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Sociologia da Educação AULA 2

Leandro José dos Santos


Josali Amaral

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

A educação é um fato social

1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

„„ Aprender o conceito de fato social;


„„ Conhecer a Sociologia de Durkheim;
„„ Discutir a educação numa perspectiva funcionalista.
A educação é um fato social

2 COMEÇANDO A HISTÓRIA

Disponível em: http://artebetopiccolo.blogspot.com.br/2012/01/tempo-


de-pecar.html

Figura 1

Caro aluno,

Na charge acima, temos a representação do que se convencionou chamar de


sete pecados capitais, os quais são assim intitulados porque são geradores
de outros tipos de pecados. Observando os itens de cada quadro, é possível
explicar a organização e o funcionamento da nossa sociedade? Esses pecados
são criados por determinação divina ou são frutos da educação? O pecado é
um fenômeno universal?

Como se vê, a tirinha revela um imenso cabedal de questionamentos, cuja


quantidade e grau de profundidade podem variar em detrimento das concepções
pessoais, formação acadêmica, visões de mundo, fé, etc. Apesar da complexidade
do tema, não trouxemos a tirinha para discutirmos religião. Porém, para os
objetivos desta aula, ela será de grande valia.

Você deve ter ficado ansioso em saber o que discutiremos desta vez. Mas tenha
calma, pois uma análise científica da realidade social jamais pode ser feita às
pressas. Todavia, para diminuir a sua inquietude, saiba que, nas próximas linhas,
será mostrado como as questões mais complexas para a vida social, tais como a
religião, a educação, a economia, a política, etc., foram tomadas pela ciência e
viraram objeto de estudo da Sociologia. Para alcançarmos os nossos objetivos,
apresentaremos o criador da Sociologia, o francês Émile Durkheim.

Mas, antes de continuarmos, façamos uma pausa para um resumo do que foi visto
na aula anterior. Esperamos que você não tenha esquecido! Durante a primeira
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AULA 2

aula, nós problematizamos o conceito de educação. De acordo com a definição


que adotamos, sabemos, então, que as palavras educação e socialização podem
ser utilizadas como sinônimo. Na aula anterior, verificamos que ambas as palavras
evidenciam as maneiras pelas quais a sociedade apresenta aos seus membros
os seus valores e as suas regras de convivência. É por intermédio da educação
que se aprende a dominar e gerenciar recursos tecnológicos, como também é
por meio dela que se transmitem as crenças e as formas de organização política
e econômica adotadas por determinados grupos.

Sabemos que é a partir das diferentes formas de socialização que conhecemos


e aprendemos as diferentes maneiras de pensar, de ser e de fazer no mundo.
Diferentes sujeitos, submetidos a distintos processos de socialização,
consequentemente, tenderão a ver o mundo de maneiras diferentes, opostas
ou até mesmo contrastantes entre si.

Na aula 1, também caracterizamos a educação como fato social e argumentamos


que ela é um fenômeno presente em todas as instâncias de nossas vidas. Naquela
ocasião, realizamos uma análise comparativa entre as ideias de educação
apresentadas pela Sociologia e pelo senso comum. Vimos que, apesar de o
significado socialmente partilhado sobre a educação não divergir da perspectiva
sociológica, ele é demasiadamente restritivo e não comporta a imbricada rede
de relações concernentes aos processos socializadores.

3 TECENDO CONHECIMENTO

Feita a retrospectiva do conteúdo da aula anterior, chegamos ao momento em


que a seguinte pergunta deve ser feita: você sabe o que é um fato social?
Aparentemente sim, pois, quando ouvimos essa pergunta, temos a tendência
de dizer que os fatos sociais são os fenômenos que acontecem na sociedade.
Mesmo que a sua resposta não tenha sido essa, é provável que você tenha
pensado em algo parecido. Entretanto, independentemente da resposta que você
tenha dado, pensemos um pouco mais sobre o assunto, tal como procedemos
na aula passada.

Pois bem, assim como a educação, tão presente em nossas vidas que acreditamos
conhecê-la em profundidade, o fato social é, também, um dos elementos que nos
é apresentado como algo dado, como se já fosse um fenômeno conhecido. Esse
caráter fenomênico do fato social nos faz crer que ele não carece de explicações.
Uma das razões para crermos que sabemos o que são os fatos sociais está na
confusão que se faz entre aquilo que leva a legenda de “social” e a concepção
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A educação é um fato social

sociológica de “fato social”. Por isso, ao longo desta aula, veremos que um termo
não é sinônimo do outro, ou seja, “social” e “fato social” não são a mesma coisa.

Se você fez a pesquisa que sugerimos na primeira aula, já deve saber que a
Sociologia tem uma marca identitária que resulta das crises políticas e econômicas
que assolavam o mundo no século XIX. Disso resulta que a preocupação com a
“questão social” é uma característica inerente ao fazer sociológico, ainda que os
teóricos respondam a esse problema de modo diferente e com objetivos diferentes.
Vimos que Karl Marx se interessava pela compreensão da forma como a sociedade
se organiza e pretendia que seus estudos pudessem fundamentar as lutas pela
transformação da sociedade. Já Durkheim buscava entender o funcionamento
da sociedade e enfatizou o estudo das tensões relativas ao fortalecimento de
uma ciência da moral, com base nos princípios de coesão e integração social.
Mais adiante veremos que Max Weber valoriza a interpretação dos processos
de racionalização fundamentados no trabalho e numa ética especificamente
edificada nas sociedades capitalistas (SCAVONE, 2005).

Realizada a sua pesquisa, você pode arrematar dizendo que o significado de “social”
configura o próprio campo de atuação da Sociologia. Isto é, você pode interpretar
“social” como o lugar onde são gestados, se desenvolvem e se configuram os
“fatos sociais” estudados pela Sociologia. Esse arremate te conduz a duas outras
conclusões: a primeira é que “social” diz respeito à vida em sociedade e a segunda
é que os fatos sociais são o objeto de estudo da Sociologia.

No que tange às duas conclusões acima, outra elucidação ainda se faz necessária.
Trata-se de uma ideia relacionada ao discurso corrente, que tende a equiparar
“o social” à política pública de combate à miséria. Note-se, mais uma vez, que
novamente estamos diante do reducionismo próprio do senso comum. Mas, no
caso em tela, a redução cria uma disparidade no entendimento que devemos
ter sobre a sociedade e o social, como se o termo “social” fosse um fenômeno
desprezível, oposto e distante das pretensões da sociedade. De acordo com o
professor Renato Janine Ribeiro (2000), essa oposição se realiza porque tanto no
discurso dos governantes quanto no discurso dos economistas, “a sociedade”
parece designar um conjunto de indivíduos ativos que detêm o poder econômico,
ao passo que “o social” é utilizado como se fosse sinônimo de pobreza, de inércia,
de carência e passividade.

Feitas essas observações, estamos prontos para avançar sobre a caracterização


do fato social. Entretanto, você, que dispensou um bom tempo na realização da
pesquisa sobre as origens da Sociologia, poderia argumentar que, considerando
os clássicos do pensamento sociológico, nunca foi consenso dizer que o fato social
é, por excelência, o objeto da Sociologia. Você poderia dizer, por exemplo, que,
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AULA 2

para Max Weber, não são os fatos sociais os objetos da Sociologia, mas a ação
social. Você poderia também sugerir que, na ótica de Karl Marx, o que estudamos
são as relações de produção e o conflito de classes. E você está perfeitamente
correto nessas colocações, mas deixaremos esse debate para a próxima aula.

Sabemos que as suas ponderações são legítimas, mas, da mesma maneira,


também sabemos que os resultados da sua pesquisa vão igualmente revelar
que, quando falamos em fatos sociais, estamos nos referindo, principalmente,
à produção acadêmica de Émile Durkheim, que foi o primeiro pensador que se
interessou em fundamentar o pensamento sociológico e dispor a Sociologia
como uma ciência da sociedade. Nesse caso, você saberá que foi Durkheim quem
definiu que os fatos sociais devem ser qualificados de um modo específico e que
cada ciência se aplica à compreensão de um objeto particular. Em razão disso, as
reflexões iniciais de qualquer cientista devem incluir a definição – a mais precisa
possível – do seu objeto de estudo.

A sua pesquisa deve ter mostrado que, como Durkheim estava criando uma nova
área de atuação da ciência, ele foi buscar, nas ciências naturais, principalmente
na Biologia, as referências para a criação de uma metodologia que pudesse ser
especificamente aplicada ao estudo dos fenômenos da sociedade. Analisando a
maneira como os cientistas atuavam nas áreas da Biologia, da Física e da Química,
Durkheim percebeu que, do ponto de vista científico, os seus objetos eram sempre
claros e bem definidos. Ademais, observou Durkheim que, por intermédio das
propriedades intrínsecas aos métodos científicos, os objetos das outras ciências
eram observados com o distanciamento necessário, o que permitia ao cientista
elencar todas as suas particularidades. No entanto, compreendia Durkheim que,
no caso das humanidades, as coisas não eram tão simples, pois nem tudo que
acontece em sociedade pode ser classificado como fato social. Por outro lado,
as características dos fatos sociais não são perceptíveis à primeira aproximação,
muito menos se revelam a olho nu.

Pensemos! Se fatos sociais fossem qualquer coisa que acontece em sociedade,


como poderíamos distinguir um fato histórico ou psíquico de um fato social?
Todos acontecem em sociedade, contudo, apresentam características bem
diferentes. O primeiro deve ser analisado por historiadores e se caracteriza
como algo que ocorreu no tempo passado. Já o segundo ocorre no interior da
mente dos indivíduos e costuma ser objeto de estudo da Psicologia. O terceiro,
por sua vez, é definido pelas relações que se configuram entre os indivíduos e
instituições sociais, e a ciência que se põe a estudá-lo é a Sociologia.

Ao se preocupar com o estatuto de cientificidade da Sociologia, Durkheim percebeu


que a nova ciência deveria se debruçar no estudo de um objeto específico, que
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A educação é um fato social

não pudesse ser confundido com o objeto da História, da Psicologia, nem com o
objeto de quaisquer outras ciências. Nesse sentido, ele mostra que o fato social,
enquanto objeto de análise da Sociologia, tem características muito próprias e
que devem, necessariamente, ser observadas quando o pesquisador pretende
analisar os acontecimentos sociais.

Como dissemos anteriormente, Émile Durkheim é considerado o fundador da


Sociologia científica. Novamente, se você fez a pesquisa que lhe foi sugerida,
já sabe que a Sociologia é filha da Filosofia, pois também possui a marca das
reflexões universais e generalizadoras; e prima da História, da Literatura e da
Economia Política, pois as suas teorias também estão marcadas por explicações
abalizadas por representações globais da realidade. Mas o fato de ter sido Durkheim
o fundador da Sociologia não quer dizer que ninguém tenha se preocupado
com as questões de ordem social (VIANA, 2006). Antes do século XIX, vários
pensadores tentaram compreender o funcionamento da sociedade e planejar
formas melhores de se viver em comunidade. Desde Platão, com A República, até
Rousseau, com O Contrato Social, muitos foram os intelectuais que empreenderam
reflexões sobre questões políticas, econômicas, pedagógicas, religiosas, etc., na
tentativa de encontrar regularidades e de analisar os mecanismos de reprodução
social, temas próprios da Sociologia.

Apesar de ter sido Durkheim o defensor da Sociologia científica, oficialmente,


foi Augusto Comte, pensador positivista, o primeiro a sugerir que a Filosofia não
conseguiria dar conta dos inúmeros fenômenos que brotavam em meio ao caos
instaurado pelas revoluções econômicas, políticas e científicas do século XIX.
Comte considerava que a antiga Filosofia já não mais contribuía com o avanço do
conhecimento gestado na modernidade e, inspirado pelo desenvolvimento das
ciências naturais, considerava que a sociedade deveria ser analisada por métodos
tão eficientes quanto aqueles que a elas eram aplicados. Chamou então a ciência
da sociedade de “Física Social”, uma ciência que deveria descobrir as regras de
funcionamento da sociedade e aplicá-las em favor do progresso.

Agora que já sabemos que foi Comte quem sugeriu a criação da nova ciência
e que foi Durkheim quem se ocupou em delinear o objeto e fundamentar o
primeiro método sociológico, estamos prontos para acompanhar os raciocínios
apresentados em As regras do método sociológico, obra na qual Durkheim define
o que é fato social e apresenta algumas regularidades da organização social.
Não obstante, veremos que a educação ocupa um lugar privilegiado na obra
desse autor.

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AULA 2

3.1 O que é fato social?

Você já parou para prestar atenção na forma como você e as pessoas à sua volta
se vestem, falam e se comportam? Se você prestar bastante atenção, notará que
há um padrão. Este não é determinado apenas pela língua que falamos ou por
ocuparmos o mesmo espaço físico e/ou cultural. Por mais que um indivíduo se
considere diferente dos demais, há uma série de traços que eles compartilham
entre si. Mesmo quando esse indivíduo escolhe uma roupa para ir ao trabalho
pela manhã ou quando as suas preferências musicais se distanciam das dos
outros, as suas escolhas, de alguma forma, estão condicionadas a pressões sociais
às quais esse indivíduo está submetido.

Imaginemos uma sala cheia de jovens entre 16 e 18 anos de idade. Essa é a


faixa etária na qual os indivíduos estão mais propícios a manifestar ou mesmo
impor sua individualidade, o que significa “ser diferente”, ou se apresentar como
diferente. Mas, se deixarmos de lado as comparações que tendemos a estabelecer
com os padrões de comportamento adulto e prestarmos atenção na maneira
como esses jovens se comportam, veremos que eles também obedecem a um
padrão: a maioria veste calça jeans, camiseta e tênis, possui cabelos compridos
e desgrenhados ou estilizados (conforme a moda), é fã de grupos musicais
barulhentos da atualidade (conforme o nicho social) e utiliza um vocabulário que
desafia a estrutura formal da linguagem. Assim, a diferença que a maioria dos
jovens faz questão de manifestar são detalhes, acessórios: a cor ou minudências
da calça, a estampa da camiseta, a cor do esmalte das meninas, o penteado mais
ou menos arrojado, a marca do tênis, etc.

Do mesmo modo, se observarmos o comportamento das pessoas num escritório,


ou no ambiente familiar, veremos que há padrões de vestimenta, de gestos, de
modos de falar etc.

E se, de repente, em qualquer desses grupos, alguém resolvesse quebrar as regras?


Como reagiriam os demais que pertencem àquele grupo? Ponha-se a imaginar...

Interrompemos sua divagação para voltarmos ao cerne de nosso problema e


tentarmos identificar uma resposta que seja digna do aplauso de Durkheim.
Agindo dessa maneira, podemos dizer que o cerne do fato social não é o simples
acontecer do fenômeno em sociedade, mas a existência de um determinado
padrão, que regula o comportamento social. Na mesma toada, é certo dizer
que, em todas as sociedades, comunidades ou grupos, há um conjunto de
regras que se impõem aos indivíduos e que determinam sua forma de agir,

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A educação é um fato social

independentemente de sua vontade. Dada a nossa resposta, vamos compará-la


à de Durkheim, para quem os fatos sociais são:
[...] maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo,
e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe
impõem. Por conseguinte, não poderiam ser confundidos com
os fenômenos orgânicos, visto consistirem em representações
e ações; nem com fenômenos psíquicos, por estes só existirem
na consciência dos indivíduos, e devido a ela. Constituem,
pois, uma espécie nova de fatos, aos quais deve atribuir-se e
reservar-se a qualificação de sociais. (DURKHEIM, 1983, p. 88).

Talvez você se pergunte por que Durkheim menciona a expressão “uma espécie
nova de fatos”, já que o comportamento por ele descrito é comum e sempre
fez parte da vivência humana. Para responder a essa inquietação, você deve se
lembrar do que dissemos anteriormente: Durkheim estava definindo o objeto da
Sociologia, além de tentar estabelecer a suas peculiaridades frente às preocupações
das demais ciências. É nova no sentido de configurar um novo objeto de estudo.
É nova também no sentido de tomar para a ciência nascente a responsabilidade
pelo estudo, explicação e possíveis saídas para uma espécie nova de problemas
sociais que surgiam na cidade e no campo (economia baseada na indústria,
ética do trabalho e desemprego, êxodo rural, formas de organização política,
reforma religiosa, etc.).

Da definição de Durkheim é preciso destacar que o fato social se caracteriza por


sua generalização, ou seja, por ser um padrão observável em toda a sociedade.
Seja na escola, nas organizações religiosas, no ambiente de trabalho, no shopping
ou no supermercado, a forma de agir dos indivíduos está condicionada por
uma série de regras que determinam a sua aceitação social. Ainda conforme
a definição desse autor, a segunda característica do fato social é que ele é
componente objetivo, portanto, exterior ao indivíduo, o que significa dizer que
a sua manifestação não depende das escolhas ou vontades individuais. Pois, na
perspectiva durkheiminiana, os padrões da ação humana não são escolhidos
livremente pelos indivíduos, mas direcionados pelo grupo a que eles pertencem.
Por fim, o fato social é regido pela força coercitiva do grupo social, o que significa
que o indivíduo se submete à escolha do grupo, mesmo que inconscientemente
tenha a sensação de que optou livremente por agir daquela maneira. Em resumo,
fato social são as maneiras se ser, pensar e agir estimuladas no interior de uma
sociedade. Conforme Durkheim, um fenômeno só pode ser considerado um
fato social se ele atender, necessariamente, às três características relativas a ele:
coletividade, exterioridade e coercitividade.

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AULA 2

Vamos refletir um pouco, caso você pense que a liberdade de ação é a característica
mais determinante do ser humano. Estudamos, em História da Educação,
que a lei determina que todas as crianças com 6 anos de idade devem estar
matriculadas na escola e que os pais são responsáveis pela educação escolar delas.
Automaticamente, uma família, quando concebe uma criança, já começa a refletir
sobre o tipo de educação escolar que dará a esse filho (se pública ou privada,
religiosa ou laica). Várias de suas opções poderão ser livremente determinadas,
mas uma, em essencial, não: ofertar a educação escolar a seus filhos. Imagine
se uma família que visitou uma comunidade indígena do norte do Brasil e que
percebeu que a educação não se restringe à escola resolve não educar os seus
filhos por meio da pedagogia escolar e não os matricula em nenhuma escola
da rede? Afora o fato de ser contra a lei, você já deve ter imaginado que isso
causaria indignação entre seus vizinhos e parentes, não é verdade? Essa família
poderia, inclusive, ser denunciada na delegacia de polícia, na vara da infância e
juventude ou no conselho tutelar de sua cidade.

Esse espanto da comunidade de entorno deve-se ao fato de que a sociedade


ocidental, ao longo do século XX, estruturou a educação na forma escolar e tornou
isso um padrão para a aceitação social. Desse modo, qualquer indivíduo que se
recuse ou a quem lhe seja negado esse tipo de socialização será marginalizado
pelo sistema. Pelo que estamos vendo, a ação de matricular as crianças na
rede escolar oficial não deriva de uma escolha pessoal dos pais, mas de uma
pressão que o grupo exerce sobre a família. Ademais, quanto mais elitizado e
intelectualizado for o subgrupo a que essa família pertence, os condicionantes
da escolha se tornam mais específicos (escolas preparatórias, escolas religiosas,
internatos, escolas de alto padrão etc.).

Com esse exemplo, podemos, então, dimensionar o entendimento de Durkheim


sobre fato social: a) quando tornado padrão de aceitação social, as regras de
comportamento valem para todos (coletividade); b) a escolha desse padrão não
depende unicamente do que pensa o indivíduo, ela é uma realidade objetiva
(exterioridade); c) ao identificar comportamentos desviantes, o grupo exerce
pressão para que o indivíduo cumpra as regras (coercitividade).

Antes de passarmos para o próximo tópico, lembre-se de que, apesar dos esforços
de Comte em tentar definir os contornos de uma nova ciência da sociedade,
foi Durkheim quem deu à Sociologia um caráter mais técnico e a reputação de
disciplina científica. Com esse autor, vimos que, ao ganhar o status de ciência, a
Sociologia adquiriu um objeto de estudo (o fato social).

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A educação é um fato social

3.2 As regras do método sociológico e o lugar da educação

Diante desse novo objeto de estudo, argumenta Durkheim que o cientista social
deve buscar teorias e métodos de análise que contemplem a abrangência e
as especificidades dos fatos sociais. Conforme a leitura de As regras do método
sociológico, podemos afiançar que a análise minuciosa dos fenômenos sociais,
primeiramente, obriga o sociólogo a considerar os fatos sociais como coisas.

Do ponto de vista da teoria durkheiminiana, considerar os fatos sociais como


coisa não significa que a educação, a política, o pecado, a violência urbana,
etc. sejam objetos palpáveis ou que sejam eventos sem importância. Com essa
primeira regra do método sociológico, Durkheim quer dizer que, durante o
estudo da sociedade, o cientista social deve desenvolver um estado de espírito
semelhante ao dos físicos e químicos, quando se aventuram no estudo de uma
região ainda inexplorada de seu domínio científico.

Essa primeira regra carrega a mensagem de que o trato com o social deve ser
feito com cautela, pois, diferentemente do que ocorre com as outras ciências, o
objeto da Sociologia sempre faz parte da rotina, do cotidiano e da subjetividade
do pesquisador, criando a falsa ilusão de que se trata de algo já conhecido.
Desse modo, considerar o fato social como coisa consente ao estudioso adotar
uma postura questionadora e distanciada do objeto em questão, permitindo
que estude o fato social da maneira mais objetiva possível. Nessa questão da
objetividade, reside outro postulado das regras do método sociológico proposto
pelo nosso autor.

O esforço para considerar fato social como coisa, tomando-o como uma realidade
objetiva e externa ao indivíduo, deve vir acompanhado da tentativa de afastamento
sistemático das pré-noções. Com esse terceiro postulado, sustenta Durkheim
que é dever do sociólogo despir-se das concepções restritivas criadas pelo senso
comum que, frequentemente, produzem interpretações fragmentárias, parciais
e pré-concebidas sobre os fenômenos sociais.

Por fim, está obrigado o sociólogo a definir previamente os fenômenos tratados,


a partir dos caracteres exteriores que lhe são comuns. Isso significa que explicar
os fenômenos sociais também implica descortinar as relações de causa e efeito
que se estabelecem entre os diferentes fatos sociais. Do mesmo modo, não pode
o sociólogo esquecer que um fenômeno social só pode ser explicado por outro
fenômeno social (explicar o social pelo social). Em síntese, é atribuição dessa
ciência da sociedade apontar as causas dos fatos sociais, pois, na perspectiva de

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AULA 2

Durkheim, descobrindo-se as causas de determinadas patologias sociais, pode


o sociólogo contribuir para a identificação do melhor remédio.

Para finalizar as reflexões desta aula, ainda precisamos delinear o lugar que a
educação ocupa na Sociologia de Durkheim. Antes disso, porém, precisamos
retomar o contexto do século XIX. Como dissemos antes, ao criar a Sociologia,
Durkheim se espelhou no método utilizado pelas ciências naturais. Assim sendo,
tal como um biólogo apreciava um organismo vivo, Durkheim mirava a sociedade.
Por isso, ao olhar para o grupo, Durkheim não via as células (indivíduos), ele
enxergava o organismo em sua totalidade (sociedade), constituído de seus
respectivos órgãos (instituições sociais), cada qual realizando uma função no
interior de um sistema. Ou seja, para o nosso autor, a sociedade é concebida como
um sistema social ou, se você preferir, subsistemas, cujas funções respondem às
respectivas necessidades sociais (educação, espiritualidade, economia, etc.). Em
razão disso, a perspectiva sociológica adotada por esse autor é uma perspectiva
funcionalista.

Nesse sentido, importa ao sociólogo estudar a função que cada um dos subsistemas
exerce com vistas a manter o organismo funcionando. Para entender o que
queremos dizer, pense na estrutura e no funcionamento do seu próprio corpo.
Como você já deve saber, só é possível ter uma vida saudável se todas as partes
do seu corpo funcionarem com suficiente grau de homogeneidade. Caso essa
homogeneidade seja ameaçada, o seu sistema imunológico entra em ação e
tentará estabelecer a normalidade.

Se você ainda não esqueceu as lições que aprendeu nas aulas de Biologia, saberá
que, no momento do nascimento, cada célula do seu corpo já vem programada
para realizar funções previamente determinadas. Desse modo, ao analisar a
comparação que Durkheim estabelece entre a sociedade e um organismo vivo,
você pode dizer que o mesmo não acontece com as pessoas. Pois, diferentemente
das células e da maioria dos animais, os seres humanos não nascem programados
para manter a ordem social. Mas, se você fez uma leitura atenta tanto desta aula
quanto da anterior, já sabe que, do ponto de vista da Sociologia de Durkheim,
o subsistema que garante a homogeneidade das partes e mantém a saúde e o
funcionamento do organismo social é a educação.
A educação perpetua e reforça essa homogeneidade,
fixando, antecipadamente, na alma da criança as alianças
fundamentais exigidas pela vida coletiva. A educação é a ação
exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que não estão
ainda maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e
desenvolver na criança um certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, que requerem dela, tanto a sociedade
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