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SUMÁRIO

03 DIREITO PENAL
Profa. Nádia Saab

27 DIREITO PROCESSUAL PENAL


Profa. Nádia Saab

56 DIREITO CIVIL
Profa. Mariana Rubini

78 DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Profa. Mariana Rubini

97 DIREITO ELEITORAL
Profa. Mariana Rubini

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DIREITO PENAL
PROF. NÁDIA SAAB

1 - QUESTÃO

No tocante à aplicação da lei penal no espaço, assinale a opção correta:

a) Crime contra o patrimônio da União, praticado em território estrangeiro, será punido


conforme a lei brasileira, se o agente empreender fuga para o Brasil.
b) As hipóteses de extraterritorialidade condicionada atraem a incidência da lei brasileira,
independentemente da dupla tipicidade do fato.
c) A hipótese de extraterritorialidade hipercondicionada pressupõe negativa de extradição
e requisição do Ministro da Justiça.
d) Por força do princípio da reciprocidade, as embarcações e aeronaves estrangeiras, de
natureza pública, são consideradas extensão do território estrangeiro, exceto se localizadas
nas águas ou no espaço aéreo brasileiro.
e) As embaixadas brasileiras situadas em território estrangeiro são consideradas extensão
do território nacional.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: De acordo com o princípio da extraterritorialidade incondicionada


previsto no artigo 7º, inciso I do CP, estão sujeitos à lei brasileira, independentemente de
qualquer condição, embora praticados em território estrangeiro, os crimes:

I - contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

II - contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,


de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público; 

III - contra a administração pública, por quem está a seu serviço;  d) de genocídio,
quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

Assim, crime contra o patrimônio da União, praticado em território estrangeiro, será


punido conforme a lei brasileira, independentemente de o agente empreender fuga para o
Brasil ou qualquer outra condição.

Alternativa B: As hipóteses de extraterritorialidade condicionada estão previstas no

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artigo 7º, inciso II do Código Penal, de forma que, estão sujeitos à lei brasileira, embora praticados
em território estrangeiro, os crimes:

I - que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 

II - praticados por brasileiro; 

III - praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade


privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados; desde que preenchidas as
seguintes condições enumeradas no artigo 7º, § 2º do CP:

a) entrar o agente no território nacional; 

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena e; 

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável .

Denota-se, portanto, que a aplicação da lei brasileira nas hipóteses de


extraterritorialidade condicionada pressupõe, essencialmente, a dupla tipicidade do fato, ao
lado das demais condições citadas.

Alternativa C: Tendo em vista o disposto no artigo 7º, § 3º do Código Penal, estão


sujeitos à lei brasileira, embora praticados em território estrangeiro, os crimes cometidos por
estrangeiro contra brasileiro se, reunidas as condições previstas no artigo 7º, § 2º:

a) negativa de extradição e;

b) requisição do Ministro da Justiça.

Trata-se da denominada extraterritorialidade hipercondicionada, considerando que


a aplicação da lei brasileira pressupõe o preenchimento de condições adicionais em relação
àquelas exigidas para os demais crimes.

Alternativa D: Nos termos do artigo 5º, § 1º do Código Penal, consideram-se


território nacional por equiparação, para fins penais, as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,

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respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Por força do princípio da reciprocidade, as embarcações e aeronaves estrangeiras, de


natureza pública ou a serviço do governo, são consideradas extensão do território estrangeiro,
ainda que localizadas nas águas ou no espaço aéreo brasileiro. Assim, eventual crime praticado
em seu interior sujeitará o agente à jurisdição do país em que registrada a embarcação ou
aeronave.

Alternativa E: Para fins penais, as embaixadas brasileiras situadas em território


estrangeiro não são consideradas extensão do território nacional. Igualmente, por força do
princípio da reciprocidade, as embaixadas estrangeiras situadas no território brasileiro não são
consideradas território estrangeiro por equiparação.

2 – QUESTÃO

Constitui exemplo de norma penal em branco homogênea e heterovitelínea:

a) O crime de prevaricação tipificado no artigo 319 do Código Penal.


b) O conceito de funcionário público previsto no artigo 327 do Código Penal.
c) O crime de tráfico de drogas tipificado no artigo 33 da Lei 11343/06.
d) O crime de extorsão qualificado pela privação da liberdade da vítima tipificado no artigo
158, § 3º do Código Penal.
e) O crime de violação de direitos autorais tipificado no artigo 184 do Código Penal.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Norma penal em branco é aquela que demanda complementação, pela


mesma instância legislativa (homogênea), ou por instância legislativa diversa (heterogênea).
As normas penais em branco homogêneas classificam-se, ainda, em homovitelíneas e
heterovitelíneas, conforme o complemento esteja inserido ou não na mesma estrutura
normativa da descrição típica.

Dessa forma, o crime de prevaricação tipificado no artigo 319 do Código Penal, assim
como os demais delitos funcionais, são normas penais em branco homovitelíneas, porquanto
integram a mesma estrutura normativa do conceito de funcionário público previsto no artigo
327 do Código Penal.

Alternativa B: Conforme exposto no item anterior, o conceito de funcionário


público previsto no artigo 327 do Código Penal integra a mesma estrutura normativa dos
crimes funcionais aos quais serve de complemento. Trata-se, pois, de norma penal em branco

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homovitelínea.

Alternativa C: No tocante aos crimes previstos na Lei 11343/06, o complemento


do preceito primário decorre de instância legislativa diversa. Isso porque, a discriminação das
substâncias entorpecentes proibidas este prevista em portaria editada pelo órgão de vigilância
sanitária integrante do Poder Executivo. Logo, trata-se de norma penal em branco heterogênea.

Alternativa D: O crime de extorsão qualificado pela privação da liberdade da


vítima tipificado no artigo 158, § 3º do Código Penal constitui exemplo de norma penal em
branco inversa ou ao avesso, pois apenas o preceito secundário é incompleto. Neste caso, o
complemento obrigatoriamente se dará por meio de outra lei, sob pena de ofensa ao princípio
da legalidade.

Alternativa E: Por fim, o crime de violação de direitos autorais tipificado no artigo


184 do Código Penal constitui exemplo de norma penal em branco heterovitelínea, pois o
complemento decorre da mesma instância legislativa, mas está inserido em estrutura normativa
diversa, qual seja, a Lei 9610/98 que disciplina a matéria.

3 – QUESTÃO

Acerca do conceito de conduta para fins penais, assinale a opção correta, considerando a
diversidade de teorias existentes sobre o tema.

a) Para a concepção clássica, representada pela teoria causal-naturalista, a ação típica deve
ser concebida como um ato de vontade, dirigido a uma finalidade determinada.
b) Para a teoria causal-valorativa, permanece intacta a concepção clássica de conduta, porém,
ao contrário da teoria causal-naturalista, a tipicidade não constitui elemento autônomo em
relação à antijuridicidade, pois toda ação é tipicamente antijurídica.
c) Para a teoria finalista, o conceito de conduta corresponde ao movimento corporal
voluntário que produz uma modificação no mundo exterior, eis que a finalidade visada pela
ação constitui elemento da culpabilidade.
d) De acordo com a concepção funcionalista de Jakobs, conduta é o comportamento humano
voluntário, causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado.
e) De acordo o funcionalismo teleológico, idealizado por Roxin, conduta é o comportamento
humano voluntário, violador do sistema, frustrando as expectativas normativas mínimas.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Para a concepção clássica, representada pela teoria causal-naturalista

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desenvolvida por Von Liszt e Beling no final do século XIX (apogeu do positivismo científico),
a ação humana consiste no movimento corporal voluntário que produz uma modificação no
mundo exterior. A vontade é despida de conteúdo (finalidade visada pela ação), que figura na
culpabilidade. Assim, o tipo penal é composto apenas por elementos objetivos, de forma que os
aspectos subjetivos se encontram na culpabilidade.

Alternativa B: Para a teoria causal-valorativa, desenvolvida por Windelband, Rickert e


Lask e influenciada pela concepção filosófica neokantista, a noção de valor diferencia as ciências
naturais (método ontológico) e as ciências jurídicas (método axiológico). Todavia, permanece
intacta a concepção clássica de conduta, porém, ao contrário da teoria causal-naturalista, a
tipicidade não constitui elemento autônomo em relação à antijuridicidade, pois toda ação é
tipicamente antijurídica.

Alternativa C: Para a teoria finalista, desenvolvida por Welzel, aliado a uma


consideração ontológica, a ação típica deve ser concebida como um ato de vontade, dirigido a
uma finalidade determinada.O dolo e a culpa são retirados da culpabilidade e passam a integrar
o fato típico, de forma que o tipo penal passa a ser composto por elementos objetivos (conduta,
resultado e nexo causal) e subjetivos (dolo ou culpa).

Alternativa D: De acordo com funcionalismo sistêmico idealizado por Jakobs, o


Direito Penal é um instrumento de estabilização social que tem como finalidade resguardar
o sistema e assegurar a credibilidade da norma penal frente à sua violação. Assim, para essa
concepção, conduta é o comportamento humano voluntário, violador do sistema, frustrando as
expectativas normativas mínimas.

Alternativa E: De acordo com a concepção funcionalista teleológica de Roxin, aliada


à orientações político-criminais, o Direito Penal tem a finalidade de proteger bens jurídicos
e valores essenciais à convivência social harmônica. Portanto, conduta é o comportamento
humano voluntário, causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado.

4 - QUESTÃO

Considerando a concorrência de causas absoluta e relativamente independentes, assinale a


opção correta.

a) Com intenção de matar, “A” ministra veneno na refeição de “B”, porém, antes de produzir
o efeito letal, “B” morre em virtude de um colapso cardíaco. “A” responderá por homicídio
consumado.
b) Com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B” (portador de hemofilia), que vem a
falecer em consequência dos ferimentos, aliados ao seu estado de saúde. “A” responderá por
tentativa de homicídio.

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c) Com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região abdominal. Um
terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é levado até o hospital, onde vem
a falecer em virtude de ter contraído broncopneumonia durante o tratamento, por força
do seu precário estado de saúde, decorrente dos ferimentos produzidos pela conduta do
agente. “A” responderá por homicídio consumado.
d) Com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região abdominal. Um
terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é levado até o hospital, onde vem a falecer
em virtude dos ferimentos decorrentes de um desabamento. “A” responderá por homicídio
consumado.
e) Com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região abdominal. Um
terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é socorrido por uma ambulância. No
trajeto para o hospital, o veículo se envolve em um acidente de trânsito, em virtude do qual
“B” sofre graves ferimentos na cabeça que, por si só, causam a sua morte. “A” responderá por
homicídio consumado.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: De acordo com o disposto no artigo 13 do Código Penal, considera-


se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Foi adotada, portanto,
a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non), pois, tendo em vista
o denominado processo hipotético de eliminação, causa é todo antecedente que, suprimido
mentalmente, impediria a produção do resultado naturalístico da forma como ocorreu no plano
fático.

Portanto, se com intenção de matar, “A” ministra veneno na refeição de “B”, porém,
antes de produzir o efeito letal, “B” morre em virtude de um colapso cardíaco. “A” responderá por
tentativa de homicídio, pois o evento morte decorre de causa superveniente absolutamente
independente em relação à conduta do agente (colapso cardíaco), que rompe o nexo causal e
resulta apenas na imputação dos atos efetivamente praticados.

Alternativa B: A causa relativamente independente encontra-se na mesma linha de


desdobramento natural da conduta. Embora aliada à outra causa, o agente contribui com a sua
conduta para a produção do resultado, de forma que este lhe será imputado, salvo na hipótese
prevista no artigo 13, § 1º do Código Penal.

Assim, se com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B” (portador de hemofilia),
que vem a falecer em consequência dos ferimentos, aliados ao seu estado de saúde. “A”
responderá por homicídio consumado, pois a morte da vítima resulta de causa preexistente
relativamente independente em relação à conduta do agente (hemofilia).

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Alternativa C: Conforme se infere do disposto no artigo 13, § 1º do Código Penal,
quando a causa superveniente relativamente independente não produz, por si só, o resultado,
este será imputado ao agente, pois está na mesma linha de desdobramento natural da sua
conduta.

Dessa forma, se com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região
abdominal; um terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é levado até o hospital, onde
vem a falecer em virtude de ter contraído broncopneumonia durante o tratamento, por força do
seu precário estado de saúde, decorrente dos ferimentos produzidos pela conduta do agente.
“A” responderá por homicídio consumado, pois a enfermidade contraída pela vítima constitui
causa preexistente relativamente independente em relação à conduta do agente que não
produz, por si só, o resultado.

Alternativa D: Nos termos do artigo 13, § 1º do Código Penal, a superveniência de


causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produzir o resultado;
os fatos anteriores, entretanto, serão imputados a quem os praticou. Nessa hipótese, de acordo
com a doutrina, o Código Penal adotou a teoria da causalidade adequada, de forma que
considera-se causa somente a ação ou omissão idônea à produção do resultado naturalístico.

Assim, se com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região
abdominal; um terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é levado até o hospital, onde
vem a falecer em virtude dos ferimentos decorrentes de um desabamento. “A” responderá por
tentativa de homicídio, pois os ferimentos decorrentes do desabamento constituem causa
superveniente relativamente independente que, por si só, produziu o resultado morte; porém o
agente responderá pelos atos anteriormente praticados, eis que o homicídio não se consumou
por circunstâncias alheias à sua vontade.

Alternativa E: Ainda tendo em vista o disposto no artigo 13, § 1º do Código Pena,


se com intenção de matar, “A” desfere facadas em “B”, ferindo-o na região abdominal; um
terceiro impede que “A” prossiga na execução e “B” é socorrido por uma ambulância; no trajeto
para o hospital, o veículo se envolve em um acidente de trânsito, em virtude do qual “B” sofre
graves ferimentos na cabeça que, por si só, causam a sua morte. “A” responderá por tentativa
de homicídio, pois o acidente de trânsito constituem causa superveniente relativamente
independente que, por si só, produziu o resultado morte; porém o agente responderá pelos
atos anteriormente praticados, eis que o homicídio não se consumou por circunstâncias alheias
à sua vontade.

5 - QUESTÃO

Tendo em vista as sucessivas fases de realização do delito, assinale a opção correta.

a) A partir da concepção de direito penal do inimigo desenvolvida por Jakobs, a incidência

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da norma penal está condicionada ao início dos atos executórios.
b) Considerando que o Código Penal adotou a teoria da acessoriedade limitada no tocante
à natureza jurídica da participação, a desistência voluntária não se comunica ao partícipe.
c) O crime falho é compatível com os delitos formais e unissubsistentes.
d) Por força da teoria subjetiva, os delitos de atentando ou empreendimento não admitem
tentativa.
e) O crime impossível por absoluta impropriedade do objeto configura delito putativo por
erro de tipo.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: De acordo com o princípio da ofensividade, somente as condutas


capazes de causar lesão, efetiva ou potencial, a bem jurídico, relevante e de terceiro, estão
sujeitas ao Direito Penal. Disso decorre a proibição de incriminação de simples estados ou
condições existenciais.

Logo, por força do princípio da materialização do fato, corolário do postulado da


lesividade, refuta-se a idéia de Direito Penal do autor, característica da concepção de direito
penal do inimigo desenvolvida por Jakobs, porquanto a incidência da norma penal pressupõe o
início dos atos executórios, de forma que a fase de cogitação e de preparação do delito não são
objeto de punição, salvo, neste último caso, se configurar crime autônomo.

Alternativa B: Com efeito, no tocante à natureza jurídica da participação, o Código


Penal adotou a teoria da acessoriedade limitada, de forma que a punição do partícipe está
condicionada à prática de um fato típico e ilícito, independentemente da culpabilidade do autor.

Dessa forma, a desistência voluntária, enquanto causa excludente da tipicidade,


comunica-se aos partícipes, considerando que, neste caso, o fato praticado é atípico. O mesmo
não ocorre, todavia, para os autores que atribuem à desistência voluntária a natureza jurídica de
causa extintiva da punibilidade, caso em que o partícipe responderá pelo delito praticado, pois
trata-se de fato típico e ilícito.

Alternativa C: O crime falho corresponde à tentativa perfeita, na qual o processo


executório é integralmente realizado pelo agente, mas o crime não se consuma por circunstâncias
alheias à sua vontade. É compatível, portanto, somente com crimes materiais, cuja consumação
pressupõe a superveniência de resultado naturalístico.

Além disso, somente os crimes plurissubsistentes são compatíveis com a tentativa,


perfeita ou imperfeita. Isso porque, a execução dos delitos unissubsistentes não é passível
de fracionamento, de forma que o crime estará consumado com a prática de um único ato

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executório.

Alternativa D: Excepcionalmente, o Código Penal adotou a teoria subjetiva em


relação aos crimes de atentado ou empreendimento, no qual a tentativa consta expressamente
do tipo penal e, por conseguinte, é punida com a mesma pena do crime consumado.

Porém, na verdade tais delitos admitem tentativa, tanto que o próprio legislador
prevê na descrição da conduta típica a forma tentada. O que não admitem, pois, é a incidência
da causa de diminuição de pena comum à tentativa, pois representam uma exceção à teoria
objetiva.

Alternativa E: O crime impossível resulta da impossibilidade de consumação do


delito, em virtude da ineficácia absoluta do meio de execução ou da absoluta impropriedade do
objeto material. Esta última modalidade configura delito putativo por erro de tipo. Isso porque,
o agente possui a intenção de praticar o crime que, todavia, não se consuma por erro em relação
a um dos elementos essenciais do tipo penal.

6 - QUESTÃO

No tocante às causas excludentes da ilicitude, assinale a opção correta.

a) Por força da teoria da ratio essendi, adotada pelo Código Penal, a dúvida fundada acerca
de causa excludente da ilicitude enseja a absolvição do réu.
b) O consentimento do ofendido ou do seu representante legal exclui a ilicitude de crime
voltado à tutela de bem jurídico disponível.
c) A prática de crime permanente ou habitual em situação justificante caracteriza estado de
necessidade.
d) Denomina-se legítima defesa sucessiva a reação do agressor contra a repulsa excessiva da
vítima.
e) A instalação de ofendículos caracteriza estado de necessidade e, quando acionados,
legítima defesa preordenada.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Para a teoria da essência (ratio essendi), a tipicidade integra a ilicitude,


de forma que todas as condutas típicas são também ilícitas. Por outro lado, de acordo com
a teoria da ratio congnoscendi, adotada pelo Código Penal, a tipicidade constitui indício de
ilicitude, de forma que todo fato típico é também ilícito, até prova em sentido contrário.

Por força do caráter indiciário da tipicidade, constitui ônus da defesa a comprovação

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de causa excludente da ilicitude. Assim, a dúvida enseja a condenação do réu, exceto se fundada,
quando configura fundamento para a absolvição, nos termos do artigo 386, inciso VI do Código
de Processo Penal.

Alternativa B: Nos termos do artigo 23 do Código Penal, não há crime quando o


agente pratica o fato em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever
legal ou exercício regular de direito. Além dessas, outras causas de exclusão da ilicitude estão
previstas na parte especial do Código Penal e na legislação extravagente, a exemplo do aborto
necessário (artigo 128, inciso I do CP).

Todavia, considerando ser impossível ao legislador prever todas as situações


justificantes, a doutrina admite a existência de causas supralegais de exclusão da ilicitude, entre
as quais destaca-se o consentimento do ofendido, válido quando expedido por pessoa capaz, em
momento anterior à consumação do delito, relativamente à bem jurídico disponível e próprio.
Ou seja, somente a anuência do próprio ofendido em relação à prática delituosa constitui causa
excludente da ilicitude.

Alternativa C: Denomina-se estado de necessidade a situação de perigo atual na


qual a lei faculta ao agente, preenchidos os requisitos legais (artigo 24 do CP), a prática de uma
conduta lesiva a direito de outrem para salvaguardar interesse próprio ou de terceiro.

Destarte, a inevitabilidade do fato lesivo constitui requisito essencial à caracterização


do estado de necessidade. Por tal razão, a prática de crime permanente ou habitual em situação
justificante não configura a excludente em análise, pois ausente perigo atual, de forma que
evitável a sua prática.

Alternativa D: Com efeito, denomina-se legítima defesa subjetiva o excesso na repulsa


de uma agressão decorrente de erro na apreciação da situação fática (artigo 20, § 1º, 1ª parte do
CP). Ou seja, depois de cessada a agressão que justificou a reação, o agente, por erro justificável,
supõe persistir a agressão inicial e, ao se defender, a sua repulsa passa a ser excessiva.

Não se confunde, todavia, com a legítima defesa sucessiva que consiste na reação do
agressor contra a repulsa excessiva da vítima. Em outras palavras, o inicial agressor passa a ser o
agredido, uma vez que a repulsa excessiva caracteriza agressão injusta.

Alternativa E: Ofendículos são mecanismos predispostos para a defesa da propriedade


ou de qualquer outro bem jurídico. Quando ocultos, denominam-se defesa mecânica predisposta.
Para a doutrina tradicional, a instalação dos ofendículos constitui exercício regular de direito e,
quando acionados, legítima defesa preordenada.

Por outro lado, para a teoria da tipicidade conglobante desenvolvida por Zaffaroni,
enquanto não acionado, o mecanismo constitui fato atípico. A mesma conclusão decorre

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da teoria da imputação objetiva, pois, para Roxin, a instalação de ofendículos não cria riscos
proibidos, mas permitidos pelo ordenamento jurídico.

7 – QUESTÃO

Acerca do erro de tipo e do erro de proibição, assinale a opção correta.

a) De acordo com a teoria limitada da culpabilidade o erro que recai sobre os pressupostos
fáticos de uma descriminante configura erro de proibição.
b) O conhecimento do agente acerca do caráter ilícito do fato é aferido a partir do critério do
homem médio.
c) O erro de proibição inescusável constitui causa excludente da culpabilidade.
d) O erro de subsunção configura erro de tipo e, portanto, causa excludente da tipicidade.
e) De acordo com a teoria normativa pura somente o erro de proibição inevitável constitui
causa excludente da culpabilidade.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Ao contrário da teoria extremada da culpabilidade, para a teoria


limitada, adotada pelo Código Penal, o erro que recai sobre os pressupostos fáticos de uma
descriminante configura erro de tipo (erro de tipo permissivo). Por outro lado, o erro sobre a
existência ou os limites de causa excludente da ilicitude constitui erro de proibição (erro de
proibição indireto).

Alternativa B: No contexto do erro de proibição, o conhecimento do agente acerca


do caráter ilícito do fato é aferido a partir do critério da “valoração paralela na esfera do profano”.
Segundo Zaffaroni e Pierangeli:

“A doutrina é unânime na afirmação de que não se requer um


conhecimento ou possibilidade de conhecimento da lei em si, o que não
ocorre de forma efetiva nem mesmo entre os juristas. O que se requer
é a possibilidade do conhecimento, denominada “valoração paralela na
esfera do profano”, (...) que seria o conhecimento aproximado que tem o
profano” (Manual de Direito Penal Brasileiro – Parte Geral, 2ª ed., Revista
dos Tribunais, p. 621).

Ou seja, não se exige que o agente tenha conhecimento da norma penal, mas apenas
discernimento entre o certo e o errado, de acordo com a sua capacidade de compreensão.

Alternativa C: O erro de proibição inescusável (evitável) decorre de um juízo profano

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acerca da ilicitude do fato, cuja consciência depende tão somente do esforço da inteligência ou
da experiência comum. Trata-se, nos termos do artigo 21, parágrafo único do Código Penal, de
causa de diminuição de pena.

O erro de proibição escusável (inevitável), por sua vez, ocorre quando o agente, em
virtude das circunstâncias, não tem consciência do caráter ilícito do fato nem pode obtê-la.
Portanto, apenas esta modalidade constitui causa excludente da culpabilidade porque isenta o
agente de pena.

Alternativa D: O erro de subsunção ocorre quando o agente, em razão das


circunstâncias, tem conhecimento acerca da ilicitude do fato, mas supõe que a sua conduta
corresponde a tipo penal diverso. Trata-se, pois, de modalidade de erro de proibição evitável,
que resulta apenas na diminuição da pena. Ainda, a ignorância da lei pode configurar atenuante
genérica, pois a agente tem consciência do caráter ilícito do fato, mas desconhece a norma
penal.

Alternativa E: De acordo com a teoria psicológico-normativa, a culpabilidade


compreende os seguintes elementos: a) imputabilidade; b) dolo ou culpa e; c) exigibilidade de
conduta diversa. Neste caso, a consciência atual da ilicitude constitui elemento integrante do
dolo, denominado normativo. Logo, o erro evitável ou inevitável exclui a culpabilidade.

Por outro lado, para a teoria normativa pura, de inspiração finalista, o dolo (natural)
e a culpa integram o fato típico e a culpabilidade remanesce com os seguintes elementos: a)
imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude e; c) exigibilidade de conduta diversa.
Portanto, considerando que a consciência da ilicitude é potencial, somente o erro de proibição
inevitável constitui causa excludente da culpabilidade.

8 - QUESTÃO

Acerca do concurso de pessoas, assinale a opção correta.

a) O prévio ajuste constitui requisito essencial à caracterização do concurso de pessoas.


b) Denomina-se autoria acessória a hipótese em que duas pessoas concorrem para o mesmo
fato, ignorando esta circunstância, e o resultado decorre da soma das condutas.
c) As contribuições socialmente neutras resultam na imputação do fato ao agente, a título
de participação.
d) A Teoria do Domínio da Organização, desenvolvida por Roxin, corresponde ao conceito de
autoria mediata.
e) De acordo com a teoria do domínio do fato, o autor intelectual figura como partícipe na
empreitada criminosa.

RESPOSTA: Alternativa B

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COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A caracterização do concurso de pessoas pressupõe pluralidade de


agentes, relevância jurídica e causal de cada uma das condutas para a produção do resultado,
vínculo subjetivo entre os concorrentes e identidade de infração penal.

A homogeneidade de elemento subjetivo corresponde à convergência da vontade


de todos os concorrentes em relação à produção do resultado. Logo, é dispensável o prévio
ajuste (pactum sceleris) para fins de caracterização do concurso de pessoas.

Alternativa B: Com efeito, denomina-se autoria acessória (secundária) ou colateral


complementar a hipótese em que duas pessoas concorrerem para o mesmo fato, ignorando
esta circunstância, e o resultado é efeito da soma das condutas.

Nesse contexto, diverge a doutrina quanto à solução penal para o caso: a) cada um
dos autores responde pelo resultado final, na forma do artigo 13 do Código Penal; b) cada
concorrente responde pela conduta praticada, nos limites do risco criado e não pelo resultado
final e; c) haverá crime impossível para todos os agentes.

Alternativa C: De acordo com a teoria desenvolvida por Roxin, a imputação objetiva


do resultado ao agente pressupõe a análise de três critérios essenciais: a) criação ou incremento
de um risco proibido; b) realização do risco no resultado e; c) resultado dentro do alcance do
tipo. Ou seja, é necessário que o risco proibido criado se materialize no resultado lesivo.

As contribuições socialmente neutras, por sua vez, afastam a tipicidade, pois não há
criação de um risco proibido, mas tão somente o exercício de atividade lícita que não determina
a produção do resultado. A título de exemplo, o padeiro que vende pão para o marido envenenar
a sua esposa, mesmo ciente desta finalidade, não responderá pelo crime de homicídio, nem
mesmo na condição de partícipe, se não contribuir de outra forma para a consumação do delito.

Alternativa D: De acordo com a Teoria do Domínio da Organização, desenvolvida por


Roxin, considera-se autor, o agente que, no âmbito de estruturas ilícitas de poder, caracterizadas
pela fungibilidade de seus membros, determina a outrem a execução material do delito.

Por outro lado, considera-se autor mediato aquele que utiliza pessoa não culpável
ou que atua sem dolo, como instrumento para a execução do fato criminoso. Portanto, a Teoria
do Domínio da Organização não representa propriamente uma hipótese de autoria mediata,
porquanto o executor neste caso é igualmente culpável.

Alternativa E: Autor intelectual é aquele que planeja a ação delituosa, ainda que
não pratique nenhum ato de execução dos delitos planejados. Trata-se, pois, do sujeito que
promove e organiza a cooperação no crime, ou dirige a atividade dos demais agentes (artigo

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62, inciso I do Código Penal).

Logo, para a teoria objetivo-formal adotada pelo Código Penal, o autor intelectual
figura como partícipe na empreitada criminosa, pois não pratica nenhum comportamento
típico. Ao contrário, de acordo com a teoria do domínio do fato, o autor intelectual detém o
controle da ação delitiva e, por tal razão, responde como coautor do delito executado pelos
demais agentes.

9 – QUESTÃO

Em matéria de aplicação da pena, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência


do STJ.

a) Cinco anos após o cumprimento ou a extinção da pena, a condenação não prevalece para
fins de reincidência ou maus antecedentes, por força do sistema da temporariedade.
b) Havendo concurso entre a agravante genérica da reincidência e a atenuante da confissão
espontânea, prevalece a primeira porque preponderante.
c) Compensam-se a agravante genérica da violência doméstica e familiar contra a mulher
com a atenuante da confissão espontânea, pois ambas são preponderantes.
d) É admitida a aplicação de pena e medida de segurança ao semi imputável pela prática do
mesmo crime.
e) É vedada a aplicação de pena e medida de segurança pela prática de crimes distintos,
quando verificada a inimputabilidade do réu no momento da prática do segundo crime.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Por força do sistema da temporariedade, decorridos cinco anos do


cumprimento ou extinção da pena, a condenação anterior não prevalece para fins de reincidência
(artigo 64, inciso I do CP). O mesmo não ocorre, todavia, para efeito de maus antecedentes que,
de acordo com o entendimento do STJ, são perpétuos. Vejamos interessante precedente neste
sentido:

“À luz do artigo 64, inciso I do Código Penal, ultrapassado o lapso


temporal superior a cinco anos entre a data do cumprimento ou extinção
da pena e a infração posterior, as condenações penais anteriores não
prevalecem para fins de reincidência. Podem, contudo, ser consideradas
como maus antecedentes, nos termos do artigo 59 do Código Penal”
(HC 292.474).

Nesse contexto, registre-se entendimento contrário do STF proferido no julgamento

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do HC 119.200, no sentido de que se a condenação anterior não tem efeito de reincidência
em virtude do transcurso do lapso temporal previsto em lei, também não prevalecerá para fins
de maus antecedentes, com fundamento no direito ao esquecimento, corolário da dignidade
humana (artigo, 3º, inciso I da CF).

Alternativa B: De acordo com o artigo 67 do Código Penal, no concurso entre


agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias
preponderantes, assim consideradas as que resultam dos motivos determinantes do crime, da
personalidade do agente e da reincidência.

Com fundamento neste dispositivo legal, para o STJ, é possível a compensação entre
a agravante genérica da reincidência e a atenuante da confissão espontânea, pois ambas são
preponderantes, eis que a confissão revela traço da personalidade do agente, indicando o seu
arrependimento (REsp 1.341.370).

Todavia, para o STF, prevalece a reincidência por ser preponderante, considerando


que a confissão á ato posterior ao delito e não tem relação com os motivos do crime ou com a
personalidade do agente, mas tão somente com o seu interesse pessoal (HC 112.830).

Alternativa C: Ainda com fundamento no citado artigo 67 do Código Penal, o


entendimento exarado pelo STJ no julgamento do Resp 1.341.370 deve ser estendido, por
interpretação analógica, à hipótese de concurso entre a agravante genérica da violência
doméstica e familiar contra a mulher com a atenuante da confissão espontânea, dada sua
similitude, por também versar sobre a possibilidade de compensação entre circunstâncias
preponderantes. A primeira porque relacionada aos motivos determinantes do crime e a
segunda porque revela traço da personalidade do agente, indicando o seu arrependimento
(AgRg no AREsp 689.064).

Alternativa D: A semi-imputabilidade constitui causa de diminuição da pena, quando


falta ao agente capacidade plena de entendimento e autodeterminação (artigo 26, parágrafo
único do CP). Todavia, a pena pode ser substituída por medida de segurança quando o semi-
imputável necessitar de especial tratamento curativo (artigo 98 do CP). Portanto, o Código Penal
adotou o sistema vicariante ou unitário e aboliu o sistema do duplo binário, que possibilitava a
aplicação cumulativa e sucessiva de pena e medida de segurança pela prática do mesmo crime.

Alternativa E: Como dito, em matéria de semi-imputabilidade, o Código Penal


adotou o sistema vicariante ou unitário e aboliu o sistema do duplo binário, que possibilitava a
aplicação cumulativa e sucessiva de pena e medida de segurança pela prática do mesmo crime.

Todavia, é possível a aplicação de pena e medida de segurança pela prática de crimes


distintos, quando verificada a inimputabilidade do réu no momento da prática do segundo
delito, caso em que após o cumprimento da medida de segurança, pode ser determinado o

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cumprimento da pena privativa de liberdade remanescente. No caso, não há violação ao sistema
unitário, pois tratam-se de sanções aplicadas em virtude da prática de delitos diferentes.

10 – QUESTÃO

No tocante às causas extintivas da punibilidade, assinale a opção correta.

a) A extinção da punibilidade antes do trânsito em julgado da sentença condenatória não


impede a execução da decisão no juízo cível para fins de reparação dos danos causados pela
prática da infração penal.
b) A concessão de indulto atinge todos os efeitos penais da sentença condenatória, que não
prevalece para fins de reincidência.
c) Não ocorre decadência nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiça.
d) A anistia tem efeitos retroativos e atinge somente o efeito principal da condenação.
e) A abolitio criminis pressupõe a supressão formal da conduta criminosa.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A extinção da punibilidade da pretensão punitiva, anterior ao trânsito


em julgado da sentença, atinge todos os efeitos penais e extrapenais da condenação, que não
prevalece para fins de reincidência ou reparação civil dos danos. Por outro lado, a extinção da
punibilidade da pretensão executória, após o trânsito em julgado da sentença atinge somente o
efeito principal da condenação, que subsiste para fins de reincidência e execução no juízo cível.

Alternativa B: O indulto constitui uma espécie de clemência concedida por decreto


do Presidente da República em relação à totalidade das sanções impostas ou apenas para fins
de comutação da pena. A graça, por sua vez, corresponde ao indulto individual, pois concedida
em favor de pessoa determinada. Ambos os institutos atingem somente o efeito principal da
condenação, que subsiste para fins de reincidência e reparação civil dos danos.

Alternativa C: A decadência consiste na perda do direito de queixa ou representação


em razão do decurso do prazo legal. Trata-se, pois de instituo próprio das ações penais privadas
e públicas condicionadas à representação. Logo, não ocorre decadência nos crimes de ação
penal pública incondicionada ou condicionada à requisição do Ministro da Justiça.

Alternativa D: A anistia consiste no esquecimento jurídico da infração. Trata-se de


ato privativo do Poder Legislativo que importa em renúncia ao exercício do direito de punir
por razões de necessidade ou conveniência política. A anistia possui efeitos retroativos e atinge
todos os efeitos penais da sentença condenatória, que não prevalece para fins de reincidência.

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Todavia, nada impede, a execução da decisão no juízo cível para fins de reparação dos danos
causados pela prática da infração penal.

Alternativa E: A abolitio criminis pressupõe a revogação formal do tipo penal e a


supressão material da conduta criminosa. A lei nova que deixa subtrai o caráter criminoso da
conduta tem efeitos retroativos, porque benéfica ao réu, e atinge todos os efeitos penais da
sentença condenatória, que não prevalece para fins de reincidência. Tal como a anistia, nada
impede, contudo, a execução da decisão no juízo cível para fins de reparação dos danos causados
pela prática da infração penal.

11 - QUESTÃO

Considere a seguinte situação hipotética: João, pai de Clarice, menor de 14 anos de idade,
grávida do namorado, conduz sua filha até o médico e autoriza a realização do aborto, em
concordância com a gestante. O fato narrado constitui:

a) Aborto humanitário.
b) Aborto terapêutico.
c) Crime de autoaborto.
d) Crime de aborto sem o consentimento da gestante.
e) Crime de aborto com o consentimento da gestante.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O aborto humanitário é admitido em caso de gravidez resultante de


estupro, mediante consentimento da gestante ou do seu representante legal. Se a gestante é
menor de 14 anos, significa que foi vítima do crime de estupro de vulnerável (artigo 217-A do
CP). Neste caso, o aborto, realizado por médico, com o consentimento do representante legal
da gestante, tal como na situação hipotética narrada, constitui fato atípico (artigo 128, II do CP).

Alternativa B: Denomina-se aborto necessário ou terapêutico, a morte do produto


da concepção para salvar a vida da gestante. O ato abortivo deve ser realizado por médico, salvo
em situação de risco atual, caso em que qualquer pessoa pode praticar o aborto, amparada
pela excludente do estado de necessidade. Porém, o caso narrado corresponde ao aborto
humanitário citado anteriormente, ante a inexistência de risco atual à vida da gestante.

Alternativa C: No crime de autoaborto, a própria gestante pratica as manobras


abortivas que resultam na morte do feto. Trata-se, pois, de crime de mão própria que, como tal,
não admite coautoria, apenas participação. No caso narrado, a gestante não praticou nenhum
ato executório do delito, apenas consentiu com a realização do aborto que, nas circunstâncias,

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constitui fato atípico.

Alternativa D: De fato, em razão da sua idade, o consentimento da gestante não é


válido, de sorte que o médico que realiza o ato abortivo nessas condições responde pelo crime
de aborto sem o consentimento da gestante (artigo 126, parágrafo único do CP). Todavia, nas
circunstâncias narradas, a conduta do médico é atípica, pois amparada em causa excludente da
ilicitude (aborto humanitário).

Alternativa E: Na situação hipotética narrada, o consentimento da gestante não tem


validade, pois menor de 14 anos de idade. Assim, o médico que realizou o ato abortivo deveria
responder pelo crime de aborto sem o consentimento da gestante. Porém, a anuência do
representante legal da gestante, vítima do crime de estupro de vulnerável, afasta a tipicidade
do delito.

12 - QUESTÃO

No tocante aos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta, de acordo com a
jurisprudência dos Tribunais Superiores.

a) A subtração de coisa comum objeto de exploração econômica não caracteriza o crime de


furto.
b) A majorante do repouso noturno não se aplica ao furto de semovente domesticável de
produção.
c) A subtração seguida da destruição do bem caracteriza o crime de roubo em concurso
material com o delito de dano qualificado.
d) O silêncio intencional acerca de erro preexistente da vítima constitui meio de execução
característico do crime de apropriação indébita.
e) O estelionato previdenciário constitui crime permanente quando praticado pelo
beneficiário, e instantâneo se cometido por terceiro.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A tipificação do crime de furto pressupõe a subtração de coisa móvel


alheia. Ou seja, somente objetos pertencentes à terceira pessoa, que possam ser retirados da
esfera de vigilância da vítima, podem constituir objeto material do delito de furto.

Assim, em princípio, coisas de uso comum não são passíveis de subtração. Todavia,
quando objeto de exploração econômica por terceira pessoa, a subtração constitui crime de
furto, tal como ocorre, a título de exemplo, com o desvio de água encanada pertencente à
concessionária de serviço público.

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Alternativa B: Prevalece na doutrina e na jurisprudência que a majorante do repouso
noturno aplica-se às formas qualificadas do crime de furto, pois são circunstâncias diversas, que
incidem em momentos diferentes de aplicação da pena (STJ, HC 306450).

Nesse contexto, considerando que a subtração de semovente domesticável de


produção constitui circunstância qualificadora específica do crime de furto, se a conduta for
praticada durante o repouso noturno, incidirá a majorante prevista no artigo 155, §º do Código
Penal.

Alternativa C: O princípio da consunção promove a absorção de um delito por


outro, resultando na formação de uma unidade complexa. Aplica-se, exemplificativamente, às
hipóteses de crime progressivo, progressão criminosa, relação entre crime-meio e crime-fim e
fatos posteriores não puníveis.

Dessa forma, a destruição do bem roubado não é imputada ao agente, pois constitui
fato posterior à consumação do delito de roubo, não punível em razão da objetividade jurídica
comum e da identidade de sujeito passivo.

Alternativa D: De acordo com o item 61 da Exposição de Motivos da Parte Especial


do Código Penal, o silêncio intencional acerca de erro preexistente da vítima constitui meio de
execução característico do crime de estelionato.

Isso porque, no delito de apropriação indébita, o dolo é posterior ao recebimento do


bem, ao passo que no crime de estelionato o elemento subjetivo do agente é necessariamente
anterior à prática da conduta, pois pressupõe o emprego de fraude para induzir ou manter a
vítima em erro.

Alternativa E: Em tema de estelionato previdenciário, o agente que perpetra a fraude


contra a Previdência Social recebe tratamento jurídico-penal diverso daquele que, ciente da
fraude, figura como beneficiário das parcelas. Trata-se da denominada “natureza binária” da
infração penal.

Assim, de acordo com o entendimento do STF, o terceiro que perpetra a fraude


pratica crime instantâneo de efeitos permanentes, que se consuma na ocasião do pagamento
da primeira prestação do benefício indevido. Por outro lado, o agente beneficiário da fraude
pratica crime de natureza permanente, cuja execução se prolonga no tempo, renovando-se a
cada parcela recebida. Nesse caso, a consumação ocorre apenas quando cessa o recebimento
indevido das prestações (HC 104.880).

13 - QUESTÃO

São crimes funcionais próprios, exceto:

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a) Corrupção passiva.
b) Concussão.
c) Peculato eletrônico.
d) Excesso de exação.
e) Prevaricação.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Crimes funcionais próprios são aqueles cuja exclusão da qualidade


de funcionário público acarreta a atipicidade do fato. Ao contrário, nos crimes funcionais
impróprios, excluindo-se tal elementar, haverá a desclassificação para crime de outra natureza.

O delito de corrupção passiva consiste na conduta do funcionário público que solicita


ou recebe, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem (artigo
317 do CP). Trata-se, pois, de crime que pressupõe, essencialmente, a condição de funcionário
público do sujeito ativo, de sorte que a exclusão desta elementar resulta na atipicidade do fato.

Alternativa B: Pratica o crime de concussão, o funcionário público que exige, para si


ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida (artigo 316 do CP). Neste caso, o verbo que constitui o núcleo
do tipo penal é característico do delito de extorsão, pelo qual responderá o agente se excluída
a condição de funcionário público. Trata-se, pois de crime funcional impróprio que resulta na
desclassificação para delito de outra natureza.

Alternativa C: O crime de peculato eletrônico está relacionado à inserção de dados


falsos ou à modificação não autorizada de dados constantes de sistemas informatizados da
Administração Pública (artigos 313-A e 313-B do CP). Trata-se, pois, de crime intrinsecamente
relacionado ao exercício de função pública, de sorte que a exclusão da qualidade de funcionário
público resulta na atipicidade do fato.

Alternativa D: Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso,
não autorizado pela lei, pratica o crime de excesso de exação (artigo 316, § 1º do CP). Trata-se,
pois, de conduta cujas elementares não correspondem a nenhuma outra descrição típica de
sorte que a exclusão da qualidade de funcionário público resulta na atipicidade do fato.

Alternativa E: O delito de prevaricação consiste em retardar ou deixar de praticar,


indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal (artigo 319 do CP). Trata-se, pois, de crime cujo elemento

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subjetivo específico está diretamente relacionado à pessoa do funcionário público, razão pela
qual a exclusão desta elementar, outrossim, resulta na atipicidade do fato.

14 – QUESTÃO

Considerando os crimes previstos na Lei de Drogas, assinale a opção correta, de acordo com
a jurisprudência do STJ.

a) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de porte de drogas para consumo


pessoal, quando o agente for surpreendido em poder de pequena quantidade de substância
entorpecente.
b) Se a participação de menor for considerada para configurar o crime de associação para
o tráfico não pode, ao mesmo tempo, ser invocada para justificar a incidência da causa de
aumento prevista no artigo 40, VI, da Lei de Drogas.
c) O fato de o agente ter envolvido um menor na prática do crime de tráfico e, ainda, tê-
lo retribuído com drogas, para incentivá-lo à traficância ou ao consumo e dependência,
justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo, da causa de aumento de pena prevista
no art. 40, VI da Lei de Drogas, ainda que fixada a pena-base no mínimo legal, desde que
fundamentada na gravidade concreta do delito.
d) O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um
Estado para chegar ao seu destino final é suficiente para caracterizar a interestadualidade
do crime de tráfico.
e) Se o réu comprovar o exercício de atividade profissional lícita, terá direito à causa especial
de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º da Lei de Drogas, ainda que, concomitante,
se dedique a atividades criminosas.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O princípio da insignificância constitui causa de exclusão da tipicidade


material do delito, ante a ausência de lesão, efetiva ou potencial ao bem jurídico tutelado. A
sua aplicação pressupõe o concurso de quatro requisitos, extraídos da jurisprudência do STF,
a saber: mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade social da ação, reduzido
grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão.

De acordo com o entendimento da doutrina majoritária, não se aplica o princípio


da insignificância ao crime de porte de drogas para consumo pessoal, porquanto trata-se de
crime de perigo abstrato, que tutela a saúde pública, tendo em vista, ainda, que a pequena
quantidade de drogas é inerente ao tipo penal. Registre-se, todavia, que o STF já entendeu
pela aplicabilidade do referido postulado ao delito previsto no artigo 28 da Lei de Drogas, com
fundamento no princípio da ofensividade.

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Alternativa B: A tipificação do delito previsto no artigo 35 da Lei de Drogas pressupõe
a associação estável e permanente, de no mínimo 2 (duas) pessoas, para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, delitos relacionados ao tráfico de entorpecentes. Dentre os associados,
é comum a presença de um agente menor de idade ou não identificado, o que, todavia, não
impede a punição dos demais membros do grupo.

Nesse contexto, de acordo com o entendimento exarado pelo STJ no HC 250.455, a


participação de menor pode ser considerada para configurar o crime de associação para o tráfico
e, ao mesmo tempo, ser invocada para justificar a incidência da causa de aumento prevista no
artigo 40, VI, da Lei de Drogas. Em outras palavras, é cabível a aplicação da majorante se o crime
envolver criança ou adolescente em virtude da associação do agente com menor de idade.

Alternativa C: Como dito, é comum a presença de um agente inimputável dentre os


associados para a prática do delito previsto no artigo 35 da Lei de Drogas. Assim, considerando
a maior reprovabilidade da conduta, decidiu o STJ que o fato de o agente ter envolvido um
menor na prática do crime de tráfico e, ainda, tê-lo retribuído com drogas, para incentivá-lo à
traficância ou ao consumo e dependência, justifica a aplicação, em patamar superior ao mínimo,
da causa de aumento de pena prevista no art. 40, VI da Lei de Drogas, ainda que fixada a pena-
base no mínimo legal, desde que fundamentada na gravidade concreta do delito (HC 250.455).

Alternativa D: As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade


e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei
de Drogas, podem ser aplicadas simultaneamente, desde que demonstrada a intenção do
acusado que importou a substância entorpecente de difundir a droga em mais de um Estado
da Federação.

Em outras palavras, consoante o entendimento do STJ, o fato de o agente, por motivos


de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não
é suficiente para caracterizar a interestadualidade do crime de tráfico (HC 214.942).

Alternativa E: A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no artigo 33, § 4º


da lei de Drogas, pressupõe que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique
a atividades criminosas, nem integre organização criminosa. Recentemente decidiu o STF que
a incidência da minorante afasta a hediondez do denominado “tráfico privilegiado”, tendo em
vista a ausência de previsão legal nesse sentido e a menor reprovabilidade da conduta.

Nesse contexto, de acordo com o entendimento do STJ, ainda que o réu comprove
o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma concomitante, se dedicava a atividades
criminosas, não terá direito à causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º da
Lei de Drogas. Isso porque, o dispositivo legal não exige que a dedicação ao crime seja exclusiva
(REsp 1.380.741).

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15 – QUESTÃO

No tocante aos crimes previstos no Código de Trânsito Brasileiro, assinale a opção correta,
considerando, inclusive, a jurisprudência dos Tribunais Superiores sobre o tema.

a) O crime de “racha” constitui infração de menor potencial ofensivo, exceto se o agente


estiver sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência.
b) O excesso de velocidade pode ser considerado na aferição da culpabilidade do agente
que pratica crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor.
c) O fato de o autor de homicídio culposo na direção de veículo automotor estar com a CNH
vencida, justifica a incidência de causa especial de aumento na segunda fase de dosimetria
da pena.
d) A embriaguez constitui causa de aumento de pena do delito de homicídio culposo na
direção de veículo automotor.
e) O delito de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor absorve o crime de
dirigir sem habilitação.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: De acordo com o artigo 291, § 1º do Código de Trânsito Brasileiro (CTB),


o crime de lesão corporal culposa constitui infração de menor potencial ofensivo, exceto se o
agente estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa


que determine dependência; 

II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição


automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra
de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
 
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via
em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por hora). 

Portanto, o crime de racha, seja pela pena máxima em abstrato, seja pelo disposto no
dispositivo legal em análise não constitui, em nenhuma hipótese, infração de menor potencial
ofensivo.

Alternativa B: Conforme o entendimento do STJ, o excesso de velocidade caracteriza


a imprudência, modalidade de violação do dever objetivo de cuidado, essencial para a

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configuração dos crimes culposos. Portanto, na primeira de dosimetria da pena, tal circunstância
não pode ser considerada para aferir a culpabilidade do agente que pratica crime de lesão
corporal culposa na direção de veículo automotor, sob pena de bis in idem (AgRg no HC 153549).

Alternativa C: De acordo com o entendimento do STJ, o fato de o autor de homicídio


culposo na direção de veículo automotor estar com a CNH vencida, não justifica a incidência de
causa especial de aumento na segunda fase de dosimetria da pena.

Com efeito, a pena do crime de homicídio culposo será majorada se o agente não
possui Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação (artigo 302, § 1º, inciso I do CTB). Todavia,
tal circunstância não compreende a hipótese em que o condutor possui habilitação vencida.
Portanto, entendimento em sentido contrário, resultaria em ofensa ao princípio da taxatividade
e aplicação da analogia in malam partem (HC 226.128).

Alternativa D: Nos termos do artigo 302, § 1º do CTB, a pena do crime de homicídio


culposo na direção de veículo automotor será aumentada se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
à vítima do acidente;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo


veículo de transporte de passageiros.   
      
A embriaguez, por sua vez, constituía qualificadora do delito em alusão que, porém,
foi revogada pela Lei 13281/16, restando, tão somente, as circunstâncias majorantes citadas.

Alternativa E: Consoante o entendimento do STF, o delito de lesão corporal culposa


na direção de veículo automotor absorve o crime de dirigir sem habilitação, por força do
princípio da consunção. Dessa forma, o agente responderá pelo delito previsto no artigo 303
do CTB, acrescido da causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do artigo 303 c/c
o artigo 302, § 1º, inciso I.

Neste caso, se não oferecida representação em relação ao crime de lesão corporal


culposa, o Ministério Público não pode denunciar o acusado pelo delito previsto no artigo 309
do CTB, de ação penal pública incondicionada, pois extinta a punibilidade das duas infrações
penais (HC 128921).

26
DIREITO PROCESSUAL PENAL
PROF. NÁDIA SAAB

16 - QUESTÃO

Acerca do inquérito policial, assinale a opção correta, conforme a jurisprudência dos Tribunais
Superiores.

a) Nos crimes de ação penal pública, a autoridade policial pode promover a instauração de
inquérito policial com fundamento em delação apócrifa.
b) A autoridade policial pode indeferir requerimentos patrocinados pelo indiciado ou
pela vítima, exceto a realização do exame de corpo de delito para fins de comprovação da
materialidade de crime transeunte.
c) O inquérito policial instaurado para apurar crimes previstos na Lei de Drogas deve
ser concluído no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, no caso de acusado preso, e 60
(sessenta) dias, quando solto.
d) Eventuais irregularidades do inquérito policial não ensejam a nulidade da ação penal,
exceto se negado ao advogado o direito de participar do depoimento prestado pelo
investigado.
e) O arquivamento do inquérito policial em virtude do reconhecimento de causa extintiva
da punibilidade faz coisa julgada material, inclusive quando fundado em certidão de óbito
falsa.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A persecução criminal, destinada à apuração de infrações penais,


comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, de natureza inquisitiva, representada
pelo inquérito policial. A segunda, desenvolvida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa,
denominada fase processual.

De acordo com os ensinamentos de Tourinho Filho, o inquérito policial é:

“o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a


apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular
da ação penal possa ingressar em juízo” (Processo Penal. São Paulo:
Saraiva, 2003, v.1, p. 192).

Nos crimes de ação penal pública, o inquérito policial pode ser iniciado de ofício,
mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do

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ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo (artigo 5º, incisos I e II do CPP).

Delação apócrifa é sinônimo de denúncia anônima que, por si só, não autoriza a
instauração de inquérito policial. Portanto, de acordo com o entendimento do STF, a autoridade
policial deve realizar investigações preliminares e, somente se confirmada a credibilidade das
informações, proceder à instauração formal do procedimento investigatório (HC 108.147).

Alternativa B: O inquérito policial, enquanto procedimento administrativo preliminar,


caracteriza-se pela discricionariedade, eis que na fase pré-processual é prescindível o rigor
procedimental próprio da persecução criminal em juízo. Assim, o delegado de polícia conduz as
investigações conforme o juízo de conveniência e oportunidade pertinente ao caso concreto.

Nesse contexto, consoante o disposto no artigo 14 do Código de Processo Penal, a


autoridade policial pode indeferir requerimentos patrocinados pelo indiciado ou pela vítima,
exceto a realização do exame de corpo de delito para fins de comprovação da materialidade de
crime não transeunte, ou seja, quando a infração penal praticada deixar vestígios.

Alternativa C: Em regra, para os crimes de atribuição da polícia civil estadual, o


inquérito policial deve ser concluído no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado estiver preso, e 30
(trinta) dias, quando solto (artigo 10 do CPP).

Todavia, a legislação extravagante consagra regras especiais, tal como o disposto no


artigo 51 da Lei 11343/06, segundo o qual o inquérito policial instaurado para apurar crimes
previstos na Lei de Drogas deve ser concluído no prazo duplicável de 30 (trinta) dias, no caso de
acusado preso, e 90 (noventa) dias, quando solto.

Alternativa D: Com efeito, enquanto procedimento administrativo preliminar


dispensável, eventuais irregularidades do inquérito policial não ensejam a nulidade da ação
penal, mas tão somente a invalidade do ato investigatório viciado.

Todavia, consoante a doutrina majoritária, esta regra comporta duas exceções, a


saber: a) se os elementos de informação coligidos na fase inquisitorial resultarem na produção
de provas ilícitas derivadas e; b) se negado ao advogado o direito de participar do depoimento
prestado pelo investigado, por força da modificação introduzida no artigo 7º, inciso XXI do
Estatuto da OAB.

Alternativa E: A homologação do arquivamento tem natureza administrativo-judicial,


já que emana do magistrado, mas é proferida ainda na fase pré-processual. Portanto, arquivado
o inquérito policial ou as peças de informação, nada impede o oferecimento de denúncia em
relação ao mesmo fato, com fundamento em elementos até então desconhecidos acerca da
autoria ou materialidade da infração (artigo 18 do CPP).

28
Todavia, de acordo com o entendimento dos Tribunais Superiores, a decisão que
determina o arquivamento do inquérito policial fará coisa julgada material se proferida com
fundamento na atipicidade do fato, em causa excludente da ilicitude, da culpabilidade ou
extintiva da punibilidade, salvo, neste último caso, quando fundada em certidão de óbito falsa
(STF, HC 79.359).

Nesse contexto, é importante registrar entendimento da doutrina, encampado


especialmente pelo professor Afrânio Silva Jardim, no sentido de que, em nenhuma hipótese,
a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial fará coisa julgada material,
qualidade atribuída exclusivamente aos pronunciamentos judiciais decorrentes do exercício de
atividade jurisdicional, de sorte que o magistrado não exerce jurisdição na fase investigatória
preliminar.

17 – QUESTÃO

Considerando as regras de competência fixadas no Código de Processo Penal e na Constituição


Federal, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência do STJ sobre o tema.

a) Compete à Justiça Estadual julgar crimes praticados contra agência comunitária da


Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
b) Compete à Justiça Estadual julgar crimes relacionados a desvio de verbas destinadas ao
Sistema Único de Saúde.
c) Compete à Justiça Comum julgar o delito de lesão corporal praticado por militar contra
civil.
d) Compete à Justiça Comum julgar crime doloso contra a vida praticado por militar contra
civil, inclusive no contexto de abate de aeronave.
e) Compete à Justiça Estadual processar e julgar tentativa de estelionato consistente em
tentar receber, mediante fraude, em agência do Banco do Brasil, valores relativos a precatório
federal creditado em favor de particular.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Para definir o juízo competente para processar e julgar crimes praticados
contra agência dos Correios, é preciso diferenciar agência própria, franqueada e comunitária.

Tratando-se de agência própria, a competência é da Justiça Federal, com fundamento


no artigo 109, inciso IV da Constituição Federal, pois trata-se de crime praticado em detrimento
de bens, serviços e interesses de empresa pública federal. Por outro lado, o delito praticado
contra agência franqueada é de competência da Justiça Estadual, tendo em vista que constitui
modalidade de exploração do serviço por particulares que celebram contrato de franquia com

29
os Correios e assumem todos os riscos da atividade.

Por fim, de acordo com o entendimento do STJ, os crimes praticados em face de


agência comunitária são julgados pela Justiça Federal, em razão da similitude com o regime
das agências próprias, tendo em vista o interesse público e social no funcionamento do serviço
postal. Tratam-se de agências criadas sob a forma de convênio, de forma que há interesse
recíproco dos agentes na atividade desempenhada, motivo pelo qual eventual delito causa
prejuízos a bens, serviços e interesses dos Correios (CC 122.596).

Alternativa B: Consoante o entendimento do STJ, compete à Justiça Federal


processar e julgar delitos relacionados a desvio de verbas destinadas ao Sistema Único de
Saúde, com fundamento no artigo 109, inciso IV da Constituição Federal, pois tratam-se de
crimes praticados em detrimento de bens, serviços e interesses de ente federal, considerando
que compete à União fiscalizar a destinação adequada de tais recursos, através do Ministério da
Saúde, conforme determina o artigo 33, § 4º da Lei 8080/90 (AgRg no CC 122.555).

Diferente é a situação que envolve crimes relacionados à cobrança indevida de


serviços médico-hospitalares custeados pelo SUS. Neste caso, a competência é da Justiça
Estadual, pois só há prejuízo para os particulares (AgRg no CC 115.582).

Alternativa C: A Justiça Militar julga tão somente os delitos militares. Todavia, os


crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, consumados ou tentados, são
de competência da Justiça Comum, em razão do disposto nos artigos 125, § 4º da Constituição
Federal e 9º do Código Penal Militar. Portanto, se o crime é culposo, subsiste a competência
da Justiça Militar. Da mesma forma, se o delito doloso contra a vida se deu entre militares. O
mesmo não ocorre em relação ao crime de lesão corporal, de competência da Justiça Militar,
ainda que a vítima seja civil (artigo 9º, inciso II, c, do CPM).

Alternativa D: Como dito, compete à Justiça Comum processar e julgar os crimes


dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, consumados ou tentados, em razão do
disposto no artigo 125, § 4º da CF. Importante acrescentar que, de acordo com o entendimento
do STJ, havendo dúvida fundada quanto ao elemento subjetivo, o feito deve tramitar na Justiça
Comum, por força do princípio in dubio pro societate (CC 129.497).

Ressalva-se, todavia, o crime de homicídio praticado no contexto de abate de aeronave,


por força de disposição legal expressa que atribui a competência à justiça especializada, ainda
que a vítima seja civil (art. 9º, parágrafo único do CPM).

Alternativa E: Em regra, os crimes praticados em detrimento de sociedade de


economia mista federal, a exemplo do Banco do Brasil, são de competência da Justiça Estadual,
salvo se houver interesse da União, ou seja, quando o delito estiver relacionado com serviços de
concessão, autorização, delegação ou desvio de verbas sujeitas à prestação de contas perante

30
órgão federal.

Assim, de acordo com o entendimento do STJ, compete à Justiça Estadual processar


e julgar tentativa de estelionato consistente em tentar receber, mediante fraude, em agência do
Banco do Brasil, valores relativos a precatório federal creditado em favor de particular, tendo em
vista que o prejuízo atinge apenas o particular e o Banco do Brasil, que constitui sociedade de
economia mista (CC 133.187).

18 - QUESTÃO

Acerca das questões e dos processos incidentes, assinale a opção correta.

a) A suspensão do processo penal para resolução de questão prejudicial devolutiva absoluta


pressupõe o ajuizamento da ação no juízo cível competente.
b) A decisão judicial que denega a suspensão do processo penal para resolução de questão
prejudicial devolutiva relativa é recorrível mediante a interposição de recurso em sentido
estrito.
c) O incidente de suspeição não tem efeito suspensivo, salvo se a parte contrária reconhecer
a procedência da arguição e requerer a suspensão do processo principal.
d) Compete ao STJ decidir conflito de competência instaurado entre Juiz Estadual e o
respectivo Tribunal de Justiça.
e) A restituição de coisas apreendidas antes do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, requer decisão judicial.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Inicialmente, é importante estabelecer a distinção entre questão


prejudicial e questão preliminar. As questões prejudiciais estão relacionadas à própria existência
da infração penal, tem existência autônoma e condicionam o conteúdo das decisões referentes
à questão prejudicada. Por outro lado, as questões preliminares dizem respeito à ausência de
pressupostos processuais ou condições da ação, não tem existência autônoma e impedem o
julgamento de mérito da questão principal.

Questão prejudicial não devolutiva é aquela que deve ser apreciada no próprio
juízo criminal. Corresponde, pois, às questões prejudiciais homogêneas. A questão prejudicial
devolutiva, por sua vez, subdivide-se em: a) absoluta: obrigatoriamente deve ser analisada por
um juízo extrapenal, porquanto relacionada ao estado civil das pessoas (artigo 92 do CPP) e; b)
relativa: eventualmente podem ser apreciadas por um juízo extrapenal, pois relativa à matéria
diversa do estado civil das pessoas (artigo 93 do CPP).

31
Nesse contexto, dispõe o artigo 93 do Código de Processo Penal:

Art. 93.  Se o reconhecimento da existência da infração penal depender


de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da
competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para
resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil
solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender
o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das
outras provas de natureza urgente.

Denota-se, pois, a partir da leitura do dispositivo legal em análise, que somente


suspensão do processo penal para resolução de questão prejudicial devolutiva relativa,
pressupõe o ajuizamento da ação no juízo cível competente, perante o qual atuará o Ministério
Público, por força do princípio da obrigatoriedade.

Alternativa B: Como dito, a questão prejudicial devolutiva relativa é aquela que,


eventualmente pode ser apreciada por um juízo extrapenal, pois relativa à matéria diversa do
estado civil das pessoas (artigo 93 do CPP). Logo, a suspensão do processo penal é meramente
facultativa.

Por tal razão, o despacho que denega a suspensão do processo penal para resolução
de questão prejudicial devolutiva relativa é irrecorrível (artigo 93, § 2º do CPP). Ao contrário,
quando determinada a paralisação do feito para tal finalidade é cabível a interposição de recurso
em sentido estrito (artigo 581, inciso XVI do CPP).

Alternativa C: De acordo com Eugênio Pacelli de Oliveira, as hipóteses de impedimento


e suspeição do magistrado previstas nos artigos 252 e 254 do Código de Processo Penal:

“dizem respeito a fatos e circunstâncias, subjetivos ou objetivos, que,


de alguma maneira, podem afetar a imparcialidade do julgador na
apreciação do caso concreto” (Curso de Processo Penal, 3. ed., Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 291-292).

A suspeição do magistrado pode ser reconhecida de ofício (artigo 97 do CPP) ou


arguida pelas partes através da competente exceção que não tem efeito suspensivo, salvo se
a parte contrária reconhecer a procedência da arguição e requerer a suspensão do processo
principal (artigo 102 do CPP).

Alternativa D: O conflito de competência ocorre quando dois ou mais juízes


se consideram, contemporaneamente, competentes ou incompetentes para o processo e
julgamento do fato delituoso, bem como quando existe controvérsia acerca da unidade de
juízo, junção ou separação de processos, nas hipóteses de conexão ou continência (artigo 114

32
do CPP).

Nesse contexto, não há conflito de competência entre Juiz Estadual e o respectivo


Tribunal de Justiça, pois há uma relação de hierarquia jurisdicional entre eles, eis que o
magistrado está subordinado ao Tribunal perante o qual atua.

Alternativa E: Consoante o disposto no artigo 118 do Código de Processo Penal,


antes do trânsito em julgado da sentença, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas
enquanto interessarem ao processo. Nesse contexto, dispõe o artigo 120 do estatuto processual:

Art.  120.    A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela


autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não
exista dúvida quanto ao direito do reclamante.

§ 1o  Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-se-á em


apartado, assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a
prova. Em tal caso, só o juiz criminal poderá decidir o incidente.

Destarte, a restituição de coisas apreendidas requer decisão judicial somente quando


houver dúvida quanto ao direito do reclamante. Nos demais casos, a própria autoridade policial
processará o incidente em alusão.

19 - QUESTÃO

No tocante às medidas assecuratórias previstas no Código de Processo Penal, assinale a


opção correta.

a) O sequestro recai sobre o patrimônio ilícito do acusado e pressupõe requerimento do


Ministério Público, do ofendido, ou representação da autoridade policial.
b) O sequestro pode ser embargado pelo acusado, sob o fundamento de que o patrimônio
objeto do ato de constrição não foi adquirido com os proventos da infração, bem como por
terceiro adquirente de boa-fé.
c) A hipoteca legal pode ser constituída a qualquer tempo, inclusive antes do oferecimento
da denúncia, sobre bens imóveis de origem lícita, pertencentes ao acusado.
d) A decisão do juiz que determina ou indefere a inscrição da hipoteca legal é recorrível
mediante a interposição de recurso em sentido estrito.
e) O arresto tem natureza subsidiária e recai sobre os bens móveis adquiridos pelo acusado
com os proventos da infração, quando insuficientes os bens imóveis para assegurar o
ressarcimento pecuniário da vítima e o pagamento das despesas processuais.

RESPOSTA: Alternativa B

33
COMENTÁRIOS:

Alternativa A: As medidas assecuratórias visam garantir o ressarcimento pecuniário


da vítima e o pagamento das custas processuais e eventual multa aplicada, além de obstar o
lucupletamento ilícito do infrator.

O sequestro recai sobre o patrimônio adquirido pelo acusado com os proventos da


infração, com fundamento em prova meramente indiciária acerca da proveniência ilícita dos
bens. Pode ser decretado de ofício pelo juiz, ou mediante requerimento do Ministério Público,
do ofendido, ou representação da autoridade policial (artigos 125, 126 e 127 do CPP).

Alternativa B: Com efeito, consoante o disposto no artigo 130 do Código de Processo


Penal, o sequestro pode ser embargado pelo acusado, sob o fundamento de que o patrimônio
objeto do ato de constrição não foi adquirido com os proventos da infração, bem como por
terceiro adquirente de boa-fé. Nesse contexto, é importante consignar que os embargos serão
decididos somente após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Alternativa C: Ao contrário do sequestro, a hipoteca legal incide sobre bens


imóveis de origem lícita, pertencentes ao acusado e somente pode ser decretada durante o
processo, mediante requerimento do ofendido. Para tanto, requer provas suficientes acerca da
materialidade da infração e de suficientes da autoria (artigo 134 do CPP).

Alternativa D: O juiz determinará a inscrição da hipoteca legal após o arbitramento


do valor da responsabilidade e a avaliação dos bens (artigo 135 do CPP). A decisão do
magistrado que determina ou indefere a inscrição da hipoteca legal é recorrível via apelação,
com fundamento no artigo 593, inciso II do Código de Processo Penal, pois trata-se de decisão
definitiva proferida por juiz singular.

Alternativa E: O arresto tem natureza subsidiária e recai sobre os bens imóveis de


origem lícita pertencentes ao acusado, para assegurar a inscrição da hipoteca legal, bem como
sobre bens móveis, quando insuficientes os bens imóveis para assegurar o ressarcimento
pecuniário da vítima e o pagamento das despesas processuais (artigos 136 e 137 do CPP).

20 - QUESTÃO

Considerando as disposições processuais acerca da prisão e das medidas cautelares diversas


da prisão, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores.

a) É viável a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão previstas no Código de


Processo Penal ao usuário de drogas apreendido em flagrante.
b) Pode ser decretada a prisão temporária de acusado pela prática do crime de epidemia
com resultado morte, pelo prazo de 5 (cindo) dias, prorrogável por igual período, quando

34
imprescindível para as investigações.
c) Será admitida a decretação da prisão preventiva para fins de identificação criminal, se
imputada ao acusado a prática de crime doloso, cuja pena máxima privativa de liberdade
seja superior a 4 (quatro) anos.
d) A prisão domiciliar, como medida substitutiva da prisão preventiva, pode ser deferida em
favor de acusado indispensável aos cuidados de filho menor de 12 (doze) anos de idade.
e) Não é cabível a aplicação do benefício da detração penal, em processos distintos, quando
o delito pelo qual o sentenciado cumpre pena tenha sido praticado antes da segregação
cautelar.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A fim de conferir tratamento diverso ao usuário, dispõe o artigo 48, §


2º da Lei 11343/06:

Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão


em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado
ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele
comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as
requisições dos exames e perícias necessários.

Com efeito, considerando que a prática do crime previsto no artigo 28 da Lei de Drogas
não resulta na aplicação de pena privativa de liberdade, o usuário apreendido em flagrante
não poderá ser recolhido ao cárcere. Pelo mesmo motivo, afigura-se inviável a incidência das
medidas cautelares diversas da prisão previstas no Código de Processo Penal, cuja aplicação
pressupõe, essencialmente, a cominação de pena privativa de liberdade ao delito (artigo 283, §
1º do CPP).

Alternativa B: A prisão temporária constitui espécie de prisão cautelar, decretada


durante a fase investigatória, com prazo predeterminado de duração, quando a privação
da liberdade de locomoção do investigado for indispensável para assegurar a eficácia das
investigações, seja em relação às infrações penais mencionadas no artigo 1º, inciso III da Lei
7960/89, seja em relação a crimes hediondos e equiparados.

Como o próprio nome sugere, a prisão temporária tem prazo determinado de duração,
qual seja, 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade (artigo 2º da Lei 7960/89). Contudo, tratando-se de crimes hediondos e equiparados,
tal como o delito de epidemia com resultado morte, a segregação cautelar pode perdurar por
até 30 (trinta) dias, igualmente prorrogáveis por igual período, quando imprescindível para as
investigações artigo 2º, § 4º da Lei 8072/90).

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Alternativa C: A prisão preventiva constitui espécie de prisão cautelar, decretada de
ofício pelo juiz, se no curso da ação penal, ou mediante representação da autoridade policial ou
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, sempre que presentes os
requisitos legais do artigo 313 e os pressupostos do artigo 312, ambos do Código de Processo
Penal, e desde que inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão (artigo
319 do CPP).

De acordo com o disposto no artigo 313, parágrafo único do Código de Processo Penal,
é admitida a decretação da prisão preventiva para fins de identificação criminal do investigado.
Nesta hipótese, o legislador não faz qualquer referência à quantidade de pena cominada ao
delito, de sorte que é cabível a segregação cautelar do acusado, ainda que a pena máxima do
crime não seja superior a 4 (quatro) anos.

Alternativa D: Tendo em vista razões especiais de natureza humanitária, o Código de


Processo Penal autoriza a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar do acusado,
de natureza igualmente cautelar, nas hipóteses previstas no artigo 318 do Código de Processo
Penal.

Referido dispositivo legal foi alterado pelo Estatuto da Primeira Infância (Lei 13257/16),
para incluir mais duas hipóteses, além daquelas previstas originariamente pelo legislador.
Portanto, de acordo com a atual redação, a prisão domiciliar, como medida substitutiva da
prisão preventiva, pode ser deferida em favor de acusado indispensável aos cuidados de filho
menor de 12 (doze) anos de idade.

Alternativa E: A detração penal consiste no desconto, na pena privativa de liberdade


e na medida de segurança, do tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, ou de
internação (artigo 42 do CP). Trata-se de instituto voltado para a segregação cautelar, tendo em
vista o princípio da não culpabilidade (artigo 5º, inciso LVII da CF).

De acordo com o entendimento dos Tribunais Superiores, é cabível a aplicação do


benefício da detração penal, em processos distintos, desde que o delito pelo qual o sentenciado
cumpre pena tenha sido cometido antes da segregação cautelar, evitando a criação de um
crédito de pena (STF, RHC 61.195; STJ, REsp 848.531).

21 – QUESTÃO

Acerca do procedimento relativo aos processos de competência do Tribunal do Júri, assinale


a opção correta.

a) A instrução preliminar deve ser concluída no prazo de 120 (cento e vinte) dias.
b) A decisão de impronúncia é uma decisão interlocutória mista terminativa que não faz
coisa julgada material, de sorte que, enquanto não extinta a punibilidade, o Ministério

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Público pode oferecer nova denúncia com fundamento em prova inédita.
c) Determinado o desaforamento, o processo será remetido para a comarca mais próxima
da mesma região, admitido o reaforamento, se superadas as razões que ensejaram o
deslocamento da competência.
d) Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade, não serão
considerados para a constituição do número legal necessário para a realização da sessão.
e) Ao proferir sentença, o juiz presidente poderá considerar todas as circunstâncias agravantes
ou atenuantes relacionadas ao fato, ainda que não alegadas nos debates.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Na Constituição Federal de 1988, o Tribunal do Júri insere-se no rol de


direitos e garantias fundamentais (artigo 5º, inciso XXXVIII da CF). Direito conferido aos cidadãos
de notória idoneidade de participar da atividade do Poder Judiciário e julgar os seus pares, e
garantia do acusado de sujeição ao tribunal popular, nos crimes de sua competência, observado
o devido processo legal.

O procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida deve ser analisado a
partir da visão estrutural de procedimento bifásico. A primeira fase, denominada juízo de
admissibilidade (judicium accusationis), destina-se à formação de lastro probatório suficiente
acerca da autoria e materialidade do delito. A segunda fase, por sua vez, denominada juízo de
mérito (judicium causae), consiste no julgamento do acusado pronunciado pelo Conselho de
Sentença, composto por juízes leigos, sob a presidência do juiz togado.

De acordo com o disposto no artigo 412 do Código de Processo Penal, o procedimento


relativo à primeira fase deve ser concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias. No tocante à
segunda fase, tendo em vista a omissão legislativa, a doutrina entende ser aplicável o prazo de
6 (seis) meses que justifica o desaforamento do julgamento por excesso de serviço (artigo 428
do CPP).

Alternativa B: Concluída a instrução pertinente à primeira fase do rito especial, o


magistrado pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de
indícios suficientes de autoria ou participação (artigo 413 do CPP). Trata-se, portanto, de decisão
interlocutória mista não terminativa, porquanto encerra apenas uma fase do procedimento, que
terá seguimento com a participação dos jurados.

Todavia, diante da inexistência de lastro probatório mínimo, o juiz, fundamentadamente,


impronunciará o acusado (artigo 414 do CPP). A decisão de impronúncia, por sua vez, é uma
decisão interlocutória mista terminativa, pois, além de não decidir o mérito da demanda, põe
fim ao processo. Porém, consoante o disposto no artigo 414, parágrafo único do Código de

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Processo Penal, nada impede que, enquanto não extinta a punibilidade, o Ministério Público
ofereça nova denúncia com fundamento em prova inédita, ante a ausência de coisa julgada
material.

Alternativa C: Denomina-se desaforamento, o deslocamento do julgamento de


crime doloso contra a vida para outra comarca, por razões de ordem pública, ou quando houver
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado (artigo 427 do CPP),
bem como se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do
trânsito em julgado da decisão de pronúncia (artigo 428 do CPP).

Uma vez determinado o desaforamento, o processo será remetido para a comarca


mais próxima da mesma região, vedado o reaforamento em face da preclusão. O óbice
subsiste, ainda que superadas as razões que ensejaram o deslocamento da competência,
salvo, excepcionalmente, se no foro de destino sobrevierem motivos para que o processo seja
reaforado ao foro original.

Alternativa D: O Conselho de Sentença é composto por 7 (sete) jurados, sorteados


dentre 25 (vinte e cinco) cidadãos de notória idoneidade alistados pelo magistrado (artigo 447
do CPP).

O exercício da função de jurado é obrigatório, contudo, são impedidos de servir no


mesmo Conselho: marido e mulher; ascendente e descendente; sogro e genro ou nora; irmãos
e cunhados, durante o cunhadio;  tio e sobrinho e padrasto, madrasta ou enteado, incluídas as
pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar (artigo 448 do CPP).

De acordo com o disposto no artigo 463 do Código de Processo Penal, o início da


sessão de julgamento pressupõe o comparecimento de no mínimo 15 (quinze) jurados, dentre
os 25 (vinte e cinco) inicialmente alistados. Assim, para garantir a continuidade dos trabalhos, os
jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade, serão considerados para a
constituição do número legal necessário para a realização da sessão.

Alternativa E: A decisão de pronúncia, congruente com a denúncia e com a instrução


probatória pertinente à primeira fase do procedimento, deve conter tão somente elementos
referentes ao tipo básico, inclusive normas de extensão, qualificadoras e causas de aumento de
pena. As circunstâncias agravantes e atenuantes, por sua vez, devem ser alegadas pela parte
interessada por ocasião dos debates orais (artigo 476 do CPP).

Com efeito, ao proferir a sentença, o juiz presidente poderá considerar as circunstâncias


agravantes ou atenuantes, desde que alegadas nos debates orais, sob pena de violação à garantia
constitucional do contraditório, tendo em vista que nenhuma das partes pode ser surpreendida
pela decisão de matéria que não foi suscitada no curso do processo (artigo 492, inciso I, b, do
CPP).

38
22 - QUESTÃO

Considerando a sistemática recursal prevista no Código de Processo Penal e a jurisprudência


do STJ, assinale a opção correta.

a) No âmbito do Tribunal do Júri, caso o julgamento seja anulado em sede de recurso exclusivo
da defesa, a proibição de reformatio in pejus vincula a decisão do Conselho de Sentença.
b) Não há reformatio in pejus quando o Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, desclassifica
delito contra o patrimônio para crime contra a Administração Pública.
c) O instituto da mutatio libelli pode ser invocado pelo órgão jurisdicional de segunda
instância, no exercício de competência recursal, para atribuir nova definição jurídica ao fato
criminoso.
d) Decisão monocrática proferida pelo Ministro Relator no âmbito dos Tribunais Superiores,
em recursos ou ações originárias que versem sobre matéria penal ou processual penal, é
recorrível mediante a interposição de agravo interno, no prazo de 15 (quinze) dias.
e) São cabíveis embargos infringentes e de nulidade, no âmbito do processo penal, em face
de decisões não unânimes proferidas no julgamento de apelação ou recurso em sentido
estrito, quando for o acusado sucumbente no tocante à matéria objeto da divergência.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Em razão da proibição de reformatio in pejus, o Tribunal não pode,


no julgamento de recurso exclusivo da defesa, piorar a situação do réu. Para alguns autores, o
postulado em alusão está previsto expressamente nos artigos 617 e 626, parágrafo único do
Código de Processo Penal. Para outros, decorre da garantia constitucional inserta no artigo 5º,
inciso LV , como forma de não inibir a atividade recursal da defesa.

Todavia, no âmbito do Tribunal do Júri, caso o julgamento seja anulado em sede de


recurso exclusivo da defesa, a proibição de reformatio in pejus não vincula a decisão do Conselho
de Sentença, por força da soberania dos veredictos. Porém, se os jurados reconhecerem as
mesmas circunstâncias, o juiz presidente está adstrito aos limites da sanção imposta no decreto
condenatório anulado.
Alternativa B: A vedação de reformatio in pejus compreende uma análise quantitativa,
relacionada à quantidade de pena aplicada na sentença, e também qualitativa, considerando,
dentro outros aspectos, os efeitos da condenação ou a existência de causas de aumento de
pena não descritas no decreto condenatório.

Dessa forma, de acordo com o entendimento do STF, há reformatio in pejus quando


o Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, desclassifica delito contra o patrimônio para crime
contra a Administração Pública. Isso porque, nesta espécie de delito, ao contrário dos crimes

39
meramente patrimoniais, a progressão de regime está condicionada à reparação do dano
causado, o que resulta na imposição de uma condição mais gravosa ao réu (HC 121.089).

Alternativa C: A emendatio libelli pode ser realizada pelo órgão jurisdicional de


segunda instância, de forma que o Tribunal, no julgamento da apelação, tem competência para
atribuir nova definição jurídica ao fato criminoso, para fins de correção da tipificação do delito.

Por outro lado, o instituto da mutatio libelli não pode ser invocado pelo órgão
jurisdicional de segunda instância, no exercício de competência recursal, para atribuir nova
definição jurídica ao fato criminoso, sob pena de supressão de instância e violação ao princípio
do duplo grau de jurisdição.

Assim, constatada a ocorrência de fato delitouso não descrito na denúncia, sequer


implicitamente, o Tribunal, em caso de provimento da apelação, deve anular a sentença e
remeter os autos à primeira instância, onde serão adotadas as providencias cabíveis.

Alternativa D: De acordo com o disposto no artigo 39 da Lei 8038/90, em face


de decisão monocrática proferida pelo Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações
originárias que versem sobre matéria penal ou processual penal, é cabível a interposição de
agravo interno no prazo de 5 (cinco) dias.

Todavia, o artigo 1070, inserido nas disposições finais e transitórias do Novo Código
de Processo Civil, estabelece que qualquer recurso de agravo previsto em lei ou em regimento
interno de tribunal, contra decisão do relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal,
deve ser interposto no prazo de 15 (quinze) dias.

Diante desse aparente conflito de normas legais, O STJ firmou entendimento no


sentido de que o recurso de agravo previsto na Lei 8038/90, que verse sobre matéria penal ou
processual penal, não obedece às regras do novo Código de Processo Civil e, portanto, deve ser
inteposto no prazo de 5 (cinco) dias corridos (AgRg na Rcl 30.714).

Alternativa E: Com efeito, são cabíveis embargos infringentes e de nulidade no


âmbito do processo penal, em face de decisões não unânimes proferidas no julgamento de
apelação ou recurso em sentido estrito, quando for o acusado sucumbente no tocante à matéria
objeto da divergência. Trata-se, pois de recurso privativo da defesa.

Ressalte-se que, no âmbito do processo penal militar, os embargos infringentes e


de nulidade não são privativos da defesa, de forma que a legitimidade do Ministério Público
não está adstrita à interposição do recurso em tela somente em favor do réu, mas também pro
societate (artigo 538 do CPPM).

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23 - QUESTÃO

Considere a seguinte situação hipotética: Juarez foi condenado a uma pena de 12 anos de
reclusão, em regime fechado, pelo crime de latrocínio. Após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, o entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores foi modificado no
tocante à matéria que poderia resultar no abrandamento da sanção imposta ao réu. Por
essa razão, Juarez, pessoalmente, ao invés de ajuizar ação de revisão criminal, impetrou
habeas corpus pugnando pela aplicação do novo entendimento. O Ministério Público, ao se
manifestar, concordou com o pleito do condenado. Diante do exposto, assinale a alternativa
correta, de acordo com a jurisprudência do STF e do STJ.

a) É admissível a impetração de habeas corpus como sucedâneo de revisão criminal para


tutelar a liberdade de locomoção do condenado.
b) O Ministério Público não tem legitimidade para ajuizar ação de revisão criminal em favor
do réu, na qualidade de fiscal da ordem jurídica.
c) Se ajuizada, a revisão criminal não seria conhecida, pois pressupõe a subscrição da peça
por advogado regularmente constituído nos autos.
d) O pleito de Juarez é inviável, uma vez que a alteração do entendimento jurisprudencial,
por si só, não autoriza a impetração de habeas corpus ou o ajuizamento de revisão criminal.
e) O julgamento pelo STF de habeas corpus impetrado por Juarez contra decisão proferida
em sede de recurso especial afasta, por si só, a competência do STJ para processar e julgar
posterior revisão criminal.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O habeas corpus é destinado à tutela da liberdade de locomoção, em


face de ilegalidade ou abuso de poder. Trata-se, pois, de ação autônoma de impugnação que,
como tal, não substitui a interposição do recurso adequado, tampouco o ajuizamento de revisão
criminal voltada à rescisão da coisa julgada em matéria penal.

Nesse sentido, consoante o entendimento dos Tribunais Superiores, somente é


admissível a impetração de habeas corpus em caráter substitutivo diante de ilegalidade flagrante
ou decisões teratológicas (STJ, HC 309.087).

Alternativa B: A revisão criminal, modalidade de ação autônoma de impugnação,


destina-se ao reexame de sentença penal condenatória transitada em julgado, nas hipóteses
previstas no artigo 621 do Código de Processo Penal. Tal demanda portanto, tem o condão de
excepcionar a coisa julgada em matéria criminal, razão pela qual somente pode ser ajuizada em
favor do sentenciado.

41
Todavia, apesar da omissão legislativa, o Ministério Público tem legitimidade para
ajuizar ação de revisão criminal em favor do réu, na qualidade de fiscal da ordem jurídica,
sobretudo em vista da vocação constitucional do órgão ministerial, ditada pelo artigo 127 da
Constituição Federal.

Alternativa C: No tocante à legitimidade para a propositura da revisão criminal,


dispõe o artigo 623 do Código de Processo Penal:

 Art. 623.  A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador
legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.

Portanto, tal como o habeas corpus, o ajuizamento da revisão criminal não requer
capacidade postulatória, de sorte que a peça não precisa ser subscrita por advogado
regularmente constituído nos autos. Ao contrário, pode ser postulada pelo próprio réu ou seus
parentes, na ordem estabelecida no aludido dispositivo legal.

Alternativa D: Com efeito, a alteração do entendimento jurisprudencial, por si só, não


autoriza a impetração de habeas corpus ou o ajuizamento de revisão criminal. Isso porque, as
decisões proferidas pelos Tribunais, ainda que reiteradas, não tem força normativa e, portanto,
não atraem a incidência do postulado da retroatividade da lei penal benéfica (artigo 5º, inciso
XL da CF).

Não obstante, as hipóteses de cabimento da revisão criminal estão enumeradas


em rol taxativo constante do artigo 621 do Código de Processo Penal, tendo em vista o ideal
de segurança jurídica que fundamenta a formação da coisa julgada material, cuja rescisão é
admitida tão somente nas hipóteses expressamente previstas em lei.

Alternativa E: A revisão criminal constitui ação de competência originária do Tribunal


em que certificado o trânsito em julgado da decisão. Dessa forma, se a condenação foi mantida
(em sede de recurso) ou proferida (em casos de competência originária) pelo Superior Tribunal
de Justiça, e contra este acórdão não foi interposto recurso extraordinário, a competência para
julgar a revisão criminal será do próprio STJ.

Nesse contexto, consoante o entendimento exarado pelo STJ, o julgamento pelo STF
de habeas corpus impetrado contra decisão proferida em sede de recurso especial não afasta,
por si só, a competência do STJ para processar e julgar posterior revisão criminal (RvCr 2.877).

24 - QUESTÃO

No tocante ao disposto na Lei de Execução Penal, assinale a opção correta, consoante a


jurisprudência dos Tribunais Superiores.

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a) A punição por falta grave prescreve no prazo de 3 (três anos) e pressupõe o trânsito em
julgado da condenação pelo crime doloso praticado.
b) O inadimplemento da pena de multa não obsta a progressão de regime ou a extinção da
punibilidade, se cumprida a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos aplicada
cumulativamente.
c) É admissível a remissão da pena pela leitura, mas não em razão da prática de atividade
laborativa extramuros.
d) Compete à Fazenda Pública promover a execução da pena de multa, mas o Ministério
Público tem legitimidade para promover medidas cautelares que assegurem o cumprimento
da sanção penal.
e) Não é possível a execução provisória de pena imposta em acórdão condenatório proferido
em ação penal de competência originária do Tribunal.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O condenado à pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos e


o preso provisório tem o dever de colaborar para a manutenção da ordem e disciplina internas,
de forma que, a prática de falta disciplinar enseja a imposição da respectiva sanção (artigo 52
da LEP).

Ao lado das hipóteses previstas no artigo 51 da lei 7210/84 (LEP), a prática de fato
previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou
disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao
regime disciplinar diferenciado.

Nesse contexto, consoante o entendimento consolidado na Súmula 562 do STJ,


fundando na literalidade do artigo 52 da Lei de Execução Penal, a punição pela prática de falta
grave independe do trânsito em julgado da condenação pelo crime doloso praticado, tendo em
vista que a demora do processo penal pode resultar na extinção da pena antes do julgamento
da demanda criminal. Além disso, não há que se cogitar de prejuízo para o réu, porquanto
assegurados o exercício do contraditório e da ampla defesa.

No tocante ao prazo prescricional da falta grave, diante da ausência de previsão legal


específica, aplica-se o menor prazo previsto no Código Penal, qual seja, 3 (três) anos.

Alternativa B: A pena privativa de liberdade deve ser cumprida de forma progressiva,


mediante a transferência do apenado para regime menos rigoroso, quando cumprido um sexto
da pena no regime anterior e comprovado bom comportamento carcerário (artigo 112 da LEP).

Todavia, o STF, em recente precedente criou um novo requisito para a progressão de

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regime, qual seja, o pagamento integral da pena de multa, salvo comprovada impossibilidade
econômica do condenado, tendo em vista que os pressupostos previstos no artigo 11 da
Lei de Execução Penal não tem caráter exaustivo, de forma que outros elementos devem ser
considerados pelo julgador, atento às finalidades da pena e ao merecimento do apenado.
Vejamos as conclusões extraídas deste interessante julgado:

“(...) Circunstâncias brasileiras – como as limitações orçamentárias,


a superlotação dos presídios e a existência de centenas de milhares
de mandados de prisão à espera de cumprimento – fazem com que o
sistema de cumprimento de penas e de progressão de regime entre nós
seja menos severo do que o de outros países. Menos do que uma opção
filosófica ou uma postura de leniência, trata-se de uma escolha política
acerca da alocação de recursos, feita pelas instâncias representativas da
sociedade e materializada na lei. Todavia, especialmente em matéria de
crimes contra a Administração Pública – como também nos crimes de
colarinho branco em geral –, a parte verdadeiramente severa da pena,
a ser executada com rigor, há de ser a de natureza pecuniária. Esta, sim,
tem o poder de funcionar como real fator de prevenção, capaz de inibir
a prática de crimes que envolvam apropriação de recursos públicos. A
decisão que se tomar aqui solucionará não apenas o caso presente, mas
servirá de sinalização para todo o país acerca da severidade com que
devem ser tratados os crimes contra o erário. Nessas condições, não é
possível a progressão de regime sem o pagamento da multa fixada na
condenação. Assinale-se que o condenado tem o dever jurídico – e não
a faculdade – de pagar integralmente o valor da multa. Pensar de modo
diferente seria o mesmo que ignorar modalidade autônoma de resposta
penal expressamente concebida pela Constituição, nos termos do art. 5º,
inciso XLVI, alínea “c”. De modo que essa espécie de sanção penal exige
cumprimento espontâneo por parte do apenado, independentemente
da instauração de execução judicial. É o que também decorre do art. 50
do Código Penal, ao estabelecer que “a multa deve ser paga dentro de
10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença”. Com efeito,
o não recolhimento da multa por condenado que tenha condições
econômicas de pagá -la, sem sacrifício dos recursos indispensáveis ao
sustento próprio e de sua família, constitui deliberado descumprimento
de decisão judicial e deve impedir a progressão de regime. Além
disso, admitir-se o não pagamento da multa configuraria tratamento
privilegiado em relação ao sentenciado que espontaneamente paga
a sanção pecuniária. Não bastasse essa incongruência lógica, note-se,
também, que a passagem para o regime aberto exige do sentenciado
“autodisciplina e senso de responsabilidade” (art. 114, II da LEP), o que
pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que se lhe aplicam.

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Tal interpretação é reforçada pelo que dispõe o art. 36, § 2º, do Código
Penal e o art. 118, § 1º, da Lei de Execução Penal, que estabelecem a
regressão de regime para o condenado que “não pagar, podendo, a
multa cumulativamente imposta” (EP 12 ProgReg-AgR).

Alternativa C: A remição consiste no abatimento de parte do tempo de execução


da pena, pelo trabalho ou estudo, na proporção estabelecida no artigo 126 da Lei de Execução
Penal.

A partir de interpretação extensiva do aludido dispositivo legal que admite a remição


pelo estudo, o STJ firmou entendimento no sentido da admissibilidade da remição pela leitura.
Isso porque, o estudo está diretamente ligado à leitura e à produção de textos, atividades que
exigem dos indivíduos a participação efetiva enquanto sujeitos ativos desse processo, levando-
os à construção do conhecimento. Além disso, a leitura em si possui caráter ressocializador,
por contribuir na restauração da autoestima e, por conseguinte, diminui consideravelmente a
ociosidade dos presos e reduz a reincidência criminal (HC 353.689).

Ainda nesse contexto, consoante o entendimento consignado na Súmula 562 do STJ,


é possível a remição da pena em razão de atividade laborativa extramuros, ante a ausência de
vedação legal expressa nesse sentido.

Alternativa D: De acordo com o disposto no artigo 51 do Código Penal, com redação


determinada pela Lei 9268/96, transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será
considerada dívida de valor, de forma que compete à Fazenda Pública promover a sua execução
de acordo com a legislação pertinente (Lei 6830/80), inclusive no tocante às causas interruptivas
e suspensivas da prescrição (Súmula 521 do STJ).

Destarte, a partir do advento da Lei 9268/96, a multa não pode ser convertida em
pena privativa de liberdade, na hipótese de inadimplemento voluntário do acusado, o que,
todavia, não lhe retira o caráter de sanção penal. Por essa razão, o Ministério Público, enquanto
titular ação penal e interessado no cumprimento da pena pecuniária imposta na sentença, pode
promover medidas cautelares que assegurem o pagamento da multa.

Alternativa E: Por força da regra de tratamento que decorre do princípio da presunção


de não culpabilidade (artigo 5º, inciso LVII da CF), a execução da pena imposta na sentença
pressupõe o trânsito em julgado do decreto condenatório.

Porém, de acordo com o entendimento proferido pelo STF no julgamento do HC


126.292, é possível o início da execução da pena após a prolação de acórdão condenatório
pelo Tribunal no julgamento do recurso de apelação, considerando que os recursos especial e
extraordinário não possuem efeito suspensivo. Para o Relator, Ministro Teori Zavascki:

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“A execução da pena na pendência de recursos de natureza
extraordinária não compromete o núcleo essencial do pressuposto
da não culpabilidade, na medida em que o acusado foi tratado como
inocente no curso de todo o processo ordinário criminal, observados
os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as
regras probatórias e o modelo acusatório atual. Não é incompatível
com a garantia constitucional autorizar, a partir daí, ainda que cabíveis
ou pendentes de julgamento de recursos extraordinários, a produção
dos efeitos próprios da responsabilização criminal reconhecida pelas
instâncias ordinárias”.

Na esteira deste entendimento, com base nos mesmos fundamentos, o STJ decidiu
que é possível a execução provisória de pena imposta em acórdão condenatório proferido em
ação penal de competência originária de tribunal (EDcl no REsp 1.484.415).

25 - QUESTÃO

Tendo em vista o procedimento sumaríssimo previsto na Lei 9099/95, assinale a opção


correta.

a) Aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima não seja superior a 2 (dois)
anos, cumulada ou não com multa, são aplicáveis os institutos despenalizadores previstos
na Lei 9099/95.
b) A sentença que homologa a transação penal impõe ao autor do fato a obrigação de
indenizar os danos causados pela prática da infração penal, bem como acarreta a perda, em
favor da União, dos instrumentos, produto ou proveito do crime.
c) Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, a composição civil dos danos acarreta a
renúncia ao direito de queixa, e, por conseguinte, a extinção da punibilidade de todos os
coautores e partícipes, desde que presentes na audiência preliminar.
d) A sentença penal condenatória é recorrível mediante a interposição de recurso inominado,
acompanhado das razões recursais, no prazo de 10 (dez) dias.
e) Os Juizados Especiais Criminais não detém competência para executar as penas impostas
na sentença condenatória, independentemente da natureza da sanção penal.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Consoante o disposto no artigo 94 do Estatuto do Idoso, aos crimes


previstos nesta lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos,
aplica-se o procedimento previsto na Lei 9099/95.

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Recentemente, o STF concluiu o julgamento da ADI 3.096, ajuizada pelo Procurador-
Geral da República em face do citado artigo 94, no sentido de que referido dispositivo legal
deve ser interpretado em favor do seu específico destinatário – o próprio idoso – e não de quem
lhe viole os direitos.

Assim, aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima não seja superior
a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, são aplicáveis os institutos despenalizadores
previstos na Lei 9099/95. Todavia, para os delitos, cuja pena máxima seja superior a 2 (dois) e
inferior a 4 (quatro) anos, aplicam-se somente as normas correspondentes ao procedimento
sumaríssimo, a fim de imprimir celeridade ao feito, em benefício do idoso.

Alternativa B: A sentença que certifica a validade da transação penal tem natureza


meramente homologatória e o único efeito de impedir a concessão do mesmo benefício durante
o prazo de 5 (cinco) anos. Com efeito, consoante o disposto no artigo 76, § 6º da Lei 9099/95, a
imposição da sanção objeto do acordo não prevalece para fins de antecedentes criminais, nem
tem efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação competente no juízo cível.

Sendo assim, não tem incidência os efeitos previstos no artigo 91 do Código Penal,
próprios das sentenças condenatórias, de forma que a homologação da transação penal não
impõe ao autor do fato a obrigação de indenizar os danos causados pela prática da infração
penal, tampouco acarreta a perda, em favor da União, dos instrumentos, produto ou proveito
do crime.

Alternativa C: De acordo com o disposto no artigo 74, parágrafo único da lei 9099/95,
tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à
representação, a composição civil dos danos acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação, e a consequente extinção da punibilidade, nos termos do artigo 107, inciso V do
Código Penal.

Por conseguinte, tendo em vista o princípio da indivisibilidade inerente às ações


penais privadas, a renúncia ao direito de queixa decorrente da composição dos danos civis
favorece os demais coautores e partícipes, ainda que ausentes na audiência preliminar.

Alternativa D: A Lei 9099/95 prevê expressamente o cabimento da apelação nas


seguintes hipóteses: a) rejeição da inicial acusatória (artigo 82); b) sentença condenatória ou
absolutória (artigo 82) e; c) decisão homologatória de transação penal (artigo 76, § 5º).

Não se trata, pois, de recurso inominado, tal como nos Juizados Especiais Cíveis.
Destarte, a sentença penal condenatória é recorrível mediante a interposição de apelação, no
prazo de 10 (dez) dias, acompanhada das razões recursais (artigo 82, § 1º da Lei 9099/95), ao
contrário da sistemática prevista no Código de Processo Penal.

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Alternativa E: Nos termos do artigo 84 da Lei 9099/95, quando aplicada isoladamente,
seja em virtude de transação penal, seja por força de condenação definitiva, a pena de multa
deve ser cumprida mediante pagamento na própria Secretaria do Juizado Especial Criminal.

Por outro lado, a execução da pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos


imposta no decreto condenatório, bem como da multa aplicada cumulativamente com tais
sanções, deve ser promovida pela vara das execuções penais, afastada, pois, a competência dos
Juizados Especiais somente neste caso (artigo 86 da Lei 9099/95).

26 – QUESTÃO

Acerca do instituto da delação premiada, assinale a alternativa correta, de acordo com a


jurisprudência do STF.

a) O acordo de colaboração premiada não pode ser impugnado por terceiro, ainda que se
trate de pessoa citada na delação, tendo em vista o seu caráter personalíssimo.
b) A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior
de colaboração premiada têm o condão de invalidar a delação atual.
c) O sigilo do acordo de colaboração premiada pode ser desconstituído em favor de Comissão
Parlamentar de Inquérito, inclusive antes do recebimento da denúncia.
d) A referência ao nome de investigado com foro por prerrogativa de função em depoimento
de réu colaborador, durante a instrução em 1ª instância, caracteriza ato de investigação a
ensejar o desmembramento do processo.
e) Viola enunciado vinculante do STF, a decisão do juiz que nega ao réu denunciado com
base em um acordo de colaboração premiada, o acesso a todos os termos da delação, ainda
que não digam respeito aos fatos pelos quais está sendo acusado.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A colaboração premiada insere-se no contexto maior do chamado


“direito penal premial” e representa uma tendência mundial, por ser, nas palavras do Ministro
Ricardo Lewandovski:

“um instrumento útil, eficaz, internacionalmente reconhecido, utilizado


em países civilizados” (HC 90.688).

Assim, inspirando-se na legislação italiana de combate ao crime organizado, bem


como na plea bargaining – instrumento de política criminal característico do direito anglo saxão
– o legislador brasileiro introduziu em nosso ordenamento jurídico o instituto da colaboração
premiada, por meio do qual o coautor ou partícipe, visando a obtenção de algum prêmio, coopera

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com os órgãos responsáveis pela persecução criminal fornecendo informações privilegiadas
e eficazes acerca da identidade dos sujeitos do crime e à materialidade das infrações penais
praticadas.

Recentemente o STF ratificou o entendimento da doutrina majoritária no sentido


de que o acordo de colaboração premiada constitui meio de obtenção de prova, ou seja,
instrumento destinado à aquisição de elementos informativos que, segundo o resultado de sua
obtenção, poderão formar meio de prova.

Nesse contexto, de acordo com a Corte, tratando-se de negócio jurídico personalíssimo,


o acordo não pode ser impugnado por terceiro, ainda que nominado no respectivo instrumento.
Isso porque o acordo, por si só, não vincula o delatado, nem afeta diretamente sua situação
jurídica. O que poderá atingir eventual corréu são as imputações posteriores, constantes do
depoimento do colaborador, que serão valoradas em conjunto com as demais provas produzidas
no processo (HC 127.483).

Alternativa B: Como dito, o STF ratificou o entendimento da doutrina majoritária


no sentido de que o acordo de colaboração premiada constitui meio de obtenção de prova,
destinado à aquisição de elementos dotados de capacidade probatória.

Assim, de acordo com o entendimento do Tribunal, a personalidade do colaborador


ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de colaboração premiada não têm o
condão de invalidar a delação atual. Em outras palavras, a idoneidade do agente colaborador não
constitui elemento de existência ou requisito de validade do acordo de colaboração. Vejamos:

“A personalidade do colaborador não constitui requisito de validade


do acordo de colaboração, mas sim vetor a ser considerado no
estabelecimento de suas cláusulas, notadamente na escolha da sanção
premial a que fará jus o colaborador, bem como no momento da
aplicação dessa sanção pelo juiz na sentença” (HC 127.483).

Alternativa C: Consoante o disposto no artigo 7º, §§ 2º e 3º da Lei 12850/13, o acordo


de colaboração premiada é sigiloso até o recebimento da denúncia, de forma que o acesso
aos autos é restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, assegurando-se
ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam
respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.

A imposição de sigilo tem a finalidade de garantir o êxito das investigações, bem


como preservar a identidade e a integridade física do colaborador e de seus familiares. Assim,
ressalvadas as exceções citadas, o sigilo do acordo de colaboração premiada não pode ser
desconstituído antes do recebimento da denúncia, nem mesmo em favor de Comissão

49
Parlamentar de Inquérito.

Alternativa D: O acordo de colaboração, meio de obtenção de prova, não se confunde


com os depoimentos prestados pelo colaborador, estes sim meios de prova destinados a
fundamentar as imputações, que serão valoradas em conjunto com as demais provas produzidas
no processo.

Por essa razão, a simples referência ao nome de investigado com foro por prerrogativa
de função em depoimento de réu colaborador, durante a instrução em 1ª instância, não
caracteriza ato de investigação, ainda mais quando houve prévio desmembramento. Vejamos
interessante precedente nesse sentido:

“A violação de competência implica a realização de medidas


investigatórias dirigidas às autoridades sujeitas à prerrogativa de foro
e não a simples declaração de réu colaborador, com menção sobre a
participação de detentores de foro por prerrogativa de função durante
audiência de instrução. Raciocínio inverso, esposado pelo reclamante,
levaria à conclusão de que toda vez que despontasse elemento
probatório novo veiculado aos fatos investigados, todos os processos
e ações penais em andamento haveriam de retornar ao Supremo
Tribunal Federal para novo exame, o que, além de desarrazoado,
inviabilizaria, na prática, a persecução penal. Destaca-se, nessa linha,
que em casos de desmembramento é comum a existência, em juízos
diversos, de elementos relacionados tanto a o detentor de prerrogativa
de foro quanto aos demais envolvidos. Contudo, a existência dessa
correspondência não caracteriza usurpação de competência. Pelo
contrário, a simples menção do nome do reclamante em depoimento
de réu colaborador, durante a instrução, não caracteriza ato de
investigação, ainda mais quando houver prévio desmembramento pelo
Supremo Tribunal Federal, como ocorreu no caso” (Rcl 21419 AgR).

Alternativa E: Como dito, o acordo de colaboração premiada é sigiloso até o


recebimento da denúncia, de forma que o acesso aos autos é restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado,
amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa,
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em
andamento (artigo 7º, §§ 2º e 3º da Lei 12850/13).

Diante da previsão legal, o STF entendeu que não viola enunciado vinculante do
STF, a decisão do juiz que nega ao réu denunciado com base em um acordo de colaboração
premiada, o acesso aos termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais ele
está sendo acusado, especialmente se tais informações ainda estão sendo investigadas, situação

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na qual existe previsão de sigilo, no interesse das investigações e da preservação da identidade
e integridade física do colaborador (Rcl 22009 AgR).

27 – QUESTÃO

Acerca da interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, assinale a opção correta,


considerando, inclusive a jurisprudência dos Tribunais Superiores acerca do tema.

a) A gravação telefônica ou ambiental será maculada pela ilicitude quando realizada sem
autorização judicial, ou com violação de sigilo profissional protegido penalmente.
b) É admitida a interceptação de qualquer forma de comunicação, seja por meio da palavra
falada ou por símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer
natureza, transmitidos, emitidos ou recepcionados por meio de aplicativos de smartphones
(Whatsapp, Messenger, e-mail, etc), observada a cláusula de reserva de jurisdição.
c) A simples referência ao nome de autoridade detentora de foro por prerrogativa de função,
em conversas captadas mediante interceptação telefônica, determina o desmembramento
do processo e a remessa dos autos à superior instância.
d) A interceptação das conversas mantidas entre o investigado e seu advogado constitui
razão suficiente para a anulação de todo o processo e da condenação imposta ao réu.
e) É inadmissível a interceptação de comunicações telefônicas quando o fato investigado
constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção, ainda que conexa com
outros delitos puníveis com reclusão.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Inicialmente, é preciso estabelecer a distinção entre intercepção, escuta


e gravação. A interceptação consiste na captação da conversa por terceiro, sem o conhecimento
dos interlocutores, mediante autorização judicial. A escuta, por sua vez, também é realizada por
terceiro, mas com o consentimento de um dos interlocutores, à vista de autorização judicial.
Por fim, a gravação é realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro,
independentemente de autorização judicial.

De acordo com o entendimento dos Tribunais Superiores, a gravação ambiental


ou telefônica, constitui fonte de prova lícita, independentemente de autorização judicial, se
realizada: a) como meio de defesa; b) em razão de investida de natureza criminosa; c) se não há
reserva de conversação ou, ainda; d) quando não restar caracterizada violação de sigilo. Nessas
condições, aplica-se a teoria da exclusão da ilicitude, capitaneada por Afrânio Silva Jardim, que
tem o condão de afastar qualquer irregularidade da prova, quando a conduta do agente está
amparada pelo direito. Com efeito, assim decidiu o STJ:

51
“a gravação ambiental, realizada por um dos interlocutores, com o
objetivo de preservar-se diante de atuação desvirtuada da legalidade,
prescinde de autorização judicial” (RHC 31.356).

Por outro lado, a gravação clandestina será maculada pela ilicitude quando realizada
com violação de confiança decorrente de relações interpessoais (amizade, casamento, etc) ou
profissionais (advogado e cliente, psiquiatra e paciente, etc), em virtude da privacidade alheia,
tutelada constitucionalmente. Nesse sentido, vejamos interessante precedente do STF:

“No caso em tela, a gravação da conversa telefônica foi realizada pela


amásia do réu, tão somente com o intuito de responsabilizá-lo pelo
crime, uma vez que a vítima do homicídio era pessoa com quem ela
mantinha relação amorosa. Dessa forma, como se percebe, tal prova
(gravação telefônica) foi colhida com indevida violação de privacidade
(artigo 5º, X, da CF) e não como meio de defesa ou em razão de investida
criminosa, razão pela qual deve ser reputada ilícita” (HC 57.961)

Alternativa B: A partir da interpretação do artigo 1º, parágrafo único da Lei 9296/96,


o STJ entende possível a interceptação de comunicações telemáticas, mediante autorização
judicial, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (HC 160.662).

Dessa forma, desde que observada a cláusula de reserva de jurisdição, é admitida


a interceptação de qualquer forma de comunicação, seja por meio da palavra falada ou por
símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza,
transmitidos, emitidos ou recepcionados por meio de aplicativos de smartphones (Whatsapp,
Messenger, e-mail, etc).

Nesse sentido, em virtude da ausência de autorização judicial, o STJ considerou ilícita


a devassa de conversas registradas em aplicativo de mensagens instantâneas (Whatsapp),
obtidas diretamente pela autoridade policial em celular apreendido no ato flagrancial. Vejamos
as conclusões extraídas do voto da Ministra Maria Thereza de Assis Moura, na análise do caso
concreto:

“Destaco, a propósito, que a ponderação dos interesses constitucionais


em jogo foi realizada, entre nós, essencialmente pelo legislador, que
previu, em mais de um dispositivo, o direito à inviolabilidade dos dados
armazenados em aparelhos celulares. Com efeito, a Lei nº 9.472/97, ao
dispor sobre a organização dos serviços de telecomunicações, prescreve,
em seu artigo 3º, inciso V, que o usuário de serviços de telecomunicações
tem direito “à inviolabilidade e ao segredo de sua comunicação, salvo
nas hipóteses e condições constitucional e legalmente previstas”. Já
a Lei nº 12.965/14, que estabelece os princípios, garantias e deveres

52
para o uso da Internet no Brasil, prevê, em seu artigo 7º, III, dentre os
direitos assegurados aos usuários da rede mundial, “a inviolabilidade
e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por
ordem judicial”. No caso concreto, as autoridades policiais acessaram
fotos, imagens e conversas existentes em aplicativo de mensagens
instantâneas (whatsapp) extraídas do aparelho celular do recorrente.
Não se trata, portanto, de verificação de registros das últimas ligações
realizadas/recebidas ou de nomes existentes em agenda telefônica,
informações tipicamente encontradas nos aparelhos antigos – como
nos mencionados casos examinados pelo Supremo Tribunal Federal
(HC 91867) e pelo Tribunal Supremo espanhol (Sentencia 115/2013 ,
de 9 de maio de 2013) –, mas de acesso a dados mais profundamente
vinculados à intimidade, somente passíveis de armazenamento nos
modernos aparelhos multifuncionais. Não descarto, de forma absoluta,
que, a depender do caso concreto, caso a demora na obtenção de um
mandado judicial pudesse trazer prejuízos concretos à investigação ou
especialmente à vítima do delito, mostre-se possível admitir a validade
da prova colhida através do acesso imediato aos dados do aparelho
celular. Imagine-se, por exemplo, um caso de extorsão mediante
sequestro, em que a polícia encontre aparelhos celulares em um cativeiro
recém-abandonado: o acesso incontinenti aos dados ali mantidos pode
ser decisivo para a libertação do seqüestrado” (RHC 51.531).

Trata-se do que a doutrina denomina direito probatório de terceira geração.


Em apertada síntese, tendo em vista as limitações impostas à atuação estatal em defesa da
intimidade, à luz dos precedentes da Suprema Corte dos Estados Unidos (Olmstead, 1928; Katz,
1967 e Kyllo, 2001), é possível estabelecer a seguinte classificação:

a) Direito probatório de 1ª geração: a proteção constitucional aplicava-se somente a


áreas tangíveis e demarcáveis, exigindo a entrada, o ingresso e a violação de um espaço privado
ou particular, com abrangência apenas de coisas, objetos e lugares, de sorte que a captação
da imagem e da voz, incluindo-se a realizada por meio da interceptação telefônica, não era
protegida constitucionalmente;

b) Direito probatório de 2ª geração: o âmbito de proteção constitucional foi ampliado


de coisas, lugares e pertences para pessoas e suas expectativas de privacidade;

c) Direito probatório de 3ª geração: abrange as provas tecnológicas, altamente


invasivas, que permitem ao Estado alcançar conhecimentos e resultados que transcendem
àqueles que seriam obtidos pelos sentidos e técnicas tradicionais. Devido ao poder devassador,
imprevisível e penetrante da tecnologia, sua utilização, se ainda não pertencer ao uso geral do
público, dependerá da autorização judicial.

53
Inclusive, no citado HC nº. 51.531, o Ministro Schietti citou o precedente Riley v.
California, no qual a Suprema Corte norte-americana concluiu ser necessário um mandado
judicial para permitir o acesso ao telefone celular de um cidadão durante uma prisão em
flagrante, haja vista que:

“telefones celulares modernos não são apenas mais conveniência


tecnológica, porque o seu conteúdo revela a intimidade da vida. O
fato de a tecnologia agora permitir que um indivíduo transporte essas
informações em sua mão não torna a informação menos digna de
proteção”.

Alternativa C: No curso de uma interceptação telefônica podem surgir indícios da


prática de crime diverso do investigado (serendipidade objetiva), ou do envolvimento de outra
pessoa, por vezes detentora de foro por prerrogativa de função (serendipidade subjetiva).

A doutrina majoritária defende a validade do encontro fortuito de provas, desde que


a atuação estatal seja desenvolvida dentro da legalidade. Nesse sentido, a doutrina da visão
aberta (plain view doctrine), de origem norte-americana parece encampar esse entendimento,
pois, fundada no princípio da razoabilidade, pretende tornar legítima, nas palavras de Walter
Nunes da Silva Júnior:

“a apreensão de elementos probatórios do fato investigado ou mesmo


de outro crime, quando a despeito de não se tratar da finalidade
gizada no mandado de busca e apreensão, no momento da realização
da diligência, o objeto ou documento é encontrado por se encontrar
à plena vista do agente policial” (Teoria constitucional do direito
processual penal: limitações fundamentais ao exercício do direito de
punir no sistema jurídico brasileiro, Recife: 2005, p. 493).

Noutro prisma, em sede doutrinária, denomina-se serendipidade de primeiro grau


o encontro fortuito de fatos conexos, ou de segundo grau, a descoberta eventual de fato não
conexo com o delito objeto de investigação.

Nesse sentido, de acordo com o entendimento do STF, se o fenômeno da serendipidade


indicar a participação ativa de autoridade detentora de foro por prerrogativa de função nos fatos
investigados, a diligência deve ser imediatamente suspensa e os autos remetidos à superior
instância, que decidirá sobre o desmembramento do feito (AP 871 QO). Note-se que, somente
o envolvimento efetivo do agente público justifica a adoção das providências citadas, de sorte
que a simples referência ao nome de autoridades, não tem o condão de firmar a competência
por prerrogativa de foro (STJ, AP 675).

Alternativa D: De acordo com o disposto no artigo 7º inciso II do Estatuto da OAB, as

54
conversas mantidas entre o investigado e seu advogado são protegidas pelo sigilo profissional e,
portanto, não podem ser objeto de interceptação telefônica, salvo se houver indícios concretos
de que este profissional também está participando da prática dos crimes em conjunto com seu
cliente.

Nesse contexto, de acordo com o entendimento do STF, a interceptação das conversas


mantidas entre o investigado e seu advogado, por si só, não constitui razão suficiente para a
anulação de todo o processo e da condenação imposta ao réu. Se o Tribunal constatar que
houve indevida interceptação e que, portanto, foram violadas as prerrogativas da defesa, essa
situação poderá gerar três consequências processuais: a) cassação ou invalidação do ato judicial
que determinou a interceptação; b) invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato
atentatório e com ele relacionados ou; c) afastamento do magistrado caso se demonstre que,
ao assim agir, atuava de forma parcial.

Porém, se o próprio juiz, ao perceber que o advogado do investigado foi indevidamente


interceptado anula as gravações envolvendo o profissional e, na sentença, não utiliza nenhuma
dessas conversas nem qualquer prova derivada, não há motivo para se anular a condenação
imposta (HC 129.706).

Alternativa E: A lei 9296/96 restringiu a possibilidade de interceptação telefônica às


infrações penais punidas com pena de reclusão, razão pela qual, a princípio, a diligência não
pode ser realizada para a investigação de crimes punidos com detenção ou prisão simples, tais
como a ameaça e a contravenção penal do jogo do bicho, respectivamente.

Contudo, de acordo com o entendimento do STJ, é admissível a interceptação de


comunicações telefônicas quando o fato investigado constituir infração penal punida, no
máximo, com pena de detenção, ainda que conexa com outros delitos puníveis com reclusão
(HC 186.118). É o que ocorre, por exemplo, quando se investiga o crime de organização criminosa
(punido com reclusão) especializada na prática de fraude a procedimentos licitatórios, cuja
conduta típica é punida com detenção.

55
DIREITO CIVIL
PROF.ª MARIANA RUBINI

28 – QUESTÃO

O Congresso Nacional acabou de aprovar a Lei n. XXXX/2017. Considerando a Lei de


Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei n. 4.657/42), considere as seguintes
assertivas:

I – A Lei n. XXXX/2017 entrará em vigor em todo o país, simultaneamente, quarenta e cinco


dias depois de oficialmente publicada, salvo disposição contrária.
II - Se, depois de a Lei n. XXXX/2017 entrar em vigor, forem feitas correções no seu texto, o
prazo de quarenta e cinco dias começará a correr da nova publicação.
III – Se a Lei n. XXXX/2017 for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, a
equidade, os costumes e os princípios gerais de direito.
IV – Se admitida a Lei n. XXXX/2017 em Estado estrangeiro, sua obrigatoriedade se inicia três
meses depois de oficialmente promulgada.

a) Todos os itens estão corretos.


b) Apenas os itens I e III estão corretos.
c) Apenas os itens I, III e IV estão corretos.
d) Apenas os itens II e III estão corretos.
e) Apenas o item I está correto.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) contém normas gerais


sobre direito intertemporal (início, duração e fim da vigência das leis) e espacial (aplicação da lei
no espaço), além de normas para integração e interpretação do direito.

A LINDB, antigamente, era conhecida como “Lei de Introdução ao Código Civil”. No


entanto, considerando a natureza das normas (que citei acima), afigurou-se melhor alterar seu
nome para Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, já que, de fato, não tinha aplicação
restrita ao Direito Civil, mas, em maior ou menor grau, a todos os ramos do Direito.

Considerando o caso hipotético apresentado, com a aprovação da Lei n. XXXX/2017,


vamos analisar cada item separadamente.

A afirmação contida no item I encontra respaldo no artigo 1º da LINDB, segundo o

56
qual “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada”.

Importante alertar que a expressão “simultaneamente”, inserida no item I, também


está correta. Isso porque, no Brasil, adota-se o sistema da obrigatoriedade simultânea ou
princípio da vigência sincrônica, o que significa dizer que a lei passa a ser obrigatória em
todo o território nacional ao mesmo tempo. Em outras palavras, não pode acontecer de a Lei n.
XXXX/2017 entrar em vigor no Distrito Federal numa data e no Rio de Janeiro em outra.

Portanto, o item I está correto.

O item II vai de encontro ao disposto nos §§ 3º e 4º do artigo 1º da LINDB.

Em primeiro lugar porque, se a Lei n. XXXX/2017 sofrer correções em seu texto depois
de entrar em vigor, deve-se considerar lei nova, nos termos do artigo 1º, §4º: “as correções a
texto de lei já em vigor consideram-se lei nova”.

Segundo porque se ocorrer nova publicação do texto da Lei n. XXXX/2017, antes de


sua entrada em vigor, o prazo de quarenta e cinco dias começará a correr da nova publicação,
de acordo com o artigo 1º, §3º: “se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu
texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr
da nova publicação”.

Desse modo, o item II está incorreto.

O item III não corresponde ao que estabelece o artigo 4º da LINDB, in verbis: “quando
a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito”.

A afirmativa traz que, se a Lei n. XXXX/2017 for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, a equidade, os costumes e os princípios gerais de direito. Verifique que, em caso
de lacuna na lei, o magistrado não poderá decidir valendo-se da equidade. Os instrumentos de
integração previstos expressamente na LINDB são apenas a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.

Interessante ressaltar aqui que pode acontecer de a lei ser omissa e, portanto,
apresentar lacunas. Todavia, o direito não admite lacunas. É por isso que existem ferramentas
colocadas à disposição dos operadores do direito a fim de integrar o direito quando a lei, por si,
não for suficiente.

Portanto, o item III está incorreto.

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O item IV trata da extraterritorialidade da lei brasileira, ou seja, quando sua aplicação
for admitida em Estado estrangeiro. Nessa hipótese, o período de vacância é de três meses.

Contudo, a contagem desse prazo inicia-se após a publicação oficial da lei (e não a
partir da promulgação), nos termos do artigo 1, §1º: «nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade
da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada».

Sendo assim, o item IV está incorreto.

Portanto, a alternativa E deve ser assinalada.

29 – QUESTÃO

Sobre as fundações no Código Civil, marque a alternativa correta:

a) Uma fundação pode ser criada por ato inter vivos, sendo que nesse caso independe de
escritura pública, ou por testamento, declarando o instituidor, se quiser, os fins a que ela se
destina.
b) O órgão do Ministério Público pode promover a extinção de fundação cuja finalidade se
torne ilícita, impossível ou inútil, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em
contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se
proponha a fim igual ou semelhante.
c)  Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas. No caso de fundação
que funcione no Distrito Federal ou de fundação cujas atividades se estendam por mais de
um Estado, caberá o encargo ao Ministério Público Federal.
d) O estatuto da fundação só poderá ser alterado se houver aprovação do órgão do Ministério
Público, sendo que o Código Civil não prevê prazo para isso.
e)  A fundação pode ser constituída para fins de segurança alimentar e nutricional, atividades
religiosas,   promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos e
habitação de interesse social.

RESPOSTA: Alternativa B.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: As fundações podem ser criadas por ato inter vivos ou por testamento.
No primeiro caso, depende sim de escritura pública.

Ademais, ao criar uma fundação, o instituidor deve especificar o fim a que se destina,
podendo declarar, se quiser, também a maneira de administrá-la.

É o que dispõe o artigo 62 do Código Civil: “para criar uma fundação, o seu instituidor

58
fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a
que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la”.

Em outras palavras, a especificação da finalidade da fundação é indispensável e,


inclusive, a própria lei elenca (artigo 63) as diversas finalidades que se compatibilizam com a
natureza jurídica das fundações.

A alternativa A, portanto, está incorreta.

Alternativa B: A assertiva está em consonância com o disposto no artigo 69 do


Código Civil.

Apenas para aprofundar, ressalto que, além do Ministério Público, qualquer


interessado pode promover a extinção de fundação cuja finalidade se torne ilícita, impossível
ou inútil ou, ainda, de fundação cujo prazo de existência tenha vencido.

A alternativa B, portanto, está correta.

Alternativa C: A primeira parte da alternativa está correta, correspondendo à


literalidade do artigo 66 do Código Civil.

Cuidado, porém, com a segunda parte: no caso de fundação que funcione no Distrito
Federal (ou em Território), o encargo caberá ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
(MPDFT).

A redação original do artigo 66, §1º, do Código Civil previa que o encargo caberia ao
Ministério Público Federal (MPF), o que era um equívoco (inclusive, esse era o entendimento
do STF, que no julgamento da ADI 2794-8 declarou a inconstitucionalidade daquela redação,
conferindo interpretação conforme a fim de esclarecer que a expressão “Ministério Público
Federal” deveria ser entendida como “Ministério Público do Distrito Federal e Territórios”).

A Lei n. 13.151/2015 corrigiu o erro, passando a prever expressamente que a atribuição


cabe ao MPDFT.

Outrossim, no caso de fundação cujas atividades se estenderem por mais de um


Estado, o encargo caberá, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público (artigo 66, §2º, do
Código Civil), e não ao Ministério Público Federal.

A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: Nos termos do artigo 67 do Código Civil, para que se possa alterar o
estatuto da fundação, é mister que a reforma seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no

59
prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a
denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.

Ou seja, existe sim um prazo previsto pelo Código Civil para que o Ministério Público
aprove a mudança no estatuto. Atenção porque esse prazo de 45 dias foi inserido apenas em
2015, ante a redação dada pela Lei n. 13.151/2015.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: O parágrafo único do artigo 62 do Código Civil, que traz as finalidades


compatíveis com a natureza das fundações, também teve sua redação alterada pela Lei n.
13.151/2015.

Tal lei ampliou o rol de fins que justificam a criação de fundações, de modo que
atualmente o parágrafo único do referido artigo conta com nove incisos.

Reza o dispositivo legal que a  fundação somente poderá constituir-se para fins de:
assistência social; cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; educação;
saúde; segurança alimentar e nutricional; defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos
direitos humanos; atividades religiosas.

Ocorre que o inciso X foi vetado. Ele previa que a fundação poderia ser instituída para
fins de “X - habitação de interesse social”.

Esse inciso X foi vetado pela Presidente da República sob o seguinte argumento:

“Da forma como previsto, tal acréscimo de finalidade poderia resultar na


participação ampla de fundações no setor de habitação. Essa extensão
ofenderia o princípio da isonomia tributária e distorceria a concorrência
nesse segmento, ao permitir que fundações concorressem, em ambiente
assimétrico, com empresas privadas, submetidas a regime jurídico
diverso”.

Verifica-se então não ser possível criar fundação para fins de habitação de interesse
social.

A alternativa E, portanto, está incorreta.

60
30 –QUESTÃO

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) fez várias alterações no Código
Civil, especialmente no Capítulo da personalidade e capacidade das pessoas naturais. Sobre
o assunto, assinale a alternativa incorreta.

a)   São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: os maiores de


dezesseis e menores de dezoito anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; aqueles que, por causa
transitória, não puderem exprimir sua vontade; os pródigos.  
b) São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil apenas os
menores de 16 (dezesseis) anos.   
c)  A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
d) Aqueles que, por causa permanente, não puderem exprimir sua vontade, são considerados
relativamente incapazes.
e)  A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa.

RESPOSTA: Alternativa A.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com deficiência, são


considerados relativamente incapazes: os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; os
ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade e os pródigos.

Aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário


discernimento para a prática dos atos da vida civil eram considerados relativamente incapazes
na redação original do artigo, anterior à Lei n. 13.146/2015.

Ademais, com relação àqueles que, por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade, a assertiva não está 100% correta. Isso porque, hoje, não apenas aqueles que não
podem exprimir sua vontade por causa transitória, mas também por causa permanente, são
relativamente incapazes.

A alternativa A, portanto, está incorreta e, por isso, deve ser assinalada.

Alternativa B: Esta alternativa está correta, conforme artigo 3º do Código Civil.

A antiga redação do dispositivo citado previa como absolutamente incapazes de


exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de dezesseis anos; os que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos e os

61
que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

A atual redação do artigo estabelece a absoluta incapacidade apenas para os menores


de dezesseis anos.

Alternativa C: Esta alternativa está correta, conforme artigo 4º, parágrafo único, do
Código Civil.

Alternativa D: Cuidado com essa alternativa: de fato, atualmente, aqueles que, mesmo
por causa permanente, não puderem exprimir sua vontade, são considerados relativamente
incapazes. Eles, inclusive, estão sujeitos a curatela (artigo 1.767, I, do Código Civil).

Alternativa E: A assertiva está de acordo com o artigo 6º, caput, da Lei n. 11.146/2015.

Esse dispositivo é de suma importância, pois trouxe maior respeito e autonomia à


pessoa com deficiência, garantindo-lhe o direito de casar-se e constituir união estável; exercer
direitos sexuais e reprodutivos; exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; conservar sua
fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; exercer o direito à família e à convivência
familiar e comunitária; e exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante
ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

31 – QUESTÃO

Assinale a alternativa incorreta:

a) Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Também
é assegurado o nome social, que consiste designação pela qual a pessoa travesti ou transexual
se identifica e é socialmente reconhecida, cujo objetivo é evitar o constrangimento dessas
pessoas, em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana.
b) Sempre que demonstrada a ocorrência de ofensa injusta à dignidade da pessoa humana,
dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento para configuração de dano moral. Trata-se
de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
c) Segundo entendimento do STJ, a conduta da agressão, verbal ou física, de um adulto
contra uma criança ou adolescente, não configura elemento caracterizador da espécie do
dano moral in re ipsa.
d) Existe dispositivo na Lei de Registros Públicos prevendo que o enteado ou a enteada,
havendo motivo ponderável, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de
nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde
que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.
e) Com relação ao nome, aplica-se o princípio da imutabilidade relativa, de modo que o
nome se reveste de definitividade, admitindo-se sua modificação, excepcionalmente, nas

62
hipóteses expressamente previstas em lei ou reconhecidas como excepcionais por decisão
judicial.

RESPOSTA: Alternativa C.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A primeira parte da assertiva corresponde à literalidade do artigo 16


do Código Civil.

Já a segunda parte versa sobre o nome social. Trata-se do nome pelo qual a pessoa
é conhecida e identificada na comunidade na qual está inserida. Consiste no apelido público
e notório pelo qual um transexual/ travesti/transgênero é identificado em seu meio familiar e
social correspondente à sua identidade de gênero, cuja adoção visa a garantir o respeito à sua
dignidade, evitando constrangimento psicológico.

Em 2016 foi editado o decreto presidencial n. 8.727, o qual dispõe sobre o uso do
nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no
âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.

O artigo 1º traz um breve conceito de nome social, que foi justamente aquele utilizado
na questão. Vejamos:

Art. 1º Este Decreto dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento


da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais no âmbito
da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
Parágrafo único. Para os fins deste Decreto, considera-se:
I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se
identifica e é socialmente reconhecida;

Alternativa B: A assertiva está de acordo com o entendimento do Superior Tribunal


de Justiça e corresponde à ementa do REsp 1.292.141-SP, de relatoria da Ministra Nancy
Andrighi, divulgado no Informativo 513 do STJ.

DIREITO CIVIL. DANO MORAL. OFENSA À DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA. DANO IN RE IPSA.
Sempre que demonstrada a ocorrência de ofensa injusta à dignidade da
pessoa humana, dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento para
configuração de dano moral. Segundo doutrina e jurisprudência do STJ,
onde se vislumbra a violação de um direito fundamental, assim eleito
pela CF, também se alcançará, por consequência, uma inevitável violação
da dignidade do ser humano. A compensação nesse caso independe da

63
demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em consequência in re ipsa,
intrínseca à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser
humano. Aliás, cumpre ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento),
que costumeiramente estão atreladas à experiência das vítimas de
danos morais, não se traduzem no próprio dano, mas têm nele sua
causa direta. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
4/12/2012.

De fato, quando se ofende um direito da personalidade, não é necessário comprovar


dor ou sofrimento para que se configure dano moral indenizável. Em outras palavras, isso quer
dizer que se trata de um dano moral presumido (ou in re ipsa).

Alternativa C: Trata-se de julgado recente do STJ, cujas informações do inteiro teor


transcrevo abaixo:

“O ponto nodal da discussão consiste em definir se as alegadas agressões


físicas e verbais sofridas por criança resultam, independentemente de
comprovação, em danos morais passíveis de compensação. De início,
cumpre salientar que o STJ já decidiu que as crianças, mesmo da mais
tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da personalidade,
assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação,
nos termos dos arts. 5º, X,  in fine, da CF e 12,  caput, do CC/02. (REsp
1.037.759-RJ, 3ª Turma, DJe 5/3/2010). Da legislação aplicada à espécie,
arts. 186 e 927 do CC/02, extrai-se que aquele que violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito e
deve repará-lo. Na doutrina, a reparabilidade dos danos morais exsurge
no plano jurídico a partir da simples violação (ex facto), i.e., existente
o evento danoso surge a necessidade de reparação, observados os
pressupostos da responsabilidade civil em geral. Uma consequência do
afirmado acima seria a prescindibilidade da prova de dano em concreto
à subjetividade do indivíduo que pleiteia a indenização. De fato, em
diversas circunstâncias, não é realizável a demonstração de prejuízo
moral, bastando a simples causação do ato violador e, nesse sentido,
fala-se em damnun in re ipsa. Ao analisar a doutrina e a jurisprudência,
o que se percebe não é a operação de uma presunção  iure et de
iure  propriamente dita na configuração das situações de dano moral,
mas a substituição da prova de prejuízo moral – em muitas situações,
incabível – pela sensibilidade ético-social do julgador. Nessa toada,
à falta de padrões éticos e morais objetivos ou amplamente aceitos
em sociedade, deve o julgador adotar a sensibilidade ético-social do
homem comum, nem muito reativa a qualquer estímulo ou tampouco
insensível ao sofrimento alheio. Em outra vertente, vale destacar que

64
a Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente
introduziram na nossa cultura jurídica uma nova percepção, inspirada
pela concepção da criança e do adolescente como sujeitos de direitos
e cuidados especiais. Nesse sentido, os arts. 227 da CF/88 e 17 da Lei
n. 8.069/90, asseguram a primazia do interesse das crianças e dos
adolescentes, com a proteção integral dos seus direitos. Sob outro viés,
a sensibilidade ético-social do homem comum na hipótese, permite
concluir que os sentimentos de inferioridade, dor e submissão, sofridos
por quem é agredido injustamente, verbal ou fisicamente, são elementos
caracterizadores da espécie do dano moral in re ipsa. Logo, a injustiça
da conduta da agressão, verbal ou física, de um adulto contra uma
criança ou adolescente, independe de prova e caracteriza atentado à
dignidade dos menores”. (REsp 1.642.318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi,
por unanimidade, julgado em 7/2/2017, DJe 13/2/2017).

Portanto, a conduta da agressão, verbal ou física, de um adulto contra uma criança ou


adolescente configura elemento caracterizador da espécie do dano moral presumido.

A alternativa C, desse modo, está incorreta e, por isso, deve ser assinalada.

Alternativa D: De fato, existe dispositivo na LRP prevendo essa possibilidade de


inclusão do patronímico do padrasto ou da madrasta pelo enteado ou pela enteada. Trata-se do
artigo 57, § 8º, da Lei n. 6.015/73.

§ 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma


dos §§ 2o e 7o  deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que,
no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu
padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância
destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.  (Incluído pela Lei nº
11.924, de 2009 - conhecida como “Lei Clodovil”)

Exige-se, porém, motivo ponderável e que o padrasto/a madrasta manifeste


expressamente a sua concordância. Ademais, não pode haver prejuízo dos apelidos de família
do enteado/da enteada.

Alternativa E: O nome da pessoa natural, via de regra, é imutável ou imodificável, mas


pode ser modificado nas hipóteses autorizadas pela Lei n. 6.015/73. Por isso, é correto afirmar
que se aplica o princípio da imutabilidade relativa ao nome.

Dentre as hipóteses autorizadoras da alteração do nome, cite-se: alteração por


atingimento da maioridade (art. 56, LRP); alteração por motivo excepcional (art. 57, LRP); alteração
por motivo comercial ou profissional (art. 57, § 1º, LRP); alteração em favor de enteado(a) (art. 57,

65
§ 8º, LRP); alteração para proteção de testemunha (art. 58, parágrafo único, LRP). Nesse último
caso a mudança ocorre por decisão judicial.

32 – QUESTÃO

Sobre o tema de bem de família, assinale a alternativa correta:

a) Existem duas espécies de bem de família: o convencional ou voluntário (previsto no Código


Civil) e o legal (previsto na Lei n. 8.009/90). Em ambas a proteção só será conferida a partir de
um ato de vontade do instituidor.
b) O bem de família pode ser penhorado em razão dos créditos de trabalhadores da própria
residência e das respectivas contribuições previdenciárias.
c) É inconstitucional o artigo 3º, VII, da Lei n. 8.009/90, que prevê a possibilidade de penhora
de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação por violar o direito à moradia.
d) Não é possível conferir proteção como bem de família ao imóvel que é utilizado como
residência pelo sócio, mas que na verdade pertence à sociedade empresária.
e) A impenhorabilidade do bem de família não é oponível em relação ao credor da pensão
alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor,
integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela
dívida.

RESPOSTA: Alternativa E.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Realmente existem essas duas espécies de bem de família: o


convencional ou voluntário (previsto no Código Civil) e o legal (previsto na Lei n. 8.009/90).

No entanto, uma de suas diferenças é justamente que no bem de família convencional


faz-se necessário ato de vontade do instituidor para conferir tal proteção, enquanto que no bem
de família legal a proteção é automática, pois decorre da própria lei.

Alternativa B: Trata-se de recente alteração na Lei n. 8.009/90. Pela redação original


existia essa possibilidade. Em outras palavras, em caso de créditos de trabalhadores da
própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias, o credor não podia opor a
impenhorabilidade do bem de família. Significa dizer que o imóvel podia ser penhorado para
garantir o pagamento de tais dívidas.

A LC 150/2015 revogou o inciso I do artigo 3º da Lei n. 8.009/90, de modo que hoje


não mais subsiste essa possibilidade.

Alternativa C: Esse tema foi objeto de ampla discussão nos âmbitos doutrinário e

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jurisprudencial, sendo que o Supremo Tribunal Federal já se debruçou sobre o assunto e pôs
fim à discussão.

O STF, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 407.688-8/SP, declarou a


constitucionalidade do inciso VII do artigo 3º da Lei nº 8.009/90, que excepcionou da regra
de impenhorabilidade do bem de família o imóvel de propriedade de fiador em contrato de
locação. (STF. 1ª Turma. RE 495105 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 05/11/2013)

No mesmo sentido, o STJ editou a Súmula 549, in verbis: “É válida a penhora de bem
de família pertencente a fiador de contrato de locação”.

Alternativa D: A assertiva está incorreta, pois vai de encontro ao entendimento


firmado pelo STJ no julgamento dos EDcl no AREsp 511.486-SC.

DIREITO CIVIL. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA.


A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor
não é afastada pelo fato de o imóvel pertencer à sociedade empresária. A
jurisprudência do STJ tem, de forma reiterada e inequívoca, pontuado
que a impenhorabilidade do bem de família estabelecida pela Lei n.
8.009/1990 está prevista em norma cogente, que contém princípio de
ordem pública, e a incidência do referido diploma somente é afastada se
caracterizada alguma hipótese descrita em seu art. 3º (EREsp 182.223-
SP, Corte Especial, DJ 7/4/2003). Nesse passo, a proteção conferida ao
instituto de bem de família é princípio concernente às questões de
ordem pública, não se admitindo sequer a renúncia por seu titular do
benefício conferido pela lei, sendo possível, inclusive, a desconstituição
de penhora anteriormente feita (AgRg no AREsp 537.034-MS, Quarta
Turma, DJe 1º/10/2014; e REsp 1.126.173-MG, Terceira Turma, DJe
12/4/2013). Precedentes citados: REsp 949.499-RS, Segunda Turma,
DJe 22/8/2008; e REsp 356.077-MG, Terceira Turma, DJ 14/10/2002. EDcl
no  AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016, DJe
10/3/2016.

Em síntese, a impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor


não é afastada pelo fato de o imóvel pertencer à sociedade empresária.

Alternativa E: Assertiva de acordo com o disposto no artigo 3º, III, da Lei n. 8.009/90,
com a redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015.

A alternativa E, portanto, está correta e deve ser assinalada.

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33 – QUESTÃO

Nos termos do Código Civil, não devem casar:

I – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
II - o adotado com o filho do adotante;
III - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte;
IV - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros;
V- a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.

a) Todos os itens estão corretos.


b) Apenas o item IV está correto.
c) Apenas os itens I, II e III estão corretos.
d) Apenas os itens IV e V estão corretos.
e) Apenas os itens I e IV estão corretos.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Muita atenção aqui com o disposto nos artigos 1.521 e 1.523, ambos do Código Civil.

O primeiro dispositivo legal prevê as hipóteses nas quais as pessoas “não podem
casar”. Trata-se das causas impeditivas para o casamento.

Já o segundo dispositivo legal traz um rol de hipóteses nas quais as pessoas “não
devem casar”. Trata-se das causas suspensivas para o casamento.

As consequências são distintas para os casos de casamento realizado infringindo


impedimento ou causa suspensiva.

Se realizado casamento infringindo impedimento matrimonial, há violação de


interesse público, gerando a espécie de casamento absolutamente inválido ou nulo.

Por outro lado, celebrado casamento com infringência a alguma causa suspensiva,
ele será considerado válido. Contudo, será imposto o regime patrimonial correspondente à
separação obrigatória de bens (artigo 1.641, I, do Código Civil).

O enunciado pede as hipóteses relacionadas às causas suspensivas do casamento

68
(“não devem casar”).

Os itens I, II e III trazem causas de impedimento matrimonial, previstas no art. 1.521,


III, V e VII, do Código Civil.

Os itens IV e V trazem causas suspensivas do casamento, previstas no art. 1.523, I e II,


do Código Civil.

Portanto, apenas os itens IV e V estão corretos e a alternativa D deve ser assinalada.

34 - QUESTÃO

Muitos casais não são capazes de separar a relação conjugal da relação filial, transportando
para os filhos suas frustrações. Sobre a alienação parental, assinale a alternativa incorreta:

a) Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança


ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, para que repudie o outro
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
b) A alienação parental também pode ser promovida ou induzida pelos avós ou pelos que
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância.
c) A lei que trata sobre alienação parental prevê que o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal, determinar a perda do poder
familiar.
d) A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do
adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações
com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente
e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou
guarda. 
e) A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a
efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que
seja inviável a guarda compartilhada. 

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Essa assertiva corresponde à literalidade do artigo 2º da Lei n.


12.318/2010, a qual dispõe sobre alienação parental.

A alternativa A, portanto, está correta.

Alternativa B: Correta, porque reproduz o disposto no artigo 2º da Lei n. 12.318/2010.

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Muito cuidado aqui, pois muitos alunos acham que ato de alienação parental só pode ser
promovido ou induzido por um genitor em detrimento do outro, o que não é verdade. Também
podem praticá-lo os avós ou qualquer que tenha a criança ou o adolescente sob a sua autoridade,
guarda ou vigilância.

Alternativa C: O artigo 6º da Lei n. 12.318/2010 elenca as sanções que o juiz pode


aplicar, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal,
àquele que praticar ato de alienação parental. O magistrado pode: declarar a ocorrência de
alienação parental e advertir o alienador;  ampliar o regime de convivência familiar em favor
do genitor alienado;  estipular multa ao alienador;  determinar acompanhamento psicológico
e/ou biopsicossocial;  determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;  determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;  declarar a
suspensão da autoridade parental.

Importante observar que a lei não fala em perda do poder familiar, prevendo, no
máximo, a suspensão da autoridade parental.

Não obstante exista doutrina defendendo a perda do poder familiar para o genitor
que pratique ato de alienação parental, valendo-se de uma interpretação sistemática em
conjunto com o Código Civil, o texto da Lei n. 12.318/2010 não traz essa possibilidade de
maneira expressa.

A alternativa C, portanto, está incorreta e deve ser assinalada.

Alternativa D: Correta, de acordo com o disposto no artigo 3º da Lei n. 12.318/2010.

Alternativa E: Correta, de acordo com o disposto no artigo 7º da Lei n. 12.318/2010.


Vale lembrar que a guarda compartilhada tem preferência em relação a todas as outras formas
de guarda, devendo ser aplicada ainda que não haja consenso entre o pai e a mãe. Ela apenas
não será deferida pelo juiz se um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar ou se
um deles declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.

35 – QUESTÃO

A guarda pode ser unilateral ou compartilhada. Assinale a alternativa correta:

a) Guarda compartilhada é aquela na qual o pai e a mãe se revezam em períodos exclusivos


de guarda, cabendo ao outro direito de visitas.
b) Será aplicada a guarda compartilhada se não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à
guarda do filho, quando ambos estiverem aptos a exercer o poder familiar, a não ser que um
dos genitores declare ao juiz que não deseja a guarda do filho.
c) Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela

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que melhor atender aos interesses do detentor da guarda.
d) Estabelecimento público ou privado só é obrigado a prestar informações ao genitor
que detiver a guarda do filho, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00
(quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da solicitação.
e) O direito de visita não se estende aos avós.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O próprio Código Civil traz os conceitos de guarda unilateral e


compartilhada no artigo 1.583.

Segundo esse dispositivo legal, a guarda será unilateral ou compartilhada.

Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém


que o substitua (art. 1.584, § 5º) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes
ao poder familiar dos filhos comuns.

A assertiva confunde os conceitos e trata, na verdade, da guarda unilateral. Esta


espécie é justamente aquela na qual o pai e a mãe se revezam em períodos exclusivos de guarda,
cabendo ao outro direito de visitas.

A alternativa A, portanto, está incorreta.

Alternativa B: Essa alternativa trata de ponto bastante polêmico. Está correta porque
corresponde ao disposto no artigo 1.584, § 2º, do Código Civil, com a redação dada pela Lei n.
13.058/2014.

Ocorre que, antes mesmo de essa lei ser sancionada, o projeto de lei já recebeu críticas
de diversos doutrinadores. Isso porque ela praticamente impõe aos pais algo que, na prática,
não funciona se não for consensual.

A guarda compartilhada exige como pressuposto que haja um mínimo de convivência


harmônica entre os pais, já que as decisões a respeito do filho deverão ser tomadas em conjunto,
com base no diálogo e consenso.

Ora, se os pais da criança não gozam de uma relação harmoniosa, é extremamente


improvável que consigam dialogar e decidir, de forma amistosa, pontos conflituosos em relação
ao filho, como, por exemplo, a escola em que ele irá estudar, o tempo que cada um passará com
a criança, as obrigações de cada genitor etc.

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Na guarda compartilhada muito pouco adianta que tais cláusulas sejam impostas pelo
juiz porque o Poder Judiciário não terá condições de acompanhar, na prática, o cumprimento
de tais medidas e a sua efetividade será mínima se não houver disposição e compromisso dos
pais em respeitá-las.

Enfim, apesar de a guarda compartilhada ser a espécie ideal, ela tem que ser
conquistada com a conscientização e nunca pela imposição, o que gerará um efeito inverso
e talvez acirre o relacionamento já desgastado dos pais da criança. (Fonte: http://www.
dizerodireito.com.br/2014/12/lei-130582014-determina-que-quando-nao.html)

Portanto, por mais estranho que possa parecer, mesmo sem acordo entre os pais, o
juiz deve aplicar a guarda compartilhada, o que apenas não será feito se um dos genitores não
estiver apto a exercer o poder familiar ou se um deles declarar ao magistrado que não deseja a
guarda do menor.

A alternativa B, portanto, está correta.

Alternativa C: Incorreta, pois está em desacordo com o estabelecido no artigo 1.583,


§ 3º, do Código Civil, com a redação dada pela Lei n. 13.058/2014.

Segundo esse dispositivo legal, na guarda compartilhada, a cidade considerada base


de moradia dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos.

Pode soar estranho num primeiro momento, pois logo se pensa que o local de
moradia dos filhos deve ser compatível com os interesses do detentor da guarda, já que o pai
ou a mãe precisa residir onde tem trabalho, por exemplo.

Mas o texto da lei é claro e dá preferência ao local que melhor atende aos interesses
dos filhos.

Alternativa D: Incorreta, pois mesmo o genitor que não detém a guarda do filho ainda
tem o poder familiar, o que lhe confere o direito de buscar informações em estabelecimento
público ou privado.

Reza o artigo 1.584, § 6º, do Código Civil, que «qualquer estabelecimento público ou
privado é obrigado a prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob
pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não
atendimento da solicitação”.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: Incorreta, pois está em desacordo com o estabelecido no artigo 1.589,

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parágrafo único, do Código Civil, segundo o qual “o direito de visita estende-se a qualquer dos
avós, a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do adolescente”.

36 – QUESTÃO

Sobre direito das sucessões, assinale a alternativa correta:

a) O STF declarou inconstitucional o artigo 1.790 do Código Civil, que estabelece diferenças
entre a participação do companheiro e do cônjuge na sucessão dos bens.
b) O STF decidiu pela equiparação entre cônjuge e companheiro para fins de sucessão,
entendimento esse que não se estende para as uniões homoafetivas.
c) O companheiro não tem direito real de habitação.
d) Sucessão por cabeça ocorre quando são chamados herdeiros de graus diferentes.
e) Sucessão por estirpe ocorre quando todos os herdeiros pertencem ao mesmo grau de
determinada classe.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Recentemente (10/05/2017), o Supremo Tribunal Federal concluiu


julgamento  que  discutia a equiparação entre cônjuge e companheiro para fins de sucessão,
inclusive em uniões homoafetivas.

A decisão foi proferida no julgamento dos Recursos Extraordinários (REs) 646721 e


878694, ambos com repercussão geral reconhecida. Os Ministros declararam inconstitucional o
artigo 1.790 do Código Civil, que estabelece diferenças entre a participação do companheiro e
do cônjuge na sucessão dos bens.

No julgamento, foi fixada a seguinte tese com repercussão geral: “É inconstitucional


a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790
do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união
estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”.

A alternativa A, portanto, está correta e deve ser assinalada.

Alternativa B: Incorreta, pois o entendimento do STF se estende às uniões


homoafetivas, as quais merecem igual tratamento no campo do direito sucessório.

A conclusão do STF foi de que não existe elemento de discriminação que justifique
o tratamento diferenciado entre cônjuge e companheiro estabelecido pelo Código Civil,
estendendo esses efeitos independentemente de orientação sexual.

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Alternativa C: O direito real de habitação é previsto no Código Civil nos seguintes
termos:

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de


bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na
herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado
à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a
inventariar.

O direito real de habitação tem por objetivo garantir o direito fundamental à moradia
(art. 6º, caput, da CF/88) e o postulado da dignidade da pessoa humana (art. art. 1º, III).

O STJ possui o entendimento tranquilo de que a companheira sobrevivente faz jus


ao direito real de habitação sobre o imóvel no qual convivia com o companheiro falecido.

O fundamento para estender o direito real de habitação também aos companheiros,


já que o artigo 1.831 do Código Civil só menciona o cônjuge, reside na necessidade de se
interpretar esse dispositivo legal à luz do artigo 226, § 3º, da CF/88. A Carta Magna reconhece
a união estável como entidade familiar, garantindo à pessoa que viva em união estável os
mesmos direitos que ela teria caso fosse casada. Tem-se aqui uma equiparação constitucional
dos cônjuges e companheiros.

Desse modo, o direto real de habitação contido no art. 1.831 do Código Civil deve ser
aplicado também ao companheiro sobrevivente.

Pode-se citar também como fundamento o parágrafo único do artigo 7º da Lei


n.° 9.278/96, que diz: “dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente
terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento,
relativamente ao imóvel destinado à residência da família”.

No mesmo sentido, o Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil:

117: O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro,


seja por não ter sido revogada a previsão da Lei 9.278, seja em razão
da interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º,
caput, da Constituição de 88.

De qualquer modo, seja por uma razão, seja por outra, o certo é que o direito real de
habitação é extensível ao companheiro supérstite (sobrevivente).

A alternativa C, portanto, está incorreta.

74
Alternativa D: Sucessão por cabeça ocorre quando a herança se defere na classe e no
grau de parentesco em que se acha o herdeiro, o qual herda por direito próprio.

Em outras palavras, a sucessão por cabeça ocorre quando todos os herdeiros


pertencem ao mesmo grau de determinada classe.

A herança será dividida em partes iguais entre os herdeiros de grau mais próximo.

Exemplo: Pedro morre e deixa dois filhos. Cada filho irá herdar por direito próprio e
por cabeça 50% do patrimônio do pai, por serem seus parentes mais próximos.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: Sucessão por estirpe ocorre quando são chamados herdeiros de graus
diferentes. Isso se dá em virtude do direito de representação, o qual ocorre em 3 casos: pré-
morte, indignidade e deserdação.

Exemplo: Pedro morre e tem um filho pré-morto que deixou dois filhos (netos do de
cujus). Então seu filho vivo vai herdar 50% do patrimônio, enquanto cada um de seus netos vai
herdar por direito de representação e por estirpe 25% do patrimônio do avô.

A alternativa E, portanto, está incorreta.

37 – QUESTÃO

São princípios aplicáveis aos registros públicos:

I - Presunção de fé pública;
II - Prioridade;
III - Especialidade;
IV - Legalidade;
V - Continuidade.

a) Todos os itens estão corretos.


b) Apenas o item I está correto.
c) Apenas os itens I, III e IV estão corretos.
d) Apenas os itens I, II e III estão corretos.
e) Apenas os itens III, IV e V estão corretos.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

75
I - Princípio da presunção  de  fé pública: a fé pública é inerente ao registro e a
presunção de domínio estão diretamente ligadas à validade do negócio jurídico.

É cediço que o título só será registrado se atender aos requisitos legais, donde
presume-se que é perfeitamente válido o negócio jurídico que originou o título registrado,
conferindo a seu titular uma presunção juris tantum de domínio, ou seja, presunção relativa que
pode ser contestada por terceiros em ação própria, cabendo ao contestante o ônus da prova.

Neste sentido nos ensina o artigo 1.231 do Código Civil, quando diz que a propriedade
presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.

II - Princípio da prioridade: está prenotado o título quando lançado no Livro


Protocolo e esta prenotação, ou seja, o número de ordem, determinará a prioridade do registro
deste título, e esta, a preferência dos direitos reais, beneficiando, assim, a pessoa que primeiro
apresentar seu título, pois a prioridade é garantida pela ordem cronológica da apresentação dos
títulos, garantindo a prioridade de exame e de registro e a preferência do direito real, oponível
perante terceiros.

Quando um imóvel é vendido pela mesma pessoa duas vezes, temos um caso de
direito real contraditório incompatível, sendo registrado o título que primeiro ingressar no
protocolo e devolvido o outro com os motivos da recusa, pois os títulos são contraditórios no
seu conteúdo, colidentes entre si.

Já, os direitos reais contraditórios compatíveis são aqueles atribuídos pelo mesmo
transmitente, a titulares diversos ou não, incidentes sobre o mesmo imóvel, como verifica-se no
caso da hipoteca, onde os direitos não se anulam reciprocamente, apenas se graduam.

III - Princípio da especialidade: consiste na determinação precisa do conteúdo do


direito, que se procura assegurar, e da individualidade do imóvel que dele é objeto.

A Lei Federal nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos - LRP),


em seus artigos 225 e 176, § 1º, inciso II, item 3, esmerou-se no sentido de individualizar cada
imóvel, tornando-o inconfundível com qualquer outro, exigindo a plena e perfeita identificação
deste nos títulos apresentados, devendo haver correspondência exata entre o imóvel objeto do
título e o imóvel constante do álbum imobiliário para que o registro seja levado a efeito. 

IV - Princípio da legalidade: tem como objetivo impedir que sejam registrados títulos
inválidos, ineficazes ou imperfeitos.

Quando um título é apresentado para ser registrado, este é examinado à luz da


legislação em vigor ou da época de sua firmação e, havendo exigência a ser cumprida, o oficial
as indicará por escrito, conforme preceitua o artigo 198 da Lei Federal nº 6.015/73.

76
Então, a validade do registro de um título diz respeito à validade do negócio jurídico
causal. Nulo o negócio, nulo será o registro. Anulado o negócio, anulado será o registro. 

V - Princípio da continuidade: somente será viável o registro de título contendo


informações perfeitamente coincidentes que aquelas constantes da respectiva matrícula sobre
as pessoas e bem nela mencionados.

Identifica-se a obediência a este princípio nos artigos 195, 222 e 237 da Lei Federal nº
6.015/73, determinando o imprescindível encadeamento entre assentos pertinentes a um dado
imóvel e as pessoas neles constantes, formando uma continuidade ininterrupta das titularidades
jurídicas de um imóvel. Baseado neste princípio, não poderá vender ou gravar de ônus, quem
não figurar como proprietário no registro imobiliário.

Respeitando o princípio da continuidade, se for anulado um negócio jurídico por


sentença transitada em julgado, o respectivo registro será cancelado, e, consequentemente,
serão cancelados todos os posteriores que nele se apoiaram.

Fonte:http://www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/cartorios/principios-
norteadores-dos-registros-publicos

Portanto, todos os itens estão corretos, de modo que a alternativa A deve ser
assinalada.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF.ª MARIANA RUBINI

38 – QUESTÃO

Sobre os princípios informadores do processo civil brasileiro, assinale a alternativa incorreta:

a) O princípio da ubiquidade da jurisdição está relacionado à garantia do direito de ação,


conferindo àquele que for ou possa ser lesado em seus direitos o acesso amplo e irrestrito
ao Poder Judiciário.
b) O CPC consagra expressamente o modelo cooperativo de processo, o qual está intimamente
relacionado aos deveres de consulta, auxílio, prevenção e esclarecimento.
c) O CPC não encampou de forma explícita o princípio da primazia das decisões de mérito,
de modo que hoje persiste a ideia de que o juiz deve extinguir o processo sem resolução do
mérito quando verificar algum vício formal.
d) O princípio da duração razoável do processo aplica-se tanto à fase de conhecimento
quanto à fase de execução.
e) O CPC/15 inaugurou uma nova face do contraditório, baseado na ideia de cooperação,
que impõe ao juiz o dever de consulta. Daqui se extrai o princípio da vedação às decisões
por emboscada.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O princípio da ubiquidade da jurisdição, mais conhecido como


inafastabilidade ou indeclinabilidade do controle jurisdicional, consiste justamente na garantia
do direito de ação.

Há previsão expressa no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, segundo o


qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

O artigo 3º do CPC repete o texto constitucional, prevendo que “não se excluirá da


apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”.

A título de complementação, importante salientar que a inafastabilidade é dirigida


tanto ao Poder Legislativo (para que o legislador não edite leis que impeçam ou dificultem o
amplo acesso aos órgãos do Judiciário), quanto ao Executivo (para que seus representantes
não adotem políticas que impeçam ou dificultem o amplo acesso aos órgãos do Judiciário),
quanto ao Judiciário (o magistrado tem o dever de dar uma resposta efetiva ao objeto litigioso
do processo).

78
Ademais, diante do princípio da indeclinabilidade da jurisdição, em regra não se
faz necessário o prévio esgotamento das vias administrativas para exercitar o direito de ação.
Todavia, a própria Carta Magna traz exceção a esse princípio: as ações relativas à disciplina e às
competições desportivas só serão admitidas pelo Judiciário após se esgotarem as instâncias da
justiça desportiva, regulada em lei (artigo 217, § 1º, da Constituição Federal).

A alternativa A, portanto, está correta.

Alternativa B: O modelo cooperativo de processo já era defendido por boa parte da


doutrina processualista até que, com o CPC/15, passou a gozar de previsão expressa.

Reza o artigo 6º do CPC que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si
para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.

O princípio da cooperação exige a participação ampla e efetiva de todos os sujeitos


do processo. Essa postura colaborativa é concretizada através de deveres processuais previstos
no CPC, especialmente: dever de consulta, auxílio, prevenção e esclarecimento (como recurso
de memorização, fica a dica: “CAPEs” = Consulta + Auxílio + Prevenção + Esclarecimento).

O dever de consulta (ou diálogo) remete à ideia de um contraditório dinâmico e


efetivo, evitando decisões surpresa e concretizando o direito de ser informado, de reagir e de
influenciar a tomada de decisões.

O dever de auxílio (ou adequação) tem por objetivo reduzir as desigualdades materiais.
O juiz então deveria ajudar as partes, retirando os obstáculos que dificultem ou impeçam que
elas exerçam suas faculdades processuais.

Esse dever é objeto de polêmica porque parte da doutrina entende que o magistrado
não poderia ajudar as partes, sob pena de quebra da sua imparcialidade. Nesse sentido, entendem
que o auxílio deveria ser propiciado por outros sujeitos processuais, como o Ministério Público,
por exemplo.

No entanto, sob um aspecto, há mais consenso: o dever de auxílio é de suma


importância no campo probatório, devendo o juiz auxiliar as partes a superar eventuais
dificuldades no cumprimento de suas faculdades e deveres processuais, consubstanciado na
possibilidade de distribuição dinâmica do ônus da prova (artigo 373, § 1º, do CPC).

O dever de prevenção consiste na atuação do magistrado para convidar as partes a


corrigir eventuais erros e imperfeições, primando por decisões de mérito. Observa-se aqui uma
íntima relação entre o dever de prevenção e a primazia das decisões de mérito, pois o primeiro
é instrumento que potencializa o segundo.

79
O dever de esclarecimento consiste na atuação do magistrado para questionar
as partes quanto a eventuais obscuridades em suas petições, pedindo que esclareçam ou
especifiquem requerimentos feitos em termos mais genéricos e assim por diante.

O dever de esclarecimento apresenta ainda uma segunda dimensão, na qual o juiz


deve não só buscar a clareza das partes, mas, ele mesmo, deve ser claro. É nesse contexto, de
cooperação, que se compreende melhor o extremo detalhamento que o CPC/15 estabelece
para o dever de fundamentação das decisões do juiz (art. 489, §§ 1º e 2º).

A alternativa A, portanto, está correta.

Alternativa C: Reza o artigo 4º do CPC que “as partes têm o direito de obter em prazo
razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Eis, portanto, a consagração
explícita do princípio da primazia das decisões de mérito.

Significa afirmar que o magistrado deve somar seus esforços aos das partes a fim de
evitar que o processo se extinga de forma anômala. Através do dever de consulta e diálogo, o
juiz tem de estimular a correção de defeitos processuais sanáveis para, então, debruçar-se sobre
o objeto litigioso do processo.

Importante lembrar que esse princípio tem aplicação em todas as fases em todos os
tipos de procedimento, inclusive em incidentes processuais e na instância recursal, impondo ao
órgão jurisdicional viabilizar o saneamento de vícios para examinar o mérito, sempre que seja
possível a sua correção (enunciado 372 do Fórum Permanente de Processualistas Civis).

A alternativa C, portanto, está incorreta e deve ser assinalada.

Alternativa D: O artigo 4º do CPC também trata do princípio da duração razoável


do processo. Além disso, estabelece o artigo 139, inciso II, do CPC que o juiz dirigirá o processo
conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe velar pela duração razoável do processo.

O dispositivo legal menciona que a duração razoável do processo inclui a atividade


satisfativa. Desse modo, proíbe-se dilações indevidas tanto na fase de conhecimento quanto na
fase de execução.

Interessante observar a técnica legislativa utilizada na expressão “duração razoável


do processo”. Trata-se de um conceito jurídico indeterminado, a ser preenchido de acordo com
as situações particulares relacionadas ao direito em discussão. Ou seja, o legislador não fixou
um prazo aritmético específico para caracterizar o que seria uma duração razoável ou não do
processo. A aplicação desse princípio é casuística.

A alternativa D, portanto, está correta.

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Alternativa E: As decisões por emboscada, também conhecidas como decisões-
surpresa, são proibidas à luz do CPC/15. O juiz passa a ser inserido como sujeito do contraditório,
criando uma relação de diálogo entre ele e as partes do processo. O contraditório passa então a
englobar o direito de ser informado, de reagir e de influenciar, fundado justamente no conceito
de cooperação.

Nesse sentido, aduz o artigo 10 do CPC que “o juiz não pode decidir, em grau algum
de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”.

Em outras palavras, quer-se atentar para o fato de que a proibição de decisões-surpresa


se estende inclusive às decisões de ofício do juiz. A título de exemplo, cite-se o caso em que o
magistrado vislumbra a ocorrência de prescrição, matéria sobre a qual pode se pronunciar de
ofício. Contudo, antes de declarar a prescrição, deve intimar as partes para que se manifestem,
consultando-as (dever de consulta) sobre a existência de causas impeditivas, interruptivas ou
suspensivas do prazo prescricional. Essa postura concretiza o princípio do contraditório.

Ademais, ressalte-se que a vedação às decisões-surpresa abrange tanto questões de


fato quanto de direito.

A alternativa E, portanto, está correta.

39 – QUESTÃO

Sobre as normas processuais civis, assinale a alternativa incorreta:

a) A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições
específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja
parte.
b) A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em
curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a
vigência da norma revogada.
c) Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas, administrativos ou
penais, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
d) O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as
exceções previstas em lei.
e) É permitida a arbitragem, na forma da lei.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

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Alternativa A: Correta, pois corresponde à literalidade do artigo 13 do CPC.

Alternativa B: Correta, pois corresponde à literalidade do artigo 14 do CPC.

Tradicionalmente, nosso ordenamento consagra o sistema do isolamento dos


atos processuais. E não foi diferente com o CPC/15. Esse sistema estabelece que as normas
processuais hão de ser aplicadas aos feitos em curso, vedada a retroatividade da lei por imposição
constitucional que encontra morada no artigo 5º, XXXVI.

Nesse sentido, uma norma processual é aplicável aos processos em andamento.


Todavia, como um processo é um conjunto de atos, os atos jurídicos perfeitos são invioláveis
pela lei nova. Da mesma forma, as situações jurídicas já consolidadas não serão afetadas.

Por exemplo: o prazo do Poder Público para oferecer contestação no novo CPC é
em dobro, sendo que o CPC revogado previa prazo em quádruplo. Desse modo, se o prazo já
começou a correr, o Poder Público ainda tem direito ao prazo em quádruplo para contestar, pois
há uma situação consolidada.

Alternativa C: O artigo 15 do CPC dispõe que “na ausência de normas que regulem
processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente”.

Note que o dispositivo legal restringe a aplicação supletiva e subsidiária apenas aos
processos eleitorais, trabalhistas e administrativos, não fazendo referência a processos penais.

É importante dizer, porém, que grande parte da doutrina entende ser possível a
aplicação subsidiária do CPC nos casos de ausência de regulamentação pelo CPP, como por
exemplo o Prof. Renato Brasileiro.

Sendo assim, defende-se que o artigo 15 do CPC disse menos do que deveria, razão
pela qual deve ser objeto de interpretação extensiva. Não há motivo razoável para vedar a
aplicação subsidiária do CPC ao processo penal, até porque este a autoriza.

Nesse sentido, o artigo 3º do CPP prevê que “a lei processual penal admitirá
interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais
de direito”.

Contudo, exige-se a ocorrência de uma lacuna involuntária da lei como pressuposto


para o emprego da analogia e consequente aplicação supletiva e subsidiária do CPC no âmbito
do processo penal.

Não se pode permitir que, a título de analogia, o CPC tenha o condão de revogar

82
dispositivos do CPP.

Conclui-se então que o emprego da analogia permitido pelo art. 3º do CPP pressupõe
a inexistência de lei disciplinando matéria específica, constatando-se, pois, a lacuna involuntária
da lei. Por ser a analogia recurso de autointegração, e não instrumento de derrogação de texto
ou procedimento legal, o emprego da analogia só pode ser admitido quando a lei for omissa.

A título de exemplo, cite-se a necessidade de fundamentação de decisões judiciais,


prevista no artigo 489, §1º, do CPC. Diante do silêncio do CPP, esse artigo pode ser aplicado
subsidiariamente ao processo penal, como no caso de fundamentação da decretação de prisão
cautelar.

Por outro lado, o artigo 219 do CPC, que estabelece a contagem dos prazos em dias
úteis, não pode ser aplicado ao processo penal. Isso porque o CPP não é omisso, tratando do
tema de maneira expressa no artigo 798.

A alternativa C, portanto, está incorreta e deve ser assinalada.

Alternativa D: Correta, pois corresponde à literalidade do artigo 2º do CPC.

Alternativa E: Correta, pois corresponde à literalidade do artigo 3º, §1º, do CPC.

O CPC/15 trouxe previsão expressa da arbitragem como forma de jurisdição.

Trata-se, portanto, de atividade jurisdicional exercida pelo particular, com permissão


legal do Estado. Prova disso é que a sentença arbitral faz coisa julgada e é considerada título
executivo judicial (artigo 515, VII, do CPC), o qual independe de homologação pelo Poder
Judiciário.

40 – QUESTÃO

Um dos princípios processuais basilares é o contraditório, de modo que o juiz não proferirá
decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Contudo, existem
exceções a essa regra, previstas no CPC. Considerando o exposto, o juiz poderá decidir sem
ouvir previamente as partes quando:

a) decidir sobre tutela provisória de urgência;


b) decidir sobre tutela provisória de evidência quando as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em súmula vinculante;
c) decidir sobre tutela provisória de evidência quando se tratar de pedido reipersecutório
fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será

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decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
d) reconhecer prescrição e decadência nas hipóteses de improcedência liminar do pedido;
e) todas as alternativas anteriores estão corretas.

RESPOSTA: Alternativa E.

COMENTÁRIOS:

De início, cumpre destacar que o artigo 9º do CPC traz exceções ao princípio do


contraditório, oportunidade em que será diferido/postecipado, ou seja, exercido posteriormente.

Em outras palavras, autoriza-se o juiz a proferir decisão contra uma das partes mesmo
sem que ela tenha sido previamente ouvida.

O cerne da questão encontra-se no parágrafo único do artigo 9º do CPC, in verbis:

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Parágrafo único.  O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e
III;
III - à decisão prevista no art. 701.

Alternativa A: Correta, pois de acordo com o artigo 9º, I, do CPC.

Alternativa B: Correta, pois de acordo com o artigo 9º, II, do CPC.

Alternativa C: Correta, pois de acordo com o artigo 9º, II, do CPC.

Alternativa D: Correta, pois de acordo com o artigo 487, parágrafo único, do CPC.

Alternativa E: Considerando que todas as alternativas anteriores estão corretas, a


alternativa E deve ser assinalada.

41 – QUESTÃO

Sobre conexão e continência, assinale a alternativa incorreta:

a) Reputam-se conexas duas ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de
pedir.
b) Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação

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de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mas desde que
haja conexão entre eles.
c) Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no
processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas.
d) Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles
já houver sido sentenciado.
e) Dá-se a continência entre duas ou mais ações quando houver identidade quanto às partes
e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

RESPOSTA: Alternativa B

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A ação é formada por três elementos: partes, pedido e causa de pedir,
quando há identidade total de elementos em mais de uma ação, temos a litispendência, que
é causa de extinção do processo sem resolução de mérito. Contudo, há casos em que se tem a
identidade parcial dos elementos da ação, são os casos que dão origem a conexão e continência.

A conexão ocorrerá quando o pedido OU a causa de pedir for o mesmo em mais de


uma ação. Esse conceito repetiu o que já previa o CPC/73.

A alternativa está correta, pois corresponde à literalidade do artigo 55, caput, do CPC.

Alternativa B: O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como concepção


tradicional (teoria tradicional) da conexão. Existem autores, contudo, que mesmo antes do
CPC/15 já defendiam ser possível conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e
a causa de pedir fossem diferentes. Em outras palavras, pode haver conexão em situações que
não se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexão.

Trata-se da chamada teoria materialista da conexão, que sustenta que, em


determinadas situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não com base no
pedido ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à outra.
Sustenta-se, portanto, que a definição tradicional de conexão é insuficiente.

Essa teoria é chamada de materialista porque defende que, para se verificar se há ou


não conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a relação jurídica
de direito material que é discutida em cada ação. Existirá conexão se a relação jurídica veiculada
nas ações for a mesma ou se, mesmo não sendo idêntica, existir entre elas uma vinculação.

Essa concepção materialista é que fundamenta a chamada “conexão por


prejudicialidade”. Podemos resumi-la em uma frase: quando a decisão de uma causa interferir

85
na solução da outra, há conexão.

O CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definição tradicional de conexão. No


entanto, dando razão às criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu § 3º, a teoria materialista
ao prever a conexão por prejudicialidade:

§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam


gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso
decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Fonte:https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/05/info-559-stj.pdf

A alternativa B, portanto, está incorreta e deve ser assinalada.

Alternativa C: Correta, pois está de acordo com o artigo 57 do CPC.

Embora se assemelhem na identificação dos elementos coincidentes, há diferença


entre “continência” e “litispendência parcial”. Dá-se “continência” quando o pedido da segunda
ação processualizada for mais amplo que o da primeira, embora as partes e a causa de pedir sejam
as mesmas. Por outro lado, verificar-se-á “litispendência parcial” quando o pedido da segunda
causa for menos amplo que o da primeira. Enquanto que a continência provoca a reunião
das ações modificando a competência, a litispendência parcial proporciona a extinção da
segunda ação sem resolução do mérito.

Com vistas a essas circunstâncias, o CPC prevê no artigo 57 que, quando houver
continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à
ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito; caso contrário, as ações serão
necessariamente reunidas.

Pode acontecer, porém, de o pedido formulado na primeira ação ser mais amplo
que o formulado na segunda, mas esta traga causa de pedir diferente. Nessa situação (que não
configura litispendência parcial), não haveria extinção da segunda ação, mas sim reunião com a
primeira, de modo que elas possam ser julgadas simultaneamente, a fim de garantir a harmonia
dos julgamentos.

Alternativa D: Correta, pois está de acordo com o artigo 55, §1º, do CPC. Se uma
das ações já tiver sido julgada, torna-se desnecessária a reunião, pois não será mais possível o
julgamento conjunto.

Alternativa E: Correta, pois está de acordo com o artigo 56 do CPC.

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42 – QUESTÃO

Sobre litisconsórcio, assinale a alternativa correta:

a) São fundamentos para a formação de litisconsórcio facultativo: comunhão de direitos ou


obrigações relativamente à lida, conexão pelo pedido ou pela causa de pedir ou afinidade
de questões por ponto comum de fato ou de direito.
b) Há litisconsórcio necessário quando as partes são obrigadas a litigar em conjunto e ocorre
unicamente quando há disposição expressa em lei.
c) O litisconsórcio necessário só pode ser unitário.
d) O litisconsórcio necessário só pode ser simples.
e) Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, bastando que
um deles seja intimado do respectivo ato.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Correta, pois está de acordo com o artigo 113 do CPC.

Alternativa B: O conceito de litisconsórcio necessário está correto. No entanto,


existem duas hipóteses nas quais ele ocorre: por disposição em lei ou pela natureza da relação
jurídica controvertida. Isso é o que estabelece o artigo 114 do CPC.

A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: O litisconsórcio necessário poderá ser tanto unitário quanto simples.

Quando o litisconsórcio é necessário por determinação legal, a relação jurídica sob


análise pode até não ser una e incindível, pois a necessidade foi apenas uma opção legislativa
para que os julgados fossem harmônicos em determinadas situações. Nesse caso, existe a
possibilidade de o litisconsórcio, mesmo que necessário, ser simples, por ser possível ao
juiz decidir o mérito de forma diferente para ambos os litigantes consorciados, porquanto
a relação jurídica discutida admite a cisão do julgamento. É o caso das ações de partilha e de
usucapião, onde lei obriga a formação do litisconsórcio, mas a decisão judicial pode ser diferente
para cada um.

Nada impede também que, além de existir determinação legal para que haja
litisconsórcio necessário, a relação jurídica seja una e incindível. Mesmo que não existisse lei
nesse sentido, o litisconsórcio ainda seria necessário, em função da natureza da relação jurídica
discutida. É o caso da ação que tenha por objeto a desconstituição de um casamento promovido
pelo Ministério Público. Nela, a lei exige a participação de ambos os cônjuges, mas, mesmo que

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não exigisse, haveria necessidade de citação deles, pois seria impossível desfazer a sociedade
conjugal para um e não para o outro.

Dessa forma, conclui-se que o litisconsórcio necessário por força legal pode ser
simples (ações de partilha e de usucapião) ou unitário (ação de desconstituição de sociedade
conjugal promovida pelo MP).

A segunda hipótese que o CPC prevê, para que haja litisconsórcio necessário, é
quando a natureza da relação jurídica discutida em juízo é una e indivisível. Nessa situação, esse
tipo de litisconsórcio necessário será sempre unitário, porque é impossível para o juiz decidir
de forma não uniforme para os litigantes que discutem uma mesma relação jurídica incindível.
É o caso da ação proposta por acionistas de uma pessoa jurídica para anular uma determinada
assembleia.

Fonte: MOUZALAS, Rinaldo; TERCEIRO NETO, João Otávio; MADRUGA, Eduardo.


Processo civil volume único. 8. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016.

Em apertada síntese, o litisconsórcio necessário por força da lei poderá ser simples
ou unitário. Contudo, quando for necessário por força da incindibilidade da relação jurídica
será unitário, salvo quando a lei expressamente admitir a legitimação concorrente - (art. 103
da CF) (art. 5º da LACP) (art. 1314 do CC) -, caso em que será facultativo e unitário.

A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: O litisconsórcio necessário poderá ser tanto unitário quanto simples.


Vide comentários da alternativa C.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: Incorreta, pois não corresponde ao disposto no artigo 118 do CPC.


Segundo esse dispositivo legal, “cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do
processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos”.

A alternativa E, portanto, está incorreta.

43 – QUESTÃO

Sobre intervenção de terceiros, assinale a alternativa incorreta:

a) O CPC/2015 inovou ao incluir expressamente o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica e o amicus curiae como formas típicas de intervenção de terceiros.
b) A nomeação à autoria deixou de existir, sendo substituída pela técnica de correção do

88
polo passivo da ação.
c) É forma espontânea de intervenção de terceiros apenas a assistência.
d) São formas provocadas de intervenção de terceiros a denunciação à lide, o chamamento
ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae.
e) Com o CPC/15, a oposição deixou de ter uma intervenção de terceiros típica, passando a
ser considerada um procedimento especial.

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O CPC/15 prevê cinco formas típicas de intervenção de terceiros. São


elas: assistência, denunciação da lide, chamamento ao processo, incidente da desconsideração
da personalidade jurídica e amicus curiae.

De fato, a grande novidade foi ter inserido o incidente da desconsideração da


personalidade jurídica e o amicus curiae como hipóteses típicas de intervenção de terceiros, já
que antes eram previstos como intervenção de terceiros atípicas.

A alternativa A, portanto, está correta.

Alternativa B: O CPC/15 extinguiu a nomeação à autoria, criando a técnica de correção


de legitimidade passiva. Assim, o réu, em contestação, poderá alegar ilegitimidade. Contudo,
sobre ele recairá a incumbência de indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor
pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.

O autor terá o prazo de 15 dias para se manifestar, podendo concordar com a indicação
ou optar por incluir o novo legitimado como litisconsorte.

Nesse sentido, os artigos 338 e 339 do CPC, cuja leitura recomendo:

Art. 338.  Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser
o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15
(quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único.   Realizada a substituição, o autor reembolsará as
despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que
serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo
este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º.
Art. 339.   Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar
o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver
conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de

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indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.
§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze)
dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu, observando-
se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição
inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo
réu.

A alternativa B, portanto, está correta.

Alternativa C: São formas espontâneas de intervenção de terceiros não apenas


a assistência, mas também o amicus curiae e, segundo alguns autores, o incidente da
desconsideração da personalidade jurídica.

Considera-se espontânea porque o terceiro ingressa no processo por sua vontade,


independentemente de provocação das partes ou do juiz.

O incidente da desconsideração da personalidade jurídica poderá ser espontâneo


ou provocado; o amicus curiae é a única modalidade de intervenção de terceiro que comporta
atuação oficiosa do juiz.

A alternativa C, portanto, está incorreta e deve ser assinalada.

Alternativa D: São formas provocadas (ou coactas) de intervenção de terceiros


a denunciação à lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica e o amicus curiae (nesse caso, quando o juiz ou relator determina de
ofício a sua participação).

Interessante perceber que a modalidade de intervenção do amicus curiae pode ser


tanto espontânea quanto provocada.

A alternativa D, portanto, está correta.

Alternativa E: A oposição desapareceu do rol das intervenções de terceiros para se


transformar em um procedimento especial. Em outras palavras, a oposição não acabou, apenas
houve uma alteração em sua natureza jurídica: deixou de ser considerada espécie de intervenção
de terceiro para figurar como procedimento especial.

A alternativa E, portanto, está correta.

90
44 – QUESTÃO

Sobre a figura do amicus curiae, assinale a alternativa correta:

a) A intervenção de amicus curiae  implica alteração de competência, de modo que, a título


de exemplo, se a Defensoria Pública da União se habilitar como amicus curiae em processo
em tramitação na Justiça Estadual, a partir de sua admissão o processo deverá ser remetido
para a Justiça Federal.
b) A intervenção de amicus curiae  autoriza a interposição de recursos, inclusive a oposição
de embargos de declaração e a interposição de recurso em face da decisão que julgar o
incidente de resolução de demandas repetitivas.
c) Cabe recurso da decisão judicial que admite a intervenção de amicus curiae.
d) O amicus curiae deve ser pessoa jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, não podendo pessoa natural figurar como amicus curiae ante
a falta de interesse.
e) Para analisar o pedido de intervenção de amicus curiae, o juiz ou relator deve levar em
consideração a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a
repercussão social da controvérsia.

RESPOSTA: Alternativa E

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Reza o artigo 138, §1º, do CPC que a intervenção de amicus curiae não
implica alteração de competência.

Desse modo, no exemplo citado da habilitação da DPU como amicus curiae em


processo que tramita na Justiça Estadual, não haverá mudança na competência. Em outras
palavras, os autos processuais não serão remetidos para a Justiça Federal.

A alternativa A, portanto, está incorreta.

Alternativa B: Reza o artigo 138, §1º, do CPC que a intervenção de amicus curiae
não autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e
a interposição de recurso em face da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas
repetitivas.

A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: O artigo 138, caput, do CPC prevê que o juiz ou o relator, poderá, por
decisão irrecorrível, admitir a participação de amicus curiae.

91
A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: O artigo 138, caput, do CPC estabelece que o juiz ou o relator, poderá,
por decisão irrecorrível, admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: Dispõe o artigo 138, caput, do CPC que o juiz ou o relator, considerando
a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da
controvérsia, poderá admitir a participação de amicus curiae.

A alternativa E, portanto, está correta e deve ser assinalada.

45 – QUESTÃO

Assinale a alternativa que corresponde à alteração relacionada ao Ministério Público


implementada pelo CPC/2015:

a) O Ministério Público continua tendo prazo em quádruplo para contestar e em dobro para
recorrer.
b) Compete ao Ministério Público intervir nas causas concernentes ao estado da pessoa.
c) O Ministério Público será ouvido em todos os conflitos de competência; mas terá qualidade
de parte naqueles que suscitar.
d) É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar
o feito em que deva intervir, mas a nulidade só pode ser decretada após a intimação do
Parquet para se manifestar sobre a existência ou inexistência de prejuízo.
e) O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao advogado dativo, ao curador
especial e ao órgão do Ministério Público.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O artigo 188 do CPC revogado estabelecia que se deveria computar


“em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda
Pública ou o Ministério Público”. Por outro lado, o artigo 180 do CPC atual prevê que “o Ministério
Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos”.

A alternativa A, portanto, está incorreta.

Alternativa B: Não há mais a previsão genérica de atuação do Ministério Público “nas

92
causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento,
declaração de ausência e disposição de última vontade” (artigo 82, II, CPC/73).

Hoje, essa atuação deverá ocorrer nos casos em que mantidas as previsões de atuação
por norma ou lei específica, como ocorre em inventário, havendo herdeiros incapazes (artigos
616, VII, 626); nas ações de família (artigos 698); no caso de alteração do regime de bens do
matrimônio (artigo 734, § 1º); entre outros.

É de extrema importância a leitura (e memorização!) do artigo 178 do CPC, o qual traz


as hipóteses de intervenção do Ministério Público, in verbis:

Art. 178.  O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta)


dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em
lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único.  A participação da Fazenda Pública não configura, por
si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.

A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: O disposto nessa alternativa correspondia ao parágrafo único do artigo


116 do CPC revogado.

Atualmente, o CPC/15 prevê no parágrafo único do artigo 951 que “o Ministério


Público somente será ouvido nos conflitos de competência relativos aos processos previstos no
art. 178, mas terá qualidade de parte nos conflitos que suscitar”.

A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: Correta, pois está em consonância com a redação do artigo 279 do


CPC, devendo ser assinalada.

Alternativa E: O disposto nessa alternativa correspondia ao parágrafo único do artigo


302 do CPC revogado.

Atualmente, o CPC/15 prevê no parágrafo único do artigo 341 que “o ônus da


impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao
curador especial”.

Isso significa dizer que o ônus da impugnação especificada dos fatos passou a ser

93
aplicado ao Ministério Público.

A alternativa E, portanto, está incorreta.

46 – QUESTÃO

Sobre matéria probatória no processo civil, assinale a alternativa correta:

a) O juiz apreciará a prova constante dos autos de acordo com o sujeito que a tiver promovido,
razão pela qual não adota o princípio da aquisição processual da prova.
b) As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, desde que especificados neste Código.
c) A prova emprestada é considerada meio atípico de prova, pois apesar de admitida pela
doutrina e pela jurisprudência não goza de previsão legal expressa.
d) A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a
requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
e) Para a utilização da prova emprestada, faz-se necessária a observância do contraditório
no processo de origem, mas não é necessária no processo de destino.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O artigo 371 do CPC estabelece que “o juiz apreciará a prova constante
dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as
razões da formação de seu convencimento”.

Trata-se da consagração expressa do princípio da aquisição processual da prova,


segundo o qual a prova pertence ao processo e não àquela parte que a produziu.

A alternativa A, portanto, está incorreta.

Alternativa B: O artigo 369 do CPC prevê que “as partes têm o direito de empregar
todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados
neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.

É correto afirmar que o nosso sistema consagra a atipicidade dos meios de prova:
as provas podem ser produzidas por qualquer meio típico ou atípico. Ou seja, as partes podem
se valer de todos os meios de prova legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
estejam especificados no CPC.

94
A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: De fato, antes do CPC atual, tratava-se de meio de prova atípico, pois
não obstante fosse admitido tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência, a lei processual
civil não o previa expressamente.

A prova emprestada passou a gozar de previsão expressa em lei com a entrada em


vigor do CPC/15, de modo que hoje é considerada meio típico de prova.

Diz o artigo 372 do CPC que “o juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em
outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório”.

A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: Correta, pois está em consonância com a redação do artigo 384 do


CPC, devendo ser assinalada.

Alternativa E: O artigo 372 do CPC traz de maneira explícita a necessidade de se


observar o contraditório nos casos de prova emprestada.

Nesse mesmo sentido, foi editado o Enunciado 52 do Fórum Permanente de


Processualistas Civis, segundo o qual “para a utilização da prova emprestada, faz-se necessária
a observância do contraditório no processo de origem, assim como no processo de destino,
considerando-se que, neste último, a prova mantenha a sua natureza originária”.

A alternativa E, portanto, está incorreta.

47 – QUESTÃO

Sobre o microssistema de aplicação e formação de precedentes, assinale a alternativa correta:

I – Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.


II - Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos
precedentes que motivaram sua criação.
III – A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de
casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas,
órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.

a) Todos os itens estão corretos.


b) Apenas o item II está correto.
c) Apenas os itens I e II estão corretos.
d) Apenas os itens II e III estão corretos.

95
e) Apenas os itens I e III estão corretos.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Com o intuito de consagrar a isonomia, o CPC/15 valorizou os precedentes, devendo


os tribunais, nos termos do artigo 926, uniformizar e manter sua jurisprudência estável, integra
e coerente.

Estável: as questões pacificadas não podem ser mudadas toda hora. A simples
mudança de composição dos tribunais não pode ser suficiente para alterar sua jurisprudência.

Íntegra: na medida do que for apresentado, a jurisprudência deve ser capaz de


enfrentar todos os argumentos contrários a tese afastada ou acolhida, a fim de abordar as
diversas situações que envolvem o caso concreto.

Coerência: o tribunal não pode julgar a mesma questão de maneiras distintas.

O item I, portanto, está correto.

A súmula nada mais é do que a consolidação do entendimento jurisprudencial do


tribunal. Contudo, muitas vezes as súmulas são feitas de forma equivocada, levando em apenas
uma ideia, sem se ater às considerações do caso concreto, dificultando a sua aplicação.

O item II corresponde à literalidade do artigo 926, §2º e, portanto, está correto.

O item III corresponde à literalidade do artigo 927, §2º e, portanto, está correto.

Considerando que todos os itens estão corretos, a alternativa A deve ser assinalada.

96
DIREITO ELEITORAL
PROF.ª MARIANA RUBINI

48 - QUESTÃO

Assinale a alternativa correta:

a) A Justiça Eleitoral é considerada uma Justiça Especializada, havendo uma carreira específica
da Magistratura e do Ministério Público.
b) Os Tribunais Regionais Eleitorais, assim como os Tribunais Regionais Federais e Tribunais
Regionais do Trabalho são divididos em regiões, de modo que um mesmo TRE pode abranger
mais de um Estado.
c) Enquanto a Justiça Comum Estadual é dividida em comarcas, a Justiça Eleitoral é dividida
em zonas eleitorais, as quais sempre coincidem com o território de um município.
d) As Juntas Eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral e os seus integrantes, no exercício das
funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.
e) Pode-se considerar que o Tribunal Superior Eleitoral tem uma composição plural, pois
abrange Ministros do STF e do STJ, advogados de notável saber jurídico e cidadãos de
conduta ilibada.

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Inicialmente a assertiva mostra-se correta, pois, de fato, a Justiça


Eleitoral é considerada uma Justiça Especializada, ao lado da Justiça do Trabalho e da Justiça
Militar. O erro reside na segunda parte, já que não há uma carreira específica da Magistratura e
do Ministério Público Eleitorais.

Na verdade, os juízes eleitorais, de acordo com o art. 32 do Código Eleitoral (Lei n.


4.737/65), são os próprios juízes de direito em efetivo exercício e, na falta deles, os seus substitutos
legais, da própria organização judiciária do Estado ou do DF, que gozem das prerrogativas do
art. 95 da CF/88, cabendo-lhes a jurisdição de cada uma das zonas eleitorais em que é dividida
a circunscrição eleitoral.

Tampouco existe previsão expressa na Constituição Federal de um Ministério Público


Eleitoral autônomo. Quem exerce as essas atribuições são os membros do Ministério Público
Federal e, residualmente, os membros dos Ministérios Públicos dos Estados, nos termos do art.
37, I, c/c art. 72 c/c art. 78, todos da Lei Complementar n. 75/93.

Alternativa B: De fato, os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais Regionais do

97
Trabalho são divididos em regiões, de modo que um mesmo TRF ou TRT pode abranger mais de
um Estado.

A título de exemplo, o TRF da 3ª Região abrange os Estados de Mato Grosso do Sul


e São Paulo e o TRT da 8ª Região abrange os Estados do Pará e Amapá. (Obs: Para maiores
informações sobre a organização dos Tribunais, acesse <http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/
portais-dos-tribunais>).

No entanto, no caso dos Tribunais Regionais Eleitorais, a Constituição Federal prevê


expressamente, no artigo 120, que “haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada
Estado e no Distrito Federal”. Sendo assim, verifica-se que um mesmo TRE não abrangerá mais
de um Estado, demonstrando-se o equívoco da alternativa B.

Alternativa C: Está correto afirmar que a Justiça Comum Estadual é dividida em


comarcas e a Justiça Eleitoral, por sua vez, é dividida em zonas eleitorais.

Zona eleitoral é uma região geograficamente delimitada do Estado, gerenciada pelo


cartório eleitoral, que centraliza e coordena os eleitores domiciliados na localidade.

A zona eleitoral pode ser composta por mais de um município, ou apenas por parte
dele. Normalmente segue a divisão de comarcas da Justiça Estadual – limite territorial de
competência de cada juízo.

Portanto, as zonas eleitorais nem sempre coincidem com o território de um município.


Grandes municípios, como por exemplo Salvador, São Paulo ou Rio de Janeiro, são divididos
em várias zonas eleitorais, enquanto que também é muito comum vários municípios pouco
populosos serem englobados em uma única zona eleitoral.

Interessante destacar que compete, privativamente, aos Tribunais Regionais dividir


a respectiva circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação
de novas zonas, à aprovação do Tribunal Superior, nos termos do art. 30, IX, do Código Eleitoral
(Lei n. 4.737/65).

Alternativa D: De acordo com o art. 118 da Constituição Federal, são órgãos da Justiça
Eleitoral: o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as
Juntas Eleitorais.

Ademais, o artigo 121, § 1º, da Carta Magna dispõe expressamente que os membros
dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas
funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.

Alternativa E: O artigo 119 da Constituição Federal prevê como se dá a composição

98
do Tribunal Superior Eleitoral. Considerando a relevância desse dispositivo constitucional e a
frequência com que é cobrado em provas de primeira fase, peço licença para transcrevê-lo:

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete


membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados
pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e
o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o
Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Pela leitura do artigo, percebe-se que, realmente, é possível considerar a composição


do Tribunal Superior Eleitoral como plural. Isso porque o órgão de cúpula da Justiça Eleitoral é
integrado por Ministros do STF e do STJ, bem como por membros oriundos da advocacia.

No entanto, diferentemente de outros órgãos do Poder Judiciário, como por exemplo


o Conselho Nacional de Justiça, nenhum cidadão compõe o TSE.

49 - QUESTÃO

Sobre os princípios eleitorais, considere as seguintes assertivas:

I – O princípio da anterioridade eleitoral prevê que a lei que alterar o processo eleitoral só
terá vigência e eficácia depois de um ano da data de sua publicação, quando então poderá
ser aplicada às próximas eleições.
II - O princípio da anterioridade eleitoral, ou anualidade, previsto no artigo 16 da Constituição
Federal, é considerado cláusula pétrea pelo Supremo Tribunal Federal.
III – Toda e qualquer alteração no processo eleitoral deve respeitar o princípio da anterioridade
eleitoral, não podendo ser aplicada à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

a) Todos os itens estão corretos.


b) Apenas o item II está correto.
c) Apenas os itens I e II estão corretos.
d) Apenas os itens II e III estão corretos.
e) Apenas os itens I e III estão corretos.

RESPOSTA: Alternativa B

99
COMENTÁRIOS:

No Direito Eleitoral, o princípio-mor ou pedra angular é conhecido como “princípio


da anualidade eleitoral” (na verdade, veremos que o correto é “anualidade e um dia”), previsto
no art. 16 da CF.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data
de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da
data de sua vigência.

O princípio da anualidade eleitoral é a expressão máxima da democracia, lastreado


no princípio do rules of game, ou seja, “não se pode mudar as regras do jogo no meio do
campeonato”. Traduzindo para a seara jurídica eleitoral: não se podem fazer leis casuísticas para
preservar o poder político, econômico ou de autoridade.

Pelo art. 16 da CF/88, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data
de sua publicação; porém, não surtirá efeito na eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência.

Não se deve, portanto, confundir vigência (aplicação imediata — não incidência da


vacatio legis) com eficácia (“aplicação um ano após a sua publicação” — não confundir com
promulgação).

Assim, toda lei que alterar o processo eleitoral tem vigência (ou aplicação) imediata
à data de sua publicação, leia-se, ingressa imediatamente no ordenamento jurídico pátrio e,
portanto, não se aplica a vacatio legis.

Contudo, terá apenas eficácia imediata (efeitos já aplicados) se publicada um ano
antes da eleição em trâmite, pois, do contrário, terá vigência imediata, mas eficácia contida
(para as próximas eleições).

O item I, portanto, está incorreto.

O art. 16 da CF/88 foi considerado como cláusula pétrea pelo STF, na ADI 3.685, por
representar expressão de “segurança jurídica” do art. 5º, caput, da CF/88; logo, vedada mera
deliberação contrária (art. 60, § 4º, IV, da CF/88), inclusive por “emenda constitucional”.

O item II, portanto, está correto.

Importante lembrar que a ADI 354/2001 estabeleceu diferença entre “processo


eleitoral” (art. 16 da CF/88) e “direito eleitoral” (art. 22, I, da CF/88), em apertada votação (6 a 5),
preponderando a diferença entre direito processual e direito material. Porém, o STF, nas ADIs

100
3.345 e 3.741, alterou a diferenciação primária, para entender que “processo eleitoral” é muito
mais que “direito processual”, ou seja, houve uma interpretação histórica, evolutiva, adaptativa
ou progressiva do comando do art. 16 da CF/88, considerando “processo eleitoral” tudo aquilo
que provocar:

1) o rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos


candidatos no processo eleitoral;
2) a criação de deformação que afete a normalidade das eleições;
3) a introdução de fator de perturbação do pleito; ou
4) a promoção de alteração motivada por propósito casuístico.

Nesse sentido, é errado afirmar que toda e qualquer alteração no processo eleitoral
deve respeitar o princípio da anterioridade eleitoral, mas sua observância é exigível apenas em
relação às mudanças que provocarem pelo menos um dos efeitos elencados acima.

Destaco o seguinte precedente: no Recurso Extraordinário Eleitoral n. 633.703, julgado


em 23.03.2011, por voto da maioria (em face do ingresso no Ministro Luiz Fux), o STF decidiu que
a LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) não deve ser aplicada às eleições de 2010 por desrespeito
ao art. 16 da CF/88 (entendendo ser cláusula pétrea que sequer emenda constitucional, muito
menos lei complementar, pode desrespeitar).

O item III, portanto, está incorreto.

A alternativa B, portanto, é a que deve ser assinalada.

50 –QUESTÃO

Assinale a alternativa correta:

a) Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito público, que adquirem personalidade
jurídica, na forma da lei civil, com o registro de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
b) No Brasil, adota-se a verticalização das candidaturas, tendo em vista a obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal.
c) É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, desde que tenham
caráter nacional, proibido o recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo
estrangeiros ou de subordinação a estes e observando-se o funcionamento parlamentar de
acordo com a lei.
d) É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna, organização
e funcionamento, podendo inclusive ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de
organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros.
e)   Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional,
considerando-se como tal aquele que comprove o apoiamento de eleitores não filiados a

101
partido político, correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos
dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em
branco e os nulos, distribuídos por 1/3 (um terço), ou mais, dos Estados, com um mínimo de
0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles. 

RESPOSTA: Alternativa C

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A assertiva contém dois erros.

O primeiro deles consiste na natureza jurídica dos partidos políticos. Eles são pessoas
jurídicas de direito privado, de acordo com o disposto no artigo 1º da Lei dos Partidos Políticos
(Lei n. 9.096/95) e no artigo 44, V, do Código Civil.

O segundo erro é muito sutil, então fique atento! Os partidos políticos adquirem
personalidade jurídica a partir do seu registro no Cartório competente do Registro Civil das
Pessoas Jurídicas da Capital Federal, de acordo com a previsão contida no artigo 8º, caput, da
Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95).

Só após adquirirem personalidade jurídica é que os partidos políticos devem


registrar seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral. Isso é o que estabelece o artigo 17, § 2º, da
Constituição Federal («Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma
da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral»).

Alternativa B: A Emenda Constitucional n. 52/2006 conferiu nova redação ao § 1º do


artigo 17 da Constituição Federal, in verbis:

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua


estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios
de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade
de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual,
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária.

Desse modo, verifica-se a inovação trazida pela EC 52/2006, que


conferiu status constitucional à matéria até então integralmente regulamentada por legislação
ordinária federal, provocando, assim, a perda da validade de qualquer restrição à plena
autonomia das coligações partidárias no plano federal, estadual, distrital e municipal.

Desse modo, a partir de então, não há mais que se falar em verticalização das
candidaturas.

102
A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: A afirmativa está perfeita, pois reproduz o disposto no artigo 17, caput,
da Constituição Federal.

É de suma importância saber as principais características dos partidos políticos,


fazendo-se necessário ler e reler alguns «artigos-chave» da CF, como é o caso do artigo 17, que
transcrevo a seguir:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático,
o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Da leitura do dispositivo, verifica-se que a sua primeira parte traz a regra da liberdade
de organização partidária, tendo em vista ser livre a criação, fusão, incorporação e extinção dos
partidos políticos.

Contudo, atente-se, não se trata de liberdade partidária absoluta, uma vez que
deverão ser resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os
direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: caráter nacional;
proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes; prestação de contas à Justiça Eleitoral; funcionamento parlamentar de
acordo com a lei.

Importante citar também os artigos 2º e 5º da Lei dos Partidos Políticos (Lei n.


9.096/95), in verbis:

Art. 2º É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa
humana.
Art. 5º A ação do partido tem caráter nacional e é exercida de acordo com
seu estatuto e programa, sem subordinação a entidades ou governos
estrangeiros.

Sobre o caráter nacional dos partidos políticos, ressalte-se que poderá ser verificado

103
através do apoiamento mínimo para a sua criação, tema que será aprofundado nos comentários
relativos à alternativa E.

Alternativa D: O artigo 17, §1º, da Constituição Federal assegura a autonomia dos


partidos políticos para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento. Essa mesma
previsão também é encontrada no artigo 3º da Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95).

Todavia, está incorreto afirmar que o partido político pode ministrar instrução militar
ou paramilitar, utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus
membros.

A vedação está estabelecida no artigo 6º da Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95),
bem como no artigo 17, § 4º, da Carta Magna, segundo o qual «é vedada a utilização pelos
partidos políticos de organização paramilitar».

Alternativa E: A afirmativa está incorreta porque corresponde à redação antiga do


artigo 7º, § 1º, da Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95). A nova redação do dispositivo legal,
dada pela Lei nº 13.165, de 2015, estabelece o seguinte:

§ 1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha


caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove, no
período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido
político, correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento)
dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados,
não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um
terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por
cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles. (Redação dada
pela Lei nº 13.165, de 2015)

Infelizmente, é comum que as provas, especialmente de primeira fase, exijam o


conhecimento da literalidade do texto da lei. Por isso, é importante memorizar os números
relacionados ao apoiamento mínimo, assim como outros detalhes, como por exemplo que
o apoiamento deve advir de eleitores que não sejam filiados a partido político (observe
atentamente os grifos).

Necessário lembrar a importância de conferir se o seu material de legislação está bem


atualizado! Especialmente no âmbito do Direito Eleitoral, houve várias alterações legislativas, as
quais podem ser (e certamente serão!) exploradas na prova objetiva. Por isso, a minha dica é
sempre consultar a legislação no site do Planalto. Aí não tem erro! Fique atento!

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