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FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

PRÁTICA CURRICULAR I:
ANALISE DO LIVRO
DIDÁTICO

COORDENAÇÃO DE NÚCLEO EM CASTELO DO PIAUÍ


PROF. ERNANDES SOARES ARAÚJO - 9924-5034
E-mail: ernandesernandes@hotmail.com
FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ
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PLANO DE ESTUDO DA DISCIPLINA PRÁTICA CURRICULAR I: ANALISE DO LIVRO DIDÁTICO

EMENTÁRIO

Estudo dos princípios epistemológicos que norteiam o processo de ensino/aprendizagem em História, incluindo o estudo da
estrutura da educação brasileira, com ênfase nos aspectos legais, estruturais e técnico-administrativos.

OBJETI VO

O objetivo desta disciplina é fazer uma análise de alguns aspectos da realidade do livro didático de História a partir da vistoria
dos mesmo na educação básica, tentando demonstrar, de forma crítica, como os autores do mesmo trabalham os conteúdos históricos
propostos e como estes exploram o uso da linguagem escrita e iconográfica, de maneira tal a observarmos se estes facilitam ou não a
assimilação das ideias explicitadas no decorrer dos textos e se os mesmos privilegiam ou não algum tipo de perspectiva teórico-
metodológica. Para tanto observando a forma como o corpo estrutural exposto atua na facilitação da proximidade entre os conteúdos
ministrados pelo(a) professor(a) e o raciocínio dos alunos que se mostram instigados a participação em sala de aula e que muitas vezes
não recebem a instrução adequada;

AVALIAÇÃO

• Elaboração de resenha e exercícios.


• Análise parcial dos livros didáticos de história adotadas na Educação Básica.

REFERÊNCIAS BÁSICAS

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1. INTRODUÇÃO
Quando se fala em livro didático (LD), é natural associá-
O livro didático faz parte da história da escola há pelo lo a todos os impressos que circulam na escola. Isso ocorre porque
menos dois séculos. A origem do seu nome vem do latim libru, o LD, por ser tão comum, e recorrente no contexto escolar, acaba
que se refere às cascas das árvores que antigamente se escrevia o não chamando a atenção para sua singularidade no que se refere à
chamado líber. Segundo a UNESCO, o livro é todo material sua produção e consumo, por esse motivo tem sido pouco utilizado
impresso não periódico contendo pelo menos 48 páginas, como objeto de interesse de pesquisas que queiram delimitá-lo,
excluindo a capa. Porém, o material descrito também leva o termo sendo analisado apenas enquanto revelador das práticas escolares.
didático do grego didaktikós, que indica que ele serve para O livro didático tem sido objeto de discussões nos últimos
instruir. Mas será que o livro didático tem servido para esses anos. Nas décadas de 70 e 80, estudos (Nosella (1979), Freitag
objetivos? Neste sentido, busca-se neste trabalho discutir a (1989), Deiró (1981), Mota (1989) e outros) apontavam
articulação entre o as teorias pedagógicas e a utilização do livro mecanismos utilizados pelas classes dominantes para, através do
didático na prática em sala de aula, refletindo sobre o papel que LD, incutir seus valores aos mais pobres. Nos dias atuais,
historicamente o LD desempenha no contexto escolar e sua pesquisas de D’Ávila (2008), Lajolo (1996), Costa (2007)
relação com a falta de investimento em educação, propondo desenvolvidas sobre o LD, giram em torno das questões didático
mecanismos para superação das tensões provocadas entre as pedagógicas e sua relação na prática em sala de aula.
questões educacionais e o livro didático. É interessante notar que um mesmo objeto de pesquisa,
O livro didático ainda é visto com desconfiança por no caso o livro didático, é abordado em suas várias dimensões:
alguns setores da sociedade por uma série de equívocos. Então, primeiramente, a partir de sua ideologia e depois pelo seu
para deixar mais claro nosso objeto de estudo, o primeiro capítulo conteúdo e como material de análise da própria sala de aula.
deste texto procura delimitá-lo, fazendo referência ao foco das Porém, uma questão essencial em todas essas discussões é
pesquisas sobre livro didático nos últimos anos, além de explorar justamente a definição do que venha a ser o livro didático, sem
historicamente a postura adotada pelos estudiosos com referência negar a existência de outros materiais escritos na escola.
à utilização do livro didático e como o governo trata, atualmente, Não se pode cair no equívoco, por exemplo, de analisar
sobre estas questões através da análise Programa Nacional do um material da editora Melhoramentos, utilizado de 1º ao 5º ano
Livro Didático (PNLD). na forma de cartazes organizados em um álbum com cenas para
Já no segundo capítulo, a ênfase é dada às mudanças que serem descritas em formas de redações pelo aluno como se este
o livro didático sofreu a partir do PNLD, como a atenção dada aos fosse um livro didático. (Abreu, 1999).
Parâmetros Nacionais Curriculares (PCNs) e suas propostas de Apesar de o LD ser criticado por inúmeros pesquisadores
letramento, tanto na leitura como na escrita e na oralização, sendo como Lajolo (1996), Faria (1994) e Nosella (1979) que o
que se deslocou o foco do estudo das questões gramaticais para a entendem como um produto que não reflete a realidade de um
análise do discurso. povo, mas sim a visões particulares de mundo “presas” às
Com isso, o livro didático passou a misturar uma série de concepções da época em que foram escritos, há muitos que
teorias pedagógicas além de criar novas questões a serem concordam com sua relevância no processo de ensino e
discutidas por toda comunidade escolar. No terceiro capítulo, é aprendizagem (cf. Rojo (2005) SOARES (2009)). O LD já faz
analisada a relação entre a postura do professor, sua teoria parte da história da escola há pelo menos dois séculos, povoando o
pedagógica e a utilização do livro didático em sala de aula através, imaginário da comunidade que faz o seu uso: família, escola,
considerando o livro didático adotado, seus limites e como a família e governo.
professora administra essas dificuldades, transpondo os A família tem como referência de “bom ensino” a prática
conhecimentos adquiridos na faculdade com os adquiridos na de exercícios exaustivos, fato que pressiona o professor a ensinar
prática em sala de aula como fatores para o desenvolvimento de em conformidade com o LD, devendo obedecer à disposição dos
sua autonomia profissional. conteúdos dentro do livro. A família cobra que se façam todos os
Muitas vezes o livro didático tem servido de manual para exercícios propostos no livro. E o professor, devido à frágil
professores na falta de um planejamento escolar mais consistente. formação acadêmica, vê o LD como verdade absoluta e
No último capítulo falaremos do currículo e das ações do praticamente não utiliza de outros elementos para enriquecer o
educador com o planejamento, a ação e os conteúdos abordados na aprendizado na sala de aula. E quando ele consegue romper as
área de história. barreiras do livro didático, buscando outros suportes para o ensino-
Quando refletimos sobre a escola, percebemos que o aprendizagem, enfrenta resistência, inclusive dos alunos que
papel da educação está muito além do de instruir, pois deveria muitas vezes não entendem o seu método de ensino e solicitam o
proporcionar ao sujeito: a produção e alteração de significados e o uso de LD.
desenvolvimento humano, além da formação para o trabalho. O governo brasileiro, mesmo diante das carências
Desta forma, é indispensável o trabalho do professor em auxiliar a generalizadas na sociedade e mesmo nas escolas especificamente,
construção do conhecimento do aluno a partir dos seus dispensa muito dinheiro para adquirir os livros didáticos, como se
conhecimentos prévios, sendo o livro didático apenas um dos estes por si só resolvessem os problemas referentes à Educação. O
instrumentos que facilitam esta aprendizagem. governo é incentivado por organismos internacionais, como o
Banco Mundial a investir em livros didáticos devido à formação
2. PARA QUE SERVE O LIVRO DIDÁTICO? precária do professor. O investimento em livro didático faz com
que o governo brasileiro seja o maior comprador deste tipo de
À primeira vista, a resposta desse questionamento parece material no mundo, porém a produção do livro didático não
ser simples, mas não é, pois esbarra em outras perguntas como: o descarta mudanças estruturais na educação, como a valorização da
que vem a ser o livro didático e como ele é encarado em nossa carreira de professor e abertura de bibliotecas para incentivar a
sociedade? leitura e a pesquisa.
Estes são apenas alguns exemplos em que podemos notar
2.1 DEFINIÇÕES DO LIVRO DIDÁTICO a complexidade da discussão em torno do LD e ao mesmo tempo o
quanto o LD é conhecido, até porque é debatido dentro da escola adaptando para a solução de problemas na sala de aula. Isso
por professores, alunos e suas famílias, em encontros acadêmicos equivale repensar a formação inicial dos professores e investir em
e por intelectuais de diferentes setores, pelo governo e nas escolas de aplicação desde o início do curso de pedagogia aliando
editoras. Mas, afinal, o que é o livro didático? Há diferentes à pesquisa, ensino e extensão.
respostas para esse mesmo questionamento. Segundo Silva (2000), Segundo Libâneo (2002), o livro didático é um recurso
qualquer texto pode ser utilizado como recurso didático, já importante na escola por ser útil tanto ao professor como ao aluno.
D’Ávila (2008) entende o livro didático como um manual. Pois, através dele o docente pode reforçar seus conhecimentos
O livro didático muitas vezes é qualificado como um sobre um assunto específico ou receber sugestões de como
material impresso para fins escolares, ou seja, é resultado de um apresentá-lo em sala de aula. Já para o aluno, é uma forma de ter
processo de reprodução com características específicas. A de maneira mais organizada e sistematizada um assunto que
utilização do termo impresso torna-se problemático porque a possibilite que ele revise em sua casa e faça exercícios que
escola também produz seus textos através do mimeógrafo, reforcem este conhecimento.
computador ou xérox, chamado por Abreu (1999) como imprensa A decisão de fazer do livro didático um aliado ou inimigo
escolar. parte do professor em relação às escolhas que faz no seu dia a dia.
Esses textos, produzidos pela escola, são de suma Se é notório que o livro didático apresenta problemas tanto em
importância para aprendizagem por ser uma espécie de apostila erros conceituais como também preconceitos dos mais diversos,
geralmente utilizada para o ensino médio e em cursinhos pré- por outro lado pode ajudar os alunos a formarem conceitos e
vestibulares, ou quando existe a falta do livro didático no Ensino elaborarem suas próprias estratégias cognitivas.(Lajolo,1996)
Fundamental. Também não podemos perder de vista que muitas A importância do livro didático é que ele pode ser um
editoras, como a Ática, começaram através da imprensa escolar, suporte para aprendizagem quando utilizado de acordo com os
ou seja, das apostilas feitas pelos próprios professores copiados objetivos traçados pelo docente para sua sala de aula. Desta forma,
por outros docentes e mais tarde submetidos a processos os conteúdos, valores e comportamentos e atividades que o LD
editoriais. (Abreu, 1999) sugere devem estabelecer uma relação entre os que pensam os
Associando à imprensa escolar, Silva considera que “um alunos e o que é ensinado pelo professor para fazer com que a
livro qualquer é didático, em qualquer momento, se, naquele classe avance na aprendizagem. (Lajolo, 1996).
momento, ele atende, de alguma forma, propósitos da O livro didático possui características que o diferencia
aprendizagem, sejam com jogos, estudos dirigidos, etc”. (Silva, dos demais livros por uma série de fatores, como sua lógica,
2000). A partir desta Definição, é possível perceber que o público específico e sua utilização restrita. Sem dúvida, trata-se de
professor precisa ter competência para retirar de textos reais um gênero particular na literatura em geral, entendido por muitos
aspectos a serem analisados, indo além da gramática tradicional e como um livro de menor importância. (Bourdieu, 1992). Diante
do pretexto de ensinar sobre determinado assunto, buscando a real dessa situação, alguns pesquisadores chamam o LD de manual
necessidade do seu alunado. didático por entenderem que, diferentemente do livro comum,
Acostumamo-nos a ver o livro didático sendo utilizado deveria ser lido página por página de forma linear. Ele é um
como principal, ou até mesmo o único material de estudo, o que material para ser utilizado em uma situação específica, que é
deixa o ensino desgastante e sem criticidade para despertar a durante o processo de ensino e aprendizagem tanto em grupos
necessidade de aprender. O processo de ensino e aprendizagem como individualmente.
deve envolver materiais variados e nenhum deles deve ser mais Trata-se, portanto, de um livro que parece ter um prazo de
importante do que o educador, que tem de ser o autor do ato de validade ao final de cada período escolar, quando o aluno o deixa
ensinar, de modo a definir objetivos próprios, seguir metodologias de lado ou entrega para outra pessoa utilizá-lo, e por isso alguns
específicas conforme o público que ele atende e não segundo um autores entendem que o LD tem usuário ao invés de leitores
modelo proposto no livro didático. (Lajolo, 1996). Além disso, o livro didático aparece nas prateleiras
Este ensino inovador não requer malabarismos por parte de livrarias somente no começo do ano letivo, sempre voltado para
do professor, mas que aperfeiçoe os recursos existentes na escola e o público escolar, sendo pouco visto em bibliotecas particulares.
transforme-os em estratégia para ensinar, respeitando as diferentes De acordo com D’Ávila (2008), o livro didático se
formas com que cada aluno aprende. Isto possibilita que o assemelha a um manual quando é utilizado cegamente para um
aprendiz faça a leitura crítica da realidade através de vários determinado objetivo. O LD cumpre o papel de guia do
suportes, sem fugir dos objetivos propostos pelo currículo mínimo aprendizado, desenvolvendo pouquíssimas habilidades cognitivas
nacional. e emocionais do aluno, dando pouco espaço para o aluno refletir
Segundo Moysés (1997), todo este movimento é possível sobre si mesmo e sua língua materna, bem como adquirir sua
se nos apoiarmos na formação docente de qualidade, que promova autonomia. O LD oferece exercícios no qual é valorizada a
a criatividade do futuro professor no sentido defendido por memorização, e as atividades de interpretação encontram-se no
Vygotsky, que, diante de uma situação nova, reorganize as próprio texto; o LD está alicerçado no modelo behaviorista de
experiências pelas quais já passou, divida-as em inúmeras partes, estímulo e resposta. Contudo, o LD não precisa ser descartado da
retendo aquelas que podem ajudar a resolver determinada situação sala de aula, mas, sim, ser utilizado e percebido como um produto
e esqueça-se das demais. cultural e científico. O que revela sua complexidade é a
Em seguida, é necessário que este faça associações e até transposição dos conhecimentos científicos através de
distorções dessas experiências e possa alterá-las em sua mente. metodologias específicas e linguagem superespecializada para a
Estas modificações podem ser feitas através do que a pessoa didatização, desde conteúdos de forma compreensível ao aluno
aprendeu, como, por exemplo, na faculdade, e aí unir essas ideias para que ele utilize destes saberes em seu cotidiano, dando
alteradas e combiná-las formando um novo sistema, culminando oportunidade à criança de ressignificá-los e de transformar sua
para a resolução de suas questões através da ação. (Moysés, 1997) realidade.
A criatividade, tal qual como é descrita por Moysés O livro didático, além de seu aspecto científico, tem todo
(1997), é o movimento de o professor analisar a realidade dos seus aparato cultural, e por isso deve ser analisado dentro do contexto
alunos e repensar os conhecimentos adquiridos na faculdade, social, econômico e político, representando também dificuldades
em defini-lo, já que adquire diferentes funções em nossa Assim não basta definir o livro didático apenas como um
sociedade. Desta forma, não se pode desconsiderar o produto científico, já que o conhecimento de maneira alguma pode
entendimento de Paulo Freire sobre o fazer pedagógico: “Na ser neutro, pois é fato que nos movemos de acordo com os nossos
medida em que compreendemos a educação, de um lado interesses; desta forma, o autor também influencia naquilo que está
reproduzimos a ideologia dominante, mas de outro sendo escrito, retratando um dos lados da história, geralmente a
proporcionamos, independente da intenção de quem tem o poder, a história e o ponto de vista dos vencedores. Então, nesse caso, é
negação daquela ideologia [...] pela confrontação entre ela e a preciso verificar o imaginário popular que legitima o livro didático
verdade”. (Freire, 1987, p. 28-9). Nesse sentido, fica evidente que como fonte de conhecimento, pensando que na trajetória das
se pode fazer a diferença no ensino mesmo que os materiais pessoas que passaram pela formação básica na escola são comuns
disponíveis sejam problemáticos se o professor for as lembranças boas ou más dos professores, horários, espaços, e,
instrumentalizado de modo a analisar essas questões com a sala e principalmente, dos livros que marcaram sua história de vida e da
promover a reflexão de como superar esses embates. É importante relação que é passada de pai para filho da autoridade deste tipo de
refletir sobre o papel do professor assumindo sua autoria no material.
processo de ensino, mesmo que isso signifique sair do lugar A formatação do livro didático é algo importante de ser
comum e questionar os próprios saberes. O professor deve ser analisado, visto que se modificou de acordo com o público ao qual
capaz de identificar a partir de textos reais aqueles que estejam em se destina. Primeiramente, o alvo eram os professores, por isso a
consonância com as necessidades da turma para estudá-los, linguagem era bastante técnica por servir como apoio aos seus
fazendo os alunos avançarem na aprendizagem. conhecimentos, cabendo ao docente ditar esses conteúdos aos seus
alunos. (Nakamoto, 2010).
2.2 BREVE HISTÓRICO DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL A partir do século XIX, o livro didático é, enfim,
dimensionado à criança e ao adolescente, e assim o governo
Os materiais impressos na/para a escola assumem brasileiro começa a regulamentar o que deveria conter neste
diferentes funções na sala de aula, sendo as mais comuns material didático, visto que ele poderia ter um conteúdo
classificadas por Abreu (1999) baseados em Chopin (1992) em: inadequado, erros gramaticais ou falhas na impressão. Estas
manual e seus satélites, as edições clássicas, as obras de referência mudanças no perfil a quem seria destinada essas obras didáticas
e os paradidáticos. Estas não são classificações estáticas, mas se são resultados de questões tanto estilísticas quanto comerciais. De
intercalam no contexto da escola. início, nossa análise considerará que a literatura didática no Brasil
Pode-se dizer que os livros considerados manuais e seus inicia-se no século XVI através das cartas que eram levadas pelo
satélites são aqueles que servem de suporte para a ação do professor e pelos pais dos alunos para que as crianças aprendessem
professor. Neste tipo de material, os conteúdos iriam obedecer a a ler, as famosas cartilhas, que eram utilizadas para também
um grau progressivo de dificuldade sob a forma de lições ou transmitir noções de catecismo. (cf. SILVA, 2000)
unidades bem definidas. Essas obras podem ser utilizadas tanto na Alguns depoimentos desta época chegaram a afirmar que,
sala de aula com na orientação do professor, e como também de graças à utilização destas cartas, quase não sobraram documentos
forma individualizada. escritos por causa da intensa manipulação destes documentos e da
As edições clássicas como o próprio nome já diz, trata-se sua degeneração pelo constante uso. Em regiões como Goiânia,
de textos gregos, latinos ou até de língua materna, amplamente onde havia falta deste tipo de material, era comum que fizessem as
divulgadas ou comentadas. Seu uso depende muito da autonomia cartilhas utilizando materiais, como caixas de sapato, grão de
que o professor tem em relação aos programas tradicionais milho ou traçassem letras de todos os tipos em folhas de
adotados pela escola (o currículo). (Abreu, 1999). bananeiras cravadas com folhas de laranjeira. (cf. SILVA, 2000).
Nas obras de referência, não existe um padrão único para Ao lado deste tipo de material, existiam os livros feitos em
classificá-las, podendo ser dicionários, mapas, revistas ou Portugal e trazidos para o nosso País, em que eram reunidos os
enciclopédias que não são de uso estritamente escolares ou clássicos, e, a partir disso, era estudada a gramática, o latim e a
restritos a uma determinada série, mas que servem como um retórica, além de noções de geografia, história e ciências, tendo
complemento para o estudo. pouca ou nenhuma importância a matemática.
Por último, têm-se as obras para escolares também É paradoxal pensar que o LD, tão criticado por seus
chamadas de livros paradidáticos, que, em geral, apresentam um textos artificiais em nossos dias, tenha partido de um modelo que
assunto visto na escola de maneira mais intensa. São obras tinha como base a própria realidade dos educandos, e que estes
destinadas a serem lidas individualmente em casa por livre- aprendiam a ler e escrever através de cartas, ou seja, de situações
escolha do aluno ou se fazendo obrigatória a sua leitura, a reais em que era necessário dominar o código escrito. Porém, a
depender da escola. aprendizagem através de cartas foi logo substituída por um ensino
Compreender como se dá o processo de ensino- alienante, baseado nos livros de origem portuguesa que tinham
aprendizagem requer também examinar os materiais utilizados pouca ou nenhuma relação com a realidade dos alunos brasileiros.
como suporte ou guia na sala de aula. Sabe-se que o livro didático Então era necessário criar livros que tivessem "o jeito" brasileiro
ocupa um lugar privilegiado na maioria das escolas pelo seu fácil de enxergar o mundo; era uma procura pela identidade nacional.
acesso e popularização; nas famílias mais pobres, inclusive, ele é O Brasil só teve as primeiras iniciativas editoriais após a
utilizado como fonte de informação. Analisá-lo significa percorrer vinda da família real portuguesa, quando foi permitido que tivesse
a história envolvendo toda a formatação atual desde o material bibliotecas, jornais, tipografias e a Escola Real de Ciências, Artes e
utilizado como capa à opção por ser livro consumível ou não, o Ofícios, sendo que até o século XIX e começo do século XX os
próprio reconhecimento dos conteúdos elencados para serem livros utilizados aqui vinham de Portugal. Somente em 1930 é que
trabalhados durante o ano letivo baseados na idade da criança e o livro didático no Brasil teve maior notabilidade e crescimento
como foi pensada a divisão dos conteúdos por unidades temáticas. devido à crise econômica mundial, que fez cair o valor de nossa
Tudo isso reflete o fato de o livro didático ser também um produto moeda, e o livro estrangeiro ficou mais caro. Assim, o produto
cultural. nacional tornou-se mais acessível e com uma qualidade gráfica
melhorada, proporcionada pela maior circulação de capital devido
à produção cafeeira. A expansão do livro didático está ligada à alunos, graças à universalização do ensino. Além disso, houve uma
abertura de escolas, incluindo as particulares, na segunda metade série de reformas no curso do magistério, como a criação de
do século XX (cf. SILVA, 2000). disciplinas, como Educação Moral e Cívica nas escolas primárias e
Desta forma, Getúlio Vargas criou o Ministério da secundárias, sendo também a época de auge do livro didático no
Educação e Saúde, passando a exercer um maior controle sobre Brasil.
essa produção nacional e, em 1937, foi criado o Instituto Nacional O aumento da produção do livro didático é influenciado
do Livro (INL) com o objetivo de planejar a divulgação e por dois fatores na área educacional: a formação rápida de
produção, realizando, inclusive, o controle ideológico do livro docentes não os proporcionava ter condições para refletir sobre sua
didático. É dessa época a legislação de 1938 com o Decreto-lei nº prática em sala de aula e a teoria pedagógica centrada nos recursos
1006 de 30/12/1938, em que aparece pela primeira vez a definição técnicos. O tecnicismo é uma concepção de educação que
do livro didático: Então, de acordo com este decreto, para que o privilegia os materiais que auxiliavam na aprendizagem ao invés
livro possa ser reconhecido como didático, é preciso que atenda a de investir nos recursos humanos. Era como se a compra do
duas dimensões: a do aluno e do professor. material didático garantisse por si só a qualidade do ensino ou se a
Em relação ao aluno, o LD apresenta-se como livro de escola dispusesse de um laboratório bem equipado; isso bastaria
leitura em sala de aula, dando a entender que este tipo de ensino para que os alunos aprendessem ciências sem precisar contar com
baseava-se na memorização e que os livros-textos eram utilizados a ajuda do professor. (cf. D’Ávila, 2008).
como única fonte de informação. A outra definição concentra-se Nas décadas de 80 e 90, na maioria das pesquisas sobre o
na ideia de manual do professor, ou seja, de livro que norteia tanto livro didático, havia denúncia sobre esta concepção de ensino e seu
o ensino como a aprendizagem, desde a seleção dos objetivos até a caráter elitista, que se preocupava mais com os lucros do que com
forma de como eles seriam alcançados. os objetivos pedagógicos. Com a extinção da COLTED em1971,
Na Era Vargas, é possível ter uma ideia sobre esta teoria ficou como responsabilidade do Instituto Nacional do Livro (INL)
através da criação da Comissão Nacional do Livro Didático "definir diretrizes para formulação de programa editorial e planos
(CNLD), responsável por verificar se os livros seriam aprovados de ação do MEC e autorizar a celebração de contratos com
ou não mediante alguns critérios, tais como serem escritos em entidades públicas ou privadas" (Oliveira et al. 1984, p.57).
língua portuguesa em sua norma culta e estarem de acordo com o Em 1971, o INL assume o Programa do Livro Didático
sistema educacional vigente. (PLID) com as verbas antes destinadas ao COLTED, sendo que
Estas atitudes tinham como objetivo propagar os neste mesmo ano (1971) é rompido o acordo entre o MEC e a
sentimentos pela Pátria, ou seja, a construção da identidade do que Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Industrial
seria o povo brasileiro e o desejo de ser reconhecido no âmbito (USAID).
internacional. Desta forma, os LDs e cartilhas passaram a enfatizar As políticas públicas para o livro didático mais uma vez
questões de higiene e comportamentos que seriam necessários são alteradas pelo Decreto-lei n° 77.107, e o controle sobre o PLID
para que os alunos se adaptassem às condições do trabalho fica por conta do Fundo Nacional de Material Escolar (FENAME).
naquela época e fizessem o “País crescer”. Após muitas críticas A teoria tecnicista encontrava-se no auge dos discursos sobre
questionando a autoridade desta comissão, enfim, em 1945, é dada aprendizagem, e isto contribuía para reduzir a função do professor
a “liberdade” de o professor escolher seu material didático. Vale e o aumento da produção de livros didáticos no País. (Freitag,
destacar também que o professor até essa época não tinha o direito 1989).
de escolher o livro didático a ser adotado, dada à sua formação As mudanças no gerenciamento do livro didático
precária. Cabia a outro (o governo) avaliar o que seria estudado e continuaram a acontecer desta vez quando o governo passa ao
como seria ensinado, ficando com o professor a responsabilidade Fundo de Assistência Estudantil (FAE) o que antes era coordenado
de passar os conteúdos às crianças. Isso mais uma vez nos remete pelo FENAME, e ainda acrescenta a incorporação do Programa do
ao LD como um manual, legitimado pelo Decreto-lei nº 1006 de Livro Didático-Ensino Fundamental (PLIDEF). Aos poucos, a
30/12/1938, que definia o livro didático como um livro que servia distribuição do livro didático vinculou-se ao assistencialismo, já
apenas na sala de aula. que um mesmo programa oferecia o material didático gratuito e
No período da ditadura militar, houve um retrocesso bolsas-auxílio aos estudantes. (Freitag, 1989).
quanto à escolha do livro didático pelos acordos feito entre o MEC A história do livro didático é marcada por uma série de
e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Industrial criações e substituições de comissões feitas pelo governo para
(USAID), que criaram a Comissão do Livro Técnico e Didático garantir a produção e distribuição do material didático às escolas
(COLTED). Este órgão era responsável pela produção, edição e públicas. Estas comissões não estavam voltadas para a qualidade
distribuição do material didático, e tinha como meta a distribuição do livro didático e deixavam isso a cargo dos professores que
gratuita de 51 milhões de LD em três anos, a criação de deveriam escolher o material a ser utilizado em sala de aula.
bibliotecas e a formação imediata de professores e instrutores. Esta aparente liberdade dada ao professor, mais parecida
Nesse período, houve muitos protestos porque o controle com a omissão do Estado na qualidade do livro didático, se faz
da produção era feito pela agência Norte-americana, enquanto presente quando é criada uma comissão para auxiliar as secretárias
ficava a responsabilidade do Estado apenas a execução das ordens, e delegações do pré-escolar até o Ensino Médio nas questões
como a distribuição do material didático. Além disso, havia sérias didáticas, algo que esta comissão se mostra incapaz de fazer, sendo
acusações de que, com o acordo feito com a agência norte extinta um ano depois de criada. (Freitag, 1989).
americana, o governo estaria “abrindo as portas” para que ela Em 1997, é criado o Programa Nacional do Livro
controlasse o mercado livreiro nacional, já que o Instituto (PNLD), que tem por objetivo a distribuição do material didático e
Nacional do Livro passou para a responsabilidade do MEC a fim o controle da sua qualidade, já que na ampliação do mercado
de ser controlado por ela. editorial não havia por parte dos produtores a preocupação com a
Acrescenta-se que, pela necessidade de acabar com o qualidade do livro didático. Na busca pelo lucro do mercado do
analfabetismo no Brasil, foram extintos os exames para o livro didático, ficavam de fora as questões educacionais, como o
magistério e contratados estagiários, como forma rápida de suprir conteúdo adequado à faixa etária dos alunos, prevalecendo
a carência de mão de obra docente em face da ampliação de interesses mercadológicos, como a produção de livros
descartáveis, o que obrigava o Estado a investir muito mais do que em escolas públicas e privadas, que sejam filantrópicas ou
é feito atualmente na compra do material didático. comunitárias.
A substituição do livro descartável, que continha tanto o O governo federal trata para que as questões
livro-texto como o caderno de exercícios, dá lugar ao livro que mercadológicas não ultrapassem os interesses pedagógicos, de
pode ser reutilizável por três anos, sendo composto por um modo a evitar que se torne um gasto desnecessário ao Estado,
material mais resistente e capa dura, além de está coerente com as tendo pouco ou nenhum proveito em sala de aula. Desta forma,
teorias mais recentes em relação à educação, como o disponibiliza três programas para o controle da qualidade do livro
sóciointeracionismo, letramento e PCNs. didático: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o
O PNLD tem como objetivo avaliar a qualidade do livro Programa Nacional para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa
didático que será adotado pela escola através de alguns critérios e Nacional do Livro Didático para Alfabetização de Jovens e
princípios que irão nortear a escolha dessa obra que será adotada Adultos (PNLA).
em sala de aula. Por esse motivo, o PNLD merece uma reflexão Estes programas representam um avanço quanto à
destacada para que tenhamos mais elementos para discutir a descentralização na política de provisão dos livros didáticos em
prática pedagógica frente ao livro didático. relação às antigas comissões responsáveis pelo controle do
material didático (CNLD, COLTED, FENAME e PLID), dentre
2.3 PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO (PNDL) outros. Um exemplo deste avanço é que, entre 1960 e 1990, todo
controle da distribuição e qualidade do LD estava centralizado em
O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) faz Brasília, e por este motivo eram mais fácil “as manobras políticas”
parte das políticas públicas para educação, e serve para mostrar o entre as editoras e os representantes do governo, o que fazia com
tratamento dado pelas autoridades ao material de suporte na sala que, apesar do controle no preço do livro didático, tivesse pouca
de aula. qualidade.
Como vimos, a questão do livro didático não está ligada A baixa qualidade do LD era também resultado das visitas
somente ao conhecimento imparcial e estático, mas também a ou entregas de catálogos das editoras às escolas, que são as últimas
fatores culturais. A cultura assume o papel de escolher os saberes as mais prejudicadas pela agressividade do mercado e facilmente
considerados indispensáveis de serem transmitidos, segundo o iludidas pelo marketing empregado pelas editoras. Além disso, o
grupo social que o produz, colocando seu ponto de vista sobre o conteúdo posto no livro didático era escolhido a partir de
mundo. Esta complexa relação entre ciência-cultura e didática especialistas de cada área que não tinham experiência mínima em
permite diferenciar o livro didático dos demais livros, segundo sala de aula, e por isso não entendiam toda problemática daquele
Oliveira, J. B. Guimarães e Bomény pelas seguintes contexto.
especificações: Outro aspecto importante desta época é que, após os
professores escolherem o livro a ser adotado pela escola e
1) Livro de consumo obrigatório, dirigido a um encaminhado ao Fundo de Assistência ao Estudante (FAE), a
público cativo; 2) tendo um mercado diferente, o distribuição do livro didático era feita por grandes empresas, sendo
livro didático e outros tipos de livro diferem não que elas se atrasavam, tanto que os livros didáticos chegavam
apenas pelos tipos de público que visam, mas
quase na metade do ano letivo. Estes atrasos eram causados tanto
também pelo comportamento dos consumidores;
3) grande tiragem, nunca inferior a 50% do total
por problemas administrativos como também pelas irregularidades
dos livros produzidos anualmente no Brasil, das verbas para o livro didático. (Abreu, 1999).
segundo análises estatísticas sobre o volume de No atual contexto, o governo federal, através do PNLD,
produção editorial (Anuário IBGE) 4) um livro faz o edital de inscrição das editoras e dá-lhes um prazo para que
genuinamente nacional pelo menos a partir de se apresentem e estejam de acordo com os critérios estabelecidos
uma determinada época da história da produção pelo MEC.
nacional. (OLIVEIRA, et. al. 1984, p. 21 e 22) Após esta convocação, são analisados os livros didáticos
e se eles atendem às especificidades do edital. Depois desta
De acordo com as características ditas acima, pode-se triagem, os livros didáticos aprovados são encaminhados à
perceber que o livro didático é um produto mercadológico, fruto Secretária de Educação Básica (SEB/MEC) onde o material das
de um trabalho conjunto entre editoras, autores, desenhistas e editoras será analisado por especialistas de cada área, que,
profissionais que trabalham com marketing e sua diagramação, posteriormente, elaboram resenhas sobre eles.
dentre outros, e que obedecem a leis de mercado. Além disso, pelo Atualmente, a comissão responsável pela avaliação dos
fato de o LD ser de grande tiragem nunca inferior a 50% dos livros didáticos (CRT) é coordenada por quatro universidades:
livros produzidos no Brasil, constitui-se em grande formador de Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado de São
opinião do seu público (alunos, professores e pais) que acabam Paulo (UNESP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
sendo influenciados pelos valores incutidos no livro didático. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atualmente, a distribuição deste material escolar (o LD) Neste sentido, é perceptível o avanço quanto à
atende a quase 37 milhões de estudantes das séries iniciais até o descentralização do controle do LD que era feito somente em
Ensino Médio, sendo que, no primeiro ano do Ensino Brasília, e que atualmente vem sendo realizado por quatro
Fundamental I, é distribuída também uma cartilha, e os livros universidades, porém em sua maioria da região Sudeste, que é a
utilizados são descartáveis, isto é, o aluno pode usá-lo rabiscando, mais desenvolvida economicamente. Isto significa pensar que o
pintando, colando, e não precisa ser devolvido à escola. Nas séries LD atende aos interesses desta região, já que lá existem fóruns,
iniciais, o governo federal oferece livros de português, feiras e debates que estimulam o pensamento crítico por partes dos
matemática, história, geografia e ciências, que deverão ser professores para que explorem as riquezas de sua região. Porém,
devolvidos no final de cada ano, e utilizado por três anos os outros estados ainda não se veem representados no livro em que
consecutivos na escola por outros alunos. No Ensino Médio, são estudam, pois estes valorizam hábitos de outras regiões, deixando
distribuídos livros de português, matemática, história, geografia, de atender as peculiaridades de cada região.
biologia, química e física. Além disso, já começam a ser
oferecidos livros didáticos em Braille para os deficientes visuais
É importante salientar que, por meio dessa comissão, o Primeiramente, estas discussões giravam em torno da
MEC faz uma avaliação rigorosa dos compêndios, e os mesmos qualidade da educação em nosso País e da distância entre o ensino,
são classificados de acordo com as seguintes categorias: pesquisa e extensão nas universidades. Como Rojo (2005) afirma,
1) Livros recomendados com distinção: livros considerados a escola tem seu currículo pautado no século XIX, com professores
excelente, sendo representados por três estrelas (***); conforme o século XX e alunos com necessidades do século XXI.
2) Livros recomendados: são livros considerados bons que Esta falta de sintonia entre escola e universidade faz com
geralmente estão de acordo com os critérios do processo que a primeira ainda ensine de modo obsoleto “dando as costas” ao
avaliativo, trazendo algumas inovações para o MEC, e são conhecimento mais recente gerado no âmbito acadêmico,
representados por duas estrelas (**); insistindo em erros que podem custar muito à educação. Um
3) Livros recomendados com ressalvas: compêndios aprovados, exemplo desses atrasos é que mesmo com a teoria da psicogênese
porém sem nenhum destaque de qualidade pelo MEC, e que são da leitura e escrita de Ferreiro (1989), algumas escolas ainda
representados por uma estrela (*); alfabetizam seus alunos sob a perspectiva do adulto.
4) Livros reprovados: estes últimos foram reprovados por conter Outro exemplo da distância entre a escola e a área
alguns erros conceituais ou por estar em desacordo com as teorias acadêmica é que, nas teorias que abordavam a construção do
pedagógicas mais modernas. (Brasil, Guia do Livro Didático conhecimento através da interação entre o sujeito e o objeto de
2000-2001). estudo (Lima apud Piaget, 1984), ainda existem muitos que
Os livros reprovados, no entanto, estavam no catálogo ensinavam contrariando esta lógica.
oferecido pelo MEC para as escolas, e estas, muitas vezes, Porém, a persistência em conceitos ultrapassados não se
escolhiam os que foram reprovados ao invés de escolherem os que limitava às teorias de aprendizagem, mas na área de linguagem,
foram recomendados com distinção. Para resolver este problema, pois o ensino de português ainda era baseado em frases soltas,
o MEC proibiu a adoção de livros não recomendáveis pela analisadas palavras por palavra quanto à sua função sintática e
Comissão avaliadora dos LD, e foram retirados do catálogo. Com morfológica. Estudos mais recentes nesta área revelaram aspectos
este tipo de Avaliação, a qualidade dos LD tem sido melhorada a do discurso até então desconhecidos que mostravam a ineficiência
cada ano. desta prática de ensino e apontavam para uma nova direção, que é
A atitude dos professores em escolherem livros sem o estudo da linguagem em situações reais.
qualidade mostram sua insegurança em relação à sua competência; O mais interessante sobre o atraso vivido nas escolas é
não escolhiam os livros ditos excelentes por desqualificar sua que, apesar de haver muitas pesquisas sobre educação e tendo
formação profissional, considerando inaptos a utilizarem este tipo como metodologia as observações em sala de aula, poucas são as
de livro ou por perceberem que seus alunos estavam aquém do que dão retorno a essas escolas pesquisadas. Por outro lado, parece
aluno ideal pensado no livro didático.(D’Ávila,2008) que a escola não dá ênfase às reflexões sobre a prática pedagógica
Após este processo de avaliação, o FNDE disponibiliza ou o diálogo entre professores de outras instituições escolares
este catálogo na Internet e também distribui nas escolas, onde através de seminários e palestras, dentre outros.
serão analisados pela equipe pedagógica de cada área, que, em Diante dessas reflexões que o PNLD acabou provocando,
seguida, escolhe as obras que serão utilizadas. tornou-se necessário eleger alguns critérios que fariam o controle
Este pedido é enviado ao FNDE, que negocia com as da qualidade do livro didático, com bases em teorias recentes sobre
editoras a compra dos livros didáticos, informando a quantidade aprendizagem e sociolinguística, dentre outros. Dentre eles, é
de livros pedidos e onde serão entregues. Tudo isso é realizado destacado também o papel dos Parâmetros Curriculares Nacionais
com a supervisão de técnicos do FNDE para acompanhar a na modificação das práticas de ensino.
qualidade de sua produção e das características físicas do livro. Desta forma, como critérios, tem-se que o LD não tenha
O dinheiro empregado na compra dos materiais didáticos erros sérios quanto ao seu conteúdo; esteja livre de preconceitos e,
é gerado pelo Orçamento Geral da União, sendo a maior parte do inclusive, incentive o combate à discriminação através de seus
salário-educação, que é responsável também pelo pagamento dos textos; esteja claro no manual do professor os objetivos daqueles
professores. conteúdos bem como sua metodologia, e esta se confirme através
A distribuição dos livros didáticos é feita pelas próprias do livro do aluno; apresente variedade de textos quanto ao gênero
editoras através dos correios entre outubro e início do ano letivo, e os tipos de textos para que o aluno se familiarize com eles; o LD
sendo que a remessa do LD já vem com acréscimos para serem precisa conter atividades de leitura e de produção de textos,
utilizadas no caso de perda ou extravio ou pelo aumento de oralidade e gramática de forma articulada, e para que o aluno
matrículas (alunos que são matriculados na rede pública no meio desenvolva a capacidade de leitura e escrita conforme a estrutura
do ano letivo). (Abreu, 1999). de cada texto (Brasil, Guia do Livro Didático 2000-2001).
É importante salientar que a avaliação do MEC sobre os É inegável perceber os avanços que o PNLD traz quanto
livros didáticos não diz respeito apenas à qualidade técnico- aos conteúdos e o interesse pelo debate de questões, como
burocrata dos materiais utilizados na sala de aula, mas também se letramento, gêneros textuais e variedade linguística em todo o
revisam os sentidos da educação no condizente ao que se quer Brasil e suas modificações no processo de ensino-aprendizagem,
operar através da intervenção do LD, de acordo com o tipo de mas é necessário perceber que a avaliação não é somente da
aluno que se quer formar. Comissão Especial de Recepção e Triagem, mas cabe à escola ser
A relação entre a intencionalidade dos conteúdos crítica quanto à avaliação do MEC no referente ao livro didático,
baseados no perfil de cidadania que se quer alcançar permite percebendo também suas limitações, já que o LD é um importante
desenvolver um padrão de qualidade a partir da revisão das bases instrumento de trabalho na sala de aula.
teóricas-metodológicas do ensino atual e suas contradições. Nos
últimos anos, com o PNLD, houve o retorno das discussões sobre
o livro didático sob uma nova ótica, destacando questões didático-
pedagógicas e a incorporação do LD às novas tendências sobre as ATIVIDADE 1
teorias de aprendizagem na criança.
01. Como você define o livro didático?
02. Como você avalia os textos que são produzidos na própria linguagem, que é ensinada na escola, precisa ultrapassar o
escola para auxiliar no processo ensino aprendizagem? letramento puramente escolar e estar pautada no uso que o
individuo fará ao longo de sua vida. Para isso, tem que partir da
03. Quais as características do livro didático? ideia de que a criança tem noções de escrita mesmo antes de
iniciadas no processo de alfabetização. Na sala de aula, é comum o
04. Faça um breve cronograma da história do livro didático. docente impor sua própria relação com a escrita aos seus alunos,
impedindo-os que construam sentidos e hipóteses sobre o código
05. A parti de que momento teve as suas primeiras iniciativas linguístico. (Rojo, 1998).
editoriais? Por quê? A questão do letramento apresenta uma vasta quantidade
de abordagens que ora colocam o letramento como intrínseca à
06. O que é o PNLD? Qual o objetivo da sua criação? alfabetização ou o vêem como independente dela. Até pouco
tempo atrás, a ideia que se tinha sobre alfabetização era que a
07. Atualmente como acontece a escolha do livro didático nas criança chegava à escola sem saber nada e aos poucos decorava o
nome das letras através de cartilhas. Depois de passada essa fase,
escolas?
as crianças aprenderiam sílabas simples como o ba-be-bi-bo-bu, e
o professor escondia as letras que pudessem ter outros sons,
08. Quais os critérios estabelecidos pelo o FNDE para a escolha
dependendo da posição que ocupavam.
do livro didático? A partir da memorização das sílabas, formariam as
primeiras palavras simples até aparecerem vocábulos com dígrafos
e encontros consonantais, e após este longo processo seriam
3. A VISÃO DO LIVRO DIDÁTICO NAS QUESTÕES
apresentadas aos alunos as frases com sílabas simples e, no final
EDUCACIONAIS.
do ano letivo, os textos. O processo de alfabetização estaria
completo quando a criança soubesse ler e escrever, mesmo que ela
O governo brasileiro investe milhões na produção de
não compreendesse aquilo que foi lido e não soubesse interpretar o
livros didáticos, e isto incentiva a concorrência entre as editoras.
texto. O letramento, por sua vez, se daria ao longo da vida
No meio desse lucrativo mercado, está a escola e a preocupação
estudantil da criança pelo ensino de modelos, como os de cartas,
na formação para o exercício efetivo da cidadania.
ofícios e relatórios, dentre outros. (Rojo, 1998).
Contrariando esta lógica, Paulo Freire (1987) já
3.1 LETRAMENTO E LIVRO DIDÁTICO: ALGUMAS
preconizava o termo literacy, quando afirma que a criança já tem
CONSIDERAÇÕES.
um conhecimento resultante de suas experiências, e com estes
O letramento, termo em voga nestes últimos anos, tem
dados faz a leitura de mundo. Assim, apesar de a criança não saber
sido utilizado sem restrições a tudo o que se relaciona à educação,
escrever a palavra cadeira, sabe definir este objeto e dizer sua
e, em especial, ao ensino da língua portuguesa. Na verdade, este
serventia de acordo com as experiências que teve. Estes
termo é uma tradução do vocábulo inglês literacy, que, em geral,
conhecimentos não podem ser ignorados, pois vão servir de base
significa a condição de quem sabe ler ou escrever (Soares, 2009).
não só para alfabetizar o aluno como também para politizá-lo.
As discussões sobre o letramento tomaram fôlego no
Esta politização se dará através de um método de
Brasil com um século de atraso, se tomar como referência os
alfabetização que enfatize mais do que a internalização de um
países europeus. Este atraso é decorrente das políticas públicas
código: um processo de conscientização das classes populares de
voltadas para a democratização do ensino e o desafio de acabar
sua condição de cenário político. No primeiro momento, o
com o analfabetismo em nosso País . Quanto aos programas de
educador deverá buscar os temas geradores do grupo que vai ser
alfabetização até os anos 80, a preocupação era com a quantidade
alfabetizado, ou seja, assuntos que sejam comuns no dia a dia dos
de pessoas que sabiam ler e escrever o próprio nome e não com a
alunos e pelos quais eles se interessem.
continuidade dos estudos. Ao poucos, os professores perceberam
A partir da valorização dos conhecimentos prévios do
que as pessoas liam, contudo não entendiam o real sentido do
educando, o desafio é romper a superficialidade do senso comum e
texto, e raramente se interessavam a ler algo que não fosse
falar da complexidade de maneira simples. Nestas discussões com
obrigado pela escola.
o grupo, deve-se listar as palavras significativas e identificar as
O discurso acadêmico procurava respostas que
letras que a compõem, e depois separá-las em sílabas, formando
explicassem o sucesso de algumas crianças em ter competência
novas palavras. O elemento forte, no método freireano, é a
para o uso da leitura e escrita fora do contexto escolar e outras por
conscientização política por meio da prática, e por isso depois de
não terem o mesmo desempenho. Neste sentido, as análises que
alfabetizar e dominar as operações básicas da matemática o grupo
determinavam o fracasso das crianças, baseadas em critérios como
alfabetizado era incentivado a escrever um livro-texto para as
a classe social do estudante, se mostravam ineficazes.
próximas classes de alfabetização.
Em meados da década de 80, percebeu-se que quanto
Reelaborando o que se pensava sobre o livro didático,
mais a criança tivesse em contato com as práticas sociais, que
Paulo Freire mostra que é possível fazer uma prática educativa
envolvessem a leitura e escrita antes do processo de alfabetização,
emancipadora quando os próprios alunos fazem um livro-texto
seria mais fácil adquirir competências que possibilitassem sua
para os grupos posteriores se alfabetizarem. Longe de se constituir
inserção no mundo letrado. Porém, o letramento passou a ser
em cartilhas, o livro-texto contém noções de letramento quando
entendido como algo meramente escolar e não como um processo
considera os conhecimentos prévios do aluno.
ativo e essencial para a vida em sociedade. (Rojo, 1998)
Aliás, a questão do letramento é controversa, segundo
Muito se tem discutido sobre o fracasso escolar no
Ferreiro (1989), pois a criação deste termo parece determinar que a
processo de alfabetização e, consequentemente, a inserção nas
alfabetização é apenas o domínio do código linguístico. Assim,
práticas efetivas de leitura e escrita nas camadas mais excluídas da
quando se fala que o indivíduo é alfabetizado mas não letrado,
sociedade letrada. O domínio destas práticas é tão importante que
parece pressupor que a alfabetização é algo mecânico.
afeta de maneira irreversível o sujeito, transformando seu processo
de interação social através da linguagem. (Rojo, 1998) Esta
Pensar na alfabetização apenas como decodificação é um A prática em sala de aula deve estar pautada em materiais
retrocesso, por considerar que o ser humano faz suas próprias que a criança utiliza no seu dia a dia que fazem parte da cultura
hipóteses sobre a escrita e a leitura em sua interação com a local, utilizando de vários elementos que não podem ser colocados
variedade de materiais, como livros, revistas e anúncios, dentre no livro didático, como a exibição de filmes, músicas e visitas a
outros. museus para incrementar a aprendizagem e desenvolver o senso
Em nossa sociedade, o letramento não se dá apenas nos estético e crítico.
sentidos determinados, texto em contextos específicos, mas pela
variedade de materiais, como música e vídeos, dentre outras coisas 3.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O LIVRO
que fazem parte do mundo atual e que têm sido transmitidas a uma DIDÁTICO.
velocidade muito alta.
A escola tem por função, além de permitir a construção Desde a Grécia Antiga, já existia a preocupação em se
do conhecimento pela criança, ensiná-la a desenvolver sua fazerem livros que auxiliassem na aprendizagem. Diferentemente
autonomia, ou seja, diante das informações que chegam o todo de sua formatação atual, o LD era uma coletânea de textos
tempo, e, com isso, o indivíduo deve saber filtrá-las para facilitar retirados de clássicos que deveriam ser lidos em sala de aula.
sua vida. Esta autonomia pode ser desenvolvida se for apresentada Até pouco tempo atrás, o ensino tradicional era pautado
desde cedo à criança diferentes linguagens em que ela possa no professor e em suas técnicas de ensino. O livro didático
interagir, comparar, avaliar e obter informações, entre outros. ocupava o lugar de coadjuvante; era uma forma de não perder
O professor pode utilizar-se do livro didático para ser um tempo com cópias, indo direto à transmissão dos conteúdos.
apoio nas questões relacionadas ao letramento, porém tem que O professor tinha como responsabilidade o planejamento
ficar atento aos seus limites. Por exemplo, mesmo que o LD de suas aulas e o domínio dos conteúdos que seriam estudados.
apresente uma variedade de gêneros textuais, as suas análises Este professor era membro da elite, assim como os seus alunos.
podem ser deficientes, valorizando a repetição ao invés da Com a “democratização do ensino”, a carreira de professor passa a
reflexão sobre um tema. ser desvalorizada, entrando em cena um novo perfil de professor: o
Segundo uma pesquisa feita por Marcuschi (2005) sobre da classe popular.
as perguntas encontradas nos exercícios de compreensão de texto, Estas mudanças da classe social dos envolvidos na escola
ele as identificou da seguinte forma: cavalo branco, cópias, pública fizeram com que o professor fosse desvalorizado através
objetivas, inferências, vale-tudo e metalinguísticas, entre outras. dos baixos salários e de sua formação deficiente. Neste cenário, o
a) Cavalo branco: são chamadas assim porque um bom LD assume outra finalidade: o protagonista do
exemplo deste tipo de pergunta é: qual a cor do cavalo branco de ensinoaprendizagem.
Napoleão? Ou seja, se refere àquelas perguntas em que a resposta O livro didático passa a direcionar o ensino, poupando o
está dentro do próprio questionamento. Desta forma, estas tempo para o planejamento das aulas, e assim o professor poderia
perguntas não permitem uma reflexão apurada, só que o aluno ensinar em quantos colégios quisesse, a fim de manter um salário
tenha uma atenção na pergunta. digno.
b) Cópias: como o próprio nome já diz, as respostas para O governo brasileiro, ao verificar o grau de disparidade
este tipo de pergunta estão na transcrição de algumas partes do entre o ensino de diferentes regiões brasileiras, a falta de formação
texto. Um quinto do total de perguntas pesquisadas por Marcuschi docente de qualidade e o uso do livro didático como referencial
se encaixam nesta tipologia. curricular, propõe que “é preciso, portanto, oferecer-lhes os textos
c) Objetivas: trata-se das perguntas que sugerem a pura do mundo: não se formam bons leitores solicitando aos alunos que
decodificação. Geralmente servem para identificar personagens, leiam apenas durante as atividades em sala de aula, apenas no livro
fatos ou outros dados de um texto. didático [...].” (PCN LP pág. 55).
d) Inferenciais: estas perguntas são mais complexas O livro didático, neste trecho citado, é visto como um
porque exigem ir além do texto para descobrir sua resposta. Para material que, mesmo auxiliando na aprendizagem, não pode ser o
isso, o estudante deve se valer de enciclopédias, dicionários e único suporte pedagógico. A variedade de textos reais, no processo
revistas, entre outros. de letramento, possibilita que a criança interaja com diferentes
e) Vale-tudo: estas são identificadas como perguntas em linguagens, aumentando seu nível de letramento.
que se admitem quaisquer respostas. Na verdade, são mais um Estes blocos de conteúdos devem estar relacionados ao
pretexto para se falar sobre um assunto do que algo ligado ao uso-reflexo-uso da língua portuguesa, isto quer dizer que a
próprio texto. linguagem só pode ser estudada a partir do uso dos alunos,
f) Metalinguísticas: são perguntas que enfatizam as refletindo sobre aspectos da fala e escrita para aperfeiçoá-los e
questões estruturais ou gramaticais do texto. Indagam sobre a colocá-los em novas situações comunicativas. Segundo Marcuschi
quantidade de parágrafos, o título ou até mesmo da classe (2005), existe na escola uma confusão entre linguagem e língua
gramatical de alguma palavra. que é refletida no livro didático através de exercícios que
A partir desta análise, é possível perceber que a questão privilegiam a memorização.
do letramento no livro didático ainda se dá de maneira confusa. A linguagem é a capacidade inata do ser humano em se
Há uma alternação entre aqueles que veem o texto como um comunicar e organizar o pensamento, de forma a tomar
código a ser decifrado e o leitor sendo um agente passivo, e outros consciência de sua temporalidade e raciocínio, já à língua refere-se
que apelam para o total espontaneísmo, abrindo mão de citar as a um fenômeno particular, histórico e também social. Isto porque a
estruturas do texto e das questões lexicais. forma com que as pessoas falam vai se constituindo, com o passar
O Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa, do tempo, na escolha por um determinado termo e não outro, no
que é um documento com o objetivo maior de nortear o trabalho diálogo entre as pessoas. (Marcuschi, 2005).
pedagógico, entende a língua materna enquanto recurso para No livro didático, a visão que se estabelece sobre a língua
efetivar a participação social do indivíduo. Por isso, cabe à escola é a de que ela é um código que precisa ser desvendado e
oferecer o acesso às modalidades linguísticas necessárias para a dominado, e por isso quase não é mencionado o papel da oralidade
formação cidadã. em nossa sociedade. Muitos ainda entendem a fala como espelho
da escrita, e desse modo se o indivíduo souber a técnica da escrita ajudá-lo a criar hipóteses sobre o sistema alfabético da escrita.
estará apto a falar corretamente. Nestas circunstâncias, a escola não pode fingir mais que a aula de
Geralmente, o lugar da oralidade é visto como o da português serve para explicar a língua como fenômeno neutro e
informalidade, da gíria e do erro. Poucos são os que se dão conta externo ao aluno. No modelo tradicional, a memorização das
de que existem várias modalidades da fala e que cada uma se regras da gramática faria com que o aluno escrevesse bem textos
adequa a uma determinada situação. O reflexo desta visão é que que seriam ensaios para a vida fora da escola.
no livro didático estudar a língua materna parece tratar apenas de O domínio da leitura e escrita se faz através de um
sua forma escrita, deixando de lado a oralidade. processo ativo entre o indivíduo e o objeto do conhecimento,
Nos Parâmetros Nacionais Curriculares, a orientação provocando o desenvolvimento do seu pensamento. Isso só é
dada quanto à oralidade é que “é preciso, portanto, ensinar-lhe a possível no contato com materiais diversos de leitura que
utilizar adequadamente a linguagem em instâncias públicas, a incentivem o sujeito a questionar os objetivos e intencionalidades
fazer uso da linguagem oral de forma cada vez mais competente”. dos textos e a refletir sobre o funcionamento de sua língua
Isso significa que não basta deixar as crianças materna.
conversando para que exercitem a fala, mas organizar situações Segundo os PCNs, as situações didáticas devem ser
didáticas em que se possam fazer um estudo sistematizado sobre a propostas, tendo em vista a reflexão dos recursos utilizados por um
língua falada em situações mais formais e em sua variedade e determinado autor para que fosse compreensível seu texto ou
riqueza. (PCN,1998) atingisse um determinado objetivo. O ensino não precisa mais
Alguns livros que se pautam nos PCNs tentam colocar estar voltado à categorização das palavras, como se tivesse um
um pouco dessas teorias em seus conteúdos, porém as iniciativas sentido único, e sim para os aspectos que estruturam um parágrafo.
têm se manifestado em suas maiorias frágeis por não apresentarem Atualmente, existem duas tendências no livro didático
uma concepção mais estruturada sobre a língua. A relação entre a quanto aos aspectos gramaticais: aqueles que são mais tradicionais
oralidade e escrita ainda ocupa um lugar menor no LD, isso e os que apresentam a gramática de maneira evasiva. No primeiro
quando a fala não é confundida com gírias e informalidade. caso, o LD apresenta em seu sumário as classes gramaticais que
(ROJO,2005). serão trabalhadas separadamente, sempre iniciadas com conceitos,
Em muitos casos, a fala aparece no livro didático como demonstrações e exercícios, sendo que as particularidades
linguagem coloquial que deve ser reescrita para a forma padrão, normalmente são ignoradas ou tratadas no rodapé do livro.
esquecendo-se que existe um contínuo de possibilidades entre a (Marcuschi, 2005).
escrita e a oralidade. Constata-se também o desrespeito pela Já nos livros didáticos mais modernos, a análise
variedade linguística apresentada de forma ainda discriminatória. gramatical se dá através do texto, sendo que não existe mais a
Muitas vezes as atividades ditas como de produção oral delimitação de uma unidade para tratar de uma classe gramatical,
não passam de exercícios que prezam a oralização da escrita ou mas esta se encontra difusa em todo material didático. Partem
têm por finalidade um texto escrito. A orientação dada pelos PCNs assim da ideia de que a criança aprenderia as regras gramaticais no
é que o docente trabalhe a questão oral de forma significativa, por contato com variados textos.
exemplo, orientando sobre entonação ou linguagem corporal em É lógico que qualquer falante nativo de uma determinada
atividades, como debates, simulações de programas de rádio, língua tem uma gramática interna permitindo sua comunicação em
dramatizações e seminários, entre outros. sociedade, mas é necessário analisar que, em certas situações, a
Em se tratando de conteúdos, o PCN divide a oralidade comunicação não basta, sendo preciso fazer isso através de
em dois segmentos: escuta e produção de textos orais. Para a convenções consideradas padrão.
escuta, é sugerido o estudo sistematizado da oralidade, abordando No geral, o ensino precisa aliar a realidade imediata do
elementos, como gêneros discursivos, aspectos gramaticais e aluno às práticas escritas que ele não conhece, de maneira a
relação entre escrita e fala, assim como expressões faciais e melhorar suas relações sociais. O PNLD tem como um dos
gestos, entre outros. critérios de avaliação justamente a diversidade de textos no livro
No que se refere à produção de textos orais, a sugestão didático. Ler e produzir diferentes gêneros textuais permite que o
do PCN é que o aluno tenha acesso e possa participar de diferentes aluno adquira mais fluidez e autonomia nas práticas de leitura e
textos orais, desde a gravação da própria voz do aluno até a escrita. O processo de ensinar a criança a ler e escrever não
análise de algumas novelas, entrevistas ou debates televisivos em termina no momento que ela é alfabetizada, mas perdura ao longo
que possam ser estudadas as argumentações, hesitações próprias de sua vida quando aprende a retirar de um texto aquilo que sana
da fala e sua organização e diversidade. sua necessidade naquele momento. É necessário que durante a vida
De modo algum estas atividades devem enfatizar as do indivíduo, ele seja capaz de interpretar informações,
diferenças entre a fala e a escrita, mas enfatizar suas relações no transformando-as para seu próprio beneficio, como, por exemplo,
dia a dia do aluno de acordo com o grau de formalidade de uma interpretar as demandas atuais e se qualificar para o mercado de
situação. Assim, existem situações que exigem um nível de trabalho.
formalidade do oral, como apresentação de seminários ou da Na maioria dos livros didáticos, existe a preocupação dos
escrita informal como um bilhete. Além disso, a relação com a autores em fornecem materiais variados para estudo, porém a
escrita também sofreu alguns ajustes no ensino graças às teorias abordagem que se faz de maneira geral é deficiente. A
de Vygotsky e Bahktin, entre outros. (PCN,1998). interpretação do texto varia entre questões cujas respostas se
Com base nestes teóricos (Bahktin e Vygotsky), a encontram no próprio texto e que não exigem reflexão àquelas que
linguagem passou a ser vista como um sistema dinâmico de podem ter uma infinidade de respostas, e por isso o professor não
comunicação fundamental para a articulação do pensamento. Por pode descobrir a dificuldade do aluno.
estes motivos, a língua não pode se resumir à transmissão de um Durante muito tempo, na escola era comum que os alunos
código, mas à apropriação dos sentidos e usos que a leitura e fizessem redações para que o professor avaliasse seu nível de
escrita evocam naquele grupo. escrita. Longe de ter uma função maior, o objetivo do aluno era
Reconhecer o aluno como sujeito social é valorizar as dissertar, narrar ou descrever um assunto que só teria utilidade na
experiências que este indivíduo tem anterior à própria escola e escola.
A produção escrita na escola ainda é marcada pela cópia Segundo Becker (1995), existem várias formas de se
ou imitação dos modelos oferecidos pelo professor. Os PCNs encarar o conhecimento: empirismo, apriorismo, assimilação ou
entendem que o aluno, ao escrever um texto qualquer, desenvolve construtivismo. A visão empirista trata do conhecimento enquanto
uma série de atividades cognitivas envolvidas no planejamento do experiência dos órgãos dos sentidos, ou seja, a criança conhece
texto até a sua revisão com base em certas propriedades ou marcas um determinado objeto através do ver, ouvir, tocar ou saborear.
próprias e na sua interação com o ambiente. Esta concepção defende que o mundo do objeto é
Esta atividade de produção textual tem um sentido maior determinante para o sujeito e não o seu contrário. Isto quer dizer
quando o texto que esse aluno faz serve para um determinado que, segundo os empiristas, o sujeito é um ser passivo e sem
objetivo, sendo explícito o motivo que o leva a escrever, tendo controle sobre o seu meio físico, já que o objeto possui um fim em
uma função social além dos muros da escola. O domínio da língua si mesmo.
oral e escrita é essencial para o exercício da cidadania, porque Em se tratando do apriorismo, acredita-se que a gênese do
permite resolver alguns problemas, garantindo a boa comunicação conhecimento é dada pela capacidade que o indivíduo tem ao
quando se aprende ouvir e falar no momento certo e de maneira nascer, condição esta dada geneticamente ou pelo processo de
apropriada. Através da escrita, o indivíduo pode se apropriar dos maturação vivido pelo indivíduo. Esta teoria é contrária ao
bens materiais produzidos pela humanidade e conhecer seus empirismo por explicar o conhecimento enquanto atividade do
direitos e deveres.(PCN,1998) sujeito de forma a relativizar a experiência anterior na superação
O livro didático assim como os PCNs são dois materiais de novos problemas.
que passam pelo controle do MEC, e por isso deveriam estar em Já para os construtivistas, a origem do conhecimento não
sintonia. Porém, o que é visto é que a maioria dos LDs entende a está nem na natureza do objeto nem no sujeito, mas em sua
fala enquanto oralização da escrita ou que ainda estão assimilação: o sujeito, ao nascer, utiliza-se de seus atos reflexos
confusos quanto ao tratamento que a gramática deve receber na para manter-se equilibrado com o meio, porém quando é desafiado
análise do texto. De certa forma, estes equívocos ainda são através de novas situações ele considera as experiências anteriores
tolerados no processo de avaliação do livro didático (PNLD), e as modifica a fim de se adaptar ao ambiente.
apresentando divergência com os textos que compõem os PCNs. A É interessante notar que o professor como profissional
consequência disso é que o professor precisa ter uma base teórica que lida a todo momento com o conhecimento, muitas vezes é
sólida para intervir em sala de aula criticamente, buscando e incapaz de defini-lo, mas mesmo assim demonstra ter uma
analisando os interesses mercadológicos presentes no LD e as consciência clara das inúmeras formas de se alcançá-lo. É evidente
questões educacionais. que vem à tona o discurso entre a dicotomia entre a teoria e a
prática, sendo a primeira referente aos conteúdos e a outra às suas
4.0 O USO DO LIVRO DIDÁTICO OU DAS APOSTILAS NA aplicações.
ESCOLA? No Brasil, uma compreensão errônea do que venha a ser o
construtivismo acabou criando alguns mitos tanto relativos ao
A linha tênue que determina a conduta do professor ensino como à aprendizagem. O conhecimento adquiriu uma nova
frente ao livro didático tem sido delimitada historicamente. Mas roupagem, juntando elementos do apriorismo e empirismo
como ocorrem essas relações nos dias atuais na dinâmica da sala disfarçados de teorias construtivistas que geraram desconforto
de aula? geral entre alunos e professores. (Becker, 1995).
O discurso que circula no senso comum é o da distância Um desses mitos é o de que o ato de ensinar não pode se
entre a teoria e a prática enquanto dimensões do conhecimento. É restringir à teoria, pois o aluno só aprende através da prática, isto
como houvesse duas realidades independentes entre si para é, algo como se o conhecimento fosse algo exterior ao aluno e que
explicar um mesmo fenômeno. A pesquisa surge como uma precisasse ser transmitido através do professor. Desta forma,
atividade mediadora entre a teoria e a prática por conter em si a recorre-se ao empirismo quando a prática é entendida como forma
busca pela compreensão de uma realidade através da elaboração de o sujeito aprender as teorias, sem dar oportunidade de se fazer
do conhecimento de forma a orientar nossas ações. questionamentos.
É no “chão” da sala de aula que se desenrolam as teorias O neoempirismo nas escolas é caracterizado pelo
de ensino e aprendizagem de modo cíclico: através da pesquisa na espontaneísmo na sala de aula, isto é, o professor acredita que pôr
escola, investigação de uma problemática na busca por soluções, as crianças em contato com o material de estudo seria suficiente
teorizando-as de forma a comprovar sua eficácia ou não. Por isso, para que elas aprendessem. Sem o conhecimento básico sobre o
quando o livro didático é objeto de estudo, sua compreensão assunto, não restaria outra maneira ao aluno senão continuar no
precisa envolver a própria dinâmica em sala de aula. senso comum. Nesta visão, a prática não passa de uma forma de se
Se a autoridade do professor tem sido obscurecida pelo entender a teoria, já que na teoria tudo é ideal e desligado das
livro didático, é necessário analisar as práticas que permitem este experiências anteriores do aluno, sendo que a escola é a única
silenciamento. Isto tem a ver com a própria concepção de responsável por transmitir estes conhecimentos. Este
conhecimento, ensino e aprendizagem que o professor tem e que conhecimento aparece como exterior ao próprio aluno, e por isso
refletem no cotidiano da sala de aula. cabe ao professor “iluminar”, transmitindo estas teorias.
A identidade docente constitui-se dos domínios dos Outra tendência adotada pelos professores é entender o
conteúdos a serem trabalhados, das técnicas necessárias para a conhecimento como experiência ou adequação entre o sujeito e o
mediação didática e daquilo que o indivíduo acredita fazer parte ambiente. A escola funciona como fase preparatória para a vida em
dos atributos para ser um bom professor, algo que tem a ver com a sociedade, sendo que o conhecimento serve de elemento
sua história de vida e as ideologias presentes nela. Quando o para domesticar o sujeito. Segundo o empirismo, o aluno deve se
professor não tem segurança do seu próprio conhecimento ou esforçar para entender o mundo tal como ele é, aceitando esta
acredita que seria apenas o reprodutor deste conhecimento realidade para a ela se ajustar. Parece claro que esta forma
acumulado pela humanidade e não integrante da produção destes transvestida de construtivismo é uma versão nova do apriorismo e
saberes, mas de uma Ciência com “c” minúsculo, o livro didático de uma filosofia milenar que é a adequação do sujeito à sociedade.
pode se tornar uma boa alternativa para o seu trabalho. (Becker, 1993). À primeira vista, parece estranho existir o
apriorismo na escola pós-moderna, mas ele está implícito na sala relação com o livro didático. Ainda são fortes nas escolas as
de aula, em situações que ainda se admite a língua materna práticas didático-pedagógicas autoritárias originadas pelo senso
somente em sua forma culta, desprezando as variedades dialetais. comum acadêmico, sendo preciso traçar um caminho para a
Desde a democratização do ensino, existe um abismo superação de tais epistemologias.
entre linguagem ensinada na escola e aquela que é falada pelo
aluno. Muitas vezes, o que se faz na escola é ignorar a linguagem
do grupo social do aluno (tida como errada) e fazê-lo engolir a 5. O CURRÍCULO
norma culta. Ainda se vê na sala de aula os conteúdos sendo
passados como se fossem verdades absolutas e imutáveis, de Ao relacionar mudanças e transformações ao contexto
maneira a priorizar o produto final ao invés dos processos que escolar estamos analisando os aspectos reais e criando hipóteses de
levam ao conhecimento. Por este motivo, ainda é forte no ensino solucionar ou interpretar o mundo moderno e a escola.
de história os fatos sendo descritos por uma visão unilateral,
desprezando a ação de outros grupos sociais sob um determinado É nessa perspectiva que propomos uma análise da
evento. realidade escolar atual, tal como se dá o processo educacional e a
No ensino de matemática, o apriorismo se faz presente relação que se deve estabelecer entre responsabilidade social e o
quando se valoriza o cálculo sem refletir no processo que induziu papel da escola, pois o currículo nos níveis de educação
à hipótese que solucionaria o problema. Esta forma de entender a obrigatório, pretende refletir o esquema socializador formativo e
matemática impede o aluno de pensar nas questões históricas, cultural que a instituição escolar tem. Sacristan (2000).
políticas e sociais imbricadas nesses cálculos. Segundo o Para se ter claro o “x” da questão é necessário esclarecer o
apriorismo, existem diversos estágios de desenvolvimento do conceito de currículo e só então relacionar seus problemas aos
conhecimento, e a passagem de um nível menor para um maior se fatores reais e atuais da educação.
dá através da experiência.
Muitos teóricos se assemelham, outros divergem quando
Existe também a concepção do conhecimento como
se conceitua o currículo, porém o que se percebe é que esta
acesso sensorial, ou seja, a sua construção é decorrente da
discussão no âmbito pedagógico é muito recente: Normalmente
exploração dos cinco órgãos dos sentidos, algo que mais uma vez
atribuímos essa problemática aos comportamentos didáticos,
qualifica o conhecimento enquanto algo externo e determinante ao
políticos, administrativos e econômicos, mas todos esses aspectos
sujeito.
estão ligados entre si e todos são responsáveis por essa construção
Becker (1995) afirma que em maior ou menor grau todos
e disseminação, porém é necessário um olhar minucioso no que se
os docentes são empiristas; isto porque é a concepção que mais se
refere à prática curricular e a complexidade em que ela está
aproxima do senso comum. É como se o conhecimento fosse
envolvida, pois o fazer pedagógico deve ter a excelência das
adquirido através de uma resposta a um estímulo fornecido pelo
mudanças e transformações sócias.
ambiente.
Na falta de uma base teórica mais sólida, muitos docentes Grundy (1987) apud Sacristan (2000) analiza-o como:
acabam planejando as atividades de sala de aula de modo
intuitivo. Lançam mão das teorias mais recentes sobre educação,
mas quando precisam justificar suas escolhas sobre a forma de ver O currículo não é um conceito, mas uma construção
cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato
o conhecimento é fato que prevalece o senso comum.
que tenha algum tipo de existência fora e previamente
Uma consequência de ver o conhecimento como forma à experiência humana. É, antes, um modo de organizar
do sujeito se adaptar ao mundo é o ensino como treinamento. uma série de práticas educativas.
Assim, colocam-se exercícios exaustivos sobre um determinado
assunto até que o aluno venha fixá-lo. Nos livros didáticos de
língua portuguesa, o apriorismo aparece quando existe um livro O currículo não pode ser associado a apenas um
somente para interpretação de textos e outro só para gramática. A documento didático, seu aspecto é bem maior e abrange uma gama
questão da motivação do aluno frente ao conhecimento também é de caracteres do âmbito educacional e social simultaneamente,
um ponto que merece atenção por concentrar alguns equívocos. O essa relação significa uma organização das experiências humanas
professor se vê como aquele que põe uma lógica para que o em prol da prática educativa, porém seu conceito abrange diversos
conteúdo estudado tenha sentido para a criança e, às vezes, nesta seguimentos da educação.
busca acaba tendo uma visão errônea do que é partir dos interesses
De acordo com a expressão de Grundy (1987), o currículo
dos alunos. não pode estar fora e nem prévios as experiências humanas. É o
Confunde-se muito o considerar os interesses do aluno a
que nos faz pensar em como acontece o processo ensino
partir de uma avaliação sobre o que ele sabe e o que ele pode aprendizagem? E como se relacionam os envolvidos nesta
aprender com o ensinar o que a criança tem vontade de aprender.
perspectiva de educação?
Sabe-se que o ofício do professor está muito além da sala
de aula; ele planeja suas atividades conforme seus objetivos de O desenvolvimento curricular nas escolas não
ensino, traçando o currículo para aquela turma. No ensino a partir corresponde ao que é necessário e nem atrativo para o sistema
dos interesses dos alunos, o professor “abre mão” do seu papel de educacional atual, visto que as mudanças ocorridas são muitas e as
ser o orientador da aprendizagem para primeiro descobrir no que escolas não acompanham essa evolução.
as crianças se interessam e assim traçar o currículo da sala. O O desenvolvimento científico e tecnológico é visível. É
problema aparece porque a criança ainda não tem maturidade necessário que a escola repense sobre a sua função e como se
suficiente para saber o que deve ou não ser aprendido, já que processa dentro desse contexto atual. Pois o mito que a escola era
isso compete ao professor, e por isso em muitas escolas se tem a única fonte de conhecimento e de cultura já está ultrapassado. È
constatação que se perdeu o foco da aprendizagem. lamentável que as aprendizagens escolares continuam sendo
A base epistemológica à qual o ensino está direcionado é dissociadas da aprendizagem experiencial dos alunos, pois essas
uma das vertentes para se estudar o trabalho em sala de aula e a experiências são recursos de libertação e de conscientização
crítica. Para Sacristan (2000) esse distanciamento se deve à conhecimento dentro do sistema escolar e iniciando na
própria seleção de conteúdos dentro do currículo e a ritualização prática educativa, enquanto apresenta o currículo seus
dos procedimentos escolares, esclerosados na atualidade. consumidores, ordenam seus conteúdos e códigos de
diferentes tipos. (SACRISTAN, 2000; p 109).
É necessário que a escola torne-se aliada desse
desenvolvimento realizando uma educação completa aos atrativos
sociais, evitando que aconteça a famosa escolaridade paralela, tão A política é responsável por selecionar, ordenar e mudar
frequente nas classes média e alta dos ambientes urbanos. Essa o currículo, este trecho da citação de Sacristan (2000), deixa a
dissociação entre a cultura curricular e os meios externos vão reflexão sobre o quê e quem estabelece interesses pelo contexto
deixando a primeira mais absoleta, ocasionando consequências educacional, já que veículo passa por instâncias administrativas
visíveis aos grupos de alunos, pois ao analisarmos as causas do que regulam e condicionam o sistema curricular.
fracasso escolar percebemos que um dos principais motivos do
Quando a escola utiliza o currículo através das
desinteresse dos alunos é a falta de atrativo do sistema
prescrições política está homogeneizando a aprendizagem,
educacional.
executá-lo desta maneira deixa de ser uma sistematização de
Mas Perrenoud, em seu livro Pedagogia da Diferença experiência para se torna uma forma empírica de educação,
(2000), constata o fracasso escolar como um dueto entre as deformando toda a ideia central que o currículo é um instrumento
desigualdades reais de capital cultural e as hierarquias de significativo para desenvolver os processos de conservação,
excelência. Essa forma de analisar o fracasso escolar, na visão de transformação e renovação dos conhecimentos, Moreira (2003).
Perrenoud, demonstra a falta de oportunidade de alguns (quase
Sabe-se que a política administrativa interfere na política
todos), em usufruir da educação. Porém acredito que essa
curricular, pois a relação entre ambas é alicerçada nos interesses
dominância do saber deve ser derrubada, pois já basta essa
próprios de cada uma, estabelecendo mecanismo para
sociedade excludente de oportunidades e de perspectivas futuras, é
homogeneizar informações e condicionar conteúdos que favoreça a
necessário acabar com esse quadro vergonhoso, a escola deve
instância mais importante. Porém, não se pode separar uma da
conscientizar-se do seu papel e analisar quais são os entraves e as
outra, o ideal seria que a política administrativa exercesse a função
formas de modificar essa realidade tão enraizada na educação
de reguladora do sistema curricular, ou seja, assumiria a função de
brasileira.
criar dispositivos para uma organização de conteúdos,
Desta forma, ainda especifico o currículo como a relacionando a cultura aos saberes específicos de cada grupo.
principal diretriz para o quadro educacional e atribuo a ele os
No Brasil, a realidade é ainda muito diferente, pois a
méritos e os fracassos da educação, pois um currículo onde se
alienação social e o “descompromisso” diante da educação,
focaliza um olhar à singularidade, que assume sua função
Godotti (2000), é um fato. Ficando para poucos, o que seria de
socializadora, onde o principal objetivo é o compromisso o fazer
todos. Só se sabe o que é educação quem constrói educação. O
pedagógico, esse sim, refere-se ao currículo real. Mas, a visão que
ideal seria que todos estivessem comprometidos em prol de um
prolifera é de currículo como grade curricular, ou seja, um
objetivo único, ou seja, a valorização da educação, assegurando
agrupamento de assuntos a serem desenvolvidos durantes alguns
assim, o direito a um diferencial educacional, tornando esse
anos de uma série determinada, sem dar valor ou significado ao
contexto um veículo para a ascensão social.
que se deve ser aprendido e sem nenhum compromisso com o
fazer social. 5.2 GESTÃO PARTICIPATIVA
Rule (1973), define o currículo como experiências A educação numa perspectiva de mudança curricular
humanas organizadas para a prática educativa e que se envolve todos os grupos sociais. Paulo Freire em uma das mais
diferenciam através dos objetivos e da forma expressada no conceituadas citações, “Ninguém educa ninguém. Ninguém se
programa da escola. educa sozinho. Os homens se educam em comunhão, mediados
pelo mundo”, destaca a importância do meio como estratégia de
Desta forma, compreender o currículo através das
aprendizagem. Desta forma vale analisar o funcionamento da
sistematizações das experiências dos alunos significa relacioná-lo
escola e os aspectos sociais que a envolve.
à tradição cultural, a reflexão do contexto social, pois esse
mecanismo de aprendizagem distribui o conhecimento concreto, No livro Gestão da Escola, Desafios a Enfrentar, Vieira
real e crítico, fazendo com que os alunos tornem-se agentes (2002) aborda a educação contemporânea e os aspectos que
construtores do processo. influenciaram esse sistema. Dos fatores destacados um é bastante
pertinente para a reflexão de que a escola por si só não garante os
O currículo está basicamente ligado ao contexto
desafios modernos. Vieira (2002) transferiu de forma grandiosa a
educacional, mas para compreender seu significado deve-se
responsabilidade dos pilares da educação ao sistema de gestão da
conhecer as estruturas internas, Sacristan (2000), que estão
escola, ou seja, aprender a conhecer, aprender a fazer aprender a
ligadas ao enquadramento político, à divisão de decisão, ao
conviver e aprender as ser (UNESCO 1999), não é função apenas
planejamento, a tradução de materiais, ao manejo por parte do
do sistema escolar como um todo, mas competências a serem
professorando das tarefas de aprendizagem e a avaliação dos
conquistada pelo gestor educacional.
resultados.
1. Aprender a conhecer o mundo contemporâneo e
5.1 POLÍTICA CURRICULAR
relacioná-lo com as demandas de cada escola (sua
Ao que no referimos quando falamos em política clientela - seus sonhos, suas necessidades, seus direitos –
curricular? seus profissionais, sua vizinhança, suas condições etc.);
Este é um aspecto especifico da política educativa que 2. Aprender a planejar e fazer (construir, realizar) a escola
estabelece a forma de selecionar, ordenar e mudar o que se quer (o seu projeto pedagógico);
currículo dentro do sistema educativo, tornado claro o
poder e a autonomia que diferentes agentes têm sobre 3. Aprender a conviver com tantas diferentes pessoas,
ele, intervindo, dessa forma, na distribuição do definindo e partilhando com elas o projeto da escola;
4. Aprender a utilizar, sem medos, as próprias 5.3 PLANEJAMENTO
potencialidades de crescimento e formação contínua. Toda organização é fundamental, o ato de planejar é algo
O mundo está em processo de transformações contínuas. constante em nossas vidas, pois a todo tempo estamos planejando
As mudanças ocorridas na sociedade devem estar conectadas com ou organizando uma ação. Mas para escola o planejamento tem um
a escola, pois a função da mesma é possibilitar o crescimento valor fundamental ele circunda todas as instâncias da educação, ou
intelectual, crítico e participativo dos cidadãos, sendo ela o melhor seja, se planeja a escola pra se planejar a aula. Vasconcelos (1995),
meio para disseminar essa cultura. Desta forma, é necessário que a confirma essa hipótese quando diz que o planejamento é o
mesma reveja os seus conceitos, assim como seu processo. processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar.
É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do
Se a escola tem como objetivo uma formação
aluno.
democrática ela deve ter uma prática democrática, ou seja, o
conhecimento deve expandir os muros da escola, e desarticular o Organizar o currículo é atribuir sentido para uma nova
que temos hoje, herança da cultura da educação tradicional, onde a prática, ou seja, é possibilitar uma operação entre a intenção e a
prática educativa baseava-se na transmissão e na assimilação dos ação.
conteúdos pré-estabelecidos de um currículo muito convencional. O plano curricular é forma de executar o que foi
Vivemos ainda na marca do tradicionalismo, onde um idealizado é atribuir sentido ao projeto pedagógico, pois a escola
sabe e o outro aprende do que sabe, não há integração nem se assume em sua ação no fazer educação.
reformulação, há sim uma transmissão. Essa prática circunda todo A construção do planejamento curricular está ligada à
universo escolar. Um ensina e o outro aprende, um manda e o forma em que ele será executado, muitas vezes ficando por conta
outro obedece. Se procurarmos rever essa prática teremos que da política que o prescreveu ou então dos fabricantes de livros
mudar a postura, e uma das formas para que isso aconteça é a didáticos que lhe construiu. Desta forma, a escola é apenas um
delegação de atividades e a descentralização do comando. A executor de uma receita pronta, é disseminadora de uma cultura
escola não está disposta a um único sistema, a escola é de todos e local que muitas vezes não é a real.
para todos (UNESCO). A escola por si, não resolve a questão
curricular, mas ela e seus agentes internos (gestão, professores e Uma educação voltada para uma intencionalidade tem
alunos) são fatores imprescindíveis para o seu desenvolvimento. que haver uma organização mais substancial na construção do
currículo. Favorecendo um plano em que o currículo seja
significativo para os alunos.
Um sistema único e descentralizado supõe objetivos e
metas educacionais claramente estabelecidos entre a Ao desprezar a visão tradicional do currículo como
escola e o governo, visando a democratização do organizador de conteúdo, e reavaliar o conceito do mesmo
acesso e da gestão e a construção de uma nova atribuindo seu significado como projeto educativo a ser construído
qualidade de ensino, fundada nas necessidades com base nas necessidades de um grupo e na sistematização de
básicas de aprendizagem da comunidade. conceitos próprios, é estamos dando a aprendizagem uma forma
(GODOTTI, 2000; p 51). real e significativa para seus educandos.
Os professores são mediadores entre o currículo e os
A hierarquia do poder é algo forte que mexe com as alunos, nesta perspectiva o planejamento da prática deve envolver
estruturas internas do coletivo, como já citado, somos sustentados singularidades dos alunos e os aspectos culturais e sociais do meio
pela prática da obediência, desta forma o universo escolar torna-se em que ele faz parte, pois planejar está além de atender os
um espaço complexo no que se refere ao comando, não somos objetivos e conteúdos do currículo, Sacristan (2000), tornando
educados para dividirmos soluções, e sim de aceitá-las ou assim o contexto de sala de aula um ambiente em que a
discordá-la alicerçando a cultura do falar mal do sistema. aprendizagem ocorra de acordo com os ideais da realidade.
Infelizmente ainda há necessidades de mudanças. Mudanças essas Zabala (1998), ao se referir ao fazer pedagógico, no seu
que passam além do universo da escola. Para que isso aconteça é livro Prática Educativa, ele não descarta a possibilidade de
necessário uma reformulação na capacitação do gestor, onde se utilização dos materiais curriculares e sim uma reavaliação dos
torne claro que o seu papel é de organizador de um sistema onde mesmos em função da demanda escolar.
todos são participantes ativos na busca de um objetivo único, a
educação. Os materiais curriculares, como variável
metodológica, seguidamente são menosprezados,
Durante muito tempo, o gestor escolar deveria ter apenas apesar de este menosprezo ser coerente, dada à
a competências de resolver problemas burocráticos, como importância real em que tem estes materiais.
organizar orçamentos, calendários, vagas entre outros, porém a (ZABALA, pg. 167, 1998).
escola urge por muito mais, ela não se vale apenas disso. O gestor Neste trecho, Zavala (1998) deixa claro que os materiais
educacional ainda possuindo tais competências precisa assumir curriculares são fontes para os professores, mas no próximo
uma postura de líder, ou seja, ser capaz de entender todas as seguimento ele justifica que os mesmo se não forem utilizados de
instâncias da educação exercendo sua função de administrador forma adequada pode ditar convenções e regras determinadas por
cumprido com os prazos e metas, compreendendo e qualificando uma visão unilateral e até mesma estereotipada de uma realidade
o fazer pedagógico, e envolvendo a comunidade no processo dita convencional.
escolar, tornando a escola um agente social.
O projeto pedagógico muitas vezes é confundido como
Visto que a LDB/96 aprova no art. 3º uma gestão plano, não que nele seja descartado as metas e os procedimentos,
democrática, e o grau de complexidade que envolve essa mas que nele abranja outras demandas da escola, Gadotti (2000),
demanda, é que torna-se necessário o gestor estar próximo da conceitua o projeto pedagógico como o confronto entre instituído e
comunidade, percebendo suas necessidades e fazendo da escola o instituinte, ou seja, a escola não deve negar ao instituído a sua
um local para um ideal de transformação.
história, a sua vivência e sim relacioná-la com o contexto execução, desta forma possibilitar a educação um currículo
educacional tornando o sujeito da sua aprendizagem. compatível com as mudanças sociais é mesmo que proporcionar
recursos compatíveis para seu desenvolvimento, pois a educação
É nesta perspectiva que se torna essencial o papel do
não se faz apenas com transmissão.
gestor e seu envolvimento com a diversidade, pois só através
É percebível a dificuldade das escolas em ter acesso aos
dessa relação é que ele torna-se apto para construir um verdadeiro
recursos pedagógicos primários para o desenvolvimento da prática
projeto pedagógico valorizando as diferenças e especificidades do
educativa, mas é necessário que a mesma identifique no social os
seu sistema educativo.
caracteres importantes para seu funcionamento, assim como é
A escola não tem um fim em si mesma. Ela esta a serviço fundamental que as políticas públicas disponibilizem recursos
da comunidade. Gadotti (2000), desta forma torna se claro o papel para sua aquisição e expansão nas escolas.
da escola e a função do gestor no que se refere em tornar a escola Tendo em vista a dificuldade que o sistema educacional enfrenta é
um objeto de sistematização das necessidades sociais e a melhor que se faz necessário uma análise sobre como se desenvolve a
forma pra conhecer estas necessidades e proporcionando uma política educacional perante a aquisição dos materiais didáticos.
relação mútua entre a escola e os seus envolvidos (alunos, pais, As políticas públicas têm a consciência que a educação é
professores, comunidade), tornando todos participantes nesta um instrumento fundamental para o desenvolvimento econômico
construção. do país desta forma estabelecer subsídios para esse
O envolvimento da comunidade na escola não deve se desenvolvimento é promover a redução da pobreza. Sabendo que
limitar a reuniões periódicas para transmissão de informações e a educação se faz mola mestre na economia do país é que
sim na participação ativa das tomadas de decisões, elaborando investidores como o Banco Mundial, possibilitam meios como
uma consciência crítica, criativa e autônoma na construção do estratégia de custo beneficio.
projeto pedagógico. A educação básica proporciona o conhecimento, as
habilidades e as atitudes essenciais para funcionar de
O gestor deve ter a consciência da capacidade funcional maneira efetiva na sociedade sendo, portanto, uma
dos seus atores e através deles criar projetos ousados em prol do prioridade em todo lugar. (BANCO MUNDIAL apud
crescimento da sua comunidade, ou seja, a formação é necessária TOMMASI, 2003, pg. 131).
e a valorização dos seus componentes também. Desta forma, a
escola se tornará espaço onde se construa saber e que se prolifere Como o BM tem interesse em aumentar a qualidade
a ação comunitária. educacional valorizando esse aspecto como subsidio para o
desenvolvimento social, disponibiliza recursos através de
5.4 RECURSOS financiamentos de projetos que acumulam cerca 250 bilhões de
Os recursos didáticos são fontes fundamentais na dólares Soares (2003),o propósito deste, é impulsionar as
elaboração e na execução do currículo, seu caráter muitas vezes mudanças necessária na alocação dos recursos, definindo como
chega a determinar, ditar e conduzir a ação do professor. Porém ações prioritária para mudanças significativa no âmbito
não se pode desprezar o valor dos recursos em prol da educacional. Uma das principais medidas é Providenciar livros
aprendizagem, pois a existência de tais meios favorece, ampliam didáticos e outros materiais de ensino (livros de leitura, jogos e
e veiculam as tomadas de decisões na escola. brinquedo pedagógico), Tommasi (2003).
Para se ter claro à importância deste aspecto Zabala A disponibilização de tais recursos é fundamental para o
(1998), conceitua os recursos didáticos como: desenvolvimento do currículo, visto que, o BM definiu a melhoria
dele como frente de trabalho no setor da educação primaria
Os materiais curriculares ou materiais de Tommasi (2003), porém acredito que um se relaciona com o
desenvolvimento curricular são todos aqueles desenvolvimento do outro, apesar da preocupação central estar na
instrumentos que proporcionam ao educador aquisição dos livros didáticos, compreendo a necessidade dos
referências e critérios parar tomar decisões, tanto no recursos ultrapassarem as fronteiras dos livros, não desmerecendo
planejamento com na intervenção direta no processo sua necessidade, mas compreendendo que apenas eles não
de ensino/aprendizagem e em sua avaliação. (1998 satisfazem as mudanças necessárias na educação.
pg.167).
O livro didático alicerça uma cultura educacional, assim
O autor evidência neste trecho a importância dos recursos como o currículo como todo, pois alguns profissionais conceituam
como instrumento para tomadas de decisão, tornando este aspecto o currículo apenas como aglomerados de conteúdos ou conceitos a
fundamental para o desenvolvimento curricular, mas o que serem seguidos e estes muitas vezes ditam ou determinam.
proponho é uma reflexão sobre os aspectos dominantes dos
recursos. 5.5 FORMAÇÃO DE PROFESSOR
Um dos maiores entraves do currículo é torná-lo
significativo e ao mesmo tempo atraente para os alunos, ou seja, O professor como executor do currículo escolar, torna-se
vivemos hoje rodeados por uma infinidade de recursos. A todo elemento chave para o desenvolvimento do mesmo, pois através da
tempo estamos em contato com informações, e estas são prática docente é que se atribui significância ao currículo escolar.
transmitidas de diferentes formas, tornando a escola e seu Sabendo que, o currículo não se determina como um
conteúdo obsoleto para as pretensões dos alunos. programa de ensino e que a sua execução se faz em um ambiente
Desta forma caracterizo a utilização dos recursos como repleto de subjetividade e complexidade é que se torna necessário
algo imprescindível para educação, pois se tomarmos como uma avaliação sobre como se baseia e se executa a prática
premissa que a educação se constrói a todo instante, teremos a pedagógica.
confirmação que a todo o momento estamos passando por Autores como Demo (1993), Sacristan (2000), Perround
construção ou por uma resignificação de conceitos, podendo este (2000), Gadotti (2000) e Pimenta (2002), evidenciam em suas
acontecer de forma determinada ou não. obras a importância da formação do professor, destacando
Infelizmente, a realidade atual da educação brasileira unanimamente que o professor não é apenas um executor do
deixa a desejar tanto no seu funcionamento quanto na sua
currículo como ferramenta e sim um construtor deste subsídio, que Quando os professores interpretavam esse material,
baseia a educação. utilizavam suas experiências, analisavam o contexto para o
Ao analisar a importância do professor e da sua formação desenvolvimento das aulas e as possibilidades de assimilação
Demo (1993), caracteriza atuação como algo insubstituível, porém dos conhecimentos pelos alunos. Esta análise deveria colocar as
ele compreende o professor como um pesquisador, onde a sua prescrições do currículo oficial em ação que, na prática, segundo
meta é de ser mestre e jamais discípulo, desta forma ele evidencia Sacristán (2000, p. 105) o currículo "é guiado pelos esquemas
o valor do mesmo e da sua formação, pois nada mais essencial que teóricos e práticos do professor e se concretiza nas tarefas
o professor estabelecer uma crítica perante o regime e a sua acadêmicas, [...] sustenta o que é a ação pedagógica, assim
atuação educacional. podemos notar [...] o que são as propostas curriculares."
Sabe-se que a evolução e a transmissão dos No mesmo sentido desta interpretação, tem-se a explicação do
conhecimentos se propagam velozmente e que a formação do estagiário em seu relatório de observação. O aluno-estagiário no
professor não dá conta dessa demanda, as exigências perante a ano de 1985 descreveu como identificou o currículo e suas
ação educacional são grandes. O professor como pesquisador é influências na prática do professor:
fundamental, porém acredito que é necessário possibilitar a
construção de um currículo renovador, onde tanto o professor O currículo é um dos instrumentos que procura
quanto o aluno possa ser o mediador desta construção, Pimenta sobredeterminar o conteúdo da matéria a ser ensinada,
(2002) confirma essa hipótese referindo-se que a formação inicial, como proposta de curso a ser adotada, ou que até
efetivamente sobredetermina esse conteúdo, na medida em
por melhor que seja não dá conta de colocar o professor a altura
que é adotado cumprido acriticamente por grande parte os
desta responsabilidade através de seu trabalho, assim como das professores, é o currículo oficial. Geralmente, quando não
novas necessidades que lhe são exigidas para melhorar a qualidade se segue o currículo oficial, seguem-se os livros didáticos,
social de escolarização. Desta forma evidencia uma das outra autoridade. O currículo oficial traduz o papel que o
competências descrita por Perrenoud (2000), que é o professor Estado atribui à História, através dos conteúdos e
administrar sua própria formação contínua. atividades sugeridas. (RELATÓRIO 10, 1985)

Para Sacristan (2000): Portanto, será a prática pedagógica de cada professor que
vai colocar em ação, segundo as suas interpretações, o currículo,
A formação do professor não costuma ser das mais com suas sugestões de conteúdos mínimos, exercícios e métodos
adequada quanto ao nível e a qualidade para que estes de ensino. Mas os livros didáticos tornaram-se a fonte das
possam abordar com autonomia o plano de sua informações contidas no currículo prescrito, submetendo os
própria prática. Com certeza porque tecnicamente não docentes a seus desígnios. Os materiais didáticos são importantes
esteja bem estruturada e desenvolvida, mas talvez
para a aplicação do currículo porque, segundo Sacristán (2000, p.
também parta do pressuposto que tal competência
possa ser substituída por outros meios. 157), "são os tradutores das prescrições curriculares gerais, são os
divulgadores de códigos pedagógicos, e são recursos muito
Essa citação deixa a ambivalência sobre o seu sentido, seguros." É possível concordar plenamente com as palavras do
pois o professor como autônomo desenvolve sua prática autor, quando nos relatos dos professores verificou-se o uso de
significativa, apesar da sua formação não possibilitar subsídios e livros didáticos de outras séries de ensino, adotados por eles como
competências para isto, ele como participante da ação curricular base para suas pesquisas.
tem o dever torná-lo com a prática, baseada ação cultural e social. A prática dos professores é, ainda para o mesmo autor,
Mas ao mesmo tempo Sacristan (2000), desresponsabiliza o uma "prática institucionalizada", decorrente das influências
professor de tal atuação confirmando a teoria que a aprendizagem externas e das relações ensino-aprendizagem e professor-aluno. O
pode e deve acontecer em diferentes ambientes. autor observou que os pais e os professores identificavam certos
conhecimentos como mais valiosos e induziam os alunos à
5.6 O CURRÍCULO E A METODOLOGIA DE ENSINO DO aceitação desses. O conflito sobre quais conteúdos abordar surgiu
PROFESSOR. quando se pretendeu mudar os que eram considerados adequados
pela comunidade. Tratando-se do ensino de História as
especificidades eram mais amplas, os conteúdos da disciplina eram
Pôde-se verificar, segundo a análise das fontes, que os
entendidos pelos pais como de domínio comum, e esses pais
professores transitaram entre obras mais antigas reconhecidas na
consideravam a possibilidade de intervir e opinar sobre o quê e
área e livros didáticos produzidos, muitas vezes, em decorrência
como o professor deveria ensinar determinados conteúdos.
da publicação de sugestões curriculares oficiais. Os conteúdos
desenvolvidos nas aulas dependiam das práticas pedagógicas
adotadas pelos professores e das relações estabelecidas com os
alunos, com os materiais didáticos e com os programas oficiais. O 5.7 O CURRÍCULO DE HISTÓRIA: NOVAS TENDÊNCIAS
currículo oficial estabelecia conteúdos mínimos e, era elaborado E PERSPECTIVAS
por pesquisadores e docentes que nem sempre conheciam as
diversidades e as especificidades das salas de aulas. Esse currículo Os currículos constituem um dos instrumentos mais
trazia sugestões de atividades adequadas a cada conteúdo significativo na formação intelectual no contexto escolar. Ao
proposto. analisar os currículos escolares, deve-se ter presente que estes, no
Na maioria das vezes, ele era apresentado aos professores interior de seu texto, revelam um contexto social, econômico,
pelos livros didáticos que os adaptavam, sem expressarem de cultural e político. Dessa forma, não pode ser entendido como um
modo aprofundado os conteúdos sugeridos pelo currículo oficial. mero veículo de transmissão desinteressada do conhecimento
Batista (2002) reforçou essa idéia quando comentou que os livros social. Esse conhecimento, portanto, não pode apenas ser analisado
didáticos acabavam assumindo as funções expressas pelo como algo estático e naturalizado como um conjunto de
currículo. conhecimentos para ser absorvido por professores e “repassados”
aos alunos de maneira inquestionável, mas sim compreendido
como um instrumento de (re) produção do conhecimento a ser consideradas oficiais, mantendo assim, a sua neutralidade. Não há
ensinado. subjetividade do historiador, e, consequentemente, não há uma
Assim, o processo de construção do currículo é um subjetividade histórica que possa contribuir para o pensamento
processo social o qual incorpora tendências e pensamentos de histórico, seja do historiador, do professor ou do aluno.
determinadas épocas e locais. Certeau (2010), destaca que: No marxismo, mudanças significativas de pensamento da
compreensão histórica podem ser destacadas, porém algumas
Toda pesquisa historiográfica se articula como um local permanências são evidentes. Aqui o ocorre uma problematização
de produção sócio- econômico, político e cultural. Implica do passado pelo historiador. O historiador não mais com a sua
um meio de elaboração que circunscrito por objetividade, mas sim dando ênfase a sua subjetividade. No
determinações próprias: uma profissão liberal, um posto pensamento marxista ainda permanece a progressividade
de observação ou de ensino, uma categoria de letrados,
ET. Ela está pois submetida a imposições, ligada a
cronológica dos acontecimentos baseado no modelo francês de
privilégios, enraizada em uma particularidade. É em divisão histórica: História Antiga, História Medieval, História
função deste lugar que se instauram os métodos, que se Moderna e História Contemporânea, porém, sob uma nova
delineia uma topografia de interesses, que os documentos roupagem baseada nos modos de produção: Primitivo, Asiático,
e as questões, que lhe serão propostas, se organizam Escravista, Feudal,Capitalista, Comunista.
(p.66). Pode-se considerar como momento histórico de passagem
da História positivista e marxista para uma História “renovada” a
Portanto, considerando que a disciplina de História Escola dos Annales10 de 1929, que, de acordo com Burke (1992,
sempre esteve entrelaçada aos discursos historiográficos de p. 9), deu base para a “Nova História”.
determinada época e local, pode-se dizer que o currículo de A Nova História, movimento que de acordo com o autor
História também esteve ( e ainda está) ligado a tendências conquistou espaço na historiografia com os escritos de Le Goff da
historiográficas. Destaca-se também que ao ser produzido convive década de 1970 e 1980, principalmente os três volumes “novos
lado a lado com outros agentes sociais. Assim, o currículo é problemas”, “novas abordagens” e “novos objetos”, e aos poucos
produzido de acordo com os autores que os constroem, e, mais conquista espaço entre os historiadores e consequentemente
importante ainda destacar, que estes estão vinculados aos lugares influencia na maneira de pensar e elaborar o conhecimento
de produção e a política cultural e econômica de onde eles falam, histórico a ser “transmitido” em sala de aula.
assim como a corrente historiográfica a qual os autores À partir da década de 70 e 80, novos olhares foram
compactuam. direcionados para a escrita da História, buscando uma análise
Machado (2002), destaca que: cultural dos acontecimentos históricos, assim como, a utilização de
novas fontes e outras vozes antes silenciadas, ou seja, na Nova
O conhecimento histórico é resultado das indagações que História o historiador faz parte do movimento da História.
os historiadores fazem ao passado, e essas são diferentes
As contribuições da Nova História para a historiografia e
devido aos interesses, perspectivas e orientações teóricas
que eles lançam ao passado, pois os historiadores são para o ensino de História, ampliaram o leque de discussões
fruto de seu tempo. Eis porque a história é constantemente possibilitando um caráter inovador e uma flexibilização curricular
reescrita. Dessa forma, as interrogações, as motivações para a escolha e organização do conteúdo escolar. De acordo com
que movem o historiador em sua pesquisa histórica vão se Machado (2002, p. 198), a Nova História trás “uma multiplicidade
refletir na escrita da história, que revelará certa concepção de enfoques e gêneros, como a história das mentalidades, história
de história (p. 192). do cotidiano, história oral ( mais como técnica), história social e
microistória”. O autor ainda destaca que:
Diante dessa discussão, Horn e Germinari (2009, p. 24)
também destacam que , “ a História como toda ciência define A história passa a ter por função a reconstrução da história
historicamente seu objeto”. Os autores ainda complementam: das sociedades mais próximas do real; é uma história
problema que pretende iluminar o presente e ser uma
É necessário que se tome o objeto da História na sua forma de consciência que permite ao historiador
historicidade, pois sua definição tem mudando de acordo compreender as lutas atuais e, ao mesmo tempo, quando
com as transformações e a forma como a História vem se detiver o conhecimento do presente, permite-lhe o
constituindo como campo de investigação científica, entendimento de outros períodos da história
como método próprio, e enquanto disciplina, matéria que ( MACHADO, 2002, p.199)
deve ser estudada” (p. 24).
Pode-se destacar como uma das mudanças da
Assim, concebendo que o currículo corporifica as historiografia à partir da Nova História é a compreensão da
correntes historiográficas e as mudanças que ocorreram tanto na categoria tempo. De acordo com as concepções dessa corrente
sociedade como na escola, é necessário considerar as mudanças historiográfica o tempo é percebido não como uma narrativa de
metodológicas e historiográficas que ocorreram nas últimas acontecimentos lineares, cronológicos, mas sim, visto como uma
décadas. Destaca-se então algumas vertentes teóricas que, de construção histórica – cultural, resultado das ações culturais e
diversos modos, têm deixado vestígios na forma de estruturar a sociais do homem no tempo e no espaço: o tempo histórico
compreensão histórica, tais como o positivismo, o marxismo e a ( Braudel, 1986).
Nova História. Fonseca ( 2003, p.56) destaca que no Brasil essa mudança
O positivismo, ao reforçar a compreensão fixa do de olhar para a escrita da História, desenvolve-se a partir da
passado baseado em documentos oficiais considerados como década de 1980 e 1990. A autora destaca que a partir desse período
fontes de verdades históricas, acaba excluindo do debate o “livro didático deixou de se dedicar quase que exclusivamente
historiográfico a problematização histórica. As tendências aos fatos da política institucional e alargou o campo do
positivistas, incorporadas nos currículos de História, reproduzem conhecimento histórico ensinado nas escolas”. Assim, percebe-se
os acontecimentos históricos considerando a objetividade dos nas últimas décadas uma tentativa de estruturar os conteúdos
agentes envolvidos. Cabe ao historiador resgatar e históricos numa visão mais crítica, que possibilite ao aluno um
reconstruir o passado tal como é concebido por fontes
pensar histórico voltado a problematização da História e a ênfase Entre essas mudanças no livro didático, destacam-se: a
para a múltiplas temporalidades. Porém, ainda é presente nas natureza do material textual, estudo com os textos, leitura, escrita,
escolas, assim como em vários livros didáticos, a dificuldade de oralidade e análise linguística.
romper com a História tradicional, com a linearidade cronológica  Natureza do material textual: o livro didático tem que
e evolucionista dos acontecimentos pois continuam reproduzindo estar de acordo com o nível de compreensão da criança,
fatos e acontecimentos que priorizam determinados grupos sociais tendo como base os estudos de Piaget sob o
ou culturais. desenvolvimento da inteligência. Além disso, é necessário
que a criança entre em contato com a maior quantidade de
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS textos de circulação social.
Dos materiais utilizados na escola para facilitar o ensino  Estudo com textos: o estudo sobre a teoria do discurso foi
e a aprendizagem, poucos são aqueles que despertam tantas fundamental para perceber que a criança aprende melhor
polêmicas como o livro didático. Se por um lado existe um sobre leitura, escrita e gramática em contato com textos.
consenso na utilização dos computadores, mapas, cadernos,  Leitura: a maneira de encarar a leitura também mudou,
quadro-negro, entre outros, o livro didático ainda produz opiniões pois é vista a partir de situações reais de interlocução
diversas sobre o seu uso. entre o autor e o leitor que possibilitem a reconstrução
Talvez as polêmicas geradas pelo livro didático sejam dos sentidos empregados no texto, explorem as estruturas
causadas pela confusão que se faz em relação à natureza deste textuais bem como, que levem o aluno a desenvolver o
suporte pedagógico. Não se pode esquecer que o livro didático gosto pela leitura e a ter senso crítico.
possui algumas peculiaridades, como sua lógica, o público ao qual  Escrita: a partir do uso de textos reais para estudo, o
se destina e sua utilização para fins específicos. O livro didático aluno deve ser capaz de produzir textos com diversas
acabou despertando o interesse de muitos pesquisadores por suas finalidades respeitando a estrutura discursiva dos
características e tem sido objeto de estudo sob os mais diversos diferentes gêneros textuais.
enfoques. Muitos ainda adotam uma postura bem tradicional  Oralidade: O livro didático não é responsável por ensinar
quanto ao livro didático, preferindo estudar suas ideologias, os alunos a falarem até porque isso eles já sabem,
outros, contudo, preferem se aprofundar nas questões didático portanto, cabe a ele abordar a linguagem oral na interação
pedagógicas. na sala de aula, propiciar o desenvolvimento da oralidade
O que não se pode perder de vista no estudo sobre o livro em situações mais formais, refletindo sobre as diversas
didático é a sua tradição na escola. O livro didático é tão formas da oralidade e da escrita.
consagrado em nossa sociedade que virou sinônimo de escola e de  Análise linguística: a reflexão sobre a língua materna não
professor. Tanto é que para avaliarmos se o LD é bom ou ruim, pode estar de forma descontextualizada, mas sempre
muitas vezes, recorremos às mesmas qualidades ou defeitos que ligada às situações de uso, considerando e tendo respeito
analisaríamos um professor. pelas variedades regionais e sociais. Muitas vezes, o livro
Sabe-se que a história do livro didático nem sempre está didático continua abordando as questões gramaticais de
ligada à autonomia e à competência do professor, já que em maneira tradicional ou acredita que o simples contato
muitos momentos para contornar a formação precária do docente com os textos faz com que o aluno reflita sobre o
foram investidos milhões no mercado de livros didáticos. Não é à funcionamento de sua língua.
toa que o auge da produção de livros didáticos dá-se ao mesmo Diante de todas essas mudanças no livro didático, não se
tempo em que o professor é desvalorizado através de cursos de pode afirmar se houve uma melhoria no ensino ou não, pois o LD
formação sem permitir a reflexão e baixos salários. não deixa de ser um instrumento ao qual cabe o professor dar
No começo, o governo brasileiro percebeu o quanto era sentido, por isso aliado aos investimentos na qualidade do livro
lucrativo o mercado do livro didático e passou a produzi-los, mas didático deve-se também ter um preparo maior na formação
aos poucos foi entregando a produção à iniciativa privada. A docente.
responsabilidade assumida pelo Estado estava apenas na compra e Na Escola especificamente na sala do primeiro ano, foi
distribuição do material didático, sendo que a avaliação possível analisar os sentidos dados ao livro didático e sua
estabelecida pelo governo não estava interessada na qualidade do coerência com a teoria de ensino-aprendizagem defendida pela
LD. docente e sua prática em sala de aula. A relação instituída entre o
O Estado passou a ter preocupação sobre a qualidade do professor e o livro didático na prática em sala de aula não era tão
livro didático de forma expressiva a partir do PNLD (Programa forte, pois a docente preferia atividades no caderno ou retiradas de
Nacional do Livro Didático), o resultado foi imediato: em 1997 outros livros fornecidos pelas editoras no começo do ano como
dos 1.159 livros inscritos de 1ª a 8ª série para serem avaliados pela espécie de propaganda nas escolas. A professora do primeiro ano
comissão do PNLD 329 livros foram reprovados. deve aproveitar os textos construídos na escola, como os avisos,
A reprovação desses livros didáticos foi mediante aos para refletir com os alunos sobre o nosso sistema de escrita ou de
seguintes critérios: coerência e adequação metodológicas, histórias contidas nos LD para explorar dramaticamente os textos e
preceitos éticos, clareza nos conceitos e informações que o LD discutir sobre várias questões.
transpõe. Este controle na qualidade dos livros didáticos tem A postura que a professora adota em relação ao livro
provocado uma verdadeira corrida para adequação destes didático deve ser fruto do desencontro entre aquilo que a
materiais aos PCNs e às teorias pedagógicas mais recentes. professora acredita e a teoria adotada pelo livro que ainda sob uma
De certa forma, a adequação dos livros didáticos aos PCNs e às perspectiva transmissiva, por esse motivo ela recorria a outros
teorias pedagógicas mais recentes tem sido algo bom, mesmo materiais impressos como suporte para aprendizagem. Então,
diante da uniformização destes materiais didáticos. Essa mudança como construtivista era normal que apoiasse sua prática nos
foi necessária porque o livro didático é um material privilegiado conhecimentos prévios dos alunos, desestabilizassem aquilo que
de acesso do aluno à leitura e escrita. eles pensam a partir da resolução de problemas até que, com a
ajuda dela, eles construíssem novas hipóteses.
O trabalho pedagógico em relação ao livro didático, na outros textos ou apostilas estiverem em sintonia com a sala de
escola, deve ser feito de modo crítico, porém, quantos professores aula, vai haver uma grande ajuda à aprendizagem, mas estes
agem do mesmo modo, se tomarmos como referência que muitos materiais por si só não podem resolver problemas mais complexos
docentes não possuem uma base epistemológica clara nem senso em Educação. Ter boas condições de trabalho como ambiente
de criticidade aguçado? Veremos, então, que são pouquíssimos os propício ao ensino-aprendizagem e formação docente de qualidade
docentes que agem de modo crítico, “O caso é que não há livro é essencial para solucionar algumas questões escolares.
que seja à prova de professor: o pior livro pode ficar bom na sala
de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau
professor.” (Lajolo, 1996).
É necessário ficar alerta para o fato de que, se o livro
didático e a incrementação de recursos em sala de aula como
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ANEXO
(ARTIGO: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: PROBLEMAS E POSSIBILIDADES).

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