Sei sulla pagina 1di 2

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.

Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.
Continuamente me estranho. A
Nunca me vi nem achei. B
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»

Deus sabe, porque o escreveu.

24-8-1930

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e
Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
- 48.
Rima Cruzada e emparelhada e solta

Anáfora: acentua a sua própria condição “Quem tem alma


não tem calma”. Está presente a dicotomia pensar/ sentir.
Quem pensa não tem paz.
Antítese – marca a oposição entre viver e pensar
a. O pensamento impede a ação na vida. Viver e pensar são
irreconciliáveis.

Referência aos heterónimos

Separação entre alma e corpo.


Despersonalização de Fernando Pessoa. Esconde os seus
sonhos e desejos e diz que estes pertencem aos
heterónimos. Referência á sua multiplicação em várias
pessoas embora sempre solitário e sem conseguir
identificar-se como um só.

Metáfora: assemelha-se a um livro. (3ª estrofe)


. A sua vida foi racionalizada e transmitida para palavras
escritas pelos heterónimos. Estes acabam por viver a sua
vida ao mesmo tempo que o reduzem a uma
insignificância.
Compara-se a um livro, dentro do qual escreve o que
pensa sentir nas suas margens. Depois ao ler duvida se foi
ele que o escreveu. Por isso, alheio, vou lendo Como
páginas, meu ser
Temática : a dor de pensar e fragmentação do ‘’eu’’
Caracteriza-se como ‘’diverso’’ -reforçando a multiplicidade
-’’móbil’’ – ser móvel capaz de se dividir- e ‘’só’’ – ‘’alheio’’
‘’Alheio’’ a todas as suas Ato constante da múltiplas
despersonalização, deixa-o personalidades´, como se
resumido a sua alma e ‘sem fosse um espectador da
calma’ , entregue a angústia sua própria vida , cujo e
inquietação que sofre passado é apagado e futuro incerto
QUEM sou eu ?

A ideia geral presente neste poema é a tentativa de


Fernando Pessoa de se expressar através dos
heterónimos sentindo ao mesmo tempo uma grande
solidão e tristeza por não conseguir identificar-se.

Potrebbero piacerti anche