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Transformações

Químicas
Profª. Carla Simone Grassmann

2017
Copyright © UNIASSELVI 2017

Elaboração:
Profª. Carla Simone Grassmann

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

85.08080115
G768t Grassmann, Carla Simone

Transformações químicas / Carla Simone Grassmann.


Indaial: UNIASSELVI, 2017.

209 p. : il.

ISBN 978-85-515-0111-5

1.Química – Transformação e Energia.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja muito bem-vindo a uma nova etapa voltada
aos estudos da química, mais precisamente, o universo das transformações
químicas. O mundo que conhecemos está em constante transformação, e estas
transformações estão presentes no nosso dia a dia, no nosso corpo, nos bens que
consumimos, na tecnologia, na saúde, na agricultura e no universo. Conhecer
como essas transformações ocorrem é fundamental para o surgimento de
novos materiais, novas tecnologias e para que novas descobertas sejam feitas,
nas mais distintas áreas. Não é possível modificarmos ou transformarmos
algo que não conhecemos.

A partir deste momento, vamos entrar nesse universo e aprender


sobre a composição da matéria, suas características, as leis e regras que regem
as transformações dessa matéria, bem como suas propriedades.

Para tanto, distribuímos nosso estudo em três unidades. Na primeira


unidade, nós veremos as contribuições e avanços na história da humanidade,
em busca do conhecimento da matéria e formas de transformá-la. Estudaremos
a matéria, as substâncias, as misturas, e veremos como estas se apresentam,
como ocorrem algumas transformações, e conhecer algumas leis que regem
essas transformações.

Na segunda unidade, nosso objetivo é tratar das propriedades ligadas


às transformações químicas, veremos como as reações químicas ocorrem, a
classificação das propriedades da matéria e das soluções.

Já na terceira unidade iremos estudar os fatores que influenciam


as reações químicas, como controlar as reações e de que forma o equilíbrio
químico é estabelecido nessas reações.

Desse modo, convido a todos a embarcar nessa jornada de


descobrimento pelo universo da química e suas transformações. Bom estudo!


Profª. Carla Simone Grassmann

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES.......................................................... 1

TÓPICO 1 – A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES...............................................................3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 TRANSFORMANDO A MATÉRIA................................................................................................... 6
2.1 CONCEITO DE MATÉRIA.............................................................................................................. 6
3 ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA................................................................................................... 9
3.1 MUDANÇAS NO ESTADO FÍSICO DA MATÉRIA.................................................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 24
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 26

TÓPICO 2 – SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS........................................................................ 27


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 27
2 SUBSTÂNCIAS PURAS ................................................................................................................ 27
2.1 PROPRIEDADES FÍSICAS ESPECÍFICAS DAS SUBSTÂNCIAS.............................................. 28
3 MISTURAS............................................................................................................................................. 32
3.1 SEPARAÇÃO DE MISTURAS........................................................................................................ 34
3.2 PROPRIEDADE DAS MISTURAS.................................................................................................. 39
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 44
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 46

TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS


PONDERAIS...................................................................................................................... 47
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 47
2 TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS................................................................................................... 47
2.1 TIPO DE TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS................................................................................ 51
3 LEIS PONDERAIS DAS REAÇÕES QUÍMICAS........................................................................... 57
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 63
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 66
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68

UNIDADE 2 – PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS............... 69

TÓPICO 1 – REAÇÕES QUÍMICAS..................................................................................................... 71


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 71
2 TIPOS DE REAÇÕES QUÍMICAS..................................................................................................... 71
2.1 EQUAÇÃO QUÍMICA..................................................................................................................... 79
2.2 BALANCEAMENTO DAS EQUAÇÕES QUÍMICAS................................................................. 82
2.3 REAGENTE LIMITANTE E REAGENTE EM EXCESSO............................................................ 89
3 REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO......................................................................................................... 92
3.1 NÚMERO DE OXIDAÇÃO............................................................................................................. 94
3.2 BALANCEAMENTO POR OXIRREDUÇÃO............................................................................... 98
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 100
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 102

VII
TÓPICO 2 – PROPRIEDADES DA MATÉRIA I................................................................................ 103
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 103
2 PROPRIEDADES DA MATÉRIA E DAS SUBSTÂNCIAS........................................................... 103
2.1 PROPRIEDADES GERAIS........................................................................................................ 103
2.2 PROPRIEDADES ESPECÍFICAS.................................................................................................... 105
2.3 PROPRIEDADES FUNCIONAIS.................................................................................................... 108
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 112
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 113

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES DA MATÉRIA II............................................................................... 115


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 115
2 PROPRIEDADES COLIGATIVAS..................................................................................................... 115
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES COLIGATIVAS....................................................... 118
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 132
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 137
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 138

UNIDADE 3 – FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS.............................. 139

TÓPICO 1 – ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS................................................... 141


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 141
2 ENERGIA ENVOLVIDA NAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS............................ 141
2.1 ENTALPIA (H).................................................................................................................................. 144
3 REAÇÕES ESPONTÂNEAS E NÃO ESPONTÂNEAS....................................................... 148
3.1 ENTROPIA X ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES................................................................. 152
3.2 ENERGIA LIVRE DE GIBBS X ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES.................................... 157
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 160
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 162

TÓPICO 2 – VELOCIDADE DAS REAÇÕES..................................................................................... 165


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 165
2 A IMPORTÂNCIA DE SE CONTROLAR A VELOCIDADE DAS REAÇÕES......................... 165
2.1 VELOCIDADE MÉDIA DAS REAÇÕES....................................................................................... 167
3 FATORES QUE ALTERAM A VELOCIDADE DAS REAÇÕES................................................... 170
3.1 TEORIA DAS COLISÕES................................................................................................................ 170
3.2 TEMPERATURA........................................................................................................................... 173
3.3 SUPERFÍCIE DE CONTATO........................................................................................................... 175
3.4 CATALISADOR................................................................................................................................. 177
3.5 CONCENTRAÇÃO DOS REAGENTES . ..................................................................................... 178
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 183
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 184

TÓPICO 3 – EQUILÍBRIO QUÍMICO.................................................................................................. 187


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 187
2 CONCEITO DE EQUILÍBRIO QUÍMICO........................................................................................ 187
2.1 EQUILÍBRIO HOMOGÊNEO E HETEROGÊNEO...................................................................... 190
2.2 GRAU DE EQUILÍBRIO.................................................................................................................. 191
2.3 CONSTANTE DE EQUILÍBRIO EM FUNÇÃO DA CONCENTRAÇÃO................. 192
3 DESLOCAMENTO DO EQUILÍBRIO.............................................................................................. 193
3.1 EFEITO DA CONCENTRAÇÃO.................................................................................................... 194
3.2 EFEITO DA PRESSÃO..................................................................................................................... 195
3.3 EFEITO DA TEMPERATURA......................................................................................................... 196

VIII
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 199
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 202
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 204
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 207

IX
X
UNIDADE 1

A MATÉRIA E SUAS
TRANSFORMAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• identificar os diversos tipos de matéria;

• reconhecer uma transformação química, por meio de evidências perceptí-


veis pelos nossos sentidos através de suas propriedades, como: tempera-
tura de fusão, de ebulição, densidade;

• reconhecer as diferenças entre os tipos de misturas e substâncias;

• compreender as diferentes propriedades que podem ser observadas nos


materiais;

• identificar o processo adequado para separar misturas e substâncias;

• relacionar as massas existentes em uma transformação química, através


das leis de Lavoisier, Proust e Dalton.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você
encontrará diversas atividades que o(a) ajudarão na compreensão das
informações apresentadas.

TÓPICO 1 – A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

TÓPICO 2 – SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS


E AS LEIS PONDERAIS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
A Química é a ciência que estuda os materiais, sua composição e formas
de obtenção, bem como as transformações que sofrem, as energias envolvidas
nesses processos e a produção de novos materiais.

Seguindo a reflexão de Greenberg (2009), não é possível falar sobre


a história da química sem relacioná-la à história do desenvolvimento da
humanidade e vice-versa, pois ambas andam juntas. Para qualquer momento da
história que se olhe, a química está presente, seja permitindo avanços nos processos
produtivos, proporcionando descobertas para a medicina ou contribuindo para
o desenvolvimento de materiais e alternativas que oferecem mais segurança e
conforto para a sociedade.

Na literatura são encontrados alguns livros e artigos dedicados à evolução


histórica da química, onde são relatadas evidências de que nos primórdios da
evolução humana as descobertas eram feitas por acaso, e por isso o conhecimento
era acumulado lentamente, perpetuado e transmitido através das gerações.

É provável que uma das primeiras transformações químicas realizadas


pelo homem, mesmo intencionalmente, esteja associada ao uso do fogo, utilizado
para gerar calor e luz e, posteriormente, no cozimento de alimentos.

A partir desse ponto, o homem primitivo passa a observar as transformações


que alguns materiais apresentavam devido à ação do fogo: a madeira se
transformava em cinzas, a areia tomava forma de vidro ao ser resfriada e o barro
se tornava mais resistente.

3
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 1 - DA DESCOBERTA DO FOGO À MANIPULAÇÃO DE METAIS PELA


METALURGIA

FONTE: Disponível em: <http://professorwanderby.blogs.sapo.pt/tag/


historia+da+quimica>. Acesso em: 5 jul. 2017.

Dessa forma, com as observações feitas e pela perpetuação do conhecimento


de geração em geração, chegou-se às técnicas de metalurgia, as quais foram de
suma importância para a evolução do homem. Os metais que eram encontrados
naturalmente na natureza, como o ouro e o cobre, estes eram transformados
manualmente com uso de ferramentas rudimentares (ossos, marfim, pedras) ou
com fogo.

Como um dos exemplos mais antigos de objetos obtidos por esta técnica,
tem-se um colar de cobre encontrado no norte do Iraque, datado de 8700 a.C.
(CHASSOT, 1995).

No Quadro 1 é apresentada a divisão da História em períodos relacionados


ao desenvolvimento das operações metalúrgicas.

QUADRO 1 - RELAÇÃO DAS “IDADES” OU “ERAS” COM O DESENVOLVIMENTO DE


CONHECIMENTOS
Nome da
Período estimado Conhecimentos e Operações
Idade
Início das operações metalúrgicas, utilização
6.000 a.C. de ouro e cobre nativos, uso da prata e
Cobre a das ligas de ouro e prata, obtenção de
3.000 a.C. cobre e chumbo a partir de seus minérios,
desenvolvimento das técnicas de fundição.
Isolamento de estanho a partir de seus
3.000 a.C. minérios, preparação de diferentes tipos
Bronze a de bronze e sua utilização na produção de
1.200 a.C. utensílios e espelhos, introdução do fole nas
operações de fundição.
1.200 a.C. Produção de aço, cunhagem de moedas, uso
Ferro ao de amálgamas.
Início da Era Cristã
FONTE: Disponível em: <https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40346/6/2ed_qui_
m1d1.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2017.
4
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Em sua busca por compreender a constituição da matéria e como esta era


formada e transformada, muitos pensadores, cada um em sua época, deixaram
suas marcas e contribuições, que foram fundamentais para o desenvolvimento e
compreensão que hoje temos a respeito da matéria e do universo.

No decorrer da História podemos citar alguns desses pensadores e suas


contribuições, como:

• EMPÉDOCLES - ano 490 a.C.: apresentou a ideia de que a matéria era


constituída por quatro elementos: água, ar, terra e fogo.
• LEÚCIPO e DEMÓCRITO - ano 440 a.C.: fizeram a primeira menção de que
a matéria é composta de partículas tão minúsculas que nada menor pode ser
imaginado, propondo a primeira ideia de  átomo, uma partícula invisível da
qual a matéria seria feita. No entanto, essa teoria foi rejeitada pelos filósofos da
época.
• ARISTÓTELES - ano 324 a 322 a.C.: enunciou a sua teoria da composição
da matéria, considerando que esta era formada por quatro elementos
fundamentais, os mesmos propostos por Empédocles: água, ar, terra e fogo.
No entanto, cada um destes elementos, por sua vez, seria formado por duas de
quatro qualidades: quente, frio, seco e úmido, e as combinações destas quatro
qualidades, duas a duas, dariam origem aos diversos tipos de matéria, onde
o fogo seria formado por quente e seco e a terra por seco e frio. Sua teoria foi
amplamente aceita pelo mundo ocidental por mais de 100 anos.
• GEBER - ano 750: o alquimista iraniano, reconhecido na história como Geber,
obteve, através da técnica de destilação do vinagre, ácido acético quase puro,
que até então era o produto ácido mais forte conhecido.
• ALQUIMISTAS CHINESES - ano 1000: descobriram a pólvora de forma
acidental, quando, em procura do elixir da longa vida, misturaram enxofre,
carvão vegetal e salitre.
• PARACELSO - ano 1500: através de pesquisas, introduziu a Iatroquímica,
que se resumia no tratamento de doenças com administração de substâncias
químicas como mercúrio, iodo, enxofre e arsênio.

Foi somente no século XVIII, com a afirmação da Química como Ciência


Moderna, que a construção do conhecimento passou a ser feita de maneira
sistemática, o raciocínio baseado em experimentações e cálculos. A partir dessa
realidade, houve um ganho considerável nos avanços e na velocidade com que
o conhecimento químico e suas aplicações se fizeram presentes na compreensão
da matéria e suas transformações, assim como no desenvolvimento de aplicações
práticas que vêm contribuindo para o bem-estar e desenvolvimento da
humanidade (CHASSOT, 1995).

5
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

NOTA

“Felizmente, a Ciência, como a natureza à qual pertence, não é limitada pelo


tempo ou pelo espaço. Ela pertence ao mundo, e não a um país ou época. Quanto mais
sabemos, mais percebemos nossa ignorância e quanto mais ainda temos por descobrir.
Portanto, o sentimento do herói macedônio (Alexandre, o Grande) nunca pode ser aplicado,
pois haverá sempre novos mundos a serem conquistados” (Partington, 1989, p. 178).

2 TRANSFORMANDO A MATÉRIA
Caro acadêmico, para iniciarmos nossos estudos sobre a matéria e suas
transformações, é importante termos em mente que a maioria dos materiais
que utilizamos hoje não é obtida diretamente da natureza, mas por meio de
transformações de recursos naturais (atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera),
sejam estes renováveis ou não renováveis.

Como citado por Vidotti et al. (2016), entre os materiais que são extraídos
da natureza e utilizados atualmente na agropecuária, na construção civil, na
indústria e como combustíveis (para transporte, aquecimento, cocção de alimentos
e caldeiras industriais), alguns são processados para uso imediato, como o carvão
mineral, pedras para revestimento, ferro, cobre, alumínio, enxofre etc. Outros
servem como matéria-prima na produção de materiais diversos, por exemplo, a
amônia, fertilizantes fosfatados, ácido sulfúrico. Todos esses processos envolvem
transformações químicas.

2.1 CONCEITO DE MATÉRIA


O Universo, do modo como o conhecemos, manifesta-se basicamente
através de duas formas: matéria ou energia.

Apesar de não ser um conceito facilmente definido, a maioria dos autores


concorda que a matéria, dentro dos conceitos da química, é tudo aquilo que
ocupa lugar no espaço, apresentando massa e volume. Isto quer dizer que se
observarmos o ambiente que nos rodeia, tudo que podemos tocar, como uma
planta, borracha, papel, água, terra e outras que podemos apenas sentir, como
o ar que respiramos, se as pesarmos, veremos que todas elas possuem uma
quantidade de massa e ocupam um lugar no espaço (volume). Veja alguns
exemplos ilustrados na figura a seguir.

6
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 2 - EXEMPLOS DE MATÉRIA QUE ENCONTRAMOS NO AMBIENTE


QUE NOS RODEIA

FONTE: A autora

A matéria é constituída normalmente por moléculas, as quais são


formadas de átomos, que são definidos como a menor partícula que compõe a
matéria. Dessa maneira, ao descobrirmos a composição de um material, objeto
ou substância, saberemos identificar quais elementos químicos ou átomos estão
presentes em sua formação.

Existem algumas terminologias com definições importantes sobre esse


assunto e que não podem ser confundidas com o conceito de matéria, como:
corpo e objeto.

• Corpo: qualquer porção limitada de matéria.


• Objeto: é um corpo trabalhado e que apresenta alguma utilidade para nós,
seres humanos.

Vamos usar um exemplo prático, ilustrado na figura a seguir, em que a


pepita de ouro é a matéria, a barra de ouro é o corpo e a aliança é o objeto.

FIGURA 3 - DIFERENCIAÇÃO ENTRE MATÉRIA, CORPO E OBJETO

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/oAyde1>. Acesso em: 30 jun. 2017.

7
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Da mesma forma, não podemos confundir os conceitos de matéria com


energia. A matéria já vimos a definição (tudo que ocupa lugar no espaço), já
a energia pode ser definida como algo capaz de realizar transformações na
matéria, realizar trabalho, ou seja, iluminar, aquecer, resfriar e até mesmo
provocar sensações. Existem vários tipos de energia: mecânica, elétrica, solar etc.
(PERUZZO, 2006).

NOTA

Todos os seres vivos, seja planta, bactéria ou ser humano, são feitos de matéria
e precisam de energia para que seu organismo funcione.

Como já vimos, a matéria é constituída de massa e volume. A massa


representa uma quantidade de matéria e pode ser expressa de diversas maneiras,
como: quilograma, grama, miligrama, como pode ser observado na tabela a
seguir.

TABELA 1 - UNIDADES DE MASSA


Unidade de Medida Símbolo da Unidade Relação
Quilograma Kg 1 Kg = 1000 g
Grama g 1 g = 1000 mg
Miligrama mg 1 mg = 0,001 g
FONTE: A autora

Da mesma forma que a massa, o volume ocupado pela matéria no espaço


também pode ser medido e expresso de maneiras diferentes, como: litro, mililitro,
metro cúbico, centímetro cúbico, como pode ser observado na Tabela 2.

TABELA 2 - UNIDADES DE VOLUME


Unidade de Medida Símbolo da Unidade Relação
Litro L 1L = 1000 mL
Mililitro mL 1 mL = 0,001 L
Metro cúbico m3 1m3 = 1000 L
Centímetro cúbico cm3 1cm3 = 0,001 L
FONTE: A autora

8
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

3 ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA


Toda matéria que conhecemos e que forma o universo apresenta
características próprias, e essas características são classificadas em propriedades
para facilitar sua distinção. As propriedades podem ser físicas ou químicas.
Nesta etapa dos nossos estudos, iremos estudar uma das propriedades físicas,
conhecida como estados físicos da matéria.

Caro acadêmico, ao observarmos a natureza do nosso planeta, podemos


perceber que a matéria se apresenta, à temperatura ambiente, em três estados
físicos.

• As rochas da crosta terrestre estão no estado sólido.


• Nos mares, rios e lagos, a água se apresenta no estado líquido.
• E nossa atmosfera está no estado gasoso.

No entanto, com a contínua busca por respostas sobre o universo, muitas


descobertas foram feitas e ainda surgirão ao longo dos tempos. Dessa forma, hoje
a ciência aceita não três, mas sete estados físicos da matéria. Desses sete estados
da matéria, apenas quatro podemos observar na nossa vida diária, os outros
três, e provavelmente os próximos que ainda serão descobertos, só existem em
ambientes extremos de pressão e temperatura.

NOTA

Como já vimos, a matéria é formada por átomos (partículas) que se atraem


mutuamente. E é a intensidade dessas forças de atração entre esses átomos que irá determinar
em que estado físico se apresentará a matéria.

Muito bem, vamos então conhecer e entender um pouco o que ocorre


nesses sete estados descobertos e aceitos pela ciência. Porém, para os dois últimos
descobertos, veremos apenas um breve conceito, já que ainda se sabe pouco
acerca deles.

• ESTADO SÓLIDO: Neste estado, a matéria ou substância apresenta formas


definidas e seu volume não varia de forma expressiva com variações de
temperatura e pressão.

As partículas que constituem o sólido encontram-se ligadas umas às


outras por uma força de atração muito grande e de forma organizada, de modo
que não podem movimentar-se livremente, podendo apenas vibrar em posições
fixas, como representado na figura a seguir.

9
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO VIBRAÇÃO DAS


PARTÍCULAS NO ESTADO SÓLIDO

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.


com.br/fisica/mudacas-fases.htm>. Acesso em: 8
ago. 2017.

Caro acadêmico, alguns elementos que se encontram naturalmente na


natureza no estado sólido, como carbono, fósforo, oxigênio e enxofre, apresentam
uma propriedade bastante interessante, são capazes de formar uma ou mais
substâncias, com características físicas diferentes, sem alterar sua composição
química. Essa propriedade é chamada de ALOTROPIA.

FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO VIBRAÇÃO DAS PARTÍCULAS NO


ESTADO SÓLIDO

FONTE: Disponível em: <http://www.sofazquemsabe.


com/2011/10/solido-liquido-e-gasoso-os-estados-de.
html>. Acesso em: 8 ago. 2017.

Um dos exemplos mais conhecidos são as formas alotrópicas do


CARBONO, ilustradas na figura a seguir.

10
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 6 - ESTRUTURA DE TRÊS FORMAS ALOTRÓPICAS DO CARBONO

grafite diamante fulereno (C60)

FONTE: Disponível em: <http://www.crq4.org.br/qv_variedades_alotropicas_carbono>. Acesso


em: 30 jun. 2017.

• Grafite: O grafite é um sólido macio e cinzento, com fraco brilho metálico,


conduz bem a eletricidade e o calor.
• Diamante: O diamante é sólido duro (o mais duro de todos), tem brilho
adamantino, translúcido, não conduz eletricidade nem calor, possui alto valor
comercial.
• Fulereno: O fulereno é um sólido duro, é a terceira forma alotrópica mais estável
do carbono, após o diamante e o grafite, possui propriedades fotofísicas e
eletroquímicas. O fulereno também pode ter aplicações biomédicas, tais como a
atividade antiviral, antioxidante, antimicrobiana, transporte de drogas de efeito
radioterápico e contrastes para diagnóstico por imagem (FUNDACENTRO,
2017).

• ESTADO LÍQUIDO: As partículas que constituem o estado líquido não estão


unidas fortemente como no estado sólido, ou seja, as forças de atração (coesão)
são menos intensas, o que permite maior movimento das partículas e menor
organização, dessa forma os líquidos se adaptam à forma do recipiente que os
contém. Porém, estas forças de atração entre as partículas são suficientemente
fortes para que não ocorra variação no volume e as partículas sofram pouca
compressão.

FIGURA 7 – ESTADO LÍQUIDO

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.


bol.uol.com.br/fisica/mudacas-fases.htm>.
Acesso em: 8 ago. 2017.

11
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Uma característica interessante que os líquidos apresentam é a chamada


tensão superficial. Talvez você nunca tenha visto ou ouvido esse termo, mas com
certeza já observou esse fenômeno inúmeras vezes no seu dia a dia. Alguma vez
você já se perguntou como os insetos podem andar sobre a água? O porquê da
forma esférica que as das gotas d´água adquirem, do orvalho nas plantas? Bem,
a resposta para essas perguntas é a tensão superficial. Veja alguns exemplos na
figura a seguir.

FIGURA 8 - EXEMPLOS DA AÇÃO DA TENSÃO SUPERFICIAL DOS LÍQUIDOS

FONTE: A autora

Vamos entender melhor como esse fenômeno ocorre.

Tensão superficial  é um fenômeno que ocorre em todos os líquidos,


ela se caracteriza pela formação de uma espécie de membrana elástica em suas
extremidades. Vamos usar como exemplo a água, mas o raciocínio é o mesmo
para todos os líquidos.

A formação dessa membrana é resultado das ligações de hidrogênio (+)


de determinadas moléculas de água, com os oxigênios das moléculas vizinhas (-),
estas ligações resultam em forças intermoleculares que mantêm as moléculas de
água unidas e em equilíbrio (forças de coesão). Que podem ser vistas na figura a
seguir.

12
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 9 - ESTRUTURA MOLECULAR DA ÁGUA

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/quimica/ligacao-


de-hidrogenio/>. Acesso em: 8 ago. 2017.

No interior do líquido, cada molécula é ‘puxada’ de forma igual em


todas as direções pelas moléculas vizinhas. Já as moléculas da superfície não
têm moléculas em todos os lados e, portanto, são ‘puxadas’ somente para a parte
de dentro do líquido. Isso cria uma certa pressão interna e força as superfícies
dos líquidos a se comportarem como membranas elásticas, como podemos ver
ilustrado na figura a seguir.

FIGURA 10 - ILUSTRAÇÃO DO FENÔMENO DA TENSÃO SUPERFICIAL

As moléculas da superfície do
As moléculas do interior do
líquido sofrem atração apenas para
líquido são atraídas para todas as
baixo e para os lados, formando
direções pelas moléculas vizinhas.
uma tensão na superfície.
FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/1fD8rM>. Acesso em: jun. 2017.
13
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

E
IMPORTANT

A tensão superficial dos líquidos pode ser quebrada com ação de tensoativos,
como sabões e detergentes.

DICAS

No final deste tópico você encontrará uma prática bem interessante que pode
ser feita em casa, para observar o efeito da tensão superficial nos líquidos e como essa pode
ser quebrada. Confira e divirta-se.

• ESTADO GASOSO: As partículas que constituem o estado gasoso possuem


forças de atração muito fracas, predominando as forças de repulsão, por isso
apresentam menor densidade que os sólidos e os líquidos. Possuem grande
liberdade de movimento, ficando distantes umas das outras e de forma
desorganizada.

FIGURA 11 – ESTADO GASOSO

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.


com.br/fisica/mudacas-fases.htm>. Acesso em:
8 ago. 2017.

Não possuem forma, nem volume definidos, quer dizer que assumirão o
formato do recipiente e ocuparão todo o espaço fornecido. Sofrem compressão
e expansão facilmente, como gás de cozinha, cilindros de oxigênio, ou quando
enchemos um pneu e o ar ocupa rapidamente todo o espaço.

14
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 12 - REPRESENTAÇÃO DAS PARTÍCULAS NO


ESTADO GASOSO

FONTE: Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/


quimica-gases-transformacoes/>. Acesso em: 8
ago. 2017.

• PLASMA: O plasma é formado por um conjunto quente e denso de elétrons


e íons positivos, que se formam a partir de choques cada vez mais fortes,
resultando na separação dos elétrons, formando uma coleção de íons positivos,
elétrons e átomos neutros coexistindo em proporções variadas, como podemos
ver na figura a seguir. Esse é o exemplo de estado da matéria que ocorre no
interior do Sol e demais estrelas.

FIGURA 13 - CONVERSÃO DO GÁS EM PLASMA

Núcleo
Elétron

Gás Plasma
FONTE: Disponível em: <http://agq-old.educacao.ws/index.
php?&ds=1&acao=quimica/ms2&i=9&id=236>. Acesso em: 5 jul. 2017.

Esta mudança de estado acontece quando um gás é submetido a altas


temperaturas. A energia necessária para se ionizar esse gás até que ocorra um
equilíbrio quantitativo entre elétrons e íons positivos ocorre quando este é
submetido a temperaturas de cerca de 5.000 oC, estabilizando-se a partir de 55.000
o
C. Na figura a seguir podemos observar algumas formas da matéria no estado de
plasma. (SILVA et al., 2005).

15
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 14 - DIFERENTES FORMAS DE EVIDENCIAR A MATÉRIA NO ESTADO DE PLASMA

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/quimica/plasmaoutro-estado-materia.


htm>. Acesso em: 6 jul. 2017.

Apesar de ser difícil a produção de plasma na Terra, devido à necessidade


de compartimentos que resistam a temperaturas altíssimas, pesquisadores
acreditam que 99% de toda a matéria existente no Universo esteja sob a forma de
plasma (REIS, 2010). No entanto, hoje já é possível obter plasma em temperaturas
bem mais baixas que as citadas anteriormente, isso permite que tenhamos na
nossa vida diária a presença de alguns dispositivos que funcionam a partir desse
estado da matéria, como: lâmpadas fluorescentes, letreiros de néon e televisores
de plasma.

Esse feito é possível quando um gás é submetido a altas voltagens, quando


isso ocorre os elétrons são separados de seus átomos, e o gás dentro do bulbo se
torna um plasma. Quando esses elétrons excitados voltam para seus níveis de
energia, emitem fótons com comprimentos de onda dentro do espectro visível,
possibilitando que enxerguemos as luzes coloridas (AROEIRA, s.d.).

O plasma, de modo geral, apresenta algumas características específicas:

• Ele é eletricamente neutro, devido ao equilíbrio entre suas partículas (n° de


prótons e elétrons é igual).
• O plasma é ótimo condutor elétrico, uma vez que possui grande quantidade de
elétrons livres.
• O plasma apresenta-se como ótimo condutor de calor.
• O plasma é fonte de ondas eletromagnéticas. No caso do Sol, o campo
eletromagnético é tão intenso que influencia dispositivos como satélites de
comunicações e proporciona à Terra fenômenos incríveis, como a aurora boreal
(AROEIRA, s.d.).

• CONDENSADO DE BOSE-EINSTEIN: Em 1995, físicos da Universidade


do Colorado, nos Estados Unidos (EUA), concentraram e congelaram um
conjunto de dois mil átomos de rubídio a uma temperatura muito próxima ao
zero absoluto (-273 graus Celsius).

16
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 15 – ESCALA KELVIN E CELSIUS PARA O ZERO ABSOLUTO

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/fisica/zero-absoluto.


htm>. Acesso em: 8 ago. 2017.

Com isso, pela primeira vez construíram uma minúscula porção de


matéria cujas partículas se comportam de maneira extremamente organizada,
vibrando com a mesma energia e a mesma direção, como se constituíssem um
único gigantesco átomo. Esse é o quinto estado da matéria, já havia sido previsto
pelo físico alemão Albert Einstein em 1924.

Pelas condições extremas em que a matéria precisa ser submetida, este


5° estado da matéria é pouco conhecido, pois só é possível ser reproduzido e
observado em laboratórios preparados para este tipo de experimento, tornando
essa realidade distante daqueles que não pertencem ao mundo científico (CRUZ,
2013).

• GÁS FERMIÔNICO: Neste 6° estado da matéria, diferentemente do


condensado de Bose-Einstein, as partículas, apesar de estarem a baixíssimas
temperaturas, ainda se comportam isoladamente, ou seja, as partículas são
solitárias e não se comportam como um condensado perfeito, ainda apresentam
comportamentos individuais (REGAL et al., 2004).

• SUPERFLUIDO DE POLARITONS: O 7° estado da matéria foi descoberto


por físicos da Universidade de Pittsburgh e dos Laboratórios Bell, nos Estados
Unidos. Eles descobriram essa nova forma de matéria, que reúne em um mesmo
material características de um supercondutor e de um raio laser. Trata-se de um
material sólido preenchido com uma série de partículas de energia conhecidas
como polaritons (partículas que se assemelham a fótons, com a diferença de
que estes possuem uma pequena massa). Essa nova forma de matéria trouxe
consigo a possiblidade de mover energia de um ponto a outro e de gerar um
feixe de luz coerente, ou seja, um laser utilizando quantidades muito pequenas
de energia (VIVANCO, 2014).

17
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

3.1 MUDANÇAS NO ESTADO FÍSICO DA MATÉRIA


Caro acadêmico, embora tenhamos visto sete estados nos quais a matéria
pode se apresentar, para efeitos do nosso estudo sobre mudanças nos estados
físicos estaremos tratando apenas dos estados sólido, líquido e gasoso, já que
estes três são encontrados naturalmente na natureza e podem ser convertidos uns
nos outros, quando variamos sua temperatura e/ou pressão.

NOTA

O estado físico de um material é determinado pela temperatura e pressão em


que ele se encontra. Ao alterarmos a temperatura e/ou a pressão de um material, pode-se
alterar o seu estado físico.

Vamos observar e entender o diagrama da figura a seguir, que mostra as


mudanças de estado físico da matéria, com os nomes específicos que cada uma
recebe.

FIGURA 16 - MUDANÇAS DE ESTADO DA MATÉRIA

FONTE: Disponível em: <http://goenem.blogspot.com.br/2016/02/apostila-bernoulli.


html>. Acesso em: 3 jul. 2017.

Pois bem, relembrando que as mudanças de estado físico ocorrem


quando alteramos a temperatura e/ou pressão, vamos iniciar falando sobre as
temperaturas responsáveis pelas mudanças de estado físico: temperatura de
fusão (T.F.) e temperatura de ebulição (T.E.).
18
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

• Temperatura do ponto de fusão (T.F.): É a temperatura em que a matéria passa


do estado sólido para o estado líquido. Essa temperatura é a mesma para o
processo inverso, a solidificação (passagem do estado líquido para sólido).
• Temperatura do ponto de ebulição (T.E.): É a temperatura em que a matéria
passa do estado líquido para o estado gasoso. Essa temperatura é a mesma
para o processo inverso, a condensação (passagem do estado de vapor para
líquido).

As temperaturas de fusão (T.F.) e de ebulição (T.E.) são características de


cada matéria/substância, isso quer dizer que o ponto de ebulição da água a 1
atm (pressão correspondente ao nível do mar) sempre ocorrerá à temperatura
de 100 °C; assim como seu ponto de fusão a 1 atm se dará à temperatura de 0 °C.
Dessa forma, se soubermos qual a temperatura de fusão e de ebulição de uma
substância, saberemos em qual estado físico esta se encontra, seja na temperatura
ambiente ou outra qualquer (RAGGAZZI; GUERRA, 2016).

No quadro a seguir podemos observar as temperaturas de Fusão/


Solidificação e Ebulição/Condensação de algumas substâncias a 1 atm.

QUADRO 2 - TEMPERATURAS DE FUSÃO/SOLIDIFICAÇÃO E EBULIÇÃO/


CONDENSAÇÃO DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS A 1 ATM
TEMPERATURA
TEMPERATURA
DE FUSÃO E
SUBSTÂNCIA DE EBULIÇÃO E
SOLIDIFICAÇÃO
LIQUEFAÇÃO (oC)
(oC)
Água 0 100

Álcool etílico -114 78,3

Éter etílico -116,3 34,6

Alumínio 658,7 2.300

Ferro 1.530 3.050

Cobre 1.083 2.360

Mercúrio -38,9 356,7

Ouro 1.063 2.800

FONTE: Disponível em: <www.educabras.com/enem/materia/fisica/termologia/


aulas/mudancas_de_estado_fisico>. Acesso em: 3 jul. 2017.

19
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

E
IMPORTANT

Nas mudanças de estado físico: fusão, ebulição e sublimação, ocorre uma


diminuição das forças atrativas das partículas e das moléculas, pois estas recebem energia
(↑ temperatura) do meio. Já nas mudanças de estado físico, solidificação, condensação e
ressublimação, a força de atração entre as moléculas e partículas aumenta, pois essas perdem
energia para o meio (↓ temperatura) (Raggazzi; GUERRA, 2016).

A mudança de estado físico, Sublimação, ocorre com a passagem da


matéria do estado sólido diretamente para o estado gasoso. E a Ressublimação
ocorre com a passagem da matéria do estado gasoso diretamente para o estado
sólido. Exemplo: o iodo é um sólido que se aquecido passa diretamente para o
estado de gás, e assim que é resfriado passa novamente para o estado sólido, se
ressublimando. A naftalina, a cânfora e o gelo seco (CO2) são outros exemplos de
substâncias que pertencem a esse grupo. Veja os exemplos na figura a seguir.

FIGURA 17 - EXEMPLOS DE SUBLIMAÇÃO E RESSUBLIMAÇÃO

FONTE: A autora

NOTA

O gelo seco, apesar do nome nos indicar, não é formado por água, mas sim
por CO2 (dióxido de carbono) no estado sólido. Para saber mais sobre a forma de obtenção
e características do gelo seco, acesse o site: <http://www.infoescola.com/compostos-
quimicos/gelo-seco/>. Acesso em: 3 jul. 2017.

Veremos um exemplo de um processo muito interessante, no qual podemos


observar vários tipos de transformações no estado da matéria: a produção de café
solúvel.

20
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

E
IMPORTANT

Como o café solúvel é produzido

Sabe-se que o café solúvel é produto resultante da desidratação do extrato aquoso de café
(Coffea arábica e outras espécies do gênero Coffea) torrado e moído. Ele pode se apresentar
sob a forma de pó ou grânulos. De acordo com a Resolução CNNPA nº 12, de 1978, da
ANVISA, o produto deve respeitar algumas diretrizes para ser comercializado em território
nacional. Não são toleradas, por exemplo, quaisquer adições de conservantes ou outros
aditivos.

O assunto é tão sério que existe até uma associação que representa esta categoria específica
no mercado cafeeiro. A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel – ABICS –, instituída
em 1972, nasceu para defender os interesses das empresas associadas, interagindo com o
Estado em todas as suas esferas (municipal, estadual e federal) em busca de definições de
políticas que melhor se adéquem às necessidades do setor como um todo e da economia
do país em geral.
Já contei as possíveis versões da origem do café solúvel na indústria, mas confesso que nem
imaginava como ele é feito. De acordo com a ABICS, existem quatro formas de produzi-lo:
SPRAY DRYING
Utiliza altas temperaturas sob alta pressão para concentrar o extrato aquoso (líquido de café
bem concentrado), em gotículas minúsculas. Quando em contato com o ar muito quente,
perde a umidade transformando-se em pó.
FREEZE DRYING
Ao contrário do processo anterior, utiliza temperaturas muito baixas para concentrar o
extrato aquoso previamente congelado. Utiliza-se o modo mais avançado de desidratação,
chamado liofilização. O produto reterá seu aroma devido às baixas temperaturas (- 20 °C). O
processo completo inclui: cristalização, granulação e secagem a frio.
AGLOMERADO
Outro tipo de café solúvel produzido pela indústria brasileira é o aglomerado, que é aromatizado
pela adição de óleo de café. Ele é seco em torre de secagem, depois é umedecido (não chega
a ser dissolvido em água) e, por isso, se aglomera em partículas maiores.
EXTRATO LÍQUIDO
É um extrato de café preparado pela remoção de água por cristalização e é obtido através de
métodos físicos.
FONTE: Disponível em: <http://www.mexidodeideias.com.br/barista-e-sommelier/como-o-
cafe-soluvel-e-produzido/>. Acesso em: 3 jul. 2017.

Para complementar sua compreensão sobre os estudos da tensão


superficial dos líquidos que vimos até aqui, segue um experimento. Boa prática!

21
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

EXPERIMENTO: LEITE PSICODÉLICO

Tensão superficial é a força que existe na superfície dos líquidos, devido


às fortes ligações intermoleculares. Esta é uma característica que todos os líquidos
apresentam.

Neste experimento poderemos ver como a tensão superficial age, além


de observarmos o efeito de um agente tensoativo/surfactante (detergente), que
possui o poder de reduzir a tensão superficial dos líquidos. Eles apresentam na
mesma molécula grupos polares (hidrofílicos) e grupos apolares (hidrofóbicos).

Materiais e reagentes:

- Prato fundo
- Leite
- Corante alimentício (ao menos duas cores diferentes)
- Detergente de cozinha
- Palito de dente

Procedimento experimental:

1- Coloque um pouco de leite no fundo do prato, deixe descansar por alguns


minutos.
2- Pingue algumas gotas de corantes diferentes no leite, não misture as cores.
3- Pegue um palito de dente e molhe a ponta com um pouco de detergente, caso
fique uma gota tirar o excesso.
4- Rapidamente coloque o palito no meio de uma das cores e observe. A cor se
abre.
5- Repita o processo para as outras cores e observe.
6- E, por último, você pode brincar com o palito misturando as cores, que formarão
uma mistura colorida e divertida.

Resultados e discussão:

Pode-se observar no experimento que as gotas dos corantes não se


misturaram ao leite, isso ocorreu devido à tensão superficial, já que ele se comporta
como os líquidos que estudamos, onde as moléculas da superfície sofrem uma
grande atração entre elas, formando um filme sobre a superfície do líquido.

22
TÓPICO 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Ao se colocar o palito de dente com detergente na ponta ocorre a ruptura da


tensão superficial, que ocorre pela presença do tensoativo, e as cores se misturam.
Essa ruptura ocorre porque o detergente rompe as ligações de hidrogênio da
superfície do líquido.

FONTE: Disponível em: <http://www2.bioqmed.ufrj.br/ciencia/ExplosaoCores.htm>. Acesso em:


3 jul. 2017.

23
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A história da humanidade retrata a busca pelo conhecimento e domínio da


matéria para transformá-la de forma a ser útil para o ser humano.

• Muitas civilizações e grandes pensadores, cada um em sua época, deixaram


contribuições inestimáveis para a construção da ciência e dos saberes que
hoje permitem à humanidade descobertas e desenvolvimentos tecnológicos,
científicos, nos mais variados setores, sejam eles na saúde, tecnologia, genética,
produção de alimentos, meio ambiente, entre outros tantos.

• A maioria dos materiais que utilizamos hoje não é obtida diretamente da


natureza, mas por meio de transformações de recursos naturais (atmosfera,
hidrosfera, litosfera e biosfera), sejam estes renováveis ou não renováveis.

• Definição de matéria pela química: é tudo aquilo que ocupa lugar no espaço,
apresentando massa e volume.

• Energia é algo capaz de realizar transformações na matéria. Existem vários


tipos de energia: mecânica, elétrica, solar.

• A matéria é constituída normalmente por moléculas, as quais são formadas de


átomos, que são definidos como a menor partícula que compõe a matéria.

• A matéria pode se apresentar em sete estados físicos ou de agregações


diferentes:

ᵒ Sólido: a matéria ou substância apresenta formas definidas e seu volume


não varia de forma expressiva com variações de temperatura e pressão.
ᵒ Líquido: as forças de atração (coesão) entre as partículas são menos intensas,
o que permite maior movimento e menor organização, dessa forma os
líquidos se adaptam à forma do recipiente que as contém.
ᵒ Gasoso: As partículas que constituem o estado gasoso possuem forças de
atração muito fracas, predominando as forças de repulsão, possuem grande
liberdade de movimento, ficando distantes umas das outras e de forma
desorganizada, não possuem forma nem volume definido.
ᵒ Plasma: Plasma é formado por um conjunto quente e denso de elétrons e
íons positivos, que se formam a partir de choques cada vez mais fortes.
ᵒ Condensado de Bose-Einstein: pequena porção de matéria submetida
à temperatura de -272 °C, cujas partículas se comportam de maneira
extremamente organizada, vibrando com a mesma energia e a mesma
direção, como se constituíssem um único gigantesco átomo.

24
ᵒ Gás termiônico: as partículas, apesar de estarem a baixíssimas temperaturas,
ainda se comportam isoladamente e apresentam comportamentos
individuais.
ᵒ Superfluido de Polarintons: uma forma de matéria que reúne em um mesmo
material características de um supercondutor e de um raio laser.

• Tensão superficial  é um fenômeno que ocorre em todos os líquidos, ela se


caracteriza pela formação de uma espécie de membrana elástica em suas
extremidades.

• O estado físico de um material é determinado pela temperatura e pressão


em que ele se encontra. Ao alterarmos a temperatura e/ou a pressão de um
material, pode-se alterar o seu estado físico.

• Nas mudanças de estado físico (fusão, ebulição e sublimação) ocorre uma


diminuição das forças atrativas das partículas e das moléculas, pois estas
recebem energia (↑ temperatura) do meio. Já nas mudanças de estado físico,
solidificação, condensação e ressublimação, a força de atração entre as moléculas
e partículas aumenta, pois essas perdem energia para o meio (↓ temperatura).

25
AUTOATIVIDADE

1 Considerando que temperatura de ebulição do isoctano a 1 atm é 99 °C e a


temperatura de fusão é –107 °C. Indique o estado físico do isoctano quando
este estiver nas seguintes temperaturas a 1 atm:

a) –125 °C:
c) 25 °C:
b) –25 °C:
d) 125 °C:
e) 99 °C:

2 (UESPI) O elemento químico fósforo pode ser encontrado na forma de duas


substâncias simples: o fósforo branco, que é usado na produção de bombas
de fumaça e cuja inalação provoca necrose dos ossos, e o fósforo vermelho,
que é utilizado na fabricação de fósforo de segurança e se encontra na tarja
da caixa e não no palito.

Sobre o fósforo, indique a alternativa correta:


a) ( ) Essas duas formas de apresentação do fósforo são chamadas de alotrópicas.
b) ( ) Essas duas formas de apresentação do fósforo são chamadas de isotérmicas.
c) ( ) A diferença entre as duas formas de fósforo reside somente no estado físico.
d) ( ) O fósforo se apresenta na natureza em duas formas, chamadas de isobáricas.
e) ( ) Essas duas formas de apresentação do fósforo são chamadas de isotópicas.

26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

1 INTRODUÇÃO
Embora os termos substância e mistura sejam amplamente utilizados, e
a maioria das pessoas já ouviu ou utilizou algum desses termos, é muito fácil e
comum que eles sejam confundidos em relação ao que realmente representam,
mas dentro do estudo da química é de suma importância que saibamos diferenciá-
los, e é essa a proposta desta etapa.

Neste tópico, iremos aprender diferenciar uma substância de uma mistura


através de suas características.

As substâncias são divididas em dois grupos: substâncias simples e


compostas, cada uma com características e comportamento específicos. Da
mesma forma as misturas são classificadas em dois grupos: misturas homogêneas
e heterogêneas.

2 SUBSTÂNCIAS PURAS
Substância Pura: é todo tipo de matéria que apresenta uma composição
química constante e propriedades físicas bem definidas, tais como densidade,
os pontos de fusão e ebulição. São representadas por fórmulas, normalmente
a molecular, que indicam quais são os elementos químicos (átomos) e as
quantidades de cada elemento presente em uma molécula da substância. Ex.:
H2O (água), NaCl (cloreto de sódio)

As substâncias puras podem ser divididas em:

• Substâncias simples: são formadas apenas por um elemento químico, como


podemos observar na figura a seguir.

27
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 18 - EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS SIMPLES

gás hélio (He) gás oxigênio (O2)

gás ozônio (O3) fósforo (P4)

FONTE: Usberco e Salvador (2006)

• Substâncias compostas: são formadas por mais de um elemento químico, elas


podem ser separadas através de processos como eletrólise (energia elétrica),
fotólise (energia luminosa) e pirólise (energia térmica), em sustâncias simples,
por exemplo: através da eletrólise da água se obtém os gases oxigênio e
hidrogênio. Podemos observar na figura a seguir exemplos de substâncias
compostas:

FIGURA 19 - EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS

gás cianídrico (HCN) água (H2O)


FONTE: Usberco e Salvador (2006)

2.1 PROPRIEDADES FÍSICAS ESPECÍFICAS DAS SUBSTÂNCIAS


Quanto às propriedades físicas, que são bem definidas, temos a densidade
e os pontos de ebulição e fusão. Vejamos cada um deles!

• Densidade: é o termo usado para se relacionar a massa de um material e o


volume que o mesmo ocupa, ou seja, a densidade determina a quantidade de
matéria que está presente em um determinado volume. A densidade pode ser
expressa em Kg/m3 ou g/cm3.

A densidade é uma propriedade específica de cada substância, isto quer


dizer que a densidade de uma substância pura é sempre constante a uma dada
28
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

temperatura e pressão. Por isso, é possível identificar uma substância a partir de


sua densidade.

Ao observarmos a equação 1, veremos que a massa é inversamente


proporcional ao volume, isso significa que quanto menor o volume ocupado por
uma determinada massa, maior será a densidade desse material.

Vamos refletir sobre o seguinte exemplo: o que pesa mais, 1 Kg de algodão


ou 1 Kg de chumbo? A resposta é que ambos pesam a mesma quantia, no entanto,
se imaginarmos o volume que 1 Kg de algodão ocupa e o volume que 1 Kg de
chumbo ocupa são muito diferentes, certo? Certo, 1 Kg de chumbo ocupa um
volume menor que a mesma massa em algodão, isso quer dizer que sua densidade
é maior. Podemos calcular a densidade utilizando a seguinte fórmula:

d = m/v

d= densidade m= massa (g ou Kg) v= (cm3)



No quadro a seguir podemos ver a relação de algumas substâncias e suas
densidades específicas.

QUADRO 3 - SUBSTÂNCIAS E SUAS DENSIDADES EM 25 °C A 1ATM


Substância Densidade (g/cm3)
Água 0,997
Álcool etílico 0,789
Alumínio 2,70
Chumbo 11,30
Diamante 3,5
Leite integral 1,03
Mercúrio 13,06
Glicerina 1,26
Ouro 19,3
Zinco 7,1
Prata 10,5
FONTE: Adaptado de Russel (1994)

Vejamos um exemplo: Considerando três amostras, I, II e III de prata, em


uma mesma temperatura, vamos calcular os valores das densidades e analisar as
respostas de acordo com os dados do quadro a seguir.

29
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

QUADRO 4 - DADOS EXPERIMENTAIS DE AMOSTRAS DE PRATA


Amostra Massa Prata Volume
I 21 g 2 cm3
II 15,75 g 1,5 cm3
III 105 g 10 cm3
FONTE: A autora

Para calcularmos os valores das densidades das amostras de prata, vamos


utilizar a equação 1, onde d= m/v, sendo assim, só precisamos substituir a massa
e o volume pelos dados das amostras.

Amostra I Amostra II Amostra III

Ao calcularmos as densidades de cada amostra, vemos que as densidades


são as mesmas, embora o volume e a massa sejam diferentes. Isso comprova que
a densidade é uma característica própria das substâncias quando em pressão e
temperatura constantes.

• Pontos de Fusão e Ebulição: Os pontos de fusão/ebulição são característicos


para cada tipo de substância, assim como a densidade, isto quer dizer que
cada substância pura possui sua temperatura ou pontos de fusão/ebulição
específicos. E durante as mudanças de estado físico (sólido, líquido, gasoso),
sua temperatura é constante. Vamos entender isso melhor observando e
analisando o gráfico 1.

Considerando que o gráfico representa uma amostra de água (substância


pura), em processo de aquecimento, vamos fazer algumas observações sobre as
mudanças ocorridas:

• Inicialmente, a água está no estado sólido a uma temperatura abaixo de 0 °C,


com o aquecimento em um determinado espaço de tempo (t1) essa água chega
a 0 °C, temperatura de fusão da água (1 atm).
• Durante a mudança de estado físico (sólido para líquido), do t1 ao t2, podemos
observar que a temperatura se manteve constante. Isso quer dizer que até que
todo o sólido (gelo) seja transformado em líquido, a temperatura se mantém
constante.
• Entre t2 e t3 podemos observar que toda a água está em seu estado líquido, e
que nesse intervalo ocorre novamente o aumento da temperatura, até que esta
alcance a temperatura de ebulição da água (100 °C a 1atm).
• Novamente, entre t3 e t4, observamos a mudança de estado físico, a água passa
do estado líquido para o de vapor, e a temperatura se mantém constante até
que toda a água líquida passe para o estado de vapor. Novamente constatamos
que a temperatura se mantém constante durante a mudança de estado físico.
30
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

• A partir da total passagem da água para o estado de vapor, a temperatura volta

GRÁFICO 1 - MUDANÇA DE ESTADO FÍSICO DE UMA SUBSTÂNCIA PURA


Curva de aquecimento da água
Temperatura (oC) Início da Fim da Início da Fim da
fusão (0 oC) fusão (0 oC) ebulição (100 oC) ebulição (100 oC)
ua
' ág
o r–d
água + vapor vap
t = 100 oC a
águ
e
Ebulição. Vapor sendo
gelo + água

31
Temperatura aquecido.
gelo
tf = 0 oC constante. Temperatura
Fusão. Água sendo crescente.
Temperatura aquecida.
Gelo sendo constante. Temperatura
aquecido. crescente.
Temperatura
crescente.
Tempo (min)
FONTE: Santos e Mól (2013)
a subir.
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

3 MISTURAS
Mistura: é constituída de duas ou mais substâncias, apresenta uma
composição química variada que não pode ser expressa por fórmulas. Suas
propriedades físicas, como densidade, pontos de fusão e ebulição, não são
definidas mesmo sob pressão e temperatura constantes (USBERCO, 2006).

As propriedades físicas das misturas variam de acordo com a composição


e proporção das substâncias que as compõem. Na natureza, a maioria dos
materiais é encontrada na forma de misturas e não de substâncias.

Exemplos de algumas misturas importantes e sua composição:

• Água do mar (água, cloreto de sódio, sulfato de cálcio e outros sais).


• Ar (78% de gás nitrogênio, 20% de gás oxigênio, 1% de gás argônio, 1% de
outros gases, em volume).
• Petróleo (várias substâncias, como metano, etano, eteno, propano, butano,
pentano, hexano, isoctano, em porcentagens variadas).
• Água da chuva (água, nitratos, sulfatos, cloretos e várias outras substâncias).
• Aço (98,5% de ferro e 1,5% de carbono em massa).
• Vinagre (água, ácido acético).
• Álcool hidratado (etanol 96% e água 4%).
• Ouro 18 quilates (75% ouro, 12,5% cobre e 12,5% de prata).

E
IMPORTANT

Nas misturas, as características individuais das substâncias presentes não se


alteram, porque em uma mistura não ocorrem reações químicas entre as substâncias.

As misturas podem ser classificadas como:

• Misturas homogêneas: são formadas por apenas uma fase. Não se consegue
diferenciar as substâncias que estão presentes. Um sistema monofásico (1 fase)
representa uma mistura homogênea.

32
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

FIGURA 20 - MISTURA HOMOGÊNEA, FORMADA POR ÁGUA


+AÇÚCAR

FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/


AugustoSrgioCostaSouza/01-substncias-e-misturas>. Acesso
em: 8 ago. 2017.

Exemplo: água + sal; água + álcool etílico; ar atmosférico; água + açúcar,


conforme figura anterior.

As misturas homogêneas são constituídas por um solvente e um ou mais


solutos. O solvente é a parte majoritária, dissolve o soluto, normalmente é um
líquido. O soluto está presente em menor quantidade e é dissolvido pelo solvente,
normalmente é um sólido.

Exemplo:

Solvente Água
Água
+ Sal
Sal + Açúcar
Soluto Açúcar

E
IMPORTANT

As misturas homogêneas são chamadas também de soluções.

• Misturas heterogêneas: são formadas por duas ou mais fases. As substâncias


presentes podem ser identificadas a olho nu ou por microscópio. Misturas
heterogêneas representam um sistema polifásico (USBERCO, 2006).

33
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 21 – MISTURA HETEROGÊNEA, SISTEMA TRIFÁSICO

FONTE: Disponível em: <http://cursodeteologiasistematica.


blogspot.com.br/2017/02/misturas-homogeneas-e-
heterogeneas.html>. Acesso em: 8 ago. 2017.

Exemplo: água + gasolina; água + óleo + areia (figura anterior); granito


(quartzo + feldspato + mica), água + barro; tinta, sangue.

Existem sistemas heterogêneos formados por uma única substância, a


qual se apresenta em diferentes estados físicos. Um exemplo desse sistema é um
copo de água com gelo.

FIGURA 22 - COPO DE ÁGUA COM GELO

FONTE: Disponível em: <https://pt.dreamstime.com/


imagem-de-stock-copo-com-%C3%A1gua-
de-gelo-com-trajeto-de-grampeamento-
image28430681>. Acesso em: 8 ago. 2017.

3.1 SEPARAÇÃO DE MISTURAS


Uma mistura pode ser separada em seus componentes ou substâncias.
Existem várias técnicas para se realizar essas separações, e elas são escolhidas de
acordo com as características da mistura e seus componentes, como estado físico,
número de fases e propriedades das substâncias presentes.

Alguns dos métodos mais utilizados para separação de misturas são:

Separação de Sólidos

34
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

• Catação: tipo de separação em que as substâncias são separadas manualmente


ou com auxílio de pinça ou outro objeto. Exemplo: separar feijões das impurezas.
• Ventilação: separação de dois sólidos com densidades diferentes utilizando-
se jato de ar sobre a mistura. Exemplo: separação das cascas de amendoim
torrado e outros cereais.
• Levigação: separação de dois sólidos com densidades diferentes utilizando
água corrente, o sólido mais denso fica retido no recipiente. Exemplo: usado
por garimpeiros para separar ouro (mais denso) da areia (menos densa).
• Peneiração: separação de sólidos de tamanhos diferentes, normalmente
com uso de peneiras, em que as partículas maiores ficam retidas na peneira.
Exemplo: usada na construção civil para separar a areia das pedrinhas.
• Separação Magnética: utilizada quando um dos componentes da mistura
possui características magnéticas e pode ser separado utilizando-se um ímã.
Exemplo: mistura de limalha de ferro/enxofre ou areia/ferro.
• Dissolução: consiste em dissolver a mistura em um solvente com densidade
intermediária entre as densidades dos componentes da mistura. Exemplo:
separar serragem da areia, adicionando água à mistura, fazendo com que a
areia fique no fundo do recipiente e a serragem flutue sobre a água.

Na figura a seguir podemos observar imagens dos exemplos citado acima.

FIGURA 23 - ALGUNS EXEMPLOS DE MÉTODOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS: CATAÇÃO,


VENTILAÇÃO, LEVIGAÇÃO, PENEIRAÇÃO E SEPARAÇÃO MAGNÉTICA

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/separacao-misturas.


htm>. Acesso em: 25 jun. 2017.

35
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Separação de Sólido/Líquido ou Líquido/Líquido

• Sedimentação: consiste em deixar uma mistura em repouso até que o sólido se


deposite no fundo do recipiente. Exemplo: água e areia.
• Centrifugação: é o processo de aceleração da sedimentação. Utiliza-se um
aparelho chamado centrífuga ou centrifugador, que pode ser elétrico ou
manual. Exemplo: separar os constituintes do sangue.
• Decantação: consiste em separar as substâncias de uma mistura pela diferença
de densidade, utilizado para separar principalmente misturas líquido-líquido.
Pode-se utilizar um funil de decantação para se separar as partes da mistura,
onde a substância mais densa fica depositada na parte inferior do funil,
podendo ser facilmente removida. Exemplo: água e óleo.

FIGURA 24 - FUNIL DE SEPARAÇÃO COM UMA MISTURA


BIFÁSICA

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/


quimica/vidrarias-laboratorio.htm>. Acesso em: 8
ago. 2017.

• Filtração: processo utilizado para separar partículas sólidas presentes em


um líquido ou gás. Neste processo utilizam-se filtros porosos para reter as
partículas sólidas. Exemplo: filtro de aspirador de pó, filtro de café.
• Evaporação: consiste em evaporar o líquido de uma mistura líquido-sólido
com pontos de ebulição distintos. Exemplo: usado para se obter sal a partir da
água do mar.

36
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

FIGURA 25 - OBTENÇÃO DE SAL A PARTIR DA ÁGUA DO MAR, POR


EVAPORAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/10933686/>.


Acesso em: 8 ago. 2017.

Separação Misturas Homogêneas

• Destilação: consiste em separar as substâncias de uma mistura homogênea,


que possuam pontos de ebulição bem diferentes. A destilação pode ocorrer
através de dois processos: destilação simples e fracionada.
ᵒ Destilação simples: é utilizada para separar misturas homogêneas de sólido/
líquido ou líquido/líquido, desde que as substâncias tenham pontos de fusão
bem diferentes entre si. Exemplo: separação de uma mistura de sal (NaCl)
e água (H2O), separação de uma mistura de álcool etílico (C2H6O) e água
(USBERCO, 2006).

A separação ocorre quando, através do aquecimento da mistura que está


em um balão de destilação, o componente de menor ponto de ebulição evapora e se
condensa no condensador (dispositivo resfriado, acoplado ao balão de destilação)
e é coletado em outro recipiente. A substância que possui ponto de ebulição mais
alto permanece no balão, ocorrendo dessa forma a separação dos componentes
desta mistura. A temperatura da mistura inicial deverá ser um pouco acima da
temperatura de ebulição da substância mais volátil, ou seja, de menor ponto de
ebulição, e bem distante da temperatura de ebulição da substância de maior
ponto de ebulição (USBERCO, 2006). O esquema e vidrarias utilizadas para esse
processo podem ser vistos na figura a seguir.

37
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 26 - ESQUEMA DE DESTILAÇÃO SIMPLES

FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/


Oitava_quimica/materia16.php>. Acesso em: 20 jun. 2017.

ᵒ Destilação fracionada: é utilizada para separar misturas homogêneas líquido/


líquido, formada por vários componentes ou substâncias que apresentem
pontos de ebulição diferentes entre si. Exemplo: separação dos componentes
do petróleo.

O processo de separação ocorre de forma semelhante à destilação simples.


No entanto, na destilação fracionada, a temperatura possui um papel muito
importante para que a separação de todas as substâncias ocorra, ela deve ser
controlada e constante. Neste processo, é acoplado ao balão de destilação uma
torre de fracionamento, cuja função é deixar sair apenas a substância que tiver
menor ponto de ebulição, enquanto as demais sofrerão condensação e voltarão ao
balão de destilação até que a temperatura aumente e permita que estas saiam, uma
por vez, de acordo com suas temperaturas de ebulição. O esquema e vidrarias
utilizados para esse processo podem ser vistos na figura a seguir.

38
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

FIGURA 27 - ESQUEMA DE DESTILAÇÃO FRACIONADA


Termómetro

Água
Cabeça de
destilação
Água

Condensador

Coluna de
fraccionamento
(Vigreux)

Mistura de líquidos

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/


ABAAAfSbsAA/obtencao-alcool-etilico-via-fermentacao-caldo-
cana-acucar>. Acesso: 20 jun. 2017.

3.2 PROPRIEDADE DAS MISTURAS


Como vimos anteriormente, as misturas não apresentam propriedades
específicas e definidas como as substâncias puras. As propriedades como ponto
de ebulição/fusão e densidade variam de acordo com a composição e a quantidade
das substâncias que a compõem.

• Pontos de Ebulição/Fusão: diferentemente das substâncias, a mistura durante


a mudança de estado físico não mantém sua temperatura constante.

Exemplo: a temperatura de fusão e ebulição de uma mistura de água e sal é


diferente do ponto de ebulição da água e do cloreto de sódio (sal) separadamente,
isso ocorre porque quando estas substâncias juntas formam uma mistura,
interferem no comportamento e característica uma da outra. Nesse caso, a água
a 1 atm entrará em ebulição a uma temperatura maior que 100 °C. A variação do
aumento dessa temperatura à pressão constante 1 atm dependerá da proporção
entre as substâncias.

39
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 28 - TEMPERATURAS DE EBULIÇÃO E FUSÃO DOS


COMPOSTOS CLORETO DE SÓDIO E ÁGUA

Cloreto de
Água
Sódio (sal)

T.F. (1 atm) T.F. (1 atm)


0 °C 800,4 °C

T.E. (1 atm) T.E. (1 atm)


100 °C 1413 °C

FONTE: Adaptado de Peruzzo (2016)

No gráfico 2, podemos observar o comportamento de mudança de estado


físico de uma mistura, neste caso água com sal.

Diferentemente de uma substância pura, observamos que não existem


mais patamares constantes de temperatura durante as mudanças de estado
físico, e sim um leve e gradativo aumento das temperaturas nas faixas de fusão
e ebulição.

40
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

GRÁFICO 2 - MUDANÇA DE ESTADO FÍSICO DE UMA MISTURA


Curva de aquecimento de água com sal
Temperatura (oC)
vapor
faixa de ebulição ebulição
líquido

41
faixa de fusão
sólido
Tempo (min)
FONTE: Santos e Mól (2013)
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

• Densidade: ao contrário das substâncias, a densidade de uma mistura não


é característica, ela irá variar de acordo com as substâncias presentes e as
proporções destas substâncias na mistura. No entanto, sempre que a densidade
de uma mistura for determinada, ela não irá se alterar desde que as proporções
das substâncias presentes se mantenham fixas e as condições de temperatura e
pressão não se alterem.

Exemplo: mistura de 70% de água e 30% de etanol a 25 °C, terá sempre


densidade equivalente a 0,97g/cm³, assim como uma mistura de 8% de etanol e
92% de água a 25 °C terá uma densidade de 0,83 g/cm³ (MORTIMER, 2013).

DICAS

A densidade de uma mistura adquire valores mais próximos da substância que


se encontra de forma majoritária (Mortimer, 2013)

Misturas eutéticas e misturas azeotrópicas

As substâncias puras possuem temperaturas de fusão e ebulição constantes


durante toda a mudança de estado físico.

As misturas, de modo geral, apresentam variação na temperatura durante


o processo de mudanças de estado físico.

No entanto, existem algumas misturas que são exceção, e se comportam


como se fossem substâncias puras durante a fusão ou durante a ebulição. Essas
misturas recebem o nome de misturas eutéticas ou azeotrópicas. Vamos então
conhecer cada uma delas.

Misturas Eutéticas

São misturas com composição definida e fixa. Apresentam ponto de fusão


constante e ponto de ebulição variável com o tempo.

Exemplo: uma liga metálica feita com 40% de cádmio e 60% de bismuto
forma uma mistura cujo ponto de fusão constante é 140 °C, a 1 atm.

Essa temperatura só é constante ou característica nesta proporção fixa


se houver alterações nos percentuais das substâncias, a temperatura de fusão
da mistura muda e ela deixa de se comportar como uma mistura eutética. P.F.
individuais a 1 atm: Cádmio (320,9 °C) e Bismuto (271,3 °C).

42
TÓPICO 2 | SUBSTÂNCIAS PURAS X MISTURAS

GRÁFICO 3 - MUDANÇA DE ESTADO FÍSICO DE UMA MISTURA EUTÉTICA


Curva de aquecimento de uma mistura eutética
Temperatura (oC)

vapor
t3
ebulição
t2
líquido
t1 fusão
sólido
0
Tempo (min)

Misturas Azeotrópicas

São misturas com composição definida e fixa. Apresentam ponto de


ebulição constante e ponto de fusão variável com o tempo.

Exemplo: uma mistura de exatamente 4% de água e 96% de álcool etílico


em volume apresenta ponto de ebulição constante de 78,2 °C a 1 atm.

Essa temperatura só é constante ou característica nesta proporção fixa, se


houver alterações nos percentuais das substâncias, a temperatura de ebulição da
mistura muda e ela deixa de se comportar como uma mistura azeotrópica. P.E.
individuais a 1 atm: Água (100 °C) e Álcool etílico (78,4°).

GRÁFICO 4 - MUDANÇA DE ESTADO FÍSICO DE UMA MISTURA AZEOTRÓPICA

Curva de aquecimento de uma mistura azeotrópica


Temperatura (oC)

vapor

t3 ebulição

líquido
t2
t1 fusão
sólido
0
Tempo (min)

FONTE: Santos e Mól (2013)

43
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Substância pura é todo tipo de matéria que apresenta uma composição química
constante e propriedades físicas bem definidas, tais como densidade, os pontos
de fusão e ebulição. Ex.: H2O (água), NaCl (cloreto de sódio).

• As substâncias puras podem ser divididas em:

o Substâncias simples: são formadas por apenas um elemento químico. Ex.:


He, O2.
o Substâncias compostas: são formadas por mais de um elemento químico,
elas podem ser separadas em substâncias simples. Ex.: H2O e HCN.

• A substâncias apresentam propriedades bem definidas, como densidade e


pontos de ebulição e fusão, que são características de cada substância a 1 atm.

• Nas mudanças de estado físico de substâncias puras as temperaturas de fusão


e ebulição permanecem constantes durante todo o processo da transformação
física (até que todo o gelo se transforme em água: fusão).

• Mistura: é constituída de duas ou mais substâncias, apresenta uma composição


química variada que não pode ser expressa por fórmulas. Suas propriedades
físicas, como densidade, pontos de fusão e ebulição não são definidas, mesmo
sob pressão e temperatura constantes. Ex.: água do mar e ar atmosférico.

• As misturas podem ser homogêneas e heterogêneas:

o Misturas homogêneas: são formadas por apenas uma fase. Não se consegue
diferenciar as substâncias que estão presentes. Ex.: água + sal.
o Misturas heterogêneas: são formadas por duas ou mais fases. As substâncias
presentes podem ser identificadas a olho nu ou por microscópio. Ex.: água +
óleo.

• Uma mistura pode ser separada utilizando-se várias técnicas, que são escolhidas
de acordo com as características da mistura e seus componentes, como estado
físico, número de fases e propriedades das substâncias presentes.

• Os pontos de ebulição e fusão das misturas variam durante as mudanças de


estado físico, diferentemente das substâncias puras.

• Algumas misturas que são exceção, e se comportam como se fossem substâncias


puras durante a fusão ou durante a ebulição. São chamadas de misturas
azeotrópicas ou eutéticas.
44
o Misturas Eutéticas: São misturas com composição definida e fixa. Apresentam
ponto de fusão constante e ponto de ebulição variável com o tempo.
o Misturas Azeotrópicas: São misturas com composição definida e fixa.
Apresentam ponto de ebulição constante e ponto de fusão variável com o
tempo.

45
AUTOATIVIDADE

1 A destilação fracionada é o método usado na separação das frações do


petróleo. É um método utilizado para separar misturas _______ de líquidos
com diferentes pontos de ________, não sendo indicada para separar misturas
__________.

Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas.


a) ( ) heterogêneas - fusão - eutéticas
b) ( ) homogêneas - fusão - azeotrópicas
c) ( ) heterogêneas - ebulição - eutéticas
d) ( ) heterogêneas - fusão - azeotrópicas
e) ( ) homogêneas - ebulição - azeotrópicas

2 Considerando os sistemas abaixo relacionados, identifique aquele formado


apenas por substâncias simples:

a) ( ) Enxofre, ozônio, iodo e fósforo branco.


b) ( ) Gás carbônico, gás amoníaco e gás sulfídrico.
c) ( ) Água, água do mar, alumínio e ferro.
d) ( ) Ar atmosférico, água do mar e granito.
e) ( ) Latão, aço, ouro e bronze.

46
UNIDADE 1
TÓPICO 3

CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES


QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, no início da Unidade 1 vimos que a química é a ciência
que estuda, além dos materiais, suas transformações e todas as variáveis que
possam influenciar positivamente ou negativamente nesses processos, a fim
de buscar novos materiais e tecnologias cada vez mais eficientes, com custos
reduzidos, visando melhorias para o homem e o meio ambiente.

Neste tópico, iremos conhecer os tipos de transformações que a matéria


pode sofrer e as características específicas de cada tipo de transformação, além
dos agentes causadores dessas transformações.

Veremos, também, que as transformações químicas obedecem a


determinadas leis. Essas leis são chamadas de leis ponderais e relacionam
matematicamente as massas das substâncias, reagentes e produtos participantes
de uma reação química.

2 TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS
Constantemente, a matéria que nos cerca sofre transformações, a fim de
obtermos os mais diferentes tipos de matéria e materiais.

As transformações da matéria podem ocorrer de duas formas distintas,


como podemos analisar no fluxograma:

47
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 29 - DIFERENÇAS ENTRE TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E FÍSICAS

Transformações
da Matéria

Transformações Transformações
Físicas Químicas

Mudança no Mudanças na composição do


estado de material, formando uma nova
agregação ou substância ou material, com
estado físico características bem diferentes
das iniciais.

FONTE: A autora

Considerando que para uma transformação química existir é preciso que


haja formação de uma nova substância, onde a composição inicial da matéria
se altere, vamos estabelecer alguns termos que nos ajudarão a observar se essas
transformações ocorrem ou não.

Inicialmente, para observarmos se uma transformação química ocorreu,


precisamos delimitar uma porção ou área do universo que será foco dos nossos
estudos e observações, que iremos chamar de sistema.

Para observarmos as transformações químicas que ocorrem em um


sistema, é preciso comparar o estado inicial com o estado final deste sistema,
ou seja, são analisadas as transformações que ocorrem com os reagentes (estado
inicial) e as características dos novos produtos obtidos (estado final).

E
IMPORTANT

Reagentes são as substâncias iniciais, as quais irão formar os produtos, que são
as novas substâncias.

Seguindo este raciocínio, podemos usar como exemplo de transformação


química a formação da ferrugem.

48
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

Transformação
REAGENTES PRODUTOS

Baseados nesta representação, podemos indicar os reagentes e os produtos


envolvidos na formação da ferrugem.
Transformação
FERRO + OXIGÊNIO ÓXIDO DE FERRO

Esta transformação é química, porque houve a formação de uma nova


substância (produto), com características químicas bem diferentes da substância
inicial (reagente), que caracterizam uma mudança dos estados iniciais e finais do
sistema observado, como podemos ver na figura a seguir.

FIGURA 30 - FORMAÇÃO DE FERRUGEM

FONTE: Disponível em: <http://www.curiosidadesdomundo.com/porque-


a-ferrugem-e-vermelha-porque-aparece-a-ferrugem/>. Acesso
em: 27 jun. 2017.

Existem algumas evidências que podem ser observadas que indicam se


uma transformação química ocorreu em um determinado sistema, como:

• Modificação da cor
• Alteração no odor
• Mudança de temperatura
• Densidade
• Liberação de gás
• Aparecimento de chama ou luminosidade.

As transformações químicas estão presentes de forma contínua no


nosso dia a dia, em praticamente tudo o que nos cerca. A luz fornecida por uma
lâmpada, queima de uma folha de papel, fotossíntese das plantas, nosso corpo
realiza centenas de transformações permanentemente, a chama do fogão a gás,
matérias que consumimos e usamos que foram obtidas através de transformações
químicas, como: creme dental, xampus, utensílios de plástico, panelas de inox,
ligas metálicas, tintas, outras infinidades de matérias.

49
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Veremos alguns exemplos de transformações químicas observando


e identificando os estados iniciais (reagentes), os estados finais (produtos) e
algumas evidências de que a transformação ocorreu.

FIGURA 31 - EXEMPLOS DE TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

• Queima da gasolina
PROCESSO

• Gasolina: líquido amarelado,


ESTADO com odor característico
INICIAL • Oxigênio: gás incolor

ESTADO • Gases incolores


FINAL

EVIDÊNCIAS • Produção de gás e luz

• Combustão do Magnésio
PROCESSO

• Magnésio: sólido prateado


ESTADO • Oxigênio: gás incolor
INICIAL • Chama

• Pó branco
ESTADO • Luz branca
FINAL

• Produção luz intensa


EVIDÊNCIAS • Surgimento de pó branco

50
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

• Interação do bicarbonado
de sódio e ácido acético
PROCESSO (vinagre)

• Bicarbonato sódio: pó branco


ESTADO • Ácido acético: líquido branco
INICIAL com odor característico

• Líquido incolor
ESTADO • Formação de gás inodoro
FINAL

• Produção de gás
EVIDÊNCIAS (efervescência)
• Desaparecimento do odor

FONTE: A autora

2.1 TIPO DE TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS


As transformações químicas podem ser provocadas por vários fatores,
como: calor, luz, eletricidade, ação mecânica e junção de substâncias. Vamos ver
cada um destes fatores separadamente e alguns exemplos.

• Transformações químicas por ação do calor: ocorrem quando uma substância


sofre alguma transformação quando é submetida a uma fonte de calor.
Exemplos:

o Cozimento de alimentos.
o Quando transformamos açúcar em caramelo.
o Fabricação de vidro (a areia que é composta por minerais e sílica) é aquecida
a 1500 °C, transforma-se em uma mistura líquida que é resfriada e moldada
formando materiais de vidro.
o Fabricação de cimento (o calcário e a argila) são aquecidos a 1450 °C, e
transformam-se em uma mistura sólida chamada clínquer, que é o principal
componente do cimento.

Na figura a seguir podemos observar de forma ilustrada os exemplos


citados acima.

51
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 32 - EXEMPLOS DE TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS POR AÇÃO DO CALOR

FONTE: A autora

Quando ocorre a decomposição de uma substância (reagente) por


aquecimento, e posterior formação de outras novas substâncias (produtos), esse
processo recebe o nome de termólise. Como exemplos de decomposição por
temperatura ou termólise, temos:

o Decomposição térmica do carbonato e cálcio: CaCO3 CaO + CO2

Ocorre a decomposição do carbonato de cálcio (CaCO3) por aquecimento


(800 °C), e a formação de óxido de cálcio (CaO) e gás carbônico (CO2).

o Decomposição térmica do carbonato de magnésio: MgCO3 MgO + CO2

Ocorre a decomposição do carbonato de magnésio (MgCO3) por


aquecimento (600 °C), e a formação de óxido de magnésio (MgO) e gás carbônico
(CO2) (ATKINS; JONES, 2001).

• Transformações químicas pela ação da luz: ocorrem quando as substâncias


sofrem alguma transformação ao serem submetidas a uma fonte de luz, seja
ela natural (Sol) ou artificial. Também chamada de fotólise. Exemplos:

o Fotossíntese: a água e o dióxido de carbono são transformados em oxigênio e


glicose pelas plantas.
o Formação da camada de ozônio: o oxigênio é transformado pela luz ultravioleta
em ozônio, que é a camada responsável por proteger nosso planeta dos raios
nocivos do Sol.
o O amadurecimento das frutas e amarelamento das folhas.
o A luz ultravioleta do Sol provoca na pele humana algumas transformações,
como: produção de vitamina D, produção de melanina (efeito bronzeado).
o Formação de imagens nas radiografias: as películas de radiografia são formadas
por uma camada de cloreto de prata, quando esta é atingida por luz (raio x)
transforma o cloreto de prata em prata (cor preta) e cloro. As zonas escuras da

52
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

radiografia correspondem às partes moles do corpo, que os raios x conseguem


atravessar. As regiões claras da radiografia correspondem às partes do nosso
corpo que os raio x não conseguem atravessar (ossos), desta forma, não ocorre
transformação, já que os raios x não atingiram a película de prata destes pontos.

Na figura a seguir podemos observar as imagens de alguns dos exemplos


citados.

FIGURA 33 - TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS PELA AÇÃO DA LUZ

FONTE: A autora

• Transformações químicas pela ação da eletricidade: ocorrem quando as


substâncias sofrem transformações por ação da eletricidade. Também chamadas
de eletrólise. Exemplos:

o Decomposição da água: através da eletrólise (uso de corrente elétrica) é possível


se separar o oxigênio e o hidrogênio da água.
o Decomposição do cloreto de cobre: através da eletrólise o cloreto de cobre
aquoso é transformado em cloro (gasoso) e cobre (sólido). O cobre (sólido
castanho avermelhado), durante o processo se deposita no eletrodo negativo
e o cloro é liberado do eletrodo positivo, onde pode ser observado seu odor
característico.
53
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

o Decomposição iodeto de zinco: através da eletrólise do iodeto de zinco aquoso


se obtém iodo (sólido) e zinco (sólido).

Na figura a seguir estão ilustrados alguns dos elementos citados


anteriormente como exemplos.

FIGURA 34 - TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS PELA AÇÃO DA ELETRICIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.triplex.com.pt/sala-de-estudo/a7%C2%BAano/a27/>.


Acesso em: 23 jun. 2017

• Transformações químicas por ação mecânica: ocorrem quando as substâncias


são submetidas a algum tipo de ação mecânica, que resulta na fricção ou
choque das partículas presentes nas substâncias. E a energia liberada através
dos choques das partículas é responsável por desencadear as transformações
químicas. Exemplos:

o Explosão da dinamite.
o Acender um isqueiro.
o Acender palito de fósforo.

Na figura a seguir podemos observar a ilustração de alguns exemplos


citados.

FIGURA 35 - TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS POR AÇÃO MECÂNICA

FONTE: A autora

54
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

• Transformações químicas – junção de substâncias: ocorrem quando duas ou


mais substâncias são misturadas, esse tipo de reação é espontâneo (ocorre
naturalmente), à temperatura ambiente. Exemplos:

o Mistura de uma solução aquosa de hidróxido de sódio e sulfato de cobre (II): o


sulfato de cobre II forma um precipitado azul e o hidróxido de sódio se dissolve
na mistura, como pode ser visto na figura a seguir.

FIGURA 36 - TRANSFORMAÇÃO QUÍMICA ESPONTÂNEA POR JUNÇÃO DE SUBSTÂNCIAS,


PRECIPITAÇÃO DE HIDRÓXIDO DE COBRE

Solução
Hidróxido de
Sódio

Precipitado
Hidróxido de
Cobre
Solução
Sulfato de Cobre

FONTE: A autora

o Mistura de uma solução aquosa de sulfato ferroso e hidróxido de sódio: o


sulfato ferroso forma um precipitado preto/acinzentado e o hidróxido de sódio
se dissolve na água, como pode ser visto na figura a seguir.

55
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 37 - TRANSFORMAÇÃO QUÍMICA ESPONTÂNEA POR JUNÇÃO DE


SUBSTÂNCIAS, PRECIPITAÇÃO DE HIDRÓXIDO DE FERRO
Solução
Hidróxido de
Sódio

Precipitado
Hidróxido de
Ferro
Solução
Sulfato Ferroso
FONTE: A autora

o Mistura de uma solução de nitrato de chumbo e iodeto de potássio: esta mistura


resulta em precipitado sólido, de iodeto de chumbo, de coloração amarela, e
nitrato de potássio aquoso, como pode ser visto na figura a seguir.

FIGURA 38 - TRANSFORMAÇÃO QUÍMICA ESPONTÂNEA POR JUNÇÃO DE


SUBSTÂNCIAS, PRECIPITAÇÃO DE IODETO DE CHUMBO

FONTE: A autora

56
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

3 LEIS PONDERAIS DAS REAÇÕES QUÍMICAS



No final do século XVIII, os cientistas Antoine Laurent Lavoisier, Joseph
Louis Proust e John Dalton, através de estudos experimentais, concluíram que as
transformações químicas obedecem a determinadas leis. Essas leis são chamadas
de leis ponderais e relacionam matematicamente as massas das substâncias,
reagentes e produtos participantes de uma reação química (PAULA, s.d.).

Entre as Leis Ponderais existem três que são consideradas as mais


importantes: Lei da Conservação da Massa (postulada por Lavoisier) e Lei das
Proporções Constantes (postulada por Proust). Vamos conhecer cada uma delas.

• LEI DA CONSERVAÇÃO DA MASSA: Antoine Laurent Lavoisier, através


de experimentos, utilizando técnicas de calcinação de metais e combustão
de materiais orgânicos, como madeira em sistema fechado, pesando
cuidadosamente as massas dos reagentes e depois dos produtos formados,
observou que durante as transformações químicas as quantidades de massa
dos reagentes envolvidos na reação eram as mesmas encontradas nos produtos
formados. Após essas observações foi possível para Lavoisier afirmar que,
em um sistema fechado, a massa total dos reagentes é igual à massa total dos
produtos.

Hoje essa lei é popularmente conhecida com o seguinte enunciado famoso


de Antoine Laurent Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se forma, tudo se
transforma” (ATKINS, 2001).

Um dos experimentos que foram decisivos para Lavoisier confirmar sua


teoria foi a combustão de mercúrio metálico em sistema fechado, produzindo
óxido de mercúrio II. Observou que a soma das massas dos reagentes era igual à
massa dos produtos.

Mercúrio Metálico + Oxigênio → Óxido de Mercúrio II


100,5g 8g 108,5g
Reagentes Produto

Outro exemplo da conservação das massas: 2 gramas de gás hidrogênio


reagem com 16 gramas de gás oxigênio, produzindo 18 gramas de água. A soma
das massas dos reagentes é igual à massa dos produtos.

Hidrogênio + Oxigênio → Água


2g 16g 18g
Reagentes Produto

57
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

• LEI DAS PROPORÇÕES CONSTANTES: Joseph Louis Proust, assim como


Lavoisier, através de experimentos, principalmente de decomposição,
utilizando a eletrólise, descobriu que as substâncias puras compostas possuem
uma composição fixa entre a massa de seus elementos. A partir disso postulou
a lei das proporções constantes, que diz: “Toda substância possui uma
proporção constante, em massa, na sua composição, e a proporção na qual
reagem e se formam é constante” (ATKINS, 2001).

Vamos usar como exemplo a água, e analisar os dados experimentais de


decomposição a partir de diferentes massas:

TABELA 3 - DADOS EXPERIMENTAIS DECOMPOSIÇÃO DA ÁGUA


Água → Hidrogênio + Oxigênio Proporção
9g 1g 8g 1:8
18 g 2g 16 g 1:8
36 g 4g 32 g 1:8
100 g 11,11 g 88,89 g 1:8
FONTE: Peruzzo (2006)

Observando a tabela acima, vemos que na decomposição da água por


eletrólise, independentemente da quantidade de massa de água que for usada, a
proporção entre os elementos que a constituem (oxigênio e hidrogênio) permanece
a mesma, uma parte de hidrogênio para oito partes de oxigênio. Para chegarmos
a essa proporção basta dividir a massa de hidrogênio pela massa do oxigênio e
teremos sempre a mesma fração. Essa lei é válida apenas para substâncias, as
misturas não se enquadram.

• LEI DAS PROPORÇÕES MÚLTIPLAS: John Dalton concentrou seu estudos e


experimentos às massas dos reagentes e produtos das transformações químicas.
Constatou, então, que quando uma massa fixa de uma substância X combina-se
com massas diferentes de uma substância Y, originando substâncias diferentes,
as massas de Y apresentam entre si uma relação expressa por números inteiros
e pequenos. Postulando, assim, a lei das proporções múltiplas: “Quando dois
elementos formam duas ou mais substâncias compostas diferentes, se a
massa de um deles permanecer fixa, a do outro irá variar em uma relação de
números inteiros e pequenos” (ATKINS, 2001).

Vamos usar um exemplo para entendermos melhor a lei das proporções.


Quando reagimos oxigênio e carbono, podemos obter dois produtos diferentes: o
monóxido de carbono e o dióxido de carbono, alterando apenas a massa de um
dos reagentes, como pode ser visto no esquema a seguir.

58
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

Considere: Massa molar: Carbono (12 g) Oxigênio (16 g)


Carbono + Oxigênio → Monóxido de carbono
12 g 16 g 28 g
Carbono + Oxigênio → Monóxido de carbono
12 g 32 g 44 g

Neste exemplo, podemos observar que em ambas reações as massas do


carbono não se alteram, e a massa do oxigênio variou em proporções de números
inteiros. Na primeira reação temos proporção 1:1 (1 átomo de carbono e 1 átomo
de oxigênio), na segunda reação a proporção é de 1:2 (1 átomo de carbono e 2
átomos de oxigênio).

Outro exemplo em que podemos evidenciar a Lei das Proporções Múltiplas


é na formação dos diversos tipos de óxidos, vamos ver alguns exemplos de óxidos
formados por nitrogênio.

QUADRO 5 - ÓXIDOS FORMADOS A PARTIR DO NITROGÊNIO

Nitrogênio Oxigênio Óxido Formado Proporção

28g 16g N2O 2:1

28g 32g N2O2 2:2

28g 48g N2O3 2:3

28g 64g N2O4 2:4


FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/quimica/leis-das-reacoes-
quimicas-leis-ponderais/>. Acesso em: 7 jul. 2017.

Podemos observar que no exemplo do quadro, quando se mantém


constante a massa de um dos reagentes, a massa dos outros reagentes e produtos
se alteram em proporções de números inteiros.

59
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

ATENCAO

Veremos um exemplo na forma de exercício de como podemos aplicar as Leis


Ponderais:

Considerando que para a formação da água o gás hidrogênio reage como o gás oxigênio,
determine os valores das massas X, Y e Z do quadro a seguir, respectivamente.

Sistema Massa Água Massa Hidrogênio Massa Oxigênio


I X 5g 40 g
II Y 3g Z

a) ( ) 36 g; 44 g e 51,8 g
b) ( ) 33,6 g; 2,4 e 52 g
c) ( ) 43 g, 44 g e 51 g
d) ( ) 45 g, 27 g e 24 g

Para resolvermos a questão vamos seguir os passos:


1° passo: Para encontrarmos o valor de X, vamos usar a Lei da Conservação da Massa de
Lavoisier, que diz: soma das massas dos reagentes = soma das massas dos produtos

Como no sistema I, temos os valores das massas dos reagentes, basta somarmos para
encontrarmos o valor da massa da água, que neste caso é o produto.
5 + 40 = X, logo X= 45 g

2° Passo: Para encontrarmos o valor da massa de Z, vamos utilizar a Lei das Proporções
Constantes de Proust, que diz: Toda substância possui uma proporção constante, em
massa, na sua composição.

Então, como temos a mesma reação nos sistemas I e II, mudando apenas as quantidades de
massa, podemos usar os dados do sistema I para calcularmos a massa de Z através da regra
da proporcionalidade.

Vamos utilizar as massas de oxigênio e hidrogênio do sistema I.

3° Passo: Para encontrarmos o valor da massa de Y, podemos usar novamente a lei da


conservação das massas.

soma das massas dos reagentes = soma das massas dos produtos
3 + 24 = Y, logo Y= 27 g

60
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, para que possamos fixar ainda mais os conteúdos estudados
até agora, colocaremos a teoria em prática. Segue uma sugestão de experimento. Boa prática!

EXPERIMENTO: Teor de álcool em gasolina

A adulteração de combustíveis é algo que tem crescido nos últimos tempos e preocupado
autoridades, por isso, a Agência Nacional de Petróleo intensificou a fiscalização em postos
de todo o país. O principal combustível adulterado e também foco do trabalho é a gasolina,
a adulteração da gasolina consiste na adição de solventes como tolueno ou adição de álcool
anidro em uma proporção maior que a permitida.
Segundo a portaria MAPA nº 554, de 27 de 05 de 2003,
ficou estabelecido que o percentual de álcool anidro
na gasolina deveria estar entre 20% e 25%, o uso de
combustível adulterado acarreta em consequências
graves para o veículo, além de aumentar o consumo
de uma gasolina com excesso de álcool, desregula
o motor do carro, provoca desgastes de peças
metálicas. A adição de solventes como tolueno leva
à deterioração de mangueiras, cujo resíduo pode
entupir o diafragma da bomba de combustível,
levando à perda de eficiência do veículo. Além dos
prejuízos ao veículo, a adulteração de combustíveis
também contribui para um aumento dos poluentes,
pois desregula a combustão no motor.

No Brasil, antes da comercialização, adiciona-se


álcool anidro à gasolina. A mistura resultante é
homogênea (monofásica). A mistura água-álcool
também é um sistema homogêneo (monofásico),
com propriedades diferentes daquelas das substâncias que a compõem (densidade, ponto de
fusão, ponto de ebulição etc.). Já a mistura água-gasolina é um sistema heterogêneo, bifásico.
Quando a gasolina (que contém álcool) é misturada à água, o álcool é extraído pela água e o
sistema resultante continua sendo bifásico: gasolina-água/álcool.

Objetivo:
Determinar o teor de álcool presente em amostra de gasolina de diferentes postos de
combustíveis e proceder os cálculos deste percentual, analisando se estes estão de acordo
com a legislação.

Materiais e reagentes:
- Proveta 100 ml com tampa
- Água
- Becker 50 ml
- Solução de cloreto de sódio 10% (10 g de cloreto de sódio em 100 mL)
- Amostra de 50 ml de gasolina comum
- Balança analítica ou semianalítica
- Bastão de vidro
- Espátula

61
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Procedimento experimental:

1- Preparar a solução de cloreto de sódio 10%. Pesar 10 g de cloreto de sódio, colocar o sólido
em uma proveta de 100 mL, adicionar 50 mL de água e com bastão dissolver o sólido até que
se forme uma mistura homogênea, em seguida completar a solução com água até 100 mL.
2- Colocar 50 mL da amostra de gasolina na proveta.
3- Completar os 100 mL da proveta com a solução de cloreto de sódio.
4- Fechar a proveta e agitar a mistura por alguns segundos para que os líquidos se misturem.
5- Deixar em repouso por uns 10 min para que os constituintes da mistura se separem.
6- Observar o que ocorreu. Se houve aumento de uma das frações e realizar os cálculos
a partir das diferenças de volume observadas nas
frações de gasolina e água.

Resultados e discussão:
Neste experimento será possível observar que a
água irá retirar o álcool que estava misturado na
gasolina. Isso acontece porque o etanol possui
uma parte polar e outra apolar, sua parte polar
é atraída pelas moléculas de água, que também
são polares, realizando ligações de hidrogênio,
que são bem mais fortes que as ligações do tipo
dipolo induzido, que ocorrem entre a parte apolar
do álcool e da gasolina.

Como a água é mais densa, ela ficará na parte


inferior e a gasolina na parte superior.

Desta forma é possível se observar um aumento da fração de água + álcool. E a partir do


volume dessa diferença podemos calcular o percentual de álcool presente na gasolina.

Para realizar os cálculos, considere o volume inicial de 50 mL e o volume final após a adição
do cloreto de sódio (sal+água). Anote os volumes e subtraia o volume inicial do sinal.

Vamos considerar, hipoteticamente, que o volume gasolina na proveta, que era de 50 mL, se
reduziu a 40 mL e o volume da solução aquosa passou de 50 mL para 60 mL. Isto significa
que 10 mL de álcool que estavam presentes na gasolina passaram para a parte aquosa, isto
é, nesta amostra temos 10 mL de álcool presente. A partir desse raciocínio será possível
calcularmos qual o percentual que este valor de 10 mL representa em uma amostra de 50 mL
de gasolina usando a equação 2.

Equação 2 - Percentual de álcool na gasolina

volume do álcool na gasolina


% álcool = x100
volume inicial de gasolina
A solução de NaCl foi usada para aumentar a solubilidade do álcool em água, pois sendo
este sal um composto iônico, a sua solução é mais polar do que a água pura (contém íons),
desta maneira consegue-se extrair com mais eficiência o álcool da camada orgânica, gasolina
(apolar).

Conclusão:
Após realizar os cálculos, observe se os percentuais de álcool presentes nas amostras de
gasolina estão de acordo com a legislação. Esse percentual, segundo a portaria MAPA nº 554,
de 27 de 05 de 2003, deve estar entre 20% e 25%.

FONTE: Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2014/trabalhos/3/5199-17417.html>.


Acesso em: 8 ago. 2017.
62
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

A Alquimia, a Descoberta do Fósforo, Boyle e a Invenção do Palito de Fósforo

José Maria Filardo Bassalo

A grande angústia do homem é o medo da morte. Portanto, creio que seu


maior desejo é o de encontrar um meio de conquistar a vida eterna. A busca para
realizar esse desejo era o objetivo da Alquimia, uma protociência, antecessora da
Química, e cujos primeiros trabalhos foram realizados pelos alquimistas chineses,
há mais de dois milênios. Assim, incentivados pelos imperadores chineses que
temiam o envelhecimento e, consequentemente, a morte, esses alquimistas
buscavam encontrar a vida eterna por intermédio de um tipo de elixir, composto
de ouro líquido e que deveria ser bebido e, desse modo, conseguir a eternidade.
Porém, como esse metal era muito precioso, era, portanto, necessário encontrar
uma forma de transformar qualquer metal nesse metal “divino”. Surgiu, então, a
procura da pedra filosofal (PF) que seria capaz de eliminar a impureza dos metais
ordinários e transformá-los em ouro líquido, o mais puro elemento da Natureza,
pois não sofria corrosão. Além disso, “limparia as impurezas de uma pessoa,
protegendo-a de doenças e conferindo-lhe imortalidade e pureza espiritual”.
Como o ouro líquido deveria ser bebido pelo candidato à imortalidade e à pureza
da alma, ele também era conhecido como o elixir da longa vida (ELV).

A busca da Pedra Filosofal continuou por muitos e muitos séculos, até


que, no século 17 de nossa Era Cristã, ela produziu uma grande descoberta,
porém não tão milagrosa quanto o esperado, quando o mercador e alquimista
alemão Hennig Brand fez a primeira tentativa de encontrar a Pedra Filosofal e
o Elixir da Vida usando a urina humana, talvez por apresentar uma coloração
dourada, de fácil obtenção e, também, por já serem conhecidas algumas de suas
propriedades, como, por exemplo, ela era boa fonte de salitre, necessário para
remover gorduras, informação essa já conhecida desde os antigos romanos, que
a usavam para lavar roupas. Desse modo, em 1669, Brand colheu vários barris
de urina de soldados alemães (cerca de cinco mil litros) e deixou fermentar para
poder obter a PF/ELV. Depois de realizar uma série de destilações dessa urina
coletada, Brand ficou decepcionado, pois apenas conseguiu um grude branco e
mole, que não se parecia nada com o ouro. Esse grude, no entanto, como brilhava
no escuro, recebeu de Brand o nome de fósforo (P), que vem da palavra grega
“phosphorus”, que significa fonte de luz.

63
UNIDADE 1 | A MATÉRIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES

FIGURA 39 - ALQUIMISTA À PROCURA DA PEDRA FILOSOFAL. JOSEPH


WRIGHT: A DESCOBERTA DO FÓSFORO POR HENNING BRAND

FONTE: Disponível em: <http://engenharia-quimica.blogspot.com.


br/2015/06/sobre-descoberta-do-fosforo.html>. Acesso em: 9 jul.
2017.

Antes mesmo do trabalho de Brand, as propriedades do P, porém de


maneira empírica, já eram conhecidas. Por exemplo, por volta do século IX, os
alquimistas chineses inventaram a pólvora, que é uma mistura de enxofre (S),
carvão vegetal e salitre (nitrato de potássio – KNO3), este obtido da urina humana.
Mais tarde, no século XIII, sabia-se que a melhor pólvora, isto é, a que produzia as
maiores explosões, era obtida a partir da “urina de um bispo”. Por sua vez, depois
da descoberta de Brand (que a manteve em segredo por algum tempo, pois o P
isolado era muito mais caro que o Au), o uso do P foi generalizado, tornando-se
um medicamento “milagroso”, pois curava tudo, desde a impotência até a loucura.
Porém, como o P em contato com o ar formava o pentóxido de fósforo (P4O10), que
é venenoso, rapidamente acabou seu papel “milagroso”, passando a ser conhecido
como “elemento demoníaco”.

Por sua vez, o físico inglês Robert Boyle (1627-1691), conhecendo que o
P era obtido de “algo que pertencesse ao corpo humano”, percebeu tratar-se de
urina humana e, com essa informação, consegui produzir esse novo elemento
químico. Porém, em vez de usá-lo como veneno, aproveitou sua capacidade de
produzir fogo. Assim, em 1680, ele e seu assistente Godfrey Haukewitz inventaram
a primeira versão do palito de fósforo, usando pedaços de madeira mergulhados

64
TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E AS LEIS PONDERAIS

em enxofre (S) que, com auxílio de P e fricção, produziam uma chama. Porém,
por serem malcheirosos e, algumas vezes, formarem o venenoso P4O10, eles foram
abandonados e, portanto, não comercializados. É oportuno destacar que, em 1769,
o farmacêutico e químico sueco Karl Wilhelm Scheele (1742-1786) descobriu um
processo semelhante ao da pasteurização e que permitiu a produção de P em larga
escala. Destaque-se, também, que o nosso conhecido palito de fósforo de fricção
só foi inventado em 1827, pelo químico inglês John Walker (1781-1859), de modo
acidental. Com efeito, na farmácia de sua propriedade, em Stockton-on-Tees, ele
fabricava uma mistura química explosiva para usar em cápsulas de percussão.
Certo dia, naquele ano de 1827, ele percebeu que a mistura que usava feita em
quantidades iguais de sulfeto de antimônio (Sb2S3) e clorato de potássio (KCO3)
entrava em ignição quando era friccionada em uma superfície áspera. Note-se
que, para dar maior segurança ao fósforo de fricção, em 1844, o químico sueco
Gustaf Erik Pasch (1788-1862) inventou o fósforo de segurança, fazendo com que
a fricção ocorresse em uma superfície irregular especialmente preparada com
fósforo vermelho e vidro em pó.

FONTE: Disponível em: <http://www.seara.ufc.br/folclore/folclore380.htm>. Acesso em: 9 jul. 2017.

65
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As transformações da matéria podem ser divididas em: transformações físicas


e transformações químicas.

• Transformações físicas: ocorrem mudanças no estado de agregação ou estado


físico.

• Transformações químicas: ocorrem mudanças na composição do material,


formando uma nova substância ou material, com características bem diferentes
das iniciais.

• Sistema: uma porção ou área do universo que será foco dos nossos estudos e
observações.

• Estado inicial de um sistema, considera os reagentes.

• Estado final de um sistema, considera os produtos.

• Reagentes são as substâncias iniciais, as quais irão formar os produtos, que são
as novas substâncias.

• Podemos observar as transformações químicas através de algumas evidências:

O Modificação da cor
O Alteração no odor
O Mudança de temperatura
O Densidade
O Liberação de gás
O Aparecimento de chama ou luminosidade.

• As transformações químicas podem ser provocadas por diversos fatores:

O Transformações químicas por ação do calor


O Transformações químicas pela ação da luz
O Transformações químicas pela ação da eletricidade
O Transformações químicas por ação mecânica
O Transformações químicas pela junção de substâncias.

• As Leis Ponderais da química relacionam matematicamente as massas das


substâncias, reagentes e produtos participantes de uma reação química.

66
• São três as principais Leis Ponderais postuladas:

O LEI DA CONSERVAÇÃO DA MASSA: em um sistema fechado a massa total


dos reagentes é igual à massa total dos produtos. “Na natureza nada se cria,
nada se forma, tudo se transforma”. (Antoine Laurent Lavoisier)
O LEI DAS PROPORÇÕES CONSTANTES: “Toda substância possui uma
proporção constante, em massa, na sua composição, e a proporção na qual
reagem e se formam é constante”. (Joseph Louis Proust)
O LEI DAS PROPORÇÕES MÚLTIPLAS: “Quando dois elementos formam
duas ou mais substâncias compostas diferentes, se a massa de um deles
permanecer fixa, a do outro irá variar em uma relação de números inteiros e
pequenos”. (John Dalton)

67
AUTOATIVIDADE

1 Com relação ao número de fases, os sistemas podem ser classificados como


homogêneos ou heterogêneos. Qual das alternativas abaixo não correlaciona
de forma correta o sistema e sua classificação.

a) ( ) Água de coco/heterogêneo.
b) ( ) Laranjada/heterogêneo.
c) ( ) Leite/homogêneo.
d) ( ) Poeira no ar/heterogêneo.

2 É característica de substância pura:

a) ( ) Ser solúvel em água.


b) ( ) Ter constantes físicas definidas.
c) ( ) Ter ponto de fusão e ponto de ebulição variáveis.
e) ( ) Ser sólida à temperatura ambiente.

3 Devido às impurezas que o petróleo bruto contém, ele é submetido a dois


processos mecânicos de purificação, antes do refino: separá-lo da água
salgada e separá-lo de impurezas sólidas, como areia e argila. Esses
processos mecânicos de purificação são, respectivamente:

a) ( ) Decantação e filtração.
b) ( ) Decantação e destilação fracionada.
c) ( ) Filtração e destilação fracionada.
d) ( ) Destilação fracionada e decantação.

4 Considerando as leis ponderais e que para a formação da água o gás


hidrogênio reage como o gás oxigênio, determine os valores das massas X, Y
e Z do quadro abaixo, respectivamente.

Sistema Massa Massa Massa Água


Hidrogênio Oxigênio
I 20 g 160 g X
II 9g Z Y

a) ( ) 136 g; 84 g e 112,8 g
b) ( ) 83,6 g; 34,4 e 52 g
c) ( ) 112 g, 44 g e 91 g
d) ( ) 180 g, 81 g e 72 g

68
UNIDADE 2

PROPRIEDADES LIGADAS ÀS
TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• identificar os diversos tipos de reações químicas;

• aprender de que forma uma equação química deve ser corretamente re-
presentada;

• conhecer as propriedades da matéria e das substâncias;

• relacionar as diferentes propriedades estudadas com os diversos tipos de


matéria;

• conhecer as propriedades coligativas da matéria;

• relacionar as propriedades coligativas estudadas com diversas situações


do dia a dia.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – REAÇÕES QUÍMICAS

TÓPICO 2 – PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1

REAÇÕES QUÍMICAS

1 INTRODUÇÃO
Reação química é o fenômeno pelo qual uma ou mais substâncias são
transformadas em outra, neste processo os átomos permanecem intactos. As
substâncias que sofrem transformações são chamadas de reagentes e as novas
substâncias produzidas são denominadas produtos (KOTZ, 2005).

Neste tópico, veremos os tipos de reações químicas, como estas reações são
representadas através das equações químicas e suas particularidades. Também
veremos um tipo de reação química bem específica, as reações de oxirredução.

2 TIPOS DE REAÇÕES QUÍMICAS


As reações químicas podem ocorrer de forma reversível ou irreversível,
como veremos a seguir.

FIGURA 40 - DIFERENÇA ENTRE REAÇÕES REVERSÍVEIS E IRREVERSÍVEIS

Reações Reações
Reversíveis Irreversíveis
São aquelas reações São aquelas reações que
em que os reagentes se ocorrem por completo, ou seja,
convertem em produtos até que pelo menos um dos
e estes podem retornar à reagentes seja completamente
forma inicial. consumido.

Exemplo: duas substâncias A Exemplo: a combustão de uma


e B reagem e formam novas folha de papel.
substâncias C e D.
Ao final da reação só restam
Nas reações reversíveis as novas as cinzas. O papel não volta ao
substâncias C e D podem se estado inicial.
transformar novamente nas
substâncias A e B.
A + B ↔ C+D

FONTE: Adaptado de Feltre (2004)

71
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

As reações químicas podem ser classificadas em quatro tipos ou categorias,


de acordo com Peruzzo (2006) e Sardella (2005):

a. Reação de síntese ou adição.


b. Reação de análise ou decomposição.
c. Reação de deslocamento, simples troca ou substituição.
d. Reação de dupla troca, duplo deslocamento ou dupla substituição.

a) Reação de síntese ou adição: ocorre quando duas ou mais substâncias simples


(reagentes) reagem entre si, produzindo uma única substância composta
(produto).

Fe + S → FeS

CaO + H 2 O → Ca (OH)2

As reações de síntese ou adição ainda se subdividem em:

• síntese total, quando os reagentes são substâncias simples;


• síntese parcial, quando pelo menos um dos reagentes é uma substância
composta.

4Li + O 2 → 2Li 2 O Total


2 H 2 + O 2 → 2H 2 O Total
NH 3 + H 2 O → NH 4 OH Parcial
H 2 O + CO 2 → H 2 CO 3 Parcial
SO 2 + H 2 O → H 2 SO 3 Parcial

b) Reação de análise ou decomposição: ocorre quando uma única substância


(reagente) origina duas ou mais substâncias como produto. Esse tipo de reação
permite a separação e isolamento dos constituintes de muitas substâncias e
materiais.

2 NH 3 → N 2 + 3 H 2

2 H2O → 2 H2 + O2

CaCO 3 → CaO + CO 2

72
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

Quando nas reações de análise ou decomposição forem produzidas


apenas substâncias simples ela será total e, se pelo menos um dos produtos for
uma substância composta, ela será parcial.

2HgO → 2 Hg + O 2 Total
2NaCl → 2 Na + Cl 2 Total
2KNO 3 → 2KNO 2 + O 2 Parcial
(NH 4 )2 CrO7 → N 2 + Cr2 O 3 + 4 H 2 O Parcial
Dicromato de amônio

As reações de decomposição podem receber nomes particulares de acordo


com o agente indutor da reação.

• Pirólise ------------- decomposição pelo calor

Ex.: o aquecimento do carbonato de cálcio (CaCO3) provoca sua


decomposição e formação de óxido de cálcio (CaO) e gás dióxido de carbono CO2.


CaCO 3(s) → CaO(s) + CO 2(g)

• Fotólise ------------ decomposição pela luz

Ex.: sob ação da luz, o peróxido de hidrogênio (H2O2) é decomposto em


água (H2O) e oxigênio (O2).

λ
2H 2 O 2(I) → 2H 2 O(I) + O 2(g)

• Eletrólise ---------- decomposição pela corrente elétrica

Ex.: com a passagem de uma corrente elétrica, o cloreto de sódio (NaCl) é


decomposto em sódio (Na) e gás cloro (Cl2).

2NaCl(s) → 2Na(s) + Cl 2(g)

73
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

c) Reação de deslocamento, simples troca ou substituição: uma reação de


deslocamento, simples troca ou substituição ocorre quando uma substância
simples (formada por único elemento químico) reage com uma substância
composta (formada por mais de um tipo de elemento) para originar outras
novas substâncias: uma simples e outra composta.

Neste tipo de reação um elemento é substituído por outro elemento


em um composto. Os materiais iniciais são sempre elementos puros, tais como
zinco metálico puro ou gás hidrogênio, mais uma substância composta aquosa.
Quando uma reação de substituição ocorre, são formados como produtos uma
nova substância composta aquosa e um elemento puro diferente do inicial. Vamos
analisar o exemplo a seguir:

AB(aq) + C → A + CB(aq)

Substâncias Simples
(formadas por um único
elemento químico)

Podemos ver que A (elemento da substância composta AB) é substituído


por C (elemento da substância simples) na substância composta inicial AB para
gerar um novo composto CB e uma substância simples A.

Também pode-se observar que A inicia como um íon em solução, mas


aparece em sua forma elementar (substância simples) ao lado dos produtos. O
reagente C faz ao contrário: ele começa na forma elementar no lado dos reagentes,
mas termina como um íon em solução aquosa como parte do composto CB.

ATENCAO

Caro acadêmico, lembre-se de que os íons são espécies químicas carregadas


eletricamente. Íons carregados com carga positiva são chamados de cátions e íons carregados
com carga negativa são chamados de ânions.

Para sabermos se uma reação de deslocamento ou simples troca irá


acontecer, e qual elemento será capaz de deslocar outro para assumir seu lugar,
precisamos conhecer a série de reatividade dos elementos químicos, pois esta
representa sua força e capacidade de deslocar e atrair diferentes elementos. Nas
figuras a seguir podemos observar a série de reatividade dos metais e a série de
reatividade dos não metais.

74
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 41 - SÉRIE DE REATIVIDADE DOS METAIS

REATIVIDADE DOS METAIS

A
U
A
M
U
E
M
N
E Metais
T Não
N
A Nobres
T
A
R
E
N
A
O
T
B
I
R
V
E
I
Z
D
A
A Metais
D Nobres

FONTE: Adaptado de <http://manualdaquimica.uol.com.br/fisico-quimica/reatividade-


dos-metais.htm>. Acesso em: 20 jul. 2017.

FIGURA 42 - SÉRIE REATIVIDADE DOS NÃO METAIS

Reatividade Crescente

FONTE: A autora

75
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

A partir dos dados de reatividade, vamos analisar os exemplos deixados


por Peruzzo (2006); Mortimer; Machado (2013); Sardella (2005); Feltre (2004):

• Reação entre sódio elementar (Na) e água (substância composta): neste sistema
ocorre a reação química entre os reagentes, onde o Na, por ser mais reativo que
o H, desloca este do composto H2O e assume seu lugar, liberando o H como
uma substância simples, neste caso como gás hidrogênio (H2) e formando uma
solução de hidróxido de sódio (NaOH).

2Na + 2H 2 O → 2NaOH + H 2

• Reação entre ouro elementar (Au) e ácido clorídrico (HCl – substância


composta): neste sistema a reação química entre os reagentes não ocorre, pelo
fato de que o ouro não consegue deslocar o hidrogênio, por ser menos reativo
que o hidrogênio, como podemos verificar na série radioativa, onde o ouro se
encontra com o metal menos reativo dentre todos.

Au + HCl → não reage

UNI

Você sabia que o ouro é um dos metais menos reativos que existe, pois não
reage com ácidos isolados? Ele reage somente com uma mistura formada por três partes
(volumes) de HCl e uma parte de HNO3, conhecida como água régia (USBERCO; SALVADOR,
2002).

A reação pode ser representada pela equação:


Au(s) + 3 HNO3(aq) + 4 HCl(aq) → HAuCl4(aq) + 3 H2O(l) + 3 NO2(g)

d) Reação de dupla troca, dupla substituição ou duplo deslocamento: esse tipo


de reação ocorre quando duas substâncias compostas (reagentes) reagem entre
si, resultando na troca de espécies químicas que irão formar outras duas novas
substâncias compostas (produtos). No exemplo a seguir temos a representação
geral de uma reação de dupla troca.

76
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

Na representação geral, podemos facilmente observar as trocas que


ocorreram entre as substâncias compostas dos reagentes e as substâncias
compostas dos produtos. Observamos que foram formadas novas substâncias a
partir dessas trocas, em que o reagente AB se transforma em AD e o reagente CD
se transforma em CB.

Como isso ocorre? Bem, inicialmente vamos estabelecer algumas regras.


Primeiro, os reagentes AB e CD não podem ser ambos sólidos, é preciso que haja
uma combinação sólido/líquido ou líquido/líquido. Considerando essa regra,
podemos imaginar que os reagentes AB + CD estão em solução, isso quer dizer
que estão com seus átomos ionizados ou dissociados, A+ B- + C+ D-, com isso
podemos dizer que temos uma mistura de todos esses íons. De acordo com a
afinidade eletrônica desses íons (cátions e ânios), estes irão se juntar para formar
uma nova substância. Para que a formação das novas substâncias se mantenha
de forma definitiva, ao menos um dos produtos formados precisa ser: insolúvel
no meio, mais volátil que os reagentes ou mais fraco (menos ionizável) que os
reagentes. Caso nenhuma dessas condições seja satisfeita, os produtos formados
permanecerão como íons soltos nessa nossa “sopa” ou mistura e poderão
novamente formar as substâncias iniciais, os reagentes (PERUZZO, 2006;
MORTIMER; MACHADO, 2013; SARDELLA, 2005; FELTRE, 2004).

Vejamos separadamente, e com exemplos, cada uma das condições


necessárias para que as reações de dupla troca possam ocorrer.

• Um dos produtos formados deve ser menos solúvel (insolúvel) que os


reagentes: este exemplo é mais fácil de ser observado, pois ocorre a formação
de um precipitado que se deposita no fundo do recipiente.

FIGURA 43 - PRECIPITADO IODETO DE CHUMBO

FONTE: Disponível em: <http://bloguedaritaa.blogspot.com.


br/2013/12/reaccao-de-precipitacao-reaccao-de.
html>. Acesso em: 20 jul. 2017.

Exemplo 1: quando misturamos duas soluções aquosas de nitrato de


chumbo (Pb(NO3)2) e iodeto de sódio (NaI(aq)), ocorre a formação do precipitado
de iodeto de chumbo (PbI2(s)), como pode ser visto na figura acima.
77
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Pb(NO3)2(aq) + NaI(aq) → PbI2(s) + 2 NaNO3(aq)

Exemplo 2: a reação entre o ácido sulfúrico (H2SO4 (aq)) e hidróxido de bário


(Ba(OH)2 (aq)) produz água e um precipitado de sulfato de bário (BaSO4(s)).

H2SO4 (aq) + Ba(OH)2 (aq) → 2 H2O(l) + BaSO4(s)

• Um dos produtos deve ser mais volátil que os reagentes: uma substância
volátil é aquela que passa com facilidade do estado líquido para o gasoso
(vaporização) em condições ambientes. Este exemplo pode ser evidenciado
quando se observa o desprendimento de bolhas de gás durante a reação. Uma
das reações mais comuns em que um dos produtos formados é volátil ocorre
quando se adiciona um ácido a um sal, como pode ser observado na figura a
seguir.

FIGURA 44 - REAÇÃO DE BICARBONATO DE CÁLCIO + ÁCIDO

FONTE: Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/


estrategias-ensino/experimento-com-bicarbonato-calcio.htm>.
Acesso em: 20 jul. 2017.

Exemplo: reação entre o bicarbonato de sódio e o ácido clorídrico. Observe


que o ácido carbônico que é formado é tão volátil e instável que a reação segue e
este se decompõe originando o gás carbônico.

NaHCO3(s) + HCl(aq) → NaCl(s) + H2CO3(aq) → NaCl(aq) + CO2(g) + H2O(aq)

NOTA

A reação entre o bicarbonato de sódio e ácido clorídrico é a mesma reação


que ocorre no nosso organismo quando ingerimos um antiácido, já que os sais antiácidos
são formados por bicarbonatos de sódio e no nosso estômago temos a produção de ácido
clorídrico.

78
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

• Um dos produtos deve ser mais fraco que os reagentes: neste tipo de reação,
ser mais fraco significa ser menos ionizável, ou seja, um dos produtos formados
precisa ser menos ionizável que os reagentes para que o composto formado
possa se manter estável. A identificação deste tipo de reação se dá analisando
o grau de ionização das substâncias presentes.

Esse tipo de reação é característico das reações de neutralização, que


ocorrem entre um ácido e uma base.

Exemplo: a reação de neutralização entre hidróxido de sódio (NaOH),


base, ácido clorídrico (HCl) e ácido irá formar H2O, que é uma substância mais
fraca (menos ionizada) que os reagentes (HCl e NaOH).

HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l)

2.1 EQUAÇÃO QUÍMICA


Equação química é a forma pela qual uma reação química é representada
qualitativamente e quantitativamente. Nas equações químicas as fórmulas
moleculares ou unitárias das substâncias que sofreram transformações (reagentes)
ficam à esquerda da seta (representa transformação) e as substâncias produzidas
(produtos) ficam à direita, como podemos ver no exemplo geral a seguir
(PERUZZO, 2006; SARDELLA, 2005; FELTRE, 2004; USBERCO; SALVADOR,
2002).

A+B → C+D
Reagentes → Produtos

Nas equações químicas devem estar representadas as fórmulas


moleculares ou unitárias dos produtos e reagentes, os estados físicos dos
reagentes e produtos, além das condições (temperatura, pressão, solventes
etc.) nas quais a reação se processa, essas informações representam os aspectos
qualitativos das reações químicas.

A equação química deve ter a massa e as cargas devidamente balanceadas,


e pode ser escrita nas formas molecular, iônica, informações que representam os
aspectos quantitativos de uma reação química.

Vejamos separadamente cada um dos aspectos citados:

• As equações químicas devem apresentar as fórmulas moleculares ou unitárias


dos reagentes e produtos.

Exemplo:
2H2 + O2 → 2H2O
Reagentes → Produto

79
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

• Devem estar representados os estados físicos de todos os reagentes e produtos


da reação química. Existem símbolos que são usados para identificar o estado
físico das substâncias presentes na reação:

o gás = (g);
o vapor (v);
o líquido (l);
o moléculas ou íons em solução aquosa, dissolvidos ou dissociados (aq);
o sólido (s)
o cristal (c);
o precipitado (ppt).

Exemplo:
2H2(g) + O2(g) → 2H2O(l)
Reagentes → Produto
• Condições em que a reação ocorre: para indicar essas condições são utilizados
alguns símbolos específicos que aparecem acima da reta que representa a
ocorrência de uma reação química.

o Reação ocorre na presença de calor: se utiliza o símbolo (∆) para indicar


que a reação ocorreu por calcinação ou pirólise (reação de decomposição
térmica).

Exemplo: Podemos observar que o símbolo utilizado no exemplo abaixo


(∆) representa uma reação que ocorreu via decomposição ou pirólise. Nesta
reação, o aquecimento decompôs o reagente clorato de potássio (KClO3) em duas
outras substâncias (KCl – cloreto de potássio e O2 – gás oxigênio).

A seta na diagonal, voltada para o lado direito da substância gasosa (O2),


é o símbolo utilizado para representar formação de gás.

2 KCIO 3 (s) → 2KCl (s) + 3 O 2 (g)

o Reação ocorre na presença de luz: se utiliza o símbolo (λ) para indicar que a
reação ocorreu por ação da luz ou por fotólise.

Exemplo: a decomposição do peróxido de hidrogênio ou água oxigenada


(H2O2) na presença da luz formou como produto água (H2O) e gás oxigênio (O2).

λ 2H O + O
2H 2 O 2(aq) → 2 (I) 2(g)

80
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

Outros símbolos utilizados na representação de uma equação química:

• Precipitado: o símbolo usado para indicar que um dos produtos formados na


reação química é um precipitado que se apresenta na forma de um sólido é
uma seta indicando para baixo na frente do produto formado.

Exemplo: A reação entre as soluções de nitrato de prata (AgNO3) e cloreto


de potássio (KCl) resulta em dois produtos: o cloreto de prata sólido na forma de
um precipitado (↓AgCl(s)) e o nitrato de potássio aquoso (KNO3), como pode ser
visto na figura a seguir.

AgNO3(aq) + KCl(aq) → ↓AgCl(s) + KNO3(aq)

FIGURA 45 - REAÇÃO QUÍMICA COM FORMAÇÃO DE


PRECIPITADO

FONTE: Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.


br/estrategias-ensino/reacoes-entre-ions-solucoes.
htm>. Acesso em: 20 jul. 2017.

• Reações reversíveis: o símbolo utilizado para indicar que uma reação é reversível,
que a reação pode ocorrer tanto no sentido de formação dos produtos, como no
sentido de formação dos reagentes, é uma dupla seta (↔).

Exemplo: quando em sistema fechado ocorre a reação entre gás hidrogênio


(H2) e gás iodo (I2) resulta na formação do gás iodeto de hidrogênio (HI). Essa
reação em sistema fechado ocorre tanto no sentido de formação do produto iodeto
de hidrogênio quanto no sentido de formação novamente dos reagentes iniciais:
gás hidrogênio e gás iodo, como pode ser visto na figura a seguir.

Essas reações se mantêm até que ambas partes, reagentes e produtos, se


encontrem em equilíbrio.

81
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

I 2(g) + H 2(g) HI(g)

FIGURA 46 - REPRESENTAÇÃO MOLECULAR DE UMA REAÇÃO


REVERSÍVEL ENTRE H2+I2 ↔ HI, EM UM SISTEMA FECHADO

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/quimica/


equilibrio-molecular.htm>. Acesso em: 20 jul. 2017.

2.2 BALANCEAMENTO DAS EQUAÇÕES QUÍMICAS


Caro acadêmico, vimos que as equações químicas são a forma pela qual
as reações químicas são representadas qualitativamente (fórmula, estado físico,
temperatura e outros), como vimos na seção anterior, e quantitativamente, que
veremos a partir de agora.

A representação quantitativa está relacionada às cargas, massas e


quantidades de cada átomo presente nas substâncias que formam os reagentes
e os produtos, que devem estar adequadamente balanceados seguindo as leis
ponderais que estudamos na Unidade 1.

Qual a importância de se balancear uma equação química adequadamente?


Sabemos que as reações químicas são rearranjos de átomos; e os reagentes se
transformam em produtos, e as substâncias mudam, mas os átomos dos elementos
químicos que estavam nos reagentes permanecem os mesmos (inclusive em
quantidade) nos produtos. Quando balanceamos uma equação química estamos
ajustando as quantidades dos elementos para que essa igualdade seja mantida.

Esse ajuste estequiométrico, a partir de cálculos que irão permitir que o


balanceamento adequado da reação química seja feito, é de suma importância
em todos os processos químicos, tanto na área de pesquisa como industrial, pois
todos levam em conta o cálculo de reagentes necessários para que uma reação
ocorra, bem como a quantidade de produtos obtidos.

82
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

DICAS

Caro acadêmico, caso haja necessidade de relembrar sobre as leis ponderais,


volte à Unidade 1, Tópico 3, e tire suas dúvidas.

Inicialmente, vamos conhecer alguns termos importantes para


entendermos como as representações qualitativas são usadas em uma equação
química (FELTRE, 2004; USBERCO; SALVADOR, 2002).

• Índice: o índice em uma equação química representa a quantidade de átomos


de cada elemento presente, e é indicada com o número subscrito no canto
inferior direito de cada elemento. Quando se trata de apenas um elemento,
este não é identificado, sendo apenas subentendido como sendo um.

Exemplo:
H2O: nesta molécula há dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
H2SO4: nesta molécula há dois átomos de hidrogênio, um átomo de enxofre
e quatro átomos de oxigênio.

E
IMPORTANT

Vamos raciocinar juntos: qual o número de átomos de cada elemento presente


na molécula de dicromato de amônio ((NH4)2Cr2O7)?
Nesta molécula temos:
N: 2 átomos (1 x 2), observe que o N está dentro do parêntese com índice 2.
H: 8 átomos (4 x 2), observe que o H possui índice individual igual a 4 e está dentro do
parêntese com índice 2. Dessa forma, os índices são multiplicados.
Cr: 2 átomos, indicados como índice individual.
O7: 7 átomos, indicados como índice individual.

• Coeficiente: o coeficiente é usado em uma equação química para indicar


a quantidade de cada substância que participa da reação. É indicado com o
número colocado na frente do elemento.

Exemplo: Na reação de decomposição do peróxido de hidrogênio em


água e gás oxigênio, podemos observar o coeficiente de número 2 que antecede
a molécula de H2O2 e de um dos produtos formados, a água, indica que são
necessárias duas moléculas de peróxido de hidrogênio para formar, duas
moléculas de água e uma molécula de gás oxigênio.

83
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

λ 2H O + O
2H 2 O 2(aq) → 2 (I) 2(g)

Quando os coeficientes das equações químicas estão ajustados, dizemos


que a equação química está balanceada.

E
IMPORTANT

Usando o que aprendemos sobre os índices e os coeficientes, vamos exercitar


encontrando juntos o número de átomos de cada elemento presente nos reagentes e nos
produtos da reação de decomposição do carbonato de alumínio em óxido de alumínio e
dióxido de carbono.


Al 2 (CO 3 )3(S) → Al 2 O 3(S) + 3CO 2(g)

Vamos analisar juntos:

Elementos presentes nos Reagentes:

Al2(CO3)3(s):
Al: 2 átomos, indicados como índice individual.
C: 3 átomos (1 x 3), observe que o C está entre parênteses com índice 3.
O: 9 átomos (3 x 3), observe que o O apresenta índice individual igual a 3 e está entre
parênteses com índice 3, dessa forma os índices são multiplicados.

Elementos presentes nos Produtos:

Al2O3(s):
Al2: 2 átomos, indicados como índice individual.
O3: 3 átomos, indicados como índice individual.

CO2(g):
C: 3 átomos, observe que o C não possui índice, mas sim coeficiente de número 3, indicado
na frente da molécula, o que indica que existem 3 C com índice 1 (subentendido).
O: 6 átomos, observe que o O possui índice individual igual a 3 e um coeficiente 3 na frente
da molécula, dessa forma se multiplica o índice individual pelo número do coeficiente.

Caro acadêmico, vamos analisar juntos os dados que encontramos no


exemplo anterior. Observe que a soma do número de átomos calculados para
cada elemento é a mesma do lado dos reagentes e dos produtos, evidenciando na
prática a lei da conservação das massas de Lavoisier, que diz que o número total
de átomos presentes nos reagentes deve ser o mesmo do lado dos produtos, como
podemos ver na figura a seguir.

84
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 47 - APLICAÇÃO DA LEI DE CONSERVAÇÃO DAS MASSAS


Al 2 (CO 3 )3(S) → Al 2 O 3(S) + 3CO 2(g)
3+6

Regentes Produtos

Elemento Nº total Elemento Nº total


átomos átomos
Al 2 Al 2

C 3 C 3

O 9 O 9 (3+6)

FONTE: A autora

De acordo com a lei da conservação das massas, é possível ajustar


adequadamente os coeficientes estequiométricos de qualquer equação química,
para que os átomos dos elementos presentes em uma reação sejam os mesmos em
ambos os lados (reagentes e produtos), como ilustrado (USBERCO; SALVADOR,
2002).

FIGURA 48 - ILUSTRAÇÃO MOLECULAR DE UMA REAÇÃO BALANCEADA


ESTEQUIOMETRICAMENTE

gás hidrogênio + gás oxigênio água


reagentes produtos
2 H2 + O2 2 H2O

2 átomos de O
4 átomos de H 4 átomos de H
2 átomos de O
FONTE: Usberco e Salvador (2002)

O método mais utilizado para se fazer esse ajuste ou balanceamento das


equações químicas é o método das tentativas, que se baseia em igualar o número
de átomos dos elementos presentes dos reagentes e dos produtos. Embora pareça
simples, é importante que alguns passos sejam seguidos para que esse cálculo
possa ser feito desde uma reação simples até uma mais complexa.

85
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Os passos que devem ser seguidos para o balanceamento adequado


das equações químicas, de acordo com Sardella (2005); Feltre (2004); Usberco e
Salvador (2002), são:

Regra 1: Raciocinar inicialmente com os elementos ou radicais que


apareçam em uma única substância no 1º membro e no 2º membro da equação
química.
Regra 2: Se vários elementos ou radicais satisfazem a condição anterior,
escolha, de preferência, aquele que possui índices maiores.
Regra 3: Escolhido o elemento ou radical, inverter seus índices do 1º para
o 2º membro da equação e vice-versa, usando-os como coeficientes.
Regra 4: Com esses dois coeficientes, acerte os demais; continue o
balanceamento somente com os elementos cujo coeficiente já está determinado
num dos membros da equação.

Vamos aplicar os passos em um exemplo prático e balancear a equação


a seguir, reação entre alumínio e oxigênio com formação de óxido de alumínio:

Al(s) + O2(g) → Al2O3(s)

Regra 1: vemos que tanto o Al como O aparecem apenas uma vez em cada
lado da equação química. Portanto, é indiferente.
Regra 2: considerando o Al e o O, vamos escolher o O, pois esse possui os
maiores índices (2 nos reagentes e 3 nos produtos).
Regra 3: escolhido o elemento, vamos inverter os índices do oxigênio
de um lado para o outro usando-o como coeficiente das substâncias em que o
oxigênio faz parte.

Al(s) + 3 O 2(g) → 2 A 2 lO 3(s)

Regra 4: agora só falta acertarmos o coeficiente do alumínio do primeiro


membro da equação, para isso contamos quantos átomos de alumínio fazem parte
do segundo membro da equação e colocamos esse número como seu coeficiente
no primeiro membro da equação.

4 Al(s) + 3 O 2(g) → 2 A 2 lO 3(s)


2X2=4

86
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

4 Al(s) + 3 O 2(g) → 2 A 2 lO 3(s)


Equação Balanceada
Vamos exercitar analisando mais alguns exemplos de balanceamento
juntos:

Equação: N2(g) + H2(g) C NH3(g)

Observamos que tanto o nitrogênio como o oxigênio aparecem apenas


uma vez do lado dos reagentes e dos produtos, sendo assim, vamos escolher o
elemento que possui maior índice, no caso o H (2 e 3). Vamos então inverter os
índices do hidrogênio de um lado para o outro usando-os como coeficiente das
substâncias em que o hidrogênio faz parte.

N 2(g) + 3 H 2(g) → 2 NH 3(g)

Agora, precisamos acertar o coeficiente do nitrogênio que está no primeiro


membro da equação, contando o número de átomos de nitrogênio presentes no
segundo membro da equação. Observe que são dois átomos, pois em frente à
molécula temos o coeficiente 2, e nesse caso subentendido o nitrogênio possui
índice 1, multiplicando o coeficiente pelo índice (2 x 1), temos dois átomos.
Sendo assim, a equação já está balanceada, pois no primeiro membro da equação
o nitrogênio apresenta índice 2, indicando a existência de 2 átomos, igualando
reagentes e produtos.

Temos, então, na equação balanceada:

N 2(g) + 3 H 2(g) → 2 NH 3(g)

2 átomos de nitrogênio 2 átomos de nitrogênio


6 átomos de hidrogênio 6 átomos de hidrogênio

87
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Equação: C2H6O(l) + O2(g) → CO2(g) + H2O(l)

Observamos que neste caso temos o carbono e o hidrogênio que aparecem


apenas em uma substância no primeiro e no segundo membro da equação, o
segundo passo será analisar qual deles apresenta os maiores índices, sendo neste
caso o H (6 e 2) o escolhido. Vamos então inverter os índices do hidrogênio de
um lado para o outro, usando-os como coeficiente das substâncias em que o
hidrogênio faz parte.

2 C 2 H6 O(I) + O 2(g) → CO 2(g) + 6 H 2 O(I)

Agora precisamos acertar os coeficientes do carbono e do oxigênio.


Observe que já sabemos a quantidade de átomos de carbono que fazem parte dos
reagentes (2 x 2) – quatro átomos. Seguindo a lei da igualdade entre reagentes e
produtos, precisamos apenas colocar o coeficiente 4 em frente à molécula de CO2
para que o número de carbonos dos produtos se iguale ao número de carbonos
dos reagentes.

2 C 2 H6 O(I) + O 2(g) → 4 CO 2(g) + 6 H 2 O(I)

Note que ainda precisamos acertar o coeficiente do oxigênio. Para fazê-lo,


precisamos contar o número de átomos presentes nos produtos, cujas moléculas
já estão com seus coeficientes completos e igualar essa quantidade para os
reagentes.

Somando os átomos de oxigênio dos produtos temos (4 x 2 = 8 + 6),


totalizando 14 átomos de oxigênio. Para igualarmos esse número para os
reagentes, vamos analisar quantos oxigênios já temos, são (2 + 2), totalizando 4
átomos; precisamos de mais 10 átomos para que a igualdade se estabeleça. Para
satisfazer a igualdade, vamos colocar como coeficiente na molécula de oxigênio
presente nos reagentes o número 6, que será multiplicado pelo seu índice (2) e
teremos (6 x 2 = 12 + 2) 14 átomos de oxigênio no total, igualando-se aos produtos.

2 C 2 H6 O(I) + 6 O 2(g) → 4 CO 2(g) + 6 H 2 O(I)

Como os coeficientes indicam proporção, e neste caso são todos múltiplos


de 2, podemos simplificá-los e temos então a equação final balanceada.

88
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

C 2 H6 O(I) + 3 O 2(g) → 2 CO 2(g) + 3 H 2 O(I)

2 átomos de carbono 2 átomos de carbono


6 átomos de hidrogênio 6 átomos de hidrogênio
7 átomos de oxigênio 7 átomos de oxigênio

2.3 REAGENTE LIMITANTE E REAGENTE EM EXCESSO


Caro acadêmico, os cálculos para balanceamento estequiométrico que
vimos até agora referem-se a condições teóricas e matemáticas.

No entanto, na prática, nem sempre os reagentes são misturados em


quantidades estequiométricas, ou então apresentam impurezas, assim como
nem sempre as reações ocorrem com aproveitamento total.

Quando misturamos dois reagentes que não estão em proporção


estequiométrica, um deles será consumido totalmente, sendo denominado
reagente limitante. O outro reagente, do qual ainda restará certa quantidade sem
reagir, será denominado reagente em excesso (USBERCO; SALVADOR, 2002).

Para entendermos melhor, vamos imaginar a situação ilustrada na figura


a seguir.

FIGURA 49 - EXEMPLO FIGURADO DO MECANISMO QUE OCORRE QUANDO UM REAGENTE


LIMITANTE ESTÁ PRESENTE EM UMA REAÇÃO QUÍMICA

FONTE: Usberco e Salvador (2002)

89
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Com o exemplo da figura anterior, podemos concluir que existe a presença


de um reagente limitante, esse determinará quando a reação irá terminar e
quanto de produto será formado.

Vejamos agora como é possível calcular o reagente limitante e o reagente


em excesso de uma reação química.

DICAS

Caro acadêmico, para realizarmos esses cálculos serão necessários seus


conhecimentos adquiridos sobre cálculos estequiométricos e grandezas químicas, como:
concentração e massa molar. Caso seja necessário, você poderá relembrar esses assuntos
na bibliografia: BIANCO, Renata Joaquim Ferraz. Química geral. Indaial. UNIASSELVI, 2016.

Para resolvermos as questões que envolvem um reagente limitante, nosso


ponto de partida será sempre uma equação química corretamente balanceada,
em que iremos trabalhar com as quantidades de reagentes e produtos em mols.
Vamos fazer juntos um exemplo passo a passo para compreendermos melhor.

Exemplo: Foram misturados 40 g de hidrogênio (H2) com 40 g de oxigênio


(O2), com a finalidade de produzir água, segundo a equação:

2 H2(g) + 1 O2(g) → 2 H2O(l)

a) Determine o reagente limitante, a massa do reagente em excesso e a quantidade


de produto formado (Dados: massas molares: H2 = 2 g mol–1, O2 = 32 g mol–1,
H2O = 18 g mol–1).

• Inicialmente, vamos interpretar a equação proposta: nesta reação balanceada


temos dois mols de H2 reagindo com um mol de O2 para formar dois mols de
H2O.

2 H2 + 1 O 2 → 2 H2O
2 mol 1 mol 2 mol

• Vamos calcular, inicialmente, a massa de O2 que seria necessária para reagir


com os 40 g de H2 mencionados no enunciado do problema:

90
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

2 H2 + 1 O2 → 2 H2O

2 •2g 32 g
x = 320 g de O2
40 g xg

De acordo com os nossos cálculos, seriam necessários 320 g de O2 para


reagirem com 40 g de oxigênio mencionados no problema, no entanto, isso não
será possível, já que temos apenas 40 g de H2 disponíveis.

Vamos agora inverter o cálculo e determinar a massa de H2 necessária


para reagir completamente com 40 g de O2.

2 H2 + 1 O2 → 2 H2O

2 • 2g 32 g
x = 5 g de H2
xg 40 g

Novamente, de acordo com nossos cálculos, vemos que seriam necessários


5 g de H2 para reagir completamente com 40 g de O2, mas como neste caso temos
40 g de H2, então podemos dizer que este está em excesso, e teremos uma sobra
de 35 g de H2 (40 g – 5 g) quando a reação estiver completa, e o O2 será nosso
reagente limitante.

Depois de descobrirmos o reagente limitante, podemos calcular a


quantidade de produtos formados na reação:

2 H2 + 1 O2 → 2 H2O

32 g 2 •18 g
40 g x x = 45 g de H2O

Os cálculos foram feitos a partir dos 40 g de O2 (reagente limitante), os


mesmos nunca poderiam ter sido feitos a partir dos 40 g do H2 (reagente em
excesso), pois teríamos um resultado falso, já que 40 g de H2 não poderiam
reagir totalmente por falta de O2, seriam necessários 320 g, conforme os cálculos
realizados (FELTRE, 2004).

91
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

3 REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO
As reações de oxidação e redução também são chamadas de oxirredução
ou redox, é uma das mais importantes reações dentro da química e das mais
frequentes em nosso cotidiano.

O fogo é o exemplo mais comum de reação de oxirredução, quando um


material qualquer entra em combustão, ele reage com o oxigênio do ar, e nessa
reação ocorre oxirredução.

O fenômeno de oxirredução também está presente quando o ferro


enferruja, quando se descolorem os cabelos com água oxigenada, quando as
pilhas produzem eletricidade, na queima dos combustíveis, como acontece com a
gasolina nos automóveis, o querosene nos aviões a jato (FELTRE, 2004).

FIGURA 50 - EXEMPLO DE REAÇÃO DE OXIRREDUÇÃO:


COMBUSTÃO DO FÓSFORO

FONTE: Feltre (2004)

As reações de oxirredução são aquelas em que ocorre transferência de


elétrons de uma espécie química para outra; na formação de uma ligação iônica,
um dos átomos cede definitivamente seus elétrons para o outro, como pode ser
visto na figura a seguir (FELTRE, 2004).

92
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 51 - ILUSTRAÇÃO DE REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO COM


TRANSFERÊNCIA DE ELÉTRONS

•• + •• –
x
Nax •Cl Na •Cl

••
••
•• ••

•• 2+ •• 2–
x x
Fe O Fe O

••
••
x x
•• ••

FONTE: Feltre (2004)

Analisando a figura acima, dizemos que o sódio sofreu oxidação (perda


de elétrons) e o cloro sofreu redução (ganho de elétrons). Assim como o ferro
também se oxidou (em linguagem comum, “enferrujou”) e o oxigênio se reduziu.

O cloro e o oxigênio são chamados de agentes oxidantes porque


provocaram a oxidação do sódio e a do ferro, respectivamente. Ao contrário, o
sódio e o ferro são chamados de agentes redutores, porque provocaram a redução
do cloro e a do oxigênio, respectivamente.

• Agente Oxidante é o elemento ou substância que provoca oxidações e se reduz.

• Agente Redutor é o elemento ou substância que provoca reduções e se oxida


(FELTRE, 2004).

NOTA

Os fenômenos de oxidação e redução são obrigatoriamente simultâneos.

93
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

3.1 NÚMERO DE OXIDAÇÃO


O número de oxidação nos ajuda a entender como os elétrons estão
distribuídos entre os átomos que participam de um composto iônico ou de uma
molécula. O número de oxidação ou NOx dos elementos difere de acordo com o
tipo de ligação: iônica ou covalente (USBERCO; SALVADOR, 2002).

No caso dos compostos iônicos, chama-se número de oxidação (Nox) a


própria carga elétrica do íon, ou seja, o número de elétrons que o átomo perdeu
ou ganhou, como podemos ver no exemplo do NaCl e FeO.

para o Na+ : Nox. = + 1


no Na+ Cl–
para o Cl– : Nox. = – 1

para o Fe2+ : Nox. = + 2


no Fe O 2+ 2–
para o O2– : Nox. = – 2

Nos compostos moleculares não existe transferência definitiva de


elétrons. Assim, o Nox corresponde à carga elétrica que o átomo iria adquirir
se a ligação fosse rompida. Desse modo, o átomo de maior eletronegatividade
receberia os elétrons do outro átomo, como pode ser visto no exemplo do HCl
(ácido clorídrico) (FONSECA, 2013).

•• + •• –
H • Cl H + • Cl
••

••

x x
•• ••

para o hidrogênio: Nox. = +1


HCl
para o cloro: Nox. = –1

E
IMPORTANT

Nos íons simples, o número de oxidação é a carga elétrica do íon. Nos


compostos moleculares é a carga elétrica que o átomo iria adquirir se houvesse ruptura
da ligação covalente, ficando os elétrons com o átomo mais eletronegativo (FELTRE, 2004;
FONSECA, 2013).

94
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

Para determinarmos o número de Nox dos elementos, existem algumas


regras e observações, descritas por Brady (1986); Feltre (2004); Mortimer e
Machado (2013); Fonseca (2013), que podem ajudar:

• O Nox de cada átomo em uma substância simples (O2, O3, P4, S8) é sempre zero.

• O Nox de um íon monoatômico é sempre igual à sua própria carga.

K+ Ba2+ F– N3–
Nox: +1 +2 –1 –3

• Nas substâncias compostas, temos os seguintes valores usuais:

a) o número de oxidação do hidrogênio é sempre +1 (exceto nos hidretos metálicos,


como NaH, CaH2, nos quais é -1);

HBr H2SO4 C6H12O6


Nox: +1 +1 +1

NaH CaH2
Nox: –1 –1

b) o número de oxidação do oxigênio é quase sempre - 2 (exceto no fluoreto de


oxigênio, que é +2 e nos peróxidos, como H2O2, Na2O2, nos quais é -1);

CO H2O H2SO4 C6H12O6


Nox: –2 –2 –2 –2

OF2
Como o flúor é mais eletronegativo
Nox: +2 o oxigênio adquire Nox +2

H 2O 2 Na2O2
Nox: +1 –1 +1 –1 Oxigênio na forma de peróxido
+2 –2 +2 –2

c) Os halogênios apresentam Nox -1 quando formam compostos binários (2


elementos), nos quais são mais eletronegativos.

HCl MnBr2 CF4


–1 –1 –1

d) A soma dos Nox de todos os átomos constituintes de um composto iônico ou


molecular é sempre zero.

95
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

NaCl HCl CaO CO


Nox: +1 –1 +1 –1 +2 –2 +2 –2
Soma dos Nox: zero zero zero zero

e) Alguns elementos apresentam o mesmo nox em uma série de compostos


diferentes. Tomando esses elementos como base, podemos calcular o nox dos
demais elementos na maioria das substâncias. No quadro a seguir é possível
encontrar uma relação desses elementos, que deve ser consultada sempre que
necessário.

QUADRO 6 - ELEMENTOS QUE POSSUEM NOX FIXOS EM SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS


Principais Nox dos elementos em substâncias compostas
Elemento Situação Nox
Metais alcalinos: Li, Na, K, Rb,Cs Em substâncias compostas +1
Metais alcalino terrosos: Be, Mg, Ca, Sr, Ba Em substâncias compostas +2
Prata: Ag Em substâncias compostas +1
Zinco: Zn Em substâncias compostas +2
Alumínio: Al Em substâncias compostas +3
Enxofre: S Em sulfetos * -2
Halogênios: F, Cl, Br, I Em halogenetos ** -1
Ligados a ametais *** +1
Hidrogênio: H
Ligados a metais **** -1
Na maioria das substâncias
-2
compostas
Em peróxidos -1
Oxigênio: O
Em superóxidos -1/2
Em fluoretos +2
+1
* Quando o enxofre for o elemento mais eletronegativo, o símbolo estará
escrito à direita da fórmula.
**Quando o halogênio for elemento mais eletronegativo, o símbolo estará
escrito à direita da fórmula.
*** Hidrogênio ligado a elemento de maior eletronegatividade.
****Hidrogênio ligado a elemento de menor eletronegatividade.
FONTE: Fonseca (2013)

A partir das regras que vimos, vamos fazer juntos alguns exemplos:

• Calcular o número de oxidação do fósforo, na substância H3PO4. Lembre-se de


que H (Nox= +1); O (Nox= - 2) e que a soma de todos os números de oxidação
dos átomos em uma molécula é zero.

96
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

H3 P O4
3 •( + 1 ) + x + 4 • ( – 2) = 0, resultando: x = + 5

Observe que usamos o número de nox dos elementos que conhecemos,


e seus números de nox foram multiplicados pelos seus índices. Dessa forma é
montada a equação matemática para se descobrir o nox do elemento que não possui
nox fixo, como o fósforo. Nunca devemos esquecer de representar na equação
matemática que a soma dos números de oxidação dos átomos de uma molécula
é zero. Depois da equação montada, basta usarmos as regras matemáticas para
obtermos o resultado esperado.

Resolução equação matemática:


3.(+1) + x +4.(-2) = 0, primeiro resolvemos as multiplicações e depois as
somas.
3+x–8=0→ x–5=0→ x=+5

• Calcular o número do nox do Cr2 na substância dicromato de potássio K2Cr2O7.


Lembre-se de que K (Nox +1, metais alcalinos) e O (Nox -2).

K2 Cr2 O7
2 • (+ 1) + 2x + 7 • (– 2) = 0 → x = +6 (Nox do Cr)

Resolução equação matemática:


12
2.(+1) + 2x + 7.(-2) = 0 → 2+ 2x – 14 = 0 → 2x – 12 = 0 → x = = +6
2

• Calcular o número de nox do permanganato (MnO4) que forma um íon


composto. Para calcular o número de oxidação de um elemento formador de
um íon composto, devemos lembrar que a soma dos números de oxidação de
todos os átomos, num íon composto, é igual à própria carga elétrica do íon,
neste caso -1.

Mn O‾4
x + 4 • (– 2) = –1 → x= +7

Resolução equação matemática:


x + 4. (-2) = -1 → x – 8 = -1 → x = +7

97
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

3.2 BALANCEAMENTO POR OXIRREDUÇÃO


O balanceamento de reações de oxirredução se baseia na ideia de que o
número de elétrons cedidos é igual ao número de elétrons recebidos. A quantidade
de elétrons cedida ou recebida pelo total de átomos de um elemento químico em
uma substância representa sua variação de nox, que é representada por (delta)
ΔNox (FONSECA, 2013; USBERCO; SALVADOR, 2002).

Existem alguns passos que devem ser seguidos para que consigamos
realizar o balanceamento em uma reação de oxirredução, vamos ver quais são:

1° passo: determinar o número de Nox de todos os


átomos presentes nos reagentes e nos produtos.

2° passo: determinar a variação de Nox ∆ para os


elementos que sofreram oxidação e redução.

3° passo: Inverter os valores de ΔNox pelos coeficientes das


substâncias.
Essa inversão deve ocorrer no membro que tiver a maior
quantidade de átomos que sofrem redução e oxidação.

4° passo: determinar os demais coeficientes pelo


método da tentativa.

Feltre (2004) nos ensina como aplicar esses passos, vamos resolvendo
juntos o exemplo a seguir, balanceando corretamente a reação química de
oxirredução:

KMnO4 + HCl → KCl + MnCl2 + Cl2 + H2O

1° passo: determinar número de Nox em cada elemento:

98
TÓPICO 1 | REAÇÕES QUÍMICAS

KMnO 4 + HCl → KCl + MnCl 2 + Cl 2 + H 2 O


Nox: +1 +7 –2 +1 –1 +1 –1 +2 –1 0 +1 –2

2° passo: determinar variação de nox ∆ dos elementos que sofreram


oxidação e redução.

KMnO 4 + HCl → KCl + MnCl 2 + Cl 2 + H 2 O


Nox: +1 +7 –2 +1 –1 +1 –1 +2 –1 0 +1 –2

ganho de 5 e ‾
∆=1x5=5 perda de 1 e ‾
∆=2x1=2

Podemos observar que os elementos que sofrem oxidação e redução foram


o Cl e o Mn, respectivamente. Dessa forma, podemos dizer que o agente redutor
desta reação é o HCl e o agente oxidante o KMnO4. Vimos também que o Mn teve
um ganho de cinco elétrons e o Cl uma perda de um elétron.

3° passo: inverter os valores de Δ Nox pelos coeficientes das substâncias.

2 KMnO4 + HCl → KCl + MnCl2 + 5 Cl2 + H2O

Observe que o Mn teve um ∆ Nox ou variação de Nox de cinco elétrons,


por isso, após a inversão o coeficiente à frente da molécula de Cl2 passa a ser
cinco. O mesmo raciocínio ocorre para os valores de ∆ Nox do Cl.

4° passo: determinar os demais coeficientes através do método das


tentativas.

2 KMnO4 + 16 HCl → 2 KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + 8 H2O

Para que a equação esteja devidamente balanceada, deve obedecer à Lei


de Lavoisier, e a quantidade de átomos deve ser igual, tanto do lado dos produtos
como dos reagentes.

99
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Reação química é o fenômeno pelo qual uma ou mais substâncias são


transformadas em outra ou outras, neste processo os átomos permanecem
intactos.

• As substâncias que sofrem transformações são chamadas de reagentes e as


novas substâncias produzidas são denominadas produtos.

• Reações reversíveis são aquelas reações em que os reagentes se convertem em


produtos e estes podem retornar à forma inicial.

• Reações irreversíveis são aquelas reações que ocorrem por completo ou até que
pelo menos um dos reagentes seja completamente consumido.

• As reações químicas podem ser classificadas em quatro tipos ou categorias:


o Reação de síntese ou adição.
o Reação de análise ou decomposição.
o Reação de deslocamento, simples troca ou substituição.
o Reação de dupla troca, duplo deslocamento ou dupla substituição.

• Equação química é a forma pela qual uma reação química é representada


qualitativamente e quantitativamente.

• Nas equações químicas as fórmulas moleculares ou unitárias das substâncias


que sofreram transformações (reagentes) ficam à esquerda da seta (representa
transformação); e as substâncias produzidas (produtos) ficam à direita.

• Nas equações químicas devem estar representadas as fórmulas moleculares


ou unitárias dos produtos e reagentes, os estados físicos dos reagentes e
produtos, além das condições (temperatura, pressão, solventes etc.) nas quais
a reação se processa.

• A representação quantitativa das equações químicas está relacionada às cargas,


massas e quantidades de cada átomo presente nas substâncias que formam
os reagentes e os produtos, que devem estar adequadamente balanceados
seguindo as leis ponderais.

• Alguns termos importantes usados para representar quantitativamente uma


reação:

100
o Índice: o índice em uma equação química representa a quantidade de
átomos de cada elemento presente, e é indicado com o número subscrito no
canto inferior direito de cada elemento.
o Coeficiente: o coeficiente é usado em uma equação química para indicar a
quantidade de cada substância que participa da reação. É indicado com o
número colocado na frente do elemento.

• De acordo com a lei da conservação das massas, é possível se ajustar


adequadamente os coeficientes estequiométricos de qualquer equação química,
para que os átomos dos elementos presentes em uma reação sejam os mesmos
em ambos os lados.

• Quando misturamos dois reagentes que não estão em proporção estequiométrica,


um deles será consumido totalmente, sendo denominado reagente limitante.
O outro reagente, do qual ainda restará certa quantidade sem reagir, será
denominado reagente em excesso.

• As reações de oxidação e redução também são chamadas de oxirredução ou


redox.

• As reações de oxirredução são aquelas em que ocorre transferência de elétrons


de uma espécie química para outra.

• Oxidação: Perda de elétrons.

• Redução: Ganho de elétrons.

• O número de oxidação ou NOx dos elementos difere de acordo com o tipo de


ligação: iônica ou covalente.

• Para ligações iônicas chama-se número de oxidação (Nox) a própria carga


elétrica do íon, ou seja, o número de elétrons que o átomo perdeu ou ganhou.

• Nos compostos moleculares não existe transferência definitiva de elétrons.


Assim, o Nox corresponde à carga elétrica que o átomo iria adquirir se a ligação
fosse rompida.

101
AUTOATIVIDADE

1 O sódio é um metal mole, de cor prateada, que reage violentamente com


água, como está equacionado a seguir:

Na(s) + 2 H2O(l) → 2 NaOH(aq) + H2(g)

Essa reação química é identificada como:


a) ( ) adição.
b) ( ) análise.
c) ( ) dupla troca.
d) ( ) simples troca.
e) ( ) neutralização.

2 Qual dos metais a seguir não poderia realizar uma reação de deslocamento
com o AgNO3 (nitrato de prata)?

a) ( ) Cu.
b) ( ) Fe.
c) ( ) K.
d) ( ) Na.
e) ( ) Au.

3 Qual a quantidade máxima de NH3, em gramas, que pode ser obtida a partir
de uma mistura de 140 g de N2 com 18 g de H2? Dados: massas atômicas:

H = 1, N = 14

N2 + 3 H2 → 2 NH3

4 Faça o balanceamento da reação de oxirredução:

K2Cr2O7(aq) + H2O(l) + S(g) → KOH(aq) + Cr2O3(s) + SO2(g)

5 Determine o NOx do átomo de cloro nas seguintes substâncias:

a) HCℓO4
b) HCℓO3
c) HCℓO2
d) HCℓO
e) Cl2

102
UNIDADE 2 TÓPICO 2
PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

1 INTRODUÇÃO
A Química é a ciência que estuda a constituição da matéria, suas
transformações, as relações entre os diversos tipos de materiais encontrados na
natureza, as energias envolvidas nas transformações, além de determinar suas
propriedades.

Conhecer as propriedades da matéria e das substâncias é fundamental


para que se possa fazer uso adequado de cada uma delas. Toda a matéria apresenta
propriedades comuns, no entanto, as substâncias, além das propriedades comuns,
apresentam algumas propriedades particulares ou específicas características de
cada uma.

Quando as substâncias são submetidas a agentes como calor, luz,


eletricidade ou entrando em contato com outras substâncias, cada uma apresentará
um comportamento diferente (PERUZZO, 2006; MORTIMER, 2013; SARDELLA,
2005; FELTRE, 2004).

2 PROPRIEDADES DA MATÉRIA E DAS SUBSTÂNCIAS


Como o número de substâncias conhecidas é muito grande, é necessário
caracterizá-las e para isso é necessária uma classificação própria. As propriedades
utilizadas para descrever a matéria são classificadas em gerais, funcionais e
específicas.

No decorrer deste tópico iremos conhecer e compreender essa classificação


da matéria detalhadamente.

2.1 PROPRIEDADES GERAIS


As propriedades gerais da matéria não podem ser usadas como único
parâmetro para identificar uma substância, pois estão presentes em todo tipo de
matéria.

Vamos conhecer agora as principais propriedades gerais da matéria a


partir de Utimura e Linguanoto (1998):

103
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

• Massa: grandeza física que corresponde à quantidade de matéria que compõe


um certo material. Todos os corpos possuem massa. Podemos medir a massa
de sólidos, líquidos e gases em uma balança.

A massa pode ser expressa em:


O Kg (quilograma): 1 kg = 1000g
O g (grama): 1 g= 1000mg
O mg (miligrama): 1 mg= 0,001g

• Volume: toda matéria possui um volume, e esse espaço ocupado pela matéria
pode ser medido em:
O L (litro): 1 L= 1000mL
O mL (mililitro): 1 mL = 0,001L
O cm3 (centímetro cúbico): 1 cm3 = 0,001L
O m3 (metro cúbico): 1 m3 = 1000 L
O dm3 (decímetro cúbico): 1dm3 = 1L

• Extensão: corresponde ao espaço ocupado, ao volume ou à dimensão de um


corpo.

A partir do volume é possível medir a extensão de um corpo. Exemplo:


podemos medir o volume de um peixe se colocarmos o mesmo em um copo
graduado com água. A diferença entre o volume inicial (sem o peixe) e o volume
final (água + peixe) representa seu volume. É possível calcular o volume de
qualquer objeto da mesma forma, como podemos observar na figura a seguir.

FIGURA 52 - EXEMPLO DE EXPANSÃO

FONTE: Disponível em: <http://parquedaciencia.blogspot.com.br/2013/07/por-


que-os-navios-mesmo-sendo-tao.html>. Acesso em: 20 jul. 2017.

104
TÓPICO 2 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

• Divisibilidade: propriedade que indica que a matéria pode ser dividida em


partes cada vez menores.
• Impenetrabilidade: é a propriedade que define que dois corpos não podem
ocupar, simultaneamente, o mesmo lugar no espaço.
• Compressibilidade: a matéria tem a propriedade de reduzir seu volume sob a
ação de uma força externa (compressão).
• Elasticidade: propriedade que a matéria tem de retornar a seu volume inicial,
após deixar de ser comprimida.
• Descontinuidade: toda matéria é descontínua, por mais compacta que pareça.
Existem espaços entre uma molécula e outra, e esses espaços podem ser maiores
ou menores, tornando a matéria mais ou menos dura.
• Indestrutibilidade: a matéria não pode ser criada nem destruída, apenas transformada.

FIGURA 53 - EXEMPLO DE IDESTRUTIBILIDADE DA MATÉRIA

FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/


Oitava_quimica/materia4.php>. Acesso em: 25 jul. 2017.

• Inércia: propriedade que a matéria tem em permanecer na situação em que se


encontra, seja em movimento, seja em repouso. Quanto maior for a massa de
um corpo, mais difícil será alterar seu movimento, e maior a inércia.

2.2 PROPRIEDADES ESPECÍFICAS


Ao contrário das propriedades gerais, as propriedades específicas
são características particulares e exclusivas de determinada matéria. Essas
características especificam e identificam uma substância, diferenciando-a das
demais.

As propriedades específicas podem ser divididas em: organolépticas,


químicas e físicas, assim descritas por Utimura e Linguanoto (1998); Usberco e
Salvador (2002).

• Propriedades Organolépticas: podem ser verificadas e identificadas pelos


órgãos dos sentidos (olfato, visão, tato, audição e paladar). Podemos distinguir
um anel de ouro de um de prata simplesmente pela cor, ou um chá de canela
de um de hortelã apenas pelo odor.

105
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

o Cor: a matéria pode ser colorida ou incolor. Esta propriedade é percebida


pela visão.
o Brilho: a capacidade de uma substância de refletir luz, e seu brilho.
Percebemos o brilho pela visão.
o Sabor: uma substância pode ser insípida (sem sabor) ou com sabor. Esta
propriedade é percebida pelo paladar.
o Odor: a matéria pode ser inodora (sem cheiro) ou odorífera (com cheiro).
Esta propriedade é percebida pelo olfato.

Um exemplo de substância com propriedades organolépticas específicas


pode ser visto na figura a seguir.

FIGURA 54 - EXEMPLO DE PROPRIEDADES ORGANOLÉPTICAS

FONTE: A autora

• Propriedades Químicas: São as propriedades relacionadas às transformações


químicas, como o fato do ferro enferrujar exposto ao ar e o ouro não, ou do
álcool sofrer combustão e a água não.

Exemplo de reação química: propriedade do magnésio emitir uma luz


branca e intensa quando queimado, como na figura a seguir.

106
TÓPICO 2 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

FIGURA 55 - LUZ EMITIDA QUEIMA MAGNÉSIO

FONTE: Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/quimica/magnesio.html>. Acesso


em: 25 jul. 2017.

• Propriedades físicas: As propriedades físicas da matéria são aquelas que


podem ser observadas sem que ocorra uma transformação química. Essas
propriedades são muito importantes, principalmente para a identificação das
substâncias.

Dentre as propriedades físicas podemos destacar:

o Densidade: razão entre a massa e o volume de uma determinada matéria.


Pode ser calculada pela expressão: d= m/v, onde a massa é medida em
gramas e o volume em centímetros cúbicos, mililitros ou litros.
o Ponto de fusão: temperatura em que sob pressão constante uma determinada
matéria passa do estado sólido para o líquido. O mercúrio, por exemplo, é o
metal que apresenta menor ponto de fusão -38 °C dentre os metais, por isso
em temperatura ambiente é encontrado na forma líquida.
o Ponto de ebulição: temperatura em que sob pressão constante uma
determinada matéria passa do estado líquido para o gasoso. O éter, por
exemplo, tem a propriedade física de se evaporar facilmente, enquanto que
com o óleo isto não ocorre.
o Condutibilidade: capacidade de uma matéria em transmitir a passagem de
uma corrente elétrica. O cobre, por exemplo, possui a propriedade de ser um
ótimo condutor de eletricidade, já o ouro é um péssimo condutor.
o Maleabilidade e ductilidade: facilidade com que se molda uma determinada
matéria. Os metais como cobre, estanho e alumínio são conhecidos por serem
maleáveis ou dúcteis, outros como ferro apresentam baixa maleabilidade.

107
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

o Dureza: é a resistência que uma superfície oferece quando riscada por outro
material. A substância mais dura que se conhece é o diamante, usado para
cortar e riscar materiais como o vidro.

2.3 PROPRIEDADES FUNCIONAIS


As propriedades funcionais são apresentadas por um grupo de substâncias
com propriedades químicas semelhantes entre si, e podem ser evidenciadas para
aquelas substâncias que pertencem a um mesmo grupo funcional, como funções
orgânicas e inorgânicas (SARDELLA, 2005; PERUZZO, 2006; FONSECA, 2013).

Exemplo de função orgânica: cada substância pertencente a uma


diferente classe de função orgânica apresenta propriedades químicas específicas
e características de seu grupo funcional. Fazem parte desse grupo de funções
orgânicas:

• Hidrocarbonetos: este grupo de substâncias é muito utilizado na indústria,


principalmente na indústria petroquímica, pois os hidrocarbonetos são a maior
parte da constituição do petróleo. As substâncias desse grupo apresentam
características como:
O baixos pontos de ebulição e fusão;
O são compostos praticamente apolares, isso quer dizer que não são solúveis
em água, que é polar;
O possuem propriedades organolépticas características, como: odor e cor.

• Álcoois: são compostos orgânicos que possuem o grupo hidroxila (OH) ligado
a um ou mais átomos de carbono saturado. O etanol é o álcool mais conhecido e
mais usado. Ele é utilizado para desinfecção, higienização, como combustível,
em laboratório, como solvente de tintas, vernizes e perfumes, na síntese de
vários produtos orgânicos, além de estar presente em bebidas alcoólicas. As
substâncias desse grupo apresentam algumas características próprias:
O elevados pontos de fusão e ebulição;
O possuem uma parte da molécula polar e outra apolar, podendo, então,
dependendo do tamanho da molécula, serem solúveis em água;
O possuem odor característico.

• Fenóis: são compostos orgânicos que possuem o grupo hidroxila (OH) ligado
diretamente a um carbono do anel aromático. Na natureza os fenóis são
retirados do alcatrão da hulha, esse composto é usado para fabricar resinas,
explosivos e corantes, assim como antisséptico.

• Aldeídos: são compostos que possuem o carbono da extremidade da cadeia


realizando dupla ligação com um oxigênio (carbonila) e uma ligação com um
hidrogênio.

108
TÓPICO 2 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

Os aldeídos mais simples, como o metanal (conhecido como formol),


possuem cheiro bem forte e irritante, enquanto os de massas molares maiores
possuem aromas agradáveis, tanto que muitos deles são responsáveis pelo odor
e sabor de vários vegetais. Por exemplo, o cheiro e sabor característicos da canela
devem-se ao aldeído cinâmico, e o aroma de baunilha é proveniente da vanilina
(4-hidróxi-3-metoxibenzaldeído), extraída da orquídea Vanilla.

• Cetonas: possuem estrutura muito semelhante aos aldeídos, com a diferença


de que o grupo carbonila se encontra no carbono secundário da molécula. Esse
composto orgânico é inflamável, incolor, solúvel em água, tem um alto ponto
de ebulição.

As cetonas são utilizadas como solventes e também na fabricação de


resinas e de remédios (expectorantes, estimulantes do sistema nervoso central. A
cetona utilizada para remover esmaltes das unhas é a propanona.

• Ácidos carboxílicos: são identificados pela presença de um ou mais grupamentos


carboxílicos. Muitos desses ácidos são conhecidos por nomes populares, como:
o ácido metanoico (ácido fórmico) chama-se assim por ser ele a causa do ardor
da picada das formigas. O ácido etanoico (ácido acético), que encontramos
no vinagre, denomina-se desta maneira por possuir sabor azedo. O ácido
butanoico (ácido butírico) está na origem do cheiro característico da manteiga
rançosa.

• Ésteres: são utilizados na preparação de extratos artificiais que imitam o


odor e o gosto de frutas, por isso são usados na fabricação de xaropes, doces,
pastilhas, refrescos etc. Os ésteres ocorrem naturalmente na natureza na forma
de essências de frutas, nos óleos e gorduras e nas ceras, como a cera de abelha
e a cera de carnaúba.

• Éteres: são compostos orgânicos de caráter básico, altamente inflamáveis


e voláteis. São mais usados como anestésicos, solventes e no preparo de
medicamentos como anestésicos.

FIGURA 56 - ESTRUTURA MOLECULAR, COMPOSTO


ORGÂNICO, GLICOSE

FONTE: Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/


quimica/formulas-moleculares-compostos-organicos.
html>. Acesso em: 25 jul. 2017.

109
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Exemplo de função inorgânica: assim como nas funções orgânicas, as


funções inorgânicas, que pertencem a diferentes classes de funções, apresentam
propriedades químicas específicas e características de seu grupo funcional. Fazem
parte desse grupo de funções inorgânicas:

• Ácidos: todos os ácidos têm como características o sabor AZEDO.

• Bases: bases ou hidróxidos têm como característica o sabor adstringente, como


se estivéssemos comendo um caqui verde ou uma banana verde. Existem
duas substâncias básicas bem conhecidas, uma delas é inofensiva e benéfica
para o ser humano, e a outra bastante tóxica. A benéfica é o hidróxido de
magnésio, usado como medicamento laxante e antiácido. A substância tóxica é
o hidróxido de sódio, popularmente conhecido como soda cáustica, este pode
causar queimaduras e intoxicações, levando à morte.

• Óxidos: são todos formados por dois elementos, onde um deles é


obrigatoriamente o oxigênio, este estará sempre escrito à direita da fórmula.
Dentre os óxidos, alguns são bem conhecidos, como:
o CO (monóxido de carbono): gás venenoso que pode causar a morte, é obtido
através da combustão incompleta. É um dos responsáveis pelo efeito estufa.
o CO2 (dióxido de carbono): conhecido popularmente como gás carbônico. É
utilizado para fazer gelo seco e em refrigerantes ou bebidas gaseificadas.
o CaO (óxido de cálcio): conhecido popularmente por cal, é utilizado na
construção civil, na fabricação de vidros.

• Sais: são sempre formados pela reação de neutralização entre um ácido e uma
base. Dentre os sais mais conhecidos e utilizados temos:
o Cloreto de sódio (NaCl): conhecido como sal de cozinha.
o Cloreto de amônio (NH4Cl): conhecido popularmente como sal amoníaco. É
muito utilizado na indústria alimentícia e na cozinha popular para fabricação
de bolos e bolachas.
o Sulfato de magnésio (MgSO4): conhecido popularmente como sal amargo.
Usado como medicamento laxativo.

110
TÓPICO 2 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA I

FIGURA 57 - ESTRUTURAS MOLECULARES INORGÂNICAS

FONTE: Disponível em: <https://vemqueteexplico.blogspot.com.br/2013/07/


compostos-inorganicos-agua.html>. Acesso em: 25 jul. 2017.

111
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Conhecer as propriedades da matéria e das substâncias é fundamental para


que se possa fazer o uso adequado de cada uma delas.

• Toda a matéria apresenta propriedades comuns, no entanto, as substâncias,


além das propriedades comuns, apresentam algumas propriedades particulares
ou específicas características de cada uma.

• As propriedades utilizadas para descrever a matéria são classificadas em


gerais, funcionais e específicas.

• As propriedades gerais da matéria não podem ser usadas como único parâmetro
para identificar uma substância, pois estão presentes em todo tipo de matéria.

• As principais propriedades gerais da matéria são: massa, volume, extensão,


divisibilidade, impenetrabilidade, compressibilidade, elasticidade,
descontinuidade, indestrutibilidade e inércia.

• As propriedades específicas são características particulares e exclusivas de


determinada matéria. Essas características especificam e identificam uma
substância, diferenciando-a das demais.

• As propriedades específicas podem ser organolépticas, químicas e físicas.

• Propriedades Organolépticas: podem ser verificadas e identificadas pelos


órgãos dos sentidos (olfato, visão, tato, audição e paladar).

• Propriedades Químicas: São as propriedades relacionadas às transformações


químicas.

• Propriedades Físicas: As propriedades físicas da matéria são aquelas que


podem ser observadas sem que ocorra uma transformação química. Essas
propriedades são muito importantes, principalmente para a identificação das
substâncias.

• As propriedades funcionais são apresentadas por um grupo de substâncias


com propriedades químicas semelhantes entre si, e podem ser evidenciadas
para aquelas substâncias que pertencem a um mesmo grupo funcional, como
funções orgânicas e inorgânicas.

112
AUTOATIVIDADE

1 Nos diferentes materiais (I a V) expostos ao ar, verifica-se que:

I - Sobre uma lâmina metálica, forma-se uma película escura.


II - Bolinhas de naftalina vão diminuindo de tamanho.
III - O leite azeda.
IV - Um espelho fica embaçado se respirarmos encostado a ele.
V - Uma banana apodrece.

Podemos dizer que são observados fenômenos:


a) ( ) Físicos, somente.
b) ( ) Físicos em I, II e V; e químicos em III e IV.
c) ( ) Físicos em II e IV; e químicos em I, III e V.
d) ( ) Físicos em III e V; e químicos em I, II e IV.
e) ( ) Químicos, somente.

2 Uma transformação química pode ser exemplificada pela:

a) ( ) Evaporação da água do mar.


b) ( ) Fusão do gelo.
c) ( ) Digestão dos alimentos.
d) ( ) Sublimação do naftaleno.
e) ( ) Liquefação do ar atmosférico.

113
114
UNIDADE 2
TÓPICO 3

PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, as propriedades das substâncias e das soluções são
importantes para que possamos compreender seu comportamento. Algumas
dessas propriedades são modificadas quando se introduz um soluto em um
solvente puro.

Neste tópico, iremos estudar uma das mais importantes e interessantes


propriedades da matéria, as Propriedades Coligativas.

Através dessas propriedades, muitas ações e acontecimentos que fazem


parte do nosso dia a dia serão explicados, assim como alguns fenômenos que,
por nos serem comuns, não nos fazem pensar em como de fato acontecem, como
ilustrado na figura a seguir:

FIGURA 58 - EXEMPLOS DE PROPRIEDADES COLIGATIVAS

Por que a água


Por que se usa do mar não
panela de pressão congela mesmo
para cozinhar em temperaturas
alimentos? abaixo de 0 °C?
Por que o sal
é usado para
conservar a carne e
outros alimentos?

É possível obter
água potável a
partir da
água do mar?

FONTE: Adaptado de Mortimer e Machado (2013)

2 PROPRIEDADES COLIGATIVAS

Todo líquido puro apresenta determinadas propriedades, como pressão
de vapor, ponto de ebulição, ponto de solidificação e pressão osmótica (capacidade

115
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

de atravessar uma membrana porosa). Porém, quando um soluto não volátil é


dissolvido nesse líquido, essas propriedades se modificam (FONSECA, 2013).

NOTA

Propriedades coligativas são as propriedades de um solvente que se modificam


na presença de um soluto não volátil.

As propriedades coligativas dependem apenas do número de partículas


de soluto não volátil presentes na solução, e não de sua natureza. Tudo que
veremos sobre propriedades coligativas será a respeito das soluções ideais, que
são soluções diluídas de solutos não voláteis, nas quais não ocorre variação de
volume nem troca de calor durante a dissolução do soluto no solvente, e cujas
interações soluto-solvente são consideradas iguais às interações soluto-soluto e
solvente-solvente (BRADY, 1986).

As alterações nas propriedades coligativas da água são as mesmas se


adicionarmos 1 mol de NaCl/kg de água, 1 mol de KBr/kg de água ou 1 mol de
AgNO3/kg de água (considerando grau de dissociação igual a 100% para todos os
sais) (FONSECA, 2013).

NOTA

As alterações das propriedades coligativas (efeitos coligativos) serão as mesmas


se o número de partículas adicionadas em determinado volume de solvente for o mesmo.

Vejamos quais são os principais efeitos ou mudanças observadas quando


um soluto não volátil é adicionado a um solvente:

• Diminuição da pressão de vapor: do líquido na solução em relação à pressão


de vapor do líquido puro.
• Aumento do ponto de ebulição: do líquido na solução em relação ao ponto de
ebulição do líquido puro.
• Diminuição do ponto de congelamento: do líquido na solução em relação ao
ponto de congelamento do líquido puro.
• Aumento da pressão osmótica: do solvente em direção à solução mais
concentrada.

116
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

Como o efeito coligativo depende do número de partículas de soluto


distribuídas no solvente, é importante perceber que para uma mesma quantidade
de matéria de um soluto molecular e de um soluto iônico (capaz de formar íons),
dissolvidos em determinado volume de solvente, o número de partículas final na
solução iônica será sempre maior e, portanto, o efeito coligativo na solução iônica
será sempre mais intenso (FONSECA, 2013).

Um exemplo de soluto não volátil molecular é a glicose (pó cristalino


branco), formada pela união de milhares de moléculas, que quando dissolvidas
em água não podem mais ser vistas individualmente, mas estão lá diluídas.

Um exemplo de soluto não volátil iônico é o NaCl (sal de cozinha), que


é um sólido branco formado por ligações iônicas que lhe conferem estrutura
cristalina definida. Quando colocado em água, esse se dissocia e sua estrutura
desaparece, dando lugar aos íons formados, Na+ e Cl-, que ficam dispersos na
solução e não podem mais serem vistos a olho nu. A representação da estrutura
cristalina e dos íons formados pode ser vista na figura a seguir.

FIGURA 59 - DISSOCIAÇÃO DO NaCl EM ÁGUA

Átomos em cristal de sal

Sal na água
FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/
propriedades-coligativas.htm>. Acesso em: 25 jul. 2017.

117
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES COLIGATIVAS


Já vimos as principais mudanças observadas quando um soluto não volátil
é adicionado a um solvente, vamos agora estudar cada uma dessas mudanças e
relacioná-las à propriedade coligativa correspondente.

De acordo com Fonseca (2013); Usberco e Salvador (2002), as propriedades


coligativas se dividem em:

• Tonoscopia
• Ebulioscopia
• Crioscopia
• Osmometria

TONOSCOPIA

Tonoscopia ou tonometria é o estudo da diminuição da pressão máxima


de vapor de um solvente, ou seja, a diminuição da quantidade de vapor formada,
provocada pela adição de um soluto não volátil (USBERCO; SALVADOR, 2002).

Todo sistema que contém um líquido está sujeito à evaporação, passagem


das moléculas do estado líquido para o vapor. No caso da água, a evaporação
ocorre quando uma molécula localizada na superfície do sistema adquire energia
suficiente para romper as ligações intermoleculares (ligações de hidrogênio)
feitas com outras moléculas, escapando para fora do líquido.

Na superfície livre de uma substância pura só existem partículas dessa


substância e, portanto, a probabilidade de escape de partículas para a fase
gasosa é a mesma em qualquer ponto da superfície. Já em uma solução de soluto
não volátil também existirão na superfície livre partículas do soluto, o que
diminui a probabilidade de escape de partículas do solvente para a fase gasosa,
diminuindo assim a pressão de vapor do solvente (FONSECA, 2013; FELTRE,
2004; USBERCO; SALVADOR, 2002). Por exemplo, se fizermos um experimento
em laboratório, e adicionarmos um soluto não volátil à água, formando uma
solução aquosa diluída, será possível observar que a pressão máxima de vapor
da água na solução será menor que a pressão máxima de vapor da água pura.

Isso ocorre porque as partículas de soluto “bloqueiam, atrapalham” o


escape das moléculas de água do sistema, diminuindo o número de moléculas

118
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

que evaporam num determinado intervalo de tempo e, portanto, diminuindo a


pressão de vapor da água no recipiente, como podemos ver na ilustração a seguir
(FONSECA, 2013).

FIGURA 60 - ILUSTRAÇÃO PRESSÃO DE VAPOR SUBSTÂNCIA PURA E


DE UMA SOLUÇÃO COM SOLUTO NÃO VOLÁTIL

Cl– Na+ Na+


Na+ Cl– Cl

água pura água + NaCl


FONTE: Fonseca (2013)

E
IMPORTANT

A pressão de vapor do solvente na solução é sempre menor que a do respectivo


solvente puro.

Vejamos alguns conceitos importantes para compreendermos os efeitos


causados e presentes nas propriedades tonoscópicas (FONSECA, 2013; USBERCO;
SALVADOR, 2002):

• A pressão máxima de vapor da substância é a maior pressão que seus vapores


exercem em determinada temperatura.

• Quando a pressão máxima de vapor se iguala à pressão externa local, o líquido


entra em ebulição. É por isso que a água sob pressão de 760 mmHg (pressão ao
nível do mar) entra em ebulição a 100 °C. Se variarmos a pressão externa a que
o líquido está sujeito, haverá variação de seu ponto de ebulição. Por exemplo,
se usarmos uma panela de pressão (aumento da pressão), a água entrará em
ebulição a uma temperatura maior que 100 °C, cozinhando os alimentos mais
rapidamente.

• A pressão atmosférica diminui conforme a altitude aumenta, ou seja, quanto


maior a altitude, menor a pressão atmosférica. Isso quer dizer que cozinhar
arroz no alto de uma montanha pode ser bastante difícil, já que à medida que a
altitude aumenta e a pressão diminui, a água entra em ebulição a temperatura

119
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

mais baixa que 100 °C, levando mais tempo para cozinhar o alimento. O quadro
a seguir traz alguns valores de temperatura em que a água entra em ebulição
em relação a diferentes pressões.

QUADRO 7 - PRESSÃO DE VAPOR DA ÁGUA


Pressão de vapor da água
Temperatura /°C Pressão /mmHg
0 4,579
10 9,209
20 17,535
30 31,824
40 55,324
50 92,510
60 149,380
70 233,700
80 355,100
90 525,760
100 760,00
FONTE: Fonseca (2013)

• Considerando-se diversos líquidos diferentes, o que tiver a maior pressão de


vapor será mais volátil e terá menor ponto de ebulição que os demais, isto
é, necessitará de menos energia para igualar sua pressão de vapor à pressão
externa local.

E
IMPORTANT

A pressão atmosférica diminui conforme a altitude aumenta, ou seja, quanto


maior a altitude, menor a pressão atmosférica.

Esse é o objeto de estudo da Tonoscopia, ou seja, o abaixamento da pressão


máxima de vapor de um solvente causado pela adição de um soluto não volátil.

Ebulioscopia

Ebulioscopia ou ebuliometria é o estudo do aumento da temperatura de


ebulição do solvente em uma solução, provocada pela presença de um soluto não
volátil.
120
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

A temperatura está relacionada à agitação térmica das partículas


(moléculas ou íons) que constituem a substância. Quanto maior a temperatura,
maior a agitação das moléculas e maior a pressão de vapor da substância na fase
líquida (FONSECA, 2013; USBERCO; SALVADOR, 2002).

Vamos considerar um volume X de água à pressão de 1 atm (760 mmHg):

Como vimos na Tonoscopia, para que a água entre em ebulição é


necessário que sua pressão de vapor se iguale à pressão externa, o que ocorrerá
na temperatura de 100 °C, como ilustrado na figura a seguir.

FIGURA 61 - EBULIÇÃO DA ÁGUA

FONTE: Disponível em: <http://manualdaquimica.uol.com.br/fisico-


quimica/o-que-sao-as-propriedades-coligativas.htm>. Acesso
em: 25 jul. 2017.

Da mesma forma, se adicionarmos à água em ebulição um soluto não


volátil (sal, sacarose etc.), a solução resultante terá uma diminuição da sua pressão
de vapor, logo, a ebulição será interrompida.

Assim, a água da solução só entrará em ebulição novamente se receber


energia suficiente para que sua pressão de vapor volte a se igualar à pressão
externa, o que ocorrerá numa temperatura superior a 100 °C. Por isso, quando
a água está fervendo e colocamos sal, por exemplo, esta para de ferver. Assim
como é hábito colocar sal e óleo para cozinhar macarrão, a vantagem é que este
seja cozido mais rápido, pois a água com a presença de um soluto não volátil irá
ferver à temperatura superior a 100 °C.

Outro exemplo interessante é o uso do etilenoglicol na água do radiador


de um veículo. Ele é usado para que, mesmo em temperaturas acima de 100 ºC
a água do radiador continue a refrigerar o motor sem entrar em ebulição, como
podemos ver a seguir (FONSECA, 2013; USBERCO; SALVADOR, 2002).

121
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 62 - ADIÇÃO DE ETILENOGLICOL NA ÁGUA DO RADIDOR DE


UM VEÍCULO

FONTE: Disponível em: <http://www.semeucarrofalasse.com/quanto-


custa/quanto-custa-aditivo-de-radiador>. Acesso em: 25 jul.
2017.

No quadro a seguir temos a representação de como o aumento do número


de partículas de sacarose, dissolvidas em certa massa de água, faz diminuir a
pressão de vapor na solução e aumentar o ponto de ebulição (FONSECA, 2013).

QUADRO 8 - COMPORTAMENTO DE UMA SOLUÇÃO EM FUNÇÃO DO AUMENTO DE UM


SOLUTO NÃO VOLÁTIL
Temperatura de
Composição da solução Pressão de vapor
ebulição
(quantidade de matéria de (mmHg a 100 °C)
(°C a 760 mmHg)
sacarose, C12H22O11, por kg
Água na Água na
de H2O) Água pura Água pura
solução solução
1,0 x 10 -2
760,0 759,7 100 100,01
5,0 x 10 -2 760,0 759,3 100 100,03
1,0 x 10 -1
760,0 758,6 100 100,05
2,0 x 10 -1 760,0 757,3 100 100,10
5,0 x 10 -1
760,0 753,3 100 100,26
8,0 x 10 -1 760,0 749,2 100 100,42
FONTE: Fonseca (2013)

E
IMPORTANT

A temperatura em que se inicia a ebulição do solvente em uma solução de


soluto não volátil é sempre maior que a temperatura de ebulição do solvente puro (sob
mesma pressão).

122
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

Crioscopia

Crioscopia ou criometria é o estudo da diminuição da temperatura de


congelamento de um solvente em uma solução, causada pela adição de um soluto
não volátil.

Para que uma substância passe da fase líquida para a fase sólida é
necessário que suas moléculas liberem (percam) energia cinética e, portanto, que
haja diminuição da temperatura do sistema. Isto significa que, quanto menor a
temperatura, menor a agitação das moléculas e menor a pressão de vapor da
substância (FONSECA, 2013; SARDELLA, 2005).

Para que um líquido puro passe da fase líquida para a fase sólida é
necessário que as pressões de vapor da fase líquida e da fase sólida se tornem
iguais. Sendo assim, se considerarmos um sistema contendo uma amostra de
água pura no processo de congelamento (0 °C), se adicionarmos um soluto
não volátil, como sal, ocorre uma baixa na pressão de vapor da fase líquida e o
processo de solidificação é interrompido. Para que a solução volte a se solidificar,
é necessário resfriá-la para baixar a pressão de vapor da fase sólida, tornando-a
novamente igual à da fase líquida, o que ocorrerá a uma temperatura inferior a 0
°C (SARDELLA, 2005).

Quando uma solução entra em solidificação, o solvente começa a se


solidificar primeiro, tornando a solução cada vez mais concentrada (lembre-se,
por exemplo, de que o gelo formado da água do mar não é salgado), o que leva
o ponto de solidificação a diminuir gradualmente, ilustrado na figura a seguir.

FIGURA 63 - ÁGUA DO MAR CONGELADA SÓ NA SUPERFÍCIE

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/6eeB2K>. Acesso em: 25 jul. 2017.

123
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

A água do mar contém vários sais dissolvidos que abaixam seu ponto de
solidificação. Mesmo quando a temperatura ambiente se encontra abaixo de 0 °C,
a água do mar permanece, em grande parte, na fase líquida.

Isso se explica segundo a Lei de Raoult, que diz que o abaixamento da


temperatura de congelamento de um líquido, provocado pela presença de um
soluto não volátil, é diretamente proporcional à molaridade da solução; quanto
maior a concentração desse soluto, menor a temperatura de congelamento da
solução (SARDELLA, 2005).

Vamos considerar uma situação prática em que são colocados no freezer


dois frascos iguais com o mesmo volume de água, em um deles será adicionado
sal de cozinha. Qual desses dois frascos congelará mais rapidamente? A resposta,
levando em consideração tudo que estudamos até agora, é a água sem o sal.
Vamos analisar a figura a seguir, onde temos a representação de um diagrama de
fases, relacionando a pressão de vapor e temperatura para uma substância pura
e para uma solução.

Observando o diagrama, em relação ao comportamento do solvente puro


e a solução, vemos que ∆T representa a diferença de temperatura de ambas as
espécies, indicando nessa variação que ocorre um abaixamento da temperatura
de congelamento da solução com a presença de um soluto não volátil em
comparação à substância pura.

FIGURA 64 - REPRESENTAÇÃO DO DIAGRAMA DE FASES EM FUNÇÃO DA


PRESSÃO E TEMPERATURA
P/mmHg
solvente puro
(líquido) solução

solvente puro
(sólido)

ΔT

0 t t2 t/oC
FONTE: Fonseca (2013)

Podemos citar mais alguns exemplos interessantes onde os conhecimentos


sobre a propriedade crioscópica são muito úteis (FONSECA, 2013; USBERCO;
SALVADOR, 2002; SARDELLA, 2005):
124
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

• É costume, no inverno, em países frios, jogar sais, como cloreto de sódio


– NaCl(s) –, ou cloreto de cálcio – CaCl2(s) –, nas ruas e autoestradas para
dificultar a formação de uma camada de gelo, ilustrado na figura a seguir.

FIGURA 65 - CAMINHÃO LARGANDO NaCl NAS ESTRADAS CONGELADAS

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/por-


que-se-joga-sal-nas-estradas-lugares-frios.htm>. Acesso em: 25 jul.
2017.

• O cloreto de sódio forma com a água uma solução de ponto de solidificação


menor que o da água pura, se funde em torno de -22 °C (é uma substância
eutética). É por conta disso que muitas pessoas jogam o sal no gelo quando
querem congelar bebidas mais rapidamente.

FIGURA 66 - REPRESENTAÇÃO DE COMO GELAR BEBIDAS RAPIDAMENTE


COM GELO + SAL

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/por-


que-se-joga-sal-nas-estradas-lugares-frios.htm>. Acesso em: 25 jul.
2017.

125
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Osmometria

Osmose estuda a passagem espontânea do solvente de uma solução


diluída para outra mais concentrada por meio de uma membrana semipermeável
(USBERCO; SALVADOR, 2002).

Difusão é o movimento espontâneo das partículas de uma substância


de se espalharem uniformemente em meio a partículas de outra substância ou
de atravessarem uma parede porosa, como uma membrana semipermeável
(SARDELLA, 2005).

As membranas semipermeáveis possuem ação seletiva quanto ao tipo


de substância que pode atravessá-las, ou seja, permitem apenas a passagem do
solvente e não do soluto, como podemos visualizar na figura a seguir, onde, com
o passar do tempo, podemos observar que a água (solvente, menos concentrada)
passa para o meio mais concentrado (presença de soluto) até que as concentrações
em ambos os lados da membrana se igualem.

É o caso, por exemplo, da membrana celular (que reveste as células de


animais e vegetais).

A osmose espontânea sempre ocorre no sentido:

SOLUÇÃO MENOS CONCENTRADA → SOLUÇÃO MAIS CONCENTRADA

FIGURA 67 - DIFUSÃO ATRAVÉS DE UMA MEMBRANA SEMIPERMEÁVEL


membrana semipermeável

tempo

água glicose

FONTE: Usberco e Salvador (2002)

Se quisermos impedir que a osmose ocorra, teremos de exercer uma


pressão sobre o sistema no sentido inverso ao que ocorre espontaneamente na
osmose. A intensidade da pressão deve ser igual à pressão que o solvente faz para
atravessar a membrana semipermeável.

126
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

A pressão externa que é preciso exercer sobre um sistema para impedir


que a osmose ocorra de maneira espontânea é denominada pressão osmótica
(SARDELLA, 2005).

NOTA

Quanto maior a concentração de uma solução, maior a sua pressão osmótica.

Os fenômenos osmóticos podem ser observados em várias situações


do nosso dia a dia, e nos permitem compreender o funcionamento de muitos
sistemas, inclusive do corpo humano. Vejamos alguns exemplos:

• Quando temperamos uma salada de folhas cruas (alface, escarola, agrião etc.)
e não a consumimos imediatamente: as folhas “murcham”. E por que isso
acontece? Porque a água se difunde do meio menos concentrado (as células
vegetais) para o mais concentrado (solução de vinagre e sal que constitui o
tempero), como podemos observar na figura a seguir (FONSECA, 2013).

FIGURA 68 - EXEMPLO DE OSMOSE EM VERDURAS CRUAS

FONTE: Fonseca (2013)

• As frutas secas, como a ameixa-preta, incham quando colocadas em água.


Isso ocorre porque a pele da ameixa seca funciona como uma membrana
semipermeável e o solvente (água) passa por ela e vai para o interior da ameixa.

127
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 69 - HIDRATAÇÃO FRUTAS SECAS

FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/


propriedades-coligativas.htm>. Acesso em: 25 jul. 2017.

• Ajuda na conservação dos alimentos, por exemplo, a carne salgada e frutas


cozidas em calda muito doce impedindo que não se estraguem com facilidade.

Quando se coloca sal sobre a carne, ela desidrata, por isso há um fluxo de
solvente (água) de dentro da carne para fora. Isso conserva a carne, porque sem
água a proliferação de fungos e bactérias no alimento é dificultada.

As frutas que são colocadas em soluções com excesso de açúcar, o que


desidrata também a fruta por osmose, destruindo as bactérias que poderiam
apodrecê-las, se conservam por mais tempo, como podemos ver na figura a seguir
(SARDELLA, 2005).

FIGURA 70 - EXEMPLOS DE CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS

FONTE: A autora

128
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

• Os peixes possuem metabolismos diferentes de acordo com o tipo de água em


que vivem. O corpo do peixe é formado por muita água e outras substâncias
dissolvidas nela. Como a água salgada possui mais sais do que a água doce, um
peixe de água salgada não poderia viver em água doce e vice-versa. Causaria
um desequilíbrio entre a pressão osmótica interna do organismo do peixe e
a pressão osmótica externa da água. No caso de um peixe de água salgada
ser colocado em água doce, esse absorveria tanta água que iria “explodir”
(SARDELLA, 2005).

FIGURA 71 - PEIXE EM SEU HABITAT NATURAL

FONTE: Disponível em: <http://www.soq.com.br/conteudos/em/


propriedadescoligativas/p7.php>. Acesso em: 25 jul. 2017.

• A dessalinização da água é um processo para obtenção de água potável a partir


da água do mar, em países e lugares onde esta é escassa.

A remoção do sal é feita por osmose reversa, ou seja, o solvente (água) faz
o caminho inverso da osmose, que ocorre espontaneamente. Na osmose normal
o solvente passa da solução mais diluída para a mais concentrada, já na osmose
reversa o solvente passa da solução mais concentrada para a mais diluída.

Isso só é possível quando se aplica uma pressão superior à pressão


osmótica. Uma das dificuldades desse processo é a obtenção de membranas que
resistam a altas pressões (SARDELLA, 2005). Na figura a seguir temos a ilustração
de uma usina de dessalinização por osmose reversa.

129
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 72 - USINA DE DESSALINIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/


quimica/dessalinizacao-agua-mar-por-osmose-
reversa.html>. Acesso em: 25 jul. 2017.

• A importância da osmose para os seres vivos e plantas:

No corpo humano e dos animais existe um equilíbrio osmótico dentro das


nossas células, fazendo com que haja um equilíbrio de entrada e saída de água
desse sistema.

O nosso sangue apresenta uma pressão osmótica de cerca de 7,8 atm,


sendo que as hemácias ou glóbulos vermelhos também. Isso permite a passagem
fácil de moléculas de água para dentro e para fora das hemácias. É por isso que
o soro fisiológico e as injeções intravenosas devem possuir a mesma pressão do
sangue.

Se a pressão osmótica for diferente, isso afetará gravemente as hemácias.


Por exemplo, se o soro for mais diluído, haverá osmose ou a passagem de água
para dentro da hemácia, fazendo com que ela inche e possa até estourar. Nesse
caso, dizemos que o meio é hipotônico. Já se ocorrer o contrário, se o soro estiver
mais concentrado, a hemácia perderá água para o meio externo, murchando,
como podemos ver na figura a seguir (USBERCO; SALVADOR, 2002).

130
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

FIGURA 73 - REPRESENTAÇÃO DAS CÉLULAS EM SOLUÇÕES COM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES

Solução com pressão Solução com pressão Solução com pressão


osmótica maior que a osmótica igual à da osmótica menor que a
da célula (hipertônica). célula (isotônica). da célula (hipotônica).
FONTE: Usberco e Salvador (2002)

Para as plantas a pressão osmótica também é essencial. É dessa forma


que as plantas transportam água, ureia e outras substâncias para todas as regiões
da planta, no entanto, impedindo a passagem de íons sódio, glicose e outros.
Isso é possível porque a pressão osmótica nas raízes das plantas pode atingir
valores bem altos. Como a solução que está dentro da raiz da planta é mais
concentrada que a da terra, ocorre a passagem de água pela raiz para dentro da
planta (FONSECA, 2013).

FIGURA 74 - A PRESSÃO OSMÓTICA DAS RAÍZES DAS ÁRVORES


PERMITE QUE A ÁGUA CHEGUE ATÉ ÀS SUAS
PARTES MAIS ELEVADAS

FONTE: Disponível em: <http://manualdaquimica.uol.com.br/


fisico-quimica/pressao-osmotica.htm>. Acesso em: 25
jul. 2017.

131
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

O grande salto tecnológico que pode acabar com a sede no mundo

Quase 2 bilhões de pessoas viverão com escassez de água na próxima década,


segundo a ONU.

Em tempos de escassez de água em diversos estados do Brasil, a solução


para o problema poderia ser óbvia: aproveitar a abundância da água do mar para
o uso comum por meio da dessalinização.

Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície da Terra e contêm 97% da


água do planeta. Mas a energia necessária para esse processo era muito custosa e,
com isso, inviabilizava o uso da água do mar para esses fins.

Recentemente, porém, graças às novas tecnologias, os custos foram


reduzidos à metade e enormes usinas de dessalinização estão sendo abertas ao
redor do mundo.

Usinas

A maior usina dessalinizadora do planeta está em Tel Aviv (Israel) e já


está sendo ampliada para alcançar seus limites máximos de produção.

Isso significa 624 milhões de litros diários de água potável. E ela pode
vender mil litros (que é o consumo semanal médio de uma pessoa) por US$ 0,70
(cerca de R$ 2,71).

Outra usina de dessalinização, que fica em Ras al-Khair, na Arábia Saudita,


alcançará sua produção plena em dezembro.

132
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

A usina que será a maior do mundo, na Arábia Saudita, poderia produzir 1


bilhão de litros por dia

Instalada no leste da Península Arábica, ela será maior do que a de Israel


e abastecerá Riad – cuja população está crescendo rapidamente – com 1 bilhão de
litros por dia.

Uma usina de energia elétrica vinculada a ela pode produzir até 2,4
milhões de watts de eletricidade.

Da mesma forma, será instalada em San Diego a maior usina dessalinizadora


dos Estados Unidos, que estará operando a partir de novembro.

No Rio de Janeiro, o governador Luiz Fernando Pezão disse no início deste


ano que está analisando a possibilidade de construir uma usina dessalinizadora
para abastecer até 1 milhão de pessoas no Estado.

Em São Paulo, após o agravamento da crise hídrica recente, o governador


Geraldo Alckmin chegou a dizer que houve um estudo sobre o uso da dessalinização
como fonte alternativa de água potável, mas que o custo inviabilizaria o processo.

A técnica já é usada na região semiárida do Brasil e em outros 150 países.

Tecnologia

O método tradicional de transformar água do mar em água potável é


aquecê-la e depois recolher a água evaporada como um destilado puro.

Isso demanda uma grande quantidade de energia, mas torna-se algo


factível se combinado com usinas industriais que produzem calor em seu
funcionamento normal.

As novas dessalinizadoras da Arábia Saudita estão sendo construídas


juntamente com usinas de energia exatamente por esse motivo.

133
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Essa osmose reversa utiliza menos energia e deu uma nova oportunidade
a uma tecnologia que existe desde os anos 1960.

Basicamente, o sistema consiste em empurrar a água salgada através de


uma membrana de polímero que contém furos minúsculos, do tamanho de um
quinto de nanômetro.

Esses orifícios são suficientemente pequenos para bloquear as moléculas


de sal e suficientemente grandes para permitir a passagem das moléculas de água.

"Esta membrana remove completamente os sais minerais da água", explica


o professor Nidal Hilal, da Universidade de Swansea, no Reino Unido.

Dessalinização

Essas membranas poderiam entupir facilmente, o que prejudicaria muito


o desempenho do processo. Agora, porém, existe uma tecnologia mais avançada
de materiais e técnicas de tratamento prévio que fazem com que essas membranas
funcionem com maior eficiência por mais tempo.

E em Israel, os designers de Sorek conseguiram poupar energia usando


vasos de pressão com o dobro do tamanho.

Tecnologia alternativa

A osmose direta é uma forma alternativa de eliminar sal da água do mar,


segundo o professor Nick Hankins, engenheiro químico da Universidade de
Oxford.

Em vez de empurrar a água através da membrana, uma solução


concentrada é utilizada para extrair o sal. Depois, essa solução é eliminada,
restando apenas a água pura. "É possível separar a água do sal usando bem pouca
energia", assegura o professor.

Outro método possível é a chamada dessalinização capacitiva que,


basicamente, significaria ter um ímã para atrair o sal.

"Deveríamos ser capazes de dessalinizar a água usando algo entre a


metade e a quinta parte da energia usada para a osmose reversa", diz Michael
Stadermann, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, da Califórnia.

Essa técnica ainda está em fase de testes.

E o sal que sobra?

Um problema gerado pela dessalinização da água do mar é justamente o


que fazer com o sal que sobra.

134
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES DA MATÉRIA II

A água no Golfo Pérsico, historicamente, tem 35 mil partículas de sal por


milhão (ppm), mas segundo o Ministério do Meio Ambiente e da Água, algumas
áreas próximas às usinas chegam a ter 50 mil ppm.

"É preciso garantir que a água muito salgada seja deslocada para um local
suficientemente longe do mar para que não haja recirculação dessa água, porque,
se isso acontecer, ela voltará ainda mais salgada", disse Floris van Straaten, da
empresa de engenharia suíça Pöyry, que supervisiona a construção do projeto
Ras al-Khair.

"Nossa usina está sendo instalada ao lado de uma usina de energia que
usa a água do mar para refrigeração", diz Jessica Jones, da Poseidon Water,
empresa que está construindo a usina de Carlsbad na Califórnia.

"Nosso descarregamento é misturado, mas, no momento em que ele entra


no oceano, o sal já está dispersado".

Nos Estados Unidos, porém, grupos ecologistas têm lutado nos


tribunais contra a construção de novas usinas de dessalinização, dizendo que as
consequências da reintrodução da salmoura no mar ainda não foram estudadas
o suficiente.

"E quando a água está sendo extraída do oceano, ela traz peixes e outros
organismos. Isso tem um impacto ambiental e econômico", explica Wenonah
Hauter, diretor da Food And Water Watch em Washington.

Preço da água

A dessalinização pode se tornar cada vez mais barata, ainda que ela seja
muito cara para os países pobres – dos quais muitos sofrem com escassez de água.

Mais de dois quintos da população de 800 milhões do continente africano


vivem em regiões de "estresse hídrico", o que significa viver com o fornecimento
de menos de 1.700 metros cúbicos de água por pessoa.

A ONU prevê que, em 10 anos, quase 2 bilhões de pessoas viverão em


regiões com escassez de água, vivendo com menos de mil metros cúbicos de água
cada uma.

Tudo o que essas regiões mais precisam é de um dispositivo de


dessalinização que possa abastecer cada 100 ou 200 pessoas.

A dessalinização capacitiva é uma solução em potencial, da mesma forma


que a dessalinização com energia solar, cujos custos já reduziram o triplo em 15
anos.

135
UNIDADE 2 | PROPRIEDADES LIGADAS ÀS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

Assim, enquanto a dessalinização já avançou enormemente nos países


ricos, também é necessário que chegue às regiões pobres, que são as que mais
sofrem com a falta de água.

FONTE: Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151018_


tecnologia_dessalinizacao_agua_rm>. Acesso em: 25 jul. 2017.

136
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Todo líquido puro apresenta determinadas propriedades, como pressão de


vapor, ponto de ebulição, ponto de solidificação e pressão osmótica. Porém,
quando um soluto não volátil é dissolvido nesse líquido, essas propriedades se
modificam.

• Propriedades coligativas são as propriedades de um solvente que se modificam


na presença de um soluto não volátil.

• As propriedades coligativas dependem apenas do número de partículas de


soluto não volátil presentes na solução, e não de sua natureza.

• As alterações das propriedades coligativas (efeitos coligativos) serão as mesmas


se o número de partículas adicionadas em determinado volume de solvente for
o mesmo.

• As propriedades coligativas se dividem em:

O Tonoscopia: diminuição da pressão de vapor: do líquido na solução em


relação à pressão de vapor do líquido puro.
O Ebuloscopia: aumento do ponto de ebulição: do líquido na solução em
relação ao ponto de ebulição do líquido puro.
O Crioscopia: diminuição do ponto de congelamento: do líquido na solução
em relação ao ponto de congelamento do líquido puro.
O Osmometria: aumento da pressão osmótica: do solvente em direção à solução
mais concentrada.

137
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com as propriedades coligativas, quando adicionarmos 150


g de sacarose a um litro de água pura fará com que esta apresente qual
comportamento? Assinale a alternativa correta.

a) ( ) Sua pressão de vapor diminuirá.


b) ( ) Passará a conduzir corrente elétrica.
c) ( ) Sua pressão de vapor aumentará.
d) ( ) Seu ponto de ebulição diminuirá.

2 Por que a adição de certos aditivos na água dos radiadores de carros evita
que ocorra o superaquecimento da mesma e também o seu congelamento,
quando comparada com a da água pura?

a) Porque a água mais o aditivo formam uma solução que apresenta pontos de
ebulição e de fusão maiores que os da água pura.
b) Porque a solução formada (água + aditivo) apresenta pressão de vapor maior
que a água pura, o que causa um aumento no ponto de ebulição e de fusão.
c) Porque o aditivo reage com a superfície metálica do radiador, que passa então
a absorver energia mais eficientemente, diminuindo, portanto, os pontos de
ebulição e de fusão quando comparados com a água pura.
d) Porque o aditivo diminui a pressão de vapor da solução formada com relação
à água pura, causando um aumento do ponto de ebulição e uma diminuição
do ponto de fusão.

3 As propriedades coligativas das soluções são as propriedades de um solvente


que se modificam na presença de um soluto não volátil, estas dependem:

a) ( ) Da pressão máxima de vapor do líquido.


b) ( ) Da natureza das partículas dispersas na solução.
c) ( ) Da natureza do solvente, somente.
d) ( ) Do número de partículas dispersas na solução.

138
UNIDADE 3

FATORES QUE INFLUENCIAM AS


REAÇÕES QUÍMICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade, você será capaz de:

• identificar aspectos importantes sobre as transformações ou reações quí-


micas, relacionados à absorção ou liberação de energia;

• compreender leis importantes que estão envolvidas nas transformações


químicas, como: entalpia, entropia, energia livre de Gibbs;

• aplicar os conhecimentos para obter os valores das formas de energia estu-


dadas, suas velocidades e constantes;

• interpretar sinais e termos químicos relacionados à energia e ao equilíbrio


químico que regem as transformações químicas e físicas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

TÓPICO 2 – VELOCIDADE DAS REAÇÕES

TÓPICO 3 – EQUILÍBRIO QUÍMICO

139
140
UNIDADE 3
TÓPICO 1

ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, nas unidades anteriores estudamos sobre vários aspectos
da matéria, sua constituição, transformações e propriedades, assim como os tipos
de reações químicas e leis que as regem.

A partir de agora convido você a conhecer outros aspectos importantes


sobre as transformações ou reações químicas, relacionados à absorção ou liberação
de energia. Veremos como é possível prever o calor liberado ou absorvido em
uma reação mesmo sem realizá-la e como utilizar esses dados para prever alguns
comportamentos que serão muito úteis nos processos químicos.

Também veremos os fatores que influenciam a espontaneidade de uma


reação, como entalpia, entropia e energia livre de Gibbs.

2 ENERGIA ENVOLVIDA NAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS


Uma transformação química sempre envolverá troca de calor ou energia.

A energia é um assunto de grande importância não apenas nos meios


científicos, mas também para a sociedade em geral e em várias atividades do
nosso dia a dia, como podemos ver na figura a seguir. Por exemplo, a energia que
é liberada na forma de calor pode ser convertida para outras formas de energia e
aproveitada como:

• energia elétrica;
• calor liberado na queima do gás butano usado para cozinhar os alimentos;
• calor liberado na combustão do álcool ou da gasolina nos motores dos veículos;
• energia necessária para manutenção da vida, obtida através das reações
químicas dos alimentos no nosso organismo.

141
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 75 - EXEMPLOS DE REAÇÕES QUE PRODUZEM ENERGIA

Reações que
produzem
energia

FONTE: A autora

De acordo com Feltre (2004) e Fonseca (2013), para entendermos de uma


forma simples como o calor é liberado ou absorvido por uma reação química,
precisamos admitir que toda e qualquer substância possui uma certa quantidade
de energia, que vamos chamar de energia interna ou potencial (E), armazenada
em seu interior, e essa energia é dividida em energia química e energia térmica:

• energia química: relacionada à energia proveniente das ligações entre os


átomos e da coesão entre as moléculas.
• energia térmica: relacionada aos movimentos de translação, rotação e vibração
de átomos e moléculas.

Dessa forma, diante de uma reação química, podemos considerar duas


situações:

1º Quando a energia interna total dos reagentes (energia inicial) for maior
do que a energia interna total dos produtos formados (energia final), haverá uma
sobra de energia; consequentemente, a reação irá liberar energia em forma de
calor. Isso quer dizer que a energia que foi liberada nas ligações químicas que
deram origem aos produtos é maior do que a energia que foi consumida na quebra
das ligações dos reagentes. Esse tipo de reação é chamado de reação exotérmica
(FELTRE, 2004; MORTIMER; MACHADO, 2013; FONSECA, 2013).

Todas as reações de combustão são exotérmicas, pois nesse processo ocorre


a liberação de energia na forma de calor.

142
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

Assim, podemos definir que reações exotérmicas são aquelas que liberam
energia na forma de calor.

Podemos representar uma reação exotérmica em que A, B, C e D representam


substâncias genéricas, da seguinte forma:

A+B → C+D + calor


Reagentes → Produtos

2º Quando a energia interna total dos reagentes (energia inicial) for menor
do que a dos produtos formados (energia final), a reação somente poderá ocorrer se
esta puder absorver, no mínimo, a energia que falta para se igualar à dos produtos.
Essa energia absorvida será em forma de calor, e nesse caso, teremos uma reação
chamada de reação endotérmica.

A passagem da água do estado sólido para líquido é uma reação


endotérmica, pois se um pedaço de gelo for deixado sobre a mesa à temperatura
ambiente, ele receberá calor do ambiente e isso provocará sua fusão (FELTRE, 2004;
MORTIMER; MACHADO, 2013; FONSECA, 2103).

Podemos definir que reações endotérmicas são aquelas que absorvem


energia na forma de calor.

Podemos representar uma reação exotérmica em que A, B, C e D representam


substâncias genéricas, da seguinte forma:

A+B + calor →C+D


Reagentes → Produtos

Assim como Lavoisier postulou a Lei da conservação da matéria, como


estudamos nas unidades anteriores, para a energia tem-se a primeira lei da
termodinâmica ou lei da conservação da energia. Essas duas leis possuem uma
perfeita analogia entre si, pois tratam dos mesmos princípios, a conservação da
matéria e da energia (FELTRE, 2004; MORTIMER; MACHADO, 2013). Com base
na lei da conservação da energia, podemos afirmar que:

• A energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada.


• Em um sistema isolado, a quantidade total de energia é constante.
• A energia total dos reagentes é igual à energia total dos produtos.

Podemos dizer então que a partir do princípio da conservação da energia,


sempre que um sistema sofre uma transformação física e/ou química, é possível se
fazer um balanço energético e constatar que a energia total ganha é sempre igual
à energia total perdida.

A quantificação ou medição da energia envolvida nas reações químicas é


feita através dos estudos da calorimetria, onde, com o uso de equipamentos, os

143
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

calorímetros, é possível se determinar a quantidade de calor liberado ou absorvido


durante o transcorrer de uma mudança de estado físico ou de uma reação química
(PERUZZO; CANTO, 2003).

A unidade de medida para medir o calor ou energia envolvidos em uma


reação química ou transformação física é a caloria (cal), onde 1 cal é o calor
necessário para elevar em 1 ºC a temperatura de 1 g de água. Também pode ser
representada em Joule (J), onde 1 cal = 4,18 J (FELTRE, 2004).

A quantidade de energia que está presente em cada substância e é absorvida


ou liberada durante uma reação e/ou transformação química é representada pela
grandeza física Entalpia (H), que estudaremos a seguir (USBERCO; SALVADOR,
2002).

2.1 ENTALPIA (H)



O conteúdo de calor associado a uma substância é chamado de entalpia
(H). Quando uma reação é realizada sob pressão constante, a quantidade de calor
liberada ou absorvida recebe o nome de variação de entalpia (∆H).

A variação de entalpia (∆H) é determinada pela diferença entre a


soma das entalpias dos produtos e a soma da entalpia dos reagentes, como descrito
na equação genérica:

∆H= H final (produtos) - H inicial (reagentes)

Podemos observar comportamentos diferentes sobre a variação de


entalpia em processos exotérmicos e endotérmicos, veremos cada um dos casos.

a) Reações exotérmicas: nas reações exotérmicas, como já vimos, ocorre


a liberação de energia. Em relação à variação de entalpia, podemos dizer que os
reagentes são mais energéticos do que os produtos, isto é, a quantidade de energia
contida nos reagentes é maior do que a quantidade de energia contida nos produtos,
como podemos ver no diagrama da figura a seguir (PERUZZO; CANTO, 2003).

144
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 76 - DIAGRAMA REAÇÃO EXOTÉRMICA

Processo exotérmico
Entalpia (H)

H
Reagentes
Processo exotérmico
∆H

H
Produtos

Caminho da reação

FONTE: Peruzzo e Canto (2009)

Observando a figura, temos que nos processos exotérmicos a entalpia do


sistema diminui: ∆H é negativo.

∆H = HP - HR <0
Entalpia final Entalpia inicial
(Depois da liberação de calor) (Antes da liberação de calor)

Exemplo: Síntese da amônia, onde são liberadas 92,2 kJ de calor ou


energia para a síntese e 2 mols de amônia, como pode ser visto na representação
da equação e na figura a seguir.

N2(g) + 3 H2(g) 2 → NH3(g) ΔH = –92,2 kJ


(∆H negativo= reação exotérmica, o sistema perdeu energia)

145
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 77 - DIAGRAMA SÍNTESE DA AMÔNIA

Entalpia H (kJ)

HR N2(g) + 3 H2(g)

∆H = -92,2
2 NH3(g)
HP

FONTE: Peruzzo e Canto (2003)

b) Reações Endotérmicas: nas reações endotérmicas, como já vimos,


ocorre absorção de energia. Em relação à variação de entalpia, podemos dizer
que os reagentes são menos energéticos do que os produtos, isto é, a quantidade
de energia contida nos reagentes é menor do que a quantidade de energia contida
nos produtos, como podemos ver no diagrama da figura a seguir (PERUZZO;
CANTO, 2003).

FIGURA 78 - DIAGRAMA REAÇÃO ENDOTÉRMICA

Processo endotérmico
Entalpia (H)

H
Reagentes
Processo endotérmico
∆H
H
Produtos

Caminho da reação

FONTE: Peruzzo e Canto (2009)

Observando a Figura 78, temos que nos processos endotérmicos a entalpia


do sistema aumenta: ∆H é positivo.

∆H = HP - HR >0
Entalpia final Entalpia inicial
(Depois da liberação de calor) (Antes da liberação de calor)

146
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

Exemplo: Síntese do iodeto de hidrogênio (HI(g)), onde são absorvidos


25,96 kJ de calor ou energia para a síntese e 2 mols de iodeto de hidrogênio, como
pode ser visto na representação da equação e na figura a seguir.

H2(g) + I2(g) → 2 HI(g) ΔH = + 25,96 kJ


(∆H positivo= reação endotérmica, o sistema ganhou energia)

FIGURA 79 - DIAGRAMA SÍNTESE IODETO DE HIDROGÊNIO


Entalpia H (kJ)

HR H2(g) + I2(g)

∆H = + 25,96
2 HI(g)
HP

FONTE: Peruzzo e Canto (2003)

Vamos resolver juntos um exemplo, para compreendermos como tudo o


que vimos até agora pode ser usado em situações práticas para se obter informações
sobre quanta energia pode ser gerada ou absorvida em uma transformação
química e/ou física:

Considerando que a quantidade de energia liberada ou consumida


é proporcional à quantidade das substâncias envolvidas na reação, e que na
queima de 1 mol de gás propano (C3H8), por exemplo, são liberados 2046 kJ de
acordo com a equação. Qual o valor de ∆H (variação da entalpia), se realizarmos
a combustão de 10 mols de gás propano (C3H8)?

1 C3H8(g) + 5 O2(g) → 3 CO2(g) + 4 H2O(g) ΔH = –2046 kJ

Relembrando que a quantidade de energia liberada ou consumida é


proporcional à quantidade das substâncias envolvidas na reação, se realizarmos
a combustão de 10 mols de metano, ocorrerá a liberação de 20460 kJ, ou seja, dez
vezes mais energia (10 mols x 2046 kJ).

Esses cálculos são muito utilizados em processos dentro da indústria,


para prever os ganhos a partir da energia gerada, ou perdas e custos decorrentes
da quantidade de energia que precisa ser fornecida a um sistema para que a
reação ocorra. Também são relevantes para se calcular o desempenho de motores
movidos por combustíveis.

147
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

UNI

LATAS INTELIGENTES
Uma aplicação interessante dos fenômenos (físicos ou químicos) que provocam trocas de
calor é o das latas que se aquecem ou esfriam.
Na Coréia do Sul foi inventada uma latinha para cerveja ou refrigerante que gela o produto
em 15 segundos, sem precisar de geladeira. O segredo está numa serpentina, no interior da
lata, que é cheia de gás carbônico sob pressão. Ao abrir a lata, o gás é liberado, acarretando
um rápido resfriamento, que gela a bebida. Ao contrário, existem recipientes que aquecem
seu conteúdo: café, leite, sopa etc. É uma ideia que já foi aplicada durante a Segunda Guerra
Mundial, para fornecer comida quente aos soldados em campo de batalha.
Para obter o aquecimento, são usadas diversas reações exotérmicas, como:
CaO + H2O → Ca(OH)2 – óxido de cálcio + água
2 Al + Fe2O3 → Al2O3 + 2 Fe – alumínio + óxido de ferro
FONTE: Feltre (2004)

3 REAÇÕES ESPONTÂNEAS E NÃO ESPONTÂNEAS


Quando uma transformação química e/ou física tende a ocorrer sem a
necessidade de ser provocada ou mantida por uma influência externa (energia),
dizemos que se trata de um processo espontâneo. Por outro lado, quando essas
transformações precisam ser induzidas numa direção contrária ou para que
elas ocorram é necessário exercer algum tipo de intervenção externa, elas são
classificadas como processos não espontâneos (ATKINS; JONES, 2012; ATKINS,
2003; MORTIMER; MACHADO, 2013).

Vamos usar como exemplo um bloco quente de metal, se este for deixado
à temperatura ambiente, irá se resfriar espontaneamente até que sua temperatura
se iguale à temperatura externa, como podemos ver ilustrado na figura a seguir.
Esse processo de resfriamento ocorre espontaneamente, não é necessário
nenhum tipo de intervenção externa. No entanto, o processo inverso não ocorre
espontaneamente, para que esse bloco volte a esquentar será necessária uma
intervenção externa, como passagem de eletricidade ou uso de uma fonte de
calor. Nesse caso o processo é considerado não espontâneo (ATKINS, 2003;
MORTIMER; MACHADO, 2013).

148
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 80 - EXEMPLO PROCESSO ESPONTÂNEO E NÃO ESPONTÂNEO

FONTE: Disponível em: <https://sonhosombra.blogspot.com.br/2011/03/>. Acesso


em: 20 ago. 2017.

Podemos observar a espontaneidade ou não de uma reação em muitas


situações que fazem parte do nosso dia a dia, como demonstrado nas imagens:

FIGURA 81 - REAÇÕES ESPONTÂNEAS

Reações de Combustão

Corrosão de objetos

Expansão de um gás

149
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Dissolução do sal de cozinha em água

FONTE: Atkins (2003); Mortimer e Machado (2013)

FIGURA 82 - REAÇÕES NÃO ESPONTÂNEAS

Liquefação de um gás

Cozimento dos alimentos

Obtenção de metais

Processos de eletrólise

FONTE: Atkins (2003); Mortimer e Machado (2013)

Um ponto importante a ser considerado é que uma transformação


espontânea não precisa necessariamente ocorrer de forma rápida. Um exemplo
é o diamante, uma forma alotrópica do carbono, sua tendência natural ou
espontânea é de se transformar em grafite com o passar do tempo, no entanto
esse processo pode levar bilhões de anos (ATKINS, 2003). Como representado na
figura a seguir.

150
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 83 - REPRESENTAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO DO DIAMANTE EM GRAFITE

FONTE: Disponível em: <http://www.saberatualizado.com.br/2015/08/seu-diamante-vai-virar-


carvao.html>. Acesso em: 20 ago. 2017.

A espontaneidade das reações químicas, muitas vezes, é associada


exclusivamente às reações exotérmicas, onde a entalpia ∆H é negativa, como já
estudamos no capítulo anterior. Esse raciocínio faz sentido se considerarmos que a
maioria das reações exotérmicas possui energia suficiente nos reagentes para que a
reação seja favorecida, sem a necessidade de intervenção externa, configurando-se
como uma reação espontânea. No entanto, existem algumas reações endotérmicas
(∆H > 0), que ocorrem apenas se fornecermos algum tipo de energia ao sistema,
que ocorrem espontaneamente, como a fusão do gelo à temperatura ambiente,
como podemos ver na figura a seguir. Por isso, para prevermos a espontaneidade
de uma reação é preciso levar em conta outros critérios além do fato de uma
reação ser exotérmica ou endotérmica. A partir disso, vamos conhecer esse outro
fator que deve ser levado em conta para determinarmos se uma reação ocorrerá
de forma espontânea ou não, a Entropia (BRADY, 1986; ATKINS; JONES, 2012;
FONSECA, 2013; MORTIMER; MACHADO, 2013).

FIGURA 84 - EXEMPLO DE REAÇÃO ENDOTÉRMICA ESPONTÂNEA

Fusão do Gelo Temperatura Ambiente

FONTE: Adaptado de <http://br.freepik.com/vetores-gratis/fusao-cubo-de-gelo-


gotas-da-agua_679828.htm>. Acesso em: 20 ago. 2017.

151
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

3.1 ENTROPIA X ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES



A entropia é estudada na Segunda Lei da Termodinâmica, e seus conceitos
e funções foram introduzidos por Rudolf Clausius por volta de 1850. A partir de
seus estudos e observações sobre a espontaneidade das reações, introduziu a ideia
de que toda reação espontânea tende em direção a um aumento de desordem no
sistema (ATKINS; JONES, 2012; FONSECA, 2013).

O termo desordem, em química, significa uma distribuição mais
homogênea da matéria e/ou da energia em um sistema. Clausius denominou
a medida física que mede o grau de desordem de um sistema de entropia (S).
De acordo com Brady (1986), Atkins e Jones (2012) e Fonseca (2013), a entropia
(S), assim como a entalpia (H), também é uma função de estado, quer dizer que
a variação da entropia (∆S) depende apenas das entropias do sistema nos seus
estados inicial e final, e sua unidade pode ser expressa em calorias (cal/mol.k) ou
joule (J/mol.k), e pode ser calculada pela expressão:

∆S = Sp - Sr
Variação Entropia Entropia
Entropia Produtos Reagentes

De forma resumida, podemos dizer que a entropia (S) é a grandeza


termodinâmica que mede o grau de desordem ou agitação das moléculas de
um sistema; quanto maior a desordem, maior a entropia. Segundo as leis da
termodinâmica, a entropia de um sistema isolado ou do Universo aumenta no
decorrer de qualquer mudança natural ou espontânea (BRADY, 1986; ATKINS;
JONES, 2012; ATKINS, 2003; MORTIMER; MACHADO, 2013).

Podemos observar esse aumento e redução de entropia nos exemplos a
seguir, dados por Brady (1986); Atkins (2003); Mortimer e Machado (2013):

• Dissociação iônica do cloreto de sódio (NaCl) quando dissolvido em água:

NaCl(s) → Na+(aq) + Cl– (aq)

Neste exemplo, é fácil de observar o aumento da desordem no sistema, já


que os íons em solução estão dissociados e desorganizados, diferentemente do
estado inicial do sólido, como podemos ver representado na figura a seguir.

152
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 85 - DISSOLUÇÃO NaCl EM ÁGUA, RESULTANDO NO AUMENTO DA ENTROPIA

Aumento da
Entropia

FONTE: Dutton (2007)

• Aumento da entropia nas mudanças de estado físico da água:

Sólido < Líquido < Gasoso

O aumento da entropia nas mudanças de estado físico se observa à medida


que as moléculas adquirem um maior nível de liberdade ou movimentação dentro
de um sistema, aumentando sua desordem. Como pode ser visto na figura 86.

Aumento Entropia/ Grau de Liberdade: sólido → líquido → gasoso

153
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 86 - VARIAÇÃO DE ENTROPIA E MUDANÇA DE ESTADO


Entropia, S

Temperatura (K)
FONTE: Adaptado de Dutton (2007)

• Um exemplo no qual a entropia de uma reação diminui ocorre na formação da


amônia a partir do nitrogênio e do hidrogênio. Neste caso, temos uma reação
exotérmica com ∆H < 0 (negativo) e uma diminuição da entropia (S) no sistema,
já que o número de moléculas na fase gasosa diminui com a formação dos
produtos, tornando o sistema mais organizado, como podemos ver ilustrado
na figura 87.

N2(g) + 3 H2(g) ⇔ 2 NH3(g) ∆H = – 92 kJ

154
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 87 - SÍNTESE DA AMÔNIA EM UM SISTEMA COM ENTROPIA NEGATIVA

3 H2 N2 2 NH3

Reagentes ∆S < 0 Produtos


Entropia 
Sistema Inicial Sistema Inicial
4 moléculas: 3 de H2 e 1 N2 2 moléculas: 2 NH3
FONTE: A autora.

Resumidamente, podemos dizer que uma reação tende a ser espontânea


quando:

• A variação de entalpia ∆H< 0, ou seja, a reação é exotérmica.


• A variação de entropia ∆S > 0, aumenta a desordem do sistema.

Assim como para entalpia (H), os valores de entropia (S) de uma
infinidade de substâncias já são conhecidos e tabelados, a partir desses valores
vamos resolver juntos um exemplo de como calcular variação de entropia (∆S) de
uma reação química, considerando o problema a seguir (BRADY, 1986):

• A partir da equação que representa a reação de formação do ácido sulfúrico,


a 25 °C e 1 atm, faça o cálculo da variação da entropia (∆S) do sistema em
(cal/k.mol) e determine se ela tende a ser espontânea ou não, sabendo que sua
variação de entalpia (∆H) é igual a – 4.206,66 kJ.

Dados:
Entropia das substâncias (S)
H20 = 69,9 J/K.mol
S8 = 255,2 J/K.mol
O2 = 205,1 J/K.mol
H2SO4 = 156,9 J/K.mol

1 S8 + 12 O2 + 8 H2O → 8 H2SO4

155
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Resolução: Inicialmente, vamos calcular as entropias presentes nos


reagentes e nos produtos, já que sabemos que ∆S = Sp (soma da entropia dos
produtos) – Sr (soma da entropia dos reagentes).

Reagentes: temos como reagentes em nossa equação: S8 (1 mol) + O2 (12


mols) + H2O (8 mols). Assim, temos:

S(reagentes) = 1 . 255,2 + 12 . 205,1 + 8. 69,9


S(reagentes) = 3275,6 J/k.mol

Produtos: temos como produto em nossa equação: H2SO4 (8 mols).

S(produtos) = 8 . 156,9
S(produtos) = 1255,2 J/k.mol

Agora, com os valores da entropia para os reagentes e para os produtos,


basta substituir esses valores na fórmula da variação de entropia:

∆S = Sp -Sr → ∆S = 1255,2 – 3275,6 → ∆S = - 2020,4 J/k.mol

Como o problema nos pede a variação de entropia em cal/k.mol,


precisamos converter o resultado obtido em joules para calorias. Para isso, vamos
lembrar que 1 cal = 4,18J, então é só dividirmos o valor de ∆S que encontramos
em joules por 4,18.

∆S = -2020,4 / 4,18 = - 483,34 cal/k.mol

Espontaneidade: para respondermos se esta reação tende ou não a ser


espontânea, teremos que fazer algumas considerações:

• de acordo com os valores fornecidos pelo problema, ∆H < 0, negativo,


configurando uma reação exotérmica, o que leva uma reação à tendência de
ser espontânea;
• também temos ∆S calculado, ∆S < 0, negativo, configurando uma diminuição da
entropia do sistema, o que leva uma reação à tendência de não ser espontânea.

De acordo com as considerações feitas, analisando entropia e entalpia, não


é possível determinar se essa reação será de fato espontânea ou não, isso porque,
como já vimos, não podemos apenas considerar o fato da reação ser exotérmica
(∆H -), o que favorece que as reações ocorram, temos que considerar outra
grandeza física: a entropia (∆S), que não necessariamente precisa ser positiva
para que uma reação seja espontânea, como o caso da síntese da amônia. Então,
como responder a essa questão?

Bem, para casos onde temos a certeza da espontaneidade de uma reação,


estas apresentam ∆S > 0 e ∆H < 0, para as outras hipóteses temos como:

156
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

• ∆S < 0 e ∆H < 0, ou seja, temos uma reação exotérmica, com liberação de calor/
energia, mas redução da entropia ou desordem do sistema.
• ∆S > 0 e ∆H > 0, ou seja, temos uma reação endotérmica, com absorção de calor/
energia, e um aumento da desordem ou entropia do sistema.
• Para que seja possível definir a espontaneidade dessas reações, foi preciso
introduzir mais uma variável além da entropia e entalpia, a temperatura. E
para se estabelecer a relação entre essas três variáveis, temos a Energia Livre de
Gibbs, que iremos estudar a seguir.

3.2 ENERGIA LIVRE DE GIBBS X ESPONTANEIDADE DAS


REAÇÕES
A energia livre de Gibbs mede a capacidade que um sistema possui de
realizar trabalho em temperatura e pressão constantes. Foi desenvolvida pelo
físico norte-americano Josiah Willard Gibbs, no século XIX, para que fosse
possível prever a espontaneidade de uma reação em situações em que apenas
as informações sobre a entalpia e entropia não eram suficientes, como no caso
onde o sistema apresenta: ΔH > 0 e ΔS > 0 ou ΔH < 0 e ΔS > 0. Para tal, Gibbs
relacionou a entalpia com a entropia, criando uma terceira grandeza, conhecida
como energia livre de Gibbs (∆G). Calculando o valor de ∆G, é possível prever
de forma bem mais ampla a espontaneidade de processos químicos e físicos
(MORTIMER; MACHADO, 2013, FONSECA, 2013; ATKINS, 2003).

A energia livre de Gibbs é uma função de estado, assim como a entalpia


e entropia, dependendo apenas da energia livre dos estados iniciais (reagentes)
e finais (produtos). A variação da energia livre de Gibbs e, consequentemente,
a possiblidade de se prever a espontaneidade de uma reação é possível de ser
calculada através da expressão (FONSECA, 2013; ATKINS, 2003):

∆G = ∆H – T. ∆S, onde
ΔG: variação de energia livre do sistema - cal/mol; J/mol;
ΔH: variação de entalpia - cal/mol; J/mol
T: temperatura absoluta – Kelvin (K)
ΔS: variação de entropia – cal/K.mol; J/k.mol

As unidades das grandezas envolvidas devem estar sempre com as


mesmas unidades para serem usadas na equação, ou seja, todas em joule ou cal,
ou kJ ou kcal. E a temperatura sempre em kelvin.

A expressão ΔG = ΔH – T ∙ ΔS só é válida à pressão constante (em função


do ΔH) e à temperatura constante (em função do produto T. ΔS) (BRADY, 1986).
A espontaneidade das reações e transformações físicas está relacionada aos
valores calculados para ΔG.

157
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 88 - RELAÇÃO ENTRE ENERGIA LIVRE DE GIBBS E A ESPONTANEIDADE DOS


PROCESSOS

ΔG < 0 ΔG = 0 ΔG > 0

Processo Equilíbrio Processo Não


Espontâneo Dinâmico Espontâneo
FONTE: A autora

Para que possamos relacionar todos os parâmetros que vimos até agora
de forma resumida e usar esses parâmetros para identificar se uma reação ocorre
espontaneamente, vamos analisar o quadro a seguir, onde estes parâmetros
estão organizados e descritos de forma a facilitar a compreensão de como estão
correlacionados.

QUADRO 9 - FATORES QUE FAVORECEM A ESPONTANEIDADE

ΔH ΔS
Espontaneidade do
variação variação Temperatura Exemplo
processo/ΔG
entalpia entropia

ΔH < 0 ΔS < 0 Indiferente Espontâneo / ΔG < 0 Combustão

Liquefação de um
ΔH > 0 ΔS < 0 Indiferente Não é espontâneo
gás

Espontâneo desde que: Congelamento da


ΔH < 0 ΔS < 0 Baixa
T. ΔS < ΔH = ΔG < 0 água no Alasca

não espontâneo, já que: Congelamento da


ΔH < 0 ΔS < 0 Alta
T. ΔS > ΔH = ΔG > 0 água no deserto

não espontâneo, já que: Evaporação da


ΔH > 0 ΔS > 0 Baixa
T. ΔS < ΔH = ΔG > 0 água no Alasca

Espontâneo desde que: Evaporação da


ΔH > 0 ΔS > 0 Alta
T. ΔS > ΔH = ΔG < 0 água no deserto

FONTE: Adaptado de Fonseca (2013) e Atkins (2003)

158
TÓPICO 1 | ESPONTANEIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

A partir dos conhecimentos adquiridos sobre a Energia Livre de Gibbs,


temos condições de retomar e responder à questão do capítulo anterior, sobre a
tendência da reação de formação do ácido sulfúrico ser espontânea ou não.

Vamos relembrar a questão e reunir os dados obtidos:

• A partir da equação que representa a reação de formação do ácido sulfúrico,


a 25 °C e 1 atm, faça o cálculo da variação da entropia (∆S) do sistema em
(cal/k.mol) e determine se ela tende a ser espontânea ou não, sabendo que sua
variação de entalpia ∆H = -4.206,66 kJ.

Reação: S8 + 12 O2 + 8 H2O → 8 H2SO4.

A partir dos cálculos realizados, o valor da entropia do sistema é ∆S =


- 2020,4 J/k.mol. Com os valores de ∆S e ∆H e sabendo que a reação ocorreu à
temperatura de 25 °C podemos usar a equação da Energia Livre de Gibbs para
concluirmos se a reação é espontânea.

∆G = ∆H – T. ∆S

As unidades precisam estar todas de acordo, temos ∆S em (J) e ∆H em kJ,


então temos que igualar as unidades. Também temos a temperatura em °C e na
equação ela deve ser usada em K (Kelvin).

Ajustando as unidades, temos: ∆S = - 2020,4 J/k.mol = - 2,02 kJ/k.mol (de


J para kJ basta dividir por 1000). A temperatura de 25 °C = 298°K ( 0 °C = 273°K).
Agora é só substituir os valores da equação:

∆G = ∆H – T. ∆S
∆G = - 4206, 66 kJ – (298 k) . (- 2,02 kJ/k.mol)
∆G = - 4206,66 kJ – (- 601,96 kJ/mol)
∆G = - 4206,66 kJ + 601,96 kJ/mol
∆G = - 3604,70 kJ/mol

Isso significa que a reação a 25 °C ocorre de forma espontânea, já que ∆G


< 0, independentemente da reação ter ∆S < 0, o que teoricamente indicaria uma
reação não espontânea, já que se observa um aumento da ordem do sistema. Por
isso, a espontaneidade de um sistema precisa ser analisada de forma mais ampla,
os parâmetros analisados individualmente só nos dão uma indicação provável da
direção, mas se analisados de forma conjunta através da equação da energia livre
de Gibbs, nos mostram se de fato uma reação ocorre de forma espontânea ou não
(MORTIMER; MACHADO, 2013, FONSECA, 2013; ATKINS, 2003).

159
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma transformação química sempre envolverá troca de calor ou energia.

• A energia que é liberada na forma de calor pode ser convertida para outras
formas de energia e aproveitada como:
ᵒ energia elétrica;
ᵒ calor liberado na queima do gás butano usado para cozinhar os alimentos;
ᵒ calor liberado na combustão do álcool ou da gasolina nos motores dos
veículos.

• Reações exotérmicas são aquelas que liberam energia na forma de calor.

• Reações endotérmicas são aquelas que absorvem energia na forma de calor.

• Com base na lei da conservação da energia, podemos afirmar que:


ᵒ A energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada.
ᵒ Em um sistema isolado, a quantidade total de energia é constante.
ᵒ A energia total dos reagentes é igual à energia total dos produtos.

• Quando uma reação é realizada sob pressão constante, a quantidade de calor


liberada ou absorvida recebe o nome de variação de entalpia (∆H).

• A variação de entalpia (∆H) é determinada pela diferença entre a soma das


entalpias dos produtos e a soma da entalpia dos reagentes.

• Quando uma transformação química e/ou física tende a ocorrer sem a


necessidade de ser provocada ou mantida por uma influência externa (energia),
dizemos que se trata de um processo espontâneo.

• A entropia (S) é a grandeza termodinâmica que mede o grau de desordem


ou agitação das moléculas de um sistema; quanto maior a desordem, maior a
entropia.

• A entropia de um sistema isolado ou do Universo aumenta no decorrer de


qualquer mudança natural ou espontânea.

• Uma reação tende a ser espontânea quando:


ᵒ A variação de entalpia ∆H< 0, ou seja, a reação é exotérmica.
ᵒ A variação de entropia ∆S > 0, aumenta a desordem do sistema.

160
• A energia livre de Gibbs (∆G) mede a capacidade que um sistema possui de
realizar trabalho em temperatura e pressão constantes.

• Através da variação de ∆G é possível prever a espontaneidade de processos


químicos e físicos, a partir da relação entre entropia e entalpia.

• ΔG < 0 - O processo é espontâneo.

• ΔG > 0 - O processo é não espontâneo.

• ΔG = 0 - O sistema está em equilíbrio.

161
AUTOATIVIDADE

1 Calcule a variação de energia livre (ΔG) da formação da amônia a 25 ºC e 1


atm, e a classifique como espontânea ou não espontânea, de acordo com a
reação.

Considerando que: ∆H= - 92 KJ/mol e ∆S= -198 J/K∙mol:

N2(g) + 3 H2(g) ⇔ 2 NH3(g)

Observação: usar temperatura em Kelvin e as mesmas unidades para todas as


variáveis.

2 Considere a equação a seguir:

2 H2(g) + O2(g) → 2 H2O(l) ∆H = –572kJ

É correto afirmar que a reação é:


a) ( ) exotérmica, liberando 286kJ por mol de oxigênio consumido.
b) ( ) exotérmica, liberando 572kJ para dois mols de água produzida.
c) ( ) endotérmica, consumindo 572kJ para dois mols de água produzida.
d) ( ) endotérmica, liberando 572kJ para dois mols de oxigênio consumido.

3 Considerando a reação de formação da água, à temperatura 25 °C, conforme


equação a seguir e os dados termodinâmicos fornecidos, assinale a alternativa
correta.

2H (g) + O (g) → 2HO (l)


∆H= - 285,8 kJ/mol ∆S= - 327 J/k.mol

a) ( ) É espontânea, pois é exotérmica.


b) ( ) Não é espontânea, pois ∆S é negativo.
c) ( ) É espontânea, pois ∆S é negativo.
d) ( ) É espontânea, pois ∆G é negativo.

4 Considere os dados do quadro, a 25 °C e 1 atm.

Substância Entalpia de Formação (kJ/mol)


Amônia (gás) - 46
HCl (gás) - 92
Cloreto de Amônio (sólido) - 314

NH3(g) + HCl(g) → NH4Cl(s)

162
a) De acordo com a reação química, calcule a variação de entalpia (em kJ/mol)
quando a base reage com o ácido para formar o correspondente sal.

b) Essa reação de salificação é exotérmica ou endotérmica? Por quê?

163
164
UNIDADE 3
TÓPICO 2

VELOCIDADE DAS REAÇÕES

1 INTRODUÇÃO

Para termos o conhecimento necessário para controlarmos as


transformações químicas, a velocidade com que uma reação se processa é um
fator fundamental.

Toda reação química necessita de um certo tempo para se completar.


Algumas reações são extremamente rápidas, como a neutralização entre um
ácido e uma base em solução aquosa. No entanto, existem também reações que
são extremamente lentas.

Também é importante conhecermos as barreiras que impedem que uma
reação espontânea ocorra. Há situações em que uma reação não é favorecida
termodinamicamente, ou seja, ela necessita de um “ativador” para que ocorra.
É o caso da gasolina, que fica armazenada em contato com o oxigênio do ar, no
entanto, a reação de combustão não ocorre espontaneamente, é necessária uma
faísca para iniciá-la. Outro exemplo é a mistura de gases hidrogênio e oxigênio,
que pode ser guardada por anos sem que ocorra a reação entre eles. No entanto,
se provocarmos uma faísca elétrica dentro do recipiente, ocorrerá uma reação
explosiva entre ambos os gases, produzindo água (PERUZZO; CANTO, 2003;
MORTIMER; MACHADO, 2013).

Neste tópico, iremos estudar como prever e controlar a velocidade de


uma reação e os fatores que podem ser usados e influenciam diretamente na
velocidade em que ela se processa.

2 A IMPORTÂNCIA DE SE CONTROLAR A VELOCIDADE DAS


REAÇÕES
A área da química que estuda a velocidade das reações é a cinética química,
e é essencial para lidarmos com os mecanismos que controlam as transformações,
a fim de gerar uma série de produtos que são de grande importância para nossa
vida diária. Seu desafio é possibilitar que sejam produzidos produtos em grandes
quantidades, de maneira rentável, eficiente e menos prejudicial ao meio ambiente
(FELTRE, 2004; MORTIMER; MACHADO, 2013).

165
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Podemos facilmente verificar exemplos no nosso dia a dia de reações


que ocorrem de forma rápida, outras em tempo moderado e algumas muito
lentamente, como os exemplos da figura a seguir.

FIGURA 89 - EXEMPLOS DE REAÇÕES COM VELOCIDADES DIFERENTES

A ferrugem leva A queima de A explosão da dinamite


anos para corroer uma vela leva ocorre em uma fração
um objeto de ferro algumas horas de segundos
FONTE: Feltre (2004)

É interesse que as reações ocorram de forma mais rápida ou mais lenta, no


entanto, é possível manipular a velocidade de algumas reações, para que ocorram
mais lentamente ou com maior velocidade, como podemos ver nos exemplos a seguir:

FIGURA 90 - EXEMPLOS DE REAÇÕES E SUAS VELOCIDADES

Usar a panela de pressão


Usar a geladeira para para cozinhar os alimentos
retardar a decomposição mais rapidamente
dos alimentos Não queremos que a gasolina
queime sozinha em temperatura
ambiente, mas queremos que
queime vigorasamente no motor
do carro

166
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

Para a produção de vinhos de


O airbag que infla através qualidade a fermentação deve
Retardar a ferrugem
de uma reação química ser lenta, mas não a ponto de
utilizando produtos inviabilizar economicamente o
praticamente instantânea
químicos e tintas. processo.

FONTE: A autora

Podemos dizer que o principal objetivo da Cinética Química é o de prever


e controlar a velocidade das reações químicas, de modo que sejam rápidas o
suficiente para proporcionar o melhor aproveitamento do ponto de vista prático
e econômico, mas não tão rápidas a ponto de oferecer risco de acidentes (FELTRE,
2004).

2.1 VELOCIDADE MÉDIA DAS REAÇÕES


Com a finalidade de caracterizar a rapidez ou lentidão em que uma
transformação química ocorre, foi introduzida a grandeza chamada de velocidade
de reação ou velocidade média das reações (Vm).

Para determinarmos a velocidade é preciso que a variação (∆ [ ]) das


quantidades de reagentes consumidos ou produtos formados em um determinado
intervalo de tempo (∆T) seja medida. Para isso usamos a expressão:

Vm = ∆ | quantidade |
∆ Tempo

Δ |quantidade|: representa a variação das quantidades de produtos


formados ou reagentes consumidos, considerando as quantidades iniciais menos
as finais (inicial – final). Essa quantidade pode ser expressa em massa, em mols
ou em concentração.

Utiliza-se o módulo | quantidade | para evitar valores negativos de


velocidade, o que ocorreria no caso dos reagentes, para os quais a quantidade
final é menor que a inicial.

167
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Δ Tempo: indica o intervalo de tempo no qual ocorreu a variação Δ


quantidade.

Quando essa definição é aplicada a um reagente, |Δ quantidade|


corresponde à quantidade de reagente consumido no intervalo Δ tempo. Quando
é aplicada a um produto, |Δ quantidade| equivale à quantidade de produto
formado no intervalo Δ tempo. Dessa forma é possível medir a velocidade média
do consumo de reagentes e formação de produtos em diferentes momentos ou
tempos de reação e acompanhar seu comportamento e evolução (FELTRE, 2004;
MORTIMER; MACHADO, 2013; ATKINS, 2003; PERUZZO; CANTO, 2003).

Vamos resolver juntos um exemplo:

A partir dos dados fornecidos no quadro a seguir, vamos interpretar


os dados fornecidos, calcular a velocidade média de formação da amônia
nos intervalos de tempo indicados e através das proporções estequiométricas
determinar a velocidade média de consumo do N2 e do H2, de acordo com a
reação: N2 + 3 H2 → 2 NH3

Tempo de Reação Variação da molaridade de


(min) formação da NH3 (mol/L)
0 0
5 20
10 32,5
15 40,0
20 43,5

1° Passo: Caro acadêmico, inicialmente vamos interpretar os dados


do quadro. Temos como informação vários intervalos de tempo onde foram
determinadas as molaridades da concentração do produto formado, neste caso,
a amônia. Podemos observar que no tempo (0 min) a concentração de amônia
no sistema é zero, isso porque no início da reação ainda não há formação do
produto. Observamos também que à medida que o tempo avança, ocorre um
aumento da concentração de amônia no sistema, isso demonstra que a reação
segue ocorrendo no sentido de formação dos produtos.

168
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

2° Passo: Seguindo, vamos calcular as velocidades médias da formação


da amônia em cada um dos intervalos de tempo indicados na tabela, utilizando a
expressão da velocidade média.
|quantidade|
Vm =
Δ tempo
20 − 0
intervalo 0 a 5 min: Vm = ( 5 − 0 ) → Vm = 4,0 mol/L .min
32, 5 − 20
intervalo 5 a 10 min: Vm = (10 − 5 )
→ Vm = 2,5 mol/L .min
40 − 32, 5
intervalo 10 a 15 min: Vm = (15 − 10 ) → Vm = 1,5 mol/L .min
43, 5 − 40
intervalo 15 a 20 min: Vm = ( 20 − 15 ) → Vm = 0,7 mol/L .min

Podemos observar, a partir dos cálculos das velocidades médias de


formação nos diferentes intervalos, que ela não é constante e diminui à medida
que a reação acontece, isso porque os reagentes estão sendo consumidos na mesma
proporção em que os produtos são formados, e à medida que a concentração dos
reagentes diminui a velocidade, por consequência, também diminui. Esse assunto
veremos no próximo capítulo, sobre os fatores que influenciam a velocidade das
reações.

3° Passo: A partir dos dados obtidos sobre a velocidade média de


formação do produto em cada intervalo de tempo e os dados disponíveis no
quadro, podemos determinar as velocidades médias de consumo dos reagentes
considerando as proporções estequiométricas da reação.

N2 + 3 H2 → 2 NH3
Proporção estequiométrica 1 mol : 3 mols : 2 mols

Para determinarmos as velocidades para N2 e H2, devemos considerar


as proporções estequiométricas, ou seja, se após os 5 min de reação haviam
sido formados 4,0 mol de NH3, considerando a proporção estequiométrica da
reação, podemos concluir que foram consumidos 2 mols de N2, ou seja, já que a
proporção entre N2 e NH3 é de 1 : 2, então é necessário 1 mol de N2 para formar 2
mols de NH3 . Assim, com a formação de 4 mols de NH3, respeitando a proporção
estequiométrica, o consumo de N2 no mesmo intervalo de tempo será de 2,0 mol/L.

O mesmo cálculo deve ser considerado para se encontrar as velocidades


de consumo em todos os intervalos de tempo para ambos os reagentes, através
da expressão geral:

169
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

1 1
. .
VmC N2 = 2 VmF → VmC N2 = 2 4,0 = 2,0 mol/L
3 3
. .
VmC H2 = 2 VmF → VmC H2 = 2 4,0 = 6,0 mol/L

VmC: velocidade média de consumo


VmF: velocidade média de formação

Velocidade média de Velocidade média de


consumo (mol/L) formação (mol/L)
Fórmula de acordo com
VmF x 1/2 VmF x 3/2 VmF
a proporção
Intervalo Tempo (min) 1 N2 3 H2 2 NH3
5 2,0 6,0 4,0
10 1,25 3,75 2,5
15 0,75 2,25 1,5
20 0,35 1,05 0,7

Podemos observar, a partir dos valores da velocidade média de consumo


dos reagentes, que estes diminuem à medida que a reação ocorre na mesma
proporção em que o produto é formado.

3 FATORES QUE ALTERAM A VELOCIDADE DAS REAÇÕES


Caro acadêmico, vimos no capítulo anterior como calcular a velocidade
média de uma reação, e a partir de agora vamos estudar alguns fatores que
influenciam e são responsáveis pela ocorrência de uma transformação química.

Por exemplo, entre os reagentes deve existir afinidade química para que
estes reajam entre si, além disso, eles devem estar em contato, o que permitirá a
colisão entre suas moléculas, acarretando quebra de ligações e formação de novas
ligações (USBERCO; SALVADOR, 2002; SARDELLA, 2005).

3.1 TEORIA DAS COLISÕES


Vamos iniciar nossos estudos sobre os fatores que influenciam a velocidade
de uma reação compreendendo um requisito básico para que uma reação ocorra:
as moléculas presentes na reação precisam interagir de forma eficiente para que
a reação química ocorra.

170
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

A teoria das colisões nos diz que, para que duas ou mais substâncias
possam reagir, suas moléculas devem colidir entre si, de modo que ocorra a
quebra das ligações já existentes, permitindo assim a formação de novas ligações
que irão formar um novo produto.

As colisões entre as moléculas devem ser:

• Colisões efetivas ou eficazes: para que a colisão ocorra de forma efetiva, o


choque entre as moléculas deve ocorrer com uma orientação favorável e
energia suficiente para que as ligações existentes se rompam e novas ligações
sejam feitas. Na figura a seguir podemos ver de forma ilustrativa como essas
colisões ocorrem (SARDELLA, 2005; PERUZZO; CANTO, 2009).

FIGURA 91 - ILUSTRAÇÃO DE COLISÕES EFETIVAS E NÃO EFETIVAS

Colisões
I2
H2
Colisão não efetiva, ocorre
com uma orientação não
favorável para a quebra das
ligações.

I2
H2
Colisão não efetiva,
também ocorre com uma
orientação não favorável
para a quebra das ligações.
HI
I2 Colisão efetiva,
ocorre com uma
H2
orientação favorável
HI para a quebra das
ligações e formação
de um novo produto.
H2 + I2  HI
FONTE: Adaptado de Sardella (2005)

Além da orientação favorável dos choques entre as moléculas, é necessário


que haja energia suficiente para que os choques efetivos resultem na quebra
das ligações existentes e formem novas ligações. Essa energia recebe o nome de
energia de ativação (SARDELLA, 2005; PERUZZO; CANTO, 2009; FELTRE, 2004;
ATKINS, 2003).

171
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

NOTA

Energia de ativação (Ea) é o valor mínimo de energia necessária que as


moléculas dos reagentes devem possuir para que a colisão entre elas seja de fato eficaz, para
a ocorrência da reação. Quanto maior for a energia de ativação necessária, mais lenta será a
reação (USBERCO; SALVADOR, 2002).

Quando o sistema apresentar colisões efetivas, tanto em relação à


orientação eficaz das colisões, quanto à energia de ativação necessária para que
a reação ocorra, forma-se uma estrutura intermediária entre os reagentes e os
produtos denominada complexo ativado. Na figura a seguir podemos observar
a variação de energia por meio de um gráfico para a reação química de formação
de iodeto de hidrogênio (SARDELLA, 2005).

FIGURA 92 - MODELO FORMAÇÃO DO COMPLEXO ATIVADO DA REAÇÃO DE FORMAÇÃO DO


IODETO DE HIDROGÊNIO

Colisão Efetiva
I2 H2I2
H2 Complexo
Ativado HI

HI Produto
Reagentes

H2I2
Colisão
Efetiva

Reagentes Complexo
I2 + H2 Ativado

I2 Ea
Energia

H2 Produto
2 HI
HI HI

caminho reacional
FONTE: Adaptado de Sardella (2005)
172
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

Interpretando a figura, podemos fazer algumas considerações sobre o


caminho reacional da formação do iodeto de hidrogênio:

• No início do processo as moléculas dos reagentes não possuem energia


suficiente para reagir.
• À medida que o tempo passa, o sistema recebe energia suficiente para romper
a barreira da energia mínima (Ea: energia de ativação) necessária para que as
colisões efetivas ocorram de forma eficaz e eficiente.
• A partir do ponto onde as colisões efetivas ocorrem, há a formação de um
composto intermediário, instável, chamado de complexo ativado. Neste ponto
ocorre a transição entre a ruptura dos reagentes para formação das novas
ligações que formarão os produtos. O estado intermediário conhecido como
complexo ativado não é muito conhecido pelos químicos, já que se trata de um
composto muito instável, isto quer dizer que permanece nessa configuração
com um curto espaço de tempo de ativação (SARDELLA, 2005; PERUZZO;
CANTO, 2009; FELTRE, 2004; ATKINS, 2003; FONSECA, 2013).

Caro acadêmico, a partir dos conhecimentos sobre a teoria das colisões,


estamos prontos para estudar alguns fatores que influenciam a velocidade das
transformações, como:

• Temperatura
• Superfície de contato
• Catalisador
• Concentração dos reagentes

3.2 TEMPERATURA
A temperatura é um dos fatores que mais influenciam na velocidade de
uma reação. De fato, o aumento da temperatura de um sistema aumenta a agitação
das partículas, isso faz com que a frequência das colisões entre as moléculas dos
reagentes e a energia com que as moléculas se chocam também aumentem. Dessa
forma, o número de moléculas que reagem em um espaço de tempo é maior
(ATKINS, 2003; FONSECA, 2013).

Podemos ver alguns exemplos da influência da temperatura no nosso dia


a dia em:

• Um alimento cozinha mais rápido em água fervente que em água morna.


• Os alimentos estragam mais rapidamente se deixados à temperatura ambiente
que se colocados na geladeira ou congelador.
• Nosso metabolismo, que se acelera quando praticamos algum esporte; nesse
caso, as reações do organismo se tornam mais rápidas, consumindo mais
rapidamente os carboidratos de nosso corpo.

173
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

• O que torna os incêndios, especialmente os florestais, tão devastadores é o fato


da temperatura do ambiente aumentar muito, o que provoca um aumento na
velocidade da reação de combustão.

De acordo com Fonseca (2013), podemos dizer que:

Com o aumento
da temperatura

Ocorre aumento
da energia cinética
das moléculas

Com isso, a colisão


entre as moléculas
ocorre com maior
energia

O que resulta
no aumento da
velocidade da
reação.

174
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

3.3 SUPERFÍCIE DE CONTATO


A área de contato entre os reagentes também interfere na velocidade das
reações químicas, pois quanto maior a superfície de contato, maior o número de
moléculas reagindo, maior o número de colisões eficazes e, portanto, aumenta a
velocidade da reação (ATKINS, 2003).

Se um reagente está no estado sólido, a reação ocorrerá na sua superfície.


Assim, quanto mais fragmentado (disperso) for esse reagente, maior será o
número de choques, e maior será a velocidade da reação. Temos como exemplo
o ferro:

• Reação muito lenta: oxidação ou ferrugem de uma barra de ferro, onde a reação
ocorre inicialmente na superfície da barra.

Fe(barra) + O2(g) + H2O(v) → ferrugem

• Reação mais rápida: oxidação ou ferrugem do ferro em forma de palha de aço,


com superfície de contato maior.

Fe (palha de aço) + O2(g) + H2O(v) → ferrugem

Outro exemplo é a formação de CO2 pela decomposição do carbonato de


cálcio em meio ácido, como podemos ver ilustrado na figura a seguir.

CaCO3(s) + 2 HCl(aq) → CaCl2(aq) + H2O(l) + CO2(g)

FIGURA 93 - EXEMPLO DA INFLUÊNCIA DA SUPERFÍCIE DE CONTATO

FONTE: Adaptado de Usberco e Salvador (2002)

175
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

A efervescência no CaCO3(s) na forma de pó é mais acentuada (maior


superfície de contato). O aumento da superfície intensificou a velocidade da
reação, mas não a quantidade do produto formado. Portanto, o volume de
CO2 produzido será o mesmo ao final das duas reações. Conforme Utimura e
Linguanoto (1998), podemos dizer que:

Quanto maior a
superfície de contato

Maior número
de moléculas
reagindo

Com isso, aumenta o


número de colisões
eficazes entre as
moléculas

O que resulta
no aumento da
velocidade da
reação.

176
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

3.4 CATALISADOR
Catalisador é a substância que aumenta a velocidade de uma reação,
sem ser consumida durante o processo, isto significa que ele apenas age como
um acelerador da reação, não participa da reação com um reagente, já que não é
consumido e nem participa da composição dos produtos. No final da reação ele
pode ser integralmente recuperado, em massa e composição, isso é de grande
relevância econômica, já que o mesmo catalisador pode ser usado novamente em
outras reações.

O catalisador participa da formação do complexo ativado fazendo com


que os reagentes necessitem de uma energia de ativação menor para atingir esse
estado, aumentando dessa forma a velocidade em que a reação irá se processar.

A utilização de catalisadores é de grande importância para a indústria,


pois consegue aumentar significativamente a velocidade de muitos processos,
otimizando e garantindo a melhor relação possível entre produção/tempo/gasto.

A ação catalítica, realizada pelo catalisador, só é possível quando existe


afinidade química entre os reagentes. Isso significa que não existe um catalisador
capaz de fazer uma reação não espontânea ocorrer, por exemplo, a água reagir
com o monóxido de carbono.

E
IMPORTANT

1. Um catalisador acelera a reação, mas não aumenta seu rendimento, isto é, a


reação irá produzir a mesma quantidade de produto, mas em um período de tempo menor.
2. O catalisador não altera o ΔH da reação, ou seja, ele não aumenta a energia do sistema,
apenas cria um caminho alternativo, que exige menor energia de ativação, fazendo com que
a reação se processe de maneira mais rápida.

Podemos ver um exemplo a seguir, onde temos o gráfico da energia


de ativação necessária para uma reação ocorrer com e sem a presença de um
catalisador. Observamos no gráfico que com a presença do catalisador a energia
de ativação da reação é reduzida, favorecendo que a formação do complexo
ativado ocorra e a reação se desenvolva.

177
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

GRÁFICO 5 - COMPORTAMENTO DE UMA REAÇÃO NA PRESENÇA DE UM CATALISADOR


energia
reação sem catalisador
Ea
Ea reação com catalisador
ΔH

caminho da reação
FONTE: Disponível em: <http://www.coladaweb.com/quimica/fisico-quimica/
energia-de-ativacao>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Não há uma regra geral para determinar o melhor catalisador para


uma dada reação. Essa descoberta é sempre fruto de muitas pesquisas. Porém,
podemos dizer que os catalisadores mais comuns são:

• Metais: especialmente metais de transição, como Co, Ni, Pd, Pt.


• Óxidos metálicos: por exemplo, Al2O3, Fe2O3, Co2O3, V2O5.
• Enzimas: são catalisadores produzidos pelos seres vivos, que aceleram reações
importantes para o metabolismo dos próprios seres vivos.

Por outro lado, existem substâncias que diminuem a velocidade de uma


reação, elas são denominadas de inibidores. O inibidor, ao contrário do que ocorre
com o catalisador, é consumido pela reação, e assim que é totalmente consumido,
a reação retorna sua velocidade normal.

Atualmente, os inibidores são muito usados na conservação de alimentos,


bebidas e outros produtos perecíveis. Resumindo, podemos dizer que:

Diminui a energia O que resulta


O uso de catalisadores de ativação para no aumento da
em reações químicas a formação do velocidade da
complexo ativado reação.

3.5 CONCENTRAÇÃO DOS REAGENTES


Em reações químicas que ocorrem em solução, quanto maior o número
de partículas de reagentes por unidade de volume, isto é, quanto maior a
concentração, há maior número de suas partículas ou moléculas, aumentando

178
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

a probabilidade de ocorrerem colisões e, consequentemente, maior número de


colisões efetivas. Isso resulta no aumento da velocidade da reação, como vimos
na teoria das colisões e está ilustrado na figura a seguir.

FIGURA 94 - REPRESENTAÇÃO MOLECULAR DAS CONCENTRAÇÕES/COLISÕES

Menor concentração = poucas colisões Maior concentração = mais colisões


reação mais lenta reação mais rápida

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/quimica/concentracao-


dos-reagentes-velocidade-das-reacoes.htm>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Podemos ver essa relação entre o aumento da concentração e a


probabilidade de colisões na figura a seguir.

179
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

FIGURA 95 - INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO NAS COLISÕES ENTRE MOLÉCULAS

1ª situação 2ª situação 3ª situação 4ª situação

Possibilidades
de colisão 1 2 4 6
entre A e B
Ao dobrar a Ao dobrar as Ao dobrar a
concentração concentrações concentração
de B, dobram de A e B, o de B e triplicar
as colisões. nº de colisões a concentração
aumenta 4 de A, o nº de
vezes. colisões aumenta
6 vezes.
FONTE: Usberco e Salvador (2002)

Resumindo, podemos dizer que:

Aumenta a
O que resulta
O aumento da frequência de
no aumento da
concentração dos colisões entre as
velocidade da
reagentes moléculas dos
reação.
reagentes

Quando trabalhamos com gases, uma forma de aumentar a concentração


dos reagentes é diminuir a pressão. Quando fazemos isso, diminuímos o volume
e, consequentemente, há um aumento nas concentrações dos reagentes.

180
TÓPICO 2 | VELOCIDADE DAS REAÇÕES

FIGURA 96 - EXEMPLO DE AUMENTO DE CONCENTRAÇÃO ATRAVÉS DA


DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO

Pressão menor = menor Pressão maior = maior


taxa de desenvolvimento taxa de desenvolvimento
de reação de reação

FONTE: Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/quimica/concentracao-


dos-reagentes-velocidade-das-reacoes.htm>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Para complementar sua compreensão sobre os fatores que alteram


a velocidade das reações, segue um experimento que poderá ser executado
facilmente em sua casa. Boa prática!

EXPERIMENTO: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA


NA VELOCIDADE DAS REAÇÕES QUÍMICAS

Toda reação química necessita de um certo tempo para se completar.


Algumas reações são extremamente rápidas, como a neutralização entre um
ácido e uma base em solução aquosa. No entanto, existem também reações que
são extremamente lentas.

É de grande importância para a pesquisa e para a indústria prever e


controlar a velocidade das reações químicas, de modo que sejam rápidas o
suficiente para proporcionar o melhor aproveitamento do ponto de vista prático
e econômico. Para isso, é fundamental conhecermos os fatores que influenciam
a velocidade das transformações, como: temperatura, superfície de contato,
catalisador, concentração dos reagentes.

Neste experimento vamos comprovar a influência da temperatura na


velocidade das reações químicas.

Materiais e Reagentes:
• meio copo de água morna
• meio copo de água gelada

181
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

• medicamento efervescente em pó (sal de fruta)


• duas colheres de chá
• relógio que marque os segundos

Procedimento Experimental:

1. Colocar em ambas as colheres uma mesma quantidade de pó efervescente.


2. Adicionar o conteúdo de uma das colheres ao copo com água morna e marque
o tempo em segundos que o sólido leva para ser consumido.
3. Adicionar o conteúdo da outra colher ao copo com água fria e marque o tempo
em segundos que o sólido leva para ser consumido.

Questões a serem respondidas:

1- Em qual dos copos a reação se mostra mais vigorosa?


2- Em qual dos copos a reação chega ao final mais rapidamente?
3- Proponha uma explicação para as observações.

Resultados e Discussão:

A partir dos experimentos podemos constatar que:

1- A reação mais vigorosa ocorre no copo com água morna.


2- A reação chega ao final mais rapidamente no copo com água morna.
3- A explicação para os resultados se dá baseado no fato de a temperatura
aumentar a velocidade das reações, ou seja, quanto maior a temperatura, mais
rápida a reação se processa, pois a temperatura aumenta a quantidade de
colisões efetivas.

182
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Toda reação química necessita de um certo tempo para se completar. Algumas


reações são extremamente rápidas, como a neutralização entre um ácido e
uma base em solução aquosa. No entanto, existem também reações que são
extremamente lentas.

• O principal objetivo da Cinética Química é o de prever e controlar a velocidade


das reações químicas, de modo que sejam rápidas o suficiente para proporcionar
o melhor aproveitamento do ponto de vista prático e econômico, mas não tão
rápidas a ponto de oferecer risco de acidentes.

• A teoria das colisões nos diz que, para que duas ou mais substâncias possam
reagir, suas moléculas devem colidir entre si, de modo que ocorra a quebra das
ligações já existentes, permitindo assim a formação de novas ligações que irão
formar um novo produto.

• Para que a colisão ocorra de forma efetiva, o choque entre as moléculas deve
ocorrer com uma orientação favorável e energia suficiente para que as ligações
existentes se rompam e novas ligações sejam feitas.

• Energia de ativação (Ea) é o valor mínimo de energia necessária que as moléculas


dos reagentes devem possuir para que a colisão entre elas seja de fato eficaz,
para a ocorrência da reação.

• Quanto maior for a energia de ativação necessária, mais lenta será a reação.

• Alguns fatores que influenciam a velocidade das transformações são:


ᵒ Temperatura
ᵒ Superfície de contato
ᵒ Catalisador
ᵒ Concentração dos reagentes

• O aumento da temperatura aumenta a energia cinética das moléculas, o que


resulta no aumento da velocidade da reação.

• Quanto maior a superfície de contato, maior o número de moléculas reagindo,


o que resulta no aumento da velocidade da reação.

• O uso de catalisadores em reações químicas resulta no aumento da velocidade


da reação.

• O aumento da concentração dos reagentes aumenta a frequência da colisão


entre as moléculas, e resulta no aumento da velocidade da reação.
183
AUTOATIVIDADE

1 Sobre catalisadores, são feitas as quatro afirmações a seguir:

I. São substâncias que aumentam a velocidade de uma reação.


II. Reduzem a energia de ativação da reação.
III. As reações nas quais atuam não ocorreriam nas suas ausências.
IV. Enzimas são catalisadores biológicos.

Dentre estas afirmações, estão corretas apenas:


a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I, II e III.
d) ( ) I, II e IV.

2 Em determinada experiência, a reação de formação de água está ocorrendo


com o consumo de 4 mols de oxigênio por minuto. Consequentemente, a
velocidade de consumo de hidrogênio é de
2 H2 + O2 → 2 H2O.

a) ( ) 8 mols/minuto
b) ( ) 4 mols/minuto
c) ( ) 12 mols/minuto
d) ( ) 2 mols/minuto

3 Em uma reação, sobre o complexo ativado podemos afirmar que:

a) ( ) É um composto instável.
b) ( ) Age como catalisador.
c) ( ) Possui menos energia que os reagentes ou os produtos.
d) ( ) É composto estável.

4 De acordo com a reação: X → Y + Z. A variação na concentração de X em


função do tempo é:

X (mol/L) 1,0 0,7 0,4 0,3


Tempo (s) 0 120 300 540

A velocidade média da reação no intervalo de 2 a 5 minutos é:


a) ( ) 0,3 mol/L.min.
b) ( ) 0,1 mol/L.min.
c) ( ) 0,5 mol/L.min.
d) ( ) 1,0 mol/L.min

184
5 O que é energia de ativação?

6 O que acontece com a concentração dos reagentes em uma reação química, à


medida que vão se formando os produtos?

185
186
UNIDADE 3
TÓPICO 3

EQUILÍBRIO QUÍMICO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico vamos falar sobre equilíbrio relacionado às
reações químicas. Esse equilíbrio é chamado também de equilíbrio dinâmico, e é
um dos assuntos mais importantes dentro da química, porque ele reúne todos os
aspectos de estudo da matéria que vimos até agora.

O seu estudo é de grande importância, seja na área química, biológica ou


econômica. Conhecer e manipular o equilíbrio de uma reação significa aumentar
o rendimento de processos industriais, ajudar a manter o funcionamento do
nosso organismo de forma adequada, como o seu pH estável.

Um dos grandes progressos da história da química foi a compreensão de


que as reações químicas nem sempre se completam, isto é, nem sempre apresentam
um rendimento de 100%. Os químicos observaram que, em muitos casos, mesmo
após tempo suficientemente prolongado (após a mistura dos reagentes) para que
a reação acabe, ainda restam reagentes no sistema (PERUZZO; CANTO, 2003;
UTIMURA, 1998; PERUZZO; CANTO, 2009).

Considerando uma situação inicial em que há apenas reagentes, um


sistema pode convergir para uma situação em que há reagentes e produtos
existindo simultaneamente, com concentrações invariáveis ao longo do tempo
(ATKINS, 2003; BRADY, 1986; FELTE, 2004). O estudo desta situação, onde a
reação se comporta como se houvesse parado de reagir, é o que trata o equilíbrio
químico que veremos neste tópico.

Inicialmente, veremos o conceito de equilíbrio dinâmico, e os conceitos


das constantes de equilíbrio: em função das concentrações (Kc), em função das
pressões parciais (Kp) e o grau de equilíbrio (α). Também veremos os fatores que
influenciam o equilíbrio de uma reação e o deslocamento desse equilíbrio em
função do Princípio de Le Chatelier.

2 CONCEITO DE EQUILÍBRIO QUÍMICO


Como já estudamos anteriormente, muitas reações ocorrem completamente,
ou seja, até que pelo menos um dos reagentes seja totalmente consumido. Um
exemplo desse tipo de reação é a que acontece quando queimamos um palito
de fósforo. Esse tipo de reação chamamos de reação irreversível (USBERCO;
SALVADOR, 2002; MORTIMER; MACHADO, 2013).
187
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Existem também as reações reversíveis, que são aquelas em que os


reagentes se convertem em produtos e estes podem retornar à forma inicial,
ou seja, a reação se processa simultaneamente nos dois sentidos, formação dos
produtos e/ou regeneração dos reagentes irreversíveis (USBERCO; SALVADOR,
2002; MORTIMER; MACHADO, 2013; FELTRE, 2004).

E o estudo do equilíbrio químico se baseia nas reações reversíveis, e estas
se encontram em estado de equilíbrio quando as velocidades das reações direta e
inversa se igualam, ou seja, quando a velocidade de formação do produto (reação
direta) se iguale à velocidade de regeneração dos reagentes (reação inversa)
(FELTRE, 2004; PERUZZO; CANTO, 2003; ATKINS, 2003).

ATENCAO

Resumindo: Equilíbrio químico é a situação na qual as concentrações dos


participantes da reação não se alteram (reagentes e produtos), pois as reações direta e inversa
estão se processando com velocidades iguais. É uma situação de equilíbrio dinâmico (FELTRE,
2004; PERUZZO; CANTO, 2003; ATKINS, 2003).

Um exemplo bem prático e possível de ser observado macroscopicamente


é o que ocorre com a água líquida contida em um frasco hermeticamente fechado
(USBERCO; SALVADOR, 2002). Vamos analisar o que ocorre com água contida
nesse frasco sob foco do equilíbrio químico, de acordo com a figura a seguir.

FIGURA 97 - EQUILÍBRIO ENTRE A FASE LÍQUIDA E DE VAPOR

Vd
Vd Vi H2O(I) H2O(v)
H2O(v) Vi

H2O(I) Vd = velocidade de vaporização


Vi = velocidade de condensação
FONTE: Usberco e Salvador (2002)

188
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

No sistema da figura anterior temos representadas moléculas de água


passando continuamente do estado líquido para o de vapor e do de vapor para o
líquido, o que nos indica que está ocorrendo uma transformação física. Quando
a velocidade de vaporização (vd) se iguala à de condensação (vi), dizemos que o
sistema atingiu o equilíbrio.

Vamos usar um exemplo de reação química em equilíbrio. Considerando


que o experimento foi realizado em laboratório, onde o consumo dos reagentes
e a formação dos produtos foram monitorados em tempos distintos, conforme
tabela a seguir.

CO (g) + NO2 (g) CO2 (g) + NO (g)

Vamos imaginar o sistema inicial em que 1,00 mol de CO e 1,00 mol de NO2
foram colocados em um recipiente fechado de 1 litro de capacidade, e mantidos
à temperatura constante de 600 °C. Nesse instante inicial da experiência, teremos
apenas CO em 1,00 mol/L e NO2 1,00 mol/L e ainda não teríamos nem CO2 nem
NO.

Iniciada a reação, vamos considerar os valores da tabela, onde a


concentração de cada substância presente na reação está indicada em mol/L.

TABELA 4 - DADOS EXPERIMENTAIS SOBRE EQUILÍBRIO DE UMA REAÇÃO QUÍMICA


Tempo
de reação CO (g) + NO2 (g) CO2 (g) + NO (g) (600 oC)
(min)

0 1,00 1,00 0 0 A reação vai começar

10 0,50 0,50 0,50 0,50

A reação está
20 0,32 0,32 0,68 0,68
caminhando

30 0,24 0,24 0,76 0,76

40 0,20 0,20 0,80 0,80


A reação chegou ao
50 0,20 0,20 0,80 0,80 equilíbrio

60 0,20 0,20 0,80 0,80

FONTE: Feltre (2004)

189
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Podemos observar, através dos dados experimentais, que dos 40min aos
60min, as concentrações dos reagentes e dos produtos não mudam, dessa forma
podemos entender que a partir desse ponto permanecerão inalteradas.

Embora não possamos ver o que ocorre microscopicamente, de acordo


com o comportamento constatado pelos dados experimentais, essa reação atingiu
seu equilíbrio a partir dos 40min.

Esse equilíbrio ocorre porque à medida que a reação vai acontecendo no


sentido direto, ou de formação dos produtos, os reagentes são consumidos e,
consequentemente, a velocidade da reação vai diminuindo. Vimos os fatores que
influenciam na velocidade de uma reação química, e a concentração é um deles.
Como vimos, nas reações reversíveis ocorrem simultaneamente em ambos os
sentidos, direto e inverso, e quando as velocidades de formação e regeneração
dos reagentes se igualam, o sistema entra em um equilíbrio dinâmico, pois as
reações entre as moléculas continuam ocorrendo (USBERCO; SALVADOR, 2002;
FELTRE, 2004; PERUZZO; CANTO, 2003; ATKINS, 2003).

2.1 EQUILÍBRIO HOMOGÊNEO E HETEROGÊNEO


Equilíbrios homogêneos: são os que ocorrem em reações nas quais todos
os reagentes e produtos estão em uma mesma fase, formando assim um sistema
homogêneo, como no exemplo (SARDELLA, 2005, USBERCO; SALVADOR, 2002;
FONSECA, 2013):

• Sistemas gasosos: reagentes e produtos no estado gasoso.


H2(g) + I2(g) 2 HI(g)
N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g)
2 SO2(g) + O2(g) 2 SO3(g)

• Sistema aquoso: reagentes e produtos no estado líquido. Reação entre um ácido


+ álcool, formando éster e água.
CH3COOH (aq) + C2H5OH (aq) CH3COOC2H5 (aq) + H2O (l)

• São comuns também em equilíbrios iônicos, em solução:


HCl (aq) H+(aq) + Cl-(aq)

Equilíbrios Heterogêneos: são os que ocorrem em reações nas quais os


reagentes e produtos estão em mais de uma fase, formando assim um sistema
heterogêneo. Eles envolvem, em geral, substâncias sólidas e gasosas, como nos
exemplos (SARDELLA, 2005; USBERCO; SALVADOR, 2002; FONSECA, 2013):

190
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

• C (s) + O2 (g) 2 CO (g)


• Fe2O3 (s) + CO (g) 2 FeO (s) +CO2 (g)

A distinção entre os equilíbrios homogêneos e os heterogêneos se faz


necessária, porque as leis possuem algumas aplicações diferentes, conforme o
tipo de equilíbrio (heterogêneo ou homogêneo).

2.2 GRAU DE EQUILÍBRIO


Caro acadêmico, até agora vimos os conceitos básicos de equilíbrio
químico, sobre os quais é possível extrair informações qualitativas das reações. A
partir de agora, vamos estudar as relações matemáticas relacionadas ao equilíbrio
de uma reação.

O grau de equilíbrio (α) é uma grandeza que caracteriza o equilíbrio


químico. Ele corresponde ao rendimento de uma reação química, e é definido
pela relação entre a quantidade de um reagente (em mols) que realmente reagiu,
até atingir o equilíbrio e a quantidade inicial de mols desse reagente. O grau
de equilíbrio pode ser calculado pela expressão (SARDELLA, 2005; USBERCO;
SALVADOR, 2002; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004):

Quantidade de mols que reagiu


a=
Quantidade inicial de mols

Vamos usar como exemplo os dados da tabela anterior para a reação


(SARDELLA, 2005; FELTRE, 2004):

• CO (g) + NO2 (g) CO2 (g) + NO (g), onde vimos que, partindo-se de 1,00 mol
de CO, depois de 40 minutos, chega-se a um equilíbrio em que ainda existe
0,20 mol de CO sem reagir. Isso indica que apenas 0,80 mol de CO reagiram
(1,00 mol # 0,20 mol). A partir desse raciocínio, usando a expressão do grau de
equilíbrio é possível determinar qual foi o rendimento em % dessa reação.

0,80 mol de CO reagiu


a a ⇒ 0,80
1,00 mol inicial de CO

Para encontrarmos α = %, basta multiplicarmos o valor encontrado na


expressão por 100. Assim, temos que α = 80%.

191
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

NOTA

• α próximo de 1 (ou α% próximo de 100%) indica que, no equilíbrio, sobram


apenas pequenas quantidades de reagentes, enquanto se formam grandes quantidades de
produtos. Neste contexto, dizemos que a reação teve um alto rendimento.

• α próximo de zero (ou α% próximo de zero) indica a situação oposta, isto é, no equilíbrio
sobram grandes quantidades de reagentes (sem reagir), enquanto a formação de produtos
é pequena. Neste contexto, temos uma reação com baixo rendimento (SARDELLA, 2005;
USBERCO; SALVADOR, 2002; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004).

2.3 CONSTANTE DE EQUILÍBRIO EM FUNÇÃO DA


CONCENTRAÇÃO
A constante de equilíbrio em função das concentrações é expressa em
mol/L, é o produto das concentrações dos produtos da reação dividido pelo
produto das concentrações dos reagentes, todas elevadas a expoentes iguais aos
seus coeficientes na equação química (SARDELLA, 2005; USBERCO; SALVADOR,
2002; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004).

éC ]c é D]d
ê ê
aA + bB  cC + dD ® Kc = ë a ë b
é A ù é Bù
ë û ë û

A constante de equilíbrio Kc, do modo como foi definida, é válida apenas


para sistemas homogêneos e ideais (soluções diluídas, gases a baixa pressão).
Além disso, o valor de Kc permanece constante apenas quando os participantes
da reação estão realmente em equilíbrio, em um recipiente fechado e mantido a
uma temperatura constante (SARDELLA, 2005; ATKINS, 2003; FONSECA, 2013;
FELTRE, 2004).

Foi estabelecida em 1864 pelos cientistas noruegueses Cato Maximilian


Guldberg e Peter Waage. Ambos elaboraram a teoria que ficou conhecida como
“Lei de Ação das Massas” ou “Lei de Guldberg-Waage” (FELTRE, 2004).

Vamos fazer juntos um exemplo onde determinaremos a Kc – constante


de equilíbrio de uma reação, o valor de Kc é calculado experimentalmente, então
vamos usar os dados hipotéticos de um experimento onde as concentrações das
substâncias presentes são monitoradas em um espaço de tempo (SARDELLA,
2005; USBERCO; SALVADOR, 2002; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004):

192
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

• Vamos considerar a 1ª situação:

CO(g) + NO2(g) CO2(g) + NO(g)


Concentrações
1,0 1,0 0 0
iniciais (mol/L)
Concentrações no
0,20 0,20 0,80 0,80
equilíbrio (mol/L)

éC ]c é D]d
ê
Para calcularmos a Kc, vamos usar a expressão: Kc = ë a ë b
ê
é ù é ù
ë A û ë Bû
Resolução: Kc =
0,80.0,80
= 16
0, 20.0, 20

• Vamos considerar a 2ª situação:

CO(g) + NO2(g) CO2(g) + NO(g)


Concentrações
2,0 1,0 0 0
iniciais (mol/L)
Concentrações no
1,053 0,053 0,974 0,974
equilíbrio (mol/L)

0,974.0,974
Resolução: Kc = = 16
1,053.0,053
A partir dos resultados de Kc para as duas situações propostas, podemos
observar que embora as concentrações iniciais dos reagentes tenham sido diferentes
e consequentemente com equilíbrios químicos em concentrações diferentes, a
Kc se manteve a mesma para ambos. Essa é uma das principais características
da Kc, pode haver uma infinidade de estados de equilíbrio diferentes, mas o
valor numérico de Kc permanece constante enquanto a temperatura se mantiver
inalterada (SARDELLA, 2005; USBERCO; SALVADOR, 2002; FONSECA, 2013;
FELTRE, 2004).

3 DESLOCAMENTO DO EQUILÍBRIO
Como já sabemos, quando as velocidades da reação direta e da inversa
se igualam, um processo químico entra em equilíbrio. A partir desse instante, as
concentrações de reagentes e produtos permanecem constantes, e a reação entra
em um estado de equilíbrio, como se parasse de ocorrer.

No entanto, esse equilíbrio químico pode ser alterado de acordo com


o interesse envolvido no processo, por meio de algumas ações externas que

193
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

provoquem alteração das concentrações de reagentes e produtos. Tal tipo de


interferência é chamada de perturbação do equilíbrio, e tem por consequência o que
denominamos de deslocamento do equilíbrio (SARDELLA, 2005; MORTIMER;
MACHADO, 2013; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004; PERUZZO; CANTO, 2009).

Existe um princípio químico muito importante e conhecido na química,


que permite prever qual será o efeito de uma perturbação sobre um equilíbrio.
Ele é denominado Princípio de Le Chatelier:

NOTA

Princípio de Le Chatelier
Quando um sistema em equilíbrio sofre uma perturbação, este se desloca no sentido que
tende a anular essa perturbação: para voltar ao estado de equilíbrio anterior; ou para criar um
novo estado de equilíbrio.
Os fatores que podem afetar a condição de equilíbrio de um sistema são: concentração,
pressão, temperatura (FELTRE, 2004; PERUZZO; CANTO, 2009; FONSECA, 2013).

A indústria química utiliza o conhecimento desse fenômeno para aprimorar


a obtenção de diversos produtos de grande interesse, como amônia, ácido nítrico,
ácido sulfúrico, minimizando as perdas de reagentes e maximizando os lucros
(FELTRE, 2004).

Vamos entender como esses fatores agem sobre o equilíbrio de um sistema,


conhecendo cada um deles.

3.1 EFEITO DA CONCENTRAÇÃO


Em um sistema em equilíbrio, sob pressão e temperatura constantes,
aumentando a concentração de uma das substâncias participantes (reagente ou
produto), o equilíbrio se desloca no sentido do consumo dessa substância que foi
adicionada, com o intuito de restabelecer o equilíbrio (SARDELLA, 2005).

Diminuindo a concentração de uma das substâncias participantes


(reagente ou produto), o equilíbrio se desloca no sentido da formação dessa
substância que foi retirada, novamente com o intuito de restabelecer o equilíbrio
(SARDELLA, 2005; PERUZZO; CANTO, 2009).

194
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

E
IMPORTANT

O efeito causado pela alteração da concentração não se aplica a compostos


sólidos, porque a concentração de um sólido é constante e não depende da quantidade.
Assim, se alterarmos a quantidade de um reagente e/ou produto sólido, o equilíbrio não será
deslocado (SARDELLA, 2005).

Vamos analisar um exemplo deixado por Sardella (2005); Fonseca (2013);


Feltre, (2004):

• Para a reação de síntese da amônia:


N 2(g) + 3 H 2(g)  2 NH 3(g)

o Se adicionarmos mais N2(g), ocorrerá o deslocamento da reação para a direita,


no sentido de formação da 2NH3(g), a partir do N2(g) e do 3H2(g).
o Se retirarmos parte do N2(g), ocorrerá o deslocamento da reação para a
esquerda, no sentido de formação do N2(g) que foi retirado, a fim de restabelecer
o equilíbrio.

Resumidamente, podemos dizer que:

Aumentando a concentração de um
participante da reação, o equilíbrio desloca-se
no sentido do seu consumo.

Dimuindo a concentração de um
participante da reação, o equilíbrio desloca-se
no sentido da sua formação.

3.2 EFEITO DA PRESSÃO


Quando perturbamos o equilíbrio de uma reação química em função da
pressão, podemos dizer que: o aumento da pressão total desloca o equilíbrio
no sentido de menor volume, pois a redução no volume minimiza o efeito da
pressão aplicada, e a redução da pressão total desloca o equilíbrio no sentido
de maior volume, pois o aumento de volume minimiza a redução da pressão
(SARDELLA, 2005; MORTIMER; MACHADO, 2013; FONSECA, 2013; FELTRE,
2004; PERUZZO; CANTO, 2009; UTIMURA; LINGUANOTO, 1998).

195
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Vamos analisar um exemplo deixado por Fonseca (2013), Feltre (2004),


Peruzzo e Canto (2009):

• Para a síntese da amônia de acordo com a reação:

1 N 2(g) + 3 H 2(g)  2 NH 3(g)

4 mols 2 mols
4 volumes 2 volumes

o Considerando a equação, vemos que do lado dos reagentes temos 4 mols e


do lado dos produtos temos 2 mols. Fica evidente que o volume no lado dos
reagentes é maior que o volume no lado dos reagentes.
o Se aumentarmos a pressão total do sistema, o equilíbrio irá se deslocar para o
lado do menor volume, ou seja, da menor quantidade total de mols.
o Se diminuirmos a pressão total do sistema, o equilíbrio irá se deslocar para o
lado de maior volume, ou seja, da maior quantidade total de mols.

Resumidamente, podemos dizer que:

Aumentando a pressão do sistema,


o equilíbrio desloca-se no sentido em que há
menor volume gasoso.

Diminuindo a pressão do sistema,


o equilíbrio desloca-se no sentido em que há
maior volume gasoso.

3.3 EFEITO DA TEMPERATURA


A temperatura, além de provocar deslocamento do equilíbrio, é o único
fator responsável por alterações na constante de equilíbrio (Kc). Num sistema
em equilíbrio, sempre temos duas reações: a endotérmica, que absorve calor, e
a exotérmica, que libera calor (ATKINS, 2003; FONSECA, 2013; FELTRE, 2004;
PERUZZO; CANTO, 2009).

Quando aumentamos a temperatura, favorecemos a reação que absorve


calor. Por outro lado, quando há diminuição da temperatura, favorecemos a
reação que libera calor, isto quer dizer que o aumento da temperatura desloca o
equilíbrio no sentido endotérmico (de modo que a absorção de calor pela reação

196
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

venha a minimizar a elevação da temperatura); a diminuição da temperatura


desloca o equilíbrio no sentido exotérmico (de modo que a liberação de calor
pela reação venha a minimizar a diminuição da temperatura) (FONSECA, 2013;
FELTRE, 2004; PERUZZO; CANTO, 2009).

Vamos analisar um exemplo deixado por Sardella (2005) e Feltre (2004):

• Para a reação abaixo, o que acontecerá com a concentração de PCl5(g), se a


temperatura do sistema for aumentada sem variar a pressão?

PCl5(g)  PCl
PCl +
3( g5)( g)
Cl2PCl ÄH =+
( g) 3( g)
+ Cl39,
2( g)
Δ kcal
5ÄH =+ / mol
39, 5 kcal / mol

o A reação acima é endotérmica no sentido direto, já que seu ∆H é positivo.


o Ao adicionarmos calor aumentando a temperatura do sistema, estaremos
deslocando o equilíbrio para a direita, sentido no qual a reação é endotérmica.
o Dessa forma, com o equilíbrio deslocado no sentido de formação dos produtos,
teremos uma diminuição da concentração de PCl5(g).

E
IMPORTANT

Quando os volumes ou números de mols forem iguais ao lado dos reagentes


e dos produtos, o aumento ou redução da pressão não irá deslocar o equilíbrio, porque os
volumes não variam (SARDELLA, 2005).

Aumentando a temperatura, o sistema


desloca o equilíbrio no sentido endotérmico.

Diminuindo a temperatura, o sistema


desloca o equilíbrio no sentido exotérmico.

197
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

UNI

Equilíbrio químico em lentes


fotossensíveis
Você já viu óculos de sol cujas lentes escurecem
sob a luz do Sol e clareiam dentro de casa?
São denominados óculos fotocromáticos, e
correspondem a um perfeito exemplo do Princípio
de Le Chatelier em ação. As lentes fotocromáticas
possuem cristais de cloreto de prata (AgCl)
incorporados diretamente ao vidro. Quando a
radiação ultravioleta atinge os cristais de cloreto
de prata, eles escurecem. Isso ocorre quando os
íons prata (Ag+) são reduzidos à prata metálica
(Ag) pelos íons cloreto (Cl-), que se transformam
em átomos de cloro elementar (Cl):
AgCl (incolor) + energia luminosa Ag (escuro) + Cl
Os milhões de átomos de prata resultantes dão uma cor escura à lente. Na reação inversa,
átomos de prata se recombinam com átomos de cloro para formar AgCl e liberar energia. A
reação inversa acontece porque os átomos de prata e de cloro estão presos no vidro e não
escapam.
Quanto maior a incidência de luz, maior o número de átomos de prata formados. O aumento
da incidência de luz desloca o equilíbrio para a direita, fazendo a lente escurecer. Ao entrar
em um local escuro, a diminuição da incidência de luz desloca o equilíbrio para a esquerda,
clareando a lente. Se você usa óculos fotocromáticos, pode dizer que o Princípio de Le
Chatelier é demonstrado bem na frente de seus olhos!

FONTE: BLOOMFIELD, M. M.; STEPHENS, L. J. Chemistry and the living organism. 6. ed. New
York, Wiley, 1996. p. 202.

198
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

LEITURA COMPLEMENTAR

O PROCESSO DE HABER-BOSCH

No antigo Egito, por aquecimento do esterco de camelo era obtido um sal


que ficou conhecido como sal amoníaco (NH4Cl), em homenagem ao deus Amon.
Na decomposição desse sal forma-se a amônia (NH3), cujo nome, portanto, está
relacionado ao nome do mitológico deus egípcio. A decomposição do sal amoníaco
pode ser equacionada assim: NH4Cl(s) → NH3(g) + HCl(g)

Atualmente, a amônia é um dos mais


importantes compostos industriais, sendo
matéria-prima para a fabricação de, entre outras
coisas, produtos de limpeza, ácido nítrico,
fertilizantes, explosivos, ração para gado, náilon
e espuma para colchões e travesseiros.

A reação de síntese da amônia é muito


lenta à temperatura ambiente para que possa ser Fabrica produção amônia.

empregada industrialmente. Em temperaturas


mais altas, em que a rapidez poderia ser aceitável para
um processo industrial, o processo apresenta um baixo
rendimento devido à reduzida constante de equilíbrio.

N2 (g) + 3 H2 (g) 2 NH3 (g)

Isso significa que, se a intenção é produzir NH3


industrialmente, é necessário um modo de aumentar a
velocidade da reação e, além disso, deslocar o equilíbrio para
a direita, formando mais amônia. O alemão Fritz Haber e o
norte-americano Carl Bosch conseguiram otimizar a síntese
Carl Bosch (1874-1940),
da amônia, o que lhes valeu o Prêmio Nobel de Química Prêmio Nobel em 1931.
(Haber em 1918 e Bosch em 1931).

O chamado processo de Haber-Bosch utiliza três


condições: catalisador, alta temperatura e alta pressão.

O catalisador, como sabemos, não desloca equilíbrio,


mas aumenta a rapidez da reação, fazendo com que o
equilíbrio seja atingido mais rapidamente. A alta temperatura
também serve para aumentar a velocidade da reação.

A variação de entalpia para a reação de síntese da


amônia é negativa. Decorre que um aumento de temperatura
Fritz Haber (1868-1934),
desloca esse equilíbrio para a esquerda (isto é, no sentido Prêmio Nobel em 1918.
endotérmico), o que diminui o rendimento da produção de
amônia.
199
UNIDADE 3 | FATORES QUE INFLUENCIAM AS REAÇÕES QUÍMICAS

Exotérmico
N2 (g) + 3 H2 (g) 2 NH3 (g) + calor ΔHo = -91,8 kJ
Endotérmico

O aumento da temperatura favorece reação inversa

Porém, o aquecimento é necessário para aumentar a velocidade da reação,


já que a baixas temperaturas a reação é tão lenta que o tempo que se perderia
na produção seria proibitivamente elevado. Para tentar compensar o fato de o
aquecimento diminuir o rendimento da produção de NH3, utiliza-se alta pressão,
que favorece a reação para a direita (isto é, no sentido do menor volume gasoso).

N2 (g) +3 H2 (g) 2 NH3 (g)


4 volumes 2 volumes

O aumento da temperatura favorece reação inversa

O gráfico mostra a influência conjunta da pressão e da temperatura


no rendimento da produção de NH3. Uma vez que não é possível aumentar
excessivamente a temperatura, a solução para promover o aumento de velocidade
da reação é o uso de catalisadores. Nas indústrias usa-se, por exemplo, o Fe3O4
como catalisador, misturado a promotores de catálise como KOH, SiO2, Al2O3 etc.

Rendimento da produção de amônia a várias temperaturas

NH3 no equilíbrio (%)


100 200 oC
300 oC

400 oC

500 oC
50
600 oC

500 1.000 Pressão (atm)

A síntese de Haber-Bosch teve um papel histórico importante, pois


proporcionou aos alemães a possibilidade de resistir ao bloqueio dos aliados
durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). De fato, devido ao embargo
inimigo, a Alemanha não conseguia mais importar o salitre necessário para a

200
TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO QUÍMICO

fabricação de explosivos. Com a síntese de NH3, os alemães produziam HNO3


e deste chegavam aos explosivos de que necessitavam. Esses fatos mostraram à
humanidade a grande importância da Química – cujo desenvolvimento sofreu, a
partir daquela ocasião, um impulso bastante acentuado.
FONTE: PERUZZO, F. M.; CANTO, E. L. Química – Suplemento de Revisão. 5. ed. São Paulo:
Moderna, 2009.

201
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Conhecer e manipular o equilíbrio de uma reação significa aumentar o


rendimento de processos industriais, ajuda a manter o funcionamento do
nosso organismo de forma adequada, como o seu pH estável.

• O estudo do equilíbrio químico se baseia nas reações reversíveis, e estas se


encontram em estado de equilíbrio quando as velocidades das reações direta e
inversa se igualam.

• Equilíbrio químico é a situação na qual as concentrações dos participantes da


reação não se alteram (reagentes e produtos), pois as reações direta e inversa
estão em processo.

• Equilíbrios homogêneos: são os que ocorrem em reações nas quais todos os


reagentes e produtos estão em uma mesma fase, formando assim um sistema
homogêneo com velocidades iguais. É uma situação de equilíbrio dinâmico.

• Equilíbrios heterogêneos: são os que ocorrem em reações nas quais os


reagentes e produtos estão em mais de uma fase, formando assim um sistema
heterogêneo.

• O grau de equilíbrio (α) é uma grandeza que caracteriza o equilíbrio químico.


Ele corresponde ao rendimento de uma reação química, e é definido pela
relação entre a quantidade de um reagente (em mols) que realmente reagiu,
até atingir o equilíbrio, e a quantidade inicial de mols desse reagente.

• A constante de equilíbrio em função das concentrações é expressa em mol/L,


é o produto das concentrações dos produtos da reação dividido pelo produto
das concentrações dos reagentes, todas elevadas a expoentes iguais aos seus
coeficientes na equação química.

• O equilíbrio químico pode ser alterado de acordo com o interesse envolvido


no processo, por meio de algumas ações externas que provoquem alteração
das concentrações de reagentes e produtos. Tal tipo de interferência é chamado
de perturbação do equilíbrio, e tem por consequência o que denominamos de
deslocamento do equilíbrio.

• Princípio de Le Chatelier: Quando um sistema em equilíbrio sofre uma


perturbação, este se desloca no sentido que tende a anular essa perturbação.

202
• Os fatores que podem afetar a condição de equilíbrio de um sistema são:
concentração, pressão, temperatura.

• Diminuindo a concentração de uma das substâncias participantes (reagente ou


produto), o equilíbrio se desloca no sentido da formação dessa substância que
foi retirada, novamente com o intuito de restabelecer o equilíbrio.

• O aumento da pressão total desloca o equilíbrio no sentido de menor volume,


pois a redução no volume minimiza o efeito da pressão aplicada, e a redução da
pressão total desloca o equilíbrio no sentido de maior volume, pois o aumento
de volume minimiza a redução da pressão.

• O aumento da temperatura desloca o equilíbrio no sentido endotérmico; a


diminuição da temperatura desloca o equilíbrio no sentido exotérmico.

• Quando os volumes ou números de mols forem iguais ao lado dos reagentes e


dos produtos, o aumento ou redução da pressão não irá deslocar o equilíbrio,
porque os volumes não variam.

203
AUTOATIVIDADE

1 Uma reação química atinge o equilíbrio químico quando:

a) ( ) Ocorre simultaneamente nos sentidos direto e inverso.


b) ( ) As velocidades das reações direta e inversa são iguais.
c) ( ) Os reagentes são totalmente consumidos.
d) ( ) A temperatura do sistema é igual a do ambiente.

2 Em determinadas condições de temperatura e pressão, existe 0,5 mol/L de
N2O4 em equilíbrio com 2 mol/L de NO2, segundo a equação N2O4(g) 2 NO2(g).
Qual o valor da constante (Kc) desse equilíbrio, nas condições da experiência?

a) ( ) Kc = 6
b) ( ) Kc = 11
c) ( ) Kc = 8
d) ( ) Kc = 1

3 A constante de equilíbrio para a reação, N2 (g) +3 H2 (g) 2 NH3 (g), diminui


com o aumento da temperatura. Com base nesse dado, pode-se afirmar que:

a) ( ) A formação de NH3 é uma reação exotérmica.


b) ( ) O equilíbrio da reação desloca-se para a direita, com o aumento da
temperatura.
c) ( ) Há diminuição da velocidade da reação endotérmica pelo aumento da
temperatura.
d) ( ) A formação de NH3 ocorre com absorção de calor.

4 A reação entre o clorofórmio e o cloro ocorre em sistema fechado e está


apresentada a seguir:

CHCl3(g) + Cl2(g) CCl4(g) + HCl(g)

Para minimizar a formação de HCl, deve-se aumentar o(a):


a) ( ) concentração de Cl2
b) ( ) pressão do sistema.
c) ( ) concentração de CCl4.
d) ( ) concentração de CHCl3.

5 A seguir está representada a equação química balanceada que mostra a


combustão da amônia, etapa fundamental na fabricação do ácido nítrico:

4 NH3(g) + 5 O2(g) 4 NO2(g) + 6 H2O(g) ΔH < 0

204
Essa reação produzirá a quantidade máxima de NO2 (óxido de nitrogênio), nas
seguintes condições de pressão e temperatura, respectivamente:
a) ( ) alta/alta.
b) ( ) alta/baixa.
c) ( ) baixa/alta.
d) ( ) baixa/baixa.

205
206
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