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Os militares e a ordem constitucional

republicana brasileira
De 1898 a 1964

Romeu Costa Ribeiro Bastos e Maria


Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha

Sumário
As intervenções militares e a República. 1.
Raízes das crises. 2. As crises constitucionais. a)
O período de 1920 a 1930. b) O período de 1930
a 1945. c) O período de 1945 a 1950. d) O período
de 1950 a 1964. O regime militar de 1964. Con-
clusão.

“La constitución es una cosa; los militares


somos otra1” (LOWENTAL, 1976, p. 3).

A análise das intervenções castrenses ao


longo da história republicana brasileira de-
manda, a priori, uma avaliação sobre o pa-
pel dos militares no Estado, na política e
sua interação com a sociedade civil.
O conceito de profissionalização nas
Forças Armadas surgiu como resposta à
necessidade de contextualizar sua atuação
a partir de um referencial sociológico que as
situasse comparativamente diante de outros
grupos funcionais no interior do sistema
Romeu Costa Ribeiro Bastos é Professor social. Com base nessa formulação, tornou-
Universitário. Mestre em Engenharia de Siste- se possível definir a competência profissio-
mas pelo Instituto Militar de Engenharia. Dou- nal militar perante o Estado e a socieda-
tor em Aplicações, Planejamento e Estudos de, a despeito da dificuldade em compa-
Militares pela Escola de Comando e Estado- tibilizar a oposição teórica entre ação mi-
Maior do Exército. litar e política.
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha
De fato, o relacionamento do Estado com
é Professora Universitária e Procuradora Fe-
deral. Mestra em Ciências Jurídico-Políticas as Forças Armadas não se reduz à mera re-
pela Universidade Católica Portuguesa. Dou- lação profissional-cliente, mas a uma efeti-
tora em Direito Constitucional pela Universi- va relação de poder, uma vez que as Forças
dade Federal de Minas Gerais. Armadas não atuam apenas como profissio-
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nais, detentoras que são de autoridade que Huntington, seu principal teórico, sustenta
lhes foi constitucionalmente outorgada. que a busca de objetivos militares profissio-
Tal competência encontra-se intrinseca- nais tende a manter as Forças Armadas den-
mente vinculada ao papel dos militares e tro de sua esfera de atuação.
seu inter-relacionamento com a sociedade Outros sistemas podem, ainda, ser cita-
civil, cujo aspecto fundamental traduz-se na dos, como o ditatorial e o moderador, este
tensão potencial da necessidade de os go- último especialmente relevante, por nele se
vernantes manterem, por um lado, uma for- encontrar a formulação teórico-explicativa
ça armada como instrumento da política e para a atuação das Forças Armadas no mo-
da ordem interna e garantirem, por outro, vimento irrompido em 1964, à semelhança
que ela não usurpe os aparelhos do Estado do ocorrido durante a monarquia, quando
(STEPAN, 1975, p. 46). o Imperador detinha poderes “constitucio-
Nessa linha teórica, quatro modelos ex- nais especiais” para intervir nas crises po-
plicativos sistematizados por JANOWITZ líticas em épocas de impasse.
(1977, p. 187 et seq.) são apontados como Descrito e sistematizado por Alfred STE-
definidores da relação civil-militar: o aris- PAN (1975, p. 32 et seq.), os axiomas analí-
tocrático, o democrático, o totalitário e o pro- ticos do modelo moderador ou de arbitra-
fissional. gem podem ser assim relacionados:
O modelo aristocrático corresponde à • Todos os principais protagonistas
estrutura das elites. Sua essência reside no políticos procuram cooptar os militares,
fato de que os valores sociais e os interesses admitindo-se como regra a politização
materiais das elites militares e políticas das Forças Armadas.
numa sociedade aristocrática são natural- • Os militares são politicamente he-
mente convergentes. A base do recrutamen- terogêneos, mas procuram manter um
to da oficialidade, que se define como aris- grau de unidade institucional.
tocrata e não castrense, provém da casta ci- • A cúpula política garante legitimi-
vil, assegurando, dessa forma, a estabilida- dade aos militares, sob certas circuns-
de do sistema político. tâncias, para atuarem como moderado-
O modelo democrático, caracterizado res do processo institucional, controlan-
pela diferenciação entre as elites civil, polí- do o Poder Executivo, ou mesmo evitan-
tica e militar, impõe o afastamento delibera- do a ruptura do sistema, quando envol-
do das Forças Armadas da esfera pública ve uma mobilização maciça de novos
decisória, em face do reconhecimento de que, grupos anteriormente excluídos.
ao menos no plano ideal, o oficial é um pro- • A sustentação dos militares poli-
fissional apolítico, a serviço do Estado e ticamente heterogêneos pelas elites
subordinado às regras e normas legais. civis facilita a formação de uma coa-
Quanto aos modelos totalitário e profis- lizão golpista vencedora. Inversamen-
sional, atribuem alto valor à força militar e à te, a ausência de tal apoio impede sua
especialização. No primeiro, o controle ci- consolidação.
vil é assegurado por meio da seleção políti- • A formalização de um “pacto” tá-
ca dos chefes militares e reforçado pela in- cito entre civis e militares legitima a in-
filtração de membros do partido único e pela tervenção armada no processo políti-
ação da polícia secreta, em razão da impos- co nacional e o controle temporário do
sibilidade da coincidência social das elites. Estado, por um período determinado.
No segundo, efetiva-se o controle, não por Ora, tomado genericamente, esse valor-
meio da convergência de interesses, mas congruência resulta na socialização civil-
pela tolerância dos civis para com o desen- militar, exemplarmente ilustrada pela dou-
volvimento autônomo da influência militar. trina desenvolvimentista, em sintonia com

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o projeto de grupos parlamentares. A con- p. 12). Conturbava, ademais, o cenário polí-
descendência social e intelectual dos tico nacional a agitação provocada nos quar-
oficiais militares em relação aos civis pos- téis pelas idéias de Benjamin Constant e a
sibilita a cooptação e a contínua liderança teoria positivista do soldado-cidadão ou ci-
civil, que visa restabelecer o equilíbrio polí- dadãos-uniformizados, segundo a qual os
tico e “corrigir” a autoridade de direito e a militares estavam destinados a serem os ci-
representação nacional quando essas en- vilizadores da sociedade brasileira.
tram em coalizão com as forças reais ou O terreno estava propício à primeira
as autoridades de fato. grande intervenção castrense no Brasil e as
É o chamado “intervencionismo patoló- Forças Armadas tornar-se-iam, efetivamen-
gico”, por meio do qual os civis confiam aos te, as fundadoras da novel República, res-
militares o desempenho de um papel mode- tando claro a lacuna deixada pela socieda-
rador, em determinados momentos históri- de civil, despreparada para conduzir e de-
cos, para “recompor” a vida política nacio- fender o Estado Democrático.4 As forças he-
nal2 (STEPAN, 1975, p. 51). terogêneas que apoiaram o movimento re-
publicano incluíam desde os republicanos
As intervenções militares e a autênticos aos monarquistas escravagistas
República antagonizados com o regime após a aboli-
ção. É certo, contudo, ter faltado igualmente
aos militares um projeto de governo, imbuí-
1. Raízes das crises dos que estavam apenas do ideário salva-
cionista. A Proclamação da República cons-
A intervenção das Forças Armadas em cientizara o Exército de sua importância ins-
1964 assumiu, efetivamente, a função ideo- titucional – num processo que se iniciou a
lógica de arbitragem ao proteger a burgue- partir da Guerra do Paraguai – corroboran-
sia e conter o avanço dos movimentos po- do a crença da superioridade moral militar
pulares diante da crise institucional. O mo- sobre a civil. A conseqüência imediata foi a
delo moderador, porém, se romperia com a politização das Forças Armadas, constata-
implantação de um regime militar gestado da pelos vários oficiais nomeados governa-
ao longo das várias décadas do período re- dores de Estado e eleitos para o Parlamento.
publicano 3. A parcela de gastos militares aumentou,
A história noticia a intervenção política mas as violentas lutas internas havidas nes-
das Forças Armadas a partir da Proclama- se período exporiam a organização à atua-
ção da República. Retrocedendo ao período ção dos grupos externos, minando a tentati-
imperial, a vitória brasileira na Guerra da va de implantação de um projeto endógeno.
Tríplice Aliança faria o Exército emergir Após o segundo governo militar conse-
como uma força capaz de mudar os rumos cutivo, os civis alçaram ao poder buscando
políticos da Nação, recrudescendo o ideal implantar uma Nova Ordem Civilista5 . A
republicano. estratégia adotada por Prudente de Morais
A geração de Caxias e Osório, forjada nos foi enfraquecer o poderio das Forças Arma-
campos de batalha do Paraguai, seria suce- das realizando cortes no orçamento, o que
dida por oficiais que não guardavam senti- acarretaria a falta de materiais e equipamen-
mento de lealdade para com o monarca. tos, atingindo de modo contundente a for-
Some-se a isso a visão patriarcal da época, mação profissional dos oficiais. A consecu-
temente à possibilidade de o sucessor do tro- ção de tal objetivo explica o fracasso retum-
no ser uma mulher, casada com um estran- bante das expedições de Canudos e põe à
geiro, que sobre ela exercia grande influên- mostra a estagnação provocada pela dou-
cia (O EXÉRCITO na história do Brasil, 1998, trina do soldado-cidadão que impediu a

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modernização da Instituição e o florescimen- deira, apresentava-se como a instituição re-
to de um pensamento militar autóctone. publicana restauradora dos males tradicio-
Um fato, no entanto, abalaria essa estru- nais do regime7.
tura estamental. Durante a presidência do Internamente, a Primeira República ago-
Marechal Hermes da Fonseca, um grupo de nizava. A campanha presidencial de 1922,
jovens oficiais enviados para estagiar junto palco de um novo incidente envolvendo os
ao Exército Alemão havia retornado ao Bra- militares – uma carta falsa atribuída a Ar-
sil com novas idéias e desencadearia uma thur Bernardes, candidato governista, ofen-
campanha pelo aperfeiçoamento profissio- dendo o Exército –, constituiria-se no marco
nal da Arma. Eram os chamados Jovens inicial de um ciclo de rebeliões, prenúncio
Turcos6, que propugnavam só poder o Exér- de uma revolta maior, que sacudiram o país
cito desempenhar sua missão de defesa ex- ao longo dos anos vinte, historicamente de-
terna com uma força efetivamente profissio- nominado de Movimento Tenentista8.
nal e apolítica. Combatido pelo próprio Exército como
A idéia da despolitização agradou as força legalista e anti-revolucionária, o tenen-
classes políticas, ciosas de uma oportuni- tismo canalizou as aspirações de mudanças
dade para afastar os militares do poder de- dos segmentos sociais descontentes, enfren-
cisório estatal, mas, a despeito da ênfase no tando os setores autoritários conservadores e
profissionalismo, o sentimento de interven- influenciando a esquerda revolucionária.
ção armada não fora sepultado. A necessi- Desafiadores, os “tenentes” protagoni-
dade de substituir o sistema de governo cor- zariam em 1924 seu mais glorioso feito: a
rupto – articulada desde de 1880 – reviveria Coluna Prestes, que, durante dois anos, ado-
em 1920 quando os tenentes, rebelando-se tando a tática da guerra de guerrilha, per-
contra Arthur Bernardes, iniciaram o ciclo correu cerca de 25 mil quilômetros e atra-
das intervenções militares que só termina- vessou 14 estados da Federação fazendo
ria em 1964. propaganda da revolução. Pretendiam os
revolucionários a derrocada do regime e a
2. As crises constitucionais implementação de reformas sociais.
A Coluna se dissolveria em 1927 com
a. O período de 1920 a 1930 seus principais líderes exilando-se na Bolí-
via e Paraguai; não obstante, a República
A década de 20 seria marcada por um Velha chegava aos seus estertores.
clima de turbulência e insatisfação social, O episódio final desenrolar-se-ia na cam-
bem como por transformações significativas panha eleitoral de 1929 com Getúlio Var-
na Ordem Internacional. gas, opositor do paulista Júlio Prestes, ten-
O Primeiro Conflito Mundial, ao revisar do sido derrotado em eleições fraudadas,
o conceito tradicional de guerra, atingiria fato que fez eclodir uma revolta no Rio Gran-
diretamente as Forças Armadas, conscien- de do Sul.
tizando-as do obsoletismo bélico e tecnoló- Era o fim da “política dos governado-
gico nacional. res” e o início da era Vargas.
Impunha-se a modernização. O Exército
Francês vitorioso seria a força bélica esco- b. O período de 1930 a 1945
lhida para conduzir o processo. Atuando A deposição de Washington Luiz pelos
inicialmente nas Escolas de Formação, a Comandantes das Forças Armadas e a ins-
Missão Francesa enfatizava a necessidade tauração do governo provisório chefiado por
de se conhecer profundamente os problemas Getúlio Vargas encerram a Primeira Repú-
nacionais, e o Exército, reflexo da Nação, blica com a renovação dos dirigentes do
corpo uno integrado pelo povo e pela ban- Estado.

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No quadro convulso vivenciado pela tralizador e a defesa da segurança interna
Nação, o Exército, confuso e dividido, uma pelos militares. Para ele, o Exército consti-
vez que a maioria dos oficiais superiores não tuía-se num órgão fundamentalmente polí-
haviam participado da Revolução, cindiu- tico cuja responsabilidade era forjar uma
se em dois grupos ideologicamente diver- consciência coletivista “de políticos do Exér-
gentes: os reformistas, defensores da idéia cito e não de políticos dentro do Exército”
de que países periféricos como o Brasil de- (1937, p. 181)11. O individualismo deveria
veriam ser tutelados pela corporação, e os ser suprimido de forma a assegurar a orga-
apolíticos, de postura menos intervencionis- nização econômica e o progresso. Igualmen-
ta, mas propugnadores do salvacionismo te, deveriam ser asseguradas a justiça e a
militar como solução para resgatar o Esta- liberdade, valores compatíveis com a segu-
do das ambições pessoais que o ameaçavam. rança nacional. As idéias de Góes MON-
Impunha-se estabelecer a unidade no TEIRO eram, pois, consoantes com o coope-
interior da Força e Vargas, com sua notável rativismo do Estado Novo varguista12.
habilidade, cooptaria os tenentes, dando- Por fim, a II Guerra Mundial aceleraria o
lhes promoções rápidas e cargos importan- processo de desenvolvimento brasileiro.
tes no início do governo9. A participação Vargas e sua política pendular entre o Eixo
dos tenentes na Revolução Constituciona- e os Aliados acabou por escolher o lado cer-
lista de 1932 lutando ao lado do Governo to, na hora certa. Sob o compromisso norte-
Federal revela a importância daqueles ato- americano de construir a Usina de Volta
res nos primórdios da Segunda República10. Redonda, o Brasil cedeu uma base aérea no
Mas a “guerra paulista” aceleraria o Nordeste, estreitando as relações entre os
processo de constitucionalização – a dois Exércitos. A decisão de ingressar no
exemplo das eleições de 1933 para a As- conflito em 1942 fortaleceu ainda mais os
sembléia Nacional Constituinte – recom- laços de amizade e interesses entre as For-
pondo antigas alianças com os grupos ças Armadas, dos dois Estados. A Força
oligárquicos regionais descontentes, o Expedicionária Brasileira (FEB), única gran-
que acabou por provocar o alijamento dos de unidade militar latino-americana a lutar
tenentes do poder. na Europa, gerou reflexos e conseqüências
A compreensão da atuação dos milita- intensas internamente. Os febianos, com a
res na década de 30 passa, obrigatoriamen- experiência adquirida junto aos americanos,
te, pelo General Pedro Aurélio de Góes puderam avaliar o atraso, sobretudo políti-
MONTEIRO (1937), personagem proemi- co, da Nação. Pressionado, Vargas promete
nente da historiografia brasileira, cujas crí- eleições, mas em outubro de 1945 acabaria
ticas e sugestões a propósito da reorganiza- sendo deposto pelas Forças Armadas, que,
ção do Exército durante a Revolta Constitu- uma vez mais, seguindo o modelo modera-
cionalista mereceram a atenção de Vargas, dor, devolveram o governo aos civis. Con-
que o convidou para Ministro da Guerra. vocado novo pleito eleitoral, o General Du-
Sua visão sobre as Forças Armadas era tra, candidato apoiado por Vargas, sai vito-
dicotômica. De um lado, o Exército se lhe rioso, tendo como opositor o Brigadeiro
afigurava uma instituição desorganizada e Eduardo Gomes. A escolha de dois candi-
ineficaz, que necessitava de profissionali- datos militares quis significar serem eles
zação, recrutamento e um sistema de pro- mais confiáveis do que os civis para condu-
moções. De outro, considerava a corpora- zir o processo de transição13.
ção militar como a única instituição verda-
deiramente nacional, de importância vital c. O período de 1945 a 1950
para a unidade do país. Concernente à are- A vitória da democracia na II Grande
na política, defendia um governo forte e cen- Guerra evidenciou a necessidade de o Bra-

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sil realinhar-se à nova conjuntura política tou-se praticamente para o proletariado ur-
mundial. bano. A primeira grande crise do segun-
O período que compreende os anos de do governo varguista eclodiria quando
1945 a 1950 caracterizou a transição do Es- os militares lançaram o Manifesto dos
tado Novo para a Terceira República. Elei- Coronéis contra João Goulart, seu Minis-
ções em 1945 deram a vitória a Dutra, apoia- tro do Trabalho.
do por Vargas. Foi uma administração tran- A infiltração de oficiais comunistas na
qüila, respaldada pela sociedade civil, sob ala nacionalista deu pretexto para que hou-
a égide da qual promulgou-se a Constitui- vesse um expurgo no dispositivo militar,
ção de 1946 de cunho liberalizante. incluindo a exoneração de oficiais-generais
No Exército, a corporação dividia-se en- de importantes comissões. Tais aconteci-
tre os nacionalistas ligados ao PTB e PSD e mentos acabaram de inviabilizar a frágil
os internacionalistas que se identificavam sustentação política de Vargas pelas Forças
com a UDN, integrando este último grupo Armadas.
os participantes da Força Expedicionária Em 1954, seguida a forte campanha
Brasileira, que, visando alcançar uma posi- pela renúncia, Vargas suicida-se, assu-
ção de destaque no interior das Forças Ar- mindo o governo o Vice-Presidente Café Fi-
madas, criaram a Escola Superior de Guer- lho. Nas eleições que se seguiram, Juscelino
ra – ESG14. Kubitschek e João Goulart foram lançados
A doutrina da ESG associava os méto- pelo PSD e pelo PTB candidatos a Presiden-
dos de raciocínio cartesiano ensinados pela te e a Vice-Presidente, respectivamente, e ti-
Missão Francesa com as técnicas de plane- veram como principal opositor um antigo
jamento aprendidas com os americanos tenente, Juarez Távora, indicado pela UDN
durante a guerra. Seu projeto inicial consis- e apoiado pela corrente neoliberal do Clube
tia em analisar os problemas brasileiros Militar. Os políticos udenistas, antigos opo-
dentro de um contexto global, priorizando sitores de Vargas, faziam apelos para que
a segurança nacional. Propunha, outrossim, os militares interviessem no processo polí-
a interação de grupos civis com os oficiais tico, mas a maioria dos oficiais defendia a
das Forças Armadas, modelo que seria de- postura legalista.
cisivo para explicar a congruência de valo- Vitorioso nas urnas, Kubitschek teria seu
res dos setores conservadores da sociedade mandato ameaçado pela oposição udenis-
e a intelligentzia militar na articulação e vi- ta, que sustentava a tese golpista de os can-
tória do Golpe de 1964. didatos não haverem obtido maioria abso-
luta dos votos. Julgado improcedente o pe-
d. O período de 1950 a 1964 dido pelo Tribunal Superior Eleitoral, seto-
A candidatura de Vargas à presidência res conservadores procuraram obstaculizar
em 1950 teve como sustentáculo o trabalhis- a posse dos eleitos.
mo e o nacionalismo. No seio das Forças Um grupo de oficiais liderados pelo pró-
Armadas, os oficiais internacionalistas en- prio Ministro da Guerra, General Henrique
cararam-na com desconfiança, mas a ala Duflles Teixeira Lott, planejou, então, um
nacionalista liderada pelo General Estillac contragolpe para garantir a legalidade e
Leal, Presidente do Clube Militar e mais tar- assegurar o “Retorno aos Quadros Consti-
de Ministro da Guerra, apoiava-a. tucionais Vigentes”. Na noite de 11 de no-
Ao reverso do ocorrido no período dita- vembro de 1955, Lott não só deporia o Presi-
torial, Vargas acreditou não possuírem os dente em exercício Carlos Luz, como impe-
militares condições efetivas para influírem diria o regresso de Café Filho – que se en-
na vida nacional. Com isso, o orçamento das contrava hospitalizado – entregando a che-
Forças Armadas foi reduzido e Vargas vol- fia do Poder Executivo Federal ao Presiden-

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te do Senado, Nereu Ramos, que empossou mentos dos sargentos e marinheiros rompe-
Kubitscheck e Goulart. ram com a estrutura de comando. Eles pas-
O tempo que seguiu foi de grande turbu- saram a agir como uma categoria social dis-
lência nas Forças Armadas, com pequenas tinta, com interesses cooperativistas e polí-
revoltas lideradas por oficiais da Aeronáu- ticos próprios, o que colocava em questão,
tica. A cisão se acirrou com a campanha pela a primeira vez na história brasileira, a
presidencial de 1960. Logo após a vitória possibilidade de uma mudança no estatuto
de Jânio Quadros, candidato oposicionista, de classe da burocracia militar (SILVA,
o novo Ministro da Guerra iniciou uma 1984, p. 29).
campanha de pacificação, transferindo os Os clubes militares fizeram manifestos
oficiais de esquerda para guarnições dis- contra a situação e oficiais legalistas não
tantes do Rio de Janeiro, pondo fim à agita- tinham mais argumentos para evitar a que-
ção no Clube Militar. da do Presidente. Apoiados por um forte
Com sua política contraditória, Jânio esquema que reuniu os políticos, a igreja, a
Quadros causava constrangimento nos sociedade conservadora e a elite detentora
meios militares. O golpe teatral da renúncia dos meios de produção e financeira, em 31
em 1961 revelar-se-ia uma impostura malo- de março de 1964, as Forças Armadas assu-
grada que visava o recrudescimento do re- miriam o controle do Estado.
gime e a recondução do Presidente com po- A compreensão do papel das Forças Ar-
deres ditatoriais15. madas no período que permeia os anos de
O vice, João Goulart, em viagem à China, 1945 a 1964 passa, obrigatoriamente, pela
havia feito pronunciamento contra os mili- Constituição de 1946, que, em seu artigo 177,
tares revelando a intenção de estabelecer no dispunha sobre as funções da instituição
Brasil uma República Sindicalista na qual militar na estrutura jurídico-política do Es-
a força de trabalho urbano substituiria a for- tado.
ça militar como principal elemento de apoio À semelhança do artigo 162 da Carta
ao governo16. Constitucional de 1934, a Lei Fundamental
Os ministros militares opuseram-se à de 1946 estabelecia, verbis:
sua posse, fato que daria ensejo à primeira “Art. 177 – Destinam-se as Forças
grande ruptura nas Forças Armadas com a Armadas a defender a Pátria e a ga-
insubordinação do III Exército no Sul do país rantir os poderes constitucionais, a lei
e a ameaça de uma guerra civil. e a ordem”.
O regime parlamentarista traduziu-se Referida preceituação atribuía claramen-
num rearranjo institucional para dar posse te às Forças Armadas a função de árbitro –
a João Goulart, que, ao assumir a Chefia do legal ou supralegal – entre os segmentos
Poder Executivo, envidaria todos os esfor- econômico-sociais, sócio-políticos e políti-
ços para restaurar seus poderes presidenci- cos, erigindo a cânon constitucional os in-
ais 17. Inspirando-se no modelo varguista, teresses capitalistas e a ordem burguesa.
governaria com o apoio do proletariado ur- Da função moderadora decorria a fun-
bano e controlaria os militares com nomea- ção de intérprete da norma jurídica, cuja
ções políticas. Promoveu e colocou em posi- pretensão exegética consistia em determinar
ções de destaque os chamados “generais do quem poderia exercer o poder e ter acesso
povo”, política que causaria sérios proble- ao aparelho de Estado. Dita regulação afe-
mas ao seu governo, nomeadamente a que- tou profundamente a dinâmica política, so-
bra da hierarquia, bem ilustrada pelas Re- bretudo no que concernia aos partidos, vez
voltas dos Sargentos e dos Marinheiros. que suas relações não estavam demarcadas
Ora, a hierarquia é o principal pilar de por uma estrutura burocrática definida. Os
sustentação da estrutura militar e os movi- mecanismos seletivos passaram a ser atri-

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buição da instituição mantenedora da or- as horas, a exigir vigilância constante e per-
dem: as Forças Armadas (WRIGHT, 1984)18. manente; sobretudo porque, no seu concei-
Nesse sentido, detinham os militares o po- to moderno, tinha lugar no interior do pró-
der de caracterizar comportamentos, perso- prio Estado. Ela era “total”20 e haveria de
nalidades e soluções ameaçadoras ao regi- ser combatida com os mecanismos de defe-
me, cabendo-lhes a última palavra sobre si- sa interna firmados pela doutrina da segu-
tuações específicas. A ilegalidade do Parti- rança nacional.
do Comunista em 1946 e as limitações sofri- As conseqüências da doutrina da segu-
das pelo PTB exemplificam a distorção es- rança foram nefastas. Ela perpetrou a alte-
trutural do sistema. ração da política tradicional e o aniquila-
Essa situação anômala trouxe no seu bojo mento de dissensões ao suprimir a diferen-
o germe da crise política ao longo de toda a ça entre os meios de pressão violentos e não
transição do governo, constituindo um enor- violentos, permitindo-se obter a segurança
me incentivo para que as facções em luta pelo por ambas as formas ou, pior ainda, destru-
poder transbordassem os limites constitucio- indo as barreiras das garantias constitucio-
nais e apelassem para o Golpe de Estado. nais; isso, no âmbito interno. No plano ex-
Concomitantemente, o cenário mundial terno, significou a extinção da fronteira en-
da Guerra Fria alteraria profundamente o tre a guerra e a diplomacia. Ademais, essa
papel das Forças Armadas na conjuntura doutrina desfez a distinção entre política
interna brasileira. Isso porque a concepção externa e política interna. O inimigo estava
de guerra sofreu uma total revisão após ao mesmo tempo dentro e fora do país. O Exér-
1945, gerando o afastamento dos países sub- cito passou a atuar como força “policiales-
desenvolvidos de um eventual conflito ex- ca”, à medida que a “guerra” ganhava unici-
terno. Ora, tal afastamento surtiu um efeito dade. E, finalmente, a segurança nacional
vital sobre as Forças Armadas. Era a perda igualou a violência preventiva à repressiva.
de sua função precípua. Criadas para uma Essa estratégia dissolvente, cujo objeti-
guerra externa, a História mostra e a insti- vo a longo prazo foi a desmoralização das
tuição pressentia que um organismo resi- instituições liberais e o afastamento popu-
dual pode durar, mas dura pouco e acaba lar do processo de organização do poder,
descartado. Não tendo mais essência, não reforçou a intervenção militar, a condução
teria mais função. Daí a providência de ter- do Estado pelas classes dominantes e a
se atribuído às Forças Armadas a manuten- união multinacional21 .
ção da ordem interna, a fim de legitimar sua O Ato Institucional de 9 de abril de 1964
existência19. selaria juridicamente o fim da Terceira Re-
A doutrina de segurança nacional, fruto pública que, sob o aspecto político, já fora
da divisão do mundo em zonas de influên- derrubada de fato dez dias antes pelo movi-
cia, estabelecida pelos Tratados de Yalta e mento armado de 31 de março22, coroando o
Postdam, viria como resposta a um tipo de início de governo despótico, fadado a durar
justificação: o avanço do comunismo sovié- vinte anos.
tico e a submissão do mundo à Rússia de Sua edição mudou o cenário histórico
Stalin. nacional. A implicação era evidente: a polí-
A perpetuação do contexto bélico global tica de compromisso tinha sido desacredi-
incitou uma inversão perversa da fórmula tada pelo jogo “ultrademocrático” de Gou-
de Clausewitz ao reduzir a política à conti- lart. A intervenção do Exército era um retor-
nuação da guerra por outros meios. A guer- no à mensagem autocrática apregoada por
ra não mais se revestia do seu processo con- Jânio Quadros responsabilizando os “po-
vencional, ela era “fria”, “ideológica”, líticos” pela condução do Brasil ao caos
processava-se em todos os campos, a todas (SKIDMORE, 1976, p. 373).

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Profundamente descaracterizada, a Car- Ministro da Justiça no Governo Geisel, res-
ta de 1946 teria uma sobrevida formal que se saltava o general Humberto Castelo Branco
dilatou até a promulgação da Constituição como figura central que coordenou a ação
de 24 de janeiro de 1967. Mas, a partir do pri- no alto comando contra o governo deposto.
meiro Ato Institucional, ela não passaria de De igual modo, adesões de última hora
uma sombra ou fantasma de Constituição. ao movimento, como as dos Generais Costa
e Silva, Justino Alves Bastos, Amaury Kruel,
O regime militar de 1964 Floriano Machado e outros, são considera-
das ora importantes e decisivas, ora irrele-
O golpe de Estado perpetrado em 1964 vantes e puramente oportunistas, segundo
resultou mais de uma conexão existente en- as preferências e o ângulo de observação dos
tre a sorbonne brasileira, haurida na Escola historiadores e analistas.
Superior de Guerra, com o empresariado O certo é que a vitória de 1964 revelou a
clientelista, a tecnoburocracia, os grandes ausência de um projeto de poder militar,
proprietários rurais e urbanos, os cartéis como de resto não vislumbraram os grupos
multinacionais e a classe média tradicional militares esquerdistas-nacionalistas que
que tinha a grande imprensa como porta- gravitam em torno de João Goulart qualquer
voz do que, propriamente, de um movimen- estratégia articulada de governo.
to conspiratório militar-corporativista, sem Evidente, pois, no processo histórico bra-
qualquer ligação com a sociedade civil23. sileiro – ao reverso do ocorrido na América
Isso se vê claro em agosto de 1961, quan- Latina –, a incapacidade das Forças Arma-
do os ministros militares, na tentativa de das de moldar uma institucionalidade ex-
impedir a posse do vice-presidente eleito clusivamente militarista. E isso por uma ra-
João Goulart, agindo pro domo suae, à inteira zão elementar, o Exército, Marinha e Aero-
revelia das forças populares e mesmo das náutica do Brasil, compostos pelos mais
classes conservadoras, colheram um rotun- variados estratos sociais, não constituíam
do fracasso político-militar, dado o isola- uma classe social propriamente dita. Per-
mento do putsch circunscrito, unicamente, tencendo seus integrantes às várias cama-
ao estamento. das da população, tornavam-se permeáveis
Colocando no patamar devido a partici- às motivações ideológicas de natureza de
pação dos militares nos eventos de 1964 e classe ou política, em confronto com os prin-
os desdobramentos inevitáveis que se lhe cípios da hierarquia e da disciplina, base
seguiram no chamado ciclo dos militares no da organização castrense.
poder, deve-se considerar a conjugação de Como instituição permanente, qualquer
interesses entre a facção militar das Forças tentativa de aliciamento da tropa e da
Armadas Brasileiras ligadas à ESG – não oficialidade com objetivos políticos esbar-
necessariamente majoritária, mas plena- rava na formação espartana, que é o sentido
mente atuante e articulada – e os setores or- de sua profissionalização. Mas, como parte
ganizados do capital e da tecnoburocracia integrante do povo, não estava imune às
civil, que viam no avanço populista de Gou- suas lutas e aspirações.
lart um obstáculo aos projetos de segurança Dito axioma prova que, a despeito de te-
nacional a que se julgavam avalistas. rem tido papel saliente em 1964, não foram
Surpreende a inexistência de um plano os militares os únicos e exclusivos respon-
único de conspiração visando a tomada do sáveis pelo establishment que se criou. Con-
poder. Enquanto o General Carlos Luiz quanto decisiva sua participação, tiveram
Guedes atribuía às forças militares sedia- papel coadjuvante, quiçá secundário, sem
das em Minas Gerais a responsabilidade embargo de mantenedores da ordem auto-
pelo início da sublevação, Armando Falcão, crática.

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 249


Dessa maneira, o sonho tenentista de miam o debate sobre temas nacionais, re-
uma modernização conservadora executa- ceosos de eventuais cisões dentro do movi-
da por um Estado despolitizado somente mento. Na confusão que se seguiu aos pri-
iria perdurar até esgotar-se a junção de inte- meiros dias do golpe, os chefes militares e
resses da elite orgânica e das Forças Arma- civis voltar-se-iam para o único grupo que
das. Passado esse momento, os militares – tinha idéias para governar o país: Castelo
fiadores da ordem autoritária – foram ex- Branco e os oficiais da ESG. Pairava no seio
cluídos da dinâmica política, por terem se das Forças Armadas um elevado clima de
tornado aliados incômodos de uma elite já expectativa de serem seus integrantes os
reforçada em seu poder hegemônico. mais preparados para o exercício do gover-
no; idéia reforçada por segmentos civis da
Conclusão sociedade que partilhavam os mesmos pon-
tos de vista dos militares.
Muito se discute porque somente em Mas o regime implantado em 1964 des-
1964 os militares, após realizarem diver- cortinaria problemas idênticos aos dos re-
sas intervenções na ordem constitucional gimes civis. Embora tenha ocorrido um con-
brasileira, resolveram perpetuarem-se no siderável desenvolvimento social e econô-
poder, abandonando a antiga posição de mico, os desequilíbrios regionais, a pobre-
devolvê-lo à classe política. za, o analfabetismo e a corrupção evidenci-
Em geral, os governos necessitam esta- ariam a falácia da mística militar e o fracas-
belecer planos dirigentes. O projeto esboça- so de uma utopia que não se concretizou.
do na ESG que nunca chegou a definir-se,
tampouco concretizar-se, consistia na supe-
ração da heterogeneidade e na obtenção da Notas
homogeneidade. Para tanto, o desenvolvi-
1
Frase atribuída a um oficial da República
mento econômico impunha-se como fator
Dominicana.
fundamental, ressalvadas as condições de 2
Neste ponto, cumpre abordar as várias teorias
segurança essenciais para sua implemen- acerca da intervenção dos militares na política, ade-
tação (HAYES, 1991, p. 224). Tendo como quando-as ao contexto nacional, a fim de que sua
suporte estratégico-ideológico a doutrina de transculturação não provoque distorções ou inter-
pretações equivocadas, posto a maior parte delas
segurança nacional, as Forças Armadas ten-
terem sido formuladas utilizando conceitos e noções
taram empregar os princípios organizativos paradigmáticas aplicáveis ao Hemisfério Norte.
da instituição militar no reordenamento do José NUM (1970), ao examinar o tema, concen-
Estado Brasileiro24. tra sua investigação na hipótese de a intervenção
Ocorreu, contudo, que essa idéia, cuja das Forças Armadas resultar dos valores e origem
social dos militares. Isso porque, os Exércitos sul-
principal meta consistia na implantação de
americanos, recrutando seus oficiais no seio da clas-
mudanças significativas na sociedade bra- se média, os constituiriam em defensores dos inte-
sileira, sequer foi discutida, posto que leva- resses daquela classe, a sua classe. Mais seria a
ria as diversas correntes de pensamento própria classe média que instigaria os militares a
existentes nas Forças Armadas a entrarem intervirem no processo político a exemplo das gran-
des mobilizações anteriores ao golpe de 1964.
em conflito.
Criticando a posição de serem as classes médias
Os temas que no período de 1963 a 1964 heterogêneas e divididas, Alfred STEPAN (1975)
uniram os militares e permitiram alcançar questiona a viabilidade das Forças Armadas em
um alto grau de coesão foram o anticomu- representá-las politicamente. Stepan observa, ao
nismo, o combate à corrupção e a idéia de analisar o golpe de 1964, que os acontecimentos
subseqüentes, vg: a extinção dos partidos políti-
que a organização militar estaria ameaçada cos, a intervenção nas Universidades, as restrições
pela República Sindicalista de Goulart. Logo às liberdades civis, entre outras violações à ordem
após 31 março de 1964, muitos oficiais te- democrática, atacaram frontalmente as instituições

250 Revista de Informação Legislativa


representativas daquele segmento social, daí sua suplício dos seus concidadãos. Nunca fizemos de
violenta oposição ao governo militar. nenhum dos ministros de sua majestade um gran-
Samuel HUNTINGTON (1957), por seu turno, de homem. Até hoje só conhecemos um verdadeiro
sustenta que a verdadeira causa das intervenções estadista na nossa pátria, e foi o velho José Bonifá-
não é militar, mas política; elas não refletem as cio, cuja influência a Monarquia inutilizou. E nem
características sociais e organizacionais do esta- admira que aconteça; porque apoiado em uma cons-
blishment militar, mas a estrutura política-institu- tituição, que lhe permitia transformar-se legalmen-
cional da sociedade. Segundo ele, o processo de te em um ditador digno e firmado sobretudo nos
modernização cria novos atores políticos – classe nossos antecedentes históricos que lhe assegura-
média, trabalhadores e camponeses – que exercem vam o ascendente do poder central, o Sr. D. Pedro
pressões e demandas sobre o sistema político. Quan- II só soube tornar-se o chefe da oligarquia escravis-
do tais demandas e pressões tornam-se superiores ta, ou o que é o mesmo, dos nossos partidos cons-
à capacidade de absorção do Estado, inviabilizam- titucionais”.
se as soluções para dirimir os conflitos. A troca de Ao cabo, tratava-se de uma verdadeira doutri-
fases no processo de modernização cria, portanto, na antimilitarista que sugeria como solução para
uma desordem institucional, e os militares são os problemas das Forças Armadas nacionais o li-
chamados a intervir para restabelecer o status quo cenciamento geral das tropas e sua substituição
dominante. Por outras palavras, eles serviriam de pela gendarmeria. Nas palavras de Oliveira TOR-
escudo protetor ao regime, potencialmente amea- RES (1943, p. 272-273), “um militar positivista te-
çado pelas classes subalternas. ria de se envergonhar da farda como Benjamim
Na interpretação de Samuel FINER (1982), a Constant (...), ou então ser um mau positivista e
intervenção militar é concebida como resultado da passar o dia inteiro a trair os postulados de sua fé.
vontade política da sociedade que a motivou, como Ficaram todos diante de um dilema terrível: ou ser
também pelo desejo implícito das Forças Armadas um mau soldado ou ser mau positivista. Acaba-
em defender a soberania nacional. ram muitas vezes por serem maus soldados, tor-
Por fim, Guilhermo O’DONNELL (1972) de- nando-se naquela estranha e contraditória concep-
senvolveu a interessante teoria da transição do go- ção do cidadão fardado”.
4
verno populista para o burocrático-autoritário com Joaquim NABUCO (apud HAYES, 1991, p.
base em justificativas econômicas. Três tipos de 77) descreveria o início da República com as se-
sistemas políticos são identificados: o oligárquico, guintes palavras: “No dia em que se proclamou a
o populista e o burocrático-autoritário. No oligár- República, podia-se perceber que a nação queria
quico, a competição política é limitada; a elite do um governo militar para manter a unidade, porque
setor de exportação de produtos primários contro- o espírito militar prevalecia de um canto a outro do
la o Estado. No populista, há uma coligação entre País, vale dizer, tinha amplitude nacional”.
as elites industriais e o setor popular urbano. A Nas disposições transitórias da Constituição
principal meta do sistema é expandir os meios de de 1891, previu-se a eleição indireta para o primei-
produção e encorajar as massas a consumi-los. No ro Presidente da República, pois o povo não estava
burocrático-autoritário, os atores políticos são os preparado para o voto livre (O EXÉRCITO..., 1998,
tecnocratas civis e militares. A participação popu- p. 12).
5
lar é eliminada em nome de uma industrialização O liberalismo político oligárquico, discrimina-
avançada. A passagem de um sistema para outro tório, excludente e antimilitarista, teria na Campa-
obedece a uma seqüência histórica, resultado do nha Civilista sua maior expressão.
processo de industrialização e da mudança na es- A Campanha de 1910, conduzida por Ruy Bar-
trutura social, só se fazendo possível por força de bosa, trazia como programa de governo as idéias e
uma intervenção militar. princípios do“liberalismo adaptado” pela oligar-
3
O positivismo retirou o caráter profissionali- quia hegemônica.
zante da corporação e envolveu os militares nas “As oligarquias souberam compreender que as
questões sociais e políticas que agitaram o Brasil tendências nacionalistas e putschistas dos militares
Imperial. Seus ideais eram a abolição do regime poderiam ser postas a serviço de uma política anti-
escravagista, a laicização do poder temporal da oligárquica. Tal sentimento era compartilhado des-
autoridade espiritual, a República, entre reivindi- de a Proclamação da República e exprimia o medo
cações outras. A propósito de tais discussões, Tei- de que as intervenções militares no processo políti-
xeira MENDES (apud FREIRE, 1983, p. 354-355), co nacional acabassem por escapar do controle das
num folheto intitulado Abolicionismo e clericalismo, classes oligárquicas. Em outras palavras, elas pres-
escreveria no ano de 1888: sentiam que o grupo militar poderia, futuramente,
“A respeito do Sr. D. Pedro II observaremos intervir em prol das aspirações políticas voltadas
que é bem triste defesa para um chefe de Estado o para a industrialização. Isto explica o fato de as
dizer-se que o amor do poder o fez co-participar no oligarquias, ao longo de toda a Primeira República,

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 251


terem se constituído em porta-vozes do “civilis- naquele momento, a introdução de um regime de
mo”, propugnando a permanência dos soldados base constitucional era a principal reivindicação dos
na caserna” (ROCHA, 1999, p. 115). grupos oligárquicos, que se sentiam cada vez mais
6
Ficaram assim conhecidos por analogia à in- preteridos pelo governo e temiam o fortalecimento
fluência que os instrutores alemães exerceram so- político dos “tenentes” (A ERA Vargas: 1º Tempo:
bre os oficiais da Turquia (O EXÉRCITO..., 1998, dos anos 20 a 1945, 19- -).
11
p. 74). Era conhecida a crítica de Góes MONTEIRO à
Para exprimir suas idéias, os Jovens Turcos influência positivista no Exército, para ele um fator
fundaram a Revista A Defesa Nacional, cujo primei- de corrosão do espírito castrense.
ro número, publicado em 1913, destacava ser o Aluno brilhante da Missão Francesa, seu trei-
Exército um poderoso instrumento para a modifi- namento reforçou o caráter profissionalizante das
cação de uma sociedade atrasada, defendendo a Forças Armadas e, na década de 30, por meio de
manutenção de uma atitude apolítica por parte dos sua ação, acabaria sendo implantado a idéia do
militares (HAYES, 1991, p. 118). O grupo ameaçou profissionalismo militar a serviço da intervenção
posições estabelecidas no interior das Forças Ar- política.
12
madas e foi por isso bastante hostilizado. Fato decisivo que contribuiria para que os
7
A doutrina militar francesa recrudesceria ain- Generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra as-
da mais a mística militar. Um estudo pormenori- sumissem efetivamente o controle do Exército seria
zado sobre a Missão Francesa pode ser encontrado o fracasso da Intentona Comunista, organizada por
em: MAGALHÃES (1956, p. 349-360). Luiz Carlos Prestes em 1935, e o temor causado
Inexistia, entretanto, hegemonia no interior do nos setores conservadores da sociedade. Houve um
Exército. Três grupos ideologicamente distintos di- grande expurgo dentro dos quartéis e os dois gene-
vidiam a oficialidade: os jovens turcos, seguidores rais, aproveitando-se da farsa de um suposto gol-
da corrente profissional e apolítica; o grupo dos pe integralista, deram apoio a Vargas para instau-
oficiais do alto escalão inspirados em Caxias e, o rar um regime de arbítrio – o Estado Novo – com o
grupo mais atuante, o dos jovens tenentes, defen- propósito de implementar no recém-regime a polí-
sores da superioridade institucional do Exército tica do Exército.
dentro do Estado. O Estado Novo era essencialmente um regime
8
Poppe de FIGUEIREDO (apud HINSON JÚ- militar e, como tal, teve nas Forças Armadas seu
NIOR, 1978, p. 8), um dos generais de 1964, ao principal sustentáculo. Segundo Edmundo Cam-
falar sobre a revolta de 1922, afirmou: “aquela noi- pos COELHO (1976, p. 54), nesse período iniciou-
te marcou o começo do ciclo revolucionário dos se a institucionalização do Exército. Os tenentes
tenentes, que somente alcançou a vitória final em foram cooptados e os extremistas expurgados após
1964”. a Intentona de 1935 e o Golpe Integralista de 1938.
9
Líderes tenentistas como Juarez Távora, João Na Constituição de 1937, no capítulo referente às
Alberto e Juraci Magalhães, entre outros nomes, Forças Armadas, não constava a expressão “den-
ocupariam cargos de relevo na Administração fe- tro dos limites da Lei”, ampliando-se a sua atua-
deral e estadual. Nesse sentido, José Murilo de ção no processo político decisório.
13
CARVALHO (1982, p. 221) afirma que a crise na- Quanto ao golpe de 1945, esclareça-se que a
cional de 1930 eliminou a coalizão dos maiores es- iniciativa foi estimulada, mais uma vez, por gru-
tados da federação, fato que propiciou a estabili- pos civis. Editoriais de jornais conclamavam os
dade política e social, abrindo espaço para um militares a exercer sua responsabilidade constitucio-
maior desempenho das Forças Armadas no campo nal no restabelecimento da ordem jurídica e da le-
político. galidade, comprometidas com a continuação do
10
“O projeto tenentista defendia medidas como presidente ditador.
14
a centralização do sistema tributário, o fortaleci- O comandante da Artilharia da FEB, General
mento das Forças Armadas, a federalização das Oswaldo Cordeiro de Faria, diria em entrevista a
milícias estaduais, a criação de uma legislação tra- Alfred STEPAN (1975, p. 178): “O impacto da FEB
balhista e a modernização da infra-estrutura do foi de tal natureza que, ao regressarmos ao Brasil,
país. Do ponto de vista político, os “tenentes” apro- procuramos modelos de governo que funcionas-
vavam a centralização do poder nas mãos de Var- sem – ordem, planejamento, financiamento racio-
gas e desconfiavam da representação partidária nal. Não encontramos este modelo no Brasil neste
vista como palco para a atuação de grupos volta- estágio, mas decidimos procurar meios de encon-
dos apenas para os seus interesses privados. Isso trar o caminho a longo prazo. A ESG era um meio
significava defender a manutenção de um governo para isto e ela medrou da FEB”.
15
de caráter revolucionário e ditatorial e o adiamento Segundo Ricardo MARANHÃO (1981, p.
do processo de constitucionalização. No entanto, 167), Jânio tinha basicamente três objetivos: pri-

252 Revista de Informação Legislativa


meiro, que os políticos, particularmente os da UDN, qualquer lugar onde o comunismo ameaçasse se
concedessem-lhe poderes excepcionais; segundo, impor aos povos livres.
que as massas que lhe haviam dado mais de cinco A Doutrina Truman visava diretamente à defe-
milhões de votos saíssem em sua defesa e, por últi- sa da Europa contra uma real ou imaginária agres-
mo, que os militares o apoiassem com receio da são russa e, no contexto do pós-guerra, atribuíram-
figura “subversiva” de Goulart na Presidência, como lhe, rapidamente, certo valor de universalidade. Mas
seu substituto legal. seria sob a Presidência de Eisenhower que essa dou-
16
Uma República Sindicalista não significava trina ganharia plena formulação com os pactos de
obrigatoriamente um regime comunista, contudo, segurança coletiva, unindo 50 países da Ásia, Eu-
o fato de os comunistas ocuparem cargos impor- ropa e América. Os Estados Unidos envolveriam,
tantes no governo inspirava o temor de que João dessa forma, o mundo comunista num cordão sa-
Goulart realmente desejava implantar um regime nitário, criando uma “psicose de encarceramento”,
de inspiração soviética. na expressão de Joseph COMBLIN (1978).
17
O lapso temporal entre a renúncia de Jânio e a 3) Por fim, da idéia de guerra fria extraiu-se a
posse de João Goulart revelaria a divisão do poder guerra revolucionária, cujo principal veículo de ma-
estatal entre os militares e o Partido Social Demo- nobra era a guerra psicológica. Por esse veio, e con-
crático – PSD. Nesse período ocorreu um desloca- tando com o auxílio exterior, ela visava à conquista
mento do centro decisório para a cúpula militar. do poder pelo controle progressivo da Nação, utili-
Em contrapartida, restou evidente faltar aos mili- zando formas de subversão e violência para impor
tares um consenso para que, já em 1961, impuses- a concepção marxista-leninista de Estado. Sobre a
sem uma solução política impopular. Na verdade extensão de tais conceitos no Brasil, vide: MA-
estava armado o cenário para uma crise que alcan- NUAL Básico da Escola Superior de Guerra (1977-1978,
çaria seu desfecho em 1964. p. 237-255); BRIGAGÃO (1984); GURGEL (1975).
18 21
Ver, ainda, OFFE (1984, p. 140-177). Numa análise mais apurada, observa-se que
19
Sobre a militarização da América Latina e do a “Doutrina da Segurança Nacional” contém uma
Brasil em específico, consultar: LAMOUNIER identificação espantosa com a “Doutrina Positivis-
(1974); JANOWITZ (1960); LIMA JÚNIOR (1971). ta” tal qual fora concebida no Brasil. Como ocorreu
20
Decorrem da interpretação de “guerra total” na República Velha, repetindo-se em 1964, a linha
os conceitos de guerra generalizada, guerra fria, de interpretação e construção ideológica de ambas
guerra revolucionária e guerra ideológica. as doutrinas visaram respaldar uma distinção de
1) A guerra generalizada parte do conceito ex- classes.
tremamente ambíguo da Junta dos Chefes do Esta- A necessidade de uma “República ditadorial”
do-Maior dos Estados Unidos, que a definia como: em 1890, ou de um “Estado autoritário” em 1964,
“o conflito armado entre grandes potências, na qual revelava-se como condição para se efetivar a “or-
os recursos totais dos beligerantes são postos em dem e progresso” ou a “segurança e o desenvolvi-
ação, e na qual a sobrevivência de uma delas repre- mento”, sem perturbações sociais. Afinal, segundo
senta um perigo” (COMBLIN, 1978, p. 33). Justa- Comte, “o progresso é o desenvolvimento da or-
pondo tal definição à teoria de LUDENDORFF dem, assim a ordem é a consolidação do progres-
(1992, p. 1), segundo a qual a guerra é suprema so”, o que significa que não se podem romper, su-
expressão da vontade de viver de uma raça, a idéia bitamente, os laços com o passado e que toda re-
de guerra total deve ser encarada como uma guerra forma, para frutificar, deve tirar seus elementos da
pela sobrevivência. própria situação vigente a ser modificada (LINS,
A guerra contra o comunismo era, pois, neces- 1964, p. 337).
22
sariamente, uma guerra pela sobrevivência, pela Na interpretação de SKIDMORE (1976, p. 373),
sobrevivência do Ocidente; é uma guerra absoluta, “este Ato do Supremo Comando Revolucionário
a demandar engajamento de todo o povo, absor- era uma resposta nova à crise de autoridade políti-
vendo a política e fazendo-a desaparecer. ca que se evidenciava no Brasil desde os meados da
2) A guerra fria foi a grande inovação. Suas for- década de 50. Quadros tinha se queixado de que
mas eram novas, daí ser preciso combatê-la com lhe faltavam poderes adequados para lidar com o
uma estratégia adequada. Tratava-se de uma guer- Congresso. Goulart repetira a queixa, chegara a
ra permanente, travada em todos os planos – mili- propor um Estado de Sítio em outubro de 1963 e,
tar, político, econômico, psicológico – mas que evi- em princípios de 1964, apresentara diversas pro-
ta o confronto armado. postas específicas para fortalecer o braço do Exe-
O ponto de partida para sua interpretação foi cutivo. O Ato Institucional era, pois, nova e decisi-
dado após a Segunda Guerra Mundial, pela Dou- va resposta à manifesta incapacidade do Executi-
trina Truman, enunciada em 1947, segundo a qual o vo Brasileiro de exercer a necessária autoridade (...)”.
23
comunismo repete o nazismo. Assim, a segurança Mesmo o movimento de retrocesso político
dos Estados Unidos se encontrava ameaçada em ocorrido em 1937 não passou de mera projeção

Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 253


militar, resultado de articulações políticas da socie- HAYES, R. A. Nação armada: a mística militar brasi-
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status quo, do que a tentativa de afirmação e estabe- neiro: Biblioteca do Exército, 1991.
lecimento de um Estado militarista.
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Nesse sentido, consultar DREIFUSS (1981);
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STARLING (1986) e ROCHA (1999).
24 (Mestrado) – Universidade de Columbia, New
Havia uma nítida ligação entre o projeto mi-
York, 1978.
litar pós-64 e o Estado Novo. Basta ver que o Pri-
meiro Ato Institucional foi preparado por Francis- HUNTINGTON, S. The soldier and the state: the te-
co Campos, mentor da Constituição de 1937. As ory and politics of civil-military relations. Cambrid-
idéias de Góes MONTEIRO (1937) seriam revivi- ge: Harvard University, 1957.
das. “Ajustavam-se às circunstâncias o conceito
de que o Exército era um órgão essencialmente políti- JANOWITZ, M. Military institutions and coercion in
co, ao qual interessavam todos os aspectos da verda- developing countries. Chicago: University of Chica-
deira política nacional e a idéia de que “um exército go, 1977.
bem organizado é o instrumento mais poderoso de ______. The professional soldier: a social and political
que dispõe um governo para a educação do povo, portrait. Glencoe: The Free Press of Glencoe, 1960.
para a consolidação do espírito nacional e para a
neutralização das tendências dispersivas” [grifos LAMOUNIER, B. Ideology and authoritarian regi-
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