Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Cátedra �
JAIME CORTESÃO EDIJiiC
�
ED�C
Rua Irmã Arminda, 10-50
CEP 17011-160 - Bauru - SP
Fone (14) 2107-7111- Fax (14) 2107-7219
e mail:
- edusc@edusc.com.br
www.cdusc.com.br
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7460-350-6
CDD 981.04
45
Capítulo2
46
A col611ia entre dois imperialismos: do rnerca11tilisrno ao livre-cambismo
\··i b/·
(
City legitimou suas demandas para se integrar no corpo político".5
Ao prover fundos para financiar as operações comerciais, dar JJ--.. .JJ,,lo l
suporte à e:xpansã? industrial, prover capitais para a_ex�a� r:. ·,-'I
-urbana e t�a�ortes internos,
- . os grandes comerciantes britâ-
w -z:,r
nicos tornaram-se empresários reconhecidos, banqueiros e até
membros do Parlamento «Eles fizeram lobbr_ junto ao governo
.
aristocrático para criar as co_nc_ ),i_ç_ões .fistãís: kg�is e institucio:.
nais para a mobjJização mais eficiente das mercadorias, capital
·e mer�;d; de- trabalho".:' Essa máquin� fi��n��i�a-que te� seu
p�pel -;�aiçado no transcurso do século 19, e preserva a hege-
47
Cap(tul()2
1/ '>\.:r
se na
A nova correlação das forças sociais em presença traduziu-
renovadª-P-9.1. llica de �!E�nsã_<?. Os mercados periféricos da �.
i; · .. ,. t Europa já não eram suficientes. A e:x:pansão da indústria francesa,-;
·<
ocupava espaços outrora disponívéis nó-êóntin�nte. como
Restáva
alternativa os mercados transoceãnicos, na América Latina, na
Ásia e na África. 8 Pel;pri��ira vez, o mercado europeu deixava
de ser majoritário para as exportações inglesas, gradativamente
substituído pelos mercados ditos coloniais.9 O mundo atlântico
passava a ser aiç_é_impensaçâo mais desejada para a estagnação do
.
h··,.·\.
,: mercado eUiop'eu. Sem ele. seria absolutamente impossível dar
-·
..;/)
48
A cnlii 'lia ,mrr,,_ dois imperialismos: do mercan1ilisma ao lívf"l!'-cambimto
49
Capitulo2
12 O'BRIEN, Patrick. Imperialism and the rise and decline ofthe Bri
tish economy, 1688-1989. New I.eft Review, n.1238, p. 51-57, Nov./
Dec. 1999. -��
..,
;.
\•
50 r
A colôni" entre dois imperialismos: do mercantilismo (U) livre-cambismo
A INVERSÃO PORTUGUESA:
O FENÔMENO BRASIL
A necessidade de recursos fez as autoridades inglesas olha- ,q-ff) : _
rem com mais atenªo para o fluxo da Balança de Comércio com � .}.;J�\
as nações estrangeiras, sobretudo o desempenho do balanço de ;:<
_,
pagamentos em relação aos países com os quais, historicamente, os 0� : · ·
superavits se traduziam na entrada líquida de recursos monetários ., .. · �
altamente compensadores, caso emblemático de P�al. Em ,<,::?'
.. ..-�
,.,,, ,:
_!?�� o saldo foi de .9..uase um milhão de li!>_r.�s_. Em 1780, reduziu-
-
- ZE_�l
��-�-2 �� libr.as.14 A contração resultava da política antíinglesa
51
Capitulo 2
... . .. . .
do Marquês de'P�fü� "as rendas em ouro, resultantes de uma
balança comerdal-favôrável, diminuíram em mais de um milhão
de libras esterlinas para pouco ou nada".15 l'vfas a tendência havia se
instalado e o futuro poderia ser ainda pior para os ingleses. Entre
1785 e 1790, a balança chegou quase a uma situação de equilíbrio.
No qüinqüênio seguinte, 1790 e 1795, pela primeira vez em todo
o século 18, as exportaçõesportug:qesas para �ln�ter� sup�ra:
r�.m as ímportaçõ<:� obrigando os ingleses a remeterem ouro para
Portugal, alg-; ;bsolutamente inusitado. Na expressão de Robert
\.. Walpole, em carta dirigida a Lorde Greenville, em 1791: :�11.P.�Y
bc look�.1 !:IPºº �s a kind of phenomenon".'6
1"-.,�':�
Realmente um fenômeno. O fluxo das transações se i.n-
�
verteu, numa espécie d\:revanche �_rei-ia elo projeto p.ombalino
-
• _,_.
'..jJ ' ,
1
;.
-contra a Inglaterra. Como por milagre, as moedas cunhadas
' f\-:.,�C em puro ouro brasileiro com a efígie de D. João IV, drenadas
-� para o tesouro inglês pelo persistente desequilibrio da balança
comercial, "como aves de arribação, passaram a retornar às arcas
portuguesas, peças de ouro reluzente que a colónia brasileira
produzira, Portugal esbanjara e que o algodão brasileiro trazia
de volta à mãe-pátria, diretamente das mãos gananciosas dos
onzenários da Cíty".17 Alarmado, Strangford informa a Canning
52
.1 colôn: :a entre dois imperialismos: do mercantilismo M livre-cambismo
IJ
li$
l,'- ·'
que a média das i,!!1 ....P..9.:C:t�Q� y:i_gl�e_Portug� oscilava em \,<• ,i�� •'
torno de 657.510 libras esterlinas anuais entre 1788 e 1792, das e·. tr,:·(
quais 4n �üc�;r��.r-º�4X��ª m��<:<idorias onsrnártas d��$n.. u_:\ � �
o que justificaria plenamente diligenciar no sentido de estabe-
lecer o comérdo direto com a colônia brasileira,_ el_iJl:'_i��ndo_ o "
_ e.ntrepos!o ,eorJU:����:'� O estado de guerra quase permanente _ :·:,
com a França tornava estas medidas urgentes. A _E!�2._S�O sobre
a..
as finanças inglesas oe��o� _ �it_t Prni!:>ir _a c:oµyersão d�_papel�
:rn
��eda__ _?.U.�.º para os particulares, com a finalidade de proteger
as reservas metálicas e a tentar aumentá-las pel� Íl}�tituíção �()..
j_n:ip��!9.?.�!e�<!-�-sobre os ingleses, a primeira experiência bem
:
sucedida da história.
O fenómeno
. estava certamente
-------- no Brasil.
-· ·-- Na diversifica-
--�- , . ., J-
·�··;}t..:
ç ão de sua produção agrícola, alimentos e matérias-primas, que l ' , •
aprovisionavam a metrópole portuguesa, sustentavam o desen- ,:··' ·. ··
volvimento de uma indústria têxtil e ainda produziam excedentes ·::
reexportáveis, sobretudo a matéria-prima mais valiosa, escassa
e estratégica em tempos de Revolução Industrial: o algodão.: 9 O
�-
algodão brasileiro, produzido no Maranhão e em Per_ nambuco,
---------
�ljmentava, co1:1ç9mitantementc, três processos de industrializa-
ção coctâneos: inglês, francês e portug�ês.
53
Capltu/o 2
.. .,.P
,,..
exportações diretas para o Brasil, depois de algumas oscilações
iniciais, estabilizaram-se em patamares elevados, comparativa
,, " mente aos mercados tradicionalmente alcançados pelo comércio
:t
exterior da Inglaterra. Em�. as exportações para os Estados
, t_,;�
.t, Unidos atingiam f.4.032.445; Índias Ocidentais Britânicas,
/- f.4.109.096; Asia, incluindo a Nova Holanda, .U.663.277; América
do Sul, f2.470.006; e Brasil, f.2.003.253, cm valores reais, pelo
câmbio de 1696.20 O mercado brasileiro correspondia a aproxi-
54
A colô11ia entre dois imperialismo$: do mercaririlismo ao livre-r.amhismn
55
Capítulo2
56
A colô� ia entre dois imperiafüm os: do men:a,rtilimto ao livre-cambismo
57
Tabela l - Exportações britânicas para o Brasil (importações brasileiras da Inglaterra), 1808-)821. Valores oficiais
em milhares de libras.
J
(-r,. :ú ( .{,.)
Reexportações
Algodão ,,,
linho
' Tecidos de lã Total britânicas para
o Brasil
1
Valores Valores Valores Valores Valores Valores Valore Valores Valores
declarados· oficiais.. declarados oficiais declarados oficiais declarados oficiais oficiais
1808 1.413.000 47.000 480.000 2.379.000 172.000
1809 143.000
18l0 332.000
1811 136.000
1812 1.557.000 23.800 223.000 2.003,000 86.000
1813
1814 1.055.000 1.081.000 60.400 44.300 298.000 205.000 1.911.000 1.612.000 93.000
1815 1.053.000 1.200.000 39.500 33.100 353.000 213.000 1.706.000 1.896.000 40.000
1816 950.000 1.225.000 101,000 110.000 343.000 237,000 1.824.000 1.828.000 20.000
1817 1.071.000 1.547.000 137.000 153.000 370.000 279.000 2.035.000 2.269.000 16.000
1818 1.697,000 2.121.000 181.000 194.000 564.000 379,000 3.181.000 3.160.000 32.000
1819 802.000 1,058.000 134.000 152.000 406.000 261.000 1.937.000 1.864.000 32.000
1820 964.000 1.384.000 167.000 201.000 342.000 240.000 2.099.000 2.232.000 46,000
1821 961.000 1.424.000 133.00 152.000 323.000 2416000 1.857.000 2.144.000 22.000
Fonte: National Archives, Public Record Office, Exports from Great Britain by Countríes, Customs 4, 5 to 16. Devo esta
tabela à gentileza de Javier Cuenca Esteban.
) , S()0000
,
;,000.000
2,500,000
2.000,000
-
1.500,000
r
l
.-,
íl
1.000,000
500.GOO
l_L___ li
____.., -=-----a1...-..--.- .1_J
1aos 1809 1s10 1sn 1s12 1813 1s14 1s1s 1B16 1817 1818 1819 1820 1821
,:;Algodão l'l lioho : Tecidos de là a Total ;·-: Reexportações britânicas para o BrAsil
59
Cupztulo2
1808
Total
2.379.000
Alg9dào
1.413.000
Percentual 1
59.39
1809
1810 .
1811
1812 2.003.000 1.557.000 77,73
1813
1814 1.612.000 1.081.000 67,06
1815 1 706.000 1.200.000 70,34
1816 1.828.000 1.225.000 67,01
1817 2.269.000 1.547.000 68,18
1818 3.160.000 2.121.000 67, 12
1819 1.864.000 1.058.000 56,76
1820 i.232.000 l.384.000 62,01
1821 2.114.000 1.424.000 67,36
Média 47,35
60
A col/Jnia entre dois ,mp�rú>lismos: do mercantilisttW au lwre-caml:rismo
3500.000
?,.000.000
].500.000
2 000.000
1 500.000
1 000.000
soo.oco
o
1808 1809 1810 1811 1811 1813 1814 181S 1816 1817 1818 1819 1820 1811
•Total ,1"Algod.io
61
Capitulo2
AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
PARA A INGLATERRA
A Inglaterra havia substituído Portugal na condição de
- principal fornecedor de mercadorias para a colônia brasileira,
muito especialmente na r-ubrica de manufaturas de algodão.
., O segundo passo era torná-la também grande fornecedora de
matéria-prima, o a�odão em rama, cujo significado avulta em
relação às demais mercadorias exportadas pela colônia para a
Inglaterra que, em função das cláusulas restritivas incluídas
nos tratados comerciais, reservava-se o direito de não importar,
ou apenas importar para a reexportação, os produtos similares
àqueles produzidos em suas próprias colônias, a exemplo do
açúcar e do café.
62
Tabela 3-Exportações brasileiras para a Inglaterra {1807-1821). Valores oficiais em milhares de libras.
Gordura
Câf� Covros Açócar Algodão Colorante Valores Oficlafs Valores declarados
animal
1807 22.000 15.000 141.000
1808 47.714,000 73.816.000 61.369.000 21,420.000 165.337.000 60.000 434.647.000
1809 105.541.000 221.398.000 238.412.000 74.862.000 582 920.000 3.905.000 1.227.038 1.439.700.000
1810 189.446.000 177 .087.000 269.048.000 37.691.000 653.574,000 14.856.000 1.341.702 1.454.200.000
\811 110.235.000 148,458.000 141.473.000 19.433.000 623. 751.000 158.000 1.083.194 1.149.349.000
1812 15.393.000 34.660.000 19,090.000 7,108.000 500.760.000 22.011.000 599.022 670,548.000
1813
1814 251.883.000 73.112.000 101.402.000 3.517.000 740.793.000 19.630.000 1.190.337 1.137.543.000
1815 123.857.000 63.928.000 86.401.000 11.822.000 424.962.000 10.697.000 721.667 829.391.000
1816 115.813.000 22.399.000 76.838.000 3.195.000 650.613.000 5.681.000 869.539 957.330.000
1817 155.162.000 9.782.000 69.847.000 35.000 531.496.000 1.958.000 768,280 817,222.000
1818 123.489.000 33.477.000 63.891.000 1.148.000 807.495.000 751.000 1.030.251 1.080.543.000
1819 130.752.000 24.675.000 81.638.000 1.899.000 673632.000 2.597.000 915.193 952.202.000
1820 182.999.000 8.391.000 110.613.000 888.000 942,857.000 1.245.748 1.294.025.000
1821 285.156.000 11.627.000 145.576.000 20.000 632.714.000 1.075.093 1.181.8 58.000
O\ Fonte: National Archives, Public Record Offi.ce, Exports from Great Britain by Countries, Customs, 4. Devo esta tabela
à gentileza de Javier Cuenca Esteban.
o 3 -Exportações brasileiras para a Inglaterra (1807-1821). Valores oficiais em milhares de libras.
0
1
0 1
0
1
0 1
,,.
0 1
ri
. r
'� tf...
;,,� f.
� /.
0 ..
- t "/.
'/-1
0 1
�
'·
j: r- :�
0
lu]. 1
1,,
'
: �,,.a.
l- I.,_,� . ( l 1
�l
1 ��t ��
•<V
· ��-i- �
�ir
t.L� ,�. 'L'
. -.,
,,� ,,!'-.:__
;
P"•
�: · �-ll �t
�.
'· ;1;:;--' n>J
,r;..· , � i5 ,t/1 ·t.l\l �-· ,,
o a- . 7'!
�_L . (.� I!' _\i: ;�� �·-
1807 1808 1809 1810 1811 1812 1813 1814 1815 1816 1817 1818· 1819 1820 1821
fé •couros · Açúcar • Gordura animal 1/:Algodão ! 1 Colorante Valores of
A colór:ia et!tre doi$ imperialismos: d" mercantilismo ao livre-cambismo
65
Capírulo 2
l
Grá.tico 4 - Exportação de algodão em rama para a Inglaterra em rela
ção às exportações globais. Valores oficiais em milhares de libras.
1600000000
1400000000
1200000000
1000000000
�00000000
•00000000
200000000
() .
1807 1808 1809 18;0 1811 1812 ll\13 1814 1815 1816 1817 1818 1819 1::20 1821
66
A colfinia entre dois imperialismos: do merca11rilismo ao livre-cambismo
'-:-.,P
. li__l':··�·
,,,\' I'
brasileiros começavam a instalar grandes plantações de algodão >- t,J "' �-.
J \./\\
no nordeste.�a colônia; os ingleses desenvolviam grandes centros <')..!>"?
�ufatureiros na regi�o noroeste da Inglaterra, um encaixe 0r"- r
!!
.._.i
perfeito,24 que a abertura dos portos acabou pm viabilizar�, \:= " y
_ /
Brasil se define,
- portanto,
·- - como uma colónia --exportadora
-- - ·- de -:r, . " ..
- ,.·
�atéri a -p �a e importadora de manufatura. Exporta algodão
�- ):•, ,'
em rama e importa tecidos de algodão em suas múltiplas varie- &e
dades, caracterizando-se a substituição das fábricas portuguesas
pelas inglesas no abastecimento do mercado interno brasileiro.
;eio���s-��J:?rt�_guês nessa nova forma de colonialismo cedei,!
lugar ao imperialismo inglês.
A BALANÇA COMERCIAL
ENTRE O BRASIL E A INGLATERRA
67
Capitulo2
68
A cQ//Jnia entre dois imperialismos: do memantilismo ac livte-camúisnw
1808
ltnportação total
(valores oficiais)
2.379.000
1
E><po�o total
(valores oficiais)
Deficin
1
1809 1.227.038
1810 1.341.702
1811 1.083.194
1813
Período:
16.785.000 7.816.108 8.968.892
1814-1821
69
Capítv.lo2
3.500.000
3.000.000
2.500-000
2.000.000
1.500_000
1.000.000
500.000
!)
00
o
"'o != -;;; N
«i
...... V "' :!: "-
;;; � "' "'
o
;::;
� � � � óõ óõ � � CQ
� �
a importação total (valores oficiais) ';e Exportação total {valores oficiais)
70
A coMnia en"e dois imperialísmus: do men:antilismo ao livre-cambismo
. ,_ .::..('�,"· i,, : .
º�.(
como a abertura dos portos às ditas nações amigas praticamente(f"'-: i'._J:'·· - ;
restringia o comércio com a lnglateu�_e
- � -=
- -- suas balanças
Portp.gal,
comerciais em relação ao Brasil correspondem a quase 100% do
total, porcentagem que tende a se reduzir à medida que o �mpo
avança, pois se intensifica a presença de barcos norte-americanos,
latino-americanos e, após 1815, de todas as n�ç�es européias até
então enredadas no sistema napoleónico.26
Por não ter à sua disposição a balança de comércio do Brasil
com a Inglaterra, Caio Prado Jr. se apóía nos dados da balança de
Portugal, na densa intemretª_Ção que faz da trajetória econômica
da colónia após a abertura dos portos, concluindo que a colónia se
tornara deficitária ao ser transferida para a zona de influência da
Inglaterra. C�nc!._usão 3_ç_�.1ª-da sQl::>re equ_iy9célda bas_c; 9-e. d;:t,99?1
prova de sua enorme sensibilidade como historiador. 27 Desde
então, todos os livros que tratam desta temática e desse período
seguem-lhe as pegadas, reproduzindo as inconsistências.
A dedução de que Caio Prado se vale dos valores inclusos na
Balança de Comércio do Brasil com Portugal se dá por analogia,
pois os números por ele indicados são próximos, não exatamente
iguais aos números apontados por Adrien Balbi, em seu Essai
statistíque sur le royaume de Portugal et d'Algarve comparé aux
autres Etats de l'Europe, geralmente arredondados. Apesar de
afirmar que "as estatísticas que possuímos para a época não são
26 Esta problemática foi por nós levantada, pela primeira vez, cm 1972,
quando da redação da tese O Brasil no comércio colonial. Contri
buição ao estudo quantitativo da economia colonial, ARRUDA, José
Jobson de Andrade. O Brasil no comércio colonial. São Paulo; Atica,
1980. p. 621 et seq.
27 PRADO Jr., Caio. Híst6ria Econômica do Brasil, São Paulo: Brasi
liense, 1961. p. 135 et seq.
71
Capítu/02
28 Ibidem, p. 135-136.
29 PRADO Jr., Caio. História Económica do Brasil. São Paulo: Brasi
liense, 1961. p. 136.
72
A cc•Llnia entre doi.s imperialismos: do mercantilismo ao hvre-cam/,ismu
73
� Tabela 6 - Comércio exterior do Brasil, 1808-1821, a partir do comércio com Portugal e com a Inglaterra. Valores
oficiais em libras esterlinas,
6.000.000
5.000.00.0
4.000.000
:s.000.000
i.000.000
1.000.000 11
o.
-
00 00
• Importação de Portugal e Inglaterra total li. Exportação para Portugal e Inglaterra total
75
Capítulo2
76
A coMriia enrre dois imperialismos: do mercantilismo ao livre-cambismo
77
Cap,rulo 2
78
A mlónia entre dois imperialismos: do mercantilism" ª" livre-cambismo
79
C"pítuw 2
-
começou. O mito do Império revivia. Perdido o Império do Bra�il,
,,..---.
voltava-se a sonhar com aAsia( Sonhar era preciso �J.O impacto de-
-v"astador para o comércio portugiiês, que foi a perda do Brasil, fica
indelevelmente registrado em sua balança de comércio, tendo por
ponto de viragem o ano de 1809-181,0. Onde S.Q haY!? ?UP_!ravits,
.e_a�s�:tl:-ª- h.av�r -�pemi.s_ defiçit.s, _alguns dos quais monumentais,
como se constata nos anos de 1811 a 1813, logo após a abertura
dos portos e, como se vê na Tabela 7, em que todo o superavit
alcançado entre 1800 e 1809 foi dilapidado pelo deficit de 99 mil
contos de réis entre 1810 e 1819.
Apesar de reticente quanto à importância que teria tido a
perda do mercado brasileiro na crise da indústria portuguesa,
��J�ruJm._Alexançlre, em sua detida análise do desempenho
comercial português, no Brasil, após a abertura dos portos, no
tocante às exportações industriais,�<:_�n�_ece_�_p_e_!da, d� rnerc!!-<!.os
---�_qi_ _t_9_çl()$ O$ �ernres, com ��ras resistências__pon�'!a.i�2.. "como era
de se esperar, a crise é mais intensa nos artigos mais expostos à
concorrência britânica - os têxteis, e, dentro destes, os lanifícios
80
A colôuia entn: dois imperialismos.: do mercantilismo ao livre-cambismo
81
Capítuu> 2
1800
lmPOrta�
(em mil-rkisl
20.031:200$000
Exportações
(em mil-têls)
20.684:800$000
Defidts Superavits
653:600$000
1
1801 19.33 7:200$000 25.103:600$000 s. 766:400$000
1802 17.942:000$000 21.405:200$000 3.463:200$000
1803 l 5.068:000$000 21.258:000$000 6.460:000$000
1804 17.840:800$000 21.060:800$000 3.320:000$000
1805 19.656:000$000 22 .654:000$000 2.997:200$000
1806 16.440:800$000 23.255:200$000 6.814:400$000
1807 13.896:000$000 20.999:200$000 7.103:200$000
1808 2.274:400$000 5.810:800$000 3.070:400$000
1809 8.833:600$000 9.858:000$000 1.024:400$000
1810 17.051:600$000 12.521:600$000 4.530:000$000
1811 38.704:000$000 6.913:600$000 31790:400$000
1812 34.402:000$000 10.458:4000$000 23943:600$00
1813 30.980:800$000 9.930:400$000 21.050:400$ ººº
1814 22.659:200$000 17.566:800$000 5.092:400$000
1815 22.659:200$000 19.584:400$000 5. 150:400$000
1816 17.869:600$000 16.178:400$000 1.691 :200$000
1817 15.808:400$000 15.770:000$000 48.400$000
1818 19.680:000$000 16.928:000$000 2. 752:000$000
1819 14.883:600$000 11.291:200$000 3.592:400$000
99.641 :200S0Q0 47.487:200S000
82
A colilnia enue dois imperialúmos: do mercantilismo ao livre-cambismo
�0.000.000
2s.ooo.ooo
20 .000.000
lS.000.000
1 1 1 1 1 1 1 1 •1 111
10.000.000
s.000.000
1"' 1,..
o
o
o
•
� �
;; �
o
�
M
o
�
...
o
�
"'
o
�
\O
o
�
....
o
�
"'
o
�
"'
o
�
.:>
o
1õ ., ..
"' M
.;
.,.
§
1 "
"'\O
� �«> ;;; .;
83
� Tabela 8-Importações brasileiras de Portugal (1796-1811).
I I I l
dâs dti Asia, drogas
I II
das �
RJ leAlPElMAjPA
reps RJ BAl PElMA I PA regiões RJ BA PElMA PA regl6ás RJ BA PE MA I PA regl&s
1796-1807 38,7 35, 2 31.3 35,4 34,5 3),Õ2 32,3 28,9 31, 1 23,2 25,6 28,22 28,8 34,8 28 31,6 37,7 32,18 0,3 1,7 11.5 9,7 2,3 5,1
1808-1811 45 46,9 39,1 30,9 41,8 40,7i1 17,2 14,4 10,1 9,3 9,8 12,16 33,4 36 27,6 38,7 47,6 36,66 4,4 2,7 23,3 21, 1 1,5 10,6
Média 7otal 41,9 41 35,2 33,2 38,1 3-7,88 24,7 21,6 20,6 16,3 17.7 20,18 31, 1 35,4 27,8 35,2 42,6 34,42 1 2,3 2,2 17,4 15,4 1,9 7,84
A colônia entre dois imperialismos: do mercantilismo ao livre-.:ambísmo
45
"º
40.74
37.,sa
36.66
35 34 42
n.1s
30
]5
20.18
20
IS
1 21�
.
10.6
10
mécfi.a elas ,egiõltS rnfdi.a da� re9iQes m�j,) das 1'4!9Í�s mêdia das �iões
Laniílcio. fü1iílcio. sedas, íl'le1aís, Prodvto1 d&s fjbriças Ma.nci 1t1t•n1os. l)rodutO'S o, Asi�.
V,ifÍO'S
Ouro-Prata
dl'Qq-ü'S
li ,_J.
Os glor�osos �sforços dos Reis..p.re.decess�� 1 uty'\ /PJ
.1
foram em vão. Em todas as regiões brasileiras, os produtos dasl I v'V�· "'
e,
fábricas portuguesas rivalizavam-se com os similares importados \ _,c.,.1.-_,
das nações estrangeiras e introduzidos na colónia por Portugal. (f·(I." ';i:.,
Os produtos das_!ábricas portuguesas correspondem a 48,2% do
�<>t�l das importações coloniais, números extremamente signi-
. .
ficativos, pois indicam que quase 50% de todas as importações
de produtos manufaturados que adentravam o mercado colonial
brasileiro procediam das fábricas portuguesas. Em alguns anos,
1798, 1800 e 1801, �S ;nanL!faLUI!,lS pºrtugu_çsas $Uper�m O v-ª-1gr� 4V'
1!!�manufaturas impor_!:ada!- Mas, com a abertura dos portos, li
com a invasão das manufaturas inglesas, dá-se uma inversão, pois
as manufaturas importadas de outros países, equivale dizer, da
85
Capírulo2
A ASFIXIA DA INDÚSTRIA
TÊXTIL FRANCESA
Se o destino das manufaturas portuguesas foi selado qU:an
do, ainda em 1807, assinou-se a Convençã� S��reta _ de _Londres,
o mesmo se pode dizer, ainda mais enfaticamente, do profundo
significado que a abertura dos portos do Brasil teria para a recente
mente criada indústria francesa moderna, largamente beneficiada
pelo b.!_�9..u�Io 49..� QOf.tps et1!opeus que favoreceu �-êfeslocamento.
das indústrias têxteis em direção ao centro da Euroij) bene
ficiando-se do quase monopólio resultante rio isolamento que
afastava a dura concorrência inglesa. Mas a França não produzia
a matéria-prima essencial. O ��':. �i�1_ 1:a<:i _ o _Orien.:t� 1YJ_édi'2..�
��-!l�iP-ªlmem�, çlo __Br�sil .....ª-tray� de Porn_ 1�LEssa dependência,
nem sempre lembrada pelos historiadores com a devida ênfase,
foi um dos motivos que intensificaram as pressões francesas sobre
Portugal, para além, é claro, do já citado interesse de Napoleão na
esquadra portuguesa. Aj:g._t�'..!1:!J?Ç�9 d� fluxo da matéria-prim3,
que nutria as fábricas francesas, poderia criar u_p_�atadísm,?.
scmel hante àquele que Napoleão pretendia instalar no interior
da Inglaterra, ao lhe fechar os portos continentais. Tanto que, em
1809, já sentindo o impacto do fechamento dos portos do Brasil
86
A colônia e11tre dou imperialumos: do mercanrilismo ao livre-cambismo
.,
.
aos franceses, sentindo-se asfixiado pela rarefação do fluxo de :�_f,, .·.._?-..., /,)..
., .
algodão em rama, afirmou "seria melhor usar apenas lã, linho eJ-,<:<�, )
seda, produtos de nosso próprio solo, e prescrever o algodão do ,,.,
continente para sempre, porque P.:�� nã_ oJemos col<?-nias".41 Eis o
pJp.ble_ma: nã.o ter c9h�ni��-1. formulação objetiva que explicita de
modo inequívoco o papel primordial desempenhado pelo mundo
das colônias no arranque industrial dos países europeus.
O fuçba�nto dn_s_p.ortos.bras.ilciros para os franceses '>
I� ! t)·(
significou um g,ólpeck �e na experiência pioneira de insta
lação da grande indústr�no continente. Em_1ªQ7, quando os
y_:i:i_��i_!"os $_iQªLs ele _ retra.taç�o na entrada da matéria-prima se
anunciaram, os pr:eços sofreram forte pres�ã_C>, com altas expres-
sivas que alcançaram 127% na fibra vinda do Oriente Próximo e
134% no algodão de fibra longa, originário.de Pernambuco. Para
competir com os ingleses, os franceses dependiam do mercado
protegido, da produção em larga escala que reduzia os preços, de
baixa remuneração salarial e, acima de tudo, do preço deprimido
da matéria-prima. As indústrias de t'.iação _com�s:_arai:n a fech�r,
suas po_r!��---�omente na região de Troyes, dez mil trabalhadores
foram reduzidos ao desemprego. i�!:.i�e jl!4U.S.!.��L�la���e>�_-:_Si_, 1'\
·,
- -----
- --
transformando-se numa --- crise-
financeira.
- i
Como se pode verificar na Tabela e no Gráfico 9, a França
expandiu espetacularmente sua participação no comércio p o r
tuguês, saindo d a estaca zero, e m 1800, para se transformar no
principal consumidor de efeitos colónias em 1807-1808, quando
importa 77,8% de todos os produtos oriundos do Brasil e desti
nados por Portugal às nações estrangeiras.
87
Tabela 9 -Importações francesas de produtos coloniais brasileiros, via Portugal. Valores em milhares de réis.
Couro� secos,
Arroz, Expórtações
Açúr.lr branco Algodão
Açúcar vaquetas, fr.-mcesas Exporiilções
rnascavo
Tabaco cacau,
couro� salgados. café para o brasileiras
1796
- ataoados Brilsll
23.260$800 23.260$800 11.474.863$931
1797 1.888$450 14.631$660 16.520$110 4.258.823$470
1798 6.154$500 8.236$400 1.890$000 16.109$100 10.816.561$028
1799 12,584.505$139
1800 47.508$000 22.291$200 15.552$000 1.760$000 87.531$950 12.528.091$556
1801 82.005$904 234.335$232 12.825$100 141.303 $000 32.486$000 618.441$516 14.776.706$549
1802 559.054$600 1.922.211$840 219.638$100 28.821$000 312.973$220 104.457$019 3.271.468$315 10.353.244$931
1803 131.816$760 1.581.360$000 51.114$750 49.462$400 119.943$800 102.767$812 2.064.307$979 11.332.290$669
1804 102.456$450 3.814.846$976 223.200$312 45.892$600 246.495$100 142.676$600 4.197.957$754 11.199.922$858
1805 128.652$090 2.120.286$200 207.854$530 24.367$500 452.543$865 213.682$160 3.282.856$522 13.948.658$601
1806 102.286$890 3.887.374$400 112.119$250 26.553$600 849.657$925 263.392$200 5.045.885$865 14.153.761$891
1807 99.912$450 3.779.400$960 92.757$000 13.399$400 509.921$100 85.175$800 4.432.629$470 13.927.799$336
1808 2.520$000 1.604.920$320 687$600 3.609.544$600 546.930$970
1809 4.819.373$394
1810 3.683.385$085
1811 23.786$815 3.633.586$588
Total 1.256,213$063 18.967.027$128 960.736$307 211.757$300 2.662.585$670 948.287$591 26.610.623$971 154.038.505$996
Gráfico 9-Importações francesas de produtos coloniais brasileiros, via Portugal. Valores em milhares de réis.
12
10
�. �1
2
o
tl1'
_:Jil -111 - llli � ,ll li 1�
1796 1797 1798 1799 1800 1801 1802 1803 1804 1805 1806 1807 1808
O Açt.ic..,rbr•nco .Algodão ílAç1k.,1rma-scavo fl1lll fob>CO • Couros secos, vaquetos. couros s.ilgados. al�n�dos OArtoz. c<>C�u. (afé
Capttulo2
i Algodão
Couros sems, vaq�,
e-ouros salgadoS; at:anados
1796 -- -
1797 -- 14.631:660
1798 -- 8.236:400
1799 -- ---
1800 22.291:200 --
1801 234.335:232 141.303:000
1802 1.922.211:840 312.973:220
1803 1581.360:000 119.943:800
1804 3.814.846:976 246.495:100
1805 2.120.286:200 452.543:865
1806 3.887.374:400 849.657:925
1807 3.779.400:960 509.921:100
1.604.920:320 6.879:600
-
1808
--
1809 - -
1810 --
1811 --- --
Total 18.967.027:128 2_662.585:670
90
O Bm$Ü entre dois imperialúmos: do mercantífümo ao lívre-cambismc,
4500000
4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
o 'La •- • .1 �· 1 í
91
Capítulo2
92
O Brwil entre dais imperialismos: d" mercantilismo ao livre-cambismo
,,
\''t)·� -.:.
v-;
1)-- r
A_!:2inça recebeu de Portugl!!,d�sà.e 1.804 .a.té 1807, todos OJ� � ..,,-'
�
.1�.!!!��solonfu.Is � matérias-primas para as suas manufaturas. A
Aliança da Inglaterra com Portugal foi útil à França, e na decadência J��
que tiveram as artes e indústrias, em conseqüência de uma guerra
perpétua por terra e de outra desastrosa por mar, em que ela só
teve desbarates, foi sem dúvida de grande vantagem para a França
,;
o não ter sido o comércio de Portugal ínterrompido.43 e·.·-·
"·
,J.·
tzé'
Sábias palavras que não repercutiram nos ouvidos moucos
de Napoleão!
93