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Fazendo Antropologia na cidade.

Minha participação nesta mesa redonda representa um esforço em compreender


como a teoria social tem favorecido a construção de sentidos para os fenômenos sociais, e
de certo modo, ela tem contribuído para dá sustentação a alguns estereótipos do senso-
comum. Em especial, vamos tratar da Antropologia urbana, de suas incursões nesse campo
e do seu esforço para compreendê-lo.
Optei por dividir minha fala em três momentos:

1. Discurso sobre a cidade. (como estes discursos se formaram).


2. O Homem Urbano. (Quem é esse citadino?).
3. Os Grupos Urbanos. (Das características e necessidades dos grupos).

1. Discurso sobre a cidade.

Nos jornais, revistas especializadas e noticiários: a cidade é sempre recortada


como lugar, e às vezes como causa da violência, da solidão, das neuroses, alienação,
comportamentos desviantes, anomia etc.
Segundo Oliven, (1982: 22) "toda a atmosfera [das análises da cidade] é
fortemente reminiscente do mito da expulsão do homem do paraíso e do começo da vida
social e histórica. O homem não pode voltar a uma mítica vida rural e deve suportar as
durezas da vida urbana ‘no suor do seu rosto’, mas o desejo inconsciente de retornar a um
edênico útero rural emerge constantemente".
Muitos dos autores que viam a cidade como um "mal" eram pastores
protestantes, como é inclusive o caso de Louis Wirth, para os quais a secularização é
apontada como conseqüência e causa do pecado humano.
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Ênfase no problema da integração-desintegração sócio cultural.

Os primeiros estudos sobre o fenômeno urbano no campo da Sociologia e


Antropologia, devemos à Escola de Chicago. Redfield, Wirth, Lewis, entre outros. Estes
estudos,
 Geraram uma posição antiurbana.
 As cidades passam a ser encaradas como a fonte de muitos males sociais.
 Muitos dos fenômenos urbanos são entendidos como "patologias".
 O Campo, em oposição à Cidade, esboça simultaneamente a perspectiva de
felicidade, um paraíso rousseauniano. Um paraíso rural, para o qual poderíamos
fugir quando o caos se tornasse definitivamente insuportável.

Algumas “ingenuidades”, diga-se, destas posições.

 A falta de um conhecimento aprofundado sobre os modos de vida urbana e que


levassem em conta os aspectos mais subjetivos (simbólicos). Esse conhecimento
possibilitaria verificar que a vida no campo não era tão integrada, bem como a vida
na cidade não era tão negativa como se supunha.
 A existência de uma migração intensa, bem como o alastramento do "tecido urbano"
em direção ao campo, preservando, quando muito, "ilhas de ruralidade" onde o que
se mantém, em essência, é a ordem moral da vida camponesa. Confunde campo e
cidade.
Esta realidade fez com que os “antropólogos urbanos”, repensando o trabalho do
antropólogo, concluísse que o que fazemos é “ciência social na cidade e não da cidade”. A
cidade passa a ser vista, então, como o contexto no qual se desenvolvem vários processos e
fenômenos sociais estudados. Ela certamente não é a principal causa destes fenômenos
(nem sua principal conseqüência), embora algumas de suas instituições possam intervir em
seu desenvolvimento.
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2. O Homem Urbano.

Do homem cuja vida é predominantemente urbana é possível dizer que ele é um


homem “multifacetado” ou, “multidimensional”. Ele é, ao mesmo tempo, funcionário,
eleitor, paciente, transeunte, passageiro, espectador, pai, filho, marido, freguês, fiel, cliente,
munícipe, professor, estudante, etc. “Sua noção de pessoa, como assinala Simmel
(1987:21), é constituída pela soma dos efeitos que dela emana temporal e espacialmente”.
O ambiente urbano é ambíguo; ao mesmo tempo em que seduz pelo sonho, poda
a capacidade humana de realização. Ser urbano, atualmente é fazer parte de um universo no
qual, como assinala Bermann (1986: 15), "tudo que é sólido desmancha no ar".
A efemeridade dos acontecimentos, a rápida e constante superação de um
momento pelo outro, de uma tecnologia pela outra, de regras, de modas, de modos de ser,
parecem influenciar, de alguma forma, a disposição do homem urbano para a incorporação
de mudanças cada vez mais freqüentes.
Para MAFFESOLI (1988), as sociedades marcadas pela modernidade estão
fundadas por funções configuradoras de identidades específicas e agrupamentos
contratuais, que são as “grandes utopias”. Por sua vez, as sociedades marcadas pela pós-
modernidade, estão caracterizadas por uma estrutura complexa onde as massas - ou o povo
– se localizariam socialmente através de uma multiplicidade de engajamentos e exercício de
papéis intercambiáveis. Compartilhamento emocional de valores, lugares e ideais que são
ao mesmo tempo circunscritos (localismo) e universalizáveis, vale dizer, presentes sob
diversas formas, em numerosas outras experiências sociais. 1
Nesta sociedade, a procura de novas formas de identidade, a difusão de estilos
de vida diferenciados, a experimentação que tenta criar novas unidades sociais mais
"afetivas", a multiplicação de possibilidades de engajamento são tentativas de resposta a
essa situação, ao sentimento de massificação.

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Chamo a atenção aqui para estes aspectos das cidades. Aliás, Maffesoli escreveu um belo texto onde ele
classifica a cidade de São Paulo como a mais pós-moderna de todas as cidades, compara inclusive com Nova
Yorque, alegando ter apreciado mais São Paulo.
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O encontro do “outro”, organizado em grupos que visam a esse fim (em clubes,
associações, bares, turmas de paquera, times de futebol, terreiros, igrejas, movimentos de
minorias, movimentos reivindicatórios, ou mesmo empreendimentos que têm por finalidade
última o encontro de parceiros para o lazer ou para o amor, como os chats da Internet, o
disque namoro ou o disque amizade). Estes encontros representam a tentativa de resposta e
remédio para o sentimento de solidão urbana e permite o uso da criatividade na elaboração
de códigos e regras, como que “recriando” a sociedade.
Muitos grupos se organizam mesmo como se fossem seitas e parecem ter, como
primeira função, dar uma identidade e assegurar uma inserção (é o caso dos “skin heads”,
“função”, “punks” entre outros), ampliando a rede de troca e sociabilidade e enriquecendo a
experiência pessoal. Todos esses fenômenos são experiências de reconstrução de relações
sociais diretas e personalizadas. É aí que se situam os diferentes grupos urbanos. Estes
indivíduos marcam seus territórios, que passam a ser segregados por diferentes grupos, não
adaptados a estas novas formas de convivências. 2

3. Os Grupos Urbanos

A noção de grupos é essencial ao entendimento da dinâmica cultural urbana.


Uma vez tido acesso as teorizações sobre a cidade feita por sociólogos que influenciaram
fortemente, não só as ciências sociais, mas também o senso comum, compreende-se que a
cidade só existe enquanto relação entre os diferentes grupos que interagem em um dado
sistema produtivo.
Cada grupo pode construir e reconstruir a cidade criativamente, a partir de
elementos selecionados no amplo leque de opções disponíveis na cultura de uma dada
sociedade. Ou seja, a cidade pode ser "construída" (interpretada, analisada) a partir do
trabalho, do lazer, da economia, da religião, do "funk", do hip-hop, da capoeira, dos
shoppings, das esquinas, das festas, do transito e sempre haverá uma cidade a ser
construída conforme se privilegiem aspectos específicos.

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Aqui em Caruaru vc tem a Praça do Rosário, a Praça Nova Euterpe, como exemplo.
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Pensar a cidade como construção simbólica de determinados grupos (inclusive


o grupo dos que estudam a cidade) possibilita ver que ela não rejeita seu papel de mercado,
encontrando sua melhor definição, provavelmente, neste termo, pois além de mercado de
trabalho, de trocas materiais, é o lugar onde os grupos efetuam também - e especialmente -
suas trocas simbólicas (Bourdieu, 1987). E que é nesse processo de trocas simbólicas que a
cidade desintegra e dilui, mas apenas para, no instante seguinte, reintegrar, refazer de modo
diverso.
E finalmente, a noção de mercado permite dizer que a cidade afirma sua
existência empírica apenas enquanto sistema no qual atua uma grande quantidade de
grupos de interesse, de referência, de vários tipos, tamanhos e filiações, que se
confrontam, competem entre si, aliam-se, misturam-se e interpenetram a fim de proteger,
aumentar ou legitimar aquilo que consideram seu patrimônio, seja este cultural,
histórico, ideológico ou outros. Numa palavra: seus estilos de vidas.
Assim, uma das maneiras de compreendermos os fenômenos em contexto
urbano (e à cidade em suas dinâmicas específicas e integradas), é proceder ao estudo dos
estilos de vida de cada grupo, a partir da investigação cuidadosa de seu cotidiano no
trabalho, no lazer, na escola, família, suas preferências, participação política,
participação em outros grupos etc., como observou Magnani (1986). Também Abner
Cohen (1978:154) afirma que, de seu ponto de vista, “o estudo da estrutura dos grupos
informalmente organizados é a chave para o desenvolvimento de uma antropologia das
sociedades complexas, pois a complexidade pode ser deslindada com o desenvolvimento
de formulações simples”.

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