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INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Figura 1
Caro aluno,
Você deve ter ficado ansioso em saber o que discutiremos desta vez. Mas tenha
calma, pois uma análise científica da realidade social jamais pode ser feita às
pressas. Todavia, para diminuir a sua inquietude, saiba que, nas próximas linhas,
será mostrado como as questões mais complexas para a vida social, tais como a
religião, a educação, a economia, a política, etc., foram tomadas pela ciência e
viraram objeto de estudo da Sociologia. Para alcançarmos os nossos objetivos,
apresentaremos o criador da Sociologia, o francês Émile Durkheim.
Mas, antes de continuarmos, façamos uma pausa para um resumo do que foi visto
na aula anterior. Esperamos que você não tenha esquecido! Durante a primeira
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AULA 2
3 TECENDO CONHECIMENTO
Pois bem, assim como a educação, tão presente em nossas vidas que acreditamos
conhecê-la em profundidade, o fato social é, também, um dos elementos que nos
é apresentado como algo dado, como se já fosse um fenômeno conhecido. Esse
caráter fenomênico do fato social nos faz crer que ele não carece de explicações.
Uma das razões para crermos que sabemos o que são os fatos sociais está na
confusão que se faz entre aquilo que leva a legenda de “social” e a concepção
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A educação é um fato social
sociológica de “fato social”. Por isso, ao longo desta aula, veremos que um termo
não é sinônimo do outro, ou seja, “social” e “fato social” não são a mesma coisa.
Se você fez a pesquisa que sugerimos na primeira aula, já deve saber que a
Sociologia tem uma marca identitária que resulta das crises políticas e econômicas
que assolavam o mundo no século XIX. Disso resulta que a preocupação com a
“questão social” é uma característica inerente ao fazer sociológico, ainda que os
teóricos respondam a esse problema de modo diferente e com objetivos diferentes.
Vimos que Karl Marx se interessava pela compreensão da forma como a sociedade
se organiza e pretendia que seus estudos pudessem fundamentar as lutas pela
transformação da sociedade. Já Durkheim buscava entender o funcionamento
da sociedade e enfatizou o estudo das tensões relativas ao fortalecimento de
uma ciência da moral, com base nos princípios de coesão e integração social.
Mais adiante veremos que Max Weber valoriza a interpretação dos processos
de racionalização fundamentados no trabalho e numa ética especificamente
edificada nas sociedades capitalistas (SCAVONE, 2005).
Realizada a sua pesquisa, você pode arrematar dizendo que o significado de “social”
configura o próprio campo de atuação da Sociologia. Isto é, você pode interpretar
“social” como o lugar onde são gestados, se desenvolvem e se configuram os
“fatos sociais” estudados pela Sociologia. Esse arremate te conduz a duas outras
conclusões: a primeira é que “social” diz respeito à vida em sociedade e a segunda
é que os fatos sociais são o objeto de estudo da Sociologia.
No que tange às duas conclusões acima, outra elucidação ainda se faz necessária.
Trata-se de uma ideia relacionada ao discurso corrente, que tende a equiparar
“o social” à política pública de combate à miséria. Note-se, mais uma vez, que
novamente estamos diante do reducionismo próprio do senso comum. Mas, no
caso em tela, a redução cria uma disparidade no entendimento que devemos
ter sobre a sociedade e o social, como se o termo “social” fosse um fenômeno
desprezível, oposto e distante das pretensões da sociedade. De acordo com o
professor Renato Janine Ribeiro (2000), essa oposição se realiza porque tanto no
discurso dos governantes quanto no discurso dos economistas, “a sociedade”
parece designar um conjunto de indivíduos ativos que detêm o poder econômico,
ao passo que “o social” é utilizado como se fosse sinônimo de pobreza, de inércia,
de carência e passividade.
para Max Weber, não são os fatos sociais os objetos da Sociologia, mas a ação
social. Você poderia também sugerir que, na ótica de Karl Marx, o que estudamos
são as relações de produção e o conflito de classes. E você está perfeitamente
correto nessas colocações, mas deixaremos esse debate para a próxima aula.
A sua pesquisa deve ter mostrado que, como Durkheim estava criando uma nova
área de atuação da ciência, ele foi buscar, nas ciências naturais, principalmente
na Biologia, as referências para a criação de uma metodologia que pudesse ser
especificamente aplicada ao estudo dos fenômenos da sociedade. Analisando a
maneira como os cientistas atuavam nas áreas da Biologia, da Física e da Química,
Durkheim percebeu que, do ponto de vista científico, os seus objetos eram sempre
claros e bem definidos. Ademais, observou Durkheim que, por intermédio das
propriedades intrínsecas aos métodos científicos, os objetos das outras ciências
eram observados com o distanciamento necessário, o que permitia ao cientista
elencar todas as suas particularidades. No entanto, compreendia Durkheim que,
no caso das humanidades, as coisas não eram tão simples, pois nem tudo que
acontece em sociedade pode ser classificado como fato social. Por outro lado,
as características dos fatos sociais não são perceptíveis à primeira aproximação,
muito menos se revelam a olho nu.
não pudesse ser confundido com o objeto da História, da Psicologia, nem com o
objeto de quaisquer outras ciências. Nesse sentido, ele mostra que o fato social,
enquanto objeto de análise da Sociologia, tem características muito próprias e
que devem, necessariamente, ser observadas quando o pesquisador pretende
analisar os acontecimentos sociais.
Agora que já sabemos que foi Comte quem sugeriu a criação da nova ciência
e que foi Durkheim quem se ocupou em delinear o objeto e fundamentar o
primeiro método sociológico, estamos prontos para acompanhar os raciocínios
apresentados em As regras do método sociológico, obra na qual Durkheim define
o que é fato social e apresenta algumas regularidades da organização social.
Não obstante, veremos que a educação ocupa um lugar privilegiado na obra
desse autor.
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AULA 2
Você já parou para prestar atenção na forma como você e as pessoas à sua volta
se vestem, falam e se comportam? Se você prestar bastante atenção, notará que
há um padrão. Este não é determinado apenas pela língua que falamos ou por
ocuparmos o mesmo espaço físico e/ou cultural. Por mais que um indivíduo se
considere diferente dos demais, há uma série de traços que eles compartilham
entre si. Mesmo quando esse indivíduo escolhe uma roupa para ir ao trabalho
pela manhã ou quando as suas preferências musicais se distanciam das dos
outros, as suas escolhas, de alguma forma, estão condicionadas a pressões sociais
às quais esse indivíduo está submetido.
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A educação é um fato social
Talvez você se pergunte por que Durkheim menciona a expressão “uma espécie
nova de fatos”, já que o comportamento por ele descrito é comum e sempre
fez parte da vivência humana. Para responder a essa inquietação, você deve se
lembrar do que dissemos anteriormente: Durkheim estava definindo o objeto da
Sociologia, além de tentar estabelecer a suas peculiaridades frente às preocupações
das demais ciências. É nova no sentido de configurar um novo objeto de estudo.
É nova também no sentido de tomar para a ciência nascente a responsabilidade
pelo estudo, explicação e possíveis saídas para uma espécie nova de problemas
sociais que surgiam na cidade e no campo (economia baseada na indústria,
ética do trabalho e desemprego, êxodo rural, formas de organização política,
reforma religiosa, etc.).
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AULA 2
Vamos refletir um pouco, caso você pense que a liberdade de ação é a característica
mais determinante do ser humano. Estudamos, em História da Educação,
que a lei determina que todas as crianças com 6 anos de idade devem estar
matriculadas na escola e que os pais são responsáveis pela educação escolar delas.
Automaticamente, uma família, quando concebe uma criança, já começa a refletir
sobre o tipo de educação escolar que dará a esse filho (se pública ou privada,
religiosa ou laica). Várias de suas opções poderão ser livremente determinadas,
mas uma, em essencial, não: ofertar a educação escolar a seus filhos. Imagine
se uma família que visitou uma comunidade indígena do norte do Brasil e que
percebeu que a educação não se restringe à escola resolve não educar os seus
filhos por meio da pedagogia escolar e não os matricula em nenhuma escola
da rede? Afora o fato de ser contra a lei, você já deve ter imaginado que isso
causaria indignação entre seus vizinhos e parentes, não é verdade? Essa família
poderia, inclusive, ser denunciada na delegacia de polícia, na vara da infância e
juventude ou no conselho tutelar de sua cidade.
Antes de passarmos para o próximo tópico, lembre-se de que, apesar dos esforços
de Comte em tentar definir os contornos de uma nova ciência da sociedade,
foi Durkheim quem deu à Sociologia um caráter mais técnico e a reputação de
disciplina científica. Com esse autor, vimos que, ao ganhar o status de ciência, a
Sociologia adquiriu um objeto de estudo (o fato social).
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A educação é um fato social
Diante desse novo objeto de estudo, argumenta Durkheim que o cientista social
deve buscar teorias e métodos de análise que contemplem a abrangência e
as especificidades dos fatos sociais. Conforme a leitura de As regras do método
sociológico, podemos afiançar que a análise minuciosa dos fenômenos sociais,
primeiramente, obriga o sociólogo a considerar os fatos sociais como coisas.
Essa primeira regra carrega a mensagem de que o trato com o social deve ser
feito com cautela, pois, diferentemente do que ocorre com as outras ciências, o
objeto da Sociologia sempre faz parte da rotina, do cotidiano e da subjetividade
do pesquisador, criando a falsa ilusão de que se trata de algo já conhecido.
Desse modo, considerar o fato social como coisa consente ao estudioso adotar
uma postura questionadora e distanciada do objeto em questão, permitindo
que estude o fato social da maneira mais objetiva possível. Nessa questão da
objetividade, reside outro postulado das regras do método sociológico proposto
pelo nosso autor.
O esforço para considerar fato social como coisa, tomando-o como uma realidade
objetiva e externa ao indivíduo, deve vir acompanhado da tentativa de afastamento
sistemático das pré-noções. Com esse terceiro postulado, sustenta Durkheim
que é dever do sociólogo despir-se das concepções restritivas criadas pelo senso
comum que, frequentemente, produzem interpretações fragmentárias, parciais
e pré-concebidas sobre os fenômenos sociais.
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AULA 2
Para finalizar as reflexões desta aula, ainda precisamos delinear o lugar que a
educação ocupa na Sociologia de Durkheim. Antes disso, porém, precisamos
retomar o contexto do século XIX. Como dissemos antes, ao criar a Sociologia,
Durkheim se espelhou no método utilizado pelas ciências naturais. Assim sendo,
tal como um biólogo apreciava um organismo vivo, Durkheim mirava a sociedade.
Por isso, ao olhar para o grupo, Durkheim não via as células (indivíduos), ele
enxergava o organismo em sua totalidade (sociedade), constituído de seus
respectivos órgãos (instituições sociais), cada qual realizando uma função no
interior de um sistema. Ou seja, para o nosso autor, a sociedade é concebida como
um sistema social ou, se você preferir, subsistemas, cujas funções respondem às
respectivas necessidades sociais (educação, espiritualidade, economia, etc.). Em
razão disso, a perspectiva sociológica adotada por esse autor é uma perspectiva
funcionalista.
Nesse sentido, importa ao sociólogo estudar a função que cada um dos subsistemas
exerce com vistas a manter o organismo funcionando. Para entender o que
queremos dizer, pense na estrutura e no funcionamento do seu próprio corpo.
Como você já deve saber, só é possível ter uma vida saudável se todas as partes
do seu corpo funcionarem com suficiente grau de homogeneidade. Caso essa
homogeneidade seja ameaçada, o seu sistema imunológico entra em ação e
tentará estabelecer a normalidade.
Se você ainda não esqueceu as lições que aprendeu nas aulas de Biologia, saberá
que, no momento do nascimento, cada célula do seu corpo já vem programada
para realizar funções previamente determinadas. Desse modo, ao analisar a
comparação que Durkheim estabelece entre a sociedade e um organismo vivo,
você pode dizer que o mesmo não acontece com as pessoas. Pois, diferentemente
das células e da maioria dos animais, os seres humanos não nascem programados
para manter a ordem social. Mas, se você fez uma leitura atenta tanto desta aula
quanto da anterior, já sabe que, do ponto de vista da Sociologia de Durkheim,
o subsistema que garante a homogeneidade das partes e mantém a saúde e o
funcionamento do organismo social é a educação.
A educação perpetua e reforça essa homogeneidade,
fixando, antecipadamente, na alma da criança as alianças
fundamentais exigidas pela vida coletiva. A educação é a ação
exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que não estão
ainda maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e
desenvolver na criança um certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, que requerem dela, tanto a sociedade
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