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Vitória, 2015
1
97 f. ; 30 cm
Inclui referências.
SUMÁRIO
1º BIMESTRE.................................................................................................... 5
1 CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE............................................. 6
1.1 O CORPO................................................................................................... 6
1.2 GÊNERO, SEXO E SEXUALIDADE........................................................... 11
1.3 DESCONSTRUINDO E PLURALIZANDO OS GÊNEROS......................... 17
2º BIMESTRE.................................................................................................... 46
4 MÍDIA, CORPO E EDUCAÇÃO......................................................... 47
4.1 IMAGEM CORPORAL E RELAÇÕES PRIMORDIAIS............................... 47
4.2 IMAGEM CORPORAL NA ADOLESCÊNCIA E OS IDEAIS SOCIAIS....... 49
4.3 CORPO, MÍDIA E SOCIEDADE DE CONSUMO....................................... 50
6 CONCEITO DE SAÚDE....................................................................... 66
6.1 SAÚDE COLETIVA..................................................................................... 71
6.2 POLÍTICA DE SAÚDE................................................................................ 73
REFERÊNCIAS................................................................................................ 94
1º Bimestre
1.1 O CORPO
O estudo sobre a "história da sexualidade", feito por Michel Foucault (1926), tem
sido central para as recentes discussões sobre o corpo e a sexualidade entre
historiadores e cientistas sociais. Considere esta citação:
―Não se deve concebê-la como uma espécie de dado da natureza que o poder tenta
pôr em xeque, ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco a pouco,
desvelar. A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico‖
(FOUCAULT, 1993, p.100, APUD LOURO, 1997).
Quem confia nos dicionários (e desconfia do que ali não está) talvez tenha
resistências em iniciar este diálogo. No sentido muito específico e particular que nos
interessa aqui, gênero não aparece no Aurélio. Mas as palavras podem significar
muitas coisas. Na verdade, elas são fugidias, instáveis, têm múltiplos apelos...
(LOURO, 1997).
Admitindo que as palavras têm história, ou melhor, que elas fazem história, o
conceito de gênero que pretendo enfatizar está ligado diretamente à história do
movimento feminista contemporâneo. Constituinte desse movimento, ele está
implicado linguística e politicamente em suas lutas e, para melhor compreender o
momento e o significado de sua incorporação, é preciso que se recupere um pouco
de todo o processo (LOURO, 1997).
Ações isoladas ou coletivas, dirigidas contra a opressão das mulheres, podem ser
observadas em muitos e diversos momentos da história e, mais recentemente,
algumas publicações, filmes etc. vêm se preocupando em reconhecer essas ações.
No entanto, quando se pretende referir ao feminismo como um movimento social
organizado, esse é usualmente remetido, no Ocidente, ao século XIX (LOURO,
1997).
Tornar visível aquela que fora ocultada foi o grande objetivo das estudiosas
feministas desses primeiros tempos. A segregação social e política a que as
mulheres foram historicamente conduzidas tivera como conseqüência a sua ampla
invisibilidade como sujeito — inclusive como sujeito da Ciência (LOURO, 1997).
É preciso notar que essa invisibilidade, produzida a partir de múltiplos discursos que
caracterizaram a esfera do privado, o mundo doméstico, como o "verdadeiro"
universo da mulher, já vinha sendo gradativamente rompida, por algumas mulheres.
Sem dúvida, desde há muito tempo, as mulheres das classes trabalhadoras e
camponesas exerciam atividades fora do lar, nas fábricas, nas oficinas e nas
lavouras. Gradativamente, essas e outras mulheres passaram a ocupar também
escritórios, lojas, escolas e hospitais. Suas atividades, no entanto, eram quase
sempre (como são ainda hoje, em boa parte) rigidamente controladas e dirigidas por
homens e geralmente representadas como secundárias, "de apoio", de assessoria
ou auxílio, muitas vezes ligadas à assistência, ao cuidado ou à educação. As
características dessas ocupações, bem como a ocultação do rotineiro trabalho
doméstico, passavam agora a ser observadas. Mais ainda, as estudiosas feministas
iriam também demonstrar e denunciar a ausência feminina nas ciências, nas letras,
nas artes (LOURO, 1997).
Coloca-se aqui, no meu entender, uma das mais significativas marcas dos Estudos
Feministas: seu caráter político. Objetividade e neutralidade, distanciamento e
isenção, que haviam se constituído, convencionalmente, em condições
indispensáveis para o fazer acadêmico, eram problematizados, subvertidos,
transgredidos. Pesquisas passavam a lançar mão, cada vez com mais
desembaraço, de lembranças e de histórias de vida; de fontes iconográficas, de
registros pessoais, de diários, cartas e romances. Pesquisadoras escreviam na
primeira pessoa. Assumia-se, com ousadia, que as questões eram interessadas, que
elas tinham origem numa trajetória histórica específica que construiu o lugar social
das mulheres e que o estudo de tais questões tinha (e tem) pretensões de mudança
(LOURO, 1997).
E através das feministas anglo-saxãs que gender (gênero) passa a ser usado como
distinto de sex (sexo). Visando "rejeitar um determinismo biológico implícito no uso
Pretende-se, dessa forma, recolocar o debate no campo do social, pois é nele que
se constroem e se reproduzem as relações (desiguais) entre os sujeitos. As
justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas diferenças
biológicas (se é que mesmo essas podem ser compreendidas fora de sua
constituição social), mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de
acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação (LOURO, 1997).
O conceito passa a ser usado, então, com um forte apelo relacionai — já que é no
âmbito das relações sociais que se constroem os gêneros. Deste modo, ainda que
os estudos continuem priorizando as análises sobre as mulheres, eles estarão
agora, de forma muito mais explícita, referindo-se também aos homens. Busca-se,
intencionalmente, contextualizar o que se afirma ou se supõe sobre os gêneros,
tentando evitar as afirmações generalizadas a respeito da "Mulher" ou do "Homem"
(LOURO, 1997).
dirigida para um processo, para uma construção, e não para algo que exista a priori.
O conceito passa a exigir que se pense de modo plural, acentuando que os projetos
e as representações sobre mulheres e homens são diversos. Observa-se que as
concepções de gênero diferem não apenas entre as sociedades ou os momentos
históricos, mas no interior de uma dada sociedade, ao se considerar os diversos
grupos (étnicos, religiosos, raciais, de classe) que a constituem (LOURO, 1997).
É importante que notemos que grande parte dos discursos sobre gênero, de algum
modo incluem ou englobam as questões de sexualidade (Mac An Ghaill, 1996).
Antes de avançarmos, no entanto, talvez seja importante tentar estabelecer algumas
distinções entre gênero e sexualidade, ou entre identidades de gênero e identidades
sexuais. É verdade que, ao fazer isso, corremos o risco de cair numa
esquematização, já que na prática social tais dimensões são, usualmente,
articuladas e confundidas (LOURO, 1997).
vezes que "a sexualidade tem tanto a ver com as palavras, as imagens, o ritual e a
fantasia como com o corpo". Compartilhando da posição de muitos outros
estudiosos e estudiosas, ele fala da impossibilidade de se "compreender a
sexualidade observando apenas seus componentes 'naturais'(...), esses ganham
sentido através de processos inconscientes e formas culturais" (p. 21).3 Se Foucault
foi capaz de traçar uma História da Sexualidade (1988), isso aconteceu pelo fato de
compreendê-la como uma "invenção social", ou seja, por entender que ela se
constitui a partir de múltiplos discursos sobre o sexo: discursos que regulam, que
normalizam, que instauram saberes, que produzem "verdades" (LOURO, 1997).
Mais uma observação a ser feita: algumas estudiosas e estudiosos (como Judith
Butler) vêm sugerindo que usualmente pensamos e trabalhamos sobre gênero
"numa matriz heterossexual". Contudo, Butler (apud Mac An Ghaill, 1996, p. 198) diz
que... é crucial manter uma conexão não-causal e não-redutiva entre gênero e
sexualidade. Exatamente devido ao fato de a homofobia operar muitas vezes
através da atribuição aos homossexuais de um gênero defeituoso, de um gênero
falho ou mesmo abjeto, é que se chama os homens gay de "femininos" ou se chama
as mulheres lésbicas de "masculinas" (LOURO, 1997).
Ainda que gênero, enquanto categoria analítica, passe a ser utilizado, com maior ou
menor propriedade e ajustamento, no contexto de vários paradigmas teóricos, uma
parte significativa das formulações produzidas pelas/os feministas atuais estabelece
articulações entre essa conceptualização e algumas teorizações pós-estruturalistas.
Na verdade, seria difícil supor que movimentos contemporâneos (no caso, o
feminismo e o pós-estruturalismo, ambos se constituindo em meio à efervescência
intelectual do final dos anos 60) deixassem de produzir efeitos mútuos e fossem
capazes de se manter isolados (LOURO, 1997).
Entre as estudiosas mais conhecidas nesse campo está Joan Scott, historiadora
norte-americana que escreve, em 1986, um artigo instigante: Gender: a useful
category of historical analysis. Traduzido e divulgado no Brasil, o texto passa a ser
utilizado amplamente por aquelas/es interessadas/os nas relações de gênero. No
entanto, as implicações teóricas da abordagem de Scott talvez tenham sido, muitas
vezes, observadas um tanto superficialmente, já que seu estudo serve de suporte a
Ela não esconde, entretanto, que toma de empréstimo alguns conceitos pós-
estruturalistas, em especial elaborados por Michel Foucault e Jacques Derrida. Não
nega, também, que, para uma historiadora social feminista, aproximar-se e
apropriar-se de teorizações feitas no campo da Filosofia e da Teoria Literária foi
difícil. Por tudo isso é possível compreender que as idéias que ela propõe tenham
sido férteis e, ao mesmo tempo, perturbadoras (LOURO, 1997).
Scott não está sozinha nessas observações, outras estudiosas e estudiosos também
apontam as limitações implícitas nessa rígida visão polarizada. A base de algumas
dessas argumentações pode ser encontrada em Jacques Derrida. Lembra esse
filósofo que o pensamento moderno foi e é marcado pelas dicotomias
(presença/ausência, teoria/prática, ciência/ideologia etc). No "jogo das dicotomias"
os dois pólos diferem e se opõem e, aparentemente, cada um é uno e idêntico a si
mesmo. A dicotomia marca, também, a superioridade do primeiro elemento.
Aprendemos a pensar e a nos pensar dentro dessa lógica e abandoná-la não pode
ser tarefa simples. A proposição de desconstrução das dicotomias —
problematizando a constituição de cada pólo, demonstrando que cada um na
verdade supõe e contém o outro, evidenciando que cada pólo não é uno, mas plural,
mostrando que cada pólo é, internamente, fraturado e dividido — pode se constituir
numa estratégia subversiva e fértil para o pensamento (LOURO, 1997).
Por outro lado, essa eterna oposição binária usualmente nos faz equiparar, pela
mesma lógica, outros pares de conceitos, como "produção-reprodução", "público-
privado", "razão-sentimento", etc. Tais pares correspondem, é possível
imediatamente perceber, ao masculino e ao feminino, e evidenciam a prioridade do
primeiro elemento, do qual o outro se deriva, conforme supõe o pensamento
dicotômico. Ora, é fácil concluir que essa lógica é problemática para a perspectiva
feminista, já que ela nos "amarra" numa posição que é, aparentemente, conseqüente
e inexorável. Uma lógica que parece apontar para um lugar "natural" e fixo para cada
gênero (LOURO, 1997).
Teresa de Lauretis (1986, p. 12), uma importante estudiosa feminista, lembra que o
próprio "significado da diferença sexual" é colocado em termos de oposição
("natureza ou cultura, biologia ou socialização"), o que é um modo de compreensão
que está muito próximo da conhecida expressão "anatomia-destino". Há pouco
avanço, segundo Teresa, em se dizer que a diferença sexual é cultural; o problema
que permanece é o de conceber as diferenças (sejam elas consideradas culturais,
sociais, subjetivas) "em relação ao homem — sendo ele a medida, o padrão, a
referência de todo discurso legitimado" (LOURO, 1997).
A lógica dicotômica carrega essa ideia. Em conseqüência, essa lógica supõe que a
relação masculino-feminino constitui uma oposição entre um pólo dominante e outro
dominado — e essa seria a única e permanente forma de relação entre os dois
elementos. O processo desconstrutivo permite perturbar essa idéia de relação de via
única e observar que o poder se exerce em várias direções. O exercício do poder
pode, na verdade, fraturar e dividir internamente cada termo da oposição. Os
sujeitos que constituem a dicotomia não são, de fato, apenas homens e mulheres,
mas homens e mulheres de várias classes, raças, religiões, idades, etc. e suas
solidariedades e antagonismos podem provocar os arranjos mais diversos,
perturbando a noção simplista e reduzida de "homem dominante versus mulher
dominada". Por outro lado, não custa reafirmar que os grupos dominados são,
muitas vezes, capazes de fazer dos espaços e das instâncias de opressão, lugares
de resistência e de exercício de poder (LOURO, 1997).
Vale notar que as críticas a tal concepção são também feitas por outras feministas
que percebem o conceito como extremamente marcado por sua origem acadêmica,
branca, de classe média. Sendo assim, a menos que se desconstrua a polarização
dos gêneros e se problematize a identidade no interior de cada pólo, se deixará de
Pode se perguntar: mas por que tanta ênfase no estudo da sexualidade infantil?
Geralmente esta pergunta esconde um pressuposto de que as crianças seriam
―angelicais‖, desligadas do sexo. A partir desse ponto de vista, é comum a
formulação de críticas quanto à ―supervalorização‖ do sexo na compreensão
psicológica do ser humano, e ainda, o não entendimento da importância da
sexualidade infantil para a pedagogia (MARCONDES, 1992).
Podemos entender melhor o que têm essas atividades a ver com a sexualidade,
quando as associamos com a energia vital, energia sexual ou libido. A fonte
energética dessas diferentes necessidades é a mesma libido. Desde o nascimento,
essa libido está presente na criança, que busca satisfação. Poderíamos dizer,
portanto, e sem exagerar, que nascemos para ser felizes, para procurar a satisfação!
As atividades em que se lança uma criança buscam o bem-estar; usam energia
originariamente com a finalidade de produzir satisfação, prazer, gozo. E como por
toda a vida as atividades são procura, ou derivações secundárias da procura de
satisfação, continuarão sendo atividades sexuais, essencialmente! (MARCONDES,
1992).
Desde muito cedo o caminho da criança será cheio de obstáculos para atingir a
satisfação completa. A criança quer comer, mas terá de esperar a mãe, depois terá
de aprender a pedir, mais tarde terá de seguir regras de servir-se à mesa. A criança
quer brincar, mas terá de limitar-se a certas condições – cada vez mais restritas –
em que isso será possível. E os exemplos poderiam prolongar-se indefinidamente.
Durante todo o restante de sua vida, a criança irá lidar com seu desejo e com coisas
que se interporão entre ela e seu desejo; terá que aprender o que fazer para
alcançar o desejado. A mesma energia sexual destinada à procura de satisfação
será a energia investida na aprendizagem de como vencer os obstáculos, ou, de
como retardar um desejo, transferir um interesse, ou, ainda, desenvolver uma
atividade produtiva alternativa, etc. O que chamamos de fases de desenvolvimento
psicossexual da criança corresponde, exatamente, ao trajeto dessa libido em busca
de satisfação. Essa trajetória do desejo e de seus obstáculos converte-se em fonte
de aprendizagem e desenvolvimento global do ser (MARCONDES, 1992).
Nessa fase o filho ainda tem uma grande dependência de sua mãe, mantendo com
ela um vínculo simbiótico. A criança não faz distinção nítida entre o que a constitui a
si mesma, à sua mãe ou ao alimento que lhe é dado. Todas essas coisas e o prazer
Embora a fase oral ocorra numa época muito prematura em relação às atividades
pedagógicas propriamente ditas, é interessante o seu estudo porque a criança em
idade escolar pode apresentar uma sexualidade ainda fortemente oral. Neste case,
dizemos que houve uma ―fixação libidinal‖ na fase oral. A fixação pode ocorrer se a
libido estacionar ou permanecer em demasia na região oral, mesmo no período em
que se desloca (ou deveria deslocar-se) para outras zonas corporais
(MARCONDES, 1992).
A libido fixada na zona oral sinaliza a vivência desequilibrada pelo excesso de zelo
ou pela falta de satisfação oral. Tanto acontecimentos como amamentação
prolongadíssima ou alimentação exagerada e obsessiva, quanto desmames
De uma forma simplificada podemos dizer que os traços orais mantidos estarão
associados à característica predominante da fase oral: a modalidade de relação
incorporativa, com predomínio da confusão entre ter e ser. Num escolar, esses
traços chegam a preocupar quando a criança: (a) demonstra extrema dificuldade
com perdas quaisquer (lápis, deveres, jogos, colegas) porque, quando perde o que
tem, a criança vive essa perda como perda de parte de si mesma; (b) apresenta
sérias dificuldades em estabelecer trocas porque é exclusivista, egoísta, não quer
ser parceira, mas dona e possuidora de tudo: professor, colegas, material, jogos; (c)
com a mesma dificuldade de partilha pode apresentar-se – inversamente ao já
exposto – isolada e irascível quando das tentativas de comunicação ou troca; (d) em
relação à professora, se apresenta dependente da aprovação da ―tia‖ para todas as
suas escolhas e atividades, ou – ao contrário – rejeita o modelo da ―tia‖ de toda uma
turma, tornando-se inamistosa e sofrendo com a falta de exclusividade
(MARCONDES, 1992).
reforço da distinção entre ter e ser com amplo suporte de aceitação afetiva da
singularidade da criança. Isso pode ser feito até pela verbalização para a criança,
porque a mensagem é compreendida independentemente da compreensão textual
do que o adulto diz. Brincadeiras recomendáveis são aquelas em que a criança
dramatiza o crescimento de uma semente, troca de presentes no amigo oculto,
colore desenhos com a troca de cores entre as crianças (cada uma sempre com
uma cor), etc. É recomendável, também, que se estimule qualquer atividade que
treine a independência da criança: escolha de suas roupas e brinquedos,
responsabilidades delegadas a ela (alimentar um bichinho, arrumar um armário), etc.
Sempre que possível uma conversa com a mãe pode ajudar, no sentido de
investigar a dependência ou a insatisfação emocional da criança, esclarecendo a
situação para a mãe e para a professora (MARCONDES, 1992).
presente à sua mãe em sinal de carinho, ou, então, que as retenha durante dias,
também de presente, tentando agradar. Se o treinamento esfincteriano exigido pela
mãe for muito traumático, a retenção ou expulsão das fezes pode equivaler para a
criança a uma punição, ao invés de presente. De qualquer forma o valor das fezes é
simbólico: serve para punir ou recompensar. É dessa forma que a criança vai
adquirindo controle sobre o seu corpo (MARCONDES, 1992).
O relaxamento esfincteriano vivido pela criança até a fase anal é difícil de ser
deixado, como lhe pede a mãe. Cobrando o controle dos esfíncteres, o que a mãe
propõe para a criança é que renuncie a uma situação prazerosa. Freqüentemente a
renúncia exigida é da manipulação fecal também. E assim deve ser para que o
desenvolvimento se dê. Mas é difícil para a criança e ela só o fará pela mãe: em
parte por medo e em parte pelo oferecimento de sua obediência ao ser amado! Até
então a criança só havia conhecido o amor da mãe; agora distinguirá sentimentos
ambivalentes de amor e ódio já que é a mãe que proíbe, castiga, pune. É essa
ambigüidade de amor e ódio ao mesmo objeto (e pessoa) que vai inaugurar na
criança a dimensão de sua própria agressividade. Ela confronta-se e tenta agredir
quem lhe tolhe os movimentos ou dá ordens desagradáveis de cumprir. Nesses
combates, entre esperneios e choros, vai aprendendo que pode e deve controlar
seus impulsos, sua agressividade (MARCONDES, 1992).
A criança anal é ativa, barulhenta, muitas vezes brutal agressiva em relação aos
objetos (...) e há em tudo isso um certo prazer maligno, acentuada, aliás, por muito
pouco que se aperceba disso, pelo fato de essa perversidade desagradar o adulto. A
identificação com seu agressor foi atingida com êxito. É porque ama o adulto que a
criança sente prazer em irritar e agredir (DOLTO, 1984, APUD MARCONDES,
1992).
A libido dessa fase pode ser fixada mais fortemente do que o esperado, caso a
vivência dessa fase seja desequilibrada. Neste caso, o traço de personalidade que
vai prevalecer – denunciando assim a fixação anal – provavelmente vai relacionar-se
a dificuldades no domínio da relação social e/ou dificuldade no controle da
impulsividade ou agressividade (MARCONDES, 1992).
Entretanto, como a situação deflagradora da fixação pode ter sido tanto a rigidez
quanto o desregramento em relação à vivência anal, e, ainda, como o fato de a
reação da criança a essas situações pode ter sido mais ou menos adaptado, pode
haver inúmeras possibilidades de características diferentes de personalidade
relacionadas à mesma dificuldade. A criança de quem duramente se exigiu em
higiene e disciplina e que foi impedida de usar expansivamente sua energia, em
função de uma disciplina muito rígida, pode ter sua libido fixada, o que a leva a um
padrão de comportamento que repita a disciplina da qual não consegue livrar-se, ou
a um padrão de comportamento que signifique o oposto daquele a que foi
submetida, para satisfazer a todos os desejos reprimidos. A criança não estimulada
Apaziguada a tensão anal, a libido descobre a zona erógena genital: o clitóris para
as meninas e o pênis para os meninos. O interesse pela genitália, agora erotizada,
vai aumentar muito. Esta fase fálica estende-se dos três aos seis anos de idade,
aproximadamente. Curiosa e atenta, a criança questionará o ―porquê‖ das coisas;
ela quer saber sobre as diferenças sexuais, do nascimento e da morte, sobre o
significado das coisas, de onde vêm os bebês, o que fazem os adultos juntos...
Nessa fase a criança organiza sua primeira visão do conjunto social em que se
É uma completa inversão a idéia leiga que associa loucura, frigidez e imbecilidade à
atividade masturbatória. A masturbação normal, na intimidade da criança, não
precisa ser admoestada, não fadiga, não enlouquece. A criança razoavelmente
adaptada, acalma as tensões libidinais pela masturbação, ela não se masturba tão
freqüentemente e, com a mesma naturalidade com que pratica a atividade, ela
também a interrompe depois de algum tempo (MARCONDES, 1992).
Outra vivência importante da fase fálica dessa criança é a descoberta da morte. Tão
curiosa sobre a vida, a reprodução humana e sobre todas as coisas, ela acaba
deparando com a morte. Um bichinho, uma plantinha ou uma pessoa que morre,
desperta na criança a noção da interrupção do fluxo da vida. Em princípio a redução
do animado ao estado de coisa inanimada é vista pela criança como uma questão
de imobilidade. Quando enfim se convencer de que as perdas definitivas se
relacionam ao morrer, então a imobilidade, para ela, será associada à morte. Assim,
passa a representar, no nível simbólico, um terrível castigo ser tolhida de
movimentos ou ser privada do movimento de algum de seus objetos de amor. Um
adulto amado dormindo ou fingindo estar morto (pelo imobilismo) pode ser uma
situação experienciada pela criança com profunda angústia. É possível que o medo
da morte se instale nela ao mesmo tempo em que aumenta sua compreensão da
vida e de suas potencialidades. Até certo ponto esse medo é natural, comum,
previsível e pode ser superado (MARCONDES, 1992).
A criança terá de renunciar ao desejo incestuoso. Esse é o tabu social mais radical e
profundamente enraizado na estrutura humana. O conflito edípico tornará possível o
desenvolvimento de uma personalidade diferenciada e independente das figuras
parentais; é por isso considerado a mais importante etapa do desenvolvimento
psicossexual (MARCONDES, 1992).
Na sua fantasia, a criança deseja ser o complemento sexual de sua mãe. O menino
sabe das diferenças sexuais, e fantasia os papéis correspondentes aos sexos. Para
si, deseja a posse de sua mãe: reclama da severidade do pai, tenta monopolizar e
impressionar a mãe, sente ciúme do que afasta sua mãe das atenções dispensadas
a ele. Entretanto o menino reconhece a superioridade do pai (MARCONDES, 1992).
A mãe o ama, mas o menino sente que não é sua única preocupação. Quanto mais
deseja a mãe, mais o pai lhe parece ameaçador. É comum a vivência fantasiosa do
medo da castração; o menino teme que seu rival o prove do que ele tem de
importante e prestigiado. Essa luta inconsciente toma grandes proporções. O objeto
de desejo do menino e seu rival são vivenciados com profunda intensidade afetiva. A
criança é susceptível de explosões de agressividade, de submissão ou de angústia,
aparentemente sem explicações plausíveis. Subjetivamente, o menino vai resolver
sua luta pela obediência ao tabu do incesto. E assim deve ser, em estruturas de
personalidade normal. O menino, não podendo vencer seu rival, identifica-se com
ele! Então a criança passa a querer imitar o pai e não a substituí-lo. Ele renuncia
tanto mais rapidamente quanto melhor perceber a inutilidade da competição. A
proibição estará associada ao desejo, e o ganho pela obediência a essa ―lei‖ será a
identificação com o papel correspondente ao seu sexo, ou seja, o rival torna-se o
modelo da criança. Identificado com seu forte oponente, a criança se construirá
igualmente forte; o menino posterga o desejo e tenta aprender a ser o homem que
poderá, no futuro, conquistar uma mulher para si – sem culpa ou proibição
(MARCONDES, 1992).
Quando o/a professor/a diz que as meninas devem se preservar não ―ficando‖ ou
―transando‖ com todo mundo porque estarão se ―desvalorizando‖, reforça que o valor
da menina está em atender às expectativas sociais de gênero que são de que não
tome a iniciativa na vida sexual, se mantenha na passividade, seja recatada e coisas
assim. Esse discurso também reforça a dupla moral sexual, ou seja, uma para
homens – mais libertária e permissiva – e outra para mulheres (MOTA E ROCHA,
2008).
Quando chega a adolescência muitas vezes não consegue vislumbrar outra forma
de realização, além do casamento e a maternidade. Como se engravidar e gerar
uma criança lhe garantisse a realização como mulher, afinal foi para isso que a
menininha foi educada (MOTA E ROCHA, 2008).
É importante discutir nas salas de aula que se as mulheres são consideradas mais
responsáveis pela gravidez em determinada sociedade, isto não se baseia no
aspecto biológico da presença do útero e dos ovários, mas sim no fato de que a
sociedade construiu essa percepção. Para modificar esse quadro, o passo inicial é
desconstruir a maternidade como destino e colocá-la no campo da escolha, do
planejamento de vida que pode ou não incluí-la. É preciso também incluir os
meninos nesta discussão, que eles participem ativamente do processo de
desconstrução (MOTA E ROCHA, 2008).
– ―Meu namorado é muito ciumento, ele não me deixa sair com roupa curta, mas eu
não me importo porque isso é sinal de que ele se preocupa comigo‖;
– ―Eu controlo ela mesmo, não vai sair comigo vestida assim... eu tenho que cuidar
do que é meu né?‖ (MOTA E ROCHA, 2008).
Menino e menina não conseguem ver a violência de gênero presente nessa relação,
ela acredita mesmo que é papel do homem cuidar dela e que a forma dele
demonstrar amor é controlando. Ele, por sua vez, acredita que está desempenhando
corretamente seu papel de homem. Esse controle, que já é violência psicológica,
muito provavelmente irá caminhar para outras formas de violência no futuro (MOTA
E ROCHA, 2008).
Por outro lado, meninos são mais vítimas de mortes por causas externas, o que está
relacionado a atributos do ―gênero masculino‖ que os colocam em situações de
maior risco (de receberem tiros, facadas, de serem atropelados ou de se envolverem
em brigas).
esta profissão para o sexo feminino, mas não para o masculino (MOTA E ROCHA,
2008).
É importante que crianças desde cedo sejam educadas dentro de perspectiva crítica
de gênero. Nesse sentido, a escola tem muito a fazer, pois a educação nas salas de
aula ainda está bastante impregnada por nossa cultura de gênero. Por outro lado, a
escola pode fazer muito, pois ela é um dos fatores que contribui grandemente para a
formação do indivíduo, é um ambiente que favorece a socialização desde cedo e
pode educar para a reflexão crítica para além de informar (MOTA E ROCHA, 2008).
Para ser uma proposta efetiva, a educação sexual precisa levar em conta o contexto
histórico-cultural, fomentar a participação protagonista de adolescentes e jovens,
promover a eqüidade de gênero e... respeitar as diversidades (MOTA E ROCHA,
2008).
Como agir numa sala de aula onde convivem jovens de diferentes idades, com
diferentes inserções sociais e experiências de vida, crescendo junto a diferentes
tipos de família, possuindo diferentes cores de pele, características físicas, e
trilhando o caminho que levará cada qual, de maneira extremamente pessoal, a
definir o que hoje se denomina sua ―orientação sexual‖? Como chamar para a
discussão meninos e meninas tão distintos entre si? Como respeitar as
diversidades? (MOTA E ROCHA, 2008).
A relação do/a adolescente com seu corpo é um fator que merece atenção, é um
corpo novo e em mudança, não apenas por todo o processo biológico da puberdade
mas principalmente por sua nova inserção social. Esse corpo agora tem relação
direta com a valorização de si mesmo/a, com a autoestima, pois está submetido às
normas sociais como o corpo de criança não estava. Para as meninas em particular,
esta questão se destaca, quando se observa o perverso bombardeio da mídia
ditando padrões importados de beleza e de magreza. Dispomos do exemplo dos
casos crescentes de anorexia e bulimia, distúrbios que vêm sendo abordados dentro
da lógica epidemiológica, tal é o número de meninas – adolescentes e jovens – que
apresentam a sintomatologia. É apresentado todo o tempo como padrão de beleza a
ser seguido os corpos magérrimos e super definidos de modelos ou atrizes de
revista e televisão, sem que seja promovido um questionamento quanto ao fato
desses corpos não representarem os corpos da infinita maioria da população, sobre
o que é necessário para se obter esse corpo, sobre se esse corpo realmente existe
(tendo em vista os recursos de maquiagem, fotoshop, etc) e principalmente, sobre
por que acreditar que o corpo do outro tem mais valor que o próprio corpo (MOTA E
ROCHA, 2008).
Ao não serem incitadas para a reflexão crítica, as meninas ficam limitadas à busca
desenfreada desse corpo ideal, sentindo-se feias e incapazes de despertar o desejo
de quem quer que seja. Para os meninos, um paralelo da anorexia é a utilização de
drogas anabolizantes utilizadas indiscriminadamente, com ônus para a saúde física
e psíquica, na busca do corpo perfeito (MOTA E ROCHA, 2008).
A ditadura estética tem implicações em muitas áreas. Muitas meninas não usam
pílula anticoncepcional porque acreditam que ficarão gordas. É preciso desconstruir
esse mito, afinal ela não apresenta esse efeito colateral para todas as mulheres e
ainda que o faça, vale a discussão de risco-benefício tendo como pano de fundo a
ditadura da magreza (MOTA E ROCHA, 2008).
Outro lado a ser analisado é a supervalorização do corpo jovem. O que dizer sobre a
imposição de que o corpo permaneça jovem a vida inteira, numa sociedade que
cultiva a idéia de que depois dos 30 a pessoa vai deixando de ser sedutora, e depois
dos 50 anos está perto do fim? Se esses valores são internalizados na adolescência
e na juventude, a tendência dessas gerações será a de abraçar a sexualidade com
ansiedade, acreditando que o melhor será agir agora ―como se tudo pudessem‖,
pois, a mensagem que recebem é de que passada a juventude nada mais
acontecerá (MOTA E ROCHA, 2008).
Vemos então que não há um único corpo adolescente e que este é construído
socialmente. Numa sala de aula teremos uma diversidade de corpos e é preciso não
perder essa perspectiva, de modo a evitar cair na cilada do padrão único de beleza:
alto/a, magro/a, branco/a, de cabelos lisos e olhos claros. É importante conduzir as
atividades para que os/as jovens possam reconhecer, admirar, amar seu próprio
corpo e que possam se posicionar criticamente quanto a esse padrão de beleza
imposto (MOTA E ROCHA, 2008).
Quando professores/as vêem um/a aluno/a partem do princípio que ele ou ela é
heterossexual e daí todas as discussões envolvendo sexualidade serão feitas a
partir dessa premissa. Isso pode significar o afastamento do/a jovem da atividade ou
Uma jovem lésbica, por exemplo, pode se sentir inferiorizada ou excluída quando o/a
professor/a discorre sobre relações afetivas ou sexuais sem fazer menção a casais e
práticas homossexuais. As atividades educativas devem incluir a diversidade sexual
como um tema específico a ser abordado, mas, principalmente, deve perpassar
outras discussões e ser incluída como rotina nas disciplinas. Por que os exemplos
dados em sala de aula são sempre de casais e práticas heterossexuais? (MOTA E
ROCHA, 2008).
Esse medo de que os/as alunos/as se tornem gays e lésbicas reflete em verdade, o
―preconceito nosso de cada dia‖, afinal e se eles/as forem mesmo homossexuais,
qual o problema? (MOTA E ROCHA, 2008).
A escola deve buscar uma postura clara para não compactuar com qualquer tipo de
violência, e ser um lugar onde se aprende o respeito e onde se constrói uma cultura
em que a diversidade é um direito, sem priorizar qualquer grupo (MOTA E ROCHA,
2008).
2º Bimestre
Nos últimos anos, a sexualidade tem ocupado muito espaço na mídia. Isto significa
que os antigos tabus e preconceitos estão sendo superados? Será que, na
sociedade de consumo, a sexualidade está sendo colocada, indevidamente, como
mercadoria? Que influências isso terá no comportamento e na educação de crianças
e jovens? (SAYÃO E BOCK)
Sobre sexualidade, todos nós temos algo a dizer ou algum saber sobre o qual
podemos refletir. A sexualidade, para além do sexo, relaciona-se com a busca de
prazer desde o nascimento e, portanto, é parte inerente da vida. (SAYÃO E BOCK)
Embora alguns autores considerem quase como sinônimos e outros como termos
distintos os constructos imagem corporal e esquema corporal, propõe-se nesse
estudo romper como uma visão fragmentada das funções do corpo biológico X corpo
psicoafetivo. Interessa abordar a relação do adolescente com sua percepção
corporal e relacional, implicando um constante entrelaçamento das dimensões
biológica, psíquica, social e inter-humana como constituintes do indivíduo. Deste
modo, ao pensar sobre a imagem corporal é preciso esclarecer determinados
termos. (FROIS, 2011).
Para alguns autores, como Meur (1989) e Coste (1992), imagem e esquema
corporal são funções distintas que ora se aproximam ora se distanciam, porém este
estudo se propõe abordar tais funções em uma dinâmica integralizada, rompendo
com a percepção isolada e fragmentada do corpo (FROIS, 2011).
A partir de autores como Fischer (1990), Hart (2003), Schilder (1999) e Tavares
(2003), pode-se compreender que a imagem corporal é um constructo que engloba
as percepções do indivíduo sobre si mesmo e sobre a relação que ele mantém com
os outros. Nesta medida, as demais funções - como o esquema corporal, a
lateralidade e as noções espaciais e temporais - seriam todas componentes da
imagem corporal. Na medida em que estas noções constituem o indivíduo na sua
trama relacional elas estariam na dimensão formacional, compondo assim a imagem
que o indivíduo tem de si a partir das suas percepções acerca da estrutura corporal,
da aparência e da percepção que tem de como os outros o veem. Nessa medida a
imagem corporal compõe o processo identitário e formacional do adolescente
(FROIS, 2011).
Nesta relação, a imagem corporal é construída a partir dos nomes que vamos
incorporando ao nosso corpo e ao nosso modo de ser no mundo. Desde a gestação,
ou mesmo no planejamento desta, a criança vai recebendo nomes imbuídos de
sentidos e significações. Esses elementos contribuirão para a sua posterior
apropriação de uma imagem corporal. Apesar, porém, de ser influenciada pelos
nomes que recebe dos pais e cuidadores, ela passa a vivenciar e experimentar
novas sensações após o seu nascimento, o que possibilita outras representações e
significações para esse corpo. Experiências no mundo que a cerca lhe possibilitarão
outras referências e a incorporação de novas noções de si própria, da significação
do seu esquema corporal e do seu corpo em movimento. A essas experiências
soma-se o contato infantil com a escola, com os colegas e com as mídias que a
situam no mundo contemporâneo (FROIS, 2011).
Assim, esse processo pode trazer conflitos ao jovem, os quais tendem a diminuir à
medida que o adolescente reorganiza sua imagem corporal. Nesse processo de
adaptação a partir de novas demandas corporais é comum que as imagens
preferidas e valorizadas no mundo colaborem para o acirramento dos conflitos e das
angústias do adolescente, de modo que o conflito entre imagem corporal e corpos-
imagem é inevitável na adolescência e, em certa medida, é estruturante e benéfico
no processo de apropriação da identidade do adolescente (FROIS, 2011).
Segundo Apostólico (2006, p.12), a mídia possui ―ingredientes que fazem parte do
processo de hipnose e sedação produzidas pelas imagens‖. A autora coloca que a
imagem e gestos são mais facilmente apreendidos pela memória que as narrativas
em si e inclui a moda como agente doutrinador da massa e entende que atualmente
―a construção de um modelo de corpo onde homens e mulheres tenham formas
muito semelhantes‖. E que os corpos que se apresentam nas telenovelas são
referências para a construção do corpo ideal (NETO E CAMPOS, 2010).
Bucci; Kehl (2004) enfatizam que os publicitários perceberam que é possível fazer o
inconsciente do consumidor trabalhar em favor do lucro. Cita que o inconsciente não
é ético e nem antiético. Que o inconsciente é amoral e funciona de acordo com a
lógica da realização imediata dos desejos que na verdade não é tão individual como
pensamos. Diz que o desejo é social, que desejamos o que os outros desejam, ou
que nos convidam a desejar. Que uma imagem publicitária considerada ideal é a
que apela aos desejos inconscientes, ao mesmo tempo em que se oferece como
objeto de satisfação. Esta imagem determina quais são os objetos imaginários de
Somente a partir do século XX a criança começou a ter lugar nas leis e códigos no
mundo e, por extensão, no Brasil. Este foi um século de descobertas, grandes
invenções tecnológicas, devastadoras guerras civis e mundiais, mas
Criado em 13 de julho de 1990, o ECA instituiu-se como lei federal n.º 8.069
(obedecendo ao artigo 227 da Constituição Federal), adotando a chamada Doutrina
da Proteção Integral, cujo pressuposto básico afirma que crianças e adolescentes
devem ser vistos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e
destinatários de proteção integral (DELY, 2007). O ECA constitui uma avançada
legislação, especialmente no que diz respeito à substituição do Código de Menores,
cujos princípios contemplavam medidas de assistência e proteção para os meninos
em situação irregular, abandonados, considerados ―menores em risco‖ (COSTA;
BRIGAS, 2007). Torna-se um marco nos direitos da criança e do adolescente,
porque veio assegurar à criança e ao adolescente todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana; no ECA a criança é vista, pelo menos teoricamente,
como um ser humano completo (GOMES; CAETANO; JORGE, 2008).
Embora o Brasil possua uma das mais avançadas legislações de proteção aos
jovens, há muito trabalho a ser feito para torná-la efetiva. Convivemos com o
descaso dos governantes pela vida dos jovens e com o abuso das autoridades
constituídas, violando os direitos mais elementares que o ECA garante às crianças e
aos adolescentes. A mídia burila suas invectivas, criminaliza os jovens das camadas
populares alcunhando-os de menores e estigmatiza as classes subalternas
Em 1996, tivemos mais um avanço com a criação da LDB, Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (lei nº 9.394/96) que, da ação conjunta do texto constitucional
e do seu contexto nascem a política e o planejamento educacionais e depende o dia
Uma educação que realmente contribua para a formação dos sujeitos só será
alcançada se levarmos em conta as peculiaridades das sociedades em que estes
vivem. Pois de acordo com a LDB a educação é um somatório de processos
formativos que ocorrem na sociedade e se desenvolvem mediante a interação do
educando com esta (BAMPI, 2010).
Sabe-se que a lei, por si só, não garante a qualidade do ensino nem a permanência
do aluno na escola, implica também na efetiva ação e postura dos profissionais
envolvidos na educação, bem como implementação de um Projeto Político
Pedagógico que atenda à necessidade de inclusão, consolidando assim o artigo 53
do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8069/90 (BRASIL, 1990):
Em relação ao preparo para o exercício da cidadania, vale afirmar que ser cidadão
implica o reconhecimento e a concretização de seus direitos civis, políticos e sociais.
A cidadania resulta na efetivação de tais direitos e na luta para alcançá-los,
independente da condição pessoal ou social do indivíduo. Também implica o
cumprimento de seus deveres. Especificamente em relação à criança e ao
adolescente, reconhecê-los como cidadãos é assegurar o que foi estabelecido tanto
na Constituição Federal (art. 227) como no Estatuto da Criança e do Adolescente
(art. 3º, 4º, e 5º) quanto aos seus direitos fundamentais. A educação deve
proporcionar ao aluno conhecimentos que o preparem tanto para a defesa de seus
direitos como para o desempenho de suas obrigações (FERREIRA, 2008).
Esse atendimento encontra fundamento no que estabelece o artigo 5º. do texto legal,
onde se lê:
Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qual quer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. (BRASIL, 1990)
Verifica-se, por essa análise, que o direito à vida e à saúde foi muito enfatizado pelo
ECA, não só em relação à política de atendimento, como também às ações dos
profissionais que atuam no setor, compartilhando a responsabilidade com os pais ou
responsáveis, bem como com a própria criança e o adolescente (FERREIRA, 2008).
Com efeito, ao tratar das medidas de proteção que se aplicam às crianças e aos
adolescentes, o Estatuto faz expressa referência à questão da saúde, explicitando:
Surge, então, a seguinte pergunta: estes direitos são os primeiros do rol de direitos
fundamentais da criança e do adolescente na Constituição e no Estatuto da Criança
e do Adolescente por mera coincidência? A resposta é não. Os legisladores assim
os dispuseram na letra da lei não por mera coincidência, mas sim para colocá-los em
patamar superior a dos demais direitos fundamentais (ILANUD, 2009).
Para tanto, o artigo 7º determina que estes direitos devem ser garantidos por meio
de políticas sociais públicas, constituídas em um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais (ILANUD, 2009).
Assim, temos que a não observância dos direitos fundamentais à vida e à saúde da
criança e do adolescente, seja pela família, pela sociedade ou pelo Estado, viola
notavelmente o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no inciso III do
artigo 1º da Constituição Federal. Mas não só, também viola e os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, elencados no artigo 3º da
Constituição Federal, quais sejam, construir uma sociedade livre, justa e solidária;
garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; e
reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos (ILANUD,
2009).
6 CONCEITO DE SAÚDE
Houve época em que masturbação era considerada uma conduta patológica capaz
de resultar em desnutrição (por perda da proteína contida no esperma) e em
distúrbios mentais. A masturbação era tratada por dieta, por infibulação, pela
imobilização do ―paciente‖, por aparelhos elétricos que davam choque quando o
pênis era manipulado e até pela ablação da genitália. Houve época, também, em
que o desejo de fuga dos escravos era considerado enfermidade mental: a
drapetomania (do grego drapetes, escravo). O diagnóstico foi proposto em 1851 por
Samuel A. Cartwright, médico do estado da Louisiana, no escravagista sul dos
Estados Unidos. O tratamento proposto era o do açoite, também aplicável à
―disestesia etiópica‖, outro diagnóstico do doutor Cartwright, este explicando a falta
de motivação para o trabalho entre os negros escravizados (SCLIAR, 2007).
A doença era sinal de desobediência ao mandamento divino. A enfermidade
proclamava o pecado, quase sempre em forma visível, como no caso da lepra Trata-
se de doença contagiosa, que sugere, portanto, contato entre corpos humanos,
contato que pode ter evidentes conotações pecaminosas. O Levítico detém-se
longamente na maneira de diagnosticar a lepra; mas não faz uma abordagem similar
para o tratamento. Em primeiro lugar, porque tal tratamento não estava disponível;
em segundo, porque a lepra podia ser doença, mas era também e, sobretudo, um
pecado. O doente era isolado até a cura, um procedimento que o cristianismo
manterá e ampliará: o leproso era considerado morto e rezada a missa de corpo
presente, após o que ele era proibido de ter contato com outras pessoas ou enviado
para um leprosário. Esse tipo de estabelecimento era muito comum na Idade Média,
em parte porque o rótulo de lepra era freqüente, sem dúvida abrangendo numerosas
outras doenças (SCLIAR, 2007).
Em 1850, nos Estados Unidos, Lemuel Shattuck, livreiro, faz um relato sobre as
condições sanitárias em Massachusetts - e uma diretoria de saúde é criada nesse
Estado, reunindo médicos e leigos. Ao mesmo tempo, outras revoluções, estas
sangrentas, ocorriam, como a de 1848, como a Comuna de Paris: Karl Marx estava
diagnosticando os males do capitalismo e propondo profundas modificações na
sociedade. Mesmo que estas não ocorressem, modificações precisavam ser feitas.
Os capitalistas e latifundiários precisavam, nas palavras de Otto von Bismarck, o
―chanceler de ferro‖, serem salvos deles próprios, de sua ganância que ameaçava
sacrificar a mão-de-obra operária. Bismarck criou, em 1883, um sistema de
seguridade social e de saúde que, por vários aspectos, foi pioneiro. Aliás, na
Alemanha já tinha surgido, em 1779, a idéia da intervenção do Estado na área de
saúde pública. Naquele ano começava a ser publicado o System einer Vollständigen
medicinischen Polizei, obra monumental com a qual Johan Peter Frank (1745-1821)
lançava o conceito, paternalista e autoritário, de polícia médica ou sanitária
(SCLIAR, 2007).
Mas não havia ainda um conceito universalmente aceito do que é saúde. Para tal
seria necessário um consenso entre as nações, possível de obter somente num
organismo internacional. A Liga das Nações, surgida após o término da Primeira
Guerra, não conseguiu esse objetivo: foi necessário haver uma Segunda Guerra e a
criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da
Saúde (OMS), para que isto acontecesse (SCLIAR, 2007).
Por causa disso, nossa Constituição Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o
conceito de saúde, mas diz que: ―A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para a promoção, proteção e recuperação‖. Este é o princípio que norteia o SUS,
Sistema Único de Saúde. E é o princípio que está colaborando para desenvolver a
dignidade aos brasileiros, como cidadãos e como seres humanos (SCLIAR, 2007).
O termo prevenir tem o significado de "preparar; chegar antes de; dispor de maneira
que evite (dano, mal); impedir que se realize" (FERREIRA, 1986, APUD
CZERESNIA, 2003).
A 12ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) teve como objetivo definir orientações
para o plano plurianual de saúde do governo e as principais diretrizes a serem
incorporadas ao sistema de saúde. Como estratégia central da mesma foi ressaltada
O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral dos estudantes por
meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao
enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de
crianças e jovens da rede pública de ensino (MEC, 2014).
No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das estratégias firmadas
entre a escola, a partir de seu projeto político-pedagógico e a unidade básica de
saúde. O planejamento destas ações do PSE considera: o contexto escolar e social,
o diagnóstico local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do
escolar (MEC, 2014).
Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco componentes:
a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescentes e jovens que
estão na escola pública;
b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção;
c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da Educação e da Saúde
e de Jovens;
d) Monitoramento e Avaliação da Saúde dos Estudantes;
e) Monitoramento e Avaliação do Programa. (MEC, 2014).
Mais do que uma estratégia de integração das políticas setoriais, o PSE se propõe a
ser um novo desenho da política de educação e saúde já que:
(1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla para a
cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos;
(2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas de saúde
e educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças e adolescentes; e
(3) promove a articulação de saberes, a participação de estudantes, pais,
comunidade escolar e sociedade em geral na construção e controle social da política
pública. (MEC, 2014).
Em primeiro lugar, não existe uma definição única do que vem a ser adolescência e
juventude. Esses conceitos variam de acordo com o momento histórico e cultural, de
modo que cada sociedade acaba por conceber o (a) adolescente e o(a) jovem à sua
própria imagem (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Aliás, mesmo a ideia de adolescência ou juventude como uma fase demarcada por
mudanças hormonais que afetam totalmente o jeito de ser e de agir das pessoas
que estão nessa fase vem sendo contestada amplamente (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2010).
Sabemos que muitas das características consideradas próprias desse ciclo de vida
são, na verdade, construções sociais produtos de determinadas sociedades e
épocas, como, por exemplo, a modernidade, o ocidente e o século XX (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2010).
A adolescência integra a juventude, mas esta é mais ampla. Não se limita a uma
etapa cronológica da vida e não pode ser definida por uma simples limitação etária,
podendo ser mais um processo vivido distintamente pelas pessoas em busca de
autonomia e estabelecimento de um projeto de vida individual (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
Por essa razão, faz mais sentido falarmos em adolescências e juventudes, pois, em
um país do tamanho do Brasil, apesar das várias características comuns, a
população jovem vivencia cotidianamente diferenças importantes, em decorrência
das classes sociais distintas, das origens e trajetória familiares, das relações de
gênero, raça e etnia, da diversidade sexual, dos estilos de vida, do local onde
moram. Tanto a juventude como a adolescência são categoriais sociais plurais e
incluem, em sua totalidade, inúmeras possibilidades de símbolos, valores,
expectativas e significados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
No Brasil de hoje, adolescentes e jovens têm sido foco de políticas públicas, muito
mais do que já foram em outros tempos. Entretanto, infelizmente, poucas vezes são
destacados pela sua ―força renovadora‖. Basta olhar para a forma como são
retratados pela mídia ou como, são tratados na escola ou nos serviços de saúde.
São vistos muitas vezes como um grave problema social, e a combinação
adolescência/drogas/sexo/violência e vulnerabilidade é usada como explicação para
todo o tipo de desatino cometido pelos/as jovens. (...) Essa concepção
desconsidera, no entanto, os/as adolescentes e jovens como sujeitos de direitos e
capazes de uma ação propositiva, inclusive de decifrar, o significado dos conflitos
sociais contemporâneos e as saídas e soluções para eles (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2010).
Agora, o que faz uma pessoa usar álcool e outras drogas? Essa parece uma
pergunta simples de responder, mas é justamente o contrário. Para começo de
Se fôssemos fazer uma lista, de acordo com o que os (as) especialistas dizem sobre
o que motiva as pessoas ao uso da droga, veríamos que as razões são muitas e que
nossa lista ainda ficaria incompleta. Quer ver?
curiosidade;
para esquecer problemas, frustrações ou insatisfações;
para fugir do tédio;
para escapar da timidez e da insegurança;
por acreditar que certas drogas aumentam a criatividade, a sensibilidade e a
potência sexual;
busca do prazer;
enfrentar a morte, correr riscos;
necessidade de experimentar emoções novas e diferentes. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
Bem, já deu para perceber que a tarefa não é fácil. Então, se quisermos entender e
evitar o uso abusivo de álcool e outras drogas precisamos saber que não é possível
generalizar os motivos que levam uma pessoa a usar drogas. Cada usuário(a) tem
os seus próprios motivos. Mas, mesmo que a gente saiba quais são esses motivos,
ainda é preciso analisar outros fatores: — a droga em si, seus efeitos, prazeres e
riscos; a pessoa, com sua história de vida, suas experiências, condições de vida,
seus relacionamentos e aprendizados; o lugar em que a pessoa vive, com suas
regras, seus costumes, se ela tem ou não contato com essas substâncias e o que
acha disso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O uso de drogas vem desde a Antiguidade e até hoje é bastante comum entre nós.
Em algum momento, diferentes povos ou grupos passaram a ingerir drogas em
rituais, festas ou no convívio social. Por exemplo, o hábito de ingerir bebidas
alcoólicas tem mais de 8 mil anos! O problema é quando esse hábito vira vício e a
pessoa passa a se orientar somente pelo uso da substância, colocando-se em
situações de risco. Sabemos que quando bebemos exageradamente nossos
sentidos e reflexos ficam comprometidos. Porém, muitas vezes insistimos em dirigir
alcoolizados (as), o que pode ocasionar acidentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Normalmente, quando pensamos em drogas, associamos ao uso de cocaína,
maconha, crack etc, isto é, ao uso de substâncias proibidas. Mas algumas
substâncias fazem parte do nosso cotidiano, não são ilegais, e também podem nos
prejudicar se ingeridas em grande quantidade ou usadas inadequadamente. É o
caso do tabaco, álcool e alguns medicamentos, por exemplo. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
As drogas também são encontradas nos mais variados locais e nas mais variadas
situações. Elas podem estar dentro do armário, na geladeira, nos barzinhos, em
supermercados, nas festas de amigos, apresentando-se de diversas formas, como o
cigarro e os remédios para emagrecer e dormir. O importante é pensar no uso que
se faz dessas substâncias, pois, em excesso, podem afetar o bem-estar físico,
mental, o trabalho, o estudo, as relações afetivas, enfim, a vida (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são utilizadas com a
finalidade de produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são,
então, consideradas medicamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O fato de termos nascido com um pênis ou uma vagina não é apenas um dado
natural, pois a partir dele se estabelecem modos distintos de criar, cuidar e educar
meninos e meninas. Ou seja, cada sociedade e cada cultura interpretam uma
característica física e lhe dão sentido, mas este varia no decorrer da história. Assim,
desde o nascimento, a família, a medicina, a escola e as instituições religiosas,
comunicam a cada um dos sexos a maneira supostamente certa de se comportar, as
aspirações que pode ter, os direitos e as responsabilidades que estão associados ao
masculino e ao feminino, como se fossem mundos separados. Por exemplo, quando
nasce uma menina ela ganha roupinhas cor-de-rosa e se espera que ela seja
recatada, delicada e meiga. Já um menino ganha roupinhas azuis e a expectativa
de, no futuro, ser um destemido conquistador. E assim, desde a infância, quem não
se enquadra, quem não cumpre o esperado, vivencia o preconceito e a
discriminação. Essas pessoas vão crescendo, sendo vistas como problemáticas,
desajustadas, perturbadas, doentes, ―anormais‖ ou até mesmo depravadas,
simplesmente porque não atendem a certas normais sociais, aceitas como ―certas e
naturais‖. Tudo isso acaba por sufocar outras maneiras de viver o desejo e satisfazê-
lo sem culpa. Tais regras rígidas estabelecem estereótipos de gênero que
aprisionam a todas e todos, pois inibem a espontaneidade de cada um(a)
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
7.6 GÊNERO
Durante muito tempo, o gênero feminino foi caracterizado como ―sexo frágil―, sendo
as mulheres encarregadas do cuidado com os(as) filhos(as), o marido, a família e a
casa. Ultimamente, graças às lutas das mulheres por igualdade, o entendimento do
gênero feminino mudou, e elas passaram a ocupar funções antes tipicamente
associadas ao gênero masculino, como trabalhar fora de casa ou assumir cargos
políticos. Nesse sentido, dizer que não é permitido qualquer tipo de discriminação
com base no gênero significa dizer que todas e todos merecem igual respeito da lei,
dos governantes e das pessoas em geral, independentemente de seu sexo
biológico, da identidade que assumam ou do papel social que exerçam
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Por muito tempo, acreditava-se que essas desigualdades eram fruto das diferenças
biológicas. Muitas pessoas ainda pensam assim (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
As desigualdades acontecem porque atribuímos valores diferentes para os
comportamentos e as atitudes de homens e de mulheres. As desigualdades de
gênero representam uma das maneiras de atribuirmos valor ao masculino e ao
feminino. De modo geral, o masculino é mais valorizado em quase todas as
sociedades. Um exemplo bem conhecido: um adolescente ou jovem heterossexual
pode vivenciar sua sexualidade, ter vários relacionamentos sem que isso interfira na
imagem que o grupo social terá dele (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Isso acontece porque ao longo da história se ―construiu‖ a ideia de que homens são
naturalmente viris, não devem levar desaforo para casa, devem ser fortes, não
podem chorar e, como machos heterossexuais, o desejo sexual faz parte da
―natureza‖ e, a partir dessa concepção, espera-se que todos os homens se
comportem do mesmo modo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
As mulheres, por sua vez, seriam mais dóceis, frágeis, devendo preservar-se para a
maternidade, que é considerada sua principal e mais importante função social. É
esperado que toda mulher queira ser mãe e que goste da maternidade, como algo
próprio da natureza de fêmea (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Entretanto, aprender algo novo ou entender de maneira mais aprofundada algo que
já é familiar não é um processo simples e uniforme. Aprender é um processo
individual onde cada um (a) percebe e processa informações de maneiras
diferentes. Cada pessoa tem preferências por formas de aprender e um ritmo próprio
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O mais importante nisso tudo é reconhecer que as pessoas são diferentes e que
todas as formas como elas aprendem são válidas e devem ser respeitadas.
Portanto, cabe a quem ensina valorizar a diversidade dos(as) participantes e
promover uma variedade de recursos que contemple as preferências de
aprendizagem de um determinado grupo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Tem muita gente que ainda acha que as pessoas se arriscam em algumas situações
por conta da falta de informação. Daí acham que, para se desenvolver ações de
prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS, bastaria informar
adolescentes e jovens sobre quais são os riscos e quais as formas de se protegerem
dessas doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
A informação é muito importante, é claro, mas por si só não garante que uma
pessoa, seja ela de que idade for, se comporte dessa ou daquela maneira. Também
há aqueles (as) que acham que a melhor forma de trabalhar a prevenção é fazendo
terrorismo. Quem já viu aquelas imagens de pênis e vaginas totalmente destruídas
pelas DST sabe que elas causam mais repulsa do que mudanças de
comportamento. Na década de 1980 e início da década de 1990, essa concepção de
prevenção, inclusive, norteava as primeiras respostas à epidemia de AIDS no Brasil
e no mundo. Algumas propagandas que circulavam na época associavam AIDS à
morte e, ainda, sugeriam que as profissionais do sexo e os homossexuais eram os
(as) responsáveis pela disseminação da epidemia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Mas, e aí? Faz-se o quê? A experiência brasileira mostra que existem vários
caminhos para se desenvolver ações de prevenção, passando por propostas de
oficinas, cenas e brincadeiras. Mostra, também, que mais importante do que isso é a
postura das pessoas que conduzem as ações de modo a facilitar que adolescentes e
jovens se apropriem dos conteúdos e de práticas sexuais mais seguras. Mostra,
ainda, que o estigma e a discriminação são processos de desvalorização,
produzindo e reforçando iniquidades sociais já existentes, tais como aquelas
relacionadas a raça, classe, gênero e orientação sexual. Viver livre do estigma e de
qualquer tipo de discriminação é um direito humano básico e que deve ser
respeitado. Viver com o HIV não pode e não deve ser motivo para desrespeitar esse
direito (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Falar sobre sexualidade é falar de nossa história, nossas emoções, nossas relações
com as outras pessoas, nossos costumes e nossos desejos. É uma forma de
expressão, comunicação e afeto que se manifesta a todo o momento, seja por meio
de um gesto, de um olhar ou de uma ação. É a energia que nos motiva a encontrar o
amor, o contato e a intimidade e que se constrói passo a passo, a partir do momento
em que nascemos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Por exemplo, se conversarmos, com uma mulher mais velha, de uns 70 ou 80 anos,
provavelmente ela nos contará que, quando era jovem, tudo o que se referia a sexo
era associado à ―coisa feia‖, ―perigosa‖ e que uma mulher ―direita‖ só poderia ter
relações sexuais depois de casada. Se for um homem dessa mesma idade, ele
provavelmente nos contará que sua primeira experiência sexual foi com uma
prostituta contratada pelo pai ou por um tio (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Hoje, graças à ciência e à luta dos movimentos sociais, muita coisa mudou, mas,
infelizmente, outras tantas continuam complicadas. Uma delas é acreditar, por
exemplo, que não se deve conversar sobre sexo nas escolas, pois isso poderia
―estimular‖ adolescentes e jovens a iniciar sua vida sexual ―precocemente‖. Antes de
tudo, é preciso entender que a sexualidade não se restringe somente ao ato sexual,
pois envolve sentimentos e nos motiva a procurar o contato físico e afetivo, a
intimidade de um relacionamento, podendo ou não haver reprodução. Nesse
sentido, a nossa sexualidade é um processo que se iniciou em nosso nascimento e
vai até a nossa morte (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
8 REFERÊNCIAS
8. BRAVO, Maria Inês Souza. Política de Saúde no Brasil. São Paulo: Cortez,
2006.
16. GOMES, I. L. V.; CAETANO, R.; JORGE, M. S. B. The rigths of the child in
family and in society: cartography of laws and resolutions. Rev. bras.
enferm., Brasília, v. 61, n. 1, p. 61-65, 2008 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034716720080001
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21. MELLO, S. L. The child and the adolescent statute: is it possible to become
a psychological reality?. Psicol. USP , São Paulo, v. 10, n.2, p. 139-151, 1999
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103656419990002
00010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 jul. 2014.
23. NETO, Inácio Brandi; CAMPOS, Ivanir Glória de. A influência da mídia
sobre o ser humano na relação com o corpo e a auto-imagem de
adolescentes. Disponível em: <http://e-
revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/download/4531/3854>.
Acesso em: 20 jul. 2014.
24. SAYÃO, Yara; BOCK, Silvio Duarte. Sexualidade e corpo. Disponível em:
<http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/jv/jv2/sexo1.html>.
Acesso em: 20 jul. 2014.