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POLÍTICA NACIONAL
Em seguida, o Presidente passou a ser criticado nas redes após ter anunciado em seu
Twitter a indicação de Carlos Victor Guerra Nagem para o cargo de Gerente Executivo
de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras. O nome ainda será submetido aos
procedimentos internos de governança da Petrobras, alertou Bolsonaro, que adiantou
que o indicado é funcionário da estatal há 11 anos, seis deles nesta área, que possui
mestrado em administração, tem dez anos de docência e é capitão-tenente da Marinha.
Em um primeiro post, terminava a apresentação alertando que a "Era do indicado sem
capacitação técnica acabou". Mas apagou o tuíte e o refez, sem esta última frase. A
imprensa revelava algo que ele deixou de fora: Nagem é amigo de Bolsonaro.
É preciso devolver para o sistema de Seguridade Social os recursos retirados pela DRU,
pelas desonerações na folha do setor privado e cobrar os grandes caloteiros da
previdência. Essa são as primeiras medidas para combater o déficit fabricado pela
hegemonia do rentismo na condução das contas públicas e dar sustentabilidade ao
sistema.
A ilustração apresentada a seguir indica as diferenças das propostas de reforma da
Previdência de mesma linhagem privatista (Temer, Armínio Fraga, Federação Nacional
de Previdência Privada e Vida, Fábio Giambiagi e Governo Bolsonaro:
A área que revelou maior alinhamento do governo foi a da política externa. Desde a
posse, o governo refutou qualquer aproximação com países governados por partidos de
esquerda, em especial, Cuba e Venezuela, e chegou a fazer algumas abordagens
belicosas. Avançou na intenção de alinhamento com os EUA e Israel, abalados por
problemas internos nesses países e por desmentidos (como a instalação de bases
militares norte-americanas em solo brasileiro).
O MINISTÉRIO DE BOLSONARO
Vale destacar que metade da equipe de governo é investigada, sendo que um já foi
condenado em primeira instância. Outro elemento importante e preocupante é
presença forte de representantes do fundamentalismo religioso.
Nas primeiras horas de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou três atos:
uma medida provisória que determina a estrutura do novo governo, um decreto que
estabelece o novo valor do salário mínimo (R$ 998) e a nomeação de 21 dos 22 ministros
do novo governo. A medida provisória publicada em edição extraordinária do Diário
Oficial "estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos
Ministérios", oficializando fusões, extinções e transferências de órgãos e a criação da
superestrutura das pastas comandadas por Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e
Paulo Guedes (Economia)1.
1
De acordo com a medida, os seguintes órgãos integram a Presidência da República: Casa Civil, secretaria
de Governo, secretaria-geral, o gabinete pessoal do presidente, o gabinete de Segurança Institucional e a
Os ministérios são 16: Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Cidadania; Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações; Defesa; Desenvolvimento Regional; Economia;
Educação; Infraestrutura; Justiça e Segurança Pública; Meio Ambiente; Minas e Energia;
Mulher, Família e Direitos Humanos; Relações Exteriores; Saúde; Turismo; e a
Controladoria-Geral da União. De acordo com a nova organização, também possuem o
status de ministros de Estado o chefe da Casa Civil da Presidência da República; o chefe
da Secretaria de Governo da Presidência da República; o chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República; o advogado-geral da União; e o
Presidente do Banco Central.
A Casa Civil, chefiada por Onyx Lorenzoni (DEM), passa a contar com um secretário
especial para a Câmara e outro para o Senado.
Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais. Também integram a Presidência da República, mas
como órgãos de assessoramento, o Conselho de Governo, o Conselho Nacional de Política Energética, o
Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República, o Advogado-Geral da
União e a assessoria especial do presidente. A Presidência também conta com dois órgãos de consulta: o
Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional.
OS SEIS HOMENS DE PAULO GUEDES
Como secretário geral da Fazenda, o escolhido foi Waldery Rodrigues Júnior. Engenheiro
formado pelo ITA, mestre e doutor em economia, é pesquisador do Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (Ipea) e consultor do Senado Federal na área política econômica.
O secretário geral de Desburocratização, Gestão e Governo Digital será Paulo Uebel, ex-
diretor executivo do Instituto Millenium, fundado por Guedes para promover o
liberalismo econômico. Foi secretário de Gestão da prefeitura de São Paulo (gestão
Dória) e CEO Global do Lide - Grupo de Líderes Empresariais, além de participar da
Webforce Venture Capital.
Marcos Cintra (que já declarou a extinção do Refis) ficou com a Secretaria Especial da
Receita e da Previdência. Ele é ligado ao Instituto Millenium. Será responsável por
analisar a proposta de reforma no sistema de aposentadorias.
O DISCURSO DA POSSE
Nas posses dos Presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff foram
recebidas entre 110 a 130 delegações. Já na posse de Jair Bolsonaro não houve presença
de chefes de Estado ou de governo de países do G20, as vinte maiores economias do
mundo. A manchete do Época Negócios indicava o novo cenário: “Guinada ideológica
brasileira tem custo para relações exteriores.”
Seu primeiro discurso durou menos de 10 minutos, contra 44 de Lula em 2003, e teve
apelo ao Congresso. A manchete do UOL trazia: “Discursos de Bolsonaro são coleção de
tuítes temperada com messianismo”.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou, no discurso de posse, que naquele momento
o país começava a se livrar "do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal
e do politicamente correto".
Nos governos republicanos do Brasil, mesmo nas gestões dos presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), ambos do PT, nunca houve a
pretensão de superar o capitalismo nem de acabar com a propriedade privada, como
sustentam historiadores consultados, o que pareceu uma provocação política para
iniciados da parte do novo Presidente da República.
Ao fim da fala, o governante agarrou uma bandeira do Brasil e disse que ela jamais será
vermelha, em referência à cor adotada tradicionalmente pelos movimentos de
esquerda.
O que causou estranheza foi a oportunidade perdida para alinhar sua base eleitoral mais
pobre, que garantiu sua eleição. Seu discurso voltou-se para o segmento mais militante
e reacionário que o apoia, anti-petista e anti-esquerda, que provavelmente garantia a
margem apertada ao redor de 15% de intenção de votos antes do episódio da facada. A
maior porção dos votos que recebeu no segundo turno não são engajados
ideologicamente. Antes, pleiteiam a segurança, renda e condições de vida mais dignas.
60% dos brasileiros são contra a redução das reservas indígenas, segundo pesquisa do
instituto Datafolha publicada pela Folha de S. Paulo no início deste ano.
2. Salário mínimo
O Diário Oficial trouxe o novo valor do salário mínimo, que passou a valer desde o dia
1º de janeiro: R$ 998,00.
O valor é menor que o que havia sido previsto no ano passado pelo governo Michel
Temer (MDB), de R$ 1.006,00, uma correção de 5,45% sobre o salário mínimo anterior,
de R$ 954,00.
Funções de chefia no Ministério das Relações Exteriores não se restringirão mais apenas
ao corpo de servidores do Ministério. Ou seja, não diplomatas poderão exercer cargos
de chefia no Itamaraty.
Por fim, o texto também trouxe alterações internas em ministérios. O Coaf (Conselho de
Controle de Atividades Financeiras), como já havia sido anunciado, será vinculado ao
Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado pelo ex-juiz Sérgio Moro.
O Diário Oficial da União publicado nesta quarta, dia 2 de janeiro, estabelece um novo
estatuto do Coaf, criando duas novas diretorias - de Inteligência Financeira e de
Supervisão -, entre outras modificações.
Em fevereiro, os deputados federais dão início ao novo mandato com a tarefa de eleger
o presidente da Câmara e os integrantes da Mesa Diretora, órgão responsável por dirigir
os trabalhos administrativo e legislativo da Câmara. Trata-se de um dos pilares da
República nacional, com imenso poder desde o início das gestões lulistas e meio
ambiente do Baixo Clero.
Até agora, João Campos (PRB-GO), Alceu Moreira (MDB-RS), Capitão Augusto (PR-SP),
Giacobo (PR-PR), Fábio Ramalho (MDB-MG), JHC (PSB-AL) e Delegado Waldir (PSL-GO)
têm se movimentado para tentar a presidência da Casa daqui a três meses. João
Campos, que tem uma boa relação com Bolsonaro, angariou a simpatia do presidente
eleito. Contudo, a bancada do PSL, partido do Presidente da República, acabou fechando
11
acordo com Maia. O acordo com o PSL envolveu a promessa de que o partido vai ocupar
a segunda vice-presidência da Câmara e presidir a CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça), considerada sua principal comissão, além de chefiar a Comissão de Finanças e
Tributação.
O ex-líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), afirmou que para o governo,
é interessante ter uma pessoa que possa conversar com todos. “O Rodrigo não é o
preferido pelo PSL nem pela oposição, mas é o único que é aceito por ambos. Essa
capacidade de diálogo faz diferença no parlamento”.
O deputado federal eleito Marcelo Freixo (PSol) anunciou, logo em seguida, que
disputará a presidência da Câmara.
Entre PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL as divergências são evidentes. PDT e PCdoB
declararam apoio à reeleição com a justificativa de buscar garantir presença na Mesa
Diretora e nas principais comissões da Câmara dos Deputados, terão que arcar com o
ônus de se aliar a um candidato próximo de Bolsonaro. Luciana Santos justificou o
posicionamento do partido, "nossa relação política com Rodrigo Maia não vem de hoje.
Ele tem tido uma atitude de cumprir compromissos, é democrático e tem uma conduta
de respeito à institucionalidade num momento em que há muito desequilíbrio no
sistema de poder político no Brasil".
No PSB a decisão ainda não foi tomada. Está prevista reunião da bancada ainda em
janeiro para definir o rumo do partido nesta próxima legislatura. Embora Carlos Siqueira,
presidente do PSB tenha declarado de forma incisiva que o partido não apoiará a
recondução de Maia, é sabido que Paulo Câmara é sensível à questão. O líder do PSB na
Câmara Federal, deputado Tadeu Alencar, também já deu sinais de que o apoio não está
descartado, “vamos analisar os cenários. E vamos ver os cenários que o PDT e o PCdoB
também topam.” Segundo ele, a prioridade é preservar o bloco de oposição a Bolsonaro
formado pelos três partidos (32 deputados do PSB, 28 do PDT e 9 do PCdoB).
https://www.ocafezinho.com/2019/01/17/paulo-camara-pode-garantir-apoio-do-psb-
a-rodrigo-maia/
O PT, que tem a maior bancada da Casa, com 56 eleitos, anunciou, através de sua
Presidente Gleisi Hoffmann, que não existe hipótese de apoiar um candidato aliado ao
partido de Bolsonaro.
Até o momento, 12 partidos apoiam Maia, somando 283 deputados, número superior à
maioria absoluta, 257. Em tese, o número é suficiente para resolver a questão no
primeiro turno, mas como o voto é secreto, nada está garantido.
O expediente parece uma estratégia nitidamente definida visto que ela se repete
diariamente nos tuítes deste filho do Presidente.
O uso das redes sociais tem sentido porque, além de ter sido o veículo que fez a
candidatura de Bolsonaro superar a barreira dos 20% de intenção de votos, é apontado
por vários analistas como a maior frente de ataque oposicionista à Bolsonaro. Esta é o
vetor do artigo escrito por Hanrrikson de Andrade, do UOL, em Brasília, publicado em
10/01/2019, cujo título é “Governo Bolsonaro tem "tropeços", mas chega a 10 dias sob
pouca oposição”. O articulista sustenta que:
Com efeito, levantamento do portal Terra revelou que o Presidente Bolsonaro atacou
13
mídia e PT em 1/3 dos tuítes na 1ª semana (32% das suas publicações no Twitter, a
principal rede empregada pelos bolsonaristas neste início de governo, seguindo os
mesmos passos adotados por Donald Trump). Foram 22 ações nesse sentido entre as 68
divulgadas em sua conta oficial no Twitter nos primeiros sete dias de sua gestão
presidencial2.
O post mais curtido no perfil na última semana foi uma publicação em que o presidente
ironiza a imprensa ao pedir desculpas “por não estar indicando inimigos” em seu
governo. Foram 93.831 mil curtidas, 14.718 retweets e 9,3 mil comentários. A 2ª maior
2
Somente no Twitter, Jair Bolsonaro fez mais de 5,8 mil publicações desde quando criou seu perfil, em
março de 2010. Nesta mídia social, ele tem 2,99 milhões de seguidores. Até as 16h30 do dia 5 de janeiro,
tinha 2,8 milhões –ou seja, houve 1 crescimento de 1,1 milhão de seguidores em uma semana.
interação com os usuários foi na divulgação de sua foto oficial com a faixa presidencial.
Foram 93.608 curtidas, 10.990 retweets e 7,3 mil comentários.
OS MILITARES
Esta foi uma das tensões envolvendo os militares nestes primeiros dias de governo.
Almirante Bento Costa Lima Leite é o ministro de uma das mais estratégicas pastas que
podem garantir um futuro mais promissor ao Brasil: Minas e Energia. É diretor geral de
desenvolvimento tecnológico da Marinha e se especializou nas questões relativas à
energia nuclear, em especial, submarinos nucleares.
Estas regras estão previstas no modelo de correção do salário mínimo, válido a partir de
2006, e confirmadas em leis em 2011 e 2015, cujos critérios foram mantidos até 1º de
janeiro de 2019 pela Lei nº 13.152/2015.
Diferente de Temer, Bolsonaro conta com uma base popular de apoio. Até quando não
se sabe. Quais os aspectos possíveis para minar esta base de apoio? Outra incógnita. O
que vemos em comum, além das políticas neoliberais na economia e na gestão do
estado, um ataque frontal e violento a qualquer demanda popular e os seus sujeitos
políticos, a concepção de direito de cidadania e um total desrespeito à convivência
democrática.
Apesar dos limites dos processos democráticos no Brasil e dos poucos avanços que
alcançados nos últimos anos no sentido de termos um sistema político alicerçado na
soberania popular e de construção de políticas públicas realmente emancipatórias,
houve um reconhecimento de sujeitos tradicionalmente “esquecidos” pelo Estado e
pelos governos. Este reconhecimento não foi por acaso, mas sim, fruto de lutas e
organização destes sujeitos nas últimas décadas, para não falar em séculos. Basta
lembrar a luta dos quilombos, dos povos indígenas e das mulheres.
18
O “novo ciclo” como diria Cazuza de modo irônico “um museu cheio de novidades”!
precisava deslegitimar estes sujeitos, suas lutas e demandas. Se necessário, a eliminação
física e não apenas política. Não é à toa que a primeira medida do governo Bolsonaro
expressa na MP 870 foi a extinção de estruturas do Estado que possibilitavam um certo
tensionamento entre estes sujeitos e a estrutura de definição das políticas públicas.
Extinção ou subordinação aos seus algozes como, por exemplo, a demarcação de terras
indígenas, quilombolas e da reforma agrária ao agronegócio. A intenção do governo
Bolsonaro não é só acabar com as políticas públicas voltadas para este público, mas
também, se possível, a eliminação desses sujeitos.
Interessante aqui fazer uma análise curta sobre a composição das resistências que vimos
até o momento, majoritariamente mulheres, jovens das periferias, negros e negras,
comunidade LGBT´s, sem tetos e povos indígenas. Por quê? Porque justamente foram
estes segmentos que tencionaram os governos anteriores para implementar políticas
que minimamente atendessem suas demandas. Em outras palavras, foram para a luta,
foram para a disputa e as políticas públicas foram construídas neste tensionamento,
assim como foram criados espaços públicos de disputas e de formação.
Por que será que os “beneficiários” do aumento do salário mínimo (apesar da luta
histórica do movimento sindical e dos movimentos das mulheres), do Bolsa Família, do
“Luz para Todos” e das demais políticas ficaram vendo, na sua maioria, a banda passar?
Porque foram políticas implementadas sem a participação popular e sem mecanismos
de formação e de apropriação da política. A política não era deles, era uma benesse do
governo. Isso diz muito respeito a um tipo de institucionalidade que temos e das opções
políticas feitas por governos que não souberam governar com o povo. Estas questões
são importantes porque acabam condicionando de certa forma a nossa capacidade ou
não de resistência.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/01/registros-de-intolerancia-
triplicaram-em-sp-na-ultima-campanha-eleitoral.shtml
No que tange aos direitos dos povos indígenas, é justamente a volta de um discurso
assimilacionista – segundo o qual os indígenas devem ser “integrados à sociedade
brasileira”, podendo se “desenvolver economicamente como os demais brasileiros” -
que fundamenta a entrada descarada do grande capital em suas terras. Ignorando a
diversidade cultural e das distintas relações dos povos originários com seus territórios e
fingindo não ver que esse projeto de desenvolvimento é, assim, intrinsicamente
contrário à sua existência, esse discurso acompanha Bolsonaro desde antes da
campanha eleitoral e se reforça ainda na aliança com setores indígenas coadunados com
o agronegócio e a mineração, tais como o Movimento de Agricultores Indígenas, que
reivindica recursos federais para investimentos em agronegócio nas Terras Indígenas
(TI) e a legalização do arrendamento de terra. Se é verdade é que esses setores existem
nas TI – já que, como toda sociedade, as indígenas não são homogêneas- essas
reivindicações são explicitamente inconstitucionais e são utilizadas para reforçar a
narrativa dos poderosos de que os povos indígenas que se oponham ao atual governo
são, na verdade, manipulados por interesses e ongs internacionais contrários ao
desenvolvimento do país. Esse último ponto merece destaque pois está diretamente
conectado ao trabalho designado ao General Santos Cruz, que levará a cabo um
processo de monitoramento e criminalização das organizações da sociedade civil que,
no caso das organizações indigenistas, vem sendo construído ao menos desde a CPI da
Funai, finalizada ainda em 2017. Vale ainda destacar que o discurso assimilacionista é
constituinte da política indigenista historicamente levada a cabo pelos militares no país
– os mesmos hoje que ocupam boa parte do alto escalão - e que, na prática, implicou
numa política genocida, marcada por massacres físicos e etnocídios. Tal posicionamento
do Estado Brasileiro só foi transformado, ao menos formalmente, após o
reconhecimento dos direitos ao território e à diferença cultural indígenas na CF de 88,
através do artigo 231.
Por fim, vale ressaltarmos ainda que a junção interesses econômicos + narrativa
assimilacionista é também incentivo e autorização para a sequência de violências físicas,
mortes e invasões de território sofridas por diversas etnias indígenas. Se é verdade que
tais práticas são já corriqueiras nas mais diversas regiões do país, a vitória eleitoral do
discurso belicista de Bolsonaro levou-as a outro patamar, assim como o desmonte dos
órgãos responsáveis pela proteção dos direitos indígenas. Vale citarmos, a título de
exemplo, dois casos: o incêndio do polo base de saúde indígena e da escola indígena do
povo Pankararu, logo depois do resultado do primeiro turno das eleições e repetido já
no final de dezembro; a entrada, no dia 11 de janeiro, de homens armados que
dispararam contra a comunidade Guarani Mbya da Ponta do Arado, na zona sul de Porto 21
Alegre.
Desta forma, é evidente que o desmonte dos direitos indígenas se dá tanto no plano
pragmático como no plano cultural, retomando e aprofundando práticas velhas do
Estado Brasileiro. Ainda que bem articulados, há, no entanto, contradições e possíveis
impedimentos para tais projetos. Em primeiro lugar, ainda contamos com uma
Constituição que anda relativamente de pé e que requer alguns procedimentos legais
para ser modificada. Esses impedimentos dificultam, por exemplo, a permissão do
arrendamento em terras indígenas, ao menos de forma legal, ainda que não sejam
eficazes quanto à entrada de mineração nas TI, que pode ser autorizada por meio de
Medida Provisória. Em segundo lugar, os tratados internacionais como a convenção 169
da OIT, da qual o Brasil é signatário, nos deixam alguma possibilidade de sanções,
especialmente se investirmos em campanhas de boicote internacional contra as
commodities brasileiras produzidas à base de sangue indígena. Por fim, e mais
importante, contamos com a articulação, organização e resistência indígena que, se
desde tempos imemoriais marcam a história do país, tem também se revelado como
ator político cada vez relevante da conjuntura, com as quais precisamos nos juntar para
derrubar o modelo econômico e cultural do atual governo.
Fontes:
https://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2018/10/29/escola-publica-e-posto-
de-saude-sao-incendiados-em-comunidade-indigena-no-sertao.ghtml
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vidaurbana/2018/12/26/interna
_vidaurbana,772183/incendio-atinge-segunda-escola-indigena-pankararu-no-sertao-
do-estado.shtml
https://cimi.org.br/2019/01/comunidade-guarani-mbya-da-ponta-do-arado-e-atacada-
a-tiros-em-porto-alegre-rs/
Para mais detalhes da história de atuação do Estado Brasileiro junto aos povos
indígenas, ver:
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/povos-da-megadiversidade/
A Campanha
Pouco mais de 15% desse eleitorado preferiu acreditar que essas declarações não eram
reais, eram ditas apenas da boca para fora. Achavam que, às vezes, “ele não usa filtro
por ser muito sincero. Então isso é até positivo, como se fosse um candidato honesto,
por não se deixar levar pelo marketing eleitoral”, “Em casos polêmicos, veem como
manipulação da imprensa. Como se as notícias fossem distorcidas,
descontextualizadas”, explicava Esther Solano, cientista política e professora da Unifesp,
que à época realizou pesquisa com eleitores de Bolsonaro. “São, em geral, mulheres
conservadoras, apegadas aos valores cristãos. Não à toa a expressão ‘cidadão de bem’
quase sempre aparece em algum momento do discurso delas. Não é incoerente
uma mulher ser machista. Porque não é só questão de gênero – é sobre estrutura de
poder. Mas nem todas as pessoas têm essa consciência, esse despertar de como o
machismo molda a sociedade”, afirmava a cientista política Thatiana Chicarino,
professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
O Mandato
3
Cf. (1) https://www.cartacapital.com.br/diversidade/por-que-algumas-mulheres-votam-em-
bolsonaro/ .
4
Cf. https://www.cartacapital.com.br/politica/culpar-ele-nao-pela-alta-de-bolsonaro-e-a-expressao-do-
machismo/
de um governo com baixa representação feminina, não falou a palavra “mulher” em seu
discurso.
Embora, na Ciência Política, haja muitos debates em torno das teorias da representação
e de qual seria o melhor critério para definir o que é um(a) bom(a) representante, a
quantidade de mulheres no parlamento é um dos indicadores internacionalmente
definidos para medir a igualdade de gênero e o empoderamento feminino desde os
Objetivos do Milênio da Organização das Nações Unidas, estabelecidos a partir de 2002.
A maior participação feminina no Congresso, por exemplo, tem demonstrado que as
mulheres são mais eficientes na construção de consenso e na efetivação de políticas
públicas em realidades distintas, como a dos Estados Unidos.
5
Cf. (1) https://piaui.folha.uol.com.br/voz-de-
michelle/?fbclid=IwAR3SPrOuSDkgT8e0zb0lOn0b7SPytr2XwmjOf7Z8h9smxK8TebW6LkxiUPY .
mais a fundo: essas indicações se aproximam em qualquer medida de uma pauta mais
alinhada com a proteção dos direitos individuais, sociais e difusos? Não é o que parece.
Alguns dos projetos com viés ambientalista mais recentes da deputada, que já foi
diretora, por quatro anos, da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul
(ACRISSUL), incluem a proibição do uso da palavra “leite” para designar produtos de
origem vegetal, como derivados de coco, soja e outros grãos, já que a indústria a utiliza
“não apenas quando se trata do líquido branco alimentício que é segregado pelas
mamas de fêmeas de mamíferos, mas em qualquer suco vegetal branco ou
esbranquiçado”.
Damares Alves (ainda sem filiação partidária), indicada para liderar o Ministério da
Mulher, Família e Direitos Humanos, é ligada à ONG Movimento Atini - Voz Pela
Vida discriminatório à comunidade indígena e por tentar "legitimar as ações
missionárias no interior das comunidades indígenas". O Ministério Público Federal
processou a organização após a exibição do falso documentário “Hakani”, produzido por
uma organização missionária extremista estadunidense chamada “Youth With a
Mission” sobre o suposto infanticídio de uma criança da tribo Suruwaha, envolvido em
escândalos relacionados à encenação e evangelização e escravização de indígenas. A
página da ONG, assim como o link para doações, faz referência a uma imagem removida
por determinação judicial. A divulgação do material sem nenhuma base etnográfica,
segundo a própria Associação Brasileira de Antropologia-ABA, foi usada para reforçar
não apenas a angariação de recursos para atividades questionáveis em comunidades
indígenas no Brasil, mas também legitimar iniciativas como o PL n. 107/2007,
mencionado acima.
Entre as prioridades de Damares Alves, está a aprovação e posterior implementação das
políticas relacionadas ao Estatuto do Nascituro (PL n. 478/2007) – cujo conteúdo foi este
ano retomado pelos PL n. 11.148/2018 e PL n.11.105/2018) –, já aprovado nas
comissões de Seguridade Social e de Finanças e Tributação e na Comissão da Mulher
desde junho/2017. Entre as controvérsias levantadas pelo projeto, estão o direito à
pensão alimentícia de um salário mínimo até os dezoito anos de nascituros frutos de
violência sexual, caso não identificado o genitor ou não possa este arcar com tais
custos, e a criminalização do aborto culposo ou doloso.
Além disso, ela já sugeriu que fosse aberta uma CPI do aborto porque o financiamento
às campanhas no Brasil se deve ao tráfico de fetos pelo valor de mercado da carga
genética mestiça dos nascituros no país, e que a legalização é uma meta da ONU para o
controle populacional.
6
Cf. https://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/378825/As-mulheres-no-governo-Bolsonaro-e-a-
representa%C3%A7%C3%A3o-contraintuitiva-das-minorias.htm
investimentos. A Secretaria divide espaço com “Família” e Direitos Humanos em
ministério liderado por pastora que quer aprovar projeto de lei que dá direitos a
embriões e fetos.7
A equipe de Damares
O responsável pela Secretaria de Proteção Global, pasta que abriga a Diretoria LGBT, é
Sérgio Augusto de Queiroz, pastor evangélico que prega na mesma igreja batista
frequentada pela ministra. Também faz parte da equipe a ex-deputada Tia Eron (a
mesma que deu o voto decisivo pelo impeachment de Dilma Rousseff). Ela é a
responsável pela Secretaria da Mulher. Em seu histórico parlamentar, está o apoio a
uma manobra legislativa para sustar o decreto assinado por Dilma que autorizou o uso
do nome social por travestis e pessoas trans na administração pública.
Já a Secretaria da Família foi entregue à Ângela Vidal, filha do jurista Ives Gandra
Martins que, segundo a Agência Pública, é “membro notório do Opus Dei”. Ano passado,
a advogada participou do seminário promovido pelo STF defendendo a posição da União
dos Juristas Católicos de São Paulo contra a descriminalização do aborto. 27
A Secretaria de Igualdade Racial é ocupada por Sandra Terena, amiga de Damares e
presidente da ONG Aldeia Brasil, conhecida pela evangelização indígena. Outra de suas
pautas é o combate ao “infanticídio indígena”. Sandra responde à ação movida pelo
Ministério Público Federal pelo caráter discriminatório de um documentário sobre o
tema. Indígena, ela apoia a decisão de transferir o processo de demarcação de terras do
Ministério da Justiça para a Agricultura.
Outra ‘amiga’ ocupa a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Priscilla
Gaspar foi indicada pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ela atuou na campanha
eleitoral fazendo a tradução para libras de transmissões ao vivo do presidente.
7
Cf. http://www.generonumero.media/com-queda-de-68-no-investimento-em-tres-anos-secretaria-de-
politicas-para-mulheres-reflete-baixa-prioridade-do-tema-no-governo-federal/
E tem mais: a pasta que cuida da pessoa idosa será tocada por Antônio Fernandes Costa,
ex-pastor evangélico que presidiu a Funai entre janeiro e maio de 2017 por indicação do
PSC.
Por fim, num cenário tão adverso, precisamos contar com a articulação, mobilização e
resistência das mulheres, que mesmo sendo maioria, em termos quantitativos,
continuamos cada vez mais, sendo minoria enquanto grupo que tem voz. Infelizmente,
as vozes que deveriam falar por nós nas instâncias de poder, certamente, não o farão.
Serão os grupos de fora, que têm se revelado como atores políticos cada vez mais
relevantes da conjuntura, com os quais precisamos nos juntar para lutar por um modelo
28
político e cultural que atinja a todos e a todas.
8
Cf. https://outraspalavras.net/outrasaude/a-turma-de-damares/
9
Dentre elas quilombolas, pescadores artesanais, etc.
10
https://cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/4588-balanco-da-questao-agraria-no-brasil-2018
trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra e dos assentados e assentadas,
representando 32%, e de pequenos/as proprietários, sendo estes 2% das vítimas de
violência no campo.
29
Fonte: TEIXEIRA, Gerson. “Os recursos para as principais ações da loa 2019 para as áreas agrária e agrícola
texto aprovado pelo congresso” Liderança da bancada do PT na Câmara dos Deputados. 2018.
11
Água para beber e cozinhar.
agricultores em 2012, em 2017 atendeu a somente 67.179 agricultores, de acordo com
o orçamento previsto para 2019, este programa tenderá a se extinguir.
30
Fonte: TEIXEIRA, Gerson. “Os recursos para as principais ações da loa 2019 para as áreas agrária e agrícola
texto aprovado pelo congresso” Liderança da bancada do PT na Câmara dos Deputados. 2018.
No início do governo Bolsonaro, foi publicada uma Medida Provisória que acaba com a
Secretaria Especial da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, e transfere
para o Ministério da Agricultura, sob comando dos latifundiários mais conservadores da
União Democrática Ruralista - UDR- , o INCRA e as atribuições da Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) de demarcação e homologação de terras indígenas, sinalizando
claramente a intenção do governo de paralisar completamente e o reconhecimento dos
direitos territoriais dos povos indígenas, quilombolas e demais comunidades
tradicionais, assim como a própria reforma agrária. Recentemente, memorandos do
INCRA foram enviados as suas superintendências, estabelecendo a interrupção da
compra e da demarcação de terras por tempo indeterminado.
Logo no início de 2019, o Governo Federal extinguiu, por Medida Provisória, o Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA - criado em 1993 12 Este
Conselho contribuiu para consolidação de políticas públicas que proporcionaram a saída
do Brasil do Mapa da Fome, segundo dados da FAO. O Programa Fome Zero evoluiu para
um Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –SISAN - a Política e o Plano
Nacional –PLANSAN. Com essa medida, se constata uma total falta de priorização das
ações voltadas para o combate à fome e à insegurança alimentar no Brasil, e, mais que
isso, se extingue o espaço de controle social e monitoramento destas políticas públicas,
fragilizando os processos de participação social já consolidados.
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O segmento quilombola foi um dos mais afetados pelos cortes orçamentários durante
2018, e na previsão para 2019, conforme descreve o gráfico abaixo.
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Extinto no governo Fernando Henrique em 1995 e recriado no governo Lula em 2003.
Fonte: TEIXEIRA, Gerson. “Os recursos para as principais ações da loa 2019 para as áreas agrária e agrícola
texto aprovado pelo congresso” Liderança da bancada do PT na Câmara dos Deputados. 2018.
Ainda não está claro o que vai prevalecer, mas já é possível analisar as movimentações
realizadas nos primeiros dias do governo Bolsonaro que apontam para rupturas
históricas na diplomacia brasileira.
Foi a posse menos prestigiada de primeiro mandato, desde o fim da ditadura. Somente
dez chefes de Estado ou governo compareceram.
Entretanto, após a emissão dos convites, o então futuro Ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou no Twitter que Nicolás Maduro não havia sido
convidado e que “Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia e do
triunfo da vontade popular brasileira...”A afirmação teve resposta imediata do chanceler
venezuelano, Jorge Arreaza, também pela mesma rede social, que publicou o convite
oficial recebido pelo governo brasileiro e, ao mesmo tempo, a resposta do governo
venezuelano.
Por sua vez, em artigo publicado no jornal estatal Granma, o governo cubano afirmou
que foi uma “honra” para o país ter sido desconvidado para a cerimônia, já que seria
humilhante estar na posse da pessoa “que foi capaz de colocar em risco a saúde de
milhares de brasileiros”.
Interessante notar que o convida-desconvida-veta não foi extensivo a outros países com
governos reconhecidamente autoritários como Arábia Saudita, Coréia do Norte, Irã e
Turquia.
COOPERAÇÃO SUL-SUL
A cooperação sul-sul foi, até recentemente, foi uma das prioridades da política externa
brasileira, com investimentos de recursos e esforços em programas voltados para países
da América Latina e Caribe, África e Ásia. As recentes declarações de Bolsonaro e de seu
Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, entretanto, indicam mudanças à vista
(leia-se desmonte das iniciativas regionais).
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/guedes-aproveita-reuniao-com-
argentinos-para-desfazer-mal-estar-com-declaracao-sobre-mercosul.shtml
Em 2017, as vendas de frango halal renderam US$ 3,2 bilhões, equivalente a 45% das
receitas totais com as negociações externas do produto, segundo a Associação Brasileira
de Proteína Animal (ABPA).
Para setores como produção de açúcar, carne de boi e de frango e milho, o comércio
com as nações islâmicas é fundamental e a ameaça de boicote é real.
A QUESTÃO MIGRATÓRIA
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Uma das primeiras medidas do governo Bolsonaro foi a saída do Pacto Global para a
Migração. O Pacto estabelece diretrizes para o acolhimento de imigrantes. Dentre os
pontos definidos estão a noção de que países devem dar uma resposta coordenada aos
fluxos migratórios, de que a garantia de direitos humanos não deve estar atrelada à
nacionalidade e de que restrições à imigração devem ser adotadas somente como
último recurso.
O Pacto foi chancelado por aproximadamente dois terços dos 193 países membros da
ONU. O Brasil tinha aderido ao Pacto em dezembro de 2018. No documento enviado à
ONU com o anúncio da saída, há o destaque de que o país não deverá “participar de
qualquer atividade relacionada ao pacto ou à sua implementação.”
Mais uma vez o Brasil segue o posicionamento político de países como Estados Unidos,
Israel, Hungria, Áustria, Bulgária, República Tcheca, Polônia, Eslováquia e Austrália, que
entendem que o Pacto viola a soberania dos Estados.
Dados da força-tarefa mostram que uma média de 370 venezuelanos pedem refúgio ou
residência temporária no Brasil a cada dia, dos quais 15 a 20 são totalmente
desassistidos e precisam de abrigo.
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Força-tarefa que envolve diferentes órgãos do governo, como a Casa Civil, a Polícia
Federal, o Ministério da Defesa, organizações da sociedade civil e o Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e atua na recepção dos venezuelanos em
Roraima.
temperatura do Globo em ao menos 0,74ºC no último centenário, com expectativas de
elevação de 2º a 5,6º C ainda neste século se as condições poluentes permanecerem
como estão.
Desde antes de sua posse, as posições, falas e planos do presidente eleito a respeito da
Amazônia levantavam alertas na comunidade internacional sobre um aumento do
desmatamento na maior floresta tropical do planeta (https://istoe.com.br/planos-de-
bolsonaro-para-amazonia-preocupam-defensores-do-meio-ambiente/).
Durante o período de transição o responsável inicial pela área ambiental era Ismael 41
Nobre, biólogo que defendia que a melhor maneira de tornar a Amazônia resistente era
através da exploração economicamente responsável de seus recursos. Desta forma,
para ele, a conservação da floresta teria um sentido econômico que faria frente ao
agronegócio, que pretende avançar sobre a área preservada da floresta
(https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46203151).
No entanto toda a equipe da área ambiental foi trocada ainda no período de transição
tendo assumido, entre outros, o agrônomo Evaristo de Miranda, que em um artigo de
opinião publicado em novembro de 2018, antes de ser um dos que substituíram a equipe
de transição da área de meio ambiente, disse que o desafio do presidente eleito seria
apenas fazer cumprir o Código Florestal e não criar mais áreas de conservação além de
ter que cobrar dos beneficiários pelos serviços de preservação da Amazônia, pois manter
a integridade da floresta exigirá recursos e não alarme
(https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-presidente-e-a-
amazonia,70002590843).
Nesse artigo, Miranda deixa de abordar algumas críticas feitas ao Código Florestal e o
problema do garimpo ilegal, no entanto, o mais importante é que a sua indicação foi
vitória na queda de braço entre o setor militar e o setor do agronegócio dentro do
governo (http://www.brasilagro.com.br/conteudo/troca-em-equipe-de-transicao-
reforca-peso-do-agro-sobre-ambiente.html
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2018/12/05/interna_politica,1010717/di
sputa-trava-definicao-de-titular-do-meio-ambiente.shtml).
A equipe que vinha elaborando o programa ambiental de Bolsonaro era uma indicação
do núcleo militar do governo que não conseguiu segurar os nomes e as intenções frente
ao apetite do núcleo rural, que cobrou os favores feitos durante a campanha. Deste
modo, a Amazônia corre o risco de ser entregue totalmente a sanha predatória do
agronegócio e, pelas falas e posturas assumidas pelo governo, nem mesmo o sistema de
defesa da Amazônia vai permanecer, para não gerar atrito com o agronegócio
(https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/07/politica/1541597534_734796.html).
Bolsonaro em seus primeiros passos mostra que cuidar do meio ambiente não será
prioridade de seu governo, pois enfraquece a estrutura do ministério diretamente
responsável por propor e desenvolver políticas públicas sobre o meio ambiente.
Desmantela a estrutura que discutirá estes assuntos internacionalmente e que estava
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presente no Ministério das Relações Exteriores
(https://exame.abril.com.br/brasil/itamaraty-tambem-deixa-de-ter-uma-divisao-
sobre-mudanca-do-clima/).
É importante relembrar que Bolsonaro já disse que a “Amazônia não é nossa”, propôs
que devíamos entregar a gerência da mesma para os Estados Unidos e, mais
recentemente, disse que poderia fazer acordos para explorar a Amazônia com países
sem viés ideológico.
https://istoe.com.br/bolsonaro-fala-em-acordo-para-explorar-amazonia-com-paises-
sem-vies-ideologico/
https://www.youtube.com/watch?v=pwxDm_yvaxk
https://www.youtube.com/watch?v=FOFvCEvqXa0
43
TEMA ESPECIAL DO MÊS: EDUCAÇÃO
Daniel Cara
Entre todos os países onde se deu a ascensão de governos da extrema direita, cujos
exemplos mais conhecidos são Trump (Estados Unidos), Duque (Colômbia), Duterte
(Filipinas), Erdoğan (Turquia), Kurz (Áustria), Modi (Índia), Morawiecki (Polônia), Orbán
(Hungria), Salvini (Itália), Suu Kyi e Myint (Birmânia) – além de governos nos quais o
ultraconservadorismo possui relevância, papel e influência, como Putin (Rússia),
Netanyahu (Israel) e Shinzō Abe (Japão) – a gestão Bolsonaro é aquela que demonstra a
maior dificuldade em afirmar um projeto claro e articulado de poder.
Embora possa parecer cedo para afirmar, o governo Bolsonaro tem tido evidente 44
dificuldade em materializar em medidas práticas sua aliança programática, definida pela
unção mal-ajambrada entre o ultraconservadorismo cristão com o ultraliberalismo
financeiro, liderado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Além disso, o grau de
participação das Forças Armadas – essencialmente o Exército – no governo está em
crescimento, mas ainda com abrangência indefinida. Diante desse conjunto de variáveis,
o governo tem sido marcado por idas e vindas em declarações e políticas públicas, em
recuos que vão desde a “desnomeação” de pessoas para cargos de confiança até a
reedição de portarias. E a pasta da educação tem sido a principal vítima dessa
desorientação de governo.
Para liderar o Ministério da Educação Jair Bolsonaro nomeou o filósofo Ricardo Vélez
Rodríguez. Indicado por Olavo de Carvalho, o colombiano naturalizado brasileiro, é
professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Ainda assim, trata-
se de um ilustre desconhecido no debate público educacional.
Tributário de Olavo de Carvalho, Vélez Rodríguez também terá que dar vazão à guerra
cultural olavista, tendo que implementar caminhos para uma política pedagógica
ultraconservadora, em um cenário em que as estratégias do movimento “Escola ‘sem’
Partido” (ESP) já estão dando sinais de esgotamento, diante da oposição democrática
aos projetos de lei do ESP, além da incidência da sociedade civil dedicada aos Direitos
Humanos, que tem tido a capacidade de travar a tramitação dessas matérias em diversas
casas parlamentares.
Em paralelo, Vélez Rodríguez terá que abrir espaço para grupos empresariais que
apoiaram a eleição de Bolsonaro, como a Associação Brasileira de Educação a Distância
(ABED), cujo diretor, Stavros Panagiotis Xanthopoylos, também conhecido como grego,
chegou a ser cotado para o posto de Ministro da Educação.
Como síntese desse cenário, sob a ótica bolsonarista, Ricardo Vélez Rodríguez não terá
recursos para realizar uma política educacional de expansão do acesso à educação,
devido à EC 95/2016. Ao mesmo tempo, terá que fortalecer a posição do
ultraconservadorismo cristão sem poder contar com a aprovação do ESP no Congresso
Nacional, ainda mais sob risco de derrota da matéria no Supremo Tribunal Federal. Por
45
último, terá que fazer avançar agendas de interesse privado, como a questão da
educação a distância.
Não é uma política custosa, agrada aos setores ultraconservadores, fortalece a aliança
bolsonarista com os militares, apresenta uma política compreensível à população e
colabora para o enfraquecimento do magistério, uma das categorias mais capazes de
exercer a resistência aos retrocessos governamentais.
Cumprida essa tarefa, tendo um pilar de gestão e algo para mostrar, Ricardo Vélez
Rodríguez tentará encaminhar as outras questões, que diga-se de passagem, são muito
mais relevantes. Resta saber se terá tempo político e capacidade de gestão para criar
uma política educacional bolsonarista ou se ficará submerso ao caos de um governo que
ainda demonstra força para a as disputas narrativas nas redes sociais, mas está distante
de saber governar.
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ESPECIAL SOBRE A POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL
A reforma psiquiátrica brasileira é uma das inúmeras políticas públicas brasileiras frutos
de movimentos sociais que nascem no esteio da redemocratização e conseguem um
grau alto de institucionalização muito cedo. O que possibilita avanços concretos, mas
também os problemas inerentes a burocratização de seus quadros.
O ápice da consolidação jurídica da luta antimanicomial se deu em 2001 com a lei 10.216
do deputado petista Paulo Delgado (irmão de Pedro Delgado que iria ocupar o comando
do setor no Ministério da Saúde por boa parte do governo FHC e Lula). A lei estabelece
o fim dos hospícios como política de Estado de saúde pública e possibilita a ampliação
subsequente da rede substitutiva. Até então uma política focal de prefeituras e estados
dirigidos pela esquerda. Tal consolidação desde o seu início esbarrou nos problemas
inerentes a implantação do Sistema Único de Saúde: subfinanciamento crônico e
políticas neoliberais de austeridade de gastos públicos e contratações. O sistema 47
substitutivo embora crescesse de forma exponencial não o fazia em condições –
principalmente nos grandes centros - de alcançar as metas estabelecidas pelo próprio
ministério da saúde (um centro de atenção psicossocial para cada cem mil habitantes).
Com o ascenso da questão AD (álcool e drogas) surge uma pressão conservadora vinda
de grupos fundamentalistas religiosos e da corporação médico/privada de retorno a
lógicas manicomiais. Tais grupos enxergam esse setor como uma fonte de lucros e “fiéis”
importante e não negociável. Esses setores despontam com uma força política
crescente e não encontra respostas a alturas de gestores e movimentos sociais que se
acostumaram a “nadar em águas calmas” de uma hegemonia política já bem
consolidada.
Pelas características da própria reforma esse se divide em gestores com uma perspectiva
algo ingênua de um gramscianismo ultra-moderado (acreditam que as bases da reforma
já alcançaram o status de consenso social e técnico) e militantes impregnados de leituras
pós-estruturalistas que hipervalorizam a “micropolítica” em detrimento de análises mais
gerais. Um dos sintomas disso é o afastamento cada vez mais marcante entre a luta
antimanicomial e a reforma sanitária brasileira.
O primeiro marco institucional de tal enfrentamento se deu na criação das RAPS (redes
de atenção psicossocial) que formalizaram a participação das “comunidades
terapêuticas” na rede de saúde mental. Tais instituições são locais mantidos por
instituições religiosas com pouquíssima eficácia clínica comprovada, homofobia
declarada, lógica manicomial e inúmeras denúncias comprovadas de violações de
direitos humanos. Trata-se, pois, da pura e simples apropriação do fundo público de
saúde para fins privados. Isso foi em 2013 ainda no primeiro governo Dilma.
Durante o governo Temer têm-se um salto qualitativo no retrocesso: pela primeira vez
as forças pró-manicomiais assumem a direção da gestão nacional. Somam-se a isso os
efeitos deletérios da EC 95 e do retorno da possibilidade de financiamento de hospitais
fechados.
Os desafios teóricos também são muitos. Como já foi dito o movimento divide-se em
um gerencialismo bem-intencionado, mas algo ingênuo quanto ao seu poder de
convencimento na atual conjuntura e um voluntarismo localista pouco preparado para
o enfrentamento de governos abertamente reacionários.