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A populaça de Hegel: Uma Investigação na Filosofia do Direito de Hegel

Por Adrian Johnston, via Philosophical Reviews, traduzido por Ramon Frias

Tanto em sua Filosofia do Espírito de sua primeira era em Jena quanto na Filosofia do Direito do
período Berlin, Hegel sublinha talvez o problema crucial para o qual ele não oferece uma solução.

Esse momento que podemos arguir como único na vasta oeuvre Hegeliana de uma colocada porém
não resolvida dificuldade, recebe o nome de “populaça” (Pöbel). Com seu sólido apanhado de
economia Britânica e das economias políticas modernas de seu tempo, uma das várias maneiras pela
qual Hegel pavimenta o caminho pro Marxismo consiste em seu entendimento de que o capitalismo
industrial burguês inevitavelmente cria, como um de seus sub-produtos necessários, uma crescente
massa de miseráveis atirada à irremediável pobreza. A alienação objetiva desse agregado de pobres
despossuídos e privados de direitos, implacavelmente produzidos sem piedade pelos mecanismos e
máquinas da industrialização, cria as condições para uma alienação subjetiva corporificada pela
populaça, com sua atitude hostil ao resto da sociedade e bruto senso de posicionamento social
indigno.

Hegel sugere que as dinâmica políticas e econômicas que resultam na pobreza, que em si mesmas
funcionam como solo fértil à mentalidade da populaça, são inerentes às então novas políticas
econômicas da modernidade (obviamente, ele também ressalta como a disparidade cada vez maior
entre a pobreza e a riqueza sob o capitalismo cria uma mentalidade de populaça nos ricos, que vem a
crer que seus ganhos contingencialmente obtidos ao jogarem com os livres mercados da sociedade
civil os absolve de deveres e obrigações frente às esferas públicas da pólis). Além do mais, na
avaliação de Hegel, nenhuma sociedade moderna (até então) parece querer e poder endereçar
adequadamente esse fator auto-corrosivo interno de empobrecimento engendrador de populaça. Sem
fazer isso, esses sistemas coletivos historicamente jovens estão em risco de se destruírem mais cedo ou
mais tarde. Assim, ao invés de marcar um pseudo-hegeliano “fim da história”, tais sociedades, Hegel
insinua, têm um futuro bastante incerto à sua frente.

Como amplamente conhecido, o prefácio à Filosofia do Direito de 1821 caracteriza a filosofia como “a
Coruja de Minerva” que abre suas asas somente ao cair da noite, quando os ações e acontecimentos do
dia estão feitos. No mesmo contexto, Hegel enfatiza que o filósofo está limitado à colheita de materiais
providos a ele/ela pelo passado e pelo presente, constrito a sintetizar conceitualmente
o Zeitgeist dele/dela e nada mais além disso. Como o “anjo da história” nas “Teses sobre a Filosofia da
História” de Walter Benjamin, o filósofo – Hegel indubitavelmente se inclui aqui – sempre tem suas
costas voltadas em direção a um futuro imprevisível (e isso em contraste com o materialismo histórico
Marxista prestes à seguir os trilhos de Hegel).

Dado que o problema da populaça é sublinhado no texto prefaciado por essas muitas observações, a
conclusão esquerdista radical Hegeliana de que, até para o autor de Filosofia do Direito, o capitalismo
enfrenta a prospecção de eventualmente violentar-se fatalmente a si mesmo com suas próprias mãos é
dificilmente desarrazoada como uma exegese defensável do pensamento sócio-político de Hegel. A
defensabilidade disso é mais substancialmente reforçada adiante pelo fato de que Hegel, também no
prefácio à Filosofia do Direito, explicitamente estipula que a habilidade da filosofia de superar o
material de seu tempo através de pensamentos sinaliza a entrada no declínio e a dissolução das
realidades assim superadas; o sol deve estar se pondo quando a sábia coruja toma voo.
Consequentemente e por suas próprias luzes, a capacidade de Hegel de destilar a essência da
modernidade capitalista anuncia que a ordem social burguesa de sua época já está em seu caminho
para fora do palco da história. Levando em conta as múltiplas conexões entre Hegel e Marx,
a Pöbel Hegeliana pode muito bem representar, dos confins da Filosofia Do Direito, aqueles que num
belo dia irão se desacorrentar para acelerar o trabalho crepuscular do capitalismo de cavar seu próprio
túmulo.

Periodicamente, no meio acadêmico Hegeliano convencional das décadas passadas, os aspectos acima
mencionados receberam atenção e comentários. Estudiosos como Joachim Ritter, Shlomo Avineri, e
Allen Wood tem devotado sérios esforços à ponderação das questões e desafios levantados
pela PöbelHegeliana. Entretanto, uma série de características do excelente estudo de Frank Ruda os
separou de seus antecessores. De início, ao invés de tratar a populaça meramente como um curioso
subcomponente da Filosofia do Direito, Ruda a eleva a uma posição central na filosofia sócio-política
de Hegel, entrelaçada de maneira insolúvel com a íntegra do extensivo sistema Hegeliano (mesmo em
momentos aparentemente não-relacionados e remotos como a representação da matéria na Filosofia da
Natureza, a caracterização do hábito na “Antropologia Filosófica” da Filosofia do Espírito e o
tratamento lógico das modalidades de necessidade e contingência). Relacionada a isso, a Pöbel de
Hegel, na leitura de Ruda, representa os limites imanentemente (auto-)determinados da filosofia
política Hegeliana. Posto de outra forma, para Ruda, a populaça é um marcador para um problema
político irresolvível dentro dos parâmetros da filosofia (política). Essa tese compõe com os esforços
bem convincentes de Ruda para reduzir a distância entre Hegel e Marx ao mostrar como o primeiro,
mesmo em suas cegueiras particulares, já prefigurou o último mais do que é usualmente reconhecido
tanto por Hegelianos quanto por Marxistas. A reformulação ostensivamente anti-hegeliana de Marx das
relações e prioridades da filosofia e da política em relação a uma e outra é na verdade, nesta
interpretação, uma conseqüente extrapolação do enquadramento que Hegel faz desses tópicos
na Filosofia do Direito.

Outra característica distintiva da Populaça de Hegel é que as considerações de Ruda quanto a transição
da Pöbel Hegeliana ao proletariado Marxiano são profundamente informadas por perspectivas
correntes no pensamento esquerdista, especialmente o trabalho dos filósofos Alain Badiou e Slavoj
Žižek (o último escreveu o prefácio do livro de Ruda) . Antes de endereçar os aspectos Badiouianos e
Zizekianos desse projeto, devo mencionar dois outros autores contemporâneos a que Ruda se refere
(como o fazem Badiou e Žižek) de tempos em tempos: Jacques Rancière e Giorgio Agamben. Ruda
mescla a noção de Rancière de “a parte de nenhuma parte” (como um segmento da sociedade sem
quotas e participações reconhecidas na mesmíssima sociedade da qual esse segmento é, todavia,
estruturalmente um componente integral) com a figura biopolítica de Agamben “homo sacer” (como
“vida nua” manipulada pelas operações do biopoder, um status ao qual todos os habitantes
da pólis estão, em potencialidade virtual se não em realidade concreta, reduzidos) em suas elucidações
do status da populaça. Embora esse tipo de movimento possa suscitar preocupações sobre
anacronismos (especialmente entre estudiosos de Hegel mais conservadores), Ruda persuasivamente
mostra como tais motivos Rancierianos e Agambenianos são impressionantemente prefigurados pelas
leituras de Hegel da populaça. Obviamente, Rancière e Agamben forjam essas ideias sem perder de
vista, dentre outras coisas, as tradições Hegelianas e Marxianas (um ponto ao qual retornarei ao
levantar algumas questões para Ruda).

Em particular, a interpretação de Ruda revela a Pöbel Hegeliana como sendo um momento particular
aparentemente excepcional das sociedades burguesas modernas que representa, na verdade, uma
dimensão universal que atravessa a miríade de distinções e divisões desses sistemas sociais de outro
modo altamente estratificados. Em ordens coletivas organizadas em torno da anarquia do mercado
similar a um cassino, qualquer um é, no mínimo, virtualmente populaça. É como dizer que, sob o
capitalismo, todos são ao menos potencialmente um membro dessa “parte de nenhuma parte”, exposta
ao risco permanente de cair na escuridão do estado de exclusão interna (à la o conceito de Jacques
Lacan de “extimidade” enquanto exterioridade interior ou íntima). Relacionado a isso, na medida em
que a populaça é despida de todos os símbolos distintivos e lhe é negado seu reconhecimento dentro da
distribuição hierarquizada de papéis econômicos e posições políticas, esta representa dentro das
sociedades modernas o nível zero da pura, mínima humanidade. Ruda liga a implícita, a princípio,
universalidade do mero, do mínimo ser humano ao “ser-espécie” (Gattungswesen) dos Manuscritos
Filosóficos e Econômicos de 1844 do jovem Marx. Baseado nisso, ele argumenta que a populaça de
Hegel, legitimamente relida sem anacronismo através das lentes de Marx e alguns de seus herdeiros
contemporâneos (especificamente, Agamben, Badiou, Rancière, e Žižek), (1) prefigura as populações
espalhadas das diversas multidões marginalizadas pela globalização do capitalismo tardio, e também
(2) corporifica um impulso à formulação de um novo humanismo dando apoio a uma política
radicalmente igualitária em direção à além do capitalismo (irei endereçar as referências de Ruda ao
humanismo abaixo).

A teoria do Evento de Badiou, particularmente como o é reformulada em sua Lógica dos Mundos de
2006 (a sequência de Ser e Evento de 1988), claramente provê Ruda com uma plataforma para
repensar a estranha posição da populaça na filosofia de Hegel como uma precursora do revolucionário
proletariado do Marxismo. Na leitura de Ruda e no linguajar de Badiou, o Pöbel Hegeliano é o
“inexistente” (ou seja, o que não é nem visível nem contado para algo) do “mundo” (ou seja, a
dinâmica e estrutura intrínsecas de um contexto estabelecido) das sociedades burguesas modernas tal
como dominadas pelos caóticos e caprichosos fluxos livres do capital. Para Badiou, se e quando um
dado inexistente de um mundo, o qual subsiste ontologicamente dentro do mundo que o circunda sem
“fenomenologicamente” aparecer neste, erupciona acima do limiar de visibilidade, ele inevitavelmente
ocasiona um reordenamento da “distribuição dos sensíveis” mundana (para emprestar outra expressão
de Rancière). Tais erupções são eventos Badiouianos – nomeadamente e textualmente ressonantes para
qualquer um familiar com a tradição marxista: levantes revolucionários que mudam o mundo graças
aqueles que são nada demandando contar como tudo. Do mesmo modo, Ruda, obviamente com sua
mente no Marxismo situado entre Hegel e Badiou, identifica a populaça da Filosofia do Direito como
o locus potencial (em Badiounês, um “sítio evental”) para transformações dramáticas dessas
sociedades que Hegel insinua serem inerentemente auto-subversivas e já estarem em declínio.

A influência de Žižek, como a de Badiou, é onipresente por toda a A Populaça de Hegel. Žižek é
responsável por uma reinterpretação prolongada e sofisticada de Hegel virando muitos dos
pressupostos ortodoxos e clássicos referentes à filosofia de Hegel de cabeça para baixo. O Hegel
Zizekiano é um filósofo materialista que privilegia a contingência real à necessidade lógica. Além
disso, da perspectiva de Žižek, Marx e a vasta maioria de seus seguidores subestimam severamente o
tamanho do “cerne racional” do Hegelianismo relativamente a sua alegada “casca mística”. O
estreitamento de Ruda da divisão entre Hegel and Marx, com a populaça do primeiro antecipando o
proletariado do último, parece Zizekiano em inspiração. De um ângulo, A Populaça de Hegel pode ser
visto como na vanguarda de um novo tipo meticuloso de estudos em Hegel cuidadosamente aplicador
dos insights e recursos cunhados pelo inovador “retorno a hegel” de Žižek.

Finalmente, duas linhas de questionamento: a primeira a propósito das influências contemporâneas de


Ruda e a segunda a propósito do humanismo. Agamben, Badiou, Rancière, e Žižek diferem-se (e
frequentemente discordam) um dos outros particularmente em relação aos tópicos da economia e
classe tal como coloridos pelo legado de Marx. De forma mais importante, enquanto que os três
primeiros, cada um à sua maneira, tomam suas distâncias da versão mais clássica do materialismo
histórico tal como baseado em referências a forças e fatores econômicos, Žižek veementemente apela
por uma renovação da crítica materialista histórica da economia política conforme o Marx de O
Capital. Ruda obviamente está a par dessas diferenças. Por exemplo, em uma nota final, ele provê um
notavelmente sucinto e lúcido sumário das incompatibilidades chaves entre as filosofias de Agamben e
Badiou.

Entretanto, ele não confronta clara e diretamente as tensões entre Badiou and Žižek – esses dois
suportes principais de seu empenho estão em aberto desacordo sobre a relação entre economia e
política – e assim, deixa irrespondida um número de questões: o quão fortemente atada, se de todo, é a
populaça, que em si surge de uma mudança contingente de atitude e pode manifestar-se entre os ricos
tal como entre os pobres, à uma posição sócio-econômica de classe? Em um sentido parecido, como o
proletariado marxiano prefigurado pela Pöbel de Hegel deve ser entendido (por exemplo, em relação à
“classe trabalhadora”)? Será a populaça apenas a necessária ou também a condição suficiente para
eventos revolucionários? Em suma, em que grau(s) seria a dialética objetivamente real da história
social da era de Hegel ao presente motivada primariamente pela economia do capitalismo? No
linguajar Marxista antiquado, um dos ossos principais da contenda entre Badiou e Žižek é a distinção
base-superestrutura. Eu suspeito que Ruda é um tanto mais simpático à insistência de Žižek na
oscilação continuada da irregularidade da dialética da dinâmica social no capitalismo tardio em face da
economia como sendo politicamente decisiva (ao menos “em última instância”). Porém, não estou cem
porcento certo disso. Uma coisa de que tenho certeza é que Ruda, de fato, tem respostas a essas
questões. Seu futuro trabalho, espero, falará sobre elas.

Quanto ao tema do humanismo, Ruda, diferente de tantos teóricos moldados pela filosofia francesa do
século XX, de forma revitalizante rejeita a tese Althusseriana que postula uma “quebra
epistemológica” de estilo Bachelardiano no desenvolvimento intelectual de Marx alegadamente
ocorrida em 1845 com as “Teses sobre Feuerbach” e A Ideologia Alemã. Em conexão a isso (e como
notado acima), Ruda busca pressionar o conceito de Gattungswesen do Marx antigo à serviço de um
Badiouiano (in)humanismo, nomeadamente, um humanismo de seres humanos tal qual animais
(auto-)anulados, de uma natureza humana como auto-desnaturalizante através das interações sujeito-
objeto colocadas em movimento pelo trabalho social (em si mesmo ditado por circunstâncias e
pressões naturais). No entanto, será esse humanismo realmente novo, ou seria sua aparente novidade
um efeito gerado por uma falha em apreciar o que já está contido dentro das fontes canônicas do
humanismo? Por exemplo, Agamben, em seu livro O Aberto: O Homem e o Animal, astutamente
sublinha o caráter extremo da representação da peculiaridade humana de Pico della Mirandola em sua
oração de 1486 “Sobre a Dignidade do Homem”. Esse documento fundante do humanismo
renascentista já teria esboçado o retrato da natureza humana que Ruda extrai de sua excursão motivada
por Badiou de volta aos Manuscritos de Marx de 1844. Admitidamente, Ruda rapidamente esboça tudo
isso no final de A Populaça de Hegel. Estou ansioso para ver como ele vai desenvolver isso e, no
processo, narrar um romance convincente do humanismo no qual as continuidades e descontinuidades
do século XV até hoje virão claramente ao foco.

A Populaça de Hegel é maravilhosamente bem sucedido em reviver Hegel no início do século XXI. A
reconstrução cuidadosamente arguida e bem embasada de Ruda da Filosofia do Direito, tal como
inserida no edifício Hegeliano como um todo, desafia a sabedoria concebida sobre Hegel e as relações
de Marx com ele. Ela também ilumina de forma brilhante os principais problemas no coração da
teorização sócio-política da esquerda contemporânea. Ruda deu uma grande contribuição a ambos,
tanto os estudos em Hegel quanto às discussões atuais do Marxismo e do Pós-Marxismo. A Populaça
de Hegel é leitura obrigatória a qualquer um interessado em Hegel e esquerdismo radical nos dias de
hoje.
Resenha do livro “Hegel’s Rabble: An investigation into Hegel’s Philosophy of Right” de Frank Ruda

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