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DASEINSANALYSE E PSICOTERAPIA

IDA ELIZABETH CARDINALLI

Resumo
O presente artigo pretende esclarecer um ponto central
da proposta da psicoterapia daseinsanalítica, que enquanto
uma proposição Icnomenológica prioriza o entendimento do
paciente a partir do seu próprio modo de existir e, a partir
desta explicitação, procura situar a atua- ÇÍÍO do terapeuta e
alguns procedimentos terapêuticos.

Abstract - Daseinsanalyse and Psychotherapy

This paper discusses a central aspect of


daseinsanalytical psychotherapy. As a phenomenological
procedure, this therapy is based on understanding the
patient according to his own way of living and consequently
determines the therapists action as well as some
therapeutic procedures.

PALAVRAS-CHAVE: Boss, Heidegger, Daseinsanalyse,


Fenomenologia, Psicoterapia.

A Daseinsanalyse foi proposta por Medard Boss,


prioritariamente, como um novo acesso para o
entendimento do homem, como um modo particular de
aproximar e compreender tanto os fenómenos sadios e pa-
tológicos do existir humano quanto o contexto terapêutico.
Boss afirma em seus trabalhos que a Daseinsanalyse não
deveria ser considerada, apenas, como mais uma escola na
Psicologia, pois trilha um caminho específico, que é o
fenomenológico. Recuperando o significado grego do termo,
esclarece que "Fenomenológico vem do grego 'phainesthai',
que significa 'mostrar-se', ou clarear, sair do mistério, de
recôndito para o aberto e neste se exibir" (Boss, M.-1997) e,
assim, aponta que o compreender fenomenológico permite
que aquilo que se mostra seja visto a partir de si, isto é,
através da maneira própria pelo qual se mostra.
Como proposição fenomenológica, a Daseinsanalyse
revela sua especificidade ao priorizar o entendimento do
paciente a partir dele mesmo na maneira como ele vive.
Deste modo, não apresenta proposições teóricas
explicativas de caráter causal sobre o desenvolvimento
sadio ou patológico no existir humano e, também, não
descreve técnicas psicoterápicas enquanto práticas gerais
do agir psicoterápico. Enquanto as diferentes abordagens
psicoterápicas, habitualmente, desenvolvem o en-
tendimento do paciente a partir de conceitualizações
teóricas, que instrumentalizam tanto o ouvir quanto o agir
do terapeuta, o enfoque fenomenológico-existencial
apresenta o seu "instrumental" quando propõe que a
compreensão do paciente ocorra na relação específica e
concreta: terapeuta - paciente, a partir do paciente
concreto e da situação concreta do viver do paciente. O
concreto refere-se, em oposição ao caráter abstraio e
genérico das teorias, à possibilidade do ser humano poder
apresen-tar-se de modo singular em sua realidade
existencial para o outro.
Heidegger afirma na obra "Seminários de Zollikon" que:
"É decisivo que cada fenómeno concreto que surge na
relação do analisando e analista seja discutido em sua
pertinência ao paciente concreto em questão a partir de si
em seu conteúdo fenomenal e não seja simples e
genericamente subordinado a um existencial" (Heidegger,
M. - 1987). Deste modo, de um lado, lembra que as
características fundamentais da existência humana,
explicitadas e desenvolvidas em "Ser e Tempo" para
esclarecer o sentido de ser a partir da existência humana,
pertencem a um âmbito filosófico e ontológico e de outro
lado, enfatiza que o entendimento do paciente tenha como
referência o próprio paciente, que denomina de paciente
concreto.
A partir da afirmação, já muito conhecida, que o ser
humano é compreendido enquanto ser-no-mundo, podemos
também compreender que o foco da situação terapêutica é
o modo de existir no mundo de uma determinada pessoa,
isto é, o modo como esta pessoa está se relacionando
consigo mesma, com os outros e com o mundo. Assim, a
compreensão do modo de ser no mundo do paciente ocorre
a partir das várias maneiras como o paciente se mostra, se
apresenta, se desvela, se torna presente para o terapeuta.
Esta proposição, ao considerar que é o modo de existir
do paciente e suas possibilidades que situam o ponto de
partida para a compreensão e a ação do terapeuta, não
estabelece, à priori, quais temas ou experiências são
prioritários para o entendimento do paciente no contexto
terapêutico e assim ressalta que o terapeuta deve ficar
atento, principalmente, ao modo como o paciente se
conduz na relação com o que vive, expressa ou visualiza.
A atitude do terapeuta, que visa compreender o
paciente a partir do seu próprio existir, pode ser ilustrada
através do seguinte relato de um paciente a respeito da sua
experiência terapêutica: "Você procura me compreender a
partir do meu ponto de vista, a partir de mim mesmo; e
nesta sua tentativa, eu percebo o que está claro e o que
está confuso no que eu vivo".
Sobre isto Spanoudis esclarece que é tarefa do
terapeuta clarear e tornar compreensível para o paciente
"como ele se relaciona com tudo o que encontra, como se
comunica com o próximo, como está afinado (disposto) em
relação a tudo o que vivência; enfim, procuramos juntos
tornar claro a maneira como o paciente vive e compreende
o sentido de tudo o que encontra" (Spanoudis, S. -1978).
Esta tarefa pode se realizar uma vez que o terapeuta, ao
buscar a compreensão da existência do paciente a partir
dela própria, também, solicita que o próprio paciente
perceba o que e como está vivendo, o que pode favorecer a
aproximação do paciente consigo mesmo e com o seu
modo de viver e, também, permitir que o paciente seja,
pelo menos na situação terapêutica, de acordo com a
maneira que corresponde a sua própria maneira de viver. O
"modo de existir" do paciente é, então, preservado e
respeitado e sentindo-se aceito, ele pode assumir o risco de
se compreender. É nesta aproximação do modo que o
paciente vive que cslão assentadas as suas próprias
possibilidades de compreensão e de mudança.
Lembramos, ainda, que o aproximar-se de si mesmo e do
mundo que pode permitir uma ampliação na compreensão
de si e no modo de existir, também, dá início ao
esgarçamento da sua compreensão habitual, muitas vezes
experienciado como perda das referências conhecidas e,
também, como temor frente à insegurança e à incerteza em
relação ao futuro. Portanto, salientamos que a
disponibilidade do paciente para se aproximar de si e do
mundo apresenta um duplo movimento, com dire-ções
contrárias: de um lado, a expectativa que a terapia
proporcione mudanças no seu modo de se compreender
e/ou modificações efetivas no seu modo de viver; e, de
outro lado, o temor das mudanças, pois mudar também é
assustador.
Acreditando que um ponto central da proposta
daseinsanalítica foi esclarecido, ao mostrar que a atuação
do terapeuta é circunscrita pelo modo de existir e pela
situação concreta do viver do paciente, correremos o risco
de descrever alguns aspectos considerados habituais no
contexto terapêutico daseinsanalítico.

1-Terapia Verbal
Inicialmente, podemos caracterizar a Daseinsanalyse
como uma terapia verbal, no sentido habitual proposto pela
Psicologia, considerando que é através da linguagem que
ocorre a maior parte da comunicação entre terapeuta e
paciente; e que, habitualmente, não são utilizadas técnicas
ativas como massagem, dramatização, exercícios, etc.
Nos atendimentos terapêuticos, o paciente fala de si e
do que está vivendo, mostrando como se relaciona consigo
e com o mundo através do modo próximo ou distanciado
com que expressa e visualiza o que vive. Considerando que
o paciente não apenas se mostra através do que é falado e
do conteúdo expresso, mas principalmente através da
maneira como se expressa, descreveremos duas
possibilidades do falar humano que aparecem,
frequentemente, na situação terapêutica:
-O falatório incessante, "o contar casos" sem fim, é o modo
mais habitual das pessoas se comunicarem, revelando um
distanciamento consigo mesmo e com o próprio mundo.
Este modo está presente em diferentes situações da vida
cotidiana, quando se fala de si exclusivamente a partir de
parâmetros genéricos e do que se vive como se
apresentasse um relatório médico ou de outra das
inúmeras maneiras em que as pessoas mantêm a
impessoalidade.
-O falar mais próximo é o que mostra um contato mais
próximo da pessoa consigo mesma, com os outros e com o
mundo, revelando uma maior intimidade com a sua vida e
aproximando o significado e o sentido do seu próprio viver.
Neste falar aparece, também, tanto a possibilidade do ouvir
a si, ao outro e ao mundo, quanto à possibilidade do
silêncio.
Deste modo, é importante a atenção do terapeuta à
maneira como o paciente se expressa para perceber como
ele está distanciado tanto num movimento de fuga de si
mesmo, quanto num movimento de se aproximar de si e de
sua experiência.
As colocações heideggerianas sobre a linguagem
permitem situar o entendimento daseinsanalítico do falar
no contexto terapêutico.
Heidegger afirma em' 'Ser e Tempo" que o falar
(discurso) é um fenómeno constituinte da abertura do ser-
aí, sendo articulação significativa da compreensibilidade do
ser-no-mundo. E o que se estrutura na articulação do falar
(discurso) é a totalidade significativa. Nesta perspectiva, as
palavras não são entendidas como dotadas de significados
em si. Pois é da significação que brotam as palavras e não é
o ser humano isolado que atribui os significados a tudo o
que está à sua volta, nem o mundo externo que determina
a significação das coisas. É no entre o homem e o mundo
[explicitado na condição fundamental do homem enquanto
ser-no-mundo, (Heidegger, M. -1927 par. 12)], que se
articula como uma trama significativa, onde se situa o viver
e o falar humano.
Além disso, é inerente ao próprio falar a possibilidade do
escutar. 1 iscutar é o estar aberto existencial do ser-aí
enquanto ser-com os outros. A partir do escutar torna-se
possível ouvir. O escutar recíproco de um com o outro
possui os modos de seguir, acompanhar e, também, os mo-
dos privativos de não ouvir, resistir, defender-se, etc.
Compreendemos, também, que o silêncio é uma
possibilidade intrínseca do falar. Estar em silêncio é
diferente de falar pouco ou de estar mudo, pois o silêncio só
é possível para alguém que tem o que dizer.
Acompanhando o dizer de Heidegger sobre a linguagem
em "Ser e Tempo", que mostra que o homem fala à medida
que pode escutar e ouvir a si mesmo, aos outros e ao
mundo e que o falar humano nâo é restrito ao falar sonoro
através das palavras, mas inclui o calar e o ouvir, enten-
demos que a Daseinsanalyse não é uma terapia
estritamente oral, pois ela é, também, do silêncio, do ouvir
e do calar.

2-Utilização do divã.
A terapia daseinsanalítica pode ocorrer com ou sem a
utilização do divã. No entanto, mais importante do que o
deitar no divã ou ficar sentado é que o paciente possa ser
na situação terapêutica de acordo com a sua maneira mais
própria de viver neste momento. Se para algumas pessoas,
num determinado momento da terapia, conversar frente à
frente com o terapeuta corresponde às suas possibilidades
efetivas neste momento, para outras deitar no divã pode
permitir uma maior liberdade de expressar-se.
O deitar-se no divã na terapia pode facilitar a entrega do
paciente em relação a si mesmo, na medida em que rompe
o modo mais habitual e corriqueiro de estar com as pessoas
e pode permitir um ficar mais à vontade e um relaxamento
corpóreo. Além disso, pode minimizar o controle mútuo
entre o paciente e o terapeuta decorrente da percepção da
aceitação ou da receptividade do que está sendo mostrado
de um paia o outro.
Deste modo, o terapeuta solicita que a pessoa deite,
quando percebe que assim pode facilitar que o paciente
fique mais próximo do seu viver, não ficando preso ao "falar
sobre" as suas coisas, podendo falar consigo mesmo e ouvir
a si e ao outro.
É importante ainda destacar que isto não deve ser
tomado como indicação obrigatória geral e válida para
todos pois é a partir da situação específica que dependem
as condições favoráveis ao desenrolar do trabalho
terapêutico.

3-Olhar terapêutico fenomenológico


Tendo em vista libertar o homem para a multiplicidade
das possibilidades de realizar o seu existir, na
Daseinsanalyse, o paciente é solicitado a perceber que a
sua experiência não se reduz à dimensão racional e
intelectual, pois esta é, apenas, uma das suas possibilida-
des. Deste modo, ele é convidado a expressar aquilo que
lhe ocorre, vive c compreende de seu viver que abarca uma
multiplicidade dos âmbitos de vivências.
Novamente, retomando as palavras de Heidegger "Há
ainda outra coisa antes de qualquer compreendei" e
experienciar. Com este outro que BStá antes de todo
compreender e experienciar é que lida a fenomenologia" (I
Icidegger, M. -1987). Euma dimensão pré-reflexiva, que
aponta o modo de ser de cada um e que mantém o
movimento do vir a ser do existir concreto de cada um de
nós.
A fenomenologia-existencial, ao enfocar o atendimento
clínico, prioriza o olhar, o compreender que apanha, que
colhe a manifestação (vindo a ser) do outro (o paciente).
Neste movimento de vir a ser, o homem não é, mas está
sempre se tornando. Por outro lado, a patologia é
compreendida como uma restrição, um congelamento, um
fechamento das possibilidades de ser.
Enquanto, Heidegger desenvolve o olhar
fenomenológico ao exercitar uma outra compreensão dos
textos filosóficos, no âmbito da clínica busca-se uma
orientação de um olhar que mantenha a interrogação, isto é
pretende-se o desvelamento de um olhar que vê o
manifestar-se do outro, o paciente.
Muitas vezes, a compreensão fenomenológica é
confundida com a mera descrição do que está patente,
visível ou consciente. Fica esquecido que a fenomenologia
surge, exatamente na tentativa de mostrar que o fenómeno
não se apresenta escancarado; ao contrário, na maior parte
das vezes ele se apresenta num movimento de encobri-
mento e de ocultamente
Assim, o olhar fenomenológico-existencial do terapeuta
considera aquilo, que na maior parte das vezes mantém
escondido, que se refere à significatividade, à totalidade ou
à trama significativa, que mantém e sustenta uma dada
compreensão de si, do outro e do mundo. E o sentido de
ser, que não é sinónimo de significado.
Resta, ainda, sublinhar que procuramos esclarecer,
prioritariamente, a dimensão fenomenológica contida na
proposição da terapia daseinsanalítica, tendo como
referência à explicitação ontológica lieideggeriana do existir
humano e que nossa exposição não pretendeu esgotar
todos os aspectos necessários e fundamentais para o
esclarecimento da psicoterapia daseinsanalítica.

Bibliografia
-BOSS, M. - "Introdução à Daseinsalyse" (1984), Revista da
Associa-
ção Brasileira de Daseinsanalyse, n°. 8, São Paulo, 1997.
-HEIDEGGER, M. - Ser e Tempo (1927), Petrópolis, Ed. Vozes,
1988.
-HEIDEGGER, M. -" Meu Caminho para a Fenomenologia"
(1963). In
Os Pensadores, São Paulo, Ed. Abril Cultural, 1983.
-HEIDEGGER, M. - Seminários de Zollikon. Tradução ainda
não
publicada de Gabriela Arnhold e Maria de Fátima de
Almeida Prado
-SPANOUDIS, S. - "A tarefa do aconselhamento e orientação
a partir
da Daseinsanalyse". Revista da Associação Brasileira
de Daseinsanalyse, n°.4, São Paulo, 1978.

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