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ARTIGO V
ESPECIAL
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Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
ela abre caminho à noção dos estilos de ensino pode atingir 100 trilhões de sinapses e possuir
e de estilos aprendizagem, e na base das suas mais de uma dezena de centros hiperconectados
investigações, rompe com os mistérios de como o ou módulos que facilitam o fluxo de tráfego de
cérebro humano processa informação e aprende. informações e a sua rápida transmissão entre
De acordo com as suas formulações concei as diferentes zonas do cérebro e do corpo, con-
tuais, o ensino já não é mais concebido como substanciando o organismo mais complexo do
uma instrução, mas como uma transmissão cul- cosmos que é conhecido19,20.
tural que combina a ciência com a arte, para criar Encolhido e enrugado no crânio, implantado
ecossistemas de aprendizagem mais produtivos evolucionariamente no topo do corpo, o cérebro
e onde todas as crianças aprendam, tendo em com as suas fibras e redes superintrincadas, em
consideração a sua neurodiversidade. série e em paralelo, é a nossa pequena-grande
Para ensinar com eficácia é necessário olhar intranet, para exprimir a cognição e para apren-
para as conexões entre a ciência e a pedagogia der a aprender10,22.
– ensinar sem ter consciência como o cérebro Efetivamente, em termos neuropsicopeda-
funciona é como fabricar um carro sem motor. gógicos, os neurônios podem ser considerados
Não se vê o motor, mas sem ele o carro não anda. as células da aprendizagem, pois são elas em
O cérebro, como órgão da Civilização, logo da si, mais a interação que recriam com as células
cognição e da aprendizagem, contém cerca de denominadas glias, que sustentam e consolidam,
100 bilhões de neurônios12-14. Cada neurônio ou somaticamente, qualquer tipo de aprendizagem,
célula nervosa é composto: de dendritos, prolon- seja a mais simples de tipo sensório-motor, prá-
gamentos pequenos que recebem informações xica, não-simbólica ou não-verbal, seja a mais
proximais; de corpo celular ou soma, que contém complexa do tipo operacional, simbólica ou ver-
o núcleo com o seu código genético e mitocôn- bal, como são a leitura, a escrita e a matemática.
drias que produzem energia; e de axônios, pro- A cognição e a inteligência humana emergem
longamentos maiores que emitem informações dos neurônios que constituem, principalmente,
distais. Cada uma dessas células nervosas pode o neocórtex humano – o maior do reino ani
ainda comportar 1.000 a 10.000 conexões com mal –, uma camada de seis camadas (molecular,
outros neurônios, tal é a incomensurabilidade da granular externa, piramidal externa, granular
sua comunicação química e elétrica por via das interna, piramidal interna e multiforme) com
sinapses15,16. Sem essa impressionante comuni- alguns milímetros de espessura enrugada, cir-
cação, a evolução e a educação da nossa espécie cunvolucionada e sulcada, que recobre a quase
não seriam possíveis. totalidade da superfície dos dois hemisférios
No seu todo, o órgão mais organizado do or cerebrais23-26.
ganismo e do universo possui cerca 1.200 a 1.350 O hemisfério direito e o hemisfério esquerdo,
centímetros cúbicos de volume, pesa cerca de grandes sistemas complementares de tratamento
1.450 gramas, ou seja, cerca de 2% do peso do de informação, hiperligados pelo corpo caloso,
corpo, mas consome mais de 20% da sua energia mas curiosamente vocacionados para distintas
disponível16-21. De fato, o cérebro é uma estrutura formas do seu processamento e armazenamen-
impressionante, que nos define quem somos to. O primeiro, mais centrado na novidade,
como indivíduos únicos, totais e evolutivos, é a na globalidade e na criatividade, que assume
ela que devemos a nossa experiência de ensino a prioridade da aprendizagem, e o segundo,
e de aprendizagem do mundo envolvente. mais enfocado na rotina, na análise e na com-
As suas fibras nervosas, se esticadas, podem plexidade, que consolida a sua sequencialidade
chegar a alcançar perto de 170 mil quilometros, “perfeitológica”.
perfazendo cerca de 4 voltas à Terra, algo trans- A rede principal do neocórtex é composta, na
cendente e extraordinário. A sua rede neuronal sua maioria, por axônios e interneurônios, que
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Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
• funções de output, de execução ou de ex- jovens que lutam diariamente na sala de aula
pressão (comunicação clara, conveniente, para terem mais rendimento e aproveitamento
compreensível, desbloqueada e contex- na aprendizagem.
tualizada; projeção de relações virtuais; O treino de funções cognitivas, conativas e
transposição psicomotora (transporte executivas é, quanto a nós, uma das chaves do
ideatório, ideomotor e visuográfico); ex- sucesso escolar e do sucesso na vida, quanto mais
pressão verbal fluente e melódica; regula- precocemente for implementado, mais facilidade
ção, inibição, iniciação, persistência, per- tende a emergir nas aprendizagens subsequentes.
feição, verificação, conclusão e precisão O aperfeiçoamento e o enriquecimento da
de respostas adaptativas; enriquecimento tríade de funções mentais da aprendizagem
de instrumentos não-verbais e verbais resulta de uma alquimia neuropsicopedagógica
de expressão; avaliação e retroação das complexa porque elas influenciam-se mutua-
soluções criadas; etc.); mente em termos de comportamento, de perfor-
Embora a cognição humana não possa ser mance e produtividade.
reduzida a um modelo de processamento de De fato, à luz das neurociências, as funções
informação puro (metáfora computacional), cognitivas operacionais e sistêmicas, como: o
por efetivamente ilustrar um modelo exage- enfoque e a concentração atencionais; o pro-
radamente simples, é consensual equacionar cessamento simultâneo e sucessivo, analítico e
que a cognição e o ato de aprender envolvem a sintético, rápido e preciso de dados; a memória
integração dinâmica, coerente e sistêmica das de trabalho; o raciocínio analógico, indutivo e
três ferramentas cognitivas principais acima dedutivo; a planificação, a elaboração e a exe-
referidas12,16,30,31,40,41. cução de soluções de problemas e de respostas
Trata-se de uma teoria que foi fundadora das adaptadas a situações ou tarefas têm um impacto
ciências cognitivas, principalmente da inteligên- direto, funcional ou disfuncional, nas funções
cia artificial, da cibernética e da robótica, que conativas e executivas.
serve para explicar, de modo fácil e acessível,
o que é a cognição e o que se passa mais ou FUNÇÕES CONATIVAS DA APRENDIZAGEM
menos na cabeça dos alunos quando aprendem As funções conativas, no seu aspecto mais
ou quando pensam e agem de forma inteligível. positivo, pois encerram igualmente um aspecto
Identificar naquelas três funções principais negativo, dizem respeito em termos simples à
do ato mental as suas subfunções ou capacidades motivação, às emoções, ao temperamento e à
componentes fortes, proximais ou fracas é um personalidade do indivíduo42.
primeiro passo para avaliar dinamicamente, e Em termos de substratos neurológicos fa-
depois, intervir personalizadamente na cogni- lamos do sistema límbico (córtex afetivo), uma
ção do indivíduo (aluno, formando, etc.), não região subcortical mais profunda do cérebro e
esquecendo que, quando falamos de cognição, envolvida, digamos assim, nas relações do orga-
na nossa ótica falamos, simultaneamente, de nismo com o seu envolvimento presente e pas-
conação e de execução, a tríade funcional da sado (imediato, curto e longo prazo), integrando
aprendizagem a que já nos referimos. estruturas muito importantes para a memória e a
Aprender a aprender é, portanto, praticar, aprendizagem, como a amígdala, o hipocampo,
treinar, aperfeiçoar e redesenvolver tais funções o córtex cingulado e os corpos mamilares16,37,43-46.
e capacidades cognitivas, integrando harmonio- A conação, na sua essência semântica, é si-
samente as capacidades conativas e executivas, nônimo de estado de preparação do organismo
que são pouco estimuladas culturalmente e para certas tarefas ou situações, particularmente
escolarmente, por isso, mal adaptadas, defici- as que têm valor de sobrevivência (ameaça, pe-
tárias, frágeis ou fracas em muitas crianças e rigo, ansiedade, insegurança, desconforto, etc.).
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Pode ser concebida igualmente, como auto cognitivas, por um lado, e nas funções exe-
preservação, de bem-estar e de interação social, cutivas, por outro, logo, têm uma influência
que incluem representações indutoras de senti- dominante em todo o processo complexo da
mentos (conscientes ou inconscientes, positivos aprendizagem humana16,31,42,48.
ou negativos). A palavra conação tem raízes Tais autopreservações de sobrevivência do
no termo latino de “conatus” pela primeira vez organismo, que ocorrem no indivíduo apren-
introduzido por Espinoza, grande filósofo racio- dente imaturo, quando colocado em situação
nalista do século XVII. de dificuldade ou estresse de aprendizagem ou
Diferentemente de Descartes, Espinoza não até em situação de interiorizar novos esquemas
acreditava nas dualidades do espírito e da ma- mentais, podem afetar a disponibilidade, o em-
téria ou da mente e do corpo, os seus “teoremas penho, o equilíbrio, a decisão, o investimento,
éticos”, abriram caminho ao estudo da rede de o esforço e a diligência para a modificabilidade
comunicação entre o corpo, o cérebro e a mente adaptativa.
como um sistema interativo complexo altamente Podem mesmo, em termos comportamentais,
distribuído e com grandes graus de liberdade, evocar processos de internalização (estagnação,
mas possuidor de um “posto de comando”, um passividade, insipidez, improdutividade, evita-
“Eu”, considerado como atributo fundamental mento, alheamento, etc.), ou de externalização
de uma mente consciente29,37,47,48. (rejeição, recusa, repulsa, distância, oposição,
No pensamento de Espinoza, o comporta- negação, instabilidade, agitação, etc.).
mento humano é determinado por emoções, A aprendizagem humana dificilmente decor-
consideradas como a força principal de impulsos re numa atmosfera de sofrimento emocional, de
naturais que emanam do corpo e o impelem para incompreensão penalizante ou debaixo de uma
a ação, disposições tônico-energéticas essas que autorepresentação ou autoestima negativas,
visam a preservar a essência mais profunda do exatamente porque ela tem, e assume sempre,
ser humano com a criação subsequente de sen- uma significação afetiva, isto é, conativa.
timentos de si e dos outros. Como resultado positivo de tais significações
As emoções resultam, portanto, de simples e emocionais, os sistemas afetivos subcorticais
complexas reações que facilitam a sobrevivência operacionalizam prioridades, desenvolvem pre-
do organismo e, por isso, podem ser preservadas ferências, constróem confianças e seguranças,
ao longo da evolução, como se a natureza con- mobilizam persistências e resiliências face a difi-
servasse a vida como algo precioso e precário37. culdades ou limitações, numa palavra, conjugam
As emoções consideradas como: estados ou atitudes que cuidam da aprendizagem, não só
processos que preparam o organismo para cer- da sua automaticidade e fluência como da sua
tos comportamentos; reações psíquicas a de- perfectibilidade e intencionalidade.
terminadas circunstâncias; esquemas de ação Em contrapartida, vulnerabilidades do siste-
adaptativos; impulsos internos; “inner drives”, ma límbico podem criar barreiras a tais habilida-
somatizações; etc., que precedem os sentimen- des conativas, podem mesmo explicar a desmo-
tos e emergem do corpo em termos evolutivos e tivação, a desorganização, a desplanificação, a
desenvolvimentais, podem ser similares a dois perda de estratégias de atenção, criação, busca
tipos de procedimentos adaptativos: os facilita- e conquista de objetivos e fins a atingir, etc., que
dores, marcados por inclinações, predileções, se repercutem quer nas funções cognitivas, quer
propensões, tendências, etc., e os inibidores, nas funções executivas.
marcados por bloqueios, resistências, desmoti- Com hesitações e fragilidades nas funções
vações, sofrimentos, etc. conativas, as funções cognitivas e as funções
Ambos os processos, ditos conativos, como executivas tendem a perder a sua coerência e
é óbvio, têm um poderoso impacto nas funções a sua sinergia, a consequência óbvia é uma des
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das funções conativas da autoestima, da autode- À luz das neurociências, como temos apre-
terminação e da autoconfiança, as verdadeiras sentado, as funções conativas estão intimamente
disposições mágicas para gostar de aprender32,50. agregadas neurofuncionalmente e sistemica-
É fácil perceber que as funções cognitivas mente às funções cognitivas já abordadas e às
interagem dialeticamente com as funções conati- funções executivas que abordaremos em segui-
vas no processo dinâmico da aprendizagem. Por da. O ser humano (aluno, formando, estagiá-
um lado, porque as funções cognitivas respeitam rio, etc.) não é, consequentemente, concebido
ao processamento da informação, por outro, por- apenas como um sistema de processamento de
que as funções conativas integram a motivação e informação, mas sim como um ser relacional
o esforço anímico das condutas que a executam e emocional, como um sujeito histórico-social
e a pragmatizam. constituído por atitudes e por condutas1,5.
Em traços simples, as funções conativas são a Além das funções cognitivas e das conativas a
punção ou impulsão energética das funções cog- que já nos referimos sumariamente, importa subli-
nitivas, e porque estão adstritas à performance e nhar que a aprendizagem bem sucedida envolve
ao desempenho, elas cooperam com as funções também outro conjunto de habilidades considera-
executivas na otimização comportamental e na das críticas, isto é, as funções executivas.
aprendizibilidade permanente.
O afetivo, o cognitivo e o executivo estão em FUNÇÕES EXECUTIVAS DA APRENDI-
interação constante no processo da aprendiza- ZAGEM
gem, porque as suas funções são indissociáveis Pela importância que as funções executivas
em termos neurofuncionais, e porque os seus têm na otimização e no controle da prestação
substratos neurológicos têm de operar em sin- cognitiva e conativa, quer em situação de so-
tonia48. brevivência e de adaptação ao meio, quer de
O cérebro humano dispõe de substratos aprendizagem, de comportamento e de interação
neurológicos que são responsáveis pela grati- social51-55, vejamos em particular alguns dos seus
ficação ou recompensa decorrente do êxito ou pontos mais relevantes para a educação e para o
do triunfo adaptativo, por isso, somos a espécie sucesso escolar (“academic success”).
mais dependente da aprendizagem, nascemos As funções executivas coordenam e integram
para aprender a aprender se a conação estiver o espectro da tríade neurofuncional da aprendi-
disponível e implícita. zagem, onde estão conectadas com as funções
Porque as funções cognitivas bem aplicadas e cognitivas e conativas que acabamos de abordar.
bem sucedidas geram gratificação, recompensa, O seu piloto, diretor executivo, líder ou maestro
entusiasmo, curiosidade e satisfação e produzem neurofuncional avançado é o córtex pré-frontal,
uma representação valorizante no próprio indi- região que ocupa no cérebro humano quase um
víduo, as suas funções conativas também são terço do seu volume cortical29.
enriquecidas, resultando daí: mais empenho; Como posto de comando que é do cérebro, o
mais esforço; mais motivação intrínseca que ex- córtex pré-frontal tem que manter excelentes li-
trinseca; mais estudo; mais perseverança; mais nhas de comunicação com todas as outras áreas,
atenção sustentada; melhor gestão do tempo; sendo mesmo a sua região mais conectada, daí a
mais planificação de esforços; mais disciplina; sua função de coordenação e de integração das
mais poder de síntese; mais criatividade; etc. funções cognitivas e conativas na aprendizagem.
Numa palavra, o indivíduo investe mais no aper- O córtex pré-frontal está intimamente conec-
feiçoamento das suas competências performáti- tado com o córtex associativo posterior, a mais
cas e aprende melhor e mais continuadamente, elevada estrutura de integração perceptiva e de
reunindo assim melhores condições favoráveis reconhecimento multissensorial (visual, auditivo
à sua autorrealização49. e tatil-cinestésico), e obviamente conectado com
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alterar e modificar procedimentos de trabalho que são exigidas para organizar e integrar in-
e abordagens a temas e tópicos de conteúdo, formação disponível que não só nos surge hoje,
aplicando diferentes estratégias de resolução muito mais vasta (exemplo da Internet), como
de problemas; manter e manipular informação é permanentemente sujeita a mudanças muito
na memória de trabalho; automonitorizar o mais rápidas e imprevisíveis.
progresso individual e do grupo de trabalho; Nas escolas contemporâneas, cada vez
autorregular e verificar as respostas produzidas mais se sujeitam os alunos a múltiplas tarefas,
e a conclusão, revisão e verificação de tarefas, tais como: leituras longas; resumos, notas e
projetos, relatórios e trabalhos individuais ou apontamentos escritos complicados; resolução
de grupo; refletir e responsabilizar-se pelo seu de problemas de matemática muito longos e
estudo e sobre o seu aproveitamento escolar; etc. complexos; projetos de trabalho prolongados;
O estudante, por definição, é um ser executivo, testes e exames exigentes; que objetivamente
sem pôr em prática tais habilidades, aprender dependem, em muito, das funções executivas
não vai ser fácil nem prazeroso para ele. que estamos abordando57.
A maioria das tarefas escolares exige, de Nesse contexto, é cada vez mais esperado
fato, a coordenação e a integração coerente que os alunos sejam proficientes: a tirar aponta-
das múltiplas funções executivas, não é de es- mentos; a estudar; a prepararem-se para testes
tranhar, portanto, que muitas crianças e jovens mais frequentes, isto é, exige-se deles funções
com disfunções ou dificuldades executivas ou executivas muito eficazes e fluentes, para as
com funções executivas vulneráveis e afunila- quais, porém, nunca foram ensinados ou treina-
das, apresentem problemas de sobrecarga de dos intencionalmente e sistematicamente.
informação (onde o input excede o output), de Sendo funções tão essenciais e necessárias
produtividade, de eficácia e de precisão nos seus ao sucesso escolar, a cultura da escola, os arqui-
desempenhos escolares57,58. tetos dos currículos e os próprios professores, na
Ler e compreender, formular ideias e escrevê- maioria dos casos, desconhecem os processos
-las, apreender enunciados de problemas mate- executivos dos alunos, não avaliando-os dinami-
máticos e planificar uma série de procedimentos camente ou informalmente (em áreas fortes, em
e operações para chegar à solução correta podem zonas de desenvolvimento proximal ou em áreas
revelar a luta titânica que muitas crianças e jo- fracas), nem tampouco ensinam sistematicamen-
vens travam na sala de aula. te estratégias, para que eles sejam ajudados a
Em muitos casos, a rotura entre as compe- compreender como eles pensam, se comunicam,
tências dos alunos e as exigências do currículo agem e como aprendem.
é tão abismal que muitas disfunções executivas Como é fácil perceber, o sucesso escolar dos
acabam por estar na raiz das dificuldades de alunos depende muito da sua habilidade para
aprendizagem e suas comorbidades52. manejar as funções executivas, quer na escola,
Quer na pré-escola ou no 1º ciclo de escola- quer em sua casa ou na sua vida diária. Parece
ridade, muito mais ainda no 2º e no 3º ciclo, e óbvio que a escola em geral e os professores em
claramente, no ensino universitário, as exigên- particular têm que compreender o papel dessas
cias das funções executivas eficientes vão sendo funções no sucesso escolar dos alunos, a sua
maiores. As avaliações ou notas de alunos com formação profissional e educacional não pode
perfis disexecutivos podem não refletir o seu continuar a descorar tais funções, nem desistir
potencial de aprendizagem, porque são a parte de ensinar estratégias dirigidas especificamente
submersa do iceberg das suas capacidades. para o seu enriquecimento.
É a esse conjunto diversificado de competên- Trata-se de uma necessidade educacional
cias mentais e frontais que denominamos por essencial e atual, que não pode ser esquecida.
funções executivas, funções muito significativas Alunos com vulnerabilidades e fragilidades
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nessas funções são mais facilmente candidatos Tratam-se de funções metacognitivas funda-
ao sofrimento emocional, ao insucesso e ao mentais para a aprendizagem, funções execu-
abandono escolar. tivas que permitem, manter, gerir e manipular
As funções executivas podem ser definidas a informação, alterar ou inibir procedimentos
como processos mentais complexos pelos quais quando necessário, agir em função de objetivos
o indivíduo otimiza o seu desempenho cognitivo, a atingir, pensar no pensar, etc.
aperfeiçoa as suas respostas adaptativas e o seu Compreendem, efetivamente, as ferramentas
desempenho comportamental em situações que metacognitivas características de mentes moti-
requerem a operacionalização, a coordenação, a vadas e curiosas que permitem atingir, de fato, a
supervisão e o controle de processos cognitivos e perfectibilidade e a excelência cognitiva, quando
conativos, básicos e superiores. De certa forma, devidamente treinadas e trabalhadas.
reúnem um conjunto de ferramentas mentais Dentro das definições das funções executivas,
que são essenciais para aprender a aprender32. que conceitualmente configuram um modelo de
Tendo sido estudadas, principalmente, por “roda da sorte” (Figura 4), destacamos, sumaria
neurologistas e neuropsicólogos, que reforçaram mente, as seguintes:
o papel crucial e principal do córtex frontal no • atenção (sustentação, foco, fixação, sele-
ção de dados relevantes dos irrelevantes,
controle dos comportamentos intencionais que
evitamento de distratores, etc);
são afetados pelas suas lesões ou disfunções,
• percepção (intraneurossensorial, inter-
mais recentemente, os reeducadores, os tera-
neurossensorial, meta-integrativa, ana-
peutas educacionais e os professores do ensino
lítica e sintética, etc);
especial, além de outros profissionais de educa-
• memória de trabalho (localização, recu
ção, começaram a reconhecer a importância das
peração, rechamada, manipulação, julga
funções executivas no desempenho educacional.
mento e utilização da informação relevan-
Compreender o papel das funções executivas
te, etc);
na aprendizagem oferece uma nova perspectiva
• controle (iniciação, persistência, esforço,
sobre muitos alunos que sendo brilhantes inte- inibição, regulação e auto-avaliação de
lectualmente não têm um rendimento compatível tarefas, etc);
com o seu potencial, além de apresentarem no- • ideação (improvisação, raciocínio indu-
vas visões sobre muitos alunos ditos fracos (ou tivo e dedutivo, precisão e conclusão de
“maus alunos”), com diferenças, dificuldades tarefas, etc);
ou preferências de aprendizagem que apren-
dem com melhores resultados em situações de
ensino mais mediatizadas31,32 ou com tarefas
menos complexas, de curta duração e muito bem
estruturadas e sistematizadas.
Por esse fato, as disfunções executivas são
frequentemente associadas a alunos com di-
ficuldades atencionais e com dificuldades de
aprendizagem específicas (por exemplo, disgno-
sias, dispraxias, disfasias, dislexias, disgrafias,
disortografias, dismatemáticas, etc.), a nossa
experiência clínica de 40 anos com mais de 5.500
casos observados e seguidos, evidencia, constata
e confirma essa co-ocorrência de disfunções
desenvolvimentais. Figura 4 – Roda da sorte das funções executivas.
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Em vez dos currículos serem centrados exa- conativos e executivos podem ser superadas,
geradamente nos conteúdos sistematizados, porque na nossa concepção as escolas têm a
considerados como produtos finais, e serem me- responsabilidade de intervir nas zonas de desen-
ramente apresentados e debitados nas aulas, há volvimento proximal, de minimizar as barreiras
necessidade de maior atenção com os processos e de maximizar a aprendizagem de todos os
cognitivos, conativos e executivos dos alunos, alunos sem exceção.
caso contrário o ciclo do sucesso escolar será Além de proporcionarem abundantes oportu-
uma miragem para muitos deles. Quem perde nidades e alternativas de prática psicopedagógi-
mais com o insucesso escolar é a sociedade no ca, com modelos de intervenção diferenciada e
seu todo. compensatória, e prescrever modelos de reedu-
Para enriquecer as funções cognitivas, co- cação individualizada ou em pequenos grupos,
nativas e executivas, a interação do professor- ditos de ensino clínico, é preciso mobilizar mais
-aluno tem que ser mais intensa e intencional, professores tutores devidamente preparados e
o processo ensino-aprendizagem tem que ser especializados, caso contrário, muitos estudan-
mais mediatizado e com uma acessibilidade tes com disfunções cognitivas, conativas e execu-
aumentada para todos, onde seja possível focar tivas que necessitam de ajuda serão condenados
mais a colocação de perguntas ou questões de ao insucesso escolar, profissional e social.
desafio cognitivo, conativo e executivo, onde os A educação da criança e do jovem na era di-
alunos tenham que pensar mais antes de respon- gital tem que ser cada vez mais amiga dos seus
der, onde as várias funções sejam diretamente corpos, dos seus cérebros e das suas mentes,
treinadas e onde as estratégias metacognitivas caso contrário muitos problemas de cognição, de
sejam mais trabalhadas. Não está em jogo o conação e de execução, ou seja, de adaptação, de
enriquecimento curricular, está mais em jogo o aprendizagem e de integração social vão emergir
enriquecimento do potencial de aprendizagem sem necessidade.
dos alunos32.
É óbvio que os currículos podem inabilitar ou
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