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Entrevista

POR CLÁUDIA BRANDÃO


José Moran
claudiabrandao@cidadeverde.com

Educação do Futuro
Um dos cofundadores do Projeto Escola do Futuro da USP, o professor
José Moran, diz que as escolas precisam preparar os alunos para um mundo
imprevisível, onde a criatividade vale mais do que o simples acúmulo de
conhecimento, como ocorria no passado.
Na era da tecnologia, a velocidade

foto Analice Borges


das transformações é cada vez maior.
E os adultos do futuro precisam estar
preparados para mudarem de carreira
ao longo da vida, o que faz com que o
papel das escolas tenha de ser reava-
liado. Como a informação não é mais
propriedade exclusiva dos professores,
já que a tecnologia a coloca ao alcance
de todos, cabe às escolas desenvolve-
rem nos alunos competências socio-
emocionais e criativas para que eles
aprendam a empreender e a lidar de
forma cooperativa com os desafios do
mercado.

O professor José Moran, espanhol na-


turalizado brasileiro, mestre e doutor
em Comunicação pela USP e profes-
sor aposentado da mesma universida-
de, é um estudioso do uso das tecnolo-
gias na educação e propõe mudanças
significativas no modo de ensinar. Em
recente passagem por Teresina, ele
concedeu entrevista exclusiva à Revis-
ta Cidade Verde.

RCV – O que vem a ser a Educa-


ção 4.0?
JM – A educação que acompanha as
transformações que houve na socie-
dade, na forma de organizar seus ser-
viços. Na indústria, principalmente. A
indústria 1.0 é a do carvão; a 2.0 é a da
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eletricidade, que permitiu a expansão sempre importante. E é verdade. Mas,
massiva de serviços; a 3.0 já foi da se- hoje, algumas das funções do profes-
gunda metade do século XX, que foi a Em alguns sor que eram importantes anos atrás
da informação, quando chegou a inter- cursos que começam a ser menos importantes.
net e permitiu a automação; a 4.0, que Por exemplo: disponibilizar conteúdo.
nós estamos entrando, é a disruptiva,
usam muita O professor era alguém que se preocu-
quando tudo começa a convergir: a inteligência pava muito em transmitir o conteúdo,
convergência digital, a inteligência ar-
tificial, a biotecnologia. A vida come-
artificial, 80% mas hoje esse conteúdo está muito
mais disponível e você acha qualquer
ça a se ligar com as tecnologias, então das dúvidas coisa que você quiser. Então, uma par-
tudo está conectado. Para esse tempo, dos alunos são te disso, a tecnologia já disponibiliza.
a que chamamos de 4.0, e que identi- Outra parte que o professor fazia era
fica uma nova fase, a educação tam- respondidas a tutoria, tirar dúvidas. Ele ainda vai
bém tem que mudar da educação mais por bots, fazer isso, mas uma parte das dúvidas,
industrial, em que o professor dava a as mais previsíveis, a tecnologia res-
mesma aula para todos, que preparava
robôs, etc. ponde. Em alguns cursos que usam
pessoas para ser mão de obra e havia muita inteligência artificial, 80% das
uma certa igualdade, para um mundo dúvidas dos alunos são respondidas
imprevisível no qual as coisas não são não faz sentido separar mais tanto as por bots, robôs, etc. Então, uma parte
resolvidas só dentro da sala de aula e coisas como fazíamos antes. Estamos do que o professor fazia, que era tirar
onde professores e alunos aprendem caminhando do modelo disciplinar dúvidas, a tecnologia vai fazer. E, aí, a
entre si em todos os espaços. E o pro- para começar a agrupar os conheci- gente pergunta: o professor sobrou?
fessor não é somente o professor for- mentos por áreas, como faz a BNCC Não. A parte principal, aquilo no qual
mal, ele pode ser o colega que sabe um (Base Nacional Comum Curricular). o professor é relevante, que é ajudar
pouco mais, a família – em alguns mo- Ela já agrupa o conhecimento por vá- o aluno a desenvolver competências
mentos, alguém que desenvolve uma rias áreas: linguagem, ciências, huma- cognitivas, socioemocionais, visão de
competência. Essa escola em rede é nas, e essas áreas são trabalhadas cada futuro, isso a tecnologia não vai fazer.
típica do que chamamos de escola 4.0, vez mais com atividades interdiscipli- O papel fundamental do professor é o
que corresponde a esse mundo indus- nares. A ideia é criar mais conexões e de mentor, o de orientar.
trial em que tudo se integra. pontes entre as diversas áreas e, aí, se
trabalha também por eixos. Mas isso é RCV – E como conciliar a disrup-
RCV – O senhor fala de um modelo um desenho de processo, não significa ção do ensino tradicional nas es-
de educação progressiva, em que que trabalhar disciplinarmente já seja colas com o modelo mental con-
não há sequer disciplinas formais errado. Você ainda trabalha com dis- servador ainda presente entre a
como as conhecemos hoje. Como ciplinas, só que cada vez mais integra- maioria dos pais de alunos?
isso funciona? das. O currículo tende a ir caminhan- JM – Não só dos pais, dos próprios
JM – É uma tendência, algumas esco- do para módulos, eixos ou projetos. alunos, também. Por mais que eles
las estão tentando. É a ideia de quebrar brinquem no celular o dia todo, na
algo que na era industrial fazia sentido, RCV – Qual é o papel do professor hora de aprender eles ainda acham
porque nela você separa as coisas para nesse redesenho das escolas? que têm de ouvir. Tem de mudar a
poder ser eficiente. Então, tem razão de JM – Antigamente, quando me per- mentalidade da sociedade, os gestores
haver as disciplinas. Nesse caso, não é guntavam se, com todas essas tecno- não estão prontos, muito professores
ruim ter as coisas separadas por áreas, logias digitais, o professor iria perder ainda têm uma dificuldade enorme
mas ao estar tudo mais integrado hoje, seu lugar e eu dizia: não, o professor é de entender esse novo modelo. Cada
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um tem de ser reeducado e, primeiro, Na educação, o fascinante, porque ela nos permite
ser informado de tudo isso com tran- tudo, você pode fazer qualquer coisa
quilidade, mas abrindo os olhos para
foco não pode ser a na vida, e ela nos ajuda para o bem e
perceber que tudo isso faz sentido e de competição porque para o mal. Quem quer usar a tecno-
que não adianta dizer “ ah! Mas eu es- cada vez mais a gente logia para prejudicar, para roubar, en-
tudei assim”. Ok, mas o mundo era ou- vai viver no mundo contra formas fantásticas. A tecnologia
tro. Na educação, se a gente não muda é um componente da nossa vida que
esses modelos, vai ficando para trás, da colaboração, senão está ligada a tudo, a gente não pode fu-
como pessoas, como país. E para nós, nossa sociedade vai gir dela, mas se você não se interessa,
que temos uma educação tão desigual, viver ainda mais não acontece nada. Se a criança passa
porque a maioria não tem essas mes- o dia inteiro só jogando, ela desenvolve
mas chances, a tendência é que uma
esquizofrênica. algumas habilidades, mas não aprende
parcela fique marginalizada de todo tudo. A tecnologia é ótima, nos permi-
esse mundo fantástico, contraditório, buscando alternativas. Eu acredito que te acompanhar onde cada aluno está,
mas muito desafiador, que precisa de vai ser uma transformação progressi- o que cada um já conhece, onde ele
pessoas com competências muito am- va, não é uma coisa que vai se sentir de deve focar mais a aprendizagem, ou
plas, flexibilidade, criatividade. E isso um ano para outro, mas quando você seja, ela nos ajuda a personalizar os ca-
você tem de fazer na prática. olhar em um horizonte de cinco ou minhos para que você tenha algo mais
dez anos, você sentirá a diferença em adaptado. E é fundamental para criar o
RCV – O senhor arriscaria um pal- boa parte das escolas e dos sistemas, conceito de comunidade de aprendiza-
pite para dizer até quando esse bem como da forma de organização. gem, que consiste na transformação da
modelo tradicional de escola vai Calcula-se, segundo as pesquisas, que escola em um grupo amplo de pessoas
continuar funcionando? em 2030 já teremos um desenho bem em que todos contribuam para o pro-
JM – Há trinta anos, em 1989, um mais aberto de escola, onde o aluno cesso de aprender: os pais, os apoiado-
professor norte-americano, Fredric poderá estudar em mais de um lugar res, os docentes e os gestores.
Litto, e eu criamos o projeto Escola e compor um currículo um pouco
do Futuro na USP – Universidade de misto. O curricular e o online estarão RCV – Até que ponto a competiti-
São Paulo. Foi quando eu tive conta- cada vez mais misturados e teremos vidade entre os alunos é saudável
to com a internet na universidade e também a possibilidade de aprender e deve ser estimulada?
estava tentando entender que mundo colaborativamente, com cada um se JM – Um pouco de competitividade
viria quando tudo estivesse conectado. certificando em tempo diferente. Ago- todos temos. Sempre gostamos de ga-
Aí, chamamos especialistas de vários ra, mudar todo o sistema é uma ques- nhar algum prêmio nos jogos. A gente
países, que falavam muito de ensino tão de 20, 30 anos. pode misturar algumas atividades em
à distância, o que para nós ainda era que você tenha alguma premiação,
novidade. Eles já falavam que, dentro RCV – De que forma as novas tec- como aplicativos baseados em gamifi-
de vinte anos, a escola seria completa- nologias podem ajudar a tornar cação, nos quais ganha quem respon-
mente diferente. Passaram-se trinta, e as aulas mais atrativas para os der antes. Você vai vendo em tempo
estamos discutindo as mesmas coisas, alunos? real quem está se saindo melhor, e isso
quer dizer, muitas escolas avançaram, JM – A tecnologia está em tudo, ela é um incentivo bem legal, o que pode
mas o modelão de escola básica ainda tanto ajuda quanto atrapalha. Eu tra- ser feito individualmente ou entre gru-
é bem quadrado. Então, arriscar prog- balhei muito com tecnologia. Antes pos. Você pode desenvolver projetos
nóstico, eu não arrisco. Mas eu sinto das digitais, as analógicas; depois, a com prêmios, como as Olimpíadas do
que há uma pressão no mundo intei- tecnologia veio fazendo a ponte com Conhecimento, tudo isso é interessan-
ro, não é moda, todos os países estão a educação. E ela tem um lado que é te. Mas, na educação, o foco não pode
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ser a competição porque cada vez mais Você tem que se elas fossem superespeciais, ou se só
a gente vai viver no mundo da colabo- os pais fossem capazes de dar conta, o
ração, da ajuda, do cuidado, de fazer
preparar as pessoas que é muito complexo.
com que as diferenças não sejam tão para um mundo
grandes, senão a nossa sociedade vai extremamente RCV – Como o senhor mesmo
viver ainda mais doente, mais esquizo- imprevisível e para mencionou, nós estamos cami-
frênica. Com essas tecnologias, nesse nhando para um mundo no qual
momento, nós estamos aumentando a que elas encontrem muitos empregos estão desapa-
diferença entre os que têm e os que não um propósito na recendo e boa parte dessas pes-
têm. A gente vê que muitos dos meio- vida. Este é um dos soas vai ter que gerir o próprio
-empregos que ainda existem, como o negócio para sobreviver. A partir
do frentista do posto de gasolina ou do
desafios da escola. de quando o empreendedorismo
empacotador do supermercado, vão deveria começar a ser ensinado
desaparecer ao longo do tempo, com o dores. Isso sempre existiu, só que antes aos alunos?
incremento da tecnologia. Então, nós eram os influenciadores de TV e agora JM – A criança, se você incentiva, é
temos que cuidar para diminuir essa são os próprios jovens que influenciam empreendedora desde que nasce. Eu
separação que nós temos. seus colegas com um sucesso fácil ob- vejo crianças de meses dando baile nos
tido pelo youtube ou instagram. pais. O que eu quero dizer é que, desde
RCV – Nesse novo mundo tecno- sempre, a criança deve ser incentiva-
lógico, as redes sociais não esta- RCV – Qual a avaliação do senhor da a empreender porque ela já nasce
riam criando uma realidade ide- sobre essa proposta de educação criativa, nós é que ficamos, depois,
alizada que pode comprometer a doméstica, sem a participação tolhendo demais. Na verdade, quanto
autoestima dos jovens? da escola? mais cedo, e permanentemente, você
JM – As redes sociais são uma coisa JM – É um tema complexo. Um país vai estimulando a criatividade, mais a
fantástica e o alcance que elas tiveram como os Estados Unidos tem uma criança pode desenvolver um poten-
é relativamente novo. Estamos vendo rede forte, que se chama unschooling cial incrível. A escola, tal como está,
algumas distopias, alguns problemas (sem escola). Eu creio que a gente não não mata a criatividade, mas dificulta
de bolhas, de pessoas que vivem em deve proibir que uma pessoa possa se muito que os adolescentes venham a
condomínios mentais fechados, bem escolarizar de outras formas, mas tem empreender. Nós vemos casos de bons
como do uso intencional do dualismo, que ter um certo cuidado, porque nós alunos, que tiram boas notas, e que
criando o eu contra os outros e usando estamos falando de uma escola que é são pouco criativos porque se acostu-
a rede não como integração, mas como aberta e que temos que aprender com maram simplesmente a obedecer. Para
discriminação. Isso é ruim. Para os jo- caminhos personalizados e, ao mes- criar, você tem que se arriscar e errar
vens há também um problema que mo tempo, colaborativos. A escola para, depois, fazer. Esse é um mundo
sempre existiu, que é de como criar desenvolve competências muito mais novo que a criança precisa experimen-
a autoestima, uma imagem positiva. amplas que só as cognitivas. Então, se tar, não só para empregabilidade, mas
Hoje, esses influenciadores digitais que uma criança é educada pelos pais ou para poder mudar de área rapidamen-
criaram fama de repente, às vezes mos- por tutores, ela pode aprender para te. As crianças do futuro terão que mu-
tram um mundo um pouquinho falso sair-se bem no Enem, mas tem que ver dar muito de áreas técnicas para áreas
para os jovens, para as meninas, prin- se as outras dimensões de socialização de gestão e vice-versa. Você tem que
cipalmente. Temos que ter cuidado na e de aprender a lidar com os conflitos, preparar as pessoas para um mundo
educação para não atrelar o sucesso ao de trabalhar em grupo, não são pre- extremamente imprevisível e para que
ter coisas ou ao modelo consumista judicadas. Às vezes, algumas famílias elas encontrem um propósito na vida.
que está por trás de alguns influencia- querem isolar muito as crianças como Este é um dos desafios da escola.
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