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ISBN – 978-85-63806-35-2
Vários autores
Coordenação editorial
Antônia Schwinden
Editoração eletrônica
Ivonete Chula dos Santos
PREFÁCIO
5
mudar o mundo a partir das cidades, mas há como refletir sobre como atuar no mundo
se originando em suas reflexões.
Os planos, as políticas públicas, o reconhecimento social, a participação
paritária nas decisões, a distribuição igualitária da riqueza materialmente produzida
e a realização emocional, não estão dadas geneticamente nas formações urbanas,
mas é nelas que estas condições são vividas e é nelas que precisam ser enfrentadas.
Refletir sobre tais condições equivale a agir sobre aquilo que aparentemente está fora
de alcance, dada sua magnitude. Se é necessário principiar uma transformação sobre
algum espaço concreto, este espaço é exatamente aquele em que a vida se concentra.
Contudo, o problema político não é mero detalhe na produção teórica, pois a teoria
deve ter uma finalidade concreta de orientar a prática política já que se baseia na
análise crítica dela. O que se denomina práxis, por conseguinte, não pode ser uma
questão coadjuvante em uma análise crítica, porquanto o compromisso político da
teoria é com os sujeitos do trabalho e com os mecanismos de resistência e de oposição
a todo sistema político opressivo. É também importante considerar, igualmente, a
inclusão dos sujeitos socialmente excluídos da comunidade política e econômica,
porque afastamento não é sinônimo de privação de direitos.
Quando se trata de trabalhadores sem emprego, sem moradia ou sem terra, é
preciso levar em conta que no estudo desses grupos sociais não se pode desconsiderar
a possibilidade da heterogeneidade de suas demandas e tampouco desprezar as
dificuldades de sua organização política. Isso porque esses também são grupos
de trabalhadores que lutam pelo reconhecimento de suas condições de existência,
pela garantia da distribuição da riqueza material economicamente justa, pelo
asseguramento de um nível de representação política que permita o estabelecimento
de critérios de justiça e pela conquista da realização emocional decorrente do sucesso
de suas ações. Essa luta se desenrola no interior do sistema econômico, podendo ser
inclusive à sua revelia, quer como resistência, quer como oposição visando superá-lo.
O argumento que se desenvolve neste livro recorre à concepção de que os
sujeitos coletivos lutam pelo reconhecimento social como forma de integração
plena na sociedade como sujeitos iguais; lutam por uma redistribuição isonômica,
6
igualitária e justa da riqueza material como resultado da produção de suas condições
de existência; lutam pela representação política nas esferas de decisão como forma
de pertença social e como procedimentos que estruturam os processos públicos de
confrontação; lutam também pela sua realização no plano emocional como direito
inalienável de uma vida plena de sentidos.
A concepção que se defende neste livro se vincula a uma teoria que busca
encontrar inspiração nas avaliações críticas da realidade afastando-se tanto das
interpretações que fazem da ideologia a própria teoria quanto das que não consideram
que os estudos que tratam dos aspectos objetivos e subjetivos subsistem na análise de
um mesmo fenômeno. Trata-se de uma conjunto de análises que se organizam em torno
de um projeto de sociedade que venha a ser estruturada pela luta política em favor de
um modo de produção correspondente à autogestão social, como forma organizada
de gestão social democrática e dos empreendimentos necessários à construção de
uma tal sociedade.
Este livro trata da organização jurídica do Estado cubano em relação
ao urbanismo; da política, Estado e democracia no Brasil; da estratégia de
desenvolvimento em Cuba; das relações de mercado ante as trocas socioeconômicas
em Cuba; da política econômica e financiamento do Estado; da educação e trabalho
docente; do panorama da educação superior no Brasil; das formas e relações de
trabalho em Cuba; da política de emprego em Cuba; do estudo das lutas sociais
no Brasil; da análise feminista do tráfico de mulheres nas cidades brasileiras; do
cooperativismo e da cultura cooperativa na transição socialista; dos antecedentes
e da realidade das cooperativas, da liberdade de associação e da organização das
cooperativas no Brasil; dos planos diretores no Brasil e da trajetória do discurso
da politização do planejamento; da cidade como obra humana; do planejamento
participativo para a reabilitação do subcentro urbano; da planificação urbana
participativa; da estratégia de planejamento participativo para a gestão local de
desenvolvimento da habilitação integral da habitação; da propriedade e posse da
moradia em Cuba e no Brasil. São, todos, temas que se concentram na condição de
vida como direito à cidade e ao trabalho.
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Este livro, portanto, não trata de uma simples tergiversação sobre a vida
vivida. Não trata apenas dos direitos à moradia, transporte, trabalho, necessidades e
demandas. Trata de uma jornada bem mais complexa, carregada de contradições, de
uma dinâmica que não se esgota nos escaninhos dos escritórios do pensamento, mas
que se atreve a questionar a condição mesma da dignidade da condição propriamente
humana. Neste livro também são consideras as unidades de representação política,
as unidades ditas sociais, as agências públicas e as unidades coletivistas de trabalho.
Todas estas unidades encontram-se no interior do Estado Contemporâneo, ainda que
eventualmente se oponham a ele.
Mais que uma parceria entre pesquisadores cubanos e brasileiros, este livro
é uma reflexão sobre a diferença entre o ser-em-si e o ser-para-si na construção e
na produção da existência humana. Em síntese, este livro reafirma a concepção de
que é condição primordial para o estabelecimento de uma gestão social que haja um
permanente questionamento acerca da forma com que são organizadas as relações
de trabalho e de produção das condições de existência, de maneira a se garantir: a
justiça nos processos de reconhecimento social dos grupos autônomos e emancipados;
a distribuição igualitária da riqueza coletivamente produzida; a participação
paritária nos processos de decisão; e a realização emocional pelos resultados da
práxis política dos sujeitos. Compreender as condições objetivas e subjetivas pelas
quais os sujeitos coletivos produzem suas condições de vida em sociedade revela
muito acerca das probabilidades de consolidação de uma gestão social democrática.
8
SUMÁRIO
PREFÁCIO........................................................................................................ 5
José Henrique de Faria
9
POLÍTICA ECONÔMICA E FINANCIAMENTO DO ESTADO........ 101
Valter Fanini
Os limites do neodesenvolvimentismo na
superação da superexploração do trabalho na
América Latina: a estrutura dependente
brasileira..................................................................................................... 185
Naiara Andreoli Bittencourt
10
Cooperativismo y la cultura cooperativa en la
transición socialista........................................................................ 259
Grizel Donéstevez Sánchez
Liberdade de Associação e
a Organização das Cooperativas no Brasil.................... 287
Diorlei dos Santos
José Antônio Peres Gediel
11
Estrategia de planeamiento participativo para la
gestión local de desarrollo de la rehabilitación
integral del hábitat en Manicaragua y Remedios.
Hábitat 2........................................................................................................ 367
Dra. Arq. Gloria Esther Artze Delgado
MSc. Arq. Lien Cruz Domínguez
MSc. Lic. Dayana Mesa Hernández
12
Características del sistema jurídico y la
organización jurídica del Estado socialista
cubano actual
1. Introducción
13
Para un país con un sistema socio-político socialista como Cuba,
el perfeccionamiento paulatino y ordenado del sistema jurídico posee un
gran valor y significación, lo cual es un reto que se ve acrecentado luego
del VI Congreso del Partido Comunista en que se adoptaron una serie de
políticas y tareas encaminadas al progreso de la sociedad y la economía
cubanas, en función de las cuales será necesario elaborar y aprobar una
serie de normas para crear la base legal e institucional que respalde las
modificaciones funcionales, estructurales y económicas que se adopten
para el avance de la sociedad cubana.
Sin embargo, para ello en estos momentos en Cuba resulta imposible
circunscribirse solo al desarrollo, ordenamiento y perfeccionamiento
de las normas y regulaciones jurídicas; debe desarrollarse un proceso
integral en el que se perfeccionen las instituciones jurídicas y que también
abarque todos los elementos integrantes del sistema jurídico nacional,
en el cual se reflejen las características propias del sistema político y la
sociedad cubana actual en su proceso de renovación.
Como otros conceptos de las ciencias sociales y jurídicas el de
“sistema jurídico” ha sido interpretado y definido de diferente forma y
desde diferentes enfoques por parte de juristas, politólogos, gobernantes
y otros. Unos autores lo han limitado al sistema de normas jurídicas, en
tanto otros lo ven desde un espectro más amplio en que se contemplan
también las relaciones jurídicas en su interconexión.
Igualmente, desde un enfoque sistémico y polidimensional,
también otros autores plantean que el sistema jurídico comprende
tanto la estructura del derecho como ente normativo, como el papel y
la correlación entre la producción del derecho y su aplicación por los
operadores u órganos correspondientes3.
14
Aquí, a partir de la teoría de los sistemas sintetizada por Ludwig
von Bertalanffy y las concepciones dialécticas de Georg Wilhelm
Friedrich Hegel y Karl Marx, la cual plantea que los sistemas constituyen
un conjunto de elementos que están interconectados, interrelacionados y
son interdependientes dialécticamente, analizaremos el sistema jurídico
en la sociedad socialista cubana como un concepto que sintetiza en
un nivel superior la integridad e interconexión dialéctica de todas las
partes o elementos que lo conforman, tanto en el ámbito de la teoría del
derecho, como en su producción y aplicación práctica.
Como fenómeno social objetivo todo sistema jurídico al tener
vigencia en un lugar y un momento histórico determinado, será
propio y en correspondencia con un tipo de estado, sistema político y
sociedad concreta. Igualmente, regido por el Estado, tendrá la finalidad
de favorecer la convivencia y de fijar pautas para la regulación de la
conducta de las personas naturales y jurídicas a través del ordenamiento
jurídico o conjunto sistematizado de leyes, normas y reglas vigentes en
el país y sociedad correspondiente. Para ello su Constitución o Carta
Magna actúa como norma suprema del ordenamiento jurídico del Estado
y como pilar del sistema jurídico. Tal es el caso de Cuba.
El desarrollo del estado y la sociedad cubana actual y futura
está no solo indisolublemente e indefectiblemente relacionado con
el perfeccionamiento constante de los procesos económicos y socio-
políticos, sino también con el desarrollo cualitativo del sistema jurídico
vigente y de la labor jurídica y legislativa en el país.
15
de leyes de amplio carácter popular, como fueron la primera Ley de
Reforma Agraria en mayo de ese año, las Leyes de Nacionalización de
finales de los años sesenta y otras que, luego de la declaración del paso
a la creación de un estado con un sistema socio-político de carácter
socialista, fueron aprobadas. Así se logró estructurar un sistema de
normas, generales, objetivas e impersonales de obligatorio cumplimiento
tanto para las instituciones políticas, sociales y de masa como para los
ciudadanos. Todo ello todavía al amparo de la Ley Fundamental de
Febrero de 1959, que no era otra cosa que la Constitución Cubana de
1940 modificada acorde a las necesidades de ese momento. Se inició
entonces la transición de un tipo de sistema jurídico burgués a otro de
carácter popular y socialista.
Ese proceso de aprobación de normas en beneficio de toda la
población tuvo otro impulso en la década del setenta, cuando Cuba se
inserta en el sistema de estados socialistas entonces existente y comienza
una nueva etapa en el desarrollo socio-económico del país. Se reinicia
en esa década un complejo y continuo proceso de perfeccionamiento,
modernización y sistematización del sistema jurídico cubano.
Ese proceso condujo a la elaboración de un anteproyecto de
constitución en 1975 más ajustado a las nuevas condiciones del país, y
que fue sometido a un proceso de discusión pública donde participaron
más de seis millones de cubanos, los cuales formularon numerosas
propuestas que llevaron a modificar el 60% de los artículos propuestos.
Aplicadas las modificaciones propuestas y convertido en
proyecto de Constitución con carácter socialista, este fue sometido
a un referéndum popular para su aprobación final el 15 de febrero de
1976 en el que participó el 98% de los electores, de los cuales el 97,7%
de los ciudadanos lo hizo afirmativamente; convirtiéndose así en la
norma jurídica de mayor nivel para el país en que se regulan los órganos
con capacidad legislativa, así como los principios y fundamentos del
contenido de las leyes.
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A partir de entonces, el proceso de perfeccionamiento y
modernización del sistema de normas jurídico que tuvo lugar en las
tres últimas décadas del siglo XX, se dirigió a todas las ramas del
Derecho y creó un coherente conjunto de normas que son aplicadas en
la esfera judicial, entre las que se encuentran cronológicamente entre
otras las siguientes:
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tercer quinquenio, el cual se ha puesto de manifiesto con la aprobación
y puesta en vigor de 210 disposiciones legales, la derogación de 618
normas ya obsoletas y la modificación de otras 40 solo entre los años
2012 y 2014 y que aún continúa.
Según Homero Acosta, secretario del Consejo de Estado de
Cuba, las principales disposiciones normativas aprobadas se dividen
en cuatro grupos, a saber: 1) las que responden a las necesidades
de la actualización del modelo económico; 2) las dirigidas al
perfeccionamiento de la Administración del Estado y los experimentos
en los órganos locales en las provincias de Artemisa y Mayabeque, para
el futuro perfeccionamiento de los gobiernos a ese nivel; 3) las relativas
a las transformaciones en la administración de justicia y la labor de
la Fiscalía General de la República; y 4) las referidas a la eliminación
de prohibiciones injustificadas en las condiciones actuales del país4.
También, Acosta declaró que lo anterior forma parte de un proceso, que
producto de una agenda legislativa intensa, culminará en una reforma
de la Constitución Cubana como expresión de los cambios presentes
y futuros requeridos en el país. Ampliando al respecto el secretario
del Consejo de Estado señaló, además, que se analiza la posibilidad de
regular integralmente toda la labor normativa en el país
Aunque se puede afirmar que el país está institucionalizado porque
tenemos más de 700 normas jurídicas vigentes, lo anterior demuestra
como en las condiciones actuales del desarrollo estatal y del sistema
de normas jurídico cubano surgen nuevas necesidades de regulación
legislativa de varias esferas de la vida social, producto de los nuevos tipos
de relaciones socio-económicas y políticas surgidas; las cuales conducen
y darán lugar a amplios e inevitables cambios cualitativos.
4 Citado por Gomes Bugallo, Susana. Cuba busca coherencia y unidad del
ordenamiento jurídico. En: Juventud Rebelde. Año 49, No. 285. 20 de Set.2014, pág.1.
18
La reconfiguración del actual modelo económico – como
subsistema del sistema social cubano – influirá decididamente en
el rediseño de otros subsistemas como el jurídico y se reflejará en el
ordenamiento jurídico del Estado.
19
68 se establece que estos órganos se integran y desarrollan su actividad
sobre la base de los principios de la democracia socialista, la cual
establece que todos los órganos representativos del poder son electivos
y renovables, tienen la obligación de rendir cuenta de su actuación,
y sus representantes pueden ser revocados; las disposiciones de los
órganos estatales superiores son de obligatorio cumplimiento para
los inferiores, los cuales tienen que rendir cuenta de su gestión a los
primeros; asimismo, la libertad de discusión, el ejercicio de la crítica y la
autocrítica y la subordinación de la minoría a la mayoría rigen en todos
los órganos estatales colegiados.
En la organización y funcionamiento de los órganos estatales
quedan expresados en forma manifiesta el principio de la unidad del
poder en que se establece claramente la división de funciones para que
cada órgano estatal pueda siempre, en el marco de sus competencias,
desenvolver su actividad con autonomía e iniciativa.
A diferencia del estado burgués que postula la separación de
poderes, en el sistema de los órganos del estado socialista cubano el
principio de la unidad de poder es un rasgo característico, ya que el
poder se ejerce en función de todo el pueblo y sobre la base de lo regulado
constitucionalmente. En el sistema jurídico del estado socialista cubano
no existen contradicciones entre los diferentes órganos estatales, ni
a nivel de los órganos supremos ni de los locales. Todos los órganos
estatales cubanos tienen autonomía restricta, pues las normas y
disposiciones aprobadas por ellos deben obedecer a los principios de la
Constitución y las leyes establecidas al respecto.
20
del Estado y representa la voluntad soberana de todo el pueblo, y es el
único órgano con potestad constituyente y legislativa en la República.
La Asamblea Nacional del Poder Popular se compone de diputados
elegidos mediante el voto, libre, directo y secreto de los electores por un
término de cinco años, según la Ley Electoral y solo extendible a más
tiempo en caso de guerra u otras circunstancias excepcionales que
impidan la celebración de elecciones.
Al constituirse una nueva legislatura los diputados eligen entre
ellos al Presidente, al Vicepresidente y al Secretario. Igualmente, eligen
a los integrantes del Consejo de Estado, que ejercerá las funciones de la
Asamblea Nacional, cuando esta no esté reunida. Ese Consejo de Estado
estará integrado por un Presidente, un Primer Vicepresidente, cinco
Vicepresidentes, un Secretario y veintitrés miembros más. El Presidente
del Consejo de Estado posee la jerarquía de Jefe de Estado y de Gobierno.
El Consejo de Estado es responsable ante la Asamblea Nacional
del Poder Popular y tiene la obligación de rendirle cuenta de todas
sus actividades.
La Asamblea Nacional, además de sus funciones constitucionales
y legislativas, tiene la potestad de discutir y aprobar los planes de
desarrollo económico y social, así como el presupuesto del Estado;
acordar el sistema monetario y crediticio; aprobar los lineamientos
generales de la política exterior e interior; revocar los decretos-leyes
del Consejo de Estado y los Decretos y disposiciones del Consejo
de Ministros que contradigan la Constitución o las leyes; conceder
amnistías; declarar el estado de guerra en caso de agresión militar al país
y acordar los tratados de paz, entre otras.
En la labor de la Asamblea Nacional del Poder Popular juegan un
importante papel las Comisiones Permanentes de trabajo - conformadas
según diferentes ramas de la producción y los servicios, las cuales se
encargan previamente de preparar el trabajo legislativo a desarrollar y
aprobar por la Asamblea.
21
Los Artículos 82 y 83 de la Constitución Cubana dejan claramente
establecido que la condición de diputado no entraña beneficios
personales ni económicos,, y que estos no recibirán salario por el
desempeño de estas funciones, sino que continuarán recibiendo el sueldo
de su centro de trabajo, manteniendo el vínculo laboral habitual con este.
Aunque los diputados no gozan de privilegios personales diferentes a los
de sus electores, no pueden ser detenidos, ni sometidos a proceso penal
sin autorización de la Asamblea Nacional, o del Consejo de Estado si no
está reunida aquella, salvo en caso de delito flagrante.
Las principales atribuciones del Consejo de Estado como
órgano de poder supremo se regulan en los Artículos 90 al 92 de la
Constitución, allí se establece, entre otras, que puede sustituir a
propuesta de su Presidente a los miembros del Consejo de Ministros
entre uno y otro período de sesiones de la Asamblea del Poder Popular;
impartir instrucciones de carácter general a los tribunales a través
del Consejo de Gobierno del Tribunal Supremo Popular e impartir
también instrucciones a la Fiscalía General de la República; designar y
remover embajadores de Cuba ante otros estados, y otorgar o suspender
beneplácito a los representantes diplomáticos para Cuba de otros países;
así como suspender disposiciones del Consejo de Ministros y de las
Asambleas Locales del Poder Popular que no se ajusten a la Constitución
o las leyes, o afecten intereses generales o de localidades del país.
El Consejo de Estado tiene también la potestad de revocar
los acuerdos y disposiciones de los consejos de administraciones
provinciales y municipales que contravengan la Constitución o las
leyes, o afecten intereses de otras localidades o los generales del país.
El Presidente del Consejo de Estado y Jefe de Gobierno cubano
tiene la atribución de representar al Estado y al Gobierno, y dirigir
su política general; presidir el Consejo de Ministros; desempeñar la
Jefatura Suprema de todas las instituciones armadas, y encabezar el
22
Consejo de Defensa Nacional y otras atribuciones que se le confieren
constitucionalmente.
El Consejo de Ministros, como máximo órgano ejecutivo y
administrativo constituye el Gobierno de la República de Cuba, y
tiene como función principal organizar y dirigir la ejecución de las
actividades políticas, económicas, culturales, científicas, sociales y
de la defensa acordadas por la Asamblea Nacional del Poder Popular;
así como dirigir la administración del Estado y unificar y fiscalizar
la actividad de los organismos de la Administración Central y de las
Administraciones Locales. Tiene, igualmente, la obligación de rendir
cuenta periódicamente de todas sus actividades ante la Asamblea
Nacional del Poder Popular.
Otro órgano estatal de gran importancia para Cuba es el Consejo
de Defensa Nacional, este según el Artículo 101 de la Constitución
Cubana es la institución que se constituye y prepara desde tiempos
de paz para dirigir el país en las condiciones de estado de guerra,
durante la guerra, la movilización general o el estado de emergencia.
Su organización, facultades y funciones están determinadas por la ley.
23
Populares, y actúan en estrecha coordinación con las organizaciones de
masas y sociales.
Las Asambleas Provinciales y municipales, como órganos locales
de poder, están encargados de hacer efectivas en sus respectivas
instancias las leyes y demás disposiciones de los órganos superiores
del Estado. Tienen, además, la atribución de elegir y revocar a sus
respectivos Presidentes y Vicepresidentes, así como designar y sustituir
a sus Secretarios; controlar y fiscalizar la actividad de los Consejos de la
Administración y las entidades que se le subordinan; adoptar acuerdos
y dictar disposiciones, dentro del marco de la Constitución y las leyes
vigentes, sobre asuntos de interés para sus propias instancias; coadyuvar
al desarrollo y cumplimiento de los planes de producción y servicio de
las entidades radicadas en sus respectivos territorios.
Los Presidentes de las Asambleas Provinciales y Municipales son a
la vez presidentes de sus correspondientes Consejos de la Administración
y representan al Estado en sus demarcaciones territoriales.
Los Consejos de Defensa a nivel provincial, municipal y de las
Zonas de Defensa se constituyen y preparan, partiendo de un plan
general de defensa y del papel y responsabilidad que corresponde a los
consejos militares de los ejércitos de las demarcaciones respectivas.
24
6.1 El Ministerio de Justicia
25
La Constitución Cubana en su Artículo 121 establece claramente
que los tribunales constituyen un sistema de órganos estatales,
estructurados con independencia funcional de cualquier otro, y sólo
subordinados jerárquicamente a la Asamblea Nacional del Poder
Popular y a su Consejo de Estado. Esta subordinación –según plantea
Fernando Álvarez Tabío – es de carácter político para reafirmar el
principio socialista de la unidad del poder, representado en esos órganos
superiores del Poder Popular5.
La jurisdicción y competencia de los tribunales se ajusta a la
división político-administrativa del país y a las necesidades de la
función judicial. Por ello están organizados en tres niveles jerárquicos:
los tribunales municipales; los tribunales provinciales y el Tribunal
Supremo Popular, que radica en Ciudad de La Habana, capital del país.
Existen también en Cuba los Tribunales Militares.
Además, deja definido que el Tribunal Supremo Popular ejerce la
máxima autoridad judicial y sus decisiones son definitivas. Su Consejo
de Gobierno ejerce la iniciativa legislativa y la potestad reglamentaria
en materia relativa a la administración de justicia; tomando decisiones,
aprobando normas y dictando instrucciones de obligatorio cumplimiento
para todos los tribunales, a los efectos de establecer una práctica jurídica
uniforme en la interpretación y aplicación de la ley. El Tribunal Supremo
Popular actúa así como un órgano creador de jurisprudencia sobre la
base de la experiencia judicial.
En sus artículos 122 y 126 la Constitución Cubana regula que
los jueces son independientes y obedecen solo a la ley, y que los fallos
y demás resoluciones dictados por los tribunales son de obligatorio
cumplimiento para todos. Se establece, además, que los tribunales
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funcionan de forma colegiada, y los jueces profesionales los legos poseen
iguales derechos.
En Cuba tanto los cargos de jueces profesionales como los
legos son electivos y renovables durante un determinado período de
mandato. Las Asambleas del Poder Popular en sus diferentes instancias
municipal, provincial y nacional, tienen la facultad de su elección
y también la facultad de su revocación de ser necesario, según el
procedimiento establecido.
Los tribunales tienen igualmente la obligación de rendir cuenta
periódicamente sobre los resultados de su trabajo ante sus respectivas
Asambleas del Poder Popular.
De acuerdo con la Constitución Cubana en su Artículo
127, la Fiscalía General de la República es el órgano del Estado al
que corresponde como objetivo fundamental ejercer el control y la
preservación de la legalidad sobre la base de la vigilancia del estricto
cumplimiento de los preceptos constitucionales, las leyes y demás
disposiciones legales por los organismos del Estado, entidades
económicas y sociales y por los ciudadanos y la promoción del ejercicio
de la acción penal pública en representación del Estado.
La Fiscalía General de la República como institución jurídica se
subordina única y directamente solo a la Asamblea Nacional del Poder
Popular y al Consejo de Estado, del cual recibe instrucciones directas.
Los órganos de la Fiscalía están organizados verticalmente en todo el
territorio nacional, subordinándose directamente a la Fiscalía General
de la República, manteniendo independencia total de todos los órganos
locales de gobierno.
La Fiscalía está estructurada en: Fiscalía General de la República.
Fiscalías, Provinciales. Fiscalías Municipales y Fiscalía Militar.
Según el Artículo 129 de la Constitución, el Fiscal General de la
República, así como los vicefiscales generales son elegidos y pueden
27
ser revocados por la Asamblea Nacional del Poder Popular. Los fiscales
provinciales y municipales son designados por el Fiscal General de la
República, según la Ley de Organización del Sistema Judicial.
La Fiscalía General de la República, al igual que otros órganos
de la administración central del estado cubano, tiene la obligación de
rendir cuenta periódicamente de su gestión ante la Asamblea Nacional
del Poder Popular, como estipula en su Artículo 130 la Constitución.
La Comisión de Asuntos Jurídicos y Constitucionales de la
Asamblea Nacional tiene la responsabilidad de analizar previamente
los informes de rendición de cuenta tanto del Tribunal Supremo Popular
como de la Fiscalía General de la República, a esos efectos emitirá los
dictámenes pertinentes para ser evaluados y aprobados con los informes
por el Pleno de la Asamblea Nacional que adoptará posteriormente los
acuerdos correspondientes.
6.3 Las Notarías Estatales y los Bufetes Colectivos como parte del
sistema jurídico
28
para exponer sus alegatos en relación con el derecho que defienden.
La organización cuenta con oficinas a lo largo y ancho de Cuba en una
extensa red de 180 Bufetes y 72 Unidades Territoriales, contando con
una Dirección Provincial en cada una de las provincias cubanas.
29
7. Conclusiones
Bibliografía
30
La organización jurídica
del Estado cubano en relación al urbanismo
31
El diseño de organización de la Administración Pública debe
ser flexible para poder responder a los constantes cambios que
pudieran requerirse y su eficaz acción está condicionada por una
adecuada estructuración.
El objetivo de la actividad organizadora de la Administración, y
del Estado en general, se dirige a racionalizar el número, ordenación y
cometido de sus estructuras, entendiéndose en todos los niveles, o sea,
ministerios, organismos centrales, entidades y unidades administrativas;
adecuar sus estructuras a sus criterios de planificación, programación,
coordinación y cooperación, la disminución de las plantillas, y la
adopción de estructuras para las instituciones estatales provistas de
la mayor sencillez y flexibilidad posible, para el logro de la máxima
eficiencia en su gestión.3
La organización administrativa en Cuba ha estado matizada
en los últimos años por profundas transformaciones que responden
precisamente a los necesarios cambios para perfeccionar el modelo
económico y social, los que han tenido mayor relevancia a partir de la
política aprobada luego de la celebración del Sexto Congreso del Partido
Comunista de Cuba.
El Consejo de Ministros y los organismos de la Administración
Central del Estado –Ministerios o Institutos- son los encargados en
el ejercicio de su actividad ejecutiva y administrativa, de rectorar las
distintas ramas, sub- ramas o actividades de la gestión estatal en el país.
Específicamente, respecto a la gestión administrativa en el
urbanismo intervienen varios organismos de la Administración Central
del Estado y otros órganos de las localidades entre los que se destacan
el Ministerio de la Construcción, el Instituto de Planificación Física y
32
el Ministerio de Ciencia Tecnología y Medio Ambiente; así como sus
respectivas direcciones o delegaciones en los territorios dirigidas por las
Administraciones locales. Las tareas que corresponden a estas entidades
resultan muy complejas por la diversidad de sectores que incluyen y por
la dinámica que los caracteriza; pero por la trascendencia que tienen para
la colectividad, deben actuar con un enfoque holístico.
Una de las más recientes modificaciones en la estructura orgánica
relacionada con el urbanismo en Cuba tuvo lugar con la promulgación
del Decreto-Ley 322 de 2014, modificativo de la Ley No. 65, de 23 de
diciembre de 1988, “Ley General de la Vivienda”, por el que las funciones
y facultades que correspondían al Instituto Nacional de la Vivienda
y su Presidente son asumidas por el Ministerio de la Construcción
y su Ministro, respectivamente. En Cuba este es el Organismo de la
Administración Central del Estado encargado de dirigir y controlar la
aplicación de la política estatal y del Gobierno en cuanto a la Vivienda.
33
de la división Político-Administrativa de 1976, el Instituto pasa a
la Junta Central de Planificación, hoy Ministerio de Economía y
Planificación, y se crean 14 Direcciones Provinciales de Planificación
Física subordinadas administrativamente a los Órganos Provinciales
del Poder Popular. En el perfeccionamiento de esta actividad en el
país, especialmente en las temáticas de las ciudades se crean en 1985
las Direcciones de Arquitectura y Urbanismo (DAU) con funciones de
control e información territorial, subordinadas administrativamente a
los Órganos Municipales del Poder Popular, y se conforma el Sistema de
la Planificación Física con el Instituto como organización rectora. Es en
1999 cuando se crean las Direcciones Municipales de Planificación Física
(DMPF) en lugar de las DAU, a partir del Acuerdo Nº 3435 del Comité
Ejecutivo del Consejo de Ministros, las que asumen nuevas funciones de
planeamiento y gestión que se descentralizan desde el nivel provincial
para consolidar la integración del Sistema de la Planificación Física.
A partir del año 2009 el Instituto se reconoce como Organismo de
la Administración Central, con el Acuerdo No. 6686 del Consejo de
Ministros al traspasarse a la subordinación de este Órgano de Gobierno.
El Instituto de Planificación Física (IPF) tiene como funciones
principales5:
• Dirigir la aplicación de políticas territoriales y urbanas
referidas al uso y destino del suelo y de las edificaciones; la
localización de inversiones; la organización territorial del
Sistema de Asentamientos Humanos; la estructura físico-
espacial de estos y los vínculos con sus áreas de influencia;
el diseño urbano y el paisajismo asociados a la imagen de las
zonas rurales y urbanas; y el catastro nacional.
34
• Elaborar y proponer al Consejo de Ministros el esquema y
plan nacional de ordenamiento territorial, los esquemas y
planes especiales de ordenamiento territorial de actividades
productivas y no productivas, cuencas hidrográficas, macizos
montañosos, territorios costeros, regiones turísticas, zonas
con regulaciones especiales, infraestructuras técnicas, los que
rebasen el marco provincial y otros por decisión estatal, previa
conciliación con los organismos y entidades correspondientes.
• Integrar los planes generales de ordenamiento territorial y
urbanismo a nivel nacional, provincial y municipal, con las
proyecciones a mediano y largo plazos de la economía y con
su plan de inversiones.
• Establecer las prioridades y asesorar, revisar y aprobar
técnicamente los esquemas y planes de ordenamiento
territorial y urbanismo de las regiones, provincias, municipios,
ciudades, asentamientos, zonas con regulaciones especiales y
otros, en estrecha coordinación con los organismos y entidades
correspondientes.
• Ejercer el papel rector en el enfrentamiento a las ilegalidades
en materia de ordenamiento territorial y urbanismo, y demás
actividades en el ámbito de su competencia; ejecutar o disponer
con ese fin la inspección estatal en todo el territorio nacional y
dictar las normas y procedimientos para su ejecución en todos
los niveles.
• Elaborar, dictar, proponer, aplicar y controlar la legislación en
materia de ordenamiento territorial, urbanismo y catastro, así
como los instrumentos metodológicos, técnicos y normativos,
según corresponda.
• Establecer y controlar las normas para el mejor funcionamiento
de los asentamientos urbanos y rurales.
35
• Elaborar y proponer, con la participación de los órganos,
organismos y entidades correspondientes, los estudios
territoriales para el perfeccionamiento de la División Político-
Administrativa.
• Elaborar, aprobar y controlar los procedimientos para
el otorgamiento de certificados de macrolocalización,
microlocalización, licencias de construcción, autorizaciones
y certificados de habitable-utilizable.
• Confeccionar los certificados de macrolocalización y
aprobar técnicamente los certificados de microlocalización
de inversiones de interés nacional, previa consulta con los
organismos y entidades correspondientes.
• Elaborar y aprobar las normas y procedimientos sobre la
asignación de terrenos estatales a las personas naturales que
los soliciten para construir viviendas, según las prioridades
que establezca el Estado; el otorgamiento, cobro y cancelación
del derecho perpetuo de superficie y las reclamaciones de
derecho que de ello se deriven.
• Elaborar y aprobar las normas y procedimientos sobre
los dictámenes técnicos para la descripción y tasación de
viviendas, la certificación de medidas y linderos, la certificación
catastral, el traspaso de solares yermos y azoteas, así como el
ejercicio del derecho de tanteo a favor del Estado.
• Diseñar, dirigir y controlar el Sistema de Información de
la Planificación Física y su vinculación con el Sistema de
Información del Gobierno, mediante el uso de las tecnologías
de la informática y las comunicaciones.
• Establecer las políticas para el Sistema de la Planificación Física
en materia de desarrollo científico-técnico, comunicación
institucional, capacitación, colaboración internacional y
36
perfeccionamiento institucional, y realizar investigaciones
científicas sobre problemáticas asociadas al ordenamiento
territorial, el urbanismo y el catastro.
• Organizar e impartir cursos de postgrado, habilitación,
seminarios y conferencias en temas relacionados con el
ordenamiento territorial, el urbanismo y el catastro, en
coordinación con el Ministerio de Educación y el Ministerio
de Educación Superior y sus instituciones en el país.
• Representar al país ante los organismos internacionales y
en los eventos que corresponda en materia de ordenamiento
territorial, urbanismo, asentamientos humanos, hábitat
y catastro.
37
establece un conjunto de funciones que son competencia del IPF que
hasta ese momento correspondían a otros organismos, como el extinto
Instituto Nacional de la Vivienda.
No obstante lo que se ha hecho resulta aún insuficiente, pues
anteceden décadas de indisciplinas e ilegalidades en la población
en torno a la planificación física y el urbanismo, lo que unido a la
deficiente gestión estatal evidencia lo complejo del asunto y el gran
reto del Instituto.
38
la población que habita un espacio urbano del territorio nacional y
las actividades y servicios que en dicho espacio se realizan. Por su
complejidad, la ordenación urbanística implica la actuación coordinada
de los factores del proceso urbano y de los componentes del sistema
jurídico- institucional.
Así, a continuación se exponen las principales legislaciones que
en el ordenamiento jurídico cubano regulan la temática del Hábitat en
los espacios urbanos:
La Constitución de la República de Cuba no contiene precepto
específico referente al urbanismo, pero en su articulado se incluyen
disposiciones que promueven el desarrollo económico y social sostenible
y el deber del estado de satisfacer las necesidades de la colectividad lo
que está en concordancia con los objetivos del urbanismo.6
La Ley 81, Ley del Medio Ambiente, tiene como objeto establecer
los principios que rigen la política ambiental y las normas básicas
para regular la gestión ambiental del Estado, así como las acciones
de los ciudadanos y la sociedad en general, a fin de proteger el medio
39
ambiente y contribuir a alcanzar los objetivos del desarrollo sostenible
del país. La gestión ambiental adquiere gran importancia en el contexto
urbano en el que se requieren acciones que contribuyan al desarrollo
pleno de los habitantes de un territorio determinado; valorando los
factores ambientales y encauzando las actividades humanas mediante
la actuación sobre el comportamiento de los actores implicados
para conseguir los objetivos planteados, evitando la duplicidad de
funciones, los conflictos de competencia, los vacíos en la acción, y
optimizando así los recursos disponibles. En ella deben participar de
modo coordinado, los órganos y organismos estatales, otras entidades
e instituciones, y los ciudadanos en general, de acuerdo con sus
respectivas competencias y capacidades.
Otra legislación importante en el urbanismo es el Decreto Nº 21,
Reglamento sobre la Planificación Física, de 28 de febrero de 1978, el que regula
las particularidades de diversos planes en relación con la planificación
física y específicamente sobre los planes urbanos. Especial mención
merece el artículo 29 de esta norma que establece que las propuestas de
planes directores urbanos serán objeto de conocimiento por la población
propia de las ciudades y pueblos a los cuales los mismos van dirigidos;
y que el proceso de elaboración y ejecución de las propuestas de planes
directores urbanos se hará conforme a una metodología y calendario
que propicien la participación activa y consciente de la población en
dicho proceso. Una de las fortalezas de los últimos años en Cuba está en
que se ha logrado el trabajo consciente de los organismos involucrados
en cada ciudad del país en la elaboración y ejecución de los planes de
desarrollo urbano, pero entre las principales deficiencias que se presenta
se encuentra la falta de coordinación de estos organismos y la escasa
participación ciudadana, tanto en la elaboración como en la ejecución.
En cuanto al régimen contravencional se pueden citar varias
legislaciones vigentes que se relacionan con el hábitat en las ciudades
40
pero se destaca el Decreto 272 de 20 de febrero de 2001, Contravenciones en
materia de Ordenamiento Territorial y Urbanismo, el que constituye un aporte
considerable en la ordenación del territorio en Cuba; pero se necesita
aún de mayor exigencia en la aplicación de sus disposiciones, pues sus
preceptos son violados con frecuencia y hay una total impunidad para el
infractor; o también sucede que se comete la contravención a sabiendas
de las consecuencias; pero estas son más convenientes para el infractor
que el hecho de no cometerla.
Otras legislaciones importantes en este tema son:
El Decreto 141 de 1988 Contravenciones del orden interior;
Decreto- Ley 138 de 1993, De las aguas terrestres;
Decreto 211 de 1996 Contravenciones de las Regulaciones para los
Servicios de Acueducto y Alcantarillado; y
Decreto- Ley 200 de 1999, De Las Contravenciones en Materia de Medio
Ambiente.
Luego de analizada la organización estatal en torno al urbanismo
en Cuba, así como el conjunto de normas que lo regulan y sustentan,
se demuestra el interés del estado en lograr una gestión adecuada del
hábitat en la ciudades, no obstante, esto es solo el punto de partida, pues
este asunto mucho depende de la acción de la población y de la sociedad
en general, cuestión esta en la que queda mucho por andar en Cuba.
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disponible en CD del Curso a distancia de Derecho Ambiental Internacional
Contemporáneo. La Habana.
42
Política, Estado e Democracia no Brasil:
olhares sobre um país multiétnico
1. Introdução
43
os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em
terras indígenas (art. 231, §3º, da CF). De igual forma, apresenta-se um
sentido substantivo democrático ao processo público de participação
em um país multiétnico e evita-se que ele seja utilizado como um
instrumento de mera legitimação processual e decisória.
A história da violência colonizadora ainda infligida aos povos
indígenas no Brasil justifica o recorte temático assumido no ensaio.
Radicalizar o processo democrático, por meio da participação plena
desses povos na tomada de decisão estatal em projetos de grande
impacto social (megaobras), respeitadas suas peculiaridades culturais,
acaba sinalizando e apresentando-se como uma métrica para todos os
grupos sociais de garantia da efetivação do texto constitucional de base
liberal e igualitária.
44
década de 1970 sinais de esgotamento, que abriria espaço nos anos 80
para uma agenda política de restrição de direitos sociais à população,
denominada neoliberal.
Anacronicamente o passado-presente-futuro são interligados
no Brasil na constituinte de 1987-88 e o texto constitucional publicado
acaba assegurando um regime democrático, que prescreve uma série
de direitos sociais com base na liberdade e igualdade. O “dever-ser”
garantido projeta um país que não encontra referência na realidade
nacional. Os elementos centrais do estado democrático e social
apresentavam indicadores extremamente baixos, sendo a ausência de
políticas públicas concretas de distribuição de renda e transformação
social os principais motivos.
São novas prescrições jurídicas e realidades sociais antigas
que se confrontavam, cabendo às instituições e às forças políticas
nacionais imprimirem esforços para deslocar os fatos marcados pelo
autoritarismo e a colonialidade 3 para um momento democrático
liberal-igualitário.4
O diálogo entre o Estado e a sociedade é um fundamento da nova
ordem constitucional e instrumento central nesse processo de transição
e efetivação das prescrições constitucionais para a transformação do
país. Robert Dahl afirma que o direito à contestação pública por parte
dos cidadãos e a possibilidade de participação social no processo
45
decisório estatal marcam o estágio da democracia política nacional.5
Diferentes mecanismos institucionais, além da eleição, podem assegurar
a contestação e a participação, como os conselhos de políticas públicas,
as conferências de políticas públicas, as ouvidorias, as mesas de diálogos,
os fóruns interconselhos, as consultas públicas, as reuniões públicas e
as audiências públicas.
A construção de um diálogo democrático no Brasil, que assegure
a efetiva participação dos cidadãos, é mais difícil e complexa que a de
um regime constitucional democrático na sociedade europeia. No Brasil
são 305 etnias, que falam 274 línguas distintas6, com culturas próprias,
absolutamente distintas da europeia, que têm tempos, espaços de
percepção da realidade e desejos distintos e, em muitos casos, conflitantes.
Como todos os outros países das Américas – até recentemente –
o Brasil não reconhecia aos indígenas a plena cidadania e, portanto, a
participação nas decisões políticas, de forma coletiva ou individualmente7.
A legislação nacional, incluindo as antigas Constituições, não dava
nenhuma visibilidade política e mantinha os povos indígenas à margem
46
da sociedade nacional, não reconhecendo sua existência coletiva e só
reconhecia ao indivíduo a plena cidadania quando este deixava de ser
índio e se integrava na sociedade branca, dita “civilizada”.
Dois fatores contribuíram para a construção histórica desse
regime jurídico. O primeiro, a forma Estado concebida pela modernidade
europeia, que pressupunha a existência de um poder soberano exclusivo,
sob um território determinado e sob uma população de indivíduos
que partilha supostamente os mesmos símbolos e valores nacionais. O
segundo, o arraigado pensamento colonial, que não se encerra com a
independência e permanece no imaginário cultural de uma sociedade
cuja elite se vê como um europeu de segunda classe, mas superior
aos pobres, aos índios e aos negros. O silêncio colonial dos antigos
marcos normativos ignorava, assim, uma característica estruturante da
sociedade brasileira: sua diversidade étnica e cultural.
Essa realidade multiétnica foi constitucionalmente reconhecida,
assegurada e resguardada pela Constituição de 1988 (art. 231 e 232 da
CF), que deu visibilidade aos povos indígenas como sujeitos coletivos,
encerrando a longa política integracionista que vinha do Brasil colônia;
reconheceu aos indivíduos indígenas o direito de continuar a serem
índios, ou seja, a possibilidade de serem cidadãos plenos sem deixarem
as características de sua etnia; garantiu a proteção da cultura material
e imaterial dos povos; e, o mais importante para a continuidade da
existência desses povos, criou mecanismos jurídicos e institucionais
para proteção dos seus territórios.
Todavia, a forma de reconhecimento e proteção constitucional
encontra limites intrínsecos e extrínsecos que dificultam e, em alguns
casos, impossibilitam a efetivação da plena cidadania dos povos
indígenas. Os pressupostos da forma Estado, da modernidade europeia,
ainda restam presentes na Constituição de 1988: o poder soberano é
estatal, o território é nacional e o imaginário e os valores culturais (entre
47
elas os da cultura jurídica) são os da sociedade europeizada, mesmo que
sob o véu da universalidade.
O fim da invisibilidade, dessa maneira, assume a forma de um
“reconhecimento em conflito” 8. Observe-se que são garantidos os
direitos culturais, as línguas e tradições indígenas, mas o idioma oficial é
o português, os feriados são católicos e o direito é o estatal; os territórios
são propriedade da união e de posse dos povos, mas rivalizam essa posse
com outros usos de interesse nacional, como segurança e exploração
de riquezas e energia; a própria identidade indígena é submetida a um
limite que lhe é culturalmente externo, o da nacionalidade brasileira9.
É nesse quadro de conflito pela efetivação dos direitos que os
mecanismos institucionais de participação devem ser utilizados pela
administração pública no diálogo com a sociedade10, em especial, nas
ações de planejamento e execução de políticas públicas ligadas aos
projetos de infraestrutura como a construção de hidrelétricas, ferrovias,
rodovias, portos, aeroportos etc. O impacto das megaobras para a
população apresenta uma infinidade de externalidades e as decisões
estatais necessitam da legitimação social para serem consideradas
plenamente democráticas.
48
3. Igualdade, participação e democracia
49
consideradas sem discriminação decorrentes do conteúdo ou da fonte
da preferência.”14
As oportunidades plenas – entendidas como o que eu posso
fazer plenamente –15 dão um significante e um significado às diversas
formas de participação social na condução dos processos decisórios
sobre políticas públicas nacionais, com destaque ao objeto do ensaio,
àquelas relativas ao aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os
potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em
terras indígenas.
A participação deve garantir condições para que os cidadãos
identificados com a temática a ser debatida tenham assegurada a
possibilidade de elaborar e de expressar as suas preferências de forma
livre e em igualdade de condições. Essa garantia está prevista na
Constituição Federal do Brasil (art. 5º e 231 § 3º da CF) e reforça a ideia
de participação social na tomada de decisão sobre as políticas públicas
governamentais.
Elaborar e expressar as suas preferências exige: (a) que a
participação dos indivíduos e dos grupos interessados seja representativa;
(b) que todos tenham acesso prévio a todos os elementos que serão
discutidos na esfera pública; (c) que todos tenham garantido apoio
técnico para realizar a análise e a reflexão sobre o tema; (d) que todos
tenham espaço e tempo adequado para expressar a sua preferência; (e)
que o conteúdo dito seja considerado na ação das instituições políticas.16
50
O governo que desconsiderar os cinco pontos mencionados
estará – consciente ou inconscientemente – restringindo a participação
real dos cidadãos e viciando o processo democrático. Em outras palavras,
o governo não estará sendo responsivo às preferências dos cidadãos, as
oportunidades não serão plenas e o ideal de democracia estará maculado.
A democracia exige participação substancial, a qual têm um sentido de
prescrição de ação que exige a observância dessa orientação.
51
ausência ou simulação macular o conceito de democracia. Interessante
destacar que a própria Convenção fixa a necessidade de a administração
estabelecer meios para que os povos possam participar livremente das
decisões que lhes afetem direta ou indiretamente (art. 6, 1, b, Convenção
n.º 169 da OIT).
As possibilidades de participação social são inúmeras e em
diferentes circunstâncias, que podem ter um impacto significativo na
vida dos povos ou simplesmente criar, modificar ou extinguir uma ação
estatal de menor relevância. Importante é definir as medidas que afetam
diretamente os povos e que ensejam necessariamente a sua consulta.
Um dos filtros a ser utilizado foi definido pela Constituição
Federal no tocante aos recursos hídricos e minerais. Qualquer ação
relativa ao aproveitamento de ambos os recursos nos seus territórios
enseja a consulta aos povos, pois se tratam de medidas com alto impacto
direto e só podem ser executadas com megaobras.
Como mencionado anteriormente, distintos mecanismos
democráticos são disponibilizados nacionalmente para garantir
uma consulta consistente, de boa-fé e de maneira apropriada ao que
vai ser debatido, tendo como objetivo a possibilidade de um acordo
ou consentimento.
Entre os distintos mecanismos, as audiências públicas têm um
sentido normativo ao prescrever uma conduta ao governo relacionado à
efetiva participação social. São espaços que possibilitam a materialização
da orientação constitucional sobre democracia participativa e que
constituem e fundamentam o Brasil (art. 1º da CF).
As regulações sobre o tema são difusas e pontuais, apesar de
serem utilizadas nas três esferas da administração (União, Estados e
Municípios) cotidianamente. É possível identificar dispositivos sobre
as audiências em diferentes normas como na Lei n.º 9.784, de 29 de
janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, na Lei n.º 8.666, de 21 de junho de
52
1993, que institui normas para licitações, na Resolução n.º 009, de 3 de
dezembro de 1987, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que dispõe
sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação do impacto
ambiental, na Lei n.º 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre
a concessão e permissão de serviço público, na Lei n.º 9.427, de 26 de
dezembro de 1996, que disciplina o regime das concessões de serviços
públicos de energia elétrica, na Lei n.º 10.257, de 10 de julho de 2001, que
define a política urbana, na Lei n.º 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, que
institui a Lei Orgânica do Ministério Público.
A pulverização de normas que dispõem sobre audiências públicas
para temas diversos que passam por áreas do conhecimento jurídico
distintas (constitucional, administrativo, ambiental, energético etc.)
evidencia a ausência de uma regulação universal que, por um lado,
apresente parâmetros mínimos orientadores do conteúdo e dos
procedimentos a serem adotados em todas as fases do evento; por outro,
vincule a ação do governo na realização da audiência e na garantia da
participação social.
A prática autoritária é utilizada de forma corrente para legitimar
procedimentos que fundamentam decisões governamentais pela aparente
publicização das informações. Todavia, os encontros carecem de efetiva
participação social, que é garantida e exigida constitucionalmente. A
construção da Usina de Belo Monte, no Estado do Pará, foi judicializada
pelo Ministério Público Federal – MPF18, pois, no entendimento do
53
órgão, na construção da megaobra de infraestrutura energética nacional
ocorreu o “cerceamento do direito de participação da sociedade
civil e da violação do direito à informação, bem como cerceamento
das prerrogativas institucionais do Ministério Público, além das
irregularidades decorrentes do Regimento Interno das audiências
públicas.”19
As limitações apresentadas pelo MPF se deram pela inobservância
do governo de disponibilizar o estudo de impacto ambiental em prazo
hábil para análise – o documento foi publicizado apenas nove dias antes
da audiência – e o número de encontros realizados desconsiderou todas
as cidades e localidades a serem impactadas pela obra, ou seja, inúmeros
interessados não tiveram acesso às audiências para elaborar e expressar
suas preferências.
Os impactos que a obra irá produzir não podem ser
desconsiderados e os interessados devem ter oportunidades plenas de
participar do processo decisório. As informações apresentadas pelo
MPF na ação apontam “que a obra afetará direta e indiretamente 66
municípios e 11 terras indígenas, atingindo, apenas na cidade de Altamira
20 mil pessoas, que terão que sair de suas casas, e ao longo do curso, o
rio Xingu terá 100 quilômetros de extensão drasticamente alterados”.20
Os fatos apresentados pelo MPF na ação civil pública ensejaram o
deferimento de medida liminar em favor das comunidades interessadas.
54
É relevante ler a reflexão do Juiz Federal da Subseção de Altamira,
Edison Moreira Grillo Júnior, que afirma que a
55
Garantir aos cidadãos que serão atingidos a possibilidade de
elaborar e de expressar suas preferências nas audiências públicas é
primordial e condição de efetivação dos princípios fundamentais do
Estado Democrático brasileiro (artigos 1º ao 4º da CF/1988). É uma
condição e uma relação de troca de conhecimento, experiências e
sentimentos. Não é uma ação unilateral de transferência de informações
por parte do Estado com fins “ritualísticos”. Do contrário, esses
encontros, ao invés de audiências públicas, são, nos dizeres de Agustín
Gordillo, públicas audiências ou sessões públicas. As diferenças são
estruturantes e merecem a devida atenção para que se garantam a
contestação pública e a participação social.
56
A definição do que é audiência pública comporta valores
principiológicos que evitam a realização de encontros pelo governo
sem a possibilidade de contestação pública e participação social,
que teriam apenas o condão de legitimar ações que garantam, por
exemplo, a construção de uma megaobra. As prescrições delineadas
para as audiências públicas por Gordillo dialogam com os princípios
constitucionais da igualdade, legalidade e publicidade, fato que merece
uma análise específica.
57
lidar com a ideia de desenvolvimento, produção, espaço e tempo de vida
para podermos demarcar e refletir sobre as diferenças e as dificuldades
de um diálogo efetivo entre Estado nacional e povos indígenas.
Até o final da Idade Média a concepção do tempo na Europa
tinha uma característica muito própria, de certa forma tratava-se de um
tempo cíclico, em que passado, presente e futuro não guardavam muitas
distinções. Era aberto e disponível para a ação e para as iniciativas de
liberdade, mas não sobre um futuro aberto e sim, sobre um futuro em
que os acontecimentos não se modificavam essencialmente em relação
aos do presente e do passado.24 Para essa cristandade, orientada por um
pensamento escatológico, o futuro e seu horizonte eram marcados pelo
final dos tempos, e a expectativa de um futuro efetivamente diferente
era remetida para uma vida além da terrena.25
A percepção deste tempo cíclico, do horizonte escatológico e das
previsões do fim do mundo, que eram elementos de integração da Igreja
Católica, dão lugar, com o fim das guerras civis religiosas e a ascensão
dos Estados absolutos, ao cálculo político e à contenção humanista26
que vão afastar as expectativas do fim dos tempos e um novo horizonte
vai se abrir para o futuro. O passado como exemplo magistral é afastado
58
e uma nova temporalização da história é construída na medida em que
se forja o conceito de “novo tempo”,27 como um novo período histórico
que se estaria a viver desde o século XVIII.
É então nesse período que surge a ideia de progresso, com
a elaboração da concepção de um futuro propriamente inédito,
misturando prognósticos racionais e outros salvacionistas, em uma
ousada combinação de política e profecia. Para Koselleck, o progresso
“descortina um futuro capaz de ultrapassar o espaço do tempo e da
experiência tradicional, natural e prognosticável, o qual, por força de
sua dinâmica provoca por sua vez novos prognósticos, transnaturais
e de longo prazo”28. Para o historiador, é dessa maneira que o futuro
passa a ser caracterizado por dois momentos: pela aceleração e por seu
caráter desconhecido.
Esse novo conceito vem à tona quando se procurou reunir as
experiências dos três séculos antecedentes, fundamentalmente
no âmbito das inovações técnicas, o que constituiu a ideia de um
progresso único e universal. As várias experiências de progresso
localizadas e setoriais que modificavam cada vez mais o cotidiano
da vida, eram experimentadas de maneiras diferentes conforme a
localidade, e todas essas experiências remetiam “à contemporaneidade
do não-contemporâneo, ou inversamente, ao não-contemporâneo no
contemporâneo”29. O que possibilitou uma nova configuração social e
59
política em que o progresso servia de balança para experiências afetadas,
nessa perspectiva, por um coeficiente de variação temporal. A diferença
entre grupos, ou países, ou classes sociais poderia ser medida por essa
balança, em que cada elemento poderia ter consciência de estar à frente
ou atrás dos outros. Uma corrida se iniciava, e uns então procuravam
alcançar os outros e ultrapassá-los.30
O progresso científico e técnico-industrial foi aí um elemento-chave.
Os grupos, as classes e os países dotados de uma superior capacidade
técnica olhavam de cima para baixo o grau de desenvolvimento dos
outros povos. Aqueles que se julgavam com um nível superior entendiam
ter o direito de dirigir esses povos considerados atrasados.31 Uma lógica
de dominação, mas, muito mais que isso, uma lógica de distanciamento
da experiência como organizadora do futuro. Lógica que lança tudo e
todos em direção a uma busca ilimitada por esse futuro vislumbrado
como progresso.
Esse processo de aceleração do tempo e a corrida pelo progresso
são impulsionadas por aquilo que alguns pesquisadores denominam
virada cibernética. Catherine Walbdy32, uma das primeiras a usar essa
expressão, denomina virada cibernética, como uma guinada que operou
60
uma mudança na lógica da técnica, que passa a ter como elemento
central a informação e, com isso, mudou os rumos da aceleração ao
propiciar um rearanjo na aliança estabelecidade nos primórdios da
modernidade entre o capital, a ciência e a tecnologia, e colocou a
tecnociência como o motor de uma acumulação com a pretensão de
abarcar todo o mundo existente.33
O espaço do poder político não fica alheio a essas transformações,
pois percebe que ele é ocupado por quem tem mais força para definir
do ritmo das diferentes temporalidades e é, nesse sentido, que uma
nova forma de disputa aparece, a qual Paul Virilio vai dar o nome de
cronopolítica.34 Nesse novo jogo político o que se disputa é a velocidade,
é a definição do poder por aquele que consegue ir mais rápido.
Deixamos a disputa pelo espaço da geopolítica e entramos na disputa
do espaço-tempo da cronopolítica. Numa lógica de exclusão-inclusão,
esperança-desesperança, desenvolvimento-subdesenvolvimento, em
que tudo passa pela capacidade de os indivíduos, povos e Estados
serem mais ou menos rápidos.35
Essa lógica de aceleração tecnológica e econômica – imprimida de
forma diferente pelos países no jogo da geopolítica e da econômica política
mundial – é o elemento propulsor das decisões estatais em avançar sobre
os territórios indígenas com seus megaempreendimentos. É a partir
dessa lógica que se constroem os argumentos da imprescindibilidade
e inevitabilidades dos empreendimentos, da necessidade inexorável de
apropriação e dominação dos espaços, ao mesmo tempo em que todo o
61
processo de participação social se afigura como entrave no giro veloz
que a engrenagem deveria ter.
Entre os cidadãos que partilham valores culturais nacionais, a
democracia é inadequada para a decisão da cronopolítica. O desajuste
ocorre exatamente porque o tempo dos cidadãos plenos para elaborarem
a expressarem as suas preferências – como dito no tópico três – é maior
que o tempo decorrente do processo de aceleração da engrenagem da
cronopolítica. Agrava-se – com restrição ou eliminação – a participação
dos povos indígenas, que sequer partilham desse processo histórico de
construção cultural que estabeleceu sentidos muito específicos para a
ideia de progresso, desenvolvimento, tempo de vida etc.
Não cabe aqui fazer essa análise do tempo de cada povo, o
que aliás é impossível, pois cada etnia tem sua própria concepção de
espaço, tempo de vida, de relação entre passado, presente e futuro. Cada
povo constrói sua imagem e seu imaginário de mundo a partir de sua
cosmologia, de sua história e de seus mitos, muitos deles ainda vivos.
Porém é possível afirmar que aceleração e progresso são conceitos por
vezes desconhecidos, em outros casos conhecidos, mas indesejados.
O tempo é o tempo da natureza, dos ciclos naturais, dos ciclos sociais
também, mas não o tempo do progresso técnico e econômico, muito
menos da aceleração pós-virada cibernética.
O diálogo político, para ser efetivamente democrático, deve passar
por aí, pela aceitação da impossibilidade da universalidade cultural do
tempo e do progresso. É que, de regra, o universal é somente um relativo
que arrogantemente tomou para si o direito de intitular-se universal.
A democracia, especificamente os mecanismos de participação
social, em um país multiétnico como o Brasil deve considerar dois
aspectos a respeito da concepção de temporalidade: que os tempos
são diferentes, inclusive o tempo para as decisões; e que o valor sobre o
tempo também o é.
62
6. Considerações finais
63
Ambos os pluralismos podem aprofundar o ideal democrático de
cidadania plena, com o reconhecimento da autonomia dos povos sobre
seus territórios e seus destinos, na expressão usada pela antropóloga
Rita Segato: que cada povo trame os fios da sua história.36
Referências
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66
Estrategia de desarrollo en Cuba: el
financiamiento del desarrollo local en la
actualización del modelo cubano
1. Introducción
67
planificación y estructuración del desarrollo sobre todo socioeconómico
y fundamentalmente en países subdesarrollados. De tal manera los países
subdesarrollados se han visto en la necesidad de elaborar una estrategia
de desarrollo y políticas sociales que guíen el camino permitiéndole salir
del estado existente y posibilitando que la población tenga satisfechas
en gran medida sus necesidades básicas.
La estrategia de desarrollo económico y social de Cuba después
de 1959 pasado estuvo inspirada en el Programa del Moncada,
indisolublemente ligada a la solución de los problemas identificados en
el mismo y las líneas a optar. La primacía se fijó en el desenvolvimiento
de la economía del país y su efecto social en las condiciones del proyecto
de construcción socialista propuesto y en correspondencia a reconocer
el entorno externo y las condiciones macro-económicas, en que se
desenvolvía la vida económica y social del país en dicho contexto histórico.
La política socioeconómica se convierte en la forma concreta
que adopta la estrategia. La misma constituye un conjunto de medidas
y acciones adoptadas por el Estado en las distintas dimensiones:
económicas, sociales, ambientales, científico-técnicas, culturales
y jurídicas. En la actualidad estas políticas constituyen parte de las
políticas públicas al ser el Estado el órgano que las crea y las regula.
Son consideradas también como “el conjunto más o menos coherente
de principios y acciones gestionadas por el Estado, que determinan la
distribución y el control social del bienestar de una población por vía
política” (Herrera, M. y Castón, P., 2003).
Las políticas sociales son un subconjunto de las políticas públicas.
En esencia, ellas van dirigidas a perfeccionar las condiciones de vida de la
población y en especial de los grupos más vulnerables de la sociedad. El
eje central de las mismas es la satisfacción de las necesidades materiales
y espirituales de los miembros de la sociedad, por lo que a lo largo de la
historia las políticas sociales ha estados dirigidas sobre todo a revertir
la pobreza (Valdes Paz, J. y Espina M., 2011: 13-14).
68
Las políticas sociales están determinadas por cómo se conciben
y qué fines persiguen, por el modelo socioeconómico en el que
se encuentran, por la parte del gasto público que se destina a ellas,
por la prioridad social que tienen, por los gestores y beneficiarios y
especialmente por sus mecanismos de ejecución. Aclarar además, que
el tipo de beneficiario y receptor no influye en la forma en que recibirán
los bienes, pero sí debe quedar clara la necesidad de un mecanismo que
permita su implementación en la práctica (Valdes Paz, J. y Espina M.,
2011: 13-14).
Un acercamiento a tal propuesta, impone identificar de forma
concisa las ideas que la precedieron y permita clarificar, ¿qué entender
por desarrollo económico y cual sería el deseado para el proyecto social
propuesto? Si consideramos los fines generales, se deseaba un desarrollo
económico nacional, mediante el crecimiento sostenido y persistente
del país y la elevación del consumo del conjunto de la población para
erradicar los niveles de pobreza acumulados en los sectores más
desprotegido de la sociedad cubana hasta ese momento histórico. Se
trababa pues de dinamizar los recursos materiales, los recursos humanos,
financieros y socio-culturales existentes y que estos se combinaran de
forma óptimas para el logro de un sistema de protección social que
irradiaría todos los segmentos de población distribuida en nuestro
espacio geográfico. Tal disposición constituía el hilo conductor en
la política económica y social definida desde el ideal de la máxima
dirección política en el poder.
69
y políticos. En el orden económico, se reconocía por pensadores
económicos (Colectivo de autores, 2008: pp. 119-197) desde la década del
50 del siglo, de una insuficiencia en la estructura económica existente en
el periodo y de la incapacidad de su pivote central, es decir, la industria
azucarera como generadora de la masa de recursos financieros para
alcanzar objetivos tales como garantizar el empleo de una población
creciente y elevar su nivel de vida. Ello estaría sustentado por políticas
inversionistas y comerciales de la época que limitaban el cumplimiento
de tales objetivos.
Era reconocida, la necesidad de fomentar la industrialización del
país pero sin dejar de mostrarse de acuerdo del significado de la agro
industria azucarera y que tal decisión imponía identificar las fuentes
de capital necesario para promover el desarrollo económico, así como
los problemas de la balanza de pagos a partir de considerar líneas
desarrollo que sustituyeran importaciones, que permitieran liberar
divisas orientadas al mercado de consumo interno del país. Por último,
no se dejaba de reconocer la necesidad de inversiones en la esfera de los
servicios –transporte, comunicaciones entre otros – que permitieran
aprovechar las denominadas inversiones de capital externo.
Estos perfiles de pensamiento económicos, referidos
anteriormente, eran reconocidos como problemas de la sociedad cubana
y que debían ser resueltos en las condiciones de las relaciones sociales
de producción establecida desde el nacimiento de la República. Otros
pensadores económicos4, desde posiciones más avanzadas consideraban
que la situación real de nuestra estructura económica y social requería
de la erradicación de la estructura de poder conformada que convertía
70
el país en un círculo vicioso de dependencia y subdesarrollo (Obra cit.
en Colectivo de autores, 2008).
En este sentido el hilo conductor de estos pensadores partía de
reconocer las contradicciones, que en plano interno y externo eran
determinantes en el desenvolvimientos de las relaciones de producción,
atadas a la contradicción capital-trabajo existentes al interior del país y
su dependencia a las relaciones económicas internacional conformadas
y especial con los Estados Unidos, que se levantaba como principal
barrera para solventar los problemas del desarrollo económico, social
y políticos del país.
71
Desde estas se identifican logros, errores y lecciones aprendidas en cada
una de ellas, y nos permite un aprendizaje para el planteamiento de la
necesidad de un desarrollo económico y social sustentable, basado en
una política económica equilibrada, y un acercamiento al movimiento
real a través de los recurso materiales, humanos, financieros, la gestión
del conocimientos y de administración que nos permitan solventar las
contradicciones existente en la sociedad cubana actual y nos posibilite
alcanzar su objetivo fundamental: lograr la independencia nacional, la justicia
social y la equidad.
Es aceptado que la primera etapas abarca de 1962 a 1964 y se
caracterizó por tener como medio fundamental la industrialización
acelerada a partir de la expansión de la industria pesada, la
diversificación de la agricultura y la redistribución del fondo agrícola
cañero y la sustitución creciente de las importaciones por la producción
nacional. Se elabora el primer plan cuatrienal y existía el mercado de
la pequeña y mediana empresas privadas y de las empresas del cálculo
económico, extremadamente centralizado. De tal manera las estrategias
se sustentaron en primer lugar en el “Sistema Presupuestado de
Financiamiento” en la industria y en segundo lugar, en el modelo del
“Cálculo Económico” en la agricultura (Figueroa, A., 2009: 258).
Esta vía de instrumentación de la estrategia, en las condiciones
de una economía monoproductora y mono exportadora confrontó
diversas barreras; como las fuentes de financiamiento, la falta de
recursos humanos preparados para el dominio de las nuevas tecnologías
y de gestión administrativa de las nacientes unidades industriales y
el incremento de las importaciones de productos intermedios para el
cierre del ciclo productivo. Este primer propósito fortaleció el sector
industrial, generándose la génesis de una concepción agroindustrial
del país en no pocas ramas; capacitó e instruyó a un ejército de
trabajadores industriales procedentes de sectores menos productivos y
72
desempleados totales o temporales y diversos cuadros en la gestión del
desarrollo industrial. Se puede reconocer que las acciones realizadas
fortaleció la base industrial del país creando condiciones para el
posterior desarrollo industrial.
El cambio de concepción hacia la apertura del denominado
“camino agrícola” constituía la búsqueda de bases autóctonas, a partir
de una estructura económica que sustentara el desarrollo económico y
social del país, teniendo en cuenta el entorno externo existente.
Tal giro en la búsqueda de fuentes de financiamiento estuvo
condicionado por el acuerdo azucarero entre Cuba y la URSS, en 1962,
que nos aseguraba un mercado de exportación estable del principal
producto de forma creciente y precios convenidos en correspondencia a
las necesidades de abastecimiento de petróleo del país, bienes intermedio
y de capital. Ello constituyó un contragolpe a la acción de la ruptura de
la relaciones económica impuesta por Estados Unidos de Norteamérica
y que procuraba desarticular el sistema de proporciones interno atado
a un mercado internacional conformado desde 1902, bajo la égida de los
tratados de reciprocidad de 1902 y 1934.
En el año 1963 se precisó por la máxima dirección del país que
el sector agrícola, en las condiciones de Cuba, debía constituir la
locomotora del desarrollo económico, teniendo como punto de arrancada
a la agroindustria azucarera, la ganadería y otras producciones como el
café, cítricos, arroz y otros cultivos varios. A partir de este momento el
desarrollo industrial se integraba a la agricultura, de aquí que algunos la
definieran también como una Estrategia agrario-industrial (Bogomólov,
A. cit en Colectivo de autores, 1979: 128).
Tal cambio marca una nueva etapa entre 1964 y 1970. Esta estuvo
caracterizada por un modelo Agroindustrial exportador, basado en un
proceso inversionista que privilegiaba el sector agrícola con énfasis en
la agroindustria azucarera, infraestructuras hidráulicas, viales, energía
73
eléctrica, industria química y de la mecánica y los materiales de la
construcción. Las inversiones de la agricultura en la etapa duplicaron
el de la industria. Las inversiones en la industria se caracterizaron por
ampliar la industria alimentaria sobre todo la azucarera y en la química
estuvo orientada en lo fundamental a la producción de fertilizantes y la
mecánica a la producción de implementos agrícolas u otros medios para
la industria azucares.
El sistema de dirección se caracterizó por acciones donde el plan
tuvo un carácter extremadamente centralizado. Desde 1967 funciona
una dualidad de mecanismos económicos – el Sistema Presupuestario
y el Cálculo Económico –, se abandona los fundamentos básicos del
sistema contable por el denominado sistema de Registro económico,
basado fundamentalmente en el control físicos, se deja considerar como
principio básico de la distribución el aporte por la cantidad y calidad
del trabajo y se desarrollaron otras acciones que tenían como punto
de partida la concepción de la construcción paralela del socialismo y
el comunismo, la cual fue enjuiciada desde lo político en el conocido
análisis sobre los errores cometidos por Castro Fidel Ruz en el Informe
al Primer Congreso del Partido Comunista de Cuba.6
La tercera etapa se constriñe al periodo de 1970 a 1975, donde
el entorno interno, en lo político, económico y socio-cultural fue
sometido a una valoración crítica del funcionamiento de la sociedad
cubana, con una amplia participación social, en cuestiones relativas
al funcionamiento de la sociedad en las diferentes esferas. En cuanto
al desarrollo económico, se destacó el resultado de la zafra azucarera
del país de 1970, la cual alcanzaba 8 millones de toneladas superando
la de 1952, pero incumpliéndose el compromiso de los “diez millones
6 Ver Castro Ruz, F. (1976). Informe Central al I Congreso del PCC, La Habana,
DOR del CC del PCC.
74
de toneladas de azúcar”. Ello estuvo acompañado de un decrecimiento
en el resto de los sectores de la economía nacional, generándose
desproporciones económicas que afectaron los objetivos estratégicos del
proyecto económico-social. En el entorno externo se incrementaban las
acciones del bloqueo económico, comercial y financiero de los Estados
Unidos de Norteamérica hacia Cuba y el país fortalece sus relaciones
con el entonces Campo Socialista con su ingreso al Consejo de Ayuda
Mutua Económica (CAME) en 1972.
En lo político se define la necesidad de crear las bases materiales,
económicas, sociales, de gestión de la economía social por nuevos
mecanismos de dirección y la expansión de nuevas ideas en el proceso
de construcción del socialismo, que tiene como punto culminante los
acuerdos del Primer Congreso del Partido Comunista de Cuba. En tales
condiciones emergen los fundamentos de la política económica y social
de una nueva etapa.
La tercera etapa se desarrolla de 1975 a 1985. La estrategia estuvo
sustentada en un modelo de desarrollo industrial con base en una
industrialización. Dicha industrialización estaba orientada a la formación
de complejos industriales, y mantenía como pivote del desarrollo el
Complejo Agroindustrial Azucarero (CAIA), fuente principal generadora
de excedentes económicos, apoyada en la expansión y procesamiento del
Níquel y del Cítrico, insertado en la División Internacional del Trabajo,
al interior del sistema de los países socialista. Con esto, se debía generar
el desbordamiento de recursos financieros que respaldara el proceso
inversionista en el resto de los Complejos Productivos en expansión, las
infraestructuras productivas y de los servicios, y como colofón lograr el
crecimiento económico y el desarrollo social de la nación.
Desde la gestión económica, el modelo se sustentaba en la
planificación de la economía y el reconocimiento de la existencia
objetiva del mercado. Se comienzan a elaborar los planes quinquenales.
75
El mercado internacional se realizaba en alrededor de un 85% con los
países miembros del CAME, basados en el Rublo transferible y con la
URSS funcionaba un intercambio sobre la base de los denominados
precios resbalante para los precios del petróleo y el azúcar. En el plano
de la economía interna, el mercado es altamente regulado y centralizado
y en 1984 aparecen aperturas en el comercio minorista, creándose el
Mercado Libre Campesino7 (MLC) de productos agropecuarios y el
Mercado Paralelo, y se autorizan determinados servicios – plomería,
carpintería entre otros – mediante el trabajo personal bajo el concepto
del otorgamiento de patentes a los productores privado individuales.
El modelo de gestión de este período estuvo basado en la
implementación del Sistema de Dirección y Planificación de la Economía
(SDPE) el cual reconocía cierto espacio a las relaciones mercantiles
y al mercado. Se despliega la planificación centralizada basada en los
balances materiales y un sistema único de distribución de los factores
de la producción y de sus resultados.
La instrumentación de las medidas económicas de esta etapa
comenzó a manifestar una disminución de la eficiencia económica del
país, por el agotamiento del modelo económico e influencias del entorno
externo. Los bienes de capital y los productos intermedios no siempre
respondían a patrones internacionales, se incrementaron los gastos de
importación por peso producido y se elevó la importación de alimentos
desde el exterior. En el plano interno se inician inversiones no concluidas
en tiempo, existiendo demoras en su puesta en marcha, que afectaban
obras industriales, de infraestructuras y obras sociales. Ello comenzó a
provocar una recesión económica que tuvo su primera manifestación en
la necesidad de renegociar la deuda externa en el año 1982 con los países
76
de economía de mercado. Este conjunto de hechos económico planteó
la necesidad de iniciar en el país un proceso de Rectificación de Errores
y Tendencias Negativas a partir del año 1986, donde se orienta una
revisión del Sistema de Dirección y Planificación que se utilizaba como
instrumento de gestión de la economía. Esto dio lugar a una nueva etapa.
El cuarto período recorre de 1986 a 1989. Se orientan acciones
para lograr mejores resultado en los proceso inversionista del país,
incrementar la productividad del trabajo, mediante una mejor utilización
de los recursos humanos. Se somete a revisión crítica la implementación
hecha del (SDPE) y 1986, la copia de modelos de dirección de países
socialistas, el cumplimiento del plan a partir de su relación en valor
y especie. Se restringe el espacio del mercado interno al poner fin al
funcionamiento oficial el Mercado Libre Campesino. En la etapa inicial
de búsqueda de una nueva práctica en la gestión para el establecimiento
de los cambios en el SDPE, se comienza a producir el derrumbe del campo
socialista, provocándose una segunda ruptura de nuestras relaciones
económica externas. Esto induce una modificación del entorno externo
para Cuba, lo que provoca desproporciones en la macroeconomía y una
caída violenta del PIB8
De 1990 a 2010, el entorno resulta en extremo complejo para
el país, al tener que reorientar sus relaciones económicas externa a
las economías de mercado, bajo un proceso de recrudecimiento del
bloqueo económico, comercial y financiero desde los Estado Unidos.
Se inicia un proceso de integración en América Latina y el Caribe con
la constitución del ALBA9. Es necesario preparar el entorno interno,
77
en condiciones donde la macroeconomía había sido desarticulada de
la economía mundial y había ocurrido una ruptura del intercambio
comercial. Ello da lugar al inicio de una quinta etapa.
Modelada por la necesidad de realizar inversiones en esferas que
permitieran una rápida recuperación de las mismas y lograr mejores
tasas de beneficio, a partir de potencialidades existentes en el país
no suficientemente explotadas, comienza a desarrollarse el Programa
Nacional del Turismo, la creación de Polos Científicos, la prestación
de servicios científico técnico en el exterior. Con ello se gestan las
bases para el paso de un comercio de exportaciones tradicionales a
exportaciones no tradicionales, transitando paulatinamente de una
economía productiva basada en los sectores primarios y secundarios
a otra sustentada en el sector terciario como fuente fundamental de
captación de ingresos externos. Se comienza un proceso de cambios
estructurales y funcionales en la economía. Se modifica la estructura
de la propiedad en el sector agrícola, con la creación de las Unidades
Básicas Producción Cooperativa (UBPC), la entrega de tierras ociosas
en usufructo para producciones específicas como el tabaco, el café,
las producciones de autoconsumo, entre otras. Se amplían la ley de
inversiones extranjera para facilitar la creación de empresas con capital
extranjero bajo diferentes modalidades.
Aparecen nuevos espacios para el mercado interno de libre
formación de precios con la aparición Mercado Libre Agropecuario, el
Mercado de Artículos Industriales y Artesanales, el Mercado de Divisas
y el Mercado de Precios Topados o Mercado Agropecuario Estatal. El
modelo de gestión se caracterizó por la planificación centralizada basada
más en balances financieros que en los balances materiales. Se comienza
a delimitar las funciones estatales de las empresariales, acompañado de
un proceso de Perfeccionamiento Empresarial.
78
La sexta etapa abarca del 2010 hasta la actualidad, cuya
estrategia está caracterizada por la actualización del modelo cubano:
modelo agroindustrial exportador y de sustitución de importaciones y
fortalecimiento del sector servicios, sobre todo los relacionados con la
producción de conocimientos. Se retoma la planificación quinquenal y
estratégica y se le da mayor espacio a los mercados de libre formación
de precios bajo regulación planificada. Como modelo de gestión se tiene
en cuenta el balance plan-mercado.
A partir de lo analizado anteriormente se entenderá por desarrollo
al como
79
4. Financiamiento al desarrollo en el ámbito local
80
Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas10, nos podemos referir
a las siguientes contradicciones: a) los grados de descentralización
económico-financiera que se pretende introducir a nivel local y la
centralización gubernamental territorial y sectorial; b) la producción-
apropiación de excedentes económicos por los productores directos y
los órganos de gobiernos locales y territoriales; c) la liberación del acceso
a los bienes de consumo (eliminación del racionamiento) y el tránsito
paulatino al subsidio a los segmentos de la población de más bajos
ingresos; ch) la restructuración del empleo (proceso de disponibilidad
laboral bajo el principio de idoneidad demostrada) y las ofertas de
nuevas alternativas de empleo; d) los distintos tipos de economía a nivel
local, portadores de intereses económicos diferentes.
El sentido, emana de reconocer lo territorial y local como un
complejo sistema – totalidad – de relaciones sociales de producción,
heterogéneas en sus vínculos e interdependencias. De aquí la
configuración-diferenciación más nítida de las clases y grupos sociales
en los territorios con intereses económicos diferentes y contradictorios,
81
que exigen encontrar soluciones desde la política que reconozcan, sobre
bases reales, la integración local, regional, nacional e internacional e
impliquen actores individuales y sociales desde local
Desde finales de la etapa antes mencionada comienzan a
desarrollarse acciones para movilizar fuentes de financiamiento desde
los gobiernos municipales para generar proyectos de inversión, que en la
etapa del 2010 hasta la actualidad tienen como base de instrumentación las
Estrategias de Desarrollo Municipal (Colectivo de autores, 2013: p. 107).
Tales decisiones contiene elementos germinales de reconocer la división
social del trabajo en la localidad, construida y reconstruida desde la geo-
historia de cada uno de nuestros municipios y, por tanto, la existencia de
diferentes tejidos productivos locales con diferentes niveles de desarrollo
que imponen objetivamente el establecimiento de procesos de cooperación
horizontal e intersectorial a escala local. Tal proyección procura potenciar
la complementación local entre los distintos sectores y ramas económicas
del territorio y los Programas Nacionales que se asientan en cada uno
de ellos – Programa Alimentario, Programa del Turismo, Programa de
Protección del Medio Ambiente, etc.
Las acciones concretas en la instrumentación del nuevo modelo
económico en la etapa que se inicia en 2010, expresan que la estrategia a
seguir, el principio fundamental del desarrollo local y las políticas están
en la potenciación, a este nivel, de las formas productivas cooperativa
y privada individual, así como la forma familiar pequeña y mediana.
Las cooperativas deben concebirse en los ámbitos de la producción,
del trabajo asociado y de créditos y servicios en la producción
agropecuaria, la pequeña industria, la industria local y los servicios,
que restablezcan los lazos de cooperación e integración locales por
acciones centralizadoras que se comenzaron a establecer al interior
de los Sistemas de Dirección y Planificación de la Economía en Cuba
(Vilariño Ruiz, A. y Domenech Nieves, S., 1986)
82
La propia experiencia actual incluye en el mecanismo de gestión
para el desarrollo local, la separación de las funciones administrativas
de las de gobierno, una mayor delegación de funciones a los gobiernos
locales en los marcos de la dialéctica centralización-descentralización
y la reproducción del sistema empresarial enclavado en el territorio,
lo que debe garantizar la reproducción del territorio sin autarquía,
así como la utilización de instrumentos monetario-financieros para
el desarrollo local.
En cuanto a esto último se concibe la introducción de instrumentos
tales como el financiamiento central, los impuestos tributarios de los
cuentapropistas del territorio, el tributo territorial a los consejos de
la administración municipales por las empresas y cooperativas donde
operan sus establecimientos – definido centralmente teniendo en cuenta
las características de cada municipio11 – y, por último, parte de los
ingresos generados por proyectos locales gestionados por entidades
económicas enclavadas en el municipio.
Se conciben las estrategias y la planificación local para el desarrollo
integral de forma consciente, a partir de los recursos disponibles a
esta escala y en todas sus dimensiones y principios básicos, lo que
debe contrarrestar u oponerse a la espontaneidad que introducirán,
objetivamente con más fuerza, los instrumentos monetarios mercantiles
y de mercado. La contradicción entre la regulación consciente y el
mercado regulado con su grado de espontaneidad también tiene que
resolverse a este nivel.
En las concepciones estratégicas que se comienzan a introducir
se define desde los municipios los pivotes de su desarrollo y sus fuentes
de acumulación originarias externas, centralizadas, no centralizadas e
83
internas, que indican un proceso iniciado con las propias limitaciones
de carácter objetivo y subjetivo en que enmarca el proceso de
instrumentación del nuevo modelo económico.
Lo referido anteriormente, nos indica que este proceso no se limita
a cambios en el mecanismo de gestión del desarrollo, sino que pasa por
los cambios necesarios en las formas de pensar y actuar de los distintos
actores a los diferentes niveles, lo que es objeto de estudio, desde nuestro
grupo de trabajo. Esto es, la identificación de las barreras y las vías de su
superación para lograr el objetivo supremo de la Estrategia de nuestro
desarrollo económico y social, sustentado por políticas económicas
definidas y redefinidas en sus diferentes etapas.
5. Conclusiones
84
a) la transformación de la base socioeconómica y de la estructura de
la producción, b) la creación de la Base Técnico-Material, es decir el
desarrollo de las fuerzas productivas, c) la acumulación, sus fuentes tanto
de orden interno como externo, y vías, así como el consumo.
El mecanismo económico establecido resulta el campo más
complejo y delicado del proyecto de desarrollo socialista, pues refleja
la conciliación efectiva entre las fuerzas productivas y las relaciones
sociales de producción y la acción de las leyes económicas.
Al aglutinar la estrategia el desenvolvimiento de la sociedad en
su conjunto trasciende los ámbitos puramente económicos y toca los
aspectos políticos y sociales.
La estrategia cubana de desarrollo socioeconómico tuvo y tiene
hoy un objetivo fundamental: lograr la independencia nacional, la justicia
social y la equidad, donde los seres humanos son los protagonistas y
beneficiarios directos del desarrollo.
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86
Las relaciones de mercado ante los cambios
socioeconómicos en Cuba: nuevas propuestas en
los procesos de la vivienda
87
vincula los distintos tipos y formas de economía existente en espacio y
tiempo concretos.
El comercio de productos y servicios en Cuba, desde 1968, cuando
se nacionalizó el mercado privado, hasta octubre de 1994 – excepto la
etapa de 1980-1986 en que funcionó el Mercado Libre Campesino para
los productos agropecuarios – se basó oficialmente en el comercio
mayorista y minorista estatal. De la experiencia histórica acumulada
y la Reforma Económica en los años 90ta, surgirieron cambios en el
mecanismo económico con el reconocimiento y la apertura de nuevos
mercados, que los hiciera corresponder a las necesidades objetivas con
la estructura socioeconómica emergente de la reforma de la tenencia de
la tierra desde 1993.3
En la década de los años 90ta. se abre un proceso creciente de
apertura de mercados en las relaciones económicas cubanas con el
Mercado Libre Agropecuario, el de Artículos Industriales y Artesanales,
el Mercado Monetario de las Divisas, el Mercado de productos
y servicios en divisas y el Mercado de Precios Topados o Mercado
de Precios Máximos. Con la actualización del modelo de desarrollo
socioeconómico que postula el VI Congreso del Partido Comunista de
Cuba (PCC) en abril de 2011, los mercados bajo regulación planificada
son parte consustancial del mecanismo de gestión. Se instauran nuevos
88
mercados en los sectores no agropecuarios de la economía y en una parte
de ellos los precios se establecen libremente mientras que el acceso de
los consumidores a los bienes y servicios no está limitado. Aparecen por
primera vez los mercados de abasto y de medios de producción.
La problemática del mercado en Cuba no ocupó un lugar
destacado en las investigaciones y publicaciones científicas anteriores
a los años noventa. La ciencia no podía tratar fenómenos que no
formaban parte de la realidad económica concreta del país. En esos
años era negada la existencia objetiva de la ley del valor4 o ley de los
precios, apenas era reconocida formalmente en la teoría y la práctica
de la transición al socialismo.
Tal situación limitó el desarrollo de los mecanismos del mercado
y, por tanto, las posibilidades potenciales de elevar la eficiencia del
sector constructivo y de sus agentes económicos concretos. El modelo
de planificación centralizada, basado en los balances materiales y en la
regulación administrativa, la asignación centralizada de materias primas,
materiales y la prestación de servicios de la construcción de vivienda,
pretendió excluir la acción del mercado.
La exclusión del papel del mercado, de las palancas mercantiles y
monetarias y de los mecanismos de dirección y gestión correspondientes,
condujo a la más completa monopolización estatal del comercio
mayorista y minorista de los materiales y servicios de la construcción.
Las reglas establecidas subestimaron el papel estimulador del mercado
sobre la producción. Ello se tradujo en la aparición y crecimiento de
un sector de economía informal, de producción y comercialización de
materiales y servicios de la construcción de viviendas que alcanza su
nivel máximo hacia el año 2010, aún existente.
89
Los Lineamientos de la Política Económica y Social aprobados por
el VI Congreso del PCC, reconocen los errores históricos cometidos y
se llevan a cabo nuevas acciones en cuanto a los procesos de la vivienda,
entre las que se destacan las siguientes:
• Se desencadena un proceso de cambios en los métodos y
mecanismos de funcionamiento de la base productiva en el
sector de la producción de materiales, en la construcción y
rehabilitación de la vivienda que hacen posible el diseño y
puesta en marcha de formas productivas inéditas y renovadas,
lo que abre una etapa cualitativamente nueva en este sector.
• Se produce un retorno a la descentralización, de forma muy
similar a como se hizo en los años más difíciles de la crisis
de los 90ta., práctica que en aquellos dramáticos momentos
permitió crecer en la construcción de viviendas en condiciones
económicas extremas.
• Se prevé la formación de nuevas figuras productivas, el
establecimiento de mecanismos económicos, monetario-
financieros y la transferencia de nuevas y más facultades
a los gobiernos locales que faciliten, estimulen e integren
los procesos de la vivienda a los programas de Iniciativas
Municipales para el Desarrollo.
• Se crean incentivos para ampliar el sector económico no
estatal como receptor del personal excedente del aparato
estatal, entre ellos la ampliación del Trabajo por Cuenta
Propia (TCP) y la flexibilización de sus regulaciones para
permitir que el sector pueda crecer. En el caso de la vivienda,
la meta trazada es lograr en el 2015 que el 70% del sector
productivo sea no estatal.
• Se deslindan las funciones estatales de las empresariales,
lo que propiciará la reproducción del sistema empresarial
90
enclavado en un mismo territorio. Se cambia el concepto de
subsidio: en lugar de subsidiar a la empresa, se subsidiarán
a las personas o familia cuyos bajos ingresos no le permiten
acceder a los servicios de la vivienda. Además se incentiva la
producción local de materiales como una vía de disminuir los
costos energéticos y de transportación, y ofertar un producto
de más bajo precio a la población.
91
En el último decenio se estimuló la llamada “construcción por
esfuerzo propio”, como una vía de vincular a la familia a la construcción
de su propia vivienda. El número de las mismas construidas según este
modelo, superó con creces las construidas por el Estado, pero aun así, la
limitada disponibilidad de materiales, y otros aspectos organizativos y
funcionales resultó un freno a este programa. De esta forma se comenzó
a acumular un déficit de viviendas en el país, que llegó a estar en el orden
de las 700 000 (Donéstevez, et al, 2010). A este contexto se le adicionan
los daños proporcionados por la inclemencia climática.
A partir de enero de 2011 se crea un mercado minorista de libre
acceso de materiales de construcción, operado por el Ministerio de
Comercio Interior (MINCIN) como principal sistema de acceso de la
población a los materiales de construcción, con precios no subsidiados.
Este mercado lleva intrínseco una fórmula de redistribución socialista de
los fondos monetarios captados por las ventas, pues los excedentes que
se producirán de la recaudación por ventas de materiales son la fuente
de un fondo estatal de subsidio que favorece a las personas o familias de
más bajos ingresos, en cuanto al acceso en igualdad de condiciones a los
materiales y servicios de la vivienda ofertados.
La solución del problema de la eficiencia económica del país y el
impulso al crecimiento de las fuerzas productivas, no puede reducirse
a la planificación centralizada basada en los balances materiales;
tampoco a la planificación financiera, sino que tiene que tomar en
cuenta la heterogeneidad socioeconómica existente y los insuficientes
niveles de desarrollo y socialización de las fuerzas productivas que
imponen la implementación de formas de mercados intervinculados y
regulados estatalmente.
Los límites impuestos por la ampliación de las formas no estatales
al crecer el aislamiento de los productores exigen de perfeccionar los
mecanismos de planificación y de utilización de aquellas señales que
92
el mercado puede proporcionar en los marcos de una determinada
estrategia de desarrollo. Se trata de emplear las utilidades generadas en
los marcos de la acción de la ley del valor y del mercado en función de
los sectores vulnerables de la población.
93
lo hacen, el tratamiento de los diferentes segmentos del mercado, los
canales y sus reglas de funcionamiento son preestablecidas oficialmente
por el Estado.
Por otro lado, socioeconómicamente es heterogéneo y por tanto
contradictorio. En él deben participar todos los sujetos económicos
productores -figuras productivas- objetivamente existentes en cada
territorio, localidad y en el país en su conjunto visto como totalidad sin
exclusión: a) los productores estatales, b) cooperativas agropecuarias
(CPA, UBPC, CCS); c) cooperativas de la construcción y; c) productores
privados individuales o familiares formalizados o no. Tal estructura
socioeconómica se refleja en las tendencias del mercado, tanto del lado
de la oferta, como en el de la demanda; y, por consiguiente en el nivel
de los precios.
La regulación planificada del mercado local de materiales de
la construcción y servicios de la vivienda deberá efectuarse mediante
diferentes vías y mecanismos:
1. Sistema de contratación, en él se definen los planes y destino
de las producciones fundamentales de la cooperativa y el resto
de las formas productivas existente.
2. Sistema de comercialización. Determinación los tipos y
segmentos del mercado, los canales y sujetos participantes,
tanto en las funciones físicas como económicas del mercadeo.
3. Sistema de precios locales-territoriales: Se trata de la
determinación a nivel local-territorial del sistema de precios
sobre la base de los costos de producción, de tal forma que
incentive a los productores y proteja a los consumidores.
Según el Artículo 25 del Decreto-Ley 305, los precios y
tarifas de los productos y servicios que comercializan las
cooperativas se determinarán por estas, según la oferta y la
94
demanda, excepto aquellos que se establecen por los órganos
estatales competentes.
95
construcción, el segundo eslabón corresponde al Mercado de Materiales
de la Construcción y por último, el eslabón referido al Mercado de
Construcción, Mantenimiento y Rehabilitación de la Vivienda.
96
pueden distinguirse nítidamente tres segmentos de consumidores: un
segmento de demandantes de altos ingresos, uno de ingresos medios y
otro segmento compuesto por la población vulnerable con ingresos muy
bajos y necesitados de subsidios estatales.
Para la cooperativa debe considerarse prioritariamente el canal
directo de comercialización, siempre que quede demostrado el beneficio
económico y social para ambas partes (cooperativa-consumidor). En
dicho canal, la cooperativa vende directamente a aquellos beneficiarios
según prioridades locales, territoriales y nacionales establecidas, sin
intermediación del MINCIN. Esto permitirá incentivar económica
y funcionalmente al productor y proteger a los consumidores en el
caso de que se reduzcan los precios a cuenta de la disminución de los
gastos de comercialización a través de transportación de materiales que
puede asumir el consumidor; el almacenamiento, cuando las ventas se
efectúan en el propio Almacén (local de producción o patio del taller); los
gastos en salarios a trabajadores del comercio y otros gastos de energía,
etc. Todo ello abriría la posibilidad de reducir precios a cuenta de la
reducción de los gastos superfluos que en determinadas condiciones
genera la comercialización a escala local.
3. Consideraciones
97
y reconocimiento de nuevas figuras productivas. En correspondencia con
ello las relaciones de intercambio han de cambiar sin dejar de mantener
la disciplina de mercado y su regulación.
La solución a esta contradicción en las condiciones de la transición
al socialismo, con diversidad de tipos de economía y formas de gestión y
propiedad correspondiente, pasa por el reconocimiento de la existencia
de precios monopolio de los materiales de la construcción y de la renta.
Bibliografía
98
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subsidio a otorgar para ejecutar acciones constructivas en una vivienda, 2012.
99
POLÍTICA ECONÔMICA E FINANCIAMENTO DO ESTADO
Valter Fanini1
1. INTRODUÇÃO
101
a visão dos economistas clássicos sobre a garantia do equilíbrio do
emprego, juros e da relação entre oferta e demanda agregada da economia
exclusivamente pelas forças do mercado.
A partir de Keynes a teoria econômica coloca o Estado como
protagonista na manutenção do equilíbrio geral da economia por meio do
acionamento de instrumentos monetários e fiscais que se convencionou
chamar de politica econômica do setor público.
Segundo a teoria de keynesiana, a arrecadação de tributos e sua
aplicação, os empréstimos governamentais e a emissão de moeda passam
a ter um papel fundamental no que se convencionou chamar de ações
governamentais anticíclicas na economia, ou seja, o Estado é capaz
de acelerar ou desacelerar a formação da renda nacional atendendo
aos interesses de toda a sociedade, já que as visões individualistas de
capitalistas e consumidores são por demais imprecisas para impedir
excessos tanto no sentido do crescimento exagerado quanto nos
processos de recessão econômica.
Sob esta óptica, a administração da dívida pública passa a ter
importante papel no sentido de capturar a poupança privada buscando
aumentar a demanda agregada em momentos de recessão econômica com
a ampliação dos gastos e dos investimentos públicos, ou, contrariamente,
em momentos de excesso de demanda contraí-la promovendo a sua
retenção e a consequente redução nos investimentos.
Acontece que em qualquer situação quando os governos tomam
poupança privada vendendo títulos públicos são obrigados a remunerá-
los com o pagamento de juros sobre o valor nominal de cada título
vendido. O que garante aos detentores de títulos públicos rendimentos
com baixíssimo grau de risco, já que a garantia de pagamento desses
títulos é dada por toda a sociedade e não de forma isolada por um único
indíviduo ou empresa.
102
O sistema financeiro não tardou a perceber que os ganhos
rentistas obtidos pelos juros das dívidas públicas constituem uma forma
bastante segura de auferir elevados lucros caso seja possível elevar as
dívidas pública dos países a patamares em que as taxas de juros sobre
os títulos públicos não sejam mais determinadas pelos governos e sim,
impostas pelo sistema financeiro, ou seja, a dívida pública deixa de ser
um instrumento de política econômica dos governos para atender à sana
rentista dos detentores de títulos públicos.
Esse é um projeto comum do sistema financeiro em todo o mundo,
iniciado na década de 1970 com o endividamento dos países em dólares
para fazerem frente à primeira e segunda crises do petróleo e mais tarde
na conversão da dívida em dólares em dívida em moeda nacional.
O Brasil tem sido vítima deste processo com maior ênfase a partir
da década de 1980, quando a dívida externa contraída na década de 1970,
durante a fase de elevada liquidez internacional derivada da oferta dos
“petrodólares”, contratadas com juros vinculados a taxa “prime” do FED
(Federal Reserve Bank) ou a “Libor” controlado por Bancos Ingleses,
subiram de valores que variavam de 5,5% a.a para valores entorno e
20,5%a.a.
A partir do ano de 1994, já em regime de livre circulação de
capitais financeiros, começa no Brasil o ciclo especulativo do capital
financeiro nacional e internacional sobre as taxas de câmbio e da dívida
púbica mobiliaria federal, aproveitando-se das fragilidades dos regimes
de combate à inflação sustentado inicialmente pela âncora cambial e a
partir de 1999 pelo regime de metas de inflação, conseguindo com isso
ampliar em inúmeras vezes a dívida pública interna pela imposição de
juros escorchantes.
Ao longo deste artigo vamos apresentar questões conceituais
envolvendo o tema da formulação das políticas econômicas, do
financiamento do Estado e da formação da dívida pública, para no final
103
apresentar como o Brasil foi vitimado pelo sistema financeiro nacional
e internacional que manipularam e especularam com o câmbio e com os
títulos públicos produzindo um crescimento brutal da dívida pública,
mesmo tendo o Brasil produzido ano após ano expressivos superávits
fiscais sistematicamente transferidos aos setores rentistas em forma de
juros da dívida pública.
104
consumidos pelas famílias (C), mais o valor dos investimentos feitos
pelos empresários (I) e mais os gastos do governo (G).
Por outro lado, o valor de venda de todos os produtos ofertados
na economia (Ys) é composto do valor da remuneração das famílias
(W), do lucro retido pelas empresas (Se) e do valor das receitas do
governo (T).
Ys= W + Se + T
Depreende-se que W = C, Se = I e T = G.
105
A transferência de recursos financeiros entre dois agentes
econômicos privados dá origem a títulos privados de dívida. A
transferência de recursos financeiros entre um agente privado e
o governo, tendo o governo como tomador, dá origem a títulos da
dívida pública. A transferência de recursos financeiros entre agentes
econômicos não dá origem obrigatoriamente a títulos de dívidas. Essa
relação entre agentes econômicos poderá ser conduzida por meio de um
contrato de empréstimo. Quando a dívida fica representada por meio de
títulos ela é denominada dívida securitizada.
Uma vez formados, os títulos de dívidas poderão ser negociados
entre os agentes econômicos como uma mercadoria, formando um
mercado de títulos de crédito que irá compor, com outras formas de
transação financeira, o sistema financeiro nacional.
106
pelos meios de pagamento da economia (M1)2, sendo que o seu controle
define, em última instância, a taxa de juros do mercado financeiro.
107
da renda nacional mediante o processo tributário, e, num segundo
momento, devolvendo à sociedade a renda retirada da economia por meio
dos gastos e investimentos públicos, fazendo uso do planejamento e da
execução orçamentária.
Esses dois momentos da execução da política fiscal são efetivados
pelo emprego de duas políticas perfeitamente distintas no contexto da
administração pública, designadas como política tributária e política
orçamentária. Da conjugação dessas duas políticas públicas surge um
terceiro elemento de elevada importância na execução da política fiscal,
a saber: o déficit orçamentário, representado pela diferença entre os
valores financeiros arrecadados por meio do processo tributário e os
valores gastos por meio do processo de execução orçamentária.
Desse modo, os três principais instrumentos de execução
da política fiscal dos governos são: a política tributária, a política
orçamentária e o déficit orçamentário.
O Déficit Orçamentário das contas do governo é o responsável
pela variação da dívida pública, para mais ou para menos, dependendo,
para isso, que sejam produzidos déficits positivos ou negativos. Uma
vez produzido, deverá ser coberto por receitas extratributárias
originárias da emissão de moeda, do aumento da dívida interna ou
por financiamento externo.
Portanto, o cálculo do déficit orçamentário e a verificação dos
fatores que lhe deram origem passaram a ser, em regimes de restrição
orçamentária, o indicador financeiro para verificar o desempenho da
política fiscal dos governos.
108
3. O PROCESSO DE EVOLUÇÃO RECENTE DA DÍVIDA PÚBLICA
MOBILIÁRIA FEDERAL NO BRASIL
109
TABELA 1 – VARIAÇÕES HISTÓRICAS DA DPMFi E DO PIB – 1994-2014
EVOLUÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), E DA DPMFI
EM VALORES DE 2014 - BRASIL - 1994 A 2014
Período PIB (em R$ milhões) DPMFI Relação DPMFi/PIB %
1994 3154176,82 330.146,30 10,47
1995 3287283,93 505.071,54 15,36
1996 3374726,6 750.297,05 22,23
1997 3485078,54 1.012.227,57 29,04
1998 3489610,54 1.261.561,91 36,15
1999 3517178,69 1.424.652,62 40,51
2000 3627775,49 1.498.167,06 41,30
2001 3678197,82 1.621.419,37 44,08
2002 3790510,18 1.456.082,02 38,41
2003 3833753,42 1.548.987,25 40,40
2004 4054576,26 1.562.396,09 38,53
2005 4184409,15 1.591.754,82 38,04
2006 4350194,97 1.755.286,20 40,35
2007 4614246,17 1.894.383,94 41,06
2008 4849304,89 1.813.123,77 37,39
2009 4843203,89 1.837.377,47 37,94
2010 5207811,21 2.138.052,02 41,05
2011 5411395,6 2.135.570,96 39,46
2012 5515185,22 2.186.198,29 39,64
2013 5681390,85 2.140.077,50 37,67
2014 5687308,99 2.183.611,00 38,39
FONTE: Banco Central
Em valores monetários de 2014 corrigidos pelo IGPM/FGV.
110
no conceito de caixa, em torno de US$ 40 bilhões em junho de 1994
(LLUSSÁ, 1998, p.59).
Na visão de Franco (1995), esse processo teve duas consequências:
de um lado, o expressivo volume de reservas tornava menos provável
uma crise cambial, permitindo, inclusive, que a nova moeda pudesse
se ancorar no câmbio; de outro, o crescimento das reservas gerou um
processo em que a esterilização das operações externas aumentava a
dívida pública, que pressionava os juros internos, ampliava o diferencial
de juros e, por fim, estimulava mais entradas de capital e acumulação
de reservas.
Sem poder mexer nas elevadas taxas de juros, um dos pilares
de estabilização de preços no início do Plano Real, o governo deixa o
câmbio se apreciar, o que veio a contribuir com a redução das taxas
de inflação em relação aos insumos importados e a concorrência de
bens de consumo importados, dada a abertura comercial que vinha
se processando.
A combinação dos fatores: câmbio valorizado e abertura comercial
produziu elevados déficits em conta corrente, que continuaram a ser
compensados pela Conta de Capital no fechamento do Balanço de
Pagamento do setor externo.
A crise mexicana desencadeada em dezembro de 1994 provocou
um movimento de fuga de capitais externos, o que obrigou o governo
a atuar no sentido de manter o equilíbrio econômico agora em sentido
contrário. Para evitar uma desvalorização do Real, o governo voltou a
atuar no mercado de câmbio vendendo divisas e adotando o regime de
bandas cambiais, promovendo desvalorizações periódicas para manter a
paridade relativamente estável em relação ao índice de preços no atacado.
O segundo movimento do governo foi a elevação das taxas de juros
dos títulos da dívida pública, no sentido de estancar a fuga de capitais
especulativos que estavam alocados e ativos financeiros nacionais.
111
A manutenção de elevadas taxas de juros dos títulos públicos até
1999 serviu a dois importantes propósitos de estabilização econômica:
manter superavitária a conta de capital do balanço de pagamentos para
fazer frente ao déficit da conta corrente e para conter as pressões de
demanda do mercado interno.
No ano de 1999, a eclosão das crises asiática e russa voltou a
provocar fuga maciça de capitais especulativos alocados em ativos
financeiros no Brasil, o que obrigou o governo a uma nova rodada
de elevação das taxas de juros e venda de divisas. No entanto, nesse
momento, a manutenção de taxas de juros reais acima de 30% e a venda
de mais de 50% das reservas de divisas foram insuficientes para conter
a fuga de capitais, o que levou o Banco Central, em maio de 1999, a
abandonar o regime de bandas cambiais, deixando o câmbio flutuar
sobre a pressão dos mercados, perdendo nesse momento a política
econômica sua âncora cambial.
A perda da âncora cambial não levou o governo a mudar o foco
principal de sua política econômica, que era o controle das taxas de
inflação. Em junho de 1999 o governo brasileiro, mediante decreto
presidencial, adotou o regime de metas de inflação como instrumento
orientador da política econômica, sinalizando que o instrumental de
política monetária é que seria acionado para o controle inflacionário,
visto que entregou a responsabilização pelo atingimento das metas
estabelecidas ao Banco Central do Brasil.
Dentro do instrumental de política econômica à disposição do
Banco Central para o controle da inflação, as elevadas taxas de juros
básicos da economia continuariam a ser utilizadas, agora no sentido
de controlar o nível de liquidez proporcionado por um volume de R$
1.424,00 bilhões (ver tabela 1) em títulos públicos.
A manutenção das taxas de juros básicos da economia
estabelecidas pelo Copom, taxa Selic, em patamares bastante elevados
112
(tabela 2) foi o principal ingrediente para que a dívida mobiliária federal
aumentasse de R$ 330,14 bilhões, em dezembro de 1994, para R$ 2.183,61
bilhões em dezembro de 2014, apesar de ter efetuado o pagamento no
mesmo período de R$ 3.361,29 bilhões por meio de recursos fiscais com
a formação permanente de superávits fiscais em seus orçamentos anuais.
113
Para entender o rápido crescimento da dívida brasileira em relação
à renda nacional é necessário utilizar um modelo algébrico que relacione
as principais variáveis que influenciam a sua mudança ao longo do tempo
(LEITE, 1994, p.297).
Tomando inicialmente as variáveis básicas de explicitação do
processo de formação da dívida pública, tem-se:
Dt – Dívida Pública no ano “t”
Dt -1 – Dívida Pública no ano anterior “t-1”
Yt – Renda Nacional no ano “t”
Yt-1 – Renda Nacional no ano anterior “t-1”
G – Gastos do Governo no ano “t”
T – Arrecadação Tributária do Governo no ano “t”
Dessa forma, o crescimento da dívida ao final de um exercício,
representado pela diferença entre (Dt – Dt-1), resulta da necessidade
de financiamento do déficit primário (G – T) do referido exercício,
somado ao pagamento dos juros incidentes sobre a dívida existente no
ano anterior, dado pela expressão (r. Dt-1), onde “r” é a taxa de juros
média aplicada sobre a dívida no ano anterior.
Tem-se, então, que:
(Dt – Dt-1) = (r. Dt-1) + (G – T) (1)
Fazendo o déficit atual como um percentual (z) do PIB (Yt)
(G – T) = z. Yt (2)
Substituindo-se a equação (2) na equação (1) e isolando o valor
da dívida presente (Dt) obteremos a expressão que nos fornece o valor
da dívida ao final de um determinado exercício fiscal:
Dt = (1 + r) Dt-1 + zYt (3)
Considerando a variação anual do PIB como Yt/ Yt-1 = (1 + g),
onde “g” é a taxa de crescimento anual da renda nacional, então tem-se:
Yt = (1 + g)Yt-1 (4)
114
Finalmente, para se expressar a dívida pública como um
percentual do PIB, estabelecendo a relação (Dt/Yt), tem-se que dividir
a expressão (3) pela expressão (4), obtendo a seguinte equação:
dt = (1 + r)/(1 + g). dt-1 + z (5)
A equação (5) revela que a dívida como proporção do PIB (dt) ao
final de determinado exercício fiscal “t” depende da proporção observada
no final do exercício fiscal anterior (dt-1) e da relação entre o fator de
juros reais (1 + r) pagos pela dívida e o fator de crescimento do PIB (1 +
g), bem como do déficit fiscal primário observado no exercício corrente.
Portanto, os fatores que contribuem decisivamente para a redução
da relação dívida/PIB é a realização de uma taxa de crescimento da renda
nacional superior à taxa média de juros paga sobre a dívida pública, bem
como a realização de um déficit fiscal primário negativo ou, dizendo de
forma equivalente, à obtenção de superávit primário no orçamento fiscal.
A equação (5) não contempla a hipótese de emissão de moeda
para o resgate ou pagamento de juros de dívida pública. Caso isso
venha a acontecer, deve-se incluir um terceiro elemento na equação,
representado pela relação entre o valor da expansão da base monetária
(ΔB) e o valor da renda nacional no período (Yt). Fazendo (ΔB) / (Yt).
= b, obtém-se a expressão que se segue:
dt = [(1 + r)/(1 + g)]. dt-1 + z – b (6)
No caso da formação da dívida pública brasileira a partir de 1993,
verifica-se que, apesar de se ter um fator “z” quase sempre negativo,
superávit primário na execução do orçamento federal, este fato não tem
sido suficiente para compensar a relação [(1 + r)/(1 + g). d t-1] de modo
a fazer que a relação final entre a dívida mobiliária federal e o PIB seja
decrescente.
A tabela a seguir demonstra essa afirmação:
115
Tabela 3 – Pagamento de juros da DPF entRe os anos de 1994
e 2004
116
tem sido a panaceia para a solução de todos os principais desequilíbrios
macroeconômicos originários das políticas de combate à inflação a
partir do ano de 1994. Na fase inicial cumpriu o papel fundamental no
equilíbrio do Balanço de Pagamentos; a partir de 1998, com o início da
crise cambial, foi prestadora de hedge cambial para a economia e a partir
de 1999 foi a variável-chave do modelo de metas de inflação adotado
desde então pelo governo. Portanto, desde 1994 o governo utiliza os
mecanismos da formação de dívida para conseguir relativa estabilização
dos preços na economia.
No entanto, ao resolver problemas de ordem macroeconômica o
governo federal vem gerando outro crescente problema, que é a formação
da dívida pública. Uma vez formada, a dívida pública passa a influenciar
o regime econômico, dadas as características que os títulos públicos
possuem de exercer o papel de moeda no sistema de trocas da economia,
já que grande parte da dívida mobiliária federal é de propriedade de
cotistas de Fundos de Investimentos Financeiros, pessoas físicas ou
jurídicas, que têm garantia de liquidez diária em seus investimentos,
que dá a esses títulos públicos características de moeda ou quase
moeda, devendo, portanto, ter o seu potencial de gerar demandas
econômicas em curto prazo controlado diariamente por elevadas taxas
de juros, fechando, assim, um ciclo em que os juros pagos pela dívida
pública geram, a cada dia, maiores riquezas financeiras que devem ser
imobilizadas com taxas de juros cada vez mais elevadas.
O processo de administração da dívida pública exclusivamente
por meio da interação entre política monetária e o mercado de títulos
públicos, em que de um lado está o poder público, com o objetivo
de regular a velocidade renda de uma massa de riqueza financeira
equivalente hoje a cerca de 40% do PIB, e, de outro, os proprietários de
títulos públicos visando maximizar os seus ganhos rentistas, resulta em
um processo acelerado de crescimento da dívida pública mobiliária, que
não é sustentável no longo prazo.
117
Diante de um quadro de dívida pública com elevado nível de
liquidez e hipertrofiada em relação às dimensões da renda nacional, a
economia fica permanentemente ameaçada por pressões inflacionárias
derivadas da existência de uma elevada riqueza financeira líquida
nas mãos de agentes econômicos. A redução da ameaça inflacionária
produzida pela liquidez da dívida pública deve ser neutralizada
diariamente pelo governo por meio de sua política monetária. Ao
mesmo tempo em que o governo busca a neutralização do potencial
inflacionário da dívida pública mobiliária, busca também a redução
da relação dívida/PIB, bem como a redução de seu nível de liquidez.
No entanto, o mercado financeiro, que trabalha com expectativas
racionais aplicadas à maximização de seus ganhos rentistas, conhecendo
os objetivos de política econômica do governo e suas condicionantes
macroeconômicas, pode se posicionar sempre da maneira a obter os
melhores benefícios, não respondendo às tentativas do governo em
diminuir sua vulnerabilidade em relação ao nível de liquidez da dívida
pública. Por exemplo, uma tentativa de colocação de títulos da dívida
remunerada pela correção monetária mais uma taxa de juros de 6%
a.a. não é aceita pelo mercado, que percebe que os títulos remunerados
pela taxa Selic proporcionam maiores ganhos, da mesma forma que não
aceita títulos de longo prazo, na expectativa de que os títulos de curto
prazo sempre poderão proporcionar ganhos superiores aos fixados nas
posições de longo prazo.
A redução da dívida pública via compra de títulos por meio do
superávit primário do orçamento federal tem seus limites estabelecidos
pela capacidade contributiva da economia em relação ao processo
tributário e pelos efeitos colaterais derivados da transferência de renda
do setor produtivo da sociedade, em especial do setor assalariado, para
o setor rentista. Essa transferência de renda entre o setor produtivo
para o setor rentista pode gerar importantes efeitos macroeconômicos
118
desestabilizadores do sistema de preços, porquanto o rentista,
diferentemente da classe assalariada, de quem foi extraída a renda que
forma o superávit primário, tende a não ampliar o seu nível de consumo,
mas sim a ofertar estes recursos no mercado de moeda, transferindo a sua
riqueza da posição de títulos de crédito público para títulos de crédito
privado, o que obrigatoriamente resulta em uma baixa das taxas de juros
do mercado, provocando um ciclo acelerado de crescimento da renda, via
financiamento do consumo e do investimento, que poderia, de qualquer
forma, resultar em um novo processo inflacionário.
Por outro lado, o regime de metas de inflação com metas bastante
reduzidas em relação ao histórico da inflação brasileira nos últimos
cinquenta anos retira do governo a possibilidade de redução da dívida
via redução dos juros reais, enquanto a taxa básica de juros em níveis
elevados reduz o nível de investimento, mantendo o crescimento da
renda nacional via expansão da oferta em taxas muito pequenas em
relação às taxas de crescimento anteriores aos anos oitenta. Esses dois
fatores combinados impedem que a relação dívida/PIB não se reduza
vis-à-vis os esforços despendidos com a compra de títulos por meio do
superávit primário do orçamento federal.
Portanto, observa-se que a administração da dívida pública levada
a cabo exclusivamente por mecanismos de mercado, pelos quais a relação
entre os agentes econômicos se faz exclusivamente via preço, no caso
do mercado de moedas e títulos, via taxa de juros, não traz os efeitos
desejados à sociedade como um todo. O governo pode e deve adotar
outros mecanismos de relação com o mercado de títulos públicos que não
sejam exclusivamente via taxa de juros, da mesma forma que no campo
da microeconomia vendedores e compradores estabelecem relações
contratuais, que pressupõem uma negociação entre as partes, para a
produção de determinados insumos que, devido às suas especificidades,
não podem ser obtidos no mercado spot.
119
Os tomadores de decisões sobre a dívida pública pelo lado do
mercado, considerando que 76% dos títulos da dívida pública pertencem
ou à carteira própria de bancos ou são administrados por Fundo de
Investimentos Financeiros, não passam de algumas centenas, sendo,
portanto, perfeitamente identificados e com quem a autoridade
monetária mantém estreitos vínculos, como é o caso dos “dealers” nas
operações de compra e venda de títulos ou da Andima, na precificação
de títulos públicos. Desse modo, é perfeitamente possível estabelecer
outras formas de relação pactuadas entre governo e mercado financeiro
que ultrapassem os limites das taxas de juros, já que se trata de um
mercado totalmente regulado pelo governo, e sobre o qual ele detém
absoluto controle das operações diárias.
Outro aspecto que deve ser levado em conta na administração
da dívida pública brasileira é o diferencial de potencial de liquidez que
possui cada título, a depender de quem é o seu proprietário. Define-se
aqui, como potencial de liquidez, a tendência que determinado valor de
moeda fixado em título público possui de deixar essa forma de reserva
de valor e entrar no circuito econômico da renda, mediante o consumo
ou o investimento. É possível identificar a diferença de potencial de
liquidez entre o título pertencente a um assalariado cotista de um
Fundo de Investimento Financeiro e um título pertencente à carteira
própria de um banco. Os bancos, sendo instituições que não investem
e nem consomem, e que somente utilizam a propriedade dos títulos
como forma de garantia de suas operações de empréstimos, poderiam
deixar de ser remunerados via taxa de juros de mercado sem que isso
provocasse qualquer alteração na liquidez ou impacto de demanda
sobre a economia. Portanto, considerando a possibilidade que o governo
possui de acessar e negociar com a totalidade dos tomadores de decisões
no mercado de títulos públicos; considerando o domínio absoluto das
informações relativas aos proprietários da dívida pública mobiliária;
120
levando em conta que o governo não pode abrir mão da soberania sobre
a administração da moeda, e, ainda, que os mecanismos de mercado para
a administração da dívida pública entram em choque com os objetivos de
política macroeconômica para o controle da inflação, o governo brasileiro
poderia adotar mais mecanismos de natureza política de negociação e
pactuação entre atores, e menos os mecanismos de mercado via taxa
Selic, tendo em vista que possui todos os meios de fazê-lo.
Outro aspecto que deve ser observado ao se concluir este texto é
que a elevação da taxa básica de juros da economia representa apenas
um dos instrumentos de política monetária à disposição do Banco
Central para controle inflacionário e que tem como efeito colateral a
produção de dívida pública. Outros instrumentos com capacidade de
alterar a liquidez da economia estão à disposição do Banco Central e
podem ser utilizados sem que produzam dívida pública. Podemos citar
alguns já apresentados no corpo deste trabalho, tais como: alteração da
base monetária; controle das reservas bancárias por meio de mudanças
das taxas de depósitos; controle e seleção de créditos, podendo chegar
ao tabelamento da taxa de juros; alteração no regime de mobilidade de
capital; e alteração no regime de administração do câmbio.
Os instrumentos de política monetária são eficientes para alterar
a liquidez do mercado e influir sobre a demanda agregada da economia
em curto prazo. No entanto, um modelo de combate à inflação levado a
cabo pelo governo deve também atuar pelo lado da oferta, sob o risco de,
cada vez mais, utilizar instrumentos de política monetária para conter
a demanda que tenderá sempre a alcançar a renda potencial de uma
economia estagnada. Para atuar pelo lado da oferta, os instrumentos
de política fiscal são muito mais eficazes que os de política monetária,
principalmente quando todos os instrumentos de política monetária
estão sendo utilizados para reduzir a liquidez de uma economia com
excesso de moeda. A política fiscal, por meio de seus instrumentos
121
básicos, a tributação e a orçamentação, possui a faculdade de deslocar
renda no sentido da ampliação da formação bruta de capital fixo tanto de
cunho privado como público, além de aprimorar toda a base institucional
sobre a qual se assenta a economia capitalista. Portanto, uma política
econômica, mesmo que tenha o foco no controle do processo inflacionário
e, indiretamente, se centre no processo de desenvolvimento econômico,
deveria ser de responsabilidade de uma instância de governo que atuasse
de forma geral sobre as políticas monetária e fiscal, como o Ministério
do Planejamento, no caso brasileiro, e não de uma instituição que atua
somente sobre o regime monetário, como ocorre no Brasil, onde o
atingimento das metas de inflação é responsabilidade do Banco Central.
A dívida pública, por outro lado, administrada por meio de altas
taxas de juros, desequilibra o processo de distribuição de renda a favor
do ganho rentista em detrimento dos ganhos assalariados e do capital
produtivo. Esta potencialização dos ganhos rentistas se processa tanto
pelo lado do governo, que paga juros da dívida pública por meio de
recursos tributários, quanto pelo lado do processo de produção, ao elevar
as taxas de juros do mercado financeiro por meio das taxas básicas de
juros do Banco Central.
O desequilíbrio na distribuição da renda nacional não representa
exclusivamente uma falha ética e moral no seio da sociedade. Representa,
sobretudo, uma anomalia do processo de produção econômica
capitalista, que compromete o crescimento econômico uma vez que
este é dependente da distribuição de renda equilibrada entre os salários,
que geram demanda, e os ganhos capitalistas, que geram os meios de
produção. A presença exagerada do participante rentista, não dotado
de característica de consumidor e nem de investidor, retirando moeda
do circuito da produção e consumo e retendo-a em forma de ativo
financeiro, gera desequilíbrio entre a quantidade de renda produzida e
a que será efetivamente consumida em cada ciclo econômico.
122
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
123
LEITE, José Alfredo A. Macroeconomia: teoria, modelos e instrumentos de
política econômica. São Paulo: Atlas, 1994
LLUSSÁ, Fernanda Antonia Josefa. Credibilidade e administração da dívida pública:
um estudo para o Brasil. Rio de Janeiro: BNDES, 1998.
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economia governamental. (Trad.) Auriphebo Berrance Simões. São Paulo:
Atlas; Brasília: INL, 1973.
MUSGRAVE, Richard Abel. The teory of public finance. New York: Mcgraw-
Hill, 1959.
PEREIRA, José Matias. Finanças públicas: a política orçamentária no Brasil.
São Paulo: Atlas, 1999.
GIAMBIAGI, Fábio; MOREIRA, Maurício Mesquita. A economia brasileira nos
anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
124
Educación y trabajo docente.
La Educación Superior en Cuba
1. Desarrollo
125
En el caso de la Educación Superior los planes se han ido
perfeccionando en función de la pertinencia social y abarcan un amplio
campo de desarrollo hacia la formación de pregrado, de posgrado,
de investigación científica y de extensión universitaria, teniendo en
cuenta las condiciones histórico-concretas. En este nivel de enseñanza
la vinculación continua entre docencia e investigación ha sido
imprescindible para el trabajo, el profesor enseña a aprender y aprende
enseñando, para lo cual requiere actualización teórica y preparación
metodológica en función del profesional que está formando.
La capacidad del ser humano de transmitir sus conocimientos y
experiencias le ha dado una gran ventaja, la de enseñar y aprender. Sin
embargo, el binomio que se forma entre enseñar y aprender no es simple,
razón por la cual en las comunidades de profesionales y de educadores
tienen lugar importantes debates e intercambios sobre la instrucción en
la que muchos de los especialistas coinciden en indicar que la docencia
universitaria necesita respaldo teórico de carácter científico y probatorio
con referencia continua que demuestre las fuentes utilizadas y que
estimule el enfrentamiento a diversos enfoques.
El desarrollo de habilidades profesionales se convierte en un
aspecto de especial importancia en la proyección del trabajo docente
de los profesores universitarios, es una tarea esencial en el proceso
de enseñanza-aprendizaje, aunque tiene que seguir atendiéndose el
resto, porque en muchos casos los estudiantes llegan a la Universidad
con carencias y necesidades de seguir desarrollando sus estructuras
cognitivas, sus posibilidades de adquirir información de las fuentes, de
expresarse y comunicarse adecuadamente en una sociedad en constante
perfeccionamiento, de ahí que los docentes al impartir sus clases tengan
que situar la esencia humana de sus Disciplinas en el centro del quehacer
pedagógico universitario.
126
En la docencia el profesor direcciona su trabajo hacia la realidad
de forma tal que aprender se considere un proceso de construcción y
reconstrucción de saberes sobre objetos, procesos y fenómenos por parte
del sujeto que aprende al adquirir no sólo conocimientos, sino también
formas de comportamiento, aptitudes, valores, en correspondencia con
sus conocimientos previos, experiencias, motivaciones e intereses acorde
al contexto sociocultural.
La Universidad es fuente directa para responder a las demandas
de la sociedad, de allí emergen profesionales, dirigentes, responsables
del futuro, que deben tener autonomía y responsabilidad para actuar
y tomar decisiones, donde su preparación y formación universitaria
es decisiva.
La enseñanza en la Educación Superior sitúa al profesor
universitario como dirigente del proceso de enseñanza aprendizaje que
orienta y mediatiza el aprendizaje, elevando las exigencias de acuerdo
a las concepciones más actuales del conocimiento y la investigación,
teniendo en cuenta el factor sociológico, psicológico y pedagógico.
Una clase de excelencia en la Educación Superior necesita
una investigación de excelencia, como afirma la profesora Francisca
López Civeira:
127
tomando como referencia el mejoramiento de los resultados en los
diagnósticos aplicados a través del semestre.
El trabajo docente en la Educación Superior al concebir la
aplicación de una didáctica desarrolladora se imbrica con los procesos
de socialización y comunicación que propician la independencia
cognoscitiva y la apropiación del contenido de enseñanza
(conocimientos, habilidades, valores).
Se trabaja además en la formación de un pensamiento reflexivo y
creativo, que permita al estudiante “llegar a la esencia”, establecer nexos
y relaciones y aplicar el contenido a la práctica social, de modo tal que
solucione problemáticas no sólo del ámbito universitario, sino también
familiar y de la sociedad en general.
Cuando el estudiante consulta diversas fuentes y se entrena
con enfoques diferentes sobre diversos temas que antes no conocía se
implica afectivamente y comparte con otros coetáneos, con la familia,
la comunidad y la sociedad es capaz de asumir posiciones y deviene en
dinamizador del proceso formativo del profesional.
El aula universitaria constituye un lugar donde se comparten
ideas, se estimulan pensamientos, se amplía la capacidad de pensar, de
ejercitar en argumentos de temas, que incluyen problemas, preguntas,
sugerencias en la que los docentes en sus relaciones con sus estudiantes
pueden cumplir su función de formadores.
El profesor que trabaja en esta enseñanza necesita conocer el
modelo del profesional de la Carrera y la actividad laboral que realizarán
una vez graduados, la docencia en este nivel no se limita al empleo de
las fuentes sino a ampliar el espectro de su aplicación en el proceso
docente educativo que transita durante cinco años y que esto constituya
un disfrute en la asimilación de los conocimientos, ello implica que en
el trabajo docente se desarrolle una valoración personal de lo que se
estudia, de modo que el contenido adquiera sentido para el alumno
128
y que este interiorice su significado, aspecto que se controla en las
universidades cubanas con la aplicación de las encuestas de satisfacción
a los estudiantes sobre las diferentes materias que recibe.
Trabajar en función del modelo del profesional en las diferentes
Carreras por parte de los docentes estimula el desarrollo de estrategias
que permiten regular los modos de pensar y actuar, que contribuyan a la
formación de acciones de orientación, planificación, valoración y control.
En Cuba, las experiencias de los últimos años, llevan a plantear la
necesidad de redefinir el objeto de estudio de la Teoría de enseñanza que
tiene precisamente por objeto el estudio del proceso de enseñanza de
una forma integral. En la actualidad la Teoría de la enseñanza tiene como
objeto: la instrucción y la enseñanza, incluyendo el aspecto educativo
del proceso docente, las condiciones que propicien el trabajo activo y
creador de los estudiantes y su desarrollo intelectual.
Hay autores que han limitado la Teoría de la enseñanza al proceso
de enseñanza, centrando la atención sólo en el docente, sin embargo se
ha demostrado que este debe ser en el proceso de enseñanza-aprendizaje,
en su carácter integral desarrollador de la personalidad de los alumnos,
expresado en la unidad entre instrucción, enseñanza, aprendizaje,
educación y desarrollo.
Dentro del trabajo docente en la Educación Superior la selección
de métodos y procedimientos por parte del docente es básica para
garantizar la dinámica del proceso, de forma tal que se imponga la
exclusión gradual de los métodos reproductivos y que todo análisis se
haga con carácter productivo, reflexivo y aplicativo para enriquecer
las potencialidades instructivas y educativas del proceso de enseñanza
desde lo histórico-social.
En el mundo de hoy, donde la información y las comunicaciones
han alcanzado niveles insospechados con el desarrollo de las
tecnologías, el profesor ha dejado de ser la única y principal fuente
129
de información, por lo que se ha empleado el término de facilitador
para quienes ejercen esta profesión, pero la enseñanza no puede ser
despersonalizada, este docente debe lograr el disfrute colectivo en
el intercambio con sus estudiantes y para eso tiene que sentir lo que
dice, tiene que creerse, llegar con la palabra y no dejarse aplastar por
la revolución científico-técnica.
La convergencia entre la electrónica, la informática y las
telecomunicaciones que se experimenta en la actualidad impone a los
estudiantes universitarios modificar en lo esencial no solo sus hábitos
y patrones de conducta, sino incluir su forma de pensar puesto que
las nuevas Tecnologías de la Información y las Comunicaciones (TIC)
transforman a corto plazo las estructuras y sistemas educativos de los
países donde se ha aplicado con intensidad, agudizando al mismo tiempo
desigualdades y diferencias entre los sistemas educativos de los llamados
países del tercer mundo ya que el nivel de acceso no ha sido homogéneo.
El Sistema Educacional cubano ha hecho grandes esfuerzos para que
exista la mayor equidad posible al poner al alcance de profesores y
estudiantes los recursos disponibles para su preparación acorde al nivel
en que se trabaje y estudie.
Es innegable que la rapidez de la información a veces cambia
el significado del contenido y si el profesor no se actualiza puede
llevar imprecisiones o conceptos y metodologías desactualizados en
el tratamiento de un tema, por lo que en el proceso de enseñanza-
aprendizaje adquiere gran importancia la constante preparación del
docente, saber discernir entre lo esencial y no esencial de los contenidos
que imparte y despojarse de prejuicios para tratar temas de forma clara
y objetiva, no dejar intersticios teóricos, vincular los contenidos a
la realidad social con flexibilidad de pensamiento que conduzcan al
intercambio de alto nivel para la sociedad.
130
La enseñanza en la Universidad debe crear un clima favorable
en la comunicación con flexibilidad de pensamiento que genere una
motivación intrínseca en los estudiantes en función de sus expectativas,
por lo que el profesor universitario tiene que ser especialista en
diagnóstico, en recursos de aprendizaje y dominar contenidos
interdisciplinarios que le permitan orientar al estudiante, de forma tal
que enseñe, investigue y gestione el conocimiento.
El profesor universitario, como profesional dedicado a la
enseñanza, debe aspirar a ser especialista al más alto nivel de la Ciencia,
constante investigador que amplía fronteras de su rama del saber y como
miembro de una comunidad académica asumir conductas y actitudes
que le permitan contribuir a la formación de valores en sus educandos.
En Cuba, el alma de la escuela en cualquier nivel de enseñanza,
incluso la universitaria, ha sido y seguirá siendo el educador, de ahí que
para el logro de la necesaria comunicación “…lo decisivo será siempre la altura
humana, el compromiso con la nación a la que se pertenece y la cultura histórica y
pedagógica que logre adquirir como parte imprescindible de su cultura general e
integral el docente universitario”(4), es por ello que cuando se estudien los
principales resultados del trabajo docente en las Disciplinas que se
cursan en las diferentes Carreras se aprecia al docente como un laborioso
sembrador de ideas en sus estudiantes, que entraña una síntesis de
ciencia, arte y pasión.
Es decir, el trabajo docente en la Universidad logra sembrar ideas
para enseñar a argumentar, ejecutar y proyectar tareas de aprendizaje que
constituyen fuente formidable de educación en valores, e instrumento
imprescindible para la ineludible batalla de pensamiento que se requiere
en la actualidad y enfrentar los desafíos de estos tiempos.
131
Desde inicios del triunfo revolucionario el Comandante Ernesto
Guevara había alertado: “…se necesita un largo camino, un proceso… de largos
años de estudio… el estudio no es patrimonio de nadie… pertenece al pueblo entero…
por eso quisiera que ustedes, hoy dueños de la Universidad, se la dieran al pueblo…” (5)
Esas ideas fueron llevándose a la práctica a través de programas
educacionales para elevar la cultura general integral del pueblo cubano
en los diferentes niveles de enseñanza, dentro de esos programas
el Proceso de Universalización de la Educación Superior ocupó un
importante lugar, posibilitando extender progresivamente la enseñanza
universitaria a todos los municipios del país con la implementación de
un nuevo modelo pedagógico.
El proceso en sí generó dificultades porque rompía esquemas de
enseñanza aplicados tradicionalmente y proponía transformaciones en
el aprendizaje de los estudiantes. Para los profesores constituyó un gran
reto pues necesitaban estar capacitados al asumir una docencia diferente
utilizando alternativas que permitieran materializar los propósitos de
la Educación Superior hacia el logro de la independencia cognoscitiva
de los estudiantes, modificando la interacción personal entre profesor y
alumno por la acción conjunta de diversos recursos didácticos y el apoyo
de tutores que orientaran y posibilitaran el aprendizaje.
El aprendizaje, en el nuevo modelo que se estructuró para la
Universalización, mostró la necesidad de una mayor vinculación a la
sociedad que los modelos tradicionales, muchos de los estudiantes que
se fueron insertando en este proceso formaban parte de una población
que no aspiraba ni tenía proyectos de cursar una Carrera universitaria
y ante los nuevos planes de la Revolución encontraron una posibilidad
de estudiar y formarse como profesionales universitarios; la labor de
132
los docentes y tutores insertados en el proyecto, identificados con los
objetivos y aspiraciones del mismo, asumieron ese proceso de interacción
en los municipios, apoyados por el colectivo de la Universidad (Sede
Central), donde la participación y cooperación entre sus miembros
pudiera ir propiciando el desarrollo desde adentro.
En esa interacción los estudiantes se fueron apropiando de la
realidad con reflexión sobre sus propias necesidades de forma consciente,
adquiriendo autonomía en el establecimiento de fines y compromisos
que facilitaran el aprendizaje y desarrollaran valores con protagonismo
en estos procesos.
Como señalara el Dr. Carlos Álvarez, “…el estudiante como sujeto de su
aprendizaje, de su formación no se incorpora a la dinámica del proceso de una forma
eficiente por la simple exigencia social expresada en el objetivo trazado por el profesor
a él como punto de partida; lo hace cuando esta exigencia externa se convierte en una
necesidad propia.”(6)
El encargo social de este nuevo modelo da prioridad a la acción
de los educandos, reconoce problemas y ofrece oportunidades para
que actúen potenciando el saber en saber hacer a través de contenidos
procedimentales que a su vez potencian actitudes y comportamientos
para saber actuar en contenidos actitudinales y de la esfera de los valores
en función de objetivos educacionales claramente definidos.
Hoy la Educación Superior en Cuba continúa perfeccionándose,
el proceso de Integración constituye la piedra angular en las nuevas
transformaciones del Ministerio de Educación Superior con el objetivo
de contribuir a seguir elevando la calidad, la equidad y la pertinencia
en este nivel; para ello se trabaja en el respaldo jurídico hacia la
preparación continua de profesionales, la formación del perfil amplio y
la especialización posterior, con el objetivo de garantizar su superación
133
de acuerdo con la plaza que le corresponde ocupar, pero en el proceso
de Integración que recién se inicia es importante mantener el equilibrio
entre el aparato conceptual pedagógico y el conocimiento de las
Ciencias particulares. La Cultura General es básica, el educador debe
saber de diagnóstico, objetivos, métodos, estrategias de aprendizaje
y niveles de desempeño cognitivo, con amplio dominio del sistema
de conocimientos de las Disciplinas particulares para lograr una
proyección pedagógica confiable.
En este proceso de perfeccionamiento y transformaciones se trata
de ir integrando los Centros de Educación Superior, con la preparación
de perfiles amplios para enfrentar los retos actuales; la creación de un
nuevo nivel de enseñanza de Educación Superior no Universitaria, la
disminución del tiempo de duración de las Carreras universitarias, el
establecimiento del dominio del idioma inglés para obtener el título
universitario son algunos de los cambios propuestos.
Para ello las Universidades les brindarán a los estudiantes
diversos cursos y el acceso a plataformas informáticas que les permitan
aprender de forma autónoma, los profesores por su parte continuarán
perfeccionando su trabajo teórico, metodológico e investigativo en sus
diferentes formas de docencia, vinculados al perfil profesional de los
estudiantes, de forma tal que estimule el pensamiento, la capacidad de
reflexión y aplicación con voluntad transformadora ante los cambios
que requiere la sociedad sobre principios de igualdad y justicia social.
Bibliografía
134
Colectivo de autores. Didáctica. Teoría y Práctica. Editorial Pueblo y
Educación. La Habana. 2007.
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Artículo de la red Galeón. Consultado el 30-09-2015.
135
BREVE PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
(2005 – 2014)
1. INTRODUÇÃO
137
Contudo, mudanças estruturais quanto à terminalidade
da Educação Básica – que têm garantido a ampliação do número
de concluintes do Ensino Médio – têm exercido pressão pela
democratização do acesso aos chamados níveis mais elevados da
Educação. Apesar de não haver consenso sobre o reconhecimento
da Educação Superior como um Direito2, o fato é que cada vez mais
jovens brasileiros vislumbram a possibilidade de ter uma formação
em nível superior.
Este anseio tem, de alguma forma, repercutido sobre a formulação
de Políticas Públicas. De um lado, tem-se o enunciado dos Planos
Nacionais de Educação (PNEs) que estabelecem como meta uma taxa
de escolarização líquida de 30% (BRASIL, 2001) e 33% (BRASIL, 2014)
e, de outro, iniciativas que promoveram a ampliação da oferta de vagas
em instituições públicas e privadas. Sem adentrar no debate sobre
a natureza das escolhas políticas realizadas e do modelo escolhido
para a ampliação, este texto objetiva apresentar um panorama geral da
Educação Superior no Brasil no que se refere às mudanças na oferta de
vagas aos cursos de graduação, aos custos e ao perfil das Instituições de
Ensino Superior a partir de 2004, quando tramita no Congresso Nacional
o Projeto de Lei n.º3582, que institui o Programa Universidade Para
Todos (ProUni), entendido aqui como um marco efetivo de perseguição
à meta imposta pelo PNE 2001 e que passou a conceder bolsas parciais
e integrais de estudos em Instituições Privadas de Ensino Superior para
estudantes oriundos da Rede Pública de Educação Básica.
2. POLÍTICAS E INDICADORES
138
Instituições de Ensino Superior do país, tanto as públicas quanto as
privadas. Esse conjunto de medidas foi constituído: (i) pelo ProUni,
instituído pela Lei n. 11.096/2005; (ii) pelo REUNI (Programa de Apoio
à Planos de Reestruturação e Expansão das Universidade Federais)
instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007; (iii) pela
instituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica
e Tecnológica (Lei n. 11.892/2008); (iv) pela reformatação dada em
2010 ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), por meio da Lei n.
12.202/2010 e (v) pela Lei n. 12.711/2012 que instituiu a Política de Cotas
nas Universidades e Instituições Federais de Ensino Superior.
Conforme podemos verificar no Gráfico a seguir, a demanda por
este nível de ensino é atendida sobretudo pelo setor privado, cuja curva
de crescimento de matrículas praticamente acompanha a curva total na
última década. Apesar de, no conjunto, representar muito menos que
as matrículas privadas, as matrículas em instituições federais também
passaram por um significativo incremento a partir de 2010, resultado do
REUNI e da ampliação e interiorização da Rede de Institutos Federais
de Educação Tecnológica. Segundo levantamento realizado pelo Grupo
de Estudos Multidisciplinares em Ação Afirmativa (GEMAA), diferente
daquilo que brada o senso comum, a política de cotas implementada pela
Lei n.º 12.711/2012 não subtraiu vagas ocupadas tradicionalmente pela
meritocracia. O argumento é que, antes da lei, por efeito do REUNI, o
número total de vagas em Instituições Federais de Ensino Superior –
IFES praticamente dobrou. Então, as cotas ocupam essa dilatação da
oferta, restando intocável o lugar tradicionalmente reservado à “classe
média” na Universidade (FERES JUNIOR et al., 2013).
139
GRÁFICO 1 – Evolução das matrículas no Ensino Superior,
segundo a categoria administrativa (2004 – 2013)
Fonte: a autora (2014), a partir dos dados do Censo da Educação Superior 2004 – 2013,
MEC/INEP.
140
(BRASIL/MEC/INEP, 2004), portanto muito aquém da meta do PNE de
2001, que impunha 30% de escolarização líquida até o final da década.
Este dado foi usado como argumento para a defesa da implementação do
ProUni, durante sua tramitação no Congresso Nacional no ano de 2004,
já que se considerava impossível atingir a meta sem o fomento à iniciativa
privada. No ano de 2012, a taxa de escolarização bruta subiu para 28,7%
e a taxa líquida para 15,1% (IBGE/PNAD, 2012 apud BRASIL/MEC/
INEP, 2012), o que mais uma vez sugere que as políticas de ampliação
do acesso ao Ensino Superior têm contribuído para a inclusão efetiva
dos mais jovens, egressos do Ensino Médio.
141
conforme demonstrado na Tabela acima, a proporção de vagas ocupadas
por bolsistas gira em torno de 20% do total daquelas oferecidas pelas
IES privadas. Cumpre lembrar que há uma variedade de instituições
privadas no que se refere à organização acadêmica (Universidades,
Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades Isoladas)
bem como ao perfil das mantenedoras (filantrópicas, comunitárias,
com fins lucrativos). Apenas as IES filantrópicas e sem fins lucrativos
é que são obrigadas, por lei, a aderir ao ProUni. As demais instituições
aderiram voluntariamente em troca de um pacote de isenções fiscais
(BRASIL, 2005).
Contando com 87% das instituições e 73% das matrículas, o setor
privado é prevalente no que se refere à oferta de Educação Superior
no país. O perfil é dessas instituições é, na sua maioria, composto por
pequenas faculdades, localizadas no interior, o que contrasta com a
realidade das instituições públicas – especialmente as federais – que
são majoritariamente Universidades localizadas nas capitais (BRASIL/
MEC/INEP, 2012).
Considerando a maior capilaridade das IES privadas, compreende-
se o fomento que o Estado brasileiro deu ao setor. Se, de um lado, há
a política de bolsas, que garantiu o acesso em regime de gratuidade
para a grande maioria dos beneficiados em IES privadas4, de outro, a
partir de 2010, com a nova formatação dada ao Fundo de Financiamento
Estudantil (FIES) há uma mudança profunda no financiamento das
IES privadas que têm nele uma ferramenta importante de garantia de
pagamento pelos serviços prestados.
142
TABELA 2 – Comparativo entre o número de contratos do
FIES e a ampliação do total de matrículas em IES
privada (2009 – 2013)
143
Grupos Consolidadores), interessados em retorno rápido e no mercado
em expansão. Para se ter ideia, segundo dados da consultoria Hoper
Educação (2014), em 2004 as vinte maiores empresas prestadoras de
serviços educacionais de nível superior concentravam 14% das matrículas
do setor privado. Em 2013, doze Grupos Consolidadores detiveram 40%
das matrículas das IES privadas, sendo que os dois maiores (Kroton e
Anhanguera) concentravam mais de um milhão de alunos.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
144
2024. Meta ousada, considerando que esta taxa era, em 2010, de apenas
28%. Contudo, na comparação com alguns países5, há muito ainda a
ser conquistado, sem descuidar do debate sobre o modelo de Educação
Superior que o país precisa e para qual projeto de Nação.
REFERÊNCIAS
145
_____. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>. Acesso em:
20/04/2013.
_____. MEC/INEP. Resumo técnico do Censo da Educação Superior: 2004 – 2012 (9
v.). Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/
censosuperior/Resumo_tecnico-Censo_2004.pdf>. Acesso em: 29/09/2014.
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146
Las formas y relaciones de trabajo en Cuba
1. Introducción
147
presenta sencilla en un primer momento, pero que se complejiza luego
cuando se analiza cada uno de los ámbitos donde se realiza el trabajo, por
los entrelazamientos que se dan entre ambos ámbitos, y la diversidad en
las fuentes de trabajo. La imposibilidad de abarcar las diversas formas
de trabajo con la profundidad que requerirían, es el principal obstáculo
al emprender un tema novedoso y al mismo tiempo tratado de manera
fragmentada por disímiles enfoques y disciplinas. De esta manera es que
se decide irrumpir en las formas del trabajo, atendiendo a las relaciones
sociales en que este se inserta, es decir, dentro y fuera del empleo.
Es un desafío al poder de síntesis, revelar mediante un recorrido
por varias décadas del proceso revolucionario cubano, el lugar e
importancia que se le confiere a al empleo en la política social del país,
los resultados positivos alcanzados, y las incongruencias que en algunos
momentos surgieron por la falta de concordancia de la política económica
y la política social; hasta llegar al contexto actual de transformaciones
que contiene aspectos que en décadas anteriores se consideraban
inamovibles. De ahí, la importancia que desde la perspectiva histórica
se realicen adecuadas precisiones y justas valoraciones de cada período,
sin los cuales pudieran aflorar interpretaciones sesgadas, parciales,
poco explícitas de la necesidad y el sentido de las transformaciones que
acontecen en el país.
148
factor más importante de las fuerzas productivas de la sociedad: el hombre.
El empleo se concibe cuando un trabajador o (a) un (empleado (a))
ofrece al empleador su fuerza de trabajo mediante un contrato., es decir
las energías físicas y mentales que posee a cambio de una remuneración
(salario, sueldo). 4, Marx concibe la capacidad o fuerza de trabajo como
“el conjunto de las condiciones físicas y espirituales que se dan en la
corporeidad, en la personalidad viviente de un hombre y que éste pone
en acción al producir valores de uso de cualquier clase” (Marx, 1973).
El nivel del salario, las condiciones en que se realiza el trabajo, las
oportunidades de promoción en los puestos de trabajo, de capacitación, y
el nivel de cobertura de protección y seguridad de los trabajadores (salud,
seguridad social, entre otros), depende del sistema socioeconómico
imperante en el país, del desarrollo económico y social que posea, y la
organización y fuerza del movimiento obrero5. De igual manera influye
la dimensión y el poder económico de las empresas empleadoras, y el
tipo de contrato convenido entre empleado/empleador.
149
Por ser uno de los elementos esenciales de la relación de trabajo,
es imprescindible definir las relaciones laborales, cuyos elementos no
existen de manera aislada, sino que en conjunto forman un sistema
en que sus componentes están interrelacionados. El sociólogo cubano
Euclides Catà Guilarte señala que en el plano teórico nacional e
internacional se entiende por relaciones laborales, “como aquellas que
se establecen entre el sindicato, los trabajadores, gerentes, y entidades
laborales en las que el Estado, y las entidades que lo forman regulan el
empleo a través de diversas leyes, decretos, normativas, orientadas a la
sociedad y a las esferas parciales (sectores productivo y de servicios)”.
(Cata E., 2004).
En la economía formal son las organizaciones empresariales las
que demandan mayor número de empleos, y constituyen las fábricas,
empresas u otras entidades un importante ámbito de socialización para
el individuo. Al integrarse a la vida laboral, surge ante el empleado, un
nuevo referente social donde se ponen de manifiesto nuevas pautas,
costumbres, comportamientos y se promueven y trasmiten valores.
A través del desarrollo de la ciencia, se introducen en la
producción y los servicios nuevas tecnologías, y se crean empleos que
exigen mayor nivel de conocimientos y habilidades, lo que no descarta
las formas de empleos habituales en ramas tradicionales que ocupan a
trabajadores de poca calificación a cambio de bajas remuneraciones.6 En
los países de menor desarrollo, en correspondencia con las insuficiencias
150
de la estructura productiva e infraestructura, predominan los empleos u
ocupaciones que requieren menor intensidad de conocimientos.
En relación al empleo de hombres y mujeres, todavía está presente
en países de diversos niveles de desarrollo la segmentación sexual del
trabajo, tampoco se ha podido suprimir las prácticas discriminatorias
de que son objeto las mujeres, que junto a los jóvenes – sobre todo las
mujeres jóvenes-, son los más frágiles en el mercado de trabajo. Vale decir
sin embargo, que si se analiza en el tiempo, internacionalmente se ha ido
dando una mayor presencia femenina en el empleo, aunque continúa
reinando las desigualdades en las remuneraciones de las mujeres con
respecto a los hombres por igual trabajo aportado.
Aunque cada uno con sus particularidades, en los países
de diferentes niveles de desarrollo económico, existe también el
autoempleo o trabajo por cuenta propia, considerado un componente
del sector informal, una actividad privada, que tiene por titular una
persona o un colectivo, según la forma básica que adopte, siendo el
titular o la directiva del grupo quien responda por las obligaciones
y los riesgos económicos. La primera de estas formas se visualiza
especialmente en algunos oficios y profesiones- editores, diseñadores,
contables, asesores financieros, artesanos, etc que realizan un
trabajo autónomo o con una porción pequeña de ayuda familiar o de
contratados; y la segunda, el trabajador puede ser miembro de una
organización como lo es una cooperativa de producción, de trabajo, o
cualquier otra sociedad laboral con derecho pleno a participar en sus
beneficios y en la toma de las decisiones.7 En realidad, hay diversas
tipologías del trabajo por cuenta propia, desde el trabajo autónomo,
personal, hasta la presencia de unidades económicas que funcionan a
pequeña o mediana escala, pero que por las ganancias que ingresan son
consideradas microempresas.
151
3. El trabajo fuera del empleo
152
vecinos, colegas, que antes situaciones similares puede ser recompensado
de la misma manera, el segundo, es más anónimo, no está basado en
obligaciones de interacción interpersonal ni asociado a ningún tipo de
recompensa recíproca. Ambas formas son igualmente de gran valía por
lo que ellas tributan en el bien y el valor social.
Tanto el trabajo con fines de la reproducción, de solidaridad
social y el trabajo voluntario puede ser realizado por trabajadoras (es)
asalariadas (os), por lo que se plantea que estos tienen una doble y
hasta triple jornada de trabajo. El hecho de que el trabajo doméstico lo
realicen las denominadas “amas de casas” u hombres que residen solos
en el hogar, no cambia para nada el beneficio social de este trabajo.
Internacionalmente se reconoce que son las mujeres las que
realizan la mayor carga del trabajo doméstico. Aun cuando se registre
la creciente concurrencia de las mujeres al mercado de trabajo, son
múltiples los factores que inducen a que la población femenina
apta para el trabajo, posea calificación o no, busque ocuparse en la
economía formal o informal frente a la carestía de la vida cotidiana, y las
posibilidades de contribuir a sufragar parte de los gastos del hogar. El
creciente apoyo público o privado para el cuidado de niños y ancianos
en instalaciones creadas al efecto en las ciudades (guarderías, círculos
infantiles, seminternados e internados, hogares de ancianos), y la
existencia de establecimientos de comidas rápidas, y otros proveedores
de importantes servicios, atenúan la carga de trabajo doméstico y
favorecen la incorporación de las mujeres a un empleo.10
pagado que es una modalidad de empleo asalariado. Hay otros elementos que se
aprecian especialmente en los países desarrollados y es la extensión de la edad fértil
de la mujer y la tardanza en formar un hogar y decidir tener hijos. El empleo doméstico
pagado, bastante generalizado en algunos países es en fin de cuentas trabajo asalariado
y no el trabajo doméstico al que se hace referencia en el epígrafe
153
4. El trabajo dentro y fuera del empleo en Cuba
154
Entre los derechos, deberes y garantías fundamentales contenidos
en la nueva Constitución se plantea, que el trabajo en la sociedad socialista es
un derecho, un deber y un motivo de honor para cada ciudadano (Cap. VII, artículo
45)15 La prioridad que se le dio al empleo desde los primeros años del
proceso revolucionario, con la nueva Constitución quedaba refrendado
como un derecho. Por otro lado, en correspondencia con la igualdad de
todos los ciudadanos, expresados en el artículo 42 de la Constitución
(Cap. VI), irían desapareciendo las expresiones discriminatorias por
raza, color de la piel, sexo, origen nacional, creencias religiosas y
cualquier otra lesivas a la dignidad humana. La igualdad para alcanzar
un empleo no sería la excepción
Puede afirmarse, que en las dos primeras décadas de la Revolución
el comportamiento del empleo u ocupación muestra resultados positivos.
El número de personas aptas para el trabajo que pudieron ocuparse en
la esfera de la producción o de los servicios, influyó en el crecimiento
económico del país, y en los ingresos de las familias, ambos necesarios
para disminuir las inequidades y desigualdades heredadas del pasado.
Sin embargo, la insuficiente atención a los vínculos entre la política
social y la política económica y a la influencia entre ambas políticas y sus
objetivos, dio lugar a que los recursos disponibles para la producción y
los servicios no se utilizaran con la eficiencia posible.16 17
155
Desde el primer quinquenio de los años ochenta, comienza a
vislumbrarse elementos germinales de desproporciones económicas
y desequilibrios financieros así como comportamientos no deseados
en la esfera laboral. En ese período el crecimiento de la economía del
país es de un 8% como también crecen la productividad del trabajo, las
remuneraciones, y la ocupación. Esta última crece vertiginosamente18
mediante el pleno empleo garantizado por la vía estatal, con pretensiones
de evitar el desempleo ante la llegada a la edad laboral de los nacidos
en la década del sesenta, en que hubo una real “explosión demográfica”
A pesar del crecimiento económico, se podía apreciar que la diferencia
entre el ritmo de crecimiento anual de la productividad del trabajo y, de
los salarios era poco significativa correlación entre estos últimos daba
señales de ineficiencia en el uso de la fuerza de trabajo.
El cambio de estructura de la ocupación que favorecía en el
quinquenio anterior a las actividades de servicios, privilegió ahora las
actividades del sector productivo, en especial a la agricultura. Este
cambio de estructura influyó en la disminución en un 15% de mujeres
incorporadas a nuevos empleos, y las actividades por cuenta propia
que pudieran haber servido como alternativa de empleo no fueron
suficientemente vigorizadas.
156
En el quinquenio 86-90 algunos comportamientos negativos en
el ámbito laboral, fueron más visibles. La indisciplina laboral en sus
diversas manifestaciones, además de las fluctuaciones de trabajadores,
mostraba la desmotivación por el trabajo. La etapa denominada
proceso de rectificación de errores y tendencias negativas, iniciado en Cuba
partir del año 1986, intentó recuperar la moral de trabajo, suprimir las
“plantillas infladas” y erradicar otras situaciones ilegales que habían
ido proliferando en las empresas estatales. Más allá de las conductas
indeseadas no acordes con el sistema socioeconómico que se construía,
el modelo económico vigente daba señales de agotamiento.
El año 1989, se establece a través de la Resolución 51 cuestiones
centrales de las relaciones laborales en el país. Aun cuando se omitían
importantes relaciones de trabajo que tenían lugar en la sociedad cubana
como el trabajo por cuenta propia o autoempleo, era imprescindible
rescatar la centralidad del trabajo, y ofrecerle mayor jerarquía a los
ingresos cuya fuente principal fuera la cantidad y calidad del trabajo
aportado.19
157
derrumbe del llamado “socialismo real” en los país del entonces campo
socialista fue el detonante de la irrupción de la crisis, otros factores
(externos e internos) influían en la situación económica existente y en
las posibilidades de una salida de la crisis.
En el plano externo, se le añadía a las graves afectaciones por lo
acontecido en el campo socialista, los estragos del bloqueo económico,
comercial, financiero, impuesto por los Estados Unidos de Norteamérica
a Cuba, y su recrudecimiento con su alto costo económico y social. El
bloqueo económico, constituyó – y constituye en la actualidad 20-, un
obstáculo notorio para iniciar un proceso de recuperación económica y
continuar paulatinamente el desarrollo previsto
En lo interno, las desproporciones y desequilibrios económicos,
las insuficiencias en el uso de los factores de la producción (material y
humano), el déficit presupuestario, y la escasez de divisas convertibles
eran las características que matizaban el contexto existente. En ese
escenario se debía decidir un derrotero factible para la recuperación
económica, que evitara las medidas de “choque” que pusieran en peligro
la protección de los trabajadores, y las conquistas sociales que obraban a
favor de la homogenización social y la equidad en la sociedad cubana.21
Emprender los ajustes en la economía y a la vez garantizar
las conquistas sociales, era un proceso difícil, pero que no admitía
postergarse en el tiempo. Se inicia el período de ajustes a partir de
1993, con la adopción y establecimiento de medidas estructurales,
organizativas, y funcionales que indicaba que se trataba de una reforma
158
económica desplegada en el contexto del periodo especial22, en la cual se
colocaba a la eficiencia en el centro de la política económica. Era una
necesidad imperiosa la adaptación del modelo económico cubano a la
realidad nacional e internacional, pero, si complejo resultaba insertarse
en el mercado internacional, no menos lo era emprender el saneamiento
de las finanzas internas y recaudar divisas para resolver el déficit de la
liquidez monetaria internacional.
En lo concerniente al camino seleccionado, en el período 1993-
1996 se adoptan medidas para acrecentar un mayor número y diversidad
de formas de propiedad y de gestión no estatales. Mediante la apertura
de la inversión extranjera surgen las empresas mixtas; se crean Unidades
Básicas de Producción Cooperativas (UBPC) en las hasta entonces
empresas agropecuarias estatales y se amplía el trabajo por cuenta
propia, este último persiguiendo dos objetivos, aumentar la oferta de
bienes de consumo y servicios destinados a la población, y una alternativa
viable de empleo para el alto número de subempleados y trabajadores
disponibles sin posibilidades de ser reubicados por el Estado.
Cabe subrayar que, el mantenimiento del pleno empleo por la
vía estatal,23no había ofrecido hasta entonces, suficiente espacio al
autoempleo o trabajo por cuenta propia. Según estudiosos del sector
informal y sus etapas en Cuba, si bien el trabajo por cuenta propia en
décadas anteriores no fue suprimido, la política del Estado orientada al
sector informal, y al trabajo por cuenta propia en particular, hizo que
su desenvolvimiento tuviera un carácter cíclico, moviéndose entre los
estrechos marcos de la restricción y la tolerancia.24
159
No es posible pasar por alto tampoco el surgimiento del sector
emergente a lo largo de los años noventa, sector que serviría de motor
para el desarrollo y dinamizador de los demás sectores de la economía.
El sector emergente, en que se ubica el turismo por ejemplo, tuvo una
inmediata atracción para el empleo de la población en especial la más
joven y calificada, por las mejores condiciones de trabajo que ofrecía y
las posibilidades de obtener parte de las remuneraciones en moneda
libremente convertible con el estímulo adicional de la tasa de cambio
reinante. ,,25 En la agricultura, las construcciones, las industrias, y otros
sectores estatales tradicionales no era posible ofrecer tales condiciones
ni medios.
En materia de política fiscal y monetaria se realizaron acciones
para disminuir el déficit del Presupuesto y sanear las finanzas
internas. La despenalización de la tenencia de divisas, la autorización
a las remesas desde el exterior, el incremento de visitas familiares de
cubanos al extranjero, fueron claves para el ingreso de divisas al país
y la recaudación mediante la venta de bienes y servicios en las tiendas,
creadas al efecto, para la recaudación de divisas (TRD). Las posibilidades
ofrecidas con esas medidas, diversificó la entrada de los ingresos de las
familias, a lo que se unía la existencia de un grupo de personas asociadas
al mercado sumergido que concentraba en sus manos la porción mayoritaria
de la liquidez monetaria en manos de la población.26 Las afectaciones
a la homogeneidad social y equidad fueron apreciables, no obstante
mantenerse los servicios básicos gratuitos (educación, salud) y la amplia
cobertura de la seguridad social cubana.
160
En la primera década del presente siglo XXI se trató de recuperar
la centralidad del Estado como principal agente empleador y garante
de la protección de los trabajadores en ese ámbito. En ese periodo la
política del empleo fue dirigida al tratamiento legal de los trabajadores
disponibles, buscar programas de empleo territoriales, ampliación de
opciones de empleo en los servicios sociales, se establece el estudio como
empleo, el pleno empleo para discapacitados apto para el trabajo, entre
otros (Echevarría D. 2014). Lo antes referido no en todos los caso tuvo
el efecto deseado, como es el estudio como empleo, muy extendido en
el contexto del redimensionamiento de las industrias, y en particular,
la Restructuración de la Industria Azucarera.27
A partir del año 2007 se inicia el proceso de actualización
del modelo económico y social cubano que modifica las formas de
propiedad, gestión y el empleo. En las nuevas condiciones se emprende
el redimensionamiento del empleo estatal, del que debían salir alrededor
de1.5 millones de personas ocupadas, las cuales debían ser asumidas por
otras formas de empresas no estatales u optar por el autoempleo, cada
una siguiendo las reglamentaciones legales establecidas.
Empero, en los últimos años para la actualización del modelo
económico cubano, y con la aprobación e implementación paulatina de
los Lineamientos Económicos y Sociales se reconoce y promueve además
de la empresa estatal socialista como forma principal en la economía
nacional, otras formas de gestión y diversidad de actores sociales,
además de la planificación que sigue siendo el método fundamental de
conducción de la economía.28
161
En relación a las amplias posibilidades de la contratación de
trabajadores por entidades no estatales, un ejemplo lo constituyen
son las cooperativas agrícolas en sus diversas formas (UBPC, CPA,
CCS) que pueden contratar trabajadores, muchos de ellos por períodos
temporales, en todos estos casos se paga un impuesto por la utilización
de la fuerza de trabajo además del correspondiente pago a la seguridad
social. Mientras que las cooperativas no agropecuarias (CNA) pueden
contratar trabajadores por un período máximo de tres meses, llegado
este tiempo el trabajador contratado se incorpora como miembro de la
cooperativa, o cesa el período de contratación.
Para el trabajo por cuenta propia y las posibilidades de
contratación de trabajadores existen dos regímenes el general, y el
simple, el primero se aplica para los titulares que tienen ingresos
más elevados (paladares, hostales, carpinteros etc.), en el que no se
establece límites en el número de trabajadores a contratar, y hasta
cinco empleados no paga impuesto por la utilización de la fuerza de
trabajo, aunque sí deben pagar la contribución a la seguridad social.
En el simple que son los de menos ingresos, se realiza el trabajo por
lo general con un ayudante o miembros de la familia y se contribuye
solamente a la seguridad social. De acuerdo con la resolución 353/2013,
todas las actividades de trabajo por cuenta propia autorizadas (181)
pueden contratar a trabajadores, aunque se establece la prohibición de
contratación o el empleo a personas que no alcancen la mayoría de edad,
incluso constituye un delito hacerlo.29
162
El nuevo Código de Trabajo 30 que tuvo un amplio proceso
de consulta con los trabajadores, en asambleas dirigidas por las
organizaciones sindicales, fue aprobado en diciembre del 2013 en la
Asamblea Nacional del Poder Popular. Dicho Código, consolida y
perfecciona las regulaciones que garantizan la protección de los derechos
y el cumplimiento de los deberes derivados de la relación jurídico-laboral
establecidas entre los trabajadores y empleadores, y deja expuesto el
reconocimiento y respaldo de las garantías jurídicas de los derechos y
deberes tanto de unos como de otros, atemperados a los cambios que se
comenzó a operar en la economía nacional.
Con el fin de elevar la eficiencia en el trabajo, en el Código de
Trabajo se plantea el principio de idoneidad demostrada para determinar
la persona que se pretende contratar, su permanencia en el cargo,
promoción en el trabajo y capacitación por parte de la entidad, siguiendo
una serie de principios que aparecen en el documento. A las relaciones
de trabajo especiales se le dedica un capítulo (VII), distinguiendo
las relaciones entre personas naturales, y otras relaciones de trabajo
específicas para especialistas y técnicos de algunos sectores y ramas.
(Medicina, rama artística, entre otras).
Conviene resaltar que atemperada a la nueva realidad de cambios
que vive el país, y la búsqueda continua de acrecentar la eficiencia en
el uso de los recursos de que dispone, y en el ámbito laboral una mayor
correspondencia del trabajo aportado con los ingresos provenientes de él,
se establece mediante la Resoluciòn17/2014 cambios en la política salarial,
al vincular el salario a los resultados del trabajo, sin que se determine un
máximo de salario, con algunas excepciones por razones económicas del
comportamiento de los indicadores de la empresa empleadora.
163
6. Una breve mirada al trabajo en el ámbito doméstico en
Cuba
164
retos como el envejecimiento de la población, y el aumento de la relación
de dependencia al que se le està dando atenciòn pero no lo suficiente
todavìa. El envejecimiento de la poblaciòn influye en àmbito laboral y
en el àmbito domèstico, este ùltimo, por las caracterìsticas actuales y
las insufificiencias de la infraestructura para enfrentar la situaciòn que
tiende a crecer. En el año 2014 las personas de 60 años o más era el 19%
de la población cubana ello indica la necesidad de diseñar políticas
que se correspondan con esa realidad, o se afectará la ocupación de las
mujeres que por lo general son las que asumen la responsabilidad de los
adultos mayores. La baja tasa de natalidad, y la migraciones de jòvenes
en grupos de edades propicia para la reproducción no deja de ser un
problema en los años venideros en lo que a reemplazo de trabjadores
se refiere.
7. Conclusiones
165
y estas a su vez al sistema socioeconómico existente. Las relaciones
laborales se establecen mediante regulaciones jurídicas, en las que se
expresa los roles y funciones de los actores centrales involucrados,
siendo principales las relaciones empleador/empleado. El alcance y
lugar del Estado en las relaciones laborales, puede ser mayor o menor,
dependiendo de régimen económico existente, y por ende, del carácter
de dichas relaciones.
El beneficio y valor social del trabajo doméstico, las interrelaciones
vecinales y comunitarias, son un componente de los procesos de
reproducción individual y social. La importancia de esta forma de
trabajo no es suficientemente reconocida y valorada en la actualidad.
Las publicaciones en la mayoría de los casos constituyen un agregado de
las investigaciones sobre la igualdad de género o se utiliza para confirmar
la existencia de patrones culturales patriarcales en los hogares.
El itinerario del empleo en Cuba antes del proceso de
actualización del modelo económico y social cubano iniciado en el
año 2007, muestra los aciertos y desaciertos en el tratamiento del
empleo en las décadas anteriores, La política del Estado del pleno
empleo, – vistas a evitar el desempleo –, convirtió a la vía estatal como
casi la única posible para acceder a un empleo. Las limitaciones al
trabajo por cuenta propia o autoempleo, y la insuficiente variedad de
figuras económicas ofertantes de empleos, condujo a la elevación de
las “plantillas infladas”, el subempleo, la subutilización de la fuerza de
trabajo calificada, la desmotivación por el trabajo, que ocasionaron el
surgimiento de comportamientos negativos no acordes con el proyecto
social que se edificaba.
En el nuevo contexto surgen o se amplía la existencia de
figuras económicas (trabajadores por cuenta propia, microempresas,
cooperativas no agropecuarias), que conjuntamente con las formas
productivas y de servicios existentes con anterioridad están autorizadas
166
para contratar trabajadores. Resumiendo, la actualización del modelo
económico y social, cubano expresado en los lineamientos económicos y
sociales que se implementan en la actualidad, deberá afectar en el corto
plazo la homogeneidad y equidad social imperantes durante décadas,
es inevitable. En el largo plazo, los resultados de las transformaciones
emprendidas deberán provocar mayores beneficios económicos y sociales
a la sociedad cubana.
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168
La política del empleo en Cuba a partir del 2010.
Su expresión en el Trabajo por Cuenta Propia
1. Introducción
169
actividades del país es una de las causas principales que genera dicho
resultado, problemática que se tendría que enfrentar de manera gradual
y progresiva mediante un proceso de reordenamiento laboral. La política
que ha seguido la Revolución implica no dejar a nadie desamparado, así
como propiciar la igualdad de condiciones para que todos los cubanos
tengan una fuente de ingreso legal.
No se trata de que el Estado se presente con un alto carácter
paternalista, sino que tenga la capacidad de reorientar el proceso
hacia los sectores estratégicos del país. El reordenamiento laboral, y su
instrumentación se realiza bajo un férreo control, al igual que las formas
de empleo que se generan en el sector privado individual son controladas
por el Estado, el cual garantiza la regulación de estas nuevas formas de
gestión de la propiedad.
170
la economía subterránea y el subempleo. Se estima que el número de
trabajadores subempleados en 1993 podía haber llegado a un millón
de personas. Esto estuvo determinado no solo por la política de
sostenimiento laboral, lo que implicó a la postre el desequilibrio entre
el salario nominal y real, donde se redujo la capacidad adquisitiva de
la clase trabajadora, debido al bajo respaldo productivo. El impacto
de las medidas sobre el empleo y los salarios fue la caída violenta de
la productividad así como el aumento de la liquidez en la circulación.
Por otro lado, el período especial y la brutal guerra económica del
imperialismo incrementaron los efectos negativos que se venían
manifestando a finales de la década del ochenta con la existencia de
plantillas infladas, enfoques paternalistas desestimuladores del trabajo,
altos índices de ausentismo, afectaciones de la eficiencia, entre otros.
A lo anterior se añade que muchos de los problemas relacionados
con la planificación, formación y distribución de la fuerza laboral, el
desestimulo por los bajos salarios, la insuficiente preparación de los
graduados de las enseñanzas técnica, superior y otros, tanto en las
empresas como en las unidades presupuestadas, se fue solucionando
con la ubicación de más personal, lo que generó las plantillas infladas.
Ante las realidades que enfrenta el país, agravadas por las afectaciones
climatológicas y las adversas condiciones internacionales, confirman la
necesidad de realizar y enfrentar transformaciones necesarias a través
de políticas que respondan a las condiciones históricas.
La optimización en el uso de la fuerza laboral, la elevación de la
productividad del trabajo, el ahorro de recursos materiales y financieros, la
ampliación y diversificación de la producción y los servicios, la generación
de ingresos de divisas a través del incremento de las exportaciones de
bienes y servicios, así como la ley de inversión extranjera, además de
la reducción de las erogaciones mediante la sustitución efectiva de las
importaciones, están dentro de las actuales prioridades.
171
Uno de los aspectos claves a tener en cuenta es la estructura
demográfica de Cuba, el incremento gradual de la edad de jubilación
basado en la necesidad impostergable de lograr enfrentar, en un
largo plazo, el déficit de fuerza de trabajo que provoca el proceso de
envejecimiento y la baja natalidad. Esto no está reñido con la necesidad
de reducir las plantillas infladas e incrementar la productividad y la
eficiencia en la utilización de la fuerza de trabajo. Se hace necesario
por tanto llevar a cabo un proceso de disponibilidad laboral, el que
tiene como premisa el principio de la idoneidad demostrada, aun
cuando en el orden personal los directivos y la vanguardia política de
la sociedad puedan verse involucrados en la misma. De igual modo los
sindicatos tienen como tarea fundamental lograr que se desarrolle el
proceso con objetividad.
Al respecto, el general de ejército Raúl Castro Ruz3 señaló: “La
batalla económica constituye hoy, más que nunca, la tarea principal y
el centro del trabajo ideológico de los cuadros, porque de ella depende
la sostenibilidad y preservación de nuestro sistema social”. Continuó
expresando que: “Sin una economía sólida y dinámica, sin eliminar
gastos superfluos y el derroche, no se podrá avanzar en el nivel de vida
de la población, ni será posible mantener y mejorar los elevados niveles
alcanzados en la educación y la salud que gratuitamente se garantizan
a todos los ciudadanos”. Sin que las personas sientan la necesidad de
trabajar para vivir, amparadas en regulaciones estatales excesivamente
paternalistas e irracionales, jamás estimularemos el amor por el trabajo,
ni solucionaremos la falta crónica de constructores, obreros agrícolas e
industriales, maestros, policías y otros oficios indispensables que poco a
poco van desapareciendo. Si mantenemos plantillas infladas en casi todos
los ámbitos del quehacer nacional y pagamos salarios sin vínculo con
172
los resultados, elevando la masa de dinero en circulación, no podremos
esperar que los precios detengan su ascenso constante, deteriorando
la capacidad adquisitiva del pueblo. Sabemos que sobran cientos de
miles de trabajadores en los sectores presupuestados y empresarial,
algunos analistas calculan que el exceso de plazas sobrepasa el millón
de personas y éste es un asunto muy sensible que estamos en el deber
de enfrentar con firmeza y sentido político”.4
Por otra parte existe un desequilibrio extremo en cuanto a la
distribución de trabajadores por sectores claves para la economía del
país, como la producción de alimentos, la construcción y el sistema
educacional, etc. Lo que hace necesario el reordenamiento laboral. Al
respecto Raúl expresó: “Nos enfrentamos a realidades nada agradables,
pero no cerramos los ojos ante ellas. Estamos convencidos de que hay que
romper dogmas y asumimos con firmeza y confianza la actualización, ya
en marcha, de nuestro modelo económico […]”.5
Evidentemente el peso de las medidas adoptadas implica una
reestructuración de la economía cubana, las cuales son necesarias
para eliminar las deformaciones estructurales del sistema económico.
Son decisiones indispensables que contribuirán al mejoramiento de la
disciplina social, laboral, disminuir la corrupción y otros vicios presentes
en nuestra sociedad, cuyo objetivo principal es salvar las conquistas
alcanzadas hasta nuestros días. Los Lineamientos consideraron en el plan
2011, la reducción de más de 500 mil trabajadores en el sector estatal para
dar cumplimiento a la Proyección de la economía 2011-2015. Con vistas
a garantizar el ordenamiento y la aplicación de tan complejo proceso, es
preciso acometer las medidas que permitan reducir las plantillas infladas,
para ello se ha aprobado la aplicación de la política siguiente:
4 Idem. p. 5.
5 Ibidem.
173
� Desarrollar procesos de disponibilidad bajo el principio de la
idoneidad demostrada.
� Ampliar el ejercicio del trabajo por cuenta propia y otras
actividades del sector no estatal como alternativa de empleo.
� Aplicar un régimen tributario para el ejercicio del trabajo por
cuenta propia que de respuesta al nuevo escenario económico.
174
empeño el Partido deberá controlar que el proceso se realice en un
clima de transparencia, con la información oportuna a los trabajadores,
en el que las decisiones estén debidamente colegiadas y creadas todas
las condiciones organizativas requeridas, evitando que se produzcan
errores vinculados a manifestaciones de discriminación de cualquier
tipo o favoritismo en la toma de decisiones.
El proceso de racionalización laboral lleva a cabo la liquidación
del subempleo, pasándose así, en un primer momento, a una situación
de equilibrio del “mercado laboral”. Por supuesto, la intención no es
quedarse allí, sino promover que la mano de obra, ahora provisionalmente
excedente se emplee productivamente y lo más rápidamente posible en
otras formas de propiedad y gestión económicas. Entendido de que
no solo existen reservas de empleo no explotadas, sino también de
que la medida racionalizadora provee incrementos de productividad
y producción lo que, a su vez hará que el mercado laboral se mueva
a una situación de equilibrio donde la economía alcance nuevamente
un equilibrio con pleno empleo, pero ahora con un nivel superior de
productividad de la mano de obra y correspondientemente, con un
salario real medio superior
En tal sentido el reordenamiento laboral incide positivamente
en la organización y ejecución de una política de empleo que resulte
viable para lograr los niveles de eficiencia y productividad deseada. Las
principales transformaciones en la política de empleo como resultado
del reordenamiento laboral son:
1- Reducir las plantillas infladas y por tanto los niveles de
subempleo.
2- Modificar la estructura del empleo en el sentido de dirigirlo a la
esfera productiva, a las ramas que producen bienes y servicios
y romper el desequilibrio existente entre la esfera productiva
y la no productiva.
175
3- Ampliar el trabajo en el sector no estatal. Para esto el modelo
de gestión reconoce y promueve, además de la empresa estatal
socialista, que es la forma fundamental de propiedad en la
economía nacional, las modalidades de inversión extranjera
previstas en la ley (empresas mixtas, contratos de asociación
económica internacional, entre otras), las cooperativas, los
agricultores pequeños, los usufructuarios, los arrendatarios,
los trabajadores por cuenta propia y otras formas.
4- Proyectar la formación de la fuerza de trabajo calificada en
correspondencia con las demandas actuales y el desarrollo
del país.
176
Respecto al punto 4, es necesario dar continuidad y complementar
el proyecto de capacitación de los trabajadores no estatales para lograr
su acceso a esta actividad con la misma sistematicidad que los del sector
estatal por lo que la viabilidad del reordenamiento laboral en la práctica
pasa por el diseño de programas de capacitación dirigidos a estos
trabajadores. Además la formación de la fuerza de trabajo calificada debe
responder a un estudio de demanda de fuerza de trabajo en el territorio,
logrando integrarse con una misma mirada, hacia un fin común.
177
económico concentra fundamentalmente a campesinos, artesanos
y pequeños comerciantes, por lo que su transformación es decisiva
para el nuevo régimen social, ya que la pequeña producción mercantil
no puede constituir la base económica de las nuevas relaciones
socialistas de producción.
En otras palabras, en condiciones económicas propicias la PPM
puede generar relaciones capitalistas de producción. Por otro lado, sobre
todo en las condiciones actuales de Revolución Científico Técnica, las
inversiones con técnicas de avanzadas no resultan factibles de aplicar a
pequeños productores; de ahí la tendencia a frenar el proceso científico-
técnico de alguna manera. La vía para solucionar la disyuntiva antes
expuesta consiste en la transformación socialista de la PPM que toma
forma concreta de realización en la cooperativización, cuyo proceso
consiste en la agrupación de productores individuales para de forma
colectiva organizar el proceso de producción y de servicios, basada en
la voluntariedad, el interés económico común, la autogestión, entre
otros principios básicos. La evolución paulatina de formas simples –
cooperación en la producción, el consumo, abastecimientos, créditos,
servicios – a formas superiores de cooperación (medios de producción,
medios de trabajo, tierra y el proceso de trabajo), la ayuda por parte
del Estado y la labor político ideológica así como el esclarecimiento de
las ventajas de la producción colectiva, consolidan el desarrollo de esta
forma productiva.
Esta esfera tiene una importancia vital para la economía de
cualquier país, al generar una parte importante de los productos
alimenticios y otros bienes de consumo para la población, servicios
básicos y constituir una fuente de materias primas para la industria
transformativa. Esto se acentúa cuando se trata de países que están en el
proceso de Construcción del Socialismo en condiciones de subdesarrollo,
como el caso de Cuba. El tipo socialista de economía surge, no solo con
178
la eliminación del tipo capitalista, sino también por la transformación
socialista de la PPM a base de la cooperativización.
El 13 de marzo de 1968 con la Ofensiva Revolucionaria fueron
expropiados algo más de 58 mil establecimientos privados, al respecto el
Primer Congreso del Partido hizo un juicio valorativo de aquellos hechos
que tienen una indudable actualidad con los ajustes que se realizan en
el actual modelo económico cubano. “Tal medida no era necesariamente
una cuestión de principios en la construcción del socialismo en esa
etapa, sino el resultado de la situación de nuestro país en las condiciones
de bloqueo económico impuesto por el imperialismo y la necesidad de
utilizar de modo óptimo los recursos humanos y financieros a lo que se
sumaba la acción política negativa de una capa de capitalistas urbanos,
que obstruían el proceso. Esto, desde luego, no exonera a la Revolución
de la responsabilidad y las consecuencias de una administración
ineficiente de los recursos, que contribuyeron a agravar el problema
financiero y la escasez de fuerza de trabajo.”7
Con la promulgación del Decreto Ley número 14 en 1978, se
impulsa nuevamente esta actividad, pues el mismo reconoce la necesidad
de revitalizar el trabajo por cuenta propia y regula el tratamiento
que este recibía. Reconoce además el papel de esta actividad en la
satisfacción de determinados productos y servicios para la población,
los que el sector estatal no siempre podía garantizar.8En los años 1976
y 1980, el nuevo impulso de la actividad, la situación del empleo se
hace menos densa. Así en 1981 se formuló una nueva regulación; la
Resolución No. 9, la cual incrementó las actividades permitidas para
179
el sector por cuenta propia a 63 categorías. Como resultado, muchos
trabajadores manuales empezaron a producir de manera privada algunos
artículos muy sencillos, pero de gran demanda, aumentando la cifra de
los trabajadores a 70 052. En 1986, comienza un nuevo período en el que
se establecen limitaciones para el trabajador por cuenta propia.
Con el proceso de rectificación se analizan los problemas que
se estaban produciendo en el sector, lo que trajo consigo la decisión
de eliminar la política de estimulación a esta actividad, al mismo
tiempo que se detienen las inscripciones. La reforma económica cubana
implementada en la década de los años noventa, tiene particularidades
respecto a otras experiencias ejecutadas en la región, derivadas de
las condiciones de partida de la economía en que se han realizado
las transformaciones, del deseo expreso del gobierno de mantener
el sistema socialista y por ser un país bloqueado económicamente.
Durante los años 1989-1993, esta reforma tuvo su período de
preparación en el cual las medidas económicas adoptadas se centraron
inicialmente en tratar de incrementar las fuentes en divisas y en reducir
el impacto social del ajuste externo que se preveía luego de la caída
del Campo Socialista. En esos primeros años se impulsaron varios
programas de desarrollo y se estimuló la producción de alimentos con
vista a la sustitución de importaciones.
En 1992, se realizaron cambios en la constitución del país para
tomar en cuenta las nuevas formas de propiedad. En esta etapa se produce
la reinserción de la economía cubana en la economía internacional
dado por el proceso de dolarización introducido. Dicha dolarización
se diferencia de otras presentes en la región en que surge, no solo por
perturbaciones monetarias y desbalances macroeconómicos, sino por
existir en el país un sistema monetario mercantil subdesarrollado. Otros
de los componentes de los cambios que se producen fue la ampliación del
espacio a la actividad no estatal. Además de la apertura a las inversiones
180
extranjeras, se entregó en usufructo gratuito parte significativa de la
tierra agrícola que poseía el Estado a cooperativas y a trabajadores y
jubilados que quisieran explotarla y se flexibilizó el trabajo por cuenta
propia .Lo más importante en adición a la flexibilización de la actividad
por cuenta propia fue:
� Establecer nuevos mecanismos para la vinculación laboral de
los graduados universitarios tales como la creación de reservas
científicas, incluyendo un tratamiento salarial particular.
� Ampliar formas especiales de remuneración al trabajo,
como complemento al sistema salarial vigente. Pueden ser
en divisa, moneda nacional o en especie; y son de aplicación
principalmente en las actividades generadoras de divisas.
� Diseñar programas de empleo municipales y condicionar
a la creación de nuevos empleos, la aplicación de
redimensionamiento empresarial.
� Crear un mecanismo que intermedia con los inversionistas
extranjeros en la contratación de trabajadores, el salario y la
seguridad social.
181
de elevada dinámica de la población en edad laboral o de moderado
crecimiento económico”9.
Es necesario recordar que en el caso cubano, la crisis económica
mundial, redujo la capacidad financiera del Estado, limitó su potencial
para una continuada ampliación de los programas y servicios sociales
específicos, y rebajó notablemente su capacidad de influir en el bienestar
material de la población. También, se incrementó el margen de grupos
sociales vulnerables en este período. No obstante, el denominador común
y objetivo central de la política del Estado sigue siendo la consecución
del pleno empleo, tarea sumamente compleja, por lo que se buscan
opciones en la diversificación de las fuentes de empleo tanto desde el
punto de vista de las diferentes formas de propiedad (trabajo por cuenta
propia, cooperativas y sector mixto), sectores y tipos de producción
(esfera de los servicios, agricultura urbana, suburbana y rural a partir
del Decreto Ley 257, etc.), como modalidades de empleo (empleo social,
el estudio, la pequeña propiedad privada y las formas de cooperativas).
4. A manera de conclusiones
182
la atención al empleo femenino y juvenil, así como la atención a los
problemas territoriales.
Con la reforma económica cubana crece la heterogeneidad
socioeconómica tanto desde el punto de vista de la propiedad sobre
los medios de producción, como desde el ángulo de la combinación de
diferentes principios reguladores de la actividad económica, a saber,
la planificación y el mercado. Esto tiene su expresión en una nueva
cualidad de la correlación entre la centralización y la descentralización.
Lo que contribuye a una mayor racionalidad en el uso de la fuerza
de trabajo, al mismo tiempo deberá producirse un incremento de la
riqueza social, que permitirá sustentar las políticas públicas orientadas
a resolver los problemas socioeconómicos acumulados en las últimas
dos décadas. Estos cambios originarán un equilibrio estructural en la
balanza comercial de Cuba.
Bibliografía
183
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asalariados que trabajan para los agricultores, de los servicios de trabajadores
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agropecuarios eventuales que ejercen el TCP.
Resolución No. 10/95 Autorización a Profesionales Universitarios para
Ejercer Trabajos por Cuenta Propia.
184
Os limites do neodesenvolvimentismo na
superação da superexploração do trabalho
na América Latina: a estrutura dependente
brasileira
1. A dependência latino-americana
185
proporcionados pelos países latinos. A estruturação industrial pós-
guerras tinha como objetivo suprir basicamente duas necessidades dos
países centrais: 1) a expansão produtiva de matérias-primas e produtos
agrícolas para responder à industrialização capitalista hegemônica2; e 2)
o aumento do mercado interno dos países dominados para consumo dos
produtos manufaturados dos grandes centros (BAMBIRRA, 2012, p. 66).
Theotônio dos Santos caracteriza a dependência latino-americana
como uma situação em que certo grupo de países tem sua economia
condicionada pelo desenvolvimento e pela expansão de outra à qual
está submetida e só pode se construir como reflexo da expansão dos
países dominantes, de forma negativa ou positiva, por meio de um
desenvolvimento desigual e combinado (SANTOS, 2011, p. 361). A
dependência delinear-se-ia por três fatores centrais: 1) o desenvolvimento
industrial dependente de um setor exportador que possibilita o ganho
de capital para adquirir os equipamentos utilizados no setor industrial;
2) o desenvolvimento industrial é condicionado às flutuações da balança
comercial, reiteradamente deficitária pela remessa de lucros aos países
centrais e pelo crescimento das dívidas externas; 3) o desenvolvimento
industrial é também influenciado diretamente pelo monopólio
tecnológico dos impérios e a necessidade de aquisição de maquinarias e
matérias-primas industrializadas do exterior (SANTOS, 2011, p. 371-377).
A estrutura produtiva dependente combina a conservação dos alicerces
agrários ou mineradores mais atrasados para fornecer mais-valia aos
setores industriais. Além disso, as estruturas industrial e tecnológica,
ao invés de guiarem-se pelas necessidades internas de desenvolvimento,
atrelam-se aos interesses de empresas multinacionais, o que gera uma
186
organização interna altamente desigual, com alta concentração de
renda, subutilização da capacidade instalada, exploração intensiva dos
mercados nos grandes centros urbanos, diferença entre os níveis salariais
internos e alta taxa de exploração da força de trabalho (SANTOS, 2011,
p. 377-378).
Diferente dos países industrializados, que se baseiam no
consumo interno dos trabalhadores como fator central para a demanda
das mercadorias que serão produzidas, os países latino-americanos
funcionam servindo aos mercados externos, sem se preocuparem com o
consumo e com a reposição do salário dos trabalhadores e trabalhadoras,
mas sim explorando esta força de trabalho ao máximo e substituindo-a
irrefreavelmente pelo exército de reserva, quando esta não mais lhe servir
(MARINI, 2011, p. 155-156).
Deste modo, o papel da América Latina no mercado mundial
possibilita que a acumulação das nações industrializadas e imperialistas
se desloque da produção de mais-valia absoluta para a mais-valia relativa,
de tal modo que a extração do lucro nos países centrais decorre mais
do aumento da capacidade produtiva por meio da tecnologia do que
da exploração do trabalhador. Já aqui, o desenvolvimento produtivo
baseia-se na superexploração do trabalhador e na combinação da
extração de mais-valia relativa e absoluta, cuja chave explicativa se dá
pela troca desigual (MARINI, 2011, p. 138). A troca desigual implica que
os países periféricos vendam as mercadorias a um preço de produção
inferior, em razão da maior produtividade pela extração cruel da mais-
valia mediante a superexploração, a fim de compensar a perda gerada
pelo comércio internacional (MARINI, 2011, p. 145-147). Assim, uma
parte considerável da mais-valia aqui produzida é enviada aos impérios
por meio da “estrutura de preços vigente no mercado mundial, pelas
práticas financeiras impostas por estas economias, ou pela ação direta
dos investidores estrangeiros no campo da produção”. Para ressarcir
187
tal drenagem, a burguesia local cria mecanismos de aumento do valor
absoluto da mais-valia pela superexploração dos camponeses, mineiros
e operários (MARINI, 2013, p. 52).
O controle do parque industrial latino-americano que se
consolidou no pós-guerra, principalmente com o protagonismo dos
Estados Unidos, intensificou o ingresso de capitais internacionais das
grandes potências, cujos principais efeitos são: o domínio dos setores
industriais pelo capital estrangeiro; a concentração e monopolização
da economia por meio da instalação de megaempresas transnacionais,
com absorção por meio de fusões com as empresas nacionais; a
desnacionalização crescente dos meios de produção; a integração dos
interesses das empresas estrangeiras com a burguesia local; a integração
da política de governo e a política externa dos países latino-americanos
com os Estados Unidos (intensificada nas Ditaduras Militares); e a
consequente integração militar (BAMBIRRA, 2012, p. 126).
188
Dessa forma, no processo de industrialização, os países latino-
americanos, com o pretexto de compensar a dificuldade de competição no
mercado internacional, valem-se de diversos instrumentos na produção
interna, em que a coluna que se estrutura e reflete a dependência é a
superexploração do trabalho dos povos que aqui existem. Inclusive
vale ressaltar que é nesse período que o taylorismo e o fordismo aqui se
implantam (ANTUNES, 2011, p. 22).
A regra do capital baseia-se na exploração do trabalho. Nas
economias centrais o aumento da acumulação e da mais-valia3 decorre
principalmente do barateamento real da força produtiva, e especialmente
com a “redução do valor dos bens necessários para a subsistência do
trabalhador”. Nas economias periféricas, entretanto, há uma elevação
desproporcional da desvalorização da força de trabalho (MARINI,
2013, p. 172). A superexploração é, portanto, uma forma particular de
exploração que viola o valor da força de trabalho (OSORIO, 2013, p. 10).
O consumo dos trabalhadores latino-americanos é secundário
em relação aos setores produtivos, de forma que contam mais como
189
produtores de valor do que como consumidores, sendo que os padrões
de reprodução são voltados aos mercados exteriores e não ao mercado
interno (OSÓRIO, 2013 p. 29).
Para Enrique Dussel (1988, p. 327) a superexploração não é um
fundamento da dependência e sim, uma consequência, evitando-se
tautologias. A essência ou fundamento da dependência seria a transferência
de mais-valia de um capital nacional menos desenvolvido para um mais
desenvolvido, e para compensar a perda desse valor necessita-se extrair
ainda maior quantia de mais-valia do trabalho-vivo periférico.
Inicialmente as nações latino-americanas edificaram o processo de
acumulação com base na mais-valia absoluta por meio do elastecimento
exacerbado da jornada de trabalho, muito em decorrência da ausência de
regulamentações trabalhistas (MARINI, 2013, p. 173). Posteriormente,
novas formas de exploração foram implementadas, adicionando também
a mais-valia relativa, sem diminuir a mais-valia absoluta. Além disso,
o salário devido ao trabalhador pelo tempo de trabalho necessário
despendido para produção é extremamente baixo, isto é, o valor pago é
inferior ao valor indispensável para reprodução da vida do trabalhador
(MARINI, 2013, p 173).
Desse modo, a elevação da intensidade do trabalho, a prolongação da
jornada de trabalho e a expropriação de parte do trabalho necessário ao operário
para repor sua força de trabalho (o trabalho é remunerado abaixo do seu
valor) são os três mecanismos essenciais da produção na América Latina
e funcionam como aumento da mais-valia aos capitalistas, os quais se
baseiam na exploração das trabalhadoras e trabalhadores e não por meio
do progresso da capacidade produtiva para enfrentar os monopólios
globais (MARINI, 2011, p, 147). Assim, a superexploração funciona como
um mecanismo de compensação para o desenvolvimento capitalista industrial
dependente para contrabalancear as transferências de valor oriundas da
troca desigual (CARCANHOLO, M., 2013. p. 114).
190
Tais características procedem não somente pelo baixo
desenvolvimento das forças produtivas, como também pelas atividades
predominantes, a indústria extrativa e a agricultura, que demandam
uso extensivo e intensivo da força de trabalho e permitem baixar a
composição-valor do capital (MARINI, 2011, p. 149).
O que ocorre nos países desenvolvidos e centrais só nos
momentos de crise, acontece aqui permanentemente: a intensificação e
prolongação da jornada de trabalho e a apropriação do fundo de consumo
dos trabalhadores. Isso determina um prematuro esgotamento dos
trabalhadores, sua depredação e apropriação de sua vida útil de forma
fugaz (OSÓRIO, 2013 p. 34). Isto é, há um privilégio da prolongação
e intensificação da jornada de trabalho ante os desenvolvimentos das
forças produtivas técnicas, inclusive pela razão de que sempre houve
um monopólio tecnológico dos países centrais, tanto pelo sistema de
patentes em vigor como pelas barreiras dos altos custos de importação
das máquinas necessárias para competir no mercado internacional
(RUIZ ACOSTA, 2013, p. 72).
Além disso, a concentração monopolística dos principais setores
industriais determinou a não diversificação da produção e a estagnação
do emprego, vez que a dependência financeira e tecnológica implicou
um alto nível de endividamento externo; a imprescindibilidade dos
recursos naturais; a devastação ambiental; a incapacidade de absorção do
exército de reserva; a incorporação massiva em condições extremamente
precárias das mulheres no mercado de trabalho; e o crescimento das
desigualdades regionais e sociais (RUIZ ACOSTA, 2013, p. 73).
Sob a égide do neoliberalismo, que intensifica a dependência,
percebemos ainda mais a degradação dos salários, jornadas de trabalho
extenuantes e extrema intensidade nos ritmos e tempos de trabalho, que
demonstram a atualidade da categoria de superexploração do trabalho.
191
3. O neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo: impactos
sobre o trabalho
192
Esse pano de fundo político esclarece a vertente da reestruturação
produtiva mundial, que reafirma o caráter dependente latino-americano.
Isso porque o ingresso do capital estrangeiro é tão massivo que reassume
o mercado no continente, cujos principais agentes são as empresas
multinacionais que se baseiam na exploração do trabalho (a mão de
obra barata latino-americana) e numa extensa remessa de lucros aos
seus países centrais. (SANTOS, 2011, p. 500). As multinacionais operam
com procedimentos altamente monopólicos que derivam da tecnologia
exigente de alta concentração de capital e de procedimentos que absorvem
as empresas competidoras e dominam todo o mercado em que operam.
Tais empresas passam ainda por contradições quanto aos interesses da
matriz e das filiais e à indecisão sobre o desenvolvimento nacional e o
desenvolvimento do capital estrangeiro (SANTOS, 2011, p. 500-503).
A nova divisão internacional do trabalho projetada por Theotônio
dos Santos (2011, p. 500) considera que há o início de uma inversão
baseada na expansão do setor de serviços em detrimento do setor
industrial, devido ao avanço da tecnologia. Ainda que os centros
hegemônicos continuem necessitando de matérias-primas, há uma
necessidade que as periferias adquiram máquinas e produtos elaborados
pelos centros para serem vendidos no mercado interno, caracterizando
um processo de substituição de importações e exportações.
Mesmo assim, continua sendo atribuído às economias
dependentes a produção de bens manufaturados de consumo
básico e de setores menos estratégicos e complexos.
Ressalta-se também que com a crise do capital marcada pelo
ano de 1982 e posteriormente seguida pelas políticas neoliberais das
décadas de 1980 e 1990, a força de trabalho sofreu uma desvalorização
inédita desde o pós-guerra. Iniciativas que demonstram a redução real
dos salários, o incremento do exército industrial de reserva, a entrada
massiva de milhões de mulheres no mercado em condições informais
e precárias e a emigração de campesinos e pobres das periferias para
193
os países do Norte para trabalhar em condições semiescravas (RUIZ
ACOSTA, 2013, p. 74).
O neoliberalismo também trouxe a expansão proporcional das
jornadas em todo o globo, mais acentuadamente na América Latina.
Enquanto nos países centrais a média semanal de horas trabalhadas
em 1980 era de 41 horas, na periferia a média era de 48,1 horas. Já na
década de 1990, a média dos impérios era de 40,2 horas trabalhadas por
semana, enquanto nos países subdesenvolvidos a média chega a 47,8
horas semanais, mesmo com todo o implemento tecnológico (RUIZ
ACOSTA, 2013, p. 78).
Contudo, é perceptível a alteração do cenário completamente
neoliberal na América a partir dos anos 2000, período em que
se iniciou um cenário excepcional na América Latina, no qual o
neodesenvolvimentismo5 passa a ser o paradigma impulsionado por governos
mais progressistas e coalizões políticas na região, que incluem o apoio
de trabalhadores, pobres, classes médias locais e setores da burguesia
nacional. Há um rechaço à ideia de livre mercado e à tentativa de
maior regulação estatal, buscando um alto desempenho econômico
simultaneamente a programas sociais, o que reduziu de certa forma a
intensidade da devastação da força de trabalho das últimas décadas,
denominado pela CEPAL como “crescimento com equidade”6 (RUIZ
ACOSTA, 2013, p. 85).
194
Giovanni Alves (2014, p. 132) pontua que o Estado
neodesenvolvimentista é financiador, investidor e regulador. Tal
postura no Brasil implicou uma transferência de renda à classe
trabalhadora mais pobre, o aumento da formalização dos contratos de
trabalho, a queda no desemprego e o aumento do consumo interno, com
uma caracterização do que se passou a denominar “nova classe média
brasileira”. Contudo, mesmo com os quase 20 milhões de empregos
criados na década de 2000 no Brasil, a maioria esmagadora é de postos
de até um e meio salário mínimo (2014, p.135).
A questão é que tal modelo neodesenvolvimentista ainda é
atrelado ao mercado mundial capitalista e ao domínio dos impérios. Isso
porque é vulnerável aos ascensos e descensos do mercado, especialmente
do preço de matérias-primas e da capacidade de financiamento externo.
Se os anos de 2010 e 2011 foram de relativa recuperação para os países
latino-americanos a reerguida europeia e estadunidense e a desaceleração
chinesa já anunciaram tempos delicados ao sul global, de forma que seu
crescimento pode ser excepcional e passageiro, o que se demonstrou em
2014 e 2015 (RUIZ ACOSTA, 2013, p. 86).
Como projeto político, o neodesenvolvimentismo não pode ser
confundido com a implementação de um Estado de bem-estar-social
nos moldes europeus7, uma vez que tal modelo inexistiu na América
Latina e inexistiria futuramente na condição capitalista dependente. O
neodesenvolvimentismo procura construir um patamar de acumulação
do capital que diverge das políticas ortodoxas neoliberais no que tange
às políticas sociais e incremento de renda da população mais miserável
195
e elevando sua condição de vida, mas sem alterar a estrutura industrial
brasileira (percebe-se que houve desindustrialização), sem realizar
reformas sociais de base fundamentais (agrária, urbana, tributária,
política) e ainda comprometido com o pagamento da dívida pública
(ALVES, 2014, p. 136).
A grande contradição desse modelo de política econômica
atrelada ao mercado mundial é a impossibilidade do desvencilhamento
da condição dependente latino-americana, uma vez que a concorrência
internacional e as trocas econômicas desiguais sempre determinam
que se reduzam os custos sociais da força de trabalho (ALVES, 2014,
p. 140). Nesse panorama, mais empregos formais são criados, com a
ascensão de setores populacionais antes altamente marginalizados e
postos de trabalho precários. Desses postos a maioria é preenchida por
jovens das camadas mais baixas e, de outro lado, por jovens fortemente
escolarizados em postos subalternizados.
Contudo, percebe-se que os impactos na morfologia do trabalho
permanecem, como: a redução do proletariado estável e tradicional,
com substituição de mão de obra flexível e desregulamentada, a
terceirização (Nos anos 2000 havia cerca de 3 milhões de trabalhadores
terceirizados e 15 milhões em 2013); trabalho temporário e parcial (part-
time); subcontratações; informalidade; a expansão do setor de serviços
e o desemprego no setor industrial; a exclusão de jovens e idosos do
mercado de trabalho, mas contraditoriamente o aumento do trabalho
infantil; a expansão do trabalho feminino – atingindo cerca de 40%
da força de trabalho na maioria dos países latino-americanos, com
remuneração 30% menor que a força de trabalho masculino e com uma
série de direitos cerceados e ocupação nos setores mais precarizados – ;
e o crescimento do trabalho em domicílio com a mescla do trabalho
doméstico (ANTUNES, 2011, p. 47-48).
196
Dessa forma, se observarmos os três fatores da superexploração do
trabalho pontuados por Marini, percebe-se que todos eles permanecem
em vigência de forma bruta aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.
A remuneração da força de trabalho permanece abaixo de seu valor,
ainda que tenha havido melhoras significativas em comparação à década
de 1990, não fora possível recuperar as perdas salariais. O salário mínimo
ainda é menor do que o custo necessário para a reprodução da vida dos
trabalhadores, de forma que em 2011, por exemplo, o salário mínimo era
menos da metade do poder aquisitivo dos trabalhadores em comparação
com o ano de criação do salário mínimo em 1940. Ressalta-se, ademais,
que 55% da população ocupada recebe até 3 salários mínimos no Brasil
(LUCE, 2013, p. 133).
No que tange à prolongação da jornada de trabalho, verifica-se
que entre 2003 e 2009, cerca de 40% dos trabalhadores brasileiros
cumpria jornadas laborais semanais acima de 44 horas (limite previsto
na Consolidação das Leis Trabalhistas) e nas regiões metropolitanas
25,5% dos trabalhadores cumprem jornadas semanais de mais de 49
horas. Viu-se também um aumento das jornadas especialmente nos
setores de serviços e comércio (os que geraram mais empregos formais)
entre os anos de 1990 e 2006. Dados que se somam à flexibilização da
legislação trabalhista em relação à jornada – como o banco de horas, os
trabalhos aos domingos no comércio, a negociação de intervalos intra e
interjornadas (LUCE, 2013, p. 139).
Quanto à intensidade de trabalho, é difícil apresentar dados
concretos. Mas é possível afirmar que não houve incremento tecnológico
que possibilitasse o aumento da mais-valia relativa, mas sim que se
aprimorou no Brasil o modelo just-in-time de exploração do trabalho,
com medidas legislativas que combinaram a intensificação do trabalho
com a remuneração abaixo do valor, como é o caso da regulamentação
dos empregos em tempo parcial, postos temporários (de contratação
197
somente no auge de produção e comercialização nos setores industriais e
de comércio) e terceirizações. Outro dado que demonstra a intensificação
do trabalho é o aumento significativo de acidentes de trabalho registrados
no CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho), a exemplo da elevação
de 47% de 1997 a 2008. Certamente houve uma ampliação dos registros e
na metodologia dos comunicados, mas o número é brutal e só demonstra
a crescente tendência capitalista dependente de aumentar o desgaste
físico-psíquico dos trabalhadores (LUCE, 2013, p. 145).
Obviamente as políticas implementadas na última década no
Brasil são historicamente nunca vistas, com elevação da condição da
camada mais pobre brasileira e deslocamento de postos informais
para formais, porém pouco se alterou na morfologia do trabalho no
Brasil, caracterizado pela superexploração da força de trabalho e do
esgotamento precoce dos trabalhadores e trabalhadoras que aqui vivem.
De forma que a grande contribuição da teoria marxista da dependência
se mostra mais visível que nunca: ou há uma alteração estrutural no
capitalismo dependente nos países latino-americanos ou a divisão
internacional do trabalho continuará a imperar, sendo que quem
“paga a conta” é a classe trabalhadora. Não é possível desenvolver o
subdesenvolvimento dentro dos marcos do capitalismo internacional.
Transformar o cenário do trabalho na América Latina é repensar o
modelo econômico em que estamos inseridos.
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200
PROPOSTA DE ESTUDO DAS LUTAS SOCIAIS NO BRASIL:
uma análise de caso a partir de Nancy Fraser
e István Mészáros
201
1. Introdução
202
sociedade em que as relações sociais estariam estruturadas a partir do
respeito e do reconhecimento intersubjetivo. (Faria, 2011, p. 06). Em
um primeiro momento, Fraser (2008) argumenta que os conflitos se
manifestam na luta pela distribuição igualitária da riqueza materialmente
produzida e pelo reconhecimento social. Entretanto, posteriormente,
Fraser (2002) argumenta que a construção de relações sociais justas
não se esgotariam nestes dois critérios, já que a justiça se constituiria
apenas quando houvesse também o alcance da paridade de participação
nas decisões que dizem respeito aos interesses da sociedade. É a partir de
uma interpretação democrática radical que Fraser defende a concepção
de que todos sejam considerados como pares para o regramento da
vida social (Fraser, 2008). Isso significa que a participação paritária
nos processos decisórios inclui a possibilidade de decidir acerca da
distribuição da riqueza e do reconhecimento social, ou seja, acerca
do processo de pauperização material e dos critérios valorativos que
determinam a exclusão social. Assim sendo, compõe a proposta de
modelo de análise dos conflitos sociais de Fraser (2008) as seguintes
categorias: reconhecimento social; redistribuição da riqueza material; e
representação paritária nos processos de decisão.
Os conflitos sociais, no âmbito das relações de trabalho
contemporâneas, geralmente são marcados pelas reivindicações
conduzidas pelas organizações sindicais. Os sindicatos atuam
apresentando propostas, participando de discussões, organizando
movimentos de paralização ou protesto etc., visando não só garantir
os direitos mínimos já conquistados pelos trabalhadores, como
também melhorar as condições de trabalho e de renda. Ao mesmo
tempo, diante das novas conformações sociais decorrentes do avanço
no desenvolvimento das forças produtivas, as organizações sindicais,
especialmente por meio das centrais sindicais, procuram ampliar suas
ações propondo políticas públicas para que a justiça social seja alcançada
203
em seu mais amplo conceito, garantindo igualdade de direitos e de
realização das necessidades da classe trabalhadora. Assim sendo, as
reivindicações não são permanentemente as mesmas, pois constituem
um movimento que transcende a concretude local da luta tendo em vista
a efetivação de uma política mais ampla, a qual é condicionada tanto pelo
contexto social, econômico e jurídico-político como pela particularidade
dos interesses de cada especialidade do trabalho produtivo, decorrente
da divisão técnica do trabalho.
No Brasil das últimas décadas, a ação sindical dos trabalhadores
tem sido avaliada como de cooperação com o movimento de acumulação
do capital por alguns pesquisadores. Para Alves (2005), a partir da
ofensiva do capital no campo da produção na década de 1970, constituiu-
se um novo e precário mundo do trabalho em que uma das características
centrais é a relação neocorporativa, de caráter propositivo, estabelecida
entre os sindicatos dos empregados e os empregadores, o que impõe
limitações às ações de contestação à lógica do capital. Esse processo
corporativo é identificado também por Iasi (2006), que menciona o seu
desdobramento para o avanço da constituição da consciência de classe,
apresentando-o como um movimento de regressão diante dos progressos
já obtidos historicamente.
A consciência de classe dos trabalhadores, que se aprimora por
meio do enfrentamento do processo expandido de acumulação do capital,
é uma condição necessária para a superação da autoalienação no trabalho
(Mészáros, 2008). Mészáros analisa a correspondência entre os
interesses contingentes e necessários das classes sociais, propondo a tese
de que os interesses contingentes da classe capitalista coincidem com
seus interesses necessários, tendo em vista que ambos repõem a alienação
no processo de trabalho. Por sua vez, isso não é verdadeiro para a classe
trabalhadora, tendo em vista que os interesses contingentes podem
contribuir para a reposição dos interesses necessários da classe oponente,
204
ou seja, a perpetuação das condições de exploração, enquanto se impõem
como necessidade histórica para a classe trabalhadora a superação
dessas condições. As reivindicações pela superação da autoalienação
correspondem, para Mészáros (2008), aos interesses necessários
que constituem a consciência da classe trabalhadora. Portanto, as
lutas sindicais, como mediadoras do movimento de constituição dos
interesses da classe trabalhadora, devem ser analisadas tanto em seu
conteúdo quanto em sua potencialidade para a construção de relações
sociais não alienadas. É com a intenção de apresentar um instrumento
analítico que permita tal análise que elaboramos as reflexões a seguir.
A construção deste instrumento de análise exigiu uma aproximação
entre as concepções de redistribuição material, reconhecimento social
e participação paritária, apresentadas por Fraser, e a concepção da
constituição da consciência de classe elaborada por Mészáros (2008),
a partir dos escritos de Marx, sintetizada nas categorias de interesses
contingentes e interesses necessários.
A análise da pauta de reivindicações dos professores do ensino
superior público federal do Paraná durante a greve de 2011 foi o objeto
empírico que permitiu a qualificação do instrumento. Cabe destacar
que esse objeto possui uma limitação importante no que se refere a sua
amplitude, visto que ele não reflete a totalidade das relações sociais
existentes no seu processo de construção. Por outro lado, não invalida
a pesquisa realizada uma vez que, ainda que com um campo empírico
reduzido – a pauta de reivindicação dos professores –, foi possível
analisar e estabelecer relações entre a luta social dos professores e
os conceitos teóricos propostos. Em suma, o objetivo deste estudo é
contribuir com a compreensão das limitações e possibilidades de luta
social dos movimentos sociais a partir de um modelo analítico que
considere tais categorias. Para tanto, foram analisadas as pautas de
reivindicações dos professores da Universidade Federal do Paraná. Esses,
205
ao construir suas reivindicações, tendem a repercutir diretamente no
devir dos conflitos sociais pela especificidade de sua atuação, pois trata-
se de trabalhadores que têm sob sua responsabilidade a tarefa de formar
outros trabalhadores e sua ação prática acaba servindo de exemplo para
ações futuras.
A partir do diálogo entre as teorizações de Fraser e Mészáros e
da pesquisa empírica realizada propõe-se um modelo que se desenvolve
sobre seis categorias de análise, conforme apresentado no item 1 deste
texto. A análise dos dados, apresentados no item 2, explicita de que
modo as reivindicações estão contempladas no modelo. Destaca-se que
nenhum modelo pode ter a pretensão de retratar o real em sua totalidade,
pois ele deve ser um instrumento que simplifique e esclareça as análises
sem deixar de identificar os aspectos importantes que permitam propor
explicações acerca do objeto de estudo (Dye, 2009).
206
intersubjetividade. Esfera que, para Fraser (2008), necessita permanecer,
porém sem obscurecer a luta pela justiça distributiva. Entende-se, aqui,
que a discussão acerca da justiça social carece de maior profundidade
em termos de uma estrutura de sociedade que se encontra dividida em
classes. Endente-se, também, em conformidade com o debate marxista,
que o movimento da classe-em-si para a constituição da classe-para-
si necessita passar pelo reconhecimento social da classe, pelo acesso
igualitário à riqueza produzida e pela participação paritária nos
processos de decisão.
As propostas analíticas de Fraser permitem avançar no debate
sobre as injustiças para além do mero reconhecimento da identidade
do grupo, recuperando o debate sobre as classes. Porém, encontra como
limitação analítica a não superação do horizonte intelectual dos que
advogam pela democracia radical, acreditando na possibilidade de uma
equidade discursiva como móvel central para a construção de uma
sociedade justa. Para tratar desse ponto, considera-se necessário aportar
uma discussão realizada por Mészáros (2008) acerca da construção
da consciência de classe a partir da identificação dos interesses
contingentes e necessários, uma vez que ela permite compreender
que a justiça não ocorre apenas por meio da construção de campos
simétricos de discursividade. Isso porque a linguagem como elemento
estruturado e estruturante das relações sociais tem como pressuposto
constitutivo, sob o sociometabolismo do capital, uma distribuição
desigual dos elementos determinantes das relações sociais de produção.
Tal distribuição é reforçada pela desigualdade do discurso que, ao ser
elaborado, permanentemente a confirma, de modo que o próprio conceito
de justiça tem como determinante a ética capitalista. A desigualdade da
distribuição da qual Mészáros se refere é aquela analisada por Marx e
que tem como desdobramento a formação de uma injustiça social.
207
Ao aportar Mészáros à discussão das categorias apresentadas
por Fraser, está se propondo também um refinamento à proposta da
autora que, em termos práticos, permitirá analisar as possibilidades de
constituição da consciência de classe para si que a classe trabalhadora
está criando ao estabelecer, por meio de reivindicações, o embate com
a classe capitalista. Para tanto, serão abordadas, a seguir, com maiores
detalhes as discussões dos conceitos propostos por Mészáros e Fraser.
208
da dominação cultural. A mundialização do capital, pós-reorganização
produtiva, teria gerado uma nova gramática de reivindicação política,
da redistribuição para o reconhecimento (FRASER, 2002). Com isso,
desvaloriza-se a luta política de classe e a categoria econômica, de forma
que a proeminência da cultura se sobrepõe ao mesmo tempo em que se
verifica o declínio das políticas de classe. Os conflitos sociais teriam
se apresentado com uma desconexão entre as dimensões culturais e
econômicas, sem tematizar as desigualdades econômicas marcadas pela
injustiça inerente ao sistema capitalista.
As reivindicações de igualdade econômica são hoje menos salientes
do que durante o apogeu fordista do Estado-Providência keynesiano.
Os partidos políticos que antes se identificavam com projetos de
redistribuição igualitária abraçam hoje uma escorregadia “terceira via”,
cuja substância verdadeiramente emancipatória, quando a têm, está
mais relacionada com o reconhecimento do que com a redistribuição.
(Fraser, 2002, pp. 08-09).
Fraser considera que o deslocamento ocorre pelo fato de a
discussão sobre o reconhecimento ocorrer pela via da equidade das
identidades sustentada por uma ética valorativa que considera a
opção dos grupos pelo que julgam ser “o bem viver”. Conforme destaca
Silveirinha (2005, p. 34):
A razão porque estas pessoas devem ser reconhecidas não pode ser
porque as reconhecemos através de um critério ético relativamente
às formas de vida por si escolhidas. Porque, se assim fosse, também
teriam direito a reconhecimento, como direito a procurar uma forma
de autorrealização, as identidades racistas. O critério tem antes de
ser de justiça assente numa base de paridade participativa e, portanto,
também comunicacional.
209
esfera cultural ao lado da esfera econômica. Para isso, Fraser busca o
conceito de status social, por meio da teoria do reconhecimento, para
complementar o debate das desigualdades econômicas pela via da esfera
cultural, possibilitando a tridimensionalidade da vida social: cultural-
econômica-política.
It is unjust that some individuals and groups are denied the status
of full partners in social interaction simply as a consequence of
institutionalized patterns of cultural value in whose construction they
have not equally participated and which disparage their distinctive
characteristics assigned to them. (Fraser, 2008, p. 39).
210
paritária como um terceiro elemento para a análise dos critérios de
justiça social. É pela dimensão de participação paritária que fica claro
quem pode reivindicar por redistribuição e reconhecimento e como
tais reivindicações serão debatidas e julgadas, afirma Fraser (2009). “A
justiça requer arranjos que permitam a todos os membros (adultos) da
sociedade interagir entre si como pares” (Fraser, 2002, p. 13) e ainda:
211
consciência de classe propostos por Mészáros, tendo em vista que essa
se relaciona tanto com a estrutura de classe quanto com a estrutura
de status e se constrói na participação nas duas esferas, ainda que não
seja uma participação consciente nem paritária.
212
assalariado. Essa constante reprodução ou perpetuação do trabalhador
é a condição sine qua non da produção capitalista (Marx, 2007, p. 195).
213
Assim, o que está em pauta não é a questão de como obter ‘um melhor
salário para o escravo’ (Marx) nem mesmo a questão de uma mudança
no tom de voz – cuidadosamente filtrado pela ‘engenharia humana’ [ou
o setor de Gestão de Pessoas] – que transmite os ditames da produção
de mercadorias para os trabalhadores, mas uma reestruturação radical
da ordem social vigente. (Mészáros, 2008, p. 69).
Por outro lado, a classe se autonomiza, por sua vez, em face dos
indivíduos, de modo que estes encontram suas condições de vida
predestinadas e recebem já pronta da classe a sua posição na vida e,
com isso, seu desenvolvimento pessoal; são subsumidos a ela (Marx,
2007, p.63)
214
desenvolvimento” (Mészáros, 2008, p. 75), são as relações alienadas
que primeiro aparecem à consciência social do indivíduo, ainda que,
em contradições parcializadas. A consciência contingente é, portanto,
esta que está posta e que percebe partes das contradições inerentes ao
sistema capitalista, que percebe, por exemplo, a injustiça social apenas
em termos de não reconhecimento das identidades grupais.
Por sua vez, a perpetuação da alienação do trabalho é o que
permite a reprodução das classes e, consequentemente, a reprodução
do domínio do capital sobre o trabalho. Desse modo, para Mészáros, à
classe capitalista interessam mudanças que possam perpetuar o controle
antagônico do sociometabolismo da humanidade, enquanto à classe
trabalhadora essas mudanças apenas reforçam sua subsunção formal
e(ou) real.
Mészáros ainda menciona a relação entre os interesses individuais
e os interesses das classes e como suas diferenças aparecem entre as
duas classes. Para a classe capitalista, os interesses individuais coincidem
com os interesses gerais da classe enquanto para a classe trabalhadora
tal coincidência é apenas contingente. Em outros termos, os interesses
dos diferentes indivíduos da classe capitalista são necessários para a
perpetuação do sociometabolismo do capital, de modo que os interesses
contingentes desses indivíduos, tomados ou não em grupos, tendem
a coincidir com os interesses necessários da classe, sua consciência
necessária de classe. A burguesia visa manter “o auto-interesse individual
dos membros particulares do grupo dominante [que] está diretamente
relacionado ao objetivo geral de retenção da posição privilegiada e
estruturalmente dominante que o grupo, como um todo, tem na
sociedade.” (Mészáros, 2008, p. 69).
As diferenças entre os interesses da classe dominante e da classe
dominada e o exercício de poder daquela sobre esta permitem que as
reformas e concessões conquistadas pela classe trabalhadora sejam
215
aquelas que podem ser incorporadas ao sistema capitalista, prolongando
a subordinação existente. Para Mészáros (2008), entretanto, há uma
força compensatória nessa relação, uma vez que, com o impacto dessas
reformas e concessões no desenvolvimento das forças produtivas,
contribui-se para a maturação das contradições sociais, que, por sua vez,
tensiona o movimento da constituição da consciência, da parcialidade à
totalidade das contradições. Desenvolver o interesse de classe necessário
significa, desse modo, perceber as contradições do sistema capitalista
e questionar o estado de ordem das coisas, questionando, inclusive, a
propriedade privada, ainda que se trate de um conflito social de ordem
local. Nas palavras de Mészáros (2008, p. 85):
216
se constitui pela persistência da submissão do trabalho ao capital. A
injustiça social, portanto, não é um fator social autônomo e abstrato, mas
histórico e condicionado às relações sociais de produção das condições
de existência. Assim, a permanência da distribuição desigual da riqueza
material em prol da acumulação e da centralização do último desencadeia
uma estruturação valorativa de status, tendo em vista que a compreensão
das relações sociais ocorre pela parcialidade das mesmas. Considerando
que para Fraser a construção da justiça social precisa, em termos
didáticos, ser distinguida entre reivindicações na esfera econômica,
na esfera política e na esfera cultural, respectivamente, as lutas pela
redistribuição, pela participação paritária e pelo reconhecimento, pode-
se mencionar que os interesses, sejam contingentes ou necessários,
sejam do trabalhador ou do comprador da força de trabalho, se
manifestam na concretude das relações sociais de distintas formas,
conforme apontamentos de Fraser. Desse modo, defende-se, aqui, a
proposição de que a análise das lutas sociais por meio das categorias
redistribuição, reconhecimento e participação paritária necessitam
identificar a relação entre essas e a constituição da consciência de classe,
ou seja, a potencialidade dessas lutas no desenvolvimento dos interesses
contingentes ao necessário.
Nesse sentido, sugere-se que, para além da identificação dos
critérios de mobilização social nas distintas instâncias, seja também
problematizada a potencialidade das mesmas como mobilizadoras
da compreensão das contradições percebidas de forma individual/
particular e suas relações com a totalidade. Em suma, uma análise
das reivindicações dos grupos sociais na relação com os interesses
contingentes e necessários.
A composição das duas propostas em forma de um modelo
analítico decorre do fato concreto de que a efetivação de uma participação
paritária não se efetua na prática em função do condicionante estrutural
217
da desigualdade de distribuição e reconhecimento, pois a possibilidade
de justiça social é historicamente construída por meio da luta por
igualdade nessas instâncias. É essa condição relacional que mobiliza os
sujeitos da prática social. Ao mesmo tempo, a ação prática se desenvolve
sobre o condicionante da compreensão parcializada das relações sociais
impostas pela contradição fundamental do sociometabolismo do capital.
Para Mészáros, essa parcialidade limita a constituição da consciência de
classe necessária à emancipação humana fazendo o embate permanecer
nas relações parcializadas entre os agentes. Desse modo, o movimento
rumo à totalidade permite a potencialidade da constituição de uma
solidariedade entre os grupos da classe, o que tensiona o movimento de
constituição da classe para si.
O movimento da parcialidade à totalidade é, consabidamente,
dinâmico e estabelecido de forma relacional, portanto pode conter
tanto o movimento de progressividade quanto de regressividade na
progressividade avançada, para usar um termo de Iasi (2006). Esse
movimento é representado na Quadro 1 pelas flechas de saída dupla. As
linhas tracejadas mostram a inexistência de limites absolutos entre as
instâncias, de modo que um mesmo elemento que é tomado como móvel
de reivindicação em uma das instâncias pode apresentar potencialidade
de desdobramentos oportunos em qualquer uma das outras, inclusive
na própria.
218
Quadro 1 – Modelo Analítico para Estudo dos Conflitos
Sociais de Classe
Instâncias
Interesse Contingente Interesse Necessário
Consciência
de Classe
219
Este modelo permite que se efetue uma análise, ainda que não
em toda sua extensão, da pauta dos professores universitários de uma
instituição de ensino federal localizada no Estado do Paraná. A análise
exposta a seguir não pretende esgotar o tema, mas apenas exemplificar
as potencialidades do modelo analítico proposto.
220
O maior poder de compra dos professores universitários em
relação à grande parte da população e o capital intelectual distintivo
desses profissionais os coloca em uma posição que, na aparência
das relações sociais, os salvaguardam do processo de precarização.
Entretanto, na concretude das relações de trabalho dos docentes
universitários, tal processo é vivenciado, por exemplo, por meio da
exigência do aumento da produtividade, segundo critérios definidos
pelo CNPq e pela Capes que são em grande medida alheios à realidade
da função social da docência e da pesquisa, direcionando o trabalho
dos professores não para o que é socialmente mais importante, mas
para o que mais pontua. Diante dessa realidade, os professores do
ensino público superior, coletivamente organizados, buscam alterar a
realidade imposta objetivando “garantir a qualidade e autonomia das
Universidades Públicas, condições dignas para o exercício profissional,
isonomia e garantia no emprego, a democratização das instituições e das
relações de trabalho”. (Andes, 2011).
A análise das reivindicações dos professores da UFPR, neste
texto, é realizada por meio da pauta publicada na website do sindicato
representante da categoria. Nela constam os pontos considerados móvel
de luta pelos professores reunidos em assembleia e que embasou a
greve de 2011. O texto foi confrontado com o modelo construído pela
convergência das categorias de Fraser e Mészáros. Alguns pontos
específicos necessitaram a compreensão do contexto do qual emergem,
como a reivindicação pela avaliação do estágio probatório, por
exemplo. Isso demandou uma coleta de informações com membros dos
sindicatos. Esse processo ocorreu por meio do relato explicativo dos
pontos questionados. A escolha desses membros foi por conveniência.
Os diálogos não foram analisados, por não serem objetos desse estudo,
mas subsidiaram a compreensão dos pontos em si.
Antes de iniciar a análise propriamente dita, é preciso esclarecer
que, em termos clássicos, as reivindicações de funcionários públicos
221
junto aos governantes poderiam ser teoricamente rechaçadas como
luta de classes. Contudo, tais profissionais são destinatários do fundo
público e esse é constituído por parte da riqueza socialmente produzida
que é apropriada pelo Estado em forma de tributo. Assim, as atividades
dos professores se não atendem às demandas da classe trabalhadora,
atenderão às da classe capitalista. Portanto, conforme destaca Oliveira
(1998), a destinação do fundo público é um móvel de luta entre classes
sociais. Este esclarecimento se torna necessário por conta da concepção
de trabalho produtivo (aquele que produz mais-valia) e improdutivo
(aquele que não gera diretamente valor excedente). Embora não inseridos
diretamente no processo de produção de mais valor, os professores
compõem uma categoria social implicada nesta produção, seja como
artífices do desenvolvimento científico e tecnológico apropriado pelo
capital, seja como desenvolvedor de estratégias de gestão e de realização
do valor gerado, seja como intelectual orgânico (para usar o conceito
gramsciano) da classe trabalhadora.
Esclarecida essa questão, convém destacar-se que há pontos
reivindicatórios que compreendem mais do que uma categoria.
Como já explicitado, as categorias de análise constituem recursos de
pesquisa, pois concretamente não se pode conceber a realidade atuando
enquadrada em “departamentos analíticos”. Assim, na análise aqui
empreendida foram sublinhados os aspectos mais marcantes de cada
ponto e, em alguns casos, esses foram avaliados em sua completude para
afirmar a reciprocidade entre as categorias. O Quadro 02 apresenta de
forma sintética os pontos analisados e sua categorização central.
222
Quadro 2 – Consciência de Classe e Interesses
Instâncias
Interesse Contingente Interesse Necessário
Consciência
de Classe
Estabelecimento de limite máxima de 12 horas-aula Posicionamento dos Conselhos sobre os cursos pagos na
para professores em regime 40h e DE de 10 horas/aula UFPR
para professores em regime de 20h (alteração da Melhoria das condições que garantam a qualidade do
resolução 108 /00 do CEPE) . ensino, pesquisa e extensão em todos os Setores e
Estabelecimento de limite máximo de alunos por sala particularmente naqueles que aderiram aos programas de
de aula, respeitando particularidades e diversidades dos adesão a projetos de expansão e ou ampliação de vagas na
cursos e suas diretrizes curriculares . Universidade (Reuni, Expandir e outros) e garantia de
Econômica Limitação da abertura de novas vagas/turmas nos
cursos sempre que se ultrapassarem os limites máximos
infraestrutura necessária para a realização das atividades
de ensino, pesquisa e extensão, sem a qual não devem ser
dos critérios acima estipulados (número máximo de abertos novos cursos e/ou vagas (salas, bibliotecas,
horas-aula dos docentes e número máximo de alunos laboratórios, etc)
por sala de aula) ou que não apresentem condições Exigência da contrapartida do governo em recursos
estruturais de funcionamento . humanos (servidores docentes e técnicos-administrativos )
Revisão dos valores de bolsa para professor sênior e infraestrutura sob pena de não abertura de processo
(conforme o realizado para os substitutos) e retirada da seletivo .
restrição de atuação dos mesmos na pós-graduação Garantia de moradias estudantis em todos os campi da
latu -sensu. UFPR .
Funções Gratificadas para todas as Coordenações e
chefias de Departamentos .
Eleição direta para a Direção do Centro de Educação Estatuinte já! Constituição de uma coordenação paritária
Física e Desportos (CED) dos três segmentos universitários para realização de um
Estabelecimento de uma política de pós-graduação da Congresso Universitário que redefinirá o conceito de
UFPR que fortaleça a produção do conhecimento que UFPR e seus contornos jurídicos .
contemple os seguintes aspectos: a) transparência dos
critérios de credenciamento e recredenciamento de
Política docentes; b) transparência na distribuição e utilização
dos recursos pelos programas e; c) garantia de
representação nos conselhos setoriais .
Manutenção da comissão de saúde do trabalhador
composta pela APUFPR -SSIND, SINDITEST e
PROGEPE, conferindo a essa instância caráter
deliberativo quanto a resolução das questões relativas a
essa temática a serem executadas pela PROGEPE
223
A análise da pauta de reivindicações dos professores da UFPR
aponta tanto para reivindicações de interesses que claramente se referem
às questões individuais (maiores salários, menor carga horária de sala de
aula, melhoria de infraestrutura, entre outros) e que compõem o quadro
dos interesses de classe contingente, quanto para interesses mais amplos,
que abarcam interesses da sociedade de modo geral, contribuindo para
a melhoria das condições sociais, integrando o que se pode entender
como interesses de classe necessários (reivindicação de participação
paritária nas decisões, posicionamento contrário a privatização da saúde
e da educação, garantia de condições de igualdade para portadores de
necessidades especiais, entre outros). Cada um dos itens apresentados
no Quadro 02 refere-se primordialmente a uma das categorias de Nancy
Fraser, as quais foram ponderadas, para efeito de análise, pela proposição
de Mészáros sobre os interesses contingentes e necessários.
As reivindicações que se referem à redistribuição material
se relacionam, conforme a descrição de Mészáros, com interesses
contingentes de classe, tanto em sua manifestação particular da
categoria, quanto na manifestação do interesse social mais amplo,
configurando a redistribuição material e a redistribuição material
ampliada, respectivamente. Ambos os interesses impactam na repartição
do fundo público, isto é, na repartição da riqueza social apropriada pelo
Estado, reivindicando maior investimento na educação, que repercutirá
em valorização do valor, com força de trabalho melhor formada,
reduzindo custos de qualificação para o sistema de capital.
Os interesses de classe contingentes que visam a uma distribuição
material circunscrita à categoria se apresentam nas reivindicações de
cunho individual dos professores, ainda que expressos coletivamente,
tendo em vista que buscam remuneração adequada à contrapartida
social do trabalho desenvolvido na universidade e à limitação das
horas/aula e do número de alunos em sala de aula. Com essa pauta, a
224
discussão concerne ao valor da mercadoria força de trabalho do docente,
seja pelo aumento salarial, seja pela diminuição da produtividade.
A reivindicação pela limitação da produtividade docente, medida
em número de “alunos produzidos”, desdobra-se na demanda pela
contratação de novos professores dado o aumento do número de vagas
nas universidades públicas.
Já os interesses ligados à redistribuição material ampliada
apresentam-se nas questões que estão para além de interesses individuais
ou de retorno material individual, configurando reivindicações
extracategoria, na medida em que tais itens refletem interesses de ordem
social que visam garantir melhorias nas condições de vida da sociedade.
Os professores, ao inserirem na pauta de reivindicação a melhoria de
infraestrutura para as atividades de ensino e pesquisa, de condições que
garantam a qualidade de ensino, principalmente no caso de adesão ao
Reuni e Expandir, e ainda, de moradia estudantil, caminham para uma
reivindicação de repartição do fundo público em benefício da sociedade
de modo geral e, nesse ponto, indicam reconhecer a condição do outro,
de modo que a luta pela redistribuição material ampliada imbrica-se à
categoria do reconhecimento. Trata-se dos docentes, reconhecendo a
condição de status dos discentes e demais membros da sociedade.
Se a luta dos docentes aponta para o reconhecimento do outro,
ela também indica a reivindicação por reconhecimento, que pode ser
dividida em reconhecimento social e reconhecimento social ampliado.
O reconhecimento social é aquele no qual o sujeito quer ser reconhecido
nos seus direitos, a partir da atividade desenvolvida, do empenho
colocado para a realização do seu trabalho. Já o reconhecimento social
ampliado é aquele cuja repercussão está para além do reconhecimento
dos direitos do trabalhador no exercício de suas atividades, está para
um reconhecimento que abrange parcelas da sociedade no ambiente da
universidade e fora dele, em que se considera o outro como sujeito de
direito a despeito da categoria à qual pertence.
225
O interesse de classe contingente referente à realização de estágio
probatório relaciona-se com direitos dos professores já expressamente
previstos na legislação pertinente e que, contudo, não têm sido
respeitados pelos agentes públicos competentes. Há ofensa, portanto,
ao direito regulamentado dos professores quanto à legislação que
determina a realização do estágio probatório ao término do período
exigido em lei. O reconhecimento reivindicado nesse caso é tão somente
o reconhecimento do direito já reconhecido pela legislação brasileira.
No item referente ao assédio moral verifica-se a ocorrência de um
duplo desrespeito ao profissional. Há o desrespeito que determinados
servidores exercem, ao atacar repetida e voluntariamente seus pares,
subordinados ou superiores acarretando danos à saúde do agredido, que
tem sua integridade, dignidade e personalidade ferida no ambiente de
trabalho e há, novamente, o desrespeito ao trabalhador ao lhe ser negado
o combate e a punição dentro do ambiente em que o mesmo ocorreu.
Trata-se, portanto, da estrutura institucional oportunizando o não
reconhecimento do professor enquanto sujeito de direito.
Com relação ao reconhecimento social ampliado verifica-se que
a contrariedade ao projeto de lei que privatiza a saúde e a educação
é um item de pauta que abarca tanto a questão da redistribuição
material ampliada quanto o reconhecimento. Todavia, cabe destacar
o reconhecimento em função desta instância demonstra que a saúde e
a educação são direitos sociais inalienáveis e, deste modo, não devem
responder aos interesses de agentes privados.
A terceira categoria, a participação paritária, encontra-se presente
em vários dos pontos referidos nos itens anteriores, na medida em que
a mesma se dá pela conquista de voz e voto que contemplam estes
pontos mencionados que poderiam ser alcançados, ou pelo menos, mais
justamente debatidos. A participação paritária nas esferas de decisão,
seja nos colegiados superiores, seja nos níveis da política pública, é
226
uma das formas de destacar pontos referentes ao reconhecimento e
à redistribuição. Tal categoria destaca-se a partir do entendimento
que “tem como pressuposto básico o estabelecimento de relações de
igualdade na medida em que rompe o processo de alienação, expande e
estimula a difusão do conhecimento, além de destruir a estrutura social
verticalmente hierarquizada”, de acordo com Faria (2011, p. 45).
Os professores lutam pela participação paritária ao reivindicarem
a organização dos interesses da universidade a partir do voto paritário
de todos que a compõe, sejam professores, alunos ou técnicos. Essa
participação paritária levaria à definição do conceito da universidade e
de seus contornos jurídicos, isto é, definiria todas as ações posteriores
da universidade e, nesse sentido, a relevância da participação
paritária de todos. O status existente na sociedade entre classes e, na
universidade entre as diversas categorias, a partir dessa reivindicação,
pode levar a uma alteração dessa condição e, inclusive, permitir uma
reflexão mais ampla, gerando repercussões que superem tais diferenças
de status na sociedade. Tal reivindicação dos professores contempla o
que se propõe aqui seja uma participação paritária ampliada, uma vez
que, para além dos interesses que a categoria de professores tenha em
relação ao destino da universidade, os interesses de todos os membros
que a compõem são levados em consideração ao reivindicarem a
constituição de uma estatuinte com a coordenação paritária dos três
segmentos universitários4.
227
Ao reivindicarem critérios claros para o credenciamento e
recredenciamento dos professores, transparência na distribuição e
utilização dos recursos pelos programas e garantia de representação
nos conselhos setoriais e nos colegiados superiores, os professores
reconhecem a existência de diferenças no interior da própria categoria
de docentes. Todos os professores devem ter acesso aos critérios
estabelecidos para a universidade, bem como devem ter o direito de
participar da definição de tais critérios. Desse modo, é possível extinguir
a prática em que uns definem e se beneficiam das suas decisões,
reorganizando, portanto, a própria distribuição material a partir da
dinâmica do reconhecimento e da participação paritária.
Os itens de pauta das reivindicações que postulam a manutenção
da comissão de saúde do trabalhador, conferindo a essa instância caráter
deliberativo ante a universidade e a exigência de eleições diretas para
a direção do centro de educação física, representam o interesse dos
professores em participar das decisões que lhes afetam diretamente. São,
portanto, reivindicações que podem ser classificadas como participação
paritária imediata, que, somadas aos pontos de pauta que se configuram
em participação paritária ampliada. Tal conformidade de participação
poderia em sua prática levar a transformações significativas no âmbito
da universidade, conferindo maior reconhecimento às categorias que
a integram, contribuindo para a construção de, como destaca Faria
(2011), uma sociedade com relações sociais pautadas no respeito e no
reconhecimento intersubjetivo.
4. Considerações Finais
228
interesses existem para esta categoria, em contraposição àquilo
que lhes é oferecido como contrapartida ao trabalho realizado, por
um Estado que se subordina ao sistema de capital. A análise do
caso corroborou a definição de um modelo, construído a partir das
categorias propostas por Nancy Fraser – categorias que compõem o
cenário para a justiça social – e da consciência de classe, propostas
por István Mészáros, com a composição dos interesses contingentes
e necessários. O estudo desenvolvido apontou para a necessidade
de se considerar o “estágio de consciência de classe” de determinada
categoria de trabalhadores para que a potencialidade da luta social
se transponha dos interesses contingentes ao interesse necessário da
classe trabalhadora. Considerando que esse movimento de transposição
necessita romper com a parcialidade para a consciente elaboração da
totalidade, a análise das pautas específicas de cada categoria permitiu a
identificação de pontos de convergência para a categoria dos professores
em seu movimento totalizante, como, por exemplo, as reivindicações que
visam à redistribuição material ampliada, o reconhecimento ampliado e
participação paritária ampliada. Esse “estágio” (consciência ampliada)
mostra as ligações entre a categoria dos professores e outros grupos
sociais que mantêm a solidariedade de classe. A simples presença das
três categorias em sua manifestação imediata nas reivindicações dos
professores não bastaria para a ocorrência das mobilizações com a
potencialidade de superação das contradições do sistema de capital e,
nesse sentido, da superação dos status que o compõe para o alcance de
maior justiça social.
A ação consciente dos trabalhadores caminharia rumo à superação
da autoalienação pela mobilização política em defesa, em um primeiro
momento, dos interesses contingentes, que pelo tensionamento de
luta entre as classes levaria à compreensão dos interesses necessários
e à conscientização da importância da luta para o rompimento das
229
estruturas sociais de classe. A construção dessa consciência de classe
necessária se dá na concretude das relações sociais, a partir dos elementos
objetivos e subjetivos que o momento histórico confere a determinada
sociedade. A superação da injustiça social gerada no sistema de capital
não ocorre tal como se encontra teoricamente exposto, especialmente no
caso de Nancy Fraser, entretanto, tal teorização é importante para que
os sujeitos ativos na sociedade possam estruturar e organizar sua luta e,
deste modo, reorganizar os rumos que o capitalismo mesmo propõe aos
trabalhadores. Esse movimento concreto das relações sociais pode ser
visto na pauta de reivindicações dos professores quando esta apresenta
pontos de luta que visam atender não somente aos próprios professores
da universidade, mas igualmente a uma parcela da sociedade que está
diretamente afetada pelas decisões da universidade.
REFERÊNCIAS
230
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p.97-118.
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desenvolvimento: teorias em conflito. In: ______ Educação e Crise do Trabalho:
perspectivas de final de século. Petrópolis: Vozes, 1998.
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reconhecimento e participação. Revista crítica de ciências sociais. nº 63,
outubro, 2002. p. 7-20.
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Nova, 2009. 77, 11-39.
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philosophical exchange. London: Verso, 2003.
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2007.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política, livro I, volume I.
Tradução de Reginaldo Sant´Anna. 26 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2008.
MÉSZÁROS, I. Consciência de classe necessária e consciência de classe
contingente. In: Filosogia, ideologia e ciência social. Boitempo editorial, 2008.
p. 55-90.
OLIVEIRA, F. Os Direitos do Antivalor. Petrópolis: Vozes, 1998.
SILVEIRINHA, M. J. Democracia deliberativa e reconhecimento: Repensar o
espaço público. In: Revista de Comunicação e Linguagens, Retórica, 2005.
231
UMA ANÁLISE FEMINISTA DO TRÁFICO DE MULHERES
NAS CIDADES BRASILEIRAS
233
oficialmente a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – FBPF,
que trazia em seu estatuto os propósitos de elevar o nível de instrução
feminina; proteger as mães; garantir o trabalho e o desenvolvimento
profissional feminino; assegurar às mulheres direitos políticos e estreitar
laços com outros países americanos a fim de colaborar na manutenção
da paz. (SAFFIOTI, 2013, p. 359)
Nessa época, o movimento feminista tinha inúmeras vertentes
e Bertha Lutz representava aquela que se identificava com os ideais de
estratos médios da população brasileira e visava à expansão da estrutura
capitalista no Brasil para a abertura de novas vias à emancipação
econômica feminina (SAFFIOTI, 2013, p. 378). Porém, não se pode deixar
de mencionar que o feminismo paralelamente tinha sua face operária,
com as anarquistas da “União das Costureiras, Chapeleiras e Classes
anexas”, que chamavam a atenção para a precária situação da mulheres
nas fábricas.
Em que pese a luta incessante, somente em fevereiro de 1932 as
mulheres sem distinção conquistaram seu direito de voto com a alteração
do Código Eleitoral pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas (1930-
1934), que não era um grande simpatizante das causas feministas, mas
precisava amenizar as pressões do período Revolucionário.
Ressalte-se que a partir desse momento as mulheres passariam
a influenciar na concepção de políticas estatais visando à ampliação
dos direitos trabalhistas e, principalmente, à igualdade de condições de
trabalho para homens e mulheres. Ainda em maio de 1932, assistiriam à
promulgação do Código de Trabalho das Mulheres3, que estabelecia em
seu primeiro artigo a igualdade salarial independente de sexo, assegurava
a licença maternidade, a continuidade do emprego da mulher grávida
e o direito de intervalos para amamentação. (SAFFIOTI, 2013, p. 365)
234
Ademais, nesse importante ano, Bertha Lutz também passou a
integrar a comissão formada pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas
para elaboração do Anteprojeto da Constituição, e nos seus discursos
de abertura dos trabalhos constituintes deixou claro que tinha a missão
de lucidamente continuar a luta por direitos individuais e sociais sem
distinção de gênero, iniciada com o movimento que garantiu o direito
feminino ao voto4. Ressalte-se que nas palavras dessa feminista as
mulheres não formavam apenas uma classe, mas a metade da população
que trabalhava incessantemente no lar, sem qualquer reconhecimento,
profissionalmente mal remunerada e cujo talento era constantemente
frustrado quanto à possibilidade de desenvolvimento e expansão.5
O mesmo tom igualitário se identifica nas suas propostas para
o Anteprojeto de Constituição, publicadas sob o título “13 Princípios
Básicos”, dentre as quais se destacam a abolição da penosa dupla
jornada de trabalho da mulher proletária, “que cumpre pena dobrada,
acrescentando ao horário de fábrica, o trabalho, sem horário medido,
que desempenha no lar”; a aplicação de leis de proteção ao trabalho sem
distinção de sexo e nacionalidade; a previsão de assistência à mulher
grávida e do seu direito de ausentar-se do trabalho durante a gravidez
sem perder o emprego, assim como o direito de assistência social na
velhice. Entretanto, dentre todas, a mais ousada é a declaração de
direitos civis, econômicos e políticos sem qualquer distinção de gênero,
classe ou nascimento. (LUTZ, 1933)
Em 1937, a deputada Bertha Lutz apresentou o Projeto do Estatuto
da Mulher (PL n.o 736/1937) à Câmara dos Deputados e na exposição de
motivos apontava a necessidade de revogação da legislação vigente que
conflitava com o texto da Constituição de 1934, a qual garantira o direito
4 LUTZ, 1936.
5 LUTZ, 1936.
235
de voto feminino e abrira espaço à investidura das mulheres nos cargos
do governo. Esse Estatuto buscava revogar o Decreto n.o 21.417/19326
e estender os direitos da trabalhadora, de modo a assegurar licença
maternidade de três meses, com remuneração integral, sendo que parte
do seu salário seria pago pelo poder público, e o direito da trabalhadora
braçal e de balcão de faltar dois dias por mês sem descontos. 7 O grande
problema desse projeto era que ignorava as condições de trabalho
impostas por uma sociedade capitalista, pois a sua defesa dos interesses
femininos acabava se subordinando aos da burguesia empresarial, que
via nesta proteção muitas vezes desnecessária da trabalhadora uma
oportunidade para diminuir a contratação feminina ou precarizá-la de
forma a aumentar o lucro. (SAFFIOTI, 2013, 371)
Em que pese as críticas tecidas contra essas feministas, que
foram acusadas de importar ideias que não eram compatíveis com a
sociedade brasileira e que não tinham por fundamento as verdadeiras
relações sociais que inferiorizavam a mulher, não se pode negar que seu
discurso foi imprescindível para demarcar o espaço de participação da
mulher neste contexto conturbado da sociedade brasileira. Em suma,
a despeito da falta de compreensão do funcionamento opressor da
sociedade capitalista em relação à mulher, o discurso de Bertha Lutz e
suas companheiras foi imprescindível para despertar a consciência em
relação ao domínio patriarcal no Brasil, bem como ensejar a promulgação
de várias leis que buscavam estabelecer certa igualdade de gênero
(SAFFIOTI, 2013, p. 368 e ss).
Nos anos que se seguiram, algumas das propostas de Bertha
Lutz se concretizaram em leis, tal como o Estatuto da Mulher Casada,
promulgado em 1962, que modificava a condição de incapacidade civil
6 BRASIL, 1932
7 LUTZ, 1937.
236
da mulher casada. Todavia, verifica-se um expressivo hiato no que se
refere à participação do movimento feminista no processo legislativo
que se estende de 1937 ao final da ditadura militar.
Isso não significa que o movimento das mulheres cessou de
lutar pelos direitos femininos, pois não obstante as dificuldades de
manifestação pública impostas pela ditadura getulista (1937-1945),
as feministas tiveram uma participação importante na aprovação da
Consolidação das Leis do Trabalho de 1943 (Decreto Lei n.o 5.4528), a
qual finalmente assegurou a proteção à maternidade, com a concessão de
licença a mulher por seis semanas antes e seis semanas depois do parto e
a garantia do emprego. Mas tal como todos os movimentos sociais foram
silenciadas no processo formal de concepção e elaboração dos textos
legislativos no Brasil.
Na década de 1950, o movimento feminista se destacou nas ações
da Federação de Mulheres do Brasil, que participou da greve dos 300 mil
e da Passeata da Panela Vazia, lutando pelo aumento do salário mínimo
e contra a carestia da vida, a qual inclusive deu origem à Lei Delegada
n.o 4, que conferia amplos poderes às autoridade públicas para controlar
a oferta e o consumo de mercadorias e tornaria necessária a criação da
Superintendência Nacional do Abastecimento – SUNAB (BANDEIRA
e MELO, 2010, p. 23).
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), as várias
associações feministas tiveram seu funcionamento suspenso, porém
tal medida não foi suficiente para impedir a atuação clandestina desses
grupos de mulheres que apoiavam as mães solteiras, ensinavam costura
e outras atividades manuais que pudessem permitir o seu sustento, bem
como ampliavam paulatinamente sua participação nos sindicatos.
Em que pese a efetiva participação das mulheres da classe média
na Marcha da Família com Deus pela Liberdade (série de manifestações
8 BRASIL, 1943.
237
contra a ameaça comunista e o Governo de Jango), a qual criou
o substrato perfeito para a concretização do golpe de Estado pelos
militares em 1964, não se pode dizer que o movimento feminista teria
empreendido um retrocesso em sua caminhada para a construção de uma
sociedade mais igualitária. (SARTI, 1988, p. 42).
Note-se que ao longo da ditadura militar muitas mulheres
participaram dos movimentos revolucionários, foram forçadas a deixar
o seu país, sofreram torturas e castigos justamente por não estarem em
suas casas cuidando dos filhos e do marido, por terem sido consideradas
avançadas demais e por esse motivo associadas à prostituição, como
consta de seus testemunhos transcritos nas obras “Direito à memória
e à verdade: luta, substantivo feminino” (OJEDA e MERLINO, 2010),
“Ex-presos políticos e a memória social da tortura no Paraná (1964-
1978)” (CALCIOLARI e MONTEIRO, 2006), “Mulheres e militância:
encontros e confrontos durante a ditadura militar” (GIANORDOLI-
NASCIMENTO; TRINDADE e SANTOS, 2012) e Relatório Final da
Comissão Nacional da Verdade (CNV, 2014).
Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas no exílio, as
mulheres perseguidas pelo governo militar fizeram várias reuniões para
discutir a luta por seus direitos, inclusive sob a censura e reprovação
dos homens exilados, na maioria das vezes seus companheiros, que
viam no feminismo uma distração no movimento pelo fim da ditadura
(PINTO, 2003). Em suma, o movimento feminista sobreviveu de várias
maneiras e não deixou de pautar que a luta pelo direito das mulheres e
pela igualdade de gênero não deveria se subordinar ou ser eclipsada pelas
lutas gerais do povo brasileiro pelo retorno da democracia. (BANDEIRA
e MELO, 2010, p. 25).
Contudo, na década de 1960, a participação das mulheres
nos sindicatos ainda era secundária e as reivindicações trabalhistas
daquele momento se concentravam na jornada de trabalho exaustiva,
238
no arrocho salarial, na falta de democracia nas relações de trabalho e
eram discutidas por algumas categorias profissionais e pelos chefes de
família, reconhecidos institucionalmente como interlocutores pelos
governantes. Em síntese, as mulheres eram coadjuvantes nesse processo
de negociação dos direitos trabalhistas, ou seja, apenas indiretamente
cidadãs. (GIULIANI, 2013, p. 643)
Isso inclusive leva alguns autores a afirmarem que a tentativa
dos militares em despolitizar e calar os cidadãos em relação aos direitos
humanos, bem como o afastamento da mulher no que se refere à vida
política, foram justamente os fatores que levaram ao fortalecimento
do movimento feminista na década de 1970, de modo a aproximá-lo
do radicalismo dos movimentos ocorridos nos EUA e na Europa na
década anterior e a permitir sua organização para reivindicar a anistia
e a reabertura democrática. (SOARES, 1998, p. 35). A Conferência da
ONU, que estabeleceu 1975 como ano internacional da mulher, serviu
de estopim para a fundação de Centros feministas em São Paulo, Rio
de Janeiro e Paraná, que lutavam pela virada democrática (SARTI,
1988, p. 63).
Portanto, num contexto brasileiro de ausência de democracia, o
feminismo não esmoreceu e neste mesmo ano sob o patrocínio da ONU
e da Associação Brasileira de Imprensa, os grupos de mulheres e jornais
feministas se multiplicaram na luta contra a supremacia masculina, a
exploração feminina no mercado de trabalho, a violência sexual e pelo
direito ao prazer (BANDEIRA e MELO, 2010, p. 26).
Simultaneamente, organizavam-se associações femininas
de bairros, clubes de mães, ligados à Igreja Católica, associações
profissionais e grupos sindicalizados para exigir melhores condições
de trabalho, creche para os filhos e a redução da pobreza (SARTI,
1988, p. 64).
No final da década de 1970, as trabalhadoras rurais passaram a se
reunir no seio da Pastoral da Terra para questionar a precariedade do seu
239
vínculo com a terra, engolido por grandes fazendas, que substituíram as
culturas de autoconsumo por culturas comerciais ou por agropecuária
bovina. No Nordeste, os grupos de mulheres rurais lutavam pela sua
cidadania frente aos atrasos na implementação dos programas de
emergência contra a seca e também exigiam que fosse respeitada a lei
trabalhista que assegurava salário mínimo integral e acesso à previdência
social. (GIULIANI, 2013, p. 647-648)
Todavia, o movimento feminista voltaria a participar efetivamente
das decisões políticas e do processo constituinte brasileiro em meados
da década de 1980, com a redemocratização do país, o que coincidiu
com o momento em que suas lutas se pluralizaram e encontraram como
ponto de aglutinação as questões relativas à violência contra a mulher
e à discriminação social e, principalmente, a busca por mecanismos
adequados para combatê-la (SARTI, 1988, 42).
Assim, tanto as trabalhadoras rurais como as urbanas militavam
para rever a divisão sexual no trabalho e a relação de poder na
representação sindical, isto é, para combater a dominação masculina
que lhes impunha o trabalho do lar, a educação dos filhos, os menores
salários e o papel secundário na representação sindical. (GIULIANI,
2013, p. 651)
O Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, criado em
1985 junto ao Ministério da Justiça, foi responsável por articular a
pauta feminina que deveria ser discutida no momento da elaboração da
Constituição de 1988. Em que pese a enorme distância dessas demandas
de cidadania em relação àquelas contempladas no documento final
promulgado, vários direitos que visavam à diminuição das diferenças
de gênero nas relações de trabalho foram garantidos. Dentre essas
conquistas, verifica-se a ampliação do tempo de licença maternidade, a
introdução da licença paternidade, a fixação de limites diferenciados de
idade para aposentadoria dos homens e das mulheres, a reciprocidade
240
no casamento com a igualdade entre homem e mulher, a possibilidade
de registro de propriedade de terra no nome da mulher, assim como uma
série de benefícios previdenciários.
Porém, somente em 1993, após muitos debates, a Central Única
dos Trabalhadores- CUT procurou efetivamente reduzir as disparidades
sexuais na representação sindical, abrindo um maior espaço para a
participação das mulheres nas diretorias, com a fixação de cotas mínimas
na disputa de cargos diretivos, e finalmente permitindo que as mulheres
institucionalizassem sua luta por direitos trabalhistas.
Esse período também foi marcado pela denúncia das
discriminações no mercado de trabalho, dos assédios sexuais nas relações
trabalhistas, do incentivo dos empregadores para esterilização feminina
e da persistência nas diferenças salariais entre homens e mulheres e o
trabalho escravo. (GIULIANI, 2013, p. 658-660)
Na primeira década do novo milênio, os direitos das trabalhadoras
continuaram seu processo de ampliação, com a possibilidade de extensão
da licença maternidade para cento e oitenta dias àquelas que trabalham
para pessoas jurídicas vinculadas ao “Programa Empresa Cidadã” (Lei
n.o 11.770/2008)9 e, recentemente, com o reconhecimento de todos os
direitos trabalhistas às empregadas domésticas (EC no 72/201310 LC n.o
150/201511).
Não obstante esse avanço na garantia formal dos direitos
trabalhistas das mulheres, é preciso reconhecer que muitos deles
estão longe de ganhar efetividade, tanto pela dominação masculina
naturalizada na sociedade brasileira como pela desigualdade social que
impuseram nas relações de trabalho a condição de explorada à mulher
9 BRASIL, 2008.
10 BRASIL, 2013.
11 BRASIL, 2015.
241
integrante da “ralé”12. Tal pode ser comprovado pelos índices alarmantes
do tráfico interno e internacional de mulheres nas cidades brasileiras
para fins de exploração sexual e trabalho escravo.
12 SOUZA, 2011.
242
e o conhecimento jurídico são permeados por essa visão androcêntrica,
são concebidos dentro dessa ordem masculina fundada na divisão
sexual do trabalho, que se encontra impregnada nas estruturas objetivas
e cognitivas da nossas sociedade. Tanto os parlamentares como os
gestores das empresas privadas/públicas e os sindicatos, que participam
diretamente do processo de concepção e aplicação das leis trabalhistas,
são irremediavelmente homens ou mulheres submetidos a essa máquina
simbólica que faz funcionar a dominação masculina. (BOURDIEU, 2014)
Essa incapacidade do direito de retirar a mulher dessa condição de
inferioridade e vulnerabilidade pode ser problematizada de modo mais
aprofundado a partir do pensamento de Judith Butler (2015), que reflete
sobre a tese foucaultiana de que os sistemas jurídicos de poder produzem
os sujeitos que afirmam representar (FOUCAULT, 1988). Noutras
palavras, a filósofa norte-americana entende que o discurso jurídico
não reconhece identidades naturalmente estabelecidas ou socialmente
construídas e lhes assegura direitos, mas produz, torna coerente, limita,
unifica, normaliza e perpetua certas identidades para esconder a noção
desse “sujeito anterior a lei” e apelar a essa formação discursiva como
uma premissa fundacional naturalizada que posteriormente legitima sua
hegemonia reguladora. (BUTLER, 2015, p. 48). Nesse sentido, o discurso
jurídico produz a mulher – a identidade feminina –, que afirma apenas
representar, estabelece os seus limites e o seu papel, dissimulando
que deixou de reconhecer a existência da complexidade da identidade
feminina, de suas múltiplas facetas que se encontram distantes dessa
formação discursiva, a partir da naturalização da identidade que ele
mesmo produziu.
Então, num primeiro momento, tem-se a impressão de que
as noções jurídicas regulam contingencialmente a esfera política de
forma exclusivamente negativa, por meio de interdições, proibições,
243
regulamentações, controle e até medidas de proteção das pessoas
vinculadas a essa estrutura política. Contudo, os sujeitos submetidos e
regulados por essas estruturas se constituem, definem-se e reproduzem-
se de acordo com as imposições dessas mesmas estruturas e não são por
elas simplesmente limitados.
A formação jurídica da linguagem e do exercício do poder que
reconhece as mulheres como o sujeito do feminismo ou dos direitos
trabalhistas femininos é uma formação discursiva e resultado de uma
versão específica da política de representação. Desse modo, o sujeito
feminista, a mulher titular de direitos trabalhistas está discursiva e
descontextualizadamente formada pela mesma estrutura política
que, supostamente, promoverá a sua emancipação. Em suma, torna-se
complicada a emancipação do sujeito feminista, na medida em que o
direito que o representa de forma universal e excludente é o mesmo
que estabelece o caminho de sua emancipação. Nas palavras da autora,
“por um lado a representação funciona como instrumento operacional
dentro de um procedimento político que pretende ampliar a visibilidade
e a legitimidade para as mulheres como sujeitos políticos, por outro,
a representação é a função normativa de uma linguagem que, ao que
parece, mostra ou distorce o que se considera verdadeiro acerca da
categoria das mulheres.” (BUTLER, 2015, p. 46-47)
Portanto, a partir dessa análise, é possível concluir que o discurso
jurídico brasileiro sobre os direitos trabalhistas das mulheres, forjado nas
lutas do movimento feminista, define, produz o sujeito desses direitos de
maneira descontextualizada, como se o representasse, e acaba limitando
o exercício da cidadania, excluindo muitas mulheres do gozo desses
direitos e deixa de cumprir a promessa de emancipação. Além disso, ao
enunciar direitos para os sujeitos reconhecidos biologicamente como
do sexo feminino, intensifica a submissão dos corpos a uma ordem
244
binária de gênero masculino/feminino, produto de um contrato social
heterocentrado, cujas performatividades normativas foram inscritas
nos corpos como verdades biológicas, acentuando uma pretensa
superioridade do homem e legitimando a dominação masculina. 13
(BUTLER, 2008)
Noutras palavras, o discurso jurídico dos direitos trabalhistas das
mulheres define as destinatárias desses direitos, a partir de uma ficção
cultural, perpetuada por meio de atos reiterados que a legitimam, a qual
funciona com base na suposta verdade biológica do sexo feminino. Esse
discurso jurídico descolado da realidade assegura direitos a uma pessoa
com biótipo considerado pelo saber médico como do sexo feminino, que
exerce performances correspondentes ao gênero feminino, que é branca,
tem formação escolar, é parte numa relação de trabalho consensual e
normatizada, é heterossexual e escolheu a maternidade. Por esse motivo,
os direitos trabalhistas das mulheres dificilmente são acessíveis à mulher
pobre, negra, lésbica ou ainda a outras identidades subliminarmente
consideradas perversas pela linguagem jurídica, tais como transgêneros
e intersexuais.
245
Sabe-se que em nosso país as mulheres pobres são na sua
maioria excluídas pelos direitos trabalhistas, principalmente porque é
improvável que integrem uma relação de trabalho legalizada ou que se
sintam representadas por esse discurso jurídico, até pela naturalização
da desigualdade social que esse mesmo discurso promove.
Para explicar essa naturalização da desigualdade no Brasil,
decorrente do avançado estágio do capitalismo, Jessé Souza afirma que
nossa sociedade é composta por homo economicus, isto é, por “agentes
racionais que calculam suas chances relativas na luta social por
recursos escassos, com as mesmas disposições de comportamento e
capacidades de disciplina, autocontrole e autorresponsabilidade”. Nessa
perspectiva, o marginalizado social é percebido como alguém que possui
as mesmas capacidades e disposições do indivíduo da classe média,
pois a miséria é sempre vista como contingente e fortuita, superável
com a ajuda tópica do Estado, o que a torna uma escolha deliberada
do indivíduo ou decorrência da sua falta de responsabilidade. (2011,
p. 17). Tal situação se exemplifica no discurso que leva a sociedade a
acreditar que basta estabelecer direitos trabalhistas para as mulheres,
bem como a fiscalização formal da efetivação desses direitos, para evitar
o trabalho escravo nas confecções, nas casas abastadas e a exploração da
prostituição nas grandes cidades, afinal nesta perspectiva a exploração
do trabalho só existe porque os explorados escolhem ou contribuem
para sua miséria.
Além disso, esclarece que o liberalismo economicista, consolidado
como visão hegemônica no país desde 1970 e 1980, construiu uma falsa
oposição entre o mercado como reino paradisíaco de todas as virtudes
e o Estado identificado com a corrupção e o privilégio, a qual permitiu
que a eternização dos privilégios econômicos de alguns poucos fosse
vendida como interesse de todos na luta contra a corrupção, pensada
como mal de origem e supostamente estatal. Então, todos os reais
246
conflitos e contrastes sociais se tornaram invisíveis e, consequentemente
naturalizados, na medida em que sua causa foi reduzida à dramatização
dessa falsa oposição entre mercado divinizado e Estado demonizado.
(2011, p. 16)
Aliás, essa percepção economicista liberal das classes sociais
e seus conflitos, vinculada essencialmente ao diferencial de renda,
também torna invisíveis os fatores e as precondições morais, sociais,
emocionais e culturais que constituem esse diferencial e contribuem para
a desigualdade social, impondo uma cegueira em relação à transferência
desses valores imateriais na reprodução das classes e dos privilégios
sociais, impedindo, por exemplo, que mulheres negras e pobres se
identifiquem como destinatárias de direitos trabalhistas ou definidas
pelo discurso jurídico. (SOUZA, 2011, p. 18)
Nesse sentido, percebe-se que nas classes altas brasileiras
monopolizadoras do poder econômico, os filhos terão a mesma vida
privilegiada dos pais na medida em que herdam seu capital imaterial,
seu estilo de vida sofisticado, seu bom gosto, suas relações profissionais
e sociais, bem como seu patrimônio, e isso faz com se vejam como
merecedores dos privilégios sociais, como se fosse algo justo, devido e
natural. Na classe média, a cegueira da visão economicista de mundo é
ainda mais evidente, reproduzindo-se nas próprias precondições que
permitirão os filhos dessa classe competirem na aquisição e reprodução
do capital cultural dos ricos. Desse modo, no cotidiano e na vida privada
da casa, são criadas afetivamente as precondições que torna a classe
média esforçada e disciplinada merecedora do capital cultural do sucesso
material. Portanto, filho que vê o pai lendo um livro, a mãe fazendo um
curso de inglês e o irmão estudando um instrumento se sente motivado
a estudar e com autoconfiança para alcançar o sucesso. Além disso,
passa a agir como se as mesmas precondições fossem estendidas para as
classes baixas e a deduzir que o seu fracasso se deve à falta de esforço,
247
disciplina e ambição. Por fim, em razão do abandono social e político, que
determinam a falta desse capital imaterial, a “ralé” não possui nenhuma
chance da ter sucesso. Ao contrário, percebe-se nascida para o fracasso,
acostuma-se com ele, acredita que não é suficientemente disciplinada
e responsável para alcançá-los. Em síntese, as mulheres dessa classe
social brasileira não se sentem merecedoras do trabalho digno e dos
direitos a ele inerentes, mas percebem-se como subcidadãs destinadas
à exploração e ao descaso estatal. (SOUZA, 2006)
Nas palavras do autor brasileiro, “a ‘ralé’ brasileira moderna não
se confunde com o simples lumpemproletariado tradicional. Como ela
não encontra emprego no setor produtivo que pressupõe uma relativa
alta incorporação de conhecimento técnico ou ‘capital cultural’, ela
só pode ser empregada como corpo, ou seja, como mero dispêndio de
energia muscular.” Então, como corpo é explorada a preços baixos no
trabalho de empregada doméstica, no trabalho masculino desqualificado
ou na prostituição. (SOUZA, 2011, p. 24). Assim, pode-se constatar que
“a miséria das classes excluídas do acesso a capital cultural e capital
econômico é, além de econômica e social, uma miséria existencial e
moral ainda maior do que a miséria existencial das classes médias e altas
vítimas, por exemplo, de um expressivismo romântico transformado em
mero consumo.” (SOUZA, 2011, p. 389)
Enfim, esse raciocínio é capaz de indicar alguns dos fatores que
tornam alarmantes os índices de tráfico de mulheres pobre e negras nas
cidades brasileiras para fins de exploração sexual e trabalho escravo,
tal como demonstram as pesquisas recentes adiante analisadas.
Essas pessoas traficadas não se percebem sujeitos de direitos, não se
identificam com as mulheres protegidas pelas leis trabalhistas brasileiras,
pelo contrário, sentem que não merecem ser protegidas em suas relações
de trabalho.
248
3. O TRÁFICO DE MULHERES NAS CIDADES BRASILEIRAS
14 (BRASIL, 2004).
15 (BRASIL, 2006).
16 (BRASIL, 2013).
17 V. Art. 231, Código Penal (Tráfico internacional para fins de exploração
sexual; Art. 231-A, do CP (Tráfico interno para fins de exploração sexual); Art. 228,
do CP (Favorecimento à prostituição); Art. 230, do CP (Rufianismo); Art. 149, do
CP (Redução à condição análogo à de escravo); Art. 206, do CP (Aliciamento para o
fim de emigração); Art. 207, do CP (Aliciamento de trabalhadores de um local para
outro do território nacional) e Arts. 14 a 16, da Lei no 9.434/97 (Crimes contra a lei de
transplantes de órgãos).
249
que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração
incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras
formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura
ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos.
(BRASIL, 2004)
250
pessoas para fins de exploração apenas os relatórios governamentais de
2005 a 201118, 201219 e 201320.
Ressalte-se que a coleta desses dados enfrentou uma série de
dificuldades, primeiramente porque são várias as fontes consultadas
para se produzir uma visão adequada da incidência do tráfico em todas
as suas modalidades, desde os órgãos estatais que trabalham para sua
repressão até as vítimas, o que exige uma metodologia diversificada que
pode produzir resultados conflitantes. Além disso, o registro de dados
por parte dos poderes públicos ainda é deficiente e desencontrado,
uma vez que não foi implementado um formulário ou questionário
único e os agentes não foram qualificados para prestar adequadamente
as informações sobre as denúncias recebidas. Então, a polícia coleta
os dados de uma maneira, o Ministério Público do Trabalho de outra,
a Secretaria Nacional da Mulher de forma diversa, o que dificulta a
planificação e consolidação do fenômeno e o seu consequentemente
enfrentamento. Por fim, é preciso considerar que jamais se terão dados
precisos do tráfico de pessoas na medida em que a sua quantificação
é realizada com base em denúncias recebidas pelos órgãos estatais,
portanto, haverá sempre uma cifra oculta (SUTHERLAND, 2015), um
certo número de casos que não chega ao conhecimento do Estado ou que
são ignorados deliberadamente por ele.
Em que pese todas essas dificuldades impostas à compreensão do
fenômeno do tráfico de pessoas no Brasil, alguns dos dados coletados
251
deixam clara a vitimização da mulher pobre e habitante da cidade pelo
tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e trabalho escravo.
O Relatório de 2005 a 2011, na sua introdução, expressamente
reconhece que as mulheres advindas das classes populares, de baixa
escolaridade, mães solteiras, que moram com um parente na periferia
dos grandes centros urbanos, sem saneamento básico e transporte, são
alvo fácil para o tráfico com fins de exploração sexual. Muitas delas,
trabalham como cabelereiras, auxiliares de enfermagem, professoras do
ensino fundamental, vendedoras, secretárias e domésticas, sem direitos
e situação trabalhista regularizada. (BRASIL, 2013a, p. 24) Em síntese,
esses dados confirmam que a desigualdade social, o preconceito racial
e a inferiorização da mulher e de sua força de trabalho, próprias de uma
sociedade patriarcal, são fatores determinantes da sujeição ao tráfico
para fins de exploração sexual e trabalho escravo.
O quadro não se modifica no Relatório de 2012, os dados mais
completos sobre o tráfico advêm do sistema do Ministério da Saúde,
cujo cadastramento das vítimas atendidas nos hospitais relata que foram
registrados 130 vítimas de tráfico de pessoas e crimes correlatos, sendo
104 mulheres e 26 homens. Dentre as mulheres, 38 identificaram-se como
brancas e 55 como pardas ou negras e a faixa etária com maior incidência
é de 15 a 39 anos. Quanto aos casos específicos de tráfico de pessoas para
trabalho escravo, registrados pelo Ministério Público do Trabalho, das
2.771 vítimas, verifica-se que 80% são mulheres, 65% delas possui até 29
anos (BRASIL, 2013b).
Por fim, no Relatório de 2013, os dados praticamente se repetem,
apenas com mais informações por conta da melhoria nos órgãos de
recebimento de denúncias. Na Divisão de Assistência Consular do
Ministério das Relações Exteriores, foram registrados 62 casos de tráfico
internacional de pessoas, 41 revelavam a finalidade de exploração sexual
e 21 para trabalho escravo, sendo que na primeira situação 36 vítimas
252
identificaram-se como mulheres e na segunda, somente 7. No mesmo
sentido, apresentam-se os dados do Ministério da Saúde, os quais
reportam que dentre as 115 vítimas de tráfico atendidas no sistema de
saúde, 82 são mulheres, ou seja, 71,3% do total, 70,4% estão na faixa
etária de 0 a 29 anos, 50,4% identificaram-se como negras ou pardas,
34% concluíram o ensino fundamental, 35% declaram-se solteiras e 71%
residem na zona urbana. Inclusive, conforme os dados da Secretaria de
Direitos Humanos, o Estado de São Paulo concentra o maior número de
denúncias relativas ao tráfico de pessoas.
Veja-se que uma leitura desses relatórios, ainda que considere a
precariedade da coleta de dados, leva-nos a reconhecer que as condições
de vida dessas mulheres jovens, com baixa escolaridade, residentes
nas periferias das cidades brasileiras, que nada têm a perder, tornam
irrecusável e atraente a proposta ilusória dos traficantes para que
deixem suas casas em busca de um trabalho menos extenuante, de uma
remuneração capaz de atender suas necessidades e de sua família, de
uma vida diferente daquela que as sujeita a um subemprego e à miséria.
Dessa maneira, contata-se que o não reconhecimento dos direitos
trabalhistas de maneira ampla a todas as mulheres, a definição velada da
identidade do sujeito desses direitos restrita à mulher branca, inserida
no mercado de trabalho, que se encontra numa relação trabalhista
regularizada, é um importante fator que contribui para a ocorrência do
tráfico de mulheres para fins de exploração sexual e trabalho escravo
nos centros urbanos de nosso país.
Tal constatação permite inclusive concluir que a diminuição
efetiva desses índices do tráfico de mulheres pobres no Brasil não ocorrerá
simplesmente por políticas públicas que promovam o atendimento de
suas vítimas e a punição dos traficantes, ou ainda, pela ampliação de
direitos trabalhistas excludentes, permeados por uma ordem machista
e economicista, mas pelo reconhecimento e implementação do direito
253
à educação, à moradia digna, ao trabalho regularizado dessas várias e
diferentes mulheres que habitam a periferia das grandes cidades.
Para tanto, o direito certamente precisa se reinventar, estender
ao máximo sua representação às várias identidades e permitir que os
corpos reconheçam a si mesmos não como homens ou mulheres, mas
como corpos falantes que reconhecem outros corpos falantes, permitir
que esses corpos falantes reconheçam em si mesmos a possibilidade de
exercer esses direitos e de enunciá-los, renunciando a uma identidade
sexual fechada e determinada naturalmente.
Nessa perspectiva, sob a crítica dos direitos trabalhistas
contemporâneos, é possível ousar a reflexão sobre a necessidade de se
conceber um direito contrassexual, nos termos de Beatriz Preciado, que
não assegura “privilégios sociais e econômicos derivados da condição
masculina ou feminina – supostamente natural – dos corpos falantes no
âmbito do regime heterocentrado”, mas que os subverte, abrindo-se às
múltiplas identidades dos corpos. (2014, p. 36)
Enfim, a aventada e angustiante desilusão em relação à
maquinaria jurídica moderna dos direitos trabalhistas pode deslocar
nosso olhar para além das identidades únicas, do feminino universal
representado nas leis, pode nos provocar a discussão sobre as bases
de um discurso jurídico degeneralizado, que ao assegurar direitos não
exija sub-repticiamente que a pessoa se identifique como homem ou
mulher, mas que apenas enuncie-se como corpo falante para exercê-los,
e finalmente pode de forma revolucionária nos instigar a refletir um
direito concretamente emancipador.
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DOCUMENTOS:
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Diário Oficial da União, Brasília, DF, de 02 de junho de 2015. Disponível em:
<ww.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm>. Acessado em 19/01/16,
às 15h30.
258
Cooperativismo y la cultura cooperativa en la
transición socialista
1. Introducción
259
de pequeñas localidades, la inclusión y la participación social de los
ciudadanos. No son pocos los avances obtenidos por las cooperativas y la
economía solidaria que las representa. La mejora en la calidad de vida, la
igualdad de género y el camino a la disminución de las inequidades tiene
en el movimiento cooperativo un elemento indispensable en la creación
de una nueva cultura basada en la cooperación y la participación social.
El cooperativismo se inscribe como una necesidad del proceso
de socialización en aquellas sociedades que no han alcanzado un
elevado desarrollo de las fuerzas productivas, son consideradas una
alternativa de desarrollo en una perspectiva local. Como factor de
desarrollo, las cooperativas, son capaces de escapar al límite de la
pequeña escala de la producción y los servicios, mediante los lazos de
cooperación que establecen entre el pequeño productor campesino y
artesano; en tal sentido, son consideradas como opciones al desarrollo
en pequeñas localidades. La propiedad cooperativa y las formas de
explotación colectiva o de grupo, son una alternativa a la propiedad
privada capitalista y es la base sobre la que descansa la superación de
sus límites históricos.
A razón, no resulta ocioso, descubrir en términos teóricos el
legado de los clásicos del marxismo respecto al papel de la cooperación y
el cooperativismo en el proceso de transformación social, desentrañando
su necesidad como factor dinamizador de las economías locales.
260
En la concepción marxista, el trabajo y la cooperación que nace de
su actividad, ocupa un rol determinante en el desarrollo de la humanidad.
El concepto de que el trabajo es la actividad consciente de los hombres
encaminadas a la producción de bienes materiales, induce a pensar que
en esta interacción, los hombres trabajan en interconexión con otros
hombres del grupo humano al que pertenecen y es en esta colaboración
en las distintas actividades las que hacen posible la reproducción de
sociedad primitiva2.
La visión marxista sobre los socialistas utópicos y la experiencia
del movimiento cooperativo de los precursores junto a los estudios
sobre el capitalismo como sistema permitió colocar a la cooperación y
al cooperativismo en su justo lugar.
La cooperación –según Marx –, es imprescindible en el proceso
productivo porque: permite reducir el espacio donde se produce
en proporción a la escala de ésta; fomenta la emulación entre los
obreros y pone en tensión sus energías; provee a trabajos análogos de
muchos sello de continuidad y polifacetismo; ejecuta simultáneamente
distintas operaciones; economiza medios de producción y los empleas
colectivamente; la jornada de trabajo combinada, produce cantidades
mayores de valor de uso disminuyendo por tanto, el tiempo de trabajo
necesario3.
261
En su dualidad, la cooperación es parte de la socialización de la
producción; en su primer estadio y su grado de desarrollo en general
está determinado por el nivel alcanzado por las fuerzas productivas
como su fundamento material. En segundo lugar, la socialización en su
movimiento alcanza determinados niveles y conforma determinados
tipos de organización social de la producción4. Las “asociaciones
voluntarias de productores libres” es el movimiento cooperativo o
cooperativismo y su forma la sociedad cooperativa, su unidad económica.
Estas, no son más que tipos “especiales” de empresas, sin fines de
lucro que adoptan el carácter de las relaciones reproducción de donde
son originadas; no son privativas de ningún modo de producción en
especial5. Por último, el carácter específico de la cooperativa, como
forma de propiedad y gestión colectiva, basadas en la participación y
la inclusión de sus gestores, se considera una forma transitoria de la
propiedad social. Su carácter y evolución está determinada por el modo
de producción al cual se adscriben.
La transformación de la cooperación simple y el trabajo cooperado
en trabajo coordinado de muchos sustentado en el desarrollo tecnológico
genera los lazos de interdependencia e interconexión de muchos
medida una dirección que establezca un enlace armónico entre las diversas actividades
individuales y ejecute las funciones generales que brotan de los movimientos del
organismo productivo total”, por su esencia la dirección capitalista posee dos aristas,
las cuales son, “de una parte, un proceso social de trabajo para la creación de un
producto y de otra parte un proceso de valorización del capital, por su forma (…) es una
dirección despótica”. O. citada…, pág. 287.
4 Es en el capitalismo donde el proceso de socialización y de cooperación
adquiere mayor auge, observándose la formación de diferentes tipos de empresas, a las
que se le atribuyen diferentes grados de cooperación y socialización productiva.
5 Gisel De Armas L. y G. Donéstevez S. (2010). “Características del
cooperativismo en el contexto América Latina y Cuba”. Monografía. Flujo ascendente
de información, UCLV. Villa Clara. Cuba.
262
procesos de trabajo en donde los obreros coordinados entre sí muestran
que es posible la producción social bajo su dirección.
En su misión histórica, las cooperativas demuestran que los
trabajadores pueden organizar, dirigir la producción material sobre
la base del trabajo cooperativo. Lo cierto es que para Marx había
una manera de superar el límite histórico del cooperativismo en los
marcos del capitalismo y por ello nos señala que: “para emancipar a las
masas trabajadoras, la cooperación debe alcanzar un desarrollo nacional y, por
consecuencia, ser fomentada por medios nacionales”.6Por lo tanto, nos recuerda que
solo la lucha de clases y la unión internacional de trabajadores por la
emancipación derrocarán al capital.
6 Ibídem. Pág. 12
263
La cooperativa formada a partir de la pequeña explotación
campesina es tratada como una de las formas del capitalismo de estado
y factor de desarrollo local. La necesidad de dinamizar el desarrollo
desde abajo a través del comercio entre productores agrícolas y entre
ellos y la pequeña industria artesanal local, era la mayor expectativa
para propiciar la reproducción de unos y otros eslabones de la cadena
productiva rusa.
En la medida en que las cooperativas campesinas contribuyeran a
aumentar el comercio y la participación de las localidades y se ampliaran
los lazos de cooperación, se podría según Lenin establecer la regulación
y el control sobre las cooperativas. Propiciar el incremento de la
producción local y el intercambio llevaría indefectiblemente al aumento
de las contribuciones al Estado proletario, al frente de desarrollo global7.
En los marcos de la transición socialista el movimiento
cooperativo está destinado a transformar las formas simples y privadas
de organización social en formas superiores de producción, propiciando
con ello la posibilidad de que la pequeña explotación privada se convierta
en una forma social o colectiva de la producción.
El rol de la cooperación, en el tránsito al socialismo en un
país atrasado conduce inevitablemente a la revolución cultural, la
cual se asienta en la revolución industrial como su base material. El
periodo de tránsito constituye entonces toda una época histórica de
transformaciones en cuyo centro está el hombre. Según Lenin, elevar
a la población al grado de “civilización”, con comprensión de todas las
ventajas de las cooperativas y que éstas organizaran la participación
en la sociedad, era preciso, “toda una etapa de desarrollo cultural de
las masas”8.
264
El cooperativismo con la toma del poder político y la existencia
de la propiedad social sobre los medios de producción, comienza a ser
el fundamento para “organizar toda la población en cooperativas”.9 “… la labor
cultural con los campesinos consistía en la organización de ellos en
cooperativas”; lo cual no era posible debido al bajo nivel de desarrollo
de la población, lo que retardaba el socialismo, no era posible pisar con
ambos pies terreno socialista”10.
Luego, la importancia que se le da a la cooperación en Rusia
estaba en el hecho que la revolución había conquistado la propiedad
sobre la tierra esta estaba en manos del Estado, solo quedaba socializar
al pequeño productor privado. El paso de la economía campesina “a un
nuevo orden de las cosas por el camino, más sencillo rápido y accesible”11, era la
cooperativa. Luego, el programa sobre la cooperación descansaba en la
organización en cooperativas de los “pequeños y muy pequeños campesinos”,
la conducción de estas por el proletariado, con el Estado ejerciendo el
control “sobre los intereses generales”; éste era la “premisa imprescindible
para edificar la sociedad socialista”.12
El incentivo del Estado a la cooperación pasa “por conceder
privilegios económicos, financieros y bancarios”, como garantía de la
nueva organización social en construcción, sin olvidar la necesidad de
vías prácticas en la preparación de “cooperadores cultos”13.
265
4. La cultural del trabajo cooperado y el cooperativismo
266
formación de “la nueva cultura del trabajo colectivo” y una “nueva
disciplina del trabajo”. Por supuesto todo esto es un proceso que no
está exento de grandes contradicciones que emergen de las propias
contradicciones del periodo de tránsito al socialismo. Recordemos
que en el caso de Cuba el desarrollo del capitalismo en la agricultura
transitó por la combinación de la economía de plantaciones, erigida
para la exportación y el minifundio fundamentalmente en una
especialización que también conjugaba la exportación de tabaco y el
autoconsumo familiar. La experiencia práctica decidió no desarrollar
el cooperativismo nada más que en su nivel primario, las Cooperativas
de Créditos y Servicios, con vistas a dinamizar el comercio y
abastecimiento de los pequeños productores.
Con posterioridad, el proceso de industrialización del
país alcanzó niveles de socialización en la agroindustria azucarera
acusando la necesidad de la cooperación de la economía campesina
hacia la primera mitad de los años 70. La formación de cooperativas
de campesinos (Cooperativas de Producción Agropecuarias) y más
tarde en los años 90 las cooperativas de trabajadores (Unidades Básicas
de Producción Cooperativas), convirtieron en una necesidad de la
socialización la educación cooperativa y la creación de una cultura del
trabajo cooperativo en el agro.
Todavía tras decenas de años en el proceso de socialización
agrícola las cooperativas en el sector necesitan de la elevación de la
cultura cooperativa y de mecanismos de gestión que contribuyan a su
consolidación como tipo especial de organización económica.
En los estudios sobre cooperativas agrícolas, efectuados en el
Grupo de Desarrollo rural y cooperativismo de la Universidad Central
“Marta” Abreu de Las Villas, se ha constatado, que allí donde la
cooperativa logra consolidarse mucho tiene que ver con la incorporación
y participación de los viejos campesinos, muchos de ellos fundadores y
267
aportadores de medios y tierras, pero con el aporte más importante, el
de la cultura campesina del trabajo.
En estas cooperativas se ha verificado que la tradición campesina
se va transformando y superando hacia una cultura del trabajo diferente,
-basado en la cooperación-; son aquellas que aplicando las nuevas
técnicas y tecnologías, superan los límites de la propiedad privada
campesina (pequeña explotación), al mismo tiempo que conservan
prácticas ancestrales, ahora sobre la base del trabajo colectivo, basados
en la técnica moderna. No dejan de lado a los mayores y promueven su
participación en la toma de decisiones, en la gestión de la cooperativa
lográndose que se combinen las tradiciones y la nueva racionalidad que
impone la cooperativa como tipo especial de empresa.
No obstante, allí donde no se ha producido cambios sustanciales
en el sistema productivo, las condiciones de trabajo no han sido
beneficiadas por la humanización del trabajo, se ha perdido el vínculo
con los socios aportadores ya sea por el envejecimiento o muerte, la
formación de la nueva cultura del trabajo cooperativo se ha visto lacerada
y ha dejado de influenciar al desarrollo de las localidades y en la sociedad
en general. Mucho más difícil ha sido la consolidación de las Unidades
Básicas de Producción cooperativas, en tanto desde su formación no
consiven el concepto de socios aportador, y esencialmente transcurre
el tiempo y las condiciones laborales y comunitarias al no cambiar,
tampoco se reflejan en la cultura del trabajo cooperado y el sentido de
pertenencia a la organización social.
Como proceso la nueva cultura y disciplina del trabajo cooperativo
en formación exige: 1) La transmisión, conservación y reproducción de
las viejas tradiciones agrícolas y su síntesis con las nuevas tecnologías
intensivas, potenciadoras de la producción y conservadoras del entorno
rural; 2) La organización de la producción con dirección participativa,
colectiva y consciente en la determinación del destino económico y
social de la misma. Premisa garante para la autonomía de la gestión, el
268
aprendizaje de los cooperativistas y condición indispensable del éxito. 3)
La nueva disciplina del trabajo es un proceso en el que el hombre transforma
los hábitos adquiridos por las formas privadas, a la vez que transforma
la realidad que lo rodea y se transforma a sí mismo. El resultado es
condición propicia para la creación del sentimiento de pertenencia
hacia lo colectivo, la superación del sentimiento de lo privado.14; combina
voluntades individuales, las transforma y potencia en forma colectiva.
La cooperación se convierte en una fuerza productiva especial.15
En la configuración de la fuerza de trabajo colectiva16 ocurre que:
el campesino transita de productor-propietario-privado a productor-
propietario-colectivo; las nuevas formas productivas germinan a cuenta
de la transmisión de la “vieja cultura campesina” y la adquisición y
formación de la nueva disciplina y cultura del trabajo cooperado; y,
porque en el campesino y su familia ocurre un proceso de la asimilación
de nuevas formas de convivencia social que superan los hábitos y
costumbres de aislamiento que le eran habituales17.
Se constata en la práctica del sector agropecuario que al crearse
las cooperativas agrícolas estas ejercen un impacto en el modo de vida y
269
de trabajo de campesinos y familiares. Algunos de estos cambios aportan
mayor riqueza al acervo de la cultura del trabajo agrícola tradicional,
mientras que en otros, dada la escala de la producción y el enfoque
industrial que se introdujo en las últimas décadas en la agricultura
cubana, provocan una ruptura de las “tradiciones campesinas”,
repercutiendo negativamente en la consolidación y racionalidad de la
cooperativa; complejidad que requiere de tiempo, para su superación al
poner a prueba la capacidad de la organización para su consolidación.18
270
de la “vieja cultura” es de vital importancia, al mismo tiempo que
contradictoria por el origen socio-clasista de los sujetos participantes.
La formación de la sociedad de “cooperadores cultos” en Cuba,
trata de reconocer que a las contradicciones generales que se presentan
en al ámbito agrícola y rural, se le adiciona la diversidad de sujetos
económicos que pueden y están presentes en las nuevas figuras productivas
que se multiplican, inducen o que existen de manera informal.
Su tránsito a la formalidad o a la institucionalidad, pasa por el
reconocimiento de la complejidad de la estructura económica de Cuba,
la que se perfila en su composición con un sector socialista, representado
por las empresas estatales y las cooperativas del tipo CPA y UBPC,
el capitalismo de estado que comulga con todas aquellas formas de
propiedad y de gestión que remedan la economía mixta de transición y
donde se encuentran: las cooperativas no agropecuarias del tipo privado
surgidas por la pequeña producción mercantil, las cooperativas de
Créditos y Servicios, los arrendamientos en el sector de los servicios,
el sector de la pequeña y mediana empresa privada no reconocida y el
autoempleo, entre otros.
Las cooperativas no agropecuarias surgidas a partir de la pequeña
producción privada individual se revelan como una forma del capitalismo
de estado la cual debe propiciar en interconexión con otras figuras
productivas el desarrollo de las localidades. El control y la regulación
social por parte de los gobiernos locales tendrán que figurar en las
políticas económicas y en los mecanismos de gestión gubernamentales
que propicien el acercamiento y consolidación de estas cooperativas y el
aprendizaje de los involucrados en las formas de cooperación y desarrollo
de las localidades.
La educación y la adquisición de la nueva cultura del trabajo, no
nace por generación espontánea. Los cambios que introduce el nuevo
modelo económico modifican las relaciones estado con los distintos
271
sujetos, sin olvidar que no es el capitalismo lo que se construye sino un
tránsito extraordinario al socialismo.
En cualquiera de las figuras productivas que se promuevan y
especialmente en las cooperativas, encontraremos un origen social
de la fuerza laboral diversa. Son obreros industriales, trabajadores
de servicios, empleados, jubilados, amas de casa, semiproletarios,
campesinos, entre otros, por lo tanto tendrán en su experiencia personal
diferentes perspectivas, nivel cultural, educación económica y prácticas
de trabajo cooperado, participativo y privados. A estos se les puede
sumar lazos familiares (con tradiciones productivas ancestrales) por
lo que las propuestas de organización deben ser con modelos de gestión
flexibles, atemperados a cada circunstancia y la capacitación “personalizada”,
diferenciada e incluso territorializada para cada experiencia. Lo que en el
argot popular se le está llamando y pocos comprenden “el traje a la medida”.
Por otra parte, el nuevo cooperativismo tiene que enfrentar a
través de la educación, las barreras que desde lo subjetivo, -población
y en algunos casos decisores,- ha condicionado la débil situación
económica del cooperativismo agrícola en los últimos 25 años y del
que sus modelos no son únicamente culpables. A esta circunstancia se
le adicionan: la pobre educación económica en la población, la falta de
tradición en cooperativas no agrícolas, la ausencia por muchos años de
un régimen legal no permisible del cooperativismo en el ámbito urbano.
El conocimiento que se tenga de la actividad económica en la
cual se va a inducir el cooperativismo u otra forma productiva, en
cualquiera de las ramas de la producción y los servicios es crucial
para proponer cualquier modelo de cooperativa o forma productiva
emergente. Las tradiciones productivas, la cultura laboral, las cadenas
productivas a escala de la localidad que existen como tradición y
que en ocasiones fueron abortadas como parte de los cambios que
se sucedieron en el proceso de socialización formal, en los primeros
272
decenios de revolución, no pueden dejar de tenerse en consideración;
por cuanto, algunas se han mantenido de manera informal, haciendo
imprescindible, su consideración.
Un buen análisis en aquellos sectores donde existen relaciones
de cooperación no formalizadas debe ser el comienzo para la creación
de esa nueva cultura de la cooperación y un buen incentivo para el
nuevo cooperativismo.
La práctica indica que una inducción apresurada de cooperativas,
sin la adecuada familiarización en la actividad de los futuros
cooperativistas, sin tomar en consideración la cultura heredada y las
tradiciones que puedan existir vivas en los territorios; los lazos de
cooperación, la formación y posterior consolidación de la organización
será lento o desde su fundación estará destinado al fracaso.
Las propuestas que está haciendo la universidad central en el
sector de la construcción de viviendas plantean diversidad de variantes
y tipos de economía diferentes. La filosofía ha sido a partir de las
experiencias que se tienen en los estudios agropecuarios en el país
hacer propuestas de un cooperativismo flexible, que vaya de las formas
más simples de cooperación hacia las más complejas tal y como ha sido
el movimiento espontáneo de la socialización de la producción y del
trabajo en la historia de la sociedad.
La inducción consciente de éste en las condiciones actuales
requiere de una diversidad, a la medida de los territorios y de una
intensidad que reconozca que no es solo el cooperativismo como
modelo la solución de todos los problemas de desarrollo, este es solo
una alternativa más.
Todo esto pudiera parecer solo teoría, pero la experiencia indica
que en las condiciones actuales cualquier modelo de cooperativa o
modelo de gestión basada en el trabajo colectivo auto-gestionado
necesita de una educación y organización del sistema de gestión que
273
pueda mostrar sostenibilidad en su desempeño sobre la base de la
participación activa de todos sus miembros.
Por otra parte, el diseño de la estructura economía de la
localidad al ser diversa debe concebir un modelo económico a escala
local en donde todas las formas productivas tengan participación
como miembros pariguales del organismo social y adopte las formas
productivas acordes a los recursos, las tradiciones, necesidades de la
comunidad, optimizándolos en bien de toda la sociedad. Estos aspectos
muchas veces no son suficientemente considerados; en ocasiones
son presentados como intrascendentes pero en realidad resultan de
vital importancia para el éxito del “nuevo cooperativismo” y el nuevo
modelo de gestión local.
6. A manera de conclusiones
274
deseadas de la práctica del cooperativismo. En todo caso, la praxis, debe
estar precedida por la teoría y en su vínculo debe propiciar experiencias
exitosas que contribuyan al desarrollo y a la culminación del tránsito
al socialismo.
Bibliografía
275
Cooperativas: antecedentes y realidad en el
desarrollo del municipio de Manicaragua
1. Introducción
277
cooperativas y socios, además de una desfavorable situación económica
financiera, que facilita el incremento de las deudas en gran parte de las
cooperativas. A raíz de esto, se impone la búsqueda de alternativas en
el ámbito: económico, político y legal, que mejoren las condiciones y
aceleren la solución de los problemas que se presentan. A partir de los
acuerdos del VI congreso del PCC (2011) se plantea la ampliación del
cooperativismo en el sector no agropecuario, así como el fortalecimiento
y reordenamiento del modelo cooperativo. (Muñoz, Donéstevez &
García, 2014)
La situación del cooperativismo en el municipio de Manicaragua,
no se diferencia mucho de la existente a nivel nacional, por lo que es
necesario el análisis de la experiencia acumulada por el cooperativismo
agropecuario en el territorio, para perfeccionarlo y emplearlas para
las propuestas de cooperativas más allá del sector. La condición de
municipio rural, con excelente calidad de sus suelos y con abundantes
recursos naturales permiten desarrollar la producción: agrícola, ganadera
y la microminería para la producción de materiales de la construcción,
lo que puede favorecer el desarrollo del cooperativismo en diferentes
ramas productivas.
278
ha avanzado el desarrollo de la economía cubana, así se ha transformado
el movimiento cooperativo. Al analizar el caso de las Cooperativas de
Créditos y Servicios (CCS), se aprecia cómo se han nutrido de diferentes
formas de propiedad sobre la tierra, cuando anteriormente existía una
sola, la propiedad privada, es decir los dueños de finca. En los años 70ta
aparecen los usufructuarios, pequeños agricultores, que al arrendar
las tierras daban paso a la complementación de numerosos planes
estatales como: el plan lechero “La Vitrina” y el tabacalero “El Hoyo de
Manicaragua”, por lo que quedaron menos hectáreas de tierras para el
usufructo familiar.
Las CPA representan una de las formas superiores de producción,
que lamentablemente desde los 90ta muestra un decrecimiento continuo
tanto en áreas como en socios.
Esta situación se reflejó a causa de la insuficiente atención estatal
que se vio afectada por el derrumbe del campo socialista, el aumento del
bloqueo y otros problemas subjetivos de carácter interno que unidos;
llevaron a las CPA hacia una situación económica muy deteriorada,
provocando la desaparición de muchas de las cooperativas por asfixia
económica (Alemán & Figueroa, 2005).
Las Unidades Básicas de Producción Cooperativa (UBPC) han
experimentado un comportamiento estable en los últimos tres años con
una media de 1 250 asociados en nueve unidades, bajo la supervisión
de las empresas “Empresa Cafetalera Jibacoa” y “Empresa Pecuaria La
Vitrina”. Ellas al igual que las restantes estructuras productivas han
tenido dificultades económicas financieras dando lugar a pérdida de
interés en los trabajadores, falta de motivación y carencia de sentido
de propiedad cooperativa, limitando su desarrollo económico y social.
Más tarde por necesidad del país de dar uso a las tierras ociosas
se emitieron una serie de resoluciones que de igual forma entregaban
tierra en usufructo para la producción de tabaco, café y leche y es así
279
por lo que hoy las CCS exponen diferentes formas de propiedad sobre
la tierra: propietario, arrendador y usufructuario.
De las tres formas de propiedad mencionadas, el usufructuario ha
sido el más inestable en los últimos tres años, debido a las características
del personal que ha solicitado las tierras a partir de la aprobación del
Decreto Ley 259 (2008) y el Decreto Ley 300 (2012).
Según Nova (2004) el fenómeno se produce a partir del 2012 a
causa de un movimiento del personal hacia el campo, preferiblemente
jóvenes. La tendencia que se manifiesta una vez en el campo es
que no prosperan a causa de la falta de recursos para enfrentar la
limpia de las tierras, desconocimiento para trabajar y hacer producir
la tierra; se añade a esto que algunos van al campo pensando en
cambios económicos rápidos, con mejoras sustanciales del nivel vida;
circunstancias que en la realidad no ocurren de esa forma. El resultado
es el retorno hacia las ciudades.
Otro aspecto relevante en el comportamiento de las formas de
propiedad mencionadas es la desintegración de varias Cooperativas
de Producción Agrícola (CPA) y CCS, donde ha predominado la falta
experiencia para trabajar la tierra, falta de apoyo con recursos para
comenzar hacer producir la tierra y desmotivación por no cumplirse
las expectativas familiares. La mayoría de los abandonos de tierras son
persona sin origen campesino, siendo la generalidad de los asociados
a las CCS usufructuarios acogidos a las resoluciones del Ministerio
de la Agricultura.
280
mayor extensión territorial. Presenta un área de 986,91 km2, con una
población de 71 640 habitantes, una densidad poblacional de 72,68 hab/
km2, ocupando el sexto lugar en la provincia.
Al analizar el cooperativismo agropecuario en el municipio
se cuenta en la actualidad 49 cooperativas conforman la estructura
económica del municipio y se dedican a diferentes actividades
económicas como: producción de tabaco, café, cultivos varios, crianza
de ganado y reciclaje de desechos. El mayor peso del movimiento
cooperativo recae en las Cooperativas de Créditos y Servicios (CCS) con
34 cooperativas, siendo a la vez la de mayor incidencia en la producción
de bienes y servicios. Le siguen las Unidades Básicas de Producción
Cooperativa (UBPC) con el 18,4% del total de las cooperativas y las
Cooperativas de Producción Agrícola (CPA) con el 10,2%. (ONE, 2014)
Las dificultades del sector cooperativo inciden en el
comportamiento de los resultados económicos, en el año 2014 solo
mostraban resultados positivos un total de: 32 CCS, 5 UBPC, 4 CPA. En
relación con los resultados de las restantes formas productivas, vieron
frenado su desarrollo al no poder compensar sus gastos con sus ingresos,
comenzando el período económico del 2015 con pérdidas en sus estados
de resultado.
En el municipio el sector cooperativo y campesino como sector
fundamental en el desarrollo agropecuario agrupa el 21% de trabajadores
del territorio, siendo la tendencia en los últimos años el aumento del
personal contratado, algo que no debe ocurrir pues la concepción de
incorporado en las cooperativas debe proceder de forma transitoria,
durante un corto período que está bien definido en cada cooperativa.
Las fuerzas de trabajo de las cooperativas están integradas en
un 20% por mujeres de diferentes edades que laboran en las diferentes
actividades agrícolas, e incluso ocupan cargos de dirección en los
diferentes niveles, desde miembro de las juntas directivas hasta
281
presidentas de cooperativa y suman en total 763 mujeres. La mujer en
específico necesita de ciertas condiciones como son cuidados de sus hijos
pequeños, atención a ancianos y los bajos salarios que se pagan hoy y
además, las cooperativas deben diversificar sus producciones para crear
más bienes y oportunidades de trabajo a la mujer.
Otro problema detectado es que el personal asociado a las
cooperativas en su mayoría se encuentra envejecido, siendo el número
de jóvenes incorporados a estas estructuras productivas insuficiente.
Los jóvenes cuentan en las ciudades con otras fuentes de empleo más
atractivas acentuándose los procesos de emigración hacia las ciudades.
La situación anterior influye en el déficit del personal calificado
para el funcionamiento de estas estructuras agrícolas, encontrándose la
mayor parte de los asociados en rangos educacionales menores de doce
grado. La situación más grave responde a que los hijos de campesinos
no estudian carreras afines al sector agropecuario.
Al analizar la estructura de tierras del municipio es notable que
el 85% de las tierras agrícolas se están en manos del sector cooperativo,
encontrándose en mayor porción en las UBPC y CCS, donde existen
áreas ociosas; así como parcelas ganaderas sin explotar debido al
descenso de la masa ganadera.
Debido al desaprovechamiento de la superficie de las tierra los
niveles de producción en los últimos años han decrecido y solo han
concentrado sus producciones en: viandas, hortalizas y granos; no siendo
así en la producción de leche y carne. Se han afectado la producción
de cítricos y frutales en correspondencia con las restantes actividades
económicas, las frutas representan el 8% de las toneladas de alimentos
entregadas por las cooperativas y los cítricos el 0.8%. Es notable el
ascenso acelerado de las producciones de hortalizas a consecuencia del
mal manejo y uso indebido de los suelos. (ONE, 2014)
Por tanto, se han afectado los ingresos promedios por socios al
disminuir los índices de ventas resultado de los descensos productivos
282
y mantenerse los asociados con poca variación en su composición,
reflejándose en los productores de granos, hortalizas, viandas y carne
porcina. Estos ingresos repercuten de forma significativa sobre la calidad
de vida de los asociados pero a su vez dificultan el trabajo y la motivación
de las cooperativas en su conjunto.
Otro aspecto importante en el desarrollo del movimiento
agropecuario del territorio lo constituyen las relaciones crediticias que
se efectúan a través del Banco. Los créditos se otorgan sobre la base de
los planes de producción y de inversión aprobados para cada prestatario.
El movimiento cooperativo está marcado por un gran endeudamiento
que es reflejo de baja productividad, falta de eficiencia y eficacia en el
proceso productivo, para realizar el análisis de este indicador se toma
un período de estudio que inicia en mayo 2013 hasta mayo 2015, con el
objetivo de mostrar los montos alcanzados en un período de dos años
por todo el movimiento cooperativo del territorio.
En la etapa de análisis las UBPC son las más endeudadas al
sobrepasar los 6 000.000,00 CUP en inversiones y 4 000.000,00 CUP en
créditos revolventes, siendo el nivel de solvencia de estas entidades muy
pobre para la liquidación de sus obligaciones. Sus niveles de producción
se encuentran estancados, contexto que repercute en los ingresos y
estos a su vez inciden negativamente en su economía, al no contar con
la liquidez necesaria para viabilizar parte de las actividades básicas del
proceso ganadero.
No siendo así en las CCSF, tipología a la cual pertenece el 66% de
las cooperativas del municipio, esta estructura productiva solo cuenta
con el 3.4% de la deuda total del sector, mientras que a las CPA pertenece
el 10.4% de la deuda total del sector cooperativo.
Es importante señalar que el endeudamiento por concepto de
inversiones y créditos revolventes se encuentra en niveles similares
en cuantía, tendencia que evidencia las dificultades del territorio para
283
desarrollar los medios de producción y lograr una efectiva gestión
financiera en el sector.
284
ocupados, cifras que han decrecido por la tendencia al decrecimiento
en número de cooperativas y socios, además de presentar el municipio
altos niveles de envejecimiento poblacional que ocasiona que gran parte
de la masa asociada se retire cada año al alcanzar los años estimados
para la jubilación.
Las cooperativas son en el territorio una fuente de empleo
importante al concentrar un gran número de obreros agrícolas, que
en su mayoría son fruto de tradiciones familiares que han dedicado su
vida al cultivo de la tierra, no solo se encuentran los asociados a estas
estructuras productivas, los trabajadores contratados en actividades
eventuales como la recogida de café, corte de tabaco son significativos
en el resultado productivo de las mismas, al ser la mano de obra que
no deja desperdiciar las cosechas cuando estas entran en su fase pico
en los campos del municipio, siendo el pago a estos trabajadores en
dependencia de los rendimientos alcanzados en las labores diarias.
(ONE, 2014)
5. Conclusiones
285
excedentes de su gestión económica (utilidades), así como de otros que
se obtengan como resultados de asignaciones estatales con este fin o de
gestiones específicas con otras instituciones y organismos.
Bibliografía
286
Liberdade de Associação e
a Organização das Cooperativas no Brasil1
287
Nesse conjunto de atividades, há que se distinguir a atuação
das cooperativas denominadas empresariais, que são efetivamente
alinhadas à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), da
atuação das pequenas cooperativas populares, que não se identificam
com a orientação do ente federativo. A divergência quanto a essa
orientação decorre da posição favorável da OCB em relação ao trabalho
assalariado na gestão de suas afiliadas e ao processo de gestão das
cooperativas. As pequenas cooperativas, em especial as vinculadas a
organizações e movimentos sociais, como o dos Agricultores Familiares,
incluindo os Assentados de Reforma Agrária, têm distinto e importante
papel na efetivação do direito ao trabalho, que não se confunde
com trabalho assalariado. Sob essa óptica, o direito à liberdade de
associação está relacionado ao direito do trabalho cooperativo, ou em
cooperação autogestionária.
O Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA4) informa
que até dezembro de 2014 o Brasil contava com 4.084 entidades da
agricultura familiar com DAP – Jurídica5, Declaração de Aptidão
288
ao PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar 6), em um universo de 462.787 agricultores familiares e
assentados de reforma agrária sócios dessas pequenas cooperativas.
Aponta, também, que a geração de trabalho é ainda maior, visto que
nem todos os membros da família são sócios da cooperativa. De regra,
o pai e (ou) a mãe são sócios cooperados. “Os números das propriedades
familiares são impressionantes, representando mais de 80% das unidades de
produção. De forma geral, mais de 12 milhões de pessoas, ou cerca de 75% de
todo o emprego rural, trabalham em propriedades familiares. Adicionalmente, a
agricultura familiar respondeu por 38% do valor bruto da produção agrícola em
2006”7 . Os produtos desses empreendimentos são diversificados tais
como, hortaliças, frutas, grãos, farinhas, panificados, conservas, doces,
carnes e derivados, leite e produtos lácteos, ovos, sucos, café, chás, mel,
erva-mate, açúcar entre outros.
Assim, as pequenas cooperativas agrárias têm se mostrado
importante instrumento de efetivação do trabalho digno, conforme
preceitos constitucionais, o que as afasta do trabalho subordinado. A
importância dessas pequenas cooperativas para a efetivação do direito
ao trabalho é inegável, conforme dados da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no Brasil, pois esse
segmento da agricultura responde por 75% do emprego rural. Vinculadas
à agricultura familiar, realizam grandes esforços para manter padrões de
289
autogestão, democracia e distribuição justa, que resultam do genuíno
trabalho cooperado.8
A despeito do importante desempenho econômico e social
realizado pelas pequenas cooperativas populares, a legislação
cooperativista anterior à promulgação da Constituição Federal de 1988
se apresenta como um limitador para seu avanço mais significativo,
uma vez que impõe limitações à liberdade de associação, estabelecendo
obrigatoriedade de filiação a apenas uma organização legalmente
reconhecida como única representante do todo o cooperativismo no
país, a OCB.
A obrigatoriedade de filiar-se à OCB não é uma novidade recente,
pois se sustenta em dispositivos da Lei n.º 5.764/1971. Daí porque as
cooperativas devem comprovar tal filiação para estabelecer relações
com o poder público, tais como: realizar o registro de seus documentos
nas Juntas Comerciais; habilitar-se em processos de licitação pública,
entre outras situações. Do ponto de vista jurídico, cabe analisar se tal
exigência é compatível com os quadros normativos vigentes no Brasil
que tratam do direito à liberdade de associação.
290
nacionais balizem a regulação jurídica da matéria. No plano do direito
internacional dos direitos humanos, a liberdade de associação foi
consagrada no art. 20 da Declaração Universal de Direitos Humanos
de 1948 e em outros muitos tratados e convenções internacionais,
como se verifica nos art. 21 e 22 do Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos (1966), no art. 8º do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (1966), nos artigos 15 e 16 da Convenção
Americana Sobre Direitos Humanos (1969) e no artigo 12 da Carta dos
Direitos Fundamentais da União Europeia, atualmente integrada ao
Tratado de Lisboa.
Particularmente relevante para a ordem jurídica brasileira é a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José),
incorporada no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n.º 678 de
19929. Essa Convenção prevê o direito à liberdade em sentido amplo,
incluindo a liberdade de associação10 em seu art. 16, nos seguintes termos:
“Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos,
religiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de
qualquer outra natureza11”. Esse dispositivo está presente desde a origem
dessa norma internacional, ou seja, desde 1969, porém, somente foi
ratificado no Brasil em 199212. É possível notar que a liberdade de
291
associação para a referida Convenção é ampla, e o direito de associar-se
livremente para fins trabalhistas, econômicos e sociais não pode sofrer
restrição por nenhuma norma infraconstitucional, como ocorre no Brasil,
com base na Lei n.º 5764/1971.
Se ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação e
nenhum dispositivo legal de menor força normativa pode impor vinculo
associativo, sob pena de violar dispositivos de pactos e convenções
internacionais dos quais o Brasil é signatário, tal disposição normativa
encontra-se em frontal desacordo com essas normas internacionais.
Importante notar que no plano do direito constitucional brasileiro
o reconhecimento da liberdade de associação, na condição de direito
fundamental, é mais recente e vem afirmado na Constituição de 1988. No
percurso constitucional brasileiro, todas as constituições asseguraram
a liberdade de associação 13 , mas no que diz com as associações
cooperativas, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a contemplar
tal modalidade associativa, assegurando não apenas uma genérica
liberdade de criação e participação de cooperativa, e prevendo para as
Cooperativas um regime constitucional diferenciado, tal como ocorre
com o aspecto tributário (art. 146, c) e o estimulo ao cooperativismo (art.
174, §2º). Nessa perspectiva, as cooperativas constituem um particular
modo de organização social e meio de exercer a liberdade de associação.
A perspectiva constitucional adotada em 1988 restaura a
democracia no Brasil e reafirma a liberdade de associação suprimida
durante o período ditatorial, que perdurou de 1964 a 1985. Assegura a
ampla liberdade de associação dos cidadãos para fins lícitos e considera
a liberdade de associação em cooperativas um direito fundamental,
13 Constituição de 1891, art. 72, §§3º e 8º; Constituição de 1934, art. 113, ns. 5, 7
e 12; Constituição de 1937, art. 122, ns 3 e 9; Constituição de 1946, art. 141, §§ 7, 10, 12 e
13; Constituição de 1967, art. 150, § 28; EC 1/1969, art.153, §28. SARLET, Ingo Wolfgang.
MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERI, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 3. ed.
Revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 518.
292
previsto no art. 5° inciso, XVIII: “XVIII - a criação de associações e, na forma
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
estatal em seu funcionamento”14.
Assim, a liberdade de associação, da qual é espécie a liberdade
de criação e participação de cooperativas, é reconhecida e protegida
na condição de um direito fundamental15. A liberdade positiva como
direito de associar-se, e a liberdade em sentido negativo que é o direito
de desassociar-se, ou seja, mesmo após a manifestação de vontade de
se associar essa vontade pode ser alterada, se houver o interesse em
desassociar-se. A referência constitucional é para as pessoas físicas ou
jurídicas, o cidadão que tem interesse em ser sócio de uma Cooperativa,
ou qualquer outra forma de associação para fins licito, e para a pessoa
jurídica que tem interesse em vincular-se a outras pessoas jurídicas. No
caso das cooperativas, é perceptível que a legislação brasileira propõe
um sistema cooperativo, permitindo assim a formação de Cooperativas
singulares que podem vincular-se a Cooperativas centrais e estas por
sua vez podem vincular-se a uma confederação aos moldes previsto em
nossa legislação16.
14
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acessado
em 20 de outubro de 2015.
15 SARLET, defende que o direito à liberdade de associação é cláusula pétrea
“assim, de acordo com o que já foi examinado na parte geral dos direitos fundamentais, cuida-se
de direito (mais precisamente de norma) diretamente aplicável, no sentido de que a ausência de lei
não impede a proteção do direito de livre associação, além de a abolição da liberdade de associação
(incluindo a criação de cooperativa) estar protegida na condição de “cláusula pétrea”, contra o poder
de reforma constitucional”, Ingo Wolfgang. MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERI,
Daniel. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. Revista, atualizada e ampliada. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014. p. 519.
16
Brasil. Lei n.° 5764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de
Cooperativismo, e institui o regime jurídico destas. O art. 6° da lei do Cooperativismo
293
Segundo Ingo Sarlet, a titularidade desse direito contempla dupla
dimensão, individual e coletiva, “uma de natureza individual e outra
coletiva. Na primeira dimensão o que se observa diz respeito ao direito
de associação da pessoa, membro de uma associação, a titularidade
que lhe corresponde, na qualidade de pessoa natural, mas também de
pessoas jurídicas que podem, por sua vez, também criar e integrar uma
associação” (SARLET, 2014: 521)
Ainda há que se falar da liberdade de criação de cooperativas,
sem autorização do Estado, conforme os ditames do art. 5° inciso XVIII
da Constituição de 1988. Para José Afonso da Silva, a liberdade de
associação, contém quatro direitos “o de criar associação (e cooperativas
na forma da lei), que não depende de autorização; o de aderir a qualquer
associação, pois ninguém poderá ser obrigado a associar-se; o de desligar-
se da associação, porque ninguém poderá ser compelido a permanecer
associado; e o de dissolver espontaneamente a associação, já que não se
pode compelir a associação a existir” (SILVA, 2011:267)17.
Visto todo o amparo Constitucional mencionado, ainda é bastante
inquietante a insistência do poder público brasileiro em exigir vinculo
único de toda cooperativa à Organização das Cooperativas Brasileiras
brasileiro estabelece em que consiste cada forma e Cooperativa, assim dispondo. Art.
6º As sociedades cooperativas são consideradas: I - singulares, as constituídas pelo
número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida
a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas
atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos; II -
cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo,
3 (três) singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais;III -
confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações
de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5764.htm>. Acessado em
20 de outubro de 2015.
17 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 35. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 267.
294
(OCB), seja para registro de atos constitutivos, seja para participar de
certames de licitação.
Para a presente análise, é importante, ainda, examinar a natureza
da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), pessoa jurídica
de direito privado, à qual por lei toda cooperativa tem obrigação de
associar-se, nos termos da Lei n.º 5.764/71.
Com efeito, no início do período da ditatorial recente (1964-1985),
até dois anos antes de ser aprovada a mencionada lei geral regulando,
em 1971, a criação e o funcionamento das cooperativas, havia, no Brasil,
duas entidades de representação nacional do Cooperativismo divergiam
entre si, Aliança Brasileira de Cooperativas (ABCOOP) e União Nacional
das Associações Cooperativas (Unasco). A consequência direta dessa
divergência foi a proposta governamental para a criação de uma nova
organização, na tentativa de unificação da representação18. Surge então,
a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), com criação em 02
de dezembro de 1969.
Essa organização realizou um movimento para avançar no aspecto
legislativo e o resultado veio em seguida com a promulgação da Lei n.º
5.764, em 16 de dezembro de 1971. Esta lei substituiu toda a legislação
anterior a respeito do Cooperativismo e reuniu os vários aspectos do
movimento, incluindo a unificação do sistema em torno da representação
única pela OCB. É importante mencionar que na década de 1980 as
cooperativas passaram gradativamente a se enquadrar num modelo
empresarial, incentivando o trabalho assalariado e permitindo sua
expansão econômica, para atender às exigências do desenvolvimento
capitalista agroindustrial adotado pelo Estado.
18 A divergência que existia a época é afirmada pela própria OCB em seu site
oficial quando descreve a história do sistema Cooperativista no Brasil. Disponível em:
<http://www.ocb.org.br/site/ocb/historia.asp>. Acessado em 20 de outubro de 2015.
295
O contexto político da época não pode ser ignorado, pois todo
esse movimento tinha forte apoio do Estado ditatorial brasileiro.
A institucionalização da Organização das Cooperativas Brasileiras
ocorreu no Congresso Brasileiro de Cooperativismo, realizado na cidade
de Belo Horizonte em dezembro de 1969. Nesse período, vigorava o Ato
Institucional nº 05, que limitou os direitos políticos e associativos
fundamentais e as liberdades democráticas, institucionalizando a
ditadura. Governava o país, após passagem por uma junta militar, o
General Emílio Médici, que se notabilizou por ser o mais violento e
repressor governante brasileiro.
É nesse momento que foi publicada a Lei n.º 5.764/1971, legislação
ainda vigente, como uma reivindicação da nova entidade criada para
representar o coperativismo brasileiro. O resquício ditatorial aparece
claramente na Lei n.º 5.764/71, que em seus artigos 105 e 107 estabelece
a obrigação de filiação de todas as Cooperativas na OCB para alguns
atos legais, tal como o direito de constituir-se, visto exigir filiação para
registros dos atos constitutivos nas juntas comerciais e para participar
de processos de licitação, conforme mencionado:
296
É com base nesses dispositivos que as Juntas Comerciais ainda
exigem que toda cooperativa deva provar sua filiação na OCB19 para
arquivar seus atos. No Brasil, a validade dos atos constitutivos depende
de arquivamento na Junta Comercial, ou seja, uma cooperativa para
ter existência jurídica depende que seus atos sejam arquivados, sem
isso ela sequer pode ser constituída. Mesma exigência tem ocorrido
nos processos de licitação, nos editais do poder público exigem a
prova de filiação das cooperativas na OCB para se habilitarem nos
certames, ou conforme a modalidade de licitação após vencer o certame
exige-se a prova de dita filiação na OCB. Resquício desse processo
histórico, o poder público brasileiro tem exigido filiação na Organização
das Cooperativas Brasileiras (OCB) para permitir que as pequenas
cooperativas possam participar de processos de licitação, apesar dos
aspectos jurídicos levantados anteriormente.
Como exemplo dessa realidade, citamos para ilustrar o caso
do edital de pregão eletrônico de n.º 052/DAAA/2014, processo n.º
00127/4444/2014, oferta de compra de n.º 080358000012014OC00072
desencadeado pela Secretaria de Estado da Educação do Estado de São
Paulo-SP, em que constou do item 1.5.2. do edital20.
297
1.5.2. Se for cooperativa, declaração de que possui registro perante a
entidade estadual da Organização das Cooperativas Brasileiras, nos
termos do artigo 107 da Lei Federal nº 5.764, de 14 de julho de 1971
(Anexo V - Modelo 5).
298
Essa exigência constou, também, do edital do município de
Fortaleza-CE, edital n.º 123322, pregão eletrônico de n.º 018/2014 registro
de preços, processo administrativo de n.º 2409083014593/2013, que no
item 14.3.5. previu tal obrigação de filiação. Esse edital tinha como objeto
aquisição de alimentos para as escolas públicas para alimentação escolar.
Trouxe a seguinte exigência “14.3.5 REGISTRO NA ORGANIZAÇÃO DAS
COOPERATIVAS BRASILEIRAS, no caso de cooperativa, acompanhado dos
seguintes documentos:”. Diferente do caso anterior, neste, uma cooperativa
da agricultura familiar que participou do certame, foi desclassificada, e
um dos motivos de tal resultado foi exatamente o contido no referido
item 14.3.5, que exigia filiação na OCB23.
299
Mandado de segurança pregão presencial cooperativa – exigência de
registro na organização das cooperativas brasileiras ou na entidade
estadual equivalente cláusula em descompasso com o artigo 5°, inciso
XVIII da Constituição Federal princípio da vinculação ao edital não
absoluto. Ordem concedida recursos oficial e da municipalidade de
campinas providos.24
24 Brasil. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – SP. Apelação Civil n.º
0099278.96.2008.8.26.0000. Município de Campinas SP e Asimatec S/C Ltda. acessado
em 21 de outubro de 2015.
25 Brasil. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – SP. Agravo de
instrumento de n.º 203873668.2014.8.26.0000. Fundação para o desenvolvimento da
educação – FDE e Sindicato da Cooperativas de Trabalho do Estado de São Paulo- SP –
SINCOTRASP.
26 Brasil. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – SP. Apelação Civil de
n.º 000466291.2013.8.26.0053, relator José Luiz Gavião de Almeida. Junta Comercial do
Estado de São Paulo-SP.
300
105 e 107 da Lei Federal n.º 5.764/71, que impõem a obrigatoriedade de
filiação das cooperativas na Organização das Cooperativas Brasileiras
OCB ou em na entidade estadual, não foram recepcionados pela atual
Constituição Federal, em razão do disposto no art. 5º, XVIII, o qual
estabelece que a criação de cooperativas independe de autorização,
sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.
Mencionam, ainda, os incisos XVII e XX do referido artigo 5º, que
garantem a liberdade de associação para fins lícitos e a liberdade de
associar-se e permanecer associado.
A importância das pequenas cooperativas, em especial das
cooperativas vinculadas à agricultura familiar, para o acesso ao trabalho é
incontestável, em que pese a permanente insistência da OCB e de alguns
órgãos públicos em considerar válidas tais disposições legislativas, que
obstam o direito à liberdade de associação.
4. Conclusões
301
para que qualquer cooperativa deva estar filiada sob pena de ser excluída
dos certames, é, portanto, inconstitucional e deve ser combatida com
recursos administrativos junto a esses órgãos, e não obtendo êxito deve
ser questionada junto ao Poder Judiciário.
Nos últimos anos, o Judiciário brasileiro tem garantido a liberdade
de associação para as cooperativas, com base na interpretação de não
recepção dos artigos 105 e 107 da Lei n.º 5.764/1971 pela Constituição
Federal de 1988. Essa solidez jurisprudencial é uma conquista das
pequenas cooperativas, que historicamente nunca tiveram identidade
com o modelo empresarial do cooperativismo representado pela OCB.
Em decorrência de todas as questões antes apresentadas,
em 2014, parte considerável das pequenas cooperativas vinculadas
a assentamentos de reforma agrária e agricultura familiar fundaram
a União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias
(UNICOPAS27), que cumpre papel importante de representação dessas
pequenas Cooperativas.
Ressalte-se, porém, que mesmo com a criação dessa nova
organização, que tem por finalidade representar os interesses das
pequenas cooperativas, nenhuma delas está obrigada a se filiar, seja na
OCB, seja na UNICOPAS, em virtude dos preceitos constitucionais que
lhes asseguram a ampla liberdade de associação.
REFERÊNCIAS
302
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do Brasil, Brasília, DF, 17 de junho de 2009. Disponível em: <http://www2.
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303
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File/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf>. Acessado em 20 de outubro de
2015.
304
Os Planos Diretores no Brasil e a Trajetória do
Discurso da Politização do Planejamento
1. INTRODUÇÃO
305
elaboração de seus planos diretores precisa ser investigado como parte
de um processo social de afirmação de um ideário e como resultado de
um significativo investimento político na disseminação do planejamento
urbano com nova feição2.
Contribui para esse processo a mudança do prestígio e da
associação de sentidos ao plano diretor. Se houve, por parte de
movimentos sociais, urbanistas e outros militantes progressistas sobre
as questões urbanas, um expressivo descrédito em relação os planos
diretores nas décadas de 1970 e 1980, a afirmação da sua centralidade
no processo constituinte de 1988, reconfigurou algumas estratégias
de luta e organização no campo da reforma urbana (Burnett, 2011;
Maricato, 2011; Faria, 2012). Ainda que não se possa afirmar que
tais estratégias tenham sido assumidas sem oposição, é necessário
reconhecer, tanto por parte do Governo Federal3 quanto do Fórum
Nacional da Reforma Urbana (FNRU)4, os esforços para, em certo
sentido, reinventar o planejamento urbano e seu instrumento principal:
o Plano Diretor. Esforços que combinaram, entre outros aspectos,
mobilizações em torno de conquistas legais, disputas institucionais,
conflitos ideológicos, produção de discursos, diagnósticos e prognósticos
que serviram à afirmação de um ideário hegemônico sobre os elementos
306
constituintes de uma determinada ordem política no corpo social da
reforma urbana.
O objetivo deste trabalho é apresentar uma breve trajetória dos
discursos críticos sobre o planejamento urbano no Brasil e a conformação
da proposta identificada como “planejamento urbano politizado”,
que representa a inflexão no sentido atribuído ao papel dos planos
diretores e alinha parte do campo crítico ao conservador na afirmação
da centralidade do planejamento.
O texto está organizado para apresentar uma síntese das críticas
à história do planejamento urbano e a afirmação da nova feição do
planejamento, indicando seus elementos constituintes principais.
Conclui problematizando os resultados esperados e alcançados e o
papel da apropriação do plano diretor como objeto e instrumento de
luta no campo da reforma urbana.
307
o urbano na periferia do capitalismo”, influenciados pela (e influenciando
a) formação e a orientação de movimentos políticos que militavam pelas
causas urbanas.
Além da crítica ao processo de urbanização, explorada por
Maricato (2011, p.99-169), há textos desse período que também
refletiam sobre o planejamento urbano, enfatizando seus limites, seu
descolamento dos interesses sociais ou seu caráter autoritário, para citar
algumas referências. A análise de algumas interpretações sobre a história
das intervenções urbanas permite identificar um conjunto de questões
orientadoras bastante influenciado pelo combate ao autoritarismo
e, mais tarde, pelo contexto da redemocratização. Benchimol, em
uma publicação de 1990 que viria a se tornar referência na análise das
reformas realizadas no mandato de Pereira Passos na Prefeitura do Rio
de Janeiro (1903-6), destaca o caráter autoritário da reforma, os despejos
realizados para efetivação do projeto e as transformações na forma de
apropriação do espaço que se reivindicavam “civilizadoras”, definindo
Pereira Passos como o Haussmann tropical. Em diferentes referências, as
reformas de Pereira Passos são consideradas como a primeira intervenção
de conjunto resultante de um plano geral para a cidade – nos termos de
Villaça, é o primeiro exemplo de planejamento urbano stricto sensu. Tais
reformas implantam parcialmente e se espelham no estilo parisiense do
Plano de Melhoramentos de 1875, que já esboçava essa visão de conjunto
(VILLAÇA, 1999, p.196; LEME et al., 1999, p.358).
O impacto do trabalho de Benchimol deve-se, além de suas
qualidades, ao conjunto de questões que o orientou e a aderência destas
às problemáticas candentes no final da década de 1980. Como afirmou o
próprio autor em entrevista mais recente,
308
a capacidade de influenciar a implementação de políticas públicas pelo
Estado (BENCHIMOL, 2007).
309
o início do século XX que se tornaram predominantes no campo do
planejamento urbano enfatizam um de seus aspectos: o caráter repressivo
do Estado. Complementa-se que as críticas também destacavam o
papel da burguesia na definição das finalidades e o aprofundamento da
segregação socio-espacial como decorrência das intervenções urbanas.
Nas críticas ao segundo momento do planejamento urbano
no Brasil – que trata do período compreendido entre 1930 e 1990,
de acordo com Villaça (1999) –, o tecnicismo dos planos e seu
progressivo rebuscamento e “cientifização”, que lhes conferiam certo
caráter de atividade intelectual autônoma sustentada na reverência
à racionalidade, passam a ter centralidade. Esse caráter racional
permearia não apenas os planos, mas os discursos de justificação
das atividades do Estado de modo geral. Como destaca Monte-Mór
(2008), as proposições racionalistas respondiam com vantagens, em
relação a outros paradigmas do urbanismo, às exigências e à ideologia
do desenvolvimentismo (MONTE-MÓR, 2008, p.39). É desse período
a disseminação do zoneamento e o plano diretor é o discurso que o
justifica, assim como a divisão social do espaço que lhe é correlata. Tal
como em Lefebvre, é destacado o caráter disciplinador do urbanismo
e do planejamento urbano.
Há também um destaque especial ao período de atuação do
Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) que, entre
1967 e 1973, financiou a elaboração de 273 planos ou estudos urbanos,
insistindo em uma perspectiva de integração intraurbana. Aponta-
se ainda o alto grau de dissociação entre os planos elaborados e os
investimentos efetivamente realizados nas cidades (MONTE-MÓR,
2008; BERNARDES, 1986; VILLAÇA, 1999). Essa questão constituirá
uma das mais recorrentes e incisivas críticas aos planos diretores pelos
técnicos e militantes da reforma urbana.
310
A análise dessas referências sobre a história do planejamento
também permite delinear o “norte” dos planejadores e as representações
dos historiadores, contribuindo para formar um quadro de referência
para o qual o novo planejamento deveria ser antípoda. Tal como destaca
Azevedo (2003) – possivelmente orientado pelas suas próprias utopias
urbanas ao enfatizar o aspecto integrador, culturalista e organicista das
intervenções propostas e realizadas por Pereira Passos –, a produção
teórica que analisou o planejamento urbano do início do século XX no
Rio de Janeiro se deu em um contexto marcado por mobilizações sociais
que reivindicavam a democratização do Estado brasileiro.
A utopia da cidade democrática e os valores da participação e da
apropriação popular do espaço urbano constituem elementos do “norte”
do pensamento sobre a questão urbana para uma parcela dos intelectuais
desde meados da década de 1970 até o final da década de 1980.
O diagnóstico de que o processo de urbanização aprofundava
a segregação, espoliava os trabalhadores e não atendia aos interesses
populares (KOWARICK, 1979; SINGER, 2010; MARICATO, 2011)
convergia com o diagnóstico de que o planejamento urbano não
enfrentava essas contradições ou, mais ainda, as reforçava. Essa crítica à
formação e à origem do planejamento urbano no Brasil é contemporânea
ou sucedânea das proposições do planejamento advocatício e
participativo da década de 1970 e, portanto, interroga o passado sobre os
aspectos autoritários do planejamento. Essas pistas permitem esboçar o
quadro de referência do “novo” planejamento urbano ou do planejamento
urbano politizado.
Villaça (1999) identifica a emergência de um terceiro período
do planejamento urbano, no qual o “novo plano diretor” deve se opor
ao “antigo” modo de planejar as cidades, justamente como “reação” aos
“problemas” que caracterizavam o planejamento. É importante destacar
que Villaça (1999) está orientado, de alguma forma, não apenas pelas
reivindicações de apropriação dos planos diretores pela reforma urbana
311
que aconteciam na década de 1990, mas, mais especificamente, pelo
próprio contexto da revisão do Plano Diretor de São Paulo e as disputas
políticas pela participação em sua elaboração.
312
como esses elementos são mobilizados em contextos políticos (e
culturais) particulares. No período que se seguiu à promulgação da
Constituição de 1988 houve uma intensa produção legislativa para
elaboração das constituições estaduais e leis orgânicas municipais. O
movimento de reforma urbana esteve mobilizado para intervir nesses
processos procurando, em seus próprios termos, garantir os avanços
conquistados na Constituição de 1988 7.
Além desses, dois outros fóruns institucionais, intercambiados na
produção de conteúdo, mobilizaram os militantes: i) a regulamentação
dos dispositivos constitucionais da política urbana, com o longo
processo para aprovação do Estatuto da Cidade e ii) a elaboração de
planos diretores municipais. Nesse segundo fórum houve uma produção
significativa de conteúdo por parte, especialmente, de urbanistas
(arquitetos, advogados assistentes sociais etc.) ligados a gestões
municipais progressistas e de organizações não governamentais ligadas
ao movimento da reforma urbana, com destaque especial para o Instituto
Polis e a FASE. O objetivo era “reinventar” o plano diretor.
313
A Carta de Princípios sobre o Plano diretor, elaborada pelo
Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU), sinteticamente,
enfatiza a democratização do planejamento, pois parte significativa
do conteúdo da Carta se refere às condições para elaboração de planos
diretores que considerassem as demandas populares.
Nas prefeituras, observavam-se iniciativas de elaboração de
planos diretores seguindo princípios de reforma urbana. Tais princípios
chegavam às prefeituras pelas mãos dos “técnicos progressistas”, que
eram alimentados, por sua vez, pelas entidades representativas dos
arquitetos (IAB, FNA, ABEA), pelas entidades que compunham o MNRU
e pelos partidos políticos, especialmente pelo PT, que intercambiavam
militantes com a reforma urbana. As iniciativas eram, então, divulgadas
como experiências inovadoras rumo ao direito à cidade, ao cumprimento
da função social da propriedade e à gestão democrática.
O Instituto Pólis foi um dos grandes disseminadores dessas
experiências, publicando cadernos, manuais, cartilhas que destacavam
a implementação de instrumentos jurídicos e urbanísticos em diversas
cidades brasileiras, mas há também publicações avulsas, textos para
discussão e eventos que se multiplicaram pelo país. Nesse processo,
Porto Alegre (JARDIM, 1996), Natal (TINOCO, 1996; BENTES, 1997),
Belo Horizonte (AMARAL, 1996), São José dos Campos (SOMEKH;
NERY JR., 1996), Diadema (HEREDA; NAGAI; KLINK; BALTRUSIS,
1997), Recife (BOTLER; MARINHO, 1997), entre outros passaram a
constituir a referência para as demais iniciativas de elaboração de planos
diretores na perspectiva da reforma urbana.
Há, contudo, dois destaques necessários: São Paulo e Rio de
Janeiro. No caso de São Paulo, a elaboração de um novo plano diretor
durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1993) foi responsável por
produzir ou sistematizar diversas inovações a despeito da incapacidade
de implementação naquele contexto político (ZMITROVICZ, 1992;
314
ROLNICK; SOMEKH, 1990). No mandato seguinte, com Paulo Maluf
na prefeitura, se aprofundam os mecanismos de privilégio do capital
imobiliário, com a emissão dos CEPACs (Certificados de Potencial
Adicional de Construção) na operação Faria Lima (WILDERODE,
1997). Essas disputas no campo do planejamento urbano alimentam as
posições de contestação e confronto (TARROW, 2009) que contribuem
para consolidação do discurso do movimento de reforma urbana.
No Rio de Janeiro, também se expressava com mais evidência a
disputa entre o planejamento na perspectiva reformista, consubstanciado
no Plano Diretor de 1992, e os modelos do planejamento estratégico,
expressos no Plano Estratégico do Rio de Janeiro. Ironicamente, o Rio
de Janeiro se constitui no benchmarking do planejamento estratégico
no Brasil (NOVAIS, 2010) e, por isso mesmo, em um dos exemplos
paradigmáticos sobre o qual convergia a crítica reformista, como, por
exemplo, na análise da “venda de exceções” urbanísticas nas operações
interligadas no Rio de Janeiro (CARDOSO et al., 1997).
Esses casos, assim como a disputa com outros discursos sobre
a questão urbana e o planejamento, fornecem o inimigo necessário
(DELEUZE; GUATARI, 1995) para a mobilização do consenso e identidade
(TARROW, 2009, p.40-1) do movimento da reforma urbana. Nesse
sentido, é possível ampliar a afirmação de Bassul de que “o fato inegável
é o de que essa variegada experimentação municipal [...] foi decisiva para
que o projeto de Estatuto da Cidade vencesse resistências e superasse
reações” (BASSUL, 2004, p.72). Deve-se considerar não apenas as
experiências de “sucesso” do ponto de vista da reforma urbana, mas as
disputas em torno do arcabouço jurídico institucional da política urbana
brasileira. Assim, divergindo da afirmação de que “a direita percebeu a
possibilidade de morder os instrumentos do Estatuto da Cidade”8, deve-
315
se reconhecer que o Estatuto incorporou, na disputa pela sua aprovação,
instrumentos orientados para afirmação do direito à cidade e da função
social da propriedade e outros orientados para a competitividade e o
empreendedorismo urbanos, mais especificamente, para a promoção
da atividade imobiliária. Como destaca Bassul (2004), referindo-se à
aprovação sem objeções nas comissões e no plenário da Câmara nas fases
finais da tramitação da lei,
316
no Brasil, se permite destilar parte dos ideais do novo planejamento: a
participação política, a adesão aos interesses populares, a inscrição na
realidade da produção capitalista das cidades brasileiras etc.
A anunciação dos novos propósitos é apenas um dos aspectos do
investimento político na apropriação do planejamento urbano, e mais
especificamente dos planos diretores, pela ideologia política da reforma
urbana. A negação do passado, que sustenta a ressalva da imposição do
plano diretor pelas forças conservadoras, permite, ao mesmo tempo,
delinear a disputa ideológica pelo novo, que seguirá sendo confrontado
com outros contrários, como o planejamento estratégico, por exemplo.
Mas, além disso, há uma intensa produção de sentido, uma disseminação
de exemplos, do que deveria ser a aplicação dos instrumentos
urbanísticos comprometida com a reforma urbana. Experiências de
elaboração e implementação de planos diretores, cartilhas, guias e uma
produção significativa de artigos e livros contribuem para estabelecer
os marcos fundamentais do planejamento urbano politizado.
317
disseminada em conjunto com cartilhas e instrumentos de capacitação
e sensibilização distribuídos em todo o país no Kit das Cidades. Esse
guia se constitui em uma espécie de código comentado, bem à maneira
dos manuais jurídicos, e os autores interpretam e discutem as formas
de aplicação e implementação da lei. Com a coordenação geral de
Raquel Rolnick e coordenação jurídica de Nelson Saule Jr., o Guia
enfatiza a interpretação orientada pela perspectiva da reforma urbana.
Apenas como exemplo, um dos títulos do guia trata da “desapropriação
para fins de reforma urbana”, renomeando a seção IV do Estatuto da
Cidade que trata da “desapropriação com pagamento em títulos”.
Essa ação pode ser considerada como uma das mais importantes, até
aquele momento, no esforço de afirmação hegemônica do conteúdo
reformista do Estatuto da Cidade e, por consequência, na afirmação
da perspectiva do planejamento urbano politizado.
Com a criação, pelo Governo de Luís Inácio Lula da Silva em 2003,
do Ministério das Cidades – justificada na necessidade de integração das
políticas urbanas que, segundo documentos da equipe de transição, eram
desarticuladas e irracionais –, a questão do desenvolvimento urbano
aparece com significativo destaque, entendida como fundamental para
a ampliação da produção, a melhoria do fluxo de bens e serviços e da
qualidade de vida da população urbana. Além da integração das políticas,
da aproximação com as prefeituras e da centralidade da questão urbana
para o desenvolvimento do país e a melhoria da qualidade de vida das
pessoas, o Ministério das Cidades, na definição de seu objetivo e nos
discursos que justificavam sua existência, se apresenta como solução
institucional para o atendimento da demanda dos movimentos sociais
urbanos e da reforma urbana.
Essa vinculação, no entanto, vai bastante além do
compartilhamento de valores ou do discurso. De acordo com um
levantamento realizado por Gusso (2012), verifica-se que entre os cinco
318
secretários do mandato de Olívio Dutra no Ministério das Cidades (2003
a 2005), havia ao menos uma indicação direta do Fórum de Reforma
Urbana (Secretaria de Programas Urbanos – Raquel Rolnik), além de
outros nomes como Jorge Hereda (Secretário de Habitação) e Ermínia
Maricato (Secretária Executiva) que foram apoiados por movimentos
sociais ou participaram do movimento da reforma urbana. Nos seus
primeiros anos, os documentos oficiais e institucionais elaborados pelo
Ministério das Cidades, responsável pela política urbana, remetem, e de
certo modo procuram responder, aos princípios da reforma urbana e às
demandas dos movimentos sociais ligados à reforma urbana.
A instituição do processo de Conferências das Cidades também
reforça e reafirma este ideário. A primeira Conferência teve por objeto,
além da criação do Conselho Nacional das Cidades, o debate e aprovação
de um texto base, produzido pelo corpo técnico do Ministério, que
expunha as diretrizes gerais da política urbana brasileira e seu conteúdo
expressava a forte inspiração reformista. O controle (parcial), portanto,
dos aparelhos de produção ideológica do Estado municia o movimento
da reforma urbana na disseminação do seu discurso.
Passados, no entanto, dois anos, ocorre um rearranjo na aliança
político-partidária de sustentação do Governo Federal e o Ministério das
Cidades passa para a cota do Partido Progressista. Essa mudança levou à
saída de parte da equipe que compunha o campo da reforma urbana no
Ministério. Mantém-se, no entanto, a Secretaria de Programas Urbanos
sob a responsabilidade de Raquel Rolnick. Uma das ações desenvolvidas
pela secretaria foi a Campanha “Plano Diretor Participativo: Cidade de
Todos”, nos anos de 2005 e 2006. Conjugada à obrigatoriedade legal,
prevista no Estatuto da Cidade, de que municípios deveriam ter seus
planos diretores aprovados cinco anos após a promulgação do Estatuto o
efeito da campanha foi a proliferação de planos no período compreendido
entre 2006 e 2007.
319
Figura 1 – Evolução do percentual de municípios por classe
de tamanho da população que informaram
possuir plano diretor por ano de pesquisa
120%
42% Total
40%
31% 34% 32%
31% 26%
23%
20% 18%
18% 14% 15%
10% 9% 7%
0%
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios (2001, 2004, 2005, 2008, 2009, 2013).
320
A despeito da permanência, em termos de produção e
disseminação, de outros ideários urbanos, por agências internacionais,
associações empresariais, institutos de pesquisa e, fundamentalmente,
administrações municipais e estaduais orientadas por valores distintos
daqueles que constituem o núcleo da reforma urbana, testemunhou-se
no período recente o predomínio do ideário do direito à cidade, da função
social da propriedade e da gestão democrática.
321
e a espoliação urbanas. Assim, apesar do sucesso da transformação no
campo simbólico e institucional do planejamento, não se acompanha
o mesmo desempenho na mitigação da crise urbana. Essa constatação
alimenta a crítica às opções institucionais da luta pela reforma urbana.
Contudo, essa crítica talvez não enfrente uma questão importante:
se o planejamento urbano politizado não produz o que dele se espera
e, além disso, prejudica a organização política e as lutas sociais pela
reforma urbana, porque ainda dispõe de tanto prestígio?
Essa crítica, apoiada em uma visão de que o Estado, o direito e a
ideologia seriam sempre orientados pela reprodução da dominação, pela
continuidade do capitalismo e pela conservação de relações de poder,
subdimensiona a importância das disputas simbólicas e do conflito
ideológico e, por esse motivo, contribui para o desconhecimento do papel
dos planos diretores na reforma urbana.
No planejamento urbano politizado se produzem diagnósticos,
interpretações e prognósticos que, dialeticamente, afirmam e
obnubilam valores e hierarquias de sentido e de autoridade. Não foi
o propósito deste trabalho compreender o papel que o plano diretor
participativo operou na consolidação da ideologia política da reforma
urbana, mas apenas ilustrar brevemente a trajetória da construção de
um discurso que hoje concorre com o do empresariamento urbano
ou de uma perspectiva neoliberal sobre as cidades. Assumindo seu
caráter ideológico e fetichizado (VILLAÇA, 2004; BURNETT, 2009),
mas reconhecendo sua apropriação pela reforma urbana (RIBEIRO;
SANTOS JR., 2011), afirma-se que o plano diretor serviu à afirmação
de um consenso, na medida em que forneceu o conteúdo (os princípios
da reforma urbana), a arena (o planejamento participativo) e autorizou
os agentes (os segmentos). Contribuiu, portanto, para consolidação de
um ideário consensuado que, também, institui uma ordem política no
corpo social da reforma urbana.
322
Referências
323
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325
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326
A cidade como obra humana:
Problematizando as relações sociedade/cidade x
natureza no capitalismo e no socialismo1
Carlos RS Machado
Tainara F. Machado2
1. Introdução
1 Este trabalho parte de uma pesquisa realizada entre 2007 e 2008, e pesquisas
posteriores e reflexões da obra do autor por parte de um dos autores; e na atualidade,
faz parte de uma pesquisa sobre os conflitos e problemas ambientais no extremo Sul do
Brasil e leste do Uruguai (CNPq, Universal, 2014-2017) sob coordenação do Prof. Dr.
Carlos RS Machado.
2 Bolsista – pelo período de 2015 a 2017 – de mestrado Capes (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEDU/UFRGS), localizado
na Fauldade de Educação (FACED), na linha de pesquisa “Trabalho, Movimentos Sociais
e Educação”; sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Clara Bueno Fischer .
3 Henri Lefebvre nasceu no ano de 1901, em Navarreux (Baixos Pirineus),
Sudoeste da França, estudou filosofia na Sorbonne, e como professor passou a lecionar
em escolas secundárias. Nos anos 1920 entrou para o Partido Comunista Francês, e
nos anos 1930, traduziu para o francês os inéditos de Marx (Manuscritos de 1844) e
de Hegel sobre a dialética e a teoria das contradições. Sob o nazismo na França milita
na clandestinidade. Nos anos 1940, com a criação do Centro Nacional para a Pesquisa
Científica (CNRS), passou do estudo da “filosofia pura” às práticas sociais, isto é, da
relação entre filosofia/pensamento com o cotidiano (LEFEBVRE, 1975, 223-226).
327
a produção do espaço no contexto da crise do capitalismo, e de suas
críticas ao marxismo institucionalizado “realmente existente” na URSS.
Partimos da hipótese da atualidade da obra do autor ao/no problematizar
a relação da sociedade com a natureza e da necessidade do resgate da
fórmula trinitária de Marx4, como vimos discutindo no relacionado aos
conflitos ambientais na América Latina, bem como das discussões por
que passa Cuba no aperfeiçoamento de seu socialismo.
Visa, ainda, constituir-se de base e(ou) fundamentos de pesquisa
a ser desenvolvida tendo como foco de estudos duas cidades: Rio Grande
(Brasil) e Santa Clara (Cuba)5. Uma capitalista (Rio Grande) que, nos
anos 1960 vivia sob uma ditadura civil-militar; outra socialista (Santa
Clara) que vivia sob a ditadura do proletariado. Disso pretendemos
argumentar, e pesquisar, sobre as possíveis contribuições do estudo
pregresso dessas duas realidades/cidades no sentido de: contribuir no
debate da superação da relação de domínio, exploração e apropriação
desigual da cidade/sociedade e da natureza sob o capitalismo; e
prospectar na cidade/sociedade socialista a hipótese da autogestão6,
local e cotidiana, como parte de um todo na permanência e no
aperfeiçoamento da utopia que ali se desenvolve.
O ponto de partida da reflexão surgiu, entre fins anos 1950 e
inícios dos 1970, quando a cidade foi foco da produção de Henri Lefebvre
328
(Machado, 2008), e parte de outros: o marxista, do cotidiano, da cidade e
daqueles das últimas décadas de sua vida (sobre o Estado, a autogestão,
os ritmos sociais, resíduos etc.). Desse momento Lefebvre produziu 7
(sete) obras7. Apresentamos o contexto inserindo as obras e as polêmicas
vividas pelo autor, bem como suas utopias, para a partir disso, então,
assentar as bases da possível pesquisa conjunta.
7 Não localizamos sete, conforme afirmou Hess (2002), apenas seis, nesse
período: Le droit à la ville (1968); Du rural à l’urbain e La révolution urbaine (1970); La pensée
marxiste el la ville (1972); Espaço e Política (1973); a Produção do espaço (1974).
8 Na entrevista Tiempos Equívocos (1968), Henri Lefebvre refere-se à
revolução cubana como uma revolução fora dos “parâmetros” tradicionais, da esquerda
institucionalizada, na época.
329
os cubanos a se aproximarem dos soviéticos. Isso, apesar de a Revolução
Cubana ter sido realizada de forma diferente daquela ocorrida na URSS
(1917) ou na China (1949), pois se colocava – antes de tudo – contra a
ditadura de Fulgêncio Baptista e somente depois é que, se definiu como
socialista. Após a Revolução Cubana, proliferaram ditaduras civis-militares
em todo o continente com o apoio dos EUA do Norte. No Brasil, a
ditadura instalar-se-ia em 1964, seguido pela Argentina, Chile, Uruguai
e outros países até a década de 19809.
330
crítica desde o marxismo10 captou as mudanças estratégicas que
ocorriam nesse sistema. O tema da cidade, nesse contexto, emerge no
final dos anos 1950 e inicio dos 1960, impelido por três motivações: das
transformações do capitalismo no relacionado à cidade (Lefebvre, 1975,
p. 226); das reflexões filosóficas sobre o espaço e o tempo em Descartes,
Kant, Leibniz, Heidegger, dentre outros; da emergência do conceito
de produção – a partir Hegel e Marx estendendo-se até o pensamento
moderno; contudo, num sentido mais amplo como a produção de todas
as coisas (sentidos, linguagem, trabalho, cidade etc.).
Em pleno calor dos eventos de Paris, de 1968, Lefebvre publica um
livro defendendo o direito à cidade e de ser a cidade obra dos cidadãos
e centro/lugar do poder instituído:
331
Em contraposição a esse modelo de uma nova cidade ou cidade do
futuro, uma cidade ideal, Lefebvre propõe a inversão completa11:
332
econômicos, etc. → {múltiplos, mas agrupados na dominação social da
natureza, na práxis” (LEFEBVRE, 1991, p. 98).
apropriação, pelo ser humano, da sua própria vida, dos seus próprios
desejos, do tempo e do espaço em seu redor. É aqui, em meu entender,
que se situam os limites do socialismo e do capitalismo. Pôr em primeiro
plano a apropriação, e não simplesmente o domínio da natureza, parece-
me marcar o início da construção desse “modelo de socialismo”, cuja
elaboração pretendo contribuir (LEFEBVRE, 1970, p. 80).
333
fundamental do ser humano, o da apropriação. Esforcei-me bastante
para pôr em relevo esse conceito de apropriação. Não se trata – entenda-
se bem – da propriedade. Trata-se da apropriação do mundo, na natureza,
e também da natureza própria, dos próprios desejos. [...] da necessidade
de apropriação do ser humano – e, através do ser humano, da sua própria
natureza, dos seus próprios desejos, do tempo e do espaço que o rodeia
(LEFEBVRE, 1970, p. 79).
Em conseqüência disso:
4. Conclusão
334
(proposição) alguns aspectos e(ou) elementos que poderiam configurar
como articuladores da relação da sociedade/cidade x natureza nos anos
1960/1970 nas respectivas cidades em seu contexto, do país e do mundo;
e úteis ao debate atual por seus cidadãos.
1) Como preâmbulo, no processo de construção do projeto,
inicialmente, seria necessário que todos os envolvidos tivessem
acesso e ocorresse uma discussão preliminar das obras centrais
de Lefebvre sobre o tema (a definir);
2) Um segundo momento seria a construção de dados e
informações das cidades como população, educação,
analfabetismo, atividades produtivas, desigualdade, problemas
e conflitos ambientais e urbanos etc.; e de como em cada uma
delas os poderes instituídos e(ou) as leis estabelecem a relação
da cidade/sociedade com a natureza e das utopias em debate
nas mesmas;
3) Um segundo momento, desde esta cidade realmente existente
hoje, desenvolveríamos o retorno a cidade do passado, aos anos
de 1960/1970, historicizando o processo vivido pela cidade/
sociedade em sua relação com a natureza, estacando as utopias,
a relação da cidade com o planejamento e/ou o planejamento da
e na cidade, a participação popular dos cidadãos nas decisões
naquele período;
4) O terceiro momento seria retorno à cidade atual, em ambos
os países, ou seja, ao retorno do estudo do primeiro ano, teria
talvez, as seguintes perspectivas: a) a hipótese de experiências
da autogestão da cidade/sociedade como parte e articulado ao
plano nacional produzido participativamente pelo povo, e seu
partido, em Santa Clara; b) e as contribuições e limites dessa
experiência ao debate e problematização da cidade capitalista
de Rio Grande.
335
REFERÊNCIAS
336
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337
El planeamiento participativo para la
rehabilitación del subcentro urbano
¨Abel Santamaría¨ en la ciudad de Santa Clara
339
1. Introducción
340
la Universidad Central ¨Marta Abreu¨ de Las Villas, a solicitud de las
autoridades provinciales y Municipales del Gobierno y el Partido de
la ciudad de Santa Clara y habría sido imposible su realización sin la
accesoria de especialistas de Psicología de Comunidades de la propia
Universidad, de instituciones de cultura y la comunidad del barrio
Dobarganes, así como el trabajo de los estudiantes del cuarto año de la
Carrera de Arquitectura en el curso 2010-2011.
341
� Investigaciones histórico-evolutivas del sitio objeto de la
Tercera gran transformación, donde la nueva rehabilitación
consiste en convertir el Conjunto Cultural en un subcentro
cultural y de servicios de la ciudad de Santa Clara.
� Resultados de la etapa de documentación grafica y descriptiva
sobre Planos de inventarios actualizados para fase de análisis y
diagnostico de la asignatura que permitieron la caracterización
socio urbanística del escenario objeto del estudio.
342
caracterización preliminar se encuentran los dirigidos por la Directora
del Museo Lic. Margarita González y sus especialistas.
De modo preliminar la ZUVHC se caracteriza por poseer un
carácter urbano, con cuatro barrios de marcada identidad que son
Osvaldo Herrera, Zona sur del Centro Histórico, Raúl Sancho y
Subplanta, organizados en dos Consejos populares que son Centro y
Abel Santamaría. La población se caracteriza por poseer índices elevados
de envejecimiento, variadas respuestas en la composición de niveles
escolares, sexos y bajos índices de vinculación laboral especialmente en
el barrio de Subplanta.
Se registran elevados índices delictivos, sobretodo robos y
atracos, se presentan numerosos casos de alcoholismo, casos sociales y
presencia de casas culto de religiosidad fundamentalmente afrocubana
y presentante.
El estado de conservación del fondo está entre regular y mal y hay
déficit de servicios que genera movimientos pendulares caracterizándose
la Zona por tener familias tradicionales de clara identificación por
los miembros de la comunidad que utilizan los espacios libres más
significativos en tradiciones de fuerte intercambio social y otras
actividades cotidianas tales como empinar papalote, pasear mascotas
y juegos de adolescentes, además del descanso pasivo y contemplativo
especialmente del área verde arbolada existente en el sitio por los vecinos
inmediatos. Se ha identificado mediante la observación del uso social la
existencia del problema de accesibilidad presente en el sitio, asociado
al abandono general y deterioro de la estructura arquitectónica escolar
del Instituto Raúl Suarez y la escuela de Oficios
II. Definición de los objetivos de la indagatoria para
rehabilitación urbana
Se relacionan, los resultados de la caracterización preliminar del
comportamiento sociológico del escenario objeto de rehabilitación con
343
los nuevos objetivos que debe asumir la indagatoria ante el alcance del
nuevo proyecto de rehabilitación.
Aspectos a indagar: Nivel de arraigo y pertenencia, problemas y
ventajas sentidas de la comunidad, disposición y forma de implicarse
directamente en la rehabilitación.
Objetivos de la indagatoria
a. Identificar nivel de arraigo y pertenencia al sitio objeto de la
rehabilitación integral, progresiva y sostenible.
b. Identificación de prioridades principales sentidas por
la comunidad como aspectos negativos en el escenario a
rehabilitar.
c. Identificación sentida por prioridad de principales aspectos
positivos del escenario a rehabilitar.
d. Disposición para participar en la rehabilitación.
e. Formas de participación.
344
auxiliándose de la observación del fenómeno medido y la técnica de
interactividad del trabajo en grupos. Se identifica la potencialidad de la
encuesta al objetivar cuantitativa y cualitativamente el análisis.
Premisas organizativas:
345
(lideres de gobierno local, políticos, técnicos y especialistas
sociólogos culturales, museógrafos, licenciados del arte y la
literatura, museógrafos, lideres de la comunidad, médicos,
maestros, directivos de escuelas y centros, administrativos,
lideres estudiantiles, estudiantes, lideres naturales, promotores
culturales, etc.)
Fase B: Técnica de trabajo en grupo y paneles de trabajo.
Fase C: Encuesta socio urbana de Zona Urbana de Valor
Histórico Cultural
Etapa II: Indagatoria en escala de Arquitectura sobre
satisfacción de la comunidad respecto a usos de suelo tanto
del sistema edificado como del sistema de espacios públicos
5. El diseño de las preguntas se resuelve siguiendo algunas pautas
tales como:
a. Iniciar sondeo con preguntas generales y avanzan hacia las
especificas
b. Empleo de lenguaje claro de fácil comprensión
c. Simplificación y rapidez para precisar respuestas.
d. Alternativas de respuestas con flexibilidad de proposiciones
no estimadas
e. Facilidad de las respuestas identificando orden de prioridad
y evaluación de gradientes de comportamientos.
Encuesta
346
el panel de trabajo en grupo, como herramientas fundamentales para
llevar a cabo la indagatoria sociourbana, cumplen como condición
su coherencia de indagatoria, la facilidad de su resolución o llenado,
redacción con lenguaje claro y sencillo, fácil tabulación, precisa en su
indagatoria con cinco objetivos exploratorios que aportan datos claves
al proyecto de rehabilitación urbana del sitio. Se aplican en muestra
representativa del universo de la población de la ZUVHC objeto de
estudio. Ver Anexos en presentación.
347
• Actores de la comunidad: líderes naturales, maestros, médicos,
lideres religiosos, trabajadores sociales, promotores culturales,
artistas plásticos, artesanos, profesores universitarios,
estudiantes universitarios, etc.
348
Conclusiones para diagnóstico
349
5. La comunidad usuaria empleada en la zona, objeto de
indagatoria evidencian altos niveles de arraigo al sitio
por patrones de identidad y las múltiples ventajas del
emplazamiento dentro de las zonas centrales de la ciudad de
Santa Clara.
6. La indagatoria demostró la existencia de tradiciones de uso
de suelo que la comunidad desea preservar asociada a los
principales especiaos públicos como el juego libre e informal
de niños y adolescentes, la existencia de espacios verdes libres,
el empinar papalotes y paseas animales domésticos y mascotas
7. Los mayores niveles de satisfacción de la indagatoria, se
identifican asociados fundamentalmente a la memoria
colectiva, de desarrollo de costumbres y tradiciones ligadas al
espacio público así como a aspectos de facilidades de movilidad
por cercanía a las zonas centrales de la ciudad existente.
8. Los resultados de la indagatoria demuestran elevados
niveles de disposición a participar en la rehabilitación
urbana, principalmente en fase de ejecutividad, y aportación
de opiniones, menores cifras con el sufrago de gastos de
rehabilitación, conservación, así como de gestión y divulgación
del proyecto.
9. La indagatoria socio urbanística no refiere reconocimiento
conciente de la comunidad asociado a peligro de perdida
de valores patrimoniales urbanos y arquitectónicos,
contaminación higiénico sanitaria generada por el río Bélico,
10. Se evidencia elevados niveles de incertidumbre en usuarios y
residentes respecto a niveles de deterioro técnico constructivo,
incompatibilidad en los uso de suelo, así como subutilización y
sobre utilización de espacios arquitectónicos y libres públicos.
350
Se relaciona el diagnostico participativo para la más efectiva
toma de decisiones en la formulación de las propuestas de solución a
los problemas y las resolución de conflictos en el escenario objeto d
e la rehabilitación integral, progresiva y sostenible para el subcentro
¨Abel Santamaría
3. Conclusiones
351
4. La investigación socio urbanística evidencia la necesidad de
refuncionalizar con usos de suelos sostenibles que garanticen
la accesibilidad al sitio, el empleo de un modelo de gestión
estratégica progresiva que identifique prioridades de actuación
integral, por medio de la factibilidad que aportan los nuevos
lineamientos del modelo económico del país.
5. Los resultados de esta indagatoria comprueban la factibilidad
de empleo de las herramientas propuesta como vía para la
participación comunitaria desde fases primarias inversionistas
donde se encuentran los proyectos de planeamiento y diseño
urbano.
4. Recomendaciones
Bibliografía
352
La planificación urbana participativa en la
ciudad de Santa Clara. Retos y perspectivas
353
la complejidad de los fenómenos urbanos, requieren de una mirada
holística, multidimensional e integral para lograr entender y transformar
las relaciones entre la sociedad y sus espacios, actualizar el significado
que se confiere a estos, tomando en cuenta la sociedad actual, sus valores
y sus perspectivas.
El urbanismo como disciplina práctica de intervención y
ordenación del territorio, con el fin de organizar el funcionamiento de
la ciudad y el acceso a los bienes y servicios colectivos de sus habitantes
y sus usuarios; no solo implica una mirada a lo físico-espacial; sino que
integra la transformación social, la calidad de vida de las poblaciones
más necesitadas y la reducción de desigualdades. Para enfrentar los retos
que impone este contexto, a la producción científica e investigativa, es
un emergente la integración de diversas disciplinas como la Sociología,
la Economía, la Ciencia Política; que permitan junto al Urbanismo y la
Arquitectura un análisis de los fenómenos en su complejidad, ya que la
práctica urbanística no solo consiste en decidir sobre el uso del suelo,
la localización de actividades y la forma física de los espacios; sino que
influye directamente en el acceso que las personas y los grupos sociales
tienen a lugares de empleo, equipamientos y servicios, y por tanto en
la reproducción de la vida cotidiana familiar. Las nuevas formas de
interacción emergentes, han convertido a las ciudades en escenarios de
prácticas sociales y espacios de organización de las diversas experiencias.
La ciudad desempeña un rol vital en el desarrollo de cada territorio
por sus potencialidades para generar economías más diversificadas
y dinámicas, crear empleos y riquezas, absorber el crecimiento de la
población y brindar los servicios básicos que se transforman en motores
del avance económico y social.
En América Latina, el tema de la planificación urbana ha alcanzado
gran connotación, asociado a problemáticas como la segregación
socio-espacial, la fragmentación del espacio, la informalidad urbana,
354
la exclusión, el desempleo y la vulnerabilidad, así como la necesidad
de evaluar sus efectos concretos en la solución de estas problemáticas.
Las consecuencias de las formas actuales del urbanismo, donde
intervienen acciones públicas y privadas son visibles; los espacios
monofuncionales, especializados y distantes (basada en el zoning del
urbanismo funcionalista); han marcado los valores de la vida moderna
actual resumidos en inhabitabilidad, inequidad, secularización e
individualización. La progresiva injerencia de las reglas del mercado
en la planificación urbana, en un contexto de expansión urbana y
privatización, ha supuesto el concepto de ciudadanía al de consumidor
y ha limitado la accesibilidad urbana a la capacidad de consumo de
los grupos sociales. Existe en apariencia, una igualdad de derechos y
oportunidades, que en esencia es más formal que real, por lo cual es
necesario tener en cuenta cómo los diferentes grupos sociales participan
en la construcción social del espacio urbano que habitan, y cómo se
integran las especificidades actuales de la vida en la ciudad.
Mediante la planificación se está construyendo la ciudad, sus
elementos principales, sus prioridades, sus problemas, en definitiva, su
futuro, […], la planificación es un ejercicio político en su forma más pura.
Si entendemos la política como una lectura de la realidad, como una
propuesta en la que se definen los colectivos y se marca una pauta de la
acción social…. La planificación define, […], crea y destruye conceptos y
realidades de la ciudad”. (Ruiz, 2000: 181-182) La planificación urbana
debe ser un proceso integrador de las necesidades diversas de los
individuos heterogéneos que hacen uso de la ciudad; los usos del suelo, la
ordenación y funcionalidad económica con factores culturales y sociales,
para garantizar el acceso equitativo de los sujetos heterogéneos a la
ciudad, no solo como usuarios sino como productores y transformadores
de su espacio. La participación es el instrumento que permite convertir el
diseño meramente funcional en un diseño relacional, donde interactúen
355
los diferentes intereses, logrando la articulación de la diversidad, una
plena ciudadanía y la equidad social.
356
protagonismos que incluyan en el ámbito local los asuntos del control,
las tomas de decisiones, gestión y evaluaciones necesarias que aseguren
la construcción de lo que algunos han nombrado “el ciudadano local”.
En materias espaciales trasciende habitualmente los estrechos márgenes
institucionales donde ha sido ubicada, va más allá de la simple y
superficial información receptiva de la población. Desde esta perspectiva,
los proyectos urbanos deben formar parte de un proyecto de ciudad
donde se articulen variables como la gobernabilidad, la habitabilidad y
la productividad.
357
realidad social es tan dinámica que las instituciones necesitan una
actualización de las iniciativas de carácter público, que respondan a las
condiciones del contexto. La reestructuración de la política económica
y social del país, implica cambios radicales en el urbanismo, donde
interviene la descentralización de las decisiones a los gobiernos locales,
las nuevas figuras productivas que interactúan como nuevos agentes
económicos, nuevas formas de propiedad y gestión de la vivienda y
el hábitat en general, la focalización de las políticas sociales en su
visión multidimensional para atender desventajas sociales y crear
nuevas oportunidades, las nuevas formas de participación social que se
pretenden implementar para potenciar la interacción entre la ciudadanía
y el Estado. La renovación de los instrumentos del urbanismo, la
capacitación técnica, diseño de un sistema jurídico normativo único
son procesos emergentes para el actual contexto de cambio en Cuba,
que permitirían potenciar la participación real, consciente, organizada y
sistemática de los ciudadanos en el diseño de los espacios que utilizan y
moldea según sus necesidades, pero que a la vez influye en su dinámica
cotidiana y en las formas de interacción social.
Los objetivos de los planes urbanos, se han centrado en el
aseguramiento de las condiciones para la función productiva de las
ciudades, con la inclusión del desarrollo social, y su emplazamiento
en los entornos de relación. Pese a su orientación participativa, en
la práctica predominó la participación de los actores económicos en
detrimento de los sociales, lo cual afectó una de las premisas teóricas
de este tipo de planes que es la definición conjunta de un proyecto de
futuro. De esta manera la búsqueda de consenso, uno de los pilares del
planeamiento estratégico, considerado un valor añadido, se ha dado
entre actores económicos y políticos. (Rey, 2009: 35)
358
4. Santa Clara: ciudad, centro, movimiento
359
en las soluciones de infraestructura y espacios públicos, accesibilidad,
distribución de las áreas verdes, vínculos con las zonas comerciales y
recreativas, así como la redistribución de las ofertas de empleo, al existir
una disponibilidad de los mismos en la medida en que la población
económicamente activa se envejece y retira del empleo activo.
La Dirección Municipal de Planificación Física, es la institución
encargada de dirigir el proceso de planificación urbana, en trabajo
conjunto con el Gobierno Municipal, la Dirección Municipal de
Economía y Planificación y la colaboración de otras instituciones. Dichas
instituciones a su vez están doblemente subordinadas a las entidades
provinciales y nacionales correspondientes. Mediante entrevistas
estructuradas a expertos y especialistas de las instituciones mencionadas,
se constató que la planificación urbana es entendida como un proceso
que permite orientar la transformación, ocupación y utilización
funcional de los espacios y lograr su desarrollo socio-económico. El Plan
General de Ordenamiento Territorial, constituye un instrumento técnico
y jurídico que permite dirigir acertadamente la gestión territorial, las
definiciones del uso y destino del suelo para el municipio. (PDI, 2013)
Esta visión y concepción tecnicista permite subordina temas centrales
como la calidad de vida de la población y el desarrollo social a intereses
económicos dominantes. La planificación urbana se basa en decisiones
centralizadas, verticalistas y en los recursos asignados para el territorio,
a través de la subordinación a las direcciones provinciales y nacionales
de estas instituciones. En este proceso participan las instituciones que
tienen como objeto social intervenir en las problemáticas urbanas, dígase
Empresa Eléctrica, Dirección de Transporte, Vivienda, Acueducto,
Comunales, Gastronomía, Estadística, CITMA, Cultura, INDER en
sus correspondientes direcciones municipales. La participación de
estas instituciones generalmente es informativa y en algunas ocasiones
consultivas, con el objetivo de planificar las proyecciones futuras
360
para el desarrollo urbano, que se convierte en la ejecución de tareas
designadas para cada institución. La articulación entre las instituciones
es insuficiente, no existe una coordinación real para la planificación de
los espacios y la gestión de los recursos, lo que implica que las acciones
en las zonas de nuevo desarrollo se realicen de forma fragmentada y
parcelada. La falta de aprovechamiento y cumplimiento del Plan General
de Ordenamiento Territorial y Urbano es una de las consecuencias más
recurrentes de la sectorialidad y del verticalismo en las decisiones, que
a su vez producen intermitencias en su implementación a través del
proceso inversionista municipal. La insuficiente autonomía municipal
y de Planificación Física específicamente, obstaculiza la sistematicidad
y efectividad de las inversiones y del funcionamiento de la Comisión
de Microlocalización de estas. Esta visión implica que los proyectos
urbanos no tengan una mirada integral e integrada que articule todas
sus dimensiones, prolongando los plazos de construcción, restauración
de parques, equipamientos e infraestructura.
La población ha estado excluida de estos procesos, no existen
experiencias de consultas populares u otras herramientas participativas
sistemáticas, que permita integrar en los diagnósticos las necesidades
reales de la población diversa que converge en la ciudad. El diagnóstico se
realiza teniendo en cuenta la visión de los directivos de los planificadores
y representantes de las instituciones y los directivos de las instituciones
y el gobierno municipal, en algunos casos basados en los planteamientos
de las reuniones de Rendición de Cuentas en las Circunscripciones.
Los especialistas entrevistados coinciden, que el discurso del marco
normativo a nivel provincial plantea la necesidad de una planificación
democrática, garantizando la participación de todos los sectores y
la obligatoriedad de tener en cuenta las aspiraciones y demandas de
toda la sociedad; para que se incorporen en los planes y programas. La
realidad dista de la normativa, a nivel municipal, la participación no se
361
realiza ni siquiera en su fase informativa, limitando los mecanismos de
intervención a la consulta institucional, a través de reuniones donde
participan como representantes de la población los miembros del
Consejo de la Administración Municipal y en algunos casos presidentes
de Consejos Populares seleccionados. La participación se limita a las
mesas directivas del municipio que se organiza y administra conforme
a los esquemas establecidos por la autoridad nacional, donde el nivel de
participación es mínimo y se centra en la información.
Una premisa importante es considerar que tanto la acción
de planificar los espacios habitados como la de participar en la
construcción del proceso de planificar y para quién se planifica, deben
ser los resultados de un proceso integral capaz de solucionar en teoría
y práctica los problemas y necesidades identificadas por la población
de esta localidad. La visión tecnicista, centralizada y normativa sobre la
planificación urbana en la ciudad de Santa Clara, invisibiliza y subordina
la intervención de los factores socioculturales en este proceso. Como
consecuencia se evidencian disímiles problemáticas sociales que
obstaculizan la vida cotidiana de los individuos que hacen uso de la
ciudad. El crecimiento de la informalidad, a partir de las migraciones;
la insuficiencia de servicios en las zonas de crecimiento espontáneo,
(generalmente en las periferias urbanas); las problemáticas relacionadas
con la movilidad urbana traducidas en la carencia de transporte
seguro y estable y el deterioro del trazado vial; el deterioro del fondo
habitacional y de las redes de acueducto y alcantarillado; unido a una
visión fragmentada y sectorialista de las políticas urbanas; son de las
problemáticas demandantes del contexto.
La realidad de Santa Clara, dista en gran medida de las
problemáticas identificadas en el Plan de Ordenamiento Urbano, por la
ausencia de diagnósticos participativos que integren las necesidades,
aspiraciones e imaginarios de la población con respecto a los servicios,
362
la movilidad, los espacios públicos y la vivienda; sobre todo que permita
focalizar las políticas para atender a las necesidades de los grupos de
la población vulnerable y crear nuevas oportunidades de acceso a los
recursos urbanos. Los análisis realizados justifican la caracterización del
proceso de planificación urbana sin la articulación del enfoque social,
circunscribiéndolo a un determinismo económico y una visión física
espacial funcionalista de las problemáticas sociales. Como consecuencia
se produce una ciudad cada vez más dispersa, disfuncional y desigual.
Si bien hasta el momento se ha abordado la necesidad de introducir
procesos de “descentralización en la toma de decisiones”, aún existen
problemáticas que las instituciones municipales no pueden solucionar
porque dependen de decisiones y normativas trazadas a nivel provincial
y/o nacional que rigen la dinámica de Santa Clara. En este caso se
encuentra la construcción y restauración de viales, de redes de acueducto
y alcantarillado. A través de estos principios se consolida y reproduce
la posición hegemónica que tiene el centro urbano de la ciudad donde
se concentran los principales recursos como servicios, instituciones
administrativas, espacios de ocio y recreación, vías principales; que
legitima la contradicción centro vs periferia, esta última, desprovista
de los principales recursos necesarios para la reproducción de la vida
cotidiana en las zonas urbanas.
El surgimiento de barrios informales e irregulares, y la
insuficiencia de los planes urbanos para su regularización, provoca
que los asentamientos sean cada vez más dispersos y obstaculice la
conectividad con respecto a las regulaciones urbanas para la disposición
de infraestructuras y servicios. Como resultado de este proceso, unido
a la sectorialización de las soluciones a las problemáticas de los
asentamientos, existen en la ciudad 8 barrios insalubres, generalmente
ubicados en la zona periférica. La extensión de la ciudad santaclareña
se ha regido por la lógica de la rentabilidad económica, lo que ha
363
provocado una pérdida de su calidad, debido a sus características
desfavorables para las relaciones sociales: grandes desplazamientos,
incremento de espacio viario en detrimento de los espacios públicos,
aislamiento, hacinamiento e inseguridad. Si bien ha estado siempre la
zona Centro en la portada de los análisis, las zonas periféricas merecen
una reflexión crítica y consciente. Dentro del límite urbano existen otras
zonas donde se evidencian problemáticas que se repiten y devienen
disfunciones sociales cotidianas relacionadas con la accesibilidad a los
servicios, la movilidad, la infraestructura y los espacios públicos. La
infraestructura y los equipamientos que conforman la ciudad, pueden
ser un importante mecanismo de redistribución e integración sociales,
pueden dualizar la sociedad urbana o en cambio articular barrios y
proporcionar mecanismos de integración y mayor calidad de vida a los
sectores sociales vulnerables.
La planificación urbana normativa y tecnicista, afecta de forma
desigual a distintos sectores de la población. La distribución desigual
de los espacios en la ciudad, basada en la funcionalidad sin previo
estudio de los usos y las necesidades sociales, propicia una concepción
fragmentadora del tejido urbano, que quebranta su accesibilidad, su
valor simbólico, su polivalencia, la intensidad de su uso social. En los
procesos de planificación urbanística en la ciudad de Santa Clara ha
fracasado la participación social debido a una deficiente interacción
con la ciudadanía y a no generar procesos dinámicos que trasciendan los
condicionamientos tecnocráticos y normativos. Una organización social
más justa y equitativa en todos los órdenes permitiría que los intereses
determinantes que condicionan el crecimiento urbano no fueran sólo los
especulativos y una falta de visión total acerca de un amplio abanico de
necesidades de una parte específica de su población. La nueva agenda
impone la instrumentación de mecanismos de planificación acordes a las
nuevas realidades locales, así como la implementación de la participación
364
de la población en tres dimensiones: como información, consulta y
decisión.
� Como información: los habitantes de la ciudad tienen el
derecho a ser informados de todos los proyectos urbanos, así
como también de los resultados esperados.
� Como consulta: es fundamental consultar a la población
acerca de los distintos programas y planes que se van a
implementar, y hacerlo con la disposición de saber promover,
escuchar y recoger las opiniones que podrían quedar o no en el
proyecto final. Esta forma de participación puede concebirse
como una exposición lo más amplia posible, por lo cual debe
contemplar los detalles de cada plan y las discusiones que
puedan surgir.
� Como decisión: por lo general, esta forma es valorada por
distintos autores como la más completa, mejor y superior
expresión del desarrollo democrático. Las personas son
integradas en los diferentes programas, planes y proyectos
en todas sus etapas, es decir, se incluye a toda la población en
los procesos de transformaciones (planificación y evaluación)
con posibilidad de hacer uso de sus capacidades respecto a los
objetivos, tareas, metas.
365
Bibliografía
366
Estrategia de planeamiento participativo para la
gestión local de desarrollo de la rehabilitación
integral del hábitat en Manicaragua y Remedios.
Hábitat 2
Madrid. España Doctora en Ciencias Técnicas. 2007/CUJAE Habana Profesora Titular del
Departamento de Arquitectura Facultad de Construcciones/UCLV Experiencia en temas:
resolución de proyectos y ejecución de propuestas al planeamiento participativo en el
Centro Histórico de Santa Clara Coordinadora del programa de la Maestría en Restauración
y rehabilitación del patrimonio edificado Planeamiento y diseño participativo en procesos
de intervención urbana y en el patrimonio, su aplicación en los Planes Generales de
Ordenamiento Territorial PGOTU y Planes Especiales de Rehabilitación Integral PERI.
Diseño y aplicación de Modelos de planeamiento y diseño participativo en sectores y
barrios precarios de diferentes municipios de las tres provincias centrales SC, Cienfuegos,
SS Adecuación del planeamiento físico espacial a las nuevas tendencias de envejecimiento
poblacional. Email: gloria@uclv.edu.cu
2 Master en Restauración y rehabilitación del patrimonio edificado (2015),
Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas (UCLV). Profesora Titular del Departamento
de Arquitectura Facultad de Construcciones de la UCLV. Experiencia en temas: Planeamiento
y diseño participativo en procesos de intervención urbana y en el patrimonio, su aplicación
en los Planes Especiales de rehabilitación. Aplicación de Modelos de planeamiento y diseño
participativo. Email: liencd@uclv.cu Máster en Desarrollo Comunitario por el Centro de
Estudios Comunitarios (CEC) de la Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas (UCLV),
Cuba 2015. Profesora Asistente del CEC de la UCLV. Experiencia en temas de Equidad y
participación social, Desarrollo y planificación urbana, Estudios de género y urbanismo,
Estudios de movilidad urbana. E-mail: dmmartinez@uclv.edu.cu
3 Máster en Desarrollo Comunitario por el Centro de Estudios Comunitarios
(CEC) de la Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas (UCLV), Cuba 2015. Profesora
367
1. Desarrollo
368
científico ¨Procedimiento metódico¨ en la escala municipal del territorio,
en particular Manicaragua y Remedios.
Se profundiza en el planeamiento participativo con un enfoque
transdisciplinario para la “Implementación de estrategias municipales
en la gestión del desarrollo local”, aplicando las herramientas del ¨
Procedimiento metódico¨ hasta abarcar las exigencias de Hábitat 2
al requerir el abordaje participativo del problema de la gestión más
sustentable del desarrollo local mediante el ¨Modelo de Planeamiento
participativo¨, fundamentado desde la Investigación Acción
Participación, IAP, Se concluye con la propuesta de perfeccionamiento
para los instructivo metodológico que permitan la formulación de Planes
Especiales de rehabilitación integral elevando el nivel de participativos,
lo que aseguran la mejor toma de decisiones en las estrategias de
desarrollo de los Municipios de Manicaragua y Remedios
369
2013) a modo de primera validación del Modelo en la obtención de una
propuesta de solución al planeamiento participativo de la rehabilitación
en la escala territorial del municipio.
Las propuestas de planeamiento representaron una importante
contribución a modo de validación del nuevo instrumento propuesto
por el ¨Procedimiento metódico para planeamiento y diseño de la
rehabilitación integral del hábitat¨ (Artze, 2013) para ser aplicado en
Hábitat 2 tratando de tomar las más participativas decisiones que
permitieran la obtención de estrategias que más tarde hábitat pudiera
concretar en prioridad como Acciones demostrativas Locales ADL. Los
resultados constituyeron una aproximación validad de aplicación de las
nuevas herramientas definidas para la participación y favorables en tanto
en la actualidad son considerado los resultados por el Departamento
de Planificación Física Municipal de Manicaragua para la formulación
de los Planes Especiales de Rehabilitación y para la definición de las
acciones demostrativas Locales que complementan y aportan al proyecto
Hábitat 2 para la implementación de sus estrategas de desarrollo local en
el municipio. Por otro lado los Grupos vecinales creados en Manicaragua
por estas investigaciones para el desarrollo específico de capacidades
de participación en el planeamiento físico espacial y la formulación de
estrategias participativas de desarrollo en la gestión local del hábitat,
han continuado trabajando con otros equipos de investigadores, en
particular para los asentamientos de montaña
3.1 Antecedentes
370
de patrimonio, vinculadas a la investigación del proyecto Hábitat 2,
desde el Departamento de Arquitectura y el Programa de la Maestría
Restauración y rehabilitación del patrimonio edificado, todo esto de
conjunto con la los Gobiernos locales, el departamento de Planificación
Municipal y la Oficina de Patrimonio
El impacto más significativo que tiene la aplicación del Modelo
de planeamiento participativo, en Remedios, está en la contribución
que hace al ¨Procedimiento metódico al profundizar las definiciones
en la escala territorial del municipio y el abordaje de los problemas del
hábitat en el Sistema de Asentamientos Humanos SAH, asi también en
establecer con mayor precisión los nexos y relaciones entre las diferentes
escalas del espacio físico y su desarrollo, ofreciendo la oportunidad de
estudio de un contexto patrimonial de alta significación no solo por sus
valores tangibles, sino el impacto intangible de la ciudad cabecera y su
Centro Histórico
Remedios resulta un singular ejemplo de ciudad cubana con altos
valores tangibles e intangibles, al ser la octava villa fundada por los
conquistadores españoles en el proceso de colonización, contar con el
reconocimiento internacional de sus fiestas populares “Las Parrandas”
y ademásconla declaratoriadel Centro histórico como Monumento
Nacional en diciembre de 1979. Otro elemento significativo de la
coyuntura de aplicación del Modelo de planeamiento participativo lo
constituyó el Amplio Programa de obras sociales ejecutadas en el centro
Histórico de la ciudad cabecera Remedios y demás asentamientos del
sistema del municipio, siendo los de carácter urbano: Buen Vista ;
Remate de Ariosa; Zulueta y Carrillo, estas tareas de alta significación
e impacto no pueden ser acometidas sin la formulación de una solución
al planeamiento participativo, como vía efectiva para mejorar la
gobernabilidad local: En tal dirección resultan de probada efectividad
los “Planes Especial de rehabilitación integral del hábitat urbano”, cuya
implementación progresiva y sustentable a partir de las nuevas políticas
371
económicas que ha trazado el país, ha de contribuir al mejoramiento de
la calidad de vida de los remedianos.
De acuerdo a los basamentos teóricos, conceptuales y
metodológicos, la investigación parte de datos oficiales entre los
que se relacionan los PGOTU de mayor actualidad en el Municipio,
Diagnósticos preliminares de hábitat en su etapa I, Los Resultados
del Censo de Población y Vivienda y toda la información de mayor
actualidad que se registra desde los órganos de Gobierno Local, sin
los que no asegura la requerida confiabilidad, Abarca toda una fase
de análisis y diagnóstico participativo en la escala territorial del
municipio de Remedios para concretar el planeamiento participativo de
la rehabilitación integral del hábitat urbano de Remedios. La aplicación
del Modelo de planeamiento participativo en el Municipio de Remedios
se concretó como una buena práctica y tanto el desarrollo de los Tres
talleres para Análisis, diagnóstico y planeamiento participativo, de la
rehabilitación del hábitat local, como la concreción de las propuesta de
sus Tres Estrategias Participativas en las diferentes escalas, la Municipal,
la Urbana y la de la Zona de Valor Histórico-Cultural, constituye para
Hábitat 2 una importante Acción Demostrativa Local que permite tomar
decisiones con mayor nivel de participación, así la mejor conciliación de
opiniones participantes entre actores formales e informales.
La constitución del Grupo Vecinal ¨Remedios Hábitat 2¨”
forma parte de las actuación consecuente que argumenta como valido
el ¨Modelo para planeamiento de la rehabilitación, y en Remedios
como en Manicaragua constituyó una fortaleza que trasciende el
tiempo real de actuación del proyecto hábitat y se instala como una
capacidad del municipio que trasciende y prepara a la comunidad
para la toma de decisiones.
La composición de este Grupo incluye un total de 28 miembros
con la exigida, por el método de la IAP; con representatividad en su
composición social.
372
El procesamiento que el procesamiento de los resultados de
las herramienta Encuesta diseñada específicamente para Remedios
en la indagatoria, se realizó a través del Software estadístico “SPSS
Statistics 22” haciéndose dos rondas de presentación y síntesis de los
resultados, una etapa que fue considerada preliminar y la segunda que
fue identificada como definitiva para la formulación de las propuestas
de planeamiento participativo y concreción de la estrategia de desarrollo
del hábitat en el municipio.
La etapa de análisis y diagnóstico parte de la documentación base
de planes que existen formulados para las diferentes escalas.
En el estudio del territorio la etapa es abordada en “Diagnóstico
local del hábitat en el municipio de Remedios” (Jiménez, 2015)
en el cual se obtiene un levantamiento actualizado del municipio
identificándose: potencialidades, déficits e inequidades y se plantean
las líneas estratégicas que permiten llegar a la solución del planeamiento
en la escala territorial de acuerdo a tres niveles de intervención, cuyo
contenido se relaciona a continuación
373
• Completamiento de la dotación de servicios básicos
identificados en el diagnóstico de los asentamientos urbanos:
Remate de Ariosa y General Carrillo.
Subsistema socio-cultural
• Iniciar programas de educación ambiental para la mitigación
de riesgos.
• Iniciar programas de educación en la conservación patrimonial:
- Tangible: Centro histórico de la ciudad de Remedios.
- Intangible: Fiestas populares de Remedios, Zulueta y Buena
Vista.
- Ambiental: Residuario de hojas fósiles (Zulueta y Buena
Vista), los Mogotes de Chiquitico Fabregat (especies
endémicas de la flora: el jibá, espuelas de rey y la fauna:
la perdiz y la lagartija de cola ancha), la Cueva del Calor
y el Mirador en Buena Vista y los bosques naturales con
variadas especies maderables (La Caridad y Mochocolo).
374
• Desarrollar capacidades de participación extendiendo la
experiencia de trabajo participativo de la ciudad de Remedios,
para la estructuración de políticas públicas en el SAH,
mediante la formación de “Grupos vecinales Hábitat 2”.
• Iniciar programas para el tratamiento de los grupos vulnerables
vinculados a la estrategia de desarrollo local.
Subsistema ambiental
• Gestionar el desarrollo de soluciones de proyecto para
alcantarillado y su implementación gradual, prioritariamente:
Remedios, Zulueta, General Carrillo, Buena Vista, Heriberto
Duquesne, Remate de Ariosa y Chiquitico Fabregat.
• Extender el uso de fuentes de energía renovable a partir de las
experiencias: el biogás (Heriberto Duquesne) y la eólica para
bombeo de agua (molinos de viento del poblado de General
Carrillo).
375
urbanos y mejores condiciones salariales y laborales en el
sector agrícola para su estimulación.
• Implementar políticas públicas para mejorar la comunicación
que aumenten los servicios de radio y telefonía fija para mitigar
la inequidad de conectividad.
• Implementar políticas públicas que beneficien a los grupos
vulnerables de la población.
• Estimular política para nuevas fuentes de empleo al margen
de la agricultura en Remate de Ariosa y General Carrillo.
• Elevar la liquidez en los asentamientos: Zulueta, Remate de
Ariosa, General Carrillo y Buena Vista.
• Gestionar financiamiento para activar nuevas zonas turísticas:
el Residuario de hojas fósiles, el Mirador de Buena Vista y las
zonas boscosas al sur.
• Gestionar políticas públicas para un mejor aprovechamiento
de las capacidades industriales y tecnológicas instaladas.
376
• Poner en valor el Mirador de Buena Vista, los Residuarios de
hojas fósiles, los Mogotes de Chiquitico Fabregat y los bosques
naturales para desarrollar la modalidad de Turismo Rural.
Subsistema socio-cultural
• Monitorear y desarrollar los programas iniciados desde el
Nivel 0 de intervención.
• Incrementar las capacidades participativas alcanzadas en el
municipio.
• Divulgar los resultados de la estrategia.
Subsistema ambiental
• Ejecutar de forma gradual las soluciones de proyecto para
alcantarillado en las zonas centrales, prioritariamente:
Remedios, Zulueta, General Carrillo, Buena Vista, Heriberto
Duquesne, Remate de Ariosa y Chiquitico Fabregat.
• Monitorear y ampliar el uso de fuentes de energía renovable
a partir de las experiencias: el biogás (Heriberto Duquesne) y
la eólica para bombeo de agua (molinos de viento del poblado
de General Carrillo).
377
Subsistemas edificados y espacio público
• Completamiento de la inversión y puesta en explotación
del “Circuito” que articula el acceso desde el Polo turístico
“Cayos de Villa Clara” al “Distrito histórico-cultural” y
desde este se distribuye al resto del territorio en el recorrido:
Jinaguayabo, “Distrito”, Heriberto Duquesne, Buena Vista
(Parrandas y Residuario), zonas boscosas al sur, General
Carrillo (Ecoturismo), Zulueta (Parrandas y Residuario)
y “Distrito” con salida a Santa Clara. El circuito puede ser
flexible y realizarse en el sentido contrario.
• Monitorear y conservar lo puesto en valor.
378
realizaron los ajustes pertinentes al planeamiento, el cual se somete
nuevamente al proceso de validación en el segundo momento del
Taller 3 de planeamiento participativo: “Encontrando una estrategia de
rehabilitación del hábitat local en Remedios” donde el análisis estadístico
concluyó que las desviaciones nunca exceden la unidad respecto a los
valores de la estrategia por lo que esta se considera oportuna como
una propuesta definitiva para manejar un proceso de rehabilitación
en el contexto actual de la ciudad de Remedios de acuerdo al criterio
procesado emitido por la muestra válida de participantes en el taller. Se
destaca que este resultado válido fue compatibilizado en un segundo
momento con los especialistas de la temática en la Ciudad los cuales
emitieron criterios profesionales favorables a la solución participativa de
planeamiento estratégico para la gestión local de rehabilitación integral
del hábitat en la ciudad de Remedios
La propuesta se conceptualiza a partir del desarrollo las
potencialidades del “Distrito histórico-cultural” que es además el área
de mayor concurrencia dentro del Centro histórico de la Ciudad. Sobre
esta base comienzan a extenderse las actuaciones de rehabilitación al
entorno inmediato, siguiendo la estructura de la trama que presenta la
Ciudad por anillos. Una vez consolidada el área urbana dentro de los
egidos se ponen en valor las sendas que la conecta con los asentamientos
inmediatos y por último se intervienen las vías del límite urbano y se
completan los sectores intermedios no rehabilitados.
El esquema de actuaciones es ordenado en tres niveles de
intervención de acuerdo a la metodología (Nivel 0, Nivel 1 y Nivel 2)
con actuaciones en los cinco subsistemas. El Nivel 0 realiza actuaciones
emergentes para mitigar los riesgos y permitir el futuro desarrollo de
la estrategia. El Nivel 1, de mayor extensión se estructura en seis fases
de acuerdo al concepto que maneja la intervención y en el Nivel 2 se
completa la rehabilitación al poner en valor las zonas que no fueron
intervenidas en el proceso hasta el momento.
379
Subsistema edificado (Plano 4).Acciones de evacuación de
personas, consolidación estructural, reparación y limpieza de cubiertas,
destupición de sistemas de desagüe pluvial, eliminación de plantas
parásitas y de patologías en los muros. Se desarrolla en dos fases:
• Fase 1: Inmuebles que no fueron atendidos en el programa
“Aniversario 500”
• Fase 2: Monitorear desde el Observatorio Urbano el programa
de actuaciones de mantenimiento y conservación especial de
los inmuebles puestos en valor en el programa “Aniversario
500” con grado de protección I y II.
o Etapa 1: Inmuebles en el entorno del nodo Parque “José
Martí”
o Etapa 2: Inmuebles con valores en el reto del área urbana
380
• Iniciar programas de prevención ante el asedio al turismo.
• Iniciar programas de educación ambiental para elevar la
percepción del riesgo higiénico-sanitaria.
• Fortalecer el sistema de control del territorio, elevando el
monto de las multas por las violaciones urbanas.
• Iniciar y proponer planes de atención al barrio precario
“Cordón Corcho” y a los casos sociales dispersos en la Ciudad.
381
• Identificar e implementar nuevos proyectos motores,
dinamizadores.
• Formular e implementar el Plan Especial de la Rehabilitación
Integral del Hábitat para el Centro histórico de Remedios a
partir del planeamiento estratégico, Tesis de Arquitectura
Clara Menéndez Maribona (2014).
• Formular e implementar el Plan Especial de la Rehabilitación
Integral del Hábitat para la ciudad de Remedios a partir del
planeamiento estratégico, Tesis de Maestría en Restauración
Arq. Lien Cruz Domínguez (2015).
• Desarrollar y gestionar la implementación del Proyecto de
intervención integral para el nodo Parque “José Martí”. Tesis
de Maestría en Restauración Arq. Mario Mor Jardines (2015).
• Contratar a la empresa de vialidad y transporte para el
proyecto de peatonalización progresiva del nodo Parque
“José Martí”.
• Destinar un monto especial de presupuesto para
mantenimiento, prevención y conservación de los inmuebles
alrededor del nodo Parque “José Martí” a partir de la
vulnerabilidad generada por las fiestas populares.
• Gestionar económicamente la factibilidad del proyecto y
ejecución progresiva para puesta en valor y ampliación de
la red de alcantarillado y de drenaje pluvial al resto del área
urbana elaborado por el Instituto de Recursos Hidráulicos
(Empresa de Hidroeconomía).
• Gestionar respaldo económico para instalar sistemas de
tratamiento en los hospitales y pequeñas industrias de la
Ciudad.
• Captar financiamientos para la atención al barrio precario
“Cordón Corcho”.
• Establecer regulaciones urbanas especiales para actuaciones
constructivas en los inmuebles en explotación por el trabajo
382
no estatal (cuenta propia hostal) con grados de protección I y
II especialmente en el nodo Parque “José Martí”.
• Identificar y proponer entre las ADL emergentes al Proyecto
“Hábitat 2” las siguientes:
- ADL 1: Construcción de los tramos de maestros de
alcantarillado relacionados al completamiento del nodo
central.
- ADL 2: Crear un centro de capacitación para desarrollo de:
a. Capacidades de participación comunitaria local
asociado a la sede universitaria municipal.
b. Percepción del riesgo, peligro y vulnerabilidad de la
Ciudad.
c. Recuperación de los oficios perdidos de la restauración
(Escuela de Oficios).
d. Modos de atención a los sectores vulnerables de la
población.
e. Desarrollo de proyectos culturales.
- ADL 3: Construir el tramo de vía paralelo al eje del ferrocarril
que enlace la Ave. de Solidaridad con la calle Plácido.
383
homogéneas y las oportunidades que presenta la Ciudad para sustentar
la rehabilitación desde su centro hacia fuera. Estas fases son subdivididas
en sectores de intervención (nodos, sendas y mixtos) ordenados de
acuerdo su importancia en el proceso para denotar el carácter integral
de la rehabilitación en la imagen de la Ciudad durante la rehabilitación.
La intervención en la secuencia de sectores relacionada a continuación
es integral de acuerdo a los cinco subsistemas básicos del procedimiento.
• Subsistema edificado.Acciones para puesta en valor de los
inmuebles en los sectores intervenidos de acuerdo a programa
de actuación.
• Subsistema espacio público. Acciones para puesta en valor
del sistema de espacios público en los sectores intervenidos
de acuerdo a programa de actuación, eliminación de: las
barreras arquitectónicas, las redes aéreas y valorización del
espacio público con alta calidad de diseño. Monitorear desde
el Observatorio Urbano el deterioro de los sectores puestos
en valor.
• Subsistema socio-cultural.Continuar las campañas y
programas iniciados en el nivel 0.Ampliar las capacidades de
participación logradas y divulgar la estrategia y los resultados
alcanzados.
• Subsistema ambiental. Continuar la ejecución de los tramos
de alcantarillado hasta completar la solución para la totalidad
de la Ciudad de acuerdo a los sectores intervenidos en el
programa de actuación.
• Subsistema gestión económica. Ampliar la implementación
del “Modelo de gestión” vinculado al Plan Especial de
Rehabilitación con visión prospectiva. Tesis de Maestría en
Restauración, Ing. Lilian Barrios Rojas (2015).
384
4. Programa de actuaciones
385
arquitectónicas, las redes aéreas y valorización del espacio
público con alta calidad de diseño.
• Subsistema socio-cultural. Continuar las campañas y programas
iniciados en el nivel 0. Ampliar las capacidades de participación
logradas y divulgar la estrategia y los resultados alcanzados.
• Subsistema ambiental. Continuar la ejecución de los tramos
de alcantarillado hasta completar la solución para la totalidad
de la Ciudad de acuerdo a los sectores intervenidos en el
programa de actuación.
• Subsistema gestión económica. Monitorear la implementación
del “Modelo de gestión” vinculado al Plan Especial de
Rehabilitación con visión prospectiva durante el nivel 1 de
intervención. Tesis de Maestría en Restauración, Ing. Lilian
Barrios Rojas (2015) e implementarlo sobre la base de los
resultados de su aplicación.
386
Como dos salidas del planeamiento se precisan las regulaciones
con acotaciones específicas para la rehabilitación del hábitat y exigen
el estricto cumplimiento de las “Regulaciones Urbanas para la ciudad
de Remedios” contenidas su PGOU y la Cartera de proyectos con la
compilación de 25 soluciones de proyecto válidas para la intervención
en diferentes inmuebles.
5. CONCLUSIONES
387
oportunidades, en la articulación con la cabecera provincial
y el Polo turístico “Cayos de Villa Clara”.
Bibliografía
388
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Estratégico Urbano. Disponible en: <http://segib.org/upload/CIDEU.pdf>.
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rehabilitación integral del hábitat en Centro histórico de la ciudad de
Remedios. Trabajo de diploma. Cuba, Departamento de Arquitectura,
Universidad Central “Marta Abreu” de Las Villas.
389
Propiedad y posesión de la vivienda en Cuba
1. Presentación
391
del año siguiente, se crea el Instituto Nacional de Ahorro y Vivienda,
que entre sus objetivos tenía el de construir viviendas económicas para
el pueblo y se dicta la Ley de Reforma Urbana de 14 de octubre de 1960,
que marcó un hito en el ordenamiento inmobiliario urbano y confirió el
carácter social y no de mero negocio jurídico al derecho de propiedad
sobre la vivienda, reordenando la propiedad y dándole la condición de
propietarios a quienes las ocupaban.
Continua con la primera Ley General de la Vivienda, Ley 48 de
1984, esta constituyó un nuevo paso en el camino de mejorar la situación
existente en el país, su promulgación se realizó en un contexto en el
que existía cierto grado de estabilidad económica, donde ya se había
consolidado el proceso revolucionario a partir de la institucionalización,
lo que significó un incremento en el fondo habitacional a partir de la
adaptación de locales, transformación de cuarterías, ampliaciones y
nuevas construcciones con participación importante de la población,
no obstante su resultado, a partir del proceso de rectificación de errores
a solo 4 años de su puesta en vigor se hizo necesario reconsiderar
algunas de sus formulaciones técnico-jurídicas, algunas de ellas en
lo referente a la transmisibilidad de la vivienda por compraventa y el
alcance de sus preceptos por lo que resultó derogada por la segunda Ley
General de la Vivienda, Ley 65 de 1987, que con una múltiple normativa
complementaria de carácter administrativo configuró un estatuto
jurídico particular sobre la vivienda y delimito los conceptos legales
de titularidad sobre la vivienda a dos: propiedad y arrendamiento, este
último como justo título posesorio, tal norma estuvo enmarcada en
múltiples disposiciones que restringían el derecho de propiedad fundado
ello en el contenido socioeconómico de la propiedad y le necesidad de
dar respuesta a una problemática habitacional existente en el país que
requería del ordenamiento y control estatal sobre este inmueble.
Esta Ley ha tenido en los últimos 4 años con el perfeccionamiento
del modelo económico y social del país, una progresiva trasformación
392
de sus políticas con la apertura del mercado inmobiliario con la
autorización de los actos traslativos de dominio, a lo que se agregan, las
políticas que establecieron para el otorgamiento de subsidios destinados
a la construcción o reparación de sus viviendas a las personas más
necesitadas económicamente y principalmente las afectadas por ciclones
y otros desastres; así como el otorgamiento de créditos a otras personas
para facilitar la ejecución de acciones constructivas
Las primeras transformaciones se producen al amparo del Decreto
Ley 288 y sus normas complementarias de 2011 y recientemente el
Decreto Ley 322 de 2014 que introdujo otras modificaciones sobre las
políticas constructivas y amplió aún más las facultades dispositivas de
los propietarios al permitir la trasmisión de solares yermos y azoteas.
Son cifras que ilustran sobre la amplia aplicación de estas políticas
los datos publicados recientemente:3
• Se han aprobado 63 mil subsidios aproximadamente y se han
entregado más de 1000 millones de pesos a los beneficiados.
• Se han otorgado aproximadamente unos 200 mil créditos por
un importe de 1800 millones de pesos.
• Se han vendido más de 57 mil viviendas y más de 157 mil casas
han sido donadas.
• En el 2014 se vendieron 2300 millones de pesos en ventas
de materiales de la construcción que es el 104% del plan.
Hay una cantidad de personas pendientes por la compra de
techos, áridos, barras de acero, puertas y ventanas, que son
los más deficitarios.
• El Estado está entregando 10 mil viviendas anuales como en
Santiago de Cuba, La Habana y otras provincias con precios
muy subsidiados a la población.
393
Es propósito del presente trabajo ilustrar sobre el régimen
de posesión y propiedad sobre la vivienda en Cuba y demostrar
la progresiva tendencia en la política estatal a la transferencia y
consolidación de la propiedad, bien de los inmuebles de propiedad
estatal que se transfieren en propiedad por medio de contratos
de compraventa como a través dela autorización de la trasmisión
de la vivienda propiedad personal entre personas naturales con
la consiguiente eliminación de limitaciones y restricciones, en
correspondencia con el principio de autonomía de la voluntad.
El artículo se estructura en tres parte la primera aborda
conceptualmente la vivienda y el derecho que sobre ella se establece
en el contexto cubano. Dando paso a la segunda parte donde se analiza
el derecho de propiedad valorando su contenido y manifestaciones
particulares en relación con la vivienda y la tercera aborda la posesión
sobre la vivienda y sus características más aguzadas
394
un carácter supletorio respecto a las regulaciones del bien inmueble y
da un tratamiento unitario a los bienes, ello determina que este sirva
de referente para reconocer dentro de la forma de propiedad personal
la que tiene por objeto la vivienda entre otros bienes en los artículos
156 y 157, apartado b), donde se establece que pueden constituir
propiedad personal la vivienda y además la casa de descanso, sin mayores
delimitaciones conceptuales.
Ello en correspondencia con el texto constitucional que
igualmente reconoce tal forma de propiedad en el artículo 21, donde
enuncia que se garantiza la propiedad personal sobre la vivienda que
se posea con justo título de dominio y los demás bienes y objetos que
sirven para la satisfacción de las necesidades materiales y culturales de
la persona, haciendo referencia a los conceptos de justo título no solo
dominico sino además posesorio, elementos sobre los que se volverá
más adelante.
Ese precepto contiene un reconocimiento a los derechos
patrimoniales sobre este bien, pero resulta anómico en cuanto al
reconocimiento del derecho a la vivienda como acontece en otros
ordenamientos jurídicos con este derecho social.
La Ley de la Vivienda, No 65 de 1988, reconoce el derecho a una
vivienda en el artículo 2 y define que se ejercerá en la forma y bajo los
requisitos que establece la Ley.
A continuación establece que será legítimo tener, además de la
de ocupación permanente, la propiedad de otra vivienda ubicada en
zona destinada al descanso o veraneo. Fuera de esa posibilidad, de la
señalada para los agricultores pequeños y cooperativistas y de los casos
de viviendas vinculadas, ninguna persona tendrá derecho a poseer más
de una vivienda.
Restringe el derecho de propiedad sobre la vivienda de ocupación
permanente solo a una vivienda principio establecido en la Ley de
395
reforma urbana de 14 de octubre de 1960, y que ha subsistido hasta
la fecha, junto a ello a se admite la propiedad sobre una vivienda de
ocupación temporal, o sea de descanso o veraneo, y la posesión de otras
en calidad de arrendatarios, en el supuesto de las viviendas vinculadas
y medios básicos.4
Esta norma responde al principio de especialidad y rige de
manera particular el régimen de los bienes inmuebles urbanos,
conformado con una amplia gama de normativa complementaria de
carácter administrativo el derecho inmobiliario cubano. Este corpus
legislativo no ha establecido regulaciones jurídicas expresas para definir
conceptualmente tal derecho, ni la vivienda o morada, empleando el
concepto de ocupación para delimitar entre uno u otro tipo de vivienda.
396
Se toma como punto de partida el concepto de la ocupación como una
de los presupuestos más importantes de esta materia. Para determinar
el régimen jurídico de la vivienda de ocupación permanente y la de
ocupación temporal se parte del hecho físico probado de la residencia
permanente en un determinado inmueble donde el sujeto desarrolla
las necesidades cotidianas de la vida, que le sirve de morada de manera
permanente y estable lo que debe probar por todos los medios posibles en
derecho, concepto diferente del domicilio y la residencia, constituyendo
el primero parte del estado civil de la persona, demostrado mediante el
documento de identidad.
De otro lado, la definición de la vivienda de descanso o veraneo
depende del acto de destino de su titular pues no es obligatoria su
inscripción en oficinas administrativas a tales efectos, es el propietario
quien determina el cariz de la vivienda sin que pueda intervenir autoridad
alguna en esta determinación, ubicándose usualmente en balnearios o
playas.5La jurisprudencia cubana en esta materia se ha pronunciado
sobre el concepto de vivienda de descanso veraneo coincidiendo en
conferirle primacía a la destinación que de la misma haga el titular.6
397
El censo de población y vivienda realizado en Cuba en 2012,
7contiene dentro de sus metodologías determinadasdefiniciones censales
398
Total de unidades
Viviendas particulares
de alojamiento
colectividades
Locales de
trabajo
Ocupadas por residentes
Cuba
total desocupadas
Por
permanentes temporales
temporadas
388590 388242 373456 11367 9399 4249 2992 84
8
Censo Nacional de población y viviendas, 2012,TablaV.1Unidades de alojamiento,
por tipos y situación de ocupación de la vivienda, www.onei.cu, consultado 2 de
octubre de 2015
399
La propiedad viene consagrada en cada ordenamiento jurídico
desde la propia Constitución. En Cuba, si bien la Carta Magna
no define la propiedad, si deja sentada las formas de propiedad
reconocidas dentro del país: la propiedad estatal socialista de todo el
pueblo, la de los agricultores pequeños, la propiedad cooperativa, la
propiedad personal, la propiedad de las organizaciones políticas y de
masas y sociales y la propiedad de las empresas mixtas, sociedades y
asociaciones económicas.
Estas formas de propiedad son reguladas también por el Código
Civil cubano de 1987, pero este si hace un intento por conceptualizar
la propiedad cuando en su artículo 129 establece que “La propiedad
confiere a su titular la posesión, uso, disfrute y disposición de los bienes,
conforme a su destino socioeconómico”, sin embargo, más que establecer
un concepto lo que hace el Código es regular el contenido del derecho
de propiedad. La posesión, uso, disfrute y disposición son facultades
o poderes atribuidos al titular del bien para que pueda satisfacer sus
necesidades económicas o espirituales.
Más adelante el propio artículo establece que estos poderes sobre
el bien deben ser ejercidos conforme con el destino socioeconómico
que estos tengan, llegando aquí a un nuevo concepto típico del derecho
moderno y sobre todo del derecho socialista, donde la propiedad va más
allá de la persona del propietario y de la satisfacción de sus intereses
individuales, para llegar a satisfacer los intereses de la sociedad en
su conjunto. La función social a la que están sometido los bienes ha
fundamentado la política que se ha seguido en el país en relación con
la vivienda. Desde los inicios de la Revolución, y como producto de la
deplorable situación de la vivienda que existía en el país antes de 1959,
donde solo la minoría tenía una vivienda habitable como morada, se
adoptó como uno de los principales objetivos del gobierno revolucionario
garantizar una vivienda decorosa a los cubanos.
400
La importancia que ha concedido el Estado cubano a la vivienda
se ha visto reflejada en gran variedad de normas legales. La Ley de
Reforma Urbana de 1960, daba los primeros pasos hacia la resolución
del problema habitacional en el país, proclamando el derecho que
tenía toda familia a una vivienda decorosa y eliminando la figura del
casateniente. La Ley dispuso la expropiación de aquellas viviendas que
se encontraban arrendadas por su propietario sin que este las ocupara,
con el arrendatario ocupante de la vivienda expropiada se pactaba un
contrato de compraventa mediante el cual adquiría la propiedad de
la vivienda. La Ley de Reforma Urbana le entregó la propiedad de la
vivienda en manos de quien la necesitaba y no de quien la utilizaba como
medio de enriquecimiento y explotación ajena.
Posterior a la Ley de Reforma Urbana entra en vigor la primera
Ley en materia de viviendas, Ley General de la Vivienda de 1984, la que
a su vez fue derogada por la actual Ley 65, “Ley General de la Vivienda”,
que entró en vigor el 1988 y ha sido modificada en varias ocasiones. De
acuerdo con el cuerpo de esta Ley, la mayoría de las viviendas en Cuba
se encuentran insertadas en dos formas de propiedad fundamentales la
propiedad estatal socialista de todo el pueblo y la propiedad personal.
La Ley 65, en el artículo 37 reconoce la propiedad del Estado sobre
las viviendas que este construya, queden disponibles por no existir
personas con derecho a ocuparlas y las que adquiera de sus propietarios
por sucesión inter vivos o mortis causa, sin perjuicio de aquellas que
pueda adquirir por otras causas. La importancia de este artículo radica
en la posibilidad de la transferencia de la propiedad de las viviendas
estatales a las personas naturales seleccionadas para ocuparlas como
residencia permanente. Las vías para la adquisición de esta propiedad
se encuentran en la misma ley, una de ellas es por medio del contrato
de compraventa a plazos donde el comprador se constituye deudor del
Estado, hasta tanto termine de pagar el precio legal de la vivienda en
401
las mensualidades fijadas para ello. También prevé la Ley el contrato
de arrendamiento con opción de compra, donde la persona natural será
considerada arrendatario y pagará las mensualidades por la ocupación
de la vivienda. Una vez dicha persona haya pagado la suma ascendiente
al precio legal de la vivienda, tendrá el derecho de adquirir la propiedad
de la misma.
Otra vía que ha buscado el estado para la transferencia de la
propiedad de la viviendas es a través del régimen de viviendas vinculadas
o medios básicos, estas viviendas son asignadas por el Estado a
entidades estatales, civiles o militares, a cooperativas agropecuarias, a
organizaciones políticas, sociales o de masas, con el objetivo de asegurar
su fuerza de trabajo, según dispone el artículo 61 de la Ley 65. Estas
empresas conciertan un contrato de arrendamiento de la vivienda con
sus trabajadores que en el caso de las viviendas vinculadas tendrán
el derecho de adquirir su propiedad al término del contrato si han
cumplido los demás requisitos exigidos para ello.
En el 2014 se implementa la Resolución No. V-002/2014
“Reglamento de Viviendas Vinculadas y Medios Básicos”, dicha
resolución deroga el anterior reglamento e introduce varias
modificaciones, incluyendo una flexibilización en los requisitos exigidos
para obtener la propiedad de la vivienda vinculada. En un primer
momento era necesario que el trabajador se encontrara laborando en
la entidad por 20 años para poder adquirir la propiedad de la vivienda
vinculada que ocupaba, además de haber cumplido el pago de todas las
mensualidades en concepto de arrendamiento, con el nuevo Reglamento
se reduce el término de vinculación laboral y ocupación de la vivienda a
15 años, manteniéndose el resto de las exigencias.
La otra forma de propiedad donde se inserta la vivienda es la
propiedad personal, el régimen jurídico de la vivienda de propiedad
personal, se encuentra regulado en la propia Ley 65. En algún momento, la
402
propiedad de los particulares sobre la vivienda a la luz del ordenamiento
jurídico cubano, ha sido fuertemente criticada. Como se había referido
con anterioridad la propiedad sobre un bien supone para su titular las
facultades de uso, disfrute y disposición, poderes que incluye el Código
Civil cubano en su artículo 129. Sin embargo en materia de viviendas
hasta hace poco la facultad de disposición de la vivienda se encontró
limitada en más de un sentido. Los principales negocios jurídicos por los
cuales los propietarios pueden disponer de su vivienda son los contratos
de compraventa, donación y permuta, antes del 2011, las tres formas de
disposición se encontraban fuertemente restringidas por la Ley General
del Vivienda.
La compraventa entre particulares, se encontraba regulada en el
texto original de la Ley 65 aunque sujeta a la autorización del Estado,
lo que resultaba afín con lo establecido en el Código Civil sobre la
función social de los bienes; sin embargo con posteriores modificaciones
a la Ley se desconoció totalmente el contrato entre los particulares
previendo solo la compraventa a favor del Estado, la decisión estuvo
basada en el principio de que la vivienda no debe constituirse un medio
de explotación entre los hombres y de enriquecimiento de unos a costa
de las necesidades de otro, sobre ello afirma VEGA VEGA, JUAN “… la
vivienda como objeto de propiedad personal no se destina a servir de
mercancía, no se destina a ser instrumento de lucro o enriquecimiento
de nadie, sino que se propone satisfacer una de las necesidades más
profundas del hombre, la necesidad habitacional. La vivienda en el
socialismo no es para vivir de ella sino para vivir en ella...’’. Sin embargo
esta medida constituyó un retroceso en materia inmobiliaria pues la
compraventa de los particulares era otra de las posibles soluciones
al problema habitacional de país. Bajo esta regulación los actos de
compraventas de viviendas entre particulares se constituían ilegales
y por lo tanto sujeto a la pérdida de la vivienda y del dinero obtenido
403
con la venta, cuestión establecida en la Disposición Especial Séptima
de esta Ley.
También la permuta y donación, aunque no tan drásticamente,
estaban sujetas a limitaciones. En el primer caso la permuta debía
ser autorizada por el Director Municipal de la Vivienda y en cuanto
a la donación de viviendas se encontraban restringidas las personas a
favor de las cuales se podía hacer el traspaso del bien, contemplando
solo a familiares hasta el cuarto grado de consanguinidad, cónyuges y
convivientes en el inmueble.
A partir del 2011 se implementaron nuevas modificaciones que han
ido de la mano con el perfeccionamiento del modelo económico del país
por lo que se ha consolidado cada vez más la propiedad sobre la vivienda.
Con el Decreto Ley 288 Modificativo de la Ley No. 65, de 23 de diciembre
de 1988, “Ley General de la Vivienda”, se contribuye a la solución del
problema habitacional en el país flexibilizándose los actos de trasmisión
de la vivienda sobre todo con la autorización de la compraventa de
viviendas entre particulares, la posibilidad de permutar sin requerirse
ninguna autorización para ello, así como la posibilidad de establecer el
contrato de donación con cualquier persona sin determinación de grado
de parentesco o alguna otra restricción. Todas estas modificaciones
han seguido la tendencia a la consolidación del derecho de propiedad,
minimizando las restricciones a las facultades del propietario.
404
poseedor de un bien a quien tiene el poder de hecho sobre un bien
fundado en causa legitima, por lo que se excluye el concepto posesorio
de tenedor del bien, que deba desproveído de la legitimación para
reclamar el bien, ni obtener tutela de suderecho, pues el que esté bajo
esta condición queda desestimado.
A este tenor la posesión posee dos elementos: poder dehecho, que
constituye el elemento material que implica la aprehensiónfísica del bien,
es el corpus possesionis, que no resulta suficiente sin la causa legitima
que constituye el elemento normativo de la posesión, en concordancia
con la posición seguida por este código aprovecha los títulos adquisitivos
que legitiman al poseedor en el uso y disfrute del bien, de tal suerte
que el usufructuario, el superficiario, el arrendatario, el comodatario, el
depositario, o el acreedor pignoraticio son poseedores.
La vivienda en Cuba se encuentra sujeta a un régimen posesorio
peculiar que parte de la relación contractual establecida por medio
del contrato de arrendamiento, donde el Estado posee la condición de
arrendador y por ende titular del inmueble y las personas naturales
la de arrendatarios del mismo, este título posesorio está regulado
en los artículos 49 y siguientes de la LGV, y establece los casos por
lo que se puede acceder a esta variante de ocupación del inmueble
estatal, así se definen: a) Las viviendas destinadas al ejercicio
de una actividad profesional o asignadas a órganos, organismos,
organizaciones, sociedades, asociaciones o cualquier otra entidad para
el desenvolvimiento de su actividad. b) las viviendas que construya
el Estado o queden disponibles a su favor en zonas declaradas de
alta significación para el turismo; c) los locales de propiedad estatal
no asignados a entidades; y d) las viviendas que por otras causas se
considere conveniente o necesario no asignarlas en propiedad.
Ello entraña un régimen general de arrendamiento, este es un
tipo de contrato por el cual una parte se obliga a proporcionar a otra
405
el goce de una cosa mueble o inmueble, de conformidad con el destino
económico de la cosa y con el interés de un precio, su naturaleza es
la de ser un contrato oneroso, consensual, bilateral, sinalagmático,
conmutativo y de tracto sucesivo.
Es el contrato de arrendamiento, un contrato traslativo no del
dominio, que sigue en poder del dueño de la cosa, sino del uso o goce de
la misma, que pasa, en virtud de contrato, a poder del arrendatario, que
adquiere de esta forma la posesión inmediata de la cosa, manteniendo el
arrendador la posesión mediata. La causa del contrato de arrendamiento,
para el arrendatario, es precisamente obtener la posesión inmediata,
el goce directo y útil de la cosa. Para el arrendador, el percibir la
contraprestación pactada y en nuestro medio, dada la función social de
la vivienda, además, podemos adicionar la satisfacción de la necesidad
básica de habitación del hombre y protección de la familia.9
Cuando el arrendatario accede a una vivienda, a través de este
tipo de relación contractual con el Estado, persigue como finalidad su
ocupación con el abono del precio correspondiente, con lo que establece
con la toma de posesión del bien un poder de hecho, poseyendo un título
que lo legitima ante el titular principal actuando en nombre propio
y ajena por cuenta del dueño, y adquiere un conjunto de facultades
similares a las que le confiere esta norma al propietario de la vivienda
personal, tales como la determinación libre de e convivientes, el derecho
a permutar, la cesión de derechos, entre otros, si bien posee limitaciones
en la facultad dispositiva lo que resulta de su carencia de la condición de
dueño, que debe autorizar tales actos dispositivos para los que carece
de autonomía.
El contrato de arrendamiento regulado en el artículo 389 del
Código Civil, es un contrato temporal e implica la cesión del uso y
406
disfrute del bien por un determinado tiempo, sin embargo en el caso de
esta clase de compraventa no se produce la fijación del plazo elemento
esencial e este contrato tratándose de una vivienda el elemento real del
contrato, que se establece por el estado con la finalidad de dotar a una
familia de una viviend, garantizándole seguridad jurídica y estabilidad
en la misma, dando solución a una problemática social como lo es la
necesidad de solventar la problemática del déficit habitacional en el
país, tal modalidad del contrato de arrendamiento aunque no constituye
la trasmisión completa del derecho de propiedad si implica un amplio
marco de atribuciones, lo que determine la consideración de que esta
modalidad arrendaticia quepa concebirla como una derecho obligacional
con trascendencia real, poseyendo incluso la protección registral.
Existen otras modalidades de arrendamiento que parten del
proceso de transferencia de la propiedad concebido para los titulares de
viviendas en concepto de ocupantes legítimos y usufructuarios onerosos,
conceptos legales, que parten de la Ley de Reforma urbana supramentada
y continuaron en la Ley 48 de 1984, primera ley de la vivienda. La Ley
65 de 1988, concedió el derecho a su adquisición en propiedad, toda
vez que tales inmuebles eran propiedad del Estado, y en estos residían
estos sujetos, este proceso se denominó de transferencia de la propiedad
sobre inmuebles, para el mismo se estableció un plazo de caducidad,
transcurrido el cual si las personas titulares no hacían efectivo el derecho
pasaban al concepto de arrendatarios, de esta manera quedaron bajo el
auspicio de esta regulación solo dos conceptos de titularidad sobre la
vivienda: propietarios y arrendatarios. Las disposiciones transitorias
decimoprimera y décimo segunda para los usufructuarios onerosos y
ocupantes legítimosrespectivamente, definieron el tratamiento a dar a
estos sujetos.
Con ello pasaron al régimen del arrendamiento quienes no
procuraron la trasferencia de la propiedad.
407
En el año 2003, con el Decreto-Ley No.233, de fecha 2 de Julio
del 2003, modificativo de la citada Ley No 65/88, Ley General de la
Viviendase introduce la modificación de la Ley General de la Vivienda
que autoriza nuevamente el proceso de transferencia de la propiedad
a quienesestuvieran en la situación antes descrita, así la disposición
transitoria primera dispone “que las personas que estén ocupando
viviendas en concepto de usufructuarios onerosos u ocupantes legítimos
al momento de promulgarse el presente Decreto-Ley podrán, en cualquier
momento, solicitar ante las direcciones municipales de la Vivienda que
les sea transferida su propiedad, para lo que será requisito indispensable
encontrarse al día en el pago de dicho inmueble.
Igualmente podrán optar por la propiedad todas las personas
o sus herederos que fueron declarados arrendatarios de las viviendas
que ocupan por acudir a las direcciones municipales de la Vivienda
con posterioridad al mes de febrero del año mil novecientos noventa
y uno. En este precepto se evidencia la clara voluntad política de
garantizar el tránsito a la propiedad de la vivienda y la tendencia a la
consolidación del derecho de propiedad. La Resolución 14 de 2006 del
Instituto Nacional de la Vivienda, reglamentó el procedimiento para
hacer efectivo este derecho.
Otra modalidad de arrendamiento es el que se produce entre
personas naturales regulado en el artículo 74 de la Ley General de la
Vivienda, modificado por el Decreto Ley 322 de 2014, este establece
que: “Los propietarios de viviendas podrán arrendar, al amparo de lo
establecido en la legislación civil común, su vivienda, habitaciones con
servicio sanitario propio o sin él, y espacios incluidos en la descripción de
esta, siempre que esté en correspondencia con las regulaciones urbanas
y territoriales vigentes, mediante precio libremente concertado, y previa
autorización de la Dirección Municipal de Trabajo correspondiente.
408
2.- No podrán arrendarse viviendas, habitaciones y espacios a:
a) Representantes de organizaciones, firmas, entidades o países
extranjeros acreditados en el territorio nacional; y b) personas
jurídicas.
Queda prohibido el subarrendamiento y la cesión de uso de
viviendas, habitaciones o espacios.
El arrendamiento de viviendas y habitaciones tiene como fin el
hospedaje, y pueden ser arrendados a personas para la realización de
actividades por cuenta propia, conforme la legislación vigente.”
Este precepto contentiva de esta modalidad del contrato de
arrendamiento para quien conforme a la legislación especial tenga la
condición de trabajador por cuenta propia y en consecuencia labore en
la actividad de arrendatario de habitaciones y espacios, tal modalidad
contractual se establece con fines de hospedaje, este es un contrato
de servicios regulado en el CC en los artículos 438 y siguientes, lo
que implica la temporalidad de la ocupación, el mero uso del bien en
un período breve, recibiendo el usuario la prestación de un servicio
de alojamiento en condiciones apropiada de comodidad, higiene y
seguridad, teniendo este derecho solo el uso de las habitaciones sin
otras atribuciones ni facultades derivados del contrato, lo que no se
corresponde con el contrato enunciado en la LGV, que debería estar
concebido de acuerdo con los fines de la Ley para resolver una necesidad
habitacional, amparado en un negocio jurídico, como justa facultad
dispositiva del titular, por ello consideramos que se desnaturaliza este
contrato y su falta de concordancia con los fines de la ley y el objeto
del contrato que se pretende. En virtud de este se constituyen los
hostales y hospederías que proliferan en el entorno citadino con los
cambios del modelo económico que han incentivado esta modalidad de
emprendimiento individual a lo que se agrega su destinación también
a otras actividades económicas y no precisamente la de habitar el bien.
409
No obstante debe hacerse la salvedad que en determinados
casos también se produce el mero contrato de arrendamiento en las
condiciones previstas en el código civil solo que circunscrito a las
atribuciones previstas en la norma donde uno posee la condición de
propietaria y el otro de arrendatario, en concordancia con la regulación
que de este contrato hace el código civil,
5. Conclusiones
410
Bibliografía
411
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412
PROPRIEDADE E POSSE: NO LIMITE DA FUNÇÃO
413
legislação, a consagração das mudanças ocorridas na Europa e o seu
respectivo apelo ao aprisionamento da terra no lugar do sistema
escravocrata que já dava sinais de seu esgotamento institucional, mesmo
sob os protestos de parte considerável da elite, que se valia da mão de
obra escrava para garantir seu status econômico, político e simbólico na
estrutura do Estado existente e, ainda, naquele que se formava.
Na conturbada “ordem” de posses, tradicionais ou garantidas
pela força ou pela ausência de interesses de cunho econômico relevante,
a propriedade, sem a necessidade de estar conjugada à posse direta
ou à posse viva, apareceu como mais uma forma de violência, mas,
com características diferentes, pois, especialmente institucional
e burocratizada, não deixava tão explícita a aquisição pela via da
usurpação e da produção de títulos não coincidentes com os próprios
bens, com suas características ou com os seus reais possuidores.
Sustentou o modelo proprietário, a segurança e a legalidade
forjada no papel produzido no aparato privado com reconhecimento
estatal. Os registros públicos, dotados de fé pública, conferiam ao
titular do direito, toda a gama de poderes absolutos sobre o bem terra,
conjugando a disposição e o uso ou o não uso no direito subjetivo desse
mesmo titular.
Com isso, a terra foi aprisionada e as fronteiras de suas respectivas
parcelas permitiram que o seu “senhor” ali impusesse o seu interesse com
quase nenhum ou nenhum controle externo. A terra que se apresentava
como medida de possibilidade de vida passava a servir apenas àquele
que pudesse demonstrar a titularidade, pouco importando a origem do
respectivo título. Na pretensão universal e individualizante de reduzir
a terra à propriedade, a dimensão transindividual e coletiva dos bens da
natureza foi abolida.
414
Sem dúvida, reproduziu-se na titulação a apropriação que já se
configurava na força. E, nessa lógica, foram produzidos títulos que em
nada coincidiam com a realidade da posse e, se a desigualdade na prática
já estava posta, agora ela se materializava no acesso rigorosamente
seletivo da política e da burocracia.
Assim, foi usada a terra tantas vezes como moeda de troca, como
prêmio e como privilégio. O Estado, a Igreja e a oligarquia agrária
fundaram um sistema em que a dúvida recaía sempre sobre o estado
possessório, tido como precário e incerto5 e em que a propriedade se
apresentava como dado certo, inconteste e digno de legitimidade.
Pois bem, dada a propriedade com ou sem posse, as várias espécies
de divisões e de fronteiras foram estabelecidas. O parcelamento era
medida importante na construção do valor econômico dos bens e de
sua exploração. Nesse sentido, algumas divisões motivadas por vários
fenômenos ocorreram e, dentre elas a fragmentação entre campo e cidade
e, depois, entre rural e urbano. Assim, dividida, porém concentrada, a
propriedade se instalou como sistema de aquisição, de divisão, de troca.
Ganhou complexidade e possibilidade de fazer render e valorizar, pelo
Estado e pelas mãos de terceiros-possuidores, cada porção, hectare e
metro quadrado para o proprietário.
Não tardou a aparecer no Brasil, especialmente no século XX,
significativos questionamentos sobre os rumos assumidos por essa
forma de apropriação. Evidentemente, a influência de novos tempos
no velho continente fazia eco nos debates internos e, consideradas as
perspectivas desenvolvimentistas anunciadas a partir da década de 1930,
a industrialização e a urbanização acabaram por reforçar a perspectiva
relacionada à necessidade de se estabelecer algum controle sobre as
formas de apropriação.
415
Exemplos desse movimento podem ser vistos nas legislações que
previram o congelamento dos aluguéis, o tombamento de bens históricos
e o início dos movimentos de defesa de bens ambientais. Sem dúvida, o
campo já apresentava intensas manifestações sobre as injustiças causadas
com pequenos agricultores e colonos e com as populações tradicionais,
porém, mesmo diante de legislação de reforma agrária, em 1964, uma
pretensa construção sobre função social da propriedade vai se tornar
mais estruturada apenas após a Constituição de 1988 que, em seu texto,
com a democratização, previu uma propriedade geradora de direitos e de
deveres e estabeleceu, claramente, a propriedade funcionalizada.
Mas o que significaria uma propriedade funcionalizada quando
considerado o histórico do tratamento definido para esse instituto? Mais
do que isso, estava a propriedade configurada como direito fundamental
em meios a outros direitos, tal como a vida e a liberdade?
Assim, dada a manutenção do direito proprietário, que permaneceu
mitificando a propriedade e questionando a posse direta, mesmo diante
de todas as evidências da legitimidade de seu aproveitamento, de que
modo a função apareceu como garantidora de uma perspectiva um tanto
mais transindividual do que a do modelo adotado? Ao que parece, dada
a manutenção da propriedade nos termos em que ficou estabelecida no
texto constitucional, pouco mudança ocorreu na prática.
A propriedade é, em si, o limite não só da funcionalização, mas
de qualquer meio de garantir justiça social. Se sobre o uso ainda é
possível questionar a função, sobre a acumulação, tal questionamento
na legislação pouco aparece.
Se a figura do latifúndio por extensão encontra lugar no Estatuto
da Terra, a figura do vazio urbano surgirá só muito mais recentemente
e o seu tratamento ainda dá mostras da sua debilidade, tal como ocorre
no campo, com a concentração de imóveis rurais e a naturalização de
usos convencionais voltados à produção de commodities.
416
2. A função e o bem público
417
qualquer modo, a troca que aqui se pretende é sempre, em última instância,
o reflexo da condicionante econômica. A terra e a vida são separadas.
Assim, as cidades seguem um modelo comum em que se parcelam,
dividem, demarcam e separam as áreas para que elas tenham uma única
função que é constituída como “função da própria função”. A divisão
entre áreas demonstra isso, ainda que a justificativa geral busque inserir
o controle sobre a geração de incomodidades como justificativa para
a definição de fronteiras de uso do espaço, a incomodidade coincide
com tudo aquilo que não contribui para o espaço da propriedade
moderna, voltada ao sentido da troca ou do uso instrumental para
a troca econômica. Nesse sentido, considerando ainda as ruas, estas
se transformam em lugares de passagem rápida que ligam pontos,
condicionando cada vez mais, por exemplo, o uso dos veículos em
oposição e confronto com o espaço de pedestres. Nesse contexto,
mesmo as calçadas ou passeios cedem espaço para o asfalto. A área
verde é mantida verde se agregar valor econômico, caso não, pode ser
sumariamente suprimida em prol da indústria, da mineração ou de
qualquer outra exploração.
Nessa lógica são produzidos os planos que definem objetivamente
os critérios de aproveitamento de bens, de modo que se possa calcular
ou reconhecer a funcionalização dos espaços. Esses planos8 criam zonas
especializadas na cidade, separam as funções produtivas e reprodutivas
determinando as atividades que serão realizadas em cada uma, num
ideal de organização da vida com características racionais e funcionais
que limitam e enclausuram as ações individuais e coletivas no espaço e
no tempo de ocupação de cada área, além de segregar espacialmente as
classes e os diferentes grupos.
418
Assim, o espaço público só é público na medida em que atende
aos interesses da valorização e utilização das áreas privadas que se
configuram como propriedades acumuladas e que, por tal forma de
apropriação, definem o destino da tal funcionalização.
De qualquer modo, tal situação não está absolutamente clara e,
especialmente no “espaço” do Direito, a ideia de privatização é tão aguda
que a defesa da funcionalização parece ser, ainda, um caminho melhor
do que o da garantia do absoluto interesse dos grandes proprietários que
submetem à área pública aos seus interesses privados, mantendo-a como
pública, de modo a garantir as “externalidades” do seu uso privativo no
escoamento do “uso” do bem estatal.
419
Enfim, a função social manifesta-se na própria configuração estrutural
do direito de propriedade, pondo-se concretamente como elemento
qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e
utilização dos bens. Por isso que se conclui que o direito de propriedade
não pode mais ser tido como um direito individual. A inserção do
princípio da função social, sem impedir a existência da instituição,
modifica a sua natureza.9
9 SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico brasileiro. 4 ed. São Paulo: Malheiros,
2006. p. 76-77.
10 SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros,
2006. p. 74.
420
Todas essas questões emergem como mudanças estruturais do
instituto jurídico da propriedade. Assim, é possível dizer que, de fato
é estabelecida uma nova leitura, a questão consiste em saber em que
medida essa leitura altera a apreciação prática do direito de modo a
estabelecer novo estado de coisas.
Essa situação reflete demandas da sociedade que tendem a
pressionar os modelos vigentes estabelecidos no direito e, quando não
é possível simplesmente fazer desaparecer um determinado instituto,
restauram seu vigor a partir de um novo conteúdo ou de novos conteúdos.
Mas, é necessário dizer, que há um conteúdo principal que dá sentido
ao teor da mudança e esse pode ser explicitado pelo reconhecimento da
expressão “social” no cumprimento da função. A propriedade é, portanto,
um conceito relacional, que não pode se apresentar como impeditivo
de manutenção da vida ou como elemento segregador de sociabilidade.
Como afirma Jacques Alfonsin, a propriedade perde a sua
característica de direito-poder, para se reconfigurar como um dever que
deve estar pautado na efetivação dos direitos humanos, sociais e coletivos.
421
valer o sentido ou os sentidos do cumprimento das funções sociais da
propriedade. Em relação a isso, pode se verificar seguidamente com que
profunda ironia os poderes do Estado tratam a efetivação dessa norma
constitucional. Nesse sentido, segue Alfonsin
422
que traça uma verdadeira linha imaginária14 entre o público e privado e
procura esquecer que a posse antecedeu a propriedade como forma de
apropriação dos bens.15
Essa leitura permite suporte a uma quantidade enorme de
institutos que separam propriedade e posse direta, desde que o bem
seja utilizado, inclusive criando estatutos novos para o mesmo bem
e dissociando os seus vários usos entre vários possuidores, mas não,
necessariamente, entre vários proprietários. Esses novos institutos
encontram guarida na superseparação que permite o desdobramento
possessório no mesmo bem. O instituto da locação e seus vários possíveis
desdobramentos contemporâneos, aos direitos reais sobre coisas alheias,
passando pelo direito de superfície, pelas formas de propriedade
resolúvel, pelas garantias com bens imóveis, tudo convém ao discurso
relativo ao uso dos bens e, portanto, de cumprimento de função social
da propriedade, mesmo quando o acesso a esses institutos é bastante
restrito a determinados possuidores.
Tome-se como exemplo a defesa do “aproveitamento racional do
solo”. Logicamente não há como se concebê-lo, sem simultaneamente
admitir-se a utilização, inclusive econômica, o que não significa que
se deve tomá-la como um poder ilimitado, absoluto, desvinculado de
quaisquer limites. É que o sentido estático de propriedade, tomado
apenas em seu sentido estrutural (como direito subjetivo), não é apto a
inteira compreensão do instituto, que inserido em concreto, é colocado
em movimento, assume caráter dinâmico, passando a ser avaliado em
423
seu emprego concreto, no qual deverá encontrar sua legitimidade, ou
o repúdio.
O grande giro está em exigir que a propriedade não esteja suspensa
no ar, mas tal como os outros direitos, tenha seu exercício tutelado, na
medida de seu “merecimento de tutela”. Nas palavras de Perlingieri,
a “função se apresenta como causa de legitimação ou de justificação
das intervenções legislativas, que devem sempre ser submetidas a um
controle de conformidade com a Constituição”.16
Na legislação brasileira foram erigidos diversos instrumentos
para fomentar o mercado imobiliário. Verifica-se no Brasil o incremento
do mercado de títulos imobiliários e operações interessantes como sale
leaseback, built to suit, CRI.17
Em comum, tais mecanismos revelam a criatividade negocial, a
utilização econômica dos bens imóveis, bem como a “possibilidade de
harmonização” de interesses proprietários e não proprietários. Nesse
sentido, se constrói a ideia de que é superada a “visão estreita” que
considera a função social como inimiga do lucro, quando o que está
em questão não é nem um tipo de negação às atividades econômicas.
A chave reside na atenção ao arredor, porque o proprietário não está
isolado. Nessa toada, é preciso focar os efeitos colaterais do mau
424
uso de recursos escassos, dos prejuízos ao ambiente, da proteção da
sociodiversidade cultural.
Para ilustrar a composição de interesses sociais e econômicos,
tomem-se como exemplos a outorga onerosa e a transferência do direito
de construir. Trata-se de instrumentos que acenam para a “proteção da
organização do espaço urbano”, com flexibilidade apta à dinâmica da
atividade imobiliária.
Na outorga onerosa, também chamada de solo criado, autoriza-
se a construir para além do coeficiente de aproveitamento básico,
com contrapartida em área ou financeira, com finalidade vinculada
às hipóteses do art. 26, inc. I a X do Estatuto das Cidades, tais como
implantação de equipamentos urbanos e comunitários, a criação de
espaços públicos de lazer e áreas verdes.
No segundo instituto, a transferência do direito de construir,
permite-se ao proprietário que sofre alguma restrição – por exemplo,
em virtude de preservação ambiental, paisagística, histórica, cultural,
implementação de equipamentos urbanos ou regularização fundiária –
receber potencial construtivo que pode ser utilizado em outro espaço
determinado pela Administração Pública e até mesmo negociado para
o mesmo fim.
Fácil concluir que os mecanismos dos quais se tratou brevemente
forçam a imagem de uma propriedade funcionalizada que dá conta
de interesses transindividuais quando, em verdade, apenas projetam
em outro discurso elementos que são razoáveis do ponto de vista dos
próprios proprietários. É uma funcionalização que valoriza os usos
de interesse particular com ares de garantia de interesse público ou
transindividual. O que significa dizer que a funcionalização mascara,
pelo reforço “positivo” ao simbólico aproveitamento do imóvel, o mesmo
proprietário moderno que fazia valer os seus interesses.
425
5. Considerações Finais
426
via da sua instrumentalização, pelos instrumentos que “permitem” o seu
“melhor” aproveitamento público, coletivo, transindividual e até, difuso.
A funcionalização é discurso que pode servir a dois senhores,
àqueles que podem figurar na categoria restrita de grandes proprietários
e àqueles que podem acessar os mesmos bens na qualidade de
“qualificados” possuidores.
REFERÊNCIAS
427
Este livro foi composto em Californian FB e Corbel e
impresso em papel Pólen Soft 70g/m2.
Capa em papel Cartão Supremo 250g/m2.
Tiragem: 300 exemplares.
429