre, cortou a sua cauda ou feriu ( ? ) a carne de
seu costado: dará em prata 1 / 5 de seu preço.

§ 249 Se um awilum alugou um boi, um deus o feriu


40 e ele morreu: o awilum que alugou o boi deverá pro-
ferir um juramento de deus e será livre.

No § 244 o locador de um boi morto em campo aberto por


um leão não era obrigado pela lei a fazer um juramento, o
fato podia ser facilmente comprovado pelos restos do animal.

76. Em acádico GU4 ki-ma GU*, literalmente: "um boi coma o boi".
77. Em acádico GU4 ki-ma GU<t literalmente: "um boi como o boi".
O § 249 trata do caso de morte natural do animal. O locador
devia jurar diante do deus da cidade sua inocência em rela-
ção à morte do animal. Conforme a concepção babilânica, uma
doença era sempre a conseqüência de uma intervenção puni-
tiva de deus. Um texto de uma carta , do Arquivo real de Mari
— contemporâneo de Hammurabi — ilustra bem esta concep-
ção. Trata-se, provavelmente, de uma epidemia e o governador
de Terqa comunica ao rei: "Em Kulhitim o deus * começou a
devorar bois e pessoas, morrem por dia dois ou três. homens"
(cf. ARM III, 61, 10-13).

§ 250 Se um boi, andando pela rua, escorneou um


.50 awílum e causou a sua morte: esta causa não terá
reivindicação.

§ 251 Se o boi de um awílum for escorneador e seu


distrito o informou que ele é escorneador e ele não
60 aparou os seus chifres e não vigiou o seu boi e (se)
esse boi escorneou e matou o filho de um awllum:
ele deverá pagar a metade de uma mina de prata.

O adjetivo verbal nakkapúm, da raiz nakãpum, indica, como


todos os adjetivos da forma parrãsl, 'um hábito, um costume
(cf. W. von SODEN, Gmndriss der Akkadischen Grammatik,
p. 69, § 56 o), o boi em questão é conhecido como nakkapúm,
isto é: ele tem o costume de escornear.

# • #

§ 252 Se foi o escravo de um awllum: pagará 1/3


de uma mina de prata.

Os §§ 250-252 tratam do caso de um boi que mata alguém com


chifradas. Se o boi não é conhecido publicamente como um boi
escorneador, a família da vítima não tem direito algum à com-
pensação. Se se trata, porém, de um boi escorneador e o dono
do boi já foi avisado desse defeito de seu boi e não tomou as
devidas providências, então há obrigação de compensação. Caso
a vítima seja o filho de um awllum, deverá o dono do boi' pa-
gar 1/2 mina (250 g) de prata; no caso de um escravo, 1/3 de
mina (cerca de 165 g) de prata.
Na legislação bíblica do livro do Êxodo, o boi que escornear
e matar alguém deverá ser apedrejado. O dono só será res-
ponsabilizado, se tiver conhecimento desse defeito de seu boi.
Neste caso, se não tiver tomado as devidas providências, ele
também será sujeito à pena de morte, que poderá, contudo,
ser comutada em uma multa em dinheiro (cf. Êx 21,28-36).

99
70 § 253 Se um awllum contratou um (outro) awllum
para cuidar de seu campo e adiantou^lhe cereais, con-
fiou-lhe bois e ligou-o por um contrato para cultivar
o campo; se esse awllum roubou sementes ou alimen-
80 tos e (isto) foi encontrado em suas mãos: eles lhe
cortarão a mão.

O termo acádico aldúm (sumeriograma AL.DÜ.A) indica uma


certa quantidade de grão destinada tanto à plantação como
também à alivientação dos animais. B. LANDSBERGER explica a
palavra como "Saatkom und Rinderfutter" (cf. Materialen
zum sumerischen Lexikon, vol. I, 245s). Na tradução acima foi
empregado, por isso, um termo mais geral "cereais". No caso
de o administrador ser surpreendido em flagrante com os bens
roubados em seu poder, ser-lhe-á aplicada a pena de talião
contra o órgão culpado.

sfc :)e *

§ 254 Se ele tomou os cereais e enfraqueceu os ani-


mais: restituirá o dobro do grão que tomou.

No contexto deste parágrafo o termo aldúm (cf. § 253) indica,


certamente, o alimento dos animais. Ê continuada a casuística
do antecedente. Não há flagrante. Contudo as conseqüências
são notórias: os animais confiados a esse administrador tor-
nam-se cada dia mais fracos, a ração a eles destinada é
desviada pelo administrador. A pena imposta pela lei: res-
tituir o dobro do que foi tomado. •
* $ *!e

90 § 255 Se ele alugou os animais do awllum ou roubou


as sementes e não produziu (grão) no campo: com-
provarão (isto) contra esse awílum e na colheita ele
deverá medir para cada BUR de campo 60 GUR de
grão.

Este parágrafo continua a problemática do anterior e apre-


senta mais dois possíveis delitos do administrador do campo:
alugar os animais a ele confiados para o trabalho da terra
ou roubar o grão destinado para semente. O efeito é o mesmo
nos dois delitos: o campo não produzirá a quantidade espera-
da. A pena imposta corresponde a cerca de 3000 litros de grão
por hectare de terreno (cf. § 58 + comentário).

* * *

§ 256 Se ele não pode satisfazer sua obrigação: será


100 arrastado pelos animais por todo o campo.

Cantral
O termo pihãtum indica uma obrigação assumida por alguém
.ou imposta a alguém. Neste parágrafo o termo refere-se, sem
dúvida, à multa imposta no § 255. A forma Gtn da raiz verbal
masârum é registrada por W. von SODEN com o significado de
"hin- und hersclileifen" (cf. Akkadisches Handwõrterbuch, vol.
II, p. 624b). A pena imposta era, pois, ser amarrado a uma
parelha de bois e arrastado pelo campo, que ele devia ter
trabalhado. Tal castigo corresponde praticamente à pena de
morte.
* * *

XLV § 257 Se um awllum contratou um trabalhador rural:


dar-lhe-á 8 GUR de grão por ano.

Os textos do arquivo real de Mari parecem atribuir ao ikka-


rum (sumeriograma ENGAR) maior responsabilidade do que
ao simples errêsum e também o controle sobre terrenos mais
extensos (cf. M. BIROT, Les Lettres de lashn-sumú, em Syria
41 (1964), 46-47; A. SALONEN, Agricultura Mesopotâmica, p.
31 Oss; cf. tb. P. GARELLI, Le Proche-Orient asiatique, p. 285-
287). O ikkarum — aqui traduzido por "trabalhador rural" —
recebe por ano um salário de 8 GUR (cerca de 2.400 litros)
de grão. O errêéum é mencionado nos §§ 49, 52 e 178 e tra-
duzido por "agricultor".

* * *

§ 258 Se um awilum contratou um vaqueiro: dar-


lhe-á 6 GUR de grão por ano.

Um SA.GUD — acádico kullizum "Rindertreiber" (cf. W. von


SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 502a) — aqui
traduzido por "vaqueiro" recebia ao ano um salário de 6 GUR,
isto é: cerca de 1.800 litros de grão.

10 § 259 Se um awilum roubou um arado de um terreno


irrigado: dará 5 siclos de prata ao dono do arado.

O instrumento agrícola GIS. APIN — acádico epinnum — pa-


rece indicar um arado especial. Ele é usado em um uga-rum:
"terreno irrigado" (cf. §§ 52-53 + comentário); os textos' de
Mari apresentam o seu manejo como trabalho de especialistas
(cf. ARM I, 44, 5-10; 68, 5-10) W . v o n SODEN registra o ter-
mo como "Saatpflug" (cf. Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I,
229a). Cf. tb. A. SALONEN, Agricultura Mesopotâmica, p. 40-
60. A. PLNET supõe acertadamente que "les §§ 259-260 n'envisa-
gent certainement qu'un détournement momentané d'instru-
ment plutôt qu'un véritable vol, généralement passible de mort

101
f§§ 7, 9, 10) ou d'une 'compensation três élevée f§§ 8, 205)"
{Le Code de Hammurapi, p. 126). A pena imposta aqui é 5
sidos de prata, isto é: cerca de 40 gramas de prata.

§ 260 Se roubou um arado de surribar ou um rastelo:


20 dará 3 siclos de prata.

Se o instrumento roubado for um APIN.TÜK.K1N — acá-


dico harbum: "Umbruchpflug" (cf. W. von SODEN, Akkadi-
sches Handwõrterbuch, vol. I, p. 325a) — ou um GIS.GÁN.ÜR
— acádico maSkakãtum: "Egge" (cf. ibid., vol. II, p. 626b)
— a pena imposta é menor, apenas 3 siclos de prata, isto é:
24 gramas de prata.

* * *

§ 261 Se um awllum contratou um pastor para apas-


centar o gado maior ou o gado menor: dar-lhe-á 8
GUR de grão por ano.

Enquanto o kidlizum (sumeriograma SÀ.GUD) se ocupava,


ao que parece, exclusivamente com o gado bovino (cf. § 258),
o nãqidum (sumeriograma NA .GADA) cuidava tanto do gado
maior como também do gado menor. Seu salário anual era de
8 GUR (cerca de 2.400 litros) de grão, mais elevado, portanto,
do que o salário do kullizum (cf. § 258).

* * *

30 § 262 Se um awllum ... um boi ou uma o v e l h a . . .

Cerca de 6 linhas do texto original se perderam, uma recons-


trução do texto a partir de variantes não é possível.

* $

§ 263 Se ele deixou perecer [um boi] ou [uma ove-


lha] que lhe fora entregue: restituirá a seu proprie-
k-0 tário um boi equivalente ou uma ovelha equivalente.™

Este parágrafo deve ser relacionado com o § 261 e descreve


as obrigações de um nãqidum, que, por negligência, deixar
morrer' um dos animais que. lhe tinham sido confiados.

78. Em acádico GU4 kirma GXJi UDU ki-ma UDU, literalmente: "um
boi como o boi, uma ovelha como a ovelha".

102
§ 264 Se [um pastor,] a quem foi entregue gado
maior ou gado menor para apascentar, recebeu seu
50 salário completo e seu coração foi contentado, (se)
ele diminuiu o número do gado maior (ou) diminuiu
o número do gado menor e deixou cair o número de
60 crias: ele pagará, conforme o teor de seu contrato,
as crias e o rendimento.
O parágrafo regulamenta o caso de um pastor contratado que,
por incompetência ou por negligência, dizima o rebanho que
lhe foi confiado. Neste caso tanto o número de novas crias
(talittum) como o rendimento (biltum) do rebanho em lã, leite,
queijo, etc., cairão abaixo do nível previsto no contrato de
trabalho do pastor. O pastor deverá indenizar seu emprega?-
dor com o equivalente do lucro previsto pelo contrato.
* # *

§ 265 Se um pastor, a quem foi entregue gado maior


ou gado menor para apascentar, foi desonesto, mudou
70 a marca (dos animais) e vendeu-os: comprovarão
(isto) contra ele, e ele restituirá ao seu dono até 10
vezes o que roubou do rebanho maior ou do rebanho
menor.

A desonestidade de um pastor que muda a marca de identi-


ficação dos animais para poder vendê-los e de fato vende algum
animal que lhe foi confiado ê severamente punida na legislação
de Hammurabi. A lei prevê uma compensação de até 10 vezes
a quantidade de cabeças roubadas.
* * *

§ 266 Se ocorreu no curral uma intervenção de deus


ou um leão matou: o pastor diante da divindade de-
clarar-se-á sem culpa e o dono do curral aceitará a
80 mortandade do curral.
Se a perda no rebanho for causada por uma doença, conside-
rada na mentalidade semita como uma intervenção divina (li-
pi-it DINGIR) ou se um leão depredar o rebanho, o pastor
deverá isentar-se da responsabilidade por meio de um jura-
mento diante do deus da cidade (cf. § 244; 249). A perda será
do dono do rebanho. Cf. um paralelo na legislação bíblica em
Êx 22,12.
* * *

§ 267 Se o pastor foi negligente e deixou surgir no


curral a doença pissatum: o pastor substituirá o gado

103
maior e menor, perda da doença pissatum que ele dei-
xou surgir no curral, e dará ao seu proprietário.

A doença pissatum parece ter sido uma espécie de paralisia (cf.


W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 856b
sub voce "pessúm"). Ela não é considerada aqui como um gol-
pe divino (cf. § 266), mas como resultado da negligência do
pastor. Por isso ele deverá assumir a responsabilidade e com-
pensar seu empregador pelos animais perdidos com a doença.

* * *

!)0 § 268 Se um awilum alugou um boi para trilhar (o


grão): seu aluguel será 2 sütum de grão.

A medidji de capacidade sütum correspondia a 10 qa, isto é:


cerca de 10 litros. Portanto, o aluguel previsto por um boi
de trilhar era 20 litros de grão.
* * *

§ 269 Se alugou um jumento para trilhar (o g r ã o ) :


seu aluguel será um sütum de grão.

§ 270 Se alugou um animal jovem para trilhar (o


grão): seu aluguel será 1 qa de grão.

O sumeriograma MÁS indica em si um animal jovem de raça


bovina ou ovina. Sua capacidade de trabalho é menor, seu alu-
guel é, por isso, apenas 1 qa, isto é: 1 litro de grão (cf. G. R.
DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 469s).

* * *

100 § 271 Se um awilum alugou animais, um carro e seu


XLVI condutor: dará 3 parsiktum de grão por dia.

O Humeriograma G,SMAR. G1D .DA — acádico ereqqum — in-


dica um carro de carga puxado por uma parelha de bois (cf.
A. SALONEN, Die Landfahrzeuge des alten Mesopotamien nach
sumcrisch-akkadischen Quellen, Helsinki 1951, p. 28-32). A
medida parsiktum correspondia a cerca de 60 litros. O aluguel
de v.m carro ereqqum com os animais e o condutor importava
em cerca de 180 l de grão.

•+ * •

§ 272 Se um awilum alugou só o carro: dará 4 sütum


de grão por dia.

104
O aluguel do carro ereqqum (cf. § 271), sem os animais e sem
o condutor, importa em A sutum, isto é: cerca de AO litros de
grão por dia.
* * *

~§ 273 Se um awílum contratou um mercenário: pa-


10 gará desde o começo do ano até o quinto mês 6 SE
de prata;, a partir do sexto mês até o fim do ano pa-
gará 5 SE de prata.
O termo agrum (sumeriograma LÜ.HUN .GÁ) indica o• que
hoje chamaríamos "mercenário", isto é: um homem que se
alugava quer para servir na guerra (cf. §§ 26; 33) como tam-
bém para trabalhos no campo. A medida de peso SE — acá-
dico uttetum — era a unidade menor de peso e correspondia
a 1/20 de grama.
O trabalhador agrícola recebe um salário maior nos cinco pri-
meiros meses do ano habilônico (do fim de março até o fim
de agosto), quando seu trabalho é mais pesado devido à co-
lheita. Daqui se pode concluir que este trabalhador jornaleiro
ganhava ao ano cerCa de 12 siclos de prata, ou seja: cerca de
96 g de prata. O trabalhador rural ganhava, portanto, mais
do que um trabalhador especializado (compare com o § 27A).

* * *

20 § 274 Se um awílum contratou o filho de um artesão,


pagará por dia como salário de um . . . 5 SE de prata,
como salário de um pisoeiro 79 5 [SE de prata], como
salário de um que trabalha o linho 80 [x SE] de prata,
[como salário] de um gravador de sigilos 81 [x SE de]
prata, [como salário] de um construtor de arcos83
30 [x SE de prata], [como salário] de um ferreiro83
[x SE] de prata, [como salário] de um carpinteiro 81
4 (?) SE de prata, como salário de um que trabalha
o couro 85 [x] SE de prata, [como salário] de um ces-
40 teiro86 [x] SE de prata, [como salário] de um pe-
dreiro 87 [x. SE] de prata.

71). S u m e r i o g r a m a LÚ.TÚG.DU„.A = Icãmidu: "Stoffklopfer", cf. R. Bor-


ger, Handbuch. der Keilachriftlitcratur, vol. I. p. 30.
80. Sumeriograma LÚ.GADA.
81. Sumeriograma LÜ.BUR.GUL = parkullu.
82. Sumeriograma Lfl.ZADIM = sasinnum: "Bogenmacher" (cf. W. von So-
den, Akkádischee Handuorterhuch, vol. II. p. 1032a).
83. Sumeriograma LÜ.SIMUG = nappãjum: "ferreiro".
84. Sumeriograma LÚ.NAGAR = nagSrum: "carpinteiro".
85. Sumeriograma LU.ASGAB = aèkSpum: "Lederarbeiter" (cf. W. von So-
den. Akkad. Handwõrterbuch. I. p. 81a).
86. Sumeriograma LÚ.AD.KID = atkuppum: "Rohrmattenflechter" (cf. ibid.
p. 87a).
87. Sumeriograma LU.SITIM = itinnum.

105
Este parágrafo regulamenta a diária a ser paga a diversos
artesãos. Infelizmente o texto não foi conservado integral-
mente, de modo que não podemos saber quanto ganhavam
os diferentes artesãos na Babilônia do tempo de Hammürabi.

* * *

§ 275 [ S e ] . uni awílum alugou [um barco (?)], seu


aluguel será de 3 S E de prata por dia.

O atual estado lacunar do texto não nos permite determinar


com certeza o objeto alugado. Tendo em vista os parágrafos
240 e 276 talvez seja possível ler no texto GIS .MÁ Sa mu-uq-
qé-el-pi-tim, isto é: um barco que navega, na direção da
correnteza.
* * *

§ 276 Se um awílum alugou um barco qüe navega em


direção contrária à correnteza: pagará 2 Y> S E de
prata por dia còmo aluguel.

Quanto ao significado do barco ma-hirir-tum, cf. o § 240. A


medida SE — acádico uttetum — corresponde a 1/20 de grama.

* * *

§ 277 Se um awílum alugou um barco de 60 GUR


pagará como aluguel 1 / 6 (de siclo) de prata por dia.

Um barco de 60 GUR, isto é: de 18.000 litros (cf. § 234 +


comentário) deve ser alugado por uma diária de 1/6 de siclo,
ou seja: 1,33 g de prata.

* * *

§ 278 Se um awllum comprou um escravo òu uma es-


crava e antes de completar o seu mês foi acometido
de epilepsia: ele (o) reconduzirá ao seu vendedor e o
comprador levará consigo a prata que tiver pesado.

O termo acádico bennum designa uma doença, que conforme


a descrição dos textos babilônicos corresponde à epilepsia (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 122a).
A lei permite que um contrato de venda de um escravo seja
rescindido e o comprador reembolsado, se antes de decorrer
um mês após a compra for constatado sintomas da doença
bennum no escravo comprado.
§ 279 Se um awllum comprou um escravo ou uma es-
70 crava e surgiu reivindicação: seu vendedor deverá res-
ponder à reivindicação.

Se um encravo comprado for reclamado por um outro awilum


como sendo propriedade sua, a, responsabilidade de responder
ao processo recai sobre o vendedor.

* * *

§ 280 Se um awilum comprou em país estrangeiro um


escravo ou escrava de um (outro) awllum, (e se)
80 quando voltou ao país o proprietário do escravo ou
da escrava reconheceu o seu escravo ou á sua escra-
va; se o escravo ou a escrava forem filhos do pàís:
será realizada sua libertação sem (pagamento de)
prata.

§ 281 Se forem filhos de um outro país: o comprador


90 declarará diante de deus a prata que pesou e o pro-
prietário do escravo ou da escrava poderá dar ao mer-
cador a prata que ele pesou e resgatar seu escravo ou
sua escrava.

Os parágrafos 280 e 281 se completam em sua casuística.


Trata-se de um mercador que compra um, escravo no exterior
e volta à sua pátria. Lá o antigo dono do escravo ou da escra-
va os reconhece e reclama oficialmente seu direito sobre o
escravo ou à escrava. A legislação de Hammurabi prescreve
que, se o escravo ou escrava forem naturais daquele país, de-
verão ser declarados livres sem pagamento algum.. Se são es-
trangeiros, o seu antigo dono poderá resgatá-los pagando ao
mercador a mesma quantidade de prata que este pagou pelo
escravo ou pela escrava. Para evitar abusos do mercador, este
deverá declarar solenemente sob juramento diante do deus. da
cidade o montante em prata pago no estrangeiro pelo escravo
. ou escrava.
* * • *

§ 282 Se um escravo disse a seu proprietário: «Tu


100 não és meu senhor»: ele comprovará que é o seú es-
cravo e seu proprietário cortar-lhe-â a orelha.

107
3. Epílogo

XLVII (Estas são) as prescrições de justiça, que Hammura-


bi, o rei forte, estabeleceu e que fez o país tomar um
caminho seguro e uma direção boa.
10 Eu (sou) Hammurabi, o rei perfeito, Para com os
cabeças-pretas, que Enlil me deu de presente e dos
quais Marduk me deu o pastoreio, não fui negligente,
nem deixei cair os braços; eu lhes procurei sempre
lugares de paz, resolvi dificuldades graves, fiz-lhes
20 aparecer a luz. Com a arma poderosa com que Zababa
e Istar me revestiram, com a sabedoria que Ea m.e
30 destinou, com a habilidade que Marduk me deu, ani-
quilei os inimigos de cima e de baixo 1 , acabei com as
lutas, promovi o bem-estar do país. Eu fiz os povos
dos lugarejos habitar em verdes prados, ninguém os
UO atormentará. Os grandes deuses chamaram-me e tor-
iiei-me o pastor salvador, cujo cetro é reto; minha
sombra benéfica está estendida sobre minha cidade.
Eu encerrei em meu seio os povos do país de Sumer
50 e Acade, sob minha divindade protetora eles prospera-
ram, eu sempre, os governei em paz, em minha sabe-
doria eu os escondi ( ? ) .

Para que o forte não oprima o fraco, para, fazer


60 justiça ao órfão e à viúva, para proclamar o direito
do país em Babel, a cidade cuja cabeça An e Enlil
levantaram, na Esagila, o templo cujos fundamentos
são tão firmes como o céu e a terra, para proclamar
70 as leis do país, para fazer direito aos oprimidos, es-

l. A expresaão acádica e-li-is ü. Xa-ap-Ii-iK. . .. literalmente: "em cima . e


embaixo" indica, sem dúvida, o norte e o sui.

109
crevi. minhas preciosas palavras em minha esteia e
coloquei-a diante de minha estátua de rei do direio.2
80 Eu sou o rei que é imensamente grande entre os
reis. Minhas palavras são escolhidas, minha habilida-
de não tem rival. Por ordem de Samaá, o grande juiz
do céu e da terra, possa minha justiça manifestar-se
90 no país, pela palavra de Marduk, meu Senhor, possam
meus estatutos 5 não ter opositor, possa o meu nome
ser pronunciado para sempre çom honra na Esagila
XLVIII que eu amo.
Que o homem oprimido, que está implicado em um
processo, venha diante da minha estátua de rei da
justiça, e leia atentamente minha esteia escrita e ouça
10 minhas palavras preciosas. Que minha esteia resolva
sua questão, ele veja o seu direito, o seu coração se
20 dilate! «Hammurabi é o senhor, que é como um pai
carnal para os povos, ele preocupou-se intensamente
com a palavra de Marduk, seu senhor, e conseguiu
o triunfo de Marduk em cima e embaixo, e assim
30 assegurou para sempre a felicidade do povo e obteve
justiça no país». Possa ele proclamar isto diante de
4-0 Marduk, meu senhor, e de Sarpanitum !\ minha se-
nhora, e louvar de todo coração. Possam a divindade
protetora5, a Lamassu6, os deuses que entram na
50 Esagila, o tijolo7 da Esagila favorecer cada dia mi-
nha reputação diante de Marduk, meu senhor, e de
Sarpanitum, minha senhora!
Que nos dias futuros, para sempre, o rei que sur-
60 gir no país observe as palavras de justiça que escrevi
em minha esteia, que ele não mude a lei do país que

2. Provavelmente refere-se à parte superior da esteia, omle estava escul-


pida a imagem do rei diante ile Ãama.4. Uma outra explicação seria a colo-
cação da esteia diante de um monumento de Hammurabi, representado como
o rei do direito.
3. Literalmente: ú-}u-ra-tu-ú-a = "meus sinais". Trata-se dos sinais cunei-
formes «Travados na estátua, expressando os estatutos.
4. A deusa Çarpanitum era considerada na religião habilônica a esposa
ile Marduk e por isso era a deusa principal de Babel (cf. E. Dhorme, Lts
Kriigionx de Èabylome et d'A*mirie, i>. 146-14").
5. O Sêdum era um içênio, representado como touro alado colocado à en-
trada lios palácios como protetor (cf. D. Edzard, art. "Damonen", em
WSrterbuch der Mijthologie. I. p. 4ÍV).
6. A Lamassu era a parceira do sêdum, unia divindade protetora (cf.
D. Ediard. art. "Damonen", em Wôrterbuch der Miitholoaie. I, p. 49).
7. O sinal cuneiforme SIC, - correspondente do acádico libittum: "tijolo".
Aqui aparece o material de construção do templo personificado como uma
divindade protetora.

ÚO
70 eu promulguei, as sentenças do país que eu decidi,
que ele não altere os meus estatutos!8
Se esse homem tem inteligência e é capaz de diri-
gir em paz o seu país, que atenda para as palavras
80 que escrevi em minha esteia, e que esta esteia lhe
mostre o caminho, a direção, a lei do país que eu pro-
mulguei e as sentenças do país que eu decidi, que ele
90 dirija na justiça os cabeças-pretas, que ele promul-
gue o seu direito, que ele proclame as suas sentenças,
que ele arranque do país o mau e o perverso, que ele
assegure o bem-estar de seu povo.
Eu sou Hammurabi, o rei da justiça, a quem Samas
deu a verdade. Minhas palavras são escolhidas, mi-
100 nhas obras não têm rival; só para o tolo elas são va-
XLIX zias, para o sábio elas conduzem para a glória.
Se esse homem guardar as minhas palavras que
escrevi em minha esteia, não rescindir minha lei, não
10 revogar minhas palavras e não alterar os meus esta-
tutos, esse homem (será) como eu um rei de justiça.
20 Se esse homem não guardar as minhas palavras que
escrevi em minha esteia, desprezar minhas maldições,
não temer as maldições dos deuses, anular o direito
que promulguei e revogar as minhas palavras, alte-
30 rar os meus estatutos s, apagar o meu nome escrito
e escrever o seu nome (ou) por causa destas maldi-
ções mandar um outro (fazer), esse homem, seja ele
UO senhor, seja ele governador ou qualquer pessoa cha-
mada com um nome, que o grande Anum, o pai dos
deuses, aquele que pronunciou 9 o meu governo, tire-
50 lhe o brilho da realeza, quebre o seu cetro, amaldiçoe
o seu destino.
Que Enlil, o senhor, aquele que determina os des-
tinos, cuja ordem é imutável, aquele qüe engrandece
60 minha realeza, deixe levantar-se contra ele, em sua
residência, uma desordem indomável, uma desgraça
que traga a sua perda, que lhe destine um governo de

8. Literalmente: ú-fú-ra-ti-ia = "os meus sinais". Referência aos sinais,


cunei formes (travados na estátua.
;(. A condição para que Hammurabi e sua realeza existisse era que seu
nome tivesse sido pronunciado pela divindade. Na concepção babilônica o
que não foi nomeado não existe, pertence à esfera «Io caótico (cf. G. Con-
tenau. I.a Aí a ai f chez leu Aaanrienx et Ir» Halnjlmiiiin, p. U.-IRii).

111
fraqueza, dias reduzidos, anos de fome, uma obscuri-
70 dade sem brilho, uma cegueira mortal, que ele de-
crete com sua boca gloriosa a perda de sua cidade, a
dispersão de sua gente, a mudança de sua realeza, a
80 supressão de seu nome e memória nò país!
Que Ninlil, á grande mãe, cuja ordem tem peso na
Ekur, a senhora que favorece a minha reputação, tor-
ne a sua causa má lá onde a sentença é decretada dian-
90 te de Enlil, que ela coloque na boca de Enlil, o rei, a
destruição de seu país, a dispersão de sua gente, o
derramar-se de sua vida como água.
Que Ea, o grande príncipe, cujos decretos preva-
100 lecem 1D, o mais sábio dos deuses, aquele que conhece
todas as coisas, aquele que prolonga os dias de minha
L vida, tire-lhe entendimento e sabedoria, conduza-o
constantemente no escuro, feche seus rios na fonte
10 e não deixe crescer em seu território o grão, a vida
dos povos!
Que Samaá, o grande juiz do céu e da terra, aquele
que conduz retamente os seres vivos11, o senhor, meu
20 refúgio, derrube a sua realeza, não promulgue o seu
direito, confunda o seu caminho, faça cair a discipli-
na de seu exército 12, assinale-lhe, em seu aruspício, o
presságio mau da extirpação dos fundamentos de sua
80 realeza e da perda do país! Que o decreto funesto de
Samas o atinja prontamente, que no alto o arranque
de entre os vivos, que embaixo, na Terra13, prive de
JkO água o seu espírito!14
Que Sin, o senhor dos céus, o deus meu criador,
cujo castigo é proclamado entre os deuses, tire-lhe a
50 coroa e o trono da realeza, que ele lhe imponha co-
mo pena pesada seu grande castigo que não desa-
pareça de seu corpo, qiíe ele o faça terminar os dias,

10. Em acádico i-na mah-ra i-la-ka, literalmente: "andam na frente".


11. Em acádico mú-us-te-se-er sa-ak-na-at na-pí-is-tim, literalmente: "aque-
le que conduz com justiça as criaturas de vida".
12. Em acádico SUJJÜS um-ma-ni-su = "fundamento tle seu exército". O
surner iograma SU^US corresponde ao acádico iâdum: "fundamento", que
The Chicago Aásyrian Dictiovary. I. suh voce, p. 238a registra na expres-
são iédi ummani como disciplina do exército.
13. O termo ei-jetum. que normalmente significa "terra", designa aqui o
mundo inferior, o reino dos mortos (cf. N. J. Tromp, Primitive Conctptiona
of Death and the Nether World in the OT. Roma 196!>. p. 180s>.
14. O termo e(emmu — expresso aqui pelo sumeriograma GIDIM.GIDIM
— indica o espírito do morto.

112
os meses, os anos de seu. governo em sofrimento e
ém lágrimas, que ele lhe faça ver um opositor da rea-
leza, que ele lhe determine como destino uma vida
60 semelhante à morte!
Que Adad, o senhor da abundância, o imgador 1 5
70 dos céus e da terra, meu aliado, lhe tire as chuvas
nos céus (e) a torrente na fonte, que ele faça seu
país perecer pela necessidade e pela fome, que ele
troveje furiosamente sobro a sua cidade, e que ele
. 80 faça o seu país voltar à desolação do dilúvio!
Que Zababa, o grande herói, o primogênito da
90 Ekur, aquele que caminha à minha direita, quebre
sua arma no combate, torne seu dia em noite e esta-
beleça seu inimigo sobre ele!
Que Istar, a senhora do combate e da luta, aquela
que torna minhas armas aptas para a luta, minha
100 boa Protetora, aquela que ama o meu governo, em
seu coração enfurecido, com grande ira amaldiçoe a
sua realeza, que ela mude o seu bem em mal, que
ela quebre sua arma lá onde-há combate e luta, que
LI ela lhe prepare confusão e revolta, que ela abata os
seus guerreiros, que ela embeba a terra com o san-
gue deles, que ela amontoe no campo os cadáveres de
10 suas tropas, que ela não conceda graça a seus homens
e a ele, que ela o entregue nas mãos de seus inimigos
20 e que ela o conduza atado ao país inimigo!
Que Nergal, o foi-te entre os deuses; o combatente
30 sem par, aquele que me faz alcançar a vitória, com
sua grande arma queime a sua gente como o fogo
feroz do caniço, que ele o flagele com sua forte arma
e despedace seus membros como (se fosse) uma es-
tátua de argila!
hO Que Nintu, a sublime senhora do país, a mãe que
me criou, o prive de herdeiro, que ela não o deixe
receber nome, que ela não crie semente alguma de
homem no meio de seu povo!

15. O termo gugallum — palavra formada do suméiio GO.GAL — indi-


cava o inspetor dos canais de irrigação, Era, pois, o funcionário encarre-
gado da irrigação (cf. H. Schmõkel, Kulturgeschichte des AUenu Orient.,
p. 67ss).

113
Que Ninkarak16, a filha de Anum, aquela que fala
50 em meu favor na Ekur, lhe faça surgir em seus mem-
bros uma doença grave, um asakkum 17 funesto, uma
ferida dolorosa que não pode ser curada, cuja natu-
€0 reza o médico não conhece, que não pode ser acalma-
da com ligaduras, quç como a mordida da morte18
não pode ser afastada, e que ele não cesse de lamen-
tar a sua virilidade " até que a sua vida termine!
Que os grandes deuses dos céus e da terra, que
70 os Anunnaki em sua totalidade, o Espirito protetor do
templo, o tijolo da Ebabbar o amaldiçoe com uma
maldição funesta a ele mesmo, seus descendentes, seu
país, seus homens, quer do seu povo como do seu
80 exército. Que Enlil, por sua boca que não muda, o
amaldiçoe com estas maldições e que elas o dominem
imediatamente!

16. A deusa Ninkarak era muitas vezes equiparada com a deusa Gula.
a grande deusa da medicina (cf. D. O. Edzard. art. "Heilsgottheiten", em
Wortfrbuch der Mythologie. vol. I, p. 78).
17. O termo acádico asakkum designava um demônio causador de doenças.
Aqui refere-se, sem dúvida, à doença Causada por esse demônio (cf. D. O.
Edzard, art. "Dãmorien", em Worterbuch der Mythoiogit. I. J). 48: G. Con-
tenau, La Magie chez leu Aaeuriens et lea Babyümiena, p. 84ss: E. Dhorme.
Lea Jieliffiov9 de - Babidonie et d'Asmjric, p. 264ss.
18. A expressão ni-Si-ík mu-tim: "mordida -da morte" exprime o poder
ila morte sobre o doente.
V.i. A forma aqui empregada ej-lu-ti-íu e traduzida por "sua virilidade"
*upõe uma palavra acádica etltitum com o significado abstrato de "virili-
dade" (cf. \V. von Soden, Akkadiíchea Handivorterbuch, I, p. 266a),

114
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116
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Parágrafo 142

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Parte do Prólogo Parágrafo 144

Codex Hammurabi — Textus primigenius


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Tel.: (085)26-7404
Tradução, Introdução e Comentários de E. Bouzon
Hammurabi que viveu entre 1728 e 1686 antes de Cristo,
foi urn rei vitorioso que conseguiu r e u n i r a Mesopo am a
desde o Golfo Pérsico até o Deserto da S i n a , sob um so
c e í o Ele é conhecido também cdmo unn e x i m . o admm s-
trador público. O que mais caracterizou Hammurabi enfre-
nto fazendo dele" a maior figura de m o n a r c a do Onente
Antiao foi o seu sentido de justiça, seu esforço por criar
um estado de direito e uma grande reforma iundica que
ficaram eternizados neste célebre-"Código". Fo, tamanho o
seu êxito que, até hoje, continua s e n d o o C o d g o de
Hammurabi, i n s t r u m e n t o obrigatório para o estudo Wstor.co
e comparativo do Direito. • O Cod.go de ^ m m u r a b . que
a Editora VOZES tem a honra de entregar ao leitor brasi-
leiro traduzido diretamente do original cuneiforrne
atualmente conservado no museu do Louvre uma esteia de
diorito negro, com 2,25 m de altura, encontrada em 1902,
por uma expedição francesa que fazia escavações em S " j s £
. comentá-
a capital blicas, es-
rio nascei estfálísche
pecializou- e foialu-
Wilhelms-I UFRN SISTEMA DE BIBLIOTECA3 OA UFRN
\tualmente
no do gra de línguas
é professi je Janeiro.
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CIO - - Filosofia:

Introdução ao Pensar — Arcângelo R. Buzzi. _


Aprendendo a Pensar - Emmànuel Çame.rc« Leão.
Itinerário - A Clínica do Humano - f Arcângelo R. Buzzi.
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Publicações CID
Textos clássicos do pensamento humano/4

Coordenadores:
Arcângelo K. Buzzi
Leonardo Boff

FICHA CATALOGRAFICA

(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ)

Hammurabi, Rei da Babilônia.


H192c O Código de Hammurabi, Intratlução, tradu-
ção e comentários de E. Bouzon. Ifetrópolis, Vo-
zes, 1976.
116p. 21cm. (Textos clássicos de pensamento
humano, 4).
Traduzido do original cuneiforme.
Bibliografia.

1. Direito — Babilônia. I. Título. II. Série.

CDD — 340.58
340.093502
76-0123 CDÜ — 34(354)
O CÓDIGO
de Hammurabi
Introdução, tradução ;
(do original cuneiforme).
e comentários de

E. Bouzon.

3" EDIÇÃO

v VOZES y

PETRÓPOLIS
1980
© desta tradução, 1976
Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luís, 100
25.600 Petrópolis, RJ
Brasil

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Sumário

Apresentação 7

Introdução: Hammurabi, seu tempo e sua obra 9

1. A Babilônia no início do século XIX a.C. 9

2. Hammurabi e a sua legislação 12

3. A sociedade babilônica na época de Hammurabi

1. Prólogo 19

2. As leis 25

3. Epílogo 109

Bibliografia 115
_jr .V:
tf'-.
*A
I

a
»
M

IN
Apresentação

A . TRADUÇÃO do «Código de Hammurabi» aqui apresen-


tada se baseia na cópia da célebre esteia cuneiforme, que se
encontra hoje no museu do Louvre, publicada per E. Berg-
mann (Codex Hammurabi, Roma 1953). Foi, também, ado-
tada a numeração dos parágrafos e das colunas da, edição de
Bergmann, que, aliás, é a mesma de V. Scheil, o primeiro edi-
tor da esteia. Na. presente edição o número das colunas ê
registrado em algarismos romanos na margem esquerda do
texto; os números arábicos indicam as linhas da respectiva
coluna. A numeração de Scheil é, sem dúvida, inexata, já que
ele supunha, na parte rasurada da esteia, a perda de apenas
cinco colunas, e hoje se sg,be que foram perdidas sete colu-
nas. Mas esta divisão de Scheil é, apesar de sua inexatidão,
clara e comumente seguida pelos especialistas. Mesmo porque
a tentativa de uma nova divisão da matéria levaria apenas a
uma certa probabilidade, por não ser possível uma reconstru-
ção completa das sete colunas perdidas. Na tradução dos pa-
rágrafos raspados da esteia do Louvre foi aproveitada á re-
construção do texto feita por G. R. Driver e J. C. Miles,
baseada em tábuas cuneiformes com duplicatas ao texto da
esteia, que a arqueologia encontrou em diversos lugares da
Babilônia. Nesta parte foi conservada a disposição da maté-
ria e a numeração alfabética de Driver e Miles.
A presente tradução portuguesa do «Código de Hummu-
rabi» procurou, quanto possível, ser fiel ao texto original,
respeitando as locuções típicas e o sabor semita da língua
acádica. Quando a inteligibilidade do texto exigiu uma tra-
dução vernácula mais livre, foram introduzidas notas, ao pé
da página, com o texto acádico e sua tradução literal. As
palavras em parênteses foram introduzidas pelo tradutor para
facilitar a compreensão; palavras entre colchetes indicam re-
7
construção^ do texto original para completar lacunas ou luga-
res destruídos da esteia. Os comentários aos parágrafos legais
limitaram-se, quase exclusivamente, a explicações filológicas
ou de caráter histórico, que pudessem contribuir para uma
melhor compreensão do parágrafo e colocação deste em seu
contexto vital.
Aos amigos, que me incentivaram constantemente a levar
à frente a publicação desta obra e me ajudaram no trabalho
árduo da revisão dos manuscritos, os meus sinceros agrade-
cimentos. Um agradecimento especial cabe, aqui, ao advogado
e amigo Dr. Domingos Bernardo G. da Silva e Sá por sua
valiosa contribuição na discussão de temas de direito com-
parado e da terminologia jurídica.
Rio, março de 1975.

E. Bouzon

40
INTRODUÇÃO

Hammurabi, seu tempo


e sua obra

1. A Babilônia no início do século X I X a.C. 1

No início do segundo milênio da era pré-cristã a Ba-


bilônia assistiu a uma nova invasão de hordas semi-
tas ocidentais, os amorreus 2, que se estabeleceram às
margens do Eufrates, a 20 km a sudoeste da cidade de
Kish. As_ populações sumério-acádicas das regiões cir-
cunvizinhas estavam por démais fracas para poder re-
sistir a esta nova invasão. A região ocupada por esses
semitas chamava-se, provavelmente, Babilla 3, que foi
logo interpretado pelos novos habitantes como Bâb-
ilim = «Porta de Deus». O xeque desse novo grupo,
Sumuabum, não aceitou a soberania de Isin e de Larsa
e começou a estender seu raio de ação tomando as
cidades de Kazallu e de Dilbat- e a fortificar Babel. 4
Mas foi propriamente Sumulailu (1816-1781 a.C.), seu
sucessor, que, com suas vitórias sobre os vizinhos e
com a construção do «Grande Muro» da cidade, conso-
lidou definitivamente Babel. 5 Na parte religiosa, ape-
sar de ser Marduk o deus principal desse, novo grupo,

40
tp }'!?/• S,(I,'m1i*e1'. Geechichte des alten Vorderasien, p. 106ss; D. O.

de 'Mari, Pm-is ^ssz."' Les nfmmdes en Mésopotamie au temps desv róis

TT-" R?TTE/ nome. aparece nos documentos de LagaS no período chamado


SnoSn 2050-1950 a .C ) . Cf. A. Pohl. em Oriental* NS
TTV , ^ ' x?- S}\ t b : D - Edsard, Das Reich der III. Dynastie von
WeCeiktZl em Die ^entalischen Reiche, 1. Fischer
TT' „Yne"ad,' "Datenlisten", em Reallexikon der Assyriologie,
voi. i i , p. 175, n» 1-13. Deve-se notar aqui que os reis das antigas dinas-
tias sumerias e babilomcas costumavam denominar os seus anos de governo
por meio de um acontecimento marcante do ano.
5. Cf. Reallexikon, II, p. 175, n« 17, 19, 27, 34, 41-43.
a tradição suméria é aceita e continuada. As atividades
bélicas e políticas de Sumulailu constituem as, bases
para a continuação de sua dinastia, que durante cerca
de trezentos anos dominou a região. Seu filho Sabum
(1780-1767 a.C) foi, provavelmente, o construtor da
Esagila, o célebre templo de Babel dedicado a Mar-
duk. fi Seu filho. Awilsin (1766-1749 a.C.) e seu neto
Sinmuballit (1748-1729 a.C.) continuam a obra de con-
solidação do reino. 7 Mas foi o filho de Sinmuballit, o
grande Hammurabi (1728-1686 a.C.), que levou a obra
começada por Sumuaburn ao seu apogeu.
Hammurabi começou modestamente e conseguiu
manter-se, graças à sua tenacidade e grande habili-
dade política, sabendo aproveitar, do melhor modo pos-
sível, o jogo de pactos e alianças com os grandes reis
contemporâneos e rivais, Rinsin de Larsa, èamáiadad
de Assur e Zimrilim de Mari. Uma de suas primeiras
preocupações foi a implantação do direito e da ordem
no país s , fundamento da unidade interna do reino. No
sétimo ano de seu reinado, conseguiu dominar ísin e
Uruk 3 e outras regiões da parte oriental do Tigris. 10
Com grande paciência, autodòmínio e muito-tato polí-
tico, vai construindo por meio de suas vitórias e cqn-
quistas, peça por peça, seu vasto içnpériò. Para o 3117
ano de seu reinado a fórmula do ano anuncia: «Com
confiança em Anun e Enlil, que marcham à frente de
seu exército, venceu, com a grande força que os gran-
des deuses lhe deram, o • pãíss de Emutbal e seu rei
R i m s i n . . . e colocou sob seu <|omínio Suméria e Aca-
de». " A morte inesperada de ãamáiadad libertou
Hammurabi da pressão de Assur e lhe deu mais liber-
dade de ação. Agora Hamrrçurabi podia voltar toda a
sua atenção para o seu antigo aliado Zimrilim de
Mari. No ano 33» de seu Afinado conseguiu subjugar

6. Cf. Reallexikon, II, p. 176, n» 60.


7. O fato que o filho e o neto de Sumulailum já sejam portadores de
nomes tipicamente acádicos mostra como os novos habitantes assimilaram
rapidamente a cultura acádica;
8. Na fórmula do segundo ano lê-se: "Ele restabeleceu o direito no pais".
Cf. A. Ungnad, art. "Datenlisten", em Reallexikon der Assyriologie, II,
p. 178, n» 104.
í). Cf. Reallexikon, II, p. 178, n» 100.
10. Cf. Reallexikon, II, 1). 178, n» 112, 113.
11. Cf. Reallexikon, II, p. 180, n» 133.
Zimrilim e fazer dele um vassalo seu. 12 E dois anos
mais tarde, em uma tentativa de revolta, Hammürabi
destrói a cidade-reino de Mari. 1:1 Assim, Hammürabi
conseguiu novamente, depois dos dias do rei sumériõ
êulgi (2046-1998 a.C.), reunir a Mesopotâmia desde
o Golfo Pérsico até o Deserto da Síria sob um só cetr<£.
A grande glória de Hammürabi não é^ apenas a de
ser um rei vitorioso no campo de batalha, i Ele foi tam-
bém um exímio administrador público. Seus trabalhos
de regulagem do curso do rio Eufrates e a construção
de canais para a irrigação incrementaram grandemen-
te a produção agrícola. Em sua política externa com
os vencidos Hammürabi preocupou-se, sempre, em re-
construir as cidades conquistadas e em adornar rica-
mente seus templos com tronos para os deuses, está-
tuas e preciosos emblemas, tentando adquirir, deste
modo, a confiança dos povos subjugados ao novo rei
e senhor. Mas o que mais caracterizou Hammürabi e
fez dele talvez a maior figura de monarca do Oriente
antigo foi ; o seu sentido de justiça. Sua imensa cor-
respondência com os governadores de província, espe-
cialmente com Siniddinam 14 de Sippar e com Samas-
hasir 15, demonstra um esforço enorme e uma vonta-
de incansável e insubornável de fazer reinar a justiça
em seu reino. Ele mesmo fazia questão de ser a últi-
ma instância nos casos de justiça e qualquer cidadão
tinha o direito de recorrer ao rei. Na tentativa de
criar um estado de direito, empreendeu a grande re-
forma jurídica, de que ó célebre «Código de Hammü-
rabi» é um testemunho eloqüente. Esta obra deu-lhe
um nome imperecível na história universal. Hammü-
rabi morria em 1686 deixando a seu filho e sucessor
Samsuiluna uma gloriosa mas, ao mesmo tempo, difí-
cil herança.

12. Cf. Reallexikon, IX. p. 180, n° 135.


13. Cf. Reallexikon, II, p. 181, n» 137. A . Ungnad traduz a fórmula do 35?
ano: " A u f Geheiss Anus und Enlils vernichtete er die Mauer von Mari und
die Mauer von Malgü". Cf. tb. H. Schmókel, Gesrhichte dea alten Vor-
derasien, p. 85-93.
14. Cf. A. Ungnad, Babylonische Briefe aus der Zeit der Hammürabi-
Dynastie, V A B 6, Leipzig 1914.
15. Cf. F. Thureau-Dangin, Lettreu de Hammürabi a SamaShasir, Paria
1924.

11
Infelizmente Samsuiluna (1685-1648 a.C.) e seus su-
cessores n^o foram capazes de continuar a obra de
Hammurabi. E m 1531 a.C., o rei hitita Mursili I sa-
queou e incendiou a capital Babel. 10 O último descen-
dente de Hammurabi, Samsuditana (1561-1531 a.C.),
parece ter morrido durante o ataque hitita contra
Babel. Mursili, contudo, não ocupou Babel; logo após a
conquista regressou à sua pátria. O vácuo deixado foi,
logo, preenchido pela invasão das hordas cassitas. 17

2. Hammurabi e a sua legislação 18

O texto do «Código de Hammurabi» foi conservado,


em sua quase totalidade, em uma esteia de diorito ne-
gro com 2,25 m de altura, encontrada pela expedição
arqueológica francesa de J. de Morgan nas escavações
da acrópole da capital elamita, Susa, durante o inver-
no de 1901-1902 (dezembro-janeiro). 3 9 Essa esteia foi
levada para o museu do Louvre, onde se encontra
atualmente. Na parte superior da esteia vê-se escul-
pido, em baixo-relevo, a imagem do rei, de pé e em
atitude reverente com a mão direita levantada, diante
de uma divindade, provavelmente o deus sol Sama§ 20,
que, sentado em seu trono, entrega ao rei as insígnias
do poder real e o encarrega de estabelecer a justiça
no país. A inscrição consta de cinqüenta e uma colu-
nas escritas com sinais cuneiformes da época babilô-
nica antiga. Na parte inferior da esteia, sete colunas,
aproximadamente, foram raspadas, perdendo-se, deste
modo, de 35 a 40 artigos legais. Acredita-se que os
próprios elamitas, que sob o comando do rei Shu-

16. Cf. H. Schmôkei, Geschichte des alten Vorderaeien, p. 114.


17. Cf. H. Schmõkel, Geschichte des alten Vorderasien, p. 171ss, E. Cassin.
Babylomen unter den Kassiten und das mittlere assyrische Reich, em Die
altorientalischen Reiche, II, Figeher Weltgeschichte, 3, p. 9-70.
18. Para uma introdução mais completa ao "Código de Hummurabi", cf
G. Driver-J. C. Miles, The Babylonian Lawa, vol. I, p. 1-53. Para uma
visão geral sobre o direito cuneiforme em geral, cf. V. Koroíec. Keilschrif-
trecnt, em Handbuch der OrientalUtik, I, vol. suplementar III. Orienta-
lisches Recht, p. 94-219.
19. A antiga localidade de Susa está situada no Iran, cerca de 250 km
ao norte do atual porto petrolífero de Abadan.
20. KoroSec, em op. cit., p. 95, pensa tratar-se do deus Marduk. Assim
também interpreta C. J. Gadd, Ideaa oi Divine Rule in the Ancient East.
Londres 1948, p. 90s.
truknahhunte invadiram a Babilônia pelo ano 1155 a.C.
e carregaram a esteia como presa de guerra para
Susa 21, tenham raspado essas colunas. A divisão atual
em 282 parágrafos foi feita por Vincent Scheil, seu
primeiro estudioso e editor, que em 1902 conseguiu
identificá-la e traduzi-la em poucos meses de tra-
balho. 22
O «Código de Hammurabi» não é o corpo legal mais
antigo do Oriente Antigo. Muito antes dele, já Uru-
kagina de Lagaá, no terceiro milênio da era pré-cristã,
tentara uma reforma legal e estabelecera algumas leis
e preceitos. 23 A língua suméria conhece ainda um ou-
tro «código» anterior ao de Hammurabi, o «Código de
Lipit-Istar de Isin (1875-1865 a.C.). 21 Em 1953 o su-
meriólogo Samuel N. Kramer identificou um documen-
to legal sumário mais antigo ainda 25 , da época da ter-
ceira dinastia de Ur 2G , que ele traduziu e publicou no
ano seguinte. 27 Trata-se de uma coleção de leis do
rei Ur-Nammu (aprox. 2050-2032 a.C.). Em língua
acádica o «código» mais antigo, até hoje conhecido,
é o do rei Bilalama de ESnunna 2S, que reinou no sé-
culo X I X a.C.
Embora o nome «código», dado pelo seu primeiro
editor, seja comumente aceito, a obra legal de Ham-
murabi não pode ser chamada «codificação» no sen-
tido moderno do termo. A palavra «código», em seu
sentido estrito, indica o resultado de uma coleção com-
pleta de todo o direito vigente ou pelo menos de uma

21. Cf. W . Hins, Da a Reich Elam, Stuttgart 1964, p. 104.


22. A publicação da transcrição e tradução de V . Scheil foi feita em
Mémoires de la délégation en Perue, vol. X, Paris 1908.
23. Cf. F. Thureau-Dangin, Sumeriach-Akkadieche Kdnigsinschriften (VAB
I ) , Leipzig 1907, p. 43-69; M. Lambert, Les "reformes" d'Urukagina, Bevue
d'asevriologie 60(1956), p. 169-181.
24. Cf. JY. E. Steele, The Code of Lipit-Ishtar. American Journal oi
ArchaeoTogy 62(1948), p. 425-480. S. N. Kramer apresenta uma tradução
inglesa em Ancient Near Eaêtern Texts relating to the Old Testament,
Princeton 1965, p. 169-161.
25. Trata-se da tábua n? 3191 da coleção de Nippur. É uma tábua pe- •
quena de argila seca ao sol, medindo 20 x 10 cm. Cf. S. N. Kramer, Die
Geachichte beginnt mit Sumer, p. BO.
26. Cf. H. Schmõkel, Geachichte dea Alten Vorderaaien, p. 52ss.
27. Cf. S. N. Kramer. Ur-Namrtu Law Code, -with Appendix by A. Fal-
kenstein, Orientalia NS 23(1964), 40-61. Cf. tb. E. Szlechter, Le Code d" Ur-
Nammu, Revue d'aasyriologie 49(1966), 169-177.
28. Cf. A. Goetze, The Lama of Eahnunna, New Haven 1956; E. Szle-
chter, Les Loia d'ÉSnunva, Paris 1964; M. San Nicolò, Rechtsgeschichtli-
ches zum Gesetz des Bilalama von E§nunna, Orientalia NS 18(1949), 258-
262.

13
parte dele. Esta não foi, certamente a mtençap da
obra de Hammurabi. Nota-se que alguns pontos da
í d a cotidiana não são tratados por Hammurabi, em-
bora a praxe do dia-a-dia nos tribunais babilomcos
conhecesse regras e leis que regulavam esses pontos
omitidos por Hammurabi. A obra legal de Hammurabi
tem um caráter bem marcante de reforma legal. Di-
rige-se contra os abusos de seu tempo. Por isso, reto-
ma apenas algumas tradições legais antigas comple-
tando-as, tornando, às. vezes, mais rigorosas algumas
penas, abolindo abusos, falsas interpretações, etc. -
A obra de Hammurabi foi, sem dúvida, uma tentativa
gigantesca de reformar e unificar o direito no seu
reino.
O «Código de Hammurabi» apresenta uma estrutura
literária análoga à do «Código de Lipit-Istar» com
sua divisão tripartida em prólogo, corpo legal epí-
logo. No prólogo, escrito no galeto próprio do genero
épico, Hammurabi apresenta*» como o soberano cha-
mado pelos grandes deuses Atfrm, Enlil, âamas e Mar-
duk para fazer a justiça (niparam) brilhar sobre o
país 30 O epílogo, escrito igipmente em estilo épico,
fala da finalidade da obra & Hammurabi: «(Estas
são) as prescrições de justiça que Hammurabi, o rei
forte, estabeleceu e que fez| # país tomar um cami-
nho seguro e uma direção 1**». 3 1 Acentua, também,
o grande alcance social de stta obra, quando escreve:
«Para que o forte não oprima o fraco, para fazer jus-
tiça ao órfão e à viúva, para proclamar o direito do
país » 02 O prólogo termina com o pedido de bên-
çãos' para todos que respeitarem as prescrições da
esteia e a maldição dos deuses para quem tentar abo-
li-las. O corpo legal pode ser dividido, em linhas ge-
rais, nos seguintes assuntos:
1. Leis para punir possíveis delitos praticados du-
rante um processo judicial (§§ 1-5).

á ^ ^ s a ? i S i - r i v 1 ; . ' « .
30. Cf. Prólogo, ool. I. 27-29.
31. Cf. Epílogo, col. X L V H . 1-8.
32! Cf. Epílogo, col. XLVII, 60-72.
2. Leis que regulam o direito patrimonial (§§ 6-
126). ,
3. Leis que regulam o direito de família e as he-
ranças (§§ 127-195).
4. Leis para punir lesões corporais (§§ 196-214).
5. Leis que regulam os direitos e obrigações de clas-
ses especiais:
a) Médicos (§§ 215-223). b) Veterinários (§§ 224-
225). c) Barbeiros (§§ 226-227). d) Pedreiros
(§§ 228-233). e) Barqueiros (§§ 234-240).
6. Leis que regulam preços e salários (§§ 241-277).
7. Leis adicionais que regulam a posse de escravos
(§§ 278-282).

3. A sociedade babilônica na época de Hammurabi

A estrutura da antiga sociedade nas diversas cidades-


estados da Mesopotâmia do tempo dos ENSÍ 3 3 sumérios
era baseada em um sistema de centralizaçao tipo so-
cial-teocrático. O templo do "deus principal da cidade
era o centro de toda a administração; o ENS1 era,
simplesmente, o representante da divindade. O tem-
plo, como centro do governo e da administraçao, rece-
bia todo produto dos campos e do c o m é r c i o para em
seguida, distribuí-lo entre os habitantes. 35 A institui-
ção da realeza conservou, em si, a estrutura teocra-
tica 30 O LUGAL = «rei» tanto na sociedade su-
méria como na semita, considerou-se, sempre, como
um «chamado» pela divindade para governar o pais.
Na realidade, contudo, com o passar dos anos, cr pa-
lácio foi se tornando, aos poucos, o centro admimstra-

tkeS? ^ ^ ^ r A f ^ 1 ^ » ^ ^ l *r
r Íí t c l U k tf^op. eit.. P. ^ J ^ J ^ J i c n ^ í
-Lista f?om heaven...»
m f " o ^ S l LUGAL s i ^ i f i c a "homem srande".
tivo e político do país. Era o.lugar das grandes deci-
sões, a última instância a que o cidadão podia apelar.
No tempo de Hammürabi, principalmente, esse centra-
lismo atingiu o seu auge. Hammürabi criou um siste-
ma completo de governadores e altos funcionários que
lhe permitiu um controle absoluto sobre todas as es-
feras da vida pública do país 33 , como aliás se pode
deduzir da inúmera correspondência do rei com seus
funcionários e de outros documentos da época. Jí)
A sociedade babilônica no tempo de Hammürabi es-
tava dividida em três classes sociais. O homem livre,
em posse de todos os direitos de cidadão, era chamado
awllum. 10 Dessa camada social eram recrutados os
funcionários, os escribas, os sacerdotes. A essa classe
pertenciam também os profissionais independentes, os
comerciantes, os camponeses e grande parte dos sol-
dados. 11 Naturalmente, havia dentro da classe dos
awllum toda uma gama de diferenças sociais desde os
influentes governadores, altos funcionários, ricos co-
merciantes até os pequenos camponeses ligados a uma
obrigação feudal. A partir da época de Hammürabi
aparece na sociedade babilônica uma classe intermé-
dia entre os awllum e os escravos. Os membros desta
classe são denominados no «Código de Hammürabi»
muskênum. 42 Não se conhece, ao certo, a verdadeira
função dessa classe na estrutura da sociedade babi-
lônica. No tempo de Hammürabi formava, sem dúvi-
da, a grande massa da população. Agrupava, prova-
velmente, os pequenos arrendatários, os soldados mais
simples, pastores, escravos libertos, etc. Muitos de-
les ganhavam a vida alugando-se como trabalhador

38. Cf. H. Schmokel, Kulturgeschichte, p. 94-97; D. O. Edzard. Die altba-


bylonische Zeit, em Die Altorientalischen Reiche í, Fischer Weltgeschichte,
p. 193-202.
39. Cf. A . Ungnad, Babylonische Briefe aus der Zeit der Hammürabi-
Dynaatie, V A B 6, Leipzig 1914, p. 3-64; F. Thureau-Dangin, Lettres de
Hammürabi à Samaéhaair', Paris 1924; G. R. Driver, Lettera oi the First
Dynaaty, The Oriental Institute of Chicago 3(1924), I, n? 1-31.
40. O termo acádico awílum significa em si "homem". Cf. W. von So-
den, Akkadiachea HandiOorterbuch, vol. I, p. 90a.
41. Cf. W . Rollig. art. "Gesellschaft", em Reallexikon der Assyriologic.
vol. III, p. 235; H. Schmokel, Kulturgeschichte des Alten Orient, p. 38-46.
42. No "Código de Hammürabi" aparece, em geral, o sumeriograma
MAS.EN.GAG. O nome muskênum entrou na língua etiópica e árabe com
o significado de "pobre". O termo italiano "meschino", o francês "mes-
quin" e o português "mesquinho" sofreram, sem dúvida, por meio do
árabe, influência do acádico muèkênum.

Ifí
jornaleiro. 13 Em sua reforma legal Hammurabi preo-
cupa-se, também, com a situação dessa classe e pro-
cura defender os seus direitos especialmente em rela-
ção ao salário que lhe é devido.
A camada ínfima da sociedade babilônica era for-
mada pelos escravos. Em geral, a sorte dos escravos
dependia, em grande parte, do sentido humanitário
dos senhores. Mas os escravos tinham na lei uma certa
proteção. E a reforma de Hammurabi preocupou-se
também com os direitos dos escravos. Hammurabi de-
termina o limite máximo do tempo de serviço para
aqueles que por dívidas eram obrigados à escravidão. 41
A um escravo, a reforma de Hammurabi dava o di-
reito de esposar a filha de um homem livre, e os fi-
lhos deste casamento eram considerados livres. 43 Ham-
murabi determina, outrossim, como proceder a divisão
da herança em tais matrimônios. 10 A legislação de
Hammurabi admitia uma certa diferença entre os vá-
rios tipos de escravos. A escrava que gerava filhos em
lugar da esposa principal, por exemplo, gozava na so-
ciedade babilônica de uma situação privilegiada aceita
e protegida pela reforma de Hammurabi. 47 Os mais
infelizes entre os escravos eram, sem dúvida, os pri-
sioneiros de guerra trazidos para a Babilônia. 48
A família era a unidade menor da sociedade e re-
presentava um papel central, como cerne da estrutu-
tura social babilônica. Vigorava o sistema patriarcal.
Embora a poligamia fosse permitida, o matrimônio
era, de certo modo, monogâmico; só uma mulher po-
dia ter o título e os direitos plenos da esposa. 49 No
esforço de reforma de Hammurabi vê-se, claramente,
uma grande preocupação do legislador em salvaguar-

43. Cf. H. Schmõkel, Kulturgescliichte deu A.O., p. 42s.


44. Cf. acima, § 117.
45. Cf. acima, | 175.
46. Cf. acima, § 176.
47. Cf. acima, $ 146-147.
48. Se um mercador babilôçico encontrasse, durante sua expedição comer-
cial, um escravo babilônico, devia redimi-lo. A legislação de Hammurabi
determina a ordem das pessoas obrigadas a reembolsar o mercador pelo preço
do resgate: cf, § 32.
49. Havia algumas exceções, onde era permitido uma segunda esposa:
cf. § 141; 145; 148. O homem podia ter outras concubinas, mas so a sua
primeira mulher tinha o atatus de esposa. Cf. H. Schmõkel, Kutturgeschtchte
des Alten Orient, p. 29ss; A. L. Oppenheim, Ancient Mesopotamia, p. 77.

17
dar os direitos da esposa contra a arbitrariedade do
marido e dos filhos. Geralmente era o pai que esco-
lhia a esposa para o seu filho e pagava o terhatum,
isto é: a quantia exigida pelo pai da noiva como com-
pensação pela perda da filha. As famílias mais ricas
a juntavam ao terhatum um presente nupcial comple-
mentar chamado em acádico biblum. Saindo da casa
de seu pai, a esposa levava consigo um dote — deno-
minado em acádico seriktum -— que permanecia du-
rante o matrimônio propriedade da esposa e depois de
sua morte era dado aos filhos ou? voltava à casa de
seu pai, caso essa esposa morresse sem deixar filhos.
Após as formalidades do pagamento do terhatum era
redigido o contrato matrimonial, considerado na re-
forma de Hammurabi como «conditio sine qua non»
para a validade do matrimônio. 50 A Babilônia conhe-
cia, também, o costume da filiação adotiva. Os pro-
blemas ligados a tal costume são largamente trata-
dos na legislação de Hammurabi. 51
No tempo de Hammurabi o comércio era, sem dú-
vida, supervisionado e regulamentado pelo palácio. Mas
as transações comerciais estavam, de fato, nas mãos
do tamkãrüm. 52 As diversas mercadorias eram trans-
portadas por via marítima pelo Eufrates ou em cara-
vanas e atingiam as localidades mais distantes do mun-
do então conhecido. Com o grande desenvolvimento da
vida comercial na época de Hammurabi, o tamkãrüm
se tornou mais uma espécie de banqueiro que finan-
ciava a expedição comercial por meio de uma socieda-
de (tappütum) ou enviava um agente seu (samallüm)
com capital para as diversas transações ou com mer-
cadorias para vender. 53 Os lucros ou prejuízos eram
divididos após a viagem de acordo com o contrato fei-
to antes da partida. O pequeno comércio varejista era
explorado pela taberneira, que vendia não apenas bebi-
das, mas tudo o que era necessário para o dia-a-dia.

OU. \JL. G Í.Í. O. . . .


61. Cf. | 186-193. Cf. tb. M. DaVid, art. "Adoption", em Beallexikon der
Assyriologie, I, p. 37-39. . . . .
62. Cf. "W. F. Leemans, art. "Handel", em. Reallexikon der Assyriologie
IV, p. 76ss.
53. Cf. 8 88-107, Aqui Hammurabi preocupa-se, especialmente, com o peri-
go dé fraude quer por parte do tamkarum como por parte do Samallüm.
1. Prólogo

CoL I Quando o sublime Anum rei dos Anunnaki (e)


Enlil 3 , o senhor do céu e da terra, aquele que deter-
mina o destino do país, assinalaram a Marduk \ filho
primogênito de Ea 5, a dignidade de Enlil« sobre to-
10 dos os homens, (quando) eles o glorificaram entre os
Igigi 7 , (quando) eles pronunciaram o nome 8 sublime
de Babel" (e) a fizeram poderosa no universo, (quan-

.., Anum — cujo sumeriograma A N pode também significar "céu" ou


deus em geral — é a divindade suprema do Panteão sumério, aceito tb.
como tal pelos povos semitas — acádicos, babilônios e assírios — que se
estabeleceram na Mesopotâmia (cf. D. O. Edzard, art. " A N " , em Worter-
buch der Mythologie, vol. I, p. 40; E._ Dhorme, Lea Beligiona de Babvlonie
et d'Aasyrie, Paris 1949, p. 22-26; 45-48).
2. <• Anunnaki: inicialmente uma expressão coletiva para designar todos
os deuses, mais tarde, em contraposição aos Igigu, passou a designar ape-
nas os deuses da terra (cf. D. O. Edzard, art. "Anunna", em Worterbuch
der Mythologie, I, p. 42).
3. d Enlil: o sumeriograma EN.L1.L significa "Senhor do vento". É pra-
ticamente o "chefe executivo" do Panteão sumério. Seu templo' principal
ficava na cidade de Nippur (cf. F. Nôtscher, em Reallexilcon der Aaayrio-
logie, vol. II, p. 882-387; D. O. Edzard, Wortb. der Mythologie, I, p. 59-61).
4. "'Marduk: era o deus nacional de Babel. A menção mais antiga deste
deus encontra-se aqui no prólogo do Código de Hammurabi. A ascensão
de Marduk a deus nacional deu-se com a hegemonia de Babel sob a dinas-
tia de Hammurabi. O poema babilônico da criação "Enuma eli5" foi com-
posto como justificativa teológica desta supremacia de Marduk (cf. D. O.
Edzard, art. "Marduk", em Wortb. der , Mythologie, I, p. 96; E. Dhorme,
Les Religiona, p. 139-150; 168-170).
3. d Ea, também chamado Enki, é o deus da' sabedoria e da magia. Ea
era o senhor dp Abzu, isto é: das águas doces. Era considerado o pai de
Marduk (cf. E. Ebeling, art. "Enki", em lieoilexikon der Aaayriologie, II,
p. 374-379; D. O. Edzard, art. "Enki", em Wortb. der Mythologie, I, p. 56).
6. A expressão acádica ellilutum indicava a dignidade e ao mesmo tempo
as funções de Enlil.
7. d Igigi: era uma designação babilônica coletiva para indicar os grandes
deusea do céu (cf. D. O. Edzard, Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 80i:
E. Dhorme, Lea Religiona de Babyloniè et d'Ã$syrie, p. 45-47).
8. Quando os deuses pronunciavam o nome dé alguma coisa, eles a cria-
vam. Uma coisa sem nome pertencia ao caos, i r a inexistente para a men-
talidade sumério-babilônica. Cf. G. Contenau, L& Magie chez les Assyriens
et lea Babyloniena, Paris 1947, p. 127-185.
9. A cidade Babel — aqui expressa pelo sumeriograma KÁ.DINGIK.RA
= "porta de deus" — era a capital do reino de Hammurabi (cf. E. Unger,
art. "Babylon", em Reallexikon der Aasyriologie, vol. I, p. 330-369; A. I..
Oppenheim, Ancient Mesopotamia, Chicago 1964, p. 109-125; A . Moortgat,
Geachichte Vorderaaiena bis zmn HeUenismua, München 1950, p. 297-300).

19
do) estabeleceram para ele (Marduk) em seu meio
20 uma realeza eterna, cujos fundamentos são firmes co-
mo o céu e a terra, naquele dia Anum e Enlil pronun-
ciaram o meu nome, para alegrar os homens, Hammu-
30 rabi, o príncipe piedoso, temente a deus, para fazer
surgir justiça na terra, para eliminar o mau e o per-
verso, para que o forte não oprima o fraco, para, como
o sol, levantar-se sobre os cabeças-pretas 10 e iluminar
40 o país.
Eu (sou) Hammurabi, o pastor, chamado por Enlil,
50 aquele que acumula opulência e prosperidade, aquele
que realiza todas as coisas para Nippur, DUR. A N .
60 K l u , guarda piedoso de É. KUR 1 2 , o rei eficiente que
restaurou Eridu 1 J em seu lugar, aquele que purifica
II o culto de É . A B Z U " , conquistador(?) dos quatro
cantos da terra, aquele que magnífica o nome de Ba-
bel, que alegra o coração de Marduk, seu senhor, que
10 todos os dias está a serviço da É . S A G . I L A 1 3 , descen-
dência real 16 , que Sin 17 criou, aquele que faz próspera
a cidade de Ur, humilde suplicante, que traz abun-
20 dância para É . K I â . N U . G Á L 1 S , o rei inteligente, obe-
diente a samas 1 9 , o forte, aquele que fortificou os

10. A expressão salmãt qaqqadim — aqui expressa pelo sumeriogiíima


S A G . G I , — cuja tradução literal é "caheça-preta", . era uma expressão
idiomática da língua suméria para designar " h o m e m " em geral e mais
especialmente o povo sumério. Cf. H. Schmõkel, D a» La-nd Sumer, Stuttgart
1955, p. 43ss; A. Deimel, Sumerixehe» I.exikon. II parte. vol. I. Roma
1»28, p. 307, n? 115, 239.
11. D U R . A N . K X = " p o n t o de j u n ç ã o do céu e da terra" era originaria-
mente o nome da Ziqqurat, isto é: da torre em degraus do templo de Enlil
em Nippur. Mais tarde o título tornou-se p o r metonímia uni epiteto da
cidade de Nippur ( c f . A . Deimel, Sumerisches Lexikon, parte H , W 108,16).
12. É . K U R = "casa da montanha" era o nome do templo de Enlil na
cidade de Nippur.
.13. Eridu era uma antiga cidade suméria, cerca de 11 km a sudoeste
de U r ( c f . E. Unger, art. " E r i d u " , em Reallexikon der Aaayriologie, vol.
XI, p. 464-470).
14. É . A B Z U era o nome sumério do templo do deus E a na cidade de
Eridu (cf. E. Unger, art. " E r i d u " , em Reallexikon der Aaayriologie, vol.
II. § 9, p. 469).
15. É . S A G . I L A = " a casa cuja cabeça emerge" era o nome do c o m -
plexo de edifícios que formava o templo do deus Marduk em Babel. £ pos-
sível que o nome £ . S A G . I L A venha da Ziqqurat que era de uma altura
considerável. Esta Ziqqurat influenciou, provavelmente, o relato bíblico da
torre de Babel (cf. Gên 11,1-9). Cf. E. Unger, art. "Babylon", em Reallexi-
kon der Aaayriologie, vol. I, § 97, p . 353-359.

16. Literalmente z5r Sarrutim significa "semente de realeza" e indica que


Hammurabi era de linhagem real e não um usurpador.
17. Sin era o nome acádico do deus lunar sumério Nanna, considerado
filho de Enlil e cujo centro de culto era a cidade de Ur (cf. D. O. Edzard.
Worterbuch der Mythologie, art. "Mòndgott". vol. I, 1). 101-103).
18. É . K I â . N U . G Á L era o nome do templo <le Sin em Ur (cf. E. EbellinK.
Reallexikoti der Asayriologie, vol. II. p. 322).
19. ftamas era u nome semítico do ileus solar, aqui expresso pelo sume-
riograma J U T U , nome dessa divindade na religião suméria. Sendo o deus
fundamentos de Sippar 20 , aquele que cobriu de verde
á capela 21 de A j j a 2 2 , aquele que traçou o plano do
30 templo É . B A B B A R 2 3 , que é como a habitação dos
céus, o herói, aquele que poupou Larsa 21 , aquele que
renovou a É.BABBAR para èamas, seu aliado, o se-
40 nhor que fez . (a cidade de) Uruk 25 reviver, que su-
priu seu povo com a água da abundância, que levantou
a cabeça de Eanna 2(i , que amontoou riquezas para
Anum e Inanna, proteção do país, aquele que reuniu
50 os dispersos de Isin 27, aquele que encheu de abundân-
cia o.templo É . G Á L . M A H 2 8 , dragão 29 dos reis, ir-
mão querido ( ? ) de Zababa 30 , aquele que estabeleceu
60 solidamente a cidade de K i s a q u e l e que cercou de

da luz era considerado o juiz e o protetor do direito (cf. E. Dhorme


/>ea Kehaions de Babylonie et d'Aaayrie, p. 60-67; 86-89; D. O. Edzard
art. "Sonnengott", Wõrterbuch der Mythologie, vol. I, p 126s) ' '
20. Sippar era uma cidade ao norte da Babilônia, onde havik o célebre
santuário de Samaá É BABBAR. Hammurabi se gloriava de ter renovado
a cidade de Sippar (cf. E Sollberger-J. R. Kupper, Inacriptions royales
mmériennes et akkadiennes. Paris 1971, p. 213-214, IVC6e, C6f)
21. O termo acádico gegunnü — derivado da língua suméria — indicava
provavelmente o pequeno santuário situado no alto da Ziqqurat, isto é• da
torre em degraus (cf. W . von Soden, Akkadisches Handwõrterbuch. vol I
P. 284. sub voce; A . Finet, Le Code de Hammurapi, p. 34).
22. A deusa A j j a era a esposa do deus solar babilônico Samaá. Seu nome
já. e testemunhado em época pré-sargônica e pode ser considerada uma das
divindades semitas mais antigas da Mesopotâmia (cf. E. Ebelling art
A . A . , em Reallexikon der Assyriologie, vol. I, p. l s ) .
23. É . B A B B A R = "casa brilhante" era o nome do templo de SamaS em
Sippar ( c f . E Ebellmg, art. "Ebabbara", em Reallexikon der Assyriologie,
vol. 11, p. 263).
24. Larsa, situada ao sul da Babilônia, era um outro centro do culto de
SamaS. O templo de Larsa chamava-se também É . B A B B A R . Hammurabi
capturou Larsa no 31? ano de seu reinado, derrotando o rei Rimsin (A
iÍoi "Daten,isten"> em Reallexikon der Assyriologie, vol. IX, p. 180,
n? 133). E m uma inscrição Hammurabi se apresenta como o construtor
do templd É . B A B B A R de Larsa (cf. Inacriptions royales..., p. 212, IVC6a)
25. Uruk era uma antiga e importante cidade do sul da Babilônia —
luije chamada W a r k a — , nomeada no A T como Erech (cf. Gên 10,10).
Hammurabi celebra a conquista de Uruk no sétimo ano de seu reinado
1,7o y n í r n , ' "Datenlisten", em Reallexikon der Assyriologie, vol. II,
p. 178, n? 109). Uruk era na época suméria o centro do culto de Anum
e Inanna.
26. É . A N . N A = "casa do céu" era o nome do templo principal de Uruk
onde eram cultuados A n u m e Inanna. A deusa Inanna, conhecida entre
os semitas como Istar, era considerada a deusa do amor e da vida sexual
e também como a deusa da guerra (cf. D. O. Edzard, art. "Inanna" em
Wõrterbuch der Mythologie, vol. I, p. 81-89).
27. Isin, situada ao sul de Nippur, era uma cidade-reino que floresceu no
segundo milênio a.C. ( c f . H. Schmòkel, Geechichte dea Alten Vorderasien,
Leiden 1957, p. 73ss). Hammurabi celebra a conquista de Isin no sétimo
ano de seu reinado (cf. A . Ungnad, "Datenlisten", Reallexikon, vol. II,
P. 178, n9 109). Hammurabi refere-se aqui no prólogo aos habitantes de
Isin, que tinham sido dispersados após a vitória de Rimsin sobre Isin
(cf. A . Ungnad, "Datenlisten", Reallexikon, vol. II, p. 163, n? 231).

.. j 8 - , É - 9 Í L - M Â 0 e r a ° templo de Ninisin em Isin (cf. E. Ebelling, art.


£,galmah , em Reallexikon, vol. II, p. 277).
M S 1 . 1 ™ ° USUMGAL = . " d r a g ã o " , era um título real.
J0. Zababa era o deus principal da cidade de Kis. Era um deus guer-
í-°-V D \ ° - E 4 z a r d ' a r t - "Zababa", Wortb. der Mythologie, yol. I, p. 138).
31. Kis estava situada a nordeste de Babel.

21
brilho É . M E . T E . U R . S A G 3 2 , ' aquele que executou
com exatidão os grandes ritos de Inanna, aquele que
cuida do templo HUR. SAG. K A L A M . MA 33, rede 34
70 para o inimigo, a quem Erra, seu companheiro, fez
III alcançar seu desejo, aquele que fez Kutha 35 eminente,
que presenteia ricamente todas as coisas a Meslam 36,
touro indomável que escorneia os inimigos, favorito
10 de Tutu 37, aquele que traz alegria à cidade de Bor-
sippa 3S, o piedoso que não negligencia Ezida, deus dos
reis, aquele que conhece a sabedoria, aquele que au-
20 menta as terras de cultura de Dilbat 3a , aquele que
enche os celeiros de Ninurta 40 o poderoso, o senhor,
cujos ornamentos são o cetro e a coroa, a quem a sá-,
30 bia Mama 11 fez perfeito, aquele que fixa os planos
de Kes l2, aquele que multiplica os alimentos puros para
Nintu 43 , (eu sou) o prudente, o perfeito, aquele que
UO procura pastagens e lugares de água para Lagas 44 e
Girsujr>, aquele que oferece imponentes oblações a
Eninnu aquele que prende os inimigos, o protegido
50 de Telitum 4T, aquele que realizou os oráculos de Za-
balam 4S , aquele que alegra o coração de IStar, (eu

3!í. É . M E . T E . U R . S A G era o templo de Zababa em Kiá.


33. H U R . S A G . K A I . A M . M A = "montanha (Io pais era o templo de Inan-
na ém Kiài Aqui Inanna era conhecida como esposa de Zababa.
34.0 termo saparum = "rede", era um Instrumento bélico sumerio o
servia para envolver o inimigo.
35. Kutha, cidade situada ao norte de Babel no lugar da hodierna Tell-
Ibrahim, era dedicada ao deus Nergal.
36. Mes-lam era o nome do templo de Erra e Nergal em Kutha. Errn
era o deus da peste e da guerra (cf. D. O. Edzard, art. " E r r a " , em
Worterbuch der Mythologie, vol. I, p. 63). Erra era muitas vezes identi-
ficado com Nergal .(cf. D. O. Edzard, art. "Nergal", em Worterbuch der
Mythologie, vol. I, p. 109).
37. Tutu era um epiteto de Marduk. Aqui, porém, é empregado como
epiteto de Nabü, filho de Marduk.
38. A cidade de Borsippa estava ao sul de Babel. Aqui estava o célebre
santuário, dedicado ao deus Nabü, È . Z I . D A . "
39. Dilbàt estava situada ao sul de Borsippa, hoje Dulaim.
40. Ninurta era um deus guerreiro e ao mesmo tempo um deus da ve-
getação e da fertilidade (cf. E. Dhorme, -Les. Èeligiona de Babylonie et
d'Assyrie, p. 102-109).
41. Mama era uma das numerosas deusas-mães do Panteão babilânico (cf.
D. O. Edzard, art. "Muttergottlnen", em Wiirterb. der Mytholoqie, vol. I.
P. 103).
42. A localização exata de Keà nos é desconhecida.
43. Nintu era uma outra designação da divindade-mãe.
44. LagaS, situada na hodierna Tello, era uma cidade-reino da Babilônia
meridional. Floresceu na época suméria, especialmente durante o reinado de
Gudea (aprox. 2050-2000 a.C.).
45. Girsu, localizada a noroeste de Lagaé, dependia desta. ,
46. Ê . N I N . N U o templo de Ningirsu, deus principal de Lagas.
47. Telitum era um epiteto da deusa IStar.
48. Zabalam, situada na Babilônia central, provavelmente no local da
atual Ibzaih, era um centro de culto a B t a r com seu templo £ . Z I . K A L A M .
Em uma inscrição de Hammurabi lê-se: "Hammurabi, rei forte, rei da

22
sou) o príncipe puro, cujas orações Adad 4 9 conhece,
60 aquele que tranqüiliza o coração de Adad, o guerreiro,
em Bit-Kar-kara 50 , aquele que sempre mantém às pro-
priedades em Eudgálgal 51 , (eu sou) o rei que* dá a
vida à cidade de Adab 5 2 , que cuida do templo Emah,
70 senhor dos reis, combatente sem rival, aquele que
IV presenteia a vida à cidade de Maskan-sãpir 53 , que
providencia abundância para Meslam, o prudente ad-
10 ministrador, aquele que atingiu a fonte da sabedoria,
aquele que protegeu o povo de Malgum 54 da catás-
trofe, aquele que solidamente estabeleceu sua morada
em prosperidade, aquele que para sempre estabeleceu
20 oferendas puras para Ea e Damgàlnunna 55, que mag-
nificaram a sua realeza.
(Eu sou) o primeiro dos reis, aquele que subjugou
as regiões do Eufrates sob as ordens de Dagan 66, seu
30 criador, aquele que poupou os povos de Mari e Tu-
tul 5T , (eu sou) o príncipe piedoso, que alegra a face
de Tispak 5S , aquele que estabeleceu oferendas puras
para Ninazu co , aquele que salvou s^us homens da

Babilônia, rei <los quatro cantos, construtor da £ . ZI.KAT.AM.MA, o templo


de IStar de Zabaiam" (cf. E. Sollberger-J. R. Kupper, hwcriptions royales
«nmérienven et akkadievneii, p. 212, IVCtic). .
•I». Adad era o deus habilônico da tempestade. é . . . .
50. Bit-Karkara era uma cidade da Babilônia . meridional nas proximidades
de Ur, mas sua localização exata é desconhecida.
r, 1. É.UD.GAL.GAL é o nome do templo de Adad em Bit-Karkara.
r.2. Adab era uma cidade da Babilônia central a sudeste de Nippur, na
localidade da hodierna Bismãjã. Era um centro de culto da deusa MAIJ ou
N1N.MAH com seu templo Í . M A H . _
53. Maskan-áapir era uma cidade dependente de Larsa. Sua localizaçao
exata é desconheci<la. Ficava, provavelmente,, perto de Adab. Pelo nome
de seu templo Meslam pode-se concluir tratar-se de um centro de cu'to
do deus Nergal. A leitura sãpir do sumeriograma SABRA é confirmada
pelos textos de Mari (cf. ARM II, 72,5).
.VI. A localização da cidade Malgum nos é desconhecida. A lista de datas
do reinado de Hammurabi menciona duas vezes ações militares do rei con-
tra a cidade, no décimo ano e no 35? ano (cf. A . Ungnad, art. "Daten.-
listen". em lieallexikon II, 179. 181). _ • ' _
55. Damgalnúnna era o nome sumério de Damkina, esposa ae Ea (cr.
I). O. Edzard, art. "Damgalnúnna", em Worterb. der Mythologie, YOi. II,
56?'i>agãn, no AT conhecido como Dagon, era o deus semlta. ocidental
do grão, cultuado nas regiões de Mari e Terqa (cf. D. O. Edzard, ,art.
"Dagan", em Worterbuch der Mythologie, vol. I, p.. 49; H. Schmõkel, a r t
"Dagan", em Keallerikon der Ansyriologie, vol. II, p. 99).
.">7. Mari - - . hoje Tell-Hariri — era uma cidade-reino situada as mar-
gens do Eufrates. Esta cidade-reino atingiu seu apogeu durante o reinado
lie Zimrilim (aprox. 1717-1695 a.C.). Em 1695 a.C. esta cidade-reino íol
destruída por Hammurabi. Tuttul era uma cidade situada as margens « o
Eufrates. „
58. Tièpak era o deus principal da cidade de Esnunna na região do
rio Dijala. A origem desta divindade é desconhecida, mas foi recebida,
durante o período habilônico antigo no Panteão acádico (cf. D. O. Edzard,
art. "Tiüpak", no Worterb-ur.h der Mjithologie, vol. I., p. 1,30). _
-.--,.!). Ninazu. deus da medicina — o sumeriograma NJN.AZU significa
"sènhor-médico" —, era adorado também em ESnunna (cf. D. O; Efclzard,

23
.40 desgraça, aquele que estabeleceu seus fundamentos nc
meio de Babel em paz, pastor dos povos, aqúele cujas
obras agradam a Istar, aquele que estabeleceu Istai
50 na Eulmas 60 no meio da praça de Acade, aquele qut
faz a verdade aparecer, aquele que dirige os povos
60 aquele que conduziu sua boa protetora para ASsur.
aquele que silencia os gritadores, o rei que proclamo!
em Nínive 61 as ordens de Iátar no Emesmes.
(Eu sou) o piedoso, aquele que fervorosamente su-;
plica aos grandes deuses, o descendente de Sumu-la-
70 ilu 62, o poderoso herdeiro de Sin-muballit 63 , sementí
V eterna de realeza, rei forte, o sol de Babel, aquel«
que faz surgir a luz para o país de Sumer e Acade
10 o rei que traz à obediência os quatro cantos da terra,
o protegido de Istar.
Quando o deus Marduk encarregou-me de fazer jus-
tiça aos povos, de ensinar o bom caminho ao país.
20 eu estabeleci a verdade e o direito na linguagem dc
país, eu promovi o bem-estar do povo. Naquele dia:

art. "Ninazu", em Wõrterhurh der Mi/lholofiic, vol. 1, i>. 110). O texto ' i
aqui provavelmente à proteção e asilo que os habitantes <le Efaunn
contraram em Babel após uma catástrofe natural.
60. É . U L . M A S era o templo <la deusa' Istar na antiga cnla<le ile A
fundada por Sargon I, que reinou nos anos 23.">0-2300 a.C. aproximaram^.
«1. Nínive, situada na margem esquerda Ho Tigres, foi a ultima ca
do reino assírio. É . M E S . M E S era o templo de Istar em Nínive.
62. O rei Sumu-la-ilu <1816-17X1 a.C.) foi o fundador da dmastia <
Babel (cf. H. Schmokel. Gesrhichte deu altev Vordera.sipn, p. 106ss).
63. Sinmuballit. bisneto de Sumulailu, era o pai de Hammürabi (cf.
Schmokel Gesrhichtf de» alte» Vorderasieit. p. 106ss).

24.
2. A s leis

§ 1. Se um awilum acusou 1 um (outro) awilum e


lançou sobre ele (suspeita de) morte mas não pôde
30 comprovar: o seu acusador será morto.
Na sociedade habilônica o awilum era o homem livre, o cida-
dão em pleno uso de seus direitos (cf. W. ROLLIG, art. "Gesell-
schaft", em Reallexikon der Assyriologie, III, p. 233-230, Ber-
lim 1936). Um paralelo interessante a esta lei habilônica en-
contramos na legislação bíblica do Deuteronômio (cf. Dt
ll),16ss).

§ 2 Se um awilum lançou contra um (outro) awilum


(uma acusação de) feitiçaria mas não pôde compro-
var: aquele contra quem foi lançada (a acusação de)
40 feitiçaria irá ao rio e mergulhará no rio. Se o rio o
dominar, seu acusador tomará para si sua casa. Se
o rio purificar aquele awilum e ele sair ileso: aquele
50 que lançou sobre ele (a acusação de) feitiçaria será
morto e o que mergulhou no rio tomará para si a
casa de seu acusador.

Este parágrafo trata de uma acusação de feitiçaria. A magia


negra era temida, pois o homem do Oriente antigo atribuía-lhe
forças capazes de prejudicar suas vítimas (cf. A. L. OPPEN-
HEIM, Ancient Mesopotamia, Chicago 1964, p. 206-227; D. G.
CONTENAU, La Magie chez les Assyriens et les Babyloniens,
Paris 1947; E. DHORME, Les Religions de Babylonie et d'Assy-,
1 rie, Paris 1949, p. 259-271). No caso proposto aqui os indícios
apresentados não eram comprovantes. O caso devia, pois, ser

1. O termo acádico ubburum é um termo técnico na praxe judicial e


significa "acusar oficialmente", "mover um processo contra alguém" (cf. na
legislação de Hammurabi os §§ 126, 131).

25
Este § está em aparente contradição com o § 6. Contudo este
parágrafo parece querer abrir uma exceção para alguns obje-
tos de propriedade do templo ou do palácio, que podiam ser
compensados (cf. G. R. DRIVER-J. C . MILES, The Babylonian
Laws, vol. I, p. 8U). Na segunda parte do artigo é tratado o
caso_ em que a pessoa lesada é um muSkênum, isto é: um ci-
dadão intermediário entre o awilum e o escravo.

§ 9 Se um awilum, de quem se extraviou um objeto,


encontrou seu objeto perdido nas mãos de um (outro)
awilum e o awilum em cujas mãos foi encontrado o
objeto perdido declarou: «um vendedor mo vendeu, eu
o comprei diante de testemunhas»; (se) o dono' do
objeto perdido por sua vez declarou: «eu trarei tes-
temunhas que conhecem o meu objeto perdido»; (se)
o comprador trouxe o vendedor que lhe vendeu ,(o
objeto) e as testemunhas diante das quais comprou
e o dono do objeto perdido trouxe ás testemunhas que
conhecem seu objeto perdido: os juizes examinarão as
palavras deles; as testemunhas diante das quais a
compra foi efetuada e as testemunhas que conhecem
o objeto perdido declararão seu conhecimento diante
da divindade. (Neste caso) o vendedor é ladrão, ele
será morto. O dono do objeto perdido tomará seu
objeto perdido e o comprador tomará na casa do ven-
dedor a prata que havia pesado. ••

§ 10 Se o comprador não trouxe o vendedor que lhe


vendeu (o objeto) e as testemunhas diante das quais
comprou e o dono do objeto perdido trouxe as tes-
temunhas que conhecem seu ohjeto perdido: o com-
prador é um ladrão, ele será morto; o dono do objeto
perdido tomará seu objeto perdido.

§ 11 Se o dono do objeto perdido não trouxe as tes-


temunhas que conhecem seu objeto perdido: ele é um
mentiroso, levantou uma falsa denúncia; ele será morto.

A expressão acádica KÜ.BABBAR iá-qú-lu: " a prata que pesou" indi


T valor <Ie e f e í u a r ° I > a A e n t o de objetosTomprados com
er* £ J P d n t e e m p r a t a q u e era pesada diáiite do vendedor. Este
Xcrod0u33omdo°SdiXi™.te3 ^ em — sociedade q u e n k o c t
§ 12 Se o vendedor já morreu 5 , o comprador tomará
10 • da casa do vendedor até cinco vezes o valor da coisa
reclamada nesse processo.

§ 13 Se as testemunhas desse awllum não estão per-


to G, os juizes conceder-lhe-ão um prazo de seis meses;
20 se no sexto mês ele não trouxer suas testemunhas:
esse awllum é um mentiroso, ele carregará a pena des-
se processo.

O complexo de leis §§ 9-13 forma em si uma unidade, todos os


pw-agrafos tratam de um mesmo caso com diversas possibi-
lidades. O caso e exposto no § 5, as diversas variações são
tratadas separadamente nos parágrafos seguintes. Este com-
plexo apresenta um exemplo interessante do processo de reda-
çao dos diversos artigos do Código. A ordem mais lógica, como
notaFmet, seria, sem dúvida, § 5, lo, 12, 11, 13 (cf. Le Code
de Hammurapi p 43). O § 13 refere-se tanto às testemunhas

(cfTVnT 9' c o m o às do dono do objeto perdid0

# * *

§ 14 Se um awllum roubou o filho menor de um (ou-


tro) awllum: ele será morto.

O crime de kidnapping de um menor (sehrum) incapaz de ser-


viço feudal e de casamento — nas leis assiríacas o sehrum
indicava uma criança de dez anos para baixo — era consi-
derado um crime capital. Na legislação bíblica a pena capital
era aplwada a qualquer tipo de kidnapping (cf. Êx 21,16; Dt
E provável que primitivamente a proibição do Decálogo
Nao roubarás" se referisse ao roubo de pessoas (cf. A. ALT,'
Das Verbot des Diebstahls im Dekalog, em Kleine Schriften
zur Geschichte des Volkes Israel, vol. I, p. 333-3.>,0).

* *

30 § 15 Se um awllum fez sair pela porta (da cidade)


um escravo ou uma escrava do palácio ou um escravo
ou uma escrava de um muskênum: ele será morto.
Este parágrafo abrange, sem dúvida, qualquer tipo de escra-
vo, desde o escravo do palácio até o escravo do proprietário

_ 5. A expressúo acádica a-na ái-im-tim it-ta-la-ak: "foi para o destino"


indica uma morte natural. oesuno
o i r e x I , r e s a ° - ,
a «eá<iic*
Xum-ma a-wT-lum Su-Ú Si-bu-Su Ia
qir-bu significa: Se esse awTIum, suas testemunhas não estão perto"

148
resolvido por meio de um ordálio, uma espécie de julgamento
divino O sumeriograma ÍD = "rü>» aparece no texto prece-
dido do prefixo indicativo dos nomes divinos DINGIR. O rio
— provavelmente o Eufrates - considerado como uma divin-
dade devia resolver a questão.

* * *

§ 3 Se um-awllum apresentou-se em um processo com


60 um testemunho falso 2 e não pôde comprovar o que
disse: se esse processo é um processo capital 3 esse
awllum será morto.
A legislação bíblica apresenta um bom paralelo a este pará-
grafo (cf. Êx 20,10; 23,1-3; Dt 19,16-19).

§ 4 Se se apresentou com um testemunho (falso em


VI causa) de grão ou de prata: ele carregará a pena des-
se processo.
Este parágrafo apresenta uma alternativa ao § 3. Não se trata
mais de um processo onde a vida do acusado está em jogo,
mas de compensação de danos por meio de grão ou de prata.
Neste caso quem apresentou um testemunho falso deve arcar
com a pena que teria sido imposta ao acusado.

* * *

§ 5 Se um juiz julgou uma causa, deu uma sentença


10 e mandou exarar um documento selado e depois alte-
rou o seu julgamento: comprovarão contra esse juiz
a alteração do julgamento feito e ele pagará até doze
20 vezes a quantia que estava em questão nesse proces-
so; além disso fá-lo-ão levantar-se de seu trono de
30 juiz na assembléia e não tornará a sentar-se com os
juizes em um processo.
O parágrafo em questão trata, sem dúvida, de um caso de
venalidade judicial. Depois das três etapa* do processo — o
processo propriamente dito, a sentença e o documento selado
— o juiz altera o julgamento. A dificuldade na interpretação

2. A expressão íi-bu-ut Sa-ar-ra-tim significa literalmente: "testemunho


de 3. m LiteÍaC'ente
temos di-in na-pi-iíí-tim: "processo de vida", isto é: um
processo onde a vida do acusado está era jogo.
149
do texto está justamente na expressão dinam enúm: "alterar
o julgamento".
Esta mesma expressão significa no § 52 "quebrar um contra-
to". Aqui o sentido não é claro. Como podia um juiz alterar
um julgamento feito, principalmente na praxe judicial babi-
lônica onde parece certa a participação de vários juizes em
um processo? Para maiores elucidações cf. G. K. DRIVER-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, Oxford 1960, vol. I, p. 68-79.

* * *

§ 6 Se um awílum roubou bens de um deus ou do palá-


cio: esse awílum será morto; além disso aquele que
tomou de sua mão o objeto roubado será morto.

O sumeriograma NlG.GA .indica qualquer bem móvel. O pará-


grafo em questão prevê o caso de roubo de bens móveis de
um templo ou do palácio. A pena de morte prevista recai tanto
sobre o ladrão como também sobre aquele que receber um obje-
to roubado do templo ou do palácio.

§ 7 Se um awílum comprou ou recebeu em custódia


prata ou ouro, escravo ou escrava, boi ou ovelha, asno
ou qualquer outra coisa da mão do filho de um (ou-
tro) awílum ou do escravo de um (outro) awílum sem
testemunha nem contrato: esse awílum é um ladrão,
ele será morto.

Em relação ao objeto comprado ou consignado em custódia a


extensão da lei aqui formulada é universal. Todo homem livre
(awílum) que comprar ou receber algo em custódia deve preo-
cupar-se em realizar a transação comercial diante de teste-
munhas e obter um documento comprobatório. A transação co-
mercial feita sem a observação desses itens è considerada ile-
gal e o awilum tratado como um ladrão e submetido à pena
de morte. A pessoa do vendedor ou daquele que entregou o
objeto em custódia não importa. A lei enumera aqui os dois
extremos da sociedade babilônica: o awílum e o escravo.

* * #

§ 8 Se um awílum roubou um boi ou uma ovelha ou


um asno ou um porco ou uma barca: se é de um deus
ou do palácio deverá pagar até trinta vezes mais; se
é de um muskênum restituirá até dez vezes mais. Se
o ladrão não tem com que restituir, será morto.
150
socialmente mais fraco, o muskênum. Citando os dois extre-
mos, a legislação inclui também o escravo de um awilum, O
sumeriograma KÁ.GAL — correspondente do termo acádico
abullum — indica aqui provavelmente a porta da cidade. Al-
guns intérpretes julgam, porém, tratar-se da porta do palá-
cio real (cf. G. K. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. 106).

* * *

§ 16 Se um awllum escondeu em sua casa um escravo


ou uma escrava fugitivos do palácio ou de um muskê-
num e a convite do arauto não fez sair: o dono dessa
casa será n\orto.

Este parágrafo continua o antecedente. A pena capital recai


não só sobre quem facilitar a fuga de um escravo, mas tam-
bém sobre quem esconder em sua casa um escravo fugitivo
e não o apresentar quando o arauto anunciar na cidade a fuga
e conclamar os cidadãos a entregar os escravos fugitivos.

* * *

§ 17 Se um awilum prendeu no campo um escravo ou


escrava fugitivos e o reconduziu ao seu dono: o dono
do escravo dar-lhe-á dois siclos de prata.

O termo acádico Sêrum significa, em si, a campanha, o campo


aberto. Este parágrafo determina a quantia do prêmio a ser
pago a quem prendesse um escravo ou uma escrava fugitivos
em campo aberto e os reconduzisse a seu proprietário. A me-
dida de peso babilônica, o siclo, correspondia a um pouco mais
de 8 gramas.
A legislação bíblica do Deuteronômio proibia a entrega de um
escravo fugitivo que procurasse refúgio na casa de um israe-
lita (cf. Dt 23,16-17).

# * *

§ 18 Se esse escravo não quis declarar o nome de seu


proprietário: ele o levará ao palácio, sua questão será
esclarecida e ele será reconduzido ao seu senhor.

Este parágrafo continua o antecedente. No caso de dúvidas


sobre a identidade do proprietário do escravo e o escravo não
quiser revelar o nome de seu dono, o caso deverá ser resol-
vido pela instância última, o palácio.
70 § 19 Se ele reteve esse escravo era sua casa e depois
IX o escravo foi preso em sua mão: esse awllum será
morto.
Este parágtafo desenvolve uma outra .possibilidade do § 18.
O escravo capturado não declara o nome de seu dono, e seu
capturador não o leva imediatamente ao palácio. Neste caso
o capturador corre o risco ãe incorrer em pena de morte, caso
o escravo for encontrado e preso na casa desse awilum.

* # *

§ 20 Se o escravo fugiu da mão daquele que o captu-


10 rou: esse awilum pronunciará para o dono do escravo
um juramento (em nome) de deus e será livre.
Um awilum que capturar um escravo fugitivo é responsável
diante da lei babilônica pela restituição desse escravo a seu
proprietário. Se contudo o escravo capturado conseguir esca-
par das mãos de seu capturador, este deverá pronunciar na
presença do dono do escravo um juramento diante da divin-
dade proclamando sua inocência e declarando não ter agido
negligentemente.
* * *

20 § 21 Se um awilum abriu uma brecha em uma casa:


matá-lo-ão diante dessa brecha e o levantarão.
Este parágrafo trata de roubo à propriedade alheia. A fina-
lidade da brecha feita, no muro da casa é, sem dúvida, para
roubar (compare Êx 22,2-8). As casas na Babilônia eram cons-
truídas com tijolos secos ao sol; era muito fácil abrir neles
uma brecha (cf. a menção a tal costume em um provérbio
bilíngüe no texto K 42077 publicado por Lambert).
No caso tratado neste parágrafo a pena capital devia ser apli-
cada "in loco". Além disso o corpo do ladrão devia ser sus-
pendido diante do buraco para servir de lição. Esta parece a
interpretação mais provável; mas o significado do verbo halãlu
aqui não é claro (cf. W. von SODEN, Akkadisches Handwõrter-
buch, sub v. halãlu, vol. I, p. 309; cf. tb. G . R . DRIVER-J. C .
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 108s).
* * #

§ 22 Se um awilum cometeu um assalto e foi preso: .


esse awilum será morto.

7. Cf. W . G. Lambert, Babylonian Wisdom Literature, Oxford 1960, p.


235, linhas 19-21. Lambert traduz: 19-20: A hungrry man breaks into a
building of kiln-fired bricka. 21-22: "Would you place a lump of clay in
the hetnd of him who throTvs 1

31
Conforme o significado da raiz acádica habãtum, este pará-
grafo não se refere a qualquer roubo, mas exclusivamente a,
um roubo onde é empregada a violência, isto é: a assaltos à
mão armada (cf. W. von SODEN, Akkadisches Handwõrter-
buch, vol. I, sub. v. habãtum, p. 303; cf. tb. G. R. DRIVER-J.
C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 109s).
* * *

30 § 2;i Se o assaltante não foi preso, o awilum assaltado


declarará diante do deus todos os seus objetos perdi-
AO dos; a cidade e o governador, em cuja terra e distrito
foi cometido o assalto, o compensarão por todos os
objetos perdidos.
Este parágrafo estabelece uma outra alternativa do parágrafo
22. Como proceder se o assaltante não for preso? A vítima,
do assalto deverá fazer uma declaração oficial diante da di-
vindade da cidade (este ê o sentido da raiz acádica "burrum"
aqui empregada) mencionando sob juramento tudo o que per-
deu. O governador do lugar onde o assalto foi praticado deve
então compensar o prejuízo da vítima (cf. G. R. DRIVER-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. J, p. 109).

# * *

§ 24 Se foi uma vida (o que se perdeu), a cidade e


50 o governador pesarão uma mina de prata para sua
família. 8 1

Este. parágrafo trata de uma terceira alternativa: a morte


da vítima do assalto. Neste caso a família da vítima deverá
ser indenizada pela cidade onde o crime foi perpetrado. O
preço estipulado na lei é uma mina de prata, o que corres-
ponde a 60 siclos ou cerca de 500 gramas.
Para casos de assassinato a lei bíblica do Deuteronômio prevê
um rito especial de expiação, onde os anciãos da cidade maÍ3
próxima deverão declarar sua inocência (cf. Dt 21,1-9).

§ 25 Se pegou fogo na casa de um awllum e um (ou-


tro) awilum, que veio para apagá(-lo), colocou seus
olhos sobre um bem móvel do dono da casa e pegou
60 um bem móvel do dono da casa: esse awllum será
lançado no fogo.

8. Literalmente: a-na ni-si-5u = para sua gente.

32
O termo acádico iiumãtum indica um bem móvel qualquer (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 803
sub voce). Este parágrafo apresenta um caso especial de rou-
bo e encerra o tema "roubo" tratado no conjunto de artigos
21-25.

* * *

§ 26 Se um redüm ou um bã'irum, cuja ida a uma


X expedição militar do rei tinha sido ordenada, não par-
tiu mas contratou um substituto e (o) enviou em seu
lugar: esse redüm ou esse bã'irum será morto; seu
10 denunciante receberá a sua casa.

O termo bã'irum, aqui expresso pelo sumeriograma SU.KU«,


significa normalmente "pescador". Neste parágrafo, porém, e
nos demais parágrafos do CH, indica uma classe de soldados.
Tanto o bã'irum como o redum são títulos militares cujos sig-
nificados exatos nos são, hoje, desconhecidos. O redâm é o
bã'irum recebiam do rei o usufruto de um terreno da coroa,
mas eles tinham a obrigação de participar pessoalmente dos
empreendimentos militares do rei. A lei previa a pena capital
para qualquer fuga a essa obrigação. A lei ordenava, também,
que, nos casos de punição, a casa do condenado fosse dada ao
seu "munaggirum". A maior parte dos intérpretes traduz o
termo munaggirum por "alugado" relacionando o termo em
questão com a raiz agãrum: "alugar". Neste caso, aquele que
tinha sido contratado para substituir devia receber a casa do
condenado. Mas o termo munaggirum é provavelmente um par-
ticípio D da raiz verbal nagãrum: "denunciar" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 672). Isto
justifica nossa interpretação, que a casa do soldado omisso e
condenado devia ser dada a quem o denunciara. Para maiores
elucidações sobre o redum e o bã'irum, cf. A. FINET, Le Code
de Hammurapi, p. 14, 52; G . R . DRIVER-J. C. MILES, The Ba-
bylonian Laws, vol. I, p. lllss.

* * *

§ 27 Se um redüm ou um bã'irum, que foi feito pri-


sioneiro em uma fortificação do rei e cujo campo ou
20 pomar foi, depois disso, dado a um outro e este assu-
miu o seu serviço, se voltou e chegou à sua cidade:
devolver-lhe-ão o seu campo ou o seu pomar e ele
reassumirá o seu serviço.

O sentido deste parágrafo não é totalmente claro, já que o


significado exato de dois termos aqui empregados permanece
incerto. O termo "dannatum" parece designar uma fortifica•

33
ção, um lugar fortificado (cf. W. von SODEN, Akkadisches
Handwôrterbuch, vol. I, p. 160). Mais difícil, ainda, é a inter-
pretação dá forma "tu-ür-ru", provavelmente um stativum D
da raiz verbal târum. A tradução "foi feito prisioneiro" é,
apenas, aproximada.

* # +

30 § 28 Se um redüm ou um bã'irum, que foi feito pri-


sioneiro em uma fortificação do rei, tem um filho 9
que possa assumir o serviço: dar-lhe-ão o campo e o
40 pomar e ele assumirá o serviço de seu pai.

§ 29 Se seu filho é menor e não pode assumir o ser-


viço de seu pai: será dada uma terça parte do campo
50 e do pomar à sua mãe e sua mãe criá-lo-á.

Os parágrafos 27-29 tratam de diversas alternativas do caso de


um soldado que caiu prisioneiro do inimigo. Se não tiver her-
deiro, seu campo e pomar recebidos como feudos por seu ser-
vido no exército do rei serão dados a um terceiro que assu-
mirá, ao mesmo tempo, as obrigações feudais. Se tiver um
filho maior de idade, este substituirá seu pai no usufruto e
nas obrigações do feudo. Caso o filho seja ainda pequeno, sua
mãe receberá um terço do campo e do1 pomar para que possa
com os seus proventos criar o seu filho.

* * *

§ 30 Se um redum ou um bã'irum abandonou seu cam-


po, seu pomar e sua casa por causa de seu serviço 10
60 e se afastou; depois dele um outro tomou seu campo,
seu pomar e sua casa e durante três anos assumiu
seu serviço; se (o primeiro) retornou é exigiu seu
XI campo, seu pomar e sua casa: não lhe serão devolvi-
dos, aquele que (os) tomou e assumiu seu serviço con-
tinuará a fazê-lo.

9. A tradução literal seria: "Se um redúm ou W i r u m . que foi feito


prisioneiro em uma fortificação do rei, seu filho puder assumir o serviço...
10 A expressão acádica i-na pa-ni il-ki-im. literalmente em face do
serviço" indica aqui a causa da fuga: o peso e os inconvenientes do ser-
viço devido.

34
§ 31 Se ele ausentou-se apenas por um ano e retor-
10 nou: seu campo, seu pomar e sua casa ser-lhe-ão de-
volvidos e ele assumirá seu serviço.
Os parágrafos 30-31 tratam de duas alternativas de um mes-
mo caso: a fuga de um soldado por causa dé suas obrigações
feudais. Se o afastamento se estende por um período de três
anos, o militar perde totalmente seu direito ao usufruto do
feudo. Se seu afastamento foi apenas de um ano, ele poderá
reassumir seu feudo. É provável que os três anos do § 30
indiquem um período de mais de dois anos completos, neste
caso o § 31 se estenderia a um período menor de dois anos
(cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I,
p. 119).
* * *

§ 32 Se um mercador resgatou um redüm ou um


bã'irum, que fora feito prisioneiro em uma expedi-
20 ção do rei e o fez retornar à sua cidade: se ele tem
em sua casa com que resgatar-se, resgatará a si mes-
mo; se não tem em sua casa com que resgatar-se,
será resgatado pelo templo do deus de sua cidade; se
30 no templo do deus de sua cidade não há com que res-
gatá-lo, o palácio deverá resgatá-lo; mas seu campo,
seu pomar ou sua casa não serão dados para resgatá-lo.

Um prisioneiro de guerra reduzido à escravidão podia ser


comprado por um mercador (sumeriograma DAM .GÀR) e com
uma caravana desse mercador chegar à sua cidade natal. Neste
caso, o prisioneiro feito escravo devia ser resgatado. O § 32
estabelece a ordem do resgate. A última instância está reser-
vada ao palácio. Este artigo é histórica e politicamente muito
instrutivo; ele nos mostra claramente como na época de Ham-
murabi o templo perde o seu poder centralizador, o palácio é
aqui considerado como o centro de todo o poder. Na corres-
pondência de Hammurabi encontra-se um ótimo exemplo para
elucidar este parágrafo. Em uma carta, Hammurabi ordena a
dois funcionários seus que paguem 10 siclos de prata do te-
souro do templo de Sin em Adab para resgatar um tal Ima-
ninúm capturado pelos inimigos (cf. A. UNGNAD, Babylonische
Briefe aus der Zeit der Hammurapi-Dynastie, Vorderasiatische
Bibliotek, vol. VI, p. 134).

* * *

AO § 33 Se um capitão ( ? ) ou um tenente convocou um


ERIM nishatim ou aceitou para uma expedição mili-

35
tar do rei ura mercenário como substituto e o condu-
50 ziu: esse capitão ou esse tenente será morto.

Os dois títulos militares são expressos aqui pelos sumeriogra-


»uu LÚ.PA.PA e NU.BANDA. Referem-se, sem dúvida, a
dois oficiais superiores. Possivelmente corresponde LÚ.PA.PA
ao acádico dêkúm: "capitão"(?), enquanto que NU.BANDA
indica o laputtúm: "tenente". O significado da expressão ERIM
(sob) ni-is-ftortim nos é desconhecido, refere-se provavelmente
a desertores (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch,
J ! ' P ' 7 H b ! Cf • t b - A - F l N E 7 r ' L e C o d e d e Hammurapi,

* * *

§ 34 Se um capitão ( ? ) ou um tenente tomou um


objeto de um redüm, oprimiu um redüm, alugou um
redüm, entregou um redüm em um processo a um
60 poderoso, tomou um presente que o rei deu ao redüm:
esse capitão ou esse tenente será morto.

A finalidade deste parágrafo é proteger o redüm, um soldado


de patente inferior, de possíveis arbitrariedades de seus supe-
riores. Os arquivos reais de Mari, da época de Hammurabi,
conhecem um juramento imposto aos oficiais para impedir que
estes confisquem seus soldados ou lhes impeçam a participa-
ção nos despojos de guerra (cf. Archives royales de Mari.
vol. II, is, 14-17). '

* * #

§ 35 Se um awllum comprou, da mão de um redüm


70 gado bovino ou gado ovino que o rei deu ao redüm:
XII ele perderá sua prata.

Um presente real em gado bovino ou ovino feito a um redúm


era considerado como bem inalienável, quem tentasse comprar
um tal bem perdia sua prata.

* * *

§ 36 Campo, pomar ou casa de um redüm, de um


bã'irum ou de alguém obrigado a tributo não poderão
ser vendidos.
157
§ 37 Se um awilum comprou o campo, o pomar ou a
casa de um redüm, de um bã'irum ou de alguém obri*
gado a tributo: sua tábua será quebrada, ele perderá
20 sua prata e o campo, pomar ou casa retornarão ao
seu dono.

Os §§ 36-37 estabelecem a inalienabilida.de dos bens imóveis


de um redüm, bã'irum ou de um nãsi biltim, isto é: uma pes-
soa obrigada a pagar tributo do usufruto de sua propriedade.
Essas pessoas não eram, "pleno jure", os proprietários dos
bens em questão, mas apenas usufruíam de seus frutos. O ver-
dadeiro dono era o palácio. Por isso o contrato formulado na
tábua de argila era inválido, a tábua devia ser quebrada e
como castigo o awilum perdia sua prata.

# * *

§ 38 Um redüm, um bã'irum ou alguém obrigado a


tributo não poderá legar à sua esposa ou filha um cam-
po, pomar ou casa de seu serviço nem (os) dará para
30 (pagar) uma obrigação.

Conforme o % 28, o filho herdeiro, maior de idade, podia her-


dar o usufruto do feudo, obrigando-se, com isto, a assumir
também as obrigações ligadas a esse feudo. A esposa ou uma
filha que não podiam assumir as obrigações do serviço, como,
por exemplo: a participação nas campanhas militares do rei,
não podiam receber como legado o feudo. Não sendo "pleno
jure" propriedade do usufrutuário, esses bens não podiam ser
alienados para pagar dívidas contraídas.

* * *

§ 39 Um campo, pomar ou casa que ele compra ou


adquire poderá legar à sua esposa ou filha ou dar
para pagar uma sua obrigação.

Este § 39 limita claramente o âmbito da inalienabilidade dos


bens de um redúm, bã'irum ou pessoa obrigada a tributo. Ape-
nas os bens recebidos como feudo, para usufruto, eram ina-
lienáveis. Seus bens imóveis comprados ou recebidos em he-
rança pertenciam-lhe "pleno jure" e por isso podia dispor de-
les como desejasse. ,

§ 40 A (sacerdotisa) naditum, o mercador, ou um


UO outro feudatário ( ? ) poderá vender seu campo, po-
mar ou casa; o comprador deverá assumir o serviço
ligado ao campo, pomar ou casa que comprou.

37
i
I
O significado da expressão acádica ilkum ahúm não é clara: {4
um feudatário estrangeiro(?), um outro feudatário(?). J|
Uma comparação entre os parágrafos anteriores e o § 40 mos- J|
tra claramente que a legislação babilônica distinguia pelo me- '%
nos dois tipos de feudatários. Um primeiro grupo era for-
mado pelos soldados redüm e bã'irum e pelo feudatário obri- %
gado a tributo. Estes não podiam alienar seus bens feudais .1
(cf. §§ 36-39 ; 41). Um segundo grupo era formado pela sa- |?
cerdotisa naditum, pelo mercador (sumeriograma DAM.GÃR) B
e pelo ilkum ahúm. Estes podiam vender seus bens feudais; ||
contudo com a "conditio sine qua non" de que o novo proprie- ,J§
tário assumisse as obrigações feudais ligadas ao usufruto des- lj
ses bens. $
.a

50 § 41 Se um awilum trocou um campo, um pomar ou


uma casa com um redüm, um bã'irum ou com alguém %
obrigado a tributo e pagou (ainda) uma sobretaxa: í
o redüm, o bâ'irum ou o obrigado a tributo retornará j|
a seu campo, seu pomar ou sua casa e levará consigo i|
60 a sobretaxa que lhe fora dada. |
1
Este parágrafo parece deslocado; ele pertence em st ao com- i|
plexo §§ 36-39. ' __ |
O termo acádico niplãtum indica um pagamento adicional dado |
para completar o valor de um objeto trocado por outro de •
menor valor. Por isso traduzimos aqui niplãtum por "sobretaxa". í
i I
* * *
' ?

§ 42 Se um awllum arrendou um campo para cultiva- •


lo e não produziu grão no campo: comprovarão con- f
XIII tra ele que não trabalhou o campo convenientemente j
e ele dará. ao proprietário do campo grão correspon- [
dente (à produção) de seu vizinho. ;
Í
A expressão acádica eqlam Sipram epêsum significa provavel-
mente "trabalhar o campo convenientemente", "conforme as
regras". Portanto toda preocupação do magistrado é compro-
var que o arrendador não produziu nada porque não traba-
lhou o campo convenientemente ou não empenhou o esforço
necessário.
* * *

§ 43 Se ele não cultivou o campo e deixou-o baldio:


10 dará ao proprietário do campo o grão correspondente
(à produção) de seu vizinho, além disso surribará e
desterroará o campo que ele deixou baldio e o devol-
verá ao proprietário do campo.

Fncruanto o § W tratava do caso do cultivador incompetente,


Zte parigrafo pune o locatária negligente. A pena ê a mesma:
vagar em grão o correspondente à produção do campo do
zinho. Mas, além da multa prevista, o locatârw negligente de-
via entregar ao proprietário o campo trabalhado para o culti-
vo A expressão acâdica eqlam majãri maliãsum mdxca apro-
ximadamente o nosso "surribar". O terreno deixado baldio de-
via ser trabalhado em profundidade para afofar a terra endu-
recida e eliminar as ervas daninhas.

* * *

8 44 Se um awilum arrendou um campo baldio por


três anos para arroteá-lo, mas negligenciou e não o
20
arroteou: no quarto ano surribará, cavará e dester-
30 roará o campo e o devolverá ao proprietário do cam-
po, além disso medirá 10 G U R de grão por cada B U R
(de terreno).

Um terreno baldio alugado por três anos devia, dentro desse


período, ser cultivado e produzir • frutos. No caso de neghgen-
Z comprovada do arrendatário, este devia entregar no quarto
ano ao dono o terreno preparado para a plantaçao. AUmâf*-
so era imposta uma multa de 10 GUR de grão para cada BUR
de terreno arrendado. O GUR - medida de capatidade babi-
lônica — correspondia no período babilonnco antigo a 300 qa
isto é: cerca de 300 litros. A unidade babilonica de
BUR correspondia mais ou menos a 6 hectares, isto ê: 60.000 m .
Portanto o arrendador negligente devia pagar cerca de 500 1
de grão por cada hectare de terreno.

* * *

8 45 Se um awllum arrendou seu campo a um agri-


cultor e ( j á ) recebeu a renda de seu campo e depois
iO
(disso) A d a d inundou o campo ou a torrente carre-
gou: o prejuízo será do agricultor.

Adad — aqui expresso pelo sumeriograma dingibim — é o


detído temporal O terL bibbulum: -'torrente" refere-se pro-
vavelmente à massa dtágua proveniente ^ 7
das barreiras dos canais usados na irrigagao do solo (çf. W.
von SODEN, Akkadisches Handwürterbuch, vol. I, p. 1S5, sub
voce).
39
§ 46 Se ele (ainda) não recebeu a renda de seu cam-
po, quer tenha arrendado o campo pela metade, quer
pela terça parte (da produção): o agricultor e o dono
do campo dividirão o grão, que foi produzido no cam-
po, na proporção fixada.

Este parágrafo apresenta uma outra alternativa ao antece-


dente. Se a renda prevista no contrato para o dono do campo
ainda nao foi paga, em caso de inundação ou de outra catás-
trofe natural, o dono do campo e o agricultor, que o arrendou
dividirão proporcionalmente o que restou, de acordo com o
teor de sen contrato.

§ 47 Se o agricultor, porque não tirou o seu investi-


mento no ano anterior, disse: « E u quero cultivar o
campo»: o proprietário do campo não o impedirá, seu
agricultor cultivará seu campo e na colheita ele leva-
rá o grão conforme o seu contrato.

Este parágrafo deve, provavelmente, ser considerado como con-


tinuação do tema abordado no § 46. Em conseqüência de um
temporal ou outro desastre natural, o locatário do campo não
conseguiu o suficiente para cobrir suas despesas. Contudo o
contrato de arrendamento era de um ano apenas. Nestes casos
o agricultor podia exigir do dono do campo prorrogação do
contrato.

* * *

§ 48 Se um awllum tem sobre si uma dívida e Adad


inundou seu campo, ou a torrente carregou, ou por
falta de água não cresceu grão no c a m p o : ' naquele
ano ele não dará grão a seu credor, ele umedecerá sua
tábua e não pagará os juros daquele ano.

Os contratos babilônicos eram redigidos em tábuas de argila


geralmente, secas ao sol. Se a superfície escrita era molhada
o texto tornava-se ilegível e assim o contrato era anulado.

* * *

§ 49 Se um awllum tomou emprestado prata a um


mercador e deu (como garantia) ao mercador um cam-
po preparado para o grão ou para o sésamo e disse-
lhe: «cultiva o campo, grão ou sésamo que for produ-
zido recolhe e leva contigo»: se um agricultor produ-
, ziu no campo grão ou sésamo, no tempo da colheita o
proprietário do campo tomará o grão ou o sésamo que
foi produzido no campo e dará ao mercador grão cor-
respondente à (quantidade de) prata, que ele tomou
emprestada, com seus juros e (além disso) d a r á ' a o
mercador os gastos do cultivo.

A expressão e-si-ip ta-ba-al: "recolhe e leva contigo" é muito


freqüente, nos contratos da época babilônica antiga. Era um
termo técnico para exprimir um tipo de contrato que era usa-
do quando o devedor não tinha garantias de poder pagar suas
dívidas. O campo do devedor era dado como garantia e o cre-
dor podia tirar dali o valor emprestado. Com a reforma de
Hammurabi a força da expressão foi atenuada em favor do
devedor. Embora o mercador tenha recebido o campo em um
contrato "esip tabal" como garantia de sua prata emprestada,
contudo a legislação de Hammurabi determina que a colheita
deve ser feita pelo jrroprietário que, com os proventos do cam-
po, deverá pagar, com juros, sua divira e os gastos que o mer-
cador teve com o cultivo do campo (cf. G. R. DKIVEK-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, v. 1',5-j 50).

§ 50 Se entregou um campo plantado com grão ou um


campo plantado com sésamo, o que for produzido no
campo, o dono do campo tomará e restituirá ao mer-
cador a prata com seus juros.

Este parágrafo continua a casuística do anterior. Se. o campo


dado como garantia já estava semeado, não era necessário
indenizar o mercado pelo cultivo do campo. Nestes casos o
devedor pagava apenas o correspondente à prata emprestada
e os juros.
* * *

§ 51 Se ele não tem prata para restituir: dará ao mer-


cador [ g r ã o ] ou sésamo no valor de sua prata, que
ele tomou do mercador, e de seus juros de acordo
com a regulamentação do rei.

A expressão simdat sarrim: "regulamentação do rei" indica


os decretos e disposições reais que fixavam o curso do* gêne-
ros de primeira necessidade, e especialmente do grão e da
prata, que eram também meios correntes de pagamento na
sociedade babilônica (cf. § 108). A assiriologia conhece, hoje,
uma série desses decretos. Assim, por exemplo: o rei Ma-
niStusu de Acade (d= 2686-2672 a.C.) fixa o preço de 1 GUR
(cerca de 3001) de grão em. 1 siclo (cerca de 8 g) de prata
(cf. V . S C H E I L , Mémoires de la délégation en Perse, Paris
1902, vol. II, 7 II 4-7).

* * *

XV § 52 Se o agricultor não produziu grão ou sésamo no


campo, ele não poderá mudar seu contrato.

O sentido deste parágrafo não é claro; o sujeito que não deve


mudar o contrato não ê aqui declarado. Provavelmente o §
52 deve ser relacionado com o § 49. Trata-se de um contrato
"esip tabal". O agricultor é contratado pelo credor para tra-
balhar o campo. Se esse agricultor não produzir o suficiente
para cobrir o empréstimo, ou não produzir nada, a perda
será do credor. Ele não poderá mudar o teor do contrato ou
exigir um outro tipo de pagamento (cf. G . R . D R I V E R - J . C .
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 148s).

Ht ^ •

10 § 53 Se um awilum foi negligente na fortificação do


dique de seu campo e (de f a t o ) não fortificou o di-
que de seu campo e abriu-se em seu dique um rombo
e as águas carregaram um terreno irrigado: o awilum
em cujo dique se abriu o rombo indenizará pelo grão
20 que se perdeu.

O termo acádico ugarum — aqui expresso pelo sumeriograma


A.GÀR — que traduzimos aproximadamente como "área ir-
rigada", "terreno irrigado", designa um terreno situado à mar-
gem dos canais que serviam para a irrigação. O ugarum era,
provavelmente, um terreno com uma leve depressão, por isso
facilmente irrigável, protegido contra possíveis inundações por
meio de diques. Cada proprietário de terreno nessa região mar-
ginal era responsável pelo dique que protegia seu campo. Em
caso de comprovada negligência, a responsabilidade era exclu-
sivamente do proprietário; ele estava obrigado a indenizar seus
vizinhos pelos prejuízos causados (cf. G . R . D R I V E R - J . C . M I L E S ,
The Babylonian Laws, vol. I, p. 150-154).

§ 54 Se ele não pode indenizar o g r ã o : venderão a ele


e a seus bens e os moradores dos terrenos irrigados,
30 cujo grão a água carregou, dividirão.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. Ele pres-


creve o modo de agir com o causador da inundação no caso

42
em que este não possua os meios suficientes para indenizar
os prejuízos causados.

• • -i*

§ 55 Se um awllum abriu seu canal para a irrigação,


foi negligente e as águas carregaram o campo de seu
vizinho: ele medirá o grão correspondente ao de seu
vizinho.

Este parágrafo parece ter em vista uma possível alternativa


do § 53: Se a água não invadir todo o ugarum, mas apenas
inundar o campo do vizinho. Neste caso a compensação deve
ser proporcional; a medida dessa compensação é o campo do
outro vizinho.
• • ífc

§ 56 Se um awílum abriu a água e a água carregou


40 os trabalhos do campo de seu vizinho: ele medirá para
cada B U R de campo 10 G U R de grão.

Este parágrafo continua, sem dúvida, a casuística, do ante-


rior. Responde à questão como proceder se a água não inva-
diu um campo plantado e florescente, mas destruiu os traba-
lhos de preparação para a semeadura e carregou as sementes.
Nestes casos a pena é claramente determinada: 10 GUR de
grão por cada BUR de campo, isto é: cerca de 500 litros de
grão por cada hectare de terra (cf. para o valor das medidas
babilônicas o comentário ao § 44).

* * *

50 § 57 Se um pastor não entrou em acordo com o pro-


prietário de um campo para apascentar as ovelhas com
a erva e, sem permissão do proprietário do campo,
apascentou as ovelhas no campo: o proprietário do
campo fará a colheita de seu campo, além disso o pas-
tor, que sem permissão do proprietário do campo apas-
60 centou ae ovelhas no campo, pagará ao proprietário
do campo por cada B U R 20 G U R de grão.

Este parágrafo supõe um costume ainda hoje vigente nos^ cam-


pos da Palestina, Síria e Iraque. Depois da colheita até à ger-
minação da próxima seara, os rebanhos de ovelhas e carneiros
são levados para os campos, onde se alimentam com os restos
da colheita e com a erva. Mas é, naturalmente, necessária a
permissão do proprietário do campo. A legislação do tempo

43
de Hammurabi previa uma multa bastante pesada para im-
pedir os abusos; o dobro da multa prevista no § 56: cerca
de 1000 litros de grão para cada hectare de terreno.

§ 58 Se, depois que as ovelhas subiram das terras ir-


70 rigadas e o sinal de fim de período foi afixado à porta
da cidade, um pastor conduziu as ovelhas para o cam-
po e apascentou o rebanho no campo: o pastor con-
servara o campo onde apascentou e na colheita me-
XVI
a ° d °n° d0 c a m p o 6 0 G U I i de ffrão p a r a
CHdâ -DUxv.

A dificuldade na interpretação deste artigo está na frase ka-


an-nu ga-ma-ar-tim i-na KA.GAL it-ta-'a-la-lu. O termo kannu
J Tn:Tl6nle 7J° ÍVante- Umn r™ k m 1 signTfla "va-
li \.2T \dai n ^pretução de W. von Soden, que
tto T anmZUm *eríam "Trànkbottiche" dos animai,,
isto e os vasilhames que serviam para dar de beber aos ani-
mkaíSChÊS Handworte.buch, /, Z voce
ala htm 11) Mas existe também um kannu II que deitava
uma Ura de pano", uma "fita", e podia servir de sinal para
escravos, lutadores, etc. Desta raiz e da signif^ãode

Z T S Th o l U K \ °\l * The Aasyriaf Dictio!


nai-y o f . t h e Orienta] Institute of the University of Chicago
Ura sua interpretação e traduz: «... and after the sheep have
come up (to the city) from. the commons (where they pasture
freely), and the ribbonsf?) indicating the termmation (of the
perwd of free pasturirtg in the commons) have been hung up
m the city gate..." (cf. vol. G, p. Ub ,ub voce "gamartuV.
traduçao segue esta última interpretação
Embora a tradução da segunda condição do artigo seja in-
certa o sentido geral do artigo parece claro. O pastor que
irrioa<LPeZ°/° Per?ütd° Va™ levar ™ ovelhas aos terrenos -
irrigados (cf. no § 53 o comentário ao termo "uqarum")
apascentar mas ovelhas nesses h,gares terá que assumir o
r Camp° 0nde suas ovelhas Pitaram e no tempo da
21 mr»VeS\pai,ar (W d o n o d o cam
de grão P°
por
cacia BUR de terreno, isto é: aproximadamente 3000 litros de
60 GUR

grão por cada hectare de terreno.

* * *

§ 59 Se um awllum, sem permissão do proprietário


do pomar, cortou madeira no pomar de um (outro)
a w i l u m : pagará meia mina de prata.

Uma mina eqüivalia aproximadamente a um pouco maü de


5UO g. A pena imposta é pois cerca de 250 g de prata. Uma
multa penada, sc se considera que um escravo valia apenas
um terço de mina (cf. § 214; 252). O rigor da pena é, con-
tudo, compreensível considerando-se a escassez de madeira na
Babilônia. Nesta mesma linha encontra-se na legislação bíbli-
ca do Deutcronômio a proibição expressa dc destruir árvores
frutíferas em uma cidade conquistada (cf. Dt 20,10-20).

* •+• *

§ 60 Se um awllum deu a um arboricultor um campo


para plantar um pomar e ele plantou o p o m a r : du-
rante quatro anos ele fará crescer o pomar, no quinto
ano o dono do pomar e o arboricultor dividirão (os
f r u t o s ) em partes iguais, o dono do pomar escolherá
sua parte e tomará para si.

Um período de 4 anos de resguardo para as árvores frutí-


feras é previsto também na legislação bíblica (cf. Lev 19
23-25).
A legislação de Hammurabi dá ao dono do campo o direito
de escolher por primeiro a parte que desejar, taticamente a
melhor parte ( § 61).

* * *

§ 61 Se o arboricultor não terminou de plantar o cam-


po e deixou uma parte não cultivada: colocarão a par-
te não cultivada entre a sua parte.

Este parágrafo continua a problemática do anterior. O arbo-


ricultor, dentro do prazo previsto, não terminou o cultivo de
todo o terreno, mas deixou uma parte niditum, isto é: não
plantada. Na hora da divisão dos frutos do pomar, a parte
não cultivada caberá ao arboricultor.

* * *

§ 6 2 Se ele não plantou em pomar o campo que lhe


fòi dado, se era terra trabalhada, o arboricultor me-
dirá para o dono do campo a renda do terreno pelos
anos que negligenciou conforme (a renda) de seu vizi-
nho, além disso trabalhará o campo e o restituirá ao
dono do campo.

A lei supõe que o terreno confiado ao arboricultor era um


abéinnum — aqui expresso pelo sumeriograma AB.SfN —, ou.
seja: uma terra já trabalhada e preparada para o cultivo.
Neste caso o arboricultor negligente deverá pagar pelos anos
que perdeu uma renda proporcional à renda do campo do vi-
zinho e o campo deverá ser devolvido a seu proprietário como
foi recebido, isto é: trabalhado e preparado para o plantio.

# * &

50 § 63 Se era um terreno baldio: ele trabalhará o cam7


po e o entregará ao dono do campo; além disso, me-
dirá por cada BUR 10 GUR de grão por um ano.

Este parágrafo menciona uma outra possibilidade que com-


pleta o anterior. Aqui o terreno confiado ao arboricultor não
é um abSinnum (cf. § 62), isto é: uma terra preparada para
a plantação, mas sim um nidútum — aqui expresso pelo su-
meriograma KANKAL — ou seja: um terreno baldio, ainda
não trabalhado. A pena prevista para o arboricultor negli-
gente, neste caso, ê entregar o campo trabalhado e além disso
pagar ao proprietário do campo uma quantia de 10 GUR de
grão por cada BUR de terreno ao ano, o que corresponde a
cerca de 5001 por hectare. Relacionando-se este parágrafo
com o § 60, o arboricultor deverá pagar a partir do quarto ano.

* * *

60 § 64 Se um awllum deu o seu pomar a um arboricul-


tor para fazê-lo frutificar: enquanto o arboricultor re-
tiver o pomar, dará ao dono do pomar dois terços (da
70 produção), um terço ele tomará para si.

Neste parágrafo ê previsto um pomar já plantado; o contrato


com o arboricultor ê a-na ru-ku-bi-im, isto é: para fecundar
artificialmente as árvores. Os babilônios costumavam fecundar
artificialmente as tamareiras (cf. G. R . DRIVER-J. C. MILES,
The Babylonian Laws, vol. I, p. 163).

* * *

§ 65 Se o arboricultor não fez frutificar o pomar e


XVII diminuiu o rendimento: o arboricultor [medirá] a ren-
da do pomar conforme a de seu vizinho.

No caso negativo (cf. § 64), isto é: se o arboricultor não


fecundar as árvores e com isso diminuir a produção, ele de-
verá pagar como multa ao proprietário do pomar ki-ma i-te-
èu, ou seja, uma quantia proporcional à produção do pomar
de seu vizinho.

46
§ A 1 1 Se um awilum tomou prata de um mercador
e seu mercador exigiu déle o pagamento e ele não
tem nada para pagar e deu ao mercador o seu po-
mar depois da fecundação e disse-íhe; «Toma por tua
prata tantas tâmaras quantas o pomar produzir». Este
mercador não poderá concordar; o dono do pomar to-
mará as tâmaras que o pomar produzir e pagará ao
mercador á prata e seus juros conforme sua tábua
e as restantes tâmaras que o pomar produzir o dono
do pomar tomará para si.

Ao contrário de um campo de grão ou de sésamo (cf. § 49)


um poma/r depois da fecundação das árvores não pode ser
objeto de um contrato esip tabal.

§ B Se um awlluçcí quer construir uma casa e seu vi-


zinho . . . 12

§ C . . . ele não lhe dará como preço. Se ele deu grão,


prata ou um bem móvel por uma casa ligada a servi-
ço, que (é) a casa de seu vizinho que ele quer com-
prar: ele perderá tudo o que deu, a casa retornará a
seu proprietário. Se essa casa não for ligada a ser-
viço, ele poderá comprá- (la); ele dará por essa. casa
grão, prata ou um bem móvel.
A primeira parte do parágrafo está incompleta. Na segunda
parte trata-se de uma É il-ki-im> isto é: uma casa ligada a uma
obrigação feudal. O texto do artigo não declara erpressamente
quem é o proprietário dessa É il-ki-im. A sacerdotisa, naditum,
o mercador (D AM. GAR) e o ilkum ahüm podiam alienar setes
bens ligados a serviço (cf. § 40). Para o redüm, bã'iruin ou
nãéi biltim vale a proibição do § 37. Na correspondência dc
Hammurabi encontramos menção a diversos operários e trabar-
Ihadores do palácio, que recebiam também bens ou beneficias
ligados a obrigações (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Baby-
lonian Laws, vol. I, p. 165, onde o autor apresenta várias exem-
plos testemunhados nas cartas de Hammurabi).

11. Sete colunas (col. XVII-XXIII) . da célebre esteia de Hammurabi, en-


contrada em Susa e conservada, hoje, no museu do Louvre, foram raspadas
e eão ilegíveis. Os parágrafos perdidos podem, em parte, ser restaurados
pelas duplicatas encontradas em outros lugares. Seguimos aqui a ordem
e as siglas de G. R. Driver-J. C. Miles, The Babylonian Laws, vol. II,
p. 34-43.
12. O restante deste parágrafo foi perdido e não foi até agora possível
reconstruí-lo a partir de variantes ou de duplicatas.

47
§ D Se um awllum construir sobre o [terreno baldio]
[de seu vizinho], sem permissão de [seu vizinho]:
ele perderá a casa [que construiu] e [o terreno baldio
voltará] a [seu proprietário].

Nossa tradução segue a reconstrução do texto feita por DRIVER-


M I L E S (cf. The Babylonian Laws, vol. II, p. 34). No texto con-
servado temos ni-[di-it i-te-Su], portanto, do sinal cuneiforme
"ni" ê reconstruída a palavra niditum, que designa um terreno
não cultivado, baldio.

* * *

§ E [Sè um awilum alugou uma casa a um outro awl-


lum por um ano] e o locatário deu ao proprietário [da
casa] toda prata do aluguel de um ano; (se) o pro-
prietário da casa disse ao locatário para sair antes
de terminar o prazo: o proprietário da casa, porque
fez [sair] de sua casa o locatário antes de terminar o
prazo, perderá a prata que o locatário [lhe] dera.

DMVERTMILES rcconstroem o início do parágrafo aproximada-


mente de acordo com o conteúdo geral do artigo (cf. The Ba-
bylonian Laws, vol. II, p. 36).

* * *

§ H disse: fortalece a tua passagem(?), de


tua casa podem passar (à minha); ao dono do terre-
no baldio: trabalha o teu terreno baldio, do teu ter-
reno baldio podem abrir «uma brecha em minha casa;
(se) ele declarou... pela passagem ( ? ) . . .

O texto deste parágrafo apresenta-se em estado bem lacunar;


uma reconstnição do texto, ainda que só aproximada, ê pra-
ticamente impossível. O termo acádico na-ba-al-ka-at-ka é, em
geral, traduzido por "tua casa em ruínas". Contudo este signi-
ficado não parece confirmado por outros textos babilônicos.
Em seu, Akkadisches Handwõrterbuch, W . von SODEN registra
o significado "Überschreitung" ou também "Übersteigleiter" (cf.
vol. It, p. 694b). A tradução "passagem" é aproximada. Na
tradução do Código de Hammurabi mais recente, a de
Finet, o texto ê reconstruído e traduzido do seguinte modo:
" [ S i le voiain d'une maison effondrée ou d'une friche a dit
au propriétaire de la maison effondrée] "répare ton effon-
drement, de ta maison on peut grimper \chez moi]"; (ou s'i(
a dit) au propriétaire de la friche "occupe-toi de ta friche,
tdei ta friche on peut percer (le mur de) ma maison"; (s')
il a donne [cct avertissement, ce qui a été per-] du à cause
de l effondrement [ou à cause de la friche, le propriétaire de
la maison effondrée ou de la friche devra (le) compenserV'
(cf. Le Code de Hammurapi, p. 69). Esta tradução fundada
em uma reconstrução bastante hipotética do texto dificilmente
corresponde ao teor original do parágrafo.

* * '*

§ L Se um mercador emprestou grão com juros: ele


tomará por 1 GUR de grão . . . como juros. Se ele
emprestou prata com juros: ele tomará por um siclo
de prata como juros 1/6 de siclo e seis grãos.

A preocupação do legislador neste parágrafo é evitar a usura


nos empréstimos. Aliás os textos babilônicos desta época nos
mostram como era difícil de extirpar o costume de emprestar
com usura. Infelizmente não foi conservada no texto a quantia
estipulada com juros no empréstimo de grão. No caso da prata
o mercador podia cobrar de juros ao ano por um siclo (cerca
de 8 g) de prata: 1/6 de siclo e mais 6 grãos. A medida de
peso grão" (sumério SE, acádico uttetum) eqüivalia a 1/180
de siclo, portanto cerca de 0,05 g. No caso de empréstimo de
prata, portanto, o limite máximo de juros permitido pela lei
era 20%.

* * #

§ M Se ura awllum, que tem uma dívida, não tem prata


para restituir, mas tem grão: o mercador tomará co-
mo juros o correspondente em grão de acordo com as
prescrições do rei. Se o mercador exigiu como juros
mais do que . . . por 1 GUR de grão ou 1/6 de siclo
e 6 grãos [por um siclo de prata] perderá tudo o que
emprestou.

Este parágrafo pode, com a ajuda do § L, ser satisfatoria-


mente reconstruído. Ele trata da pena a infligir aos usurários.

* * #

§ N Se um mercador [emprestou] a juros grão [ou


prata] e (se) recebeu os juros . . . do grão e da prata
e (se) . . . , o grão ou a prata.

O estado lacunar do texto e a falta de duplicatas ou de "joinh"


nao permitem uma reconstrução satisfatória do artigo,

40
§ O [Se um mercador emprestou a juros grãos ou
prata e não recebeu o capital, mas recebeu os juros do
grão ou da prata], e ou não descontou o grão [ou a
prata] que recebeu e não redigiu uma nova tábua ou
adicionou os juros ao capital: esse mercador resti-
tuirá em dobro todo grão ou prata que tomou.
O estado imperfeito de conservação do texto dificulta sua in-
terpretação. Seguindo a reconstrução de DRIVER-MILES, O pará-
grafo parece tratar de dois delitos punidos com a mesma pena.
Uma descrição mais pormenorizada dos delitos é, contudo, mera
conjectura (cf. a explicação de G. R . DRIVER-J. C. MILES, em
The Babylonian Laws, vol. I, p. 178-180). DRIVER-MILES se-
guindo a reconstrução proposta traduzem: "[// a merchant
has given com or silver on loan (and) has not taken the
capital but takes the interest for no much com (or) silver
(as he has lent), whether he has then not caused so much
com (or silver)] as he has received to be deducted and has
not written a supplementary tablet or has then added the
increments to the capital sum, that merchant must double so
much com (or silver) as he has taken and give (it) back"
(cf. The Babylonian Laws, vol. II, p. Al, § O).

* * *

§ P Se um mercador emprestou a juros grão ou prata


e (se) quando emprestou a juros ele deu a prata em
peso pequeno ou o grão em um sütum pequeno e quan-
do o recebeu ele quis receber a prata em peso [gran-
de] ou o grão [em um sütum grande]: [esse merca-
dor] perderá [tudo o que tiver emprestado].
O sütum (sumeriograma oisbáN) era uma medida babilônica
e correspondia a 10 qa, ou seja: 10 litros.
Os babilônios não conheciam um sistema standard de pesos e
medidas. O mesmo peso variava de cidade para cidade, assim
o GUR da Babilônia valia 300 qa enquanto que em Mari valia
apenas 120 qa. Na mesma cidade podia haver um sistema du-
plo de pesos; por exemplo: o siclo leve e o siclo pesado, etc.
(cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, T h e B a b y b o n i a n L a w s , vol. I,
p. 180-18 A).
Este parágrafo alude provavelmente a essa possibilidade de
duplicidade de pesos e não tanto a uma falsificação de medidas.

§ Q Se um [mercador] emprestou a juros [grão oü


prata] sem testemunhas [nem contrato] : ele perderá
tudo [o qué] tiver emprestado.
Reconstrução do texto conforme G. R. DUIYER-J. C. MILES,
The Babylonian Laws, vol. II, p. 40.

* * *

§ It Se um awílum recebeu grão ou prata de um mer-


cador e não tem grão ou prata para restituir, mas
tem bens móveis: qualquer coisa que tiver em sua
mão ele poderá dar ao mercador diante de testemu-
nhas cada vez que trouxer (um objeto) ; o mercador
não poderá opor-sc, ele deverá aceitar,
Um empréstimo de (jrão ou de prata podia ser pago também
com bens móveis (este é o significado do termo acádico biSum).
A presença de testemunhas ê exigida não só para julgar a
equivalência do valor, mas principalmente para garantir o de-
vedor de futuras exigências de seu credor. A lei romana nestes
casos seria: "aliud pro alio invito creditori solvi non potest"
(•Justiniano, Dig. XII, i 2 I).

* * *

§ U Se um awílum deu a um (outro) awílum prata


para uma sociedade: eles dividirão proporcionalmente
diante da divindade lucro ou perda que sobrevier.
O termo acádico tapputum: "sociedade" exprime aqui qualquer
tipo de empreendimento conjunto, uma espécie de societas unius
rei. Na série babilônica "ana ittiSu", publicada por Landsber-
ger (Die Serie ana ittisu, Materialen zum sumerischen Lexi-
kon, Roma 1937, vol. I, 75,9-77,33) é tratado um caso análogo;
os lucros devem ser declarados diante de Samas, o deus Sol,
deus da justiça. A expressão mitharis significa "proporcional-
mente" — e não em partes iguais —, isto é: pro rata, de
acordo com a contribuição de capital de cada sócio.

* * * .

§ V Se um mercador deu a um comissionado prata


para vender ou comerciar e o enviou em uma viagem
de negócios: o comissionado negociará durante a via-
gem de negócios que lhe foi confiada. Se lá onde foi
XXIV teve lucro: anotará o lucro de toda a prata que ele
tomou, contará os seus dias e reembolsará o seu
mercador.
Nos §§ V-107 aparece um novo personagem da vida comer-
cial da Babilônia, o samalliim (sumeriograma SAMÁN.LA)

51
12a' ° comissionado> um pequeno comerciante que recebia
jÍ,*?J f
mC or prata ' 9 >rão etc " V<tra vender e comerciar nas
relZZnlt 3 da Babilônia- Estes parágrafos regulam o
retatwnamento entre o mercador e seu comissionado.
^ PaHe central d0 § V é a1>enns aproximada, o
ZlZrlt- m Parte' bastante mutilado. Seguimos aqui a re-
T,TCai a ~~JUe varece bastante provável — de Finet (cf.
itXTst Hammf?pi' P' SAMAN-LÁ i-na KASKAL
nmsion qui lm a étê confU^ Commercera(?)..

.iaSZT? "ele contará seus dias"


nT^n*'r°WVClmente> qu* 0 comissionado devia descontar
7uZl7„ -as' que naturalmente dependiam do tempo que
aurava a viagem de negócios.

10 § 101 Se lá onde foi, não teve lucro: o "comissionado


dara ao mercador o dobro da prata que recebeu.

f l ^ T i Z ^ r ^ q-ue °lucro esperado pei°mer-

•n mr ..ma,e 70%- N°
caso nao parece ter havido negligên-
MTR PS • "Ti MWMsionaão, por isso a conclusão de DBIVER-
T , s e c t i o n thus secures to the tamkãrum at least a
th JtJLT Per Cent" and ü may Perhaps be inferred that
nhl t In Share of the Vr°fits wül normally have been
JZral JT C e n t . ; t h e r e ü therefore-a poena duplex as in
ZTJI Sect{on" (cf- T h e Babylonian Laws, vol. I, p.
190), nao parece provável,

§ 102 Se um mercador deu a um comissionado prata


como capital de trabalho e aonde ele foi sofreu pre-
20 juízo: ele restituirá ao mercador o capital.

A expressão acádica, não muito comum nos documentos babi-


lontcos, U.BABBAR a-na tcb-ad-mi-iq-tim expressa, provavel-
mente, um empréstimo sem juros, a título de ajuda. Por isso,
em caso de prejuízo, o comissionado devolverá ao mercador
wpems o mmitante em prata recebido "a-na ta-ad-mi-iq-tim".
r.;, Vm, ÒOfj traduz: Wenn der Kaufmann dem Gehilfen
Tí riârbeitskapital 9ibt..." (cf. Grundriss der Akkadi-
Giammatik, Roma 1952, p. 184, 5).

§ 103 Se durante a viagem de negócios um inimigo


o fez entregar alguma coisa que carregava: o comis-
sionado pronunciará o juramento de deus e sairá livre.
Em caso de assalto durante a expedição comercial, o comis-
sionado não. estava obrigado a restituir os bens perdidos. Mas,
nestes casos, o comissionado assaltado devia tornar sobre si
um juramento solene feito diante da divindade da cidade.

* # *

§ 104 Se um mercador deu a um comissionado grão,


lã, óleo ou qualquer bem móvel para vender: o comis-
40 sionado anotará a prata e dará ao mercador; o comis-
sionado levará uma tábua selada (com a relação) da
prata que deu ao • mercador.
No fim da expedição comercial, ao fazer as contas com o
mercador, o comissionado deverá exigir do mercador uma tá-
bua selada com o sigilo do mercador, onde será relacionada
exatamente toda a prata que pagou ao mercador. .

* *

§ 105 Se o comissionado foi negligente e não levou a


50 tábua selada (com a relação) da prata que deu ao mer-
cador: a prata sem documento selado não será colo-
cada na contagem.
A falta do documento selado mencionado no § 104 prejudica o
comissionado. Ele não poderá comprovar o pagamento feito,

* * *

§ 106 Se um comissionado recebeu prata de um mer-


co cador e contestou seu mercador: esse mercador diante
de deus e de testemunhas comprovorá que o comissio-
nado recebeu prata e o comissionado dará ao merca-
dor até 3 vezes mais toda a prata que recebeu.
•A expressão acádica malhar i-lim ú Si-ln pode ser traduzida
também "diante de deus ou de testemunhas", indicando talvez
a alternativa que o mercador tinha para comprovar a vera-
cidade de sua afirmação:, o ordálio ou o apelo a testemunhas
que presenciaram a entrega da prata ao comissionado. O co-
missionado nega provavelmente a autenticidade do documento
selado que comprova sua divida junto ao mercador.

* * *

§ 107 Se um mercador deu crédito a um comissiona-


do e o comissionado restituiu ao mercador tudo que
XXV o mercador lhe dera, mas o mercador contestou tudo
o que o comissionado lhe deu: esse comissionado com-
provará diante de deus e de testemunhas contra o mer-
cador, e o mercador dará ao comissionado até seis
10 v e z e s ' m a i s tudo o que recebeu, porque contestou seu
comissionado. /

No caso de má-fé por parte do mercador a pena imposta é


o dobro da imposta ao comissionado (cf. § 106). Nota-se aqui
uma dimensão de proteção ao mais fraco característica da
legislação de Hammurabi. A dificuldade na interpretação deste
parágrafo é determinar o significado exato do termo i-qí-ip-
ma, da raiz verbal qiãpum: "confiar", que foi aqui traduzido
aproximadamente por "dar crédito", no sentido de "adiantar
um capital a alguém" (cf. G . R . DRIVER-J. C . M I L E S , The
Babylonian Laws, vol. I, p. 19C>ss).

* * *

§ 108 Se uma taberneira não recebeu grão como pa-


gamento da cerveja, (mas) recebeu prata em um peso
20 grande ou diminuiu o equivalente de cerveja em rela-
ção ao equivalente de g r ã o : comprovarão (isto) con-
tra a taberneira e a lançarão na água.

O termo acádico sâbltum (sumeriograma Mf .KAS .TIN .NA)


que W . von SODEN traduz por "Schankwirtin", isto é: taber-
neira (cf. Akkadisches Handwôrterbuch, vol. II, p. 1000a),
indica a proprietária de um pequeno negócio onde se vendiam
não apenas bebidas, mas outros alimentos e pequenos objetos.
O parágrafo parece referir-se a dois possíveis delitos da taber-
neira: ela não aceita grão como pagamento da cerveja, mas
exige o pagamento em prata e usa um peso maior do que o
corrente (cf. § 51; § M). Ela fornece uma quantidade menor
de cerveja do que o correspondente ao curso normal do grão
recebido em pagamento. O lançamento na água não significa
aqui um ordálio, mas a execução de uma sentença: morte
por afogamentó.

§ 109 Se uma taberneira, em cuja casa se reuniram


30 malfeitores, não prendeu esses malfeitores e não os
conduziu ao palácio: essa taberneira será morta.

O termo sarru — da raiz sarara.: "enganar", "mentir" — sig-


nifica literalmente mentiroso", "trapaceiro". Mas este pará-
grafo visa não um simples mentiroso, mas o conspirador. Já

54
o rigor da pena mostra tratar-se de um perigo público (cf.
como ilustração Jos 2,1-11).

§ 110 Se uma naditum ou uma entum, que não mora


AO em Um convento, abriu uma taberna ou entrou na
taberna para (beber) cerveja: queimarão essa mulher.

Este parágrafo espelha a baixa reputação que as tabernas


tinham no tempo de Hammurabi.
A naditum (sumeriograma LTJKTJR) e a entum (sumeriogra-
ma NIN.DINGIR) são duas espécies de sacerdotisas.
O sentido da expressão É KAS .TIN .NA ip-te-te: "abrir uma
taberna", não significa certamente "tornar-se proprietária de
uma taberna", mas apenas "abrir a porta de uma taberna".

§ 111 Se uma taberneira deu a crédito um jarro de


cerveja: na colheita ela tomará 5 B Á N de grão.

O sumeriograma KAS .Ü.SA .KA.DÜ corresponde ao acádico


pihu e significava no período babilônica antigo simplesmente
um "jarro de cerveja" (cf. W . von SODKN, Akkadisches Hand-
wõrterbuch, vol. II, p. 862b). A medida de capacidade BÁN
— acádico sütum — correspondia a 10 qa (1 qa = cerca de
um litro).

50 § 112 Se um awllum está em viagem de negócio 13 e


deu prata, ouro, pedras ou outro bem móvel de sua
mão e os consignou a um (outro) awllum para o trans-
porte e esse awllum não entregou o que devia ser
60 transportado no lugar para onde devia ser transpor-
tado, mas tomou para s i : o dono do que devia ser
transportado comprovará contra esse awllum a res-
peito de tudo que devia ser transportado e ele não
entregou; esse awilum pagará ao dono do que devia
70 ser transportado até cinco vezes mais do que lhe foi
entregue.

O termo harrãnu indica aqui provavelmente uma "viagem de


negócio" (contra a interpretação de A. FlNET, Le Code de

13. i-n« í^r-ra-nini wa-.si-ib-ma: literalmente "mora em uma viagem de


nexocios '.

55
Hammurapi, p. 76). Um awilum parte par a uma viagem co-
mercial e encarrega um outro awilum do transporte dos obje-
tos que deverão ser vendidos nessa viagem. Mas o "transpor-
tador" se apodera indevidamente dos bens a ele consignados.

* * *

XXVI § 113 Se um awilum tem (exigências de) grão ou de


prata sobre um (outro) awilum e, sem consentimento
do dono do grão, tomou grão do celeiro ou da eira:
comprovarão contra esse awilum a respeito do grão
tomado do celeiro ou da eira sem o consentimento do
10 dono do grão e ele restituirá todo o grão que tomou
e perderá tudo que emprestou.

A expressão acádica e-li a-wl-lim SE u KÜ.BABBAR i-su


significa literalmente "ter sobre um awilum grão ou prata";
o sujeito da frase é o credor que tem direito a grão ou prata
que ele emprestou a um concidadão. A finalidade deste pará-
grafo e, sem dúvida, proteger os devedores. Um credor não
tem o direito — sob pena de perder tudo que emprestou —
de reembolsar-se, por conta própria, no celeiro ou na eira de
' seu devedor, sem a expressa licença deste.

* * *

20 § 114 Se um awilum não tem (exigências de) grão


ou prata sobre um (outro) awllurrn e tomou sua ga-
rantia: por cada garantia ele pesará 1/3 de uma mi-
na de prata.

O termo acádico nipútum indica aqui um ser vivo — homem


ou animal — que serve de garantia de pagamento de uma
dívida ou da realização de um compromisso, etc.... (cf. §
116; 241. Cf., também, W . von SODEN, Akkadisches Hand-
wõrterbuch, vol. II, p. 792b). O credor podia ser reembolsado
com o trabalho do nipútum, mas este continuava propriedade
do devedor e devia ser devolvido logo que a dívida tivesse
sido paga.
No caso de um credor tomar um nipútum de alguém que já
tivesse pago sua dívida, devia pagar ao proprietário do ni-
pútum uma multa de 1/3 de mina. A mina eqüivalia a cerca
de 500 gramas.

* * *

§ 115 Se um awilum tem (exigências de) grão ou de


30 prata sobre um (outro) awilum e tomou sua garan-

56
tia e a garantia morreu de morte natural 14 na casa
de seu credor: este caso não terá processo.

No caso de morte natural do nipútum durante seu serviço


na casa do credor, o dono desse nipútum não poderá vrocei
sar o credor. / s

* * *

§ 116 Se a garantia morreu na casa de seu credor por


40 pancada ou m a u trato: o dono da garantia compro-
vara (isto) contra seu mercador. Se (a garantia) foi
o filho do awílum, matarão seu filho; se foi um es-
r>0 cravo do awílum, ele pesará 1 / 3 de mina de prata;
alem disso perderá tudo que tiver emprestado.

Este parágrafo prevê o caso de morte do nipútum por pan-


cadaria ou mau trato do credor. A pena será diversa de acordo
com a pessoa que serviu de nipútum. O devedor deverá, con-
tudo, comprovar oficialmente que a "causa mortis" foi real-
mente a brutalidade do credor. A morte de um filho de awí-
lum exige a aplicação da lei de talião. A morte de um escravo
pode ser compensada com uma multa em prata (cf. também
os paragrafos 214 e 252).

§ 117 Se uma dívida pesa 15 sobre um awílum e ele


vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou entre-
60 gou-se em serviço pela dívida: trabalharão durante
tres anos na casa de seu comprador ou daquele que
os tem em sujeição; no quarto ano será feita sua
libertação.

Alguns termos deste parágrafo não são claros; isto dificulta


sua interpretação. O termo e'iltum pode significar tanto "dí-
vida como 'a obrigação resultante de uma dívida" (cf W
von SODEN, Akkadisches Handworterbuch, vol. I p 191 b) À
forma verbal it-ta-an-di-in foi interpretada acima como 'um
perfeito da forma N da raiz nadânum e traduzida como um
passivo entregar-se", isto é: se o awílum entrega-se a si mes-
mo em serviço. Mas a forma ortograficamente igual it-ta-an-
di-in pode, também, ser um pretérito Gtn; então a tradução
seria: ou (os) entrega em serviço...". Tratar-se-ia então de

11' im-tl,-ut: .literalmente "morreu íegumlo seu .lestino".


.«ml; í í t e X h o u . a : " , - l a m e-faMMUnl - - " m a : "Se um awi.

57
duas possíveis modalidades: ou vender a esposa, filho ou filha,
ou entregá-los em serviço pela dívida. • /
A expressão ama kiriS-Sa-a-tim, da raiz kasaSum= "sujeitar ,
indica provavelmente um "Schuldsklavendienst" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p.t 492b). Dai a
tradução aproximada de "serviço pela dívida".
O tempo máximo de serviço ou de escravidão por causa de
uma dívida é de três anos, no quarto ano deverão novamente
receber a liberdade (cf. Êx 21,2-11; Dt 15,12-18).

70 § 118 Se um escravo ou escrava foi dado em serviço


pela dívida e o mercador o conduziu para fora (do
país): ele poderá vendê-lo, não haverá reivindicação.
O sentido deste parágrafo é discutido e depende da interpre-
tação da forma verbal ú-Se-te-eq, um pretérito S da raiz ver-
bal etêqum. Driver-Miles traduzem "shall let (the pericd of
redemption) expire... CThe Babylonian Laws, vol. II, p. 49)
e Finet: "il laisse ... dépasser (le délai...)". CLe Code de
Hammurapi, p. 79); portanto em um sentido de deixar pas-
sar um prazo. W. von SODEN apresenta, porém, vários luga-
res em textos babilônicos onde a forma S de etêqum significa
claramente "(über Land) senden, überfiíhren" (cf. Akkadi-
sches Handwõrterbuch, vol. I, p. 262). Este significado, parece
caber melhor dentro do contexto.

§ 119 Se uma dívida pesa 1 " sobre um awllum e ele


vendeu a sua escrava, que lhe gerou filhos: o dono
KXVII da escrava poderá pesar a prata (correspondente à)
que o mercador pesou e redimir sua escrava.

0 parágrafo considera o caso de uma escrava vendida para


pagar uma dívida de seu dono. Se essa escrava gerou filhos
ao awllum endividado, este terá sempre, sem limite de tempo,
o direito de resgatá-la.

§ 120 Se um awllum armazenou seu grão na casa de


um (outro) awílum e houve perda no silo, ou porque
10 o dono da casa abriu o celeiro e tomou grão ou por-

16. Literalmente: sum-ma a-wi-Iam c-jji-il-Uim iij-l>a-sú-ma: "Se um awí-


lum, uma divida o apanhou..."

58
que contestou completamente (a quantidade de) grão
que foi armazenado em sua casa: o proprietário do
grão declarará oficialmente diante da divindade (a
quantidade de) seu grão e o dono da casa dará ao
proprietário do grão o dobro 17 do que tomou.

O conjunto de parágrafos 120-126 regula juridicamente os


casos de depósito de bens móveis. Um paralelo interessante
encontra-se na legislação bíblica do livro do Êxodo (cf. Êx
22,6-9).
0 § 120 soluciona o caso de perda de grão depositado por um
awilum na casa de um concidadão. A perda pode ser ocasio-
nada ou porque o dono do celeiro tira o que ali foi depositado
ou porque nega simplesmente ter recebido grão em depósito.

§ 121 Se um awllum armazenou grão na casa de um


(outro) awllum: (lará por ano como taxa de armaze-
nagem por ufti GUR de grão 5 qa de grão.

A taxa anual máxima de armazenagem permitida pela lei é,


pois, 5 qa (cerca de 5 litros) de grão por uma estocagem dè
1 GUR (= 300 qa, cerca de 300 litros) de grão; cerca de
1,67%. '
* * *

§ 122 Se um awllum quer dar em custódia a um


(outro) awllum prata, ouro ou qualquer outro bem:
mostrará a testemunhas tudo o que quer entregar,
redigirá um contrato e (então) dará em custódia.

Este parágrafo prescreve como agir juridicamente antes de


depositar algo junto a um concidadão. Somente um depósito
feito diante de testemunhas e do qual existe um documento
oficial está protegido pela lei.

* * *

§ 123 Se ele deu em custódia sem testemunhas e sem


contrato e onde ele deu (em custódia) contestaram
(o fato): esse caso não terá reivindicação.

Este parágrafo apresenta possíveis conseqüências jurídicas de


um depósito feito sem as precauções legais indicadas no § 122:

17. Em acâdieo: uè-ta-Sa-na-ma ... i-na-ad-di-in, literalmente: "dobrará


. . . e dara .

59
se quem recebeu o depósito negar o fato, o depositante não
poderá recorrer a um processo.

* * *

§ 124 Se um awilum deu em custódia a um (outro)


awilum, diante de testemunhas, prata, ouro ou qual-
60 quer outro bem e este contestou (o f a t o ) : compro-
varão (isto) contra esse awilum e ele dará o dobro 18
de tudo que contestou.

Este parágrafo parece em desacordo com o § 122. Aqui é


apresentado um caso de contestação a um depósito feito diante
de testemunhas, mas sem menção à redação de um contrato,
e contudo o depositante goza da proteção legal (cf. a discus-
são da problemática deste parágrafo em G. R . DRIVER-J. C.
MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 237-239). Será o §
124 resto de uma legislação antiga e os parágrafos 122-123
com a exigência do contrato uma inovação de Hammurabi?

* * *

§ 125 Se um awilum deu em custódia qualquer coisa


sua e lá onde depositou, desapareceu, quer por uma
70 brecha quer por uma escalada do muro ( ? ) , qualquer
coisa sua juntamente com qualquer coisa do dono da
casa: o dono da casa, porque foi negligente, deverá
substituir tudo que lhe foi dado em custódia e desa-
pareceu e restituir ao dono dos bens; o dono da casa
XXVIII procurará sua propriedade perdida e a retomará do
ladrão.

A compreensão deste parágrafo depende em parte da interpre-


tação das duas expressões acádicas i-na pi-il-Si-im e i-na na-
ba-al-ka-at-tim. O termo pilâum: "buraco", "brecha", indica,
sem dúvida, a brecha feita pelo ladrão no muro de tijolos se-
cos ao sol de uma casa (cf. § 21). Já o significado de nabal-
kattum — também encontrado no parágrafo H — é menos
claro. W. v o n SODEN propõe para este lugar do Código a tra-
dução "Überschreitung von Grenzmauern" (cf. Akkadisches
Handwõrterbuch, vol. II, p. 094b), que cabe perfeitamente no
contexto do parágrafo. O objeto depositado pode, pois, ter de-
saparecido quer por uma brecha feita por um ladrão no muro
da casa quer em uma escalada do ladrão pelo muro da casa.

i-na-ad-di-lri, literalmente: "dobrará


18. Em acádico uá-ta-àa-na-ma
. . e dará".
§ 1 2 6 S e um aWilum, ( e m b o r a ) não tenha desapare-
10 ç o coisa a l g u m a sua, declarou: algo meu desapare-
ceu e culpou o seu distrito: seu distrito comprovará
diante da divindade contra ele que nada seu desapa-
20 receu e ele pagará ao seu distrito o dobro " daquilo
que reclamou. uayuuu

O tervio bãbtiim - significado original "-porta" - indica


s e u J V J r i ' <lUTteÍrã° geográfico, mas também ocon-
"ZL d^imstrtw°rrdesse d i s t r ü 0 - 0 s e n t i d o deste parágrafo
Z Z J ar°- Um Cidadã° acusa lamente a perda de
um bem seu e responsabiliza a administração de seu distrZ
pela pseudoperda do objeto. O funcionário responsável de^râ
comprovar diante do deus da cidade a inconsistência da acust
çao Como pena pela falsa acusação, o awilum deverá pagar
a caixa da administração d# distrito o dobro do que reclamou.

* * *
j
§ 127 Se um awllum estendeu o dedo contra uma
e n t u m ou contra a esposa de um (outro) awllum e
30 nao c o m p r o v o u : arrastarão esse awllum diante dos
juizes e raspar-lhe-ão a metade de sua (cabeça).

?evaSadLdna Z6tUSe ^ é ^laro: um awilum


(cf tnoT J , aCUSaÇa° C°ntra Uma ™™rdotiSa êntum
tradt • ^ ° eSP°Sa de Um 0Utr0 A. FLNET
fMera"V?Zlc\írT^a apÓd°Se "cette W — on la
jiagellera f L e Code de Hammurapi, p. 83). Ele interpreta
pois, a forma i-na-ad-du-ú-Su como presente de umverlo nadü
forma secundaria de natü = "bater", "flagelar". O castigo da
flagelaçao comum nas leis assírias (cf. G. CARDISC A L S
LOIS assyriennes, Paris 1969 A S 18 19 21 , i - f ' , !
raro na legislação de HammuraliV^i Í Í Í ^ T T

"TancarZ ° ° ™ SW ™rmal de "joga?',


W von imlT aPZP0SlÇã° ™af}ar> ""rrastar diante de" (cf
W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II „ 706)
O Primeiro passo seria, neste caso, arrastar 'o acusador Jiantè

ú galt-Tu O PsZ-r7ÍSta f eXpTeSSa Pda frase mu-uUta-sú


"barbea^n Verb° galãbU na forma D é "raspar",
W v o n S o n ™ I Z Amuítatu™ si^fica em si "metade" (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol II v 689b)'
aqui trata-se, provavelmente, da metade da c l leLVto erà
; MW S T l d e Ínfdmia- També™ os escravos eram
TThSZtT por um corte especml dos cabe™

. ^ e ^ T ^ ™ ' ««-ta-ia-M^a ... i-na-ad-di-in, literalmente: "dobrará

61
8 128 Se um awllum tomou uma esposa « f »
l S contrato: essa mulher nâo . » » ^
, s 1So * elemento jurídico essencial do
S^rSLS IZvlrl „c r i e . fc—>

* * *

8 129 Se a esposa de um awllum foi surpreendida dor-

(também) perdoará" o seu servo.

ssas 4 rsrJt&sz
a » Y^srssrt z&â. « -
22,22). * * *

§awílum,
™ 86 Um S£S5 r o ^ X e T h o m t T r a ^ i
que (ainda) nao c o n n ^
Z & S & S S S S / " m a < e'ssa mu-
lher será posta em liberdade.
O caso p r « * * neste ^ ^ ^
0 verbo acádico usado kabalu. aniarrar , ^ .
violentação de uma ^ercasaM.•£«^matrímonial já foi
especial. Ela é esposa P^L l fainda virgem (este 4 o

* * *

o VÍ1 esposa de um awllum, seu marido a


a

'0
§ n - mas ela não foi surpreendida com um outro
homem: ela pi^nunciará o Juramento de deus e vol-
tará para a sua casa.

- - ^ j s ^ f S ^
21. Triuluçn» litei.ii »•»
1 * ^ « -
Este parágrafo apresenta o caso de uma esposa acusada de
adultério por seu próprio marido. Não há flagrante nem é
mencionado o nome do amante. Mas na falta de provas, é
previsto pela lei um juramento diante do deus da cidade. Sub-
metendo-se a este juramento religioso, a esposa comprova sua
inocência e pode voltar para casa. A expressão a-na É-Sa:
"para a sua casa" indica provavelmente a casa paterna, dessa
mulher (cf. § lW,
* # *

§ 132 Se contra a esposa de um awllum foi levantado


o dedo por causa de um outro homem mas ela não
foi surpreendida dormindo com um outro homem: pa-
ra seu esposo ela mergulhará no rio.

Como no parágrafo antecedente, a esposa é acusada sem pro-


vas convincentes. O acusador aqui não é o esposo, mas um
concidadão. Para comprovar ao esposo sua inocência, ela de-
verá submeter-se a um ordáMo. O sumeriograma ÍD = rio —
precedido do determinativo de nomes divinos DINGIR — mos-
tra que o rio (provavelmente o Eufrates) é aqui considerado
como uma divindade. O deus Rio, como juiz divino, demons-
tra/rã ao esposo a inocência de sua esposa. Üm caso análogo
de ordálio encontra-se também no Antigo Testamento (cf.
Núm 5,11-31).
* * *

§ 133 Se um awllum afastou-se secretamente e em sua


casa há o que comer: [sua esposa guarda]rá [a sua
casa e cuidará de si] meèma. [Ela não entrará na
casa de um outro]. [Se] $ssa mulher não cuidou de
si mesma e entrou na ca|a de um outro (homem),
comprovarão (isto) contra; essa mulher e a lançarão
n'água. |

O texto da primeira parte do parágrafo está bastante dani-


ficado. Uma reconstrução a partir da segunda parte corespon-
de provavelmente ao texto original. A nossa tradução segue a
reconstrução textual de A. F I N E T (cf. Le Code de Hammurapi,
p. 86). Os §§ 133-135 usam a forma verbal iS-Sa-li-il, forma N
de uma raiz salãlum. É conhecida uma raiz ãll que, em com-
binação com o substantivo sallatu, significa "levar como, presa".
Mas W . von SODEN, estudando a forma iséalil, postula a exis-
tência de um Salãlum II com o significado de "sich davon

'Hilicu: Sum-ma
22. Em acádico: SUIU-IIlrt a$-Sa-at
(W-jo-ov a-wi-lim
«» "« aS-Sum | J f * " ^
ú-lw-nu-um e-li-Sa it-ta-ri-ií-ma literalmente: "Se a esposa co ^'tra ela "
lum. por causa de um outro homem foi levantado o dedo contia e l a . . .

63
schleichen" ( V (cf. Orientalia 20, 263-264; Grundriss der Akka-
dischen Grammatik, p. 136, § 101 g). Daí nossa tradução
"afastar-se secretamente".

* * *

§ 134 Se um awílum afastou-se secretamente e em


ÚO sua casa não há o que comer: sua esposa poderá en-
trar na casa de um outro. Essa mulher não tem culpa.

Na legislação assíria os motivos da ausência são claramente


determinados: negócios particulares ou missão pública. No caso
de negócios particulares, se o marido não tivesse deixado o
sustento ou a mulher não tivesse filhos maiores que a pudes-
sem sustentar, a esposa devia esperar cinco anos. Depois de
cinco anos, ela era livre de contrair um novo matrimônio e
seu primeiro marido, ao voltar, não podia impugnar esse se-
gundo matrimônio. Mas um matrimônio contraído antes dos
cinco anos legais podia ser impugnado pelo primeiro marido. No
caso de afastamento em cumprimento de uma missão pública,
a mulher devia esperar mesmo que a ausência se prolongasse
além dos cinco anos. Neste caso ela era, certamente, susten-
tada pelo Estado (cf. G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes,
Paris 1969, A § 36 e comentário p. 184-191).

* * *

§ 135 Se um awílum afastou-se secretamente e em sua


40 casa não há o que comer e antes de sua volta sua es-
posa entrou na casa de um outro e gerou filhos; de-
pois disto seu marido voltou e chegou à sua cidade:
50 essa mulher voltará para o seu primeiro marido; os
filhos seguirão seu pai.

O termo acádico hãwirum — derivado de uma raiz hiãrum:


"escolher", "eleger" (cf. W . von SODEN, Akkadisches Hand-
worterbuch, vol. I, p. 342b) designa aqui o primeiro marido.
O teor da lei é claro: O primeiro marido voltando à sua cida-
de poderá reclamar a sua esposa, mas não tem direito algum
sobre os filhos gerados no segundo matrimônio.

* * *

§ 136 Se um awílum abandonou sua cidade e fugiu,


60 (e) depois de sua saída 23 sua esposa entrou na casa

28. Em acádico: wa-ar-ki-§u, literalmente: "depois dele".

64
de um outro; se este awilum voltou e quer retomar
sua esposa: a esposa do fugitivo não retornará a seu
7(k esposo, porque ele desprezou a sua cidade e fugiu.
Este parágrafo continua e completa a casuística do complexo
133-135 La falava de um iãSalil: "afastar-se secretamente"
sem maiores determinações do motivo do afastamento, O §
130 determina que se a ausência é culposa, isto ê: se ela sig-
fica uma fuga a responsabilidadè de cidadão, a esposa desse
fugitivo e Uvre do vínculo matrimonial. Seu'primSímar i
nao poderá impugnar seu segundo matrimônio.

80 § 137 Se um awilum decidiu repudiar uma sugétum


que lhe gerou filhos, ou uma naditum, que lhe obteve
filhos: devolverão a essa mulher o seu dote e dar-
lhe-ao a metade do campo, do pomar e dos bens mó-
xxx veis e ela educará os seus filhos. Depois que tiver
educado os seus filhos, de tudo o que foi deixado para
seus filhos, dar-lhe-ão a parte correspondente & de um
10 herdeiro e o homem de seu coração poderá tomá-la
como esposa.

A sugêtum e a naditum pertenciam a duas classes diferentes


de sacerdotisas babilonicas. No caso da sugêtum é usado o
verbo waladum: "gerar", "dar à luz"; para a naditum é em-
pregadoo verão rasú: "ter", "obter", "receber". De fato a

TZm STtUm POdia casar e cjerar f{lhos> quanto que


a naditum podia casar, mas não lhe era permitido gerar filhos
riU Tw fÜh0S ^ gerados ^ uma escrava (cf.

* * *

§ 138 Se um awilum quer abandonar sua primeira es-


20 posa, que não lhe gerou filhos: dar-lhe-á a prata cor-
respondente ao terhatum e restituir-lhe-á o dote que
trouxe da casa de seu pai; (então) poderá abandoná-la.

A finalidade deste § é proteger a mulher repudiada. Trata-se

t™aJlrtUm' Wt° 6 : d a Primeira esP°sa> *>» ™ conseguiu


gerar filhos a seu marido. Para poder abandoná-la, ele deverá
indenizá-la. Como indenização a lei prevê o pagamento em pra-
ta do correspondente ao valor do terhatum, isto é: do preço

;z ^
que o pai do noivo pagou ao pai da noiva. Além dUso a
irtz idiada levará C07lsifJ0 0 d o t e

65
§ 139 Se não há terhatum: dar-lhe-á uma mina de
prata como indenização de repúdio.

ZJma mina de prata — cerca de 500 gramas — era uma inde-


nização bastante elevada. Um casamento sem • terhatum acon-
tecia, provavelmente, quando a esposa era uma estrangeira
raptada ou trazida como presa de guerra. Para evitar arbi-
trariedades contra a estrangeira, a lei impunha uma indenir-
zação bastante elevada que substituía, no caso, a falta de
terhatum e de dote.
* * *

30 § 140 Se é um muãkênum: dar-lhe-á um terço de uma


mina de prata.
Este parágrafo continua a casuística do precedente. Trata-se
como no § 139 de um casamento sem terhatum; o marido que
requer o divórcio não é um awílum mas um muSkênum,. al-
guém socialmente inferior ao awílum.

# # *

§ 141 Sé a esposa de um awílum, que mora na casa


40 do awílum, decidiu ir embora e criou para si um pe-
cúlio, dilapidou sua casa, negligenciou seu marido:
comprovarão (isto) contra ela. Se seu marido decla-
rou que deseja repudiá-la, ele poderá repudiá-la. Ele
50 não lhe dará coisa alguma, nem para sua,viagem, nem
como indenização de separação. Se seu marido decla-
rou que não deseja repudiá-la, seu marido poderá to-
mar uma outra mulher e aquela (primeira) mulher
morará como uma escrava na casa de seu marido.

A expressão acádica si-ki-il-tam i-sà-ak-ki-il, da raiz sakãlum:


"adquirir ocultamente" (cf. W . von SODEN, Akkadisches Hand-
wõrterbuch, vol. II, p. 1010b) indica que a esposa formava
para si ocultamente um capital tirado dos bens de seu ma-
rido. Este parágrafo trata de um caso onde o marido pode
repudiar sua esposa sem obrigação alguma de indenização.
Contudo é necessária uma comprovação oficial dos delitos da
esposa.
* * *

60 § 142 Se uma mulher tomou aversão a seu esposo e


disse-lhe: «Tu não terás relações comigo» 2 4 : seu caso

24. Em acHilico: ú-ul ta-ah-jja-ZH-an-ni, literalmente: "tu não me tornaria".

66
será examinado em seu distrito. Se ela for irrepreen-
70 sível e não tiver falta e o seu esposo for um saidor
XXXI e a tiver humilhado muito: essa mulher não tem cul-
pa, ela tomará seu dote e irá para a casa de seu pai.
Este parágrafo prevê o caso em que uma esposá toma tal
aversão a seu marido que lhe nega o direito a relações matri-
moniais. As causas dessa aversão devem ser examinadas pelos
juizes de seu distrito administrativo. Em relação à esposa é
constatado que ela é na-as-ra-at, isto é: "ela se conserva em
ordem" e hi-ti-tam la i-Su: "ela não tem falta"; seu marido,
ao contrário, é um wa-§í, literalmente: "um saidor", isto é:
ele sai constantemente de casa à procura de outras mulheres
e deste modo negligencia sua esposa completamente. Neste caso
a recusa de relações matrimoniais não é culposa, ela pode
abandonar seu marido e levar consigo o seu dote.

* * *

§ 143 Se ela não é irrepreensível, mas é uma saidora,


dilapida sua casa e desonra seu marido: jogarão essa
10 mulher n'água.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. Caso a


mulher que negou relações matrimoniais a seu marido não
seja julgada irrepreensível pelos juizes do distrito, antes eles
constatarem que ela ê uma wa-sí-a-at, isto é: "uma saidora",
vive constantemente fora de casa, nas ruas, correndo o perigo
de ser considerada uma prostituta ou mesmo de cometer adul-
tério, negligenciando deste modo seus deveres familiares e sua
casa. Neste caso a mulher deve ser declarada culpada. A pena
prevista é o afògamento (cf. § 129 a mesma pena para o caso
de adultério flagrante).

* * *

§ 144 Se um awilum tomou uma naditum por esposa


e essa naditum deu a seu esposo uma. escrava e esta
lhe gerou filhos; (se) esse awllum decidiu tomar por
20 esposa uma sugètum: eles não permitirão (isto) a
esse awllum, ele não poderá tomar por esposa a
êugêtum.

§ 145 Se um awllum tomou por esposa uma naditum


30 e esta não lhe conseguiu filhos e (se) ele decidiu to-
mar como esposa uma ãugêtum: esse awllum poderá
tomar a áugétum como esposa e introduzi-la em sua

67
40 nSltum8^ áuê'étum não será\ (contudo), igualada à

Os Parágrafos 1U-H5 mostram a superioridade da sacerdo-


tisa naditum em relação à Sugètum. A naditum não porta Z-
lei, gerar pessoalmente filhos a seu marido, mas elavoZ
suprir por meio de uma escrava sua a necessidade de deSCtn
dencia de seu marido. Só no caso de fnit„ "7" !, "escen-
era f e r m i U d marido ^naZlJts^lr uma^rtusl
de classe inferior, a sugêtum. Mas, mesno nesU caso ela não
camoeni § 137 com o comentário). '

l esta d e u " i r " " 1 1 1 t 0 m ° U P ° r e s p o s a u m a naditum


e esta deu uma escrava a seu marido e ela gerou f i -
e n W ™ " tSrde 6 f a 6SCrava igualar-se à sua
n ã o 1 ^ f - T f Ü h o s <*ue senhora
nao a vendera, (mas) colocar-lhe-á a marca de escravo
e a contara com os escravos.
• O termo acádico abbuttuvi indica provavelmente um corte tívi-

HHB * * * i

60 § 147 Se não gerou filhos: sua senhora vendê-la-á.


O parágrafo 147 continua a casuística do antecedente TT™„
escrava que gerou filhos em lugar da espZÍ naTtL Z
poderá ser vendida mesmo que se rebele contra sua sZhora
llJl CaS° Perderá t0d0S 03 seus Privilégios e será cZt
derada como uma simples escrava. Se, porém, ainda não leTnü
mas em lugar da naditum, poderá se,' vendida p7r sua senhora.

* * *

§ 148 Se um awllum tomou uma esposa e esta foi


70 ..acometida da doença la'bum e (se) e £ d e c i d i u ^
sar uma outra: ele poderá esposar, mas não poderá
repudiar a sua esposa, que a doença la'bum acometeu.
*u tã& morara na casa que construíram e ele a susten-
tara enquanto ela viver.

A doença la'bum era uma espécie de febre contagiosa (cf


w . von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, v o l l p s u t ;
R. LABAT, Traité akkadien de diagnostics et pronostics mé-
dicaux, Leiden 1951, XXVII). Não se conhecem maiores deta-
lhes sobre essa doença. Este artigo se enquadra perfeitamente
dentro da Unha de reforma de Hammurabi com sua preocupa-
ção pelos fracos e desprotegidos.

* # *

XXXII § 149 Se essa mulher não concordou em morar na


casa de seu marido: ele devolver-lhe-á o dote que
trouxe da casa de seu pai e ela irá embora.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente. A esposa


gravemente enferma, acometida da doença la'bum, não poderá
ser repudiada por seu marido. Mas, se ela não quiser conti-
nuar a morar na casa de seu marido com a nova esposa deste,
ela terá o direito de voltar à sua casa paterna. Neste caso o
marido está obrigado a devolver-lhe integralmente o seu Se-
riktum, isto é: o dote que trouxe da casa paterna.

* * *

10 § 150 Se um awílum deu de presente à sua esposa um


campo, um pomar, uma casa ou um bem móvel e dei-
xou-lhe uma tábua selada: depois (da morte) de seu
esposo os seus filhos não poderão fazer reivindicação
20 contra ela. A mãe poderá dar sua herança ao filho
que ama, mas não poderá dar a um estranho.
Este parágrafo regulamenta casos — não tão raros — em que
a esposa, durante a vida do marido, recebe bens imóveis ou
móveis de seu marido. Se estes presentes foram fixados em um
documento selado, os filhos, após a morte do pai, não podem
exigir a devolução dos mesmos. Eles não pertencem ao bloco
da herança, que deve ser repartido entre os herdeiros. Sua mãe
pode dispor deles e dárlos a seu filho preferido. Só não pode
alienar esses bens.

§ 151 Se uma mulher, que habita na casa de um awí-


lum, obrigou seu marido a redigir uma tábua para
30 que o credor de seu marido não a possa responsabi-
lizar 2 5 ; se esse awílum, antes de tomar essa mulher
40 como esposa, tinha sobre si uma dívida: seu credor

25. Km acádico aS-5um be-el j)u-bu-ul-im ... Ia ja-ba-ti-sa, literalmente:


"puni que o credor... não a prenda".

69
não poderá responsabilizar 2n sua esposa e se essa mu-
lher, antes de entrar na casa do awilum, tinha sobre
50 si uma dívida: seu credor não poderá responsabili-
zar26 seu marido.
* * #

§ 152 Se, depois que a mulher entrou na casa do awl-


lum, recaiu sobre eles uma dívida: ambos deverão
60 pagar ao mercador.

0 sentido dos §§ 151-152 - ainda que considerados conjunta-


mente — nao é completamente claro. A problemática do pará-
grafo gira em torno de um hubullum, isto é: uma dívida one-
rada com juros (cf. W. von SODEN, Akkadisches Handworter-
buch, vol I, p. 351b: "verzinsliche Schuld"). A questão é sa-
ber se o documento selado do § 151 isenta um parceiro da res-
ponsabilidade das dividas pessoais do outro parceiro apenas no
caso de dividas contraídas antes da coabitação ou de qualquer
divida pessoal de um dos parceiros contraída antes ou depois
da coabitação (cf. G . R . DRIVER-J. Ç . MILES, The Babylonian
Laws, vol. I, p. 230-233). Neste segundo caso a expressão acá-
e-h;™:nu: sobre eles" do § 152 indicaria que ambos são
responsáveis se a dívida é contraída pelos dois. Uma variante
textual lê, em . vez de. e-li-Su-nu: "sobre eles", e-li mu-ti-Sa •
sobre seu marido". Esta variante ê, sem dúvida, uma glosa
explicativa; mas ela mostra provavelmente como o redator da
glosa compreendia e interpretava a lei: a isenção de respon-
sabilidade da esposa vale — caso ela possua um documento
selado — apenas para as dívidas contraídas por seu marido
antes da coabitação. Após a coabitação ambos serão respon-
sáveis. A legislação assíria determina que, se a mulher iú
recebeu o seu nudunnú: "presente nupcial", ela suportará o
peso e a responsabilidade das dívidas, faltas e penas de seu
marido (cf. A § 32 - G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes,
p. 174 ).

• # *

§ 153 Se a esposa de um awllum, por causa de um


outro homem, mandou matar seu marido: essa mulher
será empalada.27

A legislação de Hammurabi prescreve a pena de morte por


empalaçao a uma esposa que por causa de um amante pro-
curar a morte de seu marido. A lei não declara que tipo de

2IÍ. Em acádico l>e-el bu-bu-ul-li-su/âa . . . ú-ul i-ja-ba-tu, literalmente:


"seu credor... não poderá prender".
27. Em acádico i-na ira-Ei-5i-im i-Sa-ak-ka-nu-si, literalmente: "eles a colo-
carão em estacas".
morte liqüida o marido. Não é dito, outrossim, se a esposa
culpada devia ser morta antes da empalação. . Provavelmente a
mulher era; antes, morta e depois empálada (cf. % 21 — cf.
também a legislação bíblica em Dt 21,22-23). A legislação as-
síria previa a pena de empalação somente para uma mulher
que praticou voluntariamente um aborto (cf. G. CARDASCIA,
Las Lois assyriennes, p. 2í4, A § 53).

70 § 154 Se um awílum teve relações 23 com sua filha:


eles farão esse awílum sair da cidade.
O verbo lamãdum: "conhecer", "experimentar" é usado aqui
eufèmisticamente para expressar relações sexuais. A lei babi-
lônica prescreve a pena de banimento para casos de incesto
com a própria filha. A pena de banimento incluía natural-
mente o. desligamento de sua família, a perda de seus bens e
propriedades, bem como a perda dos direitos de cidadão. Nada
é dito sobre a sorte da filha. Mas, provavelmente, é pressu-
posto que a filha, sob a dominação do pai, não é um agente
livre e por isso não é considerada culpada. As leis bíblicas
não falam deste caso específico de incesto (cf. Lev 18,6-18;
20,10-21; Dt 27,20ss).

§ 155 Se um awílum escolheu uma noiva para seu fi-


lho e seu filho tève relações 29 com ela e depois ele
80 (o awílum) dormiu em seu seio e o surpreenderam:
XXXIII eles amarrarão esse awílum e o jogarão n'água.

§ 156 Se um awílum escolheu uma noiva para seu


filho e seu filho não teve relações 30 com ela e ele
10 mesmo dormiu em seu seio: ele pesará para ela meia
mina de prata e restituir-lhe-á tudo o que tiver tra-
zido da casa de seu pai; o marido de sed coração po-
,derá tomá-la como esposa.

Os §§ 155-156 tratam do caso de incesto do pai com a "noiva"


(acádico kullâtum, aqui expresso pelo sumeriograma É.GI*.A)
escolhida para seu filho. Se o filho já tiver consumado o ma-
trimônio com essa mulher, o pai será tratado e punido como
um adúltero (cf. §§ 129-133). O % 156 prevê, porém, o caso

2». Em acádico sum-ma a-wT-lum DUMU.Ml-aú il-ta-ma-ad, literalmente:


"Se um auHum conheceu sua f i l h a " . . .
2Si. Em acádico DUMU-su il-ma-sí, literalmente: "e seu filho a conheceu".
30. Em acádico l)UMU-su la il-ma-sí-ma, literalmente: " . . . e seu filho
n:io a conheceu".

71
de um matrimônio ainda não consumado. Neste caso o pai que
dormiu com a noiva de seu filho é obrigado a pagar a essa
mulher meia mina (cerca de 250 g) de prata como indeniza-
ção pela violação e restituir-lhe integralmente o seu dote. De-
pois disso essa mulher é livre. Ela pode ser esposada por
quem lhe agradar.
* * *

§ 157 Se um awílum, depois (da morte) de seu pai,


dormiu 110 seio de sua m ã e : eles queimarão a ambos.

A relação incestuosa do filho com sua mãe é punida com a


cremação (cf. no § 110 a mesma pena aplicada a uma nadi-
tum ou a uma êntum que freqüente uma taberna). A legis-
lação bíblica do livro Levítico prevê a pena de cremação para
o homem que casar ao mesmo tempo com uma mulher e a
mãe desta (cf. Lev 20,14) ou para a filha de um sacerdote
que se entregar à prostituição (cf. Lev 21,9). R . S M I T H vê
na pena de cremação uma espécie de sacrifício destinado a
remover a mácula que caiu sobre o país e a tribo (cf. Lectu-
ves on the religion of the Semites, p. 1,17-410).

* * *

§ 158 Se um awílum, depois (da morte) de seu pai,


foi surpreendido no seio de sua esposa principal ( ? ) ,
que gerou f i l h o s : esse awílum será expulso da casa
paterna.

O termo acádico rabitum indica, provavelmente, a esposa prin-


cipal de seu pai. Alguns intérpretes vêem aqui um erro textual
e corrigem o texto em murabbítum: "madrasta", "mãe de cria-
ção". Uma comparação com a legislação assíria ajuda a com-
preensão deste artigo. Na lei assíria é permitido ao filho her-
deiro tomar como esposa, depois da morte do pai, uma esposa
secundária (acádico: urkittu) do falecido pai (cf. G. CARDAS-
CIA, Les Lois assyriennes, § A 4(>, V- 220ss). O background
social desta lei é, sem dúvida, o costume semita que permitia
ao herdeiro tomar para si também as concubinas de seu pai.
Mas a lei limitava esse direito, excluindo a mãe 157) e a
rabitum: "esposa principal"(?) (§ 158). Para uma discussão
mais detalhada sobre a problemática deste artigo cf. G. R.
DRIVER-J. c. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. .120-122.
Cf. também a discussão sobre o termo hirtum no comentário
ao § 170.
* * *

§ 159 Se um awílum, que j á enviou para a casa de seu


sogro o presente nupcial e já pagou o terhatum, dei-
xou-se atrair por uma outra mulher e disse a seu so-
c m r « N ã o tomarei tua filha como esposa»: o pai .da
4.0
filha levará consigo tudo o que lhe tiver sido trazido.

a forma verbal up-ta-al-li-is é provavelmente um Dt da raiz


i a ãZ que W . von SODEN traduz por «sichabi
/Akkadisches Handworterbuch, vol. II, V- ^H). R. BOHGER le
ub t^alTã, portanto uma forma Dt da r a i z balasu =' glotz-
H-iiaia schièlen", "ausschauen" (cf. Babylonisch-Assynsche Le-
sestücke cad II, p. 29; cad. I, glossário L). O sentido geral do
arZo * contudo!claro. Trata-se de um awilum que , a iniciou
0 Zocesso matrimonial" enviando ao sogro o terhatum (cf
1 !% + comentário) e um presente nupcial e depois sente s
atraído por uma outra mulher e não quer mais casar com a
vriZtraAUm do terhatum, uma família socialmente bem
Muada mínZa também para a casa da noiva um biblum
ilto é um presente nupcial que consistia principalmente em
provisões para a festa do casamento (cf. também a legislação
assíria em G. CARDASCIA, Les Lo,s assyv.emies, /I - A V-
* * *

8 160 Se um awllum .enviou o presente nupcial à casa


í>0
do sogro e pagou o terhatum e o pai da filha disse:
« N ã o te darei minha f i l h a » : ele r e s ü t m r a o dobro
de tudo quanto lhe tiver sido trazido.

Este parágrafo continua a casuística do ^edente * ^


uma outra possibilidade. O pai da noiva, depois de ter rece
Mo o biblum e o terhatum, resolve por qualquer motivo im-
peliro matrimônio. Neste caso a lei o obriga a uma indeniza-
ção que corresponderá ao dobro daquilo que recebeu.

* * *

8 161 Se um awilum enviou o presente nupcial para


60
l casa de seu sogro e pagou o terhatum e (então) seu
amigo o difamou e seu sogro disse ao e s p o s o ; - : «JNao
70 tomarás minha filha como esposa»: ele restituira o
d o b r o 3 3 de tudo que lhe foi trazido e seu amigo nao
poderá tomar sua mulher como esposa.

4 expressão be-el as-sa-tim mostra claramente que após o -pa-


gaZnto 2 terhatum a jovem era considerada esposa. Contudo

31. Em acádico uS-ta-sa-an-na-ma ú-ta-ar. literalmente: "dobrará e res-

^ f Em acádico b e - e ! f ^ a - t i m . g e r a l m e n t e : ^ ^ ^ *
33. Em acádico uà-ta-sa-an-na-ma u-ta ar,
devolverá".
73
ZnLto (TT\%ÍOlL rn™0^0 7 a considerado como
ZZ ' 156h ° s Parágrafos 159-161 parecem vres-
supor um awdum que não depende de sua família. Em outlos
casos a noiva era escolhida pelo pai do noivo (cf. %t l55Ts6)
que pagava também o terhatum. Como no S irn l f
verá restituir o dobro de 'tudo que Tecebeu Ma,\
difamou o noivo não poderá casar LineLmidherZl
tigo tem um profundo alcance psicológico êwoteal"n %
contra ciúmes ou ambição de s!ul concidadãos 9 ^

80
§ 162 Se um awllum tomou uma mulher como esposa
XXXIV l ? í . I h e gel:°U_filh0S e (depois) essa mulher mor-
TLTmSLnao poderá recIamar 0 dote 'seu * * *

S T n ^ l L r ^ automai'camente para JKÜ .


* * *

d§eu6 f i l h o , T < T t 0 f 0 U U m a e s p o s a e e I a n ã 8o6 lhe


í U h o s - e (depois) essa mulher morreu - se
seu s o g r o l h e d ê v o l v e u 0 t e r h a t u m q u e e sse awílum
^ hT' f r a a C â S a d e s e u s o * r o : s e u «wrido não pS
dera reclamar o dote dessa mulher. Seu dote é da
casa de seu pai. 1 da

L ^ 4 - ® 6 f " S O g r ° n ã 0 I h e devolveu o terhatum: ele


deduzira do seu dote o correspondente ao seu ter!

Í u pai6 reStÍtUh'á ° (reSt° SGU d0te à ^ e

com

34. Em acádico Mí íi-i u „., JÍ •


mulher foio para o destino
correspondente 5'-'m-"m
L ^ ^ 't-t»-'a-Bk.
m ^ . literalmente:
T a ^ - .Z. Tessa^
I h ^ V e ^ e r 3 ^ . . ^ 1 " ^ ^ * *-&r-».í». literalmente: e
não
m t V ^ ^ ^ k.'-tera.mente: "... essa
esta disposição vai certamente de encontro a abusos de sua
época (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws,
vol. I, p. 3A5s).

§ 165 Se um awílum deu de presente a seu herdeiro,


que lhe agrada 37, um campo, um pomar ou uma casa
e escreveu-lhe um documento selado, depois que o pai
40 morrer 3S , quando os irmãos repartirem: ela tomará
o presente que o pai lhe deu; além disso repartirão os
50 bens da casa paterna em partes iguais.
Este parágrafo prevê o caso de um filho que goza da predi-
leção de seu pai e recebe deste um presente devidamente do-
cumentado em uma tábua selada com o sigilo de seu pai.
Depois da morte do pai, este presente não poderá ser incluído
no acervo de bens a ser dividido entre os herdeiros. Esse filho
predileto conservará a posse do presente paterno e além disso
participará da herança na mesma proporção dos outros irmãos.

§ 166 Se um awílum escolheu311 esposas para os fi-


lhos que teve e para seu filho mais novo não escolheu
60 uma esposa: depois que o pai morrer 40 , quando os
irmãos dividirem (a herança), dos bens da casa pa-
terna eles colocarão à disposição de seu. irmão mais
70 novo, além de sua parte, prata correspondente ao
terhatum e possibilitar-lhe-ão tomar uma esposa.

O termo acádico sehrum: "pequeno" pode indicar tanto o filho


mais novo como também um filho menor de idade. A legisla-
ção assíria determinava a idade de 10 anos para o filho tor-
nar-se sujeito de um contrato matrimonial (cf. § A A3 em
G. CARDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 211ss). O filho sehrum,
ainda solteiro, recebia, além de sua parte normal na herança,
o KÜ .BABBAR ter-ha-tim, isto é: "a prata do terhatum".
Este costume é abundantemente testemunhado nos documentos
jurídicos desta época (cf. M. SCHORR, Urkunden des altbaby-
lonischen Zivil- und Prozessrechts, VaB 5, Leipzig 1013,
207, 5-9).

37. Em acádico 5a i-in-su tnah-ru, literalmente: "<l«e corfesponde a seu

""38. Em acádico a-na si-im-tim it-ta-al-ku. literalmente: "... f»i Pura o


' ' ^ . . " E m "acádico Sum-mn a-wT-lum a-na DUMU.MES Tsa ir-Su-ú aS-Sa-tim
i.]ju-uz literalmente: "Se um awilum tomou esposas para os filhos que
^ « " ' È n i acádico va-ar-ka a-bu-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
" . . . depois que o pai foi para o destino".

75
§ 167 Se um. awllum tomou uma. esposa, ela lhe gerou
80 filhos, e (depois) essa mulher m o r r e u " e (se) após
a sua m o r t e ' 3 ele tomou uma outra mulher e ela (lhe)
XXXV gerou filhos: depois que o pai morrer, os filhos não
repartirao conforme as mães, m a s tomará cada um
do dote de sua m ã e " ; o s b e n s d a c a s a p a t e r n a ( e l e s
(os) repartirão em partes iguais.

Acasuística do parágrafo parece, em si, bastante clara. Um


mZTcT ruT T e s i q u e teve filhos das duas
morre Como dividir legalmente a sua herança? A formulação
oLZn n d\artig0 é> Porém, sintaticamente JnpZda e
obscura. O sentido é, sem dúvida, que os filhos não deverão
adicionar os dotes das duas mães ao acervo de bens da casa
paterna, mas o dote de cada mãe deverá ser diviZo apenas
entre seus próprios filhos (cf. § 162). Os bens da casa pater-
na por sua vez, Eserão divididos em partes iguais entre todos
ZlTlXS. ' " '
DRIVER J C M l L f S T h e " ' W w n Lati
* * *

10 § 168 Se um awilum resolveu deserdar seu filho e


disse aos j u i z e s : « E u quero deserdar meu filho»- os
juizes deverão examinar a questão. Se o filho não
cometeu uma falta (suficientemente) grave para ser
20 deserdado: o pai não poderá deserdar seu filho.

A expressão acádica nasãhum ina aplutdm é um termo técnico


cia linguagem jurídica e significa "deserdar".

f . 1 6 9 S e e l e cometeu contra seu pai uma falta (su-


>0 ficientemente) grave para ser deserdado: por uma
vez eles o perdoarão. Se, pela segunda vez, ele come-
teu uma falta g r a v e : o pai poderá deserdar seu filho.
Os parágrafos 168-169 regulamentam o modo de proceder juri-
. dZ° de um ?\ier deserdar seu filho. O processo deverá
ter um caráter oficial, os juizes deverão examinar os motivos
ZIT' a iUmC°- m°,tW0 Válid0 é a ^incidência em uma falta
grave. A lei nao determina o tipo de falta.

des 4 tino Em ." a C á d i C 0 a " n a 5 ; - i m ' t i m it-ta-Ia-ak, literalmente: "foi para o


42. Em acádico wa-ar-ki-5a, literalmente: "depois dela"
§ 170 Se a primeira esposa de um awllum lhe gerou
UO filhos e a sua escrava (também) lhe gorou f i l h o s ;
(se) o pai, durante a sua vida, disse aoi filhos que
a escrava lhe gerou: « V ó s sois meus filhos» e os con-
tou com os filhos da primeira esposa: depois que o
50 pai morrer 44 , os filhos da primeira esposa e os filhos
da escrava dividirão em partes iguais os bens da casa
paterna; m a s o herdeiro, filho da primeira esposa, es-
colherá entre as partes e tomará.

O termo acádico hlrtum significa uma "ebenbiirtigc Gattin"


(cf. W . von SODEN, Akkadisches Handworterbuch, vol. I , p.
348a), isto é: uma esposa que pertence à mesma camada so-
cial do esposo; e é, por isso, sua primeira esposa ou sua esposa
principal. Na legislação babilônica os filhos de uma escrava
podiam participar da herança, se seu pai os reconhecesse ofi-
cialmente durante sua vida. Mas o aplum: "herdeiro" — aqui
em sentido coletivo: os filhos da hlrtum — poderá escolher
primeiro a parte que lhe agradar. Na legislação assíria os
filhos de uma concubina (esirtum) podiam participar da he-
rança de seu pai, se essa concubina tiver sido declarada es-
posa diante de testemunha e seguindo um processo determi-
nado. Os filhos de uma esirtum não legitimada só poderiam
participar da herança, se a esposa legítima não tivesse filhos
(cf. G . CARDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 207, § A 41).

* * *

60 § 171 Mas se o pai, durante sua vida, não disse aos


filhos que a escrava lhe gerou: « V ó s sois meus fi-
lhos» : depois que o pai morrer 45, os filhos da escrava
70 não dividirão os bens da casa paterna com os filhos
da primeira esposa. Será realizada a libertação da
escrava e de seus filhos. Os filhos da primeira esposa
não poderão reivindicar os filhos da escrava para a
80 escravidão. A primeira esposa tomará consigo seu dote
e o presente nupcial que o esposo lhe deu e registrou
em uma tábua. Ela morará na casa de seu marido e
XXXVI enquanto viver usufruirá. N ã o poderá vender, sua he-
rança é de seus filhos.

Este parágrafo continua a casuística do antecedente e regula


os casos onde os filhos da escrava não foram declarados her-

44. Em acádico -wa-ar-ka a-bu-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


"depois que o pai íoi para o destino".
45. Em acádico wa-ar-ka a^bu-um a-na éi-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o I destino".

77
deiros. Na segunda parte é declarada a parte da hlrtum na
distribuição da herança.

§ 172 Se seu marido não lhe deu um presente nupcial-


10 devolver-lhe-ão seu dote integralmente e ela tomará
dos bens da casa de seu esposo a parte correspon-
dente a de um herdeiro. Se seus filhos a maltrata-
20 rem para fazê-la sair de casa: os juizes examinarão
sua questão e colocarão a culpa sobre os filhos; essa
mulher nao sairá da casa de seu marido. Se essa mu-
30 lher resolveu s a i r " : deixará para seus filhos o pre-
sente nupcial que seu marido lhe deu e levará cohsi-

/„ „ t e , d a c a s a d e s e u p a i e 0 e s P ° s o ^ e lhe agra-
UO dar " poderá tomá-la como esposa.
§ 173 Se essa mulher, lá onde entrou, gerou filhos a
seu segundo esposo, (se) depois essa mulher mor-
*„ ~°S S d o P r i r a e i r o e do segundo marido 18 di-
50 vidirao o seu dote.

I i w ? n ã ° g G r 0 U fílhos a s e u s e % u n d 0 « á r i d o : os
lilhos de seu primeiro marido levarão seu dote.
Os parágrafos 172-m continuam o tema da segunda parte do
§ 171 e regulamentam a situação da, viúva sev. JZll
obrigações. No caso de um segZdo ma^Lo TesstZuli:
a lei regulamenta então a divisão do seriktum isto é dó
dote^e essa, mulher trouxe da casa de seu Znt^JZ

* *

§ 17o Se^ um escravo do palácio ou um escravo de


60 um muskenum tomou como esposa a filha de um awi-
lum e ela lhe gerou filhos: o senhor do escravo não

5 Í S awIlum. Car ^ a e3CraVÍdã° °S fílh0S d* £


Os dois extremos "escravo do nalárin" « „ ,
sá0 usados para indicar justamentTqualquer tipo

1,â™"S?ir»:na Ua"SÍ-im is-ta-ka-itn, literalmente: "colocou


4«: l m S u S ' ^ ' V * 1 ' ^ * «'ração".
filhos anteriores e postei-iores"! U « « — ^ - t u m . literalmente: "o,
de escravo. Um escravo pode contrair matrimônio com a filha
de um awílum. Os filhos deste matrimônio são livres, o dono
do escravo não tem direito algum sobre eles. Na lei eles são
considerados DUMU.MES DUMU.Mf a-wí-lim: "filhos da fi-
lha do awílum.
* * #

70 § 176 Ou, se um escravo do palácio ou um escravo de


um muskênum tomou por esposa a filha de um awí-
lum e, quando ele a esposou, ela entrou na casa do es-
cravo do palácio ou do escravo de um muskênum com
um dote da casa de seu pai e (se) depois que eles
80 se uniram, formaram um lar e adquiriram bens mó-
veis e depois (disto) o escravo do palácio ou o es-
cravo de um muskênum morreu 49 : a filha do awílum
90 tomará consigo seu dote; mas tudo o que seu esposo
XXXVII e ela tiverem adquirido, desde que se uniram, será
dividido em duas partes, uma metade tomará o dono
do escravo e a outra metade tomará a filha do awí-
lum para seus filhos.

10 § 176B Se a filha do awílum não tinha dote: dividirão


em duas partes tudo o que seu marido e ela adqui-
riram depois que se uniram, uma metade o dono do
20 escravo tomará, a outra metade a filha do awílum
tomará para seus filhos.

O parágrafo 176 regula a divisão da herança de um escravo


casado com a filha de um awílum (cf. § 175). O ãeriktum,
isto é: o dote trazido da casa do pai da noiva, é intocável.
Ele permanece propriedade da mulher e passa depois a seus
filhos ou, caso não haja filhos, volta à casa paterna da filha
do awílum. Os bens adquiridos durante a vida matrimonial
devem ser divididos em duas partes iguais. Uma parte per-
tence ao dono do escravo, a outra parte pertence à esposa e
aos filhos do casal.
* * #

§ 177 Se uma viúva, cujos filhos são pequenos, deci-


30 diu 50 entrar na casa de um outro, não poderá entrar
sem a permissão dos juizes. Quando ela for entrar
na casa de um outro, os juizes examinarão a situa-

49. Em acádico a-na 5i-im-tim it-ta-la-ak, literalmente: " f o i para o destino".


50. Em acádico a-na . . . e-ri-bi-im pa-ni-Sa ii-ta-ka-an, literalmente: "colo-
car sua face para e n t r a r . . . "

79
.40 cão da casa do seu primeiro marido e confiarão a casa
de seu primeiro marido ao seu segundo marido e à
mulher e lhes farão redigir uma tábua. Eles guardarão
a casa, criarão os filhos pequenos e não venderão os
50 objetos. O comprador que comprar os objetos dos fi-
lhos de uma viúva perderá a sua prata; os bens vol-
60 tarão ao seu proprietário.

Este parágrafo tem uma profunda dimensão social de prote-


ção aos mais fracos. Está totalmente dentro da linha de re-
forma e repressão de abusos a que se propusera. Hammürabi
(cf o prologo col. I, 30-50). A atenção do legislador está cen-
trada sobre os filhos menores de uma viúva. Esta viúva não
poderá esposar uma segunda vez sem licença expressa e ofi-
cial dos juizes. Antes de conceder a permissão para as segun-
das nupcias, os juizes deverão fazer um inventário dos bens
do primeiro marido. O segundo marido juntamente com a viú-
va serão encarregados pelos juizes de administrar os bens do
primeiro marido. Mas ao receber os bens deverão redigir uma
tabua selada. Esses bens deverão ser administrados no inte-
resse dos herdeiros. A alienação de qualquer desses bens é
ilegal, o comprador perderá o seu dinheiro

§ 178 Se (houver) uma entum, uma nadltum ou uma


M1 ZI.
IK. RU. UM, cujo pai lhe deu um dote, escreveu-
70 lhe uma tábua, mas na tábua que lhe redigiu não
escreveu que ela pode dar sua herança lá onde lhe
agradar não lhe dando, assim, o poder de total dispo-
80 nibilidade 51 : depois que o pai morrer "'-, seus irmãos
tomarão seu campo e seu pomar e lhe darão alimen-
tos, oleo e roupas correspondentes ao valor de sua par-
te e agradarão o seu coração. Se, porém, seus irmãos
nao lhe deram alimentos, óleo e roupas corresponden-
Y Y ? v r r r t e S - a ° V a l o r d e s u a p a r t e ® n ã o alegraram o seu co-
AJUtvmração: ela poderá entregar seu campo e seu pomar ao
agricultor que lhe agradar; seu agricultor a susten-
tara, ela alimentar-se-á, enquanto viver, do campo
10 e do pomar ou de quanto seu pai lhe tiver dado

si. Em acádico lOH-la li-il,-lii-ía Ia ú-sa-am-si-si, literalmente: "não a fez


alcançar de acordo com o seu coração".
, a C i U l i T .«•»-;>r-ka a-l.u-um a-na si-im-tim it-la-ul-ku. literalmente:
uepois que o pai foi para o destino".

80
mas ela não poderá vender nem dar a outro como he-
rança; sua herança pertence a seus irmãos.

Este parágrafo menciona três tipos femininos de pessoal cúlti-


co. A entum (sumeriograma NIN .DINGIR) era considerada
como a sacerdotisa suprema de iim templo. Devia permanecer
celibatária (cf. J. RENGER, "Vntersuchungen zum Prietertum
in der altbabylonischcn Zeit, em Zeitschrift für Assyriologie
und verwandte Gebiete 58(1967) p. 134-144). A naditum (su-
meriograma LUKUR) pertencia também a uma classe supe-
rior de sacerdotisas e vivia, em geral, em comunidade no ga-
gúm, isto é: uma espécie de convento (cf. J . RENGER, ibid.
p. 149-176). O matrimônio de uma naditum é regulamentado
nos §§ 137; 144-147. O sentido do sumeriograma MtZI.IK.-
RU.UM não é claro (sekretum? cf. W. von SODEN, Akkadi-
schen Handwõrterbuch, vol. II, p. 1036a). É, provavelmente,
a denominação de uma classe saccrdotal feminina (cf. J. REN-
GER, ibid. p. 188).
* * *

20 § 179 Se (houver) uma entum, uma naditum ou uma


MIZI.IK.RU.UM, cujo pai lhe deu um dote, escreveu-
lhe um documento selado e na tábua que lhe redigiu
30 escreveu que ela pode dar sua herança lá onde lhe
agradar, dando-lhe, assim, o poder de total disponibi-
UO lidade 33 : depois que o pai morrer 54 ela poderá dar sua
herança lá onde lhe agradar, seus irmãos não poderão
reivindicá-la.

Os §§ 178-179 regulam a administração ou a disponibilidade


de um seriktum, isto é: um dote, presenteado por um pai ò
sua fühn que pertence a uma das três classes sacerdotais
mencionadas. A disponibilidade completa sobre o dote só é pos-
sível, se constar explicitamente a permissão paterna de dis-
ponibilidade completa no documento selado redigido pelo pai
ao dar o dote à sua filha. Na falta de tal cláusula os irmãos
da sacerdotisa deverão sustentá-la com o correspondente ao
valor do dote, que conforme o % 178 pode constar de um cam-
po, um pomar ou qualquer outro bem. Se os irmãos não cuida-
rem de sua irmã, esta poderá arrendar o seu campo ou po-
mar a um camponês que com a renda do campo ou poTnar a
sustentará, Mas o dote, neste caso, continua propriedade de
seus irmãos.

, a c á d ! c o , ma-la ü-ib-bi-la uS-tam-si-Si. literalmente: "ele a fe*


alcançar <Ie acordo com o seu coração".
54. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na si-im-tim it-ta-al-ku literilmuni...
"depois que o pai foi para o destino". nteialminte.

81
§ 180 Se um pai não deu um dote à sua filha, na-
ditum de um convento ou M I Z I . I K . R U . U M : depois que
50 o pai morrer 55, ela terá nos bens da casa paterna uma
parte como a de Um herdeiro; enquanto ela viver, ela
usufruirá, mas a herança é de seus irmãos.

60 § 181 Se um pai consagrou (sua filha) como naditum,


qadistum ou kulmasítum à divindade e não lhe deu
um dote: depois que o pai m o r r e r " , ela receberá dos
70 bens da casa paterna um terço de sua parte na he-
rança; enquanto viver, ela usufruirá, mas sua heran-
ça é de seus irmãos.

Etimologicamente qadiãtum (sumeriograma NU.GIG) significa


"consagrada". Era uma classe de mulheres consagradas à di-
vindade, mas, em geral, independentes do templo e não obri-
gadas ao celibato. Não está comprovada sua relação com o
culto da prostituição sagrada (cf. J. EENGER, Untersuchungén
zum Priestertum in der àltbabylonischen Zeit, ZA 58(1967), p.
179-184). A kulmaSitum (sumeriograma NU.MAS) é uma ou-
tra classe feminina de pessoas cúlticas provavelmente rela-
cionadas com a prostituição sagrada (cf. J. RENGER, ibid., p.
185-187). A naditum aqui mencionada estava, provavelmente,
desligada da vida no gagúm, pois para a naditum que vivia
no gagúm já foi legislado no § 180.

* * * ,

§ 182 Se um pai não deu à sua filha, naditum do deus


Marduk de Babel, um dote e não lhe escreveu um do-
80
cumento selado: depois que o pai morrer 57 , dos bens
da casa paterna ela dividirá, juntamente com seus
90 irmãos, um terço de sua parte na herança; mas não
assumirá obrigação de serviço. Uma naditum de Mar-
XXXIX duk poderá dar sua herança lá onde lhe agradar.

Uma naditum (cf. § 178) de Marduk, deus principal da cidade


de Babel, gozava de privilégios especiais. Se durante a vida
de seu pai não tiver recebido um dote (êeriktum), com o res-
pectivo documento selado, participará da divisão da herança,

55. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na èi-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


"depois que o pai foi para o destino".
56. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na 5i-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".
57. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na Sl-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
depois qua o pai foi para o destino".

82
recebendo um terço de sua -parte de herdeiro normal. Mas não
•poderá receber nenhuma parte ligada a uma obrigação de ser-
viço (cf. § AO). Além disso, uma nadltum de Marduk é livre
de dispor de sua herança como quiser (compare com os §§
180-131).
* * *

§ 183 Se um pai deu à sua filha sugétum um dote,


entregou-a a um marido e escreveu-lhe um documen-
10 to selado: depois que o pai morrer 6S , ela não parti-
cipará da divisão dos bens da casa paterna.

A êugêtum pertencia a uma classe sacerdotal feminina, infe-


rior à nadltum, sem obrigação de celibato e sem ligação es-
treita com o templo (cf. J . RENGER, Untersuchungen zum Prie-
stertum in der altbabylonischen Zeit, ZA 58(1967), p. 176-179).

* * *

§ 184 Se um pai não deu de presente um dote à sua


20 filha áugètum (e) não a entregou a um marido: de-
pois que o pai morrer 5ü , seus irmãos dar-lhe-ão um
dote proporcional aos bens da casa paterna e a entre-
go garão a um marido.

§ 185 Se um awllum adotou uma criança desde o seu


nascimento e a criou: essa criança adotada não po-
derá ser reclamada.

R. BORGEK vê no termo mii = água uma alusão ao liquido


amnióticò que envolve o feto no seio materno (cf. Handbuch
der Keilschrift Literatur, I, pi 30). O sentido da expressão é,
pois, aproximadamente "desde o seio materno" ou "desde o
seu nascimento", e indica uma adoção feita logo após o nas-
cimento da criança. A legislação de Hammürabi determinava
que uma criança adotada como bebê não podia ser depois
reclamada por seus pais.

* * *

40 § 186 Se um awllum adotou uma criança e, depois que


a adotou, ela continuou a reclamar por seu pai ou sua

58. E m acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na Si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:


"depois que o pai foi para o destino".
59. Em acádico wa-ar-ka a-bu-um a-na Si-im-tim it-ta-al-ku, literalmente:
"depois que o pai foi para o destino".
60. Em acádico i-na me-e-su, literalmente: "em sua água".

83
mãe: essa criança adotada deverá Voltar à casa de
seu pai.
Este parágrafo continua a casuística do anterior. Uma criança
adotada, já mais crescida, que, ainda depois da adoção, pro-
curar insistentemente seus pais, deverá ser devolvida à casa
de seus pais.
* * #

§ 187 0 filho (adotivo) de um gerseqqüm funcionário


do palácio ou o filho (adotivo) de uma M I Z I . I K . R U . -
UM não poderá ser reclamado.

seia usado no texto da lei apenas o sumeriograma


JJUMU = filho, contudo, pelo contexto, pode-se concluir tra-
tar-se de um filho adotivo (cf. §§ 192-193).
O gerseqqüm (sumeriograma G1R.S1.GA) era um funcioná-
no do palácio (cf. W . von SODEN, Akkadisches Handworter-
buch, vol. I, p. 285b). Não há provas suficientes na literatura
babilônica de que o gerseqqüm fosse um eunuco a serviço da
prostituição cúltica (cf. G. R . DRIVER-J. C . MILES, The Baby-
lonian Laws, vol. II, p. 245, onde é citada a teoria de Lands-
berger sobre a possibilidade de considerar-se o gerseqqüm como
eunuco).
* * *

§ 188 Se um artesão tomou um filho como filho de


criação e lhe ensinou o seu ofício 01 : ele não poderá
ser reclamado.
i
No texto não é dito que o artesão tomou a criança a-na ma-
ru-tim, isto é: em filiação, mas a-na tar-bi-tim, isto é: como
filho de criação. O termo técnico para indicar a adoção é a-na
ma-ru-tim. Contudo o teor da lei parece claro: o artesão só
ter a direito a esse "filho", se lhe ensinar o seu ofício.

* * *

§ 189 Se ele não lhe ensinou o seu ofício 62 : esse filho


de criação voltará à casa de seu pai.

§ 190 Se um awílum não incluiu entre seus filhos uma


criança que ele adotou e criou: esse filho de criação
voltará para a casa de seu pai.

o t l i S h o " ^ ^ «*"*> literalmente: "ele lhe ensinou

enin^.^nio,Ít-,r.lI2"-ÍÍÍoU».lB '""«""«te: "ele não ,he


Este -parágrafo mostra mais uma vez a preocupação de jus-
tiça social da reforma de Hammurabi. O filho adotivo deve
gozar dos mesmos direitos dos filhos naturais. Este artigo
supõe, naturalmente, que os pais do adotado vivem e são co-
nhecidos. Um contrato de adoção pode ser rescindido no caso
em que o adotado seja prejudicado em seus direitos como filho.

* * *

§ 191 Se um awllum, que adotou uma criança e a


80 criou, constituiu um lar, em seguida teve filhos e re-
solveu despedir o filho de criação 63 : esse filho não
partirá de mãos vazias, seu pai de criação deverá dar-
lhe de seus bens. móveis um terço de sua parte na
90 herança e ele partirá. Ele não lhe dará nada de seu
campo, pomar ou casa.

A jrrótase do artigo é, sintaticamente, um tanto obscura (cf.


a nota abaixo), contudo o sentido geral é claro. O acusativo
se-eh-ra-am — retomado na construção infinitiva pela expres-
são a-na tar-bi-tim — é regido pelo verbo nasâhum. Trata-se,
provavelmente, de um celibatário que adotara uma criança e,
tendo depois casado e gerado filhos, deseja despedir o filho
adotivo. A legislação de Hammurabi determina que o filho ado-
tivo não pode ser mandado embora sem uma indenização. 0
montante da indenização é fixado em um terço da parte da
herança que caberia ao filho adotivo em bens inoveis da casa
do pai adotivo. Bens imóveis como campo, pomar ou casa não
podem ser alienados.
* * *

§ 192 Se o filho (adotivo) de um gerseqqüm ou o


XL filho (adotivo) de uma M , Z I . I K . R U . U M disse a seu
pai que o cria ou à sua mãe que o cria: «Tu não és
meu pai, tu não és minha mãe»: cortarão sua língua.

Sobre o gerseqqüm cf. § 187, sobre a MIZI .IK .RU .UM cf.
§ 178.
* * *

10 § 193 Se o filho (adotivo) de um gerseqqüm ou ò fi-


lho (adotivo) de uma M 1 ZI.IK.RU.UM descobriu a"

v 63. Epi acádico sum-ma a-wT-lum $e-eb-ra-am sa a-naw ma-ru-ti-au il-qú-


su-ma ú-ra-ab-bu-ú-íu Ê-sú i-pu-us wa-ar-ka DUMU.MES ir-ta-íi-ma a-na
tar-bi-tim na-sa-t]i-im pa-nam iS-ta-ka-an, literalmente: "Se um awílum, uma
criança que a tomou para sua filiação e a criou, constituiu sua casa, depois
gerou filhos e colocou a face para afastar o filho de c r i a ç ã o . . . "

85
casa de seu pai, desprezou seu pai que o cria ou sua
20 mãe que o cria e partiu para a casa de seu pai: ar-
rancarão o seu olho.

O rigor das penas aplicadas nos §§ 192-193 ao filho adotivo


que rescinde a relação de adoção com um gerseqqúm parece
fornecer um argumento positivo em favor da tese de Lands-
àerger que considera o gerseqqúm como um eunuco (cf. 5 178)
A sacerdotisa MZI.IK.RU.UM parece também ter vivido ce-
ho atar lamente, ja que ela — e não se fala de seu marido —
pessoalmente adota um filho. Nestes casos especiais, o filho
adotivo, renegando seu pai adotivo ou mãe adotiva, causar-
Ihes-uti uma ofensa grave.
ti

* * *

§ 194 Se um awilum entregou seu filho a uma ama


e esse filho morreu nas mãos da ama; (se) a ama
.30 sem (o conhecimento) de seu pai ou de sua mãe aW-
tou ^ um outro filho: comprovarão (isto) contra ela
e, porque sem (o conhecimento) de seu pai ou de sua
AO mae aleitou «•• um outro filho, cortarão o seu seio.

O sentido do parágrafo não é totalmente claro. A pena im


MSJa fv-T Vreci™: decevar um dos seios da ama culpada.
Mau difícil, a partir do teor do artigo, é saber em que con-
a culpn de*sa ama- Provavelmente ela deveria ter adver-
tido os pais da segunda criança, antes de aceitar a função
de ama, da morte de uma criança confiada a seus cuidado"
A. FINET apresenta uma interpretação diferente: "C'est pour
avoir tenté de dissimuler la mort du nourrisson, enlu en
nee (cf. Le Code de Hammurapi, p. lio).

§ 195 Se um filho bateu em seu pai: cortarão a sua


mão.

%ÍLí97e1LiZtam ^ h*5e* C°rp0rUÍ» *unid™ segundo o


P™cípio de tahao ou por compensação financeira. No S 195 „
dTL-n°rP7 CTra °-PrÓprio Pai é Punid« a amputação
da mao, isto e: do orgão agressor. A lei bíblica pune a mesma
falta com a pena de morte (cf. Êx 21,15). mesma

seio) um ô u t ^ f m ™ " áa-ni"a-am literalmente: «ligou ,a seu


Ír"kU-SU- ' — ' — t e : «por-
.§ 196 Se um awllum destruiu o olho de um (outro)
awllum 66 : destruirão o seu olho.

A expressão DUMU a-wl-lim: "filho de awllum" indica, aqui,


alguém que pertence à classe dos awllum. A lei determina
que, se o agressor e o agredido pertencerem à mesma classe
social, seja aplicada a pena de talião: "olho por olho" (cf.
tb. Êx 21,23-25; Lev 24,19-20; Dt 19,21).

* * *

50 § 197 Se quebrou o osso de um awllum: quebrarão


o seu osso.

§ 198 Se destruiu o olho de um muskênum ou quebrou


o osso de um muskênum: pesará 1 mina de prata.

Se o agressor for um awllum, mas o agredido for um muàkê-


num, isto é: alguém que pertença a uma classe social inferior,
então não se aplica a pena de talião, mas é determinada uma
compensação financeira-: 1 mina (cerca de 500 gramas) de prata.

60 § 199 Se destruiu o olho do escravo de um awllum


ou quebrou o osso do escravo de um awllum:, pesará
a metade de seu preço.
A compensação ê menor ainda se o agredido for tim escravo.
Pelo olho ou pelo osso do escravo, o awllum agressor deve
pagar a metade do preço que o dono pagou pelo seu escravo.

§ 200 Se um awllum arrancou um dente de um awl-


70 lum igual a ele: arrancarão o seu dente.
A expressão acádica me-eh-ri-Su significa literalmente "seu
igual", "seu equivalente" e indica, provavelmente, uma pessoa
da mesma posição social ou da mesma idade (cf. W . von So-
DEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. II, p. 640b; G. R.
DRIVER-J. C. MILES, T h e Babylonian L a w s , vol. I, p. 409).

§ 201 Se ele arrancou o dente de um muákênum: pa-


gará 1/3 de uma mina de prata.

Gfi. Em níádico DÜMÚ a-wT-lim, literalmente: "filho de u m . Rwllum,"»

87
No caso de um muskênum a perda do dente pode ser com-
pensada com uma indenização de 1/3 de mina, ou seja: cerca
de 1S5 gramas de prata.

§ 202 Se um awllum agrediu a face de um awllum


que lhe é superior: será golpeado 60 (vezes) diante
80 da assembleia com um chicote (de couro) de boi.

A Finet interpreta a expressão acádica ãa e-li-Su ra-bu-ú


literalmente: "que é maior do que ele", em uma linha de idZ'-

t ; ° r °;TmJqm est p l u s â g é " (cf- Le Code de Ham-


mrnapi, p 111). Mas esta interpretação não pode ser consi-
derada exclusiva, a expressão usada pode referir-se também
SOCÍal d e n t r ° d<1 C l a S S e d°* a W U U m <Cf-

# * *

§ 203 Se o filho de um awllum agrediu a face de (ou-


tro) filho de um awilum, que é igual a ele: pesará
uma mina de prata.

Aqui a casuística ê diferente da do parágrafo anterior. O awi-


lum agredido e classificado ki-ma Su-a-ti: "como ele" isto é-

t l TSma, P0SÍÇã° S0CÍal ou da ymesma idade- A Vena' imposta


corresponde a cerca de 500 gramas de prata.

.1

90 § 204 Se um muákênum agrediu a face de (outro)


muákênum: pesará 10 siclos de prata.

A pena imposta corresponde a cerca de 80 gramas de prata.

* * *

XLI § 205 Se o escravo de um awllum agrediu a face do


filho de um awllum: cortarão a sua orelha.

A pena imposta ao escravo parece estabelecer uma espécie de


compromisso entre a honra do awllum agredido e os interesses
do awílum, dono do escravo. Decepar o órgão agressor; a mão
diminuiria substancialmente o valor do escravo.

* *• *

§ 208 Se um awllum agrediu em uma briga um (ou-


tro) awílum e lhe infligiu um ferimento: esse awllum

88
20 deverá jurar: «Não o agredi deliberadamente»; além
disso deverá pagar o médico. 67

Na formularão a-wi-lum Su-ú i-na i-du-ú la am-ha-su i-tam-ma,


literalmente: "ele jurará: eu não o agredi, enquanto eu sabia",
a partícula i-na é uma conjunção temporal (cf. W . von S O D E N ,
Grandriss der Akkadischen Grammatik, p. 222, § 170b). A pro-
posição temporal indica, nesta sentença, uma simnltaneidade
de ação com a principal.

* * *

§ 207 Se ele morreu por causa de sua pancada: de-


verá jurar e, se foi o filho de um awllum, pesará a
metade de uma mina de prata.
A primeira frase da apódose i-tam-ma-ma: "ele jurará" é
usada aqui elipticamente e deve ser compreendida: "ele jura-
rá que não o feriu deliberadamente". Mas no caso de morte
do awilum ferido, além do juramento, o awílum agressor de-
verá indenizar a família do morto com meia mina (cerca de
250 g) de prata.

20 § 208 Se foi o filho de um muskênum: pesará 1/3


de uma mina de prata.
A casuística do parágrafo antecedente é estendida aqui ao
muSkênum. A indenização imposta, se a vítima for um muskê-
num, é de cerca de 165 g de prata.

§ 209 Se um awilum agrediu a filha de um awllum


30 e a fez expelir o (fruto) de seu seio" 8 : pesará 10
siclos de prata pelo (fruto) de seu seio.

§ 210 Se essa mulher morreu: matarão a sua filha.

Este § continua a casuística do antecedente. No caso de morte


da mulher ferida, não o agressor, mas a filha deste será con-
denada à morte. A lei bíblica distingue duas possibilidade.>•:
Se a mulher perder o seu feto, o agressor deverá pagar uma
multa imposta pelo marido. Se, porém, a mulher morrer, ou

67. Em acádico ü A.ZU i-ip-pa-al, literalmente: "e ele responderá ao


médico",
63. Em acádico àa li-ib-bi-Sa, literalmente: "o de sen coraçao'.
houver danos sérios, será aplicada a pena de talião (cf. Êx
21,22-25). A legislação assíria diferencia conforme o status da
vitima. Se ela for uma mãrat awilim: "filha de um awllum"
o agressor deverá pagar uma multa de 2 talentos e 30 minas
de estanho, um castigo de 50 golpes de bastão e um mês de
trabalhos forçados para o rei. A lei silencia o tipo de pena
no caso de morte dessa mulher. Se a vitima for uma aéSat
awihm: esposa de um awllum", é aplicada a lei de talião, no
caso de mçrte dessa mulher. A pena aplicada, pela morte do
feto nao 4 clara, devido ao estado lacunar do texto (cf G
GARDASCIA, Les Lois assyriennes, p. 136, 239 § A 21 e A 50)
Mas se e_ conhecido que por alguma deficiência física essa
mulher nao pode conceber, então o agressor pagará pela mor-
te do feto 12 minas de. estanho (cf. ibid., § A 51). Note-se Ze
inna marat awilhn podia ser também esposa de um escravo

40 § 211 Se pela agressão fez a filha de um muskênum


expelir o (fruto) de seu seio: pesará 5 siclos de prata.

§ 212 Se essa mulher morreu: ele pesará meia mina


de prata.

No caso de um awllum agredir a filha de um muSkênum, não


LTtíT°jdVenf ãe,taUã0-Se 0 feto morrer será ^poZ
ZtZ
moirer, u9 mina
1/2
eJ Sf0S
(cerca ;™
rce? de i 0 g de
de 250 g)
) de ^ata-
prata.
Se a rmilher

§ 213 Se agrediu a . escrava de um awllum e lhe fez


50 expelir o (fruto) de seu seio: pesará 2 siclos de prata.

§ 214 Se essa escrava morreu: pesará 1/3 de uma


mina de prata.

n í l VÜJm<l f°r Uma escrava> a indenização imposta é menor


ainda. Se a escrava, em conseqüência da pancada recebida,
perder a criança, o awllum agressor deverá pagar ao dono
da escrava 2 siclos (cerca de 16 g) de prata. Se a pancada
" M " m°rte • escrava> 0 agressor deverá pagar ao
dono dela uma indenização de 1/3 de mina, isto é: cerca de
165 g de prata. Esta quantia correspondia ao preço de um
V°ZCSnaV\ n° • L ^ 0 de Hammu™bi (cf. P. GARELLI, Le
Proche-Orient asiatique, p. 278s).

90
§ 215 Se um médico fez em um awílum uma incisão
difícil com uma faca de bronze e curou o awílum ou
00 (se) abriu a nakkaptum de um awílum com uma faca
de bronze e curou o olho do awílum: ele tomará 10
siclos de prata.

O termo nakkaptum indica, provavelmente, o arco acima da


sobrancelha (cf. W . von SODEN, Akkadisches Hándwõrterbuch,
vol. II, p. 722a: "Augenhrauenbogen", "Schlãfe").

H5 í í

70 § 216 Se foi o filho de um muskênum: tomará 5. si-


clos de prata.

§ 217 Se foi o escravo de um awílum: o dono do es-


cravo dará ao médico 2 siclos de prata.

Os parágrafos 215-217 regulamentam os honorários de um


médico, no caso de uma intervenção cirúrgica difícil, que res-
tabeleceu a saúde do paciente. Os honorários variam de acordo
com a classe social do paciente. Um awílum deverá pagar 10
siclos (cerca de 80 g) de prata; um muãkênum 5 siclos (cerca
de 40 g) de prata; um escravo 2 siclos (cerca de 10 g) de prata.

* * *

§ 218 Se um médico fez em um awílum uma incisão


difícil com uma faca de bronze e causou a morte do
awílum ou abriu a nakkaptum de um awílum com
80 uma faca de bronze e destruiu o olho do awílum: eles
cortarão a sua mão.

Se o médico não tiver sucesso em sua intervenção cirúrgica


e o paciente morrer ou ficar cego e esse paciente for um
awílum, neste caso será aplicada contra o órgão considerado
culpado, a mão do médico, a pena de talião. Esta era, sem
dúvida, uma maneira drástica de evitar outras intervenções
desastrosas desse médico.

§ 219 Se um médico fez uma incisão difícil com uma


faca de bronze no escravo de um muskênum e causou
a sua morte: ele deverá restituir um escravo como o
escravo (morto).

91
A expressão acádica IR ki-ma IR: "escravo como escravo" in-
dica que o escravo restituido deve ter o mesmo valor do es-
cravo morto.

90 § 220 Se ele abriu a sua nakkaptum com uma faca


de bronze e destruiu o seu olho: ele pesará a metade
de seu preço.

Os §§ 219-220 referindo-se ao escravo de um mn&kênum que-


bram a simetria, com os §§ 215-217. Aqui houve provavelmente
a contaminação de 2 parágrafos diferentes consagrados res-
pectivamente ao muskênum e ao escravo de um awllum (cf.
A . FINET, Le Code de Hammurapi, p. 141, nota 2).

§ 221 Se um médico restabeleceu o osso quebrado de


XLII um awilum ou curou um músculo doente: o paciente 1,5
dará ao médico 5 siclos de prata.

10 § 222 Se foi o filho de uni muSkênum: dará 3 siclos


de prata.

§ 223 Se foi o escravo de um awllum: o dono do es-


cravo dará 2 siclos de prata.

Em uma intervenção mais simples, os honorários estabelecidos


pela lei são também menores. Se o paciente for um awilum
5 siclos (cerca de 40 gramas) de prata; se for um muSkênum
3 siclos (cerca de 24 g) de prata; no caso de um escravo, os
honorários permanecem os mesmos, 2 siclos (cerca de 16 g)
de prata.
* * *

§ 224 Se um médico de boi ou de jumento fez uma


20 incisão profunda em um boi ou em um jumento e
curou-o: o dono do boi ou do jumento dará ao médico
como seus honorários 1/6 (de siclo?) de prata.

§ 225 Se ele fez uma incisão difícil em um boi ou ju-


30 mento e causou a morte (do animal): dará ao dono
do boi ou do jumento 1/5 de seu preço.

6D. Em acádico he-e! zi-im-mi-im, literalmente: " o dono do ferimento".

92
Os §§ 224-225 determinam os honorários de um veterinário no
caso de uma intervenção cirúrgica difícil e também a respon-
sabilidade desse veterinário no caso de morte do animal em
conseqüência da operação.

* * %

§ 226 Se um barbeiro, sem (a permissão do) dono do


escravo raspou a marca de um escravo que não lhe
pertence: cortarão a mão desse barbeiro.

O gallãbum: "barbeiro" (sumeriograma SU.1) parece ter tido


uma função especial em relação à marcação dos escravos. O
termo acádico abbuttum indica um corte especial de cabelo
que servia de sinal distintivo da classe dos escravos (cf. W.
von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. I, p. 5b; G. E.
DIUVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 421-425).

* * #

§ 227 Se um awílum coagiu ( ? ) um barbeiro e ele


raspou a marca de um escravo que não lhe pertence:
matarão esse awílum e o suspenderão em sua porta;
o barbeiro deverá jurar: «Eu não raspei deliberada-
mente» e será livre.

A interpretação deste parágrafo depende, em grande parte,


do significado da raiz verbal dâsu na primeira frase da pró-
tase do parágrafo. W . von SODEN registra o significado de
dâsu como "drangsalieren", "bedràngen" ('Akkadisches Hand-
wôrterbuch, vol. I, p. 165a), que a tradução acima seguiu tra-
duzindo por "coagir". Mas o The Assyrian Dictionary of the
Oriental Institute of the University of Chicago registra um
outro significado de "to dupe", "to cheat" para o qual conhe-
ce um outro testemunho textual além do Código de Hammu-
rabi (cf. vol. "d", p. 11S). Este significado é seguido por
FINET, que traduz: "Si quelqu'un a dupé un barbier..." (cf.
Le Code de Hammurapi, p. 115).

* * *

§ 228 Se um pedreiro edificou uma casa para um awí-


lum e lha terminou: ele lhe dará como honorários por
cada sar de casa 2 siclos de prata.

Este parágrafo estabelece os honorários a serem pagos a um


itinnum (sumeriograma SITIM), isto é: o pedreiro ou mestre-
de-obras, pela construção de uma casa. Por cada sar (cerca

93
cie 35m-) de casa construída cie deverá receber 2 sidos Ccrv
ui de lüy) dc prata_ (C<?'--

* * *

§ 229 Se um pedreiro edificou uma casa para um awí


lum mas não fortificou o seu trabalho e a casa, q U e '

llTZrt™* 6 m a t ° U ° d 0 n ° d a C a S í i : C S «C Pedreüo:

cuidado ou de perícia do construtor podia deixar a õhL f ,

estabelecem „, penas para casos de íiLas ,,um«»L " |

* * *

** et d T V Z f d f ™ T » " d0D° da
valente ™ escravo equi-
•I

L í 3 2 , ? C a u s o u a p e r d a de'bens móveis: compen- I


sara tudo que fez perder. Além disso, porque não í

seus próprios bens. reeayicar a casa caída com


* * *

! w T J t " f PedreÍf° COnstruiu casa para um


XLIII a\wlum e nao executou o trabalho adequadamente e
cuSas r °- r U 1 U : 6 8 8 6 P 6 d r e Í r 0 f ° r t Í f Í C a r á 0 - u r o às suas

94
• § 234 Se um barqueiro calafetou 72 um barco de 60
GUR para um awllum: ele lhe dará 2 siclos de prata
como seus honorários.

O termo sumérico MÁ. LAH*, cm acádico malãhum, traduzido


aqui por "barqueiro" pode designar tanto o que dirige um
barco como também o construtor de barcos, ou o calafetador.
A operação final na construção de um barco era justamente
o trabalho de calafetar com betume as junções da madeira
para torná-lo impermeável (cf. G. R. DRIVER-J. C. MILES, The
Babylonian Laws, vol. I, p. 427-429; J. BOTTÉRO, art. "bateau",
em Dictionnaire archéologique des techniques, vol. I, p. 132-
134, Paris 1963).
Um barco de 60 GUR, 69 X 300 = 18.000 litros corresponde a
uma capacidade de cerca de 18 toneladas. Esta era a tonelagem
corrente na navegação fluvial da Babilônia. O preço estabe-
lecido como salário do barqueiro por seu trabalho de calafe-
tagem é 2 siclos, isto é: ccrca dc 16 gramas de prata.

* # *

10 § 235 Se um barqueiro calafetou um barco para um


awllum e não executou o seu trabalho com seriedade
e naquele mesmo ano esse navio se' inclinou ou deu
20 defeito 73 : o barqueiro desmontará esse barco com seus
próprios recursos, reforçá-lo-á e entregará o barco re-
forçado ao dono do barco.
Este parágrafo determina a pena a ser imposta a um bar-
queiro que não calafetou acuradamente o barco que lhe foi
entregue, de modo que naquele mesmo ano ainda o barco dei-
xou entrar água ou demonstrou* qualquer outro defeito.

* # *

30 § 236 Se um awllum alugou seu barco a Um barqueiro


e o barqueiro foi negligente e afundou ou perdeu o
barco: o barqueiro restituirá um barco ao proprietá-
rio do barco.

UO § 237 Se um awllum fretou um barqueiro e um barco '


e carregou-o com grão, lã, óleo, tâmaras ou qualquer

72. Em acádico sum-ma MA.LAH,, « ' « M A . . . . ip-hi, literalmente: " S e um


barqueiro fechar um barco...'.'
73. Em acádico hi-[i-tam ir-ta-si, literalmente: "recebeu defeito". Não nos
parece gramaticalmente certa a tradução de Finet: " . . . il assumera la
f a u t e . . . (cf. Le Cude de Hammuraiii, p. 118).

95
outra carga e esse barqueiro foi negligente e afundou
50 o barco ou perdeu sua c a r g a : o barqueiro pagará
o barco que afundou e tudo o que se perdeu de sua
carga. 74

O barqueiro contratado para um determinado transporte i


responsável pelo barco e pela carga. O preço de locação de
barcos é estabelecido nos §§ 275-276. O salário de um barquei
ro c determinado no § 239.

* * *

§ 238 Se um barqueiro afundou o barco de um avví-


60 lum, mas conseguiu erguê-lo: pagará em prata a me-
tade de seu preço.

Este parágrafo continua a casuística dos §§ 236-237. Se o. bar-


queiro conseguir trazer o barco novamente à superfície, de-
verá então pagar apenas a metade de seu valor.

* * *

§ 239 Se um awílum contratou um barqueiro: dar-


lhe-á 6 [GUR de grão] por ano.

Infelizmente o texto c lacunar e pode-se ler com certeza ape-


nas o número 6; as duas palavras SE.GUR: "GUR de grão"
sao uma reconstrução de Scheil. É igualmente possível que
o salário fosse 6 siclos de prata (cf. G. R. DRIYES-J. C. MILES.
The Babylonian Laws, vol. I, p. 435).

* * *

70 § 240 Se um barco que sobe a corrente colidiu com


um barco que desce a corrente e afundou-o: o pro-
prietário, cujo barco foi ao fundo, declarará solene-
mente diante da divindade tudo o que se perdeu em
seu barco e o (proprietário) do barco que sobe a cor-
rente, que afundou o barco que desce a corrente, corn-
ai pensa-lo-a por seu barco e por tudo o que se perdeu.
v
O CISMA sã ma-hi-ir-tim designa o barco que navega em di-
reção contrária à correnteza do rio (cf. W. von SODEN, Akkadi-
sches Handworterbuch, vol. II, p. 583a: "stromauf fahrendes

7-1. E m acádico ia li-ib-bi-áa, literalmente: "o que está no seu interior'

96
• (Ruder-)Schiff") c o Oi&MÁ sa vm-uq-qé-el-pi-tim indica o
barco que navega na direção da correnteza do r,o ^ . W von
SODEN ibid p. 674b: "flusxabwãrts fui,rendes (Segel-)i>chiff ).
Em caso de colisão entre dois barcos a culpa recaia sobre o
barqueiro que dirigia o barco na direção contraria a corrente
Este barco era o menos veloz e por isso podia ser mais facil-
mente controlado e dirigido.
* # *

§ 241 Se um awllum tomou um boi como garantia:


pesará 1/3 de uma mina de prata.
O termo nipútu: "garantia" refere-se a pessoas ou animais
tomados como garantia de pagamento de uma dívida. Os §§
114-116 regulavam os casos de pessoas tomadas como garantia
de pagamento. O § 241 mostra mais uma vez o caráter decidi-
damente social da reforma legal de Hammurabi. Um boi, ani-
mal indispensável para o trabalho no campo, não podia ser-
vir de nipútu. A violação desta lei é punidà com uma multa
de 1/3 de mina de prata, isto é: cerca de 165 g de prata. A
preocupação de Hammurabi na observação desta lei aparece
também em sua correspondência (cf. A. UNGNAD, Babylonische
Briefe aus der Zeit der Hammurapi-Dynastie, 4, 26-23).
* * *

§ 242 + 243 Se um awllum alugou um boi por um ano:


ele dará ao seu dono como aluguel por um boi de
90 trás (na parelha) 4 GUR de grão (e) como aluguel
por um boi de frente (na parelha) 3 GUR de grão.
O sumeriograma GUD.DA.ÜR.RA (acádico alap warkatim, cf.
W . von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 38b:
"letztes Rind des Viergespanns") indicava o boi atrelado na
última fila da parelha. Ele devia ser um boi bem treinado,
dai seu preço de 4 GUR, cerca de 1.200 litros, de grão. O su-
meriograma GUD.AB.MURUB.SAG indicava o boi atrelado na
frente, que podia ser um boi jovem, sem especial treinamento,
seu aluguel era, por isso, menor: cerca de 900 litros de grão
ao ano (cf. G. ÜOSSIN, UArticle 242/243 du Code de Hammu-
rapi, em Revue d'Assyriologie 30(1933), p. 97-102; A. SALO-
NEN, Agricultura Mesopotâmica, Helsinki 1968, p. 376-396).

* * *

XLIV § 244 Se um awllum alugou um boi ou um jumento


e (se) um leão o matou em campo aberto: (a perda
será) de seu proprietário. 75

75. Em acádico a-na be-ü-êu-roa. literalmente: "para «eu dono".

97
A existência de leões no tempo de Hammurabi é testemunhada
também nos textos de Mari (cf. ARM I, 118, 14; G. DOSSIN,
Documents de Mari, em Syria 48(1971), p. 1-19). Este pará-
grafo determina que sé um animal alugado for devorado por
um leão em campo aberto, a perda é exclusivamente de seu
proprietário; quem alugou o animal não está obrigado a com-
pensar a perda.
* * *

§ 245 Se um awílum alugou um boi e por. negligência


10 ou por pancadaria causou a sua morte: indenizará o
proprietário do boi com um boi equivalente.76
Se o animal alugado morrer por falta de cuidado ou por mal-
trato do locador, este é obrigado pela lei a indenizar o dono
do animal morto com um outro boi.

* * *

§ 246 Se um awílum alugou um boi e quebrou sua


20 pata ou portou o tendão de seu pescoço: indenizará
o proprietário do boi com um boi equivalente.77
No caso de o locatário inutilizar o animal completamente, de-
verá também indenizar com um GU* ki-ma GU*, isto é: com
um boi equivalente.

§ 247 Se um awílum alugou um boi e destruiu o seu


olho: ele dará eni prata ao dono do boi a metade de
seu preço.

§ 248 Se um awílum alugou um boi e rompeu o seu


30 chifre, cortou a sua cauda ou feriu (?) a carne de
seu costado: dará em prata 1/5 de seu preço.

§ 249 Se um awílum alugou um boi, um deus o feriu


IfO e ele morreu: o awllum que alugou o boi deverá pro-
ferir um juramento de deus e será livre.
No § 244 o locador de um boi morto em campo aberto por
um leão não era obrigado pela lei a fazer um juramento, o
fato podia ser facilmente comprovado pelos restos do animal.

76. Em acádico GU4 ki-ma GU*, literalmente: "um boi como o boi".
77. Em acádico GU4 ki-ma GU,. literalmente: "um boi como o boi".
,0 § 249 trata do caso de morte natural do animal. O locador
devia jurar diante do deus da cidade sua inocência em rela-
ção à morte do animal. Conforme a concepção babilônica, uma
doença era sempre a conseqüência de uma intervenção puni-
tiva de deus. Um texto de uma carta , do Arquivo real de Mari
— contemporâneo de Hammurabi — ilustra bem esta concep-
ção. Trata-se, provavelmente, de uma epidemia e o governador
de Terqa comunica ao rei: "Em Kulhitim o deus * começou a
devora/r bois e pessoas, morrem por dia dois ou três. homens"
(cf. ARM III, 61, 10-13).

§ 250 Se um boi, andando pela rua, escorneou um


.50 awílum e causou a sua morte: esta causa não terá
reivindicação.

§ 251 Se o boi de um awílum for escorneador e seu


distrito o informou que ele é escorneador e ele não
60 aparou os seus chifres e não vigiou o seu boi e (se)
esse boi escorneou e matou o filho de um awílum:
ele deverá pagar a metade de uma mina de prata.

O adjetivo verbal nakkapúm, da raiz nakãpum, indica, como


todos os adjetivos da forma parrãsl, 'um hábito, um costume
(cf. W. von SODEN, Gmndriss der Akkadischen Grammatik,
p. 69, § 56 o), o boi em questão é conhecido como nakkapúm,
isto é: ele tem o costume de escornear.

§ 252 Se foi o escravo de um awílum: pagará 1/3


de uma mina de prata.
Os §§ 250-252 tratam do caso de um boi que mata alguém com
chifradas. Se o boi não é conhecido publicamente como um boi
escorneador, a família da vítima não tem direito algum à com-
pensação. Se se trata, porém, de um boi escorneador e o dono
do boi já foi avisado desse defeito de seu boi e não tomou as
devidas providências, então há obrigação de compensação. Caso
a vítima seja o filho de um awílum, deverá o dono do boi pa-
gar 1/2 mina (250 g) de prata; no caso de um escravo, 1/3 de
mina (cerca de 165 g) de prata.
Na legislação bíblica do livro do Êxodo, o boi que escornear
e matar alguém deverá ser apedrejado. O dono só será res-
ponsabilizado, se tiver conhecimento desse defeito de seu boi.
Neste caso, se não tiver tomado as devidas providências, ele
também será sujeito à pena de morte, que poderá, contudo,
ser comutada em uma multa em dinheiro (cf. Êx 21,28^36).

99
70 § 253 Se um awllum contratou um (outro) awllum
para cuidar de seu campo e adiantou-lhe cereais, con-
fiou-lhe bois e ligou-o por um contrato para cultivar
o campo; se esse awllum roubou sementes ou alimen-
80 tos e (isto) foi encontrado em suas mãos: eles lhe
cortarão a mão.
O termo acádico aldúm (sumeriograma AL.DÜ.A) indica uma
certa quantidade de grão destinada tanto à plantação como
também à alimentação dos animais. B . LANDSBERGER explica a
palavra como "Saatkom und Rinderfutter" (cf. Materialen
zum sumerischen Lexikon, vol. 1, 245$). Na tradução acima foi
empregado, por isso, um termo mais geral "cereais". No caso
de o administrador ser surpreendido em flagrante com os bens
roubados em seu poder, ser-lhe-A aplicada a pena de talião
contra o órgão culpado.

§ 254 Se ele tomou os cereais e enfraqueceu os ani-


mais: restituirá o dobro do grão que tomou.
No contexto deste parágrafo o termo aldúm. (cf. § 253) indica,
certamente, o alimento dos animais. É continuada a casuística
do antecedente. Não há flagrante. Contudo as conseqüências
são notórias: os animais confiados a esse administrador tor-
nam-se cada dia mais fracos, a ração a eles destinada é
desviada pelo administrador. A pena imposta pela lei: res-
titnir o dobro do que foi tomado. <

* * *

90 § 255 Se ele alugou os animais do awllum ou roubou


as sementes e não produziu (grão) no campo: com-
provarão (isto) contra esse awílum e na colheita ele
deverá medir para cada BUR de campo 60 GUR de
grão.
Este parágrafo continua a problemática do anterior e apre-
senta maii dois possíveis delitos do administrador do campo:
alugar os animais a ele confiados para o trabalho da terra
ou roubar o grão destinado para semente. O efeito é o mesmo
nos dois delitos: o campo não produzirá a quantidade espera-
da. A pena imposta corresponde a cerca de 3000 litros de grão
por hectare de terreno (cf. § 58 + comentário).

§ 256 Se ele não pode satisfazer sua obrigação: será


100 arrastado pelos animais por todo o campo.

100
tlmvnsidailc FedeialfioRio G. do
ajttlmiara Cãfltral
O termo pihãtum indica uma obrigação assumida por alguém
ou imposta a alguém. Neste parágrafo o termo refere-se, sem
dúvida, à multa imposta no § 255. A forma Gtn da raiz verbal
masârum é registrada por W. von SODEN com o significado de
"hin- und herschleifen" (cf. Akkadisches Handwõrterbuch, vol.
II, p. 624b). A pena imposta era, pois, ser amarrado a uma
parelha de bois e arrastado pelo campo, que ele devia ter
trabalhado. Tal castigo corresponde praticamente à pena de
morte.
* * *

XLV § 257 Se um awilum contratou um trabalhador rural:


dar-lhe-á 8 GUR de grão por ano.

Os textos do arquivo real de Mari parecem atribuir ao ikka-


rum (sumeriograma ENGAR) maior responsabilidade do que
ao simples errêsum e também o controle sobre terrenos mais
extensos (cf. M. BIROT, Les Lettres de Iaaim-sumú, em Syria
41 (1964), 46-47; A. SALONEN, Agricultura Mesopotámica, p.
31 Ais; cf. tb. P. GARELLI, Le Proche-Orient asiatique, p. 285-
287). O ikkarum — aqui traduzido por "trabalhador rural" —
recebe por ano um salário de 8 GUR (cerca de 2.400 litros)
de grão. O errêSum é mencionado nos §§ 49, 52 e 178 e tra-
duzido por "agricultor".

* * *

§ 258 Se um awilum contratou um vaqueiro: dar-


lhe-á 6 GUR de grão por ano.
Um SA.GUD — acádico kullizum "Rindertreiber" (cf. W. von
SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 502a) — aqui
traduzido por "vaqueiro" recebia ao ano um salário de 6 GUR,
isto é: cerca de 1.800 litros de grão.

10 § 259 Se um awilum roubou um arado de um terreno


irrigado: dará 5 siclos de prata ao dono do arado.
O instrumento agrícola GIS.APIN — acádico epinnum — pa-
rece indicar um arado especial. Ele é usado em um ugarum:
"terreno irrigado" (cf. §§ 52-53 + comentário); os textos'- de
Mari apresentam o seu manejo como trabalho de especialistas
(cf. ARM I, 44, 5-10; 68, 5-10) W . von SODEN registra o ter-
mo como "Saatpflug" (cf. Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I,
229a). Cf. tb. A. SALONEN, Agricultura Mesopotámica, p. 40-
60. A. PLNET supõe acertadamente que "les §§ 259-260 n'envisa-
gent certainement qu'un détournement momentané d'instru-
ment plutôt qu'un véritable vol, généralement passible de mort

101
f§§ 7, 9, 10) ou d'une 'compensation trcs élevée f§§ 8, 205)"
{Le Code de Hammurapi, p. 126). A pena imposta aqui é 5
siclos de prata, isto é: cerca de 40 gramas de prata.

§ 260 Se roubou um arado de surribar ou um rastelo:


20 dará 3 siclos de prata.
Se o instrumento roubado for um APIN.TÜK.K1N — acá-
dico harbum: "Umbruchpflug" (cf. W . von SODEN, Akkadi-
sches HandNvorterbuch, vol. I, p. 325a) — ou um GIS .GÁN .ÜR
— acádico maSkakãtum: "Egge" (cf. ibid., vol. II, p. 626b)
— a pena imposta é menor, apenas 3 siclos de prata, isto é:
2.', gramas de prata.

* * *

§ 261 Se um awílum contratou um pastor para apas-


centar o gado maior ou o gado menor: dar-lhe-á 8
GUR de grão por ano.
Enquanto o kuílizum (sumeriograma SÃ.GUD) se ocupava,
ao que parece, exclusivamente com o gado bovino (cf. § 258),
o nâqidum (sumeriograma NA .GADA) cuidava tanto do gado
maior como também do gado menor. Seu salário anual era de
8 GUR (cerca de 2400 litros) de grão, mais elevado, portanto,
do que o salário do kuílizum (cf. § 258).

* * *

30 § 262 Se um awílum . . . um boi ou uma ovelha...


Cerca de 6 linhas do texto original se perderam, uma recons-
trução do texto a partir de variantes não é possível.

* $

§ 263 Se ele deixou perecer [um boi] ou [uma ove-


lha] que lhe fora entregue: restituirá a seu proprie-
k-0 tário um boi equivalente ou uma ovelha equivalente.™
Este parágrafo deve ser relacionado com o § 261 e descreve
as obrigações de um nâqidum, que, por negligência, deixar
morrer' um dos animais que. lhe tinham sido confiados.

78. Em acádico GU4 kirma GXJi UDU ki-ma UDU, literalmente: "um
boi como o boi, uma ovelha como a ovelha".

102
§ 264 Se [um pastor,] a quem foi entregue gado
maior ou gado menor para apascentar, recebeu seu
50 salário completo e seu coração foi contentado, (se)
ele diminuiu o número do gado maior (ou) diminuiu
o número do gado menor e deixou cair o número de
60 crias: ele pagará, conforme o teor de seu contrato,
as crias e o rendimento.
O parágrafo regulamenta o caso de um pastor contratado que,
por incompetência ou por negligência, dizima o rebanho que
lhe foi confiado. Neste caso tanto o número de novas crias
(talittum) como o rendimento (biltum) do rebanho em lã, leite,
queijo, etc., cairão abaixo do nível previsto no contrato de
trabalho do pastor. O pastor deverá indenizar seu empregar
dor com o equivalente do lucro previsto pelo contrato.
* # *

§ 265 Se um pastor, a quem foi entregue gado maior


ou gado menor para apascentar, foi desonesto, mudou
70 a marca (dos animais) e vendeu-os: comprovarão
(isto) contra ele, e ele restituirá ao seu dono até 10
vezes o que roubou do rebanho maior ou do rebanho
menor.
A desonestidade de um pastor que muda a marca de identi-
ficação dos animais para poder vendê-los e de fato vende algum
animal que lhe foi confiado ê severamente punida na legislação
de Hammurabi. A lei prevê uma compensação de até 10 vezes
a quantidade de cabeças roubadas.
* * *

§ 266 Se ocorreu no curral uma intervenção de deus


ou um leão matou: o pastor diante da divindade de-
clarar-se-á sem culpa e o dono do curral aceitará a
80 mortandade do curral.
Se a perda no rebanho for causada por uma doença, conside-
rada na mentalidade semita como uma intervenção divina (li-
pi-it DINGIR) ou se um leão depredar o rebanho, o pastor
deverá isentar-se da responsabilidade por meio de um jura-
mento diante do deus da cidade (cf. § 2U; 249). A perda será
do dono do rebanho. Cf. um paralelo na legislação bíblica em
Êx 22,12.
* * *

§ 267 Se o pastor foi negligente e deixou surgir no


curral a doença pissatum: o pastor substituirá o gado

103
maior e menor, perda da doença pissatum que ele dei-
xou surgir no curral, e dará ao seu proprietário.
A doença pissatum, parece ter sido uma espécie de paralisia (cf.
W . von SODEN, Akkadisches Handwôrterbuch, vol. II, p. 856b
sub voce "pessúm"). Ela não é considerada aqui como um gol-
pe divino (cf. § 266), mas como resultado da negligência do
pastor. Por isso ele deverá assumir a responsabilidade e com-
pensar seu empregador pelos animais perdidos com a doença.

* * *

!)0 § 268 Se um awllum alugou um boi para trilhar (o


grão): seu aluguel será 2 sütum de grão.
A medidji de capacidade sütum correspondia a 10 qa, isto é:
cerca de 10 litros. Portanto, o aluguel previsto por um boi
de trilhar era 20 litros de grão.
* * *

§ 269 Se alugou um jumento para trilhar (o grão):


seu aluguel será um sütum de grão.

§ 270 Se alugou um animal jovem para trilhar (o


grão): seu aluguel será 1 qa de grão.
O sumeriograma MÁS indica em si um animal jovem de raça
bovina ou ovina. Sua capacidade de trabalho é menor, seu alu-
guel é, por isso, apenas 1 qa, isto é: 1 litro de grão (cf. G. R.
DRIVER-J. C. MILES, The Babylonian Laws, vol. I, p. 469s).

* * *

100 § 271 Se um awllum alugou animais, um carro e seu


XLVI condutor: dará 3 parsiktum de grão por dia.
O sumeriograma ^^MAR.GID .DA — acádico ereqqum — in-
dica um carro de carga puxado por uma parelha de bois (cf.
A. SALONEN, Die Landfahrzeuge des alten Mesopotamien nach
sumcrisch-akkadischen Quellen, Helsinki 1951, p. 28-32). A
medida parsiktum correspondia a cerca de 60 litros. O aluguel
de v.m carro ereqqum com os animais e o condutor importava
em cerca de 180 l de grão.

•+ * •

§ 272 Se um awllum alugou só o carro: dará 4 sütum


de grão por dia.

104
O aluguel do carro ereqquvi (cf. § 271), sem os animais e sem
o condutor, importa em A sutum, isto é: cerca de AO litros de
grão por dia.
* * *

~§ 273 Se um awilum contratou um mercenário: pa-


10 gará desde o começo do ano até o quinto mês 6 SE
de prata;, a partir do sexto mês até o fim do ano pa-
gará 5 SE de prata.
O termo agrum (sumeriograma LÜ.HUN .GÁ) indica o• que
hoje chamaríamos "mercenário", isto é: um homem que se
alugava quer para servir na guerra (cf. §§ 26; 33) como tam-
bém para trabalhos no campo. A medida de peso SE — acá-
dico uttetum — era a unidade menor de peso e correspondia
a 1/20 de grama.
O trabalhador agrícola recebe uvi salário maior nos cinco pri-
meiros meses do ano babilônico (do fim de março até o fim
de agosto), quando seu trabalho é mais pesado devido à co-
lheita. Daqui se pode concluir que este trabalhador jornaleiro
ganhava ao ano cerca de 12 siclos de prata, ou seja: cerca de
96 g de prata. O trabalhador rural ganhava, portanto, mais
do que um trabalhador especializado (compare com o § 27A).

* * *

20 § 274 Se um awilum contratou o filho de um artesão,


pagará por dia como salário de um . . . 5 SE de prata,
como salário de um pisoeiro 79 5 [SE de prata], como
salário de um que trabalha o linho 80 [x SE] de prata,
[como salário] de um gravador de sigilos 81 [x SE de]
prata, [como salário] de um construtor de arcos83
30 [x SE de prata], [como salário] de um ferreiro83
[x SE] de prata, [como salário] de um carpinteiro 81
4 (?) SE de prata, como salário de um que trabalha
o couro 85 [x] SE de prata, [como salário] de um ces-
40 teiro86 [x] SE de prata, [como salário] de um pe-
dreiro 87 [x. SE] de prata.

71). S u m e r i o g r a m a LÚ.TÚG.DU„.A = I c ã m i d u : "Stoffklopfer", cf. R. Bor-


ger, Handbuch. der Keilachriftlitcratur, vol. I. p. 30.
80. Sumeriograma LÚ.GADA.
81. Sumeriograma LÜ.BUR.GUL = parkullu.
82. Sumeriograma Lfl.ZADIM = sasinnum: "Bogenmacher" (cf. W. von So-
den, Akkadisches Handuorterhuch, vol. II. p. 1032a).
83. Sumeriograma LÜ.SIMUG = nappãjum: "ferreiro".
84. Sumeriograma LÚ.NAGAR = nagSrum: "carpinteiro".
85. Sumeriograma LU.ASGAB = aèkSpum: "Lederarbeiter" (cf. W. von So-
den. Akkad. Handwãrterbueh. I. p. 81a).
86. Sumeriograma LÚ.AD.KID = atkuppum: "Rohrmattenflechter" (cf. ibid.
p. 87a).
87. Sumeriograma LU.SITIM = itinnum.

105
Este parágrafo regulamenta a diária a ser paga a diversos
artesãos. Infelizmente o texto não foi conservado integral-
mente, de modo que não podemos saber quanto ganhavam
os diferentes artesãos na Babilônia do tempo de Hammurabi.

* * *

§ 275 [Se], uni awílum alugou [um barco ( ? ) ] , seu


aluguel será de 3 SE de prata por dia.

O atual estado lacmiar do texto não nos permite determinar


, com certeza o objeto alugado. Tendo em vista os parágrafos
240 e 276 talvez seja possível ler no texto GIS.MÁ Sa mu-uq-
qé-el-pi-tim, isto é: um barco que navega na direção da
correnteza.
* * *

§ 276 Se um awílum alugou um barco qüe navega em


direção contrária à correnteza: pagará 2 Y> SE de
prata por dia còmo aluguel.

Quanto ao significado do barco ma-hi-ir-tum, cf. o § 240. A


medida SE — acádico uttetum — corresponde a 1/20 de grama.

* * *

§ 277 Se um awílum alugou um barco de 60 GUR


pagará como aluguel 1/6 (de siclo) de prata por dia.

Um barco de 60 GUB, isto é: de 18.000 litros (cf. § 234 +


comentário) deve ser alugado por uma diária de 1/6 de siclo,
ou seja: 1,33 g de prata.

* * *

§ 278 Se um awílum comprou um escravo òu uma es-


crava e antes de completar o seu mês foi acometido
de epilepsia: ele (o) reconduzirá ao seu vendedor e o
comprador levará consigo a prata que tiver pesado.

O termo acádico bennum designa uma doença, que conforme


a descrição dos textos babilônicos corresponde à epilepsia (cf.
W. von SODEN, Akkadisches Handwõrterbuch, vol. I, p. 122a).
A lei permite que um contrato de venda de um escravo seja
rescindido e o comprador reembolsado, se antes de decorrer
um mês após a compra for constatado sintomas da doença
bennum no escravo comprado.
§ 279 Se um awllum comprou um escravo ou uma es-
70 crava e surgiu reivindicação: seu vendedor deverá res-
ponder à reivindicação.
Se um escravo comprado for reclamado por um outro awilum
como sendo propriedade sua, a responsabilidade de responder
ao processo recai sobre o vendedor.

* * *

§ 280 Se um awilum comprou em país estrangeiro uni


escravo ou escrava de um (outro) awllum, (e se)
80 quando voltou ao país o proprietário do escravo ou
da escrava reconheceu o seu escravo ou â sua escra-
va; se o escravo ou a escrava forem filhos do país:
será realizada sua libertação sem (pagamento de)
prata.

§ 281 Se forem filhos de um outro país: o comprador


90 declarará diante de deus a prata que pesou e o pro-
prietário do escravo ou da escrava poderá dar ao mer-
cador a prata que ele pesou e resgatar seu escravo ou
sua escrava.

Os parágrafos 280 e 281 se completam em sua casuística.


Trata-se de um mercador que compra um escravo no exterior
e volta à sua pátria. Lá o antigo dono do escravo ou da escra-
va os reconhece e reclama oficialmente seu direito sobre o
escravo ou à escrava. A legislação de Hammurabi prescreve
que, se o escravo ou escrava forem naturais daquele país, de-
verão ser declarados livres sem pagamento algum. Se são es-
trangeiros, o seu antigo dono poderá resgatá-los pagando ao
mercador a mesma quantidade de prata que este pagou pelo
escravo ou pela escrava. Para evitar abusos do mercador, este
deverá declarar solenemente sob juramento diante do deus. da
cidade o montante em prata pago no estrangeiro pelo escravo
. ou escrava.
* * . *

§ 282 Se um escravo disse a seu proprietário: «Tu


100 não és meu senhor»: ele comprovará que é o seU es-
cravo e seu proprietário cortar-lhe-â a orelha.

107
3. Epílogo

XLVII(Estas são) as prescrições de justiça, que Hammura-


bi, o rei forte, estabeleceu e que fez o país tomar um
caminho seguro e uma direção boa.
10 Eu (sou) Hammurabi, o rei perfeito. Para com os
cabeças-pretas, que Enlil me deu de presente e dos
quais Marduk me deu o pastoreio, não fui negligente,
nem deixei cair os braços; eu lhes procurei sempre
lugares de paz, resolvi dificuldades graves, fiz-lhes
20 aparecer a luz. Com a arma poderosa com que Zababa
e Istar me revestiram, com a sabedoria que Ea me
SO destinou, com a habilidade que Marduk me deu, ani-
quilei os inimigos de cima e de baixo1, acabei com as
lutas, promovi o bem-estar do país. Eu fiz os povos
dos lugarejos habitar em verdes prados, ninguém os
UO atormentará. Os grandes deuses chamaram-me e tor-
iiei-me o pastor salvador, cujo cetro é reto; minha
sombra benéfica está estendida sobre minha cidade.
Eu encerrei em meu seio os povos do país de Sumer
50 e Acade, sob minha divindade protetora eles prospera-
ram, eu sempre, os governei em paz, em minha sabe-
doria eu os escondi (?).
Para que o forte não oprima o fraco, para, fazer
60 justiça ao órfão e à viúva, para proclamar o direito
do país em Babel, a cidade cuja cabeça An e Enlil
levantaram, na Esagila, o templo cujos fundamentos
são tão firmes como o céu e a terra, para proclamar
70 as leis do país, para fazer direito aos oprimidos, es-

l . A expresaão a c á d i c a e-li-is *ü. Xa-ap-Ii-iK. . .. literalmente: "em cima . e


e m b a i x o " indica, sem dúvida, o n o r t e e o sul.

109
crevi. minhas preciosas palavras em minha esteia e
coloquei-a diante de minha estátua de rei do direio.2
80 Eu sou o rei que é imensamentè grande entre os
reis. Minhas palavras são escolhidas, minha habilida-
de não tem rival. Por ordem de Samaá, o grande juiz
do céu e da terra, possa minha justiça manifestar-se
90 no país, pela palavra de Marduk, meu Senhor, possam
meus estatutos 5 não ter opositor, possa o meu nome
ser pronunciado para sempre çom honra na Esagila
XLVIII que eu amo.
Que o homem oprimido, que está implicado em um
processo, venha diante da minha estátua de rei da
justiça, e leia atentamente minha esteia escrita e ouça
10 minhas palavras preciosas. Que minha esteia resolva
sua questão, ele veja o seu direito, o seu coração se
20 dilate! «Hammurabi é o senhor, que é como um pái
carnal para os povos, ele preocupou-se intensamente
com a palavra de Marduk, seu senhor, e conseguiu
o triunfo de Marduk em cima e embaixo, e assim
30 assegurou para sempre a felicidade do povo e obteve
justiça no país». Possa ele proclamar isto diante de
40 Marduk, meu senhor, e de Sarpanitum*, minha se-
nhora, e louvar de todo coração. Possam a divindade
protetora5, a Lamassu6, os deuses que entram na
50 Esagila, o tijolo 7 da Esagila favorecer cada dia mi-
nha reputação diante de Marduk, meu senhor, e de
Sarpanitum, minha senhora!
Que nos dias futuros, para sempre, o rei que sur-
60 gir no país observe as palavras de justiça que escrevi
em minha esteia, que ele não mude a lei do país que

2. Provavelmente refere-se à parte superior da esteia, onde estava escul-


pida a imagem do rei diante <le Ãamaá. Uma outra explicação seria a colo-
cação da esteia diante «le um monumento de Hammurabi, representado como
o rei do direito.
3. Literalmenteú-jfu-ra-tu-ú-a = "meus sinais". Trata-se dos sinais cunei-
formes gravados na estátua, expressando os estatuto*.
4; A deusa Çarpanitum era considerada na religião habilônica a esposa
de Marduk e por isso era a. deusa principal de Babel (cf. E. Dhorme, Lts
Rfligion*mde Babyíovie et- d'Anm/rie, p. 146-147).
õ. O áêdum era um gênio, representado como touro alado colocado â en-
trada tios palácios como protetor (cf. D. Edzard, art. "Damonen", em
Worterbuch der Atythologi?, I. p. 4#).
6. A Lamassu era a parceira do áêdum, unia divindade protetora <cf.
D. Edzard. art. "Dámonen", em Worterbuch. der Mi/tholoffie, I, p. 4Í>).
7. O sinal cuneiforme SIG, - correspondente do acádico Hbittum: "tijolo".
Aqui aparece o material de construção do templo personificado como uma
divindade protetora.
70 eu promulguei, as sentenças do país que eu decidi,
que ele não altere os meus estatutos!8
Se esse homem tem inteligência e é capaz de diri-
gir em paz o seu país, que atenda para as palavras
80 que escrevi em minha esteia, e que esta esteia lhe
mostre o caminho, a direção, a lei do país que eu pro-
mulguei e as sentenças do país que eu decidi, que ele
90 dirija na justiça os cabeças-pretas, que ele promul-
gue o seu direito, que ele proclame as suas sentenças,
que ele arranque do país o mau e o perverso, que ele
assegure o bem-estar de seu povo.
Eu sou Hammurabi, o rei da justiça, a quem Samas
deu a verdade. Minhas palavras são escolhidas, mi-
100 nhas obras não têm rival; só para o tolo elas são va-
XLIX zias, para o sábio elas conduzem para a glória.
Se esse homem guardar as minhas palavras que
escrevi em minha esteia, não rescindir minha lei, não
10 revogar minhas palavras e não alterar os meus esta-
tutos, esse homem (será) como eu um rei de justiça.
20 Se esse homem não guardar as minhas palavras que
escrevi em minha esteia, desprezar minhas maldições,
não temer as maldições dos deuses, anular o direito
que promulguei e revogar as minhas palavras, alte-
30 rar os meus estatutos 8, apagar o meu nome escrito
e escrever o seu nome (ou) por causa destas maldi-
ções mandar um outro (fazer), esse homem, seja ele
40 senhor, seja ele governador ou qualquer pessoa cha-
mada com um nome, que o grande Anum, o pai dos
deuses, aquele que pronunciou 9 o meu governo, tire-
50 lhe o brilho da realeza, quebre o seu cetro, amaldiçoe
o seu destino.
Que Enlil, o senhor, aquele que determina os des-
tinos, cuja ordem é imutável, aquele qüe engrandece
60 minha realeza, deixe levantar-se contra ele, ém sua
residência, uma desordem indomável, uma desgraça
que traga a sua perda, que lhe destine um governo de

8. Literalmente: ú-fú-ra-ti-ia = "os meus sinais". Referência aos sinal*


cunei formes (travados na estátua. .
!>. A condição para que Hammurahi e sua realeza existisse era que seu
nome tivesse sido pronunciado pela divindade. Na concepção b«h,lon,ca o
que não foi nomeado não existe, pertence a esfera do caotico I t f . G . Oon-
tcnau, I.a Magic <•/<« le» Aimirievs et 1c» Hahiiímii.n«, 1>.

111
fraqueza, dias reduzidos, anos de fome, uma obscuri-
70 dade sem brilho, uma cegueira mortal, que ele de-
crete com sua boca gloriosa a perda de sua cidade, a
dispersão de sua gente, a mudança de sua realeza, a
80 supressão de seu nome e memória nò país!
Que Ninlil, a grande mãe, cuja ordem tem peso na
Ekur, a senhora que favorece a minha reputação, tor-
ne a sua causa má lá onde a sentença é decretada dian-
90 te de Enlil, que ela coloque na boca de Enlil, o rei, a
destruição de seu país, a dispersão de sua gente, o
derramar-se de sua vida como água.
Que Ea, o grande príncipe, cujos decretos preva-
00 lecem 10, o mais sábio dos deuses, aquele que conhece
todas as coisas, aquele que prolonga os dias de minha
L vida, tire-lhe entendimento e sabedoria, eonduza-o
constantemente no escuro, feche seus rios na fonte
10 e não deixe crescer em seu território o grão, a vida
dos povos!
Que Samaá, o grande juiz do céu e da terra, aquele
que conduz retamente os seres vivos11, o senhor, meu
refúgio, derrube a sua realeza, não promulgue o seu
direito, confunda o seu caminho, faça cair a discipli-
na de seu exército12, assinale-lhe, em seu aruspício, o
presságio mau da extirpação dos fundamentos de sua
realeza e da perda do país! Que o (decreto funesto de
Samas o atinja prontamente, que no alto o arranque
de entre os vivos, que embaixo, na Terra13, prive de
água o seu espírito!14
Que Sin, o senhor dos céus, o deus meu criador,
cujo castigo é proclamado entre os deuses, tire-lhe a
coroa e o trono da realeza, que ele lhe imponha co-
mo pena pesada seu grande castigo que não desa-
pareça de seu corpo, qüe ele o faça terminar os dias,

10. Em acadico i-na^majj-ra i-la-ka, literalmente: "andam na frente".


11. Em acadico mú-us-te-se-er sa-ak-na-at na-pí-is-tim, literalmente: "aque-
le que conduz com justiça as criaturas de vida".
12. Em acádico SUJJUS um-ma-ni-su = "fundamento de seu exército" O
™merJ,'?Çram<1 S U S U 5 corresponde ao acádico iàdum: "fundamento", que
The Chicago Ansyria-n Dictionaru, I, suh voce, p. 238a registra na expres-
são isdi ummani como disciplina do exército.
13. O termo erjetum, que normalmente significa "terra", designa aqui o
mundo inferior, o reino dos mortos (cf. N. J. Tromp, Primitive Couctptioiia
of Death and the Nether World in the OT. Roma l»6'.i. p. 180s).
14. O termo efemmu — expresso aqui pelo sumeriograma GIDIM.GIDIM
— indica o espírito do morto.
os meses, os anos de seu. governo em sofrimento e
ém lágrimas, que ele lhe faça ver um opositor da rea-
leza, que ele lhe determine como destino uma vida
60 semelhante à morte!
Que Adad, o senhor da abundância, o irrigador15
70 dos céus e da terra, meu aliado, lhe tire as chuvas
nos céus (e) a torrente na fonte, que ele faça seu
país perecer pela necessidade e pela fome, que ele
troveje "furiosamente sobro a sua cidade, e que ele
. 80 faça o seu país voltar à desolação do dilúvio!
Que Zababa, o grande herói, o primogênito da
90 Ekur, aquele que caminha à minha direita, quebre
sua arma no combate, torne seu dia em noite e esta-
beleça seu inimigo sobre ele!
Que Istar, a senhora do combate e da luta, aquela
que torna minhas armas aptas para a luta, minha
100 boa Protetora, aquela que ama o meu governo, em
seu coração enfurecido, com grande ira amaldiçoe a
sua realeza, que ela mude o seu bem em mal, que
ela quebre sua arma lá onde-há combate e luta, que
LI ela lhe prepare confusão e revolta, que ela abata os
seus guerreiros, que ela embeba a terra com o san-
gue deles, que ela amontoe no campo os cadáveres de
10 suas tropas, que ela não conceda graça a seus homens
e a ele, que ela o entregue nas mãos de seus inimigos
20 e que ela o conduza atado ao país inimigo!
Que Nergal, o forte entre os deuses; o combatente
30 sem par, aquele que me faz alcançar a vitória, com
sua grande arma queime a sua gente como o fogo
feroz do caniço, que ele o flagele com sua forte arma
e despedace seus membros como (se fosse) uma es-
tátua de argila!
40 Que Nintu, a sublime senhora do país, a mãe que
me criou, o prive de herdeiro, que ela não o deixe
receber nome, que ela não crie semente alguma de
homem no meio de seu povo!

15. O termo gugallum — palavra formada do sumério GÚ.GAL — indi-


cava o inspetor dos canais de irrigação. Era, pois, o funcionário encarre-
gado da irrigação (cf. H. Schmõkel, Kulturgeschichte des Alie nu Orient,
p. 67ss).

113
Que Ninkarak16, a filha de Anum, aquela que fala
50 em meu favor na Ekur, lhe faça surgir em seus mem-
bros uma doença grave, um asakkum 17 funesto, uma
ferida dolorosa que não pode ser curada, cuja natu-
60 reza o médico não conhece, que não pode ser acalma-
da com ligaduras, que como a mordida da morte18
não pode ser afastada, e que ele não cesse de lamen-
tar a sua virilidade 19 até que a sua vida termine!
Que os grandes deuses dos céus e da terra, que
70 os Anunnaki em sua totalidade, o Espírito protetor do
templo, o tijolo da Ebabbar o amaldiçoe com uma
maldição funesta a ele mesmo, seus descendentes, seu
país, seus homens, quer do seu povo como do seu
80 exército. Que Enlil, por sua boca que não muda, o
amaldiçoe com estas maldições e que elas o dominem
imediatamente!

16. A deusa Ninkarak era muitas vezes equiparada com a deusa Gula.
a g r a n d e deusa da medicina (cf. D. O. Edzard. art. "Heilsgottheiten", em
Worterbuch der Mjtthologie. vol. 1, p. 78).
17. O termo acádico asakkum designava um demônio causador de doenças.
Aqui refere-se, sem dúvida, à doença Causada por esse demônio (cf. D. O.
Edzard, art. "Dãmorien", em Worterbuch der Mythologie, I. p. 48; G. Con-
tenau, Iaí Magie chez le:> Ansuriens et les Babytoniens, p. 84ss; E. Dhorme.
Leu lieligions de - Bahvlonie et d'Asmjric, p. 264ss.
18. A expressão ni-Si-ik mu-tim: "mordida -da morte" exprime o poder
ila morte sobre o doente.
V.i. A forma aqui empregada ej-lu-ti-íu e traduzida por "sua virilidade"
Mi põe uma pnlavra acádica etltitum com o significado abstrato de "virili-
dade" (cf. W. von Soden, Ahbadiaehes Handuorterbuch, I, p. 266a).
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Parte do Prólogo Parágrafo 144

Codex Hammurabi— Textus primigenius


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