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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

UNESP

JOÃO PAULO DE CAMPOS SILVA

Rio, 40 Graus:

sua estética e renovação

FRANCA
2018
João Paulo de Campos Silva

Rio, 40 Graus:

Sua estética e renovação

Artigo Final apresentado como requisito


parcial para avaliação na disciplina “As
dimensões políticas e culturais da
contracultura brasileira”.
Profª. Msª. Nívea Lins Santos

Franca
2018
Havia um cinema diferente daquele cinema americano maniqueísta-
protestante. Aí aparece um cinema italiano riquíssimo, mostrando a realidade
e com personagens livres, acontecendo uma identificação imediata. Aquela
realidade europeia depois da guerra assemelhava-se muito com a do cotidiano
brasileiro, mesmo sem exércitos invasores em nosso território. A situação
social brasileira é muito parecida com o pós-guerra europeu: famílias
destruídas, crianças sem lar, meninos de rua, bandidos, violência. Daí a
influência do cinema italiano aqui e em outros países com situação parecida.
Mas, no meu entender, a maior lição do neorrealismo aos cineastas do Terceiro
Mundo foi provar que o cinema pode existir com poucos recursos, esquecendo
os estúdios, as grandes estrelas e a cenografia. A ideia é ir para a rua e filmar
o próprio povo.1

São nessas palavras que podemos observar a visão de Nelson Pereira dos
Santos a respeito do quadro social que figurava no Brasil durante a década de 1950, que
posteriormente serviria como pano de fundo para a elaboração de um longa-metragem,
que representou uma nova maneira de fazer cinema no e sobre o Brasil, deixando de fora
o espetáculo de carnavalização ao qual era associado com frequência. Influenciado pelo
neorrealismo italiano, nascido no pós-guerra como uma nova forma de abordar o mundo
ao redor, Nelson Pereira dos Santos ao gravar “Rio, 40 Graus” trouxe uma nova
perspectiva sobre o Rio de Janeiro, até então capital brasileira, de forma a contestar aquilo
que era tido como sua representação oficial, que enfatizava as paisagens exuberantes e
sua riqueza.

A obra, de início, enfrentou dificuldades para sua elaboração. A falta de


adesão dos grandes estúdios em sua produção – justificada, em partes, pela presença da
imagem das favelas cariocas2 e personagens negros3, cuja presença fomentou debates
acerca de qual imagem deveria ser vinculada ao Rio de Janeiro – a produção se deu por
um sistema de cooperativa entre os envolvidos, “em que cotas do filme seriam vendidas
a terceiros e o lucro distribuído entre os envolvidos”.4 Quando finalizada, a produção

1
Ramos, Paulo Roberto. Nelson Pereira dos Santos: resistência e esperança de um cinema. Estudos Avançados
(USP. Impresso), v. 21, p. 323-352, 2007.
2
PINTO, Carlos. E. P. de. Rio, 40 graus: a disputa pela imagem da capital do Brasil nos anos dourados. Acervo, v.
28, p. 120-131, 2015.
3
Sobre isso, Cf. DUARTE, C. S. A voz do morro: a representação do negro no filme Rio, 40 graus. In: XII
Encontro Estadual de História - História, Verdade e Ética, 2014, São Leopoldo. História, Verdade e Ética: anais. Porto
Alegre: ANPUH-RS, 2014; Ramos, Paulo Roberto. Nelson Pereira dos Santos: resistência e esperança de um
cinema. Estudos Avançados (USP. Impresso), v. 21, p. 323-352, 2007
4
Mariarosaria Fabris apud PRADO, Antônio Teixeira do. A estética da fome em Rio, 40 graus e a
cosmética da fome em Cidade de Deus. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, 2007.
sofreu censura pelo coronel Geraldo de Menezes Cortes, chefe do Departamento Federal
de Segurança Pública, sob acusação do filme enaltecer atitudes delinquentes e somente
apresentar os aspectos negativos da cidade do Rio de Janeiro.

A proibição levantou polêmica e discussões entre os meios intelectuais,


juntamente com uma campanha pela liberação da obra; torna-se importante salientar que,
neste momento, já haviam passado dez anos da ditadura Vargas e a proibição do filme
alçou o caráter ainda autoritário da política cultural do período, deixando vago o real
conceito da democracia vigente. Além disso, neste mesmo período, o Brasil passava por
um grande processo de modernização e industrialização e junto à isso, houve um
crescimento das populações urbanas de maneira desordenada; o grande contingente de
pessoas se estabeleceram na capital, oriundas das migrações do nordeste para o centro-
sul ou de países da Europa, essas pessoas modificaram profundamente a capital brasileira,
fazendo dela uma cidade plural, formada por descendentes de escravos, migrantes
nacionais e imigrantes europeus, mas que possuía claras distinções de cunho social5.
Apesar de estar passando por uma mudança nos hábitos de consumo – reforçados após a
entrada dos meios de comunicação de massa como rádio e a televisão –, a mentalidade se
mantinha majoritariamente conservadora.6 A concentração da renda, que fomentava uma
desigualdade social profunda, aliada ao estilo de vida americanizado, se mostravam como
canais de supressão para uma nova abordagem cinematográfica sobre o Brasil. E é neste
caldeirão de contradições que “Rio, 40 Graus” emerge como uma primeira de reverter o
quadro vigente.

Dito isto, é interessante analisarmos que, no seu início, a indústria do cinema


nacional, não contava com a participação do Estado. Em entrevista, Nelson Pereira dos
Santos afirma:

[...] o cinema não tinha um tostão de dinheiro público, não existia ajuda
do Estado. Caso exemplar da iniciativa privada no cinema foi o de
Ademar Gonzaga, que investiu tudo o que tinha no estúdio e nos filmes
da Cinédia. Aqui em São Paulo, tivemos o Franco Zampari, que fundou

5
DUARTE, C. S. A voz do morro: a representação do negro no filme Rio, 40 graus. In: XII Encontro Estadual de
História - História, Verdade e Ética, 2014, São Leopoldo. História, Verdade e Ética: anais. Porto Alegre: ANPUH-RS,
2014. p. 2.
6
Ibid.
a Vera Cruz, e que não tinha nada de dinheiro público, todo feito com
investimento próprio.7

Destacavam-se então duas produtoras, que muito participaram da formação


do panorama de consumo do cinema nacional no período: a supracitada ‘Vera Cruz’, em
São Paulo, que funcionou de 1949 a 1954 e a Atlântida, no Rio de Janeiro, que funcionou
de 1941 a 1962. A primeira, se mostrava na intenção de “construir uma indústria
cinematográfica brasileira tendo como modelo os padrões hollywoodianos, importando
técnicos e diretores de cinema...”.8 Já a segunda, seguia por caminhos diferentes, uma vez
que seus sets de filmagens eram todos improvisados, com temáticas populares e baixos
custos de produção.9 Ao longo de seus 5 anos de existência na cidade de São Paulo, a
‘Companhia Cinematográfica Vera Cruz’ contou com filmes de produção cara e de temas
literários, como Caiçara (1950) e O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, sendo este o
primeiro filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro, em Cannes.10 Já a Atlântida
Cinematográfica, fundada no Rio de Janeiro, popularizou a indústria cinematográfica com
suas chanchadas, sucessos de público, como Carnaval de fogo (1949) e Tristezas não
pagam dívidas (1943).11

No que diz respeito à participação do Estado na indústria brasileira, apenas


durante o governo Vargas surgiram as primeiras leis de incentivo. Segundo Tania Nunes
Davi, “O interesse “varguista” pelo cinema tinha um cunho pedagógico e publicitário.
Ciente que a população do Brasil possuía um alto índice de analfabetos, os ideólogos do
período viram no cinema e no rádio formas de alcançar a todos os indivíduos letrados ou
não”.12 O DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) teve significativa participação
com a produção de documentários que mostravam “as comemorações e festividades
públicas, as realizações do governo e atos das autoridades”13. Além disso, ainda segundo

7
Ramos, Paulo Roberto. Nelson Pereira dos Santos: resistência e esperança de um cinema. Estudos Avançados (USP.
Impresso), v. 21, p. 323-352, 2007.
8
SILVA, Cleonice Elias da. Rio 40 graus: sua censura e os patamares de uma conscientização cinematográfica.
2015. Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 48.
9
Ibid.
10
DAVI, T. N. Nelson Pereira dos Santos e o cinema brasileiro: trajetórias de luta e renovação. Cadernos da
FUCAMP, Monte Carmelo, v. III, p. 97-118, 2004. p. 4.
11
Ibid.
12
Ibid.
13
Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. Campinas: Papirus, 1998; p.
105 apud DAVI, T. N. Nelson Pereira dos Santos e o cinema brasileiro: trajetórias de luta e renovação. Cadernos
da FUCAMP, Monte Carmelo, v. III, p. 97-118, 2004. p. 5.
Tânia Davi, o DIP incentivou produtores privados na criação de filmes de ficção seguindo
temas propagados pelo governo.

É de dentro desse espaço em que se construía uma cultura cinematográfica


que podemos destacar o cineasta Nelson Pereira dos Santos e sua produção “Rio, 40
Graus”.

A estreia de seu filme marcou uma clara ruptura com a representação usual
da cidade do Rio de Janeiro nas telas de cinema. A nova forma de abordar a capital,
tirando seu status de “paraíso dos trópicos”, trouxe novos ares para o panorama
cinematográfico nacional, e dessa forma, novos significados que não somente
representaram uma nova forma de fazer cinema no país, mas também de enxergar a
realidade brasileira de um novo ponto de vista. É interessante destacar que a importância
da obra por ela ter sido uma das “primeiras narrativas fílmicas nacionais a inserir negros
como protagonistas de produções dessa categoria”.14 O contraste de moradores da favela
com a classe média carioca trouxe à tona o forte quadro da diferença social ainda vigente
no Brasil.

O longa aborda um dia na vida de cinco garotos, negros, da favela, que num
típico domingo tentam vender amendoim em pontos turísticos da cidade, como
Copacabana, o Pão de açúcar e no Maracanã. As motivações estão na necessidade de
arrecadar dinheiro; um deles precisa ajudar a mãe doente que necessita comprar
medicamentos, enquanto os outros querem juntar o valor necessário para comprar, em
conjunto, uma bola de futebol. É interessante observar que independente da razão, as duas
motivações já apresentam um perfil bastante peculiar da infância desses garotos: eles não
têm a presença de um adulto para suprir suas necessidades.15 No decorrer do filme, as
personagens confrontam pessoas em seu dia-a-dia, de modo que o contraste das realidades
são destacadas em um tom de denúncia, reafirmando as diferenças sociais que a sociedade
não fazia questão de esconder.

Nelson Pereira dos Santos abordou a cidade de forma diferente, “[...] mostrou
o morro, os excluídos, as alegrias e dissabores dessa gente - fundindo e vinculando a
realidade deles com a própria realidade do Rio de Janeiro. De certa maneira, os excluídos

14
DUARTE, C. S. A voz do morro: a representação do negro no filme Rio, 40 graus. In: XII Encontro Estadual de
História - História, Verdade e Ética, 2014, São Leopoldo. História, Verdade e Ética: anais. Porto Alegre: ANPUH-RS,
2014. p. 1.
15
Idem. p. 4.
eram assim, incluídos, contextualizados: eles eram a cidade e a cidade era o morro”.16
Sua inovação estava não somente naquilo que mostrava – personagens negros e o outro
lado da realidade da carioca – mas também na maneira como mostrava. A influência do
neorrealismo italiano em seu cinema o fez optar por locações externas que retratassem as
paisagens urbanas, com luz natural e atores não profissionais, tudo isso para aumentar o
caráter de realidade.17

Posto isso, é interessante pensarmos o local em que Nelson Pereira dos Santos
e sua obra “Rio, 40 graus” se encaixam dentro do cenário contracultural brasileiro e sua
influência ao Cinema Novo, significativo movimento cinematográfico que tomou frente
durante os anos em que essa nova forma de cultura insurgia no Brasil. A contracultura,
segundo Roszak, pode ser caracterizada por ser a ação dos jovens, entendida como a
prática daquilo que os adultos criaram em teoria nas grandes universidades. 18 No Brasil,
este movimento deu-se em vários setores artísticos como uma resposta à situação política
e cultural do país.

O filme “Rio, 40 graus” pode ser inserido como um dos marcos fundadores
daquilo que viria a ser um dos maiores movimentos do cinema brasileiro – o Cinema
Novo. Seu pioneirismo em introduzir no Brasil uma nova forma de leitura da realidade
da década de 1950, fora essencial para a abertura de novas discussões não somente no
âmbito artístico, a esfera política fora fortemente criticada e atacada pelos cineastas que
compuseram o movimento. Nelson Pereira dos Santos (1928 – 2018) ao remodelar a
narrativa do filme, com o intuito de se afastar do estilo hollywoodiano de fazer cinema,
inaugurou uma nova forma de contar histórias: de maneira crítica, pretenciosa e que
pretendia desconstruir a visão que era vendida sobre o Brasil, mas principalmente, sobre
o Rio de Janeiro.

 Bibliografia

16
SANGION, Juliana. Realismo e realidade no cinema brasileiro. De Rio 40 Graus a Cidade de Deus. Caligrama
(ECA/USP. Online), v. 1, n.3, p. 2-9, 2005.
17
LAPERA, P. V. A. Rio, 40 graus, Rio Zona Norte: presentation of the field of Brazilian cinema. São Paulo, 2015.
(Tradução/Artigo). p. 178.
18
GUIMARÃES, Felipe Flávio Fonseca.VIII Encontro Regional da ANPUH (MG): dimensões do
poder na História.Traços da Contracultura na cultura brasileira da década de 1960: um estudo comparado entre
movimentos contraculturais nos Estados Unidos e no Brasil. 2012. (Encontro).
DAVI, T. N. Nelson Pereira dos Santos e o cinema brasileiro: trajetórias de luta e renovação.
Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo, v. III, p. 97-118, 2004.

DUARTE, C. S. A voz do morro: a representação do negro no filme Rio, 40 graus. In: XII
Encontro Estadual de História - História, Verdade e Ética, 2014, São Leopoldo. História, Verdade
e Ética: anais. Porto Alegre: ANPUH-RS, 2014.

GUIMARÃES, Felipe Flávio Fonseca. VIII Encontro Regional da ANPUH (MG): dimensões
do poder na História. Traços da Contracultura na cultura brasileira da década de 1960: um
estudo comparado entre movimentos contraculturais nos Estados Unidos e no Brasil. 2012.
(Encontro).

LAPERA, P. V. A. Rio, 40 graus, Rio Zona Norte: presentation of the field of Brazilian
cinema. São Paulo, 2015. (Tradução/Artigo). p. 178.

Mariarosaria Fabris apud PRADO, Antônio Teixeira do. A estética da fome em Rio, 40
graus e a cosmética da fome em Cidade de Deus. Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Linguagem, 2007.

Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. Campinas:


Papirus, 1998; p. 105 apud DAVI, T. N. Nelson Pereira dos Santos e o cinema brasileiro:
trajetórias de luta e renovação. Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo, v. III, p. 97-118, 2004.

PINTO, Carlos. E. P. de. Rio, 40 graus: a disputa pela imagem da capital do Brasil nos anos
dourados. Acervo, v. 28, p. 120-131, 2015.

RAMOS, Paulo Roberto. Nelson Pereira dos Santos: resistência e esperança de um cinema.
Estudos Avançados (USP. Impresso), v. 21, p. 323-352, 2007.

SANGION, Juliana. Realismo e realidade no cinema brasileiro. De Rio 40 Graus a Cidade de


Deus. Caligrama (ECA/USP. Online), v. 1, n.3, p. 2-9, 2005

SILVA, Cleonice Elias da. Rio 40 graus: sua censura e os patamares de uma conscientização
cinematográfica. 2015. Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.

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