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FICHA TÉCNICA
Aewyre.
Como era possível? Depois de Aezrel, depois
de Zoryan, como podia o destino exigir que mais
alguém que era querido ao mago tivesse de se
sacrificar no combate contra Seltor? A tremenda
injustiça fez com que a chama da vela explodisse
em fúria e inflamasse o mago, que raivejou pelo
nexo fora, deixando para trás um rasto gritante
que mais ninguém conseguiria ouvir. Apetecia-lhe
rebentar algo, mas não conseguiu reunir Essência.
Apetecia-lhe embater contra algo sólido, mas não
havia nada na fronteira entre Allaryia e o Pilar que
lho permitisse. Apetecia-lhe desaparecer de vez só
para não se ver confrontado com tão horrível situ-
ação, poder cauterizar os seus olhos, cravar os de-
dos nos ouvidos e ser consumido pelo desesper-
ante fogo que dentro dele ardia até que as suas
cinzas se dissipassem no Pilar.
Mas não podia. Não sem fazer algo primeiro,
por muito que isso lhe custasse, por muito fútil
que tal lhe pudesse parecer no grande esquema de
tudo o que acontecera e estava por acontecer.
Antes de desaparecer, Zoryan julgara-o pronto a
fazer sacrifícios, e era para isso mesmo que Al-
lumno se preparava. Mais um sacrifício. Mais um.
Chorou lágrimas etéreas de raiva e desgosto, e re-
lampagueou pelo nexo fora, rindo com a ironia da
situação ao ver Allaryia escorrer ao seu lado como
uma infinda tela imperfeita de cores diluídas. A
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— Eu já disse que—
— Não precisamos de ir por nenhum desses
sítios. Eu sei de uma forma bem mais rápida de
chegarmos a Tanarch.
Lhiannah hesitou novamente, desta vez por
genuína curiosidade, que tanto Taislin como
Daveanorn partilharam.
— Chegamos lá em menos de dois meses e
não tenho de passar metade do tempo a vomitar
borda fora. — Worick não guardava boas re-
cordações da sua viagem de barco de Ul-Syth até
Ul-Thoryn. — Mas precisamos da permissão de
lorde Daveanorn.
O thuragar olhou para o paladino com uma
réstia de esperança nos olhos, tentando transmitir
a noção de que este era a sua última hipótese de
impedir Lhiannah de assinar as suas sentenças de
morte.
— Como assim, general?
— Precisamos de levar a pirralha.
Daveanorn franziu o confuso sobrolho.
— Precisamos de levar a filha do Aereth.
— Como?!
— A que propósito? — exigiu Lhiannah saber.
— Já explico. Mas é a nossa única hipótese de
chegarmos a Tanarch em pouco tempo e a mais
segura — abreviou o thuragar. — Não te deixo ir
de outra forma, Lhiannah, e, se tentares ir por
Laone ou por barco, juro que levas uma martelada
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— Porquê?
O thuragar rosnou, irritado com as incessantes
perguntas, mas achou que mais valia advertir os
seus companheiros.
— Não ouviste? Magia e Filhos do Caos? Achas
o quê, que aquilo é só um lago subterrâneo onde
se pode fazer pesca? — indagou. — Sei lá o que é
que podemos encontrar debaixo da porra da Cica-
triz. Nunca lá estive.
— Mas se está na rota dos cˇrakhol é porque
não pode ser tão perigoso assim, não? — alvitrou
Taislin.
— Hunf — concedeu Worick. — Sim... nós
também somos um pouco paranóicos por
natureza. Mas o melhor é ficarmos atentos. Vou
ver se consigo descobrir mais alguma coisa.
O thuragar abrandou novamente o passo para
falar com os cˇrakhol mais próximos e Lhiannah e
Taislin permaneceram à expectativa na dianteira.
A iluminação cessava por completo a partir de um
certo ponto do túnel que percorriam e a caravana
foi forçada a fazer uso das tochas e lamparinas
que consigo trazia. Segundo Worick apurou, a
Caverna Ululante era desprovida de luz devido às
estranhas e bizarras condições que nela reinavam
e que tornavam demasiado imprevisível o uso de
gás para iluminação, além de que os ventos que
nela sopravam apagariam facilmente as chamas.
Os thuragar tinham percebido que insistir apenas
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— Tudo é cíclico...
— Como?
— Estava a pensar. Tudo o que tem vindo a
acontecer, as Vagas de Fogo, o Quarto Crescente,
a guerra com a Wolhynia, o regresso d’O Flagelo...
será que isto tudo significa que o domínio do
Homem está a terminar?
— Não sei se não estará tudo a terminar,
tendo em conta que O Flagelo voltou — ironizou a
eahanoir sem grande humor na voz. — Ou será
que já te esqueceste disso? Não devias estar a
aliar-te com humanos para combater Asmodeon
ou algo parecido?
— Tanarch aliou-se a’O Flagelo. Traiu Allaryia
— relembrou-lhe Quenestil, e tanto a sua voz
como o seu peito endureceram debaixo da cara de
Slayra. — Primeiro, vou fazer com que paguem por
isso. Depois, logo me preocupo com O Flagelo.
— Agora que penso nisso, Seltor é assim para
o meio-humano, não é?
— Estamos demasiado próximos de Asmodeon
para dizeres o nome dele com essa leviandade...
— advertiu-a Quenestil, que, mesmo tendo pres-
enciado o regresso d’O Flagelo, continuava a não
se sentir muito à vontade a falar dele.
— Isso quer dizer que, depois de reduzires
Tanarch a cinzas com as Vagas de Fogo, podes vir-
ar as tuas atenções contra Asmodeon — opinou
Slayra, ignorando a gravidade da voz do shura e
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— Baixem o rastrilho!
A segunda sugestão era a mais plausível, pois
ao portão encontrava-se um ensandecido thuragar
com um bebé às costas, que já esmagara dois out-
ros guardas que entretanto tinham corrido até ao
portão e que berrava desalmadamente com a
arma empunhada, instando eventuais contendores
a atacá-lo. Havia guardas armados a correrem
pelas ruas fora prontos a fazer isso mesmo, mas
os homens que se encontravam na sala do guincho
ouviram os gritos e fizeram como estes pediam,
começando a rodar o sarilho para baixarem o
rastrilho. Worick olhou para cima ao ouvir as cor-
rentes rilharem e praguejou ao ver as estacas de
ferro mexerem-se subitamente.
— Oh, merda... — grunhiu, correndo sem
pensar e posicionando-se debaixo destas,
arrependendo-se mesmo enquanto o fazia.
O rastrilho rangeu então ruidosamente e as
puas de ferro desceram sobre Worick, que se cur-
vou debaixo delas, deixando exposta a bebé, que
apenas olhou com grandes olhos curiosos para a
morte que se abatia sobre ela.
— DOURADINHOS! — berrou o thuragar ao
ajoelhar-se de olhos fechados, repreendendo-se
mentalmente por tão estúpido e irreflectido gesto.
A meio da confusão de correntes a rilharem e
grades a rasparem contra pedra quase nem ouviu
os apressados passos metálicos que vinham na
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— Nabella?
O vulto que flutuava no ar fora do sulco sorriu,
uma recriação perfeita em sombra vaporosa e
cerosa do belo e inocente sorriso de Nabella, das
covinhas que este provocava nas suas faces, mas
as feições dela alteraram-se rapidamente para um
semblante solene e enlutado, de todo parecido
com qualquer expressão que o guerreiro nela
tivesse visto em vida. Tal como a sua mãe, assum-
ira uma forma espectral ao manifestar-se diante
dele, mas esta era bem mais detalhada que a de
Adelayne, parecendo de alguma forma mais viva,
o que rasgou e alargou a ferida que Aewyre ainda
sentia no peito.
— Então... a tua hora chegou? — perguntou
Nabella, alheia à surpresa angustiada do guerreiro.
Aewyre não respondeu logo e limitou-se a ol-
har para a rapariga, cujo corpo dava a impressão
de se ir solidificando a cada palavra que dizia, em-
bora nem por isso perdesse a sua aparência es-
pectral. Essa mesma impressão era apenas re-
forçada pelo vestido branco-névoa tingido de
preto, um tom igual ao da própria pele da sua face
orlada por longos cabelos negros e esvoaçantes,
que se mexiam no ar com vida própria como algas
no fundo do mar. Fazia lembrar uma escultura viva
de cera negra, mas a exactidão com que recriava
as faces e os trejeitos de Nabella não deixou
quaisquer dúvidas a Aewyre.
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O PRINCÍPIO...
GLOSSÁRIO
Eahlan
A˛lisa Lasan: (õ-LÍ-xa la-XAN) Filha mais nova do
Patriarca.
Eluana Lasan: (ã-LUUA-na la-XAN) Esposa do Patriarca.
Hanal Lasan: (ha-NHÕL la-XAN) Patriarca da família
Lasan.
Lusia Lasan: (lu-XÍ-a la-XAN) Filha mais velha do Patri-
arca; a Primogénita.
Nijan: (NÍL-iõn) Líder do Quarto Crescente.
Patriarca: Título de líder de família eahlan.
Sana: (XA-na) Serviçal dos Lasan.
Talin Lasan: (tsa-LIIN la-XAN) Filho do Patriarca.
A Revoada
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Línguas e idiomas
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Miscelânea
Allaryia, Pilar de: Obra das Entidades, um imenso pilar
que atravessa Allaryia de um lado ao outro,
fazendo com que gire sobre si e permitindo-lhe ser
banhada pelo sol. Contém a essência das En-
tidades, da qual se alimentam os Novos Deuses, a
fonte de energia que também é moldada pela
Palavra.
Entropia: A essência caótica primordial, à qual as En-
tidades se sobrepuseram durante a Criação. Para
grande pesar dos magos, resquícios dela ainda
perduram em Allaryia, o que frequentemente in-
terfere com o seu uso da Palavra.
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