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Editora Poisson

Tópicos em Administração
Volume 8

1ª Edição

Belo Horizonte
Poisson
2018
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Dra. Cacilda Nacur Lorentz – Universidade do Estado de Minas Gerais
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


T674
Tópicos em Administração – Volume 8/
Organização Editora Poisson – Belo
Horizonte - MG : Poisson, 2018
247p

Formato: PDF
ISBN: 978-85-93729-70-6
DOI: 10.5935/978-85-93729-70-6.2018B001

Modo de acesso: World Wide Web


Inclui bibliografia

1. Administração 2. Gestão. I. Título

CDD-658

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são
de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

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Sumário
Capítulo 1: Higiene e segurança no trabalho: análise das práticas de “ARH
Sustentável” nas instituições bancárias ........................................................................................
8
Ramon Schnayder de França Filgueiras D`Amorim, Amanda Raquel Franca Filgueiras
D’Amorim, Luciene Laranjeira Diniz, Angélica Carina de Andrade Farias, Adriana Costa
Cavalcanti, Odaelson Antônio Clementino da Silv

Capítulo 2: Considerações ergonômicas sobre o trabalho de


Teleatendimento (Call Center) no sistema FIRJAN .......................................................................
24
Claudio Noronha Vaz de Melo, Ingrid Marques Lima, Paulo Cezar Conceição de Oliveira

Capítulo 3: Utilização de ferramentas gerencias na avaliação de medidas de


controles de riscos no trabalho: Estudo de caso em canteiro de obras na
41
cidade de João Pessoa/PB. ..........................................................................................................
Ivanilda Agustinho Ferreira, João Paulo Gomes da Silva, Denise Dantas Muniz, Raísa
Aragão Sobral

Capítulo 4: Abordagem comportamental na avaliação da eficácia de um


sistema de gestão de saúde e segurança do trabalho .................................................................
52
Melina Barbosa Peixoto, Arion Bastos da Rosa, Mario Dellacqua Neto, Sergio Luiz Braga
França

Capítulo 5: A estratégia para a instituição de programas corporativos de


61
ergonomia adotadas por grandes indústrias – Diretrizes .............................................................
Michele Pereira Figueiredo de Abreu, Francisco José de Castro Moura Duarte, Guilherme
Luciano Sensato

Capítulo 6: Movimentação de Cargas em Unidades Marítimas de Produção


70
Offshore: Aplicação de Checklist de verificação ..........................................................................
Michele Pereira Figueiredo de Abreu, Alexandre Elias Ribeiro Denizot

Capítulo 7: Design e posto de trabalho: uma proposta ergonômica para setor


de triagem da cooperativa de catadores de materiais recicláveis. ..............................................
81
Uberlany Freire Damascena, Layanne Ferreira dos Santos, Lorena Gomes Torres de Oliveira

Capítulo 8: Análise ergonômica do posto de trabalho de um pequeno


89
produtor rural de laticínios localizado na cidade de Itaverava. ....................................................
Douglas Ferreira Carvalho da Costa, Edilaine Gonçalves Araújo, Kéllen Bárbara Nascimento
Furtado, Thales Lagares Sudré Rosado, Camila Gonçalves Castro
Capítulo 9: Análise dos riscos ambientais físicos em uma indústria de
100
reciclagem de plasticos em Cacoal-Rondônia. .............................................................................
Sérgio Luiz Sousa Nazário, Carlos Augusto Sousa Nazario

Capítulo 10: Qualidade de vida no trabalho dos professores das


escolas públicas: Caso da Escola Municipal Therezinha de Jesus
111
Pereira da Silva ..............................................................................................................................
Natália Cristina Corrêa Castelo Branco, Pando Angeloff Pandeff, Sthefani Nogueira
Saraiva, Viviane Costa de Aragão

Capítulo 11: Integração de novos membros nas organizações: Uma


127
aplicação da análise de redes sociais ...........................................................................................
Ricardo Luiz Fernandes Bella, Renata Raposo Del-Vecchio

Capítulo 12: O gestor de pessoas como fator de otimização de


136
recursos e desenvolvimento ..........................................................................................................
Mauro Luiz Costa Campello

Capítulo 13: A compatibilidade entre o Perfil Acadêmico de Secretário


Executivo Trilingue da Universidade do Estado do Pará e profissional
147
das empresas de Belém ................................................................................................................
Marcelo de Souza Correia, Tales Antônio Magalhães Silva

Capítulo 14: A liderança na percepção dos colaboradores: Um estudo


no grupo Real Móveis ....................................................................................................................
161
Diego Leal de Faria, Luiz Flávio Vianna Silveira, Romário Borges Miranda, Maria de
Fátima Alves Buenes Mendonça, Hélide Florentina de Jesus Faria

Capítulo 15: Programas de capacitação dos membros de uma empresa


júnior: o caso da Acesso Comunicação JR ...................................................................................
174
Bruna Pfeiffer Salgado, Victor Cláudio Paradela Ferreira

Capítulo 16: A utilização de indicadores de gestão de recursos


humanos pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFETS)............................................................................................................................................
187
Eduardo da Rocha Bassi, Eugênio de Oliveira Simonetto, Vânia Medianeira Flores
Costa
Capítulo 17: Mineração de dados aplicada ao Absenteísmo e a
Ergonomia ......................................................................................................................................
204
Andrea Martiniano, Ricardo Pinto Ferreira, Edquel Bueno Prado Farias, Dacyr Dante
de Oliveira Gatto, Renato José Sassi

218
Capítulo 18: O Presenteísmo – o antagonista invisível ...................................................................
Rosangela de Lima Gonçalves Saisse

Autores: ................................................................................................................
236
UNIDADE 1

Unidade I
Ergonomia e Segurança
no Trabalho
Capítulo 1

Ramon Schnayder de França Filgueiras D`Amorim


Amanda Raquel Franca Filgueiras D’Amorim
Luciene Laranjeira Diniz
Angélica Carina de Andrade Farias
Adriana Costa Cavalcanti
Odaelson Antônio Clementino da Silva

Resumo: O presente trabalho objetivou analisar as ações de Higiene e Segurança


do Trabalho desenvolvidas por instituições financeiras na Paraíba, à luz das ações
de RH sustentável. Para tal descreveu como são desenvolvidas estas ações nas
instituições estudadas na ótica de seu gestor local, e sua compatibilidade com as
ações de RH sustentável. Por estratégia metodológica adotou-se a pesquisa
descritiva do tipo estudo de caso múltiplo com abordagem qualitativa, obtendo-se
como resultados referentes à identificação da compatibilidade das 05 ações de
Higiene e Segurança do trabalho, desenvolvidas pelas instituições bancárias,
consideradas indicadores a serem analisados, são de fato 03 ações totalmente de
RH sustentáveis. Considera-se que as outras 02 ações, são parcialmente
sustentáveis. Considerando-se o ambiente interno como sendo tão importante
quanto o externo das instituições, sugere-se às instituições financeiras
implementação de um programa de Qualidade de Vida no Trabalho, evidenciando
a importância deste programa, com ações sistematizadas, proporcionando um
bem-estar efetivo fortalecendo as ações de RH sustentável, tornando-o compatível
com o discurso das organizações.
Palavras-Chave: Sustentabilidade. Instituições Financeiras. Gestão com Pessoas.
9

1 INTRODUÇÃO doenças e carência ou completa ausência de


educação (VERGARA; BRANCO, 2001).
O século XXI é permeado pelos avanços
tecnológicos cada vez mais eficientes e com Pasa (2004) destaca que as organizações são
maior precisão (BORGES 2006). corresponsáveis tanto pelos problemas
Paralelamente, verifica-se um crescimento da gerados, quanto pelas tendências, à
população e do consumo, demandando das concentração de riqueza na sociedade(o que
empresas exploração dos recursos naturais, contribui para a desigualdade social) e a
processos e equipamentos cada vez mais degradação ambiental, estando diretamente
efetivos em busca da competitividade (WWF – relacionadas com as consequências das
BRASIL, 2010). Esses avanços influem atividades empresariais; por outro lado, essas
positivamente, sem sombra de dúvida, na organizações atendem às exigências da
qualidade de vida da modernidade. sociedade, representada pelas pressões da
mídia, governo, dos próprios consumidores,
No entanto, é importante atentar para a
ambientalistas, agências reguladoras e
cautela com que deve ser visto este contínuo
concorrentes. Assim, forma-se uma complexa
desenvolvimento e consumo, e não se
rede de fatores e necessidades que exigem a
neguem os reflexos negativos que também
corresponsabilidade dos atores e sujeitos
podem produzir, como os impactos
envolvidos nesse cenário.
socioeconômicos e ambientais, causando
profundos danos devido à ação Portanto, as organizações tendem nos dias
descomprometida que o homem exerce sobre hodiernos - até para a sua própria
o meio onde vive, demonstrando descontrole sobrevivência, a se adaptam e a buscarem
e causando deterioração da vida e do meio adotar os princípios da sustentabilidade, com
ambiente (D’AMORIM, 2009). comportamentos mais transparentes e
responsáveis com o meio ambiente, estando
Frente a essa situação a temática do
nele, inseridos as relações produzidas pelo
desenvolvimento sustentável, é apresentada
processo de trabalho e dinâmica social. Para
pela como a capacidade de atender as
isso, se faz necessário o uso de ferramentas
necessidades da nossa geração, permitindo
de gestão de recursos humanos (GRH), ou
que também haja capacidade de suprimento
gestão de pessoas, no intuito de abordar os
das necessidades das gerações futuras. Hust
diversos tipos de necessidades demandadas
(2016) resume desenvolvimento sustentável,
pelos funcionários, denominados no estudo
como a busca simultânea da eficiência
como colaboradores da empresa,
econômica, da justiça social e da harmonia
concordando-se com a assertiva de
ambiental. Nesse contexto, a sustentabilidade
Tachizawa; Ferreira; Fortuna (2009, p.12) “As
procura ainda diminuir os resultados
pessoas que trabalham nas organizações
paradoxais causados pela procura do lucro e
são, na verdade, muito mais do que simples
do progresso a todo custo e minimizar as
recursos, pois delas dependem os resultados
distorções e discrepâncias socioeconômicas
da organização”, elas atuam como
e ambientais que comprometem o planeta e
colaboradores nos diferentes níveis de seus
as futuras gerações (D’AMORIM, 2009).
processos decisórios. Eis a importância da
Estudos que abordam o problema da utilização de ferramentas específicas que
sustentabilidade têm apontado fragilidades auxiliam a gestão de recursos humanos
em vários aspectos nas organizações e (GRH), possam gerir as pessoas no processo
sistemas (D’AMORIM, 2009), tornando seu de trabalho produzido nas organizações.
enfrentamento desafiador frente a
Não se desconsidera tais processos nem a
necessidade de desenvolvimento da
existência de outros elementos que se inter-
sociedade, da ciência e do poder que,
relacionam e determinam as condições de
segundo Vergara; Branco(2001) as empresas
gestão e processo de trabalho como os
detêm, para eliminação das externalidades
aspectos subjetivos, governabilidade
resultantes de suas atividades.
individual frente às suas ações e a lógica do
Diversas organizações já assumem um processo de trabalho das organizações,
discurso sustentável, assumindo capacidade gerencial, contexto micro e
compromissos com a redução de impactos macro político. No entanto, este estudo não
ambientais, com apoio à grupos socialmente teve como propósito investigar
excluídos e marginalizados, minimização ou profundamente todos estes elementos e
erradicação das múltiplas causas de pobreza, processos, mas conhecer como são

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desenvolvidas as ações gerenciais na Diante dessa problemática, este estudo teve


questão da Higiene e Segurança no Trabalho como questão norteadora: Como o processo
que, acredita-se, precisam de um olhar de Higiene e Segurança do Trabalho é
diferenciado na lógica da sustentabilidade, no desenvolvido por instituições financeiras no
que se refere ás organizações que adotam Estado da Paraíba, à luz das ações de RH
um discurso da sustentabilidade, até mesmo sustentável? Assim o objetivo do presente
como um atrativo na conquista de espaço no estudo foi analisar as ações de Higiene e
mercado. Segurança do Trabalho desenvolvido por
instituições financeiras na Paraíba, à luz das
Os processos ou subsistemas de RH
ações de RH sustentável. Para tal descreveu
(Recursos Humanos) foram estudados por
como são desenvolvidas as ações de Higiene
D’Amorim (2009) que procurou desenvolver
e segurança do trabalho em instituições
conceitualmente contribuições para o avanço
financeiras da Paraíba na ótica de seu gestor
teórico sobre ações de RH Sustentável e
local e sua compatibilidade com as ações de
analisar os processos ou subsistemas de
RH sustentável.
GRH à luz dessas ações. A referida autora em
seu estudo sobre RH sustentáveis em nossa Dada a escolha da temática, justifica-se por
realidade local recomenda analisar ações de se acreditar que instituições financeiras
RH sustentável nos diversos subsistemas (bancos), como quaisquer outras empresas
inclusive no processo de Higiene e que utilizam o discurso de “empresa
Segurança do Trabalho, destacando sua sustentável” podem estar se descuidando das
importância na lógica e do ideal do processo ações, por elas produzidas, no meio ambiente
da Sustentabilidade. Reforça esse externo, comprometendo a sustentabilidade
pensamento alegando que faz parte do do meio ambiente e a vida das futuras
compromisso contínuo de uma organização gerações, assim como se descuidando do
que se propõe em desenvolver a lógica da ambiente interno, podendo estar na
sustentabilidade (que se promove para o contramão de uma gestão de Recursos
meio externo da organização) tenha um olhar Humanos destituída de humanização no
diferenciado para as suas relações de trabalho, falta de diálogos e autoritarismo
trabalho voltando-se para uma Gestão presente, bem como alienação do trabalhador
Sustentável ao mesmo tempo em que que permeiam as organizações
promovam seu desenvolvimento econômico e contemporâneas(D`AMORIM, 2009;
que mantêm um comportamento ético e GOLDTHORPE; LOCKWOOD; BECHHOFER,
sustentável diante de seus próprios recursos 1968).
humanos (vislumbrando-se aí a questão do
Outra questão, é que as instituições
ambiente interno).
financeiras, segundo Grisci (2000) tem
Concorda-se com Amaral (2003 apud passado por mudanças significativas,
Quelhas; Aride 2006), este processo está oriundas de uma lógica de instabilidades e
intimamente ligado com a qualidade de vida e imprevisibilidades das reestruturações do
bem-estar da força de trabalho de uma trabalho, e das novas tecnologias, tornando o
organização assim como de suas famílias. No trabalho, antes considerado estável, de
entanto apesar da importância desse assunto, caráter de instabilidade; isso pode gerar
os referidos estudiosos da temática, referem sobressaltos e comprometimento na
que as análises das duas questões, higiene e qualidade do processo de trabalho.
segurança do trabalho e sustentabilidade, de
Além do exposto, justifica-se ainda o estudo
maneira inter-relacionada ainda são
pelas contribuições que para o ensino,
incipientes, pois em sua maioria relacionam
pesquisa, extensão universitária, serviço e
apenas aspectos normativos, enquanto
comunidade. A justificativa das contribuições
cresce o número de trabalhos sobre
para o serviço e comunidade parte do
sustentabilidade que remetem os corporativos
pressuposto da responsabilidade acadêmica
projetos verdes. Assim, acentua-se a lacuna
e social que os cursos de graduação e pós-
quanto aos processos de aprimoramento de
graduação têm com o desenvolvimento da
pessoas no âmbito de sua integração na
comunidade, e consequentemente, no caso,
estratégia organizacional da sustentabilidade
das organizações, no que diz respeito à
(GRIFFITHS; PETRICK, 2001 apud QUELHAS;
disseminação das práticas de gestão de
ARIDE, 2006).
pessoas em “empresas sustentáveis”,
provocando, no mínimo, reflexões que vão

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além sua situação econômica, e se deparem Diferentemente do que ocorreu no movimento


com a necessidade do desenvolvimento do pela qualidade, que levou certo tempo para
meio ambiente e de políticas de RH ser lançado e aderido pelas empresas, o
sustentável voltadas para seus trabalhadores. desenvolvimento sustentável foi aceito de
Para o serviço, representado no estudo pelas maneira rápida por amplos setores do
as instituições bancárias estudadas, a empresariado no intuito, no primeiro
pesquisa poderá contribuir com a momento, de se defenderem das críticas
oportunidade de testar suas práticas de lançadas pelas organizações, entidades e a
gestão, mais especificamente sobre o própria sociedade que responsabilizavam as
processo utilizado para a garantia da higiene empresas pela degradação ambiental e social
e da segurança de seus colaboradores em crescente. No segundo momento, mais
seu ambiente de trabalho, identificando o recentemente, as empresas viram na adesão
alinhamento entre o seu discurso e a prática. desse movimento uma fonte de qualificação
para continuar no mercado, garantir
Sobretudo destaca-se a relevância do estudo
competitividade e diferenciação (BARBIERI et
pela necessidade de compreensão de
al, 2010).
contextos específicos de trabalho e de gestão
de RH, fornecendo-se subsídios para o Atividades sustentáveis devem unir os
aperfeiçoamento contínuo do serviço, devido interesses econômicos, sociais e ambientais,
à extensão territorial e a diversidade regional devem respeitar a interdependência dos
do país, os diferentes contextos de micro seres vivos entre si e em relação ao meio
gestão (compreendida no estudo como a ambiente. Além disso, “Sustentabilidade
gestão local) das organizações, possibilitando significa operar a empresa, sem causar danos
estudos comparativos futuros. aos seres vivos e sem destruir o meio
ambiente, mas, ao contrário, restaurando-o e
enriquecendo-o” (SAVITZ; WEBER, 2007,
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA p.03).
2.1 SUSTENTABILIDADE O conceito de Sustentabilidade, utilizado
neste estudo é proposto por John Elkington
O termo Sustentabilidade surgiu durante os
sugere que as empresas analisem seu
anos 1980 devido a crescente
sucesso, considerando além de seu
conscientização por parte das nações que
desempenho financeiro os impactos sobre a
passaram a reconhecer a necessidade de
economia, a sociedade e o meio ambiente
desenvolverem formas de obter
onde atuam.
desenvolvimento econômico sem
comprometer os recursos naturais e o bem- Ao exercer suas atividades, as empresas
estar das futuras gerações. Este termo consomem não apenas recursos financeiros
passou a fazer parte do mundo dos negócios (como caixa gerado pelas operações ou
e a atuarem amplamente nas questões sociais capital de terceiros), mas também recursos
e ambientais denotando a idéia de que ambientais (como água, energia e matérias
“empresa sustentável é aquela que gera lucro primas) e recursos sociais (como tempo e
para os acionistas, ao mesmo tempo em que talento de pessoas da comunidade e
protege o meio ambiente e melhora a vida infraestrutura fornecida por órgãos públicos)
das pessoas com que mantém interações” (SAVITZ; WEBER, 2007, p. 04).
(SAVITZ; WEBER, 2007, p.02).
Essas três dimensões da Sustentabilidade
Considerado um dos mais importantes compõem o conceito de Tríplice Resultado
movimentos sociais deste início de século e (TR), desenvolvido por Elkington no intuito de
milênio, o desenvolvimento sustentável vem medir o impacto dos processos
mobilizando empresas dos mais diversos desenvolvidos pela empresa em nível
setores através: de iniciativas voluntárias, da mundial, captando dessa forma a essência da
criação de cartas de princípios e diretrizes de Sustentabilidade, refletindo, quando positivo,
ação como o Pacto Global, a Carta de “aumento no valor da empresa em termos
Rotterdam e as Metas do Milênio, como tanto de lucratividade e de contribuição para
também com a abertura de organizações no a riqueza dos acionistas, quanto sob o
intuito de contribuírem e demonstrarem seu aspecto de seu capital social, humano e
comprometimento com esse movimento ambiental” (SAVITZ; WEBER, 2007, p.05).
(BARBIERI et al, 2010).

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Os investidores consumidores e gestão por competências e a gestão do


trabalhadores estão começando a avaliar as conhecimento (...) vieram transformar a
empresas de acordo com os critérios do TR. tradicional administração de recursos
As empresas ingressaram nas últimas humanos” (TACHIZAWA; FERREIRA;
décadas na Era da Responsabilidade FORTUNA, 2009, p. 21).
socioambiental; as empresas vêm deixando
O ambiente global vive uma era de extrema
de ser responsáveis, somente por suas
competição e quebra de barreiras, contando
próprias atividades, e vêm passando a se
não somente com concorrentes conhecidos
responsabilizarem, também, pelas atividades
em mercados convencionais, mas também a
dos fornecedores, da comunidade em que
partir do acesso a mercados que antes eram
atuam e pelas pessoas que usam seus
isolados ou protegidos. Frente a esses
produtos. As empresas já não prestam contas
avanços observam-se significativas
somente à acionistas e credores, agora
mudanças de paradigma na gestão de
prestam contas também a políticos, à mídia,
pessoas. Em um contexto futuro vê-se a
aos empregados, a ambientalistas, a
necessidade de realizar um processo de
defensores de direitos humanos, a
gestão descentralizada onde cada gestor é
organizações de saúde pública a aos clientes
responsável por seu setor juntamente com
(SAVITZ; WEBER, 2007).
suas atividades-fim e suas atividades-meio.
Por esse motivo as empresas veem-se Esses novos tempos exigem novos modelos
obrigadas a reagir a mudanças sociais de gestão e novas formas de conduzir os
econômicas e ambientais ao seu redor, os interesses da organização e das pessoas
desafios existem para todas as empresas (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2009).
sejam as mais bem gerenciadas, grandes ou
Atualmente as pessoas desempenham um
pequenas, todas estão sendo obrigadas a
papel central para a garantia da vantagem
reagir a essas mudanças. Quando é bem
competitiva de uma empresa. As
compreendida e aplicada na prática, a
competências pessoais são extremamente
sustentabilidade “envolve estratégia, gestão e
importantes nas diversas áreas da
lucro; porém, no mundo interconectado de
organização, sobretudo nas ligadas à
hoje, pensar em lucro, como se nada tivesse
informação e conhecimento, onde se fazem
a ver com impactos econômicos e sociais, é
necessárias qualificações, habilidades e
atitude míope e contraproducente” (SAVITZ;
conhecimentos pessoais. Diversos
WEBER, 2007, p. 08). Os temas econômicos e
especialistas dizem que a chave para “o
ambientais geram riscos e oportunidades que
sucesso de uma empresa está no
estão mudando profundamente o campo de
estabelecimento de um conjunto de
jogo para cada empresa, para os diversos
competências essenciais – conhecimentos
setores de atividades e para os negócios em
integrados dentro de uma empresa que a
geral. As organizações que são mais bem
distinguem de suas concorrentes e agregam
gerenciadas em nível de pessoas estão
valor para os clientes” e uma vez percebida a
atentas para essa realidade e utilizando essas
importância dessas competências,
tendências como fontes de vantagem
alcançadas a partir das capacidades
competitiva.
pessoais do funcionário, esses recursos
passam a ser considerados os mais
distintivos e renováveis, tornando o
2.2 GESTÃO COM PESSOAS
gerenciamento estratégico desses recursos
A gestão com pessoas ou gestão de recursos importante como nunca (BOHLANDER;
humanos já passou por profundas mudanças SNELL; SHERMAN, 2005, p. 02).
ao longo do tempo. No passado o trabalhador
A tendência atual dos mercados de trabalho
era visto como extensão da máquina, mais à
induz a flexibilização do emprego, dessa
frente, passou a ser bastante cobrado “com o
forma a organização passa a contar com
advento do just-in-time, da qualidade total,
funcionários contratados por tempo
das tecnologias da informação, da produção
determinado, temporários, subcontratados e
enxuta, da engenharia simultânea e da
estagiários, diminuindo ainda mais a
automação”. Hoje em dia, no tempo em que
segurança do emprego (TACHIZAWA;
vivemos na era da “economia digital e do
FERREIRA; FORTUNA, 2009).
comércio eletrônico”, o relacionamento entre
empresas, clientes, “o comportamento das Diante de tantas mudanças e de tantas
pessoas, a gestão do capital intelectual, a variáveis a serem controladas faz-se
Tópicos em Administração - Volume 8
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necessário um planejamento da gestão de e controle das recompensas salariais. Esse


pessoas por parte da empresa, decidindo de processo trata do conjunto de vantagens que
maneira antecipada qual a força de trabalho e o funcionário deve receber ao disponibilizar
os talentos humanos necessários para o seu serviço, elas podem ser: o salário, os
desenvolvimento dos processos da empresa. adicionais legais, as horas extras e os
O planejamento de pessoas deve ressaltar a benefícios. O nível salarial do empregado é
importância dada às pessoas que colaboram determinado pelo tipo de trabalho
e que se responsabilizam pelos resultados a desenvolvido pelo mesmo assim como pelo
serem obtidos. Também deve refletir os nível hierárquico que ele ocupa e as
objetivos globais e o plano estratégico da características da empresa onde ele trabalha
organização, deve ainda conter mecanismos (porte, lucratividade, localização, natureza,
que permitam a criação, manutenção e etc.). Quanto à descrição dos cargos, deve-
desenvolvimento de pessoas que possuam se deixar pré-determinado qual o conjunto de
capacidade e motivação para realizar os funções que deverão ser desenvolvidas por
objetivos da organização; o oferecimento de cada cargo, essas funções devem manter
condições organizacionais propícias ao coerência com os níveis de escolaridade e
desenvolvimento e à plena satisfação dos responsabilidade de seu ocupante. Também
recursos humanos e o alcance dos níveis de deve ser desenvolvido um conjunto de
produtividade compatíveis com os das cargos, dispostos de maneira crescente que
melhores organizações de seu setor venham a formar uma carreira, é importante
econômico de atuação (TACHIZAWA; lembra que a medida que o empregado se
FERREIRA; FORTUNA, 2009). qualifica para o cargo seguinte, aumentam os
níveis de exigência para o seu desempenho.
Para atingir os objetivos descritos no
planejamento de pessoas a área de RH Planejamento de carreira pode ser definido
utiliza-se de alguns processos, podendo ser como um processo constante de interação
de caráter operacional ou estratégico, entre o funcionário e a empresa no intuito de
segundo Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006) atender aos objetivos e interesses de ambas
são eles: Recrutamento, Seleção e as partes. “A finalidade desse plano é
Contratação de pessoal; Administração de promover o desenvolvimento da organização
cargos e salários; Planejamento de Carreira; através do melhor aproveitamento de seu
Avaliação de desempenho; Treinamento e patrimônio humano” servindo de base para a
Desenvolvimento; Higiene e Segurança do tomada de decisão do responsável pela
Trabalho; Clima Organizacional e Motivação. gestão de pessoas, para ações de
desenvolvimento, motivação, recrutamento,
O processo de Recrutamento, Seleção e
seleção, avaliação e compensação.
Contratação consiste no início da cadeia
operacional da gestão de pessoas, é o ponto A avaliação de desempenho serve para
de partida para a existência de uma força de apreciar o desempenho do indivíduo no
trabalho na organização. Variam de acordo exercício das funções inerentes ao seu cargo,
com as políticas e diretrizes ditadas pela alta assim como para situá-lo na escala impessoal
direção da organização, diretrizes essas que de salários criada pela Administração de
devem considerar o “mercado de trabalho, os cargos e salários. De forma geral, trata-se de
cenários, a legislação em vigor e as um conjunto de técnicas que objetiva a
alternativas mais adequadas para a procura obtenção e a análise de informações que
de pessoas e os meios de viabilizar sua tornem possível a estimativa da qualidade da
contratação”. Pode ser feito através de contribuição prestada pelo empregado à
Recrutamento Interno, Recrutamento Externo organização, tais informações irão auxiliar na
ou Misto, e pode utilizar várias técnicas para a adequação do indivíduo ao cargo, na
seleção do candidato como entrevistas, identificação das necessidades de
provas de conhecimentos gerais e treinamento, disponibilização de promoções e
específicos, dinâmicas de grupo, testes incentivos salariais ao bom desempenho, auto
psicotécnicos, etc. (TACHIZAWA; FERREIRA; aperfeiçoamento do funcionário e melhoria do
FORTUNA, 2009, p. 167). relacionamento entre supervisores e
liderados.
A Administração de cargos e salários em
conjunto com a sistemática de avaliação de O treinamento e o desenvolvimento são
desempenho e do planejamento de carreira considerados fatores decisivos para o futuro
forma o processo de planejamento, execução por diversas empresas. O treinamento visa o

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aperfeiçoamento do desempenho funcional, o de situações de risco, danos físicos,


aumento da produtividade e o aprimoramento condições insalubres e atos inseguros de
das relações interpessoais. Já o terceiros (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN,
desenvolvimento tem o objetivo de explorar o 2005).
potencial de aprendizagem e a capacidade
A Higiene no trabalho é uma ciência voltada
produtiva do ser humano nas organizações,
para o conhecimento, a avaliação e o controle
visando a aquisição de novas habilidades e
dos riscos para a saúde do empregado,
novos conhecimentos e à modificação de
visando prevenir doenças ocupacionais.
comportamentos e atitudes.
“Trata-se de um conjunto de normas e
O Clima Organizacional trata-se da forma procedimentos que têm por objetivo proteger
como é percebida ou experimentada a a integridade física e mental do trabalhador,
qualidade do ambiente organizacional e essa procurando resguardá-lo dos riscos de saúde
percepção influencia o comportamento das relacionados com o exercício de suas
pessoas inseridas neste meio. Ele é funções” (TACHIZAWA; FERREIRA;
influenciado pelas diferentes crenças e pelos FORTUNA, 2009).
diversos valores que dominam as relações
Antes de tudo, a higiene do trabalho é uma
interpessoais.
obrigação moral e prevista em lei. Preservar a
A motivação é um processo extremamente saúde dos funcionários é um requisito
complexo e por isso bastante difícil de definir primordial na relação tecida entre o capital e
em uma só teoria. Em resumo pode-se afirmar o trabalho de acordo com a Consolidação das
que ela é diretamente influenciada pelo meio leis do Trabalho (CLT). Apesar de possuir
e pelo clima organizacional. Faz-se itens desatualizados, continua em vigor, e traz
necessário que o líder de uma equipe seja como responsabilidade da empresa, entre
capaz de motivá-la, incentivando sempre a outras coisas (TACHIZAWA; FERREIRA;
criatividade e nunca permitir a acomodação, FORTUNA, 2009, p. 230):
pelo contrário, buscando sempre a evolução.
(...) cumprir e fazer cumprir as normas de
Após uma breve explanação nos vários segurança e medicina do trabalho; instruir os
processos que formam a gestão de pessoas, colaboradores, através de ordens de serviço,
mais especificamente o desenvolvido por quanto às preocupações a tomar no sentido
Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2009), a de evitar acidentes no trabalho ou doenças
pesquisa seguirá do geral para o particular e ocupacionais; adotar medidas que lhes sejam
aprofundará a sistemática de Higiene, Saúde determinadas pelo órgão regional competente
e Segurança do Trabalho que vem a ser o e facilitar o exercício da fiscalização pela
foco deste estudo. autoridade competente.
Dentre os objetivos que uma boa política de
higiene no trabalho deve ter pode-se destacar
2.3 HIGIENE, SAÚDE E SEGURANÇA DO
a necessidade de se eliminar ou minimizar
TRABALHO
fatores que possam propiciar o aparecimento
As atividades do dia-a-dia no trabalho muitas de doenças profissionais; de reduzir efeitos
vezes desencadeiam doenças profissionais e prejudiciais que são provocados pelo
permitem os acidentes no trabalho. Para trabalho; prevenir o agravamento de doenças,
garantir o bem-estar físico e emocional dos lesões ou deficiências apresentadas pelos
funcionários, existe leis que ditam regras e empregados e de favorecer a execução da
fiscalizam as empresas quanto à garantia das produtividade.
condições de trabalho. No entanto, diversas
Dentro da empresa a higiene do trabalho atua
empresas oferecem condições saudáveis de
em três diferentes áreas: Medicina preventiva,
trabalho por atentarem realmente às
que visa prevenir e controlar as doenças que
necessidades e direitos do trabalhador e não
mais frequentemente ocorrem entre os
tanto por conta da fiscalização do governo. O
empregados da empresa; Prevenção
cuidado com a saúde e a segurança do
sanitária, que visa combater possíveis focos
trabalhador impacta nos custos, na imagem
de contaminação, mantendo assim condições
institucional da empresa e até mesmo na
adequadas de higiene no ambiente de
moral dos funcionários e por isso os gestores
trabalho; Medicina ocupacional, que visa
das empresas devem desenvolver padrões
adaptar o empregado à sua função,
de segurança e saúde em toda a
colocando-o em um cargo que equivalha às
organização, protegendo os colaboradores
Tópicos em Administração - Volume 8
15

suas aptidões fisiológicas procurando Para os referidos autores, citados no


prevenir contra riscos resultantes da presença parágrafo anterior, a motivação e a
de agentes prejudiciais à saúde do conscientização dos funcionários (chefes e
colaborador (TACHIZAWA; FERREIRA; subordinados) são aspectos extremamente
FORTUNA, 2009). relevantes na questão da segurança, assim
como ter conhecimento dela e saber onde
Dentro da empresa existem vários fatores que
empregá-la para garanti-la. Para isso,
acarretam riscos para a saúde dos
treinamentos se fazem necessários para
empregados, esses riscos podem ser
ajudarem na compreensão, por parte dos
divididos em três categorias: os riscos
funcionários de todos os setores, da política
químicos, os riscos físicos e os riscos
de segurança da empresa e seus
biológicos.
procedimentos, a fim de que possa obter
Os químicos são aqueles relacionados à responsabilidade por ela. Esses treinamentos
manipulação de materiais nocivos à saúde. se dão de várias formas: através de palestras
Deve-se detectar quais substâncias estão sobre segurança, reprodução de filmes
presentes no ambiente de trabalho, específicos, distribuição de folhetos e fixação
procurando sempre eliminá-las ou quando de cartazes em locais estratégicos, entre
isso não é possível, protegendo os outros.
trabalhadores com equipamentos de proteção
Os treinamentos devem ser periódicos e
individual (EPI).
constantes, também deve-se dar uma
Os físicos mais comuns são: os ruídos que atenção especial à capacitação dos novos
possuem como características principais a funcionários. Eles devem estar cientes sobre
frequência e a intensidade, e são controlados os procedimentos de trabalho adequados,
geralmente pelo uso de abafadores, sobre riscos potenciais e sobre o uso de
protetores auriculares, substituição de roupas e dispositivos de proteção. O
máquinas barulhentas, isolamento do entendimento por parte dos colaboradores
ambiente de trabalho e tratamento acústico deve ser monitorado, e os mesmos devem ser
das instalações; as temperaturas extremas estimulados a preocuparem-se e a tomar
que podem ser controladas com a utilização iniciativas para a garantia e a manutenção da
de ventiladores e condicionadores de ar, segurança. Uma vez sabido que os
como também de agasalhos e aquecedores e treinamentos não são cem por cento eficazes,
a iluminação que deve ser constante e os supervisores assumem um papel crucial,
uniformemente distribuída para que não eles devem observar os funcionários em seu
canse os olhos. local de trabalho detectando atos e condições
inseguras, tomando sempre medidas
Os biológicos são aqueles relacionados à
imediatas para encontrar e combater as
ação de agentes como bactérias, vírus e
causas, e estimular o espírito de segurança
outros microrganismos. O controle desse tipo
entre o grupo de trabalho a fim de consolidar
de risco pode ser feito através do permanente
práticas seguras de trabalho (BOHLANDER;
asseio nas instalações, da identificação de
SNELL; SHERMAN, 2005).
portadores de doenças infectocontagiosas e
da vacinação preventiva. Como já foi dito, a motivação é um ponto
importantíssimo para o alcance dos objetivos
Para garantir a integridade de seus
dos programas de segurança, por isso “deve
funcionários, espera-se que as empresas
ser dada especial atenção a incentivos que
desenvolvam programas de segurança,
motivem o comportamento de segurança nos
envolvendo o setor de Recursos Humanos
funcionários”. Sugere-se a realização de um
(RH), gerentes e supervisores das áreas
levantamento entre os funcionários para
operacionais. O RH geralmente é o setor
identificar seus interesses e que tipos de
encarregado de desenvolver o programa,
recompensas eles preferem receber e dão
junto com seus treinamentos e também é
mais valor, lembrando que as recompensas
responsável pela comunicação; os gerentes e
dos programas de segurança devem estar
principalmente os supervisores de área são
disponíveis a um grande número de
incumbidos de cooperar e fiscalizar, na
funcionários (BOHLANDER; SNELL;
prática, o cumprimento do programa,
SHERMAN, 2005, p 345).
garantido assim seu sucesso(BOHLANDER;
SNELL; SHERMAN, 2005). As penalidades pela violação das normas de
segurança vêm descritas e especificadas nos

Tópicos em Administração - Volume 8


16

manuais. Em um número elevado de 2.4 AÇÕES SUSTENTÁVEIS DE HIGIENE,


empresas, a disciplina aplicada aos SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO
funcionários que violam uma das regras de
O estudo adota os conceitos desenvolvidos
segurança é similar às punições recorrentes à
por D’Amorim (2009, p. 105)que caracteriza
violação de outras regras, de acordo com
como sustentável, uma organização que
Bohlander, Snell, Sherman (2005) a primeira
obedeça aos alguns critérios representados
infração é punida com uma advertência
em três diferentes dimensões: a econômica, a
verbal ou escrita; é aplicada suspensão no
social e a ambiental: ”O objetivo da dimensão
funcionário que reincide no erro e por fim,
econômica (DE), das ações de RH
como último recurso, é utilizada a demissão.
sustentável é promover ações de investimento
Por muito tempo associou-se os riscos à no capital humano, agregando valor
saúde principalmente às atividades econômico direto ao funcionário e à
industriais, porém, atualmente estão sendo organização”. Já na dimensão social (DS), “os
identificados riscos extra fábrica, como em objetivos versam sobre adotar políticas de
aeroportos, instalações de assistência médica desenvolvimento humano para o crescimento
e até mesmo em escritórios, surgindo a partir pessoal e profissional do funcionário,
daí a necessidade da adoção de métodos considerando sua subjetividade e sua
preventivos. São algumas prevenções articulação com o meio (ambiente de
comuns: “a substituição de materiais, trabalho)” . E na dimensão ambiental (DA),
alterações de processos, o fechamento ou tem-se como objetivo “propiciar um ambiente
isolamento de um processo, a introdução de de trabalho seguro e favorável para a
equipamentos de proteção ou o construção de relações sociais, minimizando
aprimoramento de sistemas de ventilação”. os impactos ambientais internos através de
Além de controlar os métodos preventivos consciência ecológica”.
dentro da empresa, a organização também
Para cada processo de RH foram
deve ter a preocupação de monitorar as
desenvolvidas ações a serem incorporadas
condições nos quais os funcionários se
por cada subsistema de GRH, procurando
encontram fora do trabalho, como: “condições
facilitar sua operacionalização à política da
gerais de saúde em relação à higiene, aos
sustentabilidade na organização. Para o
cuidados de casa, à limpeza, ventilação,
subsistema adotado como tema desta
suprimento de água, controle de doenças
pesquisa considerou-se as seguintes ações,
contagiosas e manipulação de alimentos”
apresentadas por D’Amorim (2009, p. 107).:
(BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p
1) Estratégias para prevenção e assistência
347).
aos acidentes de trabalho e doenças graves
Em busca de minimizar a ocorrência de (QVT e treinamentos); 2). Manter um ambiente
acidentes torna-se indispensável a adoção de estrutural seguro para o desenvolvimento das
algumas medidas preventivas: manter uma atividades da organização; 3) Facilitar a
equipe treinada para prevenir acidentes; participação de funcionários nos comitês
mobilizar todos os membros da organização formais de segurança e saúde; 4) Formalizar
em busca dessa prevenção; fixar cartazes de acordos com sindicatos relativos à temática
advertência; fornecer EPI e exigir sua correta da saúde e segurança
utilização; manter um ambiente dentro da
Segundo a referida autora, as ações de RH
filosofia do 5s, procurando conservá-lo limpo,
devem estar alinhadas com um Modelo de
iluminado, com temperatura adequada e livre
Gestão de pessoas. Concorda-se com a
de ruídos intensos; verificar as condições de
autora quando refere que a partir dos
equipamentos e corrigir as eventuais
desafios que a sustentabilidade impõe, a
deficiências; manter em local de fácil acesso
proposição de ações de RH sustentável,
equipamentos contra incêndio, manter
ancora-se na coerência de se promover, as
corredores, portas e escadas desobstruídas e
dimensões da sustentabilidade (ou
ter um lay-out adequado que evite
indicadores de sustentabilidade),
aglomerações e permita a livre circulação de
considerando os aspectos que sejam de
pessoas (TACHIZAWA; FERREIRA;
responsabilidade da área de RH, aplicados
FORTUNA, 2009).
aos colaboradores.
O ambiente interno é o cenário onde se
desenvolvem as relações de trabalho e se
operacionaliza a gestão de RH e interage com
Tópicos em Administração - Volume 8
17

o meio externo e seus stakeholders, tendo 2002). Para Minayo (2004), a abordagem
esta sua relevância na organização e na qualitativa responde questões muito
gestão de RH, pois tanto uma como a outra particulares, se preocupando, nas ciências
são sistemas abertos, flexíveis e complexos humanas e sociais, com o nível de realidade
que se complementam. que não pode ser quantificado.
Para serem consideradas sustentáveis as Logo, buscou-se nesse estudo explorar as
ações de Higiene e Segurança do trabalho compreensões subjetivas dos gestores de
alguns aspectos precisam ser verificados instituições financeiras (bancos) a respeito de
como a existência de programas de sua prática cotidiana na organização; estando
educação, aconselhamento, prevenção, relacionadas aos significados que eles
controle de riscos para dar assistência aos atribuem às suas próprias experiências
empregados e seus familiares com relação a sociais, tentando interpretar os fenômenos em
doenças graves. termos dos sentidos que eles próprios lhes
dão (POPE; MAYS, 2005).
O controle com relação a lesões, doenças
ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e Para tal, a realidade estudada se deu a partir
óbitos relacionados ao trabalho. Número de da leitura e compreensão de relatos, que
empregados representados, temas de saúde permitiram compreender, motivos, valores e
cobertos por sindicatos; preocupações com a atitudes frente às ações de GRH no
estrutura (clima, ruídos, temperatura e subsistema de higiene e segurança no
iluminação). Percentual de empregados trabalho que se passam no ambiente interno
representados em comitês formais de das organizações, que propagam no seu
segurança e saúde, compostos por gestores discurso, a sustentabilidade; um fenômeno
e por trabalhadores, que ajudam no com sua carga histórica evidente na
monitoramento e aconselhamento sobre contemporaneidade (VERGARA, 2000).
programas de segurança e saúde
ocupacional.
3.2 CENÁRIO DA PESQUISA, POPULAÇÃO E
Dentre as três dimensões citadas, a
AMOSTRA
sistemática da Higiene, Saúde e Segurança
do trabalho foi citada apenas na ambiental, A seleção das organizações estudadas,
que traz como objetivo “propiciar um obedeceram às seguintes etapas:
ambiente de trabalho seguro e favorável para
1) Identificação das organizações
a construção de relações sociais,
consideradas sustentáveis, na Paraíba, e
minimizando os impactos ambientais internos
emitem Relatório Global
através de ações de consciência ecológica”
ReportingInitiative(GRI)(2016), a partir das
(D’AMORIM; 2009, p. 103).
informações disponibilizadas em site dessas
Todas essas variáveis e fatores contribuirão instituições;
para a análise dos dados desta pesquisa,
2) Quais organizações possuem agências
pois após a coleta de dados serão
localizadas no município de João Pessoa -
comparadas as características da
PB, com gestores responsáveis na área de
organização em estudo com as levantadas
Recursos Humanos. Por meio deste
por D’Amorim em busca de verificar o
levantamento identificou-se três instituições
alinhamento entre elas.
financeiras, e para surpresa, consideradas as
mais rentáveis na América Latina (INVERTIA,
2016).
3 METODOLOGIA
A população foi constituída por todos os três
3.1 TIPO DE PESQUISA
gestores administrativos dos bancos
Pesquisa descritiva tipo estudo de caso selecionados, responsáveis por
múltiplo com abordagem qualitativa, De operacionalizar e difundir as ações de
acordo com Gil (1999) a pesquisa descritiva é Recursos Humanos nas agências do estudo,
aplicada a um estudo que tem como principal sendo um, especificamente de cada agência
finalidade, observar, descrever, estabelecer bancária. A amostra foi constituída por 02
ou utilizar técnicas padronizadas para coletar gestores que atendeu aos seguintes critérios:
dados. Caracteriza-se como estudo de caso
1) A agência a que está vinculado, estar em
múltiplo, por ter um caráter de profundidade e
pleno funcionamento ao atendimento externo;
detalhamento, de mais de um caso (GIL,
Tópicos em Administração - Volume 8
18

2) Concordar em participar da pesquisa


assinando o Termo de Consentimento Livre e
2.5 ANÁLISE DOS DADOS E
Esclarecido (TCLE),
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Nesta etapa utilizou-se a técnica de análise
3.3. ASPECTOS ÉTICOS de conteúdo por categorização apresentada
por Bardin (1977). Obedeceu-se às seguintes
A pesquisa obedeceu aos princípios éticos
etapas:
preconizados na Resolução 196/96 que trata
da pesquisa envolvendo seres humanos. 1) Exploração do material, pré-análise – em
Respeitou-se o anonimato das organizações que os dados brutos são transformados de
Banco “X” e Banco “Y”; foi atribuído aos forma organizada e "agregadas em unidades,
gestores participantes o pseudônimo de as quais permitem uma descrição das
gestor “x” e gestor “y” preservado, suas características pertinentes do conteúdo",
respectivas identidades. Foram resguardados segundo Holsti, apud Bardin (1979: 104).
os princípios da voluntariedade, do anonimato
2) Codificação compreende a escolha de
e da sua liberdade de desistir em qualquer
unidades de registro, a seleção de regras de
momento do estudo, sem algum prejuízo
contagem (quantas vezes a expressão
social ou em suas relações do trabalho
aparece nos relatos);
(BRASIL, 1996).
3) Categorização.· é a unidade de
3.4 INSTRUMENTO PARA COLETA DE
significação codificada. Recorta-se o texto em
DADOS
função da unidade de registro no estudo
O instrumento foi um Roteiro de entrevista denominadas de categorias;
estruturado, baseado no instrumento
O autor complementa que a idéia principal de
desenvolvido em estudo anterior, por
um relato, de uma entrevista é suficiente para
D´Amorim (2009); o estudo é voltado para a
o objetivo desejado; o contexto serve para
questão da sustentabilidade e GRH,
compreender a unidade de registro; a
contemplando a realidade de instituições
presença de elementos pode ser significativa,
bancárias no Brasil;
e a ausência pode significar bloqueios ou
Constituiu-se de duas partes: Parte I- Perfil traduzir vontade escondida, como acontece,
sociodemográfico e profissional do gestor, frequentemente, nos discursos dos políticos;
considerando as seguintes variáveis: sexo, compreende-se que a categorização
idade, formação acadêmica, tempo de representa a passagem dos dados brutos a
serviço na organização e cargo que ocupa; dados organizados por meio da codificação.
Parte II- Ações de Recursos Humanos,
Sustentabilidade e Administração Renovada.
3 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS
Da Parte II, utilizou-se 05 (cinco) questões
que representam indicadores relacionados às 3.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E
ações de GRH sustentáveis no subsistema de PROFISSIONAL DOS GESTORES DE RH DE
higiene e segurança no trabalho. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DA PARAÍBA
1) O Sr(a) poderia me relatar quais estratégias Os participantes eram do sexo masculino,
para prevenção e assistência aos acidentes com idade de 39 e 45 anos, ambos com nível
de trabalho e doenças graves (QVT e superior, sendo um com 2 Pós-Graduações,
treinamentos) vocês adotam na empresa? respectivamente Comércio Exterior, Economia
e Pós-Graduação em Finanças e Gestão de
2) Gostaria que me descrevesse se há
Pessoas.
ambiente estrutural seguro para o
desenvolvimento das atividades da Os participantes exerciam no período da
organização, pelos funcionários? coleta de dados, os respectivos cargos e
tempo de serviço na instituição: Assessor
3) Poderia me relatar se há facilitação ou
Gerente Regional (6 anos) - responsável pela
incentivo à participação de funcionários nos
gestão de RH e difusão de suas ações nas
comitês formais de segurança e saúde?
agências de João Pessoa-PB; Gerente
4) Saberia me informar se formalizam acordos Agência Varejo (19 anos) - responsável pela
com sindicatos relativos à temática da saúde gestão de RH e ações no limítrofe de sua
e segurança? Pode me relatar como? respectiva agência.

Tópicos em Administração - Volume 8


19

Destaca-se a qualificação dos participantes, CATEGORIA 1- HÁ PREVENÇÃO DE


necessária ao mercado competitivo, DOENÇAS E EXAMES CLÍNICOS
mantendo sua empregabilidade. No entanto, PERIÓDICOS, E É EXTENSIVO AOS
acredita-se que a remuneração e as FAMILIARES
condições de trabalho, não esteja à contento,
“Existe um controle com relação a lesões,
considerando o estado de mobilização e de
doenças ocupacionais, visando evitar o
greve há 15 dias na rede bancária, exceto
absenteísmo(...), o controle é preventivo,
nas duas instituições qual participaram do
temos exames médicos e clínicos, (...)
estudo.
anualmente e se a família precisar pode
utilizar(...)quando se tem campanha de
vacinação todos os funcionários são
3.2 AÇÕES DE HIGIENE E SEGURANÇA DO
vacinados(...).(Gestor x)
TRABALHO EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
DA PARAÍBA NA ÓTICA DE SEU GESTOR O conceito de saúde reflete a conjuntura
LOCAL E SUA COMPATIBILIDADE COM AS social, econômica, política e cultural. Ou seja:
AÇÕES DE RH SUSTENTÁVEL saúde não representa a mesma coisa para
todas as pessoas. Dependerá da época, do
Quando arguidos sobre Programas de
lugar, da classe social. Dependerá de valores
qualidade de vida, os relatos dos gestores
individuais, dependerá de concepções
revelaram a seguinte categoria:
científicas, religiosas, filosóficas
CATEGORIA 1- AS AÇÕES PARA (SCLIAR,2007).
QUALIDADE DE VIDA SÃO DE LIVRE
Observa-se uma preocupação que direciona
ESCOLHA DO FUNCIONÁRIO E
para uma lógica da organização, na GRH,
FINANCIADAS DE ACORDO COM AS
voltada para saúde física, biologizada,
POSSIBILIDADES FINANCEIRAS DO BANCO
desconsiderando a definição ampla de saúde
“(...) temos uma verba nas agências para que preconizada pela Constituição Federal do
cada funcionário possa desenvolver Brasil 1988 artigo 196:
atividades de livre escolha (claro que dentro
A saúde é direito de todos e dever do Estado,
do orçamento financeiro...) para sua
garantido mediante políticas sociais e
qualidade de vida no trabalho – QVT e a
econômicas que visem à redução do risco de
agência arca com as despesas, como
doença e de outros agravos e ao acesso
massagens relaxantes (...) A ginástica laboral
universal e igualitário às ações e serviços
é de forma individual, não temos” (Gestor x) .
para a promoção, proteção e recuperação”.
“como fazer mais atividades conjuntas, dentro Este é o princípio que norteia o SUS, Sistema
do horário de trabalho?, (...) sobra pouco Único de Saúde. E é o princípio que está
tempo. Temos colônia de férias que colaborando para desenvolver a dignidade
promovemos para os funcionários, e aos brasileiros, como cidadãos e como seres
familiares e o banco financia...ele fica á humanos
vontade para escolher (Gestor Y).
Compreende-se que os princípios e diretrizes
As atividades relatadas são importantes e do SUS exigem a promoção da saúde de
necessárias para o bem-estar do funcionário, maneira participativa coma a comunidade, e
porém, uma vez desenvolvidas de forma espera-se que as instituições financeiras,
isolada e fragmentada dissociadas de um inseridas nas referidas comunidades, não se
programa de Qualidade de Vida no Trabalho, coloquem ás margens da participaçãoda
fragiliza a proposta de uma ação de RH qualidade de vida do cidadão na esfera de
Sustentável que evidencia a importância seu processo de trabalho.
desse programa e de ações sistematizadas,
Já na instituição “Y” o relato do gestor revela
proporcionando um bem-estar efetivo. Esses
preocupação com a saúde mental, adaptação
aspectos que subsidiam uma Administração
ao ambiente de trabalho e prevenção de
Renovada, uma vez não contemplada torna a
acidentes, mas não utilizam treinamentos para
ação descrita de RH não sustentável.
este fim. Entretanto, configura-se como ação
Quanto as estratégias para prevenção e de RH sustentável. Apresenta-se a ação
assistência aos acidentes de trabalho e sugerida por D´ Amorim (2009) que
doenças graves (QVT e treinamentos), nas contempla este subsistema de Higiene e
falas identificou-se duas categorias: Segurança no Trabalho Ação 1: Estratégias
para prevenção e assistência aos acidentes
Tópicos em Administração - Volume 8
20

de trabalho e doenças graves (QVT e banco, como mesas, cadeiras, o conforto,


treinamentos). qualidade, limpeza, higiene(...)”(Gestor y)
CATEGORIA 2- HÁ PREVENÇÃO E (...) estamos reformando nossos móveis, para
ASSISTÊNCIA À ACIDENTES DE TRABALHO oferecer mais conforto e apoio às nossas
E DOENÇAS OCUPACIONAIS atividades, já está em desenvolvimento a
instalação destes móveis e
“Há orientações de prevenção de LER (...) e
iluminação(...).(Gestor x).
de saúde mental, que mede o nível de stress
do funcionário daqui do Banco. Temos os Um espaço estrutural seguro é uma
exames de casos específicos quando se conceituação proposta por Aktouf (1996).
muda de função (...) temos também exame de Complementa esta compreensão, ao
Retorno ao Trabalho, o admissional e o considerar as políticas de segurança do
demissional” (Gestor y) ambiente de trabalho, desenvolvidas na
dimensão ambiental como: condições físicas
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é o
no ambiente (ruído, temperatura-clima),
conjunto de ações da empresa que envolve a
iluminação, ventilação, instalações elétricas,
implantação de melhorias e inovações
mesas, cadeiras (ZOCCHIO, 2002;
gerencias, bem como tecnológicas no
SCOPINHO, 2003). Sendo assim, a ação
ambiente de trabalho. A construção do QVT
contida nesta ideia central é considerada uma
tem suas raízes na concepção holística da
ação de RH sustentável, em consonância com
organização e do indivíduo, considerando as
ação que se propõe por D´ Amorim (2009)
necessidades biopsicossociais do mesmo. No
para esse subsistema Ação 2: Manter um
contexto da organização, visa a eliminação ou
ambiente estrutural seguro para o
controle dos riscos ocupacionais no ambiente
desenvolvimento das atividades da
físico; os desgastes físicos e mentais das
organização
atividades laborais; as relações de trabalho e
seus significados em si com as políticas, Quanto a formalização de acordos com
ideologias e poder, além da satisfação do sindicatos relativos à temática da saúde e
funcionário. Todos estes aspectos refletem o segurança, uma categoria temática foi
modo de vida dentro e fora da organização revelada:
(LIMONGI-FRANÇA, 1997).
CATEGORIA 1- AS TEMÁTICAS SOBRE
A Qualidade de Vida no Trabalho procura SAÚDE DO TRABALHADOR SÃO
contemplar aspectos direcionados à DISCUTIDAS COLETIVAMENTE E FECHADO
satisfação de questões associadas às ACORDOS FORMAIS ENTRE AS
condições de trabalho, ao conteúdo e REPRESENTAÇÕES DE CLASSES
contexto da tarefa, ao inter-relacionamento
“(...)o Banco e o sindicato, entram em acordo.
entre as pessoas, à remuneração, ao ritmo de
No caso do Plano de saúde, o banco paga
trabalho, à autonomia profissional, às novas
uma parte e o funcionário outra”( Gestor y)
práticas de gestão, dentre outros (MORAES,
2000; HONÓRIO, 1998; MARQUES et al., “ O Plano de Saúde é oferecido; tem uma
2003; LIMONGI-FRANÇA, 2004; BASTOS et abrangência e suas especialidades(...)”
al., 2006). (Gestor x)
Quanto à existência de ambiente estrutural A presença de representação funcional,
seguro para o desenvolvimento das sindical ou de classe, torna esta ação de RH
atividades da organização, pelos uma ação de RH sustentável. Estes
funcionários, as respostas relatadas mostram indicadores tratam de aspectos que, antes de
que há preocupação com essa questão serem acordos e comitês formais, são leis, a
demonstradas nas categorias: exemplo da Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes – CIPA, regulamentada pela Lei
CATEGORIA 1- HÁ PREOCUPAÇÃO COM A
nº 6.514 NR-5 do Ministério do Trabalho. A
ESTRUTURA FÍSICA, DE MATERIAIS E
CIPA, comissão composta por representantes
EQUIPAMENTOS DO BANCO PARA AS
do empregador e dos empregados, tem como
ATIVIDADES DOS FUNCIONÁRIOS QUE NÃO
missão a preservação da saúde e da
OFEREÇAM RISCOS À SEGURANÇA NO
integridade física dos trabalhadores e de
TRABALHO
todos aqueles que interagem com a empresa
“Nos preocupamos com a questão da (CIPA, 2009).
segurança, com as questões estruturais do

Tópicos em Administração - Volume 8


21

Ao serem arguidos sobre a facilitação ou Com relação à identificação da


incentivo de funcionários à participação nos compatibilidade das 05 ações de Higiene e
comitês formais de segurança e saúde, Segurança do trabalho, desenvolvidas pelas
identificou-se uma categoria nas falas dos instituições bancárias, consideradas
gestores: indicadores a serem analisados, são de fato,
03 ações totalmente de RH sustentáveis:
CATEGORIA 1- O INCENTIVO É PELA
Manter um ambiente estrutural seguro para o
PARTICIPAÇÃO NA CIPA. A PARTICIPAÇÃO
desenvolvimento das atividades da
SINDICAL É ATITUDE DE CADA UM
organização; Formalizar acordos com
“Temos dois funcionários ou três por agência, sindicatos relativos à temática da saúde e
na CIPA”(...). segurança; e atendem ao objetivo da
dimensão ambiental da GRH nas
Além da CIPA, a organização deve estar
organizações sustentáveis que versa
aberta para acordos formais com os
propiciar um ambiente de trabalho seguro e
sindicatos, para manutenção da qualidade de
favorável para a construção de relações
vida e segurança no trabalho, como forma de
sociais, minimizando os impactos ambientais
legitimar a representação das categorias.
internos através de ações de consciência
Nesse reconhecimento, apresenta-se as
ecológica.
ações 3 e 4 propostos por D´ Amorim (2009)
para esse subsistema Ação 3: Facilitar a Considera-se que as outras 02 ações, são
participação de funcionários nos comitês parcialmente sustentáveis: facilitar e
formais de segurança e saúde; e Ação 4: incentivar a participação de funcionários nos
Formalizar acordos com sindicatos relativos à comitês formais de segurança e saúde
temática da saúde e segurança. (embora possuam representação funcional,
espera-se o incentivo e facilitação da
A participação dos funcionários nesta ação,
participação em associações de classe);
como em qualquer outra, merece destaque
desenvolver estratégias para prevenção e
enquanto componente de uma ação de RH
assistência aos acidentes de trabalho e
sustentável. A participação pode ser induzida
doenças graves (QVT e treinamento s- o
ou seletiva. Induzida, quando os funcionários
programa de QVT é desenvolvido através do
não estão motivados para participar das
financiamento de alguma atividade de livre
atividades que não lhe trazem benefícios
escolha do funcionário, não há treinamentos,
diretos ou exigem tempo e energias
incentivo ou alguma forma integrada de
adicionais. Seletiva, quando a proposta
desenvolvimento, o que foge completamente
participativa visa a participação voluntária, de
da articulação das instituições de maneira
encontrar ideias e maneiras de implementá-
integrada com os funcionários.
las no processo de trabalho (SOUTO-MAIOR,
2002). O ambiente interno é tão importante quanto o
externo das instituições. Sugere-se param as
instituições financeiras a implementação de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS um programa de Qualidade de Vida no
Trabalho, evidenciando a importância deste
A metodologia aplicada possibilitou o alcance
programa, com ações sistematizadas,
dos objetivos propostos no estudo. O perfil
proporcionando um bem-estar efetivo. E
sociodemográfico e profissional dos gestores
evidenciem campanhas de prevenção de
de RH, das instituições financeiras da
acidentes, com treinamentos para este fim,
Paraíba, são qualificados na área de RH e em
fortalecendo as ações de RH sustentável,
nível de pós-graduação, contudo não deixa
compatível com o discurso das organizações.
claro se houve investimento das instituições
estudadas e suas respectivas participações
nessas qualificações.

Tópicos em Administração - Volume 8


22

REFERÊNCIAS attitudes and behavior .Cambridge University


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Tópicos em Administração - Volume 8


24

Capítulo 2

Claudio Noronha Vaz de Melo


Ingrid Marques Lima
Paulo Cezar Conceição de Oliveira

Resumo: A Central de Atendimento Multicanal (Call Center) da FIRJAN, lotada no


bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, possibilita a interação com clientes (indústrias,
trabalhadores e familiares) e a geração de dados/informações para tomada de
ações nos negócios e venda de serviços. O Operador de Relações com Mercado é
responsável pelo atendimento a ações pertinentes a telemarketing ativo, receptivo e
resposta a demandas do site fale conosco, chat e mídias sociais. Em virtude da
importância e das características inerentes ao serviço de call center, o estudo
focou o trabalho dos operadores que realizam o teleatendimento na empresa. A
metodologia utilizada para a condução da ação ergonômica teve como base a AET
– Análise Ergonômica do Trabalho, abordagem metodológica clássica utilizada
pelos ergonomistas da linha francofônica (Guérin et al., 2001), tendo como
principais etapas: Análise da demanda; Análise da tarefa; Análise da atividade;
Diagnóstico; Recomendações. Foram utilizados os seguintes métodos: Visitas
guiadas aos setores contemplados com a AET, entrevistas com gestores e
empregados, registro fotográfico e em vídeo das situações consideradas críticas de
trabalho, aplicação de questionários e ferramentas quantitativas como o CORLETT.
Como resultado da análise da atividade, pode-se pontuar um excesso de falhas
que demandam correções no sistema de TI. Essas falhas podem gerar retrabalho e
insatisfação por parte do operador, elucidando a importância de intervenções à luz
da ergonomia. Para que uma análise ergonômica gere recomendações de fato
eficazes, é necessário que o ergonomista mapeie todos os aspectos
organizacionais, cognitivos e físicos do trabalho.

Tópicos em Administração - Volume 8


25

1 INTRODUÇÃO relativos a Distúrbios Osteomusculares


Relacionados ao Trabalho (DORT), problemas
“A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma
vocais, problemas auditivos e adoecimentos
disciplina científica relacionada ao
de ordem mental e psicológica. Várias
entendimento das interações entre os seres
pesquisas também demonstraram grande
humanos e outros elementos ou sistemas, e à
rotatividade dos trabalhadores nos empregos
aplicação de teorias, princípios, dados e
que utilizam, em grande escala, trabalhadores
métodos a projetos, a fim de otimizar o bem
jovens e do sexo feminino, como mostraram,
estar humano e o desempenho global do
entre outros, Marinho-Silva (2004) e INRS
sistema” (IEA - Associação Internacional de
(2005).
Ergonomia, 2000).
Os serviços de Teleatendimento,
De forma resumida, Ergonomia é o estudo dos
considerados vitais para o desenvolvimento
aspectos do trabalho e sua relação com o
das empresas na nova estrutura da produção
conforto e bem estar do trabalhador. Ela
e da economia, tornaram-se viáveis graças à
intervém analisando o trabalho, as posturas
junção das tecnologias da telefonia e da
adotadas pelo ser humano, sua
informática. Pode-se, no entanto, afirmar que,
movimentação e ritmo, que, de um modo
em sua prática, incorporaram princípios
geral, são determinados por diferentes fatores
neotayloristas que se baseiam em formas de
organizacionais e ambientais, tais como
controle exacerbadas do tempo e das
pouco tempo de descanso e intempéries.
interações. Os gestores buscam implicar a
A Norma Regulamentadora n° 17 visa subjetividade dos trabalhadores em prol dos
estabelecer parâmetros que permitam a objetivos comerciais e econômicos das
adaptação das condições de trabalho às empresas, característica que transformou o
características psicofisiológicas dos setor em emblema do processo mundial de
trabalhadores, de modo a proporcionar um intensificação do trabalho. Aparentemente
máximo de conforto, segurança e natural, o modelo organizacional em
desempenho eficiente. Teleatendimento utiliza a hora uniforme do
relógio como medida do trabalho cuja
Em 30 de março de 2007 a portaria n° 09
natureza é subjetiva e emocional (Filho et. al,
aprova o Anexo II da NR-17 – Trabalho em
2006).
Teleatendimento / Telemarketing,
regulamentando o trabalho do tele operador. As atividades implicadas no trabalho, seu
O anexo versa sobre mobiliário do posto de ambiente físico e social, exercem sobre o
trabalho; equipamentos dos postos de trabalhador certo número de
trabalho; condições ambientais de trabalho; constrangimentos, exigindo-lhe gastos de
organização do trabalho; capacitação dos naturezas diversas: físico, mental, emocional,
trabalhadores; condições sanitárias de afetivo – e acarretando, portanto, desgastes e
conforto; programas de saúde ocupacional e custos para o indivíduo (Moraes et. al, 2010).
de prevenção de riscos ambientais. A
De acordo com Lopes et. al (2005), as
elaboração desta norma se apoiou nos
empresas que adotam o sistema de call
resultados de pesquisas nos relatórios
center esperam que seus trabalhadores
técnicos das inspeções do Ministério do
possuam certas qualidades que facilitem e
Trabalho e Emprego (MTE), e nas numerosas
garantam o nível de serviço e a qualidade no
queixas de adoecimento físico e mental dos
atendimento. Para isto, elas procuraram
trabalhadores (Oliveira, 2007).
estabelecer uma estrutura hierárquica da
Em seu artigo publicado na Revista Brasileira seguinte forma: gerente, coordenador de
de Saúde Ocupacional, Peres et. al (2006) qualidade, supervisor e operador.
relata que diversas entidades sindicais e
O perfil do operador é considerado como um
associações de trabalhadores procuraram o
dos mais importantes, devido ao fato dele ter
MTE no decorrer dos últimos anos buscando
contato direto com o cliente, tendo em vista
apoio e ações de fiscalização para atender às
que a satisfação do cliente depende
queixas de seus associados. Vários trabalhos
exclusivamente de seu atendimento.
científicos nacionais e internacionais, como
Assunção e Vilela (2004), Glina e Rocha Para algumas empresas existem dois perfis
(2003), CFDT (2002), entre outros, confirmam distintos de operadores: o ativo ou o
as queixas recebidas relativas a vários tipos receptivo. O ativo demonstra ser mais
de adoecimento no trabalho. Esses relatos agressivo, com espírito empreendedor e bom
demonstram sofrimento dos trabalhadores de venda, já o outro é receptivo pelo tom de

Tópicos em Administração - Volume 8


26

voz, pela postura, pela entonação e o de divulgações de serviços, eventos,


desembaraço (Lopes et. al, 2005). confirmação de recebimentos de convites,
confirmação de consultas, suporte e interação
O trabalho de atendimento, mesmo que seja
com áreas para acompanhamento,
mediado por telefone, implica uma relação
atualização e inserção de dados para ações
intersubjetiva. Ao mesmo tempo em que se
demandadas, dentre outras conforme
busca, por meio dos paradigmas da
necessidade.
simplificação, uma homogeneidade no
atendimento, pede-se ao trabalhador que seja
envolvente, simpático, carismático, cordato,
3 METODOLOGIA
tudo isso sob pressão de tempo e sob a aura
do controle (Sznelwar et. al, 2006). A metodologia utilizada para a condução da
ação ergonômica teve como base a AET –
Este artigo apresenta algumas considerações
Análise Ergonômica do Trabalho, abordagem
sobre a análise ergonômica do trabalho
metodológica clássica utilizada pelos
realizada em um ambiente de Call Center,
ergonomistas da linha francofônica (Guérin et
ressaltando a visão do ergonomista.
al., 2001), tendo como principais etapas:
Análise da demanda; Análise da tarefa;
Análise da atividade; Diagnóstico;
2 OBJETO DE ESTUDO
Recomendações.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio
Meios para a realização da AET: Visitas
de Janeiro representa todas as indústrias do
guiadas aos setores contemplados com a
estado do Rio. Com suas cinco organizações
AET, Entrevistas com gestores e empregados,
(SESI, SENAI, IEL, FIRJAN e CIRJ), o Sistema
Registro fotográfico das situações
FIRJAN atua em áreas fundamentais, como a
consideradas críticas de trabalho, Registro
competitividade empresarial, educação e
em vídeo das situações consideradas críticas
qualidade de vida do trabalhador e seus
de trabalho, Aplicação de questionários e
familiares.
ferramentas quantitativas.
Sua Central de Atendimento Multicanal (Call
Através de dois modelos quantitativos de
Center), lotada no bairro da Tijuca, Rio de
questionário - incluindo dados sobre
Janeiro, possibilita a interação com clientes
absenteísmo - verificaram-se alguns atributos
(indústrias, trabalhadores e familiares) e a
da população do call center. Objetiva-se
geração de dados/informações para tomada
assim direcionar o enfoque da análise das
de ações nos negócios e venda de serviços.
atividades desta divisão.
Realiza a integração, gestão e
acompanhamento de todos os canais de É mister ressaltar que a existência de
comunicação (telefone, chat, fale conosco, problemas que ameacem a produtividade no
SMS), centralização dos contatos/interações trabalho, é, por si só, um sinal de que o
(atendimentos, agendamentos, registros no ambiente corporativo necessita ser avaliado.
SAC, etc.) com dados para gestão do
O primeiro questionário reúne perguntas
conhecimento dos produtos e suporte às
sobre uso do mobiliário, ferramentas
ações estratégicas.
administrativas, desconforto corporal, conforto
Em virtude da importância e das ambiental (iluminação, temperatura, ruído),
características inerentes ao serviço de call sintomas fisiológicos, questões
center, o estudo focou o trabalho dos organizacionais e questões cognitivas no
Operadores de Relação com o Mercado, que trabalho.
realizam o Teleatendimento na empresa.
O segundo engloba o Anexo II (Call Center)
O Operador de Relações com Mercado é da NR 17, incluindo o uso do mobiliário e as
responsável pelo atendimento a ações ferramentas administrativas, focando o
pertinentes a telemarketing ativo, receptivo e desconforto físico no trabalho e os fatores
resposta a demandas do site fale conosco, cognitivos e organizacionais que influenciam
chat e mídias sociais. No receptivo atende a produtividade.
ligações telefônicas, fornecendo informações,
orientações e direcionamentos, agendamento
de consultas, registros de reclamações e 4 CENTRAL DE ATENDIMENTO MULTICANAL
sugestões, inscrições para eventos, dentre
No período em que foi analisada, a Central de
outros. No telemarketing ativo atua em ações
Atendimento Multicanal contava com 139

Tópicos em Administração - Volume 8


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empregados próprios, sendo 122 do gênero bipartidas, com ajuste de altura r através de
feminino e 17, masculino. Destes, 01 Chefe de alavanca (na estrutura de aço da mesa -
Divisão, 01 Assistente de Controle, 02 Figura 1). Algumas possuem dois monitores
Assistentes de Operações, 05 Supervisores sobre a mesma, enquanto outras, apenas um.
de Operações e 130 Operadores de Relação Um gaveteiro embaixo da mesa diminui o
com o Mercado. espaço horizontal, para o posicionamento das
pernas do operador.
As mesas de trabalho dos operadores das
posições de atendimento (PA’s) são

Figura 1 – Posto de trabalho dos Operadores de Teleatendimento (mar/14).

De acordo com a Figura 2, as PA’s (posições estratégico, centralizadas no ambiente


de atendimento) utilizadas pelos operadores administrativo, com os demais postos de
de Teleatendimento estão em um ponto apoio ao redor.

Figura 2 – Planta baixa e imagem ilustrativa com os postos de trabalho da Central de Relação com o
Mercado em suas posições (mar/14).

Tópicos em Administração - Volume 8


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As posições de atendimento estão divididas distintos. Isso, segundo a supervisão, facilita a


em “espinhas” (Figura 3). Cada “espinha” de troca de turno e faz com que se conclua com
PA’s se refere a um horário específico, sendo eficácia a demanda de atendimento.
preenchidas pelos operadores em horários

Figura 3 – Recorte de planta baixa com espinhas de Teleatendimento e exemplo de PA em


destaque.

A Iluminação do ambiente é composta por colaboradores do Teleatendimento –


lâmpadas frias, presas de forma suspensa, Operadores de Relações com Mercado. Dos
com base espelhada. A temperatura é respondentes, 92% eram do gênero feminino
regulada através de Splits de Teto. O espaço e apenas 8% masculino, sendo a sua maioria
de trabalho possui janelas de alumínio com na faixa etária entre 30 e 35 anos. Destes,
vidro duplo e persianas horizontais internas. 77% dos inquiridos trabalham de 03 a 05 anos
nesta divisão e 23% até 01 ano.
O horário dos operadores de rel. com o
mercado é distribuído em dois turnos de 06 Dos inquiridos, 62% indicam desconforto nos
horas diárias de trabalho de segunda a sexta- ombros, 54% em pescoço/cervical e 46%
feira. Em ambos os turnos, manhã e tarde, há costas inferior/lombar e punhos/mãos
intervalos de 20 minutos após a primeira hora advindos do trabalho.
e mais duas pausas de 10 minutos, depois de
Dos Operadores de Relações com Mercado
duas horas trabalhadas. Há maior demanda
inquiridos, 62% avaliam a cadeira que utilizam
(pico) de atendimentos receptivos entre 9:00h
no trabalho como desconfortável. Quando
e 12:00h, com maiores fluxos na segunda e
indagados sobre a proteção do headset a
terça-feira, de acordo a supervisão.
choques acústicos e ruídos indesejáveis, 54%
O atendimento se inicia às 6:45h e termina às diz não existir, 31% sim e 15% que não
20h. A partir de 20h utiliza-se apenas a sabem.
secretária eletrônica. As escalas de fins-de-
Sobre o efetivo, 46% dos operadores o
semana do sábado são realizadas com 01
consideram inadequado ao volume de
profissional de apoio e 12 operadores, e
atendimentos. Tal fato pode indicar uma
domingo, 01 apoio e 03 operadores, ou de
sobrecarga de tarefas. A maior parte dos
acordo com demanda de algum evento
operadores (54%) alega não haver garantia
previsto. Qualquer alteração nos quantitativos
de pausa após um atendimento desgastante.
por turno só é realizada em função de eventos
específicos, sendo previamente agendado e Segundo o Anexo II da NR-17 – 5.4.5: Devem
informado aos operadores conforme previsto ser garantidas pausas no trabalho
na NR – 17. imediatamente após operação onde haja
ocorrido ameaças, abuso verbal, agressões
ou que tenha sido especialmente
5 RESULTADOS DA ANÁLISE desgastante, que permitam ao operador
recuperar-se e socializar conflitos e
Questionário
dificuldades com colegas, supervisores ou
O inquérito do tipo questionário foi realizado profissionais de saúde ocupacional
com uma população de 13 (treze)

Tópicos em Administração - Volume 8


29

especialmente capacitados para tal quantos estão disponíveis ou não naquele


acolhimento. instante e o número de contatos: recebidos,
enfileirados, abandonados e atendidos.
Sobre treinamentos de riscos, 85% afirmam
não recebê-lo. A Central de Teleatendimento utiliza como
ferramenta única de consulta o Sistema de
Segundo o Anexo II da NR-17 – 6.1: Todos os
Teleatendimento. Como lê informações de
trabalhadores de operação e de gestão
outros sistemas, é necessária a atualização
devem receber capacitação que proporcione
imediata das informações para evitar erros no
conhecer as formas de adoecimento
atendimento, reclamações desnecessárias,
relacionadas à sua atividade, suas causas,
insatisfação por parte dos clientes e
efeitos sobre a saúde e medidas de
comprometimento da imagem.
prevenção.
As tarefas do Teleatendimento podem assumir
No que diz respeito à existência de algum
dois formatos:
sistema de recompensa na empresa que
estimule a disputa entre colegas ou equipes
de trabalho, 62% dos inquiridos afirmam que
Ativo - É o que ocorre sempre que a empresa
isso ocorre em seu trabalho. Por si só isto não
toma a iniciativa de contatar seus clientes,
representa um problema. Nesse caso, há de
parceiros, fornecedores ou consumidores, de
se averiguar se o mesmo é feito sem agredir
maneira sistemática, programada e
psicologicamente os operadores. Segundo o
direcionada. Mais direcionado a operadores
Anexo II da NR-17 – 5.13: É vedada a
experientes.
utilização de métodos que causem assédio
moral, medo ou constrangimento, tais como:  Esta forma de trabalho inclui:
a) estímulo abusivo à competição entre
trabalhadores ou grupos/equipes de trabalho.  Confirmação de consulta de saúde ou
de vaga de curso;
 Emissão de convite para eventos;
Requisitos organizacionais
 Oferta de produtos e serviços;
Os procedimentos de trabalho, como os
scripts, frases padronizadas e tempos para o  Agendamentos;
atendimento, são definidos em função de um
determinado serviço planejado por setores
 Desmarcação de agenda médica-
odontológica.
hierarquicamente superiores e sempre
validados pelo chefe do setor. Receptivo - É a maior demanda de trabalho. A
iniciativa do contato telefônico parte do
O controle do trabalho é realizado
próprio cliente, que é quem comanda a
pessoalmente pelo supervisor e indiretamente
ligação. É feito principalmente através do
pelo setor de monitoria (Qualidade) através de
número telefônico 0800, oferecido diretamente
escutas telefônicas em tempo real ou
nos balcões de atendimentos das unidades
posteriormente através das gravações das
operacionais procuradas pelos clientes, além
chamadas.
do site do Sistema Firjan.
A Qualidade tem como ocupação principal
Em termos operacionais, o cliente liga para a
fazer escutas dos atendimentos segundo uma
empresa via 0800 é atendido por uma
listagem nominal dos operadores,
secretária eletrônica que oferece as opções
semanalmente ou mensalmente, emitindo
de dígitos para uma pré-triagem e
avaliações individuais para indicar se a
canalização da chamada para o subsetor que
qualidade do atendimento está em
faz o atendimento especifico à solicitação. A
conformidade com o que é preconizado pela
empresa gera cadastro nos contatos; o
alta gerência. Eles auxiliam na definição das
operador segue um roteiro (script) para a
habilidades de cada operador conforme tipo
abordagem; o público comanda a demanda
de produto atendido, o que permite uma
de ligações; formando-se picos de ligações,
distribuição (ou redistribuição) adequada do
em espera de serem atendidas, que os
efetivo com maior aproveitamento das
operadores qualificam de filas.
competências e eficiência de cada operador.
São atribuídos ao atendimento receptivo:
Todos os operadores têm acesso a uma tela
de monitoramento, tanto no sistema quanto na Recebimento de reclamações (SAC);
parede da sala, que indica, por exemplo,

Tópicos em Administração - Volume 8


30

Central de Relacionamento; caracterização e posição serial do setor


(Figura 4), como sugere MORAES (2010).
Informações sobre cursos SENAI;
Agendamento de serviços de saúde
assistencial e ocupacional; Apreciação das situações mais críticas do
uso do mobiliário
Informações gerais do Sistema FIRJAN.
Alguns casos percebe-se que não há uma
Os operadores de relacionamento com o
homogeneidade na qualidade do mobiliário,
mercado iniciam o trabalho neste atendimento
em especial as cadeiras. Autores como IIDA
e, a partir do acompanhamento da
(2005) esclarecem que para que haja um
supervisão, serão ou não realocados a outras
trabalho com o computador sem riscos de
funções, dependendo da habilidade de cada
desconforto, proveniente do mobiliário,
um.
necessita-se que, tanto a cadeira quanto a
São realizados treinamentos baseados em mesa, estejam em boas condições de uso.
scripts, roteiros e instruções operacionais aos
A grande maioria das PA’s possuem mini
operadores de tele atendimento. Mesmo
armários com altura elevada, a ponto de não
assim, o excesso de janelas abertas no
permitir uma regulagem do tampo da mesa
sistema e o retrabalho em virtude de alguns
por parte do operador. Além disso, para
problemas operacionais são fatores que
agravar, há manivelas de ajuste defeituosas.
influenciam diretamente na produtividade dos
Cadeiras muito velhas ou mal conservadas
operadores, sobretudo na tarefa de
não asseguram conforto adequado aos
“Agendamento Médico”, um dos mais
operadores, pois a espuma do assento e
solicitados. Estes atendimentos ocorrem
encosto perdeu a sua densidade. Algumas se
através de um headset, que é plugado em um
encontram rasgadas.
telefone.
Operadores sentem a necessidade de
aproximar o monitor para trabalhar, pelo
Caracterização do sistema para o tamanho da tela, que não é grande o
relacionamento com o cliente suficiente para enxergar todas as
informações. Além disso, a dificuldade de
Com base no que foi exposto na análise da
aproximação muitas vezes pode ser
tarefa e nas entrevistas realizadas no
decorrente do apoio anexado ao tampo do
ambiente estudado podemos então
teclado. Este apoio impede que o braço
caracterizar o trabalho na Divisão de
esteja corretamente posicionado durante a
Operação de acordo com a tarefa real. Sendo
atividade oque que pode ocasionar lesões em
assim, a análise da atividade teve inicio com a
membros superiores.

Tópicos em Administração - Volume 8


31

Figura 4 – Caracterização e posição serial do setor, de acordo com a tarefa real.

Figura 5 – Detalhe dos monitores e do apoio, anexado às PA’s.

Análise da atividade de cancelamentos e duplicidade de


informações no sistema. Tal fato aumenta a
O item mais reclamado pelos operadores de
carga de trabalho, obrigando o uso de
call center durante a análise ergonômica
planilhas Excel, ao mesmo tempo em que se
(2014) foi a “saúde assistencial”, que
acessam diferentes telas do sistema.
mantinha o mesmo quadro de sobrecarga de
atendimentos de 2013. As reclamações se Há períodos no ano em que há alta densidade
explicam pelo fato de haver quantidade de carga mental, em decorrência do grande
significativa de agendamentos que número de telefonemas recebidos e das
demandam muito retrabalho, em decorrência diferentes informações solicitadas.

Tópicos em Administração - Volume 8


32

Análise do Teleatendimento Ativo: mais experientes, com a ajuda intermitente de


organização da base de ativos e saúde. outros colegas através da janela de
mensagens, durante a atividade.
Fez-se o acompanhamento da atividade de
uma operadora de relação com o mercado Na atividade, que teve duração total de três
(Tele atendimento) com mais de cinco anos horas, a operadora prepara os contatos que
de experiência, em dois dias, 2ª feira – dia vão receber as mensagens de texto (SMS)
mais agitado – e 6ª feira – dia mais tranquilo, com o aviso de confirmação dos
mas com maior sobrecarga após as 9 horas atendimentos agendados – Utilizando o
da manhã, horário do acompanhamento. Sistema CITRIX (para agendamento), o
software Excel, e o programa de mensagem
Este serviço de organização da base de
Microsoft Lync, tendo acesso a diferentes
ativos e saúde é realizado por operadores
telas (Figura 6).

Figura 6 – Ativ. de organização da base de ativos e saúde – uso de teclado e mouse c/ diferentes
telas.

Quando um profissional da saúde desmarca a para buscar ou renovar uma informação de


consulta, os operadores são obrigados a ligar agendamento, e então retornar ao programa
para todos os pacientes para avisar a da Linha Office, mesmo que o usuário já
desmarcação. Esta tarefa é direcionada a um possua experiência no uso do mesmo, pois há
grupo encarregado pelo atendimento ativo. como agravante o fato de ela ter outras
tarefas a cumprir, gerando com isso atrasos
O problema é quando há duas marcações no
desnecessários.
sistema – 18h às 18:30h / 18:30h às 19h –
para uma única consulta de tratamento de Neste período de acompanhamento do
prótese (Odonto), quando o ideal é que haja ergonomista foi verificada, em mais de uma
apenas uma marcação com início às 18h e ocasião, duplicidades de marcação de
término às 19h; é justamente esta correção horário no sistema, obrigando-a a escolher
que é feita por eles. Definindo apenas um que atitude tomar naquele instante,
período corrido de consulta. consultando para isto um colega, que a auxilia
a tomar decisões nesta atividade (Figura 7):
Isto gera retrabalho, pois obriga a operadora
a atualizar todos os dias no sistema a consulta Operadora: “(...) percebi que as consultas
referente ao mesmo profissional de saúde do foram marcadas no mesmo dia e horário, uma
SESI, o que requer o uso simultâneo de dois delas agendada pela UNOP, melhor deixar
programas distintos: Excel e Sistema CITRIX. que ela receba dois SMS”.
É trabalhoso e repetitivo marcar cada linha de Colega: “Beleza”.
uma planilha no Excel, voltar para o sistema

Tópicos em Administração - Volume 8


33

Figura 7 – Atividade de organização da base de ativos e saúde – Tela de sistema de saúde CITRIX e
Microsoft Lync (mensagens de texto) durante a comunicação com um colega.

Surgiu também, através da supervisão, uma excluídas, devido à diferença em quantidade


solicitação de Jacarepaguá para outra de módulos – Tarefa, segundo operadora,
demanda de desmarcação de agenda. demorada, sem hora certa para acontecer.
Visualizando o sistema de saúde CITRIX para Tal fato enaltece a necessidade de que, no
desmarcar consultas odontológicas ocorreu caso de consultas odontológicas, o sistema
que, ao se retirar uma consulta de um dentista repasse apenas o horário de início de
específico, todas as outras marcações feitas consulta para cada paciente. Isso evitaria a
em nome deste dentista foram grande demanda de remarcação/readaptação
automaticamente excluídas. Isso obrigou o dos horários, evitando-se duplicidade.
operador do tele atendimento a remarcar
Nota-se que, enquanto a operadora visualiza
rapidamente todas as consultas neste mesmo
as diferentes informações no sistema, ela
sistema (utilizando o Excel e sistema), pois,
flexiona o ombro, punho e o pescoço (
caso contrário, haveria o risco de elas serem
Figura 8). Isso se deve ao suporte de pescoço para visualizar a tela de
punho/antebraço (preso à mesa), que não monitoramento na parede; o que não é feito
permite que o cotovelo permaneça em um de forma contínua. A atividade exige,
ângulo de 90º junto ao tronco; desta forma, diariamente, movimento repetitivo de
ocasionando extensão do punho direito digitação e utilização do mouse.
durante no uso do mouse. Há rotação de

Figura 8 – Atividade de organização da base de ativos e saúde – posicionamentos de braço e


pescoço.

A mesa bipartida da PA possui uma manivela favorecendo a compressão da região


que adaptaria a altura do teclado e monitor às posterior da coxa contra o assento da
características da usuária. Como o cadeira, sobrecarregando a circulação
acionamento não é simples, a operadora não sanguínea de membro inferior (
utiliza este requisito de regulagem da mesa,
Figura 9 – 2ª e 3ª imagens).

Tópicos em Administração - Volume 8


34

Figura 9 – Atividade de organização da base de ativos e saúde – posicionamento da perna;


ajustando a altura; alavanca de ajuste da PA

Há um mini ventilador disposto ao lado do lado da cadeira, por ser usado por mais de
telefone, o que demonstra um desconforto em um operador, não oferece a ela um espaço
relação à temperatura nesta PA. para guardar a bolsa; que fica pendurada no
apoio de braços da cadeira.
Foi relatado pela operadora que o armário
pequeno que se encontra abaixo da PA, ao

Figura 10 – Atividade de organização da base de ativos e saúde – apoio de punho fixo; passagem
ao lado da PA; visão geral do PA 30.

A operadora foi orientada pelo ergonomista a Após seguir a recomendação de adequar a


posicionar adequadamente seu mobiliário. altura da mesa bipartida, relatou que de fato
Ficou evidenciado neste caso que não há isso facilitou o trabalho e até aumentou a sua
uma cultura de ajuste da altura de PA entre os produtividade.
operadores de tele atendimento: Ela baixou a
altura do apoio do teclado e sentiu uma
melhora nos ombros, que, segundo ela, Atividade x Corlett
relaxaram. As mesas das PA’s apresentam
De acordo com a atividade, há chances de
apoio de punho fixado nos tampos. Este
desconforto corpóreo nas regiões marcadas
acessório, segundo a operadora, atrapalha o
na Figura 11 – pescoço / cervical; ombros;
uso do mouse, diminuindo o espaço em cima
lombar; punho; pernas. Isso demonstra que
da mesa para a movimentação da mão direita.
de fato há uma correlação entre o sentimento
Isso foi confirmado por outra operadora
dos operadores e a realidade da atividade.
entrevistada.

Tópicos em Administração - Volume 8


35

Figura 11 – Paralelo da atividade observada com o resultado do Corlett (Tele at. ativo).

Análise do Teleatendimento Receptivo


Fez-se o acompanhamento da atividade de livre (para receber ligações), utilizando o
duas operadoras de relação com o mercado Sistema CITRIX para agendamento e cadastro
(Tele atendimento) com quatro e cinco anos de clientes, além do Excel, para a busca por
de experiência. dados sobre cursos (Figura 12).
Nesta atividade, acompanhada durante uma
hora, a operadora aciona a sua linha como

Figura 12 – Atividade de Recebimento de ligações (A - Receptivo) – tela do telefone; operadora


posicionada; diferentes telas abertas do sistema do call center.

Inicialmente o headset não funcionou, sendo correto funcionamento e a manutenção


necessária a comunicação com o supervisor contínua dos equipamentos de comunicação,
para voltar a operar. incluindo os conjuntos de headsets, utilizando
pessoal técnico familiarizado com as
Tal fato pode ser somado às reclamações de
recomendações dos fabricantes.
falhas no headset feitas pelos operadores
entrevistados, que afirmam atrapalhar a Dentre os atendimentos acompanhados
concentração. Segundo eles, alguns headsets durante uma hora foram realizados 07 (sete)
não se ajustam direito à cabeça, além de consultas sobre agendamento de saúde e 02
retirarem a espuma para ouvir melhor o (duas) sobre cursos.
cliente.
Ao se tentar agendar um atendimento médico,
Vale lembrar que a NR-17 / Anexo II (alínea surgiu uma janela vazia de erro sem indicar
3.2.) expõe que o empregador deve garantir o qual o erro seria (Figura 13). A atendente

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36

consultou então um supervisor que, após um operadora a não utilizá-lo em outros


processo de tentativa e erro, tentando digitar agendamentos. Tal fato gerou uma demora
o mesmo nome na tela inicial do sistema, considerável no atendimento prestado ao
descobriu que a apóstrofe de “Sant’anna” não cliente.
é aceita pelo sistema. O supervisor orientou a

Figura 13 – Atividade de Recebimento de ligações (A - Receptivo) – Em destaque, a janela de erro


da tela de agendamento de saúde, sem nada escrito.

Durante o período de atendimento, antes e operadora manteve o antebraço esquerdo


durante a digitação dos dados do cliente, a sem apoio (
Figura 14), sobrecarregando tanto o ombro o peso do braço, apoiados no apoio de punho
quanto o punho esquerdo nessa tarefa, já que fixo ao tampo do teclado.
apenas o punho e a mão estariam suportando

Figura 14 – Atividade de Recebimento de ligações (A - Receptivo) – Antebraço esquerdo sem apoio.

Tópicos em Administração - Volume 8


37

No acompanhamento macro das atividades operadora manteve, assim como na atividade


de tele atendimento receptivo um caso que anterior, o antebraço esquerdo sem apoio,
chamou a atenção foi a reclamação sobre sobrecarregando o ombro e o punho
desconforto no punho direito de uma esquerdo, já que apenas o punho e a mão
operadora, que trabalha há 04 anos no tele (apoiados no apoio de punho fixo ao tampo
atendimento. do teclado) estariam suportando o peso do
braço.
Nesta atividade, acompanhada durante uma
hora, a operadora aciona a sua linha como O punho direito é bastante solicitado durante
livre para receber ligações, utilizando-se do o uso do mouse, com o acionamento quase
CITRIX para agendamento e cadastro de que constante do botão de rolagem, exigindo
clientes, e do Excel, para a busca por dados desvio ulnar e hiperextensão de dedo.
sobre cursos. Somado à elevação do ombro, esta postura
pode ocasionar DORT.
Durante o período de atendimento, antes e
durante a digitação dos dados do cliente, a

Figura 15 – Atividade de Recebimento de ligações (B - Receptivo) – Antebraço esquerdo sem apoio;


punho direito em extensão; posição ruim das pernas.

O mau posicionamento das pernas (Figura 15) está) também pode favorecer o desconforto
pode comprometer a circulação sanguínea e nos ombros e punhos, pois mantém o braço
causar desconforto e possíveis dores nos mal posicionado durante a digitação e no uso
membros inferiores. do mouse.
Segundo IIDA (2005), os assentos cujas
alturas sejam superiores ou inferiores à altura
Atividade x Corlett
poplítea não permitem um apoio firme das
tuberosidades isquiáticas a fim de transmitir o De acordo com a atividade, há chances de
peso do corpo para o assento, podendo desconforto corpóreo nas regiões marcadas
provocar pressões na parte inferior das coxas na Figura 16 – ombro e punho direito, além do
- anatômica e fisiologicamente inadequadas pescoço/cervical e região lombar. Isso
para suportar o peso do corpo. demonstra que de fato há uma correlação
entre o sentimento dos operadores e a
A altura incorreta de assento e o suporte
realidade da atividade, conforme podemos
anexado ao tampo da mesa (da forma que
observar abaixo.

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38

Figura 16 – Paralelo da atividade observada com o resultado do Corlett (Tele at. Receptivo A).

Em abril de 2014, quatro operadores de De acordo com elas, ainda há a necessidade


relação com o mercado, do gênero feminino, do uso constante do software Excel.
com experiência de 3 meses a 4 anos como
As mudanças propostas pelas entrevistadas
operadores de call center na Firjan, foram
têm o mesmo enfoque: unificar e aperfeiçoar o
perguntados sobre o atual sistema de tele
sistema do call center, tornando-o mais ágil e
atendimento que, segundo entrevistados, já
reduzindo o tempo de atendimento.
passou por uma reformulação.
As perguntas, para fins qualitativos, foram as
seguintes: 6 DISCUSSÃO
Ele ficou mais rápido ou mais lento? Conforme verificado na Análise Ergonômica
do Trabalho, o trabalho de tele atendimento
A quantidade de telas a serem abertas
na Divisão de Operações Central de Rel.
aumentou ou diminuiu?
Mercado possui alguns aspectos
O sistema cai com maior ou menor organizacionais que são estruturados de
frequência? forma tal que podem contribuir positivamente
para a produtividade e o bom andamento do
Você necessita usar mais ou menos o Excel?
serviço prestado. Podemos citar: Fácil
O sistema está mais fácil ou mais difícil? comunicação entre os operadores de
atendimento e seus supervisores; Fácil
Você faria alguma alteração no sistema?
comunicação entre os próprios operadores de
Qual?
atendimento; Leiaute das PA’s; Telas com o
Foram no total 14 (catorze) respostas controle de atendimento, distribuídas à vista
negativas, ou seja, que enfatizam problemas de todos no Call Center; Algumas PA’s
no sistema e 04 (quatro) positivas. possuem dois monitores simultâneos;
Liberdade para se usar o banheiro quando
A maior parte das entrevistadas afirma que o
necessário; Liberdade para se ausentar da PA
sistema utilizado nos atendimentos ativos e
em caso de atendimento estressante.
receptivos ficou mais lento de uns tempos
para cá. Metade delas relata aumento na Outras características verificadas podem ser
quantidade de telas abertas. Foi citado ainda consideradas inerentes à atividade de tele
que nos anos 2013 a 2014 o sistema “caiu” atendimento. Estas podem ser negativas para
com maior frequência. a produtividade caso haja outros fatores que

Tópicos em Administração - Volume 8


39

contribuam para que elas piorem (exemplo: ruim para o banheiro e à área de lanche;
periodicidade). Podemos citar: Lidar com o Headsets com mau contato; Excesso de
inesperado nos tele atendimentos; Pausas falhas que demandam correções no sistema
controladas para lanche; Haver períodos no durante os atendimentos de saúde – Haver
ano em que há grande número de duas marcações no sistema para uma única
telefonemas e muitas informações solicitadas; consulta / Duplicidades de marcações de
Muito tempo utilizando o headset; Muito horário / Exclusão automática de várias outras
tempo utilizando o mouse; Muito tempo marcações do sistema ao se excluir apenas
sentado; Dificuldade para se concentrar. uma / Erro de digitação que o sistema não
informa qual é (caso da apóstrofe) / Não ficar
Há, finalmente, as situações problemáticas,
claro que um cliente já teve seu horário
que podem oferecer maior comprometimento
remarcado por outro operador.
à produtividade dos operadores de call
center, contribuindo para o aparecimento de
doenças do trabalho. Essas situações foram
7 CONCLUSÕES
verificadas durante a análise da atividade do
tele atendimento ativo e receptivo. Podemos A partir do resultado da análise ergonômica
citar: Cadeiras em desconformidade; Medida do setor de Teleatendimento, podemos
de mesa bipartida (PA) em desconformidade; sugerir que há fatores organizacionais,
Dificuldade em se adequar a altura das cognitivos e físicos que, somados, podem
mesas bipartidas (PA) com a manivela; Apoio contribuir com o aparecimento de doenças do
de punho anexado à mesa bipartida facilita o trabalho.
aparecimento de dores durante uso do
Sabe-se que há a possibilidade de o
teclado e mouse; Altura de mini armários nas
trabalhador realizar atividades fora do local de
PA’s impede um ajuste correto de altura de
trabalho que podem gerar algum contratempo
teclado e mouse; Falta de espaço para
à saúde, corroborando o aparecimento de
guardar bolsas ou mochilas ao lado da PA;
doenças. Sendo assim, cabe ao empregador
Fios e cabos mal dispostos abaixo das PA’s;
garantir um ambiente de trabalho propício,
Monitores pequenos; Temperatura
para evitar esse quadro.
inadequada; Iluminância abaixo do
recomendado (x < 500 LUX); Acessibilidade

REFERÊNCIAS [6]. LOPES, Cláudia Carla de Carvalho,


BUENES, Maria de Fátima Alves, MAFRA, Simone
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Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 31
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trabalho do Estado de Goiás / coordenação geral, eficiência dos operadores de telemarketing com
Januário Justino Ferreira; coordenação científica, deficiência: caso da unidade operacional Tijuca –
Laís de Oliveira Penido. p. 596-600 – Goiânia: Cir Orientador(a): Profa. Suzana Hecksher (D.Sc.).
Gráfica, 2013. Monografia (Especialista em Ergonomia) -
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40

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anexo da norma brasileira de ergonomia para o
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trabalho dos operadores de telemarketing. Revista
melhoria do ambiente de trabalho em call center.
Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 31
Trabalho apresentado à disciplina de Conclusão
(114): 35-46, 2006.
de Curso em Design Industrial / UNIVERSIDADE
[12]. PINHEIRO & RAZZOUK. Capital mental e DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
produtividade: estratégias de redução do impacto CENTRO DE ARTES – CEART, DEPARTAMENTO
econômico dos transtornos mentais no ambiente DE DESIGN - Santa Catarina, 2006.
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Silveira (organizador principal); Nanci Gardim e
Sylvia Regina Trindade Yano (organizadoras). Issy e MASCIA, Fausto Leopoldo.Trabalhar em
centrais de atendimento: a busca de sentido em
Aspectos Psicossociais e Sustentabilidade em
tarefas esvaziadas. Revista Brasileira de Saúde
Organizações: saúde, segurança e qualidade de
vida no trabalho; Organização de Marco Antonio Ocupacional, São Paulo, 31 (114): 12-97-112,
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Silveira; Nanci Gardim; Sylvia Regina Trindade
Yano – Campinas, SP: CTI (Centro de Tecnologia
da Informação “Renato Archer”), 2014.
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Sustentabilidade em Organizações: saúde, %C3%A3o_humano-computador
segurança e qualidade de vida no trabalho;
[21]. http://www.firjan.com.br/o-sistema-firjan/

Tópicos em Administração - Volume 8


41

Capítulo 3

Ivanilda Agustinho Ferreira


João Paulo Gomes da Silva
Denise Dantas Muniz
Raísa Aragão Sobral

Resumo: Este artigo apresenta um estudo de caso em um canteiro de obras na


cidade de João Pessoa, com o objetivo de promover o uso de ferramentas
gerenciais, tais como o Brainstorming e o Diagrama de Causa e Efeito, ambos para
a obtenção de melhorias nos serviços executados pelos operários e na
implementação de medidas de controle. Mediante Análise Preliminar de Risco
(APR) e Matriz de GUT (Gravidade, Urgência e Tenência) foi possível realizar uma
inspeção e relatar os riscos existentes no ambiente. Para tanto, com o intuito de
identificar as causas do risco com maior prioridade, foi utilizado o diagrama de
causa e efeito, com intenção de contribuir para intervenções e ações
prevencionistas. Portanto, as análises permitiram o mapeamento do risco prioritário.
Assim foi proposto que os operários executassem suas atividades em
conformidade com as normas regulamentadoras resultando em melhorias para que
o canteiro de obras adote boas práticas de segurança

Palavras-Chave: APR, Canteiro de obras, Diagrama de causa e efeito, Matriz GUT,


Risco.

Tópicos em Administração - Volume 8


42

1. INTRODUÇÃO como apenas um modismo, mas uma vez que


uma pessoa, ou uma organização, a adote
O setor da construção civil é bastante
como filosofia de vida, dificilmente esta
dinâmico e os operários são considerados as
pessoa ou organização fracassarão em suas
peças relevantes no processo construtivo,
intenções, e com certeza, muitos dos seus
mediante a utilização da força de trabalho. Os
valores mudarão, para uma visão
mestres de obras e serventes são parte da
melhor”(OLIVEIRA, p.2).
mão de obra deste setor e em sua maioria são
profissionais com poucas qualificações. Portanto, o artigo propõe implementar
ferramentas de gestão de riscos, com o intuito
De acordo com os dados da amostra da
de monitorar, diminuir riscos bem como
Previdência Social (2013), o setor econômico
promover a saúde e a segurança dos
da Construção Civil (CC) no período de 2011
operários, obtendo resultados satisfatórios em
a 2013, foi considerado o maior setor com
qualidade.
quantidade de acidentes do trabalho da
indústria de transformação, por situação de
registro e motivo, Este responsável por
2. REFERENCIAL TEÓRICO
186.465 acidentes, sendo equivalente a
27,54% do total de acidentes verificados no 2.1 CONSTRUÇÃO CIVIL
país envolvendo 677.017 trabalhadores.
O Produto Interno Bruto (PIB é considerado
Esta estatística reflete as discrepâncias um tipo de indicador utilizado para mensurar
relacionadas a ausência de aplicações e em sua totalidade as riquezas produzidas em
gerenciamento de ferramentas de análise um determinado período de tempo. Esse
previa de risco, realidade presente nos indicador é uma referência para os setores
canteiros de obras do Brasil. Estas da economia através da produção dos seus
ferramentas propiciam a otimização no setor, bens e serviços. Esses setores, primária,
com a introdução de treinamentos, secundário e terciário, mediante suas
conscientização através de palestras, maior atividades produtivas, bem como a gestão de
supervisão referente ao uso e investimento de recursos utilizados e a população
equipamentos de segurança individuais e economicamente ativa. Logo, o setor da
coletivos, realização de análises preliminares construção civil se enquadra no setor
de risco como forma de prevenir os acidentes secundário que, através da matéria-prima
por intermédio do controle do risco. produzida no setor primário, utilizam em seu
processo construtivo.
Segundo ao texto dado pela Portaria SSST n.
25, de 29 de dezembro de 1994 estabelece Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da
com relação ao objeto e campo de aplicação Construção (CBIC), o PIB da cadeia da
no item 9.1.5: “[...] riscos ambientais os construção civil registrou em 2015, a maior
agentes físicos, químicos e biológicos queda dos últimos 12 anos. Segundo o
existentes nos ambientes de trabalho que, em levantamento e dados divulgados pelo
função de sua natureza, concentração ou Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
intensidade e tempo de exposição, são (IBGE), registrou queda de 7,6% no seu PIB.
capazes de causar danos à saúde do De acordo com a CBIC, relata que esse
trabalhador”. contexto é notado devido a deterioração
fiscal, incertezas políticas, baixo patamar de
A definição de acidente de trabalho segundo
confiança, queda na produção, recessão
o art. 19 da Lei n. 8.213/91, é o que ocorre
econômica, desemprego crescente, e inflação
pelo exercício do trabalho a serviço da
superior ao teto da meta (estagflação).
empresa ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 “É a segunda queda consecutiva na produção
desta lei, provocando lesão corporal ou da Construção Civil no Brasil e mais
perturbação funcional que cause a morte ou a expressiva desde 2003 (-8,9%). Em 2014 o
perda ou redução, permanente ou temporária, setor já havia registrado redução de 0,9% em
da capacidade para o trabalho. suas atividades. Assim, no biênio 2014-2015 o
segmento, essencial para o desenvolvimento
A escassez de práticas de medidas de
do País, registrou queda de inacreditáveis
controle de segurança associadas ao não
8,43%. Em 2015 a economia brasileira, de
cumprimento de normas técnicas existentes
acordo com o IBGE, apresentou redução de
impactam na qualidade do canteiro de obras.
3,8% em seu PIB, a maior registrada na nova
No qual a: “[…] qualidade é às vezes rotulada
série histórica do indicador, iniciada em 1996.

Tópicos em Administração - Volume 8


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Considerando a série anterior o resultado do autorização especial, precedida de APR e


ano passado foi o pior dos últimos 25 anos. Permissão de Trabalho (PT), que contemplem
Somente em 1990 observou-se queda mais os treinamentos, os procedimentos
acentuada: -4,3%”(CBIC, 2015). operacionais, os materiais, as ferramentas e
outros dispositivos necessários à execução
Quanto as características técnicas do
segura da tarefa.
processo construtivo, segundo a Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial Segundo Sherique (2001), a elaboração de
(ABDI) classifica em tradicional (uso de uma APR é realizada através algumas etapas
técnicas artesanais), convencional básicas como:
(caracterizado por tecnologias normalmente
Revisão de problemas conhecidos: A busca
utilizadas no mercado, com maior tempo de
por analogias ou similaridades com outros
execução), racionalizado (caracterizado pela
sistemas;
melhoria gradativa dos processos
convencionais) e industrializado ou pré- Revisão da missão a que se destina: Atentar
fabricado. aos objetivos, exigências de desempenho,
principais funções e procedimentos,
Referente ao planejamento da execução de
estabelecer os limites de atuação e delimitar o
obras de edificações, segundo Crivelaro e
sistema;
Pinheiro (2014, p. 103) a empresa construtora
deve ter uma organização administrativa que Determinação dos riscos principais: Apontar
represente sua visão de negócios com a os riscos com potencialidade para causar
introdução de 3 etapas de planejamento: lesões diretas imediatas, perda de função,
danos a equipamentos e perda de materiais;
Estratégico: neste nível deve-se definir os
objetivos do empreendimento (definição do Revisão dos meios de eliminação ou controle
prazo da obra, fontes de financiamento, de riscos: Investigar os meios possíveis de
parcerias etc.) com base nas diretrizes do eliminação e controle de riscos, para
cliente ou do proprietário. estabelecer as melhores opções compatíveis
com as exigências do sistema;
Tático: este nível intermediário de decisões
envolve, principalmente, a seleção e a Analisar os métodos de restrição de danos:
aquisição dos recursos necessários para Encontrar métodos possíveis e eficientes para
atingir os objetivos do empreendimento (por a limitação dos danos gerados pela perda de
exemplo, tecnologia, materiais, mão de obra controle sobre os riscos;
etc.), bem como a elaboração de um plano Indicação de quem levará a sério as ações
geral para a utilização desses recursos; corretivas e/ou preventivas: Indicar
Operacional: este nível está relacionado à responsáveis pela execução de ações
definição detalhada das atividades a serem preventivas e/ou corretivas, designando
realizadas, seus recursos e momento de também, para cada unidade, as atividades a
desenvolver.
execução.
Segundo Benite (2004) a elaboração da APR
é feita por meio de um por um processo
2.2 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO PRÉVIA indutivo, ou seja, um processo que se baseia
DE RISCO na realização de predições com base em
dados observáveis.
2.2.1 ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO
Os resultados da APR são registrados
Análise Preliminar de Riscos (APR) é uma
convenientemente em formulário, conforme
técnica que permite uma revisão dos riscos
ilustrado no quadro 1 que mostra os perigos
que estão presentes fases de operação de
identificados, as causas, os danos causados.
atividade de trabalho, classificando-os para
Na avaliação dos riscos são considerados a
priorização de ações preventivas ou
probabilidade para acontecer o acidente bem
corretivas. De acordo com a NR-9 o item
com a gravidade, com isso, obtendo o valor
18.37.7.4 As tarefas envolvendo soluções
considerável para o risco.
alternativas somente devem ser iniciadas com

Tópicos em Administração - Volume 8


44

Quadro 1- Modelo de formulário APR

Fonte: Adaptado de BENITE (2004)

Na avaliação dos riscos deve ser feita uma mostram exemplos de escalas para avaliação
estimativa subjetiva com base em escalas de riscos.
padronizadas de riscos. O quadro 2 e figura 1

Quadro 2 - Escala de probabilidade e gravidade

Fonte: Adaptado de BENITE (2004)

Figura 1- Escalas de Riscos


BaixaMédiaAlta

3 6 9
Gravidade

Escala de Riscos
2 4 6
Crítico
1 2 3 Moderado
Tolerável
Baixa Média Alta

Probabilidade

Fonte: Adaptado de BENITE (2004)

Tópicos em Administração - Volume 8


45

2.2.2 MATRIZ GUT Gravidade: impacto do problema sobre


coisas, pessoas, resultados, processos ou
A Matriz GUT (Gravidade, Urgência,
organizações e efeitos que surgirão em longo
Tendência) é uma ferramenta que auxiliar a
prazo, caso o problema não seja resolvido.;
priorização na resolução de problemas,
servindo para classificar cada problema de Urgência: relação com o tempo disponível ou
acordo com sua, gravidade, urgência e necessário para resolver o problema;
tendência que apresenta apresentada pelo
Tendência: potencial de crescimento do
problema, ou seja, qual a probabilidade
problema, avaliação da tendência de
desse problema aumentar com o passar do
crescimento, redução ou desaparecimento do
tempo. Segundo Leal et al (2013, p. 2) a
problema.
Matriz GUT é uma ferramenta de mais simples
aplicação, pois consiste em separar e É uma ferramenta para tomada de decisões
priorizar os problemas para fins de análise e estratégica, podendo ser utilizadas em
posterior solução onde, G= Gravidade a qual diversos setores para a tomada de decisões
consiste em avaliar as consequências importantes para o processo.
negativas que o problema pode trazer aos
“A grande vantagem em se utilizar a Matriz
clientes. U= Urgência consiste em avaliar o
GUT é que ela auxilia o gestor a avaliar de
tempo necessário ou disponível para corrigir o
forma quantitativa os problemas da empresa,
problema, T= Tendência avalia o
tornando possível priorizar as ações corretivas
comportamento evolutivo da situação atual.
e preventivas para o extermínio total ou
Os fatores da matriz GUT, segundo Gomes parcial do problema”(PERIARD, 2011).
(2006, p. 6) são classificados a seguir:
A figura 2 mostra cada elemento analisado na
matriz com seus respectivos pesos.

Figura 2 - Elemento da matriz GUT

Fonte: Portal da Administração (2016)

A partir da atribuição dos valores entre 1 e 5, plano de ações para evitar não
a cada dimensão da GUT sendo 5 a maior conformidades durante a execução de
intensidade e o 1 a menor, e em seguida atividades têm melhores resultados em
através da multiplicação dos valores obtidos qualidade e produtividade.
para a matriz, obtém os valores para cada
De acordo com Crivelaro e Pinheiro (2014, p.
problema ou fator de risco analisado Tristão
81), o fornecimento de ferramenta de
(2011). Quanto maior for o resultado dos
qualidade para a medição e verificação de
valores dos fatores de risco (Fator de Risco =
ângulo, aliado à capacitação dos operários
GxUxT), mais prioritária será a busca para
para sua correta utilização, garante qualidade
solução do risco.
na execução de diversos serviços em todas
as etapas construtivas.
2.3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Logo, este estudo de caso propôs
implantação de ferramentas da gestão da
Pressupõe que empresas com controles,
qualidade que, foi o Diagrama de Causa e
adoção de ferramentas para melhorarias do
Efeito com o auxílio do brainstorming. Com
processo, procedimentos operacionais e um

Tópicos em Administração - Volume 8


46

propósito de identificar prováveis causas das “O diagrama de causa-efeito, identificado


não-conformidades no canteiro de obras. também como gráfico de espinha de peixe ou
diagrama de fshikawa (nome de seu criador),
Sobre a definição do brainstorming que,
destina-se à análise de operações e situações
significa tempestade de ideias em inglês e
típicas do processo produtivo”(Paladini, 2002,
considerada uma ferramenta de apoio para a
p. 209):
construção do diagrama, segundo Lobo
(2008, p. 48), “O diagrama de Causa e Efeito é uma
ferramenta utilizada para apresentar a relação
O brainstorming é um método de geração
existente entre resultado de um processo( que
coletiva de novas ideias pela contribuição e
é um “efeito”) e os diversos fatores (causas)
participação de diversos indivíduos inseridos
que podem influenciar nesse
num grupo. A utilização desse método baseia-
resultado”(ROTONDARO et el, 2008, p. 140).
se no pressuposto de que um grupo gera
mais ideias do que os indivíduos Exemplo do Diagrama de Ishikawa, segundo
isoladamente e constitui, por isso, uma Carpinetti (2012, p. 84) conforma a figura 3:
importante fonte de inovação pelo
desenvolvimento de pensamentos criativos e
promissores.

Figura 3 - Diagrama de Ishikawa causas para o alto consumo de combustível

Fonte: Carpinetti (2012)

Segundo Lobo (2010, p. 45) o diagrama deve processo é muito importante para que se
ser desenhado para ilustrar claramente várias possa construir um diagrama completo, que
causas que afetam um processo por não omita causas relevantes”(CARPINETTI,
classificação e ralação das causas. As 2012, p. 83).
categorias são: “[...] mão-de-obra; materiais
(ou componentes); máquina (ou
equipamentos); métodos (procedimentos de 3. MATERIAIS E MÉTODOS
operação ou de controle); meio ambiente;
O estudo de caso foi realizado em um
medição (sistema de medição: instrumentos,
canteiro de obras, com a participação de
calibração)”( ROTONDARO et el, 2008, p.
gestores e operários da construção. Segundo
143).
Yin (2011, p. 32) um estudo de caso é uma
Para construir o diagrama de causa e efeito, investigação empírica que investiga um
deve: “[…] possuir a presença de maior fenômeno contemporâneo dentro do seu
número de pessoas envolvidas com o contexto da vida real, especialmente quando

Tópicos em Administração - Volume 8


47

os limites entre o fenômeno e o contexto não 66), é quando se limita a uma descrição pura
estão claramente definidos. e simples de cada uma das variáveis,
isoladamente, sem que sua associação ou
As inspeções foram realizadas em uma obra
interação com as demais sejam examinadas.
localizada na cidade de João Pessoa no
estado da Paraíba, foram dirigidas perguntas Quando a coleta de dados englobou visitas
sobre a construção a equipe de trabalho técnicas na construção, com o intuito de
composta por uma média de 12 operários, um conhecer de forma detalhada o ambiente e as
número variável de trabalhadores devido a características da obra, posteriormente foi
uma rotatividade significativa. Montadores realizado a coleta de dados através de
responsáveis pela montagem da estrutura, análises documentais, como, por exemplo,
soldadores que soldam a estrutura metálica, planta baixa da empresa. Em seguida foram
caldeireiro que analisa o projeto e suas realizadas entrevistas com os operários e
medidas de acordo com as especificações supervisores da obra e portanto realizado a
técnicas, cortador que realiza os cortes a aplicação da APR.
laser das estruturas (externo ao canteiro),
Posteriormente, por meio da construção do
ajudantes, pedreiros e mestre de obra, sendo
gráfico de causa e efeito e tabelas, auxiliaram
este o profissional responsável pelo
a obter melhorias tais como facilidade de
acompanhamento da visita no local, arquiteto,
enumerar as possíveis causas que culminou
e dois engenheiros responsáveis
para o problema com maior fator de risco,
respectivamente pelos cálculos estruturais e
mediante a matriz GUT e a APR, obtendo
execução.
assim melhor compreensão e detalhamento,
Iniciam a sua jornada de trabalho as 07:00hrs conferindo aos responsáveis a busca
e terminam as 17:00hrs, possuindo 02:00hrs constante por melhorias.
para o almoço, durante cinco dias da semana,
exceto finais de semanas. Permitiu assim
visualizar a sequência cronológica do seu 4. RESULTADOS
cotidiano, bem como os operários realizam as
A obra estudada , figura 4, caracterizada por
tarefas em relação ao processo construtivo.
uma mistura de processo racionalizado com
Foi possível fazer esquematizações de forma
industrializado, com prevalência do último. As
a auxiliar o entendimento durante a coleta de
obras se destacam pela inovação da matéria
dados.
prima utilizada, onde quase totalidade da
O método de pesquisa para este estudo de construção é pré-moldada, cabendo aos
caso se classifica-se como método descritivo operários a montagem no canteiro. Trata-se
em decorrência das observações, descrições de colunas e vigas pré-fabricadas em ferro e
e associações relacionados ao processo de concreto, além da utilização de telhas isoeste
construção de um edifício, permitindo e drywall para paredes e acabamentos, sendo
observações qualitativas em ambientes reais. o piso de revestimento cerâmico.
Pesquisa descritiva segundo Castro (1976, p.

Figura 4 - Registro fotográfico da obra

Tópicos em Administração - Volume 8


48

Com a finalidade de identificar pontos críticos posterior realização de comparação entre os


que podem representar não conformidades a métodos.
vir causar falhas e acidentes na realização da
Os riscos Identificados nas etapas
tarefa, e de modo a criar uma priorização dos
envolvendo a atividade em estudo, os perigos
riscos encontrados, foram feitas análises
existentes, suas causas e suas
através das ferramentas Análise de
consequências estão relacionados no quadro
Priorização de risco e a matriz GUT, com
3, as prioridades no quadro 4 e análises em 5.

Quadro 3 - APR

Fonte: Adaptado de Borges (2016)

Tópicos em Administração - Volume 8


49

Quadro 4 - Matriz GUT

Fonte: Autores baseado em Borges (2016)

Quadro 5 - Comparação APR x GUT

Fonte: Autores (2016)

Quando comparado o método APR com a A matriz GUT apresentou como as 04


matriz GUT, apresentou-se pouca divergência principais prioridades: 1º queda na periferia
no que diz respeito à caracterização da das lajes, 2º Queda de material em partes do
priorização dos riscos. corpo, 3ºchoque elétrico. Já APR apresentou
como as 04 prioridades: 1ª queda na periferia
O resultado obtido mostrou os riscos em
das lajes, 2ª exigência de postura
posições diferentes de classificação, tendo
inadequada, 3º Transporte manual de
em vista que a matriz GUT analisa a
materiais sem utilização de EPI (luvas), 4º
gravidade, urgência e tendência, a APR tem
1ueda de material em partes do corpo.
como critérios apenas: probabilidade e
gravidade. Mesmo a análise dos quatro primeiros riscos
apresentando posições diferentes de
classificação, observa-se que tanto na Matriz

Tópicos em Administração - Volume 8


50

GUT como na APR, o risco queda na periferia das lajes) durante a construção do diagrama
das lajes, foi o principal risco na análise nos de causa e efeito.
dois métodos.
Segundo Crivelaro e Pinheiro (2014, p.103) o
Portanto, foi realizado um Brainstorming com acompanhamento do planejamento é a etapa
a participação dos operários e dos autores chamada controle, praticado por meio de
desse artigo, com o objetivo de identificar as mecanismos dinâmicos que possam mostrar
possíveis causas, figura 5, que contribuem as variações existentes entre o planejado e o
para este efeito (risco de queda na periferia realizado, cujo objetivo é feita pela gestão da
qualidade.

Figura 5 - Diagrama de causa e efeito do canteiro de obras

O efeito identificado está relacionado com a 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


ausência de boas práticas de segurança,
Este artigo contribui para otimização das
poderá causar absenteísmo, gastos com
etapas de execução das atividades mediante
plano de saúde e, pode provocar morte ou
a conscientização e proposição de
lesões corporais que afetem a incapacidade
ferramentas que auxiliam o gerenciamento do
de o trabalhador continuar exercendo etapas
processo construtivo, mostrando pontos
do processo construtivo, tendo de ser
suscetíveis a acidentes e a necessidade do
remanejado de tarefa. Este risco se encontra
uso de EPIs e EPCs adequados à
nesse grau de prioridade devido à forma real
manutenção da integridade do operário, além
de trabalho ser inadequada e a sua taxa de
de propiciar maior clareza na elaboração de
ocorrência é iminente. Não deixa de ser um
procedimentos de segurança condizentes às
risco alto mas que pode ser resolvido de
normas regulamentadoras.
forma relativamente fácil com a obtenção de
equipamentos de segurança, como cintos, Aos gestores do canteiro de obras,
capacete e andaimes, pois de acordo com a proporcionou adotarem estratégias tais como:
NR35 considera-se trabalho em altura toda elaboração de modelo de checklist visando
atividade executada acima de 2,00 m (dois atender as NR18 e NR35, a adoção do
metros) do nível inferior, onde haja risco de Dialogo Diário de Segurança (DDS), com o
queda. intuito de proporcionar conscientização nos
operários, instruções pela importância da
limpeza, organização da área do trabalho e

Tópicos em Administração - Volume 8


51

sinalização da área de serviço, verificação de auxiliar os responsáveis a melhor analisar a


procedimentos de segurança antes do início e realidade, pois a qualidade dos resultados
durante a execução das suas respectivas está relacionada à qualidade das informações
atividades. Com relação a comunicação, a disponíveis e assim relacionarem com os
adoção da prática do feedback semanal, prováveis riscos, bem como a
buscando estimular a abordagem de implementações de ações eficazes em seu
pensamento e ensinamentos sobre ações processo. A APR e a matriz GUT, ambos
tomadas pela gerência, podem diminuir a proporcionaram construir uma priorização,
probabilidade desse risco. apresentando assim os critérios que foram
utilizados e seus respectivos motivos. Essas
As ferramentas foram recursos indispensáveis
técnicas não permitiram a utilização da
para o auxílio da gestão que podem ser
intuição, uma vez que tem como base os
reaplicados em qualquer canteiro de obras
pressentimentos do observador, e isso, pode
independente do seu porte. O Brainstorming e
causar uma tomada de decisão errada.
o Diagrama de causa e efeito possibilitaram

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1: Estrutura e Vedação. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v20n1/39.pdf
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novembro de 2016. [12]. OLIVEIRA, Cristiane Sardin Padilla de. AS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA MÃO-DE-
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1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da NA FILOSOFIA DA QUALIDADE. Disponível em
Previdência Social e dá outras providências. http://www.abepro.org.br/ Acessado em 10 de
Disponível em: http://www.planalto.gov.br novembro de 2016.
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Completo. Disponível em
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Qualidade. 1ª Edição. São Paulo: Érica, 2010.

Tópicos em Administração - Volume 8


52

Capítulo 4

Melina Barbosa Peixoto


Arion Bastos da Rosa
Mario Dellacqua Neto
Sergio Luiz Braga França

Resumo: O fenômeno da globalização trouxe mudanças na gestão do sistema produtivo das


empresas destacando-se empresas fornecedoras de produtos e serviços para as empresas de
grande porte do setor industrial. O presente estudo foi realizado em uma empresa de prestação de
serviços de construção e manutenção do setor industrial. Foi verificado o nível de envolvimento dos
trabalhadores e o entendimento do SGSST a partir da aplicação de um questionário.
Complementarmente, foi feita uma comparação dos resultados das auditorias internas realizadas
com os resultados das entrevistas feitas com os trabalhadores. Finalizando, foram observados os
locais de trabalho e a execução das tarefas, por meio de auditoria comportamental, para verificar a
efetiva prática das ferramentas do SGSST. A empresa pesquisada avaliava o desempenho do seu
SGSST utilizando um método de auditoria interna puramente estrutural e os resultados obtidos nessa
auditoria em determinados contratos (sites) não representavam a realidade da SGSST. No presente
estudo avaliou-se um sistema de gestão prescrito (auditoria interna) e real (entrevistas com os
trabalhadores) de uma empresa de construção e manutenção industrial. Também foi realizada uma
auditoria comportamental que verificou a real implementação do SGSST junto aos trabalhadores.
Foram feitas 250 entrevistas para verificação da percepção quanto ao SGSST e realizada uma
auditoria comportamental utilizando-se um cartão comportamental conforme modelo Dupont. Após o
trabalho de campo, realizou-se uma comparação entre os resultados da auditoria interna
(abordagem estrutural) e os resultados obtidos através das ferramentas propostas: questionário de
entrevista com os trabalhadores e auditoria comportamental (abordagem operacional). Foi
constatado a existência de evidências documentais inconsistentes e ações que deveriam envolver
maior número de trabalhadores e que na prática não envolvem, tais como: treinamentos, análises de
riscos, elaboração de procedimentos, divulgação das ferramentas de gestão e implementação dos
programas. Finalizando, foi possível confirmar, a situação motivadora do estudo: O método de
auditoria interna utilizado pela empresa não reflete em seu resultado a realidade do SGSST
vivenciada na prática. Encerrada a pesquisa, levantou-se, na empresa, a necessidade de
implementação de ferramentas comportamentais de forma rotineira, como por exemplo a auditoria
comportamental, desenvolvida na íntegra como ferramenta preventiva para a redução dessas não
conformidades e melhora na retroalimentação do sistema.

Tópicos em Administração - Volume 8


53

1. INTRODUÇÃO construção e manutenção do setor industrial.


Foi verificado o nível de envolvimento dos
O fenômeno da globalização trouxe
trabalhadores e o entendimento do SGSST a
mudanças na gestão do sistema produtivo
partir da aplicação de um questionário.
das empresas destacando-se empresas
Complementarmente, foi feita uma
fornecedoras de produtos e serviços para as
comparação dos resultados das auditorias
empresas de grande porte do setor industrial.
internas realizadas com os resultados das
Essas empresas, denominadas terceirizadas,
entrevistas feitas com os trabalhadores.
passaram a desenvolver estratégias para
Finalizando, foram observados os locais de
garantir sua sobrevivência em um mercado
trabalho e a execução das tarefas, por meio
cada vez mais competitivo. Os sistemas
de auditoria comportamental, para verificar a
produtivos das empresas de grande porte são
efetiva prática das ferramentas do SGSST.
bastante dinâmicos. As empresas
terceirizadas para acompanhar esse
dinamismo passam por mudanças
2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
constantes. Seus sistemas de gerenciamento
precisam, portanto, serem atualizados Nas últimas décadas, com o desenvolvimento
frequentemente para não se tornarem e aprofundamento de estudos voltados para a
obsoletos (ARAUJO, 2006). influência do fator humano na ocorrência de
acidentes e na gestão de Saúde e Segurança
Nesse contexto, é fundamental avaliar se o
do Trabalho (SST) como um todo, surgiu uma
sistema de gestão planejado está
nova tendência na gestão de SST, onde existe
efetivamente colocado em prática na
mais do que a preocupação em se manter a
empresa. A certificação em normas de gestão
conformidade com determinada norma, mas
de saúde e segurança do trabalho, que é uma
existe a preocupação em manter um SGSST
das formas de garantir a eficácia de sistema
eficaz, que alcance os trabalhadores, sendo
de gestão (CANBOM ET AL,2006; COSTELA,
capaz de desenvolver uma cultura de
2008), passa a ser um desafio tanto para
segurança nas empresas (PEREIRA, 2014).
quem contrata, quanto para quem é
contratado. Nesse contexto, entende-se que avaliar o
desempenho de um SGSST de forma
De acordo com Benite (2004) e Perez (2003)
puramente estrutural não é suficiente. É
para a comprovação de um sistema de
necessário que haja uma avaliação com
gestão eficaz, torna-se necessário avaliar a
abordagem operacional capaz de medir o
conformidade entre os sistemas prescritos e o
desempenho do sistema de gestão efetivo,
sistema de gestão real. Sistemas prescritos
verificando se o sistema prescrito está em
são definidos como a documentação
conformidade com o sistema real da
existente em meio físico ou meio eletrônico,
empresa. A abordagem operacional procura
que periodicamente são auditados. Incluem-
medir o desempenho na prática de cada
se nos sistemas reais, a prática do dia a dia,
processo gerencial que constitui o SGSST,
procedimentos que nem sempre são previstos
por meio de entrevistas com o pessoal
ou atualizados nos sistemas prescritos, mas
operacional e gerencial da empresa, de modo
que contribuem de forma significativa para a
a verificar se o SGSST projetado está sendo
eficácia do sistema de gestão.
posto em prática.
A partir das premissas de que o fator humano
A empresa pesquisada avaliava o
é fundamental em qualquer processo
desempenho do seu SGSST utilizando um
produtivo e que para se alcançar a excelência
método de auditoria interna puramente
na gestão da saúde e segurança dos
estrutural e os resultados obtidos nessa
trabalhadores nas organizações é necessário
auditoria em determinados contratos (sites)
considerar esse fator humano no
não representavam a realidade da SGSST.
desenvolvimento das ações, surgiu o
Esta observação fez surgir os seguintes
questionamento sobre a real eficácia, junto
questionamentos: (i) o SGSST planejado e
aos trabalhadores, dos Sistemas de Gestão
prescrito está sendo efetivamente colocado
de Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST),
em prática? (ii) os registros correspondem à
desenvolvidos nas empresas (CARDELLA,
realidade? (iii) o SGSST prescrito corresponde
1999).
ao sistema de gestão real?
O presente estudo foi realizado em uma
empresa de prestação de serviços de

Tópicos em Administração - Volume 8


54

questionário. Essa etapa foi importante para


definição do tempo de preenchimento do
3. OBJETIVO
questionário (fixado em 60 minutos) e para
O principal objetivo do presente estudo é sugestões de melhoria do instrumento de
verificar se o SGSST planejado (prescrito) de pesquisa.
uma empresa de prestação de serviços de
O questionário estruturado foi dividido em
construção e manutenção industrial, está
duas partes (dados do colaborador e
sendo efetivamente colocado em prática e se
avaliação do SGSST). A primeira parte
os registros correspondem à realidade. Diante
contempla dados pessoais do trabalhador. Na
disto, o nível de envolvimento dos
segunda parte, são colocadas afirmativas,
trabalhadores com o SGSST também foi
onde de acordo com sua percepção, o
verificado. Foram avaliados se os resultados
trabalhador pôde assinalar a resposta mais
das auditorias internas do SGSST refletem a
adequada: 1 para descordo totalmente, 2
consistência do sistema com a prática. Para
para descordo parcialmente, 3 para não
isto, os resultados foram comparados com os
concordo nem discordo, 4 para concordo
resultados das entrevistas feitas com os
parcialmente e 5 para concordo totalmente).
trabalhadores. Finalizando o estudo, foram
Essa segunda parte foi subdivida em
observados os locais de execução das
subgrupos: requisitos gerais do sistema de
tarefas por meio de uma auditoria
gestão, ferramentas do SST, levantamento e
comportamental, utilizando-se um cartão
controle de riscos, avaliação ergonômica,
comportamental proposto por Dupont (2003)
tratamento de acidentes e incidentes, plano
e adaptado no presente estudo. Propostas de
de emergência, índice geral de desempenho
ações de melhoria ao SGSST foram feitas com
em segurança e equipamentos de proteção
base nos resultados da pesquisa.
individual.
Na etapa seguinte foram entrevistados 250
4. MÉTODO trabalhadores e observados os seus locais de
trabalho. Essa etapa serviu para coleta de
O presente trabalho foi desenvolvido em uma
evidências para comparação com o resultado
empresa prestadora de serviços de
obtido na auditoria interna realizada na
construção e manutenção com atuação
empresa (sistema de gestão de segurança
predominante no setor industrial, que possui
prescrito x sistema de gestão real).
oito unidades de negócios distribuídas no
país. Empregados dos setores operacional e Na última etapa da pesquisa foi utilizado o
administrativo de um contrato da unidade de cartão comportamental. O cartão de auditoria
negócio localizada no Espírito Santo foram comportamental foi o instrumento utilizado
entrevistados. A pesquisa compara o SGSST para observação dos locais de trabalho e
prescrito e o SGSST real praticado na execução das atividades. O objetivo desta
empresa e foi motivada a partir da etapa é confrontar as respostas obtidas em
identificação de divergências entre o campo com o resultado da auditoria interna
resultado da auditoria interna e a realidade do do SGSST. Araújo (2004) menciona que a
SGSST. auditoria comportamental visa identificar e
registrar comportamentos inseguros, sendo
Quatro etapas integraram o estudo: (i) análise
uma ferramenta para conduzir a operação de
dos resultados da auditoria interna do SGSST
forma segura. Também afirma que grande
para posterior elaboração do questionário, (ii)
parte dos acidentes estão relacionados ao
aplicação preliminar do questionário para
comportamento inseguro, mas ressalta que a
validação, (iii) aplicação do questionário
auditoria comportamental não deve ser usada
propriamente dito para verificação da
para identificar responsáveis. Ao realizar uma
percepção do empregado quanto ao SGSST
auditoria comportamental é importante que os
e (iv) aplicação do cartão comportamental.
observadores saibam o que procurar
Na etapa aplicação preliminar para validação, (DUPONT, 2003).
os questionários foram aplicados para um
Nesta etapa foi utilizada uma ferramenta de
grupo piloto, composto de 10 trabalhadores,
auditoria comportamental amplamente
divididos entre setores operacional,
disseminada entre as empresas (DUPONT,
supervisão e administrativo. Inicialmente,
2003) e que foi adaptada para este estudo. A
foram explicados o objetivo da pesquisa e as
metodologia proposta pelo modelo Dupont
instruções para o preenchimento do
não foi seguida na íntegra, pois nesse
Tópicos em Administração - Volume 8
55

momento o objetivo não é a implantação da responsáveis pelas observações foram os


ferramenta, e sim, a identificação de desvios empregados da equipe de segurança dos
comportamentais dos trabalhadores no dia-a- contratos, que mesmo intervindo mediante
dia, sem que saibam que estão sendo constatação de desvios, não expuseram para
observados. A ideia é verificar se a segurança os empregados o trabalho de observação
está naturalmente presente na execução das comportamental que estava sendo
atividades, o que caracteriza a presença de desenvolvido.
uma cultura de segurança no ambiente
A Tabela 1 ilustra o resultado percentual de
organizacional.
um dos itens avaliados na auditoria
O que foi utilizado do modelo Dupont foram comportamental aplicada. A auditoria avalia
as categorias a serem analisadas, registradas outros itens, aqui apresentados na Figura 7.
por meio do cartão de auditoria. Os

Tabela 1: Resultado percentual da aplicação da auditoria comportamental


Quantidade % dentro da
Categorias / Subcategorias
(Unid.) categoria % Total
Mudança de posição 1 0,100 0,013
Parando o serviço 3 0,300 0,040
Ajustando EPI 4 0,400 0,053
Adequando o serviço 2 0,200 0,027

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As figuras apresentadas a seguir referem-se 5.1. AVALIAÇÃO DO SGSST
aos gráficos dos resultados da pesquisa feita
Nos resultados obtidos, durante entrevista
com 250 trabalhadores de uma empresa de
com os trabalhadores, observa-se que os
construção e manutenção industrial. Foram
mesmos reconhecem a existência de SGSST,
feitas entrevistas utilizando-se questionário
embora não tenham domínio da política de
estruturado com 35 itens, agrupadas em 08
gestão integrada, mesmo concordando que a
subgrupos (requisitos e ferramentas de
política está disponível para consulta.
SGSST, levantamento e controle de risco,
tratamento de acidentes e incidentes, plano Nas Figuras 1a e 1b são exibidos os
de emergência, estatísticas e equipamentos resultados da pesquisa referentes aos
de proteção individual) de modo a facilitar a requisitos do SGSST. É possível notar que um
análise dos dados. Todas as questões são percentual considerável de trabalhadores não
afirmativas, nas quais o trabalhador pode conhece e não compreende a política de
demonstrar sua percepção com relação ao gestão integrada da empresa. Em
item, assinalando: 1, quando descorda contrapartida, com relação a disponibilidade
totalmente; 2, quando descorda parcialmente; da política e gestão de SGSST, o percentual
3, quando não concorda nem discorda; 4, de trabalhadores que disseram concordar, é
quando concorda parcialmente e 5, quando igualmente grande.
concorda totalmente.

Tópicos em Administração - Volume 8


56

Figura 1 – Sistema de Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST)

Outro item destacado como resultado da da afirmativa de que todos os empregados


pesquisa de campo é mostrado nas Figura 2a têm conhecimento das ações a serem
a 2c, que é o tratamento de acidentes. Pode- tomadas em caso de acidentes. O mesmo
se observar que, no tratamento de acidentes, pode ser observado quando são
grande percentual de trabalhadores questionados quanto a divulgação das
desconhece as ações de emergência, assim investigações e estudos estatísticos de
como os resultados de investigações e o acidentes. Pode-se também notar, que parte
estudo estatístico dos acidentes ocorridos. considerável dos entrevistados não opinou
Cerca de 50% dos entrevistados discordam sobre os itens.

Figura 2 – Tratamento de Acidentes

As Figuras 3a a 3d mostram os resultados acordo com a percepção dos trabalhadores,


obtidos na pesquisa referentes aos o treinamento de integração e a ordem de
treinamentos de segurança realizados na serviço são ferramentas bastante
empresa. Conforme pode ser visto nos implementadas. Aproximadamente 75%
gráficos exibidos nas Figuras 3b e 3c, de (setenta e cinco por cento) concordam que
Tópicos em Administração - Volume 8
57

receberam de integração, enquanto 84% contrapartida, aproximadamente 40%


(oitenta e quatro por cento) concordam que a (quarenta por cento) discordam da afirmação
ordem de serviço foi entregue e que foram de que receberam a orientação sobre os
orientados sobre seu conteúdo. Em riscos da sua função.

Figura 3 – Treinamento de Saúde e Segurança do Trabalho

A Figura 4a e 4b apresentam os resultados ferramentas disseminadas entre os


relativos ao diálogo diário de segurança trabalhadores, sendo que aproximadamente
(DDS). Essa ferramenta constitui um item de 80%(oitenta por cento) dos entrevistados
grande importância para o SGSST, assim reconhecem sua aplicação e participam
como os itens apresentados anteriormente. efetivamente.
Pode-se observar que o DDS é uma das

Figura 4 – Diálogos Diários de Segurança (DDSs)

Os resultados da pesquisa referentes ao uso quanto a disponibilidade para troca, mas


dos equipamentos de proteção individual discorda quanto ao treinamento de uso,
(EPI), que é requisito normativo (norma guarda e conservação. Aproximadamente
regulamentadora NR6), sendo, portanto, 50% (cinquenta por cento) dos trabalhadores
obrigatório dentro das empresas são concordam que foram treinados quanto ao
mostrados nos gráficos das Figuras 5a a 5c. uso de EPIs, porém i teste de assimilação
A grande maioria dos trabalhadores concorda (ferramenta utilizada na empresa) não foi
Tópicos em Administração - Volume 8
58

aplicado e divergem opinião quanto a disponibilidade de EPIs.


Figura 5 – Equipamentos de ProteçãoIndividual (EPIs)

Os resultados mostrados nas Figura 6a a 6e trabalhadores entrevistados que dizem


referem-se a análise prevencionista da tarefa participar da elaboração do documento,
(APT), uma ferramenta utilizada para análise evidenciando uma necessidade de melhorias
de risco. É notável o baixo percentual de neste item.

Figura 6 – Análise Prevencionista da Tarefa (APT)

5.2 - OBSERVAÇÃO DOS LOCAIS DE itens apresentados a seguir.


TRABALHO E DA EXECUÇÃO DAS
Nos resultados obtidos e exibidos na Figura 7,
ATIVIDADES
em campo, durante observação
A observação dos locais de trabalho e da comportamental, observa-se uma
execução das atividades é uma das formas concentração de desvios acentuadas nas
de avaliar se o SGSST implementado está categorias EPI (com aproximadamente 31%
refletido no dia-a-dia dos trabalhadores. dos desvios) e procedimentos (referente a
Através do comportamento e postura desses 24% dos desvios), sendo que nesta última
trabalhadores verifica-se a efetividade das destaca-se a subcategoria procedimentos
ações de segurança. A auditoria adequados e não seguidos. Resultado este
comportamental foi realizada durante 2 que induz à hipótese de que os trabalhadores
meses, para observação, tendo sido não estão devidamente orientados e/ou
registrados 75 desvios, categorizados em 06 treinados quanto a estes itens.
Tópicos em Administração - Volume 8
59

O que diferencia do resultado obtido na com os trabalhadores, onde constatou-se que


auditoria interna, onde evidenciou-se a 67% (sessenta e sete por cento) relatam não
existência de listas de presença de ter participado da elaboração dos
treinamentos sobre procedimentos procedimentos e APTs e mais de 50%
operacionais e uso adequado de EPIs, e (cinquenta por cento) relatam não ter
participação dos trabalhadores na elaboração participado ou jugam não ser satisfatórios os
das APTs. Todavia, demonstra conformidade treinamentos de segurança.
com o resultado das entrevistas realizadas

Figura 7 - Dados resultantes da aplicação do Cartão Comportamental

6. CONCLUSÕES auditoria interna que estavam relacionados à


participação dos trabalhadores, o que
No presente estudo avaliou-se um sistema de
permitiu constatar divergências entre o
gestão prescrito (auditoria interna) e real
sistema de gestão prescrito e o sistema de
(entrevistas com os trabalhadores) de uma
gestão real.
empresa de construção e manutenção
industrial. Também foi realizada uma auditoria Foi constatado a existência de evidências
comportamental que verificou a real documentais inconsistentes e ações que
implementação do SGSST junto aos deveriam envolver maior número de
trabalhadores. trabalhadores e que na prática não envolvem,
tais como: treinamentos, análises de riscos,
Quatro etapas integraram o estudo: análise
elaboração de procedimentos, divulgação
dos resultados da auditoria interna do SGSST
das ferramentas de gestão e implementação
para posterior elaboração do questionário,
dos programas.
aplicação preliminar do questionário para
validação, entrevistas com 250 trabalhadores Finalizando, foi possível confirmar, a situação
para verificação da percepção quanto ao motivadora do estudo: O método de auditoria
SGSST e aplicação do cartão interna utilizado pela empresa não reflete em
comportamental. seu resultado a realidade do SGSST
vivenciada na prática. Encerrada a pesquisa,
Após o trabalho de campo, realizou-se uma
levantou-se, na empresa, a necessidade de
comparação entre os resultados da auditoria
implementação de ferramentas
interna (abordagem estrutural) e os resultados
comportamentais de forma rotineira, como por
obtidos através das ferramentas propostas:
exemplo a auditoria comportamental,
questionário de entrevista com os
desenvolvida na íntegra como ferramenta
trabalhadores e auditoria comportamental
preventiva para a redução dessas não
(abordagem operacional). Esta comparação
conformidades e melhora na retroalimentação
foi feita, basicamente, com os itens da
do sistema.

REFERÊNCIAS
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Segurança e Saúde no Trabalho: Uma Ferramenta UDESC. Joinville, 2006.
Organizacional. Monografia Apresentada à
Universidade de Santa Catarina para obtenção de
Tópicos em Administração - Volume 8
60

[2] Cambon, J.; Guarnieri, F.; Groeneweg, J. desenvolvimento de pessoas. São Paulo: Atlas,
Towards a new tool for measuring Safety 1999.
Management Systems performance. In: 2nd
[6] Costella, M. F. Método de avaliação de
Symposium on Resilience Engineering Juan-les-
sistemas de gestão de segurança e saúde no
Pins, France, November 8-10, 2006.
trabalho (MASST) com enfoque na engenharia de
Proceedings.France, 2006.
resiliência, Porto Alegre, 2008. Tese (Doutorado em
[3] Benite, A. G. Sistema de Gestão da Engenharia de Produção) – Programa de Pós
Segurança e Saúde no Trabalho para Empresas Graduação em Engenharia de Produção, PPGEP /
Construtoras. Dissertação Apresentada à Escola UFRGS.
Politécnica da Universidade Estadual de São Paulo
[7] Dupont do Brasil S.A – Manual de
para obtenção de Título de Mestre em Engenharia,
Sistemas de Gestão Integrada 22 Elementos – SGI
USP. São Paulo, 2004.
22. São Paulo: DSR, 2003.
[4] Benevenuto, R. C.; Gomes, R. S.; Barros,
[8] Perez, Fábio Luís. Estudo da Terceirização
S. R.; Lima, G. B. A. Aspectos comportamentais da
da Produção do Complexo Eletroeletrônico
Segurança do Trabalho: relato e reflexões de
experiências na aplicação de um programa de Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Engenharia
de Produção) – Universidade Federal de Santa
auditoria comportamental em uma empresa de
Catarina, Florianópolis, 2003.
construção naval. IX Congresso Nacional de
Excelência em Gestão, Rio de Janeiro, 2013. [9] Pereira F. C.; Denizot, A.; Mello, J. M. C.; A
influência dos aspectos comportamentais nos
[5] Cardella, B. Segurança no trabalho e
acidentes de trabalho a importância da gestão da
prevenção de acidentes: uma abordagem holística:
segurança integrada à missão organizacional com ambiência organizacional. X Congresso Nacional
de Excelência em Gestão, Rio de Janeiro, 2014.
produtividade, qualidade, prevenção ambiental e

Tópicos em Administração - Volume 8


61

Capítulo 5

Michele Pereira Figueiredo de Abreu


Francisco José de Castro Moura Duarte
Guilherme Luciano Sensato

Resumo: A inserção da ergonomia nas grandes indústrias vai muito além da


transformação das situações de trabalho. A criação destes programas corporativos
visa, sobretudo, a formação de multiplicadores em ergonomia e a educação dos
funcionários, tendo como objetivo principal a instituição de uma cultura em
ergonomia. Entretanto, tal desafio não é trivial e requer atenção a fim de que a
implementação de um programa de ergonomia - a nível global - ocorra de forma
estruturada numa organização. Este artigo baseia-se em três grandes e diferentes
indústrias, que passaram pela implementação da ergonomia em nível macro: a
indústria de embalagens de carnes vermelhas, a indústria automobilística Ford e a
indústria de aviação francesa Grupo SAFRAN. A síntese obtida com o estudo
destes casos, contribuem como norteadores para a estruturação de outros
programas de ergonomia corporativo, de outras indústrias.

Palavras chave: ergonomia, programa corporativo, organização

Tópicos em Administração - Volume 8


62

1. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA 4. A ERGONOMIA DE CUNHO


CORPORATIVO
A instituição da ergonomia a nível macro nas
organizações ainda é incipiente e requer Segundo RIGHI (2002), a constatação dos
grande atenção por pare dos estudiosos no resultados e benefícios trazidos pela
assunto, uma vez que as transformações ergonomia foi um dos precursores das
propostas por um programa de ergonomia a atividades ergonômicas de cunho corporativo.
nível coorporativo vão muito além das Somado a isso, houve ainda a intensificação
transformações das situações de trabalho, das legislações neste sentido e um crescente
abordado em GUÉRIN et al. (2001). A criação aumento dos afastamentos por doenças
destes programas corporativos visa ocupacionais, culminando na necessidade
sobretudo a formação de multiplicadores em das empresas de melhorarem sua imagem
ergonomia e a educação dos funcionários, perante a sociedade (COCKELL, 2004) – o
tendo como objetivo principal a instituição de que contribuiu para a ampliação da atuação
uma cultura em ergonomia, tal qual ocorre dos programas corporativos de ergonomia.
com a cultura de segurança.
A fim de se obter elementos norteadores para
Segundo KMITA (2003), a implementação
a instituição de um programa corporativo de
desses programas podem ter diferentes
ergonomia, foram realizados estudos de
focos, entretanto, RIGHI (2002) diz que a ideia
casos de implementação de programas de
central norteadora da maioria dos programas
cunho corporativo em três indústrias distintas,
corporativos de ergonomia visa atender as
a fim de se entender qual a estratégia
demandas ergonômicas e educar os
adotada por estas corporações para
funcionários. A criação de cultura em
implementar a ergonomia em seus processos
ergonomia demanda tempo e pode trazer
a um nível corporativo. Com base nos casos
benefícios às corporações, cujo impacto
estudados, foi possível traçar algumas
refletem nos índices da saúde dos
diretrizes para a instituição de um programa
trabalhadores, absenteísmo, etc. e,
corporativo, aplicável e extensível a outros
consequentemente, contribuem com
tipos de indústrias inclusive.
produtividade e a qualidade do trabalho
realizado. Butler (2003) corrobora dizendo
que,
2. OBJETIVO
“... a ergonomia oferece um precioso veículo
O objetivo do presente artigo é apresentar a
para gerenciar e obter a colaboração dos
síntese do estudo realizado a partir da
trabalhadores na melhoria das condições de
implementação de programas corporativos de
trabalho, por meio do qual ambos
ergonomia em três diferentes indústrias, a fim
(gerenciadores e trabalhadores) podem
de obter diretrizes para a implementação de
colher consideráveis benefícios. O sucesso
um programa de ergonomia de uma empresa
dessa aliança resulta no aumento da
nacional do setor petrolífero brasileiro.
competitividade e sobrevivência
organizacional da empresa”.
3.MÉTODO
Nesta pesquisa foi realizado o estudo da BUTLER (2003)
literatura dos casos de sucesso de
Para HÄGG (2003) os programas
implementação da ergonomia a nível global
coorporativos de ergonomia são importantes,
em grandes corporações, em três diferentes
pois impactam na produtividade, na
indústrias. A análise destes casos permitiu
qualidade e na saúde dos funcionários.
identificar recomendações que podem ser
Entretanto, o autor contrapõe que para se
aplicados a diferentes indústrias que desejem
atingir o sucesso do programa, é preciso que
ampliar a implementação da ergonomia a
haja a participação de especialistas em
nível global.
ergonomia (sejam eles internos ou externos),
além da colaboração dos trabalhadores. Além
disso, para garantir a continuidade dos
programas coorporativos de ergonomia e
manter viva as ações desses programas,
muitas empresas criam grupos de trabalho,

Tópicos em Administração - Volume 8


63

que incluam a participação dos trabalhadores com participação multidisciplinar dos


em conjunto aos especialistas em ergonomia, componentes auxiliará a atuação em conjunto
instituindo assim, os comitês de ergonomia. na gestão e na obtenção dos resultados do
programa. A formação do time que irá atuar
no processo, enriquece e contribui com a
4.1. A ATUAÇÃO DOS COMITÊS DE bem como as experiências e conhecimentos
ERGONOMIA de cada um de seus componentes
(TOMASINI, 2011).
Para a implementar grandes programas
corporativos de ergonomia, algumas FISCHER et al. (2002) argumenta que a
empresas adotam como estratégia a criação participação dos cargos da alta direção é
de grupos ou comitês de ergonomia, que dão fundamental para a motivação e o
apoio ao programa e tem por objetivo dar envolvimento das pessoas, servindo de
continuidade às ações de ergonomia que são exemplo para que todos percebam a
identificadas no chão-de-fábrica. A principal importância do programa (FISCHER et al.,
característica destes comitês de ergonomia é 2002).
a formação de grupos estruturados, que
Os integrantes do comitê de ergonomia têm
agem sobre os problemas ergonômicos
grande influência sobre as decisões da
enfrentados pelas empresas de forma gradual
corporação, quando estes ocupam cargos de
e sistêmica.
elevada hierarquia na empresa (FISCHER et
De maneira mais ampla, este grupo é al., (2002). Segundo ele, a influência que
responsável pela gestão do programa de possuem reflete sobre o processo de tomada
ergonomia, no qual realizam o de decisão e permite a priorização e a
acompanhamento, o levantamento e a análise viabilização das soluções propostas pelo
das situações de trabalho a serem comitê de ergonomia.
transformadas, promovendo o diálogo entre
Entretanto, nem sempre essas premissas são
trabalhadores e gestores e construindo
respeitadas e raramente as pessoas
propostas de soluções de melhorias para os
influentes nas organizações, e que tem poder
problemas identificados. Estas propostas de
de decisão na empresa, integram o comitê de
melhorias são validadas pelo comitê, que
ergonomia (COCKELL, 2004). Geralmente a
verifica a viabilidade da implementação das
formação destes grupos é marginalizada e se
ações de transformações.
resumem a alguns poucos funcionários, que
Para NEIVA (2012), o papel do comitê de possuem pouca ou nenhuma autonomia
ergonomia visa incluir a criação da perante à organização, ou ainda com baixa
conscientização sobre a ergonomia dentro ou nenhuma experiência, o que dificulta o
das empresas. Cabe ao comitê promover a andamento das soluções propostas pelo
ergonomia, explicar as ações realizadas e grupo.
seus objetivos e criar um espaço de interação
Mesmo assim, a participação do comitê de
entre os níveis da empresa, promovendo o
ergonomia tem se mostrado decisivo para a
diálogo sobre o assunto. “Estas
viabilidade e a continuidade do processo de
comunicações devem criar um ambiente
intervenção ergonômica, por exemplo o caso
favorável para o desenvolvimento do trabalho
estudado por COCKELL e VASCONCELOS
dos membros do comitê” (NEIVA, 2012).
(2002) que mostra a continuidade da
Para STUART (1999), os requisitos intervenção ergonômica por meio do comitê
importantes para o sucesso dos programas interno de ergonomia. Ou seja, a ação
ergonômicos corporativos incluem o ergonômica não é um fim em si mesma, mas
envolvimento e a participação dos um início de um movimento maior dentro das
funcionários. É a contribuição dos organizações, que visa trazer a
trabalhadores que vai facilitar o conscientização, a reflexão e a discussão
funcionamento do comitê na procura por sobre a ergonômicos para o dia-a-dia das
soluções concretas e adequadas aos organizações.
problemas evidenciados (NEIVA, 2012).
De modo geral, os diferentes autores
A formação do comitê de ergonomia também convergem para o fato de que o sucesso dos
é fator decisivo para a atuação do grupo e programas ocorre, sobretudo nos casos onde
para a evolução do programa (TOMASINI, há maior envolvimento e participação dos
2011). A característica da formação do comitê trabalhadores. WISNER (1994) afirma que as

Tópicos em Administração - Volume 8


64

mudanças reais de tecnologia e de relações sociais, para a construção social


organização dependem da participação necessária, para a elaboração da estratégia
efetiva dos interlocutores, que possuem poder de intervenção e para a incorporação futura
de decisão dentro das organizações. das transformações.
Afinal, a construção física do trabalho
depende da construção social do projeto,
4.2. A CONSTRUÇÃO DE PROCESSOS
pois é onde por onde se estabelecem os
PARTICIPATIVOS PARA O SUCESSO DO
diálogos e as confrontações, emergindo os
PROGRAMA
diferentes pontos de vista e necessidades
Segundo DUARTE et al., (1999), a prática dos diversos atores (DANIELLOU, 2004,
ergonômica não ocorre sem o 2007). DUARTE et al. (2008) aborda em seu
estabelecimento de um processo estudo, a concepção de espaços onde houve
participativo, entre os diversos atores o diálogo entre os atores envolvidos. Segundo
envolvidos (os usuários ou trabalhadores, os o autor, da confrontação entre os agentes,
gestores, os projetistas, os ergonomistas, que incorporaram certas necessidades e
etc.). Já SANTOS, LIMA e MAFETANO (2014) pontos de vistas, é que surgem as
acreditam que a prática ergonômica, quando possibilidades concretas de transformação do
ocorre de maneira isolada e sem a espaço.
participação dos trabalhadores, dificilmente
Para DEJOURS (2009) é possível trilhar um
se concretiza. Segundo o autor:
caminho em direção à emancipação, através
A prática ergonômica isolada, onde um da participação efetiva dos sujeitos nas
ergonomista realiza a análise do trabalho e organizações, em que a cooperação é
recomenda as soluções, para que estimulada ao invés de ser combatida, e os
posteriormente sejam implantadas, trabalhadores encontram espaço para
geralmente não se concretiza, pelo não participar dos processos de decisão internos
envolvimento dos trabalhadores no primeiro da empresa. Quando os trabalhadores
momento (diagnóstico), torna-se muito difícil possuem maior grau de independência,
envolvê-los em um segundo momento (a conseguem agir com mais autonomia e, sem
implantação). Pode-se dizer que a prática freios por parte da organização, sentem-se
ergonômica não ocorre sem o mais motivados (BOLIS, 2011).
estabelecimento de um processo
participativo.
4.3. A ESTRATÉGIA USADA PARA A
(SANTOS, LIMA e MAFETANO; 2014)
CRIAÇÃO DOS PROGRAMAS
Além disso, o envolvimento dos próprios CORPORATIVOS – OS CASOS ESTUDADOS:
trabalhadores na busca por soluções só
Os programas ergonômicos em grandes
beneficia a organização, uma vez que não há
corporações, estudados por MOORE e GARB
quem conheça melhor o trabalho
(1998), JOSEPH (2003) e THIBAULT (2013)
desenvolvido do que os próprios
apontam processos que tem atuação
trabalhadores (IIDA, 1990). Pelo mesmo
participativa e colaborativa entre gestores e
motivo, a participação dos trabalhadores nas
trabalhadores, em prol das melhorias das
fases de concepção e implementação de
condições de trabalho. O Quadro 1, descrito
projetos garantem um maior índice de
por Figueiredo (2016), sintetiza os principais
sucesso nas modificações (BOLIS, 2011).
elementos que compõe cada um destes
Para WISNER (1987), a participação dos programas ergonômicos de cunho
trabalhadores (nas etapas da intervenção) é corporativo.
essencial para a compreensão do estado das

Tópicos em Administração - Volume 8


65

Quadro 1- Comparativo dos programas de ergonomia dos casos


Indústria de Carnes Ford Grupo SAFRAN
Vermelhas

Tipo de indústria Embalagens/Alimentício Automobilística Aeronáutica

Tipo de programa Contínuo Contínuo Contínuo

Modelo Participativo (com a Participativo (com a inclusão de Participativo (com a inclusão de


inclusão de trabalhadores trabalhadores e gestores). trabalhadores e gestores, das
e gestores). diversas unidades da empresa).

Objetivos do Reduzir o estresse físico Melhorar a saúde global dos funcionários Preservar a saúde no trabalho e
programa no local de trabalho, evitar da empresa, além da melhoraria dos melhorar o desempenho dos
lesões aos trabalhadores e processos e da segurança. processos.
reduzir os danos de
acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais.

Instituição de um Comitê Global Ergonomics Strategies (Estratégia Programa corporativo de ergonomia


de Direção Coorporativa global de ergonomia): avaliação e junto ao departamento de segurança
(para gerenciar os aperfeiçoamento do programa do trabalho e inclusão da ergonomia
diversos Comitês de globalmente e localmente, para melhoria no Plan Opérationnel de Progrès
Ergonomia de cada planta dos processos em andamento Santé Sécurité Environnement
de processos). O Comitê (verificação das linhas consideradas (POPSSE).
de Direção Coorporativa críticas, necessidades de treinamento
objetiva fiscalizar os especializado, comunicação dos
Comitês de Ergonomia e conteúdos de ergonomia e a
garantir participação dos necessidade constante de revisar e
Global

funcionários. aperfeiçoar os processos).

Managing Ergonomics Events Inclusão da ergonomia no processo


(Gerenciamento ergonômico de de design (ergonomia de concepção
eventos): Identificação, avaliação e do trabalho e dos processos).
correção de tarefas que apresentam
riscos ergonômicos, envolvendo as
equipes locais e as equipes globais da
companhia. O processo é discutido e
relatado em um livro de registros (An
Estratégias

Ergonomics Process) e consiste na


implementação das ações e na sua
evolução.

Instituição de Comitês de Criação de Comitês Locais de Posicionamento da ergonomia na


Ergonomia em cada planta Ergonomia (LEC), para cada uma das avaliação do risco ocupacional,
do processo, composto suas plantas de processo, com os envolvendo a participação ativa dos
por engenheiros do chão seguintes objetivos: 1) identificar e trabalhadores a partir da análise do
de fábrica, engenheiros de avaliar as atividades de trabalho; 2) seu trabalho; dando-lhes as
segurança e gerentes. identificar e levantar os problemas e 3) ferramentas e o treinamento
desenvolver e implementar soluções, a necessário para que pudessem:
partir das recomendações de soluções identificar os riscos, analisar as
de melhoria. situações de trabalho, participar da
elaboração dos planos de ação e
Local

verificar a eficácia das soluções


implementadas.

The Job Improvement Cycle (o ciclo de Formação em ergonomia, criando a


melhoria do trabalho): É um ciclo para chamada "consciência em
solução de problemas. Cada unidade é ergonomia".
responsável pela gestão do dia-a-dia de
atividade do processo de ergonomia. É
importante para o LEC identificar um
processo de trabalho que lhe permita
efetivamente fazer progresso em direção
a seus objetivos.

Tópicos em Administração - Volume 8


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Quadro 1- Comparativo dos programas de ergonomia dos casos


Indústria de Carnes
Ford Grupo SAFRAN
Vermelhas

1) Questionários, fichas de
sugestões, checklist;

Ferramentas 2) Desenvolvimento dos 1) Livro de registros (An Ergonomics Indicadores relacionados à


utilizadas membros do comitê de Process). ergonomia.
ergonomia (treinamentos e
interação com outras
comissões).

Através de boletim
informativo intitulado Segundo o autor, este é um ponto a ser Segundo o autor, este é um
Divulgação do
“What's New in melhorado no programa de ergonomia ponto a ser melhorado no
programa
Ergonomics” (O que há de da Ford. programa.
novo na ergonomia?)

1) No primeiro ano, cerca de 1.500


1. Aumento da
questões ergonômicas tinham sido
produtividade.
identificadas e resolvidas nas plantas;

2) Redução de horas-extras em algumas


2. Diminuição da taxa de
plantas, da taxa de absenteísmo global e
tempo perdido nos
do número de ferimentos dos
processos. Os resultados do programa
trabalhadores;
não foram apresentados,
Resultados obtidos 3. Redução das lesões mas segundo consta foram
relacionadas a fatores de 3) Redução das taxas de distúrbio positivos.
risco osteomuscular;
musculoesqueléticos.

4. Redução das
compensações (horas- 4) Redução do retrabalho nas estações
extras) dos trabalhadores de trabalho da linha de montagem.
anuais.

1) Compartilhar as
experiências comuns e
operacionais de cada
unidade, incorporando as
1) Formação avançada e especializada
normas e padrões
em ergonomia;
internacionais, mas também
apontando uma variedade
de práticas de usabilidade
reconhecidos.

2) Consolidar o
2) Necessidade de comunicar a
reconhecimento das várias
ergonomia entre os demais setores da
Necessidade de práticas de ergonomia e
empresa;
melhorias do Não foi apresentado. difundi-las.
programa 3) Fortalecer a presença
3) Rever e melhorar constantemente o dos ergonomistas em
processo. projetos que têm a
capacidade de inovação.

4) Comunicar e trocar
experiências tanto interna
quanto que externamente
(no exterior) do Grupo
SAFRAN, buscando a
prática reflexiva sobre o
desenvolvimento do
programa.

Fonte: Figueiredo (2016)


A partir dos casos estudados, cuja colaborativa entre gestores e funcionários foi
implementação dos programas de ergonomia o pilar para a implementação das ações de
corporativos trouxe resultados positivos para transformação e para o sucesso destes
estas diferentes indústrias, foi possível programas, cujos resultados serão abordados
perceber que a abordagem participativa e na sequência.
Tópicos em Administração - Volume 8
67

5. RESULTADOS nas organizações, que tem poder de decisão


na empresa (COCKELL, 2004).
A implantação de um programa corporativo
de ergonomia varia substancialmente do tipo  A ergonomia deve agir em todos os
de companhia, das suas políticas e níveis da empresa. A participação dos cargos
organização interna (HÄGG, 2003). de direção é fundamental para a motivação e
Usualmente, um ou vários comitês de o envolvimento das pessoas servindo de
ergonomia são montados, dependendo do exemplo para que todos percebam a
tamanho da planta. A vantagem em se ter um importância do programa. Os integrantes do
comitê central é que este tem a comitê de ergonomia têm grande influência
responsabilidade global pelas atividades, sobre as decisões da corporação, quando
enquanto o comitê local assume as estes ocupam cargos de elevada hierarquia
responsabilidades operacionais, cujos na empresa, pois a influência que possuem
representantes incluem trabalhadores da reflete sobre o processo de tomada de
engenharia, supervisores e do pessoal do decisão e permite que as soluções propostas
chão-de-fábrica. pelo comitê de ergonomia sejam priorizadas e
viabilizadas (FISCHER et al.; 2002).
No início da estruturação destes programas,
as atividades são limitadas, e deve-se  É necessário que haja a formação
priorizar as ações de melhorias cujas avançada e especializada em ergonomia para
demandas são urgentes, mas que demandem os envolvidos, a fim de garantir o
baixo custo de implementação e que possam amadurecimento do programa.
trazer êxito imediato para os trabalhadores e
para a organização. De forma que, à medida  A ergonomia deve ter uma
que as primeiras ações de melhorias forem abordagem participativa. O envolvimento e a
sendo desenvolvidas, estas podem funcionar participação dos funcionários são fatores
como objeto de barganha para angariar decisivos para o sucesso do programa. Em
outros recursos e assim, as atividades do todos os casos estudados os programas
programa coorporativo de ergonomia vão coorporativos de ergonomia contaram com
sendo ampliadas. O que se espera é a uma abordagem participativa, no qual os
evolução e o progresso contínuo das ações trabalhadores encontraram espaços para
de transformações ergonômicas participarem ativamente do programa.
desenvolvidas na empresa.  É importante comunicar a ergonomia,
Independentemente do tipo de indústria, dois que significa identificar as atividades de
aspectos mostraram-se presentes e sucesso e comunicar aos responsáveis dos
relevantes para a continuidade e o sucesso demais setores sobre tais ações e seus
dos programas, nos casos estudados: (i) a resultados. A divulgação das ações do
atuação dos comitês de ergonomia e (ii) a programa visa difundir a cultura ergonômica
construção de processos participativos para o na empresa e é importante para a que os
sucesso do programa, conforme abordado erros não sejam repetidos.
anteriormente. Entretanto, estes não foram os
 É importante rever e melhorar
únicos aspectos observados ao se estudar as
constantemente o processo. O processo de
estratégias dessas corporações. Diante disso,
implementação das ações ergonômicas deve
alguns pontos importantes para a
passar por constantes revisões e avaliações.
estruturação dos programas corporativos de
O objetivo é incorporar as melhores práticas
ergonomia foram pincelados e estão descritos
ergonômicas ao programa e tratas as ações
a seguir como forma de orientações ou
que necessitam de ajustes ou correções, seja
diretrizes, objetivando auxiliar outras
no nível local (mais operacional) ou no nível
indústrias inclusive.
global (mais estratégico).
 - A formação do comitê de ergonomia
 A ergonomia deve coexistir com os
é um fator decisivo para a atuação do grupo e
demais processos e interesses da empresa.
para a evolução do programa. Além disso, a
Para que a estruturação do programa
abordagem multidisciplinar é importante para
corporativo de ergonomia ocorra, a
a formação do time que irá atuar no processo,
ergonomia não pode ser vista como uma
bem como as experiências e conhecimentos concorrente aos demais processos ou
de cada um de seus componentes. É
interesses da gestão. Na verdade, ela pode
importante que integrem o comitê tantos os
ser inserida como aliada, uma vez que
trabalhadores quanto as pessoas influentes
Tópicos em Administração - Volume 8
68

possibilitará a condução ao atingimento das Dois aspectos mostraram-se relevantes para


metas produtivas, em consoante com a a continuidade e o sucesso dos programas
preservação da saúde dos trabalhadores. estudados: (i) a atuação dos comitês de
ergonomia, que integram diferentes pessoas
da organização e objetivam a atuação
6. CONCLUSÃO gradual e sistêmica sobre as ações
ergonômica; e (ii) a construção de processos
Com base no estudo de caso da indústria de
participativos para o sucesso do programa,
embalagens de carnes vermelhas, da
cujo envolvimento dos trabalhadores e dos
indústria automobilística Ford e da indústria
gestores na busca por soluções mostrou-se
de aviação SAFRAN, foi possível verificar que
decisivo para o sucesso dos programas.
normalmente a ergonomia em grandes
indústrias está inserida em programas de É importante destacar que
cunho corporativo, que incluem ações de independentemente do tipo de indústria, os
nível local e global. programas coorporativos de ergonomia
podem trazer muitos benefícios, pois estes
Nestes casos, a abordagem participativa e
tem impacto sobre a produtividade, a
colaborativa entre gestores e funcionários foi
qualidade e a saúde dos funcionários (RIGHI;
o pilar para a implementação das ações de
2002). A melhoria da saúde e do bem estar
transformação e para o sucesso destes
dos trabalhadores impactam na produtividade
programas. Apesar de cada programa
e na qualidade do trabalho (BUTLER; 2003).
atender as demandas específicas, os
As diretrizes aqui apresentadas não são
objetivos em comum foram a redução dos
únicas e tiveram a intenção apenas de
índices de acidentes e das doenças
apontar um caminho para a criação de um
ocupacionais, além da melhoria dos
programa coorporativo de ergonomia em
processos, o aumento de produtividade, a
diferentes indústrias.
melhoria na qualidade, a redução de
desperdícios, etc.

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69

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[27]

Tópicos em Administração - Volume 8


70

Capítulo 6

Michele Pereira Figueiredo de Abreu


Alexandre Elias Ribeiro Denizot

Resumo: A importância da atividade de movimentação de cargas numa indústria


altamente complexa como a indústria offshore é expressiva, tendo em vista que todas as
atividades realizadas a bordo pelas demais equipes, demandam algum tipo de serviço
da equipe de movimentações de cargas. Pode-se dizer que a atividade de
movimentação de cargas é transversal às demais atividades realizadas a bordo, pois
presta serviços a todas elas. Sendo assim, as demandas de trabalho desta equipe são
constantes, requerindo maior atenção quando às condições de saúde e segurança
requeridos em normas e legislações aplicáveis ao setor. Neste sentido, este artigo
pretende apresentar os resultados da aplicação de um checklist para verificação das
não-conformidades numa atividade de offload e backload de cargas em na plataforma P-
X, a fim de contribuir com a melhoria das condições de trabalho desta equipe.

Palavras chave: offshore, checklist, movimentação de cargas, segurança.


71

1 INTRODUÇÃO 2 METODOLOGIA
A movimentação de cargas nas plataformas O processo de trabalho desta pesquisa
offshore é uma atividade altamente complexa consistiu na verificação do atendimento as
e variável e está sujeita tanto às condições normas e legislações de movimentação de
climáticas (velocidade do vento, chuva, cargas, por meio de um checklist. Com base
condições de maré), quanto às programações nas situações encontradas, na atividade de
das atividades realizadas diariamente nas movimentação de cargas acompanhada, foi
unidades marítimas. realizado um estudo de verificação de
atendimento às normas de saúde e
Em plataformas de petróleo, objeto de estudo
segurança, a partir das práticas de trabalho e
desta pesquisa, as atividades realizadas pela
tomando-se como base a Norma
equipe de movimentação de cargas envolvem
Regulamentadora 11 - Transporte,
operações que ocorrem 24 horas por dia e
Movimentação, Armazenagem e Manuseio de
que são as “mais intensas, sob o ponto de
Materiais e a Norma Regulamentadora 34 –
vista de esforço e postura, desenvolvida na
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na
plataforma estão às atividades de
Indústria da Construção e Reparação Naval
movimentação de cargas” (DUARTE et. al,
(item 34.10 Movimentações de Cargas).
2010). Os desgastes físicos, a intensificação
das posturas e os esforços adotados para a A metodologia utilizada nesta pesquisa foi
realização das atividades desta equipe são realizada por meio de (1) pesquisa de
bastante penosos se comparados com as abordagem, (2) pesquisa de campo e
demais atividades realizadas a bordo das levantamento de dados, (3) pesquisa
unidades petrolíferas. bibliográfica e (4) registro, análise e avaliação
dos dados obtidos pós a pesquisa de campo
A fim de se identificar as não-conformidades
descritas por Abreu (2014) na Figura 1. Na
durante a operação do offload e backload de
pesquisa de abordagem, foram realizadas
cargas em uma unidade de produção
entrevistas com os trabalhadores da
offshore, foi realizado a aplicação do checklist
movimentação de cargas a fim de identificar
de Transporte, Movimentação, e
quais são as normas, legislações e
Armazanamento de Materiais, desenvolvido
procedimentos que envolvem as suas
como base nas Normas Regulamentadoras 11
atividades, além de identificar como ocorre a
e 34. A metodologia para a realização desta
atividade real de trabalho.
pesquisa está descrita a seguir:

Figura 1 – Metodologia de pesquisa de campo

Fonte: ABREU (2014)

A pesquisa de campo consistiu no por meio de apostilas, livros, artigos


levantamento de dados, por meio de registros acadêmicos, normas, catálogos, e por fim, a
fotográficos, identificação dos sistemas e última etapa compreendeu a fase de
processos. A pesquisa bibliográfica ocorreu
72

realização de registros, análise e avaliação Board) nas unidades. A equipe de


dos dados. movimentação de cargas representa cerca de
1/5 do efetivo do POB médio das unidades
Durante a pesquisa de campo, foram feitos
(ABRAÇADO, 2013).
embarques curtos, com duração de três a
cinco dias a algumas plataformas de petróleo Este número reflete a intensificação do
offshore, lotadas na Bacia de Campos, no trabalho da equipe de movimentação de
Estado do Rio de Janeiro. Nestes embarques cargas, que realiza atividades em todos os
foram realizadas visitas guiadas, com a decks da unidade, fazendo o transporte de
equipe de movimentação de cargas, para materiais pelos diversos andares da unidade.
acompanhamento das situações típicas de Muitas vezes, a demanda de carrinhos e
trabalho o levantamento de informações demais dispositivos de apoio às atividades
relativas as atividades desenvolvidas pela dos auxiliares de movimentação de cargas,
equipe, por meio da aplicação do checklist. frente às demandas da plataforma, não são
atendidas e alguns transportes de cargas e
materiais são realizados manualmente.
3 O TRABALHO DA EQUIPE DE
Para MAIA et al. (2003), além dos riscos
MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS OFFSHORE
inerentes à indústria do petróleo, há ainda um
A equipe de movimentação de cargas é agravante singular que inerente aos trabalhos
responsável por todo o transporte interno de realizados nete tipo de indústria de produção
materiais, pelas as operações com offshore: o regime de confinamento e
embarcações, o recebimento de carga e o isolamento. Segundo este autor, o
envio de carga de regresso para a terra confinamento de 14 dias seguidos em uma
(backload), além de receber, em algumas unidade marítima e com turnos de trabalho de
unidades, todas as aeronaves e também ser 14 horas por dia deixam os trabalhadores
responsável pelo primeiro combate à expostos aos riscos desta indústria 24 horas
qualquer derramamento de óleo. por dia, e não apenas no período da sua
jornada de trabalho, uma vez que uma das
A execução das atividades de movimentação
características mais marcantes dos
de cargas em indústrias offshore obedece a
trabalhadores offshore é que estes não
uma ordem de prioridade: primeiro deve ser
retornam às suas residências ao final do
realizado o atendimento às aeronaves, depois
trabalho.
o atendimento às embarcações e, por fim, são
realizadas as demais atividades internas da Estar embarcado em uma plataforma, que
movimentação de cargas. Essa política de tem limitações de espaço e cujas
prioridades visa à liberação mais rápida das possibilidades de abandono do local de
aeronaves e embarcações, mas dificulta o trabalho a qualquer momento são
planejamento das atividades da equipe, já impossibilitadas, em casos de sinistros, “...é o
que aeronaves e embarcações estão sujeitas que diferencia o trabalho realizado em uma
a adiamentos devido às condições plataforma de outros trabalhos que também
ambientais. estão sujeitos a este regime de
confinamento/isolamento” (MAIA et al., 2003).
Dentre as diversas atividades realizadas
numa plataforma de petróleo pelas suas Para os trabalhadores responsáveis pela
diversas equipes (manutenção, produção, movimentação de cargas em plataformas
hotelaria e apoio, movimentação de cargas, offshore, que realizam atividades noturnas em
sonda, etc.), a equipe de movimentação de praticamente 07 dias dos 14 dias
cargas é uma das que mais está exposta as embarcados - já que normalmente a equipe
variabilidades de operação e a que mais é realiza a troca de turno nos últimos 07 dias da
demandada pelas diversas frentes da escala de trabalho, passando a trabalhar no
plataforma. turno noturno -, é muito desgastante, já que
nestes dias, segundo relatos dos próprios
Segundo dados de acidentes de algumas das
trabalhadores, não se conseguem dormir
unidades da Bacia de Campos, no Rio de
bem, devido às questões de adaptações do
Janeiro, Abraçado (2013) diz que 20% são
sono impostas pelos diferentes horários de
referentes à equipe de movimentação de
trabalho do trabalhador embarcado
cargas. Um número alto comparado a
(CHOUERI, 1991).
quantidade da equipe em relação ao número
de pessoas embarcadas (POB – People On
73

3.1 FATORES DETERMINANTES NA no entorno do local onde será realizada a


ATIVIDADE DE MOVIMENTAÇÃO DE operação.
CARGAS
O risco das atividades origina-se em três
A atividade de movimentação de cargas, fatores principais: a tarefa (qual operação
requer grande atenção, principalmente pelos será realizada e como foi prevista para
riscos envolvido nas operações. Alguns ocorrer), o local (onde a operação ou
fatores que implicam nos ricos das operações manobra será realizada) e as atividades
realizadas numa movimentação de cargas (ou adjacentes (quais atividades estão ocorrendo
materiais), devem ser considerados, como: a no entorno do local e onde será realizada).
atividade a ser realizada, os materiais que Para as atividades de movimentação de
serão transportados, as ferramentas e cargas, em geral, estes três fatores, podem
equipamentos utilizados na operação, o local ser desdobrados em perguntas em relação às
onde está sendo realizada a operação, o manobras a serem realizadas, conforme
tempo e as condições climáticas, além das exemplificado na Figura 2.
atividades adjacentes - que estão ocorrendo

Figura 2 – Fontes originárias do risco

Fonte: ABREU (2014)


A análise do risco de uma atividade leva em ocasional de objetos que sejam difíceis de
consideração (i) o risco (O que pode sair movimentar devido à forma, ao tamanho, à
errado?); (ii) as consequências do perigo ou instabilidade ou ao peso.
efeito do risco (O que acontece se algo sair
(ABRAÇADO, 2013 apud ARORA & SHINDE,
errado e qual a severidade daquilo que sair
2013:285).
errado?), e (iii) a probabilidade de ocorrência
(Quais as chances de sair errado?). No É importante, inclusive se verificar se o
entanto, o risco pode ser reduzido através de: caminho que será percorrido na
precauções; procedimentos e mudança na movimentação de cargas está desbloqueado
abordagem. e se o local de descarga do objeto está
definido (MOURA, 2010: 386-387). Abraçado
Para Abraçado (2013), a atividade de
(2013) coloca ainda a necessidade de se
movimentação de cargas pode envolver
avaliar as condições do solo antes da
“...riscos de acidentes e danos à saúde do
realização da tarefa.
trabalhador, a depender do peso da carga,
da frequência das movimentações e da O trabalhador deve verificar se a carga possui
postura do trabalhador para realizar a tarefa”. algo que possa causar lesão (pregos, arame,
Segundo este autor, lascas, alta temperatura, entre outros),
identificar a melhor forma de elevar a carga
Os principais fatores de risco em
confortavelmente e se certificar que é capaz
movimentações manuais são a (1)
de elevá-la sozinho, ou se precisará do auxílio
manipulação frequente ou prolongada
de outros trabalhadores e/ou meios
envolvendo flexão com as mãos passando
mecânicos (ABRAÇADO, 2013).
abaixo do meio da coxa, alcance acima dos
ombros e giro das costas e (2) manipulação
74

Além disso, há ainda que se estudar a equipe responsável por receber todas as aeronaves
para se verificar a dimensão dos riscos e por realizar o primeiro combate a qualquer
envolvidos na atividade. Um trabalhador mais derramamento de óleo.
novo, com menor experiência têm maiores
A execução das atividades de movimentação
probabilidades de vir a sofrer algum tipo de
de cargas obedece a uma ordem de
lesão em alguma atividade de movimentação
prioridades, em que inicialmente se realiza o
manual de cargas, frente a um trabalhador
atendimento às aeronaves, depois o
mais experiente (ABRAÇADO, 2013 apud
atendimento às embarcações e, por fim, às
ARORA & SHINDE, 2013:285).
outras atividades internas da movimentação
O que não quer dizer que um trabalhador de cargas. As prioridades de atividades são
mais experiente está livre de sofrer algum tipo determinadas em da liberação mais rápida
de lesão. Na verdade, muitas vezes o corpo das aeronaves e embarcações, entretanto,
do trabalhador mais experiente está cercado dificulta o planejamento das atividades da
por tantos condicionantes do seu trabalho, equipe, uma vez que as aeronaves e
que a lesão é pouco sentida ou até embarcações estão sujeitas a adiamentos
negligenciada por ele. Entretanto, tanto o devido às condições ambientais.
trabalhador mais novato, quanto o mais
A equipe faz o uso de procedimentos de
experiente requerem cuidados nas atividades
trabalho para a realização das atividades que
de movimentação de cargas. As
executa. Os procedimentos ou instruções
consequências dos esforços e posturas
detrabalhos são roteiros detalhadas que
penosas podem se manifestar somente no
descrevem como as tarefas da equipe deve
médio e longo prazo, mas certamente serão
ocorre. Os procedimentos descrevem ainda
sentidas pelos trabalhadores.
as etapas de controle dos riscos envolvidos
em cada operação.
3.2 O TRABALHO DE MOVIMENTAÇÃO DE A equipe é liderada pelo Coordenador de
CARGAS NA PLATAFORMA P-X: Embarcações (COEMB) e Supervisor de
Movimentação (SUMOV), que são os
Na plataforma P-X, a equipe de
responsável tanto pelos trabalhos de campo,
movimentação de cargas é responsável por
quanto pelas atividades administrativas da
todo o transporte interno de materiais com
movimentação de cargas. Os auxiliares e
mais de 20 kg, as operações com
guindasteiros estão subordinados à eles,
embarcações, o recebimento de carga e o
conforme organograma da equipe (Figura 3)
envio de carga de regresso para a terra
(backload). Esta equipe também é

Figura 3 – Organograma da equipe de movimentação de cargas

Fonte: Informações fornecidas pela empresa Alpha e validadas a bordo


Os auxiliares de plataforma são os mesmas. A equipe é dividida e trabalha
responsáveis pelo transporte interno de durante o turno diurno e noturno. A
materiais e auxiliam na alocação das cargas e composição da equipe por turno pode ser
nos processos de entrada e saída das vista na Tabela 1 abaixo:
75

Tabela 1 – Composição da equipe de movimentação de cargas na plataforma P-X


FUNÇÃO DIA NOITE
Coordenador de Embarcação 01 Sobreaviso
Supervisor de movimentação de cargas (SUMOV) 01 01
Auxiliares 05 02
Guindasteiro 01 01
TOTAL 08 04
Fonte: Informações recolhidas a bordo

3.3 A OPERAÇÃO DE OFFLOAD E se esta está dentro do limite de peso do


BACKLOAD DE CARGAS guindaste e se a área de cargas suporta o
peso da carga. Nesta unidade, o deck de
Para iniciar o descarregamento das cargas da
cargas é dividido e cada área suporta uma
unidade para uma embarcação de apoio, o
determinada carga máxima. O Coordenador
supervisor da equipe de movimentação de
de Embarcações consulta a Requisição de
cargas realiza a inspeção das eslingas dos
Transporte (RT), onde estão contidas as
containers. Esta medida visa inspecionar
informações da característica da carga. Em
visualmente as condições de integridade dos
seguida ele verifica em qual local a carga
dispositivos de apoio utilizados nas manobras
poderá ser alocada, consultando o peso
de movimentação de cargas. Caso alguma
máximo suportado por metro quadrado de
eslinga estejam com o cabo de aço rompido
cada área.
ou com o certificado de inspeção vencido, é
necessário realizar a sua substituição. Para que o guindasteiro acesse os diversos
pontos cegos da unidade, o supervisor se
O guindasteiro faz a inspeção dos guindastes
posiciona em um ponto estratégico entre o
diariamente, por meio de um checklist
guindasteiro e a carga, desta forma ele
próprio, mas nem sempre esta inspeção
consegue observar o transporte da carga e
ocorre antes do início das operações com
passar as informações ao guindasteiro.
guindastes. Esse checklist é realizado com a
Somado à isso, ele porta um rádio, utilizado
finalidade de verificar se os guindastes estão
para a comunicação com o guindasteiro e os
em perfeitas condições para a realização das
demais integrantes da equipe.
atividades, bem como as condições
ambientais para a realização da operação. No Na sequência, para realizar a atividade de
entanto, nesta unidade, o guindasteiro backload e offload de cargas na plataforma P-
informou que para facilitar as suas atividades, X, o guindasteiro transporta a carga até à
ao final de cada expediente ele realiza o embarcação de apoio e os auxiliares de área
checklist. desta embarcação aproximam-se da carga
para fazerarem a soltura da lingada, liberando
Para o recebimento de cargas e a alocação
a eslinga do guindaste. Estas etapas estão
das mesmas no deck de cargas é preciso
detalhadas na Figura 4, a seguir.
conhecer o peso da carga, de forma a saber

Figura 4 – Atividade de backload de cargas


76

O processo inverso de transferência de à carga. Em 02 o auxiliar confere se a carga


cargas, ou seja, da plataforma para a foi presa ao guindaste. Em 03 a carga é içada
embarcação de apoio também faz parte da e levada à embarcação de apoio. Em 04 a
operação de transferência de cargas. As carga é despachada na embarcação de
etapas podem ser visualizadas na Figura 5. apoio.
Em 01 a equipe confere a carga a ser
transportada junto à requisição de transporte
e em seguida prende o gancho do guindaste

Figura 5 – Atividade de offload de cargas

3.4 APLICAÇÃO DO CHECKLIST Matriz GUT, que correlaciona gravidade,


tendência e urgência.
Algumas necessidades de atendimento às
normas e oportunidades de melhorias foram Por meio das não conformidades, foi possível
evidenciadas durante a aplicação do estabelecer um plano de ação, cujo objetivo é
checklist, que teve como objetivo identificar a tratativa das não conformidades
as não conformidades durante a atividade de identificadas durante a aplicação do checklist,
offload e backload de cargas. As não para atendimento as normas e legislações
conformidades foram identificadas, vigentes. Na Tabela 1, estão descritas as
agrupadas e priorizadas, seguindo a ações recomendadas com plano de ação:
mensuração dos critérios estabelecidos pela

Tópicos em Administração- Volume 8


77

Tabela 1 – Plano de Ação destinado à P-X


PLANO DE AÇÃO
Priorização Medidas ou ações (O quê) Por que Quem Como Quando
Verificar, antes do início da Antes das
manobra, se os equipamentos, Para garantir a segurança Supervisor e operações de
1 Com o checklist.
ferramentas e acessórios estão da operação. guindasteiro. movimentação de
em perfeitas condições de uso. cargas.
Inspecionar visualmente os Antes das
acessórios utilizados na Para garantir a segurança Todos da equipe operações de
2 Visualmente.
manobra antes de iniciar a da operação. de mov. de cargas. movimentação de
movimentação da carga. cargas.
Antes das
Inspecionar e testar os
Para garantir a segurança operações de
3 dispositivos de controle e de Guindasteiro. Testando.
da operação. movimentação de
frenagem antes da operação.
cargas.
Pintando o valor
Indicar nos guindastes a carga Para não ser ultrapassada Equipe de
da carga efetiva O mais rápido
4 máxima efetiva de trabalho a carga máxima permitida manutenção /
suportado pelos possível.
permitida. no guindaste. pintura.
guindastes.
Levantar todas as eslingas da
unidade e retirar de operação Para que não sejam Auxiliares e
Inspecionando
5 as que estiverem danificadas ou utilizadas eslingas supervisor de mov. Imediatamente.
visualmente.
com a data da última verificação danificadas. de cargas.
vencida.
Desobstruir as rotas de fuga, de
Para garantir a segurança Auxiliares e
forma a garantir e preservar a Inspecionando
6 da unidade e de todos supervisor de mov. Imediatamente.
segurança em caso de visualmente.
trabalhadores. de cargas.
ocorrência de sinistro.
Inspecionar os equipamentos,
conforme pré-definido no Antes das
Auxiliares e
programa de inspeção da Para garantir a segurança Inspecionando operações de
7 supervisor de mov.
unidade, que preconiza que a da operação. visualmente. movimentação de
de cargas.
inspeção seja realizada antes cargas.
do início das atividades.
Para evitar que
A equipe deve ser treinada para
informações errôneas COEMB e
que apenas uma pessoa faça a Treinamento
8 sejam transmitidas ao supervisor de mov. Imediatamente.
comunicação com o verbal.
guindasteiro durante a de cargas.
guindasteiro.
manobra.
A equipe deve ser informada Antes das
COEMB e
dos riscos envolvidos nas Para garantir a segurança Treinamento operações de
9 supervisor de mov.
atividades realizadas e os da operação. verbal. movimentação de
de cargas.
cuidados a serem adotados. cargas.
Inspecionar os pontos de pega
em suas soldas e conexões,
antes da realização das
Todos da equipe e
atividades. No caso de cargas Treinamento
Para que as amarrações equipe da Antes da realização
10 que chegam à unidade, a verbal e inspeção
e lingadas não soltem. embarcação de das amarras.
inspeção deve ser realizada visual.
apoio.
pela equipe da embarcação de
apoio (que está despachando a
carga).
Informar à toda equipe as Antes das
COEMB e
características da carga que Para garantir a segurança Treinamento operações de
11 supervisor de mov.
será transportada (produto da operação. verbal. movimentação de
de cargas.
perigoso, etc.) e seus riscos. cargas.
Providenciando
O sinaleiro deve usar Deve ser usado
identificação
identificação de fácil Para que o guindasteiro o durante as
COEMB e específica para o
visualização, diurna/noturna, identifique rapidamente operações de
12 supervisor de mov. sinaleiro, visível
que o diferencie dos demais durante as manobras de movimentação de
de cargas. tanto no turno
trabalhadores presentes na área movimentação de cargas. cargas.
diurno quanto
onde ocorre a manobra. Imediatamente.
noturno.

Tópicos em Administração- Volume 8


78

(continuação...)
PLANO DE AÇÃO
Priorização Medidas ou ações (O quê) Por que Quem Como Quando
Deve ser usado
Para que a equipe
Disponibilização de rádios Todos da equipe, durante as
consiga se comunicar Realização de
comunicadores suficientes para envolvidos na operações de
13 durante a realização das compra de rádios
a equipe de movimentação de manobra de mov. movimentação de
manobras de comunicadores.
cargas. de cargas. cargas. Assim que
movimentação de cargas.
possível.
PLANO DE AÇÃO
Priorização Medidas ou ações (O quê) Por que Quem Como Quando
Inspeção visual e
Providenciar, antes da Para que, caso precise, a Antes das
Auxiliares e separação do
realização da manobra, estoque substituição do cabo de operações de
14 supervisor de mov. material, próximo
dos acessórios dos cabos de aço, durante a manobra, movimentação de
de cargas. à área da
aço para eventual substituição. seja facilitada e rápida. cargas.
manobra.
Criar plano de otimização de
recebimento de cargas. Em
Criação de plano
função dos containers serem Para melhorar a utilização Setor responsável
de otimização de
subutilizados, transportando dos containers que pela logística Antes das
containers,
poucas cargas, é preciso que chegam e saem da onshore e COEMB operações de
15 compartilhando
seja criado um plano para uma unidade e não ocupar o (offload) e movimentação de
containers de
melhor utilização destas deck de cargas com supervisor, na cargas.
cargas entre
embalagens, pois estas containers vazios. unidade (backload)
empresas.
ocupam a área de cargas
inviabilizando outras manobras.
Substituir o sistema de giro do Para permitir que o
guindaste de bombordo para guindaste de bombordo Realizando a
Equipe de
que este possa operar com a opere na sua capacidade substituição do O mais rápido
16 manutenção /
capacidade nominal nominal, que é de 30 sistema de giro possível.
COEMB
estabelecida para o toneladas, com o uso do do guindaste.
equipamento. moitão.
Criando
Para permitir que programa de
Criar programa de treinamento
auxiliares possam almejar capacitação da
17 para capacitar auxiliares à RH da empresa. Assim que possível.
e disputar as vagas de equipe de mov.
função de guindasteiro.
guindasteiro e supervisor. de cargas da
própria unidade.
Fonte: ABREU (2014)

4 RESULTADOS: presentes numa manobra de movimentação


de produtos químicos difere dos riscos de
Diante da verificação dos itens normativos
uma manobra de transporte de uma bomba.
das normas anteriormente apresentados,
Diante disso, conhecer e estudar a atividade é
somado ao referencial teórico apresentado
um fator determinante para minimizar os
neste trabalho, foi possível concluir que
riscos da operação de movimentação de
alguns fatores são determinantes para a
cargas com guindaste.
atividade de operação de movimentação de
cargas offshore com guindaste, conforme Local da manobra: Outro determinante, que
ABRAÇADO (2013). Estes determinantes, vão impacta na operação de movimentação de
impactar nos riscos da operação da atividade cargas com guindastes é o local onde será
de movimentação de cargas com guindaste, realizada a manobra. Por exemplo, se o
pois são decisivos para a forma como ela irá transporte da carga será sobre o mar, entre
se desenvolver. São eles: embarcações, ou se o transporte da carga
será entre dois pontos da plataforma, sob a
Atividade: O tipo de atividade que será
plante de processos. Há riscos distintos
desenvolvida impacta nos riscos da operação
associados à cada caso, que são
de movimentação de cargas com guindaste,
influenciados pelo local onde será realizada a
pois dependendo da atividade, os riscos
manobra de movimentação de cargas
associados à ela serão em maior ou menor
offshore.
grau. Toda atividade de operação com
movimentação de cargas com guindastes Atividades adjacentes: As atividades que
deve ser precedida de uma Análise Preliminar ocorrem no entorno do local onde será
de Risco, que preveja os riscos daquela realizada a manobra de movimentação de
atividade, para que se possa intervir de cargas é um fator determinante para os riscos
antemão. de uma operação de movimentação de
cargas offshore com guindastes. Ao realizar
Os riscos são distintos para cada atividade.
uma manobra deste tipo, é preciso estudar as
No ambiente offshore, por exemplo, o riscos

Tópicos em Administração- Volume 8


79

atividades que ocorrem no entorno do local riscos da operação de movimentação de


da operação, para analisar se estas cargas offshore. As medidas necessárias para
comprometerão a segurança da operação de o transporte de um produto químico difere das
movimentação de cargas. medidas necessárias para o transporte de
uma bomba, ou outro equipamento de grande
Em plataformas de petróleo offshore, toda
porte. No primeiro, são importantes questões
operação com guindaste deve ser sinalizada
como vedação do produto, formas de
e a área isolada. A informação de interdição
alocação e área de armazenamento; no
de área é transmitida à todos da unidade
segundo, o peso da carga e a dimensão são
através do sistema de comunicação via rádio.
questões latentes que precisam ser avaliadas
Estas medidas visam diminuir os riscos da
previamente estudadas. Posto isso, é certo
operação de movimentação de cargas
que cada tipo de material transportado
offshore com guindaste, impedindo que
necessitará de estudo prévio, para que se
atividades em paralelo ocorram próximo ao
entrevejam quais as medidas necessárias
local da manobra.
para se controlar os riscos da operação.
Condições climáticas: Ao realizar uma
Ferramentas e equipamentos utilizados: O
movimentação de cargas offshore, as
tipo de ferramenta e equipamento utilizados
condições climáticas, velocidade do vento, e
durante a operação são escolhas importantes,
condições de maré, devem ser monitoradas
discutidas previamente antes de cada
constantemente, pois impactam nos riscos da
manobra. O tipo de embalagem (ou
operação. Dependendo destes fatores, a
recipiente) que será utilizado para transportar
manobra pode ser suspensa ou até adiada.
determinado produto, formas de amarração,
Transportar uma carga sob ventos fortes
acessórios e dispositivos são escolhas que
pode, por exemplo, avariar a carga, as
precisam ser previamente decididas antes de
instalações da unidade ou até trazer
cada manobra e configuram risco para a
consequências mais graves para os
operação de movimentação de cargas
trabalhadores envolvidos na operação.
offshore com guindaste.
Materiais: O tipo de material transportado é
Os determinantes abordados anteriormente
outro fator determinante, que impacta nos
estão ilustrados na Figura 6, a seguir:

Figura 6 – Determinantes que impactam nos riscos da operação de movimentação de cargas


offshore

Fonte: ABREU (2014)

Tópicos em Administração- Volume 8


80

5 CONCLUSÕES pergunta se Isso é o bastante para a garantia


da realização de atividades seguras para os
Ao realizar um checklist, com escopo limitado
trabalhadores envolvidos?
à indústria offshore, buscou-se trazer à tona
as dimensões do trabalho que é realizado a Sabendo que as indústrias, sobretudo a
bordo e quais as dificuldades de se fazer indústria petrolífera offshore, que é de alto
cumprir as normas, que garantam a risco, está em constante movimento, vale
segurança dos trabalhadores a bordo. lembrar que as ações propostas no plano de
ação devem ser planejadas e monitoradas e
A aplicação deste checklist refletiu apenas a
acompanhadas, mas estão longe de serem
ponta do iceberg das não conformidades
suficientes para garantir condições mais
latentes numa atividade de movimentação de
dignas e seguras de trabalho. Outras ações
cargas offshore com guindaste, já servindo
precisam ser realizadas de forma contínua a
como forma de apontamento de
fim de garantir melhore condições de trabalho
oportunidades de melhorias – apresentadas
e segurança para os trabalhadores offshore.
no plano de ação. Entretanto, aqui cabe a

REFERÊNCIAS
[1]. ABRAÇADO, M. P. A movimentação de FIGUEIREDO, Marcelo Gonçalves. Um diagnóstico
cargas em plataformas offshore: da operação à da organização do trabalho nas plataformas
integração ao projeto / Mateus Pereira Abraçado. – petrolíferas da Bacia de Campos e a influência dos
Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2013. investimentos em meio ambiente, saúde e
segurança. ENEGEP, Ouro Preto, Minas Gerais.
[2]. ABREU, M. P. F. Movimentação de Cargas
Outubro, 2003.
em Unidades Marítimas Offshore: Um estudo de
caso de operações com guindastes. Rio de [7]. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
Janeiro: LATEC/UFF, 2014. (MTE). NR-11: transporte, movimentação,
armazenagem e manuseio de materiais 1978.
[3]. ARORA, K. C.; SHINDE, Vikas V. Aspects
Disponível em:
of Materials Handling. University Science Press.
<http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-
New Delhi, 2013. regulamentadoras-1.htm>. Acesso em: out. 2014.
[4]. CHOUERI, Nelson. Equipes de Perfuração
[8]. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
Marítima – Uma análise das relações sociais, das
(MTE). “Anexo II: plataformas e instalações de
condições de trabalho e de produtividade. apoio”. In: MTE. NR-30: segurança e saúde no
Dissertação (Mestrado em Engenharia do Petróleo)
trabalho aquaviário. 2010. Disponível em:
- Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
<http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-
1991.
regulamentadoras-1.htm>. Acesso em: out. 2014.
[5]. DUARTE, Francisco; GAROTTI, Luciano;
[9]. MOURA, Reinaldo A. Sistemas e técnicas
MAIA, Nora; DA SILVA, Gislaine Cyrino Capstrano;
de movimentação e armazenagem de materiais. 7a
CONCEIÇÃO, Carolina. Recomendações
edição. Instituto IMAM. São Paulo, 2010.
ergonômicas para o projeto de plataformas off-
shore. ENEGEP. São Carlos, 2010.
[6]. MAIA, Luciana Xavier; GONÇALVES,
Martha da Silva; CELESTINO, Patrícia Gaze;

Tópicos em Administração- Volume 8


81

Capítulo 7

Uberlany Freire Damascena


Layanne Ferreira dos Santos
Lorena Gomes Torres de Oliveira

Resumo: Este artigo é resultado do trabalho para disciplina Projeto de Produto II, no
qual procurou demonstrar a importância das cooperativas de matérias recicláveis,
tanto na condição econômica, ambiental e social. Para isso se fez um estudo sobre
o posto de trabalho do setor triagem da Cooperativa de Catadores de Materiais
Recicláveis por meio de ferramentas do design. A partir de análises tipológicas de
cooperativas de materiais recicláveis no Brasil, dos estudos sobre sustentabilidade
urbana e reciclagem, de análises ergonômicas do trabalho, e da aplicação de uma
metodologia projetual centrada no usuário, obteve-se o embasamento teórico
necessário para projetar novos artefatos que impactam positivamente no
desempenho do trabalho na cooperativa em estudo. Como resultado, foi
desenvolvido um posto de trabalho baseado nos requisitos e parâmetros definidos
a partir das ferramentas do design thinking e do conceito de design social. O novo
posto de trabalho visa aperfeiçoar o trabalho das catadoras e evidenciar o papel do
designer como agente de transformação social.

Palavras-Chave: posto de trabalho; ergonomia; reciclagem; design thinking; design


social.

Tópicos em Administração - Volume 8


82

1 INTRODUÇÃO para muitas pessoas é sinônimo de sujeira,


mau cheiro e doenças, para outros serve
Com o crescimento da população e o
como matéria prima para produção ou
crescimento industrial, a produção de
transformação de novos produtos. As
resíduos orgânicos e inorgânicos também
cooperativas de materiais recicláveis têm
aumentou na sociedade, e o lixo também
crescido nos últimos anos e mostrado a sua
passou a ser parte da nossa cultura material.
importância para a sustentabilidade urbana e
O alto desenvolvimento tecnológico, o
para o equilíbrio das cidades.
aumento do consumo e a busca por
padrões de conforto vêm resultando em O seguinte trabalho tem como objeto de
uma elevada degradação do meio ambiente. estudo a XXX – Cooperativa de Catadores de
Por isso, a preocupação ecológica é uma Materiais Recicláveis, fundada em 2004 por
questão relevante em qualquer esfera nos ex-catadores de lixo do antigo aterro sanitário
dias de hoje, porém essa é uma concepção localizado no bairro XXX, zona periférica da
que teve inicio no final da década de 60, e um cidade de XXX. E como objetivo o estudo visa
dos defensores desse novo pensamento a melhor qualidade de trabalho e de vida das
ecológico foi o designer Victor Papanek que catadoras do setor triagem - o setor é
chamava atenção para que o design comporto só por mulheres - com uma nova
solucionasse problemas reais da sociedade, proposta de posto de trabalho. Por meio de
tornando-se necessário o trabalho do ferramentas do design thinking e métodos
designer para estabelecer uma melhor ergonômicos obteu-se a coleta de dados, a
relação entre produto-ambiente-sociedade. análise ergonômica, compreensão e
desenvolvimento da nova proposta de posto
Para Papanek (1995),
de trabalho. Para então, serem desenvolvidos
A ecologia e o equilíbrio ambiental são os modelos rústicos (mock-up, em escala 1:1),
esteios básicos de toda a vida humana na protótipos digitais, e protótipo real de um dos
Terra; não pode haver vida nem cultura artefatos. O projeto teve enfoque na
humanas sem ela. O design preocupa-se com ergonomia do trabalho do setor de triagem e
o desenvolvimento de produtos, utensílios, também considerou os requisitos sociais em
máquinas, artefatos e outros dispositivos, e todos os níveis do processo e produção.
esta atividade exerce uma influência profunda
e direta sobre a ecologia. A resposta do
design deve ser positiva e unificadora; deve 2 DESENVOLVIMENTO
ser a ponte entre as necessidades humanas,
2.1 A IMPORTÂNCIA DAS COOPERATIVAS
a cultura e a ecologia.
NAS CIDADES: UMA QUESTÃO DE
Portanto, para o autor, o design é o meio que SUSTENTABILIDADE URBANA
permite conexões entre os âmbitos ambientais
Em meio a uma cultura de consumo excessivo
e sociais, projetando para a sociedade.
e concentrado, e a demanda por produtos
Papanek ainda incentiva aos designers a
industrializados e descartáveis gera o aumento
olharem para os países subdesenvolvidos, o
do número de resíduos de todos os tipos,
que também é defendido por Gui Bonsiepe.
formas e materiais nas grandes cidades.
Incentivar a democratização do design e o
Nesse contexto as embalagens e resíduos
design feito para os países periféricos é um
gerados pelo consumo excessivo provoca o
dos pontos levantados por Bonsiepe (2011).
crescimento do volume de lixo que é
Essa visão é denominada design social e
depositado nos aterros e lixões das cidades
dever ser benéfico e economicamente viável.
contribuindo para a degradação dos recursos
O pensamento ecológico também nos leva a naturais renováveis e não renováveis da
questão de sustentabilidade urbana, a qual a natureza.
reciclagem faz parte e é primordial. A
A reciclagem vem se configurando como uma
reciclagem tornou-se uma solução cada vez
alternativa para a diminuição desses impactos
mais utilizada para manutenção do meio
causados pelo lixo, através desse processo é
ambiente, sendo economicamente viável. Ela
possível fazer a conversão do lixo para que
surge também como uma solução
ele seja reintegrado ao ciclo produtivo e ao
socioeconômica, uma vez que muitas
meio ambiente, e dessa forma é utilizado
pessoas que estão desempregadas
também como uma estratégia de lucro através
encontram nesse setor uma forma de obter
das cooperativas. Dessa forma as
uma renda para sustentar a família, bem como
cooperativas de catadores vêm se
ter uma forma digna de trabalho. O lixo que

Tópicos em Administração - Volume 8


83

expandindo rapidamente nas grandes sociedade e não conseguem ter acesso a


cidades e tornando-se um negócio rentável e oportunidades no mercado de trabalho,
que tem uma grande importância social, sendo devido à falta de escolaridade e pobreza.
cada vez mais reconhecidas. Em geral as
Segundo Fraga (2012), muitos homens e
cooperativas trabalham com um sistema de
mulheres, excluídos de formas “reconhecidas
base na economia social, em que os meios de
de trabalho”, encontram na atividade de
produção e a renda gerada no processo de
coletar e vender resíduos a forma de terem a
reciclagem são distribuídos entre os
identidade de trabalhadores recuperada. É a
catadores.
partir das sobras, do resto, que eles voltam a
As cooperativas de catadores atuam como prover financeiramente a si mesmos e as suas
ponte de negociação e venda do material que famílias. O catador vai contra a lógica
é recolhido nas residências para indústrias e predominante na sociedade, de que o que é
consumidores do material selecionado. descartado, aquilo que é rejeitado e tem que
Através dessa negociação é possível obter ser jogado fora, para ele representa algo que
um preço mais justo e permite que grandes ainda pode ser aproveitado, seu meio de vida.
compradores tenham acesso a este material
Apesar de existir políticas públicas que
de forma mais fácil, o que possibilita a
orienta a importância da realização da coleta
utilização desse material de forma rentável e
seletiva, os catadores são os grandes
agrega a esse produto um valor social. Abreu
responsáveis pelos altos índices de
(2001) afirma que a função das cooperativas
reciclagem no país. Com a realização do seu
exerce uma função social importante à medida
trabalho eles fazem um serviço de utilidade
que proporciona a estruturação do trabalho
pública, a partir do momento em que é feita a
dos catadores e ajuda na inserção dos
coleta, separação e venda desses materiais,
mesmos na sociedade como profissionais e
diminuindo a quantidade de materiais, que se
cidadãos ajudando a resolver o problema do
fossem descartados, ocupariam os espaços
desemprego e da miséria nas cidades.
de aterros e lixões o que acarretaria no
Esses tipos de organizações têm como aumento significativo dos resíduos nos
objetivo a realização da coleta racional do espaços de descarte de lixo.
lixo, gerando renda para a população de
comunidades carentes, e cumpre um papel
fundamental expandindo as práticas 2.3 METODOLOGIAS PESQUISADAS
solidarias e ecológicas na sociedade.
Conforme já citado, foram utilizadas
ferramenta do design thinking para o
desenvolvimento do projeto. Na primeira fase,
2.2 COOPERATIVAS E O DESEMPENHO DE
de imersão, foi feita coleta de dados,
SEUS TRABALHADORES
entrevistas com os stakeholders da XXX, e
O segmento social dos catadores de material com as catadoras a fim de tomar
reciclável está inserido no cenário urbano há conhecimento de como é o trabalho, o que
muitos anos, seja ela desenvolvida em sentem, o que pensam e o que querem. Uma
pequenas ou grandes cidades. Dados do ferramenta importante para todo o processo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do projeto foi a cocriação, incorporando os
(IPEA) existem no Brasil entre 400 mil e 600 usuários, no caso as catadoras, como
mil catadores de materiais recicláveis. Esses participantes ativos na solução que foi
trabalhadores são submetidos as condições proposta. As autoras realizaram o trabalho de
precárias, correndo risco de contaminação, separação de lixo junto com as catadoras,
transmissão de doenças, e muitas vezes não onde foi possível observar e executar o
tem acesso aos direitos trabalhistas, devido a trabalho realizado diariamente. A partir desse
informalidade que ainda predomina nesse tipo trabalho conjunto foi estabelecido o laço de
de atividade e mesmo desenvolvendo um empatia com as catadoras facilitando um
trabalho benéfico para a sociedade, esses conhecimento mais profundo da atividade,
homens e mulheres sofrem preconceitos por buscando saber quais eram as reais
estar lidando com algo que para a sociedade necessidades delas no trabalho, fazendo uma
é considerado apenas lixo. Nesse contexto os série de questionamentos, o que foi essencial
trabalhadores ao mesmo tempo em que são para o desenvolvimento do projeto. É
responsáveis por transformar o lixo em necessário mudar a perspectiva de “projetar
materiais que são de grande valor para as para”, tornando-a “projetar com”. A transição
indústrias, são também marginalizados pela de produtos para serviços reforçou a

Tópicos em Administração - Volume 8


84

necessidade de ver o design “como um indivíduo e o equipamento que ele utiliza para
serviço”, implicando modelos de ação realizar seu trabalho, como também o
colaborativos, contínuos e abertos, que ambiente que o trabalhador se encontra. Na
incluam o usuário (KRUKEN, 2009). cooperativa foi abordado o enfoque do posto
de trabalho ergonômico. Para Iida (2005), o
Em sequência, foram feitas as análises
enfoque ergonômico tende a gerar resultados
ergonômicas da tarefa, por meio de
que possam ser aplicados no design de
observação, questionamentos e registros
postos de trabalho que reduzam as
visuais como fotos e vídeos. A segunda fase,
exigências biomecânicas, elevam as
a de criação, foi utilizada ferramentas como o
condições de trabalho e facilitam a percepção
brainstorming para geração de ideias a partir
de informações.
dos requisitos e parâmetros estabelecidos,
pelas autoras. E o grupo de foco, onde foi O setor escolhido como foco foi o da triagem
discutido a gerações de ideias com as composto por uma equipe de seis mulheres,
catadoras para chegar ao resultado final. cuja separação dos materiais é realizada
totalmente de forma manual. As catadoras
Por fim, a fase de prototipação, foram
ficam distribuídas em duplas em torno das
produzidos modelos rústicos dos artefatos e
bags que ficam na altura média da cintura da
feito os testes ergonômicos com o menor e
maior usuária, o tempo de triagem de cada
maior usuário. A prototipação digital deu-se
bag leva entre 20 a 30 minutos. As atividades
por meio de softwares 3d e a fabricação do
realizadas no setor de triagem, para efeito de
protótipo real de uns dos artefatos, o carrinho
estudos ficou dividas entre:
plataforma para transporte.
Abastecimento: realizado por um cooperado,
ou na falta dele pela própria cooperada do
2.4 UMA EXPERIÊNCIA NA COOPERATIVA: setor de triagem, que tem como função
DESCRIÇÃO DO PROCESSO E posicionar a bag no local definido para
DIAGNÓSTICOS triagem. Para isso o procedimento é arrastar o
bag que está próximo ou dentro dos galpões,
Pode-se dizer que o posto de trabalho é a
e que tem o lixo que foi coletado na rua. Após
junção do sistema homem-máquina-
o procedimento a bag é aberta e inicia a
ambiente. É uma unidade que envolve o
separação do material com as mãos.

Figura 1 – Esquema da organização de abastecimento. Elaborado pelos autores, com base na


pesquisa realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras

Triagem: Nessa etapa os materiais começam arruma-las. Quando estes ficam cheios, são
a ser selecionados e separados de acordo arrastados até o local de armazenamento
com seu tipo: plástico, papel, metal, orgânico. aguardando serem prensados. Durante as
Esses materiais são em seguida observações foi constatado que cada dupla
acondicionados dentro de bags definidas de cooperadas define um modo operacional
pelas cooperadas por tipo de material. Durante diferente para dá conta da demanda de
esse processo foi possível observar que a triagem, que é de 16 bags durante o dia de
cooperada precisa parar a seleção dos trabalho.
materiais e se locomover até as bags para

Tópicos em Administração - Volume 8


85

Figura 2 – Esquema da organização da triagem. Elaborado pelos autores, com base na pesquisa
realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras

Para facilitar à colocação de produtos mais A cooperativa não possui registros de


finos ou vidros que são matérias que não acidentes, ou qualquer atendimento médico.
podem ser lançados até as bags, as Foi possível sentir também mau cheiro no
cooperadas têm próximo a elas, caixas e local da triagem e a presença de insetos.
baldes para que não ocorra acidentes, isso Apesar de fornecido pela cooperativa os
poderia ser evitado segundo as próprias materiais de EPI (Equipamento de proteção
cooperadas se a esteira que foi recebida individual), os mesmos não são utilizados,
como doação tivesse sido implantada. No fim quando questionadas sobre o não uso do
do dia todas as bags triadas são equipamento, foi afirmado que as luvas não
transportadas até o galpão de protegem contra cortes, dificulta a separação
armazenamento que devido à falta de de materiais e é muito quente.
planejamento, fica distante do local de
Um ponto que gera bastante dificuldade no
triagem observado.
processo de triagem é o espaço inadequado
É de responsabilidade também da cooperada entre a bags com os resíduos misturados e as
que ocupa este posto retirar os resíduos que bags com materiais já separados, o que
sobram nesse caso o lixo orgânico e material dificulta a circulação, bem como o manuseio
não reciclável. Para isso é utilizado qualquer dos materiais e a limpeza do local,
tipo de ferramenta útil encontrada durante a restringindo o movimento das cooperadas.
triagem ou vassouras; esse lixo é colocado Outro problema encontrado diz respeito ao
em bags especificas e posteriormente espaço físico, são as alturas das bags que
colocadas para o descarte. obrigam a cooperada a realizar movimentos
repetitivos e extremos de ombro e coluna.
Durante as observações e a realização da
Com as observações do local de trabalho do
imersão, foi verificado que a cooperativa não
setor de triagem da cooperativa foi possível
possui tarefas formalmente prescritas, bem
fazer um registro visual da categorização dos
como os ensinamentos sobre tarefas são
problemas ergonômicos.
passadas pelos colegas aos membros recém-
chegados sem nenhum procedimento formal Foram encontrados problemas interfaciais
e que muitas vezes são ensinamentos que posturais, problemas de coluna; operacional,
foram passados oralmente, como foi relatado movimento repetitivo; segurança do trabalho,
por uma catadora. Foi observado também e referente aos equipamentos de segurança,
confirmado verbalmente pelas cooperadas como luvas e botas; espacionação, local de
que os mais novatos têm dúvidas quanto à difícil circulação; integração há uma idosa
classificação do material, o que leva a entre as catadoras; acional, lesões por
demora, a erros ou descarte de possíveis repetições do movimento; informacional,
materiais recicláveis. deficiência na identificação das bags;
problemas instrumentais, problemas com
mobiliário para sentar.

Tópicos em Administração - Volume 8


86

Figura 3 – Registro visual e problemas ergonômicos. Elaborado pelos autores, com base na
pesquisa realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras


3 CONCLUSÃO Cesta suporte: A ideia é que a cesta seja
utilizada para apoia as alças das bags e
3.1 RESULTADOS: PROPOSTAS PARA OS
mantê- las em pé. A cesta suporte foi escolha,
PROBLEMAS ENCONTRADOS
por ocupar um espaço menor, além de ser
Após a coleta de dados e todo o processo de empilhável contribuindo para organização do
imersão na realidade da cooperativa, foi espaço. A sinalização do material será feita
possível fazer a elaboração de um projeto que pela cor da cesta e a placa que ficará acima
levassem em conta a atividade da cesta, contendo o nome e pictogramas do
desempenhada pelas cooperadas, buscando material. A sinalização também contribuirá
uma melhor condição de trabalho e que para a nova organização do trabalho. O
fossem passiveis de implantação e baixo material sugerido é o alumínio pela leveza e
custo. Para isso o projeto desenvolvido foi facilidade de limpeza.
definido nos seguintes requisitos:
Carrinho plataforma para transporte: Esse
Evitar o movimento de abaixar e levantar carrinho tem a função de carregar as bags
(interfaces posturais); triadas até o estoque. O material sugerido é o
aço galvanizado pela resistência e custos. O
Viabilidade econômica (gerencial);
carrinho ainda tem uma placa que será usada
Auxílio para carregar peso (movimentacional) para facilitar a subida e descida das bags.
Dessa forma foi posposto três tipos de Foi realizado o teste com os modelos rústicos
artefatos que para compor o posto de desenvolvidos para que fosse possível
trabalho, seguindo os requisitos citados realizar o teste com menor e maior usuária,
anteriormente. visto o setor de triagem ser composto só por
mulheres, identificando se a medidas estavam
Carrinho elevador: vai comportar a bag
adequadas e fazer os ajustes para o modelo
misturada, o mecanismo é simples, as
final. O teste com as usuárias deu-se da
catadoras só precisarão abaixar uma ou duas
seguinte forma. Foram escolhidos os
vezes para elevar a plataforma quando a bag
percentis 5% e 95% das mulheres; A menor
estiver diminuindo o seu nível de material,
usuária tem 1,55 cm e a maior tem 1,73 cm;
amenizando os problemas posturais. O
foram tiradas fotos nas posições necessárias
material sugerido ferro e aço pelo fator
para realização do trabalho.
resistência.

Tópicos em Administração - Volume 8


87

Figura 4 – Registro visual do teste com os modelos rústicos com a menor e maior usuária. Elaborado
pelos autores, com base na pesquisa realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras

Para os modelos finais foram desenvolvidos catadoras do setor triagem que contribuíram
rederes no software 3ds Max, e fabricado o para o estudo e a pesquisa.
carrinho plataforma para ser entregue a

Figura 5 – Carrinho elevador; cestas suportes; carrinho plataforma para transporte. Elaborado pelos
autores, com base na pesquisa realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras

Figura 6 – Protótipo real do carrinho plataforma para transporte e entrega para as catadoras.
Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.

Fonte: Elaborada pelas autoras

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Outras são possíveis também se tiver a


colaboração de empresas, pessoas da
As constatações obtidas durante a análise
própria comunidade visto que a cooperativa
ergonômica do setor da triagem da
não possui recursos suficientes para
cooperativa XXX proporcionou um
implementá-las. É importante ressaltar que
levantamento de vários problemas, bem como
apesar de terem sido detectados riscos e
várias soluções para resolver os mesmos, e
problemas organizacionais que podem ser
que levassem em conta as atividades
melhorados, o fator que determina a
desenvolvidas pelas catadoras, buscando
permanência dessas pessoas é o financeiro.
melhores condições de trabalho. Algumas
dessas soluções são passíveis de serem Diante disso as soluções propostas no
implementadas a baixo custo, o que requer seguinte estudo visam uma melhoria no
interesse dos envolvidos na cooperativa. desempenho das catadoras, o que impactaria

Tópicos em Administração - Volume 8


88

diretamente nos ganhos mensais. Isso é uma alternativa importante para o descarte dos
demanda citadas pelas próprias catadoras, resíduos, a reciclagem é um processo que
que querem através desse trabalho ganhar o depende da sociedade como um todo, desde
mesmo valor, ou mais do que quando o consumo do produto ao descarte adequado
estavam no aterro sanitário da cidade. por parte das cooperativas. É preciso dar
visibilidade ao trabalho feito pelos catadores
Além disso, o projeto proporciona expandir a
de materiais recicláveis, pois eles são agentes
perspectiva do design sobre a periferia e a
ativos nas cidades proporcionando o
relação produto-ambiente-sociedade. Todo
equilíbrio ambiental, contudo, trabalham em
design tem impacto social, ecológico e
condições problemáticas e desumanas,
ambiental, assim, como a atitude de cada
muitas vezes. Portanto, é necessário existir o
cidadão. A questão ecológica deve ser tratada
design feito para a sociedade e com a
como assunto de base social, bem como a
sociedade, assim a capacidade de ser um
noção de comunidade, compartilhamento e
agente de transformação social vai além da
altruísmo. As cooperativas de catadores de
profissão, é uma questão de cidadania.
lixo reciclável se apresentam como uma

REFERÊNCIAS
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João Pedro Stein. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998.

Tópicos em Administração - Volume 8


89

Capítulo 8

Douglas Ferreira Carvalho da Costa


Edilaine Gonçalves Araújo
Kéllen Bárbara Nascimento Furtado
Thales Lagares Sudré Rosado
Camila Gonçalves Castro

Resumo: Doenças relacionadas ao exercício do trabalho do ordenhador


representam uma grande preocupação para os profissionais da área de segurança
e saúde do trabalho. O desenvolvimento de Distúrbios Osteomusculares tem
grande ligação com posturas inadequadas, trabalho físico pesado, flexão de
tronco, cabeça abaixada por muito tempo, entre outros fatores. Este artigo tem
como objetivo realizar uma Analise Ergonômica através de um estudo de caso em
uma propriedade de um micropecuarista na cidade de Itaverava- MG, a fim de
avaliar as posturas adotadas pelo produtor rural no exercício da ordenha e também
analisar o levantamento de cargas devido ao transporte de leite. Foi realizada uma
pesquisa de campo quantitativa e qualitativa, além de entrevistas e levantamentos
fotográficos. Através dos dados foi utilizado metodologias de AET, sendo o método
OWAS para análise de postura e o método NIOSH para análise de carga. Os
resultados demonstraram que o trabalhador excede o limite de carga admissível e
sua postura durante o trabalho é totalmente prejudicial. Portanto medidas como
tamanho do banco, carrinho de apoio para o transporte da carga são sugestões de
melhorias que podem ser rapidamente implantadas.

Palavras-chave: Ergonomia; Segurança e Saúde; NIOSH; OWAS

Tópicos em Administração - Volume 8


90

1 INTRODUÇÃO 2. ANÁLISE DA DEMANDA


De acordo com Ulbricht (2003), as atividades Durante a execução de atividades pelos
agrícolas possuem grande risco ocupacional, trabalhadores rurais, são frequentes as
sendo esta agravada por corresponder a queixas por dores musculoesqueléticas,
grande parte da mão-de-obra em países especialmente em atividades de ordenha. Em
subdesenvolvidos e em desenvolvimento. pequenas propriedades, os quadros de dores
Além disso, é recorrente o uso de pessoas são frequentes, uma vez que o trabalho é feito
com faixa etária inferior a 16 anos e superior a manualmente. No estudo de caso, identificou-
60 anos, fato não recomendado pela NR17 - se histórico, nos últimos cinco anos, de
Norma Regulamentadora 17 (ULBRICHT, afastamento do único responsável pela
2003). prática de ordenha, principalmente por
problemas lombares, além de registro de
A análise ergonômica dos postos de trabalho
dores nos punhos e nas mãos. Com isso,
destina-se na identificação de situações
percebe-se impactos na produtividade.
inadequadas de trabalho, causas de
desequilíbrio corporal dos trabalhadores A atividade é executada diariamente, em
rurais e fatores de risco ocupacional. todos os dias da semana, por três horas
Identifica-se como um dos maiores problemas ininterruptas. Adicionalmente, existem
da prática o desenvolvimento de Distúrbios inadequações do posto de trabalho, que
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho resultam em posturas incorretas e não
(DORT). Popija e Ulbricht (2005) destacam adaptadas a equipamentos e,
que os DORT podem incapacitar os consequentemente, sobrecargas
trabalhadores, em caráter intermitente ou musculoesqueléticas.
permanente.
Trata-se de um agravante, uma vez que a
Frente a essa realidade, IIDA (2005) propõe a produção familiar depende diretamente do
realização da Análise Ergonômica do produtor rural. A atividade da ordenha é
Trabalho (AET), destinando-se à identificação realizada, em totalidade, por um único
de situações inadequadas de trabalho, trabalhador, responsável pela preparação do
causas de desequilíbrio corporal dos animal, retirada do leite e armazenamento em
trabalhadores rurais e fatores de risco recipiente, sendo essa sequência de
ocupacional; contribuindo na redução dos processos o foco do estudo em questão.
índices de doenças ocupacionais. Trata-se de
Para a prática, constatou-se a partir de
uma intervenção em ambiente de trabalho
entrevista, que as condições de trabalho
que busca a compreensão das condições
devem ser revistas para melhor conforto,
físicas e psicofisiológicas para a realização da
segurança e saúde do trabalhador, além de
atividade produtiva.
proporcionar maior qualidade de vida e
Assim, busca-se analisar a situação de prevenção às doenças ocupacionais.
trabalho através da ergonomia e da legislação Identificou-se, também, que o produtor rural
para que sejam indicadas melhorias e fica exposto à lama, estrume das vacas, sol,
recomendações de postos de trabalho, calor e excesso de peso.Pretende-se, à partir
processo, produto e ambiente de trabalho da análise detalhada das condições de
para prevenção e correção de lesões físicas e trabalho, adaptar as atividades, garantindo
transtornos psicofisiológicos (IIDA, 2005). pausas planejadas, prática de ginástica
laboral, uso de equipamentos e mobiliários
Diante do que foi exposto, realizou-se estudo
adaptados para ordenha e transporte do
de caso em uma propriedade de um
produto para armazenamento.
micropecuarista na cidade de Itaverava- MG.
O produtor rural tem baixo fluxo produtivo, por
ser uma área de produção familiar, e
3. METODOLOGIA
apresenta problemas com afastamento, por
motivos de saúde, do trabalhador devido às A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é
condições de trabalho. Em função de tais constituída de metodologias para análise da
demandas, faz-se necessário o relação homem-trabalho, tornando aplicável
desenvolvimento de uma Análise Ergonômica todo o conjunto de definições em prática de
do Trabalho, abordado neste estudo. estudo e aferição de resultados locais. Para
isso, segundo a Figura 1, analisa-se a
influência das contingências
antropotecnológicas ao conteúdo do trabalho

Tópicos em Administração - Volume 8


91

real, que é modificado pelas condições de e na empresa (SLACK et al, 2009).


trabalho, organização, impacto na população

FIGURA 7 - Fatores avaliados e impactos atestados.

Fonte: Slack et al (2009).

Realiza-se, assim, uma descrição minuciosa São evidenciadas, assim, as características


dos aspectos observados e documentados, laborais - intensidade, ritmo de trabalho e
como forma de identificar as melhorias no carga de trabalho – que podem gerar
ambiente de trabalho como todo. Para isso, disfunções e descompensações.As
considera-se tanto o meio físico quanto as mudanças e melhorias devem ser
características de regulação e organização do implementadas periodicamente, e não
trabalho (SLACK et al, 2009). A AET é tratadas como uma suposição única,
composta de três partes fundamentais: intransferível e não readaptáveis (SLACK et al,
análise da demanda, análise da tarefa e 2009). Busca-se como resultado a melhoria e
análise da atividade. É complementada por conservação de saúde dos trabalhadores,
outros dois métodos de acompanhamento além da concepção e funcionamento
e/ou correção de culturas de trabalho: satisfatório do sistema técnico em termos de
diagnóstico e caderno de encargos e produção e segurança.
recomendações ergonômicas (SANTOS;
FIALHO,1997). Tais etapas encontram-se
sintetizadas e explicitadas no Quadro 1.

Tópicos em Administração - Volume 8


92

QUADRO 1 - As etapas de uma AET.

PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
ETAPAS DE UMA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
EM ERGONOMIA

Formulação da demanda
Análise das referências bibliográficas sobre o homem, em atividade de
Quadro teórico de referência
trabalho.
Questão de pesquisa
Análise ergonômica da demanda: Definição do problema (entrevista
exploratória e problemática de pesquisa)
Análise ergonômica da situação de Análise ergonômica da tarefa: análise das condições de trabalho
trabalho (elaboração do modelo de análise das atividades)
Análise ergonômica das atividades de trabalho: a análise dos
comportamentos do homem no trabalho (observação)
Diagnóstico em ergonomia: a análise e tratamento dos dados (termos
de referência da situação analisada)
Síntese ergonômica da situação de Caderno de Encargos e Recomendações Ergonômicas: as conclusões
trabalho da pesquisa em forma de sugestões para a empresa
Avaliação dos resultados: visita posterior à empresa para verificação
das consequências das medidas realizadas
Fonte: SANTOS e FIALHO(1997, p. 49).

4. ESTUDO DE CASO Mediante isto, diagnosticou-se que não se


adota medidas de segurança do trabalho,
4.1. ANÁLISE DO AMBIENTE E DA
com limitações de cargas em transporte além
POPULAÇÃO TRABALHISTA
de proteção frente ao animal para a retirada
4.1.1. DIMENSÃO ECONÔMICA E do leite, tornando o operador vulnerável à
COMERCIAL reação repentina dele.
O estudo em questão corresponde a Além disso, as atividades são feitas de
produção familiar de leite, com fluxo produtivo maneira ininterrupta, sem pausas
médio de 100 litros por dia. O proprietário não programadas de trabalho nem a prática de
possui pretensão de expansão do negócio, ginástica laboral. Dessa maneira, há a
uma vez que não se comporta mais animais sobrecarga ao trabalhador, especialmente em
em fase de lactação. A produção é destinada função da posição de trabalho, de cócoras,
à Cooperativa Central dos Produtores Rurais que é incômoda. Adicionalmente, o operador
de Minas Gerais (CCPR), responsável por possui uma condição insípida de trabalho,
congregar cooperativas de produtores rurais, estando exposto a lama, estrume de vacas,
no total de 31 cooperativas dos estados de além de se encontrar exposto ao calor e baixa
Minas Gerais e Goiás, tornando-se a atual luminosidade.
detentora de 50% da marca Itambé.
Diante dessa situação, identificam-se
O produtor, mesmo com baixo volume de possibilidades de melhoria ao ambiente de
produção, preza pela qualidade do produto trabalho. Para isso, utiliza-se como base a
para aumento da rentabilidade do negócio. NR17 da Portaria nº 3.214 de 08 de Junho de
Também a CCPR dispõe de uma equipe 1978, da Lei nº 6.514 de 22 de Dezembro de
técnica que realiza orientações aos 1977 do Ministério do Trabalho, as quais as
produtores locais quanto à qualidade do leite. recomendações de melhoria serão
relacionadas posteriormente.

4.1.2. AS LEIS E REGULAMENTAÇÕES


A partir da metodologia de intervenção,
inspeção local, observação da tarefa
diagnosticou-se a condição de trabalho.

Tópicos em Administração - Volume 8


93

4.2. DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO DE região dos cochos, onde as vacas são


TRABALHO ordenhadas, como apresentado pela Figura 7.
Estruturalmente falando, a localização para
4.2.1. DESCRIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE
entrada dos animais e das pessoas não
TRABALHO
favorece o fluxo de trabalho da ordenha, nem
O fluxo de trabalho é realizado dentro de um mesmo de transporte final do produto. Além
layout que possui área descoberta e uma disso, seria necessária a construção de zonas
coberta, que corresponde a maior porção, e a de proteção de ordenha.

FIGURA 8 - Layout do sistema produtivo.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os leites retirados são armazenados em a favor do fluxo de transporte do produto.


tambores, que não possuem organização Ainda sobre o transporte dos tambores de
padrão. O ideal é a formação de estoques em leite, recomenda-se o uso de carrinho de
locais previamente determinados, que sejam tambor, como o mostrado na Figura 8.

FIGURA 8 – Carrinho de tambor.

Fonte: Solucões industriais


Tanto os riscos ergonômicos, como os de Além disso, o local de trabalho possui
acidentes, encontram-se distribuídos nas exposição ao calor, além de má-iluminação –
atividades de ordenha, com posturas não Figura 9.
adequadas, além de estáticas e repetitivas.

Tópicos em Administração - Volume 8


94

FIGURA 9 – Condição de trabalho.

Fonte: Acervo dos autores

4.2.3. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE DE tempo de execução da é de3 horas e 30


TRABALHO OBSERVADA minutos diários, sendo que durante a semana
a atividade do produtor se encerra às 16:00h
Devido ser uma tarefa na área rural com
e durante o domingo a atividade se encerra
práticas rudimentares, não existe um
ás 11:30h. Atualmente o volume de produção
procedimento padrão de trabalho a ser
é de 100L diários.
seguido. Trata-se de uma rotina de trabalho
repassada entre as gerações da família. Na tarefa de ordenhar as vacas
Atualmente, o operador tem experiência de manualmente, buscou-se a realização de uma
trabalho superior a 20 anos, tendo hoje a entrevista com o único operador em trabalho
idade de 52 anos. O regime de trabalho é para o levantamento do procedimento, assim
diário, sem folgas e pausas programadas. O como mostrado nas Figuras 10 e 11.

FIGURA 10 – Prática da ordenha.

Fonte: Acervo dos autores .

Tópicos em Administração - Volume 8


95

FIGURA 11 – Transporte de tambores.

Fonte: Fonte: Acervo dos autores.

Segundo o trabalhador, primeiramente as descritas no processo global da Figura 6,


vacas são colocadas no curral e amarrar as mesmo que não haja uma padronização
patas traseiras das mesmas, para elas não se formal. Percebe-se que os movimentos e
movimentarem ao realizar a ordenha. Logo em posturas predominantes são agachado com
seguida, solta-se o bezerro da vaca, ele se apoio do joelho ao chão, alternando
alimenta até o ponto onde a vaca “desça o movimentos em pé e sentado.
leite”. Assim feito essa etapa, amarra-se o
Além disso, observam-se movimentos
bezerro próximo a mãe. Logo após, é
repetitivos com as mãos, com a cabeça
realizado a limpeza das tetas utilizando água
sempre voltada para baixo para retirar o leite,
e sabão neutro, secando-as e em seguida
representando uma sobrecarga cervical e
começar a ordenha, utilizando um balde de
lombar. Há o agravante de que as atividades
10L como reservatório de armazenamento.
de carregamento e transporte manualmente,
Sempre que o balde encher, despeja-se o
além de trabalhar ininterruptamente. O
leite em uma lata de 50L.
banquinho, onde o trabalhador se senta para
Feito isso com as 20 vacas disponíveis da a ordenha, possui 30 cm de altura, com
propriedade, as latas são levadas até um assento de 25 cm por 25 cm, conforme.
cavalo, devidamente preparado para recebê-
O corpo humano não está preparado para
las. As latas são amarradas ao “arreio” do
permanecer sentado longos períodos de
cavalo, uma de cada lado, e o produtor rural
tempo (SCHANTZ, 1992). Sentar é uma
monta no cavalo e ir até o local onde a
postura que provoca estiramento dos
cooperativa define para a coleta do leite.
músculos e ligamentos da coluna vertebral,
Chegando ao ponto, o produtor rural que provocam diminuição da atividade
desamarra as latas do cavalo, as coloca no muscular e diminuição da circulação
chão e espera o caminhão passar. Ao chegar sanguínea. As pressões intradiscais
no local do caminhão, o leite é despejado nas aumentam, se existirem maus hábitos
latas transportadas pelo produtor rural nas posturais.
latas utilizadas para armazenamento no
Segundo Schantz (1992), o assento deve
caminhão da cooperativa e o produtor volta a
acomodar os quadris e nádegas sem ficar
sua residência para realizar as demais
muito aquecido ou curvo, sendo igualmente
obrigações do dia.
ajustável, inclinando-se ligeiramente. A altura
Percebe-se que, para a realização da tarefa de cadeira deve ser adequadamente ajustada
de ordenhar as vacas manualmente e de acordo com sua tarefa e para acomodar a
transportar o leite para a cooperativa, o altura do usuário. Todos os ajustes mecânicos
operador busca executar as atividades

Tópicos em Administração - Volume 8


96

devem ser efetuados sem que haja a que a posição exigida para execução da
necessidade de sair da cadeira. tarefa é agachado ou abaixado.
Para Rempel (1996), também é importante Sucintamente, há três riscos de
observar que a altura da cadeira deve ser tal desenvolvimento de doenças músculo
que seus pés fiquem firmemente no chão. esqueléticas, repetitividade, uso da força e
Além disso, deve-se manter corpo numa posturas inadequadas. Quanto à adoção de
posição vertical relaxada, com encosto do posturas inadequadas, identifica-se a flexão
banco para apoioda curva da coluna lombar. de tronco, além de elevado esforço estático e
O ângulo entre coxas e costas deve ser de 90 impactos na lombar e nos membros inferiores.
graus ou mais. Percebe-se, portanto, que o Sobre isso, pode-se fazer uma análise
banco disponível para trabalho não atende postural qualitativa pelo Owas, mostrado no
quaisquer aspectos ergonômicos, uma vez Quadro 2.

QUADRO 2 - Risco Músculo Esquelético segundo o Owas para ordenha manual.


Categoria de Risco Músculo Esquelético segundo o OWAS por região para a ordenha manual
Costas (Coluna Vertebral) Membros Inferiores
Categoria 2 - grande parte do tempo curvado, com dor multifocal Grande parte do tempo sentado em um banquinho
Categoria 2 - parte do tempo de cócoras
Fonte: Elaborado pelos autores.
Em relação à carga transportada pelo levantamento manual de cargas. Assim temos
trabalhador, que é a maior causa de a equação de NIOSH:
disfunções músculo esqueléticas, pode-se
LPR = 23 x [25/H] x [1-(0.003|V-75|)] x [0,82 +
utilizar o método de NIOSH, para calcular a o
(4,5/D)] x [1 – (0.0032 A)] x F x C

QUADRO 3 – Variáveis para o calculo do peso limite recomendado.


Multiplicadores
H 60 cm
V 80 cm
D 2000 cm
A 30° = 0.90
F 0.2 levan/min = 0,85
C Boa pega = 1
Fonte: Elaborado pelos autores.

Aplicando a fórmula temos: A tarefa exige 3 horas e meia diárias de


trabalho contínuo e repetitivo, feita de
LPR = 23 x [25/60] x [1-(0,003|80-75|)] x [0,82
Segunda à Segunda, sem tempo de descanso
+ (4,5/2000)] x [1 – (0,0032x0.90)] x 0.85 x 1
semanal. A tarefa exige carregamento manual
LPR =23 x 0,42x 0,985x 0,822x 0,9971x 0,85x de peso da lata e do balde, que poderia
1 dispor de carrinho de transporte do balde de
50L para evitar a sobrecarga ortomuscular.
LPR=6,63 kg
Ou seja, quanto ao risco de acidentes, o
O cálculo mostrado indica que nessas mesmo é iminente em todas as funções
condições o ordenhador pode levantar 6,63 exercidas pelos ordenhadores.
kg sem sofrer danos músculo-esqueléticos,
A limpeza do local de ordenha e confinamento
porém na análise realizada durante a
dos animais gera poeiras orgânicas vidas do
atividade percebeu que o trabalhador excede
pêlo e de dejetos dos animais.
o limite de carga admissível.
Adicionalmente, existem riscos biológicos,

Tópicos em Administração - Volume 8


97

uma vez que com o contato com os animais permanência de postura estática, flexão de
tem a possibilidade de incorrer em zoonoses. tronco, execução da tarefa com apoio de
O contato direto com o gado e com a terra joelho ao chão e atividades repetitivas.
pode proporcionar contaminação pelo bacilo
Nessa situação, é recomendada a realização
do tétano e da leptospirose.
da ordenha mecanizada – Figura 13. Trata-se
de um investimento a longo prazo, ideal para
4.3. SUGESTÕES DE MELHORIA a solução dos problemas posturais, e que
facilitariam o processo de enchimento dos
A partir do diagnóstico ergonômico, constata-
tambores, para posterior transporte. Para isso,
se que no local o banco de trabalho é
é importante a adaptação o local, com a
inadequado, uma vez que reproduz
construção de rampas para o deslocamento
problemas ortomusculares, com aumento de
dos animais que serão ordenhados. Dessa
pressão nos membros inferiores, frequência
maneira, diminui-se a sobrecarga de trabalho
de postura curvada, cabeça abaixada,
ao único trabalhador da propriedade.

FIGURA 13 – Implementação de ordenha mecanizada.

Fonte: logismarket

A ausência de iluminação no local, que pode hora de trabalho realizado, conforme é


atrapalhar a percepção visual do trabalhador, previsto em lei. É importante que se priorize a
pode ser resolvida com a inclusão de rotatividade do funcionário em diferentes
iluminação artificial no local de trabalho, com funções durante o dia de trabalho, de modo
lâmpadas potentes. Para o problema de calor, que tal requisito seja respeitado e se minimize
recomenda-se a adaptação de sistema de os impactos do esforço solicitado.
ventilação. A relação do layout com o
É sugerível a prática do funcionário de
processo produtivo não está aceitável, uma
ginástica laboral, Figura 14, a fim de que se
vez que não favorece o fluxo de trabalho,
promova o relaxamento de membros
requisitando adaptações e mudanças dos
solicitados e os funcionários recomponham
locais de entrada. Além disso, é importante
sua integridade física. Em complemento, faz-
implementar um procedimento de estocagem
se necessária a inserção de equipamentos de
de produtos, bem como da execução do
reforço a musculatura e relaxamento,
trabalha de ordenha.
importantes para que sejam evitados
Constatou-se também a inexistência de problemas advindos de esforços repetitivos.
pausas intercaladas, 10 minutos a cada uma

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FIGURA 14 – Ginástcia laboral.

Fonte: qualifis-ginástica laboral

Quanto aos riscos ambientais, sugere-se o Também há o projeto Gestão Eficiente de


uso de máscara de respiração, de modo que Propriedades Leiteiras (GEPLeite), que
o produtor não esteja exposto a zoonoses, objetiva a implementação de controle das
nem mesmo poeiras orgânicas. propriedades a partir do desenvolvimento de
indicadores que embasam as decisões.
Finalmente, as tarefas devem ser realizadas
conforme um planejamento definido. Para
isso, é importante a organização do trabalho,
5. CONCLUSÃO
além da documentação de procedimentos e
identificação de pontos de melhorias das Após as correções no posto de trabalho, as
atividades executadas, periodicamente. condições de trabalho analisadas seguem as
Requisita-se, portanto, a conscientização do orientações descritas na NR-17, deixando um
produtor rural quanto à qualidade alcançada ambiente melhor para se trabalhar. A partir do
mediante tais alterações, justificando-se o momento que se infere sobre melhorias de
investimento. equipamentos e mobiliários, bem como as
condições ambientais - temperatura,
Quanto a isso, enquanto membro da
umidade, ruídos, iluminação, ventilação -,
Cooperativa Central dos Produtores Rurais de
cognitivas e organizacionais, pode-se reduzir
Minas Gerais (CCPR), existem vários
esforços, a fadiga e riscos de acidentes.
programas que poderiam ser plenamente
Identifica-se também aumento de motivação
desenvolvidos e adaptados pela propriedade.
do trabalhador, tornando-se capaz de
Como exemplo, há o projeto Educampo, que
explorar melhor as capacidades e vocações
disponibiliza capacitação gerencial e
do indivíduo, diminuindo perdas e
tecnológica para gestão da propriedade e
aumentando a produtividade.
priorização de investimentos (CCPR, 2017).

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Tópicos em Administração - Volume 8


100

Capítulo 9

Sérgio Luiz Sousa Nazário


Carlos Augusto Sousa Nazario

Resumo: O controle das grandezas físicas ambientais no ambiente de trabalho é


muito importante para proporcionar condições adequadas de trabalho, bem como
detectar condições que possam gerar riscos de acidentes, quase riscos,
problemas de saúde. Por exemplo, controlando a variação dos níveis de ruídos
pode-se verificar possíveis alterações no limiar de audição dos trabalhadores,
podendo-se desta forma propor medidas que possam minimizar e ou eliminar os
riscos com ruídos. Este trabalho apresenta um estudo sobre a os riscos ambientais
físicos em uma indústria de reciclagem de plásticos em Cacoal, Rondônia região
Amazônica. Utilizou-se equipamentos de medição de grandezas físicas como,
termômetro de bulbo, decibelimetro, e luxímetro para obter os dados de exposição
ao calor, a ruídos e a luminosidade do ambiente para avaliar as condições de
segurança de trabalho da indústria de reciclagem. De acordo com a avaliação
realizada foram sugeridas ações para melhoria das condições físicas ambientais da
indústria visando garantir condições favoráveis para segurança e bem estar dos
colaboradores. Através das medições realizadas observou-se que a indústria em
questão possui condições físicas ambientais fora dos padrões determinados pelos
Ministério do Trabalho e Emprego.

Palavras-chave: Segurança do trabalho. Ruídos. Exposição ao calor, Luminosidade.

Tópicos em Administração - Volume 8


101

1 INTRODUÇÃO calor e ruídos excessivos e iluminação


ineficiente são agentes que causam
As constantes transformações do mercado,
desconforto e tensão no trabalho. Fatos que
impulsionadas pelo avanço do consumo e a
contribuem para o aumento no risco de
necessidade de utilização de produtos de
acidentes que podem causar danos
qualidade com menor preço, possibilitaram o
consideráveis à saúde.
surgimento de novos empreendimentos para
obtenção e comercialização de produtos de A temperatura é uma das grandezas físicas
origem reciclável. Nesse contexto que nasce mais importantes quando se trata de conforto
as indústrias que utilizam materiais plásticos ambiental. Desta forma, deve se tomar
já utilizados ou descartáveis como matéria cuidado quando necessário mensurar a
prima para fabricação de produtos novos temperatura adequada para o ambiente de
obtidos através do processo de reciclagem. trabalho. Sendo que há temperaturas que
oferecem sensação de conforto, enquanto
A indústria reciclagem de plástico é
outras promovem sensações desagradáveis e
idealizada a partir do principio de
até prejudiciais à saúde.
reaproveitamento de material descartado,
após sua primeira utilização. Dentro desse Um agente físico típico presente no meio
contexto, destaca-se operações relacionadas industrial é o ruído, que na maioria dos casos
ao transporte, triagem, remoção de rótulos, é gerado pelas próprias maquinas e
picagem, lavagens e reprocessamento do equipamentos característicos de cada
material recolhido para fabricação de novos processo produtivo. O ruído é uma variável
produtos. que de acordo com sua intensidade, duração
e frequência podem impactar diretamente de
Os empreendimentos de reciclagem no Brasil
forma negativa na saúde dos colaboradores.
vêm crescendo nos últimos anos, em 2012,
Atuando diretamente no comportamento dos
foram contabilizadas 762 indústrias, sendo
trabalhadores podendo causar problemas de
que em 2003 eram 492, ocorrendo um
atenção, memoria, provocando redução e
crescimento de 35,43% no período de 9
perdas auditivas (Oliva, 2011).
anos. Essas empresas vêm gerando 18.771
empregos diretos, processando 1.086.658 A iluminação adequada dos ambientes é
milhões de toneladas no ano de 2012 e outro parâmetro essencial para que os
gerando um faturamento bruto de 2.496.117 trabalhadores possam desempenhar suas
R$ milhões de reais. A tendência no ramo é funções de forma efetiva e com o mínimo
de crescimento, já que, a matéria prima tem esforço possível. Contudo, uma iluminação
baixo custo, a produção anual de lixo é insuficiente pode acarretar em desconforto
crescente e as leis de incentivo a coleta visual gerando quadros de cansaço e dores
seletiva e a logística reversa vem sendo nos olhos, além de, irritabilidade e
implementadas e cobradas em âmbito vermelhidão. Muitas vezes o desconforto
nacional. Desta forma o números de visual pode ainda promover situações de
empresas e colaboradores devem aumentar posturas e movimentação inadequada. No
(Figueiredo, Deorsola, 2011). entanto, uma iluminação excessiva, também
pode ser prejudicial à saúde do colaborador,
O meio industrial pode se destacar como uma
sendo agente causador de reflexos e
atividade que encontra-se em processo
ofuscamento quando a frente monitores.
continuo de atualização, tanto no que se diz
Sendo assim, em ambas situações pode-se
respeito ao layout de fabricas, processos
visualizar a queda no rendimento dos
produtivos e automação de maquinas e
trabalhadores (Minette, 2007).
equipamentos. No entanto, não verifica-se o
mesmo ritmo de desenvolvimento quando se Desta forma observando todas as anomalias
trata de condições de saúde e segurança do de ordem física e psicológica que o trabalho
trabalhador. Além disso, em muitos casos, em indústrias de reciclagem de plástico
observa-se condições desfavoráveis no que podem gerar, é de grande valia o estudo dos
diz respeito aos aspectos físicos do ambiente parâmetros em questão como forma de
de trabalho, que são atributos que podem planejamento de ações que reduzam os
impactar diretamente a saúde do trabalhador, problemas de saúde e segurança do
diminuindo sua produtividade e podendo trabalhador.
causar acidentes de trabalho.
O presente estudo teve como objetivo realizar
Segundo Rumin (2008), as condições uma análise dos fatores ambientais em uma
ambientais em situações desfavoráveis, como industrial de reciclagem de plástico em

Tópicos em Administração - Volume 8


102

Cacoal-Rondônia, visando uma melhoria nos Quando um ser humano é submetido a uma
aspectos relacionados à saúde, conforto, sobrecarga térmica ocorre um stress térmico
bem-estar e produtividade dos trabalhadores. que promove reações fisiológicas internas
que desencadeiam respostas de controle
como: sudorese, aumento de pulsação e da
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS temperatura interna do corpo, desiquilíbrio na
quantidade de água e sais (Barsano, 2013).
Para a análise e estudo dos parâmetros
físicos ambientais utilizados nesse trabalho é De acordo a NR15, as exposição ao calor, ou
necessário apresentar fundamentos de seja, as altas temperaturas podem provocar
temperatura, calor, ruídos e luminosidade. As inúmeros problemas a saúde, como:
normas brasileiras de segurança e saúde no desidratação, erupção da pele, câimbras,
Trabalho relacionadas com os temas em fadiga física, distúrbios psiconeuróticos,
questão são utilizadas para determinação das insolação etc. Sendo que, os sintomas
condições de trabalho dos colaboradores da característicos para esse problemas são:
indústria estudada. fadiga crescente, fraqueza, ansiedade e a
sudorese abundante (Barsano, 2013).
Segundo a NR15, para quantificar a
2.1. TEMPERATURA E CALOR
sobrecarga térmica que um determinado
A temperatura é uma das grandezas físicas trabalhador é submetido deve-se utilizar o
fundamentais mais importantes. Essa índice de bulbo úmido e termômetro de globo
grandeza é associada ao quão quente ou frio (IBUTG). Esse método é baseado na
esta um corpo quando é tocado. A combinação da leitura fornecida pelos
temperatura também pode ser associada ao termômetro de globo, bulbo úmido e seco.
equilíbrio térmico com outros corpos, ou seja, Sendo relacionado posteriormente a carga
quando estão na mesma temperatura térmica ambiental com a carga metabólica do
(Halliday, 2009). tipo de atividade exercida pelo trabalhador. O
índice IBUTG é definido pelas equações 01 e
O calor é definido como a energia transferida
02, para ambientes internos ou externos sem
de um sistema para um determinado
carga solar e ambientes externo com carga
ambiente ou vice e versa, devido a uma
solar respectivamente.
diferença de temperatura entre os mesmos.
Quando um processo de aquecimento é
aplicado sobre um determinado corpo,
𝐼𝐵𝑈𝑇𝐺 = 0,7 ∗ 𝑡𝑏𝑛 + 0,3 ∗ 𝑡𝑔 [1]
verifica-se que ocorre uma transferência de
energia, sendo o processo proveniente de v = f. λ [2]
uma temperatura mais alta. (Halliday, 2009).
A Sobrecarga térmica segundo a NR15 é uma
Sendo, tbn igual a temperatura de bulbo
importante variável utilizada para determinar
úmido natural, tg a temperatura de globo e
se uma atividade é ou não insalubre. A
tbs a temperatura de bulbo seco.
mesma é definida como a quantidade de
energia que o organismo humano deve trocar De acordo com os índices IBUTGs obtidos
com o meio para atingir o equilíbrio térmico. pelas equações 01 e 02, determina-se os
Desta forma o organismo pode ganhar ou limites de tolerância para exposição ao calor
perder calor de acordo como as condições em regime de trabalho intermitente, através
ambientais para manter o equilíbrio térmico. da do quadro da Figura 01, segundo a NR15.

Tópicos em Administração - Volume 8


103

Figura 01: Índices IBUTGs

2.2. LUMINOSIDADE A iluminância num ponto de uma superfície


(S) pode ser calculada a partir do quociente
O Fluxo luminoso é a quantidade de energia
da intensidade luminosa ( I ) da fonte e da
radiante capaz de sensibilizar o olho humano.
distância ( r ) ao quadrado entre a fonte e o
A unidade desta grandeza é o lúmen (ℓm),
ponto iluminado. Se a luz incidir
que corresponde à quantidade de energia
perpendicularmente na superfície, será válida
radiante capaz de sensibilizar o olho humano
a seguinte relação do cálculo de iluminação:
por segundo (Mamede, 2007).
A intensidade luminosa é a quantidade de luz
que uma fonte por unidade de ângulo sólido 𝐼
𝐸 = 𝑟2 [6]
(lúmen/esferorradiano) projetada em uma
determinada direção. O valor está diretamente
à direção desta fonte de luz. A intensidade
luminosa é expressa em candelas (cd). A luz adicional proveniente da reflexão em
tetos ou paredes não está prevista pela
A intensidade luminosa e o fluxo luminoso fórmula de calculo da iluminação ponto por
estão vinculados pelo ângulo sólido Ω, que é ponto.
dado pela expressão:
Pela equação 04 e 05 (Mamede, 2007) pode-
se relacionar a iluminância com o fluxo
𝑑𝑠 luminoso, observando-se assim que a
𝑑Ω = 𝑟 2 [3] iluminância é uma densidade de fluxo
luminoso e sua unidade é lux, sendo um 1 lux
(ℓx), por exemplo, o fluxo 1 ℓm incide
e o fluxo luminoso através de ds é: uniformemente na superfície de 1 m².
Assim:
[1] ̅
𝜙
𝜙 = 𝐼𝑑Ω ⇒ 𝑑𝜙 = 𝐼 𝑟 2
𝑑𝑠
[4] 𝐸̅ = 𝑆 {7]

Para determinação dos níveis de


O fluxo total médio emitido por uma fonte de
luminosidade utiliza-se os limites
luz pode ser obtido pela integral de fluxos
estabelecidos pela Norma Brasileira NBR
calculados em pequenas áreas, sendo a
5413/1992, iluminação de interiores, da
intensidade luminosa constante, tem-se a
Associação Brasileira de Normas Técnicas,
equação 05 (Negrisoli, 1987):
ABNT. A tabela 01 apresentar os níveis
mínimos de iluminâncias por classes de
𝐼 𝐼 atividades visuais.
𝜙̅ = 𝑟 2 ∫ 𝑑𝑠 = 𝑟 2 . 𝑆 [5]

Tópicos em Administração - Volume 8


104

Tabela 1: Iluminâncias por classe de atividades visuais.


Classe Iluminância (lux) Tipo de Atividade
Áreas públicas com arredores
20-30-50
escuros
Orientação simples para
50-75-100
A- Iluminação geral para áreas permanência curta
usadas interruptamente ou com Recintos não usados para trabalho
tarefas visuais simples 100-150-200
continuo; depósitos
Tarefas com requisitos visuais
200-300-500 normais, trabalho médio de
maquinaria, auditórios
Tarefas com requisitos visuais
500-750-1000 normais, trabalho médio de
B- Iluminação geral para área de maquinaria, escritórios
trabalho Tarefas com requisitos especiais,
100-1500-2000 gravação manual, inspeção,
indústria de roupas.
Tarefas muito exatas, montagem
5000-7500-10000
C- Iluminação Adicional para de microeletrônica
tarefas visuais difíceis Tarefas visuais muito especiais,
10000-15000-20000
cirurgia.
Fonte: NBR5413

2.3. RUIDOS Sendo I a intensidade de uma onda sonora


qualquer e I0 a intensidade constante de
As ondas sonoras são perturbações
referencia considerada no nível limiar de
periódicas que se propagam por um
audição humana igual a 1,00 * 10-12 W/m2.
determinado meio. Essas ondas são de
origem mecânicas e podem se propagar por O ruído é caracterizado como a resultante de
qualquer tipo de material resultando na um conjunto de movimentos oscilatórios que
percepção humana da audição. As mesmas se combinam e produzem um movimento,
podem ser classificadas de acordo com três cuja a oscilação não se da de forma
características fundamentais, que são harmônica. tem-se o que é chamado de ruído.
amplitude da onda, intensidade e a Sendo assim o ruído pode se dar por uma
frequência. De acordo com a frequência as mistura de amplitudes e frequências
ondas sonoras podem ser divididas em três ocorrendo ao mesmo tempo de forma não
categorias, ondas audíveis que se encontram harmônica. O que difere do som que se
na faixa de sensibilidade humana, ondas caracteriza por poucas amplitude e
infrassônicas possui frequência abaixo da frequências bem definidas e geralmente
faixa audível humana e ondas ultrassônicas harmônicas (Kinsler,1982).
que possuem frequência acima da faixa
Segundo Gerges (1992) o ruído pode ser uma
audível (Serway, 2011).
forma de oscilação associada a uma
A intensidade de uma onda sonora pode ser sensação não prazerosa. Sendo que cada
conceituada como a potencia média durante individuo pode apresentar uma percepção
uma oscilação por unidade de área. Sendo diferente ao som ou ao ruído, de acordo com
assim, o nível de som ao qual uma pessoa seu estado emocional e de sua
pode ser submetido em decibéis numa escala personalidade.
logarítmica é determinado pela equação 08.
Para determinação dos níveis de ruídos
continuo ou intermitentes que o trabalhador
𝐼 esta sendo submetido no ambiente de
𝛽 = 10 𝑙𝑜𝑔 (𝐼 ) [8] trabalho deve-se adotar a metodologia e os
0
procedimentos de avaliação dos agentes
nocivos estabelecidos pelas Normas de

Tópicos em Administração - Volume 8


105

Higiene Ocupacional-NHO da Fundacentro do nível de ruído de pressão sonora no tempo


(NHO-01) e os limites de tolerância avaliado, a Dose que avalia a exposição diária
estabelecidos pela NR15 do Ministério do resultante de dois ou mais períodos de
Trabalho e Emprego, MTE. Sendo que se exposição a diferentes níveis de pressão
encontrados resultados excedentes ou na sonora e a Dose projetada que é a dose
ausência de valores previstos nas relativa ao período efetivo de da jornada de
metodologias em questão, pode-se utilizar os trabalho.
valores limites de exposição ocupacional
De acordo com as NR15, os equipamentos
adotados pela ACGIH-American Conference
para medir ruído ocupacional são chamados
of Governmental Industrial Hygyenists ou
de medidores de nível de pressão sonora nos
aqueles que venham a ser estabelecidos em
quais se destacam o decibelímetro e o
negociações coletivas de trabalho (Vergara,
dosímetro. Sendo que os circuitos de medição
2011).
dos equipamentos podem ter respostas lenta
Para elaboração de um laudo de ruído utiliza- ou rápida, levando em consideração que em
se os critérios da NHO-01 e ACGIH, que locais com muitas variações de ruído a
preveem a determinação do TWA, Dose e resposta lenta facilita as medições. As
Dose projetada. Sendo o TWA o nível de ruído equações 09 e 10 determinam
equivalente (TWA) que é a média ponderada respectivamente o TWA e a Dose de ruído.
trabalho e T o tempo em minutos da jornada
de trabalho.

9,6∗𝐷 A tabela 02 apresentar os limites de tolerância


𝑇𝑊𝐴 = 80 + 16,61 ∗ 𝑙𝑜𝑔 ( 𝑇
) [9] para ruído contínuos ou intermitentes de
𝑇𝑊𝐴−8 acordo com a NR15. De acordo com a norma
(𝑇∗2 5 ) em questão a exposição a níveis de ruído
𝐷= ∗ 100 [10] acima de 115 dB, sem proteção adequada,
960
oferecerá risco grave e iminentes.

Sendo D igual a contagem da dose da


exposição em porcentagem para a jornada de

Tabela 02: Limites de ruído continuo e intermitente.

Fonte: NR15
3.0 MÉTODOS E MATERIAIS Rondônia. A pesquisa realizada contemplou a
medição de temperatura, luminosidade e
O estudo foi realizado mediante revisão
ruídos como parâmetros para avaliação do
bibliográfica sobre aspectos ambientais
ambiente de trabalho dos colaboradores
físicos como: temperatura, luminosidade e
locais. A indústria conta com 35
ruídos. A seguir foi realizado um estudo de
colaboradores.
caso em uma Indústria de reciclagem de
plásticos localizada no Município de Cacoal,

Tópicos em Administração - Volume 8


106

O ambiente de produção no qual foram


realizadas as medições contemplam o setor
4.1 AVALIAÇÃO DE EXPOSIÇÃO AO CALOR
de seleção do material, moagem de matéria
prima e setor de aglutinação e do picador. Para analise da exposição ao calor dos
Sendo que todos os equipamentos do setor colaboradores da indústria em questão é de
produtivo estão localizados em uma suma importância a caracterização da
edificação de alvenaria com cobertura estrutura e layout da mesma. Observou-se
metálica com 3 portas amplas de circulação e que a indústria é formada por barracões com
janelas por todo perímetro do mesmo. O estrutura em alvenaria e telhados metálicos
sistema de iluminação esta instalado a uma sem manta térmica. Notou-se também a
altura de 6 metros através de luminárias para ausência da utilização de ventilação natural e
lâmpadas HO-40W dispostas a uma altura de ventilação com exaustores eólicos,
50 centímetros da cobertura. equipamento comum nesse tipo de
instalação.
Para medição da exposição ao calor, foram
realizadas medições de temperatura nos Na tabela 3 apresentam-se os valores médios
ambientes próximos aos conjuntos de de temperatura mensurados nos barracões de
maquinas que caracterizam cada certo do produção industrial. Para avaliação da
processo produtivo. Foi utilizado o termômetro exposição ao calor utilizou-se um Medidor de
digital de IBUTG da marca Instrument, modelo Estress Térmico da marca Instrutherm,
log-552, posicionado ao lado do local de modelo TGD-200, de acordo com norma
operação de cada equipamento. De acordo NR15.
com os dados obtidos determinou-se a
De acordo com a tabela 3 verifica-se que para
temperatura efetiva para o ambiente.
todos os setores de trabalho da indústria o
Os níveis de luminosidade foram avaliados a índice de IBUTG apresenta valores acima de
partir de medições realizadas com luxímetro 31.1C, valor indicado para atividades
de marca Minipa, modelo 1150, posicionado moderadas, as quais não podem ser
no plano horizontal de trabalho dos realizadas sem a adoção de medidas
colaboradores no ambiente de operação das adequadas de controle. Desta forma observa-
maquinas industriais. As medições foram se que o ambiente local apresenta condições
realizadas em condições sem interferência de de temperatura não adequadas em relação ao
luminosidade natural. Os resultados foram conforto térmico sugeridos pela NR17, em
comparados aos limites preconizados pela torno de 20 a 23oC. Para a atividade
NBR 5413/1992. moderada o valor máximo permitido para
trabalho continuo sem descanso, é de 26,7oC
A avaliação da exposição ao ruído foi
como indicado no quadro da Figura 1.
realizada através da medição dos níveis de
ruídos em cada ambiente de trabalho. Para Em relação aos resultados apresentados
realização das medições foi utilizado o verifica-se a necessidade de medidas que
decibelimetro da marca Mínima e os dados possam melhorar as condições de conforto
foram confrontados com os níveis limites por térmico na empresa em questão.
carga horaria de trabalho apresentados na
Para melhoria das condições de conforto
Norma regulamentadora NR15.
térmico dos trabalhadores da indústria foram
propostas algumas ações de engenharia
como utilização de telhado com manta
4 RESULTADOS térmica, sendo que o mesmo é formado por
A seguir se apresentam os resultados dos uma estrutura em material polimérico como
parâmetros físicos ambientais associados a isopor que reduz a condução de calor pelo
saúde e segurança do trabalho. Os ambiente. Outra proposição seria a instalação
resultados contemplam medições de de exaustores eólicos que possuem a função
temperatura, para avaliação de exposição ao de eliminar o ar quente disposto no meio
calor, pressão sonora para verificação dos ambiente local. Já uma alteração no layout do
níveis de ruídos e por fim os valores aferidos fechamento do telhado também
de iluminância para analises dos padrões de proporcionaria uma maior entrada de ar e
iluminação da indústria de reciclagem de iluminação na edificação.
plásticos.

Tópicos em Administração - Volume 8


107

Tabela 3: Valores mensurados para temperatura local

Local de Trabalho Bulbo Úmido Bulbo Seco IBUTG

Esteira de Seleção 33,5 32,2 33,1


Moedor 36,0 30,1 34,2
Aglutinador 32,0 31,7 31,9
Picador 34,0 33,5 33.8

4.2 AVALIAÇÃO DE RUÍDOS bastante preocupantes pois de acordo com o


que a NR17 indica o nível de ruído aceitável
Na tabela 4 apresentam-se os resultados
como condição de conforto acústico é de 65
obtidos a para os níveis de pressão sonora
dBA. Sendo que o nível médio de ruído
obtidos a partir de medições realizadas em
encontrado esta em torno de 95,5 dBA, isso
um intervalo de 8 horas de trabalho utilizando
significa valores 47% maiores que o valor
um decibelimetro da marca Minipa modelo
indicado como padrão de conforto.
MSL-1325A, número de serie
ID01500001958M, certificado de calibração Os resultados da tabela 04 mostram que os
4759/15. De acordo com a tabela observa-se colaboradores da empresa em questão estão
que os níveis de ruído estão acima dos limites sendo submetidos a elevados níveis de ruído
determinados pela NR15 para 8 horas de que podem encadear diversos danos a
trabalho 85 dBA (tabela 02) , caracterizando o saúde dos trabalhadores. Esses danos
ambiente como insalubre. podem prejudicar a concentração, a
compreensão da fala a memoria. Fatores que
De acordo com a tabela 4 observa-se que
no ambiente de trabalho podem prejudicar as
todos os postos de trabalho estão com níveis
atividades cotidianas dos trabalhadores.
de ruídos superiores aos permitidos pela
Sendo que os maiores danos referenciados
legislação brasileira, sendo que o setor de
são a redução na capacidade auditiva e a
moagem se destaca com níveis de ruído em
perca total de audição.
torno de 106,0 dBA. Esses valores são

Tabela 4: Parâmetros médios experimentais obtidos para ruídos.


Critério de Nível Sonoro Médio
Local de Trabalho Critério Limite (dB) Dose
tempo (h) (dB)
Esteira de Seleção 8 98,0 85,0 606.29%
Moedor 8 106,0 85,0 1837,92%
Aglutinador 8 90,0 85,0 200%
Picador 8 88,5 85,0 162.45%

De acordo com o apresentado na tabela 4 é Em relação aos equipamentos também deve


necessário a realização de programas ser realizadas analises de possíveis ações
preventivos que busquem, realizar para redução de ruídos como, o
orientações e treinamentos relacionados aos enclausuramento dos mesmos ou até mesmo
perigos da exposição ao ruído, da a verificação de inovações tecnológicas
importância na utilização correta dos visando a melhoria no funcionamento.
protetores auriculares e da realização de
exames audiômetros periodicamente, para
avaliação das condições auditivas dos 4.3 AVALIAÇÃO DE LUMINOSIDADE
colaboradores.
As medições de luminosidade foram
Em relação às maquinas e equipamentos é de realizadas no período noturno no momento em
suma importância a realização de que os colaboradores realizavam as
manutenções preventivas e autônomas atividades de produção. As medições foram
(reapertos, inspeções visuais, lubrificação, realizadas no plano horizontal na altura de
etc) para eliminação de possíveis ruídos e operação dos equipamentos em questão.
vibrações causadas por falta de manutenção.

Tópicos em Administração - Volume 8


108

Para atividades relacionadas aos processos realizadas nos locais de trabalho. De acordo
de reciclagem, adotou-se de acordo com a com a mesma observa-se que o sistema de
NBR5413, os valores para atividades com iluminação local esta totalmente ineficiente no
recursos visuais limitados, para efeito de que se diz respeito aos valores de iluminância
comparação entre medidas realizadas e em todos os setores. Sendo que as medições
padrões de norma. Sendo o valor mínimo realizadas mostram que os valores
considerado de 200 lux. encontrados estão bem abaixo do valor
mínimo exigido pela norma brasileira, para as
Na tabela 5 apresentam-se os valores
atividades aplicadas no ambiente em
relativos às medições de iluminância
questão.

Tabela 5: Resultados para medição de Iluminância ( lux)

Local de Trabalho Iluminância Média


Esteira de Seleção 66,5
Moedor 35,0
Aglutinador 22,0
Picador 47,0

Para melhoria das condições ambientais De acordo com os resultados sobre


relacionadas com a luminosidade, verifica-se exposição a ruídos apresentados
para a edificação estudada que um melhor anteriormente verifica-se que o meio
aproveitamento da iluminação natural para as ambiente industrial em questão possui valores
atividades realizadas no período do dia pode de pressão sonora muito acima dos limites
melhorar de forma eficaz a iluminância. permitidos para trabalhos realizados de forma
Podendo utilizar telhas translucidas, janelas continua em alguns setores, como seleção e
maiores, aumentando a quantidade de moagem. Valores quais podem estar
aberturas. Já para as atividades noturnas diretamente associados a origens de
verifica-se que deve ser realizada uma acidentes do trabalho como dificuldades de
adequação no sistema de iluminação para se comunicação em geral, na manutenção da
obter os valores mínimos sugeridos pela atenção e concentração, memória, estresse e
norma NBR5413. Sendo que fatores como fadiga excessiva. Desta forma verifica-se a
tipo de lâmpadas, pintura, altura de instalação necessidade do investimento em programas
de luminárias, tipo de luminárias podem de conservação auditiva voltados para o
influenciar diretamente no resultado final para controle de ruídos nas fontes geradoras e
a variável. Nos dias atuais sistemas com programas de prevenção e manutenção da
lâmpadas leds são mais eficientes, pois esse saúde auditiva como: exames periódicos e
tipo de tecnologia gera menor quantidade de palestras visando a manutenção auditiva e a
calor, utiliza menos energia e possuem uma diminuição do acesso ao ruídos por parte dos
eficiência luminosa maior. trabalhadores.
Para os valores observados de luminosidade
verifica-se que a quantidade de lux
5 CONCLUSÕES
mensurado em cada ambiente esta muito
Em relação aos valores mensurados para abaixo do que a norma NBR5413 determina
exposição ao calor observou-se níveis de para ambientes de produção industrial em
temperatura bem acima do que os geral. Desta forma observa-se que para
determinados pela norma para trabalhos sem minimizar essas condições de iluminação
intervalos de descanso. O índice de bulbo poderiam ser implantadas telhas translucidas
úmido e termômetro de globo (IBUTG) médio para melhoria de iluminação durante o dia e
para a indústria chega a 33,4 oC, o que para o expediente noturno é necessário
segundo a norma não é permitido sem a realizar uma instalação de lâmpadas mais
adoção de medidas de controle. Desta forma eficientes como maior capacidade de
foram apresentadas algumas sugestões para iluminação, menor consumo de energia e
minimizar os índices apresentados eliminando menor dissipação de calor de acordo com
possíveis causas de acidentes de trabalhos um projeto de iluminação pré-definido.
relacionadas ao excesso de calor.

Tópicos em Administração - Volume 8


109

Segundo o estudo realizado, conclui-se que acidentes de trabalho, pois geram situações
as condições ambientais físicas da indústria de risco eminentes. Desta forma como
de reciclagem plástica em questão, não comentado anteriormente devem ser tomadas
atendem as condições mínimas solicitadas ações que possam trazer melhorias nas
pelas normativas do ministério do trabalho. condições ambientais físicas da indústria com
Desta forma verifica-se que as condições intuito na melhoria das condições de saúde e
físicas atuais podem ser propulsoras de de trabalho para os colaboradores industriais.

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Tópicos em Administração- Volume 8


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Capítulo 10

Natália Cristina Corrêa Castelo Branco


Pando Angeloff Pandeff
Sthefani Nogueira Saraiva
Viviane Costa de Aragão

Resumo: As pessoas constituem um patrimônio incalculável dentro das


organizações. Elas são as responsáveis pela inovação tecnológica, pelo
crescimento do mercado e pelo sucesso da empresa. Assim, sua mão de obra
está cada vez mais valorizada e as organizações se encontram ainda mais
preocupadas em proporcionar o bem - estar e em alcançar a perspecti va de seus
colaboradores. A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é um assunto bastante
corrente nas discussões acerca da motivação profissional. Os colaboradores estão
cada vez mais seletivos, exigentes e preocupados com o seu bem - estar e com
sua satisfação pessoal. E o novo cenário Econômico Mundial, em que o mercado
está inserido, permite que os trabalhadores qualificados elejam uma organização
que esteja alinhada com suas expectativas de crescimento profissional e que lhes
proporcione um bem - estar dentro e fora do seu ambiente de trabalho.
Considerando - se que um trabalhador motivado afeta positivamente os resultados
das organizações, as empresas passaram a se preocupar com questões que
propiciem esta motivação e este bem - estar. Este estudo se propõe a disp
onibilizar ferramentas que auxiliem os gestores na identificação dos elementos que
assegurem a Qualidade de Vida de seus trabalhadores. Ademais, aborda os
conceitos acerca da QVT, sua evolução histórica e sua importância tanto para a
empresa quanto para se us funcionários, apresentando as contribuições de alguns
pesquisadores para o estudo do mesmo, demonstrando a funcionalidade de alguns
programas que estimulam a Qualidade de Vida no Trabalho visando o bem - estar
do trabalhador em harmonia com o clima organi zacional e o desempenho de suas
atribuições. O estudo é fruto de trabalho monográfico do curso de Administração
da Faculdade Itaboraí em continuidade a outros correlatos no Município de
Itaboraí/RJ.

Palavras - chave: Qualidade de vida no trabalho, Professores, Empresas, Escolas


Públicas, Satisfação.

Tópicos em Administração- Volume 8


112

1 INTRODUÇÃO objetivo de melhorar o ambiente


organizacional e consequentemente, elevar a
O processo de globalização e o surgimento
qualidade de vida dos professores nas
de novas tecnologias levaram as
escolas públicas.
organizações que priorizam pela excelência
de sua produção a investirem em mão-de- O Município de Itaboraí vem sofrendo grandes
obra altamente capacitada e treinada, visando alterações estruturais desde o anúncio da
atender às exigências de um mercado implantação do COMPERJ - Complexo
altamente competitivo. Além disso, os Petroquímico do Rio de Janeiro, anunciado
profissionais estão priorizando cada dia mais em abril de 2006 e com obras iniciadas a
seus direitos e a qualidade de vida no partir de 2008 como as obras de
ambiente em que executam suas funções. terraplanagem.
Embora os gestores saibam da necessidade O processo de implantação do
de se manter seus funcionários satisfeitos e empreendimento afetou o Município nos mais
motivados, percebe-se que pouca atenção é diversos segmentos, variável de acordo com
dada para a qualidade de vida desses cada segmento econômico, possibilitando o
trabalhadores dentro da organização. E como surgimento de novos negócios e aquecimento
consequência, tem-se um desânimo, da economia como um todo. Com a crise
afastamentos e falta de motivação para a estabelecida a partir do ano de 2013 com a
realização das atividades. paralisação das obras, a economia local foi
severamente impactada e os desdobramentos
Partindo do pressuposto de que a
percebidos se associam diretamente a
produtividade de cada trabalhador está
elevação da taxa de mortalidade de micro e
associada com o seu bem-estar, as
pequenas empresas.
organizações devem preocupar-se em manter
a qualidade de vida de seus trabalhadores Inicialmente, a implantação do complexo
dentro e fora da organização. E é por meio de viabilizou o surgimento de inúmeras
programas de Qualidade de Vida no Trabalho oportunidades de negócios, estimulando
(QVT) que as necessidades de cada indivíduo assim ações empreendedoras e o surgimento
são identificadas. de novas, micro e pequenas empresas no
mercado local para atender às demandas por
A questão que norteia este estudo é
bens e serviços decorrentes do aquecimento
compreender se as condições do ambiente
da economia decorrente do elevado
organizacional em que os professores das
contingente de trabalhadores que fixaram
escolas públicas estão inseridos são fatores
residência no município e vinculados ao
importantes para a QVT, assim como, a
processo de construção do complexo.
atenção voltada para a importância que as
funções desempenhadas não exercício de O aquecimento inicial da economia em 2008
sua tarefa exercem em sua vida particular. com o início das obras do complexo dá lugar
hoje a profunda crise econômica e social,
No Brasil, um professor do ensino
levando o mercado local a se reestruturar, o
fundamental trabalha em média 16 horas
que levou diversas empresas criadas no
semanais dentro de uma instituição pública
período de aquecimento a encerrarem suas
de ensino, salvo os dias destinados ao
atividades e outras ainda em processo de
planejamento e a tarefa de mantê-lo satisfeito
encerramento.
e motivado está cada dia mais desafiadora.
Verifica-se assim que, em pequenas
O comportamento do trabalhador é
economias influenciadas diretamente por
influenciado diretamente pelo ambiente
empreendimentos industriais de grande porte,
organizacional e tudo o que acontece à sua
para que as pequenas e médias organizações
volta, em seu cotidiano, pode ser um fator que
continuem ativas e operacionais e possam
gera ou não satisfação. Contudo, cada
ainda expandir seus negócios, torna-se
trabalhador tem a sua necessidade individual,
necessário que os empreendedores e Poder
o que motiva um profissional, pode não ser
Executivo Municipal busquem estabelecer um
estimulante para o outro, e saber lidar com
pacto de desenvolvimento com base
essas diferenças, tem sido um grande desafio
disseminação de informações e ampliação da
para os gestores nos dias atuais.
capacitação dos pequenos e médios
O presente trabalho visa analisar a QVT como empreendedores para que iniciem processos
uma ferramenta de gestão a ser utilizada de reestruturação de seus negócios com base
pelas instituições públicas de ensino com o na técnica, identificando novas demandas e

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113

implantando novas metodologias e estratégias Assim, o estudo se justifica pela necessidade


de negócios para atender às novas realidades de ampliar o entendimento sobre os impactos
do mercado. econômicos e sociais provocados sobre
economias municipais a partir da decisão de
Garantir vantagem competitiva em um
implantação de empreendimentos de grande
mercado dinâmico e instável, onde o principal
porte e que alteram significativamente a
fator de interferência é provocado pelo
dinâmica dessas economias.
processo de implantação de um grande
empreendimento, torna-se cada vez mais
necessário ao pequeno e médio empresário a
2 OBJETIVOS
utilização de ferramentas do planejamento
estratégico para fortalecer suas 2.1 OBJETIVO GERAL
potencialidades e em contra partida,
Analisar os fatores que levam à mortalidade
minimizar suas fraquezas, a partir de uma
das micro e pequenas empresas, a partir das
mudança cultural de fazer e manter o
influências sobre a economia local da
negócio.
implantação de grandes empreendimentos
Com base nesse contexto, o estudo buscou industriais tomando como base o COMPERJ
analisar, dentro do corte cronológico em Itaboraí/RJ.
proposto, como o cenário econômico foi
sendo transformado, tendo em vista o período
de tempo considerado (2006 a 2014) levando 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
em contas as influências provocadas pelo
Promover revisão das bases teórico
processo de implantação do
conceituais correlatos ao estudo proposto;
empreendimento, e como essas
transformações promoveram a elevação da Identificação do atual perfil do mercado local
taxa de mortalidade das pequenas e médias envolvendo as pequenas e médias empresas
empresas. e a taxa de mortalidade no período proposto;
Ampliar o entendimento sobre os fatores Desenvolvimento de pesquisa quantitativa
motivadores da elevação da taxa de junto às pequenas empresas buscando
mortalidade de empresas em uma economia identificar o conhecimento e uso das
influenciada pela implantação de ferramentas de gestão estratégica pelas
empreendimentos de grande porte torna-se mesmas;
essencial como instrumento auxiliar a
Comparação dos resultados da pesquisa com
formulação de políticas públicas de fomento
a taxa de mortalidade para verificar a
econômico e de desenvolvimento local.
correlação existente.
O estudo buscou ainda identificar e analisar
Proposição de alternativas que viabilizem a
os principais fatores motivadores da
adoção das técnicas de planejamento e
mortalidade de micro e pequenas empresas
gestão pelos empreendedores.
no Município de Itaboraí/RJ com base em
pesquisa de campo realizada junto ao
empresariado local com base em entrevistas
3 METODOLOGIA
realizadas para coletar informações que
permitiram identificar as potenciais causas O presente artigo foi baseado em trabalho
para a elevação da taxa de mortalidade monográfico desenvolvido no curso de
dessas organizações, que em geral, tiveram Administração da Faculdade Itaboraí, com
boa alavancagem no período de implantação base nos resultados finais obtidos.
do COMPERJ e impactados com a crise
A escolha do tema deve-se à continuidade de
instalada a partir de 2013.
estudos já realizados na região pelos
Identifica-se ainda um fio condutor em comum orientadores, com foco no desenvolvimento
junto aos pequenos e médios local, adequando-se seu desenvolvimento
empreendedores, que justificaria a buscando analisar a economia local, as
mortalidade como fenômeno que advém da políticas de desenvolvimento e os impactos
falta ou ausência do uso de ferramentas de econômicos e sociais provocados a partir da
Planejamento Estratégico no dia a dia das decisão de implantação de grandes
pequenas organizações. empreendimentos sobre s pequenas e médias
empresas instaladas no município de
Itaboraí/RJ.

Tópicos em Administração- Volume 8


114

O estudo se desenvolve inicialmente com a 4 DESENVOLVIMENTO


realização de uma pesquisa bibliográfica de
4.1 MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPES)
forma a estabelecer os principais conceitos
sobre a temática proposta a partir de livros, Com base em diversos estudos, verifica-se
artigos e conteúdos publicados de autores uma tendência crescente no surgimento de
que versam sobre a temática em questão de novos negócios e nos segmentos mais
forma a fundamentar o entendimento diversificados de mercado, decorrente de
necessário sobre determinados conteúdos diversos fatores econômicos e sociais.
relevantes ao estudo e às análises propostas,
Esses negócios, considerando suas
além de acesso às bases de dados oficiais
características, como de porte e com
disponíveis para maior fundamentação.
faturamentos anuais diversificados, são
De forma complementar foi realizada uma denominados então como micro e pequenas
pesquisa exploratória qualitativa junto ao empresas, e a partir desta ótica são
empresariado local buscando identificar suas classificados e definidos parâmetros e
experiências práticas a partir das questões limitadores legais.
levantadas e como estes percebiam as
Segundo a Lei Geral da Micro e Pequena
influências do COMPERJ sobre seus
Empresa (SEBRAE, 2007, p. 07):
negócios.
A Microempresa (ME) define a pessoa jurídica
A pesquisa foi realizada junto à micro e
que aufere, em cada ano-calendário, receita
pequenas empresas no centro do primeiro
bruta igual ou inferior a R$ 240 mil e as
distrito do Município de Itaboraí/RJ, com base
Empresas de Pequeno Porte (EPP) com
em um roteiro de perguntas pré-estabelecidas
pessoa jurídica que aufere, em cada ano-
de forma a se seguir padrão de abordagem
calendário, receita bruta superior a R$ 240 mil
especifico, se concentrando no eixo da
e igual ou inferior a R$ 2,4 milhões.
principal via que corta o distrito, a Avenida
Vinte e Dois de Maio, levando em conta as Pode-se atribuir como comparativo e também
influências da economia local sobre as com intuito de reiterar a definição das micro e
empresas de pequeno porte em atividade, pequenas empresas, o que preceituam
seu perfil e sua capacidade efetiva para Santos, Krein e Calixtre. (IPEA, 2012, p. 17):
garantir sobrevivência frente a um mercado
Outra definição adotada pelo Serviço
cada vez mais competitivo e instabilidade na
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
economia local.
Empresas (SEBRAE), limita a microempresas
Os resultados obtidos foram analisados e a aquelas que empregam até 9 pessoas, no
permitiram o desenvolvimento de proposições caso de comércio e serviços, ou até 19
sobre como o processo de mortalidade das pessoas, no caso dos setores industrial ou de
MPEs locais se configura e sustenta as construção. Já as pequenas são definidas
conclusões do estudo, possibilitando ainda a como as que empregam de 10 a 49 pessoas,
proposição de sugestões de metodologias e no caso de comércio e serviços, e de 20 a 99
estratégias a serem adotadas pelas empresas pessoas, no caso de indústria e empresas de
para garantirem maior capacidade construção.
competitiva e sobreviverem em um mercado
Assim, a definição legal para as micro e
cada vez mais instável e dinâmico.
pequenas empresas (MPEs), também pode
ser representada no quadro 1, constante do
Anuário do Trabalho na Micro e Pequena
empresa do SEBRAE (2010-2011).

Tópicos em Administração- Volume 8


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Quadro 1: Classificação das empresas segundo o porte


Setores
Porte
Indústria Comércio e Serviços
Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até 9 pessoas ocupadas
Pequena Empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 49 pessoas ocupadas
Média Empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas
Grande Empresa 500 ou mais pessoas ocupadas 100 ou mais pessoas ocupadas
Fonte:http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario%20do%20Trabalho%20a%20
Micro%20e%20Pequena%20Empresa_2010_2011.pdf

Estas organizações estão diretamente 4.2 MORTALIDADE EMPRESARIAL


inseridas em um mercado cada vez maior e
O contexto que envolve a mortalidade de
exigente. Dados do SEBRAE (2011) indicam
empresas não é algo que seja recente, sendo
que em 2000 haviam 4,2 milhões de micro e
essa realidade presente ao longo da história,
pequenas empresas. Dez anos depois esse
mas passou a ter atenção de pesquisadores
número em 2010 alcança um total de 6,1
desde os anos 1930.
milhões de MPEs em atividade, contribuindo
significativamente para o desenvolvimento do Mais recentemente, a partir dos anos 1970,
país, ressaltando ainda o estudo que, mesmo inicia-se a aplicação de ferramentas da
com todas as dificuldades, a taxa de administração moderna que buscavam
sobrevivência destas organizações vem antever a falência das organizações hoje
aumentando a cada ano. classificadas como micro e pequenas
empresas. O estudo de análises financeiras e
Porém, sem infraestrutura e sem pessoal
sofisticadas técnicas estatísticas já indicavam
qualificado, as MPEs não conseguem se
que a má gestão financeira era um fator
adequar de modo rápido às mudanças
contribuinte significativo para a mortalidade
recorrentes do mercado, devido a obtenção e
tão precoce destas organizações.
o processamento de informações estratégicas
normalmente serem realizadas de modo lento Os estudos indicaram que era possível prever
e assim acarretando em resultados ruins a falência de uma pequena empresa com até
(prejuízos significativos) e, em muitos casos, a 5 (cinco) anos de antecedência, mantendo-se
partir desses resultados se inicia o processo uma margem de erro potencial e que a má
de falência. gestão financeira considerada como um dos
principais fatores contribuintes para a
Amato Neto (2000) descreve que as micro e
mortalidade precoce.
pequenas empresas atuam geralmente em
setores mais tradicionais da economia, como Adota-se para o presente estudo a definição
o comércio varejista e serviços. No setor de falência formal, principalmente pela
manufatureiro, estas apresentam participação disponibilidade de informações junto aos
menor face a seu perfil e características órgãos oficiais e especialmente as juntas
dessas organizações. comerciais, uma vez que dependendo do
conceito que se tome por base, o resultado
A forma como os produtos ou serviços são
de uma pesquisa sobre mortalidade ou
vendidos ou locais em que são vendidos
falência de empresas pode variar muito e
pouco importa. Porém, aquelas que não
gerar resultados pouco confiáveis, e que,
incutem as bases estratégicas mínimas em
quanto mais amplo o conceito, maior será a
sua cultura e em seus processos de
taxa de mortalidade encontrada, sendo uma
desenvolvimento de atividades, verifica-se
constante considerada para a mortalidade, a
tendência a prejuízos e enfrentamento de
falta de competência gerencial e a falta de
dificuldades que a culminam em mortalidade,
experiência no ramo de negócio
em muitos casos, precoce e em um período
(ZACCARELLI, 1994)
inferior a dois anos após sua fundação.
Verifica-se ainda que as razões pelas quais as
pequenas empresas fechavam seriam: a falta
de experiência do empreendedor; a falta de
estratégia de marketing; avaliação

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demasiadamente otimista do tamanho do das pequenas empresas indicam que em um


mercado; subestimação do tempo de período de 10 anos, as empresas que tendem
alavancagem do negócio; a falta de capital de a sobreviver são aquelas que têm um
giro; o custo de criação da empresa muito tamanho maior, investem mais em inovação e,
alto; a capacidade produtiva menor do que a portanto, crescem mais rápido.
demanda; a escolha errada do ponto
Santos e Pereira (1995) consolida os motivos
considerando maior volume de pessoas do
que efetivamente tem levado muitos
que o real e a seleção e gestão de pessoas
empreendimentos novos ao fracasso, como
sem competência para o negócio.
se verifica no quadro 2:
Nesse contexto, cabe destacar que outros
estudos sobre sobrevivência e crescimento

Quadro 2: Fatores motivadores que levam a organização ao fracasso


A PARTIR DOS ASPECTOS TÉCNICOS DO EMPREENDEDOR
Inexperiência empresarial anterior; Ausência de competência enquanto gestor.
NA ÁREA MERCADOLÓGICA
Falta de conhecimento do mercado; Falta de conhecimento do produto ou serviço.
NA ÁREA TÉCNICO-OPERACIONAL
Falta de qualidade nos produtos e serviços; Deficiência no relacionamento com os fornecedores;
Localização inadequada do imóvel ou do ponto; Tecnologia de produção ultrapassada.
NA ÁREA FINANCEIRA
Imobilização em excesso do capital em ativos fixos; Política de créditos inadequada aos clientes;
Inexistência de controles de custos e de gestão financeira.
NA ÁREA JURÍDICA / ORGANIZACIONAL
Estrutura organizacional inadequada; Falta de Inovações Gerenciais.
Falta de Planejamento e Informações Gerenciais;
Fonte: Adaptado de Santos e Pereira (1995, p. 257)

O autor destaca ainda que outros fatores população estimada para o ano de 2015 em
contribuintes para o fracasso dos negócios 229.007 habitantes (IBGE Cidades, 2015),
como o baixo nível de escolaridade e renda distribuída no território de 430,5 Km2 nos oito
do empreendedor, que por falta de crédito distritos que integram a estrutura
junto às instituições financeiras, utiliza capital administrativa municipal.
próprio ou da família, o que limita o
Sua localização estratégica e cortado por
crescimento da empresa e a torna vulnerável
cinco rodovias, sendo duas federais como a
às oscilações e a sazonalidade do mercado,
BR 101, a partir do município de São Gonçalo
além da legislação que por vezes restringe a
e a BR-493 a partir do Município de Magé,
atuação das MPEs pela sua complexidade.
além de três rodovias estaduais: a RJ-104, a
RJ 116 e a RJ-114 (ligação Itaboraí-Maricá)
proporcionam fácil acesso e saída do
4.3 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM
município, viabilizando escoamento de cargas
ITABORAÍ/RJ E O COMPERJ
e trânsito de pessoas, características
4.3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE consideradas para a decisão locacional do
ITABORAÍ COMPERJ.
O município de Itaboraí/RJ está inserido na
região metropolitana do Estado (figura 1), com

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Figura 1: Mapa Rodoviário de Itaboraí com principais rodovias e acessos

Fonte: http://www.der.rj.gov.br/mapas_n/mapas.htm (2015)


A economia municipal é estruturada em destacar que a implantação do COMPERJ e
atividades de manufatura de cerâmica sua entrada em operação pressiona a
(decorativa e utilitária), fruticultura, apicultura, economia local e promovera o redesenho
pecuária extensiva, comércio e serviço, dessas atividades e da vocação econômica
envolvendo essencialmente pequenas e municipal.
médias empresas (tabela 1), cabendo

Tabela 1: Adaptado de Produto Interno Bruto (Valor Adicionado ano 2013)


VARIÁVEL ITABORAÍ RIO DE JANEIRO BRASIL
Agropecuária 7.610 1.072.848 105.163.000
Indústria 1.544.336 62.966.386 539.315.998
Serviços 1.545.306 144.387.422 1.197.774.001
Fonte: IBGE Cidades (2015)

Na compilação dos dados da tabela 1, o municipal e sua baixa importância econômica


município de Itaboraí participa com em relação à economia do estado,
aproximadamente de 0,71% do PIB no verificando-se expressivo volume do
segmento agropecuário do Estado do Rio de segmento de serviços e da indústria
Janeiro, assim como 2,45% da indústria e o ceramista que representam quase 50% de
segmento de serviços contribuindo com cerca participação de cada segmento na economia
de 1,07% do PIB. (gráfico 1).
O que se verifica na análise ratifica a as
inferências sobre a base da economia

Tópicos em Administração- Volume 8


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Gráfico 1: Produto Interno Bruto (Valor Adicionado ano 2013)

Fonte: IBGE Cidades (2015)

Esse quadro começou a ser alterado com as O COMPERJ irá processar petróleo pesado
expectativas criadas em torno do processo de do campo de Marlim (150 mil barris por dia),
implantação do COMPERJ desde seu anúncio proveniente da Bacia de Campos e sua
e em particular após início das obras no ano transformação em matéria-prima para a
de 2010. indústria petroquímica nacional,
representando para o país uma economia
prevista superior a R$ 4 bilhões por ano em
4.3.2 O COMPERJ – DADOS GERAIS E decorrência da redução na importação de
EXPECTATIVAS fontes de matéria-prima petroquímica e na
exportação do petróleo pesado.
Estudo inicial realizado pela Fundação Getúlio
Vargas – FGV (2006), a implantação do Além das empresas que estariam diretamente
COMPERJ se apresentava como a envolvidas na construção, o estudo da FGV
oportunidade de crescimento econômico (2006) indicou que em torno de outras 720
necessária para que o estado pudesse se empresas poderiam se instalar na região até
recuperar depois de décadas de estagnação, fins 2015, na indústria de transformação, para
sendo o maior projeto de investimento produzir plásticos e afins a partir dos produtos
individual da história da Petrobras e em fase do COMPERJ, cenário que não se consolidou
de implantação no município de Itaboraí, com em decorrência da crise iniciada em 2013 que
área total de 45 km², equivalente a quase 11% acabou por paralisar as obras.
do território municipal (Figura 2).
A decisão locacional por Itaboraí levou em
A escolha foi a que proporcionou o melhor consideração a disponibilidade e as
aproveitamento da logística existente, mais facilidades da região após análise de outras
competitividade para a cadeia produtiva e locações, viabilizando ainda o Arco
indicação de maior possibilidade de inclusão Metropolitano – Importante via rodoviária que
social, já que sua instalação irá distribuir fará a ligação entre Itaboraí ao Porto de
benefícios para um número maior de Itaguaí e onde poderão se instalar indústrias
municípios do estado e sendo prevista a que serão consumidoras de matérias-primas
criação de mais de 200 mil empregos diretos, produzidas pelas indústrias de base situadas
indiretos e por efeito-renda, nos planos: local, nas extremidades do Arco: aço em Itaguaí e
regional e nacional. plásticos em Itaboraí.

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Figura 2: Imagem da área de instalação do COMPERJ e detalhe (14/12/2105)

Fonte: Google Earth (2016)

Hoje o projeto do COMPERJ está sendo agravando o quadro de problemas sociais e


revisado pela terceira vez e a previsão mais essa influência já se observa em função do
conservadora indica para 2021 a sua aumento significativo da população flutuante
conclusão. Os custos iniciais de U$ 8,4 que demanda moradia e serviços públicos
bilhões já estariam em U$ 47,7 bilhões, diversos, agravando os problemas locais
segundo relatório divulgado pelo TCU (2014). existentes e impactando diretamente a
economia local e em particular as pequenas e
Para estimar os impactos em relação ao
médias empresas.
número de empregos para cada ano em cada
área, a FGV considerou as taxas de Até dezembro de 12/2013, o número médio
desemprego à época, sem admitir que os de trabalhadores alocados nas diversas
empregos na área do COMPERJ viessem a empresas e consórcios contratados para a
ser ocupados por pessoas de fora (o que realização das obras foi estimado em cerca
ocorreu em larga escala e o Município hoje de 35.000 (trinta e cinco mil) trabalhadores
sofre as consequências desse aumento não segundo dados fornecidos pela Prefeitura de
considerado na população flutuante), Itaboraí (2015), o que correspondia a cerca
concluindo que somente mantendo as taxas de 15,40 % da população total do município,
de desemprego de 6%, ou mais, haveria estimada pelo IBGE Cidades (2014) em
pressão demográfica associada à construção 227.168 habitantes.
e operação na sua região de influência e onde
o maior desafio do COMPERJ seria a redução
do número de empregos, que ocorreria já a 4.3.3 A PESQUISA RELACIONANDO AS
partir de 2012 (após a previsão inicial de MPES E OS IMPACTOS PRODUZIDOS PELO
conclusão das obras, e início da operação do COMPERJ
complexo).
A pesquisa foi realizada com os
Hoje essa pressão persiste face aos inúmeros empreendedores no período de 19 a 22 e
atrasos no cronograma das obras e outubro de 2015, tendo como o foco as
desaceleração do ritmo de construção, empresas instaladas no eixo da Avenida 22
fazendo com que um grande número de de maio entre os bairros de Venda das Pedras
trabalhadores desmobilizados permaneça no a Outeiro das Pedras, principal avenida do
município e seu entorno, sem emprego e município de Itaboraí/RJ, na região central e

Tópicos em Administração- Volume 8


120

que concentra grande número de MPEs, características comuns dentro do ambiente de


segundo informações da Prefeitura Municipal negócios que estão inseridas e considerou
de Itaboraí Secretaria de Fazenda indicando ainda as perspectivas futuras, dado o atual
ainda no período atribuído de 2006 a 2014 cenário econômico local e regional, além das
foram criadas 2.753, micro e pequenas influências produzidas pelo COMPERJ sobre
empresas no município e no mesmo período os negócios sob a ótica dos pequenos
foram encerradas 632 no município. empresários.
O questionário aplicado foi estruturado em 12 Com base nos resultados obtidos após
perguntas fechadas, sendo visitadas cerca de tabulação dos dados da pesquisa, estes
100 MPEs que compõe a amostra e dos 100 passam a ser destacados a seguir buscando
questionários distribuídos, 80 retornaram estabelecer o perfil dos empreendimentos e
preenchidos, equivalente a 80% de retorno associação com o COMPERJ e impactos
em relação ao total de questionários percebidos pelos pequenos empresários.
distribuídos.
Inicialmente o estudo buscou identificar os
A pesquisa buscou ampliar o entendimento segmentos de atuação dos empreendimentos,
dobre o comportando as micro e pequenas sendo os resultados apurados (tabela 2)
empresas, suas peculiaridades e indicando para a seguinte distribuição:

Tabela 2: Ramo de Atuação das Micro e pequenas empresas


SEGMENTO DE ATUAÇÃO Nº %
Comércio 67 83,8%
Indústria 2 2,4%
Serviço 11 13,8%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

Verifica-se que a grande maioria dos Na etapa seguinte se buscou identificar o


empreendimentos atuam no segmento de nível de renda mensal gerada pelo negócio
comércio varejista, uma característica da como forma a caracterizar o perfil de renda
economia local, com cerca de 83,8% seguido dos empreendedores.
pelo segmento de serviços com cerca de
Os resultados indicaram para os seguintes
13,8% dos empreendimentos, em geral
resultados (tabela 3):
relacionados a: oficinas mecânicas, auto
centers, provedores de internet e serviços de
manutenção em geral.

Tabela 3: Renda Mensal dos entrevistados


RENDA MENSAL (Base SM) Nº Respostas %
Até R$724,00 0 0,0%
De R$724,01 a R$2.172,00 22 27,5%
De R$2.172,01 a R$3.620,00 22 27,5%
De R$3.620,01 a R$5.068,00 21 26,3%
De R$5.068,01 a R$7.240,00 7 8,7%
Mais de R$7.240,01 8 10,0%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

Tópicos em Administração- Volume 8


121

Verifica-se que a grande maioria dos A renda mensal auferida no negócio foi
negócios (53,8%) geram renda mensal total associada às faixas de faturamento para as
para os empreendedores entre R$ 2.172,01 a MPEs buscando validar a coerência das
R$ 5.068,00, valores que se alinham com as informações e após tabulação dos dados da
características de micro e pequenas pesquisa, os resultados foram consolidados e
empresas e indicativo de que os negócios apresentados na tabela 4.
geram renda básica voltada à subsistência
familiar.

Tabela 4 Faturamento Anual das Micro e pequenas empresas


FATURAMENTO ANUAL Nº %
De R$1,00 a R$60.000,00 18 22,5%
De R$60.000,01 a R$120.000,00 18 22,5%
De R$120.000,01 a R$160.000,00 14 17,5%
De R$160.00,01 a R$240.000,00 23 28,8%
Acima de R$240.000,00 7 8,7%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

Verifica-se que 62,5% das MPEs se capacidade financeira efetiva para


enquadram na faixa de faturamento de até investimentos face a essa limitação que pode-
R$ 160.000,00 (equivalente a uma média se inferir, causada pela crise desencadeada a
mensal de até R$ 13.334,00). Por outro lado, partir da paralisação das obras do COMPERJ
28,8% das MPEs informaram faturamento e agravada pela crise nacional.
entre R$ 160.000,01 a R$ 240.000,00
Outro aspecto relevante refere-se ao tempo
(equivalente a uma média mensal de até
de existência das empresas, onde se buscou
R$ 20.000,00) e apenas 8,7% informaram
identificar se estas foram criadas a partir de
faturamento na maior faixa.
oportunidades produzidas inicialmente pelo
Comparando-se esses resultados com a processo de instalação do empreendimento
renda mensal informada, verifica-se ou se já estariam em operação antes do início
alinhamento e coerência nos resultados desse processo que alterou a dinâmica da
comparados e ainda, que a grande maioria economia municipal.
das MPEs, por terem faturamento limitado às
A tabulação dos dados apontou para os
faixas menores, não conseguem ter
seguintes resultados (tabela 5):

Tabela 5: Tempo de existência das MPEs no mercado


TEMPO DE ATUAÇÃO NO MERCADO Nº %
De 0 a 1 ano 9 11,3%
De 1 a 2 anos 22 27,5%
De 3 a 5 anos 5 6,2%
Mais de 5 anos 44 55,0%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

A análise dos resultados indica que 45,0% negócios podem estar relacionados às
das MPEs foram criadas no período de até 5 oportunidades geradas pelo aumento da
(cinco) anos, o que leva a inferir que os demanda decorrente da instalação do

Tópicos em Administração- Volume 8


122

COMPERJ, ao passo que 55,0% dos negócios iniciou em fins do ano de 2013 e vem se
já estavam criados e operando, antes do agravando até os dias atuais, podendo levar a
processo de implantação do complexo se mortalidade dessas empresas, realimentando
iniciar. o ciclo.
Outro aspecto de destaque refere-se ao fato A pesquisa buscou ainda demonstrar, a partir
de que 38,8% dos negócios foram criados no do perfil de pequenos negócios, o nível de
período de até 2 (dois) anos, o que indica que empregabilidade gerada a partir do número
as alterações no mercado propiciaram dois de colaboradores que empregam e o impacto
movimentos associados à mortalidade de social gerado pela desmobilização desses
empresas – o primeiro com o surgimento de trabalhadores em caso de encerramento das
negócios em substituição a outros que atividades.
pereceram – o segundo é terem sido criados
Os resultados apurados após tabulação dos
em meio à severa crise econômica que se
dados são apresentados na tabela 6.

Tabela 6: Quantitativos de colaboradores empregados nas MPEs


Colaboradores das micro e pequenas empresas Nº %
De 1 a 5 colaboradores 39 48,8%
De 6 a 10 colaboradores 22 27,5%
De 11 a 15 colaboradores 10 12,5%
De 16 a 20 colaboradores 4 5,0%
Acima de 21 colaboradores 5 6,2%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

Verifica-se que na faixa de 1 a 10 social e econômica, agravando ainda mais a


colaboradores contratados estão cerca de crise em curso, levando-se em conta que para
76,3% das empresas. 12,5% empregam entre cada posto de trabalho existem mais três
11 e 15 colaboradores e apenas 11,2% pessoas em média que integram o grupo
empregam acima de 16 colaboradores. familiar estimado em 4 componentes,
segundo dados do IBGE Cidades (2015)
Esses resultados ratificam que as MPEs são
efetivamente as grandes geradoras de Outro aspecto considerado para associação
emprego e renda, principalmente em dos impactos produzidos pelo COMPERJ
economias de pequenos municípios como levou em conta a percepção inicial dos
Itaboraí e entorno, e que estão sendo empreendedores sobre as influências que
diretamente afetados pela paralisação das poderiam ser geradas para os negócios,
obras do COMPERJ e podendo-se inferir que sendo os resultados consolidados,
o encerramento dessas atividades produzirá apresentados na tabela 7.
efeitos negativos de elevada significância

Tabela 7: Influências potenciais do COMPERJ sobre os negócios na fase de implantação


INSTALAÇÃO DO COMPERJ Nº %
Bom para os negócios 68 85,0%
Ruim para os negócios 7 8,8%
Não fez diferença 5 6,2%
TOTAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

Tópicos em Administração- Volume 8


123

O resultado indica para um elevado grau de como o COMPERJ e as economias municipais


expectativa em relação às oportunidades que na área de influência destes.
poderiam ser geradas com o aumento da
Sendo assim, essas influências podem ser
demanda por bens e serviços a partir do
positivas ou negativas, e dependem
processo de implantação do COMPERJ, com
fundamentalmente do cumprimento do
85,0% das respostas indicando que esse
cronograma de obras, bem como do fluxo dos
processo seria bom para os negócios.
investimentos.
Analisando os demais 15,0% dos resultados,
Dessa forma e buscando estabelecer como
pode-se inferir que as respostas estão
as influências econômicas e sociais podem se
relacionadas ao tipo de negócio e segmento
configurar, as tabelas 8 e 9 traduzem as
de atuação, levando-se em conta que as
percepções dos pequenos empresários locais
alterações produzidas na economia local, a
que foram diretamente impactados e como
partir da implantação de um empreendimento
estes entendem os efeitos inicialmente
de porte do COMPERJ leva ao incremento de
positivos e que com a paralisação das obras
novos negócios por um lado e para alguns
se transformaram em ameaças potenciais
segmentos esse processo não provoca
para seus negócios, sendo possível extrapolar
impactos significativos em decorrência de se
essas percepções para a economia municipal
considerar população flutuante e a
como um todo em decorrência da tendência
sazolanidade das demandas.
que se verifica.
Os empresários, ao serem solicitados a
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES externar seus entendimentos sobre as
influências que o processo de implantação do
Para fins de consolidação de resultados do
COMPERJ produziu sobre seus negócios,
estudo, o que se verifica é que existe uma
levaram em conta os impactos inicialmente
relação direta entre os processos de
percebidos, sendo os resultados
implantação de grandes empreendimentos
consolidados na tabela 8.

Tabela 8: Influência do COMPERJ sobre as MPEs no Município


INFLUÊNCIA DO COMPERJ Nº %
POSITIVAS
Aumento de faturamento 62 100,0%
Aumento no número de vendas 62 100,0%
Aumento de número de clientes 45 72,6%
Ampliação das instalações 13 21,0%
Contratação de novos funcionários 23 37,1%
TOTAL 62 ========
NEGATIVAS
Perda de faturamento 5 27,8%
Perda em número de vendas 7 38,9%
Diminuição do número de clientes 2 11,1%
Redução do tamanho das instalações 3 16,7%
Dispensa de funcionários 2 11,1%
TOTAL 18 ========
TOTAL GERAL 80 ========
Fonte: Elaborado pelos autores

As respostas foram agrupadas em relação à que a grande maioria, 62 (77,5%)


amostra total de 80 questionários, indicando responderam que os efeitos percebidos

Tópicos em Administração- Volume 8


124

inicialmente foram positivos para seus Por outro lado os impactos negativos
negócios e 18 (22,5%) responderam que os apontados indicam para o movimento
impactos iniciais percebidos foram negativos. contrário ao incremento relatado, sendo
verificado que os empreendedores desse
Aqui verifica-se mais uma vez que,
grupo mantiveram suas operações sem
dependendo do tipo de negócio e segmento
considerar as mudanças que estava
de atuação, as influências estão relacionadas
ocorrendo na economia local, verificanso-se a
a oportunidades para alguns segmentos e
falta de inovação e capacidade de
ameaças para outros em decorrência de se
planejamento foram os principais
considerar para fins de demanda, o perfil da
contribuintes para a produção de resultados
população flutuante que ingressou no
negatívos dos negócios.
município para atuar nas obras e a
sazolanidade das demandas associadas Na sequência do processo de pesquisa, os
ainda a questões culturais e necessidades empreendedores foram solicitados a externar
específicas. seus entendimentos e expectativas em
relação ao futuro de seus negócios, levando
Percebe-se que os impactos positivos iniciais
em conta agora o processo de paralisação
ratificam essa tendência da demanda que foi
das obras do COMPERJ, a desmobilização da
identificada e estão associados ao aumento
mão de obra que estava alocada no processo
de faturamento, aumento no número de
de construção do complexo e a crise
clientes e aumento no número de itens
econômica local iniciada no ano de 2013,
comercializados, levando a investimentos em
agravada até o ano de 2015.
ampliação de instalações e incremento na
contratação de trabalhadores. Os resultados foram consolidados na tabela 9.

Tabela 9: Expectativas de futuro na percepção dos empreendedores


EXPECTATIVAS QUANTO AO FUTURO DA EMPRESA Nº %
PRETENDE SE MANTER NO SEGMENTO
Dentro do município 52 78,8%
Fora do município 3 4,5%
Pretensão de expansão 11 16,7%
TOTAL 66 100,0%
MOTIVOS PARA SAÍDA DO SEGMENTO DE ATUAÇÃO ATUAL
Declínio do COMPERJ 8 57%
Perda da fatia de mercado 6 43%
Redução de espaço Físico 0 0%
TOTAL 14 100,0%
TOTAL GERAL 80 100,0%
Fonte: Elaborado pelos autores

As respostas foram agrupadas em relação à Mesmo com a pretensão de manter seus


amostra total de 80 questionários, indicando negócios e no mesmo segmento, 4,5%
que a grande maioria, 66 (82,5%) informaram que pretendem investir em outros
responderam que apesar da crise e das municípios que apresentariam melhores
dificuldades pretendem manter seus negócios oportunidades de mercado.
e segmento de atuação, destacando-se que
Em contrapartida, em decorrência da crise 14
78,8% consideram que vão conseguir se
(17,5%) responderam encerrarão suas
manter no mercado local e outros 16,7%
atividades destacando principalmente a
ainda pretendem expandir para garantir a
perda de participação no mercado em
necessária vantagem competitiva para se
decorrência da crise decorrente da
manterem no mercado.
paralisação das obras do COMPERJ.

Tópicos em Administração- Volume 8


125

Nesse contexto, os negócios mais afetados perceberam as influências do COMPERJ


são os que estão associados às demandas sobre seus negócios.
sazonais como restaurantes, pousadas,
Apesar da elevada taxa de mortalidade no
lavanderias, entre outros.
que diz respeito às MPEs, o estudo indicou
que, apesar das dificuldades enfrentadas e o
desconhecimento das ferramentas de
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
planejamento estratégico e sua efetiva
O estudo proposto buscou analisar os fatores uyilização, a grande maioria dos
motivadores da mortalidade de micro e empreendedores pretende continuar no
pequenas empresas (MPEs) ou a manutenção mercado e fazer investimentos buscando
de suas atividades em decorrência das adequação de seus negócios às demandas
influências provocadas sobre as economias do mercado.
locais quando da instalação de grandes
Foi evidenciado ainda a deficiência de
empreendimentos com recorte para o
controles efetivos da estrutura do executivo
Complexo Petroquímico do Estado do Rio de
municipal que acompanhem com maior nível
Janeiro (COMPERJ) no Município de
de detalhamento as movimentações
Itaboraí/RJ com recorte para o período de
envolvendo a criação e encerramento de
2006 a 2014, compreendendo o processo de
empresas associadas ao processo de
anúncio, instalação, inicio de obras e posterior
implantação de grandes empreendimentos.
paralisação.
Considerando as pressões que são
Buscou ainda entendimento sobre o ambiente
provocadas sobre a economia local quando
de negócios das MPEs, expectativas geradas
da decisão de instalação desses
com o processo de implantação do
empreendimentos, recomenda-se o
empreendimento, bem como estudos iniciais
desenvolvimento de políticas públicas
indicativos de cenários que seriam
voltadas ao fomento da capacitação dos
configurados com a instalação do Complexo.
pequenos empreendedores e ritos mais
O estudo contextualiza inicialmente conceitos simplificados para legalização e
fundamentais sobre as MPEs e mortalidade licenciamento das novas empresas.
empresarial, destacando os principais fatores
Destaque se faz ao potencial para geração de
contribuintes que levam ao encerramento de
emprego e renda dessas organizações, que
atividades, por vezes, precoce.
respondem por grande parte dos empregos
O objetivo geral foi alcançado com a gerados, tanto no plano local quanto regional,
identificação e análise dos impactos positivos e portanto torna-se significativo o investimento
e negativos produzidos pelo COMPERJ sobre em capital humano e sua qualificação.
a economia local e os pequenos
Considerando o presente estudo ser fruto de
empreendedores através do desenvolvimento
monografia apresentada no curso de
de pesquisa amostral junto à as MPEs.
Administração de Empresas da Faculdade
Com a consolidação dos resultados da Itaboraí, não se pretende aqui encerrar as
pesquisa de campo foi possível estabelecer o discussões sobre o tema, sendo este, base
perfil das empresas e captar o entendimento para discussões e estudos futuros a serem
dos empreendedores sobre como estes desenvolvidos pelo autor e seus orientadores.

REFERÊNCIAS
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produtiva e clusters regionais oportunidades para
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<http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-
[4]. IBGE Cidades – Instituto Brasileiro de
atividades/principais-
Geografia e Estatística (IBGE): Localização
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Tópicos em Administração- Volume 8


126

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em: <www.cidades.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS:
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2013 – 6ª. edição. DIEESE, São Paulo, 2013.
[5]. Prefeitura Municipal de Itaboraí –
Disponível em:
Secretaria Municipal de Planejamento e
<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebra
coordenação: Caderno Itadados, versão 1, 2006 e e/Anexos/Anuario%20do%20Trabalho%20Na%20M
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<http://legislaitaborai.com.br/leis/cadernos_itadado
Acesso em: 10 out. 2015
s.pdf>. Acesso em: 10 out. 2015 Prefeitura
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[7]. SEBRAE – SERVIÇO BRASILEIRO DE [11]. ZACCARELLI, Sérgio Baptista;
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Disponível em: Empresas, São Paulo (SP): Escola de
<http://www.leigeral.com.br/portal/lumis/portal/file/fil Administração de Empresas de São Paulo –
eDownload.jsp?fileId=FF8080812993A8DE0129CD Fundação Getúlio Vargas, v. 34, n. 4, p. 13-22,
CCC81B7959>. Acesso em: 10 out. 2015 jul./ago. 1994

Tópicos em Administração- Volume 8


127

Capítulo 11

Ricardo Luiz Fernandes Bella


Renata Raposo Del-Vecchio

Resumo: Milhões de pessoas ao redor do mundo são admitidas todos os dias em


diferentes tipos de organizações. A gestão desse processo requer a dedicação de
profissionais capacitados para a integração de novos membros às organizações.
Muitas técnicas podem ser utilizadas, entretanto a análise de redes sociais, como
Facebook e LinkedIn, tem se tornado uma componente cada vez mais utilizadas
pelas equipes de recursos humanos. Este artigo simula a escolha de facilitadores
no processo de integração de 39 novos membros de uma organização não
governamental. Estes facilitadores foram selecionados a partir da identificação das
pessoas mais bem relacionadas dentro grupo através da análise de centralidade
de informações obtidas em redes sociais. Para isso, as informações de
relacionamento obtidas nas redes sociais foram analisadas segundo técnicas
matemáticas de centralidade que são discutidas pela teoria de grafos.

Palavras-Chave: Integração de Novos Membros; Análise de Redes Sociais;


Centralidade.

Tópicos em Administração - Volume 8


128

1. INTRODUÇÃO afirmando que esta é uma atividade


indispensável para o repasse da cultura da
A integração de novos membros à
organização e reprodução de seu universo
organização tem por objetivo principal gerar
um acolhimento emocional e orientação simbólico. Segundo Soalheiro (2014) uma
funcional, em outras palavras, pretende-se integração bem feita traz diversos benefícios,
comunicar ao novo membro as seguintes entre eles:
mensagens: “do que eu faço parte” e “o que  Cria senso de envolvimento e
esperam de mim”. Segundo Soalheiro (2014) pertencimento do colaborador com a
uma boa integração vai garantir que as empresa;
pessoas entrem na organização motivadas e
situadas em seu ambiente, uma vez que  Informa claramente expectativas da
estejam claro os valores e expectativas da empresa sobre a postura esperada;
empresa.  Acelera o processo de adaptação;
Entretanto, as empresas enfrentam
 Evita perda de tempo com dúvidas
dificuldades neste processo que são
sobre assuntos básicos;
inerentes a socialização, de modo que, por
características pessoais ou circunstâncias, o  Proporciona alta produtividade desde
objetivo deste processo não é alcançado os momentos iniciais.
satisfatoriamente (GONÇALVES, 2005).
Assim, para que as organizações sejam
eficazes no seu objetivo de integrarão de 2.2. ANÁLISE DE REDES SOCIAIS
novos membros é necessária a participação
A Análise de Redes sociais (do inglês, Social
de facilitadores ativos que promovam no
Network Analisys) se tornou um tema de
grupo uma socialização positiva com
animação, interação, afinidade e pro atividade grande relevância a partir do crescimento de
tecnologias de informação, especialmente a
(SILVA, 2013).
Internet, que migrou a discussão para
Neste contexto, as estruturas de redes sociais ambientes cada vez mais complexos
representam uma fonte de observação das (GUIMARÃES & MELO, 2005). Nesse sentido,
relações humanas, uma vez que está as redes sociais passaram a figurar cada vez
presente em todas as culturas e mais como instrumentos de investigação
organizações, seja de maneira formal, social no intuito de estudar uma rede, um ator
informal, ou ainda em plataformas on-line específico ou grupo de atores (VARANDA,
como o Facebook por exemplo (BEZ et al, 2007).
2010). Associado ao conceito de rede social
surge o tema Análise de Redes Sociais (ARS), Segundo Wasserman e Faust (1994), a análise
que consiste em mapear as relações entre de redes sociais é baseada em algumas
atores (neste artigo, os novos membros), premissas, das quais vale ressaltar: cada ator
geralmente, mediada por recursos é uma unidade autônoma; as ações dos
computacionais e informações obtidas na atores são vistas como interdependentes; e as
internet. relações entre atores são canais que fluem
recursos materiais ou imateriais. Ainda
segundo o autor, costuma-se utilizar uma
2. REFERENCIAL TEÓRICO representação gráfica em que cada ator é um
vértice (i.e, um ponto), e as relações são
2.1. INTEGRAÇÃO DE NOVOS MEMBROS representadas por arestas (i.e, linhas) que
O tema integração de novos membros nas conectam os vértices. Além disso, dentro da
organizações tem sido apresentado por literatura atual, as principais questões
administradores, psicólogos e profissionais de abordadas sobre o tema são (FREITAS &
Recursos Humanos, no entanto conta-se com PEREIRA, 2005; HATALA, 2006):
pouca bibliografia a este respeito (SILVEIRA, Centralidade - são métricas de posição
2012). Segundo Marras (2009), essa relativa de um ator em relação a rede, sendo
integração, também chamada de socialização uma grande centralidade relacionada a um
organizacional, é o processo pelo qual o contato direto com muitos outros atores;
indivíduo tem contato com os valores e
comportamentos esperados pela organização Densidade - é uma métrica de conectividade
para que ele seja parte integrante deste meio. que representa o número de ligações
Chiavenato (2010) corrobora essa perspectiva

Tópicos em Administração - Volume 8


129

existentes em uma rede, sendo uma grande para a transformação dos dados na estratégia
densidade relacionada a muitas conexões; de seleção de facilitadores pode ser descrita
em quatro passos:
Clusters - são subconjunto de nós próximos
com grande interação. A análise de clusters Passo 1 - Coleta de dados sobre o
permite que o analista identifique pequenos relacionamento dos membros nas redes
grupos dentro da rede; sociais;
Hubs - são os atores altamente conectados e Passo 2 - Construção da matriz de adjacência
que contribuem significativamente para para tratamento dos dados;
diminuir a distância entre os grupos e Passo 3 - Tratamento dos dados através do
indivíduos da rede. programa Ucinet e NetDraw;
Passo 4 - Análise dos resultados e seleção de
2.3. CENTRALIDADE DE GRAFOS facilitadores.

As medidas de centralidade permitem O primeiro passo consistiu no


determinar a posição relativa de um vértice estabelecimento de um relacionamento nas
em um grafo. Assim os vértices mais centrais redes sociais digitais do responsável pelo
possuem posições estratégicas, de modo que processo de integração com os novos
a importância de localizá-los relaciona-se com membros. A partir desse relacionamento o
a capacidade destes vértices de intermediar responsável pelo processo teve acesso a
ou propagar informações na rede, por rede e as relações preexistentes dentro da
exemplo. As medidas de centralidade mais rede.
utilizadas são (sendo, as três primeiras O segundo passo se caracterizou pela
propostas por Freeman, 1979 e a ultima por tradução destes relacionamentos observados
Bonachi, 1987): na rede social em uma matriz de adjacência,
Grau (degree) - mede o nível de isto é, uma matriz formada pelo cruzamento
conectividade de um vértice com a rede, isto de todos os atores da rede, onde cada célula
é, com quantos outros vértices aquele vértice responde a pergunta “o ator da linha conecta
está conectado; com o ator da coluna?”. Caso haja uma
conexão entre estes atores a célula recebe o
Proximidade (closeness) - mede a distância valor 1, caso contrário recebe o valor 0. Essa
para atingir todos os vértices da rede, isto é, matriz se reflete em um grafo onde para cada
quão próximo um vértice está dos demais; célula igual a 1 temos uma aresta ligando um
Intermediação (betweenness) - mede o par de atores. Para elaboração da matriz de
numero de caminhos geodésicos (i.e, menor adjacência foi utilizado o programa Excel.
caminho) entre dois outros vértices que O terceiro passo consistiu do tratamento dos
passam pelo vértice, isto é, representa a dados através do programa Ucinet para
capacidade de ligação entre outros dois geração dos valores de centralidade dos
vértices da rede; atores da rede e NetDraw para a elaboração
do gráfico da rede. Em ambos os programas
Auto-vetor (eigenvector) - mede a conexão do
a entrada utilizada foi a planilha criada no
vértice com outros vértices com elevada
Excel da matriz de adjacência elaborada no
conectividade, isto é, representa o
passo anterior.
relacionamento de um vértice com outros bem
relacionados. O quarto passo representa a análise dos
resultados obtidos com os programas no
passo anterior com o objetivo de
3. METODOLOGIA compreender melhor a rede e suas relações
preestabelecidas no intuito de selecionar os
Esta pesquisa é uma simulação da aplicação
atores mais centrais da rede como parceiros e
de métodos matemáticos de centralidade de
facilitadores no processo de integração de
grafos para subsidiar a criação de uma
novos membros da organização.
estratégia de seleção de facilitadores na
integração de novos membros de uma
organização não governamental. Para isso,
4. RESULTADO
utilizou-se como base de dados as
informações obtidas através da análise de A rede formada pelos recém chegados à
redes sociais digitais. A metodologia aplicada organização não governamental tomada como

Tópicos em Administração - Volume 8


130

caso de estudo e fonte de dados se que o processo seletivo priorizou a seleção de


apresentou bem densa, isto é, com bastantes pessoas com maior capacidade de conexão e
conexões entre os membros. Tal fato foi integração, o que se refletiu numa rede de
atribuído ao estilo de processo seletivo que a novos membros com uma média de conexões
organização conduziu com os candidatos a de 4,7. Isso significa que cada membro tinha
voluntariado que foi caracterizado como de em média um relacionamento digital com
grande informalidade e promovendo desde outros 4 ou 5 membros do grupo de 39 novos
aquele momento a criação de laços de membros, representando 12% das conexões
relacionamento entre os participantes. Dessa possíveis na rede. Essas medidas dão ideia
maneira, ao final do processo seletivo, muitos ao leitor da densidade antes do processo de
participantes tinham estabelecido novas integração.
conexões em suas redes sociais digitais.
Com base na análise da rede social digital,
Entretanto, apesar do incentivo à criação de obteve-se a matriz de adjacência (em anexo a
laços de relacionamento entre os este artigo). Com essa matriz pode-se gerar
participantes, a atitude de estabelecer os resultados para análise a partir dos
conexões virtuais partiu da iniciativa dos programas Ucinet e Netdraw. Na figura 1,
participantes de modo que o grau de temos o output gerado pelo Ucinet com os
conectividade variou entre os participantes. valores das quatro centralidades analisadas
Por outro lado, pela cultura organizacional de (vide seção 2.3. Centralidade de Grafos) para
trabalho em equipe e cooperação, supõe-se todos os atores da rede estudada.

Figura 1 - Valores de centralidade dos atores da rede

Fonte: Ucinet
Com base nestes valores, utilizou-se o onde o tamanho relativo de cada ator na rede
software Netdraw para a visualização da rede está relacionado a sua centralidade de grau.
sobre a perspectiva das diferentes Desse modo, quanto maior o vértice maior o
centralidades calculadas. Na figura 2, pode- numero de conexões estabelecidas por ele.
se observar a centralidade de grau da rede,

Tópicos em Administração - Volume 8


131

Figura 2 - Centralidade de grau

Fonte: NetDraw
Na figura 3, podem-se observar as base no afastamento de um vértice para os
centralidades de proximidade estabelecidas demais, de modo que quanto menor o valor
na rede. Nesta figura, assim como a anterior o de afastamento maior é a centralidade de
tamanho do vértice está orientado ao valor da proximidade daquele vértice. Assim, os
centralidade do mesmo. No entanto, a vértices menores são os mais centrais.
centralidade de proximidade foi obtida com

Figura 3 - Centralidade de proximidade

Fonte: NetDraw
Outra centralidade interessante de ser vértices da rede são representados com um
observada está ilustrada na figura 4. Nesta tamanho maior. Estes desempenham
figura pode-se observar a centralidade de fundamental importância na conexão entre
intermediação, onde os vértices mais capazes grupos ou atores.
de estabelecer conexão entre outros dois

Tópicos em Administração - Volume 8


132

Figura 4 - Centralidade de intermediação

Fonte: NetDraw

A ultima centralidade a ser analisada na rede conexões com outros atores também muito
diz respeito a capacidade de um ator de conectados, maior a sua capacidade de
influência sobre os demais vértices da rede, articulação deste ator na rede.
de modo que quanto maior o numero de

Figura 5 - Centralidade de auto-vetor

Fonte: NetDraw

Com base na análise conjunta das quatro das quatro perspectivas de centralidade
centralidades em questão, uma estratégia foi abordadas. Na figura 6, podem-se observar
criada, onde se optou por selecionar todos os atores selecionados segundo a estratégia
atores que figurassem ao menos uma vez utilizada.
entre as quatro primeiras posições a partir

Tópicos em Administração - Volume 8


133

Figura 6 - Escolha dos facilitadores para o processo de integração


Posição Grau (+/+) Proximidade (-/+) Intermediação (+/+) Auto-vetor (+/+)
1 W (10) W (77) W (98) W (0.35)
2 AA (9) AA (80) AA (66) AA (0.33)
3 Q (8) Q (84) F (64) Q (0.31)
4 F (7) T (85) U (52) Z (0.24)
5 U (7) U (85) AF (47) AB (0.23)
6 Z (7) Z (85) AD (46) AH (0.22)
Fonte: Ucinet

Por fim, na figura 7 pode-se observar o Além disso, o grupo selecionado como
posicionamento dos atores selecionados facilitadores, que na figura estão destacados
como facilitadores dentro da rede. Nesta por um círculo vermelho, consegue atingir a
figura percebe-se que o programa NetDraw praticamente todos os nós da rede
automaticamente gera a rede com os atores diretamente.
mais centreis localizados no meio da rede.

Figura 7 - Posicionamento dos facilitadores na rede

Fonte: NetDraw

5. CONCLUSÃO seguintes pontos ao processo de integração


devido as característica de centralidade
A consideração de quatro tipos de
destes atores:
centralidade na estratégia de escolha dos
facilitadores permitiu aliar características que Qualidade - devido à maior potencial de
vão além de uma análise psico-métrica liderança e influência;
tradicional, possibilitando as equipes
Rapidez - devido à maior capacidade de
responsáveis pela integração dos novos
dinamização e disseminação de informação;
membros fomentarem este processo através
de atores com grande articulação na rede. Alcance - devido à maior capacidade de
Nesse sentido, o grupo de facilitadores inclusão e intermediação na conexão entre
selecionado deve permitir agregar os atores.

Tópicos em Administração - Volume 8


134

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Tópicos em Administração - Volume 8


135

ANEXO - Matriz de adjacência das relações preexistentes na rede social estudada


A A A A A A A A A A A A A
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W Y X Z
A B C D E F G H I J K L M

A 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0

B 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

C 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

D 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0

E 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

F 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1

G 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0

H 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

I 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0

J 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

K 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

L 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0

M 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

N 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0

O 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0

P 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0

Q 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0

R 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0

S 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

T 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 1 0 0

U 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

V 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1

W 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0

Y 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0

X 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Z 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0

AA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 1 1

AB 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0

AC 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0

AD 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AE 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

AF 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0

AG 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AH 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0

AI 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0

AJ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0

AK 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

AL 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

AM 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Tópicos em Administração - Volume 8


136

Capítulo 12

Mauro Campello
Mauro Luiz Costa Campello

Resumo: O processo produtivo de bens ou de serviços vem sofrendo muitas


mudanças ao longo dos últimos anos. As relações entre os gestores e
colaboradores também vem, da mesma forma, sofrendo alterações que podem
interferir nos resultados pretendidos – de forma positiva ou mesmo negativa. O
presente trabalho aborda a importância da gestão de pessoas na produção de
bens e serviços como uma estratégia para atingir os resultados desejados pelas
empresas, englobando a importância do gestor de pessoas nesse processo. Assim,
o trabalho aborda temas sobre liderança, motivação, coaching e feedback, trabalho
em equipe, bem como suas implicações e desafios para o bom desempenho das
empresas modernas, considerando as mudanças presentes em um mercado
altamente dinâmico e muito competitivo. Também são analisadas algumas variáveis
que interferem no processo de gestão de pessoas, variáveis essas que provocam
impactos diferentes em cada organização, tanto em função do momento em que a
mesma se encontra nesse processo de gestão de pessoas, além do segmento em
que cada empresa atua. Os erros mais comuns dos gestores de pessoas também
são abordados nesse trabalho.

Palavras-chave: Gestão de pessoas, liderança, motivação, trabalho em equipe,


resultados.

Tópicos em Administração - Volume 8


137

1. INTRODUÇÃO 1998). Se as empresas podem ser assim


percebidas, a relação entre as pessoas -
As empresas estão sempre buscando maiores
gestores e colaboradores - assume grande
resultados. Mesmo quando a economia
importância nesse processo vivo das
atravessa momentos desafiadores, a
organizações.
otimização dos recursos é fundamental para
que sejam alcançados os resultados e Hamel e Prahalad (1976) citam a necessidade
desenvolvimento previstos. Assim, todo das empresas se reavaliarem, regenerando
movimento importante que ocorra nos suas estratégias centrais e reinventando seu
mercados de atuação faz com que as setor, ou seja, se diferenciarem. Isso significa,
empresas analisem de forma intensa a segundo os autores, entender o que os
situação para tomarem as melhores decisões. clientes vão querer no futuro, as tendências
Dessa forma, a produção de bens e serviços do mercado e dos concorrentes o que
sofreu profundas mudanças nas últimas garantirá a sobrevivência das empresas, fato
décadas, fazendo com que, em certas que está relacionado à capacidade de troca
circunstâncias, alguns dos paradigmas de com o ambiente onde elas operam: mão de
produção desenvolvidos na administração obra adequada, aceitação de seus produtos
científica não mais se apliquem, pelo menos pelos clientes, poder de pagar os insumos
com a mesma eficiência, eficácia e necessários, responsabilidade social,
efetividade de antes. governança corporativa, ética e outros
aspectos relevantes.
A forte presença da tecnologia na produção,
na gestão, no controle e mesmo no processo Assim, a relação gestor-colaborador é
de venda alterou de forma radical as relações importante para os objetivos das empresas.
entre empresas e seus clientes - razão de ser
de qualquer negócio - e entre as mesmas e os
colaboradores, necessários no processo 2. O HOMEM: MUITO MAIS QUE UM FATOR
produtivo, bem como no desenvolvimento das DE PRODUÇÃO
estratégias e, também, no processo
De acordo com Santos et al. (2001), os
comercial. Alguns exemplos do uso intenso
resultados das empresas dependem de três
de tecnologia são a forma de atuação dos
fatores fundamentais: pessoas, processos e
bancos, das empresas de comunicação e da
filosofia estratégica. As pessoas atuam de
própria educação com o ensino à distancia.
forma a atingirem os resultados pretendidos
A tecnologia associada aos processos utilizando processos claros, específicos e
produtivos, de gestão, de controle e de bem definidos, tendo como forte orientação à
qualidade provocou uma revolução ampla na filosofia estratégica da empresa. A sinergia do
produção de bens e serviços e também nas modelo está relacionada de acordo com a
vendas sem a necessidade de lojas físicas. forma de interação entre esses três fatores. A
Essas mudanças se tornaram uma forma de busca dos resultados ou competitividade
buscar diferenciais competitivos em relação desejada está ligada à forma como os
aos concorrentes, bem como possibilidades colaboradores trabalham, os processos
para redução dos custos de produção e utilizados por eles no trabalho, colocando em
inovação em seus negócios. prática a estratégia da organização.
Esse aporte tecnológico na produção de bens Logo, o homem é mais que um composto
e serviços provocou significativa redução do mecânico e por muito tempo foi referido
número de pessoas na produção. Isso apenas como um fator de produção – o
acarreta a necessidade das empresas trabalho. Ele possui muitos atributos que
investirem em treinamento como forma de afetam significativamente seu desempenho. O
adequar as competências dos colaboradores homem sofre variações diversas em relação
aos novos processos, além de provocar ao seu estado psicológico pelas mudanças
mudanças na forma de gerenciar pessoas, que ocorrem no seu cotidiano e que
seja na comunicação, liderança, motivação, interferem na sua atividade profissional e,
clima organizacional, trabalho em equipe, consequentemente, nos resultados
entre outras áreas. esperados. Em algumas situações, as
pessoas podem estar emocionalmente
A evolução da teoria das organizações mostra
confusas por suas relações pessoais e nesses
que as mesmas podem ser comparadas a
aspectos, o comprometimento com a
organismos vivos, flexíveis e suscetíveis às
qualidade de seus serviços acaba sendo
variáveis internas e externas (DE GEUS,

Tópicos em Administração - Volume 8


138

afetado, além de sua capacidade de trabalhar compromete tanto os colaboradores, como o


em equipe, gerando resultados muito aquém resultado das empresas, além de afetar a
daqueles pretendidos. saúde dos colaboradores com redução da
produtividade profissional, queda no
desempenho, baixa motivação e falta de
3. GESTOR DE PESSOAS: CLIMA E criatividade. O estresse também causa
TRABALHO EM EQUIPE desgastes no ambiente de trabalho,
prejudicando o clima organizacional e o
Com base nas condições citadas, é
trabalho em equipe. Cabe ao gestor atuar na
necessário um novo gestor de pessoas e uma
prevenção dos impactos do estresse
nova forma de relação entre esse gestor e
mantendo o ânimo e a autoestima dos
seus colaboradores. Um gestor que capaz de
colaboradores, contribuindo para um melhor
trabalhar as três vertentes dos resultados – as
resultado das empresas, maior motivação das
pessoas, os processos e a filosofia
equipes com menor desgaste físico e
estratégica – para buscar motivação e
emocional.
comprometimento dos colaboradores. A
motivação faz o colaborador adquirir maior O bom gestor deve ter as seguintes atitudes:
capacidade (DAVIS E NEWSTROM, 1998) e, a encorajar o aprendizado e o crescimento
fim de que tal processo ocorra da forma contínuo das pessoas; estimular nas pessoas
esperada, é importante que as empresas o sentimento de pertencer – “sentimento de
criem condições que motivem os dono”; criar um clima que estimula os
colaboradores a atingir um melhor desafios e a criatividade; cuidar da sua
desempenho, ou seja, um clima equipe sendo eficaz nos esforços de
organizacional que facilite o alcance dos influenciar e conquistar cooperação e
resultados. Isso influencia a capacidade da comprometimento das pessoas; inspirar
empresa atrair e reter colaboradores entusiasmo; manter o autocontrole, lidando
competentes que contribuam, de fato, com adequadamente com seus sentimentos, bem
resultados superiores, tornando-a cada vez como com os sentimentos das outras
melhor e gerando vantagem competitiva pessoas; elogiar e dar feedback às pessoas
sustentável sobre concorrentes e satisfação sempre e quando necessário; ser flexível, ou
dos clientes, ou seja, possa criar diferenciais seja, ser capaz de se adaptar às diversas
competitivos. situações em diferentes momentos.
Segundo Bennis (1996, p.6), “clima significa Essa última atitude tem um papel fundamental
um conjunto de valores ou atitudes que no processo de gestão de pessoas, pelo fato
afetam a maneira pela qual as pessoas se da diversidade dos fatores envolvidos e da
relacionam umas com as outras, tais como necessidade de adaptação do gestor de
sinceridade, padrões de autoridade, relações acordo com as situações com as quais ele se
sociais, etc”. defronta no dia a dia das organizações.
A pressão de trabalho sobre os Com certeza, nenhum ser humano é puro ou
colaboradores, baseada no foco em perfeito, então um gestor de pessoas deve ter
resultados, com crescente e contínua alguns atributos ou qualidades que suportem
cobrança por mais e maiores negócios, sua condição de liderança, entre as quais se
conforme destacado por Rechzeigel e Vanalle destacam, segundo Gainza (2011):
(2000), pode, em muitas situações gerar
Qualificação: o gestor tem que estar
estresse, definido como o conjunto de
capacitado tecnicamente, sem
reações do organismo às agressões de
necessariamente ser a pessoa que mais
ordem física, psíquica, infecciosa e outras,
conheça a atividade; nem sempre os mais
capazes de perturbar a homeostase, que é a
capacitados são os melhores líderes;
“propriedade de um sistema aberto,
especialmente dos seres vivos, de regular o Capacidade de mando: o gestor tem que ser
seu ambiente interno, de modo a manter uma capaz de tomar as decisões certas e devidas
condição estável mediante múltiplos ajustes nos momentos oportunos com tomadas de
de equilíbrio dinâmico, controlados por decisão claras, orientadoras e precisas;
mecanismos de regulação inter-relacionados”
Capacidade de comunicação: essa qualidade
(WIKIPÉDIA, 2015).
envolve não apenas a capacidade de
O estresse pode ser provocado pelo comunicar-se com os colaboradores, mas
desequilíbrio entre esses estados e também ser capaz de escutar;

Tópicos em Administração - Volume 8


139

Honestidade e humildade: o gestor não deve formado em função da imagem que se tem do
se sentir superior aos demais pela posição mundo, das experiências e das situações
hierárquica que o cargo lhe confere. Saber percebidas.
escutar, inclusive quando faz uma crítica, é
Algumas condições para uma boa
vital para um bom gestor. Nenhum ser
comunicação são ter o objetivo claro; ordenar
humano está isento de cometer erros ou
e concretizar a mensagem; envolver o
equívocos.
receptor; usar uma linguagem clara e simples;
A tendência atual de redução do número de usar apoios não verbais e obter feedback.
pessoas envolvidas na produção conduz a
Esse último item tem uma relevância
uma consciência cada vez maior da
fundamental na comunicação, já que permite
necessidade do trabalho em equipe, com
saber se o outro entendeu a mensagem, o
uma maior e melhor relação interpessoal e
que é de suma importância para os
intensa integração entre as pessoas
resultados.
(MUCCHIELLI, 1980). A integração dos
diversos níveis de uma equipe de trabalho é O gestor deve manter uma boa comunicação
fundamental para a realização das atividades com sua equipe e demais pessoas da
que gerem um bom resultado e a liderança empresa para maximizar resultados e
tem um efeito cascata muito importante sobre minimizar problemas e conflitos.
os colaboradores nessa situação, segundo
Bradford e Cohen (1985). Assim, o ambiente
organizacional, incluindo a cultura e o clima, 5. LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO
deve propiciar a produtividade nas
O gestor de pessoas deve evitar toda e
organizações e aí devem ser incluídos o
qualquer competição entre a equipe que
conhecimento, a habilidade, a atitude e a
conduza a um espírito negativo e destruidor
motivação para essa produtividade ser
com perda de energia, redução da sinergia e
atingida. A motivação faz, segundo Davis e
baixos resultados. Sempre deve incentivar a
Newstrom (1998), com que o colaborador
competição de cooperação, que propicia a
possa adquirir capacidade e
motivação constante, bem como a sinergia da
responsabilidade no desempenho de suas
equipe (MUCCHIELLI, 1980). Segundo Gainza
funções. O trabalho em equipe envolve não só
(2011), o gestor tem muitos papéis, porém
as pessoas diretamente voltadas à produção,
conseguir a motivação dos colaboradores
como também as diversas áreas de apoio e
talvez seja o papel mais fundamental entre os
suporte necessárias para atingir os objetivos
diversos em seu trabalho, além de
pretendidos pelas empresas.
desenvolver pessoas.
Segundo Ferreira (1999, p. 1371), motivação é
4. GESTOR E A COMUNICAÇÃO o “conjunto de fatores psicológicos
(conscientes ou inconscientes) de ordem
Entre os atributos ou qualidades que
fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais
suportam a condição de liderança citada
agem entre si e determinam a conduta de um
anteriormente, encontra-se a comunicação.
indivíduo”. Então, o comportamento
Para Ferreira (1993, p. 134), comunicação é organizacional deve prover condições para
“a capacidade de trocar ou discutir ideias, de criar produtividade nas organizações, além de
dialogar, de conversar, com vista ao bom fazer com que os fatores que atuam sobre a
entendimento entre pessoas”. Então, a motivação dos colaboradores estejam
comunicação é a ferramenta que possibilita presentes.
construir relacionamentos, pois gera
Para Rechziegel e Vanalle (2000), a nova
conhecimento, entendimento, aceitação,
gestão de recursos humanos nas empresas
comprometimento e ação. A comunicação é
faz com que outros princípios também
fundamental para o ser humano conhecer
passem a ter destaque, entre os quais podem
pessoas, descobrir caminhos e oportunidades
ser citados:
de troca e crescimento. É a base para todas
as atividades nas organizações, segundo Empregabilidade - estabelecida pelo mercado
Lima (2008). (qualificação dos colaboradores);
Cada indivíduo interpreta a mesma O autodesenvolvimento - as próprias pessoas
informação e estímulos de diferentes modos, buscan agregar novas competências;
assim o comportamento de cada um é

Tópicos em Administração - Volume 8


140

O foco em resultados - a mensuração maior satisfação e motivação (OLIVEIRA e


constante do valor que as pessoas oferecem VANALLE, 1999).
ao negócio das empresas;
O papel do gestor é importante para
O empowerment - as relações entre as identificar quais competências devem ser
pessoas e as organizações significam o desenvolvidas em cada um dos
máximo de autonomia possível dos líderes na colaboradores, bem como buscar a
gestão de suas equipes de trabalho. capacitação dos mesmos, fazendo as coisas
acontecerem (KUSCH, 2004), contribuindo,
As empresas que investem na reciclagem de
desta forma, com a motivação dos
seus colaboradores o fazem, em parte, para
colaboradores, com o aumento da
preservação do capital social existente entre
lucratividade, com maior satisfação dos
eles, ou seja, uma estreita rede de
clientes e para o sucesso no longo prazo, ou
relacionamentos no local de trabalho, gerando
seja, obtendo resultados sustentáveis e
maior produtividade, sinergia e mais união no
recorrentes.
ambiente de trabalho. O treinamento permite
que as empresas adquiram uma nova Ortega (2015) cita que o gestor deve utilizar
estrutura comportamental e instrumental, duas dimensões - os resultados e as atitudes
possibilitando que o colaborador reposicione dos colaboradores - para definir as ações a
sua atuação na empresa com maior serem desenvolvidas junto aos mesmos, ou
contribuição para os objetivos desejados com seja, demitir, treinar, analisar e incentivar,
conforme Figura 1.

Figura 1- Dimensões para análise das ações em relação aos colaboradores.

Fonte: Ortega (2015); elaborado pelo autor.

Gerenciar pessoas é o grande desafio das sintonizado com os objetivos estratégicos da


organizações no momento atual e as organização, que por sua vez, estão
variáveis, que já são muitas pela baseados em princípios sólidos de sua
complexidade do mundo global, sofrem perpetuação saudável em um mercado cada
mudanças a todo o momento e de vários vez mais competitivo, exigente e inovador, ou
tipos. seja, a filosofia estratégica citada
anteriormente.
É fundamental que o gestor de pessoas
pratique processos individuais de motivação, Segundo alguns autores pesquisados, estas
identificando as motivações de cada são as formas mais comuns e efetivas de
colaborador, uma vez que os membros de motivar os colaboradores:
sua equipe são de naturezas diferentes e,
Proporcionar reconhecimento e reforço
utilizando os processos de
durante a execução das tarefas ou quando se
produção/transformação de sua área, deve
produzem progressos;
assegurar essa capacidade de mudança na
velocidade que o mercado exige – tanto os Evitar comparações com outros membros da
clientes, como a concorrência. Assegurar a equipe;
capacidade de mudança significa estar

Tópicos em Administração - Volume 8


141

Informar sobre bons resultados ou serviços e, assim, obterem um crescimento


comentários positivos que outras pessoas ou através da satisfação dos clientes, gerando
áreas fazem em relação à equipe; resultados recorrentes e sustentáveis.
Passar pelos postos de trabalho dos
colaboradores para falar com eles;
6. GESTOR DE PESSOAS: FORMAÇÃO DAS
Escutar e pedir opiniões e sugestões como PESSOAS
um modo cotidiano de interagir;
Nas equipes de alto desempenho as pessoas
Delegar tarefas e responsabilidades; devem saber como aprender, adequar e se
desenvolver. Pessoas que resolvam em lugar
Possibilitar o treinamento para o
de criar problemas. Os colaboradores devem
desenvolvimento pessoal e profissional;
estar preparados para os desafios que são
Celebrar avanços significativos da equipe. esperados deles, envolvendo competência e
comprometimento. Por meio do coaching o
O desafio da gestão de pessoas não pode
gestor pode buscar o maior comprometimento
deixar de considerar, cada vez mais, a
dos colaboradores com qualidade e
variável “tempo”. Assegurar a capacidade de
pontualidade na produção. O desempenho
mudança pressupõe que cada vez mais as
excelente de toda a equipe depende da
mudanças ocorrem com maior frequência e
preocupação de cada membro com os
muito rapidamente. Preparar as pessoas e
problemas a resolver e os resultados a serem
geri-las com a velocidade da mudança atual é
atingidos e, para isso, os membros da equipe
o grande desafio das lideranças e das áreas
devem ter iniciativa, o que não substitui as
de Recursos Humanos (RH) dentro das
atribuições ou responsabilidades definidas
organizações.
para cada função, bem como trabalhar
O gestor de pessoas é responsável por atingir sempre próximo ao seu potencial, o que nem
os resultados previstos através das pessoas. sempre acontece, algumas vezes pela própria
Garantir esses resultados envolve vários pressão diária, que pode conduzir ao
passos, como entender as motivações, tanto estresse, como já citado.
individuais como do grupo, entender a
De acordo com Nunes (2007), o processo de
capacitação e o nível de competências
coaching compreende as atuações do gestor
estabelecidas e a serem desenvolvidas e
voltadas para ajudar os seus colaboradores a
garantir o ambiente organizacional propício
trilharem o seu próprio caminho de
para que as potencialidades das pessoas
autodesenvolvimento. Assim, não compete ao
sejam exploradas e um alto grau de
gestor descobrir o que é melhor para os
motivação seja conseguido, além de facilitar o
colaboradores - cada um deles é que terá que
trabalho em equipe.
descobrir o seu melhor caminho para
É muito importante que o gestor seja capaz melhorar o próprio desempenho. O gestor
de identificar o grau de maturidade atua como um facilitador, acompanhando e
psicológica e profissional de cada membro de ajudando individualmente cada colaborador
sua equipe para facilitar o processo de como descobrir os meios de expressar melhor
liderança situacional com melhores os seus talentos de forma a melhor atingir os
resultados, ou seja, saber quando dirigir, objetivos pessoais e, por consequência,
persuadir, apoiar ou delegar (BLANCHARD e coletivos. Então o coaching é um processo
HERSHEY, 1986). que fomenta no colaborador o conhecimento
de si próprio e o ajuda a criar o desejo de
Mattar e Ferraz (2004) citam que as empresas
melhorar ao longo do tempo, com suporte do
sabem o valor e a importância de obter e
gestor.
manter o comprometimento de seus
colaboradores. Colaboradores Algumas características principais do
comprometidos propiciam maior eficiência, coaching são descritas a seguir:
eficácia e efetividade. Mas os autores
Consiste em ajudar a aprender, mais do que
comentam que nem sempre é fácil conseguir
ensinar;
esse comprometimento por parte dos
colaboradores. O mercado atualmente exige Não se aplica às pessoas em busca de uma
das empresas alta competitividade e as receita para solucionar problemas;
mesmas esperam o comprometimento de
seus colaboradores para atingirem um grau
maior de produtividade, com qualidade nos

Tópicos em Administração - Volume 8


142

A melhoria pessoal é produzida pelo Procurar soluções conjuntas, isto é, definição


autodescobrimento e não tanto pela de um plano de ação;
contribuição dos outros;
Concentrar-se naquilo que se acha bom e
Funciona com quem está disposto a necessário para a melhoria do colaborador;
questionar-se em sua forma de trabalhar;
Chegar a um acordo: o compromisso da
Não somente é necessário transmitir mudança.
conhecimentos, mas provocar mudanças de
O último item talvez seja o mais importante,
atitudes para que as condutas aprendidas se
mas depende muito dos passos anteriores.
convertam em hábitos, o que contribui para a
efetiva melhoria. O feedback é um fator importante na gestão
de pessoas já que está associado a um
Fazer bem o trabalho é o foco central, mais do
círculo virtuoso, uma vez que pessoas
que aspectos pessoais ou políticos. O foco,
responsáveis procuram receber feedback e o
no caso, deve estar na qualidade dentro das
mesmo cria pessoas responsáveis com a
necessidades do cliente. Dessa forma, a
possibilidade de melhoria com o feedback
atuação do gestor é fundamental para o
recebido. O coaching e o feedback servem
desenvolvimento de seus colaboradores por
para criar e manter pessoas com êxito em seu
meio do coaching, ou seja, da orientação e
contínuo desenvolvimento tendo condições de
desenvolvimento dos mesmos.
gerar melhores e superiores resultados.
A importância do gestor nesse processo de
desenvolvimento é essencial para mantê-los
motivados e comprometidos com seu 7. VARIÁVEIS NO PROCESSO DE GESTÃO
autodesenvolvimento e, dessa forma, atingir DE PESSOAS
os objetivos que são esperados deles. Para
Algumas variáveis que podem ser isoladas
isso, uma ferramenta útil é o feedback,
para o estudo do processo de gestão de
definido como “o procedimento que consiste
pessoas estão relacionadas a seguir, sem
no provimento de informação a uma pessoa
nenhuma ordem de importância ou
sobre o desempenho, conduta, ou ação
priorização, pois se forem combinadas elas
executada por esta, objetivando reorientar ou
potencializam impactos diferentes em cada
estimular comportamentos futuros mais
organização, dependendo do momento
adequados” (WIKIPÉDIA, 2015).
estratégico de gestão de pessoas em que a
Feedback consiste em dados e/ou organização se encontra ou do seu mercado
informações úteis que podem ser fornecidos a de atuação.
alguém sobre seu desempenho e seu
Entre tais variáveis, podem ser destacadas:
comportamento e como estes afetam o
restante do pessoal, o trabalho e os Avaliação do potencial: conhecer o potencial
resultados empresariais. É uma atividade do capital humano é importante para que
executada com a finalidade de maximizar o gestores e organização compreendam o
desempenho de um indivíduo ou de um espaço de movimentação e crescimento
grupo. possível das pessoas ou a necessidade de se
adequar perfis com treinamentos ou até troca
Na percepção de Bee e Bee (2000), o uso de
de pessoas;
técnicas de feedback sobre o desempenho
dos colaboradores é fundamental e pode-se Avaliação do desempenho por objetivos: as
destacar: pessoas precisam de desafios e devem ser
avaliadas com base na busca de resultados;
Analisar a situação inicial;
a busca de desafios (realização) é um dos
Determinar os efeitos dessa situação e os motivos sociais de McClleland (1988);
objetivos desejados;
Remuneração fixa versus remuneração
Ajustar-se à receptividade pelo colaborador; variável: a remuneração fixa é fator importante
que aliada à remuneração variável e à
Criar um ambiente propício;
avaliação de desempenho traz fortes
Comunicar-se efetivamente; componentes de satisfação no conceito dos
motivos sociais de McClleland e Burnham
Descrever o comportamento que se deseja
(2001), que é a necessidade de realização;
mudar e o comportamento desejado;
quanto maior os resultados conseguidos,

Tópicos em Administração - Volume 8


143

maior a realização e em consequência maior líderes, formais e informais) e a comunicação


remuneração em função da parte variável; externa da organização com os diversos
stakeholders tem impacto fantástico nas
Treinamento: o desempenho de funcionários e
relações da equipe e precisam ser cuidadas,
das equipes bem treinadas é fator
planejadas e geridas com as devidas análises
inquestionável que influi nos resultados e na
de impactos; a comunicação é um dos
motivação da equipe. Também é possível
elementos mais importantes da estratégia e
mudar atitudes dos colaboradores através do
da motivação dentro das organizações,
treinamento, uma vez que alguém mais
porque bem trabalhada evita ou neutraliza
capacitado tem maior vontade e
possíveis conflitos;
comprometimento em relação ao seu trabalho;
Reconhecimento: reconhecer desempenhos,
Desenvolvimento pessoal: ambientes e
principalmente dos colaboradores que estão
lideranças que incentivem o desenvolvimento
muito acima da média, tem sido prática
de seus colaboradores tem mais chances de
importante para a retenção desses
ter em seus quadros profissionais
profissionais nas organizações; o
qualificados, diferenciados e motivados;
reconhecimento atende às necessidades
Responsabilidade social: não só as empresas, sociais de McClleland (1988) na sua forma
mas também os gestores que incentivam seus mais completa, porque envolve os três
funcionários a se preocuparem com a componentes de motivação: afiliação,
responsabilidade social são percebidos como empowerment e realização;
sendo mais responsáveis e idôneos, trazendo
Ambiente e clima organizacional: o clima
maior identificação entre empresa e seus
organizacional medido e gerenciado é
colaboradores e, também, com o público
ferramenta importante de diagnóstico e facilita
externo;
as tomadas de decisões estratégicas;
Imagem da organização e da área:
Desafios: os desafios da organização
organizações com um impacto positivo no
permeiam os desafios individuais e da equipe;
mercado, com a preocupação real e não
a ausência de desafios dentro das
apenas uma imagem de preservação do meio
organizações não motiva as pessoas em
ambiente e de produtos que agregam valor
nenhuma das classificações de McClleland
sem prejuízos ambientais, por exemplo, além
(1988), pois não une equipes em torno de
da responsabilidade social, encontram em
objetivos comuns (afiliação), não afloram
seus colaboradores maior identificação
lideranças situacionais ou não (empowerment)
pessoal e satisfazem a segunda necessidade
e não trazem grandes resultados (realização);
social de McClleland (1988), que é a
necessidade de afiliação - sentimento de Estilos de liderança: os impactos de estilos
pertencer (fazer parte); diferentes de liderança e a aplicação
adequada destes estilos de gestão na
Possibilidades de carreira: devem estar
organização são uma riqueza a se trabalhar
disponíveis e bem explicitadas e o gestor tem
para obtenção dos melhores resultados
que ser o grande facilitador desse processo,
possíveis; devem ser levados em
incentivando o crescimento de sua equipe,
consideração a conduta de relacionamento, a
mesmo que o colaborador vá para outra
conduta de direção e o grau de maturidade
equipe;
de cada colaborador para definir os diversos
Benefícios das organizações: agregam valor estilos de liderança a serem praticados
aos funcionários, atendendo à necessidade (BLANCHARD e HERSHEY, 1986);
de afiliação (pertencer a um grupo que tem
Empowerment: pessoas com uma
aqueles benefícios);
necessidade de influência muito forte, na
Mentoring: gestores que desenvolvem o concepção de McClleland (1988), precisam
mentoring com membros de sua equipe ser satisfeitas nessa motivação dentro das
tendem a desenvolver as pessoas e isso organizações para que sejam retidas e se
também responde às necessidades de sintam felizes, com a consequente geração
realização e de empowerment de McClleland de resultados para a organização.
(1988);
Com tal diversidade de variáveis comentadas
Comunicação interna e externa: os aspectos é função do gestor eficaz entender, assimilar
de comunicação interna das lideranças, em e praticá-las consistentemente nas diversas
todas as direções (funcionários, pares,

Tópicos em Administração - Volume 8


144

situações que se apresentam no dia a dia das temor de ascensão, pondo em risco sua
organizações. posição;
Buscar sua própria glória: os bons resultados
serão o resultado da boa gestão, da
8. ERROS MAIS COMUNS DOS GESTORES
consagração e sabedoria do gestor, menos
DE PESSOAS
nas situações de fracasso. As vitórias têm
Os gestores, apesar da experiência e muitos pais, porém o fracasso é órfão;
dedicação, muitas vezes comentem erros
Não aprender com seus próprios erros: a
tanto na execução de suas atividades, como
autossuficiência e o senso de superioridade
nas relações do dia a dia com seus
levam à incapacidade de reconhecer os
colaboradores ou mesmo com seus pares. Em
erros;
análise realizada por Gainza (2011), o autor
relaciona os erros cometidos com alguma Não delegar: a desconfiança na capacidade
frequência pelos gestores no desempenho de dos colaboradores, a centralização das
sua função, entre os quais se destacam: decisões, o temor de que os outros não façam
o que devem pode levar à situação de que
Atitude impositiva: não aceitar sugestões dos
“porque nada pode ser feito melhor do que eu
demais, impondo apenas suas ideias sem
faço”. O bom gestor propicia que os
conhecer as ideias do grupo. O caráter
colaboradores trabalhem independentemente,
participativo ajuda a fortalecer o coletivo, além
sem o que não se pode delegar;
de envolver todos nos trabalhos necessários
para alcançar os objetivos desejados; Não manter sua equipe informada: uma das
razões pelas quais se perde a liderança é a
Não há quem saiba mais: alto risco de
falta de informações para o grupo. Se os
autossuficiência, que pode envolver talvez um
colaboradores desconhecem as atividades,
complexo de inferioridade, de preparação e
as regras, os processos, a gestão e os
experiência, mas que pode provocar outros
resultados que devem ser alcançados, a
erros;
tendência é a perda da confiança nesse
Assumir atitudes ditatoriais acreditando que gestor;
só ele tem razão: existe uma forte e direta
Não prever o futuro: o importante pode ser o
relação entre este erro e os dois anteriores.
presente, pois é pelos resultados atuais que
Não escutar os demais ou simular que escuta
todos na empresa são avaliados. Porém não
deixa as decisões tomadas apenas nas mãos
se pode perder a visão do futuro. Não ter essa
do que pensa o gestor. Isso faz com que
visão é por em risco o crescimento de médio
possa haver reprovações pelo grupo. A visão
ou de longo prazo.
de um gestor autoritário acaba não permitindo
que sejam escutadas as opiniões daqueles Essa relação de erros não deve ser tratada
que não concordem com a opinião ou ideia como uma regra geral, pois são relativos aos
do líder, podendo, assim, serem perdidas pontos mais comuns observados no estudo
grandes oportunidades de melhorias e realizado por Gainza (2011).
resultados;
O trabalho não deixa tempo para escutar: o
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
gestor não pode nunca esquecer que seu
trabalho depende do trabalho de um coletivo, Considerando os diversos aspectos
isto é, todos são responsáveis pelos anteriormente analisados ou comentados,
resultados. Assim, o gestor precisa ter em compete ao novo gestor a condução de
mente as preocupações, opiniões e soluções inovadoras na gestão de suas
sugestões dos colaboradores e considerá-las equipes, de forma a desenvolver profissionais
sempre que possível. Nunca, porém, deve competentes que tenham compromisso com
escutá-los apenas para cumprir a formalidade os objetivos da empresa, com a satisfação e
do papel de líder; fidelização dos clientes, com a
responsabilidade social e com a ética,
Bloquear os líderes potenciais: o cargo ou a
contribuindo diretamente com os resultados
posição de gestor não deve ser encarado
da organização, além de sua boa reputação e
como um cargo vitalício e assim evitar a
imagem no mercado em que atua.
possibilidade de que outros indivíduos
possam mostrar suas potencialidades ante o O gestor eficaz é aquele que busca formas de
motivação dos seus colaboradores, criando

Tópicos em Administração - Volume 8


145

condições junto à direção das empresas de profissional com a empresa, a exposição


retenção dos talentos, evitando a perda de inadequada em redes sociais e a
pessoas importantes para os resultados e que apresentação, que inclui a forma como a
fazem diferença na busca dos mesmos. Para pessoa se veste e se comunica, além da
isso, o gestor tem que conhecer bem as dificuldade de relacionamento interpessoal e
variáveis que influenciam na gestão de de trabalhar em equipe.
pessoas e a forma como elas interferem em
Fato importante no processo de gestão de
cada situação, utilizando-as da melhor forma
pessoas é que o gestor entenda o ser humano
possível e no momento apropriado. Espera-se
existente em cada colaborador, já que as
deste gestor que ele também utilize tais
pessoas são diferentes em vários aspectos,
conceitos em relação à sua atuação, pois
sendo necessário trabalhar essa diversidade
assim, além do autodesenvolvimento, ele
para buscar melhores resultados para a
estará “dando o exemplo” para sua equipe de
organização, manter a motivação, criar um
colaboradores.
bom clima organizacional e gerar
Um bom clima organizacional atua comprometimento como forma de facilitar o
diretamente sobre as pessoas e contribui para trabalho em equipe e a criatividade na busca
a mudança das empresas modernas na pelos resultados.
condução dos negócios, crescimento de seus
Assim, segundo Robbins (2002), o novo
resultados e fixação de uma boa imagem.
gestor, para acompanhar a constante
Considerando que atualmente, com evolução precisa ter certas características,
mudanças diversas e profundas ocorridas nas entre as quais podem ser destacadas: ter
formas de trabalho, além do capital, pessoas visão abrangente, observar problemas e
e instalações, o conhecimento e a informação, interpretar o que está acontecendo; ouvir o
conforme Vale (1992) e De Geus (2004), são que as pessoas dizem e como dizem quando
recursos importantes para as empresas. O defendem uma ideia; manter confidentes por
segundo autor também cita que as pessoas perto; defender boas ideias com entusiasmo e
são portadoras do conhecimento, fonte de ter coragem de rejeitar as más, quando
todas as vantagens competitivas das surgirem; renovar-se espiritualmente, ou seja,
empresas. dar um tempo para si mesmo; demonstrar
empatias, respeitar as dificuldades dos
A atuação do gestor no comportamento e
subordinados ao lidar com as mudanças.
comprometimento dos colaboradores é tão
importante que, em levantamento efetuado Os gestores diferenciados devem entender
por Farias (2011), coach e consultora de que é menos efetivo gerenciar orientado aos
gestão de carreira e imagem, 80% das resultados por meio das pessoas do que
demissões são por conta do comportamento e gerenciar orientado às pessoas para
não por incompetência como se poderia conseguir os resultados. Dessa forma, serão
imaginar. Isso envolve, segundo a consultora, atingidos os resultados com otimização de
fofocas, falta de comprometimento do recursos e desenvolvimento.

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147

Capítulo 13

Marcelo de Souza Correia


Tales Antônio Magalhães Silva

Resumo: Esta pesquisa tem como intenção a análise da compatibilidade entre o


perfil acadêmico de Secretariado Executivo Trilingue da Universidade do Estado do
Pará com o perfil profissional das demandas do mercado de Belém/PA, ou seja,
analisar a formação acadêmica desenvolvida nesta universidade, incluindo as
diretrizes curriculares provindas do Ministério da Educação e o Projeto Político
Pedagógico do Curso de Bacharelado em Secretariado Executivo Trilingue da
Universidade do Estado do Pará, e compará-la com a demanda profissional
requisitada pelas organizações do mercado de BelémPA, bem como saber os
conhecimentos, habilidades, comportamentos e outros aspectos que sejam
interessantes para elas no perfil do profissional do Secretário Executivo Trilingue.
Foram entrevistadas organizações de Belém/PA que puderam evidenciar a
compatibilidade entre a formação acadêmica e a atuação profissional no atual
mercado de Belém/PA, servindo assim, como uma pesquisa norteadora para o
desenvolvimento de profissionais da área que queiram elevar a empregabilidade no
mercado local.

Palavras Chave: Secretario Executivo – Perfil Profissional – Demanda – Mercado -


Empregabilidade

Tópicos em Administração - Volume 8


148

1 INTRODUÇÃO O Secretário é um profissional que assessora


o executivo, transmite-lhe informações e
Vivemos em um mundo altamente interligado
executa as tarefas que lhe são confiadas. Ele
e dinâmico, fato proporcionado pela
se transformou, no mundo moderno dos
globalização somado aos preceitos
negócios e nessa era de globalização da
pragmáticos do capitalismo. Neste perfil
economia, em assistente executivo que
global, encontramos um mercado instável e
domina as habilidades requeridas num
inseguro para as atividades empresariais
escritório, demonstra capacidade para
devido à alta velocidade com que tecnologias
assumir responsabilidades sem supervisão
e recursos alternativos, ou desenvolvidos a
direta e tem iniciativa para tomar decisões
partir de outros, surgem em um curto período.
segundo os objetivos assinalados pela
Isto se dá em consequência da
autoridade.
competitividade do mercado de empresas e
profissionais que buscam diferenciação e Devido a lacunas na literatura que aborde o
destaque em meio a um mercado que hoje estudo da formação do profissional de
não é mais constituído apenas de segmentos Secretariado Executivo do Estado do Pará e
regionais ou nacionais, mas perpassa assim como de seu enquadramento no
fronteiras internacionais e até mesmo mercado da região após a graduação, esta
extracontinentais. O mercado de trabalho vive pesquisa surgiu pela necessidade da
em constante transformação de valores, compreensão e a avaliação da
tendências e formas de relação entre o correspondência ou não da formação
profissional e a empresa. Necessariamente, acadêmica promovida pelo curso de Bacharel
um profissional que queira manter-se valioso em Secretariado Executivo Trilingue da
no mercado, deve ter a capacidade de Universidade do Estado do Pará (UEPA) com
acompanhar o movimento deste constante o perfil profissional requisitado pelas
desenvolvimento, renovação e inovação das empresas de Belém que procuram pela
tendências, práticas e visões organizacionais. atuação, e consequentemente contratação,
destes profissionais formados pela UEPA.
Conhecer este movimento, saber quais as
suas tendências e exigências se faz Assim, o objetivo principal do trabalho é
necessário na busca pela empregabilidade, verificar se há compatibilidade da formação
ainda mais quando falamos do profissional de em Secretariado Executivo da Universidade
Secretariado Executivo. É o que propõe este do Estado do Pará com a demanda de
trabalho, fornecer informações suficientes empresas de Belém - PA que tem contratado
para a compreensão da relação entre as formandos desta instituição
variáveis da formação acadêmica com o perfil
profissional exigido pelo mercado da capital
paraense, especificadamente da área de 2 METODOLOGIA
Secretariado Executivo Trilingue.
Para compreender melhor a forma com que
Em um contexto mercadológico em que o esta pesquisa se desenvolveu, é necessário
crescimento empresarial, tanto de cunho entender também quais são as suas
nacional quanto internacional, tende a ser principais características para que os
cada vez mais motivado pela corrida em caminhos metodológicos tomados para
busca da inovação tecnológica, como explica executá-la sejam justificáveis.
Visentini e Pereira (2010) e Batista (2004),
A pesquisa teve por objetivo ser descritiva,
ainda é desconhecido para os discentes do
pois se procurou observar e interpretar uma
curso de Secretariado Executivo Trilingue da
determinada ocorrência no mercado, o
Universidade do Estado do Pará o quanto
contrato de secretários executivos trilingue
compatível é a sua formação acadêmica com
formados na Universidade do Estado do Pará
o perfil do Profissional de Secretariado
por empresas de Belém e as principais
Executivo demandado pelo mercado
características destes profissionais e de sua
empresarial de Belém, fato evidenciado pela
formação acadêmica. A pesquisa descritiva é
falta de produções literárias que analisem o
utilizada em pesquisas para descrever um
assunto e que contextualizem o profissional
determinado grupo e estudos de opiniões,
ou o acadêmico de Secretariado Executivo
motivações, de mercado e socioeconômico,
Trilingue em paralelo com o mercado, ambos
como explica Rodrigues (2006).
da região paraense.
Esta pesquisa possui uma abordagem
qualitativa devido ao seu trabalho com

Tópicos em Administração - Volume 8


149

comportamento, padrões e desenvolvimento semelhanças e diferenças entre grupos


de aspectos subjetivos de pessoas durante a distintos que possam vir a ser contraditórias
formação profissional. Ao trabalhar com este ou não entre si.
tipo de abordagem, torna-se possível
O método dialético comparativo permiti
trabalhar com a interpretação de variáveis a
apontar quais aspectos da formação
serem encontradas dos indivíduos estudados
acadêmica do Secretário Executivo Trilíngue
de forma individual ou coletivo, comparando
formado pela Universidade do Estado do Pará
os perfis evidenciados.
não condizem com as necessidades
O levantamento de dados desta pesquisa foi profissionais exigidas pelo mercado, tanto
feito de duas formas diferentes, pode-se dizer quanto conhecimento exigido pelo mercado
que ela aborda tanto fontes diretas quanto que não está presente na formação
indiretas. No primeiro momento, foi feito a acadêmica estudada, quanto conhecimento
pesquisa bibliográfica para obter dados não exigido que se faz presente na formação,
quanto aos planejamentos que regulam a além de poder comprovar a necessidade da
oferta do curso de Secretariado Executivo no formação de certos conhecimentos que são
Brasil e os documentos que regem a oferta necessários para a prática profissional de
deste na Universidade do Estado do Pará. Em Secretário Executivo Trilíngue.
outro momento, posterior, foram realizadas
entrevistas com as empresas que contrataram
profissionais de Secretariado Executivo 2.2 A ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA
Trilíngue, formados na UEPA, com o intuito de
Para entender a compatibilidade da formação
obter informações suficiente par definir qual
acadêmica dos discentes de Bacharelado em
profissional está sendo requisitado pelo
Secretariado Executivo Trilíngue da UEPA e a
mercado de Belém. Fontes secundárias e
demanda exigida pelo mercado que
primárias, respectivamente.
contrataram profissionais formados por este
curso, este trabalho está dividido em três
etapas principais, conforme demonstra a
2.1 TRATAMENTO DOS DADOS
Figura 01 - Etapas da Pesquisa: I) Análise da
Com a proposta de comparar os dados dos formação acadêmica do Secretário Executivo
dois sujeitos obtidos, acadêmico e Trilíngue da Universidade do Estado do Pará;
profissional, esta pesquisa se utilizou do II) Identificação do profissional de
método dialético comparativo, como dito por Secretariado Executivo Trilíngue da UEPA
Marconi e Lakatos (2010), o qual tem a demandado pelas empresas de Belém; III)
finalidade de verificar similitudes e explicar Comparação e síntese da resultante entre
divergências por meio do estudo das eles. Esquema 01 - Etapas da Pesquisa

Tópicos em Administração - Volume 8


150

2.2.1 PRIMEIRA ETAPA da primeira, a contratação é feita via edital,


sem a existência de uma pessoa específica
A primeira etapa, a de análise da formação
que pudesse ceder uma entrevista, de acordo
acadêmica do Secretário Executivo Trilíngue
com a metodologia proposta por esta
da Universidade do Estado do Pará (UEPA),
pesquisa, e no segundo caso, por conta da
foi feita com base em estudos de documentos
contratação não ser feita diretamente pelo
do Ministério da Educação (MEC) que
diretor que necessita do profissional, assim, a
regulam a oferta deste curso no território
empresa que contrata, não é a empresa que
nacional, documentos da UEPA que
realmente necessita de sua atuação.
estruturam e orientam a oferta do curso na
instituição. Esta etapa é dividida em subetapas de
pesquisas de campo, que levaram o trabalho
O trabalho procurou utilizar documentos que
à amostra exata deste universo de empresas
orientem e organizem a oferta do curso, a fim
a serem compreendidas: I) Contato com
de procurar nestes o referencial para a
egressos do curso de Secretariado Executivo
definição do perfil da formação do Secretário
Trilíngue da UEPA; II) Levantamento de
Executivo da UEPA. O MEC apresenta como
empresas as quais os contrataram ou mantém
documento mais relevante e específico para a
contrato ativo; III) Entrevista com os Dirigentes
regulamentação da oferta do curso de
ou Agentes de Recrutamento das empresas
Secretariado Executivo, o Parecer CNE/CES
identificadas.
nº 146, de
Foram considerados apenas os egressos os
3 de abril de 2002, onde aprova as Diretrizes
quais a Coordenação do Curso de
Curriculares Nacionais dos Cursos de
Secretariado Executivo Trilíngue desta
Graduação em Secretariado Executivo, entre
universidade possui informação para contato
outros cursos da área, enquanto a
telefônico ou via e-mail, no caso, todos os
Coordenação de Secretariado Executivo
egressos que se formaram do ano de 2007 à
Trilíngue da UEPA se baseia no seu Projeto
2013, totalizando 116 (cento e dezesseis)
Político-Pedagógico (PPP) do curso de
profissionais de Secretariado Executivo
Secretariado Executivo Trilíngue, de 2006,
Trilíngue. Destes profissionais, egressos do
para a gestão e oferta do curso.
curso da UEPA, 24 (vinte e quatro) informaram
Com estes documentos norteadores da positivamente via e-mail, dessa forma, já
gestão do curso, foi feito uma síntese da trabalharam ou ainda trabalham como
formação do Secretário Executivo Trilíngue Secretário Executivo Trilíngue em alguma
desta instituição. organização de Belém. Ao todo, foram
identificadas 21 (vinte e um) empresas
Esta etapa, caracteriza-se, pelas concepções
distintas, porém, seguindo os critérios da
de Rodrigues (2006), como um levantamento
metodologia proposta e considerando os
de dados por meio de pesquisa bibliográfica,
casos em que algumas organizações não se
onde, por fontes secundárias (material já
disponibilizaram para a pesquisa, foi possível
publicado: revistas, livros, periódicos, artigos
entrevistar 05 (cinco) destas. Foi contato um
científicos, e etc.), coleta as informações
Dirigente ou Agente de Recrutamento de
necessárias para a investigação.
cada empresa que pudesse nos fornecer
informações quanto às demandas da
organização para a atuação de seu
2.2.2 SEGUNDA ETAPA
profissional de Secretariado Executivo
Na segunda etapa, a de Identificação do Trilíngue. Cada entrevistado teve 20 (vinte)
profissional de Secretariado Executivo minutos para responder aos 04 (quatro)
Trilíngue da UEPA demandado pelas questionamentos do Roteiro de Entrevista
empresas de Belém, foi necessário consultar (Apêndice 01). Todos os entrevistados
egressos do curso para sabermos em quais aceitaram a condição de ter a entrevista
empresas eles já trabalharam ou ainda gravada e foram informados que seus nomes,
trabalham. Dessa forma, pode-se saber ou razão social/nome fantasia de suas
precisamente quais empresas de Belém se organizações, não seriam divulgados por esta
interessam no profissional de Secretariado pesquisa.
Executivo Trilíngue da UEPA. As empresas
A técnica de pesquisa, entrevista, foi
públicas e que prestam serviço de
escolhida por permitir a obtenção de dados
terceirização de profissionais não foram
indiretos fornecidos pela fonte, o entrevistado,
consideradas nesta pesquisa pois, no caso
além dos dados diretamente questionados de

Tópicos em Administração - Volume 8


151

forma precisa e pura, como orienta Rodrigues 3 FUNDAMENTAÇÃO


(2006). Proporciona melhores condições para
3.1 O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO
conduzir os questionamentos e evita qualquer
MUNDIAL
tipo de ruído na comunicação devido ao canal
de comunicação usado ser mais direto. Para viabilizar a análise dos dados obtidos
com as entrevistas das empresas
Com a finalidade de identificar o profissional
selecionadas, é preciso entender como se
de Secretariado Executivo Trilíngue e as
organiza o mercado, como um todo, diante
demandas profissionais que estas empresas
dos teóricos que o abordaram em seus
julgam importante para a atuação no
estudos.
mercado, a pesquisa buscou localizar as
organizações com base no histórico No princípio da história da civilização
profissional de empresas contratante de humana, o homem, para garantir a sua
egressos do curso de Secretariado Executivo sobrevivência, necessitava produzir o seu
Trilíngue da UEPA, dados obtidos diretamente próprio alimento e fabricar seus próprios
com secretários egressos da instituição por utensílios para viver. Sabendo que sua
contato telefônico ou via e- mail, e entrevistá- sobrevivência dependeria do trabalho em
las de modo que nos deem a indicação do conjunto com outros seres de sua espécie, o
perfil ideal para a atuação satisfatória de um homem estabelece um sistema de produção
profissional de Secretariado Executivo comum primitivo, ou produção comunal, como
Trilíngue, de acordo com as definições de explica Saviani (1994), até o momento em que
habilidades e práticas argumentadas por ele passa a se fixar na terra e dar sentido a
Pecequilo, Visentini e Pereira (2010), Medeiros propriedade privada. O homem passa então a
e Hernandes (2003), Gondim (2002) e estabelecer certas estratificações em sua
Echeveste et al. (1999). sociedade, os que tem propriedade privada e
os que não tem. Na Grécia Antiga, as polis
Tendo estes dados primários disponíveis, a
(do grego, Cidade) eram áreas de
pesquisa teve dados fieis e originais para a
concentração de propriedades, e seus
construção do perfil do profissional de
proprietários formavam uma sociedade, a
Secretariado Executivo Trilíngue demandado
qual vivia da produção do campo e das
pelas empresas as quais contrataram
conquistas de projetos expansionistas
egressos do curso desta de graduação da
(tesouros, escravos e etc.).
UEPA.
Com o passar do tempo, já na Idade Média,
outras formas de estratificações sociais
2.2.3 TERCEIRA ETAPA apareceram, e a posse de terras permaneceu
como principal critério de diferenciação de
A realização das duas etapas prévias será
poder aquisitivo. Segundo Saviani (1994),
necessária para a conclusão da terceira e
nesta época, o valor dado a terra fez com que
última etapa, a de identificar e interpretar os
a sociedade se estabelecesse no próprio
pontos divergentes e convergentes das
campo e adotando uma nova forma de
práticas e competências profissionais e
relação trabalhista com homens que não
acadêmicas por meio da comparação entre
possuíam terras, a servidão.
as variáveis evidenciadas por meio do método
dialético comparativo. O início do Feudalismo trouxe para a
civilização uma nova proposta de vida
Desta forma, é possível observar a variações
atraindo a mão de obra servil do campo para
entre os perfis, como apontam Marconi e
as cidades para que trabalhassem em
Lakatos (2010), e tomar conhecimento do
corporações. O desenvolvimento de
posicionamento que a formação de
atividades artesanais para comércio, unido a
Secretariado Executivo Trilingue da
uma proposta de acumulação de economia
Universidade do Estado do Pará assume em
feudal, permitiu o crescimento das atividades
meio ao mercado interessado nos
mercantis, pontos que marcam a origem da
profissionais por ela formados. Também é
constituição de capital, como explicam
possível, por meio desta pesquisa, tomar foco
Visentini e Pereira (2010) e Saviani (1994). O
para os pontos a se desenvolver ou aprender
grande desenvolvimento do mercado no
para melhorar ou tornar-se competitivo no
período feudal possibilitou um alto
mercado de trabalho aplicado as empresas
investimento nos meios de fabricação de suas
de grande porte da capital paraense.
corporações, atribuindo a elas portes cada

Tópicos em Administração - Volume 8


152

vez maiores, ponto o qual Saviani (1994) tendência global era a de aproximar os países
classifica como a origem da indústria. e suas atividades econômicas.
O mercado global se porta de uma forma Esta questão foi bastante presente na região
totalmente única no contexto contemporâneo, norte brasileira, a principal orientação
a velocidade e forma com que se desenvolve nacional para o desenvolvimento econômico
e se transformam é alta, de acordo Pecequilo, brasileiro, segundo Castro (2006), era a de
Visentini e Pereira (2010), Medeiros e traçar medidas que reforcem a integração do
Hernandes (2003) e Gondim (2002), os mercado brasileiro com os países que se
desafios das últimas décadas impõem-se de localizam na ampla fronteira da região
forma complexa e diferenciada para os países amazônica. Desta forma é possível observar
do cenário mundial, em particular os em claros investimentos em Belém os quais foram
desenvolvimento e/ou emergentes, com a orientados pela política nacional de
globalização, nasce uma aldeia global integração, modernização das estruturas
altamente complexa, influenciável, econômicas portuárias, de comunicação e
independente da distância geográfica. Estes transporte.
novos aspectos e as tendências do mercado
Pode-se observar na análise de Castro (2006)
podem ser encontrados também na disputa
que durante toda a história de Belém, o
pela empregabilidade, pois além das
serviço portuário foi o mais visado. Tanto no
organizações, como explica Batista (2004), o
seu primeiro grande desenvolvimento, durante
empregado que pretende manter-se
a "Época da Borracha" em 1850, quanto nos
interessante para a sua organização também
investimentos mais atuais de modernização
deve ficar atento às novas tecnologias que
da infraestrutura de transporte, o serviço
surgem a fim de que possa acompanhar o
portuário foi o mais beneficiado.
ritmo de produção de toda a empresa.
Diferentemente dos demais municípios do
Estado do Pará, a capital Belém não tem
3.2 O MERCADO DA CAPITAL PARAENSE, como principal atividade de mercado a
BELÉM. produção agropecuária, fabril ou de extração
de minérios. Como pode ser observado nos
Desde os anos 70 até os anos atuais, como
estudos de Castro (2006), fato que vem ser
explicam Castro (2006), Pecequilo (2010),
comprovado pelos dados gerais do IBGE
Visentini e Pereira (2010), Medeiros e
baseados no Produto Interno Bruto (PIB) dos
Hernandes (2003 e Saviani (1994), o mundo
municípios do Pará (1999-2011), o PIB de
passa por mudanças significativas no sistema
Belém é composto de aproximadamente
produtivo e comercialização, pontos que
84,5% de arrecadação de Serviços, na frente
refletiram diretamente na sua organização e
da Indústria, que corresponde à
dinâmica de mercado. O Brasil enfrentava
aproximadamente 15,1%, e da Agropecuária,
durante este período, principalmente nos anos
correspondente à 0,4% do PIB de Belém.
80, o novo desafio da integração, quando a

Gráfico 1 Produto Interno Bruto de Belém

Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e
Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA

Tópicos em Administração - Volume 8


153

Segundo os dados da Pesquisa Mensal de comércio da capital paraense é setor de


Serviços, publicado nos indicadores IBGE de serviços prestado por organizações locais
junho de 2014, considera-se como serviços que necessitam empregar a atuação de
todo e qualquer: serviços prestados às profissionais para a realização de suas
famílias (alojamento e alimentação; outros atividades.
serviços prestados às famílias); serviços de
A atuação profissional dentro das empresas
informação e comunicação (serviços TIC;
está relacionada com as habilidades e que o
serviços audiovisuais, de edição e agências
profissional deve desempenhar em uma
de notícias); serviços profissionais,
organização, além de se considerar também
administrativos e complementares (serviços
os fatores externos já abordados que
técnico-profissionais; serviços administrativos
influenciam tanto nas atividades empresariais
e complementares); transportes, serviços
quanto nas atividades profissionais, como as
auxiliares aos transportes e correio (transporte
transformações ocorridas nos últimos anos,
terrestre; transporte aquaviário, transporte
fato impulsionado pela atual corrida pela
aéreo; armazenagem, serviços auxiliares dos
inovação tecnológica, onde novos e diversos
transportes e correio); e outros serviços.
desafios aparecem nas empresas: mudanças
Dentre estes grupos de serviço que definem o no ambiente organizacional, originadas pela
conceito mais amplo adotado pelo IBGE para globalização dos mercados, evolução e
sua pesquisa do PIB paraense, a definição intensificação do uso de tecnologias da
mais proveitosa para esta pesquisa é a de informação e de comunicação, como
"serviços profissionais administrativos e evidenciado por Batista (2004) e Visentini e
complementares (serviços técnico- Pereira (2010).
profissionais; serviços administrativos e
Para entender melhor o desenvolvimento das
complementares)", pois é neste tipo de
habilidades exercidas pelo profissional de
serviço que se enquadra o profissional de
Secretariado Executivo, é pertinente as
Secretariado Executivo Trilingue. A
analisarmos no decorrer dos tempos. Esta
comprovação de que este serviço está dentro
profissão adotou diversas caracterizações de
do comércio mais ativo e lucrativo para o
habilidades, práticas, conhecimentos, como
desenvolvimento econômico da região,
era evidente: nos anos 50 a taquigrafia,
reforça a importância da profissão para o
datilografia, anotações de recado e
mercado paraense, assim como de todas as
atendimento telefônico; Passa então, nos anos
outras envolvidas nos serviços supracitados e
70, a ter poder mais decisivo, participando de
dos estudos científicos que se comprometam
programas de desenvolvimento mais
com o seu desenvolvimento.
elaborados; Nos anos 80 acentua a qualidade
com os recursos informacionais; E nos anos
90, o profissional assume um perfil mais
3.3 O ENQUADRAMENTO EMPRESARIAL DO
administrativo executivo, de planejamento,
SECRETARIO EXECUTIVO.
com habilidades de gestão, assessoramento,
Pode-se observar na análise do empreendedorismo e de consultor, conforme
desenvolvimento da economia do mercado de classificou Fernandes e Souza (2012) em seu
Belém, abordada por Castro (2006), e na quadro de "Evolução do Secretário(a) ao
análise quantitativa do PIB dos municípios do longo dos anos", expresso no Quadro 1.
Estado do Pará, que a principal atividade do

Quadro 1 - Evolução Do Secretário (A) Ao Longo Dos Anos


A secretaria executava apenas algumas técnicas secretariais como:taquigrafia, datilografia, arquivo,
Anos 50
atendimento telefônico e anotações de recados.
Inicio do treinamento gerencial - ter um secretario passa ser um status – houve uma valorização na mentalidade
Anos 60
do empresário brasileiro
O secretário é visto como um membro ativo na gerencia, participando de programas de desenvolvimento mais
Anos 70
elaboradas, atuação mais dinâmica e abrangente – ganha o respeito nas organizações.
O despertar da era da qualidade e da informática – ação conjunta ente oS chefes e os secretários
Anos 80
(administração participativa). Um time de dois, o trabalho passa a ser em equipe.
As megatendências obrigam um repensar destes profissionais. Desaparece a moça elegante, bem vestida e
apenas digitadora. Nasce um novo perfil: Gestor, Assessor, Empreendedor e Consultor. A era de competência,
Anos 90 pessoas polivalentes e atualizadas, capacidade produtiva, em busca de resultados. Que não só recebe ordens,
mas orienta e dá opiniões. Deixa de ser propriedade particular do gerente a quem assessora e, passa a ser um
membro de uma organização.
Fonte: Fernandes e Souza (2012)

Tópicos em Administração - Volume 8


154

Gondim (2002), em seu estudo geral de próximo da rotina de executivos assessorados


definição de perfil para profissionais de e consequentemente terem fácil acesso às
diversas áreas de estudo, traz um conceito de informações importantes para o
perfil profissional exclusivo das áreas desenvolvimento da organização, as quais,
humanas e sociais, onde consequentemente quando tratadas de forma indevida, podem
se encaixa o perfil profissional do trazer complicações para a organização.
Secretariado Executivo Trilingue. Gondim
(2002) o aborda como detentor de visão
ampla, um profissional que sabe resolver 3.4 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO
problemas e sabe argumentar eficientemente. SECRETARIADO EXECUTIVO TRILINGUE DA
Também o coloca como um profissional UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
experiente que domina outros idiomas,
Para a Universidade do Estado do Pará,
conhece a informática, tem habilidade com
conforme expresso no documento principal
edição gráfica, representa a imagem
de regulamentação de oferta do curso no
institucional e domina técnicas de marketing.
território nacional expedido pelo Ministério da
E por fim define o seu comportamento como
Educação, o Parecer CNE/CES nº 146, de 3
ético, versátil e multiprofissional.
de abril de 2002, e no Projeto Político-
Além destas habilidades, competências e Pedagógico desta instituição que oferece o
práticas da profissão de Secretariado curso, o graduado em Secretariado Executivo
Executivo Trilíngue, Medeiros e Hernandes Trilíngue deve se formar com sólido domínio
(2003) abordam também o mérito das acadêmicos, científicos e tecnológicos, para
responsabilidades adicionais que são a atuar com eficiência e eficácia na profissão.
obtenção de informações para executivos
Devem ser capazes de, como agentes
assessorados, incluindo pela consulta a
facilitadores de múltiplos contextos
fontes de informação, participação ativa em
organizacionais, gerenciar procedimentos
encontros, preparação destes encontros,
metodológicos interpessoais, em grupo ou
redação de correspondências administrativos
individual, para administração de conflitos e
ou para publicações, digitação e edição de
relacionamentos entre colaboradores; reduzir
textos, composição de relatórios, supervisão e
e amenizar a resistência a mudança e novas
treinamento de auxiliares, seleção e
tecnologias que possam vir a agregar valor
recomendação de equipamentos de escritório
para a organização; promover e valorizar o
e aquisição de material de uso diário do
empreendedorismo nas organizações
escritório.
empresariais; promover a comunicação
Mintzberg (1979) justifica tal importância do dentro e fora da organização, com diversos
Secretário Executivo ao realizar a definição do grupos de clientes, internos e externos,
corpo profissional atuante em cada nível da nacionais e estrangeiros; ser um profissional
organização e posicioná-lo no topo da ético com competência e descrição.
hierarquia organizacional, the strategic apex.
Em sua formação, evidencia-se três tipos de
Ele define the stratefic apex como o nível
conteúdo, básico, específico e teórico.
responsável por assegurar trabalhe em
Entende-se como conteúdo básico os estudos
direção à sua missão de um modo efetivo e
relacionados às Ciências Sociais, às Ciências
também de acordo com as intenções das
Jurídicas e às Ciências da Comunicação e da
pessoas que controlam ou tem poder decisivo
Informação. Como conteúdo mais específico,
sobe a organização.
compreende-se aqui os estudos das Técnicas
At the other end of the organization lies the Secretariais e de Gestão Secretarial, Teoria
strategic apex. Here are found those people das Organizações, ao Desenvolvimento de
charged with overall responsibility for the Recursos Humanos e à Ética Profissional,
organization-the chief executive officer (wether além do domínio de pelo menos duas línguas
called president, superintendent, Pope, or estrangeiras e o aprofundamento da Língua
whatever), and any other top-level managers Nacional Brasileira. Por último, o seu conteúdo
who provide direct support to the top teórico diz respeito aos laboratórios
managers-their secretaries, assistants, and so informatizados, Estágio Curricular
on. (Mintzberg, 1979, p. 24) Supervisionado e Atividades complementares,
principalmente com a abordagem ao Sistema
Medeiros e Hernandes (2003) ressaltam a
de Comunicação, com foco em softwares e
necessidade do perfil ético na profissão, pelo
aplicativos informativos.
motivo do Secretário Executivo trabalhar muito

Tópicos em Administração - Volume 8


155

Compreende-se que a Universidade do destes profissionais a fim de identificar as


Estado do Pará, com a oferta do curso de habilidades e competências desenvolvidas e
Secretariado Executivo Trilíngue, procura requeridas pelo profissional na empresa; 01
atender a demandas sociais do mercado, (um) não atua em Belém, por isso não se
acompanhando-o e desenvolvendo a enquadra na região geográfica de atuação de
formação deste profissional. Segundo o mercado proposta pelo trabalho; 01 (um)
Projeto Político- Pedagógico do curso da organização tem por natureza jurídica atuação
UEPA (2006), é inquestionável a importância como consultoria de Departamento Pessoal
da formação profissionais com ampla visão para terceiros, e por esta razão não contrata
administrativa e aptidão para atender a ação profissionais mediante demandas internas, e
competitivo- mercadológica, assim como sim por solicitações externas, de empresas
também era evidente a necessidade da maior terceiras que contratam o serviço de
promoção e desenvolvimento da formação do profissionais de secretariado executivos
Secretário Executivo no estado paraense. terceirizados; 01 (um) organização não possui
mais a pessoa que foi encarregada pela
contratação do Secretário(a) Executivo(a) no
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS quadro colaborativo; 01 (um) organização se
OBTIDOS negou a realizar a atividade de entrevista; e
02 (dois) não estão abertas a contato, desta
Foram contatados por e-mail e telefone todos
forma não foi possível nem ser feito a
os egressos do curso de Secretariado
solicitação de entrevista, tão qual justificar os
Executivo Trilíngue da Universidade do
motivos científicos do trabalho, e outra não
Estado do Pará cujo os contatos estavam
retornou à solicitação de entrevista, após ter
registrados na Coordenação do curso, um
sido realizado o contato prévio e explanado a
total de 116 (cento e dezesseis) egressos, os
atividade e finalidade do trabalho. Totalizando
quais pertenceram às turmas concluintes de
assim, 16 (dezesseis) empresas que não
2007 até 2013. Eles foram questionados
puderam ser entrevistadas.
quanto ao seu histórico profissional na área
de Secretariado Executivo, sendo que: 24 Por fim, 05 (cinco) organizações se
(vinte e quatro) informaram positivamente via disponibilizaram para a atividade de
e-mail, ou seja, já trabalharam ao menos uma entrevista e cederam informações quanto às
vez ou trabalham atualmente como atividades, competências e outras
Secretário(a) Executivo(a) em alguma informações adicionais da atuação do
organização; 10 (dez) informaram profissional de Secretariado Executivo
negativamente, ou seja, nunca trabalharam Trilíngue formado pela Universidade do
como Secretário(a) Executivo(a) em uma Estado do Pará em cada uma das empresas,
organização; 25 (vinte e cinco) estão com o e- conforme o roteiro de entrevista do trabalho
mail e outros recursos de contato inativos, (Apêndice 01). As 05 (cinco) organizações,
portanto não puderam responder por caso haja a necessidade de discriminá-las,
desatualização do contato; e 57 (cinquenta e serão tratadas pelos pseudônimos de
sete) não responderam ao questionamento. Organização A, B, C, D e E, e os Dirigentes ou
Agentes de Recrutamento, caso haja a
Dos 24 (vinte e quatro) formados pelo curso
necessidade de discriminá-los, serão tratados
de Secretariado Executivo Trilíngue da
pelos pseudônimos Agente I, II, III, IV e V.
Universidade do Estado do Pará, há alguns
Será possível relacionar os agentes às
egressos que trabalharam ou trabalham na
organizações de acordo com a sequência
mesma organização, resultando em 21 (vinte
lógica, diretamente proporcional, da ordem
e um) empresas distintas que já contrataram
das vogais com a ordem crescente numérica,
ao menos um Secretário(a) Executivo(a) desta
sendo o Agente I pertencente à "Organização
referida instituição, segundo informação dos
A", o Agente II pertencente à "Organização B",
próprios profissionais. Das 21 (vinte e um)
o Agente III pertencente à "Organização C", o
empresas, existem 16 (dezesseis)
Agente IV pertencente à "Organização D" e o
organizações que por situações específicas
Agente V pertencente à "Organização E'.
não poderão participar da pesquisa proposta
pelo trabalho: 9 (nove) só contratam A análise dos dados que seguirá adiante foi
profissionais mediante Concurso Público, fato feita conforme a metodologia proposta para
que impede a execução da metodologia esta fase da pesquisa, o método dialético
proposta por esta pesquisa, de entrevistar comparativo, em que iremos aproximar as
Diretores ou responsáveis pela contratação ideias de atuação de mercado do profissional

Tópicos em Administração - Volume 8


156

contemporâneo, moderno, as concepções do Evidentes na profissão do Secretário


papel do Secretário Executivo nas atuais Executivo desde os anos 90, as habilidades
organizações, questões evidenciadas pelos de gestão de agenda, assessoramento em
teóricos, principalmente Fernandes e Souza reuniões, como filtro de informação e com
(2012), Medeiros e Hernandes (2003), redação
Gondim (2003) e Batista (2004), com os
oficial são abordadas por unanimidade por
dados levantados na atividade de campo com
todos os agentes. Este fato está plenamente
organizações do mercado de Belém.
de acordo com o discurso de Fernandes e
Souza (2012) e Medeiros e Hernandes (2013)
quanto as principais atividades deste
4.1 DADOS OBTIDOS PELA PESQUISA DE
profissional nas organizações.
CAMPO: ENTREVISTA COM ORGANIZAÇÕES
DE BELÉM A definição dada ao profissional como gestor
de informações, responsável pelo filtro e
a) Primeira Pergunta
disseminação precisa de informações
Seguindo a orientação do Roteiro de necessárias para a organização também é
Entrevista, foi questionada para as cinco abordada pelos teóricos Gondim (2002) e
organizações a primeira pergunta explicativa Batista (2004) como pertencentes deste
imediata "Você acha que o Profissional de profissional executivo, além de ter domínio
Secretariado Executivo é importante para a sobre as línguas estrangeiras e as atividades
sua empresa". Por unanimidade, todos os informáticas, classificadas como habilidades
Agentes reponderam positivamente, ou seja, técnicas.
que o profissional de Secretariado Executivo
Mintzberg (1979), Echeveste et al. (1999), e
Trilíngue formado pela UEPA foi, ou é (para os
Batista (2004) discorrem em seus trabalhos o
casos em que o profissional ainda atua na
estratégico posicionamento do profissional de
organização), extremamente importante para
Secretariado Executivo dentro das
essas organizações. 03 (três) Agentes citaram
organizações, sendo ele pertencente e
as atividades de gerenciamento de agenda,
atuante na cúpula estratégica, devido ao grau
viagens, assessoria em reuniões, redação
de importância que as suas atividades geram
oficial. 02 (dois) Agentes expressaram a
para o funcionamento da empresa. Este
importância desse profissional em filtrar
posicionamento profissional no organograma
informações decisivas para a organização,
empresarial foi evidenciado pela
mesmo quando há necessidade dessa
“Organização C”, a qual promoveu o seu
aplicação com a Língua Inglesa. 03 (três)
colaborador de Secretariado Executivo
Agentes afirmaram também que a
Trilíngue à gerente do departamento em que
participação do profissional de Secretariado
atuava.
Executivo Trilíngue é tão determinante para as
suas organizações que preveem a Batista (2004) também frisava que a
contratação de mais deles, sobe a necessidade do profissional executivo nas
expectativa de otimizar os processos. organizações da atual conjuntura
mercadológica tende a crescer cada vez
Também foi noticiado durante a entrevista que
mais, devido a correspondência de seu perfil
a ”Organização C" possui 04 (quatro)
profissional com as demandas para a
profissionais de Secretariado Executivo
sobrevivência de uma organização, fato
Trilíngue formados pela Universidade do
evidenciado por metade das organizações,
Estado do Pará. A "Organização B", em seu
que após terem suas primeiras experiências
histórico de quadro colaborativo, também já
com a atuação do profissional de
contratou 04 (quatro) profissionais formados
Secretariado Executivo Trilingue,
por esta instituição, e possui atualmente 02
demonstraram uma expressiva procura por
(dois) deles em seu quadro funcional, sendo
mais outros destes profissionais para
que 01 (um) deles ocupa cargo gerencial na
incorporar em sua empresa.
empresa, além de prever a contratação de
mais um Secretário Executiva da instituição, o Dessa forma, foi possível constatar a
que seria o quinto profissional nesta empresa. importância do Secretário Executivo Trilingue
para as organizações de Belém dentro dos
Sendo estes dados relevantes que
aspectos profissionais previstos pelos teóricos
evidenciam o discurso da importância que
da área, Fernandes e Souza (2012) e
este profissional possui nas organizações de
Medeiros e Hernandes (2013) principalmente,
Belém.
isto é, em função de sua habilidade com

Tópicos em Administração - Volume 8


157

gestão de agenda, assessoramento em Batista (2004) e também Gondim (2002)


reuniões, em redação oficial e como gestor da comprovam em seus textos a importância da
informação. O planejamento da formação de habilidade com línguas estrangeiras para as
Bacharel em Secretariado Executiro Trilingue organizações e como os profissionais de
da UEPA, expresso em seu Projeto Político Secretariado Executivo auxiliam no
Pedagógico, prevê o desenvolvimento destas desempenho organizacional por ter em sua
exatas habilidades evidenciadas como formação o desenvolvimento de línguas
fundamentais em sua atuação profissional, estrangeiras, no caso da formação deste
assim, ele também está condizente com as curso, Inglês e Espanhol, segundo o Projeto
habilidades requeridas pelo mercado de Político Pedagógico.
Belém.
É importante comentar que, como Batista
b) Segunda Pergunta (2004) explicou, o profissional executivo vem
a ser importante para as organizações
Em seguida, foi questionado "Quais
competitivas desse novo contexto de
habilidades que ele possui que você
mercado, porém, sem o conhecimento da
considera útil para a sua organização". Esta
atuação do profissional, não há como ter o
pergunta tem o objetivo de ser mais
interesse por ele. O contrário pode ser
específicas no discurso das habilidades
comprovado na pesquisa em que a maior
desenvolvidas e praticadas pelo profissional,
parte das organizações entrevistadas, após a
apesar de a maioria dos entrevistados terem
experiência obtida com a atuação do
atendido a esta segunda pergunta no primeiro
Secretariado Executivo Trilíngue, em seus
questionamento, todos puderam fazer novas
corpos administrativos, buscaram no mercado
considerações, assim, pôde ser registrado
pela integração de mais colaboradores da
uma nova variedade de habilidades
área.
observadas, como no caso de 03 (três)
Agentes que evidenciaram a pró-atividade, a c) terceira pergunta
excelência na execução das tarefas,
A terceira pergunta feita aos entrevistados foi
habilidades comportamentais (discrição,
"A Língua Estrangeira é um diferencial para o
postura profissional, inteligência emocional,
Profissional de Secretariado Executivo
boa comunicação, ética e facilidade em se
Trilíngue?". A maioria dos Agentes
relacionar) e o domínio com softwares de
responderam positivamente, 03 (três) no total,
escritório.
considerando o conhecimento em Língua
O Agente I, da "Organização A", e o Agente V, Estrangeira um diferencial. 02 (dois) Agentes
da "Organização E", colocaram a habilidade disseram que a necessidade das atividades
com línguas estrangeiras como mais atuais de suas empresas não demandam
importante para a organização, devido a profissionais de Secretariado Executivo
principal atuação da empresa ser com Trilingue que tenham conhecimento em
mercados extracontinentais. Todos os Língua Estrangeira, apesar de ser desejável
entrevistados manifestaram desconhecer a para eventuais situações que possam vir a
formação acadêmica de um Bacharelado em requerer esta habilidade. Dos 03 (três)
Secretariado Executivo Trilíngue, entretanto, o Agentes que responderam positivamente, 02
Agente III, da "Organização C", em sua (dois) informaram que o Inglês é a principal
descrição de habilidades importantes para a língua requerida, pois, sendo a língua
organização, definiu o perfil do Secretário universal, torna-se um requisito crítico para a
Executivo Trilíngue formado pela UEPA, de contratação, além de considerarem o
acordo com as diretrizes do Projeto Político Espanhol também importante, porém,
Pedagógico. secundário quando comparado à utilidade da
língua inglesa.
A postura profissional é um ponto previsto no
desenvolvimento do Secretariado Executivo O outro Agente que respondeu positivamente
Trilíngue da UEPA ainda na academia, ao questionamento, informou que pelas suas
segundo o Projeto Político Pedagógico do atividades administrativas atenderem a
curso, e também conceituada por Gondim clientes de diversas nacionalidades, a
(2002) como pertencente do perfil deste demanda organizacional necessita de
profissional, principalmente pelo profissionais de Secretariado Executivo
desenvolvimento da ética profissional e das Trilingue que dominam tanto o Inglês,
habilidades comportamentais. Espanhol e o Francês. O Agente I, da
"Organização A", um dos 03 que responderam

Tópicos em Administração - Volume 8


158

positivamente ao questionamento, ainda profissional a habilidade com análise e


comentou que a habilidade na língua inglesa solução de problemas organizacionais,
não faz dele um diferencial no seu corpo enquanto o Agente III, da "Organização C",
colaborativo, pois, todos os funcionários informou que falta ao profissional visão
devem dominar o Inglês, devido ao constante estratégica e inteligência emocional. O
atendimento a clientes internos e externos de Agente IV, da "Organização D", além de
fora do Brasil. informar que falta a habilidade de aplicar
conhecimento financeiro na área de
Os Agentes IV e V, da "Organização D" e
informática para gerar relatório de dado
"Organização E", por outro lado, informaram
financeiros, estatísticas, gráficos e similares,
que o conhecimento na Língua Inglesa
considerou que também seria interessante
diferencia, sim, o profissional de Secretariado
para este Profissional um Conhecimento
Executivo Trilíngue dos demais profissionais
Geográfico mais aprofundado, em relação ao
de seu corpo colaborativo.
estudo de culturas, localização geográfica
Batista (2004) e Gondim (2002) vem abordar a mundial, características gerais das principais
necessidade do profissional do mercado atual nações, como: moeda, costumes, e etc.
em dominar as línguas estrangeiras pelo
Alguns pontos observados pelas
mesmo motivo comentado pelos
organizações durante o quarto
entrevistados, onde o mercado de atuação
questionamento da entrevista são previstos
destas empresas, e consequentemente dos
pelo Projeto Político Pedagógico (PPP) da
profissionais que atuam nela, estão cada vez
oferta do curso de Bacharelado em
mais interligados com atividades
Secretariado Executivo Trilíngue da UEPA. As
extracontinentais, aumentando a necessidade
habilidades citadas durante o discurso dos
da comunicação em outros idiomas. A
entrevistado, análise e solução de problemas
comunicação e gestão de informações é uma
e visão estratégica, são temas abordados por
das principais características da atuação do
quatro disciplinas abordadas pelo PPP:
Secretário Executivo Trilíngue, como foi
"Administração e Marketing", "Consultoria
pontuado na pergunta anterior, seja ela em
Organizacional", "Gestão de Recursos
que dialeto for.
Humanos" e "Organização e Métodos". Tendo
É pertinente comentar que a principal em vista a proporção de disciplinas ofertadas
característica da formação de Secretariado pelo curso que abordam os dois temas em
Executivo Trilíngue, a qual traz no título do comum, entende-se que este quesito deveria
curso a indicação do estudo de línguas ter sido atendido pelos profissionais de
estrangeiras, é o domínio de outros idiomas, Secretariado Executivo Trilíngue formados
no caso da formação da UEPA, o Inglês e pela Universidade do Estado do Pará, porém,
Espanhol. Apesar de ter sido abordada a não foi o caso evidenciado pela Organização
necessidade da Língua Francesa, a formação A. Informática aplicada é um assunto também
acadêmica deste curso não oferece o abordado por uma das disciplinas previstas
desenvolvimento deste conhecimento, de pelo PPP: "Informática Aplicada".
acordo com o Projeto Político Pedagógico de
Porém, a ementa disponibilizada no PPP
Bacharelado em Secretariado Executivo
demonstra que o estudo desta disciplina,
Trilíngue da UEPA.
previsto durante a formação, não satisfaz a
d) Quarta Pergunta necessidade de aplicá-la também a questões
financeiras, dessa forma, encontra-se a
A quarta e última pergunta tem por objetivo
necessidade do mercado de Belém por uma
identificar aspectos que faltem no profissional
formação que promova a interdisciplinaridade
e que sejam necessários para as
entre Informática e outras matérias como, no
organizações, "Quais habilidades que o
caso do discurso da Organização D,
Profissional de Secretariado Executivo
Contabilidade, também prevista na formação
Trilíngue formado pela UEPA não possui, mas
do Secretário Executivo Trilíngue da UEPA.
que são importantes para a sua
organização?". 03 (três) Agentes identificaram Quanto à Inteligência Emocional, requisitada
habilidades necessárias para a atuação por uma das organizações entrevistadas, é
profissional no contexto empresarial de cada uma habilidade desenvolvida por duas
uma delas, enquanto duas informaram que a disciplinas: "Psicologia nas Relações
atuação do profissional atende a todas as Interpessoais" e "Técnicas Secretariais", as
demandas da rotina de trabalho. O Agente I, quais exemplificam um fato similar ao visto
da "Organização A", informou que falta a este anteriormente, de um requisito profissional o

Tópicos em Administração - Volume 8


159

qual atualmente é explorado e desenvolvido maioria das necessidades do mercado de


pela formação acadêmica da UEPA. trabalho local deste profissional. Porém, há
algumas habilidades que o profissional ainda
Em relação ao Conhecimento Geográfico,
necessita desenvolver para suprir
pode-se dizer que é o único caso de uma
completamente a todas as requisições, como:
habilidade ausente no Perfil do Profissional de
análise e solução de problemas
Secretariado Executivo Trilíngue, segundo a
organizacionais, visão estratégica e
observação de um dos Agentes entrevistados,
inteligência emocional, conhecimento
que também não está presente na formação
financeiro aplicado na área de informática e
acadêmica da Universidade do Estado do
desenvolvimento de conhecimento
Pará.
geográfico.
A inadequação de certos conhecimentos ou
5 CONCLUSÕES habilidades do Perfil Profissional exigido com
o Perfil Acadêmico desenvolvido na
Com esta pesquisa foi possível constatar que universidade evidenciam um aspecto
o Secretário Executivo Trilíngue, formado pela comprometedor, porém, não determinante
Universidade do Estado do Pará, é de grande para um resultado negativo da comparação
importância para as Organizações de Belém da compatibilidade entre ambos, atuação
nas quais atua. As suas principais atividades profissional e formação acadêmica.
profissionais requisitadas no ambiente de
trabalho, levantadas pelas próprios Dirigentes Podemos ressaltar que durante as entrevistas,
ou Agentes de Recrutamento das empresas as Organizações demonstraram, inclusive, o
identificadas, são as de gerenciamento de interesse de ampliar o seu corpo colaborativo
agenda, viagens, assessoria em reuniões, de Secretários Executivos Trilíngue
redação oficial, domínio com softwares de disponíveis na empresa, tendo em vista ótimo
escritório, gerenciamento de informações desempenho destes profissionais nas
decisivas para a organização, além de seu principais atividades de sua atuação, como
conhecimento nas Línguas Estrangeiras ser observamos anteriormente, todas
bastante útil para a maioria das organizações desenvolvidas na graduação do curso de
de Belém. Secretariado Executivo Trilíngue da UEPA.
Desta forma, avalia-se que a formação
A sua habilidade interpessoal e comunicativa acadêmica da UEPA foi determinante para o
é outro ponto reconhecido por todas as desenvolvimento da empregabilidade deste
organizações entrevistadas. Entretanto, há profissional.
algumas específicas demandas que não
obtiveram o resultado esperado pelo o Assim, pode-se concluir que a formação em
mercado de Belém ao ponto de terem sido Secretariado Executivo Trilíngue da
registradas pelos Agentes durante a Universidade do Estado do Pará é compatível
condução das entrevistas. com a demanda das empresas do mercado
de Belém na maioria das habilidades
A maioria já está presente no desenvolvimento requisitadas por elas, faltando apenas o
do acadêmico de Secretariado Executivo desenvolvimento de uma minoria de
Trilíngue da UEPA, como é o caso das habilidades presentes na demanda das
habilidades de análise e solução de organizações entrevistadas.
problemas organizacionais, visão estratégica
e inteligência emocional e conhecimento Espera-se, assim, que este estudo contribua
financeiro aplicado na área de informática. para a orientação da formação de futuros
Porém, o conhecimento geográfico é uma profissionais de Secretariado Executivo
requisição de uma das empresas Trilíngue, seja no âmbito acadêmico ou fora
entrevistadas que não é abordada pela da universidade, visto que o desenvolvimento
ementa de nenhuma disciplina da matriz profissional deve ser constante de forma que
curricular do curso. acompanhe o movimento mercadológico no
qual estão inseridos.
Dessa forma, entendemos que, ao sair da
Universidade do Estado do Pará, o Secretário Além de auxiliar na análise da matriz
Executivo Trilíngue atende a maioria das curricular deste curso em comparação com
demandas das Organizações entrevistadas e as demandas do mercado de Belém, com o
que desenvolvimento acadêmico da UEPA, na intuito de desenvolvê-lo, seja reformulando ou
graduação do curso de Secretariado acrescentando pontos que possam garantir
Executivo Trilíngue, está condizente com a uma formação acadêmica completa.

Tópicos em Administração - Volume 8


160

Entende-se que o estudo das demandas Secretariado Executivo Trilíngue no mercado


mercadológicas é inconstante, em virtude do de Belém e instigar outras pesquisas que
próprio ritmo do mercado ser dinâmico. Desta possam desenvolver ainda mais o
forma, pretende-se também que esta conhecimento científico da nossa área e
pesquisa possa fomentar o interesse pelo garantir a atualidade da informação.
conhecimento da atuação do profissional de

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Tópicos em Administração - Volume 8


161

Capítulo 14

Diego Leal de Faria


Luiz Flávio Vianna Silveira
Romário Borges Miranda
Maria de Fátima Alves Buenes Mendonça
Hélide Florentina de Jesus Faria

Resumo: O objetivo da presente pesquisa é identificar qual tipo de liderança pode


ser mais eficaz na motivação dos colaboradores, no Grupo da Real Móveis. A
Liderança é o ato de persuadir, inspirar, motivar as pessoas a alcançar os objetivos
propostos. O referencial teórico abordou liderança e teorias contingenciais da
liderança. No intuito de responder o problema de pesquisa e os objetivos
propostos, utilizou-se como metodologia, a pesquisa descritiva, bibliográfica,
estudo de caso e de levantamento. Os resultados indicam uma consonância entre a
busca dos colaboradores e os estilos de liderança na organização.

Palavras Chave: Administração - Liderança - Estilos de Liderança

Tópicos em Administração - Volume 8


162

1 INTRODUÇÃO suas ações para a mantença da motivação na


perseguição do cumprimento das metas e
As mudanças drásticas oriundas da era pós-
muitas vezes até a própria sobrevivência da
moderna nas áreas econômica, tecnológica, e
organização (MARRAS, 2000).
de mercado, sobretudo na última, têm
demandado dos executivos maior criatividade Considerando a importância da liderança
e ousadia para enfrentar transformações de para que uma organização seja promissora e
uma dimensão e uma rapidez nunca antes competitiva, questiona-se com essa pesquisa:
imaginada. Jamais foi tão discutida a Qual tipo de liderança pode ser mais eficaz
problemática decisória entre estrutura e na motivação dos colaboradores, no Grupo
estratégia nas prioridades das organizações Real Móveis?
(MARRAS, 2000).
A presente pesquisa tem como objetivo geral
O administrador é o membro imprescindível identificar qual tipo de liderança pode ser
da empresa. Sua liderança é o que transforma mais eficaz na motivação dos colaboradores,
os recursos em produção, o que não seria no Grupo Real Móveis.
possível sem sua atuação. A concorrência no
E para tanto tem-se como objetivos
mercado e competência dos gestores é o que
específicos:
ocasiona ou mesmo designa o sucesso de
uma organização, visto que o know-how e a  Identificar os estilos de liderança dos
habilidade de seus administradores no gestores da organização;
desempenho da Companhia é o único fator
efetivo de ganho de competitividade em uma  Definir na visão dos colaboradores
economia globalizada (DRUCKER, 2002). qual o tipo de liderança irá motivá-los;

Liderança é capacidade do líder em suscitar  Identificar se o tipo de líder ideal


confiança e apoio dos indivíduos, onde seu muda se comparado os setores
comprometimento suplanta o desempenho de administrativo, vendas e entrega;
seus seguidores. Os líderes estão  Utilizar as informações sobre
profundamente enredados em promover liderança como ferramenta na
mudanças, persuadir, inspirar e motivar os construção de vantagens
colaboradores da organização (DUBRIN, competitivas.
2003).
Espera-se com a realização dessa pesquisa
A liderança nos espaços funcionais das que os gestores do Grupo Real Móveis,
empresas é algo que vem sendo percebam a importância do uso da liderança
negligenciado pelos administradores como fator motivacional para seus
(MARRAS, 2000). Em épocas de constantes colaboradores. Este estudo pode contribuir
transformações, o que tem feito a diferença para economia local, devido a possíveis
nas disputas comerciais entre as progressos da entidade, com maior
organizações, é o capital humano. Deste conhecimento da organização seus
modo esse estudo justifica-se pela busca por administradores podem tomar decisões
analisar a mestria e as habilidades do líder pontuais, fundamentadas e com maior
em motivar seus colaboradores para atingir os segurança.
objetivos organizacionais (SILVA; PEIXOTO;
BATISTA, 2011). Essa pesquisa se caracteriza como:
descritiva, bibliográfica, estudo de caso e de
A importância desse estudo se dá pelo fato levantamento.
da necessidade das empresas em ter a
administração de seus recursos humanos
para instalação de estratégias, elaboração de 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
projetos indispensáveis para "atrair, motivar,
desenvolver, remunerar e reter as melhores 2.1 LIDERANÇA
pessoas", cumprindo assim os objetivos A liderança é primordial na percepção do
organizacionais (TANKE, 2004). desempenho do grupo, pois, espera-se do
O fato relevante que suscitou a elaboração líder, o direcionamento da equipe para
dessa pesquisa foi a percepção que as conquista dos objetivos (BERGAMINI,1982;
empresas têm como objetivo o crescimento, ROBBINS, 2005). Assim sendo, a capacidade
trabalham com afinco nesse sentido, porém de antecipação acurada é valiosa no
não dão a devida importância aos líderes e progresso do grupo (ROBBINS, 2005).
Tópicos em Administração - Volume 8
163

É comum que se confunda administração e "Diferentes teorias a respeito da liderança são


liderança. O primeiro desenvolve planos analisadas, desde as ideias clássicas a
formais, projetos, estruturas organizacionais e respeito do contraste entre democracia e
monitoramento dos desfechos em relação aos autocracia até proposições atuais a respeito
planos, o segundo diz respeito ao conflito de da liderança" (MAXIMIANO, 2007, p. 205).
mudanças, os lideres demonstram a direção
São três as abordagens tradicionais sobre
por meio de uma visão do futuro, depois,
liderança: a Teoria dos Traços de
influência as pessoas a seguir essa e transpor
Personalidade, a Teoria Comportamental e
os obstáculos (ROBBINS, 2005).
por fim as Teorias Situacionais
Autoridade formal é diferente de liderança, (CHIAVENATO, 2004; BATEMAN; SNELL,
pois os alicerces nos quais se fundamenta a 1998). "Cada uma dessas teorias tem
motivação dos liderados é distinto, enquanto defensores que acreditam que sua
o presidente da empresa detém autoridade abordagem é a melhor" (CHIAVENATO, 2004,
baseada no cargo em que ocupa o líder p. 460).
sindical a possui devido ao interesse dos
As abordagens sobre os estilos de liderança
funcionários em ter garantidos seus direitos
evidenciam características triviais a serem
(MAXIMIANO, 2007).
consideradas, buscam isolar aspectos
Não existe ainda uma abordagem ampla e básicos do comportamento de "liderança para
universalmente aceita acerca da liderança trabalhar com a multidimensionalidade, o que
(CHIAVENATO, 2004). A seguir alguns pode confundir a interpretação do
conceitos que definem liderança: comportamento. A superposição de
definições entre vários autores é
"Liderança é o processo de conduzir as ações
impressionante" (CHIAVENATO, 2004, p. 459).
ou influenciar o comportamento e a
mentalidade de outras pessoas"
(MAXIMIANO, 2007, p. 277).
2.3 TEORIAS DOS TRAÇOS DE
"Liderança é a realização de metas por meio PERSONALIDADE
da direção de colaboradores. A pessoa que
Para discorremos sobre personalidade,
comanda com sucesso seus colaboradores
devemos nos atentar para o entendimento
para alcançar finalidades especificas é líder"
dessa característica, em nosso propósito de
(MAXIMIANO, 2007, p. 277).
estudo vamos "considerar personalidade
"Liderança é um fenômeno tipicamente social como a soma total das maneiras como a
que ocorre exclusivamente em grupos sociais pessoa reage e interage com as demais"
e nas organizações” (CHIAVENATO, 2004, p. (ROBBINS, 2005, p. 78).
448).
A teoria dos traços de personalidade, é um
"A liderança é exercida como uma influência dos mais antigos estudos sobre liderança, se
interpessoal em uma dada situação e dirigida fundamenta a partir da hipótese que para ser
através do processo de comunicação humana um líder, o indivíduo deve possuir algumas
para consecução de um ou mais objetivos características pessoais, intelectuais,
específicos" (CHIAVENATO, 2004, p. 448). emocionais e físicas que o diferencia dos
demais (CHIAVENATO, 2004). Essa teoria não
"Liderança envolve influenciar outros a
evidência outras variáveis que permeiam a
alcançar objetivos que são importantes para
relação entre líder e liderado. Neste enfoque o
eles e para organização" (DUBRIN, 2003, p.
indivíduo já nasce líder (FLEURY, 2002).
264).
No entanto com a busca dos pesquisadores
Os líderes "estão fortemente envolvidos em
por traços ou características para distinção
persuadir, inspirar e motivar os outros e forçar
dos líderes eficazes dos não eficazes,
as mudanças úteis" (DUBRIN, 2003, p. 264).
chegou-se ao consenso que alguns traços
são comuns entre os líderes de sucesso,
como iniciativa nas relações pessoais e senso
2.2 TEORIAS SOBRE LIDERANÇA
de identidade pessoal (MAXIMINIANO, 2007;
A liderança é uma competência de indivíduos, SCHERMERHORN JR, 2007).
influenciada por um conjunto de fatores que
Os pesquisadores esperam com seus
devem ser considerados: os indivíduos, as
estudos, corroborar na seleção de
metas do líder e a situação vivenciada.
colaboradores, aclimatação dos indivíduos ao
Tópicos em Administração - Volume 8
164

trabalho e na evolução das carreiras de cada colaboradores (ROBBINS, 2005).


pessoa. Entretanto a maioria desses estudos
Os desfechos das pesquisas mostraram que
elencava um inventário extenso de traços,
a curto prazo a liderança voltada para tarefa
que atrapalhava universalizar as
obteve bons resultados, contudo a médio e
características úteis para referência dos
longo prazo mostrou baixa eficiência,
gestores (ROBBINS, 2005).
ocasionada pela pressão exercida pelos
As principais críticas a teoria dos traços de líderes forçavam os colaboradores a terem
personalidade estão alicerçada em dois atitudes desfavoráveis como absenteísmo,
pontos. O primeiro é a maneira pouco precisa rotatividade, ações trabalhistas e alto nível de
em que são medidas as características de desperdício (CHIAVENATO, 2004).
personalidade. O segundo ponto é que nessa
A liderança voltada para as pessoas por sua
teoria não se analisa as circunstâncias
vez foi favorável pois obteve melhores
incorporadas ao ambiente no qual existe e
resultados quanto à produtividade dos
funciona a liderança (CHIAVENATO, 2004).
colaboradores, maior satisfação no trabalho,
Devida a pequena abrangência de fatores menos desperdícios de matéria prima e
analisadas pela a teoria, ela caiu em melhor relacionamento entres os pares e seus
descrédito, entretanto o simples fato dela superiores (ROBBINS, 2005), as críticas a
elencar alguns atributos particulares de essa teoria alicerçadas no fato dela restringir
liderança torna-se um ensinamento e a liderança a uma dimensão singular:
paradigma relevante para o administrador orientação para o trabalho ou para as
(CHIAVENATO, 2000). pessoas (CHIAVENATO, 2004).

2.4 TEORIA SOBRE OS ESTILOS DE 2.5 ESTILOS CLÁSSICOS DE LIDERANÇA


LIDERANÇA
Quando um trabalhador descreve seu líder
As lacunas deixadas pelos estudos primitivos em sua linguagem ainda hoje estão inclusos
dos traços conduziram os pesquisadores em três estilos clássicos de liderança
outro direcionamento em suas pesquisas ao descobertos nas teorias de comportamento
fim dos anos 40 até a década de 1960. de liderança são eles autocrático, liberal
Começou-se investigar o comportamento (laissez-faire) e democrático
exposto por determinados líderes, buscavam (SCHERMERHON JR, 2007). A postura do
evidências de condutas específicas que se líder frente às situações cotidianas, influencia
assemelhassem (ROBBINS, 2005). o comportamento e o desempenho das
pessoas (BATEMAN; SNELL, 1998).
Com suas atenções voltadas para o
comportamento dos líderes o trabalho dos O líder com estilo autocrático emprega seus
pesquisadores foi identificar os padrões esforços com maior ênfase na tarefa deixando
comportamentais dos líderes, para isso as pessoas em segundo plano, concentra em
seguiu-se a linha de investigação dos estilos si a autoridade e as informações, exerce a
de liderança, a ideia era que com essas liderança com um estilo unilateral de domínio
informações desenvolver um programa de e controle (SCHERMERHORN JR, 2007), o
treinamento de líderes, caso o plano quadro 3 demonstra as características de
funcionasse teria uma fonte de líderes eficaz cada estilo.
inesgotável (ROBBINS, 2005;
Estudos mostram que grupos com o comando
SCHERMERHORN JR, 2007).
de líderes autocráticos mostraram
A maior parte do estudo se concentrou em comportamentos em comum como: "forte
duas perspectivas do estilo de liderança: tensão, frustração e agressividade, de um
preocupação com a realização da tarefa e lado, e, de outro, nenhuma espontaneidade,
preocupação com as pessoas que a nem iniciativa, nem formação de grupos de
realizariam (SCHERMERHORN JR, 2007), os amizade" (CHIAVENATO, 2000, p. 91). Os
líderes voltados para tarefa tendiam a realçar membros da equipe demonstravam aparente
os aspectos técnicos e práticos do trabalho gosto pelas tarefas, entretanto manifestavam
enquanto os voltados para as pessoas insatisfação com a situação (CHIAVENATO,
atentavam com as relações interpessoais, 2000).
aceitavam as diferença entre os membros do
As tarefas apenas se desenvolviam com a
grupo atendia as necessidades dos
presença do líder, assim que, afastava-se o
Tópicos em Administração - Volume 8
165

trabalho parava os grupos se alargavam e oscilações, o tempo se dissolvia com


suas emoções emergiam com força tal discussões causadas por motivos pessoais
culminando em atos de disciplina e sem qualquer relação com o trabalho. Essa
agressividade (CHIAVENATO, 2000). forma de liderar propicia que o grupo se torne
individualista, agressivo e com ínfimo respeito
A liderança com estilo liberal (laissez-faire)
ao líder (CHIAVENATO, 2000).
tem uma postura contrária a autocrática
demonstra o mínimo de preocupação com a A liderança com estilo democrático se
tarefa, instituindo ao grupo as decisões, distingue das demais, pelo fato de ser
adotando uma atitude faça o seu melhor e compromissada com as tarefas e com as
não me incomode (SCHERMERHORN JR, pessoas, se assegura que o trabalho está
2007; CHIAVENATO, 2000). sendo executado ao mesmo tempo divide
informações, incentiva a participação nas
Nesse estilo de liderança o grupo desenvolvia
decisões, auxilia seus colaboradores no
um nível acentuado de atividades, entretanto
desenvolvimento de suas habilidades e
a produtividade era insignificante, o trabalho
capacidades (SCHERMERHORN JR, 2007;
se desdobrava ao acaso, com excesso de
CHIAVENATO, 2000).

Quadro 3 - Os três estilos de liderança.


Autocrático Democrático Liberal (laissez-faire)
Há liberdade total para as
As diretrizes são debatidas e
O líder fixa as diretrizes, sem decisões grupais ou
decididas pelo grupo, estimulado
qualquer participação do grupo. individuais, e mínima
e assistido pelo líder.
participação do líder.
O líder determina as providências
para a execução das tarefas, cada O grupo esboça as providências
A participação do líder é a
uma por vez, na medida em que novas perspectivas com os
pedissem.
se tornam necessárias e de modo debates.
imprevisível para o grupo.
A divisão das tarefas e
A divisão das tarefas fica a critério
O líder determina a tarefa que escolhas dos colegas fica
do grupo e cada membro tem a
cada um deve executar e o seu totalmente a cargo do grupo.
liberdade de escolher seus
companheiro de trabalho. Absoluta falta de participação
companheiros de trabalho.
do líder.

O líder procura ser um membro O líder não avalia o grupo nem


O líder é dominador e é "pessoal"
normal do grupo, em espírito. O controla os acontecimentos.
nos elogios e nas críticas ao
líder é "objetivo" e limita-se aos Apenas comenta as atividades
trabalho de cada membro.
"fatos" nas críticas e elogios. quando perguntado.

Fonte: Chiavenato (2000, p. 91).

Esse estilo propicia a constituição de amizade grupo a atitudes negativas e a uma


entre os gestores e colaboradores. "Líder e produtividade baixa. Esses efeitos lógicos
subordinados passaram a desenvolver possivelmente denotam os paradigmas dentre
comunicações espontâneas, francas e os administradores a cerca dessas
cordiais. O trabalho mostrou um ritmo suave e abordagens de tomada de decisões
seguro, sem alterações mesmo quando o líder (BATEMAN; SNELL, 1998).
se ausentava" (CHIAVENATO, 2000, p. 91).
Entretanto, o desfecho dos estudos nos
Os estudos mostraram que nessa forma de
mostra que a decisão sempre precisa ser
liderança há um claro senso de
tomada de modo democrático ou autocrático,
responsabilidade e comprometimento
o que deve ser levado em consideração são
individual, e grande integração grupal, com
as características do líder, dos colaboradores
um clima de satisfação (CHIAVENATO, 2000).
e da situação (BATEMAN; SNELL, 1998).
Uma liderança de forma liberal (laissez-faire),
O alcance de performance e a manutenção
onde o líder se abstém das decisões, leva o
da liderança são autônomos, independe um
Tópicos em Administração - Volume 8
166

do outro. O líder pode enfatizar um aspecto, O primeiro fator a ser considerado, são as
todos, ou nenhum. Pesquisas indicam que o forças atuantes no líder como seus princípios,
líder ideal é aquele que possuí os dois anseios de segurança e sua confiabilidade
comportamentos de liderança, autocrático e em seus subordinados. O segundo são os
democrático, equilibrando-os de acordo com fatores que influenciam os colaboradores,
a exigência da situação, extraindo o melhor como sua experiência, seu empenho pela
de seus colaboradores (BATEMAN; SNELL, tarefa, está disposto para assumir
1998). responsabilidade na tomada de decisão e seu
interesse no cumprimento dos planos e metas
da organização (BATEMAN; SNELL, 1998).
2.6 TEORIAS CONTINGÊNCIAS DA
Após serem considerados os pontos
LIDERANÇA
anteriores devem-se considerar as forças que
2.6.1 ABORDAGEM SITUACIONAL DA agem na situação incluindo os estilos de
LIDERANÇA liderança apreciados pela organização, o
padrão que o grupo produz "como uma
Um estilo de liderança eficaz é aquele que se
unidade eficaz, o problema em si e o tipo de
ajusta a situação, esse é o fundamento das
informação necessária para resolvê-lo além
teorias sobre liderança situacional. Entretanto,
da quantidade de tempo que o administrador
em nenhuma das teorias da liderança
dispõe para tomar a decisão" (BATEMAN;
situacional impetra um esclarecimento
SNELL, 1998, p. 344).
definitivo, em relação à eficácia do líder.
Todas as abordagens a esse respeito Analisando a situação vivenciada pela
possuem críticos e defensores. "O principal empresa pode-se escolher qual estilo é mais
problema que a teoria da liderança situacional adequado para maior produtividade e melhor
procura resolver é descobrir qual estilo ajusta- clima organizacional, haverão situações onde
se a qual situação" (MAXIMIANO, 2007, p. o estilo autocrático é o mais indicado, em
292). outras o estilo democrático e participativo
será o mais adequado. Através desse
Os defensores dessa abordagem situacional
exercício constante, constrói-se uma teoria
descreem na existência de traços ou
situacional de liderança (BATEMAN; SNELL,
comportamentos inteiramente importantes.
1998).
Suas crenças são de que os comportamentos
eficazes acerca da liderança mudam de
acordo com a situação. O líder antes de tomar
2.6.3 MODELO DE FIEDLER
qualquer decisão deve analisar a situação e
tomar a decisão com base nessa analise Fiedler sugere em seu modelo de
(BATEMAN; SNELL, 1998). contingência que a efetividade da
performance da equipe está sujeita a
Entre várias abordagens que buscavam a
equação postura do líder e o nível de controle
identificação das principais "variáveis
proporcionado pela situação. Fiedler cria que
situacionais básicas tiveram mais sucesso
o elemento primordial para o sucesso é o
que outras e, assim, receberam amplo
estilo de liderança, deste modo ele inicia a
reconhecimento" (ROBBINS, 2005, p. 263).
busca pelo estilo básico de liderança
Consideraremos algumas delas: Modelo de
(ROBBINS, 2005).
Tannenbaum e Schimit, o modelo de Fiedler,
a teoria de Hersey e Blanchard (ROBBINS, Através da escala do colega menos preferido,
2005). Fiedler media o estilo de liderança, esse
modelo denominado escala LPC (least-
preferred coworker), descrevia as intenções
2.6.2 MODELO TANNENBAUM E SCHIMIT de comportamento do "líder motivado para
tarefa (pontuação LPC baixa). Como do líder
Tannenbaum e Schimit em 1958 foram os
motivado para o relacionamento (pontuação
pioneiros na implantação de um modelo
LPC alta)". (SCHERMERHORN JR, 2007, p.
situacional de liderança, com a publicação de
294). Ele parte da premissa que o estilo de
seu artigo na Havard Business Review onde
liderança do indivíduo é fixo, ou seja,
defendiam que os administradores precisam
orientado para a tarefa ou para as pessoas,
ponderar acerca de três fatores antes de
essa posição é importante para o
determinarem como liderar (BATEMAN;
entendimento de seu modelo (ROBBINS,
SNELL, 1998).
2005).
Tópicos em Administração - Volume 8
167

Em seu modelo contingencial de liderança 2.6.4 MODELO HERSEY-BLANCHARD DE


eficaz, Fiedler começa dizendo que não há LIDERANÇA SITUACIONAL
um estilo único e melhor de liderança
O modelo de liderança denominado teoria da
adequado a toda situação, mas sim o inverso,
liderança situacional (SLT), foi incluso as
as características eficazes são situacionais:
rotinas de treinamentos de cerca de 80 por
para cada situação se aplica um estilo
cento das empresas listadas pela revista
diferente. Seu modelo contingencial é
Fortune. Esse modelo centraliza seu foco nos
baseado em três fatores situacionais
liderados, ele demonstra que, para se
(CHIAVENATO, 2004).
alcançar uma de sucesso é necessária a
O primeiro fator refere-se ao poder de escolha do estilo de liderança adequado
posição do líder que está relacionado há (ROBBINS, 2005).
influência intrínseca à condição de líder, isto
A teoria indica que o sucesso do líder está
é, ao poder da autoridade formal conferido ao
atrelado à prontidão em que seus liderados
líder, o que não está vinculado ao nível de
realizaram as tarefas, ao nível de capacitação
poder pessoal que ele possui (CHIAVENATO,
e em quanto eles estão dispostos e confiantes
2004).
para desempenhar cada tarefa proposta pelo
O segundo fator se correlaciona com o grau líder. Os focos nos liderados exprimiram a
de estruturação das tarefas, desempenhadas situação real da liderança, por sua vez o
pelos colaboradores, que pode ser delineado colaborador aceita ou não o líder
e acompanhado, ou as rotinas desenvolvidas (SCHERMERHORN JR, 2007; ROBBINS,
pelos subordinados não proporcionam 2005).
condições de serem totalmente controladas,
Os estilos de liderança se configuram através
são tarefas criativas desempenhadas por
de uma série de possíveis combinações de
cargos de assessoria, consultoria entre
procedimentos do líder, pode ser inclinado
outros, nesses casos há maior dificuldades
aos relacionamentos ou as tarefas, seu estilo
para medir os resultados. Por esse motivo a
vai do mais diretivo ao laissez-faire, o mais
estrutura da tarefa é relevante para o estilo de
eficaz dependerá do know-how e motivação
liderança (CHIAVENATO, 2004).
dos colaboradores (SCHERMERHORN JR,
O terceiro fator refere-se à relação entre líder 2007; ROBBINS, 2005).
e membros, no relacionamento entre eles
Hersey-Blanchard caracterizaram essas
pode haver "sentimentos de aceitação entre
teorias em quatro atitudes do líder: delegar,
ambos, confiança e lealdade que os membros
dar chance ao grupo de assumir
depositam no líder ou sentimentos de
responsabilidade esse estilo é caracterizado
desconfiança, de reprovação, falta de
pela baixa preocupação com a tarefa e com
lealdade e amizade entre ambos"
as pessoas, dá ênfase no compartilhamento
(CHIAVENATO, 2004, p. 464).
das ideias, promove a participação nas
Tanto o estilo orientado para tarefa como o decisões a cerca das tarefas, esse estilo se
estilo orientado para o relacionamento não preocupa mais com as pessoas de que com
são eficazes em todo tempo, mas sim, as tarefas (SCHERMERHORN JR, 2007).
quando utilizado na ocasião correta, cada um
Outras características são a persuasão onde
dos estilos funciona melhor. A definição dos
o líder esclarece de modo convincente a
resultados pode ser presumida em duas
direção da tarefa e apóia o liderado, esse
hipóteses (SCHERMERHORN JR, 2007;
estilo tem uma alta preocupação com as
CHIAVENATO, 2004).
tarefas e com as pessoas. Outra forma de
A primeira hipótese indica que os líderes que condução das equipes é através da
se norteiam para as tarefas são mais determinação das tarefas, o líder apenas
produtivos em situações extremas de muito fornece o comando e mantém uma supervisão
ou pouco controle. A segunda proposição cuidadosa, esse estilo é voltado para as
indica maior destaque para atuação do líder tarefas com baixo índice de preocupação
orientado para o relacionamento em situações com as pessoas (SCHERMERHORN JR,
de controle moderado (SCHERMERHORN JR, 2007).
2007; CHIAVENATO, 2004).
Com esse modelo, os gestores precisam ser
hábeis para implementarem o melhor estilo de
liderança de acordo com a necessidade. Em
situações onde os seguidores atendem os
Tópicos em Administração - Volume 8
168

líderes com prontidão, o melhor estilo é o características líderes mais eficazes é de


delegar, já o estilo determinar funciona melhor motivar e auxiliar seus liderados a alcançarem
em situações de baixa prontidão por parte seus objetivos (SCHERMERHORN JR, 2007;
funcionários, o estilo compartilhar se adéqua ROBBINS, 2005).
a ao nível baixo a regular, o estilo persuadir é
Os apoiadores da teoria indicam que para se
indicado a níveis de prontidão baixo a
criar vínculos entre os líderes e os liderados, o
moderado, com seguidores incapazes
líder deve ser flexível e alternar sua forma de
entretanto motivados a realizar as tarefas
liderar entre quatro estilos de liderança:
(SCHERMERHORN JR, 2007).
liderança diretiva, liderança de apoio,
A teoria sugeria ainda que, com a utilização liderança orientada para a realização e
correta dos estilos alinhados a situação, se liderança participativa (SCHERMERHORN JR,
algum colaborador apresentasse prontidão 2007; ROBBINS, 2005).
insuficiente ele iria "amadurecer crescer em
Na liderança diretiva o líder expõe aos
habilidade, disposição e confiança "
seguidores o que é esperado na realização
(SCHERMERHORN JR, 2007, p. 296).
dos trabalhos, orienta no que fazer e como,
estabelece prazos, zelam pelo desempenho
da equipe e elucida o papel do líder e do
2.6.5. TEORIA DA META E DO CAMINHO
grupo (SCHERMERHORN JR, 2007).
Essa abordagem contingencial desenvolvida
O líder apoiador providencia formas do
por Robert House, atualmente é uma das mais
trabalho ser mais agradável, todos os
respeitadas, sugere que o "líder eficaz é
membros do grupo são tratados como iguais,
aquele que deixa claros os caminhos,
é sensível às necessidades de seus
permitindo que seus seguidores atinjam tanto
colaboradores, demonstra amizade, é
as metas pessoais como aquelas
acessível e procura sempre promover bem-
relacionadas com as tarefas"
estar a seus subordinados (SCHERMERHORN
(SCHERMERHORN JR, 2007, p. 296). As
JR, 2007; ROBBINS, 2005).

Figura 3: Relações contingências na teoria de liderança caminho-meta.

Fonte: Schermerhorn Jr, 2007


.
A liderança orientada para a realização é Liderança participativa busca participação
conduzida através do estabelecimento de dos subordinados nas tomadas de decisão,
metas desafiadoras, onde o líder espera por ouve as apreciações dos liderados antes de
parte de seus subordinados uma grande tomar suas decisões, é constante na troca de
desenvoltura, busca por melhorias contínuas, ideias com seus colaboradores, apóia a
é confiante no atendimento dos altos padrões participação dos membros menores na
por seus colaboradores (SCHERMERHORN hierarquia na resolução dos problemas da
JR, 2007; ROBBINS, 2005). empresa (SCHERMERHORN JR, 2007;
ROBBINS, 2005).
Tópicos em Administração - Volume 8
169

Essa teoria resumida a figura 2, recomenda participantes da pesquisa. Foram distribuídos


aos líderes usarem os estilos de liderança 37 questionários aos gestores e
adequados em cada situação, quando ela colaboradores do Grupo Real Móveis, que é o
age em acordo com a situação agrega valor, número total de funcionários, a distribuição se
contribuindo apenas com o que falta ou deu do dia 02 ao dia 11 de outubro de 2013.
reforçando uma determinada situação, Três funcionários se recusaram a participar
evitando assim procedimentos redundantes, da pesquisa. Deste modo, se obteve um
esses comportamentos são usados quando retorno aproximado de 92% dos questionários
os membros do grupo são especialistas em distribuídos.
suas tarefas (SCHERMERHORN JR, 2007).
Dos 37 questionários distribuídos, quatro
foram destinados aos gestores da
organização, foram elaborados com intuito de
3.METODOLOGIA
identificar o estilo de liderança de cada
A pesquisa foi realizada na empresa Real gestor, os demais questionários foram
Móveis LTDA, localizada na Praça João divididos entre todos os colaboradores, em
Acacinho, 242, Centro, Guaçuí-ES, atua no todos os departamentos da empresa.
mercado desde 1978, no comércio varejista
de móveis, eletrodomésticos, modulados e
artigos para decoração. Atendendo 4. RESULTADOS
principalmente a região do Caparaó, possuí
4.1 PERFIL E ESTILO DE LIDERANÇA DOS
37 funcionários divididos em vendas, entrega,
GESTORES DO GRUPO R.M.
e administração ¹.
O grupo Real Móveis é gerenciado por quatro
Essa pesquisa se torna descritiva, uma vez
gestores, todos do sexo masculino, com
que se pretende descrever os pontos de vista
idade acima de 36 anos, trabalham no grupo
dos colaboradores a cerca da liderança e
a mais de quatro anos, foi identificado através
motivação na empresa pesquisada. Quanto
do teste de liderança proposto por Minicucci
aos procedimentos de coleta de dados, a
(1995), dois tipos de liderança, onde 50% da
pesquisa se tipifica como bibliográfica,
amostra foi classificada com o tipo de
estudo de caso e levantamento.
liderança autocrática, e os outros 50% com o
Entre os dias 5 e 13 de setembro de 2013 estilo de liderança democrática, não foi
foram aplicados 10 questionários com o identificado entre os líderes da empresa o
intuito de avaliar o instrumento de coleta de estilo de liderança liberal.
dados. Para aperfeiçoamento da ferramenta
de coleta de dados foram necessárias
algumas alterações no questionário. Diante 4 .2 ESTILO DE LIDERANÇA PREFERIDO
desse fato, aclarou-se a necessidade de DOS COLABORADORES DO GRUPO R. M.
aplicação do pré-teste.
Na identificação perfil socioeconômico é
A partir do dia 02 de outubro de 2013, deu-se necessário a identificação da escolaridade
a distribuição dos questionários aos dos entrevistados.

Tabela 1 – Escolaridade
Escolaridade Frequência Percentual
Ensino Fundamental incompleto 6 17,60%
Ensino Fundamental completo 0 0,00%
Ensino Médio Incompleto 5 14,70%
Ensino Médio Completo 12 35,30%
Ensino Superior Incompleto 4 11,80%
Ensino Superior completo 7 20,60%
Total 34 100,00%

Tópicos em Administração - Volume 8


170

Quando associado à escolaridade com escolaridade 20,6% possuem ensino superior


relação ao setor onde o trabalhador está completo. Para Francini (2002), o maior grau
alocado, observa-se que os menores níveis de instrução dos gestores se alinha com a
de escolaridade estão relacionados aos constante busca das empresas pelo
setores de entregas e vendas. Onde 17,6% desenvolvimento de suas competências,
dos trabalhadores que não concluíram o perseguindo seus objetivos estratégicos,
ensino fundamental exercem cargos no setor através da melhoria da qualidade dos
de entregas, o principal requisito para atuar processos na solução dos problemas
nesses cargos é a força física e os 14,7% dos cotidianos, tomada de decisão e
colaboradores com ensino médio incompleto negociações.
quatro quintos deles trabalham no setor de
O gráfico 01 demonstra o resultado das seis
entregas e um quinto no setor de vendas.
primeiras questões propostas para responder
O setor administrativo da empresa é o que a primeira etapa da pesquisa.
absorve os colaboradores com a maior

Gráfico 01: Qual comportamento você espera do líder na empresa.

Fonte: da pesquisa 2013.

Observa-se a inclinação dos respondentes rendimento. Precisa-se que essa figura dê


para o estilo de liderança autocrático. ordens para que possa funcionar e trazer
Conclui-se que os colaboradores buscam que rendimentos a empresa.
os líderes os orientem nos trabalhos e
As informações não rotineiras estão
determine as tarefas a cada membro do
centralizadas no líder da organização, suas
grupo. E se sentem mais tranquilos quando o
fontes os possibilitam melhores condições de
próprio líder escolhe os companheiros de
informação sobre as ocorrências e eventos no
trabalho, pois acreditam que ele conhece
ambiente organizacional (TREVIZAN, 1998),
melhor a eficiência de eficácia de cada um,
possibilitando assim que os líderes
assim fazendo com que a produtividade
determinem as tarefas a serem realizadas, e
aumente.
quem as realizará com melhor
Chiavenato (2004), diz que se dosado na aproveitamento.
medida certa esse estilo é bom para
Constatou-se também que os colaboradores
empresa, pois na liderança autocrática existe
preferem quando o líder é pessoal no elogio
um maior volume de trabalho produzido.
aos membros e acreditam que isso pode
Entretanto deve- se cuidar, uma vez que os
motivá-los para o trabalho, e que comentários
colaboradores expostos a essa liderança
espontâneos e pouco frequentes por parte da
tendem a apresentar sinais de tensão,
liderança, não os estimula.
frustração e agressividade.
No entanto quando questionados sobre o que
Percebeu-se que preferem que o líder seja
gostariam de ouvir do seu líder, o estilo de
um membro distante do grupo, acreditam que
liderança mudou, passou a ser o
muita intimidade pode atrapalhar o
democrático, como mostra o gráfico 2.

Tópicos em Administração - Volume 8


171

Gráfico 2: O que você gostaria de ouvir do seu líder.

Fonte: da pesquisa 2013.


Nota-se a preferência dos colaboradores para assim as expectativas de seus liderados e da
o estilo de liderança democrático, quando empresa em situações distintas em
apresentado afirmativas que tratavam de consonância com o momento vivido
questões de cunho pessoal, como elogios e (KURCGANT et al., 1996).
criticas.
Observou-se também que os funcionários não
Para Kurcgant et al. (1996), as mudanças no estão preocupados com a quantidade de
estilo de liderança é uma questão bastante trabalho realizado, não há preocupação com
recorrente, pois incidem frequentemente, na a cordialidade entre os pares, acreditam na
essência de uma liderança autocrática para máxima que o importante no grupo é a
uma liderança democrática. motivação para o trabalho, defendem que as
decisões devem ser tomadas em grupo, não
Considerando fatores como corporalidade,
dependendo apenas do líder a mesma.
temporalidade e espacialidade em relação ao
indivíduo que lidera, são incorporados no Fazendo uma análise geral dos resultados da
ensino, pela importância da proposição pesquisa, nota-se que em determinadas
político- social, vivenciada pela sociedade em situações relacionadas com a parte
diferentes momentos, indicando esse mesmo operacional da empresa os colaboradores
caminho, bem como ocorrido nas teorias da tendem para o estilo de liderança autocrático
administração (KURCGANT et al., 1996). e quando é tratado de questões relacionadas
com o psicológico de cada indivíduo buscam
A pesquisa demonstra que os colaboradores
um estilo de liderança democrático.
buscam por parte de seu líder o
reconhecimento pelo trabalho bem feito, e A maneira como o líder reage às situações
quando tem dificuldades no trabalho buscam influencia no comportamento e na
exortações de seu líder e esperam receber performance dos liderados. O líder está
prontamente de maneira cordial. Atitudes constantemente exposto a uma dicotomia,
displicentes dos líderes apenas os deixariam deve apresentar comportamentos voltados
desmotivados para a realização de seus para o desempenho de tarefas e exibir
trabalhos. comportamentos de manutenção do grupo.
Ou seja, em determinadas situações deve se
Essas diferentes maneiras de agir do líder,
comportar de maneira autocrática e em outras
quando analisadas através dos constructos
deve de maneira democrática (BATEMAN;
teóricos, podem ser explicadas pela Teoria
SNELL, 1998).
Contingencial de Liderança, sugerindo que o
líder deve se adaptar a situação, adotando O gráfico 3 demonstrará o estilo de liderança
diferentes estilos de liderança atendendo escolhido por cada setor da empresa.

Gráfico 03: Preferência do estilo de liderança por setor da empresa.

Tópicos em Administração - Volume 8


172

Fonte: da pesquisa 2013.


O gráfico 3 demonstra que quando analisado compreensível, pois segundo Kurcgant et al
de forma individual cada setor da (1996), o líder deve se adaptar a situação,
organização os resultados apresentam adotando diferentes estilos de liderança
diferenças do resultado geral. Podemos atendendo assim as expectativas de seus
observar que no setor de vendas o líder liderados e da empresa.
democrático vence o líder autocrático com
Constatou-se que os setores administrativo e
uma vantagem ínfima de 1,82%.
de vendas preferem o líder democrático, que
Nota-se que o setor de entregas foi o que em geral contam com as opiniões dos
demonstrou a maior preferência pelo estilo de colaboradores para tomada de decisão,
liderança autocrático 53,64%, esse resultado esses setores tem maior nível de
que pode ser influenciado pelo tipo de escolaridade. Já o setor de entrega onde se
trabalho realizado pelos respondentes, onde trabalha mais com a parte física do que com a
se trabalha mais com a parte física do que intelectual prefere o líder autocrático,
com a intelectual. Outra variável a ser verificou-se que o nível de escolaridade é
considerada é a escolaridade dos menor se comparado aos outros setores.
respondentes, pois nesse setor concentra o
Quanto aos estilos de liderança dos gestores
menor índice de escolaridade entre os
da empresa identificou-se que dois líderes
colaboradores da empresa.
são autocráticos e dois democráticos,
Observa-se que no setor administrativo atendendo assim os anseios dos
48,75% dos colaboradores optou por um colaboradores, entretanto seria vantajoso
estilo de liderança democrático, onde as para empresa que todos os líderes
decisões geralmente são discutidas, mesclassem os dois tipos de liderança.
avaliadas em grupo, só depois com base
Cada dia mais a liderança tem sido decisiva
nisso o líder toma a decisão. Observou-se
na sobrevivência das organizações, o líder é
que os colaboradores com maior nível de
o indivíduo que tem o poder para mudar a
escolaridade estão lotados nesse setor.
realidade da empresa, quando ele utiliza bem
Líderes democráticos solicitam de seus as informações acerca de liderança promove
liderados inputs, através de informações, o crescimento da empresa, pois, ele atende
opiniões e preferências, em alguns casos as necessidades dos colaboradores, que em
levando a discussão sobre alguma questão contra partida trabalham com afinco para
até que haja consenso ou mesmo decidindo atingir os objetivos da empresa.
pelo voto da maioria (BATEMAN; SNELL,
Quando os colaboradores estão satisfeitos
1998).
com as políticas de liderança da empresa,
A fim de responder os objetivos propostos eles trabalham com eficiência e eficácia, o
nessa pesquisa constatou-se que os clima organizacional é propicio gerando o
colaboradores do Grupo Real Móveis, se atendimento das necessidades dos clientes,
motivam com dois tipos de liderança, o tornando assim a empresa competitiva no
autocrático quando se trata do meio em que está inserida.
comportamento esperado do líder e
O presente trabalho limitou-se a identificar os
democrático quanto a questões
estilos clássicos de liderança (autocrático,
motivacionais, ou seja, de cunho pessoal,
liberal e democrático), dentro do Grupo Real
como elogios e criticas o que é perfeitamente
Móveis, utilizando o questionário proposto por
Tópicos em Administração - Volume 8
173

Minicucci (1995). Outras pesquisas podem confrontar os resultados com este trabalho.
ser realizadas considerando as lideranças Outra opção, seria avaliar uma teoria
clássicas utilizando outros campos de situacional de liderança.
pesquisa, ou com outro questionário, para

REFERÊNCIAS
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Administração: Construindo Vantagem Competitiva. Enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v.
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Teoria Geral da Administração / 2. ed. Rio de
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A liderança na Administração do Pessoal de
Enfermagem Segundo a Percepção de

Tópicos em Administração - Volume 8


174

Capítulo 15

Bruna Pfeiffer Salgado


Victor Cláudio Paradela Ferreira

Resumo: O presente artigo enfoca a aplicação de programas de capacitação a


empresas juniores. Estuda especificamente o caso da Acesso Comunicação Jr,
vinculada ao curso de comunicação social da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) – MG. Partindo de uma pesquisa qualitativa, o objetivo foi analisar como os
participantes da empresa assimilam os conteúdos abordados nos programas de
treinamento e de que forma os aplicam na sua rotina de trabalho. Tendo em vista
que as capacitações não são obrigatórias, a pesquisa procurou mensurar o
interesse dos participantes acerca dos temas e conteúdos ofertados. Foram
aplicados questionários com o intuito de verificar a percepção que os membros da
empresa possuem em relação aos treinamentos que têm sido promovidos. O
estudo almejou detectar as necessidades e deficiências encontradas neste
processo, apresentando possíveis sugestões para torná-lo mais efetivo. O artigo
apresenta os resultados obtidos, confrontados com a base teórica estudada e
analisados também por meio da experiência pessoal de um dos pesquisadores,
que foi integrante da Acesso. Conclui-se que há melhorias a serem realizadas, mas
que os programas de treinamento são vistos pela maioria como úteis e essenciais
para o bom desempenho do trabalho na empresa.

Tópicos em Administração - Volume 8


175

1.INTRODUÇÃO treinamento são detectadas. Também


procurou-se entender como os membros
As empresas juniores nasceram com o intuito
absorvem os assuntos abordados e como
de fortalecer e complementar a formação dos
passam esse conhecimento adiante.
alunos de graduação. Nesse espaço, os
discentes têm a possibilidade e oportunidade As ferramentas de comunicação de caráter
de gerir uma organização e prestar serviços informativo ou motivacional são aqui
na sua área de formação, desenvolvendo, entendidas como estímulos ou incentivos a
dessa forma, competências profissionais. É serem desenvolvidos para que possam
possível ainda desenvolver o lado favorecer a motivação das pessoas. Como
empreendedor, além de possibilitar uma maior afirma Vergara (2016), a motivação é
visão de futuro, especialmente através de intrínseca, originando-se a partir da busca de
programas de treinamento oferecidos em atendimento de necessidades interiores. Com
meio à gestão. base nessas constatações, pretendeu-se, por
meio do estudo aqui proposto, buscar
O tipo de capacitação oferecido aos membros
respostas para a seguinte questão-central:
das empresas juniores revela-se útil também à
“De que forma os membros da Acesso
sua futura inserção no mercado de trabalho.
Comunicação Jr. têm aplicado o aprendizado
Ou seja, o mesmo conhecimento adquirido
obtido nos programas de capacitação na sua
poderá ser posteriormente aplicado em outros
prática na empresa?”.
contextos empresariais de que o aluno faça
parte posteriormente. A obtenção de respostas sobre essa situação
se faz importante para o entendimento da
Pode-se concluir, portanto, que um programa
efetividade destes programas de treinamento
de treinamento aplicado dentro de uma
na vida profissional dos consultores dessa
empresa júnior terá utilidade dentro e fora
empresa.
dela, quando o mesmo conhecimento for
futuramente aplicado em outras organizações A próxima seção apresenta o referencial
de trabalho. No âmbito da informação, teórico adotado como base de apoio à
independente do canal com que se propaga, pesquisa.
Leite e França (2011), apontam que além de
vital, ela se transformou em maior valor
estratégico por trazer conhecimento. Ou seja, 2.REFERENCIAL TEÓRICO
a comunicação e a informação revelam-se
O que faz o diferencial de uma instituição é se
altamente estratégicas, influenciando
manter firme para atuar em um mercado
diretamente no sucesso ou fracasso da
demasiadamente competitivo, principalmente
empresa. Robbins (2010) segue a mesma
no contexto em que em que as empresas
linha ao dizer que parece razoável afirmar que
juniores estão inseridas. Dessa forma, torna-
uma das principais forças que podem impedir
se de grande importância realizar
o desempenho de um grupo é a falta de
capacitações para seus membros. Essa é
eficácia na comunicação.
uma necessidade de qualquer tipo de
Capacitar é tornar alguém habilitado para o organização, mas que se torna
desempenho de uma função, é qualificar a especificamente relevante nesse tipo de
pessoa para determinado trabalho, além de empresa, na qual o trabalho é voluntário e a
motivá-la para a execução de sua atividade. rotatividade dos componentes é muito
Partindo desse pressuposto, o presente grande. A aplicabilidade no dia a dia, as
estudo visa demonstrar como as vantagens, os pontos-chave para um eficaz
capacitações oferecidas pela empresa júnior planejamento de um processo de capacitação
da Faculdade de Comunicação da e as avaliações dos resultados alcançados
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), são algumas preocupações que a revisão da
a Acesso, são capazes de influenciar literatura aqui apresentada procura analisar.
diretamente no trabalho realizado dentro da
empresa, atrelando-as também à motivação
que são capazes de causar aos seus 2.1 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO:
funcionários juniores. Buscou-se compreender DESAFIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES
até que ponto as capacitações são força
Com a evolução da tecnologia e a crescente
motivadora no trabalho dos consultores, como
procura por qualificação no mercado de
são denominados os alunos que atuam na
trabalho, as organizações estão cada vez
empresa, e como as necessidades de
Tópicos em Administração - Volume 8
176

mais à procura de capacitação para seus 2.2 CONCEITO, IMPORTÂNCIA E ESCOPO


funcionários. Os treinamentos possibilitam DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
que os colaboradores tenham maior
Para Ferreira (2012), a gestão do
capacidade para executar o seu trabalho,
conhecimento pode ser definida como um
trazendo um consequente benefício para a
conjunto de processos estabelecidos com o
empresa.
objetivo de fomentar a geração, disseminação
Em qualquer organização, o conhecimento, os e utilização do conhecimento. Além disso, tem
produtos e os serviços, a estratégia e a a finalidade de aumentar a capacidade para a
cultura da empresa são fruto da interação das plena realização dos objetivos da
várias pessoas que nela trabalham. Cada organização.
qual, munido de seus próprios valores, de sua
Ainda segundo Ferreira (2012), essa técnica
visão de mundo e percepção da realidade,
contempla a articulação entre duas áreas de
contribui à produção de conhecimento, de
gestão: a de pessoal, que contribui com o
produtos e de serviços inovadores
entendimento do comportamento humano,
(VASCONCELOS e MASCARENHAS, 2007).
suas motivações e seus reflexos na
Com isso, faz-se entender que cada membro
corporação, além dos fatores que facilitam o
de uma organização é uma parte necessária
aprendizado, e a de tecnologia de
para a construção do negócio de uma
informação, que oferece o suporte técnico
empresa. Uma corporação não se faz apenas
necessário para a preservação e distribuição
do precursor do objeto que garante a
das informações geradas.
lucratividade, mas sim, do valor humanístico
que cada um pode doar na execução de seu A importância e o processo de
trabalho. desenvolvimento das pessoas em uma
organização inclui o treinamento e vai além;
Para Rodriguez (2010), as tarefas repetitivas,
compreende o autodesenvolvimento,
características da Sociedade Industrial, são
processo este que é intrínseco a cada
realizadas por pessoas que, através da
indivíduo. Sua importância está diretamente
burocracia, fazem cumprir o definido pelo
ligada à passagem de conhecimento de um
poder centralizado das organizações
funcionário a outro, devido à rotatividade de
piramidais”, o que comprova-se no trecho a
membros de uma instituição, e consequente
seguir:
ganho para a organização. O trabalhador que
Com a automatização das rotinas físicas e aprende e se sente hábil a executar a sua
intelectuais, as pessoas são liberadas para tarefa, sente-se mais motivado a realizar o seu
outras funções, que requeiram criatividade, trabalho. Segundo Pink (2010), para os
pesquisa e capacidade de análise, gerando artistas, cientistas, inventores e estudantes, a
em grande parte uma razoável massa de motivação intrínseca é a chave para realizar
desempregados (RODRIGUEZ, 2010, p.23). as coisas, porque é interessante, desafiador e
essencial para os grandes níveis da
A gestão do conhecimento torna-se cada vez
criatividade.
mais importante para as empresas, por
permitir que o mesmo seja repassado para De acordo com Weiler (2010), o trabalho
diferentes pessoas em uma mesma estratégico de gestão de pessoas passou a
organização. Além disso, como destacam representar um desafio, pois ao reconhecer
Ferreira et al (2016), os desafios impostos seus objetivos e diferentes opiniões, notou-se
pelo contexto de crescente complexidade e também a dificuldade de manter controle
competitividade tornam o recurso da gestão sobre elas. O conhecimento a respeito dos
do conhecimento ainda mais relevante. Por negócios, dos processos produtivos e das
isso, ela tem se feito mais presente nas competências necessárias à
organizações, independente do ramo a que operacionalização da empresa estava
estejam atreladas. Em decorrência, os centrado na alta cúpula. O foco voltava-se
treinamentos vêm ganhando espaço. Há, para as buscas tecnológicas que permitissem
inclusive, instituições que já são uma grande produtividade, sempre baseado
especializadas neste ramo, cujo foco é em um melhoramento de maquinários, sem
disseminar o conhecimento de acordo com o valorizar o melhoramento das pessoas. Ainda
objeto específico de trabalho de cada de acordo com Weiler (2010), com o passar
corporação. dos anos, a globalização trouxe consigo uma
maior valorização do ser humano, o que levou
as empresas a cultivarem uma cultura mais
Tópicos em Administração - Volume 8
177

favorável aos investimentos no capital 2.3 PROGRAMAS DE TREINAMENTO E


intelectual, voltando seus esforços para que o DESENVOLVIMENTO
conhecimento seja o principal ativo propulsor
Cada organização opta pela metodologia que
de crescimento.
mais se ajusta ao processo de capacitação e
Sabe-se hoje, que os funcionários mais bem aprendizado dos seus empregados. Pacheco
informados e integrados com a filosofia et al (2009, p. 83) apontam que “a adoção de
empresarial não só produzem mais, como uma cultura aberta à aprendizagem alerta as
geram um clima de maior boa vontade e pessoas para o seu papel de pensadores,
transmitem uma boa imagem institucional construtores de conhecimento e responsáveis
para fora do ambiente interno. Quando as pela criatividade contributiva”, como tratam no
pessoas são respeitadas e valorizadas, elas trecho a seguir.
se tornam mais criativas e mais integradas ao
Estimular o desenvolvimento de pessoas não
seu ambiente de trabalho, passando assim a
significa apenas proporcionar condições para
contribuir de forma mais intensa com o
aquisição de conhecimento e
crescimento da empresa (WEILER, 2010, p.
desenvolvimento de habilidades adequadas
50).
ao desempenho de tarefas. Significa
Pode-se dizer que o conhecimento aumenta a proporcionar mudança de comportamento e
capacidade de inovação, o que configura-se capacidade para manifestar e aprimorar
como um diferencial para o indivíduo e para a conhecimentos (PACHECO et al, 2009, p. 83).
organização em que está inserido. Para Terra
Para embasar os programas de treinamento
e Gordon (2011, p. 29), essa técnica vai além
de uma empresa, é preciso observar o
do que investir em tecnologia ou
planejamento estratégico e a cultura das
gerenciamento da inovação: “É importante
organizações. Tais fatores são fundamentais
que sejam discutidos itens como o papel da
para um correto alinhamento das iniciativas
alta administração na definição dos campos
relacionadas ao processo de aprendizagem.
de conhecimento, as novas estruturas
Ainda de acordo com Pacheco et al (2009,
organizacionais e práticas de organização de
p.83), “há que se verificar entre as principais
trabalho”. Além disso, também é importante
metodologias, aquelas que melhor atendam à
discutir não só as práticas e as políticas de
realidade da organização, tendo em vista
gestão de pessoas associados à implantação
critérios como finalidade, recursos disponíveis
de conhecimento externos e internos à
e investimento”.
empresa, como também indagar como os
avanços na área da informática e nas As questões relacionadas à motivação e ao
tecnologias de comunicação estão afetando envolvimento dos funcionários no contexto
os processos que as envolvem. destes programas também são cruciais para
o sucesso da organização. Segundo
A informação e o conhecimento advindos de
Vasconcelos e Mascarenhas (2007, p.43), “os
treinamentos são fenômenos indissociáveis e
processos sociais associados à interpretação,
complementares da vida organizacional. Para
criação e comunicação de significados
Snell e Bohlander (2010), os esforços de
requerem uma participação mais intensiva da
capacitação devem ser vistos como fator
personalidade humana”. Percebe-se então,
fundamental para o alcance dos resultados
que em um contexto onde somos
organizacionais, pois possibilitam que os
bombardeados com informações e
funcionários desenvolvam e fortaleçam suas
conhecimento, há maior necessidade de
competências. Mesmo que hoje as inovações
envolvimento psicológico do funcionário com
tecnológicas contribuam com o
a organização à qual ele pertence.
compartilhamento de informação e
conhecimento, é necessário sempre se Segundo Kanaane e Ortigoso (2010), “a era
verificar as informações antes de passá-las do conhecimento implica cada vez mais em
adiante, especialmente quando se fala de um rever paradigmas presentes nas organizações
contexto organizacional. As maneiras como e cada vez mais tende a ser a mola
esse processo deve ser repassado, está propulsora no desenvolvimento e
abordada na seção a seguir. implementação de estratégias competitivas”.
Pensando assim, a gestão do conhecimento
atrelada ao treinamento se tornou um
diferencial estratégico para o
desenvolvimento e consolidação de uma

Tópicos em Administração - Volume 8


178

empresa. Entende-se, portanto, que tendo o 2.4 AVALIAÇÃO DE RESULTADOS E


conhecimento como principal ferramenta, uma APLICABILIDADE DOS PROGRAMAS DE
organização é capaz de se sustentar por mais TREINAMENTO
tempo perante à concorrência de mercado, e
Para a maior eficácia dos esforços de
assim se manter atualizado perante a ele.
treinamentos, é preciso, antes de tudo,
Segundo Souza et al (2015), os programas de encontrar soluções para carências detectadas
treinamentos devem promover o na empresa, através de pesquisas de
fortalecimento da cultura da empresa nos satisfação aplicadas na mesma. De acordo
comportamentos de seus trabalhadores como com Ferreira (2012, p.44), “as organizações
um todo, e não só focado na melhoria costumam elaborar programas anuais de
individual das competências de que cada um treinamento. Considerando-se, porém, a
necessita para realizar suas tarefas. Esse limitação natural dos recursos financeiros,
fenômeno se aplica até mesmo fora dela, no humanos e de tempo, não é possível
caso de clientes, fornecedores e contemplar todas as necessidades de
concorrentes, transformando conhecimento treinamento diagnosticadas”. Faz-se
individual em conhecimento coletivo, aliado necessário, assim, o estabelecimento de uma
aos objetivos de cada organização. escala de prioridades. Ainda segundo Ferreira
(2012), para além das relações
Kanaane e Ortigoso (2010) apontam que é
metodológicas, há uma série de
cada vez mais importante que os paradigmas
preocupações aparentemente simples que
organizacionais sejam revistos, para que
estão diretamente ligadas ao compromisso de
possam melhor adequar-se às peculiaridades
ofertar um trabalho de qualidade. A isso se
da era do conhecimento, atuando como uma
deve a dificuldade em dispor de um local de
espécie de mola propulsora para o alcance
aprendizagem adequado ao espaço que será
das estratégias competitivas. Entende-se que
utilizado pelo grupo e, à temperatura do
as organizações necessitam de inovação
ambiente. Nota-se, portanto, que não somente
contínua no que diz respeito ao conhecimento
deve-se atentar ao conteúdo programático,
individual e coletivo, ou seja, é importante que
mas também às condições físicas para
cada colaborador, individualmente, seja
facilitar o aprendizado dos participantes e
constantemente atualizado das demandas do
consequentes respostas posteriores à
mercado, assim como toda a equipe de um
organização. Não basta ter um conteúdo bem
determinado departamento, por exemplo.
desenvolvido, se as condições do entorno não
Com o ambiente competitivo dos dias de hoje,
são favoráveis ao aprendizado. Um bom
o conhecimento existente logo se torna
treinamento, aliado à gestão do
obsoleto. Cabe então à cada organização o
conhecimento, é aquele que é capaz de unir
papel de estar sempre formando estratégias
várias características positivas em uma só
de inovação, para assim garantir sua
ação.
sobrevivência no mercado e a atratividade
dos seus funcionários em continuar A avaliação da capacitação é a etapa final do
produzindo para ele. processo, pois tem como objetivo aferir a
qualidade e concluir se o conteúdo ministrado
Por este motivo, a gestão do conhecimento é
atendeu às necessidades que levou a
uma importante prática para todas as
empresa a solicitá-lo. Além disso, busca
empresas, independente do seu segmento.
medir os resultados conquistados, as
Um de seus benefícios principais é possibilitar
informações extras adquiridas mediante o
que os conhecimentos gerados ou adquiridos
conteúdo e o impacto que gerou aos
permaneçam na organização ao longo do
funcionários treinados.
tempo, não ficando restritos a um
determinado momento ou às pessoas nele A melhoria na qualidade dos produtos e
originalmente envolvidos. Outro fator que serviços, a elevação da produtividade e a
torna muito importante esse cuidado é redução dos índices de acidentes poderão
favorecer que todo o pessoal esteja ciente do ser observados com o tempo, uma vez que as
que já foi feito em prol do negócio para o qual respostas presentes nos instrumentos de
trabalham, bem como as ações que foram avaliação ajudarão a empresa a tomar a
bem-sucedidas ou não. decisão mais acertada para aquele momento.
(FERREIRA, 2012, p. 47)
Dialogando com o autor citado, percebe-se
que a gestão do conhecimento tem como
Tópicos em Administração - Volume 8
179

objetivo primordial transferir os variáveis. Também privilegia a análise dos


conhecimentos adquiridos ao longo das dados feita indutivamente, envolvendo, assim,
gestões aos funcionários atuais. Desta o ambiente. Tem caráter descritivo e
maneira, para Vasconcelos e Mascarenhas preocupa-se com processo, não apenas com
(2007, p.33), “as organizações precisam o resultado. A técnica utilizada no tratamento
estruturar processos e rotinas que viabilizem a dos dados obtidos foi a análise do discurso,
identificação e a democratização do procurando-se explorar o sentido que cada
conhecimento relevante”. Essa mesma ideia é membro dá ao aprendizado que adquire
reforçada por Vergara (2016), que assim se diante do contexto em que estão inseridos.
posiciona:
De acordo com a taxonomia proposta por
O contexto social e mercadológico no qual as Vergara (2014), quanto aos fins, trata-se de
organizações estão atualmente inseridas é uma investigação do tipo aplicada, por voltar-
caracterizado por uma complexidade se para uma realidade concreta, sendo
crescente. Questões como o processo de também explicativa, por buscar estabelecer
globalização, a emergência de novos valores relações entre fenômenos. Quanto aos meios
pessoais e a redescoberta da qualidade de adotados, é uma pesquisa bibliográfica, por
vida têm contribuído para o surgimento de buscar suporte em teorias sobre gestão do
novos paradigmas organizacionais conhecimento e temas correlatos, de campo,
(VERGARA, 2016, p. 102). uma vez que envolveu a aplicação de
questionários e estudo de caso, por ter se
Para as empresas, a gestão do conhecimento
restringido a uma organização específica.
pode ser de grande valia, pois contribui para
a geração de valor, otimização dos processos O universo foi composto por todos os que
e para melhora do atendimento ao cliente eram membros da empresa enfocada, no
final. Uma vez divulgado, o conhecimento momento da realização da pesquisa,
pode ser absorvido por outras pessoas, a fim perfazendo 21 sujeitos. Tendo em vista o
de gerar resultados sempre superiores aos do número não ser muito elevado, optou-se por
passado. Por este motivo, essa técnica pode tentar um censo, sendo todos convidados a
ser caracterizada como um ciclo. Os participar. Por motivos diversos, apenas 14
treinamentos devem ser processos contínuos participaram, entretanto, constituindo-se,
e que estão sempre se renovando ao longo assim uma amostra por acessibilidade.
dos anos. Se isso não acontece, os poucos
O levantamento de dados foi feito por meio da
que existiram se tornam praticamente inúteis e
aplicação de questionários, sendo tal escolha
não tendem a gerar nos funcionários um
porque esse instrumento permite o anonimato
engajamento significativo em relação à
dos respondentes, deixando-os mais à
organização da qual fazem parte.
vontade para expressar suas opiniões. Essa
técnica mostrou-se um boa opção também
pelo fato do horário de trabalho dos membros
3. METODOLOGIA
ser distinto, o que dificultaria o levantamento
A pesquisa aqui apresentada adotou uma de dados por entrevistas em grupos focais,
orientação qualitativa, tendo em vista que por exemplo.
privilegiou a percepção dos sujeitos
O questionário foi do tipo estruturado,
participantes. Conforme relata Minayo (2009,
contando com assertivas às quais os
p.80), esse tipo de investigação “tem como
respondentes deveriam reagir concordando
princípio norteador a verificação da ciência
ou discordando uma escala tipo Likert de
social em uma dada realidade. Entretanto,
quatro níveis. Foi oferecida oportunidade para
este é um tipo de pesquisa que não pode ser
que fossem tecidos comentários e
medida de forma quantitativa por fazer
explicações. O foco das afirmações repousou
referência a valores, crenças, construção e
na busca de compreender-se a percepção
relação”. Segundo Stake (2011), para essa
manifesta pelos participantes acerca do
modalidade de pesquisa o próprio
conhecimento obtido nos programas de
pesquisador é um instrumento ao observar
treinamento realizados na Acesso.
ações e contextos e, também, ao
desempenhar uma visão subjetiva do estudo. Para uma melhor compreensão do que foi
A pesquisa qualitativa é caracterizada pela manifesto pelos respondentes dos
obtenção de dados a partir de um pequeno questionários, é útil um maior conhecimento
número de casos sobre um grande número de

Tópicos em Administração - Volume 8


180

da empresa estudada, conforme exposto na associação civil sem fins econômicos e,


próxima seção. ainda, pela estrutura de baixos custos fixos,
os preços praticados são consideravelmente
abaixo do preço de mercado. No entanto, há
4. 1 EMPRESAS JUNIORES E A ACESSO serviços que seguem orientação obrigatória
de professores e profissionais na área, com o
Como bem esclarece a citação a seguir, as
objetivo de sempre garantir um padrão de
empresas juniores se definem como aquelas
qualidade elevado (BRASIL JÚNIOR, 2006,
que:
p.6).
[...]surgiram no contexto universitário como
As empresas juniores têm como principal
um esforço de estudantes cujo objetivo era
objetivo proporcionar aos estudantes
complementar sua formação profissional, são
universitários a ela vinculados à expansão do
consideradas espaços de crescimento e
conhecimento técnico e a aplicação, na
capacitação profissional, e, portanto,
prática, das teorias aprendidas em sala de
promotoras de mudanças e impactos sociais
aula. Os integrantes de uma empresa dessa
e econômicos (CAMPOS, 2014, p. 454).
natureza tenderiam, assim, a encontrar maior
Para a compreensão da proposta deste facilidade de inserção futura no mercado de
artigo, faz-se necessário ter ciência sobre o trabalho. Nota-se, também, que, por vezes, o
conceito de Empresa Júnior, bem como a sua profissional oriundo dessas empresas é
origem e atuação no Brasil. percebido como podendo obter melhor
desempenho nas organizações para as quais
Empresa Júnior é, sinteticamente, uma
concorre em processos de seleção, por já
Empresa de Consultoria gerenciada por
possuir vivência prática anterior. Por isso, tem
estudantes universitários que realizam
crescido o interesse dos universitários por
projetos e prestam serviços em suas áreas de
conhecer o movimento nessa área. A figura a
graduação, principalmente para micro e
seguir revela o conhecimento de estudantes
pequena empresas. Pela finalidade da
de universidades brasileiras acerca do
Empresa Júnior ser educacional, por ser uma
Movimento Empresa Júnior (MEJ).

Figura 1: Índice de conhecimento de estudantes brasileiros acerca das empresas juniores.

Fonte: Guimarães e Aquino, 2013


.
A Acesso Comunicação Jr., foco desta apoio dos professores da instituição, que
pesquisa, é a empresa júnior da Faculdade orientam os serviços prestados aos clientes.
de Comunicação Social da UFJF. Fundada
A Acesso segue as diretrizes do MEJ e tem
em 2001, a empresa é formada por
sua missão, visão e valores a elas alinhados.
estudantes de graduação que desejam
Sua missão está definida como: “desenvolver
adquirir experiência em consultoria e
serviços inovadores em comunicação para
prestação de serviços na área de
micro e pequenas empresas de Juiz de Fora e
comunicação. Os membros contam com o
região, promovendo a capacitação de seus
membros, a efetiva participação no
Tópicos em Administração - Volume 8
181

Movimento Empresa Júnior e a utilização de empreendedorismo, qualidade,


práticas sustentáveis”. A visão, por sua vez, desenvolvimento inovador e sustentabilidade.
consiste em “realizar o maior número de
projetos através do reconhecimento no
mercado pela qualidade dos serviços 4.2 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
prestados; ter alta representatividade no
Como já destacado, foi aplicado um
Movimento Empresa Júnior, com efetiva
questionário com assertivas organizadas em
participação de membros, ser reconhecida
escala do tipo Likert. As opções de resposta
como empresa referência em comunicação e
para cada afirmação foram: 1 = “nunca”; 2 –
aproximar o relacionamento com a Faculdade
“raramente”; 3 = “quase sempre” e 4 =
de Comunicação e seus alunos através do
“sempre”. A tabela a seguir apresenta os
aumento contínuo do índice de atratividade”.
resultados obtidos nos questionários
Seus valores são inovação, ética,
aplicados com os funcionários da empresa
comprometimento, trabalho em equipe,
estudada.

Tabela 1: Reações às assertivas apresentadas.


Frequência por
Assertivas grau
1 2 3 4
1. As capacitações oferecidas pela empresa ajudam na execução do meu trabalho. 0 1 10 10
2. O conhecimento é transmitido de forma clara e segura durante as capacitações. 0 1 12 9
3. Percebo a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos nas capacitações no dia a dia 0 5 9 8
da empresa, através dos meus colegas de outros departamentos/núcleos.
4. Há coerência entre o que é passado nas capacitações e a realidade da empresa. 0 2 8 10
5. Eu me sinto à vontade para sugerir temas para capacitações. 0 2 4 15
6. Há espaço para que eu sugira ideias dentro do que aprendi nas capacitações. 0 1 6 13
7. Os temas trazidos pela empresa são condizentes com a atualidade. 0 1 6 13
8. Posso afirmar que recebo treinamento adequado para realização das minhas atividades. 0 4 10 6
9. Sou monitorado quando aplico no dia a dia o que aprendi nos treinamentos. 2 10 2 6
10. Sinto que as capacitações me oferecem informações extracurriculares à faculdade. 0 1 4 15
11. Recebo orientação adequada nas capacitações, o que me capacita a atingir as metas. 0 3 10 7
12. Tenho liberdade para expressar a minha opinião e dar feedback às capacitações. 0 1 4 15
13. Sinto-me motivado a participar das capacitações, visto que não são obrigatórias. 0 2 5 13
14. Sinto-me mais seguro para realizar o meu trabalho após os conhecimentos adquiridos 0 1 11 8
nos treinamentos.
15. Sinto que os feedbacks das minhas avaliações melhoraram após os conhecimentos 0 4 11 5
que adquiri nas capacitações, pois possibilitaram que eu execute meu trabalho com mais
propriedade.

Os dados receberam um tratamento portanto, desconsiderado para efeitos de


estatístico para facilitar a visualização das pontuação. As marcações em grau 2
afirmações com maior grau de concordância. receberam 1 ponto; em grau 3, 2 pontos e em
Assim, foi atribuído maior peso às marcações grau 4, 3 pontos. O somatório desses
na opção 4, que seria a mais positiva. O produtos resultou nos números expostos na
quantitativo de respostas em grau 1 foi tabela a seguir.
considerado como satisfação zero, sendo,

Tópicos em Administração - Volume 8


182

Tabela 2: Ponderação dos resultados obtidos.


Questão Pontos
1. As capacitações oferecidas pela empresa ajudam na execução do meu trabalho. 51
2. O conhecimento é transmitido de forma clara e segura durante as capacitações. 52
3. Percebo a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos nas capacitações no dia a dia da 47
empresa, através dos meus colegas de outros departamentos/núcleos.
4. Há coerência entre o que é passado nas capacitações e a realidade da empresa. 48
5. Eu me sinto à vontade para sugerir temas para capacitações. 55
6. Há espaço para que eu sugira ideias que impactem positivamente nas minhas atividades, dentro do 52
que aprendi nas capacitações.
7. Os temas trazidos pela empresa são condizentes com a atualidade. 52
8. Posso afirmar que recebo treinamento adequado para realização das minhas atividades. 42
9. Sou monitorado quando aplico no dia-a-dia o que aprendi nos treinamentos. 32
10. Sinto que as capacitações me oferecem informações extracurriculares à faculdade. 54
11. Recebo orientação adequada nas capacitações, o que me capacita a atingir as metas. 44
12. Tenho liberdade para expressar a minha opinião e dar feedback às capacitações. 54
13. Sinto-me motivado a participar das capacitações, visto que não são obrigatórias. 51
14. Sinto-me mais seguro para realizar o meu trabalho após os conhecimentos adquiridos nos 47
treinamentos.
15. Sinto que os feedbacks das minhas avaliações melhoraram após os conhecimentos que adquiri 41
nas capacitações, pois possibilitam que eu execute meu trabalho com mais propriedade.

Em seguida, foram transferidos os números qual variou por algumas pessoas terem
absolutos para uma escala de 0 a 100%. deixado marcações em branco) por 3 pontos.
Considerou-se que 100% ou total satisfação Os resultados obtidos estão demonstrados na
seria o caso em que todos os respondentes figura a seguir, a qual revela o percentual de
assinalassem grau 4 em uma determinada satisfação, considerando-se a escala de 0 a
questão, resultando assim, na multiplicação 100%.
do total de respondentes de cada questão (o

Figura 2: Índice das assertivas após transformação em escala de 0 a 100%.

As linhas que vão de 1 a 15 correspondem vistos em sala de aula. Esses pontos foram os
aos números das assertivas apresentadas. A que tiveram maior nível de satisfação,
10ª e a 12ª, como revelado na tabela 2, alcançando ambos 90%. Alguns comentários
contemplaram a percepção dos membros desenvolvidos nas questões abertas podem
acerca da liberdade para darem feedback ajudar a entender o posicionamento dos
sobre os conteúdos e sobre a inovação dos respondentes.
temas abordados, que muitas vezes não são
Tópicos em Administração - Volume 8
183

Um dos membros afirmou que “as conhecimento é transmitido aos consultores


capacitações são muito boas, principalmente durante as capacitações, houve divergência
as que atingem a empresa toda”. O outro de opiniões. Alguns defenderam que “um
reforçou: “o bom da empresa júnior é que os teste deveria ser aplicado aos participantes
capacitadores conseguem entender a nossa ao final, para reforçar e registrar o
realidade, e nos mostram como podemos conhecimento adquirido na mesma”, outros
aplicar o conhecimento dentro da Acesso”. “que uma roda de discussão poderia ser
Nesta primeira pergunta, na qual se indaga organizada ao final de cada uma, para que os
sobre como os funcionários avaliam as membros possam debater e discutir a
capacitações da empresa, notou-se que o efetividade e o tema abordado na mesma (o
retorno foi praticamente unânime, dentro dos que é, inclusive, comentado como uma boa
que responderam a pesquisa. Todos julgam, prática adotada em algumas empresas, no
por meio de diferentes abordagens, que os referencial teórico aqui apresentado). Ainda
treinamentos oferecidos são de grande valia outro membro da empresa afirmou que
para a aplicação do trabalho dentro do “alguns capacitadores não conhecem o
contexto da empresa júnior, e tornam os universo da empresa júnior e expõem
consultores mais aptos a dominar e contornar situações que não se aplicam à realidade”.
problemas. Alguns afirmaram, no entanto, que Também teve quem apontasse os pontos
em gestões anteriores, as capacitações eram positivos. Um deles foi “que as capacitações
mais frequentes e favoreciam todos os são bastante efetivas e conseguem cumprir o
departamentos. Hoje, talvez pela falta de seu papel de agregadora de informações
tempo, nem todos são contemplados, o que extracurriculares”. Ficou claro que, na
causa uma deficiência de aprendizado ao percepção dos respondentes, melhorias
núcleo que ficou desfavorecido, como ilustra ainda podem ser feitas para tornar as
o funcionário a seguir: “Alguns departamentos capacitações mais efetivas a seus
têm mais de uma capacitação por mês, funcionários, mesmo que de maneira geral,
enquanto outros – talvez por falta de um sejam satisfatórias.
profissional capacitador – não têm nenhuma”,
Em relação à frequência de participação nas
Outro ilustra que “as capacitações são
capacitações, notou-se que nenhum as
excelentes, mas deveriam ocorrer
frequenta assiduamente (sempre), 81%
prioritariamente no começo da gestão, e não
frequentemente participam dos treinamentos,
no final, como tem acontecido”.
29% raramente participam e nenhum nunca
Já na segunda afirmação, que tratou do que participa. O resultado pode ser observado na
pode ser melhorado na maneira como o figura a seguir.

Figura 3: Frequência média dos consultores nas capacitações.

Aqueles que responderam “raramente” para avaliar qual a disponibilidade deles seria
justificaram a resposta como “falta de uma alternativa. Assim, todos os interessados
oportunidade de conciliar horários”. Esse poderiam participar. Em geral, este resultado
seria um ponto que mereceria maior atenção pode ser considerado satisfatório, porque a
por parte da empresa. Talvez fazer uma despeito de sua reconhecida importância
pesquisa de horários entre os consultores para o conhecimento da equipe, a taxa de
Tópicos em Administração - Volume 8
184

frequência dos funcionários nas capacitações Na questão que buscou identificar a avaliação
é alta. dos temas abordados, foi obtido o resultado
demonstrado na figura a seguir.

Figura 4: Avaliação dos temas escolhidos nas capacitações.

A opção que teve maior porcentagem, como resultado também pode ser considerado
se vê, foi “bom”, totalizando 67% das satisfatório.
respostas e demonstrando que a escolha dos
Sobre o que foi indagado a respeito do tempo
temas tem agradado os membros.
de cada capacitação, 36% o consideram
Consequentemente, nota-se que a escolha
excelente, 64% bom e 0% ruim ou péssimo.
dos mesmos tem sido útil à sua aplicabilidade
Um membro afirmou ser necessário “um
na rotina de trabalho. 33% avaliaram a
espaço maior de tempo para tirar dúvidas”.
escolha dos temas como “excelente”, 0%
Outro apontou que “algumas capacitações
como ruim e péssimo. Os respondentes foram
são muito extensas, com conteúdos que são
questionados logo depois sobre o que
desnecessários, o que as torna, algumas
poderia ser melhorado dentro desse contexto.
vezes, desmotivantes”. Também foi falado
Um deles respondeu que “os temas são bons,
sobre a necessidade de maior organização
mas a má escolha de capacitadores, que não
das dinâmicas. “A falta de organização das
entendem a realidade da empresa, pode
dinâmicas em grupo acaba tomando muito
prejudicar a efetividade do treinamento”.
tempo, que poderia ser usado para uma
Outro, por sua vez, destacou que “temas mais
aplicação mais extensa do conteúdo”. O
atuais no universo da comunicação poderiam
resultado também foi considerado satisfatório,
ser mais explorados”. De maneira geral, o
como demonstra o gráfico a seguir.

Figura 5: Avaliação da carga horária das capacitações.

Tópicos em Administração - Volume 8


185

O índice dessa avaliação foi positivo, mas é Outro ponto que merece atenção é a escolha
importante que a empresa fique atenta à dos capacitadores. Alguns julgaram a escolha
otimização do timing. Alguns membros como boa e efetiva, mas outros contestaram a
relataram, com ênfase, a questão da perda de questão da aplicabilidade do conteúdo dentro
tempo. Pode ser considerado como um ponto da realidade de uma empresa júnior. Segundo
de melhoria, portanto, tornar as capacitações eles, é necessário que o capacitador seja
mais objetivas. norteado a respeito de um breve resumo do
serviço da empresa, para que possa conduzir
o treinamento dentro do contexto júnior.
5.CONCLUSÃO
Ainda outra questão que merece ser
Como observado no decorrer deste artigo, os destacada é a frequência das capacitações
programas de treinamento são essenciais divididas por departamentos/núcleos
para atualização, e consequente motivação produtivos. Alguns respondentes apontaram
para os membros de uma empresa. Com o que em uma só gestão ocorre de um mesmo
advento da tecnologia e da concorrência de departamento ou núcleo receber mais de um
mercado, torna-se cada vez mais necessário tipo de treinamento, enquanto outros não
que as corporações invistam na gestão do recebem nenhum. É importante trabalhar
conhecimento. Sendo as capacitações uma igualitariamente entre os segmentos da
maneira de complementar o aprendizado em empresa, para que todos os funcionários
relação ao que é ministrado na faculdade, os estejam aptos a realizar as suas atividades de
membros estão cada vez mais atentos aos maneira uniforme. A alternativa para este caso
conteúdos e à maneira como o conhecimento seria elaborar um plano de metas que
é transmitido. Em decorrência, passam a contemplasse um departamento e núcleo por
almejar uma maior eficácia nos processos de mês ou a cada 15 dias. Isso, entretanto, vai
capacitação. depender de quantos meses durará a gestão.
Os temas devem ser sugeridos pelos próprios
Por meio dos resultados obtidos na pesquisa
membros do departamento, em comum
de campo, tornou-se possível obter a resposta
acordo, de acordo com a necessidade que
para a questão central, que como já exposto,
encontrarem no desenvolvimento de seu
foi assim definida: “De que forma os membros
trabalho. O fato dos consultores não
da Acesso Comunicação Jr. têm aplicado o
participarem ativamente da escolha das
aprendizado obtido nos programas de
temáticas afeta diretamente na satisfação dos
capacitação na sua prática na empresa?”.
mesmos.
Verificou-se que, de uma forma geral, os
funcionários gostam, tiram proveito e aplicam Também merece atenção a escolha dos
os conhecimentos adquiridos nos programas temas abordados nas capacitações. A maioria
de treinamento em sua rotina. Os conteúdos dos respondentes demonstrou-se satisfeita
escolhidos foram bem avaliados, bem como a nesse aspecto, mas alguns apontaram que
didática dos capacitadores. No entanto, temáticas mais atuais podem ser abordadas,
alguns pontos negativos foram relatados na a fim de que a Acesso fique em paralelo e
pesquisa, devendo merecer a atenção dos atualizada com as evoluções do mercado.
gestores.
Conclui-se, portanto, que as capacitações
Apesar do resultado ser considerado podem e devem ser aprimoradas nos pontos
satisfatório, um dos principais desafios a citados, pois essa melhora poderá impactar
serem enfrentados é o tempo de duração dos de forma significativa na atuação dos
treinamentos, que necessita melhorar. membros dentro da Acesso. Sugere-se, a
Verificou-se que é preciso que as mesmas partir do que foi constatado, que seja um
sejam otimizadas e que abram-se espaços montado um planejamento com as ações
para esclarecimentos de dúvidas. Segundo necessárias para a melhoria dessas questões.
alguns respondentes da pesquisa, como foi Esse planejamento deve ser feito em conjunto,
verificado no item acima, muito tempo se é por toda a empresa, e em comum acordo de
perdido com colocações desnecessárias e todas as partes interessadas. Sugere-se
com dinâmicas mal organizadas – tempo esse também que os principais pontos sejam
que poderia ser utilizado para tratar de pontuados individualmente, por cada
informações importantes à rotina dos departamento, e depois discutido em reunião
membros da empresa. geral. É importante que as ações sejam
discutidas passo a passo, para que todos

Tópicos em Administração - Volume 8


186

entendam a importância de cada mudança a “excelentes” após o planejamento das


ser promovida. O treinamento é um dos melhorias apontadas. Isso contribui direta e
fatores cruciais para o bom andamento da indiretamente para maior efetividade dos
equipe, representando uma das principais programas de capacitação oferecidos pela
ferramentas para gerar, além do empresa, e também, para aprimoramento do
conhecimento, motivação de cada membro. índice de atratividade dos alunos da
Conclui-se, portanto, que os índices da Faculdade de Comunicação em relação à
pesquisa que foram avaliados como “bons” Acesso.
podem (e devem almejar) passar para

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Vozes, 2009. relatórios de pesquisa em administração. 15 ed.
São Paulo: Atlas, 2014.

Tópicos em Administração - Volume 8


187

Capítulo 16

Eduardo da Rocha Bassi


Eugênio de Oliveira Simonetto
Vânia Medianeira Flores Costa

Resumo: Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs) emitem


anualmente um Relatório de Gestão apresentando ao Tribunal de Contas da União
(TCU) documentos, informações e demonstrativos de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, incluindo também um item específico
acerca de “Indicadores Gerenciais sobre Recursos Humanos”. Nesse sentido, o
presente estudo teve como principal objetivo identificar quais são os Indicadores
de Gestão de Recursos Humanos mais utilizados pelos Institutos Federais. Trata-se
de uma pesquisa descritiva e de natureza qualitativa, que contou com uma análise
de conteúdo envolvendo os últimos cinco relatórios de gestão, apresentados pelos
trinta e oito IFETs, totalizando cento e noventa documentos analisados. Os
resultados demonstraram que apenas treze dos trinta e oito IFETs (34,2%)
apresentaram um ou mais Indicadores de Gestão de Recursos Humanos. Os
indicadores mais utilizados foram: Indicador de Escolaridade ou Titulação;
Indicador de Absenteísmo; Indicador de participação em Educação Continuada,
Qualificação ou Capacitação; e Índice de Rotatividade.
Palavras-chave: Indicadores; Recursos Humanos; Institutos Federais; Relatório de
Gestão; Tribunal de Contas da União.

Tópicos em Administração - Volume 8


188

1 INTRODUÇÃO Os indicadores de gestão, além de fornecer


medidas pontuais de resultados alcançados,
As organizações, em sua maioria, utilizam os
possibilitam também o controle de diversos
mais diversos e variados tipos de métodos de
processos organizacionais. Dentre estes
medição para aferir o seu desempenho ou
indicadores e seus respectivos processos,
avaliar o seu desenvolvimento organizacional,
segundo Pomi (2002), a mensuração de
incluindo, principalmente, os indicadores de
informações e resultados, no campo de
gestão. Segundo o estatístico americano
recursos humanos, permite aos gestores um
Deming (1990), pioneiro no controle de
maior conhecimento do desempenho da
qualidade, não se gerencia o que não se
gestão de pessoas na organização, bem
mede, não se mede o que não se define, não
como possibilita comparar resultados,
se define o que não se entende e não há
identificar pontos de melhoria e subsidiar
sucesso no que não se gerencia.
ações corretivas.
No ramo empresarial, boa parte do esforço
Nos últimos anos, de acordo com o portal
para medição de desempenhos resulta em
eletrônico da Rede Federal de Educação
índices adotados para aferir o retorno
Profissional, Científica e Tecnológica, um dos
financeiro de determinada ação ou
principais investimentos realizados pelo
investimento, enquanto, no setor público, o
governo federal brasileiro foi a expansão da
esforço para a construção dos indicadores
Rede Federal EPCT, que possibilitou o
produz índices de domínio público relevantes
ingresso de milhares de novos servidores
para a organização e para a sociedade.
públicos vinculados ao Ministério da
Desta forma, tanto no setor privado quanto no Educação (MEC). Todo este investimento
setor público, podemos considerar que a repercutiu diretamente em maiores gastos e
principal função dos indicadores de gestão, investimentos com pessoal, envolvendo
seja através da mediação de desempenho ou processos de seleção, ambientação,
dos resultados financeiros, é a de auxiliar os remuneração, capacitação, qualificação, entre
gestores em processos decisórios. outros. Em consequência, com intuito de
monitorar todas as movimentações,
A medição de desempenho na gestão pública
dispêndios financeiros e demais processos
está entre os principais instrumentos para
envolvendo o capital humano, as instituições
subsidiar os gestores e os dirigentes em suas
envolvidas necessitam adotar sistemas para
decisões e escolhas. Atualmente, há a
medição e comparação de informações
exigência cada vez maior em aperfeiçoar os
acerca das ações da gestão de pessoas, isto
níveis de esforços e resultados das
é, demandam da utilização de Indicadores de
organizações, bem como gerar e fortalecer os
Gestão de Recursos Humanos.
mecanismos de transparência e
responsabilização para os cidadãos e partes Os Institutos Federais de Educação, Ciência e
interessadas, sendo estes os fundamentos Tecnologia (IFETs) estabelecidos pela Lei nº
básicos para impulsionar o desenvolvimento e 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que
implementação de indicadores de instituiu a Rede Federal de Educação
desempenho nas instituições públicas. Profissional, Científica e Tecnológica, do
(MPOG, 2009, p. 84) mesmo modo que todos os demais órgãos e
instituições públicas federais, emitem,
Além da necessidade da utilização de
anualmente, um Relatório de Gestão,
indicadores de gestão para a otimização dos
apresentando ao TCU documentos,
processos e resultados das organizações
informações e demonstrativos de natureza
públicas, atendendo as expectativas dos
contábil, financeira, orçamentária, operacional
beneficiários e da sociedade, o uso destes
e patrimonial, incluindo, também, um subitem
indicadores também é requisitado pelos
específico acerca de “Indicadores Gerenciais
órgãos de controle, por meio de
sobre Recursos Humanos”, previsto nas
questionamentos sobre a utilização dos
normativas do TCU, as quais dispõem sobre
métodos de medição e suas respectivas
orientações quanto à elaboração de
conclusões acerca dos resultados das
conteúdos dos relatórios de gestão. Desta
mensurações realizadas pela organização,
forma, com o intuito de estudar os Indicadores
conforme as normativas publicadas pelo
de Gestão de Recursos Humanos
Tribunal de Contas da União (TCU), referentes
apresentados pelos IFETs, a presente
ao processo de prestação de contas anual.
pesquisa foi orientada pelo seguinte problema
de pesquisa: Quais são os Indicadores de

Tópicos em Administração - Volume 8


189

Gestão de Recursos Humanos utilizados e 2.1 INTRODUÇÃO A INDICADORES DE


apresentados pelos Institutos Federais de GESTÃO
Educação, Ciência e Tecnologia?
De acordo com o MPOG (2009), indicadores
Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo de gestão são informações que permitem
consiste em identificar quais são os medir, descrever, classificar, ordenar,
Indicadores de Gestão de Recursos Humanos comparar ou quantificar de maneira
mais utilizados pelos Institutos Federais de sistemática aspectos de uma realidade e que
Educação, Ciência e Tecnologia. Para tanto, atendam às necessidades dos tomadores de
foram propostos os seguintes objetivos decisões. Deste modo, podemos classificar
específicos: a) verificar se os indicadores os indicadores como uma métrica, de ordem
apresentados atendem as demandas anuais quantitativa ou qualitativa, utilizada para
previstas nas normativas do Relatório de processar informações relevantes acerca dos
Gestão do Tribunal de Contas da União; b) elementos que compõem o objeto de
descrever a evolução histórica do mensuração.
desenvolvimento dos Indicadores de Gestão
Para França (2010), indicadores são
de Recursos Humanos aplicados pelos IFETs;
ferramentas de planejamento e decisão que
c) verificar quais são as principais
possibilitam clareza de critérios, objetividades
justificativas dos IFETs para a não
de avaliação, facilidade de levantamento de
apresentação de indicadores da área de RH.
informações, visibilidade de dados e medição
Na sequência, o artigo está estruturado da de efeitos de determinadas ações. Os
seguinte maneira: a seção dois apresenta a indicadores de gestão são necessários para
fundamentação teórica específica acompanhar e controlar todos os processos
demandada pela presente pesquisa; na de planejamento, execução e avaliação, e
seção três estão descritos os fundamentos também para a definição de metas
metodológicos do estudo realizado; a seção (SIQUEIRA, 2010).
quatro expõe e analisa os resultados; e na
Segundo o MPOG (2010), os indicadores
seção cinco são apresentadas as
podem ser classificados em “simples” ou
considerações finais sobre os resultados
“compostos”. Os indicadores simples
analisados.
representam apenas dados brutos, valores
numéricos que uma variável pode assumir,
enquanto os indicadores compostos
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
expressam a relação entre duas ou mais
Esta seção está estruturada em três itens: o variáveis. Assim, um indicador de gestão
primeiro contempla algumas informações pode ser compreendido como um número,
gerais acerca da Introdução a Indicadores de uma percentagem ou uma razão, que mede
Gestão; o segundo diz respeito aos aspectos de desempenho ou resultado, com o
Indicadores de Gestão de Recursos objetivo de comparar a medida com metas
Humanos; e o terceiro apresenta as estabelecidas (TCU, 2010).
demandas do TCU frente aos indicadores
No Quadro 1 apresenta-se os requisitos –
gerenciais sobre Recursos Humanos.
essenciais e complementares – propostos
pelo MPOG (2010) para a elaboração de
indicadores de gestão de programas
governamentais do governo federal.

Tópicos em Administração - Volume 8


190

Quadro 1: Requisitos de um bom indicador.


Requisitos de um bom indicador Descrição do requisito

Capacidade de representar, com maior proximidade possível, a


Validade
realidade que se deseja medir e modificar.

Requisitos Utilização de fontes confiáveis, metodologia reconhecida,


Confiabilidade
Essenciais transparência na coleta, processamento e divulgação de dados.

Deve ser de fácil obtenção, construção, manutenção, comunicação


Simplicidade
e entendimento pelo público em geral.

Capacidade de refletir tempestivamente as mudanças decorrentes


Sensibilidade
de intervenções realizadas.

Capacidade de representação regionalizada de grupos


Desagregabilidade
sociodemográficos.

Requisitos Economicidade Capacidade de obtenção da métrica a baixo custo.


Complementares Capacidade de estabelecimento de séries históricas, possibilitando
Estabilidade
comparações e análises temporais.

Mensurabilidade Capacidade de alcance e mensuração com precisão e agilidade.

As regras de uso da métrica devem ser de fácil compreensão e


Auditabilidade
verificação por parte do público em geral.

Fonte: Elaborado com base em de MPOG (2010)

Para Siqueira (2010), indicadores simples e a) movimentação: captação, internalização,


claros normalmente são de baixo custo e transferências, promoções, expatriação e
comparáveis entre si, isto permite a facilidade recolocação; b) desenvolvimento:
na coleta, manutenção e processamento dos capacitação, carreira e desempenho; c)
dados pode determinar a importância e valorização: remuneração, premiação e
utilidade do indicador. Assim, a simplicidade serviços e facilidades.
na definição do indicador facilita sua
De acordo com Pomi (2002) existem diversos
avaliação e aceitação.
benefícios na utilização de indicadores de
gestão relacionados com as funções da área
de RH, dentre eles:
2.2 INDICADORES DE GESTÃO DE
RECURSOS HUMANOS - Ter parâmetros para comparar e melhorar
seus resultados;
Assis (2012), autor da obra “Indicadores de
Gestão de Recursos Humanos”, acredita que - conhecer melhor a força de trabalho da
as métricas são fundamentais para se organização, suas necessidades e
determinar um ponto de chegada, estabelecer oportunidades;
parâmetros, entender e compartilhar
- entender o que fazer com os resultados
resultados, determinar e mobilizar recursos,
identificados, interpretando e agindo
corrigir rumos, reforçar ações e recompensar
estrategicamente;
resultados.
- usar os indicadores como base para o
Segundo Dessler (2005), as ações da área de
estabelecimento de metas;
administração de Recursos Humanos
correspondem às práticas e às políticas - organizar, sistematizar e aprimorar a base
necessárias para conduzir diversos processos das informações de RH;
relacionados às pessoas no trabalho,
- contribuir com a construção do
incluindo contratações, treinamentos,
planejamento estratégico;
avaliações, pagamentos etc. Dutra (2013)
entende que as principais ações e processos - aumentar o poder de decisão da área de
de gestão de pessoas podem ser gestão de pessoas, através de informações
organizados e classificados em três funções:

Tópicos em Administração - Volume 8


191

objetivas para apresentar, justificar, aprovar e O Quadro 2 apresenta alguns dos diversos
mensurar processos e ações envolvendo RH. Indicadores de Gestão de Recursos Humanos
propostos e explicados por Assis (2012):

Quadro 2: Exemplos de Indicadores de Gestão de RH propostos por Assis (2012).


Categoria Indicador Fórmula de cálculo

Número de colaboradores Nº médio de colaboradores “mês 1” + Nº médio de


ou número médio de colaboradores “mês 2” + Nº médio de colaboradores
Demográficos colaboradores “mês n”/ Nº de meses

(Esta categoria Proporção de Nº de colaboradores por carreira, ou cargo, ou classe, ou


contém indicadores colaboradores função etc / Nº total de colaboradores
que auxiliam no (Nº de dias não trabalhados / Nº de colaboradores * Nº de
entendimento da Absenteísmo
dia úteis) * 100
quantidade,
disponibilidade, Índice de admissão (Nº de admissões / Nº de colaboradores) * 100
diversidade, Índice de desligamento (Nº de desligamentos / Nº de colaboradores) * 100
rotatividade e
formação da força [(Nº de admissões + Nº de desligamentos) / 2 / Nº de
Turnover (rotatividade)
de trabalho) colaboradores] * 100

(Nº de colaboradores – Nº de colaboradores em posição


Amplitude de comando
de chefia) / Nº de colaboradores em posição de chefia

Financeiros Salário médio por Somatório dos salários ou da folha de pagamento / Nº de


colaborador colaboradores
(Esta categoria
contém indicadores Remuneração média por Somatório dos salários ou da folha de pagamento / Nº de
que dizem respeito colaborador colaboradores
ao investimento que
as organizações Custo de saúde por Custo total de saúde no mês / Nº de colaboradores
fazem em recursos colaborador usuários
humanos, entre
outros possíveis Custo de treinamento e
Custo total de treinamento e desenvolvimento / Nº de
dispêndios desenvolvimento por
colaboradores usuários
envolvendo pessoas) colaborador

Operacionais ou de Índice de preenchimento


Nº de vagas preenchidas / Nº de vagas disponíveis
processos de vagas
(Esta categoria 100 – [(Nº de desligamentos / Nº de vagas preenchidas) *
Índice de Retenção
contém indicadores 100]
que ajudam na
compreensão do Hora de treinamento pelo
Total de horas em treinamento / Nº de colaboradores
desempenho de número de colaboradores
processos internos e
ações pertinentes a Número médio de
área de gestão de colaboradores usuários do Nº de colaboradores beneficiados no ano / 12
pessoas) plano de saúde

Fonte: Adaptado de Assis (2012)

De acordo com Pomi (2002), dentre os grupos possível destacar os seguintes, apresentados
dos indicadores mais utilizados no no Quadro 3:
gerenciamento de Recursos Humanos é

Tópicos em Administração - Volume 8


192

Quadro 3: Grupos dos indicadores mais utilizados no gerenciamento de Recursos Humanos.


Grupo de indicadores Descrição do grupo

Absenteísmo pode ser definido como ausências não programadas ao trabalho,


Absenteísmo e rotatividade e a rotatividade de pessoal como a relação existente entre as admissões e os
desligamentos ocorridos.

Podem ser incluídos nessa área os indicadores de idade da força de trabalho,


Perfil dos recursos humanos
permanência média na organização, formação escolar etc.

Podem ser incluídos nessa área os indicadores sobre custo total de pessoal
(salários, benefícios e encargos sociais), remuneração em relação às receitas e
Remuneração às despesas operacionais, remuneração variável comparada à remuneração
total, participação em resultados em relação ao custo total de pessoas ou à
lucratividade, benefícios em relação à remuneração etc.

Os indicadores desta área fornecem subsídios para a elaboração de ações


Recrutamento e seleção envolvendo recrutamento e seleção, entre elas a admissão, o aproveitamento
interno, o tempo para preenchimento de vagas, o custo das admissões etc.

Podem ser incluídos nessa área os indicadores de investimento em T&D em


Treinamento e
relação ao faturamento e às despesas, investimento em treinamento
desenvolvimento (T&D)
operacional/técnico per capita, tempo de treinamento ou desenvolvimento etc.

Esta área relaciona os indicadores de saúde ocupacional e segurança do


trabalho, abrangendo os custos de acidentes do trabalho e doença
Saúde ocupacional ocupacional em relação às despesas, custo com prevenção, ocorrências ou
casos de reabilitações per capita, número de acidentes de trabalho, taxa de
gravidade de acidentes etc.

Fonte: Adaptado de Pomi (2002)

A maioria dos indicadores propostos por administradores públicos e demais


Assis (2012) e pelos demais autores responsáveis por dinheiros, bens e valores
possibilitam variações na abrangência do públicos federais, bem como as contas de
índice e até mesmo alguns ajustes na fórmula qualquer pessoa que der causa a perda,
de cálculo, viabilizando a adaptação dos extravio ou outra irregularidade de que resulte
indicadores para diversos tipos de demandas prejuízo ao erário.
e realidades organizacionais. Em razão disso,
Anualmente, o Tribunal de Contas da União
pode-se concluir que inexistem regras fixas
publica diversas normativas acerca do
para calcular e interpretar indicadores de
Relatório de Gestão, que é a principal peça
gestão (CALDEIRA, 2012).
da prestação de contas, com intuito de
padronizar e subsidiar a elaboração deste
documento que compõem o processo de
2.3 INDICADORES GERENCIAIS SOBRE
contas. No Quadro 4 apresenta-se - na íntegra
RECURSOS HUMANOS DEMANDADOS
- uma das demandas que compõem os
PELO TCU
relatórios de gestão solicitados pelo TCU nos
Conforme descrito no portal eletrônico do últimos seis anos, referente aos “Indicadores
Tribunal de Contas da União Gerenciais Sobre Recursos Humanos”
(http://portal2.tcu.gov.br/), o TCU é um aplicados por órgãos e instituições públicas
tribunal administrativo que julga as contas de federais.

Tópicos em Administração - Volume 8


193

Quadro 4: Informações solicitadas pelo TCU acerca de Indicadores Gerenciais Sobre Recursos
Humanos
Portaria TCU
Relatório Decisão
Informação solicitada - Indicadores Gerenciais Sobre Recursos
de Normativa Nº/
Pg. Humanos
Gestão TCU
ano

A UJ que seja responsável por área de recursos humanos, ou que


134/ 90/ tenha entre as UJ consolidadas uma com essa responsabilidade,
2014 151 deve informar os indicadores dos quais se utiliza para tal
2013 2014
gerenciamento. As UJ que não tenham indicadores desenvolvidos
para a área de pessoal devem fazer constar essa informação no
Relatório de Gestão e informar se há previsão de desenvolvê-los.

127/ 175/ Os indicadores deverão ser informados de modo a explicitar os


2013 174 padrões utilizados, os objetos mensurados, os objetivos e metas
2013 2013
fixados e, por fim, as conclusões quantitativas e qualitativas daí
decorrentes sobre a gestão de recursos humanos.

A UJ que seja responsável pela área de recursos humanos, ou que


tenha entre as UJ consolidadas uma com essa responsabilidade,
deve informar os indicadores dos quais se utiliza para tal
119/ 150/
2012 157 gerenciamento. As UJ que não tenham indicadores desenvolvidos
2012 2012 para a área de pessoal devem fazer constar essa informação no
Relatório de Gestão e informar se há previsão de desenvolvê-los.
Os indicadores deverão ser informados de modo a explicitar os
padrões utilizados, os objetos mensurados, os objetivos e metas
fixados e, por fim, as conclusões quantitativas e qualitativas daí
decorrentes sobre a gestão de recursos humanos.
Em especial, mas sem prejuízo de outros indicadores que a UJ
117/ 123/
2011 67 tenha desenvolvido e considere adequado informar, interessam
2011 2011 aqueles que tratem dos seguintes temas, caso o órgão os tenha
construído: ▪ Absenteísmo; ▪ Acidentes de Trabalho e Doenças
Ocupacionais; ▪ Rotatividade (turnover); ▪ Educação Continuada; ▪
Disciplina; ▪ Aposentadoria versus reposição do quadro.

A UJ que seja responsável pela área de recursos humanos, ou que


tenha entre as UJ consolidadas uma com essa responsabilidade,
deve informar os indicadores dos quais se utiliza para tal
gerenciamento. As UJ que não tenham indicadores desenvolvidos
para a área de pessoal devem fazer contar essa informação no
Relatório de Gestão e informar se há previsão de desenvolvê-los.
Os indicadores deverão ser informados de modo a explicitar os
107/ 277/ padrões utilizados, os objetos mensurados, os objetivos e metas
2010 70 fixados e, por fim, as conclusões quantitativas e qualitativas daí
2010 2010 decorrentes sobre a gestão de recursos humanos.
Em especial, mas sem prejuízo de outros indicadores que a UJ
tenha desenvolvido e considere adequado informar, interessam
aqueles que tratem dos seguintes temas: • Absenteísmo; •
Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais; • Rotatividade
(turnover); • Educação Continuada; • Satisfação e Motivação; •
Disciplina; • Desempenho funcional; • Níveis Salariais; • Demandas
Trabalhistas.

Tópicos em Administração - Volume 8


194

(continuação...)
Portaria
Relatório Decisão TCU
Informação solicitada - Indicadores Gerenciais Sobre Recursos
de Normativa
Nº/ Humanos
Gestão TCU Pg.
ano

As informações pertinentes a indicadores gerenciais sobre recursos


humanos dependem da existência e manutenção de tais indicadores
pela própria UJ. Portanto, quando disponíveis tais indicadores deverão
ser informados de modo a explicitar os padrões utilizados, os objetos
mensurados, os objetivos e metas fixados e, por fim, as conclusões
quantitativas e qualitativas daí decorrentes sobre a gestão de recursos
100/ 389/
2009 44 humanos.
2009 2009
Em especial, mas sem prejuízo de outros indicadores que a UJ
considere adequado informar, interessam aqueles que tratem dos
seguintes temas: Absenteísmo; Acidentes de Trabalho e Doenças
Ocupacionais; Perfil Etário; Rotatividade (turnover); Formação
Acadêmica; Educação Continuada; Satisfação e Motivação; Disciplina;
Desempenho funcional; Níveis Salariais; e Demandas Trabalhistas.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nas normativas do TCU (2009-2014)

É importante salientar, conforme apresentado atuando como instrumento fundamental na


no Quadro 4, que as informações sobre a coleta de dados; a análise de dados indutiva,
utilização dos Indicadores de Gestão de por meio da criação de padrões próprios; e o
Recursos Humanos solicitadas pelo TCU desenvolvimento de um quadro complexo do
foram requeridas de maneira bem “aberta” problema, identificando todos os fatores
para os exercícios de 2013 e 2014, isto é, nas envolvidos.
últimas normativas o tribunal não sugeriu
Conforme apresentado na seção introdutória
temas ou grupos de indicadores para serem
do trabalho, o objetivo central do estudo
informados pelos prestadores de contas.
consiste em identificar quais são os
Indicadores de Gestão de Recursos Humanos
mais utilizados pelos Institutos Federais de
3. MÉTODO DE TRABALHO
Educação, Ciência e Tecnologia, e para isso
A presente pesquisa caracteriza-se como foram realizadas coletas e análises
descritiva e de natureza qualitativa. Para a documentais envolvendo os 38 (trinta e oito)
classificação da pesquisa, tomou-se como Institutos Federais que compõem a Rede
base os critérios de caracterização de estudo Federal EPCT.
proposto por Vergara (2013), quanto aos fins
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e
e quanto aos meios, tem-se:
Tecnologia (IFETs), criados pela Lei n°
I) Quanto aos fins: trata-se de uma pesquisa 11.892, de 29/12/2008, caracterizam-se por
descritiva, este tipo de estudo tem como serem instituições de educação superior,
objetivo descrever as características de básica e profissional, pluricurriculares e
determinada população; multicampi, especializados na oferta de
educação profissional e tecnológica nas
II) quanto aos meios: trata-se de uma
diferentes modalidades de ensino, com base
pesquisa bibliográfica e documental, pois
na conjugação de conhecimentos técnicos e
representa um estudo sistematizado
tecnológicos com as suas práticas
desenvolvido com base em material
pedagógicas.
publicado em livros, redes eletrônicas e
documentos de órgãos e instituições públicas. A coleta de dados foi realizada por meio de
uma pesquisa documental, que teve como
Dentre algumas das principais características
objetivo o levantamento de dados acerca dos
de uma pesquisa de natureza qualitativa
Indicadores de Gestão de Recursos Humanos
(CRESWELL, 2010), o presente estudo
aplicados pelos IFETs e apresentados nos
apresenta as seguintes: o pesquisador
últimos cinco relatórios de gestão

Tópicos em Administração - Volume 8


195

encaminhados ao Tribunal de Contas da interpretação dos dados (BARDIN, 1977;


União (referentes aos exercícios 2009, 2010, VERGARA, 2012). Moraes (1999) propõe
2011, 2012 e 2013), disponíveis na base de cinco etapas para o desenvolvimento de uma
dados do TCU (http://portal2.tcu.gov.br/). análise de conteúdo: a) preparação; b)
Segundo Gil (2010), a pesquisa documental unitarização; c) categorização; d) descrição;
inclui normativas e demais documentos e) interpretação.
institucionais produzidos por órgãos públicos.
Desta forma, a partir das fases e etapas
O processo de análise de dados foi apresentadas pelos autores citados, os dados
desenvolvido com base nos objetivos do coletados na pesquisa foram: pré-analisados;
estudo, conforme sugerido por Gil (2010), organizados e subdivididos em conjuntos de
recorrendo a uma leitura seletiva sobre os unidades de análise; categorizados em quatro
dados constantes nos documentos categorias; e, posteriormente, tratados e
pesquisados. Portanto, adotou-se a técnica interpretados de forma qualitativa.
de análise de conteúdo para o tratamento
Com intuito de solucionar a problemática de
qualitativo do material coletado nos relatórios
pesquisa e atingir os objetivos propostos, este
de gestão pesquisados.
estudo foi realizado por meio de quatro
A referida técnica compreende três fases de etapas de trabalho, detalhadas no quadro
estudo: i) pré-análise: seleção do material; ii) abaixo:
exploração do material; e iii) tratamento e

Quadro 5: Etapas da análise de conteúdo

Etapas Detalhamento das atividades realizadas


- Levantamento de dados acerca dos Indicadores de Gestão de Recursos Humanos
aplicados pelos IFETs e apresentados nos últimos cinco Relatórios de Gestão
encaminhados ao Tribunal de Contas da União (exercícios 2009, 2010, 2011, 2012 e
Coleta e pré- 2013), disponíveis na base de dados do TCU (http://portal2.tcu.gov.br/).
I análise de - As consultas foram realizadas por meio do índice/sumário dos relatórios analisados,
dados buscando o item/subitem que atendesse a demanda do TCU, bem como, em caso de
ausência do item/subitem demandado, também foram pesquisadas as possíveis
justificativas – localizadas no item introdutório do documento - para o não atendimento da
referida solicitação do tribunal.
Organização - Os dados coletados na etapa I foram organizados e divididos por unidades de análise,
em conjuntos os 38 (trinta e oito) Institutos Federais e, em seguida, subdivididos de acordo com o
II
de unidades exercício de referência (2009, 2010, 2011, 2012 e 2013) dos Relatórios de Gestão
de análise analisados.
- Para viabilizar o tratamento qualitativo das informações, foram criadas 4 (quatro)
categorias de informações (A, B, C e D) relacionadas com os dados coletados, que
facilitam o desenvolvimento dos objetivos propostos no estudo:
A – Apresentou um ou mais Indicadores de Gestão de Recursos Humanos, atendendo de
Categorização
forma total, ou parcial, as informações solicitadas pelo TCU.
das
III B - Apresentou alguns dados e informações pertinentes a Gestão de Recursos Humanos,
informações
mas não atendeu as informações solicitadas pelo TCU.
coletadas
C - Não apresentou Indicadores de Gestão de Recursos Humanos, mas justificou a
ausência das informações solicitadas pelo TCU.
D - Não apresentou Indicadores de Gestão de Recursos Humanos, e não justificou a
ausência das informações solicitadas pelo TCU.
- O tratamento e intepretação das informações foram realizados por meio de 4 (quatro)
análises:
i - Relação entre os indicadores apresentados pelos IFETs e as demandas anuais
Tratamento e previstas nas normativas do Relatório de Gestão do TCU.
interpretação ii - Evolução histórica do desenvolvimento dos Indicadores de Gestão de Recursos
IV
das Humanos aplicados pelos Institutos Federais.
informações iii - Síntese das principais justificativas dos IFETs para a não apresentação de indicadores
da área de RH.
iv - Sistematização dos Indicadores de Gestão de Recursos Humanos mais utilizados
pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Tópicos em Administração - Volume 8


196

Com base no desenvolvimento dos processos pelos Institutos Federais de Educação,


de coletas e análises dos dados necessários Ciência e Tecnologia, atendem as demandas
para o alcance dos objetivos propostos na anuais previstas nas normativas do Relatório
pesquisa, deu-se início à análise dos de Gestão do Tribunal de Contas da União,
resultados. foi, inicialmente, realizada uma avaliação
sobre os conteúdos documentais coletados, a
fim de categorizar as informações
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS apresentadas pelos IFETs, com base nas
categorias descritas na terceira etapa da
Nesta seção apresenta-se as análises dos
análise de conteúdo descrita na seção
resultados de acordo com os quatro tipos de
anterior.
análises propostos para a etapa de
tratamento e interpretação das informações Desta forma, no Quadro 6 apresenta-se a
coletadas. referida etapa de categorização das
informações coletadas nos 190 (cento e
noventa) relatórios analisados:
4.1 INDICADORES APRESENTADOS VERSUS
DEMANDAS TCU
Com intuito de verificar se os Indicadores de
Gestão de Recursos Humanos, apresentados

Quadro 6: Categorização das informações coletadas


Exercícios de referências dos Relatórios de Gestão enviados ao TCU
Institutos Federais
2009 2010 2011 2012 2013
IFAC C C B B C
IFAL D D D D D
IFAM D C B A A
IFAP C C C C C
IFB C A C A C
IFBA D C C B C
IF Baiano B B A A A
IFC D C C B B
IFCE C C C C C
IFES D D D A A
IFF D C C B B
IF Farroupilha C C C B C
IFG C B B B B
IFGO B B A A A
IFMA D C C C C
IFMG D B B C A
IFMS D D D D C
IFMT B B B B B
IFNMG D D D C C
IFPA C B B B B
IFPB C B B B B
IFPE C A A C C
IFPI A A A A C
IFPR D C A A A
IFRJ D D C B A
IFRN D C C A A
IFRO C C C C C
IFRR D A A A A
IFRS D C C B A
IFS C D C A A

Tópicos em Administração - Volume 8


197

(continuação...)
Exercícios de referências dos Relatórios de Gestão enviados ao TCU
Institutos Federais
2009 2010 2011 2012 2013
IFSC D A A C C
IF Sertão PB C C B B B
IFSP B B D B B
IF Sudeste MG D D C C A
IF Sul C C C C C
IF Sul de Minas D C C C B
IFTM C A A A A
IFTO C C D D D

Avaliação – por
A – Apresentou um ou mais Indicadores de Gestão de Recursos Humanos, atendendo de forma
unidade de análise e
total, ou parcial, as informações solicitadas pelo TCU. - B - Apresentou alguns dados e informações
exercício de
pertinentes a Gestão de Recursos Humanos, mas não atendeu as informações solicitadas pelo TCU.
referência - baseada
- C - Não apresentou Indicadores de Gestão de Recursos Humanos, mas justificou a ausência das
nas quatro categorias
informações solicitadas pelo TCU. - D - Não apresentou Indicadores de Gestão de Recursos
de informações
Humanos, e não justificou a ausência das informações solicitadas pelo TCU.
analisadas

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos 190 (cento e noventa) relatórios de gestão analisados.

Após a devida avaliação documental e acordo com as suas representatividades


categorização das informações coletadas, os percentuais, por ano de referência, conforme
dados tabulados foram totalizados por exibido no quadro abaixo:
categorias e analisados verticalmente de

Quadro 7: Distribuição dos somatórios de informações categorizadas por exercício de referência


Categorização 2009 2010 2011 2012 2013

A 01 2,6% 06 15,8% 08 21,1% 11 28,9% 13 34,2%

B 04 10,5% 08 21,1% 08 21,1% 13 34,2% 09 23,7%

C 15 39,5% 17 44,7% 16 42,1% 11 28,9% 14 36,8%

D 18 47,4% 07 18,4% 06 15,8% 03 7,9% 02 5,3%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

A partir do exposto no Quadro 7, foi possível de IFETs, em relação aos relatórios de 2009,
desenvolver uma relação entre os indicadores que apresentaram um ou mais Indicadores de
apresentados pelos IFETs e as demandas Gestão de Recursos Humanos, e atenderam
anuais previstas nas normativas do Relatório de forma total, ou parcial, as informações
de Gestão do TCU. Assim, acerca dos solicitadas pelo TCU (vide categoria A).
relatórios de gestão – exercício 2009 - Referente aos últimos relatórios apresentados
enviados ao Tribunal de Contas da União, pelos Institutos Federais – ano 2013 – o
somente o Instituto Federal de Educação, percentual de documentos enquadrados na
Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) categoria citada passou a ser de 34,2%, isto
apresentou alguns Indicadores de Gestão de é, atualmente, 13 (treze) dos 38 (trinta e oito)
Recursos Humanos, atendendo de forma IFETs atendem as demandas anuais previstas
parcial as solicitações do TCU, por conta da nas normativas do Relatório de Gestão do
ausência de conclusões qualitativas (Portaria- Tribunal de Contas da União.
TCU 389/2009).
A respeito dos relatórios de gestão dos
exercícios 2010, 2011 e 2012, foi possível
verificar um considerável aumento no número

Tópicos em Administração - Volume 8


198

4.2 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES Indicadores de Gestão de Recursos


APLICADOS PELOS IFETS Humanos.
Com relação a evolução histórica do Na primeira evolução citada, também
desenvolvimento dos Indicadores de Gestão abordada no item anterior, foi verificado um
de Recursos Humanos aplicados pelos avanço de 31,6% (referente a doze
Institutos Federais, é possível verificar nos instituições), entre os períodos de 2009 e
dois últimos quadros apresentados, quadros 2013, no número de Institutos Federais que
06 e 07, duas consideráveis evoluções, atenderam de forma total, ou parcial, as
correspondentes ao atendimento das informações solicitadas pelo TCU, acerca de
informações solicitadas pelo TCU e às Indicadores de Gestão de Recursos
justificativas apresentadas para a ausência de Humanos.

Gráfico 1: Evolução da apresentação de Indicadores de Gestão de Recursos Humanos ao TCU.

14
28,9% 34,2%
12
10 21,1%
8 15,8%
6
4 2,6%
2
0
2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

Na segunda evolução mencionada constatou- apresentaram Indicadores de Gestão de


se uma redução de 42,1% (referente a Recursos Humanos, e nem sequer justificaram
dezesseis instituições) entre os períodos de a ausência das informações solicitadas pelo
2009 e 2013, no número de IFETs que não TCU (vide categoria D).

Gráfico 2: Número de IFETs que não apresentaram indicadores e nem justificaram a ausência.

20
47,4%
15
10 18,4% 15,8%
5 7,9%
5,3%
0
2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

4.3 PRINCIPAIS JUSTIFICATIVAS PARA A TCU (vide categoria C), conforme descrito no
NÃO APRESENTAÇÃO DE INDICADORES DE Quadro 8.
RH
De acordo com as informações expostas no
As principais justificativas dos IFETs para a Quadro 8 foi possível verificar que as maiores
não apresentação de indicadores da área de dificuldades apontadas pelos IFETs, visando
RH foram sintetizadas a partir dos relatórios justificar a carência, ou a não apresentação
de gestão referentes ao exercício 2013, onde de Indicadores de Gestão de Recursos
14 (quatorze) Institutos Federais justificaram a Humanos, estão relacionadas com a ausência
ausência das informações solicitadas pelo de um sistema informatizado capaz de
produzir os referidos indicadores, e também

Tópicos em Administração - Volume 8


199

com a atual força de trabalho dos Institutos as dificuldades técnicas dos setores
Federais, considerando o número insuficiente responsáveis pela implantação dos
de servidores para atender a todas as Indicadores de Gestão de Recursos
demandas, a inexperiência por conta dos Humanos.
novos servidores lotados nos IFETs, ou ainda,

Quadro 8: Justificativas apresentadas em razão da ausência das informações solicitadas pelo TCU.
IFETs Síntese das justificativas apresentadas no Relatório de Gestão 2013

Ainda não existe indicadores para os objetivos e metas por razão de não existir sistema
IFAC informatizado, que está em processo final de implantação, no âmbito do IFAC, capaz de
fornecer estes indicadores gerenciais.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá – IFAP, conta hoje no seu
quadro com 301 servidores, distribuídos entre Reitoria, Campus Macapá e Campus Laranjal do
Jari, não desenvolvemos indicadores para gerenciamento do desenvolvimento da política de
Pessoal na Instituição, devido a prioridade das ações de cadastro, pagamento, capacitação de
servidores nas áreas correlatas de atuação e dificuldades peculiares de órgão ainda em
processo de implantação, dificuldades a cada ano notadamente menores, que nos permiti
IFAP
traçar como meta para o exercício 2014, o desenvolvimento de indicadores próprios para
gerenciar nossa política de pessoal. Acrescentamos a consolidação da Comissão Permanente
de Pessoal Docente e a Comissão Permanente de Pessoal Técnico Administrativo, como
avanço, mas os resultados só irão poder ser analisados no exercício 2014, dando inicio ao
Processo de Dimensionamento da Força de Trabalho de modo a implementar a política de
Pessoa.

Durante o exercício de 2013 a Diretoria de Gestão de Pessoas responsável pela sistematização,


acompanhamento e monitoramento dos indicadores de recursos humanos enfrentou
dificuldades de estruturação e desenvolvimento de suas atividades ocasionadas por mudança
de sua liderança e perda de seu quadro de servidores, seja para outros órgãos ou para outras
IFB unidades do próprio instituto. Aproximadamente 40% do seu quadro de servidor foi modificado.
Dessa forma, a prioridade para o ano foi conseguir atender as demandas obrigatórias
relacionadas ao gerenciamento de servidores e seus direitos. Assim sendo, não foi possível o
desenvolvimento do trabalho com os indicadores, situação está que a Diretoria direcionará
esforços para contornar em 2014

A UJ informa que não possui indicadores desenvolvidos para área de pessoal, mas entende que
IFBA
há necessidade de se elaborar ainda para este ano.

Em relação ao item em questão, informamos que temos uma equipe trabalhando nesses
IFCE indicadores. No entanto, não foi possível consolidá-los e aplicá-los em 2013. Previsão de
implantação em 2014.

Apesar da Gestão de Pessoas do IF Farroupilha trabalhar em sentido colaborativo com as


equipes implantadas em suas unidades, o mesmo ainda não desenvolveu indicadores
relacionados à Gestão de Pessoas. Tal deficiência já foi detectada pelo setor e como o IF
IF Farroupilha
Farroupilha está implantando um Sistema de Gerenciamento Integrado definiu por aguardar a
implantação do mesmo para verificar suas funcionalidades e a partir daí elaborar os indicadores
de Gestão de Pessoas.

Esta UG não possui, considerando o novo modelo de gestão a partir da criação dos Institutos
Federais de Educação Ciência e Tecnologia, criados nos termos da lei nº 11892 de 29/12/2008
DOU 30/12/2008, no qual se insere o Instituto Federal do Maranhão. Este Instituto iniciará a
IFMA implementação ainda este ano com prazo final até 2016 objetivando informar os indicadores
gerenciais de recursos humanos, de modo a explicitar os padrão utilizados os objetos
mensurados, os objetivo e metas fixados, e por fim a condessar quantitativos e qualitativos dai
decorrentes sobre a gestão de recursos humanos.

Tópicos em Administração - Volume 8


200

(continuação...)
IFETs Síntese das justificativas apresentadas no Relatório de Gestão 2013

O IFMS não possui, até o momento, indicadores desenvolvidos para a área de pessoal.
Esperamos desenvolver em 2014 ferramentas de gestão capazes de aprimorar nossos
trabalhos, diminuindo falhas. Em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte
começamos a utilizar em 2013 o SUAP – Sistema Unificado de Administração. Com ele foi
IFMS possível a extração de diversos relatórios, quais sejam: o quantitativo de servidores, formação
acadêmica, idade, sexo. Além disso, por meio deste sistema conseguimos implantar um novo
sistema de ponto eletrônico mais econômico e eficiente que propicia um melhor controle das
entradas e saídas dos nossos servidores. No momento, este sistema está em fase piloto na
Reitoria e no decorrer do ano de 2014 será expandido para os demais Câmpus.

Atualmente, não estão definidos os indicadores de gestão referentes ao capital humano da


instituição.
A Diretoria de Gestão de Pessoas do IFNMG, está em processo inicial de revisão de seu modelo
IFNMG gerencial, buscando atuar de forma estratégica e assim fazer frente aos desafios impostos pela
gestão de pessoas no serviço público federal.
Ao final do ano de 2014, devemos ter definido e calculado os indicadores gerenciais da área de
gestão de pessoas do IFNMG.

Em relação aos indicadores podemos informar que:


Absenteísmo, acidentes de trabalho e doenças ocupacionais: não há dados para referências
destes indicadores, uma vez que ainda não conseguimos implantar o SIASS – Sistema Integrado
de Assistência à Saúde do Servidor.
IFPE Rotatividade, educação continuada e disciplina não conseguimos implantar no exercício de
2013.
Aposentadoria versus reposição do quadro, não se faz necessário em função dos decretos nº
7.311 e nº 7.312, ambos de 2010, os quais permitem a reposição imediata do quadro de
pessoal.

Como fonte de dados de indicadores, são utilizados relatórios extraídos do Sistema SIAPE e
através do DW. São extraídos dados tais como: quantitativo de servidores por Campi e cargo;
IFPI nível de escolaridade; faixa etária; nível salaria; afastamentos; tempo de contribuição, enfim,
tudo o que está relacionado com a vida funcional de cada servidor e que sirva para orientar a
tomada de decisão por parte dos gestores.

O IFRO não dispõe de indicadores gerenciais sobre Recurso Humanos. Até o presente
momento, aguardamos a conclusão do estudo de viabilidade, desenvolvido em nível ministerial
IFRO
no MEC, que trata sobre a implantação de uma sistemática unificada visando a padronização
dos indicadores de gestão de suas unidades subordinadas.

O IFSC não possui indicadores desenvolvidos para o gerenciamento de recursos humanos. Os


mecanismos de identificação de informações relevantes, bem como seu registro e
IFSC acompanhamento, vêm sendo aperfeiçoados de modo a que se possa construir,
gradativamente, um conjunto de indicadores. A construção desses indicadores consta do
Planejamento Estratégico da instituição que está sendo elaborado para os próximos cinco anos.

A Pró-reitoria de Gestão de Pessoas, durante o ano de 2013, deu continuidade ao trabalho


iniciado em 2012 o qual visava o desenvolvimento de sistema informatizado para
acompanhamento dos indicadores gerenciais sobre recursos humanos. Acredita-se que o
IF Sul trabalho em questão deva ser concluído em 2014.
Não obstante, a PROGEP elabora mensalmente um portfólio que compila diversos dados
gerenciais, tais como: quantitativos por categoria de cargo, por gênero, por local de lotação, por
formação e qualificação de cada servidor, por faixa etária, dentre outros.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos Relatórios de Gestão 2013.

Tópicos em Administração - Volume 8


201

4.4 INDICADORES DE GESTÃO DE 2013 que apresentaram um ou mais


RECURSOS HUMANOS MAIS UTILIZADOS indicadores, atendendo de forma total, ou
PELOS IFETS parcial, as informações solicitadas pelo TCU
(vide categoria A).
Buscando identificar quais são os Indicadores
de Gestão de Recursos Humanos mais No Quadro 9 sistematiza-se os Indicadores de
utilizados pelos Institutos Federais de Gestão de Recursos Humanos pesquisados,
Educação, Ciência e Tecnologia, tomou-se expondo os IFETs que adotam os
como base para análise os 13 (treze) determinados indicadores:
relatórios de gestão referentes ao exercício

Quadro 9: Relação dos Indicadores de Gestão de Recursos Humanos apresentados pelos Institutos
Federais.
Institutos Federais que adotam os indicadores apresentados

IF Sudeste MG
Indicadores de Gestão de Recursos IF Baiano
Humanos

IFMG
IFGO
IFAM

IFRN

IFTM
IFRR
IFPR

IFRS
IFES

IFRJ

IFS
- Indicador de Escolaridade ou Titulação X X X X X

- Indicador de Absenteísmo X X X X X X

- Indicador de participação em Educação


X X X X X X X X X X X
Continuada, Qualificação ou Capacitação

- Percentual de ampliação do quadro de


X
servidores

- Investimento em Capacitação X X

- Carga Horária média de Capacitação X

- Indicador de Previsão de Aposentadoria X

- Desempenho Funcional dos servidores X X

- Índice de Rotatividade (turnover) X X X X X X

- Índice de Satisfação dos servidores X

- Índice de Servidores Ingressantes X

- Índice de Servidores Egressos X

- Relação entre servidores técnicos-


X
administrativos e docentes

- Indicador de Afastamentos de servidores X X

- Indicador de Acidente de Trabalho e


X X X X
Doenças Ocupacionais

- Reposição de Aposentadoria X X

- Penalidades (ou Processos


X X X X
Administrativos) Disciplinares

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos relatórios de gestão 2013.

Conforme as informações apresentadas no Educação, Ciência e Tecnologia. Dentre eles,


Quadro 9 é possível identificar quais são os destacam-se pelo número de ocorrências os
Indicadores de Gestão de Recursos Humanos seguintes indicadores: Indicador de
mais utilizados pelos Institutos Federais de Escolaridade ou Titulação; Indicador de

Tópicos em Administração - Volume 8


202

Absenteísmo; Indicador de participação em possuir, ou simplesmente não apresentaram


Educação Continuada, Qualificação ou Indicadores de Gestão de Recursos
Capacitação; e Índice de Rotatividade. Humanos. Nesta mesma pesquisa, pode-se
verificar que as maiores dificuldades
apontadas pelas universidades, visando
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS justificar a carência destes indicadores,
estavam relacionadas com os processos de
O objetivo proposto para o trabalho, que visou
obtenção de dados e de elaboração de
identificar quais são os Indicadores de Gestão
indicadores, além da inexistência de
de Recursos Humanos mais utilizados pelos
históricos de medidas.
Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, foi atingido por meio da análise Já no presente estudo, com relação aos
dos relatórios de gestão de 2013, enviados relatórios de gestão de 2013 dos IFETs, o
pelos IFETs ao Tribunal de Contas da União. número de Institutos Federais que não
Dentre os 38 (trinta e oito) relatórios apresentaram Indicadores de Gestão de
analisados, os indicadores mais utilizados Recursos Humanos foi de 25 (vinte e cinco)
foram: Indicador de Escolaridade ou instituições, correspondente a 65,8% dos
Titulação; Indicador de Absenteísmo; relatórios analisados. Dentre as instituições
Indicador de participação em Educação que justificaram a carência, ou a não
Continuada, Qualificação ou Capacitação; e apresentação de indicadores, verificou-se que
Índice de Rotatividade. a maior parte das justificativas está
relacionada com a ausência de um sistema
Desta forma, com relação ao atendimento das
informatizado, capaz de produzir indicadores,
demandas anuais previstas nas normativas do
e também com a atual força de trabalho dos
Relatório de Gestão do TCU, o percentual de
Institutos Federais, muitas vezes insuficiente
documentos, referentes ao exercício 2013,
para atender a todas as demandas das
que atenderam de forma total, ou parcial, as
instituições.
solicitações do tribunal foi de 34,2%, isto é,
atualmente, 13 (treze) dos 38 (trinta e oito) Acerca das limitações do estudo, para efeito
IFETs atendem as demandas anuais previstas de categorização dos dados coletados,
nas normativas do Relatório de Gestão do destaca-se que só foram considerados como
Tribunal de Contas da União. “Indicadores de Gestão de Recursos
Humanos” as métricas representadas por
Sobre a evolução do desenvolvimento dos
meio de indicadores compostos, isto é,
Indicadores de Gestão de Recursos Humanos
aqueles que apresentam relação entre duas
aplicados pelos Institutos Federais, ao longo
ou mais variáveis (MPOG, 2010), sendo
dos 05 (cinco) exercícios analisados (2009-
estabelecidos por uma fórmula de cálculo.
2013), além do aumento gradativo do número
Desta forma, os indicadores simples foram
de IFETs que apresentaram um ou mais
categorizados apenas como dados ou
indicadores, destacou-se também uma
informações pertinentes à gestão de Recursos
redução de 42,1%, entre os períodos de 2009
Humanos.
e 2013, no número de Institutos Federais que
não apresentam os indicadores, e nem sequer Por fim, com base nas dificuldades
justificam a ausência das informações apresentadas nos relatórios analisados,
solicitadas pelo TCU. recomenda-se que trabalhos futuros visem o
desenvolvimento de modelos de Indicadores
De acordo com o estudo de Pereira (2012),
de Gestão de Recursos Humanos que
realizado também por meio do banco de
possam contribuir com a padronização dos
dados do TCU, porém referente apenas ao
indicadores utilizados por instituições que
exercício 2010, foi identificado dentre um
façam parte de uma mesma rede,
conjunto de 57 (cinquenta e sete) relatórios de
possibilitando a comparação dos resultados
gestão de Universidades Federais brasileiras,
atingidos e facilitando o atendimento às
que mais da metade (54%) informaram não
demandas de órgãos controladores.

Tópicos em Administração - Volume 8


203

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Orçamento e Gestão. Guia Referencial para

Tópicos em Administração - Volume 8


204

Capítulo 17

Andrea Martiniano
Ricardo Pinto Ferreira
Edquel Bueno Prado Farias
Dacyr Dante de Oliveira Gatto
Renato José Sassi

Resumo: O objetivo deste artigo é utilizar mineração de dados para extrair


conhecimento sobre os fatores da relação entre absenteísmo e ergonomia. Com o
avanço da tecnologia aumenta-se a necessidade de ações efetivas com relação à
saúde e a qualidade de vida do empregado. Este avanço faz com que o
gerenciamento do absenteísmo exija mais atenção das organizações e gere muitas
preocupações ligadas a diversos fatores como excesso de trabalho, neste sentido
aspectos ergonômicos são importantes dentro do contexto do absenteísmo,
principalmente em atividades classificadas como trabalho pesado e com um alto
índice de repetitividade. A necessidade de atingir metas no trabalho, acabam
impondo uma sobrecarga diária aos empregados. Estes acabam adquirindo algum
distúrbio na saúde, o que pode causar absenteísmo. Nesse contexto, a aplicação
de técnicas inteligentes surge como alternativa para apoio à tomada de decisão. A
mineração de dados busca o conhecimento útil, válido e utilizável em base de
dados. Para realização dos experimentos computacionais será utilizada a rede
SOM (Self-Organizing Map) que é uma arquitetura de rede neural artificial, suas
principais aplicações estão no campo de agrupamento e visualização de dados,
será utilizada uma base de dados históricos com cerca de 1.626 registros de
afastamentos médicos de 37 empregados de uma empresa de logística da cidade
de São Paulo, juntamente com dados relacionados as atividades desenvolvidas
pelos empregados, os dados foram coletados durante o período de janeiro de 2008
a dezembro de 2016. Os resultados mostraram que a utilização da mineração de
dados neste tipo de problema é satisfatória, confirmando esta técnica como uma
boa opção.

Palavras Chave: Absenteísmo - Ergonomia - Mineração de Dados - Rede SOM

Tópicos em Administração - Volume 8


205

1. INTRODUÇÃO socioeconômicas e, sobretudo tecnológicas,


A informação tem se tornado um dos mais que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, o
importantes recursos para que as surgimento da ergonomia de modo mais
organizações tomem as melhores decisões. sistematizado aconteceu na década de 40
Com o desenvolvimento tecnológico viu-se a (KROEMER e GRANDJEAN, 2005).
necessidade de automatizar essas
Para Filho e Silva (2011) os problemas de
informações para obter conhecimento de
coluna, denominados de dores nas costas, é
forma mais ágil.
considerada um problema de saúde pública
As influências desse desenvolvimento são em vários países do ocidente. Essas doenças
positivas, mas em virtude desses súbitos englobam as cervicalgias, dores torácicas,
avanços, aumentam também a ciáticas, transtornos dos discos
competitividade entre nações e organizações, intervertebrais, espondiloses, radiculopatias,
o que pode provocar mudanças nos e as dores lombares (OLIVEIRA et al., 2015).
comportamentos biológicos, psicológicos e
De acordo com Oliveira et al. (2015) as lesões
sociais dos empregados provocando
crônicas que afetam a condição
sobrecarga física e mental.
musculoesquelética são um dos principais
Segundo Jamil e Neves (2000), mudanças problemas para a saúde da população
drásticas nas tecnologias, através do brasileira e resultante das atividades
aparecimento de novas ferramentas, repetitivas. Entre essas doenças, destacam-
equipamentos, capacitações e se os problemas crônicos de coluna, como as
especializações são oferecidas ao homem dores lombares, e os distúrbios
moderno como elemento impulsionador de osteomusculares relacionados ao trabalho
melhorias em seu padrão de vida. (DORT).
No entanto, a necessidade de atingir metas Especialistas destacam que a dor nas costas
cada vez mais exigentes no trabalho, acabam é sinônimo de dor lombar (DIONNE, 2008).
impondo uma sobrecarga diária aos Alguns estudos que analisaram dados
empregados. Para Jodas e Hadadd (2009) secundários com os códigos da Classificação
essas imposições e tensões desencadeiam Internacional de Doenças (CID) consideraram
reações adversas, interferindo diretamente na como dor nas costas as cervicalgias, dores
qualidade de vida e do trabalho dos torácicas, ciáticas, transtornos dos discos
empregados. Isso que pode causar algum intervertebrais, espondiloses, radiculopatias,
tipo de distúrbio em seu estado de saúde além das dores lombares, que são as mais
levando ao absenteísmo e ou ao baixo comuns (FILHO e SILVA, 2011).
rendimento (BERNSTROM, 2013).
Nesse contexto, a relevância da detecção e a
Neste cenário, aspectos ergonômicos são prevenção do absenteísmo passam pela
importantes dentro do contexto de análise das informações geradas pelos
absenteísmo, principalmente em atividades empregados que devem ser registradas de
classificadas como trabalho pesado e com forma completa e abrangente como, por
um alto índice de repetitividade. exemplo: registros do CID, exames médicos,
fisioterapia, dentre outras (BUSTILLOS,
O absenteísmo em geral é definido como o
VARGAS III, GOMERO-CUADRA, 2015).
não comparecimento do empregado no
trabalho, conforme o programado (JOHNS, Uma forma eficaz para auxiliar uma tomada
2010). Quando numa empresa o absenteísmo de decisão é através de ferramentas de apoio
é muito elevado, acaba gerando perdas de a decisão, para ajudar a organização a
produtividade dificultando a gestão do manter sua funcionalidade com eficiência,
trabalho e criando grupos desmotivados diversas organizações utilizam técnicas para
(HALBESLEBEN, WHITMAN, CRAWFORD, tentar detectar e prevenir o absenteísmo entre
2014). os seus empregados (THORWARTH et al.,
2009; SOUSA e FIGUEIREDO, 2014).
A ergonomia estuda a adaptação do trabalho
ao homem e o comportamento humano no Por possuírem grandes quantidades de
trabalho e enfoca o ser humano, a máquina e informações, as organizações cada vez mais
o ambiente de trabalho, sendo necessário necessitam de ajuda de técnicas
garantir boas condições laborais, a fim de computacionais apropriadas para auxiliar na
manter e promover a saúde. Sua evolução análise, na interpretação e no relacionamento
está relacionada com as transformações

Tópicos em Administração - Volume 8


206

dessas informações em busca de análise, interpretação e entendimento das


conhecimento. causas do absenteísmo com a finalidade de
apoiar a tomada de decisão. Para realização
Assim, técnicas de Inteligência
dos experimentos foi desenvolvida e aplicada
computacional, surgem como alternativa de
uma rede SOM como técnica de mineração
apoio ou substituição dos métodos
de dados para agrupar os empregados que
tradicionais de processamento da informação
apresentam o perfil absenteísta. As principais
para ajudar a extrair informações valiosas e
aplicações da rede SOM estão no campo de
úteis em uma base de dados de forma mais
agrupamento e visualização de dados. Estas
eficiente Goldschmidt e Passos (2005), para a
características fazem com que a rede SOM
tomada de decisão.
seja muito utilizada na geração de
Verificar as características ergonômicas que agrupamentos também chamados de clusters
mais se ajustam ao tipo de trabalho sem (VESANTO e ALHONIEMI, 2000).
ocorrer absenteísmo por problema de coluna,
O artigo está organizado após essa seção
é um assunto bastante discutido na literatura,
introdutória da seguinte forma: na seção 2 é
(Dul e Weerdmeester, 2004; Iida, 2005;
apresentado o Referencial Teórico:
Kroemer e Grandjean, 2005; Dionne, 2008;
absenteísmo, e ergonomia, manuseio de
Oliveira et al., 2015; Filho e Silva, 2011), mas
cargas versus problemas de coluna,
quando o assunto envolve ergonomia sem
problemas relacionados aos discos
levar em consideração os equipamentos e
intervertebrais, técnicas de mineração de
mobiliários, o assunto é pouco tratado e
dados. Na seção 3 é apresentado o método
menos ainda com o apoio da inteligência
de trabalho. Descrevem-se na seção 4 os
computacional, surgindo assim uma lacuna.
resultados dos experimentos computacionais.
A pesquisa envolve uma empresa de logística Na seção 5 o artigo é encerrado com as
da cidade de São Paulo. As atividades dos Considerações finais.
empregados da empresa estudada é um
recorte do absenteísmo relacionado ao
trabalho realizado sem levar em consideração 2. REFERÊNCIAL TEÓRICO
(equipamentos e mobiliários), envolvem 2.1. ABSENTEÍSMO
atividades com manuseio de cargas: levantar, Pode-se considerar o absenteísmo como
abaixar, empurrar, puxar, carregar, segurar e qualquer ausência do trabalhador, segundo
arrastar, são atividades que geralmente Silva e Marziale (2003), incluindo os
exigem bastante esforço físico. afastamentos legais (e por isso previsto), que
são de direito do empregado, tais como
A base de dados dos empregados contempla
licença maternidade, férias, abonos, etc.
os seguintes atributos: idade, peso, altura,
cintura, calçado, índice de massa corporal Segundo Johns (2003), o problema se reflete
(IMC), tronco, carga de trabalho mensal e na multidisciplinaridade de conhecimentos
diário, os motivos das ausências, frequência disponíveis sobre o assunto, uma vez que
de absenteísmo individual, tempo exercendo esses conhecimentos tradicionalmente não se
a mesma função, dia da semana, mês, tempo complementam isoladamente, sendo
de afastamento, distância da residência até o desenvolvidos à parte em cada uma das
trabalho, tempo de serviço. disciplinas, que vão da Psicologia à
Engenharia, passando por diversas áreas.
Com base nestas informações, o
conhecimento útil extraído pela mineração de Podem ser diversas as causas
dados, poderá encontrar informações sobre a desencadeantes do absenteísmo e podem
base de dados dos empregados com as apresentar uma grande variedade de
características ergonômicas que mais se comportamentos: problemas de saúde ou
ajustam ao tipo de trabalho sem que ocorra o doenças, acidentes do trabalho, problemas
absenteísmo por problemas de coluna, que de saúde em pessoas da família, gestação e
são responsáveis por cerca de um terço dos parto, licença casamento (licença gala),
motivos do absenteísmo Kroemer e Krandjean licença maternidade, férias, dentre outros.
(2005), devido à sobrecarga de trabalho. Podem ocorrer ainda faltas que não são
justificadas legalmente, conhecidas como
O objetivo deste artigo é utilizar mineração de
faltas injustificadas (PENATTI et al., 2006;
dados para extrair conhecimento da relação
GEHRING JUNIOR, 2007).
entre absenteísmo e ergonomia, buscando a
obtenção de resultados que possibilitem a

Tópicos em Administração - Volume 8


207

Em relação ao gerenciamento do homem e o comportamento humano no


absenteísmo, tem-se exigido muito das trabalho, aborda o ser humano, a máquina e o
organizações e gerado muitas preocupações ambiente de trabalho, também aborda
aos seus administradores, as quais estão conhecimento de diferentes áreas científicas,
ligadas a diversos fatores, que vão desde como a antropometria, biomecânica,
questões sociais, de saúde, de gestão de toxicologia, engenharias, etc. (DUL e
pessoas, além de outros problemas como WEERDMEESTER, 2004).
excesso de trabalho, tornando, assim, este
Para Iida (2005), ergonomia é o estudo do
tema complexo e difícil de ser gerenciado
relacionamento entre o homem e seu trabalho,
(PENATTI et al., 2006).
equipamentos e ambiente, e particularmente,
Por outro lado, preocupações com a a aplicação dos conhecimentos de anatomia,
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é algo fisiologia e psicologia na solução dos
que está ligada à produtividade da empresa. problemas surgidos desse relacionamento.
Empregados satisfeitos e motivados são mais
Já para Kroemer e Grandjean (2005)
comprometidos com o trabalho. Afinal, com
ergonomia é o estudo do comportamento do
condições ótimas de saúde aliadas a um
homem no seu trabalho, convertendo-se o
ambiente saudável, chega-se à qualidade da
mesmo homem no sujeito-objeto, ou ainda,
produção pretendida (MIRANDA et al., 2006).
como o estudo das relações entre o homem
Daí a importância de se reduzir e prevenir o
no trabalho e seu ambiente.
absenteísmo através de monitoramento
efetivo. A ergonomia tem por propósito, conforme
determinados procedimentos, referentes a
Tauffer e Coltre (2007) concordam com o
sua utilização, a possibilidade de melhorar a
controle dos índices de absenteísmo e, que
qualidade de vida das pessoas nos mais
isso, reflete em prejuízos econômicos
diferentes ambientes, essencialmente em
significativos para a empresa comprometendo
residências e locais de trabalho
a sua estabilidade no mercado de trabalho
(FRANCESCHI, 2013).
competitivo.
Deve-se destacar que cada indivíduo tem um
biótipo específico para altura, peso, medida
2.2. ERGONOMIA de mãos, dedos, braços, pernas, peito do pé,
A ergonomia é conceituada por diversos coxas, quadril, ombros, etc., então é preciso
autores como uma ciência, associando-a a ter cuidado para dimensionar postos de
diversos enfoques. trabalho, uniformes, calçados entre outros,
(EPI) Equipamentos de Proteção Individual.
Ergonomia segundo Wisner (1987) é o
As variações das medidas diferem entre sexo,
conjunto dos conhecimentos científicos
homens e mulheres; faixa etária entre
relativos ao homem e necessários para a
crianças, jovens, adultos e idosos; etnia;
concepção de ferramentas, máquinas e
genótipo; região climática, etc.
dispositivos que possam ser utilizados com o
máximo de conforto, de segurança e de Na área do trabalho apresenta-se um grande
eficácia. desafio, que é adaptar, seja na concepção ou
na correção, os postos de trabalhos de
Pode-se afirmar de acordo com Guimarães
acordo com as características físicas das
(1999) que a ergonomia é uma nova ciência
pessoas. Sendo que o resultado das medidas
que transcende a abordagem médica
antropométricas deve ser capaz de
ortodoxa focada no indivíduo, para, com a
proporcionar maior conforto, saúde e
coparticipação da psicologia, engenharia
segurança as pessoas possibilitando uma
industrial, desenho industrial, etc., conceber,
postura adequada (OLIVEIRA, 1998). Na
transformar ou adaptar o trabalho às
figura 1 estão representadas as proporções
características humanas.
corporais para diversas etnias.
Também se estuda na ergonomia vários
aspectos de adaptação do trabalho ao

Tópicos em Administração - Volume 8


208

Figura 1: Proporções corporais típicas das etnias. Fonte: Adaptado de IIDA, 2005.

Observa-se algumas diferenças nas absenteísmo ao trabalho e hoje estão entre as


proporções corporais para diversas etnias, o causas mais importantes de invalidez
homem americano branco e negro, o japonês prematura. São bastante comuns no grupo
e o brasileiro. etário de 20 a 40 anos de algumas profissões
(trabalhadores de serviços pesados,
agricultores, pessoal que lida com bagagem,
2.3 MANUSEIO DE CARGAS VERSUS entregas, transbordo etc.). Nos Estados
PROBLEMAS DE COLUNA Unidos, aproximadamente dois terços de
De acordo com Krämer (1973), na Alemanha, distúrbios por sobrecarga envolveram o
os problemas discais são a causa de 20% de levantamento de cargas e em torno de 20%
absenteísmo e 50% de aposentadorias envolveram o empurrar e puxar cargas
prematuras. Os problemas de coluna estão (KROEMER e GRANDJEAN, 2005; DUL e
entre as causas mais comuns de distúrbios e WEERDMEESTER, 2004).
invalidez em muitas classes de trabalhadores.
Na pesquisa realizada pela British Healt and
2.4 PROBLEMAS RELACIONADOS AOS
Safety Executive (Healt and Safety Executive,
DISCOS INTERVERTEBRAIS
1992) mostrou que no Reino Unido mais de
A degeneração dos discos pode ocorrer em
um quarto dos distúrbios registrados na
função da idade ou como resultado de muitos
indústria, entre 1990 e 1991, estavam
movimentos repetitivos, um esforço súbito
associados com o manuseio de cargas – o
mais forte pode gerar uma doença aguda.
transporte ou manutenção de cargas pela
Elas levam a alterações nos tecidos,
força manual ou corporal. Destes distúrbios,
traduzidas pela perda de líquido, de forma
45% ocorreram nas costas, 22 nas mãos e 13
que o anel fibroso se torna quebradiço e frágil
nos braços. Dados similares são reportados
e perde sua consistência. Inicialmente, as
nos Estados Unidos (MARRAS et al., 1995).
mudanças degenerativas achatam os discos,
O manuseio de cargas envolvendo levantar, com risco de afetar a mecânica da coluna ou
abaixar, empurrar, puxar, carregar, segurar e até mesmo deslocar as vértebras. Nessas
arrastar, geralmente exigem bastante esforço condições, ações bastantes pequenas, tais
físico, o suficiente para ser classificado como como o levantamento de um peso leve ou até
trabalho pesado. Absenteísmo ao trabalho por mesmo do próprio corpo, o escorregar dos
problemas de coluna: o principal problema do pés ou incidentes similares podem gerar
trabalho pesado, no entanto, não é a carga fortes dores nas costas (KROEMER e
sobre os músculos, mas sobretudo o GRANDJEAN, 2005).
desgaste da coluna, especialmente nos
Ainda segundo os mesmos autores,
discos intervertebrais da região lombar, com
trabalhadores que têm problemas de disco
o crescente risco de distúrbios (KROEMER e
estão especialmente sujeitos a dores súbitas
GRANDJEAN, 2005).
e violentas, e até paralisia. Esses sintomas
Os problemas de coluna podem ser dolorosas são geralmente precipitados pela sobrecarga
e reduzir a mobilidade e vitalidade de uma repentina dos discos, um risco que aumenta
pessoa, geralmente acarretam em

Tópicos em Administração - Volume 8


209

com métodos de trabalho que envolvem Um peso adicional carregado nas mãos
manuseio inadequado de cargas. sobrecarrega os braços e os ombros e, por
fim, comprime a coluna. Comparado com ficar
Os pesos da cabeça e do pescoço, braços e
de pé ereto e parado, andar, curvar ou torcer
mãos, e da parte superior do tronco recaem
o corpo aumenta a força sobre a coluna, e
na coluna, porque essa é a única estrutura
especialmente nos discos intervertebrais
óssea sólida que impede que a caixa torácica
(KROEMER e GRANDJEAN, 2005). É
caia sobre a pélvis. Quão mais pesado a
apresentada na Tabela 1 a carga do disco
parte superior do corpo, maior é a força sobre
intervertebral lombar.
a coluna.

Tabela 1: Carga do disco intervertebral lombar durante diferentes posturas e trabalhos


Postura/atividade N
De pé ereto 860
Caminhar devagar 920
Inclinação do tronco lateralmente a 20º 1.140
Rotação do tronco a 45º 1.140
Inclinação do tronco para frente a 30º 1.470
Inclinação do tronco para frente a 30º, com 20kg 2.400
De pé ereto, com 20kg (com 10kg em cada braço) 1.222
Levantar peso de 20kg com costas retas e joelhos dobrados 2.100
Levantar peso de 20kg com costas retas e joelhos retos 3.270
Fonte: Adapatado de Nachemson e Elfström, 1970.

Observa-se na Tabela 1, exemplos de forças desempenho (Fayyad et al., 1996; Berry e


de compressão nos discos associados com Linoff, 1997; Cabena et al., 1998), redes
várias posturas. neurais (Haykin, 2001), visualização de dados
(KOHONEN, 2001; VESANTO, 2002) e
O curvear da coluna gera a curvatura da
inteligência artificial (Rich e Knight, 2009;
coluna lombar, as cargas impostas nos discos
Russell e Norvig, 2013).
intervertebrais não são apenas pesadas, mas
assimétricas, os esforços resultantes sobre os Diversas técnicas de mineração de dados
anéis fibrosos são certamente prejudiciais e vêm sendo utilizadas com sucesso no mundo
devem ser considerados como fator inteiro e estão presentes em várias
importante para o desgaste do disco instituições (nacionais e internacionais) tais
(KROEMER e GRANDJEAN, 2005). como: Nasa, Walmart, FedEx, UPS, Amazon,
IBM, Caixa Econômica Federal, Banco do
Brasil, Vale do Rio Doce, Petrobras, Dataprev,
2.5 TÉCNICAS DE MINERAÇÃO DE DADOS
Serpro, EMC e outras. Dentre as infinitas
A mineração de dados é uma área de
aplicações de mineração de dados na
pesquisa multidisciplinar, compreende a
atualidade estão: Detecção de fraudes em
busca efetiva por conhecimentos úteis no
arrecadações, tendência de consumo e de
contexto da aplicação à Descoberta de
opiniões de clientes, previsão de produção na
Conhecimento em Base de Dados, envolve a
indústria e de riscos no mercado financeiro
aplicação de algoritmos sobre os dados em
(GOLDSCHMIDT, PASSOS e BEZERRA,
busca de conhecimento implícito e útil
2015).
(GOLDSCHMIDT, PASSOS E BEZERRA,
2015). As definições variam com o campo de Segundo Piatetsky-Shapiro, Matheus e Chan
atuação dos autores, aprendizado de (1993), a mineração de dados serve
máquina (Michell, 1997), estatística,
para prever tendências e comportamentos
reconhecimento de padrões, sistemas
futuros, o que permite a tomada de decisão
baseados em conhecimento, recuperação da
baseada em fatos e não em suposições, que
informação e computação de alto

Tópicos em Administração - Volume 8


210

exigiriam muito tempo para resolver. Além Existem várias formas de interpretação dos
disso, ela usa técnicas baseadas em dados denominadas tarefas. Diversas
descobertas por meio de procura de padrões
tarefas podem ser realizadas, as tarefas mais
dos dados, utilizando uma série de algoritmos
comuns, segundo Fayyad, Piatetsky-Shapiro e
inteligentes para encontrar relações
Smith (1996) são: associação, classificação,
fundamentais entre os dados.
agrupamento (clusterização) e visualização.
Essas técnicas e algoritmos caracterizam-se Na busca pelo conhecimento os dados
por serem "automáticos", ou seja, são de passam por algumas etapas até atingir a
baixa influência do ser humano, a interpretação. A Figura 2 mostra um esquema
participação humana se restringe aos simplificado da mineração de dados.
processos de ajuste necessários aos
mecanismos de busca (PIATETSKY-
SHAPIRO, MATHEUS e CHAN, 1993).

Figura 2: Esquema simplificado da mineração de dados. Fonte: Adaptado de Sassi, Silva e


Hernandez,2008.

A palavra clusterização é um neologismo do tendências e comportamentos futuros, que os


termo clustering, transforma registros com especialistas podem não descobrir devido ao
grande número de atributos em conjuntos fato de essa informação sair do limite de suas
relativamente menores (BRAGA, CARVALHO expectativas, o que possibilita a tomada de
e LUDERMIR 2011). decisão (FAYYAD, PIATETSKY-SHAPIRO e
SMITH, 1996; BIGUS, 1996; CABENA et al.,
Segundo Fayyad et al. (1996a), o
1998).
agrupamento ou clusterização é uma tarefa
onde se procura determinar um conjunto finito De acordo com Berry e Linoff (1997), a
de conjuntos ou agrupamentos para mineração de dados é a exploração e análise,
descrever os dados. Isso consiste na de forma automática ou semiautomática, de
identificação de grupos semelhantes de grandes bases de dados com objetivo de
objetos onde cada grupo é uma classe. descobrir padrões, regras e fornecer
Dentro da mesma classe os objetos são informações que permitam montar estratégias
semelhantes e entre as classes são corporativas eficientes.
divergentes.
Para Goldschmidt e Passos (2005), a
Essa tarefa é usada para particionar os mineração de dados utiliza ferramentas de
registros de uma base de dados, de forma análise pré-construídas para gerar
que elementos em um cluster compartilhem automaticamente uma hipótese a respeito de
um conjunto de propriedades comuns que os padrões, tendências e anomalias encontradas
distinguem dos elementos de outros clusters nos dados e, a partir desta hipótese, prever
com o objetivo de maximizar similaridade comportamentos futuros. Este procedimento
intracluster e minimizar similaridade faz uso de técnicas estatísticas avançadas e
intercluster (FAYYAD et al., 1996a;
Inteligência Computacional para descobrir
GOLDSCHMIDT e PASSOS, 2005).
fatos em uma grande base de dados.
A mineração de dados permite a tomada de
Uma das grandes vantagens de se utilizar as
decisão baseada em fatos e não em
técnicas de mineração de dados, é que esta
suposições, podendo responder a questões
permite avaliar como as perguntas se
que tradicionalmente demandariam muito
relacionam com as respostas (padrões e
tempo para resolver. Ela explora as bases de
relações) encontradas. Para tal, utilizam-se
dados à procura de padrões escondidos,
técnicas de procura baseadas em inteligência
encontrando dados que permitem prever

Tópicos em Administração - Volume 8


211

computacional, como as Redes Neurais para agrupar os empregados e extrair


Artificiais (RNAs), as árvores de decisões, a conhecimento sobre os fatores da relação
teoria dos conjuntos Fuzzy, os Algoritmos entre absenteísmo e ergonomia através da
Genéticos ou, ainda, combinações entre estas mineração de dados.
técnicas, gerando os chamados Sistemas
A base de dados do absenteísmo é composta
Híbridos ou Arquiteturas Híbridas (SASSI,
por 1.626 registros de 37 empregados
SILVA e HERNANDEZ, 2008).
coletadas durante o período de janeiro de
2008 a dezembro de 2016 e contempla os
3. METODO DE TRABALHO seguintes atributos: idade, peso, altura,
A metodologia de pesquisa foi feita a partir de cintura, calçado, índice de massa corporal
uma revisão da literatura para dar (IMC), tronco, carga de trabalho mensal e
sustentação e a fundamentação teórica ao diário, os motivos das ausências, frequência
tema e aplicando-se em seguida o método de absenteísmo individual, tempo exercendo
experimental. A realização da pesquisa foi a mesma função, dia da semana, mês, tempo
embasada em consultas às fontes de afastamento, distância da residência até o
bibliográficas e de referencial teóricos com trabalho e tempo de serviço. O atributo
conteúdo sobre absenteísmo, ergonomia, motivos das ausências são subdivididos em:
inteligência computacional, redes neurais consulta médica, exames, fisioterapia e os 21
artificiais e mineração de dados. motivos das ausências descritos na Tabela 2.
Na coleta de dados foi aplicada uma rede
SOM como técnica de mineração de dados

Tabela 2: Classificação Internacional de Doenças (CID)


Capítulo Código Descrição
1 A00 - B99 Algumas doenças infecciosas e parasitárias
2 C00 - D48 Neoplasmas (tumores)
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e alguns transtornos
3 D50 - D89 imunitários
4 E00 - E90 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
5 F00 - F99 Transtornos mentais e comportamentais
6 G00 - G99 Doenças do sistema nervoso
7 H00 - H59 Doenças do olho e anexos
8 H60 - H95 Doenças do ouvido e da apófise mastoide
9 I00 - I99 Doenças do aparelho circulatório
10 J00 - J99 Doenças do aparelho respiratório
11 K00 - K93 Doenças do aparelho digestivo
12 L00 - L99 Doenças da pele e do tecido subcutâneo
13 M00 - M99 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
14 N00 - N99 Doenças do aparelho geniturinário
15 O00 - O99 Gravidez, parto e puerpério
16 P00 - P96 Algumas afecções originadas no período perinatal
17 Q00 - Q99 Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não
18 R00 - R99
classificados em outra parte
19 S00 - T98 Lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas
20 V01 - Y98 Causas externas de morbidade e de mortalidade
21 Z00 - Z99 Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde
Fonte: Adaptado de WHO, 2017

Tópicos em Administração - Volume 8


212

Os Parâmetros utilizados na estrutura da rede  Erro Topográfico: 0,0580.


SOM foram:
No experimento apresentou-se à rede SOM
 Número de neurônios usados no toda a base de dados com os 1.626 registros
experimento: 1.000; e todos os atributos, gerando os mapas do
experimento.
 Vizinhança topológica: hexagonal;
 Função de vizinhança topológica:
gaussiana; 4. RESULTADO DOS EXPERIMENTOS
COMPUTACIONAIS
 Número de épocas igual a 3000. 4.1 EXPERIMENTOS COMPUTACIONAIS
 Taxa de aprendizado igual a n = 0,5 A rede SOM é uma arquitetura de rede neural
na fase inicial de treinamento e, na artificial, em que as principais aplicações
fase de convergência, a taxa foi de n estão no campo de agrupamento e
= 0,05 (KASKI e KOHONEN, 1997). visualização de dados. Por esse motivo foi
escolhida para compor os experimentos
 As medidas de qualidade da rede computacionais nesse artigo. A Figura 3
SOM foram: mostra os cinco clusters gerados pela rede
SOM.
 Erro de Quantização: 0,4823.

Figura 3: clusters gerados pela rede som.

A Tabela 3 mostra a representatividade dos


clusters encontrados.

Tabela 3: Representatividade dos clusters


Clusters Registros Neurônios
C1 684 395
C2 507 333
C3 158 98
C4 165 75
C5 112 41
Total 1626 942

Tópicos em Administração - Volume 8


213

No experimento realizado a rede SOM outras consequências de causas externas


apresentou 58 neurônios vazios. (S00-T98). Causas normalmente relacionadas
a trabalhos que envolvem atividades com
A Tabela 4 mostra as horas de afastamento
manuseio de cargas: levantar, abaixar,
relacionadas as causas: Doenças do sistema
empurrar, puxar, carregar, segurar e arrastar,
osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-
são atividades que geralmente exigem
M99) e Lesões, envenenamento e algumas
bastante esforço físico.

A Tabela 4: Horas de afastamento por clusters (CID: M00-M99 e S00-T98)


Clusters Horas Neurônios Média em horas por registro
C1 1478 395 3,7
C2 3999 333 12
C3 1835 98 18,7
C4 780 75 10,4
C5 447 41 10,9
Total 8539 942 10,9

A Figura 4 mostra os clusters gerados pela predominante menor que 107 dias, ou seja, a
rede SOM com o atributo frequência de maioria das ausências individuais acontecem
absenteísmo individual. Percebe-se que a com intervalos menores que 107 dias.
frequência de absenteísmo individual é Independente do motivo da ausência.

Figura 4: Frequência de absenteísmo individual.

A Figura 5 mostra os clusters gerados pela repetitividade das atividades. Observa-se


rede SOM com o atributo tempo exercendo a ainda que 49,26% das horas de afastamento
mesma função. Percebe-se que a grande estão relacionadas as causas: Doenças do
maioria exerce a mesma função entre oito e sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
nove anos (nove anos, período total da coleta (M00-M99) e Lesões, envenenamento e
de dados). Isso pode significar que o período algumas outras consequências de causas
mais longo exercendo a mesma função pode externas (S00-T98).
levar ao absenteísmo frequente devido a

Tópicos em Administração - Volume 8


214

Figura 5: Tempo exercendo a mesma função.

A Figura 6 mostra os clusters gerados pela maioria nos clusters C2 e C3. Enquanto os
rede SOM com o atributo idade em anos. clusters C1, C4 e C5 agrupou os empregados
Percebe-se que os empregados com mais mais jovens.
idade ficaram agrupados em sua grande

Figura 6: Idade em anos.

A Tabela 5 mostra a média de idade por


cluster.

Tabela 5: Média de idade por cluster


Clusters Média de Idade por cluster
C1 36,6
C2 44,4
C3 46,2
C4 39,1
C5 35,0

Tópicos em Administração - Volume 8


215

Tabela 6 mostra a idade mínima, máxima e


amplitude por cluster.

Tabela 6: Idade mínima, máxima e amplitude por cluster


Clusters Idade mínima Idade Máxima Amplitude em anos
C1 24 48 24
C2 27 72 45
C3 31 61 30
C4 32 61 29
C5 31 39 8

Observa-se que os clusters C2 e C3, além da metade das horas de afastamento


maior concentração de empregados com (absenteísmo) foi provocada por apenas dois
mais idade também apresentam a maior motivos a saber Doenças do sistema
amplitude. osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-
M99) e Lesões, envenenamento e algumas
outras consequências de causas externas
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
(S00-T98). Sugere se inicialmente que as
Conclui-se com esse estudo inicial que o
atividades sejam reorganizadas e o rodizio de
trabalho desenvolvido na empresa estudada
empregados seja implantado de forma que as
envolve atividades com manuseio de cargas
lesões sejam minimizadas. Como estudos
como levantar, abaixar, empurrar, puxar,
futuros pretende-se analisar outros atributos
carregar, segurar e arrastar, são atividades
com maior cuidado com o intuito de melhorar
que exigem bastante esforço físico e acabam
os resultados e buscar encontrar outros
gerando alto índice de absenteísmo. Verificou-
padrões buscando apoiar a tomada de
se ainda que 49,26%, ou seja, quase a
decisão.

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218

Capítulo 18
Rosangela de Lima Gonçalves Saisse

Resumo: O presente capítulo busca esclarecer acerca de um fenômeno silencioso,


vagamente percebido e até mesmo difícil de mensurar, mas que invade sutilmente
os ambientes corporativos em que coexistimos chamado presenteísmo. O termo diz
respeito à situação em que o profissional está de corpo presente no local de
trabalho, mas sua mente está desconectada daquela realidade, ou seja, sem
qualquer envolvimento (por motivos variados) com sua posição no processo
produtivo. O presenteísmo, tem se manifestado como um fenômeno até mais
complexo do que o absenteísmo, em função de ser entendido como um
absenteísmo de corpo presente e trazer limitações à produtividade de maneira
quase imperceptível. Entende-se que o contexto competitivo da sociedade e,
consequentemente das organizações, alterou a dinâmica laboral favorecendo o
aparecimento de fenômenos como o Presenteísmo, o Workaholic e a Síndrome de
Burnout. A competitividade força as empresas a acompanharem os avanços
impostos gerando uma cultura de instabilidade e medo que faz com que o
funcionário prefira não se ausentar, fisicamente. Trazendo com isso, o desafio, por
parte dos pesquisadores da área, de encontrarem um instrumento eficaz para
medir e equalizar a perda no rendimento do presenteísta e no desempenho global.
No caso do absenteísmo, com a aparente falta do trabalhador é possível a
organização fazer as mudanças necessárias como contratar alguém para
substituição de pessoal para não comprometer as metas. Mas e no presenteísmo,
onde a visão que o gestor tem é de um funcionário, aparentemente saudável,
adentrando as dependências da organização sem que saiba o tipo de carga
emocional ou disposição salutar que ele carrega consigo? Apesar de seus efeitos,
tipos de manifestações e perdas financeiras, o tema ocupa pouco espaço na
literatura científica brasileira, sendo mais estudado pelos Europeus e Norte
Americanos conforme constatados em uma pesquisa na base de dados da Science
Direct de 1550 artigos com o termo presenteeism em contrapartida ao resultado de
57 artigos encontrados na plataforma de periódicos Capes com o termo
presenteísmo, sem delimitação de período. Este artigo tem sua relevância por expor
com maior clareza o fenômeno e chamar a atenção das comunidades acadêmica e
científica para uma maior exploração do tema Presenteísmo, principalmente, no
âmbito nacional. O trabalho foi conduzido tendo por metodologia o uso de pesquisa
exploratória e descritiva embasada em consultas a fontes bibliográficas diversas,
tais como: livros, artigos, periódicos científicos em bases de dados na internet e
websites.

Palavras-chave: Ambiente de trabalho, Absenteísmo, Presenteísmo, Perda de


Produtividade

Tópicos em Administração - Volume 8


219

1 INTRODUÇÃO contrapartida, este mesmo trabalhador


passou a sofrer pressões, tanto internas (para
Todas as modificações que a sociedade vem
produzir mais) quanto externas (para
passando, especialmente desde os meados
assegurar o seu padrão de vida), levando a
do século XX têm provocado grandes
mudanças de comportamento, adoecimento.
mudanças na esfera das empresas fazendo
com que estas se adaptem ao nível de Em meio a este conjunto de transformações
exigência requerida por tais mudanças para constata-se que o alto desempenho
se manterem atualizadas e competitivas. organizacional está vinculado à competência
e ao desempenho do trabalhador, gerando
Percebe-se assim melhorias expressivas no
uma nova visão para dentro do
processo produtivo com vistas a excelência e
empreendimento e trazendo mudanças na
concomitantemente a necessidade do
natureza do trabalho gerencial.
aprimoramento de habilidades e
competências por parte do trabalhador como
requisito a viabilizar tais processos. Em

Fonte: Internet - Google Imagens

Assim, o presente artigo, tomando por base especialmente dos profissionais de RH. O
esse novo cenário organizacional com absenteísmo consiste na ausência física do
reflexos no ambiente de trabalho, tem por funcionário à organização para o
objetivo promover algumas considerações cumprimento de sua rotina diária de trabalho,
sobre um fenômeno laboral freqüente, mas mais popularmente conhecido como “falta ao
pouco conhecido por trabalhadores e trabalho”.
organizações brasileiras, mas que já foi não
Mas e o presenteísmo, o que vem a ser?
só tipificado como também objeto de estudo
Presenteísmo é um fenômeno organizacional
por parte de pesquisadores na esfera do
encontrado, assim como o absenteísmo, na
comportamento organizacional: o
sociedade laboral desde o seu começo. O
Presenteísmo.
termo diz respeito à situação em que um
Mas antes de tratarmos do Presenteísmo, profissional está de corpo presente no local
necessário se faz trazermos a baila o de trabalho, mas sua mente está
absenteísmo, já que ambos têm um desconectada daquela realidade, ou seja,
denominador comum e ocorrer que, muitas sem qualquer envolvimento (por motivos
das vezes, um vir a anteceder o outro. Por variados) com sua posição no processo e
denominador comum, estamos falando de conseqüentemente gerando baixa
uma mesma essência comum a ambos: a produtividade e interferindo na produção dos
Ausência. Um tratando da ausência física, o demais. Para Brait (2015) o presenteísmo
absenteísmo; e o outro para expressar a significa que “[...]ter os colaboradores de
ausência mental, intelectual, ausência do corpo presente está longe de representar
pensamento e da concentração no trabalho. produtividade”.
O termo absenteísmo certamente já é do
conhecimento de grande parte das pessoas,

Tópicos em Administração - Volume 8


220

A nível organizacional, as estatísticas mostram médico. Excetuam-se nesta classe os


que milhares de dias são perdidos devido a infortúnios profissionais.
essa espécie de “absenteísmo presente”
Absentismo por patologia profissional -
(Bastos, 2016). E por incrível que pareça
compreende as ausências por acidente do
muitas das doenças que nos levam a faltar ao
trabalho ou doença profissional.
trabalho, no caso do absenteísmo, também se
aplicam ao presenteísmo com a única Absentismo legal - aquelas faltas ao serviço
diferença que nós as levamos para dentro do amparadas em lei como na gestação, nojo,
ambiente de trabalho, gerando custos tão gala, doação de sangue, serviço militar e etc.
grandes para as organizações quanto o
Absentismo compulsório - é o impedimento ao
absenteísmo e, às vezes, ainda maiores,
trabalho, ainda que o trabalhador não o
segundo pesquisas recentes.
deseje, por suspensão imposta pelo patrão,
por prisão, ou outro impedimento que não lhe
permita chegar ao local do trabalho.
2 TIPIFICANDO AS AUSÊNCIAS
Já Fugulin et al. (2003) consideram o
2.1 ABSENTEÍSMO
absenteísmo em duas categorias:
O Absenteísmo ou Ausentísmo pode ser
conceituado como uma falta ao trabalho Ausências previstas – São as que podem ser
devido a uma “incapacidade” do trabalhador. planejadas com antecedência como as
relativas ao direito do trabalhador, tais como
Diversos autores tratam do assunto com
férias e folgas (decorrentes de descanso
conceituações semelhantes entre si, mas com
remunerado semanal e feriados coincidentes
visões distintas do problema, a saber:
com os dias de trabalho).
Para a Organização Internacional do Trabalho
Ausências não previstas – São as que
(OIT), as pessoas faltam ao trabalho por uma
efetivamente caracterizam o absenteísmo,
grande variedade de razões, que vão desde
pelo seu caráter imprevisível, como faltas
férias a licenças por enfermidades, passando
abonadas, licenças (por exemplo, médica,
por uma partida de futebol. Mas, mais
maternidade e acidente de trabalho) e as
especificamente, segundo um artigo
suspensões.
publicado pela OIT na Enciclopédia de Saúde
e Segurança no Trabalho, produzida em 1983, Para Penatti, Zago e Quelhas (2006)
o “Absenteísmo é usado para descrever o não absenteísmo é a ausência do trabalhador do
comparecimento ao trabalho por um seu local de trabalho dificultando a realização
funcionário de quem se pensava que iria da meta prevista e trazendo
trabalhar.” Neste caso, excluindo-se os consequentemente prejuízos à organização e
períodos de férias e folgas recebidas. propõem uma classificação em função de
suas causas:
Nascimento (2003) vê o absenteísmo do
ponto de vista da ausência do trabalhador do Causas conhecidas – São as permitidas pelo
seu local de trabalho no momento em que ele empregador por estarem amparadas pela
deveria estar produzindo, isto é, através de legislação trabalhista, como por exemplo:
um fato gerador que foge ao controle dos férias, casamentos e óbitos.
gestores da organização.
Causas ignoradas – São decorrentes,
Quick & Lapertosa (1982), nos mostram que, geralmente, por problemas de saúde do
no passado o termo absentismo era utilizado trabalhador ou de seus dependentes e por
para designar aos proprietários rurais que fatores imprevisíveis das mais variadas
abandonavam o campo e iam viver nas espécies.
cidades. Durante a revolução industrial o
Levando em consideração o montante de
termo foi aplicado aos trabalhadores que
trabalhadores em uma organização, Marras,
tendiam a faltar ao trabalho. Estes autores
citado por Cardoso e Novais (2006), nos faz
classificaram o fenômeno em 5 variantes:
ver que o absenteísmo de pessoal nada mais
Absentismo voluntário - é a ausência é do que o total de faltas no trabalho,
voluntária do trabalho, por razões particulares. somados aos dos atrasos e das saídas
Portanto, trata-se de ausência ao trabalho não antecipadas em um determinado período.
justificada por doença, sem amparo legal. Cardoso e Novais igualmente nos explicam
que:
Absentismo por doença - inclui todas as
ausências por doença ou procedimento

Tópicos em Administração - Volume 8


221

O absenteísmo de pessoal é um fator comum para integração dos funcionários, promoção


nas empresas, podendo apresentar-se com de palestras e workshops voltados à saúde e
mais frequência em determinadas segurança, assistência médica e
organizações. Geralmente essa frequência e farmacêutica, etc.
elevação de ausências estão relacionadas
Após leitura e análise das conceituações
aos motivos de doenças comprovadas ou
sobre absenteísmo, das quais foram expostas
não, motivos familiares ou pessoas,
algumas acima, adotou-se o ponto de vista
dificuldades ou problemas financeiros,
onde se levam em conta apenas os casos em
problemas de transporte, baixa nível de
que as ditas ausências ao trabalho ocorrem
motivação, deficiência nas lideranças,
devido a um efeito não programado por parte
políticas inadequadas da organização. Essas
da administração do RH nas organizações.
problemáticas, geralmente, são os motivos
que levam as pessoas a se ausentarem das Mas e o presenteísmo, menos conhecido e
empresas provocando um ônus muito alto observado, baixando o desempenho à
para as organizações, uma vez que, produtividade e muitas vezes influenciando
dependendo das proporções, desestabilizam negativamente os colegas de trabalho?
o processo produtivo, com elevações
significativas no custo da mão de obra,
consequentemente refletindo no preço final do 2.2 PRESENTEÍSMO
produto (CARDOSO; NOVAIS, 2006).
O presenteísmo, tem se manifestado como um
Entendendo que a ausência do trabalhador fenômeno até mais complexo do que o
traz uma perda a produtividade, a maioria das absenteísmo, em função de ser entendido
organizações atualmente tem programas como um absenteísmo de corpo presente e
preventivos de apoio aos empregados para trazer limitações à produtividade de maneira
redução do absenteísmo. Como, por exemplo, quase imperceptível. E muitas vezes ocorrer
ginástica laboral, reeducação postural, check- antes do afastamento físico.
ups periódicos, criação de áreas comuns

Fonte: www.pensador.com.br

O termo foi efetivamente cunhado na década 3 DEFINIÇÕES E INTERPRETAÇÕES


de 1990, uma época de grandes
Araujo (2012) afirma que:
transformações nas organizações em vista de
crises financeiras que levaram a redução no Atualmente, utiliza-se o conceito presenteísmo
tamanho de empresas (downsizing) e para explicar este ‘absenteísmo de corpo
mudanças na gestão do trabalho trazendo presente’. As pessoas encontram-se presente
incertezas quanto à manutenção do emprego no local de trabalho, e, em decorrência de
dos trabalhadores. Dr. Cooper, psicólogo problemas de ordem física ou psicológica,
especializado em stress organizacional, criou não conseguem cumprir na totalidade as suas
o termo Presenteísmo inicialmente com a funções, ou seja, é o mesmo que ‘estar no
conotação de explicar porque as pessoas trabalho e ao mesmo tempo fora dele’.
permaneciam no trabalho além do seu
Neste caso, o presenteísmo é visto como
expediente, por temerem a perda do
limitador da produtividade não só em termos
emprego, acarretando o aparecimento de
de quantidade de trabalho, mas também em
doenças e diminuição da produtividade.
relação ao trabalho realizado, podendo levar

Tópicos em Administração - Volume 8


222

a consequências como erros, omissões, causas do presenteísmo nas organizações


dificuldades de concentração, dentre outros. como sendo, por exemplo, decorrentes de
problemas emocionais, familiares, entre
Simpson (1998) afirma que o medo e as
outros:
incertezas advindas das reestruturações
organizacionais podem produzir um resultado A pessoa realmente está com problema de
disfuncional o qual ele chamou de saúde, que pode ser uma gripe forte, uma
“presenteísmo competitivo”, onde os sinusite, gastrite, ou qualquer outro tipo de
funcionários mantêm uma alta carga de 'ite' e/ou outras doenças. Ainda assim não
trabalho e/ou longas horas de trabalho além procura auxílio médico, preocupada com a
do tempo efetivamente necessário como possibilidade de afastar-se do trabalho. Em
forma de demonstrarem compromisso e muitos casos este comportamento é explicado
visibilidade. pela própria cultura da empresa, que de
forma velada ou explícita acaba condenando
Grativol (2009) classifica o que Simpson
as faltas por problemas de saúde;
chamou de presenteísmo competitivo como
uma síndrome organizacional que deixa o Os problemas podem ser pessoais, como
funcionário com medo de ser preterido ou atritos familiares, dívidas ou grandes perdas.
demitido por não estar à disposição da Ainda no conceito de pessoa sistêmica, é
empresa ou esta perceber na sua ausência humanamente impossível exercer as
que ele não é tão necessário quanto se atividades normalmente no trabalho enquanto
esforça por parecer. Chama a atenção para 'a casa cai'. Com absoluta certeza a pessoa
que não confundamos o estilo presenteísta está ali, presente, mas a cabeça está lá,
com o estilo Workaholic. mergulhada no problema.
Para Hemp (2004) presenteísmo trata de a Desmotivação também gera presenteísmo. O
pessoa estar no trabalho, mas ao mesmo sucesso profissional, o reconhecimento, o
tempo fora dele. Julgando ser esse um crescimento e desenvolvimento de uma
problema muito mais caro do que o carreira fazem parte do ideal das pessoas.
absenteísmo no que tange a Fica fácil imaginar o que acontece quando a
produtividade. Ao contrário do absenteísmo, empresa não tem um plano de carreira bem
o presenteísmo não é sempre aparente: estruturado (em alguns casos o tal plano de
“Sabemos quando alguém não aparece para carreira só existe no papel), ou quando o
trabalhar, mas não sabemos freqüentemente colaborador não entende as regras e também
perceber quando ou o quanto um trabalhador não faz a sua parte. Embora não seja correto,
está impedido, física ou mentalmente, de é natural que a frustração seja revertida de
desempenhar suas funções na totalidade”. forma negativa para a própria empresa. A
pessoa está ali todos os dias, mas sem o
Numa visão mais moderna e diferenciada, em
poder de entrega, sem vontade, sem
seu artigo Workplace Presenteeism
produtividade.
Redefined, Jeff Waldman (2011) redefine o
conceito do presenteísmo no local de trabalho Ausência de liderança. É muito comum
relacionando-o com o uso da tecnologia da observar o tal presenteísmo em áreas ou
informação na atualidade, no caso em que o setores onde os superiores não exercem o
funcionário está plenamente saudável para papel de liderança. A ausência de uma
desempenhar sua função, mas escolhe liderança é devastadora para uma equipe, e
passar o tempo conectando-se pela internet os resultados são gradativamente repassados
ou celulares acessando assuntos, lugares e para a organização. Diga-se gradativamente
pessoas que nada têm a ver com os porque o presenteísmo vai se instalando na
interesses competitivos da empresa onde equipe, as vezes de forma alternada e as
trabalha. Esta percepção do autor sobre o vezes coletivamente.
fenômeno faz lembrar uma frase atribuída ao
Falta de ferramentas adequadas para
cineasta Woody Allen quando afirma que 80%
trabalhar. Ter sistemas integrados nem
do sucesso na vida depende, simplesmente,
sempre representa alta produtividade. Pelo
de comparecer.
contrário. Sistemas não aproveitados de forma
adequada, excesso de planilhas paralelas,
controles intermináveis e dúvidas em relação
3.1 “RAÍZES” DO PRESENTEÍSMO
a sua real eficácia podem sim tirar as pessoas
Aline Brait (2015), ao especular sobre o tema, da tomada e colocá-las no módulo
nos apresenta uma lista com as possíveis automático. Mais uma vez estão presentes ao

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223

trabalho, mas não plenamente capazes de  Health and Work Questionnaire;


produzir. Iluminação ambiente inadequada,
temperaturas desagradáveis, falhas  Work Limitations Questionnaire e
ergonômicas, barulho, etc., é uma lista  Stanford Presenteeism Scale – SPS-6.
interminável de coisas que sim, reduzem a
capacidade de pensar, decidir, escolher, Estes dois últimos foram utilizados por Ferreira
criar. et al. (2010), com o objetivo de traduzir e
validá-los para a língua portuguesa. Os
3.2 MEDINDO OS EFEITOS DO resultados demonstraram que estes
PRESENTEÍSMO instrumentos possuem boas qualidades
Conseguir quantificar a perda de métricas, e podem levar à detecção dos
produtividade devido ao presenteísmo seria padrões de inatividade dos trabalhadores
de muito proveito para os gestores dos relacionados ao presenteísmo e conseqüente
recursos humanos, no sentido de combaterem avaliação dos impactos da perda de
essa perda econômica ao se reconhecer que produtividade.
o presenteísmo leva a uma redução na
produtividade. Hemp (2004) afirma que a
doença afeta tanto a quantidade (as pessoas 3.3.HEALTH AND WORK QUESTIONNAIRE
podem trabalhar mais lentamente do que o (HWQ)
habitual, por exemplo, ou ter de repetir Instrumento de pesquisa desenvolvido por
tarefas) quanto a qualidade (eles podem Shikiar, Halpern, Rentz e Khan em 2004 para
cometer mais - ou mais graves - erros) no avaliar a produtividade em relação ao estado
trabalho. Ele diz que “Claramente, situações de saúde do trabalhador no seu local de
diferentes têm efeitos diferentes em trabalhos trabalho na empresa. Mais especificamente,
diferentes.” Walter F. Stewart, um dos verifica a relação entre o hábito de fumar no
diretores do Centro de Pesquisa em Saúde e trabalho e a produtividade. Além do
Apoio Rural da Geisinger Health System, constructo Produtividade outras
utilizando de uma metodologia já empregada características são avaliadas, a saber:
anteriormente para avaliar os custos da Concentração Individual, Relação com o
depressão e da dor no ambiente de trabalho Supervisor, Satisfação Fora do Trabalho,
(uma pesquisa telefônica ao longo de um ano Satisfação Dentro, Paciência e Irritabilidade.
com 29 mil trabalhadores adultos, chamada Utiliza-se de um questionário de 24 itens e
American Productivity Audit), juntamente com avalia a atuação do trabalhador dentro de um
seu grupo de pesquisa, calculou o custo total período de 1 semana anterior ao dia da
do presenteísmo nos Estados Unidos como pesquisa. (Anexo 1)
sendo de mais de US$ 150 bilhões por ano,
ao tempo do artigo de Hemp.
Mesmo a par da difícil tarefa, a busca por 3.4 STANFORD PRESENTEEISM SCALE - 6
soluções para este fato vem desafiando (SPS-6)
pesquisadores a encontrarem instrumentos, Este instrumento foi desenvolvido por
os mais eficazes possíveis, para estimar o Koopman, Pelletier, Murray, Sharda, Berger,
quanto o fenômeno afeta o desempenho do Turpin, Hackleman, Gibson, Holmes e Bendel,
presenteísta no trabalho. membros da Escola de Medicina de Stanford
Em 2007 Mattke et al publicam uma pesquisa e da Associação Americana de Saúde, em
realizada na literatura com palavras chaves 2002. Busca identificar de que forma o
inerentes ao tema, dentro do período de 1995 problema de saúde do trabalhador afeta a sua
a 2005, com o objetivo de buscar todos os produtividade, entendendo que cada pessoa
instrumentos existentes para medir a perda da reage e supera de maneira diferente o
produtividade e os referidos custos adoecimento, assim, nível de envolvimento
envolvidos. Como resultado é apresentado um físico e mental do presenteísta na
Quadro onde são relacionados 17 produtividade será diferente.
instrumentos de medição da perda da A estrutura do SPS-6 é elaborada encima de 2
produtividade em função do absenteísmo e/ou dimensões que correspondem a Trabalho
presenteísmo. (Quadro1) Concluído (TC) e Distração Evitada (DE).
A partir do quadro selecionamos 3 Originalmente foi formulado com 32
instrumentos apontados como específicos perguntas, mas após pesquisas levadas a
para a medição do presenteísmo, a saber: efeito no mesmo ano de sua criação, teve o

Tópicos em Administração - Volume 8


224

questionário reduzido para 6 perguntas. Cada percepção de estresse, sono e nível atual de
pergunta contém 5 respostas pré- saúde, ingestão de álcool, tabaco,
determinadas cujo grau varia de “Concordo relacionamentos, presenteísmo e
Totalmente” até “Discordo Totalmente”. Sendo absenteísmo. Instrumento este que vem
assim, suas escalas podem gerar valores com colaborando com as empresas no sentido de
boas propriedades psicométricas. Avalia um diagnosticar e realizarem intervenções
período de 4 semanas de trabalho anteriores coerentes com a realidade e com as
ao dia da pesquisa. (Anexo 2) demandas que focam em temas relativos à
Qualidade de Vida do trabalhador.
A pesquisa no SAEVP mostrou um percentual
3.5 WORK LIMITATIONS QUESTIONNAIRE
expressivo de trabalhadores com os
(WLQ).
indicadores de presenteísmo e absenteísmo.
Este questionário foi desenvolvido por Lerner, Por exemplo, no estado do Paraná, após ser
Amick, Rogers, Malspeis, Bungay e Cynn, em aplicado em cerca de 500 empresas,
2001 e gera, de acordo com Ferreira et al verificou-se que 17,9 % dos trabalhadores
(2010), do ponto de vista da validade, uma faltaram ao trabalho por motivo de saúde
escala na qual se pode medir tanto o grau em frente a 51,4% dos trabalhadores com dores
que as chamadas doenças crônicas podem ou algum tipo de desconforto durante a
interferir o desempenho no trabalho quanto realização de suas tarefas. Frente a estes
como os impactos dessas limitações afetam a resultados, o SESI, através de sua área de
produtividade. A versão inicial utilizava 40 saúde e segurança no trabalho, realiza as
perguntas, mas após pesquisas realizadas seguintes tarefas para minimizar os impactos
por Lerner et al, foi desenvolvido o modelo nas indústrias:
atual que utiliza 25 perguntas abrangendo
As empresas são convidadas pelo SESI a
quatro dimensões laborais, sendo elas:
aplicar um questionário de diagnóstico, em
Gestão do Tempo, Capacidade para realizar o
uma amostra mínima de trabalhadores, de
trabalho físico, Concentração e
forma gratuita. Após a aplicação, o sistema
Relacionamento Interpessoal e Capacidade
emite um relatório com o perfil de estilo de
para atingir objetivos. (Anexo 3)
vida dos trabalhadores, por meio de 12
indicadores, entre eles, falta de vontade de
trabalhar, falta de disposição, dificuldade
4 REDUZINDO OS IMPACTOS
para se concentrar e dores e desconforto, que
A exemplo das medidas tomadas para a caracterizam o presenteísmo. Todos os
redução do Absenteísmo, com programas de levantamentos são referidos pelo trabalhador
melhorias comportamentais no ambiente de de forma anônima e os resultados
trabalho, tendo-se em vista que o problema apresentados refletem a situação da empresa,
do Presenteísmo é de difícil monitoração, um de acordo com o grupo avaliado.
programa específico foi apresentado, em
Após a análise dos resultados, o SESI faz a
âmbito nacional, pelo Serviço Social da
priorização de ações que contemplem os
Indústria (SESI) para detecção e controle do
cinco indicadores mais urgentes naquele
presenteísmo nas indústrias e empresas.
momento e elabora um Planejamento de
Criou-se assim uma ferramenta que num
Soluções integradas e personalizadas para a
primeiro momento, no sentido de reduzir os
empresa. ‘Após o mínimo de 11 meses de
impactos com a implantação de ações
atividades realizadas, a fim de se medir o
sistemáticas, mapeia as situações que se
impacto das intervenções propostas, é
encaixam ou venham a se encaixar no
necessária a aplicação de um Diagnóstico de
fenômeno a fim de, posteriormente, a partir
Impacto, para comparação dos resultados
das necessidades levantadas, realizarem
finais, com os resultados da avaliação inicial’,
programas que acompanhem e minimizem
destaca Ademir Silva, gerente de Qualidade
suas causas e efeitos.
de Vida do SESI no Paraná.
Em 2010 o SESI apresenta o SAEVP (Sistema
de Avaliação de Programas de Promoção de
Estilos de Vida Saudáveis e Produtividade), 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
um instrumento de pesquisa onde o
O atual contexto competitivo da sociedade e,
trabalhador responde 25 questões que
por conseguinte das organizações, alterou a
buscam indicadores relacionados ao
dinâmica laboral favorecendo o surgimento de
comportamento, atividade física, alimentação,

Tópicos em Administração - Volume 8


225

fenômenos como o Presenteísmo, o em cima do não comparecimento do que nos


Workaholic e a Síndrome de Burnout1. A efeitos ociosos do presenteísmo que afetam
competitividade força as empresas a também os demais trabalhadores. Talvez por
acompanharem os avanços impostos, conta até do ato de faltar ao trabalho ser um
gerando uma cultura de instabilidade e medo tema histórico
que faz com que o funcionário prefira não se
Dessa forma, podemos concluir que se o
ausentar, fisicamente.
desempenho das pessoas inseridas nessas
No absenteísmo, tendo em vista a falta do organizações é um fator preponderante para
trabalhador, é possível para a organização, o alcance e sustentação dos resultados
através dos setores competentes, vir a almejados, englobando aí a cooperação, a
contratar alguém para substituição de pessoal integração e a participação de todos neste
ou até mesmo improvisarem com sistema complexo, inter-relacionado e
trabalhadores de outros setores, com cargas interdependente, arriscamos dizer que tanto o
de trabalho menores, para não comprometer absenteísmo quanto o presenteísmo trazem
as metas. impactos, de uma maneira geral, amplos e
negativos. Mas que apesar de seus efeitos,
Mas e no presenteísmo, onde a visão que o
tipos de manifestações e perdas financeiras,
gestor tem é de um funcionário,
o tema presenteísmo ocupa pouco espaço na
aparentemente saudável, adentrando as
literatura científica brasileira, sendo mais
dependências da organização sem que saiba
estudado pelos Europeus e Norte
o tipo de carga emocional ou disposição
Americanos. A título de demonstração, uma
salutar que ele carrega consigo?
pesquisa realizada na base de dados da
A mensuração da perda no absenteísmo é CAPES Periódicos com os termos
mais acessível, por que o trabalhador não Presenteísmo e Absenteísmo nos fornece uma
comparecendo, não produziu. Já no amostra, onde o Presenteísmo totalizava 57
presenteísmo a aferição é mais complexa, produções, enquanto do Absenteísmo
pois fatores subjetivos como, por exemplo: existiam 373 textos. Outro ponto mostrado
humor, dor, fadiga, problemas de ordem nesta pesquisa junto a CAPES foi quanto ao
sociais e o próprio desinteresse pelo contexto período histórico de tais trabalhos, onde o
ambiental devido a questões externas vão Absenteísmo já apresentava produções
influenciar a autopercepção no caso de um desde o ano de 1975 e o Presenteísmo a
levantamento de indicadores da produção. partir de 2003, demonstrando, o quão novo é
este conceito no âmbito organizacional. Em
Com base no material pesquisado foi possível
relação à literatura de língua inglesa,
verificar que há no presenteísmo duas
pesquisa realizada na base de dados Science
interessantes questões que chamam a
Direct revelou 1550 produções para o termo
atenção: o levantamento dos dados para
Presenteeism e 18.616 para o Absenteeism
análises estatísticas e os custos relacionados.
sem delimitação de período.
Com relação ao impacto nos custos, em uma
Em vista do exposto e pertencendo o tema à
análise bem significativa, Johns (2010)
área da gestão de pessoas, que visa alinhar o
elucida que estar “presente” tem um efeito
comportamento humano com a estratégia
maior sobre a produtividade do que estar
organizacional e ser o comportamento um
ausente. Diante disso faz uma analogia com
fator de alto impacto na dinâmica da
um iceberg em que a parte mais visível é
produtividade, acreditamos que novas e mais
menor que a porção invisível abaixo da
promissoras pesquisas surgirão para a
superfície que é o presenteísmo, devido a sua
geração de propostas e ferramentas de
intangibilidade.
identificação do fenômeno nos ambientes
Outro ponto verificado na relação inerentes ao trabalhador como também,
Presenteísmo x Absenteísmo, é o fato de futuramente, poderá vir a ocorrer uma
parecer haver mais pressão organizacional ampliação do conceito ora apresentado.

Tópicos em Administração - Volume 8


226

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Organizacional, 8ª Ed. Rio de Janeiro: LTC Editora,
[9]. FUGULIN, F. M. T., Gaidzinski, R. R., 1999.
Kurcgant, P. Ausências previstas e não previstas
[19]. Sesi alerta para o presenteísmo. Rede Sul
da equipe de enfermagem das unidades de
de Notícias. Guarapuava, 28 abril 2015. Disponível
internação do HU-USP. Revista da Escola de
em:
Enfermagem da USP, vol. 37(4), pág. 109-117,
<http://www.redesuldenoticias.com.br/noticias/28_
2003.

Tópicos em Administração - Volume 8


227

04_2015_sesi_alerta_para_o_ presenteismo.htm>. Barrier and the Impact on the Working Lives of


Acessado em: 20 maio 2017. Women Managers. British Journal of
Management, v. 9 (s1):37 – 50, Set. 1998.
[20]. Shikiar, R., Halpern M. T., Rentz A. M.,
Khan Z. M. Development of the Health and Work [22]. Waldman, J. Workplace Presenteeism
Questionnaire (HWQ): An instrument for assessing Redefined. 2011. Disponível em: <http://www.
workplace productivity in relation to worker health. talentculture.com/presenteeism-redefined/>.
Works, vol. 22, pag. 219-229, 2004. Acessado em: 29 nov.2016.
[21]. Simpson, R.; Presenteeism, Power and
Organizational Change: Long Hours as a Career

Tópicos em Administração - Volume 8


228

QUADRO 1
Características dos instrumentos de medição da produtividade do trabalhador que avaliam o
presenteísmo

Fonte:Mattke et al. (2007)

Tópicos em Administração - Volume 8


229

ANEXO 1
Health and WorkQuestionnaire

Tópicos em Administração - Volume 8


230

Tópicos em Administração - Volume 8


231

Fonte: Shikiaret al. (2004)

Tópicos em Administração - Volume 8


232

ANEXO 2

Tópicos em Administração - Volume 8


233

Tópicos em Administração - Volume 8


234

Tópicos em Administração - Volume 8


235

Fonte: Cabeceira (2010)

ANEXO 3

Fonte: Koopman et al. (2002)

Tópicos em Administração - Volume 8


Autores
AUTORES
ADRIANA COSTA CAVALCANTI
Doutoranda em Ciências da Informação pela Universidade Fernando Pessoa, Porto-Portugal.
Mestre em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza-UNIFOR. Graduada
em Administração com especialidade em Comércio Exterior. Bolsista FUNCAP no período de
Mestrado. Participante do Núcleo Estruturante da Faculdade de Baturité(NDE) e do NDE de
marketing da Faculdade Tecnológica do Nordeste-FATENE. Pesquisadora e Professora de
Administração e Marketing.

ALEXANDRE ELIAS RIBEIRO DENIZOT


Doutorando na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Programa de Doutorado em
Sistemas de Gestão Sustentáveis, turma de 2014, tendo qualificado em 2016. Possui Mestrado
em Sistemas de Gestão, pela Universidade Federal Fluminense (2002). Graduação em
Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa (1986). Atua como consultor na área de
Gestão de Pessoas, Saúde e Segurança Ocupacional, Meio Ambiente e Qualidade. Sócio da
QSMS Consultoria e Treinamento Ltda, empresa que presta serviços nas áreas de Recursos
Humanos e Segurança do Trabalho. É professor convidado desde 2002, da Universidade
Federal Fluminense, atuando principalmente nos Cursos de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho, entre outros cursos de MBA do LATEC/UFF, ministrando as seguintes
disciplinas: Introdução a Engenharia de Segurança do Trabalho, Gestão de Segurança do
Trabalho, Sistema de Gestão Integrada (Saúde e Segurança, Meio Ambiente e Qualidade),
AUTORES

Gestão de Pessoas, Didática do Ensino Superior, Psicologia do Trabalho Comunicação e


Treinamento, e TCC. Foi bolsista do CNPq, atuando como orientador no Projeto Agentes
Locais de Inovação - Campo, do SEBRAE - RJ, voltado para empresas do segmento de
Tecnologia da Informação do Estado do Rio de Janeiro.

AMANDA RAQUEL FRANCA FILGUEIRAS D’AMORIM


Doutoranda em Information Sciences pela UFP (Porto). Mestra em Administração- State Labor
and Society. Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Cândido Mendes (RJ)- em
andamento. Graduada em Administração - UFPB. Atuação e experiência em Ensino, Pesquisa
e Extensão. Pesquisadora/colaboradora de projetos do CNPq -Pesquisa e Extensão.
Capacitação em Projetos - PMDome (PMI) São Paulo (Brasil). Pesquisadora bolsista premiada:
Jovem Pesquisadora. Financiamento CNPq. Ministrante de Cursos de Capacitação para
servidores e colaboradores em empresas públicas e privadas. Experiência em EAD -IFPB-
Graduação e Especialização- Administração Pública. Ex- professora da Universidade Federal
da Paraíba- UFPB - Campus João Pessoa-PB (Substituta). Assessorou na Expansão e
Relações Internacionais de Programas de MBA`s e Mestrados. Atuação por 05 anos em
empresas do varejo e Assessora e Consultora Administrativa/ Gestão em empresas/ Pessoas.
Docente em Pós-Graduações - (MBA`s).

ANDREA MARTINIANO
Doutoranda em Informática e Gestão do Conhecimento pela Universidade Nove de Julho,
bolsista Prosup pela Capes, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Nove de
Julho (2012), pós-graduada em Tecnologia da Informação e Internet na área de Ciência da
Computação, nível de Especialização pela Universidade Nove de Julho (2009), Bacharel em
Administração de Empresas pela Faculdade Sumaré (2008).

ANGÉLICA CARINA DE ANDRADE FARIAS


Graduada em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande.
MBA em Gestão de Pessoas pela Faculdade Anglo Americano. Mestra em Administração pela
Universidade Federal da Paraíba, na área de Gestão Estratégica. Experiência por nove anos
nas áreas de Departamento Pessoal, Recursos Humanos, Gestão de equipes, Gestão e
elaboração de Projetos, Desenvolvimento de líderes (coach) bem como todos os processos
relacionados ao RH. Atualmente professora universitária (UFCG) e das Faculdades Rebouças
(CG) e Unifacisa (CG).

ARION ROSA
Possui graduação em Licenciatura em Técnicas Industriais ( Mecânica) pela Universidade
Federal do Espírito Santo (1982), graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade
Vale do Rio Doce (1979), Pós-Graduação em Engenharia de Segurança (1980), Pós-
Graduação em Administração da Produção (1983), Pó-Graduação em Didática de Ensino
Superior com ênfase em Educação e Pós-Graduação em Administração com ênfase em
Gestão Empresarial (1998). Atualmente é Professor (regime único) do Centro Federal de
Tecnologia do Espírito Santo e aposentado como Engenheiro Especialista em Aciaria da
ArcelorMittal Tubarão. Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica,
com ênfase em Instalações Metalúrgicas, Fundição e Processos de Produção de Aciaria, além
de experiência em gestão nas áreas de Fundição, Briquetagem, Reciclagem de co-produtos
de siderurgia e logística em transporte ferroviário e rodoviário.

BRUNA PFEIFFER SALGADO


Graduada em Comunicação Social/Jornalismo, Pós Graduada em Gestão Estratégica de
Pessoas e Mestranda em Comunicação (linha de pesquisa Mídias e Processos Sociais) pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas
AUTORES

em Pessoas e Organizações (GEPPO), pela FACC/UFJF e do Grupo Sensus, pela


Facom/UFJF.

CAMILA GONÇALVES CASTRO


Graduada em Desenho Industrial Projeto de Produto pela Universidade do Estado de Minas
Gerais (2007). Meste em Engenharia de Materiais pela REDEMAT Rede temática em
engenharia de materiais, uma parceria entre UFOPCETECUEMG. Tem experiência na área de
Desenho Industrial, atuando principalmente nos seguintes temas: design, sustentabilidade,
avaliação de ciclo de vida e inovação, seleção de materiais, desenho técnico mecânico.

CARLOS AUGUSTO SOUSA NAZARIO


Engenheiro de produção graduado pela UNEMAT-Barra do Bugres-MT. Atualmente é
engenheiro de produção do centro de distribuição de alimentos goiano em Rondonopolis ,
MT. Possui artigos publicados em em revistas e congressos de nível nacional.

CLAUDIO NORONHA VAZ DE MELO


Especialista em Ergonomia e Designer de Produto pela PUC-Rio. No Sistema FIRJAN desde
2013, atua como Especialista em Segurança do Trabalho e Ergonomista pelo Instituto SENAI
de Tecnologia Ambiental – IST, Sistema FIRJAN, em equipe multidisciplinar, realizando
projetos de Análise Ergonômica do Trabalho, Mapeamento de Riscos Ergonômicos e projetos
de inclusão de PcD’s em setores como Óleo e Gás, Mineração, Logística Farmacêutica,
Complexos Aeroportuários, Saúde, Transporte e Telecomunicações.

DACYR DANTE DE OLIVEIRA GATTO


Minicurriculum do autor 4 (no máximo 5 linhas). Mestrando do Programa de Informática e
Gestão do Conhecimento (UNINOVE), Pós-graduado em Especialização em Tecnologia da
Informação para Estratégia de Negócios (UNIP - 2015) e em Gestão de Projetos (UNICSUL -
2016). Graduado em Informática com Ênfase em Gestão de Negócios (FATEC Mauá - 2007).
Tem experiência na área de Tecnologia da Informação, com ênfase em Infraestrutura de
Sistemas, e Telecomunicações.
DENISE DANTAS MUNIZ
Doutoranda em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal da Paraíba.
Mestra em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba. Atua nas áreas de
Ergonomia e Segurança do Trabalho, Controle e Auditoria, Processamento de Compósitos de
Matriz Metálica, Gestão Ambiental e Reaproveitamento de Resíduos Industriais.

DIEGO LEAL DE FARIA


Graduação em Administração de Empresas pela Faculdade de Educação e Ciências do
Caparaó (FACEC). Especialista em Gestão dos Negócios pelo Centro Universitário Redentor
(Uniredentor). Atualmente Supervisor de projetos na empresa Real Stylos Móveis.

DOUGLAS FERREIRA CARVALHO DA COSTA


Graduando em Engenharia de Produção pelo Instituto Federal de Minas Gerais- IFMG -
Campus Congonhas; Técnico em Metalurgia pela Escola Técnica da Saúde e Tecnologia -
ESTEC - Conselheiro Lafaiete MG; Técnico Profissionalizante em Mecânica de Manutenção
Industrial - SENAI - CETEM -Betim; Curso Interpretação da ISO/IEC 17025:2005 Cálculo de
Incertezas e Auditorias Internas - HST Qualidade - Ouro Branco MG; Curso de Análises
Metalográficas - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração - ABM -Ouro
Branco MG; Experiência na área de Gestão da qualidade, Gestão de indicadores, Gestão de
AUTORES

estoques, Sistemas de apoio a decisão, Sistemas de gestão, Ensaios mecânicos e


metalográficos, apoio a desenvolvimento de produtos junto a P&D, Certificados de qualidade.

EDILAINE GONÇALVES ARAÚJO


Graduanda em Engenharia de Produção pelo Instituto Federal de Minas Gerais- IFMG -
Campus Congonhas. Possui curso Técnico em Edifcações, formada também pelo IFMG -
Campus Congonhas.Trabalha como estagiária no Setor de Compras e Licitações no
Departamento de Administração e Planejamento do IFMG - Campus Congonhas .
Desenvolveu um Projeto de Pesquisa e Extensão com o IFMG em parceria com IPHAN e
Prefeitura Municipal de Congonhas relacionado à Acessibilidade no Patrimônio Histórico e
Artístico Cultural na cidade de Congonhas.

EDQUEL BUENO PRADO FARIAS


Mestrando em Informática e Gestão do Conhecimento; Pós graduado (LATO SENSU em
Governança em Tecnologia da informação (2015); Pós graduado (LATO SENSU) em Docência
para o Ensino Profissionalizante (PFFP) (2015); Pós graduado em Formação Didático
Pedagógica (PFFP) (2015); Bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade Nove de
Julho (2013).

EDUARDO ROCHA BASSI


Servidor Público Federal - Professor EBTT de Administração - lotado no Campus Rolante do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, graduado em
Administração de Empresas pelo Centro Universitário Franciscano (2007), com especialização
em Finanças pelo Centro Universitário Franciscano (2009) e mestrado em Administração pela
Universidade Federal de Santa Maria (2015).
EUGÊNIO DE OLIVEIRA SIMONETTO
Possui graduação em Análise de Sistemas pela Universidade Católica de Pelotas (1995),
mestrado em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (1998), doutorado em Administração (Área: Sistemas de Informação e Apoio à Decisão)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004) e estágio pós-doutoral sênior (com
bolsa CAPES) em Produção e Sistemas na Universidade do Minho (Portugal). Atualmente é
professor adjunto no Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM). Tem experiência na área de Sistemas de Informação, atuando
principalmente nos seguintes temas: modelagem de sistemas complexos e ambientais.

FRANCISCO JOSÉ DE CASTRO MOURA DUARTE


Possui graduação em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (1983),
mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987) e
doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994). É
professor associado da Área de Gestão e Inovação do Programa de Engenharia de Produção
da COPPE/UFRJ. Tem atuado em projetos de pesquisa em Engenharia de Produção nas
áreas de Ergonomia aplicada à projetos de modernização tecnológica, de novas unidades de
produção e integração operacional no setor de petróleo e gás e em projetos de
desenvolvimento e inovação tecnológica de empresas nascentes, pequenas e médias
empresas.
AUTORES

GUILHERME LUCIANO SENSATO


Possui graduação em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Viçosa e
especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal de
Minas Gerais e Especialização em Ergonomia pela Universidade Petrobras. Atualmente é
Engenheiro de Segurança do Trabalho na Empresa Petrobras. Tem experiência na área de
Engenharia de Produção, Segurança do Trabalho e Ergonomia.

HÉLIDE FLORENTINA DE JESUS FARIA


Graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade de Educação e Ciências do Caparaó
(FACEC). Especialista em Controladoria e Finanças pela Faculdade de Ciências Contábeis e
Administrativas de Cachoeiro de Itapemirim (FACCACI). Atualmente professora da FACEC.

INGRID MARQUES LIMA


Especialista em Ergonomia pela COPPE/UFRJ, graduação em Fisioterapia pela ESEHA -
Escola Superior de Ensino Helena Antipoff (Pestalozzi) - CREFITO2 29986-RJ, Técnica de
Segurança do Trabalho pelo CEN. No Sistema FIRJAN desde 2012, atua como Especialista
em Segurança do Trabalho e Ergonomista pelo Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental – IST,
Sistema FIRJAN, em equipe multidisciplinar, realizando projetos de Análise Ergonômica do
Trabalho, Mapeamento de Riscos Ergonômicos e palestras para as indústrias nos seus
diversos setores

IVANILDA AGUSTINHO FERREIRA


Engenheira de Produção pela Universidade Federal da Paraíba e Técnica em segurança de
trabalho pelo Instituto Federal da Paraíba. Possui experiência profissional em gestão de
equipes, indicadores de performance e ferramentas de gestão da qualidade
JOÃO PAULO GOMES DA SILVA
Engenheiro de Produção pela Universidade Federal da Paraíba. Possui experiência
profissional em gestão de equipes, indicadores de performance e ferramentas de gestão da
qualidade.

KÉLLEN BÁRBARA NASCIMENTO FURTADO


Graduanda em Engenharia de Produção pelo Instituto Federal de Minas Gerais- IFMG -
Campus Congonhas. Possui curso profissionalizante em Gestão de Pessoas e Liderança,
trabalha como estagiária no Departamento de Gestão de Pessoas e Capacitação . Atuou
como tutora de Cálculo I nos cursos de Engenharia de Produção e Mecânica. Foi aluna
destaque em 2010 , ao receber pelo Ministério da Ciência e Tecnologia o certificado de
Menção Honrosa pelo desempenho na 5º Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas
Publicas (OBMEP-2009). Desenvolveu um projeto de extensão com o IFMG relacionado a
OBMEP. Atua em trabalho voluntário de evangelização de jovens como coordenadora do
movimento Getsemani.

LAYANNE FERREIRA DOS SANTOS


Designer formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
AUTORES

LORENA GOMES TORRES DE OLIVEIRA


Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, arquiteta e urbanista formada
pela Universidade Potiguar, e mestre em design pela Universidade Federal de Pernambuco.
Atualmente é docente no curso de design na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
doutoranda na Universidade de Lisboa, dedica-se às relações entre o design social e
ambiente urbano.

LUCIENE LARANJEIRA DINIZ


Professora da Universidade Federal da Paraíba- UFPB, sendo lotada no CCHSA em regime
de Dedicação exclusiva. Mestra em Engenharia de Produção pela UFPB. Bacharela em
Administração com linha de formação em Cooperativismo pela UFPB/CCHSA.

LUIZ FLÁVIO VIANNA SILVEIRA


Graduação em Agronomia, mestrado e doutorado em produção vegetal. Já atuou como
Diretor Acadêmico e coordenador de estágio e do curso de Administração, professor nas
áreas de gestão, metodologia e educação ambiental. Atualmente é professor e coordenador
de pesquisa no Instituto Federal do Espírito Santo!

MARCELO DE SOUZA CORREIA


Secretário Executivo Trilingue e Administrador de Empresas, consultor na área de
administração da produção e gestão de informação, professor universitário na Universidade
do Estado do Pará.

MARIA DE FÁTIMA ALVES BUENES MENDONÇA


Mestranda em Contabilidade pela FUCAPE Business School, com linha de pesquisa em
contabilidade pública, Especialista em Contabilidade Gerencial pela Ufes. Bacharel em
Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente está como Diretora
Acadêmica da Faculdade de Ciência e Educação do Caparaó e professora universitária.
Autora de artigo premiado no VIII Congresso Virtual Brasileiro - Administração (CONVIBRA)
em 2011.
MARIO NETO
Possui graduação em Engenharia Metalúrgica pelo Instituto de Tecnologia de Governador
Valadares. Pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade
Federal do Espírito Santo. Atualmente atuando como professora no Instituto Federal do
Espírito Santo - IFES em Regime de dedicação exclusiva. Considerável experiência
profissional na área de segurança do trabalho atuando no mercado de trabalho como
Engenheiro de Segurança do trabalho desde 1983.

MAURO CAMPELLO
Engenheiro de Produção (UFRJ) e Mestre em Engenharia de Produção (UNIP). Experiência
em empresas públicas, privadas nacionais e estrangeiras, atuando em diferentes áreas, bem
como em negócios próprios. Sócio da MC Treinamentos, atuando com consultoria
organizacional e treinamento em diversas áreas desde 1998, com diversos projetos e
treinamentos desenvolvidos em mais de 75 empresas. Leciona na Estácio Carapicuíba,
FECAF (Taboão da Serra) e FATEC Carapicuíba.

MELINA PEIXOTO
Mestre em Sistemas de Gestão pela Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em
Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pós-graduação em
AUTORES

Engenharia de Segurança do Trabalho. MBA em Gestão Estratégica. Atualmente atuando


como professora no Instituto Federal do Espírito Santo - IFES em regime de Dedicação
Exclusiva. Considerável experiência profissional na área de segurança do trabalho atuando no
setor industrial desde 2007.

MICHELE PEREIRA FIGUEIREDO DE ABREU


Mestre em Engenharia de Produção pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação o e
Pesquisa de Engenharia - COPPE/UFRJ, Engenheira de Segurança no Trabalho pela
Universidade Federal Fluminense e Engenheira de Produção pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, graduada em Petróleo e Gás pela Universidade Estácio de Sá.

NATÁLIA CRISTINA CORRÊA CASTELO BRANCO


Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF) (2005),
Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (ENCE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2009). Doutoranda
do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Direito (PPGSD) da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Tem experiência na área de Sociologia e Ciência Política atuando
principalmente nos seguintes temas: capital social, organizações civis e movimentos sociais,
metodologia e desenvolvimento de pesquisas sociais, eleitorais e de mercado, participação
social e política, fundações privadas e associações sem fins lucrativos. Experiência em
Trabalho Técnico Social desenvolvidos nos Programas Sociais Governamentais. Membro do
Corpo editorial da Revista Contexto ISSN 2175-490x. Bolsista Capes.

ODAELSON ANTÔNIO CLEMENTINO DA SILVA


Possui graduação em administração pela Universidade Federal da Paraíba (2002), é mestre
em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba (2007). Atua no setor
operacional da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba, e como professor da Faculdade
Maurício de Nassau João Pessoa - PB com vinculo desde 2011. Atua principalmente nos
seguintes temas: Gestão da qualidade e administração de serviços.
PANDO ANGELOFF PANDEFF
Graduado em Administração de Empresas. Doutor em Geografia pela Universidade Federal
Fluminense - UFF/POSGEO (2014) - Área de concentração: Ordenamento Territorial
Ambiental. Mestre em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (2009) com
temática sobre gestão ambiental em unidades de conservação (ecossistemas costeiros).
Mestre em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente pela UNIPLI (2008) com a temática
sobre políticas públicas de educação e os espaços formal e não-formal de ensino. MBA-
Gestão Educacional pela Faculdade Cenecista de Osório - RS (2013). MBA-Gestão de
Negócios Sustentáveis com ênfase em organizações sustentáveis pela UFF-LATEC (2006).
MBA-Gestão de Empresas de Petroleo e Gás - Ênfase na cadeia produtiva e distribuição
(2008). Docente do ensino Superior e Coordenador do curso de Administração da
FACULDADE ITABORAÍ e FACULDADE CNEC ITABORAÍ. Atividades de pesquisa aplicada na
área de recursos hídricos e ordenamento territorial. Atuação profissional no 3o. Setor
desenvolvendo diagnósticos socioeconômicos e na área de projetos, com elaboração,
Implantação e Coordenação de Projetos Socioambientais. Livre docente em cursos de Pós
Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Analista Ambiental e Coordenador de
projetos socioambientais pelo Instituto Soluções Brasil desde 06/2011. Atuação no Serviço
público pelo SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto no Município de Itaboraí-RJ como
Diretor Administrativo e Financeiro e Analista Ambiental - Transferido para atuação pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Itaboraí/RJ como Chefe de
Licenciamento Ambiental e atuando como Analista Ambiental. Atuação complementar como
Períto Judicial na área Ambiental. Auditor Lider de ISO-14001-2004 e Auditor Interno em SIG -
AUTORES

Sistema Integrado de Gestão (ISO-9001 / ISO-14001 / OSHAS-18001). Instrutor em cursos


para a formação de Socorristas de Emergência. Instrutor na ESPM - Escola Superior de Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - CAO)

PAULO CEZAR CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA


Possui graduação em Tecnólogo em Segurança do Trabalho pelo CEFET-RJ (2002),
Especialização Lato Sensu em Ergonomia pela Universidade Federal Fluminense – UFF-RJ
(2010), com formação técnica em Segurança do Trabalho (CEFET-RJ – 1994) - DSST nº
37/1407-6. Trabalhou no Sistema FIRJAN entre 2002 e 2016, em equipe multidisciplinar, como
Tecnólogo em Segurança do Trabalho e Ergonomista. Possui ampla experiência profissional
em ergonomia em segmentos industriais como Petróleo, Óleo e Gás, Mineração, Logística
Farmacêutica e Portuária, Off-Shore, Plástico e Confecção.

RAÍSA ARAGÃO SOBRAL


Graduanda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba.

RAMON SCHNAYDER DE FRANÇA FILGUEIRAS D`AMORIM


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - PPGEP / UFPB.
Possui Pós-Graduação em Gestão de Pessoas, pela Faculdade São Francisco da Paraíba -
FASP (João Pessoa/PB - 2011) e Graduação em Sistemas de Telecomunicações, pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB (João Pessoa/PB - 2006).
Atualmente é Assistente em Administração da Universidade Federal da Paraíba - UFPB
(desde 2008). Possui experiência na área de Administração, Comunicação, Informática,
Telecomunicações e Música.
RENATA RAPOSO DEL VECCHIO
Possui graduação em Matemática (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal
Fluminense (1981), mestrado e doutorado em Matemática pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (1984 e 1991, respectivamente). Realizou pós-doutorado (estágio sênior-CAPES)
no Laboratoire dInformatique Algorithmique: Fondements et Applications (LIAFA) de PARIS 7
(Université Paris Diderot). É Professora da Universidade Federal Fluminense, desde 1984,
atualmente Professora Titular. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase em
Análise Funcional onde trabalhou com espaços localmente convexos e álgebra topológica.
Desde 2003 até a presente data trabalha em Teoria Espectral de Grafos. Participa do grupo
de pesquisa TEG (Teoria Espectral de Grafos), estudando principalmente os seguintes temas:
matriz laplaciana de um grafo, relações entre invariantes de grafos e seu espectro. Atua na
pós-graduação em Engenharia de Produção na UFF. Além disso, atua desde 1993 na pós-
graduação em Economia da UFF, orientando trabalhos sobre redes em Economia.

RENATO JOSÉ SASSI


Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia Finanças e Administração de
São Paulo (1987), Especialista em Administração de Empresas pela Fundação Escola de
Comércio Álvares Penteado (1988), Especialista em Didática do Ensino Superior, Mestre em
Administração de Empresas pelo Centro Universitário SantAnna (1996) e (1999) e Doutor em
Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP - 2006).
AUTORES

Atualmente é pesquisador e docente permanente do Programa de Mestrado e Doutorado em


Informática e Gestão do Conhecimento na Universidade Nove de Julho e docente nos cursos
de graduação em Ciência da Computação e Sistemas de Informação na mesma universidade.

RICARDO LUIZ FERNANDES BELLA


Professor Substituto do Magistério Superior no Departamento de Engenharia de Produção na
Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Qualificado em Engenheira
de Produção pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(CEFET/RJ). Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão de Riscos e Projetos
pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em Engenharia de Produção com ênfase
em Ergonomia Organizacional pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

RICARDO PINTO FERREIRA


Doutorando em Informática e Gestão do Conhecimento pela Universidade Nove de Julho,
bolsista pela Universidade Corporativa dos Correios, Mestre em Engenharia de Produção na
área de Gestão e Otimização da Produção pela Universidade Nove de Julho (2011).
Autor 3

ROMÁRIO BORGES MIRANDA


Mestrado Profissional em Ciências Contábeis pela Fundação Instituto Capixaba de Pesq. em
Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE). Graduação em Ciências Contábeis pela
Faculdade de Educação e Ciências do Caparaó (FACEC). Atualmente professor da FACEC.

ROSANGELA DE LIMA GONÇALVES SAAISSE


Professora de Nivel Superior na Escola Naval RJ. Mestre em administração de Empresas pela
UFF. Pós graduada Lato senso em Gestão de Pessoas
SERGIO LUIZ BRAGA FRANÇA
Doutor em Engenharia Civil (UFF), ênfase em Gestão, Produção, Qualidade e
Desenvolvimento Sustentável. Graduado em Engenharia Civil (UFF). Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho (UFF). Professor Adjunto IV do Departamento de
Engenharia Civil (UFF). Coordenador do Núcleo de Inovação e Tecnologia para a
Sustentabilidade (NITS/UFF). Professor credenciado no Programa de Pós Graduação em
Sistemas de Gestão (LATEC/UFF). Membro da Comissão Organizadora do Congresso
Nacional de Excelência em Gestão (CNEG). Avaliador de periódicos científicos nacionais e
internacionais. Atuou em auditorias nas áreas de Gestão Ambiental e Gestão da Qualidade.
Desde 2004 atua em projetos de P&D nas áreas de Sustentabilidade, Qualidade, Meio
Ambiente, Responsabilidade Social e Segurança do Trabalho.

SERGIO LUIZ SOUSA NAZARIO


Mestre em Engenharia Elétrica ênfase em sistemas de controle UNESP-Ilha solteira Graduado
em Engenharia Elétrica/modalidade eletrônica pelo Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP)
(2003) e Engenheiro de Segurança do Trabalho. Atualmente é coordenador do curso de
Engenharia Elétrica da Facimed em Cacoal-Ro. Trabalhou como docente em cursos
superiores na área de Engenharia civil, Ambiental e Produção Ministrando disciplinas na área
de física, fenômenos de transporte, ciência e tecnologia de materiais, eletricidade e instalação
elétrica. Possui artigos nacionais e internacionais na área de redes neurais, inteligência
AUTORES

artificial engenharia de ultra-som, caracterização de líquidos por ultra-som, instrumentação e


eficiência energética. Trabalhou com projetos de automação e instalações de maquinas em
indústrias frigoríficas, processamento de couro, Silos de grãos e indústrias em geral.

STHEFANI NOGUEIRA SARAIVA


Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013). Psicóloga (2009) e
Licenciada em Psicologia (2011) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é
Professora Titular das Faculdades Itaboraí e Faculdade Cenecista de Itaboraí, Ouvidora e
Psicóloga do Núcleo de Apoio Psicológico dessas mesma instituições. Também é Professora
de Psicologia da FAETEC e Psicóloga Educacional do NAPEM - Prefeitura Municipal de
Itaboraí.

TALES ANTÔNIO MAGALHÃES SILVA


Secretário Executivo Trilíngue formado pela Universidade do Estado do Pará (2015),
especialista em Gestão Empresarial, Pública e com Pessoas pela Universidade Estácio de Sá
(2016), professor titular do curso de Jornalismo da Universidade da Amazônia e empregado
público do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Pará. Atuou em empresas como:
Institute Vale of Technology Sustainable Development - ITVDS (2014) e Honorary Consulate of
Malaysia in Belém State of Pará (2015).

THALES LAGARES SUDRÉ ROSADO


Graduando em Engenharia de Produção pelo Instituto Federal de Minas Gerais - IFMG
Campus Congonhas; Técnico em Administração pelo Colégio Pio XII Coopped, em Ouro
Branco - Minas Gerais.

UBERLANY FREIRE DAMASCENA


Graduanda em design pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Técnica em
estradas pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
VANIA MEDIANEIRA FLORES COSTA
Graduada em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria (1992), mestrado em
Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000) e doutorado em
Administração pela Universidade Federal da Bahia (2008). Desempenhou as funções de
Coordenadora do Curso de Graduação em Administração (2012-2017) e atualmente é
professora Associada do Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal
de Santa Maria, e Coordenadora do curso de Especialização em Gestão Pública Municipal.
Orientadora de mestrado e doutorado associada à linha de pesquisa Gestão de Pessoas e
Comportamento Organizacional do Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal de Santa Maria. Líder do Grupo de Pesquisa Trabalho, Organizações e
Pessoas da Universidade Federal de Santa Maria e pesquisadora do Núcleo de Estudos
Indivíduo, Organizações e Trabalho da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na
área de Administração, com ênfase em Comportamento Organizacional, atuando
principalmente nos seguintes temas: comprometimento, clima organizacional, mudança
organizacional e motivação.

VICTOR CLÁUDIO PARADELA FERREIRA


Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da
Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/FGV). É Professor Associado da Faculdade de
Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal de Juiz de Fora (FACC/UFJF) e
AUTORES

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pessoas e Organizações (GEPPO).

VIVIANE ARAGÃO
Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade Itaboraí - Rede CNEC. Professora
do Ensino Fundamental I das Prefeituras de Itaboraí e Cachoeiras de Macacu.
Tópicos em Administração - Volume 8

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