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ÉTICA E EDUCAÇÃO

1. O objeto da Ética

Objetivos gerais:
O objeto da Ética exige:
A não identificação da Ética com a Moral;
A existência de Uma Ética que, não sendo científica, recebe o contributo das diversas
Ciências a respeito do ser humano;
Que a atuação moral, singular, seja complementada/criticada pela reflexão ética, universal; Que cada
um de nós tenha a consciência de que deparará com problemas morais, ao longo da sua vida;
Que haja, tanto em termos pessoais, quanto em termos coletivos, a passagem da Moral
efetiva – ou vivida – para a Moral reflexa – ou Ética;
A tomada de consciência para a possibilidade de variação das respostas sobre o que é o
“Bom”, consoante as diferentes Éticas;
A verificação do seguinte facto: a Ética não é uma intra-disciplina da Filosofia;
Que as questões éticas fundamentais devam ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos,
Que, através do seu objeto, a Ética se relacione com as Ciências que estudam as repasses e só
comportamentos dos seres humanos em sociedade (psicologia, antropologia, sociologia); A
consideração para com o seguinte aspecto: o comportamento moral é uma forma específica do
comportamento dos seres humanos.

1.1- Definições de Ética


Não se pode confundir a Ética com a Moral: a Ética não cria a Moral. Apesar de toda a Moral
pressupor determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a Ética que só
estabelece numa determinada comunidade.
A Ética depara com uma experiência de índole histórico-social no terreno da Moral, ou seja, com
um conjunto de práticas morais já em vigor e é partindo delas que procura determinar

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A essência da Moral;
A origem da Moral;
As condições objetivas e subjetivas do ato moral; As
fontes da avaliação moral;
A natureza e a função dos juízos morais;
Os critérios de justificação dos juízos morais;
O princípio que rege a mudança e a sucessão dos diferentes sistemas morais.

A Ética é a teoria do comportamento moral dos seres humanos em sociedade. É o saber de uma
forma específica do comportamento humano.
Segundo Luís de Araújo, a atribuição de uma dimensão científica à Ética só será possível se dela
resultar uma objetividade tal que permita aos juízos em que se exprime afastar toda e qualquer
subjetividade. Outros autores ainda consideram que só enunciados éticos não possuem, em rigor,
uma dimensão científica, pois exprimem unicamente sentimentos subjetivos.
Se for possível construir a Ética assente num processo científico de fundamentação, parece tornar-se
inevitável o relativismo moral: é possível uma Ética com rigor científico? É desejável tal ética?

1.1.1 – Ética como reflexão, influenciada pela


Ciência.
O autor mais representativo desta corrente é Luís de Araújo. Segundo este autor é possível construir
uma Ética que, apesar de não ser deduzida das Ciências, se articula com só conhecimento que vão
emergindo a partir destas a respeito da realidade humana. O conteúdo da reflexão moral resulta,
simultaneamente, de uma exigência lógica de coerência conjugada com sós conhecimentos
científicos que ajudam a traçar a ideia de ser humano que está subjacente à criação e à fruição dos
valores.
A Ética forma-se como uma reflexão integralmente autónoma face às abstrações de natureza
metafísica e às proposições intrinsecamente teológicas. Ela configura-se, apesar da ambiguidade e
do carácter dubitativo que é inerente a tudo quanto é humano, como um discurso legítimo acerca do
agir humano e da sua justificação axiológica.

1.1.2- A Ética como Ciência


É Adolfo Sánchez Vasquez, entre outros, que defende a Ética como Ciência. Segundo esta corrente:
A Ética é uma Ciência. De acordo com esta abordagem, a Ética ocupa-se de um problema
próprio – o sector da realidade humana a que chamamos Moral, constituído por um tipo
peculiar de fatos ou atos humanos. Como Ciência, a Ética parte de um determinado conjunto
de factos, pretendendo descobrir lhes só princípios gerais. Enquanto conhecimento
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Científico, a Ética deve aspirar à racionalidade e à objetividade e proporcionar
conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis.
A Ética é a Ciência da Moral, ou seja, de uma esfera do comportamento humano. Não se
deve aqui confundir a teoria com o objeto: o mundo moral. Os princípios, as normas ou só
juízo de uma Moral determinada não apresentam carácter científico. Daí que se podemos
falar numa Ética científica, não o podemos fazer em relação à Moral, porquanto não existe
uma Moral científica, embora exista (ou possa existir) um conhecimento Moral que pode ser
científico. O científico baseia-se no método e não no próprio objeto.
A Moral não é uma Ciência, mas sim o objeto de uma Ciência. A Ética não é a Moral e,
portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições, dado que a sua
missão consiste em explicar a Moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria Moral.

A origem etimológica da palavra Ética encontra-se em dois vocábulos:


Éthos – que significa costume, uso, maneira (exterior) de
proceder.
Etos – que se reporta á residência, toca morada habitual, maneira de ser, carácter.

Atualmente, a apalavra Ética usa-se em 3 sentidos:


No sentido de ordem moral ou ordem ética, entendida como a totalidade do dever moral;
no sentido de estrutura fundamental das ideias morais ou ideias éticas, reconhecidas por
uma pessoa, ou por um grupo;
No sentido de conduta moral efetiva, tanto de uma pessoa como de um grupo.

A Moral tem origem no latim “mós”, “mores”, entendido no sentido de conjunto de normas ou
regras adquiridas por hábito.
Enquanto a Moral se reporta a comportamentos concretos de índole particular, que pressupõem a
coexistência da liberdade e da responsabilidade, a Ética, de feição tendencialmente universal, diz
respeito a princípios normativos daqueles comportamentos. A Ética é a base normativa da Moral,
com capacidade para clarificar e retificar só comportamentos morais efetivos. Os seres humanos não
só agem moralmente como refletem sobre esses comportamentos práticos, tomando-os como objeto
do seu pensamento e reflexão. Tal dimensão almeja atingir, e esclarecer, as mais relevantes
atuações humanas, e aquelas que se reportam consciente e livremente, ao bom, ao certo, ao correto,
ao justo, ao prudente. Todos nós ambicionamos pautar o nosso comportamento por essas normas,
tais normas, uma vez aceites, são reconhecidas como obrigatórias e é de acordo com elas que temos
o dever de agir, rejeitando todas as outras possibilidades de atuação moral.
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Admitindo que o mundo dos valores seja uno e coerente, todos sós valores devem convergir para um
núcleo axiológico: aquele que é constituído pelo Bem.

A Ética ocupa-se das normas que regem ou devem reger as repasses de cada indivíduo com só
outros e dos valores que cada indivíduo deve realizar no seu comportamento.

1.2- Problemas morais e problemas éticos


Nos repasses cotidianos que as pessoas estabelecem entre si, surgem problemas morais (ex: quando
me encontro em apuros devo fazer uma promessa com a intenção de não a cumprir? Devo dizer
sempre a verdade, ou há ocasiões em que posso mentir? Quem, num conflito armado, sabe que um
amigo colabora com o inimigo, deve ocultar este facto – em nome da amizade – ou deve denunciá-
lo como traidor?). Estamos ante problemas práticos e problemas cuja solução não diz unicamente
respeito à pessoa que só propõe, mas também àquele, ou àqueles, que sofrem as consequências da
sua ação, ou da sua decisão. Estes problemas têm lugar no plano da Inter- subjetividade.
Nestas situações a pessoa defronta-se com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas
que se julgam serem as mais apropriadas. Estas normas são aceites intimamente e reconhecidas
como obrigatórias e é de acordo com elas que as pessoas compreendem que têm o dever de agir
desta ou daquela maneira. Nestes casos, dizemos que o ser humano age moralmente. Sobre este
comportamento, que é resultado de uma decisão refletida e, como tal, não é espontânea ou natural,
ou outros julgam à luz de normas estabelecidas, e formulam juízos (e: X agiu bem mentindo
naquelas circunstâncias; Y deveria denunciar o seu amigo, traidor). Temos, de um lado, atos e
formas de comportamento dos seres humanos em face de determinados problemas (morais), e, por
outro, juízos que aprovam ou desaprovam moralmente esses mesmos atos.
No entanto, tanto só atos quanto só juízo pressupõe certas normas que apontam o que se deve fazer.
Na vida quotidiana, deparamo-nos com problemas práticos do género dos apontados e aos quais
ninguém pode fugir. Para resolvê-los as pessoas recorrem a normas, cumprem determinados atos,
formulam juízos e, por vezes, serve-se de determinados argumentos ou razões para justificar a
decisão adoptada ou só passo dados.
O comportamento humano prático-moral, ainda que sujeito a variações de uma época para outra e de
uma sociedade para outra, remonta às origens do ser humano como ser social. Ao comportamento
prático-moral sucedeu a reflexão sobre ele. Desde então, só seres humanos não só agem
moralmente, como, em simultâneo, julgam ou avaliam de uma determinada maneira estas

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Decisões e estes atos, mas também refletem sobre o seu comportamento prático e tomam-no como
objeto para o seu pensamento e para a sua reflexão. Verifica-se, assim, a passagem do plano da
prática moral para o da teoria moral, ou seja, da Moral efetiva – vivida – para a Moral reflexa
(Ética). Quando se verifica esta passagem estamos na esfera dos problemas teórico-morais ou
éticos. Os problemas prático-morais são particulares, só problemas éticos são gerais. A Ética diz-
nos, em termos gerais, o que é um comportamento pautado por normas ou em que consiste o fim – o
Bom – visado pelo comportamento moral. O problema de o que fazer em cada situação concreta é
um problema prático-moral e não um problema teórico-ético. A teoria pode influenciar o
comportamento moral-prático, pois traça um caminho geral, em cujo marco só seres humanos
podem orientar a sua conduta nas diversas situações particulares.
Muitas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do Bom, na suposição de que, se
soubermos determinar o que é, poderemos saber o que deveremos ou não fazer. As respostas sobre o
que é Bom variam de uma teoria para outra (para uns é a felicidade ou o prazer, para outros o útil, o
poder, a autocriação do ser humano). Outro problema ético fundamental é, por exemplo, o de definir
a essência ou sós traços essenciais do comportamento moral, em contraponto com outras formas do
comportamento humano como a Religião, a Política, o Direito, etc.
O problema da essência do ato moral remete para outro problema muito importante: o da
responsabilidade. É possível falar em comportamento moral somente quando o sujeito que assim se
comporta é responsável pelos seus atos, mas isto pressupõe que ele pôde fazer o que queria, pôde
escolher entre duas ou mais alternativas. O problema da liberdade da vontade é, por isso,
inseparável do da responsabilidade. Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático-
moral; investigar o modo como à responsabilidade moral se relaciona com a liberdade é um
problema teórico, da competência da Ética. Problemas éticos são também o da obrigatoriedade
moral, i.e., o da natureza e dos fundamentos do comportamento moral enquanto obrigatório, bem
como o da realização moral, não só encarado como empreendimento pessoal, mas também como
empreendimento coletivo.
No entanto, só seres humanos, no seu comportamento prático-moral, além de levarem a cabo
determinados atos, julgam ou avaliam esses mesmos atos: formulam juízos de aprovação ou de
reprovação, e sujeitam-se livre e conscientemente a certas normas ou regras de ação.
Embora só problemas teóricos e só problemas práticos sejam diferentes, não estão separados por
uma barreira intransponível. As soluções que dadas aos problemas práticos não deixam de influir na
colocação e na solução dada só problemas teóricos. Por outro lado, sós problemas propostos pela
Moral prática, vivida, constituem a matéria de reflexão, ao qual a teoria ética tem de regressar
constantemente, para não se tornar uma especulação estéril, mas sim a teoria de um modo efetivo,
real do comportamento do ser humano.

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1.3- O campo da Ética
Os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade, distinguindo-se, assim, dos problemas
morais da vida quotidiana. Se a Ética revela uma relação entre o comportamento moral e as
necessidades e só interesses sociais, ela ajuda-nos a situar, no devido lugar, a Moral efetiva de um
grupo social que tem a pretensão de que só seus princípios e as suas normas tenham validade
universal, sem ter em conta as necessidades e sós interesses concretos de outros grupos sociais. Se a
Ética ao definir o que é o bom, se recusa a reduzi-lo àquilo que satisfaz o interesse próprio de uma
determinada pessoa, influirá na prática moral, ao rejeitar um comportamento egoísta como sendo
moralmente válido.
Procurou ver-se na Ética uma disciplina normativa, cuja função principal consistiria em indicar o
tipo específico de comportamento que seria o mais desejável, sob o ponto de vista moral. Contudo,
esta caracterização da Ética como disciplina normativa pode levar-nos a esquecer do seu carácter
reflexivo. A função da Ética é idêntica à de qualquer outra teoria: explicar, esclarecer ou investigar
uma determinada realidade. Por outro lado, a realidade moral varia historicamente e, com ela,
variam sós seus princípios e as suas normas: a ambição de formular princípios e normas universais,
deixando de lado a experiência moral histórica, afastaria da teoria a realidade que pretendia explicar.
A Ética é a teoria, a investigação ou explicação de um tipo de experiência humana, ou forma de
comportamento dos seres humanos, a que chamamos Moral. Aquilo que se afiram na Ética sobre a
natureza ou fundamento das normas morais deve valer para qualquer sociedade histórica. É isto que
assegura o carácter teórico da Ética e evita a sua redução a uma disciplina normativa ou
programática.
O valor da Ética, como teoria, está naquilo que explica e não no facto de prescrever ou recomendar
algo com vista à ação em situações concretas. A Ética diz respeito não ao ser ou ao fazer, mas sim
ao dever ser.
O comportamento moral apresenta-se como uma forma de comportamento humano, como um facto,
e cabe à Ética explicá-lo, tomando a prática moral da humanidade como objeto da sua reflexão. A
Ética é uma explicação daquilo que foi ou é e não uma simples descrição: não lhe cabe formular
juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, em nome de uma Moral absoluta e
universal, mas deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de Moral –
cabe-lhe explicar o facto de sós seres humanos terem recorrido a diferentes práticas morais, mesmo
opostas entre si.
A ética tem em consideração a existência da história da Moral, toma como ponto de partida a
diversidade de Morais ao longo do tempo, com só seus respectivos valores, princípios e normas.
Como teoria, a Ética não se identifica com sós princípios e normas de nenhuma Moral em particular.

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A par da explicação das suas diferenças, a Ética deve investigar o princípio que permita
compreendê-las no seu movimento, assim como no seu desenvolvimento.
A Ética trabalha com atos concretos. Estes atos são atos humanos, logo atos de valor, consideração
que não prejudica em nada as exigências de um estudo objetivo e racional. A Ética estuda uma
forma peculiar do comportamento humano que só seres humanos julgam como valioso e que, além
ditto, é obrigatório e irrecusável.

Segundo Fernando Sapatear o saber viver, ou arte de viver, é aquilo a que se chama
ética.

1.4- Ética e Filosofia


A Ética é o conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos sobre o comportamento
humano moral. Tem um objeto específico que se pretende estudar racionalmente e sem
subordinação a nenhum outro ramo do saber já constituído. Isto se opõe à concepção tradicional da
Ética, que a reduzia a um mero capítulo da Filosofia, na maioria dos casos, especulativa. A
concepção tradicional da Ética nega o carácter racional e independente da Ética: esta não elabora
proposições objetivamente válidas, mas sim juízos de valor ou normas que não podem pretender
essa validade. Isto se aplica a um tipo determinado de Ética – a Ética normativa – à qual se atribui a
função fundamental de fazer recomendações e formular um conjunto de normas e prescrições
morais. Tal objecção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e
condições da Moral. Um código moral, ou um sistema de normas, não é Ciência, mas pode ser
explicado com o contributo crítico das diversas ciências. A Moral não é científica, mas as suas
origens, fundamentos e evoluções podem ser investigadas racional e objetivamente, i.e., do ponto de
vista da Ciência.
Na negação de qualquer relação da Ética com a Ciência alguns autores querem ater-se à
dependência exclusiva da Ética em relação à Filosofia. A Ética é, neste sentido, presented como uma
parte da Filosofia especulativa. Esta Ética filosófica preocupa-se mais em procurar concordância
com princípios filosóficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento
histórico. Numa época em que a História, a Antropologia, a Psicologia e as Ciências Sociais nos
proporcionam materiais muito valiosos para o estudo do ato moral, já não se justifica a existência de
uma Ética puramente filosófica, especulativa, alheada do saber científico e da própria realidade
humana moral.
A defesa do carácter filosófico da Ética é válida para grande parte da história da Filosofia, período
em que, por ainda não estar constituído um saber científico sobre diversos ramos da realidade
natural e/ou humana, a Filosofia se apresentava como um saber que se ocupava praticamente de
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Tudo. De entre as várias disciplinas, tradicionalmente associadas à Filosofia, que trilham o seu
caminho próprio, encontra-se a Ética.
O facto de a Ética ser concebida como um saber que tem um objeto próprio, tratado racionalmente,
ou seja, um saber que procura uma autonomia idêntica à de qualquer saber científico, não significa
que esta autonomia possa ser considerada como absoluta em relação aos demais ramos do saber e,
também, em relação à Filosofia, dado que as contribuições da reflexão filosófica no terreno da Ética,
para além de não poderem ser relegadas para o esquecimento, devem ser postas em evidência, pois,
em muitos casos, conservam a sua riqueza e vitalidade.
A Ética é incompatível com qualquer cosmovisão universal e totalizadora que se pretenda colocar
acima das Ciências ou em contradição com elas.
As questões éticas fundamentais são as que dizem respeito às repasses entre liberdade,
responsabilidade e necessidade, devem ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos básicos,
como o da dialética da necessidade, da liberdade e da responsabilidade.
Por outro lado, a Ética assumida como teoria de uma forma específica do comportamento humano,
não pode deixar de partir de uma determinada concepção filosófica do ser humano.
O comportamento moral é próprio do ser humano como ser histórico social e prático. Se a Moral é
inseparável da atividade do ser humano, a Ética nunca poderá deixar de ter como fundamento a
concepção filosófica do ser humano, que nos dá uma visão deste como ser social histórico e criador.
Há todo um conjunto de conceitos com só qual a ética trabalha que são oriundos da Filosofia –
liberdade, necessidade, valor, consciência, sociabilidade.
A Ética está estreitamente relacionada com a Filosofia. Esta relação não exclui o seu carácter
racional, mas pressupõe-no necessariamente.

1.5- A Ética e as Ciências Humanas e Sociais


É através do seu objeto que a Ética se relaciona com as Ciências que estudam as repasses e sós
comportamentos dos seres humanos em sociedade, proporcionando elementos que contribuem para
esclarecer o tipo peculiar de comportamento humano que é a Moral. São elas: a Psicologia, a
Antropologia Social e a Sociologia, principalmente.
Os agentes morais são as pessoas que fazem parte de uma comunidade. Os seus atos são morais
unicamente se considerados nos seus repasses com só outros. Ainda que o comportamento moral
corresponda à necessidade social de regular as repasses dos seres humanos numa determinada
direção, a atividade moral é vivida interna ou intimamente pelo sujeito num processo subjetivo –
para esta explicação intervém de forma preciosa a Psicologia. A Psicologia auxilia a Ética quando
põe em evidência a dinâmica e as motivações do comportamento do ser humano, assim como
quando modeliza e estrutura do carácter e da personalidade. Aquela disciplina dá a sua ajuda à Ética
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Quando se examinam sós atos voluntários, a formação dos hábitos, a génese da consciência moral e
dos juízos morais. A explicação psicológica do comportamento humano possibilita a compreensão
das condições subjetivas dos atos dos seres humanos e, deste modo, contribui para a compreensão
da sua dimensão moral.
A ética tem também uma ligação muito estreita com a Antropologia Social e a Sociologia. Nelas,
estuda-se o comportamento do ser humano como ser social. Às Ciências Sociais interessam,
sobretudo, não o aspecto psíquico ou subjetivo do comportamento humano (Psicologia), mas as
formas sociais em cujo âmbito atua só seres humanos.
O sujeito do comportamento moral é a pessoa concreta que parte de uma determinada estrutura
social, e é desde a consideração dessa estrutura que o seu modo de comportar-se, moralmente, não
pode ser considerado como unicamente particular: ele é, sempre, social. É devido à relação
existente entre a Moral e a sociedade que a Ética não pode prescindir do conhecimento objetivo das
estruturas sociais, dos seus repasses, instituições, conhecimento que é proporcionado pelas Ciências
Sociais, particularmente pela Sociologia.
Enquanto a Sociologia procura estudar a sociedade humana em geral, a Antropologia Social estuda,
fundamentalmente, as sociedades primitivas, ou desaparecidas. No estudo do comportamento dessas
sociedades a Antropologia Social estuda, igualmente, o comportamento moral. Os antropólogos
conseguiram estabelecer repasses entre a estrutura social e o código moral que as regia. Observa-se
uma diversidade de Morais, não só no tempo, mas também no espaço, é necessário que a Ética,
como teoria da Moral, não ignore que está sempre na presença de comportamentos humanos que
variam e se diversificam no tempo. Quer o antropólogo quer o historiador, permitem que se tenha
em consideração o carácter mutável das Morais, a sua mudança e sucessão de acordo com e a
mudança e a sucessão das sociedades.
Qualquer Ciência do comportamento humano, ou dos repasses entre sós seres humanos, pode trazer
uma contribuição útil para a Ética como reflexão acerca da Moral. Além de relacionar-se com o
Direito, a Ética também se relaciona com a Economia Política.
Para concluir: a ética relaciona-se com as Ciências Sociais, uma vez que o comportamento moral é
uma forma específica do comportamento humano, que se manifesta em diversos planos: psicológico,
social, jurídico, religioso, estético, etc. Retenha-se que a Ética é o saber reflexivo sobre o
comportamento moral.

As normas morais mudam de sociedade para sociedade, e modificam-se no decorrer da história.

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2. Problemas fundamentais da Ética
Objetivos gerais:
A consciência é, sempre, uma consciência de valor,
O ser humano recusa a indiferença ante o mundo em que está inserido e ante aquilo que o
rodeia;
A liberdade afirma-se no exercício de autodeterminação de cada pessoa;
A finalidade superior da reflexão moral visa à obtenção da felicidade, na dignidade;
Cada um de nós está obrigado a responder à seguinte questão: o que devo fazer?
O progresso moral não pode ser reduzido ao progresso histórico;
Se o progresso histórico cria condições para a existência do progresso moral, ele não gera,
por si só, o progresso moral;
Se a Ideologia é fundamental para expressar só anseios dos diferentes grupos sociais, ela é
perniciosa ao tentar emascarar à realidade sócio-política-económica-mental.

2.1- A consciência moral e o mundo


A imagem da vida humana que se nos impõe à consciência reflexiva pode ser reduzida a duas
estruturas fundamentais:
A estrutura empírica – que abrange só elementos a descobrir na experiência simples (sexo,
idade, corpo).
O âmbito em que se constroem só projetos existenciais – dá conta da estrutura moral que
suporta as decisões morais.

Questões que se relacionam com a explicação do fundamento da ação moral:


É preciso distinguir na consciência humana a dimensão em que esta se revela como
representação da realidade daquela perspectiva em que se assume como possibilidade de
apreciação dessa mesma realidade.
Ao aceitarmos que a criação de valores resulta de uma atividade efetiva da consciência, o
argumento do interesse ou do desejo perfila-se como elemento primordial do ato valorado.
Não se deverá confundir a valoração com só valor.
É no poder de consciência, função de cada eu, que reside o carácter da sua natureza, ou seja,
a razão determinante que revela o sujeito como pessoa, manifestando-se, deste modo da
índole ética da condição humana.

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A consciência moral não se apresenta unicamente como uma estrutura afetiva, mas como uma
síntese se aspectos íntimos e de aspectos exteriores, ou seja, a partir do cruzamento dos dados da
consciência com aquilo que, do mundo, nos afeta.
O homem recusa a indiferença perante o mundo que o rodeia, assume-se como participante
movido pelo imperativo da realização pessoal, é solicitado a orientar as suas ações mediante o
dinamismo que se traduz num ato emergente da liberdade. Impõe-se refletir em que consiste a
liberdade e no que é um ser livre. É possível explicar a liberdade humana como sendo resultante
de um processo cujas raízes biológicas determinam a formação de operações cognitivas que, por
seu turno, desenvolvem as condições para o aparecimento de alternativas que a consciência
(reflexiva e voluntária) expressará sob a forma de comportamentos. A afirmação da liberdade
humana apenas terá sentido se se admitir uma concepção de personalidade em que se reconheça
a intervenção estruturante das matrizes biológica, antropológica e cultural.
No exercício da autodeterminação a vontade humana manifesta-se como uma predisposição para
a escolha de fins, que se descobre em ligação com valores previamente elaborados pela
consciência que, a si mesma, se compromete.
Reconhecendo-se forçosamente determinado a aderir a valores, o ser humano necessita de
estabelecer o critério que servirá de sustentáculo à hierarquia em que irão rever-se as suas
preferências, fundamentar as escolhas que fizer e as ações que levar a cabo.
É da reflexão livre sobre a vida que surgem os valores. Por isso, a liberdade surge como o
fundamento último da nossa pauta axiológica (dos valores morais).
A finalidade superior da reflexão moral consiste em promover as condições peculiares
para que o ser humano consiga alcançar a felicidade na dignidade.

2.2- Natureza da Ética. Fundamentação das normas morais.


A problemática fundamental da Ética consiste na necessidade de cada pessoa ter de responder à
seguinte questão: O que devo fazer?
Aquele que se ocupa da Ética tem de esforçar-se por procurar uma síntese entre o conhecimento e a
vida, síntese a partir da qual se torna possível a constituição da moralidade.
No âmbito do conhecimento moral, o sujeito não emite somente juízos de realidade – através dos
quais exprime juízos de realidade -, mas formula igualmente juízos de valor – o conhecimento ético
se expressa numa dupla dimensão, que engloba a realidade fática e, em simultâneo, abarca uma
realidade axiológica.
O conhecimento ético apresenta-se como uma experiência fundamental que se norteia
intencionalmente pela exigência de consolidação de um sistema de valores capaz de definir o

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Contexto dos fins mais indeléveis da vida humana, nos quais radica o critério de moralidade para a
atuação.
A Ética procura responder às mais sérias questões da vida humana, assumindo-se como crítica e
meditação da vocação ativa do ser humano em ordem à instauração dos valores e das normas que
lhes possibilitem tornar-se pessoa, quer dizer, criador autónomo e responsável do seu devir
histórico-social.
A atitude metódica no âmbito do conhecimento do saber ético comporta dois momentos nucleares:
Uma compreensão exigente do humano;
Uma atitude prescritiva a respeito do que deve ser a reta e paradigmática forma de vida
humana.

Se o saber científico deve contribuir para a compreensão do humano, o mesmo não acontece a
respeito do que deve ser a reta e paradigmática forma de vida humana, pois tudo quanto vier a ser
enunciado carece de fundamentação científica, dado que não se trata de uma análise de factos, mas
sim de afirmações de feição normativa.
Se a tarefa da Ética consiste em apontar o caminho para que a existência humana se projeta liberta
de alienações e orientada por uma ordem justa, é importante refletir sobre o conteúdo desta Ética: o
facto de considerarmos a Ética a partir de uma matriz humanista, não significa que dela estejam
ausentes questões de natureza metafísica (ex: questões que se relacionam com o sentido da vida e a
explicação última da realidade). Por outro lado, ao sublinhar as repasses, inevitáveis que a ética
assume com a problemática da metafísica, não significa que se afirme a dependência do pensamento
normativa face à metafísica.
É na matriz antropológica que reside à fundamentação da Ética, pois se incluem não só os traços
fundamentais que permitem a caracterização do ser humano, mas também a análise da evolução
histórica das ideias, em articulação com o desenvolvimento dos padrões culturais.
A Ética está em condições de propor um conjunto de diretrizes ou de princípios vocacionados para o
aperfeiçoamento pessoal e da sociedade, desde que a procura de critérios de moralidade não deixe
de ser norteada por uma intensa preocupação em estabelecer a unidade entre a teoria e a prática,
visto que somente a partir da aliança entre a especulação e a experiência direta, a reflexão moral terá
a possibilidade de intervir com eficácia no processo de transformação das estruturas psicológicas e.
Culturais que influenciam o comportamento humano.

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2.3- Moral e História: o sentido do Progresso Moral
A história apresenta-nos uma sucessão de Morais que correspondem às diferentes sociedades que se
substituíram ao longo do tempo. Mudam os princípios e as normas morais, a concepção daquilo que
é bom, certo, correto, justo.
Se compararmos uma sociedade com outra que lhe é anterior, podemos estabelecer uma relação
entre as suas Morais respectivas, considerando que uma Moral é mais avançada, mais elevada, ou
mais fecunda do que a de outra sociedade.
Há um progresso moral que não se verifica a margem das mudanças radicais de carácter social. O
Progresso moral não pode dissociar-se da passagem de uma sociedade para outra.
No entanto, o progresso moral não pode ser reduzido ao progresso histórico, ou sequer, que o
progresso histórico seja por si só, condição para o progresso moral. Dizemos é que o progresso
moral não pode ser concebido independentemente do progresso social e histórico.
O progresso histórico resulta da atividade produtiva, social e espiritual dos seres humanos. Nesta
atividade, cada pessoa participa como ser consciente, procurando realizar os seus projetos e as suas
intenções.
O progresso histórico não é igual para todos os povos e para todos os seres humanos. Determinados
povos progridem mais do que outros, e numa mesma sociedade nem todas as pessoas participam do
progresso da mesma maneira. Atualmente, vários povos vivem em patamares muito diferentes da
evolução histórica.
Conclusões da relação do progresso moral com o progresso histórico e social:
O progresso histórico cria as condições necessárias para o progresso moral;
O progresso histórico e social afeta, de uma maneira ou de outra, positiva ou negativamente,
os seres humanos de uma determinada sociedade, sob o ponto de vista moral.
Embora o progresso histórico crie as condições para o progresso moral, ele não gera, por si só,
qualquer tipo de progresso moral, porque os seres humanos não evoluem sempre na direção
moralmente boa, mas também evolução na direção má. O progresso histórico e social pode ter
consequências positivas ou negativas do ponto de vista moral. No entanto, apesar das consequências
morais do progresso histórico e social, não podemos julgar moralmente o progresso histórico. O
facto de o progresso histórico não dever ser julgado à luz de categorias morais não significa que,
histórica e objetivamente, não possa registar-se um progresso moral que, tal como o progresso
histórico, não foi até agora o resultado de uma ação planeada, livre e consciente dos seres humanos.
Bases do conteúdo objetivo do progresso moral:
1.º - O progresso moral mede-se pela ampliação da esfera moral na vida social. Esta
ampliação revela-se ao serem reguladas moralmente as repasses entre as pessoas.

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2.º - O progresso moral determina-se pela elevação do carácter consciente e livre do
comportamento das pessoas ou dos grupos sociais e, consequentemente, pelo crescimento da
responsabilidade das pessoas ou dos grupos sociais no seu comportamento moral. Uma
sociedade é tanto mais rica, sob o ponto de vista moral, quanto mais possibilidades oferece
aos seus membros para assumirem a responsabilidade, pessoal ou coletiva, pelos seus atos.
Por isso, o progresso moral é inseparável do desenvolvimento da personalidade livre.
3.º - O progresso moral determina-se pelo grau de articulação e de coordenação entre os
interesses pessoais e os interesses coletivos.
4.º - o progresso moral manifesta-se como um processo dialético de negação e de
conservação de elementos morais anteriores.

2.4- A Ética como crítica das Ideologias


O mascaramento, uma constante político-social do séc. XX perdura na atualidade. A maneira
como as pessoas refutam, ou fundamentam os conceitos, os juízos e as normas que constituem o
processo ideológico são, quase sempre, tomados em função dos interesses próprios do espírito do
tempo. São, pois, os interesses específicos de cada pessoa, e do grupo social significativo em que
aquela se integra que comandam o conhecimento e que também têm a capacidade de falsificá-lo. Só
um esforço determinado, baseado em critérios estritos de racionalidade, pode ser um obstáculo à
queda na manipulação.
As Ideologias são expressões reflexas, mais ou menos conscientes, dos contextos sociais em que as
pessoas e os grupos humanos se inserem. Contudo, as Ideologias tentam impor crenças que são,
muitas vezes, fonte de opressão e de alienação, que contribuem para deturpar a capacidade de
apreensão do real, ao proporcionarem uma interpretação do mundo e da vida que se assume,
socialmente, como a visão correta do mundo e da vida. Segundo Edgar Morim “Quem possui uma
ideologia também é possuído por ela”.
A ideologia é particularmente apelativa em épocas de crise, nas quais se verifica uma quebra de
confiança na razão e o ser humano cai na incerteza. Temos que ter presente que na raiz das
Ideologias é possível encontrar teorias morais que pretendem justificar as atitudes daqueles que
exercem algum tipo e poder sobre os outros seres humanos o que exprime não só uma concepção do
mundo, mas também um conjunto de regras de vida.
Sabemos que a Ética visa esclarecer, perante cada ser humano, as ideias de Bem e de Mal, refletindo
sobre as práticas morais concretas para, em seguida, edificar padrões éticos para o comportamento
moral efetivo. Importa ter presente uma diferença fundamental entre Ética e Ideologia: enquanto a
Ética tem um carácter predominantemente teorético e especulativo, a

14
Ideologia assume uma feição fundamentalmente prescritiva e prática, o que a aproxima Da.
Moral.
Há um inter-relacionamento entre a Ideologia e a decisão moral, que desemboca, por vezes, na
dissolução do plano moral no plano ideológico, dado que as ideias de Bem e de Mal se perspectivam
em função dos interesses e das tendências dominantes.
Os critérios ideológicos consagram regras e fins para a conduta humana, capazes de entorpecer a
razão, não só pela força que exercem, mas também pela sedução com que enunciam soluções para
os conflitos existenciais, impondo assim a renúncia à reflexão ética: corremos o risco de ver a
Ideologia transmutar-se em moralismo.
A conduta moral pressupõe a autonomia da pessoa, que assim manifesta o seu carácter livre e
responsável.
A Ética, encarada desde o plano da exigência de autenticidade humana, não pode reduzir-se a um
mero quadro das atitudes e comportamentos, no qual a pessoa seja despojada das características que
a identificam como pessoa. A reflexão ética não exprime uma preocupação única, de feição
paradigmática, em torno das regras orientadoras das diversas modalidades de convivência, dado que
a Ética está sempre situada além dos moralismos. Para que a Ética não seja reduzida a um
moralismo, tributário do terreno das Ideologias, a pessoa tem que elevar a reflexão acima das
estruturas sociais, revê-las criticamente e, em seguida, deve atribui-lhes um fundamento que remete
sempre para a compreensão pessoal dos valores.
A tarefa de des-ideologização da Ética terá que ser um processo permanente de refutação racional
dos pressupostos em que se enraízam os contextos ideológicos, entendidos como usurpadores
coletivos dos objetivos próprios da vida de cada pessoa.

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3. Ética e Educação
Objetivos gerais:
“A educação é uma espécie de ação promotora e instauradora de valores”:
Diferentes perspectivas da educação moral:
O Modelo de Classificação dos Valores;
O A Educação para o Desenvolvimento Moral
O O Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores;
O A Educação nas Virtudes Morais.
A deontologia diz respeito aos deveres, aplicados no estrito exercício de uma profissão;
Todos os agentes educativos (professores, pais, educandos, administradores da educação e
políticos da educação, comunicação social e agente cultural) devem estar submetidos ao
crivo da Deontologia Educacional.

3.1- Relações entre a Moral e a Educação


O ser humano não se cumpre sem Educação. A educação é um processo de mútua formação em
grupo. Tanto o educador como o educando, ensinam e aprendem, contribuindo de maneira
determinante para uma díade dialética de feição única que possibilita a modificação qualitativa dos
seus participantes.
Entendendo a educação como promoção de valores, defende-se que cada ser humano deve ser
consciencializado no contexto da Educação, em ordem à planificação da vida total. Se a Educação é
o processo de personalização de cada ser humano, cada um de nós é e torna-se pessoa numa situação
concreta. Neste sentido, o dever moral não pode separar-se da possibilidade de agir moralmente. A
Educação, que não pode deixar de visar à esfera da Moral, tem de considerar o primado do ser do
educando, em detrimento do seu ter.

3.1.2- Diferentes perspectivas da Educação Moral


Correntes mais importantes no âmbito da promoção dos valores éticos, na educação escolar dos
nossos dias:

Modelo de clarificação dos Valores

Educação para o Desenvolvimento Moral

Modelo Integrado para a Classificação dos Valores


Educação nas Virtudes Morais
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3.1.3- O Modelo de Clarificação dos Valores
É um movimento prático mais preocupado com o como fazer do que com o que fazer.
O educador deve transmitir aos educando as formas de comportamento e de atuação corretos, os
comportamentos vigentes, que devem ser assumidos de modo consciente e crítico.
Segundo os defensores deste modelo de Clarificação dos valores:
Cabe aos alunos criar o seu próprio sistema de valores. Qualquer outra posição educativa é
moralmente incorrecta;
A educação moral deve evitar metodologias moralistas, devendo adoptar às metodologias
que repousam na tomada de consciência dos valores;
O desenvolvimento moral, espontâneo e livre, deve ser estimulado;
O código de valores dos outros (pessoas, sociedades, culturas) deve ser respeitado num clima
simultaneamente responsável e tolerante.

O papel do professor consiste em auxiliar os alunos a alcançar posturas axiológicas morais, por
meio de um conjunto de técnicas, de entre as quais sobressaem os diálogos, as folhas de valores, as
frases inacabadas e as perguntas esclarecedoras, sendo também de considerar o role-playing ou a
simulação.
Mas a Classificação de Valores encerra grandes dificuldades: ao nível da realização prática; esta
corrente não oferece meios adequados para a solução das questões morais que coloca; ela tem um
grau elevado de subjetivismo e de relativismo moral. Pretende-se a neutralidade do educador, mas,
isto, deixa o aluno em completa solidão.

3.1.4- A Educação para o Desenvolvimento Moral


O principal autor é Lawrence Kohl Berg. A sua teoria defende uma ação educativa ordenada para o
desenvolvimento psicológico adequado. Esta teoria (que se opõe ao Modelo de Clarificação dos
Valores) defende que a educação moral é o processo de desenvolvimento do raciocínio moral que os
sujeitos conseguem alcançar por meio de discussões sobre dilemas morais, colocados a partir de
situações reais, que conduzem à tomada de decisões sobre o que é justo ou moral, no contexto e que
vivem. Por outro lado, esta teoria afirma que os estímulos ambientais, para o processo de
desenvolvimento moral, são as possibilidades de adopção de papéis que oferece à pessoa, a
atmosfera moral do grupo ou a instituição a que pertence, assim como o diálogo moral. L. Kohl
Berg defende que o diálogo moral deve ser democrático e participativo. Isto exige uma comunidade
justa, i.e., democrática, participativa e solidária quanto aos deveres, direitos e relações, que se
estruturam segundo normas de equidade.

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As estratégias que se devem congregar são: reconhecimento do estádio em que atua o educando;
exposição dos raciocínios morais do seu próprio estádio; exposição, aos educandos, de situações
problemáticas que provoquem conflitos morais genuínos e, como tal, inquietação, criação de uma
atmosfera de diálogo e intercâmbio na qual os pontos de vista sobre o conflito moral sejam
discutidos abertamente.
Os dilemas morais devem apresentar as seguintes características:
Devem estar baseados em situações da vida real;
Devem ser tão simples, quanto possível;
Devem conter dois ou mais resultados possíveis, com implicações morais;
Devem oferecer propostas de ação.

Críticas ao Modelo de Educação para o Desenvolvimento Moral:


O nível de maturidade do pensamento lógico não encontra frequentemente correspondência
ao nível do pensamento moral;
A capacidade para assimilar e desempenhar as diversas funções exigidas também não é
congruente com o nível moral.
Muitas das situações diplomáticas de Kohl Berg põem aos alunos situações-limite
extremamente difíceis e talvez inapropriadas pedagogicamente, pois são situações simuladas;
As situações existenciais moralmente graves não podem ser simuladas. O essencial da
situação escapa à simulação, só está presente na situação real.

3.1.5- Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores


O Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores (proposto por Ricardo Marin) assenta em
quatro momentos: cognoscitivo, afetivo, voluntário e de ação – individual e social.
1.º momento (cognoscitivo) - parte-se do princípio de que tudo o que se quer tem que ser
previamente conhecido. As nossas preferências são precedidas por informações que nos
chegam através de vários modos (, grupos com que nos relacionamos etc.);
2.º momento (afetivo) – os valores têm que ter uma ressonância pessoal, as coisas “mais
valiosas” (ex: a nossa formação) reclamam esforços, sacrifícios e renúncias.
3.º momento (voluntário – volitivo) – importância da decisão livre, dado que a liberdade é a
capacidade de decidir por si mesmo.
4.º momento (social) – o ser humano tem um carácter fundamentalmente social. A questão
dos valores está também intrinsecamente ligada ao aspecto social.

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3.1.6- A Educação nas Virtudes Morais
Esta corrente filia-se em Aristóteles e na filosofia cristã medieval, admitindo a existência de uma lei
moral universal inserida na natureza humana. Esta corrente considera que a pessoa pode conhecer a
lei moral e deve obedecer-lhe na sua conduta moral efetiva. Dos princípios morais fundamentais
insertos na sua consciência deve a pessoa extrair as aplicações adequadas às situações concretas e
particulares da vida. O ato de decisão, bem como o de derivação de regras morais fundamentais, é
racional e livre.
Para a Educação nas Virtudes Morais, é na pessoa e na sua natureza que se encontram os primeiros
princípios morais; é preciso contar com a consciência e o ato prudencial que concretizam as normas
morais, que devem regular as ações morais concretas.
Esta corrente rejeita os dilemas morais de Kohl Berg, uma vez que eles são inadequados à
psicologia concreta da criança ou do jovem, são eventualmente traumáticos, são simulados e,
portanto, falsos. Esta corrente considera que:
É nas situações morais concretas e reais que se deve radicar a atividade educativa moral;
O educando deve ser treinado a derivar dos primeiros princípios morais os princípios
subordinados e as regras a aplicar em situações concretas;
Devem ser criadas ou aproveitadas as situações morais concretas em que o educando realize
atos morais.

3.2.7- Síntese conclusiva


A Educação Moral tem como objetivo primordial a resposta à questão: que devo, como pessoa,
fazer? Isto não visa, por parte do educando, a aquisição de competências específicas numa
determinada área do saber, mas pretende a realização efetiva do conjunto de dimensões que
constituem o todo que o sujeito em processo de educação é. A escola deve ser livre e promotora da
liberdade. Não deverá haver coação ou simulação de valores. A Educação, que é vida, tem
necessariamente que ser viva, tanto para nós, quanto para outrem.
A promoção da Moral, em termos educativos, exige a fecundidade da praxiologia dos valores, dado
que a educação é a componente essencial dessa praxiologia. A educação, neste sentido, deve ser
entendida como educação permanente, ou seja, como a própria vida como processo contínuo de
aprendizagem de aperfeiçoamento.
O humanismo integral, que tem como meta a obtenção da felicidade na dignidade.

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O homem é o único ser educável. Que se trabalha a si mesmo sobre uma ideia de si mesmo para
realizar em si essa ideia.
Não há educação sem valores. A educação é um processo que visa a realização do educando como
valor para si mesmo. A sua atividade axiológica começa pelo valor que dá a si mesmo. A educação
é valiosa porque é o meio de realizar o homem como valor. Todos os valores que a educação
promove são-no dentro do valor englobante que é o que o homem dá a si mesmo.

3.2- Deontologia Educacional

3.2.1- O que é a Deontologia?


3.2.2- Código de direitos e deveres no âmbito concreto de ação profissional
A Deontologia é o conjunto normativo de imposições que deve nortear qualquer atividade
profissional, em ordem ao tratamento equânime a todos aqueles que recorrem ao fornecimento de
um bem e/ou serviço.

3.2.3- Reflexão crítica sobre o código deontológico


Qualquer desempenho profissional está sujeito, de modo mais ou menos difuso, às influências do
meio e, sobretudo, às pressões daqueles que coabitam com o fornecedor do bem e/ou serviço.
Objetivos do código deontológico:
Proporcionar aos utentes um tratamento idêntico, assente na diversidade essencial que
constitui cada um dos seres humanos que procura a satisfação de uma necessidade por meio
da prestação de um bem e/ou serviço;
Fornecer aos profissionais uma pauta e a regulação dos deveres, obrigações práticas e
responsabilidades que surgem no exercício de uma profissão.

3.2.4- Reflexão dinâmica sobre o código deontológico


Há a exigência de cada um dos utentes ser tratado como ser inigualável, fim e nunca meio para o
funcionário/empregado que se encontra incumbido do atendimento do cliente.

3.2.5- Procedimento moral concreto no âmbito delimitado


No âmbito educativo, o problema da Deontologia profissional reside nas obrigações e
responsabilidades que a sociedade outorga a cada educador.

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Cada educador outorga a si próprio, e que derivam do poder e dos limites da Educação.
A Deontologia do professor deve estar relacionada consigo próprio, relacionada com os colegas,
relacionada com os alunos e relacionada com o contexto social.

3.2.6- O que entender por Deontologia Educacional


3.2.6.1- Deontologia dos educadores
Os educadores têm em mãos uma responsabilidade dupla: aquela que diz respeito ao funcionário, a
mais estrita; aquela que concerne ao formador de seres humanos, a mais ampla.
Os direitos e deveres dos professores encontram-se no ECD.

3.2.6.2- Deontologia dos pais e outros agentes educativos


A tem um papel fundamental na educação das crianças / jovens. Contudo, cada vez mais, assiste-se
á demissão da família desse seu papel. As mudanças no mundo contemporâneo têm afetado muito as
famílias e provocado a sua quase “ausência” na educação dos filhos. Contudo, torna-se imperativo
que as famílias reconheçam os seus direitos, mas também os seus deveres e colaborem com os
professores na educação. Em relação aos outros agentes educativos (psicólogos, pessoal auxiliar,
etc.) torna-se fundamental definir o seu quadro de referências deontológicas, em ordem à interação,
retroação e transação de todos aqueles que, profissionalmente, vivem da/para a Educação.

3.2.6.3- Deontologia dos educandos


Os alunos estão situados no centro do processo educativo. Em oposição ao magistrocentrismo que
imperou durante séculos, o aluno atual disfruta de muito mais oportunidades do que aqueles que o
antecederam. No entanto, assiste-se muitas vezes a situações em que o aluno confunde a liberdade
que lhe é dada com a libertinagem que pretende impor aos educadores e demais agentes educativos.
Será que o educando dos nossos dias está tão ciente dos seus deveres como o está dos seus direitos?

3.2.6.4- Deontologia dos administradores da educação e dos políticos da educação


A Educação não se restringe ao espaço das salas de aula. Também nela intervêm questões como a
planificação da rede escolar, do pessoal previsto, das opções estratégicas relativas às reformas do
sistema educativo. O professor, o administrador da escola, o responsável político pela educação
agem sobre os alunos para que eles recebam uma boa educação.

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3.2.6.5- Comunicação Social e Deontologia Educacional

A missão da comunicação social é tripla: formar, informar e divertir aqueles que a consomem. Hoje,
mais do que nunca, vivemos na aldeia global e, por esse motivo, a escola já não é o único fator
educativo. Os vários meios de comunicação social (imprensa, cinema, TV, TIC) levam o educando a
descobrir, ele próprio por si próprio, o meio, o país, a civilização em que vive.
Atualmente, é toda a sociedade que se quer educada e que pretende ser educada. A linguagem tem
de estar adequada ao público a quem se dirige a notícia. Informar não é deformar.

3.2.6.6- Agentes Culturais e Deontologia Educacional


Em sentido lato vivemos na sociedade da cultura. Grande parte das obras a que temos acesso é de
divulgação. Contudo, divulgação não é sinónimo de banalização. Ao divulgarmos uma obra temos a
obrigação de a conhecermos em profundidade. Em relação a todos os intervenientes no ato
educativo importa saber qual é o código do dever fazer, a Deontologia que se lhes aplica.

A sociedade contemporânea caracteriza-se pela generalização a toda a população da educação e


ensino. Por esse motivo, as tarefas dos professores tornaram-se mais complexas e diversificadas.
Tendo a profissão docente como objetivo a formação humana, ela adquire, por esse mesmo facto,
uma incidência ética determinante que se reflete na relação pedagógica com os alunos, com outros
intervenientes da comunidade educativa e com a sociedade em geral.
A incidência ética da profissão docente não pode ser inteiramente legislada, pois, na maioria dos
casos, depende do juízo único e prudencial do docente em situação, orientado por princípios
racionais e universalizastes de justiça e responsabilidade. No entanto, a experiência ética dos
docentes pode ir sendo codificada. (Pedro D’Orey da Cunha)

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EDUCAÇÃO PARA VALORES: UMA ALTENATIVA PARA A CONVIVÊNCIA HUMANA

Fernanda Broll Carvalho Ahmad


Promotora de Justiça, Especialista em Direito da Criança e do Adolescente

VALORES, ÉTICA E CONVIVÊNCIA HUMANA - O SER HUMANO INTEGRAL: RAZÃO,


EMOÇÃO E VALORES
Os valores estão na base das ações e norteiam sentimentos e emoções.
Na polêmica obra intitulada “O Erro de Descartes”, o neurologista português
Antônio Damásio1, ao contestar a secular afirmação do filósofo Descartes – “Penso, logo
existo”-, propõe que os sentimentos e as emoções são uma percepção direta de nossos
estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência. Utilizando-
se de recentes descobertas da neurobiologia, oferecendo uma visão integrada do ser
humano, evidencia que a razão tem como companheira inseparável a emoção.
Como Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, sua
afirmação celebra a separação da “mente pensante” do corpo (organismo biológico) “não
pensante”. É exatamente aqui que reside o erro do filósofo.
Assim, o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anticartesiano: existo (e
sinto), logo penso. Existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que
existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser.
Ao reconhecer-se a relevância das emoções no processo de raciocínio, não se está
relegando a razão para segundo plano. Pelo contrário, ao verificar-se a função alargada das
emoções, é possível realçar seus efeitos positivos e reduzir seu potencial negativo,
protegendo a razão, durante o processo de planejamento e decisão.

23
implicações socioculturais advirão ao se admitir que a razão não é pura, impactando, por
exemplo, na ética, no direito, na arte, na ciência e na tecnologia.
A concepção de organismo humano integral, composto de corpo e mente, esboçada
na obra referida, e a relação entre emoção e razão, sugerem que o fortalecimento da
racionalidade requer maior atenção à vulnerabilidade do mundo interior.
Afirma Damásio (1), (1996, p. 278):
Em um nível prático, a função atribuída às emoções na criação da racionalidade
tem implicações em algumas das questões com que nossa sociedade se defronta
atualmente, entre elas a educação e a violência. Não é este o local para uma
abordagem adequada dessas questões, mas devo dizer que os sistemas educativos
poderiam ser melhorados se se insistisse na ligação inequívoca entre as emoções
atuais e os cenários de resultados futuros, e que a exposição excessiva das crianças
à violência na vida real, nos noticiários e na ficção audiovisual desvirtua o valor das
emoções na aquisição e desenvolvimento de comportamentos sociais adaptativos. O
fato de tanta violência gratuita ser apresentada sem um enquadramento moral só
reforça sua ação dessencibilizadora.

A contribuição de Damásio (1) apresenta valor inestimável ao concebermos a


Educação como o Direito de o ser humano realizar as potencialidades que traz consigo ao
nascer, e que precisam ser desenvolvidas ao longo de sua existência, rumo a formação do
homem integralmente apto a existir, sentir, raciocinar e ser feliz.
A importância comprovada, resultado de pesquisas científicas, das emoções na
formação dos seres humanos, alerta para um aspecto essencial: a responsabilidade dos
educadores (pais e professores, sobretudo) de colaborar na promoção da educação das
emoções e dos sentimentos das crianças. Integrando, ainda, à educação, o aspecto moral,
tendo em vista que “valor” é um dos fatores que são relevados quando tomamos uma
decisão.
Os valores humanos existem desde os primórdios da humanidade e são metas de
todas as religiões, códigos de ética e filosofias.

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Valores constituem o conjunto de qualidades que nos distinguem como seres humanos
independentemente de credo, raça, condição social ou religião, estando presentes em todas
as filosofias ou crenças religiosas. São inerentes à condição humana e dignificam e
ampliam a capacidade de percepção do ser consciente, que tem no pensamento e nos
sentimentos sua manifestação palpável e aferível. São qualidades que os homens
consideram importantes, como a verdade, retidão, paz, amor e não violência, que unificam e
libertam as pessoas do individualismo, enaltecendo a condição humana e dissolvendo
preconceitos e diferenças.
O conceito referido é o comumente encontrado nas obras que tratam do assunto,
como por exemplo: Marilu Martinelli2 e Maria Fernanda Nogueira Mesquita3. Ambas
propõem a aplicação do novo método de ensino, o Programa de Educação em Valores
Humanos – EDUCARE, do educador indiano Sathya Sai Baba.
Vivencia-se hoje uma época de conflitos de proporções mundiais. Nossa sociedade
atravessa um período de turbulência, diante da corrupção, dos jogos de poder, da violência,
do desprezo pelo ser humano e pelo meio ambiente. E muitos desses problemas são
reflexos de comportamentos sociais que não observaram a importância dos valores e, ao
não cultivá-los, propiciaram a formação de adultos sem referenciais de cidadania e de
respeito ao próximo. Atribuímos, então, à Polícia, ao Ministério Público, ao Poder Judiciário
e a outros órgãos estatais a função de responsabilizarem-se pelo destino das pessoas em
conflito com a lei, a fim de que sejam afastadas do convívio social e (re)educadas. Ledo
engano.
Considera-se que a solução dos problemas mencionados passa, necessariamente,
por uma revolução na forma de educar nossas crianças.
Atualmente, as crianças e adolescentes estudam visando à realização profissional e
preocupam-se em serem os melhores. Mas não estudam amor ao próximo, solidariedade,
respeito à diversidade, cooperação, lealdade e ética, tampouco aprendem princípios e
valores sólidos que os conduzam à felicidade.

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Assistimos diariamente nos meios de comunicação histórias de pais que espancam
filhos, filhos que matam pais, jovens que matam mendigos. O homem vai à Lua e à Marte,
mas não consegue controlar seu mundo interior. Do ponto de vista intelectual, redige e
realiza operações matemáticas com brilhantismo, mas está engatinhando do ponto de vista
das emoções. Daniell Golleman, citado por Pires4, lembra que o Quociente Emocional
Deficiente impede o desenvolvimento pleno do ser, mesmo que o intelectual seja altíssimo.
A educação fragmentada a que nos submetemos propiciou uma desestruturação do
ser humano que, muitas vezes, reflete-se na violência, presente em todas as camadas
sociais, evidenciando a nossa crise de valores.
A violência espreita-nos nas escolas, nas ruas, no trânsito, nos locais de lazer e no
lar. Em todos os segmentos sociais, raciais ou religiosos constatamos casos de intolerância,
indiferença e absoluta transgressão de princípios éticos e morais, evidenciando que nossos
jovens estão desnorteados, sem parâmetros claros de certo e errado, sem limites e
responsabilidades, sem projeto de vida.
Pelo descaso com a educação estamos pagando um alto preço. É mais simples
culparmos o estresse da vida quotidiana, a influência negativa dos meios de comunicação
de massa, o excesso de informação, as más companhias, as drogas, a desigualdade social.
Realmente, esses aspectos contribuem para o quadro atual. Contudo, consoante Mesquita
(3), a essência da questão é mais profunda: por que nossos jovens estão infelizes e
buscam auto-realização nos extremos, no perigo, no comportamento desregrado, egoísta e
indiferente? É difícil para eles evitar isso e, como adultos, não estamos contribuindo
adequadamente na formação de seu caráter.
A análise da violência infantil, juvenil e familiar é indissociável da verificação da
formação recebida, dos valores recebidos na educação.
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e dos diplomas legais
complementares, o Direito à Educação foi o direito social que recebeu a regulamentação
mais explícita, contundente, completa e clara, por parte do legislador constituinte e
ordinário. Consoante Konzen5, (2000, p. 660):
Afirmado como o primeiro e o mais importante de todos os direitos sociais, fez-se
compreender a Educação como valor de cidadania e de dignidade da pessoa
humana, itens essenciais ao Estado Democrático de Direito e condição para a
realização dos ideais da República de construir uma sociedade livre, justa e solidária,
nacionalmente desenvolvida, com a erradicação da pobreza, da marginalização e

4
PIRES, Heloisa. Educar para ser feliz. São Paulo: Camille Flamarion, 2002.
5
KONZEN, Afonso Armando. O Direito à Educação Escolar. Pela Justiça na Educação. Coordenação geral Afonso
Armando Konzen. Brasília: MEC, FUNDESCOLA, 2000.
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das desigualdades sociais e regionais e livres de quaisquer forma de discriminação
(artigo 3 º da Constituição Federal), imaginário de Nação inscrito na Carta Magna
Brasileira.

O artigo 1º da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases


da Educação), preceitua que “a educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais”.

Ao abordar-se os temas da educação familiar e escolar, indispensável lembrar os


avanços legais introduzidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente nessa questão,
especialmente ao reconhecer o público infanto-juvenil como sujeito de direitos em condição
peculiar de desenvolvimento e, por essa razão, contemplado pelos princípios da proteção
integral e da prioridade absoluta. Focando como destinatários da lei a família, a
comunidade, a sociedade e o poder público.

Assim, é chegado o momento de a família ocupar seu espaço na educação integral


de suas crianças, aliando-se aos professores na proposta educativa de contribuir para a
formação do caráter. Pois somente dessa forma, estar-se-á assegurando à infância e à
juventude brasileira o direito à educação na amplitude proposta pela legislação.
Nesse intento, imperiosa a responsabilização dos pais e professores, unidos na
tarefa de educar, na transmissão de valores às crianças, pelo exemplo, e com afetividade,
amando-as, respeitando-as e disciplinando-as. Segundo Pires (4), (2002, p. 25) “é preciso
educarmos nossas crianças na compreensão da importância de unirmos nossos esforços na
construção de um mundo melhor, no qual as diferenças sejam resultados da capacidade e
nunca da falta de oportunidades”.
O indivíduo não amado, ou mal amado, ou educado sem amor, ou através de um
amor egoísta, deseducador, que estimula o egoísmo, contribui para a formação da
sociedade que criamos, na qual a violência, a indiferença, a intolerância e o individualismo
impedem o homem de ser feliz.
Para enfrentarmos a atual crise de valores devemos nos empenhar na construção de
um novo paradigma no qual a nossa felicidade é proporcional à felicidade que asseguramos
aos outros, sendo que a solidariedade gera laços de confiança entre as pessoas,
contribuindo para uma cultura ética e de não violência.
A problemática escolhida como objeto de estudo derivou da observação das
dificuldades enfrentadas pela sociedade atual diante de dois grandes desafios: quais seriam

27
as funções da educação familiar e escolar da atualidade, com ênfase à atribuição de
promover a educação para valores, e como lidar com a violência escolar.
Ao selecionar as percepções dos alunos, responsáveis e educadores, visando a
identificar e caracterizar as múltiplas formas de violência escolar, bem como observar as
relações entre a violência e as questões ético-valorativas, este estudo busca entrelaçar
narrativas e olhares, descrevendo o estado do conhecimento, o percebido, o expresso e o
silenciado, alertando sobre os riscos da banalização da violência.

ÉTICA E MORAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Tanto a ética quanto a moral são assuntos que devem ser trabalhados no ambiente escolar
com o intuito de nortear o comportamento dos indivíduos na sociedade em que vivem. Por
ser a escola a verdadeira formadora de cidadãos, cabe-lhe a tarefa de orientar o
comportamento ético e moralista dos seus educandos. A partir do momento em que o
indivíduo não adulterar documentos ou produtos para obter vantagens, tratar as pessoas
com respeito, não falar palavrões etc., estaria cumprindo com as normas da ética e da
moral adquiridas na instituição educacional.

Os temas “ética e moral” são normas que necessariamente deveriam estar inclusas nos
Projetos Políticos – Pedagógicos (PPPs) e nos Regimentos Escolares (RE) para que fossem
disciplinados ao longo dos estudos, sentenciando assim, o fim das desigualdades sociais.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a questão central da moral e da ética
é desenvolver uma visão crítica nos educandos, de como proceder diante dos outros.

O cumprimento da ética torna-se, às vezes, complexo diante de um dilema. Por exemplo:


Dever-se-ia roubar ou não um remédio, cujo preço é inacessível, mas precisar-se-ia salvar
alguém, e que, sem ele, morreria? Quem deveria ser privilegiado, a vida ou a propriedade
privada? Esses desafios deveriam ser apresentados aos alunos para discussões a respeito do
cumprimento ético no contexto histórico social. “Uma escola ética é aquela que orienta os
seus educandos a se comportarem com honestidade, retidão e responsabilidade para a
efetivação dos princípios morais na sociedade em que eles encontram-se inseridos.” (Grifo
nosso)

Admite-se que a ética esteja consagrada no bojo da família, da escola e da comunidade por
ser a base de uma sociedade mais justa e igualitária e que, portanto, carece de um olhar

28
humano mais aprofundado, pois ela é uma forma racional humana de viver em harmonia
com outros humanos.

Nossos educandos devem ter em mente a importância do caráter democrático da sociedade,


levando em consideração a promoção da liberdade, do respeito e da tolerância para
vivenciar a diversidade que lhes rodeia. Nesse contexto, cabe a escola orientar e viabilizar
meios que possam, de fato, tomar parte nessa construção e tornarem-se livres para
pensarem e tomarem decisões.

A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a
legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume. Abrange tanto
a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quanto a
dimensão das ações pessoais.” (PCNs, p. 29-30. 2001)

Todavia, a ética norteia os princípios morais e os valores necessários aos indivíduos em suas
ações com outros membros da sociedade da qual fazem parte. Com base nos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, uma reflexão realizada pela ética refletirá na transformação
da moral. Não se poderia fazer cidadania se fosse deixado de lado a ética, e o lócus propício
para o seu aprendizado e o seu exercício, é a escola. Cabe a escola trabalhá-la no seu
âmbito, ensinando e exigindo a sua prática, propiciando assim um resultado qualitativo.

A reprodução de valores impostos pela sociedade está sempre sendo feita com as
orientações do que é certo ou errado. Atualmente, é comum assistir-se a noticiários de
comportamentos reprováveis pela sociedade. E aí pergunta-se: Será que ainda existe uma
sociedade que valoriza a ética e a moralidade? Quais expectativas se têm das futuras
gerações?

3. A ÉTICA NO AMBIENTE PROFISSIONAL

Na área profissional, a ética tem o objetivo de formar uma consciência livre e conduta
compatível com os preceitos estatutários. Algumas qualidades como honestidade,
competência, perseverança, prudência, respeito, imparcialidade entre outras, são virtudes
essenciais para a eficiência do trabalho profissional. É preciso que se tenha a
responsabilidade individual para a realização de certas tarefas. As vezes, seria melhor o
recusamento e a justificativa da inviabilidade de um trabalho que não pudesse ser
executado, do que uma vez aceito, deixasse-o à desejar.

A ética exige a honestidade para o zelo da prática do respeito e consideração ao direito do


outro. O indivíduo comprometido com a ética não se deixa corromper, em nenhuma
circunstância, mesmo que conviva com problemas ao extremo. Na área profissional, a
29
prudência é imprescindível para que o sujeito analise as situações, minuciosamente, e com
maior profundidade evitando, assim, atropelamentos e julgamentos conflituosos ou
equivocados.

Contudo, praticar a ética é, ao mesmo tempo, praticar a imparcialidade e a justiça, pois a


primeira assume as qualidades e cumprimento dos deveres e a segunda depende,
essencialmente, da primeira. A ética é o pivô que dá sustentação e equilíbrio às tarefas
profissionais no dia a dia e que, portanto, deveria estar presente em todos os setores da
sociedade. Para ser ético, o profissionalismo exige a tomada de consciência dos atos, o
cumprimento das normas e o respeito mútuo.

Admite-se que a ética apresenta grande influência na vida profissional de qualquer


indivíduo, em meio a sociedade na qual ele opera a sua profissão. A ética é um resquício do
que se aprende na família, responsável pela construção dos alicerces e definição de virtudes
e caráteres do homem, ensinando como se comportar diante da sociedade. A liberdade do
homem garante ações dentro dos limites exigidos pela ética e parte do respeito aos direitos
dos outros.

Um profissional que não cultiva a ética, perde a confiança e a credibilidade no espaço social
em que desenvolve as suas atividades. Portanto, deixa de ser um mero e autêntico
profissional para ser um suicida da profissão, contribuindo para o descrédito irreversível.
(Grifo nosso)

A família é o lócus da convivência da criança e, portanto, o espaço legítimo da apregoação


da ética que, posteriormente, se ampliará, em outras instituições sociais com a veiculação
de valores. A ética do indivíduo depende muito da relação social mantida com os demais
dentro da sociedade que ele pertence. Trabalhá-la nas instituições educacionais faz parte do
currículo, apesar de apresentar vários choques de valores e modos de comportamentos
compartilhado por cada estudante.

Já faz parte do nosso vocabulário falar de ética profissional ou de sua ausência em meio a
sociedade. Os seus benefícios são imensuráveis ao equilíbrio da harmonia entre os
profissionais. Segundo Mário Cortella, a ética é um conjunto de valores e princípios que
usamos para responder a três grandes questões da vida: quero? devo? posso? Pois nem
tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu
quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você
pode e o que você deve.

Quando um profissional (dentista) recebe um paciente e esse pede para extrair um dente
que vem lhe tirando noites de sono e, após diagnosticar o problema, o dentista resolve

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recuperá-lo, ao invés de removê-lo, estaria honrando com a sua ética profissional. Esse é o
sentido da ética na cidadania e o respeito ao outro na mesma sociedade. O conhecimento
sem ética não faz sentido e tampouco efeito social.

Todo profissional, ao concluir a sua formação, faz um juramento de honradez a sua


profissão, que sinaliza a sua adesão, o seu comprometimento e a sua responsabilidade com
a categoria. E ao cumprir com esse juramento o profissional estaria efetivando os seus
princípios éticos dentro de sua área.

Enfim, o profissional ético é aquele que procura oferecer o melhor dos seus conhecimentos,
como o médico que se preocupa com as suturas internas antes de realizar as externas, o
professor que se preocupa com estratégias que propiciem ao aluno a pensar e resolver
desafios, o engenheiro que demonstra certa preocupação com o melhor material para a
construção da passarela, além de outras ações que objetivam a consumação de um trabalho
seguro e de credibilidade. De modo que a ética efetiva ações e consolida metas que podem
comprometer ou favorecer o sucesso desses profissionais.

O indivíduo ético procura sair de sua zona de conforto em busca das inovações e dos
conhecimentos científicos, principalmente, de sua área, com o intuito de poder oferecer o
melhor para sua clientela. Segue os princípios normativos e as regras estatutárias com
competência, respeito, tolerância, flexibilidade e boas maneiras pois, as negligências
observadas, atualmente, são frutos da passividade, do desconhecimento e da falta de
compromisso.

De forma que a ética passa a ser algo indispensável na vida profissional do homem, tendo
em vista a sua contribuição no processo de humanização e norteamento de conduta e de
valores. São esses valores que, uma vez relacionados aos interesses do indivíduo, movem
seus atos positivamente. É imprescindível, portanto, que todos os profissionais das mais
diversas áreas, questionem o sentido de suas ações em suas práticas de trabalho.

4. ÉTICA E CIDADANIA

Entende-se que a ética dedica-se aos estudos dos valores morais e os princípios do
comportamento humano perante a sociedade, garantindo o bem – estar social do cidadão.
Não poderia haver cidadania se a ética deixasse de ser cumprida. O cidadão ético é aquele
que sabe buscar os seus direitos e os seus benefícios sociais em conformidade da lei.

A ética deve ser compreendida como crítica reflexiva e responsável pela conduta humana
em todos os setores sociais. Ela é histórica e construída socialmente, tendo como base
referencial as relações humanas coletivas. Segundo SOUZA,
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A ética situa-se no campo dos princípios morais e dos valores que orientam os homens em
suas ações, tomando como referência outros indivíduos de determinada sociedade. Sendo
um produto histórico social, a ética ilumina a consciência humana à medida que “[…
sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social […] e define o
que é a virtude, o bem ou o mal, o certo ou o errado, permitindo ou proibindo, para cada
cultura e sociedade.” (SOUZA, 1995, p. 187)

É percebível que a ética procura equilibrar a conduta do cidadão, do profissional e,


principalmente, do político, suscitando nesses indivíduos uma profunda reflexão, incitando-
os ao cumprimento da responsabilidade e a realização de previsões das supostas
consequências resultantes de suas decisões. No mundo globalizado e nos países capitalistas
onde há a ganância desenfreada e o imensurável egocentrismo, cresce, substancialmente, a
necessidade das instituições educacionais contribuírem com a formação integral dos
indivíduos e, portanto, com o favorecimento da construção da ética dos sujeitos.

Considera-se que além da família, a escola é o espaço extremamente propício para a


formação ética do cidadão, tendo em vista, que ela participa da formação dos seus
educandos, explicitando regras e valores através dos professores, do material didático
pedagógico, do comportamento e da hibridização de costumes e saberes dos alunos. A ética
é, pois, um objeto de reflexão que contribui com o convívio da pluralidade em todos os
setores públicos, inclusive nas instituições educacionais, principais formadoras da cidadania.

Na medida em que os anos passam, no mundo globalizado, nos países capitalistas e das
tecnologias de ponta, observa-se, com frequência, o rompimento das ações e o
atropelamento à dignidade humana sem nenhum receio ao descumprimento da ética. No
entanto, para que a dignidade seja imposta e a cidadania efetivada, faz-se necessário que a
ética seja buscada, uma vez que ela exige a apregoação do respeito mútuo, da justiça, da
solidariedade e do diálogo. A dimensão da ética favorece a plena formação e construção do
sujeito cidadão permitindo-lhe compreender a sua importância como membro social.

O cidadão que exerce sua ética, preserva a estreita relação humanizadora em seus
diferentes contextos – econômico, político, social, educacional etc., além de assumir o
caráter da cidadania coletiva. Viabilizar a educação ética é, ao mesmo tempo, proporcionar
aos educandos o combate ao preconceito e a discriminação de vária naturezas, valorizando
o diálogo com os presentes em seu meio social.

A ética de um indivíduo é sempre observada e admirada pela sociedade a que ele pertence
pois, ele procura fundamentar as suas ações morais de acordo a razão. Contudo, em meio a
essa gama de influências, atitudes e comportamentos negativos e corrompedores

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vivenciados no ambiente hodierno, a ética deve apresentar-se bastante consistente para não
se desnortear.

Para refletir: Será que poderia criticar-se os outros, uma vez que não age-se com os
princípios éticos ou morais? Segundo o juiz federal Sérgio Moro, “quando se tem a
oportunidade de furtar… não se perde a oportunidade. Como base nos problemas da Lava
Jato ele assegura que os políticos de hoje foram oportunistas no passado e se não for
mudada a estrutura de valores de nossa sociedade com a busca da ética e da moral como
pilares do comportamento, nunca seremos um povo realmente honesto e justo.”

A partir do momento em que se chega a uma fila e que procura-se atendimento antecipado,
sem nenhuma justificativa de prioridade, “jeitinho brasileiro”, estaria, de certa forma,
descumprindo com o dever social e ao mesmo tempo asfixiando a norma ética. Da mesma
sorte, quando recebe-se um troco com erro de superávit e não preocupa-se com a sua
devolução, uma vez que o princípio ético exige que não se deve pegar ou usufruir aquilo que
não lhe pertence, aconteceu a burlação da eticidade. Semelhante as quebras de regras de
uma instituição, que deveriam ser discutidas apenas no lócus ou o apunhalamento a
terceiros quando esses não se fazem presentes pra se defenderem.

Contudo, está nitidamente percebível que a ética é algo que se constrói ao longo da vida.
Certas normas que, anteriormente, eram exigidas, atualmente passaram a ser cumpridas
pelo reconhecimento de sua importância, como o exemplo do professor Cortella: quando o
uso do cinto de segurança passou a ser de obrigatoriedade, alguns motoristas, para
atropelar a lei, usavam camisas do Vasco, por apresentarem uma tarja preta e coincidir com
o cinto, para confundir os agentes de trânsito. Hoje ao entrar no veículo, a primeira coisa
que se faz é colocá-lo sem, no entanto, se precaver de multa mas da própria segurança.
Portanto, conclui-se que a ética vai se construindo a partir da conscientização no dia a dia.

5. A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

Quando se fala de ética, refere-se a questão exclusivamente humana por que ela pressupõe,
escolha e decisão. Ética tem a ver com liberdade, liberdade reflexiva e responsável. Ao
tomar uma decisão, o indivíduo deve usar do conhecimento que possui porque o
conhecimento tem a ver com a ética. Agir sem pensar nas consequências, é agir com
máscaras cínicas e nessa hora o perigo se avizinha.

O indivíduo que tem a ousadia de buscar vantagens sobre o prejuízo de terceiros, aniquila
os seus conhecimentos e burla a sua ética pessoal. É preciso que se tenha o cuidado para o
zelo da integridade, mantendo-se inteiro, transparente e verdadeiro. Zelar pela ética é, ao

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mesmo tempo, zelar pela morada do humano pois ela oferece abrigo, garante identidade e
sustenta a verdadeira marca do ser social.

Sendo a ética a habitação humana, questiona-se: Como encontra-se essa morada? Abriga
ou desabriga? Inclui ou exclui? O vínculo da ética à produção do conhecimento relaciona-se
a capacidade de descartar a ideia de desigualdade dentro da mesma sociedade. A percepção
e a reflexão são os melhores exercícios da ética. François já dizia: “Conheço muitos que não
puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam.”

Para que haja desenvolvimento educacional, para que se construa o autêntico conhecimento
e para que se efetive o caráter do indivíduo em meio as pressões hodiernas resultantes do
modo de viver, exigido pela sociedade, os valores éticos e morais são imprescindíveis.
Somente com ações que direcionem esses valores à produção do conhecimento é que se
propiciaria consumação da verdadeira cidadania. O comportamento do homem na sociedade
depende da reflexão exigida pela ética sobre os sistemas morais produzidos por ele no dia a
dia.

Atualmente há uma acentuada preocupação da sociedade brasileira, de como encontrar


estratégias que possam, de fato, efetivar o respeito às diferenças e o combate a violência.
Os casos de desrespeito, discriminação e outras ações violentas são realmente assustadoras
e inaceitáveis numa sociedade que almeja os princípios éticos e morais.

A ética é um princípio de comportamento que deve estar presente na produção do


conhecimento do indivíduo para que esse torne-se consolidado e compromissado com a
cidadania. Se um motorista, por exemplo, aprendeu que não que não se deve ultrapassar a
faixa contínua e ultrapassou, que não deve exceder a velocidade máxima permitida e
excedeu, infringiu as regras de trânsito e feriu os princípios éticos e morais.

Exercer a ética é algo que requer certo esforço pois tem a ver com a prática da capacidade e
da responsabilidade da pessoa. O conhecimento construído com ética torna-se muito mais
consistente e eficaz além da consolidação de uma sociedade mais justa.

Se a ética é a ciência normativa que conduz ideais promissores dentro da comunidade, uma
vez que o ser humano é um animal social, seria inútil compreendê-la como ciência para
indivíduos isolados. Na verdade tudo o que o indivíduo produz ou realiza, reflete
consequências que podem atingir outras pessoas.

No contexto social, da atualidade, é comum observar alguém querendo sobressair-se melhor


em relação ao outro, sendo mais esperto, apegando-se ao jeitinho brasileiro e a muitas
outras práticas indecentes e reprovadas pela cidadania. Essas atitudes ou maus costumes

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são características de uma sociedade que, pela ausência do respeito, do civismo e da
consideração coletiva macula a verdadeira cidadania.

6. A PRÁTICA DA ÉTICA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

A Constituição Brasileira de 1988, no seu artigo 205º e a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional – LDBEN, artigo 2º garantem: “A educação, dever da família e do Estado,
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho”. Contudo, é a atividade ética que materializa tanto a
cidadania quanto a qualificação do indivíduo pois são construídas e refletidas pelas suas
práticas e ações diárias.

Os princípios éticos nascem de um sentimento social com a apregoação do respeito, da


honestidade e da solidariedade aos seus semelhantes. O progresso humano se dá a partir da
valorização do trabalho, da fraternidade e principalmente da liberdade. Dessa forma a ética
vai interferindo, orientando e conduzindo o homem ao cumprimento de sua função social e,
consequentemente, de sua cidadania. O comportamento do indivíduo em sociedade deve ser
ajustado buscando sempre um desempenho virtuoso em prol do bem comum.

Quando uma pessoa preocupa-se em praticar o bem, fazer o certo e ser justo em suas
ações na própria comunidade, a prática do dever individual e social se consolida. É essa
homogeneidade do trabalho executado que habilita o exercício da cidadania em meio a
classe social que o homem pertence.

Sabe-se que em todas as áreas representativas das atividades humanas há o código de


ética que regulamenta as relações profissionais. São “Conselhos” normativos que exigem
uma atuação democrática e responsável, instrumentos formais que regem notadamente as
profissões e as relações, tanto com a categoria quanto com a sociedade. O código de ética
de cada profissão tem como objetivo a formação da consciência profissional à respeito dos
padrões de conduta.

Entende-se, portanto, que o principal papel da ética, como ciência, é orientar a conduta
humana e propiciar o regulamento comportamental da vida em sociedade para que essa
possa viver plenamente bem. Em resumo, a ética é também uma ponte estruturante que
possibilita ao indivíduo, acesso à cidadania, além de tentar freiar o egoísmo, a
desonestidade, a discriminação, as irracionalidades entre outras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após refletir-se sobre o tema, percebeu-se a grandeza de sua importância e o imensurável


valor de sua conduta inserido nas ações humanas no dia a dia. Conduzir uma missão ou
exercer uma atividade que a sua profissão lhe propiciou sem, no entanto, considerar os
princípios éticos e morais de sua conduta, seria mera contradição de um juramento que
deixou de cumprir com as suas normas.

Torna-se necessário que se reflita no sentido de que novas ações sejam realizadas com o
intuito de tornar as pessoas mais sensíveis, mais responsáveis e mais conscientes das
atividades que praticam em qualquer espaço da vida. O individualismo e a ganância pelo
poder vem quebrando valores, burlando regras e eliminando o verdadeiro sentido da ética e
da moral diante da sociedade.

A ética na educação torna-se concebida a partir do momento em que os valores forem


considerados e o exercício profissional um propiciador de ações humanizadoras. A sociedade
vem exigindo dos indivíduos uma postura aceitável com ações e responsabilidades que
possam, de fato, oferecer respostas que sinalizem a mais perfeita harmonia para o bem
estar social. E, para que isso se concretize, a ética deve estar impregnada nas ações
realizadas no dia a dia, nas mais diversas áreas e nas mais distintas profissões.

Certas classes sociais e políticas relegam a ética, quebrando valores e burlando princípios
em prol do individualismo, ignorando-a e desnorteando-a do seu sentido. No entanto, é
preciso que se discuta conceitos e dialogue as discrepâncias existentes entre sujeitos e
sociedades, com o intuito de abolir-se as práticas errôneas do cenário que vivencia. O
sentido da solidariedade, da consideração e do respeito parece escassearem, tendo em vista
que a dedicação absoluta passou a ser exclusiva do próprio “eu”.

REFERÊNCIAS

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed. São Paulo: ática, 2002.

Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988.

CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre


gestão, liderança e ética. 9ª ed. – Petrópolis, R J, Vozes, 2010.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN / Lei nº 9.394 de 20 de


dezembro de 1996.

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Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, p. 29-30, 2001.

RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Vida Social. Programa de formação de professores em


exercício. Módulo I, Unidade VI. Identidade, Sociedade e Cultura, 4ª ed.
Brasília:MEC/FUNDESCOLA, 2002, p. 53-73.

SOUZA, Sônia Maria Ribeiro de. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.

VAZQUEZ, Adolfo Sanches. Ética Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 24ª ed., 2003.

[1] Formado em Normal Superior pela UESPI (Universidade Estadual do Piauí), Pós-
graduado em Supervisão Escolar pela Faculdade de Teologia Hokemãh – Fateh e Mestrando
em Educação pela Anne Sullivan University

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