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TESE DE ACUSÃO BASEADA NA OBRA O BEIJO NO ASFALTO, DE

NELSON RODRIGUES

Ezequiel Schukes Quister


Centro Universitário Uninter, Curitiba, PR.

INTRODUÇÃO

Acusado: Aprígio
Vítima: Arandir.
Testemunhas: Dália e Selminha.
Delegado: Cunha
Repórter: Amado Ribeiro
Vizinha: D. Matilde

Trata-se da tese de acusação relativa ao crime cometido pelo acusado


supracitado. O fato ocorrera em 07 de julho de 1961, e, segundo consta no
Comunicado de Crime expedido pelo órgão policial competente, foi classificado
como homicídio, enquadrado no artigo 121 “caput” do Código Penal. Segundo o
acusado, as razões alegadas foram defesa da honra de sua filha, a qual era casada
com a vítima.

Não restou provada de que maneira a honra da filha possa ter sido maculada,
já que não há provas cabais que atestem a má conduta por parte da vítima. Aliás, tal
alegação de que a honra de Selminha fora manchada não condiz com a versão dela
própria sobre sua condição de vida com Arandir. Ela é enfática ao afirmar que
conhecia Arandir desde a infância e tinha uma vida feliz junto com ele:

- Aprígio: “Vem cá. Você tem ta casada um ano. Um ano?”. (p. 19).

- Selminha: “Mas conheço Arandir, desde garotinho!”. (p. 19).


- Aprígio: “Sei. Acredito. Mas digamos que seu marido. Uma hipótese. Que seu
marido não fosse, sim, exatamente, como você pensa. Você gosta de seu marido a
ponto de aceita-lo mesmo que. Numa palavra: - você e feliz?”. (p. 20).

- Selminha: “Papai, eu sou a mulher mais feliz do mundo!”. (p. 22).

Mediante ao exposto e segundo relatos testemunhais e demais elementos


trazidos à baila, não há o que se falar em defesa da honra quando o caso em
questão se configura como uma vingança premeditada, visto que Arandir
demonstrava, segundo relatos de suas próprias filhas, nutrir um ódio injustificado por
Arandir:

- Dália: “Papai me assusta”. (p. 27).

- Selminha: “Não gosta de Arandir – por quê?”. (p. 27).

- Dália: “Ciúmes”. (p. 27).

Os relatos demonstram que esse ódio de Aprígio por Arandir era velado,
porém, com tal força que até o impedia de falar o nome do genro, segundo relato de
Selminha.

- Selminha: “Uma coisa, papai. O senhor sabe que, desde o meu namoro, o senhor
nunca chamou Arandir pelo nome? Sério! Duvido! Papai! O senhor dizia ‘seu
namorado’. Depois: - ‘seu noivo’. Agora é ‘seu marido’, ou, então, ‘meu genro’.
Escuta papai!”. (p. 18).

Considerar ainda que a vítima não possuía antecedentes criminais e era


casado a cerca de um ano com Selminha, filha de Aprígio, o acusado pelo crime. As
razões alegadas por este sugerem que Arandir tinha um relacionamento amoroso
com outro homem, morto há alguns dias em um acidente de trânsito. Tal fato teria
suscitado em Aprígio o desejo de vingança contra o genro.
DESENVOLVIMENTO

Segundo consta nos autos, Arandir, em um último ato de amor pelo suposto
amante, o teria beijado quando este já falecera. Tal fato foi presenciado por Aprígio,
que, em nenhum momento confirmou que o genro pudesse realmente ter um
relacionamento com o atropelado. A cena toda foi interpretada por Aprígio como um
sinal da homossexualidade e traição de Arandir, porém, este, constantemente e
inutilmente explicou por diversas vezes que não pudera negar o último desejo de um
moribundo; o fez acreditando ser um gesto de amor fraternal.

Portanto, não foram trazidos ao processo elementos que comprovem o


adultério por parte de Arandir, apenas relatos testemunhais que não fazem prova
irrefutável. Tampouco restou provado que o acidente de trânsito que culminou na
morte do suposto amante de Arandir, tenha sido causado por este, contrariando a
matéria jornalística de cunho sensacionalista, cujo teor condena Arandir
previamente. A conversa entre Selminha e sua vizinha, Sra. Matilde, confirma a
situação tendenciosa criada pelo jornal:

- Selminha: “Ah, entre d. Matilde”. (p.34)

- Matilde: “Já leu?”. (p. 34).

- Matilde: “O beijo no asfalto! O retrato do atropelado! E aqui o Arandir na


delegacia!”. (p. 34).

- Selminha: “Toma! Toma! Não quero ler mais nada! Estou até com nojo! Nojo!”. (p.
35).

- Selminha: “(...) meu marido nem conhecia! Era um desconhecido, d. Matilde!”. (p.
35).

- Matilde: “Tem certeza?”. (p. 36).

- Matilde: “(...) o morto não é um que veio aqui, uma vez?” (p. 36).

- Matilde: “O jornal diz: ‘não foi o primeiro beijo! Nem foi a primeira vez!” (p. 37).
Neste ponto é importante salientar que todas as informações deste caso são
oriundas, em sua maior parte, de reportagens jornalísticas que se mostraram bem
rápidas em acusar, sem antes levantar informações reais dos fatos. Tratou-se de
uma apuração unilateral, cuja intenção foi acusar e denegrir a imagem de Arandir,
com claro intento de fomentar a venda de jornais. Também está aparente certa
cumplicidade entre o delegado que investigou o caso e do repórter que o noticiou.

“Manja. Quando eu vi o rapaz dar um beijo. Homem beijando homem. No asfalto.


Praça da Bandeira. Gente assim. Me de um troço, uma ideia genial. De repente.
Cunha, vamos sacudir esta cidade! Eu e você, nós dois! Cunha”. (p. 15).

Há ainda elementos que corroboram para a versão de que o crime “Beijo no


Asfalto”, como ficou conhecido o atropelamento fatídico corrido no dia indicado na
inicial desta, trata-se de uma conspiração para, além da vendar de jornais, desviar a
atenção da opinião pública para a truculência em algumas ações do delegado
Cunha.

- Amado Ribeiro:“Sujeito burro. Escuta, escuta! Você não quer se limpar: Hein? Não
quer se limpar?” (p. 14).

- Amado Ribeiro: “(...) escuta rapaz! Esse caso pode ser a tua reabilitação e olha: -
eu vou vender jornal pra burro!”. (p. 15).

- Amado Ribeiro: “O beijo no asfalto foi crime!” (p. 70).

- Amado Ribeiro: “Crime! E eu provo. Quer dizer, sei lá se provo, nem me interessa.
Mas a manchete está lá, com todas as letras: CRIME!” (p. 70).

- Aprígio: “Tem certeza?” (p. 71).

- Amado Ribeiro: “(...) Sei lá! Certeza, propriamente. A única coisa que sei é que
estou vendendo jornal como água. Pra chuchu”. (p. 71).

As razões e alegações apresentadas até aqui dão conta de que a vítima não
tinha nenhum antecedente que justificasse a ira de Aprígio, e consequentemente o
crime. Tampouco qualquer prova contundente de que Arandir tivera um amante, ou
fosse homossexual. Aliás, as declarações de Selminha sobre sua felicidade
conjugal, amparada pelo fato de que ela estava grávida de Arandir, justificam e
endossam a acusação de que o crime foi premeditado, ainda que se fale em defesa
da honra, pois não havia sinais de luta corporal ou qualquer outro fator que pudesse
demonstrar que a vítima tivesse agredido ou reagido a uma agressão por parte de
Aprígio.

Assim, descarta-se o conceito de legítima defesa, figura jurídica devidamente


reconhecida pelo ordenamento jurídico. Sobre a excludente da legítima defesa,
dispõe o art. 25 do Código Penal: "Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente,
a direito seu ou de outrem".

Restou demonstrada que a injusta agressão mencionada pelo ordenamento


nunca existiu. Aliás, o acusado, em si mesmo, não foi, em tempo algum, vítima de
qualquer ato de violência por parte de Arandir. Assim, fica configurado como motivo
fútil a suposta traição que ensejou o assassinato cometido, já que o acusado agiu de
forma premeditada, reforçando a posição de que o caso seja enquadrado também
como homicídio qualificado, previsto no já citado artigo 121, parágrafo 2º, inciso I, II
e IV

§ 2º Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Mediante ao exposto, não se pode dizer que é demasiado absurdo qualificar o


ato como motivo fútil, pois foi possível vislumbrar que o motivo para o cometimento
de delito tão grave, caso seja confirmado, é pequeno e desproporcional. A respeito
do tema, lecionam Márcio Bártoli e André Panzieri o seguinte:
“Motivo fútil é aquele tão pequeno, que não é causa para levar o agente ao
cometimento do homicídio. É o motivo insignificante, banal, com natureza de
grande desproporcionalidade. A futilidade deve ser apreciada objetivamente,
diante do senso médio, e não pela opinião do sujeito ativo. Repete-se o que
foi afirmado antes: se não se conseguir apurar, no conjunto probatório, a
motivação do homicídio, a futilidade não pode ser levada em consideração”
(2007, p. 631 e 632).

Os ilustres magistrados nos ensinam que um caso grave como homicídio não
pode ter como justificativa um motivo fútil. Levando tal entendimento em
consideração, é certo afirmar que o crime aqui discutido deve ser punido com o
máximo do rigor que a lei determinada, pois é certo que ele foi cometido com base
num motivo fútil, banal: ciúmes.

A jurisprudência aponta que, dentre os qualificadores do motivo fútil, o ciúme


não pode ser entendido como tal. A vingança segue a mesma condição, e só é fútil
se é decorrente de uma agressão também por este motivo. Quando há discussão
entre partes antes do crime, em geral é retirada a qualificadora da futilidade, pois a
troca de ofensas supera a pequena importância. Se não vejamos:

TJ-MG - Apelação Criminal APR 10707071332654001 MG (TJ-MG)


Data de publicação: 27/02/2013
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA - PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ - VIOLAÇÃO - NÃO CONFIGURAÇÃO - ABSOLVIÇÃO -
LEGÍTIMA DEFESA - IMPOSSIBILIDADE - DESCLASSIFICAÇÃO - CICATRIZES -
DEFORMIDADE PERMANENTE - CIÚMES - MOTIVAÇÃO FÚTIL - NÃO
CONFIGURAÇÃO. - O princípio da identidade física do juiz não é absoluto,
comportando as exceções previstas no art. 132 , do Código de Processo Civil , o
qual se aplica de forma subsidiária ao Código de Processo Penal . - Não restando
configurada a legítima defesa, impõe-se a manutenção da condenação. - A
presença de uma cicatriz de proporção considerável no rosto de uma mulher deve
ser considerada como deformidade permanente. - O ciúme não pode ser
considerado como motivo fútil, porquanto se trata de um sentimento pessoal, que
não pode ser classificado como desprezível. V.V.P. Detectado como a razão do
delito, o ciúme,deve ser avaliada a situação concreta para definição acerca da
incidência, ou não, da agravante. E é inegável a frivolidade da motivação do crime,
sendo patente a sua desproporção com as lesões produzidas na ofendida,
configurando a futilidade.
Porém, na contramão deste entendimento, há jurisprudências que consideram
sim o ciúme como elemento qualificador do motivo fútil. Ou seja, por ser uma
questão doutrinária, seria incorreto dizer que tal entendimento é pacificado pelos
tribunais do país.

TJ-MG - 100240287553530011 MG 1.0024.02.875535-3/001(1) (TJ-MG)


Data de publicação: 25/01/2006
Ementa: HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO - NEGATIVA DE AUTORIA
-CIÚME COMO MOTIVO FÚTIL - REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA. Quando o
Conselho de Sentença acolhe uma das versões sustentadas nos autos, e o faz com
fulcro nas provas dos autos, não cabe a cassação de sua decisão. Provado nos
autos que a prática do homicídio foi motivada pelo ciúme, e tendo os jurados
acolhido a qualificadora da futilidade, não cabe a cassação do julgamento
simplesmente por entendimento doutrinário diverso, sob pena de ferir a soberania
das decisões do Júri. É adequada a imposição do regime inicialmente fechado
porque a Constituição da República consagrou o princípio da individualização das
penas.

TJ-MG - Rec em Sentido Estrito 10301020053890001 MG (TJ-MG)


Data de publicação: 12/08/2013
Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - PROCESSUAL PENAL - SENTENÇA DE
PRONÚNCIA - PROVA DA EXISTÊNCIA DO FATO E INDÍCIOS SUFICIENTES DA
AUTORIA - CIÚMES - MOTIVO FÚTIL - DECOTE DA QUALIFICADORA -
IMPOSSIBILIDADE - RECURSO NÃO PROVIDO. - "Deve-se deixar ao Tribunal do Júri
a inteireza da acusação, razão pela qual não se permite decotar qualificadoras na
fase da pronúncia, salvo quando manifestamente improcedentes". - O sentimento
deciúme pode constituir motivo fútil para a prática do crime, incumbindo ao
Conselho de Sentença, juiz natural nos crimes dolosos contra a vida, a análise, no
caso concreto, acerca da frivolidade da motivação.

É farta a jurisprudência sobre este aspecto do ciúme como elemento


qualificador do motivo fútil, bem como é farta a controvérsia sobre sua configuração
ou aplicação em consonância com o ordenamento jurídico.

CONCLUSÃO
Caracterizado, portanto, que o ciúme que o acusado nutria por Arandir é um
motivo fútil para justificar o crime, fica evidente também que a condição desse
sentimento é por si um agravante, por não poder ser expressa, já que mediante à
sua posição como chefe de família, e pelas condições sociais da época do crime, é
compreensível que Aprígio não pudesse externar o amor que sentia pelo genro,
conforme suas palavras, ditas no calor da última discussão que tiveram:

- Aprígio: “Eu perdoaria tudo. Só não perdoo o beijo no asfalto. Só não perdoo o beijo que
você deu na boa de um homem” (p. 81).

- Aprígio: “Não se mexa! Fique onde está!” (p. 82).

- Arandir: “O senhor vai”. (p 82).

- Aprígio: “Você era o único que não podia casar com minha filha! O único!”(p. 82).

- Arandir: “(...) Deseja a própria filha (...) tem ciúmes de Selminha”. (p. 82).

- Aprígio: “De você. Não de minha filha. Ciúmes de você, tenho! Sempre. Desde o teu
namoro que eu não digo o teu nome. Jurei a mim mesmo que só diria teu nome a teu cadáver.
Quero que você morra sabendo. O meu ódio é amor”. (p. 82).

-Aprígio: “Arandir! Arandir! Arandir!” (p. 82).

Diante do exposto, requer o conhecimento da presente peça acusatória e, no


mérito, o provimento para fins de condenação do réu nos moldes do art. 121 do
Código Penal brasileiro.

REFERÊNCIAS

BÁRTOLI, Márcio; PANZIERI, André. Código Penal e sua Interpretação. 8ª ed. Coord.:
Alberto Silva Franco e Rui Stoco. São Paulo: Editora: RT, 2007.

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. [S.l.]: eBooks Brasil, 2013. Disponível
em: < http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/delitosB.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2013.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 29ª ed. Petrópolis:Editora Vozes, 2004.

GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito: teoria geral do


direito. 2.ed. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo, 2013.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Os Discursos sobre Crime e Criminalidade. Disponível em:
<http://www.cirino.com.br/artigos/jcs/os_discursos_sobre_crime_e_criminalidad
e.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2013.

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