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Resumo
O presente artigo pretende esclarecer um ponto central
da proposta da psicoterapia daseinsanalítica, que enquanto
uma proposição Icnomenológica prioriza o entendimento do
paciente a partir do seu próprio modo de existir e, a partir
desta explicitação, procura situar a atua- ÇÍÍO do terapeuta e
alguns procedimentos terapêuticos.
1-Terapia Verbal
Inicialmente, podemos caracterizar a Daseinsanalyse
como uma terapia verbal, no sentido habitual proposto pela
Psicologia, considerando que é através da linguagem que
ocorre a maior parte da comunicação entre terapeuta e
paciente; e que, habitualmente, não são utilizadas técnicas
ativas como massagem, dramatização, exercícios, etc.
Nos atendimentos terapêuticos, o paciente fala de si e
do que está vivendo, mostrando como se relaciona consigo
e com o mundo através do modo próximo ou distanciado
com que expressa e visualiza o que vive. Considerando que
o paciente não apenas se mostra através do que é falado e
do conteúdo expresso, mas principalmente através da
maneira como se expressa, descreveremos duas
possibilidades do falar humano que aparecem,
frequentemente, na situação terapêutica:
-O falatório incessante, "o contar casos" sem fim, é o modo
mais habitual das pessoas se comunicarem, revelando um
distanciamento consigo mesmo e com o próprio mundo.
Este modo está presente em diferentes situações da vida
cotidiana, quando se fala de si exclusivamente a partir de
parâmetros genéricos e do que se vive como se
apresentasse um relatório médico ou de outra das
inúmeras maneiras em que as pessoas mantêm a
impessoalidade.
-O falar mais próximo é o que mostra um contato mais
próximo da pessoa consigo mesma, com os outros e com o
mundo, revelando uma maior intimidade com a sua vida e
aproximando o significado e o sentido do seu próprio viver.
Neste falar aparece, também, tanto a possibilidade do ouvir
a si, ao outro e ao mundo, quanto à possibilidade do
silêncio.
Deste modo, é importante a atenção do terapeuta à
maneira como o paciente se expressa para perceber como
ele está distanciado tanto num movimento de fuga de si
mesmo, quanto num movimento de se aproximar de si e de
sua experiência.
As colocações heideggerianas sobre a linguagem
permitem situar o entendimento daseinsanalítico do falar
no contexto terapêutico.
Heidegger afirma em' 'Ser e Tempo" que o falar
(discurso) é um fenómeno constituinte da abertura do ser-
aí, sendo articulação significativa da compreensibilidade do
ser-no-mundo. E o que se estrutura na articulação do falar
(discurso) é a totalidade significativa. Nesta perspectiva, as
palavras não são entendidas como dotadas de significados
em si. Pois é da significação que brotam as palavras e não é
o ser humano isolado que atribui os significados a tudo o
que está à sua volta, nem o mundo externo que determina
a significação das coisas. É no entre o homem e o mundo
[explicitado na condição fundamental do homem enquanto
ser-no-mundo, (Heidegger, M. -1927 par. 12)], que se
articula como uma trama significativa, onde se situa o viver
e o falar humano.
Além disso, é inerente ao próprio falar a possibilidade do
escutar. 1 iscutar é o estar aberto existencial do ser-aí
enquanto ser-com os outros. A partir do escutar torna-se
possível ouvir. O escutar recíproco de um com o outro
possui os modos de seguir, acompanhar e, também, os mo-
dos privativos de não ouvir, resistir, defender-se, etc.
Compreendemos, também, que o silêncio é uma
possibilidade intrínseca do falar. Estar em silêncio é
diferente de falar pouco ou de estar mudo, pois o silêncio só
é possível para alguém que tem o que dizer.
Acompanhando o dizer de Heidegger sobre a linguagem
em "Ser e Tempo", que mostra que o homem fala à medida
que pode escutar e ouvir a si mesmo, aos outros e ao
mundo e que o falar humano nâo é restrito ao falar sonoro
através das palavras, mas inclui o calar e o ouvir, enten-
demos que a Daseinsanalyse não é uma terapia
estritamente oral, pois ela é, também, do silêncio, do ouvir
e do calar.
2-Utilização do divã.
A terapia daseinsanalítica pode ocorrer com ou sem a
utilização do divã. No entanto, mais importante do que o
deitar no divã ou ficar sentado é que o paciente possa ser
na situação terapêutica de acordo com a sua maneira mais
própria de viver neste momento. Se para algumas pessoas,
num determinado momento da terapia, conversar frente à
frente com o terapeuta corresponde às suas possibilidades
efetivas neste momento, para outras deitar no divã pode
permitir uma maior liberdade de expressar-se.
O deitar-se no divã na terapia pode facilitar a entrega do
paciente em relação a si mesmo, na medida em que rompe
o modo mais habitual e corriqueiro de estar com as pessoas
e pode permitir um ficar mais à vontade e um relaxamento
corpóreo. Além disso, pode minimizar o controle mútuo
entre o paciente e o terapeuta decorrente da percepção da
aceitação ou da receptividade do que está sendo mostrado
de um paia o outro.
Deste modo, o terapeuta solicita que a pessoa deite,
quando percebe que assim pode facilitar que o paciente
fique mais próximo do seu viver, não ficando preso ao "falar
sobre" as suas coisas, podendo falar consigo mesmo e ouvir
a si e ao outro.
É importante ainda destacar que isto não deve ser
tomado como indicação obrigatória geral e válida para
todos pois é a partir da situação específica que dependem
as condições favoráveis ao desenrolar do trabalho
terapêutico.
Bibliografia
-BOSS, M. - "Introdução à Daseinsalyse" (1984), Revista da
Associa-
ção Brasileira de Daseinsanalyse, n°. 8, São Paulo, 1997.
-HEIDEGGER, M. - Ser e Tempo (1927), Petrópolis, Ed. Vozes,
1988.
-HEIDEGGER, M. -" Meu Caminho para a Fenomenologia"
(1963). In
Os Pensadores, São Paulo, Ed. Abril Cultural, 1983.
-HEIDEGGER, M. - Seminários de Zollikon. Tradução ainda
não
publicada de Gabriela Arnhold e Maria de Fátima de
Almeida Prado
-SPANOUDIS, S. - "A tarefa do aconselhamento e orientação
a partir
da Daseinsanalyse". Revista da Associação Brasileira
de Daseinsanalyse, n°.4, São Paulo, 1978.