Sei sulla pagina 1di 50

Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-L1NE
Diz 51.0 Pedro que devemos
estar preparados para dar a razlo da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir (1Pedro 3,15) .
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
.... hoje é mais premente do que outrora,
, ... visto que somos bombardeados por
.• numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim incitados a procu rar consoUdar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste sita Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvenidas, elucidando-as do ponto de
vista cristão a fim de que as dúvidas se
........... ," dissipem e a vlvênda católica se fortaleça
- _ . ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritalis Splendor que se
encatrega do respectivo site.
RiO de Janeiro. 30 de julho de 2003.
Pe. Estevlo Bettencourr, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITAnS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o exoolente e sempre atual
conteúdo da revista teol6olco • filosófica · Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publlcaçao.
A d. Estêvão Bettencourt agradecemos a confiaça
depositada em IlOSS0 trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
N: 243 • Março de 1980
Sumário
....
IJM GRANDE VAZIO E SUA RESPOSTA ..... . • ..• . . • ..... • .... .
Por qui ...
.
TEóLOGOS SUBMETIDOS A EXAME? ..... .. ..... . .. . ......... . 91
Sim, ,Im IN.,. nlo I (MI 1,31)
A DECLARAÇAQ DE ROMA SOBRE AS OBRAS 00 PAOF.
HANS KONG . ......•. .. .... ......... .. ....... " .. , 97
Um .1If0QU' "plell' :
. O CASO SCHILLEBEECKX I ••
Um clrtelG público:
~INOA O DOCUMENTO DE PUEBLA • ... . ...•... . . . ... . ...... "9
Dois ~O, • du.. medld.. 1
Ao IGReJA. DISPENSA oq
CELIBATO. MAS NÃO DISSOlVe o
ViNCULO CONJUGAl. ..•.. . .... . " " ... . .. ,.......... .. . .. 125

LIvROS EM EST:ANTE , . . ................... . .. . ... . ' ... 132

COM APAOVAÇlO !CLESIUTICA

• • •
NO PRóXIMO NOMERO;

"Oeus está de volta" (ecos do Blg Bang). - O poder


da sugestão e a s~rrologia : - A moda do "topless": signi-
ficado . - O Ano Internacional da Criança: balanço e pros-
pectiva.

-- x
« PERGUNTE E RESPONDEREMOS.
Nümero .avulso de qu~lqu~r mês ........... . ... . . . 32,00

Assinatura anual .. .... .. . ... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320,00


Direção e Redação do Estêvio Bettencourt O . S. B.
ADMINISTRAÇ,110 REDAÇAO DE PR
Uvrad.. Mlsslorulrllt. Edllora
CaIxa P ostal 2.660
Rua ~f4!xIeo, ll1-B (Cutelo)
28.051 Rio de Janelr:o (BJl H .OGO Bio de lllnetro (lU)
Tel: :zz.I...OO59
UM CiRAHDE VAZIO E SUA RESPOSTA
A imprensa vem noticiando crescente onda de pe:rmissivl.
dade: ctopless., pornografia, pomochanchada, .. vêm tomando
vulto sempre mais aparatoso!
lt, pois, interessante averiguannos os porquês desse Iibel',
ünlsmo sexual. a fim de podennos ponderar o ~u sentido e a
resposta a lhe ser dada.
1) Numa primeira abordagem, il,inda muito superficial,
verificamos que muitas pessoas aderem à onda por modismo,
ou seja, peto desejo de «não ficar para trâs.. Assumem assim
um comportamento gregário ou um tanto irracional.
2) Indo mais ao âmago dQ problema, verificamos, no
Cundo da nova moda, forte desejo de nutoafirmação. As mo-
ças querem usufruir de todas as «liberdades_ que geralmente
são reconhecidas aos rapazes. Mov('·as um cmanclpaclonismo
feminista. que, na verdade. mais servis as torna, porque mais
dependentes da conduta dos rapazes, que elas querem repro·
duzir. Mediante essa pretens~ Rutoaflrrnaeã,.o, arri~cam-se a
perder a própria identidadt'.
3) Recorrendo aos dados da .psicologia, podemos ainda
dizer que a causa mais remota do Jibcrtlnismo ~ o vazio inte·
rlor de que sofrem tantas pessoas em nossoo dia~. Por .vazio_
entendemos .falta de Ideal, de porquê e de pa.nL qné viver:.;
falta-lhes algum grande referencial, capaz de mobilizar as suas
mais nobres cnerglns em demnnde. de determinado objetivo.
Assim carontes, homens, mulheres e jovens procuram a sua
valorlza~ão na publicidade, no cchamar a atenc:ão para si:.;
fazem-se célebres porque parecem mais corajosos do que as
demais pessoas .presas a tabu$:. ... Em sum:t, vão procurar
fora de si a dellcldade:. que não t~m dentro de si.
Tocamos assim um ponto que merece especial ntentÜo na
vida contemporânea: o vazio Interior de que sofrem muitos.
Este vazio significa Que as pessoas vivem cada vez menos
como seres humanos. Sim; obsen-emos que, quanto mais um
ser é perfeito, mais ele vive em profundidade, mais as suas
reações procedem do seu íntimo: .
- o mineral, por exemplo. nAo tem vida; por isto apenas
responde aos golpes Que o Rfctam, na proporção ria farta Rue
o acomete;
- os vegetais, Que S[IO 05 primeiros viventes, jã desem·
penham ações que procedem de um principio interior: alimen·
tam-se, crescem, reproduzem-se, restauram a sua Integridade
quando lesada (dentro de certos limites);

-89-
- os animais irracIonais, que são vlvenlt.'S mais perfei-
tos ainda. podem mesmo discernir, dentre diversas posslbUt·
dades, a resposta mais adequada a dar aos estimuJos exterio.
res. Eles têm conhecimento sensItivo, que os leva a aceitar ou
reetisar certas interpelações do respectivo ambiente;
- o ser humano, que ê o vivente por excelência entre os
que vemos neste mundo, é o que mais interioridade possui.
Por isto é capaz não só de responder dlversificadamente aos
seus estImulos, mas é apto a criar e inventar Últerpelacões
segundo seus critérios próprios. D;ta Interioridade o toma
independente . de padrões irracionais, gregãrios e masslfican-
tes; não permite que se reduza à condição de ejoguete:..
Ora frente ao·. espctãculo do vazio Interior que toma o
ser hwnano menos humano, o cristão encontra na espirituaU-
dade da Quaresma a resposta adequada: o homem não foi
feito para bens efêmeros e Ilusórios, mas para O Bem Eterno
e Defjnitivo. Tudo o que é passageiro, ê exiguo demais para
a capacidade de Infinito que o caracteriza.
Aliás, o próprio Deus, para o qual o homem Coi Celto, se
encarrega de evidenciar esta verdade. Com ("jeito; não há
quem náo experimente cedo ou tarde a frustração que todos
0'5 prazeres meramente sensuais acarretam aos seus usuários;
de tal semeaduca não procede colheita para o futuro! Este
sentimento de decepc;ão, por' mais amargo que seja. vem a ser
altamente salutar, pois purifica e liberta o coração do homem.
Nunca é tarde demais para que este faça ou refaça sua opção
de vida, pois o Bem Infinito ao qual ele aspira (multas vezes,
sem o saber), está sempre a aguardâ.lo. Esta é a grande men·
sagem da Quaresma: Ele nos amou antes que nós O amásse·
mos • . • e nos amou (e 8D"18) irreverslvelmente, sem mudança?
sem poder desdizer·se. . . Esta proposição é o ~go da men·
sagem cristã; não poderia haver Cristianismo sem proclama~
ção desta verdade.
Ora o mês de março põe em presença uma da outra estas
duas realidades: o vazio de numerosos cidadãos contemporâ-
neos e o surpreendente anúncio da Resposta cabal.
Se ao cristão não é possível executar as !anotas (em espe.
clal, a tarefa da auroconversão) que somente os outros podem
realizar. compete·lhe ao menos dedlcar·se neste tempo quares·
mal A Interlorldade e à purlflcaçlo: procure viver em profun.
dldade ou em oração, certo de que 8 vIda estã associada à
pl'Ofundldnde. Llberte-se do que o sufoca ou lltrofla em suas
dimensões interiores (vicias e paixões . .. ) a fim de se tomar
mais «gente:., mais CUbo de Deus.
E. assim fazendo, há de contagiar seus Irmãos desorien-
tados! .. _
E.R.
-90-
·PERGUNTE E RESPONDEREMOS ..
Ano XXI - N' 2"3 - Março de 1980

Por qu'A ..

teólogos submetidos a exame?


Em alnle,.: A. S. IgrGja recabeu de Cristo o I Rclrilo de vigia' sobre
a In tegr. conaervaçlo , Itan.mlnlo da mensagem rell8'ada pelo Senhor.
Especialmente • Pedro , a seus sucessores COmp4118 .".rce, la' minA0;
cf. Mt 16, 18·19; lc 22.3Is; Jo 21,'5-17. O decorrer da história da 10111;'
moslr. como « autoridade da Igreja, seja por '102 doa bl,pcn "plnos
pero mundo Inteiro. seja por decl.raç6es O deUnlçOts da Conclllos Ec'nn6-
nicos. seja por InlervençO.s dos Sumos PonUlice., r.alizou ciosamente
esta sua funçlO.

par.
Em 1971, loram baixadas novas normas
8
p." que. S . Con'jl,.gaçlo
Doutrina da Fé (a Quem toca especialmente o enurgo menclOllldo)
possa procedar com justiça I ob!aUvldada no Julgamento da doulrlnaa tld..
como aUSllelle$. Tal, narma! pra.crevem que .. ou~ o eulor de tais
doutrina. ou s. Ine di um del,nsor, Somente .pós apulada- eXlmaa a
oltudo. das obrai ou dout,lnat discutidas I que a S. Congregaç:lo PIfI
a Doutrina da F' se pronuncia lobr. aI -:"8Im... A S. Igreja nlo poderia
renuncl.r • dosempenhar la' mlnlslérlo sem trair o Senhor, Jesu., q... lhe
confiou a Palavr. da vida, e o povo de Deus, qu. lem o direito de receber
incOlume 8Sla Palav'a d. ulvaçlo, Palavra de D8u., • n'o dI home,...
por mais eruditos que .el.m,

• • •

Comentário: Em dezembro de 1979 e começo de 1980 me-


rec.::!ram a atenção do grande público certas noticias rereron:-
tes :. teólogos cujas obras Unham sido ou estavam sendo exa-
minadas em Roma: tratava-se de quatro nomes principalmente:
JncQues Pohicr, dominieano fran~, Hans Küng, sacerdote
suiço. Edward SchUlebeeckx O . P . , belga, e Leonardo Boft
O. F . M.. brasileiro.

Os notlelârias deixaram por vezes O público um tanto


pel-plexo, pois as rmõcs do procedimento eram técnicas ou ,da

- ?1
4 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 24311980

competência de especialistas. Em conseqüência, impõe-se um


esclarecimento aos leit-ores brasllel~, :t o que vamos propor
nos três artigos seguintes, abordando no primeiro uma ques-
tão de principias e considerando, nos demais, em especial os
casos de Hans Küng • E. Schmebo<ckx.

1. A Igreja • o dopósito ela fé


Sabemos que Jesus Cristo, tendo vindo consumnr a rcvC'-
laç5.o feita aos Patriarcas e Profetas, quis confiar a Boa-Nova
à Igreja por Ele fundada. Esta d"". gUardar lncólume • dou·
trina recebida, ' aprofund:í.-Ia homogen.eamente e transmiti-Ia a
todos os homens até o fim dos tempos (em linguagem ade -
quada aos diverlOs ouvintes) , 1: o que se depreende do conhe-
cido texto de Mt 28.18·20:
"Toda aulorklada eobre o e6u 'e a lerra me foi enlregue, Ide, por-
lenlo, e latel que toda ai naçO.s 10 tornem dlsc:lpulos, batb:ando-as em
nome do PaI, do Fllko e do E,plrlto Sanlo • anslnllndo-b a obse,..,ar
h.ldo quanto vos ordel'lel , E eiS Que eslou convosco todos os dlo a" a
conaumaçlo do. stculo.".

De modo especial, dentre os Apóstolos, Pedro c seus suces-


sores sã-o encnrrcgados de zelar pela integridade e a fiel trans-
missão do depósito da fé. em consonãneia com as palavras de
Jesus:
Lc Z2r'1.; ''', Jtlua: ''SlmlO, Slmlo, ItI qui Sataná pediu IMI...
lentamente para \'OS penelrllr como 1rlgo, Eu. por6nl, orei por ti, e 11m de
que tue f6 nIo dellel.ç.. Quando, porém, te convertere., conflrm. leue
'mllos",
Mt 11, 17-11: Diz Je.u,: "Bem'wenturado ts lu, Slmlo, Iltho de
Jonas. porque nlo fOrllm • cama. Q eangue que ta reveler.m Isto,' .Im
esta pGdra edIHc.r.1 • mlnh. IgreJa, I a,
() meu Pai que .sti nO' c:jut, T.mb6m 'a digo qua tu és Pedro, , sobre
port. do Inferno nunca pre-
v.certo contra .1. , Eu ta, da,.1 .. chaves 00 AalrlO doe Cjvl e o que
ligare, na tetra ..r' ligado nos .. ~u', loque deaUge.. s na tarra s.rt
desligado nOI ~ua",
Jo, 21 ,1a.11: " 01.1101. d. comerem, dI.., Jesus • SImlo Pedro:
'Slmlo, IIItlo de Joio, tu m' am.. mal, do que u'e. l' - 'Sim. Sentlor',
dlfte-lhll, 'lu sabas que tU te amo', Jesus lhe disse: 'Apascenla os meta
cordeiro,', Ume Hgunda ....z lhe dlne : 'Slmlo, filho de Joio, tu m.
em.. l' - 'Sim, Senhor', dla.e ,Ie, 'tu ..bItS q\ll eu til amo', DI.......,...
JIIU.: 'Apascenla OS maua cordeiros', Pela terealra vez Ih. disse ale:
'Slmlo, 011'10 de Joio, lu me em.. l' Entrlsteceu_ Pedro porque pela

-92-
TEóLOGOS EM EXAMI:!

terceira vez lhe perguntara : 'Tu ma amas l' • 1M dlssa: 'Sanher, tu sabes
tudo : tu ..bn: quo lO .mo', Je.u. lhe dlue: 'Apascente as mlntlu
o""elhas' ..

1:: por isto que" desde ns origens da Igf-eja, o suce:-.."ifJr de-


Pedro ou o bispo de ROma tem mostrado particular solicitud?
pela preservação da doutrina da fé, ex~r~ndo êl autol'idttde-
que lhe era reconhecida. Para não alongar a cxposicão, ri1a ·
remos apenas dois testemunhos:

- o eonclilo de CaJcedônia (451) aclamou nos tennos


sl.'g\lintes a 'carta dQ Papa Leão I que d~flnla fi verdadeJra
concepção cristol6gJca: cEsta é a fé dos Padres, esta é n fp.
dos Apóstolos! Pedro falou atraves de Leão» ;

....:.... o Papa Inocêncio I (401-417) teve que intervir nu


conlrovérsla pelaglana (referente à graça). Escreveu ("ntão,
ao!> 21/01/417, nos bispos do norte da África:

"VOI, no eXime dOI I.nlerenel de o.UI. aegulalea. 0fI e.emplCl$ da


antiga "tracllçao bem como a força de voau 16, ""Isto que éreis da oplnl."
48 que \lOS" quesito d8Y1tr'a aer lubmetlda ao nosso Julgamento, na corto
vh::çlo do que. d....ldo to S, A.polt~lIca".

o ministério pontificio pro}ongou.~ atrav6s dos scculos .. .

Por ocasião do Concilio do Vaticano lI. o Papa JO&O


XXIll pediu aos teólogos que procurassem refonnular as ver-
dades da fé em linguagem moderna, acessivel ao homem con·
temporâneo, guardando, porêm, intato o seu conteúdo. Vários
autores de nomeada dedicaram·se a essa tarefa, mas, sendo
algo de delicado P. diflcU, compreende-se que tenha havido des·
lises involuntários. Ta. foi Q caso de te6logos holandeses que
quiseram substltulr a tradicional palavra .transubstanciaçãoJt
por ct.r<lnSlg:nlfic3çâoJt e ctransffnaUzaeãoJt; o Papa Pau]o VI
interveio, rejeitando. por .ser amblgua. l\ nova nomenclatura.
mediante a encíclica My.lterium Flclel (1965). Tal foi tambem
o cua de te6logos que tentaram I'f!·exprimir as v~rdades atl·
nentes a erls10 (uma só pessoa e duas naturezas. conforme o
ConclUo de- Caleed&rÚa, (51) : vlJto que não punham em dl.'Yldo
relevo a Divindade e a prNxistêncla de Cristo. a S. Congre-
gação para a Doutrina da Fé emitiu a propósito a Declaração
'M,ysterlam FIIII Del (O mistério do Filho de Deus) datada
de 21/02/1972.
-!lo' - ,
Após expol' c::stas grandes verdades. ,.'ejamos ('Orna a auto·
ridade da Igreja hOje em dJa PI'OCedc quando um teólogo
publica algum livro que suscitc dúvida!;; quanto :10 tcor da I"
rc\'.elacta.

2. O novo procedimento de .Roma


Com relaçã~ a livros teológicos suspeitos de erro, a S. Con,.
gregação para a Doutrina da Fc exerce a sua vigilância segundo
novo Regulamento estabelecido após o Concílio do Vaticano II,
ou seja, aos 15/ 01/ 71 . Eis as etapas de um processo ordi·
nário suscitado por alguma doutrina suspeita:
1) Desde que um livro p;ublicado seja suspeito de erro
ou heresia, a S. Congregaçio para a Doutrina da Fé nomeia
dois peritos, que dev~m examinar a matéria independente-
ment~ um do outro e redigir finalment~ o r~pectlvo parecer.
Se n materia em foco foI' tida como grave, seidO Infor·
mados os bispos interessados, a fim de qu~ possam prestar
eventuais infonnaçôes.
2) Ao nomear os dois peritos examinadores, a mesma
Congregação nomeia também um relator pro audore ou um
defensor da opinião do autor em foco. A tarefa desse defen-
sor é apresentar os aspectos positivos das opiniões sujeitas a
exame e responder às observações dos peritos examinadores e
dos demais consultores. Deve desempenhar-se dessa tarefa
com a pura intenção de servir à verdade e ao Senhor Deus.
3) Os examinadores e o defensor do livro controvertido
exporão e confrontario OS seus pareceres em sessjo da S. Con·
grcgação. Findos os debates, cada um dos consultores da
assemblêia redige a sua respectiva sentença sob forma de um
voto. .

4) ConcluJda esta etapa, a documentação toda (votos


dos consultores, ~efesa do autor ou do seu representante c
resumo dos debates) é enviada aos Cardeais membros da cha-
mada cCongregaçlo ordlnãrla~. que se reúne todas as quar-
tas·feiras e de que têm o direito de participar também os setc
bispos da Congregação residentes fora de Roma. O assunto é
então mais uma vez debatido c as conclusões finais eio sub-

-94-
TEóLOGOS EM EXAME 7

metidas à aprovação do Santo Padre. - Se no decurso desse


último exame se tiver averiguado a existência de opiniões em).
neas e perigosas em curso, será infonnado a respeito o bispo
do autor e, eventualmente. outros bispos interessados.

5) Suposta a verificac;ão de erros. na matéria em qUes-


tão, a Congrcgacão para: a Doutrina da Fê entrarâ em di'-
logo rom '0 autor, ofercandl)·lhe íl possibilidade de explicar
melhor o seu pensamento, reconsiderar as suas opiniões errCr
ocas c estudar a maneira de prevenir ou reparar o dano rela-
tivo à difusão dos ditos livros no povo de Deus. O diálogo
podelá fazer· se por correspondencia postal ou por compareci.
menta do autor em Roma, onde o colóquio é empreendido com
mais eficãcia. Caso se faça uso da correspondência postal, o
autor tem um mês de prazo para responder, a partir da data
em que recebeu h COmunica.cão.
6) Depois de examinar a resposta do autor, a Congre.
gaç!\o OrdJnárja toma as decisões finais, as quais serão apre·
sentadas ao S. Padre. Desde que este as aprove, as decisões
são comunicadas ao bispo do autor e ao respectivo autor.

7) A Congregação Ordinária decide tambêm sobre a


maneira como deva ser publicado o resultado do exame.
S) Se o autor se recusa a responder aos convites da
S. Congregaçio (.ara o diá.logo, compete a esta tomar 4lS reso·
lucões oportunas. "
S~o estas ali normas que constituem o _Novo Regula·
menta para o exame das doutrinas_ na S. Igreja.
Como se vê. estas nonnas, se, de um lado. visam a pre-
serv~r Intata a doutrina da tê. de outro lado, atendem 'eis
exigências da justiça, evitando julgamentos precipitados e
incorretos.
A S. Igreja não pode deixar de exercer vigilância sobre as
obJ'3.S teológicas que se vão pUbUcando, pois a preservação "da
reta fé é tarc:!a que Cristo lhe confiou. como também e ser-
viço prestado ao povo de DeuSj este tem o dlreJto de receber
a m~nsagem do Evangelho em sua pureza, em vez de ser ali-
mentado por teorias, opiniões ou hipóteses deste ou daquele
autor ou grupo de autores.
-95-
8 ",PERGUNTE E RI:!SPONDEREMOS_ 243; 1980

Ao cumprir e:)'ta missão de vigilância. as autoridades ecle.


siástiC3S não prol."edcm segundo critérios particulares de deter.
minada escola ou determinado Pontifice. mas atendem tão
somente à PalaVra de Deus trnnsmitida por seus dois c:mnls
autênticos: a Tradição oral e a Tradição escrita (a S. Escri-
tura); O magistérl0 da Igreja não está acima da Pa.lavra de
Deus nem tem o direito de retocá. la, mas deve auscultá· la e
servIr-lhe, como declara o próprio Concilio do Vett.ict1l1o fi :
" A tarefa da Interpretar autanllcamenle a Palavra de Deus ascrlla
O\! transmlllda oralmente 101 confiada tio somenle 80 maglsl'rto vivo da
Igreja. cuja autorIdade 58 exerce em noma ~tl Jelul Cristo. Tel ."aglal'rio
IVkSenlemenl. 1\10 .1.6 acima da Palavr' de Deus, mas e seu serviço, n60
enalnando . enlo o que 101 lrensmllldo, no sentido de que, pôr mtlndalo
divino e f:ob a asslsl6ncla do Eapfrito Santo, piamente ausculta aquela
Palavra. untarmen.. I guarda e fielmente ti expile. Deste únlco depó sito
de ft 11,. O maglat'tlo o que propO. par• •ar acreditado como dl'lln.·
mante rev.lado" (Collll. Del Verb~ n9 10) ,

Estas noticias sfio suficientes para evidenciar que o inte-


.resse da Igreja pela integra conservac:3.o das verdades da fé
nada tem qu~ v~r rom processas inquisitoriais ou com a Inqui-
sição de tempos passados. Nem se prende ao fato de Que o
S. Padre João Paulo II é de origem poionesa (o que, segundo
alguns, significaria «não atualizado em teologla :t ) 1, pois os
processos contra os teólogos de que tem falado a imprensa.
começaram todos sob o pontlflcado de paulo VI (as suces-
sivas etapas descritas atris evidenciam quão demorado se
toma o exame de wn livro na Cúria Romana após 1911).
Expostas estas premissas, passamos a considerar mai~
detidamente o caso do teólogo alemão Hans Küng no art igo
seguinte.
A prop6slto dn novas norma p.'" O enme de livros na Curta
Romana, "Ia PR ,3811971 , pp. 21&-285.

I A IIINJ_ na 1'0l&nla tem-sa moatrado .. peelalme.,te çlose de guardar


o palrlmilnlo d. " em sua IOlIclez, vislo qUI 1.11 • conlradllado .pela
mOlona oOelal do gO'ltlmo ma",latll do para. E,ta atitude do clero e dOI
ntlt polon.... nlo redunda em de, douro ou mollvo de dapraelaç.'o.
Tenha..e em vlat• • vUalldade d. IgteJa na Pol6nla I o .urprundant.
n6mero de 'IOC8çoe. sacerdotais e raUglOl" qua ela suaclta.

-96-
Sim, sim' NAc, ni D ! (Mt 5~ 37)

a declaracão de roma sobre as obras


do prol. hans küng

Em alnl•• e: :Aos 15/ 1211979, a S. COngregaç.llo para a Dotluil'\a da


Fé em1tlu uma Declareçlo segundo a qual o Prol. Pe, Hans Kúng, da
Universidade de Tüblngef1 (Alemanha), Jà nlo pode ser tido como mestre
de leologla católica. O lexlo de l ia Importante documento acha-se trans-
crito no corpo de5te anloo, .!unlamente com o histórico dos anlecader:tes
de' tal Declaraçlo : duranle dez anos, a S. Congregaçlo esleve em con-
talo com Hans Kl1ng, dando-Ihe a ver erros doul rinêrloa <:ada vez mal.
fllarantes contidos em seus sucessivos e$Cli los. Convidado rapolidamont•
• comparecer em Roma para um diAlogo com represe ntantes da Sanla
Sé, Küng nunca aceitou o convite. O processo conl~a KCrng foi Interrompido
em 1975, pois este de ra I esperança de reconsiderar sual oplnI6.s. Toda-
via, diante da persistência cada vel maIs expllcita e convicta da tais erroS
em obras publicadas em 1979. a S. Congrega.çlo Julgou·se no dever da
declarar ao público que Hans Küng J' nio pode lecionar teologia em nome
da Igreja, A medida 101 lomada em vista do b em comum, pois .s oplnl~
de Küng <1elltavam Inseguro o pOVO de Deus no locaole a artigos de 16.
• • •
Comcnt.M1.o: Causou grande impressão em diversas par-
tes do mWldo a sentença da S, ·Congregação para a Doutrina
da Fé relerente ao teólogo sulco Pe. Hans KUng, proCessor da
Universidade de Tübingen (Alemanha) desde- 1960. Não pou-
cas pessoas, mal informadas, julgaram tratar-se de ato arbi-
trário cu c1nquisitoriab da 8utor1dad~ da I greja; estranharam
que tais coisas pudessem acontecer após o Concilio do Vati-
cano n, supondo Que o Concilio tenha preconizado um certo
irenismo ou indiferentismo no tocante à doutrina da ré!
Para dissipar equivoc'-'s, proporemos, a seguir, a versão
autênticados acont~i mentos, tais como foram publicados pela
Santa Sê e pelo episcopado alemão; cf. L'Osservatore Ronuulo,.
<d. POrtuguesa d. 30/ 12/19, pp. 8·10.
Em primeiro lugar, transcreveremos O texto da Declara·
ção da Congregação para a DoutrJna da Fé concernente a
Hans Küng e datada de 15/ 1211979_ Após o quê, apresentare-
mos algO dos antecedentes deste document o, aptos a escl arecer
a atitude tomada pela Santa Sê.

-97-
10 c PERGtTNTE E RESPONDEREMOS ,. 2·\311990

I. DECLARAÇÃO ACERCA DE ALGUNS PONTOS


DA DOUTRINA TIOLOGICA 00 PROF. HANS KONG
(' 1', Igreja de Cri.,,; recebeu de Deus o manoalo de- guardar e
deft:::'Id er o c:epóJilo de fi , paro que os fi'is todos, sob o \fui!! do
sa grado lTIogislerio, meãianle o qval opera na Igreja o pessoa dI!!
Crido Mestre, d'em suo odesõo indefectivel à fé Iran~miiidQ a05
crer.tll5 de uma vez !=-OHI ,e ..,: pr ~, com reto juízo peneire m nela mais
c ru ndo e a opliq" u,1 ·,'(..11 r. lel"lome nt e ~ o vida.
O magistério da !~ ft~ i(l , porlanto, I.l f im de cumprir (J(!uele grave
dever ,6 o e le contiad o. :en'e-se do c:onlribulo dos leó' ~sos, sobre-
ludo do. que na Igreja receberam do out.)r idadc o en cargo de ensinor
fi' ~ão, portanto, lambê m e les, co n~l i ~ :" :(l ' lI de olgum mC'lda meslres
d a veuloÓe. No lUa invesTigacão, a s looll'\po s, nã o d ivcrsu men'. dos
evltores de outras dincies , go:r.om de 1" !l;timCl libor dc: d~ cie ntifico,
dentro todavia dos li",ites do mi- tC'do c!(l' sagrad;l len;o\liCl, .sfor-
çendo. ,e po r conseguir, da maneiro q 'J ~ lhe é própria, o mesmo fim
elpet:Hico do tnClgi Sh~rj e : ·t.on sefVor, pe neirar cada ve t mois pro-
fundamente, expor, ~nl i nu r e dofender o sagrado depósito da Reve-
laça0: ido é, iluminc: r o vida do Igreja e da humanidade c.om o
verdade divina' I Paulo VI. Discurso 00 Congresso Inl e n ,Qcional de
Teologia do Condlio Va ticano 11, 1/10/1966).
E ne~n6rio . port.:.nto, que, no aprofundomenlo:> e no e nlino da
doutrir. CI cr:lolieo, re sp landeça sempre o fidelidade 00 mC"oislêrio da
Inreio, porc;ue ninguém pode construir teologia 'COa0 C ~ estreita
uniao com aque l. encargo do ensinar ti verdade, do quul s6 (I Igreja
• responsével.
r o;.!'c!'!d o esla fidel idado, lão pro jud icodos tod os os :il:is, que,
obriSc..::: os a pro fes~or a fé qUe recebera m de Deus rr. cdic: nte l i
Igreja, tê-n o $ogroda dire ito:> de recaber inconlominodo a pn lnvro d.
Deus o, portonln. e spelom que seio"'! mc:n!id os longe d", lu, com
cuiàodo, Oi e rros que OI omegccm,
Porlonto, quando oconlecer qUO um m ~ , l re de disci FlIi:l"J s sogro·
das est:t'lha e d ifunda, corno no rma do ve rdode, o próp rio porecer
e não:> a p e nso,.,fl nlo da 19relO ~, ate sor de :erem sido u'od "l'l con-
sigo lodos as meios sU Fl eiiéo~ pelo caridade, conlinue :10 snl propó·
.ito, a honeslidede m",IMt.I requer que a Igrolo ponha e m c~ idencio
tal compor.<']menlo fi eslobeleco que la l p t'~ so ': já nõo peJe !!n.inar
om virl ude do miuáo dei o recebido.
Tol miuõo canônico, de falo , é k ~~:' r!", IJnho d. confionCIll reei-
prOfôO I confior'lcCI' d(l competente Q\ltt':i ,:,. df\ eclesiástico relativa·
mC'n' 'l ao I ..,,; lo':!], o,,~ no seu encor go d (! peJquilo c f! r'l sino se
ca:nfJt).-!n co m"Jo l (l ';'b~ , . colol ico; a conritJ n,,:,') d", mesmo leólO9o relo ·

98-
o CASO HANS KONC J1

tivamente â Igreia, por cuia mandato cumpre a sua missão, e relati·


vomente à doutrina íntegra do mesma.
• • •
Como alguns ei.crilos da sacerdole profeuor Hons 'Küng, difun·
didos em tontos pahes, c a sua do'Utrina produzem perturbaçõa nas
almas dos fiéis, 0 5 bispos do Alemanha e o próprio Cangrega~o
poro o Doutrino da Fé, de tOmUm atordo, repetidamente o atonse·
Ihorom e odmoeslorom, pretendendo levó·lo a ex.rc.r o s uo ali";·
dode de loologo em ple na tomunhfio com o mogidi:rio autêntico
do Igreia.
Com 101 elplrilo, o Sagrado Congregoç60 poro a Ooutrino da
Fê, cumprindo o suo minfio de promover e lutelar o doutrino da f~
e dOI t astumes na Igreia universo I, com publico docvrnenlo do lS
de fe voreira de 1~7S, d eclarou q ue algumol opiniões do professor
Hon5 'I( üng se opõem em diveuos graus õ doutrino era Igreia que
todos os fiéis devem seguir. Enfre elos indicóu, como de maior impor-
lõncio, O dogma de fé na infal ~ bilidade do Igreia e o minôo de
ir'lle rprelar autenticamente o único depósito sagrado do palavra de
08111, t o nfiodo só 00 magislério vivo do Igreia, e tombem a canso-
g roção volido da Eucori5lio .
Ao me smo tempo, esta Sagrado Congregoc;co a vi tou o men·
cionad o professor quo não continuosse Q en~inar taiS' doutrinas, man-
tendo· ,e en tre tanto 6 e'pe ra de que ~Ie hormon ir.auc a s próprias
opiniõe s tom o doutrina do mogill6rio aulé-ntico,
Todavia nentluma mudança houve oté ogoro nOI ,itodas opiniões.
Consta [$to em espuiol no que di~ r•• peito à opinião que põe
p ela me nos em dúvido o dogma do infQlil;iidode no Igreja ou o
redu!: o (.erto indefectibilidode fundamento I do Igr.jo, ",o verdade,
com o possibilidade d. erro nal dOutrinas que o magistério do
Igreja ensina de ... erem le ' atredilodOI de maneiro definlivo. NelI.
ponto Hons Küng nado se conformou com o doutrino do mo~isl'rio;
pelo conlrõrio, re centemente aprese ntou de novo, ainda mais expres-
samente, a suo opinião l e m porlicular nos escritos Ki,ch..,. - gehalten
in der Wahrheit? Edito ra Benúnger 1979, e Zum G.I.it, inltodu(õo
à obro de A. 8. Hos ler com o titula Wie de, Paps. IInj~hlbar wurde,
Ed, Piper 19791. embora esta Sagrada CanSlregoc;oo live5le então
afirmado que elo C<lnlradir. o doutrino definido pejo Concilio Vati~
cano I e depois confirmado peta Concilio Vuticor'lO U.
Além diuo, os conseqüêncios de 101 opiniôo, sobretudo o deI':
prna pelo mogblério do Igreja, en(Ontrom-•• ainda em oulros obr05
por ele publicadas_ sem dúvida com detrimento de vórios pontos
essoncioi, do fi colólic.o (por exemplo, OI , e!-olivos o Crislo con-

- 99-
12 " PEnCUNTE E RESPONDEREMOS~ 2 .1 3/1980

sub51onciol com a Pai e ir Bem-avenlurada Virgem Mario), pois é


Olribuldo o eues panto5 um significado diversa daquele que enten"
deu e entende o Igreio.
A 5o.g rada Congregaçõo para (J Doutrino da fé, no documento
de 1975, absteve-se, no altura, d. nova ação quanto õs mencionados
opintõ: 1 do prol. I(ijng, presumindo qUe ele .cu viria o abandonar.
Umo ve:t, porém, que tal presunçôo jó nêio se pode manter, e5l0
Sagrada Con9regaçiio, em virludo do ,eu enc<.:Irgo, senle· ... obrÍQada
co declarar atuolmente que o prat. 'Küng te afastou, nos seus escritos,
da integridade da verdade da fé- catôlica, ê portanlo iá nõo pode
ser considf!lado teólogo católico nem pode, como tal, exercer o
«Irgo de ensinar.
No declHlo da audiência cont.edlda ao abaix.a·auinodo Ctlrdeal
Prefeito, o Sumo Pontifica João Paulo 11 oprovou o presente Cecla-
ração, deddida no reunião ordin6ria desta Congregacõo, e ordenou
que fone publicada,
Roma, no ~ede cio Sagrada Congregacõo poro a Doutrino do
Fé, 15 de dezembro de 1979.
FRANJO Cord. SEPER
Presidpnle
Fr. Jérôme Hemer O . P .
Àrceb:spo titulo( de lorium
Secrelárkl ;.

11. A MARGEM DA DECLARAÇÃO


A fim de facUltar a compreensão do texto da Santa Sé,
publicamos . a seguir, com certas minúcias alguns antecedentes
desse documento, mencionados sumariamente pela S. Congre-
gaçã-o para a Doutrina da Fê 110 texto atrás transcrito,
O caso Hans Küng come;:ou com a publicação da obra
!leste autor intitulada Dic Kirche (A Igreja) em 1967. Com
deito, nos 30/ 04/ 1968, a S. Congl~gação comunicou ao pro-
fessor Kiing que estava examinando tal livro. A S. Congre-
gação convidou outrossim o mestre para um colóquio teoló-
gico em Roma; esse oonvite loi reiterado mais de uma vez.
Embora Küng se mostrasse disposto a atender·lhe, nunca se
lIprcse:ntou ao diálogo. Ao contrário. em 1970 publicpu outro
livro ainda mais signirtcativo. com o titulo Unfehlbar! Eine
.<\nfra:,'"e Unfalivel? Uma pergunta); nesta obra, o autor admi.
tiu que a Igreja pennaneça fiel à verdade através dos tempos
apesD.. das suas definições doutrinárias, que, . segundo Küng,
são fativeis; os fiéis nã.o poderiam confiar nos pronunciamen-

-100 -
o CASO HANS KQNG 13

tos ('li': cathedra. da Igreja em matéri a de fé e de Mora) por.


que cada qunl destes poderia ser errôneo. Ora esta sentença
feria os ensinamentos dos COllcílios do Vaticano I (1870) e 'l1
(1962·1965), que afirmaram solenemente a autoridade do ma-
gistério da Igreja através dos seus 6rgãos abalizados (os bis-
pos em unanimidade, os Coneílios ecumênicos e o Sumo Pon-
tifice quanoo fala ex cat'itedm) em matcria de f(> e de Moral.
Em conseq üência, a S. Congregação abriu um processo
referente â. obra Unfchlbnr? e pediu a Küng que respondesS(!
n diversac: pergunttlS. A volumosa corrcspondencia que dai se
seguiu entre o professor e a S. CongT~a!,·ão. nüo Coi satisfa·
tória para esta. Em vista disto, a S. Congrcga!;5.o, ciente do
seu encargo de tutelnr e promo\'er a fé em toda a Igreja.
publicou aos 6/ 07/ 1973 a Declarac:ilo }\lysterium Ecclcsia..-, que
1"e~Cirma.va a doutrina dos Concilios referente à I greja. Ao
mesmo t empo, a S. Congregação comunicou por escrito ao
prof. Küng que se mantinha aberta a possibilidade de coló-
quiO a respeIto dos dois Jivvros em pauta (Dle IUrehr. I'
UnJchlb:u?); apesar da mediação do Cardeal Julius DoepCner,
de Munique, !'lUO se realizou o diálogo proposto. A os 4/ 09/74,
o prof. Küng escreveu à S. Congrega<;ão, garantindo-lhe que
desejava utili'z8r o tempo de reflexão quc Ihc fora concedido:
não exclula a possibilidade de vir a conformar a sua dou-
tr'ina com n do magistêrlo da Igreja. Diante d isto, n 5. Con·
~I"\.'gn<,flo, nos 15/ 02/75, transmitia a Bans Küng, por ordem
de Pnulo VI, a advertência de nüo continuar· a derender e
ensi nar os teses impugnadas, e acrescentava estar provisoria-
mente suspenso D processo de Küng e m R<lma, pois se aguar-
dnva nlguma manltestac;"ão do proCessor.
Enll-ementes, porém, ou seja, em 1974. Küng publicava
novo livro, intitulado Christ sein (Ser Cristão), que se apre-
sentava como súmula da doutrina católica ; nessa obra o auto'·
não somente reafirm ava suas posições anteriores. mas esten-
dia a sua contcstacão a novos pontos: não professava a preexis-
tência e a Divindade de Cristo (Jesus Cristo é tido tão somente
como c1uga r.tcnente:t ou «encarregado de Deus junto aos ho-
mens:t I ; destrula. por conseguinte, a doutrina da SS. Trindade ;
reduzia a lenda a doutrina da maternidade virgirial de Ma·
ria 5S.; a tribula aos 1C!lgos a Caculdade de celebrar validamente
a 5. Missa,
Diante dos fatos, a ConferênCia dos Bispos da Alemanha.
aos 17/02/75, enviou uma Declaração ao prof. Hans KUng
'recordando-lhe alguns princlplos fundamentais da teologia cató-

-101-
14 ... PERGUNTE E nESPONDER EMOS , 243/ 1980

Uca. Intimado.ao diãiogo, o teólogo aceitou um colóquJo com


representantes do epi~pado alemão durante várias hor"aS na
cidade alemã de Stutt!;a:·t :l()S 22/ 01/ 1977 - o Que, porém.
não teve resultado pOSItiVO. Por Isto aos 17/ 11/ 77, os bispos
da Alemanha emitiram uma Declaracão sobre o livro Chri.rt
seio, documento este que foi apoiado p<!los episcopados da Suies.
e da Áustria: enh'c outras graves fa ltas. apontava o I'CdUC10.
nlsmo de Küng ou a tendência a reduzir Jesus Cristo 'J. con -
dição de mero homem; mostrava outrossim que o diálogo
eewnênico (entre católicos, protestantes c ortodoxos) ~6 1'0'
dera ocorrer ou continuar se todos Guardarem fidelidade aos
sete primC'iros Cooeilios ecumênicos (o sétimo 10i o de Ni·
céia Il em 787) . Küng prometeu enüio repensar s uas posições
e responder à hierarquia da Igr~ja . Todavia as esperanças se
extinguiram quando em 1978 C t<>ólo::o publicou seu novo livro
Existiert Gott? (Dcw existe?) : esla obra não nega a existên·
cla de Deus. :nas nega Que ela pDS!>u ser provada pela razão ; e
aborda as rtue~tõp.s referentes a Deus, à SS. Trindade e a
Jesus Cristo.numa peJ's;J~cti va reducionista.
No inicio d(~ 1~l7a, K ~ing: \'oltou a editar novos escritos,
ainda mais convitlo de :SU<l.S poslcO:.!s nnteriol\.'S. Tratava·SfJ
de .KJrcbe - gehaJten in d er Wa.hrheitt (Igreja - mantida
na verdade?) e Dcr n~ue Slõ&Dd der Unfehlbarkcitsdr.baUe (00
estado ntual dos debates sobre a infalibidade). prcf[lcio do livro
de A. B. Masler: Wic der P'alJSt unlchJ\)o;\r wurdc. Macn L und
Oluuna.cht elnes Dogmas (Como o Papa se tornou inía1i\'el.
Força e fraqueza de um t.!ogmu). Com estas publicaçtlcs esta·
vam infringidas as condi~õc~ postas em fevereiro de 1975 P:)r:l
que- fosse suspenso o p!'occs~:o co ntra Küng.
J:: o Que explica te nha Cinahmmh' a S. Congreg;:u;;ii.o pam
a Doutrina da Fé emitido li Dcclal'tlc.;ilo de 15/12/ 79, devida ·
mente aprovada por S. Santidadl' o Papa João Paulo II e
atrás transcrita . Após dez anos de pacientes tenL.,tivils de diá·
logo e entendimento, não rcslava senão encerrar o processo
com n proclamação de que Hans Kiing perdeu as credenc iai:;;
para ensinar teOlogia em nome da Igreja CatÕ1ica. Era d~ver
da S. Congregação dar t al passo. pois o povo de Deus nfio
podia ser mais longamente deixado na insegura nç..'l frente às
doútrinas ensinadas por Küog ; impunha·se uma atiludc clara
e coerente da parte do magisterio da Igreja.
A Conrcrêncla dos Bispos da Alemanha. :10S 18/ 12 ' 79.
houve por bem tran5mitlr aos fiéis o seu pensamcnto c Q s ua
palavra ponderada a respei to do caso J<üng, publir.anclo umu
Declaracão, da qual · cxtraimo!i aqui a parte final :
- 102 -
o CASO lIANS KONC lO

c O profe~sor 'Kü"9, com infleJCibilidod. H~m e_mplo e com


rara incorrigibmdade: ~ islo vale apesar das declarações contró,io.,
por lua por:e, de estar disposto ao diálogo _, n(io se deixou mover
nem pelo vasto d iscuuiio teológica "em par Iniciativas do magislêrio
poro compll!lor, modificar ou corr igir os suas doutrinas. Nelle mesmo
contel'lto hõo ete se colocar tombém OI leus aloques, em p<ltt" desme-
didos, conlro o disdplina 'e o ordem da Igreja.
Por esles molivos tornou· se inevitável o deósõo tomado pelo
Cangregaçõr.> para a Doutrino l.io f é. A Con1erêncio Episcopal Alemã
lamento que tantos l e nlo' ti~'1I de outro solução tenham falhado .. ,
A CO"!ilrcgocõo poro o Doutrino da fé, o Conferência Episcopaf
Alemã, como também o bi1pO de ROllembur90 ttão deixa rom dúvida
de não vi, o perder de visto a sua minão de guordor a fé do Igreja.
O, membros do Igre(o, p or seu lodo, fêm direito o uma pregação
fiel e a uma certeza no fé I qUift não pode ser trocodo por falsa
teguro nca I, priftgoção 41 c.rtezo tornadas pouí....i, lombém por meio
de autoridade doeenle da 'or.iCl, e'paldadCl na infalibilidad. garan-
tida pelo Espiril!,) de Deus, Insisti, nelto .:Gn"';«ão significa mClnter
e idenfidade da I.greja Católico , fsla id.ntldoõ. '. por outro lodo,
o pressuposto parei UIr. verdadeiro di61ogo .cumlr.lco .. para o eu"'-
primen'o dos obrigações da Igreia peronte a sodedad~.
A Conferfncia fpiscopal Alemã pede aos fiéis da Igrela Cot6-
lice, CIOS ou.'ro, crislaos ti a todos o. nomen.' inlereUeldol na 'lido
do 19rejo que ...eio," e iulguem o q ue . foi decidido pe lo Congr.gaçlio
poro CI Doutrino ~a f i, tendo eles pre,enle (I fundo de id'ias des-
crito . Os acontecime nlol são publicome"te conhecidos de 116 anal
e como tais podem .er verificados ,. A Clutoridade do Igreja não per-
mitir6 que .este aconllltcimento perturbador o faca desistir de pro-
curar no futuro uma solução ba~etlda no diólogo sincero, isto sempre
que se trote d. chegar o um uda,.dmento ,ob'e opiniões teoló'
gicos con troversas ,
O professor. 'Küng, em vir!ude do deo,ôo !omodo, não fico
ucluido da Igreja ti continuo como sacerdote . Mos, umo ...ez. que
lhe é retirado o Nihil obstat, perde o mandato de .. ruiRor a leolo,9io
católica tim "Orne da IgrejCl e como professor reco nhtiddo palG
Igreja,
ColÕJ'lia-8onn, 18 de dez.embro de 1979.
JOSE, Card. HOFFNER
PreSlden!e do Conf.'ineia EpisaJpo! Alemó.

Estas palav ras evidenciam o trato humano e dig no que


os bispos alemães e a Santa Sé ofereceram ao ProL Pe. Hans
Küng. Dez anos decorreram I?m convl?rsaÇÕC8 e tentativas de

- 103
16 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS:. :243/1980

conciliação. antes que a Santa Sé se visse obrigada, em vista


do bem comum d.os fiéis, a declarar que Hans KUng já não
pode ser tido como arauto da fé católica. Continuará a ensi·
nar o que ensinava, se o quiser, mas ao menos todos sabe rio
que as suas proposições não são senão opiniões 'pessoais, e não
sentenças da Igreja. Pode-.se dIzer que a sanção inf1lgida a
Hans KUng foi lavrada pelo próprio mestre; não é senão a
proclamacão pública de uma sltuacão que o próprio Prot. Kung
escolheu para si: tcndo·se distanciado consciente e pertinaz-
mente da doutrina da Igreja, era preciso, a bem da verdade,
que isto fosse declarado publicamente. A Igreja, como Mãe e
Mestra, mostrou-se a.ssaz benigna para com c,>sse seu filho,
reconhecendo-lhe ainda as faculdndes sacerdotais, entre as
quais a de celebrar a S . Missa.
Ê de notar ainda wna OCOITencia posterior â Declara~ão
da Santa Sé datada de 15/ 12/79. Ciente de que fora destl.
tuido do titulo de teólogo católico, o Prot. Küng esteve com o
bispo de Rottenburg, D. Moser, em cuja diocese se encontra
a Universidade de Tüblngen, e afirmou ao prelado estar pronto
a esclarecer suas opiniões. Redigiu então uma ctomada de
posição. (Stellungna.hme) dlantt~ da sentença ele Roma. Em
conseqüência, o S. Padre João Paulo II convidou os Cardeais
da Alemanha, o bispo de Rottenbur,g e o arcebispo de Frj·
burgo (Brelsgau) para um colóquio no Vaticano, ao qual
compareceriam também o cardeal Secretário de Estado, o Pre·
feito e o Secretário da Congregação para a Doutdna da Fé.
Esta reunião lCietuou·se aos 28/ 12n9: após atent~ e prolong.ado
exame da .tomada de posição.. de Küng, os participantes reco·
nheceram unanimemente que era insuficiente para justincar
qualquer alt~l'8.~ão da sentença da S. Congl'r.gação para a
Doutrina da Fé. Fioou, pois , confirmada a atitud~ da Santa Sé
datada de 15/ 12/79. Todavia as autoridades ecleslàsticas em
Roma e na AJemanha continuam a. nutrir a esperança de que
o prot. KUng reveja as suas opiniões, dado que repetidamente
exprimiu o desejo de continuar a ser um teólogo católico.
Tanto a S. Congregaçp.o para a ' Doutrina da Fé como os bis-
pos da Alemanha estão dispostos a aceitar nova ctomada de
posição. de Küng, desde que satisfaça devlda~ente às exI·
gência da reta fé .e da fidelidade ao Senhor Jesus.
Possa. pois, o praf. KUng reconsiderar a atitude tomada. ,e
seguir humildemente as Inspirações do Esplrtto de Deus ne'$to
hora Importante da história da Igreja!
A prop6llto veja... L'o."Natof'tl Romano, ecf. hedomadl.rl. da
30/12178 • !!I101180.

-104 -
Um enfoque eapeclal:

o caso s<hillebeeckx

Em .Inle.e : O presenle aMigo .pre.!;enl. o caso do leólogo belga-


-lIoland6$ Pe. 'Edward Schll!ebeerckJl O. P. . cuja. obras estio sendO exa-
mInadas em Roma . O aUlo r 101 convidado em novembro pp. pela lelevlslo
holandesa para uma enlrevlsta, cujo leltlo • 1radul.ldo e transcrltg a seguir:
abOrda os nove pontos Que a S. Congregaç.io para a Dou trina da Fé lha
pediu Ixplicasso malhar, a Um de evitar os equivocas e as retlcênc1u
que ele contém.
Acrescenta-se ao lexlo da enlrevlsta um comentaria dos nove pontos.
dO modo a oleraçar ao lal10r as InlolmaçO" necesurla. li compreertdo
do CIIO am ' foco. Em suma, pode·se di:e, que Schlllebeeclo: 88 toma aua-
palio pelo lato de MO dl~.r certas verdades que pertencem ao patrlm6nfo
da "; a con.eqül!ncia de t.ls omlssOes é a reduçAo de Jesus Cristo iI
concllç.lo de meIo homem. Scnlllebeecu, pe$$Oôllmenle, nlo lenclona negar
• DIvindade de Cristo, mas nlio a afirma suficientemente, pOdendo assim
Induzir em erro o público ledor.

• •
Comeatá.rlo: .t::dwarcl SchillcOcecl<;t\ no..~ceu nti Bélgica em
1914. TClmou-sc Religioso c pn.'Sbitero rui Ordem dos Prega-
dores (Dominicanos) . Há vinle e dois anos leciona T~logia
na Universidade de Nimcga (Holanda'. 11: autor de numerosas
obras tcoI6~icas, da~ quais as pl'imeiras loram recebidas com
tranqüilidade e Rgrd.do J)~lo~ 8rnblentes estudiosos. Acontece,
porem, que dE'$de 1977 os seus escritos mais re~ntes êStãO
sendo examinados pl"la S. CongrC'ga;;ão para a Doutrina da Fé.
São principalmcnk dois os livl'os localizados: J~us, bet ver-
haU van 6en len'llde (Jesus, a história de um vivente) I c
Gerechtlghdt en liefd~. G(,llnde f"'R bevrijding (Jl1StiÇil (' AmOi.
Gia('n em LibC'rl:t('iloL

A obrd. J e;ous _.. utiliza IIS ":ses do chamadCl . r.-létodo da


História das Forma!>;>, procUI'ltndo distinguir no Evnngelho
diversas ca madas etc Tl'adi~;~io _ o que leva a conclusões, por
vezes, amb!guas ou pode minimizai' I.! l'Clativi:.!:ar a.c: aJirma(Ões
da doutrina da fc. SchillcbCCC'kx. seguindo tendência vigente
entre autort.'!õ; (:nlólicos C pr'ole::;tallll$, enfaliza a humanidade
, Em Ingros, J ..us: An expertmlnl In Ch,htoiogy, Seabury, 767 pp.

-lOS -
18 '1 PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 243/1980

de Jesus mais do que a sua Divindade, a fim de tomar mais


acessivel ao grande público a mensagem cristã.. Um grande
teólogo jesuíta, Pe. Jean Galot S. J., professor da Unlversi-
dade Gregoriana (Roma). chegou a perguntar ,1 Schillebeeckx,
através de um programa de rádio, se não estaria recaindo na
antiga heresia do arianismo I, pois parece negar a preexistén-
cia de Jesus ou a eternidade do Filho de Deus no selo da
ss. Trindade.
Em agosto de 1979. o Pe. Schlllebeeckx recebeu um cha-
mado para encontrar·se em Roma com teólogos da S. Congre-
ga!:ão para a Doutrina. da Fé no môs dC' d<,zcmbro. A ootlcla
desta convocação provocou cel'la agitação: aos 19/ ]0/ 79 for-
mou-se em AmsterdnM Um Comitê pró Schllllebecckx, consti-
tuído por cerca de eem teólogos e homens de cultura. os quais
enviaram um protesto a Roma e à Nunciatura Apostólica.
AOS 23/ 10/79, O decano, os professores da Faculdade de Teo-
logi-a e outros docentes da Universidade de Nimeg-.l mostra-
ram-se favorâvels ao teOlogo, asseverando que Schlllebeeckx
procura. tão somente traduzir, para o homem dc hoje. a peso
soa c a mensagem de Jesus Cristo, observando fidelidade ao
Evangelho, à Tradição c aos ensinamentos da Igreja. Aos
26/10/ 79 foi a vez dos professores da Universidade do Estado
Croningen . .. Asseguraram à S. Congregação para a Dou-
trina da Fé que Schillcbeeck ê um homem de fê profunda,
fascinado pela pessoa de Jesus Cris to. mensageiro do Evange·
lho para O homem de hOje.
Em suma, o rádio, a televisão c a Imprensa escrita na
Holanda promoveram debates sobre o assunto. chamando
para tanto os mais notáveis expoentes da teologia católica e
da protestante.
Neste contexto, o próprio Pe. Schillebeeckx. Instado por
amigos, resolveu aceitar convite para uma entrevista à tele-
visão holandesa no começo do mês de novembro pp. O texto
dessa entrevista é eluclpatlvo do problema; eis por que vamos
abaixo reproduzi-lo em tradução portuguesa, valendo-nos, para
tanto, da publicação Italiana n Bogno n'" 407, 15-/11/1979,
pp. 439·441.

10 arianismo, derivado de Ario (t 336). no mulo IV ensinava qr.re


..Iesus 6 OeuI criado ou o MgUndo o.v..

-106 -
o CASO SCHILLEBEECKX
"
1. Uma entrevista de Schlllebeedcx
«No.... pontos .1'11 foco

R repórter' - Professor, como se sent. no expectoti... a de de,·


cer o Roma poro o inleuagolôrio?

Schillebeetkx - Recebi um doniê do Congreg~õo poro o


Doutrina dCII fê, no qual me são formulados perguntai O respeito
dá Crislologio, I do preexistência de Crislo, da uniõo hipostólico.
do reloçõo enlte o humanidade e o [)jvindgde de Crislo ... Respondi
a esse queslioniuio, mos o relposlo não lotisfez o Roma e, por
islo, pedlram.me que fosse o ROlflo poro ter um cOlóquio com tris
le610gD5. que lerao designados pelo Congregação poro !'l Dou-
t,ina dg Fé.

R. V. Rma. lab. quem são?


S. Naa I
R. I: lamentóvel.

S. - C.rlamute. Mos talvez oi "da sejam publicados os ..eUI


nomes. Não sei. Em Roma terei que responder a respeito d. nove
pontos concernenle$ à Cri5falogia e também à relçu.ao entre Reve-
lação Divina e experiência I'lumono.

R. _ Tenho em môos os nove ponto$ de discussôo. Podemos


pOlsô.los em revisto.

Pri...ira pomo: os dimenlões dg .... rdade re .... loda. O con-


lexto do fô. O senlido da solvacõo aisrã.

$. - Na. meul dai, li...,ol de Cri.'ologia coloquei Q t6nico


na up.rilrida humano. A R..... lacãa Divino apreende o hom.m
inserido na sua experiincio humana. Po, conseguinte, nlSo podemo'
opor Revelacãa, de um lodo, e exp.rilnda I'lumano, do aulro. A
Revelaçoa nõo le foz s.m °
experiência humano ti no experiincia
humana elo le .)Cptim. medianto conc;.itOJ ti Im-ogens.

It. - Segundo ponto; a função normativa da magistério no


loconle ti fe, a teologia dos Condlios Ecuminicos e o alcance do
infalibilidade do Papo.

I Crlstologl. , o •• tudo aprofund.do d. penoe da Cris to.

-107 -
20 ~PEROUNTF.: E nJ.: SPONDERF.:MOS,. 243/ 1980

S. - Nõo falo diuo nos meul livros .•• Este silincio nõo li
aceito, porque me limito ã exegese do Novo Te.tamento e, em
conseqüênda. nõo folo de todo o Tradição cnstõ. Fc..;o umo .intese
no base dos tedo. do Novo T01l0m l)"lo, ti! 1510 di. .0 impressôo de
que neoo .a importância do magistério do Popo.

R. - Terceiro pORia : Jesus CridO. Filho de Deus, pena0


preellislente. que le fc~ homem.

S. - Sim, lombem eSlo é umo queslõa do dossii, baslante


abslrata. No meu livro, nõo falo do preellistincio de Cri sto, mos
aceito o grande simbolismo teológico .ubiacen~ à afirmação de
que Cristo é chamado o Filhõ de Deus como Jesus, como homem.
Por conseguinte, é preciso dizer que o filho de Deus, antes do
ser Jel1J1, estó em Deul. Mos de que modo? Estas são interrogações
muito obslrola s; de falo, dela s não falo no meu livro, Em última
o"ãli,@, o pergunto de Remo veno sobre o meu silêncio.

I. -Quarto ponto: o valor de sacrifiria da morte de Jesus.

5, Aqui trota 'U do grande quuUio da satisfação. Ditem:


o pecado foi lão gra.... Gue exigiu a morle do filho d. O.us. Oto
"aO se pode OCi!itar .sla afirmacão. Nlio nego, porém, o volor de
socri6cio e salisfoção do morle de Jes us Crislo . Não no .enlido da
pregoção corrente ... Pois esta assim leva a negor o amor gra-
'ulto de Deus. Não ·foi Deus que entregou à morte o nu FlIho, mOI
fotom OI homens que motorom JeSus Crislo.

R. _ Quinto ponto ! a consciência que Jesus tinha de ser


Messias e Filho de DeuS.

5. _ E quelllio me,omente histó rico. Nado tem que ve r com


o fé. 50 Cristo talvez: não soubesse que era o Filho d e Deus , não
se segue que não o fo sse e que n6s nâo o devomos professor tal.
Por conseguinte, Irola-se do questão meramente hist'Órico. Nado tem
a ver cem a .,•. São os historiadoreS: - e eu quis proced.t como l1i,-
rariador - que dizem tlue Jesus nõo tinha a consciência de ser a
Messias no senlido ré.oio. Til'lha, porém, uma co"sciincic messiânica.
profético, escatológico.

I. - Problema exegético ...


S. - Oh, sim I
R. _ Sexto pon'o : Jesus e a hlndoçõo do Igreja .

-lOS -
21

$. - Nõo nego, em meu livro, a fundodio da Igreja por


J.,u., Apenol diue que Cristo tinha o con.dando do flm do mundo.
Nóo concebeu um pio "O d. fundaçõo de uma Igrelo: ape no. reuniu
doze apóstolos, Is'o .e tornou, de falo, o fundação do Igreja, que
recebeu (I sua confirmação olrové. do feuurreição.
R. Séllmo ponto: o in.tituição do Eucori.lio.
S. A inllifuleão do Eucaristia, eu o expus longament. no
meu livro, porque nOI palavra; do instituieão, como s. encontlClm
nos sin6ticos e em São Paulo. nio diversos comados. Sc:hürmonn e
muitos exegetas o reconhecem. J"ambé m eU digo que lois palavras
,ão fórmulas litúrgico.. Esta pO$içêio é unanimemente aceilCl . Por
isto "Cio se pode sUltenlor que sejam palavros ditai pelDolmente
por Jelus Cristo . Oro Roma n5a oceilo illa. Exig.e que digomos que
OI fórmulas lit~ 'oicol '1110 ti o meu corpo ... hto ti O meu longue'
sóo polavrol hist6ricos d. Jesus Crislo penoalmenle .
R. - 01tovo ponto; Q ("onteic;õa virginal de Je lus.
S. - No me~ livro digo fJpen,Qs o que dizem Moteus e os
outro, evangelistcu que dino falam . E qual é o sentido de u o pro-
palie!5a? _ O qUe penso, IIãa o digo lia meu livro. Digo que esta
6 uma questão muito periféric.o paro o Crillologie . 01'010 somente
que h6 ume 'e"dlndo no Tradição, mo. não em todo o antigo
Tradicõo cristô, que afirmo que o Filho de Deul se fel: homem lem
concelcoa virginal. O que quero diler, ti que a menino é o filho
de O"Ul, Noda mai •.

R. Nono ponto : a realidade objetivo da reuu,reicõo de


Jesul .
S. - I: e llo o glande questão. A reolidode objelivo é e vi-
dente. t: tão evidente no meu livro ... Mal nõa ponho o acenfo
sobre o sepulcro valio nem sobre OI opariCÕel. Digo apenOI q ue a
origem da fé na ,anurr.ieão é uma esp'de de Met611oia, de con-
VerlQO, ap6s a morte do Senhor. Converião dos Apóstolos, que,
depois do morle de Cristo, experimentaram a sua prelen,a pneumó-
tica. E descreveram isla lob formo de aparieães. Mos, pera mim,
IIÕO são as oparicóes come tais o fundamenlo da nossa ti. Nõo
n_.oo o obietividade. As opari(Õe, ... Que s60? Atucinacões ?
lIuJ~_s ?

Outrora Rohn.,
R. - Na Halanda 'e alhures · di;[ole que Roma ?oderia, em.
relaeão Q V. Rmo., tamar OI mesmos providências adotadas no <asa

- 109-
22 cPERGUNTE E nESPONDEREMOS~ 243/ 1980

do te6lovo dominicano froncê. Pohier, a quem proibiu pruldlr o


ollembl"io. litilrgicas, en.inar e reoli:tar conferindo. públicol. Que
julgo V. Rmo. o prap6sito?
s. - Os dois casos J~a Jub.lancialm~nt~ diversos.
R. - Tem receio?

s. - Não.
R. _ Em 1968, V. Rmo. foi defendido por Korl Rohner.

$. - Em 1968 ntio fui o Roma, Rohner def.endeu·m~. E todos


o. con.ultor•• unanimemente admitiram qUe as minha. obras não
tinham i.rido a ortodoxia.

R. - Por que, desta nz, deve ir a Roma?

S. _ Porque isto " previsto pelo estatuto. I Ramo não I. deu


por .otisfelta com OI minhas ,esposlo ••

R. _ Auim poderó explicar melhor a lUa posição teológica


e dlulpar a. ombigiiidades.

s. - J6 o fiz. Num dou" de ,,1.,10 páginas e em um livrinho


publicado 10mb"" em alemão. Env\el·os a Rama. Mell, ape.ar dida •
..,el Interrogada sobre nove ponlo•. Todos este., eu iá os eJlpllquel.
lonlo no doui. como no livro. Nao comprccndo por que os deva
explicar pelo terceiro vez. Isto significa que o. te61ogo. ,omano.
e eu penlomos dinnomen'e.

R. _ .segundo V. Rma., nisso tudo h6 a influêndo do nova


orienlOCão, dout,inalmente tradicionalista, de João Paulo li?

S. _ Nao O ••i, Poro dizer o .,.,dad~, o meu prOU'lIO come·


CID" duror'lt. o pontificado d. Poulo VI. A minha convocaçao foi
assinada pqt Paulo VI. Foi ,."ovoda por Joôo Paulo 11.

R. - V. Rma • ••16 tranqüilo?

S. - E..ou m~ito tronqGilo. Mesmo qu. "aO compreendo, "jato


quo mondei o dossi& o o Iminho, o ob.tinoçáo rOml;lnGl, a qual, de
certo modo, desperto receio.
1 a. p. 94e de •• e fascleulo, onde' upU.eeto
o uame de livros em Ramo.
° proctldlmento p'"
-110 -
o CASO SCHILLE:BE:ECKX 23

I. - • .• De uma condenaçõo?
S. - Não creio. Talv&!r. ... de uma admoestação. Como no
caso de Hon5 Küng l.
R. - Conhec;e o recente livro do Cardeal Porenl.e, que o iar.
fiai L'Osservotore ROll'lOno elagiau ?

S. - Nõa o conheço. Tombem ell li L'05Hrvatore Romano. Sei


que aloca "üng, Sc:hoonenberg, Rohner e a mim • .E homem de mais
de oilenta anos. Todavia creio que influenciará os Cordeais que
hão de jutgClr o meu coso : Felice, Boggio, Rossi, Seper e os ou'rol
que não moram em Roma : WiUebronds, Voll!:, 'l(rol.
R. - V. Rma. já falou com Willebronds ?
S. - Ah, sim I ... Poro ele, nado há d. herético. e
um livro
ortodoxo. Ele est6 tronqüilo. Eu, porém, lhe disse: ·V. Emcio. acho
quo ê ortodoxo. mas OI . oulrol Cardeais não pensam ouilll'.
R. - O Cardeal Alfrink teria dito numa reuniõo de jovens:
'Leiam a Bíblia e dep-ois o livro d. Sdlill.beeckx ••• '.
5. - Sim, ele a disso. Há alguns dias, folondo no Universidade
d. Nimego em solene sellão acadimioo, ete me defendeu sem citar
o meu namea.
Importa agora tecer algumas considerações que elucidem
os pentos debatidos entre o teólogo Pc, Schillebeeckx e a
S. Congregação para a Dou trina da Fé.
A explanacão abaixo setvirã também para esclarecer
parte da problemática da Teologia contemporânea, que sp
prende aos nomes de autores famosos como Küng, põhier, . . .

2. Comentando .••
Procuraremos abaixo repassar os nove pontos sobre os
quais Schillebeeckx Cal chamado a responder em Roma.
l ' panto; As dimensões da Yefdad. nv.kxIa
A tuosotia moderna fenomenOlógica e existencialista põe
grande ênfase sobre o sujeito e a subjetividade. Desta ma-
neira procura dar sentido concreto e vivenclal à verdade fria
e objetiva, cujo valor e significado para o sujeito (= _para
I Estas pelavras 10ram proferIdo .m novembro 79, ama da lentença
sob,. ...,.. I(QnG.

-111-
2t " PER(iUN"l'E E RESPONDEREMOS:. 243 /1 980

mim» ) ela sempre põe em foco, Não há dúvida. este prop6~


sito é vâlido. ÁS vezes. Porem, pode tornar·se exagerado, des-
cuidando da objetiv:ldade e da universalidade da verdade. Ru-
dolf Bultmann (t 1974) é testemunha dessa tendência 3. redu~
:zir a fé a mera atitude pessoal, subjetiva, que nada professa
de objetivo ou de universalmente válido aos olhos da inteli·
gêncla. Ora, segundo a doutrina católica, as verdades da fê
têm significado objetivo intelectuoJ. Por isto os tcólogos que
realçam a experiência subjetiva da Revelação divina sem aceno
tuar sutjclentemente o caráter objetivo e intelectual da mesma,
correm o l'isco de nno interpretar devidamente o pensamento
católico.

2' ponto : O mogbtério da Igttfa e o teologia

O trabalho do teólogo há de levar s empre em conta os


ensinamentos do Magisté rio da Igreja através dos séculos,
quer este se tenha manifestado ordinariamente pela voz unâ·
nime e constante dos bispos esparsos pela terra. quer pela
palavra dos Concilios Ecumênicos, O teólogo nisto se dife-
rencia do filósofo: ele procura aprofundar a Palavra de Deus.
que lhe chega através de dois canais inseparáveis um do outro:
a Tradição oral (da qual o Maclstério é o porta·voz qualifi-
cado) e a Tradição escrita (a Sibila) colocada no contexto
da Tradição oral, A propósito dIzia o S. Padre :João Paulo II
aos representantes dos Institutos Teológicos de Roma 80S
16/ 10/ 1979,
NA humildade suge ... ao te6logo a davlda ,mtlde dlanta da IgrajL
Ela u be que t: Igreja 101 confiada a Palavra para que Ela a anunc. ao
mundo. apllcando-a a cada 'POCa e tOrNIndo-a aulm rellmente Itual.
Ele o s lbe e por Isto se NgOJ:IJa,

Em conseqül!ncla, ele "lo h1l511. dizer com Orrg.nu: 'A minha


..plraçlo , a de ler ",almanta da Igreja' (In Lc h, 18) , estar am plana
comunhlo de panaamanlo; de lanllmentos, da vida com a Igrala, na qual
<I Crf810 .a temi cenltfl'lportnea de cada 0Ir.ç1o humana. Por Nr veld..
da lramente um homam da Igreja, ala ..Uma c p..sado de IgraJI, madlta
a hllt6rla dn ta, venara • allplana a sua Tl'lldlçlo, Mas nlo se delll8
enc.rrar "urtI eulto "o."loleo das uP""'" hlelórtc.. pa rtlcu"ru •
contingente•• clent. da que a IgraJa • um mlat4r1o vivo qua caminha lob
a dlreçle do Esplrlto Sante, Da ma.ma ferma, a'a recLlIa aa propostas
da rupture radicai eom e passado. quo cadam ao mllo f• • cI~..,t. de um
nove começo: ele Cf' que lO Cristo .." IOmpra preaonla na lua Igreja,
hoJa como cnttlm. para continuar a eua vlda • nlo para recom.ç6·1."
(transctlto e traduzido de La Documentllllon Celhollque, 18/11/1G, p. 955) ,

-112 -
o CASO SCHILLEBI!;ECKX

31 pontO: .14. p,...xlstinda • Crkto


A doutrina .da preexistência de Cristo pl"Ofessa que, a.ntes
de se encarnar no seio de Maria Virgem, o Filho de Deus exJs-
Ua no selo da SS. Trindade. Encamando-se. o Filho toma o
nome humano, civil, de Jesus, o Cristo, isto é, o Ungido, o
Messias.
Como se vê, a PfL<>existênda de Cristo c correlativa à Di·
vindade de JcsUs. Quam não a professa, pode sugerir que Je-
sus Clislo era mero homem, que começou a existir quando
l.'Onccbido no seio da Virgem.
Schillebeeckx não tenciona negar a Divindade de Jesus:
mas não é licito a um teólogo guardar o sUênC!io sobre ponto
tão importante da Cristologia; induziria a mal-entendidos e,
possivelmente, a elTO$. Nenhum autor cristão deve procurdr
atrair os não cristãos, silenciando temas essenciais da mensa-
gem evangélica. Leve·se conta o testemunho de São João, que
professa a procxlsténcla do Logos de Deus:
"No principio era o Logos. e o Logoa "lava com Deus, • o Logos
era o.u5. No principio ele esla.... com Deus ... E o Logos se fez carne
e habilou entre n6& • vimos a s~ g16rta . .. " (Jo 1.1 • . '4) .

4' POR'O: O valor de ..utfJdo da morto do Jesus


Jã as profecias do Antigo Testamento apresentam o Sl!1"
vidor de Javé como vítima que, por sua morte. expia os pccn~
dos alheios. Vejam-se os dizeres de Isalas 53.4-6 .10:
" Ele tomou SOb" .1 as nosus enlem'lldades a CIIrre!Jou-H com as
nossllS dom. NOs o Julg6YamOS lçoll..do e 'erldo por Deus. humilhado,
mas foi ',...passldo por e8UN dos nossoe demOlI • espezinhado por
C8USll dn nossas culp.'. A punlçlo, .aklltr para ~. foi Inlllgldl I ele.
e as 5UIS chaga, nos curaram. Todos; nós, como ovelh.., nOI MSilrra-
mos, cada um .ellula o .. u caminho. Mas o Senhor lu recair sobre e ..
11$ culpu de lodos nós . .. Aprou" ao Senflor que O espezinhado e traM-
pessado. ol.recondo a sua \lIda em 8xplaçto, oousse d. uma descen-
dincla longeva e por 50U melo \I. relUzasse o Inte-· .. do Senhor" .

Em linguagem de Novo Testamento, dir-se-ia :


Como segundo Adão, Jesus assumiu a natureza e as fal -
tal;do primeiro Adão e, a partir dessa natureza humana peca-
~ra, prestou ao Pai um triin1to de amor ou de obediência até
a morte; assim a mesma natureza que pecara, ofereceu satis-
fação ao PaI. - A1guns autores de épocas passadas podem
ter exagerado o caráter expiatório da mor;1:e de Jesus, di'ZCndu

-113 -
26 ~PERGlJNTE E RESPONDEREMOS. 243/ 1980

que o Pai exigira tal sacrificio à semelhança dE" um soberano


da terra que exige desagravo e reparação. Tal apresentação
da doutrina seja deixada de lado na ' medida em que é antro-
pomórfica; não se per ca, porém, a consciência do sacrificlo
expiatório" de Jesus, professado, aliás, pelo próprio Cristo em
Me 10,45: cO Filho do Homem nâo veio para ser servfdo, mas
para servir e dar a vida em resgate por muitos:..
5 ' ponto : A COftsclinda ps1col6giat d. Jesus: 5Gbia Ele M1"
o "lho d. Deus • o Meuios?
l!: este talvez o ponlo mais ncvralgico da Cristologia, am-
plamente estudado nos últimos tempos. TOdavia·, para pene-
trar no assunto, os tc6logos dispõem, como fonte histórica,
apenas dos escrItos evangélicos, redigidos no século 1. Se é
difícil, ou mesmo impossivcl, penctrannos no inUmo das cons-
ciêndas das pessoas com quem convivemos, deve-se dizer que
é muito mais dificll, se não de todo impossivel, penetrarmos
no íntimo de Jesus Cristo, que viveu 'mals de dezenove téculos
atrás.
Eis, porem, o que a respeito se pode dizer se se levam em
conta nâo somente os fontes históricas, mas também os dados
da Revelaçáo:
Ensina o Concílio de Céllcedônia (451) qu~ em Jesus ha.via
uma só pessoa (a segunda pessoa da SS. Trindade) ou um 66
eu ontológico e duas naturezas: a divina e a 'humano. Quando
o Filho de Deus se fez homem. nada perdeu do que possuia
como Deus, preexistente à Enearna~ão, Isto e, conservou a
oniciêncla, a onipotência e os demais atributos de Deus; além
disto, passou a ter também os predicados de wn verdadeiro
homem (entre outros, a inteligência discursiva e a capacidade
de aprender). Jesus então aprendia como homem (el. Lc
2,40.52). Pergunto-se então: como se comunicavam entre si"
as duas naturezas de Jesus, unidas entre si pelo mesmo eu
ontológico? A fé ensina que não se misturavam, mas que tom-
bém nio se separavam uma da outra_ Os teólogos, como R8h~
ner, Lonergnn, Galtier, Pa."r ente ... , têm estudado minuciosa·
mente esta Questão e, em conseqüência, apresentam um leque
de posições matizadas. que não v(!m ao caso expor aqui. Em
SlUDa, não é posslvei definir alguma sentença que esclareça o
assunto. se o queremos elucidar a partir da temá tica da união
hipostãtica ou da t6rmula de Calced6nla. - ~is. porém, que,
levando-se em consideração outro aspecto da EncamaCão, che-
ga-se a uma conclusão mais segura. Com etoito. toda a Tra·
__ '14 _
o CASO SCHILLEBEECKX 27

diçiio ensina que, na própria consciência humana de Jesus~


havia, além das noções adquiridas por suas faculdades huma.
nas de conheeimento, um tanto de clencia infusa: esta Lhe
dava a saber quem EII! era como homem, e qual a sua mis-
são ou qual o plano do Pai que Lhe tocava eumprlr. Seria
absu·r do que Jesus ignorasse isto como homem, pois seria então
um proCeta destituldo de elementos necessá.rios à reta exe-
cução da sua missão. Por conseguinte, não se pode dizer que
Jesus ignorasse ser o Filho de Deus e o Messias; seria dizer
que Ele ignorava a sua Identidade ou o que há de mais fun-
damentai num Individuo.
Schillebceckx, em sua entrev,ista, alega ter.Se çolocado na
posição de historiador; como tal, ele nio professou a consdên-
cia messiânica de Jesus. Ora pergunta-se: por que é que um
teólogo deixaria de scr teólogo ao tratar deste ponto? O pU-
blico espera dos teôlogos a palavra da teologia, e não apenas
a da história . .
O que dizemos o propósito de S<:hlllebeeckx, aplica-se
oulrossim aos escritos de Frei Leonardo Boff (a cuja pessoa
devotamos todo o respeito. Este teólogo propõe, em seu livro
«Jesus Cristo Llbertadon. a imagem de um Cristo que ignora
o tleSCecho de sua vlda õ terá. ceado na Q.uinta.felra santa sem
ter a .consclencia de estar Instituindo a S. Eucaristia como
perpetuação litúrgica do seu sacrlncio. Ora t al tese, entre
ouU'as, foi motivo de Interrogatório da parte de Roma ao teó-
logo brasileiro.
6t pcnto: Jesus e a fundação da Ig,.",
Este ponto se liga ao anterior. Se Jesus ignorava o des-
fecho de sua missão. não tem. tido a lntentão de fundar a
Igreja como sacramento que prolonga 8. obra redentora do
Senhor Jesus. .
Os modernistas, no inicio do sl.'CUlo XX, atribuiam a Je·
sus um engano a respeito da história; Jesus terá . Imaginado
que o !Im do mundo estava próximo, mas se iludiu. Loisy (or-
mula a tese modernista nest~ termos; cJesus anunciava o
Reino, Isto é, a consumação da história e o julgamento final
dos povos, mas o que velo, foi a Igreja.. A1guns teólogos
contemporâneos tem repetido esta proposição. que atribui a
Jesus grave erro de perspectiva c, portanto, nio se concilia
com a onlciência divina de Jesus.
Verdade é que Jesus parece referir-se ao Reino de Deus
como algo de Iminente, que porá fim '.1 história; ct. Mt 10,23:
-115 _
28 ,. PERGUNTE E n ESPOr-; llEHEM o.<;~ 243/mSQ

16,28: Mc 9,1. - Todavin, Icvundo l'nl (1)ota u linguagem dos


Profetas bíblicos, os exegetas expllcillll que a .vinda · do FUho
do Homem em seu Rejno, predita por J esu.<; para breve, é n
que ocorreu na queda de Jerusalem em 70 d·.C . ; esta catás.
trofe equivaleu ao juizo de Deus sobre Israel. Não há, pÕis,
texto biblico que obrigue a dizer flue J esus se tenha enganado
quanto ao futuro da SUl'. missão. .\0 contrário, ItS parâbolas
de Mt 13, principalmente D. do joio c do trigo, a do grão de
mostarda c a da rede lançada ao mar, mostram que J esus tinha
consciência. muito nilida' da longa duração do seu Reino, iden·
tificado com a realidade da Ig-rcja. Cr. J . Jeremias, Lcs para-
boles de .Jésus. Ed. Xavil~l' Mappus, Lc Puy, pp. 118-121 (a
traducão brasileira deste livro e rompe ndiada em relação ao
texto alemão e ao francios). '

7' pon'o: A lnstltulsão da S. Euccuillio


Também este ponto se prende no da prcciéncia ou ao da
t.-onsclência messiânica , de J esus. Há quem diga que, ao cear
pela últimA. vez na quinta-feira santa, JéSUS ignorava O sen-
I ido de tal ceia: esta, na verdade, seria renovada futuramente
pC!I.os Apóstolos para perpetuar o seu sacrificio. Ora, se Jesus
ignorava o sentido dessa cela, dlr.sc.á que, se hoje ela e tida
como ceia sacrificai, isto se deve à interpretação que os dis-
cipulos lhe deram após Pen tecostes. Tal é o problema 8
respeito de qual a S. Congregação dn Fê quis Int el'rogflr
Schillebeeckx.
Pois bem. SChlllebce<:kx alude âs fórmulas de instituição
da S. EucarjsUa ; cI Mt 26,26·28: Me 14,22-25; Lc 22,195;
1 Cor 11,23-25 (queira. o leitor confrontar estes textos entre
si na Bíblia) . O teólogo asseverct que tais fónnulas não saí·
ram dos lábios de Cristo, mas são fórmulas da liturgia pos-
terior. Ta l arinnati,."a é ambígua . .Poderia ser entendida no
sentido de que J esus não intencionava, de modo algum, instl·
tuir Q S. Eucaristia como pcrpetuacão sacramental do sacri·
fido da Cnlz; tal concePcão d~ Eucaristia 'não se derivaria de-
Jesus, mas tão somente õos primeiros cristãos. Ora este enten-
dimento 5eria errõneo c r.ontrârio â doutrina da fé.
Como então entendel' as fórmulas da instituicão da Euca-
ristia nos EvangelhOlô e l'm teor?
Considerando 1I~ I"}uatro f6mllll ns cucurisUcas transmhi ~
das pelo Novo Testamento. "crlflcAmos que se agrupam em
duas famUlas Ulúr~l ea!l: (a de Mt c Me (' a de Le e lCor) : não

- 1.16 -
o CASO SCHlLLEBP.ECKX

são literalmente Idênticas entre si (embora o sejam quanto


ao . sentido), porque nenhum Apóstolo presente à última ceie
tratou de gravar na memória ou taquigrafar as palavras com
que Cristo Instituiu a S. Eucaristia. Por isto, quando depois
de Pentecostes repetiram os gestos de Cristo na última cela,
os discipulos reproduziram com palaVI'DS semelhantes ou equi-
valentes o que Jesus quisera dizer então. Essas palavras equi-
valentes foram-se estratlficando em CamBias Ulúrgicas (a
antioquena, a romana, a alexandrina ... ) de modo que, quando
os evangelistas redit:iram a narração da ultima ceia, transmi-
tiram as palavras de Jesus tais como eram reproduzidas em
duas das Iamilins Utúrgicns do sCculo 1. Pode.se, pois, dizer
que as palavras do Evangelho não são literalmente as que
Jesus proferiu na última "cela. Disto, porem, não se segue que
não correspondem fiel e exatamente às Intenções de Cristo e
às fónnulas que o próprio Jesus usou na última cela. Ao con-
trãrio, elas refletem com unanimidade aquilo que os Apósto-
los entend~rom então e, em conseqüência, aquilo que Jesus
quis dizer. Estas considerações evidenciam que é gratuito afir-
mar que Jesu.c; Ignorava o significado da sua última ceia ~.
por lsto, ntio lhe atribuiu, ele mesmo. o sentirio de ritual litúr-
s:tico que pl!rpctuaria o sacrifício da Cl'llZ.
Pel' conseguinte, se Schillebceckx afirma, sem mais, que-
as palaVl'as cvang~licas relativas â Instituição da Eucaristia
nüo sâo de Jesus, mas são fónnulns litúrgicas. pode ser mal
entendido. Ê. pois, com razáo qUI! os teólogos pedem ao autor
holandês que expliQue melhor a sua posltilo. Por qUI! resolveu
Schillebeeckx ser tão reticente neste (c ('m outl'OS pontos) da
sua cxplamlcão cristológlca'!
8' ponto : " A concelçÕo virginal d. J~
A propóSito diz SchJ1lebeeckx que reproduziu as afirma-
c,.'ÓCS dos evangelistas. Ora estas sio assaz claras no sentido
da conceição virginal de Jesus; cf. Mt 1,18-25; Lc 1,26-38; 2,7.
Este fato bíblico tem o seu signifleado teológico profundo: Je-
sus não teve pai na terra porque ê Filho do Pai e('lcste; Maria
recebe diretamente de Deus a sua prole, e não de um homem.
porque t.,l prole náo ~ simples criatura f!. :=;Im. De-us ff:ito
homem.
J._
9' pontó: A realldacl. obIettwa. do reuurrei!:ão d.
Sch!l1ebeeckx não nega a realidade objel iVR da ressurrei-
C;ão de Cristo, pois esta é essencial ao patrimônio da fé: cr.
lCor 15,13-17. Todll\1a o teólogo holandês não valoriza ns
-117 -
30 " PERCUNTF: E RF".sPON/)r:REMOS ~ 2·13/1!!!iIl _ _ _ __

aparlç'0e8 do Res~uscltado aos ApUstolos e discipuJos, tlven·


tando a hipôtese de que tenham sido alucinações subjetivas (>
ilusórjas dos Apóstolos; a fé na l'e5surrei(:ão ter·se·ia origi.
nndo, nos Apóstolos, em ~ns~t'Jüênéia dt:' uma espr.eie de con·
versão dos mesmos após a mort(! ôo Senhm·. OI'U tal posição
é estranha. e ambigua, r:ois mais t.:ma Vf7. t'lIfali'l..1 c1(1mal", o
aspecto subjetivo das proposi(:f}CS ,la fc. com delrimf'nto do
qu~ elas tem de objetivo. Além disto. note·se o tC):to d~ ICor
15.3·8: é citação de uma profissãQ de fé da IJ:l'eja antiga, Que,
como se- julga, foi redigida entre 33 c 39, isto é, poucos anos
depois da Asccnsi'lo do Senhor; é Q eco vivo e imediato da fé
dos ccistiios que professavam a ressurl'Cil,,'üo do Senhor, apon·
tando os casos de aparlçócs que acompanhavam tal profissão
de fé.
Eis o que, em termos sucintos, se pode di7.er sobre os pon-
tos "delicados:. dos escritos cristolôgicos de Schlllcbeeckx.
Como se vê, em grande parte, as posições deste teólogo im-
pugnadas se devem a reticências c omissões ambiguas ou se
baseiam em hipóteses sujeitas a discussão.
Por que terá Schlllebecckx escolhido tal modo de conce·
ber a sua Cristologia?
Certamente, ele o fez para falar uma linguagem nova,
ma is condizente com teorias exegéticas recentes. algumas
oriundas de cscola~ prote~tantcs (embora pas.<;ivcis de SC!r adap.
tadas à COtlCCpçtio católkll). O tcülogo talvez quisesse facilitai'
o diálogo entre a Igreja e o mundo rnodeJ;TIo. O fato, porém.
é que tal apresentação. de certo modo, trai as verdades da té.
deixando lnexpressos pontos Importantes das mesmas e 90S-
sibllitando aos leitores entendimento diverso daqu(!lc que a fé
católica professa. :e, pois, com pleno direito que a S. Igreja,
Mãe e Mestra, pede a Schlllebeeckx que re5()1va ãs suas ambi-
güidades P. diga com clareza. o que pensa e o que pretende
ensinar. 1: em vista do bem comum do povo de Deus quc a
Igreja o pede.
Bibliografia :
Concilio Vallcano I. Corwt1tul~o dogm6Uca "Del Ftllut-". capo IV;
Oenzinger.SchlSnmetzer li" 301a.
CoM:fllo VaUc.no 11. CantlltulcJe "Lume" aenllum". n9 11. 12, 25.
. Conslltulçlo "O.I Verbum" n9 10,
Jalo Paula 11. Contlltulçlo Apotl611Cl "SapfenU.·Ch'f.II.".··.
art, 27 a 70.
tinole"CI "R",e,mplor Homlnla" "" 19.
Paulo VI. ExOfta~o Apoal6T1ca "Qulnquo Iam ann'''.
MOhl PfGlltlo "Inlqraa a.,...tJldao" nÇt 1, 3 8 • •

-118 -
Um cartelo p6bllco :

ainda o documento de puebla

Em .'nln.: o presente Orligo telare-se a um carlalo publico ·ocor-


rido anlre o Sr. Arcabl.po ele Aracaju e e. Presidência da Conllréncla Na-
c io nal dos Bispos do erasll (CNee) . O Sr. Arcebispo O. Lucia.,o Ouartl,
em novombro de 1979, aponlou InlGl'pNllaç6es lendençjOS8S do Oocumonlo
de Pueble expressa, nas Inlloduções a 8sl0 Documenlo publicadas, junlll-
mente com " lexlo de Puobla, por duas ediloras calolicas; am conseqüên-
cia, pedia p rovi dencia, ao Sr. Bis po presidenle da CNBB.
A eata carta rnpondeu o Secret'rlo Geral da CNBB, O. Luciano Men-
d ei dO Almeida. observando que a CNSB nl o • responsava l por tai!lõ Inlro-
duçOas, as quais loram solicitadas I do ll leólOOOS pelas referldls editor.. ;
fi CNBB apanas reSponde pelo lexlo o,rcial do Documento de Puebla, nAo,
porém, polls ediçOes dO m8$mo. NOItes lermos a CNB6 eximlu'S8 d.
responder as obieçOea falla a por D. Luciano Duarte ao trabalho dos ta~
Iogas em paula ..•
• • •
Comcl!tário: Em novembro pp., a. atenção do público foi
mais urna vez solicitada. para o famoso Documento de PuelJ!a,
já comentado em PR 234./ 1979, pp. 232·262. A Imprensa de
São Paulo publicou uma cnrta aberta de D. Luciano José Ca·
bral Duarle, al'cebispo de Aracaju c 1" Vice·Presldente da
Conferencia Episcopal Latino-AmerIcana (CELAM) a D. Ivo
Lorscheiter, bispo de .Santa Maria e presidente da Conferencia
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ...• carta aberta que
chamava B alcneúo para certas interpretações da mensagem
de Puebla devidas ao Pe. João Batista Llbãnio S. J . , autor de
uma Introdução ao Documento de Puebla.
Visto qUe as noHcias de jornais nem sempre são comple-
tas, vamOs, a seguir, narrar e comentar os acontecimentos em
pauta.

1. O pano d. fundo
Não há quem ignore a ocorrência da lU Assembléia Ge:
ral do CELAM em Puebla (México) de 27/ 01 a 13/ 02 de 1979.
Esta assembléia suscitou grande interesse por pa~ dos obser-
vadores em geral, porqUê devia ditar rumos para a at;iio pas-
toral da Igreja na América Latina: confirmaria as diretrizes
de Medellin (Colômbia, 1968), que havjam enfatizada a parO-
-119-
32 .,PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 243/198)

cipação da Igreja na renovação da sociedade latino-americana,


ou signIficaria um recuo em relação às linhas de Medellín?

o trabalho dos bispos reunidos ~m Puebla foi intenso (!


profícuo: teve as carncteristicas do equllibrlo C! do bom senso,
de acordo com a orJentac:ão dada pelo S. Padre João Paulo II
no discurso de abertura do Encontro. O texto diretamente
elaborado pelos pastores em Puebla não pôde receber imedia-
tamente a aprovaçúo c a confinnação da Santa Sé. como bem
se compreende. Não obstante. semanas após o encerramento
da Assembléia, as editoras católicas davam. no a lume com n
ressalva de «Texto provisório:.; havia a certeza moral de qUl!
tal documento, tão meticulosamente preparado pelos bispos,
não seria substanc:nlmcnte alterado pela Santa Sé.
A publicação do texto provisórIo, ainda não aprovado por
Roma, suscitou algwnas criticas- Todavia é de crer que teria
sido muito difícil, por parte da CNBB. evitá.la; era muito
gl'ande o interesse do público pelo Documento, em torno do
qual circulavam noticias contraditôrias e mal fundamentadas_
A ediçã-o provisôrl;:a no Brasil saiu i\-OS cuidados das Edições
Paulinas em pequena brochura de capa verde.
Finalmente, em meados de 1979 velo de Roma a versão
aprovada c dcfinitivél do Documento; tmzia vârias allcrnçOcs
em relação à anterior, acentuando ou atenuan·Jo tonalid(\dl~,
sem, porém, modificar a substância do docume nto provisório.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil oncialaou a tra·
duçflo portuguesa do novo texto e entregou-o às Editoras cató-
licas: Vozes de Petrópolis, Edlcões Paulinas, EdiÇ'Õcs Loyola.
Cada qual destas houve por bem acrescentar ElO texto oficiai
de Puebla uma lntrodução -ou uma apresentação didática ela-
borada por um teólogo de renome, tendo em vlsta facilito r ao
pUblico a rompre~ns.'\o e a utiliznc;ão do Documento. A Editora
Loyola rccon-eu, para t anto, ao Pc. João Batista Libãnlo S.J.,
professor de Teologia da PUC (RJ) ; as Edições Paulinas, ao
Pe. ]3eni dos Santos, e ' 11 Editora Vozes n Frei Clodovis Boft.
Ora, em novembro de 1979, o Sr. Arcebispo de Aracaju,
D. Luciano José . Cabral Duarte, houve por bem apontar. de
público, falhas contidas na ApresentBcãa do Documento redi-
gida pel-o Pc. Llbtanio.
Vejamos de perto algumas das observações de D. Luciano
Duarte.
-120 -
AINDA PlTEBLA.

2, A carta aberta de D. luc1ano Duarte


O arcebispo de Aracaju nponta afinnaç~s tendcnciosns.
na Introdução do Pe, Libãnio: este depreciou fi Jinha . doutri-
nárIa adotada pelos bispos em Puebla, a fim de apresentar o
Documento como expressão da linha teológica avançada que' o
próprio Pe, LJblnto e outros tc6logos seguem no Brasll. lX's.
creveu os bl3pos divididos em duas alas, das quais uma teria
sido conservadora, reservada diante do engajamento social da
Igreja, e a outra progressista, interessada na promoção das
classes pobres. Observa D , Luciano :
"E.panlo-m, com o Ilmpll.mo de.ta anl1nomla manlquellta: de um
lado, os renitente., OI omlnos, os Innnslvel., OI bloqueadores da açlo
s ocial da Igreja, em '.mude de ,eslI"rva'; do outro, o. engajadol, OI com-
prom.ll dos, os &enslvol. '.os sinais dos tempos'. os 81spOl da IIJ(lJIII mo-
demal Cue 61lca 'lIsa e que dlsjunllva de. norteante e dlsto rcldat A
reaUdade que •• viu em Puebla rol outra : Iodol o. 911pol Ja mo.tratam
s.nalvel. :ls gravas p.lavra. do discurso d. Joio Paulo li, quando, na
atlertul' (le Puebla, nos 'elou de 'verdade l obra o homam·. Todol 08
B[lpos (menos um, que votou em branco) aprovaram o Documento de
Puablll, que é uma palavra ~n!ilaJad. na .çlo social, Incl.lva, proléUca,
corajosa, leal, sensala, equilibrada, A linha de demarcaçlo do de.lnteresse
aoclal 11'110 passou enlra oa Bispos, em Puebla. para dividi-los" (p. 3) .
Conforme D. Luciano Duarte, o Pe. Ubânio chega a cdis-
eQl'dar dos Bispos que assinaram o Docwnento de Pucbla, t!"
<Jizct' qu~ está correto o que o mesmo Documento afirma estar
errado.; propõe assim cuma lnicia ~ão distorcida à leitura do
Documento de Puebla, numa vida que não é a dos Bis()O':i
que redigiram Puebla:. (p. 4) , Tal acontece na m edida em
Que o te61ogo lenla afirmar a existência de uma Igreja popu-
lar. distinta da Igreja oficial, e dotada, até certo ponto. de
um magistério próprio, paralelo ao da Igreja oficial.
Por último, o Brceblspo mostra que o autor da Introdu-
ção procura cdesacredltar, diminuir, ridicularizar a teologia
do Documento de Puebla.. Eis afirmações do Pe. Libânlo :
"A parte teológica nlo aGrvlr' de Insplraçlo para nenhuma paSloral
ulterior, IA que carace totalmente do vIGor, do perspectiva latino-americana,
l'9f1ellndo enslnamantos estrUamenta doutrinais, ortodo:coa. abtlratoa, vago."
(p, (lt. linha. 33 a 30) .
"Talvez lanhe aldo das maloras dtllçltncla. do Doc:umento a el.~
,av'o da pane teol6gtca. precIsamente por n'O COlTOflponde, • própria
chave hermen6utlca .stabeleclda pola A..ombl6la" (p. 68) .
Ora a estas afinnaçóes do Pe. Llblnlo, o arcebispo con-
trapõe a palavra do S. Padre João Paulo II expressa na carta
de aprovação do Documento de Puebla:
-121-
.PERGUNTE E RESPONDEREMOS .. 24311980

" e$le Ooçumento, 11'\.110 de euldua oraçlo, de refleltlo profunda e


' de intcMO ::talo apostólico, 01a'8c8 - assim vo--Io propuseslts - um
denso conjunto de orientaç6es p8storals a doutrinais sobre questões de
suma ImportâncIa, H' de &ervlr. com seulI v'lIdos critérios, de luz e esll-
mulo permanente para a evangeUuçlo no preSenl. e no futuro da ~mérlca
la'lna" (obra citada, p. 3).
No tina] de sua exposição, D. Luciano Duarle observa
aindn O seguinte:
" 0 que escrevi sobre a Intloduçio do Pe. Libànlo, vele, em bem
parte, sobre a Inlloduçlo do Pe, Benl dos Santos, na edlçAo do Texlo
OllciAI da CNBIJ do Oocum~nto de Puebla, publicada pelas Edições Pau-
IInas, Só para citar um exemr'n. a exegese que o Pe, Benl faz do termo
' pobre' no Documento do Puubla 6 clamorosamente distorcida, para ser
poll!lzada e ideologizada" (p. 5),
Para concluir, o an:ebil'ipo D. Luciano se dirige ao prt~i,
cll~ nlc da CNBB nos sc~\Jintcs tet'mo~ :
" ' ) V. ExÇl. .. como presidente da CNDB, • como um dos que redi-
giram e aprovaram o Documento de Puabla. nlq linha o dil elto d. per-
~~~e q~iéc~~~:, e~~A~Ót~: !~~toliv~~~I:~~~;:~~'ro~u~~~U~~;!~I~e t~~~::
caiu senào um lelxe nutrido de conslderaçOes d,so,~ntadoras o de urna
sérle de ataques malAvolo!l , destruidores e amargos con:tR o Documento
qLle IIzemos em dois ano.! de preparaçlo o d:J3S s(!m .~as de trabalho,
2) OUem 6 maponsâvel par um eqLllvoco de Ilm:l ~tla" con.se~ijên­
cias, IGmobllgaçAo de ,epalá-lo. Como? Deixo o problema e 11 solução
à sua reconhecida Intellgô:'<cla e <li consc: iôncll de quem ll, rr..,manto. "ti
o presidenle do. CNBB.
3.) Felizmente, o Oocumento de FuebJa é um granito, que fe si~Iil:'
li todas essas deturpaçÔ(ls. Graças a Q@us, que a coragem dos e ispos
em Pllobla. sua fidelidll <':l fl à 19leja de Jnua C(lsl0, o seu aerono discer.
nlmento de separar o t ~ :go d!" tanto 1010, chegam a tempo de evltllr par...
fi América latina os tempot ~e f'! lamidado raligkl-sa que se estavam
' n-;ubando em certos setores d~ Ig:-ela. Ago ra Oãses mc!'\mos aetofts radi-
C'I~ :; , como tã!lca de dlsespelo, avocam ti. ti 6 monopólio da exegese de
PUf<lIl'1, e lançam ao glande venll> sua própria 'relelture' do Puebt3 do-
Que 8 l:llroefuç!o do Pe. lIbAnio 6 um CII.:e! exemplo, A CNBB, na pp.:st·a
do v, ~l(c la., conllnulr' apoiando csle jogo? Até qu,.,'(Õo~ I\. 19 ~C; " I'I()
Brasil murece oulra coisa, E muitos de !I('us Irm.los ilO Episcopado f)",It,-:.
eoisa ll1mbém esperam da Quem 6 seu a:uol p:r~slde"té" (p, 5),
Examinmnos agora a resposta da C!\;BB à si ~ nifica i b,a
r.nrtA de D, Ludano DU A rt~.

3. A re!:posta do CNBB
.~ ."): ' ,~ ' :. , 1',7:'1. n ~ ....·t·rtiirio Geral da CNBS, D. L u-
('1';1". ' ''~'; ' I' : ,.,; " I ', ~ ,-" , (':tjiV;\UCU, CUl nota;t impl'1'n!o\;;. ~l)<,
. ~ r · t · ·;",.. : ~' . , ,·1; ., .:, : " ";).1:', rh~ Aracaju (cf. cO Estado de :-";",0
r':;~d=, :" .I . :':: ', 'j ) ,:"", ... ;nt('SI" a resposta Co a seguinte:

-- 122 -
AINDA PUEBLA 3S

A CNBB é responsável apenas pelo texto oficiai português


do Documento de Puebla •. e não pelas IntroduÇÕES e os comen·
tários que cada Editora (Voz\.'S. Ed. Paulinas. Lcyola) quis
acrescentar ao texto. A capa externa dos respec'.h·Qs volumes
traz a Indicação .Tex.to oficial da CNBB_, e nâo "Edl~ão ofiela]
da CNBB.. Por consegulntc, n CNBB se exime dt! responder
às objeções levantadas por D. Luciano Duarte contra os dize·
res das IntroduçOes dos pp, Lihiitlio e Beni. Aliás. é de
notar que o Secretário Geral da CNBB não diz uma palavra
qUe suuvize ou dissipe as criticas formuladas por D. Luciano
D~ar·.c ris Introdu~õcs em pauta; apenas excusa-se de entrar
no mt;rito da questão, como se isto não fosse do Interesse da
CNBB.
O Sccretâ~io Grral ll'rrnina n sua resposta apontando «o
empenho com que a CNBB tem zelado pelo cumprimento das
orientações de Pucbla ... ApafCce bem definida a fidelidade
integral da CNBB à .palavra cln Santo Padre e às daclsões do
Episcopado em Puebla ... - Não duvidamos da intenção de
fidelidade, por parte da CNBB, ao Documento de PuebJa e ao
Papa, mas verificamos que mais uma. vez ficam i~ólumes as
observações de D. Luciano DuarLeo aos teólogos em questão ;
não se encontra re!q)O~ta para elas.

4. Reflexão finol
Lo posslvel que certos católicos e parte do grande pUblico.
ao l:-r Q noticiário dos jornais referentes à questão em foco.
te!1lár.l ~·~ ·~"." nlClltado surpresa c perplexidade" . Todavia.
não ;. ~J[! .. :..1 a atitude definitiva de tais leitor~. Procuremos
cornp'_~ · .d ~ r a situação:

O Documento de Put'bln p certament!! .:.... !!"anc:!r Im·


ilOl~ :L-. c i a par:l a IJ;rcja c as populações da ...... mêrk a l..:lIl'la,
JX}!.' .' .1" ",m' deve inspirar a ação pa stor.al da hicra:·lluin e
do.!; I.;o:'!is cal oiir.os nos próximos anos do nosso continente.
Comp ~nrl('.S1 ~. pois, que .haja sidO tão analisado P. t!stmlado.

2) F::\lcndt'.sc l..'S})CciaJmente Que o I '" Vice-Prcs:dt'!:lc do


Ct::LA..\!, scndu um Qt'ceblspo brasileiro, tenha tomado a pala-
vra t:(\ Br ó,!!'- il para defender o autêntico sentido e R gP.Tluina
inIC 'l'l "U," :lo do Documento de Puebla, que, em últirn:1 .:ma
lI$t~, r '.~ J-.. ;>. rIo CEJ..AM. D. Lucinno Duarte assim pro<.~'tlt't l
I..'m ;.~(: (' (la Vel'd3de, tendo em vista a g-rande llcn'.'ll'ôlt;'f\o
das ('(h·lo·s do Documento de Puebla no público bra!'ileiro; a

- 123-
36 ' pc:ItCUNTE E RESPONDEREMOS~ 243/ 1980

aprese ntação didática do Pe, Llbânlo se presta facilmente a


ser utilizada por grupos de ~tudo desprevenidos, tendentes ti.
assumir as interpretações do teólogo como sendo :l. gcnuina
maneira de cntend~r Puebla.
3) A CNBB diz não ser responsável pelas Introduções
que as Editoras justapuseram ao Documenlo de Puebla. Se a
mesma CNBB alê hoje preferiu calar· se n respeito do teor des-
sas Introduç()cs, julgamos Que isto se deve simplesmente ao
desejo de não agravar ou revolver ulterionnente a situação.
Um pronunciamento da CNBB a propósito poderia ter conse-
qüências dolorosas; a palavra de D. Luciano Duarte, mem-
bro da CNBB, conserva todo o seu signific.ldo e valor.
4) O fiel católico não se surpreende diante de aconteci-
mentos deste tipo. Não é a primeira vez Que se registram
çlivergênclüs entre teólogos e/ ou bispos no Brasil. Trata-se de
diferenças que nao afetam diretamente as verdades da fé.
mas, sim, a orlenta(;ão pastoral da Igreja no Brasil ou na
Amêrico. Latina (é desarrazoado dizer.se que haja algwn
bispo comunista. pois todo comunista é ateu ... ). Essas diver-
gêncIas de ordem concreta e pratica se explicam, em parte,
pela complexidade dos problemas pastorais qUe a Igreja e as
popUlações latino.ameticanas t~m de enfrentar; a complexi.
dade sugere mais de uma via para se procurar a respectiva
solução. Algumas destas vias podem ser objetivamente errô-
neas e falsas; é possível, porem, que os seus ar.:lutos se achem
de boa fé, subjetivamente persuadidos de que estão propondo
caminhos conclllãveis com as diretrizes da fé.
Observamos isto não para .suscitar nos leitores uma imo
pressão de relativismo perante a verdade e a moral católicas.
Existem verdades de fé e nonnas éticas objetivas, decorren·
tes do Evangelho e do magistério da Igreja. A 'estas todos
os fiéis católicos abraçam e professam filialmente; a voz do
Sumo Pontífice, Que se tem feito ouvir com freqüência nos
úlUmos tempos, assim como as declarações do magistério . da
Igreja, são os critériçs decisivos para que o povo de Deus
perceba as autênticas diretrizes da Igreja. Sigam todos essas
nonnas oficiais e universais da Igreja, evitando correntes teo·
lógicas particulares e _magistérios paralelos:-. destoantes do
único magisténo da Igreja. E saibam ter paciência com os
Irmãos que divergem! O Cristo Jesus é o Senhor da história .
Nada acontece sem a sua permlssã.o. Felizes aqueles que Lhe
aderirem incondicionalmente em sua ÚTÚca Igreja, pois com
CrIsto dirão a pala\TEI fim.1 da história!

-124 -
Dois peaoa a duas medkIaa?

a igreja dispensa do (elibato,


mas não dissolve o vínculo conjugai

Em alntue: M"UO$ f1íls parguntam, perplaxos, pOf qua a Igreja


dispensa do colfbato os clírigos, mas nlo dissolva os casamentos Infelizes,
A esta quesUlo SI deva r" ponder 'lua o sacramento da Ordem nlo , In-
compaUvel com O do matrlmOnlo; li venerive' lei do cellbaio !oII.cerdotal
dave-so a uma InsUtulç10 da pr6prla Igreja, a nlo é de dlr.lto divino;
por lslo os cle"goe no Orienle podem casaMe antes de receber e orei.
naçlo dlaçonal. Ouanlo lO saeramento do malrlm6nlo, 6, por InaUtulçlo
divina, IndluolClvel; cl, Mc 10,11iõ L.c 18,18; Mt 5,32: 19,9; lCor 7,11 •
.... 11... li Ind6saofubWdada do malttmOnlo decorre do próprio direito natural.
que , IncociveL Por 1110 a Igreja nlo poda anular um casamanto vAlldo
e consumado, mKmO 'lua esta atitude lhe seja árdua e panosa i a Igre/a
a suslenla pOl fldelldada a Cristo a em .. rvlço aos homlM. que lenlem,
hoje mais do que nunca, OI Ilelloa dlletérlos da multlpllcaçlo dI dlvOrclos
.. da dlss oluçlo de latres.

o celibato 88cerdotal, por mais .sltantlo que possa parecer • men-


taUdado moderna, resulta da cro~scl6ncla 'lua OI CllStlOl 11m, de que che-
giram os valores daflnltlvoa; por Isto o cllsllo lem todo o Inlarelse em
nA... til dividir, mo, anlb, dedlca-Ihls loda a e ue alençlo (el. 1Col 7,29-35);
1'1 para que o pedra pos" mels plenamenle ,.allllr ..ta larel. qua ele
permanece QôllIbalAllo.

• • •
Comentário: Ri muito os leitores de PR levantam uma
questão de ordem pritIca, que a não poucos aflige, mas que.
em verdade, se elucide com facilidade no plano da teolOgia.
Ei-la: se a Igreja tem C'Oncedido a presblteros J a dispensa de
suas ()blÍgaçóes sacerdotais e a licença para se casarem, por
que não concede a pessoas casadas a faculdade de dissolver
.seu casamento e contrair novas núpcias?
e a esta pergunta que atenderemos nas páginas subse-
qUentes.

1 A pelltYra pr-.bltero (do orego ,....,.. ... anello) , o vodbulo


t6cnlco a adequado para desIgnar a pulOS qUe comumente , chamada
pad~ (p8dre vem d6 latim pater. pai, pondo am relevo a p,atamldilde apI-
rll...al do presbllero),

-125-
""-_ _ . . _ pF:nr.uI'\'1'F: E RESPONDEnEMOS~ 243/19S0

1. ·0 porquê ...

Ao a.\iSumlr a posição acima. a Igreja não comete arbitra·


riedade. mas apenos tira conseqüências das noções de sacer-
dócio c de matrimônio cristãos.
1. C.~m efeito, o ministério hi(!nirquico (quI;:! consta dos
g,'aus do diaconato, do presbiterado e do ~piscopado) não
repudia, como tal, o sacramento do matrimônio. Em O'Jtras
palavras: não hii Jncompatibilidade teológi-c8 em qu~ um e o
mesmo individuo receba os sacramentos dl\ Ordem e do Ma-
trimônio. Apenas a disciplina da Igreja, desde os primeiros
séculos no Ocidente, foi estabelecendo o costume (que poste.
riormente se tornou lei eclesiãstlca. como veremos) do celi-
bato para os clérigos; em conseqüMc!a, se alguém no Oci·
dente deseja receber o sacramento da Ordem, deve abracar a
vida una ou indivisa (que, confonne São Paulo na lCor 7,29-35,
proporciona mais amplidão e facilidade para servir ao Senhor
e aos Innãos).
No Oriente, li disciplina da Igreja toIllQU outra conngu-
ração: quem rec<:bc as Ordens sacras em estado celibatário,
não poderá casar.se depois de ordenado; nâo é excluldo, porém,
que um homem legitimamente casado, seja ordenado presbi-
tero (os bispos, porem, no Oriente são nomeados dentre os
presbiteros não casados, de modo que todo bispo oriental é
cellbatârio) .

Entende.se, pois, que a Igreja no Ocidente possa outor·


gar a um presbltero a dispensa das suas obrigações sacerdo-
tais, inclusive do celibato, p3l'a que se case. Fazendo Isto, a
autoridade da Igreja não estA violando um preeelto divino nem
violentando a indole do sacramento da Ordem, mas apenas
dispondo de uma lei venerável e salutar - a lei do celibato -
estabelecida pela própria Igreja. Notemos ainda que a Igreja
somente em casos graves dispensa um sacerdote do seu celi-
bato (João PauJa li, aliás, tem-se mostrado contrário a essa
praxe). Ao dispensar do celibato, a Igreja Impõe ao presbltero
uma justa sancão; CQm efeito, para casar-se o padre tem de
renunciar ao exerclclo do ministério sacerdotal (celebração da
S. Missa e do culto divino el!l geral, funções 'pastoral!;; ligadas
ao sacramento da Ordem), embora continue sendo padre por
todo o sempre (diz a tecilogia que o sacramento da Ordem,
como os do Batismo e da Crisma, imprime caráter indelével);
-126 -
CEUBATO E MATRIMONIO: DISPENSAS

o presbítero, uma vez ordenado validamente. fica sendo preso


bítero mesmo que nâo exerça as suas funções ministeriais.
Este fato explica que multo~ sacerdotes dispensados das obri.
gações presbiterals estejam atualmente pleiteando a sua recon·
duçáo aos oficios saett"dotals; como alegam, conserv.a m viva a
sua fé, têm amor 80 ministério sagrado e possuem cabedal
filosófico·teológico aproveltAvel... Todavia as autoridades
eclesiásticas até hole não julgaram oportuno atender-lhes, pois
na verdade tal concessão slgnlficaria o reconhedmento de "'ois
tipos de clero: o clero cellba~rio e o clero casado; em conse·
qüência, aos poucos a lei do celibato obrigatório para todos
os clérigos seria solapada; poderia chegar a ser reronnul!'l.da
de tal modo que o celibato se tornaria apenas uma possível
opção para quem asplrasse.as Ordens sacras. Por col 'seguinte,
a Igreja, que, por justas razões (como se vem ldlante),
deseja manter O principio do celibato sacerdotal, con~ij"ra
inoportuna qualquer abertura de exceção ou brecha na le~is.
lação vigente,
2 , Passando agora ao sacramento do matrimônio, vel'i-
ficamos que, por seu conceito mesmo, inclui a tndissolubilldade.
O Evangelho e São Paulo o afirmam assaz claramente:
"Dls.e Je.us: 'Ouam repudiar a espoa. e ca. ar com outra, com.te
adultério c.ontllll ela, E, se li mulher repudlal o marido e caaar com OUltO,
comale adull',lo'" (Me UI,11.) ,

"Mando ao. cuado. - nlo 811, l'I'Iaa o S.nhot - que a mulher nJo
sa sapare do marido, Se, porém, ai separar, nlo tome a casar-se, ou
r.conem.... com o marido ; e o marido nlo repudie a mulh.,.. (ICor 7,11,).

Cf. Le 16,16; 1.41 5,32; 19,9,


Eis por que, nos casos em que se tome Indesejável ou im· ·
pos5ivel a coabitação de marido e mulher, a Igreja aceita a
separação judicial ou o desquite; este não dissolve o vinculo
matrimonial, Que perdura até a morte de wn dos cónjuges
(desde que o mattim6n[o tenha sido válido e consumado) I ,
Todavia aoscônjuges separados a Igreja, por fidelidade a
Cristo (e não por apego a trndiC;ões e correntes culturais), não
concede novas núpclu, i: certamente dW'Q para os próprios
'I. Matrlmbnlo dlldo • o caumenlo conlraldo de forma cen6nlca, IIJWI
qualquar óbice lurldlco.
Matrlmbnlo conaumacao é o casamento vlilldo I....ado al6 a cópula
carnal, An"a dnla, ainda • posafvfll, em cartot casos, um recunlo qua
lev. l declaraç:lo da nulidade,

- 12'1-
40 ",PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 243/1980

pastores da Igreja assumir tal atitude; mais cômodo seria


aceitar qualquer tipo de enlaçe deliz. : contudo, como servi-
dora fiei de Deus e dos homens, a Igreja não pode renunciar
fi esse (-,-duo dever de transmitir aOs homens, sem derroga!,'ão
nem n'IUtllaCãO, o preceito do Senhor. A fidelidade ao Evan-
gelho custou à Igreja a perda mesmo do reino da Inglaterra;
com efeito, o rei Henrique VIU. tendo . pedido ao Papa ClC'-
mente VII o seu divórcio sem obter resposta favorável, houve
por bem separar da Igreja universal o reino da Inglaterra em
1534! Até hoje a Igreja continua sendo arauta da indlssolubl-
Ydnde matl'imonial para o bem de uma sociedade que se vai
dissolvendo, vítima de suas próprias paixões. A prop6sito eis
significativa noticia do jornal cO Globo. de 26/ 12/79, p. 11:
transmite palavras do arcebispo anglicano Donald , Coggan,
sucessor alual de Tomás Cranmer, o arcebispo de cantuãria
que concedeu q divórcio a Henrique VIn no século XVI:

"OlvORCIOS ALARMAM ARCEBISPO BRITANICO


PARIS - 'Um p.ls onde os divórcios se multiplicaram por qualro
em trinta anos é um pars lMJ1 perIgo', afirmou ontem, rererlndHe • Ingl.-
terra o .rceblspo de Can1erbul')'. Oon.'d Coggan. Em eua úlUma mensagem
de N.la' antes de deiXa( o cargo, ° .,ceblspo diste que 'h' '.nlos lare,
dnCeUOI, lanlas pa ..~e conden.d.. à aolldlo, tentando lazer o duplo
papel de pai e mie, que ~ preciso der-lhes .Jude crlsl. nestas clrcuM-
tlncl.s·. ·Façamo. uma a.,la 1"lIexlo sobra ., conseqCllncl•• do desluof
um lar, pois coslumam aer terrlvol. para as crianças', pediu o arcebl.po".

Aos casais em crise e aos esposos separados judicialmente


a Igreja não deixa de prestar sua assÜitêneia pas toral movida
pol' solicitude que é cada vez mais atenta e acesa: já em
PR 236/1979, pp, 320-331 abordamos as diret!'izes da Igreja
contemporânea em relação aos cônjuges desquitados.
Passemos agora a breve consideração dc

2. O significado .do celibato


As nilzes do celIbato cristão encontram a sua expressão
mais fiel e pujante em 1Cor 7.29-35: o Apóstolo diz ai que
«o tempo se fez breve-. .. Com outras palavras: os Valores
eternos I! definitivos tendo entrado na história dos homens em
conseqüência da vinda do Messias, o cristão sabe que todo o
tempo ainda é pouco para se dedicar a tais valores: o cristão

-128 -
CEUBATO E MATRlMONIO: DISPENSAS 41

sente.se impelido n voltar toda a sua atenção c as suas ener-


gias para as realidades eternas que lhe estão presentes. DaS a
conclusão:
"Aquele. que têm espOIa, aelam comD .. nIo a Uveuem; aquel..
que cho~m, como .e "lo chorusem õ aqueles. que •• regozJ}am, como
IM "lo ... nlgozIJ....m: aque'. . que .compram, c:omo ... nlo po8Iuluem;
aquel" que usam dasta mundo, como .. nIo usassem plenamante. P<I.
passa a ngura deste mundo.
Eu quiNta qua ..11v...... [santoa d. prtlOC\lpaçoa. Quem nlo tem
..posa. cuida da col... do Sanho, '. do modo da ~radar ao Senhor.
auem tem esposa, cuida das coisa do mundo ., do modo de agradar.
"pos.. e lIea dividido. Oa muma forma, a mulner nIo casada e • vlrgtlm
cuidam d.. col... do Senhor, a fim da lerem aanla de corpo e de
Mplrlto. Mil a mulher casada cuida du col... do mundo; procura como
agradar ao marido" (1Cor 7, 29--34) .

Conscientes destas verdades, já na época de São Paulo


(56), muitos cristãos abraçavam a vida una em suas próprias
casas. procurando ·assim servir ao Senhor com largueza e 'liber-
dade. Aos poucos. a vida celibatária foI-se tomando um ideal.
Comp::-eendc.se então Q.ue os presbiteros a tenham adotado
espontaneamente logo nos primeiros séculos; a praxe Uvre e
voluntária anU!cedeu a ]@i... O prlmelro texto de Condllo
que legisla sobre a continência dos clérlgos data do ano de 300
aproximadamente; é o clnon ?3 do ConeWo regional de Elvira
na Espanha, que reza:
"PaNcau oportuno proibir ~remplorfamanle -aoa blspoa;. ao. p......
blleros a ao. dllcono •• ou ..ja. a to6oa o. cI6r100e no lXarelclo do "U
mlnbt6rkl, ler ,a'aç(l81 com .UM "polal • garar fllhca. Quem o flur,
..r' de.lltuldo da aU8 dignidade d. c"rtgo".

Esta determinação fol sendo assumida por o~ Cono-


lios regionais, d@ modo a tomar-se mais e mais difundida.
Tenha.se em vl$l. por @xempl0. o Concillo de Cartago datado
de 16/06/390. Nes1a assembléia o bispo EpIg6nlo de Bulia
R@g:la tomou a palavra e disse:
"Como am pNcedante concilio foram abordada cartaa ntgras ret.-
renln • conllntnela a • c..tldada, proponho ..Ja Incutida em tarmO*
mala explicito. a prallca da cutrdade nos trta graus (ou mlnilltrlOl)
qve., por ' alolto de .ua consagra9lo, etilo. ela obrlgadoa a Ululo "I*'"
cla' : raflro·ma aOI bllpol. a.,. prNbltero. • aoa dl ..cono..•.

Então O bispo primaz Genétllo, presidente· da assembléia,


conflnnou:
-129-
42 t:PERGUNTE E RESPOND.EREMOS. 243/1980

", '"ImO dlkl anterlormenl., convém que OI ml./Uo santoa bllpol e 00


presblte, s de OeuI, auim como os le\llw, Ilto " os que estio a sel'tlço
do. .acli:mento. divinos, obsorvem a eonllnhela total, dt modo que
possam obter de Deu, o que Lhe pedem, em loda elmpllcldlde de elma.
AI~lm guardaremo:l, tatnWm nÓI. o que os' ApOltolos en.lnaram a O que
OI MIIOS antepassados observaram".

Todo" os bispos presentes aprovaram unanimemente tais


cUzeres.
Em Roma, na Alta Itália, na GáJia, na Grã-Bretanha, na
Irlanda, na Espanha semelhnnt~ prescriçôes conciliares foram
sendo promulgadas no decorrer da Idade Média Ascendente,
de modo que a lei do celibato se tornou universal no Ocidente
cristão.

Quanto ao Ol'jente, a legisla Cão se cristall20u em fins do


século vn, ou seja. no Concilio de Trulo (ou Quinissex!o) em
Constantinop1a, realizado em 692. Eis o teor do respectivo
cãnon 6:
"Elt6 dito , nos clnones ' dos ApOstolos. que. denlre aque'es que.
cellba'llrlos. Ingreulm no clero, somente os leitores e OI cantores esllo
autorizados a se ca.lr. N6s, guardando Relmenle esta I@I. decidImo. que.
• Pf.rtlr des te momento, um subdlAcono, um dlllicono ou um prubltero.
epós te r recebido a ordenaçAo, nlo teré mais a liberdade de fundar um
lar. Se algum deles Ineorres:se tia aud6efl da 11z.6·lo. sei' depos to.

Se elgum dOI quo Ingross:om "O cloro. quor unlr-30 ti uma mulher
pIIO$ \I'"cuIOS cio malllmOnlo, façtl·o antos da ordenllçao cio dl6cono.
lubdlllicono ou presbltero".

Os bispos, porém, deveriam (e devem) ser celibaUrlos.


Eis por que o cAnon 48 do mesmo Concilio consld(!ra o caso
de esposa de um presbltero que seja nomeado bispo:

"A esposa da quem seja alevado .. sede episcopal. sapart-s" do seu


marfdo por consantlmento mÍlluo. Ap6s I ordenaçlo do esposo lO epl,..
COp~o, dever6 entra, num moslelro situado a boa distA nela da ",Idlncla
do bispo, a o blspo . provldanclal1ll o seu lIIustenlo. Caso ela ... mostre
digna. s.Ja promo\lktl • dignidade de dlaeonls.".

Para evitar tais transtornos, os orientais atualmente esco-


lhem os seus bispos, como dito, entre os presbIteros ceUbatã-
rios ou entre os monSes.

Estes cãnones orientais, de um lado, contribuem para evi-


denciar que não é incompativel o matrimônio com o minlste-
-130-
CELIBATO E MATRlMONIO: DISPENSAS 43

rI., sacerdotal; de outro lado, mostram que mesmo no Oriente.


onde '1 discipUna era mais branda. o celibato sacerdotal foi
a1tamente estimado.

Os historiadores discutem sobre os motivos deste apreço ;


veja-se fi bibliografia citada ao fim deste artigo. Como quer
que sela, o celibato sacerdotal tem sua plena fundamentação e
justificativa nos dizeres do Apóstolo em lCo,' 7,29·35. O seu
s ignlCicado pode ser avaliado segundo três dimensões: a onto-
lógica, a eclesiástica ou comunitãrla e a escatológica. Em
outrQs termos: o celibato relaciona diretamente o presbítero
com o Cristo. com a Igreja e com as realidades últimas e defi·
nltivas:
- com o Cristo .• , o sacerdote é wn outro Cristo. Por
Isto ele procura identificar-se cada vez mais com o Senhor,
consagrando toda a sua personalidade ao Senhor Jesus Cristo'
- com a Igreja e a comunidade .,. O celibato pemúte
80 presbltero o exerciclo de umserviço mais Uvre e amplo à
Igre~a e aos irmãos. O celibatosacerdotal vem n ser .penhor
e expressão de amor a todos os homens Indistintamente;
- ()Qm OS Vll.I~res esca.toJóglcos . . . O celibato só se ex-
plica pelo fato de que o sacerdote tem consciência de que
entraram na história dos homens os bens definitivos. Estes
devem polarizar a energia e a atenção do presbitero, levando-o
n nbr.<u:nl" a vida una.
Eis O que ocorria ponderar a propósito do procedJmento
da Igreja referente ao celibato dos clérigos C; à Indissolublll-
dade do matrimônio, Tomamos assim mais uma vez cons-
ciência de que profundas perspectivas teológicas estão subia·
centes às atitudes da S. Mãe Igreja.

BIbJl09'IJI_ :
GRYSON, R., Le. orfgl,.. du c611bat .ccN.J..uqw du pmnoler MIl
Mptlhn••Ikl•• aecnbloux 1970.
IGo-C8, DIreito. do ....o • do INIt"m6nlo. O ..lo, posl1lwo do c0r-
po," ou ••• u••• Per6poU. 1972.
Ó'NEIll. O. P.• C4Jfbat du pdtr. .. maturtM ........ P.rll 1981_
PF! 230/1879, pp. 320-331 .
. STEININGER, V., 'eut-on d",o.a. lo IIlIrfap? Perls 1970.
THURtAN, M., MIIltfm6nlo e .t0ato. PortO.

-131-
livros em estante
o Sacerdócio, por Slo Joio CrlsOs'omo. Traduçlo e notas d. ~1'I1
Odo Rosbach O.F.M. , ApresenlaClo do Carde.r O. Paulo Evarlsto Arn •.
Inlrodllçlo par. a raUura de D. Benedito de Ulhoa Vieira, Coleçlo "0$
Pedres da IgreJa"'l . - Ed. VOlll, Petrópolis 1979, 137 ",210 mm, ''''2 "p.
A "Editora Vozes, com este livro. dá inicio a uma nova .érie de publl-
caçOes da e levado valor, pois apresenta ao pübllC() as prlnclpa's obrai dos
chamados. "Padre, di Igreja". Este. vêm a ser o. grandes escriloras c.'s-
IBos (bispos, pr.sblleras ou 'olgO$) que conlrlbuiram par. formule, da
maneira lia' • definitiva as grandes vertlades da fé durante 0$ séculO'
em que os crlslloS procuravam dellnl-Ias em melo a Influências dhlef'US
(herétlea. 8 p.gh), O perlodo palristico estende-se, no Ocidente, alt
S. Gregório Magno (f 604). e no Oriente alé S. Joio Damasceno (t 749).
A EdllorD Vozes começil a aerle com um grande doulnr da Igreja
dos séculos IV/V: S60 Joio Crlsóslomo ($-4-407). O cognome de " Cri-
sóslamo" (= boca de ouro ) lhe 101 atrlbuldo por causa da seu brilhante
talento oratório, associado à extr.ordlnéria coragem do santo (que foi
também b ispo de Conslantinopla) pera denunciar . 08 males morais que
..Ielavam • cor1e Imperial. - O livro, de modo especial, versa sobra o
Slcerd6elo (eplscopado e presbiterado), sob lorma de dilllogo entra
Joio Crlsóslomo e seu amigo BasIlio. O autor esmera.., por most rar.
grandeu e • respOllsabUldade da lunçlo ..cerdotal. POf este e outros
lltulos, tal escrito 18 toma especialmente importanle para o leitor de
hole. Dom Benedito de Ulhoa Vieira, na aoa Inlroduçlo, pOe em relevo
os principais traço; da doulrlna de C,isóslomo ; "O sacerdócio é mais
que cheller os eUrello. e governar o Imp6'lo. Grande 1; . a san.tldada
que' dele .a requer, pofs 'seu lugar , no du' . . . Sem esle mJnls16r1o 1\10
.aberlamo. como nM uivar nem como chegar I glória que Deus nos
promeleu" (51 • .16). "Cllsóslomo mostra sar o padre e o bispo o homam
em lam1Ul rldade com Deus •. . De.creve a vida paSloral do bispo, homam
enlre os homens. tolalmenle dédlcado a eles, sam contudo delltar de .er
'o homem ':0 cju' . .. t a IIgura do pestor solicito no melo d o seu povo'
qtHt Crlsoslamo delineia com treçoa de artista" (p. 20) .
Bastam estes d~arel para evldanclar a nllma a que fu lus o novo
livro da parte do povo cllstlo. a quem Inlere$5a ter pasloros cada vez
mais consclanl.s de qoe "o padra ê o col1lçlo dos homens junto 11 Oaus
e o coraçlo da DellS junto aos hQmen....
A pa no IMU caminho. Vldl di Slo B.nto narrula para o hOmlm
ÔI 110", por J. Zamllh • M. CUlanh.lre. COleçao '.'Cldedaos. dO Reino".
_ Ed. Paul/ nu, 810 Paulo 1979, 140 Jt 210 mm, 122 pp.
No ano de 1980 comemor• .,a o sesCfGlmllln"lo ou o 15009 antve'-
.."ia do natelmanlo de Slo Bento de Nursia. o Patrlarel doa mangar do
Oeldenle. Era, pois, nat ural que um monge e uma monja. lllhos de SIlo
Bento, te I mpenh U841rn ' por apr.s.ntar la publico. em tlrmos claros e
Jlrofunclo., a figura do granda meslre mon6atlco. Nlo '" dOvk!Il, 510
Benlo I' 6 conhecido popularrunle no B,.sil como protelar conlra aa
rnordidu da '8~nles (alio, nlo pouc.. cldede. do noelO pais o 16m
como padroeiro) . O pre.ente livro. po"m, vai e" ai IInh.. "Irulurall da
JlelSOII.lidade e da a.coll de Slo Bania : combina enlr. ai paaaagens dOI
[)ljlogos da 810 Oreg6rlo Magno (1, li) e da S. Regr• • fim de móslra'
qua e doulrina e e vida do Santo Patriarca constituem um eco lIal •
men..gam do Evangalho, rlço de SignIficado a conlaudo lamb'm para oa
nossol eonllmportnlos.

- 132-
o qUI admiramos " .... pequenO-Orand, livro. ,
a " araça ou u
IncfI'Ilo com qUI ... ve"'-del mala profund. . do formulad .. ; tomam" .
lempre um CII""r peuoal, exllle~laJ I Interptlldor pI'" o 'allor. S.II.~ ,
MOI, em "ptel.!. o ~pl~lo "8anho~. DOnll par' CPP. S5-43); no qull '
OI doia autom .allentam qUI "Blnto • uma pertótlalldade marcadl ptI"
-harmonIa I PIIlo equlllbrlo. rI. da' •• tran.c.reotr .....·
IWIclnc.çlo Int..
tlor em lodo o IIU exterior. M .ua douU na I na lua obrl, PocJernoe
dizer, por "to, que • 'Dama' d, Bento foi • PAZ". como • Dama do
cayalelro Francisco de Asall: 101 • POBREZA" (p. 35).
Um m"lr. qUI f.,lImu um. obra 'pu • .Ira....; ..', viceJante,
quinze sfculOl, • certament. um. figura genial. Por fa.o, Bento 6 com- .
pIrado a um Coml'a no c'u da hllt6rla: com o •• u rastro de lul. ,'I
mostra, alt8V6a da Regr. beneditina I de "UI mosteiros, o etmlnho
do Reino.
PateNns eoa dois quarldoa lulonta. trmloa em SIo e.nto I
Em:onttol qUI matcam. IIor Frei 81111111"1. - EdlQ:1o próprta. Caixa
postal lO, 25900 Maoê (AJ), 1110x230mm, 189 pp.
Este livro, · de .utor J' assaz conhécldo por lU. . obru calequ.lfcu,
visa a ser um brlve catecismo de preparaçlo par. a Primeira Comunhlo,
de prlmtNro .no de p,,.everança (praparaçllio par. a Crlama) e d . .. .
b.... .
gundo ano dI perseverança, desllnand04ft • coltg:1os. p.róqula I comu-
nidades ecl.,I,I, da
Frei Battlltlnl redigiu 28 elquema, de l1çee. p.ra • primeira fIH,
19 p,., I ••gund., e 20 plra a tereelrl, .ereeclntando lO IOdo um
repert6rlo dI' c.nlOl e de fotmu16,los rJluel.. o tlvro • elmpl.. e redloldo
om IIngulgem lcenlvel .. c.tequlstas do nono Incerlor: A lua grande
vantagem • Ir lO imego d.. verdades da ". pondo no dMlldo relevo u
principais linhas da mlna10tm crl,tl : enalna o amor I Deus PII• • JUua
Cristo, a Mafi. SS. I li IgreJI; Introduz na vldl de o,*çlo e ' na prt1lcI
da vIda crllll. "Em luma, Ir.'.... de um Mlnual de .vllor li comprovado
pela IxpeJlfncl* do pr6prlo lutor, que • %11010 plltor d. 11m •• d. Ordam.
Carmelltan• . POr IIto merlce OI Ipl.usos doa U'u'rlCII • • recomendlçlo
dos SIS. PlrocOl e ' vlg6rtol .. lU'" cataqulat... ExIlarmo. da quarta
capa do tlvro o IIgulnte tdplco, IUII% algnlflcatlvo; .. 'Vale mala um lto
de amor poro do qUII loda as obras do mllndo Inteiro' ($. Joio da
Cruz) . Ora ensina, aa crlançal e conhecer a DIUII • um alo de amor, o
mais puro". .
A l;reJ. do DeuI vivo, C\lf'MI blblico popular 8Gb,. • Yltdadelra
IlIr.'.. 3"" IIdiçlo aumentada conforma o <foeumento de Puebla, por Frei
eattlstlnl. - Ed. p."lculer. Caixa postal 30• .25900 Meg. (AJ), 135 x 210 mm.
125 pp.
Este livro, Ji em lU. terceira edl~Ao, deallnHe lO dliloQO com OI
"mlos crl.tlo. nao c.tollco., cuja pretlnça • lempremall nol6rlll Im
mIJo aos "fl6l1 cat6l1cos; ..t.., por VlZ", aantam-sa da..rmacfO$ diante
d. cttaçó.s blbllc.. feItas pelol IrmlO$ protestantes, Juslamenle por nlo
conhecerem suficientemente O texto saprado .. • mensagem católica em
au. arnplldlo. o p,...ntll livro vem prllcl..."lnte atlndar iII necel:llldade
de uma rllposla .egura a clsra is Indl9lÇa.. do. evangtllcoe• .
Rallollo, uma crta~lo da t:urnankfada. GI. .e, lVoIu~, comll1.,
perspactlv... . . , por Fluban D"cll1" de Garcia Paula. - Ed. pr6prla,
Rio de Janeiro 1978, 135 x 185 mm. 200 PP.
O autor, Or. R. D. da Oerela "aula, tava • gentlllUl da enviar a PR
um exemplar do livro QUI! slnteUzlI o penumanlo posltlvlstl • respeito de
Rellglao. Admlramol a capacidade de trabalho do escritor, que collclonc.u
numeroso. dados e documentol .. m 'avor da IUI tese. Agradec..moa I.. m·
b4m li IUI cordial deferência lO envlar· nOI a obra. E/liA claro, porem,
que nlo e pou/v.. ' concorda, com a te..... )cpOltl. Estl lupOe tonha I
Rellgllo com..çado pelo letlchlsmo, motIvado pelo medo .. I carência do
l'Iom"II\ . .. O.. poll tefá tomado lorma mais allVada no· monolalllmo (o
lulor elogia o cafollclsmo) , o qUII, Incapaz · d .. resolver OI conllllOll da
humanidade, cede atualmenle l r..ligllo pOlltlvlsta, '1otleda para I I.rra
e nlo para o céu e baseada sob'... ciência. O,a este esqueml, lormulado
por Augusto Comia em meados do século XIX, 101 posto am xeque paios
esludO$ da história das AIUglOts rlalludol no Inicio do léculo XX pola
escol. "l\,nthfOpos" de Viena, tendo • IIlnte OI pesquiSadores Wllhelm
SchmicU, W. Ko~pers. P. Scliebesta e Martln Gusltwie .. . : estas estudio-
sos chegaram a contluslo da que, quanto ml" primitivo e um povo,
t.anto mais lende 10 monotelsmo, ou sela, à adoreçlo de um Grande Ser
(Watauinewa ou Tupi ... ). I! o progresso da cunura que vai le-vando os
homens a oslacalar o conceito da Daus, dalllcanclo o sol, a terra, as
éguas, o logo . . . , elemenlos dos quals·o homem se senle dependente-
para desenvolyer a sua agricultura 8 a sua peq\lena Indústria. Tal ter'
sido a origem do polilelsmo, o qual nio é, nesta teoria, lorma Inlelal,
mas, sim, lorma dacadenle da vo.dadaha ReHglio (monolelsla, em suas
origens). 11 Rellgllo, reprasenteda autentlcamenle pelo mono1815mO, cor·
responde ao. mais gen\lln ot anseios do ser humano, a tal ponto que,
qua ndo sufocada por 18glmes ateus e malerlaU.I .., ela .8 reoalllma .ob
lormas espont.naas, m.s allamente algnllicaUvlS, ,"omo le 'percebe na re.·
lidade da R.lssill SO'li6tlca dos nossos dias. Também nos Eslados Unidos
os jovens que se entregalam ao hedonismo e .. vida .ensual, têm-se alas·
tado do materIalismo para assumir expres&oa. '81/g101AS 8 mlstlcas um
lanto irraçloneis, mn re.... ladoras do que ••Ja o "homem eterno" ou o
homem lello para Deus e Inquieto enqulnlo nlo repousa em Deus ($,
Agoslinho) . Tanto a psIcologia como a expari6nell ensinam qua nunca
podara o homem flneonl lar a sua plena real/uçAo ae lor conllnado aos
Iimlles do material. vislvel; .,. , essencialmente feUo pare o Transcen-
dental. - Eis o que, em nova linguagem, os tempos alual. comunicam
ao estudlolO alenl0. .. Eis o que larvez Augusto Comi. Ii'llllll, também
ele, perçebldo se . IN"se vivido em nos.sos dl.s I Nlo • polSl....t a um
pesquisador sIncero licar preso as teses de Comle, que 08 tempos lê;
ultrapassaram.
E.a ,

OS JOVENS E CRISTO
"MALGRADO AS APAMNCIAS, A JUVENTUDE ~ POR-
TADORA, QUANDO MAIS NÃO FOSSE PELO VAZIO QUE
SENTE, DE ALGO MAIS DO, QUE' UMA DISPONIBILIDADE E
UMA ABERTURA : ELA e PORTADORA DE UM VERDADEIRO
DESEJO DE CONHECER AQUELE 'JESUS, QUE SE CHAMA
CRISTO' (MT 1, 16) ... SE A CATEQUESE SE APRESENTA
HOJE MAIS ÁRDUA 00 Que NUNCA, ELA e: TAMee:M MAIS
CONSOLADORA 00 QUE NUNCA, EM RAZÃO DA PROFUN-
DIDADE DA CORRESPOND@NCIA QUE ELA VAIENCON-
TRANOO POR PARTE .,. DOS JOVENS".
(João Paulo 11, "Catachesl Tradendas" ~ 40),

Potrebbero piacerti anche