Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
4
hexag
SISTEMA DE ENSINO
1ª edição
São Paulo
2016
hexag
SISTEMA DE ENSINO
Autores
Murilo de Almeida Gonçalves (Gramática e Interpretação de texto)
Lucas Limberti (Literatura)
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial
Hexag Editora
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Editora
Emily Cristina dos Ouros
Revisor
Arthur Tahan Miguel Torres
Pesquisa iconográfica
Camila Dalafina Coelho
Programação visual
Hexag Editora
Editoração eletrônica
Bruno Alves Oliveira Cruz
Camila Dalafina Coelho
Eder Carlos Bastos de Lima
Raphael de Souza Motta
Capa
Hexag Editora
Impressão e acabamento
Imagem Digital
ISBN: 978-85
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen-
tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2016
Todos os direitos reservados por Hexag Editora Ltda.
Rua da Consolação, 954 – Higienópolis – São Paulo – SP
CEP: 01302-000
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
CARO ALUNO,
O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010,
são centenas de aprovações nos principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo e em todo Brasil.
Ao atualizar sua coleção de livros para 2016, o Hexag considerou o principal diferencial em relação aos
concorrentes: a sua exclusiva metodologia fundamentada em três pontos – período integral, estudo orientado
(E.O.) e salas reduzidas.
O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo enriquecido, inclusive com questões
recentes dos principais vestibulares 2016.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens e também na utilização de cores.
No total, são 80 livros, distribuídos da seguinte forma:
21 livros de Ciências da Natureza e suas tecnologias (Biologia, Física e Química);
14 livros de Ciências Humanas e suas tecnologias (História e Geografia);
07 livros de Linguagens, Códigos e suas tecnologias (Gramática, Literatura e Inglês);
07 livros de Matemática e suas tecnologias;
04 livros de Sociologia e Filosofia;
04 livros “Entre Aspas” (Obras Literárias da Fuvest e Unicamp);
02 livros “Entre Frases” (Estudo da Escrita – Redação);
06 livros “Entre Textos” (Interpretação de Texto).
03 livros "Between English and Portuguese" (Inglês).
12 livros de Revisão (U.T.I. "Unidade Técnica de Imersão").
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de
forma objetiva o que o aluno realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares e Enem,
dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.
Os capítulos foram finalizados com cinco categorias de exercícios, trabalhadas nas sessões de Estudo Orien-
tado (E.O.), como segue:
E.O. Teste I: exercícios introdutórios de múltipla escolha, para iniciar o processo de fixação da matéria
estudada em aula;
E.O. Teste II: exercícios de múltipla escolha, que apresentam grau médio de dificuldade, buscando a con-
solidação do aprendizado;
E.O. Teste III: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade;
E.O. Dissertativo: exercícios dissertativos nos moldes da segunda fase da Fuvest, Unifesp, Unicamp e
outros importantes vestibulares;
E.O. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando
o aluno para esse tipo de exame.
A edição 2016 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e
completo, um grande aliado para o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
Gramática E
Interpretação de texto
O numeral traduz em palavras as quantidades indicadas pelos números. Se a expressão for escrita apenas
em números, não se tratará de numerais, mas de algarismos. Vejamos alguns exemplos:
Exemplos:
Ele foi aprovado em primeiro lugar.
(primeiro é o algarismo empregado para formar numerais escritos.)
IMPORTANTE! Algumas palavras são consideradas numerais, se denotarem ideia de quantidade, propor-
ção ou ordenação.
Classificação de numerais
Cardinais: indicam contagem, medida:
Exemplo: A medida do quarto é de trinta metros.
Ordinais: indicam a ordem ou o lugar da coisa ou pessoa numa série dada.
Exemplo: Verifique o segundo contato da agenda.
Multiplicativos: indicam multiplicação da coisa ou pessoa, quantas vezes a quantidade dela foi aumen-
tada.
Exemplo: Apareceu um triplo de convidados a mais que o esperado.
Fracionários: indicam parte de um inteiro da coisa ou pessoa.
Exemplo: Dois terços dos alunos foram aprovados na primeira fase da prova.
São considerados numerais e significam “um e outro” e também “os dois” (ou “uma e outra” e “as duas”). São
empregados para retomar pares de seres anteriormente mencionados. Se empregarmos ambos/ambas em função
adjetiva, ou se antecederem um substantivo, devem vir seguidos de artigo (o, a, os, as). No entanto, se em função
substantiva, dispensa-se o artigo.
Exemplos:
Os dois estudantes, ambos repetentes, tinham grandes dificuldades de aprendizado.
Gosto de meus irmãos; Ambos os dois.
7
Emprego de “meio” como As preposições são invariáveis, ou seja, não se
numeral adjetivo flexionam em gênero, número ou grau. Mas elas se con-
traem com outras palavras, como vimos no exemplo an-
Meio(s) e meia(s) são numerais adjetivos que acompa- terior. Ao se juntar ao artigo, elas passam a estabelecer
nham substantivos. Por esse motivo, obedecerão às re- concordância em gênero e número com essas palavras.
gras de concordância nominal (concordam em gênero e Importante lembrar que não se trata de uma variação
número com esse substantivo). própria da preposição, mas da palavra com a qual ela
se funde.
Exemplos:
A relação estabelecida pelas preposições pressu-
Agora é meio dia e meia (metade da hora).
põe um primeiro elemento – chamado antecedente – e
Meia taça de vinho já me deixa bêbado. um segundo – chamado consequente. Aquele é o que
exige a preposição, também chamado termo regente; o
Empregos especiais segundo é o termo regido por ela, também chamado de
dos numerais termo regido pela preposição.
Exemplo: Comprou os bilhetes da rifa com o Principais relações estabelecidas pelas preposições:
troco do lanche (da: contração da preposição “de” com Oposição: Eles lutarão um contra o outro
o artigo “a” / com: preposição isolada / do: contração Conteúdo: Preciso de um copo de (ou com)
da preposição “de” com o artigo “o”). água.
8
Origem: Você veio de Pernambuco.
Autoria: Estes versos são de Camões.
Posse: Essa mochila é de Paulo
Lugar: Estou em minha casa.
Tempo: Viajei durante o inverno.
Modo ou conformidade: Vamos selecionar por par ou ímpar.
Especialidade: Ana formou-se em Medicina.
Destino ou direção: Vá para a casa de sua tia.
Causa: Faltou por conta de uma gripe.
Assunto: Não gosto de comentar nada sobre esses comportamentos.
Fim ou finalidade: Eu vim para mudar tudo.
Instrumento: Paulo feriu-se com o estilete.
Companhia: Vou ao cinema com minha namorada.
Meio: Gosto de andar a pé.
Matéria: Prefiro sofás de espuma.
Locuções prepositivas
São duas ou mais palavras empregadas com a função de uma única preposição. Nelas, a última pa-
lavra do conjunto é sempre uma preposição essencial: acerca de, apesar de, a respeito de, de acordo com,
graças a, para com, por causa de, abaixo de, por baixo de, embaixo de, adiante de, diante de, além de, antes de,
acima de, em cima de, por cima de, ao lado de, dentro de, em frente a, a par de, em lugar de, em vez de, em redor
de, perto de, por trás de, junto a, junto de, por entre.
9
TEXTOS EM VERSO
Como informado na abertura da apostila, muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos gêneros literários para
construir questões de interpretação de textos. Ou seja, as questões não abordam necessariamente um conheci-
mento profundo sobre a obra (seu enredo), mas exigem do candidato um trabalho mais acurado com as questões
estruturais e também com a compreensão do conteúdo de algum poema ou trecho de livro. Nessa primeira aula,
daremos ênfase às características dos textos em verso (os poemas).
O poema
O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou sentimentos,
mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constitui sentidos variados. Essas combina-
ções de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários elementos que
conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (elementos sonoros),
entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas vezes imprime dificul-
dades de interpretação. Vejamos os elementos do poema:
a) O verso e a estrofe
Para entendermos com mais precisão o que são esses dois elementos, vejamos o poema a seguir, do escritor
Jorge Lima:
Retreta do Vinte
E os pares passeiam,
parece que dançam,
que dançam ciranda,
em torno do Rei.
(Jorge de Lima. Poemas negros. Cosac Naify,
página 41, 2014).
10
Verso: entende-se por verso uma sucessão ou Quero que meu soneto, no futuro,
sequência de sílabas que mantém determina- não desperte em ninguém nenhum prazer.
da unidade rítmica e melódica em um poema, E que, no seu maligno ar imaturo,
correspondendo, habitualmente, a uma linha do ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
poema. No poema apresentado, cada linha do Esse meu verbo antipático e impuro
poema corresponde a 1 verso, então temos um há de pungir, há de fazer sofrer,
total de 21 versos. tendão de Vênus sob o pedicuro.
Eu quero compor um soneto duro Pode-se notar que o primeiro verso que escolhe-
como poeta algum ousara escrever. mos é um decassílabo perfeito. A contagem, como dito,
Eu quero pintar um soneto escuro, deve ser encerrada na última tônica da última palavra
seco, abafado, difícil de ler. do verso (a palavra “futuro” é paroxítona; sua tônica
11
é a sílaba “-tu”). Já no segundo verso encontramos outra regra que deve ser obedecida (sublinhada no verso): a
junção da vogal final de uma palavra com a vogal inicial de outra (des-per-te em). Também é um verso decassílabo.
De acordo com a variabilidade de sílabas poéticas, as estrofes terão nomes diferentes:
5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondilha menor
7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondilha maior
10 sílabas poéticas: decassílabo
11 sílabas poéticas: endecassílabo
12 sílabas poéticas: dodecassílabos ou alexandrinos
O processo de contagem e separação de sílabas poéticas recebe o nome de escanção.
Ritmo
O ritmo corresponde a uma “melodia” que se cria no corpo do poema por conta da acentuação de certas sílabas
que há nos versos. Usando novamente os versos acima apresentados, podemos perceber que há um conjunto de
sílabas mais fortes nas mesmas posições de cada verso (no caso, a segunda, a sexta e a décima são as mais fortes).
Esse padrão cria um ritmo que dá certa musicalidade ao poema, quando de sua recitação.
Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Rima
A rima é um recurso sonoro que também atribui musicalidade ao poema. Se constrói a partir da semelhança sonora
de palavras no final de versos. Novamente:
Destacamos o sistema de rimas do poema de Drummond. Fica evidente que é um esquema de rimas em
que os versos se alternam “-uro” e “-er”. Essa sequência de versos alternados também garante musicalidade ao
poema.
12
E.O. TESTE I 1. (Unesp) Assinale a alternativa cuja frase
contém um numeral cardinal empregado
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: como substantivo.
a) Há muitos anos que a política em Portugal
Uma campanha alegre, IX apresenta...
Há muitos anos que a política em Portugal b) Doze ou quinze homens, sempre os mesmos,
apresenta este singular estado: alternadamente possuem o Poder...
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, c) ... os cinco que estão no Poder fazem tudo o
alternadamente possuem o Poder, perdem o que podem para continuar...
Poder, reconquistam o Poder, trocam o Po- d) ... são tirados deste grupo de doze ou quinze
der... O Poder não sai duns certos grupos, indivíduos...
como uma pela* que quatro crianças, aos e) ... aos quatro cantos de uma sala...
quatro cantos de uma sala, atiram umas às
outras, pelo ar, num rumor de risos.
2. (Unesp) ... cheios de fel e de tédio...
Quando quatro ou cinco daqueles homens es-
Nesta passagem do sexto parágrafo, o cro-
tão no Poder, esses homens são, segundo a
nista se utiliza figuradamente da palavra fel
opinião, e os dizeres de todos os outros que
para significar:
lá não estão — os corruptos, os esbanjadores
a) rancor.
da Fazenda, a ruína do País!
b) eloquência.
Os outros, os que não estão no Poder, são,
c) esperança.
segundo a sua própria opinião e os seus jor-
d) medo.
nais — os verdadeiros liberais, os salvadores
e) saudade.
da causa pública, os amigos do povo, e os
interesses do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Poder fazem tudo o que podem para continu- As matas ciliares são tão importantes para
ar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína os rios e lagos, como são os cílios para a pro-
do País, durante o maior tempo possível! E teção dos nossos olhos. (...) Sem as matas
os que não estão no Poder movem-se, cons- ciliares, as nascentes secam, as margens dos
piram, cansam-se, para deixar de ser o mais rios e riachos solapam, o escoamento super-
depressa que puderem — os verdadeiros li- ficial aumenta e a infiltração da água no solo
berais, e os interesses do País! diminui, reduzindo as reservas de água do
Até que enfim caem os cinco do Poder, e solo e do lençol freático. As consequências
os outros, os verdadeiros liberais, entram são dramáticas para o meio ambiente: a po-
triunfantemente na designação herdada de luição alcança facilmente os mananciais e a
esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em vida aquática é prejudicada, rios e reservató-
tanto que os que caíram do Poder se resig- rios transformam-se em grandes esgotos ou
nam, cheios de fel e de tédio — a vir a ser os lixões.
verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados des-
3. (G1-CPS) Na primeira frase do texto, a pre-
te grupo de doze ou quinze indivíduos, não
posição para, na oração destacada, foi em-
há nenhum deles que não tenha sido por
pregada com valor semântico de __________,
seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do
como ocorre nesta oração: Todos os condômi-
País...
nos se empenham para custear a instalação
Não há nenhum que não tenha sido demi-
de um sistema de captação de água pluvial
tido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas
no prédio.
acusações mais graves e pelas votações mais
Para que a afirmação seja correta, a lacuna
hostis...
do texto deve ser preenchida por:
Não há nenhum que não tenha sido julgado
a) finalidade.
incapaz de dirigir as coisas públicas — pela
b) conclusão.
Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas
c) explicação.
incriminações da opinião, pela afirmativa
d) concessão.
constitucional do poder moderador...
e) proporcionalidade.
E todavia serão estes doze ou quinze indi-
víduos os que continuarão dirigindo o País, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
neste caminho em que ele vai, feliz, abun-
dante, rico, forte, coroado de rosas, e num Trem de aço
chouto** tão triunfante! 1
Viajar de trem me dá saudade de coisas que
(*) Pela: bola. não vivi. É também diante de um trem, estan-
(**) Chouto: trote miúdo. do eu dentro ou fora dele, que revejo cenas
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].) que não presenciei e histórias que incluem
13
pessoas que nem sempre conheci. 2Gente complementar termos.
esperando na plataforma, dando adeus aos
Assinale a alternativa em que a preposição
amigos, beijando a namorada, enxugando
destacada apenas complementa um termo,
uma lágrima, mas fingindo sorrir. São como
sem expressar relação de sentido:
muitas imagens que povoam os nossos so-
a) “Viajar de trem me dá saudade de coisas que
nhos e que, 3ao nos lembrarmos delas, fica-
não vivi.” (ref. 1)
mos em dúvida sobre sua vivência real ou
b) “(...) e assim, com os olhos cheios de so-
sonhada. Se estou dentro de um deles, ime-
nhos, se postarem nas janelas e nos quintais
diatamente me acomodo junto à janela, para
(...)” (ref. 4)
ver o desfile das pequenas cidades, as crian-
c) “Fui testemunha de romances que começa-
ças acenando, as mulheres suspendendo por
ram e que terminaram nessas viagens (...)”
um instante o que estão fazendo 4e assim,
com os olhos cheios de sonhos, se postarem (ref. 7)
nas janelas e nos quintais, suspirando por d) “(...) nas viagens quase semanais que eu fa-
uma vida bonita como uma viagem de trem. zia para participar do Grande Teatro.” (ref.
[...] 6)
Uma viagem, qualquer uma, curta ou longa, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
seja por um meio, seja por outro, sempre
nos deixa imagens de vida que ficam para Quando a rede vira um vício
sempre. Mas as que fazemos de trem per- Com o titulo “Preciso de ajuda”, fez-se um
duram muito além das outras. Num avião, desabafo aos integrantes da comunidade Vi-
por exemplo, não temos paisagem. É como ciados em Internet Anônimos: “Estou muito
se viajássemos dentro de um tubo de ensaio. dependente da web, Não consigo mais viver
Num navio existe sempre a monótona so- normalmente. Isso é muito sério”. Logo ob-
lidão do oceano que parece não ter fim. 5O teve resposta de um colega de rede. “Estou
trem, ao contrário, nos enriquece os olhos na mesma situação. Hoje, praticamente vivo
e a imaginação, com as múltiplas imagens em frente ao computador. Preciso de ajuda.”
desfilando diante de nós, como no cinema. Odiálogo dá a dimensão do tormento provo-
Muitas vezes viajei no “trem de aço”, como cado pela dependência em Internet, um mal
era chamado o comboio que fazia o trajeto que começa a ganhar relevo estatístico, à
entre São Paulo e Rio, ainda que o nome ofi-
medida que o uso da própria rede se disse-
cial fosse Santa Cruz. Quantos enredos foram
mina. Segundo pesquisas recém-conduzidas
vividos ali, 6nas viagens quase semanais que
pelo Centro de Recuperação para Dependên-
eu fazia para participar do Grande Teatro.
cia de Internet, nos Estados Unidos, a parce-
Muitas na companhia ocasional de Caymmi,
la de viciados representa, nos vários países
do Cyro Monteiro, da Aracy de Almeida, entre
estudados, de 5% (como no Brasil) a 10%
outros. No carro-restaurante rolavam uísque
dos que usam a web — com concentração
e boas histórias. 7Fui testemunha de roman-
na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são
ces que começaram e que terminaram nessas
enormes. Como ocorre com um viciado em
viagens. Quantas lágrimas felizes e infelizes
álcool ou em drogas, o doente desenvolve
vertidas na madrugada. Numa dessas via-
uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar
gens presenciei a bofetada de uma amante,
on-line por uma eternidade sem se dar conta
indignada e raivosa com suposta traição, em
do exagero. Ele também sofre de constantes
seu parceiro. E em meio a essas cenas, quan-
crises de abstinência quando está desconec-
do nos dávamos conta, já era dia claro. Então
tado, e seu desempenho nas tarefas de na-
corríamos às nossas cabines, para um sim-
tureza intelectual despenca. Diante da tela
ples cochilo que fosse e que nos devolvesse
uma aparência melhor para enfrentar o dia do computador, vive, aí sim, momentos de
que estava começando. Muitos de nós via- rara euforia. Conclui uma psicóloga america-
jávamos de trem por economia. Outros, por na: “O viciado em internet vai, aos poucos,
medo de voar, como o próprio Cyro Monteiro, perdendo os elos com o mundo real até de-
que chamava o trem de “avião dos covardes”. sembocar num universo paralelo — e com-
[...] pletamente virtual”.
(CARLOS, Manoel. Revista Veja Rio,
Não é fácil detectar o momento em que al-
Editora Abril, 31/10/12, p. 130.) guém deixa de fazer uso saudável e produ-
tivo da rede para estabelecer com ela uma
relação doentia, como a que se revela nas
4. (G1-CP2) Preposições são conectivos que, histórias relatadas ao longo desta reporta-
em determinados contextos, expressam di- gem. Em todos os casos, a internet era ape-
ferentes relações de sentido. Por vezes, nas “útil” ou “divertida” e foi ganhando um
no entanto, esvaziam-se de sentido para espaço central, a ponto de a vida longe da
14
rede ser descrita agora como sem sentido. em dezoito semanas de sessões individuais e
Mudança tão drástica se deu sem que os pais em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de
atentassem para a gravidade do que ocorria. uso da internet. Não seria factível, tampou-
“Como a internet faz parte do dia a dia dos co desejável, que se mantivessem totalmente
adolescentes e o isolamento é um compor- distantes dela, como se espera, por exemplo,
tamento típico dessa fase da vida, a família de um alcoólatra em relação à bebida. Com a
raramente detecta o problema antes de ele rede, afinal, descortina-se uma nova dimen-
ter fugido ao controle”, diz um psiquiatra. são de acesso às informações, à produção de
A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados conhecimento e ao próprio lazer, dos quais,
os primeiros sintomas da doença. De saída, em sociedades modernas, não faz sentido se
o tempo na internet aumenta — até culmi- privar. Toda a questão gira em torno da dose
nar, pasme-se, numa rotina de catorze horas ideal, sobre a qual já existe um consenso
diárias, de acordo com o estudo americano. acerca do razoável: até duas horas diárias,
As situações vividas na rede passam, então, no caso de crianças e adolescentes. Quanto
a habitar mais e mais as conversas. É típico antes a ideia do limite for sedimentada, me-
o aparecimento de olheiras profundas e ain- lhor. Na avaliação de uma das psicólogas, “Os
da um ganho de peso relevante, resultado da pais não devem temer o computador, mas,
frequente troca de refeições por sanduíches sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de
— que prescindem de talheres e liberam uma forma útil e saudável”. Desse modo, reduz-
das mãos para o teclado. Gradativamente, a -se drasticamente a possibilidade de que, no
vida social vai se extinguindo. Alerta outra futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje
psicóloga: “Se a pessoa começa a ter mais pelos jovens viciados.
amigos na rede do que fora dela, é um sinal Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24
claro de que as coisas não vão bem”. de março de 2010. Adaptado.
Os jovens são, de longe, os mais propen-
sos a extrapolar o uso da internet. Há uma 5. (G1-col.naval) Assinale a opção em que não
razão estatística para isso — eles respondem há correspondência entre a preposição e o
por até 90% dos que navegam na rede, a sentido expresso.
maior fatia —, mas pesa também uma expli- a) “Desde 1996, [...], a dependência em inter-
cação de fundo mais psicológico, à qual uma net é reconhecida -e tratada - como uma do-
recente pesquisa lança luz. Algo como 10% ença.” (4° parágrafo) - tempo
dos entrevistados (viciados ou não) chegam b) “Toda a questão gira em torno da dose ideal,
a atribuir à internet uma maneira de “ali- sobre a qual já existe um consenso [...]”
viar os sentimentos negativos”, tão típicos (4° parágrafo) - assunto
de uma etapa em que afloram tantas an- c) “Na rede os adolescentes sentem-se mais à
gústias e conflitos. Na rede, os adolescentes vontade para expor suas ideias”, pois a in-
sentem-se ainda mais à vontade para expor ternet proporciona um ambiente favorável
suas ideias. Diz um outro psiquiatra: “Num para que eles se expressem livremente. (3°
momento em que a própria personalidade parágrafo) - direção
está por se definir, a internet proporciona d) “[...] o doente desenvolve uma tolerância
um ambiente favorável para que eles se ex- que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma
pressem livremente”. No perfil daquela mi- eternidade sem se dar conta do exagero.”
noria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, (1° parágrafo) - ausência
em geral, uma combinação de baixa autoes- e) “Diante da tela do computador, vive, aí sim,
tima com intolerância à frustração. Cerca de momentos de rara euforia.” (1° parágrafo) -
50% deles, inclusive, sofrem de depressão, em frente de
fobia social ou algum transtorno de ansie-
dade. É nesse cenário que os múltiplos usos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
da rede ganham um valor distorcido. Entre
A(s) questão(ões) a seguir abordam um poe-
os que já têm o vicio, a maior adoração é
ma de Raul de Leoni (1895-1926).
pelas redes de relacionamento e pelos jogos
on-line, sobretudo por aqueles em que não A alma das cousas somos nós...
existe noção de começo, meio ou fim.
Dentro do eterno giro universal
Desde 1996, quando se consolidou o primei-
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
ro estudo de relevo sobre o tema, nos Esta-
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
dos Unidos, a dependência em internet é
Nada mais, na verdade,
reconhecida — e tratada — como uma doen-
Nunca mais se repete exatamente...
ça. Surgiram grupos especializados por toda
parte. “Muita gente que procura ajuda ainda Sim, as cousas são sempre as mesmas na cor-
resiste à ideia de que essa é uma doença”, rente
conta um psicólogo. O prognóstico é bom: Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
15
O que varia é o espírito que as sente e fantástico:
Que é imperceptivelmente desigual, a palmeira, o sabiá,
Que sempre as vive diferentemente, o longe.
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal... CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Nova canção do exílio
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças Considere as afirmações abaixo em relação
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris ao poema “Nova canção do exílio”, de Carlos
Da sensibilidade furta-cor... Drummond de Andrade.
E a nossa alma é a expressão fugitiva das I. O poema retoma, de forma intertextual, o
cousas conhecido texto da “Canção do exílio”, do
E a vida somos nós, que sempre somos ou- poeta romântico Gonçalves Dias.
tros!... II. A estrutura repetitiva do poema deve-se,
Homem inquieto e vão que não repousas! exclusivamente, à influência do texto de
Para e escuta: Gonçalves Dias, uma vez que a repetição
Se as cousas têm espírito, nós somos não é um procedimento comum no autor
Esse espírito efêmero das cousas, de A rosa do povo.
Volúvel e diverso, III. O exílio a que se refere o título do poema
Variando, instante a instante, intimamente, assume ao longo do texto uma dimensão
E eternamente, que ultrapassa o aspecto geográfico, assu-
Dentro da indiferença do Universo!... mindo um caráter existencial.
(Luz mediterrânea, 1965.) Está correto apenas o que se afirma em:
a) I.
6. (Unesp) Uma leitura atenta do poema per- b) II.
mite concluir que seu título representa: c) I e II.
a) a negação dos argumentos defendidos pelo d) I e III.
eu lírico. e) II e III.
b) a confirmação do estado de alma disfórico do
eu lírico.
8. (UEG) CONJUGAÇÃO
c) a síntese das ideias desenvolvidas pelo eu
lírico. Eu falo
d) o reconhecimento da supremacia do homem tu ouves
no mundo. ele cala.
e) uma afirmação prévia da incapacidade do ho-
mem. Eu procuro
tu indagas
7. (UPF) Um sabiá
ele esconde.
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
Eu planto
um outro canto.
tu adubas
O céu cintila ele colhe.
sobre flores úmidas.
Vozes na mata, Eu ajunto
e o maior amor. tu conservas
ele rouba.
Só, na noite,
seria feliz: Eu defendo
um sabiá, tu combates
na palmeira, longe. ele entrega.
16
Tradicionalmente são consideradas antô- o que é sem rosto
nimas palavras cujos significados estão em mas
oposição entre si. Considerando-se isso, ve- fere
rifica-se no poema “Conjugação”, de Affonso
Romano de Sant’Anna, que: o que é invisível
a) o fato de usar versos curtos, com apenas mas
duas ou três palavras, dificulta a compre- dói.
ensão das oposições lexicais e enfraquece a
estética do poema. (Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.)
b) as oposições de sentido são apresentadas
Considere as seguintes afirmações:
de forma dicotômica no poema, já que as
I. O poema mantém alguns traços formais
oposições ocorrem apenas em agrupamentos
da adivinha popular.
bipolares. II. Como a adivinha popular, a do poema
c) as palavras apresentam oposição de sentido possui uma única resposta, que é um ele-
de vários modos distintos, de acordo com o mento concreto.
texto em que ocorrem e com seu contexto de III.A adivinha do poema é uma reinvenção
uso. da adivinha popular.
d) o uso de três verbos diferentes em cada es-
trofe do poema tem como meta semântica a Está(ão) correta(s) apenas:
construção de um significado econômico. a) I.
b) I e II.
9. (ITA) O poema abaixo é de José Paulo Paes c) I e III.
d) II.
Bucólica e) II e III.
O tom irônico do poema em relação à histó- 7. (Epcar (Afa)) Para o eu lírico a situação
ria do Brasil põe em evidência: precária de vida dos moradores da favela é
a) o modo como a democracia surge no Brasil causada, principalmente, pela(o)(s):
por interferência do Imperador. a) condições sanitárias do ambiente em que vi-
b) a maneira despótica como os republicanos vem.
trataram os símbolos nacionais. b) violência do ambiente, representada no poe-
c) a postura inconsequente que sempre carac- ma pela lâmina e revólver.
terizou os governantes do Brasil. c) descaso que os mais abastados têm em mu-
d) a forma astuciosa como ocorreram os movi- dar a realidade social do país.
mentos políticos no Brasil. d) qualidade de vida dos moradores que está
aquém da dos bichos.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
FAVELÁRIO NACIONAL
Carlos Drummond de Andrade
O texto que você lerá a seguir – o poema
“Outro verde”, foi retirado da obra Delírio
da Solidão, do escritor cearense de Quixera-
Quem sou eu para te cantar, favela, mobim Jáder de Carvalho, que nasceu em 29
Que cantas em mim e para ninguém de dezembro de 1901 e faleceu no dia sete
a noite inteira de sexta-feira de agosto de 1985. Jáder de Carvalho foi jor-
e a noite inteira de sábado nalista, advogado, professor e escritor: poe-
E nos desconheces, como igualmente não te ta e prosador. Sua obra mais conhecida é o
conhecemos? romance Aldeota.
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração, Outro verde
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida. Teus olhos mostram o verde
... que não é do mar.
Aqui só vive gente, bicho nenhum Não lembram viagens sem fim
tem essa coragem. nem o céu a abraçar-se com as águas,
... num horizonte parado,
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer, que os marujos não alcançam.
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte Qual o verde dos teus olhos,
Na coxa flava do Rio de Janeiro. se não é o do oceano?
Não é também o das florestas
Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver onde cabem mistérios e distâncias.
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado Teu olhar não tem a cor
e culpados somos de pouca ou nenhuma ir- da enseada que eu amo.
mandade. Nele não gritam tempestades,
Custa ser irmão, nem afundam ou se perdem veleiros.
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta Não escondem braços em naufrágios
da justa igualdade. nem vozes que não se ouvem
Somos desiguais na despedida.
e queremos ser
sempre desiguais. O verde dos teus olhos é subjetivo.
E queremos ser Não sugere portos nem a foz de um rio.
bonzinhos benévolos Pintores, dizei-me:
comedidamente qual de vós se atreveria
sociologicamente a copiar a cor desses olhos?
mui bem comportados. Ainda não sofreste.
20
Ainda não conheces a saudade. 10. (UECE) Marque com V o que for verdadeiro
Um dia, entre lembranças doridas, e com F o que for falso acerca do que se diz
o verde dos teus olhos mudará. sobre o texto.
Já li nas linhas da tua mão esquerda: ( ) A pergunta especial que o sujeito líri-
tu, sem a estrela dos navegantes, co faz aos pintores tem força expressiva
esperas
no poema, principalmente porque traz o
pelo navio perdido do meu amor.
verbo no futuro do pretérito. Esse tempo
verbal sugere a incerteza, a quase impos-
(Jáder de Carvalho. Delírio da Solidão. p. 46-47.)
sibilidade – ou mesmo a impossibilidade
– da missão de determinar a tonalidade
8. (UECE) Assinale o que está INCORRETO so- do verde dos olhos da personagem.
bre a primeira estrofe do poema. ( ) O verso 1 da 5ª estrofe, “O verde dos teus
a) O primeiro sentido que o leitor atribui ao olhos é subjetivo”, serve de ponte para
texto é literal: os olhos são o órgão da visão, se passar da superficialidade da primeira
e o verde é uma cor, algo perceptível por leitura para a profundidade da segunda.
esse órgão. Isso se dá em virtude da incongruência
b) Em uma leitura mais atenta, chega-se à con-
da relação entre sujeito e predicativo do
clusão de que os olhos são uma metáfora
sujeito: o verde (a cor verde) é algo per-
(com algo de metonímico) para a alma ou
o espírito da amada do sujeito lírico. Essa cebido por um dos cinco sentidos, por-
metáfora é o centro do poema e aparece em tanto é algo que não pode ser subjetivo.
meio a uma estrutura fortemente metoními- ( ) Um acontecimento que, para o sujeito
ca. lírico, poderá ser um elemento, talvez o
c) As negações intensificam a dificuldade en- primeiro, que determinará a fixação do
frentada pelo eu lírico para determinar o verde dos olhos da amada será a espera
verde dos olhos da amada. tranquila e feliz da chegada do amor em
d) Em “o céu a abraçar-se com as águas”, o ver- um navio perdido.
bo “abraçar” (abraçar-se) foi usado literal- ( ) Os versos transcritos a seguir – “Não es-
mente, denotativamente. condem braços em naufrágios / nem vo-
zes que não se ouvem / na despedida”
9. (UECE) No estudo de um texto, costuma-se (4ª estrofe) – constituem duas metoní-
distinguir assunto de tema. Eis algumas das
mias, as mais expressivas do poema. Os
diferenças entre essas duas noções: o as-
braços são, com certeza, a parte do corpo
sunto é particular, o tema é geral; o assunto
encontra-se facilmente na superfície textu- cujos movimentos mais se mostram na
al, o tema geralmente camufla-se nas cama- tentativa de salvação de um afogamento.
das mais profundas; o assunto é concreto, o Por seu lado, a voz é, de maneira geral, o
tema é abstrato. som que mais se ouve em uma despedida.
( ) Nos 3 versos finais da última estrofe –
Considerando, no poema “Outro verde”, essa “tu, sem a estrela dos navegantes, / espe-
distinção entre TEMA e ASSUNTO, atente ao ras / pelo navio perdido do meu amor”, o
que é dito nos itens a seguir. eu poético constrói uma imagem que con-
cretiza algo abstrato – “amor” – em algo
I. TEMA – As dificuldades que tem o sujei- concreto – “navio”. Esse trabalho de con-
to lírico para determinar a tonalidade do
cretização do abstrato potencializa a for-
verde dos olhos da mulher amada.
ça negativa do navio (“perdido do meu
II. ASSUNTO – O sujeito lírico tenta deter-
minar a tonalidade de verde dos olhos da amor”), ou seja, do amor do eu poético.
amada inutilmente. Chega, então, à con- Está correta, de cima para baixo, a seguinte
clusão de que a tonalidade do verde dos sequência:
olhos dela é subjetiva. a) V, F, V, V, F.
III. TEMA – Só as vicissitudes da vida e as ex- b) F, V, F, F, V.
periências que nos afetam positiva e ne- c) F, F, V, V, F.
gativamente determinam o que seremos. d) V, V, F, V, V.
Está correto apenas o que é dito em:
a) II e III.
b) I e II.
c) III.
d) I.
21
E.O. TESTE III exemplo. Poderia ter respondido à menina
que não, ainda não sabia ler como deveria,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO mas que chegaria lá.
Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando.
O Salman Rushdie era para ser a estrela da Zero Hora, 14 jul. 2005, p. 3.
terceira Festa Literária Internacional de Pa-
rati e foi. Só 5se decepcionou quem esperava 1. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações
que ele 6se comportasse como estrela. É um sobre o uso da preposição DE.
homem 1........ e afável, e 7sua participação I. Em DE TANTOS PONTOS ALTOS (ref. 10), a
foi um dos pontos altos de um acontecimen- preposição DE poderia ser substituída, sem
to que 10de tantos pontos altos pareceu uma prejuízo do sentido por “graças a”.
cordilheira. A começar pelo 15começo, uma I. Em SEGUIDA DE UM MAGNÍFICO SHOW (ref.
bela homenagem a Clarice Lispector, 11segui- 11) e FALANDO DE SUAS EXPERIÊNCIAS (ref.
da de um 18magnífico 13show de Paulinho da 12), a preposição DE estabelece idêntica re-
Viola que acabou com todo 2........ sambando lação semântica entre os elementos que liga.
30- 24
até, 25não duvido, o Salman Rushdie. III. Em SHOW DE PAULINHO (ref. 13), a preposi-
Outro 34pico do evento foi a palestra do Aria- ção DE exprime autoria, como em TUDO [...]
no Suassuna, cujo tema era para ser “Brasil, DO GROSSMAN (ref. 14).
arquipelago de culturas”, mas no fim foi o Quais estão corretas?
espetáculo de Ariano Suassuna sendo 16Aria- a) Apenas II.
no Suassuna, outro show inesquecível. Das b) Apenas III.
outras mesas (que eu vi, esqueci a 26ubiqui- c) Apenas I e II.
dade em casa e não pude 27ir a tudo), des- d) Apenas I e III.
taque para o isralense David Grossman e o e) Apenas II e III.
sri-landês, 28se é assim que se diz, Micha-
el Ondaatje falando sobre 39suas obras, a 2. (ITA) O projeto Montanha Limpa, desenvol-
20
crítica argentina Beatriz Sarlo e o Rober- vido desde 1992, por meio da parceria en-
to Schwartz - na mesa em que foi servida tre o Parque Nacional de Itatiaia e a DuPont,
a 35iguaria intelectual mais fina da festa - , visa amenizar os problemas causados pela
Jô Soares e Isabel Lustosa falando de humor poluição em forma de lixo deixado por visi-
com muito humor, o “rapper” e sociólogo tantes desatentos.
36
espontâneo MV Bill, com Luiz Eduardo Soa- (Folheto do Projeto Montanha Limpa do
res e 31Arnaldo Jabor, no que foi certamente Parque Nacional de Itatiaia).
a 3........ mais 17emocional e emocionante de
32
todas, e o americano John Lee Anderson e A preposição que indica que o Projeto Mon-
o 22português Pedro Rosa Mendes 12falando tanha Limpa continua até a publicação do
de suas 21experiências como repórteres de Folheto é:
guerra no Iraque e em Angola, 29respectiva- a) entre.
mente. b) por (por visitantes).
Eu falei para um grande grupo de crianças c) em.
na Flipinha, um programa paralelo dirigido a d) por (pela poluição).
escolares da região, e uma das perguntas que e) desde.
40
vieram da plateia foi: “O senhor sabe ler?”
Pergunta 19básica e perfeita e mais impor-
tante do que imaginava a pequena autora. 3. (FGV) Observe os termos destacados nas se-
Ela 4checava as minhas credenciais para ser guintes frases:
escritor e estar ali mandando todos 41lerem.
Saber ler não significa apenas ser 37alfabe- - Chegou a hora DO PÚBLICO se manifestar
tizado ou interpretar um texto como faz o contra a publicação desse impostor.
Salman Rushdie, que lê como o ator frustado - As palmas DO PÚBLICO ecoavam pelo tea-
que 8confessou ser. Também significa saber tro, em apoio à proposta de Nabuco.
ler a realidade à 9sua volta, como fazem Da- - Vista DO PÚBLICO, a cantora parecia boni-
vid Grossman, que vive em Jerusalém e tenta ta; da coxia, percebia-se que era feia.
se manter racional e humano em meio 42aos
ódios dos dois lados, 33ou MV Bill, que nasceu Sobre eles, é correto afirmar:
na Cidade de Deus e sobreviveu e hoje faz a a) Para o segundo exemplo, vários gramáticos
leitura mais certa do que é ser negro e pobre recomendam a forma DE O em lugar de DO,
no Brasil. E aprender a ler também signifi- porque a preposição está regendo o sujeito.
ca descobrir escritores, como se faz na Flip. b) Para o terceiro exemplo, vários gramáticos
23
Saí de Parati 38decidido a ler 14tudo que en- recomendam a forma DE O em lugar de DO,
contrar do Grossman e da Beatriz Sarlo, por porque a preposição está regendo o sujeito.
22
c) Nos três exemplos, os termos destacados de outros sistemas do gênero, não se limita
exercem a mesma função sintática de adjun- a ler o que está na tela, procurando estabe-
to adverbial. lecer um diálogo com o deficiente visual via
d) No primeiro e no segundo exemplos, os ter- interfaces e ferramentas específicas. E boa
mos destacados exercem a mesma função parte desse diálogo é feito com voz humana
sintática de adjunto adnominal. gravada, o que facilita ainda mais a intera-
e) Para o primeiro exemplo, vários gramáticos ção. Compatível com a maioria dos sinteti-
recomendam a forma DE O em lugar de DO, zadores de voz existentes, ele tem seis mil
porque O PÚBLICO é sujeito, que não deve usuários no Brasil e na América Latina, se-
ser iniciado por preposição. gundo o NCE.
O passo seguinte foi criar um software vol-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO tado para paraplégicos, o Motrix. O progra-
O texto a seguir, de André Machado, foi ma foi criado sobre uma interface padrão de
adaptado da seção Informática etc., do jornal reconhecimento de voz, a Sapi (Speech Ap-
O Globo, de 30 de junho de 2003, p. 1. plication Programming Interface). Funciona
assim: o usuário aciona o cursor do mouse
Texto I e os programas do micro falando palavras-
-chave, como “pra cima”, “pra baixo”, “pra
A vida Renovada
direita”, “pra esquerda”, “duplo clique”,
Portadores de deficiência física vencem bar-
“conexão internet” e assim por diante. Além
reiras com auxílio do PC
disso, conectado a uma tomada especial, o
Motrix permite ao tetraplégico, usando a
Atualmente, empresas e instituições estão voz, acender a luz, ligar a TV ou outro ele-
cada vez mais ligadas no conceito de acessi- trodoméstico, trocar de canal, etc.
bilidade, que visa prover ao deficiente físico - Neste último caso não preciso usá-lo, por-
meios para tomar contato com documentos e que tenho acompanhante em casa à noite
informações. Na área da Tecnologia da Infor- - diz a doutora Lenira. Mas comando tudo
mação (TI) não é diferente. Existem recur- no computador com o Motrix, através de
sos à disposição na internet e em software um microfone. Faço meus estudos médicos,
para ajudar nisso. E alguns projetos brasi- mantenho minha correspondência em dia,
leiros estão entre os pioneiros nessa área. comunico-me com pessoas de todo o país.
Um deles é o Projeto Habilitar, do Núcleo de
Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ, cuja NOTA:
principal mentora é uma médica radióloga 1 Cisco Networking Academy Program - CNAP
tetraplégica, a Drª. Lenira Luna, que coman- - é um programa destinado a formar profis-
da seu computador apenas com a voz. Desde sionais na área de redes de computadores,
março o NCE vem treinando deficientes fí- que tem por objetivo prover ao aluno um cer-
sicos para inserção no mercado de trabalho tificado de qualidade, com reconhecimento
- primeiro, em formação de técnicos de rede, internacional. No Brasil, a Cisco Systems Inc.
em parceria com a Cisco1, e posteriormente estabeleceu parceria com diversos centros
em áreas como webdesign e programação. de ensino, chamados de Academias Locais,
Para isso, usa ferramentas criadas no pró- constituindo uma rede de formação profis-
prio NCE, como o Dosvox (para deficientes sional com cobertura nacional e garantindo
visuais) e o Motrix (para deficientes mo- qualidade do ensino. As Academias Regio-
tores). O professor Sérgio Guedes, um dos nais treinam instrutores, e as Locais, o usu-
coordenadores do Projeto Habilitar, ao lado ário final. O NCE/UFRJ é uma das academias
de seu criador, o professor Antônio Borges, que mais tem oferecido cursos no Brasil.
conta que o Núcleo trabalha desde o século O fragmento de texto abaixo, de André Machado,
foi adaptado da seção Informática etc., do jornal
passado com os deficientes.
O Globo, de 30 de junho de 2003, p. 2.
- Tanto que o Dosvox era assim chamado por-
que na época só existia a plataforma Dos, e
ele fazia a leitura (transcodificação) do que Texto II
estava escrito na tela para a linguagem audi-
tiva, de modo que o deficiente visual intera- A Vida Antes e Depois do Computador e da
gisse com o computador. O Dosvox evoluiu e Internet
hoje já trabalha com Windows numa boa. Só
não foi postado ainda para o Unix, mas isso Professora usa blog2 para informar sobre de-
já está sendo feito. ficiências
Hoje, o Dosvox - usado por deficientes visu-
ais como o professor Hercen Hildebrandt, do Usar um computador pode de fato dar uma
Instituto Benjamim Constant -, ao contrário nova dimensão ao dia de um deficiente
23
físico. A professora Marcela Cálamo Vaz Sil- A preposição PARA foi empregada com senti-
va, 36, moradora de Guarulhos, SP, é tetra- do semelhante ao observado acima, em todas
plégica desde os seis anos de idade e conta as opções, EXCETO em:
que a tecnologia mudou sua vida. Ela tam- a) “(...) empresas e instituições estão cada vez
bém cita o Motrix e o Dosvox como exemplos mais ligadas no conceito de acessibilidade,
de softwares que ajudam os deficientes, em- que visa prover ao deficiente físico meios
bora seu caso não os exija: PARA tomar contato com documentos e in-
- Nunca usei nenhum software específico formações.” (10. parágrafo - Texto I)
para portadores de deficiência, pois, mesmo b) “Existem recursos à disposição na Internet e
com uma lesão num nível muito alto, que me em software PARA ajudar nisso.” (10. pará-
classifica como tetraplégica, tenho preserva- grafo - Texto I)
dos os movimentos de braços, mãos e dedos c) “Desde março, o NCE vem treinando defi-
- explica, por email. Mas posso dizer, com cientes físicos PARA inserção no mercado de
toda segurança, que minha vida se divide trabalho (...)”. (10. parágrafo - Texto I)
em duas fases: antes e depois do computa- d) “(...) e ele fazia a leitura (transcodificação)
dor, sobretudo a internet. Meu contato com do que estava escrito na tela PARA a lin-
a rede começou há quatro anos, através dos guagem auditiva, de modo que o deficiente
chats3. A fase do chat durou uns dois anos visual interagisse com o computador.” (20.
e meio e foi no final dela que descobri o parágrafo - Texto I)
quanto meu mundo poderia crescer através e) “Mas, depois, percebi que o estava direcio-
da internet. Mesmo sendo paraplégica des- nando PARA informar meus leitores, a maio-
de os seis anos de idade, meu contato com ria formada por pessoas sem qualquer tipo
outros portadores de deficiências limitara-se de deficiência (...).” (40. parágrafo - Texto
aos poucos anos em que frequentei a AACD II)
(Associação de Apoio à Criança Deficiente).
Foi através da internet que retomei o conta- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
to com pessoas com necessidades especiais,
como eu, e comecei a me interessar por as- 27
Aumenta o número de adultos que não con-
suntos relativos à deficiência, como luta por segue focar sua atenção em uma única coisa
direitos, preconceito, acessibilidade. por muito tempo. 37São tantos os estímulos
Foi também através de um amigo de chat que e tanta a pressão para que o entorno seja
Marcela teve o primeiro contato com o mun- completamente desvendado que aprendemos
do dos blogs (em julho, seu blog Maré fará a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tem-
um ano). Hoje, ela é uma blogueira convicta. po. 34Nós nos tornamos, à semelhança dos
- No início era apenas um blog com assun- computadores, pessoas multitarefa, não é
tos despretensiosos. Mas depois percebi que verdade?
o estava direcionando para informar meus 41
Vamos tomar como exemplo uma pessoa di-
leitores, a maioria formada por pessoas sem rigindo. 4Ela precisa estar atenta aos veícu-
qualquer tipo de deficiência, sobre tudo que los que vêm atrás, ao lado e à frente, à velo-
minha experiência como “cadeirante” per- cidade média dos carros por onde trafega, às
mitia. Percebi o quanto as pessoas são mal orientações do GPS ou de programas que si-
informadas a respeito de como um portador nalizam o trânsito em tempo real, 6às infor-
de deficiência vive e que essa ignorância se mações de 29alguma emissora de rádio que
deve à falta de convivência ou de alguém que comenta o trânsito, ao planejamento mental
possa dizer a elas como as coisas realmente feito e refeito 9várias vezes do trajeto 20que
são. Decidi que faria isso em meu blog. deve fazer para chegar ao seu destino, aos
NOTA: 2blog: é uma página web atualizada semáforos, faixas de pedestres etc.
frequentemente, composta por pequenos pa- 35
Quando me vejo em tal situação, 19eu me
rágrafos apresentados de forma cronológica. lembro que 14dirigir, 45após um dia de inten-
É como uma página de notícias ou um jornal so trabalho no retorno para casa, já foi uma
que segue uma linha de tempo, com um fato atividade prazerosa e desestressante.
após o outro. O conteúdo e tema dos blogs 18O uso da internet ajudou a transformar
abrangem uma infinidade de assuntos que nossa maneira de olhar para o mundo. Não
vão desde diários, piadas, notícias até poe- 23
mais observamos os detalhes, 1por causa de
sia, fotografias. nossa ganância em relação a novas e dife-
3chats: salas virtuais de bate-papo. rentes informações. Quantas vezes sentei em
frente ao computador 44para buscar textos
4. (Ufjf 2003) Releia o subtítulo do Texto II: sobre um tema 38e, de repente, 24me dei con-
“Professora usa blog PARA informar sobre ta de que estava em 39temas 15que em nada se
deficiências”. relacionavam com meu tema primeiro.
24
Aliás, a leitura também sofreu transforma- (ref. 44) – posição superior.
ções pelo nosso costume de ler na internet. c) “[...] após um dia de intenso trabalho no
16
Sofremos de uma tentação permanente de retorno para casa [...]” (ref. 45) – modo.
43
pular palavras e frases inteiras, apenas d) “Aí, um belo dia elas vão para a escola.” (ref.
para irmos direto ao ponto. O problema é 46) – origem.
que 22alguns textos exigem a leitura atenta e) “Elas já nasceram neste mundo de profusão
de palavra por palavra, de frase por frase, de estímulos” (ref. 2) – delimitação.
para que faça sentido. 5Aliás, não é a combi-
nação e a sucessão das palavras que dá sen- 6. (UECE) Sujeito lírico ou eu poético é um ser
tido e beleza a um texto? de ficção, como o é o narrador na prosa. Para
3
Se está difícil para nós, adultos, focar nossa
que o texto literário tenha a consistência
atenção, imagine, caro leitor, para as crian-
necessária a despertar uma reação emotiva
ças. 2Elas já nasceram neste mundo de 8pro-
no leitor, é preciso ser validado pela própria
fusão de estímulos de todos os tipos; elas são
materialidade textual – um universo feito
exigidas, desde o início da vida, a dar conta
de palavras que apresenta nexo ou harmonia
de várias coisas ao mesmo tempo; elas são
entre os elementos textuais.
estimuladas com diferentes objetos, sons,
imagens etc. Considere o que se afirma sobre essa valida-
46
Aí, um belo dia elas vão para a escola. Pro- ção no poema. Assinale com V as afirmações
fessores e pais, a partir de então, querem que verdadeiras e com F as falsas.
as crianças prestem atenção em uma única ( ) Tem-se um enunciador que fala direta-
coisa por muito tempo. 36E quando elas não mente a uma mulher, e o faz com certa
conseguem, reclamamos, levamos ao médico, intimidade, uma vez que a trata na se-
arriscamos hipóteses de que sejam portado- gunda pessoa do singular.
ras de síndromes que exigem tratamento etc. ( ) Quando se fala diretamente a uma pes-
42
A maioria dessas crianças sabe focar sua soa, numa comunicação face a face, exis-
atenção, sim. Elas já sabem usar programas te a certeza de uma resposta. Isso, porém,
complexos em seus aparelhos eletrônicos, não ocorre no poema, o que o empobrece.
10
brincam com jogos desafiantes que exigem ( ) Percebe-se que o enunciador, no caso, o
atenção constante aos detalhes e, se deixar- sujeito lírico, ao opor o verde indefinido
mos, 21passam horas em uma única atividade dos olhos da musa do poema a outros ver-
de que gostam. des já referidos na literatura, expressa-se
17
Mas, nos estudos, queremos que elas pres- de um ponto de vista moderno, o que é
tem 26atenção no que é preciso, e não no que também mostrado pela própria estrutura
gostam. 28E isso, caro leitor, exige a árdua do poema: versos livres e brancos.
aprendizagem da autodisciplina. Que leva ( ) O vocabulário não oferece dificuldade,
tempo, é bom lembrar. mas ainda não é o vocabulário dos tem-
32
As crianças precisam de nós, pais e profes- pos atuais. O poeta ainda não emprega a
sores, para começar a aprender isso. Aliás, linguagem quase prosaica que se aproxi-
31boa parte desse trabalho é nosso, e não ma da linguagem do povo, mas também
delas. não usa mais um vocabulário recheado de
12
Não basta mandarmos que elas prestem preciosismos, isto é, de palavras pouco
atenção: 33isso de nada as ajuda. 13O que usadas e até desconhecidas.
pode ajudar, por exemplo, é 40analisarmos ( ) A sintaxe também é simples e direta,
o contexto em que estão 7quando precisam sem as inversões que caracterizaram os
focar a atenção 25e organizá-lo para que seja poemas do fim do século XIX e início do
favorável a tal exigência. 11E é preciso lem-
século XX, época em que floresceu o sim-
brar que não se pode esperar toda a atenção
bolismo, o parnasianismo e o pré-moder-
delas por muito tempo: 30o ensino desse que-
nismo.
sito no mundo de hoje é um processo lento
( ) Pelo tom do texto, conclui-se que o sujei-
e gradual.
SAYÃO, Rosely. “Profusão de estímulos”. Fo- to lírico enuncia, provavelmente, de um
lha de São Paulo, 11 fev. 2014 – adaptado. lugar amplo, onde muitas pessoas podem
escutar as palavras de amor que ele diz à
5. (G1-col.naval) Assinale a opção que indica amada.
corretamente o valor semântico da preposi- Está correta, de cima para baixo, a seguinte
ção em destaque. sequência:
a) “[...] pular palavras e frases inteiras, apenas a) F - V - F - F - V - V.
para irmos direto ao ponto [...]” (ref. 43) – b) V - F - V - V - V - F.
lugar. c) F - F - V - V - F - V.
b) “[...] para buscar textos sobre um tema [...]” d) V - V - F - F - V - F.
25
7. (G1-IFSC) Poema tirado de uma notícia de 8. (UERJ) A memória expressa pelo enunciador
jornal do texto não pertence somente a ele.
João Gostoso era carregador de feira livre e Na construção do poema, essa ideia é refor-
morava no morro da Babilônia num barracão çada pelo emprego de:
sem número a) tempo passado e presente
Uma noite ele chegou no bar Vinte de No- b) linguagem visual e musical
vembro c) descrição objetiva e subjetiva
Bebeu
d) primeira pessoa do singular e do plural
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas 9. (UFG) Leia os poemas a seguir.
e morreu afogado.
Fonte: BANDEIRA, Manuel. In: Manuel Bandeira. A POESIA
São Paulo: Abril Educação, 1981, p. 65.
Ah se não houvesse a poesia,
Sobre o texto, é CORRETO afirmar que:
a) é um texto não literário porque tem como se não houvesse a poesia, não haveria água,
objetivo detalhar fatos e deve ser classifica- nem madeira, nem caminho, nem céu, nem
do como reportagem, e não como poema. corpo
b) é um texto informativo por apresentar infor- atraindo outro corpo. Ah, se não houvesse
mações sobre um acontecimento recente e, a poesia
por isso, deve ser classificado como notícia. eu simplesmente não seria um zé garcia
c) é um texto descritivo, diferentemente do atravessado
que consta no título, porque apresenta vá- na garganta de deus e do diabo, eu não seria
rias características físicas e psicológicas do um zé,
personagem João Gostoso. um Zé Garcia Chuva de Manga, não um ca-
d) é um texto literário, possui traços narrativos marada
porque apresenta uma sequência de aconte- atravessado de nuvens e de tantas mulheres
cimentos, e deve ser classificado como poe- felizes,
ma, conforme consta no título. eu não seria, engraçada, uma tempestade
e) é um texto instrucional porque indica como
muda.
realizar uma ação, aproximando-se, por isso, GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília:
de um manual de instruções. Thesaurus, 1999. p. 25.
29
O poema de Antônio Carlos Brito está histo- Até que, farta da constante
ricamente inserido no período da ditadura prisão da forma, saltes
militar no Brasil. A forma encontrada pelo da mão para o chão
eu lírico para expressar poeticamente esse e te estilhaces, suicida.
momento demonstra que:
a) a ênfase na força dos militares não é afetada numa explosão
por aspectos negativos, como o mau cheiro de diamantes.
atribuído ao general. PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimos.
b) a descrição quase geométrica da aparência São Pauto: Cia. das Letras, 1992.
física do general expõe a rigidez e a raciona-
A reflexão acerca do fazer poético é um dos
lidade do governo.
mais marcantes atributos da produção lite-
c) a constituição de dinastias ao longo da his-
rária contemporânea, que, no poema de José
tória parece não fazer diferença no presente
Paulo Paes, se expressa por um(a)
em que o tempo evapora.
a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas li-
d) a possibilidade de resistir está dada na reno-
mitações no processo criativo, manifesto na
vação e transformação proposta pela poesia,
expressão “Por translúcida pões”.
química que desvela e repõe.
b) subserviência aos princípios do rigor formal
e) a resistência não seria possível, uma vez que
e dos cuidados com a precisão metafórica,
as vítimas, representadas pelos pássaros,
como se observa em “prisão da forma”.
pensavam apenas nas próprias penas.
c) visão progressivamente pessimista, em face
da impossibilidade da criação poética, con-
2. (Enem PPL) Minha mãe achava estudo a coi- forme expressa o verso “e te estilhaces, sui-
sa mais fina do mundo. cida”.
Não é. d) processo de contenção, amadurecimento e
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. transformação da palavra, representado pe-
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, los versos “numa explosão / de diamantes”.
ela falou comigo: e) necessidade premente de libertação da prisão
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”. representada pela poesia, simbolicamente
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo comparada à “garrafa” a ser “estilhaçada”.
com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo. 4. (Enem) Aquarela
O corpo no cavalete
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
é um pássaro que agoniza
Um dos procedimento consagrados pelo exausto do próprio grito.
Modernismo foi a percepção de um lirismo As vísceras vasculhadas
presente nas cenas e fatos do cotidiano. No principiam a contagem
poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a regressiva.
poesia desses elementos a partir do(a) No assoalho o sangue
a) reflexão irônica sobre a importância atribuí- se decompõe em matizes
da aos estudos por sua mãe. que a brisa beija e balança:
b) sentimentalismo, oposto à visão pragmática o verde - de nossas matas
que reconhecia na mãe. o amarelo - de nosso ouro
c) olhar comovido sobre seu pai, submetido ao o azul - de nosso céu
trabalho pesado. o branco o negro o negro
CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas
d) reconhecimento do amor num gesto de apa-
hoje. Rio do Janeiro: Aeroplano, 2007.
rente banalidade.
e) enfoque nas relações afetivas abafadas pela Situado na vigência do Regime Militar que
vida conjugal. governou o Brasil, na década de 1970, o poe-
ma de Cacaso edifica uma forma de resistên-
3. (Enem 2015) À garrafa cia e protesto a esse período, metaforizando
a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão
Contigo adquiro a astúcia e censura.
de conter e de conter-me. b) a natureza brasileira, agonizante como um
Teu estreito gargalo pássaro enjaulado.
é uma lição de angústia. c) o nacionalismo romântico, silenciado pela
perplexidade com a Ditadura.
Por translúcida pões d) o emblema nacional, transfigurado pelas
o dentro fora e o fora dentro marcas do medo e da violência.
para que a forma se cumpra e) as riquezas da terra, espoliadas durante o
e o espaço ressoe. aparelhamento do poder armado.
30
5. (Enem) Casa dos Contos Trabalhando com recursos formais inspira-
& em cada conto te cont dos no Concretismo, o poema atinge uma ex-
o & em cada enquanto me enca pressividade que se caracteriza pela:
nto & em cada arco te a a) interrupção da fluência verbal, para testar
barco & em cada porta m os limites da lógica racional.
e perco & em cada lanço t b) reestruturação formal da palavra, para pro-
e alcanço & em cada escad vocar o estranhamento no leitor.
a me escapo & em cada pe c) dispersão das unidades verbais, para ques-
dra te prendo & em cada g tionar o sentido das lembranças.
rade me escravo & em ca d) fragmentação da palavra, para representar o
da sótão te sonho & em cada estreitamento das lembranças.
esconso me affonso & em e) renovação das formas tradicionais, para pro-
cada cláudio te canto & e por uma nova vanguarda poética.
m cada fosso me enforco &
ÁVILA, A. Discurso da difamação do 7. (Enem PPL) Fogo frio
poeta. São Paulo: Summus, 1978.
O Poeta
O contexto histórico e literário do período A névoa que sobe
barroco-árcade fundamenta o poema Casa dos campos, das grotas, do fundo dos vales,
dos Contos, de 1975. A restauração de ele- é o hálito quente da terra friorenta.
mentos daquele contexto por uma poética
contemporânea revela que: O Lavrador
a) a disposição visual do poema reflete sua di- Engana-se, amigo.
mensão plástica, que prevalece sobre a ob- Aquilo é fumaça que sai da geada.
servação da realidade social.
b) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e O Poeta
resgata, em fragmentos, fatos e personalida- Fumaça, que eu saiba,
des da Inconfidência Mineira. somente de chama e brasa é que sai!
c) a palavra “esconso” (escondido) demonstra
o desencanto do poeta com a utopia e sua O Lavrador
opção por uma linguagem erudita. E, acaso, a geada não é
d) o eu lírico pretende revitalizar os contrastes fogo branco caído do céu,
barrocos, gerando uma continuidade de pro- tostando tudinho, crestando tudinho, quei-
cedimentos estéticos e literários. mando tudinho,
e) o eu lírico recria, em seu momento histórico, sem pena, sem dó?
numa linguagem de ruptura, o ambiente de FORNARI, E. Trem da serra. Porto Alegre: Acadêmica, 1987.
opressão vivido pelos inconfidentes. Neste diálogo poético, encena-se um embate
de ideias entre o Poeta e o Lavrador, em que:
6. (Enem) da sua memória a) a vitória simbólica é dada ao discurso do
lavrador e tem como efeito a renovação de
mil uma linguagem poética cristalizada.
e b) as duas visões têm a mesma importância e
mui são equivalentes como experiência de vida e
tos a capacidade de expressão.
out c) o autor despreza a sabedoria popular e traça
ros uma caricatura do discurso do lavrador, sim-
ros plório e repetitivo.
tos d) as imagens contraditórias de frio e fogo re-
sol feridas à geada compõem um paradoxo que
tos o poema não é capaz de organizar.
pou e) o discurso do lavrador faz uma personifica-
coa ção da natureza para explicar o fenômeno
pou climático observado pelos personagens.
coa
pag 8. (Enem PPL) Meu povo, meu poema
amo
meu Meu povo e meu poema crescem juntos
ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo Como cresce no fruto
espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998. A árvore nova
31
No povo meu poema vai nascendo a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoo-
Como no canavial lógicas com significado impreciso.
Nasce verde o açúcar b) “morcegos”, “cabras”, e “hienas” metafori-
zam as vítimas do regime militar vigente.
No povo meu poema está maduro c) o “porco” , animal difícil de domesticar, re-
Como o sol presenta os movimentos de resistência.
Na garganta do futuro d) o poeta caracteriza o momento de opressão
através de alegorias de forte poder de impac-
Meu povo em meu poema to.
Se reflete e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os
Como espiga se funde em terra fértil agentes que garantem a paz social experi-
mentada.
Ao povo seu poema aqui devolvo
Menos como quem canta 10. (Enem) Pote Cru é meu pastor. Ele me guia-
Do que planta rá.
FERREIRA GULLAR. Toda poesia. José
Ele está comprometido de monge.
Olympio: Rio de Janeiro, 2000.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
O texto Meu povo, meu poema, de Ferreira cachorros, trampas, trapos, panos de regra,
Gullar, foi escrito na década de 1970. Nele, o couros,
diálogo com o contexto sociopolítico em que de rato ao podre, vísceras de piranhas, ba-
se insere expressa uma voz poética que: ratas
a) precisa do povo para produzir seu texto, mas albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
se esquiva de enfrentar as desigualdades so- linguetas de sapatos, aranhas dependuradas
ciais. em
b) dilui a importância das contingências políti- gotas de orvalho etc. etc.
cas e sociais na construção de seu universo Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um con-
poético. vento
c) associa o engajamento político à grandeza Foi encontrado em osso.
do fazer poético, fator de superação da alie- Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
nação do povo. BARROS, M. Retrato do artista quando
d) afirma que a poesia depende do povo, mas coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.
esse nem sempre vê a importância daquela
nas lutas de classe. Ao estabelecer uma relação com o texto bí-
e) reconhece, na identidade entre o povo e a blico nesse poema, o eu lírico identifica-se
poesia, uma etapa de seu fortalecimento hu- com o Pote Cru porque:
mano e social. a) entende a necessidade de todo poeta ter voz
de oratórios perdidos.
b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para
9. (Enem) Logia e mitologia
a salvação divina.
c) valoriza nos percursos do pastor a conexão
Meu coração
entre as ruínas e a tradição.
de mil e novecentos e setenta e dois
d) necessita de um guia para a descoberta das
Já não palpita fagueiro
sabe que há morcegos de pesadas olheiras coisas da natureza.
que há cabras malignas que há e) acompanha-o na opção pela insignificância
cardumes de hienas infiltradas das coisas.
no vão da unha da alma
um porco belicoso de radar 11. (Enem) O sedutor médio
e que sangra e ri
e que sangra e ri Vamos juntar
a vida anoitece provisória Nossas rendas e
centuriões sentinelas expectativas de vida
do Oiapoque ao Chuí. querida,
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; o que me dizes?
São Paulo: Cosac & Naify,2002. Ter 2, 3 filhos
e ser meio felizes?
O título do poema explora a expressividade
VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?!
de termos que representam o conflito do mo- Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
mento histórico vivido pelo poeta na década
de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar No poema O sedutor médio, é possível reco-
que: nhecer a presença de posições críticas:
32
a) nos três primeiros versos, em que “juntar 2.
expectativas de vida” significa que, juntos, a) A palavra “até” tem função enfatizadora.
os cônjuges poderiam viver mais, o que faz b) Vou até a praia. Amar-te-ei até o último
do casamento uma convenção benéfica. sopro.
b) na mensagem veiculada pelo poema, em que 3.
os valores da sociedade são ironizados, o que a) ... sai à caça do soldado desertor que, com
é acentuado pelo uso do adjetivo “médio” no confederados, realizou assalto a trem.
título e do advérbio “meio” no verso final. ... sai à caça do soldado desertor que rea-
lizou assalto a trem com confederados em
c) no verso “e ser meio felizes?”, em que
seu interior.
“meio” é sinônimo de metade, ou seja, no
b) No primeiro caso há noção de companhia;
casamento, apenas um dos cônjuges se sen- no segundo, de conteúdo.
tiria realizado. 4.
d) nos dois primeiros versos, em que “juntar a) A mãe representa proteção para o eu lí-
rendas” indica que o sujeito poético passa rico, conforme ele expressa em “Que me
por dificuldades financeiras e almeja os ren- leve consigo, adormecido, / Ao passar
dimentos da mulher. pelo sítio mais sombrio...”, assim como
e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifi- alívio: “Me banhe e lave a alma lá no rio
ca o sujeito poético como desinteressante ao / Da clara luz do seu olhar querido...”.
sexo oposto e inábil em termos de conquis- Tal pedido decorre de um momento de di-
tas amorosas. ficuldades vivido pelo eu lírico, uma vez
que o primeiro verso do poema, “Mãe –
que adormente este viver dorido.” expõe
GABARITO tal situação de forma direta e pontual.
Seu desejo, no entanto, seria outro viver,
isento de preocupações próprias à vida
adulta, uma vez que gostaria de se tornar
uma “débil criancinha” (…) “Descuida-
E.O. Teste I da, feliz, dócil também / Se eu pudesse
1. C 2. A 3. A 4. C 5. C dormir sobre o teu seio, / Se tu fosses,
querida, a minha mãe!”
6. C 7. D 8. C 9. D 10. C b) “Eu me absteria do meu orgulho de ho-
mem – abster-me-ia de minha estéril ci-
ência, sem receio, e em débil criancinha
me converteria”.
E.O. Teste II 5. No verso “dentro da eternidade e a cada
instante” encontramos dois termos-chave:
1. D 2. D 3. D 4. E 5. A “eternidade” e “instante”. O primeiro é uma
6. D 7. C 8. D 9. A 10. D abstração do tempo e adquire uma dimensão
sublime e transcendental. É imensurável e
infinito. Já o segundo adquire uma dimen-
são mais material: o instante é um momen-
to, que sempre está passando, algo finito e
E.O. Teste III passageiro. Constrói-se, então, uma antítese
1. D 2. E 3. E 4. D 5. E entre a eternidade e o instante, sintetizando
a contradição entre o amor sublime e o amor
6. B 7. D 8. D 9. D 10. A terreno.
6. Os termos verbais “vede” e “está” interrom-
pem o fato relatado anteriormente nas duas
primeiras estrofes do poema. Assim, com o
E.O. Dissertativo modo imperativo, o enunciador dirige-se aos
homens, convocando-os a olhar o Menino-
1. A preposição “de”, contraída com o artigo
-Deus. Com o presente do indicativo, o enun-
definido “os” na expressão “Dos animais”,
ciador torna a cena atual e viva, como se ela
introduz o agente da oração na voz passiva,
se desenrolasse diante das pessoas que ali
com o mesmo valor semântico que apresen- estão presentes.
taria na expressão pelos animais (Vede o Me- 7. A referida “elasticidade” consiste nas cons-
nino-Deus, que está cercado/ Pelos animais tantes transformações e adaptações sofridas
da pobre estrebaria). No verso “Vêm cobrir pela língua portuguesa, ao ser transplantada
de perfumes e de flores”, a preposição “de” para o Brasil, para atender às necessidades
indica substância e poderia ser substituída de seus usuários, sofrendo influências de di-
por com: vêm cobrir com perfumes e com flo- versas culturas e tornando-se forte mesmo
res. com toda flexibilidade.
33
8.
a) Os provérbios são textos sucintos, ricos em imagens, que expressam suposta sabedoria popular
e com sonoridade agradável, fator essencial na sua difusão e sua memorização. O verso “Quem
acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare” contém ritmo marcante
realçado na rima interna dos termos “informação” e “condão”, a aliteração na consoante “m”
(acumula muita informação) e a assonância na vogal “u” (acumula muita ).
b) O neologismo “divinar” remete ao verbo latino divinare, que significa intuir, por meios so-
brenaturais ou por astúcia, fatos desconhecidos ou ocultos do presente, passado e futuro. Ao
contrário do ser humano que busca explicações através da ciência, desvalorizando assim a sua
intuição primitiva, os sabiás conservariam o dom de adivinhar, pois são seres guiados pelo
instinto natural como se orientados por entidades divinas.
E.O. Enem
1. D 2. D 3. D 4. D 5. E
6. D 7. A 8. E 9. D 10. E 11. B
34
Aula 14 (Gramática e I.T.)
Conjunção e textos em prosa
INTRODUÇÃO Conclusivas – estabelecem uma relação de
conclusão a respeito de um fato dado no mundo.
A conjunção é uma classe de palavras invariável que Principais conjunções conclusivas: logo,
atua como instrumento de conexão entre orações. De portanto, por conseguinte, por isso, assim,
acordo com a natureza de relação apresentada nas pois (depois do verbo e entre vírgulas).
orações, as conjunções podem ser classificadas como
coordenativas e subordinativas. Os termos ligados Exemplo: Estava muito irritado, portanto,
pelas conjunções coordenativas podem ser isolados um preferiu conversar mais tarde.
do outro sem que as unidades de sentido de cada termo Explicativas – estabelecem uma relação de
sejam perdidas. Os termos ligados pelas conjunções su- explicação sobre fato que ainda não ocorreu no
bordinativas dependem necessariamente da existência mundo.
um do outro.
Principais conjunções explicativas: que,
porque, porquanto, pois (antes do verbo).
CONJUNÇÕES COORDENATIVAS Exemplo: Não fique irritado, porque a con-
versa pode tomar outros rumos.
Coordenam orações sem estabelecer uma relação de
dependência (uma função sintática). De acordo com um
critério lógico-semântico, elas se classificam assim: CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS
Aditivas – estabelecem uma relação de soma,
As conjunções subordinativas ligam duas orações, das
de adição entre os termos.
quais uma é necessariamente dependente da outra, de-
Principais conjunções aditivas: e, nem, sempenhando em relação a esta uma função sintática.
não só... mas também, não só... como tam- São classificadas como:
bém, bem como, não só... mas ainda.
Causais – introduzem a oração que é causa da
Exemplos:
ocorrência da oração principal.
Ele saiu cedo e levou a carteira.
Ela não só saiu cedo como também passou Principais conjunções causais: porque,
na farmácia. que, pois que, visto que, uma vez que, por-
quanto, já que, desde que, como (no início
Adversativas – estabelecem uma relação de
da frase).
contraste, de oposição entre os termos.
Principais conjunções adversativas: Exemplo: Ele não fez as compras porque
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no não havia trazido a carteira.
entanto, não obstante. Concessivas – introduzem a oração que ex-
pressa ideia contrária a da principal.
Exemplo: Tentou vender os livros usados,
mas não conseguiu. Principais conjunções concessivas: em-
Alternativas – estabelecem uma relação de bora, ainda que, apesar de que, se bem que,
alternância, de escolha ou de exclusão entre os mesmo que, por mais que, posto que, con-
termos: quanto.
Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem Consecutivas – introduzem orações que ex-
medida que, à proporção que, ao passo que bordinadas substantivas. Ocorrem com os termos “que”
Narrador-protagonista: é aquele que é não apenas o narrador, mas também a personagem principal
da história. É uma narrativa marcada por forte subjetividade, pois todos os eventos giram em torno desse
personagem principal. É também um tipo de narrativa parcial, pois o leitor é induzido a criar uma empatia
com os sentimentos de satisfação ou insatisfação vividos pela personagem. Isso tudo dificulta a visão geral
da história.
Narrador-testemunha: trata-se de uma personagem que conta uma história por ela vivenciada, mas da
qual não era a personagem principal. Também há nessa modalidade o registro dos fatos por uma óptica
subjetiva, com a diferença de que a carga emocional sobre este é menor, tendo em vista que não é a per-
sonagem principal da trama.
Narrador onisciente neutro: é aquele que relata os fatos e descreve detalhes das personagens, mas
sem influenciar o leitor com observações ou opiniões dos eventos narrados. Esse tipo de narrador costuma
evidenciar somente os fatos que são essenciais para a compreensão da narrativa.
Narrador onisciente seletivo: é aquele que, tendo conhecimento dos pensamentos e sentimentos das
personagens, seleciona aqueles aos quais dará maior ênfase nas revelações. Desse modo, é um narrador que
tenta influenciar o leitor a tomar algum posicionamento em relação a algum personagem.
Narrador observador: é aquele que presencia a história que está narrando. Não deve ser confundido
com a modalidade “onisciente”, pois o narrador observador não tem a visão de tudo. Ele conhece apenas
um ângulo da história que narra. Funciona como uma testemunha dos fatos, mas não faz parte de nenhum
deles. Não apresenta nenhum tipo de conhecimento em relação à intimidade de qualquer personagem.
40
E.O. TESTE I por ano — uma média de uma língua a cada
duas semanas. (...)
A perda de línguas raras é lamentável por
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO várias razões. Em primeiro lugar, pelo in-
teresse científico que despertam: algumas
Confidência do Itabirano questões básicas da linguística estão longe
de estar inteiramente resolvidas. E essas lín-
Alguns anos vivi em Itabira.
guas ajudam a saber quais elementos da gra-
Principalmente nasci em Itabira.
mática e do vocabulário são realmente uni-
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
versais, isto é, resultantes das características
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
do próprio cérebro humano.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
A ciência também tenta reconstruir o per-
E esse alheamento do que na vida é porosi-
curso de antigas migrações, fazendo um le-
dade e comunicação.
vantamento de palavras emprestadas, que
A vontade de amar, que me paralisa o tra- ocorrem em línguas sem qualquer parentes-
balho, co. Afinal, se línguas não aparentadas par-
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem tilham palavras, então seus povos estiveram
mulheres e sem horizontes. em contato em algum momento.
Um comunicado do Programa das Nações
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz
é doce herança itabirana. que “o desaparecimento de uma língua e de
seu contexto cultural equivale a queimar um
De Itabira trouxe prendas diversas que ora
livro único sobre a natureza”. Afinal, cada
te ofereço:
povo tem um modo único de ver a vida. Por
este São Benedito do velho santeiro Alfredo
exemplo, a palavra russa mir significa igual-
Duval;
mente “aldeia”, “mundo” e “paz”. É que,
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
como os aldeões russos da Idade Média ti-
este couro de anta, estendido no sofá da sala
nham de fugir para a floresta em tempos de
de visitas;
guerra, a aldeia era para eles o próprio mun-
este orgulho, esta cabeça baixa...
do, ao menos enquanto houvesse paz.
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a-
morte-anunciada-355517-1.asp> acesso em 28 set. 2015.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
2. (G1-IFPE) Na frase “Linguistas preveem que
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
metade das mais de 6 mil línguas faladas
no mundo desaparecerá em um século”, que
1. (Fuvest) Na última estrofe, a expressão que aparece no início do texto, o vocábulo “que”
justifica o uso da conjunção sublinhada no funciona como:
verso “Mas como dói!” é: a) conjunção integrante e introduz uma nova
a) “Hoje”. oração com valor de predicativo do sujeito.
b) “funcionário público”. b) pronome relativo e estabelece uma ligação
c) “apenas”. entre o verbo e a palavra “metade”.
d) “fotografia”. c) conjunção integrante e introduz uma nova
e) “parede”. oração com valor de sujeito.
d) pronome e estabelece uma relação entre
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “linguistas” e o que sucede o pronome.
e) conjunção integrante e introduz uma oração
Uma revisão de dados recentes sobre a morte com valor de objeto direto.
de línguas
Linguistas preveem que metade das mais de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
mil línguas faladas no mundo desaparece-
rá em um século — uma taxa de extinção Quantos seres humanos a Terra seria capaz
que supera as estimativas mais pessimistas de suportar?
quanto à extinção de espécies biológicas. O número ideal seria entre a bilhões de
(...) pessoas. Atualmente, porém, a população é
Segundo a Unesco, da população mundial de bilhões. Ou seja, já somos mais do que o
falam só das línguas existentes. E apenas dobro do que a Terra conseguiria abrigar de
da humanidade partilha o restante dos idio- forma sustentável. De acordo com o Fundo
mas, metade dos quais se encontra em perigo de População das Nações Unidas (UNFPA),
de extinção. Entre e idiomas desaparecem três fatores devem ser considerados para o
41
cálculo: disponibilidade de comida, água e 3. (G1-IFSP) Considere o trecho: “Mas nem pre-
terra; padrão de consumo e capacidade do cisamos ir tão longe: com o consumo médio
planeta de absorver a poluição; e número de atual, já exploramos pelo menos duas vezes
pessoas. Para o pesquisador Alan Weisman, mais do que o planeta oferece”. A conjunção
autor de Contagem Regressiva – A Nossa Úl- destacada pode ser substituída, sem perda
tima e Melhor Esperança para um Futuro na significativa do sentido, por:
Terra, há um paradoxo. Não adianta aumen- a) Além disso nem precisamos ir tão longe: com
tar a nossa capacidade de alimentar e man- o consumo médio atual, já exploramos pelo
ter bilhões de pessoas vivas se cada vez mais menos duas vezes mais do que o planeta ofe-
pessoas continuarem nascendo. “No início rece.
do século 20 éramos bilhões e tínhamos b) Como, nem precisamos ir tão longe: com o
vastas florestas, qualidade de vida, comida consumo médio atual, já exploramos pelo
para todo mundo e pouca emissão de com- menos duas vezes mais do que o planeta
bustíveis fósseis. Ou seja, tínhamos um pla- oferece.
neta saudável”, afirma Weisman. c) Assim nem precisamos ir tão longe: com o
consumo médio atual, já exploramos pelo
SACO SEM FUNDO menos duas vezes mais do que o planeta
Com o avanço da tecnologia e da medicina, oferece.
mais gente vive por mais tempo. Também d) Conquanto nem precisamos ir tão longe: com
produzimos mais grãos utilizando o mesmo o consumo médio atual, já exploramos pelo
espaço – atualmente, nos EUA, cerca de dos menos duas vezes mais do que o planeta ofe-
grãos alimentam gado (que geram alimento rece.
para o homem). Porém, quanto mais comida e) Entretanto nem precisamos ir tão longe: com
produzimos, mais pessoas surgem para se- o consumo médio atual, já exploramos pelo
rem alimentadas. menos duas vezes mais do que o planeta ofe-
rece.
ALÍVIO TEMPORÁRIO
A taxa de natalidade mundial está diminuin- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do. Atualmente muitas pessoas vivem nas ci-
dades e as famílias não precisam ter tantas Chuva fora de época dá só 18 dias de alívio
crianças (antigamente, os filhos eram im- às represas da Grande SP
portante força de trabalho na lavoura). Além As primeiras duas semanas de setembro
disso, os lares estão cada vez menores e o trouxeram chuvas acima da média e amplia-
custo de vida maior. Por tudo isso, pessoas ram em 50 bilhões de litros as reservas das
urbanas têm cada vez menos filhos. principais represas da Grande São Paulo.
Todo esse volume, porém, representa ape-
SOMOS EXAGERADOS nas um ligeiro alívio nos agonizantes ma-
Desenvolvimento também não é garantia de nanciais e deverá ser todo consumido num
abundância. Se toda a população consumis- intervalo de apenas três semanas de estia-
se como os americanos, a Terra não supor- gem – como aconteceu nos últimos 18 dias
taria - precisaríamos do triplo de recursos do mês de agosto.
existentes atualmente. Mas nem precisamos E é justamente essa a previsão dos climato-
ir tão longe: com o consumo médio atual, já logistas para a próxima semana. Segundo es-
exploramos pelo menos duas vezes mais do sas previsões, a região metropolitana e seu
que o planeta oferece. entorno, onde estão os seis principais reser-
vatórios, terá bastante calor e quase nenhu-
PLANEJAMENTO FAMILIAR ma chuva.
De acordo com Alan Weisman, podemos re- Setembro é o último mês da estação seca,
duzir a quantidade de pessoas que vivem na iniciada em abril. A expectativa do governo
Terra ao longo de três gerações sem tomar Geraldo Alckmin (PSDB) é que as chuvas em
medidas extremas. “Há países que redu- grande volume voltem a partir de outubro
ziram o número de habitantes apenas com – na última estação chuvosa, porém, elas só
distribuição de contraceptivos, educação e vieram em fevereiro e março.
planejamento familiar, sem precisar obrigar A Grande SP vive hoje a mais grave seca já
as famílias a ter menos filhos”. registrada.
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quantos- Fabrício Lobel (Disponível em http://www1.folha.
seres-humanos-a-terra-seria-capaz-de-suportar uol.com.br/cotidiano. Acesso em 15.09.2015)
42
4. (G1-Utfpr) Sobre o texto, identifique como Trazem pelo menos o patrimônio de sua in-
verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes quietação e de seu 17apetite de vida. 9Muitos
afirmativas: se perderão, sem futuro, na vagabundagem
( ) A conjunção porém, no segundo parágra- inconsequente das cidades; uma mulher
fo, introduz uma ideia de oposição às in- dessas talvez se suicide melancolicamen-
formações do primeiro parágrafo. te dentro de alguns anos, em algum quar-
( ) No segundo parágrafo, o travessão ( – ) to de pensão. Mas é preciso de tudo para
foi empregado para introduzir um escla- 18
fazer um mundo; e cada pessoa humana é
recimento à informação anterior. um mistério de heranças e de taras. Acaso
( ) No terceiro parágrafo, o pronome indefi- importamos o pintor Portinari, o arquiteto
nido onde foi empregado para retomar o Niemeyer, o físico Lattes? E os construtores
lugar, citado anteriormente . de nossa indústria, como vieram eles ou seus
( ) No título da notícia, a palavra alívio re- pais? Quem pergunta hoje, 10e que interes-
cebe acento por ser uma paroxítona ter- sa saber, se esses homens ou seus pais ou
minada em - a. seus avós vieram para o Brasil como agricul-
Assinale a alternativa que apresenta a sequ- tores, comerciantes, barbeiros ou capitalis-
ência correta, de cima para baixo. tas, aventureiros ou vendedores de gravata?
a) F – V – F – V. Sem o tráfico de escravos não teríamos tido
b) F – F – V – V. Machado de Assis, e Carlos Drummond seria
c) F – V – V – F. impossível sem uma gota de sangue (ou uís-
d) V – V – F – F. que) escocês nas veias, 4e quem nos garante
e) V – F – F – V. que uma legislação exemplar de imigração
não teria feito Roberto Burle Marx nascer
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO uruguaio, Vila Lobos mexicano, ou Pancet-
ti chileno, o general Rondon canadense ou
1
José Leal fez uma reportagem na Ilha das Noel Rosa em Moçambique? Sejamos humil-
Flores, onde ficam os imigrantes logo que des diante da pessoa humana: 5o grande ho-
chegam. E falou dos equívocos de nossa polí- mem do Brasil de amanhã pode descender
tica imigratória. 2As pessoas que ele encon- de um clandestino que neste momento está
trou não eram agricultores e técnicos, gente saltando assustado na praça Mauá13, e não
capaz de ser útil. Viu músicos profissionais, sabe aonde ir, nem o que fazer. Façamos uma
bailarinas austríacas, cabeleireiras lituanas. política de imigração sábia, perfeita, mate-
Paul Balt toca acordeão, Ivan Donef faz co- rialista14; mas deixemos uma pequena mar-
quetéis, Galar Bedrich é vendedor, Serof Ne- gem aos inúteis e aos vagabundos, às aven-
dko é ex-oficial, Luigi Tonizo é jogador de tureiras e aos tontos porque dentro de algum
futebol, Ibolya Pohl é costureira. Tudo 15gen- deles, como sorte grande da fantástica 19lo-
te para o asfalto, “para entulhar as grandes teria humana, pode vir a nossa redenção e a
cidades”, como diz o repórter. nossa glória.
6
O repórter tem razão. 3Mas eu peço licença (BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela.
Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963)
para ficar imaginando uma porção de coisas
vagas, ao olhar essas belas fotografias que
ilustram a reportagem. Essa linda costurei- 5. (ITA) Assinale a opção em que o termo gri-
rinha morena de Badajoz, essa Ingeborg que fado é conjunção integrante.
faz fotografias e essa Irgard que não faz coi- a) José Leal fez uma reportagem na Ilha das
sa alguma, esse Stefan Cromick cuja única Flores, onde ficam os imigrantes logo que
experiência na vida parece ter sido vender chegam. (ref. 1)
bombons 11– não, essa gente não vai aumen- b) As pessoas que ele encontrou não eram agri-
tar a produção de batatinhas e quiabos nem cultores e técnicos, gente capaz de ser útil.
16
plantar cidades no Brasil Central. (ref. 2)
7
É insensato importar gente assim. Mas o c) Mas eu peço licença para ficar imaginando
destino das pessoas e dos países também é, uma porção de coisas vagas, ao olhar essas
muitas vezes, insensato: principalmente da belas fotografias que ilustram a reportagem.
gente nova e países novos. 8A humanidade (ref. 3)
não vive apenas de carne, alface e motores. d) [...] e quem nos garante que uma legislação
Quem eram os pais de Einstein, eu pergunto; exemplar de imigração não teria feito Rober-
e se o jovem Chaplin quisesse hoje entrar no to Burle Marx nascer uruguaio, [...] (ref. 4)
Brasil acaso poderia? Ninguém sabe que des- e) [...] o grande homem do Brasil de amanhã
tino terão no Brasil essas mulheres louras, pode descender de um clandestino que neste
esses homens de profissões vagas. Eles es- momento está saltando assustado na praça
tão procurando alguma coisa12: emigraram. Mauá, [...] (ref. 5)
43
6. (Unesp) Nenhum dos filmes que vi, e me 8. (UERJ) pode-se adivinhar a norma que lhe
divertiram tanto, me ajudou a compreender rege a vida ao primeiro olhar.
o labirinto da psicologia humana como os ro- A expressão destacada reforça o sentido ge-
mances de Dostoievski – ou os mecanismos ral do texto, porque remete a uma ação base-
da vida social como os livros de Tolstói e de ada no seguinte aspecto:
Balzac, ou os abismos e os pontos altos que a) vulgaridade.
podem coexistir no ser humano, como me b) exterioridade.
ensinaram as sagas literárias de um Thomas c) regularidade.
Mann, um Faulkner, um Kafka, um Joyce ou d) ingenuidade.
um Proust. As ficções apresentadas nas telas
são intensas por seu imediatismo e efême- 9. (UERJ) A narrativa condensada do texto
ras por seus resultados. Prendem-nos e nos sugere uma crítica relacionada à educação,
desencarceram quase de imediato, mas das tema anunciado no título.
ficções literárias nos tornamos prisioneiros Essa crítica dirige-se principalmente à se-
pela vida toda. Ao menos é o que acontece guinte característica geral da vida social:
comigo, porque, sem elas, para o bem ou a) problemas frequentes vividos na infância.
para o mal, eu não seria como sou, não acre- b) julgamentos superficiais produzidos por pre-
ditaria no que acredito nem teria as dúvidas conceitos.
c) dificuldades previsíveis criadas pelas indivi-
e as certezas que me fazem viver.
dualidades.
(Mario Vargas Llosa. “Dinossauros em tempos difíceis”. www.
valinor.com.br. O Estado de S. Paulo, 1996. Adaptado.) d) desigualdades acentuadas encontradas na ju-
ventude.
Segundo o autor, sobre cinema e literatura é
correto afirmar que: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) a ficção literária é considerada qualitativa- APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA!
mente superior devido a seu maior elitismo
Tenho sono muito leve, e numa noite dessas
intelectual.
notei que havia alguém andando sorrateira-
b) suas diferenças estão relacionadas, sobre- mente no quintal de casa.
tudo, às modalidades de público que visam Levantei em silêncio e fiquei acompanhando
atingir. os leves ruídos que vinham lá de fora, até
c) as obras literárias desencadeiam processos in- ver uma silhueta passando pela janela do
telectualmente e esteticamente formativos. banheiro.
d) a escrita literária apresenta maior afinidade Como minha casa era muito segura, com gra-
com os padrões da sociedade do espetáculo. des nas janelas e trancas internas nas por-
e) as duas formas de arte mobilizam processos tas, não fiquei muito preocupado, mas era
mentais imediatos e limitados ao entreteni- claro que eu não ia deixar um ladrão ali, es-
mento. piando tranquilamente.
Liguei baixinho para a polícia, informei a
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES situação e o meu endereço. Perguntaram-me
A EDUCAÇÃO PELA SEDA se o ladrão estava armado ou se já estava no
interior da casa. Esclareci que não e disse-
Vestidos muito justos são vulgares. Revelar ram-me que não havia nenhuma viatura por
formas é vulgar. Toda revelação é de uma perto para ajudar, mas que iriam mandar al-
vulgaridade abominável. guém assim que fosse possível.
Os conceitos a vestiram como uma segunda Um minuto depois liguei de novo e disse
pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe com a voz calma:
rege a vida ao primeiro olhar. – Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém
Rosa Amanda Strausz no meu quintal. Não precisa mais ter pressa.
Mínimo múltiplo comum: contos. Rio Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta
de Janeiro: José Olympio, 1990.
calibre 12, que tenho guardada em casa para
estas situações. O tiro fez um estrago danado
7. (UERJ) O conto contrasta dois tipos de texto no cara!
em sua estrutura. Passados menos de três minutos, estavam
Enquanto o segundo parágrafo se configu- na minha rua cinco carros da polícia, um
ra como narrativo, o primeiro parágrafo se helicóptero, uma unidade do resgate, uma
aproxima da seguinte tipologia: equipe de TV e a turma dos direitos huma-
a) injuntivo. nos, que não perderiam isso por nada neste
b) descritivo. mundo.
c) dramático. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que
d) argumentativo. ficava olhando tudo com cara de assombrado.
44
Talvez ele estivesse pensando que aquela era à educação básica e tantos outros indicado-
a casa do Comandante da Polícia. res terríveis.”
No meio do tumulto, um tenente se aproxi- (Gazeta de Alagoas, seção Opinião, 12.10.2010)
mou de mim e disse:
– Pensei que tivesse dito que tinha matado 2. (G1-IFAL) Em que alternativa a seguir, a
o ladrão. conjunção “enquanto” apresenta o mesmo
Eu respondi: sentido expresso no parágrafo?
– Pensei que tivesse dito que não havia ne- a) “Enquanto era jovem, viveu intensamente.”
nhuma viatura disponível. b) “Dorme enquanto eu velo...” (Fernando Pes-
Disponível em: http://pensador.uol.com.br/ soa)
frase/OTQzODk4/. Acesso em: 27/08/2015.
c) “João enriquece, enquanto o irmão cai na
Adaptado. (Autor desconhecido, mas há quem
atribua a autoria a Luís Fernando Veríssimo.) miséria.”
d) “A gramática é o estudo da língua enquanto
sistema...” (Sílvio Elia)
10. (Acafe) Sobre o texto, é correto o que se
e) “Eu trabalhava enquanto ele dormia a sono
afirma em:
solto.”
a) O narrador deu dois telefonemas para a po-
lícia: no primeiro, ele falou a verdade, e a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
polícia respondeu supostamente com uma
mentira; no segundo, contou uma mentira, Filme-enigma de Christopher Nolan gera
e a polícia entrou em contradição. discussões sobre significado e citações ocul-
b) A oração “[...] que não perderiam isso por tas ou óbvias em sua trama onírica
nada neste mundo” é ambígua, pois o pro-
nome relativo “que” pode tanto retomar
“uma equipe de TV e a turma dos direitos
humanos” quanto retomar apenas “a turma
dos direitos humanos”.
c) Em “Talvez ele estivesse pensando que aque-
la era a casa do Comandante da Polícia”,
ocorre apenas um pronome, e esse pronome
retoma “o ladrão”.
d) Na frase “Esclareci que não e disseram-me
que não havia nenhuma viatura por perto
Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu sonhou
para ajudar, mas que iriam mandar alguém
que era uma borboleta. Ao acordar, entretan-
assim que fosse possível”, todos os “quês”
to, ele não sabia mais se era um homem que
têm a mesma função sintática, isto é, fun-
sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta
cionam como conjunções integrantes.
que agora sonhava ser um homem.
Será que Dom Cobb está sonhando? Será que
45
Edith Piaf, porque uma das atrizes escala- __________ soar como estrangeiro. 4Na 5ado-
das, Marion Cotillard, havia vivido a cantora lescência, sentimo-nos estranhos __________
francesa em um filme de 2007. quase tudo, andamos por aí enturmados com
(...) os da mesma idade ou estilo, tendo apenas
Além da música, uma boa diversão de “A uns aos outros como cúmplices para existir.
Origem” é identificar os objetos impossí- O fim desse desencontro deveria ocorrer no
veis deixados por Nolan ao longo do filme. começo da vida adulta, quando trabalhamos,
A escada de Penrose, criada pelo psiquiatra procriamos e tomamos decisões de repercus-
britânico Lionel Penrose, aparece diversas são social. Finalmente 6deveríamos sentir-
vezes na tela - e também inspirou o quadro -nos legítimos cidadãos da vida. 7Porém,
que tenta explicar facetas do longa. julgamos ser uma fraude: 8imaginávamos
Melhor ir ver o filme e não pensar em esca- que os adultos eram algo maior, mais consis-
das... No que você está pensando agora? tente do que sentimos ser. Logo em seguida
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/
disso, já começamos a achar que perdemos o
ilustrad/fq1908201010.htm)
bonde da vida. O tempo nos faz estrangeiros
__________ própria existência.
3. (Insper 2011) Em “O fato é que Nolan acer- Uma das formas mais simples de combater
tou o alvo”, o “que” exerce a função de: todo esse 9mal-estar é encontrar outro para
a) conjunção integrante, pois introduz uma ora- chamar de diferente, de inadequado. 10Quem
ção subordinada substantiva.
pratica o bullying, quer seja entre alunos ou
b) pronome relativo, pois introduz uma oração
com os que têm hábitos e aparência distintos
subordinada adjetiva.
do seu, conquista momentaneamente a ilu-
c) partícula expletiva, pois, tendo apenas o ob-
são da legitimidade. Quem discrimina arran-
jetivo de realçar uma ideia, não exerce fun-
ja no grito e na violência um lugar para si.
ção sintática.
Conviver com as diferentes cores de pele, in-
d) advérbio de intensidade, pois atribui uma cir-
terpretações dos gêneros, formas de amar e
cunstância ao verbo “acertar”.
casar, vestimentas, religiões ou a falta delas,
e) preposição, pois relaciona o verbo “ser” à
línguas faz com que todos sejam estrangei-
oração subordinada substantiva.
ros. Isso produz a mágica sensação de inclu-
são universal: 11se formos todos diferentes,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ninguém precisa sentir-se excluído. Movi-
SOMOS TODOS ESTRANGEIROS mentos migratórios misturam povos, a eli-
minação de barreiras de casta e de precon-
Volta e meia, em nosso mundo redondo, ceitos também. Já pensou que delícia se, no
colapsa o frágil convívio entre os diversos futuro, entendermos que na vida ninguém é
modos de ser dos seus habitantes. 1Neste nativo. 12A existência de cada um é como um
momento, vivemos uma nova rodada 2dessas barco em que fazemos um trajeto ao final do
com os inúmeros refugiados, famílias fugi- qual sempre partiremos sem as malas.
tivas de suas guerras civis e massacres. Eles Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de
tentam entrar na mesma Europa que já ex- setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.
com.br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estr
pulsou seus famintos e judeus. Esses movi-
angeiros/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19 out. 2015
mentos introduzem gente destoante no meio
de outras culturas, estrangeiros que chegam
falando atravessado, comendo, amando e re- 4. (G1-ifsul) As conjunções porém (ref. 7) e se
zando de outras maneiras. Os diferentes se (ref.11) estabelecem, respectivamente, rela-
estranham. ções de:
Fui duplamente estrangeira, no Brasil por a) condição e oposição.
ser uruguaia, em ambos os países e nas es- b) concessão e oposição.
colas públicas por ser judia. A instrução era c) oposição e concessão.
tentar mimetizar-se, falar com o menor so- d) oposição e condição.
taque possível, ficar invisível no horário do
Pai Nosso diário. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Certamente todos conhecem esse sentimen-
to de sentir-se estrangeiro, ficar de fora, de O Segundo Sol
não ser tão autêntico quanto os outros, ou (Cássia Eller)
não ser escolhido para o que realmente im-
porta. Na 3infância, tudo é grande demais, Quando o segundo sol chegar
amedronta e entendemos fragmentariamen- Para realinhar as órbitas dos planetas
te, como recém-chegados. Na puberdade, Derrubando com assombro exemplar
perdemos a familiaridade com nossos fami- O que os astrônomos diriam
liares: o que antes parecia natural começa Se tratar de um outro cometa
46
Não digo que não me surpreendi tal opinião. Mas seria possível supor que o
Antes que eu visse você disse jornalista tivesse dado a palavra somente a
E eu não pude acreditar quem pensasse como ele. Portanto, haverá
Mas você pode ter certeza duas declarações discordantes entre si, para
mostrar que é fato que há opiniões diferen-
De que seu telefone irá tocar
tes sobre um caso, e o jornal expõe esse fato
Em sua nova casa
irretorquível. A esperteza está em pôr antes
Que abriga agora a trilha
entre aspas uma opinião banal e depois ou-
Incluída nessa minha conversão
tra opinião, mais racional, que se assemelhe
Eu só queria te contar muito à opinião do jornalista. Assim o leitor
Que eu fui lá fora tem a impressão de estar sendo informa-
E vi dois sóis num dia do de dois fatos, mas é induzido a aceitar
E a vida que ardia sem explicação uma única opinião como a mais convincen-
te. Vamos ver um exemplo. Um viaduto des-
Explicação, não tem explicação moronou, um caminhão caiu e o motorista
Explicação, não morreu. O texto, depois de relatar rigorosa-
Não tem explicação mente o fato, dirá: Ouvimos o senhor Rossi,
Explicação, não tem 42 anos, que tem uma banca de jornal na es-
Não tem explicação quina. Fazer o quê, foi uma fatalidade, disse
Explicação, não tem ele, sinto pena desse coitado, mas destino é
Explicação, não tem destino. Logo depois um senhor Bianchi, 34
Não tem
Disponível em: http://letras.mus.br/cassia-
anos, pedreiro que estava trabalhando numa
eller/12570/. Acesso em: 19.09.2015. obra ao lado, dirá: É culpa da prefeitura, que
esse viaduto estava com problemas eu já sa-
bia há muito tempo. Com quem o leitor se
5. (G1-IFBA) Na primeira estrofe da letra de identificará? Com quem culpa alguém ou al-
música “O Segundo Sol”, há duas conjunções guma coisa, com quem aponta responsabili-
subordinativas que, respectivamente, dão dade. Está claro? O problema é no quê e como
ideia de: pôr aspas.
a) causa e modo.
ECO, Umberto. Número Zero. Rio de
b) tempo e modo. Janeiro: Record, 2015, p. 55-6.
c) tempo e causa.
d) modo e finalidade.
e) tempo e finalidade. 6. (UFPR) Assinale a alternativa correta sobre
afirmações encontradas no texto.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES a) Ao mencionar “um princípio fundamental
do jornalismo democrático: fatos separados
Para responder a(s) quest(ões) a seguir, leia de opiniões”, Simei destaca que os jornais
o seguinte diálogo entre os personagens Si- seguem rigorosamente esse princípio.
mei e Colonna, no romance Número Zero, de b) Ao dizer que “o leitor tem a impressão de
Umberto Eco: estar sendo informado de dois fatos, mas é
induzido a aceitar uma única opinião”, Co-
– Colonna, exemplifique para os nossos ami-
gos como é que se pode seguir, ou dar mos- lonna explicita uma forma de manipulação
tras de seguir, um princípio fundamental do da opinião do leitor.
jornalismo democrático: fatos separados de c) Na primeira linha do texto, Simei faz uma
opiniões. Opiniões no Amanhã [nome do jor- retificação (“... seguir, ou dar mostras de se-
nal] haverá inúmeras, e evidenciadas como guir...”) para deixar claro que o jornalista
tais, mas como é que se demonstra que em deve não só separar fatos de opiniões como
outros artigos são citados apenas fatos? indicar isso explicitamente nos artigos.
– Muito simples – disse eu. – Observem os d) Ao afirmar que “é fato que há opiniões dife-
grandes jornais de língua inglesa. Quando rentes sobre um caso, e o jornal expõe esse
falam, sei lá, de um incêndio ou de um aci- fato irretorquível”, Colonna destaca a im-
dente de carro, evidentemente não podem parcialidade do jornal ao incluir nos artigos
dizer o que acham daquilo. Então inserem opiniões divergentes.
no artigo, entre aspas, as declarações de uma e) Ao afirmar, no final do texto, que “o proble-
testemunha, um homem comum, um repre- ma é no quê e como pôr aspas”, Colonna en-
sentante da opinião pública. Pondo-se aspas, fatiza a importância da fidelidade na citação
essas afirmações se tornam fatos, ou seja, é das palavras das testemunhas de cada fato
um fato que aquele sujeito tenha expressado noticiado.
47
7. (UFPR 2016) Segundo o texto, são estraté- tudo de latrina abaixo. Mas o mais grave foi
gias utilizadas pelos jornais ao fazer cita- o roubo de uma nota de cinco mil-réis, do
ções: patrimônio da própria Inhá Luísa. De posse
1. Escolher criteriosamente as citações das dessa fortuna nababesca, comprei um livro e
testemunhas para contemplar pontos de uma lâmpada elétrica de tamanho desmedi-
vista divergentes sobre um mesmo fato. do. Fui para o parque Halfeld com o butim de
2. Salientar os pontos de vista que mais in- minha pirataria. Joguei o troco num bueiro.
teressam ao jornalista. Como ainda não soubesse ler, rasguei o livro
3. Redigir as notícias de tal forma que as e atirei seus restos em um tanque. 9A lâm-
opiniões sejam apresentadas como fatos. pada, enorme, esfregada, não fez aparecer
4. Citar em primeiro lugar as palavras da nenhum gênio. Fui me desfazer de mais esse
testemunha que faz uma análise mais ra- cadáver na escada da Igreja de São Sebastião.
10
cional dos acontecimentos. Lá a estourei, tendo a impressão de ouvir
Estão de acordo com o texto as estratégias: os trovões e o morro do Imperador desaban-
a) 1 e 2 apenas. do nas minhas costas. Depois dessa série de
b) 1 e 4 apenas. atos gratuitos e delitos inúteis, voltei para
c) 1, 2 e 3 apenas. casa. 11Raskólnikov. O mais estranho é que
d) 1, 3 e 4 apenas. houve crime, e não castigo. Crime perfeito.
e) 2, 3 e 4 apenas. Ninguém desconfiou. Minha avó não deu por
falta de sua cédula. 12Eu fiquei por conta das
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES Fúrias de um remorso, que me perseguiu
toda a infância, veio comigo pela vida afo-
O texto é um excerto de Baú de Ossos (volu- ra, com a terrível impressão de que eu pode-
me 1), do médico e escritor mineiro Pedro ria reincidir porque vocês sabem, 13cesteiro
Nava. Inclui-se essa obra no gênero memo- que faz um cesto... 14Só me tranquilizei anos
rialístico, que é predominantemente narra- depois, já médico, quando li num livro de
tivo. Nesse gênero, são contados episódios Psicologia que só se deve considerar roubo
verídicos ou baseados em fatos reais, que fi- o que a criança faz com proveito e dolo. O
caram na memória do autor. Isso o distingue furto inútil é fisiológico e psicologicamente
da biografia, que se propõe contar a história normal. Graças a Deus! Fiquei absolvido do
de uma pessoa específica. meu ato gratuito...
(Pedro Nava. Baú de ossos. Memórias 1. p. 308 a 310.)
1
O meu amigo Rodrigo Melo Franco de An-
drade é autor 2do conto “Quando minha avó 8. (UECE) Na referência 13, aparece a primeira
morreu”. Sei por ele que é uma história au- parte de um dito popular: “cesteiro que faz
tobiográfica. 3Aí Rodrigo confessa ter pas- um cesto...”
sado, aos 11 anos, por fase da vida em que Assinale a opção que expressa a correta com-
4
se sentia profundamente corrupto. Violava plementação do provérbio, e o vocábulo que
as promessas feitas de noite a Nossa Senho- o traduz, visto esse vocábulo não só por sua
ra; mentia desabridamente; faltava às aulas acepção dicionarizada, mas também pelas
para tomar banho no rio e pescar na Barroca conotações que o revestem.
com companheiros vadios; furtava 5prati- a) Cesteiro que faz um cesto faz dez cestos. >
nhas de dois mil-réis... 6Ai! de mim que mais Tenacidade
cedo que o amigo também 7abracei a senda b) Cesteiro que faz um cesto faz um cento. >
do crime e enveredei pela do furto... 8Aman- Reincidência
te das artes plásticas desde cedo, educado c) Cesteiro que faz um cesto nunca deixa de fa-
no culto do belo, eu não pude me conter. zer cesto. > Persistência
Eram duas coleções de postais pertencentes d) Cesteiro que faz um cesto é capaz de fazer
a minha prima Maria Luísa Palleta. Numa, um cento de cestos. > Obstinação
toda a vida de Paulo e Virgínia – do idílio
infantil ao navio desmantelado na proce- 9. (UECE) O excerto que vai da referência 1
la. Pobre Virgínia, dos cabelos esvoaçantes! à referência 6 (“mil réis”) tem a seguinte
Noutra, a de Joana d’Arc, desde os tempos função textual:
de pastora e das vozes ao da morte. Pobre a) Apresentar parâmetro para os crimes do
Joana dos cabelos em chama! Não resisti. enunciador.
Furtei, escondi e depois de longos êxtases, b) Diminuir o impacto causado pelas revelações
com medo, joguei tudo fora. Terceiro roubo, do enunciador.
terceira coleção de postais – a que um car- c) Mostrar que é normal a criança ainda muito
camano, chamado Adriano Merlo, escrevia a nova praticar crimes.
uma de minhas tias. Os cartões eram fabulo- d) Demonstrar, com fatos, a falta de caráter de
sos. Novas contemplações solitárias e piquei crianças mimadas.
48
10. (UECE) Comparando-se ao amigo, o narra- Aqui no Brasil de Cima,
dor considera-se: Não há dô nem indigença,
a) mais culpado do que ele. Reina o mais soave crima
b) só relativamente culpado. De riqueza e de opulença;
c) menos culpado do que ele. Só se fala de progresso,
d) tão culpado quanto ele. Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasi de Baxo
E.O. TESTE III Sofre a feme e sofre o macho
A mais dura privação.
GABARITO
cutores variados.
e) no falso elogio à originalidade atribuída a
esse personagem, responsável por seu suces-
so no aprendizado das regras de linguagem
da sociedade. E.O. Teste I
1. C 2. E 3. E 4. D 5. D
10. (Enem 2012) Labaredas nas trevas
Fragmentos do diário secreto de 6. C 7. D 8. B 9. B 10. A
Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski
20 DE JULHO [1912]
Peter Sumerville pede-me que escreva um
E.O. Teste II
1. E 2. D 3. A 4. D 5. E
artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta:
“Acredite-me, prezado senhor, nenhum jor- 6. B 7. C 8. B 9. A 10. A
nal ou revista se interessaria por qualquer
coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse so-
bre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...]
Dificilmente encontro alguém, agora, que
E.O. Teste III
1. B 2. E 3. C 4. A 5. D
saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de
algo dele. Para os jovens escritores que estão 6. E 7. A 8. D 9. D 10. D
surgindo ele simplesmente não existe”.
20 DE DEZEMBRO [1919]
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de
jornal. Sou reconhecido como o maior escri-
E.O. Dissertativo
tor vivo da língua inglesa. Já se passaram
1. Para responder qual outra conjunção poderia
dezenove anos desde que Crane morreu, mas substituir o “pois” é preciso compreender
eu não o esqueço. E parece que outros tam- qual o significado que o “pois” carrega na
bém não. The London Mercury resolveu cele- última frase do texto. Pelo contexto, per-
brar os vinte e cinco anos de publicação de cebe-se que há um valor semântico de con-
um livro que, segundo eles, foi “um fenôme- clusão: conclui-se que ele morreu a serviço
no hoje esquecido” e me pediram um artigo. do Senhor. Dessa forma, pode-se substituir
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São o termo em destaque por qualquer conjun-
Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmentado). ção que indique conclusão, tais como “logo”,
“assim”, “então”, ou “portanto”.
Na construção de textos literários, os autores 2.
recorrem com frequência a expressões meta- a) Mesmo sendo abundante e até densa…
fóricas. Ao empregar o enunciado metafóri- b) No contexto, e atendendo a derivações do
co “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas substantivo “lucros”, as palavras “ren-
de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre dosos” e “rentabilidade” poderiam ser
dois fragmentos do texto em questão, uma substituídas por lucrativos e lucrativida-
relação semântica de: de, respectivamente.
62
3. O valor semântico da conjunção “e” é aditi- 9. 1ª etapa: adolescência/juventude.
vo, pois expressa um acréscimo de informa- 2ª etapa: infância / meninice / pré-adoles-
ção ao período: além de ter falado com deze- cência.
nas de pessoas, todas elas lhe perguntaram Frase: Houve tempo em que Clarete se cha-
por quê. mava simplesmente Clara.
4. 10. Na verdade, há três vocábulos representati-
a) vos: sacrifício; condenado e execução. Todos
I. Em “...os morros palejavam de luar...”, a passam a sensação de estresse e de medo.
preposição de tem valor causal. Porém, à guisa da proposta, dois vocábulos
II. Em “De manhã, com a fresca...”, a prepo- já bastam.
sição de indica tempo. Os recursos estilísticos usados pelo narra-
b) dor são o uso dos adjetivos “desprotegido”
III.Em “como eu insistisse...”, como é con- e “nu”, enfatizando a ideia de vulnerabili-
junção subordinativa causal, equivalente dade e de medo. Também deve-se reparar na
a porque, porquanto e introdutora de uma repetição da palavra “sacrifício”, passando a
oração subordinada adverbial causal. ideia do pavor e da impotência por que passa
IV. Em “...como a dos amores...”, integra uma qualquer ser vivo diante do abate.
oração comparativa, sendo conjunção su-
bordinativa comparativa.
5.
a) Porque.
b) Apresentam valor semântico de causa.
E.O. Enem
6. 1. C 2. B 3. A 4. E 5. B
a) Segundo José Miguel Wisnik, tanto a 6. A 7. B 8. E 9. A 10. B
prosa quanto a poesia podem apresentar
marcas negativas. A primeira pode seguir
automaticamente regras e procedimentos
sem entusiasmo e criatividade e a segun-
da, usar floreio de palavras, com lingua-
gem vazia de conteúdo que não desperte
emoção.
b) O fato de o futebol seguir regras entendi-
das racionalmente em qualquer contexto
cultural e ser praticado em quase todo o
mundo permite que as diferenças cultu-
rais se diluam e configurem uma espécie
de código linguístico comum e universal.
7.
a) O autor argumenta que conceitos essen-
ciais para as ciências, como a especiali-
zação, isto é, a necessidade da ciência de
restringir-se a um determinado objeto
de pesquisa ou mesmo de tornar-se her-
mética para que assim possa progredir.
Segundo o autor, a ciência nunca esteve
nem poderá estar ao alcance de todos, di-
ferentemente das artes.
b) O progresso nas ciências depende da es-
pecialização, da pesquisa para que possa
progredir, enquanto que as artes evoluem
ao manter um diálogo temporal entre to-
dos os que compartilham uma obra.
8. Quanto ao Conteúdo: a vida moderna/a vida
na cidade grande/o cotidiano urbano (bon-
de, o jornal Rio Esportivo).
Quanto à linguagem: há uso de expressões
coloquiais; linguagem informal e jovial (zu-
reta e idiota); frases curtas em períodos co-
ordenados.
63
Aula 15 (Gramática e I.T.)
Termos essenciais da oração e
crônicas
TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO: a) Simples, se apresentar apenas um núcleo
(a palavra principal do sujeito, que encerra
SUJEITO E PREDICADO essencialmente a significação) ligado direta-
mente ao verbo, estabelecendo uma relação
Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, de concordância com ele.
com o verbo da oração. Em grande número de casos, o
sujeito da oração é também o agente da ação expressa Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em
pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição protesto.
conceitual, uma vez que há orações para as quais não Observação: O sujeito é simples, se o ver-
se pode atribuir ao sujeito essa função de agente. bo da oração referir-se a apenas um elemento, seja ele
um substantivo (singular ou plural), um pronome ou um
Exemplos:
numeral. Não confundir sujeito simples com a noção de
Ele viajou para o interior de São Paulo.
singular.
(viajou está no singular para concordar com
ele. O conteúdo do verbo expressa uma ação.) Exemplos:
O segundo andar possui sala de reunião.
Eles viajaram para o interior de São Paulo. Todos correram em direção ao ônibus.
(viajaram está no plural para concordar com
b) Composto, se apresentar dois ou mais nú-
eles. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)
cleos ligados diretamente ao verbo, estabele-
Ele está no interior de São Paulo. cendo uma relação de concordância com ele.
(está está no singular para concordar com ele;
Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são es-
no entanto, o conteúdo do verbo não expressa
pecialidades tipicamente brasileiras.
uma ação.)
2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora
Eles vivem no interior de São Paulo.
existindo, não é possível determiná-lo nem pelo
(vivem está no plural para concordar com eles;
contexto, nem pela terminação do verbo. Há três
no entanto, o conteúdo do verbo não expressa
maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de
uma ação.)
uma oração:
a) com verbo na terceira pessoa do plu-
Observação: as gramáticas normativas deter-
ral, sem que ele se refira a nenhum termo
minam o sujeito e o predicado como termos essenciais;
identificado anteriormente (nem em outra
no entanto, deve-se observar que o termo constante em
oração).
toda oração é o verbo.
Exemplos:
Exemplos: Proibiram a entrada de menores.
Choveu o dia todo. Estão transferindo as crianças de lugar.
(verbo que indica um fenômeno natural.)
b) com verbo na voz ativa e na terceira
Chorou. pessoa do singular seguido do prono-
(verbo que indica uma ação e permite a possível me se, pronome esse que atua como índi-
identificação do sujeito através da desinência.) ce de indeterminação do sujeito. Essa
construção ocorre com verbos que não apre-
sentam complemento direto (verbos intran-
Classificação do sujeito sitivos, transitivos indiretos e de ligação). O
verbo obrigatoriamente fica na terceira pes-
O sujeito das orações pode ser determinado ou inde-
soa do singular.
terminado.
1. Sujeito determinado é aquele que pode ser iden- Exemplos:
tificado com precisão a partir da concordância Vive-se melhor após o avanço da tecnolo-
verbal. Ele pode ser: gia. (verbo intransitivo)
65
Precisa-se de vendedores com prática. Exemplos:
(verbo transitivo indireto) Choviam canivetes quando eles brigavam.
(canivetes é o sujeito)
No dia da prova, sempre se fica nervoso.
Já amanheci cansado. (eu é o sujeito)
(verbo de ligação)
b) verbos ser, estar, fazer e haver, se usa-
c) com o verbo no infinitivo impessoal:
dos para indicar uma ideia de tempo
Exemplos:
ou fenômenos meteorológicos:
Era penoso estudar Direito e Economia, si-
Ser
multaneamente.
Exemplos:
É bom assistir a filmes antigos. É de noite. (período do dia)
Eram duas horas da manhã. (hora)
Importante: Se o verbo estiver na terceira
pessoa do plural e fizer referência a elementos explí- Observação: Ao indicar tempo, o verbo ser
citos em orações anteriores ou posteriores, o sujeito é varia de acordo com a expressão numérica que o acom-
determinado. panha.
Exemplos:
Exemplo: Ana e Gustavo foram a Miami. É uma hora.
Compraram muitas roupas. (Nesse caso, o São nove horas.
sujeito de compraram é Ana e Gustavo. Ocor-
re sujeito oculto na segunda oração). Ao indicar data, o verbo ser pode ficar no
singular, subentendendo-se à palavra dia, ou
3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo pode ficar no plural, concordando com o nú-
predicado e articulam-se a partir de um verbo mero de dias.
impessoal. Por isso se diz que o sujeito é ine- Exemplo: Hoje é, ou são, 15 de março. (data)
xistente. Observe a estrutura destas orações.
Estar
Exemplos: Exemplos:
Havia borboletas no jardim. Está tarde. (tempo)
Nevou muito este ano em Santa Catarina. Está muito quente. (temperatura)
68
CRÔNICAS
A crônica é um gênero que transita entre a literatura e o jornalismo. É conduzido a partir da observação subjetiva
de fatos cotidianos que são relatados ao leitor. Há, por parte do cronista, um desejo de oferecer não apenas um
relato de um acontecimento, mas uma reflexão/interpretação sobre o ocorrido. Nesse sentido, a crônica acaba por
revelar ao leitor elementos que estão por trás das aparências ou que não são percebidos pelo senso comum. Trata-
-se de um gênero marcadamente opinativo, em que a subjetividade do escritor vem à tona.
Contexto de circulação
As crônicas circulam habitualmente em sessões específicas de jornais e também em revistas. Tratam de temas va-
riados do cotidiano, mas também podem tratar de temas bem específicos se circularem em revistas especializadas
(por exemplo, uma revista cuja temática seja a beleza feminina, terá crônicas que tratem de temas femininos).
Posteriormente, muitas crônicas publicadas por grandes autores podem vir a ser reunidas em livros. Foi o
que aconteceu com escritores como Carlos Drummond de Andrade ou Rubem Braga, autores cujas crônicas, de
fortes marcas literárias, passaram do jornal ao livro.
Recepção da crônica
As crônicas são procuradas por um público variado, especialmente as jornalísticas. A menos que sejam crônicas
produzidas, como dito anteriormente, em publicações especializadas.
Estrutura da crônica
Embora não apresente estrutura completamente fixa, a crônica possui algumas marcas de condução textual que
são seguidas por boa parte dos autores. São elas:
Observação mais subjetiva a respeito de acontecimento cotidiano.
Evocação de experiências pessoais ou de pessoas muito próximas para circunstanciar sua opinião.
Há uma conclusão que, em certa medida, retoma os elementos centrais discutidos na crônica.
De maneira geral, a crônica costuma ser organizada por meio de um movimento reflexivo, que parte de uma
experiência particular, e que tem como objetivo alcançar significado mais amplo, que atinja um número maior de
pessoas e as faça refletir.
Linguagem da crônica
A linguagem da crônica é marcada por certo grau de informalidade, embora suas bases se construam dentro da
gramática normativa. Esse choque linguístico se dá justamente por conta de ser um tipo de publicação veiculada
em um jornal/revista (meio de comunicação em que, habitualmente, se usa a norma padrão), mas que é dotada de
fortes marcas subjetivas.
69
E.O. TESTE I preocupados com o uso excessivo da tecno-
logia no cotidiano de jovens e crianças. “Mi-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO nha preocupação é com o fato de os jovens
permanecerem o tempo todo conectados aos
Celular liberado smartphones. Considero que, 9dessa forma,
Em 2010, a pesquisadora em Tecnologias há o risco de os recursos de informática
da Informação e Comunicação na Educação se tornarem os ‘protagonistas’ do processo
Glaucia da Silva Brito e o mestrando em quando, na verdade, o foco deve ser sempre
Educação Marlon de Campos Mateus, ambos o recurso ‘humano’”, diz Beatriz.
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.
br. Acesso em: 24.09.2015. Adaptado.
realizaram uma pesquisa com professores
de um colégio estadual de Curitiba (PR). A 1. (G1-IFBA) Na referência 2, pode-se afirmar
pergunta era: é possível usar os aparelhos sobre a classificação morfossintática da pa-
celulares dos alunos com propósito peda- lavra “Tudo” que:
gógico em sala de aula? A maioria não via a) é um predicado nominal.
nenhuma utilidade nos aparelhos, e ainda b) é o sujeito simples da oração.
os considerava como um empecilho em suas c) compõe o predicado da oração.
aulas. Quatro anos depois, é crescente o nú- d) morfologicamente, pode ser classificada
mero de professores que veem os celulares como substantivo.
com outros olhos. E muitos os estão usando e) constitui o sujeito indeterminado, uma vez
como aliados. que é impossível determinar quem pratica a
No Colégio Vital Brazil, de São Paulo (SP), ação.
costuma-se dizer que a liberação do uso dos
smartphones e outros aparelhos eletrônicos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
em aula foi uma 1“necessidade”. A coorde-
Leia a letra de música abaixo e responda ao
nadora pedagógica do ensino médio, Maria
que se pede na(s) questão(ões) a seguir.
Helena Esteves da Conceição, conta que,
desde 2013, o uso dos aparelhos eletrônicos O Segundo Sol
passou a ser feito em laboratórios e aulas (Cássia Eller)
específicas, como artes e matemática. (...)
Os pesquisadores da UFPR sugerem ainda Quando o segundo sol chegar
outras possibilidades de uso pedagógico dos Para realinhar as órbitas dos planetas
smartphones: pesquisas em dicionários on- Derrubando com assombro exemplar
-line ou aplicativos, a câmera como recurso O que os astrônomos diriam
nas aulas de artes, as redes sociais com geo- Se tratar de um outro cometa
localização para as aulas de geografia. 2Tudo
depende do propósito pedagógico e da dis- Não digo que não me surpreendi
ponibilidade do professor. Antes que eu visse você disse
3
Mas será que esses aparelhos precisam ser E eu não pude acreditar
usados em sala de aula? Não 4haveria outros Mas você pode ter certeza
meios para chegar aos mesmos resultados de
De que seu telefone irá tocar
pesquisa? Para incorporar os smartphones
Em sua nova casa
nas classes, é preciso preparo dos professo-
Que abriga agora a trilha
res e planejamento para as aulas, acredita
Incluída nessa minha conversão
Vanderlei Cardoso, professor e assessor de
matemática do Colégio Vital Brasil.
Eu só queria te contar
Mãe do aluno 5David, do 9º ano do Colégio
Que eu fui lá fora
Bandeirantes, Beatriz Silva, 6aprova a utili-
E vi dois sóis num dia
zação dos aparelhos eletrônicos em aula, “já
E a vida que ardia sem explicação
que fazem parte do dia a dia dessa nova ge-
ração” e, segundo sua percepção, houve mu- Explicação, não tem explicação
danças no processo de aprendizagem de seu Explicação, não
filho. “Ele se tornou mais motivado para 7al- Não tem explicação
gumas atividades escolares específicas nas Explicação, não tem
8
quais usa os aparelhos e apresentou mais Não tem explicação
autonomia para fazer pesquisa na internet Explicação, não tem
e criatividade no uso de programas relacio- Explicação, não tem
nados às artes gráficas”, relata. Mas Beatriz Não tem
não esconde suas preocupações, que são as Disponível em: http://letras.mus.br/cassia-eller/12570/.
mesmas de muitos pais e pesquisadores, Acesso em: 19.09.2015.
70
2. (G1-IFBA) As quatro primeiras orações da até noturnos, parece estar aumentando.
segunda estrofe apresentam os sujeitos clas- A demanda por cursos técnicos que elevam
sificados, respectivamente, em: suas habilidades para o bom exercício da
a) oculto, oculto, oculto, oculto. profissão está em alta. É tratada como priori-
b) oculto, oculto, simples, simples. dade tanto no governo como em instituições
c) simples, simples, simples, simples. representativas das empresas. O mercado ob-
d) oculto, indeterminado, simples, simples. serva a carência de pessoal qualificado para
e) indeterminado, indeterminado, simples, elevar a eficiência do trabalho.
simples. Muitos reconhecem que o Brasil é um dos
países emergentes que estão melhorando,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a duras penas, a sua distribuição de renda.
Mas, para que este processo de melhoria do
Quando se pergunta à população brasileira, bem-estar da população seja sustentável, há
em uma pesquisa de opinião, qual seria o que se conseguir um aumento da produtivi-
problema fundamental do Brasil, a maioria
dade do trabalho, que permita, também, o
indica a precariedade da educação. Os en-
aumento da parcela da renda destinada à
trevistados costumam apontar que o sistema
poupança, que vai sustentar os investimen-
educacional brasileiro não é capaz de prepa-
tos indispensáveis.
rar os jovens para a compreensão de textos
simples, elaboração de cálculos aritméticos A população que deseja melhores serviços
de operações básicas, conhecimento elemen- das autoridades precisa ter a consciência de
tar de física e química, e outros fornecidos que uma boa educação, não necessariamente
pelas escolas fundamentais. formal, é fundamental para atender melhor
[...] as suas aspirações.
Certa vez, participava de uma reunião de (YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em
http://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemas-
pais e professores em uma escola privada da-educacao-no-brasil-657.html - Com adaptações)
brasileira de destaque e notei que muitos
pais expressavam o desejo de ter bons pro-
fessores, salas de aula com poucos alunos, 3. (G1 - col.naval 2015) Assinale a opção na
mas não se sentiam responsáveis para par- qual o termo oracional foi classificado corre-
ticiparem ativamente das atividades educa- tamente.
cionais, inclusive custeando os seus serviços. a) “[...] inclusive elegendo representantes que
Se os pais não conseguiam entender que esta partilhem desta convicção e não estejam
aritmética não fecha e que a sua aspiração pensando somente nos seus benefícios pes-
estaria no campo do milagre, parece difícil soais.” (5º §) (núcleo do predicado verbal)
que consigam transmitir aos seus filhos o b) “[...] e notei que muitos pais expressavam o
mínimo de educação. desejo de ter bons professores [...].” (2º §)
Para eles, a educação dos filhos não se ba-
(predicativo do sujeito)
seia no aprendizado dos exemplos dados pe-
c) “O mercado observa a carência de pessoal
los pais.
Que esta educação seja prioritária e ajude a qualificado para elevar a eficiência do traba-
resolver outros problemas de uma sociedade lho.” (7º §) (objeto indireto)
como a brasileira parece lógico. No entanto, d) “[...] mas não se sentiam responsáveis para
não se pode pensar que a sua deficiência de- participarem ativamente das atividades edu-
pende somente das autoridades. Ela começa cacionais, [...].” (2º §) (complemento nomi-
com os próprios pais, que não podem sim- nal)
plesmente terceirizar essa responsabilidade. e) “[...] parece difícil que consigam transmitir
Para que haja uma mudança neste quadro é aos filhos o mínimo de educação.” (2º §)
preciso que a sociedade como um todo esteja (objeto direto)
convencida de que todos precisam contribuir
para tanto, inclusive elegendo representan- 4. (Espcex (Aman) 2014) Assinale o sujeito do
tes que partilhem desta convicção e não es- verbo forjar, no período abaixo.
tejam pensando somente nos seus benefícios Chama atenção das pessoas atentas, cada vez
pessoais. mais, o quanto se forjam nos meios de comu-
Sobre a educação formal, aquela que pode nicação modelos de comportamento ao sabor
ser conseguida nos muitos cursos que estão
de modismos lançados pelas celebridades do
se tornando disponíveis no Brasil, nota-se
que muitos estão se convencendo de que eles momento.
ajudam na sua ascensão social, mesmo sendo a) meios de comunicação
precários. O número daqueles que trabalham b) modelos de comportamento
para obter o seu sustento e para ajudar a fa- c) modismos
mília, e ao mesmo tempo se dispões a fazer d) celebridades do momento
um sacrifício adicional frequentando cursos e) pessoas atentas
71
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO dar um conselho. Sou professor emérito da
Unicamp. O conselho é este: salvem-se en-
V – O samba quanto é tempo!”. Aí o sinal fica verde e eu
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuri- continuo.
dão um maciço de construções, ao qual às ve- “Mas que desmancha-prazeres você é!”, vo-
zes recortam no azul do céu os trêmulos vis- cês me dirão. É verdade. Desmancha-praze-
lumbres das labaredas fustigadas pelo vento. res. Prazeres inocentes baseados no engano.
(...) Porque aquela alegria toda se deve precisa-
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome mente a isto: eles estão enganados.
que tem um grande pátio cercado de senza- Estão alegres porque acreditam que a uni-
las, às vezes com alpendrada corrida em vol- versidade é a chave do mundo. Acabaram
ta, e um ou dois portões que o fecham como de chegar ao último patamar. As celebra-
praça d’armas. ções têm o mesmo sentido que os eventos
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo iniciáticos – nas culturas ditas primitivas,
chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dan- as provas a que têm de se submeter os jo-
çam os pretos o samba com um frenesi que vens que passaram pela puberdade. Passadas
toca o delírio. Não se descreve, nem se ima- as provas e os seus sofrimentos, os jovens
gina esse desesperado saracoteio, no qual deixaram de ser crianças. Agora são adultos,
todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, com todos os seus direitos e deveres. Podem
bamboleia, como se quisesse desgrudar-se. assentar-se na roda dos homens. Assim como
os nossos jovens agora podem dizer: “Deixei
Tudo salta, até os crioulinhos que esper-
o cursinho. Estou na universidade”.
neiam no cangote das mães, ou se enrolam
Houve um tempo em que as celebrações eram
nas saias das raparigas. Os mais taludos vi-
justas. Isso foi há muito tempo, quando eu
ram cambalhotas e pincham à guisa de sapos
era jovem. Naqueles tempos, um diploma
em roda do terreiro. Um desses corta jaca universitário era garantia de trabalho. Os
no espinhaço do pai, negro fornido, que não pais se davam como prontos para morrer
sabendo mais como desconjuntar-se, atirou quando uma destas coisas acontecia: 1) a fi-
consigo ao chão e começou de rabanar como lha se casava. Isso garantia o seu sustento
um peixe em seco. (...) pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
de normalista. Isso garantiria o seu sustento
caso não casasse; 3) o filho entrava para o
5. (Fuvest 2013) Na composição do texto, fo- Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma.
ram usados, reiteradamente, O diploma era mais que garantia de emprego.
I. sujeitos pospostos; Era um atestado de nobreza. Quem tirava di-
II. termos que intensificam a ideia de movi- ploma não precisava trabalhar com as mãos,
mento; como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros,
III.verbos no presente histórico. que tinham mãos rudes e sujas.
Está correto o que se indica em: Para provar para todo mundo que não traba-
lhavam com as mãos, os diplomados trata-
a) I, apenas.
vam de pôr no dedo um anel com pedra colo-
b) II, apenas.
rida. Havia pedras para todas as profissões:
c) III, apenas.
médicos, advogados, músicos, engenheiros.
d) I e II, apenas.
Até os bispos tinham suas pedras.
e) I, II e III. (Ah! Ia me esquecendo: os pais também se
davam como prontos para morrer quando o
6. (ITA) Texto 1 filho entrava para o seminário para ser pa-
Vou confessar um pecado: às vezes, faço mal- dre – aos 45 anos seria bispo – ou para o
dades. Mas não faço por mal. Faço o que fa- exército para ser oficial – aos 45 anos seria
ziam os mestres zen com seus “koans”. “Ko- general.)
ans” eram rasteiras que os mestres passavam Essa ilusão continua a morar na cabeça dos
no pensamento dos discípulos. Eles sabiam pais e é introduzida na cabeça dos filhos
que só se aprende o novo quando as certe- desde pequenos. Profissão honrosa é profis-
zas velhas caem. E acontece que eu gosto de são que tem diploma universitário. Profissão
passar rasteiras em certezas de jovens e de rendosa é a que tem diploma universitário.
velhos... Cria-se, então, a fantasia de que as únicas
Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os opções de profissão são aquelas oferecidas
jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e pelas universidades.
caras pintadas, na maior alegria, celebran- Quando se pergunta a um jovem “O que é
do o fato de haverem passado no vestibu- que você vai fazer?”, o sentido dessa per-
lar. Estão pedindo dinheiro para a festa! Eu gunta é “Quando você for preencher os for-
paro o carro, abro a janela e na maior serie- mulários do vestibular, qual das opções ofe-
dade digo: “Não vou dar dinheiro. Mas vou recidas você vai escolher?”. E as opções não
72
oferecidas? Haverá alternativas de trabalho sua primitiva condição.
que não se encontram nos formulários de Não parece absurdo relacionar a tal circuns-
vestibular? tância um traço constante de nossa vida so-
Como todos os pais querem que seus filhos cial: a posição suprema que nela detêm, de
entrem na universidade e (quase) todos os ordinário, certas qualidades de imaginação
jovens querem entrar na universidade, con- e “inteligência”, em prejuízo das manifesta-
figura-se um mercado imenso, mas imenso ções do espírito prático ou positivo. O pres-
mesmo, de pessoas desejosas de diplomas e tígio universal do “talento”, com o timbre
prontas a pagar o preço. Enquanto houver particular que recebe essa palavra nas regi-
jovens que não passam nos vestibulares das ões, sobretudo, onde deixou vinco mais forte
universidades do Estado, haverá mercado a lavoura colonial e escravocrata, como o são
para a criação de universidades particulares. eminentemente as do Nordeste do Brasil, pro-
É um bom negócio.
vém sem dúvida do maior decoro que parece
Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-
conferir a qualquer indivíduo o simples exer-
-se, então, a multidão de jovens com diplo-
cício da inteligência, em contraste com as ati-
ma na mão, mas que não conseguem arranjar
emprego. Por uma razão aritmética: o núme- vidades que requerem algum esforço físico.
ro de diplomados é muitas vezes maior que o O trabalho mental, que não suja as mãos e não
número de empregos. fatiga o corpo, pode constituir, com efeito,
Já sugeri que os jovens que entram na uni- ocupação em todos os sentidos digna de an-
versidade deveriam aprender, junto com o tigos senhores de escravos e dos seus herdei-
curso “nobre” que frequentam, um ofício: ros. Não significa forçosamente, neste caso,
marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardinei- amor ao pensamento especulativo, – a ver-
ro, técnico de computador, eletricista, enca- dade é que, embora presumindo o contrário,
nador, descupinizador, motorista de trator... dedicamos, de modo geral, pouca estima às
O rol de ofícios possíveis é imenso. Pena que, especulações intelectuais – mas amor à frase
nas escolas, as crianças e os jovens não se- sonora, ao verbo espontâneo e abundante, à
jam informados sobre essas alternativas, por erudição ostentosa, à expressão rara. E que
vezes mais felizes e mais rendosas. para bem corresponder ao papel que, mesmo
Tive um amigo professor que foi guindado, sem o saber, lhe conferimos, inteligência há
contra a sua vontade, à posição de reitor de de ser ornamento e prenda, não instrumento
um grande colégio americano no interior de de conhecimento e de ação.
Minas. Ele odiava essa posição porque era Numa sociedade como a nossa, em que cer-
obrigado a fazer discursos. E ele tremia de tas virtudes senhoriais ainda merecem largo
medo de fazer discursos. Um dia ele desapa- crédito, as qualidades do espírito substituem,
receu sem explicações. Voltou com a família não raro, os títulos honoríficos, e alguns
para o seu país, os Estados Unidos. Tempos dos seus distintivos materiais, como o anel
depois, encontrei um amigo comum e per- de grau e a carta de bacharel, podem equi-
guntei: “Como vai o Fulano?”. Respondeu- valer a autênticos brasões de nobreza. Aliás,
-me: “Felicíssimo. É motorista de um cami-
o exercício dessas qualidades que ocupam a
nhão gigantesco que cruza o país!”.
(Rubem Alves. Diploma não é solução,
inteligência sem ocupar os braços, tinha sido
Folha de S. Paulo, 25/05/2004.) expressamente considerado, já em outras
épocas, como pertinente aos homens nobres
Texto 2 e livres, de onde, segundo parece, o nome de
liberais dado a determinadas artes, em opo-
Com o declínio da velha lavoura e a quase sição às mecânicas que pertencem às classes
concomitante ascensão dos centros urbanos, servis.
precipitada grandemente pela vinda, em (Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. Rio
1808, da Corte Portuguesa e depois pela In- de Janeiro: José Olympio, 1984, p. 50-51)
dependência, os senhorios rurais principiam
a perder muito de sua posição privilegiada e Assinale a opção que expressa o que há de
singular. Outras ocupações reclamam agora comum nos Textos 1 e 2.
igual eminência, ocupações nitidamente cita- a) Os equívocos nas escolhas profissionais dos
dinas, como a atividade política, a burocracia, jovens.
as profissões liberais. b) A absorção de profissionais de trabalho inte-
É bem compreensível que semelhantes ocu-
lectual pelo mercado.
pações venham a caber, em primeiro lugar, à
gente principal do país, toda ela constituída c) O crescimento dos centros urbanos e das pro-
de lavradores e donos de engenhos. E que, fissões que lhes são típicas.
transportada de súbito para as cidades, essa d) A valorização do trabalho intelectual em de-
gente carregue consigo a mentalidade, os pre- trimento do trabalho manual.
conceitos e, tanto quanto possível, o teor de e) A formação histórico-social da distinção en-
vida que tinham sido atributos específicos de tre o trabalho intelectual e manual.
73
7. (G1-Utfpr) Antigamente as moças chama- mas não divulgamos, temos pudor de nos
vam-se “mademoiselles” e eram todas mi- exibir, de mostrar ao país o que somos”.
mosas e muito prendadas. Não faziam anos: Ele acredita que de fora se tem uma visão re-
completavam primaveras, em geral dezoito. gionalista limitada à memória e à questão do
Os janotas, mesmo não sendo rapagões, fa- patrimônio histórico, à longa tradição de pe-
ziam-lhe pé de alferes, arrastando a asa, mas dra e cal da cultura mineira. Sem descuidar
ficavam longos meses debaixo do balaio. E se desse acervo (só de barroco estão ali 65% do
levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo patrimônio nacional), o desafio dos gover-
da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) nantes mineiros é mostrar sem reserva o que
Os mais idosos, depois da janta, faziam o Minas tem de mais moderno, cosmopolita e
quilo, saindo para tomar a fresca; e também contemporâneo.
tomavam cautela de não apanhar o sereno. Mas acho que não será fácil assim. A não ser
Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, meu amigo Ziraldo, que adora se mostrar,
chupando balas de alteia. Ou sonhavam em tendo aliás razão para isso, que outro mi-
andar de aeroplano. Estes, de pouco siso, se neiro vocês imaginam chamando a atenção
metiam em camisa de onze varas e até em para o que está fazendo? Num artigo famoso,
calças pardas; não admira que dessem com Guimarães Rosa listou 66 adjetivos com os
os burros n’água. quais são caracterizados seus conterrâneos.
Carlos Drummond de Andrade Eles vão de “acanhado, afável, desconfiado”
Sobre o excerto acima, retirado da crônica até “sonso, sóbrio, taciturno, tímido”, pas-
“Antigamente”, assinale a alternativa cor- sando por “precavido, pão-duro, perspicaz,
reta. quieto, irônico, meditativo”.
a) A linguagem culta formal é opção feita pelo Fernando Sabino, que conhece a alma minei-
autor, mas acaba sendo prejudicada pelos ar- ra como a dele próprio, tem várias histórias
caísmos, que tornam o texto obsoleto. para ilustrar como seus conterrâneos ficam
b) A linguagem do texto apoia-se em uma va- sempre na moita. Mineiro não gosta de reve-
riante linguística que demonstra o movi- lar nem a identidade.
mento de mudanças constantes que as lín- — Qual é o seu nome todo? — pergunta o
guas sofrem, através do tempo. carioca.
c) Por empregar expressões em desuso, existen- — Diz a parte que você sabe — desconversa
tes apenas nos dicionários, o texto desperta o mineiro.
interesse apenas dos mais idosos. Nessa aqui o escritor conta o diálogo com um
d) Contém erros grosseiros, como o uso de pa- motorista mineiro em Nova York:
lavra estrangeira, expressões incompreensí- — Ah, você também é de Minas?
veis como “pé de alferes”, “faziam o quilo”, — Sou sim sinhô.
“de pouco siso” etc. — De onde?
e) O saudosismo do autor confere ao texto um — De Minas mesmo.
tom muito triste, nostálgico. Se consegue esconder até de onde é, imagina
quando lhe pedem uma opinião política.
8. (UEMG) Texto I — Que tal o prefeito daqui?
— O prefeito? É tal qual eles falam dele.
As últimas do mineiro — Que é que falam dele?
Zuenir Ventura — Dele? Uai, esse trem todo que falam de
tudo que é prefeito.
Talvez porque numa das vezes em que al- Há quem alegue que o que se diz em forma
guém bateu com a língua nos dentes um
de anedota está longe de ser a verdade sobre
pescoço foi parar na forca, Minas trabalha
Minas, são apenas versões. Então me lembro
em silêncio, como se diz. Pode não ser verda-
do dia em que alguém reclamou de José Ma-
de, mas é a versão, que acaba prejudicando
ria Alkmim: “Criei a frase ‘o que importa é
mais do que favorecendo a imagem de um
a versão, não o fato’, e todo mundo atribui
estado que, além das riquezas naturais e de
ela a você. Ao que ele respondeu: “Isso só
uma poderosa tradição política, tem o maior
confirma a frase.”
patrimônio histórico-cultural do país. Numa
Portanto, imprima-se a versão.
época de predomínio do marketing, em que
o importante é mostrar mais do que fazer, Texto II
ficar calado no seu canto pode não ser um Os princípios da conversa
bom negócio. José Luiz Fiorin
Como afirma um amigo de Belo Horizonte,
“temos os melhores grupos de dança do país, As condições gerais de linguagem que permi-
cantores e compositores excelentes, artistas tem fazer inferências na troca verbal
plásticos e grupos teatrais de alta qualidade, Uma anedota conhecida conta que um agente
74
alfandegário pergunta a um passageiro que MÁXIMAS CONVERSACIONAIS
desembarcara de um voo internacional e Máximas da quantidade
passava pela aduana: a) Que sua contribuição contenha o tanto de
– Licor, conhaque, grapa...? informação exigida;
O passageiro responde: b) Que sua contribuição não contenha mais
– Para mim, só um cafezinho. informação do que é exigido.
A graça da piada reside no fato de que o pas- Máximas da qualidade (da verdade)
sageiro fez, propositadamente ou não, uma a) Que sua contribuição seja verídica;
inferência errada nessa situação de comu- b) Não diga o que pensa que é falso;
c) Não afirme coisa de que não tem provas.
nicação. Inferiu que o fiscal aduaneiro lhe
Máxima da relação (da pertinência)
oferecia um digestivo, como no final de uma
Fale o que é concernente ao assunto tratado
refeição num restaurante, quando, na rea-
(seja pertinente).
lidade, a inferência correta é se ele trazia
Máximas de maneira
alguma bebida alcoólica na bagagem. Ele Seja claro.
violou o princípio de pertinência que rege o a) Evite exprimir-se de modo obscuro;
uso da linguagem. b) Evite ser ambíguo;
Chama-se inferência pragmática aquela que c) Seja breve (evite a prolixidade inútil);
resulta do uso dos princípios que governam d) Fale de maneira ordenada.
a utilização da linguagem na troca verbal. http://revistalingua.com.br/textos/100/
Paul Grice (1975) postula que um princípio artigo304577-1.asp. (Adaptado).
de cooperação preside à comunicação. Ele
Em conformidade com a explicação dada
enuncia-se assim: sua contribuição à comu-
pelo texto II, é correto afirmar que os diá-
nicação deve, no momento em que ocorre,
logos citados no texto I contêm exemplos de
estar de acordo com o objetivo e a direção
desobediência à máxima da:
em que você está engajado. a) qualidade, pelo fato de que o mineiro, com
Categorias medo de se expor, apresenta informações
Esse princípio é explicitado por quatro cate- falsas em suas respostas.
gorias gerais – a da quantidade das informa- b) pertinência, haja vista que o mineiro muda
ções dadas, a de sua verdade, a de sua perti- de assunto quando indagado a respeito de
nência e a da maneira como são formuladas, temas notadamente polêmicos.
que constituem as máximas conversacionais. c) quantidade, uma vez que o mineiro, ao dar
(...) respostas, não fornece detalhes suficientes
Não são regras que satisfaçam às perguntas.
Pode-se infringir uma máxima para não d) maneira, em razão de o mineiro atribuir du-
transgredir outra, cujo respeito é considera- plo sentido às perguntas, de sorte que suas
do mais importante. respostas não condigam com as perguntas.
No exemplo que segue, a resposta do inter-
locutor viola a máxima da quantidade para TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
não desobedecer à da qualidade:
– Onde João trabalha? Ele saiu daquela fir- A PRESSA DE ACABAR
ma?
Evidentemente nós sofremos agora em todo
– No Rio de Janeiro. o mundo de uma dolorosa moléstia: a pres-
Com efeito, quem pergunta quer de fato sa de acabar. Os nossos avós nunca tinham
saber é a firma onde João presta serviços. pressa. Ao contrário. Adiar, aumentar, era
A resposta mais vaga permite inferir que o para eles a suprema delícia. Como os reló-
interlocutor não sabe exatamente onde João gios, nesses tempos remotos, não eram ma-
trabalha. ravilhas de precisão, os 1homens mediam os
Pode-se explorar a infringência de uma má- dias com todo o cuidado da atenção.
xima com vistas a criar um dado efeito de Sim! Em tudo, 2essa estranha pressa de aca-
sentido. Por exemplo, a ironia é a exploração bar se ostenta como a marca do século. Não
de uma transgressão da máxima da qualida- há mais livros definitivos, quadros destina-
de. O que o texto irônico está dizendo não é dos a não morrer, ideias imortais. Trabalha-
verdade. Deve-se entendê-lo pelo avesso. No -se muito mais, pensa-se muito mais, ama-
exemplo que segue, “modesto” quer dizer o -se mesmo muito mais, apenas sem fazer a
oposto: digestão e sem ter tempo de a fazer.
“‘Tenho uma voz conhecida, então não é qualquer narrador, Antigamente as horas eram entidades que os
é o Falabella contando a história’, diz o modesto autor- homens conheciam imperfeitamente. Calcu-
locutor” (+ Miguel Falabella) (Veja, 11/1/2012, p. 109) lar a passagem das horas era tão complicado
75
como calcular a passagem dos dias. 3Inven- 10. (UERJ) O homem cinematográfico resolveu
tavam-se relógios de todos os moldes e for- a suprema insanidade: encher o tempo, ato-
mas. petar o tempo, abarrotar o tempo, paralisar
4
Hoje, nós somos escravos das horas, dessas o tempo para chegar antes dele. (ref. 7)
senhoras inexoráveis* que não cedem nun- De acordo com a leitura global do texto, o
ca e cortam o dia da gente numa triste mi- autor caracteriza a tentativa de controlar o
galharia de minutos e segundos. Cada hora tempo como “suprema insanidade”, porque
é para nós distinta, pessoal, característica, se trata de uma tarefa que não está ao alcan-
porque cada hora representa para nós o acú- ce do homem.
mulo de várias coisas que nós temos pressa O trecho que melhor expõe a insanidade des-
de acabar. O relógio era um objeto de luxo. sa tentativa é:
a) homens mediam os dias com todo o cuidado
Hoje até os mendigos usam um marcador de
da atenção. (ref. 1)
horas, porque têm pressa, pressa de acabar.
b) Inventavam-se relógios de todos os moldes e
O homem mesmo será classificado, afirmo eu
formas. (ref. 3)
já com pressa, como o Homus cinematogra-
c) O homem de agora é como a multidão: ativo
phicus. 5Nós somos uma delirante sucessão e imediato. (ref. 6)
de fitas cinematográficas. Em meia hora de d) sua, labuta, desespera com os olhos fitos
sessão tem-se um espetáculo multiforme e nesse hipotético poste (ref. 8)
assustador cujo título geral é: Precisamos
acabar depressa.
6
O homem de agora é como a multidão: ati-
vo e imediato. Não pensa, faz; não pergunta,
E.O. TESTE II
obra; não reflete, julga.
7
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O homem cinematográfico resolveu a supre-
ma insanidade: encher o tempo, atopetar o A questão a seguir refere-se ao fragmento de
tempo, abarrotar o tempo, paralisar o tempo Capitães da Areia reproduzido abaixo.
para chegar antes dele. Todos os dias (dias
em que ele não vê a beleza do sol ou do céu e O TRAPICHE
a doçura das árvores porque não tem tempo, SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDO-
diariamente, nesse número de horas reta- NADO, as crianças dormem.
lhadas em minutos e segundos que uma po- Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e
pulação de relógios marca, registra e desfia), negras pedras dos alicerces do trapiche as
o pobre diabo 8sua, labuta, desespera com os ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vi-
olhos fitos nesse hipotético poste de chega- nham se bater mansamente. A água passava
da que é a miragem da ilusão. por baixo da ponte sob a qual muitas crian-
Uns acabam pensando que encheram o tem- ças repousam agora, iluminadas por uma
po, que o mataram de vez. Outros desespe- réstia amarela de lua. Desta ponte saíram
rados vão para o hospício ou para os cemité- inúmeros veleiros carregados, alguns eram
rios. A corrida continua. E o Tempo também, enormes e pintados de estranhas cores, para
o Tempo insensível e incomensurável, o a aventura das travessias marítimas. Aqui
Tempo infinito para o qual todo o esforço é vinham encher os porões e atracavam nesta
inútil, o Tempo que não acaba nunca! É sata- ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente
nicamente doloroso. Mas que fazer? diante do trapiche se estendia o mistério do
RIO, João do. Adaptado de Cinematógrafo: mar oceano, as noites diante dele eram de
crônicas cariocas. Rio de Janeiro: ABL, 2009. um verde escuro, quase negras, daquela cor
misteriosa que é a cor do mar à noite.
* inexoráveis − que não cedem, implacáveis Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É
que na sua frente se estende agora o areal
do cais do porto. Por baixo da ponte não há
9. (UERJ) Nós somos uma delirante sucessão mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo,
de fitas cinematográficas. (ref. 5) fez o mar recuar de muitos metros. Aos pou-
Ao comparar os seres humanos com filmes, o cos, lentamente, a areia foi conquistando a
autor estabelece uma crítica. frente do trapiche. Não mais atracaram na
No contexto, essa crítica pode ser sintetiza- sua ponte os veleiros que iam partir carre-
da pelo seguinte termo: gados. Não mais trabalharam ali os negros
a) insubordinação das hierarquias musculosos que vieram da escravatura. Não
b) coisificação das pessoas mais cantou na velha ponte uma canção um
c) arrogância desmedida marinheiro nostálgico. A areia se estendeu
d) intolerância moral muito alva em frente ao trapiche. E nunca
76
mais encheram de fardos, de sacos, de cai- e) O substantivo “telegrama”, no último ver-
xões, o imenso casarão. Ficou abandonado so do poema, é um adjunto adnominal de
em meio ao areal, mancha negra na brancu- “bola”.
ra do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Companhia das Letras, 2009. p. 25.
QUEM É O CRIMINOSO?
1. (UFRN) Para fazer uma leitura proficiente
do fragmento, é necessário que o leitor, en- “Outro dia, durante uma conversa despre-
tre outros procedimentos, recupere as rela- tensiosa, um dos líderes da Central Única
ções sintático-semânticas ali estabelecidas. de Favela (Cufa), entidade surgida no Rio
Assim, os sujeitos dos quatro últimos perío- de Janeiro para representar os favelados do
dos do fragmento, considerando-se a ordem país, descrevia uma cena que presenciou du-
de ocorrência, são: rante anos a fio em sua vida: ‘É o bacana da
a) “um marinheiro nostálgico”, “a areia”, “os Zona Sul estacionar seu Mitsubishi no pé do
negros musculosos” e “o imenso casarão”.
morro e comprar cocaína de um garotinho de
b) “uma canção”, “a areia”, “os negros muscu-
12 anos’. Em seguida, fez uma pergunta per-
losos” e “um marinheiro nostálgico”.
turbadora: ‘Quem é o criminoso? O bacana
c) “um marinheiro nostálgico”, “a areia”, “o
da Zona Sul ou o garoto de 12 anos?’. E deu
imenso casarão”, “o imenso casarão”.
a resposta: ‘Para vocês, o garoto de 12 anos
d) “uma canção”, “a areia”, “o imenso casarão”
tem de ser preso porque ele é um traficante
e “um marinheiro nostálgico”.
de drogas. Para nós, tem de prender o bacana
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO da Zona Sul porque ele está aliciando meno-
res para o crime’. Não resta dúvida de que a
De um jogador brasileiro a um técnico es- situação retrata um dilema poderoso: de um
panhol lado, tem-se uma vítima do vício induzida
João Cabral de Melo Neto ao crime de comprar drogas e, de outro, tem-
Não é a bola alguma carta -se uma vítima da pobreza e da desigualdade
que se leva de casa em casa: 5induzida ao crime de vendê-las. Na ceguei-
ra legal em que vivemos, a solução é simples:
é antes telegrama que vai prendem-se vendedor e comprador.
de onde o atiram ao onde cai. (...)
Começa agora a surgir uma alternativa mais
Parado, o brasileiro a faz
realista com a intenção do governo federal de
ir onde há-de, sem leva e traz;
implantar a chamada 1’política de redução
com aritméticas de circo de danos’. Ou seja: em vez de punir os 3usu-
ele a faz ir onde é preciso; ários, tratando-os como criminosos, passa-se
a encará-los como doentes e atendê-los de
em telegrama, que é sem tempo
modo a reduzir os riscos a que estão 4expos-
ele a faz ir ao mais extremo.
tos - como a overdose, aids, hepatite e outras
doenças. É mais realista porque 6a repressão
Não corre: ele sabe que a bola,
do uso de drogas é uma política bem-inten-
Telegrama, mais que corre voa.
cionada, na qual se pretende a purificação
(Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/
futebol.html#jogador> Acesso em: 12 out. 2011.) pela via da punição, mas que tem se mostra-
do sistematicamente falha. A ideia brasileira
2. (G1-IFPE) Quanto aos aspectos morfossintá- - já em uso em outros países, e não apenas
ticos do texto, assinale a alternativa correta. na Holanda - é um pedaço de bom senso e
a) O sujeito das duas primeiras estrofes é inde- humildade. 2Encarar um viciado como doen-
terminado, como se verifica pelos verbos “se te é um enfoque justo e generoso.”
leva” e “atiram”. André Petry. Revista VEJA, 24 de novembro de 2004, p. 50.
b) O predicado em “Não é a bola alguma car-
ta” e “é antes telegrama...” é verbal, pois os 3. (G1-Cftce) “... a repressão do uso de drogas
verbos indicam o estado da bola. é uma política bem-intencionada” (ref. 6) -
c) O sujeito simples “brasileiro” da terceira es- verifica-se que o predicado é:
trofe é retomado nas demais estrofes pelo a) verba.l
pronome “ele”. b) nominal.
d) O predicado da oração “Ele a faz ir”, na quar- c) verbo-nominal.
ta e quinta estrofes, é verbo-nominal, pois d) nominal, porque o verbo é intransitivo.
indica ação e descreve a bola. e) verbal, porque o verbo é de ligação.
77
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ataque terrorista. Olha aí no que dá defen-
der minoria...
CONSIDERAÇÃO DO POEMA A esquerda francesa defende minorias.
(Fragmento) Membros de uma minoria são suspeitos pelo
Não rimarei a palavra sono ataque terrorista. A esquerda francesa é cul-
com a incorrespondente palavra outono. pada pelo ataque terrorista.
Rimarei com a palavra carne A extrema direita francesa demoniza os
ou qualquer outra, que TODAS ME convêm. imigrantes. O ataque terrorista fortalece a
As palavras não nascem amarradas, extrema direita francesa. A extrema direita
ELAS saltam, se beijam, se dissolvem, francesa está por trás do ataque terrorista.
no céu livre por vezes um desenho, Marine Le Pen é a líder da extrema direita
são PURAS, largas, autênticas, indevassáveis. francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomar-
mos o artigo em francês e o substantivo em
4. (FEI) Observe o verso: inglês. Eis aí uma demonstração de apoio
“As palavras não nascem amarradas” da extrema direita francesa à liberdade de
Assinale a alternativa em que o sujeito e o expressão – e aos erros de concordância no-
predicado da oração estejam corretamente minal.
analisados: Numa democracia, é desejável que as pessoas
a) sujeito composto e predicado nominal sejam livres para se expressar. Algumas des-
b) sujeito simples e predicado verbo-nominal sas expressões podem ofender indivíduos ou
c) sujeito composto e predicado verbal grupos. Numa democracia, é desejável que
d) sujeito simples e predicado nominal indivíduos ou grupos sejam ofendidos.
e) sujeito simples e predicado verbal Os terroristas que atacaram o jornal Charlie
Hebdo usavam gorros pretos. “Black blocs”
5. (G1 1996) A alternativa que classifica incor- usam gorros pretos. “Black blocs” são terro-
retamente o predicado é: ristas.
a) Os meninos pequenos brincavam no quintal. 1
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é ver-
(predicado verbal) de. O Incrível Hulk é um abacate.
b) Os pássaros são aves frágeis. (predicado no- Antonio Prata
minal) Adaptado de Folha de São Paulo, 11/01/2015.
c) Os pássaros saíram apressados da gaiola.
(predicado verbal) 6. (UERJ) Considere o último parágrafo do tex-
d) Cedo, os meninos já queriam as bicicletas. to.
(predicado verbal) Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde.
e) O ladrão fugiu apavorado. (predicado verbo- O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1)
-nominal) Todo argumento pode se tornar um sofisma:
um raciocínio errado ou inadequado que nos
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES leva a conclusões falsas ou improcedentes. O
último parágrafo do texto é um exemplo de
TERRORISMO LÓGICO sofisma, considerando que, da constatação
de que todo abacate é verde, não se pode de-
O TERRORISMO É DUPLAMENTE OBSCURAN- duzir que só os abacates têm cor verde.
TISTA: PRIMEIRO NO ATENTADO, DEPOIS NAS Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte
REAÇÕES QUE DESENCADEIA. procedimento:
Said e Chérif Kouachi eram descendentes de a) enumeração incorreta
imigrantes. Said e Chérif Kouachi são sus- b) generalização indevida
peitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, c) representação imprecisa
na França. Se não houvesse imigrantes na d) exemplificação inconsistente
França, não teria havido ataque ao Charlie
Hebdo. 7. (UERJ) O terrorismo é duplamente obscu-
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque rantista: primeiro no atentado, depois nas
ao jornal Charlie Hebdo, eram filhos de arge- reações que desencadeia.
linos. Zinedine Zidane é filho de argelinos. O subtítulo do texto sugere uma explicação
Zinedine Zidane é terrorista. para o título.
Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Essa explicação é melhor compreendida pela
Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jor- associação entre:
nal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. a) tiros e opiniões.
Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol. b) armas e negociações.
Muçulmanos são uma minoria na França. c) convicções e mentiras.
Membros de uma minoria são suspeitos do d) crenças e esclarecimentos.
78
8. (UERJ) Considere o último parágrafo do tex- Ela não quer sair de casa. Não é teimosia, é
to. falta de opção. 2“Para onde ir?”, pergunta,
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. com uma voz desesperançosa. Está tão con-
O Incrível Hulk é um abacate. (ref. 1) fusa que não consegue imaginar saídas.
Este parágrafo indica como o leitor deve ler Nem a piedade de enterrar os mortos o go-
todos os anteriores. verno permite. Cadáveres estão espalhados
Segundo essa indicação, os argumentos pelas ruas. As forças de Assad 3impediram de
apresentados pelo cronista devem ser com- sepultar ou mesmo remover os restos mor-
preendidos como:
tais. Ou seja, mesmo viva, ela não tem como
a) críticas irônicas
fugir da morte escancarada diante de seus
b) exercícios formais
olhos. Não é fácil acreditar na vida, quando
c) raciocínios aceitáveis
a realidade grita o contrário.
d) recriações linguísticas
Se não podem sepultar os mortos, os sobre-
viventes tentam ao menos ajudar a curar as
9. (UERJ) Antonio Prata, ao comentar o ataque
ao jornal Charlie Hebdo, construiu uma série feridas dos machucados. Não podem levá-los
de variações do argumento típico do méto- aos hospitais da cidade, já que há um medo
do dedutivo, conhecido como “silogismo” e generalizado de que o governo prenda os fe-
normalmente organizado na forma de três ridos como se fossem prisioneiros de guerra.
sentenças em sequência. Resta improvisar atendimento nos campos.
A organização do silogismo sintetiza a es- Não bastasse a precariedade do atendimen-
trutura do próprio método dedutivo, que se to, não há medicamentos suficientes.
encontra melhor apresentada em: Rebeca, de 32 anos, é trabalhadora autôno-
a) premissa geral – premissa particular – con- ma. Ou melhor, 4era. Agora já não sabe mais
clusão o que é e o que faz em sua cidade Damasco,
b) premissa particular – premissa geral – con- capital da Síria.
clusão Crônica parafraseada do depoimento de uma
c) premissa geral – segunda premissa geral – moradora da capital da Síria (identificada
conclusão particular apenas pela letra “R”) ao jornal Folha de
d) premissa particular – segunda premissa par- São Paulo, de quarta-feira, dia 25. A Síria
ticular – conclusão geral está em revolta há 16 meses contra a dita-
dura de Bashar al-Assad. Nos últimos dias, o
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
confronto contra os rebeldes se acirrou e as
Crônica parafraseada de uma Síria em guerra mortes aumentaram.
Disponível em: <http://ultimato.com.br/sites/
Ela abre os olhos. Não fosse o cheiro horrível
fatosecorrelatos/2012/07/26/cronica-parafraseada-
de morte, o silêncio seria até agradável, mas
de-uma-siria-em-guerra/> Acesso em: 14 set. 2015.
o olfato a lembra que não há paz 1– nem pes-
soas, vizinhos, crianças. A trégua na manhã- 10. (G1-Ifsul) Sobre o texto, são feitas as se-
zinha não traz esperança. Tão somente lhe guintes afirmações:
permite descansar o corpo, mas não a mente. I. A narradora, um dia após um bombardeio
As lembranças da noite anterior ainda pro-
na cidade de Damasco, conta um episódio
duzem sobressaltos. Bombas, casas caindo e
trágico por ela vivido.
soldados gritando.
II. O texto descreve o drama de uma refu-
Levanta-se, bebe o pouco da água que restou
giada síria, em Damasco, que se depara
do copo ao lado da cama. Já não é tão lim-
pa, nem farta como antes. Sempre um gosto cotidianamente com a morte.
amargo misturado com H2O. III.A crônica foi inspirada em um caso ve-
Abre a geladeira, e só encontra comida enla- rídico relatado por uma sobrevivente da
tada e congelada. E mesmo não tão congela- guerra na Síria.
da assim, já que os cortes diários de eletrici- IV. A narradora, intitulada Rebeca, vive uma
dade derretem as camadas de gelo. situação dramática: a guerra na Síria.
Os sobrinhos ainda dormem, e ela tenta orar. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
Não consegue. A mente desconcentra-se fa- a) I, II, III e IV.
cilmente. Em uma prece fragmentada, pede b) I e IV apenas.
a Deus descanso e trégua. E faz a oração sem c) III apenas.
pensar muito. Não precisa; é a mesma oração d) II, III e IV apenas.
das últimas semanas.
79
E.O. TESTE III incluem seu sucesso econômico e a valori-
zação que ele confere ao currículo. “A gente
sabe que não vai ficar 40 anos em um mesmo
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO lugar, por isso já se prepara para coisas no-
vas”, diz Mosaner.
Os ideais da nossa Geração Y 7
Apesar de mais pragmáticos, os universitá-
5 rios brasileiros, assim como os americanos e
Uma pesquisa inédita mostra como pensam
europeus, 8consideram como objetivo máxi-
os jovens que estão entrando no mercado de
mo equilibrar trabalho e vida pessoal. 6Quem
trabalho. Eles são bem menos idealistas que
pensa em americanos como viciados em tra-
os americanos.
balho e em europeus como cultivadores dos
Daniella Cornachione
prazeres da vida talvez precise reavaliar as
1
Quando o jornalista Otto Lara Resende, dian- crenças diante da geração que está saindo da
te das câmeras de TV, pediu ao dramaturgo faculdade: o bom balanço entre trabalho e
Nelson Rodrigues que desse um conselho aos vida pessoal é a meta número um de 49%
jovens telespectadores, a resposta foi con- dos brasileiros, 52% dos europeus e... 65%
tundente: “Envelheçam!”. A recomendação dos americanos.
foi dada no programa de entrevistas Painel, (ÉPOCA, 21 de junho de 2010)
exibido pela Rede Globo em 1977. Pelo me- 1. (Epcar (Afa) 2011) Assinale a alternativa
nos no quesito trabalho, os brasileiros perto em que a relação foi estabelecida correta-
dos 20 anos de idade parecem dispensar o mente.
conselho. 9Apesar de começarem a procurar a) Em “O trabalho precisa ser desafiador”, o
emprego num momento de otimismo econô- substantivo “trabalho” é sujeito da oração,
mico, quase eufórico, os jovens brasileiros e o adjetivo “desafiador”, sua atribuição.
têm expectativas de carreira bem menos ide- b) Nas palavras desenvolvimento, possibilida-
alistas que os americanos e europeus — e de, e improvável, os encontros destacados
olha que por lá eles estão enfrentando uma são denominados dígrafos.
crise brava. É o que revela uma pesquisa da c) Nos vocábulos valorização, treinamento e
consultoria americana Universum, feita em dia foram destacados os ditongos.
25 países. (...). No estudo, chamado Empre- d) A locução “de acordo com”, ref.11, introduz
gador ideal, universitários expressam seus uma ideia comparativa.
desejos em relação às empresas, em diver-
sos quesitos. O Brasil é o primeiro país sul- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
-americano a participar -- foram entrevista-
dos mais de 11 mil universitários no país de Nos últimos três anos foram assassinadas
fevereiro a abril. mais de 140 mil pessoas no Brasil. Uma mé-
11
De acordo com o estudo, 4dois em cada três dia de 47 mil pessoas por ano. Uma parcela
universitários brasileiros acham que o em- expressiva destas mortes, que varia de re-
pregador ideal oferece, em primeiro lugar, gião para região, é atribuída à ação da po-
treinamento e desenvolvimento — quer di- lícia, que se respalda na impunidade para
zer, a possibilidade de virar um profissional continuar cometendo seus crimes. São 25 as-
melhor. A mesma característica é valoriza- sassinatos ao ano por cada 100 mil pessoas,
da só por 38% dos americanos, que colocam índice considerado de violência epidêmica,
no topo das prioridades, neste momento, segundo organismos internacionais.
a estabilidade no emprego. 3Os brasileiros Se os assassinatos com armas de fogo são
apontaram como segundo maior objetivo a uma face da violência vivida na nossa socie-
possibilidade de empreender, criar ou ino- dade, ela não é a única. Logo atrás, em ter-
var, numa disposição para o risco que parece mos de letalidade, estão os acidentes fatais
estar diminuindo nos Estados Unidos. de trânsito, com cerca de 33 mil mortos em
O paulista Guilherme Mosaner, analista de 2002 e 35 mil mortes por ano em 2004 e
negócios de 25 anos, representa bem as pre- 2005. Isto, sem falar nos acidentados não fa-
ocupações brasileiras. “O trabalho precisa tais socorridos pelo Sistema Único de Saúde,
ser desafiador. Tenho de aprender algo todo que multiplicam muitas vezes os números
dia.” 10Mosaner trabalha há um ano e meio aqui apresentados e representam um custo
em uma empresa de administração de patri- que o IPEA estima em R$ 5,3 bilhões para o
mônio, mas acha improvável construir a car- ano de 2002.
reira numa mesmacompanhia, assim como A lista da violência alonga-se incrivelmen-
metade dos estudantes brasileiros entrevis- te. Sobre as mulheres, os negros, os índios,
tados pela Universum. 2Entre as boas quali- os gays, sobre os mendigos na rua, sobre os
dades de um empregador, os universitários movimentos sociais etc. Uma discussão num
80
botequim de periferia pode terminar em b) Apenas as afirmações II, III e IV são verda-
morte. A privação do emprego, do salário deiras.
digno, da educação, da saúde, do transporte c) Apenas as afirmações I, II, IV e V são verda-
público, da moradia, da segurança alimentar, deiras.
tudo isso pode ser compreendido, conside- d) Apenas as afirmações I, III e V são verdadeiras.
rando que incide sobre direitos assegurados e) Todas as afirmações são verdadeiras.
por nossa Constituição, como tantas outras
formas de violência.
(Silvio Caccia Bava. Le Monde Diplomatique TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Brasil, agosto 2010. Adaptado.)
Nasce um escritor
2. (Unifesp 2011) No período Uma parcela ex- O primeiro dever passado pelo novo profes-
pressiva destas mortes, que varia de região sor de português foi uma 7descrição tendo o
para região, é atribuída à ação da polícia, mar como tema. A classe inspirou, toda ela,
que se respalda na impunidade para continu- nos encapelados mares de Camões, aqueles
ar cometendo seus crimes, as palavras subli- nunca dantes navegados. O 5episódio do Ada-
nhadas referem-se, respectivamente, mastor foi reescrito pela 2meninada. Prisio-
a) à palavra parcela e tem a função de sujeito;
neiro no internato, eu vivia na saudade das
à palavra polícia e tem a função de sujeito. 4
praias do Pontal onde conhecera a liberdade
b) à palavra mortes e tem a função de sujeito;
e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema de
à palavra polícia e tem a função de sujeito.
minha descrição.
c) à palavra parcela e tem a função de objeto;
Padre Cabral levara os deveres para corrigir
à palavra polícia e tem a função de objeto.
d) à palavra parcela e tem a função de objeto; em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho
à palavra ação e tem a função de sujeito. e solene, anunciou a existência de uma vo-
e) à palavra parcela e tem a função de sujeito; cação autêntica de escritor naquela sala de
à palavra ação e tem a função de sujeito. aula. Pediu que escutassem com atenção o
dever que 1ia ler. Tinha certeza, afirmou, que
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO o autor daquela página seria no futuro um
escritor conhecido. Não regateou elogios. 3Eu
Os cargos públicos são os que mais desqua- acabara de completar onze anos.
lificam candidatos com tatuagens, dentre Passei a ser uma personalidade, segundo os
eles: agentes das polícias militar, civil e car- cânones do colégio, ao lado dos futebolistas,
reiras do exército. Para cargos que exigem dos campeões de matemática e de religião,
que o funcionário trabalhe diretamente com dos que 6obtinham medalhas. Fui admiti-
o público, os candidatos tatuados costumam do numa espécie de Círculo Literário onde
ser menos qualificados que os candidatos 9
brilhavam 8alunos mais velhos. Nem assim
“limpos”.
Disponível em: TATUAGENS ATRAPALHAM NA
deixei de me sentir prisioneiro, sensação
HORA DE ARRUMAR UM EMPREGO? - http://www. permanente durante os dois anos em que
abaratadigital.com/tatuagensatrapalham-na-hora- estudei no colégio dos jesuítas. 11Houve, po-
de-arrumar-um-emprego/ Acesso: 13 out. /2013. rém, 10sensível mudança na limitada vida do
3. (G1-IFSC) Analise as seguintes afirmações aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob
sobre o texto. sua proteção e colocou em minhas mãos li-
I. a palavra “limpos”, no contexto em que vros de sua estante. Primeiro “As Viagens de
se encontra, está empregada com sentido Gulliver”, depois clássicos portugueses, tra-
figurado. duções de ficcionistas ingleses e franceses.
II. ‘tatuados’ e ‘funcionários’ são palavras Data dessa época minha paixão por Charles
derivadas por sufixação. Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark
III.o primeiro período do texto é classificado Twain: o norte-americano não figurava entre
como período simples, por causa da pre- os prediletos do padre Cabral.
sença de um único verbo. Recordo com carinho a figura do jesuíta
IV. ‘públicos’ e ‘exército’ são palavras propa- português erudito e amável. Menos por me
roxítonas e, por isso, recebem acento grá- haver anunciado escritor, sobretudo por me
fico obrigatoriamente. haver dado o amor aos livros, por me ha-
V. Em “Os cargos públicos são os que mais ver revelado o mundo da criação literária.
desqualificam candidatos...”, o verbo em Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de
destaque está no plural para estabelecer internato, a fazer mais leve a minha prisão,
concordância com o seu sujeito. minha primeira prisão.
Assinale a alternativa CORRETA. AMADO, Jorge. O menino Grapiúna. Rio de
a) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras. Janeiro. Record. 1987. p. 117-20.
81
4. (G1-IFCE) A expressão “... alunos mais ve- (...)
lhos.” (ref. 8) exerce a função de: Seus olhares 4fulguraram por um instante
a) sujeito da forma verbal “brilhavam” (ref. 9). um contra o outro, depois se 5acariciaram
b) objeto indireto. ternamente e, finalmente, se disseram que
c) agente da ação expressa pela forma verbal não havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com
“obtinham” (ref. 6). doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta
d) agente da passiva.
sobre si mesmo numa tentativa de secionar2
e) objeto direto.
aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas
16
o brusco movimento de fechar prendera-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
-lhe entre as folhas de madeira o espesso te-
Logo depois, transferiu-se para o trapiche cido da vida, e ele ficou retido, sem se poder
[local destinado à guarda de mercadorias mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-
para importação ou exportação] o depósito -se muito longe em seu íntimo e subir em
dos objetos que o trabalho do dia lhes pro- busca de espaço, como um rio que nasce.
porcionava. Estranhas coisas entraram então 17
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à
para o trapiche. agonia do momento, mas o fato de sabê-la
Não mais estranhas, porém, que aqueles ali ao lado, e dele separada por imperativos
meninos, moleques de todas as cores e de
categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava
idades, as mais variadas, desde os 9 aos 16
forças para desprender-se dela. 8Sabia que
anos, que à noite se estendiam pelo assoalho
e por debaixo da ponte e dormiam, indife- era aquela a sua amada, por quem esperara
rentes ao vento que circundava o casarão ui- desde sempre e que por muitos anos buscara
vando, indiferentes à chuva que muitas ve- em cada mulher, na mais terrível e dolorosa
zes os lavava, mas com os olhos puxados para busca. Sabia, também, que o primeiro passo
as luzes dos navios, com os ouvidos presos às que desse colocaria em movimento sua má-
canções que vinham das embarcações... quina de viver e ele teria, mesmo como um
(AMADO, Jorge. O trapiche. Capitães de Areia. São autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9dis-
Paulo: Livraria Martins Ed., 1937. Adaptado.)
tanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais.
18
5. (Fatec 2010) Assinale a alternativa em que E no entanto ali estava, a poucos passos,
o verbo destacado tem como sujeito aquele sua forma feminina que não era nenhuma
apresentado entre colchetes. outra forma feminina, mas a dela, a mu-
a) Logo depois transferiu-se para o trapiche o lher amada, aquela que ele 7abençoara com
depósito dos objetos... [os objetos] os seus beijos e agasalhara nos instantes
b) ... o depósito dos objetos que o trabalho do do amor de seus corpos. Tentou 3imaginá-la
dia lhes proporcionava. [o depósito dos ob-
em sua dolorosa mudez, já envolta em seu
jetos]
espaço próprio, perdida em suas cogitações
c) Estranhas coisas entraram então para o tra-
piche. [estranhas coisas] próprias − um ser desligado dele pelo limite
d) ... indiferentes ao vento que circundava o existente entre todas as coisas criadas.
13
casarão uivando... [o casarão] De súbito, sentindo que ia explodir em lá-
e) ... com os ouvidos presos às canções que vi- grimas, correu para a rua e pôs-se a andar
nham das embarcações. . . [as embarcações] sem saber para onde...
MORAIS, Vinícius de. Poesia completa e
prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
2. (PUC-RJ) A amizade, nos séculos XVIII e Deixa o teu corpo entender-se com outro cor-
XIX, é aceita, valorizada, mas não está em po.
evidência. O amor, o casal e a família ocu- Porque os corpos se entendem, mas as almas
pam o primeiro plano. As práticas de ami- não.
zade acrescentam-se a eles, desempenhando (BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias
muitas vezes papéis secundários. A amizade reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.)
é alegria suplementar, marca de uma elei-
ção, não é uma instituição. Ela estabelece TEXTO II - MINERAÇÃO DO OUTRO
redes de influência, inventa lugares de con-
vivência e laços de resistência enquanto se Os cabelos ocultam a verdade.
multiplicam para a maioria as oportunida- Como saber, como gerir um corpo alheio?
des de encontros e de interações. Os dias consumidos em sua lavra
Todos a dizem essencial: na verdade, é “aces- significam o mesmo que estar morto.
sória”. Seu exercício voluntário torna-lhe a
existência mais frágil, mais submetida ao Não o decifras, não, ao peito oferto,
acaso. Os valores da amizade parecem tan- monstruário de fomes enredadas,
to mais invocados quanto mais outras obri- ávidas de agressão, dormindo em concha.
gações, outras injunções tendem a limitar Um toque, e eis que a blandícia1 erra em tor-
de fato a possibilidade do seu exercício. A mento,
amizade no entanto se exerce, ela ocupa, é e cada abraço tece além do braço
atuante. Esse exercício da amizade forma e a teia de problemas que existir
transforma: praticando-o, elaboram-se tanto na pele do existente vai gravando.
o si mesmo quanto o entre-si. Indo ao en-
contro dos outros, é ao encontro de si mesma Viver-não, viver-sem, como viver
que a pessoa se lança. Nela se conjugam a sem conviver, na praça de convites?
86
Onde avanço, me dou, e o que é sugado ao carinho com que me recebeu naquele dia.
ao mim de mim, em ecos se desmembra; (WALCYR CARRASCO, PÁG. 98 - VEJA SP, 14 DE ABRIL, 1999.)
nem resta mais que indício,
pelos ares lavados,
do que era amor e dor agora, é vício. 4. (FGV) Na época, já SOFRIA de uma doença
que lhe dificultava o movimento das mãos e
O corpo em si, mistério: o nu, cortina
dos pés.
de outro corpo, jamais apreendido,
a) Cite o pronome que, no texto, funciona
assim como a palavra esconde outra
como sujeito de sofria.
voz, prima e vera, ausente de sentido.
Amor é compromisso b) Explique a quem, no texto, tal pronome se
com algo mais terrível do que amor? refere. Justifique sua resposta.
- pergunta o amante curvo à noite cega,
e nada lhe responde, ante a magia: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
arder a salamandra2 em chama fria.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.
A CORRIDA DO OURO
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.)
Duzentos anos de buscas foram necessários
1
blandícia : meiguice, brandura; afago, para que os portugueses chegassem ao ouro
mimo, carícia de sua América. Aos espanhóis não se apre-
2
salamandra : animal anfíbio que, segundo sentou o problema da procura e pesquisa
a mitologia, era capaz de viver no fogo sem dos metais preciosos. 6Assim que desembar-
ser consumido caram no México, na Colômbia ou no Peru,
seus olhos mercantis foram ofuscados pelo
3. (UERJ) Transcreva os sujeitos de “vai gra- ouro e prata que os homens da terra osten-
vando” (verso 11 - texto II) e “resta” (verso tavam nas suas armas, adornos e 7utensílios.
2
16 - texto II). Junto às suas civilizações, o gentio havia
desenvolvido a exploração e o trabalho dos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO metais, para 4eles mais preciosos pelas suas
serventias que pelo poder e valor que 5agre-
Meu amigo Marcos gavam ao homem da Europa cristã, de alma
lapidada pela cultura 3ocidental. O primeiro
O generoso e divertido companheiro de crô- trabalho que tiveram os castelhanos foi o de
nicas imediatamente afirmarem a inferioridade
Conheci Marcos Rey há mais de vinte anos, daquele homem que se recusava a total sub-
quando sonhava tornar-me escritor. Certa serviência à majestade de Deus e d’el Rei,
vez confessei esse desejo à atriz Célia Hele- através de concepções bastante convenientes
na, que deixou sua marca no teatro paulista. a seus propósitos. O brilho do metal, como o
Tempos depois, ela me convidou para ten- canto da sereia, tornou-os surdos a qualquer
tar adaptar um livro para teatro. Era O RAP- apelo contrário que não fosse o da ambição
TO DO GAROTO DE OURO, de Marcos. Passei pelo ouro e pela prata, tornando-os insen-
noites me torturando sobre as teclas. Célia síveis a qualquer consideração humana no
marcou um encontro entre mim e ele, pois a “trabalho” de 1submetimento do indígena,
montagem dependia da aprovação do autor. até o seu extermínio ou à redução, dos que
Quando adolescente, eu ficara fascinado com sobreviveram, à condição de servos ou escra-
MEMÓRIAS DE UM GIGOLÔ, seu livro mais co- vos nas fainas da mineração.
nhecido. Nunca tinha visto um escritor de Os sucessos castelhanos atiçaram os colo-
perto. Imaginava uma figura pomposa, em nos portugueses a iniciarem suas buscas,
cima de um pedestal. Meu coração quase seja pelo encanto daquelas descobertas, seja
saiu pela boca quando apertei a campainha. pelas fantasias que se criaram a partir de-
Fui recebido por Palma, sua mulher. Um ho- las: de tesouros fabulosos perdidos nas en-
mem gordinho e simpático entrou na sala. tranhas generosas das Américas; de relatos
Na época, já sofria de uma doença que lhe imprecisos de indígenas vindos do interior;
dificultava o movimento das mãos e dos pés. de noções equivocadas da geografia do con-
Cumprimentou-me. Sorriu. Estava tão ner- tinente como a da proximidade do Peru; ou
voso que nem consegui dizer “boa-tarde”. mesmo de alguns possíveis indícios concre-
Gaguejei. Mas ele me tratou com o respeito tos, surgiram lendas como as de Sabarabuçu
que se dedica a um colega. Propôs mudan- e as de Paraupava, que avivavam os colonos
ças no texto. Orientou-me. Principalmente, na procura de pedras e metais preciosos.
acreditou em mim. A peça permaneceu em (MENDES Jr., A., RONCARI, L. e MARANHÃO, R. Brasil
cartaz dois anos. Muito do que sou hoje devo história: texto e consulta. São Paulo. Brasiliense, 1979.)
87
5. (UERJ) Na construção do texto, empregam- São os improváveis que, de repente, se veem
-se pronomes pessoais e possessivos que ora esculpidos por novas luzes”.
estabelecem relações indispensáveis à com- A leitura pode garantir essas forças de vida?
preensão do sentido, ora se tornam redun- O que esperar dela – sem vãs ilusões – em lu-
dantes nesta função textual. gares onde a crise é particularmente intensa,
a) Observe atentamente o trecho compreendi- seja em contextos de guerra ou de repetidas
do entre as ref. 2 e 3 do primeiro parágrafo violências, de deslocamentos de populações
e indique os termos antecedentes de ELES mais ou menos forçados, ou de vertiginosas
(ref. 4) e do sujeito oculto de AGREGAVAM recessões econômicas?
(ref. 5). Em tais contextos, crianças, adolescentes e
b) Transcreva dois trechos em que o possessivo adultos poderiam redescobrir o papel dessa
possa ser suprimido sem qualquer prejuízo atividade na reconstrução de si mesmos e,
para a compreensão do texto. além disso, a contribuição única da literatu-
ra e da arte para a atividade psíquica. Para
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a vida, em suma.
Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à
Texto I adversidade. São Paulo: ed. 34, 2009.
Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é Paradoxalmente, o caos em que a humani-
um “espaço em crise”. Uma crise se estabele- dade corre o risco de mergulhar traz em seu
ce de fato quando transformações de caráter bojo sua própria e última oportunidade. Por
brutal – mesmo se preparadas há tempos -, quê? Para começar, porque a proximidade do
ou ainda uma violência permanente e gene- perigo favorece as instâncias de conscienti-
ralizada, tornam extensamente inoperantes zação, que podem então multiplicar-se, am-
os modos de regulamentação, sociais e psí- pliar-se e fazer surgir uma grande política
quicos, que até então estavam sendo prati- de salvação do mundo. E, sobretudo, pela se-
cados. Ora, a aceleração das transformações, guinte razão: quando um sistema é incapaz
o crescimento das desigualdades, das dispa- de resolver seus problemas vitais, ou ele se
ridades, a extensão das migrações alteraram desintegra, ou é capaz, dentro de sua própria
ou fizeram desaparecer os parâmetros nos desintegração, de metamorfosear-se num
quais a vida se desenvolvia, vulnerabilizan- metassistema mais rico, capaz de buscar so-
do homens, mulheres e crianças, de maneira luções para esses problemas.
Edgar Morin, http://www.comitepaz.org.br
obviamente bastante distinta, de acordo com
os recursos materiais, culturais, afetivos de Texto III
que dispõem e segundo o lugar onde vivem.
Para boa parte deles, no entanto, tais crises O que diz o vento (07/10/1991)
se manifestam em transtornos semelhantes.
Vividas como rupturas, ainda mais quando Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mun-
são acompanhadas da separação dos próxi- do só falta vulcão. Uns abalozinhos já têm
mos, da perda da casa ou das paisagens fa- havido por aí, e cada vez mais frequentes.
miliares, as crises os confinam em um tempo Agora passa por Itu esse vendaval, com tan-
imediato – sem projeto, sem futuro -, em um tas vítimas e tantos prejuízos a lastimar. Al-
espaço sem linha de fuga. Despertam feridas guns jornais não tiveram dúvida: ciclone. Ou
antigas, reativam o medo do abandono, aba- tornado, quem sabe.
lam o sentimento de continuidade de si e a Shelley que me desculpe, mas vento me dá
autoestima. Provocam, às vezes, uma perda nos nervos. Desarruma a gente por dentro.
total de sentido, mas podem igualmente esti- Mas, em matéria de vento, poeta tem imuni-
mular a criatividade e a inventividade, con- dades. Manuel Bandeira associou à canção do
tribuindo para que outros equilíbrios sejam vento a canção da sua vida.
forjados, pois em nosso psiquismo, como dis- O vento varria as luzes, as músicas, os aro-
se René Kaës, uma “crise libera, ao mesmo mas. E a sua vida ficava cada vez mais cheia
tempo, forças de morte e forças de regene- de aromas, de estrelas, de cânticos.
ração”. “O desastre ou a crise são também, e Fúria dos elementos, símbolo da instabilida-
sobretudo, oportunidades”, escreveram Cha- de, o vento é ao mesmo tempo sopro de vida.
moiseau e Glissant, após a passagem de um Uma aragem acompanha sempre os anjos. E
ciclone. “Quando tudo desmorona ou se vê foi o vento que fez descer sobre os apóstolos
transformado, são também os rigores ou as as línguas de fogo do Espírito Santo. Destrui-
impossibilidades que se veem transformados. dor e salvador, com o vento renasce a vida,
88
diz a “Ode to the West Wind”, de Shelley. No revoltados, os comunistas no mundo todo. E
inverno só um poeta romântico entrevê o iní- depois veio a denúncia dos crimes de Stálin
cio da primavera. Divindade para os gregos, por Kruschev, a queda do muro de Berlim...
o vento inquieta porque sacode a apatia e a Muita gente nunca perdoou as mentiras, os
estagnação. enganos, a perda de seus sonhos. Não é meu
Com esse poder de levar embora, suponha- caso. Na verdade, tenho mais saudades do
mos que uma lufada varresse o Brasil, como que rancores. Tenho saudades não do comu-
na canção do Manuel Bandeira. Que é que nismo, que nunca cheguei a viver na prática,
esse vento benfazejo devia levar embora? mas da visão do comunismo que me anima-
Todo mundo sabe o mundo de males que va, a visão de um mundo justo, igualitário.
SCLIAR, Moacyr. Eu vos abraço, milhões. 2. ed. São
nos oprime nesta hora. Deviam ser varridos Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 246.
para sempre. Se vento leva e traz, se vento é
mudança, não custa acreditar que, passada O eu lírico do poema e o protagonista do
a tempestade, vem a bonança. E com ela, o romance, nas obras citadas, distinguem-se
sopro renovador — garante o poeta. A casa tanto pela expectativa sobre o futuro quanto
destelhada, a destruição já começou. Vem aí pela forma de recomposição de suas memó-
a reconstrução. rias. Considerando o exposto, responda:
Otto Lara Resende, Bom dia para nascer: a) em relação à expectativa de futuro, em que
crônicas publicadas na Folha de S. Paulo. São se diferem os posicionamentos do eu lírico e
Paulo: Cia. das Letras, 2011. Adaptado.
do protagonista do romance?
b) Em relação às formas de recomposição da
6. (FGV) Responda ao que se pede: memória, em que se diferem as escolhas do
a) O autor do texto III ilustra o tema de sua eu lírico e do protagonista do romance?
crônica com um provérbio. Esse provérbio
poderia ilustrar também os temas dos textos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
I e II? Justifique sua reposta.
b) Diferentemente do texto I e II, a crônica de As descontroladas
Otto L. Resende, tendo em vista o gênero a
que pertence, tem características tanto do As primeiras mulheres que passaram na cal-
estilo jornalístico quanto do literário. çada da Rio Branco chamavam-se melindro-
Identifique duas marcas linguísticas presen- sas. Eram um tanto afetadas, com seu vesti-
tes no texto: uma, própria do estilo literário; do de cintura baixa e longas franjas, mas a
outra, própria do estilo jornalístico. julgar por uma caricatura célebre de J. Carlos
tinham sempre uma multidão de almofadi-
7. (UFG) Leia o poema e o trecho a seguir. nhas correndo atrás. O mundo, cem anos de-
pois, mudou pouco no essencial. Diz-se ago-
EU POSSO TRANSFORMAR O MUNDO ra que o homem “corre atrás do prejuízo”. De
resto, porém, a versão nacional do assim ca-
Tudo que está fora de mim é mais, muito
minha a humanidade segue o mesmo cortejo
mais do que eu.
de sempre pela Rio Branco — com o detalhe
Eu vi tudo, sem poder, eu vi sem alcançar
que as mulheres trocaram as franjas pelo cós
seu vigor simples,
baixo da calça da Gang. E, evidentemente,
sua despojada beleza terrena.
não são mais chamadas de melindrosas.
Passaram por mim o dia, a luz, o tédio, a
dignidade. Elas já atenderam por vários nomes. Uma
Eu estive sempre aquém de toda a beleza que “uva” era aquela que, de tão suculenta e
cerca a vida. bem-feita de curvas, devia abrir as folhas
Mas eu sou um homem, algo feito pelo que de sua parreira e deliciar os machos com a
está aí fora eternidade de sua sombra. 1Há cem anos as
e por minha ideia e minhas mãos. mulheres que circulam pela Rio Branco já fo-
E posso transformar o mundo. ram chamadas de tudo e, diga-se a bem da
GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: verdade, algumas atenderam. Por aqui 3pas-
Thesaurus, 1999. p. 36. sou o “broto”, o “avião”, o “violão”, a “certi-
[…] Em 1935, quatro anos depois de nossa nha”, o “pedaço”, a “deusa”, a “boazuda”, o
chegada a Porto Alegre, eclodiu o fracassado “pitéu”, a “gata” e tantas outras que podem
levante que depois ficaria conhecido como não estar mais no mapa, como as mulatas do
Intentona Comunista, dirigido contra o go- Sargentelli, mas já estão no Houaiss eletrô-
verno de Getúlio e chefiado por Luís Carlos nico. Houve um momento que, de tão belas,
Prestes. […] Quatro anos depois, em 1939, chegaram a ficar perigosas. Chamavam-nas
era assinado, pela União Soviética e pela “pedaço de mau caminho” ou “chave de ca-
Alemanha nazista, o pacto de não agressão deia”. Algumas, de carne tão tenra, eram
que deixou perplexos e confusos, quando não “frangas”.
89
Havia, de um modo geral, um louvor res- 9. (Unicamp 2012) O parágrafo reproduzido
peitoso na identificação de cada um desses abaixo introduz a crônica intitulada Tragé-
tipos que sucederam as melindrosas. Gosto dia concretista, de Luís Martins.
de lembrar daquela, ali pelo início dos 60, O poeta concretista acordou inspirado. So-
que era um “suco”. Talvez porque sucedesse nhara a noite toda com a namorada. E pen-
o tipo de “uva” e fosse tão aperfeiçoada no sou: lábio, lábia. O lábio em que pensou era o
inevitável processo de evolução da espécie da namorada, a lábia era a própria. Em todo
que já viesse sem casca e, principalmente, o caso, na pior das hipóteses, já tinha um
sem os caroços. Sempre prontinhas para be- bom começo de poema. Todavia, cada vez
ber. De uns tempos para cá, quando se pensa- mais obcecado pela lembrança daqueles lá-
va que na esquina surgiria um vinho de safra bios, achou que podia aproveitar a sua lábia
especial, a coisa avinagrou. As mulheres fi- e, provisoriamente desinteressado da poesia
cam cada vez mais lindas mas os homens, na pura, resolveu telefonar à criatura amada,
hora de homenageá-las, inventam rótulos de na esperança de maiores intimidades e van-
carinho duvidoso. O “broto”, o “violão” e o tagens. Até os poetas concretistas podem ser
“pitéu” na versão arroba ponto com 2000 era homens práticos.
a “popozuda”. Depois, software 2001, veio a (Luís Martins, Tragédia concretista, em As cem melhores
“cachorra”, a “sarada”. Pasmem: era elogio. crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 132.)
Algumas continuavam atendendo.
a) Compare lábio e lábia quanto à forma e ao
Agora está entrando em cena, perfilada num significado. Considerando a especificidade
funk do grupo As Panteras — um rótulo que, do poeta, justifique a ocorrência dessas duas
a propósito, notou a evolução das “gatas” palavras dentro da crônica.
—, a mulher do tipo “descontrolada”. (...). b) Explique por que a palavra todavia é usada
Não é exatamente o que o almofadinha lá do para introduzir um dos enunciados da crôni-
início diria no encaminhamento do eterno ca.
processo sedutivo, mas, afinal, homem ne-
nhum também carrega mais almofadas para
10. (Unicamp 2015) No texto abaixo, há uma
se sentar no bonde. Sequer bondes 2há. Já
presença significativa de metáforas que au-
fomos “pães”. Muito doce, não pegou. Somos
xiliam na construção de sentidos.
todos lamentáveis “tigrões” em nossa triste
sina de matar um leão por dia. Entre silêncios e diálogos
Elas mereciam verbetes melhores, que se
lhes ajustassem perfeitos, redondos, como Havia uma desconfiança: o mundo não ter-
a tal calça da Gang. A língua das ruas anda minava onde os céus e a terra se encontra-
avacalhando com as nossas “minas”, para vam. A extensão do meu olhar não podia de-
usar a última expressão em que as mulheres terminar a exata dimensão das coisas. Havia
foram saudadas com delicadeza e exatidão o depois. Havia o lugar do sol se aninhar
— dentro da mina, afinal, 4cabe tanto a pe- enquanto a noite se fazia. Havia um abrigo
pita de ouro como a cavidade que se enche para a lua enquanto era dia. E o meu coração
de pólvora para explodir e destruir tudo o de menino se afogava em desesperança. Eu
que estiver em cima. que não era marinheiro nem pássaro - sem
barco e asa.
A deusa da nossa rua, que sempre pisou os
astros distraída, não passa hoje de “tchu- Um dia aprendi com Lili a decifrar as letras
tchuca marombada” ou “popozuda descon- e suas somas. E a palavra se mostrou como
trolada”. É pouco para quem caminha nas pe- caminho poderoso para encurtar distância,
drinhas portuguesas como se São Pedro fosse para alcançar onde só a fantasia suspeitava,
sobre as águas bíblicas. Algumas delas, uvas para permitir silêncio e diálogo. Com as pa-
do vinho sagrado, santas apenas no aguardo lavras eu ultrapassava a linha do horizonte.
da beatificação vaticana, provocando ainda E o meu coração de menino se afagava em
maior alvoroço, alumbramento e estupefação esperança.
dos sentidos. Ao virar uma página do livro, eu dobra-
JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS va uma esquina, escalava uma montanha,
O que as mulheres procuram na bolsa:
crônicas. Rio de Janeiro: Record, 2004.
transpunha uma maré.
Ao passar uma folha, eu frequentava o fundo
8. (UERJ) O cronista explica o sentido dos no- dos oceanos, transpirava em desertos para,
mes almofadinha e mina, aplicados respecti- em seguida, me fazer hóspede de outros co-
vamente ao homem e à mulher. rações.
Resuma cada uma dessas explicações e iden- Pela leitura temperei a minha pátria, chorei
tifique a figura de linguagem corresponden- sua miséria, provei de minha família, bebi
te ao uso de cada nome. de minha cidade, enquanto, pacientemente,
90
degustei dos meus desejos e limites. a) uma narrativa direta e econômica.
Assim, o livro passou a ser o meu porto, a b) real, palpável.
minha porta, o meu cais, a minha rota. Pelo c) sentimento de realidade.
livro soube da história e criei os avessos, d) seu expediente de homem.
soube do homem e seus disfarces, soube das e) seu remédio.
várias faces e dos tantos lugares de se olhar.
(...) Ler é aventurar-se pelo universo intei- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
ro.
Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e O autor do texto abaixo critica, ainda que em
outros diálogos. Belo Horizonte: Autêntica, 2012, p. 63. linguagem metafórica, a sociedade contem-
porânea em relação aos seus hábitos alimen-
a) No trecho “Assim, o livro passou a ser o meu tares.
porto, a minha porta, o meu cais, a minha
rota”, há metáforas que expressam a expe- “Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram
riência do autor com a leitura. Escolha uma quando a gente comprava Ieite em garrafa, na
dessas metáforas e explique-a, considerando leiteira da esquina? (...)
Mas vocês não se lembram de nada, pô? Vai
seu sentido no texto.
ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é
b) O texto mostra que a experiência de leitura
leite. Estou falando isso porque agora mesmo
promove uma importante mudança subjeti-
peguei um pacote de leite - leite em pacote,
va. Explique essa mudança e cite dois tre- imagina, Tereza! - na porta dos fundos e esta-
chos nos quais ela é explicitada. va escrito que é pasterizado, ou pasteurizado,
sei lá, tem vitamina, é garantido pela embro-
E.O. ENEM
matologia, foi enriquecido e o escambau.
Será que isso é mesmo leite? No dicionário
diz que leite é outra coisa: ‘Líquido branco,
1. (Enem) E considerei a glória de um pavão contendo água, proteína, açúcar e sais mi-
ostentando o esplendor de suas cores; é um nerais’. Um alimento pra ninguém botar de-
luxo imperial. Mas andei lendo livros, e des- feito. O ser humano o usa há mais de 5.000
anos. É o único alimento só alimento. A car-
cobri que aquelas cores todas não existem na
ne serve pro animal andar, a fruta serve pra
pena do pavão. Não há pigmentos. O que há
fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra
são minúsculas bolhas d’água em que a luz
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou
se fragmenta, como em um prisma. O pavão bota fora.
é um arco-íris de plumas. Esse aqui examinando bem, é só pra botar
Eu considerei que este é o luxo do grande fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais
artista, atingir o máximo de matizes com o água do que leite, tem serragem, sou capaz
mínimo de elementos. De água e luz ele faz de jurar que nem vaca tem por trás desse
seu esplendor; seu grande mistério é a sim- negócio.
plicidade. Depois o pessoal ainda acha estranho que os
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! meninos não gostem de leite. Mas, como não
Minha amada; de tudo que ele suscita e es- gostam? Não gostam como? Nunca tomaram!
plende e estremece e delira em mim existem Múúúúúúú!”
apenas meus olhos recebendo a luz de teu (FERNANDES, Millôr. O Estado de S.
Paulo, 22 de agosto de 1999)
olhar. Ele me cobre de glórias e me faz mag-
nífico.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20a ed.) 2. (Enem) A crítica do autor é dirigida:
a) ao desconhecimento, pelas novas gerações,
O poeta Carlos Drummond de Andrade escre- da importância do leiteiro para a economia
veu assim sobre a obra de Rubem Braga: nacional.
O que ele nos conta é o seu dia, o seu ex- b) à diminuição da produção de leite após o de-
pediente de homem, apanhado no essencial, senvolvimento de tecnologias que têm subs-
narrativa direta e econômica. (...) É o poeta tituído os produtos naturais por produtos
do real, do palpável, que se vai diluindo em artificiais.
cisma. Dá o sentimento da realidade e o re- c) à artificialização abusiva de alimentos tra-
médio para ela. dicionais, com perda de critério para julgar
Em seu texto, Rubem Braga afirma que “este sua qualidade e sabor.
é o luxo do grande artista, atingir o máxi- d) permanência de hábitos alimentares a partir
mo de matizes com o mínimo de elementos”. da revolução agrícola e da domesticação de
Afirmação semelhante pode ser encontrada animais iniciada há 5.000 anos.
no texto de Calos Drummond de Andrade, e) à importância dada ao pacote de leite para a
quando, ao analisar a obra de Braga, diz que conservação de um produto perecível e que
ela é: necessita de aperfeiçoamento tecnológico.
91
3. (Enem) A palavra embromatologia usada e) sugerir que o país adote, além de uma postura
pelo autor é: linguística “politicamente correta”, uma polí-
a) um termo científico que significa estudo dos tica de convivência sem preconceito racial.
bromatos.
b) uma composição do termo de gíria “embro- 5. (Enem 2ª aplicação 2010) Saúde
mação” (enganação) com bromatologia, que Afinal, abrindo um jornal, lendo uma revista
é o estudo dos alimentos. ou assistindo à TV, insistentes são os apelos
c) uma junção do termo de gíria “embromação” feitos em prol da atividade física. A mídia
(enganação) com lactologia, que é o estudo não descansa; quer vender roupas esporti-
das embalagens para leite. vas, propagandas de academias, tênis, apa-
d) um neologismo da química orgânica que relhos de ginástica e musculação, vitaminas,
significa a técnica de retirar bromatos dos dietas... uma relação infindável de mate-
laticínios. riais, equipamentos e produtos alimentares
e) uma corruptela de termo da agropecuária que, por trás de toda essa “parafernália”,
que significa a ordenha mecânica. impõe um discurso do convencimento e do
desejo de um corpo belo, saudável e, em sua
4. (Enem 2ª aplicação 2010) O “politicamen- grande maioria, de melhor saúde.
te correto” tem seus exageros, como chamar RODRIGUES,L. H.; GALVÃO, Z. Educação Física
baixinho de “verticalmente prejudicado”, na escola: implicações para a prática pedagógi-
mas, no fundo, vem de uma louvável preocu- ca. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
pação em não ofender os diferentes. É muito
mais gentil chamar estrabismo de “idiossin- Em razão da influência da mídia no compor-
crasia ótica” do que de vesguice. tamento das pessoas, no que diz respeito ao
O linguajar brasileiro está cheio de expres- padrão de corpo exigido, podem ocorrer mu-
sões racistas e preconceituosas que precisam danças de hábitos corporais. A esse respeito,
de uma correção, e até as várias denomina- infere-se do texto que é necessário:
ções para bêbado (pinguço, bebo, pé-de-ca- a) reconhecer o que é indicado pela mídia como
na) poderiam ser substituídas por algo como referência para alcançar o objetivo de ter um
“contumaz etílico”, para lhe poupar os sen- corpo belo e saudável.
timentos. O tratamento verbal dado aos ne- b) valorizar o discurso da mídia, entendendo-o
gros é o melhor exemplo da condescendên- como incentivo à prática da atividade física,
cia que passa por tolerância racial no Brasil. para o culto do corpo perfeito.
Termos como “crioulo”, “negão” etc. são até c) diferenciar as práticas corporais veiculadas
considerados carinhosos, do tipo de carinho pela mídia daquelas praticadas no dia a dia,
que se dá a inferiores, e, felizmente, cada considerando a saúde e a integridade corpo-
vez menos ouvidos. “Negro” também não é ral.
mais correto. Foi substituído por afrodes-
d) atender aos apelos midiáticos em prol da
cendente, por influência dos afro-americans,
prática exacerbada de exercícios físicos,
num caso de colonialismo cultural positivo.
como garantia de beleza.
Está certo. Enquanto o racismo que não quer
dizer seu nome continua no Brasil, uma in- e) identificar os materiais, equipamentos e
tegração real pode começar pela linguagem. produtos alimentares como o caminho para
atingir o padrão de corpo idealizado pela mí-
VERÍSSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de
Pernambuco. 10 jun. 2006 (adaptado). dia.
92
Entre os elementos constitutivos dos gêne- c) o uso de expressões exclusivas da nova for-
ros, está o modo como se organiza a pró- ma literária para substituir palavras usuais
pria composição textual, tendo-se em vista do português.
o objetivo de seu autor: narrar, descrever, d) o emprego de palavras pouco usuais no dia a
argumentar, explicar, instruir. No trecho, dia para reafirmar a originalidade e o espírito
reconhece-se uma sequência textual: crítico dos usuários desse tipo de rede social.
a) explicativa, em que se expõem informações e) o uso de palavras e expressões próprias da
objetivas referentes à prima Julieta. mídia eletrônica para restringir a participa-
b) instrucional, em que se ensina o comporta- ção de usuários.
mento feminino, inspirado em prima Julieta.
c) narrativa, em que se contam fatos que, no 8. (Enem PPL 2012) Pode chegar de mansi-
decorrer do tempo, envolvem prima Julieta. nho, como é costume por ali, e observar sem
d) descritiva, em que se constrói a imagem de pressa cada detalhe da estação ferroviária
prima Julieta a partir do que os sentidos do de Mariana. Repare na arquitetura recém-
enunciador captam. -revitalizada do casarão, e como os detalhes
e) argumentativa, em que se defende a opinião em madeira branca, as delicadas arandelas
do enunciador sobre prima Julieta, buscan- de luzes amarelas e os elementos barrocos
do-se a adesão do leitor a essas ideias. da torre já começam a dar o gostinho da via-
gem aguardada. Vindo lá de longe, o apito
7. (Enem PPL 2012) Uma tuiteratura? estridente anuncia que logo, logo o cenário
estará completo para a partida. E não tarda
As novidades sobre o Twitter já não cabem para o trem de fato surgir. Pequenino a prin-
em 140 toques. Informações vindas dos EUA cípio, mas de repente, em toda aquela imen-
dão conta de que a marca de 100 milhões sidão que desliza pelos trilhos. Arrancando
de adeptos acaba de ser alcançada e que a sorrisos e deixando boquiaberto até o mais
biblioteca do Congresso, um dos principais desconfiado dos mineiros.
templos da palavra impressa, vai guardar em TIUSSU, B. “Raízes mineiras”. Disponível em: www.
seu arquivo todos os tweets, ou seja, as men- estadao.com.br. Acesso em: 15 nov. 2011 (fragmento).
sagens do microblog. No Brasil, o fenômeno
A leitura do trecho mostra que textos jor-
não chega a tanto, mas já somos o segundo
nalísticos produzidos em determinados gê-
país com o maior número de tuiteiros. Tam-
neros mobilizam recursos linguísticos com
bém aqui o Twitter está sendo aceito em ter-
o objetivo de conduzir seu público-alvo a
ritórios antes exclusivos do papel. A própria
aceitar suas ideias. Para envolver o leitor no
Academia Brasileira de Letras abriu um con-
retrato que faz da cidade, a autora:
curso de microcontos para textos com apenas
a) inicia o texto com a informação mais impor-
140 caracteres. Também se fala das possibi-
tante a ser conhecida, a estação de trem de
lidades literárias desse meio que se caracte-
Mariana.
riza pela concisão. Já há até um neologismo,
b) descreve de forma parcial e objetiva a esta-
“tuiteratura”, para indicar os “enunciados ção de trem da cidade, seus detalhes e carac-
telegráficos com criações originais, citações terísticas.
ou resumos de obras impressas”. Por ora, c) apresenta com cuidado e precisão os recur-
pergunto como se estivesse tuitando: querer sos da cidade, sua infraestrutura e singulari-
fazer literatura com palavras de menos não dade.
é pretensão demais? d) faz uma crítica indireta à desconfiança dos
VENTURA, Z. O Globo. 17 abr. 2010 (adaptado)
mineiros, mostrando conhecimento do tema.
As novas tecnologias estão presentes na so- e) dirige-se a ele por meio de verbos e expres-
ciedade moderna, transformando a comuni- sões verbais, convidando-o a partilhar das
cação por meio de inovadoras linguagens. O belezas do local.
texto de Zuenir Ventura mostra que o Twitter
tem sido acessado por um número cada vez 9. (Enem) Desabafo
maior de internautas e já se insere até na Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma
literatura. Neste contexto de inovações lin- cronicazinha divertida hoje. Simplesmente
guísticas, a linguagem do Twitter apresenta não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma
como característica relevante: típica manhã de segunda-feira. A começar
a) a concisão relativa ao texto ao adotar como pela luz acesa da sala que esqueci ontem à
regra o uso de uma quantidade predefinida noite. Seis recados para serem respondidos
de toques. na secretária eletrônica. Recados chatos.
b) a frequência de neologismos criados com a Contas para pagar que venceram ontem. Es-
finalidade de tornar a mensagem mais popu- tou nervoso. Estou zangado.
lar. CARNEIRO, J.E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento)
93
Nos textos em geral, é comum a manifestação a) A supremacia das formas da língua em rela-
simultânea de várias funções da linguagem, ção ao seu conteúdo.
com predomínio, entretanto, de uma sobre b) A necessidade da norma padrão em situações
as outras. No fragmento da crônica Desaba- formais de comunicação escrita.
fo, a função de linguagem predominante é a c) A obrigatoriedade da norma culta da língua,
emotiva ou expressiva, pois: para a garantia de uma comunicação efetiva.
a) o discurso do enunciador tem como foco o d) A importância da variedade culta da língua,
próprio código. para a preservação da identidade cultural de
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo um povo.
que está sendo dito. e) A necessidade do dicionário como guia de
c) o interlocutor é o foco do enunciador na adequação linguística em contextos infor-
construção da mensagem. mais privados.
d) o referente é o elemento que se sobressai em
detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a
manutenção da comunicação.
GABARITO
10. (Enem 2012) Sou feliz pelos amigos que
tenho. Um deles muito sofre pelo meu des-
cuido com o vernáculo. Por alguns anos ele
E.O. Teste I
sistematicamente me enviava missivas eru- 1. B 2. B 3. A 4. B 5. E
ditas com precisas informações sobre as re-
6. D 7. B 8. C 9. B 10. D
gras da gramática, que eu não respeitava, e
sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu
ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que
fiz de uma palavra num desses meus badu-
laques. Acontece que eu, acostumado a con- E.O. Teste II
versar com a gente das Minas Gerais, falei 1. A 2. C 3. B 4. B 5. C
em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato,
trata-se de um equívoco que, num vestibu- 6. C 7. B 8. A 9. A 10. C
lar, poderia me valer uma reprovação. Pois
o meu amigo, paladino da língua portugue-
sa, se deu ao trabalho de fazer um Xerox da
página 827 do dicionário, aquela que tem, E.O. Teste III
no topo, a fotografia de uma “varroa” (sic!) 1. A 2. A 3. C 4. A 5. C
(você não sabe o que é uma “varroa”?) para
corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está 6. A 7. B 8. D 9. B 10. B
certo. O certo é “varrição” e não “varreção”.
Mas estou com medo de que os mineiros da
roça façam troça de mim porque nunca os vi
falar de “varrição”. E se eles rirem de mim E.O. Dissertativo
não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da 1. A referência 5 (“Aqui se curva o filho res-
página do dicionário com a “varroa” no topo. peitoso”) apresenta como sujeito simples os
Porque para eles não é o dicionário que faz a termos “o filho respeitoso”, cujo núcleo é o
língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas substantivo “filho”.
de Minas Gerais, fala “varreção” quando não A referência 6 (“Dos braços de uma cruz
“barreção”. O que me deixa triste sobre esse pende o mistério”) apresenta como sujeito
amigo oculto é que nunca tenha dito nada simples os termos “o mistério”, cujo núcleo
sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é é o substantivo “mistério”.
feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre Em relação aos predicados de ambas as refe-
ela, mas reclama sempre que o prato está ra- rências nota-se que o sujeito de cada oração
chado. está posposto.
ALVES, R. Mais badulaques. São Paulo:
2.
Parábola, 2004 (fragmento)
a) O adjetivo é a palavra “acessória”.
De acordo com o texto, após receber a carta b) O sujeito é “oportunidades de encontros
de um amigo “que se deu ao trabalho de fa- e de interações.”
zer um Xerox da página 827 do dicionário” c) Há predomínio pelo presente do indica-
sinalizando um erro de grafia, o autor reco- tivo para tratar até mesmo de ações do
nhece: passado.
94
3. vai gravando: existir Tudo que está fora de mim é mais, muito
resta: indício mais do que eu. Enquanto na narrativa, o
4. protagonista analisa a realidade através
a) O pronome que funciona como sujeito de de sua história pessoal, através da pró-
SOFRIA é ELE (sujeito elíptico). pria subjetividade.
b) O pronome refere-se a Marcos Rey, “um 8. O termo “almofadinha”, usado como meto-
homem gordinho e simpático”. nímia, define o indivíduo com base em um
5. hábito que era o de carregar uma almofada
a) Eles: gentio. para se sentar nos bondes. A palavra “mina”
Agregavam: os metais. constitui uma metáfora, associando a mu-
b) - que os homens da terra ostentavam nas lher a algo valioso e que oferece risco de
suas armas, adornos e utensílios. confusão ou destruição.
- mais preciosos pelas suas serventias 9.
- Os sucessos castelhanos atiçaram os co- a) O termo “lábio” designa cada parte exter-
lonos portugueses a iniciarem suas bus- na do contorno da boca, e o seu feminino,
cas, ”lábia”, está associado, na linguagem in-
6. formal, à arte de iludir alguém com pa-
a) Sim, o provérbio “Depois da tempestade, lavreado astucioso. Através da figura de
vem a bonança”, que ilustra a crônica de linguagem denominada paranomásia, o
Otto Lara Resende, também pode ser as- autor brinca com esse recurso usado fre-
sociado às opiniões dos autores dos tex- quentemente pelos poetas concretistas
tos I e II relativamente à capacidade de para narrar o episódio.
o indivíduo superar obstáculos e respon- b) A conjunção coordenativa “todavia” é
der de forma positiva às adversidades. usada para introduzir uma ideia que con-
No primeiro, porque Michèle Petit con- traria a preocupação inicial do poeta em
sidera o ato da leitura um instrumento fazer um poema concreto, pois a urgência
importante na reconstrução do indivíduo em estabelecer contato com a namorada
perante as adversidades e, no segundo, era ainda mais forte.
Edgar Morin afirma que o próprio sistema 10.
se encarrega de criar soluções que garan- a) O aluno pode escolher entre uma das
tam a sua sobrevivência. acepções:
b) Frases como “Uns abalozinhos já têm ha- - “Porto” indica duas alternativas: o livro
vido por aí” e “o vento é ao mesmo tempo sugere segurança, o qual também pode
sopro de vida” revelam marcas do estilo permitir tanto chegadas quanto partidas
literário, já que apresentam linguagem a diversos locais;
com função poética: coloquialismo e me- - “Porta” ilustra a capacidade que a leitu-
táfora, respectivamente. O estilo jornalís- ra confere ao leitor de ultrapassar limites
tico, cuja linguagem é predominantemen- e alcançar lugares surpreendentes;
te referencial, objetiva, está presente na - “Cais” retoma parte da metáfora de
informação sobre o vendaval que atingiu “porto”: o ato de ler permite chegadas e
Itu e as características da poesia de Ma- partidas a diferentes locais;
nuel Bandeira:“Agora passa por Itu esse - “Rota” caracteriza a leitura como o ca-
vendaval, com tantas vítimas e tantos minho a ser tomado pelo leitor.
prejuízos a lastimar” , “Manuel Bandeira É válido ressaltar que todas as metáforas
associou à canção do vento a canção da apresentadas estão relacionadas à expan-
sua vida”. são dos horizontes, tal qual a linha cen-
7. tral da narrativa apresentada.
a) Analisando os dois textos, pode-se obser- b) Por mudança subjetiva compreende-se
var que, no poema, o eu lírico acredita uma mudança íntima, particular do nar-
ainda na possibilidade de transformar o rador; segundo o contexto, tal mudança
mundo apesar das idiossincrasias ineren- ocorre a partir da leitura, a qual amplia
tes à realidade. Enquanto no romance, o seu conhecimento de mundo – uma ne-
protagonista se mostra conformado com cessidade que ele mesmo indicava no iní-
as mudanças sonhadas que não acontece- cio do trecho.
ram historicamente, entretanto, mostra- Essa mudança é explicitada em trechos
-se saudoso com o fato de um dia, ao me- como (vale ressaltar, a questão solici-
nos, ter sonhado com a possibilidade de ta apenas dois trechos): “E a palavra se
um mundo mais justo. mostrou como caminho poderoso para
b) No poema, o eu lírico ressalta a fé no encurtar distância, para alcançar onde
coletivo, no social, dando mais ênfase a só a fantasia suspeitava, para permitir
isso do que a seus sonhos individuais: silêncio e diálogo”, “Com as palavras eu
95
ultrapassava a linha do horizonte”, “E o meu coração de menino se afagava em esperança”, “Ao
virar uma página do livro, eu dobrava uma esquina, escalava uma montanha, transpunha uma
maré”, “Ao passar uma folha, eu frequentava o fundo dos oceanos, transpirava em desertos
para, em seguida, me fazer hóspede de outros corações”, “Pela leitura temperei a minha pátria,
chorei sua miséria, provei de minha família, bebi de minha cidade, enquanto, pacientemente,
degustei dos meus desejos e limites”, “Pelo livro soube da história e criei os avessos, soube do
homem e seus disfarces, soube das várias faces e dos tantos lugares de se olhar”.
E.O. Enem
1. A 2. C 3. B 4. E 5. C
6. D 7. A 8. E 9. B 10. B
96
LITERATURA
Realismo Romantismo
Objetivismo. Subjetivismo.
Descrições e adjetivação objetivas, voltadas para a captação do real Descrições e adjetivação idealizantes, voltadas para a elevação do
como ele é. objeto descrito.
Idealização da mulher com qualidades e defeitos. Idealização da mulher, anjo de pureza e perfeição.
Amor e sentimentos subordinados aos interesses sociais. Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse.
Herói em conflito, enfraquecido, com manias e incertezas. Herói íntegro, de caráter irrepreensível.
Personagens moldadas psicologicamente. Personagens planas cujos pensamentos e ações são previsíveis.
Naturalismo
Quanto à forma Quanto ao conteúdo
Linguagem simples. Determinismo.
Clareza, equilíbrio e harmonia na composição. Objetivismo científico.
Narrativa minuciosa. Temas sociais patológicos.
Emprego de termos regionais. Observação e análise da realidade.
Longas descrições. Homens encarados sob a ótica animalesca e sensual.
Impessoalidade. Despreocupação com a moral.
Literatura engajada.
99
A saturação do Romantismo
Em Portugal, por volta de 1870, o subjetivismo romântico dava sinais evidentes de saturação, cenário propício à
reação literária denominada Realismo.
O Realismo teve origem na França. Precursor do movimento, o francês Gustave Courbet chamou de “O rea-
lismo” uma exposição de quarenta telas realizada em Paris, em 1855. Sua intenção era fazer uma “arte viva”, que
“retratasse os costumes, ideias e aspectos de sua época”, com o objetivo de dar sinceridade à arte em oposição
à liberdade artística do Romantismo.
Honoré Daumier Courbet (1808-1879) e Jean-François Millet (1814-1875), contemporâneos seus, privile-
giam cenas de grupos sociais desfavorecidos.
Posição semelhante assumiram alguns escritores, que viam na literatura o papel de educar e retratar a
sociedade: Gustave Flaubert (1821-1880) e Émile Zola (1840-1902).
Os britadores de pedra. Óleo sobre tela, 159 cm X 259 cm. 1849. Gustave Courbet.
100
Nascimento do Realismo no mundo
Ao publicar em 1857 o romance Madame Bovary, Gustave Flaubert deu
início ao Realismo literário. Trata-se de uma análise bastante impiedosa da ide-
ologia burguesa romântica. Uma caricatura da burguesia, que acima de tudo,
ridiculariza o casamento falsamente moralista. Sobretudo pelo estilo conciso, o
autor influenciou significativamente os realistas portugueses e brasileiros.
A incursão feita na sociedade burguesa trouxe temas clericais – crítica
à concepção de vida do clero – em oposição ao conhecimento científico, e os
temas político-sociais, um diagnóstico da sociedade burguesa em crise.
Por outro lado, Émile Zola, radicalizou o realismo de Flaubert, ao
levar às últimas consequências a ideia da influência do meio sobre as pes-
soas.
Seu objetivo foi representar com absoluta franqueza a realidade social,
sem descuidar dos fenômenos patológicos e da vida sexual dos burgueses. Essa
tendência ficou conhecida como realismo naturalista, que tratou de assuntos
até então evitados pelos escritores. Nesse contexto, seu romance Thérèse Raquin, de 1867, foi simbólico.
Graças a essa história, Zola foi acusado de imoralidade. Nela, focaliza o amor adúltero de Laurent e Thérè-
se, que tramam o assassinato de Camille, marido de Thérèse. Ela é uma jovem mulher fechada em si mesma, que
passou a infância junto a um primo doente e foi obrigada a esconder dentro de si um coração ardente e nervoso.
Laurent, por sua vez, é um homem desprezível cuja maior ambição é viver no ócio. O encontro dos dois resulta na
fatalidade que os levará à ruína.
Vistos como bestas humanas, os personagens agem alheios às próprias vontades, às próprias almas e natu-
rezas, impotentes de se comportarem de outra forma, dada a situação em que se encontram.
O texto sobressai pela descrição dos mais íntimos sentimentos de suas personagens, pelos mecanismos da
mente humana diante do inevitável. Zola também foi autor do romance experimental, em que defende a ideia do
romance como documento da realidade.
O Naturalismo foi considerado um Realismo avançado, que esmiúça o casamento burguês até a patologia social.
O Realismo cientificista
Aproximar a verdade social da verdade artística, privilegiando o cotidiano do homem também brutal e animalizado,
foi um dos objetivos do Realismo.
Conceitualmente, Realismo e Naturalismo confluíram para o ideal positivista do final do século XIX. Era
pressuposto desses movimentos submeter o texto artístico à realidade. Ao artista importavam a observação e a
experiência, não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo.
Em tempos de industrialização e da vitória do capitalismo, o culto à ciência criou o ambiente contrário
ao sentimentalismo romântico. A ciência passou a ser considerada o único veículo legítimo de conhecimento da
realidade, não mais a emoção. Uma literatura “científica”, um recurso de conhecimento da realidade, um espelho
fiel do universo.
O pensamento positivista do francês Augusto Comte (1798-1857) marcou a atmosfera realista cujo foco foi
o saber à luz das leis científicas, superior ao saber teológico ou metafísico.
101
O Naturalismo disseminou uma visão determinista do homem, visto como produto de leis físicas e so-
ciais, fruto do meio em que vive, da raça e do momento histórico, bem como da cultura a que está sujeito: a
educação e o ambiente.
Também influenciada pelo evolucionismo de Charles Darwin, a arte realista-naturalista postulava a seleção
natural do homem na sociedade como veículo de transformação das espécies. Vence sempre o mais forte. Ao fraco,
inevitavelmente, cabe ser vencido.
Os escritores naturalistas introduziram na Europa o chamado “romance experimental”, idealizado e execu-
tado por Émile Zola, seu patrono.
Trata-se de um romance resultado da evolução científica do século. Cabe-lhe “continuar a Fisiologia [...]
substituir o estudo do homem abstrato, do homem metafísico pelo estudo do homem natural, submetido às leis
físico-químicas e determinado pelas influências do meio ” (ZOLA, Émile. O romance experimental e o Naturalismo.
São Paulo: Perspectiva, 1979).
A sopa. 1862 a 1865. Honoré Daumier (1808–1879). A cena é quase animalesca: enquanto se alimenta, a mãe também amamenta a criança.
Características do Realismo/Naturalismo
O Realismo-Naturalismo foi uma arte engajada, compromissada com seu universo e com a observação do mundo
objetivo e exato.
Presença do cotidiano
Os realistas-naturalistas representavam a realidade artística de seu tempo sem preconceito e sem convenção.
Tinha destaque o cotidiano puro e simples, desprezado pelas estéticas anteriores. Os personagens dos romances
realistas-naturalistas estão muito próximos das pessoas comuns, reais, com seus problemas e suas vidas medianas,
cujas atitudes devem ter sempre explicações lógicas e científicas. A linguagem, outra preocupação, aproxima-se do
texto informativo, simples, sem recorrer a imagens denotativas, mas detalhista no enfoque da realidade, explicável
pela proximidade com os fatos narrados. A sintaxe obedece à ordem direta.
102
Preferência pelo presente
Com preferência pelo momento presente, as narrativas realistas-naturalistas são ambientadas e criticadas no tem-
po contemporâneo ao do escritor. Com isso, a literatura passou a denunciar e a criticar a realidade social.
Personagens tipificados
Trazidos da vida real, seus personagens são representativos de uma determinada categoria: empregado, patrão, pro-
prietário, subalterno; senhor, escravo, e assim por diante. Consistem em personagens típicos, ou tipos, espécies de
caricaturas, com traços definidos, comportamentos previsíveis e, basicamente, sem alterações ao longo da narrativa.
Esses tipos permitem estabelecer relações críticas entre o texto e a realidade histórica em que ele se insere.
O escritor Eça de Queirós e seus personagens típicos. 1928. Caricatura de João Abel Manta.
Realismo-Naturalismo
Realismo-Naturalismo brasileiro (1881-1893)
português (1865-1890)
Questão Coimbrã ou Bom-senso e bom gosto:
Publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Antero de Quental versus Antônio Feliciano de Castilho
Nascido em 1865 com a Questão Coimbrã, o Realismo português entrou em decadência a partir de 1890 e
extinguiu-se após a morte do escritor Eça de Queirós, em 1900.
Influenciado pelo Realismo francês, profundamente anticlerical, antiburguês e antirromântico, um grupo de
intelectuais chamado Geração de 1870 – liderado por Antero de Quental e com participação de Oliveira Martins,
Teófilo Braga, e Guerra Junqueiro – deu vida ao movimento realista português.
“Caracterizou-se por uma guerra de folhetos e folhetins entre Antero e Antônio Feliciano de Castilho e Antônio
Pinheiro Chagas. Com um fundo predominantemente ideológico, esta questão promoveu ventos de mudança
estéticos. Possivelmente influenciado pelo palavroso romantismo piegas, o realismo começa por caracterizar-se
por uma defesa pela linguagem simples.
(Disponível em: <filosofianamadeiratorres.blogspot.com.br>. Acesso em: 15 mar. 2015).
Foi com a Questão Coimbrã, em 1865, polêmica literária travada pelos jornais de Coimbra, que o Realis-
mo começou a ganhar vida em Portugal. Naquela mesma data, o poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho,
representante da Escola de Lisboa, fez elogios num posfácio à obra Poema da mocidade, de Pinheiro Chagas, e
censurou o estilo poético defendido pela Escola Coimbrã, citando os nomes de Antero de Quental e Teófilo Braga.
Foi o quanto bastou para que Antero de Quental lhe respondesse mediante folhetos denominados Bom senso e
bom gosto e A dignidade das letras e as literaturas oficiais.
104
Ato contínuo, formaram-se grupos partidários, românticos e realistas, de um e de outro lado, que se
degladiaram durante os anos de 1865 e 1866. Enquanto os românticos pregavam a tradição, os realistas anun-
ciavam a revolução.
A perspectiva revolucionária do grupo privilegiava a liberdade de pensamento, como se pode perceber neste
trecho do folheto “Bom senso e bom gosto”, assinado por Antero de Quental.
De acordo com os jovens de Coimbra, o tradicionalismo era resultado de uma educação romântica, convencional e
distante da realidade. O escritor tinha uma missão a cumprir: a de comprometer-se com a verdade social.
Tendo em vista a importância do catolicismo em Portugal, os realistas criticavam seu conservadorismo voltado para
o passado, que impedia o desenvolvimento natural da sociedade.
105
Visão objetiva e natural da realidade
O escritor realista construía seus personagens mediante tipos concretos, criados pela observação da relação deles
com o meio. Seu comportamento deveria ser definido pelos caracteres psicossociais influenciados e adquiridos no
ambiente em que viviam.
Desejo de democratização do poder político mediante amplas reformas sociais; diagnóstico de problemas sociais e
sugestões de soluções reformistas de caráter socialista.
Estabelecimento de conexões rigorosas de causa e efeito entre os fenômenos observados da realidade social.
Líder do Realismo e seu principal ativista aos 23 anos, Antero Tarquínio de Quental (1842-1891) publicou
as Odes modernas, que fugiam aos padrões românticos.
106
Transcendentalismo
(Ao Sr. J. P. Oliveira Martins)
Já sossega, depois de tanta luta,
Já me descansa em paz o coração.
Cai na conta, enfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e à Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrário do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma matéria bruta...
Não é no vasto mundo — por imenso
Que ele pareça à nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...
Na esfera do invisível, do intangível,
Sobre desertos, vácuo, soledade,
Voa e paira o espírito impassível!
Antero de Quental
In Sonetos, 1861
Edição de 1886
(Org. J. P. Oliveira Martins)
NOTAS:
1. soneto do período: 1880-1884
2. grafia atualizada
Finda a polêmica da Questão Coimbrã, Antero mudou-se para Paris, aderiu ao socialismo e pôs em prática
uma filosofia humanitária de auxílio ao próximo, com o que logo se desiludiu. Percebeu que a prática deveria ema-
nar de uma ação coletiva, não individual. Antero mudou-se para Nova York, onde não se adaptou ao modo de vida
norte-americano. De volta a Portugal em 1868, filiou-se ao grupo de debates Cenáculo.
Em 1871, filiado ao Partido Socialista e em contato com organizações do movimento proletário interna-
cional, organizou as Conferências Democráticas no afã de propagar as ideias que defendia e fazer com que
Portugal caminhasse no mesmo passo rápido da Europa. Visado pela repressão, foi perseguido junto com todos os
demais integrantes do movimento democrático.
Com a morte do pai em 1873, Antero de Quental foi obrigado a retirar-se da cena política.
Os livros de poemas Raios de extinta luz e Primaveras românticas são obras anteriores à Questão Coimbrã.
Revelam uma poesia ainda influenciada por um romantismo ora religioso, ora amoroso. Sua primeira obra marcante
e revolucionária foi Odes modernas.
“Achei-me sem direção, estado terrível de espírito, partilhado mais ou menos por quase todos os de minha
geração”, confessaria o poeta em carta a um amigo, datada de 1887.
Com cento e nove composições, Sonetos é uma obra síntese de Antero de Quental; compreende vários
períodos de sua vida: do ciclo inicial, “amor-paixão”, ao último, reflexão metafísica, passando por diferentes fases:
apostolado social, desejo de evasão e de morte e pensamento teológico.
107
Mais luz!
Eça de Queirós
José Maria Eça de Queirós (1845-1900) estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde conheceu a
geração que revolucionou a literatura.
Aos 21 anos participou ativamente das Conferências do Cassino Lisbonense.
Ingressou na vida diplomática e atuou como cônsul em Cuba e na Grã-Bretanha, onde escreveu O crime do
padre Amaro e O primo Basílio, romances de mais repercussão em sua carreira literária.
Mesmo com tempo gasto com a diplomacia, Eça de Queirós não deixou de escrever para jornais portu-
gueses e brasileiros.
Em 1883, foi eleito sócio-correspondente da Academia
Real de Ciências. Conheceu o escritor Émile Zola, em Paris,
para onde foi transferido.
Depois de escrever e publicar A relíquia e Os Maias,
em 1888, Eça já não era mais o combativo jovem das Confe-
rências do Cassino. Tampouco o eram seus companheiros. Em
Paris, escreveu A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.
Sua última visita a Portugal foi em 1900, ano em que faleceu.
108
As três fases de Eça de Queirós
Obras
O crime do padre Amaro (1875)
O jovem padre Amaro (Gael García Bernal) acaba de ser ordenado e em breve irá para Roma continuar seus es-
tudos, graças à boa relação que man-
tém com o bispo. Antes, contudo, deve
trabalhar em uma paróquia. É enviado
para Los Reyes para atuar sob as or-
dens do padre Benito (Sancho Gracia),
o vigário que aparentemente vive uma
existência corrupta e contraditória. Lá
Amaro conhece a linda e devota Amé-
lia (Ana Claudia Talancón), filha de
Sanjuanera (Angélica Aragón), dona
do restaurante mais importante da ci-
dade e amante do padre Benito. Dian-
te do mundo real, Amaro é confron-
tado com a hipocrisia da Igreja, que
condena as guerrilhas, mas convive
com chefes do tráfico de drogas.
(1h42, 2002. Disponível em: <adorocinema.com/filmes/filme-49421/>. Acesso em: 14 mar. 2015).
Jorge e Luísa são um casal da burguesia lisboeta. Convivem num círculo de amizades formado, entre outros, pelo
Conselheiro Acácio, homem apegado a convenções sociais; Dona Felicidade, que nutre uma paixão por ele; e Se-
bastião, o melhor amigo de Jorge.
Jorge sai em uma viagem de trabalho e durante sua
ausência, Luísa recebe a visita de Basílio, seu primo e antigo
namorado, residente em Paris. Admirado com a beleza da
moça, Basílio envolve Luísa em um jogo de sedução, que faz
com que ela se imagine vivendo uma das aventuras amo-
rosas de suas leituras românticas. Eles se tornam amantes,
passando a trocar cartas de amor. Luísa encontra estímulo
na amiga Leopoldina, mulher casada, colecionadora de ca-
sos extraconjugais. Toda a movimentação da casa é observa-
da pela governanta Juliana, sempre às voltas com planos de
enriquecimento rápido.
Para escapar das desconfianças dos vizinhos, o ca-
sal de amantes passa a se encontrar em um quarto alu-
gado nos subúrbios de Lisboa. A despeito da decrepitu-
de decadente do lugar, chamam-no de Paraíso. Ali vivem
tórridas cenas de amor. Com o tempo, Luísa percebe um
esfriamento na paixão de Basílio, que passa a lhe tratar
com certo desprezo.
111
Juliana apodera-se de algumas cartas trocadas entre os amantes e passa a chantagear a patroa. Luísa expõe
um plano de fuga a Basílio, mas ele se recusa a segui-lo e retorna a Paris.
Jorge chega da viagem e Luísa continua a sofrer o assédio de Juliana, que exige uma grande quantia em
dinheiro para devolver-lhe as cartas. Para conter seus ímpetos, Luísa vê-se obrigada a conceder à empregada uma
série de privilégios: presenteia-lhe com seus vestidos, deixa seu quarto mais confortável e chega até mesmo a
substituí-la em alguns serviços domésticos, sempre às escondidas do marido.
Jorge apercebe-se do que acredita ser desprezo de Juliana pelo trabalho e resolve demiti-la. Juliana exige o
dinheiro da chantagem e Luísa apela então para Sebastião. Ele escuta toda a história do adultério e fica horroriza-
do, mas resolve ajudar a amiga. Vai até a casa de Jorge em um momento em que Juliana está só e, com ameaças de
prisão, obtém as cartas. Vendo escapar-lhe o sonho de enriquecimento, Juliana tem uma síncope e morre. Sebastião
entrega as cartas a Luísa.
Luísa adoece. Jorge apanha, em meio à correspondência, uma carta de Basílio. Imaginando que a causa da
doença da esposa seja algum problema familiar de cujo conhecimento ela o poupa, Jorge abre a carta. Nela, Basílio
relembra os bons momentos passados no Paraíso. Quando a esposa melhora, Jorge lhe mostra a carta de Basílio. Luísa
sofre um choque e, alguns dias depois, morre.
(Disponível em: <educacao.globo.com>. Acesso em: 14 marco. 2015).
Capítulo II
Aos domingos à noite havia em casa de Jorge uma pequena reunião, uma cavaqueira, na sala, em redor do velho
candeeiro de porcelana cor-de-rosa. Vinham apenas os íntimos. O “Engenheiro”, como se dizia na rua, vivia muito ao
seu canto, sem visitas. Tomava-se chá, palrava-se. Era um pouco à estudante. Luísa fazia crochê, Jorge cachimbava.
O primeiro a chegar era Julião Zuzarte, um parente muito afastado de Jorge e seu antigo condiscípulo nos
primeiros anos da Politécnica. Era um homem seco e nervoso, com lunetas azuis, os cabelos compridos caídos sobre a
gola. Tinha o curso de cirurgião da Escola. Muito inteligente, estudava desesperadamente, mas, como ele dizia, era um
tumba. Aos trinta anos, pobre, com dívidas, sem clientela, começava a estar farto do seu quarto andar na Baixa, dos
seus jantares de doze vinténs, do seu paletó coçado de alamares; e entalado na sua vida mesquinha, via os outros, os
medíocres, os superficiais, furar, subir, instalar-se à larga na prosperidade! “Falta de chance”, dizia. [...]
Como vinha mais cedo ia à sala de jantar, tomava a sua chávena de café; e tinha sempre um olhar de lado
para as pratas do aparador e para as toaletes frescas de Luísa. [...]
Às nove horas, ordinariamente, entrava D. Felicidade de Noronha. Vinha logo da porta com os braços esten-
didos, o seu bom sorriso dilatado. Tinha cinquenta anos, era muito nutrida, e, como sofria de dispepsia e de gases,
àquela hora não se podia espartilhar e as suas formas transbordavam. Já se viam alguns fios brancos nos seus
cabelos levemente anelados, mas a cara era lisa e redonda, cheia, de uma alvura baça e mole de freira; nos olhos
papudos, com a pele já engelhada em redor, luzia uma pupila negra e úmida, muito móbil; e aos cantos da boca uns
pelos de buço pareciam traços leves e circunflexos de uma pena muito fina. Fora a íntima amiga da mãe de Luísa,
e tomara aquele hábito de vir ver a pequena aos domingos. Era fidalga, dos Noronhas de Redondela, bastante
aparentada em Lisboa, um pouco devota, muito da Encarnação.
Mal entrava, ao pôr um beijo muito cantado na face de Luísa, perguntava-lhe baixo, com inquietação:
– Vem?
– O Conselheiro? Vem.
[...]
Havia cinco anos que D. Felicidade o amava. Em casa de Jorge riam-se um pouco com aquela chama. Luísa
dizia: “Ora! E uma caturrice dela!” [...]
112
O Conselheiro era a sua ambição e o seu vício! Havia sobretudo nele uma beleza, cuja contemplação demo-
rada a estonteava como um vinho forte: era a calva. Sempre tivera o gosto perverso de certas mulheres pela calva
dos homens, e aquele apetite insatisfeito inflamara-se com a idade. [...]
Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado
no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto; tingia os cabelos que de uma
orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca – e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva;
mas não tingia o bigode: tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas
escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio.
[...]
Houve um silêncio comovido, e à porta uma voz fina, disse:
– Dão licença?
– Oh, Ernestinho!... – exclamou Jorge.
Com um passo miudinho e rápido, Ernestinho veio abraçá-lo pela cintura:
– Eu soube que tu partias, primo Jorge... Como está, prima Luísa?
Era primo de Jorge. Pequenino, linfático, os seus membros franzinos, ainda quase tenros, davam-lhe um as-
pecto débil de colegial; o buço, delgado, empastado em cera mostache, arrebitava-se aos cantos em pontas afiadas
como agulhas; e na sua cara chupada, os olhos repolhudos amorteciam-se com um quebrado langoroso. Trazia
sapatos de verniz com grandes laços de fita; sobre o colete branco, a cadeia do relógio sustentava um medalhão
enorme, de ouro, com frutos e flores esmaltados em relevo. [...]
Luísa bordava, calada; a luz do candeeiro, abatida pelo abajur, dava aos seus cabelos tons de um louro
quente, resvalava sobre a sua testa branca como sobre um marfim muito polido. [...]
Capítulo III
[...]
Nascera em Lisboa. O seu nome era Juliana Couceiro Tavira. Sua mãe fora engomadeira. [...]
Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir
em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças
e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando
voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se
lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir. Desde rapariga a sua ambição fora ter um negociozito,
uma tabacaria, uma loja de capelista ou de quinquilharias, dispor, governar, ser patroa; mas, apesar de economias
mesquinhas e de cálculos sôfregos, o mais que conseguira juntar foram sete moedas ao fim de anos; tinha então
adoecido; com o horror do hospital fora tratar-se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai! derretera-se! No dia
em que se trocou a última libra, chorou horas com a cabeça debaixo da roupa.
Apesar de seu dia a dia abrutalhado, Juliana sonhava com um futuro de grande dama.
Ficou sempre adoentada desde então; perdeu toda a esperança de se estabelecer. Teria de servir até ser
velha, sempre, de amo em amo! Essa certeza dava-lhe uma desconsolação constante.
Começou a azedar-se.
[...]
Lentamente, começou a tornar-se desconfiada, cortante como um nordeste; tinha respostadas, questões
com as companheiras; não se havia de deixar pôr o pé no pescoço!
As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo.
Fez-se má; beliscava crianças até lhes enodoar a pele; e se lhe ralhavam, a sua cólera rompia em rajadas. Começou
a ser despedida. Num só ano esteve em três casas. Saía com escândalo, aos gritos, atirando as portas, deixando as
amas todas pálidas, todas nervosas...
[...]
(QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ática, 1979.]
113
No cinema
Curiosidade
O romance O primo Basílio também foi adaptado para a fotonovela em uma livre versão de Mário Miguel.
114
E.O. TESTE I 4. O realismo, como escola literária, é caracte-
rizado:
a) pelo exagero da imaginação.
1. O realismo foi um movimento de: b) pelo culto da forma.
a) volta ao passado; c) pela preocupação com o fundo.
b) exacerbação ultra-romântica; d) pelo subjetivismo.
c) maior preocupação com a objetividade; e) pelo objetivismo.
d) irracionalismo;
e) moralismo. 5. Podemos verificar que o Realismo revela:
I. senso do contemporâneo. Encara o pre-
2. A respeito de Realismo, pode-se afirmar: sente do mesmo modo que romantismo se
I. Busca o perene humano no drama da volta para o passado ou para o futuro.
existência. II. o retrato da vida pelo método da docu-
II. Defende a documentação de fatos e a im- mentação, em que a seleção e a síntese
pessoalidade do autor perante a obra. operam buscando um sentido para o en-
III. Estética literária restritamente brasilei- cadeamento dos fatos.
ra; seu criador é Machado de Assis. III. técnica minuciosa, dando a impressão de
a) São corretas apenas II e III. lentidão, de marcha quieta e gradativa
b) Apenas III é correta. pelos meandros dos conflitos, dos êxitos
c) As três afirmações são corretas. e dos fracassos.
d) São corretas I e II. Assinale:
e) As três informações são incorretas. a) se as afirmativas II e III forem corretas.
b) se as três afirmativas forem corretas.
3. Em texto sobre O primo Basílio, de Eça de c) se apenas a afirmativa III for correta.
Queirós, Machado de Assis afirma: d) se as afirmativas I e II forem corretas.
“o tom carregado das tintas, que nos assus- e) se as três afirmativas forem incorretas.
ta, para ele é simplesmente o tom próprio.”
Assinala que o escritor português já provo- 6. Das características abaixo, assinale a que
cara admiração dos leitores com O crime do não pertence ao Realismo:
Padre Amaro e acrescenta: a) Preocupação critica.
Pois que havia de fazer a maioria, senão b) Visão materialista da realidade.
admirar a fidelidade de um autor, que não c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
esquece nada, e não oculta nada? Porque a d) Valorização da Igreja.
nova poética é isto, e só chegará à perfeição e) Determinismo na atuação das personagens.
no dia em que nos disser o número exato dos
fios de que se compõe um lenço de cambraia 7. Assinale a única alternativa incorreta.
ou um esfregão de cozinha. a) O Realismo não tem nenhuma ligação com o
Considerados o estilo de Machado e seu con- Romantismo.
texto, deve-se compreender as palavras aci- b) A atenção ao detalhe é característica do Re-
ma destacadas como: alismo.
a) elogio a uma prática inovadora que o au- c) Pode-se dizer que alguns autores românticos
tor brasileiro adotou desde a obra inicial, já possuem certas características realistas.
tornando-se o maior representante do Rea- d) O cientificismo do século XIX forneceu a
lismo no Brasil; base da visão do mundo adotada, de um
b) recusa do Realismo entendido como repro- modo geral, pelo Naturalismo.
dução fotográfica, que não propicia a esco- e) O Realismo apresenta análise social.
lha dos detalhes mais significativos de uma
situação ou perfil humano; 8. (Fuvest) Tendo em vista o conjunto de pro-
c) crítica à “velha poética”, que, mais sutil, mais posições e teses desenvolvidas em A cidade
sugeria do que explicitava, negando-se a des- e as serras, pode-se concluir que é coerente
crições detalhadas; com o universo ideológico dessa obra o que
d) negação dos procedimentos típicos dos es- se afirma em:
critores românticos, que, evitando a obser- a) A personalidade não se desenvolve pelo sim-
vação da realidade, em nada podiam con- ples acúmulo passivo de experiências, des-
tribuir para a formação da consciência da provido de empenho radical, nem, tampou-
nacionalidade; co, pela simples erudição ou pelo privilégio.
e) elogio ao público pelo reconhecimento do b) A atividade intelectual do indivíduo deve-
valor do escritor português, fiel à descrição -se fazer acompanhar do labor produtivo do
e avaliação da sociedade burguesa que retra- trabalho braçal, sem o que o homem se infe-
ta em suas obras. licita e desviriliza.
115
c) O sentimento de integração a um mundo fi-
nalmente reconciliado, o sujeito só o alcan- E.O. TESTE II
ça pela experiência avassaladora da paixão
amorosa, vivida como devoção irracional e 1. (Unifesp) Leia os versos de Cesário Verde.
absoluta a outro ser. Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
d) Elites nacionais autênticas são as que ado-
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
tam, como norma de sua própria conduta, os
Assim que pela História eu me aventuro e
usos e costumes do país profundo, constitu-
alargo.
ído pelas populações pobres e distantes dos (www.astormentas.com)
centros urbanos.
Em relação à Igreja, o eu lírico assume, nes-
e) Uma vida adulta equilibrada e bem desenvolvi-
ses versos, uma posição:
da em todos os seus aspectos implica a partici-
a) anticlerical.
pação do indivíduo na política partidária, nas b) submissa.
atividades religiosas e na produção literária. c) evangelizadora.
d) saudosista.
9. Examine as frases abaixo: e) ambígua.
I. Os representantes do Naturalismo fazem
2. (PUC-SP - Adaptado) A obra “O Primo Ba-
aparecer na sua obra dimensões meta-
sílio”, escrito por Eça de Queirós em 1878,
físicas do homem, passando a encará-lo
é considerada uma das mais representativas
como um complexo social examinando à do romance realista-naturalista português.
luz da psicologia. Indique a alternativa a seguir que NÃO con-
II. No Naturalismo, as tentativas de firma o conteúdo desse romance.
submeter o Homem a leis deter- a) Romance de tese, apresenta os mecanismos
minadas são consequências das do casamento e analisa o comportamento da
ciências, na segunda metade do século XIX. pequena burguesia de Lisboa.
III. Na seleção de “casos” a serem enfoca- b) Luísa, personagem central do romance, é
dos, os naturalistas demonstram especial caracterizada como uma mulher romântica,
aversão pelo anormal e pelo patológico. sonhadora e frágil, comportamento esse que
Pode-se dizer corretamente que: a predispõe ao adultério.
a) só a I está certa. c) O narrador do romance aproxima-se bastan-
b) só a II está certa. te do modelo proposto pela literatura rea-
c) só a III está certa. lista, que se caracteriza pela objetividade e
d) existem duas certas. pelo senso da minúcia.
d) Entre as diferentes personagens que se mo-
e) nenhuma está certa.
vem na narrativa, está Juliana, uma bur-
guesa que perdera tudo na vida e tornara-se
10. Das citações apresentadas abaixo, qual não empregada.
apresenta, evidentemente, um enfoque na- e) Basílio, personagem que dá titulo ao ro-
turalista? mance, não se compromete nem se envolve
a) Às esquinas, nas quitandas vazias, fermen- emocionalmente; apenas busca na aventura
tava um cheiro acre de sabão da terra e amorosa uma maneira agradável de ocupar o
aguardente. tempo.
b) ... as peixeiras, quase todas negras, muito
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES
gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os UMA CAMPANHA ALEGRE, IX
grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.
c) Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham Há muitos anos que a política em Portugal
uivos que pareciam gemidos humanos. apresenta este singular estado:
d) ... batiam-lhe com a biqueira do chapéu nos Doze ou quinze homens, sempre os mesmos,
ombros e nas coxas, experimentando-lhes o alternadamente possuem o Poder, perdem o
Poder, reconquistam o Poder, trocam o Po-
vigor da musculatura, como se estivesse a
der... O Poder não sai duns certos grupos,
comprar cavalos.
como uma pela* que quatro crianças, aos
e) À porta dos leilões aglomeravam-se os que quatro cantos de uma sala, atiram umas às
queriam comprar e os simples curiosos. outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens es-
tão no Poder, esses homens são, segundo a
opinião, e os dizeres de todos os outros que
lá não estão — os corruptos, os esbanjadores
116
da Fazenda, a ruína do País! c) a defesa de boas ideias frequentemente leva
Os outros, os que não estão no Poder, são, à renúncia.
segundo a sua própria opinião e os seus jor- d) os políticos honestos sofrem acusações e
nais — os verdadeiros liberais, os salvadores perseguições dos desonestos.
da causa pública, os amigos do povo, e os e) todos os políticos se equivalem pelos desvios
interesses do País. da ética.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no
Poder fazem tudo o que podem para continu-
5. (Unesp) Considerando que o último parágra-
ar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína
fo do fragmento representa uma ironia do
do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, cons- cronista, seu significado contextual é:
piram, cansam-se, para deixar de ser o mais a) Portugal vai muito bem, apesar de seus maus
depressa que puderem — os verdadeiros li- governantes.
berais, e os interesses do País! b) A alternância dos grupos no poder faz bem
Até que enfim caem os cinco do Poder, e ao país.
os outros, os verdadeiros liberais, entram c) O país experimenta um progresso vertiginoso.
triunfantemente na designação herdada de d) O país vai mal em todos os sentidos.
esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em e) Portugal não se importa com seus políticos.
tanto que os que caíram do Poder se resig-
nam, cheios de fel e de tédio — a vir a ser os 6. (Unesp) Considere as frases com relação ao
verdadeiros liberais e os interesses do País. que se afirma na crônica de Eça de Queirós:
Ora como todos os ministros são tirados deste I. Os que estão no poder não querem sair e
grupo de doze ou quinze indivíduos, não há os que não estão querem entrar.
nenhum deles que não tenha sido por seu tur- II. Quando um partido ético está no poder,
no esbanjador da Fazenda e ruína do País... tudo fica melhor.
Não há nenhum que não tenha sido demitido, III. Os governantes são bons e éticos, mas vi-
ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusa- vem a trocar acusações infundadas.
ções mais graves e pelas votações mais hostis... IV. Os políticos que estão fora do poder julgam-
Não há nenhum que não tenha sido julgado -se os melhores eticamente para governar.
incapaz de dirigir as coisas públicas — pela As frases que representam a opinião do cro-
Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas nista estão contidas apenas em:
incriminações da opinião, pela afirmativa a) I e II.
constitucional do poder moderador... b) I e III.
E todavia serão estes doze ou quinze indi- c) I e IV.
víduos os que continuarão dirigindo o País, d) I, II e III.
neste caminho em que ele vai, feliz, abun- e) II, III e IV.
dante, rico, forte, coroado de rosas, e num
chouto** tão triunfante! 7. (Mackenzie) Assinale a alternativa incorreta
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
a respeito de Eça de Queirós.
a) Embora tenha militado intensamente na
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores,
[s.d.].) implantação do Realismo em Portugal, não
participou das Conferências do Cassino Lis-
3. (Unesp) ... cheios de fel e de tédio... bonense.
Nesta passagem do sexto parágrafo, o cro- b) Costuma-se dividir sua obra em três fases,
nista se utiliza figuradamente da palavra fel sendo a segunda aquela em que desenvolveu
para significar: um estilo realista implacável.
a) rancor. c) Sua obra é considerada o ponto mais alto da
b) eloquência. prosa realista portuguesa.
c) esperança. d) Em O CRIME DO PADRE AMARO, critica a so-
d) medo. ciedade burguesa de Portugal e mostra a in-
e) saudade. fluência do clero na sociedade provinciana.
e) Em O PRIMO BASÍLIO, temos um romance no
4. (Unesp) Não há nenhum que não tenha sido qual se denuncia a rede de vícios e de adul-
demitido, ou obrigado a pedir a demissão, térios que infestava a Lisboa de então.
pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis... TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
esta frase, o cronista afirma que:
a) a atividade política está sempre sujeita a Amaro lia até tarde, um pouco perturba-
acusações descabidas. do por aqueles períodos sonoros, túmidos
b) é altamente honroso, em certos casos, demi- de desejo; e no silêncio, por vezes, sentia
tir-se para evitar males ao estado. em cima ranger o leito de Amélia; o livro
117
escorregava-lhe das mãos, encostava a cabe- Quais propostas estão corretas?
ça às costas da poltrona, cerrava os olhos, e a) Apenas 1.
parecia-lhe vê-la em colete diante do touca- b) Apenas 2.
dor desfazendo as tranças; ou, curvada, de- c) Apenas 3.
sapertando as ligas, e o decote da sua camisa d) Apenas 2 e 3.
entreaberta descobria os dois seios muito e) 1, 2 e 3.
brancos.
Erguia-se, cerrando os dentes, com uma de-
cisão brutal de a possuir.
Começara então a recomendar-lhe a leitura
E.O. TESTE III
dos Cânticos a Jesus.
— Verá, é muito bonito, de muita devoção! TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES
Disse ele, deixando-lhe o livrinho uma noite O melro veio com efeito às três horas. Luísa
no cesto da costura. estava na sala, ao piano.
Ao outro dia, ao almoço, Amélia estava páli- — Está ali o sujeito do costume – foi dizer
da, com as olheiras até o meio da face. Quei- Juliana.
xou-se de insônia, de palpitações. Luísa voltou-se corada, escandalizada da
— E então, gostou dos Cânticos? expressão:
— Muito. Orações lindas! respondeu. — Ah! meu primo Basílio? Mande entrar.
Durante todo esse dia não ergueu os olhos E chamando-a:
para Amaro. Parecia triste – e sem razão, às — Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém,
vezes, o rosto abrasava-se-lhe de sangue. que entre.
(Eça de Queirós. O crime do padre Amaro.) Era o primo! O sujeito, as suas visitas per-
deram de repente para ela todo o interesse
8. (Unifesp) O trecho em que a ação de uma picante. A sua malícia cheia, enfunada até
personagem se demonstra impregnada de aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que
determinismo biológico e permite associar falta o vento. Ora, adeus! Era o primo!
o romance de Eça de Queirós ao movimento Subiu à cozinha, devagar, — lograda.
estético denominado Naturalismo é: — Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal
a) Erguia-se, cerrando os dentes, com uma deci- peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
são brutal de a possuir.
E com um risinho:
b) Começara então a recomendar-lhe a leitura
— É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à
dos Cânticos a Jesus.
última hora! O diabo tem graça!
c) (...) deixando-lhe o livrinho uma noite no
cesto da costura. — Então que havia de o homem ser se não
d) Queixou-se de insônia, de palpitações. parente? – observou Joana.
e) Durante todo esse dia não ergueu os olhos Juliana não respondeu. Quis saber se estava
para Amaro. o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa
para passar! E sentou-se à janela, esperan-
9. (Unifesp) O texto permite afirmar que: do. O céu baixo e pardo pesava, carregado
a) o livro de orações que Amaro costumava ler de eletricidade; às vezes uma aragem súbita
desperta seu amor por Amélia. e fina punha nas folhagens dos quintais um
b) a observação diária de certas ações de Amé- arrepio trêmulo.
lia desperta o desejo de Amaro. – É o primo! – refletia ela. – E só vem en-
c) embora Amélia ache lindas as orações do li- tão quando o marido se vai. Boa! E fica-se
vro, a obra a deixa perturbada. toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca
d) o livro que Amaro empresta a Amélia au- e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia
menta, aos poucos, sua religiosidade. para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bê-
e) com a leitura do livro, Amélia passa a corres- beda! Tudo fica na família!
ponder aos sentimentos de Amaro. Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lo-
grada. Havia ali muito “para ver e para escu-
10. (Ufrgs) Considere o enunciado a seguir e as
tar”. E o ferro estava pronto?
três propostas para completá-lo. “O Crime
Mas a campainha, embaixo, tocou.
do Padre Amaro”, de Eça de Queirós, é um
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
romance:
I. em que a ironia queirosiana se volta para
a burguesia lisboeta e suas mazelas. 1. (Unifesp) Observe as passagens do texto:
II. no qual o autor denuncia a corrupção da — Ora, adeus! Era o primo! (7.º parágrafo)
Igreja, criticando, assim, a sociedade por- — E o ferro estava pronto? (penúltimo
tuguesa, marcada por um falso catolicismo. parágrafo)
III. cujo painel social abrange todas as clas- Nessas passagens, é correto afirmar que se
ses, denotando, dessa forma, o profundo expressa o ponto de vista:
envolvimento do autor com as tendências a) da personagem Juliana, em discurso direto,
socialistas da época. independente da voz do narrador.
118
b) da personagem Juliana, sendo que sua voz 5. (Unifesp) A leitura do trecho de O primo
mescla-se à voz do narrador. Basílio, em seu conjunto, permite concluir
c) do narrador, em terceira pessoa, distancia- corretamente que essa obra:
do, portanto, do ponto de vista de Juliana. a) expõe a sociedade portuguesa da época para
d) do narrador, em primeira pessoa, próximo, recuperar a tradição e os vínculos sociais.
portanto, do ponto de vista de Juliana. b) traz as relações humanas de forma idealista,
e) da personagem Luísa, em discurso indireto, ainda que recupere a ideologia vigente.
independente da voz do narrador. c) retrata a sociedade portuguesa da época de
forma romântica e idealizada.
2. (Unifesp) Quando é avisada de que Basílio d) faz explicitamente a defesa das instituições
estava em sua casa, Luísa escandaliza-se sociais, como a família.
com a forma de expressão de sua criada Ju- e) faz um retrato crítico da sociedade portu-
liana. A reação de Luísa decorre: guesa da época, exibindo os seus costumes.
a) da linguagem descuidada com que a criada
E.O. DISSERTATIVO
se refere a seu primo Basílio, rapaz cortês e
de família aristocrática.
b) da intimidade que a criada revela ter com o
Basílio, o que deixa a patroa enciumada com 1. (Fuvest) Leia o excerto de A cidade e as serras,
o comentário. de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
c) do comentário malicioso que a criada faz à Na sala, a tia Vicência ainda nos esperava
presença de Basílio, sugerindo à patroa que desconsolada, entre todas as luzes, que ar-
deveria envolver-se com o rapaz. diam no silêncio e paz do serão debandado:
d) da indiscrição da criada ao referir-se ao ra- — Ora uma coisa assim! Nem querem ficar
paz, o qual, apesar do vínculo familiar, não para tomar um copinho de geleia, um cálice
era visita frequente na casa da patroa. de vinho do Porto!
e) da ambiguidade que se pode entrever nas — Esteve tudo muito desanimado, tia Vi-
cência! - exclamei desafogando o meu tédio.
palavras da criada, referindo-se com ironia
— Todo esse mulherio emudeceu, os amigos
às frequentes visitas de Basílio à patroa.
com um ar desconfiado...
Jacinto protestou, muito divertido, muito
3. (Unifesp) Considere o antepenúltimo pará- sincero:
grafo do texto. — Não! Pelo contrário. Gostei imenso. Exce-
Nas reflexões de Juliana, está sugerido o que lente gente! E tão simples... Todas estas ra-
acaba por ser o tema gerador desse romance parigas me pareceram ótimas. E tão frescas,
de Eça de Queirós, a saber: tão alegres! Vou ter aqui bons amigos, quan-
a) o amor impossível, em nome do qual Luísa do verificarem que eu não sou miguelista.
abandona o marido. Então contamos à tia Vicência a prodigiosa
b) a vingança, em que Luísa vitima seu amante história de D. Miguel escondido em Tormes...
Basílio. Ela ria! Que coisas! E mau seria...
c) o triângulo amoroso, em que Basílio ocupa o — Mas o Sr. Jacinto, não é?
lugar de amante. — Eu, minha senhora, sou socialista...
d) o casamento por interesse, mediante a com- a) Defina sucintamente o miguelismo a que se
pra do amor de Basílio. refere o texto e indique a relação que há entre
e) o casamento por conveniência, no qual Luí- essa corrente política e a história do Brasil.
sa foi lograda. b) Tendo em vista o contexto da obra, explique
o que significa, para Jacinto, ser “socialista”.
4. (Unifesp) A leitura do antepenúltimo pará-
2. (Unicamp) Os trechos a seguir foram extraí-
grafo do texto permite concluir que as refle-
dos de A cidade e as serras, de Eça de Queirós.
xões de Juliana são pautadas:
Mas dentro, no peristilo, logo me surpreen-
a) pelo inconformismo com os encontros, que
deu um elevador instalado por Jacinto – ape-
lhe representam mais afazeres. sar do 202 ter somente dois andares, e liga-
b) pela falta de interesse que tem de se ocupar dos por uma escadaria tão doce que nunca
dos afazeres domésticos. ofendera a asma da Srª. D. Angelina! Espaço-
c) pelo ressentimento que experimenta, por so, tapetado, ele oferecia, para aquela jorna-
não receber a atenção desejada. da de sete segundos, confortos numerosos,
d) pela insatisfação de contemplar o bem-estar um divã, uma pele de urso, um roteiro das
da família. ruas de Paris, prateleiras gradeadas com cha-
e) pelo descaso que revela ter em relação a Lu- rutos e livros. Na antecâmera, onde desem-
ísa e aos seus familiares. barcamos, encontrei a temperatura macia e
119
tépida duma tarde de Maio, em Guiães. Um não é pois Zola – é Claude Bernard*. A arte
criado, mais atento ao termômetro que um tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e
piloto à agulha, regulava destramente a boca não a idealização das imaginações inatas...
dourada do calorífero. E perfumadores entre * Claude Bernard (1813-1878) foi importante médico e
palmeiras, como num terraço santo de Be- fisiologista francês.
nares, esparziam um vapor, aromatizando e Eça de Queirós. Idealismo e Realismo.)
salutarmente umedecendo aquele ar delica-
do e superfino. TEXTO B
Eu murmurei, nas profundidades do meu as- Tinham passado três anos quando [Luísa] co-
sombrado ser: nheceu Jorge. Ao princípio não lhe agradou.
— Eis a Civilização! Não gostava dos homens barbados; depois
— Meus amigos, há uma desgraça... percebeu que era a primeira barba, fina, ren-
Dornan pulou na cadeira: – Fogo? te, muito macia decerto; começou a admirar
— Não, não era fogo. Fora o elevador dos os seus olhos, a sua frescura. E sem o amar,
pratos que inesperadamente, ao subir o pei- sentia ao pé dele como uma fraqueza, uma
xe de S. Alteza, se desarranjara, e não se mo- dependência e uma quebreira, uma vontade
via, encalhado! de adormecer encostada ao seu ombro, e de
(...) ficar assim muitos anos, confortável, sem re-
O Grão-Duque lá estava, debruçado sobre o ceio de nada. Que sensação quando ele lhe
poço escuro do elevador, onde mergulhara disse: Vamos casar, hem! Viu de repente o
uma vela que lhe avermelhava mais a face rosto barbado, com os olhos muito luzidios,
esbraseada. Espreitei, por sobre o seu om- sobre o mesmo travesseiro, ao pé do seu!
bro real. Em baixo, na treva, sobre uma larga Fez-se escarlate. Jorge tinha-lhe tomado a
prancha, o peixe precioso alvejava, deitado mão; ela sentia o calor daquela palma larga
na travessa, ainda fumegando, entre rode- penetrá-la, tomar posse dela; disse que sim;
las de limão. Jacinto, branco como a gravata,
ficou como idiota, e sentia debaixo do ves-
torturava desesperadamente a mola compli-
tido de merino dilatarem-se docemente os
cada do ascensor. Depois foi o Grão-Duque
seus seios. Estava noiva, enfim! Que alegria,
que, com os pulsos cabeludos, atirou um em-
que descanso para a mamã!
puxão tremendo aos cabos em que ele rolava.
(Eça de Queirós. O primo Basílio.)
Debalde! O aparelho enrijara numa inércia
de bronze eterno. Vistas à luz dos princípios teóricos expostos
(Eça de Queirós, A cidade e as serras. São Paulo: no texto A, qual o sentido das reações de Luísa
Companhia Editora Nacional, 2006, p. 28, p. 63.)
diante de Jorge e de seu pedido de casamento
a) Levando em consideração os dois trechos, (texto B)?
explique qual é o significado do enguiço do
elevador. 4. (Fuvest) Leia o excerto de A cidade e as serras,
b) Como o desfecho do romance se relaciona de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
com esse episódio? Era um domingo silencioso, enevoado e macio,
convidando às voluptuosidades da melancolia.
3. (Unifesp adaptado) Leia os textos. E eu (no interesse da minha alma) sugeri a Ja-
cinto que subíssemos à basílica do Sacré-Coeur,
TEXTO A em construção nos altos de Montmartre. (...)
Outrora uma novela romântica, em lugar de Mas a basílica em cima não nos interessou,
estudar o homem, inventava-o. Hoje o ro- abafada em tapumes e andaimes, toda bran-
mance estuda-o na sua realidade social. ca e seca, de pedra muito nova, ainda sem
Outrora no drama, no romance, concebia-se alma. E Jacinto, por um impulso bem jacín-
o jogo das paixões a priori; hoje analisa-se tico, caminhou gulosamente para a borda do
a posteriori, por processos tão exatos como terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzen-
os da própria fisiologia. Desde que se desco- to, na planície cinzenta, a cidade jazia, toda
briu que a lei que rege os corpos brutos é a cinzenta, como uma vasta e grossa camada
mesma que rege os seres vivos, que a cons- de caliça* e telha. E, na sua imobilidade e
tituição intrínseca de uma pedra obedeceu na sua mudez, algum rolo de fumo**, mais
às mesmas leis que a constituição do espí- tênue e ralo que o fumear de um escombro
rito duma donzela, que há no mundo uma mal apagado, era todo o vestígio visível de
fenomenalidade única, que a lei que rege os sua vida magnífica.
movimentos dos mundos não difere da lei *Caliça: pó ou fragmentos de argamassa ressequida,
que rege as paixões humanas, o romance, em que sobram de uma construção ou resultam
lugar de imaginar, tinha simplesmente de da demolição de uma obra de alvenaria.
observar. O verdadeiro autor do naturalismo **Fumo: fumaça.
120
a) Em muitas narrativas, lugares elevados tor- a) o que representavam Antônio Feliciano de
nam-se locais em que se dão percepções ex- Castilho e Antero de Quental nessa polêmica?
traordinárias ou revelações. No contexto da b) o que marca a Questão Coimbrã na História
obra, é isso que irá acontecer nos “altos de da Literatura Portuguesa?
Montmartre”, referidos no trecho? Justifi-
que sua resposta. 7. (Fuvest) Havia cinco anos que D. Felicidade
b) Tendo em vista o contexto histórico da obra, o amava. (...) Acácio tornara-se a sua mania:
por que é Paris a cidade escolhida para repre- admirava a sua figura e a sua gravidade, ar-
sentar a vida urbana? Explique sucintamente. regalava grandes olhos para a sua eloquência,
c) Sintetizando-se os termos com que, no ex- achava-o numa “linda posição”. O Conselhei-
certo, Paris é descrita, que imagem da cidade ro era a sua ambição e o seu vício! Havia so-
finalmente se obtém? Explique sucintamente. bretudo nele uma beleza, cuja contemplação
demorada a estonteava como um vinho forte;
5. (Unicamp) Leia o trecho a seguir de A cidade era a calva. Sempre tivera o gosto perverso
e as serras: de certas mulheres pela calva dos homens, e
— Sabes o que eu estava pensando, Jacin- aquele apetite insatisfeito inflamara-se com
to?... Que te aconteceu aquela lenda de Santo a idade. Quando se punha a olhar para a cal-
va do Conselheiro, larga, redonda, polida,
Ambrósio... Não, não era Santo Ambrósio...
brilhante às luzes, uma transpiração ansiosa
Não me lembra o santo. Ainda não era mes-
umedecia-lhe as costas, os olhos dardejavam-
mo santo, apenas um cavaleiro pecador, que
-lhe, tinha uma vontade absurda, ávida de
se enamorara de uma mulher, pusera toda lhe deitar as mãos, palpá-la, sentir-lhe as
a sua alma nessa mulher, só por a avistar a formas, amassá-la, penetrar-se dela! Mas dis-
distância na rua. Depois, uma tarde que a farçava, punha-se a falar alto com um sorriso
seguia, enlevado, ela entrou num portal de parvo, abanava-se convulsivamente, e o suor
igreja, e aí, de repente, ergueu o véu, entre- gotejava-lhe nas roscas anafadas* do pesco-
abriu o vestido, e mostrou ao pobre cavaleiro ço. Ia para casa rezar estações, impunha-se
o seio roído por uma chaga! Tu também an- penitências de muitas coroas à Virgem; mas
davas namorado da serra, sem a conhecer, só apenas as orações findavam, começava o tem-
pela sua beleza de verão. E a serra, hoje, zás! peramento a latejar. E a boa, a pobre D. Fe-
de repente, descobre a sua grande chaga... É licidade tinha agora pesadelos lascivos e as
talvez a tua preparação para S. Jacinto. melancolias do histerismo velho.
(Eça de Queirós, As cidades e as serras. São Paulo: *anafadas = gordas
Ateliê Editorial, 2007, p. 252.) Eça de Queirós, “O primo Basílio”.
a) Explique a comparação feita por Zé Fernan- a) Qual é a escola literária cujas características
des. Especifique a que chaga ele se refere. mais se fazem sentir neste trecho? Justifi-
b) Que significado a descoberta dessa chaga tem que brevemente sua resposta.
para Jacinto e para a compreensão do romance? b) Considere a seguinte afirmação: “Em Eça
de Queirós, a sátira e a caricatura tornam-
-se, com frequência, cruéis e sombrias, por
6. (Unesp) No ano de 1865, em Portugal, se
isso mesmo incompatíveis com o riso e o
inicia uma grande polêmica. De um lado, An-
humor”. Essa afirmação aplica-se ao trecho
tônio Feliciano de Castilho (1800-1875); de
anteriormente reproduzido? Justifique su-
outro, Antero Tarquínio de Quental (1842-
cintamente sua resposta.
1891). Em posfácio ao livro POEMA DA MO-
CIDADE de Pinheiro Chagas, Castilho refe-
riu-se com pouco caso e algum deboche aos 8. (Fuvest) “Eu condenara a arte pela arte, o
jovens poetas que, em Coimbra, defendiam romantismo, a arte sensual e idealista - e
apresentara a ideia de uma restauração li-
ideias novas. Antero, um dos mencionados
terária, pela arte moral, pelo Realismo, pela
por Castilho, faz logo publicar uma carta em
arte experimental e racional”.
resposta ao velho mestre, na qual retribui as (Eça de Queirós)
ironias, ao mesmo tempo em que faz ataque
cerrado e contundente a Castilho. Em pouco Neste texto, Eça de Queirós explicita os prin-
tempo cada um ganha adeptos e com isso se cípios estéticos que iria pôr em prática no ro-
produz uma das mais ricas polêmicas da His- mance “O primo Basílio” e em outras de suas
tória da literatura Portuguesa. Tal episódio obras, opondo nitidamente os elementos que
ficou conhecido como a Questão Coimbrã ou ele condena aos elementos que ele aprova.
também pelo título recebido pela publica- a) Em “O primo Basílio”, qual a principal ma-
ção de Antero: Bom Senso e Bom Gosto. Com nifestação dessa condenação do “romantis-
base nestas informações e considerando-se o mo” e “da arte sensual e idealista”? Expli-
texto dado, responda: que sucintamente.
121
b) Nesse mesmo romance, como se realiza o fiacre que estacara num brusco escorregar
projeto de praticar uma “arte experimental da pileca; mas logo algum dorso apressado
e racional”? se encafuava pela portinhola da tipoia, ou
um cacho de figuras escuras trepava sofrega-
9. (Unicamp adaptado) Sobre “O Crime do Padre mente para o ônibus — e, rápido, recomeça-
Amaro”, romance de Eça de Queirós, o poeta va o rolar retumbante.
Antero de Quental, em carta dirigida ao autor, a) No trecho “com toda uma escura humanida-
afirmou: de formigando entre patas e rodas”, pode-se
“A longanimidade, a indiferença inteligente reconhecer a marca de qual escola literária?
com que V. descreve aquela pobre gente e os Justifique sucintamente sua resposta.
seus casos, encantou-me. Com efeito, aquela b) Tendo em vista que contemplar significa “fixar
gente não merece ódio nem desprezo. Aqui- o olhar em (alguém, algo ou si mesmo), com
lo, no fundo, é uma pobre gente, uma boa encantamento, com admiração” (Dicionário
gente, vítimas da confusão moral do meio de Houaiss) ou “olhar, observar, atenta ou em-
que nasceram, fazendo o mal inocentemen- bevecidamente” (Dicionário Aurélio), qual é a
te, em parte porque não entendem mais nem experiência vivida pelo narrador, no excerto, e
melhor, em parte porque os arrasta a paixão, que sentido ela tem no contexto da época em
o instinto, como pobres seres espontâneos, que se passa a história narrada no romance?
sem a menor transcendência.”
a) Aceitando-se essas considerações de Antero
de Quental, em qual ato específico residiria
o verdadeiro “crime” do Padre Amaro?
GABARITO
b) Eça trata com sarcasmo as libertinagens,
tanto do clero como de algumas figuras da
sociedade portuguesa da província. Se, como
disse Antero de Quental, são todos vítimas
E.O. Teste I
da confusão moral do meio, arrastados pela 1. C 2. D 3. B 4. E 5. B
paixão e pelo instinto, como se pode justifi-
6. D 7. A 8. A 9. B 10. E
car o sarcasmo por parte do escritor?
Realismo no Brasil
REALISMO NO BRASIL
O contexto brasileiro
A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi
decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles.
A família burguesa já não era mais o
único foco da literatura, como havia aconte-
cido no Romantismo. Os realistas ocupavam-
-se de outras classes sociais e da alma delas.
A crise matrimonial, o papel da mulher nas
relações sociais e o operariado passam a ser
temas e personagens nessa literatura. Retra-
tar a vida em sociedade, descrever cenas, am-
bientes e comportamentos passa a fazer parte
considerável das obras literárias.
Registrar a realidade torna-se uma prio-
ridade. Os oportunismos disfarçados, as falsas
devoções e a moral de aparência são temas que
passam a integrar o universo do romance.
Tal como em Portugal, o Realismo
Naturalismo no Brasil esteve muito ligado
às ideias estéticas, científicas e filosóficas
europeias – positivismo, darwinismo, natu-
rismo, cientificismo – que provocaram bas-
tante repercussão.
As mudanças que o tempo impôs
coincidiram, por sua vez, com o rápido declí-
Foto da rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, em 1863, no apogeu da Belle Époque. nio do Segundo Império de Pedro II, após a
Foi cenário de O livreiro da rua Ouvidor, conto de Machado de Assis. Guerra do Paraguai.
Missa campal em 1888 comemora a abolição da escravatura e conta com a presença da princesa Isabel.
127
As campanhas abolicionista e republicana tiveram início a partir de 1870 e formaram um movimento
político que dominou o Brasil e toda a América Latina, voltado para as grandes reivindicações urbanas que já
haviam triunfado nos Estados Unidos e na Europa. A aristocracia rural entrava em decadência e a monarquia
mostrava-se um regime superado.
O final do século XIX é um tempo de muitas transformações na vida brasileira. Em 1888, é abolida definitivamente
a escravidão. No ano seguinte, como resultado de um golpe militar, é proclamada a República. A Cidade do Rio de
do século será marcada pela ideia de modernização urbana – que caracterizará todo o século XX.
[SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. Do livramento ao Cosme Velho: o Rio de Machado de Assis. Disponível em: <revistaipotes.ufjf.br>].
128
A literatura do final do Império
A literatura realista no Brasil foi marcada pelo registro do tipo brasileiro no fim do Império. Chamaram a atenção
romances e contos de Machado de Assis, bem como a obra de Raul Pompeia – aversão explícita aos padrões
conservadores da época.
Se ainda vingava a narrativa psicológica, crescia a produção
literária voltada para as realidades sociais. O romance naturalista
sublinhava os aspectos mais brutais desse meio e posicionava-se
face ao que expunha: denunciava, instigava a consciência do leitor,
solicitava opções. Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Inglês de Sou-
za e Júlio Ribeiro foram escritores naturalistas que se empenharam
na análise sociológica, de fora para dentro, e juntaram suas convic-
ções cientificistas ao Realismo.
O Realismo e o Naturalismo brasileiros são faces de uma
mesma moeda. As duas tendências importaram o comportamento
humano, as formas explicitadas do meio e do ambiente em que exis-
tiam, a hereditariedade que trazem da origem. Se o Realismo do-
cumentou apenas os aspectos que enxergou, o Naturalismo empe-
nhou-se em marcar posições. Se os realistas preferiram tão somente
indicar forças psicológicas que guiam comportamentos, os naturalis- Homenagem ao escritor Machado de Assis em selo do
tas preferiram denunciar a exploração do homem pelo homem e sua Correio
consequente animalização.
Principais autores
Machado de Assis
Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e
tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura.
Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e
de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos dezesseis anos empregou-se na tipografia de Paula Brito. Aos
129
dezenove já era colaborador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O espelho, Diário do Rio de
Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias.
Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se
cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portuguesa Carolina Xavier de Novais.
Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado
escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja
caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante.
Cronologia
1839 – Em 21 de junho nasce no Rio de Janeiro Joaquim Maria Machado de Assis, filho do brasileiro Fran-
cisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, moradores do Morro do Livramento.
1849 – Depois do falecimento de sua mãe e de sua única irmã, Machado é amparado por sua madrinha.
1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva, com quem Machado continuará vivendo após a morte de
Francisco José.
1855 – Publica seu primeiro poema, Ela, após tornar-se colaborador do jornal Marmota Fluminense, de
Francisco de Paula Brito.
1856 – Como aprendiz de tipógrafo, entra para a Tipografia Nacional.
1858 – Tem aulas de francês e latim com o professor padre Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se
revisor de provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula Brito. Lá conhece membros da Sociedade
Petalógica: Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manoel de Macedo. Colabora nos jornais O Paraíba e
Correio Mercantil.
1859 – Colabora na revista O Espelho (publicada até janeiro de 1860) como crítico teatral.
1860 – A convite de Quintino Bocaiúva, passa a redator do Diário do Rio de Janeiro, sob os pseudônimos
Gil, Job e Platão. Resenhava debates do Senado, escrevia crítica teatral colaborava em A Semana Ilustrada.
1861 – Publica Desencantos (comédia) e Queda que as mulheres têm para os tolos (sátira).
1862 – Como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, exerce função não remunerada de auxiliar da
censura. É bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira. Colabora em O Futuro, periódico quinzenal sob a
direção de Faustino Xavier de Novais.
1863 – Publica o Teatro de Machado de Assis, do qual constam duas comédias, O protocolo e O caminho
da porta. Passa a publicar contos no Jornal das Famílias.
1864 – Publica seu primeiro livro de versos, Crisálidas. Em julho firma contrato com B. L. Garnier para a
venda definitiva dos direitos autorais do livro.
130
1865 – Sócio fundador da Arcádia Fluminense.
1866 – Publica a comédia Os deuses de casaca e sua tradução do romance Os trabalhadores do mar, de
Victor Hugo. No fim deste ano, chega ao Rio de Janeiro a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais,
irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e futura esposa de Machado.
1867 – É agraciado com a Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro, e nomeado ajudante do diretor do
Diário Oficial.
1868 – Crítico consagrado, a pedido de José de Alencar, guia o jovem poeta Castro Alves no mundo das letras.
1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.
1870 – Publica Falenas e Contos fluminenses.
1872 – Publica Ressurreição, seu primeiro romance.
1873 – Publica Histórias da meia-noite (contos) e Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacio-
nalidade (ensaio crítico). É nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas.
1874 – Publica A mão e a luva, seu segundo romance.
1875 – Publica Americanas, seu terceiro livro de poesias.
1876 – Entre agosto e setembro, publica o romance Helena no jornal O Globo. Colabora na revista Ilustra-
ção Brasileira e é promovido a chefe de seção da Secretaria de Agricultura.
1878 – Publica o romance Iaiá Garcia em O Cruzeiro e edita-o em livro. Em artigo no mesmo jornal publica
crítica ao romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, que o nomeia defensor de seus direitos autorais, por
conta das edições clandestinas da obra no Brasil. Em licença por motivo de doença, permanece em Friburgo
de onde retorna em março do ano seguinte.
1879 – Publica na Revista Brasileira, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas e na revista A Estação,
o romance Quincas Borba e A nova geração (estudo).
1880 – É designado Oficial de Gabinete do Ministério da Agricultura. Em comemoração ao tricentenário do
poeta português Luís de Camões, organizada pelo Real Gabinete Português de Leitura, sua comédia Tu, só
tu, puro amor... é representada no teatro Dom Pedro II.
1881 – Publica em livro Memórias póstumas de Brás Cubas. Escreve crônicas no jornal Gazeta de Notícias
e passa a ser oficial de gabinete do ministro da Agricultura. Publicada em livro a comédia Tu, só tu, puro
amor...
1882 –- Publica seu terceiro livro de contos, Papéis avulsos, do qual faz parte O alienista. Entra em licença
de três meses para tratar-se fora do Rio de Janeiro.
1884 – Publica em livro os contos de Histórias sem data e passa a morar na rua Cosme Velho, onde
residirá até a morte.
1886 – Publica o volume Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura, resultado do trabalho
de oito anos na Comissão de Reforma da Legislação das Terras.
1888 – Por decreto imperial é nomeado oficial da Ordem da Rosa.
1889 – Em 30 de março é promovido a diretor da Diretoria do Comércio, da Secretaria de Estado da Agri-
cultura, Comércio e Obras Públicas.
1891 – Publica em livro o romance Quincas Borba.
1892 – É promovido a diretor-geral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
1895 – Araripe Júnior publica um perfil de Machado de Assis na Revista Brasileira, de José Veríssimo. Em
dezembro daquele ano, Machado passa a ser colaborador da revista.
1896 – Publica seu quinto livro de contos Várias histórias. Dirige a primeira sessão preparatória da fundação
da Academia Brasileira de Letras, ABL.
131
1897 – Participa da inauguração da ABL e é eleito seu primeiro presidente, cargo que ocupou por dez anos.
1899 –Publicado o romance Dom Casmurro e Páginas recolhidas, livro de contos, ensaios e teatro. Firma a
escritura de venda de toda sua obra a François Hippolyte Garnier.
1901 – Publica Poesias completas, das quais constam Crisálidas, Falenas, Americanas e a coletânea
Ocidentais.
1904 – Publica seu penúltimo romance Esaú e Jacó. Em janeiro, em Friburgo, morre Carolina Augusta Xavier
de Novais, dias antes de completarem 35 anos de casamento. Não tiveram filhos.
1906 – Dedica à mulher já falecida seu mais famoso soneto, A Carolina.
1908 – Publica seu nono e último romance, Memorial de Aires. Em 1o de junho entra em licença para tra-
tamento de saúde. Falece no dia 29 de setembro, aos 69 anos, no Rio de Janeiro. É enterrado conforme sua
determinação: na sepultura da esposa no Cemitério de São João Batista.
“Ai, o amor de um poeta! Amor / Subido / Indelével, puríssimo, exaltado, /Amor eternamente convencido”
Machado de Assis e Carolina Novais viveram juntos durante 35 anos em perfeita harmonia. Um amor de verdade,
de carne e osso. Ela era portuguesa e mais velha que o escritor. Em carta, Machado escreve uma declaração: “Tu
não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras.
Como te não amaria eu?”.
No ano seguinte ao casamento foi publicado o primeiro volume dos Contos fluminenses. Mesmo sem
ter sido o grande sucesso do escritor, os contos apresentam uma das características de Machado: o diálogo
com o leitor e a ironia.
132
Machado continua notícia até hoje
Depois de mais de cem anos de sua morte, Machado de Assis (1839-1908) ainda continua a surpreender
o público e a crítica. Segundo a Folha de S. Paulo, Wilton Marques, professor do Departamento de Letras da
Universidade Federal de São Carlos e da Pós-graduação em Estudos Literários da Unesp de Araraquara, en-
controu um poema inédito do autor, escrito quando Machado tinha apenas 17 anos de idade.
O Grito do Ipiranga, nome do poema encontrado por Marques e publicado no Correio Mercantil, em
9 de setembro de 1856, possui 76 versos. Recheado de patriotismo e de exaltação ao Brasil, o poema é ainda
bastante influenciado pelo Romantismo chamado “heroico”. Trata-se, sem dúvida, de um Machado bem dife-
rente daquele que conhecemos, crítico e ácido, de obras políticas como Esaú e Jacó.
Machado de Assis publicou seu primeiro poema aos 15 anos e boa parte da sua juventude ainda é um
mistério. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, teve sua obra traduzida para diversos
idiomas, incluindo o tcheco, sueco e estoniano, e é considerado o maior escritor da literatura nacional.
O poema passou despercebido durante mais de um século, mesmo sendo assinado como Joaquim Maria
Machado de Assis, ficando de fora de diversos volumes da obra completa do autor. Não se destacando, se-
gundo os estudiosos, esteticamente, o poema é importante por mostrar que Machado publicava em grandes
jornais já aos 17 anos e não aos 19, como antes se imaginava.
(Jéssica Borges, 14 mar. 2015. Disponível em: <cabineliteraria.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2015).
133
Foi no jornal Marmota Fluminense que Machado de Assis estreou como escritor.
Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela a característica que
haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos
leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são line-
ares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparen-
tes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados.
Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de
contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses.
134
Helena
No ano de 1859 morre o conselheiro Vale, figura de primeira classe da
sociedade do Segundo Reinado, homem bem relacionado e respeitado. Ele
deixa um filho, Estácio, de vinte e sete anos, e uma irmã, D. Úrsula, que
desde a morte da cunhada cuidará com desvelo da bela chácara em que
vivem, no Andaraí. A leitura do testamento revela uma segunda filha do
conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até então desconhecida
de toda a família. Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar
Helena para morar na chácara e tratá-la com muito carinho – D. Úrsula vê
na jovem uma intrusa e usurpadora. No entanto, o testamento é obedeci-
do. Helena sai do colégio interno para morar na chácara, onde começa a
mudar a vida de todos.
Helena e Estácio apaixonam-se, mas o rapaz sente-se culpado, acre-
ditando ser irmão da moça. Helena, contudo, sabe que não é filha de Vale. O
conselheiro teve um romance secreto com sua mãe e prometeu perfilhar a
menina e tratá-la com carinho. A atitude esquiva de Helena, que se encontra
às ocultas com seu pai legítimo, Salvador, faz com que se desconfie que ela
tem um amante.
No final, embora perdoada por Estácio, que descobre a verdade, Helena morre em consequência de uma
febre nervosa.
Tudo teria começado em fevereiro de 1878, quando O Primo Basílio, de Eça, foi publicado no Brasil. A relação adúl-
tera de Luísa com o primo e as críticas demolidoras aos costumes da burguesia de Lisboa escandalizaram leitores
dos dois continentes.
Em dois artigos publicados em abril daquele ano, Machado fez severas restrições à trama. Apontou falhas
estruturais, condenou a inconsistência psicológica de Luísa e descreveu a relação entre os primos como “um
incidente erótico, sem relevo, repugnante, vulgar”.
Ao publicar os dois ensaios sobre Eça, Machado já era autor de quatro romances (Ressurreição, A Mão e a
Luva, Helena e Iaiá Garcia).
Mas o furacão Eça apareceu no meio do ca-
minho do comedido escritor brasileiro, o que levou
Machado a reformular seus romances.
Em dezembro de 1878, seriamente enfer-
mo, Machado, “bruxo do Cosme Velho” partiu para
uma temporada em Nova Friburgo. Voltou de lá três
meses depois, com o primeiro esboço de Memórias
póstumas de Brás Cubas, furacão ainda mais avassa-
lador que o de Eça.
A narrativa do “defunto autor”, irônica, frag-
mentária, inventiva, foi um divisor de águas na lite-
ratura nacional e inaugurou a grande fase do autor.
A chave dessa reinvenção abasteceu-se do
cânone literário – em Brás Cubas, o caldeirão inclui
a Bíblia, Xavier de Maistre, Sterne, Shakespeare e
muito mais – de forma despudorada.
O romance machadiano
O estilo
Elegância e certa contenção, rápidas pinceladas e muita discrição na composição da personagem, eis o estilo
machadiano. Adepto de personagens fortes, as narrativas revelam excepcional capacidade de observação do ser
humano e da sociedade, impressa, aliás, desde o início.
As lições que aprendeu dos românticos José de Alencar, Almeida Garrett, Victor Hugo e Swift levaram-no a
apenas organizar seus personagens de modo diverso ao deles.
136
Entrelinha
“No romance machadiano, praticamente não há frase que não tenha segunda intenção ou propósito espirituoso. A
prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificulta
a imaginação do panorama. Em consequência, e por causa também da campanha do narrador para chamar a
atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto pouco aparece”
(SCHARZ, Roberto. In: Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.18).
Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um pouco diferente dos demais, característica singular que
haveria de constituir. O casamento não é a cura para todos males (como diziam os românticos), mas um tipo de
comércio, uma certa troca de favores.
Nos romances escritos após de 1881, essa crítica social é acentuada e assume uma fina ironia ao con-
templar o casamento, o adultério, a exploração do homem pelo próprio homem. Acostumou-se a olhar detrás das
máscaras sociais, a desmascarar o jogo das relações sociais, a compreender a natureza humana mediante persona-
gens com penetrante espírito de análise. Nos indivíduos sempre há intenções supostas para objetivos reais. Disso
resultam suas atitudes, veículos de satisfação pessoal para quem as pratica.
A criação de mulheres-símbolo
As mulheres ganham especial tratamento na obra machadiana. Não faltam as “dissimuladas”, as ambíguas, as
sensuais, as astuciosas, as dominadoras sem a fragilidade da mulher romântica. Não à toa carregam nomes bastan-
te sugestivos: Capitu, capitã (vem do sobrenome do deus dos mares na mitologia Netuno Capitolino), comandante;
Sofia, sabedoria; Iaiá, patroa.
Nos contos, elas assumem o papel de fatais, adúlteras; recatadas, sedutoras, fascinantes...
137
Linguagem e ironia machadiana
E nós continuamos a ler o tal romance; com um pouco de irritação com esse narrador estranho e arrogante,
mas continuamos. Adiante, Brás Cubas, contando sua juventude (era na verdade um playboy rico e desocupado),
apaixona-se por uma prostituta de luxo, com quem gasta muito dinheiro (do pai, é claro). Este ficará furioso, mas
Brás Cubas, fingindo certa ingenuidade, nos conta: “Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis”.
Esta curta frase é maravilhosa, pois, sem denegrir a moça diretamente, o protagonista nos afirma que o amor dela
era profissional, interesseiro, por dinheiro. Marcela não o amava: o autor construiu outra ironia, sugerindo que
entendêssemos o contrário do que disse.
E esse romance, tão famoso, vai por aí afora. É só diversão, embora, é claro, com um vocabulário do século
19, o que nem sempre é simples para nós. Na verdade, o tal Brás Cubas se exibe até no uso do vocabulário, ele
é pedante. Se prosseguirmos na leitura, conseguimos rir muito, pensando que os vários episódios vividos naquela
sociedade (por ele e por todos), são os mesmos nos tempos de hoje. E muitas ações sociais e morais são as mes-
mas... O pai de Brás Cubas, por exemplo, era um exibicionista. Dava festas muito ricas para ‘fazer barulho’, para
aparecer na sociedade. Quanta gente faz isso ainda hoje, não? Existem até revistas especializadas nessa exibição
de ricos e famosos.
(Márcia Lígia Guidin. Especial para a Página 3. Pedagogia & Comunicação (Atualizado em 13 dez. 2013).
Disponível em: < educacao.uol.com.br>.
Joaquim Maria Machado de Assis (1837-1908) era mulato e nasceu num morro do Rio de Janeiro, numa época
em que, no Brasil, os negros eram ainda escravos. Não teve educação formal, mal frequentou a escola primária.
Trabalhou desde cedo e aprendeu o que pôde. Uma das características mais atraentes e refinadas de Machado de
Assis é sua ironia, uma ironia que, embora chegue francamente ao humor em certas situações, tem geralmente
uma sutileza que só a faz perceptível a leitores de sensibilidade já treinada em textos de alta qualidade. Essa
ironia é a arma mais corrosiva da crítica machadiana dos comportamentos, dos costumes, das estruturas sociais.
Machado a desenvolveu a partir de grandes escritores ingleses que apreciava e nos quais se inspirou (sobretudo
o originalíssimo Lawrence Sterne, romancista do século XVIII).
(Disponível em: <webartigos.com/artigos>).
Humor inglês
Acabamos percebendo que as pessoas são as mesmas, que o mundo da hipocrisia e farsa social não mudou. Essa
sensação é parte do pessimismo machadiano de que tanto nos falam os livros. Não gargalhamos, apenas rimos em
silêncio, com o canto da boca, para nós mesmos. E esse sinal é o famoso humor inglês de que falam os estudiosos:
as piadas, as ironias são todas assim, inglesas; o defunto diz o que quer, fingindo não dizer.
Um dos momentos mais cruéis (sim, a ironia às vezes é cruel com os personagens) chama-se “A flor da moita”.
Sabe por quê? Quando pequeno, Brás havia presenciado um beijo às escondidas que um poeta casado dava numa
dama solteirona atrás de uma moita da mansão de seus pais. Pois bem, anos depois, conheceu a filha bastarda dessa
mesma senhora, a menina Eugênia. Era linda, educada, pura, mas coxa (manca). Eugênia ficou então sendo “a flor da
moita” porque concebida no amor ilícito. Por isso teria defeitos. Perceba que Brás é grosseiro, vulgar e deseducado.
Mas quem vai punir um defunto? Quem?
(Márcia Lígia Guidin. Especial para a Página 3. Pedagogia & Comunicação.
(Atualizado em 13 dez. 2013) Disponível em: < educacao.uol.com.br>. Acesso em: 14 de março 2015).
138
Digressão
Própria do discurso oratório, a digressão pode apresentar qualquer medida, aparecer em qualquer parte do texto
e em obras de qualquer outra natureza, sobretudo a poesia épica, o romance e o ensaio. Empregada desde a Anti-
guidade greco-latina, constitui expediente difícil de manejar, uma vez que pode comprometer a integridade da obra
em que se insere. Por isso, hoje em dia tende a ostentar sentido pejorativo, equivalente a “desvio”, “divagação”,
“subterfúgio”
(Moisés Massaud. 2004, p. 125).
Tanto em Dom Casmurro (1899) quanto em Memórias póstumas de Brás Cubas, a narração é conduzida
por personagens que contam sua própria história e a comentam. Por trás de ambos está o escritor Machado de
Assis que, na verdade, conduz a narrativa como um todo. Acrescente-se que o narrador se vale, na construção do
texto, da utilização da narração em primeira pessoa, da participação, da técnica da digressão, do jogo de tempo
cronológico e psicológico, do frequente exercício da metalinguagem, da narração em ar de conversa, tudo isso
pontuado pelo humor e ironia.
(Disponível em: <webartigos.com/artigos>).
[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce
que chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e constante tão constante e tão triste, que levou um daqueles
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de
um dos mais belos caracteres que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe foi à
natureza as mais intimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.
[...]
Comentário
“Parece claro que a situação de ‘defunto autor’, diferente de ‘autor defunto’ (...) que não desmancha a verossimi-
lhança realista. A todo momento, Brás exibe o figurino do gentleman moderno, para desmerecê-lo em seguida, e
voltar a adotá-lo, configurando uma inconsequência que o curso do romance vai normalizar”
(SCHARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.19).
140
Capítulo XIV – O primeiro beijo
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos,
eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era
uma criança com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e
audaz, que entrava na vida de botas e expostas, chicote na mão e sangue nas veias, [...]
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou
diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo
foi uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de
dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola. Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam
os rapazes do tempo. [...]
Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia
arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlinda, luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele
ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e físico – um pérola [...]
Marcela amou-me durante meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze
contos, sobressaltou-se, achou que o caso excedia as falas de um capricho juvenil.
– Desta vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te
para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: – Gatuno, sim senhor;
não é outra coisa um filho que me faz isto...
Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-os na casa.
– Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o
dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tornas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem [...]
141
Capítulo XXVIII – Virgília?
Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois...? A mesma; era justamente a senhora,
que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais
íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns voluntários. Não digo já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, e, que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda
ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que
o indivíduo passa a outro individuo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara,
financeira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção
ou talvez medo; creio que medo. Aí tem o leitor, em poucas linhas, retrato físico e moral da pessoa que devia
influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando
estas páginas vieram à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje
e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou
rabugento, nem injusto.
– Mas, dirás tu, se você não guardou na retina da memória a imagem do que fui, como é que podes assim
discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tanto anos?
Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de
restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa
lá dizer o Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da
vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor
dá de graça aos vermes.
Capítulo CLX
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui
califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar
o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas
Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e con-
seguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: FTD. 1991).
Nos quadrinhos
Depois de morrer, em pleno ano de 1869, Brás Cubas (Reginaldo Faria) decide narrar sua história e revisitar os fatos mais
importantes de sua vida a fim de se distrair na eternidade. Relembra de amigos como Quincas Borba (Marcos Caruso),
de sua displicente formação acadêmica em Portugal, dos amores de sua vida e do privilégio de nunca ter precisado
trabalhar na vida
(1h41–2001– Disponível em: <adorocinema.com/filmes/filme-120279/>. Acesso em: 22 mar. 2015).
Dom Casmurro
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da velhi-
ce para a adolescência, Bentinho conta sua própria história.
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu
todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal.
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a
uma promessa que fizera, aceita a idade inteligente de José Dias de enviar um escravo ao seminário para ser ordenado
no lugar do Bentinho.
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mes-
mo com Capitu.
O casal vive muito bem. Betinho vai progredindo, mantém amizade com
Escobar, antigo colega de seminário, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu
curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu es-
tranha. Surpreende-a contemplando o cadáver de uma forma que ele interpre-
ta como apaixonada.
A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o casamento entra
em crise. cada vez mais Ezequiel torna-se parecido com Escobar – o que preci-
pita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa-se, Capitu
e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a se-
melhança do filho com Escobar. Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho
ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever a história de sua vida.
143
Trecho de Dom Casmurro
Capítulo XXXII – Olhos de ressaca
Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez
ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do
ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem
esperou que eu lhe perguntasse pela filha.
– Está na sala penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.
Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca
(perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede,
entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos,
toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta:
– Há alguma coisa?
– Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?
– Eu bem. José Dias ainda não falou?
– Parece que não.
– Mas então quando fala?
– Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto
e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita...
– Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe
falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer
ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto. Você teime com ele, Bentinho.
– Teimo; hoje mesmo ele há de falar.
– Você jura?
– Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não
sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e
examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram mi-
nhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um
pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que
entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
[...]
144
Capítulo CXXII – O enterro
A viúva... Poupo-vos as lágrimas da viúva, as minhas, as da outra gente. Saí de lá cerca de onze horas; Capitu e
prima Justina esperavam-me, uma com o parecer abatido e estúpido, outra enfastiada apenas.
– Vão fazer companhia à pobre Sanchinha; eu vou cuidar do enterro.
Assim fizemos. Quis que o enterro fosse pomposo, e a afluência dos amigos foi numerosa. Praia, ruas, Praça
da Glória, tudo eram carros, muitos deles particulares. A casa não sendo grande, não podiam lá caber todos; mui-
tos estavam na praia, falando do desastre, apontando o lugar em que Escobar falecera, ouvindo referir a chegada
do morto. José Dias ouviu também falar dos negócios do finado, divergindo alguns na avaliação dos bens, mas
havendo acordo em que o passivo devia ser pequeno. Elogiavam as qualidades de Escobar. Um ou outro discutia o
recente gabinete Rio Branco; estávamos em março de 1881. Nunca me esqueceu o mês nem o ano.
Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as em casa a José Dias,
que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, recitou lentamente o discurso, pesando as
palavras, e confirmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia. Alguns conhecidos vieram interrogar-me:
– Então, vamos ouvi-lo?
– Quatro palavras.
Poucas mais seriam. Tinha-as escrito com receio de que a emoção me impedisse de improvisar. No tílburi
em que andei uma ou duas horas, não fizeram mais que recordar o tempo do seminário, as relações de Escobar,
as nossas simpatias, a nossa amizade, começada, continuada e nunca interrompida, até que um lance da fortuna
fez separar para sempre duas criaturas que prometiam ficar muito tempo unidas. De quando em quando enxugava
os olhos. O cocheiro aventurou duas ou três perguntas sobre a minha situação moral; não me arrancando nada,
continuou o seu ofício.
Chegando a casa, deitei aquelas emoções ao papel; tal seria o discurso.
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele
lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva,
parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu
olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas
lágrimas poucas e caladas...
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a futuro para a gente
que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também.
Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, se, o pranto nem palavras desta,
mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: África, 1978).
145
Capitu
“Na construção de Machado, Capitu é a mulher que inverte o jogo: de oprimida passa a opressora, pois escolhe
Bentinho como quem vai tornar concreto o seu desejo e consegue trazê-lo para si; vive sua época e assume este
desejo como legítimo: quer ser rica, torna-se rica. É virtuosa, sim, pois é fiel ao que traçou para si. Mas nem quan-
do ama – pois ama Escobar! – compreende a natureza do pró-
prio desejo. Seu tropeço não é amar Escobar, mas não ser capaz
de colocar todo o seu Ser naquele propósito que desenhou para
si: uma parte dela ama quem não devia amar. Para Capitu, é im-
possível viver o amor, e seus desejos não se reconciliam; o desejo
possível (realizado com Bentinho, que lhe cobre a matéria) fica
de frente com o desejo impossível (amar plenamente Escobar) e
assim Capitu se revela. A grande traição que Dom Casmurro nos
mostra é, por fim, a da natureza: a aparência do filho, que expõe
o desejo fora do controle da anti-heroína gananciosa”
(Mônica R. de Carvalho. Disponível em: <forademim.com.br>. Acesso em 22 mar. 2015).
Na música
O professor e músico Luiz Tatit criou esta espetacular canção que retrata Capitu, personagem atemporal de Macha-
do Assis. Faz menção à concepção de um feminino com arte que encanta com seu jeito atraente e misterioso. Vale
a pena escutá-la também na voz de Zélia Duncan.
Luiz Tatit
Capitu
Curiosidade
Publiquei, através de anos, no Estadão, no O Dia, e no Jornal do Brasil – ao todo aproximadamente dois milhões de
exemplares – “pesquisa” sobre Dom Casmurro, a obra magna de Machado de
Assis. Como minha página era a capa exterior dos jornais citados, e o assunto
era picante – se Escobar, “herói” do romance, tinha ou não tinha comido a
Capitu, eterna e tola discussão entre beletristas –, devo ter alcançado pelo
menos cem mil desprevenidos. Bom, não apenas mostrei que Escobar comeu
a Capitu, como, não sei não, acho que tirei Dom Casmurro do “armário”.
Como não sou dos maiores – e nem mesmo dos menores – admira-
dores do bruxo, fundador da Academia Brasileira de Letras (“a Glória que
fica, eleva, honra e consola”, eu, hein, que frase!), não vou discutir a maciça,
inexpugnável web protecionista que se criou em torno dele. Não quero pole-
mizar (falta-me vontade e capacidade) com a candura que os erúditos (com
acento no ú, por favor) têm pra relação equívoca entre Capitu, a “dos olhos
Millôr Fernandes
147
de ressaca” (que Machado não explica se era ressaca do mar ou de um porre), e Escobar, o mais íntimo amigo de
Bentinho, narrador e personagem do livro (evidente alter ego do próprio Machado).
A desconfiança básica vem desde 1900, quando Machado publicou Dom Casmurro. Dom Casmurro é ou
não é corno, palavra cujo sentido de humilhação masculina – que ainda mantém bastante de sua força nesta época
de total permissividade – na época de Machado era motivo de crime passional, “justa defesa da honra”, e outros
desagravos permitidos pela legislação e pelos costumes.
Curioso que, ontem como hoje, o epíteto corna não se grudou à mulher. Ela é tola, vítima, “não sei como
suporta isso!”, “corneia ele também!”, mas o epíteto não colou.
Dom Casmurro sofre da dor específica umas 50 páginas do romance, envenenado pela hipótese da infide-
lidade de Capitu. Que dúvida, cara pálida? Capitu deu pra Escobar. O narrador da história, Bentinho/Machado, só
não coloca no livro o DNA do Escobar porque ainda não havia DNA. Mas fica humilhado, desesperado mesmo, à
proporção que o filho cresce e mostra olhos, mãos, gestos e tudo o mais do amigo, agora morto. Bentinho chega a
chamar Escobar de comborço (parceiro na cama).
Mas, pela nossa eterna pruderie intelectual, também ainda ridiculamente forte com relação a outro tipo de
relação, a homo, nunca vi ninguém falar nada das intimidades entre Bentinho e Escobar. É verdade que, na época,
Oscar Wilde estava em cana por causa do pecado que “não ousava dizer seu nome”.
Não fiz interpretações. Apenas selecionei frases – momentos – do próprio Dom Casmurro/Machado, da
edição da Editora Nova Aguilar. Leiam, e concordem ou não.
Pág. 868 “Chamava-se Ezequiel de Souza Escobar. Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugidios,
como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo.”
Mesma página “Escobar veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até o fundo do quintal. A alma da
gente, como sabes, é uma casa com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro… Não sei o que era a minha.
Mas como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las e Escobar empurrou-as e entrou. Cá
o achei dentro, cá ficou…”.
Pág. 876 “Ia alternando a casa e o seminário. Os padres gostavam de mim. Os rapazes também e Escobar
mais que os rapazes e os padres.”
Pág. 883 “Os olhos de Escobar eram dulcíssimos. A cara rapada mostrava uma pele alva e lisa. A testa é que era
um pouco baixa… mas tinha sempre a altura necessária para não afrontar as outras feições, nem diminuir a graça delas.
Realmente era interessante de rosto, a boca fina e chocarreira, o nariz fino e delgado.”
Mesma página “Fui levá-lo à porta… Separamo-nos com muito afeto: ele, de dentro do ônibus, ainda me
disse adeus, com a mão. Conservei-me à porta, a ver se, ao longe, ainda olharia para trás, mas não olhou.”
Mesma página “Capitu viu (do alto da janela) as nossas despedidas tão rasgadas e afetuosas, e quis saber
quem era que me merecia tanto.
– É o Escobar, disse eu.”
Pág. 887 “– Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também; aqui no seminário você é a pessoa que
mais me tem entrado no coração.
– Se eu dissesse a mesma cousa, retorquiu ele sorrindo, perderia a graça… Mas a verdade é que não tenho
aqui relações com ninguém, você é o primeiro, e creio que já notaram; mas eu não me importo com isso.”
Pág. 899 “Durante cerca de cinco minutos esteve com a minha mão entre as suas, como se não me visse
desde longos meses.
– Você janta comigo, Escobar?
– Vim para isto mesmo.”
Pág. 900 “Caminhamos para o fundo. Passamos o lavadouro; ele parou um instante aí, mirando a pedra de
bater roupa e fazendo reflexões a propósito do asseio; lembra-me só que as achei engenhosas, e ri, ele riu também.
A minha alegria acordava a dele, e o céu estava tão azul, e o ar tão claro, que a natureza parecia rir também co-
nosco. São assim as boas horas deste mundo.”
148
Pág. 901 “Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental do meu amigo, que não pude deixar de abraçá-
-lo. Era no pátio; outros seminaristas notaram a nossa efusão: um padre que estava com eles não gostou…”
Pág. 902 “Escobar apertou-me a mão às escondidas, com tal força que ainda me doem os dedos.”
Pág. 913 “Escobar também se me fez mais pegado ao coração. As nossas visitas foram-se tornando mais
próximas, e as nossas conversações mais íntimas.”
Pág. 914 “A amizade existe; esteve toda nas mãos com que apertei as de Escobar ao ouvir-lhe isto, e na
total ausência de palavras com que ali assinei o pacto; estas vieram depois, de atropelo, afinadas pelo coração, que
batia com grande força.”
Págs. 925/26 (Depois da morte de Escobar) “Era uma bela fotografia tirada um ano antes. (Escobar) estava
de pé, sobrecasaca abotoada, a mão esquerda no dorso de uma cadeira, a direita metida no peito, o olhar ao
longe para a esquerda do espectador. Tinha garbo e naturalidade. A moldura que lhe mandei pôr não encobria a
dedicatória, escrita embaixo, não nas costas do cartão: ‘Ao meu querido Bentinho o seu querido Escobar 20-4-70c.”
•••
P.S.: Mas, se vocês ainda têm dúvida, leiam a página 845 do fúlgido romance. Bentinho, ele próprio, fica
pasmo, e realizado, quando consegue dar um beijo (quer dizer, apenas uma bicota) em Capitu. É ele próprio quem
fala, entusiasmado com seu feito de bravura:
“De repente, sem querer, sem pensar, saiu-me da boca esta palavra de orgulho:
– Sou Homem!”
(Millôn Fernandes)(Disponível em: <blogdogusmao.com.br>. Acesso em: 22 mar. 2015.)
Nos quadrinhos – HQ
O amor (e o ciúme) de Bentinho por Capitu virou história em quadrinhos. A Editora Ática acaba de editar o clássico
Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis em 1899, nesse formato,
com arte de Rodrigo Rosa e roteiro de Ivan Jaf. O lançamento integra a
coleção Clássicos Brasileiros em HQ.
Nos quadrinhos acima e abaixo, o ainda adolescente Bento San-
tiago entreouve a mãe falar que quer torná-lo padre, independente-
mente de sua nascente paixão pela vizinha Capitu. Dom Casmurro em
quadrinhos é fiel à manutenção do mistério original, no qual o caráter
ambíguo de Capitu merece destaque.
No fim do livro, o leitor conta com a seção bônus, com informa-
ções sobre o processo de construção da obra e curiosidades sobre o
contexto histórico brasileiro do Século 19. Com 88 páginas, Dom Cas-
murro em versão HQ.
No cinema
Bento (Marcos Palmeira) é um homem cujos pais, apreciadores de Machado de Assis, resolveram batizá-lo com este
nome em homenagem ao personagem homônimo do livro Dom Casmurro. Tantas vezes foi justificada a razão da
homenagem que Bento cresceu com a ideia fixa de que seria o próprio personagem e destinado a viver, exatamen-
te, aquela história. Até chamava sua amiga de infância no Rio de Janeiro, Ana (Maria Fernanda Cândido), de Capitu.
Seus amigos, conhecedores do seu sentimento de predestinação, apelidaram-no Dom. Bento e Ana separaram-se
quando a família do menino mudou-se para São Paulo. Já adulto, Bento reencontra Miguel, um amigo que Bento
conheceu antes de ele desistir da faculdade Engenharia. Miguel está em São Paulo para procurar modelos para um
clipe de uma Banda de Rock (Capital Inicial), que sua empresa está produzindo, e leva Bento para o estúdio, com
149
o pretexto de conhecê-la, mas na verdade é para aproximá-lo de sua assistente. É lá que “Dom” acidentalmente
reencontra sua Capitu e dali renasce o romance da infância, só que, agora, avassalador.
(Disponível em: <wikipedia.org>. Acesso em: 23 mar. 2015).
Minissérie
Capitu desenvolve se a partir da promessa de Dona Glória (Eliane Giardini), mãe do protagonista Bentinho: depois
de perder um filho, ela jura fazer do próximo herdeiro um padre; mas Bentinho tem uma enorme paixão por sua
vizinha e melhor amiga Capitu, mas por causa da promessa eles não podem ficar juntos. Mesmo a contragosto,
Bentinho vai para o seminário, onde conhece Escobar, que vira seu melhor amigo. Antes de deixar o seminário,
José Dias ajuda a Bentinho ficar junto a sua amada. Já fora do seminário, vai estudar, forma-se advogado e casa-se
com Capitu. Escobar torna-se comerciante e casa-se com Sancha, amiga de infância de Capitu. O casal Escobar e
Sancha geram uma filha, Capituzinha. Dois anos depois, para a alegria de Bento e Capitu, nasce Ezequiel. Os casais
mantêm fortes laços de amizade. Num jantar na casa de Escobar, os quatro amigos planejam uma viagem para
a Europa. Em um momento a sós, Bentinho surpreende um olhar intenso de Sancha, o que dá vez a um diálogo
cheio de insinuações e uma troca ardorosa de apertos de mãos. Bentinho, fortemente atraído por Sancha, repele
o sentimento e fica mal ao perceber o desejo pela mulher do melhor amigo. A fatalidade marca a vida de Escobar,
que morre afogado no dia seguinte. A morte do amigo aumenta ainda mais a culpa e o ciúme de Bentinho, que,
atormentado, acredita ver no próprio filho, Ezequiel, a imagem do amigo por causa do ocorrido anteriormente.
(Disponível em: <wikipedia.org>. Acesso em: 22 mar. 2015).
O conto machadiano
Machado de Assis é autor de quase duzentos contos, cujas histórias revelam evolução das românticas, leves para
mais densas, intrigantes, que alcançam o patamar das obras-primas da Literatura brasileira.
A construção de um conto é, com certeza, muito mais difícil do que a construção de um romance, porque o conto:
é uma narrativa curta e deve prender a atenção do leitor;
deve ter um só e muito interessante conflito;
deve provocar tensão e conduzir o leitor para um único efeito;
deve manter um perfeito equilíbrio narrativo e;
trabalha com poucas personagens, em tempo exíguo e em pequenos espaços.
Machado de Assis foi um contista extraordinário porque soube manejar as regras do conto como ninguém.
O núcleo temático e narrativo reduzido e sua força expressiva altamente concentrada do conto machadiano flagra
150
aspectos psicológicos da natureza humana.
Missa do galo
Nunca pude entender a conversão que tive co uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era
noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria
acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Menezes, que fora casado em primeiras núpcias, com
uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangara
para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. [...]
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do
marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No
capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a
julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos
uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse
amar. Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Manga-
ratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se à hora do costume;
eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém.
Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficaria em casa.
– Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? Perguntou a mãe de Conceição.
– Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros; velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me
à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda
uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de
Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas,
mas quase sem dar por elas, um acaso.
Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que
ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
– Ainda não foi? perguntou ela.
– Não fui, parece que ainda não é meia-noite.
– Que paciência!
Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na
cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras; fechei o livro;
151
ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte
de mim, perto do canapé. Como eu lhe pergun-
tasse se a havia acordado, sem querer, fazendo
barulho, respondeu com presteza:
– Não ! qual! Acordei por acordar.
[...]
– Eu gosto muito de romances, mas leio
pouco, por falta de tempo. Que romances é que
você tem lido?
Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns.
Conceição ouvia-me com cabeça reclinada no
espaldar, enfiando os olhos por entre as pál-
pebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De
vez em quando passava a língua pelos beiços,
para umedecê-los. Quando acabei de falar, não
me disse nada; ficamos assim alguns segundos.
Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os
dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os
cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem des-
viar de mim os grandes olhos espertos.
“Talvez esteja aborrecida”, pensei eu.
E logo alto:
– D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
– Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite,
é capaz de não dormir de dia?
– Já tenho feito isso.
– Eu, não perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e meia hora que seja., hei de passar pelo sono.
Mas também estou ficando velha.
– Que velha o quê, D. Conceição?
Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tran-
quilas; agora, porém ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela
da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão sin-
gular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me
pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina o consertando
a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo
das suas ideias; tornou ao espanto de me ver esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca
ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.
– É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem.
– Acredito; mas aqui há mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que
na roça. S. João não digo, nem Santo Antônio...
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos
espalhadas. Não estando abotoadas, as mangas caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros,
e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; na-
quele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que, apesar da pouca claridade,
podia contá-las do meu lugar. [...]
152
[...]
Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por
um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas
vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou
vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-
-me. Uma das que ainda tenho frescas é que em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou
lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das
mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma cousa; mas estremeceu, como se
tivesse um arrepio de frio voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista
pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede.
153
E.O. TESTE I
1. Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, roman-
cista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um
operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de
Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito
cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula
na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis.
Disponível em: http://www.passeiweb.com. Acesso em: 1 maio 2009.
Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado constitui-se de:
a) fatos ficcionais relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um renomado escritor.
b) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus trabalhos e vida coti-
diana.
c) explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa, destacando como tema
seus principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
familiar em detrimento de seus feitos públicos.
e) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração,
com um estilo marcado por linguagem objetiva.
Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz
aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim,
falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode
ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os
olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos
no bolso.
[...] No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro.
Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afi-
nal pegou.
[...] Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que
lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos
de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se
não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo.
154
3. (Insper) As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofighters”. Inspirado em jogos de lutas, ele
propõe uma batalha verbal entre importantes filósofos. Nele os argumentos dos pensadores valem
como golpes, conforme se verifica na ilustração abaixo.
Relacione as teorias dos pensadores citados ao excerto de Machado de Assis. Por defender posição
similar, infere-se que, no jogo, o “filósofo” Quincas Borba NÃO poderia ser adversário de:
a) Aristóteles, pois ao definir a paz como “destruição” e a guerra como “conservação”, Quincas Borba
recupera a ideia de que “o homem é livre só dentro de regras”.
b) Jean Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo existencialista, o mentor do Humanitismo mostra que a
necessidade de alimentação determina a obediência ou a violação às regras.
c) Hobbes, pois a tese do Humanitismo reafirma a ideologia do autor de “Leviatã”, entendendo que o
estado natural é o conflito.
d) Rousseau, pois defende os mesmos princípios do filósofo iluminista, mostrando que, embora pareça ser
uma solução, a guerra traz grandes prejuízos à humanidade.
e) nenhum dos pensadores citados, pois Quincas Borba, ao contrário deles, prevê um destino promissor
para a humanidade.
4. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap.IX, vers.
1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher, para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que
aprender de ti”. Mas eu creio que não, 1e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu me-
nina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, 2como a fruta dentro da casca.
Machado de Assis, D.Casmurro
E.O. TESTE II
chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa
de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma
varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas
a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
vezes gemendo – mas obedecia sem dizer
Ultimamente ando de novo intrigado com o
palavra, ou, quando muito, um – “ai, nho-
nhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, enigma de Capitu. Teria ela traído mesmo o
besta!” – Esconder os chapéus das visitas, marido, ou tudo não passou de imaginação
deitar rabos de papel a pessoas graves, pu- dele, como narrador? Reli mais uma vez o
xar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões romance e não cheguei a nenhuma conclu-
nos braços das matronas, e outras muitas fa- são. Um mistério que o autor deixou para a
çanhas deste jaez, eram mostras de um gê- posteridade.
(Fernando Sabino, O bom ladrão.)
nio indócil, mas devo crer que eram também
expressões de um espírito robusto, porque
meu pai tinha-me em grande admiração; e 1. (Unifesp) “Tinha-me lembrado a definição
se às vezes me repreendia, à vista de gente, que José Dias dera deles, “olhos de cigana
fazia-o por simples formalidade: em particu- oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que
lar dava-me beijos. era oblíqua, mas dissimulada sabia, e que-
Não se conclua daqui que eu levasse todo o ria ver se se podiam chamar assim. Capitu
resto da minha vida a quebrar a cabeça dos deixou-se fitar e examinar. Só me pergunta-
outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas va o que era, se nunca os vira; eu nada achei
opiniático, egoísta e algo contemptor dos extraordinário; a cor e a doçura eram minhas
homens, isso fui; se não passei o tempo a conhecidas. A demora da contemplação creio
esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes que lhe deu outra ideia do meu intento;
puxei pelo rabicho das cabeleiras. imaginou que era um pretexto para mirá-los
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.)
mais de perto, com os meus olhos longos,
constantes, enfiados neles, e a isto atribuo
9. (Unifesp 2011) É correto afirmar que:
a) se trata basicamente de um texto naturalis- que entrassem a ficar crescidos, crescidos e
ta, fundado no Determinismo. sombrios, com tal expressão que...
b) o texto revela um juízo crítico do contexto Retórica dos namorados, dá-me uma compa-
escravista da época. ração exata e poética para dizer o que foram
c) o narrador se apresenta bastante sisudo e aqueles olhos de Capitu. Não me acode ima-
amargo, bem ao gosto machadiano. gem capaz de dizer, sem quebra da dignida-
d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos de do estilo, o que eles foram e me fizeram.
das personagens em foco. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me
e) os comportamentos desumanos do narrador dá ideia daquela feição nova. Traziam não
são sutilmente desnudados. sei que fluido misterioso e enérgico, uma
157
força que arrastava para dentro, como a vaga Entende-se, então, que ele:
que se retira da praia, nos dias de ressaca.” a) começava a nutrir sentimento de repulsa em
(Machado de Assis, “Dom Casmurro”.) relação a ela, como está sugerido em [seus
olhos] “entrassem a ficar crescidos, cresci-
No texto de Sabino, o narrador questiona a dos e sombrios, com tal expressão que...”
traição de Capitu. Lendo o texto de Machado, b) se sentia fortemente atraído por ela, como
pode-se entender que esse questionamento comprova o trecho: “Traziam não sei que
decorre de: fluido misterioso e enérgico, uma força que
a) os fatos serem narrados pela visão de uma arrastava para dentro...”
personagem, no caso, o narrador em primei- c) passou a desconfiar da sinceridade dela,
ra pessoa, que fornece ao leitor o perfil psi- como está exposto em: “mas dissimulada
cológico de Capitu. sabia, e queria ver se se podiam chamar as-
b) a personagem ser vista por José Dias como sim.”
“oblíqua e dissimulada”, o que gerou mal- d) começava a vê-la como uma mulher comum,
-estar no apaixonado de Capitu, deixando de sem atrativos especiais, como demonstra o
vê-la como uma mulher de encantos. trecho: “eu nada achei extraordinário...”
c) a apresentação da personagem Capitu ser e) deixava de vê-la como uma mulher enig-
feita no romance de maneira muito objetiva, mática, como está sugerido em: “Olhos de
sem expressão dos sentimentos que a vincu- ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia
lavam ao homem que a amava. daquela feição nova.”
d) os aspectos psicológicos de Capitu serem
apresentados apenas pelos comentários de 3. (Unifesp) Ao afirmar que Capitu tinha olhos
José Dias, o que lhe torna a caracterização de “cigana oblíqua”, José Dias a vê como
muito subjetiva. uma mulher:
e) o amado de Capitu não conseguir enxergar a) irresistível.
nela características mais precisas e menos b) inconveniente.
misteriosas, o que o faz descrevê-la de forma c) compreensiva.
bastante idealizada. d) evasiva.
e) irônica.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Tinha-me lembrado a definição que José Dias TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissi- Antes de concluir este capítulo, fui à jane-
mulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas la indagar da noite por que razão os sonhos
dissimulada sabia, e queria ver se se podiam hão de ser assim tão tênues que se esgarçam
chamar assim. Capitu deixou-se fitar e exa- ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo,
minar. Só me perguntava o que era, se nunca e não continuam mais. A noite não me res-
os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e pondeu logo. Estava deliciosamente bela, os
a doçura eram minhas conhecidas. A demo- morros palejavam de luar e o espaço morria
ra da contemplação creio que lhe deu outra de silêncio. Como eu insistisse, declarou-
ideia do meu intento; imaginou que era um -me que os sonhos já não pertencem à sua
pretexto para mirá-los mais de perto, com jurisdição. Quando eles moravam na ilha
os meus olhos longos, constantes, enfiados que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu
neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar palácio, e donde os fazia sair com as suas
crescidos, crescidos e sombrios, com tal ex- caras de vária feição, dar-me-ia explicações
pressão que... possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os
Retórica dos namorados, dá-me uma compa- sonhos antigos foram aposentados, e os mo-
ração exata e poética para dizer o que foram dernos moram no cérebro da pessoa. Estes,
aqueles olhos de Capitu. Não me acode ima- ainda que quisessem imitar os outros, não
gem capaz de dizer, sem quebra da dignida- poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos, como
de do estilo, o que eles foram e me fizeram. a dos Amores, como todas as ilhas de todos
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me os mares, são agora objeto da ambição e da
dá ideia daquela feição nova. Traziam não rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.
sei que fluido misterioso e enérgico, uma Machado de Assis - D. Casmurro
força que arrastava para dentro, como a vaga palejavam: tornavam pálidos
que se retira da praia, nos dias de ressaca.
(Machado de Assis, Dom Casmurro.) 4. (Mackenzie) Assinale a alternativa correta
sobre “D. Casmurro.”
2. (Unifesp) Para o narrador, os olhos de Capi- a) A linguagem concisa e objetiva do autor são
tu eram “olhos de ressaca, como a vaga que recursos usados a fim de não prejudicar o
se retira da praia, nos dias de ressaca”. desenvolvimento linear da narrativa.
158
b) O aproveitamento da mitologia segue o prin- II. “Helena” e “Iaiá Garcia” encaixam-se na
cípio da mimese (“imitação”) de tradição primeira fase dos romances machadia-
clássico-renascentista. nos, apresentando ainda alguns aspectos
c) A idealização da natureza é prova da influ- ligados ao Romantismo.
ência que o Romantismo exerceu sobre o es- III.Há exemplos do pessimismo e da ironia
tilo machadiano. de Machado de Assis tanto em seus ro-
d) A crítica ao determinismo cientificista é ín- mances como em seus contos.
dice do estilo naturalista de Machado de As- Assinale:
sis. a) se todas estiverem corretas.
e) A digressão permite ao narrador interromper b) se apenas II e III estiverem corretas.
o fluxo narrativo para tecer comentários crí- c) se apenas II estiver correta.
ticos em tom irônico. d) se apenas III estiver correta.
e) se todas estiverem incorretas.
5. (Mackenzie) Assinale a alternativa que
apresenta fragmento da epopeia camoniana, 8. (Mackenzie) Imagine a leitora que está em
extraído do episódio “A ilha dos amores”, a 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma da-
que o texto faz referência. quelas boas festas antigas, que eram todo o
a) Volve a nós teu rosto sério, / Princesa do recreio público e toda a arte musical. Sabem
Santo Gral, / Humano ventre do Império, / o que é uma missa cantada; podem imaginar
Madrinha de Portugal. o que seria uma missa cantada daqueles tem-
b) Ali, em cadeiras ricas, cristalinas, / Se as- pos remotos. Não lhe chamo a atenção para
sentam dous e dous, amante e dama; / Nou- os padres e os sacristãos, nem para o sermão,
tras, à cabeceira, de ouro finas, / Está co’a nem para os olhos das moças cariocas, que
bela deusa o claro Gama. já eram bonitos nesse tempo, nem para as
c) Se encontrares louvada uma beleza,/ Ma- mantilhas das senhoras graves, os calções,
rília, não lhe invejes a ventura,/ que tens as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os incen-
quem leve à mais remota idade/ a tua for- sos, nada. Não falo sequer da orquestra, que
mosura. é excelente; limito-me a mostrar-lhes uma
d) Este lugar delicioso, e triste, / Cansada de cabeça branca, a cabeça desse velho que rege
viver, tinha escolhido / Para morrer a mísera a orquestra, com alma e devoção.”
Lindóia. O trecho anterior, que inicia CATINGA DE ES-
e) Choraram da Bahia as ninfas belas, / Que PONSAIS, extraordinário conto de Machado
nadando a Moema acompanhavam; / E ven- de Assis, apresenta uma das características
do que sem dor navegam delas, / À branca de sua prosa.
praia com furor tornavam. Trata-se:
a) do pessimismo.
6. (Mackenzie) Sobre Machado de Assis, é IN- b) do humor.
CORRETO afirmar que: c) da denúncia da hipocrisia e do egoísmo.
a) seus primeiros romances como RESSURREI- d) da análise psicológica do personagem.
ÇÃO e lAIÁ GARCIA apresentam traços ainda e) do leitor incluso.
ligados ao Romantismo.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
b) sua poesia apresenta, muitas vezes, carac-
terísticas próprias do Parnasianismo como a Algum tempo hesitei se devia abrir estas
busca da perfeição formal e um vocabulário memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é,
elevado. se poria em primeiro lugar o meu nascimen-
c) nos contos, não se percebem elementos que to ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
o consagraram nos romances, como o pessi- seja começar pelo nascimento, duas conside-
mismo, negativismo e leitor incluso. rações me levaram a adotar diferente méto-
d) os romances de sua segunda fase tornam- do: a primeira é que eu não sou propriamen-
-se totalmente realistas, evidenciando as ca- te um autor defunto, mas um defunto autor,
racterísticas que o diferenciam na literatura para quem a campa foi outro berço; a segun-
brasileira. da é que o escrito ficaria assim mais galan-
e) em sua extensa obra, ainda se podem encon- te e mais novo. Moisés, que também contou
trar peças de teatro, crônicas e ensaios a sua morte, não a pôs no introito, mas no
cabo: diferença radical entre este livro e o
7. (Mackenzie) Leia as afirmações a seguir: Pentateuco.
I. DOM CASMURRO, MEMÓRIAS PÓSTUMAS Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
DE BRÁS CUBAS e QUINCAS BORBA são uma sexta-feira do mês de agosto de 1869,
romances narrados em primeira pessoa. na minha bela chácara de Catumbi. Tinha
uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos,
159
era solteiro, possuía cerca de trezentos con- I. Depois de haver comparado seu estilo ao
tos e fui acompanhado ao cemitério por onze andar dos ébrios, o narrador resolve com-
amigos. pará-lo também ao “luncheon”, peniten-
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. ciando-se, assim, dos vícios que praticara
em vida – entre eles, o do alcoolismo.
II. Nas comparações com o “luncheon”, pre-
9. (FGV-RJ) Ao configurar as Memórias póstu-
sentes no excerto, o narrador revela ser o
mas de Brás Cubas como narrativa em pri-
capricho (ou arbítrio) o móvel dominante
meira pessoa, conforme se verifica no tre- tanto de seu estilo quanto das ações que
cho, Machado de Assis: relata.
a) deu um passo decisivo em direção ao Realis- III.Na autocrítica do narrador, realizada com
mo, adotando os procedimentos mais típicos ingenuidade no excerto, oculta-se a críti-
dessa escola. ca do realista Machado de Assis ao Natu-
b) visa a criticar o subjetivismo romântico e os ralismo dominante em sua época.
excessos sentimentalistas em que este in- Está correto o que se afirma em:
correra. a) I, apenas.
c) deu a palavra ao proprietário escravista e b) II, apenas.
rentista brasileiro do Oitocentos, para que c) I e II, apenas.
ele próprio exibisse sua desfaçatez. d) II e III, apenas.
d) parodia as Memórias de um sargento de mi- e) I, II e III.
lícias, retomando o registro narrativo que as
162
a) Tendo em vista a autobiografia de Brás 6. (UFMG) “Vim... Mas não; não alonguemos
Cubas e as considerações que, ao longo de este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escre-
suas Memórias póstumas, ele tece a respei- ver, e a pena vai comendo papel, com gra-
to do tema do trabalho, comente o conselho ve prejuízo meu, que sou autor. Capítulos
que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “— compridos quadram melhor a leitores pesa-
Trabalhando, concluí eu”. dões; e nós não somos um público infólio,
b) Tendo, agora, como referência, a história de mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo
D. Plácida, contada no livro, discuta sucinta- elegante, corte dourado e vinhetas... princi-
mente o mencionado conselho de Brás Cubas. palmente vinhetas... Não, não alonguemos o
capítulo.”
4. (UFU) “NÃO HOUVE LEPRA REDIJA um pequeno texto justificando a ma-
Não houve lepra, mas há febres por todas es- neira como o narrador de MEMÓRIAS PÓSTU-
sas terras humanas, sejam velhas ou novas. MAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis,
Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma considera o leitor.
febre tifoide, e foi enterrado nas imediações
de Jerusalém, onde os dois amigos da uni- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
versidade lhe levantaram um túmulo com
esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, A(s) questão(ões) deve(m) ser respondida(s)
em grego: ‘Tu eras perfeito nos teus cami- com base no fragmento textual a seguir, re-
nhos’. Mandaram-me ambos os textos, grego tirado do capítulo O debuxo e o colorido, do
e latino, o desenho da sepultura, a conta das romance Dom Casmurro, de Machado de As-
despesas e o resto do dinheiro que ele leva- sis.
va; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo. Quando nem mãe nem filho estavam comi-
Como quisesse verificar o texto, consultei a go o meu desespero era grande, e eu jurava
minha Vulgata, e achei que era exato, mas matá-los a ambos, ora de golpe, ora deva-
tinha ainda um complemento: ‘Tu eras per- gar, para dividir pelo tempo da morte todos
feito nos teus caminhos, desde, o dia da tua os minutos da vida embaçada e agoniada.
criação’. Parei e perguntei calado: ‘Quando Quando, porém, tornava a casa e via no alto
seria o dia da criação de Ezequiel?’ Ninguém da escada a criaturinha que me queria e es-
me respondeu. Eis aí mais um mistério para perava, ficava 1desarmado e diferia o castigo
ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de de um dia para outro.
tudo, jantei bem e fui ao teatro.”
(Machado de Assis - Obra Completa. Organizada por
(Machado de Assis. “Dom Casmurro” - Cap. CXLVI) Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Aguilar, 1971.)
Naturalismo no Brasil
NATURALISMO NO BRASIL
Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o romance
O cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já faziam
parte do dia a dia dos cariocas desde o século XIX. Ambientada nas vésperas da Abolição e da Proclamação da
República, a história revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a
influência da literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola
(1840-1902), inspirador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.
Contexto
Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro, muitos pobres foram literalmente empurrados para longe
da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas. O fim da escravidão e o início do período republicado
no Brasil foram marcados por
conflitos e revoltas populares
também no Rio de Janeiro. Em
1904, estourou um movimen-
to de caráter popular desenca-
deado contra a campanha de
vacinação obrigatória contra a
varíola, imposta pelo governo
federal.
167
Revolta popular
A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise econômica – desemprego, inflação e custo de vida alto. A
reforma urbana retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando cortiços e habitações simples.
Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e apedrejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de
1904, o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória e mandou que o exército, a marinha e a
polícia acabassem com os tumultos.
A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e
do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro, o
crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder,
o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e desenvolve-
ram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o idealismo e o
tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise e compreen-
são da realidade. Teorias desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam:
teoria determinista, de Hippolyte Taini (1825-1893), encarava o comportamento humano como determinado pela
hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia a
tese de que o homem descende dos animais.
As características do naturalismo literário são ligadas à realidade da época cujo tom deixa de ser tão poético
e subjetivo, como nas escolas precedentes.
Os romances naturalistas revelam:
Realismo Naturalismo
Visão determinista
Mergulho psicológico Cientificismo
Retrato fiel da personagem Zoomorfismo
Personagem esférica Classes dominadas (pobres e favelados)
Materialização do amor Emprego de termos técnicos
Veracidade Personagens patológicas e biológicas
Classes dominantes (burguesia urbana) Determinismo, evolucionismo, positivismo
Influência de Gustave Flaubert (França) Foco na terceira pessoa
Conclusões tiradas pelos leitor Romance de tese (experimental)
Influência de Émile Zola (França)
Aluísio Azevedo
Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís, no Maranhão, onde nas-
ceu, aos dezenove anos e veio para o Rio de Janeiro. Lá morou com o
irmão, Artur Azevedo, e dedicou-se persistentemente ao desenho e à
pintura na Imperial Academia de Belas-Artes.
Aos vinte e um anos voltou a São Luís, onde passou a colaborar
na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o romance romântico
Uma lágrima de mulher. Mas foi em 1881 que seu nome tornou-se
conhecido com a publicação do romance O mulato, cuja temática, bas-
tante criticada pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por
isso, Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez de ficar es-
crevendo”.
De volta para o Rio de janeiro, produziu folhetins românticos para jornais. Memórias de um condenado e Mis-
térios da Tijuca foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem
elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.
Em 1895 foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. Foi o início de uma atribulada carreira diplomática,
que o levaria a Locoama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff; na Inglaterra,
a Nápoles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina.
Fase romântica
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se Uma lágrima de mulher; Memórias de um condenado ou A Con-
dessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Azira; Mistério da Tijuca ou Girândola de amores.
169
Fase naturalista
Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os contos Demônios;
Pegadas; O touro negro.
Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da
patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma francês Émile Zola.
Aluísio prefere a observação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre
o homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine.
O cortiço
Nesse seu melhor romance naturalista, focaliza o proletariado urba-
no do Rio de Janeiro que vive num ambiente coletivo: um cortiço. Os
personagens são criados sob uma visão de conjunto cujo meio influi
categoricamente, despersonalizando-os e a tudo dominando.
O espaço é o elemento de destaque na obra que está intimamente
ligado aos personagens. Como o romance possui muitos deles, a coletivida-
de torna-se um fator preponderante na obra, o que faz com que O Cortiço
seja considerado um romance da multidão. As personagens espelham o
nascimento do proletariado no Rio de Janeiro, em fins do século XIX.
O cortiço
João Romão é um ganancioso comerciante de origem portuguesa, dono de
um armazém, de uma pedreira e de um terreno de bom tamanho, no Rio de
Janeiro, onde constrói casinhas de baixo custo para alugar.
Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o português e o ajuda no
armazém.
Aos poucos, o cortiço que vai se formando e passa a incomodar o vizinho
Miranda, dono de uma loja próxima. Chefe de uma família composta pela es-
posa Estrela e pela filha Zulmira, Miranda sempre reclama da situação sórdida
do lugar. João Romão, por sua vez, também não aprecia o vizinho e com ele
mantém constante rivalidade.
Quando Jerônimo, um operário português que trabalha na pedreira, muda-
-se com a esposa Piedade para lá, a situação começa a sofrer alterações. Je-
rônimo apaixona-se pela mulata Rita Baiana, comprometida com o capoeirista
Firmo, morador de outro cortiço.
Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerônimo acabam se enfrentando e o português leva uma navalhada
do capoeirista. Nesse ínterim, João Romão começa a se interessar por Zulmira, filha do comerciante Miranda –
sonha casar-se com ela e mudar de condição social. Jerônimo, que acaba se juntando a Rita Baiana, arma uma
cilada para Firmo e o assassina a pauladas.
Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Gato”, ateiam fogo ao cortiço de João Romão, para vingar a
morte do capoeirista. O incêndio, indiretamente, auxilia o português, que o reconstrói, fazendo um cortiço mais
novo e mais próspero.
Com o tempo, João Romão aproxima-se cada vez mais de Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza do cami-
nho. Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra suicida-se. João Romão casa-se com Zulmira.
170
Trechos de O cortiço
Capítulo III
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas
e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam
ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz
loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão
ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostra-
vam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como
o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do
café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias;
reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham
choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons
de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns
quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança
dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e
fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns
cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar;
via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do
casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo
da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas
das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demo-
ravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir,
despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
171
Roupa estendida. (Óleo sobre tela, 67 CM X 82 cm. 1944. Eliseu Visconti.)
[...]
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos
cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das
Dores, a quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda, a Nenen, e mais um filho, o Agostinho, menino
levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda
a família habitava no cortiço.
Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os
outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do
comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar.
Teria vinte e cinco anos.
Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho da sua virgindade, escapando
como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa
branca de homem com muita perfeição.
Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre,
um mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e
um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço. Também tinham filhos,
mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju, vivia na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha
era uma cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade. Procedência francesa.
Alexandre em casa, à hora de descanso, nos seus chinelos e na sua camisa desabotoada, era muito chão
com os companheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode
e empunhando a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém mais lhe via os
dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem ele só dava “tu” quando não estava
fardado, era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu
temperamento e não do arbítrio do seu caráter.
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e
socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre as suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela
dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste,
com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos
e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.
172
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e asse-
ada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor
punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e
descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sen-
suais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua
virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de
pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.
Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem lhe dispensavam todos certa con-
sideração, privilegiada pelas suas maneiras graves de pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de
desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou-se, deixando-lhe uma filha
muito doentinha e fraca, a quem Isabel sacrificou tudo para educar, dando-lhe mestre até de francês. Tinha uma
cara macilenta de velha portuguesa devota, que já foi gorda, bochechas moles de pelancas rechupadas, que lhe
pendiam dos cantos da boca como saquinhos vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sempre chorosos en-
golidos pelas pálpebras. Puxava em bandós sobre as fontes o escasso cabelo grisalho untado de óleo de amêndoas
doces. Quando saía à rua punha um eterno vestido de seda preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, e um
xale encarnado que lhe dava a todo o corpo um feitio piramidal. Da sua passada grandeza só lhe ficara uma caixa
de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora pitadeava agora, suspirando a cada pitada.
A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último
ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar,
mesmo porque o médico a proibira expressamente.
[...]
Capítulo VII
[...]
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a
esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofe-
gante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando
num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse
à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem
nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os
braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, titilando.
[...]
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém
como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada;
aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada,
harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era
a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras[...].
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1945).
173
Roda de samba. Heitor dos Prazeres.
Raul Pompeia
Raul D’Ávila Pompeia (1863-1895) tinha apenas dez anos quando
foi matriculado num internato, dirigido pelo doutor Abílio César Bor-
ges, o Barão de Macaúbas, no Rio de Janeiro. Após concluir os estu-
dos primários, entrou para o Imperial Colégio D. Pedro II, em 1879.
Em literatura, o adolescente admirava Flaubert e Zola e
deliciava-se com as ideias de liberdade aprendidas na Leitura de
Rousseau. No final do colégio, já tinha pronto seu primeiro romance:
Uma tragédia no Amazonas.
Em 1881, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo.
Três anos depois, já como jornalista consagrado, abolicionista e repu-
blicano, foi reprovado na Faculdade. Nesse tempo escrevera mais um
romance: As joias da Coroa.
Tomou, então, a decisão de se transferir para o Recife, onde
terminou o curso, em 1885, e começou a escrever o romance que
haveria de consagrá-lo: O Ateneu, publicado sob a forma de fo-
lhetim em 1888.
Biografia
Raul de Ávila Pompeia nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis, RJ, em 12 de abril de 1863, e faleceu no Rio
de Janeiro, RJ, em 25 de dezembro de 1895. É o patrono da cadeira no 33 da ABL, por escolha do fundador
Domício da Gama.
Era filho de Antônio de Ávila Pompeia, homem de recursos e advogado, e de Rosa Teixeira Pompeia, que
pertencia à família de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Transferiu-se cedo com a família para a Corte e
foi internado no Colégio Abílio, dirigido pelo educador Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas – o mesmo que,
em Salvador, educara Castro Alves e Rui Barbosa – estabelecimento de ensino que adquirira grande nomeada.
Passando do ambiente familiar austero e fechado para a vida no internato, recebeu Raul Pompeia um choque pro-
fundo no contato com estranhos. Logo se distinguiu como aluno aplicado, com o gosto dos estudos e leituras, bom
174
desenhista e caricaturista, que redigia e
ilustrava do próprio punho o jornalzinho
O Archote. Em 1879, transferiu-se para o
Colégio Pedro II, para fazer os prepara-
tórios, e onde se projetou como orador e
publicou seu primeiro livro, Uma tragédia
no Amazonas (1880).
Reprovado no terceiro ano, em
1883 seguiu com 93 acadêmicos para o
Recife e lá concluiu o curso de Direito,
mas não exerceu a advocacia. De volta
ao Rio de Janeiro em 1885, dedicou-se
ao jornalismo, escrevendo crônicas, fo-
lhetins, artigos, contos e participando
da vida boêmia das rodas intelectuais.
Nos momentos de folga escreveu O Ate-
neu, “crônica de saudades”, romance
de cunho autobiográfico, narrado em
primeira pessoa, contando o drama de um menino que, arrancado ao lar, é posto num internato da época.
Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na Gazeta de Notícias, e, logo a seguir, em livro, que o consagrou
definitivamente como escritor.
Decretada a Abolição, em que se empenhara, passou a dedicar-se à campanha favorável à implantação
da República. Em 1889 colaborou em A Rua, de Pardal Mallet, e no Jornal do Comércio. Proclamada a Repú-
blica, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo a seguir, diretor da Biblioteca Na-
cional. No jornalismo revelou-se um florianista exaltado, grande jacobino que era, em oposição a intelectuais
do seu grupo, como Pardal Mallet e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um duelo entre Bilac e Pompeia.
Combatia o cosmopolitismo, achando que o militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a defesa da
pátria em perigo. Referindo-se à luta entre portugueses e ingleses, desenhou uma de suas melhores charges: O
Brasil crucificado entre dois ladrões. Com a morte de Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca
Nacional, acusado de desacatar a pessoa do então Presidente da República, Prudente de Morais, no explosivo
discurso pronunciado em seu enterro. Rompido com amigos, caluniado em artigo de Luís Murat, sentindo-se
desdenhado por toda parte, inclusive dentro do jornal A Notícia, que não publicara o segundo artigo de sua
colaboração – o que, aliás, tratou-se de um simples atraso – pôs fim à vida, com um tiro no coração, no dia
de Natal de 1895.
A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais, na literatura brasileira é controvertida. A princípio
a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-no aproxi-
mar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura brasileira, do estilo impressionista.
(Diposnível em: <academia.org.br/abl>. Acesso em: 22 mar. 2015).
175
O Ateneu
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e ressalta-se em seu eixo fundamental o estudo psicológico de um
adolescente. O foco narrativo é centrado em Sérgio, personagem constantemente em conflito com os valores im-
postos pela direção do internato.
Trechos de O Ateneu
Capítulo I
[...]
O diretor recebeu-nos em sua residência, com manifestações ultra de afeto. Fez-se cativante, paternal; abriu-nos
amostras dos melhores padrões do seu espírito, evidenciou as faturas do seu coração. O gênero era bom sem dú-
vida nenhuma; que apesar do paletó de seda e do calçado raso com que se nos apresentava, apesar da bondosa
176
familiaridade com que declinava até nós, nem um segundo o destituí da altitude de divinização em que o meu
critério embasbacado o aceitara.
[...]
Surpreendendo-nos com esta frase, untuosamente escoada por um sorriso, chegou a senhora do diretor,
D. Ema. Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas alongadas por graciosa magreza,
erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, fortes como a maternidade; olhos negros, pupilas retintas de uma
cor só, que pareciam encher o talho folgado das pálpebras; de um moreno rosa que algumas formosuras possuem,
e que seria também a cor do jambo, se jambo fosse rigorosamente o fruto proibido. Adiantava-se por movimentos
oscilados, cadência de minueto harmonioso e mole que o corpo alternava. Vestia cetim preto justo sobre as formas,
reluzente como pano molhado; e o cetim vivia com ousada transparência a vida oculta da carne. Esta aparição
maravilhou-me.
Houve as apresentações de cerimônia, e a senhora com um nadinha de excessivo desembaraço sentou-se
ao divã perto de mim.
– Quantos anos tem? – perguntou-me.
– Onze anos...
– Parece ter seis, com estes lindos cabelos.
Eu não era realmente desenvolvido. A senhora colhia-me o cabelo nos dedos:
– Corte e ofereça a mamãe, aconselhou com uma carícia; é a infância que aí fica, nos cabelos louros... De-
pois, os filhos nada mais têm para as mães.
O poemeto de amor materno deliciou-me como uma divina música. Olhei furtivamente para a senhora. Ela
conservava sobre mim as grandes pupilas negras, lúcidas, numa expressão de infinda bondade! Que boa mãe para
os meninos, pensava eu. Depois, voltada para meu pai, formulou sentidamente observações a respeito da solidão
das crianças no internato.
[...]
Capítulo II
[...]
Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redon-
do de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor;
o Nascimento, o bicanca, alongado por um modelo geral de pelicano,
nariz esbelto, curvo e largo como uma foice; o Álvares, moreno, cenho
carregado, cabeleira espessa e intonsa de vate de taverna, violento e
estúpido, que Mânlio atormentava, designando-o para o mister das
plataformas de bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais
leve de carregar que a responsabilidade dos estudos; o Almeidinha,
claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se
levantava para ir à pedra com um vagar lânguido de convalescen-
te; o Maurílio, nervoso, insofrido, fortíssimo em tabuada: cinco vezes
três, vezes dois, noves fora, vezes sete?... Iá estava Maurílio, trêmulo,
sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos, rosto moreno,
marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas, lábios
inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz
de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sem-
pre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha, fazendo
177
agrados ao mestre, chamando-lhe bonzinho, aventurando a todo ensejo uma tentativa de abraço que Mânlio
repelia, precavido de confianças; Batista Carlos, raça de bugre, válido, de má cara, coçando-se muito, como se o
incomodasse a roupa no corpo, alheio às coisas da aula, como se não tivesse nada com aquilo, espreitando apenas
o professor para aproveitar as distrações e ferir a orelha aos vizinhos com uma seta de papel dobrado. Às vezes a
seta do bugre ricochetava até à mesa de Mânlio. Sensação; suspendiam-se os trabalhos; rigoroso inquérito. Em vão,
que os partistas temiam-no e ele era matreiro e sonso para disfarçar.
Dignos de nota havia ainda o Cruz, tímido, enfiado, sempre de orelha em pé, olhar covarde de quem foi
criado a pancadas, aferrado aos livros, forte em doutrina cristã, fácil como um despertador para desfechar as li-
ções de cor, perro como uma cravelha para ceder uma ideia por conta própria; o Sanches, finalmente, grande, um
pouco mais moço que o venerando Rebelo, primeiro da classe, muito inteligente, vencido apenas por Maurílio, na
especialidade dos noves fora vezes tanto, cuidadoso dos exercícios, êmulo do Cruz na doutrina, sem competidor na
análise, no desenho linear, na cosmografia.
[...]
(POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Ática, 1986.]
178
E.O. TESTE I 3. (UFPE-adaptada) Os movimentos ou tendên-
cias literárias que surgiam na Europa letrada
alcançaram o Brasil através dos colonizadores
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES portugueses e tiveram nomes que se destaca-
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe ram no continente americano. A esse propó-
toda a alma pelos olhos enamorados. sito, analise as afirmações a seguir.
Naquela mulata estava o grande mistério, a ( ) No século XVII, o Barroco procurava, atra-
síntese das impressões que ele recebeu che- vés da ênfase na religiosidade, solucionar
gando aqui: ela era a luz ardente do meio- os dilemas humanos. Esse movimento foi
-dia; ela era o calor vermelho das sestas da introduzido no Brasil pelos jesuítas, sen-
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das do seu representante capital Padre Antô-
baunilhas, que o atordoara nas matas brasi- nio Vieira, cuja obra – Sermões – consti-
leiras; era a palmeira virginal e esquiva que tui um mundo rico e contraditório.
se não torce a nenhuma outra planta; era o ( ) No século XVIII, floresceu o Arcadismo
veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti em Minas Gerais, Vila Rica. Com o esta-
mais doce que o mel e era a castanha do caju, belecimento de relações sociais mais con-
que abre feridas com o seu azeite de fogo; centradas, formou-se um público leitor,
ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagar- elemento importante para o desenvolvi-
ta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava mento de uma literatura nacional. Entre
havia muito tempo em torno do corpo dele, o grupo de literatos, destaca-se Tomás
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as Antônio Gonzaga, autor da obra lírica
fibras embambecidas pela saudade da terra, Marília de Dirceu.
picando-lhe as artérias, para lhe cuspir den- ( ) O Naturalismo surgiu no século XIX, tendo
tro do sangue uma centelha daquele amor se-
sido, no Brasil, contemporâneo da Aboli-
tentrional, uma nota daquela música feita de
ção e da República. O Mulato, de Aluísio
gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem
de cantáridas que zumbiam em torno da Rita de Azevedo, foi o primeiro romance natu-
Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosfo- ralista brasileiro e o primeiro a abordar,
rescência afrodisíaca. de forma crítica, o racismo, o reaciona-
Aluísio Azevedo, O cortiço.
rismo clerical e a estreiteza do universo
provinciano no país.
( ) A oscilação entre imobilismo econômico
1. (Fuvest) O efeito expressivo do texto – bem e modernização, na sociedade brasileira,
como seu pertencimento ao Naturalismo em foi absorvida pela produção literária, o
literatura – baseia-se amplamente no pro- que marcou os vinte primeiros anos do
cedimento de explorar de modo intensivo século XX. Tendo em Olavo Bilac seu prin-
aspectos biológicos da natureza. Entre esses cipal autor, o Parnasianismo procurou
procedimentos empregados no texto, só NÃO corresponder ao Realismo/Naturalismo
se encontra a: na prosa e adotou, como lema, a objetivi-
a) representação do homem como ser vivo em dade e impessoalidade no tratamento dos
interação constante com o ambiente. temas sociais.
b) exploração exaustiva dos receptores senso-
riais humanos (audição, visão, olfação, gus- 4. (UFG) No romance O cortiço, de Aluísio Aze-
tação), bem como dos receptores mecânicos. vedo, tem-se a representação da prestação
c) figuração variada tanto de plantas quanto de de serviços domésticos na sociedade carioca
animais, inclusive observados em sua interação. do século XIX. Nesse sentido, a relação entre
d) ênfase em processos naturais ligados à repro- o enredo e o espaço do trabalho doméstico
dução humana e à metamorfose em animais. de tal período se expressa pelo fato de que:
e) focalização dos processos de seleção natural a) Piedade se torna lavadeira no Brasil, de-
como principal força direcionadora do pro- monstrando que os serviços domésticos
cesso evolutivo. eram realizados por pessoas de diversas clas-
ses sociais.
b) Bertoleza serve João Romão como criada e
2. (Fuvest) Em que pese a oposição programáti- amante, o que expressa a presença da cultu-
ca do Naturalismo ao Romantismo, verifica- ra escravista em ambiente urbano.
-se no excerto – e na obra a que pertence c) Pombinha se muda para a casa de Léonie,
– a presença de uma linha de continuidade comprovando a possibilidade de ascensão
entre o movimento romântico e a corrente social por meio da prostituição.
naturalista brasileira, a saber, a: d) Rita Baiana se destaca como exímia dançari-
a) exaltação patriótica da mistura de raças. na, o que reafirma o exercício das atividades
b) necessidade de autodefinição nacional. artísticas como uma especialidade feminina.
c) aversão ao cientificismo. e) Nenen se especializa como engomadeira, o
d) recusa dos modelos literários estrangeiros. que mostra a incorporação do modelo fordis-
ta de produção ao ambiente familiar.
e) idealização das relações amorosas.
179
5. (Ufrgs) No bloco superior abaixo, estão lis- 7. (UFG) As trajetórias das personagens do ro-
tados dois nomes de personagens da obra O mance O cortiço, de Aluísio Azevedo, são re-
cortiço, de Aluísio Azevedo; no inferior, des- presentativas da força com que o meio age
crições dessas personagens. sobre seus comportamentos. Afetadas por
Associe adequadamente o bloco inferior ao essa força, as personagens:
superior. a) Albino e Leocádia se tornam promíscuas devi-
1. Pombinha do às más influências dos amigos do cortiço.
2. Rita Baiana b) João Romão e Bertoleza se anulam em nome
( ) É loura, pálida, com modos de menina de da ambição de fazer progredir o cortiço.
boa família. c) Miranda e Estela se corrompem à medida que
( ) Casa-se, a fim de ascender socialmente. se aproximam dos moradores do cortiço.
( ) Possui farto cabelo, crespo e reluzente.
d) Jerônimo e Pombinha são transformadas
( ) Mantém personalidade inalterada ao lon-
pela sensualidade reinante no cortiço.
go do romance.
e) Firmo e Rita Baiana têm seu caráter modifi-
( ) Descobre, a certa altura do romance, sua
plenitude na prostituição. cado pela malandragem própria dos habitan-
A sequência correta de preenchimento dos tes do cortiço.
parênteses, de cima para baixo, é:
a) 2 – 1 – 1 – 2 – 1. 8. (UFG) O contexto sócio-histórico do Brasil, no
b) 1 – 2 – 2 – 1 – 2. século XIX, evidencia-se no enredo do roman-
c) 1 – 1 – 2 – 1 – 2. ce O cortiço, de Aluísio Azevedo, por meio das:
d) 1 – 1 – 2 – 2 – 1. a) práticas de trabalho na pedreira de João Ro-
e) 2 – 2 – 1 – 2 – 1. mão, que se baseiam na exploração de mão
de obra excedente do processo de industria-
6. (ESPM) lização no Rio de Janeiro.
b) condições de moradia do cortiço São Romão,
que reproduzem o modo de vida próprio do
principal tipo de habitação popular da então
Capital Federal.
c) disputas territoriais, que expressam, no con-
fronto entre os carapicus e os cabeças-de-
-gato, a violência característica dos primei-
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, ros cortiços cariocas.
fascinando-a com a sua tranquila seriedade d) manifestações folclóricas, que representam,
de animal bom e forte, o sangue da mestiça na dança, na música e na culinária dos mo-
reclamou os seus direitos de apuração, e Rita radores do cortiço, o exotismo inerente ao
preferiu no europeu o macho de raça supe- povo brasileiro.
rior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo e) correntes migratórias, que configuram o
às imposições mesológicas, enfarava a espo- cortiço São Romão como uma comunidade
sa, sua congênere, e queria a mulata, porque formada por comerciantes portugueses em
a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto busca de ascensão social.
dourado e acre destes sertões americanos,
onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES
de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava ago-
sensual dos bodes.
ra, todas as manhãs, uma xícara de café bem
(Aluísio Azevedo, O Cortiço)
grosso, à moda da Ritinha, e 1tragava dois
Tendo em vista as características naturalis- dedos de parati 2“pra cortar a friagem”.
tas e cientificistas, sobretudo do Determinis- Uma 3transformação, lenta e profunda, ope-
rava-se nele, dia a dia, hora a hora, 4revisce-
mo, que predominam no romance O Cortiço,
rando-lhe o corpo e 5alando-lhe os sentidos,
o trecho (assinale o item não pertinente):
num 6trabalho misterioso e surdo de crisá-
a) explicita a personagem que age de acordo
lida. A sua energia afrouxava lentamente:
com os impulsos característicos de sua raça. fazia-se contemplativo e amoroso. A vida
b) põe em evidência o zoomorfismo, em que se americana e a natureza do Brasil 7patentea-
destacam os elementos instintivos de prazer, vam-lhe agora aspectos imprevistos e sedu-
sensualidade e desejo. tores que o comoviam; esquecia-se dos seus
c) faz alusão à competição entre os mais fortes primitivos sonhos de ambição, para idealizar
(europeus) e os mais fracos (brasileiros). felicidades novas, picantes e violentas; 8tor-
d) ressalta o homem sucumbindo aos fatores nava-se liberal, imprevidente e franco, mais
preponderantes do meio. amigo de gastar que de guardar; adquiria
e) condena veladamente o sexo e defende indi- desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-
retamente os princípios morais. -se preguiçoso, 9resignando-se, vencido, às
180
imposições do sol e do calor, muralha de fogo
com que o espírito eternamente revoltado do E.O. TESTE II
último tamoio entrincheirou a pátria contra
os conquistadores aventureiros. 1. (Fuvest) O papel desempenhado pela perso-
E assim, pouco a pouco, se foram reforman- nagem Ritinha (Rita Baiana), no processo
do todos os seus hábitos singelos de aldeão sintetizado no excerto, assemelha-se ao da
português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...) personagem:
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo a) Iracema, do romance homônimo, na medida
nos usos e costumes brasileiros, tanto mais em que ambas simbolizam o poder de sedu-
os seus sentidos se apuravam, 10posto que ção da terra brasileira sobre o português que
em detrimento das suas forças físicas. Ti- aqui chegava.
nha agora o ouvido menos grosseiro para a b) Vidinha, de Memórias de um sargento de
música, compreendia até as intenções ,poé- milícias, tendo em vista que uma e outra
ticas dos sertanejos, quando cantam à viola constituem fatores decisivos para o desen-
os seus amores infelizes; seus olhos, dantes caminhamento de personagens masculinas
só voltados para a esperança de tornar à ter- anteriormente bem orientadas.
ra, agora, como os olhos de um marujo, que c) Capitu, de Dom Casmurro, a qual, como a
se habituaram aos largos horizontes de céu baiana, também lança mão de seus encantos
e mar, já se não revoltavam com a turbulenta femininos para obter ascensão social.
luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam- d) Joaninha, de A cidade e as serras, pois am-
-se amplamente defronte 11dos maravilhosos bas representam a simplicidade natural das
despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras
mulheres do campo, em oposição à beleza
sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um
artificiosa das mulheres das cidades.
monarca gigante, que o sol veste de ouro e ri-
e) Dora, de Capitães da areia, na medida em
cas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam
de alvos turbantes de cambraia, num luxo que ambas são responsáveis diretas pela re-
oriental de arábicos príncipes voluptuosos. generação física e moral de seus respectivos
Aluísio Azevedo, O cortiço. pares amorosos.
E.O. DISSERTATIVO
08) De estilo ágil, jornalístico, apresenta lé-
xico e sintaxe consoantes com o caráter
objetivo da narração.
16) O narrador evidencia o comportamento 1. (Unicamp) Pensando nos pares amorosos, já
humano condicionado pelo meio, mo- se afirmou que “há n’O cortiço um pouco de
mento e raça. Iracema coada pelo Naturalismo.”
(Antonio Candido, “De cortiço em cortiço”, em O discurso
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p.142.)
4. (UERJ) O texto de Aluísio Azevedo, que faz a) Explique a que se referem o rigoroso asce-
parte da estética naturalista, utiliza recur- tismo inicial da personagem em questão e as
sos expressivos de sonoridade, como a ono- modalidades diretas e brutais de exploração
matopeia. que ela emprega.
Considere o seguinte fragmento: b) Identifique a “mulher escrava” e o modo
E todo aquele retintim de ferramentas, e o como se dá sua transformação “em compa-
martelar da forja, e o coro dos que lá em nheira máquina”.
cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo,
e a surda zoada ao longe, que vinha do orti- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
ço, (2º parágrafo)
Indique dois exemplos do emprego da ono- Fragmento do romance O Ateneu, de Raul
matopeia e justifique a sua presença no tex- Pompeia (1863-1895), em que o narrador
to naturalista. comenta suas reações ao ensino que recebia
no colégio:
5. (UERJ) “pareciam um punhado de demônios O ATENEU
revoltados na sua impotência contra o im- A doutrina cristã, anotada pela proficiência
passível gigante que os contemplava com do explicador, foi ocasião de dobrado ensino
desprezo, imperturbável a todos os golpes que muito me interessou. Era o céu aberto,
e a todos os tiros que lhe desfechavam no rodeado de altares, para todas as criações
dorso”, (2º parágrafo) consagradas da fé. Curioso encarar a gran-
Para caracterizar a pedreira, o narrador uti- deza do Altíssimo; mas havia janelas para
liza várias vezes uma determinada figura de o purgatório a que o Sanches se debruçava
linguagem, como no trecho sublinhado acima. comigo, cuja vista muito mais seduzia. E o
Identifique essa figura de linguagem e um de preceptor tinha um tempero de unção na voz
seus efeitos estilísticos. Transcreva, em segui- e no modo, uma sobranceria de diretor es-
da, uma passagem do texto em que a pedreira piritual, que fala do pecado sem macular a
é descrita sob uma perspectiva diferente. boca. Expunha quase compungido, fincando
o olhar no teto, fazendo estalar os dedos,
6. (UERJ) Aqueles homens gotejantes de suor, num enlevo de abstração religiosa; expunha,
bêbedos de calor, desvairados de insolação, demorando os incidentes, as mais cabeludas
(2º parágrafo) manifestações de Satanás no mundo. Nem ao
menos dourava os chifres, que me não fizes-
O enunciado acima apresenta uma sequência
sem medo; pelo contrário, havia como que o
de sensações.
capricho de surpreender com as fantasias do
Aponte o valor semântico dessa sequência e
Mal e da Tentação, e, segundo o lineamento
identifique no texto outro exemplo em que a
do Sanches, a cauda do demônio tinha tal-
disposição das palavras produza efeito similar. vez dois metros mais que na realidade. In-
sinuou-me, é certo, uma vez, que não é tão
7. (Unicamp) Leia o seguinte comentário a res- feio o dito, como o pintam.
peito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo: O catecismo começou a infundir-me o temor
Com efeito, o que há n’ O Cortiço são for- apavorado dos oráculos obscuros. Eu não acre-
mas primitivas de amealhamento, a partir ditava inteiramente. Bem pensando, achava
de muito pouco ou quase nada, exigindo que metade daquilo era invenção malvada
uma espécie de rigoroso ascetismo inicial e do Sanches. E quando ele punha-se a contar
187
histórias de castidade, sem atenção à parvida- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
de da matéria do preceito teológico, mulher
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acor-
do próximo, Conceição da Virgem, terceiro-lu-
xúria, brados ao céu pela sensualidade contra dava, abrindo, não os olhos, mas a sua infi-
a natureza, vantagens morais do matrimônio, nidade de portas e janelas alinhadas.
e porque a carne, a inocente carne, que eu [...]
só conhecia condenada pela quaresma e pelos Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum
monopolistas do bacalhau, a pobre carne do crescente; uma aglomeração tumultuosa de ma-
beef, era inimiga da alma; quando retificava o chos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
meu engano, que era outra a carne e guisada incomodamente, debaixo do fio de água que
de modo especial e muito especialmente trin- escorria da altura de uns cinco palmos. O chão
chada, eu mordia um pedacinho de indigna- inundava-se. As mulheres precisavam já pren-
ção contra as calúnias à santa cartilha do meu der as saias entre as coxas para não as molhar;
devoto credo. Mas a coisa interessava e eu ia via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pes-
colhendo as informações para julgar por mim coço, que elas despiam, suspendendo o cabelo
oportunamente. todo para o alto do casco; os homens, esses não
Na tabuada e no desenho linear, eu prescin- se preocupavam em não molhar o pelo, ao con-
dia do colega mais velho; no desenho, por- trário metiam a cabeça bem debaixo da água e
que achava graça em percorrer os capricho- esfregavam com força as ventas e as barbas, fos-
sos traços, divertindo-me a geometria miúda
sando e fungando contra as palmas da mão.
como um brinquedo; na tabuada e no siste-
(Aluísio Azevedo. O cortiço.)
ma métrico, porque perdera as esperanças de
passar de medíocre como ginasta de cálculos,
e resolvera deixar a Maurílio ou a quem quer 11. (UFSCar) Aluísio de Azevedo pertence ao Na-
que fosse o primado das cifras. turalismo.
Em dois meses tínhamos vencido por alto a) Cite duas características desse estilo de época.
a matéria toda do curso; e, com este prepa- b) Exemplifique, no texto, essas duas caracte-
ro, sorria-me o agouro de magnífico futuro, rísticas.
quando veio a fatalidade desandar a roda.
(Raul Pompeia. O Ateneu. Rio de Janeiro:
Biblioteca Universal Popular, 1963.)
GABARITO
8. (Unesp) No primeiro parágrafo, a persona-
gem Sanches, aluno mais velho que atuava
como espécie de preceptor para os estudos E.O. Teste I
de Sérgio, o mais novo, se refere a duas en-
tidades da religião cristã, contextualizando 1. E 2. B 3. V-V-V-F 4. B 5. D
valores opostos a cada uma delas. Identifi- 6. E 7. D 8. B 9. E 10. C
que as duas entidades e os valores a que es-
tão respectivamente associadas.
190