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Carole Mortimer
Sabrina 473
Género: Romance.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
CAPÍTULO I
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Ela é uma senhora de estatura baixa, quase da minha altura, creio, com cabelos
brancos ondulados e olhos verdes como os seus. — Ora, eu a descrevi assim, antes de você
sair para o aeroporto — ele a interrompeu, impaciente.
— As malas dela ainda estão no carro! — lembrou-se Darcy, exasperada. Concordava
que tinha o hábito de perder objetos ou esquecê-los, mas isso não acontecia com pessoas!
— Reed, ela contou-me como você era quando criança, como calçava as meias...
— Está bem, acredito em você — cortou-a, irritado, obviamente sem vontade de ouvir
divagações sobre sua infância. Mas que diabos fez com ela?
Reed tinha um tom de voz tão profundo e grave que, quando gritava, Darcy tinha a
impressão de que todos os objetos frágeis ao redor se estilhaçariam. Viu os olhos dele se
estreitando ainda mais e encolheu-se.
— Não fiz nada de mais com ela, Reed. No caminho, sua mãe me confessou que há
anos não lia um jornal inglês, e, quando adormeceu...
— Você calmamente estacionou o carro e desceu para comprar um — ele completou,
desgostoso.
Darcy fixou nele seus grandes olhos azuis.
— Foi apenas questão de minutos...
— Tempo suficiente para minha mãe desaparecer!
— Quer parar de falar como se eu tivesse culpa! — protestou, erguendo as
sobrancelhas com certa altivez — Quando voltei com o jornal, ela já havia desaparecido...
— Você não devia tê-la deixado sozinha!
— Não vi nenhum problema nisso — Darcy defendeu-se encarando-o, mas estreitando
os olhos para enxergá-lo melhor, devido à miopia.
Reed ficou mais irritado ainda ao perceber seu esforço para enxergá-lo. Parecia
suspeitar de algo.
— Darcy, você se esqueceu de colocar suas lentes de contato novamente?
— Não, não esqueci! Apenas não tive tempo de colocá-las. Acordei tarde e, assim que
cheguei aqui, você me pediu para ir buscar sua mãe, e, — interrompeu-se confusa e
humilhada.
— Que ótimo! — ironizou ríspido. — É simplesmente ótimo. Posso entender tudo agora.
— Fitou o teto, tentando se controlar. — Provavelmente, nem foi minha mãe a pessoa que
você encontrou. E a pobre mulher, percebendo o engano, fugiu na primeira oportunidade.
Ah, não! Isso também já era demais! Darcy ficou indignada e branca como cera. Não
sabia como explicar que tinha colocado os óculos para ir ao aeroporto e que os tirara,
segundos antes de entrar no escritório, para que Reed não a visse com aquela armação
escura e pesada. Morreria de vergonha se lhe declarasse isso.
— Está sendo injusto, Reed — foi o que conseguiu dizer.
— Estou? Acho que não.
— Já que confia tão pouco em mim, por que me mandou ir ao aeroporto buscar sua
mãe?
— Eu precisava ficar aqui e não havia ninguém, exceto você, para essa tarefa!
— Se é assim, então não devia ter me contratado como sua secretária.
— Eu não deveria tê-la contratado mesmo, mas achei que o resto do mundo dos
negócios precisava ficar a salvo de suas tolices. — Os lindos olhos azuis logo se encheram
de lágrimas, deixando-lhe a visão mais embaçada ainda.
— Não pode falar isso de mim, Reed, tenho ótimas qualificações.
— É? Pois eu nunca soube de alguém que aparecesse para uma primeira entrevista
para o cargo de secretária às nove horas da noite!
— Seu anúncio pedia exatamente isso! — ela protestou, revoltada.
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Reed suspirou.
— O que só prova que minha secretária temporária era tão incompetente que eu
precisava de outra, mais qualificada e permanente. Mas nenhuma moça ajuizada comparece
à noite para uma entrevista de trabalho, a não ser que o patrão tenha planejado "outras"
atividades para a secretária e que ela decida concordar ou, então, que seja uma tola! —
concluiu, quase fora de si.
Era óbvio qual das alternativas Reed achava que cabia a ela.
— Eu estava em Londres há poucos meses e aquela foi apenas minha segunda
entrevista.
— Nenhuma mulher, em seu juízo perfeito, aparece para uma entrevista num prédio
deserto às nove da noite — ele repetiu, enfático. — Nem mesmo uma caipira vinda do
interior. Ainda me lembro do espanto do vigia noturno, quando me avisou que você queria
ver-me, dizendo que tinha marcado uma entrevista.
Darcy tinha consciência de que corava e que essa seria sua reação sempre que Reed
insistisse em tratá-la daquela forma, chamando-a de tola e fazendo-a lembrar-se das
bobagens que cometera desde que se conheceram.
Também achara estranho uma entrevista para um emprego de secretária às nove da
noite. Mas era a primeira vez que vinha a Londres, depois de viver durante vinte e dois anos
com a família numa cidadezinha pequena. Os únicos dois empregos que tivera desde que
deixara a escola, há três anos, haviam sido lá mesmo, no interior, por isso não imaginara
que, na capital, tudo fosse tão diferente! Como poderia desconfiar que a secretária de Reed
cometera um erro, marcando a entrevista para as nove da noite, em vez das nove da
manhã?
— Ainda assim, consegui o emprego, não foi? — lembrou-o, ressentida.
— Como eu disse...
— Você achou que o mundo dos negócios precisava ser protegido contra mim —
completou, irritada.
Ele aquiesceu e admitiu com relutância:
— E também fiquei intrigado com seu nome. Darcy arregalou os olhos azuis, sem
entender.
— Meu nome?!
Reed concordou de novo, desta vez com impaciência.
— Essa foi à razão pela qual você foi a primeira pessoa que chamei para a entrevista
naquela manhã — explicou, reforçando a lembrança do erro cometido quanto ao horário. —
Bem, suas qualificações eram um pouco melhores do que as das outras candidatas, mas foi
seu nome que me deixou tão intrigado. Não sabia se Darcy era um homem ou uma mulher!
— Você decidiu empregar-me por causa do meu nome — perguntou Darcy, sem poder
acreditar.
— Bem, digamos que seu nome colocou-a em primeiro lugar na lista, porque as outras
três candidatas também tinham boas qualificações.
— Mal posso acreditar no que ouço! — exclamou ela, estupefata.
— Oh, pois acredite! Eu devia era tê-la analisado melhor quando a conheci.
— É... parece que seu sexto sentido falhou dessa vez! Lembrou-o, atordoada com o
que ele acabara de contar-lhe.
Era demais para ela, pensar que não teria conseguido o emprego se, em vez de Darcy,
seu nome fosse Susan Smith!
— Se é por isso, não precisa mais se preocupar comigo. Irei embora.
— Não, até encontrarmos minha mãe! — Reed interrompeu-a abruptamente. —
Esqueça seu orgulho idiota por um momento e tente ajudar-me a pensar num lugar para
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minuto. — Dizendo isso, apanhou o blazer pendurado na cadeira e vestiu-o. — E, por favor,
coloque suas lentes de contato para que, pelo menos a reconheça!
Darcy correu para sua sala e assustou-se ao deparar com Marc Kincaid abrindo a porta
da recepção.
— Agora não, Marc — pediu-lhe, tentando mandá-lo embora antes que Reed o visse. —
Reed não está disposto a vê-lo hoje — Explicou, enquanto Marc a olhava surpreso, mas
nada propenso a recuar.
— Ele nunca está disposto a me ver — admitiu Marc, caminhando em direção à sala de
Reed — Mas...
— E hoje ele deseja vê-lo menos ainda — interrompeu-o. Darcy olhou por sobre os
ombros. Graças a Deus, Reed ainda não havia saído de sua sala. Mas sabia que sua sorte
não duraria por muito tempo.
— Por favor, Marc, vá embora.
— Ele vai desejar ver-me, Darcy, e como! Mas que tal um beijo, primeiro? — sugeriu, ao
mesmo tempo que tocava de leve os lábios dela com os seus.
Não era a primeira vez que Marc a beijava, mas Darcy não conseguia deixar de se
surpreender pelo fato de um homem atraente como ele desejar namorá-la. Era bonito o
bastante para ter a mulher que quisesse, os cabelos dourados emoldurando um rosto
perfeito, iluminado por olhos azuis sempre sorridentes. Tinha um sorriso sedutor.
Nas últimas seis semanas, Marc a convidara para sair todas as noites. E, apesar de
não ter aceitado os convites diários, haviam saído juntos inúmeras vezes.
Darcy sabia que Reed ficaria ainda mais furioso do que já estava, se o encontrasse ali.
Ela o havia conhecido através do próprio Reed. Ambos eram sócios no estúdio fotográfico
que Marc dirigia num dos andares daquele edifício, mas o chefe não aprovava que sua
secretária admitisse relacionamentos pessoais em seu escritório, nem mesmo com o sócio.
— O que aconteceria se alguém entrasse agora? — indagou uma voz gélida
endereçada aos dois, durante o beijo,
Marc ergueu a cabeça lentamente, sem pressa de soltar Darcy, enquanto olhava,
irônico, para o dono daquela voz.
— Eu pediria que a pessoa esperasse até que terminássemos.
— Marc...
— Darcy contou-me que você está de mau humor — Continuou, ignorando os gestos
com que ela tentava interrompê-lo. Algo errado, Reed? — Enquanto falava, abraçava Darcy
de encontro a si, prendendo-a pela cintura.
— Sim, há. Mas prefiro que a própria Darcy lhe conte — Respondeu Reed numa ironia
sutil.
Marc a soltou, olhando-a de frente, observando sua aflição.
— Será algo em que eu possa ajudar? — Insistiu, os olhos brilhando, divertidos.
— Duvido — cortou-o Reed, lançando um olhar fulminante a Darcy.
— Tem certeza? — escarneceu Marc.
— Marc, por favor! — implorou ela, percebendo que seu chefe estava prestes a
explodir. — Reed está com muita pressa!
— Tão apressado que não pode receber uma visita?
— O assunto é muito importante? — perguntou Reed, e Marc assentiu.
— É. E creio que você também pensará o mesmo, se me der um minuto de atenção.
— Não pode esperar e deixar para mais tarde?
— Duvido.
— Marc, a não ser que seja realmente muito importante, por favor, deixe para mais
tarde — pediu Darcy mais uma vez. Sabe, a mãe de Reed chegou de Londres esta manhã e
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eu.
— Eu sei — interrompeu ele.
— A perdi em algum lugar, e... O... o que você quer dizer com "eu sei"?!
Darcy fitou-o, atinando já com o significado de suas palavras. Reed ficou mais tenso
ainda, enquanto fuzilava o sócio com o olhar carregado de raiva e impaciência.
— Quero dizer que sei que Maud chegou dos Estados Unidos esta manhã. Eu já estava
saindo para o almoço, quando percebi uma senhora simpática procurando algo no quadro de
avisos lá embaixo. Notei que ela tinha um jeito tão especial de procurar a informação que
queria, que talvez não a achasse nunca. Bem, então, como sou uma alma muito caridosa,
perguntei se podia ajudá-la. E qual não foi minha surpresa quando descobri que ela
procurava você! — E ergueu o olhar brincalhão para Reed. — Mal acreditei quando disse ser
sua mãe. Parece tão jovem e bonita. — Riu. — Mas, mesmo assim, afirma ser sua mãe
mesmo. Não tive motivos para duvidar mais.
— E o que fez com ela? — perguntou Reed, abrupto.
— Nada. Maud está aí no corredor.
Marc deu de ombros depois de afirmar isso, como se não pudesse entender o porquê
de tanta confusão.
Reed empurrou-o não muito delicadamente, apressado, mas parou quando a frágil
senhora abriu a porta e entrou na sala.
— Olá, querido. — Abraçou e beijou o filho. — Eu estava encantada admirando a
adorável placa com seu nome aí na porta. Você...
— Mamãe!
— Sra. Hunler!
Ela piscou os olhos verdes, surpresa quando Reed e Darcy falaram ao mesmo tempo.
— Sim, meus filhos? — prontificou-se a atendê-los, interessada, olhando especialmente
para Darcy. — Tenho certeza de que lhe pedi que me chamasse de Maud.
Caminhou em seguida até o centro da sala e comentou:
— Vejam só que belo escritório!
— Mamãe, onde é que você esteve todo esse tempo? Interrompeu-a Reed,
controlando-se o mais que podia, enterrando os dedos nas mãos.
Ela piscou várias vezes, sem dúvida muito surpresa com aquela veemência toda.
— Querido, você sabe que não gosto quando fica nesse estado. Não faz bem para o
estômago. Lembra-se de seu tio, que acabou tendo uma úlcera nervosa?
— Por favor, mamãe! — interrompeu-a novamente, fechando os olhos por um instante.
— Você desapareceu do carro de Darcy por mais de duas horas. Onde esteve? — inquiriu-a,
com um brilho de impaciência nos olhos.
Marc, nesse momento, não pôde deixar de rir.
Darcy lançou-lhe um olhar de aviso. Normalmente, os dois homens eram bons amigos,
apesar de terem pouca coisa em comum: apenas o excelente profissionalismo de ambos e o
gosto por belas mulheres. Marc dedicava-se tanto ao trabalho, que chegava a ser
perfeccionista. Reed tinha o mesmo tipo de dedicação aos seus investimentos. Mas diferiam
muito no modo de se comportar com mulheres. Enquanto Marc era mais solto e adorava
"paqueras", Reed nunca permitia que alguém se aproximasse muito dele, nem mesmo as
mulheres que tinha como amantes. Mas num aspecto os dois eram iguais: nenhum deles
alimentava relações mais profundas com mulher alguma.
Maud continuava com a expressão de quem não estava entendendo o porquê de tanto
falatório por sua causa.
— Querido, consegui dar uma boa cochilada no carro de Darcy. Tive o azar de sentar-
me ao lado de um homem, no avião, que não parava de falar! Só dava uma pausa para
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— Acertou.
Marc fez uma careta de desapontamento.
— Já imaginava. Bem, e como está a minha aniversariante?
Aniversariante! Ora, esse tinha sido o pior dia de que podia se lembrar, desde um bom
tempo...
— Ela está bem — mentiu — e muito ocupada, senhor Marc.
— Certo, certo, eu estava apenas praticando minha boa ação do dia.
— Eu sei, Marc, desculpe-me. É que as últimas horas não foram lá grande coisa e...
— Reed despejou toda a raiva em você?
— Só um pouco, e com razão.
— Quer falar a respeito? — encorajou-a suavemente. Darcy balançou a cabeça
negando, ainda muito nervosa para entrar em detalhes sobre a discussão com Reed.
— Talvez à noite eu consiga contar para você, Marc.
— Ah, bem lembrado! Coloque seu vestido mais sexy, Darcy, porque hoje à noite vou
lhe fazer uma surpresa! — ele disse, os olhos brilhando de animação.
Sem dúvida, ele conseguira espicaçar-lhe a curiosidade.
— Que tipo de surpresa?
Marc apertou-lhe a ponta do nariz, num gesto brincalhão. Se contar, não será mais
surpresa. Faça o que eu digo e fique bem bonita, muito "sexy" mesmo!
"Bem bonita", pensou Darcy, assim que Marc saiu, enquanto punha as lentes de contato
diante do espelho. Ora, Marc fotografava as mais belas mulheres durante o dia todo e
ninguém, em seu juízo perfeito, poderia compará-la às beldades que frequentavam
diariamente seu estúdio.
Olhou, com espírito crítico, a própria imagem, observando as mechas do cabelo,
avermelhadas e rebeldes, os profundos olhos azuis que tinham sempre um ar meio distraído,
distante, o nariz pequeno e delicado e as covinhas que se formavam no rosto quando sorria.
Nenhuma maquilagem do mundo seria capaz de torná-la sofisticada, jamais perderia aquele
jeito meio infantil. Certa vez haviam lhe dito que seus cílios escuros, longos e espessos,
contrastando com os olhos azuis, davam-lhe um charme especial. Foi então que decidiu
substituir os óculos pelas lentes de contato.
— Marc se foi? — indagou Reed, aparecendo de súbito, por trás dela.
Darcy sobressaltou-se, embaraçada por ter sido pega admirando-se no espelho, e
guardou-o logo na bolsa. Só então respondeu, sem encará-lo:
— Foi almoçar.
— Ah, sim? Pois estou surpreso de você não ter ido almoçar com ele.
— Bem, Reed, achei que seria melhor esperá-lo para saber se você prefere que eu
retire minhas coisas da mesa agora, ou quer esperar até conseguir uma nova secretária. —
Umedeceu os lábios, nervosa, levantando, depois, o olhar em direção a ele, enxergando-o
nitidamente pela primeira vez naquela manhã. Pareceu-lhe tão ameaçador como antes. —
Talvez, por algum tempo, uma secretária incompetente e desmiolada ainda seja melhor do
que nenhuma. O que acha?
O rosto dele, ainda bastante tenso, ficou mais anuviado.
— Eu estava fora de mim quando lhe disse tudo aquilo, Darcy. Não é o que eu
realmente penso de você.
— Não? — repetiu irónica, sabendo que era exatamente aquilo que ele pensava.
— Não — ele confirmou, e, num gesto de simpatia, caminhou até a sua mesa. — Você
é uma ótima secretária, melhor do que eu. — Interrompeu-se, suspirando.
— Melhor do que sempre me imaginou... — concluiu ela magoada. — Mas sou capaz
de dar conta de tudo, desde que me concentre numa coisa de cada vez — acrescentou com
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amargura.
— Darcy...
— Pelo menos, esforço-me para ser competente.
— Você é. Mas que droga! Acho que não estou me saindo nada bem, tentando me
desculpar! — Nervoso, Reed passou a mão pelos cabelos escuros. — A única desculpa
quanto ao meu comportamento nesta manhã é que estava muitíssimo preocupado e fora de
mim e acho que pode adivinhar o porquê.
Sim, podia facilmente. Reed era um homem que tomava decisões importantes em
questão de segundos, arriscando, em investimentos, milhões de dólares, com uma
segurança de fazer inveja. Era alguém capaz de um raciocínio rápido e de discernir num
segundo qual o melhor caminho a tomar. Na certa, a constante distração de sua mãe
causava nele um profundo aborrecimento.
— Você está querendo dizer que não deseja que eu saia daqui?
— Claro! Devia ter percebido logo, Darcy. Aceita minhas desculpas?
Se queria continuar no emprego, e desejava isso mais do que tudo no mundo, aquele
não era o momento de dizer a Reed que não acreditava que ele quisesse realmente pedir-lhe
desculpas e mantê-la no emprego. Era melhor apenas acatar a decisão, sem esse
comentário.
— Aceito sim, Reed, e agradeço. Gostaria que eu levasse sua mãe ao apartamento
agora? Estou certa de que ela deve estar exausta e precisando descansar.
— Você tem razão, mas eu mesmo a levarei. — O rosto dele ficou tenso, quando viu a
decepção nos olhos azuis. — Por favor, Darcy, isso nada tem a ver com o fato de que vocês
duas poderiam esquecer para onde estão indo... — explicou com ar travesso.
— Como mamãe ficará em Londres apenas hoje, quero passar o resto do tempo com
ela.
— Sem dúvida, Reed.
— Darcy.
— Reed, será que poderíamos passar no Harrod's a caminho de casa? — Maud Hunter
interrompeu-o, entrando na sala. Quero comprar um pouco de chá para levar na minha volta
aos Estados Unidos.
— Não seria melhor esperar até que retorne do cruzeiro? Sugeriu Reed, lançando um
olhar resignado na direção de Darcy. — Não precisará do chá por enquanto.
— Creio que tem razão — ela aquiesceu pensativa, indo até a porta que o filho
segurava para que passasse. — Mas, e se comprássemos café? — sugeriu, esperançosa.
— Não dá no mesmo, mamãe?
— Oh, sim — concordou, dando de ombros. — Bem. Até logo, Darcy. Foi um prazer
adorável conhecê-la. Espero que nos encontremos antes que eu volte para os Estados
Unidos — falou, com simpatia, deixando a sala seguida por Reed.
Darcy apenas teve tempo de erguer a mão em despedida, antes que seu chefe
fechasse a porta firmemente. Ainda conseguiu ouvir a Sra. Hunter sugerindo outras coisas
que gostaria de comprar enquanto estivesse em Londres.
Ficando só, Darcy sentou-se à escrivaninha, refletindo sobre tudo o que vivera nas
últimas horas. Agora sabia com certeza que jamais conseguiria ser o tipo de mulher por
quem Reed pudesse se interessar, pois sempre o faria lembrar-se da mãe distraída e
confusa. Percebera o quanto ele amava a mãe, mas também como, facilmente, perdia a
paciência com as suas constantes distrações. Ele poderia ter, no máximo, pena da garota
distraída que era sua secretária, mas desejá-la. Nunca!
Triste constatação para uma mulher que passara a amá-lo profundamente desde a
primeira vez que o vira.
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CAPÍTULO II
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— Sim — ele confirmou divertido — e, chegando lá, vou jogá-la na cama e fazer amor
com você!
— Marc?!
— Darcy, queria que você visse agora a sua cara! É tão fácil enganá-la, querida, mas
pode ficar tranquila que não pretendo a presença de um público na primeira vez que fizer
amor com você.
— Público?! A primeira vez que fizer amor comigo...?! Ela repetiu, com voz pouco firme,
tentando perceber o alcance das palavras de Marc.
— Você é uma graça, sabia? Após passar o dia todo com mulheres que se despem com
a maior naturalidade assim que entram no meu estúdio, sua inocência é totalmente
refrescante!
Darcy conhecia o trabalho de Marc. Excelente fotógrafo de publicidade, suas fotos para
revistas e anúncios frequentemente envolviam modelos completa ou parcialmente nuas.
Tinha sido engraçada a vez que fora até o estúdio para entregar-lhe alguns papéis de Reed:
uma mulher, vestindo apenas calcinha, abrira—lhe a porta! Darcy enrubescera, dando meia-
volta, e voara escada acima para dizer a Reed que seu sócio estava fazendo filmes eróticos!
Reed achara muita graça, e a acompanhara de volta ao estúdio, onde foram recebidos pela
mesma modelo.
Então, paciente, explicou-lhe que Marc estava apenas fazendo uma campanha
publicitária para o lançamento de uma nova coleção de artigos de lingerie. Mas ninguém lhe
explicou, e ela também não fez questão de perguntar, por que motivo à moça não estava
usando sutiã.
Percebeu que Reed foi excessivamente amável com a modelo, e soube que agia assim
com muitas outras que Marc contratava; daí seu apelido: "Reed, o conquistador". Saía
sempre com mulheres diferentes e Darcy nunca soube de nenhuma que fosse especial,
durante os sete meses em que estava trabalhando para ele.
Um tanto assustada com os comentários estranhos de Marc enquanto se dirigiam ao
apartamento, resolveu prevenir:
— Marc, se essa é a surpresa...
— Vamos, Darcy, relaxe! Não é à toa que Reed acha tão fácil tê-la por perto. Você é
provavelmente a única mulher com quem ele ainda não esteve na cama.
Darcy corou, lembrando o quanto já se imaginara na cama com Reed, amando-o com
loucura. E se entristeceu. Eram fantasias que nunca se realizariam.
— Meu relacionamento com Reed é bom e puramente profissional. Trabalhamos
sempre em harmonia, isto é... quase sempre.
— Ora, Darcy, não o leve muito a sério. Reed é mesmo um homem difícil de se
entender.
— Na verdade, nem tento fazer isso. Já desisti.
Por que não se apaixonara por Marc, em vez de Reed? Era um homem interessante,
bem menos complicado do que Reed, e tinha um agradável senso de humor. Além de bonito
e suficiente para ter qualquer mulher que desejasse. Mas, infelizmente, tudo o que conseguia
era gostar dele apenas como um bom amigo.
— Então? Ainda não me explicou, Marc. Por que estamos indo para o seu
apartamento?
— Espere e verá, aniversariante! — falou enquanto estacionava o carro na garagem do
seu edifício. — Mas, por favor, não fique tão tensa! Quem vê vai pensar que a estou
raptando.
Ainda um pouco traumatizada por tudo o que ocorrera durante a manhã, Darcy percebia
que seu entusiasmo não acompanhara na mesma intensidade o de Marc. Qualquer que
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fosse a surpresa que ele lhe havia preparado, não podia ser desagradável!
Ainda bem que a prevenira sobre o que vestir. O apartamento estava cheio de amigos
de Marc. Após dez minutos sendo cumprimentada por pessoas que mal conhecia, acabou
concluindo que odiava festas surpresa, especialmente oferecidas a ela. Conhecia a maioria
dos convidados superficialmente, através de seu amigo fotógrafo, mas com nenhum deles
formara amizade. Bem, pelo menos o próprio Marc parecia estar se divertindo muito com a
grande surpresa!
— Será que ouviremos uma declaração de Marc esta noite ou ele pretende levá-la ao
altar sem comunicar o fato a ninguém? Darcy voltou-se, rápida, ao ouvir aquela voz
zombeteira. Quase deixou cair o copo que tinha na mão. Engoliu em seco. Não tinha
percebido Reed até aquele momento.
— E sua mãe? — perguntou, embaraçada.
Reed lançou um olhar através da sala, observando os homens e mulheres bem
vestidos e elegantes, agrupados aqui e ali numa alegre animação, enquanto bebiam ao som
da sofisticada aparelhagem da qual Marc tanto se orgulhava.
— Não acho que este ambiente combine com você — comentou, voltando o olhar para
ela.
— Não mesmo— Darcy concordou.
Reed observou-lhe o olhar perdido, meio ausente, e pareceu preocupar-se:
— Se você não o controlar agora, Darcy, duvido que seja capaz de fazê-lo após se
casarem.
Ela piscou, surpresa, e perguntou:
— Sobre o que está falando?
— Marc.
Lançando um olhar na direção de Marc, Darcy viu-o cercado de quatro mulheres que
pareciam completamente enfeitiçadas.
— Ele está apenas se divertindo, Reed.
— Darcy, ele... Esqueça — interrompeu-se brusco. — Cada um deve saber cuidar do
que é seu.
— Marc não é meu! E não tenho a menor pretensão de casar com ele. Não sei o que
lhe deu essa impressão. Marc é apenas um bom amigo.
— Como nós dois?
Darcy sentiu que corava. Até agora encarara sua relação com Reed como bastante
amigável, apesar de sentir por ele muito mais do que simples amizade. Por isso foi sincera
ao responder:
— Não, não como nós. Mas...
— Não é o que eu penso, Darcy. Se você tivesse dado alguma chance a Marc, ele já
teria conseguido ser mais do que um simples amigo. — Darcy ressentiu-se e fez um muxoxo.
— Isso não é nenhuma novidade, só que o que eu quero.
— Creio que entendo o que você quer. Bem, Darcy, sei que fui rude com você hoje
cedo, mas sinto-me responsável por avisá-la. Casamento é coisa séria, e Marc não é homem
de casar. Pelo menos não com uma garota como você.
— Não tenho dúvidas sobre esse assunto e não sei por que você está dizendo isso. Já
disse que não faço a mínima questão de me casar com Marc.
— Não? Quer dizer que ele não vai reclamar se eu levar você comigo para a Flórida, no
domingo?
— Flórida?! — Darcy arregalou os olhos. Sabia que a família dele vivia em Orlando, na
Flórida, há vinte e cinco anos, e que Reed a visitava ocasionalmente. Mas nunca a havia
levado nessas viagens.
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— Não fique tão surpresa, Darcy. Como sabe, tenho muitos negócios lá.
— Sim, eu sei, mas essa viagem parece um tanto repentina, não? — estranhou ela. —
Durante todo o dia não ouvi você mencionar nenhuma viagem. — Reed comprimiu os lábios
e estreitou os olhos, cujo brilho provocava nela um efeito devastador. Darcy sentiu seu pulso
acelerar. No entanto, não podia permitir que ele percebesse o quanto era capaz de perturbá-
la.
— Aconteceu um imprevisto, Darcy. Você virá comigo ou não?
— Claro que sim! Mas aconteceu alguma coisa de grave?
— Nada tão grave que eu não possa contornar — explicou, com a voz tensa.
— Reed, mas que surpresa! — Marc juntou-se aos dois, dando um tapinha no ombro do
amigo. — Convidei-o, mas pensei que talvez não pudesse vir, por causa da chegada, hoje,
de sua mãe.
— Mamãe foi dormir cedo, Marc, e fez questão de que eu viesse me divertir um pouco.
— E você está se divertindo? — Marc desafiou-o, colocando o braço sobre o ombro de
Darcy.
Reed aceitou o desafio.
— Não muito. Você não acha que devia ter sido um pouco mais gentil com Darcy,
avisando-a sobre todas essas pessoas que convidou?
— Ora, Reed, se fizesse isso, não seria mais uma surpresa!
— Darcy não gosta de surpresas, ainda não percebeu? — ele continuou, um tanto
ríspido.
Darcy não gostou dos comentários de Reed. Faziam com que se sentisse uma
garotinha tola e desinteressante. Muito bem, então ele achava que sua vida era insípida e
sem emoções! Mas não era bem assim que ela pensava. Mesmo porque, sendo apenas sua
secretária, a vida já se tornava interessantíssima!
— Mas desta vez, Reed, garanto que Darcy gostou e, se você não estiver apreciando a
festa, não vou prendê-lo aqui, meu velho.
Reed nada disse, apenas colocou um embrulho na mão de Darcy.
— Feliz aniversário, Darcy, Telefonarei para você amanhã a respeito da viagem de
domingo. — E foi se dirigindo para a saída.
Ao passar por uma loira glamorosa, Reed murmurou algo em seu ouvido. A loira deu
uma gargalhada que ecoou pelo corredor enquanto deixava a festa, acompanhando-o.
— Eu gostaria de saber quem, ou o quê o chateou para que Reed fosse embora no
início da festa — comentou Marc surpreso, pois eram ótimos amigos fora do escritório.
— Acho que está preocupado com a mãe dele — disse Darcy, ocupada,
desembrulhando o pacote que Reed lhe dera.
Marc pareceu surpreso com a explicação.
— Por que precisaria se preocupar? Ela me pareceu ser tão meiga e delicada. — Reed
não suporta quando alguém não é tão organizado quanto ele — murmurou, com os olhos
inundados de lágrimas, enquanto fitava a corrente de ouro na caixinha preta de veludo e o
unicórnio que a acompanhava. Um animal lendário e místico, para alguém que vivia num
mundo de sonhos a maior parte do tempo.
No dia seguinte, Reed dirigia seu Mercedes pela estrada que levava a Southampton,
onde sua mãe iria embarcar para fazer um cruzeiro pelo Mediterrâneo.
— Querido, você está indo no caminho certo? — perguntou Maud Hunter. — Parece-me
que aquela placa ali atrás...
— Mamãe — ele a interrompeu, paciente —, já que a senhora gosta de ler mapas de
ponta cabeça, porque “lhe parecem fazer mais sentido”, acho que não está em posição de
dar opiniões sobre os sinais da rodovia.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Maud voltou-se para Darcy, no banco de trás, e lançou-lhe um sorriso cúmplice, como
que incluindo-a na categoria dos eternos distraídos. Uma boa companheira dela, sem dúvida!
Reed havia telefonado cedo naquela manhã, convidando-a a acompanhá-los a
Southampton, porque sua mãe apreciaria muito que fosse. Darcy acabou aceitando o
convite, pois, ainda zonza de sono, não conseguiu encontrar alguma desculpa para não ir.
A festa estivera animada até às três da manhã, e, como era em sua homenagem, não
poderia partir sem magoar Marc. Por isso ficara até o fim. Após todos terem partido, ajudou-o
com a limpeza, recusando o convite para que dormisse lá, apesar da promessa dele de que
lhe cederia à cama, ficando com o sofá.
Reed telefonou-lhe tão cedo que Darcy teve a impressão de que ele não esperava
encontrá-la dormindo em casa ou, talvez, esperasse que Marc atendesse ao chamado.
Pareceu-lhe também óbvio que Reed preferiria que ela não os tivesse acompanhado,
apesar de ser claro o prazer de Maud Hunter em tê-la como companhia. Afinal, agora ele
tinha duas "patetas" para manter na linha!
Ah, como desejava que tudo fosse diferente! Gostaria de ser tão fria e segura de si
quanto as mulheres que telefonavam para o escritório à procura de Reed. Mas duvidava que
pudesse ser assim. Bem, pelo menos enquanto continuasse a ser uma secretária eficiente,
veria Reed. O trabalho era o único ponto de contato entre eles. E levaria ainda um bom
tempo antes que Reed esquecesse o que ocorrera no dia anterior: o famoso episódio Maud
Hunter!
Segurou o pingente em forma de unicórnio na palma da mão. Era uma bonita peça de
joalheria. Queria usá-lo constantemente, ou era uma forma de ter um pouco de Reed.
Embora simbolizasse o que seu chefe pensava dela: uma mulher que vivia no mundo
da lua, fora da realidade.
Mas o que nem ele nem ninguém podia imaginar é que Darcy estivera bem perto de
viver para sempre num mundo assim, muito mais atraente do que a dura realidade. Nunca
falara com ninguém sobre suas fugas do real, exceto com Rupert. E sabia que, com ele, seu
segredo estava bem guardado.
— Continuar, Darcy?
Ergueu a cabeça, despertando de seus devaneios pela voz de Maud, perguntando-lhe
algo. Sem graça, percebeu o olhar irritado de Reed pelo espelho retrovisor. Não era justo!
Por que ficar tão nervoso por um momento de concentração?
Ajeitou-se no banco, sorrindo para Maud.
— Desculpe, não ouvi o que disse. Estava a quilómetros de distância — admitiu, com
sinceridade, olhando desafiante para Reed.
— Oh, sei bem como se sente, querida, não se preocupe. Sabe, eu tinha esquecido de
como a Inglaterra é bonita acrescentou, sonhadora. — É tão verde e... e romântica!
— E úmida e fria no inverno — interrompeu Reed, sem nenhum romantismo.
Maud lançou-lhe um olhar impaciente.
— Não precisa me lembrar disso, Reed. Não tenho a menor intenção de conviver com
você nesse mundo tão terra-a-terra que construiu longe da família. Só quis comentar que
havia esquecido de como a Inglaterra é adorável.
Reed corrigiu—se:
— Você é mais do que bem-vinda para vir morar comigo quando bem desejar, e sabe
disso, mamãe.
Os olhos verdes estavam mais gentis do que nunca.
— Se viesse, em uma semana você se tornaria tão distraído quanto eu. — Riu, sem
rancor. — Seu pai sempre dizia que você era um ótimo atleta por minha causa, porque queria
fugir de mim!
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Darcy escondeu o próprio sorriso com dificuldade, mas se deu conta de que não havia
motivos para rir. Maud Hunter acabara de confirmar o que já suspeitava. Reed jamais se
apaixonaria por uma mulher que se parecesse com a mãe.
— Sabe que não é verdade, mamãe.
— Sei que é. — Maud deu uma gargalhada, e voltou-se para Darcy. — Eu estava lhe
perguntando, há pouco, se gostaria de parar para almoçar, querida.
Darcy olhou para Reed.
— Para mim, o que vocês resolverem estará bem.
— Muito diplomática — zombou ele. — Minha mãe quer parar, mas prefiro continuar.
— Seria bom para sua mãe se parássemos para o almoço ela sugeriu calmamente. —
Mas, é claro, se você preferir continuar. Maud riu suavemente.
— Gosto de sua secretária, Reed.
— Tenho a impressão de que ela gosta de você também resmungou ele, procurando
um lugar por perto onde pudessem almoçar.
Darcy nunca o vira antes engolir calado o seu aborrecimento. Era óbvio que a mãe
causava-lhe aquele estranho efeito. Definitivamente, ele não se mostrava tão charmoso
como de costume.
O "pub" que Reed escolheu para parar tinha um restaurante na sala dos fundos. Todo o
local fora decorado para dar ao ambiente um belo toque de antiguidade secular. Era muito
aconchegante, mas Reed nem parecia notar. Estava realmente mal-humorado.
— Simplesmente ignore-o, querida — aconselhara-a Maud depois de fazerem os
pedidos. — Reed fica sempre assim, mal-humorado, até que mate a fome. Como um bebê.
— Estou certo de que Darcy não está interessada nisso, mamãe — interrompeu-a
Reed.
— Gostaria de saber por que os homens não gostam de admitir que já foram bebê e
que precisavam trocar as fraldas como qualquer pessoa!
— Mamãe!
Darcy sentia dificuldade em controlar-se para não rir, enquanto ele se ajeitava
desconfortavelmente na cadeira.
— Bem, até que você não traga uma boa garota para casa para eu poder contar suas
artes do tempo de criança, contento-me com Darcy. Além disso, tenho certeza de que ela
está interessada em saber que você é um ser humano como todos nós.
Darcy lançou-lhe um olhar indagador, corando um pouco ao perceber a calorosa
compreensão que leu nos olhos da adorável senhora. Maud já sabia que ela amava Reed!
De fato, gostava muito de ouvi-la falar da infância de Reed, tão diferente da sua. Há
anos a família Hunter transferira-se para a América. Maud era inglesa, mas o marido era
americano. De vez em quando, Reed tentava interferir na narrativa, mas Maud o ignorava e
Darcy não o deixava interromper a mãe, desejosa de conhecer os fatos da infância do
homem amado, como toda mulher apaixonada estaria.
Darcy poderia ficar ouvindo-a falar o dia inteiro. Adorava perceber o orgulho de Maud
pelo filho, orgulho que transparecia na voz e no olhar da bela senhora. Como gostaria de ter
conhecido Lloyd Hunter! Os dois, pai e filho, pareciam ter muito em comum. O pai encorajara
muito o filho para sucedê-lo nos negócios, embora talvez preferisse que Reed se tornasse
um atleta, pois ele se mostrava muito bom no esporte quando adolescente.
Finalmente o almoço terminou e Reed precisou dirigir como louco para chegarem a
tempo.
Uma vez alcançado o porto de Southampton, começou a correria, pois a parada para o
almoço os havia atrasado.
Darcy podia apostar que Reed estava se controlando para não dizer que as prevenira.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Mal tiveram tempo de acompanhar Maud até sua suíte e já o navio apitou, avisando os
visitantes para que se retirassem!
— No Mediterrâneo, durante todo um mês... — murmurou Darcy, com ar sonhador e
uma pontinha de inveja, enquanto acenava para Maud, que permanecia no convés do navio.
Como Reed não retrucou, olhou-o e concluiu: — Já sei, com a sorte que tenho,
provavelmente ficaria enjoada durante toda a viagem!
O rosto dele distendeu-se num sorriso pela primeira vez naquele dia.
— Se minha mãe sobreviver, você também conseguirá. — Darcy voltou-se para que
Reed não pudesse perceber a mágoa em seus olhos.
— Obrigada pelo presente, Reed. É lindo! — agradeceu, ainda acenando para Maud.
— Ah, sim? Logo que vi a jóia numa vitrine, achei apropriada para você.
— Realmente, é belíssima.
— Eu também achei. — Enquanto falava, os olhos verdes fitavam o rosto pálido de
Darcy com tal intensidade que ela procurou fugir, desviando os dela. Reed ergueu-lhe o
queixo para que voltasse a fitá-lo. — Qual é o problema?
— Problema?
— Por um momento senti que você parecia prestes a chorar.
— Eu? Chorar? Não! Bem, talvez esteja um pouco emocionada, vendo Maud partir.
Você também não gostaria de sair num cruzeiro? — Disfarçou a emoção com um sorriso
radiante.
— Por que não foi com Maud? — E voltou a olhar para o navio, onde centenas de
pessoas acenavam, a alegria estampada nos rostos excitados pela viagem que estava
apenas começando.
— Não, Darcy. Tenho algo muito importante para cuidar em terra firme. — E seu olhar
tornou-se sombrio.
— Na Flórida?
— Sim.
— O quê... ?
— É melhor irmos embora. Não quero falar sobre isso aqui — disse Reed, observando
as pessoas à sua volta.
Talvez fossem os negócios na Flórida a causa de seu constante mau humor. Mesmo
agora, que a mãe tinha partido, ele ainda parecia aborrecido.
Darcy tentou lembrar-se de algum negócio em particular que nos últimos meses ele
estivesse mantendo na Flórida, mas foi em vão. Não conseguia lembrar-se de nada.
— Posso ajudá-lo, Reed? — ofereceu-se quando já estavam de volta ao carro.
— Não.
Ela se manteve calada, sabendo, por experiência própria, que Reed falaria apenas
quando achasse necessário.
E foi apenas no dia seguinte, quando já estavam em pleno voo rumo à Flórida, que
Reed decidiu colocá-la a par de seus planos. E o que ela ouviu foi o suficiente para abalá-la
por inteiro.
— Darcy? — chamou ele, meio confuso, pois ela parecia em estado de choque após
ouvir as novidades.
Continuou muda, os lábios subitamente paralisados.
— Você poderia repetir o que disse?
— Claro, Darcy. Bem, ficaremos hospedados na casa de minha irmã mais nova, Diane.
— Ouvi essa parte — ela confirmou, esperando que ele não dissesse que suas dúvidas
fossem fruto de distração.
— Quero que todos, incluindo minha família, pensem que estou apenas em viagem de
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
férias.
— Escutei isso também. — E respirou profundamente, ansiosa, aguardando para ver se
Reed repetiria aquilo que pensava ter ouvido.
— Lógico que você não achará difícil fazer com que as pessoas acreditem que somos
um casal enamorado?
Pronto. Acontecera. Ouvira mesmo, não tinha sido imaginação. "Um casal enamorado"
refletiu. Reed nem sequer imaginava como lhe seria difícil fazer o que pedia. Se soubesse,
na certa a colocaria no primeiro voo de volta a Londres. Mas era óbvio que não sabia. Nunca
teria sugerido tal coisa se soubesse que estava apaixonada por ele.
— Marc não precisa saber, Darcy, se é com isso que está preocupada.
Marc... nem se lembrara dele. Sem dúvida, durante o tempo em que estivesse fora,
Marc estaria saindo com suas preciosas e numerosas modelos. Sua preocupação era
consigo mesma. Até onde ela poderia "fingir" que eram um casal enamorado?
— Posso entender por que você está assim relutante. — Não podia!
— Mas pense nisso apenas como um trabalho de férias — continuou Reed
suavemente.
Trabalho?! Seria um castigo!
— Não precisaremos agir como se não pudéssemos viver a não ser abraçados ou nos
beijando. Basta apenas que você não se comporte somente como secretária. Acho que não é
tão difícil assim, Darcy!
— Espere um minuto...
— E, além disso, aproveite a permanência na Flórida para gozar umas merecidas
férias. Relaxe e tudo será mais fácil.
Darcy olhou-o desconfiada, sem muita certeza de ter entendido o que, de fato, Reed
quisera dizer com aquilo. Sem perceber, segurou o unicórnio na palma da mão,
escorregando-o de um lado para o outro na corrente.
— E você ao menos vai me contar o porquê de tudo isso?
— Uma parte — concordou evasivo. — O tanto que eu achar que precisa saber.
— Esta história não está me agradando nem um pouco. — Abanou a cabeça com um
muxoxo de descontentamento. — Até onde quer chegar, Reed?
— Não se trata de aonde eu quero chegar, ou do que quero conquistar — ele disse num
tom severo. — O inocente nessa história toda sou eu.
— Inocente? — repetiu, com a voz tão tensa que quase gritou. — Se você é inocente,
então deve haver algum culpado?
— Sim, há — concordou Reed.
Darcy sentiu o sangue correr rápido nas veias. Pressentia uma grande ameaça
pairando no ar. Sua ansiedade aumentava e a respiração foi se tornando difícil. Veio à
tontura.
— Acho que não conseguirei fazer o que me pede, Reed. — murmurou desesperada,
tentando manter-se consciente.
— Você não precisará fazer nada sobre isso. — Reed estava tão perdido nos próprios
pensamentos, que não notou o quanto ela estava pálida e agitada. — Apenas aproveite
esses dias de férias, Darcy, que eu me encarregarei do resto.
— Que resto?! — Ela engoliu em seco, os dedos apertando com firmeza os braços da
poltrona, tentando controlar uma sensação de crescente mal-estar.
— Negócios, Darcy.
— Que tipo de negócios?
— Particulares.
— E será que ninguém sairá ferido nesta história toda? Perguntou com voz cada vez
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mais trémula.
— Espero sinceramente que não, mas não posso garantir acrescentou Reed.
Não! De novo, não! Ela não poderia passar, uma segunda vez, por uma situação
semelhante!
CAPÍTULO III
Como num sonho, Darcy ouvia vagamente a voz de Reed, aflito, chamando-a a
consciência. Pouco a pouco percebia os ruídos familiares à sua volta.
— Pelo amor de Deus, Darcy, você se esqueceu de tomar o Café da manhã? —
indagou Reed, abanando-a com uma revista.
Num esforço enorme, ela tentou lembrar-se do que a abalara tanto a ponto de
desmaiar. A lembrança voltou instantânea e Darcy sentou-se, tão rápido, que viu o rosto de
Reed novamente girando a sua frente.
— Aqui está, Sr. Hunter — ofereceu a aeromoça, atenciosa, aproximando-se com uma
xícara de café e outra de chá numa bandeja. — Tem certeza de que não quer mesmo que eu
verifique se há um médico a bordo?
— Não, obrigado. — Pegou a xícara de café e colocou açúcar. — Darcy precisa apenas
de sua dose de açúcar.
O fato de que ela costumava colocar duas colheres cheias de açúcar no café, tomando-
o sempre melado, era motivo de brincadeira entre os dois no escritório, pois Reed achava
isso um absurdo, já que tomava café puro, sem açúcar algum. Mas, no momento, Darcy não
se sentia muito disposta a rir.
— Não me esqueci de tomar o café da manhã — afirmou, quando a aeromoça se
afastou, após lançar-lhe um sorriso solidário. — Desmaiei apenas, é tudo.
— É tudo? — Reed empurrou o café para ela, não muito gentilmente. Seu gesto parecia
traduzir uma dúvida sobre a causa do desmaio.
— Exato. Por quê? — Fitou-o confusa e desconfiada, quase esquecida do pânico que a
fizera desmaiar. Não. Não, ele não podia estar pensando... — Claro que você deve estar
achando que uma gravidez viria bem a calhar e até reforçaria a ideia de que somos "um
casal apaixonado", não é, Reed?
— Se está mesmo grávida, não deveria estar tomando café — disse ele irritado,
tentando tirar-lhe a xícara da mão. —Discutir com Reed tornava-a menos frágil às
lembranças antigas. Deliberadamente, antes de entregar-lhe a xícara, Darcy tomou um
grande gole de café, o que, de imediato, fez retornarem-lhe as forças. Era estranho, mas
acreditava mesmo que seu organismo precisava do máximo de glicose possível.
— Não estou grávida — negou num tom aborrecido.
— Mas acabou de admitir que estava!
— E não era isso, por acaso, que o "senhor" estava pensando, enquanto me socorria?
— acusou-o irritada.
— Mas, pelo que sei, a concepção da virgem imaculada aconteceu apenas uma vez na
história! — Reed prendeu a respiração. — Você não podia escolher uma hora mais
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Darcy engoliu em seco, nervosa demais por ser obrigada a conhecer tantas pessoas
estranhas de uma só vez, e todas elas muito importantes para Reed. Sabia que, na
realidade, não importava se não conseguisse causar-lhes uma boa impressão, mas, de
qualquer forma, desejava muito que gostassem dela. Por isso não queria encontra-los do
modo como estava agora, as roupas amassadas, o cabelo em desalinho e com ar cansado,
após longas horas de voo.
— Será que eu poderia tomar um banho primeiro?
— Claro — respondeu Diane, amigável. Ela era uma versão mais jovem da mãe, os
longos cabelos louros, quase prateados, os olhos tão verdes quanto os do irmão. — Sabe,
você não é nada do que estávamos esperando que fosse.
— Diane!
Ela lançou um sorriso travesso ao irmão.
— Ora, Reed, eu não quis dizer que não a aprovei. Pelo contrário, estou
agradavelmente surpresa! Sei que o resto da família também ficará. Minha irmã Linda quase
jurou que você devia ser uma mulher chata e sofisticada.
— Por favor, Darcy, não ligue. Diane não pode ficar com a boca fechada, senão é capaz
de morrer! — zombou Reed.
Diane riu. Tivera sorte em herdar também a delicada estrutura da mãe e possuía uma
beleza que parecia não sofrer a ação do tempo. Quanto mais idade tivesse, ficaria com os
traços mais refinados.
— Linda está tentando persuadir Wade a se transferir para Miami, Reed. Diz ela que
está cansada daqui — anunciou Diane.
— E Wade certamente se recusa, não é?
— Adivinhou. Também ele foi seu primeiro amigo, não foi?
— Foi, sim. Creio que é melhor Linda ir se acostumando com a ideia de envelhecer em
Orlando. Wade nunca sairá daqui.
— Também penso assim. — Diane voltou a rir. — Espero que me desculpe por ter
convidado toda a família para o jantar, Darcy.
— Mas durante meses, pensamos que a secretária de Reed fosse um homem! Não
pode imaginar nossa surpresa quando soubemos que vocês estavam namorando!
Darcy evitou olhar para Reed, percebendo que ele não gostara nada do comentário da
irmãzinha nova.
— Eu a desculparei de qualquer coisa, desde que me assegure de que há ar-
condicionado aqui — brincou Darcy, tentando evitar que Reed desse uma resposta dura para
Diane. Além disso, estava mesmo desesperada com o calor.
Haviam mudado de um avião para o outro quando chegaram em Miami. Acostumados
com o ar fresco das últimas horas, no aeroporto e nos dois aviões, o calor e a umidade de
meados de maio em Orlando provocaram um efeito devastador em Darcy. Quando ela e
Reed deixaram o aeroporto e saíram à rua para pegar um carro até a casa de Diane
Donavan, Darcy começou a perceber o terrível calor úmido que passaria a sofrer. Um passo
apenas para fora do carro que Reed alugara, e ela admitiu que teria que ficar em ambientes
com ar-condicionado se desejasse sobreviver naquele lugar!
— Você logo vai se acostumar com o calor — consolou-a Diane.
— Creio que nunca me acostumarei. — Balançou a cabeça desesperada. — Se faz
todo esse calor à noite, só Deus sabe como será durante o dia! Por favor, Diane, diga que há
ar-condicionado no meu quarto! — implorou. Não podia se imaginar dormindo de outra
maneira.
— Fique tranquila, temos ar-condicionado na casa toda.
— Graças a Deus! — Darcy apoiou-se no braço de Reed.
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— Preparei um jantar para ser servido à beira da piscina, mas, se você achar que é
muito.
— Não! Não precisa se preocupar. Como você disse, logo me acostumarei.
"Nem em um milhão de anos!", pensou. Não podia entender como as pessoas
escolhiam lugares como aquele para morar!
Diane não pareceu convencida com as palavras de Darcy. Entretanto, voltou-se para
Reed:
— Você ficará com seu quarto, como de costume, Reed.
— Ótimo. Então vamos, Darcy?
Ele a conduziu pela mão ao longo de um corredor que levava aos dormitórios.
Darcy não entendia como Reed podia parecer tão à vontade, sem calor, trajando uma
camisa e um blazer cinza. Ela havia tirado a jaqueta logo que deixaram o aeroporto, dobrara
as mangas da blusa e, mesmo assim, ainda se sentia acalorada.
— Sinto muito, Reed. Sua irmã deve estar pensando que sou uma chata.
— Claro que não. Diane não está pensando nada disso. — Reed abriu calmamente a
porta do quarto, cuja decoração era predominantemente masculina.
Toda a casa era linda, grande e térrea, construída entre inúmeras árvores, perto de um
lago maravilhoso. O extremo bom gosto usado na decoração da sala estendia-se também
aos demais cômodos. Predominavam a elegância e o conforto. Diane e Chris Donavan eram,
provavelmente, pessoas tão ricas quanto Reed.
— Bem, não se preocupe — comentou Darcy, desconfiada, sentando na beirada da
cama de casal. — Não perguntarei onde é o meu quarto ou onde você vai dormir esta noite.
Os olhos verdes estreitaram-se, fitando as malas de ambos os lado a lado no chão.
— Bem que eu já devia ter imaginado que Diane acharia natural dividirmos o mesmo
quarto.
Ela ficou aliviada por ele não ter dito "dormíssemos juntos", porque tinha certeza de que
o que Diane esperava era mesmo que dormissem. Tinha notado o brilho malicioso nos olhos
verdes da irmã de Reed ao informar a ele que teria o quarto de sempre. E por que não?
Provavelmente, Reed ainda era um adolescente na última vez em que tivera uma namorada
com quem não dormia, e isso devia ter acontecido há cerca de vinte anos!
— Isso não lhe ocorreu em nenhum momento? — indagou ela, e percebeu, divertida,
que ele estava totalmente desconcertado com a ideia de dividirem a mesma cama.
— Para dizer a verdade, não. — Reed sentou-se na cama, ao lado dela, suspirando
fundo. — Que faremos agora?
— Você não está sendo muito lisonjeiro falando assim — ela riu, tentando esconder
uma certa decepção por vê-lo contrariado com a ideia de passarem a noite juntos.
— Isto é sério, maldição! Fingir que estamos passando férias juntos é uma coisa, mas
isto — olhou para a cama de casal — É outra coisa bem diferente.
— Tem medo do que Samantha possa pensar? — indagou ela, referindo-se à mulher
com quem Reed andava saindo ultimamente em Londres.
— Ela nem me passou pela cabeça. É com você que estou preocupado.
Ora, mas não precisava! O que mais queria, há muito tempo, era dormir no mesmo
quarto com ele. Será que um homem não enxerga quando uma mulher está apaixonada? A
irmã de Reed percebera isso no primeiro olhar e Darcy notara o brilho de aprovação em seus
olhos verdes, tão parecidos com os dele.
Darcy deu de ombros.
— Ainda podemos dar uma desculpa qualquer e mudar para um hotel.
Reed balançou a cabeça, negando essa possibilidade.
— Diane nunca me perdoaria. Deus, nada disso havia me ocorrido!
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Agora que ocorrera, era evidente que não estava gostando nem um pouco! Darcy se
levantou.
— É uma cama bem grande, Reed — comentou, com uma naturalidade que estava
longe de sentir. — Duvido que possamos nos tocar durante a noite, se não desejarmos isso.
— O problema é... — Reed se levantou e começou a caminhar pelo quarto. —
Desejaríamos?
Darcy voltou-se para olhá-lo e percebeu, surpresa, que Reed parecia estar admirando-
a, pela primeira vez, como uma mulher atraente. Precisava descobrir isso justo agora, que
estava quase sem maquiagem, os cabelos despenteados e as roupas amassadas?
— Nenhum de nós é tão idiota a ponto de acreditar que nos manteríamos passivos,
juntos um do outro — Resmungou ele, enfiando as mãos nos bolsos da calça. — Quando um
homem e uma mulher ficam juntos numa cama, mesmo que não queiram, a química dos
corpos toma conta da situação.
— Poderíamos perguntar a Diane se ela tem um quarto de solteiro? — Sugeriu ela
quase sem respirar. — Diga à sua irmã que prefiro dormir bem folgada, com este calor.
— Não vai adiantar, temos ar-condicionado aqui. Além disso, devo parecer apaixonado
por... Cuidado! — gritou ele, quando Darcy deu um passo para trás, tropeçando nas malas. E
correu para socorrê-la, antes que caísse no chão acarpetado. — Não me diga que se
esqueceu de que as malas estavam aí!
Darcy se esqueceu de tudo quando ele a abraçou. Nunca percebera antes, mas Reed
tinha uns riscos finos e dourados nos olhos, que pareciam inflamar-se quando a fitavam
como naquele momento. Sentiu o coração disparando e os seios arfando de encontro ao
peito musculoso. Os olhos verdes perscrutavam os seus, a respiração dele queimava-lhe os
lábios.
— Eu trouxe isso para vocês... Opa! — disse uma voz feminina que não era a de Diane.
— É melhor trancarem a porta primeiro ou colocar um aviso: "Não perturbe", quando
estiverem... ocupados! — acrescentou maliciosamente.
Reed irritou-se com a interrupção, afastando Darcy para olhar para a irmã mais velha.
— Talvez você devesse bater antes de entrar, Linda — resmungou, pegando os dois
copos de refresco que ela trouxera.
O cabelo de Linda tinha o mesmo tom louro-prateado de Diane, recolhido num coque
trançado. Os olhos eram de um turquesa vivo, ao invés de verdes. Um tanto mais alta que
Diane, chegava quase a ter a mesma altura de Reed. O biquíni sumário que usava revelava
seu corpo perfeito e escultural, num porte elegante. Outra diferença entre as duas irmãs
podia ser percebida na expressão do olhar: os olhos de Diane eram calorosos e amigáveis;
os de Linda, frios e indagadores.
Acharia muito interessante conhecer o marido de cada uma. Como seriam esses dois
homens casados com irmãs tão diferentes?
Mas se Darcy estivera observando Linda O'Neal, esta fizera o mesmo com ela. A
surpresa que Diane demonstrara ao vê-la se refletia mais intensamente nos olhos turquesa.
— Já sei! — antecipou-se Darcy, pondo um fim no silêncio que caíra no quarto. — Sei
que não pareço com nada do que você esperava, mas, definitivamente, sou uma mulher,
apesar do nome! — Seu olhar cândido encontrou o da outra. Para espanto de Darcy, um
brilho divertido surgiu, suavizando o belo rosto de Linda.
— Se você consegue entusiasmar Reed daquela maneira, eu não duvidaria...
— E me entusiasma mesmo — Reed interrompeu a irmã e tomou um gole da limonada.
— Então, creio que você é exatamente o que esperávamos que fosse. — Linda sorriu
de modo encantador. — Agora, que tal guardarem um pouco desse ardor para mais tarde? A
carne do churrasco já está pronta e você sabe como Diane fica aborrecida quando alguém
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CAPÍTULO IV
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soubera que, se algum dia Reed a tomasse nos braços e a beijasse, como tinha feito há
pouco, seria essa a reação dela: seus sentimentos abafados explodiriam, deixando-a frágil.
— Reed! — Diane chamou impaciente. — Você e Darcy são nossos hóspedes de
honra!
— Isso quer dizer que os demais não têm importância — reclamou Mike, sem rancor.
— Não podem me culpar. Vocês todos se convidaram — Diane informou. — Reed...
— Deixe-os em paz, querida — interrompeu-a Chris. — Não vê que estão
apaixonados?
Darcy percebeu, pela expressão de Reed, que ele ouvira pelo menos esta última
observação e parecia não ter gostado. Mas deveria, pois a família toda ficara convencida de
que mantinham um relacionamento real.
Sem demonstrar-se contente, Reed nadou para a borda da piscina. Saiu e voltou-se
para ajudar Darcy, polidamente.
— Você teve oportunidade de conhecer mamãe, antes de ela partir para o cruzeiro? —
perguntou-lhe Diane, assim que sentaram para comer.
— Darcy foi conosco até o navio — respondeu Reed por ela.
— Não a achou ótima, Darcy? — Wade riu com uma expressão bem diferente da que
Darcy esperava de um advogado. Não era tampouco sofisticado para o tipo de esposa que
tinha. Ao contrário, o reservado Chris parecia um marido mais adequado a Linda.
— Você contou a Darcy — perguntou Linda, rindo — sobre aquele dia em que mamãe
pegou o seu carro e bateu na porta da garagem?
Wade deu uma gargalhada alegre, lembrando-se.
— Maud é uma ótima sogra quando está longe.
— E aquela vez... — Linda tentou continuar.
— Darcy não está interessada em ouvir falar dos "acidentes" que mamãe provoca —
interrompeu Reed, mal-humorado.
— Mas foi graças a um desses "acidentes" que você nasceu, Reed. Ela confundiu as
datas... e...
— Diane!
— Sabe, Reed, você mudou bastante desde que foi para a Inglaterra... — acusou
Diane, sem esconder seu aborrecimento.
Darcy imediatamente reconheceu que Reed não estava achando graça nos
comentários sobre a mãe dele, porque tinha tido a "sorte" de contratar uma secretária igual a
ela.
— Peço que me desculpe, Diane.
— Não. Não o desculpo. Fiquei tão contente quando você telefonou dizendo que viria, e
agora você fica brigando comigo.
— Creio que nós deveríamos ter deixado vocês descansarem sozinhos esta noite,
ficando o jantar para amanhã — Mike reconheceu. — Mas acho que nos precipitamos porque
estávamos todos muito curiosos.
— Em conhecer Darcy?
Mike concordou com um gesto de cabeça.
— E o que você esperava? Nosso irmão solteiríssimo telefonou avisando que estava
trazendo uma garota para casa, e queria que ninguém ficasse ansioso por conhecê-la?
— Já entendi. — Ele riu, encontrando o olhar de Darcy.
— Mas não acharam que, desse modo, poderiam até assustá-la?
— Ei! Não somos assim tão assustadores. — Wade protestou.
— Não. São piores do que isso — acrescentou Reed, descontraindo-se aos poucos. —
Esta cena familiar está me parecendo igualzinha à da família Walton, da tevê.
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rosto em chamas, fitou Reed, que segurava para ela o garfo e a faca.
— Desculpe—me, Diane — repetiu.
— Não seja boba, não foi nada — consolou-a Diane, com simpatia.
Talvez não tivesse sido nada para os outros, mas não para Reed. Sua distração a
traíra. Afinal, ninguém se esquecia de que tinha um prato no colo... Só mesmo ela.
Mais tarde, enquanto caminhavam em direção ao lago, Reed comentou:
— Darcy, devia tê-la avisado sobre eles. Se eu próprio, algumas vezes, me sinto
sufocado pela superproteção da família, só Deus sabe o que acontece com uma pessoa que
ainda não os conhece!
— Você se sente sufocado na presença deles? Reed concordou, olhando-a de relance.
— Quando permaneço uns meses longe deles, sinto falta do calor e da afeição que
transmitem, mas, quando retorno, depois de um tempo aqui, isso acaba se tornando
sufocante. Estou lhe parecendo ingrato?
— Provavelmente, como a maioria dos irmãos mais velhos, numa família de quatro
filhos. É muita responsabilidade para uma só pessoa! Mas não é nenhum crime, Reed!
Ele a fitou surpreso.
— Que observação inteligente, Darcy! Pela primeira vez alguém conseguiu entender
como me sinto, em certos momentos. Aliás, esse foi um dos motivos pelos quais fui para
Londres há dez anos. Diane, Mike e Linda, todos estavam satisfeitos, fechados no nosso
círculo familiar. Achei que eu precisava buscar mais do que isso na vida.
— E conseguiu o que queria?
— Não. Ainda continuo me preocupando com todos eles, mesmo a distância.
— Mas você sempre me pareceu uma pessoa solitária, Reed.
— Só até chegar aqui. Aí, fico tão completamente envolvido pelo excesso de atenção
deles, que minha vontade é esconder-me debaixo de um lençol, até que tudo termine e eu
possa voltar à minha "querida" solidão.
Esse era um lado de Reed que ela não conhecia: um homem simples, sob aquela
máscara de poder e dinheiro. E começava a amá-lo ainda mais por isso.
Darcy contemplou o espetáculo do sol se pondo do outro lado do lago, deixando
reflexos rubros sobre a placidez da água. Toda aquela beleza pareceu-lhe descolada,
quando ouviu as palavras que Reed pronunciou, com amargura:
— Desta vez não adiantará nada fazer de conta que estou cobrindo a cabeça com um
lençol. Não, enquanto não conseguir eliminar minhas suspeitas...
Instintivamente, Darcy colocou a mão sobre o braço dele, como que para protegê-lo.
— Reed...
— Não vamos falar sobre isso agora, Darcy. Não se esqueça de que estamos num
palco!
O braço musculoso de Reed, sob o tecido fino da camisa que colocara sobre o calção
de banho, a perturbava. O calor que emanava dele envolvia-a, tornando-a mais lânguida e
frágil ao seu contato.
Reed baixou a cabeça, aproximando os lábios dos dela. Darcy não pôde resistir e pôs
toda a sua alma naquele beijo, enlaçando-o pelo pescoço e acariciando-lhe a nuca.
O beijo foi se prolongando e se tornando mais exigente, deixando-os quase sem
controle. Reed não parecia estar num palco, fingindo apenas para convencer a família.
Aquele beijo era bem real! Assim como as carícias que ele lhe fazia nos cabelos, nos
ombros.
— — Reed! — ela despertou do transe ao sentir-lhe as mãos acariciando-lhe os seios,
cujos bicos enrijeciam-se ao contato, desmentindo seu protesto.
Reed encarou-a, surpreso, durante um instante. Então, uma vaga frieza escureceu-lhe
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os olhos verdes.
— Está vendo? A química dos corpos acaba tomando conta de nós! — disse
rudemente. — Preciso falar com Diane sobre o problema de dormirmos juntos.
— Reed!
Os olhos verdes se estreitaram ao se voltarem para ela, mas ele não procurou
aproximar-se mais.
— Por favor, fale com Diane, mas não na frente de toda a família — Pediu embaraçada,
o rosto em chamas.
— Prefere que todos continuem a pensar que somos amantes? Darcy deu alguns
passos para trás, distanciando-se, mas manteve a cabeça erguida, os olhos fixos nele:
— Não quero que pensem que não somos! Reed riu, aproximando-se dela.
— Tem razão. Diane correria para o telefone amanhã bem cedo e contaria para Mike e
Linda que pedimos quartos separados.
— E você gostaria de me ver sendo humilhada desta maneira?
— Você tem razão. Pensarei em algo que possa resolver o problema sem confundir
ninguém.
— Ótimo... porque, definitivamente, não dormirei na mesma cama com você!
Bem que estava tentada, mais do que tentada. Deus, como estava! Mas quando o ouviu
reduzir toda aquela emoção despertada pelo beijo trocado, momentos atrás, a uma simples
reação química. Fora tola demais! Química?! Droga!
Voltaram imediatamente para casa. Darcy estava ainda mergulhada em reflexões,
quando ouviu a voz de Mike:
— Reed está nos pondo a todos para fora. Disse que vocês dois estão cansados e
querem dormir. Eu, no lugar dele, nem pensaria em dormir agora. Darcy olhou para o pátio
onde Reed se despedia da família, com ar severo.
— Sinto muito — sorriu para Mike, meio embaraçada —, A mim vocês não
incomodariam, se ficassem.
Mike olhou-a com simpatia.
— Reed é quem tem razão. Nunca deveríamos ter pensado em vir justo hoje conhece-
la. Mas também não é nada comum ele aparecer em casa trazendo uma garota...
— E parece-me que todos queriam me conhecer antes que pudesse desaparecer como
uma miragem.
— É algo assim. Temos discutido, anos a fio, tentando adivinhar que tipo de mulher faria
nosso exigente irmão apaixonar-se a ponto de casar-se.
— Tenho certeza de que nenhum de vocês adivinhou que seria alguém como eu —
brincou ela.
— Nada disso, Darcy. Não imaginamos é que Reed fosse tão sensato.
Sensato? Será que a família estava acreditando que o irmão estivesse mesmo
apaixonado por ela?
— O que há entre nós ainda não é tão sério.
— Com Reed tudo é sério ou então não é — declarou Mike, com convicção.
— Talvez sim, no que diz respeito ao trabalho.
— No que diz respeito a tudo — corrigiu ele. — Sentimos muito a falta de Reed aqui em
casa, durante todos esses anos.
Darcy olhou-o com atenção. Percebeu sinceridade naqueles olhos muito azuis. Reed
parecia ser mesmo o ponto de apoio da família. Mas uma família sempre se separa, cada um
seguindo o próprio rumo. Entretanto, Reed estava em constante conflito consigo mesmo,
desde que se mudara para Londres. Agora, vendo-o entre seus irmãos e cunhados,
compreendia que ele precisava tanto da família como esta dele. E ninguém parecia ter a
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intenção de viver grudado em Reed, sufocando-o, mas precisavam tê-lo por perto. Reed
parecia não entender isso, ou, se entendia, tentava esconder de si mesmo que a
necessidade era mútua.
— Maria está prometendo proibir seus jogos de golfe por um mês, se você continuar
flertando com Darcy — avisou Reed, bem-humorado.
Mike fingiu uma expressão de horror.
— Não! Por Deus! Tudo, menos meu golfe! — disse, colocando a mão sobre o coração,
como se tivesse sido atingido mortalmente.
Reed riu, a seriedade de momentos atrás esquecida por completo.
— O meu outro prazer na vida é admirar belas mulheres! — Mike olhou com satisfação
para Maria, com o belo corpo arredondado pela gravidez.
— Michael Hunter! — Protestou ela, enquanto ele a abraçava, indo em direção ao
carro.
— É melhor aproveitarmos o embalo e irmos embora também — Propôs Linda a Wade,
assim que Mike e Maria foram embora. — Reed já está cansado de nós.
— Eu não o culpo por querer estar a sós com Darcy. — O marido a abraçou. —
Lembro-me do tempo em que você não via a hora de chegarmos em casa.
— Isso foi antes de você adquirir a mania de ficar em casa — retrucou Linda, entrando
no carro seguida pelo marido. Darcy observara atentamente o diálogo entre o casal.
Percebera uma leve insinuação de desentendimento na observação de Wade e na resposta
de Linda. É... desconfiava de que as coisas não andavam bem entre eles.
— O que há com os dois? — perguntou Reed, assim que partiram.
— Um pequeno desentendimento, é tudo — explicou Diane, com um sorriso não muito
convincente. — Isso acontece nos melhores casamentos.
— No seu também? — Reed fitou-a com atenção. Diane abraçou o marido, enquanto
respondia:
— Chris e eu somos muito felizes.
Reed voltou o olhar na direção em que o carro do casal seguira.
— Será que o problema deles não é causado pela vontade que Linda tem de mudar-se
para Miami?
— Quem pode saber? Deixe-os resolver seus problemas, Reed — Sugeriu Diane,
puxando o irmão para dentro de casa. — Conseguirão, você verá. Como de costume.
— Eles brigam muito?
— Como todos os casais brigam. Agora, vamos tratar de mudar as malas de vocês para
o outro quarto.
Darcy e Reed passaram para um quarto com duas camas de solteiro, sem que Diane
fizesse comentário algum.
— O que você disse a ela? — Perguntou Darcy, enquanto se deitava, o rosto em brasa,
por perceber a nudez de Reed, que havia tirado o roupão e se deitara na cama ao lado. Ela
puxou rápido o lençol até o queixo. Uma das coisas que esquecera de trazer fora a camisola!
Reed deu de ombros, num gesto desinteressado.
— Eu disse a Diane que não era por mim, mas que você preferia dormir sozinha nesta
época do mês.
— Você não disse isso!
— E por que não?
— Oh, Reed!
— Querida, toda mulher passa por isso uma vez por mês falou suavemente.
— Sim, mas...
— Foi o que consegui pensar como desculpa para as camas separadas. Você pensaria
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em algo melhor?
— Não, mas.
— O que acha que está acontecendo realmente com Wade e Linda? — perguntou, de
súbito, mudando de assunto.
Ambos estavam nus sob os lençóis e calmamente discutiam sobre uma das funções
mais delicadas do corpo da mulher, e ele resolvia falar sobre o problema conjugal da irmã!
Era demais!
Pensando bem, se estavam lá para descobrir quem o vinha traindo, qualquer suspeita
devia ser cuidadosamente analisada. Darcy preferia que não fosse necessário envolver
pessoas tão queridas. Sabia que Reed desejava que o sabotador de informações não fosse
alguém da família. Mas a possibilidade parecia muito remota. Além disso, Reed não era um
homem que falava de seus problemas pessoais com qualquer um. Ela devia até gostar de
ser sua confidente.
— É bem provável, como Diane falou, que não seja nada de importante.
— Ela não disse bem isso. Afirmou que resolveriam seus problemas sozinhos, como de
costume. O que significa que costumam ter problemas. Não me parece um casamento muito
feliz.
— Reed, Wade não era seu amigo, antes de se casar com Linda? — ponderou Darcy.
— Sim, mas também é meu advogado aqui — ele revelou de repente. — Será que uma
velha amizade poderia ser comprada por um preço alto? Ficou imerso em pensamentos, a
cabeça no travesseiro, apoiada sobre um dos braços.
Darcy olhou para ele minutos mais tarde. Os olhos estavam fechados e a respiração
regular.
Dormia tranquilo.
Ignorá-la assim era demais! Onde estava a famosa "química"?
CAPÍTULO V
Na manhã seguinte, quando acordou, Darcy percebeu que Reed não estava no quarto.
Vestiu-se rapidamente e saiu à procura dele. Encontrou Diane sentada à mesa do café.
— Reed saiu, dizendo que precisava ver alguns velhos amigos. Pensei que estivessem
de férias juntos.
— E estamos.
Darcy olhou sério para Diane. Imaginava que os velhos amigos aos quais ela se referia
provavelmente eram pessoas que poderiam dar a Reed alguma informação a respeito dos
negócios. Mas não era justo que ele se levantasse e saísse sem avisá-la.
Diane notou a fisionomia contrariada de Darcy e encorajou-a.
— Eu não ligo — Darcy mentiu.
— Ótimo! Tem certeza de que não quer comer mais nada?
Darcy sentiu o estômago revirar só de pensar em comer alguma coisa depois da noite
terrível que passara. Uma longa noite de pequenos cochilos, tentando manter-se coberta. O
lençol escorregava o tempo todo! Era urgente, durante aquele dia, arranjar uma camisola de
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qualquer jeito!
— Espero que não tenha se cansado muito, ontem à noite — Preocupou-se Diane,
vendo-a dar outro bocejo. — Quando Mike e Linda tomam uma decisão, nada os convence
do contrário. Não era o momento adequado para virem.
— Adorei conhece-los! Verdade — afirmou ela, percebendo que Diane ainda parecia
em dúvida.
— Acho que Reed não gostou muito da reunião dessa noite — riu Diane.
— Estou certa de que você o entendeu mal. Reed avisou a que horas voltaria? —
perguntou Darcy, tomando um gole de café. Apesar de gostar de Diane e de saber que as
duas se dariam bem, sentia-se pouco à vontade com pessoas estranhas, Reed poderia ao
menos ter perguntado se ela gostaria de acompanha-lo.
— Avisou que voltaria para o almoço, Darcy.
Eram dez horas e o almoço, na certa, seria dali a umas três horas, pelo menos.
— Você conhecia Reed antes de se tornar sua secretária? Perguntou Diane, curiosa,
sentando-se do outro lado da mesa, em frente a ela.
Darcy já se preparara para esse tipo de pergunta.
— Não. Conheci-o na entrevista. Eu... nós percebemos há pouco tempo que nos
sentíamos atraídos um pelo outro inventou.
— E é sério? — perguntou Diane, simulando um ar de naturalidade.
Nesse momento, Darcy se sentiu perdida.
— Você quer saber se minhas intenções para com seu irmão são dignas?
— Deus! Pareço tão antiquada assim? Devo estar sem prática.
— Bem, pela reação de todos vocês à minha presença, percebi que Reed não tem
trazido muitas namoradas para cá.
— Foi assim tão óbvio? — Diane riu brincalhona, e acrescentou: — Por que não
contamos logo o que gostaríamos de saber uma da outra, em vez de ficarmos perdendo
tempo para nos conhecermos bem? O que acha, Darcy?
— Acho ótimo, Diane.
Assim, quando terminou de tomar café e ajudou Diane com a louça, Darcy já sabia que
Reed, até aquele momento, nunca havia levado uma garota para ser apresentada à família.
Daí a razão por que todos ficaram tão excitados. Sentiu que Diane ficou desapontada
quando a informou de que o relacionamento entre ela e Reed não era assim tão sério, e que
estavam apenas aproveitando a viagem dele para passarem as férias juntos.
— E você tem certeza de que Reed também se sente da mesma maneira em relação a
você? com um gesto de cabeça, Darcy aquiesceu:
— Estamos apenas nos divertindo juntos, Diane. Pode crer.
— Pensei, todos nós pensamos... Foi Reed quem lhe deu essa corrente? — indagou,
muito interessada no pequeno unicórnio que repousava no colo de Darcy.
Surpresa com a mudança de assunto, Darcy respondeu:
— Sim. Foi um presente de aniversário — e segurou o unicórnio na palma da mão,
intrigada com o brilho de satisfação que via nos olhos da outra.
— É adorável!
— Diane?
— Sim?
— Diane, o quê...
— Já que temos algumas horas, até que Reed retorne, por que não aproveitamos para
fazer compras? Há um shopping excelente aqui perto. Dentro de vinte minutos, saímos,
certo?
Darcy podia jurar que o assunto sobre a corrente e o unicórnio estava terminado, pelo
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menos por enquanto. Seria bom saírem. As compras serviriam para distraí-la, além de poder
escolher uma camisola para aquela noite. Queria dormir sossegada!
— Diane, Reed está muito preocupado com Linda e Wade comentou, mais tarde,
entrando no carro.
— Linda e Wade estão sempre discutindo, Darcy. Wade é um advogado de renome e
muito sério quanto ao seu trabalho. Por isso, quando finalmente chega em casa, gosta de
relaxar, enquanto Linda quer sair e, por isso, discutem.
— Então não é nada sério demais, é?
— Creio que alguma coisa mais atrapalha o relacionamento. Estão casados há seis
anos, e Wade quer filhos. Ele não tem família, além de nós, e deseja formar a sua própria.
— E Linda não quer filhos?
— Pelo menos, ainda não. Acho que Wade acabou por dar-lhe um ultimato.
— Ter filhos quando não se quer realmente deve ser difícil e não seria uma resposta
satisfatória.
— Estou certa de que Wade sabe disso — afirmou Diane com segurança. — Ele está
apenas tentando fazer com que Linda deixe de ser tão cabeça dura. A gravidez de Maria tem
ajudado muito neste caso.
— Mike e Maria parecem muito felizes.
— E são mesmo — confirmou Diane, dirigindo o enorme carro com tranquilidade. —
Mike tem muitos planos na cabeça, agora, mas estão passando por certa dificuldade
financeira no ramo imobiliário, que anda um pouco estagnado. Dou graças a Deus por Chris
ter saído desse ramo.
— Ele saiu? — Perguntou Darcy, sentindo-se um pouco culpada por estar extraindo
tantas informações sobre a família através da irmã de Reed. Mas seria melhor que ela
fizesse isso em vez do próprio Reed.
— Ele e Mike eram sócios. Até que Chris viu o hotel e resolveu compra-lo. É um dos
mais exclusivos da região — Acrescentou orgulhosa. — Claro que o turismo externo
decresceu um pouco nos últimos tempos por causa da alta do dólar, mas, apesar disso,
estamos nos saindo muito bem.
Era fácil perceber a prosperidade do casal, tanto pela bela casa, como pela maneira
como viviam. Mas era evidente que toda a família passava por problemas: Wade estava
ressentido com Linda; Mike e Maria com algumas dificuldades financeiras; Diane e Chris
sentindo, às vezes, a situação econômica um tanto instável. Mas nenhum desses motivos
parecia suficiente para que desejassem obter dinheiro às custas de Reed.
Naquela mesma noite Darcy contou a Reed o que soubera através de Diane. Cada um
deitado na sua própria cama e ela usando a camisola de algodão que comprara no shopping,
tendo o cuidado de verificar se o tecido não era transparente.
Reed levantou-se e caminhou pelo quarto, muito à vontade, como se ela estivesse
acostumada a ver homens andando assim pelo seu apartamento, todas as noites! E, mesmo
que estivesse, tinha certeza de que ainda seria afetada pela beleza daquele corpo, que era a
própria estátua de Apolo. A única e essencial diferença é que Reed era de carne e osso!
Haviam jantado apenas com Chris e Diane. Chris estava um pouco mais expansivo do
que na noite anterior, e Diane continuava a mesma, sempre monopolizando a conversa.
Reed é que parecia mais taciturno do que de costume, após o encontro com os "velhos
amigos".
Depois de dar alguns passos pelo quarto, Reed finalmente falou:
— Não posso culpar Wade por desejar uma família; pelo contrário, ele tem tido até
muita paciência quanto a isso. Também não creio que tenha algum motivo para me trair. Não
pode ser ele!
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Darcy concordou.
— Ele apenas quer ter filhos, o que não me parece ser uma razão forte para obter
dinheiro de um modo fraudulento. Só se houver mais coisas que desconhecemos. Você
descobriu algo de novo hoje?
— Ninguém parece saber de nada, ou não estão querendo se expor, não sei. Às vezes
tenho a impressão de que estou imaginando coisas!
— E está?
— Não!
Reed parecia chateado, e Darcy não podia culpa-lo por sentir-se daquela maneira.
Amava a família e não suportava a ideia de que algum deles pudesse estar traindo sua
confiança. Ela achou que era hora de distraí-lo um pouco, parando de pensar sobre o
assunto, pelo menos por algum tempo.
— Sabe, Diane ficou muito interessada pelo unicórnio com que você me presenteou,
junto com a corrente de ouro. Por que será?
— Não tenho a mínima ideia. Talvez tenha apenas lhe agradado — Reed deu de
ombros, parecendo indiferente.
— Mas como ela pôde adivinhar, logo que o viu, que foi você quem me deu? Eu não
contei nada.
— Os amantes geralmente se presenteiam com jóias.
— Reed...
— Escute, será que poderíamos dormir agora? — Ele se voltou, fitando-a com os olhos
verdes brilhantes pelo reflexo da luz do abajur sobre a mesinha de cabeceira. — Já é tarde e
estou acordado desde a madrugada passada.
— O que houve? Não conseguiu dormir?
— O que acha? O danado do seu lençol ficou escorregando a noite inteira —
confessou, impaciente, deixando-a embaraçada. — Agora já sei que você tem uma marca de
nascença na.
— Reed...!
Descontraído, ele riu parecendo vários anos mais jovem, com os olhos brilhando,
divertidos.
— É bem onde suas lindas pernas encontram o resto do corpo — acrescentou, com
satisfação. — E não é visível quando usa biquíni.
— Eu sei. — Darcy sentiu que o rosto devia estar mais vermelho que seus cabelos.
Droga! Tinha certeza de que havia prendido bem o lençol junto ao corpo! Mas de que outra
maneira Reed poderia saber da sua marca de nascença?
— Tem o formato de uma meia-lua. Você teria sido queimada como feiticeira se vivesse
no século XVII. Naquela época não gostavam de ruivas com marcas de lua no corpo!
— Ou de homens com olhos verdes e cabelos negros como o demônio! — revidou ela,
furiosa.
Reed riu. O rosto iluminado pela luz do abajur parecia lançar-lhe sortilégios e magia.
Darcy estremeceu.
— Será que devo jogar um feitiço sobre você?
Ele já tinha feito isso! Toda aquela conversa sobre feiticeiras, magias e sua marca de
nascença a perturbara. O lençol dele também havia escorregado durante a noite e ela não
conseguira desviar os olhos dos contornos musculosos daquele corpo nem por um segundo.
Por que Reed não deixava aquela "química" vir à tona de uma vez? Da parte dela,
certamente, não haveria recusa...
— Depois disto você ainda será capaz de continuar trabalhando comigo?
— Disto o quê?!
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— Disto aqui — Reed deu uma olhada ao redor e, com um movimento amplo do braço,
mostrou-lhe o quarto que dividiam.
Darcy mordeu os lábios, Provavelmente seria muito difícil voltar a ser sua secretária,
depois da intimidade repentina entre ambos. Mas, ao mesmo tempo, não podia se imaginar
trabalhando para outra pessoa.
— Claro que sim. Afinal, estamos apenas dividindo um quarto. O que tem de mais
nisso?
— E acha que isso é pouco?
Havia um clima de sensualidade pairando no ar, entre eles, e Darcy estremeceu de
novo ao perceber o olhar cheio de desejo no rosto de Reed, Engoliu em seco.
— É a química?
Ele deu um profundo suspiro.
— Você é uma mulher extremamente atraente, Darcy, sabia disso? Estou começando a
perceber também que tenho uma queda por sardas... por seu corpo. E então.
— Deve ser o calor!
— Não me importa por que motivo seja. Quero beijar cada uma dessas adoráveis
sardas. Darcy soltou um pequeno grito de susto, mas o ar ficou preso em sua garganta,
fazendo-a tossir engasgada. Reed correu para acudi-la, dando-lhe uns tapinhas nas costas.
— Pode deixar, já estou bem — ela disse, afastando a mão dele. — Você estava
brincando quando disse aquilo?
— Claro que não! — Sentou-se na cama, junto dela, ajeitando-lhe carinhosamente o
cabelo caído na testa. — Sempre a achei muito atraente, Darcy.
— Sempre? Mas...
— Agora não, Darcy — gemeu ele. — Tenho tentado me manter afastado de você... Na
verdade, estou até surpreso com o sucesso de minhas boas intenções até agora, mas você
está terrivelmente sexy nessa camisola.
— Sexy?
Os olhos de Reed escureceram, antes de comentar:
— Quem quer que ele seja, é um estúpido. Você...
— Quem quer que seja quem? Reed, do que está falando?
— Do homem que você não tirava da cabeça, logo que começou a trabalhar para mim.
Parecia tremer de medo quando qualquer pessoa se aproximava de você!
Ela desviou o olhar, as lágrimas embaçando sua visão.
— Não entendo sobre o que você está falando!
— Darcy?
Ele tocou-lhe o rosto de modo a força-la a olhá-lo, e viu seus olhos azuis cheios de
mágoa, as lágrimas molhando-lhe o rosto.
— Com os diabos! — Levantou—se, brusco. — Veja, ainda está aí em seus olhos! Você
parecia tão diferente nestes últimos tempos e eu... Droga! — Ajeitou o roupão, mas suas
formas revelavam que não usava nada sob ele.
— Para onde você vai? — perguntou Darcy ajoelhada na cama, vendo-o ir em direção à
porta.
— Para qualquer lugar longe daqui!
Lentamente, Darcy tornou a se recostar nos travesseiros. Reed tinha razão. Tinha
havido um homem na sua vida. Mas ela o amara por equívoco e ele a incentivara. De tudo,
restara apenas uma mágoa que já estava passando. Mas falar sobre Jason para Reed a
levaria forçosamente a falar sobre outras coisas. E isso ela não podia, ainda.
Um engano, fora apenas isso. Mas ela, na época, não percebera. Será que esse
equívoco iria arruinar toda a sua vida? Será que nunca se livraria desse sentimento de
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culpa?
— Vamos, sua preguiçosa! Vamos passear, levante! — Ouviu uma voz familiar perto de
seu rosto, enquanto, meio aturdida, sentia um aroma agradável.
Reed. E não parecia estar zangado. Darcy abriu os olhos, distinguindo agora o cheiro
de café.
Reed sentou-se ao seu lado na cama, com uma xícara na mão.
— Achei que isso a despertaria.
Darcy o fitou, enquanto bebia o café. Ele não retornara ao quarto, pelo menos enquanto
permanecera acordada. Mas onde quer que tivesse passado a noite, parecia ter-lhe feito
bem. Estava bastante disposto e relaxado, e ela se sentia um lixo! Não era justo o homem
nunca parecer estar mal, como uma mulher, após uma noite mal dormida!
— Reed.
— Química, Darcy — interrompeu ele na defensiva, enquanto lhe acariciava o rosto. —
Para mim essa proximidade platônica foi um esforço sobre-humano.
— Isso é tudo o que pensa? — indagou ofendida. — A noite passada.
— Trazê-la para cá foi um erro — Reed levantou-se, colocando as mãos nos bolsos. —
Esta situação entre nós é absurda. Se ao menos eu tivesse imaginado que esperavam que
dormíssemos juntos! — acrescentou, como que falando mais para si mesmo.
Darcy virou-se para colocar a xícara sobre a mesinha do lado oposto, de modo que não
percebesse a decepção estampada em seu rosto. Não gostava nada de vê-lo considerar a
noite passada como um erro e gostava menos ainda de ser usada apenas para a execução
dos planos que ele arquitetara!
— Talvez eu devesse arranjar uma desculpa qualquer e voltar a Londres, Reed.
— Nem pense nisso! Preciso de você aqui comigo, Darcy. Eu vim pedir desculpas. Sei
que tenho sido ingrato. Sinto muito. Por favor, fique — Pediu com suavidade.
Ela iria até à lua ou às estrelas, desde que Reed lhe pedisse. Mas não estava certa de
que, ficando ali, correria menos risco do que numa viagem interplanetária!
— Por favor, Darcy.
Como uma mulher podia resistir quando seu amado lhe pedia para que ficasse ao lado
dele com tanta intensidade? Então concordou com um gesto de cabeça.
— Está bem, Reed.
Um brilho diferente surgiu nos olhos verdes, mas desapareceu rápido demais para que
ela pudesse decifrar. Reed, então, sorriu.
— Vou preparar seu café da manhã. Diane decidiu ir com Chris ao hotel quando eu lhe
disse que estava planejando sair com você.
— Pode deixar que preparo meu próprio desjejum — ela protestou. — Como apenas
torradas pela manhã.
Ele se afastou, parando indeciso, junto da porta.
— Estou com vontade de dar uma volta de carro com você. O que acha?
Darcy deu de ombros.
— Pode ser.
— Como todos supõem que estamos em férias, achei que poderíamos dar uma de
turistas. O Bush Gardens fica há apenas uma hora daqui. A não ser que prefira ir a Disney
World...
— Qual desses lugares é o mais tranquilo?
— Bush Gardens. Mas não precisa ir comigo se não quiser, Darcy.
— Oh, não. Quero ir. Nunca viajei de férias com tudo pago.
— E o que a faz pensar que estou pagando todas as suas despesas? — Olhou-a de
soslaio.
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— Opa! Estou brincando, Darcy — tranquilizou-a. — Você está sendo paga para
receber minha total atenção. O que mais uma mulher poderia desejar?
Reed podia achar tudo uma brincadeira, mas, no que dizia respeito a ela, era a pura
verdade. O que mais ela poderia desejar, senão estar ao lado dele, sendo ainda paga para
isso?
Reed parecia mesmo decidido a agradá-la e, quando Darcy chegou pronta à cozinha, a
mesa já tinha sido posta com a refeição preparada para dois.
— Acho que fiquei com apetite de repente — disse ele, malicioso, observando-a chegar,
usando um top acompanhado de um short de algodão amarelo claro. Depois murmurou,
admirando-a francamente:
— Você está linda, Darcy.
"Faço o que posso para conquista-lo", teve vontade de dizer, mas se conteve. Para
Reed parecia normal flertar com ela, na verdade, até se divertia fazendo isso. Mas não
estava tão certa dê que Reed gostaria tanto se fosse ela que estivesse fazendo a mesma
coisa com ele.
— Hummm! O café parece ótimo! — Darcy sorriu, sentando-se à mesa.
— Sua blusa está desabotoada — Reed esticou o braço por sobre a mesa, alcançando
o botão no ombro da blusa larga. Darcy sentiu o calor daqueles dedos na pele e se arrepiou.
Você está maravilhosa, Darcy. Linda como um girassol.
— Obrigada. Acho. — disse meio confusa. "Será que os girassóis são bonitos?",
pensou. "Parecem-me espalhafatosos demais."
Reed apertou-lhe o ombro, antes de abotoar-lhe a blusa.
— Não pense muito agora, tome o café, precisará estar bem alimentada.
Foi um conselho que provou ser verdadeiro. Bush Gardens podia ser qualquer coisa,
menos jardins tranquilos com alamedas sombreadas pelas copas das árvores, como Darcy
imaginara que fosse. Também conhecido como o "Continente Negro", era exatamente isso,
mas em miniatura. Após entrarem no local, caminharam por um lugar que poderia bem ter
sido uma parte trazida direto do Marrocos, com seus vendedores ambulantes, encantadores
de serpentes e dançarinas de ventre. Darcy precisou puxar Reed de perto de uma delas!
Lá havia de tudo: centenas de animais selvagens andando livremente, inclusive tigres
brancos e amarelos na área do Congo. Parecia até que estavam em algum lugar da África e
não na Flórida!
Fizeram também um passeio de barco pelas correntezas do rio Congo, e Darcy riu
muito quando Reed ficou encharcado da cabeça aos pés, antes mesmo de chegarem ao
meio da viagem. Seu riso se transformou num grito assustado quando um jato de água
atingiu-a, em cheio, no rosto e no peito.
— Essa moda de roupa molhada cai bem melhor em você do que em mim! — caçoou
Reed, enquanto olhava desinibido para a blusa dela, colada aos seios.
Darcy também não pôde deixar de admitir o efeito devastador que as roupas molhadas
dele lhe causavam: a calça colada às coxas musculosas e aos quadris estreitos, a camisa
transparente deixando entrever os pêlos do peito. Mal conseguia disfarçar o desejo de
levantar suas mãos a tocá-los.
— Humm, pensamentos como esses não combinam com nossa vizinhança. — Disse
Reed, apontando para as crianças que brincavam por perto.
Um leve rubor subiu ao rosto de Darcy, pega de surpresa bem no auge de suas
fantasias.
— Nem tampouco aqueles que lhe passaram pela cabeça minutos atrás — ela replicou,
com uma pontinha de afetação.
Ele sorriu.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Darcy.
— Reed! Por favor! — gritou ela.
— Eu falei que não queria confusão, moça — disse o rapaz, olhando, nervoso, em torno
do estacionamento vazio. — Você ouviu o que a moça disse. Entregue-me o dinheiro ou vão
se dar mal!
— Darcy, provavelmente ele nem tem uma arma.
— Gostaria que eu provasse que tenho? — ameaçou o rapaz.
— Oh, Reed! — Darcy tremia tanto que mal conseguia se manter em pé, enquanto
fitava o bolso do rapaz quase que hipnotizada. Se ele atirasse. — Tome! — Tirou a carteira
de dentro da bolsa e jogou tudo no solo, para surpresa do ladrão. Agora, por favor, vá
embora. Vá embora!
O rapaz pareceu satisfeito com a quantia em dólares que encontrou e correu para a
motocicleta estacionada perto dali. Antes de partir, atirou a carteira vazia no chão.
Reed ainda parecia atónito com o modo como Darcy tomara aquela iniciativa.
Mas tudo o que Darcy conseguira ver fora a arma no bolso do rapaz, trazendo-lhe à
memória uma outra, apontando para ela. Sentiu a cabeça girar.
Pôde ainda ouvir o grito, ver o sangue, sentir a escuridão, antes de cair.
CAPÍTULO VI
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Darcy, sobre o que está falando? Já foi assaltada antes? Por isso estava tão
determinada a entregar o dinheiro? — Perguntou Reed, segurando-a pelos ombros.
— Eu disse a eles que não poderia sair de casa novamente... Rupert falou que a
chance de acontecer de novo era tão remota
— Vou chamar o médico, Reed — resolveu Diane, calma, mas preocupada com o
estado de Darcy. — Acho melhor você coloca-la na cama.
Darcy foi carregada para o quarto apoiada de encontro ao peito másculo. Ficou sentada
na beirada da cama como uma boneca, enquanto Reed a despia antes de ajeitá-la sob o
lençol. Olhava fixamente o teto, apesar de nada ver, além de uma mão calejada que
segurava a pistola. Ouvia o disparo, via o corpo da mulher caindo e a poça de sangue que se
formava. Deus, o sangue...
Desesperada, começou a gritar, sem perceber o que fazia.
— Está tudo bem, Darcy, sou eu, Reed — ele a acalmou, enquanto ela o abraçava, em
pânico, lembrando-se daquela tarde, tempos atrás.
— Você está fora de perigo. — Onde estavam? Ah, sim, na cama, mas não em uma de
solteiro. Entretanto, o quarto parecia-lhe familiar. Era o mesmo de quando chegaram, o de
Reed, com cama de casal. E já era noite, agora. O médico tinha acabado de sair.
— O doutor deu-lhe um sedativo. Como se sente? — indagou Reed.
“Como há dois anos”, pensou ela.
— Agora, volte a dormir, amor. Amanhã cedo conversaremos, se você estiver melhor.
— Não — Darcy falou, pela primeira vez, sabendo que teria que contar a Reed pelo
menos parte do que acontecera no passado.
— Preciso contar-lhe uma coisa, mas agora. Talvez amanhã não consiga falar. Eu quero
que você saiba.
— Está bem, conte, se deseja mesmo.
Não desejava falar do passado, mas Reed merecia algum tipo de explicação.
— Ele entrou no banco justamente quando.
— O banco é que foi assaltado?! Eu pensei...
— Sei o que pensou, Reed. Acontecem sempre assaltos a bancos com muito dinheiro
em caixa, nunca a bancos provincianos de cidades pequenas de que ninguém ouviu falar.
Mas aconteceu! Tínhamos acabado de abrir quando aquele homem entrou armado. Assim
que o vi, apertei o alarme. Ele percebeu, entrou em pânico e começou a atirar.
— Acertou em você?
— Não em mim — Darcy balançou a cabeça, deixando as lágrimas rolarem-lhe pelo
rosto. — Acertou na mulher a meu lado. Eu trabalhava com ela há quatro anos, desde que a
sua filhinha mais nova entrara na escola.
— Oh, meu Deus, Darcy! Que coisa terrível! — Reed abraçou-a com força.
— Por minha causa, três crianças ficaram sem mãe e um homem perdeu a esposa.
— O que é isso, Darcy! Nada de se culpar. Você fez o que achou que devia fazer.
— Era apenas dinheiro o que ele queria, Reed! Um amontoado de papel! E Jayne
morreu.
— Querida, aquele homem poderia ter atirado mesmo se você não tivesse feito soar o
alarme.
— Sim, é verdade — concordou ela. — Mas também poderia não ter feito nada. Quem
sabe?
— E vem se culpando por isso todo esse tempo?
— Você não se sentiria da mesma forma? — Darcy perguntou com amargura. — Sabe,
não fui sempre tão esquecida assim como sou agora. Após o assalto, sofri um colapso
nervoso. Foi como se tivesse erguido uma barreira ao meu redor para que nada me tocasse.
42
Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Isolei-me completamente de tudo. Então Rupert me mostrou que esse isolamento estava
acabando comigo.
— Rupert?
— Meu psiquiatra. Ensinou-me que eu tinha que viver cada dia, uma coisa de cada vez.
— Quando você falou em Rupert eu pensei. Então, não há homem algum em seu
passado? — Os olhos verdes se estreitaram.
— Houve um homem também, Reed. Foi um triste engano. Por causa dele decidi
mudar-me para Londres, para fugir das lembranças.
— Foi quando veio trabalhar para mim? Darcy, você devia ter me contado. Eu teria
tentado ajuda-la!
Pela primeira vez desde que começaram a conversar, ela o fitou, desviando o olhar ao
perceber-lhe a expressão penalizada.
— Não sinta pena de mim, por favor, sou eu a sobrevivente!
— Graças a Deus, querida! — E abraçou-a, afundando o rosto em seus cabelos.
— Desculpe o que fiz hoje à tarde. Eu só queria que aquele homem pegasse o dinheiro
e fosse embora.
— Agora vamos esquecer tudo isso, Darcy. Acha que conseguirá dormir?
Era estranho, mas ela achava que sim, que dormiria. Todo o trauma que vivera após a
morte de Jayne amenizara-se ao dividi-lo com alguém, como fizera com Reed, e, agora,
estava feliz por isso. E ele fora compreensivo e amigo.
Reed não a deixou um só minuto à noite, sempre afagando-a. Darcy acabou por
adormecer, tranquila, nos braços dele.
No dia seguinte, os noivos continuaram juntos, à beira da piscina, mas não tocaram no
assunto do assalto.
Darcy nunca se sentira tão feliz, como no momento em que preparavam o almoço
juntos. Estavam sozinhos, pois Diane fora para o hotel com Chris, certamente para deixa-los
à vontade.
Quando se lembrava do assalto recente, Darcy estremecia, mas Reed, com carinho e
paciência, dava-lhe o conforto necessário para suavizar seu medo. Era como se estivesse
conhecendo um novo Reed e como se não existissem barreiras entre ambos.
— Reed, você não gostaria de estar fazendo alguma outra coisa? — perguntou-lhe,
depois de terem passado a tarde juntos.
— Eis uma questão bastante atraente — ele respondeu com um olhar apreciativo,
admirando-a no seu biquíni bastante revelador.
Ela corou.
— Quero dizer, você não devia estar tratando de negócios?
Reed retirou os óculos de sol, semicerrando os olhos por causa da claridade.
— Esqueça os negócios, Darcy. Tratarei disso numa outra hora.
— Mas...
— Eu não devia tê-la envolvido neste assunto. Se soubesse o que aconteceria, jamais
a teria trazido para cá.
— Como você poderia adivinhar? Assaltos à mão armada não costumam acontecer
sempre com a mesma pessoa.
— Mas aconteceu com você. E só de pensar no perigo que correu, sinto-me um
irresponsável...
— Estou bem agora. Rupert disse...
— Gostaria de conversar com esse Rupert. Você tem o telefone dele aqui?
— Mas é meu psiquiatra, Reed...
— Sei exatamente quem ele é — cortou Reed. Darcy engoliu em seco.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Você não está achando que sou louca só porque preciso de um, não é?
Reed sentou-se, tomando as mãos dela entre as suas.
— Claro que não! Só queria perguntar a Rupert se posso ajuda-la em mais alguma
coisa.
Comovida, Darcy sentiu lágrimas inundarem-lhe os olhos. Muitas pessoas a olhavam
com estranheza e até se afastavam, quando sabiam que estava fazendo análise com um
psiquiatra. Reed, pelo contrário, queria ajuda-la. Cada vez ele há surpreendia um pouco
mais.
No entanto, para apoiá-la, bastava que ficasse a seu lado e lhe desse carinho, como já
estava fazendo.
— Você avisou a polícia sobre a noite passada? — indagou Darcy, procurando desviar
o assunto.
Ele deu de ombros.
— Telefonei e relatei o ocorrido. Descrevi o garoto, apesar de saber que de nada
adiantará. A Flórida tornou-se um lugar perigoso, infelizmente. Reembolsarei o dinheiro que
perdeu.
— Dinheiro não é o importante.
— Você trabalhava para mim, quando aconteceu.
— Eu estava passando um dia agradável, com um homem que eu... — Interrompeu-se
a tempo de evitar uma declaração, mostrando sua confusão ao evitar olhá-lo.
— Um homem que você...
— Admiro e respeito muito! — concluiu aliviada. — E, se tentar me reembolsar esse
dinheiro, eu...
— Sim? — indagou ele, aproximando—se.
— Saiba que não tenho medo de você, Reed Hunter!
— Espero mesmo que não tenha! E parece que não está com medo disso também.
Juntou ação às palavras e deitou-se sobre ela na espreguiçadeira, as coxas
musculosas pressionando-lhe as pernas, o peito largo roçando-lhe os seios.
— E agora, está com medo, Darcy? — ele murmurou, tocando-lhe de leve os lábios.
— Não... com você — disse ela, erguendo a cabeça esperando um beijo.
— E com outros homens?
Agora não era hora de falar sobre Jason.
— Não há outro homem, Reed.
— E Marc?
— Reed, por favor! — pediu Darcy, excitada com o roçar dos lábios dele no seu
pescoço, num toque cheio de paixão e sensualidade, despertando-lhe uma sensação de
prazer que só ele poderia proporcionar-lhe. — Por favor.
— Deus! Não consigo me controlar quando você fala comigo dessa maneira... — E
seus lábios se uniram, seus corpos se colaram num abraço ansioso.
Reed pressionou ainda mais o corpo de encontro ao dela, ao mesmo tempo em que lhe
entreabria os lábios para um beijo mais íntimo e sensual.
— Me deixe amar você, Darcy — ele pediu, enquanto separava-lhe as pernas com as
dele e a cobria de beijos.
Tonta de tanto prazer, Darcy gemia em desespero.
— Reed, oh, Reed!
Repletos de paixão, os olhos dele pareciam queimá-la. Enquanto a beijava no pescoço,
implorou com a voz enrouquecida:
— Me deixe possuir seu corpo, Darcy! — Em sua voz havia uma urgência que a fez
estremecer.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Se não fosse pelo pequeno triângulo de tecido do biquíni, Reed já a teria possuído, em
meio à profusão de carinhos e beijos. Já lhe havia tirado a parte de cima ao baixar a cabeça
para beijar-lhe os bicos rosados, que logo se enrijeceram.
Darcy arqueou-se, ofegante, ao sentir-lhe os beijos úmidos no ventre. Desejava tocá-lo
da mesma forma. Podia sentir o membro enrijecido de encontro ao corpo...
— Darcy, você é adorável... — ele murmurou.
Reed apoiou-se nos cotovelos para que ela o abraçasse e o acariciasse. E estremeceu
com os toques sensuais das mãos delicadas.
— Darcy, eu quero.
— Olá, pessoal, cheguei! — gritou Diane de dentro da casa.
— Vocês estão na piscina? Reed? Darcy?
Trémulo, Reed acariciou o rosto de Darcy e deu-lhe um beijo ligeiro nos lábios.
— Cansei de falar para a mamãe que deveria ter sido filho único, mas nunca desejei
tanto isso como agora. Você tem as mãos mais maravilhosas que já conheci, querida... —
disse, suspirando de frustração, antes de mergulhar na piscina.
Darcy acabara de colocar a parte superior do biquíni quando Diane apareceu. Reed
emergiu, sem demonstrar no rosto vestígio das emoções de momentos atrás.
— Teve um dia agradável? — Darcy perguntou, polidamente, à recém-chegada, que
observava os dois com um olhar inquisitivo.
— Nada mau — Diane respondeu distraída, o olhar atento voltado para o irmão, antes
de se voltar novamente para Darcy.
— Como está se sentindo?
— Melhor, obrigada. Passamos um dia relaxante à beira da piscina.
— Reed parece realmente relaxado. Vou apanhar um refresco para nós, talvez o ajude
a esfriar. — E Diane deu uma rápida olhada no irmão, enquanto este nadava até a outra
ponta da piscina.
Darcy surpreendeu-se com a perspicácia de Diane, notando a frustração que ele tão
bem disfarçava.
Mais tarde, quando se vestiam para o jantar, Reed comentou que a atitude da irmã fora
proposital. Provavelmente, ela se divertira com ambos.
Darcy sabia exatamente como Reed se sentia, pois também preferia estar a sós com
ele. Mas isso se revelou impossível, pois a família toda resolveu encontrar-se de novo à beira
da piscina, para um outro churrasco.
. — Diane contou-nos o que aconteceu ontem, Darcy — disse Linda. — Espero que
esteja melhor.
— Estou sim, obrigada — Ela respondeu, mas desejando que ninguém mais tocasse
naquele assunto. — O médico explicou que tudo não passou de um susto.
— Deve ter sido terrível. Espero que isso não a deixe com uma impressão ruim do
nosso país.
— De modo algum. Na Inglaterra é a mesma coisa, Linda.
— Não se está seguro em lugar nenhum do mundo hoje em dia. É terrível! Bem, eu
quero me desculpar pela outra noite.
— Os olhos turquesa evitaram os de Darcy. — Wade e eu não gostamos de envolver a
família em nossas discussões. Você deve ter nos considerado grosseiros, Darcy.
— Mas eu nem achei que vocês discutiram de fato.
— Aqui, não. Mas precisava ter visto quando chegamos em casa. Wade é sempre muito
calmo, só que, quando fica nervoso...
— Ora, Linda, discussões são saudáveis para aliviar tensões e resolver problemas que
estão camuflados.
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— Não desta vez. Por que será que o homem sente tanta necessidade de procriar?
Darcy sorriu, compreensiva.
— Creio que essa não é uma necessidade apenas masculina.
— Então gostaria de saber o que há de errado comigo. E Linda deu um sorriso um
pouco amargo.
— Não deve haver nada de errado com você. Talvez precise apenas de tempo!
— E será que conseguirei convencer Wade disso? — indagou, olhando de relance para
o marido, que parecia descontraído ao lado de Reed, enquanto preparavam a carne.
Darcy gostaria de encontrar as palavras mais adequadas para ajudar Linda, mas que
experiência ela mesma tinha sobre casamento e filhos?!
— Não se preocupe com os problemas de minha família disse Reed, enquanto se
sentava ao seu lado, após o jantar, e lhe segurava as mãos com ternura. — Essa obrigação
é minha,
— Linda está tão triste.
— Wade também está, mas me prometeu que conversaria calmamente com Linda
sobre seus problemas, assim que chegassem em casa. Reconhece que o fato de brigarem
só tem atrapalhado.
Darcy julgava que os dois homens tivessem conversado apenas sobre amenidades,
mas Reed dera um jeito de falar sobre o problema do casal com o cunhado.
— Linda parece estar muito firme em sua decisão, Reed.
— Conheço muito bem minha irmã e sei que metade do problema é apenas teimosia.
Ela gosta de crianças e daria uma boa mãe. Mas não se preocupe, os dois acabarão dando
um jeito. E quanto a você, mocinha, deve se preocupar mais com os "meus" problemas.
— Você está com problemas?! — Darcy arregalou os olhos.
Disfarçadamente, Reed colocou a mão dela sobre o short preto que vestia, deixando-a
perceber a evidência de seu desejo.
— Precisamos terminar o que começamos.
— E o que foi que começamos? — ela indagou, maliciosa, mas enrubescendo.
Os olhos de Reed escureceram de paixão.
— Darcy, preciso que me toque daquela maneira de novo. E pressionou a sua mão
delicada, forçando-a a tocá-lo com mais intimidade. — Entendeu agora?
Como ainda poderia ter dúvida do que Reed desejava? E por que duvidar, se também
desejava o mesmo? Ela umedeceu o lábio com a ponta da língua. Reed captou-lhe o
movimento e seus olhos verdes tornaram-se ardentes.
— Reed, não acha cedo demais para irmos dormir? Todos achariam estranho essa
necessidade urgente de...
— Só estou interessado no que nós dois pensamos. E, depois, não vamos dormir. ainda
não. — Ergueu-se antes que ela pudesse retrucar. — Darcy e eu vamos até a cachoeira! Ele
anunciou aos outros, num tom que não admitia perguntas.
— Não nos deixem preocupados — Insinuou Mike, sem resistir à vontade de importunar
o irmão.
— Não deixaremos — replicou Reed.
Darcy seguiu-o até a piscina natural. Deixaram as camisetas sobre uma pedra.
Estavam numa área um pouco afastada do pátio da casa, protegida por uma vegetação
cerrada que lhes garantia total privacidade.
Ao contato da água morna, Darcy sentiu o corpo inteiro relaxar.
— Gostou daqui?
— Muito — ela murmurou, sentindo como se cada poro de seu corpo se abrisse para
Reed. Fechou os olhos deliciada, pelo toque acariciante da mão dele em suas pernas. —
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Darcy não conseguia mais se controlar e fez exatamente o que ele mandou, rindo
gostosamente da situação que lhe parecia tão cômica!
— Mas, quando terminar de rir, talvez goste de saber que ainda não escapou de mim.
Darcy olhou-o com espanto, interrompendo o riso. Seguiu a direção do olhar de Reed,
fixo em seus seios, que sobressaíam contra o tecido fino da camiseta.
— Oh, Reed, o que irão pensar de nós? — exclamou, caindo nos braços dele.
— Preciso mesmo dizer? — ele balbuciou, puxando-a pela nuca e trazendo-lhe a boca
de encontro à sua.
Darcy esqueceu-se de tudo e de todos, de que eram apenas nove horas da noite e de
que os outros sabiam exatamente por que tinham ido para a cama tão cedo. Entregou-se,
por completo, ao prazer do beijo.
— Talvez você seja mesmo uma feiticeira — murmurou Reed junto à curva dos seus
seios, enquanto a despia. — Eu não vejo a hora de possuir você, de sugar toda a doçura
destes seios. Reed passaval-he a língua sobre os mamilos intumescidos e Darcy sentia as
pernas trémulas, enlanguescidas pelas caricias que jamais experimentara antes.
Como se tivesse vida própria, sua mão deslizou vagarosa e suavemente pelos
músculos lisos do peito dele, tocando os pêlos macios, numa carícia que não conseguira
fazer-lhe ainda. Depois roçou os lábios pela pele dos ombros e peito, em sucessivos beijos
delicados.
Ao sentir o leve toque dos lábios de Darcy em sua pele, Reed pressionou-a forte pela
cintura, relaxando a mão depois para acariciar-lhe suavemente o quadril. Tirou-lhe o biquíni e
passou a fazer-lhe carícias cada vez mais íntimas.
Darcy arqueou o corpo, a cada segundo mais ansiosa pelos toques dele.
— Quero você agora, Darcy!
Os olhos verdes escureceram, perscrutando-lhe as feições. Reed temia assustá-la, com
carícias que ela ainda não experimentara. Darcy, entretanto, não queria que ele falasse, para
não destruir a magia daquele momento.
— Reed... — Gemeu num suspiro, que mostrava o ardor do seu desejo.
Puxando-a mais para cima, Reed buscou o bico rosado dos seios. Darcy enroscou os
dedos nos cabelos dele, deixando que ele explorasse cada recanto de seu corpo, até
encontrar-lhe os lóbulos da orelha, ponto de prazer que lhe causou arrepios de puro deleite.
Aí, Reed começou a brincar-lhe com os lábios, até que tremessem de desejo.
Ardendo de desejo de completar o ato que culminaria com o prazer total e a satisfação
de todas as emoções desencadeadas pela paixão de Reed, Darcy arqueou o corpo
espontaneamente. Ele, sentindo-a vibrar tanto, penetrou-a, de início delicadamente.
O grito de Darcy foi abafado por um beijo e os corpos de ambos se estreitaram com
mais força, agora vibrando num ritmo uníssono, até o prazer total. E eles continuaram
enlaçados, sentindo a necessidade de perpetuar aquela fusão de sentimentos e de presença
física do ser amado.
CAPÍTULO VII
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Pela manhã, Darcy fitou Reed, um tanto encabulada, após os momentos de prazer
intenso que ambos haviam desfrutado. Ele havia percebido a sua inexperiência, apesar de a
noite ter sido maravilhosa. Após a primeira relação, antes de caírem num sono profundo, nos
braços um do outro, ainda se haviam amado com ardor por duas vezes. E Reed afirmara,
após o incidente da piscina, que isso não seria possível!
Entretanto, a pergunta que temia, desde a noite anterior, acabou por ser feita:
— Se você já havia tido outro relacionamento, Darcy, como podia ser virgem quando
fizemos amor?
Ela não queria mais deixa-lo sem uma resposta, ainda que lhe custasse reviver
acontecimentos que pensara já ter enterrado. Então disse:
— Ele. Na última hora, Jason percebeu que não me desejava realmente. — Ainda podia
lembrar-se da humilhação que sentira por não ter conseguido excitar Jason o suficiente.
Ambos haviam se vestido em silêncio, logo depois, sabendo que a desastrosa experiência
jamais se repetiria. E, na noite anterior, ela chegara a temer e a ter dúvidas quanto à sua
capacidade de excitar Reed!
— E você estava apaixonada por esse homem? — perguntou Reed, obviamente
surpreso com aquela confissão.
— Eu pensei que, bem, que precisássemos um do outro. — respondeu de modo
evasivo. — Mas foi exatamente nisso que me enganei.
— E agora?
— Agora? Oh, agora estou tão feliz que você tenha sido o primeiro! — Darcy fitou-o
com olhos brilhantes.
— Pareceu—me... tão natural fazer amor com você! — acrescentou, estremecendo
logo após, ao perceber um traço de incerteza nos olhos verdes. — Reed? — Ele não podia
estar arrependido pelo que acontecera! Fora tão maravilhoso!
— Reed? O que houve?
— Percebi que você, em sua inexperiência, não havia tomado certas precauções. Logo
após, eu mesmo tomei medidas preventivas, mas naquela primeira vez. Acho que não
conseguiria parar, nem se nossas vidas dependessem disso!
Darcy entendeu perfeitamente o que Reed tentava dizer-lhe. A ideia de ter uma criança
assustava-a tanto quanto a ele. Mas por razões diferentes. Ela jamais ficaria infeliz em ter um
filho de Reed.
— Deve estar tudo bem, Reed — assegurou, abraçando-o.
— Está certa de que me entendeu, Darcy? Este assunto é muito sério!
— Bebês geralmente o são — concordou. — Mas não acha que está sendo um pouco
precipitado? Passamos apenas uma noite juntos!
— E existirão outras noites?
Depois de tudo o que acontecera entre eles, Darcy sentia que morreria se não
passassem o resto das noites nos braços um do outro.
— Você quer que existam, Reed?
— Que pergunta mais tola para se fazer a um homem na minha condição atual! — Ele
riu, abraçando-a e deixando que ela percebesse o quanto a desejava.
— Serei sua quando me quiser, Reed.
— E por quê?
Darcy fitou-o desafiadoramente.
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desde o início. Isso significa que esperou seis meses, três semanas e dois dias! — Darcy
estava tão furiosa com a falta de tato de Reed, que nem ligou quando ele a fitou, os olhos
verdes brilhando perigosamente.
— Pare de colocar palavras na minha boca, droga!
— Sinto muito. Não direi mais nada. Na verdade, ficarei muito feliz em arrumar tudo
para que voltemos o mais rápido possível para a Inglaterra. Talvez reservar nossas
passagens de volta seja a minha última tarefa como sua secretária, mas não pense que
tenho a intenção de passar a ser sua amante!
— Darcy!
Ela fechou a porta, controlando-se para não se comover com a confusão que vira
estampada no rosto dele. O que Reed esperava afinal? Que ela concordasse em ser sua
amante por alguns meses e que, depois, quando estivesse cansado da sua companhia, a
dispensasse para que procurasse outro emprego e, talvez, outro homem?
Aquela noite fora maravilhosa. Mas ele tinha razão. Acontecera rápido demais para que
tivessem tempo de pensar a respeito. Pelo menos, estava parecendo que Reed não pensara.
Mas, a qualquer momento, no decorrer do dia, ele iria perceber a insensatez da situação.
Mas, à noite, quando se deitou desolada em uma das camas de solteiro, Darcy não
estava mais tão certa de não ter sido impulsiva demais, recusando a outra opção que Reed
lhe oferecera. Agora, além de tudo, também estava sem emprego!
No entanto, vira tantas mulheres desaparecerem da vida de Reed, tão rapidamente
como apareciam, que tinha certeza de que não era o que desejava para si mesma. Queria
que Reed se importasse com ela de verdade. Mas claro que ele se importava! Só que não do
modo como Darcy queria.
E agora, o que aconteceria? Reed provavelmente devia estar tão perplexo quanto ela.
— Darcy! Darcy! Acorde!
A mão, sacudindo-a, era insistente e ela empurrou-a irritada. Queria dormir mais, estava
tão cansada!
— Darcy, você precisa acordar, rápido! — a voz insistia, interrompendo-lhe os sonhos.
— Vá embora — murmurou sonolenta, ajeitando-se sob os lençóis.
— Darcy!
— Reed! Que horas são? — ela perguntou, olhando para o relógio. — Oh, Deus! Devia
ter me acordado antes, são dez horas.
— Darcy! Não há tempo! — Reed abria as gavetas freneticamente, atirando-lhe
algumas peças de roupas sobre a cama. — Vista-se que pegarei o resto.
Ela o observava, estupefata.
— Darcy! Pelo amor de Deus! Vista-se ou vou tirá-la daqui assim como está!
— Vamos embora agora? Mas não há voo nenhum até a noite — ela disse, pois, antes
de dormir, havia checado todos os horários de aviões para a Inglaterra.
— Eu sei — concordou ele, fechando a mala. — Vamos! Não há tempo para se vestir.
— Mas para onde estamos indo, Reed?
— Darcy, um daqueles incêndios florestais está fora do controle dos bombeiros e vem
vindo nesta direção, rápido e devastador! Entendeu agora?
Assustada demais para fazer qualquer coisa, ela seguiu Reed. Ao deixarem a casa, o
cheiro de fumaça já era sufocante.
— E Chris e Diane? — Perguntou já no carro, enquanto Reed olhava para as chamas
que se aproximavam da casa.
— Chris está no hotel e Diane saiu para fazer compras logo cedo e ainda não voltou.
— As outras pessoas. — Todos foram avisados.
Darcy fitava, apavorada e de olhos arregalados, as chamas avassaladoras.
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CAPÍTULO VII
A família de Reed fez-lhe tantas perguntas que, às oito horas da noite, Darcy sentia-se
exausta, e o que mais desejava era um banho, cama e uma boa noite de sono.
O que a salvara fora a rápida decisão de Reed em tirá-los dali, pois, em questão de
minutos, o fogo chegara até o local, queimando tudo. Darcy sabia que lhe devia a vida. A
casa fora destruída por completo, assim como as belas residências vizinhas e as árvores ao
redor delas.
Nada se salvara do incêndio e Chris e Diane haviam perdido tudo. Diane parecia
conformada com o acidente, pois nenhuma vida se perdera, mas Chris ficara muito chocado.
Falou muito pouco durante o tempo em que ficaram na casa de Linda.
Darcy estava penalizada. Uma casa era tão pessoal que se tornava parte das pessoas
que nela viviam. E as lembranças felizes do casal na bela mansão tinham sido todas
destruídas.
— Sinto muito — Darcy consolou Chris. — Deve ser muito doloroso para vocês.
A emoção transpareceu nos olhos dele.
— É, sim, muito doloroso, de fato — Concordou, um tanto rude, e voltou-se para a
esposa. — Diane, está na hora de irmos — chamou-a com certa aspereza, logo que ela se
sentou perto de Linda e Maria para conversar.
Diane ficou confusa com o tom áspero do marido.
— Meu bem, você está querendo chegar cedo ao hotel?
— Sim e também penso que todos estão cansados e devem estar querendo ir cedo
para a cama, principalmente Reed e Darcy, que enfrentaram tantos perigos.
— Sim, mas...
— Eu disse vamos! — ele a interrompeu bruscamente, com as mãos tensas enfiadas
nos bolsos.
— Deve estar sendo muito difícil para ele — murmurou Mike, assim que o casal saiu.
— Diane ficou magoada com a agressividade inaplicada do marido.
— Mas, também, parece que ela se esqueceu de que acabou de perder uma casa!
— Esqueça — advertiu Reed. — Foi um dia de cão para todos nós — concluiu,
correndo os dedos por entre os cabelos espessos. — Parecerá menos traumático amanhã,
após uma boa noite de sono.
— Bem, o incêndio pelo menos me fez enxergar coisas que não queria ver —
confessou Linda. — A vida é curta demais para a teimosia que tenho demonstrado nesses
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
últimos tempos. E voltou-se para Wade. — Poderia intimá-lo a ir para a cama, querido?
Wade fitou-a com ar malicioso.
— Você pode me intimar a fazer qualquer coisa que quiser, e sabe disso!
— E poderia intimá-lo também a me dar um bebê? Wade engoliu em seco.
— Tem certeza de que é isso mesmo o que quer? Não está se sentindo forçada? O
incêndio também me mostrou o quanto tenho sido estúpido. Se tenho você, o que mais
poderia desejar?
— Eu lhe mostrarei, querido. Vamos, vamos subir para discutirmos sobre isso na cama.
— Que ideia maravilhosa! — O braço de Wade pousou sobre os ombros da esposa. —
Vocês nos dão licença? Minha esposa tem algo muito urgente para discutir comigo.
— Você é um homem de sorte — disse Mike, lançando a Maria um olhar afetuoso. —
Que tal irmos também para casa, meu bem?
Darcy estivera imaginando o que viria a seguir. Já não estava mais certa do que Reed
pretendia com relação a ela, mas sabia que, da sua parte, precisava muito dele naquela
noite, de sentir-se abrigada e protegida em seus braços.
Logo depois ela se deitou e ficou observando Reed se barbear, pela porta entreaberta
do banheiro. Os movimentos dele eram calmos e precisos. Somente as linhas mais
profundas ao redor dos olhos mostravam a tensão que passara durante o dia. Estivera tão
controlado nas últimas horas, que nem mesmo ela se dera conta do quanto ele também
poderia estar transtornado.
Sentiu que precisava devolver com ternura todos os cuidados que recebera daquele
homem forte.
— Reed — Darcy levantou-se e foi até ele. Abraçou-o pela cintura, enquanto
pressionava a cabeça de encontro ao peito másculo. — Foi terrível!
— Tem razão. Lembre-me de nunca mais leva-la numa viagem de negócios. Já fiz com
que você desmaiasse no avião, fosse roubada e agora escapou desse incêndio. Nunca
deveria tê-la exposto a tudo isso! — murmurou-lhe, encostando o rosto em seus cabelos.
— Você não poderia ter adivinhado.
— Darcy, você voltará para a Inglaterra amanhã.
Era um aviso pelo qual ela não esperava e que não admitia contestação.
— Mas...
— Já reservei sua passagem.
— Tudo bem — aquiesceu Darcy.
— Espero que você possa esquecer essa viagem o mais breve possível — disse-lhe
Reed, apertando-a ainda mais fortemente.
— Mas você ainda não descobriu quem o está traindo! Precisará de mim aqui. Pelo
menos foi o que me disse.
— No início achei que sim, mas agora desejo apenas que você volte a Londres e se
afaste daqui.
— Você não voltará comigo? — fitou-o preocupada.
— Não, se a situação não vier a se resolver até amanhã.
— Até amanhã? Mas.
— Quero que você esqueça tudo isso, Darcy. Nem a teria trazido para cá se... —
interrompeu a tempo o que ia deixando escapar, pressionando os lábios.
— Se... ? — ela indagou suavemente. — Reed.
— Darcy, posso fazer amor com você esta noite?
Ela ficou sem palavras, diante da forma tão fria com que Reed lhe fazia o pedido.
Principalmente se considerasse o que ele lhe dissera, naquela manhã, a respeito de querer
passar todas as noites na sua companhia. Agora, percebendo que Reed falara aquilo num
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
momento de emoção, quando a vira muito assustada e a confortara. Estava claro que fazer
amor, para Reed, naquele momento, não passava de mero desejo físico.
Percebia, também, que ele não estava disposto a ser questionado para dar explicações.
Mas, após ter passado uma noite terrível sozinha, precisava tanto dele, que não teve
força suficiente para negar-se. Em resposta, aproximou-se e começou a desabotoar
lentamente a camisola, antes de deixa-la cair no chão. Logo, estava nua.
Reed prendeu a respiração, afrouxando a toalha ao redor da cintura e se despindo.
— Creio que não preciso lhe dizer o quanto a quero e a desejo.
— Os homens têm uma certa desvantagem... — reconheceu Darcy, rindo, enquanto
acariciava com as pontas dos dedos o peito largo de Reed.
— Me beije, Darcy — ele pediu baixinho.
Darcy sentiu-se enlanguescer, todo o corpo tomado pela emoção, quando notou os
olhos verdes escuros de desejo, ansiosos pelo prazer que ela lhe provocava.
Linda certamente ficaria chocada se soubesse o uso dado a seu carpete naquela noite.
Aquela era a hora de amar, hora de agradar um ao outro, e foi o que fizeram. Uniram-
se, sentindo um prazer imenso. Depois relaxaram e adormeceram abraçados, exaustos
demais até para se moverem dali.
O calor estava insuportável; o cheiro da fumaça era sufocante, queimava-lhe a
garganta. As chamas a envolviam, enquanto se protegia, aterrorizada, usando os braços.
Darcy acordou do pesadelo, molhada de suor e procurando por Reed no outro lado da cama.
Acendeu o abajur olhando ao redor. O travesseiro amarrotado indicava que estivera
dormindo ali, depois que a pusera na cama, transportando-a do chão, onde se haviam
amado. O relógio da mesinha de cabeceira marcava três horas da madrugada. Quem sabe
ele também havia tido um pesadelo e decidira dar uma volta para se acalmar?
A camisola, que deixara no chão, estava agora nos pés da cama. Darcy vestiu-se e saiu
à procura de Reed.
A residência dos O'Neal era tão elegante e ampla quanto fora a de Diane e Chris, mas
construída numa área mais urbana, com muitas outras casas por perto. O hall, iluminado por
uma pequena lâmpada, estava deserto, assim como a cozinha, mas ela podia ouvir rumores
vindos do pátio, onde ficava a piscina. Pareciam as vozes de Linda e Wade. Teriam se
juntado a Reed?
Darcy assustou-se, vendo que quem estava com ele era Chris. Reed ergueu-se assim
que notou sua presença e sua palidez.
— O que aconteceu? — abraçou-a, confortando-a.
— Apenas um pesadelo — Tentou disfarçar, pois lera no olhar de Reed que entre os
dois homens havia algo que ia além do seu entendimento.
Reed, por sua vez, observou—a e sentiu que ela não estava preocupada apenas por
causa do pesadelo.
— Eu não queria interromper. — Darcy olhou curiosa para Chris. Estava tão pálido
quanto ela, parecendo muito mais nervoso agora do que antes, quando ficara sabendo da
perda da casa
— Apenas conversávamos... — Assegurou Reed.
— Só queria saber onde você estava, Reed, agora vou voltar para a cama...
— Não! Não vá! — Chris ergueu—se com esforço, parecendo muito tenso.
— Sinto muito o que aconteceu à sua casa — disse Darcy, aproximando-se dele e
segurando-lhe o braço, para confortá-lo.
— Não sinta. — com um riso forçado, tenso, ele pediu ajuda a Reed com o olhar. — Se
não fosse por mim.
— Darcy, talvez você devesse ir trocar de roupa...
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Não! — A voz de Chris soou mais firme. — Darcy tem o direito de ouvir isso. Também
está envolvida em tudo o que aconteceu, desde que chegou aqui. Deus, ela poderia ter
morrido por minha causa. Aliás, vocês dois!
— Mas não morremos, Chris. — Não pode se culpar por um acidente da natureza
explicou Darcy.
Os olhos negros ficaram ainda mais escuros, exprimindo a dor que Chris sentia. Ele
prendeu a respiração, antes de continuar:
— Se não fosse por minha causa, você e Reed nem estariam aqui, correndo esse
perigo.
— Claro que... Oh! — exclamou incrédula, percebendo, finalmente, o significado
daquela afirmação. Então era Chris a pessoa que Reed procurava? Não podia acreditar! Em
nenhum momento chegara a suspeitar dele. — Talvez fosse melhor eu deixa-los a sós, não?
Reed fitou o cunhado com ar interrogativo, e ouviu-o responder:
— Eu gostaria que Darcy ficasse para ouvir isso.
— Podemos beber algo então, enquanto Darcy troca de roupa, Chris,
Aborrecida, ela olhou para Reed. Sua camisola de algodão era bastante decente para
estar entre pessoas estranhas; além disso, ouvir o que Chris tinha a dizer era muito mais
importante do que o modo como estava vestida.
— Darcy!
Mas Reed estava mesmo irredutível quanto à ideia de vê-la em trajes menos íntimos.
Com um gesto de desistência, Darcy afastou-se, dizendo que logo voltaria.
Não podia acreditar que Chris fosse culpado! Não conseguia entender por que ele
fizera aquilo. Parecia que tinha tudo o que desejava: uma esposa adorável e apaixonada e
um hotel de classe. O que o teria levado a agir contra o próprio cunhado?
Os dois homens estavam no mesmo lugar, quando ela voltou. Silenciosamente, aceitou
o copo de uísque que Reed lhe ofereceu e sentou-se. Talvez fosse precisar da bebida mais
tarde.
Agora que colocara as lentes de contato, podia perceber o estado de Chris: pálido, com
olheiras, rosto tenso. Segurava o copo com muita força e parecia fitar o vazio.
— Chris — Reed chamou-o.
— Oh, desculpem-me. Não havia notado que tinha voltado. Bem, Reed, agradeço por
sua contenção até agora. Se fosse eu que estivesse no seu lugar, teria primeiro agido e
depois feito as perguntas cabíveis.
— Talvez devesse ter feito isso, Chris, mas, se não o fiz, não foi por você, e sim por
Diane.
Chris pareceu se tornar ainda mais pálido à menção da esposa.
— Nunca desejei magoar ninguém. Eu apenas...
— Comece desde o início, Chris — Pediu Reed.
— Do início? Devo, então, voltar anos.
— Faça isso, se é necessário! — interrompeu-o, já no limite de sua paciência.
Chris suspirou profundamente.
— Durante a faculdade, lembra-se? Eu precisava trabalhar duro para pagar meus
estudos. Você não. Tinha seu pai, que arcava com as despesas.
— Ah, não! Você não pode ter guardado esse tipo de mágoa contra mim durante todos
esses anos! — exclamou Reed, incrédulo.
— E não guardei! Estou apenas tentando mostrar-lhe as diferenças de nossa formação.
Sempre precisei lutar muito por tudo o que queria. Não que você ficasse de braços cruzados,
esperando que tudo caísse do céu. Você sempre lutou bastante, mas a sorte sempre esteve
do seu lado. Bem, por alguma razão que desconheço, você se fez meu amigo.
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zangado com Linda apenas porque ela se recusava a ter filhos. E Diane confessou que o
hotel passava por algumas dificuldades financeiras. Quando perguntei a você como iam os
negócios, respondeu-me que tudo estava perfeito, e que até podia esperar uma expansão.
Eu sei que Diane não mente.
— Não — Chris concordou. — Ela nunca teve motivos para não ser honesta.
— Por que diabos você não me procurou? — Reed indagou com raiva. — É para isso
que serve a família. Para ajudar nas horas de crise!
— Você tem sua vida na Inglaterra.
— Bastaria um telefonema!
— Mas era problema meu, não seu.
— Você é meu melhor amigo e marido da minha irmã. Pensei que fôssemos íntimos o
bastante para que confiasse em mim.
Talvez tivessem sido bem íntimos, mas há quanto tempo? Os anos que Reed passara
na Inglaterra haviam, de certa forma, esfriado aquela amizade. Mas os laços familiares eram
muito fortes e pareciam atraí-lo de volta aos Estados Unidos. Pela expressão taciturna dele,
Darcy percebeu que Reed também se tornava consciente dessa realidade.
— Sabe, Reed, eu gostaria de continuar sendo tão amigo seu como no passado —
Chris deu de ombros. — O que faremos agora?
— Deliberadamente aguardei que mamãe viajasse para vir para cá. Com o problema
que tem no coração, um choque desses a mataria. Ainda bem que só nós três sabemos
disso.
— Nós quatro. — Uma voz veio do corredor, e Diane apareceu junto deles. — Ouvi
tudo.
— Diane! — exclamou Chris, num protesto abafado. Desiludida, Diane continuou a fitar
o marido, que tinha o olhar triste.
— Acordei quando você saiu da cama. Notei que estava muito estranho e o segui até
aqui. Agora fico contente por ter feito isso.
— Diane.
— Por favor, Reed, deixe-me falar com minha mulher. Diane, de qualquer forma, lhe
teria confessado tudo o que acabou de ouvir. Não conseguiria esconder algo assim de você
por muito tempo.
Darcy sentia-se pouco à vontade, como se estivesse se intrometendo em algo que não
lhe dizia respeito. Olhou receosa para Reed. A decisão que ele tomara com relação ao caso
não deveria ser discutida apenas por Diane e Chris em particular?
— Darcy e eu vamos para nosso quarto — disse Reed, passando o braço por sobre os
ombros dela, enquanto fitava o outro casal. — Só queria que tudo isso não se tornasse do
conhecimento de mais ninguém — avisou-os.
— Obrigada — Diane apertou-lhe o braço, agradecida, os olhos úmidos de emoção.
Reed fitou Chris, forçando-o a encará-lo.
— Há um depósito em sua conta bancária, Chris, quer queira, quer não. Se lhe tivesse
oferecido esse maldito dinheiro, sei que você não aceitaria. É um empréstimo absolutamente
normal.
Darcy nada disse a caminho do quarto. E continuou em silêncio, apesar de observar
Reed atentamente, enquanto se despia e caía exausto na cama. Então, abraçou-o
delicadamente, com carinho, desejando amenizar um pouco a dor que ela sabia que o
angustiava.
— Gostaria que... — suspirou, a voz embargada pela emoção. — Não queria acreditar,
mas as evidências estavam todas contra ele. — Chris foi fraco, não desejava magoá-lo,
Reed.
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CAPÍTULO IX
Finalmente, um fim de semana com a família! Darcy, mal acabara de chegar dos
Estados Unidos, resolveu visitar sua cidadezinha natal. Naquele momento de sua vida, em
que precisava tanto dos pais, foi que percebeu o quanto realmente os amava.
Era raro visita-los nos últimos meses. Achava que a cidade trazia-lhe recordações
dolorosas, que vinha tentando esquecer desde que se mudara para Londres, afastando-se
de qualquer coisa que a fizesse lembrar-se de Jayne ou de Jason. Mas, ao retornar dos
Estados Unidos, descobrira que precisava de um esconderijo, e seus pais a acolheram com
carinho.
Como era diferente a tranquilidade da sua própria família, comparada com a inquietude
da de Reed! A viagem com ele a mudara muito, apesar de não saber ainda em que sentido.
De uma coisa estava certa: já não sentia mais aquela antiga necessidade de fugir sempre de
algo desagradável que lhe pudesse advir.
Assim, totalmente incerta sobre qualquer tipo de relacionamento futuro com Reed,
Darcy encontrou Jason no supermercado, enquanto fazia compras com a mãe!
Percebeu o desespero no rosto da mãe, e até já se preparava para dar uma desculpa
qualquer e fugir. Mas resolveu se controlar, contornando a situação, e o convidou para tomar
um café juntos.
Por um instante, Jason hesitou, para depois aceitar, ainda relutante, para espanto de
sua mãe, que se desculpou e continuou com as compras.
Era a primeira vez que Darcy o via, após quase um ano; e depois de um ligeiro
constrangimento, conversaram animadamente.
Quando se juntou à mãe, quinze minutos depois, ela sentiu que havia eliminado o
último dos fantasmas do passado.
Darcy retornou a Londres pronta para aceitar a decisão de Reed quanto ao futuro de
ambos.
Reed passara outro fim de semana com a família, após sua insistência em voltar antes
dele, já que não queria intrometer-se num assunto particular de parentes.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
Na segunda-feira pela manhã, quando chegou para trabalhar, não o encontrou. Nem
mesmo sabia se ele já retornara ao país, pois não recebera notícia alguma. Resolveu, então,
iniciar a rotina diária, organizando a correspondência. Mais cedo ou mais tarde, Reed
chegaria.
— Olá, Darcy. Como é que conseguiu esse bronzeado, viajando a trabalho?
Ela sorriu para Marc, assim que o viu entrar na sala, vestindo jeans desbotado e uma
camisa aberta no peito.
— Nem tudo foi trabalho — murmurou sonhadora, lembrando-se de que quase nada na
viagem se relacionara com o trabalho.
— Não? E será que Reed cometeu o ato imperdoável de roubar minha namorada? —
indagou em tom de gracejo, enquanto se sentava ao lado dela, encarando-a fixamente com
seus olhos azuis perscrutadores.
"Roubar" não era bem a palavra adequada, pois ela nunca pertencera a Marc, mas ele
chegou tão perto da verdade, que a fez corar ligeiramente.
— Com quantas modelos você saiu enquanto estive fora?
— Uma ou duas. E não mude de assunto!
— Não percebi que havia mudado. — falou, com a atenção voltada para o monte de
correspondência sobre a mesa.
Dedos fortes ergueram-lhe o queixo, fazendo-a fitá—lo.
— Darcy, o que aconteceu em...
— Quando vocês dois tiverem terminado de se olhar nos olhos, talvez eu consiga ver
minha correspondência atrasada! Ralhou Reed, usando seu familiar tom de chefia para com
Darcy.
Era impossível pensar nele como amante quando o ouvia falando daquela maneira.
Darcy voltou-se assustada, sabendo o que se passara na cabeça de Reed, ao entrar no
escritório e ver aquela cena. Marc, por sua vez, parecia mais tranquilo do que nunca.
— Você acreditaria se eu lhe dissesse que estava apenas verificando se Darcy estava
com as duas lentes de contato?
— Não!
— Reed, eu já...
— Marc, você não tem nenhum trabalho para fazer? — Reed lançou um olhar gelado
ao outro homem, ignorando-a totalmente.
— Estou repleto de trabalho — respondeu Marc, sorridente, mas sem fazer nenhum
movimento para sair.
— Então, gostaria que você parasse de tentar seduzir minha secretária e fosse embora!
— ordenou Reed friamente. — Já não aproveitaram bastante o fim de semana?
— Mas Reed.
— Então? — De novo ele a ignorou, encarando Marc.
— E você acha que um homem se cansa de uma mulher como Darcy?
Nervosa com o mal-entendido, ela prendeu a respiração. O senso de humor de Marc
em nada a ajudava. Ele parecia decidido a manter aquela conversa ambígua com Reed,
mesmo diante dos protestos dela.
— Reed, eu passei o fim de semana...
— Ora vamos, Darcy! — Marc chamou-lhe a atenção. Uma dama não sai por aí
contando,
— Marc, você quer parar com isso e calar essa boca? Não tem graça nenhuma!
— Depende do ponto de vista, minha querida! — Marc caçoou, rindo.
Repentinamente, Marc foi erguido da cadeira e agarrado pelo colarinho.
— Reed, largue-o! — Exclamou Darcy desesperada. — Por favor, solte-o!
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
— Vou nocauteá-lo, se ele não sair logo daqui! — Reed ameaçou entre dentes, antes
de soltar o outro, bem devagar.
Marc ergueu as mãos na defensiva, o sorriso maroto ainda estampado no fundo dos
olhos azuis.
— Está bem, está bem. Eu vou. Bem que desconfiei que de trabalho, mesmo, houve
bem pouco em Orlando, Darcy...
— Marc, sinto muito.
— Ei, não se preocupe! Pode ter certeza de que não vou me atirar pela janela do meu
estúdio por causa disso!
— Seu estúdio fica no segundo andar — lembrou-o Darcy, sem conter o riso.
— Percebe o quanto isso seria bom? Eu quebraria um braço ou uma perna e não
poderia sair com outras mulheres maravilhosas durante um mês inteiro!
Reed andou até a porta principal de seu escritório e, antes de abri-la, ordenou, feroz:
— Fora daqui!
Marc voltou-se para Darcy, antes de sair:
— Ligue para mim logo que estiver disponível.
Essa última provocação fora apenas um aviso para Darcy de que ele estava alerta e
queria ser comunicado, caso Reed apelasse para a violência, assim que ficasse sozinho com
ela. Mas ela sabia que não era isso que Reed tinha em mente. Marc era um verdadeiro
demoniozinho!
Reed fechou a porta com violência, logo que o outro saiu.
— O que você pretende, indo de meus braços para os dele?
— Passei o fim de semana...
— Poupe—me dos detalhes!
— Reed, você não está entendendo! Deixe—me explicar...
— Eu bem que estou tentando entender, mas não está sendo fácil!
Furiosa, Darcy sentiu que a fúria dele estava prestes a explodir também. Se não se
controlassem, aquela confusão jamais seria resolvida.
— Reed, não importa a que conclusão você tenha chegado sobre mim e Marc, ou
melhor, sobre o que ele fez você acreditar que aconteceu, mas eu não passei o fim de
semana com ele!
A incerteza tomou conta dos olhos verdes. Ela percebeu que agira bem, controlando—
se.
— Telefonei-lhe inúmeras vezes, nos últimos dois dias, e você não estava — ele
confessou aborrecido.
— Não estava mesmo. Fui visitar meus pais, no fim de semana.
Ainda descrente, Reed semicerrou os olhos.
— Mas você quase nunca vai visita-los.
— Admito que não tenho ido vê-los com muita frequência, mas...
— Você foi visitar seus pais apenas uma vez, durante os sete meses em que trabalhou
para mim!
— Bem, pode ser, eu não fiquei contando...
— Mas eu fiquei!
— Por quê? — indagou, olhando—o desconfiada.
— Você viu Jason?
O rubor no rosto de Darcy respondeu por ela.
— Bem... sim. Na verdade, nos encontramos casualmente...
— Estarei na minha sala se precisar de mim — ele a interrompeu, frio. — De outro
modo, não quero ser incomodado!
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Darcy quis segui-lo imediatamente, mas não saberia o que dizer. Já explicara a respeito
de Marc; entretanto, o que havia para explicar sobre Jason?
Marc voltou ao escritório quando teve certeza de que Reed estava longe, almoçando.
— Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé! Darcy fitou-o, hostil.
— Você tem mesmo toda a sensibilidade de uma montanha!
— Ei, não me culpe pela insegurança de Reed! — Defendeu-se ele, sentando-se diante
dela.
— Isso é ridículo! Reed é o homem mais seguro de si que conheço.
— Exceto no que diz respeito a você...
— Como assim?
— Se você pudesse reservar um dia para mim, provavelmente eu lhe explicaria, mas...
— Marc, do que é que você está falando? — exigiu ela, exausta pela manhã desastrosa
que tivera com Reed, e demonstrando que não teria a paciência costumeira para aguentar as
brincadeiras do amigo e confidente.
— Estou falando sobre o que Reed sente por você.
— Não sei o que você quer dizer com isso — declarou ela.
— Não? Vocês dois se tornaram amantes e ainda assim continua não sabendo o que
Reed sente por você?
Darcy ficou rubra diante do comentário de Marc.
— Nós...
— O homem esperou meses para leva-la para a cama e, quando consegue, fica
completamente confuso com isso! Ah! Se fosse comigo, mas infelizmente não é a mim que
você ama — suspirou Marc.
Darcy corou mais ainda.
— Eu...
— Darcy, é muito feio mentir!
Ela resolveu enfrenta-lo de uma vez por todas, usando as mesmas armas.
— Quando foi que você se tornou tão espertinho e tão conhecedor de coisas de amor?
— Ah, não! Bancar a impertinente comigo também não vai ajudar em nada. Até uma
pessoa insensível como eu pode notar o quanto você ama Reed.
— Se sabia disso, então por que me convidava para sair?
— Eu poderia dizer que decidi dar uma "mãozinha" para ajudar esse "Love Store",
despertando ciúme em Reed e levando-o ao desespero. Mas nunca estive disposto a tirar
vantagem da estupidez de um amigo!
Era impossível zangar-se com Marc. Ele jamais levava nada ou ninguém a sério.
— Você é um demônio! — Darcy declarou entre risonha e séria. — Se fosse sensata,
pediria para você sair daqui, agora!
— Então, jamais saberia como Reed se sente em relação a você, porque ele nunca terá
coragem suficiente para dizer-lhe!
— Sei como Reed se sente em relação a mim — suspirou. Eu o faço lembrar-se da
mãe.
— O quê?! — Marc caiu na risada.
— Não estou achando nada engraçado!
— Reed consegue finalmente leva-la para a cama e lhe diz que você o faz lembrar—se
da mãe?! Não posso acreditar!
— Reed não me disse isso! Eu é que acho que o faço se lembrar da Sra. Maud Hunter,
porque sou tão esquecida e desastrada quanto ela.
Marc abanou a cabeça.
— Não sei exatamente o que houve na Flórida, mas acho que Reed é um idiota,
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CAPÍTULO X
Que loucura! Era o que os dois homens que deixara no escritório deviam estar
pensando de Darcy, depois que os deixara.
Ela nunca tinha agido daquela forma antes, jamais havia falado com ninguém de modo
tão arrogante. Reed devia estar achando que era ainda mais idiota ainda do que julgava que
fosse.
Reed parecera tão espantado com sua explosão! Quase como se não acreditasse no
que estava vendo e ouvindo. Talvez porque nunca lhe acontecera antes ser tratado daquela
forma! Devia estar furioso com o modo como o deixara embaraçado na frente de Roy
Benedict, seu amigo e cliente. Mas, se quisesse vingar-se dela, teria primeiro que encontra-
la! Marc serviu-lhe uma xícara de café.
— Aqui está. Presumo que você não tenha vindo até aqui para que eu fizesse amor
com você... — brincou.
— Estou fugindo!
— De Reed?
— Sim.
— É, ele nunca me pareceu mesmo ser um sexomaníaco, que não pode ver uma
mulher nua.
— Não fiz nada do que você sugeriu! Em vez disso, perdi a calma com ele e...
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— Darcy! — Ele a fez voltar-se. — Você sabe que isso não foi o que aconteceu
conosco em Orlando. Foi muito mais do que isso.
— Foi mesmo? Você nem ao menos se dignou a me contar o que aconteceu com Chris
e com Diane e, mal chegou, correu para os braços de outra mulher!
— Fiquei-louco quando você me disse que tinha estado com Jason! E como poderia
pensar em Chris e Diane, especialmente após ver você e Marc juntos bem debaixo do meu
nariz!
— Eu lhe disse apenas que vi Jason, não que fui para a cama com ele!
— Mas também não fui para a cama com Samantha na hora do almoço.
— A própria Samantha me contou que você foi até o apartamento. — Só para dizer a
ela, pessoalmente, que não iria mais vê-la. Eu lhe devia isso. Aquela caixa contém apenas
algumas coisas minhas que fui esquecendo lá, durante esses últimos meses.
Darcy franziu a testa.
— Mas Samantha não parecia nem um pouco aborrecida.
— E por que ficaria? Ela não me ama, Darcy.
Darcy sentiu que corava violentamente. Durante a explosão, teria dito a ele que o
amava? Sim, tinha dito. E ele viera procura-la!
— E pretendo me casar com você, também, se ainda me quiser. Eu a amo muito, Darcy.
— Você me ama?
A expressão de Reed tornou-se carinhosa, envolvendo-a numa emoção que quase a
fez chorar.
— Temos muita coisa para conversar, mas creio que pode ficar para mais tarde.
Primeiro quero que responda à minha proposta.
— A resposta é sim! — ela respondeu, abraçando-o fortemente, como para se certificar
de que aquilo era real e não um sonho. E levantou o rosto para receber o beijo.
Marc tinha razão, o sofá perto da parede era mais confortável, mas nem Darcy nem
Reed quiseram tirar vantagem daquele conforto, satisfeitos apenas com os beijos e as
carícias que trocavam, enquanto conversavam.
— Vamos até meu apartamento. Tenho lá um presente esperando por você — Reed
murmurou, os lábios próximos de seu rosto.
— Um presente?
— Um presente de noivado. Eu pretendia convidá-la para jantar fora hoje. Ia fazer o
pedido de casamento e, depois, ficar com você em meus braços durante toda a noite. Mas,
quando cheguei aqui esta manhã e a vi nos braços de Marc, eu...
— Eu não estava nos braços dele! Marc pressentiu que havia acontecido algo entre nós
em Orlando, e não pôde conter a curiosidade, querendo saber os detalhes.
— E você se recusou a contar-lhe. Pobre Marc! Deve ter ficado decepcionado...
— Ele é terrível! Às vezes penso que vou perder a paciência com Marc.
— É verdade, querida, mas ele gosta de você à sua maneira. Tanto que me afirmou
que, se eu tornasse a magoá-la, quebraria meu nariz. — Reed sorriu, fitando-a apaixonado.
— Eu a amo muito, Darcy. Esses últimos dias sem você foram tristes. Preciso de você a meu
lado, querida.
— Como pode dizer isso, quando foi tão categórico, afirmando que não me queria mais
trabalhando com você?
— Ciúme, apenas.
— Do quê? De quem?
— Darcy, você tem que admitir que, até hoje, eu não tinha nenhuma certeza do que
você sentia por mim. Ia pedi-la em casamento sem nem mesmo estar certo de que você iria
aceitar. Você estava saindo com Marc antes de irmos para a Flórida! E só aceitava a
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— Mal posso esperar para ser incluída nesse adorável convívio familiar. — Ela sorriu,
radiante.
— Você será minha família, Darcy, e sempre estará em primeiro lugar em meu coração.
Darcy tinha certeza desse amor por ela. Reed tivera paciência, cortejando-a. Houvera
muitos desentendimentos entre ambos, mas agora restava apenas um, de importância real.
Darcy gostaria de pôr uma pedra sobre esse problema, mas sabia que teria que enfrentar
novamente a teimosia de Reed.
— O que foi agora? — perguntou Reed, notando seu olhar preocupado.
— Nós precisamos conversar sobre Jason, Reed.
— Esqueça. Ele não é importante.
— Reed, eu não lhe contei tudo sobre ele... Como você sabe, trabalhei durante um
certo tempo numa casa, ajudando um viúvo com três filhos menores.
— Jason?
— Sim.
— Ele quis se aproveitar de você?!
— Não! — negou calorosamente. — Eu, eu não trabalhava para ele, exatamente. —
Você vivia com ele? Mas como, você era.
— Eu era virgem quando você fez amor comigo! — impacientou-se ela. — Já lhe contei
a razão disso. Eu... depois do assalto, precisava de alguém com quem falar, mas ninguém
queria conversar com uma maluca.
— Estou certo de que isso não é verdade!
— Talvez não fosse, mas foi o que me pareceu naquela época. Então, fui até o lago que
havia no parque da cidade e encontrei Vicky, a filha mais velha de Jason. — Suspirou. —
Vicky tinha apenas dez anos e eu sabia que ela não deveria estar por ali sem companhia.
Fiquei preocupada e parei para conversar com a menina. Vicky e os irmãos estavam meio
abandonados.
De fato, o pai, Jason, sofrera um acidente e tinha quebrado a perna. Por isso, estava no
hospital, convalescendo. Então mudei para a casa deles.
Darcy olhou para Reed com um ar de desafio, esperando a mesma reação das pessoas
que a condenaram, quando se mudara para a casa de Jason, para cuidar das crianças.
— Minha querida, minha pobre querida! — Reed a abraçou, a voz carregada de
emoção.
— Então começaram os mexericos. Todos queriam saber se eu e Jason tínhamos um
caso. Nós não tínhamos!
— Eu sei disso, querida.
— Tentávamos ignorar os comentários, mas não era possível convencer os outros de
que não éramos amantes. Então, uma noite, Jason me disse que, já que todos afirmavam
que tínhamos um caso, devíamos aproveitar e confirmar. Ele é um homem muito atraente e
eu...
— Oh, Darcy! Não diga mais nada, não quero saber. — Ele a abraçou mais forte.
— Ele tentou, mas não conseguiu me possuir. Chorou, e eu o abracei, chorando junto.
Depois disso, não podíamos olhar um para o outro — continuou ela. — As crianças, muito
sensíveis, notaram a tensão entre nós, e eu... eu concordei de imediato quando Jason quis
arranjar outra pessoa para cuidar deles.
— E o que ele lhe disse agora, quando se encontraram?
Darcy sorriu.
— Ele disse que havia encontrado uma ótima moça, que gostava muito de crianças e
que iriam se casar em breve. Disse que não substituía a falecida esposa, mas ele a amava
também.
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
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Sabrina 473 – Noiva de mentira – Carole Mortimer
EPÍLOGO
— Darcy?
— Humm...
— Diga-me o quanto você me ama!
— Ora, Reed, mudei para os Estados Unidos com você, não foi?
— Sim. E tornou-se a titia dos gêmeos de Linda e Wade, dos gêmeos de Mike e Marie e
do único filho de Chris e Diane. Cinco, no total, não é? Mas ainda quero que me diga o
quanto me ama.
— Por quê?
— Apenas responda à pergunta.
— Está querendo insinuar algo, ou está apenas me convidando para ir com você para
casa, direto para a cama?
— Tanto uma como outra coisa — e presenteou-a com o riso de um homem feliz.
— Bem, nesse caso, eu te amo muito!
— Ótimo.
— Reed? Já faz alguns minutos que respondi à sua pergunta. Estou esperando para
irmos embora.
— Podemos ir, assim que você tiver pago a conta do jantar.
— Assim que "eu" tiver pago? Reed, você é quem tem que pagar, ou quer trocar de
lugar comigo?
— Nunca! Eu não ficaria tão bem como você, carregando essa barriga.
— Essa barriga, saiba, pode ser nosso filho, ou nossa filha!
— Eu sei, e já amo o bebê. Estou feliz que tenha esquecido de tomar suas pílulas.
— Eu não esqueci nada. Você é que já estava me cobrando, não minta! E não pense
que essa discussão toda vai me fazer deixar passar o fato de você ter esquecido a carteira,
porque não vai!
— Se você não tivesse feito tantas coisas agradáveis comigo, antes de sairmos de
casa, eu não teria esquecido!
— Você está reclamando?
— Claro que não! Você é uma diabinha! Mas quero que continue exatamente como é.
Agora, vamos para casa, minha querida!
Ir para casa com Reed. Não havia outra coisa que Darcy mais desejasse no mundo.
Antes, porém, precisava fazer algo que também lhe agradava. Cheia de amor, levantou a
cabeça e encostou os lábios nos dele.
— Reed, seus desejos são ordens para mim,
— Então vamos?
— Sim, querido.
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