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CONTOS DE LITERATURA INFANTIL: uma possibilidade terapêutica na


hospitalização de adolescentes1

Marianna Menezes Silvino2


Rejane da Silva Nunes3
Caroline Araújo Lemos Ferreira4

RESUMO

A adolescência é uma etapa do ciclo vital compreendida como a fase da


saúde perfeita e do ápice do ser humano. Em razão disso, é complicado aceitar
o adoecer nesse período, em especial quando acompanhado de um processo
de hospitalização. Os efeitos da hospitalização podem ter peculiaridades de
acordo com cada faixa etária, o motivo da internação e a gravidade do
problema. Nessa perspectiva, esses efeitos se tornam mais intensos quando o
individuo vivencia perdas e sofre danos na sua noção de identidade,
ocasionando mais sofrimento diante de sua imagem já alterada, como é o caso
de pacientes internados em Centro de Tratamentos para Queimados. A terapia
com contos de literatura infantil tem se revelado um recurso lúdico significativo
no processo de hospitalização, pois, além de tornar a internação menos hostil,
desenvolve a capacidades de comunicação. O objetivo do presente trabalho foi
investigar o efeito do uso terapêutico dos contos de literatura infantil com
adolescentes hospitalizados no centro de tratamento para queimados de um
hospital geral, no município de Natal/RN. Para tanto, utilizou-se a técnica da
leitura de contos infantis com os adolescentes, aliada a aplicação de
entrevistas semi-estruturadas com eles e seus responsáveis e uma caixa
lúdica. Foi possível vislumbrar o potencial dos contos infantis na adolescência
como importante recurso de enfrentamento, permitindo ao ser que vivencia
essa etapa dentro do processo de hospitalização projetar-se nos personagens,

1 Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UnP, como parte dos requisitos para obtenção
do título de Bacharel em psicologia.
2 Graduanda em Psicologia pela Universidade Potiguar – marimenezesilvino@gmail.com
3 Graduanda em Psicologia pela Universidade Potiguar – re_psic@yahoo.com.br
4 Orientadora. Mestre em Psicologia. Professora da Universidade Potiguar –

carolpsilemos@yahoo.com.br
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e através destes, viver seus conflitos na ficção, levando esta solução para a
sua própria realidade, por meio do processo de elaboração.

Palavras-chave: Adolescência. Hospitalização. Lúdico. Contos infantis.

1 INTRODUÇÃO

Ler, pra mim, sempre significou abrir todas as comportas pra


entender o mundo através dos olhos dos autores e da vivência das
personagens... Ler foi sempre maravilha, gostosura, necessidade
primeira e básica, prazer insubstituível... E continua, lindamente,
sendo exatamente isso (Abramovich, 2004, p.14).

A idéia da utilização dos contos de literatura infantil como ferramenta


psicoterápica surgiu a partir do profundo amor e desejo que nós, autoras do
presente artigo, temos pela leitura, pois, além do sentimento de admiração,
alguns livros têm a capacidade de gerar em nós uma sensação de familiaridade
com as histórias e com seus autores que, por meio de seus modos de
escrever, aproximam-se de nós enquanto leitoras e/ou ouvintes e,
surpreendentemente, alcançam nossa dimensão mais pessoal. E é impossível
não pensar: esse livro, essa história, produz em nós ideias ao nosso próprio
respeito, auxiliando na nossa percepção de sentimentos, ressignificando-os,
isto é, uma impressão de compreensão, uma descoberta de nós mesmas,
desabrochada através dos enredos. O vínculo escritor-história-leitor foi à
gênese de novos recursos para pensar-sentir o mundo, permeando um melhor
entendimento da nossa vida pessoal concomitantemente a nossa vida
profissional.
Como apresentado no título deste artigo, a proposta que nos
propusemos a investigar foi sobre o efeito do uso terapêutico dos contos de
literatura infantil com adolescentes hospitalizados.
Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema e
tivemos dificuldade em encontrar artigos que relatassem o uso terapêutico dos
contos infantis com o público adolescentes. Diante disso, procurou-se
investigar a partir da prática e responder as questões norteadoras da pesquisa:
“Que efeitos os contos de literatura produzem nos adolescentes que os
3

escutam? De que maneira esse recurso terapêutico pode contribuir no cuidado


aos adolescentes hospitalizados?”.
As consequências que a hospitalização produz no adolescente
dependem de sua própria personalidade e da capacidade de suportar
frustrações. Segundo Almeida, Rodrigues e Simões (2005) pode-se também
acrescentar que as particularidades do adoecimento e do tratamento, o estágio
da doença, a intensidade de sofrimento que ela causa, a presença ativa da
família e dos amigos nesse processo, a história de vida do adolescente e a
forma como este lida em momentos de crise também contribuem. Assim sendo,
o adolescente pode reagir de várias maneiras, como aponta Nigro (2004),
podendo ficar revoltado, ansioso e inquieto ou deprimir-se diante do novo
conflito que pode gerar uma situação emocional grave.
Um hospital não é um ambiente de divertimento, mas pode ser um local
no qual existam adolescentes interessados na leitura e nas histórias que um
livro proporciona. Com base em Abramovich (2004), a maneira como se lê um
livro para uma pessoa dá a ela a chance de poder “viajar sem sair do lugar”, é
uma espécie de viagem lúdica em que o ouvinte e o leitor embarcam juntos.
Assim sendo, Corso e Corso (2006), salienta que a importância de contar
histórias vai muito além do entretenimento, por meio delas se enriquece as
experiências.
De acordo com o deputado CHERINI5, esse tipo de terapia é usado
desde a Idade Antiga, já havendo pesquisadores que recomendam o uso da
leitura em tratamentos médicos desde o início do século XIX por ser uma
ferramenta que humaniza o ambiente hospitalar e ameniza os sintomas da
doença.
Dessa maneira, acreditou-se poder contribuir com a comunidade
científica e gerar benefícios à sociedade, usuária dos serviços de saúde
hospitalar.

5 Deputado Giovani Cherini (PDT-RS), autor do Projeto de Lei nº 4186/2012, ainda em


tramitação perante a Câmara dos Deputados, que estabelece o uso da terapia pela leitura nos
hospitais públicos, conveniados e contratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
4

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As primeiras alusões à adolescência são feitas ainda na Antiguidade,


não obstante, existia uma ambiguidade com o conceito de infância, concebido,
ainda, como a “miniaturização” dos adultos (ARMOND; BOEMER, 2004). Até o
século XVIII não havia uma separação nítida entre a infância e a adolescência,
vindo esta a ganhar contornos e definição próprios apenas no século XX, após
a Revolução Industrial e a partir do sentimento de juventude dos ex-
combatentes em países beligerantes, após a II Guerra Mundial (ARIÈS, 1978;
ARMOND; BOEMER, 2004).
Do ponto de vista cronológico, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
define adolescência como sendo a faixa etária entre dez e dezenove anos
completos. Esta também é a faixa etária que o Ministério da Saúde e a
Sociedade Brasileira de Pediatria consideram como adolescentes6. Já o
Estatuto da Criança e do Adolescente (2002), delimita entre doze e dezoito
anos.
A adolescência é uma etapa do ciclo vital compreendida como a fase
das mudanças, do desenvolvimento e também do vigor físico, do grande
apetite, da sede pelos exercícios físicos, esportes e lazer. Em outras palavras,
traduz-se como a fase da saúde perfeita e do ápice do ser humano. Em razão
disso, é complicado para a sociedade aceitar o adoecer nesse período, em
especial quando acompanhado de um processo de hospitalização (ALMEIDA;
RODRIGUES; SIMIES, 2007).
Até certo tempo atrás, não era comum a internação de adolescentes, em
razão da alta taxa de mortalidade infantil, que não permitia a muitas crianças
chegarem a essa fase; não obstante, com os avanços da ciência, essa taxa de
morbimortalidade se modificou, aumentando consideravelmente o número de
adolescentes. Por se tratar de fato relativamente recente, não se encontram

6
Dados retirados da Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN/
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em:
http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/orientacoes_coleta_analise_dados_antropometricos.p
df
5

ainda nas redes públicas e privadas, serviços de saúde voltados ao


atendimento de adolescentes que, via de regra, internam-se ou em alas
pediátricas ou de adultos, o que se constitui em empecilho à adaptação desses
jovens à rotina hospitalar que, por si só, é geradora de estranhamento e
desconforto (ALMEIDA; RODRIGUES; SIMÕES, 2007).
O cuidado com a boa forma física e a insatisfação com o corpo são
traços presentes, de maneira geral, na juventude; entretanto, frente à
hospitalização, isso tende a se intensificar uma vez que, a doença em si ou os
efeitos colaterais dos medicamentos e/ou tratamento trazem consequências
sobre a auto-imagem do adolescente (ALMEIDA; RODRIGUES; SIMÕES,
2007).
Corroborando esse pensamento Guzman e Cano (2002) trazem que na
adolescência, a hospitalização, além de todos os fatores estressantes comuns
às demais fases da vida, carrega um peso a mais, uma vez que há a
preocupação dos jovens com sua imagem corporal, com a aparência, temendo
sua deterioração em casos de doenças ou convalescenças mais graves.
Ainda, o adolescente vivencia para além do adoecer físico, biológico, os
agravos que resultam na sua busca pessoal por estabilidade na formação do
seu EU (ARMOND; BOEMER, 2004).
É comum perceber, no adolescente hospitalizado, de início, a negação,
descartando os medicamentos prescritos, recusando se alimentar ou aderir aos
tratamentos e procedimentos terapêuticos (ALMEIDA; RODRIGUES; SIMÕES,
2007). Seja internado na pediatria ou na clínica de adultos, ainda têm que lidar
com a falta de conhecimento dos profissionais que tendem ora a infantilizá-los,
ora a tratá-los como adultos esclarecidos (GUZMAN; CANO, 2002).
Dessa maneira, demonstram muitas vezes, irritabilidade, comportamento
agressivo, ataques de raiva frequentemente dirigidos a seus acompanhantes
ou aos profissionais de saúde, o que irá exigir destes uma imensa
compreensão que essas manifestações são consequência de um grande
sofrimento psíquico, não se caracterizando como puros acessos de rebeldia
sem razão e que seus atos poderão contribuir sobremaneira para amenizar
esses quadros de revolta, adaptando o adolescente à nova realidade,
contribuindo para um restabelecimento mais rápido de sua saúde e
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contribuindo para seu bem-estar geral (ALMEIDA; RODRIGUES; SIMÕES,


2007).
Os efeitos da hospitalização podem ter peculiaridades de acordo com
cada faixa etária, o motivo da internação e a gravidade do problema. Nessa
perspectiva, esses efeitos se tornam mais intensos quando o indivíduo vivencia
perdas, rompimentos, separações, modificação das referências e sofre danos
na sua noção de identidade, ocasionando mais sofrimento diante de sua
imagem já alterada, como é o caso de pacientes internados em Centro de
Tratamentos para Queimados. Vale ainda ressaltar que existe no paciente, com
trauma térmico, uma dor psíquica devido à abertura súbita e brutal nos limites
da pele (BORGES, 2009; CHIATTONE, 2003; NIGRO, 2004).
De acordo com dados do CASSAUDE7, a hospitalização por queimadura
é um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil. Estima-se que, cerca
de um milhão de pessoas por ano sofrem acidentes desse tipo, e que, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção prestada é escassa em
número e em qualidade. Quando se limita à demanda de crianças e
adolescentes, esta simboliza uma das maiores causas de morte entre algumas
faixas etárias, isto porque esse público se torna mais vulnerável por
desconhecer os riscos e danos deste acidente (MACHADO et al., 2009).
Para Machado et al. (2009), as queimaduras são responsáveis por
complicações, além de físicas, sociais e psicológicas, sendo consideradas
como um dos piores acidentes que ocorrem inesperadamente em pessoas
sadias, e tornando-se marcante para o resto da vida.
De acordo com Santana (2010), no mundo todo, as queimaduras
continuam instituindo graves problemas, sendo eles: clínicos, econômicos,
psicológicos e sociais, ou seja, é um grande problema na saúde pública, devido
às seqüelas causadas de origem física e/ou psicológica.
Na fase da adolescência, o auto-conceito8 é um processo que se
constrói também corporalmente, portanto, qualquer acometimento que venha a

7
Relatório da Subcomissão Permanente de Promoção, Acompanhamento e Defesa da Saúde
(CASSAUDE) do Senado Federal de 9 de junho de 2009. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/atividade/comissoes/comissao.asp?com=1324&origem=SF

8De maneira geral, auto-conceito é definido como sendo a percepção que o indivíduo tem de si
mesmo e essa percepção se constrói a partir da influência das experiências nos vários
contextos de vida. Nas crianças e nos adolescentes, um dos domínios que mais contribui para
7

constranger o corpo de forma significativa, também modifica intrinsecamente a


auto-imagem, podendo provocar um profundo choque no sentimento de
identidade (BORGES, 2009), ou seja, o adolescente queimado sofre um trauma
que altera sua maneira de se reconhecer como ser humano, levando a uma
crise profunda em sua identidade, o passado (quem e como ele era) jamais
voltará a ser o mesmo; há uma ruptura na percepção de si mesmo. O presente
(quem e como sou) é algo estranho, muitas vezes sentido como
despersonalizado e imaginário. Sua percepção o leva a sensação de ter se
perdido em algum ponto entre o antes e o depois do trauma, não tendo ainda
se reencontrado (ANZIEL, 1989; BORGES, 2009). Neste sentido, o
adolescente, em meio a várias mudanças, apresenta necessidades e
especificidades próprias que devem ser levadas em consideração ao ser
hospitalizado (CAMPOS, 1995).
Percebe-se, pois, claramente, a necessidade de criação de unidades
específicas de tratamento e internação para adolescentes, com uma equipe de
saúde multidisciplinar (médicos especializados, enfermeiros, nutricionistas,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e pedagogos) treinados para
interação interdisciplinar no tratamento dessas lesões e suas diversas
consequências, utilizando-se de recursos lúdicos e atividades pedagógicas
adequados à sua fase de desenvolvimento, promovendo momentos de
socialização e lazer, além da privacidade que necessitam durante os
procedimentos por si só, invasivos e despersonalizantes (CAMPOS, 1995;
ALMEIDA; RODRIGUES; SIMIES, 2007).
A terapia com contos de literatura infantil tem se revelado um recurso
lúdico muito significativo no processo de hospitalização, pois, além de tornar a
internação menos hostil, mudando o foco do paciente em relação aos fatores
estressores do momento, desenvolve suas capacidades de comunicação,
como espontaneidade para falar, interrogar, expor ideias, dúvidas, medos,
descobertas, promove a convivência social e desperta o interesse pela leitura
(FERNANDES, 2011). Em função disso, Lucas, Caldin e Silva (2006) em seus
estudos sobre a função terapêutica dos contos, reconheceram alguns
benefícios desse recurso lúdico. São eles:

essa definição, é o domínio físico e, particularmente, o da aparência física (BRACKEN, 1996


apud FARIA, 2005).
8

[...] proporcionar a catarse; favorecer a identificação com as


personagens; possibilitar a introjeção e a projeção; conduzir ao riso;
aliviar as tensões diárias; diminuir o stress; estimular a criatividade;
diminuir a timidez; ajudar no usufruto da experiência vicária; criar um
universo independente da vida cotidiana; experimentar sentimentos e
emoções em segurança; auxiliar a lidar com sentimentos como a
raiva ou a frustração; mostrar que os problemas são universais;
facilitar a comunicação; auxiliar na adaptação à vida hospitalar;
desenvolver a maturidade; manter a saúde mental; conhecer melhor a
si mesmo; entender (e tolerar) as reações dos outros; verbalizar e
exteriorizar os problemas; afastar a sensação de isolamento;
estimular novos interesses; provocar a liberação dos processos
inconscientes; clarificar as dificuldades individuais; aumentar a auto-
estima. (LUCAS; CALDIN; SILVA, 2006, p.402).

Apesar dos contos de literatura infantil ser um material utilizado


geralmente com crianças, tal categoria de contos também pode se revelar
como um bom recurso lúdico para se trabalhar com adolescentes. Ainda que
nessa fase haja uma forte habilidade deles construírem barreiras de separação
com a infância, apresentar os contos sob um novo ponto de vista pode fazer
com que estes jovens reflitam sobre pontos que lhes são ainda indecifráveis,
uma vez que a “enciclopédia de vida” na adolescência é muito pequena, não
permitindo o reconhecimento de pontos mais profundos (BUENO, 2013).
A capacidade de simbolizar tornar-se essencial para as particularidades
psíquicas e emocionais e é uma qualidade desejável para um desenvolvimento
intelectual completo, saudável e criativo, pois a fantasia, a imaginação e a
criatividade tornam o ser humano mais independente (RADINO, 2003;
RESSURREIÇÃO, 2007). Coaduna com essa reflexão, Bettelhein (2009)
quando ressalta que por meio dos contos é possível fantasiar, sair da condição
de inatividade física pelo imaginário e tornar-se alheio da realidade por alguns
instantes, é ainda possível sofrer junto com o herói e alcançar triunfo com ele
quando consegue vencer as ameaças, proporcionando a diminuição do
estresse, e isso é terapêutico.
Os contos de literatura infantil, através dos séculos, passaram a remeter
significados manifestos e ocultos na mente das pessoas (da criança ao idoso).
Transmitem mensagens no nível exato em que o sujeito necessite no
momento. São instrumentos preciosos para se aprender sobre os problemas
dos seres humanos e as possíveis resoluções. Eles ajudam a dar um sentido
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congruente aos turbilhões de sentimentos, auxiliando a superar os momentos


de conflito que ocorrem na vida (ABRAMOVICH, 2004; ESTÉS, 1996;
PESESCHKIAN, 2003).
As histórias serão diferentes para cada pessoa e também diferente para
a mesma pessoa em diversas situações da vida. A extração do significado
dependerá de seus interesses e necessidades. Nesse sentido, os contos
auxiliam mostrando a luta contra as dificuldades da vida e encorajam o
enfrentamento dos contratempos (BENJAMIN, 1994).
Pesquisas revelaram que quando alguns adolescentes são
prematuramente coagidos a enfrentar uma realidade trágica, tendem a buscar
nos sonhos e nas drogas a satisfação de suas fantasias, o suprimento de suas
carências e a resolução para seus problemas (BUENO, 2013). A vantagem da
inserção dos contos infantis em terapias com adolescentes é que eles têm uma
estrutura sólida, com começo definido e uma trama que se move em direção a
uma solução satisfatória e assim, como as crianças, o adolescente poderá
perceber qual dos contos enquadra-se na situação vivenciada por ele naquele
momento e como a história poderá ajudar a lidar com seus sentimentos e a
enfrentar um problema difícil (BENJAMIN, 1994; BUENO, 2013).
Os contos infantis funcionam como ferramentas para a descoberta
desses sentimentos, pois os mesmos são capazes de envolver em seu enredo,
de persuadir a mente e impressionar com a sorte de seus personagens.
Causam impactos no psiquismo, porque lidam com as vivências cotidianas,
permitindo o efeito de identificar-se com as dificuldades ou alegrias de seus
heróis, cujos feitos narrados demonstram, em suma, a condição humana frente
aos sofrimentos da vida (ABRAMOVICH, 2004; NÓBREGA, 2009).
Nos contos infantis, pode-se encontrar o modelo obrigatório de qualquer
narrativa literária, em toda narrativa literária existem incidentes, ou seja,
situações de equilíbrio e desequilíbrio, que se alteram, promovendo à
passagem de uma situação a outra. É nessa sucessão de episódios que se
situam os conflitos e as soluções aos problemas que tanto prendem a atenção
(CADERMATORI, 1991).
Nesse particular, os contos assumem valioso papel: eles são uma
expressão límpida e simples do universo psicológico profundo. De estruturas
mais rudimentares que as lendas e os mitos, mas de teor muito mais
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abundante do que o conteúdo de regras de condutas enfocadas na maioria das


fábulas, são os contos infantis a receita mágica capaz de abarcar a atenção
dos seres humanos e despertar-lhes sentimentos e valores óbvios que
suplicam por um desenvolvimento justo, tão inteiro quanto possa vir a ser o do
prestigiado intelecto (BETTELHEIN, 2009, CORSO; CORSO, 2006;
NÓBREGA, 2009).
O mais admirável nos contos infantis é que eles fazem com que, aos
poucos, o que é deslumbrante, imaginário e mágico deixe de ser vistos como
pura ficção e passam a fazer parte do cotidiano de cada um, inclusive dos
adultos que já se permitem, em muitos momentos, serem conduzidos para este
universo mágico, onde a vida se torna mais leve e bem menos operativa
(SUNDERLAND, 2005). A partir dessa reflexão, pode-se compreender o que
escreveu Saint-Exupéry:

Os contos infantis são assim. Uma manhã, a gente acorda e diz: ‘era
só um conto!’ E a gente sorri de si mesma. Mas, no fundo, não
estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos são a única
verdade da vida (SAINT-EXUPÉRY, 2009, p. 21).

O ato de ouvir as histórias implica em um leque de novas possibilidades


na vida do indivíduo, desde a compreensão de seus conflitos próprios no
decorrer de seu processo evolutivo até as dificuldades presentes e mesmo a
eventual solução para todos esses problemas, pois que é possível vivenciar
uma gama de sentimentos e emoções: tristeza, raiva, medo, alegria,
impotência, insegurança, dentre tantas outras. São formuladas novas
construções simbólicas, são aprendidas novas palavras. Reside nessa prática
o poder de despertar essas emoções nos enfermos, já fragilizados pelo
adoecimento e processo de hospitalização, dando novo ânimo para lidar com
os procedimentos frios e invasivos do ambiente hospitalar, proporcionando um
novo desejo de lutar e de viver. Nesse sentido o conto age como um interventor
que reorganiza o emocional e facilita a expressão dos sentimentos e
pensamentos (ELLIOTT et al, 2011; FERNANDES, 2011).
A força de uma história é tão grande entre o narrador e o ouvinte que
durante o enredo ocorre uma emoção intensa e recíproca, a ponto de
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desvanecer o ambiente real diante da magia das palavras que comovem e


extasiam (COELHO, 1990).
Ao se realizar a contação de histórias, aquele que ouve as narrativas é
levado para um mundo de fantasias, onde pode sentir e experienciar o que,
muitas vezes, não lhe é permitido no mundo real. Ocorre sua identificação com
determinadas personagens e através delas, é capaz de vivenciar “a uma
distância segura” seus conflitos e problemas, o que o faz compreendê-los e
aceitá-los melhor, dando-lhes novos sentidos (ELLIOTT et al, 2011).
É incrível o quanto a imaginação torna-se livre diante da escuta de uma
história ou da leitura de um livro, é possível viajar pelo mundo todo, por lugares
nunca vistos, imaginando seres e situações nunca vividas antes. Por meio da
imaginação se pode resolver problemas, viver o presente, planejar o futuro e
aprimorar o passado (PEARCE, 1987).
Percebe-se, pois, a partir das ideias discutidas pelos diversos autores e
supramencionadas, a importância que os contos de literatura infantil assumem
frente ao desenvolvimento humano, tornando-se um instrumento essencial para
a construção do homem enquanto ser cuidador e de cuidado, através dos
processos de significação que podem despertar no sujeito.

2.2 MÉTODO

2.2.1 Desenho Metodológico

Contemo-nos histórias para, talvez, nos dizer verdades (FERRO,


2000, p. 4).

Trata-se de uma pesquisa do tipo descritivo-exploratória com abordagem


qualitativa, uma vez que se visou propiciar a descoberta de informações sobre
um tema específico, delimitando-o; observar, registrar, analisar e correlacionar
fatos e fenômenos, preocupando-se, por fim, com o fenômeno em si,
secundarizando a utilização de dados estatísticos uma vez que não se faz
premente a mensuração ou numeração do fenômeno em unidades ou
categorias homogêneas (MORETTI, 2008).
Tal escolha pautou-se na preocupação das pesquisadoras com “o
universo de valores, crenças, afirmações e significados envolvidos nas
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relações humanas e que não podem ser quantificadas em dados numéricos e


análises estatísticas." (SOUZA; SANTOS, 2007 apud Minayo,1994, p.22), isto
é, o intento da pesquisa foi avaliar os benefícios trazidos pela prática da
contação de histórias para adolescentes em situação de internação por
queimaduras, não cabendo pois, a quantificação e mensuração de toda a
subjetividade experienciada e externada pelos sujeitos.
Para tanto, optou-se como cenário o Centro de Tratamento para
Queimados (CTQ) do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, localizado no
município de Natal/RN e, como adjutores da pesquisa dois adolescentes
internados no referido setor, selecionados a partir de critérios de faixa etária,
alfabetização e motivo da hospitalização.

2.2.2. Caracterização do cenário

O apartamento em que se vive é povoado de seres oriundos


daquelas histórias. (...) Mas o mergulho nesse mundo mágico não é
sentimental ou vago; desemboca numa percepção precisa do
cotidiano (BENJAMIN,1984, p.15).

A escolha do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital


Monsenhor Walfredo Gurgel como locus da pesquisa justifica-se pela
necessidade das mudanças no projeto, pela indicação do Núcleo de Educação
Permanente (NEP) do hospital, pela disponibilidade e necessidade do setor, o
perfil dos participantes, o tempo e o motivo de hospitalização dos mesmos.
O referido centro possui um total de cinco enfermarias, divididas em
quatro adultas e uma pediátrica. A enfermaria pediátrica conta com seis leitos
de internação para crianças e adolescentes. Além dos leitos, a enfermaria
pediátrica possui um ar-condicionado central, uma pia, armários para guardar
os objetos de uso pessoal dos pacientes e de seus acompanhantes, poltronas
ao lado de cada leito para acomodação dos acompanhantes, suporte para
soro, TV, DVD e uma pequena brinquedoteca com mesinhas, cadeiras, livros e
brinquedos.
A estrutura física do setor também é composta por um posto de
prescrição, onde a equipe fica alocada, quarto de descanso dos funcionários,
banheiros, sala dos fisioterapeutas e uma pequena área externa com
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equipamentos para realização de atividades físicas, terapêuticas e de lazer.


Duas portas dão acesso ao setor em questão, uma designada à entrada e
saída de funcionários e visitantes e outra para entrada e saída de macas
conduzindo os pacientes.
No que diz respeito aos profissionais de saúde que laboram nesse setor,
o CTQ conta com a atuação de uma equipe multidisciplinar composta por
médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogas, nutricionista,
fisioterapeutas, assistentes sociais e pedagogas.
Quanto à presença de familiares ao lado dos adolescentes, só é
permitido um responsável para ser acompanhante em tempo integral, os
demais são autorizados apenas nos horários de visitas: manhã, tarde e/ou
noite e em cada horário é permitida a entrada limitada de três visitantes por
criança e adolescente hospitalizado.

2.2.3 Participantes

Como critério de inclusão visou-se realizar a pesquisa com adolescentes


entre 12 e 18 anos de idade, assim consideradas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (2002), in verbis:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a


pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes
aquela entre 12 e 18 anos de idade.

Fez-se necessário, ainda, que fossem alfabetizados, presumindo-se ser


este um fator que facilitaria suas expressões e comunicação quanto aos
procedimentos utilizados e, em decorrência, melhor análise e compreensão
pelas autoras da pesquisa, haja vista que a técnica escolhida envolveu a
utilização terapêutica de contos de literatura.
Requereu-se, para a realização da coleta de dados, a anuência do
adolescente e seu responsável por meio da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Por fim, visou-se aplicar a contação de histórias com adolescentes em
internação para tratamento de queimaduras, em razão de tratar-se de um
14

período delicado para os mesmos pelas consequências físicas e emocionais


que esse procedimento acarreta.
Foram dois ao todo os protagonistas dessa pesquisa. Cada um deles
recebeu um nome fictício. A escolha dos nomes foi baseada nos personagens
dos contos que os adolescentes mais se identificaram e mais se aproximaram
de sua realidade atual. Portanto, temos Lino, personagem principal do livro Lino
(Neves, 2010) e Arthur protagonista da história contemporânea Arthur vai para
o hospital (Bennet, 2010). É importante esclarecer que o motivo dos
adolescentes serem do sexo masculino não está relacionado aos critérios
metodológicos, mas a disponibilidade durante o período da elaboração do
corpus da pesquisa.
Estes são os protagonistas da pesquisa:

QUADRO 1: Dados de Identificação dos Participantes

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do adolescente (iniciais): A. R. P. S.


Idade: 16 anos
LINO Sexo: Masculino
Tempo de internação: 1 ano e 6 meses
Motivo da hospitalização: Queimaduras provocadas
por acidente de carro.

Nome do adolescente (iniciais): M. V. F.


ARTHUR Idade: 13 anos
Sexo: Masculino
Tempo de internação: 1 mês e 14 dias
Motivo da hospitalização: Queimaduras provocadas
por incidente ocorrido na escola enquanto brincava
com os colegas.

2.2.4 Os contos e suas temáticas

Para que uma história? Quem não compreende pensa que é para
divertir. Mas não é isto. É que elas têm o poder de transfigurar o
cotidiano. Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o
15

medo em canções. Com isto angústias e medos ficam mais mansos.


Claro que são para crianças. Especialmente aquelas que moram
dentro de nós, e têm medo da solidão (ALVES, 1999, p.5).

Os contos de literatura infantil são, nesse artigo, conjuntamente,


instrumentos de investigação e recurso de acesso ao universo dos
adolescentes participantes da pesquisa.
O critério da escolha abrangeu a pesquisa prévia dos temas gerais que
definiam a obra literária, tentando entender a concernência destas a manobra
terapêutica de adolescentes internados no Centro de Tratamento de
Queimados.
Para determinar os contos utilizados nas sessões com cada
adolescente, foram adotados três aspectos principais: (A) o número de
encontros realizados, qual seja quatro, ao todo, com todos os adolescentes
participantes, adoção de contos diversos, variando conforme a necessidade do
paciente e sendo interpostos na realização do trabalho; (B) seleção de contos
que contivessem, em sua narração, temáticas próprias sobre o processo de
hospitalização, os conflitos característicos desse processo como a separação
da família e dos amigos, perdas, mortes, superação, medos, enfrentamentos,
ou seja, histórias aproximadas à realidade dos adolescentes; e (C) faixa etária
dos participantes.
Os contos foram utilizados em uma ordem que obedecia as demandas
afetivas dos adolescentes participantes, mediante sinalização dos seus
comportamentos, as especificidades de suas experiências no hospital e os
apontamentos dos acompanhantes.
Buscou-se, ainda, contos que fizessem referências a situações
cotidianas da adolescência e/ou de vivências hospitalares, histórias instigantes
e capazes de causar reflexão, ou seja, escolhas baseadas na demanda do
adolescente e na necessidade de uma proposta terapêutica.
Foram oito, ao todo, os contos utilizados nessa pesquisa. A lista dos
livros e suas sinopses encontram-se no Apêndice B.

2.2.5 Procedimentos Metodológicos de Construção do Corpus da


pesquisa
16

Para a realização da pesquisa, foi necessário, a priori, contato com o


Núcleo de Educação Permanente (NEP), que analisou o projeto e após
aprovação do mesmo, encaminhou as pesquisadoras para o serviço de
pedagogia e psicologia do CTQ, com o objetivo de terem profissionais
responsáveis em auxiliá-las e supervisioná-las durante todo processo de coleta
dos dados.
A princípio, fez-se visita de caráter exploratório ao campo, no intuito de
conhecer as maiores demandas, faixa etária, adequando a pesquisa à
realidade do campo.
Em seguida, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
para apreciação, embasado na Resolução nº 196/96 do CNS/MS, a qual
disciplina pesquisas científicas a serem realizadas com seres humanos.
Após as etapas burocráticas, foi estabelecido contato com os
pais/responsáveis, explicando os procedimentos e objetivos da pesquisa,
solicitando-lhes a participação e permissão para participação de seus filhos,
através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
(Apêndice A). A partir daí, foram realizadas quatro visitas aos adolescentes
internados, cada uma com duração média de sessenta minutos, de acordo com
receptividade dos mesmos.
.
2.2.5.1 Instrumentos e materiais

Além da sequência de quatro encontros, foram utilizados dois


formulários de entrevistas semi-estruturadas com os adolescentes e seus
responsáveis (Apêndice C e D). Um deles foi aplicado no primeiro encontro,
antes das sessões de contação de histórias, a qual visou conhecer os hábitos,
hobbies e como se deu o processo de adoecimento do adolescente, bem como
investigar como eles e seus responsáveis estão enfrentando a atual situação
de hospitalização. O outro formulário, aplicado no último encontro, após
encerramento das sessões de contação de história, teve como objetivo
conhecer a opinião dos adolescentes sobre os quatro dias dos encontros, os
contos que mais e menos gostaram e se ler histórias é uma coisa boa para se
fazer em um hospital e com os pais objetivou investigar a opinião deles sobre a
proposta da pesquisa, se perceberam algum benefício no estado emocional
17

dos adolescentes e se eles recomendariam esse tipo de terapia (Apêndice E e


F). Também foi utilizado um gravador de áudio para registro de cada sessão,
para auxiliar as pesquisadoras na hora da realização da análise dos dados.
A cada sessão eram levados os livros de contos, uma caixa lúdica e
figuras que representavam carinhas com expressões de sentimentos em EVA
confeccionada pelas próprias pesquisadoras.

QUADRO 2: Materiais utilizados em cada encontro para coleta de dados

MATERIAL ITENS

LIVROS 08 livros de contos de literatura

Lápis grafite
Borracha
Apontador
CAIXA LÚDICA Lápis de cor em madeira
Giz de cera
Lápis de cor hidrocor
Maleta médica com brinquedos/instrumentos que
fazem parte dos procedimentos e rotinas
hospitalares

Papel ofício colorido


OUTROS MATERIAIS Prancheta
Figuras (representação de carinhas)

Em todos os encontros foram utilizados os contos e as figuras, já a caixa


lúdica foi usada apenas quando era de interesse do adolescente.

2.2.6 Descrição dos Procedimentos Metodológicos realizados em cada


encontro

Cada sessão foi iniciada com a apresentação de figuras que


representavam carinhas contendo imagens que lembram expressões faciais
18

que visavam investigar o estado de espírito do paciente naquele dia (feliz,


triste, com raiva, com medo, cansado e com dor).
No primeiro encontro, buscou-se o estabelecimento do rapport9, por
meio da entrevista inicial. Em seguida, foram apresentados os livros de
literatura selecionados, convidando-os a escolher um deles para ser lido em
conjunto com as pesquisadoras para fortalecimento do vínculo. Para que as
histórias fossem realmente facilitadoras na terapia, se fez necessária a
existência de mais de um tipo de títulos e assim foi dado ao adolescente o
direito de escolher o livro de acordo com sua vontade própria. Dessa maneira
ele descobriu histórias com temáticas e situações problemas com as quais se
identificou, ajudando-o a refletir sobre sua identidade e resultando em soluções
positivas e perfeitamente realizáveis (FRANZ, 1984).
Nas segunda e terceira sessões, foi lido um conto previamente
selecionado pelas pesquisadoras, de acordo com o perfil e queixas
apresentados pelos pais e o sujeito, ante a análise dos questionários prévios
aplicados. Ao final da leitura, foi feito (ou não) o uso da caixa lúdica, o que
contribuiu na percepção das autoras de como o adolescente vivencia a rotina
hospitalar (procedimentohus, contato com a equipe de saúde), seu processo de
adoecimento, possíveis medos e angústias e como significou as histórias
contadas. O sujeito também foi convidado a refletir sobre o conto onde foi
solicitado que desenhasse livremente a partir das histórias lidas durante o
período de contato com as pesquisadoras. Importante ressaltar aqui que
quando o adolescente não queria fazer uso da caixa lúdica ou não estava com
vontade de desenhar, era dado a ele o direito de escolher a atividade que
gostaria de fazer naquele momento após o conto.

No último encontro, o paciente ficou livre para novamente escolher o


livro de sua preferência, podendo optar por um novo livro ou repetir uma
história de que tenha gostado mais. Em seguida foi aplicada a entrevista final
com ele. Por fim, foi aplicada entrevista final com os pais visando analisar se a
técnica alcançou os objetivos pretendidos.

9Rapport is a characteristic of a relationship if there is a high degree of empathy, attention, and


shared understanding and expectations (COAN JR., 1984, p. 333).
Rapport é uma característica de uma relação onde existe um alto grau de empatia, atenção e
compartilhamento de compreensão e expectativas. (Tradução livre).
19

2.2.7 Análise do Corpus da pesquisa

Os dados coletados foram avaliados por meio da técnica conhecida


como Análise do Discurso, a qual visa investigar os conteúdos explícitos e
implícitos presentes nos diálogos (NOGUEIRA, 2008, apud Wetherell et al.,
2001), consistindo em técnica que considera o dito no presente e no passado
e, ainda, o não-dito.
Visou-se, pois, não uma compreensão vertical do discurso, em si
incompleto, mas seu entendimento em profundidade, verificando suas
construções a partir de toda a carga subjetiva intrínseca a cada um mediante
as experiências de vida individuais e singulares a cada sujeito (MARQUES,
2011).
Dessa forma, a partir das informações construídas no processo de
construção do corpus da pesquisa, foram definidas categorias de análise,
baseadas naquilo que é comum ou dispare na relação com cada adolescente,
sempre com o fito de averiguar e responder as questões norteadoras do
trabalho: “Que efeitos os contos de literatura produzem nos adolescentes que
os escutam? De que maneira esse recurso terapêutico pode contribuir no
cuidado aos adolescentes hospitalizados?”

2.2.8 Resultados e discussão

O livro é um lugar de papel e dentro dele existe sempre uma


paisagem. O leitor abre o livro, vai lendo, lendo e, quando vê, já está
mergulhado na paisagem. Pensando bem, ler é como viajar para
outro universo sem sair de casa. Caminhando dentro do livro, o leitor
vai conhecer personagens e lugares, participar de aventuras,
desvendar segredos, ficar encantado, entrar em contato com opiniões
diferentes das suas, sentir medo, acreditar em sonhos, chorar, dar
gargalhadas, querer fugir e, às vezes, até sentir vontade de dar um
beijinho na princesa. Tudo é mentira. Ao mesmo tempo, tudo é
verdade, tanto que após a viagem, que alguns chamam leitura, o
leitor, se tiver sorte, pode ficar compreendendo um pouco melhor sua
própria vida, as outras pessoas e as coisas do mundo.
(Texto extraído do blog de Ricardo Azevedo10, 2012)

10
O paulista Ricardo Azevedo é escritor, ilustrador e pesquisador na área de cultura popular.
Ganhou quatro vezes o prêmio Jabuti e têm livros publicados na Alemanha, Portugal, México,
França e Holanda e textos em coletâneas publicados na Costa Rica e no Kuwait. O trecho
acima citado é de autoria do mesmo e pode ser encontrado no endereço eletrônico
http://www.ricardoazevedo.com.br.
20

Investigar as possibilidades terapêuticas dos contos de literatura com


adolescentes internados no CTQ foi uma experiência única e desafiadora, uma
vez que tivemos dificuldades de encontrar registro de pesquisa realizada ou
artigo publicado sobre esse recurso com o referido público em condição de
hospitalização. Além disso, os adolescentes poderiam recusar o convite em
participar da pesquisa, haja vista que a contação de histórias poderia ser por
eles interpretada como uma atividade para se realizar apenas com crianças.
Todavia, o desafio foi encarado pelas pesquisadoras e aceito pelos
protagonistas desse enredo, por se acreditar que adotar os contos de literatura
infantil como mediador seria uma possibilidade de produzir nos adolescentes
resultados tão benéficos como os resultados já comprovados em pesquisa
realizada com crianças (FERNANDES, 2011).
Optou-se por tomar como referências dois meios de informações: as
entrevistas iniciais e finais realizadas com os adolescentes e seus
responsáveis e a transcrição dos quatro encontros registrada em diários de
campo e gravação de áudio.
É importante ressaltar que os adolescentes que participaram desse
estudo possuem tempo de hospitalização diferentes (Quadro 1), mas,
apresentam algumas características em comum, que certamente refletem na
maneira como eles vivenciam esse processo. São adolescentes de classes
menos abastadas, com traços e comportamentos interioranos, residentes de
área rural, provenientes de família de classe sócio-econômica baixa, cujos pais
têm pouca ou nenhuma escolarização. Ambos estão hospitalizados pelo
mesmo problema (queimaduras de terceiro grau), lidam com a desfiguração do
corpo, fizeram/fazem o mesmo tratamento e estão privados da convivência
com familiares e amigos, não apenas pela internação, mas também por
estarem em um hospital distante de suas cidades.

2.2.8.1 Lino: uma história de perdas, superações e resiliência.

Lino, primeiro adolescente a participar da pesquisa, mora com a mãe e a


irmã caçula. Cursa a 1ª série do ensino médio e atualmente recebe apoio
educacional no próprio hospital através do serviço de atendimento à rede de
21

escolarização hospitalar. As aulas são ministradas diariamente pela equipe de


pedagogia.
Lino é um adolescente tímido, de olhos vivos e brilhantes, dono de um
sorriso doce e cativante e com um misto de inocência e maturidade em suas
ações e comportamentos. Conforme relatou sua mãe, é um adolescente calmo,
obediente, bem comportado, muito estudioso e reservado. Antes do acidente
adorava brincar com os amigos, jogar bola e andar de bicicleta.
Sofreu muito no início da hospitalização com os constantes
procedimentos invasivos, a despersonalização, a solidão na UTI, a má
condição física da enfermaria e a saudade de casa, dos amigos e da sua
rotina. Sentia muito medo da dor e uma forte ansiedade todas as vezes que era
submetido a uma nova cirurgia.
Depois de muito tempo internado adaptou-se as rotinas hospitalares, há
uma boa aceitação ao seu tratamento atual e hoje ele mesmo faz alguns
procedimentos necessários, como por exemplo, trocar seus próprios curativos,
demonstrando participação ativa em seu próprio tratamento. Elaborou, dentro
das suas possibilidades, atividades para driblar a ociosidade: assistir TV,
navegar na internet com seu celular, apostar corrida com a cadeira de rodas no
corredor do CTQ, fazer palavras cruzadas e brincar na área de lazer do setor.
De acordo com sua mãe, algumas vezes ele acorda de mau humor, reclama da
comida, passa o dia aborrecido e impaciente, mas é repreendido por ela e
incentivado a agradecer a Deus pela sua vida e sua superação.

2.2.8.2 Arthur: O menino que era “medo” e virou “coragem”.

Arthur, segundo adolescente a participar da pesquisa, mora com os pais


e cursa a 5ª série do ensino fundamental. Também recebe apoio educacional
por meio do setor pedagógico do hospital, que se utiliza da política de “classes
hospitalares”, para acompanhamento as crianças, jovens e adultos com
necessidades especiais e individuais.
Arthur é um adolescente vivo, esperto, curioso, que parece difícil ao
primeiro contato, mas que surpreendeu com o passar do tempo. Relatou,
corroborado por sua irmã (que o acompanhou na maior parte de seu processo
de hospitalização), gosta de construir gaiolas, caçar e criar aves, andar de
22

bicicleta e jogar sinuca, o que o configura como um menino ativo, e que se


confirma nas suas atitudes muitas vezes impaciente ou de hiperatividade no
ambiente hospitalar e da falta que relata em poder andar no sol.
Conforme relatado por sua irmã, o início de seu processo de
hospitalização foi complicado, pois ele queixava-se bastante de sentir dor, não
queria permitir aos profissionais a realizações de determinados procedimentos,
como a realização de coleta de sangue ou aplicação intravenosa de algum
medicamento, a troca dos curativos. Desta feita, vê-se que os sentimentos
advindos da hospitalização independem de faixa etária, pois que se trata de um
processo estressante em qualquer fase da vida. Não obstante, percebe-se um
agravamento na adolescência, que é, em si, um momento de mudanças,
físicas, hormonais e, consequentemente, psíquicas (ALMEIDA; RODRIGUES;
SIMIES, 2007).
Entretanto, à medida que seu quadro foi se revertendo e começou a
melhorar, mostrou-se bem adaptado à rotina do hospital, afeiçoando-se a
vários profissionais, que hoje referencia como amigos, permitindo à realização
dos procedimentos necessários e se queixando menos, embora tenha deixado
latente em sua fala o quanto esse processo ainda lhe é penoso, ao responder
categoricamente que contava com um mês e catorze dias de hospitalização,
acrescentando ainda certo desconforto quanto às injeções e certo temor da
necessidade de um procedimento cirúrgico e que este poderia lhe levar à
morte.
No que diz respeito ao contato prévio com os contos, dado extraído da
entrevista inicial com os adolescentes e seus responsáveis/acompanhantes,
ficou nítido que as histórias nunca fizeram parte da vida dos dois adolescentes
e, de acordo com o diálogo deles, nunca tiveram quem lesse ou contasse
história para ambos (nem mesmo na infância) e eles tinham/tem preguiça de ler
sozinhos.

2.2.8.3 Era uma vez Lino e Arthur


Em sua entrevista inicial, Lino descreveu sem muita riqueza de detalhes,
sobre o motivo de estar hospitalizado.
23

Lino: sofri um acidente de carro quando estava


passeando com meus tios, o carro capotou, se partiu ao
meio e a parte que eu estava pegou fogo, depois disso
não me recordo de quase nada, só lembro que vi as
ambulâncias e os bombeiros chegando e depois já
acordei na UTI do hospital.

Quando questionado sobre como Lino vivencia sua hospitalização, ele


respondeu:

Lino: no início foi tudo muito difícil e eu sentia muita dor.


É muito triste ficar longe de casa e não poder fazer tudo
que eu fazia antes, passava muito tempo deitado, só
assistindo e sem poder andar, não queria falar com
ninguém e não colaborava com meu tratamento. Às vezes
sinto muita raiva de ficar internado o tempo todo, pois
sinto muita saudade dos meus tios e avós. Mas não quero
mais falar sobre isso, não quero mais me lembrar das
coisas ruins que passei. Hoje estou feliz, não tenho mais
medo de nada aqui, já me acostumei com tudo, até com
as injeções e com as cirurgias depois de tantas que eu já
fiz. Estou perto de receber alta. É só nisso que quero
pensar, na minha volta pra casa e no meu futuro.

Como se sentia bem, apesar de ainda vivenciar diversos procedimentos


como sessões de fisioterapias, depender de cadeira de rodas, tomar
medicamentos e suplementos e ainda está em processo de cicatrização das
lesões provocadas pela queimadura, Lino diariamente revelava estar feliz. No
decorrer das sessões, sempre apontava a carinha feliz em relação aos seus
sentimentos e sempre justificava que era pela expectativa de receber alta.
Com relação ao comportamento e afetividade do adolescente, o mesmo
é sorridente, observador, criativo e muito cooperativo, interage bem com a
equipe de saúde e com os outros pacientes e acompanhantes do CTQ.
24

Como é possível constatar, para Lino apenas a certeza que em breve


voltará para casa já é suficiente para lhe fortalecer, mudar seu comportamento
e ter sua auto-estima melhorada.
No caso de Arthur, o motivo que o levou à hospitalização foi contado em
todos os detalhes:

Arthur: Foi num sábado. Eu saí para tomar banho de


açude com uns amigos. Quando a gente saiu do açude,
eles pediram pra eu pular o muro da escola com eles, e
que se eu não fosse, não seria mais amigo deles. A gente
pulou e foi pra cozinha, tava brincando com álcool, aí
abaixei minha cabeça e quando levantei só vi aquela bola
de fogo vindo. Pegou fogo na minha camisa e foi subindo
pra cabeça.

Em relação a sua estadia no hospital, relata que o que mais lhe causa
tristeza é a distância dos pais, em especial da mãe, o que se repete quando da
leitura dos contos de literatura infantil, ao longo dos quatro encontros. Outro
tema recorrente é seu medo de alguns procedimentos específicos: As injeções,
trocas de curativos, mas especialmente a cirurgia, esta lhe causa o temor da
morte.
Nos demais aspectos, mostra-se bastante adaptado:

Arthur: Gosto de brincar com a professora e quando ela


lê historinhas pra mim. Gosto de assistir DVD e gosto dos
meus amigos aqui: as enfermeiras, as psicólogas e a
professora.

No que se refere ao comportamento, apesar de ser um menino bastante


ativo, é obediente e cooperativo com toda a equipe. Algumas vezes está mais
reservado ou agressivo, mas esses momentos costumam passar rápido. A
esse respeito, é comum, em adolescentes hospitalizados, momentos de
irritabilidade e raiva, pela dificuldades de aceitação da realidade e, sem saber
lidar com esses sentimentos, transferem-nos, com frequência, aos familiares e
25

profissionais de saúde, podendo apresentar um comportamento agressivo


(ALMEIDA; RODRIGUES; SIMIES, 2007).
Em um dos episódios, chorou e se fechou para todos quando a irmã riu
no momento em que ele cantava a música da Galinha Pintadinha 11; mostrou-se
furioso, agressivo e ressentido, e quando indagado sobre o porquê, respondeu
que era porque sua irmã ria de tudo o que ele fazia, como se tivesse sempre
zombando dele. E talvez essa insegurança de ser achincalhado com frequência
o tenha feito, por diversas vezes, ao longo dos encontros, dizer que não sabia
fazer nada direito, que não sabia ler (embora saiba), que não sabia desenhar.
Quanto às perspectivas para o futuro, não foram vislumbradas em sua
fala, como se sua preocupação, por hora, fosse viver o momento presente e
lidar com todo o rol de novas coisas que se apresentaram tão repentinamente.
Nos discursos apresentados, fica evidente o sofrimento físico e psíquico
dos adolescentes em seu processo de hospitalização. Concernente a isso,
alguns autores (ANGERAMI-CAMON et al., 2010; CHIATTONE, 2003; CUNHA,
2007) afirmam que a hospitalização representa um estímulo negativo, pois
provoca quadro de medos: medo do ambiente hospitalar e dos equipamentos,
medo da morte, de sentir dor, de ser cortado, ser mutilado, perder o
autocontrole. Além disso, provoca a separação brusca de familiares e amigos,
do lar, de sua rotina diária e de todas as pessoas e atividades que fazem parte
dela. Em concordância com eles, outros autores complementam que:

O medo do desconhecido e o mundo novo que se vislumbra quando


entra no hospital são experimentados com tal ansiedade que, diante
disso, o paciente poderá reagir de forma a negar o que lhe assusta,
não cooperando com o tratamento, com atitudes reivindicadoras, com
agressividade ou até com a total submissão aos procedimentos.
(BATISTA, RODRIGUES E VASCONCELOS, 2011, P.21).

Diante desse sofrimento, Angerami-Camon et al. (2010) enfatiza que o


principal objetivo da psicologia hospitalar é a minimização do sofrimento
provocado pela hospitalização e que, essa minimização implicará um leque
bastante amplo de opções de atuação.

11
Personagem infantil criada pelos publicitários Juliano Prado e Marcos Luporini, em 2010,
bastante apreciada pelas crianças.
26

Ao decidir trabalhar com os adolescentes do CTQ com a mediação dos


contos, não era imaginada o quão notória seria a quantidade significativa de
materiais coletados. Qualquer tentativa de escrever aqui os resultados,
detalhadamente, não daria conta da riqueza de cada sessão com os
adolescentes.
Mesmo diante de algumas restrições físicas, da realização alguns
procedimentos necessários e das atividades realizadas com a pedagoga,
psicóloga e fisioterapeuta no CTQ, os guerreiros dessa pesquisa
demonstravam bastante interesse em participar das sessões com os contos.
Paravam tudo que estavam fazendo para acolher as pesquisadoras e ouvi-las e
mesmo quando encerrava a sessão individual com o primeiro adolescente, ele
continuava ali ao lado para ouvir uma nova história contada na sessão do outro
participante.
Desde o primeiro encontro, Lino surpreendeu com sua capacidade de se
identificar com as histórias e os personagens e expressar suas emoções (boas
e ruins) diante do conto lido.
Na primeira sessão foi dado a ele o direito de escolher o livro e a história
que gostaria de ouvir. Rapidamente Lino escolheu “A cidade dos carregadores
de pedra”:

Pesquisadora:o que o motivou a escolher esse conto?


(Nesse momento Arthur estava ao lado, esperando
ansioso por sua vez, e rapidamente respondeu):
Arthur: É porque ele quer ser caminhoneiro!
Pesquisadora: É verdade Lino? Você quer ser
caminhoneiro e por isso escolheu esse conto?
Lino: É sim!
Pesquisadora: Será que esse conto tem haver com
algum caminhoneiro? Vamos ler pra gente descobrir!

No momento em que a pesquisadora lia a história, observou que Lino


ouvia com bastante atenção, algumas vezes ficava sério e pensativo,
principalmente quando era lido algum trecho que ele se identificava muito. Ao
fim da leitura houve um novo diálogo:
27

Pesquisadora: Gostou da história?


Lino: Gostei muito, mas ela não fala de nenhum
caminhoneiro.
Pesquisadora: E do que fala o conto?
Lino: Das pedras que significam as dores e os fardos que
os moradores eram obrigados a carregar desde que
nasciam.
Pesquisadora: Como será que deve ser carregar pedra o
tempo todo?
Lino: Muito ruim.
Pesquisadora: Você se identificou com algum momento
da história ou com algum personagem?
Lino: (balançou a cabeça que sim) e em seguida falou:
acho que tenho uma pedra pequenininha, mas vou
demorar um pouco a me livrar dela, estou triste porque
semana passada morreu um grande amigo meu. Mas,
assim como Pedrinho, um dia conseguirei me livrar dessa
pedrinha.

A partir desse diálogo é possível observar que os contos de literatura


infantil podem atuar como elementos que abrem caminhos para conversas
sobre temas considerados complexos e dolorosos, temas como doença,
sofrimento, hospitalização, solidão e morte. Ampliando as capacidades
comunicativas, como fluência para falar, perguntar, expor idéias, dúvidas e
descobertas (CORSO; CORSO, 2006; FERNANDES, 2011; PESESCHKIAN,
1992).
Na segunda sessão, a história lida foi escolhida pelas pesquisadoras,
mediante necessidade de se conhecer um pouco mais sobre como Lino estava
vivenciando seu processo de hospitalização. O livro escolhido foi “Arthur vai
para o hospital”. O mais interessante foi observar que durante a leitura, mesmo
ele sendo adolescente, fez uso dos brinquedos que estavam na maletinha
médica dentro da caixa lúdica, tornando o momento do conto mais lúdico e
mais divertido.
28

Pesquisadora: E hoje, você se identificou com a história


e o seu personagem?
Lino: Identifiquei-me bastante. Vivi aqui muitos
procedimentos que o menino da história conta.
Pesquisadora: Você pode me contar também um
pouquinho da sua história desde quando você chegou
aqui?
Lino: Eu não me lembro.
Pesquisadora: Fiquei sabendo que você adora desenhar,
será que se você desenhasse conseguiria lembrar-se de
alguma coisa?
Lino: Posso tentar... E, começou a desenhar!
Pesquisadora: (olhando encantada para o dom de
desenhar que Lino tem) perguntou: E agora, será que
consegue me contar a história do que você acabou de
desenhar?
Lino: (Emocionado) respondeu: prefiro esquecer e deixar
pra lá, foi um momento muito sofrido. Hoje estou feliz
porque estou perto de receber alta, é nisso que penso
agora, quero falar apenas da minha volta para casa,
assim como o Arthur voltou para casa dele. Em seguida
tirou o celular do bolso e começou a mostrar suas fotos no
sítio com sua família, com seus animais de estimação e
sua moto, dando muitas gargalhadas e contando como é
a vida na sua cidade.

Dessa forma, as histórias constroem uma ponte para os desejos


pessoais e as metas do futuro próximo e distante. As histórias abrem o
caminho para as alternativas à realidade (PESESCHKIAN, 1992).
No terceiro encontro com Lino, diferente dos outros dias, ele pegou uma
carinha feliz e outra carinha com dor e falou: “Hoje estou feliz, mas também
estou com dor, ontem consegui andar sozinho pela primeira vez desde que
cheguei aqui, fiz muito esforço, meu joelho está doendo”, e começou a sorrir.
29

Outra novidade desse dia foi que tanto Lino como sua mãe estavam muito
felizes por ele ter retirado pela manhã os últimos pontos que restavam na sua
perna direita.
No momento da leitura, as pesquisadoras decidiram investigar um pouco
mais sobre a pequena pedra que ele falou que carregava (a perda de um
grande amigo). Com o objetivo de usar os contos para ajudá-lo nessa
superação, optou-se em ler com ele o conto Lino. Corso e Corso (2006)
descrevem que as histórias nem sempre são contadas apenas para dar prazer,
mas também como modo de amparar as angústias, ajudar a nomear o que não
pode ou não consegue ser dito e ampliar o espaço do pensamento e da
reflexão, ou seja, é uma saída para que certas verdades sejam reveladas.
Durante a contação foi observado que Lino ficou sério, com o olhar
distante e os olhos cheios de lágrimas. Após a leitura as pesquisadoras
começaram a dialogar com ele:

Pesquisadora: E hoje Lino, você conseguiu se identificar


com o conto?
Lino: Apenas com absolutamente tudo! (e abriu um
sorriso tímido).
Pesquisadoras: Quer usar a caixa lúdica pra gente
conversar um pouquinho sobre esse tudo?
Lino: Não! (E pedindo licença, pegou o livro do colo de
uma das pesquisadoras, procurou uma página e mostrou):
essa foi à parte que mais me identifiquei. A página
mostrava o personagem principal sentado sozinho, triste e
pensativo e o trecho da leitura dizia assim: “Lino
perguntou por ela a todos os seus amigos. - Aqui, onde
moramos, é assim – disse um deles – de repente alguém
desaparece”.
Lino: Meu amigo também desapareceu.
Pesquisadora: No fim da história, o porquinho Lino
encontrou novamente sua melhor amiga.
30

Lino: Não era mais a mesma coisa, ele só podia vê-la ao


longe ou em seus pensamentos e não podia mais ouvi-la.
Podemos ler outro livro? Queria ouvir mais uma história.
Pesquisadora: Claro que sim. Como eu escolhi o
primeiro livro você agora escolhe o que quer ouvir.

O segundo conto escolhido por Lino foi “Quem tem medo de que”? A
leitura foi muito divertida e descontraída e Lino não esperou que ela chegasse
ao fim para interagir, a cada medo que o conto descrevia, ele abria um grande
sorriso e dizia que não tinha medo de nada e começava a contar também suas
histórias no sítio.
No último encontro, Lino escolheu ouvir a história do livro “O patinho
feio”. Foi uma tarde movimentada, a enfermaria estava cheia e barulhenta,
muita gente entrando e saindo o tempo todo. Lino dividia sua atenção entre o
conto que estava sendo lido e tudo que acontecia ao seu redor.
No final da leitura ele se limitou a responder apenas que o que tinha
mais gostado na história era que no final o patinho terminou feliz, amado e
aceito por todos do jeito que ele era. Também não quis usar a caixa lúdica.
Então a pesquisadora comunicou que aquele era seu último encontro com ele.

Lino: Então você não vem mais aqui no hospital contar


histórias?
Pesquisadora: Voltarei na outra semana, mas irei contar
histórias na pediatria lá de cima, para as crianças que
estão internadas lá.
Lino: Então vou fazer um desenho bem bonito pra você.
Pesquisadora: O que você achou das dias que
passamos juntos?
Lino: Muito legal. Gostei muito das leituras. Através delas
eu vi tudo que passei aqui no hospital. Identifiquei-me
muito com tudo que ouvi.
Pesquisadora: Qual a história que você mais gostou?
31

Lino: Gostei de todas. Mas a melhor é a história do


porquinho Lino, porque ela representa tudo que eu estou
sentindo e vivendo hoje.
Pesquisadora: você acha que contar histórias no hospital
é uma coisa boa?
Lino: É sim. A gente se distrai, se diverte e aprende muito
com cada história.

Assim entendemos que as histórias são um meio que abre as portas da


sensibilidade e da potencialidade para formação e desenvolvimento do sujeito.
É, ao mesmo tempo, psicoterapia e recreação, um importante elemento para o
diálogo, mas, acima de tudo é um recurso de comunicação, aprendizagem e
reflexão (ALVES, 1993).
Arthur sempre se mostrava bastante atento no início das histórias, mas
pouco participativo durante as leituras, negando quase todos os aspectos que
lhe eram perguntados ao longo da leitura como ponte para sua identificação
com os personagens e, de pronto, sempre respondia negativamente, mesmo a
perguntas como: “Você tem amigos, como o personagem da história?”,
contrariando, inclusive, o que houvera respondido no questionário, ante a
negativa e a insistência das pesquisadoras, acabava trazendo elementos do
seu cotidiano e respondia às indagações. Algumas vezes parecia disperso,
entretendo-se com o que passava na TV, ou com alguma conversa paralela
próxima, mas quando chamado à história, mostrava ter ouvido e compreendido
o que houvera sido lido. Apesar desse comportamento, quando questionado
com as carinhas de sentimentos como estava se sentindo, sempre se referia
como feliz.
No primeiro dia, ainda quando do questionário, indagado sobre algum
medo, respondeu que não possuía. Diante da insistência da pesquisadora, que
lhe contou seus próprios medos, disse possuir medo de injeção e cirurgia,
porque conhecia uma pessoa em seu interior que havia morrido de problemas
cardíacos após uma intervenção cirúrgica e que este passara a ser o seu maior
receio, porque tinha medo de morrer. Percebe-se, pois, que a hospitalização
gera no sujeito sentimentos de insegurança, aliado ao medo do desconhecido
(aparelhos, instrumentos hospitalares, procedimentos a que serão submetidos,
32

incerteza sobre a competência dos profissionais, do ambiente hospitalar em si,


da dor, da morte) (ALMEIDA, 2005).
Quando da escolha do livro, escolheu a leitura do conto “Quem tem
medo de quê?”. Indagado sobre o porquê da escolha do conto, disse que era
para ajudar no medo da pesquisadora, talvez uma manobra para não admitir
que ele gostasse que fossem aplacados seus próprios medos, o que se
configura como uma projeção, isto é, mecanismo de defesa através do qual se
atribui a outrem (pessoa, animal ou objeto) aquilo que se recusa reconhecer
em si mesmo (sentimentos, qualidades, intenções) (VOLPI, 2008).
Durante a leitura, que retratava o medo sob vários enfoques, riu bastante
das situações retratadas, mas a única referência que fez foi ao medo de
injeção.

Arthur: De injeção eu tenho medo, porque uma vez uma


enfermeira veio furar meu braço aí ela furou não sei
quantas vezes e ficou mexendo a agulha dentro do meu
braço. Aí quando foi tirar espirrou sangue e doeu. Eu não
tinha medo antes, mas aí eu fiquei com medo.

No segundo dia, em razão de uma conversa com a irmã de Arthur que


referiu que o mesmo estava tendo problemas com a auto-imagem, decidiu-se
levar “o patinho feio”, dando-se a opção dele escolher entre este e “O menino
maluquinho”, como estratégia para que não parecesse que estivéssemos assim
o considerando, embora para o segundo dia, a metodologia previsse levar um
conto pré-determinado. Apresentados os dois contos, antes que lhe fosse
perguntado sobre sua escolha, abraçou o livro do patinho feio e disse que
gostaria da leitura daquele livro. Durante toda a leitura mostrou-se atento,
participativo, fazendo vários comentários ao longo da leitura.

Pesquisadora: Olha o patinho, ele parece triste. Por que


será que ele está triste?
Arthur: Porque ele ta longe da mãe.
Pesquisadora: E quando a gente fica longe da mãe, a
gente fica triste?
33

Arthur: Fica sim.

Percebe-se nessas falas a recorrente menção da tristeza associada à


ausência da mãe e à saudade que sente dela. Quando do incremento do
sofrimento físico, percebe-se um aumento na angústia do adolescente que
muda sua postura, exigindo a presença constante da mãe ou da figura
materna, para o que se utiliza, muitas vezes, de artifícios como o choro,
ameaças e chantagens a fim de garantir essa presença (ARMOND, 1996).
Arthur prossegue dizendo, ainda:

Arthur: Ele não é feio. Ele é mais bonito do que os


outros. Eu queria ter um patinho feio desse.
Arthur: Tá mais bonito ainda, ta bem bonito.
Pesquisadora: Ele não é feio, é Arthur?
Arthur: Não, não. Ele é só diferente.

A partir desses trechos, percebe-se que Arthur não apresenta uma


distorção da auto-imagem, pelo contrário, nota-se um início de elaboração com
a inclusão do conceito do não-feio, referido como “diferente”.
No terceiro dia, foi lida a história “O menino maluquinho”, por se tratar de
um conto de literatura que traz vários aspectos sobre a infância, adolescência,
atividades, brincadeiras que se costumam realizar, escola, amizades, família,
para tentar investigar um pouco mais sobre o contexto pessoal de Arthur. Ele
pareceu não gostar muito da aparência do personagem:

Arthur: Ele é esquisito com essa panela na cabeça.

Também não pareceu se identificar com os aspectos trazidos pela


história, negando quase tudo o que lhe era perguntado, amigos, traquinagens
feitas em casa, brincadeiras, ou concordando apenas com um aceno de
cabeça e um jeito mais reservado, inclusive quando indagado sobre a figura
que trazia o menino maluquinho todo enfaixado porque havia feito
traquinagens:
34

Pesquisadora: Olha, ele tá todo enfaixado. Parece com


alguém?
Arthur: Não.
Pesquisadora: Não parece com você, com as faixas que
você tá usando?
Arthur: Não. Tem nada a ver.

O único momento em que pareceu se identificar foi quando falado sobre


a saudade e, novamente, trouxe que sentia saudades da mãe e do pai.
No último dia de encontro houve uma transformação, o Arthur que
conhecíamos nos surpreendeu e nos emocionou. Quando lhe foi explicado que
poderia escolher qualquer historinha que desejasse, uma nova ou a releitura
daquela que mais havia gostado, respondeu:

Arthur: Vou escolher um bem grande para você ler para


mim. O mais grosso!
Pesquisadora: Eita, que coisa boa, deve ser porque você
gosta quando leio pra você, não é?
Arthur: Por mim, vocês passavam o resto do ano aqui,
nem iam mais embora. Já escolhi, é esse (mostrando o
livro).
Pesquisadora: Arthur vai para o hospital? Então vamos
lá!

Mostrou-se bem atento e participativo na leitura, fez colocações, fez


perguntas, contou sobre coisas do seu cotidiano em casa, do que esperava
fazer imediatamente após sua saída, utilizou-se da maletinha médica, sendo
um momento bastante produtivo, rico em conteúdos, informações, emoções,
esperança e mudanças, pois se permitiu uma identificação com o personagem
do livro, admitindo, sem a necessidade de insistência das pesquisadoras, pela
primeira vez, espontaneamente, seus medos, suas expectativas para quando
saísse, seus sentimentos. Assim, quando um conto é utilizado como recurso
terapêutico, há uma aproximação entre o paciente e a experiência, pois através
do brincar e das histórias é possível recontar, re-ouvir e reviver sua própria
35

realidade e história e, assim, construí-la, contá-la, expressá-la e elaborá-la,


produzindo novas percepções e significações (FERNANDES, 2011;
GUTFREIND, 2010).

Pesquisadora: Você teve medo quando veio para o


Hospital?
Arthur: Muito.
Pesquisadora: Por quê?
Arthur: Medo das injeções.
Pesquisadora: E você sente saudade de alguma coisa?
Arthur: Da minha mãe, do meu pai... E do meu Piu-piu.
Pesquisadora: E quem é Piu-piu.
Arthur: Era o meu boneco, mas tiveram que levar pra
casa porque a doutora disse que ele tinha bactéria.
Pesquisadora: E você sentiu muito quando ele foi
embora?
Arthur: Senti sim.

Nesse aspecto, percebe-se que, junto ao processo de hospitalização,


ocorrem crises como a despersonalização, comum aos pacientes de todas as
idades, posto que é perdido ou reduzido o contato com seu lar, seus amigos,
familiares, espaços de socialização (como escola, igreja), e mesmo seus
objetos pessoais que, em muitas vezes, podem auxiliar com o sofrimento que o
processo de hospitalização imputa aos sujeitos (OLIVEIRA et al., 2009).
Ao término da leitura do conto, foi perguntado a Arthur se ele achava o
personagem parecido com alguém que ele conhecia:

Arthur: Parece um pouquinho comigo... (pensativo)... Ele


tinha medo das injeções, teve que ficar internado.

Percebe-se, pois, que ao ouvinte das narrativas é permitido experienciar


um mundo de fantasias, à semelhança de seu mundo real, garantindo uma
“distância segura” de seus conflitos e problemas, o que proporciona uma
36

aceitação e elaboração melhor dos mesmos, dando-lhes novos sentidos


(ELLIOTT et al., 2011).
Quando concluímos e fechamos a leitura ele falou:

Arthur: Sabe a primeira coisa que eu vou fazer quando sair


daqui?
Pesquisadora: Não. O quê?
Arthur: Vou lá no shopping tomar sorvete. Meu preferido é
aquele amarelinho com as bolinhas pretas. Creme!
Pesquisadora: Poxa, que legal! Também adoro sorvete!
Arthur, estamos encerrando hoje nossos encontros.
Arthur: E já se passou uma hora?
Pesquisadora: Na verdade mais de uma hora. Mas você
ainda irá nos ver, semana que vem estaremos aqui
conversando e brincando com as crianças.
Arthur: E quem vai ficar lendo historinha pra mim agora?
Pesquisadora: A Psicóloga e a Pedagoga vão fazer isso
pra você, tá certo?

E esse diálogo foi emocionante, pois foi capaz de mostrar o quanto foi
positiva a intervenção dos contos de Literatura; o quanto eles puderam tocar os
adolescentes, entretê-los, levar um pouco de alegria ao ambiente hospitalar
que costuma ser tão hostil e despersonalizante.
Ao revés da criança, o adolescente pensa hipoteticamente, constrói
sistemas, teorias, possui uma grande capacidade de reflexão (pensar sobre o
próprio pensamento). Obviamente, nem todo adolescente é totalmente lógico
nas suas ações (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010). O universo adolescente
permite, pois, a construção de um mundo de sentimentos e ações com
significados sócio-afetivos novos e críticos. Afinal, através do lúdico é permitido
ao sujeito organizar seu mundo, exercitar sua criatividade, fantasiar, dominar
papéis e situações e se preparar para o futuro.
Assim é que, desde tempos imemoriais, a contação de histórias tem
assumido um caráter terapêutico, possibilitando a tradução dos sentidos e
significados da existência humana, contribuindo para que as pessoas sejam
37

capazes de criar um senso de identidade e amadurecer no âmbito pessoal e


cognitivo, ou seja, como um instrumento de cuidado com o ser (ELLIOTT et al.,
2011; FERNANDES, 2011).

3 CONCLUSÃO

Se os homens fizeram o que pensaram, sonharam bem antes de o


realizar; e se o conseguiram foi porque sonharam sonhos que
ninguém queria acreditar. E os contos de fadas, sempre repetidos de
velhos e novos pelas gerações, traziam em si sonhos escondidos que
os homens guardavam em seus corações (Autor anônimo, 1992).

A adolescência constitui-se em uma etapa peculiar do ciclo vital,


situando-se na transição entre a fase adulta e a infância. É marcada pelo vigor
físico, pela preocupação com a auto-imagem, pela existência de muitas
mudanças e permeada por conflitos internos.
Desta maneira, a hospitalização que, por si só, constitui-se em um
processo delicado e difícil, seja qual for à fase da vida em que o indivíduo se
encontre, quer pelos métodos invasivos, quer pela distância dos familiares,
amigos e objetos pessoais ou ainda pela despersonalização a que estão
sujeitos, na adolescência, é geradora de um imenso sofrimento psíquico por
ser o significado díspar do que esta fase representa, qual seja, o fastígio do
ciclo do desenvolvimento humano.
A terapia por meio dos contos de literatura infantil mostrou-se como um
importante recurso lúdico no processo de hospitalização, uma vez que
suavizou a hostilidade presente no ambiente hospitalar. Embora o adolescente
tenha tendências a querer construir barreiras aquilo que advém do universo
infantil, por uma necessidade de auto-afirmação na busca pela construção de
si, os contos de literatura infantil mostraram-se como um canal facilitador para
a comunicação dos seus medos, indagações, inseguranças e, ainda, um meio
para expor seus sentimentos, sem o receio do juízo alheio, projetando-se nos
personagens, sendo-lhe permitido viver, a uma “distância segura”, através
destes, sua própria experiência, seus conflitos, vendo-os dirimidos na ficção e
levando esta solução para a sua própria realidade, por meio do processo de
elaboração.
38

Obviamente, as histórias são diferentes para cada pessoa, e mesmo


para cada pessoa, são também diferentes nos diversos momentos de suas
vidas, cabendo a cada um a extração do significado dentro do que é permitido
elaborar, a depender do contexto vivenciado.
Apesar dessa diferença, a partir da análise dos questionários finais
aplicados aos adolescentes e seus responsáveis, que trazem a melhora
psíquica (melhoramento do humor, colaboração com a equipe no que tange
aos procedimentos) e física (mais disposição de um modo geral) do sujeito
hospitalizado, além de sentirem-se mais motivados, foi possível vislumbrar o
potencial dos contos infantis na adolescência como importante recurso de
enfrentamento, permitindo ao ser que vivencia essa etapa dentro do processo
de hospitalização, deixar que o imaginário, aos poucos, deixe de ser visto como
mera ficção e que as soluções e significados vistos no mundo mágico, possam
ser trazidos a sua própria realidade, auxiliando-o a elaborar os conflitos por que
passa, tornado este ambiente de sofrimentos e agruras mais leve.

FAIRY TALES: A therapeutic option in the hospitalization of adolescents

ABSTRACT

Adolescence is a stage of the lifecycle which is characterized by the apex


of human being. Thereupon it is complicated to accept got sick in this period,
especially when it comes with hospitalization. The effects of hospitalization may
have peculiarities according to each age group, the reason for admission and
the severity of the problem. From this perspective, these effects become more
intense when the person experiences losses and suffers damage to their own
identity resulting in more pain in a modified image, as the patients in Treatments
for Burn’s Center. Therapy with fairy tales has been a very significant
recreational resource in the hospitalization process, because in addition to
making hospitalization less hostile, shows up as a channel for communication,
easing fears, alleviating suffering of patients. So, the objective of this scientific
article was investigate the effect of therapeutic use of fairy tales with
adolescents hospitalized in the sector for treatment of burns in a general
39

hospital in the city of Natal/RN, therefore, we used the technique of reading fairy
tales for teens and also-application forms of semi-structured interviews with
parents and adolescents, and a playful box. It was possible to glimpse the
potential of fairy tales in adolescence as an important resource for coping,
allowing the person who experiences this step in the process of hospitalization
project themselves in the characters and, through them, to live their own
conflicts in fiction bringing this solution to their own reality, through the drafting
process.
Key words: Adolescence. Hospitalization. Playful. Fairy tales.

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43

APÊNDICE

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP


ESCOLA DA SAÚDE
GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Pesquisa: CONTOS DE LITERATURA INFANTIL: uma possibilidade


terapêutica na hospitalização de adolescentes
Coordenadora: Ms. Caroline Araújo Lemos.
Pesquisadores: Marianna Menezes Silvino e Rejane da Silva Nunes
Natureza da pesquisa: Você é convidado a participar desta pesquisa, que tem
como objetivo investigar o efeito do uso terapêutico de contos de literatura
infantil no processo de hospitalização de adolescentes.
Participantes da pesquisa: Participarão dois (02) adolescentes alfabetizados,
com idade entre 12 e 18 anos, hospitalizadas.
Envolvimento na pesquisa: Se você concordar em participar dessa pesquisa,
você responderá a um formulário de pesquisa semi-estruturada, visando
compreender o histórico do adolescente, antes e durante o processo de
adoecimento, bem como formulário de entrevista semi-estruturada ao fim da
pesquisa com questões disparadoras sobre a técnica utilizada; E o adolescente
participará de quatro (04) sessões terapêuticas com uso de recursos lúdicos
(contos de literatura infantil e caixa lúdica). Você tem a liberdade de recusar a
participar e pode ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase
da pesquisa, sem prejuízo para você. Sempre que desejar você poderá pedir
mais informações sobre a pesquisa entrando em contato com a diretora do
curso de Psicologia da UnP, Profª Cintia Gallo, através do telefone 3216-8360.
Riscos e desconforto: A participação nessa pesquisa não traz nenhum risco
ou desconforto para o participante. Porém, se infelizmente for identificado
algum problema emocional ocasionado pela participação na pesquisa,
deixaremos claro que, desse modo disponibilizaremos um possível
atendimento oferecido pelo Serviço Integrado de Psicologia (SIP), como forma
de minimizar condições retratadas pelos pacientes.
44

Confidencialidade: Todas as informações coletadas neste estudo são


estritamente confidenciais. Apenas os membros do grupo de pesquisa terão
conhecimento dos dados. Nos relatórios ou publicações resultantes deste
trabalho, a identificação do participante não será revelada. Resultados serão
relatados de forma geral e a pessoa não será identificada.
Benefícios: Por meio da pesquisa, poder-se-á ampliar os estudos na área da
contação de histórias, com o escopo de que possa ser difundida a utilização da
contação de histórias enquanto técnica psicoterápica que auxilia adolescentes
hospitalizados. Ainda espera-se confirmar que os contos podem se constituir
em recurso facilitador na relação entre o adolescente hospitalizado e o
psicólogo. Dessa maneira, acredita-se poder contribuir com a comunidade
científica e gerar benefícios à sociedade, usuária dos serviços de saúde
hospitalar.
Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa por participar desta
pesquisa. E nada será pago por sua participação.
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu,
_____________________________________, de forma livre e esclarecida,
manifesto meu interesse em participar da pesquisa.

Assinatura do participante da pesquisa

________________________________________________

Assinatura dos pesquisadores

________________________________________________

________________________________________________

Assinatura do coordenador

________________________________________________
45

APÊNDICE B – Descrição dos livros infantis utilizados durante os encontros

TÍTULO DO CONTO DESCRIÇÃO

A CIDADE DOS AUTOR: Sandra Branco


CARREGADORES DE PEDRA PROTAGONISTA: Um garotinho
chamado Pedrinho
SINOPSE: Carregar pedras parece
mesmo ser o destino de todos os
moradores da Cidade dos
Carregadores de Pedras. Desde
pequeninos, todos aprendem que essa
é a verdade. Até que surge Pedrinho,
um morador inconformado com essa
realidade... Acompanhar a história de
Pedrinho, em sua luta interior para
iniciar a transformação de sua cidade
e de seus moradores, certamente
sensibilizará os leitores e possibilitará
um repensar sobre temas urgentes,
como medo e culpa

ARTHUR VAI PARA O HOSPITAL AUTOR: Howard J. Bennet


PROTAGONISTA: Um garotinho
chamado Arthur
SINOPSE: Ao adoecer e ir para o
hospital, Arthur sente-se muito
assustado. Há muitas pessoas
diferentes lá, e ele tem de enfrentar as
agulhas dos médicos e passar a noite
em um lugar estranho. Porém, com a
ajuda de seus pais, dos médicos, dos
enfermeiros e de seu coelhinho de
pelúcia, o menino entende que o
hospital não é um lugar assustador. Ao
final do livro, há uma nota explicativa
que auxilia os pais a lidarem com os
medos das crianças que têm de
46

enfrentar um ambiente estranho.

CHAPEUZINHO AMARELO AUTOR: Chico Buarque


PROTAGONISTA: A Chapeuzinho
Amarelo
SINOPSE: conta a história de uma
menina com medo do medo — uma
menina amarela de medo — que
transforma a fantasia dos contos em
sua própria realidade. Enfrentando o
desconhecido “O Lobo”, ela supera
medos, inseguranças e descobre a
alegria de viver.

HOSPITAL NÃO É MOLE! AUTOR: Alcy Linares e Bel Linares


PROTAGONISTA: Uma garotinha
doente
SINOPSE: Ser internado em um
hospital não é uma situação tranquila
para nenhuma criança (nem para um
adulto!). Este livro procura ajudar
quem vive essa situação a entender e
a tentar elaborar seus medos,
inseguranças e ansiedades, e a
extravasar suas angústias, chateações
e desconfortos.

LINO AUTOR: André Neves


PROTAGONISTA: Um porquinho
chamado Lino
SINOPSE: Existem pessoas que ficam
em nossas vidas e pessoas que
simplesmente passam, deixando
apenas as boas lembranças de
momentos inesquecíveis.

O MENINO MALUQUINHO AUTOR: Ziraldo


PROTAGONISTA: O menino
maluquinho
SINOPSE: Conta a história de um
menino traquinas que aprontava muita
confusão. Alegria da casa, liderava a
garotada, era sabido e um amigão.
Fazia versinhos, canções, inventava
brincadeiras. Tirava dez em todas as
matérias, mas era zero em
47

comportamento. Menino maluquinho,


diziam. Mas na verdade ele era um
menino feliz.

O PATINHO FEIO AUTOR: Hans Christian Andersen


PROTAGONISTA: o patinho feio
SINOPSE: A Mamãe Pata dá à luz a
vários patinhos, mas um deles era
muito diferente e feio, quando
comparado aos irmãozinhos. Ele se
sente triste e rejeitado. Porém, um dia,
o patinho feio descobre sua verdadeira
família.

QUEM TEM MEDO DE QUÊ? AUTOR: Ruth Rocha


PROTAGONISTA: Narrador
SINOPSE: Você tem medo do que?
Medo de trovão ou de avião; de
lagartixa ou de escuro; de injeção ou
de cachorro. Veja neste livro que todo
mundo tem um medo escondido, que
pode ser compartilhado para diminuir
de tamanho e, quem sabe, sumir.
48

APÊNDICE C – Formulário de entrevista inicial com os pais

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP


ESCOLA DA SAÚDE
GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

IDENTIFICAÇÃO
Nome
Idade
Sexo
Escolaridade
Ocupação
Composição
familiar
Acompanhante
Relação com a
criança

QUESTIONAMENTOS GERAIS:

1. Fale um pouco sobre a rotina do adolescente (relações, atividades,


comportamento, escola);
__________________________________________________________
__________________________________________________________
2. Quais as brincadeiras, jogos e brinquedos favoritos do adolescente?
Prefere brincar sozinho ou acompanhado?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
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3. Costumava ler para ele na infância? Ele tem o hábito de ler? É uma
atividade que ele gosta? Quais as histórias infantis que ela mais gosta
de ouvir/ler?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
4. Possuiu algum amigo imaginário na infância? Em caso afirmativo, fale
um pouco sobre ele (nome, sexo, histórias e até que idade
permaneceu).
__________________________________________________________
__________________________________________________________

QUESTÕES SOBRE O INTERNAMENTO:

1. Qual o motivo da internação? Há quanto tempo está internado? Quantas


vezes já foi hospitalizado?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
2. O processo de hospitalização é frequentemente vivenciado pelo
adolecente? Como você se sente nesse processo? Qual a sua
percepção sobre a reação dele (fica revoltado, triste, apático)?
__________________________________________________________
________________________________________________________
3. Como está a adaptação dele ao processo de hospitalização até o
momento (permanência no hospital, procedimentos a que é submetida)?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
4. Percebeu o surgimento de algum medo ou angústia em específico?
Houve intensificação durante a hospitalização?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
5. O adolescente já passou por alguma situação de perda (mortes de
familiares, amigos ou animais de estimação, mudança de escola, do
trabalho dos pais)? Como ela lida com as perdas?
50

__________________________________________________________
__________________________________________________________
6. Quais suas expectativas quanto ao tratamento do adolescente?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
7. Como acredita que ele reagirá à pesquisa?
APÊNDICE D - Formulário de entrevista inicial com os adolescentes

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP


ESCOLA DA SAÚDE
GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

IDENTIFICAÇÃO

Nome
Idade
Sexo
Escolaridade
Leito
Tempo de
internação
Data da
entrevista
Tempo de
internação
Acompanhante
Diagnóstico

QUESTIONAMENTOS GERAIS:

1. Qual seu nome? Quantos anos você tem?


__________________________________________________________
__________________________________________________________

2. Você vai a escola? Sabe ler e escrever?


__________________________________________________________
__________________________________________________________
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3. Você gosta de ler? Qual o seu livro/história preferidos?


__________________________________________________________
__________________________________________________________

4. Tem algum amigo na escola, na vizinhança? E no hospital? Você já teve


algum amigo imaginário?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
5. O que você costuma fazer durante o seu dia? Quais suas brincadeiras e
jogos preferidos?
__________________________________________________________
__________________________________________________________

6. O que você não gosta de fazer e de que você não gosta de brincar?
__________________________________________________________
__________________________________________________________

7. Você prefere brincar só ou com amigos?


__________________________________________________________
__________________________________________________________

QUESTÕES SOBRE O INTERNAMENTO:

1. Você sabe por que você está no hospital? É a primeira vez que você
vem aqui ou já veio outras vezes?
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2. Como é o seu dia aqui?


_______________________________________________________
_______________________________________________________

3. O que lhe deixa mais triste, mais alegre e com mais raiva aqui?
_______________________________________________________
_______________________________________________________

4. O que você mais gosta e o que menos gosta no hospital?


_______________________________________________________
_______________________________________________________

5. Você sente falta de alguém? De quem? Sente falta de alguma coisa?


Do quê?
52

_______________________________________________________
_______________________________________________________

6. Você tem medo de alguma coisa? De quê? E aqui no hospital?


Você gosta de ouvir histórias? Você gostaria que nós contássemos para
você aqui no hospital?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
APÊNDICE E - Formulário de entrevista final com os pais

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP


ESCOLA DA SAÚDE
GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

1. O que você achou da proposta desse trabalho realizado com o


adolescente através da contação de história?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

2. Você acha que trouxe algum benefício no estado emocional e


comportamental do adolescente? Quais?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

3. Você recomendaria essa terapia? Acha interessante constar como um


serviço oferecido pelos hospitais?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
53

APÊNDICE F - Formulário de entrevista final com os adolescentes

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP


ESCOLA DA SAÚDE
GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

1. O que você achou dos dias que nós passamos juntos?


__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

2. Qual história você mais gostou? Por quê? Qual a história que menos
gostou? Por quê?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
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AGRADECIMENTOS

O percurso foi longo, mas nem por isso difícil; ou foi difícil, mas nem por
isso menos doce. Há exatos 18 meses começamos a percorrer a trajetória que
nos levaria ao que construímos, temos construído e continuaremos a construir:
um sonho, em forma de projeto.
Agradecer, então, se faz necessário a todas aquelas pessoas que, de
alguma forma, contribuíram para a realização do que foi tão cuidadosamente
projetado e desejado.
Em primeiro lugar a Ele, artífice da vida, luz que guia meus passos e
pensamentos; minha existência.
Aos meus pais, obrigada pelas noites em que velaram meu sono
inquieto; pelo abraço apertado que me recebia ao fim do dia na Escola; pelas
risadas que sempre alegraram nossa casa; pelos conselhos sábios que me
ajudaram a tomar minhas decisões; pelo alento nas horas de incerteza, abraço
que abarca todas as alegrias e dores, sorrisos e lágrimas, esperanças e
desesperanças; por mais que eu tente, por toda a vida, jamais conseguirei
agradecer suficientemente pelo que são e representam para mim; vocês são
meu esteio, o porto seguro para onde sei que sempre poderei ir quando as
águas parecerem turbulentas e tormentosas.
Ao meu irmão, amigo, com quem dividi tantos momentos... A infância
que teimou em correr feito menino arteiro, os momentos de alegria, os de dor,
as descobertas, as dúvidas, e tantas coisas que só a cumplicidade que existe
entre dois grandes amigos (porque assim somos um para o outro), é capaz de
permitir tal compartilhamento. Tenho orgulho do grande homem que se tornou,
íntegro, batalhador, competente, capaz, brilhante! embora em meu coração vá
ser sempre o menino birrento, danado e trabalhoso que insistia em me tirar do
55

sério só para chamar minha atenção e atrair minha companhia. O menino dos
meus olhos e do meu coração.
Aos meus avós, José Nogueira (in memoriam), Rosália, Antônio e Elza
(in memoriam), meus grandes exemplos; obrigada por todo o carinho, que me
transmitiram e transmitem; vô e vó fazem a gente ver a vida de uma maneira
mais leve e tenra; a vocês toda a ternura que há em meu coração.
A minha família, tios e primos-irmãos, por serem parte de mim e eu de
vocês, nosso amor não se explica, nem se mede; se sente.
Ao meu namorado, meu amor, Rafael, pela cumplicidade que é só
nossa, pelo entendimento telepático, pelo cuidado, pela compreensão e por
esse amor que nos une, tão velho e tão novo; E apesar de tantas coisas já
experienciadas, tenho a convicção de que ainda estamos no começo de tudo,
de que virão ainda mais momentos a serem partilhados.
Aos meus amigos, grandes amigos, que carrego comigo por toda uma
vida, pela sinceridade, pela honestidade e verdade que existe em nossa
amizade, mesmo em meio a um mundo onde tantas coisas apontam para o
oposto.
À equipe do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, que tão bem nos
acolheu: Rejane, que nos abriu as portas para a pesquisa, Luciana, Odete e Ju
(Juliana) pela seriedade com que a encararam, pelas contribuições, enfim,
pelos braços abertos e mãos estendidas, e, principalmente, pelo que de bom
resultou de tudo isso: um laço invisível, uma amizade que foi além dos muros
da instituição.
À Carol, nossa orientadora, mais que isso, nossa amiga, por sonhar
junto com a gente, desde o primeiro momento, quando tudo ainda era um
simples devaneio de alguém com vontade de mudar o mundo. Pelos Wapp fora
de hora, por acolher nossas angustias, mesmo do outro lado do país, em seus
momentos de lazer.
À Ariane, nossa inspiradora, por toda a colaboração, pelo cuidado e
carinho que teve por nosso projeto fruto do amor que tem pela Literatura infantil
e sua aplicação terapêutica, a nós transmitido e por nós assimilado.
À Priscilla Araújo, por aceitar nosso convite a partilhar das páginas deste
artigo.
56

Aos adolescentes e seus pais, pela disponibilidade, pela confiança, pelo


que compartilharam conosco, mesmo em meio a dor, sofrimento,
desesperança, angústia; impossível esquecer tanta generosidade e os olhinhos
brilhantes de cada um, que eu vou levar comigo pelas estradas que ainda
tenho a percorrer por essa vida.
Por fim, a minha amiga e dupla dinâmica Rê, com quem partilhei tudo,
desde o desejo embrionário da pesquisa, a sua estruturação, angústias pela
prática, madrugadas de produção, alegrias, frustrações e mais alegrias. Hoje,
ao olhar tudo pronto, meu coração se enche de felicidade, principalmente por
ver que, apesar de tantos contratempos surgidos e da incorporação definitiva
da palavra resiliência em nossos vocabulários, fomos capazes de construir um
trabalho tão bonito. Sem você, certamente, não teria o mesmo sabor e a
mesma graça. Obrigada por tudo, minha amiga querida; nós conseguimos!

Mariana Menezes
57

AGRADECIMENTOS

O percurso traçado nas páginas desse artigo reflete as marcas de um


ano e meio a ele dedicado. E, como em todo conto de fadas, não foi fácil
chegar ao “e viveram felizes para sempre!”. Escrevendo essa história, pude
percorrer os caminhos sinuosos e obscuros que me levaram a adentrar na
floresta e experimentar seus perigos e encantos, desafios e obstáculos.
Enfrentei bruxas e dragões, convivi com fadas e super-heróis e a ela me
entreguei como a criança que ainda vive dentro mim.
O livro de Eclesiates afirma que para tudo há um tempo, para cada coisa
há um momento debaixo dos céus: tempo para plantar e tempo para colher o
que foi plantado; tempo para chorar e tempo para sorrir. E hoje, é tempo de
agradecer!... Agradecer as pessoas que encontrei no meu caminho, sem as
quais não haveria pontos de partidas, pausas, descansos e possibilidades de
chegada:
Acima de tudo e de todos a Deus, pelo dom da vida, pelo seu amor
infinito e misericordioso, pela certeza que sempre está ao meu lado e por me
permitir exercer uma profissão tão magnífica.
Aos meus pais Luiza e Japonan, pelos valores cultivados, pelos
sacrifícios diários em meu favor para que meu sonho seja concretizado e por
toda dedicação ao longo da minha vida.
À minha irmã Regina, por ser minha maior companheira de descobertas
e aventuras desde a infância, minha cúmplice de todas as horas. Nossas
histórias serão sempre as melhores.
Aos meus avós (in memorian): Seu Nascimento e Dona Sinhá, por cada
história contada na minha infância e adolescência, por todas as vezes que me
permitiram viajar sem sair do lugar.
58

À Mari, minha companheira nessa aventura, amiga de todas as horas


(pra o que der e vier), irmã por escolha do coração e “marida” de profissão.
Obrigada por me permitir fazer as pausas no caminho, por ter abrigado o meu
cansaço todas as vezes que precisei e por sua presença sempre. Sem você
essa história não estaria sendo contada.
À minha fadinha-mãe, professora Ms. Carol Lemos, orientadora
extraordinária. Obrigada pelo apoio incondicional, o cuidado constante, por
toda ética e profissionalismo e, principalmente, por saber cultivar em mim,
pacientemente, borboletas na minha alma, levando-me sempre a acreditar que
era possível sair do casulo e voar lindamente. Quando eu “crescer”, quero ser
igual a você!
À minha fada-madrinha, professora Ms. Ariane Fernandes, por todas as
vezes que foi além do ser professora, sua disponibilidade e cuidado fizeram
toda diferença esse tempo todo. Obrigada por todo amor que você devota aos
contos, amor que me inspira e motiva. Quando eu “crescer”, quero escrever
igual a você!
À professora Ms. Carina Cavalcanti, por fazer nascer em mim o amor
pelos recursos lúdicos através de suas maravilhosas aulas em cada disciplina
ministrada. E por ter sido tão presente no início de tudo, quando esse artigo
ainda era apenas uma idealização.
À professora Ms. Priscilla Araújo, pelo sim ao nosso convite e leitura
desse artigo.
Na incerteza de um novo campo conheci minha xará Rejane,
responsável pelo Núcleo de Ensino Permanente (NEP) do Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel que, com sua sensibilidade, apontou um novo campo onde as
preciosas sementes desse artigo foram lançadas e lá foi possível vivenciar o
desabrochar dessa história.
À Pedagoga Luciana e à psicóloga Odete por acreditarem nessa
pesquisa e por todo acolhimento no CTQ.
No final dessa jornada, encontrei uma nova amiga que encheu meu
coração de alegria: Julyana, que será eternamente e carinhosamente por mim
lembrada como a ratinha dentuça. Obrigada pela sua companhia e presença
dentro e fora do CTQ, por cada experiência pessoal e profissional
compartilhada durante as tardes de coleta de dados.
59

À Aldenise, Lígia e Sarah, por toda amizade, cumplicidade e lealdade


durante esses quatro anos de graduação. Amo vocês!
E, de modo bem especial, aos heróis desse artigo, por permitirem suas
marcas nas páginas dessa história e nesse importante momento da minha vida.

A vocês serei eternamente grata!


Rejane Nunes

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